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A Juventude e os dons do Espírito Santo

Colaboração para o Portal Escola Dominical: Caramuru Afonso


Francisco

1 – A relevância da juventude na evangelização

A expectativa de vida do brasileiro é de cerca de 72 anos, segundo dados


recentes do IBGE, confirmando a melhoria das condições de vida por que
passa a nossa população, resultado da melhoria das condições de
saneamento básico, de alimentação e de saúde vividos pelo país desde o
início de sua industrialização a partir da década de 1930.
Ao mesmo tempo em que aumenta a expectativa de vida do brasileiro,
diminui o ritmo do seu crescimento populacional, o que faz com que seja
cada vez maior a parcela da população de maior idade, não sendo mais o
Brasil um país cuja maior parte da população era formada por crianças,
como ocorria até a década de 1980.
Hoje, o maior contingente populacional do país está na chamada “faixa
jovem”, ou seja, daqueles que têm idade entre 12 e 25 anos, os chamados
adolescentes e jovens.
Diante deste fato, é natural que as atenções da sociedade concentrem-se
nesta faixa etária que, além de ser a mais numerosa na atualidade, é,
também, aquela que é mais facilmente influenciável, pois, como se diz até
mesmo no Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças e adolescentes
são pessoas em desenvolvimento, de modo que não têm, ainda, formado o
seu caráter, o que as torna presa fácil do próximo.
Se os homens, com toda a sua imperfeição, têm conhecimento desta
circunstância e se lançam à conquista da parcela jovem da sociedade a fim
de satisfazer os seus interesses mais diversos (políticos, econômicos,
sociais etc.), não pensemos nós que o adversário de nossas almas, que
não cansa de se opor, noite e dia, contra a obra do Senhor, esteja agindo
de forma distinta.
O diabo sabe muito bem desta condição peculiar que gozam crianças e
adolescentes e, por isso, tem envidado grandes esforços para afetar a
formação do caráter destas pessoas em desenvolvimento, a fim de
prejudicar não só a obra de Deus, mas a própria salvação dos homens.
A complicar ainda mais o quadro, temos a tradicional negligência que os
adultos têm em relação às pessoas em desenvolvimento, algo que está
arraigado na própria humanidade e que nos dá conta a própria Bíblia
Sagrada, que nos indica que, mesmo entre os discípulos de Cristo, havia
uma desconsideração para com as crianças, que eram até impedidas de
chegar à presença de Jesus, atitude, por sinal, que não teve a anuência do
Senhor.
Infelizmente, apesar do exemplo dado pelo Mestre, a Igreja tem mantido
uma postura de negligência frente às pessoas em desenvolvimento e o
resultado disto é o número crescente de jovens descompromissados com
Deus e com a Sua Palavra, a começar dos próprios lares de crentes.
A situação mais emblemática parece-nos ser a da Europa, que, durante
milênios, foi considerado como o continente tipicamente cristão do
planeta. Conforme estatísticas, a juventude européia, na atualidade, está
completamente distante dos templos e dos cultos, não sendo sequer
cristãos nominais. A Espanha, por exemplo, que sempre foi um exemplo de
país católico praticante, tem um índice de 77% de jovens que jamais vão a
uma missa, enquanto que, na Inglaterra, que foi berço de grandes
avivamentos espirituais, somente 54% dos jovens acreditam em Jesus
Cristo.
Este quadro desolador mostra quanto a Igreja precisa se preocupar em
atingir a camada jovem da população, que, além de ser a mais numerosa
em nosso país, terá uma expectativa de vida alta, o que significa afirmar
que os valores e crenças que abraçar serão os valores e crenças que serão
transmitidos a, pelo menos, duas gerações seguintes, de forma que, se a
Igreja não os evangelizar, fatalmente estaremos construindo vários
obstáculos para o próprio crescimento do reino de Deus nos próximos 150
anos.

2 – A necessidade de o jovem ser instruído na Palavra de Deus

Como se disse, crianças e adolescentes são pessoas em desenvolvimento,


ou seja, ainda não tiveram completamente formados seja o seu organismo
biológico, seja a sua personalidade e, portanto, são como a argila nas
mãos do oleiro, prontos a adquirir uma forma de acordo com a orientação
e as forças que agirem sobre a matéria.
Não é por outro motivo que a Palavra de Deus, por intermédio do sábio
Salomão, aconselha a que instruamos as crianças no caminho em que
devem elas andar, porque, uma vez moldados em seu caráter de acordo
com a retidão da são doutrina, mesmo quando envelhecidas, elas jamais
se esquecerão destes ensinamentos, agindo conforme à Palavra do
Senhor, ainda que, por decisão livre e soberana, pois são dotadas, como
qualquer ser humano, de livre-arbítrio, não venham a aceitar a Cristo
como seu único e suficiente Senhor e Salvador (Pv.22:6).
A importância do ensino da Palavra de Deus às pessoas quando ainda
estão em desenvolvimento foi ressaltada, também, por Moisés que
determinou, em nome do Senhor, que a educação religiosa tivesse por
base o próprio lar (Dt.6:6-9) e, indiscutivelmente, foi por terem observado
estes mandamentos que o povo de Israel manteve viva a sua fé e a sua
cultura apesar de todas as agruras e perseguições que têm caracterizado a
sua história ao longo dos séculos.
O salmista, também, mostra a grande importância de se ensinar a Palavra
de Deus às pessoas em desenvolvimento. No mais longo salmo, cujo tema
é a própria Palavra de Deus, o salmo 119 e que, não por coincidência,
encontra-se no centro das Escrituras, vemos por duas vezes, a
preocupação do salmista em exortar a ensinarem as pessoas em
desenvolvimento a sã doutrina. Vejamo-las:

a) Sl.119:9 – Como purificará o mancebo o seu caminho ? Observando-o


conforme a Tua palavra. – Vemos aqui que o salmista aponta o caminho
pelo qual o jovem pode se manter puro, pode se manter em santidade, em
comunhão com Deus: através da observância da Palavra de Deus. Mas
como poderá ele observar a Palavra de Deus se nela não for ensinado? Eis
um dos principais fatores porque hoje a juventude tem se distanciado
tanto do Senhor e tem se enveredado cada vez mais pelo caminho da
imoralidade, da violência e dos vícios, inclusive os “filhos de crente”.

b) Sl.119:100 – Sou mais prudente do que os velhos, porque guardo os Teus


preceitos – Aqui o salmista mostra que a juventude, nem sempre, significa
imaturidade ou incapacidade. Muito pelo contrário, a juventude pode
representar uma melhoria, um progresso, uma evolução em relação à
geração anterior, desde que tenha sido ensinada a observar a Palavra do
Senhor. Por que temos visto o mundo regredir espiritual e moralmente
cada vez mais? Porque os jovens não têm sido ensinados a guardar os
preceitos do Senhor e, portanto, têm menos prudência, menos sabedoria
do que a geração que lhes antecede, o que explica a frieza e insensatez
espirituais que têm tomado conta do planeta e que nos levará a um estado
em que o homem do pecado será erigido e aclamado como líder mundial.
Um jovem ensinado na Palavra do Senhor tem uma vida toda para mostrar
maior prudência e sabedoria, trazendo benefício a si, à Igreja e à
humanidade, bênção que só tende a crescer a cada geração, já que a
expectativa de vida tem aumentado.

3 – O trabalho de orientação à juventude e os dons espirituais

Mas é Salomão, no seu livro derradeiro, o chamado “livro da velhice”, o


Eclesiastes, que nos fala, com toda a sua sabedoria e experiência de vida,
o que representa a juventude para a vida espiritual.

Sua primeira consideração é no sentido de que o mancebo pobre e sábio é


melhor do que o rei velho e insensato, porque o jovem se deixa
admoestar, ao contrário do velho (Ec.4:13). Como vimos, o jovem tem a
grande vantagem de estar em formação, de poder ser moldado, de poder
ser orientado, conduzido pelo caminho da sã doutrina. Seu caráter ainda
não está totalmente formado, o que, pelo menos entre os adolescentes,
também ocorre com o seu organismo biológico, de modo que se pode
canalizar as potencialidades e a própria complementação da formação
psicossomática da pessoa da maneira mais adequada à observância da
Palavra do Senhor.

É exatamente por causa disso que o diabo tem se esforçado para impor a
esta faixa etária um total desvirtuamento, seja no campo biológico, seja
no campo psicológico, seja no campo espiritual. A erotização infantil, que
ocasiona o desenvolvimento precoce da sexualidade, é um eficaz exemplo
de como o adversário tem agido, de forma a causar um completo
desequilíbrio na vida da nossa juventude, com conseqüências drásticas
para toda a sociedade.

O pseudo-amadurecimento precoce da juventude, também, é uma das


armas que mais tendo sido utilizadas pelo adversário para impedir,
precisamente, que o jovem seja o mancebo mencionado por Salomão,
mas, cedo, se transforme no rei velho e insensato, ainda que seja, ainda,
cronologicamente, um “teenager”.

Neste ponto, a cultura que privilegia a “autodeterminação” do jovem, que


enfatiza o “seu direito de ir e vir”, a “sua liberdade”, que tem sido
propagada aos quatro ventos, é um dos principais fatores que tem
dificultado a maleabilidade da personalidade do jovem, tornando-o, desde
cedo, um rei velho e insensato. Mais do que ninguém, o diabo sabe que
“aquilo que é torto não se pode endireitar” (Ec.1:15a), razão pela qual
batalha para criar estas ilusões e fatos consumados que forcem um
amadurecimento aparente precoce, que gera uma insubmissão e um
comichão nos ouvidos que não permite ao jovem ser admoestado pelos
mais velhos.

Neste ponto, aliás, é imperioso que a Igreja desenvolva um procedimento


de amor e entendimento no trabalho com os jovens, agindo com extrema
sabedoria para quebrar esta “couraça de auto-suficiência” de que estão
revestidos os jovens da atualidade, mostrando-lhes que uma das
características mais positivas desta idade é, precisamente, a imaturidade,
a existência de uma personalidade em formação, a possibilidade do
aprendizado. Despertar o sentimento de humildade no jovem é essencial
para que possa ser orientado conforme a sã doutrina e isto somente se
dará se os encarregados da evangelização e ensino dos jovens forem
dotados do mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus ( Fp.2:5-8).

Aquele que trabalha com a juventude não pode se apresentar como um


líder autoritário, dono da verdade, auto-suficiente, “sabichão”, pois, se
assim fizer, estará cerrando fileira ao lado dos agentes de Satanás que
procuram incutir na mente dos jovens precisamente estas qualidades.

Nosso modelo é Cristo que, quando adolescente, apesar de ter


demonstrado toda Sua deidade no templo, era sujeito aos Seus pais
(Lc.2:51) e esta submissão foi o motivo pelo qual cresceu espiritual e
socialmente (Lc.2:52).

O caminho para o crescimento espiritual da juventude passa pela


humildade e pela submissão, pois só assim alcançarão a capacidade de
serem admoestados, que é a primeira característica positiva da juventude
para o ser humano, que lhes trará prudência e sabedoria.

É por isso que uma Igreja precisa, também para o trabalho com os jovens,
dos dons espirituais de profecia e da palavra de sabedoria. Situações há
em que a experiência do mais velho, em que a habilidade no trato pessoal
com os jovens é totalmente insuficiente. É preciso que, de modo
sobrenatural, o Espírito Santo venha a admoestar os jovens, venha a
trazer palavras de advertência ou agir de modo a criar circunstâncias, de
forma equilibrada, que possa levar o jovem à humildade e submissão.

Ora, estas capacidades sobrenaturais somente advêm à Igreja mediante


os dons espirituais de profecia e da palavra de sabedoria, que, portanto,
são indispensáveis para um eficaz trabalho com a juventude.

Outra observação que Salomão faz a respeito do mancebo é o fato de ele


ser o sucessor dos viventes que com ele andam debaixo do sol (Ec.4:15).

É extremamente importante aos adultos lembrarem de que não são


eternos, de que, caso Jesus não os venha buscar no período de sua
existência sobre a face da Terra, eles serão substituídos pela geração
seguinte, pois “uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra para
sempre permanece” (Ec.1:4).

Quando os adultos assim consideram, não deixam de fazer companhia aos


jovens e lhes dão o devido valor, sabendo que tudo o que fizerem deverá
ser passado para esta geração seguinte. Recentemente, ouvimos de um
jornalista respeitado uma constatação que muito nos sensibilizou. Dizia
ele que sua geração havia fracassado no aspecto político em nosso país,
pois, apesar de todos os movimentos ocorridos, de todas as
transformações vivenciadas, sua geração não havia se preocupado em
formar a geração seguinte, de tal sorte que há, hoje, no Brasil, uma
carência preocupante de lideranças políticas mais jovens, a comprometer
todo o futuro de nosso país.

Esta constatação devemos ter, também, na Igreja. Deus vela pela Sua
Igreja, mas confiou à Igreja a tarefa de formar quadros, de aperfeiçoar os
santos, através dos dons ministeriais e espirituais por Ele concedidos. Se
Deus dá estes dons é porque espera que os utilizemos, que dele façamos
uso. É nossa tarefa a de formar a Igreja que, caso Jesus não venha,
prossiga a obra que foi confiada pelo Senhor para que a fizéssemos.

A postura da Igreja, entretanto, tem sido muito semelhante à da geração


de Josué que, tendo vivido à sombra de Moisés, após ter tomado em suas
mãos o destino do povo de Israel, cumpriu o seu papel, que era o de
conquistar a Terra Prometida, mas se omitiu em formar a geração
seguinte, que, ao assumir o comando do povo, sem instrução, acabou se
perdendo e se desviando dos caminhos do Senhor (Jz.2:7-13).

A geração que atualmente dirige a Igreja do Senhor sobre a face da Terra


tem negligenciado no cuidado e na formação dos jovens e é por isso que
temos tido o quadro caótico que foi apontado algumas linhas acima.
Precisamos, com urgência, voltarmos para a juventude e evitarmos o
desvio generalizado da fé, que, fatalmente, sobrevirá sobre o povo de
Deus, para não dizermos que já está sobrevindo.

Num estudo a que assistimos, há alguns anos atrás, ficamos estarrecidos


com os dados apresentados pelo ministrante que, sendo um profissional
de saúde que, inclusive, exerceu importantes funções governamentais
nesta área, nos mostrou a correlação entre o aumento de gravidez entre
adolescentes na região metropolitana onde trabalhava e a orientação
tomada pela mídia, notadamente a mídia televisiva, no sentido da
erotização na programação infantil. Hoje, o Brasil tem um índice altíssimo
de gravidez na adolescência, fenômeno que não poupou nem mesmo os
lares evangélicos, precisamente porque temos transformado a televisão
em nossa “babá eletrônica”, temos permitido que a mídia, que, como está
demonstrado, está compromissada (às vezes explicitamente) com
Satanás, substitua o ensino da Palavra de Deus em nossos lares e molde
este caráter em formação da juventude.

É preciso que o adulto acompanhe o mancebo, com ele conviva, que haja
diálogo entre pais e filhos, entre jovens e adultos na igreja local, que os
adultos participem das atividades e do cotidiano dos jovens, que tenham
acesso e conheçam a fundo o que está sendo oferecido aos jovens, para
que, então, possamos construir uma plêiade de homens e mulheres de
Deus que venha a nos suceder nesta caminhada rumo ao céu.

Faz-se necessário que haja o envolvimento dos adultos com os jovens.


Hoje os jovens constituem verdadeiros guetos nas igrejas locais. É o
“conjunto jovem”, “o departamento da mocidade”, “a sala da mocidade”,
“o culto com a mocidade” e assim por diante, numa discriminação e
separação que só serve para distanciar as gerações que existem na igreja
local, o que é altamente prejudicial.
Salomão afirma que os viventes andavam com o mancebo, ou seja, quem
tem vida espiritual deve partilhar da companhia dos jovens, deve se
envolver com eles, deve saber-lhes o pensamento, as dúvidas, as aflições,
a fim de que possa bem orientá-los.

Para fazer o vaso, o oleiro, conforme nos dá conta o profeta Jeremias,


tinha de pôr as mãos na argila, no vaso em formação (Jr.18:4). Os adultos
da igreja local precisam tocar os jovens, ou seja, senti-los, participar com
eles das atividades. O dirigente da congregação deve fazer,
periodicamente, estudos com os jovens e com eles participar de atividades
sem a solenidade do estudo bíblico ou de uma reunião formal da igreja,
deve assistir aos ensaios e às ministrações dos líderes dos jovens, sem
qualquer interferência, deve ser acessível aos jovens para a elucidação de
dúvidas, enfim, deve haver a convivência entre adultos e jovens, pois disto
depende o próprio futuro temporal da igreja local.

Aqui, também, por vezes, o trabalho com os jovens exige algo mais do que
habilidades naturais. É preciso que se demonstre o dom do discernimento
de espíritos para que saiba a origem de tudo aquilo que for oferecido aos
jovens na sociedade, notadamente pela mídia, ainda mais quando sabido o
nível de infiltração de satanismo em todos os setores, inclusive os
relativos ao chamado “segmento gospel do mercado” (em especial, no
campo da música). Também de grande necessidade é o dom da palavra do
conhecimento, que permitirá a revelação de tudo quanto estiver oculto e
de tudo o que for necessário para a sólida edificação espiritual da
juventude.

Ademais, a companhia do jovem traz um rejuvenescimento aos adultos. A


companhia com os mais jovens é altamente salutar, pois não permite o
envelhecimento mental da pessoa, nem a sua alienação do mundo em que
vive, mormente nos nossos dias em que o desenvolvimento tecnológico
crescente causa verdadeiros abismos entre situações cronologicamente
próximas. Quando observamos a infância e juventude de hoje e a
comparamos com dez, vinte anos atrás, veremos que o mundo se
transformou grandemente, a ponto de os adultos, se não mantiverem este
contacto com os jovens, ficarem completamente excluídos da nova
realidade surgida.

Prova do que estamos a falar é a vivacidade e a atualidade mental que se


observa entre os professores, cuja atividade exige o perene contacto com
os mais jovens. O professorado é, de longe, a classe dos adultos que se
mantém mais atualizada e mentalmente mais jovem, precisamente porque
desfruta desta companhia com os jovens. Que sejamos, também, assim
com relação aos nossos jovens, o que será extremamente frutífero e
agradável ao Senhor.

Uma outra consideração de Salomão aplicável à juventude é a que


recomenda que nunca sejamos nostálgicos, ou seja, não tenhamos
saudade dos dias passados e vivamos voltados a eles. “Nunca digas: por
que foram os dias antigos melhores do que estes? Porque nunca com
sabedoria isto perguntarias.” (Ec.7:10).

Embora saibamos que os dias tendem a piorar cada vez mais, em virtude
da multiplicação da iniqüidade, não podemos ter uma visão de curto prazo,
mas, sim, observar que o desenrolar do processo histórico é feito por Deus
e que nos está destinado o gozo eterno, a substituição destes céus e terra
por outros onde habita a justiça (II Pe.3:13). Sendo assim, o futuro não é
para ser visto com ceticismo, mas como, no mínimo, a proximidade ainda
maior da nossa redenção (cfr. Rm.13:11). Deste modo, a geração seguinte à
nossa está mais próxima do que a nossa da redenção e, por isso, deve ser
ainda melhor preparada para servir a Deus e ser instrumento do Seu amor.

Um dos principais fatores que inibem a convivência entre adultos e jovens


é a nostalgia, que leva os adultos a menosprezarem tudo o que é novo, a
resistirem a toda e qualquer mudança, a interceptarem toda e qualquer
modificação que venha a ser proposta pelos jovens que, por sua vez, têm a
tendência de considerar tudo o que existe imprestável e mutável.
Conhecida canção da música popular brasileira bem analisa esta questão,
ao dizer que os adultos sempre afirmam que, depois de sua geração, nada
melhor surgiu, tudo só piorou, enquanto que os jovens insistem que o
novo sempre vem.

É interessante notar que o mesmo Salomão que afirma que não há coisa
alguma nova debaixo do sol (Ec.1:9,10) é o que adverte que não devemos
ser nostálgicos, precisamente porque não se pode achar que o tempo
passado é melhor que o presente se persistem as mesmas circunstâncias.
Esta presunção de os adultos se acharem superiores aos mais jovens só
por terem mais experiência de vida é um sentimento que não podemos ter,
pois isto nada mais revela que falta de sabedoria, ou seja, falta de visão
espiritual, pois, se bem analisarmos, nada, na verdade, muda, a situação
espiritual do homem continua a mesma até que o Senhor venha restaurar
o indivíduo e, no final dos tempos, todas as coisas.

A postura de humildade e de reconhecimento da igualdade intrínseca que


há entre adultos e jovens é fundamental para que haja uma correta
orientação à juventude de acordo com a Palavra do Senhor. Os adultos
devem se conduzir neste relacionamento como verdadeiros instrumentos
do Senhor, como portadores de um tesouro que deverá ser deixado aos
mais jovens, como servidores dos mais jovens, pois não são os filhos que
entesouram para os pais, mas, sim, os pais que entesouram para os filhos
(II Co.12:14). São os adultos que devem servir e não querer ser servidos,
portanto.

A busca dos dons espirituais por parte dos adultos, pois, evidencia-se
como uma necessidade uma vez mais nesta nossa meditação. Como
portadores de dons teremos condição de bem nos colocarmos diante do
Senhor como Seus agentes, como Seus instrumentos e não quereremos
surgir como beneficiários dos mais jovens, como donos da verdade, mas,
tão somente, como filhos do único dono da verdade, a própria Verdade, o
nosso Deus (Jr.10:10a).

Salomão, ainda, adverte o jovem a respeito do seu vigor e da busca de


novidades. O sábio afirma que o jovem pode fazer tudo o que desejar, tem
força, ânimo e disposição para fazê-lo, mas nunca deve se esquecer de
que terá de assumir a responsabilidade por tudo o que fizer ( Ec.11:9).

A consciência da responsabilidade é uma das principais, senão a principal,


tarefas que está destinada aos ensinadores de jovens e que deve ser
incutrida na mente das pessoas em desenvolvimento.

Vivemos um tempo em que o adversário confunde liberdade com


libertinagem, liberdade com licenciosidade, liberdade com irreverência. No
seu engano e astúcia, o maligno procura mostrar aos jovens os benefícios
da vida desregrada, da vida sem limites, a busca pelo prazer e pela
satisfação imediata, algo bem apropriado para uma civilização que, cada
vez mais, exige velocidade e realização em tempo real.

No entanto, devemos lembrar a juventude de que a verdade é de que o


homem é um mordomo de Deus, é um ser moral, dotado de livre-arbítrio,
que pode escolher entre o bem e o mal, mas que prestará contas a Deus
por tudo o que fizer.

A idéia da responsabilidade como corolário, como contraponto, como o


outro lado do exercício da liberdade, é fundamental para que alguém
amadureça e tenha uma personalidade sadia, não só diante de Deus, como
também diante dos homens.

Neste passo, a conscientização de uma vida espiritual e da imortalidade do


homem é fundamental num trabalho evangelístico e de aprimoramento
espiritual. A juventude tem de ser confrontada com a realidade de que
existe um Deus perante O qual prestaremos conta um dia e que tudo o que
fizermos será submetido a julgamento. Não se trata de criar um monstro,
um pavor ante a figura de Deus, mas, bem ao contrário, de mostrar que
devemos, voluntariamente, nos submeter a este Deus, que é amoroso,
bom, misericordioso, mas que também é justo e moralmente perfeito.

A consciência da responsabilidade é um ponto importante para a educação


espiritual da juventude e a Igreja deve sempre se aprimorar na
transmissão desta verdade aos mais jovens. O envolvimento na obra de
Deus, a busca de uma vida de santificação, de crescimento na graça e no
conhecimento do Senhor tem como objetivo a conscientização e a vivência
desta responsabilidade.

Para tanto, é necessário que os jovens sejam encaminhados para uma


vida de oração e de meditação na Palavra do Senhor, que busquem, desde
cedo, o batismo com o Espírito Santo e que, uma vez batizados, sejam
estimulados e incentivados à busca dos dons espirituais.

Somente uma vida espiritual ativa e um envolvimento dos jovens em todas


as atividades da igreja local poderá trazer a ele a consciência da sua
responsabilidade diante de Deus e dos homens.

Neste ponto, é importante que a experiência dos mais antigos seja


utilizada, não com uma visão nostálgica ou presunçosa, mas como uma
demonstração de que esta experiência proporcionará lições importantes
para que os mais jovens sejam melhores do que a geração que os
antecedeu. O próprio Salomão afirma que devemos nos lembrar de Deus
quando ainda somos jovens para que, quando vierem os dias maus,
quando já dissermos que não há contentamento em viver, não venhamos a
ter o sentimento da oportunidade perdida.

A experiência dos mais antigos tem como fundamento não a exaltação dos
adultos, como, infelizmente, muitas vezes se faz, mas, antes, a
demonstração prática do que deve e do que não deve ser feito na
juventude, uma vez que tudo o que for feito nesta idade terá suas
conseqüências na idade adulta. Assim, os erros cometidos por nós,
adultos, devem ser os primeiros a ser mostrados aos jovens, para que não
venham a cometê-los. Os adultos têm a vantagem de não somente mostrar
que os erros não devem ser cometidos, como também comprovar as
conseqüências nefastas que eles trouxeram à vida de cada um.

Na nossa adolescência, tivemos um professor de Escola Bíblica Dominical


que, vez por outra, mostrava algumas atitudes erradas que tomara na
juventude e quais as conseqüências destes erros nos dias em que ele
estava nos ministrando e muito aprendemos com esta comparação, a fim
de termos vidas espirituais melhores que a de nossos mestres. Aqui,
inclusive, repousa o famoso provérbio segundo o qual bom mestre é
aquele a quem os discípulos ultrapassam, provérbio este que tem pleno
respaldo bíblico, pois foi o próprio Mestre dos mestres quem afirmou que
Seus discípulos fariam obras maiores que as dEle (Jo.14:12).

É fundamental que a juventude seja despertada a amar a Deus sobre


todas as coisas, a ter em Deus o centro de sua vida, o fim de tudo. Sem
esta visão, sem este olhar para Cristo Jesus, o autor e consumador da
nossa fé, o jovem, fatalmente, se perderá ante as ilusões e enganos desta
vida.

É necessário que a juventude aprenda que o dever de todo o homem é


temer a Deus e guardar os Seus mandamentos e que Deus trará a juízo
toda a obra, quer seja ela boa, quer seja ela má (Ec.12:13,14).

4 – A juventude : portadora preferencial dos dons espirituais na Igreja

Neste passo, para finalizarmos este estudo, nos cabe observar como deve
o jovem ser encaminhado para uma vida de disciplina espiritual.

O tema sugerido para este estudo foi “a juventude e os dons espirituais”,


mas, até o momento, apenas estivemos falando do exercício dos dons
espirituais por aqueles que trabalham com os jovens, ou seja, com os
adultos.

Assim procedemos, talvez um pouco fora do tema pretendido, mas porque


sentimos que, lamentavelmente, estamos, na atualidade, aquém de um
estágio em que podemos falar sobre um trabalho voltado para o
envolvimento da juventude com os dons espirituais e isto ocorre única e
exclusivamente porque os adultos não estão envolvidos com os dons
espirituais e, portanto, não têm autoridade para, com seu exemplo,
incutirem na juventude uma sede por esta busca.

No meio pentecostal, criou-se uma conduta que representou um grande


obstáculo para o crescimento espiritual da Igreja, qual seja, o da
consideração do batismo com o Espírito Santo como um fim a ser
alcançado pelo crente, quando, na verdade, trata-se do primeiro degrau do
aperfeiçoamento espiritual do filho de Deus após a regeneração.

Há um esforço grande da comunidade local para que o novo convertido


alcance o revestimento de poder, mas, uma vez obtido o batismo com o
Espírito Santo, a comunidade dá-se por satisfeita, o crente batizado
conforma-se e não há empenho para a busca dos dons espirituais. Por
causa disso, os dons espirituais são raros na Igreja nos nossos dias.

Já vimos que o trabalho com os jovens se exercerá com muito maior


possibilidade de êxito se os responsáveis por eles o exercerem sendo
portadores dos dons espirituais. Nada mais natural, portanto, que a
juventude seja, também, envolvida na busca destes dons, pois, em assim
fazendo, haverá melhores condições para que se produza o
aperfeiçoamento espiritual entre os próprios jovens.
No dia de Pentecostes, Pedro, em seu sermão, fez questão de mostrar o
papel que seria primordialmente desempenhado pela juventude na nova
dispensação que se iniciava. Ao citar a profecia de Joel, disse que aos
filhos e filhas estava destinada, principalmente, a profecia (At.2:17). Com
efeito, nos tempos apostólicos, vemos, por exemplo, o registro das filhas
do diácono e evangelista Filipe, que eram profetisas (At.21:9), a mostrar
que, nos dias dos apóstolos, havia um envolvimento da juventude com os
dons espirituais.

Esta promessa, entretanto, não é apenas para os dias apostólicos e deve


ser procurada com afinco pela Igreja destes dias derradeiros da
dispensação da graça.

Certo é que os dons espirituais, assim como a promessa do revestimento


de poder, está à disposição de todos quantos Deus nosso Senhor chamar,
mas a profecia de Joel, mencionada por Pedro, mostra-nos que há uma
tendência para que a juventude seja a principal destinatária destes dons.

Ao analisarmos esta questão, vemos que temos aqui mais um exemplo de


que as coisas feitas por Deus têm o objetivo de confundir a lógica humana
e, mais do que isto, de mostrar que o nosso Deus não é Deus de confusão
(I Co.14:33).

Quando estudamos a respeito dos dons espirituais na Bíblia Sagrada,


vemos que eles têm a nítida função de mostrar, de forma sobrenatural, o
poder de Deus sobre a Igreja, a presença do Espírito Santo no meio do Seu
povo e, assim, produzir a edificação espiritual dos crentes.

Nada mais natural, portanto, que se esperasse a entrega destes dons a


quem fosse mais experiente na fé, que tivesse maior maturidade
espiritual, como também psicológica e biológica.
Entretanto, ao mesmo tempo, muitos poderiam ficar confundidos com a
operação do Espírito Santo, achando que tudo não passaria de produto da
imaginação humana ou de projeção de experiências anteriormente vividas
pelos mais velhos e maduros.

Para que isto não seja de modo algum um sentimento presente na Igreja,
o Senhor fez questão de deixar ressaltado que os filhos e filhas, ou seja,
os jovens, aqueles que não têm experiência, vivência ou quaisquer outros
atributos, também poderiam ser canais da manifestação do poder de Deus
para a consolação, edificação e exortação do Seu povo. Ao ouvirmos um
jovem profetizando, trazendo uma mensagem de edificação para a Igreja,
teremos a convicção de que as palavras cheias de experiência, vivência e
discernimento não provêm da mente de alguma pessoa mais madura, mas
imediatamente do Senhor, já que a pessoa que será usada pelo Espírito
Santo não tem esta condição materialmente falando.

Além do mais, é sabida a disposição e o ânimo com que os jovens se


agarram às coisas em que realmente acreditam. Todos os movimentos
políticos e religiosos sempre procuram (e agora mais do que nunca, ante o
aumento da população desta faixa etária no planeta) arrebanhar a maior
parte de seus adeptos entre os jovens, precisamente porque eles possuem
o vigor, a maleabilidade e a disposição para levarem suas crenças até as
últimas conseqüências. Na Segunda Grande Guerra, por exemplo, os
últimos meses da campanha militar na Alemanha foram meses de tenaz
resistência, porque os soldados do Exército alemão, já, então,
completamente destroçado, foram substituídos pelos adolescentes da
Juventude Hitlerista, que atrasaram sobremaneira as tropas aliadas na
conquista final, notadamente de Berlim.

Eis porque o Senhor, que é o Criador do homem, também tem prometido


agraciar com especificidade os jovens com os dons espirituais, pois são
estes dons o tipo de operação perfeitamente adequado ao perfil
psicossomático da juventude, pois se trata de operações que exigem
disposição, ânimo e esforço, inclusive físico muitas vezes.

Cabe a nós, adultos, cientes desta promessa peculiar do Senhor à


juventude, fazer com que ela tome posse daquilo que lhe está reservado,
criando condições favoráveis para que isto seja uma realidade na nossa
comunidade local.

Mas, para que haja este envolvimento com os dons espirituais, é preciso
que, antes, os jovens sejam regenerados, o que se dá não pela
hereditariedade, mas pelo arrependimento dos pecados mediante a ação
do Espírito Santo, por meio da Palavra de Deus (Rm.10:17), Palavra esta,
aliás, que é o alimento espiritual do cristão.

Ora, como podemos ter regeneração e alimentação pela Palavra se a


juventude, via de regra, em nossas igrejas locais, mal participa dos cultos
de ensinamento, quase não freqüenta a Escola Bíblica Dominical e não tem
períodos específicos de ensino em suas reuniões, quase sempre tão
somente ensaios musicais ?

Faz-se necessário que se retome o ensino da Palavra aos jovens, um


ensino que seja voltado para a sua realidade cotidiana, que lhe fortaleça
espiritualmente, criando, assim, as condições para que haja um sólido
aperfeiçoamento espiritual.

Assim fazendo, certamente teremos jovens cheios do Espírito Santo, que,


conscientes do que é servir a Deus, conhecendo quem é Deus, serão
jovens que terão o perfil querido pelas Escrituras a eles, portadores de
dons espirituais (cfr. At.2:17).

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