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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

LUÍS GUSTAVO DE CASTRO DALDEGAN

MANEJO DE SERPENTES EM CATIVEIRO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E


ESTUDO PRELIMINAR

CURITIBA
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

LUÍS GUSTAVO DE CASTRO DALDEGAN

MANEJO DE SERPENTES EM CATIVEIRO, UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E


ESTUDO PRELIMINAR

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Zootecnia da
Universidade Federal do Paraná como
requisito à obtenção do título de bacharel
em Zootecnia.

Orientadora: Profª. Drª. Chayane da


Rocha

Supervisor e orientador de estágio:


Zootecnista Carlos Frederico Grubhofer

CURITIBA
2023
TERMO DE APROVAÇÃO

LUÍS GUSTAVO DE CASTRO DALDEGAN

MANEJO DE SERPENTES EM CATIVEIRO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E


ESTUDO PRELIMINAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Zootecnia da


Universidade Federal do Paraná como requisito à obtenção do título de obtenção do
título de bacharel em Zootecnia, pela seguinte banca examinadora:

____________________________________
Profª. Drª. Chayane da Rocha
Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná
Presidente da banca

____________________________________
Prof. Dr. Fernando de Camargo Passos
Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná

____________________________________
Prof. Dr. André Saldanha
Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Positivo

Curitiba, 11 de Julho de 2023


Dedico primeiramente este trabalho aos
meus pais, Juliana, Ariel e Saint Clair, que
sempre me apoiaram e estiveram comigo
em toda a trajetória da minha vida; ao
meu Avô, que serve de inspiração para
que eu seja uma pessoa melhor a cada
dia; aos meu irmãos, JV, Lelly e Fefê, que
torcem pelo meu sucesso desde sempre;
ao restante dos meus familiares, que
sempre me apoiaram; a minha namorada
Juliane, que tive a felicidade de conhecer
durante a graduação e tenho o prazer de
dividir a minha vida com ela; e aos meus
amigos pelos momentos de descontração
durante esse percurso.
AGRADECIMENTOS

A professora Chayane da Rocha, por me aceitar como orientado e pelo auxílio


durante o desenvolvimento deste trabalho.

Ao meu supervisor de estágio Carlos Frederico Grubhofer e a Susana, por toda a


orientação durante o período em que estagiei no Zoológico Municipal de Curitiba.

A todos os funcionários do zoológico, por me acolherem e me ajudarem na


realização das minhas atividades durante o estágio.

A Universidade Federal do Paraná, por me proporcionar um ambiente de ensino de


qualidade ao longo desses anos.
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo preliminar a
respeito da biologia e das características ideais para a manutenção em cativeiro das
dez espécies de serpentes, bem como relatar as atividades desenvolvidas durante o
estágio curricular obrigatório. Na parte inicial deste documento foi realizada uma
revisão bibliográfica sobre dez espécies de serpentes que os técnicos do Zoológico
Municipal de Curitiba possuem interesse, para a implementação de um serpentário
na instituição. Meu propósito ao escolher esse tema para concluir minha formação
em zootecnia foi auxiliar os técnicos em um estudo preliminar a respeito das
espécies de serpentes, que futuramente poderão fazer parte do plantel de animais
do Zoológico Municipal de Curitiba. A partir das informações expostas neste
trabalho, o corpo técnico do Zoológico Municipal de Curitiba terá uma noção básica
dos requisitos mínimos para a manutenção dessas espécies. Na segunda parte
deste trabalho, foram descritas as atividades realizadas durante o período de estágio
obrigatório, dentre elas, o acompanhamento da rotina da cozinha, rotina dos
tratadores, rotina do biotério, programa de enriquecimento ambiental e outras
atividades. Ao final, foi possível concluir que fatores como temperatura, umidade,
alimentação e nutrição são determinantes para a manutenção de serpentes em
cativeiro. Atuar na área de animais silvestres é desafiador, pois esta área demanda
que o zootecnista conheça a fisiologia e características específicas de cada espécie,
para que seja possível fornecer a esses animais um ambiente adequado.

Palavras-chave: Boa constrictor, Eunectes murinus, Epicrates crassus, Pantherophis


guttatus, Python, Spilotes pullatus.
ABSTRACT
The present study aimed to conduct a preliminary study on the biology and ideal
characteristics for the captive maintenance of ten snake species, and to report the
activities carried out during the mandatory curricular internship. The first part of the
study presents a literature review that was conducted on ten snake species of
interest by the technicians at the Municipal Zoo of Curitiba, in order to implement a
serpentarium at the institution. My goal in choosing this topic to conclude my training
in zootechnics was to assist the technicians in a preliminary study regarding the
snake species that may be included in the animal collection at the Municipal Zoo of
Curitiba in the future. The information presented in this work can help the technical
staff at the Municipal Zoo of Curitiba to have a basic understanding of the minimum
requirements for the maintenance of these species. The second part of this study
describes the activities carried out during the mandatory internship period including
the observation of the kitchen routine, caretakers' routine, bioterium routine,
environmental enrichment program, and other activities. It was possible to determine
that factors such as temperature, humidity, feeding, and nutrition are crucial for the
captive maintenance of snakes. Working in the field of wildlife is challenging because
it requires the zootechnician to have knowledge of physiology and specific
characteristics of each species in order to provide these animals with a suitable
environment.

Keywords: Boa constrictor, Eunectes murinus, Epicrates crassus, Pantherophis


guttatus, Python, Spilotes pullatus.
LISTA DE FIGURAS
_________________________________________pág.

Figura 01. Cozinha do zoológico e funcionários preparando a dieta dos


animais_____________________ ______________________________________
36
Figura 02. Planilha de horário da dieta dos grandes herbívoros/ruminantes______
36
Figura 03. Planilha de dieta dos cracídeos________________________________
37
Figura 04. Preparo da dieta dos cracídeos____________________________ ____
37
Figura 05. Local de recebimento e lavagem dos hortigranjeiros na área
suja______38
Figura 06. Local onde as bandejas de alimentação são
higienizadas____________39
Figura 07. Bandejas de alimentação
higienizadas___________________________39
Figura 08. Açougue__________________________________________________
40
Figura 09. Depósito de
ração___________________________________________40
Figura 10. Local onde a ração é misturada aos alimentos dos grandes herbívoros_
41
Figura 11. Mesas onde são preparadas as dietas dos
animais_________________41
Figura 12. Dieta Macaco-aranha________________________________________
42
Figura 13. Câmara
fria________________________________________________42
Figura 14. Alimentos escondidos em caixa de ovo para Sagui-do-tufo-
branco_____44
Figura 15. Carne enrolada em papel para Onça
pintada______________________44
Figura 16. Varal de frutas para
cracídeos__________________________________45
Figura 17. Caixas de
ratazanas_________________________________________46
Figura 18. Troca de cepilho, ração e
água_________________________________46
Figura 19. Caixa de ratazanas desmamadas______________________________
47
Figura 20. Ficha para controle de quantidade de ração e cepilho utilizados______
47

LISTA DE QUADROS
______________________________________________pág.

Quadro 1. Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais


das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família
Boidae________________________________________________________________________
21
Quadro 2. Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal
de Curitiba pertencentes à família Boidae._______________________________ _
22
Quadro 3: Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais
das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família
Colubridae___________________________________________ _____________
23
Quadro 4: Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal
de Curitiba pertencentes à família Colubridae ___________________________ __
23
Quadro 5: Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais
das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família
Phytonidae________________________________________________________
24
Quadro 6: Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal
de Curitiba pertencentes à família Phytonidae_______________________ ______25
Quadro 7: Densidade máxima de ocupação por área de recinto. Fonte: IBAMA,
2015_____________________________________________________________
26
Quadro 8: Requisitos obrigatórios para recintos de répteis em jardins zoológicos
segundo a IN n 07 de 30/04/15________________________________________
27
Quadro 9. Especificações para recintos de serpentes (DIVERS e STAHL, 2019)__ 28
Quadro 10. Configurações para recintos de serpentes (DIVERS e STAHL,
2019)__29
Quadro 11. Sugestão apresentada ao Carlos para o tamanho das
“casinhas”._________________________________________________________48

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
2.2. Específicos
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Zoológicos
3.1.1. Histórico
3.1.2. Panorama atual sobre os zoológicos
3.1.3. A importância da manutenção de serpentes em cativeiro
3.2. Répteis
3.2.1. Aspectos biológicos da classe
3.2.1.1. Aspectos biológicos das serpentes
3.2.2. A escolha de serpentes como pets exóticos
3.3. Serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba
3.3.1. Família Boidae
3.3.2. Família Colubridae.
3.3.3. Família Phytonidae.
3.4. Recintos
3.4.1. Tamanho do recinto
3.4.2. Construção do recinto
3.4.3. Tipos de recintos
3.4.4. Outros fatores importantes para a manutenção de serpentes em cativeiro
3.4.4.1 Temperatura
3.4.4.2 Fotoperíodo e iluminação
3.4.4.3 Umidade e ventilação
3.4.4.4 Alimentação e nutrição
4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO
4.1. Plano de estágio
4.2. Local de estágio
4.3. Descrição das atividades desenvolvidas
4.3.1. Rotina da cozinha
4.3.2. Instalações
4.3.4. Rotina dos tratadores
4.3.5 Rotina do programa de enriquecimento ambiental
4.3.6. Rotina do biotério
4.3.7. Outras atividades
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
ANEXOS

1. INTRODUÇÃO
Animais silvestres nativos são aqueles pertencentes ao território Brasileiro,
podendo ser migratórios ou não, que não sofreram processo de domesticação e
mesmo em cativeiro mantém seus instintos preservados. Hoje a criação destes
animais em cativeiro tem uma série de motivações, como por exemplo: a melhor
compreensão da biologia das espécies, o combate ao comércio ilegal de animais
silvestres e a preservação das espécies (FREITAS, 2011).
Os zoológicos são instituições públicas ou privadas que podem manter
espécies silvestres sob cuidados e trabalham seguindo quatro pilares básicos:
conservação, educação, pesquisa e lazer. Para manter a saúde, longevidade e bem-
estar de animais silvestres em cativeiro é fundamental conhecer suas necessidades
de manutenção. Um ponto fundamental é a construção de recintos adequados a
espécie em questão. Atualmente, para o planejamento e construção de recintos em
zoológicos, é necessário o apoio de uma equipe multidisciplinar, pois estes devem
ser estrategicamente projetados a fim de satisfazer as necessidades fisiológicas e
biológicas de cada espécie e ainda proporcionar aos visitantes uma experiência
imersiva e marcante, que posteriormente será percebida a importância da
preservação e manutenção das espécies (DA LUZ, 2016).
Dentre os possíveis grupos mantidos em zoológicos podem ser mencionados
os répteis, mais especificamente as serpentes. As serpentes são animais que muitas
vezes sofrem ataques da população devido ao fato de serem animais associados a
contos folclóricos e lendas urbanas. A implementação de um serpentário no
Zoológico Municipal de Curitiba, junto a um projeto de educação ambiental, pode
ajudar na questão da conscientização da população a fim de desmistificar esses
contos folclóricos e instruir a população a respeito da importância das serpentes no
ecossistema.
2. OBJETIVOS
2.1. Geral

Este trabalho teve como objetivo realizar um estudo preliminar a respeito das
características biológicas e os requisitos necessários para a manutenção em
cativeiro de dez espécies de serpentes, sendo quatro espécies pertencentes a
família Boidae, duas serpentes pertencentes à família Colubridae e quatro serpentes
à família Pythonidae, bem como relatar as atividades realizadas no Zoológico
Municipal de Curitiba no período do estágio curricular obrigatório.

2.2. Específicos

● Descrever sobre as características biológicas e condições adequadas


para a manutenção em cativeiro das espécies Boa constrictor
constrictor, Boa constrictor amarali, Eunectes murinus, Epicrates
crassus, Spilotes pullatus, Pantherophis guttatus, Python bivittatus,
Python regius, Leiopython albertisii e Malayopython reticulatus;
● Trazer um panorama sobre a história e a importância dos Zoológicos;
● Debater a adoção de serpentes como pets exóticos.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Zoológicos
3.1.1. Histórico

Segundo Balleste e Naoumova (2019), faraós egípcios, imperadores chineses


e astecas já mantinham animais silvestres em cativeiro. Devido ao elevado custo de
captura, transporte e manutenção desses animais os zoológicos eram mantidos pelo
alto escalão da sociedade. Na antiguidade estes serviam apenas para o
entretenimento dos seres humanos, sem se importar com a qualidade de vida do
animal, estes eram mantidos em jaulas ou até mesmo na própria armadilha em que
eram capturados.
Sabe-se que durante a evolução da sociedade os zoológicos passaram por
diversos momentos distintos, sejam conceituais ou estruturais. No entanto, alguns
fatos importantes aconteceram para chegarmos ao conceito de jardins zoológicos
atuais (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).
No ano de 1664, foi construído o primeiro zoológico do mundo, a coleção
zoológica do Jardim de Versalhes, que culminou no fim das coleções de animais
silvestres mantidos pelo alto escalão das sociedades e, tornou o zoológico um local
pensado para atrair os visitantes. No entanto, os recintos ainda não eram planejados
para atender as necessidades dos animais (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).
No século XIX aconteceram dois marcos importantes na história, o primeiro foi
a criação da Sociedade Zoológica de Londres em 1826 e, em 1828, a criação do
Jardim Zoológico de Londres. O planejamento do zoológico de Londres foi baseado
em métodos científicos e em paisagens naturais deslumbrantes. As edificações do
zoológico pela primeira vez na história foram construídas levando em consideração o
interesse dos visitantes e dos animais que ali residiam. Com isso, o intuito do
zoológico de Londres era promover um lugar onde a zoologia pudesse ser estudada,
ensinada e observada. Os zoológicos criados no início do século XX seguiram a
mesma ideologia do Jardim Zoológico de Londres (BALLESTE e NAOUMOVA,
2019).
Na primeira metade do século XX, apesar de haver uma mudança de atitude
em relação aos zoológicos onde os visitantes voltaram a ser a prioridade, outros
projetos foram idealizados de forma a valorizar e favorecer a manutenção de animais
selvagens em cativeiro. Carl Hagenback foi o pioneiro ao propor que os recintos
deixassem de ser uma jaula, e passasse a ser compostos por uma paisagem natural
semelhante ao habitat natural dos animais (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).
Outro importante desenvolvedor de ideias e conceitos a respeito de jardins
zoológicos chama-se Patrick Geddes, sua principal contribuição foi o conceito de
educação baseada no viver. Geddes acreditava que o aprendizado começava
através dos sentimentos e, posteriormente chegava ao intelecto, portanto, através
de uma educação multissensorial era possível sensibilizar as pessoas (BALLESTE e
NAOUMOVA, 2019).
Conforme citado por Balleste e Naoumova (2019), na década de 1950, a
arquitetura de zoológicos tornou-se mais importante do que os animais, no entanto,
a publicação dos livros, que defendiam a ideologia proposta por Carl Hagenback,
“Wild animals in captivity: an outline of the biology of zoological gardens e Studies of
the psychology and behavior of animals in zoos and circuses”, escritos por Heini
Hediger, marcaram o declínio desta fase.
Um momento crucial para chegarmos ao conceito de jardins zoológicos da
atualidade aconteceu na década de 1970, com forte influência do movimento
ambiental. Neste momento da história, os jardins zoológicos passaram a ser geridos
pelos pilares da ecologia e conservação de espécies, onde foi implementado pela
primeira vez o conceito de imersão na paisagem em busca de despertar sentimentos
no público, através de uma imersão em um espaço criado para aproximar as
pessoas dos animais e seus habitats (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).

3.1.2. Panorama atual sobre os zoológicos

Segundo Balleste e Naoumova (2019), hoje os zoológicos desempenham


diversas funções, como educação ambiental, programas de conservação,
entretenimento ao público, proteção de espécies e pesquisa científica. Com o passar
do tempo ficou evidente que o planejamento de construção de um jardim zoológico
deve atender as necessidades dos animais e dos seres humanos. Diferente do que
acontecia nos modelos de zoológicos antigos, os animais nunca devem ser deixados
em segundo plano (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).
Segundo Da Luz (2016), durante a evolução da raça humana, a exploração
predatória das espécies de animais silvestre e o desmatamento foram responsáveis
pela devastação de 93% da Mata Atlântica, culminando na extinção de diversas
espécies de animais silvestres. Devido à perda de habitat, os animais tornaram-se
dependentes dos seres humanos para sua sobrevivência. Diversas espécies de
animais silvestres só existem hoje graças aos jardins zoológicos, que através dos
programas de conservação foram responsáveis pela reprodução e reintrodução de
espécies já extintas na natureza.
O desafio de um zoológico contemporâneo é criar um ambiente que
proporcione qualidade de vida e segurança ao animal, ao mesmo tempo que
proporciona aos visitantes uma experiência imersiva, educativa, enriquecedora e
memorável (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019).
Na atualidade, fica evidente que o planejamento e construção de jardins
zoológicos ou na elaboração de recintos, é necessário a colaboração entre
profissionais de diversas áreas, como arquitetos, biólogos, zoólogos, veterinários,
artistas visuais, zootecnistas, entre outros (VENTURINI, 2013). Através da parceria
desses profissionais será possível construir um espaço que alinhe os principais
objetivos do zoológico: conservação e entretenimento (DA LUZ, 2016).

3.1.3. A importância da manutenção de serpentes em cativeiro

Desde os tempos mais remotos, animais silvestres foram mantidos sob


condições humanas (BALLESTE e NAOUMOVA, 2019). Dentre estes animais estão
as serpentes, as quais atraem a atenção e curiosidade dos seres humanos devido
as suas características de locomoção, cores e capacidade de produzir e inocular
veneno (caso sejam peçonhentas) (SILVA, et al., 2011).
Apesar do fascínio que os seres humanos possuem por esses animais, o
misticismo, as histórias folclóricas e os mitos que envolvem as serpentes são os
responsáveis por despertar medo nas pessoas e, consequentemente, criar uma
relação negativa que muitas vezes acaba provocando a morte desses animais
devido à falta de conhecimento da população (BERNARDES, et al., 2016; SILVA, et
al., 2011).
As serpentes desempenham um papel importante no equilíbrio da cadeia
trófica e na produção de fármacos (BERNARDES, et al., 2016), portanto, é
importante que o zoológico proporcione, entre outras funções, a conscientização do
público, a fim de favorecer a preservação das espécies (BALLESTE e NAOUMOVA,
2019).
Diante desta perspectiva, é necessário desenvolver e aplicar novas
metodologias para divulgar o ensino sobre as serpentes. Palestras, aulas
expositivas, jogos, entre outras formas de ensino podem exemplificar algumas
dessas metodologias (BERNARDES, et al., 2016). Segundo Balleste e Naoumova
(2019), através da educação multissensorial é possível sensibilizar as pessoas,
fazendo com que elas sintam que fazem parte de um todo e, consequentemente,
suas atitudes tornam-se mais sustentáveis.

3.2. Répteis
3.2.1. Aspectos biológicos da classe

Segundo Martins e Molina (2008), a classe Reptilia é composta por animais


vertebrados e tetrápodes que possuem a pele coberta por escamas e são
ectotérmicos, ou seja, regulam a sua temperatura corporal de acordo com a
temperatura do ambiente.
O Brasil é o quarto país com a maior diversidade de répteis do mundo,
ficando atrás apenas da Austrália, do México e da Índia. Até julho de 2005, eram
conhecidas 641 espécies de répteis que vivem em nosso país, sendo 35 espécies
de quelônios, 217 de lagartos, 326 de serpentes e 57 espécies de anfisbenas
(MARTINS e MOLINA, 2008). Contrariando Martins e Molina (2008), em estudo
publicado por Macedo e Protázio (2022), indicou que o Brasil é o país com a terceira
maior diversidade de répteis no mundo (795 espécies), ficando atrás apenas da
Austrália e do México.
Os répteis que vivem no Brasil ocorrem em praticamente todos os
ecossistemas brasileiros e, devido a sua natureza ectotérmica, estão em abundância
nas regiões mais quentes do país. No Brasil, a Amazônia é o local com maior
diversidade de espécies (aproximadamente 350), na Mata Atlântica são encontradas
quase 200 espécies, no Cerrado mais de 150 espécies e na Caatinga mais de 110
espécies de répteis (MARTINS e MOLINA, 2008).
Os répteis possuem um papel importante no funcionamento dos ecossistemas
brasileiros, uma quantidade considerável desses animais é composta por
predadores de topo de cadeia trófica, como os jacarés e boa parte das serpentes. As
anfisbenas, a maior parte dos lagartos, outras serpentes e algumas tartarugas são
consumidores secundários e alimentam-se principalmente de insetos. Outros
lagartos e tartarugas possuem uma dieta herbívora e são considerados
consumidores primários da cadeia trófica. Existem também as espécies folívoras,
como as iguanas e outros lagartos, que comem frutos e podem atuar como
dispersores de sementes (MARTINS e MOLINA, 2008).
Além da importância para a funcionalidade dos ecossistemas brasileiros, os
répteis também têm importância sócio-econômica no Brasil. Como exemplo estão
alguns quelônios e seus ovos, os quais servem de alimento para populações
humanas. As serpentes peçonhentas, através da extração de seu veneno são
responsáveis pela origem de diversos medicamentos (MARTINS e MOLINA, 2008).

3.2.1.1. Aspectos biológicos das serpentes

As serpentes fazem parte da subordem Serpentes, que junto com os lagartos


e lagartixas (Sáuria) e cobras-de-duas-cabeças (Amphisbaenia) constituem a ordem
Squamata. As serpentes são encontradas em quase todo o mundo, majoritariamente
habitam as regiões tropicais e temperadas, devido a sua dependência de fontes
externas de calor para o funcionamento adequado do seu metabolismo
(MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
As serpentes caracterizam-se pelo seu corpo alongado, com ausência de
membros locomotores e pela presença de escamas que cobrem todo o seu corpo.
As serpentes não possuem pálpebras móveis e nem ouvidos externos. Outra
característica é a elasticidade nos movimentos cranianos, principalmente nas
mandíbulas (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
Devido ao corpo muito alongado, as serpentes possuem articulações
adicionais nas vértebras, que são necessárias para suportar a coluna vertebral
alongada. As serpentes passam por processo de ecdise (trocam de pele de tempos
em tempos), iniciando pela borda dos lábios e finalizando no final da sua cauda.
Durante esse processo, a pele fica com uma coloração branca opaca e os animais
reduzem drasticamente sua atividade até que o processo de muda esteja finalizado
(MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
Conforme descrito por Melgarejo-Giménez (2002), a organização interna dos
órgãos nas serpentes é semelhante à de outros répteis, mas com algumas
adaptações. No sistema circulatório, não há particularidades no coração, no entanto,
esses animais apresentam maior número de vasos sanguíneos em relação aos
outros répteis, a fim de garantir irrigação adequada para os outros órgãos.
No sistema respiratório, o pulmão esquerdo é maior, ocupando os dois terços
iniciais do corpo da serpente, enquanto o esquerdo é atrofiado ou inexistente. Outros
órgãos pares como rins, testículos, ovários e supra-renais são alongados e os do
lado direito ficam à frente dos que ficam do lado esquerdo (MELGAREJO-GIMÉNEZ,
2002).
O sistema digestório é grande e o intestino não possui dobras. A bexiga é
ausente no sistema excretor, portanto, o intestino e os órgãos genitais desembocam
na cloaca. Os órgãos copuladores dos machos são chamados de hemipênis e estão
invaginados na cauda, é um órgão esponjoso que fica ereto ao ser preenchido por
sangue e linfa (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
A visão das serpentes é ineficiente, sendo esse sentido mais utilizado para a
captação de movimento. Os olhos não possuem pálpebras e são protegidos por uma
escama, que é substituída por uma nova a cada troca de pele. O olfato desses
animais é extremamente desenvolvido, no entanto, não está associado ao epitélio
das fossas nasais, e sim dos movimentos vibratórios da língua (MELGAREJO-
GIMÉNEZ, 2002).
As serpentes não possuem ouvido externo e, portanto, a audição é
praticamente inexistente (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002). A termorrecepção é
característica das famílias Boidae e Viperidae, é um mecanismo que facilita a busca
e captura de alimento devido a captação de radiação infravermelha que é emitida
pela presa (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
As serpentes podem botar ovos (ovíparas) ou parir filhotes igual aos
mamíferos (vivíparas), independente da forma de nascimento, as serpentes não
necessitam de cuidado parental ao nascer (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002).
Segundo Melgarejo-Giménez (2002), todas as serpentes engolem a sua presa
inteira, visto que o formato dos dentes não é capaz de dilacerar o alimento. Caso a
serpente perca um dente, ele cresce novamente aproximadamente no mesmo lugar
do que caiu e isso ocorre durante toda a sua vida. Todas as serpentes são
carnívoras e sua dieta varia de espécie para espécie, que alimentam-se de lesmas e
outros moluscos gastrópodes, insetos e miriápodes, peixes, anfíbios, répteis, aves e
mamíferos.

3.4.4. Outros fatores importantes para a manutenção de serpentes em


cativeiro
3.4.4.1 Temperatura

Os répteis são animais de natureza ectotérmica, ou seja, necessitam de


fontes de calor exógenas para regular sua temperatura corporal. A digestão,
reprodução e imunidade são apenas alguns exemplos de funções que são afetadas
pela temperatura à qual um réptil está exposto (DIVERS e STAHL, 2019).
O entendimento do gradiente térmico que ocorre no habitat natural de cada
réptil, é primordial para determinar as condições ideais para a manutenção desses
animais em cativeiro. Quando não são encontradas informações específicas a
respeito de determinada espécie, é possível consultar mapas de insolação solar
(horas de sol/dia) e mapas de temperatura (temperatura mínima, média e máxima)
para a área onde ocorre a espécie em questão. Mapas de pluviosidade, altitude e
cobertura vegetal, também são úteis para verificar as preferências ambientais de tal
espécie (DIVERS e STAHL, 2019).
Ainda segundo Divers e Stahl (2019), o estresse em répteis pode estar
diretamente relacionado com as diferenças entre o ambiente natural e o cativeiro.
Répteis em cativeiros, que não são alojados em condições de temperatura,
iluminação e umidade ideais, e esconderijos, ou fotoperíodo adequado, são mais
suscetíveis a adquirir doenças. Atualmente existem disponíveis muitos produtos que
podem ser utilizados para fornecer aos répteis um gradiente de temperatura (Ex:
vários tipos de lâmpadas, pedras e placas de aquecimento).
No entanto, esses utensílios podem não ser capazes de fornecer o gradiente
térmico adequado para répteis aquáticos ou arborícolas. Para répteis aquáticos,
pode ser necessária a utilização de um aquecedor que fique submerso. Já para
répteis arborícolas, pode ser necessária a utilização de uma fonte de calor radiante,
que consiga aquecer locais mais altos do recinto, onde geralmente os répteis
arborícolas são encontrados (DIVERS e STAHL, 2019).
Conforme descrito por Divers e Stahl (2019), é recomendável manter um
ponto quente no recinto próximo a extremidade superior da zona de temperatura
ideal. Assim os répteis conseguem atingir temperaturas mais altas, semelhantes às
que encontram na natureza; ou podem escolher temperaturas mais baixas, que
podem estar fora da temperatura ideal. Caso a temperatura não esteja adequada
para o réptil, é provável que o mesmo adoeça.
Para a maioria dos répteis diurnos, deve-se fornecer durante o dia uma
temperatura do ar de 27º-32ºC, com uma área de aquecimento de 32º-38ºC. Répteis
com hábito noturno ou que vivem em áreas montanhosas geralmente se dão bem
com temperaturas do ar diurno variando entre 21º-27ºC, mas ainda se beneficiam de
uma área do recinto onde a temperatura varia entre 32º-35ºC. Na parte da noite, as
temperaturas do ar não devem ficar abaixo dos 21ºC para a maioria dos répteis
(DIVERS e STAHL, 2019).
Temperaturas variando entre 15º-21ºC, são potencialmente prejudiciais para a
maioria dos répteis, pois essa faixa de temperatura parece ser muito inferior para
que a digestão do alimento aconteça da forma correta e, para o funcionamento
adequado do sistema imunológico, ao mesmo tempo em que essa faixa de
temperatura é muito alta para permitir a brumação do animal (DIVERS e STAHL,
2019).
Répteis mantidos em recintos sem fontes de calor suplementar, ou em locais
onde a temperatura diurna não fique entre a faixa de 32º-35ºC, ou quando são
mantidos constantemente na faixa de temperatura entre 15º-21ºC, são mais
propensos a adoecerem (DIVERS e STAHL, 2019).

3.4.4.2 Fotoperíodo e iluminação

Os requisitos mínimos de iluminação para serpentes ainda não são bem


definidos, no entanto, o fornecimento de um fotoperíodo promove boa saúde e
aumentam o sucesso reprodutivo dos animais. A utilização de lâmpadas UVB não é
citada como um requisito necessário na criação, mas herpetocultores que utilizaram
esse tipo de iluminação relataram que suas cobras estavam mais ativas e
demonstraram comportamento de aquecimento (DIVERS e STAHL, 2019).
Na maior parte dos casos, através da iluminação artificial, é possível fornecer
aos répteis um recinto com características semelhantes do seu habitat natural,
principalmente ao se tratar de répteis encontrados em zonas subtropicais ou
temperadas (DIVERS e STAHL, 2019).
Répteis alojados em recintos com claraboia tendem a responder melhor à luz
natural do que a uma fonte de luz artificial. No geral, é recomendado fornecer ao
réptil 14 horas de luz no verão e 12 horas de luz no inverno. Para répteis de zonas
temperadas, é recomendado fornecer 15 horas de luz no verão,12 horas de luz na
primavera e no outono e 9 horas de luz no inverno. Já para répteis tropicais, utilizar
13 horas de luz durante o verão e 11 horas de luz durante o inverno (DIVERS e
STAHL, 2019).
Mesmo com uma grande variedade de luzes artificiais disponíveis no
mercado, não existe nada que substitua a luz natural. A luz natural estimula o apetite
dos répteis, no entanto são necessários alguns cuidados quando se utiliza a
iluminação natural. Os répteis não devem ser colocados em recintos com laterais de
vidro, onde ocorre incidência direta da luz, o efeito estufa dentro destes recintos
causou a morte de répteis em cativeiro (DIVERS e STAHL, 2019).

3.4.4.3 Umidade e ventilação

Promover um gradiente de umidade ideal em um recinto não é uma tarefa


fácil. A criação de pontos muito úmidos não deve ser feita em função da ventilação
do recinto, pois a umidade e a ventilação possuem uma relação inversa entre si.
Caso o recinto não tenha ventilação adequada, o ar que fica “preso” dentro dele
pode contribuir para a proliferação de fungos e bactérias patogênicos — portanto, só
se deve fornecer pontos de alta umidade em recintos bem ventilados (DIVERS e
STAHL, 2019).
Um dos métodos mais utilizados para fornecer aos répteis pontos de alta
umidade dentro do recinto é a utilização de uma caixa contendo substratos que
retenham umidade, como, por exemplo, musgo, esfagno ou turfa. Essas caixas
fornecem a umidade necessária para os répteis, auxiliando na ecdise, deposição de
ovos e evitam a desidratação crônica. Diversos criadores também utilizam
umidificadores, vaporizadores, nebulizadores automáticos, ou pequenas fontes que
umidificam o recinto (DIVERS e STAHL, 2019).

3.4.4.4 Alimentação e nutrição

Segundo Divers e Stahl (2019), a má nutrição e o fornecimento de um


ambiente inadequado são responsáveis por 80% dos problemas de saúde de répteis
em cativeiro. Tanto a qualidade quanto a quantidade de alimento fornecido são
fatores importantes para a nutrição adequada desses animais.

Todas as cobras são carnívoras e sua dieta é composta por diversas presas.
Algumas espécies de cobras possuem uma dieta especializada — e, portanto, são
mais difíceis de serem mantidas em cativeiro. O fornecimento de presas que não
fazem parte da dieta de determinada espécie é um dos motivos mais comuns de
anorexia em cobras. Portanto, é de suma importância que os detentores desses
animais conheçam (DIVERS e STAHL, 2019).
Grande parte das espécies de cobras não sofrem de problemas nutricionais
quando são alimentadas com roedores criados em cativeiros, pois os roedores são
alimentos balanceados completos desde que sejam alimentados com ração
comercial balanceada específica (DIVERS e STAHL, 2019).
Possíveis alimentos coletados na natureza não devem ser fornecidos aos
animais, pois podem ser vetores de parasitas, bactérias, fungos ou vírus (DIVERS e
STAHL, 2019).
Na hora da alimentação, os roedores podem ser oferecidos frescos logo após
o abate ou reaquecidos depois de descongelados. A presa deve ser colocada no
recinto do animal e, se necessário, movimentar a presa utilizando pinças longas para
atrair a atenção da serpente. Não é aconselhável utilizar a mão para simular o
movimento, pois a mão humana tende a irradiar mais calor do que uma presa
aquecida (DIVERS e STAHL, 2019).
Se uma cobra não estiver se alimentando direito, é necessário rever seus
hábitos naturais, a fim de planejar uma estratégia para proporcionar à cobra uma
dieta adequada. É comum que as cobras não se alimentem na troca de pele. A
frequência de alimentação varia de acordo com a idade, peso e espécie da cobra.
Animais jovens e adultos se saem bem quando alimentados com roedores uma vez
por semana. No entanto, recém-nascidos ou animais mais ativos podem necessitar
de alimentação mais frequente (DIVERS e STAHL, 2019).

3.2.2. A escolha de serpentes como pets exóticos

Desde os tempos mais antigos, os seres humanos utilizam os animais para


atender suas necessidades, seja devido a sua religião ou cultura, como fonte de
alimento ou como animais de companhia. Mesmo que essas interações aconteçam
desde a antiguidade, diversas relações entre seres humanos e animais são
consideradas inadequadas quando são colocadas do ponto de vista do bem-estar
animal, da preservação e do uso sustentável dos recursos naturais (MACEDO e
PROTÁZIO, 2022).
A busca pelos répteis como animais de companhia vem crescendo ao longo
dos anos e impulsionando cada vez mais esse mercado (MACEDO e PROTÁZIO,
2022). O comércio desses animais ocorre principalmente na Europa e nos Estados
Unidos, onde há diversos criadouros e sites que disponibilizam manuais e guias para
a criação de répteis (MELGAREJO-GIMÉNEZ, 2002). Somente nos Estados Unidos,
o comércio de répteis é responsável pela movimentação de bilhões de dólares por
ano (MACEDO e PROTÁZIO, 2022).
Em estudo publicado por Macedo e Protázio (2022), no Brasil 46 (6%) das
espécies de répteis nativas são utilizadas como animais de companhia, e este
número aumenta para 69 quando as espécies exóticas são consideradas,
evidenciando o comércio ilegal desses animais via internet.
Segundo Aguiar (2021), dentre todas as atividades ilegais, o comércio ilegal
de animais silvestres ocupa a terceira posição do ranking, mobilizando
aproximadamente dez bilhões de dólares ao ano. Devido ao avanço na tecnologia e
a falta de recursos das autoridades para monitorar os vendedores anônimos ilegais
em sites, está cada vez mais difícil combater o tráfico de animais.
Ainda conforme o estudo realizado por Aguiar (2021), de 554 anúncios de
venda de animais silvestres, em 545 foi possível obter o valor de venda dos
mesmos, apenas 14,12% (N = 77) eram de animais comercializados dentro das
normas da lei, e 85,87% (N = 468) eram comercializados de forma ilegal. Os valores
de venda para os 77 animais comercializados legalmente eram de R$193.674,00,
enquanto os animais ilegais somavam R$203.077,13. A diferença entre os valores
de um animal legal e ilegal é o fator mais atrativo para quem compra os animais
vendidos ilegalmente. Os animais comercializados de forma ilegal mais caros eram
as serpentes Boa constrictor (R$1.725,00) e Python regius (R$1.544,00). O valor
médio de uma Boa constrictor comercializada legalmente é de R$4.500,00
(AGUIAR, 2021).
O comércio de animais silvestres tornou-se ilegal com a edição da Lei nº
5.197/1967, anteriormente a essa data, o comércio de animais silvestres acontecia
livremente (ALBUQUERQUE, 2014). Atualmente a única maneira de adquirir um
animal silvestre legalizado no Brasil é comprando de um criadouro licenciado
(ALBUQUERQUE, 2014).
28

3.3. Serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba

3.3.1. Família Boidae

Quadro 01. Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba
pertencentes à família Boidae.

Boa constrictor Boa constrictor Eunectes murinus -


Características Epicrates crassus -
constrictor - Jibóia amarali - Jibóia Sucuri, Anaconda ou
biológicas Salamanta do Cerrado
Amazônica Cinzenta Boiaçu
Reino Animalia, Filo Reino Animalia, Filo
Reino Animalia, Filo Reino Animalia, Filo
Chordata, Classe Reptilia, Chordata, Classe Reptilia,
Chordata, Classe Reptilia, Chordata, Classe Reptilia,
Ordem Squamata, Ordem Squamata,
Ordem Squamata, Subordem Ordem Squamata,
Classificação Subordem Serpentes, Subordem Serpentes,
Serpentes, Família Boidae, Subordem Serpentes,
taxonômica Gênero Boa, Espécie Boa
Família Boidae, Gênero
Família Boidae, Gênero
Família Boidae,
Boa, Espécie Boa Gênero Eunectes,
constrictor, Subespécie Boa Epicrates, Espécie
constrictor, Subespécie Espécie Eunectes
constrictor constrictor Epicrates crassus
Boa constrictor amarali murinus

Países da América do
Sul, como Brasil,
Venezuela, Paraguai,
Colômbia, Equador,
Distribuição Região amazônica e Endêmica das regiões Brasil, Bolívia e
Bolívia, Guiana, Guiana
geográfica Nordeste do Brasil Sul e Sudeste Paraguai
Francesa, Peru,
Suriname, e possui uma
população pertencente
a ilha de Trinidad

Hábitos Terrestre e arborícola Terrestre e arborícola Terrestre Semiaquático


29

Locais próximos a
Habitat Áreas abertas e florestas Cerrado Cerrado
corpos d’água

Conservação
(Ameaça de LC - Não ameaçada LC - Não ameaçada LC - Não ameaçada LC - Não ameaçada
extinção)

ARGOLÔ, 2004; SANTOS, SAWAYA, 2003; LIMA, THOMASSEN e ZIADE,


TERRA, 2018;
et al., 2017; Linnaeus, et al., 2023; Linnaeus, 2020; LIMA, et al., 2023;
Linnaeus, 1758 -
1758 - Sistema de 1758 - Sistema de Linnaeus, 1758 -
Referências Sistema de Informação
Informação Sobre a Informação Sobre a Sistema de Informação
Sobre a Biodiversidade
Biodiversidade Brasileira, Biodiversidade Sobre a Biodiversidade
Brasileira, 2020.
2020. Brasileira, 2020. Brasileira, 2020.

Quadro 02. Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família Boidae.

Boa constrictor Eunectes murinus -


Requisitos de Boa constrictor amarali Epicrates crassus -
constrictor - Jibóia Sucuri, Anaconda ou
manejo - Jibóia Cinzenta Salamanta do Cerrado
Amazônica Boiaçu

Temperatura 20-30ºC 20-30ºC 24-31ºC 20-26ºC

Umidade 80-90% 60-70% 35-60% -

Manual de Orientações
Básicas para Criação
CHIAVELLI e BAUER, CHIAVELLI e BAUER, de: Jiboia (Boa
Referências BELLUOMINI, et al., 1981
2019. 2019. constrictor) e Jiboia-
arco-íris (Epicrates spp.)
- JIBOIAS BRASIL
30

3.3.2. Família Colubridae.

Quadro 03: Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba
pertencentes à família Colubridae.

Características
Spilotes pullatus - Caninana Pantherophis guttatus - Corn Snake
biológicas
Reino Animalia, Filo Chordata, Classe Reptilia, Ordem Reino Animalia, Filo Chordata, Classe Reptilia, Ordem
Classificação
Squamata, Subordem Serpentes, Família Colubridae, Squamata, Subordem Serpentes, Família Colubridae,
taxonômica Gênero Spilotes, Espécie Spilotes pullatus Gênero Pantherophis, Espécie Pantherophis guttatus

Distribuição
América Central e América do Sul Endêmica dos Estados Unidos da América
geográfica

Hábitos Terrestre e Arborícola Terrestre

Florestas, savanas, arbustos, pastagens, cavernas


Habitat Diversos
e habitats subterrâneos

Conservação
(Ameaça de LC - Não ameaçada LC - Não ameaçada
extinção)

SILVA, 2012; RODRIGUES e LUNA, 2023;


Linnaeus, 1758 - Sistema de Informação Sobre a International Union for Conservation of Nature
Referências
Biodiversidade Brasileira, 2020. (IUCN).
31

Quadro 04. Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família Colubridae.

Requisitos de
Spilotes pullatus - Caninana Pantherophis guttatus - Corn Snake
manejo

Temperatura - 19-29ºC

Umidade - -

Referências DIVERS e STAHL, 2019.

3.3.3. Família Phytonidae.

Quadro 05: Características biológicas, classificação taxonômica e informações gerais das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba
pertencentes à família Pytonidae.

Malayopython
Características Python bivittatus - Python regius - Píton Leiopython albertisii -
reticulatus - Píton
biológicas Píton Birmanesa Real Píton-de-Lábios-Brancos
Reticulada

Reino Animalia, Filo


Reino Animalia, Filo
Reino Animalia, Filo Reino Animalia, Filo Chordata, Classe Reptilia,
Chordata, Classe
Chordata, Classe Chordata, Classe Ordem Squamata,
Reptilia, Ordem
Reptilia, Ordem Reptilia, Ordem Subordem Serpentes,
Squamata, Subordem
Classificação Squamata, Subordem Squamata, Subordem Família Phytonidae,
Serpentes, Família
taxonômica Serpentes, Família Serpentes, Família Gênero
Phytonidae,
Phytonidae, Gênero Phytonidae, Leiopython,
Gênero Malayopython,
Python, Espécie Python Gênero Python, Espécie Espécie Leiopython
Espécie Malayopython
bivittatus Python regius albertisii
reticulatus

Distribuição Sudeste da Ásia e África Sudeste da Ásia Nova Guiné


32

geográfica Indonésia

Hábitos Subterrâneo Terrestre e Arborícola Terrestre -

Florestas tropicais,
bosques e áreas de
Selvas, florestas, pastagem. São
Habitat Savanas e florestas savanas, pastagens e comumente Florestas
áreas rochosas encontradas pertos de
locais com córregos ou
lagos

Conservação
(Ameaça de VU - Vulnerável NT - Quase ameaçado LC - Não ameaçada LC - Não ameaçada
extinção)

MILLEFANTI, 2017;
FREITAS, 2011; DIVERS e STAHL, International Union for
International Union for
International Union for 2019; International Conservation of Nature
Referências Conservation of Nature
Conservation of Nature Union for Conservation (IUCN).
(IUCN).
(IUCN). of Nature (IUCN).

Quadro 06. Requisitos de manejo das serpentes de interesse do Zoológico Municipal de Curitiba pertencentes à família Phytonidae.

Malayopython
Requisitos de Python bivittatus - Python regius - Píton
reticulatus - Píton Leiopython albertisii
manejo Píton Birmanesa Real
reticulada

Temperatura 21-32ºC 21-32ºC - -

Umidade 60-70% - -

Referências DIVERS e STAHL, 2019 MILLEFANTI, 2017;


33

DIVERS e STAHL, 2019


34

3.4. Recintos

3.4.1. Tamanho do recinto

De maneira geral, quanto maior o recinto melhor será para o réptil, no


entanto, fatores como temperatura e umidade devem ser mantidas em faixas ideais
e, o animal deve localizar com facilidade fontes de comida e água. Além disso,
recintos menores são recomendados para répteis recém-nascidos ou jovens, pois
animais nessa idade geralmente não se adaptam bem quando alocados em recintos
grandes (DIVERS e STAHL, 2019).
A Instrução Normativa nº 07, de 30 de abril de 2015 publicada pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),
estabelece a densidade máxima de ocupação de espécimes por área de recinto.
Para as famílias Aniilidae, Boidae, Colubridae, Elapidae, Leptotyphlopidae,
Typhlopidae, Uropeltidae, Xenopeltidae e Viperidae as seguintes densidades
máximas de ocupação devem ser respeitadas (Quadro 07):

Quadro 07. Densidade máxima de ocupação por área de recinto. Fonte: IBAMA, 2015.

Outros aspectos
Comprimento do animal Densidade de ocupação
recomendáveis

50 cm de altura mínima
Até 50 cm 01 animal/1m²
das laterais

100 cm de altura mínima


De 50 a 100 cm 01 animal/1,5m²
das laterais

150 cm de altura mínima


De 100 a 200 cm 01 animal/2m²
das laterais

150 cm de altura mínima


De 200 a 300 cm 01 animal/3m²
das laterais

200 cm de altura mínima


Acima de 300 cm 01 animal/4m²
das laterais

3.4.2. Construção do recinto


35

Segundo a Instrução Normativa nº 07, de 30 de abril de 2015 (IBAMA), os


recintos de répteis em jardins zoológicos terão que atender obrigatoriamente os
seguintes requisitos (Quadro 08):

Quadro 08. Requisitos obrigatórios para recintos de répteis em jardins zoológicos segundo a IN nº 07
de 30/04/15 (IBAMA).

Requisitos obrigatórios para recintos de répteis em jardins zoológicos:

As paredes e o fundo do tanque ou lago


Ter solário e local sombreado
não podem ser ásperas

Recintos que abriguem fêmeas devem


Fácil acesso a água conter substrato adequado para a
desova

Piso de areia, terra, grama, folhas,


troncos, pedras e suas combinações, a Recintos de serpentes arborícolas
fim de proporcionar diversos habitats devem conter galhos
aos animais

Em recintos fechados, deve-se fornecer


Recintos de serpentes com hábitos semi
iluminação artificial, que
aquáticos devem possuir tanque com
comprovadamente substituam as
tamanho condizente ao animal
radiações solares

O material utilizado na construção do recinto de uma serpente é um fator


importante na manutenção desses animais em cativeiro, o material deve ser liso, não
abrasivo e não absorvente, para que o animal não se machuque e o recinto seja
facilmente higienizado e desinfetado (DIVERS e STAHL, 2019).
Os recintos para serpentes podem ser construídos de diversos materiais,
como vidro, plástico, fibra de vidro e madeira. Independente do material utilizado,
todos devem ser impermeáveis (MILLEFANTI, 2017)
Segundo Divers e Stahl (2019), os recintos de serpentes devem cumprir
algumas especificações (Quadro 09):
Quadro 09. Especificações para recintos de serpentes (DIVERS e STAHL, 2019).

Especificações para recintos de serpentes:

O recinto deve ser fechado com trinco


Deve-se fornecer esconderijos
ou fechadura, a fim de evitar fugas

Devem ser de fácil acesso para O material de construção do recinto


limpeza, alimentação e monitoração da deve ser impermeável
36

serpente

Deve-se fornecer iluminação,


Evitar materiais que possam abrigar
ventilação, temperatura e umidade
ectoparasitas
adequada para a espécie

Deve ser grande o suficiente para


Devem ser fácil de higienizar e
acomodar a cobra e permitir alguma
desinfetar
atividade

Deve-se utilizar substratos adequados e


Recintos com múltiplos animais devem
que atendam às necessidades da
ser uniformes para facilitar o manejo
espécie

Segundo Divers e Stahl (2019), os recintos em forma de retângulo são os


mais utilizados. Ainda segundo os autores, répteis mantidos em recintos
retangulares tiveram menos problemas de lesão do que répteis mantidos em recintos
hexagonais, octogonais ou pentagonais. Além disso, em recintos retangulares é
mais fácil de manter faixas ideais de temperatura e umidade.
Outro fator importante na construção de um recinto é a ventilação superior,
principalmente quando substratos naturais são utilizados, pois estes podem ser
potenciais meios para a proliferação de fungos e bactérias quando a ventilação do
recinto é insuficiente (DIVERS e STAHL, 2019).

3.4.3. Tipos de recintos

Segundo Divers e Stahl (2019), existem diversos tipos de recintos e com


diferentes configurações, são eles (Quadro 10):

Quadro 10. Configurações para recintos de serpentes (DIVERS e STAHL, 2019).

Diferentes tipos de configurações para recintos:

Possui apenas um tipo de substrato, uma tigela de água,


Configuração
um esconderijo e, pode possuir alguma planta ou pedaço
básica
de galho.

É igual ao básico, mas possui um ou dois tipos de


Configuração
substratos que formam uma área seca e outra úmida,
úmido-seco
proporcionando um gradiente de umidade horizontal.

Configuração com Possui três camadas de substrato, o cascalho fica na parte


37

inferior, seguido da areia e, cobertura morta na superfície.


três camadas O cascalho pode ser umedecido, formando gradiente de
umidade vertical.

Utiliza-se areia como substrato, geralmente uma camada


Configuração do espessa. Um pote de água pequeno, boa ventilação e,
deserto dependendo da espécie deve-se fornecer uma pequena
área úmida.

São recintos criados com substratos naturais, pedras,


Arranjos naturais e
galhos, plantas e são semelhantes ao habitat natural de
recintos externos
determinada espécie.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os jardins zoológicos desempenham um papel fundamental na preservação


de espécies nativas e exóticas da fauna silvestre. Por meios de programas de
conservação e reprodução, os zoológicos são responsáveis pela reintrodução de
espécies ameaçadas em seus habitats naturais. Além disso, os zoológicos
trabalham com pesquisas científicas, educação ambiental e na conscientização da
população sobre a importância da preservação da fauna silvestre e seus habitats.

As serpentes são animais muitas vezes incompreendidos, jardins zoológicos


que disponham de serpentes em seu plantel têm a oportunidade de trabalhar com
esses animais em programas de educação ambiental, a fim de conscientizar a
população sobre a importância das serpentes no ecossistema, bem como a
preservação de seus habitats naturais.

A venda de serpentes como animais de companhia é uma área que cresce a


cada ano, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Apesar da popularidade
desses animais, ainda são necessários estudos para determinar as condições
adequadas para a manutenção de serpentes em cativeiro.

Devido à natureza ectotérmica das serpentes, conhecer as características


biológicas e fisiológicas das espécies, bem como as características e
38

particularidades dos locais que habitam, é primordial para que seja possível fornecer
um ambiente adequado a esses animais.

Cabe aos zootecnistas e outros profissionais da área promover aos animais


um recinto enriquecido, capaz de suprir as necessidades fisiológicas, biológicas e
psicológicas dos animais.

5. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

5.1. Plano de estágio

As atividades realizadas durante o estágio obrigatório no Zoológico Municipal


de Curitiba, vinculado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Departamento de
Pesquisa e Conservação da Fauna (MAPCF), foram realizadas de acordo com o
designado no Plano de Estágio (Anexo 1) durante o período de 07 de abril de 2023 a
01 de julho de 2023, totalizando 464 horas, conforme descrito abaixo:
● Desenvolver habilidades, atitudes, relacionamento interpessoal,
comportamento ético, comunicação verbal e escrita que permitam o
conhecimento e compreensão do trabalho;
● Acompanhamento do serviço de tratadores e técnicos;
39

● Acompanhamento do serviço de cozinha e nutrição dos animais;


● Contenção e manejo dos animais;
● Acompanhamento de manejo de pastagens;
● Acompanhamento de atividades de bem-estar animal.

5.2. Local de estágio

O estágio obrigatório do curso de Zootecnia da Universidade Federal do


Paraná foi conduzido no Zoológico Municipal de Curitiba, situado dentro do Parque
Regional do Iguaçu, no município de Curitiba - PR, na Rua João Miqueletto, número
1500, no bairro Alto Boqueirão, CEP: 81860-270 (25° 28' 42.348" S/49° 14' 55.284"
O). O estágio foi realizado sob orientação do zootecnista e chefe do setor de
nutrição animal do zoológico Carlos Frederico Grubhofer.
Conforme consultado no portal da Prefeitura Municipal de Curitiba, o primeiro
zoológico de Curitiba situava-se no Passeio Público. O atual zoológico foi fundado
no ano de 1982, com a demanda de abrigar o plantel do Passeio Público em recintos
mais adequados (DA LUZ, 2016).
Segundo o portal da Prefeitura Municipal de Curitiba, atualmente o zoológico
abriga aproximadamente 1.800 animais de 127 espécies diferentes. A instituição faz
parte da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB) e integra grupos
nacionais com foco na preservação de espécies brasileiras ameaçadas de extinção,
por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre AZAB, ICMBio (Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade) e MMA (Ministério do Meio Ambiente).
Dentre as vinte e cinco espécies listadas no documento, dez fazem parte do plantel
do Zoológico Municipal de Curitiba: muriqui-do-sul; mico-leão-da-cara-dourada;
macaco-aranha-da-testa-branca; tamanduá-bandeira; onça-pintada; lobo-guará;
jacutinga; ararajuba; jacucaca e sagui-da-serra-escuro.

5.3. Descrição das atividades desenvolvidas

5.3.1. Rotina da cozinha


40

Durante todo o período do estágio, a cozinha era o setor ao qual eu mais


participava das atividades dentro do zoológico (Figura 01). As atividades na cozinha
do zoológico incluíam o recebimento e armazenamento de produtos alimentícios,
auxílio no preparo da dieta fornecida aos animais, distribuição das bandejas de
alimentação para seus respectivos setores, elaboração e ajustes nas planilhas de
dieta dos animais (Figura 02), controle de sobras da dieta devido à ausência de
consumo por parte de alguns animais e manutenção das bandejas que são
utilizadas para a distribuição de alimentos.
Para o preparo da dieta dos animais, os funcionários utilizam planilhas que
determinam quais alimentos são fornecidos para cada animal, bem como suas
quantidades exatas (Figura 03 e 04)

Figura 01: Cozinha do zoológico e funcionários preparando a dieta dos animais. Fonte: Acervo
pessoal.
41

Figura 02: Planilha de horário da dieta dos grandes herbívoros/ruminantes. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 03: Planilha de dieta dos cracídeos. Fonte: Acervo pessoal.


42

Figura 04: Preparo da dieta dos cracídeos. Fonte: Acervo pessoal.

5.3.2. Instalações

A cozinha do Zoológico Municipal de Curitiba é dividida em duas áreas: área


limpa e área suja. As atividades que são realizadas na área suja envolvem o
recebimento de produtos alimentícios, que são lavados e posteriormente
armazenados na área limpa (Figura 05), e o recebimento e a higienização das
bandejas que são utilizadas para a distribuição dos alimentos (Figura 06 e 07).
A área limpa é dividida em: açougue, mesas de preparo das dietas, “ração”,
câmara fria e depósito de rações. No açougue são preparadas as dietas dos animais
carnívoros, como felinos e rapinantes (Figura 08). No depósito de rações ficam
armazenados os alimentos secos (rações, suplementos, pedras de sal, etc.) (Figura
09). A parte da “ração” é uma extensão da mesa onde são preparadas as dietas dos
grandes herbívoros, nessa área fica um funcionário pesando as rações que são
enviadas junto com os alimentos cortados na mesa dos grandes herbívoros (Figura
10). As mesas de preparo são utilizadas para cortar os alimentos e organizar os
43

alimentos nas bandejas de cada animal (Figura 11 e 12). A câmara fria é o local
onde são armazenados os produtos mais perecíveis (Figura 13).

Figura 05: Local de recebimento e lavagem dos hortigranjeiros na área suja. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 06: Local onde as bandejas de alimentação são higienizadas. Fonte: Acervo pessoal.
44

Figura 07: Bandejas de alimentação higienizadas. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 08: Açougue. Fonte: Acervo pessoal.


45

Figura 09: Depósito de ração. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 10: Local onde a ração é misturada aos alimentos dos grandes herbívoros. Fonte: Acervo
pessoal.
46

Figura 11: Mesas onde são preparadas as dietas dos animais. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 12: Dieta Macaco-aranha. Fonte: Acervo pessoal.


47

Figura 13: Câmara fria. Fonte: Acervo pessoal.

5.3.4. Rotina dos tratadores

O zoológico possui uma grande quantidade de tratadores, os tratadores são


divididos de acordo com os setores do zoológico e são responsáveis pelo
fornecimento de alimentos, limpeza das instalações e manejo de animais.
Durante o acompanhamento da rotina dos tratadores, participei de suas
atividades diárias, a fim de melhor compreender a rotina de trabalho deles e
observar como eles lidavam com os animais que tratavam.

5.3.5 Rotina do programa de enriquecimento ambiental

O programa de enriquecimento ambiental do zoológico é coordenado pela


bióloga Vanessa Freire de Carvalho, que é responsável por idealizar o tipo de
enriquecimento ambiental que será feito para cada espécie de animal, além de
confeccionar os materiais que serão utilizados no enriquecimento.
48

A bióloga Vanessa mantém um contato próximo aos tratadores, para auxiliar e


instruir eles a maneira correta de fornecer o enriquecimento ambiental.
Durante o período de estágio foi possível acompanhar algumas atividades de
enriquecimento ambiental, como o fornecimento de sucos para os chimpanzés,
caixas de ovos com recompensas para pequenos primatas (Figura 14), carne
enrolada em papel para grandes felinos (Figura 15), varal de frutas para aves (figura
16), entre outros.

Figura 14: Alimentos escondidos em caixa de ovo para Sagui-do-tufo-branco. Fonte: Acervo pessoal.
49

Figura 15: Carne enrolada em papel para Onça pintada. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 16: Varal de frutas para cracídeos. Fonte: Acervo pessoal.

5.3.6. Rotina do biotério

O biotério cumpre um papel importante na rotina do zoológico, pois dali saem


ratazanas e camundongos que servem de alimento para diversas espécies de
animais. As atividades no biotério consistem na limpeza das caixas, troca de cepilho,
fornecimento de ração e água, manejo dos animais e abate (Figuras 17, 18 e 19).
50

Os funcionários do biotério também são encarregados de preencher uma


ficha controle, que consta a contagem de nascimentos, óbitos e animais
desmamados (Figura 20).
O biotério possui duas salas, uma é destinada a criação de ratazanas,
enquanto na outra são criados os camundongos, deste modo o manejo é facilitado.
Nas duas salas ocorrem a reprodução, desmame e engorda dos roedores.

Figura 17: Caixas de ratazanas. Fonte: Acervo pessoal.


51

Figura 18: Troca de cepilho, ração e água. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 19: Caixa de ratazanas desmamadas. Fonte: Acervo pessoal.


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Figura 20: Ficha para controle de quantidade de ração e cepilho utilizados. Fonte: Acervo pessoal

5.3.7. Outras atividades

Além das atividades citadas anteriormente, devido a uma demanda do meu


supervisor, foi idealizado um projeto para criar “casinhas” onde as bandejas com a
dieta dos animais seriam entregues, a fim de evitar que animais de vida livre
consumissem o alimento antes que os tratadores pegassem as bandejas para
fornecer aos animais dos seus respectivos setores.
Para definir o tamanho das “casinhas”, foi retirada a medida de todas as
bandejas/potes de alimentos que são entregues nos setores. As medidas foram
repassadas ao Carlos, junto a uma sugestão para o tamanho das casinhas (Quadro
11).

Quadro 11. Sugestão apresentada ao Carlos para o tamanho das “casinhas”.

Altura das
Profundidade Comprimento Altura Nº de
CASINHA prateleiras
(cm) (cm) (cm) prateleiras
(cm)
53

CAMELO +
90 70 120 30 3
FELINOS 1

CISNÁRIO 80 70 80 30 2

LHAMA 70 70 80 30 2

JACARÉ +
80 70 90 30 3
ARARA

PRIMATAS 50 80 80 25 3

CERVO +
90 70 80 40 2
FELINOS 2

ANTILOPÁ
40 60 70 30 2
RIO

CANÍDEOS 40 60 35 35 1

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o período da realização do estágio curricular obrigatório no Zoológico


Municipal de Curitiba, ficou clara a complexidade de atuar nessa área. Felizmente,
durante a graduação no curso de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná,
somos preparados para enfrentar e solucionar os problemas encontrados durante o
dia-a-dia no ambiente de trabalho.
Os zootecnistas que pretendem atuar na área de animais silvestres podem
trabalhar com nutrição, conservação, educação ambiental, planejamento de recintos,
manejo, bem-estar animal, entre outros.
Independente da área que o zootecnista escolher atuar, sua principal função
dentro de um zoológico é buscar mecanismos que permitam aos animais se
satisfazerem de suas necessidades fisiológicas e biológicas, além de dar condições
54

adequadas, para que eles possam demonstrar seus comportamentos e instintos


naturais.
Durante o período de estágio, estive ao lado de profissionais extremamente
competentes e sou grato pelos ensinamentos que me foram transmitidos. Hoje
encerro um ciclo, agradecendo a todos os professores da Universidade Federal do
Paraná e a todos os profissionais que caminharam ao meu lado até aqui.

7. REFERÊNCIAS

AGUIAR, A. M. (2021). Comércio de animais silvestres em páginas da internet


do Brasil - Trabalho de Conclusão de Curso - UNESC.

ALBUQUERQUE, M. F. C de. (2014). O comércio de animais silvestres no Brasil


e a Resolução CONAMA n.457 - Boletim Científico ESMPU, Brasília, a. 13 - n. 42-
43, p. 147-176 - jan./dez. 2014.

ARGÔLO, A. J. S. (2004). As serpentes dos cacauais do sudeste da Bahia - 260


p., Ilhéus: Editus, 2004.

BALLESTE, S. e NAOUMOVA, N. (2019). Design e planejamento de jardins


zoológicos: Aspectos a serem considerados em projetos contemporâneos -
Revista Pós, Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - FAUUSP,
São Paulo, v. 26, n. 49, 2019.
55

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Eunectes wagler, 1830 - “Sucuris”. (Serpentes: Boinae) - Instituto Butantan,
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de ciências: Um estudo realizado com conteúdo de serpentes - Ensino, Saúde e
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conclusão de curso - UTFPR, Departamento Acadêmico de Desenho Industrial,
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VENTURINI, R. de C. (2013). O Zoológico entendido como paisagem


contemporânea - Tese de Mestrado - UNICAMP, Instituto de Artes, 2013.
57

ANEXOS

Anexo 1. Termo de compromisso e Plano de estágio


58
59
60

Anexo 2. Declaração de conclusão de estágio

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