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Os Tupinambás eram uma tribo indígena muito antiga que existia no Brasil do
século XVI. Eles eram fortes, selvagens, valentes, destemidos e não temiam a morte. Um
povo bárbaro que alimentava um desejo de vingança desenfreado, caracterizado pela
justiça que faziam com as próprias mãos. Eram peritos na arte da caça, da pesca e da
guerrilha, além de serem exímios lutadores e matadores brutais. Chegando a ponto de
devorar seus prisioneiros num ritual antropofágico depois de vencerem suas batalhas.
– “Isso foi resultado da nossa rebeldia. A abundância de comida nos fez esquecer
de retribuir todo o cuidado que Tupã sempre teve para com o nosso povo” – Concluiu.
Um ano após o massacre dos inocentes, ao findar a luz do terceiro dia da semana,
as árvores meneavam timidamente suas folhas. Pae Zomé lembrou-se do terrível episódio
ocorrido no ano anterior e tratou logo de convocar toda a tribo a fim de tomar alguma
providência. Ele decidiu oferecer um sacrifício a Tupã, antes que fosse tarde demais.
Na manhã do dia seguinte, Pae Zomé e os outros sábios da aldeia, em uma reunião
secreta, votaram para escolher o guerreiro mais forte e valente que receberia a honra de
entregar a própria vida como oferta de sacrifício ao deus Tupã, na tentativa de acalmá-lo
e evitar uma nova catástrofe. Com a unanimidade dos votos, Kauê foi o guerreiro
selecionado para cessar a fúria de Tupã. Logo após a reunião, Pae Zomé instrui o guerreiro
Raoni a trazer Kauê até a sua tenda para receber o intimado da sentença discutida entre
os sábios. Raoni procura Kauê por toda a aldeia, mas não o encontra. Já cansado de
procurar, Raoni decide sentar-se em um tronco de árvore próximo à praia. Cabisbaixo e
ofegante ele olha para o lado e percebe, bem distante, a silhueta de um homem trazendo
algo nas costas. Curioso para saber de quem se tratava, ele segue em sua direção. Ao
aproximar-se um sorriso flamejante toma conta do seu rosto ao perceber que o estranho,
na verdade era quem tanto ele procurava.
– Kauê! Por onde você andava? Procurei você por toda aldeia – Exclamou Raoni.
– Como assim, onde eu estava? Esqueceu que hoje era meu dia de caçar na
floresta? – Respondeu Kauê.
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Sem saber por onde começar, Raoni é direto em dar a notícia ao seu melhor amigo:
– Kauê! Pae Zomé e os demais sábios da aldeia, temendo que Tupã derramasse
sua fúria sobre nosso povo outra vez, decidiram oferecer um sacrifício para acalmá-lo –
Disse Raoni.
– Mas todos os anos nós oferecemos o melhor das nossas colheitas sobre a
Grande Pedra da Sabedoria. Não creio que Tupã esteja insatisfeito com a nossa oferenda
– Respondeu Kauê.
– Você não está entendendo. Segundo Pae Zomé, Tupã estava exigindo um
sacrifício de sangue.
– Bom! Se este for o problema, tome este javali que acabei de capturar para o
jantar – Disse ele com o javali que trazia sobre as costas.
– Não é bem esse tipo de sangue que eles pensaram – Raoni estava resoluto em
dizer de que sangue se tratava.
– Como assim, não é esse tipo de sangue? Você está esquecendo de me dizer
alguma coisa? – Questionou Kauê.
– Mas nossa tribo ostenta a tradição de possuir os melhores guerreiros, por que
justamente eu fui escolhido? Kauê se justifica.
– Isso não é justo. Tem que haver outra maneira de agradar a Tupã. Minha família
precisa de mim. Não posso deixá-los aos cuidados dos anciãos. Lamenta-se Kauê.
Os demais guerreiros Tupinambás, instruídos por Pae Zomé, escoltam Kauê até a
tribo, enquanto Raoni fica na praia sem poder ajudar seu amigo. Eles o tomam pelos
braços e o levam diante do chefe indígena.
– A essa altura você já deve saber o porquê está aqui – Falou Pae Zomé.
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– Sim, Pae Zomé! No entanto, suplico por sua misericórdia e peço que reveja,
com os demais anciãos, o julgamento da sentença que foi posta sobre mim. Lamentou
Kauê.