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RESUMO
1
Artigo apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Execução Penal no Programa de
Mestrado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ.
2
Advogada. Mestranda em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ.
ABSTRACT
Rebellion, etymologically, means action or effect of rebelling, of refusing to obey a legitimate authority,
constituting a violent action of resisting agents of authority or institution of power. Regarding rebellions
in penitentiary units, some foreign authors, such as Sykes, Adams and Useem and Kimbal, try to explain
them, presenting, according to the time in which they occurred, reasons for their occurrence. In Brazil,
the most promising works come from the studies of Fernando Salla, highlighting that, here, with prisons,
overcrowded, deficient physical structures, reduced number of agents and unprepared to control the
growing prison mass, the prison environment has become fertile soil for riots and rebellions, usually
bloody. It is then proposed a new model of periodization, divided into six distinct periods, further
individualized, understanding that, when knowing the motivations that led the prison bodies of the State
to experience moments of rupture of control and internal order, one can review crisis situations,
reevaluate procedures and also invest in penitentiary public policies that make it possible to recover the
prison space as a State territory.
I - INTRODUÇÃO
Todos aqueles que, de alguma forma, vivenciam por algum tempo o dia a dia de uma
prisão, certamente já teve a indesejável experiência de acompanhar um motim ou uma rebelião
em uma unidade prisional, muitas delas violentas e com extenso derramamento de sangue. De
fato, são muitas, Brasil afora, com modulações diferenciadas, demonstrando, via de regra, o
pior da existência humana. Espancamentos, degolas, esquartejamentos, amputações, acertos de
contas e mortes com requintes de crueldade, desenham cenários dantescos que não podem, de
forma alguma, ser tolerados ou mesmo entendidos em um tempo em que o homem se diz
civilizado. Apesar disso, do absurdo que representam, reiteradamente vivenciamos graves
crises no sistema prisional e, nelas, a rebelião, com variados motivos e razões, é a que mais nos
chama a atenção.
Rebelião, etimologicamente, significa ação ou efeito de rebelar, de se recusar a obedecer
uma autoridade legítima. De regra, constitui-se em ação violenta de resistir a agentes de
autoridade ou instituição de poder.
A respeito do tema rebeliões, já de longa data autores estrangeiros tentam explicá-las,
apresentando, conforme a época em que ocorreram, motivos para a sua realização. Estudiosos
como Sykes (1975), Adams (1994) e Useem e Kimbal (1991), trouxeram suas posições sobre
as motivações para os movimentos de subversão da ordem interna dos presídios.
Sykes3, por exemplo, apontou a existência de uma relação de poder entre a equipe
dirigente de uma unidade prisional e os presos que ali se recolhem como fundamento para ações
de revolta, destacando que, embora se tenha a previsão legal de que o Estado deva garantir o
controle total no interior das prisões, isso, de fato, não ocorre e, assim, as rebeliões surgiriam a
partir de um desequilíbrio no sistema de relações de poder estabelecidas entre equipe dirigente
e os reclusos, havendo, de forma permanente, um jogo de concessões e retiradas de concessões
entre eles.
Para SYKES (1975):
Não há como a direção da unidade prisional fazer com que se cumpram
todas regras internas sem que haja colaboração dos presos, colaboração
essa que é barganhada por favores e permissões, estabelecendo, assim,
tensão frequente entre presos e agentes prisionais.
Críticas foram dirigidas a Sykes, por não levar em conta a possível vinculação dos
movimentos de rebeliões nos presídios com os que ocorrem do lado de fora do cárcere, nas ruas
e cidades em busca dos direitos civis, especialmente os que se deram nos anos 60, nos Estados
Unidos da América. Citam os críticos, como exemplo, a rebelião na prisão de Ática, onde se
identificou crescimento da solidariedade e da consciência política entre os presos, em
movimento de revolta, posteriormente chamado de “guerra de libertação”4.
Fernando Salla, por sua vez, importante pesquisador da área, baseando-se em estudos
de Useem e Kimball, (1987), informa que a produção teórica explicava as rebeliões,
basicamente, de duas formas:
De um lado, a partir das possibilidades de emergência dos movimentos de
rebeliões por conta das privações que são impostas aos presos. De outro
lado, as rebeliões nas prisões podem ser explicadas, tal como outros
movimentos de protesto fora da prisão, a partir do afrouxamento dos
controles de toda a ordem, na vida social.
Importante destacar, segundo Bert Useem e Peter Kimball, que a teoria dos motins ou
rebeliões em prisões encaixava-se no contexto dos conflitos sociais mais amplos ocorridos nas
cidades, no final dos anos 60 e 70, de forma que, as rebeliões, dentro das prisões, seriam, na
verdade, desdobramentos dos movimentos de revolta que explodiam nas ruas.
Adams (1994), diferentemente dos dois primeiros autores, estudando os motins
prisionais nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, apresentou um modelo periodizado,
3
Ver SYKES, Gresham M. A Corrupção da Autoridade e a Reabilitação, in: Etizoni, Amitai Organizações
Complexas: estudo das organizações em face dos problemas sociais. São Paulo, Atlas, p. 191-198, 1975.
4
Nesse sentido, ver ADAMS, Robert. Prison Riots in Britain and the United States. London, Macmillan Press,
1994.
dividindo-o em quatro períodos: o primeiro, até o ano de 1929, quando a revolta dos presos se
destinava a escapar ou enfrentar os rigores disciplinares da prisão; o segundo, de 1930 a 1950,
marcado por rebeliões que protestavam contra as precárias condições dentro das prisões; o
terceiro, de 1950 à metade dos anos 70, onde as rebeliões seriam motivadas pela crescente
consciência coletiva dos presos, questionando a própria ideologia da reabilitação. A quarta e
última, de meados dos anos 70 aos anos 90, marcada por rebeliões fragmentadas, com alvos
difusos.
Wacquant (2001), vale destacar, vincula o último período citado por Adams, ao
desmonte do Estado previdência, avançando-se para o que ele chamou de Estado Penal, usando
a pena de prisão como mecanismo primário de controle social, o que culminou com o aumento
massivo das taxas de encarceramento em praticamente todos os países do mundo ocidental, o
que também se viu no Brasil de forma marcante. Nesse sentido, ver Salla (2006).
Não se pode olvidar que para Wacquant a pena neoliberal seria norteada pelo paradoxo
de “remediar com mais Estado policial e penitenciário o menos Estado econômico e social.”
Aparentemente, nos casos de Honduras e Chile, o que houve não foi, efetivamente, uma
rebelião, mas, sim, incidentes, de forma que as mortes decorreram de um incêndio que tomou
em chamas as unidades prisionais, levando os presos ali recolhidos à morte. Nos demais casos,
mesmo nos que se identificou incêndio, o motivo real foi a desavença entre grupos rivais, como
no caso, já citado, da série de rebeliões ocorridas em três presídios de Lima, no Peru, em junho
de 1986, onde 250 presos morreram por conta de desavenças entre detentos que integravam
facções do Sendero Luminoso e Tupac Amaru5.
No Brasil, as principais rebeliões, embora com números menores, ficaram marcadas por
sua maior frequência, violência e crueldade, com decapitações, esquartejamentos e exposição
de corpos deformados, mostrando toda a brutalidade e o lado mais perversos do ser humano.
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Fonte: Último Segundo - iG @ https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/veja-as-piores-tragedias-em-prisoes-da-
america-latina-nos-ultimo/n1597629045072.html
PRINCIPAIS REBELIÕES NO BRASIL EM NÚMEROS DE MORTOS
(Ubatuba/SP) 100
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Conforme já exposto, 1º Período, até o ano de 1929, quando a revolta dos presos se destinava a escapar ou
enfrentar os rigores disciplinares da prisão; 2º Período, de 1930 a 1950, marcado por rebeliões que protestavam
contra as precárias condições dentro das prisões; 3º Período, de 1950 à metade dos anos 70, onde as rebeliões
seriam motivadas pela crescente consciência coletiva dos presos, questionando a própria ideologia da reabilitação;
4º Período, de meados dos anos 70 aos anos 90, marcado por rebeliões fragmentadas, com alvos difusos.
7
Vale lembrar que o Chamado “Massacre do Carandiru”, a mais grave rebelião ocorrida em solo brasileiro, em 2
de outubro de 1992, deu-se em face da intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo, para conter uma
rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, ocasionando a morte de 111 detentos.
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A política de se atribuir a um grupo de presos o papel de porta-voz dos demais não é bem vista entre os agentes
que atuam no sistema penitenciário. O entendimento, de acordo com o que se vivencia hoje, é de que, ao se criar
um grupo representativo da massa carcerária, automaticamente se coloca esse grupo como liderança dos demais.
Daí, para essa liderança se tornar a chefia de uma facção criminosa é apenas um pequeno passo.
aparecimento do aparelho celular no interior das prisões, a partir dos anos 90, embora mais
marcadamente a partir dos anos 2.000, com a popularização do telefone móvel. O Celular talvez
tenha sido para o crime organizado, no interior dos presídios, o objeto de maior valor, pois, sob
os auspícios dessa evolução tecnológica, tendo os aparelhos telefônicos celulares como válvula
impulsionadora, promoveu-se, no país, por exemplo, a primeira megarrebelião, em 2001, no
Estado de São Paulo, movimentando, simultaneamente, mais de 28 unidades prisionais, todas
acompanhando um comando único de início e término da insubordinação. Ainda por conta da
utilização do celular, diversas rebeliões ocorreram pelo Brasil, comandadas, às vezes, por
presos que sequer estavam na unidade prisional rebelada. É o celular, pode-se citar, que
possibilitou a prisão em transformar-se em verdadeiro escritório do crime, de onde realmente
se comanda a massa criminosa, recolhida no cárcere ou fora dele.
Um outro período, que chamaríamos de sexto, seria marcado pelas novas rebeliões,
ocorridas a partir dos anos 2.010, já com forte domínio das facções criminosas nos presídios
brasileiros, de regra, desassociadas de reclamações relacionadas à melhoria do sistema
prisional, onde não se barganham melhorias, voltadas, no entanto, para acertos de contas entre
gangues de presos, por lutas sanguinárias pelo domínio territorial (nos presídios e também nas
cidades ou nas quebradas9) e, em especial, como forma de demonstração de força e poder para
a massa carcerária, pelas diferentes facções criminosas.
Essa forma, pode-se de dizer, tem sido a regra observada nas últimas prisões, em
especial as que ocorreram no norte e nordeste do país, entre outubro de 2016 a janeiro de 2017,
entre facções rivais que ocupavam presídios em Roraima, Rondônia, Amazonas e Rio Grande
do Norte, com a morte brutal e sanguinária de 130 presos.
Apresenta-se, a seguir, o quadro a seguir como mapa da periodização das rebeliões no
Brasil.
PERIODIZAÇÃO DAS REBELIÕES BRASILEIRAS
1º Período Até os anos 60/70 Tentativa dos presos de escapar dos rigores
disciplinares da prisão
2º Período Dos anos 70 aos 80 Motivação relacionada à precariedade das
9 Asperiferias, principalmente as das grandes cidades brasileiras, por conta da ausência do Estado também
nesses ambientes, foram tomadas pelas gangues prisionais, havendo fácil interlocução entre elas,
provavelmente em razão de valores comuns e de oferecer aos mais jovens a possibilidade de ascensão
social, geralmente com o engajamento no crime de tráfico de entorpecentes. De fato, nas quebradas, é
comum o emprego de moradores no comércio de drogas e na vinculação direta com uma determinada
gangue de presos. Essa simbiose entre facção criminosa e periferia também se mostra comum no uso de
armas, gírias, valores, gestos e expressões semelhantes, somados à ideia de que para eles o Estado é o
inimigo a ser batido (Manso e Dias, 2018).
condições de encarceramento, invariavelmente
citando problemas relacionados a alimentação,
habitabilidade e, em especial, maus tratos dos
agentes penitenciários
3º Período Dos anos 80 ao Marcado pela saída do país de um longo período
Massacre do autoritário, havendo, à época, por conta da
Carandiru (1992) chamada redemocratização, uma nova política
de humanização dentro dos presídios, amparada
pelas Comissões de Solidariedade.
4º Período De 1992 a 2.000 Ligado aos movimentos posteriores ao Massacre
do Carandiru, motivado pela omissão do Estado
em controlar o sistema prisional e de conter a
atuação dos grupos prisionais.
5º Período Dos anos 2.000 a 2010 Aparecimento do aparelho celular no interior das
prisões, a partir dos anos 90. O Celular, para o
crime organizado, tornou-se o objeto de maior
valor, lembrando que sob os auspícios dessa
evolução tecnológica, promoveu-se, no país, a
primeira megarrebelião, em 2001, no Estado de
São Paulo. Ainda por conta do celular, diversas
rebeliões ocorreram pelo Brasil, comandadas, às
vezes, por presos que sequer estavam na unidade
prisional rebelada.
6º Período De 2010 até os dias de Forte domínio das facções criminosas nos
hoje presídios brasileiros, com rebeliões
normalmente desassociadas de reclamações
relacionadas à melhoria do sistema prisional,
voltadas, no entanto, para acertos de contas entre
gangues de presos, por lutas sanguinárias pelo
domínio territorial e como forma de
demonstração de força e poder para a massa
carcerária.
V - CONCLUSÃO
A questão penitenciária é assunto atual e necessário e, por muito tempo, relegado a um
plano inferior. Contudo, esse descaso, hoje, tem sido visto por estudiosos como uma das razões
da insustentabilidade a que se chegou o Sistema Penitenciário Brasileiro, não se olvidando que
nossa Suprema Corte, o STF, em 2015, no julgamento da Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental nº 347, reconheceu “estado de coisas inconstitucional, com “violação
massiva de direitos fundamentais” da população prisional, por omissão do poder público.
Essa situação de descontrole por parte do Estado, deu ensejo a presídios superlotados,
com estruturas físicas deficitárias, reduzido número de agentes e sem o treinamento técnico
necessário. Assim, havendo mínimo controle por parte do Estado, as atividades rotineiras nos
presídios acabam sendo organizadas e dirigidas pelos próprios presos e, com isso, as massas
carcerárias ficam à disposição de lideranças criminosas, que findam por subverter a ordem
esperada, transformando o ambiente prisional em terreno fértil para rebeliões, costumeiramente
sangrentas.
Rebelião, como visto, significa, etimologicamente, ação ou efeito de rebelar, de se
recusar a obedecer uma autoridade legítima, constituindo-se em ação violenta de resistir a
agentes de autoridade ou instituição de poder. Sobre rebelião, alguns autores estrangeiros, como
Sykes, Adams e Useem e Kimbal, tentam explicá-las, apresentando, conforme a época em que
ocorreram, motivos para a sua realização. No Brasil, os trabalhos mais promissores partem dos
estudos de Fernando Salla.
Nos países latinos e, em especial, no Brasil, já vivenciamos diversos episódios de
subversão da ordem interna em presídios, destacando, dentre as principais, a que ocorreu em
junho de 1986, em três presídios na cidade de Lima, com a morte de 250 detentos que, segundo
fontes oficiais, integravam as facções extremistas Sendero Luminoso e Tupac Amaru. A com
maior número de mortos, ocorreu na Penitenciária Nacional de Comayagua, entre os dias 14 e
15 de fevereiro de 2012, em Honduras, após um incêndio provocado por falha elétrica,
ocorrendo a morte de 270 reclusos, havendo também informações, não comprovadas, de que o
número de mortos possa ter alcançado a cifra de 359 presos. No Brasil, a mais famosa e com
recorde de mortos em um mesmo episódio, continua sendo o chamado “Massacre do Carandiru,
ocorrido em 02 de outubro de 1992, na Prisão do Carandiru, no Estado de São Paulo, com a
morte de 111 presos. No Urso Branco, presídio localizado em Porto Velho, no Estado de
Rondônia, chamado de “A Porta do Inferno”, tivemos duas grandes rebeliões, a primeira em
janeiro de 2002, com a morte de 27 presos (com indicação de que foram 30, uma vez que três
outros corpos teriam sido localizados em avançado estado de putrefação, dias depois), e a
segunda em abril de 2004, com a morte de 14 presos, com a transmissão ao vivo de corpos
sendo esquartejados e jogados de torres onde os presos se concentravam.
Por fim, as rebeliões de 2016 e 2017, ocorridas no norte e nordeste do pais,
especificamente em Roraima, Rondônia, Amazonas e Rio Grande do Norte, ocorridas a partir
de confrontos entre gangues criminosas rivais, por disputa de territórios e poder, mostraram um
novo cenário nos movimentos de subversão da ordem, com a execução brutal e sanguinária de
130 presos.
Assim, a partir dos estudos de Adams, que, ainda em 1994, avaliando prisões nos
Estados Unidos e na Grã-Bretanha, apresentou o primeiro modelo de periodização de
movimentos de subversão, focando-o em quatro períodos distintos, seguido dos estudos de Salla
que, estudando a realidade brasileira, agrupou as rebeliões em três períodos, apresentamos, no
presente estudo, proposta de periodização em seis etapas, procurando atualizar as propostas
anteriores.
Nessa nova proposta, o primeiro período, ocorrido até os anos 60/70, seria
especialmente marcado pela tentativa dos presos de escapar dos rigores da prisão, ressalvando
que até então não se tinha como tônica a reclamação dos presos a respeito das fragilidades do
ambiente prisional. O segundo período, por sua vez, ocorrido entre os anos 70 e 80, teria como
motivação básica reclamações relacionadas à precariedade das condições de encarceramento, citando,
invariavelmente, problemas ligados a alimentação, habitabilidade e maus tratos dos agentes
penitenciários. O terceiro período, ocorrido entre os anos 80 a 1992, estaria marcado pela chamada
redemocratização do país, com a adoção de uma nova política penitenciária de humanização dos
presídios, amparada pelas Comissões de Solidariedade, com indicação de representantes de presos para
negociações, o que teria levado a um acirramento entre presos e os órgãos de administração do sistema
prisional, culminando com o chamado “Massacre do Carandiru”, trágica rebelião que resultou no maior
número de mortes no país. O quarto período, por sua vez, ocorrido entre os anos 92 e 2.000, estaria
ligado aos movimentos posteriores ao Massacre do Carandiru, motivado pela omissão do Estado em
controlar o sistema prisional e de conter a atuação dos grupos prisionais, o que, enfim, resultou no
fortalecimento das facções criminosas. O quinto período, operado entre 2000 a 2010, fica marcado pelo
aparecimento do celular no interior das prisões, tornando-se o objeto de maior valor, ressalvando que,
com ele, diversas rebeliões ocorreram pelo Brasil, comandadas, às vezes, por presos que sequer estavam
na unidade prisional rebelada, transformando a unidade penitenciária em verdadeiro escritório do crime.
O sexto e último período, ocorrido entre 2010 e os dias atuais, vincula-se ao forte domínio das facções
criminosas nos presídios brasileiros, com rebeliões normalmente desassociadas de reclamações
relacionadas à melhoria do sistema prisional, voltadas muito mais para acertos de contas entre gangues
de presos, por lutas sanguinárias por domínio territorial e como forma de demonstração de força e poder
para a massa carcerária.
Enfim, conhecendo as motivações que levaram os órgãos prisionais do Estado a experimentarem
momentos de ruptura do controle e da ordem internas, pode-se rever as situações de crise, reavaliar
procedimentos e, ainda, investir em políticas públicas penitenciárias que possibilitem a recuperação do
espaço prisional como território do Estado, rompendo ou investindo-se para se romper, definitivamente,
o crescimento e o nefasto controle das facções criminosas sobre as unidades penitenciárias.
VI – BIBLIOGRAFIA
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20. USEEM, Bert & KIMBALL, Peter A. A Theory of Prison Riots. Theory and Society,
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