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A URGÊNCIA DA EVANGELIZAÇÃO
“A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Não dizeis
vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vossos
olhos e vedes as terras, que já estão brancas para a ceifa” (Jo 4.34,35).
By: pr. Neldson Costa

INTRODUÇÃO
Com relação à obra da evangelização, o projeto de Deus engloba o Evangelho pregado todo,
anunciado pela igreja toda, em todo o mundo, a toda criatura. Falando sobre o modo de
como a evangelização deve ser feita, John Blanchard disse acertadamente: “Não podemos
levar o mundo todo a Cristo, mas podemos levar Cristo a todo o mundo”. Como se sabe, a
evangelização é uma tarefa imperativa, intransferível e impostergável. Nos moldes da
evangelização, o alvo a ser atingido é o mundo, o instrumento a ser usado é a Igreja, o
conteúdo a ser compartilhado é o Evangelho e o tempo disposto é AGORA.

EVANGELISMO, EVANGELIZAÇÃO E EVANGELISTA


A palavra evangelho tem sua raiz no grego euaggelion, formado por dois vocábulos: “eu”
(bom) e “aggelion” (anúncio, notícia); de aggelion temos a palavra aggelos (anjo,
mensageiro, enviado). Do termo evangelho procedem as palavras evangelismo,
evangelização e evangelista. Talvez muitos não saibam, mas existe uma pequena diferença
entre evangelismo, evangelização e evangelista conforme veremos a seguir:
Evangelismo – esta palavra origina-se de três termos gregos: “eu” (bom) “aggelion”
(anúncio, notícia) e o sufixo “ismos” (indica princípios, métodos, estratégias e técnicas
extraídas do N.T. para aplicar na tarefa da evangelização). Neste sentido, evangelismo alude
ao estudo sistemático sobre a grande comissão. De acordo com Claudionor de Andrade,
evangelismo “é a doutrina cujo objetivo é fundamentar biblicamente o trabalho
evangelístico da Igreja de Cristo”.1 Ou seja, evangelismo é uma doutrina bíblica (Mc 16.15;
At 1.8). Andrade ainda diz que “o evangelismo fornece também as bases metodológicas, a
fim de que os evangelizadores cumpram eficazmente a sua tarefa (2Tm 2.15)”.2 Capacitar os
evangelizadores (Lc 10.1-42; 11.1), formar grupos de evangelização (Lc 10.1), Cruzadas
evangelísticas (At 2), distribuição de folhetos são exemplos de métodos de evangelismo.
Evangelização – esta palavra origina-se da junção de dois termos: “euaggelizô”
(evangelizar) + ação (ato de agir). Deste modo, temos aqui a doutrina do evangelismo
colocada em ação, prática. Falando sobre esta tarefa, J. Packer disse que a evangelização “é o
evangelho de Cristo explicado e aplicado”. E foi exatamente assim que Jesus (Jo 3.1-21; 4.1-
29) e os apóstolos fizeram (At 2.14-41; 3.1-26; 6.8-15; 7.1-60; 8.8.1-38; 10.1-48, etc). Para
entendermos melhor esta pequena diferença entre evangelismo e evangelização, é só
olharmos para a fé abordada por Paulo, em Romanos, e por Tiago, em sua carta. Enquanto o
primeiro abordou a fé sob o ponto de vista doutrinal (fé teológica, fé salvífica), o segundo
abordou a fé sob o ponto de vista prático (fé em ação, fé com obras). Assim também o a obra
do Evangelismo é vista na perspectiva doutrinal (teologia da Grande Comissão), enquanto
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que a tarefa da Evangelização é vista no aspecto prático (execução, evangelismo em


prática).
Para realizarmos a obra da evangelização eficazmente, precisamos primeiro conhecer mais
a fundo o que é evangelismo. Temos em Apolo este pequeno exemplo. Ele até se esforçava
para evangelizar (At 18.26). Todavia, Priscila e Áquila, ao o ouvirem evangelizando em uma
sinagoga, eles sabiamente o levaram consigo e o instruíram ainda mais sobre o
evangelismo. Depois desta instrução recebida, Apolo “com grande veemência convencia
publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo” (v.28). A
evangelização aqui tornou-se mais eficiente após ele conhecer mais sobre evangelismo. O
evangelismo é, na verdade, uma “tarrafa” que o Senhor nos deu, e para pescarmos os
homens (Mt 4.19), precisamos saber lançá-la ao mar do mundo – evangelizar.
Evangelista – esta palavra em grego corresponde a euaggelistes que corresponde a
aquele que traz a mensagem da salvação aos perdidos (boas notícias). Em sentido restrito,
conforme Ef 4.11, evangelista é um “Dom ministerial conferido pelo Espírito Santo, através
do qual o obreiro cristão é impulsionado a proclamar de maneira sobrenatural a mensagem
evangélica”.3 Tanto Filipe (At 21.8) quanto Timóteo (2Tm 4.5) possuíam este dom. Já em
sentido lato, com base em Mc 16.15, todo crente que prega o evangelho é um evangelista ou
evangelizador.
EVANGELIZAÇÃO: UMA COISA QUE A IGREJA NÃO PODE FAZER NO CÉU
Olhando para Moisés, vamos perceber algo muito interessante em sua vida que assemelha-
se com a Igreja. O nome hebraico Mosheh significa “tirado” (porque das águas o tirei Êx
2.10). O nome Igreja em grego é ekklesia, que corresponde a “chamados para fora”. Moisés
passou 40 anos no Egito; foi criado na cultura egípcia, vivia como um egípcio e tinha o Egito
em seu coração. Todavia, a mão de Deus o tirou do Egito, e durante 40 anos vivendo em
Midiã, o Senhor tirou dele todo o Egito que havia em seu coração. Com 80 anos de idade,
Moisés é enviado por Deus ao Egito para através dele libertar o seu povo (Êx 3.10). De igual
forma, Cristo Jesus nos tirou do mundo (Jo 15.19 — no sentido ético), tirou o mundo de
dentro de nós (Gl 6.14; 1Jo 2.15; Tg 1.27), e nos enviou ao mundo (no sentido geográfico)
para, através da nossa vida, salvar os perdidos (Jo 17.18; Mc 16.15).
Desse modo, a tarefa da evangelização é de competência da Igreja. Não realizar esta missão
constitui-se pecado de negligência e omissão (Jr 48.10; Tg 4.17). Por essa razão, a
evangelização é uma tarefa que deve ser feita AQUI e AGORA, pois no céu ela não poderá ser
feita, e amanhã poderá ser tarde demais. Os Dons Ministeriais são para alguns (Ef 4.11),
mas a obra da evangelização é para todos (Mc 16.15). Logo, o que nos falta não é a Ordem,
mas sim a obediência; o que nos falta não é a doutrina, mas sim a paixão pelas almas; o que
nos falta não são os métodos, mas sim o interesse; o que nos falta não é o tempo, mas sim o
amor.
O Que Acontece Com o Crente Que Não Evangeliza?
Se a Ordem de Cristo não for cumprida, pagaremos um alto preço por isso, conforme
veremos a seguir:
a) Angústias profundas – Davi sentiu isto, pois ele mesmo disse: “Com o silêncio fiquei
como o mudo; calava-me mesmo acerca do bem; mas a minha dor se agravou” (Sl 39.2). Dor
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aqui, do hb. ke’eb, significa “pesar”, “dor mental e física”. O profeta Jeremias também passou
por isto. Veja o que ele disse: “Quando pensei: não me lembrarei dele e já não falarei no seu
nome, então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; já desfaleço
de sofrer e não posso mais” (Jr 20.9). Fogo ardente aqui, do hb. ba Ìar, dentre seus
significados temos, em sentido figurado, a “Ira de Javé”; neste sentido, a ira de Deus retida
em seus ossos o queimava por dentro.
b) Provações horrendas – o profeta Jonas recebeu ordem divina para pregar em Nínive
(Jn 1.2). No entanto, ele desobedeceu a Deus, e empreendeu viagem para Társis. Por conta
de sua desobediência, o Senhor enviou um forte vento sobre o mar, de modo que o navio
estava para se quebrar (v.4). Após ter confessado que ele era a causa daquela tempestade,
foi lançado ao mar. Deus, então, providenciou um grande peixe para que o engolisse. Jonas
passou três dias e três noites no ventre do grande peixe (v.17). Arrependido, orou ao
Senhor, e foi ele misericordiamente atendido (v.10). Foi a partir dessa horrenda experiência
que Jonas passou a cumprir a sua missão.
c) Perseguições – a ordem de Cristo para a igreja em Atos 1.8 foi para pregar o
evangelho em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Todavia, a igreja, após ter
sido revestida do poder do alto, ocupou-se somente em evangelizar Jerusalém (At 5.8),
enquanto isso outros lugares continuavam carentes do evangelho. Daí então, o Senhor
permitiu uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Desse modo, “todos foram
dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos” (At 8.1). Se a igreja não
cumprir Atos 1.8, então At 1.8 se cumprirá nela. Tendo conhecimento destas verdades, o
apóstolo Paulo assim falou aos crentes coríntios: “Porque se anuncio o evangelho, não tenho
de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o
evangelho!” (1Co 9.16). Em outras palavras, o apóstolo está dizendo: Ai de mim! Meu Deus!”
POR QUE A TAREFA DA EVANGELIZAÇÃO É URGENTE?
“Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vossos
olhos e vedes as terras, que já estão brancas para a ceifa” (Jo 4.35).
A maneira dos judeus identificarem o tempo da colheita era quando o campo de cevada ou
trigo ficava completamente branco, pois este era um sinal latente de que o cereal já se
encontrava maduro. Usando esta figura de linguagem, Cristo traz à igreja um grande alerta
acerca da urgência da colheita – a evangelização. A bem da verdade, a Bíblia Sagrada
demonstra-nos claramente a urgência da evangelização ao usar a expressão HOJE. Veja:
“Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3.11); “Antes, exortai-vos
uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se
endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13); “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso” (Lc 23.43); “Zaqueu, desce depressa, porque ,hoje, me convém pousar em tua casa”
(Lc 19.5); “Hoje veio salvação a esta casa, pois este também é filho de Abraão” (Lc 19.9);
“Louco, esta noite [hoje] te pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será” (Lc
12.20); “Ouvi-te em tempo aceitável e socorri-te no dia da salvação; eis aqui agora [hoje] o
tempo aceitável, eis aqui agora [hoje]o dia da salvação” (2Co 6.2)
Falando sobre a Lâmpada Missionária da Igreja em nosso livro A Igreja e Suas Sete
Lâmpadas, dissemos que “Igrejas que não amam a Obra Missionária necessitam ser, tão
rapidamente hospitalizadas. A igreja que não evangeliza precisa, urgentemente, ser
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evangelizada”4. Leia Ap 3.20, e você encontrará uma igreja sendo evangelizada pelo próprio
Cristo! Claudionor de Andrade também foi bem preciso em suas palavras: “Se a igreja
evangeliza e faz missões, é verdadeira. Mas se vive pela liturgia, não passa de uma casa de
espetáculos”.5
Diante de tudo o que já foi exposto acima, vamos citar apenas três razões pelas quais a obra
da evangelização é urgente:
1) A Evangelização é Uma Ordem de Cristo (Mc 16.15; At 1.8)
...Ide e Pregai
A obra da evangelização não é uma tarefa opcional, não pode ser transferida e nem
postergada. Cristo cumpriu fielmente a missão que lhe foi dada pelo Pai (Jo 19.30), e, de
igual modo, a igreja precisa cumprir lealmente a sua missão dada por Cristo (Mc 16.15).
Neste sentido, a Grande Comissão é uma ordem que alcança não somente um grupo
específico da igreja, mas sim a todos os crentes que formam a Igreja. Cada crente jaz sob os
imperativos “Ide” e “Pregai” de Cristo. Não obedecer esta ordem é conspirar diretamente
contra a pessoa de Deus.
2) A Evangelização é Uma Necessidade do Mundo (Rm 10.14-17)
...E como ouvirão, se não há quem pregue?
A evangelização não é uma necessidade da Igreja (pois a Igreja é o instrumento), mas sim
do mundo (pois é o alvo). Com base no que Jesus disse em Mt 7.14: ... “larga é a porta, e
espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela”, a Igreja não
deve de modo algum cruzar os braços diante de tal situação. Jesus nos tirou do mundo para
adorá-lo e nos enviou ao mundo para servi-lo. Toda pessoa que foi alcançada pelo evangelho,
torna-se também um enviado para pregar o evangelho. A situação do mundo (pessoas),
conforme a visão bíblica, é extremamente lamentável e estarrecedora. Vejamos:
a) o mundo jaz no maligno (IJo 5.19) – encontra-se sob o poder do mal;
b) o mundo encontra-se completamente contaminado pelo pecado (Tg 1.27);
c) escravizado pelo pecado (Jo 8.34) – encarcerado no sistema maligno e acorrentado
pelo aguilhão da morte, que é o pecado (1Co 15.56);
d) destituído da glória de Deus (Rm 3.23) – sem comunhão com o Criador;
e) sentenciado à morte (Rm 6.23) – morte física, espiritual e eterna.
Diante desta triste situação em que se encontra o mundo (pessoas), a Igreja precisa
evangelizar com “urgência das mais urgentes urgências”. Deus amou tanto o mundo, que foi
capaz de enviar o Seu filho amado Jesus para executar o Plano da Salvação (Jo 3.16). Ele
continua amando o mundo. E agora Ele enviou a Sua Igreja para compartilhar, explicar e
aplicar o evangelho de Cristo, que “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que
crê” (Rm 1.16). Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ez 18.32), antes deseja que todos
sejam salvos (1Tm 2.4). O mundo necessita urgentemente ouvir o evangelho de Cristo, e
somente a Igreja de Cristo, HOJE, pode fazer isto.
3) O Arrebatamento Está Prestes a Acontecer (Mt 24.44; 25.13)
... Não sabemos o dia e nem a hora em que Cristo virá
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A Igreja não sabe o dia e nem a hora em que Cristo arrebatá-la-á, pois sua vinda se dará de
maneira iminente. Enquanto aguarda por Ele, a igreja precisa trabalhar. Por esta razão, a
evangelização precisa ser feita a tempo e fora de tempo (2Tm 4.2). Como embaixadores de
Cristo (2Co 5.20) aqui na terra, a nossa missão é evangelizar. Evangelizar é tornar as
pessoas evangélicas pelo poder do evangelho (Rm 1.16). Alexandre Magno (o grande),
devido as suas inúmeras conquistas, idealizou helenizar (gr. Hellen = grego) o mundo de sua
época; ou seja, implantar tanto a cultura quanto o idioma grego. Quando uma cidade era
conquistada por Alexandre, ela era completamente helenizada (tornava-se grega).
A Igreja também tem a missão de evangelizar o mundo (tornando o mundo evangélico), por
meio da pregação. Quando Paulo evangelizava através de sua defesa em uma audiência em
Cesareia, o rei Agripa exclamou: “Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!” (At
26.28), pelo que o apóstolo retrucou: “Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por muito, não
somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo se tornasse tais qual eu sou”
(v.29). Quando um pecador se converte, ele foi, por assim dizer, evangelizado, tornou-se
evangélico (seu caráter foi mudado pelo evangelho Rm 1.16); de igual forma, quando um
evangélico se desvia para o mundo, é porque ele foi mundanizado (seu caráter foi
contaminado). Foi exatamente isto que aconteceu com boa parte da igreja em Sardes (Ap
3.1). Aos crentes que forem encontrados trabalhando na vinha do Senhor ante o
arrebatamento da Igreja, cumprir-se-á em suas vidas Mt 24.46,47: “Bem- aventurado aquele
servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre
todos os seus bens”.
CONCLUSÃO
A Igreja de Cristo tem em suas mãos uma grande tarefa. No Tribunal de Cristo acontecerá a
prestação de contas sobre tudo o que ela fez na terra. Para quem trabalhou fielmente
obedecendo as ordens de Cristo, haverá maravilhosas e indescritíveis recompensas. O
mundo clama por socorro (At 16.9); Jesus Cristo já deu-nos a ordem para socorrê-los: Ide e
Pregai (Mc 16.15); precisamos obedecer urgentemente, para que assim, inúmeras vidas
sejam instruídas, e escapem de um profundo e horrível abismo. Atentemos para as sábias
palavras do apóstolo Paulo: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não
ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?
Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas
boas!” (Rm 10.13-15).

NOTAS
1 ANDRADE, Claudionor de. Lições Bíblicas – Os Desafios da Evangelização – 3o trimestre, 2016, p.5
2 Ibid, p.5

3 ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico, p.177

4 COSTA, Neldson. A Igreja e Suas Sete Lâmpadas, p. 87

5 ANDRADE, Claudionor de.O Desafio da Evangelização, p.32

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