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Investigação e Desenvolvimento (I&D) na Região do Alentejo

Portugal não é um país regionalizado. Assim sendo, não existe um sistema de inovação
regional, mas sim um Sistema Nacional de Inovação (SNI). Consequentemente, os
actores regionais de inovação do Alentejo são aqueles que pertencem ao SNI e que estão
localizados na região do Alentejo. Uma abordagem regional às estratégias de inovação
tem vindo a ganhar forma nas regiões portuguesas, apoiada em alguma descentralização
de poderes e no facto das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento das diversas
regiões terem sofrido reestruturações e terem ganho algumas funções e projectos (se
bem que limitadas(os)) nestes domínios.

No que respeita ao investimento em I&D, o Alentejo não é uma região particularmente


rica em actividades, recursos e competência em investimento e desenvolvimento
tecnológico. Na presente situação, tendo em conta o panorama actual alentejano e a sua
capacidade de absorção reduzida, isto não é ainda um dos principais problemas. O
Alentejo possui 112 unidades de investigação (INE, 2007), o que representa apenas
5,1% das unidades de I&D em Portugal.

Com um total de 46.877 milhares de euros de despesa total em I&D (INE, 2007), onde
praticamente metade corresponde ao Ensino Superior (44,3%), as Empresas
representam 41,5% do valor, o Estado 12,8% do valor e onde as Instituições Privadas
Sem Fins Lucrativos têm apenas um valor marginal (1,4%). Isto indica que o perfil das
despesas em I&D é concentrado no sector do Ensino Superior, sendo a contribuição das
empresas ligeiramente mais reduzida que a média nacional (38,5%).

Investigação e Desenvolvimento (I&D) por NUTS II, 20051


Unidade: milhares de euros
Despesa em I&D
Unidades Por sector de execução Por fontes de financiamento
de Investigação Total Ensino Instituições privadas Ensino Instituições privadas
Empresas Estado Empresas Estado Estrangeiro
Superior sem fins lucrativos Superior sem fins lucrativos
N.º milhares de euros
Portugal 2179 1.201.112 462.015 175.552 425.187 138.357 435.612 663.000 12.091 33.960 56.448
Continente 2123 1.177.484 460.188 166.249 415.078 135.968 434.696 644.213 12.047 32.555 53.973
Norte 608 287.452 114.461 14.060 116.033 42.897 106.359 155.966 5.867 9.524 9.736
Centro 499 186.420 69.937 9.280 89.524 17.678 58.778 113.483 2.989 2.486 8.685
Lisboa 869 643.908 255.836 135.667 177.782 74.623 253.411 340.143 2.466 19.470 28.417
Alentejo 112 46.877 19.434 6.013 20.780 650 15.647 24.890 551 1.059 4.730
Algarve 35 12.827 519 1.229 10.958 121 501 9.731 174 15 2.406
R. 'A. Açores 30 11.317 164 2.436 6.705 2.012 343 8.868 44 1.219 842
R. 'A. Madeira 26 12.311 1.663 6.867 3.404 377 573 9.919 - 186 1.633
Fonte: INE, Portugal, 2007, Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores 2006/Statistical Yearbook of Região Autónoma
dos Açores 2006. Informação disponível até 30 de Setembro de 2007.

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Os últimos referenciais que a Comissão Europeia tem sobre o investimento em investigação e desenvolvimento
(I&D) é de 2005, segundo o Coordenador do Plano Tecnológico. Sobre este assunto, veja-se o jornal Público, de
17/07/2008. Existe também uma bateria de indicadores, sendo um dos mais conhecidos o European Innovation
Scoreboard (EIS). Estes indicadores servem de apoio à definição de políticas e a comparações internacionais.
Segundo o índice sintético da inovação na Europa, Portugal situa-se em 22º.

1
Indicadores de Investigação e Desenvolvimento (I&D) por NUTS II, 2004 e 2005
Pessoal em I&D
Despesa em I&D Despesa em I&D Despesa em I&D Despesa média em I&D
na população
no PIB Empresas no Estado por unidade
activa
2004 2005
% milhares de euros
Portugal 0,77 38,5 14,6 0,46 551,2
Continente 0,80 39,1 14,1 0,47 554,6
Norte 0,66 39,8 4,9 0,32 472,8
Centro 0,64 37,5 5,0 0,34 373,6
Lisboa 1,10 39,7 21,1 0,89 741,0
Alentejo 0,45 41,5 12,8 0,25 418,5
Algarve 0,23 4,0 9,6 0,21 366,5
R. 'A. Açores 0,41 1,4 21,5 0,31 377,2
R. 'A. Madeira 0,24 13,5 55,8 0,23 473,5
Fonte: INE, Portugal, 2007, Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores 2006/Statistical Yearbook of Região Autónoma
dos Açores 2006. Informação disponível até 30 de Setembro de 2007.

No gráfico seguinte o Alentejo destaca-se no campo da I&D, revelando-se, em termos


relativos, como a região líder em Portugal ao nível da despesa em I&D nas empresas,
ultrapassando todas as regiões nacionais. Já no que concerne aos valores referentes à
despesa de I&D no Estado, estes apresentam-se ligeiramente abaixo da média nacional,
mas ainda assim a região Alentejo ocupa a segunda posição, comparativamente às
outras regiões, ultrapassando o Norte, o Centro e o Algarve. Por outro lado, o facto da
I&D ser significativamente mais elevada a nível da esfera privada, mostra um salto
qualitativo e uma consciencialização fundamental rumo ao desenvolvimento, à inovação
e eficiência.

Indicadores de Investigação e Desenvolvimento (I&D) por NUTS II, 2005

45 800
40 700
35
600
30
500
25
%

400
20
300
15
200
10
5 100

0 0
Algarve
Centro
Continente

Norte

Lisboa

Alentejo

Despesa em I&D Despesa em I&D Despesa média em I&D


Empresas no Estado por unidade

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No que se refere à divisão da despesa de I&D por área científica, é de realçar a
percentagem de despesa nas Ciências Agrárias e Veterinárias, a que pertence 44,5% do
valor gasto em I&D (muito superior a outras regiões e consequentemente superior
também à média nacional – 10,4%). A restante despesa divide-se do seguinte modo:
Ciências Exactas – 10,7%; Ciências Naturais – 15,2%; Ciências de Engenharia e
Tecnologia – 10,8%; Ciências da Saúde – 0,8% e Ciências Sociais e Humanas – 28,7%.
Esta distribuição, com percentagens abaixo da média nas Ciências Exactas, Ciências
Naturais e principalmente nas Ciências de Engenharia e Tecnologia, reflecte um sistema
de I&D pouco vocacionado para dar respostas às necessidades científicas de diversas
áreas do sector empresarial. Não será, portanto, de estranhar que dominem na Região as
actividades de I&D subsidiadas, quer através de programas Europeus quer através de
programas nacionais geridos pela Fundação para a Ciências e Tecnologia (FCT).

Apesar desta fragilidade, a região do Alentejo evidenciou nos anos 90 uma tendência de
reforço nos gastos em I&D, apresentando-se como a segunda região onde a despesa
total mais cresceu, entre 1990 e 2001, registando mesmo uma evolução superior à média
nacional. No entanto, não se atingiram os níveis médios nacionais, pois, em 2003, a
despesa total em I&D nacional era apenas de 4%.

Repartição da despesa em Investigação e Desenvolvimento (I&D) a preços


constantes, segundo a área científica ou tecnológica por NUTS II, 2005
Unidade: milhares de euros

Ciências Ciências Ciências de Engenharia e Ciências da Ciências Agrárias e Ciências Sociais e


Exactas Naturais Tecnologia Saúde Veterinárias Humanas
Portugal 74015 83949 176622 74024 75571 145970
Continente 72137 79013 174371 73646 68984 143412
Norte 13215 16530 44442 24901 12743 35660
Centro 16476 10778 23679 14122 5454 28803
Lisboa 39123 44215 102266 34238 40995 70031
Alentejo 2496 3568 2525 190 7896 6723
Algarve 827 3922 1459 194 1895 2196
R. 'A. Açores 836 3628 1290 84 1603 2067
R. 'A. Madeira 1042 1307 960 294 4984 491
Fonte: INE, Portugal, 2007, Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores 2006/Statistical Yearbook of Região Autónoma
dos Açores 2006. Informação disponível até 30 de Setembro de 2007.

A estrutura dos recursos humanos que desenvolve actividades de I&D na região do


Alentejo segue a estrutura de despesas, havendo, portanto, um forte relevo do sector do
ensino superior, enquanto pólo de estímulo destas actividades. Existiam, em 2005
(dados do INE) 957 pessoas (3,7% do pessoal nacional) em Equivalente a Tempo
Integral (ETI) em actividades de I&D no Alentejo e 51,4% dessas pessoas estavam
afectas ao Ensino Superior. As empresas detinham 24,8% do pessoal em I&D (ETI) e o
Estado 21,4%, sendo que as IPSFL obtinham novamente valores marginais (2,5%).
Ainda assim, a região exibiu uma forte tendência de crescimento do pessoal afecto a
actividades de I&D (tal como havia sido verificado nas despesas com I&D), embora
continuasse a revelar no final da década valores abaixo da média nacional.

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Investigação e Desenvolvimento (I&D) por NUTS II, 2005
Unidade: N.º

Pessoal em I&D (Equivalente a Tempo Integral)


Por sector de execução
Total Instituições privadas
Empresas Estado Ensino Superior
sem fins lucrativos
Portugal 25.728 6.133 4.533 11.680 3.381
Continente 25.089 6.082 4.336 11.410 3.261
Norte 6.418 1.743 414 3.115 1.145
Centro 4.659 1.291 333 2.488 547
Lisboa 12.622 2.776 3.361 4.945 1.540
Alentejo 957 237 205 492 24
Algarve 434 34 25 370 5
R. 'A. Açores 347 2 46 185 115
R. 'A. Madeira 291 50 151 86 5
Fonte: INE, Portugal, 2007, Anuário Estatístico da Região Autónoma dos Açores 2006/Statistical Yearbook of Região Autónoma
dos Açores 2006. Informação disponível até 30 de Setembro de 2007.

O conhecimento e a inovação são atributos indispensáveis na formação de pólos de


competitividade, também designados por “clusters”. Um pólo de competitividade tem
que ser capaz de conceber e produzir produtos e serviços que tenham como destino o
mercado mundial. Para isso, tem que ter capacidade de atrair recursos humanos
altamente qualificados e empresas de vanguarda. Com vários requisitos a ter em conta,
quais são os pólos de competitividade que podem ser viáveis em Portugal? Em que
sectores? Em que regiões? A resposta não é fácil.

A região do Alentejo conta com uma diversidade de actores envolvidos em actividades


de I&D e Inovação (Universidades, Institutos Politécnicos, Centros Tecnológicos,
Agências de Desenvolvimento, Empresas, etc.) e apresenta competências óbvias nestas
temáticas, com um conjunto de infra-estruturas de I&D e de interface que fomentam o
desenvolvimento de vários sectores. Conta ainda com um estudo estratégico e de
referência - o Plano Regional de Inovação do Alentejo (Augusto Mateus & Associados,
2005) - que identifica e analisa os sectores mais relevantes para a inovação no panorama
alentejano e procura avaliar as dinâmicas de desenvolvimento de um conjunto de
sectores que se crêem relevantes para o dinamismo da economia regional do Alentejo.
Estes sectores incluem actividades tradicionais na região, como é o caso da agricultura e
recursos agro-alimentares, vitivinicultura, rochas ornamentais, cortiça e turismo, bem
como sectores emergentes com potencial inovador – TIC e Aeronáutica.

Por outro lado, estudos de coesão e competitividade regional (dados de 2000-2002),


desenvolvidos por Augusto Mateus & Associados, colocam a sub-região do Alentejo
Central entre as cinco primeiras sub-regiões de Portugal. Com resultados igualmente
positivos estão as sub-regiões da Lezíria do Tejo (8º), do Alentejo Litoral (11º), que se
situam acima da mediana (são no total 30 sub-regiões portuguesas). Perto da mediana
encontra-se a sub-região do Alto Alentejo (17º) e numa posição menos favorável a sub-
região do Baixo Alentejo (22º).

Pese embora os aspectos positivos realçados, é preciso referir que os últimos dados
relativos à evolução da taxa de desemprego em Portugal em geral e na região do
Alentejo em particular indiciam que esta se vai manter a níveis elevados durante muito
tempo (a taxa de desemprego situa-se nos 8,3%, um valor superior à média nacional,
7,6%). Para além disso, os dados mostram que a oferta de emprego só tem aumentado
em áreas que requerem menos qualificações, tais como empregadas domésticas ou

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trabalhadores de ONG e não nos sectores de alta tecnologia. Ora, a região do Alentejo
precisa de ambição e metas para a mudança, mas precisa ainda mais de ambição para
que a mudança se faça tanto ou mais depressa do que todos os que também estão a
mudar.

De acordo com o Plano Regional de Inovação do Alentejo (2005: 147), “uma estratégia
de inovação não deve contudo ser vista como uma estratégia de adaptação da região às
novas tecnologias, aos novos factores intangíveis da competitividade e, num nível mais
geral, aos novos requisitos de uma economia global baseada na aplicação de
conhecimentos, nem tão pouco a estratégia de inovação regional deve ser vista apenas
como a resposta que decorre das necessidades/oportunidades tecnológicas detectadas.
(...) A ideia é que a estratégia de inovação regional a desenvolver seja uma estratégia de
reacção que contribua para mudar os fundamentos culturais deste tipo de atitude,
fomentando a capacidade de antecipação e de iniciativa empresarial em novas áreas de
base tecnológica, a partir da capacidade e das competências dos actores regionais”.

A matriz SWOT que seguidamente se apresenta resume as principais forças e fraquezas,


oportunidades e ameaças (sem as esgotar) que se colocam no âmbito da I&D e Inovação
e em outros aspectos da competitividade e produtividade regional.

Análise SWOT
Forças Fraquezas
– Criação de novos produtos ou serviços – Baixa qualidade de produtos ou serviços.
inovadores. – Abandono escolar dos jovens antes de tempo.
– A localização das empresas. – A estrutura de qualificações da população
– A qualidade dos processos e procedimentos. empregada por conta de outrem na região é
– Capacidade de atracção de alunos no ensino deficitária, comparativamente com o espaço
superior, devido aos pólos universitários que se nacional.
têm vindo a desenvolver na região. – Elevado índice de envelhecimento
– Elevada produtividade para os sectores da populacional, com tendência para se acentuar
agricultura e indústria. nas próximas décadas.
– Os investimentos previstos para a região. – Taxa de desemprego elevada.
– Presença de actividades de fabricação de – Diminuta percentagem de população residente
componentes electrónicos no perfil de com ensino médio e superior.
especialização regional. – Nível de urbanização pouco acentuado.
– Identificação da participação de diferentes – Baixo poder de compra per capita.
agentes regionais no processo de inovação
(empresas, universidades, laboratórios do
Estado, etc.).
– Forte tendência de crescimento do pessoal
afecto a actividades de I&D.
– Percentagem de emprego em tecnologias de
informação e comunicação (TIC), no total da
estrutura de emprego regional, superior ao peso
médio nacional.
– Número de pedidos de patentes OEP
(Organização Europeia de Patentes)
consideravelmente baixo.
– Disponibilidade de know how tecnológico
tradicional com potencialidades de
aproveitamento.
– A região do Alentejo situa-se acima da média
nacional, no que respeita aos níveis de
produtividade.

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Oportunidades Ameaças
– Um mercado em desenvolvimento, por – A entrada de novos competidores na área
exemplo: a Internet. empresarial.
– O Mercado Internacional. – A “guerra” de preços entre competidores.
– Adaptar os sistemas de educação e formação à – Um competidor tem um novo produto ou
sociedade do conhecimento. serviço inovador.
– Fomentar a aprendizagem ao longo da vida – As taxas que são introduzidas aos produtos ou
para todos, promover e facilitar a mobilidade. serviços.
– Incorporar e desenvolver conteúdos – Perca de recursos humanos qualificados
tecnológicos mais avançados nas actividades susceptíveis de desenvolverem actividades em
regionais. I&D.
– Tendência significativa de crescimento das – Inoperância de centros de investigação e
despesas em I&D no PIB. transferência tecnológica.
– Utilização de emprego de imigrantes com – Insuficiente rede de serviços de apoio às
níveis de qualificação formal mais elevados e empresas.
alguma especialização.

Vítor Rosa
Outubro de 2008

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