Você está na página 1de 91

1 Jo ã o

ESBOÇO CONTEÚDO
Tema-chave: Testes de realidade na vida 1. Algo real
cristã (1 Jo 1:1-4)................................................. 609
Versículo-chave: 1 João 5:13 2 . O discurso e a prática
(1 Jo 1:5 - 2 :6)......................................... 616
1. IN TRO D U ÇÃ O -1:1-4 3. O antigo e o novo
(1 Jo 2:7-11).............................................. 623
II. O TESTE DA VERDADEIRA 4. O amor que Deus detesta
COMUNHÃO: DEUS É LUZ - (1 J02:12-1 7)............................................ 631
1 :5 -2 :2 9 5. A verdade ou as conseqüências
A. Obediência - 1:5 - 2:6 ("dizer" X (1 Jo 2:18-29)............................................ 639
‫״‬fazer‫) ״‬ 6 . Os impostores
B. A m o r-2 :7 -17 (1 Jo 3:1-10).............................................. 647
C. Verdade 2:18-29 ‫־‬ 7. Amor ou morte
(1 Jo 3:11-24)............................................ 654
III. O TESTE DA VERDADEIRA 8 . O cerne do amor
FILIAÇÃO: DEUS É AMOR - (1 J04:1-16).............................................. 662
CAPÍTULOS 3 - 5 9. Amem, honrem e obedeçam
A. Obediência - 3 (1 Jo 4 :1 7 - 5 :5 )...................................... 691
B. Amor - 4 10 . O que sabemos ao certo?
C. Verdade - 5 (1 Jo 5:6-21).............................................. 677
Ao ler 1 João 1:1-4, é possível aprender
1 três fatos importantes acerca da vida real.

1. E s s a v id a é r e v e la d a (1 Jo 1:1)
A l g o R eal Ao ler a carta de jo ão , descobre-se que ele
gosta de usar certas palavras, e uma delas é
1 João 1:1-4 "m anifestar". O apóstolo afirma que "A vida
eterna, a qual estava com o Pai [...] nos foi
manifestada" (1 Jo 1:2 ). Não se trata de uma
vida oculta, que é preciso procurar e encon-
trar. Antes, é uma vida manifestada - revela-
da abertamente!
/ / I ra uma ve z...". Se você fosse Deus, será que se revela-
L - Q uando éram os crianças, essas pa- ria aos seres humanos? Com o lhes falaria do
lavras costum avam ser extrem am ente em- tipo de vida que gostaria que desfrutassem
polgantes. Abriam a porta para um mundo e de que maneira lhes daria essa vida?
de sonhos que ajudava a esquecer todos os Deus se revelou na criação (Rm 1:20),
problemas da infância. mas a criação , por si m esm a, jam ais seria
Então, um dia, algo aconteceu, e o "Era capaz de contar a história do amor do Cria-
uma vez" tornou-se infantil dem ais. Desco- dor. D eus tam bém se revelou de m aneira
bre-se que a vida não é um parque de diver- mais piena na Bíblia, mas a revelação mais
sões, mas sim um cam po de batalha, e os com pleta e absoluta de D eus deu-se em seu
contos de fada deixaram de fazer sentido. Filho, Jesus Cristo. Jesus disse: "Q u em me
Passa-se a desejar algo real. vê a mim vê o Pai" (Jo 14:9).
A busca por algo real não é novidade. Des- Um a ve z que Jesus é a revelação do pró-
de o com eço da história, os seres humanos prio Deus, recebe um nome muito especial:
buscam realidade e satisfação em riquezas, "Verbo da vida" (1 Jo 1:1).
em oções, conquistas, poder, conhecim ento A m esm a designação pode ser encon-
e até mesmo na religião. trada no início do Evangelho de João: "N o
N ão há nada de errado nessas experiên- princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
cia s, m as nenhum a delas é ca p a z, em si Deus, e o Verbo era D eus" (Jo 1:1).
m esm a, de oferecer verdadeira satisfação. Por que Jesus Cristo tem esse nome?
D esejar algo real e encontrar algo real são Porque Cristo é aquilo que as palavras são
duas coisas diferentes. Com o a criança que para as pessoas. Palavras revelam pensamen-
com e algodão-doce no circo , algumas pes- tos e sentimentos. Cristo revela a mente e o
soas esperam m order algo real, mas aca- coração de Deus. Ele é o m eio de comuni-
bam com a boca vazia. D esperdiçam anos cação vivo entre Deus e os homens. Conhe-
preciosos da vida com substitutos fúteis da cer a Jesus Cristo é conhecer a Deus!
realidade. João identifica Jesus Cristo de modo ine-
É nessa situação que se encaixa â pri- quívoco. Jesus é o Filho do Pai, o Filho de
meira epístola do apóstolo João. Apesar de D eus (1 Jo 1:3). Em sua prim eira carta, o
ter sido escrita há séculos, esta carta trata apóstolo adverte seus leitores várias vezes
de um tema sem pre atual: a vida real. para não darem ouvidos a falsos mestres que
João descobriu que as coisas e as emo- mentem sobre Jesus Cristo. "Q u em é o men-
ções não oferecem uma realidade que satis- tiroso, senão aquele que nega que Jesus é
faça, mas que esta pode ser encontrada em o Cristo?" (1 Jo 2 :2 2 ). "Nisto reconheceis o
uma Pessoa: Jesus Cristo, o Filho de Deus. Espírito de D eus: todo espírito que confessa
Sem perder tem po, o apóstolo fala dessa que Jesus Cristo veio em carne é de D eus; e
"realidade viva" logo no primeiro parágrafo todo espírito que não confessa a Jesus não
da sua carta. procede de Deus" (1 Jo 4 :2 , 3). Q uem tem
610 1 J O Ã O 1:1-4

uma concepção errada de Jesus Cristo tam- talvez perca o juízo. Mas se tentar colocá-la
bém tem uma concepção errada de Deus, de lado, certamente perderá a alma!" E o
pois Jesus Cristo é a revelação absoluta e apóstolo João diz: "Todo aquele que nega
completa de Deus aos homens. o Filho, esse não tem o Pai" (1 Jo 2:23).
Há quem diga, por exemplo, que Jesus Nenhuma Pessoa da Trindade é dispensável!
foi um homem, mas não foi Deus. João não Ao ler os relatos da vida de Jesus nos
dá espaço a esses mestres! Uma das últimas Evangelhos, vê-se a vida maravilhosa que
coisas que escreve nesta carta é: "estamos Deus deseja que desfrutemos. No entanto,
no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este não se toma parte nessa vida imitando Je-
é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo sus, nosso exemplo. Há um modo muito
5:20, grifos nossos). melhor de participar.
Tamanha é a seriedade da questão das
falsas doutrinas que João também escreve 2 . E ssa v id a é e x p e rim e n ta d a
sobre isso em sua segunda carta, advertindo (1 Jo 1:2)
os cristãos a não receberem os falsos mestres Ao reler os quatro primeiros versículos des-
em suas casas (2 Jo 9, 10). Além disso, deixa ta carta de João, é possível observar que o
claro que negar que Jesus é Deus correspon- apóstolo teve um encontro pessoal com fe-
de a seguir as mentiras do Anticristo (1 Jo sus Cristo. Não foi uma "experiência reli-
2:22, 23). giosa" de segunda mão, herdada de outra
Isso nos leva a uma doutrina bíblica fun- pessoa ou descoberta em um livro! João en-
damental, motivo de perplexidade para controu-se com Jesus Cristo face a face. Ele
tantos - a doutrina da Trindade. e os outros apóstolos ouviram Jesus falar.
Nesta carta, João fala do Pai, do Filho e Viram-no viver diante deles. Estudaram-no
do Espírito Santo. Diz, por exemplo: "Nisto com cuidado e até tocaram seu corpo. Sa-
reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito biam que Jesus era real, não um fantasma
que confessa que Jesus Cristo veio em carne ou uma visão, mas Deus em forma corpórea
é de Deus" (1 Jo 4:2). Vê-se, portanto, que humana.
em um único versículo ele faz referência a Um acadêmico de hoje pode dizer: "É
Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. verdade, e isso significa que João estava em
O texto de 1 João 4:13-15 é outra declaração uma posição privilegiada. Viveu no tempo
que menciona as três pessoas da Trindade. em que Jesus estava na Terra e conheceu
O termo Trindade é uma combinação do Jesus pessoalmente. Mas eu nasci vinte sé-
prefixo tri, que significa "três", com o termo culos atrasado!"
unidade, que significa "um". Assim, trinda- Aí é que está o engano! Os apóstolos
de é "três em um" ou "um em três". Apesar não foram transformados pela proximidade
de a palavra "Trindade" não aparecer nas física de Jesus Cristo, mas sim por sua proxi-
Escrituras, é uma doutrina que a Palavra en- midade espiritual. Entregaram-se a ele como
sina (ver também Mt 28:19, 20; Jo 14:16, Salvador e Senhor. Jesus Cristo era uma Pes-
17, 26; 2 Co 13:14; Ef 4:4-6). soa real e empolgante para João e seus com-
Os cristãos não crêem na existência de panheiros, porque creram no Senhor e, ao
três deuses. Antes, crêem que um único Deus fazê-lo, experimentaram a vida eterna!
existe em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Em seis ocasiões ao longo desta carta,
Santo. Os cristãos também não acreditam João usa a expressão "nascido de Deus".
apenas que Deus se revela de três maneiras Não se trata de uma idéia criada pelo pró-
diferentes, como um homem que pode ser, prio apóstolo; são palavras que ele ouviu
ao mesmo tempo, marido, pai e filho. An- Jesus usar. Jesus disse: "Se alguém não nas-
tes, a Bíblia ensina que Deus é um, mas que cer de novo, não pode ver o reino de Deus.
existe em três Pessoas. [...] O que é nascido da carne é carne; e o
Um professor de doutrina costumava que é nascido do Espírito é espírito. Não te
dizer: "Se você tentar explicar a Trindade, admires de eu te dizer: importa-vos nascer
1 J O Ã O 1:1-4 611

de novo" (Jo 3 :3 , 6, 7). É possível experi­ Por que é tão importante saber que so­
m entar essa "vida real‫ ״‬som ente ao crer no mos nascidos de Deus? João responde a essa
evangelho, ao confiar em Cristo e "n ascer pergunta: quem não é filho de D eus é "fi­
de D eus". lhos da ira" (Ef 2:1-3) e pode tornar-se "filho
"Todo aquele que crê que Jesus é o C ris­ do di abo1) ‫ ״‬Jo 3 :1 0 ; ver também M t 13:24­
to é nascido de Deus" (1 Jo 5:1). A vida eter­ 30, 36-43). Um "filho do diabo‫ ״‬é um cris­
na não é algo que se conquista por meio de tão falso que age com o se fosse "salvo" sem
boas obras nem é merecida por causa de um nunca ter nascido de novo. Jesus disse aos
bom caráter. A vida eterna, a vida real, é fariseus, indivíduos extrem am ente religiosos:
uma dádiva de Deus para aqueles que crêem "V ós sois do diabo, que é vosso pai" (Jo 8 :4 4).
em seu Filho com o seu Salvador. O s cristãos falsos - que não são poucos
João escreveu seu Evangelho para dizer - podem ser com parados a uma cédula de
às pessoas com o receber essa vida maravi­ dinheiro falsificado.
lhosa (Jo 2 0 :3 1 ). Sua prim eira carta, entre­ Suponha que um a pessoa tenha uma
tanto, foi escrita para mostrar aos cristãos nota falsa, mas não saiba disso. Ela a usa
com o se certificar de que são, verdadeira­ para pagar a gasolina no posto. O dono do
mente, "nascidos de D eus" (1 Jo 5:9-13). posto a usa para pagar seu fornecedor de
Depois de um falecim ento na família, um alimentos. O fornecedor a co lo ca junto com
estudante universitário voltou às aulas e co­ outras notas verdadeiras e a leva para o ban­
m eçou a tirar notas cada vez mais baixas. co, a fim de fazer um depósito. Então, o cai­
Seu conselheiro pensou que o rapaz havia xa do banco diz:
ficado abalado pela morte da avó e que, com - Sinto muito, mas esta nota é falsa.
o tempo, o estudante se recuperaria e volta­ A cédula falsa pode até ter ajudado mui­
ria a tirar boas notas. M as, nos meses subse­ ta gente enquanto passava de mão em mão,
qüentes, seu desem penho só piorou. Por fim, mas quando chegou ao banco, foi desco­
o rapaz confessou qual era o problem a. En­ berta e tirada de circulação.
quanto visitava os parentes, encontrou na O mesmo acontece com o cristão falso.
Bíblia antiga da avó os registros da família Pode fazer muitas coisas boas ao longo da
que mostravam que ele era filho adotivo. vida, mas, no dia do julgam ento final, será
- Não sei mais a quem pertenço - disse rejeitado. "M uitos, naquele dia, hão de di­
o rapaz ao conselheiro. - Não sei de onde zer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não te­
eu vim! mos nós profetizado em teu nome, e em teu
A certeza de fazer parte da fam ília de nome não expelimos demônios, e em teu no­
Deus - de ser "nascidos de Deus" - é abso­ me não fizem os muitos milagres? Então, lhes
lutam ente vital para todos. Certas caracte­ direi explicitamente: nunca vos conheci. Apar­
rísticas encontram-se presentes em todos os tai-vos de mim, os que praticais a iniqüida-
filhos de Deus. A pessoa nascida de Deus de‫( ״‬M t 7:22, 23).
tem uma vida justa (1 Jo 2:29). O filho de Cada um de nós deve perguntar-se com
Deus não pratica o pecado (1 Jo 3:9). O cris­ toda a honestidade: "Sou, verdadeiramente,
tão com ete pecados ocasionalmente (cf. 1 Jo um filho de Deus ou apenas um cristão falso?"
1:8 - 2:2), mas não cultiva o hábito de pecar. Se você ainda não experim entou a vida
O s filhos de Deus também amam uns aos eterna, pode fazê-lo neste m om ento! Leia
outros e ao Pai celestial (cf. 1 Jo 4 :7 ; 5:1). 1 João 5:9-15 com atenção. Esse é o "regis­
Não têm am or algum pelo sistema do mun­ tro oficial" da Palavra de Deus. Ele oferece a
do ao seu redor (1 Jo 2:15-1 7), o que faz com dádiva da vida eterna. C reia na prom essa
que o mundo os odeie (1 Jo 3 :1 3). Em vez dele e aceite a sua oferta. "Po rque: Todo
de serem vencidos pelas pressões do mun­ aquele que invocar o nom e do Senhor será
do e perderem o equilíbrio, os filhos de Deus salvo" (Rm 10:13).
vencem o mundo (1 Jo 5:4). Essa é outra ca­ H á dois fatos importantes acerca da "vi­
racterística dos verdadeiros filhos de Deus. da real": ela é revelada em Jesus Cristo e
612 1 J O Ã O 1:1-4

experimentada quando se crê nele como Sal- e, na cruz, levou os pecados do mundo so-
vador. Mas João não pára por aí! bre esse corpo humano (1 Pe 2:24). Ao pagar
0 preço pelos pecados, abriu caminho para
3 . E ssa v id a é c o m p a rtilh a d a Deus nos perdoar e nos receber em sua famí-
(1 )o 1:3, 4) lia. Quando cremos em Cristo, tornamo-nos
"O que temos visto e ouvido anunciamos "co-participantes da natureza divina" (2 Pe
também a vós outros" (1 Jo 1:3). Uma vez 1:4). O termo traduzido por "co-participan-
experimentada essa vida empolgante e real, tes", na epístola de Pedro, vem do mesmo
nasce o desejo de compartilhá-la com ou- radical grego traduzido por "comunhão" em
tros, exatamente como João desejava "anun- 1 João 1:3.
ciar" a todos os seus leitores no primeiro Que milagre maravilhoso! Jesus Cristo
século. assumiu a natureza humana para que, pela
Um pastor recebeu uma ligação de uma fé, possamos receber a própria natureza
mulher irritada. de Deus!
- Sua igreja enviou-me um impresso reli- Um escritor inglês famoso estava partin-
gioso - disse a mulher aos brados e con- do de Liverpool em um navio e observou
sidero uma ofensa vocês usarem o correio que os outros passageiros acenavam para
para perturbar as pessoas! amigos no caís. Desceu até lá e abordou
- O que a perturbou tanto no material um garotinho.
que enviamos? - perguntou o pastor calma- - Se eu lhe der algum dinheiro, você
mente. pode acenar para mim? - perguntou ele ao
- Vocês não têm direito algum de tentar menino que, obviamente, concordou. O es-
mudar minha religião! - exclamou a mulher. critor voltou correndo para o navio e se in-
- Vocês têm sua religião e eu tenho a mi- clinou na amurada, feliz por ter alguém para
nha, e não estou tentando mudar a de vocês! quem acenar. E, dito e feito: lá estava o ga-
(Na verdade ela estava, mas o pastor não rotinho acenando de volta para ele!
discutiu.) Pode parecer uma história tola, mas ser-
- Nosso objetivo - respondeu o pastor ve para lembrar que o ser humano detesta a
- não é mudar sua religião nem a de qual- solidão. Todos desejam ser queridos. A vida
quer outra pessoa. No entanto, pela fé em real ajuda a resolver esse problema essen-
Cristo, experimentamos uma vida tão mara- ciai da solidão, pois os cristãos têm comu-
vilhosa que desejamos compartilhá-la com nhão verdadeira com Deus e uns com os
outros. outros. Jesus prometeu: "E eis que estou
Muitas pessoas (inclusive alguns cristãos) convosco todos os dias até à consumação
acreditam que "testemunhar" significa dis- do século" (Mt 28:20). Nesta carta, João
cutir diferenças religiosas ou comparar igrejas. explica o segredo da comunhão com Deus
Não é isso o que João tem em mente! Ele e com outros cristãos. Esse é o primeiro
diz que testemunhar significa compartilhar motivo que o apóstolo menciona para es-
experiências espirituais com outros por meio crever sua epístola: compartilhar sua expe-
do modo de vida e das palavras. riência da vida eterna.
João escreveu esta carta para comparti- Para que tenhamos alegria (v. 4). A co-
lhar Cristo conosco visando cinco propósitos. munhão é a resposta de Cristo para a soli-
Para que tenhamos comunhão (v. 3). A dão da vida. A alegria é sua resposta para o
palavra comunhão é importante no vocabu- vazio da vida.
lário do cristão. Significa, simplesmente, "ter Em sua primeira epístola, João usa o ter-
em comum". Como pecadores, os seres hu- mo "alegria" apenas uma vez, mas é um
manos não têm coisa alguma em comum conceito que aparece ao longo de toda a
com o Deus santo. Mas, em sua graça, Deus carta. A alegria não é algo que as pessoas
enviou Cristo para ter algo em comum com realizam para si mesmas, mas sim um dos
os homens. Cristo assumiu a forma de homem resultados maravilhosos da comunhão com
1 J O Ã O 1:1-4 613

Deus. Davi conhecia a alegria que João men­ - Sem dúvida vo cê vai voltar a pecar,
ciona, pois disse: "N a tua presença há ple­ pois Deus afirm ou: "Se dissermos que não
nitude de alegria" (SI 16:11). temos pecado nenhum, a nós mesmos nos
O pecado é, fundamentalmente, a cau­ enganamos, e a verdade não está em nós"
sa da infelicidade que predomina no mun­ (1 Jo 1:8). M as, se você pecar, Deus a per­
do de hoje. O pecado promete alegria, mas doará se você confessar a ele seu pecado.
sem pre produz tristeza. O s prazeres do pe­ No entanto, o cristão não precisa pecar. Ao
cado são transitórios - duram apenas algum andarm os em com unhão com Deus e em
tempo (H b 11:25). O s prazeres de Deus são obediência à sua Palavra, ele nos dá a capa­
eternos - duram para sempre (SI 16:11). cidade de resistir e vencer a tentação.
A vida real produz alegria real, não um Em seguida, o pastor lembrou que, pou­
substituto inferior. Na noite antes de ser cru­ cos meses antes, aquela mulher havia sofri­
cificado, Jesus disse: "E a vossa alegria nin­ do uma cirurgia e lhe perguntou:
guém poderá tirar" (Jo 16:22 ). "Tenho-vos - Q uando você passou por aquela cirur­
dito estas coisas para que o meu gozo es­ gia, ocorreu alguma com plicação ou proble­
teja em vós, e o vosso gozo seja com pleto" ma posterior?
(Jo 15:11). - Claro que sim - ela respondeu. - M as
Karl M arx escreveu: "O primeiro requisi­ quando surgiu um problema, eu voltei para
to para a alegria das pessoas é abolir a reli­ o médico, e ele o tratou.
gião". M as o apóstolo João escreve, com Então, ela percebeu a verdade!
efeito: "A fé em Jesus Cristo lhes dá uma - Entendi! - exclam ou. - Cristo está sem­
alegria que o mundo jam ais será capaz de pre à disposição para me guardar do peca­
reproduzir. Eu m esm o experim entei essa ale­ do ou me perdoar do pecado!
gria e desejo compartilhá-la com vocês". A vida real é uma vida de vitória. Nesta
Para q u e não p e q u e m o s (2 :1 ). João en­ carta, João nos diz com o lançar mão dos
cara o problem a do pecado de frente (ver, recursos divinos a fim de experim entarm os
por exem plo, 1 Jo 3:4-9) e anuncia a única vitória sobre a tentação e o pecado.
resposta para esse enigma: a Pessoa e obra Para q u e não sejam os enganados (2 :2 6 ).
de Jesus Cristo. Jesus não apenas morreu Hoje, mais do que em qualquer outra época,
por nós para carregar sobre si o castigo por o cristão precisa ter a capacidade de dis­
nossos pecados, com o também ressuscitou cernir entre o certo e o errado, entre a ver­
dentre os mortos, a fim de interceder por dade e a m entira. D e acordo com uma idéia
nós junto ao trono de Deus: "Se, todavia, am plam ente difundida em nossa geração,
alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, não existem "absolutos" - nada é sem pre
Jesus Cristo, o Justo" (1 Jo 2 :1). errado e nada é sem pre certo. Em decorrên­
Cristo é nosso Representante. Ele nos cia disso, com o nunca antes na história, as
defende diante do trono do Pai. Satanás falsas doutrinas estão se tornando cada vez
pode apresentar-se com o o "acusador de mais predom inantes, e a m aioria das pes­
nossos irmãos" (Z c 3; Ap 12:10), mas Cristo soas parece disposta a aceitar quase qual­
está lá com o Advogado: ele intercede por quer tipo de preceito, exceto as verdades
nós! O perdão contínuo, em resposta à in- bíblicas.
tercessão de Cristo, é a resposta de Deus a Encontramos nas epístolas de João uma
nosso caráter pecam inoso. palavra que nenhum outro escritor do Novo
- G ostaria de me tornar cristã - disse Testamento usa - "anticristo" (1 Jo 2 :1 8 , 22;
uma mulher interessada no evangelho a um 4 :3 ; 2 Jo 7). O prefixo antí tem dois sentidos:
pastor visitante - , mas tenho medo de não "contrário a" e "no lugar de". Existem neste
perm anecer firm e em meu propósito. Estou mundo mestres enganadores que se opõem
certa de que voltarei a pecar! a Cristo e que "sed u zem " as pessoas por
Abrindo a Bíblia em 1 João 1, o pastor meio de mentiras. O ferecem coisas no lugar
lhe falou: de Cristo, da salvação e da Bíblia. Desejam
614 1 J O Ã O 1 :1-4

nos dar substitutos para a Palavra real de A vida real é tão livre e empolgante por-
Deus e para a vida eterna real. que toma por base o conhecimento de fatos
Cristo é a Verdade (Jo 14:6), enquanto incontestáveis. Jesus prometeu: "Conhecereis
Satanás é um mentiroso (Jo 8:44). O diabo a verdade, e a verdade vos libertará" (cf. Jo
faz as pessoas se desviarem - não necessa- 8:32). E o testemunho de seus discípulos foi:
riamente com pecados sensuais vulgares, "Porque não vos demos a conhecer o poder
mas com meias verdades e mentiras com- e a vinda do Senhor Jesus Cristo seguindo
pletas. Começou seu trabalho seduzindo o fábulas engenhosamente inventadas" (2 Pe
homem no jardim do Éden. Perguntou a Eva: 1:16). Esses homens que, em sua maioria, mor-
"É assim que Deus disse?" (Gn 3:1). Mesmo reram por causa da sua fé, não entregaram a
nessa ocasião, em vez de revelar sua verda- vida por uma fraude bem elaborada que eles
deira natureza, ele se disfarçou como uma próprios criaram, como alguns críticos do cris-
criatura cheia de beleza (ver 2 Co 11:13-15). tianismo costumam asseverar em sua insen-
Hoje, Satanás muitas vezes usa até mes- satez. Eles sabiam o que haviam visto!
mo grupos religiosos para espalhar suas Anos atrás, um artista itinerante auto-
mentiras! Nem toda pessoa que sobe ao denominado "a Mosca" começou a escalar
púlpito prega as verdades da Palavra de prédios e monumentos sem qualquer equi-
Deus. Falsos pregadores e mestres religio- pamento de segurança, reunindo multidões
sos sempre foram alguns dos instrumentos de espectadores.
favoritos e mais eficazes do diabo. Durante uma de suas apresentações, a
De que maneira o cristão de hoje pode Mosca chegou a um ponto na lateral de um
detectar as mentiras de Satanás? De que prédio e parou, como se não soubesse o
maneira pode identificar os falsos mestres? que fazer em seguida. Em seguida, esticou
E de que maneira pode crescer no conheci- o braço direito para se apoiar num pedaço
mento da verdade a fim de não ser vítima de argamassa e subir mais um pouco. Mas,
de falsas doutrinas? em vez de subir, ele caiu para trás com um
João responde a essas três perguntas. A grito e morreu ao atingir a calçada.
vida real é caracterizada pelo discernimento. Quando a polícia abriu a mão direita
O Espírito Santo, ao qual João refere- dele, não encontrou um pedaço de argamas-
se falando da "unção que dele recebestes" sa, mas sim um monte de teias de aranha
(1 Jo 2:27), é a resposta de Cristo a nossa cheias de poeira! A Mosca tentou escalar
necessidade de discernimento. O Espírito é teias de aranha e se deu mal.
o Mestre; é ele quem nos permite distinguir Jesus advertiu quanto a esse tipo de fal-
entre a verdade e a mentira e permanecer sa segurança na passagem citada acima.
em Cristo. Ele é a proteção contra a igno- Muitos dos que se dizem cristãos serão re-
rância, o engano e a falsidade. jeitados no dia do julgamento.
Voltaremos a tratar das falsas doutrinas Nesta carta, João está dizendo: "Quero
e de falsos mestres novamente mais adiante. que vocês estejam certos de que possuem a
Para que saibamos que somos salvos vida eterna".
(5:13). Já mencionamos esse fato, mas con- Ao ler esta epístola fascinante, descobri-
vém repeti-lo. A vida real não é constituída mos que João repete-se com freqüência. A
de esperanças vazias - nem de desejos fú- medida que desenvolve os capítulos, vai
teis - com base em suposições humanas. entretecendo três temas importantes: a obe-
Antes, ela é construída sobre a certeza. Aliás, diência, o amor e a verdade. Em 1 João 1 e
ao ler a primeira carta de João, deparamos 2, o apóstolo enfatiza a com unhão e afirma
com a palavra conhecer e seus correlates mais que as condições para desfrutá-la são: obe-
de trinta vezes. Se alguém perguntar a um diência (1 Jo 1:5 - 2:6), amor (1 Jo 2:7-1 7) e
cristão se ele vai para o céu, ele não precisa verdade (1 Jo 2:18-29).
responder "Espero que sim" ou "Acho que Na segunda metade da carta, João trata
sim". Não precisa ter dúvida alguma. principalmente da filiação - o fato de ser
1 J O Ã O 1:1-4 615

"nascido de Deus". De que maneira alguém Essa vida começa com a filiação e conti­
pode saber, com certeza, que é filho de nua com a comunhão. Primeiro, nascemos de
Deus? João diz que a filiação se revela por Deus e depois, andamos (vivemos) com Deus.
meio da obediência (1 Jo 3), do amor (1 Jo Isso significa que existem dois tipos de
4) e da verdade (1 Jo 5). pessoas que não podem participar da ale­
Obediência - amor - verdade. João usa gria e da vitória de que estamos falando: as
esses três testes de comunhão por um moti­ que nunca nasceram de Deus e as que, ape­
vo extremamente prático. sar de salvas, não estão em comunhão com
Quando Deus nos criou, ele nos fez a sua Deus.
imagem (Gn 1:26, 27). Isso significa que te­ Convém fazer um balanço espiritual (ver
mos uma personalidade moldada segundo 2 Co 13:5) e determinar se estamos qualifi­
a personalidade de Deus. Temos uma men­ cados ou não a desfrutar a experiência espi­
te que pensa, um coração que sente e uma ritual à qual esta carta de João se refere.
volição que toma decisões. Esses aspectos Enfatizamos anteriormente a importân­
da personalidade humana são, em geral, de­ cia de ser nascidos de Deus, mas se ainda
nominados intelecto, emoções e vontade. restam dúvidas, pode ser útil recapitular o
A vida real deve envolver todos os ele­ segundo fato apresentado.
mentos da personalidade. Se um cristão verdadeiro não está em
Hoje em dia, a maioria das pessoas está comunhão com Deus, normalmente, é por
descontente porque sua personalidade, como um destes motivos:
um todo, nunca foi controlada por algo real 1. Desobedeceu à vontade de Deus.
e significativo. Quando uma pessoa é nasci­ 2. Não se entende com seus irmãos e
da de Deus por meio da fé em Cristo, o Espí­ irmãs em Cristo.
rito Santo entra em sua vida a fim de habitar 3. Acredita em uma mentira e, portanto,
nela para sempre. Quando o cristão tem co­ vive uma mentira.
munhão com Deus, lê e estuda a Palavra e Até mesmo um cristão pode estar enga­
ora, o Espírito Santo pode controlar sua men­ nado quanto à sua compreensão da verdade.
te, coração e volição. Qual é o resultado? É por isso que João nos adverte: "Filhinhos,
Uma mente controlada pelo Espírito co­ não vos deixeis enganar por ninguém" (1 Jo
nhece e compreende a verdade. 3:7).
Um coração controlado pelo Espírito Esses três motivos são paralelos aos três
sente amor. temas centrais da primeira epístola de João:
Uma volição controlada pelo Espírito nos a obediência, o amor e a verdade. Uma vez
inclina à obediência. que um cristão descobre que não está em
João deseja deixar este fato claro e, para comunhão com Deus, deve confessar seu
isso, usa uma série de contrastes ao longo de pecado (ou pecados) ao Senhor e se apro­
sua epístola: verdade versus mentiras; amor ver­ priar do pleno perdão que ele oferece (1 Jo
sus ódio e obediência versus desobediência. 1:9 - 2:2). Um cristão jamais poderá desfru­
A vida real não tem meios-termos. É pre­ tar a comunhão alegre com o Senhor se
ciso posicionar-se de um lado ou do outro. houver pecado entre os dois.
Eis, portanto, a vida real. Ela foi revela­ O convite de Deus para nós hoje é: "Ve­
da em Cristo; foi experimentada pelos que nham e desfrutem a comunhão comigo e
creram em Cristo e pode ser compartilhada uns com os outros! Venham e compartilhem
no presente. a vida real!"
É evidente que o pecado não consiste
2 apenas em um ato exterior de desobediên-
cia; também é um desejo ou rebelião interior.
Somos advertidos, por exemplo, a nos guar-
O D is c u r s o e a dar da "concupiscência da carne, [da] con-
cupiscência dos olhos e [da] soberba da
P r á t ic a vida" (1 Jo 2:16), todas elas pecaminosas. O
1 Jo ã o 1 :5 - 2 :6 pecado também é uma transgressão da Lei
(1 Jo 3:4) ou, literalmente, uma "ilegalida-
de". O pecado é a recusa em sujeitar-se à
Lei de Deus. Essa ilegalidade ou indepen-
dência da Lei é justamente a essência do
oda forma de vida tem inimigos. Os inse- pecado. Um cristão que decide viver de
T tos precisam ter cuidado com pássaros
famintos, enquanto os pássaros precisam fi-
modo independente não pode andar em co-
munhão com Deus. "Andarão dois juntos,
car atentos para gatos e cães famintos. Até se não houver entre eles acordo?‫( ״‬Am 3:3).
mesmo os seres humanos têm de desviar Nem no Antigo Testamento nem no No-
de automóveis e de combater micróbios. vo Testamento a Bíblia encobre os pecados
Como vemos nesta seção, a vida real dos santos. Ao escapar de uma escassez de
também tem um inimigo: o pecado. João alimentos, Abraão vacilou na fé, desceu ao
menciona o pecado em nove ocasiões nes- Egito e mentiu para o Faraó (Gn 12). Poste-
tes versículos, de modo que não se trata, riormente, o patriarca tentou "ajudar Deus"
evidentemente, de um assunto secundário. coabitando com Hagar e gerando um filho
João ilustra esse tema usando o contraste (Gn 16). Em ambos os casos, Deus perdoou
entre a luz e as trevas: Deus é luz; o pecado Abraão por seu pecado, mas Abraão teve
é treva. de colher o que havia semeado. Deus pode
Mas se vê, aqui, ainda outro contraste: zerar o registro de transgressões, e é exata-
dizer e fazer. João usa quatro vezes a ex- mente isso o que ele faz, mas ele não muda
pressão "Se dissermos" ou "Aquele que diz" os resultados. Ninguém pode juntar leite
(1 Jo 1:6, 8, 10; 2:4). Fica claro que, na vida derramado.
cristã, não se deve apenas "falar", mas tam- Pedro negou o Senhor três vezes e ten-
bém "andar" ou viver segundo aquilo que tou matar um homem no Getsêmani quan-
se crê. Estando em comunhão com Deus do Jesus foi preso. Satanás é mentiroso e
(se "andarmos na luz‫) ״‬, a vida servirá para homicida (Jo 8:44), e Pedro estava fazendo
corroborar o que se diz com os lábios. Mas o jogo dele! É evidente que Cristo perdoou
quem vive em pecado (se "andarmos nas tre- Pedro (cf. Jo 21), mas o que Pedro fez pre-
vas‫ )״‬tem uma existência que desmente o judicou imensamente seu testemunho e atra-
que diz e que o transforma em hipócrita. palhou a obra do Senhor.
O Novo Testamento refere-se à vida cris- O fato de que os cristãos pecam pertur-
tã como uma "caminhada". Essa caminhada ba algumas pessoas, especialmente os re-
começa com um passo de fé, quando se cém-convertidos. Esquecem que, mesmo
aceita a Cristo como Salvador. Mas a salva- tendo recebido uma nova natureza, a velha
ção não é o fim da vida espiritual; é apenas natureza com a qual nasceram não foi eli-
o começo. "Andar" implica progresso, e os minada. A velha natureza (que tem origem
cristãos devem avançar na vida espiritual. Da no nascimento físico) luta contra a nova na-
mesma forma que uma criança precisa tureza que recebemos ao nascer de novo
aprender a andar e, para fazê-lo, deve supe- (Gl 5:16-26). Não há autodisciplina nem re-
rar vários obstáculos, também os cristãos gras e regulamentos humanos capazes de
devem aprender a "andar na luz". O maior controlar a velha natureza. Somente o Espí-
obstáculo para essa caminhada é o pecado. rito Santo de Deus pode nos capacitar para
1 JO ÃO 1 :5 - 2 : 6 617

"m ortificar" a velha natureza (Rm 8:1 2, 13) Talvez um exem plo clássico seja o rei
e produzir os frutos do Espírito (G l 5:22, 23) Davi (2 Sm 11 e 12). Prim eiro, Davi dese­
em nós por meio da nova natureza. jou Bate-Seba. Então, co m eteu adultério.
O s santos que pecaram não são men­ Em ve z de adm itir abertam ente que havia
cionados na Bíblia para nos desanimar, mas co m e tid o ad u ltério , tentou e n co b rir seu
sim para nos advertir. pecado. Procurou enganar o m arido de Ba-
- Por que o senhor insiste em pregar a te-Seba, em bebedou‫־‬o e, depois, ordenou
cristãos sobre o pecado? - uma mulher irri­ que fosse morto. M entiu a si m esm o e ten­
tada perguntou a seu pastor. - Afinal, o pe­ tou prosseguir com as responsabilidades do
cado na vida de um cristão é diferente do trono com o de costum e. Q uan d o o profe­
pecado na vida de um incrédulo! ta Natã, o "capelão da corte", confrontou o
- Sem dúvida - respondeu o pastor - é rei com uma situação hipotética sem elhan­
muito piorl te, Davi co nd eno u o hom em da história,
Portanto, todos devem tratar dos peca­ apesar de ele próprio não se sentir conde­
dos a fim de desfrutar a vida real. Nesta se­ nado. U m a ve z que se co m e ça a m entir
ção, João explica três abordagens ao pecado. para outros, logo se com eça a crer nas pró­
prias mentiras.
1. Po d em o s t e n t a r e n c o b r ir o s M as o declínio espiritual fica ainda pior:
peca d o s (1 Jo 1:5, 6, 8 ,1 0 ; 2:4) o passo seguinte é tentar mentir para D eus
"D eu s é luz, e não há nele treva nenhuma‫״‬ (1 Jo 1 :1 0 ). Tendo-se tornado m entiroso,
(1 Jo 1:5). Q uando fomos salvos, Deus nos depois também se procura transformar Deus
tirou das trevas e nos trouxe para sua luz em mentiroso! Contesta-se a Palavra divina,
(1 Pe 2:9). Somos filhos da luz (1 Ts 5:5). O s segundo a qual "todos pecaram ", declaran­
que fazem o mal odeiam a luz (Jo 3:19-21). do-se uma exceção a essa regra. Aplica-se a
Q uando a luz brilha, revela a verdadeira na­ Palavra de Deus a outros, mas não a si mes­
tureza da pessoa (Ef 5:8-13). mo. Participa-se dos cultos e estudos bíblicos
A luz gera vida, crescim ento e beleza, da igreja, sem ser tocado pelos preceitos das
mas o pecado é treva; as trevas e a luz não Escrituras. O s cristãos que chegaram a esse
podem coexistir. Se estivermos andando na nível são extremamente críticos em relação
luz, as trevas não poderão permanecer. Se a outros cristãos, mas mostram forte resis­
nos apegarm os ao pecado, a luz não per­ tência, quando se trata de aplicar a Palavra
m anecerá. Tratando-se do pecado, não há à própria vida.
meio-termo nem penumbra. O retrato do coração humano inspirado
De que maneira nós, cristãos, tentamos pelo Espírito Santo é arrasador! O cristão
en co b rir os pecados? C ontando mentiras! mente sobre sua com unhão (1 Jo 1 :6); so­
Primeiro, mentimos a outros (1 Jo 1: 6 ). Q u e ­ bre sua natureza - “ eu jam ais seria capaz
remos que nossos amigos cristãos pensem de fazer uma co isa dessas!" (1 Jo 1 :8 ); e
que somos "espirituais", de modo que men­ sobre seus atos (1 Jo 1:10).
timos sobre nossa vida e tentamos causar É im pressionante com o o pecado pro­
uma boa impressão. Q uerem os que pensem paga-se de maneira mortal.
que andam os na luz quando, na verdade, Nesse ponto, é preciso discutir um fator
andamos nas trevas. extrem amente importante na experiência da
Um a vez que se com eça a mentir para vida real: a honestidade. Cada cristão deve
outros, mais cedo ou mais tarde mentimos ser honesto consigo mesmo, com os outros
a nós m esm os, e é sobre isso que trata esta e com D eus. A passagem que estudam os
passagem (1 Jo 1: 8 ). O problema, agora, não descreve um cristão que ieva uma vida de­
é enganar a outros, mas enganar a si mes­ sonesta: é um impostor. D esem penha um
mos. É possível um cristão viver em pecado papel e finge, mas não leva uma vida autên­
e, ainda assim, ter certeza de que tudo está tica. É insincero.
bem entre ele e o Senhor. O que uma pessoa assim perde?
618 1 J O Ã O 1 :5 - 2:6

Em primeiro lugar, perde a Palavra. Dei- sabíamos que eu era um impostor. Uma vez
xa de "[praticar] a verdade" (1 Jo 1:6 ); a ver- que comecei a viver a vida cristã com ho-
dade não está mais nele (1 Jo 1:8); e logo nestidade, tudo melhorou.
ele a transforma em mentiras! (1 Jo 1:10). Um dos problemas da desonestidade é
Jesus disse: "A tua palavra é a verdade" (Jo que manter o controle de todas as mentiras
1 7:1 7); mas uma pessoa que vive uma men- e fingimentos é um trabalho de tempo in-
tira perde a Palavra. Um dos primeiros sinto- tegral! Abraham Lincoln costumava dizer
mas de que se está andando nas trevas é a que, se um homem deseja ser mentiroso, é
privação das bênçãos da Bíblia. É impossível melhor ter boa memória! Quando uma pes-
fazer uma leitura proveitosa da Palavra an- soa gasta todas as energias fingindo ser algo,
dando nas trevas. não lhe restam forças para viver, e a vida
Além disso, a pessoa desonesta perde a torna-se superficial e insípida. Quem finge
comunhão com Deus e com o povo de Deus não se priva apenas da realidade, mas tam-
(1 Jo 1:6, 7). Em decorrência disso, sua ora- bém do crescimento; sua verdadeira iden-
ção torna-se vazia. Sua adoração é uma roti- tidade é sufocada pela falsa.
na enfadonha e, logo, essa pessoa começa A terceira perda decorre das duas pri-
a criticar outros cristãos e se afastar da igre- meiras: o cristão perde seu caráter (1 Jo 2:4).
ja: "que comunhão, da luz com as trevas?" Começa contando mentiras e acaba se trans-
(2 Co 6:14). formando em mentiroso! Sua desonestidade
É o caso, por exemplo, do marido após- ou falta de autenticidade é, a princípio, ape-
tata: ele anda em trevas espirituais, sem co- nas um papel que ele desempenha. Mas não
munhão com Deus, e, portanto não tem demora a deixar de ser apenas um papel e
como desfrutar a plena comunhão com a se tornar a própria essência de sua vida. Seu
esposa cristã que anda na luz. O casal pode caráter é corroído. Ele não é mais um menti-
ter um companheirismo superficial, mas a ver- roso porque conta mentiras; agora, mente
dadeira comunhão espiritual é impossível. porque é um mentiroso inveterado.
Essa incapacidade de compartilhar expe- É de causar espanto que Deus admoes-
riências espirituais causa diversos problemas te: "O que encobre as suas transgressões
pessoais dentro dos lares e entre os mem- jamais prosperará" (Pv 28:13)? Davi tentou
bros da igreja local. encobrir seus pecados, e isso lhe custou a
Um grupo de membros da igreja con- saúde (SI 32:3, 4), a alegria (SI 51), a família
versava sobre o novo pastor, Um deles co- e, por pouco, não lhe custou o reino. Quem
mentou: deseja desfrutar a vida real jamais deve en-
- Por algum motivo, não me sinto à von- cobrir os pecados.
tade com ele. Creio que é uma boa pessoa, O que fazer?
mas parece haver uma barreira entre nós.
- Entendo o que você está dizendo - 2. P o d em o s co n fessa r o s pec a d o s
outro respondeu. - Eu costumava ter esse (1 Jo 1:7, 9)
problema com ele, mas agora isso não acon- João usa dois títulos interessantes para Je-
tece mais. O pastor e eu temos uma ótima sus: Advogado e Propiciação (1 Jo 2:1, 2). É
comunhão. importante compreendermos esses dois tí-
- O que ele fez para melhorar as coisas? tulos, pois eles representam dois ministérios
- Ele não fez nada - disse o outro. - Fui que o Senhor realiza.
eu quem mudou. Comecemos com a Propiciação. Consul-
- Você? tando um dicionário, pode-se acabar tendo
- Sim, decidi ser franco e honesto sobre uma idéia errada do significado do termo.
as coisas, exatamente como o pastor faz. Ele O dicionário diz que propiciação é "uma
não tem qualquer traço de hipocrisia na vida ação com que se busca agradar a alguém
dele, e havia tanto fingimento na minha que para obter seu perdão, seu favor ou boa von-
não conseguíamos nos entender. Nós dois tade ou aplacar sua ira". Se essa definição
1 JOÃO 1 :5 - 2 :6 6 19

for aplicada a Cristo, tem-se uma imagem voltaram a sua terra depois do cativeiro na
horrível de um Deus irado, preste a destruir Babilônia (não deve ser confundido com o
o mundo, e de um Salvador amoroso entre­ Josué que conquistou a Terra Prometida). A
gando-se para apaziguar a fúria desse Deus nação havia pecado; e, simbolizando essa si­
- e essa não é a imagem bíblica da salva­ tuação, na visão do profeta, Josué encontra­
ção! Sem dúvida, Deus se ira contra o peca­ va-se diante de Deus trajando vestes imundas
do, pois é um Deus infinitamente santo. Mas enquanto Satanás o acusava (cf. Ap 12:10).
a Bíblia garante que "D eus am ou [não odiou] Deus Pai era o Juiz; Josué era o réu, repre­
ao m undo" (Jo 3 :16, grifos nossos). sentando o povo; e Satanás era o advogado
Assim, o termo "propiciação" não signi­ de acusação (a Bíblia o cham a de "acusa­
fica apaziguar um Deus irado. Antes, signifi­ dor dos irm ãos"). Tudo indicava que Sata­
ca satisfazer a lei santa d e D eus. "D eus é luz" nás venceria sem qualquer contestação, mas
(1 Jo 1:5) e, portanto, não pode fechar seus Josué tinha um Advogado assentado à direi­
olhos para o pecado. M as "D eu s é am or" ta de Deus, e isso mudava tudo de figura.
(1 Jo 4 :8 ) e deseja salvar os pecadores. Cristo deu vestes novas a Josué e calou as
D e que maneira, então, um Deus santo acusações de Satanás.
pode manter a própria justiça e, ainda assim, Esta é a situação que se tem em mente
perdoar os pecadores? A resposta é o sacrifí­ quando Jesus Cristo é cham ado de nosso
cio de Cristo. Em sua santidade, Deus julgou "Advogado". Ele representa os cristãos dian­
o pecado na cruz. Em seu amor, Deus oferece te do trono de Deus, e os méritos de seu
Jesus Cristo ao mundo como Salvador. Deus sacrifício permitem que os pecados dos cris­
foi justo ao castigar o pecado, mas é am o­ tãos sejam perdoados. Um a vez que Jesus
roso ao oferecer o perdão completo por meio m orreu pelo seu povo, ele satisfez a justiça
daquilo que Cristo fez no Calvário (convém de Deus ( Ό salário do pecado é a morte").
ler 1 Jo 4 :1 0 e meditar sobre Rm 3:23-26). Um a ve z que vive para nós à destra de Deus,
C risto é S a c rifíc io pelos p e cad o s do pode aplicar esse sacrifício às nossas neces­
mundo todo, mas só é Advogado para os sidades diárias.
cristãos. ‫[ ״‬Nós cristãos] temos um Advoga­ Tudo o que ele pede é que confessem os
do junto ao Pai". No texto original, Jesus os pecados quando caím os.
emprega a designação "Advogado" para se O que significa "confessar" o pecado? É
referir à vinda do Espírito Santo ("C o n so ­ muito mais do que simplesmente "admitir"
lador"; Jo 14:16, 26; 1 5 :2 6 :). Significa, literal­ o pecado. Na verdade, esse termo significa
mente, "cham ado para estar com ". Q uando "dizer algo [sobre]". Confessar um pecado
uma pessoa é intimada a com parecer a um é dizer sobre ele a mesma coisa que Deus
tribunal, leva consigo um advogado para de­ diria sobre tal transgressão.
fender sua causa. Um conselheiro tentava ajudar um ho­
Jesus term inou sua obra aqui na Terra mem que havia respondido a um apelo du­
(Jo 17:4) - a obra de entregar a vida com o rante um culto evangelístico.
sacrifício pelo pecado. H oje, realiza outra - Eu sou cristão - disse o homem - , mas
obra no céu. Ele representa os hom ens dian­ há pecado em minha vida, e eu preciso de
te do trono d e D eus. Com o Sumo Sacerdote, ajuda. - O conselheiro mostrou-lhe 1 João
entende as fraquezas e tentações humanas 1:9 e sugeriu que o homem confessasse seus
e dá graça (H b 4 :1 5 , 16; 7:23-28). Com o o pecados a Deus.
Advogado, ajuda o cristão, quando peca. Ao - Deus Pai - com eçou - , se fizem os algo
confessar os pecados a Deus, ele perdoa por de errado‫ ״‬..
causa do ministério de Cristo. - Espere um pouco! - interrom peu o
O Antigo Testamento apresenta um belo co nselheiro . - Não me co lo qu e no m eio
retrato dessa verdade. O profeta Zacarias de seu pecado! M eu irm ão, não use "se" e
teve uma visão mostrando Josué (Z c 3:1-7), nem "n ó s".‫ ״‬vo cê é que precisa acertar-se
o sumo sacerdote dos judeus, quando eles com Deus!
620 1 J O A O 1:5 - 2:6

O conselheiro estava certo. O grande erro do rei Davi foi tentar en-
Confessar não é apenas fazer uma bela cobrir seus pecados em vez de confessá-los.
oração, inventar desculpas piedosas ou ten- Durante quase um ano, Davi levou uma vida
tar impressionar Deus e outros cristãos. A dissimulada e derrotada. Não é de se admi-
verdadeira confissão requer a especificação rar que tenha escrito, no Salmo 32:6, que
dos pecados: chamá-los pelo mesmo nome um homem deve orar "no tempo da desco-
que Deus chama: inveja, ódio, lascívia, dis- berta‫( ״‬literal).
simulação ou seja o que for. Confessar sig- Quando se deve confessar o pecado?
nifica, simplesmente, ser honesto consigo Assim que o descobrirmos! Ό que encobre
mesmo e com Deus e, se houver outras pes- as suas transgressões jamais prosperará; mas
soas envolvidas, também ser honesto com o que as confessa e deixa alcançará mise-
elas. É mais do que admitir o pecado. É jul- ricórdia" (Pv 28:13). Ao caminhar na luz, so-
gar o pecado e encará-lo de frente. mos capazes de ver a "sujeira" em nossa
Deus promete perdoar quem confessar vida e tratar dela imediatamente.
seus pecados (1 Jo 1:9); mas sua promessa Isso leva à terceira forma de lidar com
não é um ‫״‬amuleto mágico" que facilita a os pecados.
desobediência!
- Afastei-me de Deus e pequei - disse 3 . P o d e m o s c o n q u is t a r n o s s o s
um aluno ao capelão da universidade -, pois p e c a d o s (1 Jo 2 :1 - 3 , 5 , 6 )
sabia que poderia voltar para ele e pedir que João deixa claro que os cristãos não preci-
me perdoasse. sam pecar. "Filhinhos meus, estas coisas vos
- Qual é a base para esse perdão de Deus? escrevo para q ue não pequeis" (1 Jo 2:1,
- perguntou o capelão, indicando 1 João 1:9. grifos nossos).
- Deus é fiel e justo - respondeu o rapaz. O segredo da vitória sobre o pecado
- Essas duas palavras deveriam tê-lo man- encontra-se na frase: "Se, porém, andarmos
tido longe do p eca do - disse o capelão. - na luz" (1 Jo 1:7). Andar na luz significa ser
Você sabe qual foi o preço que Deus pagou franco e honesto, ser sincero. Paulo orou
para perdoar seus pecados? para que seus amigos fossem "sinceros e
O rapaz abaixou a cabeça e sussurrou: inculpáveis" (Fp 1:10). O termo "sincero"
- Jesus teve de morrer por mim. vem de duas palavras em latim, sine e cera,
O capelão foi direto ao ponto. - Isso ou seja, "sem cera". Acredita-se que, na
mesmo; o perdão não é um truque barato Roma antiga, os escultores encobriam seus
que Deus faz. Deus é fiel à sua promessa, e erros preenchendo os defeitos nas estátu-
Deus é justo porque Cristo morreu por nos- as de mármore com cera que só se tornava
sos pecados e sofreu o castigo por eles. perceptível quando a estátua ficava ao sol
Agora, da próxima vez que estiver planejan- durante algum tempo. No entanto, os es-
do pecar, lembre-se de que você pecará cultores mais confiáveis faziam questão
contra um Deus fiel e amoroso! de que suas estátuas fossem sine cera -
É evidente que essa questão tem dois sem cera.
lados: o judicial e o pessoal. O sangue que Infelizmente, os cultos e estudos bíbli-
Jesus Cristo derramou na cruz liberta da cul- cos estão cheios de pessoas insinceras, cuja
pa do pecado e justifica diante de Deus. vida não passa no teste da luz de Deus.
Assim, Deus perdoa porque a morte de Je- "Deus é luz", e, andando na luz, não se pode
sus satisfez sua santa Lei. esconder coisa alguma. É bom encontrar um
Mas Deus também deseja purificar o pe- cristão aberto e sincero que não tenta en-
cador interiormente. Como Davi orou: "Cria cobrir as fraquezas!
em mim, ó Deus, um coração puro" (SI Andar na luz significa ser honesto com
51:10). Quando a confissão é sincera, Deus Deus, consigo mesmo e com os outros. Sig-
purifica (1 Jo 1:9) o coração por meio de seu nifica que, quando a luz revela nosso pecado,
Espírito e de sua Palavra (Jo 15:3). imediatamente o confessamos a Deus e lhe
1 JO ÃO 1 :5 - 2 :6 621

pedimos perdão. E, se nosso pecado preju­ pelos pecados (1 Jo 2 :2 ) e o Advogado que


dicou alguém, também lhe pedimos perdão. nos representa diante de Deus (1 Jo 2 :1 ),
M as "andar na luz" tem ainda outro sig­ mas também o Padrão perfeito (ele é "Jesus
nificado: quer dizer obedecer à Palavra de Cristo, o Justo") para a vida diária.
Deus (1 Jo 2 :3 , 4). "Lâm pada para os meus A declaração-chave dessa passagem é
pés é a tua palavra e, luz para os meus cam i­ "assim com o ele" (1 Jo 2 :6 ). "Segun do e/e
nhos" (SI 119:105). Andar na luz é dedicar é, também nós somos neste m undo" (1 jo
tempo diário ao estudo da Palavra de Deus, 4:1 7, grifos nossos). Devem os andar na luz,
descobrir a vontade de Deus e obedecer ao "com o e/e está na l uz1) ‫ ״‬Jo 1:7, grifos nos­
que ele diz. sos). D evem os nos p urificar "assim co m o
A obediência à Palavra de Deus é prova e/e é puro1) ‫ ״‬Jo 3:3 , grifos nossos). "Aquele
de nosso amor por ele. A obediência pode que pratica a justiça é justo, assim co m o ele
ter três m otivações. O bed ecem o s porque é justo" (1 Jo 3:7, grifos nossos). Andar na luz
so m o s o b rig a d o s, p o rq u e p re cisa m o s ou significa viver aqui na Terra da m aneira com o
porque querem os. Jesus viveu quando estava aqui e da manei­
O escravo obedece porque é obrigado. ra com o ele é agora no céu.
Do contrário, será castigado. O funcionário Trata-se de um fato com aplicações ex­
o bed ece porque precisa. Pode não gostar tremamente práticas na vida diária. O que o
de seu trabalho, mas certam ente gosta de cristão deve fazer, por exem p lo , quando
receber o salário no final do mês! Precisa outro cristão pecar contra ele? A resposta é
obedecer, pois tem uma família para alimen‫־‬ que o cristão deve perdoar o outro " com o
tar e vestir. M as o cristão deve obedecer ao também Deus, em Cristo, [nos] perdoou" (Ef
Pai celestial porque quer - porque tem um 4 :3 2 , grifo nosso; ver Cl 3:13).
relacionam ento de amor com Deus. "Se me Andar na luz - seguir o exem plo de Cris­
am ais, guardareis os meus m andam entos" to - também afeta o lar. O marido deve amar
(Jo 14:15). a esposa "com o também Cristo amou a igre­
É assim que as crianças aprendem a obe­ ja " (Ef 5 :2 5). O marido deve cuidar da es­
decer. A princípio, obedecem por obrigação. posa "com o também Cristo" (Ef 5 :2 9). E a
D o contrário, levam umas palmadas! Mas, esposa deve honrar o marido e lhe obede­
com o passar do tempo, descobrem que a cer (Ef 5:22-24).
obediência significa prazer e recompensa, de Não importa a área da vida em questão,
m odo que com eçam a obedecer para su­ a responsabilidade do cristão é fazer o que
prir certas n ecessidades na vida. A m arca da Jesus faria. "Segundo ele é, também nós so­
verdadeira maturidade pode ser percebida mos neste m undo" (1 Jo 4 :1 7 ). É preciso "an­
quando se passa a obedecer por amor. dar [viver] assim com o ele andou [viveu]".
O s "bebês na fé" precisam sem pre ser Jesus ensinou a seus discípulos o que
advertidos ou recom pensados. O s cristãos significa perm anecer nele, usando para isso
m aduros dão ouvidos à Palavra de Deus e a ilustração da videira e de seus ramos (Jo
lhe obedecem sim plesm ente porque amam 15). Assim com o os ramos recebem a vida
a D eus. ao perm anecerem em contato com a videi­
Andar na luz im plica honestidade, obe­ ra, tam bém os cristãos recebem forças ao
diência e am or; tam bém im plica seguir o se manter em com unhão com Cristo.
exem plo de Cristo e andar com o ele andou Permanecer em Cristo significa depender
(1 Jo 2:6). É evidente que ninguém se torna completamente dele para tudo de que preci­
um cristão seguindo o exem plo de Cristo; samos a fim de viver para ele. É viver dentro
mas dep o is de passar a fazer parte da famí­ de um relacionam ento. Q uando ele vive a
lia de D eus, deve-se olhar para Jesus com o vida por meio de nós, conseguim os seguir
o grande Exemplo da vida que se deve levar. seu exemplo e andar com o ele andou. Paulo
Isso significa "permanecer em Cristo". Cris­ e xp re ssa essa e x p e riê n c ia p erfeitam en te
to não é apenas a Propiciação (ou sacrifício) quando diz: "Cristo vive em mim" (Gl 2:20).
622 1 J O Ã O 1 :5 - 2:6

Trata-se de uma obra do Espírito Santo. Tudo isso ajuda a explicar por que andar
Cristo é nosso Advogado no céu (1 Jo 2:1) na luz torna a vida bem mais fácil e feliz. Ao
e nos representa diante de Deus quando andar na luz, vive-se para agradar apenas uma
pecamos. O Espírito Santo é o Advogado Pessoa: Deus. Isso simplifica muito as coisas!
de Deus para nós aqui na Terra. Cristo in- "Eu faço sempre o que lhe agrada" (Jo 8:29,
tercede por nós (Rm 8:34), e o Espírito San- grifos nossos). Devemos "viver e agradar a
to também (Rm 8:26, 27). Fazemos parte Deus" (1 Ts 4:1). Quem vive para agradar a si
da maravilhosa dinâmica celestial na qual mesmo e a Deus tentará servir a dois senho-
Deus Filho ora por nós no céu e Deus Espí- res, algo que nunca dá certo. Quem vive para
rito ora por nós em nosso coração. Temos agradar os homens também se colocará em
comunhão com o Pai por meio do Filho, e dificuldades, pois não há duas pessoas no
o Pai tem comunhão conosco por meio do mundo que concordem sobre tudo, e nos
Espírito. veremos divididos. Andar na luz - viver para
Cristo vive sua vida em nós pelo poder agradar a Deus - simplifica os objetivos, uni-
do Espírito que habita em nosso corpo. Não fica a vida e traz paz e equilíbrio.
permanecemos em Cristo nem andamos João deixa claro que a vida real não tem
como ele andou por imitação, mas sim pela lugar para o amor ao pecado. Em vez de
encarnação: pelo Espírito "Cristo vive em tentar encobrir o pecado, o verdadeiro cris-
mim". Andar na luz é andar no Espírito e tão confessa-o e tenta conquistá-lo andando
não satisfazer as concupiscências da carne na luz da Palavra de Deus. Não se contenta
(cf. Gl 5:16). simplesmente em saber que está indo para
Deus preparou maneiras de conquistar o céu. Deseja desfrutar a vida celestial aqui
o pecado. Não há como se livrar da nature- e agora. "Segundo ele é, também nós somos
za pecaminosa com a qual nascemos nem neste mundo" (1 Jo 4:17). Tem o cuidado
como alterá-la (1 Jo 1:8), mas não é preciso de que sua vida e suas palavras sejam coe-
obedecer a seus desejos. Caminhar na luz rentes. Não tenta impressionar a si mesmo
leva a ver o pecado como ele é, a detestá- nem a Deus nem aos outros cristãos com
Io e a manter-se afastado dele. E, se alguém uma porção de "palavras piedosas".
pecar, pode confessar imediatamente a Deus No encerramento do culto, certa con-
e pedir sua purificação. Ao depender do gregação cantava um cântico chamado "Es-
poder do Espírito que habita em nós, per- tou Orando por Você". O pastor virou-se
manecemos em Cristo e "andamos como para um dos presbíteros perto do púlpito e
ele andou". perguntou baixinho:
Mas tudo isso começa com a franqueza - Por quem você está orando?
e a honestidade diante de Deus e dos ho- O homem ficou um tanto surpreso e res-
mens. No instante em que começamos a pondeu:
desempenhar um papel e fingir para impres- - Acho que não estou orando por nin-
sionar os outros, saímos da luz e entramos guém. Por que a pergunta?
nas sombras. Nas palavras de Sir Walter Scott: - É que ouvi você dizer agora pouco:
"Estou orando por você‫״‬, e pensei que você
Oh! que teias emaranhadas tecemos, falava sério - respondeu o pastor.
Quando, primeiramente, a arte de enga- - Ah, não... Eu só estava cantando.
nar praticamos! Palavras piedosas! Uma religião de pala-
vras! Parafraseando Tiago 1:22: "Sejamos
É impossível construir a vida real sobre coisas não apenas faladores da Palavra, mas tam-
enganosas. Antes de andar na luz, é preciso bém fazedores da Palavra". A vida deve con-
conhecer a si mesmo, aceitar-se e entregar- dizer com as palavras. Não basta conhecer
se a Deus. É tolice tentar enganar a outros, o linguajar correto, também se deve viver a
porque Deus conhece a verdadeira identi- vida correta.
dade de todos! "Se disserm os..." devemos fazer!
o amor de Deus por nós, dem onstram os o
am or de Deus a outros.
Assim , nestas três seções, encontram os
três bons m otivos pelos quais os cristãos
O A n t ig o e o Novo devem am ar uns aos outros:

1 João 2:7-11 1. Deus ordenou que amássemos (1 Jo


2:7-11).
2. Somos nascidos de Deus, e o amor
de Deus habita em nós(1 Jo 3:10-24).
3. Deus revelou primeiro seu amor por
nós(1 Jo 4:7-21). "Nós amamos por­
implesmente am ei esse chapéu! que ele nos amou primeiro".
S -
- G ente, eu amo bolo de chocolate!
M ãe, será que você não percebe que João não apenas escreve sobre o amor, mas
o Tom e eu nos am am os? também o pratica. U m a de suas formas predi­
Palavras com o essas parecem m oedas letas de se dirigir a seus leitores é "am ados".
que, depois de circular por muito tempo, O apóstolo os amava. João é conhecido co­
com eçam a perder o valor. Infelizmente, a mo o "apóstolo do am or", pois em seu Evan­
palavra am or está se tornando cada vez mais gelho e em suas epístolas o am or é um tema
vulgar e sendo usada para encobrir inúme­ de grande proem inência. No entanto, João
ros pecados. não foi sem pre o "apóstolo do am or". Certa
É difícil entender com o um homem pode vez, Jesus deu a João e seu irmão Tiago -
usar a m esm a palavra para expressar seu ambos de personalidade irascível - o apeli­
am or pela esposa e para dizer quanto gosta do de "Boanerges" (M c 3 :1 7 ), que significa
de bolo de chocolate! Q uando as palavras "filhos do trovão". Em outra ocasião, os dois
são em pregadas de m aneira d escuid ad a, irm ãos quiseram pedir fogo do céu para
deixam de significar alguma coisa. Com o o destruir uma vila (Lc 9:51-56).
dinheiro, vão perdendo o valor. U m a v e z que o N ovo Testam ento foi
Ao descrever a vida real, João usa três escrito em grego, em vários casos os escri­
palavras repetidam ente: vida, am or e luz. tores usaram uma linguagem mais precisa. É
Na verdade, dedica três seções de sua car­ uma pena que, em nossa língua, a palavra
ta ao tem a do am or cristão. Explica que o am or tenha tantas nuanças (algumas contra­
am or, a vida e a luz andam juntos. Ao ler ditórias). Ao ler os textos de 1 João sobre o
essas três seções (1 Jo 2:7-11; 3:10-24; 4:7-21) "am or", o term o grego utilizado é ágape,
sem os versícu los in term ediários, pode-se referindo-se ao am or de Deus pelos seres
ver que o amor, a vida e a luz não devem humanos, o am or de um cristão por outros
ser separados. cristãos e o am or de D eus pela Igreja (Ef
Na passagem que estudamos agora (1 Jo 5:22-33).
2:7-11), aprende-se de que maneira o amor Em outros textos, encontram os ainda o
cristão é afetado pela luz e pelas trevas. O termo philia, o "am or da am izade", não tão
cristão que andar na luz (ou seja, que obe­ profundo quanto o am or ágape (eros, pala­
decer à vontade de Deus) amará seu irmão vra grega para amor sensual, de onde vem a
em Cristo. palavra "erótico", não é usada nenhum a vez
De acordo com 1 João 3:10-24, o amor no Novo Testamento.)
cristão é uma questão de vida ou m orte: vi­ O mais admirável é que o am or cristão é
ver com ódio é o mesmo que viver em mor­ tanto antigo quanto novo (1 Jo 2 :7 , 8 ), o
te espiritual. Em 1 João 4:7-21, vê-se que o que parece uma contradição. O am or em
am or cristão é uma questão de verdade ou si, obviam ente, não é novo, com o também
mentira (cf. 1 Jo 4 :6 ): quando conh ecem os não é novidade o mandamento para que os
624 1 J O Ã O 2:7-1 1

homens amem a Deus e uns aos outros. Je- Os pais devem cuidar dos filhos de acor-
sus combinou dois mandamentos do Anti- do com a lei. A omissão em relação aos fi-
go Testamento, Deuteronômio 6:5 e Levítico lhos é um crime sério. Mas quantos pais têm
19:18, e disse (Mc 12:28-34) que esses dois uma conversa como a que se encontra abai-
mandamentos resumem toda a Lei e os Pro- xo quando o despertador toca de manhã?
fetas. Amar a Deus e amar o próximo eram Esposa: - Querido, é melhor você se le-
responsabilidades antigas e bastante conhe- vantar e ir trabalhar. Não queremos ser presos.
cidas muito antes de Jesus vir à Terra. Marido: - Tem razão. É bom você se le-
Em que sentido, portanto, "amar uns aos vantar também e preparar o café da manhã
outros" é um "novo" (1 Jo 2:8) mandamen- e as roupas das crianças. A polícia pode apa-
to? Mais uma vez, devemos buscar a resposta recer a qualquer momento e nos colocar na
na língua grega. cadeia.
Os gregos tinham duas palavras diferen- Esposa: - Com certeza. Que bom que
tes para "novo": uma que significa "novo em temos uma lei, pois, do contrário, ficaríamos
termos de tempo" e outra que quer dizer na cama o dia inteiro!
"novo em termos de qualidade". A primeira É de se duvidar que o medo à lei seja,
palavra poderia ser usada, por exemplo, para de modo geral, a motivação para trabalhar,
descrever o modelo mais recente de um para levantar o sustento e para cuidar dos
carro. Mas se alguém comprasse um carro filhos. Os pais cumprem suas responsabili-
de modelo revolucionário, radicalmente di- dades {mesmo que, às vezes, de má vonta-
ferente, a segunda palavra seria mais apro- de) porque amam um ao outro e aos filhos.
priada: novo em termos de qualidade. (Em Para eles, fazer a coisa certa não é uma ques-
nossa língua, os termos "recente" e "inédi- tão de lei, mas sim de amor.
to" são as expressões mais próximas dessa Da mesma forma, o mandamento para
distinção: "recente" significa novo em ter- "amar uns aos outros" é o cumprimento da
mos de tempo, enquanto "inédito" significa Lei de Deus. Quem ama não mente nem
novo em termos de qualidade.) rouba as pessoas amadas. Também não tem
O mandamento para amar uns aos ou- 0 desejo de matá-las. O amor a Deus e aos
tros não é novo em termos de tempo, mas o outros motiva a obedecer aos mandamen-
é em termos de qualidade. Graças a Jesus tos de Deus sem sequer pensar sobre eles!
Cristo, o antigo mandamento para "amar uns Quando alguém pratica o amor cristão, obe-
aos outros" adquiriu novo significado. Nes- dece a Deus e serve aos outros não por me-
tes cinco versículos curtos (1 Jo 2:7-11), vê- do, mas por amor.
se que esse mandamento é novo de três É por isso que João diz que "amar uns
maneiras importantes. aos outros" é um novo mandamento: ele é
novo em sua ênfase . Não é simplesmente um
1 . É NOVO EM SUA ÊNFASE dentre vários mandamentos; agora, ocupa
(t Jo 2:7) uma posição de destaque no alto da lista!
No parágrafo anterior (1 Jo 2:3-6), João fa- No entanto, essa ênfase é nova em ou-
lou sobre "os mandamentos" em geral, mas tro sentido. Encontra-se no começo da vida
agora se concentra em um único mandamen- cristã. "Não vos escrevo mandamento novo,
to. No Antigo Testamento, a ordem para que senão mandamento antigo, o qual, desde o
os israelitas amassem uns aos outros era princípio, tivestes" (1 Jo 2:7). A expressão
apenas uma dentre muitas injunções, mas "desde o princípio" é usada de duas formas
agora esse mandamento antigo é elevado a diferentes nesta epístola de João e é impor-
uma posição de proeminência. tante fazermos uma distinção entre elas. Em
De que maneira é possível um manda- 1 João 1:1, em que é descrito o caráter eter-
mento ser elevado acima dos outros? Isso é no de Cristo, vê-se que ele existe "desde o
explicado pelo fato de o amor ser o cumpri- princípio". Em João 1 :1 - um versículo para-
mento da Lei de Deus (Rm 13:8-10). leio - lê-se que "No princípio era o Verbo".
1 J O Ã O 2:7-1 1 625

M as em 1 João 2:7 , o assunto é o princí­ 12; 2 Jo 5). E existem muitas outras referên­
p io da vida cristã. O mandamento para amar cias ao amor fraternal. É importante com pre­
uns aos outros não é um apêndice à expe­ ender o significado do amor cristão. Não se
riência cristã, algo acrescentado por Deus trata de uma em oção sentimental e super­
p osteriorm ente. Pelo co ntrário ! Está nem ficial que os cristãos tentam "produzir" a fim
nosso coração desde o início de nossa fé de se dar bem uns com os outros. É uma ques­
em Jesus Cristo. Se não fosse assim, João tão de volição, não de em oção - uma afei­
não teria escrito: "N ós sabemos que já pas­ ção e atração por certas pessoas. Consiste
samos da morte para a vida, porque am a­ em assum ir o propósito - resolver delibera­
mos os irm ãos" (1 Jo 3 :1 4 ). E Jesus disse: damente - de permitir que o am or de Deus
"Nisto conhecerão todos que sois meus dis­ alcance outros por m eio de nós e, então,
cípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (Jo agir para com os outros de modo a demons­
13:35 ). trar esse amor. Não se trata de hipocrisia,
O não salvo pode ser, por n atu reza, mas sim de obediência a Deus.
egoísta e até cheio de ódio. Por mais que se Talvez a melhor explicação do am or cris­
am e um bebê recém-nascido, deve-se admi­ tão encontre-se em 1 Coríntios 13. Convém
tir que a criança é egocêntrica e pensa que ler uma tradução m oderna desse capítulo
seu berço é o centro do mundo. A criança para com preender todo o im pacto de sua
representa o não salvo. "Pois nós também, m ensagem : a vida cristã sem am or não é
o u tro ra, éram o s n é scio s, d e so b ed ie n te s, NADA!
desgarrados, escravos de toda sorte de pai­ M as o mandamento para "am ar uns aos
xões e prazeres, vivendo em malícia e inve­ outros" não é novo apenas em term os de
ja, odiosos e odiando-nos uns aos outros" ênfase. Também é novo em outro sentido.
(Tt 3:3). Esse retrato sem retoques do incré­
dulo pode não ser bonito, mas com certeza 2 . É NOVO EM SEU EXEMPLO ( 1 J0 2 :8 )
é preciso! Algum as pessoas não convertidas Conforme João ressalta, "amar uns aos outros"
não apresentam as características m enciona­ foi uma realidade, antes de tudo, na vida de
das aqui, mas as obras da carne (G l 5:19-21) Cristo e agora é uma realidade na vida da­
estão sem pre latentes em suas inclinações. queles que crêem em Cristo. Jesus Cristo é
Q uando um pecador crê em Cristo, re­ o Exemplo supremo desse mandamento.
cebe uma nova vida e uma nova natureza. Refletiremos mais adiante sobre a decla­
0 Espírito Santo de Deus passa a viver den­ ração grandiosa: "D eus é am or" (1 Jo 4 :8 ),
tro dele e o am or de Deus é "derram ado mas ela é antecipada aqui. O lh and o para
em [seu] co ração " pelo Espírito (Rm 5:5). Jesus Cristo, vê-se a corporificação e a exem-
D eus não precisa fazer um longo serm ão plificação do am or. Ao ordenar que am e­
sobre o am or para o recém-convertido! "Por­ mos, Jesus não pede que façam os algo que
quanto vós m esm os estais por D eus [i.e., ele próprio não tenha feito. O s quatro Evan­
pelo Espírito Santo dentro de vós] instruídos gelhos relatam uma vida de am or - em con­
que devets amar-vos uns aos outros" (1 Ts dições muito aquém do ideal. Na verdade,
4 :9 ). O cristão novo na fé descobre que ago­ o que Jesus diz é: "Eu vivi esse grande man­
ra detesta o que costumava am ar e ama o dam ento e posso capacitá-los para seguir
que costumava detestar! meu exem plo".
Assim , o mandam ento para amar uns aos Jesus ilustrou o am or na própria form a
outros é novo em termos de ênfase: é um de viver. Nunca demonstrou ódio nem malí­
dos m andam entos m ais im portantes que cia. Sua alma justa detestava todo tipo de
Cristo deu (jo 13:34). Na verdade, a ordem pecado e desobediência, mas nunca detes­
para "am ar uns aos outros" é repetida pelo tou as pessoas que com etiam tais peca d o s.
menos doze vezes ao longo do Novo Tes­ Até mesmo em suas proclam ações justas de
tam ento (Jo 1 3 :3 4 ; 1 5:9, 12, 17; Rm 13:8; julgamento, sem pre se encontra a presença
1 Ts 4 :9 ; 1 Pe 1:22; 1 Jo 3 :1 1 , 23; 4 :7 , 11, subjacente do amor.
626 1 J O Ã O 2:7-1 1

É um grande estímulo pensar no amor mandamento: "amai-vos uns aos outros". É


de Jesus pelos doze discípulos. Eles devem isso o que contribui para que seja um "novo"
tê-lo entristecido repetidamente ao discutir mandamento. Em Cristo, temos uma nova
sobre quem dentre eles era o maior ou ten- ilustração da verdade antiga de que Deus
tar impedir as pessoas de ver o Mestre. Cada é amor e de que a vida de amor é a vida de
discípulo era diferente dos outros, e o amor alegria e de vitória.
de Cristo era amplo o suficiente para abran- O que há em Cristo também deve estar
ger todos de maneira pessoal e compreensi- presente na vida de cada cristão. "Segundo
va. Foi paciente com a impulsividade de ele é, também nós somos neste mundo" (1 Jo
Pedro, com a incredulidade de Tomé e até 4:1 7), O cristão deve ter uma vida de amor
com a traição de Judas. Ao ordenar que os cristão "porque as trevas se vão dissipando,
discípulos amassem uns aos outros, Jesus e a verdadeira luz já brilha" (1 Jo 2:8). Isso
apenas lhes dizia para fazer como ele ha- lembra a ênfase (1 Jo 1) sobre andar na luz.
via feito. Trata-se de um contraste entre dois modos
Deve-se considerar, também, o amor de de viver: os que andam na luz praticam o amor;
Cristo por pessoas de todo tipo. Os pubii- os que andam nas trevas praticam o ódio. A
canos e pecadores foram atraídos (Lc 15:1) Bíblia enfatiza esse fato repetidamente.
por seu amor, e até mesmo a mais abjeta "As trevas se vão dissipando", mas a luz
das pecadoras chorou a seus pés (Lc 7:36- ainda não está brilhando plenamente sobre
39). Nicodemos, um rabino espiritualmente o mundo e ainda não penetra todas as coi-
faminto, encontrou-se com o Mestre em par- sas, nem mesmo na vida do cristão.
ticular durante a noite (Jo 3:1-21), e quatro Quando Jesus nasceu, o "sol nascente
mil "pessoas comuns" ouviram os ensina- das alturas" visitou o mundo (Lc 1:78). Seu
mentos de Jesus durante três dias (Mc 8:1- nascimento foi o início de um novo dia para
9), tendo, depois, recebido dele uma refeição a humanidade! Ao viver diante dos homens,
miraculosa. Ele segurou bebês em seus bra- lhes ensinar e ministrar, Jesus espalhou a luz
ços e falou sobre crianças que brincavam. da vida e do amor. "O povo que jazia em
Consolou até as mulheres que choravam, en- trevas viu grande luz, e aos que viviam na
quanto os soldados o levavam para o Calvário. região e sombra da morte resplandeceu-lhes
Talvez o aspecto mais extraordinário do a luz" (Mt 4:16).
amor de Jesus tenha sido sua maneira de Mas, neste mundo, há um conflito entre
tocar a vida até de seus inimigos. Olhou com as forças da luz e as forças das trevas. "A luz
terna piedade para os líderes religiosos que, resplandece nas trevas, e as trevas não são
em sua cegueira espiritual, o acusaram de capazes de extingui-la" (Jo 1:5, tradução li-
estar em conluio com Satanás (Mt 12:24). teral). Satanás é o Príncipe das trevas e am-
Quando a turba chegou para prendê-lo, Je- plia seu reino através de mentiras e ódio.
sus poderia ter convocado os exércitos Cristo é o Sol da Justiça (Ml 4:2) e estende
celestiais para protegê-lo, mas, em vez dis- seu reino mediante a verdade e o amor.
so, se entregou aos seus inimigos. E, depois, Os reinos de Cristo e de Satanás estão
morreu por eles... por seus inimigos! "Nin- em conflito hoje, "mas a vereda dos justos é
guém tem maior amor do que este: de dar como a luz da aurora, que vai brilhando mais
alguém a própria vida em favor dos seus e mais até ser dia perfeito" (Pv 4:18). As tre-
amigos" (Jo 15:13, ênfase do autor). Jesus, vas estão se dissipando aos poucos, e a Ver-
porém, não morreu apenas por seus ami- dadeira Luz brilha cada vez mais em nosso
gos, mas também por seus inimigos! E, en- coração.
quanto eles o crucificavam, Jesus orou por Jesus Cristo é o padrão de amor para
eles: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o os cristãos. Ele disse: "Novo mandamento
que fazem" (Lc 23:34). vos dou: que vos ameis uns aos outros; as-
Em sua vida, seus ensinamentos e sua sim como eu vos amei, que também vos
morte, Jesus é o Exemplo perfeito desse novo ameis uns aos outros" (Jo 13:34). E também:
1 J O Ã O 2 :7 - 1 1 627

"O meu mandamento é este: que vos ameis sim que o irmão tem algo contra o adorador.
uns aos outros, assim com o eu vos am ei" (Jo M as mesmo se nós formos ofendidos, não
15:12, ênfase do autor). Não se deve medir devemos esperar até que a pessoa que nos
o am or cristão de acordo com o amor de ofendeu venha nos procurar; nós é qu e d e ­
algum outro cristão (normalmente, escolhe* vem os procurá-la. Se não o fizerm os, Jesus
mos alguém cuja vida dificilmente é exem- adverte que acabarem os em uma prisão de
piar), mas sim de acordo com o am or de julgamento espiritual, onde teremos de pa­
Jesus Cristo, nosso Senhor. O antigo man­ gar até o último centavo (M t 18:21-35). Em
damento torna-se "novo" para nós quando outras palavras, ao cultivar um espírito ran­
o vem os cumprir-se em Cristo. coroso e sem amor, os mais prejudicados
Assim, o mandamento para "amarmos uns somos nós mesmos.
aos outros" é novo em sua ênfase e em seu Não é a prim eira ve z que se vê nesta
exem plo. Também é novo de outra forma. epístola o contraste entre "dizer" e "fazer"
(1 jo 1:6, 8 , 10; 2 :4 , 6 ). Ê fácil praticar um
3. É NOVO EM SUA EXPERIÊNCIA cristianismo de "palavras" - cantando os hi­
(1 Jo 2:9-11) nos certos, usando o vocabulário certo e fa­
A passagem continua com a ilustração da zendo as orações certas - e, em meio a tudo
luz e das trevas. Se um cristão andar na luz isso, se iludir achando-se espiritual. Esse erro
e estiver em com unhão com Deus, também também é ligado a algo que Jesus ensinou
estará em com unhão com outros na família no Sermão do M onte (M t 5:33-37). O que
de Deus. O am or e a luz andam juntos, as­ se diz deve ser a expressão verdadeira do
sim com o o ó d io e as trevas andam juntos. caráter. Não deveria ser necessário usar pa­
É fácil falar sobre o am or cristão, mas é lavras adicionais ("juram entos") para corro­
muito mais difícil praticá-lo. Em primeiro lu­ borar o que se diz. O sim deve significar sim
gar, esse am or não é apenas conversa (1 Jo e o não deve significar não. A ssim , se al­
2:9). O cristão que diz (ou canta!) que ama guém d/z que está na luz, prova que isso é
os irmãos, enquanto, na verdade, odeia ou­ verdade amando os irmãos. Muitos cristãos
tro cristão, está mentindo. Em outras pala­ precisam encarecidam ente ser aceitos, ama­
vras (um a verdade extrem am ente séria), é dos e encorajados.
im p o ssível estar em co m u n h ã o com o Pai Ao contrário da opinião geral, o am or
e, ao m esm o tem po>não estar em com unhão cristão não é "cego". Ao praticar o verda­
com outro cristão. deiro amor cristão, descobre-se que a vida
Esse é um dos motivos pelos quais Deus se torna cada ve z mais resplandecente. E o
instituiu a igreja local, a com unhão dos cris­ ódio que escurece a vida! Q uando o verda­
tãos. "N ão se pode ser um cristão sozinho" deiro amor cristão flui no coração, existe uma
- um a pessoa não pode ter uma vida cris­ com preensão e uma percepção mais agu­
tã plena e desenvolvê-la a menos que esteja çada das coisas espirituais. É por isso que
em com unhão com o povo de Deus. A vida Paulo ora pedindo que o am or cresça em
cristã tem planos relacionais: o vertical (com conhecim ento e em percepção, "para [apro­
referência a Deus) e o horizontal (com refe­ varm os] as coisas excelentes" (ver Fp 1:9,
rência às outras pessoas). E o que foi unido 10 ). O cristão que ama o irmão é capaz de
por Deus não deve ser separado pelos ho­ ver com mais clareza.
m ens! C a d a um d esses re lacio n am e n to s Nenhum livro da Bíblia ilustra tão bem o
deve ser de am or um pelo outro. poder que o ódio tem de cegar com o o Li­
Jesus trata dessa questão no Serm ão do vro de Ester. O s acontecim entos relatados
Monte (ver M t 5:21-26). A dádiva sobre o al­ nesse livro se passam na Pérsia, onde mui­
tar não vale coisa alguma se o adorador tem tos judeus viviam depois do cativeiro. Ham ã,
uma contenda não resolvida com o irmão. É um dos oficiais mais importantes do rei, odia­
importante observar que Jesus não diz que va profundamente os judeus. A única manei­
o adorador tem algo contra o irm ão, mas ra de satisfazer esse ódio seria ver a nação
628 1 J O Ã O 2:7-1 1

inteira destruída, Assim, ele mergulhou de O segundo resultado trágico é que esse
cabeça em uma trama perversa, completa- cristão torna-se um tropeço (ver 1 Jo 2:10).
mente cego para o fato de que os judeus É terrível quando o cristão faz mal a si mes-
venceriam e ele próprio seria destruído. mo (1 Jo 2:9), mas a situação torna-se ainda
O ódio continua cegando as pessoas mais séria quando ele começa a fazer mal a
até hoje. outros. Andar em trevas é muito sério. Tam-
O amor cristão não é um sentimento su- bém é perigoso andar na escuridão, quan-
perficial, uma emoção passageira que, tal- do há pedras de tropeço no caminho! Um
vez, seja experimentada durante o culto na cristão que não ama tropeça e leva outros
igreja. O amor cristão é prático; aplica-se às a tropeçar.
questões da vida diária. Ao considerar os Certa noite, um homem andava por uma
mandamentos de "reciprocidade" no Novo rua escura quando viu um ponto muito pe-
Testamento, vê-se que amar uns aos outros queno de luz vindo em sua direção com
é algo extremamente prático. Eis alguns movimentos hesitantes. Pensou que a pes-
exemplos (existem mais de vinte declarações soa carregando a luz talvez estivesse doen-
desse tipo): te ou bêbada, mas, ao se aproximar, viu que
o homem com a lanterna também segurava
Lavar os pés uns dos outros (Jo 13:14). uma bengala branca.
Preferir uns aos outros (Rm 12:10). "Por que será que um homem cego está
Ter o mesmo sentimento uns para com carregando uma lanterna acesa?", o homem
os outros (Rm 12:16). pensou consigo mesmo e resolveu pergun-
Não julgar uns aos outros (Rm 14:13). tar a ele. O cego sorriu e respondeu:
Receber uns aos outros (Rm 15:7). - Eu carrego essa luz não para que eu
Admoestar uns aos outros (Rm 15:14). veja, mas para que outros me vejam. Não
Edificar uns aos outros (1 Ts 5:11). posso fazer coisa alguma a respeito da mi-
Levar os fardos uns dos outros (Gl 6:2). nha cegueira, mas posso fazer algo para não
Confessar os pecados uns aos outros ser um tropeço.
(Tg 5:16). A melhor maneira de ajudar outros cris-
Oferecer hospitalidade uns aos outros tãos a não tropeçar é amá-los. O amor trans-
(1 Pe 4:9). forma as pessoas em pedras de apoio,
enquanto o ódio (e todos os seus correlates,
Em resumo, amar outros cristãos significa como a inveja e a malícia) transforma os in-
tratá-los da maneira como Deus os trata - e divíduos em pedras de tropeço. É importante
da maneira como ele nos trata. O amor cris- que os cristãos exercitem o amor na igreja
tão que não aparece nas ações e atitudes local, pois, de outro modo, sempre haverá
(cf. 1 Co 13:4-7) é falso. problemas e desunião. Quando caímos uns
O que acontece com o cristão que não sobre os outros em vez de elevar uns aos
ama os irmãos? Vimos anteriormente o pri- outros, tornamo-nos uma família espiritual
meiro resultado trágico: ele vive em trevas, extremamente infeliz.
apesar de, provavelmente, pensar que vive Pode-se aplicar esse princípio, por exem-
na luz (1 Jo 2:9). Ele pensa que vê, mas, na pio, à questão das "coisas incertas" (Rm 14
verdade, está cego pelas trevas do ódio. e 15). Uma vez que os cristãos vêm de con-
Esse tipo de pessoa é capaz de causar uma textos diferentes, nem sempre concordam
série de problemas em grupos cristãos. Pen- entre si. No tempo de Paulo, os cristãos di-
sa que é um "gigante espiritual", com gran- feriam em suas opiniões quanto a questões
de entendimento, quando, na verdade, é como normas alimentares e os dias santos.
uma criancinha com pouquíssima percep- Um grupo dizia que não era espiritual comer
ção espiritual. Pode ler a Bíblia fielmente carne oferecida a ídolos. Outro desejava que
e orar com fervor, mas se tem ódio no cora- o sábado fosse observado de maneira bas-
ção, vive uma mentira. tante rígida. Era um problema com várias
1 J O Ã O 2 :7 - 1 1 629

facetas, mas o princípio fundam ental para Mas o amor não vive sozinho; ele pro­
sua solução era: "N ão nos julguem os mais duz alegria! O ódio torna a pessoa infeliz,
uns aos outros; pelo contrário, tomai o pro­ mas o amor sempre traz consigo a alegria.
pósito de não pordes tropeço ou escândalo Um casal cristão foi procurar um pastor,
ao vosso irmão [...] Se, por causa de com i­ pois o casamento deles com eçava a desin­
da, o teu irmão se entristece, já não andas tegrar-se.
segundo o amor fraternal. Por causa da tua - Nós dois somos cristãos - disse o ma­
com ida, não faças perecer aquele a favor rido desanimado mas não estamos felizes
de quem Cristo m orreu" (Rm 14:13, 15). juntos. Não há alegria alguma em nosso lar.
Outro resultado trágico do ódio é o atra­ Enquanto o pastor conversava com eles
so que produz no progresso espiritual do cris­ e ao refletirem juntos sobre o que a Bíblia
tão (1 Jo 2:11). Um cego - alguém que anda tinha a dizer, um fato tornou-se claro: tanto
em trevas - não é capaz de encontrar o ca­ o marido quando a esposa guardavam má­
minho! O único ambiente que promove o goas. O s dois se lembravam de uma porção
crescim ento espiritual é o ambiente da luz de coisas pequenas, mas irritantes, que o
espiritual, do amor. Assim com o os frutos e outro havia feito!
as flores precisam da luz do sol, também o - Se vocês dois realmente se amassem
povo de Deus precisa de amor para crescer. - disse o pastor não guardariam essas
O m andam ento "amai-vos uns aos ou­ mágoas no coração. Elas supuram com o fe­
tros" renova-se nas experiências diárias. Não ridas infeccionadas e contam inam todo o
basta reconhecer que é novo em sua ênfase organismo.
e dizer: "sim, o amor é importante!" Também Então, leu para eles que "[O amor] não
não basta ver o amor de Deus exem plificado se ressente do mal" (1 C o 13:5) e explicou:
em Jesus Cristo. É preciso co n h ecer esse - Isso significa que o amor não guarda
am or p o r experiência própria. O antigo man­ registro das coisas que o outro faz e que nos
dam ento: "Amai-vos uns aos outros" se torna ofendem. Q uando amamos de verdade uma
um novo mandamento, quando se pratica o pessoa, o amor cobre seus pecados e ajuda
amor de Deus na vida diária. a curar as feridas que causaram. - E leu tam­
Até aqui, foi visto o lado negativo de 1 João bém : "Acim a de tudo, porém, tende am or
2:9-11; agora, será apresentado o positivo. intenso uns para com os outros, porque o
Ao praticar o amor cristão, quais serão os re­ amor cobre multidão de pecados" (1 Pe 4:8).
sultados maravilhosos? Antes de o casal ir em bora, o pastor os
Em primeiro lugar, o cristão vive na luz, aconselhou:
em com unhão com Deus e com os irmãos - Em vez de guardarem registro de coi­
em Cristo. sas que ferem, com ecem a se lembrar das
Em segundo lugar, não tropeça nem se coisas que dão prazer. Um espírito rancoro­
torna pedra de tropeço a outros. so sem pre nos enche de veneno, enquan­
E, em terceiro lugar, há crescim ento es­ to um espírito amoroso que vê e se lembra
piritual, tornando o cristão cada vez mais do melhor sempre traz saúde.
semelhante a Cristo. O cristão que anda em am or está sem­
Neste ponto, convém pensar no contras­ pre experim entando nova alegria, pois o "fru­
te entre "as obras da carne", tão repulsivas to do Espírito" é amor e alegria. E, quando
(G l 5:19-21), e o belo fruto do Espírito - "amor, misturamos o "am or‫ ״‬com a "alegria", temos
alegria, paz, longanim idade, benignidade, a "p az", que nos ajuda a produzir "longani-
bondade, fidelidade, mansidão, domínio pró­ m idade". Em outras palavras, andar na luz,
prio" (G l 5 :2 2 , 23). andar em amor, é o segredo para o cresci­
Q uem está na luz, "a semente [que] é a m ento na vid a cristã, que quase sem pre
palavra de D eus‫( ״‬Lc 8:11) pode criar raízes com eça com o amor.
e dar fruto. E o primeiro fruto que o Espírito M as todos nós d evem o s re co n h e c e r
produz é o amor! que não se pode gerar am or cristão com as
630 1 J O Ã O 2:7-1 1

próprias forças. Somos, por natureza, egoís- que já estava aqui séculos atrás quando Jesus
tas e propensos a odiar. Somente o Espirito viveu, ensinou, morreu e ressuscitou. Ele é
de Deus enche nosso coração de amor para o Único que pode pegar uma "verdade an-
que sejamos capazes, então, de amar uns tiga" e transformá-la em algo inédito e cheio
aos outros. "O amor de Deus é derramado de vida na experiência cotidiana.
em nosso coração pelo Espírito Santo, que Esta epístola de João apresenta, na se-
nos foi outorgado" (Rm 5:5). O Espírito de qüência, outras verdades empolgantes, mas
Deus torna o mandamento "amai-vos uns aos se não formos obedientes no que diz res-
outros" uma experiência nova e empolgante peito ao amor, o restante desta carta será
no dia-a-dia. Se andarmos na luz, o Espírito como "trevas" para nós. Talvez o melhor a
de Deus produzirá amor. Se andarmos em fazer agora seja perscrutar o coração e ver
trevas, nosso espírito egoísta produzirá ódio. se guardamos algo contra algum irmão ou
A vida cristã - a vida real - é uma mistu- se alguém tem alguma coisa contra nós. A
ra maravilhosa de "antigo e novo". O Espírito vida real é honesta - e é uma vida que im-
Santo pega as "coisas antigas" e as transfor- plica fazer, não apenas falar. É uma vida de
ma em "coisas novas" em nossa experiência. amor ativo em Cristo. Isso significa perdão,
Ao pensar sobre isso, vê-se que o Espírito bondade e longanimidade. Mas também sig-
Santo jamais envelhece! É eternamente jo- nifica alegria, paz e vitória.
vem! Ele é a única Pessoa na Terra, hoje, A vida de amor é a única vida real!
aparecem juntos: "O Verbo [Jesus] estava
4 no mundo, o mundo [terra] foi feito por in­
term édio d ele, m as o m undo [a hum ani­
dade] não o conheceu" (Jo 1:10).
O A m o r Q ue M as a advertência "não am eis o mun­
do" não se refere ao mundo natural nem ao
D e u s D etesta mundo dos homens. O s cristãos devem apre­
ciar a beleza e utilidade da terra que Deus
1 João 2:12-17
criou, uma ve z que é ele que "tudo nos pro­
porciona ricamente para nosso aprazim ento"
(1 Tm 6:1 7). E, sem dúvida, deve am ar as
pessoas - não apenas os amigos, mas tam­
m grupo de alunos da prim eira série bém os inimigos.
U havia acabado de com pletar um tour
pelo hospital, e a enfermeira que monitorava
Este "m u n d o " ao qual João refere-se
com o o inimigo é um sistema espiritual invi­
a visita quis saber se alguém tinha alguma sível contrário a Deus e a Cristo.
pergunta. A palavra m undo com o sentido de um
- Por que as pessoas que trabalham aqui sistem a faz parte de nosso linguajar diário.
estão sem pre lavando as mãos? - pergun­ O repórter da televisão d iz: "Agora, as notí­
tou um garotinho. cias do mundo dos esportes". O "m undo dos
Depois que todos pararam de rir, a en­ esportes" não é um planeta ou continente
ferm eira deu uma resposta sábia. separado. Antes, é um sistema organizado,
- Eles "estão sempre lavando as mãos" constituído de um conjunto de idéias, pes­
por dois motivos. Primeiro, amam a saúde soas, atividades, objetivos etc. D a m esm a
e, segundo, detestam m icróbios. form a, o "m undo dos negócios" bem com o
Em diversas áreas da vida, o amor e a o "m undo da po lítica‫ ״‬são sistem as inde­
aversão andam juntos. O m arido que ama pendentes. Por trás do que vem os nos es­
a esposa, certam ente, detestará o que lhe portes ou nas finanças, existe um sistema
poderia fazer mal. "Vós que amais o S en h o r , invisível, responsável pelo funcionam ento
detestai o mal" (SI 9 7 :1 0 ). "O amor seja sem do universo.
hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao Na Bíblia, "o mundo" é o sistema que Sa­
bem " (Rm 12:9). tanás usa para fazer frente à obra de Cristo
Nesta epístola, prim eiro João lem brou aqui na Terra. É exatam ente o oposto de tudo
que devem os praticar o am or (1 Jo 2:7-11) - o que é piedoso (1 Jo 2 :1 6 ), santo e espiri­
o tipo certo de amor. Agora, alerta para o tual. "Sabem os que som os de Deus e que o
fato de que há um tipo errado de am or que mundo inteiro ja z no M aligno1) ‫ ״‬Jo 5:19).
Deus detesta: o amor pelo que a Bíblia cha­ Ao falar do mundo, Jesus disse que Satanás
ma de "o m undo". é "seu príncipe" (Jo 12:31). O diabo possui
Existem quatro motivos pelos quais os uma organização de espíritos malignos (Ef
cristãos não devem amar "o mundo". 6 : 11 , 12 ) que trabalham com ele e influen­
ciam o que se passa "neste mundo".
1. Por c a u s a d a q u il o q u e o mundo é Assim com o o Espírito Santo usa pessoas
No Novo Testamento, a palavra m undo tem para realizar a obra de D eus na Terra, Sata­
pelo menos três significados diferentes. Por nás usa pessoas para cum prir seus propósi­
vezes, se refere ao mundo físico, a Terra: "O tos perversos. Q u e r percebam quer não, os
D eus que fez o m undo [nosso planeta] e não-salvos são motivados pelo "príncipe da
tudo o que nele existe" (At 17:24). Também potestade do ar, do espírito que agora atua
pode ser o mundo humano, a hum anidade: nos filhos da desobediência" (Ef 2 :1 , 2).
"Porque Deus amou ao mundo de tal manei­ O s incrédulos pertencem a "este mun­
ra" (Jo 3 :1 6). Por vezes, esses dois conceitos do". Jesus os cham a de "filhos do mundo"
632 1 J O Ã O 2:12-17

(Lc 16:8). Quando Jesus estava aqui na Ter- também à vontade de Deus. "Ora, o mundo
ra, as pessoas "deste mundo" não o compre- passa [...] aquele, porém, que faz a vontade
enderam, como também não compreendem de Deus permanece eternamente" (1 Jo
os que crêem em Jesus Cristo nos dias de hoje 2:17).
(1 Jo 3:1). O cristão faz parte do mundo hu- Para os que vivem no amor de Deus, fa-
mano e vive no mundo físico, mas não per- zer a vontade de Deus é uma alegria. "Se
tence ao mundo espiritual que é o sistema me amais, guardareis os meus mandamen-
de Satanás para se opor a Deus. "Se vós tos" (Jo 14:15). Mas quando o cristão não
fósseis do mundo [do sistema de Satanás], o sente mais prazer no amor do Pai, tem difi-
mundo amaria o que era seu; como, toda- culdade em obedecer à vontade do Pai.
via, não sois do mundo, pelo contrário, dele Ao colocar esses dois elementos lado a
vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia" lado, temos uma definição prática de mun-
(Jo 15:19). danismo: qualquer coisa na vida do cristão
Assim, "o mundo" não é o hábitat do que o faz sentir menos prazer no amor do Pai
cristão. A cidadania do cristão está no céu e menos desejo de fazer a vontade do Pai é
(Fp 3:20), e todos os seus recursos eficazes mundana e deve ser evitada. A resposta ao
para ele viver na Terra vêm do Pai celestial. amor do Pai (a vida devocional pessoal) e a
Em certo sentido, o cristão é como um obediência à vontade do Pai (a conduta diá-
escafandrista. A água não é o hábitat do ser ria) são os dois testes de mundanismo.
humano, pois ele não está equipado para Muitas coisas neste mundo são inequi-
viver nela (ou abaixo dela). Quando um es- vocamente erradas, e a Palavra de Deus as
cafandrista mergulha, precisa de um equipa- identifica como pecados. É o caso de roubar,
mento especial para respirar. mentir (Ef 4:25, 28) e ter relações sexuais
Se não fosse pelo Espírito Santo vivendo ilícitas (Ef 5:1-3). Com referência a estas e a
dentro de nós e pelos recursos espirituais várias outras ações, o cristão tem pouco ou
que temos na oração, na comunhão cristã e nenhum espaço para discutir. No entanto,
na Palavra, jamais seriamos capazes de so- existem áreas da conduta cristã não tão cia-
breviver aqui na Terra. Queixamo-nos da ras a respeito das quais até cristãos mais con-
poluição na atmosfera da Terra, mas a at- sagrados discordam entre si. Nesses casos,
mosfera do "mundo" também se acha tão cada cristão deve aplicar o teste à própria
saturada de poluição espiritual que o cris- vida e ser escrupulosamente honesto nessa
tão não é capaz de respirar normalmente! auto-avaliação, lembrando que até mesmo
No entanto, há um segundo motivo, mais uma coisa boa pode privar o cristão do pra-
sério que o primeiro, pelo qual os cristãos zer no amor de Deus e do desejo de fazer a
não devem amar o mundo. vontade de Deus.
Um aluno do último ano de uma facul-
2. P o r c a u s a d o q u e o m u n d o faz dade cristã era conhecido por suas excelen-
co n o sco (1 Jo 2:15, 16) tes notas e serviço cristão dedicado. Saía
"Se alguém amar o mundo, o amor do Pai todos os fins de semana para pregar o evan-
não está nele" (1 Jo 2:15). geího e estava sendo usado por Deus para
O mundanismo é mais uma questão de ganhar almas e para desafiar cristãos.
atitude do que de atividade. É possível o Então, algo aconteceu. Seu testemunho
cristão manter-se afastado de diversões e de deixou de ser eficaz, suas notas começaram
lugares suspeitos e, ainda assim, amar o a cair e até sua personalidade começou a
mundo, pois o mundanismo encontra-se no mudar. O diretor chamou-o para conversar.
coração. O amor que o cristão tem por Deus - Sua vida e seu trabalho não são mais
é inversamente proporcional a seu amor pelo os mesmos - disse o diretor. - Gostaria que
sistema e pelas coisas do mundo. você me contasse o que está acontecendo.
O mundanismo afeta a forma de respon- O aluno foi evasivo por algum tempo,
dermos não apenas ao amor de Deus, mas mas acabou contando sua história. Estava
1 J O Ã O 2:12-1 7 633

noivo de uma m oça cristã maravilhosa e pia- na sede, mas a bebedice é pecado. O sono
nejando casar-se logo depois da formatura. é uma dádiva de Deus, mas a preguiça é
H avia sido cham ado para trabalhar em uma vergonhosa. Q uando usado corretam ente,
excelente igreja e sentia-se ansioso para se o sexo é uma dádiva preciosa de D eus; mas
m udar com a esposa para a casa pastoral e q u a n d o u sad o in d e v id a m e n te , se to rn a
com eçar o ministério. imoral.
- Fiquei tão empolgado com tudo que Vê-se, agora, com o o mundo funciona.
cheguei a desejar que o Senhor não voltas­ Ele apela aos apetites normais e tenta o indi­
se! - confessou o rapaz. - Então, o poder víduo a satisfazê-los de maneiras ilícitas. No
desapareceu da minha vida! mundo de hoje, estamos cercados de todo
Por mais excelentes e belos que fossem tipo de sedução que apela para a natureza
seus planos, criavam uma barreira entre esse mais vil - e "a carne é fraca" (M t 2 6 :4 1 ).
rapaz e o Pai. Ele deixou de sentir prazer no Caso o cristão entregue-se a ela, se verá às
am or do Pai e se tornou mundano! voltas com "as obras da carne" (G l 5:19-21
João ressalta que o sistema do mundo apresenta uma lista nada atraente).
usa de três artifícios para "fisgar" os cristãos: É importante o cristão lembrar que tudo
"a concupiscência [desejo] da carne, a con- o que Deus diz sobre a velha natureza, a
cupiscência dos olhos e a soberba da vida" carne, é negativo. Na carne "não habita bem
(1 Jo 2 :1 6 ). Foram esses mesmos artifícios algum" (Rm 7:18). "A carne para nada apro­
que sed u ziram Eva no ja rd im : "V en d o a veita" (Jo 6 :6 3 ). O cristão não deve confiar
mulher que a árvore era boa [concupiscên- na carne (Fp 3:3). Não deve "[dispor] para a
cia da carne] para se comer, agradável aos carne" (Rm 13:14). A pessoa que vive para
olhos [co n cu p iscên cia do s o lh o s] e árvore a carne leva uma vida negativa.
desejável para dar entendim ento [soberba O segundo artifício que o m undo usa
da vida], tomou-lhe do fruto e com eu e deu para seduzir o cristão é cham ado de "con-
também ao marido, e ele com eu" (G n 3:6). cupiscência dos olhos". Às vezes, esquece­
A co ncup iscência da carne refere-se a mos que os olhos também podem ter desejos
qualquer coisa que agrade à natureza decaí­ (você já ouviu a expressão: "é de encher os
da do ser humano. A "carne" não é o "corpo", olhos‫)? ״‬.
mas sim a natureza básica do ser humano A c o n c u p isc ê n c ia da ca rn e se d u z os
não regenerado que o cega para a verdade apetites inferiores da velha natureza, tentan­
espiritual (1 C o 2 :1 4 ). A carne é a natureza do a pessoa a satisfazê-los de maneiras pe­
que recebem os no nascimento físico; o espí­ cam inosas. A concupiscência dos olhos, por
rito é a natureza que recebem os no segun­ sua vez, atua de maneira mais refinada. Tra­
do nascimento (Jo 3:5, 6 ). Q uando crem os ta-se, aqui, dos prazeres que satisfazem a
em Cristo, tornamo-nos "co-participantes da vista e a mente: prazeres intelectuais e so­
natureza divina" (2 Pe 1:4). O cristão possui fisticados. No tempo do apóstolo João, os
tanto uma velha natureza (a carne) quanto gregos e os romanos viviam em função da
uma nova natureza (o Espírito) em sua vida: diversão e das atividades que estimulavam
duas naturezas que travam batalhas monu­ os olhos. O s tempos não mudaram muito!
mentais (G l 5:17-23)! Pensando na televisão, talvez a oração de
Deus deu ao ser humano certos desejos todo cristão deva ser: "D esvia os meus olhos,
inerentem ente bons. A fome, a sede, o can­ para que não vejam a vaidade" (SI 119:37).
saço e o sexo não são, por si mesmos, dese­ Um soldado cham ado A cã (Jo 7) provo­
jo s perversos. Não há nada de errado em cou a derrota do exército de Josué por cau­
com er, beber, dorm ir e gerar filhos. M as sa da concupiscência dos olhos. Deus havia
quando a n atu reza carn al co ntro la esses advertido Israel a não tomar qualquer espó­
desejos, eles se tornam "concupiscências" lio da cidade condenada de Jericó, mas A cã
pecam inosas. N ão há nada de mau na fome, desobedeceu; e explicou : "Q u and o vi en­
mas a gula é pecado. Não há nada de mau tre os despojos uma boa capa babilônica, e
634 1 J O Ã O 2:12-1 7

duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro o desejo de fazer a vontade do Pai. A Bíblia
do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e torna-se enfadonha, e a oração passa a ser
tomei-os" (Js 7:21). A concupiscência dos uma tarefa difícil. Até mesmo a comunhão
olhos o levou a pecar, e seu pecado causou cristã parece vazia e decepcionante. O pro-
a derrota do exército. blema não está nos outros, mas sim no cora-
Assim como os outros sentidos, os olhos ção mundano desse cristão.
são um portal para a mente. A concupiscên- É importante observar que nenhum cris-
cia dos olhos pode incluir atividades intelec- tão torna-se mundano de repente. O mun-
tuais contrárias à Palavra de Deus. Existe uma danismo infiltra-se aos poucos na vida do
pressão para que os cristãos p en sem da cristão; é um processo gradativo. Primei-
maneira que o mundo pensa. Deus adverte ro desenvolve-se uma amizade com o mun-
contra o "conselho dos ímpios" (SI 1 : 1). Isso do (Tg 4:4). Por natureza, o mundo e o cristão
não significa que o cristão deva ignorar os são inimigos ("Irmãos, não vos maravilheis
estudos e a erudição secular, mas sim que se o mundo vos odeia", 1 Jo 3:13). O cris-
deve ter o cuidado de não deixar que o tão amigo do mundo é inimigo de Deus.
intelectualismo coloque Deus de escanteio. Em seguida, o cristão é contam inado
O terceiro artifício é "a soberba da vida". p elo m undo (Tg 1:27). O mundo deixa suas
A glória de Deus é rica e plena; a glória do marcas imundas em uma ou duas áreas de
homem é vulgar e vazia. Na verdade, o termo sua vida. Isso significa que, aos poucos, o
grego traduzido por "soberba" era usado pa- cristão aceita e adota os comportamentos
ra descrever alguém arrogante que tentava do mundo.
impressionar os outros com sua importância. Quando isso acontece, o mundo deixa
Desde tempos remotos, os indivíduos ten- de odiar o cristão e começa a amá-lo! Por-
tam sobressair-se mostrando quanto gastam tanto, João adverte: "Não ameis o mundo"
e quanto conseguem conquistar. A soberba - mas, muitas vezes, a amizade com o mun-
da vida motiva grande parte do que pessoas do transforma-se em amor pelo mundo. Em
desse tipo fazem. decorrência disso, o cristão torna-se confor-
Por que tanta gente compra casas, car- m ado com o m undo (Rm 12:2), e é difícil
ros, eletrodomésticos e roupas que, na reali- fazer distinção entre um e outro.
dade, estão muito além de suas posses ? Por No meio dos cristãos, o mundanismo
que sucumbe a propagandas do tipo "viaje aflora de várias maneiras sutis e irreconhe-
agora e pague depois" e se mete em dívi- cíveis. Por vezes, se mostra na tendência de
das impossíveis de pagar só para tirar férias idolatrar grandes atletas, artistas de televisão
que não cabem em seu orçamento? Em gran- ou líderes políticos que se dizem cristãos -
de parte, para impressionar os outros - por como se esses indivíduos fossem capazes
causa da "soberba da vida". É possível que de obter algum favor especial do Deus Todo-
queiram mostrar a outros quanto são ricos Poderoso. Ou, então, ao paparicar as pes-
ou bem-sucedidos. soas "influentes" da igreja local, como se a
A maioria não vai tão longe, mas é im- obra de Deus não sobrevivesse sem a boa
pressionante quanta coisa tola as pessoas vontade ou o apoio financeiro dessas pes-
fazem só para causar boa impressão. Che- soas. Muitas formas de mundanismo não
gam a sacrificar a honestidade e a integri- envolvem a leitura de livros errados nem
dade, a fim de obter fama e de se sentirem qualquer tipo de diversão carnal.
importantes. Infelizmente, conformar-se com o mundo
Sem dúvida, o mundo seduz o cristão por pode levar cristãos a ser "condenados com
meio das concupiscências da carne, das o mundo" (1 Co 11:32). Se o cristão confes-
concupiscências dos olhos e da soberba da sa e julga o pecado, Deus o perdoa; mas se
vida. E o cristão não demora a perceber quan- não o confessa, Deus precisa discipliná-lo
do o mundo assume o controle nessas áreas. com amor. Quando um cristão é "condena-
Perde o prazer que sentia no amor do Pai e do com o mundo", não perde a filiação, mas
1 J O Ã O 2:12-1 7 635

perde o testemunho e a utilidade espiritual. os pais, os jovens e os filhinhos (1 Jo 2 :1 2 ‫־‬


Existem, ainda, casos extremos de cristão que 14). O s "pais" são, evidentem ente, cristãos
perderam até a vida (ver 1 Co 11:29, 30). m aduros que têm co n h ecim en to pessoal
O s passos desse declínio e suas conse­ íntim o de D eus. U m a ve z que conhecem
qüências são ilustrados na vida de Ló (G n Deus, também conhecem os perigos do mun­
13:5-13; 14:8-14; 19). Primeiro, Ló olhou na do. Nenhum cristão que já experim entou as
direção de Sodom a. Então, armou sua ten­ alegrias e m aravilhas da co m u n h ão com
da voltada para Sodoma, nas planícies fér­ Deus e do serviço para Deus deseja viver
teis do rio Jordão. Em seguida, se mudou prazeres substitutos que o mundo oferece.
para Sodom a. Q uando a cidade foi captura­ O s "jovens" são os conquistadores: ven­
da pelo inimigo, Ló também foi levado cati­ ceram o maligno, Satanás, o príncipe do sis­
vo. Ele cria em Deus (2 Pe 2:6-8), mas teve tema deste mundo. D e que maneira fizeram
de sofrer com os pecadores incrédulos da­ isso? Por meio da Palavra de Deus! "Jovens,
quela cidade perversa. E quando Deus des­ eu vos escrevi, porque sois fortes, e a pa­
truiu Sodom a, tudo aquilo a que Ló havia lavra de D eu s p erm anece em vó s, e ten­
dedicado sua vida virou fum aça! Ló foi sal­ des vencido o Maligno" (1 Jo 2:14). Assim,
vo com o que pelo fogo e perdeu a recom­ os "jovens" ainda não alcançaram a plena
pensa eterna (1 C o 3:12-15). maturidade, mas estão no processo de ama­
Não é de se admirar que João nos advir­ durecer, pois usam a Palavra de Deus de ma­
ta a não am ar o mundo! neira eficaz. A Palavra é a única arma capaz
de derrotar Satanás (Ef 6:1 7).
3 . P o r c a u s a d o q u e o c r is t ã o é O s "filhinhos" aos quais João se dirige
(1 Jo 2:12-14) em 1 João 2 :1 4 não são os mesmos aos quais
Estamos diante de uma questão prática e im­ ele se dirige em 1 João 2 :1 2 . No original
portante sobre a natureza do cristão e a for­ grego, são empregados dois termos diferen­
ma de se guardar do mundanismo. tes. A palavra em 1 João 2 :1 4 dá a idéia de
A resposta encontra-se na forma inco- "indivíduos imaturos" ou crianças pequenas
mum de discurso empregada em 1 João 2 :1 2 ­ ainda sob a autoridade de pais e de tutores.
14: "Filhinhos [...] Pais [...] Jovens". São cristãos novos na fé que ainda não cres­
A que o apóstolo se refere? Em primeiro ceram em Cristo. Com o crianças no sentido
lugar, "Filhinhos" (1 Jo 2 :1 2) significa todos literal, essas crianças na fé conhecem seu
os cristãos. Literalm ente, esse term o quer pai, mas ainda precisam crescer.
d izer "n ascidos". Todos os cristãos nasce­ Eis, portanto, a família cristã! Todos são
ram na família de Deus por meio da fé em "nascidos", mas alguns já saíram da infância
Jesus Cristo, e seus pecados foram perdoa­ e entraram na idade adulta espiritual. O mun­
dos. O próprio fato de alguém fazer parte do não atrai o cristão que está am adurecendo
da família de Deus e de compartilhar sua na­ e cresce n d o . Esse cristão está interessado
tureza deve desencorajá-lo a tornar-se ami­ demais no amor do Pai e em fazer a vontade
go do mundo. Fazer am izade com o mundo do Pai. As atrações do mundo não o sedu­
é traição! "N ão com preendeis que a am iza­ zem . Percebe que as coisas do mundo não
de do mundo é inimiga de Deus? Aquele, passam de brinquedos e pode dizer como
pois, que quiser ser amigo do mundo cons- Paulo: "quando cheguei a ser homem, desisti
titui‫־‬se inimigo de Deus" (ver Tg 4:4). das coisas próprias de menino" (1 Co 13:11).
M as há outro fator a ser considerado: O cristão mantém-se afastado do mun­
com eçam os com o "filhinhos" - nascidos - , do por causa do que o mundo é (um siste­
mas não devem os perm anecer nesse estágio! ma satânico que odeia a Cristo e que se
O cristão só vence o mundo à medida que opõe a ele), por causa do que o mundo faz
cresce espiritualm ente. conosco (nos seduz a viver de substitutos
João fala de três tipos de cristãos que po­ pecam inosos) e por causa do que o cristão
dem ser encontrados em uma congregação: é (um filho de Deus).
636 1 J O Ã O 2:12-1 7

4 . P o r c a u s a d o d e s t in o d o m u n d o certamente será eliminada e substituída por


{1 Jo 2:17) uma nova ordem na vinda de Cristo, que
"O mundo passa" (1 Jo 2:1 7). Hoje em dia, pode ocorrer a qualquer momento".
não falta quem conteste essa declaração - De modo lento porém inevitável, talvez
pessoas convictas de que o mundo (o sis- antes do que os cristãos imaginem, o mun-
tema em que vivemos) é tão permanente do está passando, mas o que faz a vontade
quanto qualquer coisa pode ser. Mas o mun- de Deus permanece para sempre.
do não é permanente. A única certeza a isso não significa que todos os servos
respeito do sistema deste mundo é que ele de Deus serão lembrados pelas gerações
não vai durar para sempre. Um dia, este sis- futuras. Das inúmeras pessoas famosas que
tema desaparecerá, e as atrações agradáveis viveram aqui na Terra, menos de duas mil
desvanecerão: tudo está passando. O que foram lembradas por mais de um século.
pode durar? Isso também não significa que a memó-
Somente o que faz parte da vontade de ria dos servos de Deus será perpetuada por
Deus! seus escritos ou pela vida de pessoas que
Os cristãos espirituais mantêm uma liga- influenciaram. Esse tipo de "imortalidade"
ção distanciada com este mundo, pois vi- pode ser verdadeira, mas também se apli-
vem em função de algo muito melhor. São ca a incrédulos como Karl Marx, Voltaire e
"estrangeiros e peregrinos sobre a terra" (Hb Adolf Hitler.
11:13). "Na verdade, não temos aqui cida- Esta passagem (1 Jo 2:1 7) diz que os cris-
de permanente, mas buscamos a que há de tãos que se dedicarem a fazer a vontade
vir" (Hb 13:14). Nos tempos bíblicos, mui- de Deus - a obedecer a Deus - "permane-
tos cristãos viviam em tendas, porque Deus cerão eternamente". Muito depois que o
não desejava que se assentassem e se sen- sistema deste mundo, com sua cultura jactan-
tissem em casa neste mundo. ciosa e suas filosofias arrogantes, seu intelec-
João contrasta dois estilos de vida di- tualismo egocêntrico e seu materialismo
ferentes: uma vida em função da eternida- ímpio, tiver sido esquecido e muito tempo de-
de e outra em função do tempo. O indivíduo pois que este planeta tiver sido substituído
mundano vive em função dos prazeres da por novos céus e nova terra, os servos de
carne, mas o cristão consagrado vive em Deus permanecerão, compartilhando a gló-
função das alegrias do Espírito. O cristão mun- ria de Deus por toda a eternidade.
dano vive de acordo com o que pode ver - Essa perspectiva não se limita a Moody,
a concupiscência dos olhos -, enquanto o Spurgeon, Lutero, Wesley e outros como
cristão espiritual vive em função das reali- eles, mas está aberta a todo cristão humilde.
dades invisíveis de Deus (2 Co 4:8-18). A Se cremos em Cristo, está aberta para nós.
pessoa de mentalidade mundana vive em O sistema do mundo atual não é dura-
função da soberba da vida, da vangloria que douro. "Porque a aparência deste mundo
atrai os homens, mas o cristão que faz a passa" (1 Co 7:31). Tudo a nosso redor está
vontade de Deus vive em função da aprova- mudando, mas as coisas eternas permane-
ção de Deus. E "permanece eternamente". cem sempre as mesmas. O cristão que ama
Toda grande nação da história entrou em este mundo nunca terá paz nem seguran-
decadência e acabou sendo conquistada por ça, pois atrelou a vida a algo sempre mutá-
outra. O que nos leva a crer que nosso país vel. Nas palavras do missionário e mártir Jim
será uma exceção? Pelo menos dezenove Elliot: "Não é insensato aquele que dá o que
civilizações do mundo desapareceram. Não não pode guardar a fim de obter o que não
há motivo algum para crer que nossa civili- pode perder".
zação durará para sempre. "A mudança e a O Novo Testamento trata, com freqüên-
deterioração nos cercam por toda parte", cia, da "vontade de Deus". Um dos "benefí-
escreveu Henry F. Lyte (1793-1847), "e se cios secundários" da salvação é o privilégio
nossa civilização não for corroída por elas, de conhecer a vontade de Deus (At 22:14).
1 J O Ã O 2:12-1 7 637

E Deus deseja que tenhamos "pleno conhe­ de entrega: "apresenteis o vosso corpo por
cimento da sua vontade" (C l 1:9). A vonta­ sacrifício vivo [.‫ ] ״‬E não vos conform eis com
de de Deus não é algo a consultar de vez este século [‫ ״‬.] para que experim enteis qual
em quando, com o uma enciclopédia, mas seja a boa, agradável e perfeita vontade de
sim algo que controla inteiramente a vida. Deus" (Rm 12:1, 2). O cristão que ama o
Para o cristão dedicado, não se trata de sa­ mundo jam ais descobrirá a vontade de Deus
ber apenas se determinada ação é "certa ou dessa maneira. O Pai compartilha seus segre­
errada", "boa ou má". A pergunta-chave é: dos com os que lhe obedecem . "Se alguém
"Isto é a vontade de Deus para mim?" quiser fazer a vontade dele, co nh ecerá a
Deus deseja não apenas que sua vonta­ respeito da doutrina" (Jo 7:1 7). A vontade
de seja conhecida, mas também com preen­ de Deus não é um "bufê espiritual" do qual
dida (Ef 5:17). "Manifestou os seus caminhos o cristão serve apenas o que lhe interessa e
a M oisés e os seus feitos aos filhos de Israel" deixa o resto! A vontade de Deus deve ser
(SI 103:7). Israel sabia o que Deus fazia, mas aceita em sua totalidade, algo que requer a
M oisés sabia p o r quê! É importante entender sujeição da vida toda a Deus.
a vontade de Deus para a vida e vislumbrar Deus revela sua vontade por m eio de
o propósito que ele está cumprindo. sua Palavra. "Lâm pada para os meus pés é a
Um a vez que se descobre qual é a von­ tua palavra e, luz para os meus cam inhos"
tade de Deus, deve-se fazê-la d e coração (Ef (SI 119:105). O cristão mundano não anseia
6 :6 ). Ninguém agrada ao Senhor apenas fa- pela Palavra. Q uando lê a Bíblia, aproveita
[ando de sua vontade, mas sim fazendo o pouco ou nada. M as o cristão espiritual, que
que ele ordena (M t 7:21). E quanto mais al­ separa um tempo cada dia para ler e medi­
guém obedece a Deus, mais é capazes de tar sobre a Palavra, encontra em suas pági­
"[experim entar] [...] a boa, agradável e per­ nas a revelação da vontade de D eus e a
feita vontade de Deus" (Rm 12:2). Descobrir aplica às situações do cotidiano.
e fazer a vontade de Deus é com o aprender Também se pode descobrir a vontade de
a nadar: para que isso aconteça, é preciso Deus pelas circunstâncias. Deus opera de
entrar na água. Q uanto mais uma pessoa maneiras maravilhosas abrindo e fechando
obedece a Deus, mais perceptiva se torna portas. Deve-se confrontar as situações com
para a vontade dele. a Bíblia, não o contrário!
O objetivo de Deus é nos "[conservar] per­ Por fim, Deus conduz o cristão a fazer
feitos e plenam ente convictos em toda a sua vontade por meio da oração e da ope­
vontade de Deus" (Cl 4:12). Para isso, é pre­ ração do Espírito no coração. Ao orar sobre
ciso ser maduros na vontade de Deus. uma decisão, o Espírito fala ao coração do
A criança pequena está sempre pergun­ cristão. Um a "voz interior" pode concordar
tando aos pais o que é certo ou errado e o com as circunstâncias predominantes. Não
que querem ou não que ela faça. Mas ao se deve simplesmente segui-la, mas sempre
conviver com os pais e ser treinada e disci­ confrontá-la com a Palavra, pois a carne (ou
plinada por eles, descobre, aos poucos, o Satanás) pode usar as circunstâncias - ou os
que desejam que ela faça. Na verdade, uma "sentimentos‫ ״‬- para desviar o cristão com ­
criança disciplinada é capaz de "ler os pen- pletamente do caminho.
sarnentos do pai" só de observar seus olhos Em resum o, o cristão está no m undo fi­
e sua expressão facial! Um cristão imaturo sicam ente (Jo 1 7 :1 1), mas não faz parte do
está sempre perguntado aos amigos o que m undo espiritualm ente (Jo 1 7 :1 4 ). Cristo
eles acreditam que é a vontade de Deus para nos enviou ao m undo para dar testem u­
ele. O cristão maduro permanece inteiramen­ nho dele (jo 1 7:18). Com o um escafandris-
te dentro da vontade de Deus. Ele sabe o ta, devem os viver em um meio que não é o
que Deus quer que ele faça. nosso, e, se não tiverm os cu id ad o , esse
De que maneira se descobre a vontade meio pode nos sufocar. O cristão não tem
de Deus? O processo com eça com um ato como evitar estar dentro do mundo, mas
638 1 J O Â O 2:12-1 7

quando o mundo está dentro do cristão, as em função da vontade de Deus e perma-


coisas se complicam! necer para sempre. Jesus ilustra essa esco-
O mundo entra no cristão pelo coração: lha falando de dois homens. Um construiu
"Não ameis o mundo!" Qualquer coisa que sobre a areia e outro sobre a rocha (Mt 7:24-
prive o cristão do prazer no amor do Pai ou 27), Paulo refere-se à mesma escolha falan-
de seu desejo de fazer a vontade do Pai é do de dois tipos de materiais de construção:
mundano e deve ser evitado. Assim, todo os temporários e os permanentes (1 Co
cristão precisa avaliar tais coisas por si mes- 3:11-15).
mo, usando como base a Palavra de Deus. O amor ao mundo é o amor que Deus
O cristão deve decidir se vai viver ape- odeia. É o amor do qual o cristão deve guar-
nas em função do presente ou se vai viver dar-se a qualquer custo!
5 conflito: entre a verdade e a mentira. Não
basta ao cristão andar na luz e andar em
amor. O que está em jogo é a verdade... ou
suas conseqüências!
A V er d a d e o u as Antes de João explicar as conseqüências
trágicas de afastar-se da verdade, o apóstolo
C o n s e q ü ê n c ia s enfatiza a seriedade da questão usando duas
1 João 2:18-29 expressões: "a última hora" e "anticristos".
Am bas deixam claro que o cristão vive um
m om ento de crise e deve guardar-se das
mentiras do inimigo.
"A última hora‫ ״‬é uma expressão que lem­
é i I S J ão im porta em que você crê, des- bra que uma nova era iniciou no mundo. "Por­
I N de que você seja sincero!‫״‬ que as trevas se vão dissipando, e a verdadeira
Essa declaração expressa a filosofia pes- luz já brilha" (1 Jo 2:8). Desde a morte e a res­
soai de muita gente hoje, mas é de se duvi­ surreição de Jesus Cristo, Deus faz "algo novo‫״‬
dar que os que dizem isso já pararam para aqui no mundo. Toda a história do Antigo
refletir sobre seu significado. A "sincerida­ Testamento preparou o caminho para a obra
de" é o ingrediente mágico que torna algo de Cristo na cruz. Toda a história desde esse
v erd a d eiro l Se é assim , deve ser possível tempo é apenas uma preparação para "o fim",
aplicar o mesmo princípio a todas as áreas quando Jesus voltará e estabelecerá seu rei­
da vida, não apenas à religião. no. Não há mais nada que Deus precise fa­
U m a enfermeira em um hospital dá um zer para oferecer a salvação aos pecadores.
medicam ento a um paciente, e ele tem uma Pode-se perguntar: "M as se era a 'últim a
forte reação. A enfermeira é sincera, mas deu hora‫ ׳‬no tempo de João, por que Jesus ain­
o m edicam ento errado e, por pouco, o pa­ da não voltou?"
ciente não morre. Trata-se de uma excelente pergunta, e
Um hom em ouve um barulho durante as Escrituras dão a resposta. Ao contrário de
a noite e conclui que há um ladrão dentro suas criaturas, Deus não é limitado pelo tem­
da casa. Ele pega sua arma e atira no "Ia- po. Deus trabalha dentro do tempo humano,
drão", que, na verdade, era sua filha! Sem mas está acima dele (cf. 2 Pe 3:8).
sono, a m enina havia se levantado para fa­ "A última hora" com eçou na época de
ze r um lanche e acabou tornando-se vítima João e, desde então, vem crescen do em in­
da "sinceridade" do pai. tensidade. No tempo do apóstolo, já havia
É preciso muito mais do que "sincerida­ falsos mestres ímpios, e, nos séculos subse­
de" para que algo seja verdadeiro. A fé em qüentes, esses impostores cresceram tanto
uma mentira sempre traz conseqüências sé­ em número quanto em influência. "A última
rias; a fé na verdade nunca é desperdiçada. hora" descreve um tipo de tempo, não sua
A quilo em que uma pessoa crê faz toda dife­ duração. Esse tempo é descrito em ‫ ו‬Tim ó­
rença! Se alguém deseja ir de carro de Chi­ teo 4. Assim com o João, Paulo tam bém ob­
cago para Nova York, não há sinceridade que servou as características de seu tempo, as
a faça chegar a seu destino, caso ela decida quais se manifestam hoje de maneira ainda
pegar a estrada para Los Angeles. A pessoa mais pronunciada.
verdadeira constrói a vida sobre a verdade, Em outras palavras, os cristão sem pre vi­
não sobre superstições ou mentiras. É impos­ veram na "últim a hora" ou em tempos de
sível viver uma vida real crendo em mentiras. crise. Portanto, é essencial saber em que crer
Deus advertiu a igreja ("Filhinhos") so­ e por que crer.
bre o conflito entre a luz e as trevas (1 Jo O segundo termo - "anticristos" - é usa­
1:1 - 2 :6 ) e entre o amor e o ódio (1 Jo 2 :7 ­ do na Bíblia apenas por João (1 Jo 2 :1 8 , 22;
17). Agora, ele adverte sobre um terceiro 4 :3 ; 2 Jo 7). D escreve três coisas: (1) um
640 1 J O Ã O 2:18-29

espírito no mundo que se opõe ou nega a dos nossos, teriam perm anecido conosco"
Cristo; (2) os falsos mestres que personifi- (1 Jo 2:1 9).
cam esse espírito; e (3) uma pessoa que irá O s pronomes "nosso" e "nossos" refe-
liderar a rebelião mundial final contra Cristo. rem-se, evidentemente, à congregação dos
O "espírito do anticristo" (1 Jo 4:3) está cristãos, a igreja. Nem todos os que fazem
presente no mundo desde que Satanás decla- parte de uma assembléia de cristão são, ne-
rou guerra contra Deus (cf. G n 3). O "espiri- cessariamente, membros da família de Deus!
to do anticristo" está por trás de toda falsa O Novo Testamento apresenta a igreja
doutrina e de todo substituto "religioso" para de duas formas: como uma família mundial
as realidades que o cristão possui em Cristo. e como uma série de unidades locais ou con-
Na verdade, o prefixo anti tem dois signifi- gregações de cristãos. A igreja tem um aspec-
cados na língua grega. Q u er dizer "contra" to "universal" e outro "local". O conjunto
Cristo ou "no lugar de" Cristo. Satanás luta de cristãos ao redor do mundo é compara-
freneticamente contra Cristo e sua verdade do a um corpo (1 C o 12) e a um edifício (Ef
eterna, colocando no lugar de Cristo imita- 2:19-22). Q uando um pecador crê em Jesus
ções de realidades que só podem ser en- Cristo com o Salvador, recebe a vida eterna
contradas no Senhor Jesus. e se torna, de imediato, um membro da fa-
O "espírito do anticristo" está no mun- mília de Deus e parte do corpo espiritual de
do hoje e, por fim, encabeçará a manifesta- Deus. D eve, então, se identificar com um
ção de um "super-homem satânico" que a grupo local de cristãos (uma igreja) e come-
Bíblia chama de "anticristo". Em 2 Tessaloni- çar a servir a Cristo (At 2 :41, 42). Mas a ques-
censes 2 : 1-12 , ele é chamado de "o homem tão, aqui, é que uma pessoa pode participar
da iniqüidade". da igreja local sem ser parte do verdadeiro
Essa passagem explica que existem duas corpo espiritual de Cristo.
forças em ação no mundo atualmente: a ver- Um dos sinais da vida cristã autêntica é
dade operando por meio da Igreja e do Es- um desejo de estar com o povo de Deus.
pírito Santo e o mal operando por meio da "N ós sabemos que já passamos da morte
energia de Satanás. O Espírito Santo nos cris- para a vida, porque amamos os irmãos" (1 Jo
tãos está refreando a iniqüidade, mas quando 3 :1 4 ). Q u an d o as pessoas participam da
a Igreja for levada embora no arrebatamento mesma natureza divina (2 Pe 1:4) e quando
(1 Ts 4:13-18), Satanás conseguirá completar 0 mesmo Espírito Santo habita dentro delas
sua vitória temporária e dominar o mundo. (João (Rm 8:14-16), sentem o desejo de ter comu-
fala mais sobre esse governante mundial e seu nhão e de com partilhar suas experiências
sistema perverso no Livro de Apocalipse, es- umas com as outras. Com o vimos anterior-
pecialmente em 13:1-18; 16:13 e 19:20.) mente, com unhão significa "ter em com um ".
Aquilo em que se crê faz alguma dife- Q uando as pessoas têm realidades espirituais
rença? Faz toda diferença do mundo! Estes em comum desejam ficar juntas.
são tempos de crise - a última hora -, e o Mas os "falsos cristãos" mencionados em
espírito do anticristo opera no mundo! É de 1 João 2 não perm an eceram na congre-
importância vital conhecer e crer na verda- gação. Foram embora. Isso não significa que
de e ser capazes de detectar as mentiras com "ficar na igreja" é o que mantém a pessoa
as quais nos deparamos. salva; antes, perm anecer em com unhão é
A primeira epístola de João apresenta três uma indicação de que um indivíduo é um
características inequívocas do falso mestre cristão autêntico. Na parábola do semeador
controlado pelo "espírito do anticristo". (M t 13:1-9, 18-23), Jesus deixa claro que os
que produzem frutos são, verdadeiramen-
1. E l e s e a f a s t a d a co m un h ão te, nascidos de novo. É possível estar perto
(t Jo 2:18, 19) de uma experiência de salvação, até mes-
"Eles saíram de nosso meio; entretanto, não mo ter características que poderiam ser con-
eram dos nossos; porque, se tivessem sido sideradas "cristãs", mas, ainda assim, não ser
1 J O Ã O 2:18-29 641

um filho de Deus. As pessoas às quais 1 João "E, se alguém não tem o Espírito de Cris­
2 refere-se deixaram a congregação porque to, esse tal não é dele" (Rm 8:9).
não possuíam a vida real e porque o am or O s falsos cristãos do tempo de João cos­
de Cristo não estava em seu coração. tumavam usar duas palavras para descrever
Infelizmente, existem muitas divisões no sua experiência: "conhecim ento" e "unção".
meio do povo de Deus hoje, mas qualquer Afirmavam ter uma unção especial de Deus
que seja a denom inação à qual pertencem, que lhes dava um conhecim ento singular.
todos os cristãos têm certas coisas em co­ Eram "ilum inados" e, portanto, viviam em
mum. Crêem que a Bíblia é a Palavra de Deus um nível muito mais elevado do que o resto
e que Jesus é o Filho de Deus. Confessam das pessoas. M as João ressalta que todos os
que os homens são pecadores e que a úni­ cristãos verdadeiros conhecem a Deus e re­
ca forma de serem salvos é por meio da fé ceberam o Espírito de Deus! E, pelo fato de
em C risto . C rêem que Cristo m orreu em terem crido na verdade, reconhecem uma
nosso lugar na cruz, que ressuscitou dentre mentira quando se deparam com ela.
os mortos e que o Espírito Santo habita nos A grande declaração de fé que separa o
cristãos autênticos. Por fim, crêem também cristão de outros é: Jesus é D eus vindo em
que, um dia, Jesus voltará. O s cristãos podem carne (1 Jo 4:2),
discordar em outras questões, com o, por Nem todos os pregadores e mestres que
exem plo, o governo da igreja ou as formas afirm am ser cristãos possuem uma fé au­
de batismo, mas apresentam um consenso têntica (1 Jo 4:1-6). Só os que confessam
no que diz respeito às doutrinas fundam en­ que Jesus Cristo é Deus vindo em carne é
tais da fé. que pertencem à fé verdadeira. O s que ne­
Ao investigar a história das seitas e de gam a Cristo pertencem ao anticristo. Estão
sistemas religiosos contrários ao cristianismo no mundo e são d o m undo, ao contrário
hoje, vem os que, na maioria dos casos, seus dos verdadeiros cristãos cham ados para fo­
fundadores saíram d e igrejas! Estavam "[em] ra do mundo. Q uando falam, o mundo (os
nosso m eio" e , no entanto, "não eram dos incrédulos) os ouve e crê neles. M as o mun­
nossos", de modo que "se foram" e com eça­ do ím pio não é capaz de com preender o
ram os próprios grupos. verdadeiro cristão. O cristão fala sob a orien­
Por mais "religioso" que seja, qualquer tação do Espírito da Verdade; o falso mestre
grupo que se separa de uma igreja fiel à fala sob a influência do espírito da mentira -
Palavra de D eus por motivos doutrinários o espírito do anticristo.
deve ser considerado suspeito de imediato. Confessar que Jesus Cristo é Deus vin­
M uitas vezes, esses grupos seguem líderes do em carne envolve muito mais do que a
humanos e livros escritos por homens, em simples identificação de Cristo. O s dem ô­
vez de seguirem a Jesus Cristo e a Palavra nios fizeram tal declaração (M c 1:24), mas
de Deus. O Novo Testamento (e.g., 2 Tm 3 nem por isso foram salvos. A verdadeira con­
e 4; 2 Pe 2) deixa claro que é perigoso afas­ fissão envolve a fé pessoal em Cristo - em
tar-se da com unhão. sua Pessoa e em sua obra. Confissão não é
apenas uma "declaração teológica" que re­
2. E le n eg a a fé (1 Jo 2:20-25; 4:1-6) citam os; antes, é um testem unho pessoal,
A pergunta-chave para o cristão é: quem é vindo do coração, relatando o que Cristo
Jesus Cristo? Ele é apenas um "Exem plo", um fez por nós. Se crem os em Cristo e confessa­
"hom em bom ‫״‬, um "M estre m aravilhoso" ou mos nossa fé, temos a vida eterna (1 Jo 2:25).
é Deus vindo em carne? O s que não podem fazer essa confissão com
O s leitores de João conheciam a verda­ honestidade não têm a vid a eterna, uma
de a respeito de Cristo, pois, de outro modo, questão da mais absoluta seriedade.
não teriam sido salvos. "E vós possuis unção G eorge W hitefield, o grande evangelis­
que vem do Santo e todos tendes conheci­ ta inglês, conversava com um homem sobre
mento" (ver 1 Jo 2 :2 0 , 27). a sua alma e lhe perguntou:
642 1 J O Ã O 2:1 8-29

- Em que o senhor crê? a terceira característica do indivíduo que se


- Creio naquilo que a minha igreja crê - afastou da verdade de Deus.
respondeu o homem com todo respeito.
- E em quê a sua igreja crê? 3 . E le t e n t a e n g a n a r o s fié is
- Na mesma coisa em que eu creio. (1 Jo 2:26-29)
- E em quê você e sua igreja crêem? - É interessante observar que os grupos anti-
insistiu o pregador. cristãos raramente tentam converter pecado-
- Na mesma coisa! - respondeu o homem. res perdidos. Em vez disso; passam grande
Uma pessoa não é salva ao aceitar o credo parte do tempo procurando converter cris-
de uma igreja, mas sim ao crer em Jesus Cris- tãos professos {de preferência, membros de
to e dar testemunho dessa fé (Rm 10:9, 10). igrejas) a suas doutrinas. Seu objetivo é "en-
Os falsos mestres costumam dizer: "Ado- ganar" os fiéis.
ramos o Pai. Cremos que Deus é o Pai, mas O termo "enganar" dá a idéia de "ser
não concordamos com vocês quanto a Je- levado pelo caminho errado". Fomos adver-
sus Cristo". tidos de que isso aconteceria: "Ora, o Espírito
Mas negar o Filho é o mesmo que ne- afirma expressamente que, nos últimos tem-
gar o Pai. Não se pode separar o Pai do Fi- pos, alguns apostatarão da fé, por obedece-
lho, uma vez que ambos são um só Deus. rem a espíritos enganadores e a ensinos de
Jesus disse: "Eu e o Pai somos um" (Jo 10:30). demônios" (ver 1 Tm 4:1).
Também deixou claro que o verdadeiro cris- Jesus chamou Satanás de "pai da menti-
tão honra tanto o Pai quanto o Filho: "A fim ra" (Jo 8:44). O objetivo do diabo é fazer os
de que todos honrem o Filho do modo por cristãos se desviarem ensinando-lhes doutri-
que honram o Pai. Quem não honra o Filho nas falsas (2 Co 11:1-4, 13-15). Não se deve
não honra o Pai que o enviou" (Jo 5:23). Se aceitar tudo o que uma pessoa diz simples-
dissermos que "adoramos um só Deus", mas mente porque ela afirma crer nas Escrituras,
deixarmos Jesus Cristo de fora dessa adora- pois é possível "distorcer" a Bíblia de modo
ção, não estaremos adorando como cristãos a fazê-ia significar praticamente qualquer
verdadeiros. coisa (2 Co 4:1, 2 ).
É importante manter-se fiel à Palavra de Satanás não é um criador, mas apenas
Deus. A Palavra (ou mensagem) que ouvi- um falsificador que imita a obra de Deus. Tem,
mos "desde o princípio" é tudo de que pre- por exemplo, falsos "ministros" (2 Co 11:13-
cisamos para nos manter fiéis à fé. A vida 15) que pregam um falso evangelho (Gl 1: 6‫־‬
cristã prossegue da mesma forma que come- 12), o qual produz falsos cristãos (Jo 8:43,
çou: por meio da fé na mensagem da Bíblia. 44) que dependem de uma falsa justiça (Rm
O líder religioso que aparece com "algo 10:1 -10). Na parábola do joio e do trigo (Mt
novo", algo que contradiz o que os cristãos 13:24-30, 36-43), Jesus e Satanás são re-
ouviram "desde o princípio", não é digno tratados como semeadores. Jesus lança as
de qualquer confiança. "Provai os espíritos sementes verdadeiras, os filhos de Deus, en-
se procedem de Deus" (1 Jo 4:1). Devemos quanto Satanás semeia os "filhos do malig-
deixar que a Palavra permaneça em nós (1 Jo no". Enquanto vão crescendo, os dois tipos
2:24) e, ao mesmo tempo, permanecer em de planta são tão parecidos que os servos
Cristo (1 Jo 2:28); de outro modo, o espírito só conseguem fazer a distinção entre uma
do anticristo nos fará desviar. Por mais pro- e outra quando aparecem os frutos! O prin-
messas que os falsos mestres façam, temos cipal estratagema de Satanás em nosso tem-
a promessa garantida de vida eterna (1 Jo po é semear impostores em todo lugar onde
2:25). Não é preciso mais nada! Cristo planta cristãos verdadeiros. Assim, é
Se os falsos mestres se contentassem em importante ter a capacidade de distinguir
participar das próprias reuniões já seria ruim, entre o autêntico e o falso e separar as ver-
mas, para piorar, insistem em tentar conver- dadeiras doutrinas de Cristo das doutrinas
ter outros a suas doutrinas anticristãs. Essa é falsas do anticristo.
1 J O Ã O 2:18-29 643

D e que maneira o cristão faz isso? D e­ - O que vo cê acho u do pregador? -


pendendo da instrução do Espírito Santo. perguntou o missionário.
Todo cristão recebeu a unção do Espírito - Enquanto ele falava, algo dizia o tem­
(1 Jo 2 :2 0 ), e é o Espírito que lhe ensina a po todo em meu coração que ele era um
verdade (Jo 14:1 7; 15:26). O s falsos mestres m entiroso!
não são guiados pelo Espírito da Verdade, mas Esse "algo" no co ração, na verdade, era
sim pelo espírito da mentira (1 Jo 4 :3 , 6 ). "Alguém ": o Espírito Santo de Deus! O Es­
A palavra ungir lembra a prática encon­ pírito co nd uz à verdade e ajuda a reconhe­
trada no Antigo Testam ento de derram ar cer a mentira. Essa unção de Deus não é
óleo sobre a cabeça da pessoa separada para "m entira", "porque o Espírito é a verdade"
um se rv iço esp e cial. Costum ava-se ungir (1 jo 5:6).
sacerdotes (Êx 2 8 :4 1 ), reis (1 Sm 15:1) e pro­ Por que alguns cristãos deixam-se levar
fetas (1 Rs 19:16). O cristão do Novo Testa­ por falsas doutrinas? Porque não estão p e r­
mento não é literalmente ungido com óleo; m an ecen d o no Espírito. O term o "perm a­
antes, recebe a unção do Espírito de Deus - necer" aparece várias vezes nesta seção de
uma unção que o separa para o ministério 1 João, de m odo que convém fazer uma
com o um dos sacerdotes de Deus (1 Pe 2 :5 , recapitulação:
9). Não é preciso orar por uma ‫ ״‬unção do
Espírito"; o cristão já re ce b e u essa unção • O s falsos mestres não permanecem
especial. Ela "perm anece em [nós]" e, por­ na comunhão (1 J0 2:19).
tanto, não precisa ser dada. • A palavra (mensagem) que ouvimos
V im os que os falsos mestres negam o deve permanecer em nós (1 Jo 2:24).
Pai e o Filho e tam bém negam o Espírito. • A unção (o Espírito Santo) permane­
Deus deixou o Espírito para "[ensinar] todas ce em nós, e devemos permanecer
as coisas" (Jo 14:26), mas esses falsos cris­ no Espírito (1 J0 2:27).
tãos desejam ser mestres e fazer outros se • Ao permanecermos na Palavra e no
desviarem . Tentam tomar o lugar d o Espírito Espírito, também permanecemos em
Santo! Cristo (1 Jo 2:28).
Somos advertidos a não deixar que qual­ Também vimos o termo permanecer
quer hom em seja nosso mestre, pois Deus em outras passagens de 1 João:
já nos deu o Espírito para ensinar sua verda­ • Se permanecemos em Cristo, deve­
de. Não se trata de negar a im portância de mos andar como ele andou (1 Jo 2:6).
mestres humanos dentro da igreja (Ef 4:1 1, • Se amarmos o irmão, permanecere­
12 ), mas sim do dever de, sob a orientação mos na luz (1 Jo 2:10).
do Espírito, provar todas os ensinamentos dos • Se a Palavra permanecer em nós, se­
hom ens perscrutando as Escrituras em nos­ remos espiritualmente fortes (1 Jo
so estudo pessoal da Palavra (ver A t 17:11). 2:14).
Um m issionário entre os índios norte- • Se fizermos a vontade de Deus, per­
am ericanos visitava Los Angeles acom panha­ maneceremos para sempre (1 Jo
do de um amigo índio recém -convertido. 2:17).
Enquanto andavam pela rua, passaram por
um hom em pregando com uma Bíblia na "Perm anecer" significa ficar em com unhão;
mão. O missionário sabia que aquele homem e a com unhão é a idéia central dos dois pri­
fazia parte de uma seita, mas o índio só viu meiros capítulos desta carta. Dos capítulos
a Bíblia e parou para ouvir a mensagem. 3 a 5, a ênfase é sobre a filiação, o fato de
"Espero que meu amigo não fique confu­ ser "nascidos de Deus".
so", pensou o missionário, e com eçou a orar. É possível alguém fazer parte de uma fa­
Poucos minutos depois, o índio afastou-se mília e, ainda assim, não ter com unhão com
do grupo reunido ao redor do pregador e o pai nem com os demais familiares. Q uando
foi para junto do missionário. o Pai celestial vê que não temos com unhão
644 1 J O Ã O 2:18-29

com ele, trata de nós e nos faz voltar para o cristãos de hoje passagens que se referiam
lugar onde permaneceremos com ele. Esse somente ao Israel da Antiguidade.
processo é chamado de "disciplina" e cor- A segunda epístola de João apresenta ou-
responde ao treinamento de uma criança tras advertências sobre falsos mestres (2 Jo
(Hb 12:5-11). 7Λ 1). O cristão que se envolve com tais en-
O cristão deve permitir que o Espírito ganadores corre o risco de perder sua re-
de Deus o ensine mediante as Escrituras. compensa completa (2 Jo 8 ); não deve sequer
Uma das principais funções da igreja local lhes dar "boas-vindas". Não se trata de ser
é ensinar a Palavra de Deus (2 Tm 2:2; 4:1- indelicado ou cruel, pois isso não seria cris-
5). O Espírito concede o dom do ensino a tão, mas o cristão não deve deixar tais mes-
certos indivíduos da congregação (Rm 12:6, tres entrarem em seu lar para explicar suas
7) que, então, ensinam os outros membros, idéias. Recebê-los em casa pode acarretar
mas seus ensinamentos devem ser testados duas conseqüências: primeiro, eles planta-
(1 Jo 4:1-3). rão sementes de falsas doutrinas na mente
Existe uma diferença entre o engano deli- dos que os ouvem, e Satanás as regará e
berado e a ignorância espiritual. Quando cuidará delas de modo a produzirem frutos
Apoio pregou na sinagoga em Éfeso, sua men- amargos. Mesmo que isso não aconteça, ao
sagem foi correta, mas incompleta. Priscila e receber falsos mestres no lar, talvez acabem
Áqüila, dois cristãos maduros, reuniram-se tendo acesso a outros lares! O enganador
com ele em particular e o instruíram sobre a dirá a nosso vizinho:
mensagem completa de Cristo (At 18:24-28). - O senhor e a senhora Smith me rece-
O cristão que separa um tempo a cada dia beram em sua casa, e você sabe como eles
para estudar a Bíblia e orar anda no Espírito e são cristãos devotos!
recebe o discernimento de que precisa. João conclui sua mensagem sobre a co-
O Espírito ensina "a respeito de todas munhão e está preste a começar a tratar da
as coisas" (1 Jo 2:27). Os falsos mestres cos- filiação. O apóstolo ressaltou os contrastes
tumam concentrar-se em um assunto só, se- entre luz e trevas (1 Jo 1:1 - 2:6), amor e
jam as profecias, a santificação ou mesmo a ódio (1 Jo 2:7-1 7) e verdade e mentiras (1 Jo
alimentação, deixando de lado a mensagem 2:18-27). Explicou que o cristão real tem uma
total das Escrituras. Jesus diz que é preciso vida de obediência (andando na luz, não nas
viver "de toda palavra que procede da boca trevas), amor e verdade. É impossível viver
de Deus" (Mt 4:4). Paulo fazia questão de em comunhão com Deus quando somos
pregar "todo o desígnio de Deus" (At 20:27). desobedientes, cheios de ódio ou dissimu-
"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil" lados. Qualquer um desses pecados tira da
(2 Tm 3:16). realidade e conduz à falsidade. Passa-se a le-
Ignorar ou deixar de fora qualquer parte var uma vida "artificial" em vez de uma vida
da Bíblia é procurar problemas. Devemos ler "autêntica".
e estudar a Bíblia inteira, sendo capazes de O texto de 1 João 2:28 e 29 forma uma
"[manejar] bem" as Escrituras (2 Tm 2:15); ou "ponte" entre a seção sobre a comunhão e
seja, é preciso manejá-las com precisão e a seção sobre a filiação ("nascidos de Deus");
discernir, na Bíblia, o que Deus diz a pessoas nesses versículos, João usa três palavras que
diferentes em épocas diferentes. Certas pas- devem servir de estímulo à vida em comu-
sagens aplicam-se, especificamente, aos ju- nhão com o Pai, o Filho e o Espírito.
deus, aos gentios ou à igreja (1 Co 10:32). É * Permanecer. Essa palavra já foi vista
preciso cuidado para distinguir entre elas. anteriormente. É preciso reconhecer a im-
Apesar de a Bíblia ter sido escrita para nós, portância de permanecer em Cristo. Na ver-
nem tudo o que se encontra em seu texto dade, esse foi o tema dos dois primeiros
refere-se a nós. No entanto, os falsos mes- capítulos desta epístola. Permanecemos em
tres pegam (fora de contexto) apenas o que Cristo crendo na verdade, obedecendo à
lhes interessa e, com freqüência, aplicam aos verdade e amando os outros cristãos: "os
1 J O Ã O 2:18-29 645

irm ãos". O b e d iê n cia... am or... verdade. O Cristo morreu por ele. Se olha para dentro
cristão que não está em com unhão com de si, vê o Espírito Santo que vive nele e lhe
D eus está em desobediência à Palavra, ou ensina a verdade. Se olha ao redor, vê os
lhe falta amor por outro cristão, ou está acre­ irmãos amados em Cristo; também vê o mun­
ditando em alguma mentira. A solução é con­ do perdido no pecado, precisando encare-
fessar o pecado no mesmo instante e pedir cidam ente de seu testemunho piedoso. E se
perdão a Deus (1 Jo 1:9). olha para frente, vê a volta de Cristo! "E a si
* Manifestar. Pela primeira vez nesta epís­ mesmo se purifica todo o que nele tem esta
tola, João m enciona a volta de Cristo. O li­ esperança, assim com o ele é puro" (1 Jo 3:3).
vro de Apocalipse trata, em detalhes, desses A volta de Cristo é uma grande inspiração
acontecim entos futuros. Esta epístola (1 Jo para uma vida piedosa.
2 :2 8 - 3 :3 ; 4 :1 7) apenas m enciona a volta João escreveu sobre luz e trevas, am or e
de Cristo e o dia vindouro de julgamento. ódio, verdade e mentira e, em 1 João 2 :2 9 ,
Nem todos os estudiosos da Bíblia apre­ resume a questão da vida cristã, como um to­
sentam um consenso quanto aos detalhes do, em uma só expressão: ‫[ ״‬praticar] a justiça".
desses acontecim entos futuros, mas todos A vida real é uma vida que consiste em
os cristãos evangélicos acreditam que Cris­ prática, não apenas em palavras ("Se disser­
to vai voltar para buscar sua Igreja (1 Ts 4 :1 3­ mos [...]"; 1 Jo 1:8 - 2:9) ou em aquiescên­
18). O s cristãos não serão julgados por seus cia mental mediante o reconhecim ento de
pecados, mas sim com base em sua fideíi- que uma doutrina é correta. "N em todo o
dade no serviço ao Senhor (1 C o 3:10-15). que me d iz: Senhor, Senhor! entrará no rei­
O s que tiverem sido fiéis receberão recom ­ no dos céus, mas aquele que faz a vontade
pensas (1 Co 4 :5 ), e os que não foram fiéis de meu Pai, que está nos céus" (M t 7:21,
as perderão. Esse acontecim ento é cham a­ grifo nosso). O s cristãos não só se atêm a
do de "tribunal de D eus" ou "tribunal de crer na verdade, mas tam bém a praticam
Cristo" (Rm 14:10; 2 C o 5:10) e não deve (1 Jo 1:6).
ser confundido com o "grande trono bran­ A pessoa que professa ser cristã mas não
co" de julgamento dos incrédulos no fim dos vive em obediência, em am or e em verda­
tempos (Ap 20:11-15). de, está enganada ou é enganadora. O filho
O fato de Jesus Cristo poder voltar a qual­ tem, em si, a natureza do pai, e a pessoa
quer momento deve ser um incentivo para "nascida de D eus" revela as características
que se viva em com unhão com ele, em obe­ do Pai celestial. "Sede, pois, imitadores de
diência a sua Palavra. Por esse motivo, João Deus, com o filhos amados" (Ef 5 :1). "C o m o
usa uma terceira palavra. filhos da obediência, não vos am oldeis às
• Envergonhados. Alguns cristãos ficarão paixões que tínheis anteriormente na vossa
"envergonhados na sua vinda" (1 Jo 2:28). ignorância; pelo contrário, segundo é santo
Todos os cristãos são "aceitos", mas há uma aqueíe que vos cham ou, tornai-vos santos
diferença entre ser "aceito" e ser "aceitável". também vós mesmos em todo o vosso pro­
A criança desobediente que vai para o quin­ cedim ento" (1 Pe 1:14, 15).
tal e volta toda suja será aceita quando vol­ U m a p ro fesso ra de e sc o la d o m in ica l
tar para dentro de casa, mas não será tratada parecia estar sempre com problemas. O pas­
com o se fosse aceitável. "É por isso que tam­ tor e o superintendente reuniram-se com a
bém nos esforçam os [...] para lhe sermos professora e com os presbíteros, mas nem
agradáveis" (2 C o 5:9). O cristão que não assim houve qualquer progresso. Então, cer­
andou em comunhão com Cristo em obediên­ to dom ingo de m anhã, enquanto a igreja
cia, am or e verdade perderá as recompensas cantava o último hino do culto, a professora
e, por isso, ficará envergonhado. levantou-se e percorreu o corredor central
Não importa para onde o cristão olha, da igreja em direção ao pastor. "Ela deve
sempre encontra motivos para obedecer a estar querendo consagrar a vida ao Senhor",
Deus. Se olha para trás, vê o Calvário onde pensou o pastor.
646 1 J O Ã O 2:18-29

- Desejo confessar Jesus Cristo como "Examinai-vos a vós mesmos se real-


meu Salvador - disse a mulher. - Durante mente estais na fé; provai-vos a vós mes-
todos estes anos, pensei que era salva, mos" (2 Co 13:5). Nossa vida tem as marcas
mas não era. Há sempre alguma coisa fal- da obediência, do amor e da verdade?
tando em minha vida. O s problemas com Nossa vida cristã é real, genuína, au-
a classe são meus problemas, mas agora têntica? Ou é uma imitação?
foram resolvidos. Agora eu sei que sou Ou dizemos a verdade, ou enfrentare-
salva. mos as conseqüências!
"N ascid o s de D eu s" é a idéia central
6 destes capítulos (ver 1 Jo 2 :2 9 ; 3 :9 ; 4 :7 ; 5:1,
4, 18).
Em 1 João 3:1-10, "praticar o pecado" e
Os Im p o sto re s "viver pecando" são expressões que indicam
a prática constante do pecado co m o um
1 Jo ã o 3 : 1 - 1 0 modo de vida, não se referindo, portanto,
ao p ecado o ca sio n a l que o cristão pode
cometer. Por certo, nenhum cristão é impe­
cável (1 Jo 1:8-10), mas Deus espera que o
v e rd a d e iro cristã o não peq ue de m odo
habitual.
C asa da M oeda dos Estados Unidos Todos os grandes homens e mulheres de
A tem um grupo especial de pessoas
cujo trabalho é encontrar falsificadores. Cia-
fé m encionados na Bíblia pecaram em al­
gum momento. Abraão mentiu a respeito da
ro que esses profissionais do governo preci­ esposa (G n 1 2 : 10 -20 ). M oisés perdeu a cal­
sam ser capazes de identificar uma cédula ma e desobedeceu a D eus (N m 20:7-13).
falsa. Pedro negou o Senhor três vezes (M t 2 6 :6 9 ‫־‬
Com o aprendem a fazer isso? Por mais 75). M as, para essas pessoas, o pecado não
estranho que pareça, não são treinados pas­ era uma prática constante. Antes, foi um in­
sando horas exam inando dinheiro falso. Em cidente em sua vida, totalmente contrário a
vez disso, estudam as cédulas originais. Pas­ seus hábitos. Q uando pecaram , reconhece­
sam a conhecer tão bem as notas autênti­ ram sua transgressão e pediram o perdão
cas que podem identificar as falsas só de de Deus.
olhar para elas ou de simplesmente as tocar. O não salvo (m esm o se d izen d o cris­
Essa é a abordagem de 1 João 3, que tão, mas sendo uma "im itação ") leva uma
adverte sobre a existência de cristãos fal­ vida de p e ca d o habitual. O pecado - espe­
sos hoje: os "filhos do diabo" (1 Jo 3 :1 0 ). cialm ente a incredulidade - é algo normal
M as em vez de fazer uma lista de caracte­ em sua vida (Ef 2:1-3). Essa pessoa não tem
rísticas malignas dos filhos do diabo, as Es­ recursos divinos dos quais pode valer-se.
crituras oferecem uma descrição clara dos Se tem uma profissão de fé, não é real. É
filhos d e D eu s. O contraste entre os dois é dessa distinção que trata 1 João 3:1-10: o
evidente. verdadeiro cristão não vive em pecado. Ele
O versículo-chave deste capítulo é 1 João com ete pecados - atos ocasionais de trans­
3 :1 0 : o verdadeiro filho de D eus pratica a gressão ‫ ־‬, mas não pratica o pecado , fa­
justiça e ama os outros cristãos apesar das zendo dele um hábito enraizado.
diferenças. Primeira João 3:1-10 trata do pri­ A diferença é que o verdadeiro cristão
meiro tópico, enquanto 1 João 3:11-24 fala conhece a Deus. O cristão falso pode falar
do segundo. de Deus e participar de "atividades religio­
A prática da justiça e o am or pelos ir­ sas", mas não co n h ece, verdadeiram ente, a
m ãos não são, obviam ente, tem as novos. Deus. A pessoa "nascida de Deus‫ ״‬pela fé em
Am bos já foram tratados nos dois primeiros Cristo co n h ece Deus Pai, D eus Filho e D eus
capítulos desta epístola, mas 1 João 3 usa Espírito Santo. Um a vez que os co n h ece, vive
uma abordagem diferente. N os dois primei­ em obediência: não pratica o pecado.
ros capítulos, a ênfase é sobre a com unhão: João apresenta três motivos para levar
o cristão que estiver em com unhão com uma vida santa.
Deus praticará a justiça e amará os irmãos.
Mas em 1 João 3 a 5, a ênfase é sobre a filia­ 1. D e u s o Pai n o s am a (1 Jo 3:1-3)
çã o : o cristão praticará a justiça e amará os O am or de Deus por nós é singular. O ver­
irmãos porque é "nascido de D eus". sículo de 1 João 3:1 pode ser traduzido por:
648 1 J O Ã O 3:1-10

"Vejam que amor peculiar e extraordinário peca é um filho pecando contra o Pai. O s pe-
D eu s o Pai nos tem co n ced id o ". M esm o cados do incrédulo são contrários à Lei; os
quando éramos seus inimigos, Deus nos amou pecados do cristão são contrários ao amor.
e enviou seu Filho para morrer por nós! Isso traz à memória o significado de uma
O plano maravilhoso da salvação come- expressão repetida com freqüência nas Es-
ça com o amor de Deus. crituras: "O temor do Senhor". Essa expressão
Vários tradutores acrescentam a 1 João não sugere que os filhos de D eus devem
3:1 a oração em itálico: "a ponto de sermos viver num clima de terror, "porque Deus não
cham ados filhos de D eus; e, de fato>som os nos tem dado espírito de covardia [medo]"
filhos de D eus". "Filhos de Deus" não é ape- (2 Tm 1:7). Antes, indica que os filhos de
nas uma designação nobre para os cristãos, D eu s reverenciam o Pai e não lhe deso-
é uma realidade\ Som os, verdadeiram ente, b e d e ce rã o nem pro varão sua p a c iê n c ia
filhos de Deus. Não se espera que o mundo deliberadam ente.
entenda esse relacionam ento em polgante, Um grupo de jovens estava em uma fes-
pois ele nem sequer entende Deus. Somen- ta quando alguém sugeriu que fossem para
te uma pessoa que conhece a Deus por meio certo bar.
de Cristo pode apreciar devidamente o que - Prefiro ir para casa - disse Jan ao na-
significa ser cham ado de filho de Deus. morado. - M eus pais não gostam desse bar.
Em 1 João 3:1 vem os o que som os e em - Está com medo que seu pai lhe dê uma
1 João 3:2, o que serem os. Trata-se, evidente- surra? - perguntou uma das garotas com
mente, de uma referência à volta de Cristo sarcasm o.
para buscar sua Igreja. Esse fato é mencio- - Não - respondeu Jan. - Sei que efe
nado em 1 João 2 :2 8 com o um incentivo não vai fa ze r isso , m as tenh o m edo de
para a vida de santidade e é repetido aqui. magoá-lo.
O am or de Deus por nós não se atém Jan entendeu o princípio de que um ver-
ao novo nascimento. Eíe nos acom panha ao dadeiro filho de Deus, que experim entou o
longo de toda a vida até a volta de Jesus am or de D eus, não tem desejo algum de
Cristo! Q uando o Senhor vier, todos os cris- pecar contra esse amor.
tãos verdadeiros o verão e se tornarão como
ele (Fp 3 :20, 21). Isso significa, evidentemen- 2 . D e u s o F ilh o m o rre u p o r n ó s
te, que terão um corpo novo e glorificado, (1 J o 3 :4 - 8 )
adequado ao céu. Aqui, João passa da vinda futura de Jesus
M as o apóstolo vai ainda mais longe! Já (1 Jo 3:2) para sua vinda passada (1 Jo 3:5 ,
disse o que somos e o que serem os. Agora, em que "m anifestou" significa "apareceu").
em 1 João 3 :3, diz o que devem os ser. Ten- João dá dois motivos pelos quais Jesus veio à
do em vista a volta de Cristo, é preciso man- Terra e morreu: (1) para tirar nossos pecados
ter a vida pura. (1 Jo 3:4-6), e (2) para destruir as obras do
Tudo isso lembra o am or do Pai. Somos diabo (1 Jo 3:7, 8 ). Q uando um filho de Deus
filhos de Deus porque o Pai nos amou e en- peca, mostra que não entende ou não dá o
viou seu Filho para morrer por nós. Por cau- devido valor ao que Jesus fez por ele na cruz.
sa desse amor, um dia, Deus quer nos ter C risto veio para tira r n o sso s p e c a d o s
junto dele. Do princípio ao fim, a salvação é (w . 4-6). A Bíblia apresenta várias definições
uma expressão do am or de D eus. Somos de pecado: "tudo o que não provém de fé
salvos pela graça de Deus (Ef 2:8 , 9; Tt 2:11- é pecado‫( ״‬Rm 14:23). "O s desígnios do in-
15), mas a provisão dessa salvação teve ori- sensato são pecado" (Pv 2 4 :9 ). "Portanto,
gem no am or de D eus. E, uma vez tendo aquele que sabe que deve fazer o bem e
experim entado o am or do Pai, não deseja- não o faz nisso está pecando" (Tg 4 :1 7 ).
mos mais viver em pecado. "Toda injustiça é pecado" (1 Jo 5 :1 7 ). M as
O incrédulo que peca é uma criatura a epístola de João define o pecado com o
pecando contra o Criador. O cristão que transgressão da lei (1 Jo 3 :4 ). Considera o
1 J O Ã O 3:1-10 6 49

pecado uma contaminação (1 Jo 1:9 - 2 :2), M as depois que o indivíduo torna-se fi-
mas aqui o define com o rebeldia. lho de D eus, nascido de novo pela fé em
A ênfase não é sobre os pecados (plu- Jesus Cristo, não pode fazer da rebelião seu
ral), mas sobre o p eca d o (singular): "Todo estilo de vidal Em primeiro lugar, Jesus Cristo
aquele que pratica o p eca d o ". O s p ecados viveu sem pecado, e perm anecer nele signifi-
são frutos, mas o p eca d o é a raiz, ca identificar-se com Aquele que é impecá-
O fato de Deus ser amor não significa vel. E, mais do que isso, Jesus Cristo morreu
que não tenha qualquer regra ou norma pa- para rem over os pecados! Q uem conhece a
ra sua família. "O ra, sabemos que o temos Pessoa de Cristo e com partilha a bênção de
conhecido por isto: se guardamos os seus sua morte não é capaz de desobedecer a
mandam entos" (1 Jo 2 :3). "E aquilo que pé- D eus deliberadam ente. Q u an d o o cristão
dimos dele recebem os, porque guardamos peca intencionalm ente, toda a obra de Cris-
os seus mandamentos e fazem os diante dele to na cruz é negada. Esse é um dos motivos
o que lhe é agradável" (1 Jo 3:22). "Nisto pelos quais Paulo cham a pessoas que pe-
conhecem os que amamos os filhos de Deus: cam desse modo de "inimigos da cruz de
quando am am os a D eus e praticam os os Cristo‫( ״‬Fp 3:1 8, 19).
seus mandamentos" (1 Jo 5:2). "Todo aquele que perm anece nele não
O s filhos de Deus não estão sob o jugo vive pecando" (1 Jo 3 :6 ). "Perm anecer" é
da Lei do Antigo Testamento, pois Cristo nos uma das palavras favoritas de João. Perma-
redimiu e libertou (C l 5:1-6). M as os filhos n ece r em Cristo significa ter com unhão com
de Deus tam bém não devem viver sem lei! ele e não perm itir que coisa alguma se colo-
"N ão [estão] sem lei para com Deus, mas que entre Cristo e nós. A filiação ("ser nasci-
debaixo da lei de Cristo" (1 C o 9:21). dos de Deus") realiza nossa união com Cristo,
O pecado é, fundam entalm ente, uma mas a com unhão permite-nos perm anecer
questão de volição. Insistir em fazer a pró- em Cristo. É essa comunhão (permanecer) com
pria vontade e contrariar a vontade de Deus Cristo que nos guarda d e desobedecer deli-
é rebeldia, e a rebelião é a raiz do pecado. beradamente à sua Palavra.
Não se trata simplesmente de o pecado re- A pessoa que peca deliberada e habi-
velar-se em um com portam ento ilegal; na tualmente prova, com isso, que não conhe-
verdade, a própria essência do pecado é a ce a Cristo e que, portanto, não perm anece
transgressão da lei. Q ualquer que seja a ati- nele. A morte de Cristo na cruz tem mais
tude exterior do pecador, sua atitude inte- im plicações do que a salvação do julgamen-
rior é a rebelião. to. Por meio de sua morte, Cristo rompeu o
A pequena Judy andava de carro com o poder do princípio do pecado sobre a vida.
pai e decidiu ficar em pé no banco da frente. Romanos 6 a 8 trata da identificação com
O pai ordenou que ela sentasse e colocasse Cristo em sua morte e ressurreição. Cristo não
o cinto de segurança, mas ela se recusou a apenas morreu por nós com o também nós
obedecer. Ele repetiu a ordem e, mais uma morremos com Cristo! Agora, é possível su-
vez, ela recusou. jeitar-se a ele, e o pecado deixará de ter
- Se você não sentar neste instante, vou domínio sobre nós.
parar o carro no acostamento e lhe dar umas C risto m a n ife sto u -se p a ra d e s tru ir as
palmadas - disse o pai e, dessa vez a meni- o b ra s d o d ia b o ( w . 7, 8). Essa passagem
na obedeceu. Mas, depois de alguns minu- apresenta a seguinte lógica: se uma pessoa
tos ela disse baixinho: conhece a Deus, obedece a Deus; se per-
- Papai, aqui por dentro eu ainda estou tence ao diabo, obedece ao diabo.
em pé! João aceita a realidade de um diabo pes-
Transgressão da lei! Rebelião! A atitude soai. Esse inimigo recebe vários nomes di-
exterior pode ser contida, mas a rebelião ferentes ao longo das Escrituras: Satanás
interior persiste, e essa atitude é a essência (adversário, inimigo), diabo (acusador), Aba-
do pecado. dom ou A poliom (destruidor), o príncipe
650 1 J O Ã O 3:1-10

deste mundo, o dragão etc. Qualquer que perdido é ganho para Cristo, mais um "es-
seja o nome usado, não se deve esquecer pólio" é tomado de Satanás.
que sua principal atividade é opor-se a Cris- Vários meses depois do final da Segun-
to e ao povo de Deus. da Guerra Mundial, soldados japoneses fo-
Há aqui um contraste entre Cristo (no ram descobertos escondidos em cavernas e
qual não existe pecado algum, 1 Jo 3:5) e o selvas das ilhas do Pacífico. Alguns desses
diabo (que não faz outra coisa senão pecar). soldados perdidos viviam como selvagens
A origem de Satanás é um mistério. assustados e não sabiam que a guerra havia
Muitos estudiosos acreditam que, um dia, terminado. Só se entregaram quando enten-
ele foi o mais exaltado dos anjos, escolhido deram que não precisavam mais lutar.
por Deus para governar a Terra e os outros Os cristãos podem descansar no fato de
anjos e que pecou contra Deus e foi humi- que Satanás é um inimigo derrotado. Ainda
lhado (Is 14:9-17; Ez 28:12-14). que vença uma batalha aqui e outra ali, já
Satanás não é eterno como Deus, pois perdeu a guerra! Sua sentença já foi pronun-
é um ser criado. No entanto, não foi criado ciada, mas ainda levará algum tempo para a
como um ser pecaminoso. Sua natureza pena ser aplicada. A pessoa que conhece
atual é resultante de sua rebelião no passa- a Cristo e que foi liberta do jugo do pecado
do. Satanás não é semelhante a Deus: não por meio da morte de Cristo na cruz não
é onipotente, onisciente nem onipresente. tem desejo algum de obedecer a Satanás
No entanto, ele é auxiliado por um exército nem de viver como rebelde.
de criaturas espirituais conhecidas como de- "Filhinhos, não vos deixeis enganar por
mônios, que possibilitam sua atuação em vá- ninguém." Os cristãos falsos tentavam con-
rios lugares ao mesmo tempo (Ef 6:10-12). vencer os cristãos verdadeiros de que uma
Satanás é um rebelde, enquanto Cristo pessoa poderia ser "salva" e, ainda assim,
é o Filho obediente de Deus. Cristo "[tor- praticar o pecado. João não nega que o cris-
nou-se] obediente até à morte e morte de tão cometa pecados, mas nega que possa
cruz" (Fp 2:8). Cristo é Deus, mas se dispôs viver em pecado. A pessoa capaz de sentir
a tornar-se servo. Satanás era um servo e quis prazer em pecar deliberadamente e que não
ser Deus. Satanás peca desde o começo de é convencida da própria culpa nem experi-
sua carreira, e Cristo veio para destruir as menta a disciplina de Deus precisa examinar
obras do diabo. a si mesma e determinar se, de fato, é nasci-
Destruir (1 Jo 3:8) não significa "aniqui- da de Deus.
lar". Sem dúvida, Satanás continua operan-
do no mundo hoje em dia! Aqui, destruir 3 . D eus o Espírito S a n to vive em n ó s
significa "tornar ineficaz, privar de poder". (1 Jo 3 :9 , 1 0 )
Satanás ainda não foi aniquilado, mas seu "Todo aquele que é nascido de Deus não
poder foi reduzido, e suas armas foram de- vive na prática de pecado."
bilitadas. Ele ainda é um inimigo considerá- Por quê? Porque possui dentro de si uma
vel, mas não é páreo para o poder de Deus. nova natureza que não pode pecar. João cha-
Jesus compara este mundo a um palácio ma essa nova natureza de "divina semente".
cheio de bens de grande valor. O palácio é Quando alguém aceita a Cristo como
guardado por um homem forte ("valente", Salvador, passa por grandes transformações
Lc 11:14-23). Esse homem é Satanás, e seus espirituais. Recebe uma nova posição de
"bens" são os homens e mulheres perdidos. Deus e é considerada justificada aos olhos
A única maneira de libertar os "bens" é amar- de Deus. Essa nova posição é chamada de
rar o homem forte, e foi exatamente isso o "justificação" e nunca sofre mudanças nem
que Jesus fez na cruz. Quando veio à Terra, pode ser perdida.
Jesus invadiu o "palácio" de Satanás. Quan- Além disso, recebe uma nova condi-
do morreu, rompeu o poder de Satanás e to- ção: é separado para os propósitos de Deus,
mou seus bens! Cada vez que um pecador de modo a viver para sua glória. Essa nova
1 J O Ã O 3:1-10 651

condição é cham ada de "santificação" e mu­ de acordo com a nova natureza, não com
da a cada dia. H á dias em que estamos muito a velha.
mais próximos de Cristo e lhe obedecem os
muito mais prontamente. Velha natureza Nova natureza
M as talvez a transform ação mais dra­ "nosso velho homem" "novo homem"
m ática que ocorre na vida do cristão seja a (Rm 6 :6 ) (Cl 3:10)
"regeneração". Ele é "nascido de novo" e pas­ "a carne" "o Espírito"
sa a fazer parte da família de Deus (re signi­ (Gl 5:24) (Gl 5:17)
fica "novam ente" e generação quer dizer "semente corruptível" "divina semente"
"nascim ento"). (1 P e l :23) (1 Jo 3:9)
A justificação representa uma nova posi­
ção diante de Deus; a santificação representa U m a form a de ilustrar essa dinâm ica é pela
a separação para os propósitos de Deus e a com paração entre o "hom em exterior" e o
regeneração representa a nova natureza - "hom em interior" (2 C o 4 :1 6 ). O homem fí­
a natureza de Deus (cf. 2 Pe 1:4). sico precisa de alim ento e o hom em interior
A única maneira de ingressar na família ou espiritual também. "N ão só de pão vive­
de Deus é pela fé em Cristo e pelo novo rá o hom em, nas de toda palavra que proce­
nascim ento. "Todo aquele que crê que Je­ de da boca de Deus" (M t 4 :4 ). Se o cristão
sus é o Cristo é nascido de Deus" (1 Jo 5:1). não dedicar tempo diário à m editação da
V ida física produz apenas vida física; vida Palavra, faltará poder a seu ser interior.
espiritual produz vida espiritual. "O que é Um índio convertido explicou : "Tenho
nascido da carne é carne; e o que é nasci­ dois cães dentro de mim: um bom e um mau.
do do Espírito é espírito" (Jo 3 :6 ). O s cris­ O s dois estão sem pre em conflito. O cão
tãos nasceram de novo, "não de semente mau quer que eu faça coisas más. O cão bom
co rru ptível, mas de incorruptível, m edian­ quer que eu faça co isas boas. Sabe qual
te a palavra de D eus, a qual vive e é perma­ deles ganha? A qu ele que eu alimento mais\"
nente" (1 Pe 1:23). Pode-se dizer que os "pais O cristão que alim entar sua nova natu­
espirituais" do cristão são a Palavra de Deus reza com a Palavra de Deus terá poder para
e o Espírito de Deus. O Espírito de Deus usa levar uma vida piedosa. Nas palavras de Pau-
a Palavra de Deus para convencer do peca­ Io: "nada disponhais para a carne no tocante
do e revelar o Salvador. às suas concupiscências" (Rm 13:14).
Somos salvos pela fé (Ef 2 :8 , 9) "e, as­ O homem físico precisa de purificação,
sim, a fé vem pela pregação, e a pregação, e o ser interior tam bém . Lavamos as mãos e
pela palavra de Cristo" (Rm 10:1 7). No mila­ o rosto com freqüência. O cristão deve olhar
gre do novo nascim ento, o Espírito Santo diariamente no espelho da Palavra de Deus
concede nova vida - a vida de Deus - para (Tg 1:22-25) e se examinar. Deve confessar
o pecador que crê, e, com o resultado, esse seus pecados e pedir o perdão de Deus (1 Jo
indivíduo nasce para a família de Deus. 1:9). De outro modo, seu ser interior ficará
Assim com o os filhos físicos têm a natu­ impuro, e a sujeira estimulará o surgimento
reza dos pais, também os filhos espirituais de "doenças espirituais".
de Deus têm sua natureza: possuem dentro Pecados não confessados constituem o
de si a "divina sem ente". O cristão possui a prim eiro passo para o que a Bíblia cham a
velha natureza correspondente a seu nasci­ de "apostasia": o m ovim ento gradativo da
mento físico e a nova natureza correspon­ intimidade com Cristo para uma vida toma­
dente a seu nascim ento espiritual. O Novo da pelo mundo hostil em que vivem os.
Testam ento faz um contraste entre essas A promessa de Deus, "eu curarei as vos­
duas naturezas e lhes dá vários nomes. sas rebeliões" (Jr 3 :2 2 ), deixa implícito que
A velha natureza produz o pecado, mas a apostasia é semelhante a uma enfermida­
a nova natureza conduz a uma vida de santi­ de física. Primeiro, o corpo é invadido silen­
dade. A responsabilidade do cristão é viver ciosam ente pelos m icróbios causadores da
652 1 J O Ã O 3 :1 -1 0

doença. Depois, vem a infecção e o declínio Os termos "atrair" e "seduzir" (Tg 1:14)
gradativo: falta de energia, de apetite e de são relacionados à caça e à pesca: colocar
interesse em atividades normais. Então, ocor- o chamariz na armadilha ou a isca no anzol.
re o colapso! O animal passa por perto, e seus desejos
O declínio espiritual acontece de manei- naturais o atraem para junto da isca. Mas,
ra parecida. Primeiro, o cristão é invadido ao pegá-la, é preso na armadilha ou fisgado,
pelo pecado. Em vez de combatê-lo, entrega- e seu fim é a morte.
se a ele (cf. Tg 1:14), e a infecção instala-se. Os chamarizes que Satanás coloca em
Segue-se um declínio gradativo. O cristão suas armadilhas são prazeres que apelam para
perde o apetite pelas coisas espirituais e se a velha natureza, a carne. Mas nenhum des-
torna indiferente, até mesmo irritável, e por ses chamarizes atrai a nova natureza divina
fim desfalece. dentro do cristão. Se o cristão entregar-se à
O único remédio é confessar o pecado velha natureza, ansiará pelo chamariz, irá
e se voltar para Cristo a fim de que ele traga atrás dele e pecará. Mas se seguir as incli-
cura e purificação. nações de sua nova natureza, recusará o cha-
O ser interior não precisa apenas de ali- mariz e obedecerá a Deus. "Digo, porém:
mento e de purificação, mas também de exer- andai no Espírito e jamais satisfareis à con-
cício. "Exercita-te, pessoalmente, na piedade" cupiscência da carne" (Gl 5:16).
(1 Tm 4:7). A pessoa que se alimenta mas Entregar-se ao pecado é a característica
não se exercita torna-se obesa; a pessoa que peculiar dos "filhos do diabo" (1 Jo 3:10).
se exercita mas não se alimenta pode sucum- Eles professam, ou declaram, uma coisa, mas
bir. É preciso haver um equilíbrio adequado. praticam outra. Satanás é um mentiroso e
Para o cristão, o "exercício espiritual" pai da mentira (Jo 8:44), e seus filhos são
inclui compartilhar Cristo com outros, reali- como o pai. "Aquele que diz: Eu o conheço
zar boas obras em nome de Cristo e ajudar [Deus] e não guarda os seus mandamentos
a edificar os outros cristãos. Cada cristão é mentiroso, e nele não está a verdade" (1 Jo
possui pelo menos um dom espiritual com 2:4). Os filhos do diabo tentam enganar os
o qual deve contribuir para a edificação da filhos de Deus, fazendo-os pensar que po-
igreja (1 Co 12:1-11). "Servi uns aos outros, dem ser cristãos e, ainda assim, praticar o
cada um conforme o dom que recebeu, pecado. "Filhinhos, não vos deixeis enganar
como bons despenseiros da multiforme gra- por ninguém; aquele que pratica a justiça é
ça de Deus" (1 Pe 4:10). justo, assim como ele é justo" (1 Jo 3:7).
Eis um comentário claro sobre o proces- No tempo de João, os falsos mestres
so de tentação e pecado: "Ninguém, ao ser ensinavam que o cristão não precisava se
tentado, diga: Sou tentado por Deus; por- preocupar com o pecado, pois era apenas
que Deus não pode ser tentado pelo mal e o corpo que pecava, e o corpo não afetava
ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, em nada o espírito. Alguns iam ainda mais
cada um é tentado pela sua própria cobiça, longe e ensinavam que o pecado é algo ine-
quando esta o atrai e seduz. Então, a cobi- rente ao corpo, pois o corpo é pecaminoso.
ça, depois de haver concebido, dá à luz o O Novo Testamento condena essas idéias
pecado; e o pecado, uma vez consumado, insensatas, mostrando que não passam de
gera a morte" (Tg 1:13-15). desculpas para pecar.
A tentação apela aos desejos naturais Em primeiro lugar, a "velha natureza" não
mais básicos. Não há nada de pecaminoso é o corpo. O corpo, em si, é neutro: pode
nos desejos em si, mas a tentação dá uma ser usado pela velha natureza pecaminosa
oportunidade de satisfazer a esses desejos ou pela nova natureza divina. "Não reine,
de maneira ilícita. Não é pecado sentir fome, portanto, o pecado em vosso corpo mortal,
mas é pecado saciar a fome fora da vonta- de maneira que obedeçais às suas paixões;
de de Deus. Essa foi a primeira tentação que nem ofereçais cada um os membros do seu
Satanás usou contra Jesus (Mt 4:1-4). corpo ao pecado, como instrumentos de
1 J O Ã O 3:1-10 653

iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, com o O primeiro homem, Adão, foi feito alma vi-
ressurretos dentre os m ortos, e os vossos vente. O últim o A dão, porém , é espírito
m em bros, a D eus, com o instrum entos de vivificante".
justiça" (Rm 6 :1 2 , 13). - Então, existem dois "Adões" vivendo
D e que maneira o filho de Deus vence dentro de mim - com entou um dos adoles­
os desejos da velha natureza? Primeiro, deve centes.
com eçar cada dia entregando seu corpo a - Isso mesmo - respondeu o professor.
Deus com o sacrifício vivo (Rm 12:1). Deve - E qual é o valor prático dessa verdade?
dedicar tempo à leitura e ao estudo da Pala­ A classe ficou em silêncio por algum tem­
vra de Deus, a fim de "alimentar" sua nova po e, depois, um dos alunos falou:
natureza. D eve d ed icar tem po à o ração , - A idéia dos "dois A dões" me ajuda a
pedindo que Deus o encha com o Espírito iutar contra as tentações - disse ele. - Q u an ­
Santo e lhe dê poder para servir e glorificar do a tentação bater à porta, se eu m andar
a Cristo. o prim eiro A dão atender, cairei em peca­
Ao longo do dia, o cristão deve depender do. M as se m andar o últim o A d ão , terei
do poder do Espírito no ser interior. Q uan­ vitória.
do vierem as tentações, deve voltar-se para O verdadeiro cristão não pratica o peca­
Cristo imediatamente, pois só ele pode dar do; o cristão falsificado não pode evitar o
a vitória. pecado, pois não tem a nova natureza de
A Palavra de Deus no coração do cris­ Deus dentro de si. O verdadeiro cristão sem­
tão o ajudará a guardar-se do pecado so­ pre ama outros cristãos, fato discutido em
mente se ele se voltar para Cristo. "G uardo detalhes em 1 João 3:11-24.
no coração as tuas palavras, para não pecar M as essas palavras não foram escritas
contra ti" (SI 1 1 9 :1 1 ). Se ele pecar, deve apenas para checar a vida de outros. Foram
confessar o pecado a Deus no mesmo instan­ inspiradas a fim de que se exam ine a p ró -
te e pedir perdão. M as o cristão não precisa pria vida. Cada um de nós deve responder
pecar. Ao entregar seu corpo ao Espírito com toda a honestidade diante de Deus:
Santo que habita dentro dele, receberá o
poder de que precisa para vencer o tentador. 1. Tenho em mim a natureza divina ou
Um a prática proveitosa é apropriar-se da estou apenas fingindo ser cristão?
promessa de Deus: "N ão vos sobreveio ten­ 2. Cultivo essa natureza divina lendo a
tação que não fosse humana; mas Deus é Bíblia e orando diariamente?
fiel e não permitirá que sejais tentados além 3. Meu ser interior encontra-se conta­
das vossas forças; pelo contrário, juntam en­ minado por algum pecado não con­
te com a tentação, vos proverá livramento, fessado?
de sorte que a p o ssais su p o rta r" (1 C o 4. Permito que minha velha natureza
1 0:13 ). controle meus pensamentos e dese­
U m professor da escola dom inical ex­ jos ou deixo que a natureza divina
plicava as duas naturezas - o velho homem governe o meu ser?
e o novo hom em - a uma classe de adoles­ 5. Quando a tentação aparece, eu "en­
centes. tro em seu jogo" ou fujo dela? Entre­
- Nossa velha natureza vem de Adão - go-me no mesmo instante à natureza
disse ele - e nossa nova natureza vem de divina dentro de mim?
Cristo, que é cham ado de "último Adão'".
Em seguida, pediu que os alunos lessem A vida real é honesta com Deus acerca des­
1 Coríntios 15:45: "Pois assim está escrito: sas questões vitais.
"Aquele que não ama permanece na mor-
7 te1) ‫ ״‬Jo 3:14).
No que se refere à questão do amor,
existem quatro "níveis de relacionamento",
A m o r o u M o rte por assim dizer, nos quais uma pessoa pode
viver: homicídio (1 Jo 3:11, 12), ódio (1 Jo
1 J o ã o 3 :1 1 - 2 4 3:13-15), indiferença (1 Jo 3:16, 17) e com-
paixão cristã (1 Jo 3:18-24).
Os dois primeiros não são, de maneira
alguma, cristãos, o terceiro fica aquém do
cristianismo; somente o quarto é compatí-
vel com o verdadeiro amor cristão.
Primeira Epístola de João foi compara-
A da a uma escadaria em caracol, pois
ele sempre volta a três assuntos: amor, obe-
1. H o m icíd io (1 Jo 3:11,12)
O homicídio é, evidentemente, o nível mais
diência e verdade. Apesar de serem temas baixo em que alguém pode se relacionar
recorrentes, não são meramente repetitivos. com outra pessoa. É nesse nível que o pró-
Cada vez que voltamos a um tópico, olha- prio Satanás existe. O diabo é um homicida
mos para ele de um ponto de vista diferente desde o início de sua carreira decaída (Jo
para aprofundá-lo. 8:44), mas os cristãos ouviram desde o prin-
Já aprendemos sobre o amor por outros cípio de sua experiência que devem "amar
cristãos - "os irmãos" (1 Jo 2:7-11) -, mas a uns aos outros", joão enfatiza as origens: "Vol-
ênfase em 1 João 2 foi sobre a comunhão. tem para o começo". Se a experiência espi-
O cristão que está "andando na luz" dá pro- ritual teve origem no Pai, deveremos amar
vas desse fato amando seus irmãos. Nesta uns aos outros. Mas se teve origem em Sata-
seção, a ênfase é sobre seu relacionamento nás, odiaremos uns aos outros. "Permaneça
com outros cristãos. em vós o que ouvistes desde o princípio"
Os cristãos amam uns aos outros porque (1 Jo 2:24).
nasceram de Deus, o que os torna irmãos e Caim exemplifica uma vida de ódio, con-
irmãs em Cristo. forme se vê no relato em Gênesis 4:1-16. E
A obediência e o amor são sinais de importante observar que, sendo irmãos,
filiação e de irmandade. Tendo sido lembra- Caim e Abel eram filhos dos mesmos pais, e
dos de que o verdadeiro filho de Deus prati- os dois ofereceram sacrifícios a Deus. Caim
ca a justiça (1 Jo 3:1-10), vamos estudar a não é apresentado como um ateu, mas sim
questão do amor pelos irmãos (1 Jo 3:11- como um adorador. Essa é a questão: os fi-
24). Essa verdade é declarada inicialmente lhos do diabo disfarçam-se em adoradores
de forma negativa: "todo aquele que não verdadeiros. Participam de eventos religio-
pratica justiça não procede de Deus, nem sos, como Caim fez, e podem até levar ofer-
aquele que não ama a seu irmão" (1 Jo 3:10). tas. Mas esses atos, por si mesmos, não valem
Convém observar uma grande diferen- como prova de que tais pessoas sejam nas-
ça entre o estudo anterior e o presente estu- cidas de Deus. O teste real é o amor pelos
do do amor pelos irmãos. Na seção sobre irmãos, e nesse teste Caim foi reprovado.
a comunhão (1 Jo 2:7-11), o apóstolo diz Todo indivíduo possui tanto uma linha-
que amar os irmãos é uma questão de luz gem física quanto uma "linhagem espiritual",
ou trevas. Sem amar uns aos outros, não se e o "pai espiritual" de Caim era o diabo. Isso
pode andar na luz, por mais sonora que não significa, evidentemente, que Satanás
seja a profissão de fé. Mas nesta seção so- gerou Caim em um sentido literal. Antes, sig-
bre a irmandade (1 Jo 3:11-24), a epístola nifica que as atitudes e atos de Caim origina-
vai muito mais fundo. João afirma que amar ram-se em Satanás. Mostrou-se um homicida
os irmãos é uma questão de vida ou morte. e mentiroso, como Satanás (jo 8:44). Matou
1 J O Ã O 3: Ί 1-24 655

seu irm ão e, depois, mentiu sobre o que motivo pelo qual Caim odiava A bel: Cristo
havia feito. "D isse o S e n h o r a Caim : O nde revela o pecado e a verdadeira natureza
está A bel, teu irmão? Ele respondeu: Não do mundo. Q uando o mundo, assim com o
sei‫( ״‬G n 4:9). Caim , se depara com a realidade e a verda­
Deus, pelo contrário, é amor (1 Jo 4 :8 ) e de, pode tomar uma de duas decisões: arre­
verdade (Jo 14:6; 1 Jo 5:6); portanto, os que pender-se e mudar ou destruir o que o está
pertencem à fam ília de D eus praticam o desm ascarando.
amor e a verdade. Satanás é "o p ríncipe do m undo‫( ״‬Jo
A diferença entre a oferta de Caim e a de 14:30) e exerce seu controle por meio de
Abel estava na fé (Hb 11:4), e a fé sempre se hom icídios e de mentiras. Q u e coisa horrí­
baseia na revelação dada por D eu s (Rm vel viver no mesmo nível de Satanás!
10:17). Ao que tudo indica, Deus revelou ins­ Um caçador abrigou-se em uma caver­
truções claras com respeito à maneira de ser na durante uma tempestade. Depois de se
adorado. Caim rejeitou a Palavra de Deus e secar um pouco, resolveu investigar seu lar
decidiu adorá-lo a sua maneira. Esse fato dei­ temporário e acendeu a lanterna. Q ual não
xa claro seu relacionam ento com Satanás, foi sua surpresa quando descobriu que divi­
pois Satanás está sem pre interessado em dia a caverna com uma grande variedade
fazer as pessoas se desviarem da vontade re­ de aranhas, lagartos e cobras! Saiu de lá fei­
velada de Deus. A pergunta do diabo: "É as­ to um tiro!
sim que Deus disse?" (Gn 3:1) foi o que deu Se o mundo não salvo pudesse ver, per­
início aos problemas para os pais de Caim e ceberia que vive em um nível ignóbil de
para toda a humanidade desde então. hom icídios e de mentiras, cercado pela anti­
A Bíblia não diz qual foi o sinal exterior ga serpente, Satanás, e por seus exércitos
de que Deus aceitou o sacrifício de Abel e dem oníacos. Com o Caim , o povo do mun­
rejeitou o de C aim . E possível que tenha do tenta encobrir sua verdadeira natureza
enviado fogo do céu para consum ir o sacri­ com ritos religiosos, mas não crê na Palavra
fício de animal e de sangue oferecido por de Deus. Mais cedo ou mais tarde, as pes­
Abel. M as o texto relata os resultados: Abel soas que continuarem a viver nesse nível
deixou o altar levando no coração o teste­ acabarão sendo lançadas nas trevas com Sa­
m unho da a ce ita ção de D eus, enquanto tanás, condenadas a sofrer longe de Deus
Caim foi embora enraivecido e decepciona­ para sempre.
do (G n 4:4-6). Deus advertiu Caim de que o
pecado estava à espreita com o uma fera 2. Ó D IO (1 Jo 3:13-15)
perigosa (G n 4 :7 ), mas prom eteu que, se Nesse ponto, talvez alguns pensem : "M as
Caim obedecesse ao Senhor, desfrutaria paz eu nunca matei ninguém!" E, a essa declara­
com o Abel. çã o , D eu s re sp o n d e : "T o d o aq u e le que
Em ve z de dar ouvidos à advertência de odeia a seu irmão é assassino" (1 Jo 3:1 5;
Deus, Caim ouviu a voz de Satanás e plane­ ver Mt 5:22), A única diferença entre o Ní­
jou a morte do irmão, Abel. Sua inveja trans­ vel 1 e o Nível 2 é o ato exterior de tomar
formou-se em raiva e ódio. Sabia que era uma vida. A intenção interior é a mesma.
perverso e que o irmão era justo, mas, em Um hom em que visitava o zo o ló g ico
vez de arrepender-se, com o Deus lhe orde­ parou perto da jaula dos leões para conver­
nou, decidiu destruir o irmão. sar com o tratador.
Século s depois, os fariseus fizeram a - Tenho um gato lá em casa - disse o
mesma coisa com Jesus (M c 15:9, 10), e Je­ visitante - , e estes leões agem exatamente
sus também os chamou de filhos do diabo com o ele. Veja com o dormem tranqüilos! É
(Jo 8 :4 4). quase uma vergonha manter essas criaturas
A atitude de Caim representa a atitude lindas atrás de grades!
do sistema do mundo hoje (1 Jo 3:13). O mun­ - M eu amigo - respondeu o tratador sor­
do odeia Cristo (Jo 15:18-25) pelo mesmo rindo - , eles podem parecer com seu gato,
656 1 J O Ã O 3:1 1-24

mas têm uma índole muito diferente. Em A questão aqui não é se um homicida
seu coração, esses leões são assassinos. Vo- pode tornar-se cristão, mas se uma pessoa
cê deveria ficar feliz por estarem cercados pode continuar sendo homicida e ainda ser
de grades. cristã. A resposta é não. "Ôra, vós sabeis que
O único motivo pelo qual algumas pes- todo assassino não tem a vida eterna per-
soas nunca cometeram um homicídio é a manente em si1) ‫ ״‬Jo 3:15). O caso não é que
presença constante de ‫״‬grades" colocadas o homicida tinha a vida eterna e depois a
a seu redor: o medo da prisão e da vergonha, perdeu; ele nunca a teve.
as penas da lei e a possibilidade de morte. O fato de jamais termos matado alguém
No entanto, seremos julgados pela "lei da não deve nos tornar orgulhosos nem com-
liberdade" (Tg 2:12). A pergunta não é tan- placentes. Quem nunca alimentou o ódio
to "o que você fez?", mas sim: "o que você no coração?
quis fazer e o que teria feito, se tivesse liber- O ódio causa muito mais estrago na vida
dade de agir como bem entendesse?" É por do que odeia do que na de qualquer outra
isso que Jesus equipara o ódio ao homicí- pessoa (Mt 5:21-26). De acordo com Jesus,
dio (Mt 5:21-26) e a lascívia ao adultério (Mt quem se irasse indevidamente contra seu
5:27-30). irmão arriscava-se a enfrentar o tribunal Io-
Isso não significa, evidentemente, que cai; quem insultasse seu irmão arriscava-se
o ódio no coração cause os mesmos estra- a enfrentar o Sinédrio, o tribunal superior
gos ou envolva o mesmo grau de culpa que dos judeus. Mas o homem que chamasse
um homicídio propriamente dito. Nosso vi- seu irmão de "tolo" correria perigo de so-
zinho com certeza acharia melhor que o frer o julgamento eterno no inferno. O ódio
odiássemos do que o matássemos! Mas, aos não confessado nem renunciado coloca a
olhos de Deus, o ódio é o equivalente moral pessoa em uma prisão emocional e espiri-
do homicídio e, se não for tratado, pode tual! (Mt 5:25).
levar ao ato em si. O cristão passou da mor- O antídoto para o ódio é o amor. "Odio-
te para a vida (Jo 5:24), e a prova disso é sos e odiando-nos uns aos outros" descreve
que ama os seus irmãos. Quando perten- a experiência habitual dos não salvos (Tt 3:3).
cia ao sistema do mundo, odiava o povo de Mas quando um coração rancoroso abre-se
Deus; mas agora que pertence a Deus, ele para Jesus Cristo, torna-se um coração amo-
os ama. roso. Em vez de querer "matar" outras pes-
Estes versículos (1 Jo 3:14, 15), como os soas com seu ódio, o cristão passa a ter o
que tratam do pecado habitual na vida do desejo de amá-las e de compartilhar com
cristão (1 Jo 1:5 - 2:6), referem-se a uma elas a mensagem da vida eterna.
prática consolidada: o cristão pratica habi- Uma noite, o evangelista e líder meto-
tualmente o amor aos irmãos, mesmo que, dista John Wesley foi abordado por um ladrão
de vez enquanto, se exaspere com um de- que levou todo seu dinheiro. Wesley disse
les (Mt 5:22-24). Episódios ocasionais de ao homem:
raiva não anulam esse princípio; pelo contrá- - Se um dia você tiver o desejo de dei-
rio, provam que é verdadeiro, pois o cristão xar esse caminho mau que está trilhando
que não está em comunhão com os irmãos é e de viver para Deus, lembre-se de que
extremamente infeliz! Seus sentimentos dei- "o sangue de Jesus Cristo purifica de todo o
xam claro que há algo errado. pecado".
Convém observar outro fato: o texto não Alguns anos depois, um homem foi pro-
diz que um homicida não pode ser salvo. O curar Wesley após um culto e lhe perguntou:
apóstolo tomou parte no apedrejamento de - O senhor se lembra de mim? Eu o as-
Estêvão (At 7:57-60) e reconheceu que seu saltei uma noite, e o senhor me disse que
voto contribuiu para matar pessoas inocen- o sangue de Jesus Cristo purifica de todo o
tes (At 26:9-11; 1 Tm 1:12-15). Mas, em sua pecado. Eu me entreguei a Cristo e mudei
graça, Deus salvou Paulo. de vida.
1 J O Ã O 3:11-24 657

3. In d if e r e n ç a (1 Jo 3:16, 17) Não há nada de errado em participar de


M as a prova do amor cristão não é apenas congressos, mas quando tratamos de temas
deixar de fazer o mal a outros. O amor en­ muito gerais, é fácil esquecerm os as neces­
volve a prática do bem . O amor cristão é, sidades individuais. O teste do am or cristão
ao mesmo tempo, negativo e positivo. "Cessai não se encontra nas declarações sonoras de
de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem " (Is amor à igreja toda, mas nos gestos de terno
1:16, 17). cuidado para com um irm ão necessitado.
Caim é nosso exem plo de amor falso; Se nem sequer ajudamos um irmão, é pou­
C risto é o exem p lo de verd ad eiro am or co provável que sejamos capazes de "dar a
cristão. Jesus deu a vida por nós para que vida pelos irmãos".
experim entem os a verdade. Todo cristão co­ Um a pessoa não precisa ser hom icida
nhece João 3 :1 6 , mas quantos atentam para para pecar; dentro do coração, o ódio cor­
1 João 3:16? É m aravilhoso experim entar a responde ao hom icídio. M as também não
b ên ção de João 3 :1 6 ; mas é ainda mais precisa sequer odiar o irmão para ter peca­
maravilhoso com partilhar essa experiência do. Basta ignorá-lo ou mostrar-se indiferente
obedecendo a 1 João 3 :1 6 : Cristo entregou com suas necessidades. O cristão que pos­
a vida por nós, e devemos entregar a vida sui bens m ateriais pode e deve aliviar as
pelos nossos irmãos. necessidades dos irmãos. "[Fechar] o cora­
O am or cristão envolve serviço e sacrift- ção" a um irmão é um tipo de homicídio!
cio. Cristo não se ateve a falar sobre seu A fim de ajudar os irm ãos, é preciso
amor; ele morreu para prová-lo (Rm 5:6-10). cum prir três requisitos. Em prim eiro lugar,
Jesus não foi morto com o um mártir; antes, ter os meios necessários para suprir o que
en treg o u sua vid a esp o n tan eam en te (Jo lhe falta. Em segundo lugar, estar ciente de
10:11-18; 15:13). A "autopreservação" é a suas necessidades. E em terceiro lugar, ser
primeira lei da vida física, mas a "abnega­ amorosos o suficiente para ter o desejo de
ção" é a primeira lei da vida espiritual. com partilhar.
M as Deus não pede que entreguemos a O cristão que é pobre dem ais ou que
vida à morte, apenas que amemos o irmão não tem conhecim ento das necessidades
necessitado. João faz uma transição bastan­ do irmão não é condenado. M as o cristão
te sábia de "pelos irmãos" em 1 João 3:16 que endurece o coração contra o irm ão ne­
para "seu irm ão" em 1 João 3:17. cessitado é condenado. Um dos m otivos
É fácil falarmos sobre "am ar os irmãos" e pelos quais o cristão deve trabalhar é "para
deixarm os de ajudar um único irm ão em que tenha com que acudir ao necessitado"
Cristo. O am or cristão é pessoal e ativo. (Ef 4 :2 8 ).
Era isso o que Jesus tinha em mente ao Hoje em dia, existem tantas organizações
contar a parábola do bom sam aritano (Lc filantrópicas que é fácil o cristão esquecer
10:25-37). Um intérprete da Lei queria discutir suas obrigações. "Por isso, enquanto tivermos
uma questão abstrata: "Q uem é o meu pró­ oportunidade, façamos o bem a todos, mas
xim o?" mas Jesus concentrou a atenção em principalmente aos da família da fé" (Gl 6:10).
um único homem necessitado e mudou a per­ "Fazer o bem " não significa, necessaria­
gunta: "Para quem posso ser um próximo?" mente, dar dinheiro ou coisas materiais. Pode
Dois amigos participavam de um congres­ incluir o serviço pessoal e a dedicação aos
so sobre evangelismo. Durante uma das pa­ outros. M uitos indivíduos na igreja estão
lestras, Larry deu por falta de Pete. Na hora necessitados de amor e receberiam de bom
do alm oço, Larry encontrou Pete e comentou: grado nossa am izade.
- Senti sua falta na palestra das dez ho­ Um a jovem mãe reco nheceu, durante
ras, foi ótima! O nde você estava? uma reunião da igreja, que não conseguia
- Estava no saguão conversando com um encontrar tempo para fazer sua devocional
funcionário do hotel sobre Jesus, e ele acei­ diária. Tinha filhos pequenos para cuidar, e
tou a Cristo - respondeu Pete. as horas do dia simplesmente evaporavam.
658 ‫ ו‬JO A O 3:1 1-24

Qual não foi sua surpresa quando duas Sem dúvida. Jesus Cristo pagou com a
senhoras da igreja bateram a sua porta. vida. Mas os benefícios maravilhosos que
- Viemos cuidar das crianças - explica- resultam desse amor compensam generosa-
ram. - Pode ir para o seu quarto e fazer sua mente qualquer sacrifício que venhamos a
devocional. fazer. Claro que não se deve amar os outros
Depois de receber essa ajuda durante porque desejamos receber algo em troca,
vários dias, a jovem mãe conseguiu desen- mas o princípio bíblico "dai, e dar-se-vos-á"
volver sua vida devocional de tal modo a (Lc 6:38) aplica-se não só ao dinheiro, mas
não se sentir mais perturbada com as exi- também ao amor.
gências diárias impostas sobre seu tempo. João cita três bênçãos maravilhosas que
Quem deseja experimentar e desfrutar o cristão recebe ao praticar o verdadeiro
o amor de Deus no coração deve amar os amor.
outros a ponto de fazer sacrifícios por eles. Certeza (w . 19, 20). O relacionamento
Ao ser indiferentes às necessidades dos ir- do cristão com outros afeta seu relacio-
mãos, privamo-nos do que mais precisamos: namento com Deus. A pessoa que não está
do amor de Deus no coração. É uma ques- em ordem com um irmão deve acertar a
tão de vida ou morte! questão antes de oferecer seu sacrifício no
altar (cf. Mt 5:23, 24). O cristão que pratica
4 . 0 AMOR CRISTÃO (1 Jo 3 :1 8 - 2 4 ) o amor cresce no entendimento da verdade
O verdadeiro amor cristão é expresso "de de Deus e desfruta um coração cheio de
fato e de verdade". O oposto de "de fato" certeza diante de Deus.
é "de palavra" e o oposto de "de verdade" é O "coração que acusa" tira a paz do
"de língua". Eis um exemplo do amor "de cristão. A "consciência que acusa" é outra
palavra": maneira de expressar a mesma idéia. Por ve-
"Se um irmão ou uma irmã estiverem zes, o coração nos acusa indevidamente,
carecidos de roupa e necessitados do ali- pois "Enganoso é o coração, mais do que
mento cotidiano, e qualquer dentre vós todas as coisas, e desesperadamente cor-
lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai- rupto; quem o conhecerá?" (Jr 17:9). A res-
vos, sem, contudo, lhes dar o necessário posta a essa pergunta é: "Deus conhece o
para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tg coração!" Não são poucos os cristãos que
2:15, 16). acusam a si mesmos falsamente ou que são
Amar "de palavra" significa, simplesmen- excessivamente duros consigo mesmos; mas
te, falar sobre uma necessidade, mas amar Deus não comete esse erro. O cristão que
"de fato" significa fazer algo para suprir essa anda em amor tem um coração aberto para
necessidade. É possível pensar que, por con- Deus ("Deus é amor") e sabe que Deus nun-
versar sobre uma necessidade ou mesmo ca julga incorretamente.
orar sobre ela, nossa parte já foi feita, mas o É possível que João se lembrasse de dois
amor envolve mais do que palavras e pede episódios ilustrativos desse importante prin-
atos de sacrifício. cípio na vida de Jesus aqui na Terra. Ao visi-
Amar "de língua" é o oposto de "amar tar Betânia, Jesus hospedou-se na casa de
de verdade". Significa amar sem sincerida- Maria e Marta (Lc 10:38-42). Marta estava
de. Amar "de verdade" é amar uma pessoa ocupada preparando a refeição, enquanto
de forma autêntica, não só da boca para fora. Maria permanecia assentada aos pés de Je-
As pessoas são atraídas pelo amor genuíno sus ouvindo-o ensinar. Marta criticou tanto
e repelidas pelo amor artificial. Os pecado- Maria quanto Jesus, mas Jesus conhecia o
res eram atraídos para junto de Jesus (Lc coração de Maria e a defendeu.
15:1, 2) porque tinham certeza de que ele O apóstolo Pedro chorou amargamen-
os amava com sinceridade. te depois de negar o Senhor e, sem dúvida,
"Mas o cristão não precisa pagar um a/to se encheu de remorso e de arrependimento
preço para exercitar esse tipo de amor?" por seu pecado. Mas Jesus sabia que Pedro
1 J O Ã O 3:1 1 - 2 4 659

havia se arrependido e, depois de sua res­ não obedecem à Palavra de Deus, suas ora­
surreição, enviou uma mensagem especial ções são interrompidas (1 Pe 3:7).
(M c 16:7) a Pedro que deve ter dado ao pes­ Um evangelista havia acabado de pre­
cador impetuoso a certeza de ter sido per­ gar em um lar cristão e, depois da reunião,
doado. Talvez o coração de Pedro o tenha foi abordado pelo pai da família.
condenado, pois ele sabia que havia nega­ - Venho orando por meu filho rebelde
do o Senhor três vezes, mas Deus era maior há anos - disse o pai - e, até agora, Deus
do que seu coração. Um a vez que conhe­ não respondeu à minha oração.
cia todas as coisas, Jesus deu a Pedro a cer­ O evangelista leu para ele o Salmo 6 6 :1 8 :
teza de que precisava. "Se eu no coração contemplara a vaidade,
É preciso cuidado para que o diabo não o Senhor não me teria ouvido".
nos acuse nem nos tire a co n fian ça (Ap - Seja honesto consigo mesmo e com o
1 2 :1 0 ). U m a ve z confessado e perdoado o Senhor - disse o evangelista. - Existe algo
pecado, não se deve permitir que a cons­ entre você e outro cristão que precisa ser
ciência continue nos acusando. Pedro foi resolvido?
cap az de encarar os judeus e dizer: "V ós, O homem hesitou e, por fim, disse:
porém, negastes o Santo e o Justo" (At 3 :1 4 ), - Infelizmente, creio que sim. Estou res­
pois o seu pecado ao negar Cristo havia sentido com um membro da igreja.
sido tratado, perdoado e esquecido. - Então coloque esta situação em ordem
N enhum cristão deve tratar o pecado - aconselhou o evangelista e, depois, orou
de m aneira leviana, m as nenhum cristão com o homem. Antes de a cam panha evan-
deve ser m ais severo consigo m esm o do gelística chegar ao fim, aquele pai viu o fi­
que D eu s é. Existe um tipo m órbido de lho voltar para o Senhor.
introspecção e de condenação própria que É evidente que esses versículos não apre­
não é espiritual. Se praticarm os o am or ver­ sentam todas as condições para que as ora­
dadeiro para com os irm ãos, nosso co ra­ ções sejam respondidas, mas enfatizam a
ção estará em ordem diante de Deus, pois im portância da obediência. Um dos grandes
o Espírito Santo não derram a seu amor em segredos para que as orações sejam respon­
um coração no qual o pecado está sempre didas é a obediência, e o segredo da obe­
presente. A o entristecer o Espírito, "corta- diência é o amor. "Se me amais, guardareis
se o suprim ento" do am or de D eus (Ef 4 :3 0 os m eus m an d am en to s" (Jo 1 4 :1 5 ). "S e
- 5 :2 ). permanecerdes em mim, e as minhas pala­
O ra ç õ e s re sp o n d id a s (vv. 2 1 , 2 2 ). O vras permanecerem em vós, pedireis o que
am or pelos irmãos produz confiança diante quiserdes, e vos será feito [...] Se guardardes
de Deus, e essa confiança dá a ousadia de os meus mandamentos, perm anecereis no
pedir o que se necessita. Isso não implica meu am or" (Jo 15:7, 10).
adquirir o direito de receber uma resposta Claro que é possível guardar os m an­
às orações ao amar os irmãos. Antes, que o d am ento s de D eu s co m um e sp írito de
am or pelos irm ãos com prova que se vive medo e de servidão, não com um espírito
dentro da vontade de Deus e que, portanto, de amor. Esse era o pecado do irm ão mais
Deus responde às orações. "E aquilo que velh o da p a rá b o la do filh o pró d ig o (L c
pedim os dele recebem os, porque guarda­ 15:24-32). O cristão deve guardar os man­
mos os seus mandamentos" (1 Jo 3 :2 2 ). O dam entos do Pai porque isso é agradável
am or é o cumprimento da Lei de Deus (Rm ao Senhor. O cristão que vive para agradar
13:8-10); logo, ao amar o irmão, obedece­ a Deus descobre que D eus encontra m a­
mos aos mandamentos de Deus, e ele aten­ neiras de agradar seu filho. "Agrada-te do
de a nossos pedidos. S e n h o r , e ele satisfará os desejos do teu
O relacionamento do cristão com os ir­ co ração" (SI 3 7 :4 ). Ao ter prazer no am or
mãos não pode ser separado de sua vida de de Deus, aquilo que se deseja torna-se par­
oração. Se, por exem plo, maridos e esposas te da vontade de D eus.
660 1 J O Ã O 3:1 1-24

Permanência (vv. 23, 24). Quando um O Espírito Santo é mencionado explici-


escriba pediu que Jesus dissesse qual era o tamente em 1 João pela primeira vez em
maior mandamento, Jesus respondeu: "Ama- 3:24. João já falou do "Santo" (1 Jo 2:20),
rás o Senhor, teu Deus, de todo o teu co- dando ênfase ao ministério de unção e
ração, de toda a tua alma e de todo o teu ensinamento do Espírito (um paralelo com
entendimento" e acrescentou um segundo Jo 14:26; 16:13, 14). Mas o Santo também
mandamento: "Amarás o teu próximo como é o Espírito que permanece (1 Jo 3:24; 4:13).
a ti mesmo" (Mt 22:34-40). Mas Deus tam- Quando um cristão obedece a Deus e ama
bém dá um mandamento que inclui Deus e os irmãos, o Espírito Santo que habita den-
os homens: "Creiamos em o nome de seu tro dele lhe dá paz e confiança. O Espírito
Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos Santo permanece com ele para sempre (Jo
outros" (1 Jo 3:23). As obrigações do cris- 14:16), mas quando o Espírito é entristeci‫־‬
tão podem ser resumidas na fé em Deus e do, ele retém suas bênçãos.
no amor ao próximo. O cristianismo é "a fé O Espírito Santo também é o Espírito que
que atua pelo amor" (Gl 5:6). confessa (1 Jo 4:1-6), testemunhando aos
A fé em Deus e o amor ao próximo são que são, verdadeiramente, filhos de Deus.
dois lados da mesma moeda. É fácil enfatizar Quando um cristão permanece em Cristo,
a fé - a doutrina correta - e negligenciar o o Espírito o orienta e adverte sobre os falsos
amor. No entanto, há quem diga que a dou- espíritos que poderiam fazê-lo desviar.
trina não é importante e que o amor é a Também é o Espírito que autentíca (1 Jo
maior responsabilidade. Tanto a doutrina 5:6-8), dando testemunho da Pessoa e da obra
quanto o amor são importantes. Quando de Jesus Cristo. Esse testemunho do Espírito
uma pessoa é justificada pela fé, deve saber é mencionado em Romanos 8:14-16.
que o amor de Deus está sendo derramado Todas as Pessoas da Trindade participam
em seu coração (Rm 5:1-5). da "vida amorosa" do cristão. Deus Pai orde-
"Permanecer em Cristo" é uma experiên- na que amemos uns aos outros. Deus Filho
cia essencial para o cristão que deseja ter deu a vida na cruz, o exemplo supremo de
confiança diante de Deus e respostas de amor. E Deus Espírito Santo vive dentro de nós
oração. Em sua mensagem aos discípulos no para prover o amor de que precisamos (Rm
cenáculo (Jo 15:1-14), Jesus ilustrou o "per- 5:5). Permanecer no amor é permanecer
manecer". Comparou seus seguidores a ra- em Deus, e vice-versa. O amor cristão não
mos de uma videira. Ao retirar sua energia é algo que se produz quando é preciso. O
da videira, os ramos produzem frutos. Mas amor cristão "é derramado em nosso cora-
quando se separam da videira, murcham e ção pelo Espírito Santo", e é isso o que se ex-
morrem. perimenta constantemente ao permanecer
Jesus não falava da salvação, mas sim de em Cristo.
dar frutos. No instante em que o pecador Uma pessoa pode viver em quatro ní-
crê em Cristo, passa a viver em união com veis: o nível mais baixo, o de Satanás, e pra-
Cristo; mas manter a comunhão é uma res- ticar o homicídio. Os homicidas, "a parte que
ponsabilidade que precisa ser cumprida a lhes cabe será no lago que arde com fogo e
cada momento. A fim de permanecer em enxofre, a saber, a segunda morte" (Ap 21:8).
Cristo, é preciso obedecer à Palavra e se Ou pode escolher o nível seguinte: o
manter puro (Jo 15:3, 10). ódio. Mas, aos olhos de Deus, o ódio equi-
Como vimos, quando um cristão anda vale ao homicídio. O homem que vive cheio
em amor, não tem dificuldade em obede- de ódio mata a si mesmo lentamente, e não
cer a Deus e, portanto, mantém uma co- a outra pessoa. De acordo com os psiquia-
munhão próxima com Deus. "Se alguém me tras, a maldade e o ódio causam problemas
ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o físicos e emocionais de vários tipos. Aliás,
amará, e viremos para ele e faremos nele um. especialista escreveu um livro chamado
morada" (Jo 14:23). Amar ou morrer!
IJ O À O 3:11-24 661

O terceiro nível ■ indiferença ‫ ־‬é muito de gozo, liberdade e orações respondidas


melhor do que os dois primeiros, os quais que proporciona confiança e coragem ape­
não são, de modo algum, cristãos. O homem sar das dificuldades,
que têm ódio constante no coração ou que O dr. Rene Spitz, de Nova Iorque, real
pratica homicídios nunca nasceu de Deus. zou um estudo em instituições que cuidam
Mas é possível ser um cristão e permanecer de crianças abandonadas, a fim de determl·
indiferente às necessidades dos outros. nar 0 impacto do amor e da negligência na
Aquele que comete homicídio pertence vida dessas crianças, Sua pesquisa mostrou
ao áa60, como Caim, Aquele que odeia per· que as crianças negligenciadas e rejeitadas
tenceao mundo (1 10 3:13), que se encon­ apresentavam desenvolvimento muito mais
tra sob 0 domínio de Satanás. Mas 0 cristão lento, e algumas até morriam. Mesmo no
que se mostra indiferente vive para a carne, sentido físico, 0 amor é 0 elemento essen-
que serve aos propósitos de Satanás, ciai para a vida e para 0 crescimento,
A única maneira de viver em santidade Isso se aplica de maneira ainda mais real
e em alegria encontra-se no nível mais ele■ à esfera espiritual. Na verdade, trata-se de
vado, 0 nível do amor cristão, Essa é a vida uma questão de amor ou morte!
cristão pratica o amor de forma natural, pois
8 o amor é a natureza de Deus. Esse amor
não é uma reação forçada; antes, é uma res-
posta natural. O amor do cristão pelos ir-
O C erne d o A mor mãos prova sua filiação e comunhão.
Em três ocasiões ao longo desta seção,
1 J o ã o 4 :1 - 1 6 João incentiva a amar uns aos outros (1 Jo
4:7, 11, 12). Apóia suas admoestações em
três fatos fundamentais acerca de Deus.

1. A q u ilo que D eus é: " D e u s é a m o r"


✓ (1 Jo 4:7, 8)
a terceira vez que tratamos do amor! Essa é terceira de três expressões nos escri-
E Isso não significa que as idéias de João
esgotaram-se, obrigando-o a se repetir. An-
tos de João que ajudam a compreender a
natureza de Deus: "Deus é espírito" {Jo
tes, que Espírito Santo, o qual inspirou João, 4:24); "Deus é luz" (1 Jo 1:5); e "Deus é
apresenta esse assunto novamente, ofere- amor". É evidente que nenhuma delas cons-
cendo, agora, uma perspectiva ainda mais titui uma revelação completa de Deus, e seria
profunda. errado separá-las.
Primeiro, o amor pelos irmãos foi apre- Deus é espírito. Isso se refere a sua es-
sentado como prova da comunhão com Deus sência; ele não é feito de carne e sangue.
(1 Jo 2:7-11); em seguida, foi apresentado Por certo, neste momento, Jesus Cristo pos-
como prova da filiação (1 Jo 3:10-14). Na pri- sui um corpo glorificado no céu e, um dia,
meira passagem acima, o amor é uma ques- teremos um corpo como o dele. Mas uma
tão de luz ou trevas; na segunda, é uma vez que é, por natureza, espírito, Deus não
questão de vida ou morte. é limitado pelo tempo nem pelo espaço
Mas, em 1 João 4:7-16, chega-se ao como suas criaturas.
cerne da questão. Aqui se vê por que o amor Deus é luz. Isso se refere a sua natureza
é uma parte tão importante da vida real. O santa. Na Bíblia, a luz simboliza santidade, e
amor é o parâmetro válido para a comunhão as trevas, o pecado (Jo 3:18-21; 1 Jo 1:5-10).
e a filiação porque "Deus é amor". O amor Deus não pode pecar porque é santo. Uma
faz parte da própria natureza e ser de Deus. vez que nascemos na família de Deus, re-
Quem se encontra em união com Deus, por cebemos essa natureza santa (1 Pe 1:14-16;
meio da fé em Cristo, compartilha de sua 2 Pe 1:4).
natureza. E, uma vez que sua natureza é Deus é amor. Isso não significa que "amor
amor, o amor é o teste da realidade da vida é Deus". E o fato de duas pessoas se ama-
espiritual. rem não significa, necessariamente, que seu
O navegador depende da bússola para amor seja santo. Alguém disse bem que
ajudá-lo a determinar seu curso. Mas porque "o amor não define Deus, mas Deus defi-
usar uma bússola? Porque ela indica os pon- ne o amor". Deus é amor e Deus é luz; por-
tos cardeais. E por que a bússola aponta pa- tanto, seu amor é santo e sua santidade é
ra o Norte? Porque é uma propriedade sua expressa em amor. Tudo o que Deus faz ex-
reagir ao campo magnético que faz parte pressa tudo o que Deus é. Até mesmo seus
da constituição da Terra. A bússola respon- julgamentos são medidos em termos de
de à natureza da Terra. amor e de misericórdia (Lm 3:22, 23).
Pode-se dizer o mesmo do amor cristão. Muito do que é chamado de "amor" na
A natureza de Deus é amor. A pessoa que sociedade moderna não tem semelhança
conhece a Deus e que nasceu de Deus res- nem relação alguma com o amor santo e
ponde à natureza de Deus. Da mesma for- espiritual de Deus. No entanto, há faixas que
ma como a bússola aponta para o Norte, o dizem: "Deus é amor!" em vários eventos,
1 J O Ã O 4:1-16 663

especialm ente os que reúnem jovens fazen­ O que D eu s é determ ina o que deve­
do o que bem entendem , com o se fosse mos ser. "Segundo ele é, tam bém nós so­
possível d ignificar a im oralidade cham an­ mos neste mundo1) ‫ ״‬Jo 4:1 7). O am or dos
do-a de amor. cristãos uns pelos outros é evidência dessa
O am or cristão é um tipo especial de com unhão com Deus e de sua filiação do
amor. É possível traduzir 1 João 4 :1 0 por: "É Pai celestial e mostra que conhecem a D eus.
desse modo que se vê o verdadeiro am or". Sua experiência com o Senhor não é ape­
Existe um am or falso que D eus não pode nas uma crise decisiva, mas tam bém uma
aceitar. O am or nascido da própria essên­ experiência diária de conhecê-lo cada ve z
cia de Deus deve ser espiritual e santo, pois m ais. A verdadeiro teologia (o estudo de
"D eu s é espírito" e "D eu s é luz". Esse amor Deus) não é um curso árido sobre doutrinas
verdadeiro "é derramado em nosso coração sem qualquer aplicação prática, mas sim uma
pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado‫״‬ experiência diária empolgante que torna o
(Rm 5:5). cristão cada vez mais semelhantes a Cristo!
Assim , o am or é um teste válido da ver­ G ran d e quantidade de m aterial radioa­
dadeira fé cristã. Um a vez que Deus é amor tivo foi ro ubada de um hospital. A o dar
e que afirm am o s ter um relacio n am en to queixa na p o lícia, o adm inistrador do hos~
pessoal com D eus, é preciso, necessariam en­ pitai pediu:
te, revelar seu am or por nossa maneira de - Por favor, avisem o ladrão que o ma­
viver. O filho de Deus é "nascido de Deus" terial roubado é extrem am ente perigoso e
e, portanto, com partilha da natureza divina. impossível de esconder. Seus efeitos sobre
Tendo em vista que "D eus é am or‫״‬, os cris­ seu portador são extrem am ente nocivos!
tãos devem amar uns aos outros. A lógica é O indivíduo que afirma co nhecer Deus
irrefutável! e estar em união com ele deve ser pessoal­
Além de ser "nascido de D eus", o cris­ mente influenciado por esse relacionam ento.
tão também "conhece a D eus". Na Bíblia, a O cristão deve tornar-se aquilo que Deus é,
palavra co n h ecer tem um significado muito e "D eus é am or‫ ״‬. Q ualquer um que diga o
m ais profundo do que o de m ero enten­ contrário mostra que não conhece a Deus!
dimento intelectual. Esse verbo é usado, por
exem plo, para descrever a união íntima entre 2. A q u ilo q u e D eus fez : " E nviou seu
marido e esposa (G n 4 :1 ). C onhecer a Deus F ilho 1) ‫ ״‬Jo 4:9-11)
significa ter um relacionam ento profundo Um a ve z que Deus é amor, ele deve trans­
com ele - com partilhar sua vida, desfrutar e mitir esse am or não apenas em palavras, mas
ter prazer em seu amor. Esse conhecim ento também em atos. O verdadeiro am or nunca
não é apenas uma questão de entender os é estático ou indiferente. D eus revela seu
fatos, mas sim de com preender a verdade am or à humanidade de várias maneiras. Ele
(ver 1 Jo 2:3-5). preparou toda a criação para suprir as ne­
É preciso entender a declaração "Aque­ cessidades dos seres humanos. Enquanto o
le que não ama não conhece a Deus" (1 Jo pecado humano ainda não havia colocado
4 :8 ) dentro desse co ntexto . Sem dúvida, a criação sob o jugo do pecado, o homem
muitos não cristãos amam a família e até se tinha na Terra um lar perfeito no qual amar
sacrificam por ela e, sem dúvida, diversos e servir a Deus.
deles têm alguma com preensão intelectual O am or de D eus foi revelado em seu
de Deus. M as o que lhes falta? Experimentar modo de tratar da nação de Israel. "N ão vos
D eu s pessoalm en te. É possível parafrasear teve o S e n h o r afeição, nem vos escolheu
1 João 4 :8 com o: "A pessoa que não tem porque fósseis mais numerosos do que qual­
esse tipo de am or divino nunca adquiriu um quer povo, pois éreis o m enor de todos os
co n h e cim e n to pessoal e e xp e rie n cia l de povos, mas porque o S e n h o r v o s amava e
D eus. Possui som ente conhecim ento inte­ [...] vos tirou com mão poderosa e vos res-
lectual que nunca chegou ao coração‫ ״‬. gatou‫( ״‬D t 7:7, 8 ).
664 1 J O A O 4:1-1 6

A maior expressão do amor de Deus deu- de vida, pois estão "mortos nos [seus] deli-
se na morte de seu Filho. "Mas Deus prova tos e pecados" (Ef 2:1). De certo modo, é
o seu próprio amor para conosco pelo fato um paradoxo Cristo ter de morrer para que
de ter Cristo morrido por nós, sendo nós possamos viver! O s mistérios de sua mor-
ainda pecadores" (Rm 5:8). te são insondáveis, mas de uma coisa sabe-
O verbo "manifestar" significa "trazer à mos: ele morreu por nós (Gl 2:20).
luz, tornar público". É o oposto de "esconder, A morte de Cristo é descrita como uma
tornar secreto". Na antiga aliança, Deus es- "propiciação". João usou essa palavra ante-
condia-se atrás das sombras de rituais e de riormente (1 Jo 2:2), de modo que não há
cerimônias (Hb 10:1); mas em Jesus Cristo necessidade de estudá-la aqui em detalhes
"a vida se manifestou" (1 Jo 1:2). "Quem outra vez. É preciso lembrar que propiciação
me vê a mim vê o Pai", disse Jesus (Jo 14:9). não significa que o homem precise fazer
Por que Jesus Cristo se manifestou? "Sa- qualquer coisa para apaziguar Deus ou para
beis também que ele se manifestou para tirar aplacar sua ira. A propiciação é algo que
os pecados" (1 Jo 3:5). "Para isto se mani- Deus faz, a fim de dar aos homens a possi-
festou o Filho de Deus: para destruir [tornar bilidade de receber seu perdão. "Deus é luz"
ineficazes] as obras do diabo" (1 Jo 3:8). e, portanto, deve defender sua Lei santa.
Onde Jesus tirou os pecados e destruiu as "Deus é amor" e, portanto, deseja perdoar
obras de Satanás? Na cruz! Deus manifestou os pecadores. De que maneira Deus pode
seu amor na cruz, quando entregou seu Fi- perdoar os pecados e, ainda assim, se man-
lho como sacrifício pelos nossos pecados. ter fiel a sua natureza santa? A resposta é a
Essa é a única passagem da epístola em cruz. Lá, Jesus levou sobre si o castigo pelo
que Jesus é chamado de "Filho unigênito" pecado e cumpriu os requisitos justos da Lei
de Deus. Esse título é usado no Evangelho santa. Mas lá, Deus também revelou seu
de João (Jo 1:14) e significa "singular, o úni- amor e tornou possível aos homens a salva-
co de seu tipo". O fato de Deus ter enviado ção pela fé.
seu Filho ao mundo comprova a divindade É importante observar que a ênfase é so-
de Jesus Cristo. Os bebês não são enviados bre a morte de Cristo, não sobre seu nasci-
ao mundo de algum outro lugar; eles nas- mento. O fato de que Jesus "se fez carne"
cem no mundo. E como Homem perfeito, (Jo 1:14) é, sem dúvida, evidência da gra-
Jesus nasceu no mundo, mas como Filho ça e do amor de Deus, mas o texto ressalta
eterno, foi enviado ao mundo. que ele "o fez pecado por nós" (2 Co 5:21).
Mas a vinda de Cristo ao mundo e sua O exemplo de Cristo, os ensinamentos de
morte na cruz não se deram por causa do Cristo e toda a vida de Cristo aqui na Terra
amor dos homens por Deus. Antes, decor- têm seu verdadeiro motivo e cumprimento
reram do amor de Deus pelos homens. A na cruz.
atitude do mundo para com Deus represen- Pela segunda vez, os cristão são exorta-
ta qualquer coisa, menos amor! dos a "amar uns aos outros" (1 Jo 4:11). Essa
João apresenta dois propósitos da mor- exortação é um mandamento a ser obede-
te de Cristo na cruz: ela aconteceu para que cido (1 Jo 4:7), e é baseada na natureza de
vivêssemos por meio dele (1 Jo 4:9) e para Deus. "Deus é amor; conhecemos a Deus;
que ele fosse a propiciação por nossos pe- portanto, devemos amar uns aos outros.‫״‬
cados (1 Jo 4:10). Sua morte não foi um aci- Mas a exortação para amarmos uns aos
dente; foi um compromisso marcado. Cristo outros é apresentada como um privilégio,
não morreu como mártir frágil, mas sim não como uma responsabilidade: "Se Deus
como um poderoso conquistador. de tal maneira nos amou, devemos nós tam-
Jesus Cristo morreu para que vivêsse- bém amar uns aos outros" (1 Jo 4:11). Não
mos "por meio dele" (1 Jo 4:9), "para ele" (ver somos salvos por amar a Cristo, mas sim por
2 Co 5:15) e "em união com ele" (1 Ts 5:9,1 0 ). crer em Cristo (Jo 3:16). Mas depois de ter a
Os pecadores precisam encarecidamente conscientização do que ele fez por nós na
1 J O Ã O 4 :1 - 1 6 665

cruz, nossa resposta natural deve ser amar a M as tudo isso serve de preparação para
Deus e am ar uns aos outros. o terceiro fato grandioso: Deus faz algo em
É im portante os cristãos progredirem em nós! Não somos apenas estudiosos lendo um
sua com preensão do amor. A m ar uns aos livro ou espectadores assistindo a um acon-
outros motivados apenas por um senso de teci mento profundam ente com ovente. So­
dever é bom, mas amar por apreciação (não mos participantes do grande drama do amor
por obrigação) é muito melhor. de Deus.
Esse pode ser um dos m otivos pelos A fim de diminuir os custos, uma turma
quais Jesus instituiu a Ceia do Senhor, a eu­ de artes cênicas de uma universidade não
caristia. Q uando repartim os o pão e com ­ fez cópias do roteiro com pleto de uma peça
partilhamos o cálice, lem bramos a morte de para seus autores. Em ve z disso, entregou a
Cristo. Poucas pessoas (se é que existem ) cada um apenas o roteiro referente a sua
desejam que sua morte seja lembrada! Na parte na encenação. Q uando o diretor co­
verdade, lembramos a vida de um ente que­ m eçou o ensaio, percebeu que nada dava
rido e tentamos esquecer a tristeza da morte. certo. D ep o is de um a hora de deixas per­
O m esm o não se aplica a Cristo. Ele ordena didas e de seqüências trôpegas, os atores
que lem brem os sua m orte: "fazei isto em desistiram.
m em ória de m im ". Então, o diretor cham ou todos para o
Devem os lembrar da morte de Cristo de palco e disse:
m aneira espiritual, não apenas sentimental. - Eu vou ler a peça inteira para vocês,
Alguém definiu a em oção com o "um senti­ fiquem em silêncio e prestem atenção.
mento sem responsabilidade". É fácil sentir Leu o roteiro com pleto em vo z alta, e,
em oções solenes em um culto da igreja e, quando terminou, um dos atores exclam ou:
ainda assim, continuar levando a mesma vida - Então é disso que a peça trata!
derrotada. A verdadeira experiência espiri­ E quando os atores entenderam a histó­
tual envolve o ser humano com o um todo. ria inteira, conseguiram encaixar um papel
A m ente precisa co m p reend er a verdade com o outro e ensaiar corretam ente.
espiritual; o coração precisa amar e apreciar Q uan d o lem os 1 João 4:12-16, temos
essa verdade; e a volição precisa agir de acor­ vontade de dizer: "Então é disso que o tex­
do com ela. Q uanto mais alguém se apro­ to trata!", pois descobrim os nessa passagem
funda no significado da cruz, m aior será seu o que Deus tinha em mente ao elaborar seu
am or por Cristo e m aior sua preocupação plano maravilhoso de salvação.
ativa peíos semelhantes. Em prim eiro lugar, Deus deseja viver em
V im o s o que D eus é e o que ele fez; nós. Não se contenta em dizer que ele nos
mas um terceiro fundam ento conduz a um ama nem mesmo dem onstrar esse amor.
nível ainda mais profundo de significado e É interessante acom pan har os lugares
de im plicações acerca do amor cristão. onde Deus habitou conform e a Bíblia os re­
gistra. No princípio, Deus tinha com unhão
3. O q u e D eus f a z : " D eus permanece direta com o homem (G n 3 :8), mas o peca­
em nós " (1 Jo 4:12-16) do rompeu essa com unhão. Deus precisou
Pode ser proveitoso recapitular o que João derram ar o sangue de anim ais para cobrir
disse até agora sobre a verdade fundamen­ os pecados de Adão e Eva, a fim de que
tal de que "D eus é am or". pudessem voltar a ter com unhão com ele.
Essa verdade é revelada não apenas na U m a d as p alavras-ch ave do Livro de
Palavra, mas também na cruz, onde Cristo G ênesis é o verbo andar. Deus andava com
morreu por nós. "D eus é am or" não é ape­ o hom em , o hom em and ava co m D eu s.
nas uma doutrina da Bíblia; é um fato eter­ Enoque (G n 5 :2 2), Noé (G n 6 :9 ) e Abraão
no dem onstrado claram ente no C alvá rio . andavam com Deus (G n 17:1; 2 4:40 ).
D eus disse algo para nós e Deus fez algo M a s na é p o c a d o s a c o n te c im e n to s
p o r n ó s. registrados em Êxodo, havia ocorrido uma
666 1 J O Ã O 4:1 -1 6

mudança: Deus não apenas andava com os Deus é invisível (1 Tm 1:17), e nenhum ho-
homens, mas também vivia ou habitava com mem pode vislumbrá-lo em sua essência.
eles. O mandamento de Deus para Israel foi: Jesus "é a imagem do Deus invisível" (Cl
"E me farão um santuário, para que eu pos- 1:15). Ao viver no mundo com um corpo
sa habitar no meio deles" (Êx 25:8). O pri- humano, Jesus revelou Deus. Mas Jesus não
meiro desses santuários foi o tabernáculo. está mais aqui na Terra. De que maneira,
Quando Moisés o consagrou, a glória de então, Deus se revela ao mundo?
Deus desceu e veio habitar na tenda (Êx Ele se revela pela vida de seus filhos. Os
40:33-35). homens não podem ver Deus, mas podem
Deus habitava no acampamento, mas nos ver. Ao permanecer em Cristo, vamos
não habitava no corpo dos israelitas como amar uns aos outros, e nosso amor uns pe-
indivíduos. los outros revelará o amor de Deus pelo
Infelizmente, a nação pecou, e a glória mundo necessitado. O amor de Deus será
de Deus partiu (1 Sm 4:21). Mas Deus usou experimentado em nós e, então, será expe-
Samuel e Davi para restaurar a nação, e rimentado por meio de nós.
Salomão construiu um templo magnífico. Essa palavra importante - "permanecer‫״‬
Quando o templo foi consagrado, a glória de - é usada seis vezes em 1 João 4:12-16.
Deus voltou a habitar na Terra (1 Rs 8:1-11). Refere-se à comunhão pessoal com Cristo.
Mas a história repetiu-se; Israel desobe- Habitar em Cristo significa permanecer em
deceu a Deus e foi levado para o cativeiro, união espiritual com ele, de modo que ne-
e seu templo esplendoroso foi destruído. nhum pecado se coloque entre nós. Uma
Ezequiel, um dos profetas do cativeiro, viu a vez que somos "nascidos de Deus", temos
glória de Deus partir do templo (Ez 8:4; 9:3; união com Cristo; mas é só ao confiar nele
10:4; 11:22, 23). e ao obedecer a seus mandamentos que
A glória de Deus voltou? Sim, na Pessoa temos comunhão com ele. Da mesma forma
de Jesus Cristo, o Filho de Deus! "E o Ver- que o marido e a esposa fiéis "permanecem
bo se fez carne e tabernaculou em nosso no amor" mesmo separados por grandes
meio e contemplamos a sua glória" (Jo 1:14, distâncias, também o cristão permanece no
tradução literal). A glória de Deus habitou amor de Deus. Esse permanecer é possível
na Terra no corpo de Jesus Cristo, pois seu por causa do Espírito Santo que habita em
corpo era templo de Deus (Jo 2:18-22). Mas nós (1 Jo 4:13).
os homens perversos pregaram esse cor- Que maravilha e privilégio ter Deus ha-
po em uma cruz. Crucificaram "o Senhor bitando em nós! Os israelitas do Antigo Tes-
da glória" (1 Co 2:8). Tudo isso fazia parte tamento olhavam com grande admiração
do plano maravilhoso de Deus e Cristo res- para o tabernáculo ou para o templo, pois
suscitou dentre dos mortos, voltou para o era lá que se encontrava a presença de Deus.
céu e enviou seu Espírito Santo para habitar Nenhuma pessoa ousava entrar no Santo dos
nos homens. Santos, onde Deus estava entronizado em
Agora, a glória de Deus habita no corpo glória! Mas nós temos o Espírito de Deus
dos filhos de Deus. "Acaso, não sabeis que vivendo dentro de nós! Permanecemos em
o vosso corpo é santuário do Espírito San- seu amor e experimentamos sua presença
to, que está em vós, o qual tendes da par- habitando em nós. "Se alguém me ama, guar-
te de Deus, e que não sois de vós mesmos?" dará a minha palavra; e meu Pai o amará, e
(1 Co 6:19). A glória de Deus partiu do viremos para ele e faremos nele morada"
tabernáculo e do templo quando Israel de- (Jo 14:23).
sobedeceu a Deus, mas Jesus prometeu que O amor de Deus é proclamado na Pala-
o Espírito habitará em nós para sempre (Jo vra ("Deus é amor") e provado na cruz. Mas
14:16). aqui encontramos algo mais profundo: o
Considerado esse contexto, é possível amor de Deus é aperfeiçoado no cristão. Por
entender melhor o que 1 João 4:12-16 diz. mais inacreditável que pareça, o amor de
1 J O Ã O 4:1-1 6 667

D eus não é aperfeiçoado nos anjos, mas sim Jesus nãò se ateve a pregar o am or de
nos pecadores salvos pela graça divina. Nós, Deus; ele o provou entregando sua vida na
cristãos, somos, agora, tabernáculos e tem- cruz e espera que seus seguidores façam o
pios onde Deus habita. Ele revela seu amor m esmo. Perm anecendo em Cristo, perma-
por meio de nós. necerem os em seu amor. Se perm anecem os
G . Cam pbell M organ, conhecido prega- em seu amor, dem onstrarem os esse am or
dor inglês, teve cinco filhos, e todos se tor- a outros. Ao com partilhar esse amor, pro-
naram ministros do evangelho. Um dia, uma vam os a nosso co ração que estam os em
pessoa que visitava a família de Morgan teve Cristo. Em outras palavras, não existe sepa-
a ousadia de perguntar: ração entre a vida interior e a vida exterior
- Q ual dos seis é o melhor pregador? do cristão.
E a resposta em uníssono foi: - A mamãe! Perm anecer no amor de D eus gera dois
É evidente que a sra. Morgan nunca ha- benefícios espirituais maravilhosos na vida
via pregado um sermão formal em uma igre- do cristão: ( 1 ) ele cresce em conhecim ento;
ja, mas sua vida era um serm ão constante e (2 ) ele cresce na fé (1 Jo 4 :1 6 ). Q uanto
sobre o am or de Deus. A vida de um cristão mais amamos a Deus, mais com preendem os
que perm anece no am or de Deus é um tes- o amor de Deus. E quanto mais compreen-
temunho poderoso de Deus no mundo. O s dem os o am or de Deus, mais fácil torna-se
hom ens não podem ver Deus, mas podem confiar em D eus. Afinal, quando conhece-
ver seu am or nos movendo a realizar atos mos alguém intim am ente e am am os essa
de socorro e de bondade. pessoa de todo o coração, não há dificulda-
Estes versículos sugerem três testemu- de em confiar nela.
nhos distintos: { 1 ) 0 testem unho d o cristão Um homem estava na seção de cartões
de que Jesus Cristo é o Filho de D eus (1 Jo de uma loja e não conseguia escolher um
4 :1 5 ); (2) o testem unho n o cristão pelo Es- cartão. A vendedora perguntou se ele preci-
pírito (1 Jo 4 :1 3 ); (3) o testem unho p o r m eio sava de ajuda, e ele respondeu:
do cristão de que D eus é am or e enviou - M inha esposa e eu estamos comemo-
seu Filho para m orrer pelo m undo (1 Jo rando quarenta anos de casados, mas não
4 :1 4 ). consigo encontrar um cartão que diga o que
Esses testemunhos não podem ser sepa- eu tenho em mente. Q uarenta anos atrás
rados. O mundo não crerá que Deus ama teria sido fácil escolher um cartão, pois, na-
os pecadores enquanto não vir seu am or quela época eu pensava que sabia o que
operando na vida de seus filhos. era amor. M as agora, nosso am or um pelo
U m a jovem obreira do Exército da Salva- outro é muito maior, e não consigo encon-
ção encontrou uma mulher abandonada na trar dizeres que o expressem corretam ente!
rua e a convidou para entrar na capela e ser Assim é a exp eriên cia de crescim ento
ajudada. A obreira garantiu à mulher: do cristã o em seu re la cio n a m e n to co m
- Nós amam os você e desejam os ajudá- Deus. Ao perm anecer em Cristo e passar
Ia. Deus ama você. Jesus morreu por você. tempo em com unhão com ele, o cristão ama
M as a mulher não quis sair de onde es- ao Senhor cada v e z m ais. Seu am or por
tava. Assim , com o que por impulso divino, outros cristãos, pelos perdidos e até pelos
a m oça inclinou-se e beijou a m ulher na face, inimigos cresce. Ao com partilhar o am or do
tomando-a em seus braços. A mulher come- Pai co m outro s, e xp e rim e n ta m ais desse
çou a soluçar e, com o uma criança, deixou- am or na própria vida e o com preende cada
se co nd uzir para dentro da capela, onde, ve z melhor.
mais tarde, aceitou a Cristo. Assim , "D eus é am or‫ ״‬não é apenas uma
- V ocê disse que Deus me amava - ela declaração bíblica profunda. É a base para o
co m en to u d ep o is - , m as foi só quand o relacionam ento do cristão com Deus e com
m ostrou que Deus me am ava que desejei o próximo. U m a ve z que Deus é amor, nós
ser salva. podem os am ar. Seu am or não é algo do
668 1 J O Ã O 4:1-16

passado; é uma realidade presente. "Ame- palavras. As pessoas precisam de expressões


mo-nos uns aos outros" começa como um de amor.
mandamento (1 Jo 4:7), mas se torna um pri- Um dos motivos pelos quais Deus permi-
vilégio (1 Jo 4:11). No entanto, é mais do te que o mundo odeie os cristãos é que os
que um mandamento ou do que um privi- cristãos paguem o ódio do mundo com amor.
légio. Também é uma conseqüência mara- "Bem-aventurados sois quando, por minha
vilhosa e uma evidência de que estamos em causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e,
Cristo (1 Jo 4:12). Amar uns aos outros não mentindo, disserem todo mal contra vós [‫ ״‬.]
é algo que simplesmente se deve fazer; é Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos
algo que se deseja fazer. e orai pelos que vos perseguem" (Mt 5:11, 44).
Podemos extrair algumas aplicações prá- - Pastor, a Bíblia diz que devemos amar
ticas dessa verdade fundamental. ao próximo, mas duvido que alguém seja
Em primeiro lugar, quanto melhor se co- capaz de amar pessoas como meus vizinhos
nhece o amor de Deus, mais fácil se torna - disse a sra. Barton no final de uma aula da
viver como cristão. O conhecimento bíbli- escola dominical. - Já tentei ser agradável
co, por si só, não toma o lugar da experiên- com eles, mas não funciona.
cia pessoal do amor de Deus. Na verdade, - Talvez a resposta não seja "ser agradá-
se não houver cuidado, pode ser um substi- vel" - explicou o pastor. - É possível ser agra-
tuto perigoso. dável com as pessoas por motivos errados.
Helen voltou para casa de um retiro de - Vocês acha que eu estou tentando
jovens extremamente empolgada com o "suborná-los"?
que havia aprendido. - Algo assim... Creio que nós dois deve-
- Ouvimos uma palestra maravilhosa mos orar para que Deus lhe dê amor espir/'-
sobre as devocionais pessoais - contou para tual verdadeiro por seus vizinhos. Ter amor
sua irmã Joyce. - Não vou deixar de fazer cristão por eles não lhes fará mal algum -
minha devocional um dia sequer. disse o pastor.
Uma semana depois, enquanto Joyce Demorou algumas semanas, mas a sra.
passava o aspirador de pó na casa, ouviu Barton cresceu em amor por seus vizinhos;
Helen gritar: e também se viu crescendo na própria vi-
- Você precisa fazer esse barulho todo? da espiritual.
Não está vendo que eu estou tentando fazer - Meus vizinhos não mudaram muito -
minha devocional? - Terminada a explosão comentou em seu grupo de oração mas
verbal, Helen bateu a porta com toda força. minha atitude em relação a eles mudou bas-
O que ela ainda não havia aprendido é tante. Eu costumava fazer coisas por eles para
que as devocionais não são um fim em si. conseguir sua aprovação. Agora, porém, faço
Se não ajudarem a amar a Deus e aos ou- as coisas por amor a Cristo, porque o Senhor
tros, não servem de muita coisa. A Bíblia é morreu por eles, e isso faz toda diferença!
uma revelação do amor de Deus; quanto Neste parágrafo da primeira epístola de
melhor se compreende seu amor, menos João, o apóstolo vai ao cerne do amor cris-
dificuldade haverá em obedecer ao Senhor tão. No entanto, ainda tem outras coisas a
e em amar aos outros. ensinar. Na seção seguinte, João trata do
Em segundo lugar, se não amarmos os amor pessoal por Deus e de como Deus
perdidos, nosso testemunho verbal lhes será aperfeiçoa esse amor em nós.
inútil. A mensagem do evangelho é uma Esses dois aspectos do amor cristão não
mensagem de amor. Esse amor foi decla- podem ser separados um do outro: se amar-
rado e demonstrado por Jesus Cristo. A úni- mos a Deus, amaremos uns aos outros, e se
ca maneira de ganhar outros para Cristo é amarmos uns aos outros, cresceremos no
declarar o evangelho e demonstrá-lo em amor por Deus.
nosso modo de viver. Muitos "testemunhos", E as duas declarações acima são verda-
hoje em dia, não passam de uma porção de deiras, porque "Deus é amor".
seus filhos da mesma forma que ama Cristo
9 (Jo 17:23). E Jesus diz que o Pai deseja que
o amor com o qual ele ama seu Filho esteja
em seus filhos (Jo 1 7:26).
A m em , H o n r em e Em outras palavras, a vida cristã deve ser
uma experiência diária de crescim ento no
O b ed eça m am or de D eus. À m edida que cresce em
‫ ו‬JoAo 4:1 7 - 5:5 amor, o cristão passa a conhecer o Pai ce­
lestial de maneira cada vez mais profunda.
É fácil fragmentar a vida cristã e se preo­
cu p a r com esta ou aquela parte em v e z
de se preocupar com o todo. U m grupo
noivo estava extrem am ente nervoso pode enfatizar a "santidade" e instar seus
enquanto ele e a noiva tratavam dos membros a conquistar vitória sobre o peca­
planos para a cerim ônia de casamento com do. O utro pode enfatizar o testemunho ou
o pastor. a "separação do mundo". M as, na verdade,
- Gostaria de ver uma cópia dos votos cada uma dessas ênfases é apenas o pro­
matrimoniais - disse o rapaz, e o pastor lhe duto de outra coisa: o am or crescente do
deu uma cópia do roteiro da cerim ônia. O cristão pelo Pai. O am or cristão maduro é a
jovem leu com atenção e depois devolveu grande necessidade universal no meio do
o papel dizendo: - Não serve! Aqui não diz povo de Deus.
em parte alguma que ela deve me obedecer! Com o o cristão pode saber que seu amor
A noiva sorriu, segurou a mão do noivo pelo Pai está sendo aperfeiçoado? Este pa­
e disse: rágrafo de 1 João sugere quatro evidências.
- Q uerido, a palavra o b e d e ce r não pre­
cisa estar escrita num pedaço de papel. Ela 1. C o n f i a n ç a (1 Jo 4:17-19)
já foi escrita com amor no meu coração. Aqui há duas palavras novas na epístola:
Essa é a verdade que João tem em men­ "medo" e "tormento". Convém lembrar que
te nesta parte de sua epístola. Até aqui, a o apóstolo está se dirigindo a cristãosl Pode
ênfase foi sobre os cristãos amarem uns aos acontecer de um cristão ter uma vida cheia
ou tros; m as agora, a ênfase é em um tó­ de medo e tormento? Infelizmente, muitos
pico mais profundo e m ais im portante: o cristãos professos sentem-se amedrontados e
am or do cristão p e lo Pai. Não se pode amar atormentados diariamente. O motivo para isso
o próxim o nem o irmão sem antes am ar o é a falta de crescimento no amor de Deus.
Pai c e le stia l. Em p rim eiro lugar, deve-se O termo confiança pode significar "ou­
amar a Deus de todo o coração; então, sere­ sadia" ou "liberdad e de exp ressão ". Não
mos capazes de am ar o próxim o com o a quer dizer im pudência nem insolência. O
nós mesmos. cristão que experim enta o am or de Deus
A palavra-chave desta seção é aperfei­ sendo aperfeiçoado em sua vida cresce na
çoar. Deus deseja aperfeiçoar em nós seu confiança em Deus. Possui temor reverente
amor por nós e nosso amor por ele. O ter­ do Senhor, não medo atormentador. É um
mo aperfeiçoar dá a idéia de m aturidade e filho que respeita o Pai, não um prisioneiro
de p len itu d e. O cristão não deve crescer que se encolhe de pavor diante de um juiz.
apenas na graça e no conhecim ento (2 Pe O term o grego usado para "m ed o " é
3:18), mas também no amor pelo Pai. Esse cres­ phobia, uma palavra que faz parte de nosso
cim ento se dá em resposta ao am or do Pai vocabulário. O s livros de psicologia relacio­
por ele. nam fobias de todo tipo com o, por exem plo,
Q u ão grande é o amor de Deus por nós? acrofobia, o medo de altura, e hidrofobia,
G rande o suficiente para ter enviado seu Fi­ o m edo de água. A q u i, João escreve so ­
lho para morrer por nós (Jo 3:16). Ele ama bre krisisfobia, o medo do julgam ento. O
670 1 J O Ã O 4 : 1 7 - 5: 5

apóstolo já m encionou essa verdade sole- definido pelo amor. Não fomos nós que o
ne em 1 João 2 :2 8 e volta a tratar dela nesta amam os; foi ele quem nos amou (ver 1 Jo
passagem. 4 :1 0 ). "Po rque, se nós, quando inim igos,
Q u em sente m edo norm alm ente tem fomos reconciliados com Deus mediante a
algo no passado que o assombra, algo no morte do seu Filho, muito mais, estando já
presente que o perturba ou algo em seu fu- reconciliados, seremos salvos pela sua vida"
turo que o faz sentir-se am eaçado. Seu medo (Rm 5:10). Se Deus nos amou quando não
pode resultar, ainda, de uma com binação éramos filhos, vivendo em desobediência a
desses três elementos. O que crê em Jesus ele, quão m aior não é seu am or por nós
Cristo não precisa temer o passado, o pre- agora que somos seus filhos!
sente nem o futuro, pois experim entou o Não é preciso temer o presente, pois "o
amor de Deus, e esse amor está sedo aper- perfeito amor lança fora o medo" ( ‫ ן‬Jo 4 :1 8).
feiçoado em sua vida cada dia. Ao crescer no am or de Deus, deixam os de
"Aos homens está ordenado morrerem temer o que eíe fará.
uma só vez, vindo, depois disto, o ju ízo " (Hb É evidente que existe um "temor de Deus"
9:27). M as o cristão não precisa temer o jul- correto, mas este não causa tormento. "Por-
gamento futuro, pois Cristo já foi julgado por que não recebestes o espírito de escravidão,
ele na cruz. "Em verdade, em verdade vos para viverdes, outra vez, atem orizados, mas
digo: quem ouve a minha palavra e crê na- recebestes o espírito de adoção, baseados
quele que me enviou tem a vida eterna, não no qual clam am os: Aba, Pai" (Rm 8 :1 5 ). "Por-
entra em juízo, mas passou da morte para a que D eus não nos tem dado espírito de
vida" (Jo 5 :2 4 ). "Agora, pois, já nenhum a covardia, mas de poder, de amor e de mo-
condenação há para os que estão em Cristo deração" (2 Tm 1:7).
Jesus" (Rm 8:7). Para o cristão, o julgamen- Na verdade, o medo é o início do tor-
to não é futuro, mas sim passado. Seus pe- mento. Fica-se atormentado ao olhar para o
cados já foram julgados na cru z e jam ais que se encontra adiante. M uita gente sofre
serão usados para condená-lo outra vez. intensamente ao pensar na próxima consulta
Eis o segredo de nossa confiança: "se- com o dentista. Pode-se imaginar o sofrimen-
gundo ele é, também nós somos neste mun- to intenso de um não-salvo ao contemplar o
do" (1 Jo 4:1 7). Sabemos que quando Cristo dia do julgamento. M as uma vez que o cris-
voltar, seremos "com o ele" (1 Jo 3:1, 2), mas tão tem co nfiança no dia do julgam ento,
essa declaração refere-se, principalm ente, ao também pode ter confiança ao encarar a vida
corpo glorificado que o cristão receberá (Fp no presente, pois nenhum a situação nesta
3:20, 21). Posicionalmente, já somos "com o vida sequer chega perto da severidade terrí-
ele". Com o m em bros do corpo de Cristo, vel do dia do julgamento.
somos identificados com ele de maneira tão Deus deseja que seus filhos vivam em
próxima que nossa posição neste mundo é um ambiente de amor, não de medo e de
com o a posição exaltada de Cristo no céu. tormento. Não é preciso temer a vida nem
Isso significa que o Pai nos trata da mes- a morte, pois somos aperfeiçoados no amor
ma forma que trata seu Filho amado. Saben- de Deus. "Q uem nos separará do amor de
do disso, que motivo há para temer? Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perse-
Não é preciso temer o futuro, pois nossos guição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou
pecados foram julgados em Cristo quando espada? Em todas estas coisas, porém, so-
ele morreu na cru z. O Pai não iria julgar mos mais que vencedores, por meio daquele
nossos pecados novamente sem julgar seu que nos amou. Porque eu estou bem certo
Filho, pois "segundo ele é, também nós so- de que nem a morte, nem a vida, nem os
mos neste mundo". anjos, nem os principados, nem as coisas
Não é preciso temer o passado, pois "Ele do presente, nem do porvir, nem os pode-
nos amou primeiro". Desde o princípio, nos- res, nem a altura, nem a profundidade, nem
so relacionam ento com D eus sem pre foi qualquer outra criatura poderá separar-nos
1 J O Ã O 4 :1 7 - 5 : 5 671

do am or de Deus, que está em Cristo Jesus, medo desaparece, e é possível encarar Deus
nosso Senhor" (Rm 8 :3 5 , 37-39). e os hom ens sem preocupação.
Q u e maravilhoso! Nada em toda a cria­ - Q uantos m em bros tem esta igreja? -
ção - presente ou futura - pode se colocar perguntou um visitante ao pastor.
entre o am or de Deus e nós! - C e rca de mil m em bros - respondeu
O aperfeiçoam ento do am or de Deus o pastor.
em nossa vida normalmente envolve diver­ - É um bocado de gente para você ten­
sos estágios. Q uan d o estávam os perdidos, tar agradar! - exclam ou o visitante.
vivíam os com medo e não sabíamos coisa - M eu am igo, posso lhe garantir que
alguma sobre o amor de Deus. Depois de nunca tentei agradar todos os membros, nem
aceitar a Cristo, encontram os uma mistura mesmo alguns deles - disse o pastor sorrin­
confusa de medo e amor no coração. Mas do. - M eu objetivo é agradar uma Pessoa: o
ao crescer em com unhão com o Pai, aos Senhor Jesus Cristo. Se meu relacionamento
poucos, o medo foi desaparecendo, e nosso com ele estiver em ordem, as coisas também
coração passou a ser controlado somente estarão em ordem em meu relacionamento
pelo am or de D eus. O cristão imaturo vê-se com os membros da igreja.
dividido entre o medo e o am or; o cristão Um cristão imaturo que não cresce em
maduro descansa no amor de Deus. seu amor por Deus pode pensar que precisa
U m dos sinais de que o am or do cristão impressionar outros com sua "espiritualidade".
por D eus está am adurecendo é uma con­ Esse erro o transforma em um mentiroso! Pro­
fiança cada vez maior na presença de Deus. fessa algo que não pratica e desempenha um
M as essa confiança não é o ponto final; ela papel em vez de viver a vida.
sem pre conduz a resultados morais. Taivez o melhor exem plo desse pecado
seja a experiência de Ananias e Safira (At 5).
2 . H o n e s t id a d e ( t ) o 4 : 2 0 , 2 1 ) O s dois venderam uma propriedade e leva­
Encontramos aqui, pela sétima vez, as pala­ ram parte do dinheiro para o Senhor, dando
vras: "Se alguém disser...". a im pressão, porém , de que estavam ofer­
Cad a vez que se vê essa expressão, já tando todo o dinheiro. O pecado desse casal
se sabe o que virá em seguida: uma adver­ não foi tomar dinheiro de Deus, pois Pedro
tência sobre o fingimento. deixou claro que ficava a critério deles deci­
O medo e o fingimento costumam an­ dir com o usar o dinheiro (At 5 :4). O pecado
dar juntos. Na verdade, as duas coisas tive­ deles foi a hipocrisia. Tentavam levar as pes­
ram origem no pecado do prim eiro casal. soas a pensar que eram mais generosos e
Q uando Adão e Eva sentiram culpa, a pri­ espirituais do que, na verdade, era o caso.
meira coisa que fizeram foi tentar esconder- "Fazer de conta" é uma das brincadei­
se de Deus e cobrir sua nudez. M as nem a ras prediletas de crianças pequenas, mas, por
cobertura e nem as desculpas que criaram certo, não é um sinal de m aturidade nos
podiam escondê-los dos olhos do Deus que adultos. O s adultos devem c o n h e c e r a si
vê todas as coisas. Por fim, Adão adm itiu: m esm os e ser autênticos, cum prindo o pro­
"O u vi a tua voz no jardim , e, porque estava pósito para o qual Deus os salvou. Sua vida
nu, tive medo, e me escondi" (G n 3:10). deve ser marcada pela honestidade.
M as quando o coração tem confiança A honestidade espiritual traz paz e poder
diante de Deus, não há necessidade de fingir para quem a pratica. Não é preciso manter
nem para Deus, nem para as outras pessoas. um registro das m entiras ditas nem gastar
O cristão que não confia em Deus também energia para encobrir a verdade. U m a ve z
não confia no povo de Deus. Parte do tor­ que sua vida é franca e honesta diante do
mento decorrente do medo consiste em uma Pai, viverá de m aneira honesta diante das
preocupação constante. "O que será que pessoas. O am or e a verdade andam juntos.
as pessoas sabem, de fato, a meu respeito?" A pessoa sabe que Deus a ama e a aceita
M as quando temos confiança em Deus, esse (mesmo com todos os seus defeitos) e, por
672 ‫ ו‬J O Ã O 4:1 7 - 5:5

isso, não tenta impressionar os outros. Ama necessidade. O que Paulo escreveu sobre
a Deus e, portanto, ama os irmãos em Cristo. as ofertas também se aplica à vida: "Não com
As notas de Jerry haviam caído bastante tristeza ou por necessidade; porque Deus
e, para piorar, ele estava com problemas de ama a quem dá com alegria" (2 Co 9:7).
saúde. Preocupado com ele, seu colega de Qual é o segredo de obedecer com ale-
quarto finalmente o convenceu a falar com gr/a? É reconhecer que a obediência é um
o psicólogo da universidade. assunto de família. Servimos a um Pai amoro-
- Não consigo entender o que se passa so e ajudamos os irmãos e as irmãs em Cris-
comigo... - admitiu Jerry. - Ano passado, to. Somos nascidos de Deus, amamos a
estava tudo indo bem nos estudos e, este Deus e aos filhos de Deus e demonstramos
ano, é como estar no meio de uma guerra. esse amor guardando os mandamentos de
- Você tem algum problema com seu Deus.
novo colega de quarto? - perguntou o con- Uma mulher foi ao escritório do editor
selheiro. de um jornal na esperança de lhe vender
A demora de Jerry em responder pare- alguns poemas que ela havia escrito.
ceu significativa ao psicólogo. - Do que tratam seus poemas? - per-
- Jerry, você está se concentrando em guntou o editor.
viver como um bom aluno ou tentando im- - Eles falam de amor! - disse a poetisa
pressionar seu colega de quarto com suas com todo entusiasmo.
habilidades? O editor reclinou-se para trás em sua
- É, acho que esse é o problema... - res- cadeira e pediu:
pondeu Jerry com um suspiro de alívio. - - Leia um deles para mim. O mundo cer-
Fiquei desgastado fingindo ser algo que não tamente precisa de um bocado de amor!
sou, e agora não tenho energia para viver O poema que ela leu era cheio de luares,
de verdade. de flores e de outras expressões melosas, e
A confiança em Deus e a honestidade o editor não pôde mais suportar.
com os outros são duas marcas da maturi- - Sinto muito - disse ele mas você
dade que sempre aparecem quando o amor não entende nada de amor! Amar não é fa-
de Deus está sendo aperfeiçoado. lar da Lua e das rosas. É assentar-se ao lado
do leito de um enfermo a noite toda ou fa-
3. O bediência alegre (1 Jo 5:1-3) zer hora-extra para poder comprar sapatos
Não é apenas obediência, mas obediência para os filhos. O mundo não precisa desse
alegre! "Os seus mandamentos não são pe- tipo de amor poético. Precisa do bom e ve-
nosos" (1 Jo 5:3). lho amor prático.
Com exceção dos seres humanos, tudo D. L. Moody costumavam dizer: "Toda
na criação obedece à vontade de Deus. Bíblia deve ser encadernada com couro de
"Fogo e saraiva, neve e vapor e ventos pro- sapato". Não se demonstra amor por Deus
celosos que lhe executam a palavra" (SI com palavras vazias, mas sim com obras
148:8). No Livro de Jonas, os ventos, as on- cheias de disposição. Os cristãos não são
das e até o peixe obedecem às ordens de escravos obedecendo a algum senhor, mas
Deus, enquanto o profeta insistia em deso- sim filhos obedecendo ao Pai. E o pecado é
bedecer. Até mesmo a planta e o verme um assunto de família.
pequenino fizeram o que Deus ordenou. Um dos testes do amor em processo de
Mas o profeta obstinado insistiu em fazer as amadurecimento é a atitude em relação à
coisas a seu modo. Bíblia, pois é nas Escrituras que está revela-
A desobediência à vontade de Deus é da a vontade de Deus para a vida. Um não
trágica, mas a obediência relutante e de salvo pode considerar a Bíblia um livro im-
má vontade não é melhor. Deus não dese- possível, principalmente porque não enten-
ja que lhe desobedeçamos, mas também de sua mensagem espiritual (1 Co 2:14). Para
não quer que obedeçamos por medo ou por o cristão imaturo, as exigências que a Bíblia
1 J O Ã O 4 :1 7 - 5 : 5 673

faz são um fardo pesado. Em certo sentido, prazer em obedecer a ela. A confiança em
é com o uma criança pequena aprendendo Deus, a honestidade com o semelhante e a
a obedecer que pergunta: "Por que eu te­ obediência alegre são as marcas do aperfei­
nho de fazer isso?‫ ״‬ou "N ão seria melhor eu çoam ento do amor e os ingredientes para
fazer ass/m?" uma vida cristã feliz.
M as o cristão que experim enta o amor Também é possível ver com o o pecado
de Deus aperfeiçoa os caminhos de sua vida destrói tudo isso. Ao desobedecer a Deus,
e encontra prazer na Palavra de Deus e a perde-se a confiança nele. Se o cristão não
ama. Não lê a Bíblia com o um livro didáti­ confessar seu pecado imediatamente e se não
co, mas sim com o uma carta de amor. pedir o perdão de Deus (1 Jo 1:9), com eçará
O capítulo mais longo da Bíblia é o Sal­ a fingir a fim de encobrir sua transgressão.
mo 119, e seu tema é a Palavra de Deus. Em A desobediência conduz à desonestidade,
todos os versículos, com exceção de dois e ambas afastam o coração da Palavra de
(SI 119:122, 132), o salmista m enciona, de Deus. Em vez de ler a Bíblia com alegria para
uma forma ou de outra, a Palavra de Deus, descobrir a vontade do Pai, ignora-se a Pa­
cham ando-a de "lei", "p receito ", "m anda­ lavra ou, por vezes, lê-se a Bíblia de forma
mento" etc. O mais interessante, porém, é corriqueira.
que o salmista ama a Palavra de Deus e gos­ O fardo da religião (seres humanos ten­
ta de falar a seu respeito! "Q uanto amo a tando agradar a Deus com as próprias for­
tua lei!" (SI 119:97). Ele se regozija na Lei (SI ças) é extremamente pesado (ver M t 23:4),
119:14, 162) e se deleita nela (SI 119:16, 24). mas o jugo que Cristo coloca sobre nós não
É com o mel para seu paladar (SI 119:103). é, de modo algum, penoso (M t 11:28-30).
Aliás, ele transforma a Lei de Deus em cân­ O am or torna os fardos mais leves. Jacó teve
tico: "O s teus decretos são motivo dos meus de trabalhar sete anos para receber a espo­
cânticos, na casa da minha peregrinação" sa que amava, mas a Bíblia diz que "estes
(SI 119:54). lhe pareceram com o poucos dias, pelo mui­
Imagine transformar decretos em cânti­ to que a am ava‫( ״‬G n 2 9 :2 0 ). O am or em
cos. O que aconteceria se a orquestra sin­ aperfeiçoam ento produz obediência alegre.
fô n ica de nossa cid ad e apresentasse um
concerto tendo as leis de trânsito com fun­ 4. V it ó r ia (t Jo 5:4, 5)
do musical? A maioria de nós não considera A deusa grega da vitória era Nike, e esse
as leis uma fonte de cânticos jubilosos, mas também é o nome de um tipo de míssil aéreo
era assim que o salmista via a Lei de Deus. norte-americano. O termo grego nike (pro­
Um a vez que ele amava ao Senhor, também nuncia-se "niqui") significa, sim plesm ente,
amava sua Lei. O s mandamentos de Deus vitória. M as qual é a relação entre a vitória e
não eram opressivos nem pesados para ele. o amor cristão cada vez mais maduro?
Assim como o filho que ama o pai obedece O s cristãos vivem em um mundo real
de bom grado a suas ordens, também o cris­ repleto de obstáculos trem endos. Não é fá-
tão cujo amor está sendo aperfeiçoado obe­ d l obedecer a Deus. É muito mais fácil se­
dece com alegria às ordens de Deus. guir o fluxo do mundo e desobedecer a D eus,
Nesse ponto, é bom recapitular e com ­ fazendo o que nos parece melhor.
preender o significado prático do amor em Mas o cristão é "nascido de D eus". Isso
processo de am adurecim ento na vida diá­ significa ter dentro de si a natureza divina, e
ria. Λ medida que o amor pelo Pai torna-se ela é incapaz de desobedecer a Deus. "Por­
mais maduro, há crescim ento em confian­ que todo o que é nascido de Deus vence o
ça, e não há mais medo de fazer sua vonta­ mundo" (1 Jo 5:4). Q uando a velha nature­
de. H á tam bém honestidade m útua e se za está no controle, o cristão desobedece
perde o medo da rejeição. Há, ainda, uma a D eus, mas quando sua nova natureza está
nova atitude diante da Palavra de Deus: ela no controle, obedece a Deus. O mundo ape-
é a expressão do am or de D eus, e existe Ia para a velha natureza (1 Jo 2:15-17) e tenta
674 1 J O Ã O 4:1 7 - 5:5

fazer os mandamentos de Deus parecerem ele está na luz" (1 Jo 1:7). Quem afirma per-
pesados. manecer nele deve portar-se como ele se
A vitória decorre da fé, e há crescimen- portou (1 Jo 2:6). Seus filhos devem ser na
to na fé à medida que se cresce no amor. Terra como ele é no céu. Tudo o que é pre-
Quanto mais se ama uma pessoa, mais fá- ciso fazer é apropriar-se dessa posição ma-
cil é confiar nela. Quanto mais o amor por ravilhosa pela fé a agir de acordo com ela.
Cristo é aperfeiçoado, mais a fé em Cristo Quando Jesus Cristo morreu, morremos
também o será, pois a fé e o amor devem com ele. Nas palavras de Paulo: "Estou cruci-
amadurecer juntos. ficado com Cristo" (Gl 2:19). Quando Cristo
João gostava do termo vencer; em \ João foi sepultado, fomos sepultados com ele. E,
2:13, 14, refere-se à vitória sobre o diabo. O quando ele ressuscitou, ressuscitamos com
apóstolo usa essa palavra sete vezes em ele. "Fomos, pois, sepultados com ele na
Apocalipse para descrever os cristãos e as morte pelo batismo; para que, como Cristo
bênçãos que recebem (Ap 2:7, 11, 17, 26; foi ressuscitado dentre os mortos pela glória
3:5, 12, 21). Não descreve uma categoria do Pai, assim também andemos nós em no-
especial de cristão. Antes, usa o termo ven- vidade de vida" (Rm 6:4).
cedores como designação do verdadeiro cris- Quando Cristo subiu ao céu, subimos
tão. Ao nascer de Deus, somos vencedores. com ele e, agora, estamos assentados com
Conta-se que um soldado do exército de ele nos lugares celestiais (Ef 2:6). E, quando
Alexandre, o Grande, não lutava com bravu- Cristo voltar, participaremos de sua exal-
ra e sempre ficava para trás quando deveria tação. "Quando Cristo, que é a nossa vida,
avançar. se manifestar, então, vós também sereis
O grande general abordou-o e perguntou: manifestados com ele, em glória" (Cl 3:4).
- Qual é seu nome, soldado? Todos esses versículos descrevem a po-
- Meu nome é Alexandre - o homem sição espiritual do que crê em Cristo. Ao
respondeu. tomar posse dessa posição pela fé, parti-
O general olhou-o diretamente nos olhos cipamos de sua vitória. Quando Deus res-
e disse com firmeza: suscitou Jesus dentre os mortos, ele o fez
- Ou você vai à luta ou muda de nome! "sentar à sua direita nos lugares celestiais,
Qual é nosso nome? "Filhos de Deus - acima de todo principado, e potestade, e
aqueles que são nascidos de novo e perten- poder, e domínio, e de todo nome que se
cem a Deus." Alexandre, o Grande, queria possa referir [...] E pôs todas as coisas debai-
que seu nome fosse um símbolo de cora- xo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas
gem; nosso nome traz consigo a certeza da as coisas, o deu à igreja" (Ef 1:20-22). Isso
vitória. Ser nascido de Deus significa ter parte significa que, posicionalmente, todo filho de
na vitória de Deus. Deus tem o privilégio de assentar-se bem
É uma vitória de fé, mas fé em quê? Fé acima de todos os inimigos!
em Jesus Cristo, o Filho de Deus! "Aquele O lugar que a pessoa ocupa tem consi-
que crê ser Jesus o Filho de Deus" (1 Jo 5:5) derável influência sobre a autoridade que
vence o mundo. Não é a fé em nós mes- pode exercer. O que ocupa a cadeira de ge-
mos, mas sim a fé em Jesus Cristo que nos rente exerce autoridade em âmbito restrito;
dá a vitória. "No mundo, passais por aflições; o que ocupa a cadeira de vice-presidente
mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" exerce maior controle. Mas o que se assenta
(Jo 16:33). na cadeira do presidente exerce mais autori-
A identificação com Cristo em sua vitó- dade do que qualquer outro funcionário.
ria traz à memória as diversas ocasiões em Quer trabalhe em uma fábrica, quer em um
que aparece, na primeira epístola de João, a escritório, ele é respeitado e obedecido em
expressão "segundo [como] ele"."Segundo função do cargo que ocupa. Seu poder é de-
ele é, também nós somos neste mundo" terminado por sua posição, não por sua apa-
(1 Jo 4:17). Devemos andar na luz, "como rência pessoal nem pela forma de sentir-se.
1 J O Ã O 4:1 7 - 5 : 5 675

O mesmo se aplica ao filho de D eus: Deus, agiram em função disso, e ele honrou
sua autoridade é determinada por sua posi­ sua fé e lhes deu vitória. Ter fé não é apenas
ção em Cristo. Q uan d o aceitou a Cristo, dizer que a Palavra de Deus é verdadeira;
identificou-se com ele por meio do Espírito ter fé é agir de acordo com a Palavra de Deus
Santo e passou a ser membro do corpo de porque é verdadeira. Alguém disse que ter
Cristo (1 C o 12:12, 13). Sua vida pregressa fé não é crer apesar das evidências, mas sim
foi sepultada, e ele foi ressuscitado para uma obedecer apesar das conseqüências.
nova vida de glória. Em Cristo, está assenta­ A fé vitoriosa decorre de um am or cada
do no trono do universo! ve z mais maduro. Q uanto mais conhecem os
Um veterano da G uerra Civil dos Esta­ e amamos Jesus Cristo, mais fácil é confiar
dos Unidos vagava de um lugar para outro nele em meio às necessidades e batalhas da
pedindo uma cama para dormir e um prato vida. É importante que esse am or em pro­
de com ida, sempre falando sobre seu ami­ cesso de amadurecimento torne-se habitual
go, o "sen h o r Lin co ln ". A s seq üelas dos e prático na vida diária.
ferimentos de combate não permitiam que De que maneira o cristão experim enta
ele trabalhasse normalmente, mas enquan­ esse tipo de am or e as bênçãos que fluem
to se esforçava para sobreviver, não parava dele?
de falar de seu amado presidente. Em primeiro lugar, esse amor precisa ser
- Você diz que conheceu o presidente cultivado. Não é resultante de uma am iza­
Lincoln - disse-lhe um cético. - Se isso é de apenas razo avelm ente bem -sucedida!
verdade, então prove! Vim os em um estudo anterior que o cristão
Ao que o homem respondeu: pode voltar a viver no mundo em estágios:
- Sem problemas. Eu tenho aqui um pe­
daço de papel que o próprio senhor Lincoln 1. Desenvolve amizade com o mundo
assinou e me entregou. (Tg 4:4).
Tirou de sua velha carteira um pedaço 2. É contaminado pelo mundo (Tg 1:27).
de papel com várias dobras e mostrou para 3. Passa a amar o mundo (1 Jo 2:15-1 7).
o homem. 4. Conforma-se com o mundo (Rm 12:2).
- Não sei ler direito - desculpou-se
mas sei que essa é a assinatura do senhor Nosso relacionamento com Jesus Cristo tam­
Lincoln. bém se desenvolve em estágios.
O utra pessoa que estava por perto leu o É preciso cultivar a amizade com Cris­
que se encontrava escrito no papel e per­ to. Abraão "foi cham ado amigo de D eu s‫״‬
guntou: (Tg 2 :2 3 ), porque se separou do mundo e
- Você sabe o que diz aqui? Você tem obedeceu a Deus. Sua vida não foi perfeita,
direito a uma excelente pensão do governo mas nas ocasiões em que pecou, confessou
autorizada pelo presidente Lincoln. Não pre­ seu pecado e voltou a andar com Deus.
cisa viver como mendigo! G raças ao senhor Essa amizade começará a influenciar
Lincoln, você é um homem rico! nossa vida. Ao ler a Palavra, orar e ter com u­
Parafraseando as palavras de João: "V o­ nhão com Deus e com o povo de Deus, as
c ê s, c ris tã o s, não p re cisam v iv e r co m o virtudes cristãs com eçarão a se tornar visí­
derrotados, pois Jesus Cristo já os tornou vi­ veis em nossa vida. N ossos pensam entos
toriosos! Ele já derrotou todos os inimigos, serão mais puros; nossas conversas, mais
e vocês têm parte nessa vitória. Agora, apro­ significativas; nossos desejos, mais saudáveis.
priem-se dela pela fé". No entanto, não seremos transformados de
O elemento essencial, obviamente, é a modo instantâneo e total; será um proces­
fé que, aliás, sempre foi a chave de Deus so gradativo.
para a vitória. O s grandes homens e mulhe­ A amizade com Cristo e a semelhan­
res citados em H ebreus 11 conquistaram ça cada vez maior com ele conduzirão a
suas vitórias "pela fé‫ ״‬. Creram na palavra de um amor mais profundo por ele. No nível
676 1 J O A O 4:1 7 - 5:5

humano, a amizade, com freqüência, con- o medo é lançado fora, é possível ser francos
duz ao amor. No nível divino, a amizade e honestos; não é preciso fingir. E, uma vez
deve conduzir ao amor. "Nós amamos por- que o medo desaparece, a obediência aos
que ele nos amou primeiro" (1 Jo 4:19). A mandamentos de Deus nasce do amor, não
Palavra de Deus revela o amor dele por nós, do terror. Descobrimos que seus mandamen-
e a presença do Espírito Santo habitando tos não são penosos. Por fim, ao viver nesse
em nós torna esse amor cada vez mais real ambiente de amor, honestidade e obediên-
para nós. Além disso, esse amor é praticado cia alegre, é possível encarar o mundo com
na obediência diária. O amor cristão não fé vitoriosa e ser vencedores, não derrotados.
é uma emoção passageira, mas sim uma de- Esse processo não começa com uma
voção permanente, um desejo profundo de experiência dramática e ousada, mas sim
agradar a Deus e de fazer sua vontade. com a prática pessoal e tranqüila da oração.
Quanto mais conhecermos a Cristo, Pedro quis entregar a vida por Jesus, mas
mais o amaremos, e, quanto mais o amar- quando o Mestre pediu que ele orasse, Pedro
mos, mais semelhantes a ele nos tornare- adormeceu (Lc 22:31-33, 39-46). O cristão
mos: "conformes à imagem de seu Filho" que começa o dia lendo a Palavra, meditan-
(Rm 8:29). É evidente que só nos tornare- do sobre ela e adorando a Cristo em oração
mos completamente conformes à imagem e louvor experimenta esse amor que se aper-
de Cristo ao encontrá-lo (1 Jo 3:1-3), mas feiçoa cada vez mais.
devemos começar esse processo hoje. O crescimento em amor ficará evidente
Que maneira empolgante de viver! A não apenas para o cristão em particular, mas
medida que o amor de Deus é aperfeiçoa- também para os que convivem com ele. Sua
do em nós, confiamos nele e, cada vez mais, vida será marcada pela confiança, honesti-
deixamos de viver com medo. Uma vez que dade, obediência alegre e vitória.
nascida de Deus e pode vencer o mundo.
10 Crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus é
um requisito fundamental para a experiên­
cia cristã.
O Q ue S a bem o s Mas como saber que Jesus Cristo é Deus?
Alguns de seus contemporâneos chamaram-
a o C erto ?
no de mentiroso e de enganador (Mt 27:63).
1 J o ã o 5 :6 - 2 1 Outros sugeriram que ele era um fanático
religioso, um louco ou, talvez, um patriota
judeu sincero mas completamente equivo­
cado. As pessoas para as quais João escre­
veu estavam expostas à falsa doutrina, bem
/ / A s únicas coisas certas na vida são a popular na época, de que Jesus era apenas
/ V morte e os impostos." um homem comum sobre o qual "o Cristo"
Benjamin Franklin escreveu essas palavras manifestou-se no batismo, tendo sido dei­
em 1 789. É evidente que um homem culto xado por ele na crucificação ("Deus meu,
como Franklin sabia da existência de diver­ Deus meu, por que me desamparaste?"), de
sas outras coisas tidas como certas. O cristão modo que Jesus morreu como um ser huma­
também conhece inúmeras certezas. Ao falar no qualquer.
a respeito de verdade espiritual, os cristãos A primeira epístola de João refuta essa
não temem dizer: "sabemos!" De fato, o ver­ falsa doutrina. Apresenta três testemunhas
bo saber (traduzido, às vezes, por conhecer) infalíveis para provar que Jesus é Deus.
é usado trinta vezes nesta pequena epístola Primeira testemunha - a água. Jesus
de João, oito delas no último capítulo. "veio por meio de água e sangue". A água
O ser humano anseia por segurança e refere-se a seu batismo no rio Jordão, quan­
está disposto até a envolver-se com coisas do o Pai dirigiu-se a ele do céu e disse: "Este
ocultas a fim de descobrir algo com certeza. é o meu Filho amado, em quem me com-
Um homem de negócios jantava com o prazo" (Mt 3:13-17). No mesmo instante, o
pastor em um restaurante e lhe disse: Espírito desceu sobre ele na forma de uma
- Está vendo aqueles escritórios do outro pomba e repousou sobre ele. Essa foi a ates-
lado da rua? Dentro deles trabalham alguns tação do Pai acerca do Filho no início do mi­
dos administradores mais influentes desta ci­ nistério de Jesus.
dade. Muitos costumavam vir aqui com fre­ Segunda testemunha - o sangue. Mas o
qüência para consultar uma cartomante. Ela Pai deu outro testemunho quando se aproxi­
não está mais por aqui, mas alguns anos atrás, mava o tempo de Jesus morrer. Falou a Jesus
era possível até sentir os milhões de dólares audivelmente do céu e disse: "Eu já o glorifi-
movimentando-se nesta sala, enquanto esses quei [o meu nome] e ainda o glorificarei" (Jo
homens esperavam para consultar-se com ela. 12:28). Além disso, o Pai testemunhou por
A vida real é construída sobre certezas meio de seu poder miraculoso quando Jesus
divinas encontradas em Jesus Cristo. O mun­ estava na cruz: a escuridão sobrenatural, o
do pode acusar o cristão de ser orgulhoso e terremoto e o rompimento do véu no templo
dogmático, mas isso não o impedirá de di­ (Mt 27:45, 50-53). Não é de se admirar que
zer: "eu sei!" Nestes últimos versículos da o centurião tenha exclamado: "Verdadeira­
primeira epístola de João, há cinco certezas mente este era Filho de Deus" (Mt 27:54).
cristãs sobre as quais é possível construir a Jesus não recebeu "o Cristo" em seu
vida com toda segurança. batismo e depois o perdeu na cruz. Nas duas
ocasiões, Deus deu testemunho da divin­
1. J e s u s é D e u s (1 J o 5:6-10) dade de seu Filho.
Em 1 João 5:1-5, a ênfase é sobre a fé em Terceira testemunha - o Espírito. O Es­
Cristo. A pessoa que crê em Jesus Cristo é pírito foi concedido para dar testemunho de
678 1 J O Ã O 5:6-21

Cristo (Jo 15:26; 16:14). Pode-se crer no tes- de confiar em homens, o que nos impede
temunho do Espírito "porque o Espírito é a de confiar em Deus? E não confiar nele é
verdade". Nem você nem eu presenciamos torná-lo mentiroso!
o batismo e a morte de Jesus, mas o Espírito Jesus é Deus: essa é a primeira certeza
Santo estava lá. O Espírito Santo é a única do cristianismo, uma certeza fundamental
Pessoa, ativa na Terra hoje, presente duran- para todo o resto.
te o ministério de Cristo aqui. O Pai é teste-
munha do passado, enquanto o testemunho 2. Os CRISTÃOS TÊM A VIDA ETERNA
do Espírito é testemunha hoje. O primeiro (1 Jo 5:11-13)
é exterior, enquanto o segundo é interior, e A palavra-chave em 1 João 5:6-10 é testemu-
os dois são concordantes. nho. Deus deu testemunho de seu Filho, mas
De que maneira o Espírito testemunha também deu testemunho de seus filhos -
dentro do coração do cristão? "Porque não cada um dos cristãos. Sabemos que temos a
recebestes o espírito de escravidão, para vida eterna! Além do testemunho do Espíri-
viverdes, outra vez, atemorizados, mas to dentro de nós, também temos o testemu-
recebestes o espírito de adoção, baseados nho da Palavra de Deus. "Estas coisas vos
no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Es- escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida
pírito testifica com o nosso espírito que eterna, a vós outros que credes em o nome
somos filhos de Deus" (Rm 8:15, 16). Seu do Filho de Deus1) ‫ ״‬Jo 5:13).
testemunho é a certeza interior de que per- A vida eterna é uma dádiva; não é algo
tencemos a Cristo; não é algo "produzido" conquistado por esforços próprios (Jo 10:27-
por nós, mas sim algo que Deus nos dá. 29; Ef 2:8, 9). Essa dádiva é uma Pessoa: Je-
O Espírito também testemunha por meio sus Cristo. A vida eterna é recebida não
da Palavra. Ao ler a Palavra de Deus, ele fala apenas de Cristo, mas também em Cristo.
e ensina. Isso não se aplica aos não salvos "Aquele que tem o Filho tem a vida" (1 Jo
(1 Co 2:14), mas apenas aos que crêem. 5:12). Não é apenas "vida", mas "a vida" -
O cristão sente-se "em casa" quando está a "verdadeira vida" {1 Tm 6:19).
com o povo de Deus porque tem o Espírito Essa dádiva é recebida pela fé. Deus re-
habitando dentro de si. Essa é outra forma gistrou oficialmente em sua Palavra que ofe-
de o Espírito dar testemunho. rece vida eterna aos que crêem em Jesus
A Lei exigia três testemunhos para que Cristo. Milhões de cristãos provaram que o
uma questão fosse resolvida (Dt 19:15). O registro de Deus é verdadeiro. Não crer é
Pai testemunhou no batismo e na cruz, e fazer Deus mentiroso e, se Deus é mentiro-
0 Espírito testemunha hoje dentro do cris- so, nada é certo.
tão. O Espírito, a água e o sangue resolvem Deus deseja que seus filhos saibam que
a questão: Jesus é Deus. pertencem a ele. João foi inspirado pelo Es-
(A maioria dos estudiosos concorda que pírito a escrever seu Evangelho e a garantir
1 João 5:7 não pertence à epístola original, que "Jesus é o Cristo, o Filho de Deus" (Jo
mas sua exclusão não afeta em nada a dou- 20:31). Escreveu esta epístola para que te-
trina ensinada nesta passagem.) nhamos certeza de que nós somos filhos de
Uma vez que aceitamos o testemunho Deus (1 Jo 5:13).
de homens, por que rejeitaríamos o teste- Creio que convém recapitular as carac-
munho de Deus? terísticas dos filhos de Deus:
É comum ouvir pessoas dizerem: "Gos- • "Todo aquele que pratica a justiça é
taria tanto de ter fé!" Mas todo mundo vive nascido dele" (1 Jo 2:29).
pela fé! O dia todo, as pessoas confiam umas • "Todo aquele que é nascido de Deus
nas outras. Confiam no médico e no farma- não vive na prática de pecado" {1 Jo 3:9).
cêutico; confiam no cozinheiro do restau- • "Nós sabemos que já passamos da
rante; confiam até no sujeito que dirige na morte para a vida, porque amamos os irmãos"
faixa ao lado na avenida. Se somos capazes (1 Jo 3:14).
1 J O Ã O 5:6-21 679

• "Amados, amemo-nos uns aos outros, Em segundo lugar, é preciso orar segun­
porque o amor procede de Deus; e todo do a vontade de Deus. "Faça-se a tua vonta-
aquele que ama é nascido de Deus e co­ de‫( ״‬Mt 6:10). Nas palavras de Robert Law:
nhece a Deus" (1 Jo 4:7). "A oração é um instrumento poderoso, não
• "Porque todo o que é nascido de Deus para conseguir que a vontade do homem
vence o mundo" (1 Jo 5:4). seja feita no céu, mas para garantir que a
Se tivermos essas "marcas de nascença", vontade de Deus seja feita na Terra‫״‬. George
poderemos dizer com toda certeza que so­ Muller, que ofereceu a milhares de órfãos
mos filhos de Deus. alimentos providos em resposta a orações,
Quando Sir James Simpson, o descobri­ disse: "Orar não é vencer a relutância de
dor do clorofórmio, estava em seu leito de Deus, mas sim se apropriar da disposição
morte, um amigo lhe perguntou: de Deus".
- Senhor, quais são suas especulações Há ocasiões em que a única coisa a orar
neste momento? é: "Faça-se a tua vontade e não a minha‫״‬,
Ao que Simpson respondeu: pois simplesmente não sabemos qual é a
- Especulações! Não tenho especulação vontade de Deus para uma questão. Mas,
alguma! "Porque sei em quem tenho crido na maioria das vezes, é possível descobrir a
e estou certo de que ele é poderoso para vontade de Deus ao ler a Palavra, ouvir o
guardar o meu depósito até aquele Dia." Espírito (Rm 8:26, 27) e discernir as circuns­
tâncias. A própria fé que demonstramos ao
3 . D e u s resp o n d e à s o r a ç õ e s pedir algo a Deus é, muitas vezes, a prova
(1 Jo 5:14, 15) de que ele quer conceder tal coisa (Hb 11:1).
Uma coisa é saber que Jesus é Deus e que A Bíblia contém muitas promessas das
somos filhos de Deus; mas e quanto às ne­ quais é possível apropriar-se. Deus prome­
cessidades e problemas da vida diária? Je­ teu suprir nossas necessidades (Fp 4:19) e
sus ajudou as pessoas quando estava aqui não a nossa ganância! Q uem obedece à
na Terra; será que ele ainda as ajuda? O s vontade de Deus e precisar verdadeiramen­
pais humanos tomam conta dos filhos; será te de algo, ele a suprirá, a sua maneira e a
que o Pai celestial responde quando seus seu tempo.
filhos o chamam? "Mas se é da vontade de Deus que eu
O s cristãos são confiantes na oração, da tenha algo, por que preciso orar pedindo?"
mesma forma que são confiantes enquanto Porque a oração é o meio que Deus deseja
esperam o julgamento (1 Jo 2:28; 4:17). Como usar para que seus filhos obtenham o que
vimos, o termo confiança significa "liberda­ necessitam. Deus determina não apenas o
de de expressão". Pode-se chegar ao Pai livre­ fim, mas também o meio para alcançar esse
mente e lhe falar de nossas necessidades. fim: a oração. Quanto mais o cristão me­
É evidente que existem certas condições ditar sobre esse arranjo, mais claramente
para isso. perceberá como ele é maravilhoso. Na ver­
Em primeiro lugar, o coração não deve dade, a oração é o termômetro da vida es­
nos condenar (1 Jo 3:21, 22). O pecado piritual. Quem deseja que Deus lhe supra as
não confessado é um obstáculo sério ao necessidades deve obedecer à ordem divi­
recebim ento de respostas de oração (SI na de andar junto dele.
6 6:18). É interessante observar que de­ João não diz: "Obterem os os pedidos
sentendimentos entre maridos e esposas que lhe temos feito", mas sim: "Estamos cer­
cristãos podem ser um empecilho a suas ora­ tos de que obtemos os pedidos que lhe te­
ções (1 Pe 3:1-7). Se existe algo entre nós e mos feito‫( ״‬ver 1 Jo 5:15). O verbo encon­
outro cristão, é preciso resolver a questão tra-se no tempo presente. Talvez não se veja
(Mt 5:23-25). E a menos que o cristão per­ a resposta à oração de imediato, mas existe
maneça em Cristo, suas orações não serão a certeza interior de que Deus já respon­
respondidas (Jo 15:7). deu. Essa certeza, ou fé, é "a convicção de
680 1 J O Ã O 5:6-21

fatos que se não vêem" (Hb 11:1). É Deus que gosta de dar aos filhos o que eles ne-
dando testemunho de que ouviu e respon- cessitam.
deu. Apesar de ser Deus encarnado, Jesus
A oração é para o ser espiritual aquilo dependia da oração. Ele viveu na Terra da
que a respiração é para o ser físico. Se dei- mesma forma que devemos viver: na depen-
xarmos de orar, começaremos a "esmore- dência do Pai. Levantava logo cedo para orar
cer" (Lc 18:1). A oração não é apenas o que (Mc 1:35), mesmo quando havia ficado acor-
proferimos com os lábios, mas também o dado até tarde da noite curando multidões.
desejo do coração. "Orai sem cessar" (1 Ts As vezes, passava a noite inteira em oração
5:17) não significa que o cristão deva estar (Lc 6:12). No jardim do Getsêmani, orou
sempre orando em voz alta. Ninguém é ou- "com forte clamor e lágrimas" (Hb 5:7). Tam-
vido pelas muitas palavras que diz (Mt 6:7). bém orou três vezes na cruz. Se o Filho de
Antes, a oração incessante, bem como as Deus, que não tinha pecado algum, precisa-
palavras dos lábios, indicam a atitude do va orar, quanto mais nós.
coração. O cristão que tem o coração firme O mais importante na oração é a von-
em Cristo e que procura glorificá-lo ora cons- tade de Deus. Deve-se gastar tempo para
tantemente, mesmo que não esteja consci- descobrir a vontade de Deus sobre uma
ente disso. questão, buscando na Bíblia promessas e
O conhecido pregador Charles Spurgeon princípios aplicáveis à situação. Uma vez co-
trabalhava com afinco em uma mensagem, nhecida a vontade de Deus, é possível orar
mas não conseguia concluí-la. Já era tarde, com toda confiança e esperar que ele reve-
e sua esposa lhe disse: le a resposta.
- Por que você não vai para cama? Eu o
chamo logo cedo, e você pode terminar o 4. Os CRISTÃOS NÃO PRATICAM O
sermão pela manhã. peca d o (1 Jo 5:16-19)
Spurgeon adormeceu e começou a pre- "Sabemos que todo aquele que é nascido
gar em voz alta o sermão que estava lhe de Deus não vive em pecado" (1 Jo 5:18).
dando tanta dor de cabeça! A esposa ano- "Todo aquele que é nascido de Deus não vi-
tou tudo o que ele disse e, no dia seguinte, ve na prática de pecado" (1 Jo 3:9). Não se
entregou as anotações ao pregador. trata, aqui, do pecado ocasional, mas sim
- Ora, era exatamente o que eu queria do pecado habitual, da prática do pecado.
dizer! - exclamou o pregador, surpreso. A Uma vez que o cristão possui uma nova
mensagem já estava em seu coração, só pre- natureza (a "divina semente"; 1 Jo 3:9), tam-
cisava ganhar expressão. O mesmo aconte- bém possui novos anseios e apetites e não
ce com a oração. Se permanecermos em está interessado em pecar.
Cristo, Deus ouve até nossos desejos do O cristão enfrenta três inimigos, e todos
coração, quer os expressemos audivelmente eles querem levá-lo a pecar: o mundo, a car-
quer não. ne e o diabo.
As páginas da Bíblia e da história contêm "O mundo inteiro jaz no Maligno" (1 Jo
inúmeros relatos de orações respondidas. A 5:19), Satanás - o Deus desta era (2 Co 4:3,
oração não é uma forma de auto-hipnose. 4, tradução literal) e príncipe deste mundo
Também não oramos porque isso nos faz (Jo 14:30). Ele é o espírito que opera nos
sentir melhor. Oramos porque Deus orde- filhos da desobediência (Ef 2:2).
nou que o fizéssemos e porque a oração é Satanás usa vários artifícios para levar o
o meio determinado por Deus para que o cristão a pecar. Ele conta mentiras, como
cristão receba o que Deus deseja lhe dar. A fez a Eva (Gn 3; 2 Co 11:1-3), e quando as
oração mantém o cristão dentro da vontade pessoas crêem no que ele diz, desviam-se
de Deus, em uma posição em que pode da verdade de Deus e lhe desobedecem.
servir e ser abençoado. Os cristãos não são Satanás também pode infligir sofrimento fí-
mendigos, mas filhos de um Pai riquíssimo sico, como fez com Jó e com Paulo (2 Co
1 J O Ã O 5:6-21 681

12:7-9). No caso de Davi, Satanás usou o Uma das características dos "jovens es-
orgulho como arma e instigou-o a fazer um pirituais‫ ״‬é sua capacidade de vencer o
censo do povo e, desse modo, se rebelar maligno (1 Jo 2:13, 14). Qual é seu segre­
contra Deus (1 C r 21). Satanás é como uma do? "A palavra de Deus permanece [neles]‫״‬
serpente que engana (Ap 12:9) e como um (1 jo 2:14). Uma das partes da armadura de
leão que devora (1 Pe 5:8, 9). É um inimigo Deus é a espada do Espírito (Ef 6:17), e essa
terrível. espada derrota Satanás.
Existe, ainda, o problema da carne, a ve­ Quando o cristão peca, pode confessar
lha natureza com a qual nascemos e que seu pecado e ser perdoado (1 Jo 1:9). Mas
continua dentro de nós. Por certo, temos o cristão não deve brincar com o pecado,
uma nova natureza (a "divina semente1 ;‫ ״‬Jo "porque o pecado é a transgressão da lei"
3:9), mas nem sempre nos entregamos a ela. (1 Jo 3:4). A pessoa que pratica o pecado
O terceiro inimigo é o mundo (1 Jo 2:15, prova que pertence a Satanás (1 Jo 3:7-10).
17). É fácil entregar-se à concupiscência da Além disso, Deus adverte que o pecado
carne, à concupiscência dos olhos e à so­ pode levar à morte física!
berba da vida! O ambiente em que vivemos "Toda injustiça é pecado‫״‬, mas alguns
torna difícil manter a mente pura e o cora­ pecados têm conseqüências mais graves do
ção fiel a Deus. que outros. Todos os pecados são abominá­
Então, de que maneira o cristão guarda- veis para Deus e também o devem ser para
se do pecado? o cristão; mas alguns pecados são punidos
A resposta está em 1 João 5:18: Jesus com a morte. João relata (1 Jo 5:16, 17) o
Cristo protege o cristão para que o inimigo caso de um irmão (um cristão) cuja vida foi
não o toque. "Aquele [Cristo] que nasceu tirada por causa de seus pecados.
de Deus o guarda [o cristão], e o Maligno A Bíblia menciona pessoas que morre­
não lhe toca‫״‬. Apesar de ser necessário o ram por causa de seus pecados. Nadabe e
cristão guardar-se no amor de Deus (Jd 21), Abiú, dois dos filhos do sacerdote Arão,
ele não deve depender de si mesmo para morreram porque desobedeceram a Deus
vencer Satanás. deliberadamente (Lv 10:1-7). Corá e seu clã
A experiência de Pedro com Satanás opuseram-se a Deus e morreram (Nm 16).
ajuda a entender essa verdade com mais cia- A cã foi apedrejado porque desobedeceu
reza. "Simão, Simão, eis que Satanás vos re­ às ordens que Josué havia recebido de Deus
clamou para vos peneirar como trigo! Eu, em Jericó (Js 6 - 7). Um homem chamado
porém, roguei por ti, para que a tua fé não U zá tocou na arca e foi morto por Deus
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, (2 Sm 6).
fortalece os teus irmãos" (Lc 22:31, 32). Há quem argumente que esses são exem-
Em primeiro lugar, Satanás não pode to­ pios do Antigo Testamento e que João escre­
car qualquer cristão sem a permissão de ve para cristãos do Novo Testamento que se
Deus. Satanás desejava peneirar todos os encontram debaixo da graça.
discípulos, e Jesus deu-lhe permissão. Mas Aquele a quem muito é dado, muito lhe
Jesus orou especialmente por Pedro, e sua será exigido. O cristão de hoje tem uma
oração foi respondida. No final, apesar de a responsabilidade muito maior de obedecer
coragem de Pedro ter falhado, sua fé perma­ a Deus do que os santos do Antigo Testa­
neceu firme. Pedro foi restaurado, tornan- mento. Temos a Bíblia completa, temos a re­
do‫־‬se um servo poderoso e útil no trabalho velação plena da graça de Deus e temos o
de ganhar almas para Cristo. Espírito Santo habitando dentro de nós para
Sempre que Satanás ataca, certamente nos ajudar a obedecer a Deus. Mas há casos
Deus lhe deu permissão. E se Deus lhe deu em que cristãos do Novo Testamento perde­
permissão, também nos dará poder para ram a vida porque desobedeceram a Deus.
vencer, pois jamais permite uma provação Ananias e Safira mentiram a Deus sobre
que vá além de nossas forças (1 Co 10:13). sua oferta e ambos morreram (At 5:1-11).
682 1 J O Ã O 5:6-2 1

Alguns cristãos de Corinto morreram por 5. A VIDA CRISTÃ É A VIDA REAL


causa da forma de agir na Ceia do Senhor (1 Jo 5:20,21)
(1 Co 11:30). E 1 Coríntios 5:1-5 dá a enten- Jesus Cristo é o Deus verdadeiro. Conhece-
der que certo transgressor teria morrido, se mos Aquele que é verdadeiro e estamos no
não houvesse se arrependido e confessado que é verdadeiro. Temos o que é real!
seus pecados (2 Co 2:6-8). "Também sabemos que o Filho de Deus
Caso o cristão não julgue, confesse nem é vindo e nos tem dado entendimento para
deixe o pecado, Deus precisará discipliná- reconhecermos o verdadeiro; e estamos no
Io. Esse processo é descrito em Hebreus verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é
12:1-13, em que é sugerido que uma pes- o verdadeiro Deus e a vida eterna" (1 Jo 5:20).
soa que recusar sujeitar-se ao Pai não viverá A realidade é um tema que aparece ao longo
(Hb 12:9). Em outras palavras, Deus primeiro de toda a primeira epístola de João e do qual
"dá umas palmadas" em seus filhos rebeldes voltamos a ser lembrados nesta passagem.
e, se eles não se sujeitarem a sua vontade, É provável que João estivesse escreven-
poderá retirá-los do mundo para que a deso- do a cristãos na cidade de Éfeso, uma cida-
bediência desses rebeldes não faça outros de dedicada à idolatria. O templo de Diana,
se desviarem nem envergonhe ainda mais o uma das maravilhas do mundo antigo, ficava
nome do Senhor. em Éfeso, e a confecção e comercialização
O "pecado para a morte" não é um pe- de ídolos era uma das principais ocupações
cado específico, mas sim um tipo de peca- dos efésios (At 19:21-41). Uma vez que se
do que conduz à morte. No caso de Nadabe encontravam cercados pela idolatria, os cris-
e Abiú, foi sua presunção de exercer indevi- tãos de lá sofriam pressões tremendas para
damente o sacerdócio no santuário de Deus. viver como o restante dos efésios.
No caso de Acã, foi a cobiça, e no de Ana- Mas "sabemos que o ídolo, de si mes-
nias e Safira, a hipocrisia, tendo eles men- mo, nada é no mundo e que não há senão
tido até para o Espírito Santo. um só Deus" (1 Co 8:4). Ou seja, um ídolo
Se um cristão vê um irmão cometer um não possui existência real. O mais triste da
pecado, deve orar por ele (1 Jo 5:16), pedir idolatria é que uma imagem morta não po-
que ele confesse seu pecado e que volte a de fazer coisa alguma pelo adorador, pois
ter comunhão com o Pai. Mas se, ao orar, ele não é verdadeira. Os escritores hebreus do
não sentir que está pedindo dentro da vonta- Antigo Testamento chamavam os ídolos de
de de Deus (conforme a instrução em 1 Jo 5:14, "nada, coisas vãs, vapor, vazio". Um ídolo é
15), então não deve orar pelo irmão. "Tu, pois, um substítuto inanimado e inútil do que é real.
não intercedas por este povo, nem levantes Os Salmos condenam a idolatria com
por ele clamor ou oração, nem me importu- severidade (SI 115:1-8; 135:15-18). Para os
nes, porque eu não te ouvirei" (Jr 7:16). homens, os ídolos parecem reais - têm olhos,
Tiago 5:14-20 é, em certo sentido, para- ouvidos, boca, nariz, mãos e pés mas não
leio a 1 João 5:16, 17. Tiago descreve um passam de imitações inúteis do que é real.
cristão enfermo, possivelmente por causa de Os olhos são cegos, os ouvidos são surdos,
seu pecado. Ele manda chamar os presbí- a boca é muda, as mãos e pés são inertes.
teros; estes atendem e vão orar por ele. A O pior é que "[tornam]-se semelhantes a eles
oração da fé o cura e, se ele pecou, seus os que os fazem e quantos neles confiam"
pecados são perdoados. A "oração da fé" é (SI 115:8). As pessoas tornam-se semelhan-
aquela feita dentro da vontade de Deus; tes ao deus a quem adoram!
conforme 1 João 5:14, 15, é orar "no Espíri- Esse é o segredo da vida real. Tendo co-
to Santo" (Jd 20). nhecido o Deus verdadeiro por meio de seu
Os cristãos não praticam o pecado de- Filho, Jesus Cristo, estamos em contato com
liberadamente. Possuem dentro de si a na- a realidade. Nossa comunhão é com um Deus
tureza divina; Jesus Cristo os guarda, e eles verdadeiro. Como vimos, a palavra "real"
não querem que Deus precise discipliná-los. significa "original, que não é uma cópia" e
1 J O Ã O 5:6-21 683

"autêntico, que não é uma imitação". Jesus Com o Moisés, o cristão "[permanece]
Cristo é a Luz verdadeira (Jo 1:9), o Pão ver­ firme como quem vê aquele que é invisível"
dadeiro (Jo 6:32), a videira verdadeira (Jo (Hb J 1:27). A fé é "a convicção de fatos que
15:1) e a própria Verdade (Jo 14:6). Ele é o se não vêem" (Hb 11:1). Noé nunca havia
Original; todas as outras coisas são cópias. visto um dilúvio e, no entanto, pela fé, ele o
Ele é o autêntico; todas as outras coisas não "viu‫ ״‬chegando e fez o que Deus lhe orde­
passam de imitações. nou. Abraão "viu" uma cidade e um país
O s cristãos vivem em um ambiente de celestial pela fé e se dispôs a abrir mão de
realidade. A maioria dos incrédulos vive em seu lar terreno para seguir a Deus. Todos os
um ambiente de falsidade e de simulação. grandes heróis da fé citados em Hebreus 11
O s cristãos receberam discernimento espiri­ realizaram seus feitos porque "viram o invi-
tual para distinguir entre o verdadeiro e o sível‫ ״‬pela fé. Em outras palavras, viveram
falso, um discernimento que os incrédulos em contato com a realidade.
não possuem. O s cristãos não escolhem O mundo gloria-se de seu esclarecimen­
apenas entre o que é bom e o que mau, mas to, mas o cristão anda na verdadeira luz, pois
também entre o que é verdadeiro e o que Deus é luz. O mundo fala de amor, mas não
é falso. Um ídolo representa o que é falso e sabe nada sobre o verdadeiro amor que o
vazio, e a pessoa que vive para os ídolos cristão experimenta, porque "Deus é amor".
acaba se tornando, ela própria, falsa e vazia. O mundo exibe sua sabedoria e conheci­
Hoje em dia, pouca gente prostra-se di­ mento, mas o cristão vive na verdade, pois
ante de ídolos de madeira e de metal. Ainda "o Espírito é verdade". Deus é luz, amor e
assim, existem outros ídolos que cativam sua verdade, e, Juntos, esses três elementos cons­
atenção e afeição. A avareza, por exemplo, tituem a vida real.
é idolatria (Cl 3:5). Um indivíduo pode ido­ "Não faz diferença em que a pessoa crê,
latrar seu talão de cheques ou sua carteira desde que seja sincera!"
de investimentos com o mesmo fervor que Essa desculpa tão comum nem merece
o chamado pagão adora seu ídolo repulsi­ refutação. Será que faz alguma diferença
vo. "Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a aquilo em que o farmacêutico, o médico ou
ele darás culto" (Mt 4:10). Adoram os aquilo o engenheiro químico crêem? Faz toda a
a que servim os! Tudo o que controla nossa diferença do mundo!
vida e determina nossas ações é nosso deus.
Isso explica por que Deus adverte sobre Derrame uma lágrima por Jimmy Brown;
o pecado da idolatria. Não é apenas uma O pobre Jimmy se foi.
transgressão de seu mandamento (Êx 20:1­ Pois o que pensou ser H20 ,
6), mas também uma forma sutil de Satanás Era H2S 0 4!
nos controlar. Quando "coisas" tomam o (H20 = água; H2S 0 4 = ácido sulfúrico)
lugar de Deus na vida, há idolatria. Isso sig­
nifica viver em função do que é irreal em A experiência dos cristãos é: "deixando os
vez de viver para aquilo que é real. ídolos, vos convertestes a Deus, para ser-
Para uma pessoa do mundo, a vida cris­ virdes o Deus vivo e verdadeiro" (1 Ts 1:9).
tã é irreal e a vida mundana é real. Isso por­ O s ídolos não têm vida, mas Cristo é o Deus
que o indivíduo mundano vive em função vivo. O s ídolos são falsos, mas Cristo é o
do que pode ver e sentir (coisas), não do Deus verdadeiro. Esse é o segredo da vi­
que Deus diz em sua Palavra. Um deus é da real!
uma coisa temporária, Jesus Cristo é o Deus Assim, a admoestação de João: "guardai-
eterno. "Porque as [coisas] que se vêem são vos dos ídolos‫ ״‬pode ser parafraseada as­
temporais, e as que se não vêem são eter­ sim: "Atentem para as imitações e para tudo
nas" (2 C o 4:18). o que é artificial e sejam autênticos!"
2 Jo ão

ESBOÇO III. PROTEGER A VERDADE -


Tema-chave: Amar e viver a verdade W . 7-1 ‫ז‬
Versículo-chave: 2 João 4
IV. CONCLUSÃO ‫ ־‬VV. 12,13
I. IN T R O D U Ç Ã O -W . 1-3
CONTEÚDO
II. PRATICAR A VERDADE - 1. Uma família fiel
W . 4-6 (2 Jo).................................................. 685
1 1. D evem o s c o n h ec er a verd ad e

(2 Jo 1-3)
João usa o termo "verdade" quatro vezes
nesta saudação, de modo que se trata de
U ma F a m íl ia F iel uma palavra importante. Seu significado bá­
sico é "realidade", contrastado com a mera
2 Jo ã o aparência, o absoluto que serve de alicer­
ce a tudo o que se vê ao redor. Jesus Cristo
é "a verdade" (Jo 14:6), e a Palavra de Deus
"é a verdade" (Jo 17:17). Deus revelou a
verdade na Pessoa de seu Filho e nas pá­
ginas de sua Palavra. Ele deu o "Espírito

O s mestres apóstatas não só invadiam


a igreja com o também tentavam in­
fluenciar os lares cristãos. Tito enfrentou
da verdade" para ensinar e capacitar o cris­
tão a conhecer a verdade (Jo 14:16, 17;
16:13).
esse problema em Creta (Tt 1:10, 11) e Ti­ Mas a verdade não é apenas uma re­
móteo em Éfeso (2 Tm 3:6). A condição velação objetiva do Pai, é também uma ex­
dos lares determina a condição da igreja periência subjetiva na vida pessoal. Não
e do país; portanto, a família é um alvo se pode apenas conhecer a verdade, mas é
importante na guerra de Satanás contra a possível "amar na verdade‫ ״‬e viver "por cau­
verdade. sa da verdade". A verdade "permanece em
A destinatária desta carta sucinta é uma nós e conosco estará para sempre‫״‬. Isso sig­
mulher piedosa e seus filhos. De acordo nifica que "conhecer a verdade" é mais do
com alguns estudiosos, a "senhora eleita" que concordar com um conjunto de dou­
é uma referência à igreja local e os "seus trinas, apesar de tal aquiescência ser im­
filhos" são os cristãos que se reúnem na portante. Significa que a vida do cristão é
igreja. A "tua irmã eleita" (2 Jo 13) seria, controlada pelo amor à verdade e por um
então, uma referência à igreja irmã que desejo de engrandecer a verdade.
envia saudações cristãs. João com eça sua carta com essa obser­
Apesar de ser verdade que, nesta epís­ vação acerca da "verdade", pois havia falsos
tola, João se dirige a um grupo (observar mestres circulando pelas igrejas e espalhan­
o uso do plural em 2 Jo 6, 8, 10, 12), tam­ do mentiras. O apóstolo chama-os de en­
bém é fato que ele se dirige a um indivíduo ganadores e de anticristos (2 Jo 7). João
(2 Jo 1, 4, 5, 13). Talvez a solução seja con­ não acreditava que todos os ensinamentos
siderar que uma congregação de cristãos religiosos sejam verdadeiros e que não se
costumava reunir-se nesse lar com a família deve fazer críticas, desde que as pessoas
da "senhora eleita", de modo que João es­ sejam sinceras. Para ele, havia uma grande
creve tanto para a família quanto para a diferença - aliás, uma diferença mortal -
congregação (ver Rm 16:5; 1 C o 16:19; Cl entre verdade e mentira, e ele não tolerava
4:15; Fm 2). Sua preocupação é que essa mentiras.
mulher piedosa não permita a entrada de Uma vez que a verdade estará conosco
qualquer coisa falsa em sua casa (2 Jo 10) para sempre, devemos, certamente, conhe­
ou congregação. cê-la melhor no presente e aprender a amá-
O tom predominante desta pequena Ia. Claro que toda a verdade gira em torno
epístola é a amizade e a alegria, mistura­ de Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus, com
das, porém, com preocupação e advertên­ o qual viveremos para sempre (Jo 14:1-6). É
cias. maravilhoso contemplar o fato de que pas­
A fim de manter o lar fiel a Cristo, deve­ saremos a eternidade cercados da verdade,
mos ter as mesmas características que essa crescendo no conhecimento da verdade e
família para a qual João escreve. servindo ao Deus da verdade.
686 2 JOÃO

De que maneira essa senhora e seus fi- consideraram que ele havia blasfemado!
lhos conheceram a verdade e se tornaram "Pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti
filhos de Deus? Por meio da graça e miseri- mesmo" (Jo 10:30-33). Sabiam a que ele se
córdia de Deus (2 Jo 3). Deus é rico em mi- referia ao se chamar de "Filho de Deus" e
sericórdia e graça (Ef 2:4, 7), e as canalizou afirmar ser igual a Deus.
para nós em Jesus Cristo. A salvação não é A fé cristã permanece ou desaparece de
dada pelo amor de Deus, mas sim pela gra- acordo com a doutrina da divindade de Je-
ça de Deus, que é "o amor que pagou um sus Cristo. Se ele não passa de um homem,
preço" (ver Ef 2:8, 9). Deus ama o mundo por mais talentoso ou singular que seja, não
todo, mas nem por isso o mundo todo é sal- é capaz de salvar. Se ele não é Deus em
vo. Somente os que recebem sua graça abun- carne humana, a fé cristã é um conjunto de
dante são salvos do pecado. mentiras - e não a verdade e João come-
Quando recebemos graça e misericór- ça sua carta com a ênfase errada.
dia de Deus, experimentamos sua paz. "Jus- O grande estadista norte-americano
tificados [declarados justos], pois, mediante Daniel Webster estava em Boston jantando
a fé, temos paz com Deus por meio de nos- com um grupo de homens importantes, al-
so Senhor Jesus Cristo" (Rm 5:1). Deus não guns dos quais de tendência unitária (os
está em guerra com os pecadores perdidos; unitários negam a Trindade e a divindade
são os pecadores que estão em guerra com tanto do Filho quanto do Espírito). Quan-
Deus (Rm 5:10; 8:7). Deus foi reconciliado do o tema da religião veio à baila, Webster
com os pecadores pela obra de Cristo na afirmou com toda ousadia sua crença na
cruz. Agora, os pecadores devem arrepen- divindade de Jesus Cristo e em sua obra
der-se e se reconciliar com Deus pela fé em expiatória.
Jesus Cristo (2 Co 5:14-21). - Mas, Sr. Webster - disse um dos ho-
É bastante significativo observar que João mens -, o senhor é capaz de compreender
afirma a divindade de Jesus Cristo logo no de que maneira Cristo poderia ser Deus e
início de sua segunda epístola. Ele o faz as- homem ao mesmo tempo?
sociando "o Senhor Jesus Cristo" a "Deus o - Não, meu senhor, não posso com-
Pai". Suponhamos que 2 João 3 dissesse: "de preender - respondeu Webster. - Se pudes-
Deus o Pai e do profeta Amós". O leitor res- se compreendê-lo, ele não seria maior do
ponderia no mesmo instante: "Amós não que eu, e, a meu ver, preciso de um Salva-
deve ser associado ao nome do Pai dessa dor sobre-humano!
maneira! Dá a impressão de que Amós é Para que os lares e as igrejas sejam fiéis
igual a Deus!" a Cristo e se oponham aos falsos mestres, é
Mas é exatamente esse o motivo pelo preciso conhecer a verdade. De que manei-
qüal João coloca o Pai e o Filho juntos: am- ra se aprende a verdade? Estudando com
bos são, igualmente, Deus! Em seguida, para cuidado a Palavra de Deus e permitindo que
se certificar de que seus leitores entende- o Espírito nos ensine; ouvindo pessoas fiéis
rão a ênfase, João acrescenta "o Filho do à fé e, em seguida, colocando em prática o
Pai". É impossível separar os dois. Se Deus é que aprendemos. Além de aprender a ver-
o Pai, então deve ter um Filho; Jesus Cristo dade com a mente, deve-se também amar a
é esse Filho. "Todo aquele que nega o Filho, verdade com o coração e viver a verdade
esse não tem o Pai" (1 Jo 2:23). pela volição. O ser como um todo deve su-
Vários falsos mestres argumentam: "Mas jeitar-se à verdade.
Jesus é 'filho de Deus' da mesma forma que Como é importante os pais ensinarem
somos filhos de Deus, feitos à imagem de Deus! os filhos a amar a verdade! Agradecemos a
Quando Jesus afirmou ser Filho de Deus, não Deus pelas escolas dominicais e colégios
estava, de fato, dizendo que era Deus". Mas, cristãos, mas, em última análise, é o lar que
quando Jesus disse aos judeus: "Eu e o Pai deve instilar nas crianças o amor pela verda-
somos um", eles ameaçaram apedrejá-lo, pois de e o conhecimento da verdade de Deus.
2 JO ÃO 687

2. D e v e m o s an dar na verd ad e é possível que alguns membros dessa con­


(2 jo 4-6) gregação tenham deixado o grupo e se jun­
"Andar na verdade" significa obedecer a ela tado a impostores.
e permitir que controle todas as áreas da Sem dúvida, é motivo de grande alegria
vida. Este parágrafo começa e termina com para o Pai ver os filhos obedecendo à sua
uma ênfase sobre a obediência, sobre an­ vontade. Sei pessoalmente o que represen­
dar na verdade. É muito mais fácil estudar a ta para o pastor ter uma congregação que
verdade ou até mesmo discuti-la do que se submete à Palavra e que faz a vontade de
colocá-la em prática! Aliás, por vezes, os cris­ Deus. Poucas coisas são mais tristes para um
tãos zelosos desobedecem à verdade pela pastor do que um membro desobediente e
própria maneira de tentar defendê-la. rebelde que se recusa a sujeitar-se à Palavra
Quando eu era pastor em Chicago, ha­ de Deus.
via um rapaz que costumava ficar na calça­ Quando o grande pregador batista Char­
da em frente à igreja distribuindo panfletos les Spurgeon era menino, vivia com o avô,
que condenavam vários líderes evangélicos que pastoreava uma igreja em Stambourne,
com os quais eu tinha amizade. É evidente na Inglaterra. Um membro da igreja chama­
que eu não podia impedir o homem de en­ do Roads costumava freqüentar o bar local,
tregar os panfletos, de modo que instruí os onde bebia cerveja e fumava, uma conduta
membros da igreja a pegarem o maior nú­ que entristecia o pastor profundamente.
mero possível de cópias e destruí-las! Um dia, o jovem Charles disse ao seu avô:
Um dos membros de nossa congrega­ - Eu vou matar o velho Roads, vou sim!
ção resolveu seguir o rapaz um dia e o viu Não vou fazer nada de mal, mas vou matá-
andar até um parque da vizinhança, sentar- Io, sim senhor!
se à sombra de uma árvore e acender um O que o jovem Spurgeon fez? Confron­
cigarro! Poucos minutos antes, havia grita­ tou Roads no bar com as seguintes palavras:
do repetidamente na frente da igreja: - Q ue fazes aqui, Elias? Assentado com
- Estou lutando contra os fundamen- os ímpios, você, um membro da igreja, en­
talistas e não me envergonho disso! tristecendo o seu pastor. Eu me envergonho
Imagino que a maioria dos fundamen- de você! Tenho certeza que eu não entriste­
talistas que conheço se envergonhariam ceria o coração de meu pastor!
dele. Esse rapaz pensava estar promoven­ Não demorou muito e Roads apareceu
do a verdade e se opondo a mentiras e, no na casa do pastor para confessar seu peca­
entanto, ele próprio não andava na verda­ do e pedir perdão pelo seu comportamen­
de. Por meio de suas ações e de atitudes to. De fato, o jovem Spurgeon o "matou"!
agressivas negava a verdade que queria O argumento do apóstolo (v. 4b). Ele
defender. argumenta que Deus ordenou que andás­
A alegria do apóstolo (v. 4a). O apósto- semos em verdade e amor. A palavra "man­
Io alegra-se porque a senhora eleita e seus dam ento" é usada quatro vezes nesses
filhos andam na verdade. Mas João não co­ poucos versículos. O s m andam entos de
nhecia todos eles; a tradução literal é "al­ Deus enfocam "a verdade" sobre áreas es­
guns dos teus filhos". Durante uma de suas pecíficas da vida. É preciso cuidado para
viagens, João encontrou-se com alguns dos "a verdade" não parecer vaga e geral, mas
filhos dela e viu como andavam em obe­ "os mandamentos" tornam a verdade es­
diência ao Senhor. "Não tenho maior ale­ pecífica e obrigatória.
gria do que esta, a de ouvir que meus filhos Convém observar que os mandamen­
andam na verdade" (3 Jo 4). Não há motivo tos são dados pelo "Pai". Cada mandamen­
para crer que João estivesse insinuando que to é uma expressão de amor, não apenas
outros filhos haviam se desviado e seguido uma lei. A vontade de Deus é a revelação
falsos mestres. Se, ao falar de "filhos", João do coração de Deus (SI 33:11), não ape­
inclui os membros dessa "igreja domiciliar", nas de sua mente. Em decorrência disso, a
688 2 JOÃO

obediência à Palavra deve ser uma revela- atitudes e ações. Quando alguém for ríspi-
ção de amor, não uma expressão de medo. do, retribuímos sendo gentis. Quando nos
"Porque este é o amor de Deus: que guar- perseguirem, vamos orar e, se houver opor-
demos os seus mandamentos; ora, os seus tunidade, fazer-lhes o bem. Seguindo os sen-
mandamentos não são penosos" (1 Jo 5:3). timentos, é bem provável que acabemos nos
Os falsos mestres tentam fazer os man- vingando! Mas se pedirmos que o Espírito
damentos de Deus parecerem severos e di- controle nossa volição, agiremos da mesma
fíceis e, então, oferecem a seus convertidos forma que Jesus agiria: em amor cristão.
a "verdadeira" liberdade (2 Pe 2:19). Mas a João prossegue explicando que o amor
maior liberdade possível encontra-se na obe- e a obediência devem andar juntos (2 Jo 6).
diência à vontade perfeita de Deus. Nenhum É impossível separar o relacionamento com
cristão que ama a Deus poderia considerar Deus do relacionamento com as pessoas.
seus mandamentos severos e insuportáveis. Quem diz que ama a Deus mas odeia o ir-
O apelo do apóstolo (w. 5, 6). João de- mão pode estar certo de que não ama a
sejava que a senhora eleita e sua família Deus de fato (1 Jo 4:20). Quem obedece
amassem uns aos outros, e seu apelo tam- a Deus, é aperfeiçoado nele o amor, e não
bém se aplica a nós. "Novo mandamento terá problemas em amar o irmão (1 Jo 2:3-5).
vos dou: que vos ameis uns aos outros" (Jo Ao recapitular este parágrafo, é possível
13:34). Mas João escreve que esse não é observar a presença de três temas entre-
um novo mandamento (ver 1 Jo 2:7-11). Tra- tecidos: a verdade, o amor e a obediência.
ta-se de uma contradição? Somos salvos ao crer na verdade - em Cris-
Por certo, o mandamento "Amai-vos uns to e na Palavra. Essa salvação torna-se evi-
aos outros" não é cronologicamente novo, dente no amor e na obediência, mas o amor
pois até mesmo os israelitas do Antigo Tes- e a obediência são fortalecidos à medida
tamento deveriam amar o próximo (Lv 19:18, que se cresce no conhecimento da verda-
34) e os estrangeiros que viviam no meio de. Dizemos a verdade em amor (Ef 4:15) e
deles (Dt 10:19). Mas, com a vinda do Filho de obedecemos aos mandamentos de Deus
Deus à Terra, esse mandamento é novo em porque o amamos. A obediência permite
termos de ênfase e de exemplo. Jesus Cristo aprender mais da verdade (Jo 7:1 7), e quan-
deu nova ênfase ao amor fraternal e o exem- to mais da verdade aprendemos, mais ama-
plificou em na vida. Também é uma nova mos a Jesus Cristo, a Verdade!
experiência, pois temos o Espírito Santo de Em lugar de viver em um "círculo vicio-
Deus habitando em nós e nos capacitando so", vivemos em um "círculo vitorioso" de
a obedecer. "Mas o fruto do Espírito é: amor" amor, verdade e obediência!
(GI 5:22; cf. Rm 5:5).
É possível ordenar que se ame? Ao en- 3. D e v e m o s p er m a n ec er n a v e r d a d e
tender o verdadeiro caráter do amor cristão, (2 Jo 7-11)
vê-se que sim. Muitas pessoas têm a idéia João passa de uma verdade animadora para
equivocada de que o amor cristão é um sen- a oposição à mentira. Como Pedro, adverte
timento, um tipo especial de "emoção reli- que existem enganadores no mundo. O ter-
giosa" que faz buscar e aceitar o outro. Sem mo "enganador" abrange muito mais do que
dúvida, o amor cristão envolve emoções, o ensino de falsas doutrinas. Refere-se, tam-
mas, em sua essência, é um ato da volição. bém, a conduzir as pessoas a viver de modo
Significa simplesmente tratar o semelhante errado. João já deixou claro que a verdade e
da mesma forma que Deus nos trata! Na a vida andam juntas. As convicções deter-
verdade, é possível até amar pessoas de minam o comportamento. Doutrinas erradas
quem não "gostamos". sempre são acompanhadas de um modo de
Talvez não sejamos capazes de determi- vida errado.
nar as emoções pela vontade o tempo to- De onde vinham esses falsos mestres?
do, mas é possível exercer a vontade sobre "Muitos enganadores saíram para o mundo"
2 JOÃO 689

(tradução literal). Saíram da igreja! Em ou­ Certa vez, estava pregando em Carrubers
tros tempos, haviam professado crer na "fé Close Mission, em Edimburgo, na Escócia,
que uma vez por todas foi entregue aos san­ quando fui abordado por um rapaz antes
tos" (Jd 3), mas se desviaram dessa fé e aban­ de a reunião começar.
donaram a verdade e a igreja. "Eles saíram - Você acredita no nascimento virginal
de nosso meio; entretanto, não eram dos de Jesus Cristo? - perguntou ele. Respondi
nossos" (1 Jo 2:19). "Dentre vós mesmos, enfaticamente que sim e, então, preguei que
se levantarão homens falando coisas perver­ Jesus Cristo é o Filho de Deus vindo em car­
tidas para arrastar os discípulos atrás deles" ne. Apesar de não ter gostado da atitude
(At 20:30). arrogante do rapaz, apreciei sua preocupa­
A vigilância espiritual constante é abso­ ção em saber se o homem que ocuparia o
lutamente necessária para proteger uma fa­ púlpito "permanecia na verdade‫״‬.
mília ou igreja local dos ataques traiçoeiros Permanecer na verdade significa perma­
dos falsos mestres. Um pastor muito bem- necer fiel às doutrinas fundamentais da fé
sucedido comentou comigo: cristã. O s falsos mestres haviam se afastado
- Se eu tirasse os olhos desta obra por da verdade e da comunhão da igreja e, por­
vinte e quatro horas e parasse de orar, ela tanto, eram perigosos. João ressalta três
seria invadida em dois tempos. perigos que a igreja e seus membros enfren­
Ele não estava enfatizando a própria im­ tam por causa dos enganadores no mundo.
portância (apesar de pastores piedosos se­ O perigo de retroceder (v. 8). Trata-se
rem essenciais para as igrejas consagradas), do perigo de perder o que já foi obtido. O s
mas sim a importância da diligência e da falsos mestres dizem oferecer algo que não
vigilância. temos, quando, na realidade, tiram algo que
Convém observar que havia muitos enga­ já possuímos!
nadores! Por quê? 2 Pedro 2:2 dá a resposta: Satanás é ladrão, e seus ajudantes se­
"E muitos seguirão as suas práticas libertinas, guem seu exemplo. João desejava que seus
e, por causa deles, será infamado o caminho leitores recebessem o "completo galardão",
da verdade". Creio que foi Mark Twain quem expressão equivalente a 2 Pedro 1:11, uma
disse que uma mentira dá a volta ao mundo entrada amplamente suprida no reino eter­
enquanto a verdade ainda está calçando os no. Como é triste quando os servos de Deus
sapatos. A natureza humana decaída deseja trabalham fielmente para edificar uma igreja
crer em mentiras e resiste à verdade de Deus. e sua obra é destruída por ensinamentos
Vimos em 2 Pedro 2 os métodos desones­ falsos! Não é de se admirar que Paulo tenha
tos que os apóstatas usam para seduzir as escrito às congregações da Galácia: "Receio
pessoas incautas e instáveis. Não é de se de [por] vós tenha eu trabalhado em vão
admirar que sejam bem-sucedidos! para convosco" (Gl 4:11).
Esses enganadores também são "anti- Kenneth Wuest traduz 2 João 8 assim:
cristos" (ver 1 Jo 2:18-29). O prefixo grego "Não percam as coisas que já realizamos".
anti significa "no lugar de" e "contra". Esses O s membros da igreja devem respeitar o tra­
mestres são contra Cristo, pois negam que balho dos pastores e mestres fiéis e fazer
ele é Deus vindo em carne (ver 1 Jo 4:1-6). tudo para proteger e avançar essa obra. Um
Não apenas negam a verdade, como tam­ dia, os servos de Deus terão de prestar con­
bém oferecem a seus convertidos um "Cristo tas de seus ministérios e desejam trabalhar
substituto" que não é o Cristo da verdadeira "com alegria e não gemendo" (Hb 13:17).
fé cristã. A primeira pergunta a fazer para Quando a igreja retrocede e perde o que
qualquer mestre é: ‫״‬o que pensa de Cristo? havia obtido, também perde parte da recom­
Ele é Deus vindo em carne?" Se ele hesitar pensa do tribunal de Cristo. É essencial ape­
ou se negar que Jesus é Deus vindo em car­ gar-se à verdade da Palavra de Deus!
ne, pode-se ter certeza de que se trata de O perigo de avançar (v. 9). O perigo,
um falso mestre. aqui, é de ir além dos limites das Escrituras e
690 2 JOÃO

fazer acréscimos à Palavra de Deus. O ter- nova compreensão e aplicação da verdade


mo traduzido por "ultrapassar" significa "ir (Jo 16:12-16), e devemos crescer sempre
longe demais, passar dos limites definidos". (2 Pe 3:18).
Trata-se de um falso progresso! Os apóstatas Mas se o "aprendizado" afastar-nos das
querem levar a crer que são "progressistas", doutrinas fundamentais e da Pessoa e obra
quando, na verdade, sua igreja encontra-se de Jesus Cristo, entraremos em território
estagnada. Convidam a fazer parte de seu perigoso.
grupo, pois têm algo "novo e empolgante" O perigo de condescender (w. 10-13).
para compartilhar. Mas a natureza de seu João adverte a família (e a igreja em sua casa)
"progresso" os leva a abandonar a doutrina a não receber os falsos mestres que os visi-
de que Jesus Cristo é o Filho de Deus vindo tavam, desejando ter comunhão com eles e
em carne. talvez até desfrutar sua hospitalidade. A hos-
Cinqüenta anos atrás, a imprensa norte- pitalidade era um ministério cristão extre-
americana foi inundada de notícias sobre a mamente importante naquela época, pois
"controvérsia entre modernistas e funda- havia poucas hospedarias onde os viajantes
mentaiistas". Os que se apegavam à verda- poderiam descansar com segurança, espe-
deira fé opunham-se ao "modernismo" nas cialmente cristãos que desejavam manter-se
principais denominações e procuravam tra- afastados das influências perniciosas do
zer as escolas e a liderança dessas denomi- mundo. Os cristãos são admoestados a abrir
nações de volta ao cristianismo histórico. Os seu lar para visitantes (Rm 12:13; 1 Tm 3:2;
"progressistas" chamavam a si mesmos de 5:3-10; Hb 13:2; 1 Pe 4:8-10).
"modernistas", quando, na verdade, não ha- Também havia pastores e mestres itine-
via coisa alguma de "moderna" em sua ne- rantes que precisavam de hospedagem (3 Jo
gação da doutrina cristã. Essa negação é tão 5-8). Os cristãos que ofereciam sua hospita-
antiga quanto a igreja! Um dos líderes mo- lidade a esses servos de Deus eram "coope-
dernistas, Harry Emerson Fosdick, disse radores da verdade", mas os que ajudavam
em um de seus sermões: "O fundamentalis- falsos mestres participavam de suas obras
mo ainda está presente em nosso meio, mas perversas. A doutrina de Jesus Cristo serve
apenas em segundo plano". Se ainda esti- de teste para a verdade, de base para a comu-
vesse vivo hoje, não faria tal declaração. nhão e de vínculo para a cooperação mútua.
Hoje, as maiores escolas dominicais, igrejas, Sem dúvida, esse princípio ainda se apli-
seminários e missões apegam-se às doutri- ca hoje. Não é raro pessoas que se dizem
nas fundamentais. cristãs baterem a nossa porta tentando mos-
Quem não permanece na verdadeira trar fitas cassete ou vender revistas e livros.
doutrina não tem nem o Pai nem o Filho. É É preciso discernimento. Se não concorda-
impossível honrar o Pai e ignorar o Filho rem com a verdadeira doutrina de Cristo,
(ou dizer que ele é apenas um homem) ao não devem ser recebidas.
mesmo tempo. "A fim de que todos honrem Por que João era tão inflexível quanto a
o Filho do modo por que honram o Pai. essa questão? Porque não queria que qual-
Quem não honra o Filho não honra o Pai quer um dos filhos de Deus: (1) desse a um
que o enviou" (Jo 5:23). A "teologia pro- falso mestre a impressão de que sua doutri-
gressista" que nega Cristo não tem nada na herética era aceitável; (2 ) fosse conta-
de progressista; antes, é uma teologia retró- minado pelo contato e possível amizade
grada, que remete a Gênesis 3:1: "É assim com um falso mestre; e (3) desse ao falso
que Deus disse?" mestre munição para usar no próximo lugar
No entanto, ao dar essa advertência, onde parasse. Ao receber em casa o mem-
João não condena o "progresso" em si. "O bro de uma seita, posso dar a ele a oportu-
Senhor ainda tem mais luz a fazer resplande- nidade de dizer a meus vizinhos:
cer de sua Palavra". Deus deu o Espírito San- - Não há motivos para vocês não me
to para nos ensinar e para nos levar a uma deixarem entrar. Afinal, o pastor Wiersbe
2 JOÃO 691

me recebeu em sua casa, e tivemos uma con­ encontrou Cerinto, 0 líder de uma seita he­
versa maravilhosa! rética. )oão saiu correndo do edifício para
Minha desobediência poderia levar ou­ que 0 local não fosse destruído pelo julga­
tra pessoa à destruição. mento de Deus! Cerinto ensinava que Jesus
É preciso deixar claro que João não diz era filho biológico de José e Maria, não Deus
que só se deve receber convertidos em casa! vindo em carne.
0 "evangelismo por amizade" ao redor da As últimas palavras de João (2 )0 12,13)
mesa é um modo maravilhoso de ganhar são quase idênticas a sua despedida em 3 João
pessoas para Cristo. Os cristãos devem ser e não exigem maiores explicações. No entan■
bons vizinhos e se mostrar hospitaleiros, 0 to, expressam a importância da comunhão
apóstolo admoesta a não receber nem incen■ cristã e a alegria que deve trazer ao coração
tivar faísos mestres que representam grupos (ver 1 Jo 1:4), É maravilhoso receber cartas,
nnticristãos, pessoas que deixaram a igreja e mas é ainda mais maravilhoso receber 0
que, agora, tentam seduzir outros para lon­ povo de Deus em casa e no coração.
ge da verdade. Com certeza, os apóstatas Esta pequena epístola escrita para uma
usam todas as oportunidades possíveis para mãe cristã e sua filha (e, talvez, para a igreja
conseguir 0 apoio de cristãos verdadeiros. que se reunia em seu lar) é uma pérola da
Existe uma tradição sobre 0 apóstolo correspondência sagrada, No entanto, não
João que ilustra sua posição com respeito se deve esquecer que sua ênfase principal
às falsas doutrinas. Um dia, quando vivia em é a necessidade de permanecer alertas. 0
Éfeso, João foi à casa de banho pública, onde mundo está cheio de enganadores!
3 Jo ã o

ESBOÇO III. DEMÉTRIO, UM CRISTÃO


Tema-diave: Ter um bom testemunho na igreja EXEMPLAR -V V . 11,12
Versículo-chave: 3 João 3
IV. CO N CLU SÃ O -
I. GAIO, UM CRISTÃO AMADO - W . 13,14
W . 1-8
CONTEÚDO
VI. DIÓTREFES, UM CRISTÃO 1. É a verdade
O R G U L H O S O -W . 9,10 (3 Jo)............................................................... 693
possibilidade de G aio haver se convertido
1 pelo ministério de João, e é evidente que as
pessoas que levamos a Cristo são especial­
m ente preciosas para nós. No entanto, o
É a V erdade apóstolo amado considerava todos os cris­
tãos seus "Filhinhos" (1 Jo 2:1, 12, 18), de
3 Jo ã o modo que não se pode levar essa idéia lon­
ge demais.
Se G aio fosse membro de uma igreja de
meu pastoreio, sem dúvida eu não teria difi­
culdade em amá-lo! Vejam os as qualidades
pessoais desse homem de grande caráter.
batalha em defesa da verdade e contra Sa ú d e e sp iritu a l (v. 2 ). É possível que
A a apostasia é travada não apenas no
lar (2 Jo), mas especialmente na igreja local,
João esteja dando a entender que seu ami­
go não passava bem e que o apóstolo orava
onde entra em cena 3 João. Esta pequena pela restauração de sua saúde: "D esejo que
carta (a epístola mais curta do Novo Testa­ seja tão saudável na vida quanto o é na es­
mento no texto original grego) permite vis­ piritual!" Se esse é o caso, comprova que é
lum brar uma cong reg ação prim itiva com possível ser espiritualmente saudável mesmo
seus membros e problemas. Ao ler esta car­ estando fisicam ente enferm o. No entanto,
ta sucinta, é possível observar que os tem­ esse tipo de saudação era bastante comum
pos não mudaram tanto assim. Há pessoas na época, de modo que não se deve dar-lhe
e problemas semelhantes hoje. ênfase excessiva.
U m a das palavras-chave desta carta é Contudo, fica claro que G aio era um ho­
testem unho (3 Jo 3 , 6 , 1 2 ). Refere-se não ape­ mem cuja "saúde espiritual" era visível a to­
nas às palavras ditas, mas também à vida. dos. "M esm o que o nosso homem exterior
Todo cristão é uma testemunha - para me­ se corrom pa, contudo, o nosso homem in­
lhor ou para pior. O u colaboramos com a ver­ terior se renova de dia em dia" (2 C o 4:16).
dade (3 Jo 8 ) ou lhe servimos de empecilho. A saúde física é decorrente de boa nutrição,
Esta carta é dirigida a G aio, um dos lide­ exercícios, higiene e de uma vida regrada e
res da congregação. Mas, nestes versículos, equilibrada. A saúde espiritual é decorrente
João também trata de dois outros homens: de fatores sem elhantes. É preciso alim en­
Diótrefes e Dem étrio. O nd e há pessoas, há tar-se da Palavra e usar seus nutrientes no
problemas - e o potencial para resolver pro­ exercício da piedade (1 Tm 4 :6, 7). Deve-se
blemas. Cada um de nós deve se perguntar manter a pureza (2 Co 7:1) e evitar a con­
com honestidade: "sou parte do problema tam inação e poluição do mundo (2 Pe 1:4;
ou da solução?" Tg 1:27). Apesar de o exercício e o trabalho
Considerem os agora os três homens des­ serem im portantes, tam bém é im portante
ta carta, observando que tipo de cristãos descansar no Senhor e renovar as forças por
eram . meio da comunhão com ele (M t 11:18-30).
Um a vida equilibrada é uma vida saudável e
1. G a io : o m o t iv a d o r (3 Jo 1-8) feliz, que honra a Deus.
Não há dúvida de que o apóstolo João ti­ U m b o m testem u n h o ( w . 3; 4 ). G aio
nha grande am or por esse hom em ! Ele o era re co n h e cid o co m o um hom em que
cham a de "am ado‫ ״‬em sua saudação e em obedecia à Palavra de Deus e "[andava] na
3 João 5. É pouco provável que este fosse verdade" (ver 2 Jo 4). Alguns irmãos haviam
apenas um tratamento formal, como quan­ visitado João várias vezes, relatando com
do escrevemos "Prezado sr. Jones" (mesmo grande alegria que G aio era um excelente
quando nem conhecem os o sr. Jones pes­ exem plo do que a vida cristã deve ser. D e­
soalmente!). O texto de 3 João 4 sugere a vo confessar que, em m inha exp e riê n cia
694 3 JO A O

pastoral, fico um pouco tenso quando al- primitiva, os ministros itinerantes carrega-
guém me pergunta: vam consigo cartas de recomendação da
- Fulano de tal é membro da sua igreja? própria congregação (Rm 16:1), demonstran-
É ainda pior quando alguém exclama: do que devemos saber alguma coisa sobre
- Conheço muito bem um dos membros a pessoa que se pretende hospedar. No en-
de sua igreja! tanto, a hospitalidade requer fé e amor. Por
João não tinha essa preocupação quan- mais que minha esposa e eu gostemos de abrir
do se tratava de Caio! nossa casa, devemos confessar que houve
O que fazia de Gaio uma testemunha ocasiões em que nos despedimos de nos-
tão excelente? A verdade de Deus. A verdade sos hóspedes com um sentimento alegre de
estava nele e lhe permitia andar em obe- alívio! A maioria de nossos hóspedes, po-
diência à vontade de Deus. Caio lia a Pala- rém, foram verdadeiros anjos, cuja presen-
vra, meditava sobre ela, se deleitava nela e, ça trouxe bênção a nosso lar.
então, a praticava em sua vida diária (ver SI Caio não apenas abria o lar, mas também
1:1-3). A meditação é para a alma o que a o coração e a mão para dar ajuda financeira
digestão é para o corpo. Não basta ouvir a a seus hóspedes. A expressão "encaminha-
palavra ou ler a Palavra. Deve-se "digeri-la" os em sua jornada" significa "ajuda-os em
internamente e torná-la parte do ser interior sua jornada". É possível que essa ajuda in-
(ver 1 Ts 2:13). cluísse dinheiro e alimentos bem como o
Fica claro que a vida de Caio era com- cuidado com as roupas ao lavá-las e costu-
pletamente envolta pela verdade. A vida au- rá-las (ver 1 Co 16:6; Tt 3:13). Afinal, a fé
têntica vem da verdade viva. Jesus Cristo, a deve ser demonstrada pelas obras (Tg 2:14-
verdade (Jo 14:6), é revelado na Palavra, que 16), e o amor deve ser expresso em atos,
é a verdade de Deus (Jo 17:17). O Espírito não apenas em palavras (1 Jo 3:16-18).
Santo também é a verdade (1 Jo 5:6) e ensi- O que motiva esse tipo de ministério
na a verdade. O Espírito de Deus usa a Pala- prático aos santos? Em primeiro lugar, e/e
vra de Deus para revelar o Filho de Deus e, honra a Deus. A expressão "por modo dig-
então, nos capacita para obedecer à vonta- no de Deus", em 3 João 6 , significa "de
de de Deus e a "andar na verdade". modo condizente com Deus". Não há oca-
Ministério prático (w. 5-8). Caio tam- sião em que o cristão se torne mais "condi-
bém era um cooperador da verdade (3 Jo zente com Deus" do que quando serve. "A
8 ). Ajudava, de maneiras práticas, os que fim de viverdes de modo digno do Senhor,
ministravam a Palavra. Não há indicação al- para o seu inteiro agrado" (Cl 1:10). Uma
guma de que o próprio Caio fosse um pre- vez que esses ministros itinerantes represen-
gador ou mestre, mas abria o coração e a tavam o nome do Senhor, qualquer ministé-
casa para os que eram. rio realizado em favor deles era, na verdade,
Na Segunda Epístola de João, vê-se como o mesmo que servir a Jesus Cristo (Mt 10:40;
a hospitalidade cristã era importante na épo- 25:34-40).
ca. João advertiu a "senhora eleita" a não O segundo motivo é que o sustento dado
receber falsos mestres (2 Jo 7-11), mas, nes- a servos de Deus é um testemunho aos per-
ta carta, o apóstolo elogia Gaio por demons- didos (3 Jo 7). Deve-se ter em mente que,
trar hospitalidade aos verdadeiros ministros naquele tempo, havia inúmeros mestres
da Palavra. Gaio era um estímulo não ape- itinerantes que compartilhavam suas idéias
nas para os irmãos em geral, mas especial- e viviam de mendigar. Apesar de Jesus ensi-
mente para os "estrangeiros" que passavam nar claramente que os servos de Deus mere-
por lá para ter comunhão com a igreja e lhe cem seu sustento (Lc 10:7), é um princípio
ministrar (ver Hb 13:2). do Novo Testamento que tal sustento venha
Vivemos em tempos de medo e de vio- do povo de Deus. "Nada recebendo dos
lência e não é fácil receber desconheci- gentios" significa que esses obreiros itine-
dos em nosso lar. É evidente que, na Igreja rantes não pediam a ajuda a não cristãos.
3 JOÃO 695

Abraão seguia esse mesmo princípio (G n meu trabalho. O s anfitriões podem não ser
14:21-24), apesar de não obrigar seus com ­ pessoas particularm ente repletas de dons,
panheiros a fazer o mesmo. Ao levantar uma mas seu ministério de hospitalidade bondo­
oferta na igreja, muitos pastores deixam cia- sa me permitiu exercitar meus dons dentro
ro que não pedem coisa alguma a não cris­ da igreja. Q uaisquer bênçãos que tenham
tãos que porventura estejam presentes na sido recebidas nesse ministério certamente
congregação. serão depositadas na conta deles! (Fp 4:1 7).
Ao sustentar devidamente os servos de Um a coisa é lutar contra a apostasia e
Deus, o povo de Deus dá um testemunho se recusar a receber falsos mestres; outra
poderoso aos perdidos. M as quando minis­ bem diferente é abrir o lar (e a carteira) a
tros, igrejas e outras organizações religiosas fim de p ro m o ver a verdade. É necessário
ped em contribuições de não cristãos e de tanto o aspecto negativo quanto o positivo.
empresas em geral, dão ao cristianismo um Deveria haver mais pessoas como G aio, es­
tom vulgar e com ercial. Isso não significa piritualm ente saudáveis, obedientes à Pa­
que os servos de Deus devam recusar ofer­ lavra e que compartilham o que têm para
tas voluntárias de um não convertido, desde promover a verdade. Infelizmente, porém,
que a pessoa entenda que essa oferta não nem todo mundo é como Gaio! Voltamo-nos
vai lhe comprar a salvação. E, ainda assim, é agora para um tipo inteiram ente distinto
preciso cautela. A oferta do rei de Sodoma de cristão.
foi voluntária, mas Abraão a rejeitou (G n
14:17-24)! 2. D ió t r e f e s : o d it a d o r (3 jo 9, 10)
A terceira motivação para servir é a o b e ­ Ao que parece, muitas igrejas têm membros
diência a D eus. "Portanto, devemos acolher que insistem em ser "manda-chuvas" e em
esses irm ãos" (3 Jo 8 ). Esse m inistério de fazer tudo a seu modo. Devo confessar que,
hospitalidade e de sustento não é apenas por vezes, é o pastor que assume poderes
uma oportunidade, mas também uma obri­ ditatoriais e se esquece que a palavra minis­
gação. Gálatas 6:6-10 deixa claro que os que tro significa "servo". Mas, outras vezes, é um
recebem bênçãos espirituais do ministro da dos presbíteros, diáconos ou, talvez, um mem­
Palavra devem com partilhar com ele suas bro de longa data da igreja que pensa ter
bênçãos materiais; 1 Coríntios 9:7-11 expli­ "direitos adquiridos por tempo de serviço".
ca esse princípio com mais detalhes. Um O s discípulos de Jesus discutiram , em
diácono me disse certa vez na primeira igre­ várias ocasiões, qual deles seria o maior no
ja que pastoreei: reino (M t 18:1ss). Jesus teve de lembrá-los
- Paga-se no lugar onde se come. de que seu modelo de ministério não era o
Não é bíblico os membros da igreja en­ oficial romano que dominava sobre os ou­
viarem ofertas para o mundo inteiro e deixa­ tros, mas sim o próprio Salvador que veio
rem de sustentar o m inistério da própria com o um servo humilde (Fp 2:1 ss). A o lon­
congregação local. go de meus muitos anos como ministro, te­
João dá um quarto motivo em 3 João 8 : nho visto o modelo de ministério mudar e a
"para nos tornarmos cooperadores da ver­ igreja sofrer por causa disso. Tenho a impres­
dade". G aio não apenas recebia a verdade são de que o "ministro bem-sucedido de hoje"
e andava na verdade, com o também era um é mais parecido com um magnata de Wall
"colaborador" que ajudava a prom over a Street do que com um servo submisso. Não
verdade. Não se sabe quais eram seus dons carrega uma pá, mas sim um telefone celu­
espirituais ou de que maneira ele servia a lar; em seu coração, em vez do amor pelas
congregação, mas G aio ajudava a transmitir almas perdidas e pelas ovelhas de Deus, há
e a defender a verdade, apoiando os que a somente ambição egoísta.
ensinavam e pregavam. A motivação de Diótrefes era o orgulho.
Eu meu ministério itinerante, já me hos­ Em lugar de dar a prim azia a Jesus Cristo
pedei em diversos lares e fui encorajado em (Cl 1:18), ele a tomava para si. Deveria ter a
696 3 JOÃO

última palavra em todas as coisas, e seu havia feito acusações contra João em uma
critério para tomar decisões era: "De que reunião da igreja na qual João não estava
maneira isto beneficiará Diótrefes?" Era o presente para se defender. Mas João adver-
oposto de João Batista que disse: "Convém te que, em breve, acertaria as contas com
que ele [Jesus Cristo] cresça e que eu dimi- Diótrefes, o ditador.
nua" (Jo 3:30). O verbo grego indica que a Os cristãos devem ter cuidado para não
autopromoção de Diótrefes era uma atitude acreditar em tudo o que lêem ou ouvem
constante. sobre os servos de Deus, especialmente os
Quando a igreja tem um ditador de plan- que exercem um ministério amplo e são
tão, os conflitos são inevitáveis, pois pessoas mais conhecidos. Parei de ler certas revis-
com mentalidade espiritual não toleram esse tas, porque só publicavam acusações sem
tipo de liderança. O Espírito Santo se entris- qualquer prova contra pessoas cujos minis-
tece quando membros do corpo não têm térios Deus abençoa de maneira singular.
liberdade de exercer seus dons só porque Certo dia, falei de uma revista a um amigo
tudo deve ser feito à maneira de um único e ele comentou:
membro. No tribunal de Cristo, descobrire- - Conheço bem o editor; é um sujeito
mos quantos corações foram contristados e que distorce tudo!"
quantas igrejas foram destruídas por causa É sempre bom filtrar os relatos usando
dos "ministérios" arrogantes de pessoas Filipenses 4:8.
como Diótrefes. Consideremos, agora, o que Rejeitou os colaboradores de João (v.
ele fez. 10b). Diótrefes recusou-se a receber até os
Recusou receber João (v. 9). É incrível outros irmãos porque tinham comunhão
pensar que um líder da igreja (é possível que com João! Usou o princípio da "culpa por
Diótrefes fosse um presbítero) não quisesse associação". É impossível praticar esse tipo
ter comunhão com um dos apóstolos do de "acepção" de modo coerente, pois nin-
Senhor! Diótrefes teria aprendido muita coi- guém possui todas as informações necessá-
sa com João. Mas Jesus Cristo não tinha a rias para saber o que seu irmão faz! Se eu
primazia em sua vida, e, portanto, Diótrefes me recusar a ter comunhão com alguém só
acreditava que poderia tratar o apóstolo ido- porque se relaciona com outro indivíduo
so dessa maneira. que não aprovo, de que maneira determina-
Por que Diótrefes rejeitou João? O moti- rei, ao certo, o grau de amizade que a pes-
vo mais óbvio parece ser a objeção de João soa tem com tal indivíduo? Como manter
ao direito de esse homem ser um ditador controle de tudo o que faz? Aquele que
sobre a igreja. João era uma ameaça para quiser manter a pureza absoluta em suas
Diótrefes, pois possuía autoridade apostóli- amizades precisará de um computador e de
ca. Sabia a verdade a respeito de Diótrefes uma equipe trabalhando em tempo integral!
e estava disposto a divulgá-la. Satanás ope- As Escrituras deixam claro que não se
rava na igreja porque Diótrefes agia com deve ter comunhão com apóstatas (confor-
base no orgulho e na glorificação de si mes- me estudamos em 2 Pedro) e que não se
mo, dois instrumentos amplamente usados deve entrar em sociedades com incrédulos
pelo inimigo. Se João entrasse em cena, Sa- (2 Co 6:14ss). Também é preciso evitar pes-
tanás sairia perdendo. soas cujas posições doutrinárias são con-
Mentiu sobre João (v. 10a). A oração trárias às Escrituras {Rm 16:17-19). Isso não
"proferindo contra nós palavras maliciosas" significa cooperar apenas com os cristãos
significa "fazendo acusações falsas e infunda- que interpretam as Escrituras exatamente da
das a nosso respeito". O que Diótrefes dizia mesma forma que nós, pois até mesmo pes-
a respeito de João era totalmente absurdo, soas boas e piedosas não apresentam con-
e, no entanto, alguns gostavam de ouvir esse senso sobre questões como o governo da
tipo de conversa e estão dispostos a acreditar igreja ou as profecias. Mas todos os cristãos
em tais mentiras! Ao que parece, Diótrefes podem concordar no tocante a elementos
3 JOÃO 6 97

fundamentais da fé e dar espaço para dife­ de comunhão deve ser a Pessoa e a obra de
renças em outras questões. Jesus C risto , não as am izad es e as inter­
Rom per a com unhão pessoal com um pretaçõ es de doutrinas secu nd árias. M as
irmão só porque discordo de seu círculo de indivíduos como Diótrefes sempre terão se­
am izade é, a meu ver, uma extrapolação das guidores fiéis, pois muitos cristãos sinceros,
Escrituras. Diótrefes rejeitou João e, depois, porém ignorantes, preferem seguir líderes
os cristãos que tinham amizade com João! desse tipo.
M as não parou aí.
D is c ip lin o u o s q u e d isco rd a va m d e le 3. D e m é trio : o exem plo
(v. 10c). O s membros da igreja que recebe­ (3 Jo 11-14)
ram os colaboradores de João foram expul­ D e acordo com o dicionário, um exem plo é
sos da igreja! M ais uma vez, um caso de "um ideal, um m odelo, algo digno de ser
culpa por associação. Diótrefes não tinha imitado". Dem étrio era um cristão exemplar.
autoridade nem base bíblica para expulsar João adverte seus leitores a não imitarem
essas pessoas da igreja, mas ainda assim o Diótrefes: "Se vocês querem seguir um exem-
fez. Até ditadores religiosos precisam tomar pio, sigam o de Dem étrio!"
cuidado para que a oposição não se torne M as será que é certo imitar líderes hu­
forte demais! manos? Sem dúvida, desde que eles, por sua
O Novo Testamento ensina a disciplina vez, sejam imitadores de Jesus Cristo. "Irmãos,
eclesiástica e dá instruções que devem ser sede im itadores m eus e o bservai os que
obedecidas. Mas a disciplina eclesiástica não andam segundo o modelo que tendes em
é uma arma que um ditador possa usar para nós" (Fp 3 :1 7). "Sede meus imitadores, como
se proteger. Antes, é um instrumento a ser também eu sou de Cristo" (1 C o 11:1). Não
usado pela congregação para prover a pure­ se pode ver Deus, mas é possível vê-lo ope­
za e glorificar a Deus. Não é uma imposição rando na vida de seus filhos. A vida piedosa
da autoridade do pastor ou do conselho da e o serviço consagrado de um cristão sem­
igreja. É o Senhor exercendo autoridade espi­ pre me servem de encorajamento e de estí­
ritual por meio da igreja local, a fim de res­ mulo. É possível, por nosso bom exem plo,
gatar e de restaurar um filho de Deus que se "[considerarmo-nos] também uns aos outros,
desviou do cam inho da verdade. para nos estimularmos ao am or e às boas
O s "ditadores" da igreja são pessoas pe­ obras‫( ״‬H b 10:24).
rigosas, mas, felizm ente, não é difícil reco­ Dem étrio era um homem digno de ser
nhecê-los. Gostam de falar a respeito de si imitado, pois a congregação lhe dava bom
mesmos e do que "fazem para o Senhor". Tam­ testem unho. Todos os m em bros o conhe­
bém têm o costume de julgar e de condenar ciam, o amavam e eram gratos a Deus por
os que discordam deles. São especialistas sua vida e ministério coerentes. Apesar de
em rotular outros cristãos e em classificá-los ser perigoso quando todos falam bem de nós:
em categorias rígidas segundo as próprias "Ai de vós, quando todos vos louvarem!" (Lc
intenções. Baseiam sua com unhão na per­ 6:26), é maravilhoso quando todos os cris­
sonalidade dos cristãos, não nas doutrinas tãos de uma igreja local louvam nossa vida
fundamentais à fé. O mais triste é que esses e testemunho. Se todos os homens, salvos e
"ditadores" são cristãos que acreditam , de incrédulos, bons e perversos, falam bem de
fato, estar servindo a Deus e glorificando a nós, pode significar que estam os fingindo
Jesus Cristo. ou fazendo concessões indevidas.
De acordo com minha experiência, os Mas, além do bom testemunho dos mem­
maiores conflitos e divisões dentro das con­ bros da igreja, Demétrio também tinha o bom
gregações e entre as igrejas são decorrentes, testemunho da própria Palavra (verdade).
mais do que qualquer coisa, de questões de Com o G aio , Dem étrio andava na verda­
personalidade. É preciso voltar ao princípio de e obedecia à Palavra de Deus. Isso não
do Novo Testamento, segundo o qual o teste significa que esses hom ens eram perfeitos,
698 3 JOÃO

mas sim que levavam uma vida coerente, almas para Cristo, como também faziam ami-
procurando honrar ao Senhor. gos. Diótrefes era tão ditatorial que possuía
Tanto a igreja quanto a Palavra davam cada vez menos amigos, enquanto João, ao
testemunho da vida cristã de Demétrio, e o compartilhar o amor de Cristo, fazia cada
apóstolo João faz o mesmo (o que significa vez mais amigos.
que Demétrio teria problemas com Diótre- "Saúda os amigos por nome.‫ ״‬O após-
fes!) O apóstolo amado sabia por experiência tolo idoso não queria escrever uma carta
própria e não se envergonhava de confes- extensa; além disso, planejava visitar os des-
sar que Demétrio era um homem de Deus. tinatãrios. Por vezes, Paulo terminava suas
João havia advertido que visitaria a igreja cartas com uma lista de saudações pessoais
e que confrontaria Diótrefes (3 Jo 10) e, (ver Rm 16), mas, pelo menos nesta carta,
sem dúvida, Gaio e Demétrio apoiariam o João não faz isso. Pede que Gaio transmita
apóstolo em oposição ao "ditador". Eram suas saudações a seus amigos de modo pes-
homens que defendiam a verdade e que se soai e individual, como se o próprio João os
sujeitavam à autoridade espiritual verdadei- estivesse saudando. João não se preocupa-
ra. Uma vez que seguiam a verdade, não va apenas com a igreja, mas também com
havia perigo de outros cristãos imitarem os indivíduos que a constituíam.
seu exemplo. É interessante fazer um contraste entre a
A conclusão da epístola (3 Jo 13, 14) é segunda e a terceira epístolas de João e ver
semelhante à conclusão de 2 João, e talvez o balanço da verdade que o apóstolo apre-
fosse a maneira habitual de encerrar uma senta. A carta de 2 João foi escrita a uma
carta no tempo de João. O apóstolo plane- mulher piedosa e trata de sua família, en-
java visitar a igreja "em breve", o que certa- quanto 3 João foi escrita a um homem pie-
mente serviu de advertência para Diótrefes doso e trata de sua igreja. João adverte a
e de estímulo para Gaio e Demétrio. O ama- "senhora eleita" sobre os falsos mestres de
do João tinha "muitas coisas" para tratar com fora, mas adverte Gaio sobre os líderes dita-
a congregação e com seus líderes, mas pre- dores dentro da congregação. Os falsos
feria fazê-lo pessoalmente, não por meio de mestres em 2 João valiam-se do amor para
uma carta. negar a verdade, enquanto Diótrefes apela-
"A paz seja contigo" (3 Jo 14) deve ter va para a verdade, sem amor algum, e ata-
sido uma bênção de verdadeiro encoraja- cava os irmãos.
mento a Gaio! Sem dúvida, seu coração e Como é importante andar "em verdade
mente estavam aflitos por causa da divisão e amor" (2 Jo 3) e dizer a verdade em amor
na igreja e da maneira nada espiritual e (Ef 4:15). O que diz amar a verdade e, no
abusiva de Diótrefes tratar os membros da entanto, odeia seu irmão, confessa sua ig-
congregação. George Morrison, de Glasgow, norância acerca da vida cristã.
escreveu: "Ter paz é possuir recursos ade- Quando o povo de Deus ama o Senhor,
quados". O cristão pode desfrutar a "paz de a verdade e uns aos outros, o Espírito Santo
Deus", pois possui os recursos adequados opera no meio da congregação e Jesus Cris-
em Jesus Cristo (Fp 4:6, 7, 13, 19). to é glorificado. Mas quando qualquer mem-
João faz questão de enviar as saudações bro dessa congregação, inclusive o pastor,
dos cristãos da congregação onde ele se torna-se orgulhoso e deseja ter a "primazia",
encontrava naquela ocasião. "Os amigos te o Espírito se entristece e não pode abençoar.
saúdam." Que grande bênção ter amigos cris- A igreja pode parecer exteriormente bem-
tãos! Quando Paulo estava chegando a Roma, sucedida, mas interiormente lhe faltará a ver-
alguns irmãos foram a seu encontro: "Ven- dadeira unidade do Espírito que constitui a
do-os Paulo e dando, por isso, graças a Deus, comunhão saudável.
sentiu-se mais animado" (At 28:15). Tanto É preciso haver mais gente como Gaio e
Paulo quanto João não apenas ganhavam Demétrio... e menos como Diótrefes!

Você também pode gostar