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Diogo Caldeira Fontana

Ciências Sociais
Professor: Agnaldo

Resumo do Texto: “Bioprospecção e Legitimação”. E capítulo: “A noção


de prática bioprospectiva” - (TRIGUEIRO)

O autor inicia o capítulo abordando a questão da Bioprospecção, que é a


identificação e avaliação de materiais encontrados na natureza, com a
finalidade de se obter novos produtos ou processos.
Esse processo na modernidade apoia seu crescimento no desenvolvimento do
capitalismo e do conhecimento científico tecnológico. O exemplo dado, é o
desenvolvimento de fármacos com o conhecimento químico a partir das
propriedades dos componentes biológicos.
Assim, com o avanço da Engenharia genética a partir da década de 1970, a
Bioprospecção se relaciona diretamente com as novas biotecnologias, a
biodiversidade e todo antigo conjunto de atores que protagonizaram essa
atividade: Grandes indústrias, empresários, comunidades locais e indígenas,
consumidores, ONGS, os governantes locais e organismos internacionais.
Dessa forma, a Bioprospecção em conjunto com a biotecnologia, se torna
assunto no centro das discussões em grandes laboratórios de instituições de
pesquisa, na formulação de grandes estratégias e no processo de identificação
de prioridades nos novos projetos de pesquisa.
Uma das discussões éticas decorre não somente sobre a utilização dos
recursos naturais, mas o conhecimento sobre eles, a qual, são extraídos de
povos locais ou indígenas, utilizados e privatizados por meio das patentes ou
instrumentos legais.
Ou seja, uma das principais questões é que não se trata apenas de garantir o
direito da liberdade de investigação para os tecnólogos e cientistas, mas
também, da justa repartição dos benefícios daquele conhecimento com aqueles
que o concederam para a pesquisa laboratorial.
Então podemos definir a prospecção da biodiversidade como a forma de
exploração da diversidade biológica por recursos genéticos ou bioquímicos de
valor comercial, usando os conhecimentos de comunidades indígenas ou
tradicionais.
Porém hoje, é possível abrir caminhos além somente dessas comunidades, o
que coloca a Bioprospecção como um problema geopolítico.
Pode-se colocar dois hemisférios na dinâmica oposta e complementares da
Bioprospecção: o hemisfério norte com a moderna tecnociência e o hemisfério
sul, rico no aspecto da biodiversidade.

A noção da prática Bioprospectiva

Entender a prática bioprospectiva é compreender que ela não se resume


apenas as questões técnicas, mas que ela abrange um leque de várias outras
dimensões como política, culturais, históricas, econômicas; Que a coloca na
realidade concreta, trazendo uma noção de "sócio-biodiversidade", segundo
Abagli.
Dentre as práticas, a prática econômica é a que limitas as questões onde são
forjadas os processos e a estrutura da prática bioprospectiva. É nela que estão
seus fundamentos, dilemas e controvérsias. Fundamentos estes, que dizem
respeito ao estágio atual do capitalismo em termos mundiais e ao processo de
acúmulo de capital. Porém essas estruturas da bioprospeção não atuam
sozinhas, elas se moldam de acordo com as outras dimensões e formam
trajetórias peculiares em cada sociedade.
Dessa forma, saber quais dimensões e aspectos que serão dominantes em
cada local dependerá de estudos empíricos a respeito de casa situação e
região particular. Não existe algo pré-determinado, porém não é por isso, que
podemos ignorar o papel das regras e do funcionamento global da economia,
que trazem o pano de fundo normativo que sustenta todos os demais
desenvolvimentos.
O autor coloca que a base da especificidade bioprospectiva não se resume
apenas nos tipos de resultados que ela produz, mas também, em sua matéria
prima e seus processos de transformação.
A matéria-prima são os insumos necessários para realização da prática. Ela
Consiste em conhecimentos prévios da natureza e seus arranjos, os discursos
biológicos disponíveis em determinadas regiões e nas necessidades e
demandas da sociedade.
Além das matérias primas, podemos colocar no processo, os conhecimentos
prévios que são os estoques de conhecimentos advindos das práticas
científicas e tecnológicas dos laboratórios de pesquisas; Mas também, os
conhecimentos tradicionais, que são gerados e mantidos por diversas
comunidades e povos indígenas em seus ritos e práticas culturais.
Existe assim, um esquema para compreender-se melhor a prática
bioprospectiva: A qual corresponde pegar as matérias-primas(Estoque de
conhecimentos científicos e tecnológicos+ conhecimentos tradicionais
+necessidades e demandas sociais+ recursos biológicos disponíveis em uma
reserva de biodiversidade) e submetê-las a um processo de transformação afim
de obter resultados(recursos biológicos para obtenção de novos produtos e
processos.)
A partir desse esquema o autor descreve de forma mais detalhada as práticas
da bioprospeção; Dessa maneira, em termos gerais, a matéria prima é todo o
conjunto de demandas e necessidades sociais.
A prática bioprospectiva não pode prescindir os conhecimentos tradicionais e
que os conhecimentos na utilização dos recursos biológicos pelas
comunidades é de fundamental importância na investigação de novos
"princípios ativos", para obtenção de medicamentos, cosméticos, alimentos e
outros produtos industriais, por exemplo.
O processo de transformação é então, a ação particular ou pública na busca
dos resultados esperados, utilizando-se as matérias-primas abordadas dentro
de uma estrutura determinada na prática tecnológica.
Os resultados, assim, não são de outra natureza além de sua matérias primas.
Assim, os resultados de uma prática bioprospectiva, na medida em que
integram um novo estoque de material científico, se transformam em matéria-
prima de outro ciclo. Caracterizando, um processo de acumulação contínua de
recursos e conhecimento sobre a natureza é sua biodiversidade.
É pela variedade da grande interface entre as práticas científicas e
tecnológicas dominantes e os conhecimentos tradicionais, que muitas ações de
pesquisa precisam de uma tradução adequada de linguagens e códigos
específicos. Nesse contexto, as ciências humanas integram o quadro
investigativo das práticas bioprospectivas.
Aqui o autor pontua algo importante: não é possível realizar a prática
bioprospectiva sem colocar todas as matérias-primas e elementos em uma
equação e ajustamentos para se alcançar o resultado final. O quadro se torna
complexo quando se mistura diversos componentes como crenças religiosas,
preconceitos, interesses comerciais, dinheiro, doenças, instalações e leis de
biossegurança.
Na busca pela discussão e organização surge o CDB e o PIC. O CBD-
Convenção mundial sobre a biodiversidade- de 1992, criou vários fóruns para
se discutir e lidar com as novas questões da prática bioprospectiva recente.
Isso inclui, por exemplo, o direito ao acesso à biodiversidade; O direto das
comunidades locais e indígenas receberem uma contrapartida de benefícios
monetários ou de outra natureza; O direito da propriedade intelectual e a
garantia do uso das patentes.
O PIC é um acordo prévio, escrito e documentado, a respeito de um
consentimento estabelecido entre duas ou mais partes para a utilização de
diferentes formas de conhecimento e recursos biológicos.
Esse acordo é geralmente feito entre povos tradicionais e indígenas com as
indústrias e seus pesquisadores, a qual ao utilizar os conhecimentos e
produtos do ecossistema, utilizam-se do sistema Legal para evitar problemas
futuros com o uso ampliando desses recursos tradicionais.
É a partir do papel da robótica, computação, comunicação e microeletrônica.
Que conseguimos identificar novos recursos. Então, a tecnologia atua um
facilitador ou "filtro" na identificação de novos princípios ativos
Para finalizar, o autor retoma que uma boa estratégia metodológica para
investigar a prática bioprospectiva é analisar as trilhas do processo de
acumulação de capital.
Esse aspecto junto com os recursos humanos, infraestrutura, e equipamentos
empregados na prática bioprospectiva, correspondem a parte mais tangível dos
insumos da prática; A parte mais simbólica do processo: Os conhecimentos
científicos, conhecimentos tradicionais, ao lado de instrumentos normativos
fazem uma conexão forte com os sistemas culturais e ideológicos.
Porém independente de tangíveis ou não, todos esses aspectos estão
interligados aos mecanismos sociais.

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