Resumo do Texto: “Bioprospecção e Legitimação”. E capítulo: “A noção
de prática bioprospectiva” - (TRIGUEIRO)
O autor inicia o capítulo abordando a questão da Bioprospecção, que é a
identificação e avaliação de materiais encontrados na natureza, com a finalidade de se obter novos produtos ou processos. Esse processo na modernidade apoia seu crescimento no desenvolvimento do capitalismo e do conhecimento científico tecnológico. O exemplo dado, é o desenvolvimento de fármacos com o conhecimento químico a partir das propriedades dos componentes biológicos. Assim, com o avanço da Engenharia genética a partir da década de 1970, a Bioprospecção se relaciona diretamente com as novas biotecnologias, a biodiversidade e todo antigo conjunto de atores que protagonizaram essa atividade: Grandes indústrias, empresários, comunidades locais e indígenas, consumidores, ONGS, os governantes locais e organismos internacionais. Dessa forma, a Bioprospecção em conjunto com a biotecnologia, se torna assunto no centro das discussões em grandes laboratórios de instituições de pesquisa, na formulação de grandes estratégias e no processo de identificação de prioridades nos novos projetos de pesquisa. Uma das discussões éticas decorre não somente sobre a utilização dos recursos naturais, mas o conhecimento sobre eles, a qual, são extraídos de povos locais ou indígenas, utilizados e privatizados por meio das patentes ou instrumentos legais. Ou seja, uma das principais questões é que não se trata apenas de garantir o direito da liberdade de investigação para os tecnólogos e cientistas, mas também, da justa repartição dos benefícios daquele conhecimento com aqueles que o concederam para a pesquisa laboratorial. Então podemos definir a prospecção da biodiversidade como a forma de exploração da diversidade biológica por recursos genéticos ou bioquímicos de valor comercial, usando os conhecimentos de comunidades indígenas ou tradicionais. Porém hoje, é possível abrir caminhos além somente dessas comunidades, o que coloca a Bioprospecção como um problema geopolítico. Pode-se colocar dois hemisférios na dinâmica oposta e complementares da Bioprospecção: o hemisfério norte com a moderna tecnociência e o hemisfério sul, rico no aspecto da biodiversidade.
A noção da prática Bioprospectiva
Entender a prática bioprospectiva é compreender que ela não se resume
apenas as questões técnicas, mas que ela abrange um leque de várias outras dimensões como política, culturais, históricas, econômicas; Que a coloca na realidade concreta, trazendo uma noção de "sócio-biodiversidade", segundo Abagli. Dentre as práticas, a prática econômica é a que limitas as questões onde são forjadas os processos e a estrutura da prática bioprospectiva. É nela que estão seus fundamentos, dilemas e controvérsias. Fundamentos estes, que dizem respeito ao estágio atual do capitalismo em termos mundiais e ao processo de acúmulo de capital. Porém essas estruturas da bioprospeção não atuam sozinhas, elas se moldam de acordo com as outras dimensões e formam trajetórias peculiares em cada sociedade. Dessa forma, saber quais dimensões e aspectos que serão dominantes em cada local dependerá de estudos empíricos a respeito de casa situação e região particular. Não existe algo pré-determinado, porém não é por isso, que podemos ignorar o papel das regras e do funcionamento global da economia, que trazem o pano de fundo normativo que sustenta todos os demais desenvolvimentos. O autor coloca que a base da especificidade bioprospectiva não se resume apenas nos tipos de resultados que ela produz, mas também, em sua matéria prima e seus processos de transformação. A matéria-prima são os insumos necessários para realização da prática. Ela Consiste em conhecimentos prévios da natureza e seus arranjos, os discursos biológicos disponíveis em determinadas regiões e nas necessidades e demandas da sociedade. Além das matérias primas, podemos colocar no processo, os conhecimentos prévios que são os estoques de conhecimentos advindos das práticas científicas e tecnológicas dos laboratórios de pesquisas; Mas também, os conhecimentos tradicionais, que são gerados e mantidos por diversas comunidades e povos indígenas em seus ritos e práticas culturais. Existe assim, um esquema para compreender-se melhor a prática bioprospectiva: A qual corresponde pegar as matérias-primas(Estoque de conhecimentos científicos e tecnológicos+ conhecimentos tradicionais +necessidades e demandas sociais+ recursos biológicos disponíveis em uma reserva de biodiversidade) e submetê-las a um processo de transformação afim de obter resultados(recursos biológicos para obtenção de novos produtos e processos.) A partir desse esquema o autor descreve de forma mais detalhada as práticas da bioprospeção; Dessa maneira, em termos gerais, a matéria prima é todo o conjunto de demandas e necessidades sociais. A prática bioprospectiva não pode prescindir os conhecimentos tradicionais e que os conhecimentos na utilização dos recursos biológicos pelas comunidades é de fundamental importância na investigação de novos "princípios ativos", para obtenção de medicamentos, cosméticos, alimentos e outros produtos industriais, por exemplo. O processo de transformação é então, a ação particular ou pública na busca dos resultados esperados, utilizando-se as matérias-primas abordadas dentro de uma estrutura determinada na prática tecnológica. Os resultados, assim, não são de outra natureza além de sua matérias primas. Assim, os resultados de uma prática bioprospectiva, na medida em que integram um novo estoque de material científico, se transformam em matéria- prima de outro ciclo. Caracterizando, um processo de acumulação contínua de recursos e conhecimento sobre a natureza é sua biodiversidade. É pela variedade da grande interface entre as práticas científicas e tecnológicas dominantes e os conhecimentos tradicionais, que muitas ações de pesquisa precisam de uma tradução adequada de linguagens e códigos específicos. Nesse contexto, as ciências humanas integram o quadro investigativo das práticas bioprospectivas. Aqui o autor pontua algo importante: não é possível realizar a prática bioprospectiva sem colocar todas as matérias-primas e elementos em uma equação e ajustamentos para se alcançar o resultado final. O quadro se torna complexo quando se mistura diversos componentes como crenças religiosas, preconceitos, interesses comerciais, dinheiro, doenças, instalações e leis de biossegurança. Na busca pela discussão e organização surge o CDB e o PIC. O CBD- Convenção mundial sobre a biodiversidade- de 1992, criou vários fóruns para se discutir e lidar com as novas questões da prática bioprospectiva recente. Isso inclui, por exemplo, o direito ao acesso à biodiversidade; O direto das comunidades locais e indígenas receberem uma contrapartida de benefícios monetários ou de outra natureza; O direito da propriedade intelectual e a garantia do uso das patentes. O PIC é um acordo prévio, escrito e documentado, a respeito de um consentimento estabelecido entre duas ou mais partes para a utilização de diferentes formas de conhecimento e recursos biológicos. Esse acordo é geralmente feito entre povos tradicionais e indígenas com as indústrias e seus pesquisadores, a qual ao utilizar os conhecimentos e produtos do ecossistema, utilizam-se do sistema Legal para evitar problemas futuros com o uso ampliando desses recursos tradicionais. É a partir do papel da robótica, computação, comunicação e microeletrônica. Que conseguimos identificar novos recursos. Então, a tecnologia atua um facilitador ou "filtro" na identificação de novos princípios ativos Para finalizar, o autor retoma que uma boa estratégia metodológica para investigar a prática bioprospectiva é analisar as trilhas do processo de acumulação de capital. Esse aspecto junto com os recursos humanos, infraestrutura, e equipamentos empregados na prática bioprospectiva, correspondem a parte mais tangível dos insumos da prática; A parte mais simbólica do processo: Os conhecimentos científicos, conhecimentos tradicionais, ao lado de instrumentos normativos fazem uma conexão forte com os sistemas culturais e ideológicos. Porém independente de tangíveis ou não, todos esses aspectos estão interligados aos mecanismos sociais.