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William do Vale Gadelha

Cid de Farias Miranda


Ex-Anciãos (Pastores) das Testemunhas de Jeová

A Verdade Sobre as
Testemunhas de Jeová
Copyright © da Versão Impressa: 2004
William do Vale Gadelha e Cid de Farias Miranda

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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ISBN 85-904070-1-2
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Sumário
Parte I
1 Por Que Examinar os Erros da Sociedade Torre de Vigia
2 O Que a Organização Afirma de Si Mesma
3 As Falsas Profecias do Corpo Governante
4 A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914”
5 Como o Corpo Governante Encara Seus Erros
6 Ensinos Que o Vento Levou
7 Questões de Vida ou Morte
8 Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas
9 Desassociação - Como a Bíblia Determina?
10 O Uso do Nome “Jeová”
11 A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas
12 Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”?
13 Os 144 Mil e a “Grande Multidão” - Quem São?
14 A Volta de Cristo - Visível ou Invisível?
15 Testemunhas de Jeová, Aniversários e Alianças de Casamento

Parte II
1 Descobertas Que Chocam
2 Apostasia - Contra Quem ou O Quê?
3 Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência
4 Para Quem Havemos de Ir (João 6:68)
5 O Que Faltou à Sociedade Torre de Vigia?
6 Audiências Judicativas
7 Ensinamentos das Testemunhas de Jeová - Uma Ameaça ao Tecido
Sócio-Familiar
8 Mudanças ou Novas Luzes - Seus Efeitos Sobre as Testemunhas de
Jeová
9 Atraindo Adeptos
10 Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová
11 Há Vida Fora da Organização
12 Experiências que a Organização não Relatou
13 Proibições, Conselhos Amorosos e Similares
14 Unidade ou Conformidade de Grupo?
15 O Que Dizer da “Religião Verdadeira”?
Prefácio
Optar por uma religião quando já somos conscientes e ainda jovens é
um fato marcante na vida. Pode ser um ato de emancipação, uma busca
de altos ideais, preocupação com o próximo, arroubo da juventude.
Tomar a decisão de deixá-la, após mais de duas décadas, pode assumir
significado ainda maior.
Este é o nosso caso. Buscamos aquilo que acreditávamos ser o
caminho para uma vida feliz, uma orientação segura, um radiante e
iminente futuro de paz, prosperidade e eterna juventude, não só para
nós, mas para toda a humanidade. Tudo isto nos prometia, e para breve,
a organização conhecida como Testemunhas de Jeová, dirigida pela
Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (hoje também chamada
Associação das Testemunhas Cristãs de Jeová), originada nos Estados
Unidos e expandida para todos os demais países ao longo do último
século. Mas, mais que tudo isso, ela nos oferecia a oportunidade ímpar
de fazer parte da única religião verdadeira na face da terra, e de
estabelecer, por meio dela, um vínculo com o Criador como, fora dela,
ninguém mais poderia usufruir.
Chegou, porém, o dia em que a luz agora tênue do sonho teve de
confrontar-se com o brilho irrefutável dos fatos, o clarão ofuscante da
verdade.
Deixamos as Testemunhas de Jeová.
Mas não o fizemos por conveniência egoísta, interesses escusos,
busca de alvos materiais ou simples fadiga espiritual. Não. Fizemos isso
por concluirmos que, de posse de informações que provavam além de
qualquer dúvida, que a organização religiosa que um dia abraçamos não
era, e não podia ser, aquilo que tão constantemente apregoava, não
podíamos prosseguir em apoiá-la. Estaríamos, em primeiro lugar,
violando nossa consciência, sendo cegos diante do dano causado,
silenciando em face do erro, fazendo da hipocrisia um modo de vida.
Isso era algo acima do suportável.
Não o fizemos sem considerável custo humano e emocional.
Significou para nós a perda de preciosos vínculos de amizade, amizades
de toda uma vida. Resultou em doloroso rompimento, involuntário de
nossa parte, com parentes chegados e amados, irmãos e irmãs, sobrinhos
e sobrinhas, cunhados e cunhadas.
Estamos, todavia, em paz com a consciência, e mais que isso,
estamos em paz com Jeová, o Deus cujo nome a organização da Torre
de Vigia adota como se fosse propriedade exclusiva.
Propusemos-nos, nesta obra, a esclarecer pontos vitais, já que não
pudemos fazê-lo perante aqueles que tinham o direito de saber, a quem
tínhamos como irmãos na fé. Alguns se referiram a nós como traidores,
apóstatas, vira-casacas espirituais. Somos, até o dia de hoje, caluniados
e difamados entre as Testemunhas de Jeová, sem podermos nos
defender diante da grande maioria. Alguém chegou a dizer a nosso
respeito: “Eles cuspiram no prato em que comeram.” Considerando-se
que as Testemunhas de Jeová dedicam, em média, cerca de 10 horas por
mês ao serviço de sua religião, divulgando seus ensinos, livros e revistas
de casa em casa, e trabalhando gratuitamente, além disso, em diversas
outras atividades relacionadas com a administração das congregações,
construção e manutenção dos Salões do Reino (locais de reunião),
preparação e realização de três congressos anuais, a acusação
certamente é injusta em relação a qualquer dos adeptos que resolva
deixar a religião. No nosso caso, já que éramos anciãos (dirigentes
locais, não remunerados), a tudo isso se acrescentam horas de preparo
de reuniões, dar discursos, dirigir estudos de livro e saídas para o
serviço de campo, pastoreio e disciplina dos membros e muitas outras
coisas que podiam ser imprevisíveis, inclusive contribuir com tempo e
dinheiro para as necessidades da organização, a acusação torna-se ainda
mais injusta. Se alguém deve realmente a alguém, quem deve de fato a
quem?
Deixamos a organização das Testemunhas, mas não deixamos o
nosso Criador, Deus. Saímos do convívio daqueles que se julgam os
únicos cristãos autênticos da terra, mas não deixamos a prática de uma
vida cristã. Não mais aceitamos muitas das interpretações bíblicas que a
Sociedade Torre de Vigia inculcava em seus membros, mas
continuamos a crer na Bíblia Sagrada como a Palavra inspirada de Deus,
em Jeová como nosso Criador e em seu Filho Jesus como nosso Messias
e Salvador.
Nossa obra é de esclarecimento, nosso trabalho visa ajudar, provendo
a versão integral dos fatos aos que estão nas fileiras das Testemunhas e
àqueles que ainda poderão, sem a visão e o conhecimento de que hoje
dispomos, vir a filiar-se a elas.
Nossa obra não é de ódio e rancor, mas pretende poupar a muitos dos
dissabores de continuar ou de passar a viver em engano, provando que
as ilusões, por mais belas que sejam, terminam acordando para duras
realidades. A ilusão impede a visão clara, estorva projetos realistas de
vida, obscurece a tomada de decisões benéficas. Não achamos
proveitoso viver iludidos por mais de duas décadas de nossas vidas.
Logo, não desejamos isso para os outros.
Nossa obra visa expor o erro, não recorrendo, no entanto, a
falsidades, meias-verdades e distorções. Assumimos plena
responsabilidade pelas informações que veiculamos, e diante de Deus
afirmamos: É tudo verdade, verdade documentada, procedente e
confirmável.
Estamos abertos à crítica fundamentada, ao questionamento racional,
e até, se for o caso, a alguma possível correção do texto. Admitimos
inclusive, que alguém discorde de nós, pedindo, todavia, que não o faça
sem inteirar-se plenamente da informação que ora transmitimos.
Antecipadamente agradecemos a leitura e a atenção dada a nossa
obra, convictos de que a publicamos no interesse da verdade, e em
harmonia com o desejo do Deus da Verdade.

Os autores
Parte I

Doutrinas e Ensinamentos das


Testemunhas de Jeová –
Erros e Contradições

William do Vale Gadelha


NOTAS:

1) A Sentinela de 15 de março de 1998, páginas 18, 19, diz:

Quando A Torre de Vigia [junho/julho de 1938; agora A Sentinela]


mencionava ‘A Sociedade’, isto significava não um mero instrumento
legal, mas o grupo dos cristãos ungidos que havia formado esta entidade
legal e a usava.” A expressão, portanto, equivalia a “escravo fiel e
discreto”. (Mateus 24:45) É neste sentido que as Testemunhas usavam o
termo “a Sociedade”. Naturalmente, a pessoa jurídica e “o escravo fiel e
discreto” não são termos intercambiáveis. Os diretores da Sociedade
Torre de Vigia são eleitos, ao passo que as Testemunhas que constituem
o “escravo fiel” são ungidas pelo espírito santo de Jeová.

A Sentinela de 15 de julho de 1987, página 19, fala no:

canal terrestre que Jeová usa hoje, “o escravo fiel e discreto”,


representado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

Portanto, quando as publicações da Torre de Vigia mencionam ‘A


Sociedade’, o ‘escravo fiel e discreto’ e os ‘ungidos’, elas se referem à
mesma coisa. Visto que o Corpo Governante afirma representar “o
escravo fiel” (que também se refere à “Sociedade”), ao longo deste livro
os termos “Sociedade” e “Corpo Governante” serão tratados como
intercambiáveis.

2) Todos os sublinhados deste livro foram feitos pelos autores.

3) A menos que haja outra indicação, todas as citações bíblicas foram


extraídas da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas,
publicada pela Associação Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.
Capítulo 1

Por Que Examinar os Erros


da Sociedade Torre de Vigia?

É A BÍBLIA, a própria Palavra de Deus, que assim aconselha. Ninguém


deveria aceitar ensinos, afirmações ou orientações sem antes levar em
conta estas advertências:
Amados, não acrediteis em toda expressão inspirada, mas provai as
expressões inspiradas para ver se se originam de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora. - 1 João 4:1.
Ora, estes últimos eram de mentalidade mais nobre do que os de
Tessalônica, pois recebiam a palavra com o maior anelo mental,
examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se
estas coisas eram assim. - Atos 17:11.
Certificai-vos de todas as coisas; apegai-vos ao que é excelente. -
1 Tessalonicenses 5:21.
Pelos textos lidos acima se vê claramente que o cristão não deve ser
crédulo. As Escrituras incentivam a conferir as informações e os
ensinos que se recebe. Não importa a segurança com que alguém faça
afirmações de estar com a verdade, devemos “prová-las” para ver se
“se originam de Deus”. Como se faz isso? Precisamos “examinar
cuidadosamente as Escrituras” para saber se as coisas que nos ensinam
“são assim”. Qualquer fonte que declare transmitir verdades de Deus
tem de se submeter a escrutínio. Estas declarações têm de ser
comparadas com o que a Palavra de Deus diz, e, desta forma,
estaremos “certificando-nos de todas as coisas”, e poderemos então
“apegar-nos ao que é excelente”, rejeitando tudo aquilo que não se
ajusta ao padrão escrito e inspirado que nosso Criador preservou para
nós.
Deveria alguém ter medo de fazê-lo? Não, se for um cristão sincero.
João 8:32 diz: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. O

10
Por Que Examinar os Erros da Sociedade Torre de Vigia 11

cristão não tem motivos para temer a verdade, se o fruto dela é a


liberdade, conforme disse Jesus. Intimidar pessoas para que não leiam
certas informações ou assuntos, porque é “perigoso”, porque pode
“destruir sua fé”, proibir o livre exame de uma matéria só por que ela
não é favorável certamente não se harmoniza com as palavras de Paulo
em 2 Coríntios 13:5:
Persisti em examinar se estais na fé, persisti em provar o que vós
mesmos sois.
A própria Sociedade Torre de Vigia, por meio de um de seus livros,
Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (de 1923), página 16, faz
a seguinte afirmação, com a qual certamente todas as pessoas de bom
senso podem concordar:

A atitude prevalecente hoje no âmbito da organização das


Testemunhas de Jeová tende mais para isto (A Sentinela, 15 de março
de 1986, página 12):
12 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Nesta citação, a opinião discordante do ensino da Torre de Vigia é


chamada de “ensinos apóstatas”. Mais adiante, afirma-se que a
convicção da verdade não deve ser motivo para conferir a veracidade
de novas informações. Diz que, examinando estes raciocínios, alguns
caíram vítimas de perguntas e dúvidas.
Faz-se necessária uma reflexão.
Se estes “ensinos apóstatas” são realmente apóstatas, como se
poderá saber se não forem examinados? Apostasia é o desvio da
verdade bíblica sobre Deus, Jesus e tudo o mais. Isto só pode ser
verificado pelo confronto da nova informação com aquilo que a
Palavra de Deus diz. Deveria o cristão sincero ter medo de avaliar suas
crenças segundo o que a própria Bíblia afirma? Seria sua convicção de
ter a verdade tão frágil a ponto de não resistir a uma análise à luz da
fonte desta mesma verdade, a palavra escrita e inspirada do próprio
Deus, pai de Jesus Cristo, fundador do cristianismo, sob cuja
orientação foram escritos os conselhos já citados de 1 João 4:1, Atos
17:11 e 1 Tessalonicenses 5:21?
Por Que Examinar os Erros da Sociedade Torre de Vigia 13

Muitos que hoje são Testemunhas de Jeová chegaram a isso por


terem sido contatados no trabalho de casa em casa promovido pela
organização Torre de Vigia. Eram em sua maioria, evidentemente,
pessoas que estavam em outras religiões, com graus maiores e menores
de convicção. Aceitaram a proposta das Testemunhas de examinar
aquilo que criam à luz da Bíblia. Caso tivessem adotado (como muitos
fazem) a atitude incentivada na Sentinela acima citada, de rejeitar a
idéia contrária por ser “apóstata”, de terem medo de “cair vítimas de
sérias dúvidas”, jamais teriam ingressado na organização.
Mais razoável e sábio é o ponto de vista que a própria organização
defende no livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna (1968), página
13:

E mais adiante diz (página 14):

Como acabamos de ver, o Corpo Governante exorta as pessoas a


examinar suas crenças, os ensinos de suas organizações religiosas,
conferir se esses ensinos estão em plena harmonia com a Palavra de
Deus, a não temer tal exame. Por que não aplicar isso aos ensinos do
próprio Corpo Governante das Testemunhas de Jeová?
Mais recentemente, o livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso
na Terra (1983), páginas 30 e 31 dizia:
14 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Podemos de modo similar dizer: certifique-se de que “aquilo em


que crê como Testemunha de Jeová esteja em harmonia com os
ensinos da Bíblia”, pois, afinal de contas, você “não pode
simplesmente presumir que os ensinos da organização [Testemunhas
de Jeová] com que se associa estejam em harmonia com a Palavra de
Deus”. Talvez você raciocine: “Mas estudei por vários meses antes de
decidir tornar-me Testemunha de Jeová. Já conheço bem seus
ensinos”. Observe, porém, o que a Bíblia incentiva (2 Coríntios 13:5):
Persisti em examinar se estais na fé, persisti em provar o que vós
mesmos sois.
E também 1 Coríntios 10:12:
Conseqüentemente, quem pensa estar de pé, acautele-se para que
não caia.
Ou talvez você argumente: “Já sei que muitas coisas ensinadas na
organização (o resgate, a ressurreição) estão bem baseadas na Bíblia”.
Por Que Examinar os Erros da Sociedade Torre de Vigia 15

É verdade, mas algumas delas são também ensinadas por outras


religiões. Além do mais, o que a própria Sociedade afirma no livro
Viver Para Sempre, citado acima, é que “todos os ensinos e práticas se
baseiem na Bíblia”, que é importante que “nós mesmos examinemos” e
que é preciso “concordar em todos os sentidos com a Bíblia”. Não se
pode “rejeitar partes da Bíblia”.
Vejamos ainda, a página 32 do Viver Para Sempre:

O que faria você se alguém lhe apontasse o erro recorrendo à Bíblia


e às próprias publicações do Corpo Governante?
Todos os conselhos acima, vindos da Sociedade Torre de Vigia, não
só são corretos como lógicos. Evidentemente, ela os dá esperando que
sirvam em seu favor, que as pessoas os apliquem às demais
organizações religiosas, e não a ela, e principalmente que não sejam
aplicados pelos que já fazem parte dela. Mas será isso justo ou correto?
O bom senso indica que ninguém deveria deixar de se submeter a
este escrutínio. Afinal de contas, o que há a temer? Por que tem a
Sociedade e seu Corpo Governante tanto medo de seus ensinos serem
questionados, investigados à luz das Escrituras, chamando de
“apóstatas” os ex-adeptos que passaram a discordar dela? Como diz o
livro Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão já citado, se o Corpo
Governante das Testemunhas de Jeová está de fato ensinando a
verdade, esta será cada vez mais “realçada”. Apenas “o erro procura
16 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

sempre a obscuridade”. Se a Sociedade está de fato trazendo luz às


pessoas, que esta luz passe por “uma perfeita e completa investigação”.
Se as Testemunhas de Jeová têm plena convicção de que o ensino
que recebem do Corpo Governante é a verdade, não devem temer
examinar um ponto de vista contrário, pois a verdade (quando é
mesmo verdade) resiste a qualquer ataque.
Como Examinar Corretamente
Além dos textos bíblicos já citados de 1 João 4:1, Atos 17:11 e 1
Tessalonicenses 5:21, que nos incentivam a não acreditar em todas as
expressões, mas prová-las, examinar cuidadosamente as Escrituras
para ver se elas são mesmo assim e certificar-nos de todas as coisas,
acreditamos que se aplicam à questão as palavras de Jesus em Mateus
12:37:
Pois é pelas tuas palavras que serás declarado justo e é pelas tuas
palavras que serás condenado.
A Torre de Vigia tem se destacado, desde os últimos anos do século
19, por sua grande atividade editorial. Lançou, a partir de julho de
1879, a revista que hoje é quinzenal e se chama A Sentinela, publicada
agora em 147 idiomas e com tiragem média de 25.203.000 cópias.
Desde 1919 publica a revista Despertai! (antes chamada A Idade de
Ouro e Consolação), que circula em 87 idiomas e tiragem média de
22.755.000 exemplares. Além destas, já publicou dezenas de livros
grandes e pequenos, folhetos, brochuras e tratados. Produz um
mensário, Nosso Ministério do Reino. Por meio de tudo isto se
divulgam os conceitos, os ensinamentos e as diretrizes do Corpo
Governante. Ao conjunto de toda esta informação veiculada as
Testemunhas referem-se como “a verdade”.
É justo, pois, que tal “verdade” seja examinada e conferida por meio
de todas estas publicações, passadas e presentes. Elas constituem “as
palavras” do Corpo Governante, suas declarações. Através delas e de
sua avaliação pelo infalível critério da Bíblia Sagrada, a Palavra de
Deus, é que se poderá constatar se a direção da organização da Torre
de Vigia é “declarada justa ou condenada”.
Poderia haver avaliação mais apropriada?
Capítulo 2

O Que a Organização
Afirma de Si Mesma

Num artigo publicado na Despertai! de 8 de junho de 1984, a


Sociedade abordou a intensa atividade do papa João Paulo II no
cenário internacional. Como era de esperar, seus leitores logo se
manifestaram a respeito. Alguns destes, que não gostaram das críticas
feitas à liderança da Igreja Católica, expressaram desagrado com o teor
da matéria. Isto foi publicado na Despertai! de 22 de dezembro de
1984, página 28. Observe as cartas e a resposta da Sociedade na
próxima página:

17
18 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Esta resposta da redação de Despertai! faz uma séria colocação. Faz


referência a uma organização religiosa que ‘afirma ser o caminho da
salvação’, no caso, a Igreja Católica. Faz o mesmo a organização das
Testemunhas? Afirma ela ser o caminho da salvação e da vida eterna?
Suas próprias publicações respondem.
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 19

A Sentinela, 15 de julho de 1982, página 21:

A Sentinela de 15 de setembro de 1983 analisava, na página 14, os


requisitos necessários aos que “residirão para sempre no Paraíso
terrestre”:

Conclui-se aqui que a organização da Torre de Vigia é um


instrumento usado por Deus. Esta afirmação tem de ser analisada.
A Sentinela, 1o de setembro de 1989, página 19:
20 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Como diz claramente o parágrafo acima, apenas as Testemunhas de


Jeová ‘qual organização unida’ podem esperar sobreviver ao fim deste
mundo. Para isso terão de manter-se ‘junto ao restante ungido’, isto é,
uma classe especial de pessoas dentro da organização.
A Sociedade afirma ainda que sua direção (os “ungidos”,
representados por seu Corpo Governante) é o “escravo fiel e discreto
de Jesus”, seu “canal de comunicação”.
A Sentinela, 1o de outubro de 1994, página 8:

No texto de Mateus 24:45-47 citado acima Jesus não menciona


nenhum “canal de comunicação”. Tampouco Paulo o faz em Efésios
3:10, 11. Destas e das demais referências bíblicas (Deuteronômio
29:29, Lucas 12:42-44), nenhuma falava em “ungidos” ou “cristãos
ungidos”. É verdade que as profecias bíblicas apontavam para o
Messias, mas quanto à afirmação de que “elas também nos
encaminham ao unido corpo de cristãos ungidos, das Testemunhas de
Jeová, que serve atualmente qual escravo fiel e discreto”, deve-se
perguntar: quem designou estes homens do Corpo Governante como
“escravo fiel e discreto”?
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 21

No passado, os servos de Jeová receberam designações claras e


específicas confirmadas na Bíblia:
Noé: Gênesis 6:14, 18, 22
Abraão: Gênesis 12:1-3
Moisés: Êxodo 3:10
Josué: Josué 1:1, 2, 5
Davi: 1 Samuel 16:12
Elias: 1 Reis 18:1
Isaías: Isaías 6:1, 9
Jeremias: Jeremias 1:5, 7
Ezequiel: Ezequiel 2:1, 3
Daniel: Daniel 1:17
Jonas: Jonas 1:1, 2
João Batista: Lucas 3:2
Paulo: Atos 9:15; 13:2
João: Revelação 1:1, 2
Todas as pessoas acima, incluindo patriarcas, profetas, apóstolos e
pregadores de mensagens especiais divinas, receberam designações
claramente delineadas na Palavra de Deus. Nenhuma foi deixada ao
acaso ou feita de modo ambíguo. Onde encontramos, na Bíblia, as
claras designações de Russell, Rutherford, Knorr, Frederick Franz,
Milton Henschel, Don Adams (atual presidente da Sociedade) ou de
qualquer membro passado ou atual do Corpo Governante? (Este termo
sequer aparece na Bíblia) O fato é que o Corpo Governante transforma
esta passagem (ilustrativa do serviço fiel a Deus) numa designação
divina para eles mesmos, os homens que dele fazem parte, do mesmo
modo que a Igreja Católica usa a resposta de Jesus a Pedro em Mateus
16:18, 19 para dizer que o papa é alguém com autoridade especial, o
“legítimo representante de Deus na Terra”, algo que Jesus nunca teve a
intenção de dizer.
Pelas várias citações já feitas, está bem claro que, tal como a Igreja
Católica, segundo a Despertai! de 22 de dezembro de 1984 já citada, a
organização Torre de Vigia também “afirma ser o caminho da salvação
para milhões de pessoas”. A mesma revista também dizia que qualquer
organização que assumisse tal posição deveria ‘estar disposta a ser
esmiuçada e criticada.’ É o que este livro se propõe a fazer,
esforçando-se para ser ‘verdadeiro na apresentação dos fatos, e justo e
22 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

objetivo na avaliação dos mesmos’, tal como a Sociedade afirma fazer


com outras religiões.
A Sociedade (ou Corpo Governante) Considera-se Profeta
Eis, segundo o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa, de Pedro
Luft, a definição de “profeta”:
Pessoa que fala ou anuncia em lugar de Deus; indivíduo que prediz
o futuro.
Mais interessante será, porém, examinar o conceito de “profeta”
segundo o dicionário bíblico da própria organização Torre de Vigia,
Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 3, página 336, que diz:

Tendo em vista estas definições, examinemos o que a Sociedade diz


sobre sua própria posição neste respeito.
A Sentinela, 15 de dezembro de 1964, página 749:

Portanto, a Sociedade diz que “Jeová é quem está por trás” de sua
atividade profética. Logo, ela não poderia cometer erros ao “revelar
suas [de Jeová] verdades”, pois Dele a Bíblia afirma “A Rocha,
perfeita é a sua atuação”. (Deuteronômio 32:4)
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 23

A Sentinela, 1o de outubro de 1972, página 581:

Por meio de sua revista o Corpo Governante pergunta e ele mesmo


responde: a Sociedade é um profeta!
Exclusividade para Entender a Bíblia
o
A Sentinela, 1 de junho de 1968, página 327, parágrafo 9:

A Sociedade crê que só ela, e ninguém mais, pode entender a Bíblia


corretamente! Visto que, quem exerce a autoridade e toma as decisões
quanto a interpretações bíblicas dentro desta ‘organização visível’ é o
Corpo Governante, composto atualmente de 13 homens, isto significa
que, dentre todos os bilhões de habitantes da terra e dos mais de 6
milhões de Testemunhas de Jeová, apenas estes 13 homens têm o
24 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

privilégio de entender devidamente as Escrituras. Em parte alguma da


Bíblia, porém, existe apoio para tal pretensão!
Uma das mais sérias asserções feitas pela Sociedade neste respeito
encontra-se em A Sentinela de 1o de janeiro de 1974, página 18,
parágrafo 4:

Estas afirmações implicam em pesada responsabilidade. Ela afirma


ser dirigida pelo espírito santo de Deus. Será que isto é verdade? Dizer
que ela é a única para quem a Bíblia não é um livro lacrado não
garante a seus ouvintes e leitores que todo o ensino dela provém do
próprio Deus, tal como se estivesse nas páginas da própria Bíblia?
Quando ela se diz “a única organização na terra que compreende as
coisas profundas de Deus”, não significa isto que todos podem ouvi-la
e acatá-la com a confiança que se deve às coisas divinas? Há alguma
diferença entre ser “dirigida pelo espírito santo de Deus” e ser
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 25

inspirada pelo espírito santo de Deus? Se há alguma diferença, qual é?


Se há diferença, que peso, então, deve ser atribuído às declarações da
Sociedade, um peso relativo ou absoluto? Devem os ensinos dela ser
recebidos de modo relativo ou absoluto, como opcionais ou
obrigatórios?
Em complemento a estas ousadas alegações, lemos ainda em A
Sentinela de 1o de agosto de 1982, pagina 27, parágrafo 4:

Ela declara ser o “canal de comunicação de Deus”, sem o qual não


se consegue a vida eterna, por mais que se leia a Bíblia! A conclusão é
que a Bíblia não basta, e que este canal humano é indispensável à
salvação. No entanto, Jesus disse em João 14:6:
Eu sou o caminho, a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão
por mim.
Portanto, a Sociedade colocou-se aqui como mais um intermediário
entre Deus e os homens! Lembremo-nos do malfeitor pregado no
madeiro ao lado de Jesus. Ele não fez parte de organização humana
alguma, e sequer chegou a ser batizado, mas o Filho de Deus garantiu-
lhe: “Estarás comigo no Paraíso”. (Lucas 23:43)
O parágrafo da Sentinela acima menciona em apoio o texto de Atos
8:30-40. A respeito de Filipe e do eunuco etíope há três coisas a
considerar: 1) O fato de que o eunuco não entendia uma passagem das
Escrituras sem ajuda de alguém, não significa que outros não
pudessem fazê-lo. 2) O eunuco não entendia apenas dois versículos, e
não toda a Escritura. 3) Após o batismo do eunuco, Filipe seguiu para
sua designação seguinte e o etíope voltou para seu país distante,
provavelmente não voltando a ver Filipe e nem ficando para sempre na
dependência espiritual dele.
26 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Mais pode ser visto em relação a isto na Sentinela de 15 de julho de


1987, página 19:

A Sociedade declara ser impossível receber espírito santo senão por


intermédio dela. Sem o Corpo Governante, o “escravo”, ninguém pode
entender o que lê na Bíblia, e ninguém saberia como aplicar o que lê! E
o Corpo Governante representa “o escravo fiel e discreto”. Tal
afirmação presunçosa feita por homens do século XX, que não tiveram
contato com Cristo nem com seus apóstolos, deve ser examinada.
Porque não lê Mateus 24:45-47 para conferir se tudo isso está, de fato,
escrito lá?
A Sentinela, 1o de dezembro de 1982, página 13, parágrafo 4:

Se o Corpo Governante, numa “posição similar à de Paulo”, recebe


revelações de Deus por intermédio de seu espírito, por que tantos erros
foram cometidos? Por que “passaram adiante” como se fosse “alimento
no tempo apropriado”, as orientações erradas sobre datas, transplantes,
frações de sangue e serviço civil alternativo? Paulo foi um “vaso
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 27

escolhido” pelo Senhor. (Atos 9:15) Onde a Bíblia especifica a


designação desses ‘ungidos’ do Corpo Governante?
Na mesma revista, página 19, parágrafo 10, lemos:

Agora analisemos: se observar o Corpo Governante é o mesmo que


observar a Cristo, se o Corpo Governante é o “instrumento designado”
por meio do qual Jesus “comunica suas diretrizes”, se a
“cronometragem dos assuntos” é provida por Jesus, como foi que
ocorreram os erros relacionados a 1874, 1914, 1918, 1925, 1975 e,
finalmente, o erro de que a “geração de 1914” veria o fim do sistema
mundial de coisas? Sobre Jesus está escrito, “Ele não cometeu pecado,
nem se achou engano na sua boca”. (1 Pedro 2:22) Como teria sido
possível essa cronometragem ser provida por Jesus? Como era possível
que esse grupo de “ungidos” estivesse sob o comando de Jesus?
28 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Examine a seguir A Sentinela de 1o de maio de 1983, páginas 26 e


27:

Não há dúvida! O Corpo Governante considera-se “profeta”, e igual


a Jeremias! Um “profeta composto”, coletivo. Todavia, Jeremias foi
especificamente designado por Jeová em Jeremias 1:5, 7. Onde está a
designação específica deste Corpo Governante, na Bíblia? Veja A
Sentinela, 15 de julho de 1998, página 12, parágrafo 15:
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 29

Segundo a revista acima, assim como Jeová falou por meio de


Moisés e Jesus, Ele “ainda está falando” por meio do Corpo
Governante. Acontece que Moisés era dirigido e inspirado por Jeová,
que falava diretamente com ele. Jesus era filho do próprio Deus. A
Bíblia confirma isso. De onde, porém, veio esta designação do Corpo
Governante, para achar que por meio dele “Deus está falando”? Como
sabem os homens do Corpo Governante que são o “escravo fiel e
discreto”? Não será isso presunção humana?
Livro As Nações Terão de Saber Que Eu Sou Jeová, publicado em
1973, página 63:

Segundo este parágrafo, Jeová ordenou, designou e comissionou os


“ungidos” do Corpo Governante, em 1919! E “os fatos provam”! Onde
se comprova isto na Bíblia? E que foi em 1919? Onde estão estas
provas na Bíblia?
No mesmo livro, página 66:
30 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O Corpo Governante (ou Sociedade) considera-se um “profeta de


Jeová” como foi Ezequiel no passado. Só que as profecias de Ezequiel,
inspirado por Jeová, aconteceram! E quanto às profecias do Corpo
Governante, dos “ungidos da moderna classe de Ezequiel”? Jeová
designou especificamente Ezequiel como seu profeta. (Eze. 2:1, 3) Em
que parte da Bíblia está a designação específica dos homens do Corpo
Governante?
Se a Sociedade Torre de Vigia (por meio de seu Corpo Governante)
se declara dirigida pelo espírito santo de Deus, diz que a Bíblia não
pode ser compreendida sem sua ajuda, e que ela é um profeta de Deus,
deve-se examinar seus ensinamentos, suas normas e suas profecias,
para avaliarmos com justiça tudo que ela afirma ser.
É sabido que a Sociedade Torre de Vigia já revogou muitos de seus
ensinos passados, principalmente os relacionados com datas proféticas.
Ela espera que todos compreendam isso como fruto da “imperfeição
humana”. Ela, porém, ao mesmo tempo, afirma que só ela “em toda a
Terra, é dirigida pelo espírito santo ou a força ativa de Deus”, que é “a
única para a qual a Palavra Sagrada de Deus, a Bíblia, não é um livro
lacrado”, que é a única organização na terra que compreende as “coisas
profundas de Deus”.
Podemos relacionar isso com a definição católica da infalibilidade
papal, publicada na Despertai! de 8 de fevereiro de 1989, páginas 3, 4:
O Que a Organização Afirma de Si Mesma 31

O papa, portanto, segundo o ensino católico, só é infalível quando


se pronuncia em suas funções, em seu cargo, quando emite ensino
sobre fé ou moral. Como pessoa humana, no exercício da vida diária,
continua sendo ser humano imperfeito, sujeito a cometer falhas.
O fato de a Sociedade Torre de Vigia ser “dirigida pelo espírito
santo de Deus” deveria ser garantia no mínimo de que, ao pronunciar-
se sobre questões de fé, moral e doutrina, embora formada por homens
imperfeitos, ela estivesse livre de erros. Se ser “dirigida pelo espírito
santo de Deus” não significa isso, de que adianta fazer tal afirmação?
Teriam, nesse caso, as Testemunhas de Jeová razão mais forte para
obedecer ao Corpo Governante do que os católicos para obedecer ao
papa?
Podemos compreender isso com dois exemplos da vida do próprio
apóstolo Pedro.
O primeiro episódio está em Mateus 26:69-75. Pedro teve medo e
repudiou a Jesus, negou conhecê-lo, mentiu, errou. Agiu como ser
humano imperfeito, e, como tal, foi perdoado e continuou a ser
comissionado por Jesus.
O segundo episódio está registrado em Gálatas 2:11-14 (onde é
chamado de Cefas). Temendo a opinião dos da classe circuncisa, ele
passou a afastar-se dos das nações, num fingimento que ele sabia ser
errado. Mostrou, com sua atitude, temor do homem, da opinião alheia.
Foi falha de imperfeição e conduta humana. Foi repreendido e
corrigido.
Muitos anos mais tarde, ele escreveu suas duas cartas, onde entre
outras coisas, afirmou:
Mas, há novos céus e uma nova terra que aguardamos segundo a
sua promessa, e nestes há de morar a justiça. (2 Pedro 3:13)
Podia estar ele enganado quando escreveu isto? Não, pois ele
escreveu não de acordo com seu próprio discernimento, mas sob
inspiração divina. Continuava a ser homem imperfeito, mas a
mensagem que registrava sob orientação do espírito santo era correta,
perfeita e infalível. Isto é o que distingue uma mensagem dirigida pelo
espírito santo de Jeová das mensagens de origem humana, sujeitas a
revogações, alterações ou “novas luzes”. É com esta perspectiva, pois,
32 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

que devemos examinar os pronunciamentos emanados do Corpo


Governante das Testemunhas de Jeová.
Capítulo 3

As Falsas Profecias
do Corpo Governante

Já vimos que a Sociedade se declara “profeta” de Deus, e isto desde


seu próprio início. Portanto, pode-se começar a investigar seus ensinos
a partir daquela época. Russell fundou a revista Torre de Vigia de Sião
e Arauto da Presença de Cristo (A Sentinela) em julho de 1879 e
organizou a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados como
pessoa jurídica em 1884. Daí em diante, matérias religiosas fluíram
abundantemente desta fonte, e boa parte delas tinha a ver com a
iminência do fim do mundo. Isto deu origem ao que veio a ser, e ainda
é, o ano mais assinalado na história das Testemunhas de Jeová.
A Falsa Profecia para 1914
O assunto é abordado atualmente nas publicações da Sociedade com
certa obscuridade. A idéia que elas geralmente passam é que se
profetizou o fim dos “Tempos dos Gentios” para 1914 e que isto
realmente aconteceu, de modo invisível. Isto é sustentado até o dia de
hoje. Mas deixemos que as próprias publicações da época revelem o
que realmente era lido e ensinado às Testemunhas de Jeová, então
chamadas de Estudantes da Bíblia. Seguem fotocópias das matérias
originais em inglês, acompanhadas da tradução, pois as publicações da
Sociedade em português só começaram a surgir após 1920, quando a
obra da Torre de Vigia se iniciou no Brasil.
Livro The Time is at Hand (O Tempo Está Próximo, mencionado no
livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus,
página 53, rodapé.), de 1889, página 99:

33
34 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Tradução:
Em vista desta forte evidência bíblica concernente aos Tempos dos
Gentios, consideramos como uma verdade estabelecida que o final
definitivo dos reinos deste mundo, e o pleno estabelecimento do Reino
de Deus estarão cumpridos por volta de fins de 1914 A.D. Então a
oração da Igreja, feita desde a partida do Senhor - “Venha o teu Reino”
- será respondida; e debaixo dessa administração sábia e justa, a terra
inteira se encherá da glória do Senhor - com conhecimento, justiça e
paz (Sal. 72:19; Isa. 6:3; Hab. 2:14); e a vontade de Deus será feita “na
terra como é feita no céu.”
Note aqui a expressão “verdade estabelecida”. A linguagem foi
clara e nada inequívoca. Havia “forte evidência bíblica”. Todavia, os
“reinos deste mundo” continuam de pé 90 anos após 1914.
Livro Thy Kingdom Come (Venha o Teu Reino, mencionado no
Proclamadores, página 53, rodapé.), de 1891, página 153:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 35

Tradução:
A queda, as pragas, a destruição, etc., preditas que viriam sobre a
mística Babilônia, foram prefiguradas pela grande aflição e destruição
nacional que vieram sobre o Israel carnal, e que terminaram na
completa destruição daquela nação em 70 A.D. E o período da queda
também tem um paralelo, pois da época em que nosso Senhor disse,
“Vossa casa vos é deixada desolada,” 33 A.D., até 70 A.D, passaram-
se 36 anos e meio. E, com o fim de 1914 A. D., aquilo que Deus chama
de Babilônia e os homens chamam de Cristandade, terá passado,
conforme já demonstrado pela profecia.
Há alguma dúvida sobre o que aqui se predizia para 1914? Notou as
palavras “conforme já demonstrado pela profecia”?
The Watch Tower (A Sentinela), 15 de janeiro de 1892, página 23:

Tradução:
Embora nos pareça uma agradável surpresa (em vista dos
sensacionais relatos contrários tantas vezes publicados) descobrir que a
situação na Europa conforme descrevemos aqui - em harmonia com o
que as Escrituras nos levavam a esperar - assim mesmo, tão grande é
nossa confiança na Palavra de Deus e na luz da verdade atual que
brilha sobre ela, que não poderíamos ter duvidado de seu testemunho
quaisquer que fossem as aparências. A data do encerramento dessa
“batalha” está definitivamente marcada nas Escrituras como sendo
outubro de 1914. Ela já está em andamento, seu início tendo se dado
em outubro de 1874. Até agora tem sido mais uma batalha de palavras
e uma época para se organizarem as forças - o capital, o trabalho, os
exércitos e as sociedades secretas.
36 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Note a expressão “definitivamente marcada nas Escrituras”. A


Sociedade tenta atribuir à Palavra de Deus sua própria profecia não-
inspirada!
The Watch Tower (A Sentinela), 15 de julho de 1894, página 16:

Tradução:
Agora, em vista dos recentes problemas trabalhistas e da ameaça de
anarquia, nossos leitores estão escrevendo para saber se não pode
haver um erro na data de 1914. Dizem que não vêem como as
condições atuais possam manter-se por mais tempo debaixo de tanta
tensão.
Não vemos razão para mudar os números - nem poderíamos mudá-
los, se quiséssemos. Estas são, acreditamos, datas de Deus, e não
nossas. Mas tenham em mente que o final de 1914 não é a data do
início, mas do fim do tempo de aflições. Não vemos razão para mudar
nossa opinião expressa no conceito apresentado na SENTINELA de 15
de janeiro de ‘92. Aconselhamos que a leiam novamente.
Reparem na expressão “datas de Deus”. O leitor é cada vez mais
levado à certeza destas predições para 1914. Quem ousaria duvidar das
“datas de Deus”? Também é interessante observar que hoje a
Sociedade ensina que 1914 marcou o início do tempo do fim, época de
maiores aflições, e não do seu encerramento.
O Fracasso da Profecia para 1914
O que aconteceu em 1914 foi o início da Primeira Guerra Mundial,
que, de fato, não resultou em nada do que era predito nas citações
acima. A profecia humana fracassou, e, desde então, as publicações
têm desviado o foco da questão, enfatizando “o fim dos Tempos dos
As Falsas Profecias do Corpo Governante 37

Gentios”. Exemplo disso é o livro Proclamadores (1993), que abordou


o assunto na página 135:

No canto superior direito da página há uma fotocópia do Mensário


dos Estudantes da Bíblia, publicado na época pela Sociedade. O título
em letras grandes diz: END OF WORLD IN 1914 (Fim do Mundo em
1914). Logo abaixo, porém, o comentário é sobre como o “fim dos
Tempos dos Gentios foi amplamente divulgado pelos Estudantes da
Bíblia”, ou seja, enfatizou-se o que ‘ocorreu invisivelmente’ e não
pôde ser comprovado e omitiu-se o principal, o fim do mundo em
1914, que era o mais aguardado pelos seguidores da Torre de Vigia na
época!
Usando a mesma tática de disfarçar o fracasso, a Sociedade costuma
citar um jornal da época, de Nova York, The World, como uma espécie
de reconhecimento externo de que ela fizera uma grande profecia. Esta
citação pode ser vista no Proclamadores, página 60, num quadro do
lado esquerdo:
38 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Queira observar que, após cerca de 30 anos em que se falou de 1914


como um ‘ano marcado’ (porque traria o fim dos Tempos dos Gentios
e o fim do mundo, com a conseqüente destruição dos governos
humanos e o arrebatamento dos “ungidos” para o céu) era razoável
que, alguns dias após o início da Primeira Guerra Mundial, um jornal
de Nova York se impressionasse a ponto de relacionar aquele conflito
com o Armagedom que destruiria tudo. O tempo provou que nenhuma
“profecia extraordinária” se havia cumprido. A verdade é que a guerra
terminou quatro anos depois, o mundo e seus governos continuaram de
pé, os “ungidos” não foram arrebatados e a única coisa que “se
cumpriu” foi o suposto “fim dos Tempos dos Gentios”, com a
conseqüente entronização de Jesus, descrita como tendo ocorrido nos
céus invisíveis, fora do alcance dos olhos humanos e dos jornais, sem
haver absolutamente nada na Bíblia que o comprove nessa data. Tanto
quanto a Sociedade, o jornal The World equivocou-se na sua
interpretação dos acontecimentos. Mas é do sensacionalismo que
certos jornais vivem até hoje.
O fracasso de 1914 trouxe decepção para muitos adeptos da
Sociedade. A respeito disso o Anuário das Testemunhas de Jeová de
1983, página 120, relata:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 39

O Corpo Governante alimentou os seus seguidores com


“expectativas vãs”. E diz que “alguns Estudantes da Bíblia
esperavam...” dando a impressão aos leitores de que a falsa profecia
partiu de alguns dentre os adeptos da organização, e não de sua
direção. O Corpo Governante tenta livrar-se da responsabilidade pelo
fracasso, mas suas próprias publicações já citadas atestam de onde
realmente partiu toda a informação que gerou tanta expectativa nos
corações crédulos: da direção da Sociedade Torre de Vigia.
Outros relatos refletem o modo distorcido com que a Sociedade
aborda atualmente o fracasso desta falsa profecia.
O Anuário de 1975, páginas 78 e 79 traz o relato de certo Dathe, na
Alemanha:

Mas, como “os maiores dos profetas”, se o fim do mundo não veio
em 1914? A guerra durou quatro anos e o mundo continuou!
40 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Sobre a Noruega, o Anuário de 1978, página 205, diz:

O que todos e não só “alguns” esperavam era o fim do mundo e o


arrebatamento para o céu. Que “expectativa demasiada” podia ser
maior do que isto? Era isto que a Sociedade ensinava a todos! Como
não ficar desapontados? “Abandonaram a verdade”? Que verdade? A
do fim do mundo em 1914?
Sobre o Canadá, o Anuário de 1980, página 97:

Mas por que 1914 era “ansiosamente aguardado”? Porque o ensino


da Torre de Vigia era que então viria o fim do mundo e o
arrebatamento! Que ‘esperanças pessoais’ podiam ser maiores do que o
fim do mundo e a conseqüente salvação dos eleitos?
Sobre a França, o Anuário de 1981, página 45:

Dá a impressão de que era o entendimento só daquele homem, mas


era o entendimento da própria Sociedade. Segundo o Proclamadores,
página 62, no quadro do lado esquerdo, A. H. Macmillan disse em 30
de setembro de 1914:
“Este é provavelmente o meu último discurso público, porque em
breve iremos para a nossa morada [o céu].”
Macmillan era um dos diretores da Sociedade, portanto, membro do
Corpo Governante (Veja-o na foto da Diretoria na página 653 do livro
As Falsas Profecias do Corpo Governante 41

Proclamadores.). Logo, não podia estar fazendo um discurso


‘apóstata’, e sim de acordo com o ensino da organização.
Sobre a Nova Zelândia, o Anuário de 1982, página 213:

Esse culpou o próprio Jeová! E com a aprovação da Sociedade, já


que apareceu no Anuário! Mas, como, se não foi Jeová quem disse
nada sobre o “esperado fim do sistema no outono de 1914”? Como se
pôde atribuir a Deus a culpa da Sociedade, que se proclama “canal de
comunicação” de Deus? O objetivo, na realidade, é fazer com que os
membros ‘aceitem’ o erro como se este tivesse sido um teste de
lealdade, uma “prova” partida do próprio Criador. Mas “Quando posto
à prova, ninguém diga: ‘estou sendo provado por Deus.’ Pois, por
coisas más Deus não pode ser provado, nem prova Ele a alguém.’“
(Tiago 1:13) Acha que o Deus que ‘mantém a veracidade por tempo
indefinido’ testaria pessoas por meio de falsas profecias quando Ele
mesmo as condena? (Sal. 146:6; De. 18:20)
Falsas Profecias para 1918 e 1920
Livro The Finished Mystery (O Mistério Consumado), publicado pela
Sociedade em 1917, página 485:

Tradução:
42 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

24:25, 26. Também tu, ó filho do homem, não será no dia em


que tirarei deles a sua força, a alegria de sua glória, o desejo de
seus olhos, e aquilo em que fixam suas mentes, e seus filhos e suas
filhas, que virá a ti aquele que escapar nesse dia para fazer com
que o ouça com teus ouvidos? — Também, no ano de 1918, quando
Deus destruir as igrejas em escala total e os membros das igrejas aos
milhões, será nesse dia que, qualquer um que escapar, se voltará para
as obras do Pastor Russell para aprender o significado da derrocada do
“Cristianismo.”
Veja também, no mesmo livro, a página 258:

Tradução:
16:20. E toda ilha fugiu. — Até as repúblicas desaparecerão no
outono de 1920.
E não se acharam os montes. — Todos os reinos da terra
passarão, serão tragados pela anarquia.
As igrejas não foram destruídas, nem as repúblicas desapareceram,
nem os reinos da terra foram tragados pela anarquia. Tanto as igrejas
quanto as repúblicas e os reinos continuam de pé, mais de 80 anos após
1918 e 1920. Foi ou não foi uma falsa profecia?
Este livro continha tantas idéias erradas, que hoje está fora de
circulação. Mesmo assim, a Sociedade ainda se refere a ele como “um
poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”. (Clímax de
Revelação, página 165, parágrafo 16) Como se pode afirmar que os
autores deste livro tinham orientação divina?
Com justiça aplicam-se aqui as palavras de Deuteronômio 18:21,
22:
E caso digas no teu coração: “Como saberemos qual a palavra que
Jeová não falou?” quando o profeta falar em nome de Jeová e a palavra
não suceder nem se cumprir, esta é a palavra que Jeová não falou. O
As Falsas Profecias do Corpo Governante 43

profeta proferiu-a presunçosamente. Não deves ficar amedrontado por


causa dele.’
Falsa Profecia para 1925
Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (mencionado no
Proclamadores, página 78), lançado pela Sociedade em 1920, foi
publicado no Brasil em 1923. Textos do profeta Jeremias foram
conectados ao ano de 1925, sem base alguma. Dele, apresentamos as
seguintes páginas:

Observe no parágrafo acima como as palavras “outras escrituras


definitivamente estabelecem o fato” são atreladas às coisas que se
deviam aguardar para 1925. A página seguinte prossegue:
44 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Segundo a página acima, o Reino do Messias seria estabelecido em


1925, e na terra, tendo como representantes os fiéis homens do
passado, ressuscitados. E prossegue:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 45

Nesta última página predizia-se que a parte terrestre do Reino seria


reconhecida em 1925. Note-se também a expressão “podemos
seguramente esperar”. O ressurgimento à perfeição humana de homens
tais como Abraão, Isaque e Jacó não se tratava de uma probabilidade,
mas de uma certeza.

A Sociedade marcou a ressurreição dos fiéis do passado para 1925.


Atentemos também para as palavras “chegamos à positiva e
indiscutível conclusão”, relacionadas aos milhões que jamais
morreriam graças ao estabelecimento do Reino em 1925. Se você
tivesse lido isso em 1920, teria achado que era uma probabilidade?
46 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

The Watch Tower (A Sentinela), 1o de setembro de 1922, página


262:

Tradução:
A EUROPA É UM CALDEIRÃO FERVENTE
A Áustria é tomada pelo pânico, e espera-se mais uma revolução
para qualquer dia. Na Itália os revolucionários ameaçam derrubar o
governo, e o temor apossou-se de todos que estão no poder. Toda a
Europa, de fato, é como uma panela em ebulição, com um calor de
intensidade cada vez maior. Se qualquer um que tenha estudado a
Bíblia puder viajar pela Europa e não se convencer de que o mundo
terminou, e que o dia da vingança de Deus está aqui, e que seu reino
Messiânico está às portas, então foi em vão que ele leu a Bíblia. Os
fatos físicos mostram, além de dúvida, que em 1914 os tempos dos
Gentios terminaram; e como o Senhor predisse, a velha ordem está
sendo destruída pela guerra, fome, pestilência e revolução.
A data de 1925 é ainda mais distintamente indicada pelas Escrituras
porque foi fixada pela lei que Deus deu a Israel. Considerando a atual
situação da Europa, é de se perguntar como será possível reter-se a
explosão por mais tempo; e que até mesmo antes de 1925 se alcançará
a grande crise, podendo esta ser ultrapassada. As condições atuais
estão fortalecendo a fé do cristão. Seu coração geme, juntamente com
os outros da criação, ansiosos para ver o Príncipe da Paz trazer do caos
ordem e bênçãos para o povo.
Que privilégio é agora concedido aos seguidores de Cristo! Que
oportunidade bendita para manter-se à parte da luta e da turbulência da
As Falsas Profecias do Corpo Governante 47

terra e de trazer ao povo a mensagem de paz e salvação e dizer: ‘Eis


que o Senhor está aqui; eis que teu Deus reina!’
No texto acima, o Corpo Governante atribui a Deus a fixação da
data de 1925! Já que nada aconteceu em 1925, de quem é a
responsabilidade pela falsa profecia? De Jeová? Não! Sua atuação é
perfeita! (De. 32:4) A responsabilidade é dos homens que afirmam ter
orientação divina. O Corpo Governante não tem orientação divina.
The Watch Tower (A Sentinela), 1o de abril de 1923, página 106:

Tradução:
PERGUNTA E RESPOSTA
Pergunta: Deu-se ordem, oito meses atrás, para que os Peregrinos
[viajantes] parassem de falar sobre 1925? Temos nós, em comparação
com Noé, mais razão ou menos razão para acreditar que o Reino será
estabelecido em 1925 do que Noé tinha para acreditar que haveria um
dilúvio?
Resposta: É de surpreender como os relatos circulam. Jamais houve
qualquer intimação aos irmãos Peregrinos para que parassem de falar
sobre 1925. A pessoa que tiver declarado que tal instrução foi emitida,
o fez sem qualquer autorização, pretexto ou motivo.
Nossa idéia é que 1925 está definitivamente estabelecido pelas
Escrituras, marcando o fim dos jubileus típicos. O que acontecerá
exatamente nessa época ninguém pode dizer com certeza; mas
esperamos um clímax tal nos assuntos do mundo que as pessoas
começarão a perceber a presença do Senhor e seu poder do reino. Ele
já está presente, conforme sabemos, tomou para si seu poder e
começou seu reinado. Ele veio ao seu templo. Está esmiuçando as
nações. Cada cristão deve ficar contente, então, de fazer o que suas
48 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

mãos acharem para fazer, sem parar para sofismar sobre o que vai
acontecer numa certa data.
Quanto a Noé, o cristão tem agora muito mais em que fundamentar
sua fé (até onde revelam as Escrituras) do que Noé tinha para
fundamentar sua fé num vindouro dilúvio.
O próprio Jeová declarou a Noé que haveria um dilúvio. Mesmo
assim, o Corpo Governante tinha mais certeza do estabelecimento do
Reino em 1925 do que Noé tinha a respeito do dilúvio!
The Way to Paradise (O Caminho Para o Paraíso) foi publicado
pela Sociedade em 1924. Apesar de pouco conhecido atualmente, ele é
mencionado no Anuário de 1987, página 140. Aparece também numa
foto da página 88 do Proclamadores, na primeira linha, a sétima
publicação da esquerda para a direita, capa cinza. Eis o que ele dizia na
página 224:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 49

Tradução do segundo parágrafo:


O ano legal judaico começa no outono, por volta de nosso 1o de
outubro. O ano de 1926, portanto, começaria por volta de 1o de outubro
de 1925. Seria muito razoável esperar ver algum início do favor de
Deus voltar ao povo Judeu, como parte do mundo, pouco depois dessa
data. Muitos dos judeus já olham ansiosamente em direção à sua antiga
pátria, a Palestina. O limite de Deus para as nações gentias expirou em
1914, como já vimos. Assim como a nação Judaica, como nação,
perdeu o favor de Deus quando crucificaram Jesus, e as nações Gentias
já não têm o reconhecimento de Deus quais nações, Cristo logo
começará a tratar com o mundo de modo individual, começando pelos
Judeus, através dos antigos merecedores. Devemos, portanto, aguardar
para pouco depois de 1925 assistir o despertar de Abel, Enoque, Noé,
Abraão, Isaque e Jacó, Melquisedeque, Jó, Moisés, Samuel, Davi,
Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, João Batista, e outros mencionados
no capítulo onze de Hebreus.
Cerca de oitenta anos já se passaram desde que isto foi escrito.
Abel, Noé, Abraão, Moisés e Davi ainda não ressurgiram na terra. A
Bíblia confirma que eles ressuscitariam, mas o Corpo Governante
achou-se no direito de marcar uma data! Mostrou-se um falso profeta!
O que é exatamente um “falso profeta”? Deixemos que o próprio
Corpo Governante responda por meio de uma de suas publicações, o
livro Raciocínios à Base das Escrituras, de 1985, página 158:

Que a pessoa sincera reflita: É ou não é a organização da Torre de


Vigia um “falso profeta”, segundo sua própria definição? Atenção para
Jeremias 23:21:
Não enviei os profetas, no entanto, eles mesmos correram. Não
falei com eles, no entanto, eles mesmos profetizaram.
O Fracasso da Profecia para 1925
Quais as conseqüências deste estrondoso fiasco de uma profecia que
não vinha de Deus, mas era “humana”? Como tentou o Corpo
50 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Governante explicar o fracasso de 1925? Confira a página 146 do


Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, seguida de nossos
comentários:

Comentários sobre os trechos sublinhados na página acima:


“O povo de Deus teve de ajustar” - “povo de Deus” é uma
expressão muito genérica. Quem ensinou sobre 1925 e depois teve de
As Falsas Profecias do Corpo Governante 51

se ajustar foi unicamente o Corpo Governante, e não os cerca de


20.000 publicadores da época.
“Pensava-se” - O verbo refere-se um sujeito indeterminado, para
não ter de dizer que quem pensou e ensinou sobre 1925 foi o Corpo
Governante.
“Alguns deles tropeçaram” - E tropeçaram por que o Corpo
Governante fez uma falsa profecia para 1925. O que disse Jesus sobre
os que fazem os outros tropeçar? Lucas 17:1: “É inevitável que
venham causas para tropeço. Não obstante, ai daquele por meio de
quem vêm!”
“Probabilidade” - Cinqüenta anos depois de 1925 (1976) a culpa
parece ser dos que leram que era uma “certeza”, mas confira as
informações nas páginas 32 a 36 para ver se elas passavam a idéia de
probabilidade ou de certeza.
“Os fiéis servos de Deus” - A idéia é que os que tropeçaram não
eram “fiéis servos de Deus”. Mas quem profetizou sobre 1925 não foi
Deus! Seria mais correto dizer que os que não tropeçaram eram fiéis
servos da Sociedade.
“1925 foi um ano maravilhoso” - Maravilhoso? Quase metade dos
membros deixou a organização naquela época! Nenhuma expressão de
pesar pelos irmãos que tropeçaram numa falsa profecia, oriunda de
homens?
“Jeová... trouxe à nossa atenção...” - Todo este trecho é pura
interpretação do Corpo Governante, também atribuída a Jeová. É uma
cortina de fumaça lançada sobre o ano de 1925 para desviar a atenção
dos leitores atuais da coisa principal, o fracasso duma falsa profecia!
Nada disso apaga o que está escrito em Deuteronômio 18:22:
... quando o profeta falar em nome de Jeová e a palavra não suceder
nem se cumprir, esta é a palavra que Jeová não falou. O profeta
proferiu-a presunçosamente.
52 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1981, página 61:

A Sociedade lamenta que seus adeptos tenham sido ridicularizados


pela falsa profecia. Podiam ter se alegrado por não mais estar em vigor
a Lei de Moisés, onde isso não era visto como algo de somenos
importância:
No entanto, o profeta que presumir de falar em meu nome alguma
palavra que não lhe mandei falar ou que falar em nome de outros
deuses, tal profeta terá de morrer. (Jer. 18:20)
E ela prossegue na página 62 do Anuário de 1981:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 53

Alguns comentários sobre trechos sublinhados desta página:


“Alguns esperavam” - O Corpo Governante tenta dar a impressão de
que só “alguns” tinham falsas expectativas, quando na verdade a
Sociedade incutiu em TODOS, por meio das publicações, as falsas
expectativas.
“Esperanças injustificadas” — Quem tivesse dito, antes do fracasso
da falsa profecia, que estas esperanças eram “injustificadas”, teria sido
considerado como rebelde e espiritualmente fraco.
“Isto era simplesmente uma opinião expressa” — Então, o que fora
escrito sobre 1925 era só isso? Mas quando homens alegam ser
“dirigidos por Deus” ou ser o “canal de Deus” na terra, eles certamente
não têm direito de expressar “simples opiniões” ao mesmo tempo em
que afirmam que o que dizem é aprovado por Deus e está
fundamentado em Sua Palavra e deve ser aceito como tal, sem
questionar!
“Isto não era razão para deixar de servir o Senhor” — De fato, não
era razão, já que não foi o Senhor quem profetizou sobre 1925. Era
razão, porém, para deixar de seguir os falsos profetas do Corpo
Governante. Foi o que muitos fizeram após 1925. Quase metade dos
membros deixou a organização. Pequena amostra disso é o exemplo
citado da congregação de Mulhouse, com a assistência à
Comemoração caindo de 93 pessoas para 23.
“Peneiramentos” — A Sociedade chama tudo isso de provas e
peneiramento, mas isso não partiu de Jeová (Tiago 1:13), nem de
Satanás, nem do mundo, e sim do próprio Corpo Governante, que
profetizou sobre o ano de 1925.
54 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A conclusão é exatamente esta: o Corpo Governante não tem


orientação divina. O que ele ensina era e continua a ser “simplesmente
opinião expressa”, humana, às vezes baseada na Bíblia e outras vezes
não! Não se pode aceitar cegamente o que ele diz, como se viesse do
próprio Jeová!
As trapalhadas de datas da Sociedade trazem à mente o texto de 1
Coríntios 14:33, na Bíblia na Linguagem de Hoje:
Pois Deus não nos chamou para fazermos confusão e sim para
termos ordem.
Sobre os Países Baixos, o Anuário de 1986, página 116, diz:

Com respeito a 1925, os únicos “servos que precisavam de ajuste”


eram os do Corpo Governante. É, de fato, uma atitude condenável
atirar a Bíblia no fogo, pois ela não previu nada para 1925! Mas o livro
Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão previu. E a atitude de se
procurar “obter logo a própria recompensa” partiu exatamente da
própria Sociedade, que escreveu e lançou este livro.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 55

O livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus,


dá explicações que esclarecem muito sobre o modo de o Corpo
Governante lidar com os próprios erros. Veja na página 78:

No primeiro parágrafo, mais uma vez, diz-se “alguns esperavam”,


mas na verdade todos esperavam, já que aquela fora a instrução
recebida da Sociedade.
O parágrafo seguinte diz que apesar da decepção “a vasta maioria
dos Estudantes da Bíblia permaneceu fiel”, mas fiel a quem? À
Sociedade, é claro. Procura-se ainda fazer um paralelo entre os
apóstolos de Jesus em Atos 1:6, 7 e os erros do Corpo Governante.
Mas não existe paralelo, pois quando os apóstolos tiveram expectativas
indevidas, eles perguntaram sobre isso a seu instrutor, Jesus. Eram
aprendizes. Não ensinaram suas expectativas a outros! Tampouco
Jesus alimentou suas expectativas indevidas, mas corrigiu-as
imediatamente:
Tendo-se eles então reunido, perguntavam-lhe: “Senhor, é neste
tempo que restabeleces o reino a Israel?” Disse-lhes ele: “Não vos cabe
obter conhecimento dos tempos ou das épocas que o Pai tem colocado
sob a sua própria jurisdição.
Ter pessoalmente expectativas erradas sobre datas é uma coisa.
Qualquer um de nós pode tê-las. Divulgá-las e ensiná-las durante
décadas por meio de livros, revistas e discursos é uma coisa bem
diferente. A liderança apostólica que Jesus designou para cuidar do seu
56 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

rebanho não criou expectativas erradas. Depois que deixaram a


condição de aprendizes e assumiram o pastoreio do rebanho, eles
nunca estimularam falsas expectativas. Ao contrário, quando alguns
dentre o rebanho suscitaram tais expectativas, eles advertiram contra
elas, como foi o caso de Paulo em 2 Tessalonicenses 2:1-3:
No entanto, irmãos, com respeito à presença de nosso Senhor Jesus
Cristo e de sermos ajuntados a ele, solicitamo-vos que não sejais
depressa demovidos de vossa razão, nem fiqueis provocados, quer por
uma expressão inspirada, quer por intermédio duma mensagem verbal,
quer por uma carta, como se fosse da nossa parte, no sentido de que o
dia de Jeová está aqui. Que ninguém vos seduza, de maneira alguma,
porque não virá a menos que venha primeiro a apostasia e seja
revelado o homem que é contra a lei, o filho da destruição.
A atitude de Paulo foi o oposto do que o Corpo Governante fez. O
erro da Sociedade não foi a ansiedade, e sim o ensino de falsas
profecias. Os discípulos estavam também ansiosos, mas foram
advertidos contra tal ansiedade em Atos 1:7.
No caso hodierno das Testemunhas de Jeová, foi a liderança, o
Corpo Governante, que se deixou “demover de sua razão” e “ficou
provocado” por meio de “expressões inspiradas” e “mensagens
verbais” (discursos) e “por cartas” (livros e revistas), e divulgou falsas
profecias “como se fosse da parte dos apóstolos” (ou da Bíblia),
fazendo as pessoas pensarem que o “Dia de Jeová está aqui.” (1914,
1925, 1975) O Corpo Governante não seguiu o exemplo da liderança
apostólica do primeiro século. Em vez de acautelar contra as
expectativas infundadas, eles não só as criaram como as estimularam.
A Sociedade declara ser o “escravo fiel e discreto” de Jesus. Neste
caso, não deveria ela mostrar sua fidelidade por ser fiel em acatar as
palavras de seu amo quando ele mesmo exortou: “Não vos cabe obter
conhecimento dos tempos e das épocas que o Pai tem colocado sobre
sua própria jurisdição.”? Por que desconsiderou, então, tal “escravo
fiel e discreto,” não só uma vez, mas várias vezes, a admoestação de
“seu” amo? (Atos 1:7) Fizeram alguma vez os servos designados de
Deus no passado este tipo de profecia para depois não admitirem seu
erro para o povo? Que exemplo de humildade deu neste respeito a
liderança das Testemunhas?
As Falsas Profecias do Corpo Governante 57

Terá a Sociedade evitado um pedido formal e aberto de desculpas


aos seus adeptos porque isso poderia dar ‘munição aos opositores’?
Reconhece ela que errou ou prefere dizer: “alguns no passado...” ou
“muitos pensaram...”, “houve irmãos que...”, “cogitou-se que...”,
“pensou-se que...”, “o povo de Deus achava que...”, sendo bem
ambígua e sempre generalizando ou apelando para o sujeito
indeterminado porque de outro modo, ela, a Sociedade, estaria
apontando para si própria como a grande responsável?
A Falsa Profecia de Bete-Sarim, A Casa dos Príncipes
A ressurreição daqueles homens antigos não ocorreu em 1925, como já
vimos, mas a Sociedade continuou aguardando isso nos anos seguintes.
Bete-Sarim foi uma mansão luxuosa adquirida pela Sociedade em
San Diego, em 1929, e tinha como objetivo servir de residência para
eles, os fiéis do passado mencionados nas Escrituras Hebraicas (Antigo
Testamento), e que logo ressuscitariam para ser “governantes visíveis”
da terra.
Consolação (antigo nome da Despertai!), 27 de maio de 1942,
página 3:
58 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Tradução:
ANTES de sua morte o Juiz Rutherford fez o pedido simples de que
seus restos fossem sepultados em algum lugar do terreno de 40
hectares em San Diego, Califórnia, mantido em fideicomisso para os
Príncipes da Nova Terra. À casa que lá foi construída ele chamou de
‘Bete-Sarim’; sua escritura foi passada a esses príncipes. Em 14 de
março, mais de dois meses após ele ter recebido seu prêmio, em 8 de
janeiro, a Comissão de Planejamento do Município de San Diego deu a
conhecer sua decisão de que os ossos dele não poderiam repousar em
parte alguma do terreno.
“Fideicomisso”, mencionado acima, é a “disposição testamentária
em que um herdeiro ou legatário é encarregado de conservar e, por sua
morte, de transmitir a outrem a sua herança ou o seu legado.”
Muitos anos antes, The Golden Age (A Idade de Ouro, primeiro
nome de Despertai!), de 19 de março de 1930, na página 406, dizia:

Tradução do primeiro parágrafo:


Estou certo de que os leais teriam ficado felizes em ajudar a
financiar a casa se tivessem tido a oportunidade de fazê-lo, e de que se
alegrarão quando souberem que esta propriedade será para sempre do
povo do Senhor; e que quando o irmão Rutherford se for, outra pessoa
na obra do Senhor a terá, e quando Davi e José ou algum dos outros
merecedores da antiguidade retornarem, eles ficarão com ela.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 59

Na mesma página aparece a escritura de propriedade de Bete-Sarim.


Eis aqui um trecho dela:

Tradução:
Tanto o outorgante como o outorgado, dito JOSEPH F.
RUTHERFORD, estão plenamente convictos pelo testemunho da
Bíblia, que é a Palavra de Jeová Deus, e das evidências adicionais, de
que o reino de Deus está agora em vias de estabelecer-se, e que ele
resultará em bênçãos para os povos da terra; que o poder e as
autoridades governantes serão invisíveis aos homens, mas que o reino
de Deus terá representantes visíveis na terra, que estarão encarregados
dos assuntos das nações sob a supervisão do governante invisível,
Cristo; que entre esses que assim serão representantes fiéis e
governantes visíveis do mundo estarão Davi, que outrora foi rei sobre
Israel; e Gideão, Baraque, Sansão, Jefté e José, antigo governante do
Egito, e Samuel, o profeta, e outros homens fiéis cujos nomes a Bíblia
menciona com aprovação em Hebreus, capítulo onze. A condição
estabelecida neste documento é que a dita SOCIEDADE TORRE DE
VIGIA DE BÍBLIAS E TRATADOS manterá o referido título
perpetuamente em fideicomisso para o uso de algum ou de todos os
homens acima mencionados como representantes do reino de Deus na
terra, e que tais homens ficarão com a posse e o usufruto da referida
60 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

propriedade acima descrita, conforme eles considerarem ser nos


melhores interesses da obra em que estarão empenhados.
The New World (O Novo Mundo), livro publicado pelo Corpo
Governante em 1942, página 104:

Tradução do trecho sublinhado:


O Senhor Jesus veio agora ao templo para o julgamento, e o
restante dos membros de “seu corpo” ainda na terra, que ele ajuntou na
condição do templo de perfeita unidade consigo mesmo (Malaquias
3:1-3), e desta forma pode-se esperar, agora, para qualquer dia, que
esses homens fiéis do passado retornem dos mortos. As Escrituras dão
boas razões para crer que isto ocorrerá pouco antes do irrompimento
do Armagedom.
Foi nesta expectativa que a casa em San Diego, alvo de tanta
publicidade maldosa por parte dos inimigos religiosos, foi construída
em 1930, e chamada de ‘Bete-Sarim’, que significa ‘Casa dos
Príncipes’. Ela é agora mantida em fideicomisso para ser ocupada por
esses príncipes quando retornarem.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 61

A matéria anterior dispensa comentários.


Livro Salvação, publicado pela Sociedade em 1940, páginas 275 e
276:
62 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Os príncipes não voltaram e Bete-Sarim foi vendida há muitas


décadas. “Isso confirmará a fé e a esperança...” Se essa “fé” e essa
“esperança” dependiam disso, elas não se “confirmaram.” Foi porque
nenhuma destas afirmações publicadas fora feita sob orientação divina.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 63

Como fala hoje o Corpo Governante desse assunto?


Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 194:

Depois que as coisas não ocorreram conforme o predito, disseram


que a casa era só “para uso do irmão Rutherford”. Apesar de citarem a
página 275 do livro Salvação, omitiram a parte comprometedora, isto
é, a expectativa de que os fiéis do passado ocupariam a casa.
Igualmente “censurada” foi a versão apresentada no Proclamadores
(1993), página 76:
64 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová
As Falsas Profecias do Corpo Governante 65

Mais uma vez citou-se o livro Salvação, e afirmou-se que a casa era
“prova tangível de que existem pessoas... crendo que os fiéis da
antiguidade serão brevemente ressuscitados... e se encarregarão dos
negócios visíveis da terra.” Esta parte ainda é ensinada pela Sociedade.
O detalhe que faltou foi exatamente que se esperava que os fiéis
ressuscitados ocupassem a casa, conforme foi mostrado nas páginas
anteriores. As palavras “brevemente ressuscitados” foram escritas em
1939. Mais de 60 anos se passaram. O que entende a Sociedade por
‘brevemente’? Tampouco a nota de rodapé especificou o detalhe. Disse
que aqueles homens “serão ressuscitados depois do Armagedom,” mas
nada sobre eles residirem em Bete-Sarim. Trata-se de uma admissão de
erro disfarçada?
Falsa Profecia Sobre as Nações Unidas
Uma das profecias mais conhecidas e destacadas do Corpo Governante
refere-se a Revelação 17:3, que diz:
E ele me levou no poder do espírito para um ermo. E avistei uma
mulher sentada uma fera cor de escarlate, que estava cheia de nomes
blasfemos e que tinha sete cabeças e dez chifres.
Este texto é explicado em A Sentinela, 1º de novembro de 1975,
página 654:
A Bíblia apresenta “Babilônia, a Grande”, como montada numa
“fera” cor de escarlate. Esta fera simboliza a organização mundial de
paz e segurança conhecida agora como Nações Unidas. É chamada de
“oitavo rei”, de Oitava Potência Mundial da profecia bíblica. — Rev.
17:1-11.
A fera cor de escarlate, portanto, era a Organização das Nações
Unidas. Explicando o papel dessa fera, o livro Conhecimento Que
Conduz à Vida Eterna, página 106, diz:
15
Como este sistema acabará? A Bíblia prediz uma “grande
tribulação” que começará com um ataque desferido pelo elemento
político deste mundo [isto é, a ONU] contra “Babilônia, a Grande”, o
império mundial da religião falsa . . . Depois, Satanás, chamado de
“Gogue da terra de Magogue”, usará homens corruptos para fazer um
ataque total ao povo de Jeová. Mas Satanás não será bem-sucedido,
porque Deus salvará Seus servos.
66 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Como vimos, esta fera tem ativa participação em dois eventos: a


destruição da “religião falsa,” Babilônia, a Grande, e o ataque final ao
povo de Jeová (supostamente, as Testemunhas). Este era o ensino
oficial da Torre de Vigia. Que a fera toma parte neste segundo evento
pode ser confirmado em Revelação — Seu Grandioso Clímax Está
Próximo, páginas 279, 280:
2
O ataque feroz do Diabo é vividamente descrito no capítulo 38 de
Ezequiel. Ali, o rebaixado Satanás é chamado de “Gogue da terra de
Magogue”. Jeová põe ganchos figurativos nas maxilas de Gogue,
puxando a ele e suas numerosas forças militares ao ataque. Como faz
isso? Por fazer Gogue encarar Suas testemunhas como povo indefeso,
“reunido dentre as nações, que está acumulando riqueza e bens,
morando no meio da terra”. Este povo ocupa o centro do cenário na
terra, como o único que se nega a adorar a fera e sua imagem. Sua
força e prosperidade espirituais enfurecem a Gogue. De modo que
Gogue e sua numerosa força militar, inclusive a fera que ascendeu do
mar com seus dez chifres, afluirão todos para aplicar o golpe final. O
povo limpo de Deus, porém, dessemelhante de Babilônia, a Grande,
tem proteção divina! — Ezequiel 38:1, 4, 11, 12, 15; Revelação 13:1.
Gogue representa Satanás, que, de fato, controla a fera, para que
esta execute seu propósito. Isto resulta em que a ação de Gogue e da
fera de sete cabeças e dez chifres é realmente uma só, e não ações
separadas. O conceito de que a fera representou a extinta Liga das
Nações e depois a ONU é antigo, existe pelo menos desde 1926, como
registra A Sentinela de 15 de junho de 1972, página 366, parágrafo 4.
Era, pois, um ensino com cerca de 80 anos de existência. A ação de
Gogue (ou da fera) pode ser confirmada em A Sentinela, 1/7/71, pp.
402-403, 15/3/76, p. 168; “Caiu Babilônia a Grande!” (1972), pp.
160, 178; O Homem em Busca de Deus (1990), página 370; Clímax de
Revelação, p. 248, par. 6, p. 256, par. 17; Preste Atenção à Profecia de
Daniel (1999), pp 282-285.
Em data tão recente como o ano 2000, o livro Profecia de Isaías,
Volume I, páginas 153 a 154, afirmava:
20
A quem Jeová usará para disciplinar a rebelde cristandade? A
resposta está no capítulo 17 de Revelação (Apocalipse). Apresenta-se
ali uma meretriz, “Babilônia, a Grande”, que representa todas as
religiões falsas do mundo, incluindo a cristandade. A meretriz está
sentada numa fera cor de escarlate com sete cabeças e dez chifres.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 67

(Revelação 17:3, 5, 7-12) A fera representa a organização das Nações


Unidas.* Assim como o assírio do passado destruiu Samaria, a fera cor
de escarlate ‘odiará a meretriz e a fará devastada e nua, e comerá as
suas carnes e a queimará completamente no fogo’. (Revelação 17:16)
Assim, o assírio moderno (as nações ligadas à ONU) aplicará um duro
golpe contra a cristandade e a extinguirá.
21
Será que as Testemunhas fiéis de Jeová perecerão junto com
Babilônia, a Grande? Não. Deus não está descontente com elas. A
adoração pura sobreviverá. Contudo, a fera que destruirá Babilônia, a
Grande, gananciosamente voltará seus olhos também para o povo de
Jeová. Ao fazer isso, a fera não executará o pensamento de Deus, mas
sim de outro personagem. De quem? De Satanás, o Diabo.
——————————————
. . . Ao tentar aniquilar o povo de Jeová, o assírio moderno estará na
verdade lutando contra Jeová Deus e o Cordeiro, Jesus Cristo . . .
Como o assírio do passado, a fera cor de escarlate ‘irá para a
destruição’. Não mais será temida.
Confirmou que a fera cor de escarlate (também chamada de “assírio
moderno”) participa não só da destruição da meretriz babilônica como
da ‘tentativa de aniquilação’ do “povo de Jeová”.
Veio então A Sentinela de 1º de junho de 2003, página 20, parágrafo
11, que diz:
Quem chefiará o ataque de Gogue?
11
Gogue de Magogue é identificado como sendo Satanás, o Diabo,
na sua condição rebaixada desde 1914. Ele, como criatura espiritual,
não pode executar seu ataque direta-mente, mas usará agentes humanos
para fazer isso. Quem serão esses agentes humanos? A Bíblia não nos
fornece pormenores, mas nos dá certos indícios que podem nos ajudar
a identificar quem serão. Ao passo que se desenrolam os
acontecimentos mundiais em cumprimento das profecias bíblicas, aos
poucos obteremos um quadro ainda mais claro. O povo de Jeová evita
especulações, mas continua espiritualmente vigilante, plena-mente
apercebido dos acontecimentos políticos e religiosos que se encaixam
no cumprimento da profecia bíblica.
Embora a linguagem não esteja muito explícita (como costuma
fazer a Sociedade quando lhe convém) algo ficou bem claro. Durante
décadas e até há pouco, como provam as publicações já citadas, o
68 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Corpo Governante sabia e ensinava que a ONU (a fera política cor de


escarlate, usada por Gogue) destruiria a religião e empreenderia o
ataque final contra “o povo de Jeová”. Agora, com esta revista, e com
as palavras “A Bíblia não nos fornece pormenores”, ela vem
reconhecer que não sabe mais quem serão os agentes atacantes
humanos.
Na verdade, embora a Sociedade ensinasse isso desde os anos 20, ‘a
Bíblia nunca forneceu esses pormenores’ mas as Testemunhas de
Jeová foram levadas pelo Corpo Governante a crer que esta era a
profecia correta: a ONU destruiria a “religião falsa” e depois atacaria
as Testemunhas de Jeová, sendo então destruída por Deus. A profecia
de Revelação certamente ainda se cumprirá, mas não a dos homens de
Brooklyn. Agora, terão de esperar os acontecimentos mundiais para
‘obter um quadro mais claro’. Os adeptos da organização já não
poderão ensinar tal coisa às pessoas, e alguns, os mais conscientes,
terão muito o que pensar quanto à certeza do ‘alimento’ proveniente do
suposto “escravo fiel e discreto.” Consciente de que essa mudança
pode dar o que falar, o parágrafo acima diz: “O povo de Jeová evita
especulações”. Na linguagem típica das publicações da organização,
isto significa a condenação de comentários em torno do assunto, algo a
temer por parte da Torre de Vigia, que afirma exercer papel profético.
Num tom de grande sabedoria aconselha a ‘evitar especulações’,
enquanto ela mesma especulou durante oito décadas. Vale a pena,
porém especular, sobre os motivos da mudança. Terá sido porque
nunca pareceu tão improvável que agora ou num futuro próximo os
estados políticos se voltem contra a religião? Ou porque a recente
guerra dos EUA contra o Iraque, apesar da oposição da ONU, deixou
esta totalmente enfraquecida para cumprir o papel que a Torre de Vigia
lhe reservava? Ou será que a Sociedade, que até recentemente e em
segredo fazia parte de uma lista de organizações não-governamentais
comprometidas em apoiar a ONU e dela receber certos favores
resolveu mudar de posição? Quando o fato foi amplamente divulgado
ela retirou à pressas seu nome da lista, mas talvez ainda esteja
interessada em receber as benesses da organização política mundial, e
como poderia fazê-lo se continuasse a afirmar em suas publicações que
esta ocupa uma posição tão negativa nas profecias bíblicas?
As Falsas Profecias do Corpo Governante 69

Ao passo que todas estas não passam de conjecturas, fica a certeza


de que mais uma falsa profecia humana teve de ser desfeita, como
aconteceu com outras que o tempo se encarregou de anular, e como
certamente ainda acontecerá nos próximos anos.
Profecias de Cumprimento Retroativo e “Invisível”
Estas são bem típicas da Sociedade Torre de Vigia, e algumas se
caracterizam por terem suas datas mudadas depois de terem
“acontecido”. A absoluta maioria das Testemunhas de Jeová atuais
pouco sabe a respeito delas, mas foram ensinadas com tanta segurança
e ênfase quanto as crenças ou “luzes” atuais. Examinemos:
O começo do “tempo do fim” em 1799
A Sentinela (em inglês), 1o de março de 1922:

Tradução:
Os fatos inquestionáveis, portanto, mostram que o “tempo do fim”
começou em 1799; que a segunda presença do Senhor começou em
1874; que a colheita seguiu-se daí em diante e uma luz maior veio
sobre a Palavra de Deus. Em relação a isto, pois, observemos as
palavras de Jesus: “Quem é o servo fiel e prudente, a quem o Senhor
fez governante sobre sua casa, para dar-lhes alimento na época devida?
Bendito é aquele servo, a quem seu senhor, quando vier, o achar
fazendo assim.
Depois, isto foi mudado para 1914. Confira no livro A Verdade Que
Conduz à Vida Eterna (1968), página 94:
70 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Na primeira, os “fatos inquestionáveis mostram” que “começou em


1799”. Depois, os “fatos mostram” que “começou em 1914”. Quem
pode garantir que esta data é a correta?
O começo da segunda presença de Cristo em 1874
A Sentinela (em inglês), 1o de novembro de 1922:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 71

Tradução:
A profecia bíblica mostra que o Senhor devia aparecer pela segunda
vez no ano de 1874. A profecia cumprida mostra além de dúvida que
ele de fato apareceu em 1874. As profecias cumpridas podem também
ser chamadas de fatos físicos; e estes fatos são incontestáveis. Todos os
observadores sinceros estão familiarizados com estes fatos, conforme
estabelecidos nas Escrituras e explicados na interpretação pelo servo
especial do Senhor.
Estes fatos explicados “pelo servo especial do Senhor” estavam
“além de dúvida”, mas depois isto foi mudado para 1914. Veja o livro
Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1983), página 147:
72 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Durante 50 anos (1879-1929) o Corpo Governante ensinou que a


“profecia bíblica” mostrava que a segunda presença de Cristo ocorrera
em 1874; depois disso, disseram que a “evidência bíblica” mostra que
foi em 1914! Que idéia fazem da Bíblia os que leram estas afirmações?
Na verdade, a evidência bíblica nunca apontou para nenhuma dessas
duas datas! Elas são invenção humana.
As Falsas Profecias do Corpo Governante 73

O início do Reinado de Cristo em 1878, cumprimento “invisível”


Livro The Time is at Hand (O Tempo Está Próximo), publicado pela
Sociedade em 1889, página 239:

Tradução
Tem sido exatamente assim nesta colheita: A presença de nosso
Senhor como Noivo e Ceifeiro foi reconhecida durante os primeiros
três anos e meio, de 1874 A.D. a 1878 A.D. Desde essa época, tem
sido enfaticamente manifesto que em 1878 A.D. chegou o tempo em
que deveria começar o julgamento real da casa de Deus. É aqui que se
aplica Rev. 14:14-20, e nosso Senhor entra em cena como o Ceifeiro
coroado. Sendo o ano 1878 A.D. o paralelo de sua tomada de poder e
autoridade de modo típico, claramente assinala o tempo para a
verdadeira tomada do poder como Rei dos reis pelo nosso presente,
espiritual e invisível Senhor — o tempo dele assumir seu grande poder
para reinar, o que, na profecia, está intimamente associado à
ressurreição de seus fiéis e ao começo da aflição e da ira sobre as
nações. (Rev. 11:17, 18.)
74 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Depois, isto foi mudado para 1914. Livro Poderá Viver Para
Sempre no Paraíso na Terra (1983), página 141:
As Falsas Profecias do Corpo Governante 75

Primeiro, a Sociedade ensinou que Cristo começou a reinar em


1878. Cerca de 30 anos depois (1922), e até agora, ela ensina que isso
aconteceu em 1914. Em 1878, tinha sido invisível e ninguém pôde
comprovar. A mesma coisa em 1914. Será que se pode ter mesmo
certeza das datas estipuladas pelo Corpo Governante?
Além disso, todos estes cálculos no alto da página se baseiam numa
premissa falsa: a de que os sete tempos de loucura de Nabucodonosor
76 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

representam os “tempos designados das nações.” Em parte alguma a


Bíblia diz isto. O sonho que Nabucodonosor teve (Daniel, capítulo 5)
cumpriu-se no próprio rei. A Bíblia fala nos “tempos designados das
nações”, mas não diz que são sete!
Início da ressurreição dos Santos (ungidos) em 1918, cumprimento
“invisível”
Revelação - Seu Grandioso Clímax Está Próximo (1988), página
103:
12
Toda a evidência indica que essa ressurreição celestial começou
em 1918, após a entronização de Jesus, em 1914, e ele sair cavalgando
para iniciar sua vitória como rei por eliminar dos céus a Satanás e seus
demônios.
“Toda a evidência”? Que evidência? Toda Testemunha de Jeová
experiente sabe que não há evidência alguma. A Bíblia nada diz a
respeito de 1918!
Jesus fez inspeção como “mensageiro do pacto” em 1918, invisível
A Sentinela, 15 de abril de 1989, página 7:

As palavras de Malaquias 3:1-4 se cumpriram com João Batista. O


Corpo Governante inventou que houve um segundo cumprimento no
século XX, mas a Bíblia não diz isto!
As Falsas Profecias do Corpo Governante 77

Jesus designou os “ungidos” da Sociedade sobre todos os seus bens


(cumprimento invisível) em 1919
A Sentinela, 15 de março de 1990, página 15:

O Corpo Governante afirma que Jesus designou os membros da


Sociedade em 1919 “sobre todos os seus bens.” Onde está a prova
disso na Bíblia, ou nos fatos? Quem atesta que isso se deu em 1919?
Ninguém! Foi invisível!
As falsas profecias foram feitas. As provas aí estão. A Sociedade,
quando toca no assunto, o faz de modo distorcido. Procura fazer
parecer que outros foram os responsáveis, para preservar sua própria
credibilidade como “canal de comunicação de Deus”. Jamais houve
uma franca e direta admissão do erro, uma verdadeira retratação.
Muitas Testemunhas hoje, diante destes fatos, talvez raciocinem:
“Mas isso já acabou. São erros passados. Hoje temos o conhecimento
correto.” Ocorre, todavia, que o ensino atual da Sociedade é que ela já
era dirigida por Deus desde seu próprio início. Ela ainda hoje se exalta
pelas predições sobre 1914, afirma ter tido a orientação divina naquela
época, bem como quando tomou decisões erradas mais recentes.
Portanto, se ela não foi guiada por Deus antes, como hoje está provado,
ela está declarando uma inverdade atualmente, comprovando que o
Deus da Verdade não a pode estar apoiando. (João 8:44).
Capítulo 4

A Especulação “Profética”
para 1975 e a
“Geração de 1914”

Neste episódio, o Corpo Governante criou e alimentou uma forte


expectativa baseada em especulações (e não guiado por Jeová), fixou
a vista numa certa data e fez uma multidão de Testemunhas de Jeová
olhar para esta data. Estabeleceu o conceito de que algo deveria
ocorrer em 1975. As expressões usadas deixavam pouca margem para
dúvida. Seguramente, quando seres humanos imperfeitos (os do Corpo
Governante) empregam tais expressões, ao mesmo tempo em que se
dizem “profeta de Deus” eles têm o poder de incutir nas mentes das
pessoas uma forte dose de certeza.
O processo teve início em 1966, num congresso de distrito das
Testemunhas de Jeová, com o lançamento deste livro.
Vida Eterna na Liberdade dos Filhos de Deus, publicado pelo
Corpo Governante em 1966, páginas 27, 28 e 29:

78
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 79

Com as palavras “Segundo esta cronologia bíblica fidedigna” o


Corpo Governante mais uma vez lança-se no campo das datas,
especulando sobre uma cronologia supostamente baseada na Bíblia que
lançava grandes expectativas sobre o que deveria ocorrer em 1975
(então nove anos à frente). Atente para as expressões “Quão
apropriado seria se Jeová...”, “seria muito oportuno para a
humanidade...”, “bem apropriado da parte de Deus...”, que induzem o
leitor a acreditar, pois, afinal, partiam da “única organização na terra
que compreende as coisas profundas de Deus”! Todavia, já que nada
aconteceu em 1975, está bem claro que aquilo que é apropriado e
oportuno para o Corpo Governante não é apropriado e oportuno para
Deus! Como fica a pretensão de ter a “orientação divina”? Examine
ainda as páginas 29 e 30 do livro Vida Eterna:
80 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Não seria por mero acaso ou acidente, mas seria segundo o


propósito amoroso de Jeová Deus”. O que não vem por acaso ou
acidente é intencional, programado, proposital. Deve-se então concluir
que Jeová não realizou seu “propósito amoroso”, já que ele não fez
coincidir o reinado de Jesus com o suposto sétimo milênio da
existência do homem? Ora, o único propósito que não se realizou foi o
do Corpo Governante, já que Deus e Sua Palavra, a Bíblia, nada
haviam predito para 1975!
A afirmação de ser “a única organização na Terra que compreende
as coisas profundas de Deus” deve agora ser confrontada com Isaías
55:8:
“Pois os vossos pensamentos não são os meus pensamentos, nem os
meus caminhos, os vossos caminhos”, é a pronunciação de Jeová.
A partir de 1966 e do lançamento da idéia sobre 1975, o Corpo
Governante começa a amontoar expectativa entre as mais de 1.000.000
de Testemunhas de Jeová da época. Menos de um ano depois, a
Despertai! de 22 de abril de 1967, página 20, trazia o artigo “Quanto
Tempo Ainda Levará?”, com o subtítulo “Os 6.000 Anos Terminam
em 1975” que dizia:
Por conseguinte, estarmo-nos aproximando do fim dos primeiros
6.000 anos da existência do homem é algo de grande significado.
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 81

Será que o dia de descanso de Deus decorre paralelamente ao tempo


em que o homem tem estado na terra, desde sua criação? Parece que
sim. Segundo as investigações mais fidedignas da cronologia bíblica,
harmonizadas com muitas datas aceitáveis da história secular,
descobrimos que Adão foi criado no outono do ano 4026 A.E.C. Em
algum tempo naquele mesmo ano, Eva bem que poderia ter sido criada,
logo após o que começou o dia de descanso de Deus. Em que ano,
então, terminariam os primeiros 6.000 anos do dia de descanso de
Deus? No ano de 1975. Isto é digno de nota, especialmente em vista de
que os “últimos dias” começaram em 1914, e que os fatos físicos de
nossos dias, em cumprimento da profecia, marcam esta como a última
geração deste mundo iníquo. Por conseguinte, podemos esperar que o
futuro imediato esteja cheio de eventos emocionantes para aqueles que
depositam sua fé em Deus e em suas promessas. Isso significa que
dentro de relativamente poucos anos testemunharemos o cumprimento
das profecias restantes que têm que ver com o “tempo do fim”.
A tendência de atribuir a Deus e à Bíblia a origem de suas próprias
especulações está presente por meio das expressões “em cumprimento
da profecia” e “fé em Deus e suas promessas”. Também significativa é
a clara referência a aquela como a “última geração deste mundo
iníquo”.
O mensário Ministério do Reino, informativo interno da
organização, em seu número de maio de 1968, página 4, afirmava:
82 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Esta se refere ao “curto período de tempo que resta”, ligando-o ao


fato de que “restam menos de noventa meses até que se completem os
6.000 anos da existência do homem na terra”. Faz-se um claro alarme
com a exortação “Apenas pensem, irmãos” ao mesmo tempo em que se
vincula o “irromper do Armagedom” com o final daqueles noventa
meses. Isto foi ou não foi uma afirmação especulativa sobre coisas que
não estavam claras?
A Sentinela, 1o de novembro de 1968, página 659:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 83

Em seu esforço obstinado de conhecer os tempos e as épocas de


Deus, o Corpo Governante persiste em tentar estabelecer uma ligação
entre as datas da criação de Adão e Eva e o início do reinado milenar
de Cristo. Apontou para o ano de 1975. O Corpo Governante entendeu
84 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

que os últimos 1000 anos do sétimo dia criativo deveriam ser os


mesmos do reinado milenar. A Bíblia, porém, nunca disse isto!
A mesma revista prossegue, na página 660:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 85

Observe como o Corpo Governante estimula a expectativa fazendo


uso do que chama de “tabela cronológica de Deus”! Refere-se ao
“futuro imediato”. Isto foi escrito há mais de 30 anos. Os “eventos
climáticos” (relacionados ao clímax) não aconteceram. Falou em
“dentro de alguns anos, no máximo”. Quantos anos significam “futuro
imediato” e “alguns anos, no máximo”? Três anos? Cinco? Sete?
Certamente mais de trinta anos não poderiam ser. As “partes finais das
profecias bíblicas sobre os últimos dias” seguramente vão cumprir-se,
mas nunca coube ao homem estabelecer a data!
Veja A Sentinela, 15 de fevereiro de 1969, página 110:

Dois anos e meio depois do lançamento do livro Vida Eterna, o


Corpo Governante trata de manter acesa a chama da expectativa. No
início deste artigo já se tenta passar ao leitor a impressão de que o tema
“1975” surgiu por acaso. A especulação já é chamada de “crença”, e
incentiva-se abertamente os irmãos a palestrar sobre o assunto.
Na página 115 da mesma revista o Corpo Governante prossegue em
sua especulação, visando estimular o suspense para o ano de 1975. O
Armagedom “possivelmente” estaria terminado em 1975.
86 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sociedade acha que os sete dias da criação, em Gênesis, são dias


de 7.000 anos cada. É uma interpretação humana, pois a Bíblia não diz
isto. Um dia, na Bíblia, pode ter 24 horas, pode ter mais. Pode ser de
1.000 anos, ou mais. Não há como ser dogmático quanto à duração dos
dias criativos, tampouco precisamos sabê-lo para ter a aprovação
divina, pois Jesus disse em Atos 1:7 que “não nos cabia conhecer os
tempos e as épocas” que estavam sob a jurisdição do Pai.
Embora a Bíblia não o afirme, o Corpo Governante achava que o
fim dos primeiros 6.000 anos do sétimo dia criativo teria de coincidir
com o início do reinado de 1.000 anos de Cristo, para que, desta forma,
se completasse o sétimo dia criativo (6.000 + 1.000 = 7.000).
O Armagedom, se não viesse exatamente em 1975, viria com uma
diferença de semanas ou meses, e não anos! Já estamos com quase 30
anos de diferença!
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 87

Despertai!, 22 de abril de 1969, página 14:

Aqui o Corpo Governante diz o que seria apropriado que Deus


fizesse.
Continua a ênfase a 1975.
Prevê a grande tribulação para a década de 70, visto que Mateus
24:21 diz: “Pois então haverá grande tribulação, tal como nunca
88 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

ocorreu desde o princípio do mundo até agora, não, nem tampouco


ocorrerá de novo.
No artigo abaixo, publicado no Ministério do Reino de dezembro de
1969, página 3, o Corpo Governante dá conselhos aos jovens, tendo
em vista o “pouco tempo que resta”:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 89

Depois que 1975 veio e passou, muitos dos que rejeitaram


empregos e estudos (em prol do que o Corpo Governante considerava
que estava em primeiro lugar) sentiram como estes lhes faziam falta.
Deixaram-se levar por uma falsa expectativa criada por humanos e
sofreram as conseqüências. Suas amargas experiências, porém, jamais
foram publicadas em A Sentinela, Despertai! e Ministério do Reino.
À medida que 1975 se aproximava, o Corpo Governante cuidava de
manter bem acesa a chama da expectativa. Veja A Sentinela de 15 de
abril de 1970, página 239, junto com nossos comentários:

No parágrafo acima, a insinuação de algo importante a ocorrer “nos


meados” da década de 70. O asterisco no fim do parágrafo refere-se à
nota de rodapé na mesma página, que diz:

A referência é ao livro já citado no início deste capítulo, que deu


início a todo o processo de especulação, e que mencionava
especificamente o ano de 1975. Continua a mesma página:
90 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O artigo de A Sentinela afirma que em Mateus 12:1-8 Jesus


“referia-se ao seu reinado pacífico de mil anos”. Isto, porém, não se
acha em parte alguma do capítulo 12 de Mateus. O “Sábado” do qual
Jesus falou era, segundo o contexto, o Sábado da Lei Mosaica, mas o
raciocínio foi criado para justificar a expectativa para 1975. No mesmo
parágrafo, uma ilustração que mostra como Jeová e o homem vêem de
modo diferente a passagem do tempo (2 Pedro 3:8) é transformada em
“regra” pelo Corpo Governante. Ainda na mesma página:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 91

Aqui, o Corpo Governante coloca uma condição para que Jesus


seja, como ele disse em Mateus 12:8, “Senhor do Sábado”: que seu
reinado de mil anos teria de ser o sétimo de uma série de milênios.
Como o milênio que está em consideração é o que supostamente se
inicia em 1975, conclui-se que este é o ano em que Jesus iniciaria seu
reinado milenar. Como isto não aconteceu, deve-se concluir que Jesus
não é o Senhor do Sábado?
Faltavam três anos para 1975! A Sociedade reforça a ansiedade de
mais de um milhão e quinhentas mil Testemunhas de Jeová. Eis a
Despertai! de 22 de abril de 1972, páginas 27 e 28:
92 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Descanso e alívio se acham às portas! O “canal de comunicação de


Deus” fez este comunicado há mais de 30 anos!
Faltavam 15 meses para outubro de 1975. Ministério do Reino,
julho de 1974, páginas 3 e 4:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 93

“... o pouco tempo que resta antes de findar o mundo iníquo”. Isto
foi escrito há quase 30 anos! O tempo é o grande problema do falso
profeta.
CHEGOU 1975! Mais um pouquinho de expectativa em A Sentinela
de 15 de março de 1975, página 189:

Então 1975 era um “ano crítico”? E por que seria, se nada de


importante fosse aguardado para ele?
Fracasso da Especulação para 1975
O fim do sistema não veio em 1975 e o reinado milenar não se iniciou.
Muitas Testemunhas de Jeová se decepcionaram e deixaram a
organização. Como antes, o Corpo Governante tentou livrar-se da
responsabilidade. Quando por fim tocou no assunto, não o fez de modo
claro. O artigo censura os que ‘desfalecem’ e parece criticar os
membros da organização que deram atenção à data tão enfatizada
durante nove anos.
A Sentinela, 15 de janeiro de 1977, página 56:
94 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“olhando para certa data” - Quem foi que trouxe uma “certa data”
à atenção, para que todas as Testemunhas de Jeová “olhassem” para
ela?

“conceito errôneo” - Mas de quem foi o “conceito errôneo”? O


artigo não diz!
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 95

“eles desperceberam” - Quem despercebeu, e ainda fez os outros


desperceberem as advertências bíblicas?
“pensando que a cronologia bíblica revelasse uma data específica”
- Quem foi que pensou que a cronologia bíblica revelava uma data
específica e divulgou isso durante nove anos?
A revista não diz, mas quem fez tudo isso foi o Corpo Governante.
Onde estava a orientação divina sobre a “única organização da terra
que compreende as coisas profundas de Deus”?
O fato é que, passados dois anos do fracasso de 1975, o Corpo
Governante veio então, falando de modo muito sábio, repreender os
que seguiram sua orientação, dizendo que não deviam ter agido assim,
adotado um “conceito errôneo” e “despercebido o ponto das
advertências bíblicas”! Passa-se ao leitor a impressão de que não foi o
Corpo Governante o verdadeiro culpado por essa desilusão.
A página 57 da mesma revista estendeu-se ainda mais na versão
distorcida:

“Não é aconselhável” - Dá-se a impressão de que não foi o próprio


Corpo Governante que, por meio de livros, revistas, Ministérios do
Reino e discursos, ao longo de nove anos, “fixou a vista” na data de
1975.
96 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“por não ter sido a palavra de Deus que falhou” - O parágrafo diz
o óbvio, que não foi a Palavra de Deus que falhou ou desapontou
ninguém. Ela nunca deu base alguma para 1975! Então, quem foi que
falhou? Veja a resposta:
“seu próprio entendimento baseado em premissas erradas” - Passa-
se a idéia de que a culpa foi dos próprios leitores, as Testemunhas de
Jeová em geral, do “próprio entendimento” delas! Eram deveras
“premissas erradas”, mas como teriam tratado os anciãos das
congregações aqueles que dissessem, antes de 1975, que as premissas
estavam erradas?

“Achamos que poderá dizer que saiu ganhando e lucrando” — O


Corpo Governante tenta dizer que seguir um ponto de vista errado traz
benefícios! Mas qual será a opinião dos que venderam casas e
largaram empregos e faculdades porque acreditaram que o fim tinha
grande chance de vir em 1975?
“Foi também habilitado a obter um ponto de vista realmente
maduro” — É o mesmo que dizer que, para obter o ponto de vista
correto é necessário, primeiro, acreditar no ponto de vista errado.
Onde estava, em tudo isso, a direção divina que o Corpo
Governante diz ter?
Em 1980, na Sentinela de 15 de setembro, páginas 17 e 18, a
Sociedade volta a tocar no assunto. Nesta, a tática foi apelar para o
sujeito indeterminado:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 97

“criou-se muita expectativa” - Quem criou a expectativa? O Corpo


Governante.
“publicaram-se” - Quem publicou? O Corpo Governante.
98 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“os que tinham que ver” - Este foi o mais próximo que o Corpo
Governante conseguiu chegar da admissão do erro. Os leitores deviam
ter sido informados de que “os que tinham que ver” eram os membros
do Corpo Governante. A humildade deles não foi suficiente para uma
admissão direta de culpa.
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 99

“não há motivo nenhum” - De fato, não há motivo nenhum para não


crer nas promessas de Deus. Afinal, não foi Ele quem profetizou ou
especulou a respeito de 1914, 1925, 1975...
“o importante não é certa data” - AGORA, o Corpo Governante
descobriu que datas não são importantes. Mas se alguém tivesse
reagido às matérias sobre 1975 publicadas a partir de 1966 dizendo,
‘Caros irmãos do Corpo, não publiquem mais isto sobre 1975, as datas
não são importantes’, o que teria acontecido?
A conclusão de tudo isso é que devemos crer nas promessas de
Deus, contidas na Bíblia. Não podemos crer é nas promessas do
Corpo Governante, que afirma ter a orientação divina sem tê-la.
Efeitos Negativos do Fracasso
O desapontamento por causa de 1975 foi maior do que se admite. Em
1966 (ano do lançamento das expectativas para 1975) o número de
publicadores (Testemunhas praticantes) era de 1.118.665, conforme A
Sentinela de 15 de maio de 1967, página 315:

A partir daí, pelo impulso da constante ênfase dada à aproximação


do “ano crítico”, o número de publicadores saltou para 2.248.390 em
1976, quando ainda se esperava algo da “diferença de semanas ou
meses”, segundo o Anuário das Testemunhas de Jeová de 1977, página
30:
100 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Com o encerramento de 1975 e dos meses seguintes sem que nada


acontecesse, o número de publicadores de 1976 a 1978 caiu para
2.182.341, ou seja, 66.049 publicadores a menos, como mostra o
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1979, página 30:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 101

Estes 66.000 publicadores a menos equivalem a mais de 600


congregações de 100 publicadores cada! O “efeito 1975” foi, sem
dúvida, uma pedra de tropeço para muitas destas 66.000 pessoas. Em
Mateus 18:6 Jesus diz: “Ai do homem por meio de quem vem a pedra
de tropeço”. O Corpo Governante, portanto, é responsável por todos
dentre estes que perderam a fé em Jeová, em Cristo e na Bíblia. Assim
mesmo, sente-se no direito de julgar como apóstatas os membros que
discordam de seus ensinos não-bíblicos.
1914 - A Geração Que Passou
Durante décadas, o Corpo Governante ensinou que o fim do sistema de
coisas (ou do mundo) viria antes que a geração de 1914 desaparecesse
da terra. Como exemplo, o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna
102 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

(1968), que durante anos foi usado para dirigir estudos com
interessados, dizia na página 95:

Note que o livro diz que as pessoas da “geração de 1914” tinham de


ter “idade suficiente para ainda se lembrarem destes eventos.” Não
estava se referindo aos que nasceram em 1914, mas antes. Algum
tempo depois veio a revista Despertai! de 22 de abril de 1969, página
13:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 103

Depois de afirmar que restavam “apenas alguns anos no máximo”


(já se passaram mais de 30) para o fim do sistema de coisas, o Corpo
Governante diz que a geração de 1914 era “obviamente” composta
pelos que tinham idade suficiente para testemunhar com entendimento
os acontecimentos de 1914, ou seja, “os jovens de 15 anos”. O ensino
oficial da Sociedade Torre de Vigia era de que o fim viria antes de esta
geração extinguir-se.
Veja também este pequeno trecho da página 14 da mesma revista:

O Corpo Governante atribui a Jesus a declaração de que o fim do


sistema viria antes do fim da geração de 1914! Prossegue, assim, com
104 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

a tendência de fazer as pessoas crerem que a profecia humana dele


tem, na verdade, origem sobre-humana.
No livro As Nações Terão de Saber Que Eu Sou Jeová (1973), que
foi considerado nos Estudos de Livro em 1975, o Corpo Governante
aguardava esta batalha que deveria ocorrer ainda “no nosso século
vinte.” Página 200:

O século vinte esgotou-se em 31 de dezembro de 2000. A batalha


profetizada pelo Corpo Governante não se realizou. Confirmou-se no
papel de falso profeta.
Depois que 1975 também passou e as especulações para aquele ano
se desvaneceram, a profecia sobre a “geração de 1914” passou a ser
cada vez mais enfatizada. Veja a Sentinela de 15 de janeiro de 1979,
página 32:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 105

Na revista anteriormente citada (Despertai! 22/04/69) salientava-se


que a “geração de 1914” era composta pelos que tiveram entendimento
dos acontecimentos de 1914. Nesta, o Corpo Governante já diz que a
“geração” se refere aos que simplesmente puderam observar os
106 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

acontecimentos. Procurava-se, assim, esticar um pouco a duração


daquela geração. No finalzinho do artigo, mais uma vez tenta-se
atribuir a Jesus a profecia sobre a “geração de 1914.”
Veja ainda a Sentinela, 15 de abril de 1981, página 31, na seção
Perguntas dos Leitores:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 107

O Corpo Governante prossegue especulando sobre a duração da


“geração de 1914.” Ele cita uma revista secular e sugere que a geração
é composta pelos que têm uma lembrança da Primeira Guerra Mundial,
e que a idade mínima para se fazer parte dela já baixara de 15 para 10
anos! Repete-se que é uma “garantia de Jesus.”
O livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1983),
página 154, em harmonia com todo o processo de implantação da
crença, dizia:
108 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Observe as palavras “algumas delas ainda estarão vivas de modo a


presenciar o fim deste sistema iníquo.”
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 109

Completaram-se 70 anos desde 1914. E na capa de sua principal


publicação o Corpo Governante reafirma sua profecia humana: A
GERAÇÃO DE 1914 NÃO PASSARÁ!
A Sentinela de 15 de novembro de 1984:
110 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Leia a página 5 da mesma revista:

A geração de 1914 ia envelhecendo e o Armagedom não chegava!


O Corpo Governante procurava ganhar tempo, esticando mais ainda o
período de vida da geração de 1914. Tentou discretamente incluir “os
bebês” dentro da geração. Tinha de fazê-lo, não só para preservar sua
posição como suposto “escravo fiel e discreto” dirigido por Deus,
como também para manter os publicadores ativos no serviço de casa
em casa.
A situação de se tentar “puxar” a geração de 1914 até onde era
possível, lembra a passagem bíblica de Isaías 28:20:
Pois o leito mostrou-se curto demais para se estirar nele, e o próprio
lençol tecido é demasiado estreito para se enrolar nele.
E prosseguimos nas páginas 6 e 7 desta edição de A Sentinela:
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 111

Observe como o Corpo Governante, habilidosamente, tenta atribuir


a Jeová a profecia sobre a geração de 1914.
Se Jeová foi a fonte desta profecia por que ela não se cumpriu? Foi
uma falsa profecia do Corpo Governante, não de Jeová nem de Jesus.
O Corpo Governante não tem orientação divina! Veja como era
atraente esta afirmação da página acima, à direita:
Você, junto com os sobreviventes
da geração de 1914, poderá alcan-
çar em vida uma Nova Ordem.
Esta declaração, que tantas Testemunhas de Jeová (inclusive eu)
ensinaram como verdadeira durante tantos anos, não é mais
verdadeira!
Em complemento, A Sentinela de 15 de fevereiro de 1986, página 5,
afirmava:

Tentava-se manter aceso o clima de expectativa e ansiedade com


relação aos veteranos da Primeira Guerra Mundial. Parecia haver uma
contagem regressiva, à medida que o número desses sobreviventes
112 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

diminuía. Este método de criar falsas expectativas não foi deixado por
Jesus!
Na verdade, nada disso se baseava nas Escrituras, mas numa
distorção das Escrituras. Nunca houve base bíblica alguma, e alguns
dos que já estavam na organização naquela época percebiam isso. Se
você, porém, estivesse lá em 1984, e dissesse que não havia base
bíblica para este ensino, se advertisse que desconsiderar as palavras de
Jesus em Atos 1:7 poderia levar a uma grande decepção, o que lhe teria
acontecido?
Você teria sido acusado de ser “espiritualmente fraco”, de ter
“pensamento independente”, de ser “orgulhoso” por não acatar a
orientação do “canal provido por Jeová” e de outras coisas. Se você
persistisse no seu modo de pensar certamente teria sido chamado a
uma comissão judicativa, sob acusação de apostasia, e teria sido
desassociado.
O Fracasso da Profecia sobre a “Geração de 1914”
Em 1995 a “geração de 1914” atinge os 81 anos de idade. O Corpo
Governante dá-se conta de que não poderá sustentar seu ensino não-
bíblico por muito mais tempo e prepara cuidadosamente o terreno para
a mudança do “entendimento”, uma “nova luz”. Aquilo que durante
tantos anos foi uma verdade está prestes a tornar-se falsidade.
Durante muitos anos, cada número da Despertai! afirmava que o
começo de um novo mundo antes do fim da “geração de 1914” era
uma promessa do Criador! Veja a Despertai! de 22 de outubro de
1995, página 4:

Tratava-se de uma “promessa do Criador”. Mas este foi o último


número da revista a referir-se à “geração de 1914”. Observe a alteração
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 113

feita na edição seguinte, a Despertai! de 8 de novembro de 1995,


página 4:

A referência à “geração de 1914” foi eliminada! O que houve com a


promessa do Criador relacionada com um novo mundo “antes que
passe” a geração de 1914? Acaso Deus revoga suas promessas? A
resposta está em Isaías 55:11:
Assim mostrará ser a minha palavra que sai da minha boca. Não
voltará a mim sem resultados, mas certamente fará aquilo em que
me agradei e terá êxito certo naquilo para que a enviei.
A mudança foi tornada pública na revista abaixo. Nesta, o Corpo
Governante liquida tudo que ensinou sobre a geração de 1914. Faz
isso, porém, dando a impressão de que todos na organização foram
autores disso. Procura generalizar a autoria do erro, e, mais uma vez,
fugir da responsabilidade!
114 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 1o de novembro de 1995, página 17:

Alguns trechos desta página merecem séria análise:


“O povo de Jeová... às vezes tem especulado” - “O povo de Jeová”,
não! Só o Corpo Governante especulou! Só o Corpo Governante
redigiu ou autorizou as matérias publicadas sobre a “geração de 1914”.
Se qualquer Testemunha de Jeová individual tivesse feito tais
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 115

especulações sem apoio de A Sentinela ou Despertai! teria sido


acusada de apostasia! Toda Testemunha de Jeová experiente sabe que
nem os anciãos congregacionais, nem os superintendentes de circuito
ou de distrito, nem os coordenadores de filial, nem os trabalhadores de
Betel, nem os “ungidos” que não fazem parte do Corpo Governante
têm autoridade para ensinar qualquer coisa por conta própria. Só quem
pode fazer isso é o Corpo Governante. E foi este que fez cálculos e
especulações, atribuindo tudo isso à Bíblia, a Jeová e a Jesus. Onde
estava a orientação divina?
“não por especular sobre quantos anos ou dias constituem uma
geração” - Aqui a Sociedade está dando um conselho, introduzindo um
“coração de sabedoria”, mas é um conselho dado por quem não o
seguiu. Até parece que ela está corrigindo o erro que outros
praticaram! Ela não afirma isso, mas é o que o leitor entende.
“o termo ‘geração’ conforme usado por Jesus... refere-se... a
pessoas contemporâneas dum certo período histórico” - Agora, a
geração da qual Jesus falou já não é mais a de 1914! Compare isso
com a afirmação da página 14 da Despertai! de 22 de abril de 1969, já
citada:
E, lembre-se, Jesus disse que o fim deste mundo iníquo viria antes
de tal geração desaparecer na morte.
O que achará Jesus de quem afirma que ele “disse” algo que ele
realmente não disse? Pode-se acreditar que esta fonte seja fiel e
discreta?
Para muitos membros da organização, especialmente os idosos e os
que mais sacrifícios pessoais fizeram em virtude da “iminência do
fim”, a decepção e a desilusão foram grandes. Nem todos ousavam
dizê-lo, mas seu sentimento era, sem dúvida, o descrito em Provérbios
13:12:
A expectativa adiada faz adoecer o coração, mas a coisa
desejada, quando vem, é árvore de vida.
Quem é responsável pelos ‘corações doentes’ devido à “geração de
1914 que não passará” e que acabou passando?
A versão distorcida sobre a responsabilidade por esta falsa profecia
na Sentinela de 1o de novembro de 1995, prossegue (página 19):
116 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Depois de ter passado mais de um século procurando datas e


especulando o Corpo Governante diz que não adianta fazer isso. Mas a
Bíblia sempre desaconselhou isso! (Atos 1:7) O Corpo Governante
não seguiu a orientação divina!

Depois de décadas ensinando que a “geração” a que Jesus se referia


era a de 1914, o Corpo Governante apresenta seu novo entendimento
do assunto. Esteve errado durante vários anos. Como pôde isto
acontecer se eles tinham a orientação divina? Jeová certamente não iria
orientá-los de modo errado, pois sua atuação é perfeita. (Deuteronômio
32:4) Só há uma resposta: Jeová não estava orientando, guiando ou
dirigindo o Corpo Governante.
O fato é que nesta revista as Testemunhas de Jeová foram
cientificadas de que a “geração de 1914” não é mais a que verá o fim
do sistema de coisas. No entanto, centenas de milhares delas,
principalmente as idosas, viveram anos e anos embaladas por esta
promessa humana, rotulada de divina. Confiaram nas palavras dos
A Especulação “Profética” para 1975 e a “Geração de 1914” 117

homens do Corpo Governante, supostamente contados como entre os


“futuros reis e sacerdotes” que reinarão sobre a terra. Aqui podemos
aplicar o Salmo 146:3:
Não confieis nos nobres, nem no filho do homem terreno, a quem
não pertence a salvação.
Observe, na página 20, parágrafos 14 e 15 como o Corpo
Governante sabe dar conselhos como se nunca tivesse feito exatamente
o oposto:

“Não precisamos conhecer . . . a data” — Se não precisavam


“conhecer de antemão a data” por que tantas datas foram marcadas,
gerando tantas decepções e tropeços?
“Ora, quanto aos tempos e às épocas...” — Esta admoestação de
Paulo foi muito sábia. Por que não foi seguida pelos homens que se
julgavam membros da mesma classe do apóstolo?
118 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Embora nunca soubéssemos o dia...” — Se nunca souberam o dia,


o que foi 1914? 1918? 1925? 1975? Tudo falsa profecia ou
especulação sensacionalista? Apesar de Paulo dizer que os irmãos “não
necessitavam”, o Corpo Governante persistiu em “escrever quanto aos
tempos e às épocas”, fazendo pouco caso do conselho das Escrituras.
Lembremo-nos, uma vez mais, de Deuteronômio 18:22:

Quando o profeta falar em nome de Jeová e a


palavra não suceder nem se cumprir, esta é a palavra
que Jeová não falou. O profeta proferiu-a
presunçosamente.
Capítulo 5

Como o Corpo Governante


Encara Seus Erros

O Corpo Governante é firme em atribuir a si próprio uma designação


da parte de Deus ou de Jesus, como se pode ver na Sentinela de 15 de
janeiro de 1990, páginas 26 e 27:
Ele escolheu alguns, dentre seus seguidores ungidos, “o escravo fiel
e discreto”, para servir como corpo governante visível. . . o Corpo
Governante, que não é um instrumento legal, mas tem membros
“designados pelo espírito santo sob a direção de Jeová e Cristo”.
Na história da humanidade, eles não foram os primeiros na
presunção de ter uma nomeação divina sem confirmação bíblica, mas
esta afirmação deveria fazer deles, já que são homens imperfeitos, um
exemplo no reconhecimento dos próprios erros. Será que estão cientes
desta obrigação, fruto da humildade cristã? A esse respeito há um
artigo intitulado “Por Que Admitir Quando Você Está Errado?”, na
Sentinela de 1o de março de 1983, em que se afirma, na página 28:

119
120 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O Corpo Governante mostra estar bem a par dos motivos que levam
alguém a não querer admitir o erro (orgulho, manter aparências,
insegurança) e afirma francamente que devemos admitir quando
estamos errados. Será que ele cumpre estas sábias palavras com
relação aos próprios erros? Ou terá manifestado, exatamente e pelos
mesmos motivos, a posição oposta? Acredita ele no que ensina na
página 30 da mesma revista?
Que dizer se ocupamos posição de responsabilidade? Bem, a
disposição de admitir que estamos errados pode ganhar o respeito de
nossos subordinados.
O Corpo Governante e Outros Falsos Profetas
Observe, na revista abaixo, como o Corpo Governante sabe
perfeitamente identificar uma falsa profecia quando ela é feita pelos
outros.
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 121

Despertai!, 22 de abril de 1969, página 23:

O primeiro trecho sublinhado refere-se provavelmente aos


adventistas, mas observe a semelhança entre a situação aí descrita e a
que ocorreu entre as próprias Testemunhas de Jeová, conforme o já
citado Anuário das Testemunhas de Jeová de 1983, página 120:
122 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Comentários sobre a citação da Despertai! 22/4/69:


“aqueles que, em tempos passados, predisseram um “fim do
mundo”, até mesmo anunciando uma data específica” - Tal como a
Sociedade Torre de Vigia! O Corpo Governante parece não perceber
que está apontando em outros o mesmo erro que cometeu!
“O fim não veio. Eram culpados de profetizar falsamente.” - O
Corpo Governante, sendo autor do maior número de falsas profecias da
história condena outros falsos profetas, sem ver a trave no próprio
olho! (Lucas 6:41)
“Faltava a plena medida de evidência exigida em cumprimento da
profecia bíblica... não tinham as verdades de Deus e a evidência de
que ele as guiava e usava” - O que faltou aos outros falsos profetas foi
exatamente o mesmo que faltou ao Corpo Governante: plena medida
de evidência bíblica e a evidência de que Deus o guiava e usava. O
Corpo Governante, sem perceber, admite que não é dirigido por Deus.
O Corpo Governante Procura Justificar-se
Na Sentinela 1/3/83 já citada, afirma-se que faz parte da natureza
humana procurar justificar-se. Dezesseis anos depois, e com uma falsa
profecia ainda em vigor (a “geração” de 1914), a Sociedade, usando
fraseologia e argumentação típicas, tenta, na revista abaixo, encobrir
ou minimizar seus erros proféticos, confundindo os leitores quanto aos
verdadeiros pontos em questão. O artigo tenta fazer paralelos entre
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 123

supostos erros de servos de Deus do passado e os erros modernos da


Sociedade Torre de Vigia:
A Sentinela, 1o de setembro de 1985, página 23:

“É verdade que se pensava...” - Mais uma vez, usa-se o sujeito


indeterminado. Quem “pensava” era o Corpo Governante. E não só
“pensava”, mas ensinava outros.
“quem pode censurá-los por não compreenderem plenamente...” -
A pergunta mais exata a fazer seria: “Quem pode censurá-los por
fazerem e propagarem falsas profecias?” O erro em questão não foi o
de compreender ou não compreender alguma coisa. O erro foi o de
propagar tais ensinos sobre datas, transformando-os em ensinos
oficiais da organização. Qualquer pessoa imperfeita pode compreender
algo errado na Bíblia. Este não é o problema. O problema é quando um
grupo de tais homens imperfeitos, auto-revestidos de autoridade
divina, afirma ter entendimento especial das coisas profundas de Deus
e impõe aos outros sua interpretação como sendo o “alimento no tempo
apropriado” de Mateus 24.
Na página 24 da mesma revista, lemos:
124 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“declararam que certas coisas poderiam ocorrer...” - “Poderiam


ocorrer”, não! A sociedade usou expressões como “verdade
estabelecida”, “data definitivamente marcada nas Escrituras”, “datas de
Deus, não nossas”, “podemos seguramente esperar” e “positiva e
indiscutível conclusão”. Veja as páginas 27, 29, 35 e 36.
“manterem-se vigilantes” - Manter-se vigilante é uma coisa.
Profetizar falsamente é outra. Em Marcos 13:35, Jesus disse:
“Portanto, mantende-vos vigilantes, pois não sabeis quando vem o
senhor da casa...” A atitude cristã correta era vigiar sem preocupar-se
com datas. (Atos 1:7)
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 125

“certas expectativas que pareciam ter apoio da cronologia


bíblica...” - Certas profecias falsas, 1914, 1918, 1925...
“preferível cometer alguns erros devido à demasiada ansiedade de
ver cumpridos os propósitos de Deus a estar dormindo em sentido
espiritual” - As duas atitudes são biblicamente erradas e uma não
justifica a outra. Tanto a sonolência espiritual quanto a falsa profecia
são condenadas na Palavra de Deus. O Corpo Governante, numa
atitude tipicamente humana, tenta justificar-se e minimizar seu erro, ao
invés de demonstrar arrependimento diante de Deus e pedir perdão
àqueles a quem iludiu, a comunidade mundial das Testemunhas de
Jeová. Será que, atualmente, o Corpo Governante toleraria em sua
organização membros que, por ansiedade de ver cumpridos os
propósitos de Deus, persistissem em afirmar a todos que há base
bíblica para que o fim do sistema venha, por exemplo, em 2014? Todo
ancião das Testemunhas sabe a resposta: tais pessoas seriam
desassociadas por apostasia!
“Não cometeu Moisés um erro de cálculo...?” - Nenhum dos textos
bíblicos citados em apoio fala que Moisés fez algum cálculo. Além
disso, naquela ocasião (quando matou o egípcio) Moisés ainda não
126 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

estava sob orientação de Deus, pois só veio a entrar em contato com


Ele quarenta anos depois, quando foi designado para libertar os
israelitas do cativeiro e conduzi-los à Terra da Promessa. (Atos 7:30-
34) Quaisquer equívocos de datas que cometesse antes disso seriam
pessoais, não se comparam aos erros de datas de um grupo de homens,
que os ensinam a uma multidão de Testemunhas de Jeová afirmando
ter a direção de Deus, homens que não dispõem de uma designação
divina bíblica, ao contrário de Moisés, com quem Deus falou frente a
frente.
“Não estavam os apóstolos de Cristo demasiadamente ansiosos...?”
- Mas não estavam ensinando outros! Estavam perguntando,
aprendendo de seu instrutor, Jesus. O erro do Corpo Governante não
foi a ansiedade, mas passar adiante seus ensinos errados, dizendo-se
dirigido por Deus.
“Não estavam os cristãos ungidos de Tessalônica impacientes...?” -
Os cristãos de Tessalônica estavam impacientes e ansiosos querendo
que viesse logo o “dia de Jeová”. Paulo, no entanto, alertou-os contra
esta ansiedade indevida. Será que o Corpo Governante seguiu o
exemplo do apóstolo? Não! Fez o oposto!
Na página 25 há outras declarações que requerem análise:
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 127

“Não há nada de fundamentalmente antibíblico...” - A Sociedade


busca apoiar-se citando dois antigos profetas. Mas Habacuque e Daniel
não agiram por conta própria. Escreveram o que Deus lhes mandou!
Eram inspirados por Deus. O Corpo Governante não é! E há, em
Deuteronômio 18:22 e Jeremias 23:21, algo que mostra que é
‘fundamentalmente antibíblico’ fazer falsas profecias.
Noutra das raras ocasiões em que abordou seus erros proféticos, a
Sociedade mostra mais uma vez que não é capaz de admiti-los.
A Sentinela, 15 de março de 1986, página 19:

Ao invés de explicar por que mesmo tendo feito falsas profecias,


não é um falso profeta, o Corpo Governante questiona a motivação de
quem expõe seus erros. Ora, erro é erro, não importa quem o expõe e
por quê. A defesa do Corpo Governante é que o cristão não tem
alternativa: ou se torna falso profeta ou cai na sonolência espiritual.
Sentem-se justificados em propalar falsas profecias por estarem
vigilantes. Acaso um erro justifica o outro?
Mais recentemente, a Sociedade voltou a justificar-se, citando
vários exemplos de outros falsos profetas na Despertai! de 22 de
março de 1993, páginas 3 e 4:
128 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 129

É interessante constatar que, dos cinco exemplos citados, apenas


dois (os anabatistas e William Miller) falaram em datas. Os outros
fizeram declarações não-específicas iguais às que a Sociedade há mais
de 100 anos vem fazendo e continua a fazer.
No oitavo parágrafo da página 3, ela aplica a estes o texto de
Deuteronômio 18:20-22, e no seguinte faz distinção entre dois tipos de
profetas mal-sucedidos: os que ‘fazem predições espetaculares do fim
do mundo para atrair atenção e adeptos’ e os que ‘convencem-se
sinceramente de que suas proclamações são verídicas.’ Ela parece
querer classificar-se nesta segunda categoria, mas a verdade é que ter
convicção sincera de uma afirmação falsa não a torna verdadeira. O
que caracteriza uma falsa profecia é ela “não suceder, nem se
cumprir.” (De. 18:22)
“Não alegam que... profetizam em nome de Jeová” - Quanto às
profecias da Sociedade serem ou não feitas em nome de Jeová, basta
reler as páginas em que a Sociedade se declara “profeta” de Deus.
(Páginas 18-24.)
“Quando suas palavras não se cumprem, eles não devem ser
encarados como falsos profetas” - O Corpo Governante considera-se
acima das definições da própria Palavra de Deus! Presunção e
arrogância!
“Devido à falibilidade humana eles interpretaram mal as coisas” -
Interpretaram mal? Não foi só isso. Ensinaram a todos que era
profecia bíblica, e que vinha de Jeová! Comentando na página 4 uma
falsa profecia recente feita na Coréia do Sul, o Corpo Governante diz:
“É lamentável essa abundância de alarmes falsos.” - Fala como se
não tivesse sido ele mesmo o responsável por grande parte destes
alarmes falsos.
130 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Numa nota de rodapé desta mesma página, a Sociedade, sempre


usando o termo genérico “Testemunhas de Jeová”, que visa repartir a
culpa que é só dela com todos os membros da organização, tenta
provar que não fez afirmações proféticas:

“As Testemunhas de Jeová sugeriram datas” - Não foi bem assim.


O Corpo Governante ensinou e impôs datas, é a frase apropriada. Se
tivessem sido apenas sugestões, cada uma das milhões de
Testemunhas de Jeová teria sido livre para aceitá-las ou não, mas os
ensinos do Corpo Governante são obrigatórios.
“Nunca disseram: ‘Estas são as palavras de Jeová.’“ - Compare
isto com A Sentinela de 15 de novembro de 1984, páginas 6 e 7:
A palavra profética de Jeová mediante Jesus Cristo diz: “Esta
geração [de 1914] de modo algum passará até que todas estas coisas
ocorram.” (Lucas 21:32) E Jeová, que é a fonte de profecias inspiradas
e infalíveis, fará com que as palavras de seu Filho se cumpram num
prazo de tempo relativamente curto.
Compare também com as palavras que durante anos saíram em
todas as edições de Despertai!, como no quadro da página 4 do número
de 22 de outubro de 1995:
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 131

Segundo a primeira citação, o que dizia a ‘palavra profética de


Jeová’? Quem faria com que a afirmação anterior sobre a geração de
1914 se cumprisse ‘num prazo relativamente curto’?
De acordo com a segunda citação, de quem era a promessa de um
‘novo mundo antes que passasse a geração de 1914’?
Apenas os que não querem enxergar desperceberão aqui que a
Sociedade não só fez realmente as declarações proféticas sobre 1914,
1918, 1920, 1925 e a “geração de 1914” como se negou depois a
admiti-las claramente. Ao contrário da sugestão feita na já citada
Sentinela 1/3/83 de que “devemos admitir quando estamos errados” o
Corpo Governante parece enquadrar-se entre “os que ocupam posições
de responsabilidade” e acham difícil “admitir aos seus subordinados
que estão errados.” Tenta, ainda, “arrazoar que o que fez não estava
realmente errado (e sim os que entenderam ou leram errado, os
adeptos, com o uso de expressões generalizantes tais como “o povo de
Jeová” ou “as Testemunhas de Jeová”)” e que “a culpa cabe a
circunstâncias incomuns” (a ansiedade em ver logo cumpridos os
propósitos de Deus), que fazem seus erros parecerem até louváveis. E
por quê? Segundo A Sentinela 1/3/83, provavelmente “devido ao
orgulho,” para “salvar as aparências” de que são um grupo de homens
“dirigidos por Deus”, na dianteira da “única organização na terra que
compreende as coisas profundas de Deus”. Que posição na terra (se
verdadeira) poderia ser mais privilegiada? Tendo “sentimentos de
insegurança” (devido aos erros já cometidos) talvez sintam que “sua
posição será ameaçada caso admitam um erro.” Seu conselho era,
“admitir que estamos errados pode ganhar o respeito de nossos
subordinados”, mas ele mesmo não o seguiu!
132 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Não temos o dom da profecia” - Mas declararam ser “um profeta


de Deus”. Veja nas páginas 19 e 23.
“Não são inspirados” - Mas declaram ser “dirigidos por Deus”, na
página 18 da Sentinela de 1o de janeiro de 1974:
Considere também que só a organização de Jeová, em toda a terra, é
dirigida pelo espírito santo ou força ativa de Deus.
Em termos práticos, que diferença há, para ouvintes e leitores, entre
alguém que traz uma mensagem dizendo-se ‘inspirado por Deus’ e
alguém que traz uma mensagem dizendo-se ‘dirigido por Deus’? É
possível alguém, dirigido por Deus, passar uma mensagem errada? Se
for assim, de que lhe adianta a direção divina? A tática do Corpo
Governante tem sido, na verdade, enfatizar a direção divina quando
quer ser acatado por seus adeptos, e, destacar que não tem inspiração
divina, quando seus erros se tornam evidentes. É um sutil jogo de
palavras com a mente e a compreensão das pessoas.
“Seus escritos não são inspirados assim como eram os de Paulo e
dos outros escritores bíblicos” - Mas recorde o que diz sobre os
“ungidos” do Corpo Governante a página 13, parágrafo 4, da Sentinela
de 1o de dezembro de 1982:

Mais jogo de palavras. Leia bem a citação acima e veja se a


conclusão não é exatamente a mesma. Sentir-se-ia você motivado,
Como o Corpo Governante Encara Seus Erros 133

como cristão, a acatar ou rejeitar os ensinos e orientações de alguém


que, em posição similar à de Paulo, recebe as maravilhosas verdades
de Deus, reveladas pelo próprio espírito de Deus? Não significaria isso
acatar ou rejeitar o próprio Deus?
O resumo de tudo o que vimos acima é que, apesar de se enquadrar
em todas as características, o Corpo Governante tenta, em vão, e contra
todas as evidências, negar sua condição de falso profeta.
Uma de suas mais recentes manifestações nesse sentido, como
quem tenta dizer que não disse, veio em A Sentinela de 1o de junho de
1997, página 14:

“A modéstia por parte da classe do escravo fiel e discreto...” - E o


que foram as afirmações sobre 1914, 1925, 1975 e a geração de 1914
senão “afirmações muito especulativas sobre coisas que não estavam
134 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

nada claras”? Que “modéstia” é essa, que recusa-se a admitir


claramente os próprios erros?
“Nunca devemos ficar impacientes...” - Quem foi que mostrou tal
impaciência, tentando marcar datas para o fim do sistema de coisas ao
longo de 100 anos? O Corpo Governante! Quem foi que “tentou
imprudentemente correr na frente de Jeová”, predizendo datas? O
Corpo Governante! E agora, vem dar conselhos ao seu rebanho
dizendo exatamente o contrário do que tem feito.
“o instrumento que Jeová usa hoje em dia não age assim! Esse
instrumento é tanto fiel como discreto” - Observe a autopromoção e a
falta de modéstia do Corpo Governante, pois ele “agiu assim” ao longo
de muitas décadas. Enaltece a si próprio como ‘escravo fiel e discreto’
mas nem foi fiel (porque inventou datas que Jeová não estabeleceu em
sua Palavra), e nem foi discreto (por ter feito ampla divulgação delas),
trazendo a confusão, a dúvida e a desilusão para milhares que
deixaram a organização após cada profecia ou expectativa humana
fracassada!
Um dos aspectos desconcertantes de tudo isto é que, no momento de
apresentar suas falsas profecias, a Sociedade enfatiza seu papel de
“profeta de Deus”, “escravo fiel e discreto” de Jesus, “canal de
comunicação de Deus”, e sua direção pelo espírito santo, no intuito de
ser aceita e acatada. Quando tenta explicar, de modo indireto e
impreciso, que sua orientação foi errada, ressalta que ‘alguém’ ou
‘alguns’ são imperfeitos. Não teria sido mais apropriado que este
lembrete da ‘imperfeição humana’ tivesse sido feito por ocasião da
introdução das profecias, a fim de dar as pessoas uma idéia melhor
daquilo pelo qual passariam a nortear suas vidas?
Capítulo 6

Ensinos Que o Vento Levou

Com tantas afirmações e reafirmações de autorização e orientação


divinas, o adepto das Testemunhas de Jeová sente-se seguro de que as
diretrizes recebidas do Corpo Governante são corretas, refletem a
vontade de Deus para ele e podem ser acatadas e postas em prática
com plena convicção.
Uma vez mais, porém, os fatos apontam noutra direção. Uma
análise franca do histórico da Sociedade Torre de Vigia leva à
conclusão de que os ensinos e interpretações transmitidos para a
comunidade dos membros jamais poderiam ter sido recebidos como
que de olhos fechados. Examinaremos neste capítulo quatro questões
que ilustram isso de modo irrefutável.
Questão 1: Serão Ressuscitados os Mortos de Sodoma?
Falando da reação negativa que certos lugares poderiam mostrar à
pregação das boas novas a ser empreendida por seus discípulos, Jesus
disse em Mateus 10:15:
Deveras, eu vos digo: No Dia do Juízo será mais suportável para a
terra de Sodoma e Gomorra do que para essa cidade.
Ainda sobre o mesmo assunto, ele declarou o que podemos ler em
Mateus 11:23-24:
Conseqüentemente, eu vos digo: No Dia do Juízo será mais
suportável para Tiro e Sídon do que para vós. E tu, Cafarnaum, serás
por acaso enaltecida ao céu? Até o Hades descerás; porque, se as obras
poderosas que ocorreram em ti tivessem ocorrido em Sodoma, ela teria
permanecido até o dia de hoje. Conseqüentemente, eu vos digo: No
Dia do Juízo será mais suportável para a terra de Sodoma do que para
ti.

135
136 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Como se manifestou a Sociedade a respeito disso? Não temos idéia


de como foi durante a primeira metade do século 20, mas a pergunta
era: Haverá ressurreição para o povo de Sodoma?
Segundo a publicação do Corpo Governante exibida abaixo, a
resposta é NÃO!
Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), página 236:
Ensinos Que o Vento Levou 137

Este livro já deixou de ser publicado e poucas Testemunhas talvez o


tenham, mas ele é mencionado na página 101 do Proclamadores.
Segundo ele, os antigos habitantes de Sodoma, junto com outros
138 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

grupos, “não serão ressuscitados.” Entendia-se que a “luz” de


Provérbios 4:18 avançou para prover esta resposta.
Passam-se seis anos e a pergunta “Haverá ressurreição para o povo
de Sodoma?” é novamente tratada, mas a resposta, segundo A
Sentinela de 15 de setembro de 1965, página 555, agora é SIM!

Agora, portanto, a “luz” recuou...


Isto foi confirmado na Sentinela de 1o de maio de 1966, páginas 286
e 287:
Ensinos Que o Vento Levou 139
140 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (edição de


1983), página 179, ainda ensinava isso:
Ensinos Que o Vento Levou 141

Assim, os antigos habitantes de Sodoma ganham novamente direito


à ressurreição! Será que foi Jeová quem orientou o entendimento
anterior, ou foi somente opinião de homens?
As coisas, no entanto, não param aí. Mais cinco anos e a resposta à
pergunta “Haverá ressurreição para o povo de Sodoma?”, segundo
estas publicações mais recentes, voltava a ser NÃO!
142 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 1o de junho de 1988, página 31:


Ensinos Que o Vento Levou 143

Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (edição de 1989),


página 179:

A “luz” teria avançado novamente? Será que desta vez está certo?
Quem pode garantir?
Para responder à pergunta deste tópico, o Corpo Governante
primeiro disse NÃO, seis anos depois disse SIM; seis anos depois de
dizer SIM pela última vez, ele finalmente disse NÃO. Logicamente,
Jeová não orientou nenhum destes entendimentos. O Corpo
Governante não tem orientação divina.
Enquanto o grupo de homens que declara estar sob a direção de
Deus mostrou ter um ponto de vista bem variável de um assunto
bíblico, a Bíblia, em Tiago 1:17, afirma:
Toda boa dádiva e todo presente perfeito vem de cima, pois desce
do Pai das luzes [celestiais], com quem não há variação da virada da
sombra.
Na questão dos mortos de Sodoma o Corpo Governante deixou,
com certeza, de refletir o texto acima.
144 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Questão 2: A Parábola das Ovelhas e dos Cabritos


Há dois milênios, Jesus transmitiu uma parábola (ou ilustração), em
Mateus 25:31-33, onde dizia:
Quando o Filho do homem chegar na sua glória, e com ele todos os
anjos, então se assentará no seu trono glorioso. E diante dele serão
ajuntadas todas as nações, e ele separará uns dos outros assim como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos. E porá as ovelhas à sua direita,
mas os cabritos à sua esquerda. - Mateus 25:31-33.
Durante muitos anos, as Testemunhas de Jeová aprenderam como
sendo uma verdade, provida pelo autodesignado “canal de
comunicação de Deus”, que a obra de separação entre “ovelhas e
cabritos” estava em andamento à medida que as “boas novas” da
Sociedade Torre de Vigia eram pregadas.
A Sentinela, 15 de abril de 1962, página 254:
Ensinos Que o Vento Levou 145

Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, página 183:

Observe que este ensino fazia parte do conjunto de “verdades” que


o Corpo Governante, como autonomeado “escravo fiel e discreto” de
Jesus, publicava como sendo “alimento no tempo apropriado”. E todas
as Testemunhas de Jeová tinham de aceitá-lo. Pensar de outro modo
seria encarado como rebeldia contra Jeová, pois o Corpo Governante
considera a discordância de suas interpretações humanas falíveis
como apostasia contra Deus!
Em 1995, uma “verdade” diferente é publicada pelo Corpo
Governante, “representante do escravo fiel e discreto”. Aquilo que fora
ensinado por tantos anos estava errado. Não estava havendo
separação nenhuma de “ovelhas e cabritos”! Ela ocorrerá no futuro!
146 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 15 de outubro de 1995, página 19:

Começa dizendo “pensávamos”, mas quem, de fato, pensava assim


era o Corpo Governante. A comunidade das Testemunhas apenas
ouvia. Veja a mesma revista, página 22:
Ensinos Que o Vento Levou 147

Assim, as Testemunhas de Jeová ficaram sabendo que “não havia


nada que indicasse” o ensino anterior. Era mesmo um ensino falso,
divulgado pelo Corpo Governante. Ainda na mesma página:

E na página 23:

A separação de ovelhas e cabritos ainda está por vir! Não há como


fugir da conclusão: se o ensino atual está correto, o Corpo Governante
esteve divulgando um ensino falso durante anos e anos! O Corpo
Governante estava errado durante décadas, apesar de se declarar
“dirigido por Deus.” O mais interessante é que as igrejas da
cristandade, que segundo o Corpo Governante, não têm a luz de Deus,
já tinham o entendimento correto dessa parábola havia séculos! Como
se explica isso?
148 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Questão 3: A Identidade das “Autoridades Superiores”


Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há
autoridade exceto por Deus; as autoridades existentes acham-se
colocadas por Deus em suas posições relativas. - Romanos 13:1.
Quem são estas “autoridades superiores” mencionadas no texto
bíblico acima? Do final do século 19 e até 1929 a resposta era: Os
governos humanos.
O Plano Divino das Eras (1886, em inglês), página 266:
Ensinos Que o Vento Levou 149

Tradução:
Sabendo ser este o propósito de Deus, nem Jesus nem os apóstolos
interferiram de algum modo nos assuntos dos governos terrestres. Pelo
contrário, eles ensinavam à igreja a submeter-se a estes poderes, muito
embora amiúde sofressem debaixo do abuso deles. Ensinavam à Igreja
a obedecer às leis e a respeitar os em autoridade por causa do seu
cargo, mesmo que não fossem pessoalmente dignos de estima; a pagar
os impostos estipulados, e, exceto onde entrassem em conflito com as
leis de Deus (Atos 4:19; 5:29), a não oferecer resistência a quaisquer
leis estabelecidas. (Rom. 13:1-7; Mat. 22:21) O Senhor Jesus e os
apóstolos, bem como a primitiva igreja, todos acatavam as leis, embora
se mantivessem separados e não participassem nos governos deste
mundo.
Um trecho deste parágrafo pode ser conferido na Sentinela de 1o de
maio de 1996, página 13, parágrafo 12
Livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus
(1993), página 190:

Observe que “‘as autoridades superiores’ . . . eram os governantes


seculares.”
O mesmo livro, página 191:
150 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Portanto, a crença “partilhada em comum com outros cristãos


professos”, era que “‘as autoridades existentes’... se referiam aos
governantes seculares.” Como pudemos constatar nas duas páginas
mostradas acima, no início do século 20 a Sociedade tinha o
entendimento correto sobre as “autoridades superiores”. O vento
soprou, e estamos em 1940. Quem são as “autoridades superiores” de
Romanos 13:1? De 1929 em diante a resposta era: Jeová e Jesus Cristo.
Veja o Livro Salvação (1940), página 227:
Ensinos Que o Vento Levou 151

Veja, no primeiro parágrafo, o “entendimento” que tinha o Corpo


Governante sobre quem era o “ministro de Deus” e “vingador” de
Romanos 13:4: Jesus Cristo.
No segundo parágrafo, repare quem eram, na opinião da Sociedade,
os “governadores” mencionados em 1 Pedro 2:14: Os apóstolos!
Frisamos que tudo isso era ensinado como verdade, fruto da direção
divina sobre o “escravo fiel e discreto”!
Será interessante ainda examinar o que dizia a respeito o livro Seja
Deus Verdadeiro (1955), páginas 241 e 242:
152 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Vejam só! Há cerca de 50 anos, os “inimigos religiosos”, seguidores


da “religião falsa”, estavam entendendo corretamente quem eram as
“autoridades superiores”. Na mesma época, o Corpo Governante da
“única organização da terra que compreende as coisas profundas de
Deus” estava totalmente errado acerca das “autoridades superiores”!
Este erro passado pode ser confirmado no Proclamadores (1993),
página 147, parágrafo 2:

O que aconteceu, afinal? Em 1886, a Sociedade tinha o


entendimento correto. Era de esperar que com a “luz progressiva” de
Ensinos Que o Vento Levou 153

Provérbios 4:18, que ela afirma ter, o entendimento se aperfeiçoasse


cada vez mais. Em 1929, no entanto, o Corpo Governante reduziu sua
“luz”, e ensinou o errado em substituição ao certo. A expressão
“parecia aos Estudantes da Bíblia” é muito genérica. A idéia errada
partiu exclusivamente da direção da Sociedade. Os cerca de 24.000
Estudantes da Bíblia da época apenas liam e aceitavam a idéia errada,
que era ensinada como verdade e tinha de ser aceita. Vem a pergunta:
quantos ensinos “verdadeiros” atuais ainda serão descartados, no
futuro, com o uso do termo “parecia”?
Observe também, no final do parágrafo, a estranha idéia de que uma
“lição” errada “fortaleceu” os membros da organização! Aceita hoje a
Sociedade que algum ensino errado das igrejas possa ter algum
proveito?
A partir de 1963 (A Sentinela de 15 de junho, página 362, parágrafo
7), a pergunta “Quem são ‘as autoridades superiores’?” tem uma nova
resposta, que é: os governos humanos, novamente!
Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna (1995), página 132:

A Sentinela, 1o de maio de 1996, páginas 13, 14:


154 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Mais uma vez, o uso do sujeito indeterminado, “achava-se”. Quem,


de fato, achava e ensinava isso, nas publicações já citadas? E,
novamente, o estranho conceito do Corpo Governante: mesmo tendo
transmitido um conceito errado, falso, considera que isso “ajudou o
povo de Deus”! É uma tática para amenizar a evidência de que o Corpo
Governante não tem a orientação divina. Se tivesse, não teria
cometido tantos erros de entendimento, mesmo formado de homens
imperfeitos, pois a atuação de Jeová é perfeita. (Deu. 32:4) Moisés, os
profetas, os apóstolos e outros eram todos imperfeitos, e cometeram
erros, como pessoas, mas quando transmitiram ensinos inspirados aos
outros, eles não falharam, porque tinham, de fato, orientação da parte
de Deus.
Questão 4: O Serviço Civil Alternativo
Durante e após a Segunda Guerra Mundial, os governos de alguns
países ofereciam o serviço civil alternativo aos cidadãos que por
motivo de consciência, não aceitavam prestar o serviço militar
obrigatório, como é o caso das Testemunhas de Jeová. O Corpo
Governante, no entanto, proibiu o serviço alternativo civil, e, como em
outros casos, sem base sólida alguma, a não ser sua própria opinião.
Ensinos Que o Vento Levou 155

Seja Deus Verdadeiro (edição de 1949), página 228:

Neste livro, há mais de 50 anos, o Corpo Governante condenou o


trabalho governamental substituto do serviço militar. No mesmo livro,
em edição posterior, o Corpo Governante mudou um pouco a
fraseologia, mas manteve a proibição do serviço alternativo.
156 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Seja Deus Verdadeiro (edição de 1955), página 231:

Repare que os dois únicos textos bíblicos citados no parágrafo nada


dizem a respeito de prestação de serviço civil ao governo. A proibição
era fruto unicamente das mentes humanas que compunham o Corpo
Governante.
Vinte anos depois, a Sociedade continuava a condenar o serviço
civil alternativo. Nos Países Baixos, as autoridades governamentais
não conseguiam entender a objeção das Testemunhas de Jeová ao
serviço civil, prestado sob jurisdição civil, e “sem nada que ver com os
militares.”
Despertai!, 8 de maio de 1975, página 22:
Ensinos Que o Vento Levou 157

O Corpo Governante sustenta que tal serviço é “objetável” e cita 1


Coríntios 7:23, que fala em “escravos de homens”. O serviço civil,
porém não é escravidão! Tratava-se de trabalhar em escolas ou
hospitais, ou em algum outro órgão governamental, como se fossem
funcionários públicos.
Em vez de pôr os jovens adeptos em desnecessário confronto com
as autoridades, o Corpo Governante, ao proibir o serviço civil, deixou
de levar em conta estes dois textos bíblicos:
E, se alguém sob autoridade te obrigar a prestar serviço por mil
passos, vai com ele dois mil. - Mateus 5:41.
O que for que fizerdes, trabalhai nisso de toda a alma como para
Jeová, e não como para homens. - Colossenses 3:23.
158 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Veja também A Sentinela, 1o de setembro de 1986, página 20:

Novamente sem apresentar razões bíblicas e citando Atos 4:19 e


5:29 (que nada dizem a respeito do assunto) a consciência do Corpo
Governante continuava a tomar decisões pelas consciências das mais
de 3.200.000 Testemunhas de Jeová da época. Por causa disso, em
muitos países, jovens tiveram de amargar longas penas de prisão e
maus tratos, longe de suas famílias, de seus estudos e de seu trabalho,
não por recusarem o serviço militar, mas por não aceitarem o
serviço civil alternativo, proibido não por Jeová, mas pelo Corpo
Governante, que estava indo, mais uma vez, “além das coisas escritas.”
(1 Coríntios 4:6)
Finalmente, o Corpo Governante liberou o serviço alternativo.
Tornou-se uma “questão de consciência”. Também não deu nenhuma
explicação para a proibição que vigorou durante quase cinqüenta anos.
Alguém das Testemunhas que, antes da revista abaixo, tivesse
concluído que a Bíblia não condenava o serviço civil e o tivesse
aceitado, teria sido desassociado.
Ensinos Que o Vento Levou 159

A Sentinela, 1o de maio de 1996, páginas 19 e 20:

Quem esteve errado durante todo esse tempo, Jeová ou o Corpo


Governante? Ora, o Corpo Governante se diz guiado por Deus, mas
Deus é perfeito (Deu. 32:4). Se o Corpo Governante decidiu errado,
não podia estar sendo guiado por Deus. Os membros do Corpo
Governante são imperfeitos? Então, que não imponham aos outros
suas decisões como se fossem de Deus, pois os que sofreram na carne
as duras conseqüências (longas penas de prisão, maus tratos e tortura)
da orientação anterior estavam, de fato, seguindo a homens, pensando
obedecer a Jeová!
Dois anos depois, o Corpo Governante dá explicações que
distorcem totalmente o que de fato aconteceu, tentando fazer parecer
que ele não teve nenhum papel na questão das decisões sobre o serviço
civil alternativo, e que o sofrimento que os irmãos passaram não foi tão
ruim assim. Veja a revista abaixo, com os nossos comentários feitos
parágrafo a parágrafo.
160 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 15 de agosto de 1998, página 17:


Ensinos Que o Vento Levou 161

Comentários ao parágrafo 6:
“...atividade que sua consciência agora talvez permita.” -
Correção: “...que a consciência do Corpo Governante agora
permite.”
“Um irmão talvez ache agora...” - Não, não dependia do que cada
irmão achava. Quem sempre achou alguma coisa foi o Corpo
Governante. Os irmãos apenas obedeciam!
“...sem violar sua neutralidade cristã” - A neutralidade cristã
nunca foi violada pelo serviço alternativo, quer antes quer depois de
1996.
Comentários ao parágrafo 7:
“Foi injusto da parte de Jeová deixá-lo sofrer...?” - O Corpo
Governante quer dar a impressão (sem dizer) que foi Jeová quem
deixou os irmãos sofrerem em vão. Mas Jeová nada teve a ver com
isso.
“...aquilo que agora poderia fazer sem conseqüências.” -
“conseqüências”, isto é, a desassociação, embora a pessoa não tivesse
feito realmente nada de biblicamente condenável.
“A maioria dos... não pensam assim.” - Como pode o Corpo
Governante saber o que a maioria pensa de ter sofrido por uma coisa
que de fato nunca foi errada, e que agora, sem nenhuma explicação,
foi mudada? E que dizer dos que agora, conscientes de terem sofrido
em vão por terem antes acatado um mero conceito humano, decidiram
deixar a organização?
“Que motivo poderia alguém ter para lamentar...?” - Que motivo?
Prisão, maus tratos, tortura, perda de precioso tempo da juventude, que
poderia ter sido empregado em tantas coisas proveitosas. E tudo isto
por terem adotado “uma posição firme a favor” das ordens sem base
bíblica do Corpo Governante. Isto é pouco? Parece aplicar-se aqui o
dito popular de que “pimenta nos olhos alheios é refresco.”
“como os entenderam... por seguirem os ditames da consciência...”
- Os irmãos jovens que rejeitaram o serviço alternativo seguiram, de
fato, não o próprio entendimento, nem os “ditames da consciência”
162 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

deles, e sim os ditames do Corpo Governante, veiculados em todas as


publicações desde 1949 que aqui foram mostradas.
Comentários ao parágrafo 8:
No parágrafo acima tenta-se fazer um paralelo entre a Lei Mosaica,
que por fim foi extinta com a morte de Cristo, e os decretos da
Sociedade Torre de Vigia. Mas, aquelas foram leis que o próprio
Jeová determinou! Tinham a finalidade de agir como tutor dos
israelitas, conduzindo-os a Cristo. (Gálatas 3:19-25)
E chega a argumentar: “Será que se queixaram de que o arranjo de
Deus fora injusto por ter antes exigido deles coisas que depois não
eram mais necessárias?” O Corpo Governante tem a audácia de
comparar suas leis humanas com as de Jeová! Deus é nosso Criador,
fonte de luz, vida e verdade. É perfeito e totalmente justo. Tem pleno
direito de tomar decisões para nós. E o Corpo Governante?
Comentários ao parágrafo 9:
“algumas Testemunhas foram muito estritas no seu conceito...” - O
Corpo Governante é que foi “muito estrito”. Era ele que decidia sobre
o serviço civil, e não as Testemunhas. O leitor é aqui induzido a pensar
que os que recusaram o serviço civil e sofreram as conseqüências,
fizeram isso por serem “muito estritos”, “sofreram mais do que outros”
por sua própria conta! Ora, os que não estavam dispostos a “sofrer”
tanto foram desassociados. Que espantosa e grosseira distorção dos
fatos!
“Mas não têm nenhum motivo para lamentar...” - Os que sofreram
na própria carne é que devem dizer se têm motivo ou não.
“...sofrer por serem leais a Jeová” - Mas, como, se a lealdade a
Jeová não estava realmente envolvida, e as Testemunhas podem hoje
cumprir o serviço alternativo?
Por seis vezes, nesta página, o termo “consciência” foi empregado
como se se referisse às das Testemunhas de Jeová individuais,
decidindo por elas mesmas o que fariam ou não. Isso é falso! Em
todos os casos referentes ao serviço alternativo os irmãos não tiveram
liberdade para decidir. Ou recusavam o serviço alternativo ou seriam
expulsos da organização!
Ensinos Que o Vento Levou 163

Essas quatro questões comprovam que não é prudente que homens


imperfeitos, instáveis, sujeitos a mudanças de opinião assumam, em
nome de Deus, o governo das vidas de outros, que ficam sujeitos a eles
como se fossem privados de discernimento das coisas de Deus,
obrigados a recorrer a um grupo supostamente mais “iluminado” que
eles. Os conceitos humanos do Corpo Governante vão e vêm,
lembrando as palavras de Efésios 4:14:
. . . a fim de que não sejamos mais pequeninos, jogados como que
por ondas e levados para cá e para lá por todo vento de ensino, pela
velhacaria de homens, pela astúcia em maquinar o erro.
Diferente dessa situação é o que descreve Isaías 40:8:
Secou-se a erva verde, murchou a flor; mas, quanto à palavra de
nosso Deus, ela durará por tempo indefinido.
Capítulo 7

Questões de Vida ou Morte

A lei de Jeová é perfeita, fazendo retornar a alma. A advertência de


Jeová é benigna tornando sábio o inexperiente - Salmo 19:7.
Acreditamos nas palavras inspiradas acima. Deus é amor (1 João 4:8),
e suas leis e normas visam o benefício de suas criaturas humanas, a
curto e em longo prazo. Nada que de fato provenha Dele pode resultar
em dano para os homens e mulheres que buscam a orientação de Sua
Palavra e por ela norteiam suas vidas.
Neste sentido, qualquer igreja ou organização que se afirme
genuinamente cristã deve apresentar um registro que reflita essa
amorosa preocupação do Criador para com seus filhos humanos, a
quem ele deu vida e a quem ele continua a sustentar. (Salmo 36:9;
Atos 14:17; Mateus 5:45).
Considerando-se, neste aspecto, numa posição privilegiada em
relação a todos os demais da humanidade, a Sociedade Torre de Vigia,
por meio de seu Corpo Governante, tem provido diretrizes para
diversas áreas da vida humana. Muitas delas são claras aplicações de
normas bíblicas, e não só a organização das Testemunhas, como
também outras, como as Assembléias de Deus, os adventistas, e até os
mórmons, têm tido certo êxito em incuti-las em seus membros (questão
do fumo, uso de bebidas, boa moral, honestidade).
Há neste respeito, porém, tendências humanas para criar normas
que a Bíblia não determinou, e até, para atuar em “complementação” à
Palavra de Deus. Aí é que surgem os problemas, que assumem caráter
mais sério quando envolvem a saúde e as vidas das pessoas. Muitos
destes ocorreram entre as Testemunhas de Jeová.
O Pacto de Noé e as Vacinas
Durante muitos anos, a Sociedade Torre de Vigia, por meio da revista
The Golden Age (A Idade de Ouro, antigo nome da Despertai!),
164
Questões de Vida ou Morte 165

condenou as vacinas. Desta forma, por um longo período, os membros


da organização ficaram privados de todos os benefícios providos por
essa fabulosa provisão da ciência médica, abertos a todos os demais da
humanidade.
The Golden Age (A Idade de Ouro), 12 de outubro de 1921, página
17:
A vacina nunca evitou coisa alguma e nunca o fará, e é prática das
mais bárbaras... Estamos nos últimos dias e o Diabo está fazendo, no
ínterim, um esforço estrênuo para causar todo o dano que puder, e é a
ele que devemos atribuir tais males... Use seus direitos de cidadão
americano para abolir para sempre a prática demoníaca da vacina.
The Golden Age, 5 de janeiro de 1929, página 502:
As pessoas ponderadas fariam melhor em ter varíola do que
vacinar-se, pois a vacina espalha as sementes de sífilis, câncer, eczema,
erisipela, escrófula, até a lepra e várias outras doenças repugnantes.
Deste modo, a prática da vacina é um crime, um abuso e um engodo.
The Golden Age, 4 de fevereiro de 1931, página 293:

O título do artigo acima é: “A Santidade do Sangue (Razões pelas


quais a vacina não é bíblica)”. Leia a tradução dos trechos sublinhados:
166 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Visto que a vacina tornou-se assunto de debate, não posso refrear-


me de escrever sobre este grande mal. A lei da vacina não pode ser
uma lei justa. Todos os pais e mães devem ter o direito de dizer o que
deve ser feito aos corpos de seus próprios filhos; assim, a lei da vacina
reduz pais e mães à mera escravidão, quase tão sofrida quanto a das
pessoas de cor, quando seus filhos eram postos em exibição e
vendidos. Em muitos casos de venda de escravos, o pai e a mãe eram
até proibidos de derramar lágrimas.
A vacina é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com
Noé após o dilúvio.
Em seguida a estas últimas palavras vem a transcrição do texto de
Gênesis 9:1-17. O leitor pode abrir sua Bíblia e conferir se há ali
alguma base para se condenar a vacina. A absoluta maioria dos
membros atuais da organização desconhecem totalmente este passado
de ignorância e falta de esclarecimento, e achariam difícil acreditar que
sua organização defendeu outrora um ponto de vista tão retrógrado e
sem fundamento bíblico. Alguns provavelmente argumentariam que,
naquela época, ainda havia muito preconceito e desinformação entre a
população em geral com relação à vacina, o que é verdade. Mas não se
podia usar a Bíblia para isso, e muito menos podia ter ocorrido com a
organização que servia de “canal de Deus” para a humanidade, dirigida
pelo suposto “escravo fiel e discreto” de Jesus. Podia a verdadeira
organização de Deus, dirigida por seu espírito santo, depender de
opiniões humanas para tomar suas decisões? Não é isso que a
organização Torre de Vigia ensina.
Portanto, uma ajuda médica para aliviar os padecimentos humanos e
até salvar vidas foi rotulada pelo Corpo Governante de “prática
bárbara”, “prática demoníaca”, “crime, abuso e engodo” e
“escravidão”, além de se dizer que era uma “violação direta do pacto
eterno que Deus fez com Noé após o dilúvio.”!
O Corpo Governante é responsável pelas conseqüências sofridas
pelas pessoas que seguiram esta orientação como se ela viesse do
próprio Deus. Não fez bem à saúde delas este “alimento” servido nos
anos 20, 30 e 40.
Duas décadas depois da última publicação citada, veio a mudança.
Na seção “Perguntas dos Leitores”, do número de A Sentinela abaixo
(em inglês), o Corpo Governante mudou seu ponto de vista no assunto
Questões de Vida ou Morte 167

das vacinas. Sem fazer referência alguma ao conceito anterior e


mostrando temor de se envolver com a justiça dos homens, ele
reconhece (bem tardiamente) que a Bíblia nada diz a respeito.
The Watchtower (A Sentinela), 15 de dezembro de 1952, página
764:

Tradução dos trechos sublinhados:


· É a vacina uma violação da lei de Deus que proíbe a
introdução de sangue na circulação?
A questão da vacina cabe ao indivíduo que tem de enfrentá-la
decidir por si mesmo. Cada pessoa tem de assumir as conseqüências
por quaisquer posições ou ações que tomar com respeito ao caso da
vacina obrigatória, fazendo-o de acordo com sua própria consciência e
em consideração à sua boa saúde e aos interesses de promover a obra
de Deus. E nossa Sociedade não dispõe de recursos para envolver-se
legalmente no assunto e nem assumir a responsabilidade pelos rumos
que o caso venha a tomar.
Após uma consideração da questão, não nos parece que seja uma
violação do pacto eterno feito com Noé, conforme estabelecido em
168 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Gênesis 9:4, nem contrário ao mandamento de Deus relacionado com


isso em Levítico 17:10-14...
Desta forma, parece que falta base bíblica a todas as objeções à
vacina.
Observe que esta revista diz exatamente o oposto da Idade de Ouro
de 4/2/31 antes citada:
A vacina é uma violação direta do pacto eterno que Deus fez com
Noé após o dilúvio.
Entre 1921 e 1952, devido à orientação da Sociedade, as
Testemunhas de Jeová recusaram vacinas na convicção de que assim
obedeciam à vontade de Deus.
Anos depois, o Corpo Governante toca novamente no assunto.
Embora confirmando a liberação, ele mostra reservas e diz que o uso
das vacinas é uma “contaminação do sistema humano.” É um
raciocínio estranho, pois se a vacina é, de fato, uma diminuta
contaminação, muito maior contaminação, quando não fatal, é a
doença da qual ela protege a pessoa.
A Sentinela, 1o de abril de 1962, página 223:
Questões de Vida ou Morte 169

A pergunta do leitor era se a Sociedade já havia mudado seu ponto


de vista quanto às vacinas. Ela cita A Sentinela 1/2/59 (página 131
desta obra), que libera as vacinas, dando a entender que nunca teve
outra opinião. Deixou de esclarecer ao leitor que ela condenava as
vacinas em 1931 (páginas 122 e 123). O motivo? Provavelmente para
esconder das Testemunhas mais recentes a culpa pelas mortes e
deformações resultantes da proibição que vigorou por mais de trinta
anos.
O Lamentável Caso dos Transplantes de Órgãos
Nos anos 50 e início dos anos 60 a medicina começa gradualmente a
desenvolver a técnica de transplantar órgãos de uma pessoa para outra.
Um dos primeiros pronunciamentos da Sociedade veio em A Sentinela
de 1o de fevereiro de 1962, página 96:
170 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Na revista acima, o Corpo Governante liberou os transplantes de


órgãos. Reconheceu que não havia nenhuma lei bíblica a respeito e
cada Testemunha de Jeová podia decidir por si mesma quanto a se
valer deste recurso médico.
Seis anos depois, o Corpo Governante muda de opinião e condena
os transplantes de órgãos como sendo canibalismo. Veja a Sentinela,
1o de junho de 1968, página 349:

“Sustentar a vida” é uma expressão inventada pelo Corpo


Governante. A Bíblia só fala em “comer.” A proibição iria durar doze
anos. As Testemunhas de Jeová que precisaram de um transplante de
órgão para recuperar a saúde ou sobreviver ficaram impedidas de fazê-
lo. Veja a proibição mais clara na página 350 da mesma revista:
Questões de Vida ou Morte 171

Valendo-se da repugnância que as pessoas civilizadas têm ao


canibalismo, o Corpo Governante tenta compará-lo aos transplantes,
visando impor às Testemunhas de Jeová uma proibição que a Bíblia
não declara. Alguns comentários:
“Aqueles que se submetem a tais operações vivem às custas da
carne de outro ser humano. Isso é canibalesco.” - Veja o absurdo
desse raciocínio. Simplesmente não há comparação entre canibalismo e
transplante.
“Jeová Deus não deu permissão” - Se Jeová não deu permissão,
também não proibiu! Observe também que, em nenhum momento, a
Bíblia é citada como proibindo os transplantes. Será que partiu de
Jeová a proibição dos transplantes? Mudou Ele seu conselho seis anos
depois de ter liberado os transplantes? A Palavra de Deus responde a
isso em Isaías 46:10:
Meu próprio conselho ficará de pé e farei tudo o que for do meu
agrado.
Se a linguagem não muito clara da Sentinela acima deixou alguma
dúvida de que o Corpo Governante estava, de fato, condenando os
transplantes, confira isso na Despertai! de 8 de dezembro de 1968,
página 22:
172 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Não havia nenhuma “questão bíblica envolvida”! Cita-se ainda a


opinião semelhante de um médico. Mas que peso tem, para os cristãos,
a opinião de um médico que condena o transplante, se a Bíblia nada
diz sobre o assunto?
Leia ainda a página 30 da mesma revista:
Questões de Vida ou Morte 173

“As testemunhas de Jeová se opõem” não é a afirmação mais


correta. Mais exato seria dizer “O Corpo Governante das Testemunhas
de Jeová se opõe,” porque a comunidade das Testemunhas apenas
seguia a sua autoridade dirigente. Esta decidiu que a remoção cirúrgica
de órgãos do corpo humano, com o objetivo de curar pessoas ou salvar
vidas era “uma mutilação desnecessária”! E, é bom lembrar, mais uma
vez sem apresentar qualquer apoio bíblico!
Em 1980, os transplantes são novamente liberados. Onde estava a
orientação divina quando eles foram condenados doze anos antes?
174 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 1o de setembro de 1980, página 31:

Após vários anos de proibição o Corpo Governante conclui que


“não há nenhuma ordem bíblica que proíba especificamente receber
outros tecidos humanos.” Tampouco havia ordem bíblica em 1968,
mas eles proibiram os transplantes! Leia o que diz 1 Coríntios 4:6:
Questões de Vida ou Morte 175

Não vades além das coisas que estão escritas.


Parece que os homens imperfeitos do Corpo Governante julgam-se
acima dos conselhos de Deus. Sentem-se na autoridade de impô-los a
todos os outros enquanto eles próprios não se sujeitam a eles.
Pergunta-se às Testemunhas de Jeová sinceras: foi Jeová quem
mudou de opinião ou os homens do Corpo Governante que afirmam
ser o “canal de comunicação de Deus”? A verdade é que os que
seguiram esta nefasta orientação foram seriamente prejudicados!
Pessoas sofreram danos irreversíveis à saúde e outras até perderam a
vida. Entre estes está Arvid Moody, falecido em junho de 1978, aos 68
anos, em Cambridge, Massachussetts, EUA. Sua filha, Debbie Moody
Shard relata:
“Meu pai era ancião na Congregação Hyde Park, perto de Boston.
Recusou um transplante de rim porque a organização o considerava
canibalismo. Dois anos depois, disseram que era ‘questão de
consciência.’“
Quem responde por esta culpa de sangue?
O Corpo Governante prefere não encarar seu erro. Ele publica,
periodicamente, índices de suas publicações. É interessante constatar
como ele fez referência à questão dos transplantes.
Índice das Publicações da Torre de Vigia 1960-1990, página 994:
176 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Note que entre as publicações citadas não aparece a Sentinela de 1o


de fevereiro de 1962.
Como acabamos de demonstrar, o Corpo Governante teve uma
diretriz confusa com respeito aos transplantes. Primeiro, ele os liberou
(Sentinela 1/2/62, p. 96); depois, os proibiu (Sentinela 1/6/68, pp. 349,
350; Despertai! 8/12/68, pp. 22, 30); finalmente, os liberou, de novo
(Sentinela 1/9/80, p. 31). Nos dois últimos casos não deu nenhuma
justificativa para o ponto de vista anterior; falou como se estivesse pela
primeira vez manifestando-se sobre o assunto. Como eles usam o
argumento da “luz progressiva”, quiseram talvez dar a impressão de
que passou de algo pior (a proibição) para algo melhor (a liberação),
isto é, a “luz” teria brilhado para beneficiar. Todavia, se você procurar
no Índice 1960-1990, matérias publicadas sobre transplantes (página
994), não achará nenhuma referência à Sentinela 1/2/62 (a que
primeiro liberou os transplantes). Por quê? O Corpo Governante
prefere que ninguém saiba que ele de início havia permitido os
transplantes, proibindo-os seis anos depois, para no final permiti-los.
Se muitas Testemunhas de Jeová da atualidade tomassem
conhecimento disso, como ficaria a explicação da luz “progressiva”?
Questões de Vida ou Morte 177

Acendeu, apagou e acendeu de novo? E como ficaria o mito da


orientação divina sobre o Corpo Governante?
Encobrir este fato é uma forma de desonestidade!
O Corpo Governante e as Frações de Sangue
Desde os anos 40, a Sociedade Torre de Vigia tomou posição contra as
transfusões de sangue, que, de início, eram realizadas com sangue
integral. Com o passar do tempo, a ciência médica separou o sangue
em seus vários componentes ou frações, administrando aos pacientes,
daí por diante, apenas as frações que necessitassem especificamente. A
respeito disso, a Sociedade achou por bem manifestar-se na revista
abaixo:
A Sentinela, 1o de fevereiro de 1959, páginas 95 e 96:

Assim, da situação de proibição total, ela liberou o uso das frações


derivadas do sangue para tratamento de saúde. Falando de soros e de
178 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

frações, ela diz que não se classificam na mesma categoria que beber
sangue e tomar sangue ou plasma de sangue por meio de transfusões,
“embora tenhamos feito isso no passado”. A Sociedade estava, então,
liberando o uso de frações de sangue, depois de havê-lo condenado no
passado.
Três anos depois, o Corpo Governante muda de opinião (sempre
alegando a lei divina) e volta a condenar o uso de frações de sangue.
A Sentinela, 15 de março de 1962, página 174, parágrafos 16 e 18:

“É errado suster a vida mediante... várias frações de sangue” - A


Bíblia fala em “comer o sangue.” A expressão “suster a vida” foi
invenção do Corpo Governante. Há uma grande diferença, pois “suster
a vida” (que a Bíblia não usa) envolve o uso do sangue como
medicamento.
“cita uma carta de Denys” - Acontece que a opinião deste médico
francês, Jean-Baptiste Denys, estava bem desatualizada. Ele viveu no
século 17, isto é, mais de 300 anos atrás. Chama também a atenção o
fato de que a Sociedade cita médicos quando os conceitos deles
concordam com os dela, e os menospreza, quando discordam dela.
Doze anos depois, o Corpo Governante libera novamente a
consciência de cada cristão para usar frações.
Questões de Vida ou Morte 179

A Sentinela, 15 de outubro de 1974, página 640:

“soro preparado à base duma pequena quantidade duma fração de


sangue” - Observe: o soro é preparado com sangue!
180 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Usam-se soros e antitoxinas. Estes são obtidos do sangue” -


Confirmado: o soro é obtido do sangue.
“Que dizer... do uso dum soro que contenha apenas uma fração
minúscula de sangue” - Uma fração minúscula, mas é sangue! E foi
liberado!
“Cremos que isto deve ser decidido pela consciência de cada
cristão” - A palavra “cremos” vem dos membros do Corpo
Governante. Mas quem são estes que crêem ter o direito de dizer o que
deve e o que não deve ser decidido pela consciência dos outros? Quem
lhes deu este direito? Eles não estão aqui expressando uma mera
opinião inconseqüente. Os que conhecem bem a terminologia típica da
organização sabem que aquilo que é “questão de consciência” está
liberado. Quando o Corpo Governante não emprega este termo, isto
quer dizer que, se a pessoa não seguir a regra, ela pode ser expulsa,
desassociada da organização da Torre de Vigia.
Dez meses mais tarde, as frações de sangue são novamente
condenadas pelo Corpo Governante.
Despertai!, 22 de agosto de 1975, página 29:
Questões de Vida ou Morte 181

O Corpo Governante não gosta de dizer expressamente que permite


ou proíbe algo. Teme ter problemas com as autoridades quando
questões de saúde estão envolvidas. Os que conhecem o linguajar das
publicações da Sociedade sabem que a declaração “os verdadeiros
cristãos não utilizam”, equivale a “as Testemunhas de Jeová estão
proibidas.” A impressão é que a revista está apenas informando qual é
182 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

a opinião prevalecente entre os membros da organização, quando está,


na verdade, determinando o que eles devem fazer. Quando não o
fazem, os corpos locais de anciãos, discretamente, tratam de disciplinar
ou expulsar os que não se submetem aos conceitos do Corpo
Governante.
Mais quatro anos se passam, e o Corpo Governante, final e
definitivamente, libera o uso das frações de sangue como questão de
decisão pessoal.
A Sentinela, 1o de dezembro de 1978, página 31:

“‘Alguns cristãos acham’... ‘outros, porém, sentem-se’... ‘sua


consciência lhes permite’” - Como se antes disso o Corpo Governante
viesse permitindo a cada um decidir por conta própria! Passa a
impressão de que cada Testemunha estava sendo guiada pela própria
consciência, e não pela consciência do Corpo Governante.
“Por isso, adotamos a atitude...” - O sujeito oculto aqui é o
pronome “nós”, e refere-se aos membros do Corpo Governante,
embora este não seja mencionado. Com que autoridade, e
principalmente com que base bíblica, o Corpo Governante impõe e
retira proibições, sob pena de desassociação para quem não o acatar?
No espaço de vinte anos, o Corpo Governante foi para a frente e
para trás cinco vezes, num assunto em que estavam envolvidas a saúde
e as vidas de seres humanos! Isto certamente não é evidência de
orientação divina. Não poderia jamais ter vindo de Jeová, que é um
Questões de Vida ou Morte 183

Deus de amor, tal orientação instável, insegura, causando danos a suas


criaturas. Parecem aplicar-se claramente aqui as palavras de Jesus em
Mateus 15:14:
Deixai-os. Guias cegos é o que eles são.
Esse vai-e-vem de decisões deve assemelhar-se à situação descrita
por Paulo em 1 Coríntios 14:8:
Pois, verdadeiramente, se a trombeta der um toque incerto, quem se
aprontará para a batalha?
Assim tem soado muitas vezes a trombeta da Sociedade Torre de
Vigia: um toque incerto que trouxe sérios danos aos que o acataram.
Tentativa de Encobrir
Como no caso dos transplantes, tentou-se, na medida do possível,
ocultar as evidências da orientação instável.
Índice das Publicações da Torre de Vigia 1960-1990, página 877:
184 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Neste assunto, como o vai-e-volta de opiniões foi maior, o Corpo


Governante preferiu alistar no Índice apenas as revistas em que liberou
o uso das frações de sangue. Não figuram ali A Sentinela 15/3/62,
página 174 e a Despertai! 22/8/75, página 29. Achou melhor ocultar de
seus adeptos mais recentes, que teve, no passado, uma atitude
irresponsável numa área em que vidas humanas estavam em jogo.
Mostra assim, uma postura desonesta para com seus seguidores, que
têm o direito de saber quão segura é a orientação que recebem.
Em João 10:10, Jesus disse:
“Eu vim para que tivessem vida e a tivessem em abundância.”
Para um grupo de pessoas que afirma ser o “escravo fiel e discreto”
de Jesus, parece muito estranho que suas decisões passadas nas
questões de vacinas, transplantes e frações de sangue tenham resultado
em danos e perdas às vidas das pessoas.
No que diz respeito a este histórico de decisões erradas e normas
que foram instituídas e revogadas com o passar do tempo, o que o
Corpo Governante tem feito, na realidade, é pôr em prática o velho
método científico de tentativa e erro. É o mesmo que todos nós
fazemos em nossas vidas, realizando acertos e cometendo erros.
Quando acertamos, vamos em frente; quando erramos, corrigimos e
tentamos fazer diferente, até acertar. Não se pode, porém, fazer isso
com as vidas dos outros. Ensinar opiniões próprias, revestindo-as de
uma aura divina que a Bíblia não autoriza, é errado. Se alguém,
individualmente, cria expectativa com respeito a certa data, resolve que
vai abster-se disso ou daquilo, decide se usará ou não certo recurso
médico porque sua consciência pessoal assim o determina, apenas ele
arcará com as conseqüências. Não poderá culpar a ninguém. Não é o
caso quando outros pesquisam a Bíblia por você, decidem por você e o
ameaçam de expulsão se você não acatar as consciências deles.
Ao mesmo tempo em que toma decisões pelos outros, o Corpo
Governante procura fazê-lo dando a impressão de que permite ampla
liberdade de consciência aos membros. Exemplo disso está na atitude
que adota com respeito às transfusões de sangue. Examine essas
declarações abaixo.
Questões de Vida ou Morte 185

A Sentinela, 15 de dezembro de 1994, página 19:


A Sociedade Torre de Vigia não faz recomendações nem decisões
para outros referentes a práticas de medicina ou de diagnóstico. No
entanto, quando certas práticas têm aspectos questionáveis à luz dos
princípios bíblicos, pode-se trazer isso à atenção. Cada um pode então
avaliar o que está envolvido e decidir o que fazer.
Despertai!, 22 de março de 1995, página 19, citando a declaração
de um membro que acabara de assistir a um seminário sobre o assunto,
patrocinado pela própria Sociedade:

O leitor, principalmente se não for Testemunha ou se for um recém-


convertido, pensará que os membros da organização têm ampla
liberdade nesta área, não é verdade? Será, porém, uma impressão
enganosa, pois muito antes dessas declarações, a Sociedade já
decretava na Sentinela, 1o de dezembro de 1961, página 736:
186 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Agora, reflita: pelas duas primeiras citações, tem-se a impressão de


que cada irmão chegou individual e pessoalmente à decisão de que não
poderia tomar sangue. Diz-se que não é uma resolução organizacional
(da organização) quando todos nós sabemos que é uma decisão
organizacional. Se não fosse, por que a ameaça da desassociação na
última Sentinela citada?
Conclusão: são afirmações contraditórias destinadas ao público
externo, e que nos dão muito o que pensar em face de João 8:44, que
diz que o Diabo é o pai da mentira.
Em reforço de sua autoridade sobre milhões de Testemunhas de
Jeová, o Corpo Governante se utiliza do texto de Números, capítulo 12
(rebelião de Arão e Miriam contra Moisés) para ameaçar com “lepra
espiritual” os que não concordam com seus ensinos e normas.
Ocorre que, enquanto a Bíblia deixa bem claro que Deus designou
Moisés para liderar o povo israelita, não há nela menção alguma a um
“corpo governante”, nem nos séculos passados nem no atual,
autorizado a tomar pelos outros decisões doutrinárias e sobre questões
de vida e morte. Nem o corpo de apóstolos e anciãos de Jerusalém no
primeiro século recebeu esta denominação. Os apóstolos foram
designados pelo próprio Jesus, mas o Corpo Governante de Brooklyn
não pode alegar o mesmo. Os que, todavia, não concordam com essa
arrogância, são expulsos e maldosamente chamados de apóstatas,
como se fossem rebeldes contra Deus.
Como pode uma Testemunha de Jeová da atualidade, tomando
conhecimento de tudo isso, ter certeza das várias orientações que
recebe da Sociedade Torre de Vigia?
Capítulo 8

Como o Corpo Governante


Confunde as Pessoas

Para qualquer organização religiosa autoritária, que se apresente


como representante especial de Deus, a convivência com os próprios
erros e fracassos é sempre difícil, requerendo explicações absurdas e
pouco convincentes. Vimos, nos capítulos anteriores, que a Sociedade
formulou e reformulou ensinos e normas, criou e revogou regras.
Como conciliar isso com a afirmação de que Deus dirige a
administração desta organização?
Vejamos alguns exemplos.
A Sentinela, 1o de agosto de 1982, página 27:

187
188 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“a alguns talvez tem parecido...” - Tem “parecido” ou tem sido?


“ajustes que aparentemente voltam a pontos de vista anteriores” -
Aparentemente? Não houve nada de “aparente” no caso dos
transplantes, frações de sangue, “autoridades superiores” e a
ressurreição dos mortos de Sodoma! Em todos estes casos houve
realmente uma volta a pontos de vista anteriores. As provas tiradas de
todas as publicações aqui exibidas mostram que esta certamente não é
uma explicação honesta!
O traçado que descreve a trajetória da Sociedade Torre de Vigia não
é o mostrado acima, mas este:

Mais uma vez, apresentamos o livro Poderá Viver Para Sempre no


Paraíso na Terra, página 32:
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 189

“Não pode haver duas verdades” - Não pode haver duas verdades,
uma verdade “passada” e uma verdade “atual”. Se os ensinos atuais do
Corpo Governante acerca de todos os assuntos aqui abordados são
verdadeiros, a conclusão lógica é que, no passado, ele transmitiu
ensinos falsos, tal como as religiões da cristandade que ele tanto
condena. Deu abundante evidência de que não é dirigido por Jeová.
Tampouco se pode hoje ter certeza de que certos ensinos em vigor são
verdadeiros, quando lhes faltar pleno apoio bíblico.
“Qual deve ser sua reação caso se lhe apresente prova de que
aquilo em que crê é errado?” - Bem, a principal crença errada das
Testemunhas de Jeová é que o Corpo Governante é dirigido por Deus.
As “testemunhas ungidas” que o compõem fizeram profecias que não
se cumpriram. O que dizer da mudança da Sociedade quanto à
interpretação “bíblica” sobre ‘o Rei do Norte e o Rei do Sul’
(Abundantemente usada em várias publicações dos anos 50 a 80 e
agora apenas levemente pincelada no novo livro Preste Atenção à
Profecia de Daniel, de 1999) e, portanto, no momento “engavetada”
após a morte de seu autor, Frederick Franz? Será alguma vez
desengavetada? É possível? A guerra fria entre o Rei do Norte (Rússia)
e o Rei do Sul (potência mundial dupla anglo-americana) acabou.
Acabou-se com ela também a interpretação da Sociedade?
Todas as questões deixam a dúvida de que algo que é “verdade
atual” pode ser mudado: será que Cristo foi empossado em 1914? Já se
realizaram mesmo todas estas profecias ou uma “nova luz” dirá no
futuro que não foi assim? As Testemunhas saem para pregar de casa
em casa, mas podem elas ter certeza de que tudo o que estão pregando
será verdade daqui a dez anos? Deveriam mesmo pregar que o Reino
de Deus foi estabelecido no céu em 1914? O que ocorreu nos céus
“invisíveis” é mais difícil ou mais fácil de ser provado para as pessoas?
No que se relaciona com as questões de saúde, é justo que pessoas
sejam dramaticamente afetadas e que apenas lhes digam que devem
“esperar em Jeová, que no tempo devido Ele consertará tudo,” como se
Ele fosse o próprio Orientador de tal vai-e-vem de erros em questões
tão sérias que envolveram a saúde e as vidas dos irmãos?
Se o erro foi de homens imperfeitos e falíveis, como puderam esses
antigos ensinos e orientações ser passados adiante como coisa oriunda
190 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

do próprio Deus? Por que os irmãos foram exortados a aceitá-los sem


questionar e a levar suas vidas segundo esses ensinos, enquanto se lhes
dizia que eram de Deus, ao invés do que realmente eram, ensinos de
homens que o tempo mostrou estarem errados? (Salmos 146:3; Isaías
46:10)
É verdade que os cristãos podem sofrer provações para manter sua
integridade a Deus nas coisas que ele realmente determina (Daniel
3:16-18; Atos 5:29), mas não com relação a normas inventadas por
homens. (Mateus 15:9)
Também é natural que seres humanos errem. Contudo, não há um
grande vitupério ao nome de Deus quando um grupo de pessoas, que
erram notoriamente, vez após vez, ainda assim afirmem estar sob
“orientação divina” ou “direção teocrática”? Não é um vitupério ao
nome de Deus que estes pressionem co-associados a aceitar seus
ensinos e orientações sob intimidação e pena de expulsão caso
discordem de tais?
A conclusão é inevitável: ninguém deveria se sentir obrigado a
seguir tais ensinos e normas falhas que, por si mesmas, provaram que
não são de origem divina, mas de autoria humana. No entanto, o Corpo
Governante não admite ser questionado.
O Corpo Governante se Auto-recomenda
A Sentinela, novembro de 1952 (nessa época, a edição em português
era mensal), página 164:
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 191
192 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“um servo hodierno tem de procurar a organização visível de Deus


a fim de obter alimento espiritual” - Onde a Bíblia diz isso? E como
Charles Russell, no século 19, obteve alimento espiritual sem essa
“organização visível”, que não existia na época em que ele começou
suas pesquisas?
“Fomos nós [as Testemunhas em geral] designados
individualmente... Não?” - E quem designou os membros individuais
do Corpo Governante?
“Devemos comer, digerir e assimilar o que se coloca diante de nós
sem rejeitar certas partes do alimento...” - Exemplo de presunção. O
Corpo Governante exige que se aceite tudo que ele ensina!
“Jeová e Cristo dirigem e corrigem o escravo conforme a
necessidade, não nós como indivíduos.” - Só Jeová e Cristo corrigem o
Corpo Governante, seres humanos, não. Logo, seus membros devem
estar acima do resto da humanidade.
“assumindo a posição presunçosa de que... provavelmente
tenhamos mais razão do que o escravo discreto.” - O Corpo
Governante (composto de homens imperfeitos iguais a todos nós)
considera presunção que alguém queira saber mais do que ele. Ora, não
é também presunção que estes homens achem que ninguém sabe mais
do que eles?
“As pessoas teocráticas... não serão tão insensatas que oporão ao
canal de Jeová seu próprio arrazoamento humano e sentimentos
pessoais.” - O “canal de Jeová”, no caso, é o Corpo Governante. E
quantas vezes os “arrazoamentos humanos” e os “sentimentos
pessoais” dos membros do Corpo determinaram suas decisões, tanto
que depois tiveram de ser mudadas?
Não pára aí a presunção do Corpo Governante. Ele não gosta que as
Testemunhas de Jeová confiram seus ensinamentos pelas Escrituras,
para certificar-se de que eles têm apoio bíblico.
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 193

A Sentinela, 15 de agosto de 1981, página 19:

Comentários dos trechos sublinhados:


“em parte alguma lemos que esses irmãos examinavam com
cepticismo as Escrituras para certificar-se de que essas cartas tinham
apoio bíblico” - As cartas dos discípulos de Jesus eram inspiradas. A
Sociedade quer que seus escritos (A Sentinela, Despertai!, Ministério
do Reino, livros e cartas não sejam conferidos, mas sejam considerados
como iguais às cartas dos discípulos designados por Jesus e inspirados
pelo espírito santo! Levando em conta os inúmeros e sérios erros já
cometidos pelo Corpo Governante, não é isso alta presunção?
194 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Jeová certamente não se agradará se recebermos este alimento


como se pudesse conter algo prejudicial. - Apesar de seus vários e
graves erros, o Corpo Governante continua a presumir que Jeová lhe
dá apoio. O caso das vacinas, transplantes de órgãos e frações de
sangue comprovam que “este alimento” foi deveras prejudicial!
“Devemos ter confiança no instrumento que Deus usa.” - Não há
evidência de que Deus usa este instrumento.
“os irmãos que preparam essas publicações não são infalíveis. Seus
escritos não são inspirados.” - Se não são infalíveis nem inspirados,
por que devem ser aceitos com a mesma confiança que os inspirados?
Todo ensino que se recebe tem de ser conferido, segundo a Bíblia. (1
João 4:1 e 1 Tessalonicenses 5:21.)
“isto tem resultado no constante refinamento do conjunto de
verdades” - Constante refinamento? Não foi o caso do entendimento
sobre os transplantes, as frações de sangue, as autoridades superiores e
a ressurreição dos de Sodoma, que foram estabelecidos, revogados e
restabelecidos.
“Para quem havemos de ir?” - Veja a resposta completa de Pedro
àquela pergunta de Jesus:
“Senhor, para quem havemos de ir? Tu tens declarações de vida
eterna.”
Não se mencionou nenhuma organização humana, corpo governante
humano ou agrupamento humano. O Corpo Governante omite parte do
texto bíblico para que o leitor o aplique ao “escravo fiel e discreto,”
que ele entende ser ele mesmo. Quem tinha declarações de vida eterna
era o próprio Jesus.
Indiferente aos próprios erros, o Corpo Governante enaltece a si
mesmo em A Sentinela de 15 de março de 1978, página 15, parágrafo
15:
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 195

A modéstia parece estar em falta nesta declaração. Fariam bem os


homens imperfeitos do Corpo Governante em recordar as passagens
bíblicas:
Não te tornes sábio aos teus próprios olhos. - Provérbios 3:7.
Louve-te o estranho e não a tua própria boca; faça-o o estrangeiro e
não os teus próprios lábios. - Provérbios 27:2.
Digo a cada um aí entre vós que não pense mais de si mesmo do
que é necessário pensar. - Romanos 12:3.
A Sentinela, 15 de julho de 1983, página 27:
196 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Lute contra idéias independentes” - O Corpo Governante condena


idéias independentes. No entanto, ninguém agiu de modo mais
independente de Deus do que o próprio Corpo Governante: datas para
o fim do sistema mundial de coisas, a geração de 1914, proibições que
Deus não determinou e outros. Tudo isso sem a aprovação de Deus!
Que independência e prepotência podem ser maiores? O cântico
número 8 do cancioneiro das Testemunhas de Jeová diz em seu refrão:
Independência e prepotência
Más qualidades são.
Obediência, sem imponência,
É o proceder cristão.
Ao que parece, os membros do Corpo Governante não se guiam
pela norma deste “proceder cristão”, sujeitando-se totalmente a Deus,
por meio de Sua Palavra, a Bíblia. A idéia é que são os milhões de
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 197

membros da organização que não devem mostrar independência em


relação às diretrizes que recebem da Sociedade, mas esta se mostra
independente de Deus.
“Estas são idéias independentes. Por que são tão perigosas?” - As
idéias independentes são perigosas mesmo, mas para o domínio que o
Corpo Governante exerce sobre as mentes das pessoas. Quando
procuram pensar por si mesmas, elas logo concluem que muito do que
a Sociedade ensina não passa de idéias de homens, e como tal, tem de
ser mudado de tempos em tempos. O conselho de Jeová, porém, ficará
de pé. (Isaías 46:10)
“Podemos realmente passar sem a orientação da organização de
Deus? Não, não podemos!” - A “organização de Deus” aqui
mencionada nada mais é que o Corpo Governante. Os cerca de seis
milhões de publicadores, inclusive anciãos congregacionais,
superintendentes viajantes e superintendentes de filial não têm nenhum
poder de decisão. Os poucos milhares de “ungidos”, espalhados ao
redor da Terra e supostamente membros do “escravo fiel” tampouco
decidem coisa alguma e nem são consultados quanto às decisões. Os
únicos que realmente decidem tudo são os 13 membros do Corpo
Governante. Portanto, quando se diz “a Sociedade” ou “a organização”
se está referindo, de fato, ao Corpo Governante, um grupo de homens
falíveis e imperfeitos, com um passado de erros proféticos e normas
não-bíblicas prejudiciais. Podemos passar sem essa orientação de
“guias cegos”? “Deixai-os.” (Mateus 15:14)
A Questão da “Nova Luz”
A Sociedade Torre de Vigia utiliza um provérbio bíblico,
transformando-o praticamente em doutrina oficial, doutrina essa que
pretende justificar sua instabilidade de ensinos. Um provérbio é apenas
uma ilustração que representa verdades. Leia-o:
A vereda dos justos é como a luz clara que clareia mais e mais até o
dia estar firmemente estabelecido. - Provérbios 4:18.
Parece isto uma autorização divina para que um pequeno grupo de
homens tome e reverta decisões que afetam as vidas de outros? O texto
fala na “vereda dos justos”. Os “justos” serão porventura os homens do
Corpo Governante? Ou todos aqueles que, em todos os lugares e em
todas as épocas praticam a justiça de Deus? (Atos 10:34) Estes justos
198 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

(todos eles) obtêm maior “luz” ou esclarecimento à medida que o


tempo passa e continuam a apegar-se à Palavra de Deus! (Salmo
119:105)
Aliás, as mudanças de entendimento feitas pela Sociedade Torre de
Vigia no século vinte não se ajustam à descrição lógica e razoável de
uma “nova luz” feita por seu fundador, Charles Taze Russell, há mais
de cem anos:
A Torre de Vigia de Sião (em inglês, antigo nome de A Sentinela),
fevereiro de 1881, página 3:
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 199
200 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Tradução do trecho sublinhado:


Se estivéssemos seguindo um homem, as coisas, sem dúvida, seriam
diferentes conosco; uma idéia humana iria, sem dúvida, contradizer
outra, e aquilo que era luz há um, dois ou seis anos, seria agora
considerado como escuridão: Com Deus, porém, não existe tal
variação, nem virada da sombra, e assim é com a verdade; qualquer
conhecimento ou luz vindos de Deus devem ser iguais a seu autor.
Uma nova visão da verdade jamais pode contradizer uma verdade
anterior. Uma “nova luz” jamais pode contradizer uma “luz” mais
antiga, mas acrescenta-se a ela. Se você estivesse iluminando uma casa
que dispõe de sete bicos de gás, você não apagaria um deles toda vez
que acendesse outro, mas acrescentaria uma luz à outra, estas estariam
em harmonia e, deste modo, proveriam um aumento da luz: Assim é
com a luz da verdade; o verdadeiro aumento ocorre por acrescentar-se
luz, não por substituir uma por outra.
Esta é uma explicação totalmente lógica. Mas foi isso que
aconteceu no caso da geração de 1914, da parábola das ovelhas e dos
cabritos, das autoridades superiores e do serviço alternativo, só para
citar alguns exemplos?
Para o Corpo Governante, os “justos” são os que aceitam qualquer
“nova verdade” proveniente dele, mesmo que não seja bíblica.
A Sentinela, 15 de agosto de 1984, páginas 23 e 24:

“Alguns, porém, ficam perturbados com tais refinamentos.” -


Alguns, porém, não conseguem aceitar ensinos sem base bíblica, como
este da “nova luz”, e passam a questionar a autoridade do Corpo
Como o Corpo Governante Confunde as Pessoas 201

Governante. Por meio de artigos como o acima, a Sociedade intimida


os que duvidam dela. A implicação é que os que “ficam perturbados”
não estão entre os “justos” que “tomam tempo para assimilar” (engolir)
as novas “verdades” de origem humana.
“em vez de concluírem precipitadamente que o ‘escravo fiel’
errou.” - Veja como muita coisa pode ser dita por meio de poucas
palavras. Os homens do Corpo Governante sabem que são imperfeitos
e falíveis, e que podem errar, e não dizem que estão livres de errar.
Mas não querem que ninguém “conclua precipitadamente” que o
Corpo Governante errou. Quer passar ao leitor, mesmo sem dizê-lo
diretamente, que o “escravo fiel” (na verdade, ele próprio) não erra. O
leitor é levado a achar que, se concluir que a Sociedade errou, ele está
sendo precipitado, e ao mesmo tempo, que ele não é dos “justos” que
se esforçam para “assimilar” os novos ensinos. Eis aí um exemplo
clássico de escrever nas entrelinhas, dizendo algo sem dizer
expressamente.
Todos os exemplos citados neste capítulo comprovam que, no que
diz respeito a tentar controlar a mente, direcionar o raciocínio e
bloquear a visão dos adeptos para que não se apercebam dos erros, a
organização da Torre de Vigia desenvolveu formidável habilidade.
Capítulo 9

Desassociação –
Como a Bíblia Determina?

O Corpo Governante determina que sejam desassociados


(excomungados) todos aqueles que não concordam com todos os
ensinos que ele promulga. Será que este tipo de desassociação tem
base bíblica?
O principal texto usado pela Sociedade ao justificar a medida da
desassociação é o de 1 Coríntios 5:11:
Mas, eu vos escrevo agora para que cesseis de ter convivência com
qualquer que se chame irmão, que for fornicador, ou ganancioso, ou
idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo
com tal homem.
Que tipo de pessoa é esta? O próprio versículo 13 deste mesmo
capítulo define o praticante de todas estas coisas:
“Removei o [homem] iníquo de entre vós.”
Mesmo que o termo “desassociação” não apareça na Bíblia, a idéia
e o princípio estão, sem dúvida, presentes por meio da palavra
“removei”. Mas a quem se aplica este texto?
Ao iníquo, isto é, a pessoa que, de modo contumaz, pratica
quaisquer das transgressões acima alistadas, ao ponto de ser
corretamente chamada de fornicador, idólatra, beberrão e assim por
diante.
Este é o tipo de pessoa de quem Paulo disse que se deveria
“remover” dentre os cristãos. Tal pessoa poderia ser como o “fermento
que leveda a massa toda”. (Gálatas 5:9) Mesmo em relação a estes,
porém, o que significa exatamente este texto?

202
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 203

O Que a Bíblia Diz Sobre Não Cumprimentar Alguém?


Se examinar a página 1318 da Tradução do Novo Mundo com
Referências (1986), observará na nota de rodapé que “cesseis de ter
convivência” corresponde à palavra grega mesynanamígyn·sthai, que
significa literalmente “não vos mistureis com”.
11
Mas, eu vos escrevo agora para que cesseis de ter
convivência com qualquer que se chame irmão, que for
fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou
beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem.
_________________________________________________________________________________

1Co 5:11* Lit.:”não vos mistureis com”. Gr.: me


sy·na·na·mí·gny·sthai; lat.: non com·mí·sce·ri.
Em A Sentinela de 15 de dezembro de 1981, página 21, parágrafo
23, a Sociedade condena que se dê um simples “oi” a uma pessoa
desassociada. Esta é, no entanto, uma instrução humana, que vai além
do que diz o texto de 1 Coríntios 5:11.

Observe ainda que 1 Coríntios 5:11 não fala de pessoas que lêem e
acatam a Bíblia, raciocinam com ela, vivem segundo seus padrões de
moral. O texto não se refere a pessoas que, usando a Bíblia, discordam
de ensinos que a mesma, de fato, não traz.
Será que este texto incluiria não cumprimentar a pessoa? Para
entender este ponto, leia 2 Tessalonicenses 3: 14, 15:
Mas, se alguém não for obediente à nossa palavra por intermédio
desta carta, tomai nota de tal, parai de associar-vos com ele, para que
fique envergonhado. Contudo, não o considereis como inimigo, mas
continuai a admoestá-lo como irmão.
204 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O contexto indica, e o próprio Corpo Governante reconhece, que


aqui não se está falando de pessoas “removidas” (ou desassociadas)
dentre os cristãos; essas deveriam ser admoestadas como irmãos.
É digno de nota que, tanto em 1 Coríntios 5:11 como em 2
Tessalonicenses 3:14, a palavra grega utilizada seja a mesma,
mesynanamígynsthai. Isto pode ser conferido numa publicação da
própria Sociedade, a Tradução Interlinear do Reino das Escrituras
Gregas (em inglês), páginas 743 e 910. A Sociedade, no entanto,
traduziu esta mesma palavra grega de dois modos ligeiramente
diferentes: em 2 Coríntios 5:11 é “cesseis de ter convivência com”; em
2 Tessalonicenses 3:14 é “parai de associar-vos com”. Mesmo que
você não entenda inglês, poderá examinar as páginas 1318 e 1366
(Tradução do Novo Mundo com Referências, 1986), nas notas de
rodapé referentes a 1 Coríntios 5:11 e 2 Tessalonicenses 3:14.
Compare as duas e verá que a tradução literal de ambas é “não vos
mistureis com”.
1 Coríntios 5:11
11
Mas, eu vos escrevo agora para que cesseis de ter
convivência com qualquer que se chame irmão, que for
fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou
beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem.
_________________________________________________________________________________

1Co 5:11* Lit.:”não vos mistureis com”. Gr.: me


sy·na·na·mí·gny·sthai; lat.: non com·mí·sce·ri.
2 Tessalonicenses 3:14, 15
14
Mas, se alguém não for obediente à nossa palavra por
intermédio desta carta, tomai nota de tal, parai de associar-vos
com ele, para que fique envergonhado. 15 Contudo, não o
considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como
irmão.
_________________________________________________________________________________

2Te 3:14* Lit.: “ponde sinal neste”. 14# Lit.: “não vos
mistureis com”.
Portanto, o que a Bíblia diz é que o tratamento dispensado tanto aos
“removidos” (desassociados) por conduta imprópria, como aos
“anotados” é o de “não se misturar com eles”, isto é, não ter com eles
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 205

intimidade, companheirismo, convivência. O tratamento,


conseqüentemente, é o mesmo! Tanto num caso como no outro não se
fala em não dirigir a palavra à pessoa, não cumprimentá-la. Isto,
naturalmente, não corresponde ao entendimento ou interpretação do
Corpo Governante, mas é tão-somente o que está escrito na Bíblia, e 1
Coríntios 4:6 diz:
Não vades além das coisas que estão escritas.
O outro texto básico em que o Corpo Governante se apóia na
questão da desassociação é 2 João 10, 11, que diz:
Se alguém se chegar a vós e não trouxer este ensino, nunca o
recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis. Pois, quem o
cumprimenta é partícipe das suas obras iníquas.
O texto é bem claro e nós devemos aceitá-lo. Não se deve receber
em casa e nem cumprimentar os que não trouxerem “este ensino”. Que
ensino é este?
O versículo 9, anterior, esclarece:
Todo aquele que se adianta e não permanece no ensino do Cristo
não tem Deus. Quem permanece neste ensino é quem tem tanto o Pai
como o Filho.
O versículo 7 é ainda mais específico, dizendo:
Pois, muitos enganadores saíram pelo mundo afora, pessoas que
não confessam Jesus Cristo vindo na carne. Este é o enganador e o
anticristo.
Este é o anticristo, alguém que é contra Cristo, uma categoria de
pessoas, pessoas que não aceitam Jesus como o Messias, que ele veio
na carne. Jesus é o Messias, o Filho de Deus, vindo na carne. Isto é que
é, definido pela própria Bíblia, o “ensino do Cristo”. Aquele que “não
trouxer este ensino” está na categoria de anticristo. Este é que não deve
ser recebido nos lares dos cristãos e nem ser cumprimentado por eles.
O Que é e o Que Não é o Ensino do Cristo
Podemos até estender-nos mais um pouco acerca do “ensino do
Cristo”, recordando algumas coisas que o próprio Jesus declarou:
“Continuai a amar os vossos inimigos e a orar pelos que vos
perseguem.” - Mateus 5:44.
206 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai


senão por mim.” - João 14:6.
“Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.” - Lucas
23:43.
“Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os
que estão nos túmulos memoriais ouvirão a sua voz e sairão, os que
fizeram boas coisas, para uma ressurreição de vida, os que praticaram
coisas ruins, para uma ressurreição de julgamento.” - João 5:28, 29.
“A menos que comais a carne do Filho do homem e bebais o seu
sangue, não tendes vida em vós mesmos.” - João 6:53.
“O Pai é maior do que eu.” - João 14:28.
Todas estas foram coisas ensinadas por Cristo. Poderiam, portanto,
apropriadamente ser chamadas de ensinos do Cristo.
Aquele que viesse a negar quaisquer destas verdades bíblicas
básicas, relacionadas com Cristo, deveria, sem dúvida, receber o
tratamento decretado em 2 João 10, 11.
Agora, imagine que, em diversas partes da Bíblia, Jesus tivesse
ensinado as seguintes coisas:
“Prestai atenção ao fim dos 7 Tempos dos Gentios, pois então serão
destruídos os reinos da Terra e sereis transferidos para o céu. Neste
mesmo ano serei entronizado nos céus.”
“Pouco depois disso [1918], iniciar-se-á a ressurreição invisível de
muitos de vós.”
“Mais um pouco [1919], e após inspecionar todas as religiões da
cristandade, designarei os membros da Sociedade Torre de Vigia como
meu Escravo Fiel e Discreto.”
“Ficai atentos, alguns anos depois destas coisas, ao cumprimento
maior dos jubileus que existiam sob a Lei de Moisés; ao se cumprirem
[1925], ocorrerá a ressurreição terrestre de fiéis servos de Deus do
passado, como Abraão, Josué e Davi.”
“Ao se concluírem 6.000 anos da criação do homem [1975],
começará o Reinado Milenar.”
“Antes de extinguir-se a geração que testemunhar o fim dos
Tempos dos Gentios [em 1914] virá o fim do sistema de coisas.”
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 207

“Comei e bebei, todos vós, mas só se fordes dos 144.000, apesar de


eu ter dito [João 6:53]: ‘A menos que comais a carne do Filho do
homem e bebais o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.’”
“Sede obedientes a um Corpo Governante que tomará a dianteira
entre vós daqui a 19 séculos, mesmo que ensinem coisas que não estão
nas Escrituras. Os erros deste Corpo, mesmo que resultem em falsas
profecias e perda de vidas [antigas proibições de vacinas e
transplantes] serão perdoados, mas vós, se não o obedecerdes, não
tereis perdão.”
É claro que Jesus nunca ensinou nenhuma das coisas mencionadas
acima. Uma boa parte delas, todavia, já foi ensinada como verdade
pela Sociedade e depois foram revogadas. Outras são ensinadas até o
dia de hoje. Essas nunca fizeram parte do “ensino do Cristo”, e no
entanto, foram trazidas aos lares de milhões de pessoas. O que é
mesmo que está escrito em 2 João 10, 11?
“...nunca o recebais nos vossos lares.”
Em tempos recentes, em vários países, pessoas foram desassociadas
única e exclusivamente por terem discordado de ensinos como esses.
Apesar de nunca terem deixado de crer em Jesus como Messias, de
nunca terem negado sua vinda em carne e sua morte sacrificial e nem
os ensinos que ele claramente deixou, passaram a ser tratadas como o
“anticristo” de 2 João 7. Embora não tivessem abandonado o “ensino
do Cristo” passaram a ser rejeitadas como pessoas a quem não se devia
cumprimentar. Tampouco praticaram a iniqüidade mencionada em 1
Coríntios 5:11, e assim mesmo foram consideradas como pessoas
iníquas, indignas da associação cristã e merecedoras da destruição.
A pessoa que, de modo franco, analisar estes textos bíblicos só pelo
que eles dizem, à parte de interpretações humanas passíveis de erro e
de correções, perceberá claramente a sua aplicação distorcida pelo
Corpo Governante.
Mais Textos Bíblicos a Considerar
Seguem algumas passagens das Escrituras que a Sociedade Torre de
Vigia costuma empregar para justificar seus conceitos quanto aos que
questionam seus ensinos.
Atos 20:30:
208 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Dentre vós mesmos surgirão homens e falarão coisas deturpadas,


para atrair a si os discípulos.
As “coisas deturpadas” aqui mencionadas têm de ser deturpadas em
relação ao que a Palavra de Deus diz, deturpações do verdadeiro
ensino bíblico, e não de doutrinas humanas.
Romanos 16:17, 18:
Exorto-vos agora, irmãos, que fiqueis de olho nos que causam
divisões e motivos para tropeço contra o ensino que aprendestes, e que
os eviteis.
Paulo escreveu esta carta por volta de 56 da Era Cristã, e ela foi
dirigida originalmente aos membros de uma congregação cristã
daquela época. Não foi escrita no século 21, e nem especificamente ao
grupo religioso “Testemunhas de Jeová”. Portanto, quando Paulo
exortou os cristãos do primeiro século a ficarem de olho nos que
causavam motivos para tropeço contra o ensino que tinham aprendido,
a que ensino se referia ele?
Não poderia ser, por exemplo, o ensino de que o reino de Cristo se
estabeleceria nos céus em 1914, pois esta data não é ensinada na
Bíblia, e seguramente não fazia parte do ensino que os cristãos do
primeiro século haviam recebido dos apóstolos. Referia-se ao ensino
declarado nas Escrituras, não aos ensinos futuros de uma determinada
organização religiosa, e após o primeiro século não mais houve
escritos divinamente inspirados. É comparável a católicos atuais
questionarem o culto a Maria na cidade de Fátima, em Portugal,
instituído após 1917 pela Igreja Católica, e esta se justificasse
empregando o texto acima.
Tito 3:10:
Quanto ao homem que promove uma seita, rejeita-o depois da
primeira e da segunda admoestação.
Novamente, para promover uma seita, é preciso que se propale um
ensino divergente do verdadeiro cristianismo, que só pode ser
encontrado na Bíblia. Questionar algo que carece de apoio nas
Escrituras não é “promover uma seita”, ainda mais quando não se tem
a intenção de criar um novo grupo religioso.
Hebreus 13:17:
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 209

Sede obedientes aos que tomam a dianteira entre vós e sede


submissos.
A Sociedade usa este texto como que requerendo a obediência não
apenas aos anciãos congregacionais e aos superintendentes viajantes
como também ao próprio Corpo Governante em Brooklyn, no que quer
que eles ensinem. Naturalmente que os cristãos estão sob obrigação
bíblica de obedecer aos seus pastores. Mas não é menos bíblico dizer
que esta obediência é relativa. O que deve alguém fazer quando, em
qualquer organização religiosa, os da dianteira (padres, pastores ou
anciãos) tentam lhe impor algo que não tem apoio na Bíblia? A
resposta está em Atos 5:29:
Temos de obedecer a Deus como governante antes que aos homens.
O Caso de Himeneu e Fileto
Mas esquiva-te dos falatórios vãos que violam o que é santo; porque
passarão a impiedade cada vez maior e a palavra deles se espalhará
como gangrena. Himeneu e Fileto são desses. — 2 Timóteo 2:16,17.
O texto acima tem sido bastante citado pela organização, ao
condenar os que contestam seus ensinos. Ela tem rotulado de
“apóstatas” os que a deixam por não mais concordarem com as
doutrinas e normas oriundas do Corpo Governante. Atribui aos que
discordam dela os “falatórios vãos que violam o que é santo”, para
justificar sua atitude de pô-los no ostracismo. Ao invés de dar razão à
Sociedade, porém, esta passagem é um claro exemplo bíblico do que
corretamente pode se chamar de apostasia.
Himeneu e Fileto eram evidentemente culpados de apostasia na
primitiva congregação cristã. Em que consistia tal apostasia?
Responde-nos 2 Timóteo 2:18, em continuação do texto anterior:
Estes mesmos se desviaram da verdade, dizendo que a
ressurreição já ocorreu, e estão subvertendo a fé de alguns.
Aí está. Esses dois homens que haviam sido membros da
congregação cristã do primeiro século estavam desviados da verdade
de Deus, dos ensinos que os apóstolos escreveram e transmitiram sob
inspiração divina. Ao dizerem que já ocorrera algo que ainda estava
para ocorrer no futuro (a ressurreição), eles apostataram, e além disso,
210 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

desviaram outros do verdadeiro cristianismo, pois a Bíblia diz que


“subverteram a fé de alguns”.
Em A Sentinela de 15 de julho de 1985, páginas 31 e 32, a
Sociedade considera o texto de 2 João 10. Um leitor pergunta se ele se
aplica apenas aos que promovem doutrinas falsas. A análise da
Sociedade procura confundir o leitor, primeiramente fazendo uma
conexão com 1 Coríntios 5:11 (que como já vimos, trata de questões de
conduta imprópria); depois faz outra conexão para Revelação 21:8
(que já trata dos pecados que merecem a segunda morte), e finalmente
vai para 1 João 2:18, 19, que fala dos que “saíram do nosso meio, mas
não eram dos nossos; pois se tivessem sido dos nossos teriam
permanecido conosco”. Ora, este último texto também se refere
claramente ao anticristo (versículos 18 e 22), “aquele que nega o Pai e
o Filho”!
O artigo fala ainda dos que “repudiam a congregação de Deus”,
fazendo-o por “renunciar à sua fé” e por se “dissociarem”. Diz:
Tais pessoas que voluntariamente abandonam a congregação cristã
tornam-se, desta forma, parte do ‘anticristo’.
Lembramos, mais uma vez, que a aplicação do termo “apóstatas”
aos que rejeitam os ensinos desta (ou de qualquer outra) organização
religiosa, precisa ajustar-se ao requisito de que os ensinos rejeitados
sejam, de fato, bíblicos, sejam verdades definitivas e inquestionáveis.
Rejeitar ensinos de origem humana não é apostasia.
Para exemplificar: Charles Russell, Joseph Rutherford, Nathan
Knorr e Frederick Franz (os quatro primeiros presidentes da Torre de
Vigia) receberam sua formação religiosa respectivamente das igrejas
Presbiteriana, Batista, Reformada e Presbiteriana (Proclamadores,
páginas 42, 67, 91 e 111). Todos estes abandonaram suas anteriores
organizações religiosas, rejeitando assim alguns dos ensinos delas que
eles consideravam não terem fundamento bíblico, tais como a trindade
e a imortalidade da alma. Poderiam eles ter sido classificados como
apóstatas pelas igrejas das quais saíram? Biblicamente, não! Poderiam
essas igrejas corretamente tê-los designado como “anticristo”, pelo fato
de eles terem abandonado aquilo que, até então, tinham considerado
como a verdadeira igreja (ou congregação) cristã? Não, pois todos eles
continuaram a crer em Deus e em Jesus como Messias, não é verdade?
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 211

Do mesmo modo, não é por alguma coisa ser ensinada pelo Corpo
Governante das Testemunhas de Jeová que ela se torna,
automaticamente, uma verdade bíblica. As crenças de qualquer
organização que se considere cristã deveriam estar, de modo cristalino,
em harmonia com a Palavra de Deus, nada lhe acrescentando ou
retirando. A Bíblia, esta sim, deveria ser a única fonte de verdade
indiscutível. A Sociedade Torre de Vigia se jacta de ser a única
religião que segue totalmente a Bíblia, enquanto acusa os membros das
demais religiões da cristandade de serem “seguidores de homens”.
Observemos, então, a respeito disso, algumas declarações feitas em
publicações da Sociedade:
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 106:

Esta declaração foi feita na época da 1ª Guerra Mundial e, como se


pode ver, não era exatamente a Bíblia que delineava as crenças dos
membros da organização, mas a “Bíblia conforme explicada por
Charles Taze Russell.” Poderíamos perfeitamente substituir aqui a
palavra “explicada” por “interpretada”, interpretada por um homem.
O tratado Notícias do Reino número 1, citado em Testemunhas de
Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, página 69, último parágrafo,
diz:
“Intolerância Religiosa — Perseguidos os Seguidores do Pastor
Russell por Falarem a Verdade ao Povo.”
212 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A expressão “seguidores do Pastor Russell” foi utilizada numa


publicação da própria Sociedade, citada em outro livro da própria
Sociedade: os membros da organização eram seguidores do Pastor
Russell.
Em A Sentinela de 1o de abril de 1986, página 31, encontramos uma
idéia semelhante, embora expressa com maior sutileza:

Segundo um dicionário de Aurélio Buarque, a palavra “singular”


quer dizer “pertencente só a um”, “distintiva”, “privativa”.
Mais uma vez, não bastou declarar que os ensinos bíblicos eram
suficientes, mas que é preciso aceitar as crenças privativas das
Testemunhas de Jeová, suas crenças “singulares”, e estas se originam
de interpretações do Corpo Governante.
Quais são, então, essas crenças singulares das Testemunhas de
Jeová?
Não é a rejeição da Trindade, pois os cristadelfianos e os unitários
também não a aceitam. Também não é a descrença na alma imortal e
no inferno de fogo, pois os adventistas também não acreditam nisso;
tampouco é a crença num vindouro paraíso terrestre, já que igrejas até
mais antigas do que a Torre de Vigia (como os cristadelfos) também
têm essa esperança. (A Sentinela, 15 de janeiro de 1963, página 57)
A revista já citada (Sentinela 1/4/86, p. 31) dá exemplos destas
“crenças singulares”, e entre essas estão a existência de um Corpo
Governante (termo inexistente na Bíblia), representante do “escravo
fiel e discreto”; que 1914 marcou o fim dos Tempos dos Gentios, o
estabelecimento do reino de Deus nos céus e a presença invisível de
Jesus Cristo; e que apenas 144.000 receberão a recompensa celestial.
Todas estas crenças “singulares” resultam de interpretações forçadas
das Escrituras, e não podem ser biblicamente comprovadas. Ocorre
porém que a interpretação de homens não pode ter o mesmo peso de
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 213

uma declaração direta da Palavra de Deus! Foi exatamente por isso que
Jesus, certa vez, condenou os fariseus de seu tempo. Mateus 15:9 diz:
É em vão que persistem em adorar-me, porque ensinam por
doutrinas os mandados de homens.
Os que não aceitam tais crenças oficiais, humanas, da Sociedade,
são considerados como promotores de ensinos falsos, de apostasia! Se
aqueles que atualmente deixam a organização da Torre de Vigia por
discordarem dessas crenças são apóstatas, certamente que Russell,
Rutherford, Knorr e Franz teriam sido apóstatas também, apóstatas em
relação às suas anteriores religiões. Afinal de contas, segundo um
dicionário de Aurélio Buarque, apostasia é:
1. Separação ou deserção do corpo constituído ao qual se pertencia.
2. Abandono da fé de uma igreja.
E apostatar é:
1. Desertar (da fé). 2. Mudar (de religião ou de partido). Exemplo:
Apostatou da religião de seus pais.
Webster’s New Collegiate Dictionary diz que “apostasia” é “1:
renúncia de uma fé religiosa, 2: abandono duma anterior lealdade”.
Segundo estes dicionários, a “apostasia” pode ocorrer em qualquer
religião. Ou adotamos este conceito amplo de apostasia, admitindo
assim a existência de apostasias católica, batista, presbiteriana,
adventista, das Testemunhas de Jeová (e neste caso, toda TJ que já fez
parte de outra religião é apóstata), ou nos apegamos ao conceito
bíblico de que apostasia é o abandono de qualquer doutrina ou
ensinamento definitiva e inquestionavelmente expresso na Palavra de
Deus.
Os Motivos do Corpo Governante
Apropriadamente vem a pergunta: Por que adota o Corpo Governante
essas normas tão autoritárias de desassociação que vão além do que a
Bíblia diz?
Explica Raymond Franz, ex-membro desse Corpo Governante, em
seu livro Em Busca da Liberdade Cristã (em inglês), página 342:
Por meio da norma que proíbe falar com aqueles a quem ela
arbitrariamente designa como ‘apóstatas’, a organização da Torre de
214 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Vigia não só mantém um ambiente ‘esterilizado’ entre os seus


membros, assegurando-se de que eles não venham a ser confrontados
com qualquer evidência convincente dos erros da organização, como
também a organização se livra de ter, ela mesma, de responder a tais
evidências.
Essa é a razão. Um verdadeiro regime de quarentena é imposto aos
que saem da organização, com o objetivo de impedir que os
questionamentos bíblicos cheguem aos membros, e objetivando
perpetuar sobre eles o domínio de uma classe que se considera
especialmente iluminada por Deus e oficialmente designada para
governar as vidas de milhões de pessoas.
As razões do Corpo Governante não parecem diferir, neste aspecto,
das dos padres, bispos, pastores e líderes de outras denominações
religiosas, quando advertem seus fiéis a não darem ouvidos à pregação
das Testemunhas de Jeová. A nenhum deles interessa sofrer desfalques
em seus rebanhos. Nem a eles, nem ao Corpo Governante.
Minúcias Legalísticas
Há ainda, que se ressaltar a incrível fabricação de minúcias legalísticas
relacionadas à desassociação, por parte da Sociedade. Ela determina,
por exemplo:
- Pode-se falar com desassociados por motivos profissionais ou
comerciais (Sentinela 15/12/81, página, 20, parágrafo, 20):
Se você estiver contratual ou financeiramente obrigado a continuar
a relação comercial no momento, certamente teria então uma atitude
diferente para com o desassociado. Talvez sejam necessárias palestras
sobre assuntos comerciais com ele ou contatos no serviço, mas
palestras espirituais ou associação social seriam coisas do passado.
- Só os anciãos podem falar com desassociados, visando trazê-los
de volta para a organização (Sentinela 15/4/91, página 23, parágrafo
13):
Os anciãos considerariam os que foram expulsos há mais de um
ano. Segundo as circunstâncias, se for apropriado, eles designarão dois
anciãos (de preferência conhecedores da situação) para visitar tal
indivíduo.
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 215

- Só se deve ter associação com parentes desassociados o mínimo


necessário (Sentinela 15/4/88, página 28, parágrafo 14):
14
A situação é diferente quando o desassociado ou dissociado é um
parente que vive fora do círculo familiar imediato ou no mesmo lar.
Poderá ser possível ter quase nenhum contato com tal parente. Mesmo
que houvesse alguns assuntos familiares que exigissem contato, este
certamente ficaria reduzido ao mínimo, em harmonia com o princípio
divino: “[Cessai] de ter convivência com qualquer que se chame
irmão, que for fornicador, ou ganancioso [ou culpado de outro grave
pecado], . . . nem sequer comendo com tal homem.” — 1 Coríntios
5:11.
- Se os parentes desassociados moram na mesma casa, pode-se falar
com eles, mas não sobre assuntos espirituais (Sentinela, 15/12/81,
página 24, parágrafo 12):
12
Isto significa mudanças na associação espiritual que possam ter
existido no lar. Por exemplo, se o marido for desassociado, a esposa e
os filhos não se sentirão à vontade se ele dirigir um estudo bíblico
familiar ou liderar na leitura da Bíblia e na oração. Se ele quiser
proferir tal oração, como numa refeição, tem o direito de fazer isso na
sua própria casa. Mas eles poderão fazer calados as suas próprias
orações a Deus. (Pro. 28:9; Sal. 119:145, 146) O que se dá quando o
desassociado no lar quer estar presente quando a família lê a Bíblia em
conjunto e tem um estudo bíblico? Os outros poderão deixar que ele
esteja presente para escutar, se não tentar ensiná-los ou transmitir suas
idéias religiosas.
- Pode-se fazer um discurso fúnebre por um desassociado (se era
bem comportado) na funerária ou no cemitério, mas não no Salão do
Reino. (Sentinela 15/12/81, página 27, parágrafo 26):
26
Caso morra enquanto desassociado, os arranjos para o seu funeral
poderão constituir um problema. Seus parentes cristãos talvez
quisessem ter um discurso no Salão do Reino, se esse for o costume
local. Mas isso não seria próprio para alguém que foi expulso da
congregação. Se ele tiver dado evidência de arrependimento e de
querer o perdão de Deus, tal como por deixar de praticar o pecado e
assistir as reuniões cristãs, a consciência de algum irmão talvez lhe
permita proferir um discurso bíblico na funerária ou no local do
enterro.
216 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Ora, onde faz a Bíblia tais especificações? Simplesmente elas não


existem! Trata-se de uma série de regulamentos estabelecidos pelo
Corpo Governante, no uso de seus auto-conferidos poderes
legislativos. Isto quer dizer que, mesmo que alguém seja tido como
apóstata, ainda se pode falar com ele para tratar de assuntos
comerciais. Logo, 2 João 10, que diz “nunca o recebais... nem o
cumprimenteis” não tem um sentido absoluto para a Sociedade; isto
pode ser “acomodado” segundo os interesses em jogo.
Desamoroso Exemplo
Os frutos desta orientação legalista humana têm sido dolorosos para
muitas famílias em que pessoas foram desassociadas, e a organização
os divulga como exemplos a serem seguidos. Um destes vem no artigo
“Demonstre lealdade cristã quando um parente é desassociado”, no
Nosso Ministério do Reino de agosto de 2002, página 4:

Estes dois irmãos “se deram conta” de que deviam tratar de modo
desamoroso a mulher que os carregou no ventre por nove meses,
alimentou e cuidou. Depois de reafirmar seu “amor”, este homem
anunciou-lhe a “punição” por ter saído da chamada “organização de
Desassociação – Como a Bíblia Determina? 217

Deus”. Só falariam com a mãe o estritamente necessário, seguindo a


determinação da Corpo Governante. Que apoio há na Bíblia para que
filhos tratem assim uma genitora? Que justificativa pode haver para
isto? Seria essa mãe uma pessoa iníqua, como descreve 1 Coríntios
5:11? Ou um anticristo, alguém que odeia a Deus e a seu Filho, como
diz 2 João 10, 11? A publicação não esclarece, mas seria ainda assim,
uma atitude desamorosa, em face da admoestação de Jesus quanto a
amar até os próprios inimigos.
Não se sabe por que essa senhora deixara a organização seis anos
antes, mas uma coisa é certa: diante da ameaça dos filhos, ela
prontamente voltou à organização. O que lhe faltava? Conhecimento
dos ensinos e doutrinas da organização? Não, ela tinha sido
Testemunha de Jeová, talvez até por muito tempo. Sabia que, pelo
conceito da religião, ela estava destinada à “destruição eterna”, na
condição de desassociada. Estava informada de que “Deus cortara
relações com ela”, conforme o “entendimento” do Corpo Governante.
Nada disso a fizera voltar. Mas certamente não suportou a idéia de ser
cruelmente rejeitada pelos dois frutos do seu ventre.
Alguns podem até dizer: “Mas veja, ela retornou à organização.
Seus filhos agiram assim por amor a ela, para que voltasse.” Diríamos
que há um grande ponto de interrogação na motivação desta mãe. Foi
realmente por convicção que pediu a readmissão após estar seis anos
fora? Ou foi para não perder a convivência com os filhos?
E quanto aos filhos “amorosos”? Como teria sido se a mãe não
tivesse voltado? Para obedecer às ordens da Sociedade teriam mantido
sua atitude pelo resto da vida, ficando afastados da mãe até o amargo
fim. Pois é exatamente isso que tem acontecido em todo o mundo,
com casos reais de pessoas separadas de seus entes queridos até a
morte.
A Inevitável Conclusão
A própria Bíblia também não confere a este texto de 2 João 10 um
sentido absoluto, pois em Tiago 5:19, 20, lemos:
Meus irmãos, se alguém se desencaminhar da verdade e outro o
fizer voltar, sabei que aquele que fizer um pecador voltar do erro do
seu caminho salvará a sua alma da morte e cobrirá uma multidão de
pecados.
218 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Este texto não poderia ser mais claro. Fala de alguém se


“desencaminhar da verdade” e, aos olhos da Sociedade, alguém que
rejeita seus ensinos e a abandona é alguém que se desencaminhou da
verdade, não é? Nenhuma Testemunha de Jeová poderia negar isso.
Sendo assim, qual é o proceder a ser seguido, conforme exortado pelo
inspirado Tiago? Se outro o fizer voltar, salvará a sua alma da morte e
cobrirá uma multidão de pecados! O texto diz “se outro”, não
especifica que tem de ser um ancião, um superintendente de circuito ou
de distrito.
Qualquer Testemunha de Jeová que creia na Bíblia como a Palavra
de Deus está debaixo desta responsabilidade. É uma obrigação bíblica
tanto quanto Mateus 28:19, 20. Deveria procurar tais
“desencaminhados da verdade”, falar com eles, com o fim de fazê-los
“voltar do erro”.
O Corpo Governante, todavia, proíbe tal orientação bíblica. E talvez
o faça por saber que nem anciãos congregacionais, nem
superintendentes viajantes, nem publicadores, nem as publicações
dispõem de argumentos bíblicos para fazer retornar às fileiras aqueles
que rejeitam certos ensinamentos da Sociedade.
A organização, no entanto, deveria ter estes argumentos, se ela é,
como afirma 1 Timóteo 3:15, “a congregação do Deus vivente, coluna
e amparo da verdade.”
Capítulo 10

O Uso do Nome “Jeová”

Eu sou Iahweh, este é meu nome - Isaías 42:8, A Bíblia de Jerusalém


Para que saibam que tu, a quem só pertence o nome de JEOVÁ, és o
Altíssimo sobre toda a terra - Salmos 83:18, Almeida Revista e
Corrigida
Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó... mas não lhes revelei o meu nome:
Javé - Êxodo 6:3, A Bíblia Mais Bela do Mundo
As Testemunhas de Jeová fazem grande publicidade em torno do
nome Jeová, considerando isto como um dos sinais identificadores de
que elas são a única religião verdadeira. No mesmo sentido,
argumentam em favor do rótulo “Testemunhas de Jeová”, adotado em
1931.
A Questão da Pronúncia
Ocorre que Jeová não é a pronúncia correta do nome divino, e isto até
a própria Sociedade Torre de Vigia já admitiu em algumas de suas
publicações. A maioria dos eruditos diz que o mais aproximado da
pronúncia original é Iahweh. Veja Estudo Perspicaz das Escrituras,
volume 2, página 493:
“Jeová” é a pronúncia mais conhecida do nome divino, em
português, embora a maioria dos hebraístas seja a favor de “Javé” (ou
“Iahweh”).
A esse respeito diz também o livro Conhecimento Que Conduz à
Vida Eterna (1995), página 24:
A pronúncia portuguesa “Jeová” ou “Jehovah” já é usada há
séculos, e o equivalente em muitos idiomas é amplamente aceito hoje.
A Sociedade então prefere usar Jeová por ser a forma mais
conhecida ou antiga. Mas desde quando ela argumenta em defesa do
mais antigo ou conhecido contra aquilo que é mais exato? Ela não

219
220 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

rompeu diversas vezes com as tradições da cristandade quando achou


que algo estava mais próximo da exatidão? É o caso das palavras
“madeiro” ou “estaca” que ela prefere usar ao invés de “cruz.” Por que
não manteve a tradição neste caso? Porque, no entendimento dela,
“estaca” era uma tradução mais exata, assim como “Iavé” é a
pronúncia mais exata do nome divino.
Concordamos com a Sociedade, porém, no fato de que a pronúncia
não é importante, pois não temos como saber hoje a pronúncia exata
não só do nome divino como de grande número de nomes bíblicos.
Tampouco o mero fato de um determinado termo ser tradicional e estar
em uso há muitos séculos não é, em si mesmo, motivo para que seja
adotado como oficial, tornando o grupo que o adota, em função disso,
a “única religião verdadeira,” como se isso fosse garantia da aprovação
divina.
Primazia do Uso
A Sociedade admite que, antes dela, muitos tornaram o nome Jeová
conhecido (Brochura O Nome Divino Que Durará Para Sempre, 1984,
páginas 10 e 11). Logo, a Sociedade Torre de Vigia não tem e nunca
teve a exclusividade do uso deste nome que, além disso, aparece em
enciclopédias, livros didáticos de história geral e em cânticos de várias
igrejas. Como exemplo, veja esse cântico de 1745, “Jeová, Sê Nosso
Guia”:
Jeová, sê nosso guia
Ao lugar da promissão
Somos fracos, mas confiamos
Na divina proteção
Dá-nos, Cristo, teu socorro
E afasta a tentação
Ou este outro de 1871, “Louvai a Jeová, Todas as Nações” (em
inglês):
Praise Jehovah, all ye nations
All ye people, praise proclaim;
For His grace and lovingkindness,
O sing praises to His Name
O Uso do Nome “Jeová” 221

Observe que estes cânticos são bem anteriores à criação da revista A


Sentinela por C. T. Russell (1879) e à adoção do nome “Testemunhas
de Jeová” por J. F. Rutherford (1931). Admitiria a Sociedade, nesse
caso, que o uso do nome “Jeová” nesses e em outros cânticos tenha
trazido para estas igrejas a aprovação de Deus? Não, ela não acredita
nisso.
O mero uso de um nome, ou clamar por alguém, não é o fator mais
importante, do ponto de vista de Deus. Veja Mateus 7:22, 23:
Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos
em teu nome e não expulsamos demônios em teu nome, e não
fizemos muitas obras poderosas em teu nome?’ Contudo, eu lhes
confessarei então: Nunca vos conheci! Afastai-vos de mim, vós
obreiros do que é contra a lei.
Portanto, nem o uso de um nome ou as alegações que uma pessoa
ou grupo de pessoas possam expressar são importantes, e sim fazer a
vontade de Deus (Mat. 7:21), as ações, principalmente as ações em
favor da pessoa representada pelo nome. O que conta não é o uso do
nome em si, mas a obediência e fidelidade ao portador do nome, à
autoridade, poder, fama e reputação dele. (Pro. 10:7; 22:1; Ecl. 7:1). É
o que ocorre em Mateus 28:19, que manda que se batize em “nome...
do espírito santo”, mas, como todos sabem, o espírito santo não tem
nome. É no mesmo sentido que as pessoas são batizadas “em nome do
Pai”. É o mesmo caso de quando se diz “em nome da lei”.
Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 3, página 101:
222 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Veja, na mesma publicação, a página 102:


...E batizar em “o nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo”,
significa fazê-lo em reconhecimento do Pai, do Filho e do espírito
santo. — Mt 28:19.
O Nome na Tradução do Novo Mundo
Em 1961, a Sociedade Torre de Vigia lançou sua própria versão da
Bíblia, a Tradução do Novo Mundo (em português, 1967). Nesta, ela
reconhece que inseriu “Jeová” 237 vezes nas Escrituras Gregas (Novo
Testamento), e que em nenhuma das cópias mais antigas o tetragrama
está presente nestas passagens, como se pode ver em O Nome Divino
Que Durará Para Sempre, página 23:
O Uso do Nome “Jeová” 223

Não é que alguém queira negar o nome de Deus ou escondê-lo. O


que se questiona é o fato de não se fazer uma tradução fiel às cópias
disponíveis, de se fazerem especulações e conjecturas sobre o que
realmente estava escrito nos manuscritos originais, visando o propósito
publicitário de uma organização religiosa. Além disso, há sete livros
das Escrituras Gregas (Filipenses, 1 Timóteo, Tito, Filêmon e as três
cartas de João) em que o nome “Jeová” não aparece, nem na
Tradução do Novo Mundo! Será que a Sociedade lança alguma dúvida
quanto as qualificações dos apóstolos Paulo e João por não terem feito
uso do nome divino nestes livros? Estes homens inspirados não se
viram na obrigação de usar o nome uma única vez neles. No entanto,
consegue você imaginar algum livro ou revista da Sociedade,
atualmente, em que o nome não apareça?
Um bom exemplo do uso do nome “Jeová” em lugar inadequado
nas Escrituras Gregas da Tradução do Novo Mundo está em Romanos
14: 8, 9. Observe:
8
pois, quer vivamos, vivemos para Jeová, quer morramos,
morremos para Jeová. Portanto, quer vivamos quer morramos,
pertencemos a Jeová. 9 Pois, para este fim morreu Cristo e passou a
viver novamente, para que fosse Senhor tanto sobre mortos como
[sobre] viventes.
224 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O versículo 8 parece não se harmonizar com o versículo 9. O


contexto indica que ambos os versículos se referem a Jesus. Por que
dizemos isso? Ora, o texto grego que serviu de base para a Tradução
do Novo Mundo (que está na Tradução Interlinear do Reino das
Escrituras Gregas, em inglês, publicada pela Sociedade Torre de Vigia
em 1985, página 719) diz no versículo 8:
...pois quer vivamos, vivemos para o Senhor [Kyrios], quer
morramos, morremos para o Senhor [Kyrios]. Portanto, quer vivamos
quer morramos, pertencemos ao Senhor [Kyrios]...
Aqui não se esclarece a quem se refere a palavra “Kyrios” (Senhor).
Poderia ser tanto a Jeová como a Jesus, mas veja a continuação:
Pois, para este fim morreu Cristo e passou a viver novamente, para
que fosse Senhor [Kyrios] tanto sobre mortos como sobre viventes.
Não acha que a referência à morte e à vida em ambos os versículos
indica com maior probabilidade que as ocorrências de “Kyrios” no
versículo 8 aplicam-se a Jesus? Por que se referiria necessariamente a
Jeová? Pura interpretação da organização do próprio texto grego
original que ela usa! Em quantas outras passagens a Sociedade pode ter
inserido o nome “Jeová” indevidamente? E por quê? Para apresentar
um grande número de ocorrências como evidência de que o nome deve
ser usado de modo oficial e obrigatório, evidenciando assim que a
organização das testemunhas de Jeová é a única religião que Deus
aprova.
A Atitude de Jesus
A Sociedade afirma que Jesus mencionou repetidas vezes o nome
“Jeová” em suas próprias orações (Brochura Nome Divino, página 3) e
cita os textos de João 12:28, João 17:6, 26, Mateus 6:9 como evidência
disso. Vejamos:
João 12:28
“Pai, glorifica o teu nome”. Saiu, portanto, uma voz do céu: “Eu
tanto o glorifiquei como o glorificarei de novo.” Pai, glorifica o teu
nome.” Saiu, portanto, uma voz do céu: “Eu tanto o glorifiquei como o
glorificarei de novo.”
João 17:6, 26
O Uso do Nome “Jeová” 225

“Tenho feito manifesto o teu nome aos homens que me deste do


mundo. Eram teus e tu mos deste, e eles têm observado a tua palavra...
E eu lhes tenho dado a conhecer o teu nome e o hei de dar a conhecer,
a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu em união
com eles.”
Mateus 6:9
“Portanto, tendes de orar do seguinte modo: “‘Nosso Pai nos céus,
santificado seja o teu nome’.”
Como podemos observar, em nenhum destes textos, Jesus proferiu o
nome “Jeová”. Se as orações de Jesus nos devem servir de modelo por
que razão o nome não é mencionado por ele nestas e em outras
orações? Examinemos:
Mateus 11:25, 26
Naquela ocasião, Jesus disse, em resposta: “Eu te louvo
publicamente, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas
coisas dos sábios e dos intelectuais, e as revelaste aos pequeninos. Sim,
ó Pai, porque fazer assim veio a ser o modo aprovado por ti.
Mateus 26:39, 42
“Pai meu, se for possível, deixa que este copo se afaste de mim.
Contudo, não como eu quero, mas como tu queres.” ...Novamente, pela
segunda vez, afastou-se e orou, dizendo: “Pai meu, se não é possível
que isto se afaste de mim sem que eu o beba, realize-se a tua vontade.”
Será que por não ter usado o nome “Jeová” em nenhuma dessas
ocasiões Jesus estava menosprezando seu Pai? Será que por não ter
proferido o nome em todas estas oportunidades Jesus estava se
negando a reconhecer que Deus tinha nome? Evidentemente que não!
Em todos estes casos, Jesus glorificou, manifestou e santificou o nome
de Deus, e isto significava dar a conhecer o poder, a honra e o
propósito do portador do nome, e não simplesmente pronunciá-lo.
Ademais, como costumamos nos dirigir ao nosso pai carnal? Pelo
nome dele ou como “pai”, “meu pai”, e “papai”?
O Argumento da Distinção
No livro Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna (1995), página 24,
parágrafo 6, a Sociedade argumenta:
226 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O nome ímpar de Deus, Jeová, serve para diferenciá-lo de todos os


outros deuses.
Afirma também na brochura O Nome Divino Que Durará Para
Sempre, página 20, sexto parágrafo:
Assim, uma grande vantagem de usar o nome do verdadeiro Deus é
que isso o mantém separado de todos os deuses falsos.
Esta argumentação visa, mais uma vez, chamar a atenção para a
religião que adota o nome oficial “Testemunhas de Jeová,”
pretendendo que isto a identifique como a única que Deus aprova.
Terá isto precedente bíblico?
Bem, em 1 Coríntios 8:5, Paulo reconhece:
Pois, embora haja os que se chamem ‘deuses’, quer no céu, quer na
terra, assim como há muitos ‘deuses’ e muitos ‘senhores’...
O apóstolo admitia a existência de outros “deuses,” todos falsos
evidentemente. Teve ele, porém, o mesmo pensamento da Sociedade
Torre de Vigia, de usar o tetragrama ou um nome equivalente para
fazer tal distinção entre o único Deus verdadeiro e os falsos deuses?
Vejamos como ele o fez em 1 Coríntios 8:6, continuação do texto
acima citado:
...para nós há realmente um só Deus, o Pai, de quem procedem
todas as coisas, e nós para ele.
Como vimos, Paulo não sentiu a necessidade recomendada pela
Torre de Vigia.
Além disso, no areópago de Atenas, Paulo fez seu célebre discurso
a uma multidão de pagãos, acostumados a adorar muitos deuses e
deusas, todos com nomes específicos. (Zeus, Poseidon, Vênus,
Hermes). Pelo raciocínio da Sociedade, seria essa, por excelência, uma
oportunidade para se proferir o nome divino, apresentando àquelas
pessoas um Deus a quem elas não conheciam. De fato, elas viam a
Paulo como alguém que “publicava deidades estrangeiras.” (Atos
17:18) O apóstolo deu-lhes o testemunho das boas novas conforme
relatado nos versículos 22 ao 31 do capítulo 17 de Atos. Em todo o seu
discurso Paulo, não pronunciou o tetragrama, sob qualquer forma, uma
O Uso do Nome “Jeová” 227

única vez, embora a ocasião, sob a ótica da organização, fosse bastante


propícia para isso.
Por que Paulo não o fez? Porque era membro da “religião falsa”?
Porque pertencia à “cristandade alienada de Deus”? Não, ele era um
apóstolo designado pelo próprio Jesus Cristo. Por que deixou de seguir
os conselhos que a Torre de Vigia daria 19 séculos mais tarde? Será
que Paulo não teve a bênção de Deus por ter deixado de proferir o
nome divino naquela importante ocasião, entre pessoas que conheciam
tantos deuses falsos, inclusive por nome?
Mesmo sem seguir as modernas recomendações do Corpo
Governante de Brooklyn, Paulo obteve bons frutos naquela ocasião,
pois “alguns homens juntaram-se a ele e se tornaram crentes, entre os
quais havia também Dionísio, juiz do tribunal do areópago, e uma
mulher de nome Dâmaris, e outros além deles.” (Atos 17:34)
Vemos, portanto, que a bênção de Deus nada tem a ver com o uso
ou o desuso do tetragrama, em qualquer de suas pronúncias. A
alegação da Sociedade fica, portanto, sem precedente bíblico.
E, mais uma vez, significará tudo isso que Deus não tem nome ou
que não se pode proferir esse nome em nenhuma de suas formas,
Jeová, Iavé ou Javé? De modo algum! Deus tem nome e este pode ser
usado! Por outro lado, em parte alguma das Escrituras achamos algo
como:
Por meio disso saberão todos que sois meus discípulos, se usardes o
nome “Jeová” com abundante freqüência.
Ou ainda:
A forma de adoração que é pura e imaculada do ponto de vista de
nosso Deus e Pai é esta: usar abundantemente o nome “Jeová.”
A Bíblia simplesmente nada diz a respeito, como também nada diz
sobre o uso verbal ou escrito do nome de Deus. E ninguém na terra
deve ir “além das coisas escritas” (1 Cor. 4:6), nem mesmo o Corpo
Governante da Torre de Vigia.
A questão principal não é determinar se Deus tem nome, pois Ele o
tem! Nem se a forma mais apropriada é Jeová, Javé ou Iavé; qualquer
uma delas é aceitável. A questão é: é válido, à luz da Bíblia, fazer da
228 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

ênfase ao uso do nome, um dos sinais identificadores do


cristianismo?
O nome “Jesus”, por exemplo, é abundantemente usado pelos
muitos milhões de membros das igrejas e denominações da
cristandade. Pergunte a alguma Testemunha de Jeová se acredita que,
em virtude disso, todos estes milhões são realmente verdadeiros
seguidores de Jesus.
Tampouco o uso do nome divino confere a qualquer grupo religioso
a bênção de Deus.
Qual era, neste respeito, a situação ente os cristãos do primeiro
século? Atos 15:14 diz:
Simeão tem relatado cabalmente como Deus, pela primeira vez,
voltou a sua atenção para as nações, a fim de tirar delas um povo para
o seu nome.
Será que este versículo queria dizer que os verdadeiros adoradores
deveriam ter o nome divino como um rótulo, tal como “Testemunhas
de Jeová”, nome oficial escolhido por Joseph Rutherford em 1931, em
pleno século vinte, vinte séculos após a morte de Jesus e a fundação da
congregação cristã? Claro que não! Os cristãos primitivos passaram
muito bem e prosperaram espiritualmente, levando a mensagem de
salvação à grande parte da terra habitada sem esta denominação oficial
criada por Rutherford. Espalharam as boas novas sobre Jesus e seu
reino por todo o império romano sem usar o tetragrama como título
oficial; apesar da perseguição intensa e cruel que muitas vezes veio
sobre eles, destacaram-se por manter sua fidelidade mesmo sob
ameaças; foram martirizados por sua fé, mortos por espada, fogo e
pelas feras nos circos romanos para não cometer idolatria, mas nunca
foram conhecidos como ‘testemunhas de Jeová’. Por sua conduta
fervorosa e impávida diante da perseguição granjearam a admiração do
mundo pagão em que viviam. Assim foi que se tornaram conhecidos.
Deste modo é que se tornaram “um povo para o nome de Deus”, lá no
primeiro século!
O nome pelo qual estes adoradores do verdadeiro Deus, primitivos
seguidores de Jesus, ficaram conhecidos está em Atos 11:26:
O Uso do Nome “Jeová” 229

E foi primeiro em Antioquia que os discípulos, por providência


divina, foram chamados cristãos.
Este nome foi providenciado pelo próprio Jeová. Além da
denominação “cristãos”, a primitiva comunidade cristã também foi
chamada de “O Caminho”. (Atos 9:2; 19:9; 22:4)
A Sociedade já argumentou que uma nova denominação era
necessária por que muitos se chamam “cristãos” e era preciso
distinguir entre os adeptos da Torre de Vigia e aqueles tidos como
“falsos cristãos”. Isto ignora o fato de que sempre houve cristãos
falsos entre os verdadeiros cristãos. Desde o tempo dos apóstolos se
sabe que alguns sairiam do meio deles, por “não serem dos nossos”.
Além disso, apenas a futura separação entre o “joio e o trigo”,
realizada pelo próprio Deus, é que distinguirá realmente quem são os
cristãos verdadeiros e os falsos, e não alguma denominação oficial
adotada por homens.
Por outro lado, de quem partiu esta atual denominação oficial,
“Testemunhas de Jeová”? Veja a resposta do livro Proclamadores,
página 152, parágrafo 1:
230 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Um único homem, chamado Rutherford, selecionou e adotou o


nome. O mesmo parágrafo, mais adiante, declara:
A única “providência divina” quanto à denominação dos seguidores
de Jesus é a que está no já citado texto de Atos 11:26. A forte
presunção de que “o Senhor guiou” Rutherford na adoção do nome é
algo que, além de não ter fundamento, vai “além das coisas escritas.”
(1 Coríntios 14:6) A forte convicção das Testemunhas de que ‘o
Senhor as guia’ nisso ou de que ‘Jeová deseja’ aquilo, parte das
mesmas pessoas que outrora ensinaram que o fim do mundo viria em
1914 e depois em 1925, que proibiram por muitos anos vacinas e
transplantes. Também nesses casos alegaram ter a direção de Deus,
mas erraram.
Muitas organizações religiosas cresceram em número sem dar
ênfase ao nome divino. A própria organização também cresceu
bastante durante mais de cinqüenta anos (1879-1931) antes de ter
adotado a denominação “Testemunhas de Jeová”. E ela própria admite
que em suas primeiras décadas deixou de usar o nome “Jeová” com a
devida freqüência. Como foi este crescimento possível sem se dar ao
nome a ênfase que a Sociedade hoje declara ser indispensável? Como
explicar também o imenso crescimento numérico de organizações tais
como as dos Adventistas do Sétimo Dia, das Assembléias de Deus e
dos Mórmons, que não usam “Jeová” com tanta ênfase?
A congregação cristã do primeiro século, orientada pelos apóstolos,
acompanhada pela ação sobrenatural do espírito santo de Deus, não
usou a denominação “Testemunhas de Jeová”, e se tivesse usado o
nome “Jeová” com tanta ênfase como sugere a Sociedade Torre de
O Uso do Nome “Jeová” 231

Vigia, seria difícil de entender porque ele não aparece nas cópias mais
antigas disponíveis das Escrituras Gregas.
Chega-se à conclusão, portanto, de que não é por levar um rótulo,
uma etiqueta ou um diferencial de marketing religioso, que alguém
pode hoje reivindicar para si a posição de “única religião aprovada por
Deus.”
Em uma de suas publicações (Poderá Viver Para Sempre, página
185, parágrafo 6) a Sociedade Torre de Vigia pergunta: “Se você falar
a seus vizinhos e amiúde referir-se a Jeová, usando Seu nome, com que
organização acha que eles o associarão?”
Além da resposta óbvia, pode-se acrescentar o seguinte:
Eles o associarão a uma religião que ficou conhecida por marcar
datas para o fim do mundo sem que este fim viesse; uma religião que
por muitos anos negou a seus adeptos o direito à vacina; que até 1980,
negou-lhes o direito a um transplante de órgão; eles o associarão a uma
religião cujos membros preferem morrer ou deixar seus filhos e entes
queridos morrerem a receber uma transfusão de sangue integral,
enquanto libera o uso de certas frações do sangue, separadamente; eles
o associarão a um grupo de pessoas que até dezembro de 1999
vendiam (consulte um dicionário sobre o termo “vender”)
insistentemente livros e revistas de porta em porta (de janeiro de 2000
em diante, solicitam “donativos”), e finalmente, poderão associá-lo
também à religião que desassocia (expulsa) seus membros pelo único
pecado de não concordarem com os ensinos sem base bíblica
decretados pelo seu “papa coletivo”, o Corpo Governante, negando-
lhes um simples cumprimento, afastando-os dos vínculos de amizade,
destruindo relações de pais com filhos, irmãos com irmãos,
transformando o amor em ódio. Para muitas pessoas que conhecem de
perto essa religião e sua história oculta, esta é a imagem (não
divulgada nas revistas da Sociedade) que se tem das Testemunhas de
Jeová.
Sem dúvida alguma, um grande vitupério foi trazido sobre o Deus
Altíssimo por parte da Sociedade Torre de Vigia. O nome divino que
ela usa como um rótulo não a livrou de cometer tantos erros, de
acumular inclusive culpa de sangue pelos que morreram em resultado
de suas orientações, não a refreou de ir “além das coisas escritas” e de
232 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

fazer audaciosos acréscimos e distorções à Palavra de Deus. Que


julgamento fará dela o Deus cujo nome ela vituperou e desonrou pelos
seus ensinos?
Capítulo 11

A Sociedade Torre de Vigia


e Sua Versão das Boas Novas

A organização Torre de Vigia considera que a pregação feita por seus


mais de 6 milhões de membros cumpre a profecia de Jesus em Mateus
24:14:
E estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada,
em testemunho a todas as nações; e então virá o fim.
Ela acha que isso a qualifica, e apenas a ela, como a única religião
verdadeira na face da terra, a única organização aquinhoada com a
bênção divina. Mas, será que é assim mesmo? Será que ela detém, de
fato, esta exclusividade? Será que as “boas novas” que ela prega são as
legítimas boas novas, tal como eram pregadas lá no primeiro século?
Estará mesmo conseguindo cumprir, até agora, as palavras de Jesus?
Que Boas Novas São Essas?
A organização Torre de Vigia se jacta de que as boas novas que ela
prega são diferentes. Ela procura atribuir à pregação dela algo de
especial, inédito e superior a tudo que até a época da Primeira Guerra
Mundial se fizera. Explicando a própria pretensão neste respeito, ela
diz em A Sentinela de 15 de maio de 1981, página 28, parágrafo 15:

233
234 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

E passa a esclarecer, na página 29 da mesma revista, as razões desta


diferença, entre elas o fato de esta pregação “ocorrer dentro dos
últimos dias”, “o estabelecimento do reino de Deus, como realidade,
em 1914”, e “um notável derramamento do espírito de Deus, desde
1919, em cumprimento completo de Joel 2:28, 29”.
Em resumo, ela crê que suas “boas novas” são a respeito de um
reino que se estabeleceu nos céus, de modo invisível aos humanos, no
ano de 1914. Afirma ainda, sem comprovação alguma, que a partir de
1919 ocorre o cumprimento completo de Joel 2:28, 29.
Quanto ao primeiro evento, trata-se de interpretação arbitrária dos
“sete tempos” de Daniel 4:16, 32, de um sonho que de fato se cumpriu
na pessoa do rei Nabucodonosor. Parte alguma da Bíblia diz que
haveria um segundo e maior cumprimento nem que estes “sete
tempos” eram os “tempos designados das nações” mencionados por
Jesus em Lucas 21:24. Qualquer ligação entre essas duas passagens
carece do principal: apoio das próprias Escrituras. Pela mesma razão,
arbitrário e sem fundamento é também o cálculo que coloca o início
dos Tempos dos Gentios em 607 AEC (suposta segunda aplicação da
loucura de Nabucodonosor), o período de 2520 anos e seu suposto fim
em 1914 (a cura do rei e sua volta ao poder).
O segundo evento (profecia de Joel 2:28, 29) também já teve seu
cumprimento (no primeiro século), por ocasião de Pentecostes de 33
EC, conforme atestado pelo apóstolo Pedro quando explicava não ser
embriaguez a conseqüência do derramamento do espírito santo em
Atos 2:16, 17:
Ao contrário, isto é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: “E
nos últimos dias”, diz Deus, “derramarei do meu espírito...”
Adicionalmente, é interessante constatar que Pedro, aplicando as
palavras de Joel, referiu-se àquele período como já fazendo parte dos
“últimos dias”, que a Sociedade afirma só se terem iniciado em 1914, o
que seria, segundo ela, mais um fator a conferir às “boas novas” dela
uma condição “bem diferente.”
É exatamente com este argumento, como já vimos (Sentinela
15/5/81, página 28, parágrafo 15), que ela procura invalidar a pregação
feita pelos missionários da cristandade antes do surgimento das
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 235

Testemunhas, argumentando que a delas é “bem diferente” das que


foram divulgadas “tanto antes como desde 1914.”
Portanto, as razões de as “boas novas” da Sociedade serem
diferentes e serem “algo exclusivo” (Sentinela 15/5/81, página 28,
parágrafo 16) não têm nenhuma base sólida nas Escrituras, dependem
totalmente de uma interpretação exclusivista do Corpo Governante.
Não é de admirar que ela considere sua pregação superior à das igrejas
da cristandade por causa de tais motivos.
As Mesmas do Primeiro Século?
Levando em conta o que acabamos de considerar, deve-se perguntar:
Serão essas “boas novas” da Sociedade Torre de Vigia as mesmas
boas novas que foram divulgadas pelo primitivo cristianismo, de quem
ela se considera continuadora?
Bem, ela mesma reconhece que as dela são “diferentes”. Em A
Sentinela de 1o de novembro de 1981, página 17, ela destaca:
236 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Ela conclui, assim, que o “evangelho” dela é o verdadeiro


evangelho porque fala do “reino celestial de Deus, estabelecido pela
entronização de seu Filho, Jesus Cristo, no fim dos tempos dos Gentios
em 1914”. Ou seja, este fato específico faz com que a pregação das
Testemunhas seja realmente “boas novas”, segundo o “entendimento”
da Sociedade Torre de Vigia.
Todavia, Gálatas 1: 8, 9 adverte:
No entanto, mesmo que nós ou um anjo do céu vos declarássemos
como boas novas algo além daquilo que vos declaramos como boas
novas, seja amaldiçoado. Como já dissemos, também digo agora
novamente: Quem quer que vos esteja declarando como boas novas
algo além daquilo que aceitastes, seja amaldiçoado.
Portanto, a Bíblia é bem enfática em mostrar que quem declarasse
como boas novas algo além daquilo que os cristãos primitivos já
tivessem aceitado, deveria ser amaldiçoado. Note bem, poderia até
haver muito de correto nestas boas novas, mas se contivessem “algo
além” isto seria motivo para maldição. Não se trata de algo de pouca
importância ou conseqüência.
Torna-se, neste ponto, bem evidente que a Sociedade Torre de
Vigia, segundo suas próprias publicações, acrescentou à sua versão das
“boas novas” algo que não foi declarado no primeiro século, e que
também não aparece nas Escrituras!
As verdadeiras boas novas ou evangelho da Bíblia não chamam a
atenção para 1914, ou para qualquer outra data, ou tentam convencer
pessoas sobre acontecimentos “invisíveis” ocorridos nos céus, sem
para isso apresentar uma firme e inquestionável base nas Escrituras.
De que tratam elas?
A expressão “evangelho” ou “boas novas” ocorre mais de cem
vezes nas Escrituras Gregas. E o que elas destacam? Apenas oito vezes
ela surge como “boas novas do reino”. Em todos os outros casos a
expressão surge como “boas novas acerca do Cristo”, ou termos
similares, que mostram que o assunto está ligado a ele, Cristo, sua
pessoa, e não primariamente a um governo.
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 237

E mesmo quando fala em “boas novas do reino”, este reino está


totalmente conectado e inteiramente relacionado ao próprio Cristo; ele,
Jesus, é o centro das boas novas!
Tanto isto é verdade que ele disse o registrado em Lucas 17:21:
Eis que o reino de Deus está no vosso meio.
E o que quis Ele dizer com isto? Nada menos que o próprio Jesus
(que naquele momento estava entre eles) é que é o centro, a essência
deste reino de Deus!
As boas novas tratam do próprio Cristo, seu sacrifício em resgate da
humanidade, a reconciliação com Deus, a ressurreição e a vida eterna.
É como Paulo declarou em 1 Coríntios 2:2:
Pois decidi não saber coisa alguma entre vós, exceto Jesus Cristo, e
este pregado numa estaca.
Estas é que são as boas novas, as mesmas que foram pregadas pelas
primitivas congregações cristãs, dirigidas pelo próprio Cristo, segundo
sua promessa de estar com seus seguidores “todos os dias até a
terminação do sistema de coisas” (Mat. 28:20), durante todos os
séculos de Pentecostes até agora.
A Palavra de Deus não dá apoio ao ensino do Corpo Governante de
que as verdadeiras boas novas só começaram a ser pregadas nos
últimos 100 anos, muito menos em conexão com as datas de 1914 e
1919.
Se Paulo estivesse ainda hoje na terra certamente poderia aplicar às
“boas novas” da Sociedade Torre de Vigia as mesmas palavras que ele
escreveu em Gálatas 1:6:
Estou admirado de que estais sendo removidos tão depressa
Daquele que vos chamou com a benignidade imerecida de Cristo, para
outra sorte de boas novas.
Se a condição de ‘única religião da terra aprovada por Deus’
depende da sorte de “boas novas” patrocinada pela Sociedade Torre de
Vigia e seu Corpo Governante, tal afirmação passa a ser altamente
questionável. Aprovará Deus uma pregação de “boas novas” que foram
acrescentadas de “algo além” do que foi declarado pelos apóstolos?
(Gálatas 6:1)
238 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O Cumprimento das Palavras de Jesus


E como, então, se cumpre a profecia de Mateus 24:14?
Ora, onde está o registro das boas novas? Onde estão elas escritas?
Nas Escrituras Gregas Cristãs, também chamadas de Novo
Testamento! O que lemos na primeira página dele, em quase todas as
traduções da Bíblia?
“O Evangelho (ou “Boas Novas”) segundo Mateus”
Todo o ensinamento, todas as grandiosas promessas relacionadas
com o reino de Cristo, em sua inteireza, estão contidos nas páginas das
Escrituras Gregas. Nada lhes falta. Homem algum está autorizado a
lhes fazer acréscimos.
E onde quer que essas páginas tenham chegado, onde quer que elas
tenham sido lidas, aí foram pregadas as boas novas a respeito do
Cristo.
Por Quem?
A Sentinela de 15 de abril de 1960, página 260, informa:

Quem realizou esta grande obra de disseminação da Bíblia, o livro


onde estão contidas as verdadeiras boas novas? Não foi a Sociedade,
cuja Tradução do Novo Mundo só foi lançada em 1961! Foram as
igrejas da cristandade!
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 239

Veja também o que diz A Bíblia - Palavra de Deus ou de Homem?


(1989), página 7:

Quem produziu estes números fabulosos no espaço de 160 anos,


disponibilizando as boas novas que eles trazem para 98 por cento das
pessoas da terra? Não foi a Sociedade Torre de Vigia, mas
organizações religiosas da cristandade! Considerando-se que qualquer
pregação das boas novas é impossível sem a página impressa da
Palavra de Deus nos idiomas dos povos, quem realmente fez mais por
ela, levando-a a “toda a terra habitada, em testemunho a todas as
nações”?
A história comprova que, em todos os séculos depois de Cristo,
estas boas novas têm sido divulgadas em toda a terra, até mesmo antes
de lá chegarem os missionários da Torre de Vigia! E observe que Jesus
disse: “estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra
habitada”; não disse que seriam pregadas por uma determinada
organização que teria de preencher certos requisitos.
Será que a Sociedade Torre de Vigia pode contradizer este fato, e
dizer que as boas novas só começaram a ser pregadas depois que ela
veio a existir em 1884, a partir de 1914, 1918 ou 1919, apesar das
palavras de Jesus em Mateus 28:20?
E eis que estou convosco todos os dias, até a terminação do sistema
de coisas.
240 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Talvez a organização argumente (como de fato faz) que mesmo


levando estas boas novas, os diversos grupos religiosos aos quais ela
desdenhosamente chama de “cristandade” estão maculados com alguns
ensinos falsos. Mas se isso for verdade, acaso está a Sociedade livre de
ensinos falsos? Não, não está. Isso já foi demonstrado em outros
capítulos deste livro.
Só para citar um exemplo dentre muitos:
Até novembro de 1995 a Sociedade Torre de Vigia ensinava que a
geração que presenciou os acontecimentos de 1914 veria o fim deste
sistema de coisas e o início de uma nova ordem mundial na terra
(Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, página 154,
parágrafo 8). Durante décadas, isto foi acoplado à pregação das “boas
novas” feita pela Sociedade Torre de Vigia.
Isto foi mudado (A Sentinela 1/11/95, página 19, parágrafo 12). E
por quê?
Simples: tratava-se de um ensino falso e na época o Corpo
Governante não sabia.
Outro exemplo: durante muitos anos, as Testemunhas de Jeová
aprenderam que a separação de ovelhas e cabritos estava em
andamento à medida que as “boas novas” da Sociedade Torre de Vigia
eram pregadas. (Poderá Viver, página 183, parágrafos 22 e 23)
Isto também mudou (A Sentinela 15/10/95, página 23, parágrafo
26). E por que mudou?
Simples: era outro ensino falso e na época o Corpo Governante não
sabia!
E quantos outros ensinos falsos ele pode estar pregando atualmente
sem o saber?
Pergunta-se à Sociedade: será que isto invalida a sua pregação das
boas novas durante o tempo em que tais ensinos falsos eram
divulgados como verdade revelada?
Ela não responderia de modo afirmativo a esta pergunta. Por que
seria diferente com as igrejas da cristandade? Se pregaram em todos os
continentes as boas novas a respeito do Cristo, seu sacrifício como
meio de salvação para a humanidade, a reconciliação com Deus, a
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 241

ressurreição e a vida eterna, então pode-se verazmente dizer que as


boas novas foram levadas a toda a terra habitada, como Jesus disse que
seriam.
Se a pregação feita nos séculos que se seguiram à morte e
ressurreição de Jesus, antes do surgimento da Sociedade Torre de
Vigia, não foram válidas, então as palavras dele em Mateus 24:14 e
28:20 não se cumpriram.
O que conta é que Jesus garantiu que estaria com seus seguidores
até a consumação dos séculos, sem nenhuma interrupção. (Mateus
28:20) E estes seguidores teriam necessariamente de estar pregando as
boas novas durante “todos os dias” desde 33 da Era Cristã. Logo, não
pode ser verdade que as verdadeiras boas novas só começaram a ser
pregadas no início do século 20, como afirma A Sentinela de 15 de
maio de 1981, páginas 28, 29.
Conseqüentemente, a organização Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados não tem razão e, principalmente, não dispõe de base bíblica,
para afirmar de modo presunçoso que ela é a exclusiva e legítima
portadora das “boas novas a respeito do Cristo e a respeito do Reino”.
Se afirmar que, mesmo tendo divulgado (e ainda divulgando) falsos
ensinos junto com suas “boas novas”, sua pregação nos últimos 100
anos foi válida, terá que admitir o mesmo mérito às religiões da
cristandade, que cobriram um território bem maior que ela. Se afirmar
que os erros da cristandade invalidam a pregação que fez durante todos
estes séculos, não há como não dizer o mesmo da própria pregação das
Testemunhas, e mais ainda, estará negando o cumprimento das
palavras de Jesus quanto a estar com seus seguidores todos os dias,
desde o primeiro século até agora.
Quão Eficaz é Essa Pregação?
Que dizer da eficácia da pregação das “boas novas” promovidas pela
Sociedade Torre de Vigia? Terá, de fato, cumprido as palavras de
Mateus 24:14, como ela afirma por meio de suas publicações?
Segundo o Anuário 2002 das Testemunhas de Jeová, o número de
publicadores atinge agora 6.117.666, e estes relataram o total de
1.169.082.225 horas passadas na divulgação das mensagens da Torre
de Vigia. Aparentemente, são números portentosos. Mas, significam
242 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

estes números que a Sociedade tem tido êxito em fazer suas “boas
novas” chegarem a “toda a terra habitada”, a “todas as nações”?
Não resta dúvida de que em algumas partes da terra (América do
Norte, Europa, Japão, América Latina) tem havido uma boa cobertura
do território visado. Todavia, está longe de a organização poder dizer
que atingiu todas, ou sequer a metade das pessoas de “toda a terra
habitada”. (Mat. 24:14) Uma olhada mais atenta no Anuário de 2002,
leva a interessantes conclusões. Segundo esse relatório, na Índia, por
exemplo, havia UM publicador para cada 44.815 habitantes! Na Líbia,
havia apenas UMA Testemunha de Jeová ativa para 192.032
habitantes. No caso do Paquistão, havia UM publicador para 232.727
pessoas! No caso de Bangladesh (com uma população de 129 milhões
de habitantes e apenas 105 Testemunhas), a proporção é de UM
publicador para 1.230.048 habitantes! Quanto tempo ainda será
necessário para cada um dos publicadores de Bangladesh contatar sua
quota de 1.230.048 pessoas?
E isso sem falar na China, com mais de um 1.200.000.000 de
habitantes, e um pequeno punhado de Testemunhas de Jeová. Embora
não saibamos quantos publicadores há na China, o Anuário de 2002
relata o número de 9.914 publicadores em cerca de 28 países que não
são alistados por nome. Mesmo que estes 9.914 publicadores
estivessem todos na China (e não estão), ainda seriam insignificantes
em número em relação àquela imensa população. Quantos, deste
número de mais de um bilhão e duzentos milhões de chineses, já
ouviram as “boas novas” da Sociedade Torre de Vigia?
Com esses números, como se pode crer que a Sociedade chegou a
“toda a terra habitada” com a pregação de suas “boas novas”?
A conclusão, já que estamos bem avançados no tempo do fim, é que
o alcance dessas “boas novas diferentes” ainda deixa muito a desejar,
para que se chegue ao ponto de dizer que pelo menos a metade das
pessoas destes países e de muitos outros (principalmente os países
árabes e muçulmanos) já as escutou.
A Qualidade da Pregação
Quanto à qualidade desta pregação, certamente todos os publicadores
concordarão que não pode ser medida pelo número de horas, pois é
fato amplamente conhecido que grande parte deste mais de um bilhão
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 243

de horas não foi exatamente gasta na pregação ou ensino dessas “boas


novas”. Nos 24 anos que passei na organização das Testemunhas de
Jeová, a maior parte destes como ancião, posso relatar que tive chance
de acompanhar literalmente centenas desses publicadores no serviço de
campo. Digo com toda a franqueza que a maior parte deles não chega a
dar um testemunho cabal, exato, das boas novas para os moradores de
seus territórios designados. É verdade que existem aqueles que são
zelosos e sinceros, capazes de transmitir claramente o que o Corpo
Governante quer que se transmita. Eu mesmo me esforcei em cumprir
o que eu achava ser um “serviço sagrado”, durante todos aqueles anos
de lealdade à Torre de Vigia.
Mas o que a maioria deles sabia e preferia fazer durante essa
suposta “pregação” era “colocar” revistas por certa quantia em
dinheiro (desde janeiro de 2000 sugerem contribuições voluntárias ao
morador). Isto todos os que são Testemunhas podem constatar quando
vão ao “campo”.
Certa vez, pouco tempo antes de minha saída da organização, vi-me
impelido a interromper por alguns minutos o serviço de casa em casa,
para resumir os assuntos das revistas para o irmão que me
acompanhava no trabalho, pois ele não lera nenhum dos artigos das
revistas A Sentinela e Despertai! que levava consigo, e isso ficara claro
logo no início do trabalho daquele dia. Todo ancião das Testemunhas
sabe que isso é uma realidade. E isto apesar de tantas e tantas reuniões
da Escola do Ministério Teocrático e as Reuniões de Serviço
enfatizarem os métodos de pregação e o Corpo Governante insistir que
todas as Testemunhas devem participar na obra de pregação de casa
em casa. A verdade é que a maioria parece muito acomodada em
apenas colocar revistas. É bem mais fácil do que empenhar-se numa
palestra mais profunda em que muitas das crenças dos moradores serão
provavelmente questionadas. Certamente que deixar um par de revistas
(que muitas vezes nem são lidas) com alguém não é o mesmo que
pregar “boas novas”, mas, assim mesmo, os que fazem apenas isso são
contados como Testemunhas ativas no relatório mundial publicado
todos os anos no Anuário das Testemunhas de Jeová.
244 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Pressão dos Relatórios de Serviço de Campo


Se alguém é Testemunha de Jeová “dedicada e batizada”, espera-se
que, além de participar todos os meses no trabalho de casa em casa, ele
entregue, no início de cada mês, uma folhinha de papel especial
informando quantas horas dedicou ao serviço. Isto torna-se uma fonte
de pressão não só para os encarregados de cobrar este relatório como
para os “publicadores”, que se vêem obrigados a entregá-lo.
Sobre isso, parece muito apropriado o que Paulo escreve em 2
Coríntios 9:7:
Faça cada um conforme tem resolvido no seu coração, não de modo
ressentido, nem sob compulsão, pois Deus ama o dador animado.
Este versículo trata de contribuições, mas é inegável que o princípio
expresso se aplica ao caso. Para muitas Testemunhas, a sensação é de
que se está sob compulsão por alguém (o ancião, a organização, o
parente, o amigo) para entregar um relatório dizendo se e quanto você
trabalhou divulgando as “boas novas” da organização num
determinado mês. Em que parte das Escrituras se manda que os
cristãos informem quantas horas trabalharam na “pregação”? Cada um
é incentivado a dar o que tem resolvido “no coração”, trata-se de algo
íntimo entre a pessoa e Deus. Como admitir-se que fiscais humanos
interponham-se nesta relação íntima? Como podem as pessoas dentro
da organização das Testemunhas se sentir sob compulsão para dar algo
que devia ser dado de modo animado, espontâneo, sem cobranças?
É óbvio que todo verdadeiro cristão se sente motivado a falar de sua
fé com outros quando e como achar conveniente, mas o ensino bíblico
não estabelece o mínimo de horas que se deve passar na pregação das
boas novas e muito menos que se deve relatá-las mensalmente. Por que
persiste o Corpo Governante em não deixar que cada um faça
“conforme resolvido no coração” quanto a pregar estas “boas novas
diferentes”, de que o Reino de Deus foi empossado nos céus
exatamente em 1914? Por que não admite simplesmente que “cada
um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.”? (Romanos 14:12)
A Importância dos Números
A Sociedade, tradicionalmente, tem considerado o crescimento
numérico como evidência de apoio e bênção divinos, de fato, como
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 245

mais um sinal de que a organização dirigida por ela é a “única que


Deus aprova”. Daí vem a importância capital de ostentar números
sempre maiores de membros ativos (publicadores). O raciocínio é de
que se há crescimento há a aprovação de Deus.
Que dizer, então, do período de 1976 a 1978, quando houve uma
queda mundial no número de publicadores (causada pela decepção
relativa ao ano de 1975)? Após um período de muitos anos de contínuo
crescimento com um auge de 2.248.390 publicadores (Anuário de
1977, página 30) em 1976, houve uma redução para 2.182.341 em
1978 (Anuário de 1979, página 30).
Que dizer, também, da recente estagnação e até mesmo diminuição
do número de publicadores em várias regiões da terra?
Como exemplo, por três anos consecutivos o crescimento das
Testemunhas nos EUA vinha sendo zero. (Anuários 2000, 2001 e
2002, página 34) No Canadá, de 1998 a 2001, o número de
publicadores caiu de 113.763 para 110.818. Em quinze países europeus
o número de Testemunhas caiu, de 1997 a 2001, de 835.744 para
786.412. De 1999 a 2001, na Itália, caiu de 232.145 para 228.778. Em
mais cinco países europeus, o relatório de 2001 mostra crescimento
zero, ou seja, estagnação. No mesmo período, no Japão, caiu de
222.912 para 220.113. Em 2000 e 2001, na Austrália e na Nova
Zelândia, os índices mostravam crescimento zero ou decréscimo. No
mundo como um todo, as Testemunhas de Jeová cresceram 1,7 %,
segundo o relatório de 2001, em comparação com um crescimento de
4,4 % em 1997.
Representam alguma coisa esses dados? Normalmente seriam
apenas números, dos quais a verdade de Deus certamente não depende.
Examinados, no entanto, do ponto de vista da Sociedade de que o
crescimento indica a bênção de Jeová sobre a pregação das
“verdadeiras boas novas” que ela promove, surgem algumas questões.
Deve-se entender que no período de 1976 a 1978 Jeová retirou a
bênção da organização? Se o fez, por que o teria feito? Teria
derramado de novo suas bênçãos quando ela voltou a crescer nos anos
seguintes? E agora, o que estaria acontecendo? Teria retirado a bênção
de suas supostas Testemunhas em regiões como os EUA, Europa
Ocidental, Japão e Austrália mas abençoado ricamente as que vivem
246 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

em regiões como a ex-União Soviética, África, América Latina e


alguns países da Ásia? Se é assim, por que motivo, se as “boas novas”
do Corpo Governante são exatamente as mesmas em toda parte? Como
explicar que, em países como Arábia Saudita e Egito, onde as
Testemunhas estão proscritas, por força da intolerância da religião
muçulmana, as “boas novas” da Sociedade praticamente inexistam, se
elas são, de fato, apoiadas pelo Deus Altíssimo?
O mais recente relatório (referente a 2002) já aponta a volta do
crescimento em alguns países onde tem havido decréscimo. E se este
se mantiver nos próximos anos? Indicação de renovação da aprovação
de Deus após um abandono temporário? Nada disso faz sentido. Os
números, não só das Testemunhas de Jeová como de outras religiões,
sobem e descem sob o efeito de circunstâncias diversas, históricas,
políticas, econômicas e mesmo espirituais. O clima de tensão do pós-
guerra e da “guerra fria,” por exemplo, alimentou os temores das
pessoas e o crescimento de várias religiões, entre as quais a Sociedade
Torre de Vigia, que acenavam com a iminência do “fim do mundo.” O
relaxamento que se seguiu à queda do muro de Berlim em 1989 e ao
fim da União Soviética em 1991, junto com o fim das expectativas
ligadas à “geração de 1914” (1995) assinalou o movimento de queda
nos países já mencionados.
Da mesma forma, os recentes atentados terroristas nos Estados
Unidos e outros lugares, a guerra no Afeganistão e as insistentes
ameaças de uma nova guerra contra o Iraque com todas as
conseqüências negativas, criaram um sentimento de tensão e medo na
América do Norte e na Europa, favorecendo assim novos aumentos no
rol de adeptos das Testemunhas.
Desde a última década do século 20, por exemplo, devido à
derrocada dos regimes comunistas nos países que formavam a Cortina
de Ferro, todas as religiões (inclusive as Testemunhas) registram um
reerguimento com elevados índices de crescimento. Todas se
aproveitaram do fim das restrições impostas à religião pelas
autoridades ateístas.
Serve de exemplo o caso da ex-União Soviética, onde a obra das
Testemunhas só foi liberada e legalmente estabelecida em 1991. O
relatório de 1991 (Anuário de 1992) apontava a existência de 49.171
A Sociedade Torre de Vigia e Sua Versão das Boas Novas 247

publicadores nos 15 países que dela faziam parte. Em 2001, estes


países apresentavam 309.776 publicadores (Anuário de 2002), um
aumento de 530 por cento num período de dez anos! Cresceu em
apenas uma década tudo aquilo que não pôde crescer antes, devido às
restrições governamentais.
Por que foi isso? Uma bênção especial de Deus para esta região,
enquanto caía o número de Testemunhas leais dos outros países
mencionados, que levam a mesma mensagem? Se o Deus da Bíblia
apóia a obra de pregação das “boas novas” da Torre de Vigia, por que
esta cresce em certos lugares ao passo que diminui em outros?
O fato é que toda a zona da ex-União Soviética passa há dez anos
por um grande surto de aumento porque as circunstâncias mudadas, o
novo clima de democracia e liberdade, favorece o progresso numérico
de todas as organizações religiosas na região. O que o sobe e desce
dos números realmente comprova é que nem o aumento nem o
decréscimo do número de Testemunhas de Jeová (ou de qualquer
outra religião) têm nada a ver com a bênção de Deus, diferente do que
aconteceu com os cristãos do primeiro século. (Atos 2:40, 41, 47; 6:7,
12:24, 16:4, 19:20, 1 Cor. 3:7)
Por outro lado, como se explicaria, em todo o mundo, o fabuloso
crescimento no número de membros hoje apresentado por
organizações religiosas como as Assembléias de Deus (35.245.000), os
Adventistas do Sétimo Dia (12.566.000) e os Mórmons (11.639.000),
todos estes movimentos surgidos no século 19, como a Torre de Vigia,
com índices equivalentes e até superiores aos das Testemunhas?
Se crescimento numérico é evidência de bênção divina, significa
isso que Jeová está concedendo sua aprovação simultaneamente à
pregação das “boas novas” de todas estas organizações religiosas que
se excluem e se condenam mutuamente?
A inevitável conclusão é que há muito que pensar no que se refere a
aceitar as pretensões da Sociedade quanto a dirigir a única organização
que Deus hoje aprova. Quanto aos ensinos pregados, quanto à eficácia
e quanto à extensão, a pregação das “boas novas” de que tanto se jacta
o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová deixa muito a desejar.
Quem a analisar biblicamente, de modo isento e sem paixão, verá que
248 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

não é por meio delas que se pode identificar a organização Torre de


Vigia como a única adoração verdadeira da terra.
Capítulo 12

Será Realmente o
“Escravo Fiel e Discreto”?

A fim de justificar autoridade sobre mais de 6 milhões de


Testemunhas de Jeová na face da terra, o Corpo Governante apela para
o texto de Mateus 24:45-47, onde Jesus pergunta:
Quem é realmente o escravo fiel e discreto a quem o seu amo
designou sobre os seus domésticos, para dar-lhes o seu alimento no
tempo apropriado? Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o
achar fazendo assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos
os seus bens.
A Interpretação da Torre de Vigia
O Corpo Governante explica que estes versículos não se aplicam a
indivíduos, e sim a uma “classe especialmente designada de pessoas”,
originalmente as 144 mil pessoas mencionadas em Revelação 14:1, e
atualmente, os mais de 8.000 remanescentes delas na terra. No entanto,
destes mais de 8.000, apenas uma parcela ínfima, 13 homens, são os
que, de fato, têm poder decisório na organização Torre de Vigia, os 13
homens que atualmente fazem parte do Corpo Governante. Estes, e
apenas eles, exercem autoridade sobre a comunidade mundial das
Testemunhas de Jeová.
Será útil, pois, examinar a definição de “escravo fiel e discreto”
publicada em A Sentinela, 1o de setembro de 1981, página 24:
As Testemunhas de Jeová entendem que o “escravo” é composto
por todos os cristãos ungidos como grupo na terra em qualquer tempo
determinado durante os 19 séculos desde Pentecostes. Por conseguinte,
os “domésticos” são esses seguidores de Cristo como indivíduos.
Esta revista deixou bem claro que “o escravo”, como classe, estava
atuante durante todos os séculos desde Pentecostes, 33 E.C. Em
relação a isso, a Sociedade explica também:
249
250 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A Sentinela, 15 de julho de 1975, página 430:


Jesus Cristo é Cabeça da congregação, seu escravo, e suas palavras
mostram que ele os fortaleceria para alimentarem seus “domésticos”
durante todos os séculos. Evidentemente, uma geração da classe do
“escravo” alimentava a geração seguinte, além de continuar a alimentar
a si mesma.
Nesta mesma revista, página 431, lê-se ainda que este método de
alimentar seu povo foi trazido à atenção pelo próprio Cristo, “não
como pessoas isoladas, independentes, mas como grupo muito unido,
que têm verdadeiro amor e cuidado de uns para com os outros”.
A Dúvida Suscitada
A pergunta agora é: onde estava esse grupo durante todos esses
séculos, um grupo tal como o dos membros ungidos da organização da
Torre de Vigia? A história fala de diversos grupos religiosos ao longo
desses séculos, mas nenhum deles se encaixa na descrição da Sentinela
de 15 de junho de 1984, página 19, parágrafo 19:
Os membros ungidos, individuais, dessa congregação unida
receberiam todos o mesmo alimento espiritual. Para tal fim, seu “amo”
designou a classe do “mordomo fiel”, um corpo coletivo de cristãos
ungidos na terra desde Pentecostes de 33 EC.
Portanto, nessa congregação de “ungidos” todos tinham de receber
o “mesmo alimento espiritual,” isto é, os mesmos ensinos e crenças.
Sobre a identidade desse “escravo fiel” (que ela pretende ser) a
Sociedade diz ainda em A Sentinela de 1o de setembro de 1981, página
26:
Esta clara identificação da classe do “escravo fiel e discreto” não
havia de continuar durante os séculos até a volta do Amo com seu
poder régio. Os apóstolos advertiram que haveria uma grande apostasia
após a sua morte e que esta continuaria até a presença de Cristo.
Continuou, portanto, sem dizer onde estava este grupo (em que
todos recebiam o mesmo alimento espiritual de uma única fonte, o
“escravo fiel e discreto”) nos séculos que antecederam o século 19.
O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 33, afirma:
Apesar da apostasia, os semelhantes ao trigo se evidenciavam
durante os séculos de trevas espirituais.
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 251

Mesmo dizendo que seus supostos antecessores “ungidos” “se


evidenciavam” a Sociedade não os identifica! Portanto, não se sabe
quem eram eles.
Confirmando isto, numa explicação da parábola do joio e do trigo, o
livro Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus,
página 44, diz:
Mas o que dizer do “trigo”? Quem eram “os filhos do reino”
durante os séculos de apostasia? Não sabemos com certeza... Através
dos séculos sempre houve os que amaram a verdade.
E passa a alistar os nomes de várias pessoas (como Wicliffe e
Tyndale) dos séculos 14 ao 19, inclusive Henry Grew e George Storrs,
contemporâneos de Charles Taze Russell, mencionados de modo
positivo por que “aceitaram a Bíblia e rejeitaram a Trindade,” e
“também expressaram seu apreço pelo sacrifício de resgate de Cristo.”
Mesmo assim, o Proclamadores afirma na mesma página:
Embora não possamos identificar positivamente nenhuma dessas
pessoas com “o trigo” da ilustração de Jesus, certamente “Jeová
conhece os que lhe pertencem”. — 2 Tim. 2:19.
Isto é verdade! Jeová conhece todos os que lhe pertenceram, os
“semelhantes ao trigo”, em todas as épocas. A Sociedade, todavia, não
consegue ‘identificar positivamente’ ninguém anterior ao século 19
que se enquadre na descrição de um grupo “alimentado” por uma sede
central (como a de Brooklyn), tendo exatamente as mesmas crenças
hoje adotadas pelas Testemunhas de Jeová.
O Corpo Governante procura, às vezes, dar a impressão (sem
afirmar) de que certos grupos religiosos do passado podem ter sido
seus antecessores.
Ele já publicou artigos bem positivos sobre os lolardos (A Sentinela,
1o de fevereiro de 1981, páginas 24 a 28), os valdenses (A Sentinela, 1o
de fevereiro de 1982, páginas 12 a 16), os anabatistas (A Sentinela, 15
de novembro de 1987, páginas 21 a 23), os colegiantes (A Sentinela, 15
de abril de 1999, páginas 23 a 26) e os “Irmãos Poloneses” (A
Sentinela, 1º de janeiro de 2000), páginas 21 a 23.
Apesar de algumas similaridades, porém, nenhum desses grupos
adotava todas as crenças atuais da Torre de Vigia. Embora os artigos
252 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

ressaltem os aspectos positivos de todos eles, em momento algum eles


são definidos como parte do “escravo fiel e discreto”. Parece que o
Corpo Governante quer que seus leitores deduzam isto (para reforçar
seu ensino de que estes “ungidos” sempre existiram), jamais ousando
afirmá-lo. Se admitisse que tais grupos do passado eram aprovados por
Deus, mesmo rejeitando certas crenças básicas hodiernas das
Testemunhas de Jeová, como condenar agora religiões como, por
exemplo, os Adventistas do Sétimo Dia e os cristadelfianos, com quem
têm tanto em comum?
Incoerência dos Argumentos
Sobre estes “ungidos” que teriam sido seus antecessores A Sentinela de
15 de julho de 1975, já citada, página 430 declara:
...ele [Cristo] os fortaleceria para alimentarem seus “domésticos”
durante todos os séculos. Evidentemente, uma geração da classe do
“escravo” alimentava a geração seguinte, além de continuar a alimentar
a si mesma.
Se, como a Torre de Vigia ensina, cada geração do “escravo”
alimentava a geração seguinte, onde está o registro histórico da
geração que antecedeu Charles Taze Russell, e que o alimentou?
Russell foi criado na Igreja Presbiteriana, depois se filiou à Igreja
Congregacional, e, finalmente, restaurou sua fé com os Adventistas,
“sob a orientação de Deus”, nas próprias palavras dele
(Proclamadores, páginas 43 e 44) Todas estas, segundo a Sociedade,
faziam parte da chamada “religião falsa”. Não podiam, portanto, ter
sido parte da classe do “escravo”.
Mais tarde, Russell reuniu-se com alguns conhecidos, e passaram,
por conta própria, e de modo independente, a pesquisar a Bíblia em
busca da verdade. Observe:
Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975), páginas 185 e
186:
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 253

Enquanto eles estudavam “independentemente” por volta de 1870, a


classe do “escravo”, pelo entendimento do Corpo Governante, já tinha
mais de 1800 anos de existência! Como foi possível que as pesquisas
de Russell e seus amigos progredissem sem a assistência e a
orientação do “escravo fiel e discreto” que estava atuante na época
dele? Afinal de contas, Russell não nasceu como membro do
“escravo”.
Além disso, a Sociedade declara, no Proclamadores, página 707,
parágrafo 2, a respeito de Russell:
Restabeleceu as grandes verdades ensinadas por Jesus e pelos
Apóstolos, e voltou a luz do século vinte sobre elas.
Se o acima é verdade, como é, então, que lemos na Sentinela de 15
de janeiro de 1961, página 51, parágrafo 14?
254 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Se tudo isso é verdade, por que as “grandes verdades de Jesus e dos


Apóstolos” precisavam ser restabelecidas? Restabelecidas de quê?
Não deveriam Russell e seus companheiros ter recebido essas
“verdades” da geração do “escravo” anterior à deles? Após 19 séculos
de iluminação progressiva não deveria a “luz brilhante” já estar num
estágio bem avançado? Não existe, todavia, nenhum registro de tal
coisa !
Russell estudou a Bíblia por conta própria, sem receber orientação
de nenhum grupo similar ao dos membros ungidos da Torre de Vigia,
existente antes dele. E tudo isto, apesar do que o próprio Corpo
Governante afirma na Sentinela de 15 de agosto de 1981, página 19:
Não há dúvida sobre isso. Todos nós precisamos de ajuda para
entender a Bíblia, e não podemos encontrar a orientação bíblica de que
precisamos fora da organização do “escravo fiel e discreto”.
Observe ainda o que diz A Sentinela 1o de junho de 1968, página
327, parágrafo 9:

Não há como fugir da contradição. Por um lado, o Corpo


Governante ensina que Russell e seus associados, num determinado
ponto de suas vidas, passaram a receber esclarecimento de Jeová,
“independentemente”, sem nenhum canal visível que os ajudasse. Por
outro, afirma claramente que o entendimento das Escrituras só é dado
a uma organização, e não a indivíduos.
Russell e seus companheiros, repetimos, não nasceram já membros
do “escravo”. Tampouco é preciso lembrar que em 1870 não existia a
revista A Sentinela (criada em 1879) nem a Sociedade Torre de Vigia
(formada apenas em 1884) e nenhum Corpo Governante funcionava
em Brooklyn ou em qualquer outra parte da Terra.
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 255

A conclusão que se tira é que o jovem Russell não precisou de


nenhuma organização preexistente ou de algum suposto “escravo fiel e
discreto” para chegar a muitas das conclusões que hoje a Sociedade
tem como verdadeiras.
Onde, então, diz a Bíblia que nós, os que vivemos hoje, só podemos
entender as Escrituras Sagradas por meio da organização liderada pelo
Corpo Governante?
Em parte alguma!
Tudo isso mostra ser uma estrutura frágil, criada como suporte de
autoridade e controle do Corpo Governante e que, além de não ter
sustentação bíblica, carece de lógica e coerência, como acabamos de
mostrar.
As Qualificações Desse “Escravo”
Não é só pelo que vimos até agora que não se pode aceitar o Corpo
Governante (ou a direção da Sociedade Torre de Vigia) como o
“escravo fiel e discreto”. Com base nas próprias afirmações do Corpo
Governante chega-se à conclusão de que este grupo de homens que
exerce a liderança espiritual entre as Testemunhas de Jeová não é e
nunca foi o “escravo fiel e discreto” ou parte dele.
Façamos uma análise honesta do assunto começando com A
Sentinela de 1o de maio de 1992, página 31, terceiro parágrafo:

A fórmula é bastante simples: toma-se uma parábola de Jesus (em


que ele ilustra dois tipos de indivíduos, os que bem o servem e os que
não o fazem); transforma-se esta parábola numa predição; diz-se que
não basta ler a Bíblia para se ver a luz, que é preciso “ajuda
256 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

divinamente provida”; que esta ajuda vem por meio de um grupo


especial de homens, o “escravo fiel e discreto”; e que o Corpo
Governante representa este escravo.
Ora, o raciocínio é que as palavras de Jesus em Mateus 24:45
atravessaram 19 séculos (pois, como já vimos, não existem elos nos
séculos intermediários) e transformaram-se numa designação que veio
cair diretamente nos ombros dos membros do Corpo Governante em
Brooklyn, no século 20! A primeira coisa que nos chama a atenção é
que nada disso pode ser visto na Bíblia.
Outras declarações, fruto exclusivo da imaginação de seus autores,
dizem na Sentinela de 15 de março de 1990, página 15:

O trecho acima transcrito diz que Jesus, após inspecionar a situação


religiosa da cristandade em 1918, refinou os membros da Torre de
Vigia (então chamados “Estudantes da Bíblia”), e em demonstração de
sua aprovação ele lhes conferiu, em 1919, uma “autoridade ampliada”.
Por tê-los considerado como um “escravo fiel e discreto” Jesus os
designou “sobre todos os seus bens”.
Cremos pessoalmente ser algo muito sério e uma pesada
responsabilidade que homens imperfeitos afirmem, com tanta certeza,
que o Filho de Deus fez uma determinada coisa (que a Bíblia não diz),
num determinado ano (que a Bíblia também não diz), e ainda mais que
isto ocorreu de modo invisível. Mas, enfim, cada um prestará contas a
Jeová de seus atos...
Fixemo-nos, então, nas palavras “fiel” e “discreto”. Elas expressam
as qualidades necessárias para se receber a aprovação e a designação
de Jesus. Qual seria a principal questão a ser avaliada durante a
inspeção de Jesus, supostamente ocorrida em 1918?
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 257

Vejamos o que diz o livro Aproximou-se o Reino de Deus de Mil


Anos (1975), páginas 350 e 351:

Como se saíram eles nesta “prova”?


A fidelidade e a discrição do “escravo”, bem como a qualidade do
alimento servido estavam em jogo.
Examinemos alguns exemplos do “alimento” que estava sendo
servido nos anos que antecederam 1918. O que teria Jesus encontrado
ao fazer, naquele ano, a inspeção que a Sociedade diz ter ocorrido?
1) Sobre 1914, o grande ano marcado das Testemunhas de Jeová, o
ensino da Sociedade era o seguinte:
O Tempo Está Próximo (1889), página 99:
Em vista da forte evidência bíblica relativa aos Tempos dos
Gentios, consideramos como uma verdade estabelecida que o final
definitivo dos reinos deste mundo e o pleno estabelecimento do Reino
de Deus estarão cumpridos por volta de fins de 1914 A.D. (Este livro é
mencionado no rodapé da página 53 do Proclamadores.)
Venha Teu Reino (1891), página 153:
E com o fim de 1914 A.D., aquilo que Deus chama de Babilônia e
os homens chamam de Cristandade terá passado, conforme já
258 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

demonstrado pela profecia. (Este livro é mencionado no rodapé da


página 53 do Proclamadores.)
Isto foi um alimento servido até 1914. Como os reinos do mundo
não se acabaram e nem a cristandade deixou de existir, isto mostrou ser
alimento de má qualidade, falsa profecia, coisa que Deus condena.
(Deuteronômio 18:21,22)
2) A partir de 1918 A Torre de Vigia continuou a preocupar-se com
“os tempos e as épocas”, e os destaques foram:
- Sobre 1918, data em que, segundo o Corpo Governante, começou
a ressurreição celestial dos “ungidos”, diz o livro Revelação — Seu
Grandioso Clímax Está Próximo!, página 103, parágrafos 11 e 12:

Não há na Bíblia nenhuma evidência de tal acontecimento em


1918. Mas o que poucas Testemunhas de Jeová sabem é que desde
1881 o ensino da Sociedade era de que a ressurreição dos ungidos
tinha começado a ocorrer em 1878.
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 148:
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 259

Como se vê, de fins do século 19 e até 1927 (oito anos depois da


alegada designação de 1919) o Corpo Governante estava ensinando
que a ressurreição espiritual já acontecera! A este propósito, o
apóstolo Paulo, referindo-se à apostasia de Himeneu e Fileto, escreveu
em 2 Timóteo 2:18:
“Estes mesmos se desviaram da verdade, dizendo que a
ressurreição já ocorreu, e estão subvertendo a fé de alguns.”
Não há dúvida sobre o que acontecia em 1918. O chamado “escravo
fiel e discreto” alimentava seu povo naquela época com um ensino
falso de que a ressurreição já tinha acontecido quarenta anos antes. O
mesmo pecado de Himeneu e Fileto lá no primeiro século! Será que
Himeneu e Fileto poderiam ter sido alistados como escravos fiéis e
discretos? De modo algum! Os membros da Torre de Vigia em 1919
também não.
A tendência de especular com datas não cessou depois da suposta
designação de 1919.
- Sobre 1925, que levaria para os céus os “ungidos” e que traria de
volta os servos de Deus do passado, ela afirmava o que segue em
Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão (1920), páginas 110 e 111
(veja fotocópia nas páginas 34 e 35):
... desde que outras escrituras definitivamente estabelecem o fato,
de que Abraão Isaque e Jacó ressuscitarão e outros fiéis antigos, e que
estes seriam os primeiros favorecidos, podemos esperar em 1925 a
volta desses homens fiéis de Israel, ressurgindo da morte e
completamente restituídos à perfeição humana. (Confira no livro
Proclamadores, página 78, parágrafo 3.)
260 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 146, parágrafos


1 e 2:

Pode-se considerar o livro que causou tal dano aos membros da


organização como “alimento no tempo apropriado”? Não terá sido
antes alimento estragado que fez mal aos que o consumiram?
3) O Mistério Consumado (The Finished Mystery) é um livro muito
citado na história das Testemunhas de Jeová. O livro Clímax de
Revelação (1988), página 165, parágrafo 16, refere-se a ele como “um
poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”. No Proclamadores,
página 69, diz-se que ele atingiu o número de 850.000 exemplares, que
só perdeu em vendas para a Bíblia e que ele foi um “sucesso”. Hoje,
no entanto, ele está fora de circulação, não é mais recomendado para
leitura das Testemunhas de Jeová, e poucas delas têm alguma idéia de
sua existência e muito menos do seu conteúdo.
Do que, enfim, tratava esse livro?
Eis aqui alguns destaques.
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 261

- Na página 258, explicando o significado de Revelação 16:20


(“Também toda ilha fugiu e não se acharam os montes”), ele diz:
Até as repúblicas desaparecerão no outono de 1920. Todos os
reinos da terra passarão, serão tragados pela anarquia.
- Na página 485, a explicação de Ezequiel 24: 25, 26:
Também, no ano de 1918, quando Deus destruir as igrejas em
escala total e os membros das igrejas aos milhões, ocorrerá que
qualquer um que venha a escapar virá em busca das obras do Pastor
Russell para descobrir o significado da derrocada do ‘cristianismo’.
- E ainda na página 542, explicando Ezequiel 35:15:
Assim como os apóstatas de mentalidade carnal do cristianismo,
aliados aos radicais e revolucionários, regozijar-se-ão diante da
herança de desolação que virá a ser da cristandade, depois de 1918,
assim fará Deus ao movimento revolucionário triunfante; será
completamente desolado, “mesmo toda ele”. Não sobreviverá nenhum
vestígio dele nas ruínas da anarquia mundialmente abrangente no
outono de 1920.
Tudo isto foi publicado no ano de 1917. Nada aconteceu. A Bíblia
realmente não predizia nada disto. Os autores deste livro (na época tido
como “alimento espiritual no tempo apropriado”) não foram fiéis a
Deus e Sua Palavra. Divulgando tais invenções humanas em 850.000
exemplares tampouco foram discretos. Este é o quadro “profético”
que Jesus teria encontrado em sua inspeção de 1918. Aqui se aplicam
as palavras de Jeremias 23:21:
Não enviei os profetas, no entanto, eles mesmos correram. Não falei
com eles, no entanto, eles mesmos profetizaram.
Além disso, no que diz respeito ao tipo de “alimento”, esta obra
entre outras coisas explicava que:
- No cumprimento de Revelação 14:20 (página 230) os “mil e
seiscentos estádios” representavam a distância entre Scranton,
Pensilvânia (onde o livro Mistério foi redigido) e Brooklyn, Nova
York, (sede da Sociedade). Segundo o livro isto correspondia ao
“pisamento do lagar”, mencionado em Revelação!
262 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

- Na página 230 o “beemote” descrito em Jó 40:16-20 prefigura a


“máquina a vapor”, que se destacou na época da Revolução Industrial.
Hoje a Sociedade entende o beemote como sendo o hipopótamo.
- O “leviatã”, descrito em Jó 41:1-34 (página 231) simbolizava a
“locomotiva” surgida no século 19. Atualmente a Sociedade ensina
que o leviatã é o crocodilo.
- O profeta Naum, segundo O Mistério Consumado (página 93), em
seu livro, capítulo 2, versículos 3 a 6, estava tendo a visão profética de
um trem em movimento! E explica que o “escudo tingido de
vermelho” do versículo l é o “farol da locomotiva”; os “homens de
energia vital” são “o maquinista e o foguista” e o “pano carmesim”
representa as “chamas da caldeira quando iluminam a cabina do
maquinista à noite”. As “lanças de junípero” representavam os “postes
de telégrafo ao lado da ferrovia”. Já no versículo 4 os “carros de
guerra” representam os “vagões do trem”, e as palavras “correndo
como os relâmpagos” referiam-se à fabulosa velocidade daquele novo
meio de transporte.
E assim prossegue o livro.
Será possível que se possa sinceramente considerar tudo isso como
‘alimento no tempo apropriado’ de algum valor espiritual?
Na época da Primeira Guerra Mundial O Mistério Consumado foi
proscrito nos Estados Unidos e no Canadá. Mais tarde, a própria
Sociedade o relegou ao esquecimento, deixando de imprimir e publicar
este “poderoso comentário sobre Revelação e Ezequiel”. A razão
parece bem clara.
Se Cristo tivesse realmente feito essa inspeção em 1918 o que teria
achado do livro O Mistério Consumado? Teria Ele dito ‘muito bem’
aos seus editores?
4) A neutralidade nas guerras, item tão prezado pela Sociedade
Torre de Vigia, que a coloca como um sinal de que ela é a única
religião verdadeira (embora haja outros, como os Cristadelfianos,
desde 1860, que não participam nas guerras), nem sempre foi plena,
mas transigente. Isto é admitido em algumas publicações.
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 263

Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 119:

A Sentinela de 15 de junho de 1987, página 15:

Proclamadores, página 191, parágrafos 3 e 4:


264 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Note que tudo isso aconteceu em 1918. Se Jesus fez realmente uma
inspeção naquele ano encontrou os membros da organização em
“violação da neutralidade cristã”, participando em “orações pela vitória
na guerra” e alguns chegando até a pegar em fuzis e baionetas e
tentando desarmar o “inimigo”.
Se a Sociedade considera, nos dias de hoje, que as religiões que
agem de modo similar (como os adventistas) não têm a aprovação de
Jeová, como puderam eles receber, lá em 1918, essa aprovação, e
ainda mais, uma designação de escravo fiel e discreto?
5) Até os anos 20 os membros da organização comemoravam não
só aniversários como também o Natal. O Anuário das Testemunhas de
Jeová de 1976, página 147, parágrafos 2 e 3, diz:

“Depois disso”, o parágrafo 4 do Anuário completa dizendo que


eles se livraram de coisas como os aniversários natalícios e o Dia das
Mães. Observe que tudo isso ocorreu após dezembro de 1928, isto é,
nove anos após a suposta designação por Jesus da Sociedade como
“escravo fiel e discreto” (em 1919). Toda esta informação (com
exceção de uma pequena discrepância quanto à data, 1926) pode ser
confirmada nas páginas 199 a 201 do livro Proclamadores.
Como pôde a Torre de Vigia presumir receber tal honra da parte de
Jesus quando ainda estava tão comprometida com algumas das
mesmíssimas coisas que as outras igrejas faziam?
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 265

6) A Grande Pirâmide de Gizé, no Egito, monumento funerário


pagão inspirado na imortalidade da alma, foi muito usado pela
Sociedade para fazer cálculos sobre eventos bíblicos. Este ensino,
lançado em 1886, foi confirmado em 1912 no livro Venha Teu Reino,
página 342, onde entre outras coisas está escrito:
Temos esta data-chave na junção da “Grande Passagem
Ascendente” com a “Grande Galeria”. Esse ponto assinala o
nascimento do nosso Senhor Jesus, enquanto o “Poço”, 33 polegadas
adiante, indica sua morte... Este cálculo mostra 1915 A.D. como
assinalando o começo do período de tribulação... Assim, a Pirâmide
testemunha que o final de 1914 será o início do tempo de tribulação tal
como nunca houve desde que as nações existem — não, e tampouco
haverá depois.
Este ensino piramidológico ainda estava em vigor em 1918 e 1919,
pois em 1922 A Sentinela (em inglês) de 15 de junho, página 187,
dizia:
Nas passagens da Grande Pirâmide de Gizé, a concordância de uma
ou duas medidas com a cronologia da verdade atual pode ser acidental,
mas a correspondência de dúzias de medidas prova que o mesmo Deus
desenhou tanto a pirâmide como o plano — e prova ao mesmo tempo a
exatidão da cronologia.
Tudo isso foi revogado em A Sentinela de 15 de novembro de 1928
(em inglês), página 341, que reconheceu o seguinte:
Se a pirâmide não é mencionada na Bíblia, então seguir seus
ensinos é ser levado pela vã filosofia e pela falsa ciência, e isso não é
seguir a Cristo.
Raciocínio correto! Só que se chegou a esta conclusão nove anos
após 1919! Naquele ano a Sociedade atribuía a Jeová algo que Ele
não fez, o projeto de um monumento pagão que nada tinha a ver com
a Bíblia! Estava sendo “levada pela vã filosofia e pela falsa ciência’, e
não estava “seguindo a Cristo”, tal como as organizações religiosas
que ela tanto condenava.
Terá sido isto uma demonstração de fidelidade a Deus e a Jesus?
Que espécie de escravo “fiel” era este, merecedor de ser “designado
sobre todos os bens” do Amo?
266 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Esta informação pode ser conferida no Proclamadores, página 201,


e na Sentinela, 1o de janeiro de 2000, página 9, parágrafos 16 e 17.
7) A reverência à bandeira e a exaltação de criaturas por parte da
Sociedade, pode ser observada em A Sentinela de 15 de maio de 1917,
página 150:

Tradução:
A bandeira americana foi adotada como um símbolo de liberdade.
Ela é um símbolo nacional. Enquanto alguns têm insistido em que
agora ela representa a guerra, isto dificilmente se harmoniza com os
fatos. Ela pode representar guerra para aqueles que desejam a guerra,
mas para os que amam a liberdade e a paz a bandeira representa
liberdade e paz... Desde que o Lar de Betel foi fundado, em um canto
da Sala de Visitas, vem sendo mantido um pequeno busto de Abraham
Lincoln com duas bandeiras americanas hasteadas sobre ele. Isto é
considerado altamente apropriado, tendo em vista o que o Sr. Lincoln
fez pelo governo e pelo povo dos Estados Unidos, e nisto nada vemos
de incompatível com o dever de um cristão.
Além do visto acima, havia também nessa época um considerável
culto à personalidade em torno de Charles T. Russell, fundador e
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 267

primeiro presidente da Sociedade, falecido em 1916. Isto faz parte de


uma lista de “práticas babilônicas”, que segundo o Corpo Governante
tornava a organização impura aos olhos de Deus. Veja A Sentinela de
1o de maio de 1989, páginas 3 e 4:

8) O preconceito racial é hoje combatido por praticamente todas as


religiões da cristandade e a Sociedade Torre de Vigia é firmemente
contra ele. Mas nem sempre foi assim. No começo do século 20, era
ainda muito difundida no mundo a idéia de que os brancos eram uma
raça superior ou favorecida. Mesmo sendo contra a escravidão, as
igrejas pareciam endossar esse pensamento, e nem a organização da
Torre de Vigia estava totalmente livre desse preconceito. Veja o que
dizia, por exemplo, A Sentinela (em inglês) de 15 de julho de 1902,
páginas 215 e 216:
Embora seja verdade que a raça branca apresenta algumas
qualidades de superioridade sobre qualquer outra, devemos lembrar
que há amplas diferenças dentro da mesma família caucasiana (semita
e ariana); e devemos recordar também que algumas das qualidades que
268 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

deram a este ramo da família humana sua proeminência no mundo não


são aquelas que se possam chamar de admiráveis em todos os
aspectos... O segredo da maior inteligência e aptidão dos caucasianos
deve ser, sem dúvida, a mistura de sangue entre seus vários ramos; e
isto foi evidentemente forçado em grande parte por circunstâncias sob
controle divino.
Será que ficou bem claro? O que este artigo defende não é que a
mistura das raças contribuiu para a maior inteligência e aptidão de
todos, não. O que ele diz é que a mistura entre os diversos ramos da
raça caucasiana (branca) aprimorou as qualidades dos próprios
caucasianos. E por “circunstâncias sob controle divino”!
Em 1929, a Sociedade ainda não havia se livrado de seu
preconceito, insinuando que os negros foram feitos para servir e, como
ensinavam os filósofos do racismo, eles [os negros] são mais felizes
assim.
A Idade de Ouro (antigo nome de Despertai!) de 24 de julho de
1929, página 702:
Acredita-se de modo geral que a maldição proferida por Noé sobre
Canaã deu origem à raça negra. É certo que quando Noé disse,
“Maldito seja Canaã, um servo dos servos é o que ele será de seus
irmãos,” ele delineou o futuro da raça de cor. Eles foram e são uma
raça de servos, mas agora na alvorada do século XX, estamos todos
passando a ver este assunto da servidão em sua verdadeira luz e a
descobrir que a única verdadeira alegria da vida está em servir aos
outros, não em comandá-los. Não há no mundo um servo tão bom
quanto um bom servo de cor, e a alegria que ele obtém em prestar um
serviço fiel é uma das mais puras alegrias do mundo.
Observe que o contexto aqui não é o de servir a Deus, mas sim o de
servir a homens. Se fosse o contrário, o artigo estaria dizendo que os
negros servem melhor a Deus que os brancos, o que também não é
verdade.
Estas duas citações, de 1902 e 1929, comprovam que em 1918 a
Torre de Vigia estava ainda maculada, como outras igrejas da época,
pela nódoa do preconceito racial. Teria sido ela, mesmo assim,
considerada apta a receber a mordomia de todos os bens de Jesus sobre
a terra?
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 269

9) O uso da cruz, hoje tão condenado pelas Testemunhas ungidas


do Corpo Governante como símbolo pagão, foi adotado por muitos e
muitos anos na organização.
Uma cruz adornava o teto do Brooklyn Tabernacle, escritório da
Sociedade, cuja foto pode ser vista no canto superior direito da página
216 do livro Proclamadores. Nesta foto (ampliada aqui) a cruz é a letra
“T” da palavra “tabernacle”.
270 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Gravuras de Jesus na cruz aparecem nos livros Milhões Que Agora


Vivem Jamais Morrerão (1920), página 95; Criação, página 225 e
Vida, página 230, ambos de 1929. Veja a fotocópia na página 25 do
livro Milhões.

O símbolo pagão de cruz e coroa, foi usado como alfinete de lapela


até 1928 e apareceu nas capas de A Sentinela até a edição de 15 de
outubro de 1931, ou seja, 11 anos depois de 1919, quando a Sociedade
afirma ter sido designada por Jesus sobre todos os seus bens!
Fotos de capas de A Sentinela (The Watch Tower) com a cruz e
coroa aparecem nas páginas 200, 576 e 724 do livro Proclamadores.
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 271

A Conclusão de Tudo Isso


Será interessante lermos as declarações do próprio Corpo Governante,
“representante do escravo fiel e discreto” acerca do que aconteceu
naquele período, 1914-1919.
A Sentinela, 15 de junho de 1981, página 26:

A Sentinela, 15 de janeiro de 1961, página 52, parágrafo 18:

Ainda na mesma revista, página 52, parágrafo 19:


272 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Portanto, a Sociedade admite claramente que os membros da


organização “venderam-se por práticas erradas”, andavam com “vestes
impuras” e tinham ainda “muitos costumes, características e crenças”
similares às da cristandade, como “joio”. Tinham “medo dos homens”,
não foram “estritamente neutros” e estavam “manchados” por práticas
religiosamente impuras. E esta era a situação deles em 1918 e 1919,
por ocasião da “inspeção e aprovação” de Jesus! E continuaram com
tais práticas ainda por vários anos após 1919!
E apesar de tudo isso, o livro Aproximou-se o Reino de Deus de Mil
Anos (1975) diz:
Página 354:
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 273

Página 356:

E no parágrafo 52:

Indica deveras uma enorme presunção!


O autor deste livro, o falecido Frederick Franz, certamente deixou
de levar em conta, em nome da “classe” que ele representava, as
palavras de Romanos 12:3:
... digo a cada um aí entre vós que não pense mais de si mesmo do
que é necessário pensar.
Ninguém viu essa designação dos Estudantes da Bíblia em 1919.
Foi invisível! A Bíblia não confirma a nomeação dessas pessoas,
homens e mulheres associados com a Torre de Vigia, como
274 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

recebendo uma mordomia sobre toda a humanidade. Os fatos,


conforme acabamos de ver, também não comprovam essa habilitação.
Se todos os itens que aqui mencionamos tornavam os membros da
organização tão impuros, conforme eles mesmos admitem, sendo até
necessário que o entronizado Rei os deixasse cair no cativeiro, como
foi possível que, no mesmo ano da inspeção, 1918, este mesmo rei
aprovasse seu desempenho? Em que base teria Jesus designado a eles
como “escravo fiel” dentre todas as religiões da terra, estando ainda
tão comprometidos?
De que modo se qualificaram para “maiores privilégios” se ainda
carregaram por uma década os mesmos erros de que tinham sido
culpados?
Não é lógico raciocinar que, para se reabilitarem no favor divino e
receberem uma promoção eles deveriam ter se purificado de tudo isso
antes da promoção?
É como se uma comissão judicativa de uma congregação das
Testemunhas de Jeová julgasse um irmão transgressor arrependido e,
logo em seguida, sem ele ter passado por um período de observação e
repreensão, os anciãos o recomendassem como servo ministerial ou
ancião.
Ron Frye, que serviu à organização em tempo integral por mais de
30 anos, fez a seguinte ilustração:
“É como se você fosse a um negociante que, devido à própria
insensatez, meteu-se em problemas financeiros e perdeu uma grande
soma de dinheiro seu, tendo de declarar falência. E você lhe dissesse:
‘Muito bem! Você perdeu uma pequena fortuna minha. Portanto, vou
agora entregar aos seus cuidados toda a minha fortuna’.”
A pergunta que serve de tema a este capítulo, “Será Realmente o
Escravo Fiel e Discreto?”, só pode ter como resposta, baseada nas
próprias afirmações e publicações provindas da Sociedade, que nem os
mais de 8.000 participantes dos emblemas (que não tomam parte das
decisões emitidas de Brooklyn) e nem os homens que estão hoje no
Corpo Governante são o Escravo Fiel e Discreto de Mateus 24:45.
Ao longo dos anos, as publicações da Sociedade trataram desta
pergunta num contexto tal como se ela requeresse uma resposta do
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 275

tipo: “É Fulano”, ou “É Sicrano”, ou “É o grupo tal”. De fato, como já


vimos, o que ela diz é que o “escravo” é uma classe e que não pode se
referir a indivíduos. Como podem eles, porém, ter certeza disto?
Não se pode esquecer dos inúmeros erros de interpretação
passados e recentes cometidos pela Sociedade, desde que Charles
Russell iniciou a publicação de A Torre de Vigia em julho de 1879
(1914, 1925, a nova identidade da grande multidão, a identidade das
“autoridades superiores”, a geração de 1914 que veria o fim, a época
da separação das ovelhas e cabritos, etc.).
Ela aplica erradamente Provérbios 4:18 (que simplesmente descreve
a vereda dos justos, assim como o versículo 19 descreve o caminho dos
iníquos) como justificativa para modificar periodicamente suas
interpretações. Eles chamam o conjunto de seus ensinamentos de “a
verdade”, mas a teoria da “luz crescente” serve de pretexto para o fato
de que uma parte desta “verdade” é descartável. A verdade, porém,
não pode ser descartável! Se um ensino antigo é revogado e
substituído por um novo ensino, isto significa que aquilo nunca foi
verdade. E se não era verdade era um ensino falso. E quem ensinou e
divulgou tais ensinos estava ensinando falsidade!
A Sociedade ensinou errado no passado e pode estar ensinando
errado agora. Vimos que suas credenciais de fidelidade e discrição no
suposto ano da designação (1919) são falhas. O alimento que serviu
deixou muito a desejar em termos de qualidade e teor nutritivo
espiritual.
Quem é, então, o escravo?
A Resposta Mais Simples
Mateus 24:45-51 nos conta uma parábola, e toda parábola tem uma
lição a transmitir. Examinemos algumas destas parábolas.
O homem que construiu sobre a rocha (Mateus 7:24-27)
Enaltece aquele que ouve e pratica as palavras de Jesus. Qualquer
pessoa que tome isso a peito terá como resultado a segurança da “casa
fundada sobre a rocha”; ela é capaz de resistir às tribulações do mundo
e não vir abaixo, como acontece com a casa construída sobre a areia. A
Bíblia não ensina que existe uma “classe” reservada para estes fins. Os
indivíduos simplesmente se encaixam num situação ou na outra.
276 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O bom samaritano (Lucas 10:30-37)


Representa a importância do amor ao próximo. Jesus acabara de
responder a um homem que perguntara sobre isso (versículos 27-29).
O sacerdote e o levita representam as pessoas que não têm amor ao
próximo (no caso, um desconhecido abandonado à beira da estrada).
Qualquer pessoa que, igual ao samaritano, demonstre amoroso
cuidado até para com um estranho, estará aplicando a lição da
parábola, sem precisar fazer parte de alguma “classe” do bom
samaritano.
O rei que perdoou a dívida (Mateus 18:23-35)
Esta ilustra o valor do perdão. Os indivíduos que absorvem esta
lição de Jesus mostrarão sempre a disposição de perdoar os outros
pelas ofensas (dívidas) que lhes fazem, não importando o tamanho
destas. Os que não mostram a qualidade cristã do perdão, por outro
lado, são condenados por sua falta de misericórdia. Esta é a lição. Não
temos de sair atrás de descobrir quem é a “classe do rei
misericordioso” ou a “classe do escravo iníquo.” Por sua conduta os
indivíduos mostram que são de um ou de outro tipo.
O homem que ajuntou bens em celeiros (Lucas 12:16-20)
Aqui a lição é a do perigo do materialismo. As pessoas que levam
suas vidas unicamente visando as riquezas e depositando nelas a sua
confiança perdem a aprovação de Deus e a bênção da vida eterna. Para
fugir desse perigo, será que precisamos identificar a “classe dos corvos
que não semeiam” (Lucas 12:24) e a “classe dos lírios que não labutam
nem fiam”? (Lucas 12:27)
A parábola do escravo fiel e discreto, tal como as outras, transmite
uma lição importante: a de bem servir a Jesus e a Deus por meio de
servir aos outros. Não diz que se aplica a uma classe. Tal como as
parábolas anteriores dirige-se a indivíduos, pessoas que por suas
atitudes mostrarão, caso a caso, quem é “escravo fiel e discreto”
(Mateus 24:45) e quem é “escravo mau” (Mateus 24:48). E o
“alimento no tempo apropriado”? Qualquer coisa que contribua para o
bem-estar dos outros. Veja 1 Pedro 4:10:
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 277

Na proporção em que cada um recebeu um dom, usai-o em


ministrar uns aos outros... como mordomos excelentes da benignidade
imerecida de Deus, expressa de vários modos.
A palavra “mordomo” (em grego oi.ko.nó .mos) empregada acima no
plural, é a mesma usada em Lucas 12:42, referindo-se ao mesmo
“escravo fiel e discreto” de Mateus 24:45. “Mordomo”, segundo o
Dicionário Michaelis, significa:
“Administrador de uma casa ou estabelecimento.”
Qualquer dom, portanto, que o cristão usa em favor de outros é
“alimento”. Podem ser as boas novas a respeito de Jesus (Atos 5:42),
que são fonte de alegria e de esperança na vida eterna. Podem ser
também o alimento físico, a bebida que mata a sede, a hospitalidade, a
vestimenta, o cuidado com os doentes e a solidariedade humana.
(Mateus 25:35, 36) Todos que, destes “vários modos”, “ministram uns
aos outros,” estão como que respondendo “Eu” à pergunta de Jesus,
“Quem é realmente o escravo fiel e discreto?” Esta é a atitude
recíproca, em que todos podem “servir alimento” e todos podem ser
“domésticos”, de acordo com a situação.
E ser designado “sobre todos os bens” de Jesus? Ora, a recompensa
maior, como Ele mesmo declarou, em Mateus 25:34:
Vinde... herdai o reino preparado para vós desde a fundação do
mundo.
Observe também que todo o contexto dos capítulos 24 de Mateus
diz respeito à terminação do sistema de coisas (Mateus 24:3 em diante)
e à imprevisibilidade da presença do Filho do homem. Veja:
Mateus 24:36
Acerca daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos
céus, nem o Filho, mas unicamente o Pai.
Esse dia e essa hora ainda não chegaram. Estão no futuro.
Mateus 24:39
... e não fizeram caso, até que veio o dilúvio e os varreu a todos,
assim será a presença do filho do homem.
Mateus 24:42
278 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Portanto, mantende-vos vigilantes, porque não sabeis em que dia


virá o vosso senhor.
Mateus 24:44
Por esta razão, vós também mostrai-vos prontos, porque o Filho do
homem vem numa hora em que não pensais.
Todos esses textos referem-se a algo que ainda vai acontecer, não
é verdade?
O próximo versículo desta seqüência é o 45, que menciona o
escravo fiel e discreto e que, como todo o contexto, refere-se ao
futuro. Não aconteceu em 1918 ou 1919, como já vimos. Nada, na
Bíblia ou nos fatos, comprova isto!
O apóstolo Paulo, concordemente, escreveu sobre a aprovação que
se dará com a vinda de Jesus, em 1 Coríntios 4:5:
Por isso, não julgueis nada antes do tempo devido, até que venha o
senhor... e então cada um terá o seu louvor da parte de Deus.
Conseqüentemente, também as palavras de Jesus em Mateus 24:46
e 47 ainda vão se cumprir, quando Ele chegar:
Feliz aquele escravo, se o seu amo, ao chegar, o achar fazendo
assim! Deveras, eu vos digo: Ele o designará sobre todos os seus bens.
Esperemos humildemente, sem a pretensão de querer saber em
detalhes e com datas marcadas que a Bíblia não especifica, para ver
como Cristo Jesus fará isso.
Houve Mesmo Um Corpo Governante ?
Conforme já citado na Sentinela de 1o de maio de 1992, página 31, o
Corpo Governante representa o “escravo fiel e discreto”, isto é, embora
cerca de 8.000 pessoas participem atualmente dos emblemas, apenas os
13 “ungidos” do Corpo tomam decisões. Na prática, quer dizer que os
membros do Corpo agem por delegação dos demais 8.000 “ungidos”.
Mas como se faz esta delegação? Nas sociedades comerciais, por
exemplo, os membros da diretoria são eleitos pela assembléia geral dos
membros. Os novos membros do CG são escolhidos pelo próprio CG,
quando, pela lógica, deveriam ser eleitos pelos 8.000 que se afirmam
ungidos, membros do “escravo fiel e discreto”! Como podem os
membros do Corpo Governante presumir representar todos os
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 279

“ungidos” sem receber destes nenhuma procuração? As únicas eleições


feitas na organização são as que elegem os membros das diretorias das
sociedades jurídicas, e não são os “ungidos” que votam. De que outro
modo os membros do Corpo poderiam sentir-se autorizados a
“governar”, quando constituem uma ínfima minoria da totalidade da
classe a quem, segundo o ensino da Sociedade, Jesus confiou a
administração de seus bens terrestres?
O ponto principal, porém, refere-se a afirmação de que havia um
Corpo Governante no primeiro século, formado pelos apóstolos e
outros, que governavam todas as congregações cristãs daquela época
(Conhecimento Que Conduz à Vida Eterna, página 161.) O raciocínio
é que, se havia tal corpo governante funcionando em Jerusalém, no
tempo dos apóstolos, ele tem de existir também atualmente. Isto
conferiria precedente bíblico a esse pequeno grupo de homens em
Brooklyn para decidir questões vitais, ditar leis, determinar o que é
certo e errado. Existiu mesmo este precedente do primeiro século?
Um Termo Inexistente
A expressão “corpo governante” não ocorre na Bíblia, e isto é mui
significativo já que um dos principais argumentos para a Sociedade
não crer na trindade é precisamente o fato de o termo “trindade” não
aparecer na Bíblia. A Sentinela de 15 de agosto de 1973, página 511,
afirma:

Há textos como Hebreus 13:7, 17, 24, que se referem aos homens
que tomavam a dianteira nas congregações, mas não falam num
280 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“corpo governante” central e é esta expressão que está em


consideração. A citação diz que há “bastante evidência” de que alguém
servia “nesta qualidade” no primeiro século.
A única evidência, na verdade, é que um corpo de apóstolos e
anciãos tomava conta da congregação de cristãos em Jerusalém.
Analisemos em que este corpo se assemelha ao que o Corpo
Governante em Brooklyn diz ser e em que ele difere:
Decisões de Brooklyn Têm o Mesmo Peso de Jerusalém?
Os apóstolos, anciãos e discípulos do primeiro século estavam, de fato,
sendo dirigidos por Deus, mediante Jesus e o espírito santo. A Bíblia o
comprova:
- O espírito santo veio sobre eles de modo visível. (Atos 2:1-4)
- O espírito santo revelou a Pedro coisas que normalmente ele não
poderia ter sabido. (Atos 5:3)
- O espírito santo orientou Filipe a falar com o eunuco etíope. (Atos
8:29)
- O próprio Jesus designou Paulo como apóstolo. (Atos 9:15)
Diferente do Corpo Governante em Brooklyn, que decide tudo
sobre as Testemunhas de Jeová, em toda a terra, e nada lhes é
“servido” sem partir do Corpo Governante ou ter sua aprovação,
considere estes fatos do primeiro século:
- O corpo de apóstolos e anciãos em Jerusalém não foi comunicado
por Jesus da designação de Paulo. (Atos 9:26, 27) Admite o Corpo
Governante que um membro qualquer (e Paulo, na ocasião, sequer era
cristão) da organização receba uma orientação de Jeová sem passar por
ele?
- Foi em Antioquia, e não em Jerusalém, que Jeová providenciou o
nome “cristãos” (Atos 11:26). Jeová passou por alto o “corpo
governante” da época? Admitiria hoje o corpo de Brooklyn que uma
nova denominação para a organização partisse de uma congregação em
qualquer parte da Terra?
- O espírito santo, sem passar pelo corpo de anciãos em Jerusalém,
orientou diretamente a congregação de Antioquia a enviar Paulo e
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 281

Barnabé em sua primeira viagem missionária. (Atos 13:2, 3) Admite


hoje a Sociedade que uma congregação envie um missionário ou
mesmo um “pioneiro” para algum lugar sem a aprovação dela?
- Até um pagão, Cornélio (que era temente a Deus mas ainda não
era cristão) recebeu instruções de um anjo de Deus. (Atos 10:22, 30,
31)
A evidência bíblica mostra que Jeová e Jesus não tinham um canal
exclusivo para transmitir suas verdades, e isto, no primeiro século,
quando ainda viviam os apóstolos! Seria isto privilégio dos 13 homens
de Brooklyn, Nova York? Por quê?
O Concílio de Jerusalém
Aquilo que é citado pela Sociedade como típico exemplo de uma
reunião do Corpo Governante do primeiro século jamais levou esta
denominação. Atos 15:4-29 relata uma reunião dos apóstolos e anciãos
da congregação de Jerusalém, não de um “corpo governante”, embora
a expressão seja fartamente usada nas publicações da Torre de Vigia.
Aquela reunião foi para tratar de um problema específico surgido entre
as congregações de Antioquia e Jerusalém (a questão da circuncisão),
causado por homens da Judéia (isto é, sob a jurisdição da congregação
de Jerusalém) que tinham ido a Antioquia. (Atos 15:1, 2, 24)
Além desta, a Bíblia não relata nenhuma outra reunião deste tipo, o
que descaracteriza a existência de um corpo governante que faz
reuniões regularmente.
É evidente que, a presença nessa reunião, de apóstolos diretamente
designados por Cristo conferia à decisão um peso especial para as
congregações de outros lugares. Além disso, a Bíblia confirma que o
espírito santo de Deus orientou a decisão final (Atos 15:28):
Pois pareceu bem ao espírito santo e a nós mesmos não vos
acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes coisas
necessárias.
Esta participação do espírito santo contribuiu, sem dúvida, para que
as decisões ali tomadas fossem aceitas pelos cristãos de outras cidades.
(Atos 16:4)
282 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Será que o Corpo Governante da Torre de Vigia pode, tal como o


corpo de anciãos de Jerusalém em Atos 15:28, levando em conta as
orientações erradas com respeito a datas proféticas, vacinas,
transplante de órgãos, frações de sangue, “geração de 1914”, separação
de ovelhas e cabritos e outras questões, dizer “pareceu bem ao espírito
santo e a nós mesmos...”?
Não, absolutamente não pode. E se não pode, tampouco pode impor
suas decisões às 6 milhões de Testemunhas de Jeová de todo o mundo,
para que elas a acatem do mesmo modo que se esperava dos cristãos
do primeiro século que acatassem as decisões dos apóstolos.
Simplesmente não há paralelo. Os apóstolos e discípulos do primeiro
século não tomaram decisões para ter de revogá-las anos depois, como
fez a direção da Sociedade Torre de Vigia.
Não há, portanto, similaridade de posições, funções e,
principalmente, de orientação divina, entre o corpo de anciãos da
Jerusalém do primeiro século e o Corpo Governante das Testemunhas
de Jeová.
E ainda que este corpo de anciãos de Jerusalém tivesse sido, de fato,
um corpo governante para todas as congregações daquela época, não
há evidência de tal corpo governante nos séculos que se seguiram.
Se o cristianismo ao longo dos séculos precisava de um corpo
governante, onde era sua sede? Onde ele se reunia para tomar suas
decisões, por exemplo, no quinto ou no décimo século? Se tal corpo
existiu durante todos estes séculos e era estritamente necessário aos
cristãos, por que Charles Taze Russell não se pôs à disposição dele em
vez de fundar a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados?
A resposta é óbvia: não havia nenhum corpo governante antes do de
Brooklyn. No entanto, conforme Jesus predisse com as palavras “eis
que estou convosco todos os dias até a terminação do sistema de
coisas”, os cristãos verdadeiros sempre existiram, e sem um Corpo
Governante!
Por que só hoje um corpo governante é indispensável? Estabelece a
Bíblia este requisito? A única organização religiosa professamente
cristã que a história registra, e que tinha já naquela época uma sede
governante, era a Igreja Católica, em Roma, e sua autoridade central,
Será Realmente o “Escravo Fiel e Discreto”? 283

absoluta, exercida sobre todas as congregações, era o papa. Será este o


exemplo em que se modela a Sociedade Torre de Vigia?
Ainda mais, de que fonte obteve este corpo governante de
Brooklyn sua autoridade?
Jesus escolheu seus apóstolos, e a Bíblia é bem clara quanto a isto.
(Marcos 3:13-19) Os apóstolos exerceram sua autoridade concedida
por Cristo até morrerem. Mas eles não deixaram sucessores
apostólicos! Quaisquer homens ou grupos de homens, hoje, que se
proclamem como autoridade na congregação cristã, o fazem por sua
própria conta, não podem alegar designação divina.
A Única Autoridade Para os Cristãos
Outro fato importante a considerar é que o primeiro século era o tempo
em que estavam sendo produzidas as Escrituras Gregas (Novo
Testamento). Na época em que ocorreu o concílio de Jerusalém só
existiam as Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento). O cristianismo
era algo novo, as Escrituras Hebraicas já não eram suficientes, pois um
novo pacto estava em vigor. Os apóstolos eram diretamente
orientados por Deus, ao produzirem decisões que, em muitos
aspectos, substituíam os arranjos da Lei de Moisés. À medida que
essas decisões inspiradas eram registradas por escrito e os apóstolos
iam morrendo, estes escritos assumiam o lugar dos próprios
apóstolos, tornando-se efetivamente a única autoridade para os
cristãos.
Os que querem assegurar-se de ter a orientação de Deus, devem
procurá-la na sua Palavra escrita, a Bíblia. A história registra a
existência de papas, patriarcas, bispos e arcebispos, sínodos, concílios
e corpos regentes, muitos destes responsáveis por decisões crassamente
antibíblicas. O ensino de homens tem valor relativo, jamais definitivo.
Não é a decisão votada por algum colegiado humano que nos faz
ganhar a aprovação divina, para que sejamos obrigados a aceitá-la
como se fôssemos “criancinhas”, quando Hebreus 5:14 diz:
O alimento sólido, porém, é para as pessoas maduras, para aqueles
que pelo uso têm as suas faculdades perceptivas treinadas para
distinguir tanto o certo como o errado.
284 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Pessoas maduras buscam a direção da Palavra de Deus e com base


nela tomam suas próprias decisões, pois no final das contas a verdade é
que “cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.” - Romanos
14:12.
Capítulo 13

Os 144 Mil e a “Grande Multidão”


– Quem São?

Há um só corpo, e um só espírito, assim como também fostes


chamados em uma só esperança: um só Senhor, uma só fé, um só
batismo. - Efésios 4:4-5
O texto acima deixa bem claro que há uma só esperança. A Torre de
Vigia, contudo, diz que a maioria dos textos das Escrituras Gregas se
aplicam apenas aos “ungidos”, isto é, os mesmos 144 mil de
Revelação (Apocalipse) 7:9. Mas onde é que a Bíblia diz isto? Em
lugar nenhum!
Segundo o Corpo Governante, Jesus se referia a uma classe terrena,
“a grande multidão” (Rev. 7:9), quando mencionou as “outras ovelhas”
em João 10:16:
E tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco, a estas também
tenho de trazer, e elas escutarão a minha voz e se tornarão um só
rebanho, um só pastor.
Quem seriam essas “outras ovelhas?
Deixemos a Bíblia esclarecer o assunto. Por ocasião do Concílio de
Jerusalém, em 49 E.C., Tiago recordou à congregação a profecia de
Amós 9:11, 12, de que os judeus seriam ajuntados a pessoas das
nações para buscar a Jeová. - Atos 15:16, 17:
Depois destas coisas voltarei e reconstruirei a barraca de Davi, que
está caída; e reconstruirei as suas ruínas e a erguerei de novo, a fim de
que os remanescentes dos homens possam buscar seriamente a Jeová,
junto com pessoas de todas as nações, pessoas chamadas por meu
nome, diz Jeová, que está fazendo estas coisas.
Antes disso, no versículo 9 deste mesmo capítulo, Pedro declarara
que Deus já não fazia distinção entre judeus e gentios, visto que cerca

285
286 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

de 13 anos antes, Cornélio e outros haviam se tornado os primeiros


gentios a entrar na congregação cristã. Lembremo-nos de que Jesus
proferiu as palavras em João 10:16 ainda durante seu ministério
terreno, antes, portanto, dos acontecimentos narrados no livro de Atos.
Já que, em parte alguma da Bíblia se diz que as ovelhas que já
estavam nesse aprisco eram os 144 mil e que as “outras ovelhas” eram
da “grande multidão” de Revelação 7:9, a conclusão bíblica a que se
pode chegar é que as “outras ovelhas” de João 10:16 eram os cristãos
das nações, reunidos aos seus irmãos judeus, sob a liderança do
único pastor, o cabeça da congregação cristã. Foi assim que Jesus
cumpriu aquilo que disse que faria em João 10:16.
Conceito Rígido
A Sociedade rejeita esse entendimento numa longa exposição na
Sentinela de 15 de janeiro de 1981, páginas 23-27. Começa dizendo
(página 23, parágrafo 6) que as “igrejas da cristandade afirmam” isso.
Com esta expressão, “igrejas da cristandade”, altamente negativa para
as Testemunhas, visa-se desacreditar a opinião contrária, além de
passar a impressão de que todos que a adotam pertencem a essas
igrejas, o que não é verdade, principalmente no que diz respeito aos
autores deste livro. Além disso, é um raciocínio falso o de que, pelo
mero fato de as igrejas adotarem certo ensino, este ensino esteja
automaticamente errado. A maioria delas ensina que a Bíblia é a
Palavra de Deus, que Jesus morreu em sacrifício pela humanidade, e
que há uma vida eterna pela frente. Isto não torna tais ensinos errados,
não é verdade?
No mesmo parágrafo 6, afirma-se que o entendimento de judeus e
gentios juntos no “um só rebanho” de João 10:16 “discorda de outros
textos bíblicos sobre o assunto”.
Esta é uma afirmação sem fundamento!
Que texto bíblico exclui a possibilidade de Jesus ter se referido aos
gentios quando mencionou as “outras ovelhas” em João 10:16?
Pessoas de ambos os grupos não vieram, de fato, a ser reunidas
quando aceitaram a Cristo?
Na página 23, parágrafo 7, da mesma revista, a Sociedade põe-se a
discorrer sobre o que João “pode muito bem ter recordado” quando
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 287

registrou as palavras de Jesus no capítulo 10, versículo 16, de seu


evangelho. O autor desse artigo de A Sentinela presume que João
tinha, a respeito dos 144 mil de Revelação, o mesmo conceito que
atualmente a Sociedade tem. Além de ser mera suposição, ele se
esquece de que as palavras escritas em João 10:16 não se originaram
do próprio João, que apenas as ouviu e escreveu. Foram palavras do
próprio Jesus. Logo, não podemos saber o que João porventura estava
pensando naquele momento, e nem isto vem ao caso.
Quem São os Irmãos de Jesus?
Outro argumento empregado pela Sociedade está na Sentinela de 1o de
novembro de 1974, páginas 671, 672.
Primeiro, ela cita vários textos em que Jesus chama seus discípulos
de “irmãos”. Até aí, tudo bem. Depois, ela recorda a parábola das
ovelhas e cabritos em Mateus 25:31-40, onde no final, Jesus diz às
ovelhas que lhe prestaram assistência simbólica:
Ao ponto que o fizestes a um dos mínimos destes meus irmãos a
mim o fizestes.
Então, vem a conclusão injustificada:
Revela-se assim que as “ovelhas” mencionadas aqui são diferentes
dos irmãos de Cristo.
Tal conclusão só acontece pela dedução arbitrária da Sociedade de
que não é possível que alguém seja “irmão de Cristo” e “ovelha” ao
mesmo tempo; neste caso, em João 10:16 Jesus estaria se referindo aos
144 mil e às “outras ovelhas”, estas com esperança terrestre.
Ela, no entanto, aplica outra regra, quando se trata da parábola do
“Escravo Fiel e Discreto”, de Mateus 24:42-47, onde se fala do
“escravo” e dos “domésticos”. Na Sentinela de 1o de setembro de
1981, página 24, ela determina:
As Testemunhas de Jeová entendem que o “escravo” é composto
por todos os cristãos ungidos como grupo... os “domésticos” são esses
seguidores de Cristo como indivíduos.
Observe bem: neste caso, segundo a Sentinela, cristãos ungidos são,
ao mesmo tempo, os que dão o alimento e os que o recebem. E este é
um princípio biblicamente correto! O bom cristão tanto serve aos seus
288 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

irmãos como é servido por eles. Isto também se ajusta às palavras de


Jesus a Pedro, em João 21:17:
Apascenta as minhas ovelhinhas.
Pedro, com certeza, era também uma das ovelhas de Jesus,
presentes no aprisco de João 10:16, e assim mesmo foi admoestado a
apascentar outras ovelhas deste aprisco. Do mesmo modo, Pedro
tanto podia ser, segundo a circunstância, um dos “irmãos” de Cristo
quanto uma das “ovelhas”, na parábola das ovelhas e dos cabritos.
O Testemunho de Paulo
O apóstolo Paulo, em notável paralelo com João 10:16, dirigiu-se a
cristãos gentios de Éfeso, descrevendo o processo de unificação dos
dois grupos, em Efésios 2:11-18.
Portanto, persisti em lembrar-vos de que anteriormente éreis
pessoas das nações quanto à carne; fostes chamados “incircuncisão”
por aquilo que é chamado “circuncisão”, feita na carne, por mãos —
que naquele tempo específico estáveis sem Cristo, apartados do
estado de Israel e estranhos aos pactos da promessa, e não tínheis
esperança e estáveis sem Deus no mundo. Mas agora, em união com
Cristo Jesus, vós, os que outrora estáveis longe, chegastes a estar
perto pelo sangue do Cristo. Pois ele é a nossa paz, aquele que das
duas partes fez uma só e que destruiu o muro no meio, que os
separava. Por meio de sua carne, ele aboliu a inimizade, a Lei de
mandamentos, consistindo em decretos, para que dos dois povos, em
união consigo mesmo, criasse um novo homem e fizesse paz; e para
que reconciliasse plenamente ambos os povos com Deus, em um só
corpo, por intermédio da estaca de tortura, porque ele matara a
inimizade por meio de si mesmo. E ele veio e declarou as boas novas
da paz a vós, os que estáveis longe, e paz aos [que estavam] perto,
porque, por intermédio dele, nós, ambos os povos, temos a
aproximação ao Pai, por um só espírito.
Eis aí o processo pelo qual Jesus reuniu num mesmo rebanho as
“ovelhas” judias e as “ovelhas” das nações. Se o destino final destes
dois grupos fosse, como afirma a Sociedade, respectivamente o céu e a
terra, com funções e posições diferentes em relação a Deus e a Cristo,
estes dois grupos de ovelhas jamais se tornariam um só rebanho.
Estariam antes, definitiva e eternamente separados. De fato, poder-se-
ia dizer que acontecerá o inverso, pois, a ser verdadeiro o ensino da
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 289

Sociedade, os dois rebanhos estariam, até agora, juntos na terra, os


membros das “outras ovelhas” com os remanescentes dos 144.000
(cerca de 8.000 participantes dos emblemas). Com o tempo, no
entanto, de acordo com o Corpo Governante, estes ungidos restantes
morreriam e ressuscitariam aos céus, enquanto que as “outras ovelhas”
permaneceriam aqui na terra. Em outras palavras, no final de tudo, os
dois grupos ficariam em diferentes apriscos, um no céu e outro na
terra. Não é isso, porém, o que está escrito na Palavra de Deus e sim
“tenho outras ovelhas, que não são deste aprisco, a estas também
tenho de trazer, e elas escutarão a minha voz e se tornarão um só
rebanho, um só pastor. (João 10:16)
Os 144 Mil
Evidentemente, em várias de suas publicações, a Sociedade afirma que
várias passagens das Escrituras Gregas se aplicam exclusivamente aos
144.000 mencionados em Revelação. Ela diz, por exemplo, que apenas
os 144 mil reinarão com Cristo no céu. Já que é preciso fundamento
bíblico para isso, podemos considerar os dois únicos textos da Bíblia
em que se mencionam os 144 mil:
Revelação. 7:4 - E ouvi o número dos selados: cento e quarenta e
quatro mil, selados de toda tribo dos filhos de Israel. (E passa a alistar,
até o versículo 8, 12 mil selados por cada tribo dos filhos de Israel)
Revelação. 14:1, 3 - E eu vi, e eis o Cordeiro em pé no monte Sião,
e com ele cento e quarenta e quatro mil, que têm o nome dele e o nome
de seu Pai escrito nas suas testas... E estão cantando como que um
novo cântico diante do trono e diante das quatro criaturas viventes e
dos anciãos; e ninguém podia aprender esse cântico, exceto os cento e
quarenta e quatro mil que foram comprados da terra.
Um Entendimento Literal
Como se pode constatar acima, nenhum dos dois únicos textos bíblicos
que mencionam os 144.000 diz que eles reinarão com Cristo. Os
textos afirmam que eles são de “toda tribo dos filhos de Israel” e que
foram “comprados da terra.” Mostra, porém, a Bíblia que estes 144 mil
seriam os únicos comprados? Em Revelação 5:9, 10, João se refere a
um grupo com características diferentes das do grupo dos 144 mil:
E cantam um novo cântico, dizendo: “Digno és de tomar o rolo e de
abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste
290 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

pessoas para Deus, dentre toda tribo, e língua, e povo, e nação, e


fizeste deles um reino e sacerdotes para o nosso Deus, e hão de
reinar sobre a terra.”
Este texto não pode estar se referindo aos 144 mil de Revelação 7:4
e 14:1, 3, pois estes dois últimos referem-se a “toda tribo dos filhos de
Israel”, enquanto que o grupo mencionado no capítulo 5 é composto de
pessoas dentre “toda tribo, língua, povo e nação.” Com maior
probabilidade, estas palavras se referem à “grande multidão”
mencionada em Revelação 7:9, que diz:
Depois destas coisas eu vi, e, eis uma grande multidão, que nenhum
homem podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas,
em pé diante do trono e diante do Cordeiro, trajados de compridas
vestes brancas; e havia palmas nas suas mãos.
Agora, compare Revelação 5:9, 10 com Revelação 7:9. Ambos
mencionam as mesmas características, isto é, de todas as tribos,
povos, línguas e nações, sendo que Revelação 5: 9, 10 acrescenta que
os desse grupo “hão de reinar” sobre a terra.
Em seguida, compare estas duas passagens com Revelação 14:1-4.
Diz a respeito dos 144 mil que eles têm o nome de Deus e do Cordeiro
em suas testas, que cantam um novo cântico que ninguém mais
aprendia, que foram comprados da terra, que não se poluíram com
mulheres, que seguem o Cordeiro para onde ele vai e são primícias
para Deus, mas em parte alguma diz que estes 144 mil “hão de
reinar” sobre a terra! Revelação 20:6 tampouco faz menção aos 144
mil.
É claro que a Sociedade sustenta o contrário, dizendo que
Revelação 5:9, 10 refere-se ao grupo de Revelação 7:4 e 14:1, 3, e que
a “grande multidão” de Revelação 7:9 não tem nada a ver com isso.
Mas, o que devemos seguir? A Bíblia ou o Corpo Governante?
É óbvio, também, que a Sociedade exclui totalmente a
possibilidade de que os 144 mil sejam israelitas carnais. Em Revelação
- Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, página 117, parágrafo 11, ela
argumenta:
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 291

Não pode isso referir-se ao Israel literal, carnal? Não, porque


Revelação 7:4-8 diverge da costumeira listagem tribal. (Números 1:17,
47)
Quem determinou, porém, que esta listagem de Números, capítulo
1, é a “costumeira”?
Em Números 13:4-16 há uma listagem que difere daquela do
capítulo 1; em Josué, capítulos 13 ao 19, aparece outra diferente
daquelas duas. Já Deuteronômio 33:6-24 apresenta uma listagem
diferente de todas as outras. Conclusão: não existe uma “costumeira
listagem”. E ainda que existisse, é inteiramente arbitrário o argumento
de que isso determina o entendimento dos 144.000 como não sendo
literais.
Outra Explicação: A Figurativa
Todos reconhecem que grande parte do livro de Revelação tem sentido
figurativo. A questão é determinar quando as coisas descritas são
figurativas ou literais. Tendo isso em vista, há um problema com a
interpretação dada pelo Corpo Governante às palavras de Revelação.
Nesta interpretação (obrigatória para todas as Testemunhas de
Jeová) de Revelação 7:4 e 14:1, 3, o número 144.000 tem de ser
literal. Já as parcelas de 12.000 têm de ser figurativas, visto que ela
rejeita totalmente a possibilidade de que as tribos sejam literais. Se o
total é literal, as parcelas tribais também deveriam ser. Se se considerar
que as parcelas são figurativas, o mesmo deveria ser aplicado ao total.
A interpretação da Sociedade, portanto, é incoerente.
Ao ensinar a existência de duas classes de cristãos, o Corpo
Governante explica que os 144 mil não são do Israel literal, e sim do
Israel espiritual, simbólico, e que estes “israelitas” são, de fato, pessoas
de todas as nações. Neste caso, o que os distingue da “grande
multidão” de Revelação 7:9, que também é formada de pessoas de
todas as nações? NADA.
Vale a pena repetir aqui que, em Revelação 5:9, 10, onde se
menciona o grupo que reinará com Cristo, não se faz referência alguma
aos 144.000, como crê a Sociedade. Para ser coerente e argumentar em
favor da participação dos 144 mil no reino, a Sociedade teria de
292 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

estender a participação no reino também à grande multidão.


Incoerentemente, porém, ela se fixa na existência de duas classes.
Se o número 144 mil for simbólico (o que a Sociedade nega)
poderíamos dizer, por exemplo, que ele representa o total de todos os
que estarão no céu com Cristo. Defendendo, neste caso, a literalidade,
a Sociedade argumenta que em Revelação 7:4 dá-se um número fixo,
144 mil, ao passo que no versículo 9 lemos que “Depois destas coisas”
vê-se a “grande multidão” que ninguém podia contar.
Por outro lado, quando explica os “vinte e quatro anciãos com
coroas de ouro” (Rev. 4:4), no livro Revelação - Seu Grandioso
Clímax Está Próximo, página 77, parágrafos 8 e 9, o Corpo
Governante diz que eles são representativos de todos os ungidos
ressuscitados, isto é, 24 não são realmente 24, mas um número maior.
Aqui a Sociedade optou pelo simbolismo, em mais uma prova de
incoerência de interpretação. Pergunta-se, então: se 24 podem
representar um número maior de ungidos, por que os 144 mil não
podem representar o total dos que vão para o céu com Cristo?
Outro indício em favor do simbolismo desses números está em
Revelação 14:3, onde se diz que os 144.000 estão cantando um novo
cântico diante dos anciãos, os mesmos que segundo a Sociedade
“simbolizam o grupo inteiro dos 144 mil na sua posição celestial.”
(Clímax de Revelação, página 201, parágrafo 11). O entendimento
literal deste versículo implicaria em 144 mil pessoas cantando diante
de outras 24, num total de 144.024 pessoas. Este cenário incoerente
(do ponto de vista literal) é retratado nas páginas 202 e 203 de Clímax
de Revelação. A interpretação da Sociedade é que os 144 mil e os 24
anciãos são o mesmo grupo “visto de dois ângulos diferentes”. Veja
as gravuras na página seguinte:
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 293

Logicamente, vem a pergunta: por que o mesmo não pode se aplicar


à “grande multidão”?
294 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Vale ressaltar que na gravura das páginas 202 e 203, os dois grupos
aparecem usando coroas, embora o texto de Revelação informe que
apenas os 24 anciãos têm coroas.
Por outro lado, Revelação 14:3 diz que, mesmo estando presentes os
24 anciãos, ninguém, exceto os 144 mil, podia aprender o “novo
cântico”. Torna-se realmente, nesta base, muito difícil para a
Sociedade sustentar, de modo coerente, que os 144.000 sejam
obrigatoriamente um número literal em meio a tantos contextos
figurativos.
Ainda falando dos números de Revelação, podemos citar os 7
espíritos (1:4), as 7 estrelas (1:16), os 10 dias (2:10), os 24 tronos e as
7 lâmpadas (4:4, 5), as 4 criaturas viventes (4:6, 7), os 7 chifres e os 7
olhos do Cordeiro (5:6), a quarta parte da terra (6:8), os 4 anjos e os 4
cantos da terra (7:1), a terça parte das árvores, das criaturas e dos rios
(8:7-12). Todos estes são apresentados pela Sociedade como sendo
figurativos. Por que também não podem ser figurativos os 144.000?
“Diante do Trono”
O ensino oficial da Sociedade Torre de Vigia a respeito dos 144 mil é,
conforme vimos, de que apenas estes irão para o céu enquanto que os
da “grande multidão” ficarão na terra. Será que há na Bíblia
fundamento para tal crença? Será que a Bíblia ensina a existência de
duas classes distintas de cristãos?
Para deixar que a própria Bíblia fale, é necessário examinar os
textos que o Corpo Governante aplica ao que ele entende como sendo
um grupo no céu e outro na terra.
A “grande multidão” é mencionada em Revelação 7:9:
Depois destas coisas eu vi... uma grande multidão.
Em Revelação 19:1, lemos:
Depois destas coisas ouvi o que era como a voz alta duma grande
multidão no céu.
A Sociedade aplica arbitrariamente as palavras de Revelação 5:9
aos 144.000, dizendo que são comprados “dentre toda tribo, e língua e
povo e nação”. A mesma coisa, porém, se diz a respeito da “grande
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 295

multidão” em Revelação 7:9, de “todas as nações, e tribos e povos, e


línguas”.
O texto de Revelação 14:3, segundo o Corpo Governante, se aplica
apenas aos 144 mil, que “estão cantando como que um novo cântico
diante do trono”. Com esta expressão, “diante do trono”, a Sociedade
entende que os 144 mil estão no céu. Veja, no entanto, o que se declara
a respeito da “grande multidão” em Revelação 7:9:
Eis uma grande multidão em pé diante do trono e diante do
Cordeiro.
“Diante do Cordeiro” estão também os 24 anciãos (que segundo a
Sociedade, representam os 144 mil) de Revelação 5:8: “...prostraram-
se diante do Cordeiro”.
Revelação 6:11 diz:
E a cada um deles foi dada uma comprida veste branca...
Este versículo a Sociedade aplica aos 144.000, os “ungidos”
(Clímax de Revelação, página 102, parágrafo 11). Todavia, o mesmo
se diz da “grande multidão”, em Revelação 7:9:
...uma grande multidão... trajados de compridas vestes brancas.
O Corpo Governante aplica Revelação 19:1 a pessoas que estão no
céu, quando dizem: “A salvação, e a glória e o poder pertencem ao
nosso Deus”. Coisa semelhante, porém, ocorre com a “grande
multidão” em Revelação 7:10, que diz: “Devemos a salvação ao nosso
Deus”.
Revelação 7:14 nos informa ainda que os da grande multidão,
“...lavaram as suas vestes compridas... e as embranqueceram no
sangue do Cordeiro”, enquanto Revelação 22:14, que segundo a
Sociedade se refere aos “ungidos” (Clímax de Revelação, página 317,
parágrafo 8) diz: “Felizes aqueles que lavam as suas vestes
compridas...”
Por fim, num dos aspectos mais significativos destes paralelos que
assemelham os 144 mil à “grande multidão”, encontramos o seguinte
em Revelação 11:1:
296 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

E foi-me dada uma cana igual a uma vara, ao dizer-me ele:


“Levanta-te e mede [o santuário] do templo de Deus e o altar, e os que
nele adoram”.
Em Clímax de Revelação, página 168, parágrafo 6, a Sociedade
explica que essa passagem se aplica aos ungidos, os 144.000. E, tal
como em outras passagens, o “templo de Deus” representa o céu. Aí,
encontramos em Revelação 7:15, sobre a “grande multidão”:
É por isso que estão diante do trono, e prestam-lhe serviço
sagrado, dia e noite, no seu templo”.
Tanto em Revelação 11:1 como em Revelação 7:15, a palavra grega
para templo é naós, o que deixa bem claro que a “grande multidão” e
os 144.000 são descritos pela Bíblia como estando no mesmo lugar, o
céu. Ao invés de simples e humildemente aceitar o que diz a respeito
do assunto a soberana Palavra de Deus, o Corpo Governante esforça-se
para provar que o naós de Revelação 11:1 e o naós de Revelação 7:15
não são a mesma coisa!
Em A Sentinela de 15 de fevereiro de 1981, página 15, a Sociedade
diz que naós “muitas vezes refere-se ao santuário interior, que
representa o próprio céu”. Em seguida, procura demonstrar que naós
pode também referir-se ao templo inteiro, ou sua parte exterior, para
logo em seguida, arbitrariamente, concluir que a “grande multidão”
está servindo a Deus, não no céu, mas no pátio terreno do templo!
Chamamos a atenção para o fato de que parte alguma de Revelação diz
tal coisa.
Confira o que dizem, a respeito do assunto, outras publicações da
Sociedade.
A Sentinela de 15 de janeiro de 1961, página 40, diz:
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 297

Também o livro Cumprir-se-á Então o Mistério de Deus (1971),


página 260, parágrafo 4, declara:

Como se vê, estas duas publicações da Sociedade distinguiram a


área total do templo (grego: hierón) do edifício do templo (grego:
naós). Daí, na já citada revista, de 15/2/81, página 15, parágrafo 5, ela
se contradiz afirmando:

Toda essa discussão em torno de palavras gregas, todavia, se mostra


desnecessária diante do fato simples de que a Bíblia usa a mesma
palavra, naós, para descrever o lugar em que se encontram tanto os
144.000 como a “grande multidão”. Estão no mesmo lugar, o céu!
Qualquer coisa que vá além disso, será interpretação humana. (1
Coríntios 4:6)
Negando-se a admitir que os da “grande multidão” estão no céu (o
templo simbólico), à Sociedade não resta outra coisa senão dizer o que
lemos na Sentinela de 1º de julho de 1973, página 402:
298 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A interpretação do Corpo Governante da Torre de Vigia coloca a


“grande multidão” no “pátio dos gentios”. O que diz a Bíblia sobre este
pátio? Revelação 11:2 responde:
Mas, quanto ao pátio que está de fora do [santuário do] templo,
lança-o completamente fora e não o meças, porque foi dado às
nações, e elas pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses.
A versão Almeida Revista e Atualizada traduz este mesmo versículo
por “foi dado aos gentios”.
A Tradução Interlinear do Reino (em inglês), publicada pela
Sociedade, na página 1089, mostra que a palavra grega em Revelação
11:2 é naós, ou seja, o pátio está “fora do naós”, fora do templo!
Quanto a este pátio, nenhuma dúvida pode haver de que, no
simbolismo de Revelação, ele está na terra, pois é inadmissível que o
“pisoteamento” da cidade santa possa ocorrer nos céus.
O texto diz que o pátio deve ser “lançado completamente fora”, não
deve ser “medido”. Fica bem claro que os que nele estão, não estão
numa condição aprovada, são opressores da adoração de Deus, e não
apoiadores dela. Como é possível, então, que no pátio esteja a “grande
multidão” que afirma “dever sua salvação a Deus e ao Cordeiro
(Revelação 7:10) e que, diante do trono de Deus, prestam-lhe serviço
sagrado, dia e noite, no seu templo? (Revelação 7:15)
A Bíblia, pois, é clara: a “grande multidão” está no templo e não
fora dele! No céu, não na terra.
Para ver de modo bem claro o ponto de vista da Sociedade, compare
a gravura do templo na página 17 da Sentinela de 15 de fevereiro de
1981 com a planta e a gravura do templo que aparecem na página 1534
da Tradução do Novo Mundo Com Referências (1986), e verá que é
exatamente no pátio dos gentios, “lançado completamente fora” e
“não medido”, que a Sociedade coloca a “grande multidão”.
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 299

A Sentinela 15 de fevereiro de 1981, página 17:


300 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Tradução do Novo Mundo com Referências, página 1534:

Resta alguma dúvida de que a Bíblia diz uma coisa e o Corpo


Governante ensina outra?
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 301

O Pequeno Rebanho
Há ainda o texto de Lucas 12:32, que a Torre de Vigia acredita referir-
se também a um número fixo de 144.000 pessoas. O que ele diz?
Não temas, pequeno rebanho, porque aprouve a vosso Pai dar-vos o
Reino.
Na crença da Sociedade, o “pequeno rebanho” contrasta-se com a
“grande multidão”. É preciso, no entanto, haver apoio bíblico para
este entendimento, e tal apoio não existe. Esta passagem, bem como as
que falam dos 144 mil, não estão no mesmo contexto. Em parte
alguma da Bíblia se faz ligação entre Lucas 12:32 e Revelação 7:4 e
14:1. Tampouco é difícil entender o que Jesus quis dizer com estas
palavras, “pequeno rebanho”.
A quem Jesus tinha diante dele quando as proferiu? Lucas 12:22
nos informa que, naquele momento, Jesus se dirigia aos “seus
discípulos”, os discípulos que ele tinha na ocasião, e estes eram
poucos, constituíam um grupo pequeno. Nada mais apropriado, então,
que, ao encorajá-los com a promessa do reino, ele os chamasse de
“pequeno rebanho”. Caso se pretenda dar a estas palavras um alcance
maior do que o daquele momento, e aplicá-las aos cristãos de todas as
épocas, podemos lembrar-nos do que o próprio Jesus ensinou em
Mateus 7:13, 14:
Entrai pelo portão estreito; porque larga e espaçosa é a estrada que
conduz à destruição, e muitos são os que entram por ela; ao passo que
estreito é o portão e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são
os que o acham.
Em relação aos “muitos” que rejeitariam segui-lo, preferindo a
“larga e espaçosa estrada da destruição”, seus seguidores, que acham o
“caminho estreito e apertado da vida”, seriam sempre “poucos”. A
própria “grande multidão” torna-se pequena em comparação à
população total da terra que perde a oportunidade de entrar no rebanho
de Cristo.
Conclusão
Como vimos, quase todos os textos que se aplicam aos 144 mil
também se aplicam à “grande multidão”.
302 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Contudo, só dos 144 mil é que a Bíblia fala como “selados” (Rev.
7:4), que eles estão de pé no monte Sião (Rev. 14:1) e que só eles
podem aprender o novo cântico (Rev. 14:4). É verdade que não se diz
isto da “grande multidão”.
Por outro lado, não é dos 144 mil que ela diz que “hão de reinar
sobre a terra”, em Revelação 5:9, 10. Não há menção aos 144 mil no
capítulo 5, embora a Sociedade insista em dizer que estes dois
versículos se aplicam a eles. A Sociedade deixa de levar em conta que
os mencionados em Revelação 5:9, 10 são “comprados dentre toda
tribo, língua, povo e nação”. Revelação só afirma a mesma coisa a
respeito da “grande multidão” (Rev. 7:9). É destes, de toda tribo, povo,
língua e nação, que se faz um “reino e sacerdotes” (Rev. 5:10). Em
momento algum, no capítulo 5 de Revelação, se relaciona isto aos 144
mil.
No capítulo 20, versículo 6, diz-se, sobre os que têm parte na
primeira ressurreição, que “serão sacerdotes de Deus e do Cristo, e
reinarão com ele [durante] os mil anos.”
A Sociedade também aplica isto aos 144 mil, mas, novamente, os
144 mil não são mencionados neste capítulo. Igualmente, não se fala
dos 144 mil como sentados em tronos e como usando coroas de
ouro; isto só é dito a respeito dos 24 anciãos (Rev. 4:4). A Sociedade
ensina que os 24 anciãos representam os 144 mil, mas em Revelação
14:4 fala-se deles como grupos separados, um diante do outro
(Clímax de Revelação, páginas 202, 203).
Se tomarmos o texto de Revelação só pelo que ele diz, os 144 mil
não reinarão com Cristo. Mas, se pensarmos bem, levaremos também
em conta o que ele não diz! Como assim? Revelação não diz que os
144 mil não reinarão com Cristo, como também não diz que a “grande
multidão” está na terra. Revelação diz que os 144 mil estão no Monte
Sião, mas não diz que os da “grande multidão” não estão. Revelação
não diz que os da “grande multidão” não são selados. Em muitos
casos, Revelação afirma coisas mas não nega outras!
Se aceitarmos os 144 mil como número literal, temos de aceitar
também como literais as parcelas tribais de 12.000, e as próprias tribos
de Israel em Revelação 7:4-8 como sendo literais, carnais. E assim
mesmo, eles não seriam os únicos a ir para o céu, pois Revelação,
Os 144 Mil e a “Grande Multidão” – Quem São? 303

como já vimos, retrata a “grande multidão” como estando lá. Esta não
é, obrigatoriamente, a interpretação correta, mas é, pelo menos, uma
interpretação coerente.
Se, por outro lado, considerarmos os 144 mil como mais um
número figurativo dentre tantos outros números figurativos de
Revelação, poderemos muito bem entendê-los como representativos de
todos os que vão para o céu, do mesmo modo que os 24 anciãos
podem representar a totalidade dos 144 mil. Poderíamos entender os
144 mil como simbólicos, um número ideal, a soma completa de todos
os que se tornam israelitas espirituais, independentemente de
quantos eles venham a ser. A “grande multidão”, neste caso, poderia
simplesmente representar também os israelitas espirituais, vistos do
ponto de vista da realidade, o cumprimento do ideal simbólico
representado pelos 144 mil. Esta é, também, uma interpretação
coerente com os simbolismos de Revelação.
Antiga Crença da Sociedade
A própria Sociedade, outrora, considerava a “grande multidão”
também como classe celestial (livro Proclamadores, página 161),
vindo a mudar sua interpretação em 1935, por meio de um discurso
que Joseph Rutherford proferiu em Washington em 31 de maio
daquele ano (Proclamadores, páginas 166-168, e A Sentinela de 1o de
março de 1988, página 12). Ele, Rutherford, sozinho, proveu esta
interpretação, à qual, nem as Testemunhas de Jeová daquela época,
nem as da atualidade é permitido refutar.
Não temos aqui a pretensão de Rutherford e do Corpo Governante
atual, de sermos porta-vozes de Deus, ou “seu canal exclusivo”.
Tampouco achamos que somos “dirigidos pelo espírito santo”, como
se auto-proclama a Sociedade Torre de Vigia, mesmo tendo já
cometido inúmeros e graves erros no campo das profecias, das
doutrinas e das normas sobre terapias médicas.
O que aqui apresentamos é uma opinião humana (como as da
Sociedade), formada com base na leitura de vários textos bíblicos. Que
os que a lerem, possam julgar por si próprios quanto à sua procedência
ou não.
304 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Um ponto, no entanto, está bem claro e indiscutível em nossas


mentes: a Bíblia mostra que os 144 mil e a “grande multidão” estão
juntos no céu.
Suscita-se uma pergunta: por que se apega a organização, de modo
tão ferrenho, à sua interpretação oficial, já que se mostra em desacordo
com a Palavra de Deus?
É simples: sem tal entendimento, desapareceria todo o arcabouço de
autoridade que ela reivindica para si com o ensino de dois grupos -
um no céu e outro na terra; um governando e outro sendo
governado. E, afinal de contas, é exatamente desse modo que a
Sociedade (na verdade, o Corpo Governante) perpetua sua autoridade.
O que aqui consideramos, naturalmente, levantará questões quanto à
continuidade da vida na terra, quem ficará sobre ela, os “novos céus e a
nova terra” de 2 Pedro 3:13, o reinado de mil anos de Cristo e outras.
No momento, só podemos dizer que nada do que foi dito aqui vai
contra essas expectativas. Muitos dos arranjos futuros de Deus, afinal
de contas, sairão dos novos livros ou rolos. (Apocalipse 20:12)
Aguardemos o esclarecimento de tudo sem nos arvorarmos em profetas
daquilo que as Escrituras não especificaram.
Do que Jeová estabeleceu em Sua Palavra, tudo se cumprirá,
mesmo aquilo que agora nem o Corpo Governante nem nós
entendemos plenamente, nas palavras de Isaías 55:8-11:
“Pois os vossos pensamentos não são os meus pensamentos, nem os
meus caminhos, os vossos caminhos”, é a pronunciação de Jeová.
“Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os
meus caminhos são mais altos do que os vossos caminhos, e os meus
pensamentos, do que os vossos pensamentos. Pois assim como desce
dos céus a chuvada e a neve, e não volta àquele lugar, a menos que
realmente sature a terra e a faça produzir e brotar, e se dê de fato
semente ao semeador e pão ao comedor, assim mostrará ser a minha
palavra que sai da minha boca. Não voltará a mim sem resultados, mas
certamente fará aquilo em que me agradei e terá êxito certo naquilo
para que a enviei.”
Nisso confiamos, pois “seja Deus achado verdadeiro, embora todo
homem seja achado mentiroso.” (Romanos 3:4).
Capítulo 14

A Volta de Cristo –
Visível ou Invisível?

A respeito da forma da volta de Cristo, a Bíblia se manifesta


principalmente através dos textos abaixo:
Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos
da terra se baterão então em lamento, e verão o Filho do homem vir
nas nuvens do céu, com poder e grande glória. — Mateus 24:30, NM.
Eis que ele vem com as nuvens e todo olho o verá, e aqueles que o
traspassaram; e todas as tribos da terra baterão em si mesmas de pesar
por causa dele. — Revelação 1:7, NM.
A Interpretação do Corpo Governante
O ensino oficial da Sociedade Torre de Vigia é que a volta de Cristo já
aconteceu, em 1914, e foi invisível, só pôde ser vista pelo
“entendimento”, e não com os olhos físicos (Poderá Viver Para
Sempre no Paraíso na Terra, páginas 142-146).
Os dois textos bíblicos já citados falam por si mesmos e não se
deveria “ir além deles” (l Coríntios 4:6). O Corpo Governante, todavia,
cita em apoio de seu ensino de uma “volta invisível”, o texto de João
14:19, onde Jesus diz:
Mais um pouco e o mundo não me observará mais, mas vós me
observareis, porque eu vivo e vós vivereis.
Em face do que declaram os três primeiros textos transcritos, a
conclusão lógica é que o “mundo” ao qual Jesus se referia era o mundo
daquele tempo, que, de fato, não voltou a ver Jesus, ressuscitado. Só
os discípulos, como diz o restante de João 14:19, é que tiveram essa
oportunidade, e isto se cumpriu, como podemos ler em Atos 1:3:

305
306 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A estes [os discípulos] mostrou-se também vivo, por meio de


muitas provas positivas, depois de ter sofrido, sendo visto por eles
durante quarenta dias, e contando as coisas a respeito do reino de Deus.
Note-se que João 14:19 não tem um sentido absoluto, eterno, como
seria se Jesus tivesse dito “o mundo jamais me observará novamente”.
Foi num sentido temporário. Temos um caso similar, quando Paulo
despediu-se dos anciãos da congregação de Éfeso (Atos 20:25, 37, 38):
E agora, eis que sei que todos vós, entre os quais eu estive
pregando o reino, não vereis mais o meu rosto... Deveras, irrompeu
muito choro entre eles todos, e lançaram-se ao pescoço de Paulo e o
beijaram ternamente, porque estavam especialmente condoídos por
causa da palavra que ele falara, de que não mais iam ver o seu rosto.
Quando o apóstolo disse aos anciãos da congregação de Éfeso “não
vereis mais o meu rosto”, não foi, logicamente, em sentido absoluto, já
que todos eles acreditavam numa ressurreição, e num reencontro
futuro.
De modo similar, quando Jesus disse “o mundo não me observará
mais”, foi em sentido temporário, já que Mateus 24:30 e Revelação
1:7 deixam claro que Jesus voltaria a ser visto, no futuro.
Em Corpo Carnal?
Nas páginas 143 e 144 do livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso
na Terra, o Corpo Governante desvia-se da questão central (quanto à
volta ser visível ou invisível) dizendo que “muitos crêem que Cristo
voltará no mesmo corpo humano em que foi morto”.
Ora, esta questão é secundária. A Bíblia não especifica em que
corpo será. Mas a verdade é que, para ser visto, nem sequer é
necessário que Jesus volte naquele mesmo corpo. O que ela declara
simplesmente é que a volta de Cristo é visível!
A própria Sociedade admite que, depois de sua ressurreição, Jesus
foi não só visto como tocado (João 20:24-27). Por que razão ele não
poderia ser visto por ocasião de sua segunda vinda, num corpo como
aquele que foi visto e tocado por Tomé?
A Volta de Cristo – Visível ou Invisível? 307

Em “Luz Inacessível”
O Corpo Governante, porém, em seu afã de manter seu próprio ensino
de uma volta invisível apela para o texto de 1 Timóteo 6:15, 16:
Esta manifestação, o feliz e único Potentado mostrará nos seus
próprios tempos designados, ele, o Rei dos que reinam e Senhor dos
que dominam, o único que tem imortalidade, que mora em luz
inacessível, a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver.
Estes versículos, no entanto, não excluem e nem contradizem
Mateus 24:30 e Revelação 1:7, já que, quando Paulo escreveu estas
palavras, ele se referia a Jesus enquanto morando “em luz inacessível”,
nos céus, que era a situação do Filho de Deus no momento em que
Paulo escreveu estas palavras.
Note que 1 Timóteo 6:16 também diz que “nenhum dos homens tem
visto” Jesus, mas já que Jesus foi visto pelos homens não só antes de
sua morte como depois da ressurreição, o que se declara neste
versículo 16 só pode aplicar-se à condição de Jesus enquanto nos
céus. Foi para o céu que Jesus subiu, e é onde ele está agora, em “luz
inacessível”, fora do alcance de nossa vista. Situação diferente se dará
na ocasião de sua segunda vinda, quando então, à altura das nuvens,
“todo olho o verá”. (Revelação1:7)
“Da Mesma Maneira”
Deixemos agora que a própria Bíblia fale e esclareça como será a
forma da vinda de Jesus, em Atos 1:9, 11:
E, depois de dizer estas coisas, enquanto olhavam, foi elevado e
uma nuvem o arrebatou para cima, fora da vista deles... e estes [os
anjos] disseram: “Homens da Galiléia, por que estais parados aí
olhando para o céu? Este Jesus, que dentre vós foi acolhido em cima,
no céu, virá assim da mesma maneira em que o observastes ir para o
céu.”
Segundo o relato, os discípulos “olhavam” enquanto Jesus se
elevava no céu. Eles viram Jesus subir, até um ponto em que já havia
nuvens (o que é uma altura considerável), e só depois disso é que uma
nuvem o arrebatou e não puderam mais vê-lo. Aí, os anjos fizeram
uma pergunta aos discípulos (Atos 1:11) quando estes estavam
“parados... olhando para o céu”, isto é, eles estavam vendo Jesus
308 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

subir! Daí, foram informados de que Jesus viria “da mesma maneira”
em que o tinham observado subir. Não se pode contradizer este
versículo.
Ora, uma “volta” é o processo inverso de uma “ida”. Se a ida de
Jesus para o céu tivesse sido gravada numa fita de vídeo, o que
veríamos se fizéssemos a fita voltar enquanto a assistíssemos?
Veríamos primeiro as nuvens, sem Jesus. Em seguida veríamos, aos
poucos, Jesus começar a aparecer, até que ficasse plenamente visível,
nas nuvens, mas visível a “todo olho”, tal como diz a Palavra de Deus,
literalmente, já que nenhum outro texto bíblico diz o contrário.
Jesus voltar da mesma maneira em que se foi só poderia ser assim;
jamais como afirmam as explicações da Sociedade, e, se as explicações
da Sociedade estivessem corretas, Jesus JÁ teria voltado, E DE
OUTRA MANEIRA, e a Bíblia é que estaria errada.
Nuvens e Invisibilidade
O livro Raciocínios à Base das Escrituras, página 435, explicando
Revelação 1:7, faz a pergunta: “O que é indicado por 'nuvens'?” E,
arbitrariamente responde: “Invisibilidade.” Não cita nenhum
argumento em apoio, mas faz uma ilustração:
Quando um avião está numa densa nuvem ou acima das nuvens, as
pessoas na terra geralmente não o vêem, embora possam ouvir o
barulho dos motores.
Pretende mostrar que as “nuvens” indicam que a volta de Jesus é
invisível. Aproveitando, no entanto, a mesma ilustração, podemos
dizer que quando o avião decola nós podemos vê-lo até uma grande
altitude. Só depois que ele ultrapassa as nuvens é que não o vemos
mais; também antes de aterrissar o avião só começa a ser visto quando
está à altura das nuvens, não antes, mas é plenamente possível vê-lo
quando ainda está bem alto nos céus, não é verdade?
O Argumento “Geográfico”
Certamente tomando como base o fato de a terra ser redonda e levando
em conta o movimento de rotação, o livro Raciocínios à Base das
Escrituras, páginas 435, 436, declara:
Se Cristo fosse aparecer visivelmente nos céus, é óbvio que nem
“todo olho” o veria. Se ele aparecesse sobre a Austrália, por exemplo,
A Volta de Cristo – Visível ou Invisível? 309

não seria visível na Europa, nem na África e nem nas Américas, não é
mesmo?
Diante deste argumento lembramos o que o próprio Corpo
Governante afirma, no livro A Bíblia — Palavra de Deus ou de
Homem, página 74, parágrafo 8:

Com esta afirmação podemos concordar inteiramente, pois “a Deus


todas as coisas são possíveis”. (Mateus 19:26) Tampouco seria a
primeira vez que algo tão espantoso assim ocorre, pois Josué 10:13, 14
registra um episódio em que o sol não se pôs por um dia inteiro. Os
evangelhos contam que Jesus caminhou sobre as águas e tanto as
Escrituras Gregas como as Hebraicas relatam outros eventos incomuns,
milagrosos. Mas se quisermos ser rigorosos poderíamos dizer que,
dentro do espaço de um determinado dia do ano, 21 de março de 2002,
por exemplo, o sol brilha sobre todas as partes da Terra, embora não na
mesma hora.
Conclusão
Revelação 1:7 afirma que Jesus seria visto inclusive por “aqueles que o
traspassaram”. É isto o que a Bíblia simplesmente declara. E é isto o
que ocorrerá! A explicação dada pela Sociedade nas páginas 146 e 147
de Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, de que a volta de
Cristo é invisível, só é vista com os “olhos do entendimento” e que os
que “traspassaram” a Jesus são representativos dos que perseguem os
cristãos, não passa de uma interpretação humana, e como tal, sujeita ao
erro, já que não pode ser biblicamente comprovada.
A Bíblia, reconhecidamente, é um livro que faz tanto afirmações
literais como simbólicas. O leitor deve usar de discernimento para
distinguir o que é literal do que é simbólico. Nesse caso específico, não
há nenhuma indicação de que a visão da volta de Cristo não seja literal.
Uma das razões pelas quais a Sociedade se apega a este ensino da
volta invisível de Cristo, é que o fundador dela, Charles Taze Russell,
por volta dos anos de 1870, adotou a teoria de que a volta de Cristo
310 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

seria em 1874. Nada ocorreu! Posteriormente, ele fez diversas outras


afirmações proféticas para 1914, que também não aconteceram. Ao
invés de assumir totalmente estes erros, criou-se o ensino de que uma
grande parte destes acontecimentos fora invisível, isto é, as profecias
não fracassaram, apenas não foram vistas.
Até hoje, a Sociedade continua afirmando categoricamente que
Cristo foi entronizado nos céus invisíveis em 1914. Tal fato, porém,
não pode ser biblicamente comprovado. Portanto, a volta de Cristo
ainda ocorrerá e com certeza, conforme garante a própria Palavra de
Deus, ela será realmente visível!
Capítulo 15

Testemunhas de Jeová, Aniversários


e Alianças de Casamento

Nada há, no assunto a ser tratado neste capítulo, de dramático, vital ou


de sérias conseqüências. Não é algo que tenha a ver com a salvação,
ganhar ou perder a aprovação de Deus, questão de vida ou morte.
Antes, este assunto será considerado como representativo de tantos
outros em que a Sociedade, alegando ter autorização divina, e
inspirando-se tão somente na opinião de homens que, num
determinado momento, estavam na sua liderança, impõe opiniões e
conceitos, estes sim, como se fossem dramáticos e vitais, de sérias
conseqüências, questões de vida e morte que podem levar à
desaprovação de Deus. Ilustra também os raciocínios casuísticos,
arbitrários, esdrúxulos e às vezes até contraditórios, com que o Corpo
Governante transforma em leis de Deus as idéias de homens
imperfeitos.
Como já vimos no capítulo 11, até meados dos anos 20 os membros
da organização hoje conhecida como Testemunhas de Jeová (então
chamadas Estudantes da Bíblia) participavam livremente em festejar
aniversários natalícios, com todos os aspectos que deles fazem parte.
Hoje, como é bem sabido por aqueles que são conhecidos, vizinhos,
parentes e colegas de escola e trabalho de Testemunhas de Jeová, estas
evitam totalmente tais celebrações.
Motivos Apresentados
Justificando sua proibição, a Sociedade cita o cardeal católico John
Henry Newman (Revelação - Seu Grandioso Clímax Está Próximo!”,
página 236, rodapé):

311
312 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Portanto, vários usos e costumes pagãos foram adotados pela Igreja


Católica, entre eles a aliança de casamento. Alega a Sociedade, como
razão para condenar as festas de aniversário, que se trata de um
costume de origem pagã. Como muitos já sabem, ela destaca o fato de
que os dois únicos aniversários que a Bíblia menciona são de pagãos, o
Faraó do Egito (Gênesis 40:20) e o rei Herodes (Mateus 14:6). Lembra
ainda que “a celebração do aniversário deles teve resultados
mortíferos”. (A Escola e as Testemunhas de Jeová, página 14)
Ora, o fato de que pessoas foram mortas nas duas únicas festas de
aniversário registradas na Bíblia não quer absolutamente dizer que tais
festas estão erradas. Foram mortes que coincidiram com as festas de
aniversário do Faraó e de Herodes, mas isso não era costume
relacionado com as festas de aniversário, nem no passado nem hoje.
Jesus esteve na festa de casamento em Caná da Galiléia, onde,
inclusive em resultado do milagre operado por ele, havia grande
quantidade de vinho. Se muitos nessa festa tivessem incorrido em
beber demais e causado turbulência, constituiria isso motivo para que
todas as festas de casamento fossem condenadas como maléficas?
Tais coisas têm ocorrido, porém, em festas de casamento das
Testemunhas de Jeová. A Sentinela de 15 de outubro de 1984, página
17, diz:
Testemunhas de Jeová, Aniversários e Alianças de Casamento 313

“Alguns aproveitam as [festas de casamento] para se ‘soltar’... dar


rédea solta a desejos reprimidos no resto do tempo. Não é de admirar
que o clima da festa fique turbulento.”
“Alguns acham que nas recepções podem beber mais do que de
costume, e amiúde bebem demais...”
“Algumas dessas festas são realmente mundanas - turbulentas, com
muita bebida e danças mundanas. Muitos apelam para a ostentação,
com roupas caras e muitas caixas de cerveja.”
Os exemplos acima, contudo, são exceções. A grande maioria das
festas de casamento entre as Testemunhas de Jeová não é assim. Faria
sentido, então, que a Sociedade resolvesse condenar e proibir todas as
festas de casamento de seus adeptos? Logicamente que não! Portanto,
não se justifica condenar as festas de aniversário de hoje com base nos
eventos lamentáveis das duas únicas que a Bíblia relata. Do mesmo
modo, o mero fato de que pagãos adotavam determinado costume não
significa que ele seja hoje necessariamente proibido para nós.
Exemplo de uma Era Distante
Jacó e José, por exemplo, eram servos de Jeová, mas quando Jacó
faleceu José mandou embalsamar seu corpo (segundo costume dos
egípcios pagãos). Mais tarde, o próprio José foi também embalsamado.
(Gênesis 50:2, 3, 26) Evidentemente, Jacó e José não partilhavam das
crenças pagãs egípcias. Jacó pedira, ao morrer, para ser sepultado junto
a seus pais, em Canaã (Gênesis 49:29). O embalsamamento de Jacó
talvez visasse preservar seu corpo durante a longa viagem de vários
dias através do deserto, rumo a Canaã. José também determinara
(Gênesis 50:24, 25) que quando os israelitas deixassem
definitivamente o Egito levassem “seus ossos para fora” dali, a fim de
ser sepultado na Terra da Promessa. Foi embalsamado provavelmente
também por esse motivo.
Tanto num caso como no outro, o que estava em jogo era a
motivação. Estes dois aprovados servos de Jeová do passado não
acharam que sua atitude seria interpretada por Deus como uma
concessão a práticas religiosas pagãs. Eles sabiam por que tomaram a
decisão que tomaram.
314 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Ausência de Proibição e Incoerência Humana


Por outro lado, em parte alguma da Bíblia se proíbe a comemoração
de aniversários. A principal razão apresentada é que os judeus e os
primitivos cristãos não tinham o costume de celebrá-los. Seria isso
razão suficiente para que os cristãos não os festejassem atualmente? A
Sentinela de 1o de setembro de 1992, página 30, admite que:
Alguns costumes que outrora eram de natureza religiosa já não o
são em muitos lugares. A aliança, por exemplo, outrora tinha
significado religioso, mas hoje em dia já não tem na maioria dos
lugares. Por isso, muitos cristãos verdadeiros aceitam o costume local
de usar aliança como evidência de estarem casados.
E prossegue dizendo A Sentinela:
Em tais assuntos, o que geralmente conta é se atualmente o costume
em questão está vinculado com a religião falsa.
Bem, se é isso o que conta, na nossa região e até onde nós sabemos
na maior parte do mundo, ninguém relaciona festa de aniversário com
nenhuma espécie de religião, passada ou atual. É só interrogar
qualquer pessoa comum acerca do assunto. Toda Testemunha que
dirige estudos domiciliares com pessoas de fora, sabe que elas ficam
surpresas quando informadas que a Sociedade condena os aniversários
como sendo de origem pagã. E nem sempre é fácil convencê-las disso,
pois elas não conseguem associar aniversários com religião.
Os cristãos do primeiro século não festejavam aniversários, é
verdade. Viviam numa época em que tais festas estavam
intrinsecamente ligadas à religião pagã e eram, de fato, festas
religiosas. É correto que reagissem assim naquele tempo. Mas, como
disse A Sentinela 1/9/92 acima citada, o aniversário natalício pode ser
classificado como uma festa que “outrora tinha significado religioso,
mas hoje em dia já não o tem na maioria dos lugares.”
Além disso, como acabamos de ver, a Sociedade admite o uso das
alianças de casamento (também de origem pagã) hoje em dia. A Bíblia
não ordena seu uso, os primitivos cristãos não tinham esse costume e
usá-las ou não é hoje uma questão individual. Agora, pare e pense: o
que parece ter mais significado religioso atualmente, a troca de
alianças de casamento ou a festa de aniversário? Qual das duas
costuma ocorrer numa igreja ou edifício religioso? Qual das duas
Testemunhas de Jeová, Aniversários e Alianças de Casamento 315

costuma contar com a participação de um clérigo ou sacerdote? A


resposta parece bem clara.
Uma simples opinião humana desfavorável (provavelmente a de
Joseph Rutherford, nos anos 20) decretou o aniversário como proibido
e a aliança como lícita. Uma coisa é condenada para os cristãos, a outra
pode ser usada. Como? Por quê? Pura opinião pessoal de alguém. Se as
duas coisas eram de origem pagã, é pura incoerência humana proibir
uma enquanto se libera a outra.
Adicionalmente (e também surpreendentemente) A Sentinela de 1o
de abril de 1993, página 4, nos informa:

Portanto, o batismo também tem origem pagã, era praticado em


Babilônia e no Egito em conexão com crenças supersticiosas, e nem
por isso deixou de ser usado por João Batista (bem antes de ser
ordenado por Jesus em Mateus 28:19), pelos discípulos de Cristo e por
toda a comunidade cristã do primeiro século. Todos o adotaram com
uma motivação inteiramente diferente da dos pagãos.
Atenção Idólatra?
Resta o argumento de que as festas de aniversário dão excessiva
atenção a pessoas imperfeitas. O livro Conhecimento Que Conduz à
Vida Eterna, página 126, parágrafo 17, diz:
316 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A publicação A Escola e as Testemunhas de Jeová (1983), página


15, diz:

Observe que as duas citações não trazem realmente nenhuma


injunção bíblica contra as festas de aniversário, mas concentram-se
numa mera opinião de que estas festas dão excessiva atenção a pessoas
humanas, deixando implícita uma tendência idólatra. Apesar da
expressão “sem dúvida”, trata-se apenas de uma idéia escrita por
alguém.
Mas consideremos o que a Bíblia diz.
A única coisa que só podemos render a Jeová é adoração, devoção
exclusiva. (Êxodo 20:4) Podemos corretamente render homenagem
(ou honra), atenção, amor e carinho a outros seres humanos. Veja os
textos abaixo:
Romanos 12:10:
“Em amor fraternal, tende terna afeição uns para com os outros.
Tomai a dianteira em dar honra uns aos outros.”
Romanos 13:7:
“Rendei a todos o que lhes é devido... a quem exigir honra, tal
honra.”
Testemunhas de Jeová, Aniversários e Alianças de Casamento 317

Mateus 2:11:
“E, ao entrarem na casa, viram a criancinha com Maria, sua mãe, e
prostrando-se, prestaram-lhe homenagem.”
Lucas 24:52:
“E prestaram-lhe homenagem e voltaram para Jerusalém com
grande alegria.”
Revelação 3:9:
“Eis que darei os da sinagoga de Satanás, que se dizem judeus, e
que não são, mas estão mentindo - eis que os farei vir e prestar
homenagem diante dos teus pés... [refere-se a um ser humano]”
Honra ou homenagem, como vimos, pode ser corretamente prestada
a seres humanos. Isto é o que se faz nas festas de aniversário. Ninguém
supõe estar prestando adoração a ninguém numa festa de aniversário.
Ninguém vai a uma festa de aniversário como quem vai a uma
celebração religiosa.
Contradição
E o que são as festas de casamento entre Testemunhas de Jeová? O que
são as festas de despedidas de anciãos, pioneiros e outros que estão de
mudança (tão comuns entre as TJ)? O que são as festas de bodas de
papel, algodão, prata e ouro de casais Testemunhas? E as festas de
formatura e “doutor do ABC” de jovens e crianças das Testemunhas?
O que são todas estas, senão ocasiões em que “pessoas imperfeitas”
recebem “atenção especial”, onde se canta, dança, come, bebe, onde se
tiram fotografias, dão-se presentes e às vezes fazem-se até discursos,
tal como nas festas de aniversário? Por que o Corpo Governante não
condena tais celebrações que incluem tanta “atenção especial a pessoas
imperfeitas”? Não constitui tudo isso uma grande incoerência, típica
das coisas humanas?
A Sociedade acha que não é por acaso que as duas únicas
referências a aniversários na Bíblia sejam de pagãos e que duas
pessoas tenham sido mortas durante a celebração: acha que deste modo
Jeová expressa sua condenação. Isto, logicamente, é uma mera
conjectura. Poderíamos, por outro lado, raciocinar que se não festejar
aniversários fosse de fato uma questão tão crucial, tão importante aos
olhos de Deus, se ele visse isso como algo que faria a diferença entre a
318 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

salvação eterna e a destruição eterna, não teria Jesus ou um dos


escritores do texto grego da Bíblia, principalmente aqueles que
escreveram aos cristãos de origem pagã (que outrora praticavam o
costume) e aos que viriam no futuro, uma clara proibição de tais festas,
como acontece no caso da fornicação e do roubo, por exemplo?
Um lembrete: Charles Taze Russell, fundador da Sociedade Torre
de Vigia e da revista A Sentinela, tido em alto conceito pelas
Testemunhas de Jeová atuais, e que faleceu em 1916, não conheceu a
proibição das festas de aniversário e participou delas, bem como outros
de seus contemporâneos.
Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976, página 147:

A Sociedade crê que Russell, como parte dos 144.000 “ungidos”,


está hoje no céu, usufruindo sua recompensa celestial. Neste caso,
Jeová não lhe teria imputado esta falta tão grave? Como é possível?
Russell foi então perdoado por este pecado? Por quê? Ou será que este
pecado (que hoje pode causar desassociação) não era tão grave naquele
tempo, mas hoje não tem perdão? Em que data, exatamente (dia, mês e
ano), passou a contar como séria transgressão?
Como já dissemos, a Bíblia não manda nem condena que se
comemorem aniversários. Se é assim, todo cristão está livre para
decidir por si mesmo se participa ou não destas comemorações. Para
não irmos “além das coisas que estão escritas” (1 Coríntios 4:6) não
Testemunhas de Jeová, Aniversários e Alianças de Casamento 319

podemos condenar os que festejam aniversários natalícios nem criticar


os que não os comemoram. E todos devem aceitar uns aos outros.
Em conclusão, apanhe um exemplar de A Sentinela de 1o de julho
de 1979, e você verá uma edição comemorativa do centésimo
aniversário da revista. Talvez seja também uma simples opinião
humana que o aniversário (birthday) de uma “pessoa imperfeita” não
seja apropriado para se comemorar enquanto o aniversário
(anniversary) de uma revista o seja.
Parte II

Modo de Vida, Crenças


e Perspectivas das
Testemunhas de Jeová
Cid de Farias Miranda
Capítulo 1

Descobertas que Chocam

Quando uma Testemunha de Jeová descobre que aquele punhado de


homens, o Corpo Governante, na sede em Brooklyn, NY, EUA, não é
o “canal de comunicação de Deus”, conforme eles mesmos se auto-
proclamam, essa Testemunha passa a duvidar e até revisar a natureza
de sua própria fé.
Muitas Testemunhas se surpreendem ao concluir que essa fé foi
depositada muito mais em homens do que em Deus. Ao chegar a essa
conclusão, a Testemunha de Jeová sincera passa a questionar a
legitimidade da autoridade que esses homens ostentam diante de sua
comunidade mundial e perguntam o porquê deles exercerem tanto
poder sobre a vida dos mais de 6 milhões de companheiros de fé
espalhados mundo afora. Nesse ponto, a Testemunha de Jeová percebe
que a carga que eles colocaram sobre seus ombros é completamente
diferente daquela sobre a qual Cristo falou em Mateus 11:28-30
(contraste com Mateus 23:4).
A partir de constatações baseadas na própria literatura da
organização e na Bíblia, como já conferimos na primeira parte desse
livro, toda a estrutura de legalismo e autoritarismo religiosos passam a
dar lugar a um senso de liberdade que poderá ou não tornar-se
realmente cristã, dependendo das novas perspectivas cultivadas a partir
das descobertas. Contudo, independentemente disso, uma coisa já ficou
provada: qualquer que sejam as expectativas religiosas da pessoa, é
incomum o caso de uma pessoa esclarecida, que sai por motivo de
consciência, permitir mais tarde quaisquer intervenções humanas em
nome de Deus. Não raramente, muitos descobrem a maravilhosa
pessoa de Cristo, eclipsada pela figura autoritária de homens. Muitos
ficam mais dependentes do Criador e na esperança de que Ele, e
apenas Ele, influencie suas próximas escolhas e caminhos da fé.

321
322 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Visão Embaçada
Mas será verdade que as Testemunhas de Jeová, mesmo se dizendo
cristãs, vêem a Cristo de modo embaçado? Sim. Seus líderes, os
homens do Corpo Governante, teimam em usurpar o lugar sagrado de
Jesus por se estabelecerem como outro mediador entre Deus e os
humanos (1 Tim. 2:5). Durante a leitura desse livro, o leitor pode obter
várias provas cabais para essa afirmação.
A agência oficial de doutrinas e ensinamentos das Testemunhas de
Jeová é seu Corpo Governante. Tudo o que aqueles homens escrevem
desde Brooklyn, NY, é encarado pelas Testemunhas de Jeová como
“alimento espiritual no tempo apropriado”. Esses homens alegam que
tal “alimento” chega a eles por meio da “orientação do espírito santo
de Deus”, entendida como a “força ativa” Dele. Quando esse “alimento
espiritual”, provido através das revistas A Sentinela e Despertai! e de
outras publicações da organização, é então servido às Testemunhas, ele
exerce poderosa influência em cada aspecto da vida das Testemunhas
de Jeová ao redor do mundo. Encontramos na revista A Sentinela de 1º
de agosto de 1982, pág. 27, uma das muitas presunçosas afirmações
desse “corpo governante” nesse sentido:
“A menos que estejamos em contato com este canal de
comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não
importa o quanto leiamos a Bíblia.”
Outro número da revista, A Sentinela de 1º de outubro de 1994, pág.
8, endossou:
“A grandemente diversificada sabedoria de Deus só pode ser
conhecida através do canal de comunicação de Jeová, o escravo fiel e
discreto”.
Desse modo, uma Testemunha de Jeová só consegue conceber sua
relação com Deus, ou mesmo conhecer as coisas sagradas Dele, por
meio das publicações lançadas pelo Corpo Governante.
Muitas Testemunhas sinceras, no entanto, quando refletem sobre
essa atitude de superioridade e arrogância demonstradas nas
afirmações acima, comparando-as com a afirmação categórica de Jesus
em João 14:6, “eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao
Pai senão por mim”, elas não conseguem manter-se neutras quanto a
quem, de fato, não estão sendo leais. (Compare com Gálatas 1:10;
Descobertas que Chocam 323

Salmos 146:3) Esse tem sido um dos motivos de consciência pelo qual
muitos têm deixado a organização religiosa das Testemunhas de Jeová.
Tal decisão quase sempre é seguida de duras perdas no âmbito
familiar, social e profissional, dado o súbito afastamento de parentes,
amigos e até mesmo empregos de longas datas.
Avaliações
O que acontece depois que a Testemunha consegue limpar sua visão e
ver mais claramente EM QUE de fato andou crendo? Ter ficado tanto
tempo envolvido com a organização das Testemunhas faz com que
alguns possam sentir-se “sem direção” ao sair, e isso é absolutamente
compreensível visto que as grandes mudanças que se seguem causam
enorme impacto. Dedicamos um capítulo sobre esse assunto com o
título: “Há vida fora da organização?”
Basicamente, o que ocorre é que uma Testemunha de Jeová aprende
a aplicar João 6:68 à organização da Torre de Vigia e não à pessoa de
Cristo. O texto bíblico trata da pergunta que Pedro fez a Jesus:
“Senhor, para quem havemos de ir?” A organização sugere que se deva
ir a ela, a hodierna “arca de salvação”, embora a resposta dada pelo
próprio Pedro a seguir, tenha sido: “Tu (Cristo) tens declarações de
vida eterna”.
O choque da saída pode ser grande porque, como Testemunhas,
queríamos crer que tudo que aprendíamos lá dentro vinha apenas da
Palavra de Deus. Assim, quanto maior o tempo e o investimento
feitos ali dentro, maior o desapontamento, e mais difícil e
traumática é a saída.
Essa saída, no entanto, pode não trazer maiores abalos quando a
Testemunha já se preparou bastante para ela, lendo e aprendendo sobre
a versão que sua organização não contou. Também, ajuda muito
quando a Testemunha se conscientiza de que as promessas da
Palavra de Deus não são propriedade particular de nenhuma
religião e continuarão disponíveis para ela, caso ela ainda deseje ser
cristã (Veja Rom. 15:4; Atos 10:34, 35 e Mateus 18:20). Isso a motiva
a sair “de bem com a vida”, pois sabe que não precisará perder sua fé
em Deus ou em Sua Palavra Sagrada, a Bíblia. Quando a saída se dá
desse modo, muitos se sentem mais próximos de Deus e finalmente
encontram paz e tranqüilidade em suas vidas.
324 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Quando a opção pós-organização é tornar-se “escravo” apenas de


Deus, a pessoa pode voluntariamente pregar o cristianismo do melhor
modo: através de uma conduta bondosa e piedosa que leva em conta o
amor ao Criador e ao próximo em toda e qualquer situação, com a
certeza de que tal proceder resultará em vida eterna e feliz prometida
pelo próprio Cristo no evangelho de Lucas 10:25-28.
Após a saída, muitos discernem que não existe organização
religiosa perfeita e que, em todas elas, há uma medida de coisas
erradas e certas, ensinos bons e maus, maléficos e benéficos.
Aprendem que a banda boa e a podre co-existem; que existem
enganados e enganadores, o joio e o trigo, em toda e qualquer religião
do mundo. Concluem que é vã a tentativa de alcançar “alvos
teocráticos” estabelecidos por uma religião que impõe mais regras do
que aquelas estabelecidas na Bíblia e que é o legalismo gera
sentimentos de amargura, frustração e revolta, ao passo que faz as
pessoas desenvolverem uma atitude condenatória e intolerante em
relação ao cristianismo alheio.
Abastecer-se de uma fonte de intolerância foi o que forneceu
combustível para a crença das Testemunhas de que só a organização
religiosa delas prega a verdade no “tempo do fim”. A partir daí, surgiu
a interpretação de textos bíblicos quanto a toda religião do mundo ser
parte do “império mundial da religião falsa, Babilônia, a Grande” que
será destruída por Deus no Armagedom. Uma Testemunha de Jeová
jamais pára para pensar que a maioria dessas religiões nunca matou em
tempos de paz ou mesmo gerou óbitos desnecessários, como os que
foram causados pela proibição de vacinas (na década de 20) ou pela
política contraditória de frações do sangue que têm sido liberadas e
proibidas ao longo da história da organização das Testemunhas de
Jeová; nem pela proibição de transfusões de sangue, transplantes de
órgãos (1968 a 1980), serviço civil alternativo (até 1995), ou que
muitas delas nunca mancharam sua história com especulações
proféticas que contrariavam textos como o de Deut. 18:22, Jeremias
23:21, Atos 1:7, etc.
Que cada leitor avalie as provas apresentadas nesse livro, e, à base
das Escrituras Sagradas. Que essas informações possam ser de proveito
para sua vida, contribuindo para sóbrias reflexões sobre o que diz a
Palavra de Deus a respeito de cada assunto.
Capítulo 2

Apostasia –
Contra Quem ou O Quê?

A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados tem, vez após vez,


rotulado de “apóstatas” os que a abandonam por discordar dela. Ela
associa esse rótulo a tudo que há de mais vil para um cristão e
acrescenta que nem mesmo as orações dos “desassociados por
apostasia” podem ser ouvidas por Deus. Mas ela também condena
categórica e enfaticamente o cristianismo praticado por qualquer um
que um dia serviu em suas fileiras e que saíram de lá. Em várias de
suas publicações, a organização tem ensinado às Testemunhas de
Jeová que ler matérias discordantes (escritas por pessoas que saem de
sua organização) é apostasia. Fazer isso se constitui em “ato
semelhante a ler ou ver pornografia”, conforme veremos nos
parágrafos seguintes. Adicionalmente e sem fazer qualquer exceção,
ela afirma que tais “apóstatas” são, na verdade, “mentirosos, entregues
ao seu pai, o Diabo, caluniadores, inimigos do povo de Deus,
desamorosos, raivosos, desonestos, arrogantes”, etc.
Na página 94 do manual dos anciãos (dirigentes locais), “Prestai
Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho”, há a seguinte descrição,
sem fundamento bíblico, do perfil de um suposto “apóstata” (o grifo é
nosso):
“Pessoas que deliberadamente disseminam (apegando-se de forma
obstinada e divulgando) ensinos contrários à verdade conforme
ensinada pelas Testemunhas de Jeová, são apóstatas”.
Mas deixemos que você, leitor, possa por si mesmo constatar tudo
isso com base na própria literatura dessa organização. Examine
publicações como a revista A Sentinela de 01/07/94, páginas 11-13,
parágrafos 10-15.

325
326 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O que resulta de toda essa agressiva propaganda “anti-apostasia”? A


organização termina por encorajar sua comunidade mundial a
verdadeiramente odiar os que saem de seu rebanho expondo os
ensinamentos e práticas erradas dela.
Por incrível que pareça, a organização e muitos de seus membros
desejam que esses que se afastam de seu meio, saiam sem direito de
expressar opiniões contrárias ao que ela ensina como verdade; que
saiam humilhados, indignos e ainda por cima, se possível, reverentes à
autoridade eclesiástica dela, seu conselho supremo, o Corpo
Governante e seus representantes menores, os “anciãos” (dirigentes
locais).
A Torre de Vigia e seus membros desejam que os que resolverem
sair, que o façam em silêncio respeitoso, não propagando algo negativo
sobre a “organização de Deus”. Pelo visto, apenas a própria Sociedade
Torre de Vigia, por meio de uma alegada “orientação divina”, imagina
deter direitos exclusivos quanto a não poupar palavras ácidas nem
economizar definições cáusticas contra o que ela acredita ser mentira.
O que é pior, ela severamente orienta em sua publicações que a
“conversa apóstata nada tem de edificante” e que “os apóstatas apenas
espancam (criticam) os seus anteriores co-associados”.
Tendo instalado tal programação em suas mentes por anos a fio, ela
consegue até mesmo que alguns que dela saem (sem conhecer os
verdadeiros fatos sobre ela), não apenas alimentem a idéia de retornar
mas ainda por cima obedeçam a essa diretriz de “silêncio reverente”.
Alguns desses nada falam porque ainda guardam sentimentos de culpa
— alguns foram expulsos devido a evidente desacato às claras
instruções bíblicas quanto a práticas sexuais, roubo, crimes, violação
das “leis de César” (ilegalidades), e outras transgressões que a maioria
das religiões normalmente condena tendo a Bíblia como autoridade.
No “livro dos anciãos” (dirigentes locais), “Prestai Atenção a Vós
Mesmos e a Todo o Rebanho”, página 103, parágrafo 2, a organização
Torre de Vigia dá uma forte advertência aos seus membros usando o
próprio Deus como escudo:
“Aqueles que querem ter um bom relacionamento com Jeová
esquivam-se de desassociados e de dissociados.”
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 327

Essa “instrução amorosa” reflete, entre outras coisas, o dramático


poder e controle de uma religião sobre membros fiéis a ela. Revela a
manutenção de um regime de controle de informações. Põe em
evidência sua praxe de intimidação que termina levando um
desassociado/dissociado a não explicar aos outros os reais motivos de
sua saída.
Não há mesmo qualquer maneira digna ou honrosa de sair da
organização Torre de Vigia, não importa o motivo. Não há como
estabelecer um pacto de paz e tolerância, um “acordo de cavalheiros”
com a organização. Infelizmente, por maior que seja o esforço feito,
não há saída amigável, um trato “negociável”. Muitos se ressentem do
tratamento injusto e intolerante. Não há como simplesmente propor:
“Olha pessoal, eu estou discordando de muitos ensinos da organização
e por isso gostaria de me afastar dela. No entanto, gostaria de tratar e
ser tratado dignamente por vocês. Não falem mal de mim para que eu
não tenha de me defender de qualquer ataque à minha dignidade ou
reputação. Poderemos manter relações respeitosas e gentis, de
amizade, cordialidade, etc.”
Esse tipo de pacto entre as Testemunhas de Jeová e os que saem é
impossível por causa dos ensinos anticristãos da organização Torre de
Vigia. Tal abordagem parece apenas como uma piada aos olhos de
uma Testemunha de Jeová. E por quê? Por causa dos ensinos da
organização quanto ao tratamento dispensado aos que saem.
Nos últimos tempos, observamos algum crescimento numérico de
Testemunhas de Jeová ativas que se sentem envergonhadas com esse
tipo de intolerância promovida e incentivada por sua organização, mas
ainda é maioria as Testemunhas que não se envergonham de atacar os
que saem por discordar, continuando a rotulá-los indiscriminadamente
de “apóstatas”.
As Testemunhas de Jeová têm de aceitar esse ensino (sobre
desassociados ou dissociados) sem questionamento. Jamais condenam
a organização Torre de Vigia quando essa lhes INSTIGA e
desamorosamente lhes INSTRUI por meio de publicações e discursos
inflamados, a continuar o ataque aos questionadores. Ela ordena que se
EVITE O CONTATO (e possível “contágio”) com os que se tornaram
semelhantes a “leprosos espirituais”, os desassociados/dissociados.
328 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Esse comportamento vergonhoso é um dos produtos para consumo


interno da organização Torre de Vigia. Pouco disso é sabido do
público externo. Mesmo diante de tal atitude de desamor, as
Testemunhas a defendem como sendo a única organização “dirigida
pelo espírito santo de Deus, o ‘Deus de amor’ do qual fala a Bíblia.
Contudo, tal ensinamento não corresponde às superiores instruções
bíblicas encontradas em 1 João 4:7,8, João 4:8, e assim por diante.
Ademais, muitos dos que saem nenhum mal fazem ou nunca fizeram
aos seus co-associados. Ao contrário, muitos dos que ficam lhes são
pessoas estimadas. Assim sendo, como podem as Testemunhas de
Jeová dizer que aplicam as palavras de Paulo em Romanos 12:17-21
nessa questão? Lemos ali:
“Não retribuais a ninguém mal por mal. Provede coisas excelentes à
vista de TODOS os homens. Se possível, no que depender de vós,
SEDE PACÍFICOS PARA COM TODOS OS HOMENS. Não vos
vingueis amados, mas cedei lugar ao furor, pois está escrito: ‘A
vingança é minha; eu pagarei de volta, diz Jeová.’ Mas, se teu inimigo
tiver fome, alimenta-o; se tiver sede, dá-lhe algo para beber; pois, por
fazeres isso, amontoarás brasas acesas sobre a sua cabeça.’ Não te
deixes vencer pelo mal, porém, persiste em vencer o mal com o bem.”
(Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas)
Para calvário de muitos, ao término da leitura de artigos do tipo
citado na revista A Sentinela 01/07/94, págs. 11-13, pars. 10-15, em
palavras bem claras, a fria e desumanizante mensagem passada a toda
Testemunha de Jeová é bem diferente dessa que acabamos de ler da
própria Bíblia. O Corpo Governante ensina essa atitude mental contra
quem não mais deseja ser membro de sua organização e passa a
discordar dela. É como se dissessem: “Podemos atacar os que saírem
porque somos o povo santo de Deus sob Sua orientação. Os que saem
como ‘apóstatas’ contra nossa organização, são filhos do Diabo e não
merecem sequer ser cumprimentados. Podemos difamá-los como
apóstatas, filhos do diabo, mentirosos, etc.”.
Um exemplo típico do que estamos tratando aqui nos foi dado na
semana de 22 de março de 1999, na edição de Nosso Ministério do
Reino (o mensário das Testemunhas), página 2. As instruções para o
encarregado deste discurso baseado em A Sentinela, 01/07/94, páginas
11-13, parágrafos 10-15, foram as seguintes:
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 329

“Leia alguns parágrafos apropriados. Acrescente que os apóstatas


prometem libertação da organização teocrática e do seu corpo central
de anciãos, o Corpo Governante, mas as vítimas incautas dessa
propaganda demoníaca verificaram posteriormente que a prometida
‘liberdade’ não passou de um retorno à corrupção moral e espiritual da
qual haviam saído. (2 Ped. 2:19-22)”
Aqui a organização julga adversamente os supostos “apóstatas” por
colocá-los em um só rebanho de condenados à corrupção moral e
espiritual. Talvez a organização já deva ter contatado inúmeras
“vítimas incautas”, pois tal presunçosa generalização serve apenas aos
propósitos de mais intimidação e pressão psicológica contra membros
sinceros que não mais desejam manter suas mentes algemadas por um
pequeno grupo de homens em Brooklyn, Nova York, EUA.
No entanto, aplica-se aqui o ditado que diz: “não há nada pior para
quem controla mentes do que as pessoas que pensam.”
Isso é bem verdade quando lemos as informações de certos
“apóstatas”, muitos dos quais não passam de pessoas que usam suas
faculdades de raciocínio e que provam factualmente quem realmente
tem prometido “falsa libertação” e quem tem levianamente conduzido
milhões de pessoas sinceras a depositar fé em especulações proféticas,
ensinos corrompidos e mudados várias vezes, e quem tem “amarrado
cargas pesadas em seus ombros” (Mateus 23:4) afirmando que só
assim é possível que elas ganhem a vida eterna.
Continuando a análise da matéria do mensário...
“Por isso, seria perigoso deixar-se levar pela curiosidade. (Deut.
12:30, 31; Luc. 17:32; 1 Tim. 2:14) Um dos instrumentos que os
apóstatas modernos usam é a Internet, rede mundial de computadores.
Com a mesma astúcia empregada pela serpente para desencaminhar
Eva, eles se valem do encanto que essa chamada ‘super-rodovia de
informações’ desperta nos usuários, para espalhar mentiras rotuladas
de ‘informações’. (Romanos 16:17,18; 1 Cor. 5:4; 2 João 9,10). Visto
que está envolvida a fornicação espiritual, fazemos bem em tratar toda
matéria apóstata como fazemos com a pornografia independentemente
do veículo de comunicação usado para disseminá-la. (Tia. 4:4; veja it -
2, pg. 155)”
Ora, a aplicação de todos os textos citados acima não é questionada
pelas verdadeiras “vítimas incautas” de uma “falsa libertação”, as
330 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Testemunhas de Jeová. Não se faz a devida consulta a estes textos


dentro de seus contextos. Por exemplo, os textos de 2 João 9, 10 e
Rom. 16:17,18 citam que “não se deve receber nos lares, nem
cumprimentar e evitar alguém que não traga o ensino de cristo”, ou
seja, um ensino que não diga exatamente aquilo que está na Bíblia.
Porém, a Sociedade se apossa de tais textos e os aplica aos seus
próprios ensinos enganosos e fantasiosos como o mito de que Cristo
está empossado como Rei Reinante desde 1914, ensino este cuja
origem se baseia, não no ENSINO DE CRISTO, mas nos cálculos que
Russel fez da Grande Pirâmide de Gizé. (Livro Proclamadores, pág.
201 e A Sentinela de 1º de Janeiro de 2000, páginas 9 e 10)
Continuando a matéria, vemos aqui a referência ao artigo da revista
A Sentinela de 1º de julho de 1994, pág. 12, par. 13:
“Então, quais são os frutos dos apóstatas que distinguem sua
propaganda? Há 4 coisas que distinguem a sua propaganda: (1)
Esperteza (2) Inteligência arrogante (3) Falta de amor (4) Diversas
formas de desonestidade. Estes são justamente os mesmos ingredientes
do alimento na mesa dos demônios, todos destinados a minar a fé do
povo de Jeová”.
Quando se lê tal descrição, pode-se inferir imediatamente ao que ela
se aplica e como se encaixa aos ensinos humanos que emanam da
agência central de informações das Testemunhas de Jeová, seu Corpo
Governante. E o que dizer do “alimento” servido à mesa da
organização? Talvez o leitor Testemunha de Jeová mais esclarecido se
recorde dos efeitos imediatos e devastadores do “alimento” ao longo
dos anos de história dessa organização como em 1914, 1925, 1975,
etc., e de como este causou indigestão por minar a fé de muita gente,
como no caso das inúmeras profecias apelativas não cumpridas. (Deut.
18:22; Jeremias 23:21)
Vejamos como se aplicam os julgamentos adversos destes árbitros
da fé alheia a eles mesmos.
(1) Esperteza e (4) Diversas formas de desonestidade:
- Abra o livro Proclamadores, pág. 76 e veja a mansão que
Rutherford construiu para morar em San Diego, Califórnia, com o
pretexto de que esperava a vinda dos “servos fiéis da antigüidade —
Abraão, Isaque e Jacó”, etc. Enquanto vivia de luxo em seu palacete,
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 331

usufruindo os Cadillacs da época longe de sua esposa e filho (pg. 89


Proclamadores), este mesmo presidente mandava os irmãos ao
“campo” para o trabalho de porta em porta que ele mesmo inventou e
ele próprio nunca fez por achar que “o Senhor o havia designado para
obras maiores”.
- Teoria da purificação (Iluminação) progressiva - Em A Sentinela
de 1º de Janeiro de 2000, Páginas 9 e 10, a organização mostra que
Russell era piramidólogo, místico, e cita um dos livros dele cujo título
completo é O Plano Divino das Eras - Conforme Mostrado na Grande
Pirâmide.

A Sociedade afirma reconhecer esse fato, mas somente após o


mesmo ter sido amplamente divulgado na Internet - o veículo de
informações que ela desincentivou acima. Ela admite parte do fato,
fazendo, como sempre, uma “triagem” a seu bel-prazer e interesse. No
livro Proclamadores, página 201, ela também esconde vários fatos
importantes sobre o estudo de pirâmides feito por Russell como o que
vamos indicar a seguir. Quem está sendo desonesto? Ela é desonesta
porque não explica que, os cálculos feitos por Russell naquela época,
ainda são os mesmos que ela utiliza hoje em dia para chegar à data de
1914, sendo esses mesmos cálculos simplesmente baseados na
medição que Russell fez das paredes da Grande Pirâmide de Gizé.
Observe o leitor que tal data (1914) ainda é para as Testemunhas, a
data da entronização de Jesus como Rei do Reino de seu Pai, Jeová
Deus.
Ora, por ser essa data um ensinamento básico da organização, por
que ela se omite em fornecer detalhes como o de sua origem,
mostrando apenas o que interessa a ela? É isso honesto? Por que ela
oculta esses fatos que toda TJ gostaria de saber? Não mostram os
membros do Corpo Governante “esperteza”, “inteligência arrogante”,
“falta de amor” e “desonestidade intelectual” ao esconder fatos que
fariam tanta diferença no modo em que seus membros encarariam seus
ensinos?
- As táticas de vendas que são suavizadas e substituídas por
“colocações”, “donativos” ou “doações” (a partir de janeiro de 2000.
332 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Pesquise em seus dicionários, o significado da palavra “venda”).


Estude o quanto mais ela pode ganhar com o novo “arranjo”.
- As contribuições “voluntárias” que eram recebidas pela
Sociedade, as quais ela emprestava a juros (até janeiro de 2000) para
irmãos que, na verdade, estavam simplesmente construindo mais
propriedades para ela mesma —tudo isso em nome da “obra do tempo
do fim”.
- Heranças, doações e seguros que irmãos revertem em benefício da
Sociedade ao invés de as reverterem para membros de suas próprias
famílias — isso também em nome da “Obra do Reino de Deus”. (Não
lhe parece tal coisa familiar em relação a outras religiões que ela
condena?)
- Neste mesmo número de Nosso Ministério do Reino, a Sociedade
informa aos irmãos que a obra do Reino foi legalizada na Bulgária,
mas “esperta e desonestamente”, não informa também que, para ela
conseguir isso, teve que assinar um documento perante a Corte
Européia de Direitos Humanos declarando que ela “não imporia a
proibição de transfusões de sangue aos seus membros e não imporia
também nenhuma disciplina aos membros que recebessem sangue”. No
entanto, toda TJ sabe que, quem assim o fizer, receberá tal “disciplina”
(repreensão ou desassociação). Essas citações a seguir ainda são a
diretriz atual:
A Sentinela 1/12/61 - pág. 736
“Se no futuro, ele persiste em aceitar transfusões de sangue... ele
precisa ser cortado dela (da congregação) por ser desassociado”.
A Sentinela de 15 de março de 1962, pág. 174, pars. 16 e 19
“É errado suster a vida mediante infusões de sangue, plasma,
glóbulos vermelhos ou várias frações de sangue? Sim! ...Quer seja
sangue integral quer fração de sangue, ...Quer seja administrado por
transfusão quer por injeção, a lei divina se aplica”.
Resumindo, esse proceder na Bulgária se constitui apenas em um
dos vários exemplos de “desonestidade e esperteza”.
(2) Inteligência arrogante:
A Sentinela, 1/8/82, pág. 27
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 333

“A menos que estejamos em contato com este canal de


comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não
importa o quanto leiamos a Bíblia.”
Compare esta afirmação com João 14:6: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.”
A Sentinela, 1º de janeiro de 1974, pág.18:
“Esta (a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de
Brooklyn, Nova York) é a única organização na terra que compreende
as ‘coisas profundas de Deus’"
A Sentinela, 15 de julho de 1998, p. 13, par. 15:
“Deus falou a seu povo por intermédio de Moisés e de outros
profetas. Depois, Jeová falou-lhe por meio de seu filho... Atualmente,
nós temos a palavra inspirada de Deus, a Bíblia Sagrada. Temos
também o ‘Escravo Fiel e Discreto’... de modo que Deus ainda está
falando.”
A Sentinela 1/12/82, p.13:
“Hoje em dia, um restante desse escravo fiel e discreto... seus
deveres incluem receber e passar alimento a todos os servos terrestres
de Jeová o alimento... ocupam uma posição similar a de Paulo e seus
colaboradores, quando esse apóstolo falou sobre as maravilhosas
verdades que Deus revela a seu povo. É a nós, que Deus as tem
revelado por intermédio de seu espírito.”
Nessa mesma revista, pág. 19, par. 10:
“Ver o ‘escravo’ é o mesmo que ver a cristo. A cronometragem dos
assuntos é provida pelo nosso comandante invisível. O conceito dele é
que importa, não os nossos conceitos pessoais.”
E atenção para esta citação em A Sentinela de 1º de setembro de
1989, página 19, parágrafo 7:
“Apenas as Testemunhas de Jeová, os do restante ungido e os da
“grande multidão”, qual organização unida sob a proteção do
Organizador Supremo, têm esperança bíblica de sobreviver ao
iminente fim deste sistema condenado, dominado por Satanás, o
Diabo.”
(3) Falta de Amor:
Leia o livro Proclamadores, pág. 674, e pergunte-se:
334 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

- Que amor foi demonstrado por pessoas que estavam no comando


central da Torre de Vigia, nas décadas de 70 e 80, nestas cruéis cenas
de atrocidades em Malaui, África, por causa de uma incompreensível
proibição na aquisição um documento do único partido político de
Malauí enquanto no México, no mesmo período, a Sociedade liberava
o uso da “cartilla” (carteira de reservista), sendo assim, a mesma
questão que esses homens defendiam, a “neutralidade cristã nos
assuntos políticos do mundo?”
- Que tipo de amor é demonstrado aos irmãos humildes que passam
por sérias dificuldades financeiras, principalmente nos países do
“terceiro mundo”, até mesmo os que professam ser da “classe ungida”?
Que tipo de amor é demonstrado quando milhões de dólares são gastos
em complexos gráficos, impressoras off-set de última geração,
caríssimas, prédios ostentosos, fazendas milionárias, etc., quando
milhares de Testemunhas pobres necessitam de creches, ajuda até para
ir aos congressos da Torre, ter acesso decente a hospitais, instituições
de ensino ou fazer obras assistenciais necessárias em sua comunidade?
Demonstra-se genuíno amor chamar atenção apenas para o “lado
espiritual”, explorando textos como o de Mateus 6:33 e 24:14, mas
esquecendo os excelentes exemplos básicos dos primitivos cristãos em
textos como: Atos 2:44-45 e Tiago 2:14,15 e 1:27, ou os da parábola
do Bom Samaritano?
Continua a abordagem do mensário:
“E há outro aspecto. A que retornaram os apóstatas? Em muitos
casos, reentraram na escuridão da cristandade e das suas doutrinas, tais
como a crença de que todos os cristãos vão para o céu. Além disso, a
maioria deles não mais adota uma posição firme a respeito do sangue,
da neutralidade cristã e da necessidade de dar testemunho do Reino de
Deus.”
Veja como a Sociedade fala de seus próprios ensinos particulares
como único critério para alguém se dizer “cristão”. Alerta ela que,
apenas sob os auspícios de sua estrutura doutrinária, toda Testemunha
deve sentir-se completamente protegida. Isso é argumentação Ad
Baculum - uma intimidação intelectual/teológica para assustar pessoas
e mantê-las reféns da religião.
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 335

A Sociedade ensina que apenas após o dia de Pentecostes começou


a seleção dos aprovados para vida nos céus ao lado do entronizado
Jesus Cristo desde 1914. Mas não é Heb.11:16 uma das provas de que
esse ensino da Sociedade contradiz a própria Bíblia que afirma que
“servos fiéis de Deus no passado - Abraão, Isaque e Jacó, etc., também
procuraram alcançar um lugar melhor, um pertencente aos céus?”
Não parece tudo isso fantasia de homens que manipularam a Bíblia,
aplicando certas passagens dela a meros pequenos congressos
americanos ou a situações de pessoas comuns nos EUA, a fim de dar
sustentação às suas crenças? Ora, imagine o leitor que até a prisão
temporária dos diretores da Torre de Vigia em 1919 e depois a soltura
deles foi usada para “cumprir” a profecia de Ezequiel 37:1-8...!?
A história do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová se
encontra manchada de sangue de sinceras Testemunhas (apenas um
dentre muitos exemplos: veja o livro Proclamadores, página 674).
Hoje em dia, no entanto, elas lêem um registro histórico branqueado
que afirma que “tudo tem sido feito pela fé em Jeová”, “confiança em
suas promessas”, “pela consciência treinada na Bíblia” ou às vezes, a
história aparece diferente do que realmente ocorreu. Esses registros
servem como berço para embalar lendas e mitos (como o de 1914) que
certamente ocorrem em nome dessa “forte fé em Jeová” (que na
verdade é em uma organização humana que diz representá-lo). Aplica-
se aqui uma citação feita certa vez por um estadista atualmente
falecido:
“O grande inimigo da verdade muitas vezes não é a mentira —
deliberada, maquinada e desonesta — mas o mito — persistente,
persuasivo e irrealista.”
Também concordo com as palavras de um jornalista brasileiro que
disse:
“A informação – principal nutriente da consciência – é o melhor
antídoto contra totalitarismos. Por isso, regimes totalitários não
suportam a liberdade de informação. Para sobreviver e prosperar,
precisam proibir ou distorcer a informação de modo a narcotizar a
consciência das massas que vivem sob suas égides.”
Várias Testemunhas de Jeová que conheço, começam a dar-se conta
de que grande parte daquilo sobre o qual elas basearam o inteiro curso
336 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

de suas vidas é exatamente isso, um mito — “persistente, persuasivo e


irrealista”. Elas têm descoberto que foram roubadas de seu direito de
simplesmente informar-se, tendo deixado suas consciências
“narcotizadas” diante da égide do grupo auto-designado “escravo fiel e
discreto”, mencionado por Jesus que, na verdade, falava apenas de
indivíduos fiéis que seriam seus seguidores. (Mateus 24:45)
Como poderia ter sido a leitura do artigo de A Sentinela de 1º de
setembro de 2000 nas entrelinhas do parágrafo 10, página 13? O artigo
fazia parte do “Estudo Semanal” dessa revista, sob o título: “Mostre
que Tem uma Atitude de Espera!”
Vamos relê-lo? (O conteúdo nos parênteses é nosso)
“Termos uma atitude de espera também nos ajudará a evitar a
presunção (qualquer crítica à organização). Alguns dos que se
tornaram apóstatas (condenados então por nós) não estavam dispostos
(sujeitos às nossas diretrizes) a esperar. Talvez achassem (ousaram
pensar por conta própria) que havia necessidade de um ajuste,
(mudanças razoáveis) quer de entendimento bíblico, (entendimento do
CG) quer de assuntos de organização. Mas, deixaram de reconhecer
que o espírito de Jeová (espírito do CG) induz (orienta, inspira) o
escravo fiel e discreto (nós, homens escolhidos e “orientados pelo
espírito santo de Deus”) a fazer ajustes no tempo devido Dele (“nosso”
tempo), não quando nós (vocês aí da ‘Grande Multidão’) talvez os
achemos necessários. E quaisquer ajustes têm de estar em harmonia
com a vontade de Jeová (e só nós sabemos qual é essa vontade), não
com nossas próprias idéias (algo que não venha de nosso conselho
executivo central em Brooklyn). Os apóstatas (esses párias,
condenados) deixam que uma atitude presunçosa (o direito de pensar e
falar) distorça seu modo de pensar (que deveria ser unicamente o nosso
modo de pensar) e os faça tropeçar. Mas, se eles tivessem a atitude de
mental de Cristo (que também é nossa atitude), poderiam ter
conservado sua alegria (dizendo “sim” e ficando calados a tudo que
decidimos por eles) e continuado entre o povo de Jeová (apesar dos
gritos de suas consciências diante de nossos erros que já custaram
vidas).
O conteúdo desses parênteses não tem intenção de retratar sarcasmo
sem sentido nem ironia leviana. É, de fato, apenas uma forma realística
de se fazer uma leitura mais direta da mensagem por trás das palavras
do Corpo Governante sobre os supostos “apóstatas”.
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 337

Um pouco antes no parágrafo 7, a organização afirmara o seguinte:


“Às vezes talvez achemos que certo esclarecimento está demorando
muito... Por que devíamos privar-nos de alegria piedosa porque nem
tudo é inteiramente entendido? Lembre-se de que é Jeová quem decide
quando e como revelar seus ‘assuntos confidenciais’.
Pergunte-se leitor: não foi a própria Sociedade que marcou datas e
deu evidentes demonstrações de não “saber esperar” por criar
expectativas erradas, coisas fartamente comprovados nessas páginas?
Não tem sido a própria organização que se inclina a “decidir quando e
como Jeová revela seus assuntos confidenciais” ao se auto-designar
porta-voz Dele, administrando um suposto “alimento no tempo
apropriado” que não passa de uma série de assuntos sobre os quais a
Palavra Dele não é clara ou simplesmente não fala a respeito?
Uma pessoa já comparou a organização com uma mãe severa que
diz que seus filhos devem comer apenas do alimento que ela própria
prepara, garantindo aos mesmos que tal alimento é nutritivo e muito
especial, não podendo ser encontrado em nenhum outro lugar e,
quando tal alimento se prova indigesto para seus filhos e os mesmos
reclamam dele, tal mãe os repreende e os ameaça com punições
terríveis, jamais admitindo que foi ela própria a única responsável
pelos problemas oriundos de tal nutrição “superior”.
Para concluir, devo dizer que estou consciente de que comentários
cáusticos, palavras mordazes e cuidadosamente selecionadas sobre
aqueles que abandonam a organização, continuarão a existir na
literatura da Torre de Vigia.
Tome outro exemplo no mensário Nosso Ministério do Reino de
novembro de 1999, página 4, final do parágrafo 12:
“Os membros da congregação são protegidos pela providência
bíblica de desassociar tanto transgressores impenitentes como quem
promove idéias apóstatas. (1 Cor. 5:9-13, Tito 3:10, 11)”
Leia os textos citados nos parênteses e descobrirá que tal
“providência bíblica” não faz parte desses textos super mal usados pela
Sociedade para colocar “pecadores impenitentes” no mesmo rebanho
daqueles que simplesmente ousaram discordar de seus ensinos mas que
nem por um instante questionaram a Palavra de Deus, a Bíblia.
338 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Assim, creio que as doutrinas de fabricação humana continuarão a


fazer parte das crenças, crendices e mitos do “povo de Jeová” que crê
fielmente em sua agência de informações, o Corpo Governante, como
único canal de comunicação “progressiva” de Deus com os homens. (A
Sentinela, 1º de Fevereiro de 1994, página 10, pars. 9-11, sob os
subtópicos “Ensino Progressivo” e “Entrada na maravilhosa luz de
Deus”) “Luz... de Deus?”
Nessa resposta ao Corpo Governante, podemos dizer que, quem
muito escreve, muito erra. Ora, mas “errar é humano”. Contudo,
quando homens comuns se auto-elegem como o único “canal de
comunicação de Deus”, e se auto-designam “Corpo Governante” (e
não há na Bíblia essa expressão), “legítimos porta-vozes de Deus” e
ensinam coisas erradas e continuam a afirmar perigosamente que o
“espírito santo os dirige” (e conseqüentemente dirige seus erros), isso é
exatamente o que podemos chamar de apostasia (1 Cor. 4:6 e 2 João
9).
Para concluir, o leitor pode conferir agora o que a própria
organização escreveu sobre o erro das pessoas que “não pensam por si
mesmas” e que deixam que os outros seqüestrem sua liberdade de
escolha. Acredito que esse artigo talvez tenha sido editado porque
alguém do departamento de redação em Brooklyn, NY, não conseguiu
discernir o peso do que nele estava escrito contra o próprio regime de
controle mental que norteia toda a doutrinação da organização. Segue o
artigo nas próximas duas páginas:
Apostasia – Contra Quem ou O Quê? 339
340 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová
Capítulo 3

Cartas de Dissociação
Por Motivo de Consciência

Um “Convite” (Intimação) e Seu Motivo


O que você lerá agora são as cartas de dissociação (solicitação de
desligamento da religião) que eu, Cid Miranda, William do Vale
Gadelha, Adriane Gadêlha Oliveira, Silene Miranda e Andréa Forte
Gadêlha — nesta seqüência — fizemos quase simultaneamente e a de
Francisca Ozanira Pereira, pouco depois. As mulheres dessa lista
foram dissociadas (pediram para sair). William e eu, embora também
tenhamos pedido dissociação, fomos desassociados (expulsos).
Por que o aviso da saída de William Gadêlha e eu foi dado da
tribuna de sua ex-congregação de forma diferente (desassociação) no
dia 29/10/98 se havíamos pedido para sair (dissociação)? Uma das
respostas reside no fato de não haver uma única forma honrosa ou
digna de sair da organização das Testemunhas de Jeová.
Eis aqui o convite, na verdade uma intimação, para eu comparecer
diante de uma “comissão judicativa” (tribunal humano das
Testemunhas de Jeová), datado de 23/10/98:

341
342 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Desassociar-nos não correspondeu à verdade dos fatos, pois nós


havíamos pedido para sair (dissociação).
Como e por que ocorreu tudo isso?
A organização Torre de Vigia, através de dois Superintendentes,
Circuito e Distrito, promoveu uma ação investigativa, conforme
recomendação do “livro dos anciãos”, (“KS”), páginas: 94, 96
(“Resumo”) e 104.
Um cunhado, pessoa muito querida, foi usado para saber se eu tinha
idéias e literatura consideradas por sua organização religiosa como
“apóstatas” visto que tal organização terminantemente proíbe a leitura
de livros de pessoas que já foram Testemunhas de Jeová. Ela decreta
essa proibição com a ameaça de expulsão. Essa expulsão acarreta a
perda imediata de todos os amigos que não poderão sequer
cumprimentar o expulso, qualquer que seja o motivo, inclusive o de
consciência .
Esse amado membro de minha família, após ter passado as férias
em nossa casa, chegou a ser posteriormente pressionado por estes
homens e terminou declarando ter visto o livro Crise de Consciência.
Ao saber que meu cunhado havia feito isso, eu resolvi antecipar a
decisão de sair e então pedi dissociação. Ao mesmo tempo, fui seguido
por minha esposa e duas cunhadas, Adriane Gadêlha e Andréa
Gadêlha.
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 343

Todavia, mesmo sem que William e eu tivéssemos feito o que a


“organização” chama de “propaganda apóstata” aos membros de nossa
congregação — o que pelas regras dela significaria que nós tínhamos
de ser realmente expulsos — os anciãos mantiveram a injusta decisão
de desassociar-nos mesmo já estando de posse de nossas cartas,
recebidas de nossas próprias mãos no dia 22/10/98.
A Vida após a Saída
De qualquer modo, após todo esse tempo, os que saíram se declaram
muito felizes, tranqüilos e em paz, fora do alcance daqueles homens e
de sua organização impositiva que perigosamente brinca de Deus ao
condenar o cristianismo de seus ex-associados, julgando-o inútil,
abjeto, apóstata.
É bom deixar claro que não somos contra a idéia de uma
organização, mas contra esse modelo da organização do tipo aqui em
questão. E de que tipo está se tratando nesse livro? De uma
organização que vai longe demais e exerce uma autoridade e controle
que só devem pertencer ao próprio Deus, Jeová. (Salmos 26:2)
Naquela época (out/98) de pressões emocionais e espirituais, já
sabendo tudo isso que nesse livro está exposto, nós resolvemos que
essa invasão de privacidade e todo o autoritarismo religioso haviam se
tornado insuportáveis na vida de nossas famílias. Não fomos movidos
por orgulho ou por um mero espírito de independência, mas pela busca
de paz e tranqüilidade, da justiça e da verdade e, é claro,
principalmente pela constatação plena de que servir a essa organização
não significava estar servindo a Jeová, Deus.
Hoje em dia sabemos que tal constatação já era comum naquela
época, acontecendo a milhares de pessoas no mundo inteiro, as quais
têm visto sua liberdade cristã tolhida, mal-interpretada e seqüestrada
por uma organização que se auto-vindica como o único “canal de
comunicação de Deus” e que, ao agir assim, usurpa o lugar que só
pertence a Jesus Cristo, o filho de Deus (João 14:6).
O que leva muitos a sair são as pesquisas na própria Bíblia e nas
publicações da organização e a conclusão de que o Corpo Governante,
além de ter ensinado coisas que a Bíblia não diz, tem ido até mesmo
contra o que ela diz.
344 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O fato dos anciãos não acatarem nossos pedidos de dissociação, e


ter a Sociedade usado todo um modus operandi opressor, todo o
controle e intensa vigilância sobre o que líamos ou deixávamos de ler
na privacidade de nossos lares, convenceram-nos ainda mais de que
esse espírito mostrado pela organização não era amoroso nem
tampouco cristão; era arrogante, presunçoso e intolerante, em oposição
ao que a Bíblia recomenda: “com toda a humildade, doçura e
paciência, suportai-vos uns aos outros no amor, solícitos em conservar
a unidade do espírito pelo laço da paz” (Efésios 4:2,3 LEB).
Mais tarde, ao sabermos dos boatos e das estórias diferentes sobre
nossa saída, pudemos constatar o fato de que os próprios membros,
vítimas de vítimas, são levados a seguir o mesmo proceder da
organização: manipular a verdade dos fatos e desmoralizar as fontes
que criticam sua organização religiosa e seu modo arbitrário e soberbo
de exercer controle sobre seus membros. Para isso, os membros
contam com o apoio de anciãos (dirigentes locais) que muitas vezes
são pessoas despreparadas, acometidas da terrível síndrome do “povo
especialmente escolhido” que não admite que alguém saia de seu meio
de forma digna e honrosa, mesmo que por vontade própria ou por uma
crise de consciência, como foi esse o caso. Isso remete o leitor a textos
bíblicos como:
Mateus 12:36: “Eu vos digo que de toda declaração sem proveito
que os homens fizerem prestarão contas no dia do juízo; pois é pelas
tuas palavras que serás declarado justo e é pelas tuas palavras que serás
condenado.”
Provérbios 6:16, 19: “há seis coisas que Jeová deveras odeia; sim,
há sete coisas detestáveis para a sua alma... a testemunha falsa que
profere mentiras e todo aquele que cria contendas entre irmãos.”
João 8:44: “...o diabo... é um mentiroso e o pai da mentira.”
Tendo em vista estas fortes declarações bíblicas, como deveriam
sentir-se aqueles que acusam seus ex-companheiros de “apóstatas
odiosos”, “odiadores do povo de Deus”, “mentirosos”, “raivosos”,
“cães que voltam ao vômito”, etc.? São acusações vãs e sem
comprovação! Há o risco de que, ao fazerem tais julgamentos de seus
semelhantes e ex-companheiros de fé, poderão estar proferindo
perigosas mentiras e falsos testemunhos, coisas que conduzem à
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 345

condenação pela própria Palavra de Deus e pela lei secular que punem
os que difamam ou caluniam pessoas inocentes.
Os artigos nas publicações da organização em que ela condena e
ensina seus membros a condenarem os que saem, rotulando-os do
modo acima, é uma metodologia intimidatória que visa prevenir a
evasão que já ocorre em vários países do mundo.
Um fato curioso é observar como os “anciãos” (dirigentes locais)
das Testemunhas de Jeová mostram-se perfeitas cópias de seu Corpo
Governante em Brooklyn, NY, seguindo um sistema inquisitorial e
soberano que regimenta as vidas de seus co-associados. E por que isso
é “curioso”? Porque esses são os “homens da dianteira” sobre os quais
a própria organização ensina que serão os “futuros príncipes da terra”.
A organização ensina que eles serão alguns dos “justos que herdarão a
terra”. Ora, ao lermos o incrível relato de Raymond Franz, ex-membro
desse conselho central (o Corpo Governante) das Testemunhas, e
depois vermos tantas pessoas passando por tudo isso ali dentro, fica
claro que esse é realmente um padrão mundial de legalismo, de
autoritarismo e abuso de poder.
O mais chocante é eles terem convicção de que agindo desse modo
cruel, injusto e anticristão, estão promovendo e executando a justiça
divina.
Lamentamos profundamente que as coisas continuem assim nessa
organização, tão longe do espírito amoroso, excelente, mostrado por
Cristo! (Mateus 11:28-30) Que pena é ver o desperdício de recursos
humanos e de tempo precioso! (Mateus 15:9)
Mas, afinal de contas, é realmente o “senso de justiça” aquilo que
leva esses “homens da dianteira”, muitos deles sinceros em sua
vontade de agradar a Deus, a investigar até mesmo o que seus
companheiros cristãos lêem em seus lares? A aterrorizar seus
associados com ameaças de expulsão ao menor indício de
discordância, tachada de “apostasia”? Ou será apenas o empenho
frenético e desenfreado de uma organização humana que teima em
manter esterilizado seu ambiente (dito “teocrático”) por controlar
informações que não devem ser dadas aos membros? Por que teme o
escrutínio essa organização que diz levar “a verdade”?
Conceitos de Supremacia Religiosa
346 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

As ações opressivas são também provocadas por um processo


desumanizante, gerado por um forte sendo de lealdade à organização.
Isso faz com que até mesmo homens de coração bondoso, como há
entre as Testemunhas, não sintam remorso diante de deliberadas
distorções de fatos e diante da expulsão e rejeição de seus anteriores
amigos e companheiros. É um cenário deprimente ver pessoas de
índole boa que apóiam a organização nesse respeito, endossando
julgamentos pesados e errôneos aos seus semelhantes, contrariando
Provérbios 17:15.
Conseqüentemente, o conceito de superioridade religiosa, a
premissa de se estar de posse da verdade divina ou sob a orientação do
espírito de Deus, a insistência no exclusivismo e absolutismo
religiosos de uma organização, etc., tudo isso coopera para transformar
os anciãos em meros microcosmos de seus dirigentes maiores, o Corpo
Governante. Ao obedecerem legalisticamente aos comandos destes
dirigentes em Brooklyn, Nova York, tais representantes locais são
movidos a não aceitarem que seus companheiros cristãos possam
pesquisar publicações tidas como “apóstatas”, provando assim que
suas mentes estão narcotizadas por um tipo de regime
reconhecidamente ditatorial que impõe o cerceamento de informações
e da própria liberdade cristã por meio de ações e de matéria impressa.
Por tudo isso, esse livro objetiva esclarecer fatos às pessoas ao
expor os verdadeiros e únicos motivos que estão levando milhares a se
desligarem da organização das Testemunhas, ao passo que ele também
dá às TJ, a oportunidade da pesquisa e do exercício do direito de
conhecer dados que sua organização não relata com a candura que
promete, em livros como o Proclamadores.
A Certeza da Decisão
No dia em que entregamos nossas cartas de desligamento, uma das
muitas certezas que tínhamos era: estávamos mais seguros dessa
decisão do que daquela no dia do batismo (ocasião na qual se faz um
juramento solene de se servir a Deus e à “organização”).
Se é duro para o leitor ler agora as palavras que se seguirão nas
cartas, também foi duro escrevê-las sabendo que elas acarretariam a
enorme perda de amigos e familiares tão queridos, junto com muito
padecimento emocional e psicológico.
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 347

A Razão das Cartas nesse Livro


Por amor e defesa à verdade e para o testemunho esclarecedor de
muitos, que fale o próprio relato honesto às pessoas de coração sincero
que podem ter sofrido, em algum momento de suas vidas, algum tipo
de deslealdade e opressão em qualquer religião que professe “adorar a
Deus com espírito e verdade”. (João 4:23-24)
As 6 cartas de Dissociação (1998) na Íntegra
Carta 1:
De: Cid de Farias Miranda
Para: Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste
Data e Local: Fortaleza, 21 de outubro de 1998
Prezados Irmãos do Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste,
Quando me batizei em abril de 1979, recordo ter ouvido muitas vezes
irmãos dizerem que “os homens eram imperfeitos, mas que a organização
era perfeita”. Acreditei nisso e defendi esta organização na minha medida de
fé. Dois anos antes do meu batismo, porém, havia lido alguns livros
“apóstatas” e sempre os achava amargos e cheios de ódio. Não gostava e
nem gosto deles porque nunca tive dúvidas quanto às verdades bíblicas
básicas que eles negam tais como a alma que morre, que Deus não é uma
Trindade, não ir à guerra, etc..., embora outras religiões também creiam
nestas verdades; os Unitários não crêem na Trindade, os Adventistas não
vão à guerra, acreditam no paraíso na terra, etc., os Cristadelfos não vão à
guerra, não acreditam no inferno de fogo, nem na Trindade, etc. (Veja A
Sentinela, 15/01/63, pág. 57 aqui) Várias religiões têm as nossas mesmas
crenças em coisas que estão claras na Bíblia como o Resgate, a
Ressurreição de Cristo, o fim do sistema de coisas, etc. Os motivos que me
levam a abandonar, não a Jeová Deus, mas a organização que se auto—
glorifica e se auto-recomenda como único canal aprovado por Ele, são:
01. Mat. 24:14 é um texto que várias professas religiões cristãs dizem
estar cumprindo ao atingirem e aumentarem até mais do que nós, o seu
número de adeptos. A Sociedade faz esta pregação principalmente de “porta
em porta” que é uma modalidade”, embora o texto de Atos 20:20 diga em
grego (Kat'óikon) “em vossos lares” e não “de casa em casa”, pois Paulo diz:
“não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse proveitosa, nem de vos
ensinar publicamente e em vossos lares”. Este texto deixa claro que há um
sentido distributivo e não consecutivo como se fosse “de porta em porta”.
Outrossim, ele dá claramente a entender neste texto que primeiro pregava
“publicamente” e depois visitava as pessoas “em seus lares”.
348 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Contudo, não quero aqui tirar o mérito de tal modalidade nem acho que
ela não possa existir. O problema é O QUE, além das “Boas Novas” estamos
levando; O QUE foi acrescentado ao longo de nossa história. Penso nas
centenas de milhares de irmãos que foram e têm sido prejudicados através
do que aprendem nas publicações da Sociedade Torre de Vigia, ou a
organização (termo que inclusive parece soar muitas vezes como sinônimo
de Jeová):
02. O não ao serviço alternativo (agora permitido) que levou a muitos
serem presos, torturados, etc. e que ainda assim, a Sociedade diz (por eles,
é claro) que “estão felizes porque agiram de acordo com suas consciências”
mas que de fato agiram conforme a “consciência” da própria Sociedade.
03. Os transplantes de órgão e frações do sangue permitidas e proibidas
já por várias vezes, (ver “Visita de Pastoreio”, em anexo) colocando a
Sociedade na condição de “culpada de sangue” tanto quanto ela acusa
outras religiões.
04. As datas que têm sido marcadas mudando as vidas de muitos e que
por tantos anos foram pregadas, divulgadas e fortemente incentivadas como
certas.
05. As “comissões judicativas” sem precedentes bíblicos.
06. O processo da “desassociação” e dissociação (palavras e idéias que
também se encontram sem precedentes bíblicos), inventados por Frederick
Franz, com a aplicação do texto “removei o homem iníquo dentre vós” a
todos os que, mesmo que por motivo de consciência, resolvam sair, fazendo
com que as TJs sejam a única religião do mundo em que não se possa sair,
em nenhum caso, de forma honrosa.
07. O modo desamoroso em que muitos pioneiros especiais, até mesmo
os que professam ser ungidos (como conheço casos), são tratados quando
não podem mais servir ficando sem aposentadoria, etc., e o duplo critério
aos ungidos brasileiros e de outras nações como se fossem “ungidos do 3º
mundo e de 3ª categoria” — quando os ungidos da sede em Brooklyn
recebem todos os cuidados necessários e amorosos, etc.
08. O ensinamento que nos faz realmente diferentes das outras religiões:
1914 e minha certeza de que em 1914 nada do que é dito cegamente com
relação à entronização de Cristo ocorreu, pois há registros de que Charles
Taze Russel havia lido escritores mais antigos nos quais baseou todos os
seus cálculos (principalmente na Grande pirâmide de Gizé a que ele visitou e
estudou, pois ele era um piramidólogo - Veja a foto do túmulo de Russel
anexa).
09. Uma das coisas que mais me chocou foi saber que a Sociedade
escondeu a questão sobre os duplos critérios aplicados aos irmãos em
Malauí e México, questão esta que está muito bem documentada nas cartas
da Sociedade em Crise de Consciência de Raymond Franz, ex-membro do
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 349

Corpo Governante. Mentiras? Se fosse assim, acredito que ele estaria preso,
pois no EUA difamar ou caluniar alguém daria cadeia, com certeza. No
entanto, a Sociedade nada poderá fazer se encontramos sua “assinatura”
nestas cartas e o livro se encontra publicado desde 1983 em inglês e em
outras línguas.
10. A Sentinela 01/08/82, pág. 27: “A menos que estejamos em contato
com este canal de comunicação usado por Deus, não avançaremos na
estrada da vida, não importa o quanto leiamos a Bíblia.” Compare esta
afirmação com João 14:6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém
vem ao Pai senão por mim.” Isto me leva a crer o que afirmo no final do
ponto 1 sobre a autoridade do “Corpo Governante” (termo sem base bíblica
sendo uma única reunião de anciãos registrada em Atos 15:29) como
professo instrumento legítimo usado por Jeová Deus.
11. Passei muito tempo me fazendo estas perguntas:
A. Tem Deus uma “organização” na terra — uma do tipo aqui em questão
— e que usa um Corpo Governante para dirigi-la? Onde faz a Bíblia tais
declarações?
B. Que a esperança celestial não está disponível a toda e qualquer
pessoa que a adote, que ela tem sido substituída por uma esperança terrena
(desde 1935) e que as palavras de Cristo com relação ao pão e o vinho
emblemáticos, “Fazei isto em memória de mim”, não se aplicam a todas as
pessoas que depositam fé em seu sacrifício resgatador? Que textos bíblicos
fazem tais declarações?
C. Que o “escravo fiel e discreto” é uma “classe” composta só de certos
cristãos, que não pode ser aplicado a indivíduos, e que esta opera por meio
de um Corpo Governante? Novamente, onde faz a Bíblia tais declarações?
D. Que os cristãos estão divididos em duas classes, com uma relação
diferente com Deus e Cristo, com base num destino terreno ou celestial?
Onde se diz isto?
E. Que os 144.000 em Revelação devem ser entendidos como um
número literal e que a “grande multidão” não se refere, e nem pode se referir,
a pessoas que servem nas cortes celestiais de Deus? Em que parte a Bíblia
diz isto?
F. Que os “últimos dias” começaram em 1914, e que quando o apóstolo
Pedro (em Atos 2:17) falou dos últimos dias como se aplicando de
Pentecostes em diante, não queria dizer os mesmos “últimos dias” que Paulo
mencionou (em 2 Timóteo 3:1)? Onde?
G. Que o ano civil de 1914 foi o ano em que Cristo foi oficialmente
entronizado pela primeira vez como Rei sobre toda a terra e que essa data
do calendário marca o início de sua parousia? Onde?
350 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

H. Que quando a Bíblia diz em Hebreus 11:16 que homens tais como
Abraão, Isaque e Jacó estavam “procurando alcançar um lugar melhor, isto
é, um pertencente ao céu”, não há possibilidade alguma disto significar que
eles teriam vida celestial? Onde?
Assim, meus irmãos, nenhum único ensino da Sociedade aí considerado
pode ser apoiado por qualquer declaração óbvia e direta das Escrituras.
Cada um destes exige por sua vez explicações complicadas, combinações
complexas de textos e, em alguns casos, o que se poderia considerar como
uma ginástica mental, na tentativa para apoiá-lo. Mesmo assim, estes
ensinos foram usados para julgar o cristianismo das pessoas, foram
apresentados como base para determinar se as pessoas que tem devotado
suas vidas no serviço a Deus são apóstatas!
Assim, reafirmando meu amor por todos os meus irmãos, vou orar para
que todos vocês façam seu próprio julgamento sobre o que aqui coloco
sinceramente. Continuo acreditando e jamais vou deixar de acreditar, em
tudo aquilo que a Bíblia diz e não me considero um “apóstata”. Mas, por
motivo de consciência, e convicto de que, embora esta organização ensine
muitas coisas boas e produza ainda muitas pessoas honestas, (compare
com a revista Veja 14/10/98 pág. 34, anexo) peço o meu total desligamento
e vínculo com a Sociedade Torre de Vigia e despeço-me daqueles com os
quais tenho convivido, não porque não mais desejo sua boa associação,
mas por saber que não mais me será permitido falar com os mesmos, nem
me associar livremente com todos.
Atenciosamente,
Cid de Farias Miranda.
Carta 2:
De: William do Vale Gadêlha
Data: Fortaleza, 22 de outubro de 1998.
Ao Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste,
Após muitos meses de cuidadosa análise e pesquisa com relação a
inúmeras dúvidas sobre os erros da organização, cheguei às conclusões que
passo a expor:
A Sociedade Torre de Vigia (ou Corpo Governante) cometeu diversos
erros, ao longo dos anos, quando se pronunciou sobre assuntos como
vacinas, transplantes de órgãos, frações de sangue, serviço civil alternativo e
datas para o fim do sistema de coisas (1874, 1914, 1925 e 1975).
Em alguns destes casos, houve a mudança de posição para depois se
retornar à anterior, evidenciando a falta de base para a posição. Muitas
destas posições foram impostas à comunidade mundial das Testemunhas de
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 351

Jeová, sem que para isso houvesse UMA SÓLIDA RAZÃO BÍBLICA (ex.:
serviço alternativo).
O Corpo Governante afirma ser DIRIGIDO ou GUIADO por Jeová, o que
é impossível, já que, sob ORIENTAÇÃO DIVINA, não se pode chegar ao
erro. (Deut. 32:4). Os apóstolos também eram imperfeitos, como homens,
mas INSPIRADOS POR JEOVÁ, transmitiram por meio das escrituras uma
orientação segura.
Creio sinceramente que o ÚNICO MEIO pelo qual Jeová dirige as
pessoas hoje em dia é a BÍBLIA SAGRADA. As pessoas individuais ou
organizações religiosas são guiadas por Deus na exata proporção em que
tomam decisões baseadas nas ESCRITURAS.
Por ter causado, no passado, mortes e danos em função das orientações
relacionadas a vacinas, transplantes de órgãos e frações de sangue, a
Sociedade se tornou CULPADA DE SANGUE, bem como trouxe vitupério a
Deus e à sua Palavra por causa das profecias HUMANAS não cumpridas.
Neste século, centenas de milhares de pessoas TROPEÇARAM por causa
disso, muitas perdendo a fé não apenas na organização, mas também em
Deus e na Bíblia. (Mat. 18:7)
Afirma-se que Deus tem de ter uma organização, e no entanto, durante
MAIS DE QUINZE SÉCULOS, não há qualquer registro de alguma
organização tal como a hoje dirigida pela Sociedade Torre de Vigia, tendo
Jeová, durante todo esse tempo, tido seus adoradores individuais (livro
Proclamadores, pág. 44 - quadro)
Creio em Jeová, Cristo e na Bíblia e em todos os ensinos CLARAMENTE
DELINEADOS NA PALAVRA DE DEUS. Não me sinto obrigado aos
ENSINOS DA SOCIEDADE que foram “ALÉM DAS COISAS ESCRITAS.”
Tampouco me considero “apóstata”, pois pedi a dois homens maduros e
experientes da organização (que foram à minha casa) que me mostrassem
BIBLICAMENTE a minha culpa de apostasia; qual o ensino bíblico apostólico
contra o qual eu me rebelei. NENHUM DELES CONSEGUIU FAZÊ-LO.
O que me restava? De início pensei em evitar o curso que me levaria à
perda de amigos queridos, a quem continuarei a amar, angariados ao longo
de 24 anos passados na organização. Mas logo ficou evidente que seria uma
vida de fingimento que não faria bem nem a mim, nem aos outros. Poderia
também ter considerado apenas algumas coisas boas e proveitosas
(BASEADAS NA BÍBLIA) que a Sociedade ensina.
Mas ela mesma destaca que é preciso concordância total, “100% de
certeza” da parte de alguém para permanecer em sua religião (Despertai! 8
de setembro de 1987, págs 8-11). No mesmo artigo, destacou-se que o
membro de uma religião partilha da responsabilidade por tudo que ela ensina
e faz. Não quero mais partilhar da responsabilidade por tudo que aqui foi
mencionado.
352 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A um dos poucos com quem comentei o assunto, perguntei se a


Sociedade tinha ou não desconsiderado Atos 1:7 (datas preditas). Ele disse
NÃO! Sobre o mesmo assunto, perguntei a outro irmão se a Sociedade não
se classificava como falso profeta, segundo Deut. 18:22:
“... quando o profeta falar em nome de Jeová e A PALAVRA NÃO
SUCEDER NEM SE CUMPRIR, esta é a palavra que Jeová NÃO falou. O
profeta proferiu-a PRESUNÇOSAMENTE. Não deves ficar amedrontado por
causa dele.”
Também, Jeremias 23:21:
“Não enviei os profetas, no entanto, ELES MESMOS correram. Não falei
com eles, no entanto, ELES MESMOS PROFETIZARAM.”
A resposta foi NÃO! Se ela não tinha ido “além das coisas escritas”
(transplantes, serviço alternativo, etc.), outro NÃO! Se ela é ou não culpada
de fazer tropeçar inúmeros seres humanos (datas).
Mais um NÃO!
De tudo isso só posso considerar que, para muitos irmãos a Sociedade
(ou Corpo Governante) paira sobre as cabeças de todos nós como a
entidade que está ACIMA das leis e dos requisitos do próprio Deus,
autorizada a impô-los aos outros enquanto ela mesma não se deixa reger
por eles. A Sociedade pôs a si mesma como CANAL INDISPENSÁVEL à
conquista da vida eterna, um mediador extra ALÉM DE CRISTO. A Sentinela
01/08/82, pág. 27: “A menos que estejamos em contato com este canal de
comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não
importa o quanto leiamos a Bíblia.” Compare esta afirmação com João 14:6:
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por
mim.”
Em vista de tudo isso, comunico e peço por meio desta, meu total
desligamento de qualquer vínculo com a organização dirigida pela
Sociedade Torre de Vigia, passando daqui para frente a um relacionamento
pessoal com Jeová Deus, sem outro mediador se não o biblicamente
designado.
Quanto a comparecer diante de uma comissão judicativa, digo: é possível
alguém arrepender-se de um ato de imoralidade; ou de embriaguez; é
possível arrepender-se de furto ou até mesmo de assassinato. Porém, como
“arrepender-se” de uma opinião formada com base nas escrituras? Portanto,
aplico ao meu caso as palavras de 1 Cor. 4: 3, 4:
“Ora, para mim é um assunto muito trivial o de eu ser examinado por vós
ou por um tribunal humano. Até mesmo eu não me examino a mim mesmo.
Pois não estou cônscio de nada contra mim mesmo. Contudo, não é por isso
que eu seja mostrado justo, mas quem me examina é Jeová.”
Atenciosamente,
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 353

William do Vale Gadêlha


Carta 3:
De: Adriane Gadêlha Oliveira
Para: Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste
Local e Data: Fortaleza, 25 de outubro de 1998
Venho, através desta, comunicar minha saída dessa organização
religiosa da Torre de Vigia por ter firme convicção de que seu Corpo
Governante não tem qualquer ligação com a vontade de Jeová Deus; que
sua maneira de agir não reflete o amor e o perdão que Jesus tanto pregou e
sim, as idéias de homens.
Acredito que o verdadeiro cristianismo não pode ser apenas fruto de um
programa de intensas atividades em uma obra que culmina em “estudos
bíblicos” totalmente comprometidos com o ensino de regras e dogmas que
servem para fazer funcionar uma organização que dá exagerada ênfase aos
seus dirigentes, (ou seu Corpo Governante), os quais, por vezes,
obscurecem a figura do próprio Cristo. (Mat. 23:10-12)
Comprovei que essa organização, que luta tanto pela liberdade de
expressão onde a obra é proscrita, nega esta mesma liberdade aos seus
membros, como se eles não tivessem capacidade nem direito de agir de
acordo com suas próprias consciências. Sinto que esta organização, durante
todo este tempo, colocou-se como outro mediador além de Cristo,
contradizendo assim a Bíblia. E é essa organização que se diz “a
organização de Deus”.
Portanto, considero absurdo o convite para uma comissão de julgamento
sem motivos ou provas plausíveis, apenas por ter exercido minha liberdade
de expressão. Tais comissões judicativas, na grande maioria dos casos,
visam fundamentalmente a “limpeza da organização” e desumanizam
quaisquer pretensos apelos de “ajuda amorosa”, pois colocam as pessoas
umas contra as outras (mesmo familiares) incentivando-as à delação. A
maior prova disso são as próprias táticas de intimidação da Sociedade e a
desamorosa tentativa dela de sempre tentar extrair informações de pessoas
inocentes que são proibidas de contestar as pretensas “verdades” e “luzes”
que o Corpo Governante acende e apaga mesmo que isso signifique
prejuízo para muitos. Por que não têm todas as Testemunhas de Jeová o
direito à liberdade de expressão e não podem entender por si mesmas a
palavra de Deus, “não importando o quanto leiam a Bíblia”? Terá sido a
Bíblia escrita para nós, pessoas comuns, ou para um pequeno e pretensioso
grupo encarregado de “explicá-la” como diz A Sentinela 01/08/82, pág. 27:
“A menos que estejamos em contato com este canal de comunicação
usado por Deus, não avançaremos na estrada da vida, não importa o quanto
leiamos a Bíblia”.
354 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Não concordo absolutamente com essa afirmação. Acho que, ao invés de


cultivar tal atitude exaltada e enaltecida que tem sido cansativa e
exaustivamente repetida em tantas publicações, os 10 atuais membros do
Corpo Governante deveriam estimular os cristãos ao que nos recomenda a
Bíblia em Atos 17:11 e 2 Cor.13:5”
“Ora, estes últimos eram de mentalidade mais nobre do que os de
Tessalônica, pois recebiam a palavra com o maior anelo mental, examinando
cuidadosamente as escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram
assim.”
“Persisti em examinar se estais na fé, persisti em provar o que vós
mesmos sois”.
Quero explicitar que tenho convicção de que esta Sociedade (Corpo
Governante) tão auto-glorificada e pretensiosa é, para mim, tão falsa do
ponto de vista cristão e bíblico quanto as demais que agem de forma igual
ao usarem líderes humanos que se colocam como únicos canais usados por
Deus. Ademais, não houve nenhuma outra organização, em nenhuma parte
do registro bíblico, como esta aqui tratada. Esta “Sociedade” ainda leva
maior culpa, pois, além de errar tanto em suas profecias e “entendimentos”,
não permite que as pessoas tenham direito de raciocinar, falar o que
pensam, ouvir, ler outras publicações ou contestar sua estrutura de poder,
obrigando seus adeptos a se comportar como máquinas que não têm
vontade própria e a engolir tudo o que ela lhes diz sem questionar como se
fossem coisas da “vontade de Deus”, quando são simplesmente de homens.
Naturalmente, enxergo claramente que tal comportamento doentio é produto
da mente de líderes escravizados a conceitos errôneos e regras, como o
eram os fariseus. São critérios de homens que falam pretensiosa e
impunemente sobre assuntos que caberiam apenas a cada cristão ponderar
e tentar fazer a melhor escolha de acordo com suas próprias consciências.
Quando criticam os padres por causa de seus confessionários humanos,
estão hipocritamente repetindo os erros deles com dupla culpa:
01. Por repetir o erro de obrigar as pessoas a confissões antibíblicas
diante de pessoas não autorizadas por Deus.
02. Por adicionar julgamentos pesados a “disciplinas” (penitências)
rígidas que não têm registro na Palavra de Deus, como a “Desassociação”,
etc.
As comissões judicativas têm causado a perda da dignidade humana de
muitos que são instados a relatar assuntos pessoais e de sua privacidade.
Isto tem provocado grande drama emocional e angústia mental para tais
pessoas que supostamente são “ajudadas”.
Sei que vou errar sempre devido a minha imperfeição humana, mas terei
“um ajudador” melhor do que esta organização legalista e inflexível. E é por
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 355

estar ciente da natureza pecaminosa de todos os humanos que irei sempre


confiar em meu Deus de quem Seu servo Davi declarou no Salmo 19:12-14:
“Enganos — quem pode discernir? Declara-me inocente de pecados
escondidos. Refreia também teu servo de atos presunçosos; não deixes que
me dominem. Neste caso serei completo e terei permanecido inocente de
muita transgressão. As declarações de minha boca e a meditação de meu
coração, tornem-se elas agradáveis diante de ti, ó Jeová, minha Rocha e
meu Redentor.”
Sinceramente,
Adriane Gadêlha Oliveira
Carta 4:
De: Silene Gadêlha Miranda
Data: 25 de outubro de 1998
Ao Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste — Fortaleza, CE
O motivo de minha relutância até agora em pedir para sair desta
organização, não se deve a dúvidas sobre se ela é ou não a religião
aprovada por Deus, pois várias evidências bíblicas já provaram que não é,
porém por causa da privação imposta de não poder mais conviver livremente
com pessoas tão queridas por mim; pessoas para quem agora serei como
uma estranha e daí a razão de tanto sofrimento emocional pelo qual tenho
passado nestes últimos dias.
Esse não reconhecimento pela organização dos sentimentos que
aproximam as pessoas naturalmente, faz dela o maior dos estranhos para
mim agora, pois ela faz com que tais sentimentos fiquem à margem,
impotentes. Esta organização quase me fez desacreditar no amor genuíno
entre as pessoas, em relacionamentos sinceros, incondicionais. Este é meu
legado depois de 20 anos dentro desta organização que diz levar o nome de
Deus, e, no entanto, desonra-O e O difama por dar mau testemunho do
amor, Sua qualidade principal, cujo espírito permeia toda a Escritura, em
contraste com o apego a normas, leis, dogmas e regulamentos, marca
registrada dos fariseus dos dias de Jesus. (Mat. 23) Estou cansada de ver
pessoas serem avaliadas por números produzidos como numa grande
empresa; número de horas gastas, número de revistas colocadas, número
de estudantes, etc.; e não pela espécie de pessoas que são no seu íntimo,
pela bondade sincera que demonstram em seu coração.
Quando se entra, a Sociedade nos limita a associação dentro do círculo
“seguro” da congregação, nos oferecendo uma irmandade internacional. Do
que vale isto, se este amor é facilmente manipulável e condicionado a um
tolhimento da liberdade de expressão existente apenas em regimes
opressores e terroristas? E mais, para termos nosso passe garantido, temos
356 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

de abdicar de nossa consciência individual de seres livres — dom dado pelo


próprio Deus — em prol de uma consciência organizacional, sujeita a falhas
e tentativas empíricas.
Uma religião que adéqua a Bíblia para encaixar suas doutrinas de acordo
com seus interesses que confunde Deus com a organização, difamando
assim Seu nome por fazer recair sobre Ele os próprios erros dela.
Num primeiro momento, a proposta bíblica de paraíso na terra algo muito
atraente para as pessoas que vivem angustiadas pelas intempéries deste
sistema e, por isso, todo o pacote restante de doutrinas e regras humanas é
facilmente aceito sem questionamentos, embora nunca compreendido. Mas
as dúvidas quanto a este conjunto de doutrinas erradas existem dentro de
cada um de nós, latentes, pedindo para vir à tona, e isto um dia acaba
acontecendo com muitas pessoas sinceras.
Estou saindo desta casta de pessoas “superiores” para me tornar uma
pessoa simples, comum. Tendo em vista que um dia fui enganada por algo
no qual depositei tanta fé, hoje me sinto descrente, tendo que lutar para
resgatar o genuíno amor por Deus e seu filho Jesus Cristo e reaprender a
viver. Desta forma, esta organização foi para mim uma pedra de tropeço,
tendo prejudicado minha relação com Deus.
Arrependo-me de um dia ter ingressado nesta organização e ter
desperdiçado meu tempo, minhas energias e meus sentimentos com
pessoas que, não por sua própria vontade, mas por sofrerem uma
programação intensa da Sociedade, hoje me viram as costas.
Comunico o meu desligamento da Sociedade Torre de Vigia e despeço-
me reafirmando meu amor por todos vocês e ao mesmo tempo abdicando
dele, já que a organização me impõe tão desamorosa, inflexível e injusta
sentença.
Atenciosamente,
Silene Gadêlha Miranda
Carta 5:
De: Andréa Forte Gadêlha
Data: Fortaleza, 24 de outubro de 1998
Ao Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste
Venho por meio desta, comunicar ao corpo de anciãos da congregação
Sudeste, o meu desligamento da organização da Sociedade Torre de Vigia,
por estar convicta depois de muitas reflexões, que esta não é a religião
verdadeira.
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 357

Quero expressar também que o meu amor ao meu querido Deus Jeová
continua inabalável e minha fé “exclusivamente bíblica” continua firme e
forte.
É triste depois de tantas amizades, ver que sair dessa organização é um
processo bastante doloroso, pois temos que nos afastar daqueles a quem
amamos sem que nenhum de vocês possa biblicamente me mostrar que
pecado cometi para tal julgamento, que com certeza não vem do Pai.
E quando vejo bem clara a frase tão proferida em tantos discursos: “não
julgueis para não serdes julgados”, percebo que enquanto estive nessa
organização, inúmeras vezes se fez o contrário do que se proferia e assim
lembro-me dos Fariseus que estavam aparentemente “limpos por fora, mas
imundos por dentro...”
Quero também expressar que os meus sentimentos de carinho e gratidão
para com muitos irmãos continuam guardados no meu coração e não os
culpo por não enxergarem a trave que está em seus olhos, mas pediria que
fizessem uma auto-análise para realmente em sã consciência nos seus
pensamentos verem se realmente não tenho razão.
Sei que em prol desta organização muitos deixaram famílias, trabalhos,
faculdades e depois de tanta abdicação é difícil voltar atrás.
Acredito que independentemente de religião, o esforço de cada um de
vocês será contado por este Pai amoroso que percebe as motivações de
cada coração que quer servi-lo, assim como eu que desde pequena, o quis e
continuarei com este pensamento até o fim dos meus dias, e sei que por
mais humildes que tenhamos de ser, sempre existe uma vaidade de se
ocupar um lugar de destaque, seja dentro da religião ou em qualquer outro
lugar no qual nos sintamos valorizados e isso também pesa bastante para
nos prendermos a esses lugares.
Quero dizer também que aprendi muitas coisas boas das quais levarei
como ensinamento para o resto de minha vida, pois não divergem das
Escrituras. Em qualquer lugar que formos ou qualquer pessoa que
venhamos a conhecer, sempre poderemos absorver o que de melhor elas
têm para nos oferecer para com certeza sermos pessoas melhores, e foi isso
que tentei e tento fazer apesar da minha imperfeição.
E agora, agradeço a Jeová por saber que apesar de todos vocês
desejarem ser advogados das minhas convicções, minha liberdade de
pensamento e faculdade de raciocínio, seus julgamentos se limitam apenas
a esta religião, pois sabemos que só quem conhece o meu será Jeová Deus.
Este pode me julgar com perfeição. Assim, me sinto feliz por saber que não
estou mais debaixo de julgamentos puramente humanos, falíveis e
imperfeitos e assim me lembro do exemplo de Maria Madalena do qual
Cristo disse que atirassem a primeira pedra quem não tivesse pecado.
358 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A verdade jamais temerá a mentira. Se investigássemos a verdade dos


fatos, talvez descobríssemos que por muito tempo estávamos vivendo numa
mentira.
Sinceramente,
Andréa Forte Gadêlha
Essa outra carta de dissociação redigida no dia 20 de Julho de 1999,
pela Sra. Francisca Ozanira Pereira Nogueira, na época aos 49 anos,
também se desligou da organização Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados, por motivo de consciência.
Fortaleza, 20 de Julho de 1999
Ao Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste,
Eu, Francisca Ozanira Pereira Nogueira, venho através desta carta dizer
que quero meu desligamento, não de Jeová Deus, mas da organização
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados.
Faço isso porque não encontrei nesta religião que se diz cristã, o amor
que Jesus mostrou às pessoas. Acho que ser uma Testemunha de Deus não
é só pregar os ensinamentos e as “Boas Novas” segundo a Sociedade, por
exemplo, aquela que diz que Jesus é Rei desde 1914.
Acho que deve ser primeiro demonstrar o verdadeiro amor ao próximo
que é o segundo maior mandamento da lei de Deus. (Lucas 10:27) O amor
que as Testemunhas de Jeová dizem ter, é só aquele de não ir às guerras,
mas o amor que Cristo mostrou é algo que vai muito além disso. O amor
genuíno é aquele que é demonstrado na vida das pessoas que dizem ser
cristãs. É aquele que leva as pessoas a se tratarem com respeito e
dignidade. Minha filha e eu não encontramos, em nenhum momento, tal
amor. Ao contrário, eu e ela só tivemos muita mágoa de várias pessoas que
só afirmavam ter esse amor da boca para fora, mas que não mostraram tal
sentimento quando precisamos tanto dele. Nesse sentido, as constantes
decepções e os inúmeros desapontamentos me levaram, por mim mesma, a
essa decisão definitiva.
Portanto, quero deixar claro que não vou mais fazer parte desta religião.
Estou pedindo a minha dissociação dela em caráter definitivo e irrevogável.
Jamais vou abandonar a Deus nem parar de buscar o consolo de Sua
Palavra, a Bíblia. Sempre vou estar consciente de tudo que Jesus pregou e
vou amar a ele e ao seu Pai e tentar manter minha amizade com eles dois,
mesmo sendo uma pecadora como todos nós humanos somos. Vou
continuar lendo a Bíblia e aprendendo dela, pois Jesus disse em Mateus 5:3:
“Felizes os cônscios de sua necessidade espiritual, porque a eles
pertence o Reino dos Céus.”
Cartas de Dissociação Por Motivo de Consciência 359

Jesus também disse em Mateus 18:20:


“Pois onde estiverem dois ou três ajuntados em meu nome, ali estarei eu
no meio deles”.
Eu farei isso com minha filha e genro ou amigos ao orarmos e
estudarmos a Bíblia juntos (Hebreus 10:24, 25).
Quero então dizer um amoroso adeus a todas as pessoas boas (também
existentes em outras religiões) que continuarem na organização Torre de
Vigia e que estarão proibidas pela Sociedade de falar comigo, mesmo
porque sei que não me encaixo nos textos bíblicos que a Sociedade usa
contra os que saem — pois o meu motivo é de consciência e não os
apresentados nos textos deturpadamente usados contra os que saem por
esse motivo.
Que Jeová abra os olhos de outras Testemunhas para discernirem o que
é certo e o que é errado sem precisarem recorrer a homens imperfeitos de
um “Corpo Governante” que governa as consciências delas, decidindo quase
tudo em suas vidas.
Francisca Ozanira Pereira Nogueira

NOTAS CONCLUSIVAS
Outras Pessoas Têm Saído por Motivo de Consciência
Logo depois de nossa saída, Tancy, uma senhora bondosa, casada e
mãe dedicada de duas lindas crianças (coleguinhas de meus filhos), foi
desassociada. Seu “pecado terrível”? Havia chamado William Gadêlha
para conversar em sua casa e indagou o motivo dele ter saído. Ao ser
investigada por dois anciãos, ela confirmou isso e disse que não se
arrependia desse ato simples de receber uma visita em sua casa,
alguém por quem ela ainda tinha carinho e admiração.
Muitas outras Testemunhas de Jeová recebem o mesmo tratamento
e os casos aumentam.
Logo depois do que ocorreu à Sra. Tancy, mais dois jovens
Testemunhas de Jeová que foram flagrados em visita à minha casa,
foram chamados para comparecer diante de comissões judicativas e
terminaram sendo desassociados também.
360 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Alguns que já chegaram a entrar em contato conosco através da


Internet ou de outro modo, quando flagrados ou por confessarem isso,
foram também, implacavelmente expulsos da organização e a partir
daí, considerados como “apóstatas terríveis”.
Pesados Julgamentos
O cristianismo dos “desassociados” é considerado inválido, ofensivo e
repugnante aos olhos daqueles a quem eles outrora julgavam ser “os
melhores e mais confiáveis amigos”.
Constata-se, com profunda e sincera tristeza, que a atitude de muitas
pessoas que permanecem na organização está muito longe de conter o
“sinal identificador dos verdadeiros cristãos, o amor”, tão anunciado
pela própria “Sociedade”. Ao contrário, quaisquer que tenham sido as
anteriores demonstrações de amor de muitas destas pessoas, elas
infelizmente passam a dar lugar a um estranho e imediato sentimento
de repulsa por qualquer um que tenha ousado discordar dos ensinos da
Sociedade Torre de Vigia. Por sua vez, a organização (auto-eleita
como “governada por Deus” — KS, página 144 — subtópico) por
encorajar tal comportamento anticristão, desamoroso e injusto, mostra
que realmente desonra ao Deus de amor, pois fomenta a intolerância e
instiga o ódio por meio de ensinos puramente humanos.
Capítulo 4

Para Quem Havemos de Ir?


(João 6:68)

Uma Resposta Bíblica


A resposta à pergunta-tópico feita a Jesus, foi dada pelo próprio
Pedro logo depois:
“Tu tens declarações de vida eterna”.
Primeiramente, essa afirmação mostra que a vida eterna nunca foi
propriedade exclusiva da Sociedade Torre de Vigia. Sair dessa
organização não significa necessariamente perder de vista essa
maravilhosa perspectiva visto ter Pedro atribuído apenas a Jesus o
poder de ofertar o inestimável prêmio da vida eterna a qualquer pessoa
que se mostrasse apta para recebê-lo. Portanto, independentemente de
se pertencer ou freqüentar uma determinada organização religiosa,
qualquer pessoa pode conquistar tal prêmio por simplesmente exercer
fé no filho de Deus. (João 3:16)
Provando como isso é possível, veja o que ocorre no contexto de
Lucas 23:42, 43. Aquele malfeitor que agonizava ao lado de Jesus,
nunca tinha ido às reuniões do Salão do Reino, ou à pregação de casa
em casa; nunca havia feito discursos públicos ou estudado a revista A
Sentinela, etc. No entanto, tal homem recebeu a impressionante
garantia de um futuro eterno pela boca do próprio filho de Deus que
lhe prometeu: “Estarás comigo no paraíso”. Sua fé simples no filho de
Deus o conduziu à salvação sem que ele precisasse antes ingressar em
qualquer organização religiosa.
No entanto, o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová
declarou o seguinte em A Sentinela de 01/10/94, página 8:
“Assim como as profecias bíblicas apontavam para o Messias, elas
também nos encaminham ao unido corpo de cristãos ungidos das

361
362 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Testemunhas de Jeová, que serve atualmente qual escravo fiel e


discreto. Todos os que desejam entender a Bíblia devem reconhecer
que a ‘grandemente diversificada sabedoria de Deus’ só pode ser
conhecida através de seu canal de comunicação de Jeová, o escravo fiel
e discreto. — JOÃO 6:68”
Veja a indicação do texto de João 6:68 no final da citação acima. O
Corpo Governante o aplica a si mesmo, embora Pedro só falasse ali de
Jesus. Portanto, a organização se apoderou das palavras desse texto e
se colocou perigosamente no mesmo lugar de Cristo. Fica claro,
porém, que Cristo não lhe outorgou esse direito; este lhe foi auto-
conferido e tem sido o instrumento pelo qual a organização afunila
toda a sua carga de controle mental, psicológico e espiritual ao passo
que programa as sinceras Testemunhas de Jeová a jamais duvidarem
de que é para a “organização” que devem ir.
Pode-se também observar que os antigos servos de Deus (Isaías,
Ezequiel, Jeremias, Jonas, Abraão, etc.) não estavam afiliados a
quaisquer “organizações” tais como as que hoje existem. No entanto,
eram representantes terrestres Dele, designados pessoalmente por Ele.
É bem verdade que Deus escolheu uma nação como Sua Nação
Santa por um longo período da história bíblica. É verdade também que
as primitivas congregações cristãs se reuniam para louvar a Deus e
aprender de Sua palavra em logradouros, catacumbas, lares, etc.
Embora isto esteja registrado na História, temos de entender como e
porque a Sociedade Torre de Vigia decidiu reivindicar apenas para si
mesma o direito de ser a única verdadeira estrutura continuada daquela
congregação de primitivos cristãos à qual uma ovelha de Cristo deva ir
para obter a salvação.
Para convencer seus membros de que a Bíblia mostra uma
organização com um Corpo Governante, a Sociedade Torre de Vigia
tenta, por exemplo, apoiar-se em um evento isolado quando alguns
cristãos do primeiro século se reuniram para resolver um problema
local citado em Atos 15:22-29.
Todavia, será que textos como esse tornam necessário que
precisemos de todo o aparato de uma enorme organização para nos
apoiar e, conseqüentemente, de uma liderança para exercer controle em
nossas vidas, dando-nos aguilhoadas e exercendo fortes pressões para
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 363

realizarmos uma obra comprometida por regras humanas criadas por


um grupo “especial” de homens que se dizem representantes e porta-
vozes de Deus os quais, mesmo falhando repetidas vezes, continuam
alegando que são “orientados pelo espírito santo de Deus”?
Compromisso com uma Organização
As duas perguntas feitas antes da imersão total em águas batismais
como Testemunha de Jeová, por exemplo, até meados da década de 80
eram as seguintes: (Conforme A Sentinela de 1º de novembro de 1973,
página 664):
(1) “Arrependeu-se de seus pecados e deu meia-volta,
reconhecendo-se perante Jeová como pecador condenado que precisa
de salvação, e reconheceu perante ele que esta salvação procede dele, o
Pai, por intermédio de seu Filho Jesus Cristo?”
(2) “À base desta fé em Deus e na sua provisão de salvação,
dedicou-se sem reservas a Deus, para fazer doravante a Sua Vontade,
conforme ele lhe revela por meio de Jesus Cristo mediante a Bíblia,
sob o poder esclarecedor do espírito santo?”
A partir da década de 80, as perguntas foram mudadas para: (A
Sentinela de 1º de junho de 1985, página 31)
(1) “À base do sacrifício de Jesus Cristo, arrependeu-se dos seus
pecados e dedicou-se a Jeová para fazer a vontade Dele?”
(2) “Compreende que a sua dedicação e o seu batismo o identificam
como uma das Testemunhas de Jeová, em associação com a
organização de Deus, dirigida pelo espírito Dele?”
Notou o leitor, a diferença? Ora, quem se batizou antes da década
de oitenta estabelecia um compromisso apenas com Deus, e o
esclarecimento para essa dedicação partia Dele, através do
entendimento das Escrituras por meio do espírito santo Dele. Já
aqueles que se batizaram depois da década de oitenta teriam de
estabelecer um compromisso com Deus, mas aceitando a organização
Torre de Vigia como sendo dirigida por Ele e isso, portanto, constituir-
se-ía em comprometimento total com essa organização. Assim, a
organização Torre de Vigia, orientada por advogados bem treinados, e
não por “espírito santo”, preveniu-se contra quaisquer futuras
acusações e/ou ataques de membros que poderiam suscitar dúvidas
quanto ao modo como ela dirige certos assuntos que poderia envolvê-
364 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

los. Desse modo, a partir daquela data, os novos membros batizados


passariam então a “ser identificados como Testemunhas em associação
com a organização de Deus...”
Adesão Total às Regras de uma Organização Humana
Mas será que ir em busca desta organização cheia de regras e
comprometer-se com ela desse modo, responde à pergunta-tema desse
capítulo?
Sem dúvida, regras devem fazer parte de qualquer estrutura
organizacional, pois do contrário haveria caos ou anarquia
generalizada. As regras, no entanto, devem servir ao propósito de
ajudar, equilibrar, ajustar e adequar as coisas para fazê-las funcionar
melhor em prol dos seres humanos, mas nunca para subjugar nossos
semelhantes e forçá-los a viver sob a constante pressão de
dogmatismos religiosos de tendências cartoriais. Tal lugar não é para
onde alguém que almeja a liberdade cristã desejaria ir.
Com base em Mateus 15:8-9, torna-se deveras importante refletir,
antes de qualquer conclusão, sobre os efeitos alienantes e nocivos de
todo e qualquer jugo de regras humanas não-bíblicas a que se sujeitam
não só as Testemunhas de Jeová, mas também pessoas que pertencem
a outras denominações (dominações?) religiosas. Isso nos ajuda a
decidir para onde, ou melhor, para quem devamos ir. (Veja João 6:68)
Entre as Testemunhas de Jeová, as regras são inicialmente passadas
como “admoestações” ou “conselhos amorosos”. No entanto, à medida
que o tempo passa e tais “conselhos” se cristalizam através de sermões
ou discursos públicos, elas tendem a se transformar em referenciais de
julgamento negativo ou positivo quanto a se alguém é ou não é um
cristão “exemplar”, “maduro”, “teocrático” ou “espiritualmente forte”.
E, pasme o leitor, apenas por meio de uma total e incondicional adesão
a padrões de conformidade dessa subcultura — mesmo aqueles não
especificados na Bíblia — alguém está “qualificado” ou se habilita
“devidamente” para receber seu passaporte final, uma “etiqueta de
aprovação” que o tornará “digno” de receber “privilégios”
congregacionais no local que promete ser o melhor lugar, “um paraíso
espiritual para quem quiser adorar e servir ao ‘verdadeiro Deus’, o
Deus da Bíblia, a quem todas as Testemunhas sinceras pensam estar
indo.
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 365

“Amos da Fé”
Paulo certa vez declarou:
“Não é que sejamos AMOS de vossa fé, mas somos colaboradores
para a vossa alegria...” (1 Cor. 1:24)
Devemos ir a uma organização que retrata um Deus que impõe
regras inflexíveis as quais muitas vezes culminam em produzir inteiras
congregações de “co-cristãos” que se tornam “AMOS DA FÉ” dos
outros, vigias uns dos outros, juízes e, por vezes, até mesmo “grilos-
falantes” (consciências) uns dos outros? (Leia Rom. 14:10-12)
Tudo isso, por incrível que pareça, é o que tem ocorrido, mesmo
que tais pessoas estejam cientes de que a “fé não é propriedade de
todos” e que servir aos interesses da “organização” não é o mesmo que
“buscar os interesses do Reino” mencionados por Cristo. (Mateus 6:33;
2 Tes. 3:2)
Legalismos nossos de Cada Dia
À guisa de exemplo, podemos nos lembrar aqui de alguns “amorosos
conselhos” que com o tempo transformaram-se inexoravelmente em
regras de fabricação puramente humana entre as Testemunhas (no
capítulo 13, iremos delinear mais especificamente sobre “proibições,
conselhos amorosos e similares”).
Como deve alguém se comportar em uma congregação das
Testemunhas de Jeová, mantendo a conformidade do grupo, a fim de
poder ser bem aceito nele?
1. Os varões devem usar gravatas no estudo de livro ao dirigi-lo (ou
apenas ser o leitor). Adicionalmente, deve usá-las em todas as reuniões
também;
2. Coisas como o comprimento das saias das irmãs, ou uma forjada
submissão aos varões, etc., podem servir de “fé-mômetro” delas para
anciãos e outros, além de revelar substancialmente quão modestas ou
não, quão espirituais ou não, quão “cogitáveis” para um casamento ou
não, etc., elas realmente poder ser;
3. Um irmão solteiro realmente “teocrático” não deve ficar saindo
“ao campo” com irmãs solteiras (mesmo que o território ou a área a ser
366 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

coberta na pregação se mostre perigosa) para “não dar margem a


falatórios e evitar alimentar alguma vã esperança nessas irmãs”;
4. Irmãos solteiros (e por acaso normais) não devem ficar dançando
com irmãs solteiras nas “festinhas” de congregação (elas se quiserem
que dancem com outras mulheres — e isso de modo algum deve
parecer humilhante);
5. Os irmãos e irmãs noivos devem evitar ficar a sós (afinal de
contas, o Corpo Governante e os anciãos locais não confiam muito nas
consciências e nas “faculdades perceptivas treinadas [destes irmãos e
irmãs] para distinguir tanto o certo como o errado” — Heb. 5:14). Se
eles/elas forem desobedientes à palavra dos da dianteira, poderão até
mesmo ser encaixados no texto de 2 Tes. 3:14, 15;
6. Os irmãos não devem bater palmas quando um desassociado for
reintegrado (embora os anjos dos céus aplaudam e “haja mais alegria
nos céus por causa de um pecador que se arrepende do que por causa
de 99 justos que não precisam de arrependimento” — Lucas 15:7);
7. Varões “espiritualmente fortes” não deveriam usar barba (esse é
um sinal típico de rebeldia em muitos países) nem seguir modismos
nos cortes de cabelo ou roupa.
E uma lista maior pode ser lida em no capítulo 13. Os que resolvem
viver à margem dessas leis, isto é, de tais regras, são considerados
“fracos”.
A conclusão a que se chega é que o apreço de coração pela
benignidade imerecida de Deus ao fazer de nossas vidas um dom
gratuito só é validado para a organização quando se adere de perto às
suas regras, o que significa dizer que a genuinidade do cristianismo de
um associado dependerá, e muito, do que ele fizer em prol dos
interesses da citada “conformidade de grupo”.
Os Efeitos Devastadores de um Processo Desumanizante
Neste conflitante cenário descrito acima, torna-se mister também que
as Testemunhas mais fiéis façam muitas obras prescritas e orientadas
pela “classe do escravo” visto que para a organização a mera fé não
será suficiente, embora saibamos que para Cristo ela o seja. (Mateus
9:20-22 e 8:2, 3)
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 367

A verdade simples e maravilhosa de que “Deus nos amou e


igualmente devemos amar-nos uns aos outros” sofre um processo
desumanizante de robotização que surge sempre que os humanos são
obrigados a aderir a regras humanas exageradamente restritivas e
opressoras, criadas por um punhado de homens. Deveras, a condição
de tolhimento da liberdade cristã se constitui, reconhecidamente, em
um dos meios mais eficazes para se reduzir o alcance de nosso genuíno
amor ao próximo.
Quando se analisa todos esses aspectos sob uma ótica realista, a
importante resposta à pergunta, “Senhor, para quem devemos ir?” se
torna difícil de ser obtida em uma organização religiosa extremista
como a das Testemunhas de Jeová.
Lamentavelmente, muitas vezes isso tudo só é percebido depois do
batismo quando só então o novo membro descobre que existe uma
terrível falta de demonstrações espontâneas de caloroso amor, um
amor que não se restrinja apenas à “não participação em guerras”, mas
o amor que é tão proclamado na organização como “sinal identificador
dos verdadeiros cristãos”.
Muitas Testemunhas concluem tristemente ao longo de seus anos
“na verdade” (assim elas apelidaram o conjunto de doutrinas e ensinos
da Torre de Vigia) que, até certo ponto, o tão alardeado e aparente
“amor cristão” era melhor sentido quando ainda eram “estudantes da
Bíblia” ou “simpatizantes” da religião, e então todos faziam tudo para
“ganhá-los”.
A culpa por tudo isso se deve ao fato de que o precioso amor dá
lugar ao legalismo e autoritarismo religiosos sempre presentes em suas
vidas. Esses dois componentes de controle geram nos seres humanos
imperfeitos, uma incontrolável força que os leva a agir como juízes do
cristianismo alheio ao passo que eles não se dão conta de quão falhos
eles mesmos são. (Mateus 7:1-5) Muito disso poderia ser evitado se
tão-somente os pastores e os tais “representantes de Deus” não
acrescentassem fardos tão pesados aos membros de suas organizações
religiosas. (Mateus 23:3, 4)
Afinal de Contas, Temos de Ir a Alguém ou a Algum Lugar?
Contudo, quando respeitamos e damos real valor à liberdade cristã, não
atendemos à compulsão de servir a homens que se dizem porta-vozes
368 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

de Deus nem nos submetemos ao jugo de suas organizações religiosas,


mas usamos bem as nossas vidas unicamente para demonstrar o quanto
valorizamos o sacrifício expiatório feito pelo Filho de Deus e o convite
que ele nos fez em Mateus 11:28-30 (BJ):
“Vinde a mim todos o que estais cansados sob o peso do vosso
fardo e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis
descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e meu fardo é
leve.”
Então, “para quem havemos de ir”? Jesus ensinou em Mateus
18:20:
“Onde estiverem 2 ou 3 ajuntados em meu nome, ali estarei eu no
meio deles.”
Assim, até aqui, podemos deduzir que o próprio Cristo é a pessoa
para quem devamos ir como sugere o texto tema desse capítulo. Os que
crêem na Bíblia como a Palavra de Deus, devem refletir
profundamente se é desse modo que estão usando suas existências.
Quanto ao método para se ajuntar os cristãos, não há qualquer
evidência bíblica de que isso ocorra por meio de uma organização
religiosa com um Corpo Governante legalista e autoritário que se auto-
recomenda, se auto-glorifica ou se auto-vindica o tempo todo como
“canal de comunicação de Deus”. A organização das Testemunhas de
Jeová insiste nisso tão intensamente que seus membros ficam
aterrorizados ao menor indício de que não estão alinhados com aquilo
que ela ensina como sendo a “obra de Jeová Deus para os últimos
dias”.
Essa postura foi ao ponto de forçar a Sociedade Torre de Vigia a
presunçosamente intimidar seus membros em sua revista A Sentinela
(em inglês) de 1º de fevereiro de 1952, página. 80, com a seguinte
declaração:
“Depois de termos sido nutridos até a presente força e maturidade
espirituais, tornamo-nos, de repente, mais inteligentes que nosso
provedor anterior e abandonamos a orientação esclarecedora da
organização que nos serviu de mãe?”
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 369

Quanta presunção humana! Não foi e nem é por meio de uma “mãe”
dessa espécie que o povo de Deus tem sido ajuntado através dos
séculos, pois Atos 10:34, 35 declara explicitamente:
“Em cada nação, o homem que teme o verdadeiro Deus e faz a sua
justiça lhe é aceitável.”
Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová tendo servido por mais de 40 anos a essa “mãe”,
escreveu certa vez sobre os que buscam responder a pergunta-tema
desse capítulo, livrando-se do controle dessa “matriarca”:
“... Eles se dão conta, mais do que nunca antes, do relacionamento
íntimo que usufruem com seu Amo e Dono como discípulos dele, por
quem são tratados como amigos pessoais, não como ovelhas que
homens confinam em massa num aprisco, mas como ovelhas a quem o
Pastor dedica atenção e cuidado individuais, pessoais. Seja qual for a
idade deles, o espaço de tempo que levou para chegarem a esta
conclusão, o sentimento que têm se harmoniza com o ditado bem
conhecido: ‘Hoje é o primeiro dia do resto de minha vida.’ Sua
perspectiva é tanto feliz como positiva, pois suas esperanças e
aspirações dependem, não de homens, mas de Deus.
Sentir-se dessa maneira não implica deixar de reconhecer que existe
realmente um rebanho de Deus, uma congregação chefiada por Cristo
Jesus. O Filho de Deus deu a garantia de que teria verdadeiros
seguidores, não apenas no primeiro século ou neste século XX, mas em
todos os séculos intermediários, pois ele disse: ‘Eis que estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos.’ (Mateus 28:20) Embora
entremisturados com todas as ervas daninhas que estavam destinadas a
surgir, ele saberia quem eram estes discípulos genuínos, não por
pertencerem a alguma organização mas pelo que eram como pessoas.
Onde quer que estivessem, por mais imperceptível que possa ter sido
do ponto de vista humano a participação deles em sua congregação, ele
os tem conhecido e guiado através dos séculos como seu Cabeça e
Amo. Diz-nos seu apóstolo: ‘Contudo, o sólido fundamento posto por
Deus permanece firme, marcado com o seguinte selo: o Senhor
conhece os que são seus’ (2 Tim. 2:19 LEB) Por que deveríamos
duvidar de que este continua a ser o caso até o tempo atual? A Palavra
de Deus mostra que não compete a homens - nem mesmo é possível
para homens - separar as pessoas de modo que digam que tem agora
ajuntado todo o trigo nitidamente num só celeiro. As Escrituras deixam
370 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

claro que, somente quando o Filho de Deus tornar conhecidos seus


julgamentos, tornar-se-á manifesta essa identificação.
É difícil para uma Testemunha de Jeová pretender servir a Deus
sem a grandiosidade e imponência de uma organização. Estas coisas
eram também assim para as pessoas judaicas no primeiro século;
pretender tal serviço a parte dos arranjos religiosos aos quais estavam
acostumados era impossível. Os edifícios e prédios impressionantes do
templo em Jerusalém, com o serviço do templo sendo realizado por um
grupo de centenas e milhares de trabalhadores dedicados, levitas e
sacerdotes, sua afirmação de ser exclusivamente o povo escolhido de
Deus com todos os outros vistos como impuros, se impunham num
tremendo contraste com os cristãos daquele tempo, que não tinham
edifícios grandiosos, reuniam-se em lares simples, não tinham
nenhuma classe sacerdotal distinta ou levita e reconheciam
humildemente que, ‘em cada nação, o homem que teme a Deus e
produz a justiça lhe é aceitável’”.
Transcrever essas palavras razoáveis sobre para “quem havemos de
ir”, faz-me lembrar da ocasião em que enviei um e-mail a um jovem, e
depois a outro, quando ambos estavam prestes a se dissociar por
motivo de consciência e a vida deles estava atribulada pelas mudanças.
Um deles saiu da organização alguns meses depois de conversarmos
sobre aspectos da suposta “arca protetora, o paraíso espiritual”, como
se auto-elege a organização das Testemunhas de Jeová. Entre outras
coisas, a mensagem dizia:
Caro irmão ...,
...Gostaria de ser de maior ajuda para você, pois sei que sua trilha
pela vida será ainda muito atribulada e penso em como você sofrerá
pressões psicológicas muitíssimo fortes.
Penso também sobre o efeito alienante que sobrevém para alguns
que resolvem sair e espero que isso não ocorra com você. Alguns
perdem seus valores e princípios talvez por terem sofrido uma intensa
programação que lhes ditava que “não haveria vida fora da
organização” e que as pessoas lá fora seriam apenas “mundanas”, que
não adorariam ao verdadeiro Deus.
Ver assim todas as outras pessoas, digo, como meras “mundanas”,
contribui para um sentimento de relações hermeticamente fechadas.
Isso exerce uma força controladora muito difícil de ser sobrepujada,
vencida, desbloqueada. Mais ainda, tal mentalidade sitiada confere às
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 371

Testemunhas de Jeová, um grau de superioridade em relação aos seus


semelhantes e faz com que pensem de si mesmas mais do que
realmente deveriam pensar. (Rom. 12:3) Essa “superioridade” gera o
mito de único “povo escolhido por Deus para herdar o prometido
paraíso”.
Tudo isso se constitui em grande peso emocional e espiritual
oriundo desta organização da qual você provou de frutos agridoces na
maior parte do tempo. Você está certo: “Amar as pessoas, querer viver
bem com elas, ter a humildade de se relacionar com os do mundo sem
se sentir tão especial e escolhido por Deus”, nada disso é suficiente.
Parece até que conquistar o prêmio da vida eterna só é possível apenas
dentro desta organização que se auto-glorifica, e por se fazer tudo que
ela recomenda, receita ou impõe de forma muitas vezes sutil.
O pior é sentir, após muitos e muitos anos, que as amizades boas
dentro da organização são, na maioria, com pessoas sinceras mas que
vêem muito pouco do muito a que estão escravizadas. Pior ainda é não
poder compartilhar isso abertamente com elas por causa do ferrenho
controle de informações e das próprias idéias que permeiam todo o
padrão, filosofia e estilo de vida das Testemunhas vítimas e reféns do
Corpo Governante e de seu consciente coletivo...
...Mas, à medida que envelhecemos, tudo isto vai se tornando um
exercício que exige cada vez mais força de vontade, paciência e muita
oração. Fiz isso por longos e penosos anos.
Acho que já estava “descompensado” psicologicamente, sem
identidade autêntica por perceber minha relação pessoal com meu
Deus somente através da organização. Contudo, é a esse Deus de quem
hoje tento me aproximar mais, tentando ser naturalmente mais
reverente, mais sincero e mais verdadeiro, talvez por não mais ter de
simplesmente fazer as coisas sob coerção e intimidação do suposto
“escravo fiel e discreto”.
Aprendi do pior modo e com o elevado, doloroso e dramático custo
da perda de amigos de longas datas, que a liberdade cristã genuína vale
a pena, pois os deveres espirituais são cumpridos com um coração
cheio de prazer.
É bom nunca perdermos a perspectiva de adoração a Jeová Deus e
cair na “gandaia” como tantos que saem com a mente cauterizada pelo
erro, possivelmente porque já estavam fazendo coisas realmente
erradas, do ponto de vista bíblico, lá dentro.
372 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

No entanto, estou mais do que convicto de que a bolha social


fechada deste clube exclusivista em que vivem as Testemunhas é uma
perigosa armadilha a favor da hipocrisia religiosa. Talvez seja essa a
razão pela qual a organização ultimamente esteja perdendo tantos
membros. Talvez seja esse o motivo que a faz desesperadamente
escrever tantos artigos sobre os perigos de se desenvolver uma “dupla
personalidade”.
“As pessoas”, como você disse, “precisam de muletas emocionais e
de todo um aparato espiritual para manter seu equilíbrio”, mas não nos
esqueçamos de que, viver sob constante pressão e crer em coisas que
são meros dogmas humanos, traz também muito conflito pessoal e às
vezes isso apenas arruína um bom caráter por torná-lo dependente de
uma organização religiosa paternalista. Quantos irmãos passam a
esperar que outros decidam por eles coisas que só caberiam a eles
mesmos decidir? Isso ocorre porque todo o processo de decisão, de
formação de hábitos sadios, de uma consciência treinada pelo exercício
da fé em Jeová, em sua palavra e em seu filho Cristo, sim, tudo isso
fica quase sempre comprometido e cerceado pelo que dita a “mãe-
organização”.
Tome, por exemplo, a questão de se ir a uma “audiência judicativa”
na qual os supostos ajudadores (inquisidores) fazem perguntas que
devassam, expõem e ridicularizam a dignidade humana e a vida
pessoal dos irmãos. Observe os efeitos posteriores ao ser dado o aviso
de perda de privilégios ou coisa mais séria. Veja como a vítima se
torna alvo de tagarelice, boatos e rumores infundados que a humilham,
difamam-na e desacreditam-na, muitas vezes pelo resto de sua vida.
Veja como a privacidade, a intimidade da vida pessoal de alguém pode
ficar maculada e sua reputação riscada.
E o que dizer das “fichas de polícia” apelidadas de “cartões de
desassociação” que são enviados para Betel com detalhes tão íntimos e
pessoais que a pessoa só deveria revelar para Jeová Deus através do
único mediador autorizado biblicamente, Jesus Cristo? (1 Tim. 2:5)
É deplorável ver tantas pessoas inteligentes só pensarem em termos
de Organização e não em termos de uma relação bonita, natural e
respeitosa com nosso Deus. Ele é o único que legitimamente tem o
direito de apontar como isso certamente é possível se confiarmos Nele
como nosso verdadeiro Deus, na Bíblia como Sua Palavra e em Seu
filho como nosso resgatador.
Para Quem Havemos de Ir? (João 6:68) 373

Há milhares de pessoas cultivando esta relação. Um exemplo disso


são os fóruns internacionais de TJ e ex-TJ de toda parte do mundo.
Esses têm expressado o desejo sincero de manter seu apego às normas
bíblicas e não perdem o seu foco cristão por falarem sobre Jeová, suas
qualidades e propósitos a outras pessoas; - essa é uma coisa que eu
pessoalmente anelo jamais deixar de fazer sempre que possível e
espero poder ensinar isso aos meus filhos. (Deut. 6:4-9)
É uma experiência sincera e recompensadora quando ocorre sem o
enorme peso das pressões habituais que as Testemunhas têm de
suportar, atachadas às cansativas cobranças e olhares reprovadores de
anciãos e outros membros da congregação.
Hoje consigo honestamente ver como a adoração a Jeová Deus e as
demonstrações espontâneas de fé podem ocorrer com muito mais
constância, com maior naturalidade e de forma muito mais qualitativa.
A Bíblia recomenda “faça cada um conforme tem resolvido em seu
coração, não de modo ressentido nem sob compulsão, pois Deus ama o
dador animado” (2 Cor. 9:7)
Às vezes, isso pode ficar esmagado, contido e resolvemos nos
rebelar contra o poder religioso que parece ser um cerceamento
opressivo de nossa fé. Isso só acontece quando somos “solicitados” a
servir a uma organização religiosa que nos obriga a dar-lhe além de
nossa medida de fé. Isso faz com que nos sintamos comprimidos em
nossos espaços internos e em nossa vida íntima, pessoal e familiar.
Resultado: quase sempre terminamos sem fazer as verdadeiras “coisas
de Deus” ou as fazemos com um coração que nunca está realmente
“animado.”
Atenciosamente,
Cid
Finalmente, a resposta à pergunta “Senhor, para Quem Havemos de
Ir?” não tem alternativa mais clara do que a apresentada na própria
Bíblia em textos tais como os que encontramos em Isaías 1:18-20 e
Salmos 1: 1-3 e 6:
“Vinde a mim, pois, e resolvamos as questões entre nós, diz Jeová.
Embora os vossos pecados se mostrem como escarlate, serão tornados
brancos como a neve; embora sejam vermelhos como pano carmesim,
tornar-se-ão como a lã. Se quiserdes e deveras escutardes, comereis o
bom da terra... pois a própria boca de Jeová falou [isto].”
374 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Feliz é o homem que não tem andado no conselho dos iníquos e


que não se deteve no caminho dos pecadores, e que não se assentou no
assento dos zombadores. Mas, seu agrado é na lei de Jeová e na sua lei
ele lê dia e noite em voz baixa. E ele há de tornar-se qual árvore
plantada junto a correntes de água, que dá seu fruto na estação e cuja
folhagem não murcha, e tudo que ele fizer, será bem sucedido. Porque
Jeová toma conhecimento do caminho dos justos.”
Capítulo 5

O Que Faltou à Sociedade


Torre de Vigia?
Nas páginas 590 a 592 do livro Em Busca da Liberdade Cristã (em
inglês) de Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová, fala da visita que fez (após sua saída da
organização) à principal instituição educativa da Igreja Mundial de
Deus, Ambassador College. Esta igreja tem muitos pontos em comum
com a organização Torre de Vigia. Ela ensinava:
“Somos a igreja verdadeira porque mudamos nossos ensinos
quando estes estão errados”.
Ela assumira, por exemplo, uma determinada posição quanto ao
divórcio e a um novo matrimônio, e mais tarde reverteu essa posição.
A mudança fora descrita pela liderança da organização como uma
“nova luz”, “nova verdade, que Deus, por fim, mostrou”.
Um ex-membro dessa organização, queixando-se escreveu: “Em
outras palavras, ele (o líder da organização) sutilmente jogou sobre
Deus a culpa pelo nosso erro doutrinal. Ele nunca admitiu alguma vez
que ele simplesmente estivesse errado Nunca se desculpou a todas as
pessoas cujas vidas e casamentos ele tinha arruinado. Ele atribuiu a
Deus todo o ‘crédito’ pelo desabamento e destruição de milhares de
famílias.”
Na terceira edição (1999) de Crise de Consciência, páginas 259 e
260, Franz volta a referir-se à Igreja Mundial de Deus (Worldwide
Church of God) dizendo:
É difícil não se impressionar com o contraste entre este
procedimento (o da liderança da Sociedade da Torre de Vigia) e o
procedimento adotado em outra religião culpada de fazer similares
predições de datas, a Igreja Mundial de Deus. Após a morte daquele
que fora seu líder por muito tempo, Herbert W. Armstrong, no fim dos
375
376 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

anos 80, a nova liderança publicou um artigo no número de março/abril


na principal publicação dessa religião, a revista “A Clara Verdade”. O
artigo intitulava-se “Perdoa-nos as Nossas Ofensas”, e começava
dizendo, “A Igreja Mundial de Deus, patrocinadora da revista A Clara
Verdade, tem mudado sua postura sobre numerosas e por muito tempo
guardadas crenças e práticas durante os últimos anos”.
Entrando em detalhes, ela também afirmava:
...Ao mesmo tempo, estamos profundamente conscientes da pesada
herança de nosso passado.
Nosso entendimento doutrinal falho obscureceu o claro evangelho
de Jesus Cristo e levou a uma variedade de conclusões erradas e
práticas não-bíblicas.
Temos muito do que nos arrepender e porque nos desculpar.
Fomos judiciosos e auto-justos - condenando outros cristãos,
denominando-os de “os supostos cristãos” e rotulando-os de
“enganados” e “instrumentos de Satanás.”
Impusemos aos nossos membros uma abordagem voltada para
obras em vez de uma vida cristã. Exigimos uma adesão a pesados
regulamentos do código do Antigo Testamento. Exercemos uma
abordagem fortemente legalista no controle central da igreja.
Estes ensinos e práticas são fontes de supremo pesar. Estamos
dolorosamente conscientizados da dor e do sofrimento causados por
tais ensinos e práticas.
Estávamos errados. Jamais foi nosso propósito enganar alguém.
Estávamos tão concentrados naquilo que acreditávamos estar fazendo
para Deus, que não reconhecemos o rumo espiritual que percorríamos.
Tendo a intenção ou não, esse rumo não era o bíblico. Ao olharmos
para trás, nos perguntamos como pudemos estar tão errados. Nossos
corações se dirigem a todos aqueles que receberam nossos ensinos
distorcidos das Escrituras. Não minimizamos nossa desorientação e
confusão espirituais. Honestamente, desejamos a compreensão e o
perdão de vocês. Nenhuma tentativa fazemos de encobrir os enganos
doutrinais e bíblicos de nosso passado. Não é nossa intenção
meramente passar uma mão de tinta por sobre as rachaduras. Estamos
olhando para nossa história diretamente no olho e confrontando-nos
com as faltas e pecados que encontramos. Elas sempre permanecerão
como parte de nossa história servindo como memorial perpétuo dos
perigos do legalismo.
O Que Faltou à Sociedade Torre de Vigia? 377

A pergunta que cabe ao leitor, ao ler agora essa confissão de culpa


por parte dessa religião, é: pensou você também, assim como eu e
tantos outros, sobre o porquê da organização Torre de Vigia nunca ter
feito uma declaração semelhante?! Não tem sido um reconhecimento
assim, aquilo que muitas Testemunhas ativas e algumas ex-
Testemunhas têm esperado da organização Torre de Vigia que errou
tanto e, em muitos sentidos, exatamente como a igreja acima?
Não são essas palavras de retratação acima, na verdade, uma total
admissão de culpas, o que sempre faltou a Sociedade Torre de Vigia de
Bíblias e Tratados?
Agora reflita: o que aconteceria caso a Sociedade assumisse suas
culpas e fizesse mudanças em ensinos fundamentais como o da
proibição de transfusões de sangue? Quantos processos enfrentaria a
organização por parte de parentes de pessoas que morreram em razão
de tal ensino? Por motivos dessa natureza, acredito que o Corpo
Governante talvez jamais venha a sequer pensar sobre uma retratação
como essa feita pela igreja citada acima. Ao invés, procurará usar
outras estratégias e continuará a dar respostas ambíguas e fugidias aos
irmãos.
E, sempre que desafiada a autoridade do “escravo fiel e discreto”,
preferirá manter suas táticas intimidatórias tradicionais e rótulos
prescritos aos questionadores como “fraqueza espiritual”, “perda da fé
na vida eterna”, “perda da aprovação divina” e conseqüente
“destruição no Armagedom”. O que é pior, afirmando-se “dirigida”
pelo espírito santo de Deus, tentando assim dividir suas culpas com o
próprio Criador.
Em conclusão, acredito que, ainda nos muitos e muitos anos à
frente, as Testemunhas de Jeová não devem esperar grandes mudanças
(ou “novas luzes” vitais) por parte daqueles 11 homens do Corpo
Governante em Brooklyn, NY. Eles continuarão a branquear ou
esconder informações comprometedoras nem que para isso cheguem
ao ridículo de advertir contra o uso da Internet (KM de novembro de
1999 ou mais recentemente o KM de setembro de 2002 ou ainda a
revista A Sentinela de 1º de maio de 2000, etc.), pois essa é uma
excelente maneira de conduzir seus membros como reféns de ensinos
378 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

supostamente criados e mantidos sob a “orientação do espírito santo de


Deus”.
Um pedido de desculpas franco e aberto como o acima, colocaria a
organização diante duma enorme avalanche de processos e de grande
evasão de membros. Ademais, quem ainda acreditaria nos ensinos
atuais como sendo parte do “conjunto da verdade revelada de Deus”?
Quem restaria para defender os ensinamentos que, “sob orientação
divina”, levaram a tanto erro?
Faltam coragem, honestidade e humildade por parte do Corpo
Governante. Sobram, por outro lado, arrogância e desonestidade
intelectual por parte daqueles homens que insistem em defender
doutrinas e ensinos confusos, opressivos que desonram o próprio Deus
de amor que tanto alegam defender.
Capítulo 6

Audiências Judicativas
O livro bíblico de Tiago (5:16) declara:
“...Confessai ABERTAMENTE os vossos pecados uns aos
outros...” (Tradução do Novo Mundo)
Esse texto bíblico se contrapõe à prática comum de certas religiões
que exigem que seus adeptos relatem seus pecados a pastores
encarregados do rebanho, de forma privativa, secreta.
“Privativa”? “Secreta”?
Isso pode soar estranho para algumas pessoas mas é exatamente o
que ocorre, por exemplo, aos membros “transgressores” da
organização Torre de Vigia, as Testemunhas de Jeová que apelidaram
seus confessionários de “audiências judicativas”.
Quando um membro batizado incorre em erro sério, há então um
“caso de comissão judicativa”. Três anciãos [dirigentes locais] que, na
maioria dos casos, pertencem à mesma congregação desse membro
‘infrator’, se auto-revestem de autoridade e convocam o transgressor
para um julgamento no qual será decidida a permanência dele como
“membro aprovado” da organização ou se haverá expulsão,
desassociação.
O que causa essa situação? Que procedimentos são adotados?
Quando há “casos de comissão” como fumar, fornicar, receber
sangue por meio de uma transfusão (de modo voluntário), fazer
juramento à bandeira nacional, comemorar o Natal, Halloween (e
outras festividades “pagãs”), prática do espiritismo, adultério,
empenhar-se em conduta (sexual) desenfreada, “apostatar”, etc., três
homens da dianteira de determinada congregação (anciãos), juntam-se
para uma sessão (ou sessões) de julgamento a portas fechadas com o
transgressor (pecador). As várias instruções sobre os inúmeros casos

379
380 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

que devem ser levados a uma audiência judicativa são dadas no manual
“secreto” dos anciãos (dirigentes locais) intitulado Prestai Atenção a
Vós Mesmos e a Todo o Rebanho (KS), páginas 92 a 102.Em casos
considerados muito “complexos”, até 4 ou 5 anciãos podem ser
convocados (KS página 109, parágrafo 9).
Um dos avisos que se dá na página 101, parágrafo 2 deste manual,
é: “Antes de iniciar uma audiência judicativa, os anciãos designados
para servir na comissão judicativa devem recapitular as orientações
delineadas nas Unidades 5(a), 5(b) e 5(c) — (que tratam de tais
comissões), bem como examinar textos bíblicos e referências
pertinentes nas publicações da Sociedade. Devem certificar-se de
proceder em harmonia com as informações atuais publicadas em ‘A
Sentinela’ e nas cartas da Sociedade.”
E quais são os objetivos de tais tribunais humanos que determinam
se a Testemunha de Jeová infratora merecerá (ou não) a expulsão da
organização religiosa Torre de Vigia, ficando assim sujeita a uma total
e completa exclusão sócio-religiosa? Ora, manter o ambiente
esterilizado, “diferente das outras religiões (falsas) que são
permissivas”; “evitar que outros sejam contaminados pela influência
perniciosa”; “manter a unidade”, etc.
Como os dirigentes das Testemunhas de Jeová justificam tais
sessões de julgamento, os castigos e/ou o banimento de transgressores
impenitentes ou daqueles que simplesmente resistiram aos ensinos da
organização?
Entendendo os Mecanismos
A organização das Testemunhas de Jeová, na revista Despertai! de 22
de dezembro de 1981, página 17, mostra que havia alguns tipos de
julgamentos de pessoas no antigo Israel de Deus, Sua Nação Santa.
Decerto, a Bíblia fala de tais julgamentos (Deuteronômio 16:18-20 e
Êxodo 18:25, 26) e também mostra que havia juízes autorizados por
Deus, devidamente capacitados e sob Sua designação divina. Afinal de
contas, é mostrado na Bíblia que Ele, Deus, é quem dirigia aquele povo
“diretamente”.
Temos hoje em dia tal arranjo dirigido “diretamente” por Deus?
Não. Mas as Testemunhas de Jeová acreditam que todas as instruções
de seu Corpo Governante em Brooklyn NY, EUA, têm “orientação
Audiências Judicativas 381

divina” e, como conseqüência dessa crença, muitas delas permitem que


sua privacidade e vida íntima sejam devassadas por meio deste
“arranjo teocrático” de audiências judicativas. O engano de que estão
servindo aos interesses do Reino de Deus por se confessarem diante de
seus dirigentes mostra, no entanto, resultados que estão longe da
aprovação divina. De que resultados estamos tratando aqui? Vejamos...
Muitas Testemunhas de Jeová têm vez após vez descoberto que se
tornam vítimas de suas próprias confissões abertas, nesses arranjos de
audiências judicativas considerados por elas como “arranjos
amorosamente providos pela direção teocrática” da organização de
Deus, a Torre de Vigia. Vítimas? Como assim?
Vítimas, por exemplo, da constante quebra de sigilo por parte
daqueles a quem elas confiaram seus “pecados secretos, ocultos”.
Também, vítimas de invasão (in)voluntária de sua vida pessoal e de
seus segredos que, muitas vezes, são explorados e espalhados de forma
vergonhosa através de tagarelice maldosa dentro e além das portas dos
Salões do Reino das Testemunhas de Jeová. Não precisamos citar
exemplos. Esse é um fato que as Testemunhas podem constatar
facilmente em suas congregações.
“Imperfeição dos irmãos”, é o chavão dos apoiadores desse “arranjo
teocrático” de confissões. Imperfeição ou não, o fato é que sempre há
pessoas que derivam prazer mórbido das tagarelices sobre os erros e
pecados alheios sem o menor escrúpulo, a ponto de manchar
permanentemente o nome e reputação de pessoas que, pasme o leitor,
professam a mesmíssima fé e alegam ostentar “o sinal identificador do
verdadeiro cristianismo, o amor”. “A organização é perfeita, mas os
irmãos são imperfeitos”, diriam outros. Mas o que é, ou o que vale
uma organização à parte das pessoas que a compõem? Nada! Ademais,
não usam as Testemunhas o princípio de Cristo de que “toda árvore
boa produz fruto excelente, e toda árvore podre produz fruto
imprestável”? (Mateus 7:16-20)
É claro que apenas falar da vida alheia é uma tendência muito
comum e por que não dizer, quase inerente ao ser humano. “Todo
mundo fala de todo mundo”, diz um adágio popular que parece ter
fundamento. A prova disso é a grande vendagem dos tablóides e
382 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

revistas de fuxicos sensacionalistas que satisfazem a voraz curiosidade


de alguns pela vida particular de seus semelhantes.
Ser curioso é admitidamente humano, convenhamos. Em nossa
interação social diária é natural que nos interessemos uns pelos outros.
O planeta está repleto de seres gregários que adoram viver em
comunidades e apreciam associar-se (principalmente com os seus
iguais). Quase todos têm uma intrínseca necessidade de conviver em
grupos distintos e específicos, quase sempre mostrando curiosidade
uns pelos outros. Contudo, no caso das Testemunhas de Jeová, há
razões adicionais que envolvem componentes religiosos que vão bem
além da mera curiosidade humana. Estes, por sua vez, fornecem o
combustível dos embaraçosos escrutínios da vida privada de co-
associados. Apenas quando compreendemos tais razões e
componentes, podemos descobrir o porquê da existência desse
fenômeno chocante, as comissões judicativas das Testemunhas de
Jeová.
Nesse ponto, torna-se necessário que analisemos perfis
comportamentais das Testemunhas de Jeová antes de entrarmos
diretamente na questão das audiências de julgamento delas, em
tribunais secretos compostos por três membros.
As pessoas hoje em dia, e em especial aquelas exacerbadamente
religiosas, são as que mais demonstram maior necessidade de convívio
social-religioso pois se prega que dele emanam encorajamento e
educação espirituais. Essas pessoas se acostumam com os amigos de
sua congregação — seus “iguais” — e apreciam ouvir o que acham vir
da segura “fonte divina”, o canal que elegeram como o único legítimo
e aprovado por Deus. A maioria se acha parte de um “rebanho
especialmente escolhido por Deus” e essa atitude fatalmente as leva,
muitas vezes, a um processo de total (raramente parcial) exclusão
social pois as pessoas do mundo não são “boa associação”.
De que fontes se originam tais sentimentos de aparente hegemonia
ou supremacia religiosa? Como reagem as Testemunhas, por exemplo,
diante de situações sociais normais com as outras pessoas rotuladas de
“incrédulas”, “infiéis”, “do mundo”, “ímpias”, etc.?
Às vezes, observamos pessoas religiosas que evitam achegar-se ao
resto da humanidade ou restringem suas amizades aos círculos
Audiências Judicativas 383

aparentemente “seguros” de suas religiões. Por que isso ocorre? Bem,


muitos religiosos tendem a julgar que o resto da humanidade se
encontra “alheada de Deus” e possivelmente “condenada à destruição
eterna por Ele”, caso não adiram velozmente à “Verdade” que pregam.
Tais grupos “especiais” de seres humanos, julgando pertencer a uma
casta religiosa superior, tendem a se alhear do mundo externo,
‘condenado’. Elas se confinam em massas apocalípticas que exploram
sentimentos infundados de culpa, geralmente criados por suas
religiões. Suas consciências são seqüestradas pelos padrões impostos
de sua religião. A liberdade cristã individual, orientada sabiamente
pelos elevados princípios claros da Palavra de Deus, a Bíblia, são
substituídas por regras humanas.
Como Testemunha de Jeová, O QUE fazer, COMO fazer isso ou
aquilo, QUANDO fazer isso ou aquilo, e assim por diante, dependerão
do apego ao código extra-bíblico de leis exclusivas da organização
religiosa delas. Conheci casais Testemunhas de Jeová que escreviam
constantemente à Sociedade Torre de Vigia a fim de perguntar coisas
íntimas como até mesmo se determinado tipo de relação sexual seria
“aprovada” por Deus ou não, em seus leitos conjugais. Questões dessa
natureza demonstram o grau de dependência e insegurança dos fiéis,
algo contrário ao que o apóstolo Paulo recomenda ao chamar atenção
para o fato de não sermos eternos bebês espirituais dependentes e que
precisamos avançar para o alimento sólido, que é para pessoas maduras
que usam suas “faculdades perceptivas treinadas para distinguir o certo
do errado”. (Hebreus 5:13, 14) Muitas Testemunhas, no entanto,
desejam muito a aprovação dos que tomam a dianteira de suas
congregações e estão sempre buscando ficar sob uma luz favorável
diante desses co-membros. Algumas sustentam como que um manto
protetor, uma luminosa “aura de pureza” para impressionar outros, e
isso termina levando ao farisaísmo. Ainda outras acham que fazer
“como manda o figurino” do Corpo Governante, poderá fazê-la receber
a etiqueta de “aprovados”.
Mas é dessa relação de dependência constante dos membros com a
“Sociedade” que nasce o desejo de obtenção do suposto selo máximo
de aprovação de Deus e dos co-membros. E é da incrível ânsia de
agradar a outros que alguns buscam seguir os modelos dos mais
“teocráticos” apegados às normas; aqueles que se sujeitam totalmente
384 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

às diretrizes da autoridade eclesiástica de Brooklyn, Nova Iorque, o


Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.
Sujeitar-se ao Corpo Governante significa comprar um pacote de
ensinamentos que inclui a “disciplina da parte de Jeová”. Significa
jamais esquecer de que o “povo santo de Deus” deve falar apenas uma
língua, a “língua pura da verdade”, isto é, aderir totalmente à
padronização mundial de comportamentos, ensinos, doutrinas e
dogmas das Testemunhas.
Essa atitude de exclusivismo teológico das Testemunhas de Jeová
também encontra refúgio em outros grupos religiosos
fundamentalistas, embora as interpretações doutrinais deles existam
em detrimento daquilo que a Palavra de Deus assevera ao mostrar que
Cristo “morreu por todos” os homens (1 Tim 2:6), não apenas por um
grupo seleto de pessoas. (Veja Atos 10:34-35) Mas essa famosa
síndrome do ‘rebanho especial de Deus’, escolhido para sobreviver ao
Armagedom, emerge de um condicionamento psicológico no momento
em que a pessoa se integra a uma bolha social-religiosa
hermeticamente fechada que acredita deter o favor de Deus,
diferentemente do restante da humanidade.
Nas congregações das Testemunhas de Jeová, esse tipo de
sociopatia termina isolando o novo membro, cristalizando-se
radicalmente com o tempo, tornando-se bastante perceptível desde os
primeiros contatos com o grupo. Os conceitos e as crenças fabricadas
para que cada Testemunha de Jeová se sinta “especial e diferente” do
resto do mundo têm sido cuidadosamente trabalhadas e implantadas na
mente de cada uma delas. A aplicação banalizada e generalizada de
João 17:16 (‘não fazem parte do mundo’) as torna apáticas em relação
a fazer “amigos de fora” e isso provoca maior apego às diretrizes da
organização e, conseqüentemente, maior confinamento religioso. O
bordão “Não Há Vida Fora da Organização”, é muito comum entre as
Testemunhas de Jeová e, portanto, a maioria das Testemunhas de
Jeová não se interessa muito por uma “associação mundana”, a menos
que a pessoa se mostre um pouco interessada naquilo que ela,
Testemunha, considera como “alimento espiritual” supostamente vindo
da Bíblia. Uma pessoa “simpatizante” é jeitosamente tratada como
alguém “semelhante a ovelha”, e se ela se mostrar alguém com boa
possibilidade de vir a ser uma Testemunha de Jeová, então o
Audiências Judicativas 385

tratamento é super amistoso, caloroso e receptivo. No futuro, no


entanto, quando tal pessoa se batizar, notará a diferença no modo como
será tratada e cobrada para “alinhar-se à marcha” do grupo, ou como se
diz lá dentro, “reajustar seu modo de pensar” (a fim de pensar igual aos
outros).
Mas como se relaciona tudo isso até aqui com as confissões em
audiências judicativas? Onde se encaixa toda essa análise nessa
questão? Ora, é simples. Tudo que analisamos até agora faz parte do
processo engenhosamente confeccionado para mover uma Testemunha
de Jeová a expor seus pecados e sua vida íntima aos homens da
dianteira de sua “pura e especial” congregação. Afinal de contas, na
cabeça de uma Testemunha, revelar pecados ocultos traz múltiplas
vantagens: não bloqueará a ação do espírito santo de Deus na
congregação; permitirá que homens habilitados, “amorosos” e fiéis
continuem a manter a “pureza do povo de Deus”; dar-se-á à
Testemunha transgressora, uma excelente oportunidade de mostrar
humildade e sujeição aos arranjos teocráticos e à “disciplina da parte
de Jeová”; e, se ela realmente for fiel, poderá ser perdoada quiçá
garantindo sua passagem para o vindouro paraíso de delícias prometido
na Palavra de Deus, etc.
Essa é apenas uma das múltiplas configurações para a formação de
comissões de julgamento da Torre de Vigia por meio de seus
representantes locais, os anciãos.
Enquanto em algumas outras religiões organizadas, as pessoas
recorrem a seus pastores em busca de orientação e conselhos quando
erram, nos Salões do Reino as Testemunhas são induzidas, e por que
não dizer, psicologicamente coagidas a confessar seus pecados diante
de COMISSÕES JUDICATIVAS a portas fechadas, sob o pretexto
intimidatório de que, se não o fizerem com urgência (porque o fator
tempo pode depor contra o transgressor — KS página 115), sofrerão
dolorosas conseqüências e poderão perder tudo, isto é, as “associações
cristãs”, a aprovação dos outros membros (os “únicos amigos
verdadeiros e confiáveis”), a aprovação de Jeová Deus, etc.
Conforme podemos perceber, tudo isso conspira contra a liberdade
cristã e por isso mesmo a Testemunha de Jeová fiel não acha outra
saída senão a penosa e vexatória confissão.
386 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Percebe o leitor toda a relação de dependência em cada componente


dos mecanismos que analisamos até aqui?
As ameaças e as intimidações são extraídas do “livro dos anciãos”
(dirigentes locais) e são muitíssimo severas. Por que isso? Uma
Testemunha diria:
“A pureza da congregação deve ser mantida para que nossa
organização não se torne igual às outras religiões permissivas da
cristandade”. Essa é a crença calcificada, e para que tudo isso ocorra
sempre assim, todo e qualquer esforço vale a pena.
Todavia, penso que os homens que usam esse referido manual
estão, em sua grande e esmagadora maioria, despreparados para
“cuidar” de casos que vão além dos meros diagnósticos de rotina como
“doença espiritual”, “fraqueza da carne”, “iniqüidade”, “falta de
humildade”, etc.
Terrorismo Psicológico e seus Efeitos Devastadores
Como Testemunha, nunca fui réu em uma audiência judicativa. Era
sempre juiz de meus irmãos mas isso hoje em dia também me
envergonha muito. A alguns deles com os quais me encontrei depois
que saí, fiz questão de pedir pessoalmente meu sincero perdão. Mesmo
como ancião, cheguei a me questionar várias vezes sobre os fatores
emocionais e psicológicos que deixavam de ser cuidados ou sequer
considerados em tais comissões. Muitos transcendiam e requeriam
muito mais do que a disciplina ministrada, ou “ajuda espiritual”
disponibilizada através de nós, pastores. Só hoje me dou conta do
quanto éramos desconhecedores da delicadeza e complexidade de
áreas melindrosas da psique humana. Não me parece ético, justo ou
cristão relatar casos. Mas quando me recordo de alguns, eles me
parecem deveras surrealistas e alguns, vergonhosos demais. Isso é tudo
que posso dizer.
Quantas vezes as comissões judicativas falhavam em ajudar um tipo
de ovelha que estava à beira do pânico, do suicídio e do desespero,
comumente por razões especiais fora de nossa esfera de conhecimento,
compreensão, poder, ou por algo simplesmente fora do alcance da
própria religião.
Audiências Judicativas 387

Comissões judicativas! Ordálio dos anciãos-juízes e calvário de


muitos réus...; uma perigosa aventura repleta de sérios riscos para
ambos os lados envolvidos, réus e juízes. (Mateus 7:1-2 e Lucas 6:37)
Anciãos mais experientes e discernidores concordariam que há
inúmeros casos que deveriam ser tratados por especialistas e
profissionais do ramo da psicologia, às vezes da psiquiatria, dentre
outros.
No entanto, o uso generalizado das comissões judicativas para
resolver “pecados graves” na comunidade mundial das Testemunhas, é
um fato aceito como obrigação ou dever teocrático.
Houve épocas nas quais o incentivo da Sociedade quanto a se
resolver problemas mentais e emocionais era o de não se procurar
ajuda médica especializada, como está escrito na revista Despertai! de
08/10/75, artigo: “O Melhor Meio de Recuperar a Saúde Mental” no
subtópico “Habilitados a Ajudar”, página 21:
“Muitos anciãos cristãos das Testemunhas de Jeová estão BEM
habilitados a ajudar os mental ou emocionalmente enfermos...”
E a revista Despertai! de 22/12/75, página 27:
“...ao invés de se voltarem para os psiquiatras e psicólogos que,
igualmente, na sua maior parte, não possuem tal fé, que os que amam a
justiça se voltem para a Bíblia em busca de sabedoria...”
Como soam essas afirmações para o leitor? Não parecem bastante
questionáveis e perigosas? No caso das Testemunhas, sim, pois as
orientações dadas nessas revistas são encaradas como “precioso
alimento espiritual no tempo apropriado” e acabam sendo aceitas como
regra para os membros.
Isso foi assim no passado e, surpreendentemente, essa mesmíssima
atitude continua fazendo parte da mentalidade da maioria das
Testemunhas de Jeová. Desinformadas e crédulas, elas dizem: “Mas a
Bíblia deveria realmente ser um guia suficiente para todo problema na
vida de um verdadeiro cristão”. Os mais afoitos endossam tal
perspectiva sem levar em conta dezenas de fatores, transformando a
Bíblia numa panacéia. Isso pode ser fatal pois há casos que requerem
cuidados de profissionais especializados. São aqueles de natureza
complexa quer em sentido físico, emocional ou mental.
388 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Muitos dos que são convocados para uma audiência judicativa


deveriam ser transformados em pacientes aos cuidados de especialistas
capacitados ao invés de réus diante de comissões judicativas.
Durante os anos em que fui “juiz” em audiências judicativas, pude
observar que as Testemunhas de Jeová chamadas para julgamento, às
vezes estavam à beira de um colapso nervoso, comumente temperado
com angústia e depressão. Durante as sessões de julgamento, havia
intensa ansiedade e medo de um resultado adverso. Para essas pessoas,
as audiências judicativas tornavam-se iguais às torturantes e
desumanizantes câmaras de confissão da Inquisição na Idade Média.
A organização instrumentaliza homens com um tão requintado
aparato de normas para casos sem precedentes no cristianismo bíblico
que, às vezes, eles mesmos sentem receios de tomar parte em certos
julgamentos nas situações complexas que freqüente e inevitavelmente
surgem em suas congregações.
Provê a Bíblia um modelo de julgamento de pessoas em audiências
judicativas tal como esse adotado pela Sociedade Torre de Vigia?
Na Bíblia, não há precedentes de “audiências judicativas” desse
tipo, nem de homens autorizados a “tratar” dos pecados de seus
semelhantes através deste modelo tirânico de tribunais humanos
arbitrários.
E o que fazem esses juízes incontáveis vezes? Devassam a vida
íntima e pessoal de “concristãos”, muitas vezes jogando a dignidade de
seus “irmãos de fé” no lixo ao passo que violam a consciência de co-
associados em prol da manutenção de uma total conformidade de
grupo.
Diante desse quadro, uma das conclusões razoáveis a que se chega
é: esses despóticos tribunais fabricados por homens, e não por Deus,
desonram a Ele pelo que são e por todo o mal que fazem às pessoas.
Se alguém vir alguma medida de mérito e sucesso em se ajudar
alguns desse modo, basta refletir no desespero emocional do envolvido
e no que Jeová e Cristo realmente pensam sobre isso. Fazer tal
exercício mental ajuda a “desautorizar” essas comissões. Ademais, até
nas cortes do mundo os réus têm direito a advogados qualificados que
possam falar por eles tendo em vista que, em momentos assim
Audiências Judicativas 389

emocionalmente difíceis, o raciocínio fica gravemente anuviado, lento


e às vezes, distorcido ou confuso.
O pior é que, quando uma ovelha transgressora confessa seus
pecados a tais “amorosos juízes” e esses “amorosos juízes” então
repassam as humilhantes confidências íntimas do réu aos curiosos de
plantão, a tagarelice generalizada, mordaz, destrutiva e maldosa viaja
de uma congregação para outra velozmente, com tamanhos bem
maiores e em versões mais apimentadas.
E qual o efeito disso na vida particular de uma Testemunha?
Bem, geralmente ela poderá levar o açoite dos falatórios pelo resto
de seus dias; o pesar e os transtornos cíclicos podem continuar
indefinida e permanentemente.
Para tristeza de muitos, esse pode ser o preço pago pela sincera
obediência às normas de uma organização autoritária que exerce poder
forense, judicial, sobre seus membros.
E o que a organização realmente consegue através de sua
maquinaria judicativa? Um enorme desserviço a ela mesma e um
grande descrédito no amor pregado por ela como “sinal identificador
dos verdadeiros cristãos”. E o que dizer dos casos revelados a outrem,
os curiosos de fora das audiências?
Na verdade, os casos revelados motivam cada vez mais artigos em
A Sentinela e Despertai! que trazem receitas de “Como Evitar Ter
Dupla Personalidade”, “Como Viver apenas para ‘Jeová’" (leia-se
“organização”), etc.
Quais são outros efeitos gerados por audiências judicativas?
1. Dão vazão ao uso abusivo, indiscriminado e deturpado de textos
bíblicos sobre confissões íntimas;
2. Levam anciãos às sessões de contos eróticos, detalhados, dos
pecadores;
3. Provocam a abertura de mais “cartões de desassociação” (S-77-T
e S-79-T, enviados às sedes nacionais das Testemunhas), ficando o
transgressor como que “fichado”;
390 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

4. Mais fofocas percorrem meio mundo, fragmentando ou


destruindo o nome de alguém que, por ser sincero, sacrificou sua
dignidade no altar da santimoniosidade de homens que buscam, antes
de tudo, a tal “limpeza da organização de Deus”.
Esterilizando o Ambiente
Agora, será que as comissões judicativas conseguem mesmo manter as
rédeas curtas e controlar pessoas, mantendo o ambiente esterilizado,
asséptico? Até que ponto está realmente “limpa” a organização?
Antes da análise dessa questão, é bom saber que as Testemunhas de
Jeová muitas vezes despercebem que os escândalos contados assim
“aos sussurros” são tão profundos em gravidade quanto o são em
tamanho ou proporção dos casos relatados em artigos de A Sentinela e
Despertai! que alardeiam os erros de pastores de outras denominações
religiosas.
Em relação a atos de conduta, a organização das Testemunhas de
Jeová é tão “pura” quanto qualquer outra religião organizada severa
como a dos Mórmons e Adventistas. Nem mais nem menos. Onde há
seres humanos, por mais piedoso que o grupo religioso alegue ser, há a
tal “imperfeição” ou o pecado, também chamado de a “herança maldita
de nossos primeiros pais, Adão e Eva”.
A Visão das Vítimas
Mas como vêem as Testemunhas de Jeová essas confissões a portas
fechadas? E como encaram as Testemunhas de Jeová outros
confessionários tais como os dos católicos?
Algo até meio tragicômico é que a Sociedade Torre de Vigia
programa as Testemunhas de Jeová a jamais falarem mal desse
“arranjo de ajuda amorosa”, embora seus membros condenem os
confessionários da Igreja Católica, por exemplo.
Paradoxalmente, embora as próprias Testemunhas de Jeová creiam
que haja “apenas um só MEDIADOR entre Deus e os homens” (1 Tim
5:2), estranhamente se sujeitam a esse tipo de interferência na qual
permitem que alguns homens possam se interpor entre elas e Deus.
As Testemunhas, ao errarem, são julgados pela organização para
que ela se mantenha sempre “limpa”. E a organização? Qual o
Audiências Judicativas 391

exemplo que ela dá nesse sentido? Permite ser julgada ou receber o


escrutínio de seus membros mais zelosos e fiéis? O que dizer dos
graves erros cometidos por ela?
Ela não gosta que seus erros sejam expostos a ninguém. E, se
possível, até mesmo os erros de Testemunhas individuais devem ser
escondidos aos de fora para que não se cause vitupério a ela, a
“Organização de Deus”.
Esse método de esconder ou branquear erros aumenta grandemente
a glorificação e vindicação dela como “organização pura”, cheia de
membros que são “melhores pais”, “melhores amigos”, “melhores
pessoas”, etc.
Um fato notório é que a Torre de Vigia tem feito que se acredite
que, pessoas desassociadas por ela, e que saem revelando coisas
vergonhosas dela, como suas audiências judicativas, pareçam estar
simplesmente “vituperando o nome de Deus”. Desse modo, ela se
protege e permanece intocável e pura aos olhos tanto dos de dentro
quanto dos de fora.
Ao associar sua estrutura organizacional ao nome de Deus, Jeová,
ela faz com que seus membros sintam enorme pavor de falar sobre
qualquer coisa negativa encontrada nela.
Por causa disso, em muitos artigos da literatura da organização, um
exercício mental que recomendei a algumas Testemunhas foi o de
trocar o nome “Jeová” por “Organização”. Ela usa subliminarmente
essa falsa sinonímia com o intuito de varrer o pó para debaixo do
tapete. Com que propósito?
Mais uma vez, nenhuma Testemunha ousará falar da organização
com medo de estar falando contra o próprio Deus! Enquanto isso
acontece, a organização jubila ao expor os podres de seus vizinhos
com iguais telhados de vidro.
Se aqueles que saírem, cansados de serem vítimas gratuitas das
elucubrações do falecido oráculo da organização, Frederick Franz (um
dos mentores intelectuais da desassociação), falarem do que viram ali
dentro, serão inescrupulosamente tachados pelos microcosmos da
organização, os “anciãos”, de “antiéticos”, “agentes de Satanás”,
“apóstatas”, “anátemas”, “odiadores do povo de Deus”, “raivosos”,
392 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“homens que cospem no prato em que comeram”, etc. Não se


lembrarão as Testemunhas nem a Sociedade, que essas mesmíssimas
pessoas, agora transformadas em párias, gastaram muitas vezes os seus
mais dourados anos de vida a propagar as coisas errôneas que ELA
ensinou como “A Geração de 1914”, política sobre frações de sangue
— liberadas e proibidas tantas vezes —, serviço civil alternativo,
transplantes de órgãos, proibição de vacinas, especulações
“proféticas”, aplicações e entendimentos errados em relação a
passagens e profecias bíblicas como a do Rei do Norte e o Rei do Sul,
e tantas outras coisas que criaram tantos mitos, tantas expectativas
equivocadas e até fatais em nome de uma organização que alavanca a
“momentosa” obra de pregação etiquetada como “designada por Jeová,
no tempo do fim”.
Levanto até a hipótese de que, por causa do mal causado por
comissões judicativas, pelo legalismo religioso, etc., alguns membros
têm escondido seus pecados, deixando simplesmente para acertar as
contas com Jeová no dia de Seu julgamento.
Isso tudo tem gerado outros males inevitáveis que também advêm
de métodos como o dessas comissões que espezinham sentimentos
humanos: a corrupção e a hipocrisia religiosas. Eis aí o porquê de
algumas Testemunhas, que me escreveram, terem se reportado à
“sensação de que alguns no salão do Reino pareciam às vezes estar
usando máscaras”.
Ultimamente, as audiências judicativas têm se tornado mais um dos
motivos da grande evasão das fileiras das Testemunhas.
Perguntas que Não Querem Calar
Perda de membros e revolução interna. Isso é o que acontece quando
uma religião ordena que seus adeptos confessem seus pecados a
homens desqualificados para interferir em assuntos pessoais que só
dizem respeito a eles mesmos e Deus.
Isso é o que ocorre quando uma religião alega estar usando a
“orientação do espírito santo de Deus” e submete seus membros a
confissões de seus mais íntimos segredos aos representantes oficiais
dela, quase sempre tagarelas.
Audiências Judicativas 393

Pode-se constatar uma crescente, silenciosa e significativa


cumplicidade por parte de alguns membros que, ao tomarem
conhecimento de erros graves uns dos outros, preferem não mais
relatar aos dirigentes locais. Essa atitude de desobediência interna cada
vez maior fere a ordem da organização de se relatar qualquer pecado
sério.
No caso de uma Testemunha presenciar ou vir a saber do erro de
um co-associado, ela deverá relatá-lo para os anciãos, mesmo que a
pessoa envolvida seja o melhor amigo. Caso não siga esse proceder, tal
testemunha omissa será acusada de cumplicidade. Nestes casos, a
organização lança mão do texto de Levítico 5:1 sob pena de, se a
testemunha não delatar seu companheiro a tempo, deverá sofrer as
mesmas terríveis implicações.
Ao analisar o conteúdo de toda essa matéria, pergunte-se leitor:
1. O que há algo de positivo em se instilar medo opressivo em
alguém, de levá-lo a um interrogatório para, após o mesmo, isolá-lo
completamente, mostrando absoluto desprezo por ele? Há algo de
louvável nas táticas intimidatórias austeras que acarretam a imediata
perda de amigos e familiares Testemunhas? Que mérito há ao se julgar
uma pessoa como “apóstata”, cortá-la da associação “cristã”
simplesmente porque discordou de alguns ensinos? O que há por trás
dessa atitude? Medo da verdade? Estratégia para esconder erros?
2. Há alguma vantagem em se induzir alguém a mitigar sua índole,
seu caráter ou sua consciência perante Deus para se moldar à
conformidade de um grupo como ocorre quando há a acusação de
“apostasia”? Novamente, que mérito pode haver em se submeter
alguém ao jugo terrorista de se abdicar de sua própria consciência e
entregá-la a um consciente coletivo?
3. Ao se observar os efeitos que a constante vigilância de um grupo
produz na vida de alguém, não notamos que tal vigilância provoca as
mais aflitivas psicoses como a de se sentir sempre policiado e sob os
constantes, desconfortáveis e reprovadores olhares de homens da
dianteira?
4. É razoável a alegação de que esse policiamento fará o cristão se
sentir “protegido”, como a Sociedade quer fazer crer? Não torna tudo
isso uma Testemunha de Jeová, igual a um bebê espiritual que precisa
394 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

que outros cuidem de sua relação pessoal com Deus, algo que só
caberia à própria pessoa cuidar?
5. Não coíbe essa eterna ameaça de comissões judicativas o uso das
“faculdades para se discernir tanto o certo quanto o errado”, como diz
a Bíblia em Hebreus 5:11-14?
6. Não produz tudo isso, muito mais aflição e devastação nas
mentes e corações dos mais sensíveis ou de personalidade fraca?
7. Mais importante ainda, onde se diz na Bíblia que os cristãos
deveriam, no que se refere aos seus pecados, proceder passo a passo
como delineado no caso de uma audiência judicativa, chegando o réu a
dar detalhes íntimos e embaraçosos como: “quando fez, se houve toque
ou carícias em áreas erógenas, se houve penetração, se houve orgasmo,
onde se fez isso ou aquilo, durante quanto tempo continuou no pecado,
se o pecado foi voluntário, se a pessoa faria de novo, se ela aceita a
‘repreensão pública’ (que será dada da tribuna) e a imediata ‘perda de
todos os privilégios’ como ‘disciplina da parte de Jeová’, etc.?
8. Onde manda a Bíblia que se descreva o pecado (às vezes com
riqueza de detalhes) em pedaços de papel (formulários S-77-T e S-79-
T que às vezes seguem para a sede nacional junto com uma carta
descritiva adicional)? Onde manda a Bíblia que se guardem essas
“fichas” em arquivos na congregação local e na sede nacional da
organização?
9. Onde fica a questão dos direitos humanos dados pela constituição
do país?
Em conclusão, lembro as palavras do apóstolo Paulo a todo cristão
que estiver lendo esse livro e que talvez tenha passado ou
testemunhado alguém sofrer por causa de tal ensino desamoroso e não-
bíblico:
“Ora, para mim é um assunto muito trivial o de eu ser examinado
por vós ou por um tribunal humano. Até mesmo eu não me examino a
mim mesmo. Pois não estou cônscio de nada contra mim mesmo.
Contudo, não é por isso que eu seja mostrado justo, mas quem me
examina é Jeová.” (1 Coríntios 4:4, 5 Tradução do Novo Mundo).
Capítulo 7

Ensinamentos das Testemunhas


de Jeová – Uma Ameaça ao
Tecido Sócio-Familiar
Agradecimentos especiais a Victor Escalante pela contribuição para esse capítulo.

O Início de um Processo de Ruptura do Tecido Familiar.


Quando uma pessoa resolve estudar com uma Testemunha de Jeová,
ela aprende, logo no início, que está ganhando uma nova e maravilhosa
família, uma família espiritual. Isso assegura ao membro novato que,
caso sua família o reprove por seguir o movimento, ele não estará
sozinho e contará com essa nova e grande família de milhares de
irmãos e, de presente, ganhará também os melhores e mais leais
amigos.
Sua família “mundana” (como tratam as Testemunhas os parentes
não Testemunhas), deverá entender que aquela futura Testemunha de
Jeová terá muitos compromissos “teocráticos” e que a mesma
convivência com eles não mais poderá existir, pois eles não fazem
parte da “associação cristã, aprovada por Deus”.
Esse rompimento familiar é muito comum em várias religiões e
seitas espalhadas pelo mundo. O processo de ruptura familiar é
obviamente uma das características mais evidentes nas religiões
fundamentalistas, exclusivistas, que alegam ser as verdadeiras
continuadoras do cristianismo primitivo.
Ver um querido membro da família afastar-se do convívio e do seio
familiar em direção a um sistema religioso “vitoriano” é uma amarga
experiência.

395
396 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O Processo de Indução
Incontáveis milhares de indivíduos têm sofrido dores emocionais e
psicológicas infligidas por diversos ensinos da organização das
Testemunhas de Jeová. Vejamos as razões para essa afirmação nos
parágrafos seguintes.
A maioria das pessoas está familiarizada com as Testemunhas de
Jeová apenas pelo fato de serem acordadas nos fins de semana por seus
zelosos recrutadores de prosélitos. Há, porém, ainda muito mais por se
saber.
A Torre de Vigia é um movimento religioso americano do século
XX, que tem afetado de modo adverso as famílias em todo o mundo,
pondo em erosão tanto a coesão como a unidade de uma família, uma
vez que um dos membros seja iniciado na fase de doutrinação advinda
do processo de recrutamento.
A fase de recrutamento acontece por meio de um estudo sistemático
das verdades teológicas subjetivas da organização Torre de Vigia que,
com o tempo, tornam-se a única verdade aceitável.
Nos primeiros estágios desta fase de doutrinação, diz-se ao novo
recruta que ele deve esperar certa oposição da família. Vários textos
bíblicos são usados em apoio desse argumento. O que o “estudante”
não imagina é que, neste ponto, os laços familiares já começaram a ser
cortados. Esta programação sutil é feita por meio da produção de
crenças que atuam como filtros mentais, que conduzem a uma
percepção míope, deficiente. Isto se faz por meio de uma linguagem
hipnótica a qual apenas um lingüista experiente poderia detectar. A
programação sutil é feita através de terminologias (nomenclaturas
especiais e clichês) e supergeneralizações com as quais se alimenta o
incauto prosélito.
A dieta de palavras conduz a um modo de pensar radical, que é
muito generalizado e, que, com freqüência, está fora de contexto. Uma
vez colocados os filtros, a pessoa doutrinada olha para si mesma, para
a família e para os outros através de um ponto de vista extremista.
Neste ponto, tudo passa a ser visto como preto ou branco, certo ou
errado, “nós contra eles”, “Deus ou Satanás”. A essa altura, qualquer
desaprovação da família à Torre de Vigia, é percebida como uma
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 397

trama satânica para minar a fé em Deus e em sua “organização visível


aqui na terra”.
Isolamento e Alienação
Eventualmente, o novo adepto perde a capacidade de ser objetivo. Não
mais consegue olhar suas ações e comentários no contexto mais amplo
da estrutura social e do tecido familiar. Passa a ficar plenamente
envolvido na agenda da organização. A partir desse ponto, a família
não-Testemunha é vista como “parentes mundanos”. Com este rótulo,
a família é desumanizada como pessoas “destinadas à destruição” a
menos que aceitem a doutrina e o modo de vida das Testemunhas de
Jeová, os únicos que praticam “a verdadeira adoração”.
A Testemunha novata é levada a crer que ela é agora parte de uma
família mundial, cujos membros serão os únicos a sobreviver à
cataclísmica destruição da humanidade no Armagedom.
O “estudante” ou a Testemunha recém-batizada passa então a ser
mantida num estilo de vida regulamentado que não deixa tempo nem
motivação para visitas ou reuniões familiares, e caso estas ocorram,
ensina-se ao novo membro que ele deve aproveitá-las para fins de
proselitismo ou para “dar testemunho informal”. Isto, naturalmente,
com freqüência, irrita e ofende os parentes “mundanos” mas serve para
comprovar a essa nova Testemunha de Jeová que Satanás realmente
cegou sua família.
Muitas ex-Testemunhas sofreram dores emocionais e remorsos da
culpa de imaginar que cortaram todos os vínculos familiares a ponto de
sequer comparecerem a funerais ou eventos da família de que teriam
participado antes de se tornarem Testemunhas.
A Solidão da Saída
O verdadeiro problema começa quando acontece algo que faz a
Testemunha querer deixar a organização, ou quando ela é expulsa. É
então que a própria pessoa descobre que está separada dos antigos
amigos e dos membros da família biológica. Isso se deve às práticas
extremistas de rejeição comuns ao movimento religioso.
Alguém já disse que não há modo honroso ou digno de deixar a
organização das Testemunhas de Jeová.
398 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Na fase de doutrinação, não se diz ao novo prosélito que ele recebeu


uma passagem apenas de ida para um sistema de vida regulamentado,
monitorado.
Muitas ex-Testemunhas relatam dificuldades para reintegrar-se aos
ex-amigos, à família e à comunidade. É como se tivessem estado
presos num lapso, ou vácuo de tempo, reféns deste grupo religioso de
controle cerrado.
Nos anos recentes, muitos começaram a descobrir que o que lhes foi
dito pelo Corpo Governante era inconsistente e enganoso, e que
vinham seguindo ordens irrealistas e autoritárias de uma liderança
nebulosa chamada de “A Sociedade” ou “A Organização”, que é um
conceito abstrato.
Descobrem também que vinham mantendo suas vidas reguladas até
o ponto de terem de ler matéria impressa com procedimentos
destinados a serem usados nos conflitos familiares. Vamos a dois
exemplos rápidos:
1. Um ancião contatou Betel para saber se sua responsabilidade
paterna estava livre de culpa devido à sua filha adolescente rebelde,
que não se submetia às suas decisões.
2. Um ancião se reuniu com outros co-anciãos para indagar sobre
como ele deveria tratar seu filho recém-desassociado, conforme
instruções da Sociedade.
Isto evidencia um sério problema de total dependência a uma
estrutura de autoridade que segue reinando sobre vidas humanas.
Devido a recentes mudanças doutrinais dentro da organização,
alguns começaram a ter dúvidas sobre esse modo de vida
regulamentado e legalista, mas assim mesmo existe um medo de se
discutir isso abertamente, já que isto pode levar a uma investigação e
depois à expulsão com direito a um “Cartão de Desassociação” no qual
será escrito “por apostasia” e que será guardado no Betel nacional e na
congregação do ex-membro.
Alguns optam por sair silenciosamente e não deixam seu endereço
posterior.
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 399

Certo ex-ancião calcula que nos últimos 12 anos em que foi


superintendente presidente, cerca de 40% dos membros da
congregação simplesmente desapareceram sem deixar endereço algum
para que não fossem localizados.
Após ficarem no movimento durante décadas, os indivíduos
encontram-se numa situação de grandes perdas por terem sido
apartados durante anos a fio de suas famílias e antigos amigos que
nunca aceitaram sua abordagem freqüentemente extremista das coisas,
como Testemunhas de Jeová. Podem sentir o desejo de restabelecer os
vínculos familiares, mas alguns se sentem incapazes de fazê-lo. É
possível que queiram buscar alvos de trabalho e de carreira diferentes
dos que tinham quando Testemunhas, mas observam que estão agora
num mundo altamente tecnológico que os deixou para trás. Assim,
alguns destes que saem se defrontam com um mundo de alta tecnologia
que os ultrapassou.
A dicotomia é que a família não-Testemunha nem sempre rejeita a
Testemunha do mesmo modo que a Testemunha a rejeita por afastar-se
ela mesma da família e dos amigos, pensando estar assim agindo em
benefício espiritual.
Muitos desenvolvem vidas sociais de destaque e proeminência
dentro desta subcultura religiosa e fazem grandes investimentos em seu
status na comunidade das Testemunhas de Jeová “recebendo
designações” (“privilégios”) como “servos ministeriais”, “anciãos”,
“superintendentes”, etc.
Alguns níveis de autoridade eclesiástica conduzem a uma “condição
especial” dentro da organização, condição essa que muitos preferem
manter a ter de discordar de qualquer ensino da Sociedade.
Ter boa instrução secular não é pré-requisito para se alcançar o
poder em qualquer cargo ministerial na organização das Testemunhas
de Jeová. Por conta disso, muitos gostam de usufruir de um poder que
jamais teriam fora da congregação.
Muitos acham difícil sair porque têm filhos adultos e netos com os
quais perderiam contato caso abandonassem a organização.
Se uma Testemunha for expulsa ou decidir sair devido a um conflito
de consciência, ela repentinamente perderá tudo no qual investiu todo
400 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

o curso de sua vida. Perderá amigos e parentes na organização, a boa


reputação e até mesmo tratos comerciais e empregos dados por
Testemunhas.
Algumas pessoas que passaram vários anos na organização, viram
todo um histórico de fidelidade e dedicação se pulverizar em menos de
cinco minutos nas mãos de homens que seguiam ordens do conselho
executivo central em Brooklyn que não aceita que seus ensinos sejam
questionados impunemente por um membro de sua organização.
A Sociedade força uma purgação sistemática de indivíduos e
intelectuais que gostam de pensar livremente, mesmo que estes se
mostrem pessoas devotadas, muitas delas tendo gasto a maior parte de
suas vidas em prol dos interesses da “organização de Deus”.
O relato de expulsão de Ray Franz, um ex-membro do Corpo
Governante das Testemunhas de Jeová, é a regra ao invés da exceção,
e ilustra bem a arrogância, a intolerância e o espírito beligerante dos
homens no comando central da organização Torre de Vigia, que
alimentam a paranóia contra qualquer questionamento ou crítica a seus
ensinos.
Essa atmosfera que atualmente existe entre as Testemunhas é
similar à era da ditadura militar no Brasil ou à era de McCarthy nos
Estados Unidos quando o medo do comunismo era usado para
controlar o pensamento e o comportamento da população. Muitos se
lembrarão de como carreiras profissionais foram errônea e
negligentemente arruinadas ou destruídas por causa do abuso da
autoridade governamental. O Corpo Governante, ou “a Sociedade”
segue os mesmos moldes inquisitoriais contra os que discordam de
qualquer um de seus ensinos.
Nesse ambiente controlador, ninguém está imune à perseguição
caso venha a discordar dos ensinamentos da Sociedade e manifestar
isso. Alguns indivíduos esbarram em questões doutrinais, encaram a
expulsão, e mais tarde descobrem que a Sociedade adotou aqueles
mesmos itens questionados como “verdade atual”. Um bom exemplo
disso teve a ver com a doutrina da “separação das ovelhas e dos
cabritos” por meio da pregação de porta em porta. Em se tratando
desse tipo de ocorrência, a única saída para algumas Testemunhas é
dizer que “têm esperado em Jeová pois Ele sempre envia uma ‘nova
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 401

luz’ no devido tempo”. Isso acontece em outras religiões como a dos


Mórmons, cujo “Conselho dos Doze Apóstolos” (uma espécie de
Corpo Governante composto por doze homens idosos) comumente
recebe “novas revelações” ou a dos Adventistas que recebem “novas
profecias” como as já famosas de Ellen G. White, uma profetisa.
Questões Sexuais
Muitos se recordarão de vários casamentos que foram destruídos
quando a Sociedade decidiu regulamentar a vida sexual íntima de seus
membros.
Sexo anal e oral — A Sentinela de 1970, (páginas 380 e 381) tratou
pela primeira vez desse tema, dizendo:
“Alguns sustentaram, porém, que entre marido e mulher é
permissível absolutamente tudo. No entanto, tal conceito não é apoiado
pela Bíblia. Em Romanos 1:34, 32, onde se fala tanto de homens como
de mulheres que praticavam atos sexuais imorais, inclusive atos
lésbicos e sodômicos, a Bíblia menciona o uso natural da fêmea. Assim
se mostra que entregar-se a tal uso dos órgãos de procriação para
satisfazer algum desejo cobiçoso de excitação sexual não é aprovado
por Deus.”

Por conta disso, houve grande agitação entre as Testemunhas para


saber quem estava praticando sexo oral ou anal no casamento.
Mais artigos foram publicados nos anos seguintes. Ray Franz, ex-
membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, em seu livro
Crise de Consciência, na página 51, (em português) diz:
“A decisão do Corpo Governante em 1972 resultou num
considerável número de audiências judicativas à medida que os anciãos
investigavam os relatórios ou confissões das práticas sexuais
envolvidas. As mulheres sofriam uma vergonha aflitiva em tais
audiências ao responderem às perguntas dos anciãos sobre as
intimidades de suas relações maritais. Muitos casamentos, em que o
cônjuge que não era Testemunha de Jeová, passaram por um período
turbulento, com o cônjuge que não era Testemunha de Jeová
protestando veementemente contra o que ele ou ela considerava uma
invasão imprópria de sua privacidade no leito conjugal. Alguns
casamentos se romperam, resultando em divórcio.”
402 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Prejuízo observado no tecido familiar das Testemunhas através do


mundo, veio então uma mudança em A Sentinela de 1º de agosto de
1978, páginas 29-31, onde se lê:
“...Em vista da ausência de claras instruções bíblicas, trata-se de
assuntos pelos quais o casal tem de levar a responsabilidade perante
Deus, e que estas intimidades maritais não são competência dos
anciãos congregacionais, para tentar controlá-las ou promover a
desassociação...”
Mas, como sempre, as mudanças tinham de continuar! Brilhou
então mais uma luz “progressiva” em 1983, em A Sentinela de 15 de
setembro, páginas 30 e 31, na qual a Sociedade voltou aos pontos
básicos de sua posição anterior sobre sexo oral e anal ao declarar que
embora não coubesse aos anciãos policiar os assuntos maritais
privados dos membros de uma congregação, a defesa ou a prática do
que ela determinara como relações sexuais desnaturais, pervertidas,
entre pessoas casadas, não apenas desqualificaria um homem para ser
servo ministerial, ancião, pioneiro ou para qualquer outra posição
como também poderia levar até mesmo a expulsão da congregação.
Artigos desse tipo ainda exercem uma tremenda pressão para muitas
Testemunhas casadas e, em pleno novo milênio, isso tudo ainda leva a
muitas confissões difíceis de relatos íntimos de casais Testemunhas,
aos seus pastores, os anciãos congregacionais.
Raymond Franz dá detalhes no mínimo curiosos sobre o que ocorria
no Corpo Governante na época em que se discutia muito sobre as
práticas sexuais “impróprias”. Leiamos alguns pequenos trechos do
capítulo 3 de seu livro Crise de Consciência:
Certa mulher disse que tinha falado com um ancião e ele lhe havia
dito para escrever ao Corpo Governante “a fim de obter uma resposta
segura”. Assim, ela escreveu dizendo que ela e seu marido se amavam
profundamente e descreveu então “certo tipo de preliminares sexuais”
a que estavam acostumados, dizendo: “Creio que é um assunto de
consciência, mas estou lhes escrevendo para ter certeza”. Encerrou
com as seguintes palavras:
“Estou assustada, sinto-me magoada, e estou mais preocupada
neste momento com o sentimento [do meu marido] com relação à
verdade... Eu sei que vocês me dirão o que devo fazer.”
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 403

Em outra carta típica, um ancião escreveu dizendo que tinha um


problema que precisava resolver em sua mente e em seu coração e,
para chegar a isto, achou que “era melhor contatar a ‘mãe’ em busca de
conselho”. O problema tinha a ver com sua vida sexual dentro do
casamento e disse que ele e sua esposa estavam confusos quanto a
“onde traçar uma linha entre as preliminares sexuais e o próprio ato
sexual”. Garantiu à Sociedade que ele e sua esposa “seguiriam ao pé da
letra qualquer conselho que lhes fosse dado”.
Estas cartas ilustram a confiança implícita que estas pessoas vieram
a depositar no Corpo Governante e a crença de que os homens que
formam esse Corpo poderiam dizer-lhes onde ‘traçar os limites’,
mesmo em aspectos tão íntimos de suas vidas pessoais, que eles
deveriam seguir estritamente à risca, “ao pé da letra”.
Muitas cartas foram expedidas em resposta pela Sociedade. Com
freqüência, esforçavam-se em prover algum esclarecimento limitado
(expressando sem dizer diretamente) quanto a quais preliminares
sexuais estavam dentro dos limites das ações condenadas, enquanto
outras estavam, em razão disso, liberadas.
Carta após carta revelava que as pessoas envolvidas sentiam
claramente a responsabilidade diante de Deus de relatar aos anciãos
qualquer desvio da norma estabelecida pelo Corpo Governante.
Um homem em um estado do meio-oeste americano, que confessou
ter violado a decisão do Corpo Governante no que se refere a suas
relações maritais com a esposa, foi informado pelos anciãos que eles
estavam escrevendo para Sociedade sobre isto; ele também escreveu
uma carta que seguiu anexa.
Passaram-se oito semanas e finalmente ele escreveu outra vez a
Brooklyn dizendo que a “espera, a ansiedade e a antecipação estão
quase além do que posso agüentar”. Disse que tinha sido removido de
todas as designações na congregação, inclusive de fazer oração nas
reuniões, e que, “quase a cada semana, estou perdendo alguma coisa
pela qual tenho me esforçado e orado durante trinta anos”. Ele
implorava por uma resposta urgente, dizendo:
“Preciso muito de algum alívio mental quanto ao conceito que a
organização de Jeová tem de mim.”
Alguns dos afetados pela regra da organização eram pessoas cujas
funções sexuais normais haviam sido seriamente prejudicadas por uma
404 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

operação ou acidente. Algumas destas expressavam desalento diante da


situação em que foram colocadas pela decisão do Corpo Governante.
Uma destas pessoas, a qual havia ficado impotente desta maneira,
havia durante os anos seguintes conseguido realizar sua função sexual
por um dos meios agora condenados pela organização. Ele disse que,
antes da decisão do Corpo Governante, fora capaz de deixar de sentir-
se como um meio-homem porque ainda conseguia satisfazer sua
esposa. Agora, ele escrevia dizendo que não podia ver nenhuma prova
bíblica para a posição adotada na revista A Sentinela, mas que sua
esposa se sentia na obrigação de obedecer e, como ele a amava,
acedeu. Disse que sabia que ele era o mesmo de antes, embora
estivesse emocionalmente se desmoronando, visto temer que seu
casamento fosse ficar seriamente afetado. Implorou que lhe
informassem se não havia uma “brecha” na vontade de Deus que lhe
permitisse o prazer de satisfazer sua esposa.
Todas estas situações exerciam uma enorme tensão sobre a
consciência dos anciãos exortados a tratar com os que violavam a
decisão do Corpo Governante. Na conclusão da carta de um ancião, ele
diz:
“Acho que posso usar somente aquelas leis e princípios da Bíblia
que compreendo com absoluta sinceridade e convicção ao representar
a Jeová e Jesus Cristo e, caso tenha de aplicar estas leis e princípios
ao exercer minha responsabilidade como ancião na congregação,
quero fazê-lo, não porque vim a confiar que esta seja a organização de
Jeová e vou segui-la, seja lá o que for que ela diga, mas fazê-lo porque
creio sinceramente que é biblicamente aprovado e correto. Quero
verdadeiramente continuar crendo como Paulo admoestou aos
Tessalonicenses no segundo capítulo, versículo 13 [de sua primeira
carta], a aceitar a palavra de Deus, não como de homens, mas pelo
que verazmente é, como a palavra de Deus.”
Apesar de eu achar as práticas sexuais envolvidas como sendo
definitivamente contrárias a meus padrões pessoais, posso dizer
honestamente que não fui a favor da decisão de desassociação tomada
pelo Corpo. Mas isso é tudo o que posso dizer. Pois, quando veio a
votação, agi de acordo com a decisão da maioria. Senti-me consternado
quando o Corpo me designou para preparar a matéria em apoio da
decisão. Assim mesmo, aceitei a designação e a redigi como era desejo
do Corpo e em conformidade com sua decisão. Assim, não posso dizer
que agi de acordo com o mesmo ponto de vista excelente expresso pelo
ancião que acabei de citar. A minha crença na organização como a
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 405

única representação de Deus na terra me levou a fazer o que fiz


naquela ocasião sem sentir, particularmente, grandes dores de
consciência.
Destruição dos Vínculos Maritais
Quando um cônjuge é expulso, a possibilidade de sobrevivência do
casamento é pequena ou quase inexistente.
Embora as pessoas desejem paz em sua unidade familiar, um
membro ativo da organização poderá não ter paz e viver em eterno
conflito por encarar seu cônjuge desassociado/dissociado como perigo
ou ameaça em potencial à sua espiritualidade e relação com Deus.
Soando até como tema de um filme do tipo Dormindo com o
Inimigo, podemos dizer que a versão do amor conjugal, segundo a
Torre de Vigia, é algo que pode evaporar instantaneamente quando se
é expulso...
É Incentivada a Ruptura?
A Sentinela de 15/12/1981, página 25, avisa:
“O absoluto perigo à espiritualidade também provê base para a
separação. O crente num lar dividido em sentido religioso deve fazer
todo o possível para aproveitar-se das provisões espirituais de Deus.
Mas, permite-se a separação caso a oposição do cônjuge descrente
realmente impossibilite praticar a adoração pura e deveras puser em
risco a espiritualidade”.
O livro Organização para Pregar o Reino e Fazer Discípulos,
página 172:
“Não há motivos de se escutar o filho ou o cônjuge desassociado, se
este tentar justificar-se ou procurar convencer o fiel do seu modo de
pensar e agir. Tampouco deve dar-se ouvidos às suas objeções quanto a
como o caso foi tratado pela comissão judicativa”.
E na página 171 desse mesmo livro, encontramos a instrução:
“Em fidelidade a Deus, nenhum dos da congregação deve
cumprimentar tais pessoas (que saem) ao se encontrar com elas em
público, nem deve acolhê-las no seu lar. Até mesmo parentes
consangüíneos, que moram no mesmo lar com o parente desassociado,
por darem mais valor às relações espirituais do que as carnais, evitam
tanto quanto possível o contato com tal parente desassociado”.
406 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O mensário Nosso Ministério do Reino (KM) do mês de agosto de


2002, nas páginas 3 e 4, parágrafos 13 e 14, foi mais veemente:
13
Depois de ouvir um discurso numa assembléia de circuito, um
irmão e sua irmã carnal se deram conta de que precisavam mudar o
modo como tratavam a mãe, que morava em outro lugar e havia sido
desassociada seis anos antes. Logo depois da assembléia, o irmão ligou
para a mãe e, depois de reafirmar seu amor por ela, explicou que não
falaria mais com ela, a não ser que um assunto familiar importante
exigisse esse contato. Pouco depois, a mãe começou a assistir às
reuniões e, com o tempo, foi readmitida. Também, o marido dela, um
descrente, passou a estudar e com o tempo foi batizado.
14
Apoiar lealmente a desassociação conforme delineada nas
Escrituras demonstra nosso amor por Jeová e fornece uma resposta
àquele que zomba Dele. (Prov. 27:11) E podemos ter certeza de que o
resultado será a bênção de Jeová. Sobre Ele, o Rei Davi escreveu:
‘Quanto aos seus estatutos, não me retirarei deles. Com alguém leal
agirás com lealdade.’ — 2 Sam. 22:23, 26.”
O artigo inteiro demonstrava um recrudescimento do tratamento aos
desassociados e dissociados e finalizava assim, com esse terrível
exemplo de um filho e uma filha que ameaçaram sua mãe de afastar-se
dela porque ela não era mais uma Testemunha. Essa política inflexível
é mais uma evidência inegável de que o Corpo Governante vê méritos
num tratamento cruel até mesmo de um filho à sua mãe para que ela
volte à soberana organização deles. As perguntas que ficam são: quão
legítimo é o retorno, a volta de uma pessoa sob essa condição de
pressão, intimidação ou chantagem emocional/espiritual? O que dizer
dos milhares que nunca voltaram (e jamais retornarão) por conta dessa
atitude desamorosa, grosseira e sem fundamento bíblico? Mais
importante ainda: Onde há exemplos desse tipo na Palavra de Deus?
Ao contrário, o que ensina a Bíblia por meio de ilustrações como a do
filho pródigo ou a do bom Samaritano que não levou em consideração
as diferenças religiosas, e assim por diante?
Muitas pessoas se sentem amedrontadas diante do que lhes é
passado como “conselhos amorosos”, alimento provido por uma fonte
divina e sob orientação do espírito santo de Deus. Na verdade, sentem-
se intimidadas de modo severo mas preferem nem sequer pensar muito
sobre o assunto. Não é de admirar que, mesmo muitos membros que já
perderam grande parte de sua fé nos ensinos dos homens do Corpo
Ensinamentos das Testemunhas de Jeová – Uma Ameaça ao Tecido Sócio-Familiar 407

Governante, ainda assim possam se manter na organização pelo resto


de seus dias.
Medos
MEDO de se perder a família (TJ) e amigos ao se ver
desassociado/dissociado.
MEDO de ser destruído na Guerra do Armagedom por se estar fora
da “arca de salvação, a organização de Deus”.
MEDO de não ser ressuscitado, caso venha a falecer fora da
organização.
MEDO de “faltar chão” ou não haver vida alguma fora da
organização.
MEDO de ver a boa reputação destruída por meio de boatos
maldosos.
MEDO de perder o emprego ou tratos comerciais importantes com
Testemunhas de Jeová.
Para tornar ainda maior essa lista, a Sociedade, através de algumas
de suas publicações como a revista A Sentinela e Nosso Ministério do
Reino, recentemente lançou artigos alertando contra os “perigos da
Internet” ao se referir aos “apóstatas” que estão nela. Na verdade, essas
estratégias de controle de informação tendem a mergulhar a estrutura
da psique humana das Testemunhas num conjunto mental de
intolerância e dogmatismo cada vez maior.
No entanto, controles desse tipo talvez sejam uma das razões pelas
quais, em muitos países, cada vez mais pessoas se refreiam de batizar-
se como Testemunhas de Jeová, pois elas se dão conta de que, ao
assumirem publicamente o compromisso de servir lealmente a Jeová
Deus e à organização Torre de Vigia, no dia do batismo, estarão
também assinando a perda de direitos humanos importantes.
Em conclusão, muitas pessoas casadas, ao se tornarem Testemunhas
de Jeová ou membros de outras organizações religiosas, tiveram de
aprender ou de ensinar a solidão de um lar dividido pela religião...
Capítulo 8

Mudanças ou Novas Luzes


– Seus Efeitos Sobre as
Testemunhas de Jeová
Mudança! Quanto significado carrega essa palavra! Ela tem o poder
de nos inspirar saboroso suspense e agradáveis anseios ou terríveis
medos quanto ao que poderá sobrevir. Às vezes provoca alegrias e
outras tristezas, pois fazer mudanças pode gerar construção e
edificação ou ruína e devastação de valores preciosos na vida de
alguém.
A Sociedade Torre de Vigia tem chamado as mudanças em seus
ensinos de “novas luzes”, “novo entendimento”, “novas revelações”,
“nova orientação do espírito de Deus”, etc. Com freqüência, tais
mudanças ou “novas luzes” são apresentadas até mesmo com orgulho
pelos fiéis de suas fileiras, que crêem que Jeová Deus provê a devida
“orientação” de Seu espírito santo aos atuais membros do Corpo
Governante.
Citando o texto de Mateus 24:45, as Testemunhas de Jeová se
referem às mudanças como “novo alimento espiritual no tempo
apropriado”. Esse termo também se aplica a velhos ensinos do CG que
são constantemente revisados ou alterados em suas publicações. Na
verdade, tais mudanças ocorrem de acordo com as conveniências de
sua agência central de informações, com sede em Brooklyn, Nova
York. Apela-se para o texto de Provérbios 4:18 para provar que a
“vereda dos justos” tratada neste versículo, é a vereda pela qual tem
trilhado essa agência de educação religiosa das Testemunhas, embora o
texto tenha por objetivo apenas mostrar o contraste entre o caminho
dos justos e dos iníquos — os que andam na luz (João 8:12) e os que
andam nas trevas (João 3:19, 20).

408
Mudanças ou Novas Luzes – Seus Efeitos Sobre as Testemunhas de Jeová 409

Nenhuma religião do mundo tem mudado tanto seus ensinamentos e


crenças como a organização Torre de Vigia, embora ela mesma afirme
que “uma nova visão da verdade jamais pode contradizer uma verdade
anterior. Uma nova luz jamais apaga uma luz mais antiga...” Revista A
Sentinela” (em inglês) de fevereiro de 1881, página, 3.
É importante lembrar que a Bíblia ensina que, mesmo que um anjo
apareça pregando outra mensagem, diferente da contida nas Escrituras,
os cristãos devem rejeitá-la. (Gálatas 1: 8, 9)
Quando há algo errado nos ensinos ou estes se tornam obsoletos e
insustentáveis por alguma razão, cabe apenas aos homens do Corpo
Governante, mudá-los. O papel de uma Testemunha de Jeová fiel é o
de esperar que isso ocorra no “tempo apropriado” e através desse único
“canal de comunicação com Deus” (Ex.: “A geração de 1914 que não
passaria” ou o julgamento das ovelhas e cabritos que era ensinado
como começando em 1914 — Poderá Viver Para Sempre no Paraíso
na Terra, página 183, par. 22, 23 e depois foi mudado para começar
somente após a vinda de Cristo em A Sentinela, 15/10/95, página. 19,
20, 23).
E quais têm sido os reais efeitos das “novas luzes” dessa
organização sobre seus mais de seis milhões de seguidores nos dias de
hoje? Quando surge um “nova luz”, será essa a verdadeira ou será a
anterior? Quem fez a mudança foi Jeová ou o Corpo Governante?
Quem garante que essa “nova luz” irá se sustentar? Ou será mudada
logo depois? O que dizer então da organização como “canal de
comunicação de Deus”? É a organização realmente de Jeová ou apenas
mais uma agência humana? Não soam tais mudanças de modo estranho
para muitas Testemunhas de Jeová reflexivas? Sim, pois muitas
aprendem da Bíblia que “Jeová não é Deus de confusão” (1 Cor.
14:23) e, por causa de tanta mudança, muitas ficam sem saber no que
acreditar quando lêem a organização afirmar em A Sentinela de
15/11/1984, páginas 6 e 7 que “a geração que não passará, mencionada
por Jesus, é a geração de 1914” e que essa interpretação era “a palavra
profética de Jeová” e depois em Despertai!, 22/03/93, pág. 4, ela retira
o que disse e afirma que “nunca nesses casos presumiram que suas
predições eram feitas em nome de Jeová.”
410 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A organização já foi ao ponto de insistir que é a única capaz de


prover um alimento espiritual sadio, indo mais longe ao assumir: “não
podemos encontrar a orientação bíblica de que precisamos fora da
organização do ‘escravo fiel e discreto’". (Revista A Sentinela, 15 de
agosto de 1981, página 19).
Quão mutável é Jeová? O que dizer quando a mudança nas crenças
e ensinamentos envolve vidas humanas? Vejamos o caso do serviço
civil alternativo:
O Corpo Governante se reuniu várias vezes, em 1978, para estudar
a questão do serviço civil alternativo. Os membros do CG, John Booth,
Ewart Chitty, Raymond Franz, George Gangas, Leo Greenles, Albert
Shroeder, Grant Suiter, Lyman Swingle, e Dan Sydlik acharam que a
proibição do serviço civil alternativo não era bíblica. Votaram contra a
permanência dessa norma. Carey Barber, Frederick Franz, Milton
Henschel, William Jackson, Karl Klein votaram a favor da
permanência da norma. Ted Jaracz se absteve. Nove votos contra 5.
Mas nove votos não representavam dois terços no número de membros
do CG e por causa de apenas um voto, muitas Testemunhas foram
aprisionadas, torturadas, massacradas ou mortas mundo afora ou
tiveram suas cidadanias cassadas nos países que negavam a isenção do
serviço militar. Por causa de luzes, orquestradas até mesmo por uma
minoria do próprio CG, muitas Testemunhas estavam morrendo por
algo que consideravam uma norma ou verdade de Jeová Deus. (O
relato completo dessas sessões decisórias do CG encontra-se, com farta
documentação nunca questionada pelo CG, no livro Crise de
Consciência de Raymond Franz, páginas 117-122, em português)
O livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, páginas 19
e 20, diz: “Não pode haver duas verdades quando uma não concorda
com a outra. Ou uma ou a outra é verdadeira, mas não ambas”.
Estamos aqui lidando com a religião que se diz a única religião
verdadeira na terra, cuja liderança declara ser orientada pelo espírito de
Deus e o único canal entre Ele e o homem.
Mas como encara esse mesmo canal, as mudanças feitas por outras
religiões como, por exemplo, as mudanças feitas na Igreja Católica? O
que dizem esses homens sobre os efeitos das “mudanças” nos fiéis
seguidores de outras crenças? Poderia você, leitor, aplicar os artigos
Mudanças ou Novas Luzes – Seus Efeitos Sobre as Testemunhas de Jeová 411

abaixo às mudanças feitas pelos membros do Corpo Governante,


através destes mais de 100 anos de existência de sua organização, a
Sociedade Torre de Vigia? Para fins educativos, que você, prezado
leitor, possa ler esse artigo da revista Despertai! de 8 de outubro de
1970, páginas 8 e 9, e tirar suas próprias conclusões:
412 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová
Capítulo 9

Atraindo Adeptos
As Testemunhas de Jeová, assim como outros movimentos religiosos,
utilizam eficientes mecanismos de fins proselitistas e retenção de
membros. Vários deles são, até certo ponto, exageradamente
controladores.
Obviamente, alguma medida de controle e de regras, é necessária.
Algumas regras são vitais para o bom funcionamento de uma
organização, pois do contrário teríamos de conviver em sistemas
anárquicos ou simplesmente apostar na utopia de um caos que se auto-
organizasse dentro das instituições do mundo.
Não parece razoável sermos contra a existência de organização, de
certo controle e disciplina em uma religião. No entanto, é sufocante
fazer parte duma “organização religiosa” de modelo legalista e de
autoridade central soberana e auto-eleita como o canal de comunicação
de Deus na terra, com um “Corpo Governante” a governar sobre
milhões de vidas humanas.
Todavia, as Testemunhas de Jeová não são a única religião a possuir
esse tipo de estrutura. Muitas igrejas ditas cristãs também têm suas
organizações dominadoras. Portanto, a pergunta natural que algumas
pessoas reflexivas fazem é: estão as organizações religiosas neste novo
milênio cumprindo o dever cristão de servir às pessoas ou usam seu
poder para dominá-las?
Parece até que algumas religiões aprenderam de empresas
comerciais, suas técnicas de persuasão e fidelização de “clientes” ou
“consumidores”, pois utilizam um marketing muito bem elaborado,
magnético. São expedientes e artimanhas que têm funcionado
eficazmente, como observaremos nos próximos parágrafos. O objetivo
desse capítulo é analisar e refletir sobre os processos de domínio
mental do homem sobre o homem (Eclesiastes 8:9). Durante sua

413
414 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

leitura, que cada leitor possa por si mesmo discernir até que ponto sua
vida tem sido absorvida pelas esponjas psicológicas de um cativeiro
religioso e o quanto, ou até que ponto, já permitiu que sua liberdade
cristã individual tenha sido afetada. A análise pretende ser apenas uma
modesta tentativa de lembrar aquilo que o apóstolo Paulo aconselhou
em 1 Coríntios 7:23: “Parai de vos tornardes escravos de homens”.
Podemos estar sabotando nossa felicidade e destruindo nossa
própria identidade ao escolhermos uma religião excessivamente
controladora. Por isso, mostrarei a seguir algumas das abordagens que
são semelhantes na maioria das organizações religiosas, ditas cristãs,
incluindo a das Testemunhas de Jeová.
Controle Além do Recomendado pela Bíblia
A maior parte das religiões monitoram a vida de seus membros lhes
determinando o que é bom ou ruim, e o que é condenável de se ver e
fazer no mundo hodierno. Controlam o que seus membros deveriam ou
não ler, ouvir, ver, falar e esses vigiam sobre a vida uns dos outros.
Aquele que se rebela e se torna crítico do sistema religioso, é
considerado como herege ou apóstata — alguém a ser evitado. Tal
membro “fraco” é posto de lado. Argumentos contrários ao sistema são
combatidos e os mais intelectualizados, que vêem os erros e
desmantelos do sistema religioso, do conjunto de artigos de fé, etc., são
isolados, ilhados.
Terminologias Especiais e Jargões
Impactantes que Impressionam
Terminologias tais como “doutrina sã”, “a verdade”, “verdadeira
felicidade”, “mundanos”, “novo mundo de Deus”, “verdadeira igreja
de Cristo”, “Corpo Governante”, etc., são termos fabricados para
limitar o raciocínio e manter as rédeas do sistema sempre bem
apertadas e curtas. Tais termos servem como elementos facilitadores
sempre que surgem questionamentos ou críticas ao sistema. Eles
propiciam uma saída fácil e de certo modo, “tranqüila”. Frases do tipo:
“não fale do Corpo Governante, os irmãos de Cristo”, ou “não fale
contra a Igreja de Deus”, “não destrua a obra de Deus”, “não se torne
apóstata, cuspindo no prato em que comeu...”, etc., são recursos
verbais táticos de intimidação que funcionam como algemas
atitudinais.
Atraindo Adeptos 415

Julgamento Adverso de Deus aos de FORA do Sistema


Os “mundanos”, dentre eles algumas pessoas genuinamente boas e
altruístas, estão a adorar e prestar serviço sagrado aos “seus deuses” e
“infelizmente” merecerão julgamento adverso por parte de Deus no dia
do acerto de contas.
Proteção Apenas aos que Estiverem DENTRO do Sistema
Condenação certa aos que desistem do sistema! Os que ousam adotar
outro sistema religioso ou outro modo de vida, devem esperar
garantidamente sofrer condenação divina. Por quê? Porque “a obra
está sob a proteção e orientação de Deus e somente os que pregam ou
defendem os ensinamentos do sistema religioso estão sendo salvos por
perseverarem na pregação e no serviço sagrado” do sistema.
Que venham então os relatos sobre como Deus está a abençoar os
que se mantém fiéis, zelosos, fervorosos e cativos do sistema!
Intercâmbio de encorajamento...! Que sejam relatadas as
experiências maravilhosas que dão aos irmãos, uma boa medida de
segurança em sentido espiritual, emocional e mental. “Alguns irmãos
nos contarão como sobrepujaram o mal e conseguiram servir mais
plenamente ao Senhor”, proclama o orador eloqüente em seu discurso
inflamado.
Branqueamento da História da Organização Religiosa
As raízes de cada religião muitas vezes é branqueada. Em muitas delas,
as origens, comumente carregadas de extremismos e erros graves, é
usada mais tarde como pretexto para demonstrações de humildade e
estridentes pedidos de perdão. Quando não, a história é virtualmente
mudada, branqueada, justificada através de inúmeras versões
suavizantes. Números, índices, dados e fatos são alterados; muitas
particularidades relevantes da história são omitidas ou contadas de
forma a dar uma impressão positiva ou atenuada sobre o que de fato
ocorreu no passado da organização religiosa.
Uma Agenda Exaustiva
Tão logo a pessoa ingresse em um nova estrutura religiosa, sua agenda
terá de se ajustar rapidamente aos novos compromissos. A
programação semanal será sistematicamente preenchida por reuniões,
416 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

visitas “fraternais” de membros “amorosos”, eventos especiais,


encontros para encorajamento e louvor, e assim por diante. Os
membros não podem deixar muito espaço para atividades seculares
pois existe o risco do materialismo. Devem freqüentar o novo lugar de
adoração e cumprir os compromissos “cristãos” assumidos. Agindo
assim, os membros garantem para si a devida preparação e possível
vitória na luta contra os desejos carnais, o engodo do mundo, o brilho
ofuscante das riquezas, etc.
Cuida-se para que os adeptos tenham suas agendas lotadas e há
constante exortação para que os irmãos se engajem, se apeguem e se
acostumem à rotina “cristã”, suprindo sistematicamente às exigências
do sistema. Tudo isso, é claro, em prol de uma pretensa aprovação
divina.
Unidade Através de Confissões
Os membros são persuadidos a confessar seus pecados graves e buscar
conselhos. Devem reajustar a conduta para que ela se conforme aos
padrões sustentados pela organização. Os pastores são conselheiros
que empregam boa parte de seu tempo a tratar de falhas sérias, mesmo
as de natureza íntima, pessoal, privativa, familiar, e assim por diante.
Quando um membro foge às regras da religião, a confissão contribuirá
para seu realinhamento aos moldes ensaiados pela organização. Isso
cria diferentes graus de dependência e abre espaço para maior controle
sobre a vida dos adeptos; permite-se com isso que a liderança pastoral
exerça forte autoridade sobre os “fracos” e os conduza através de
rédeas (comumente) não-bíblicas, ou caprichos, dogmas, opiniões e
interpretações pessoais, preconceitos individuais ou do próprio
sistema.
Manipulação da Autoridade Divina (Ad Baculum)
Relatos bíblicos relacionados a fracassos humanos seguidos de
punições divinas são abundantemente usados para pressionar os
membros a agir em harmonia com códigos de conduta especialmente
adaptados para o sistema. A ameaça de receber castigos de Deus
acompanha a implantação de sentimentos de culpa em discursos
eloqüentes.
Ofertas Tentadoras
Atraindo Adeptos 417

Muitas religiões, apropriando-se das promessas, dádivas e bênçãos


contidas na Bíblia, negociam cada uma delas com diferentes etiquetas
de preço.
O paraíso divino...! Quão inspirador! Mas ele não pode ser ganho
facilmente. E, embora apenas Deus possa ofertar este prêmio tão
valioso, prometido em Sua Palavra, as religiões apresentam ao adepto
uma longa lista de tributos extra-bíblicos a serem pagos por ele. A
regra é: receba seu prêmio mas primeiramente pague bem caro por ele.
Em outras palavras: “submeta-se à organização/igreja Dele
urgentemente e garanta seu passaporte para a felicidade eterna!”
Bênçãos ou Maldições — Apenas Duas Perspectivas
Os fiéis usufruem de constantes bênçãos que são supostamente
derramadas em suas vidas. Novamente, entusiásticos relatos e
experiências carregadas de conteúdo emotivo são amplamente
utilizadas em grandes ajuntamentos (congressos, assembléias, etc.).
Quão bom é “apegar-se à verdadeira fé” e “como é triste o destino
dos que saem”.
E caso o membro decida sair, qualquer coisa negativa que acontecer
com ele dali em diante, será atribuída ao fato de não mais ter ajuda e
proteção divinas. Terríveis maldições podem espreitar o incauto
fugitivo do sistema. Mais uma vez, exemplos bíblicos e parábolas
como a do filho pródigo são fartamente dissecadas em tais ocasiões.
Créditos e Descréditos de Fontes —
O Controle de Informação
Fontes tendenciosamente selecionadas são comumente citadas em
defesa do sistema ao passo que matérias que contradizem o sistema são
fortemente desacreditadas e pesadamente criticadas. Muitas vezes, essa
triagem leva ao controle de informações e gera no adepto uma
tendência de desenvolver uma visão míope e completamente parcial
dos assuntos.
Técnicas de Persuasão
Criação de um falso dilema, que faz parecer que há apenas duas
escolhas, uma que é elogiável e a outra que é indesejável, espúria. Essa
tática também é responsável pelo desenvolvimento de uma
418 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

mentalidade maniqueísta — “nós versus eles”, “o bem versus o mal”,


“o certo versus o errado”, “o cristão versus o mundano”, etc., sem
quaisquer alternativas intermediárias.
Ataque Ad Hominem (Ao Homem). Consiste basicamente em
atacar a pessoa ao invés do argumento.
Falsas analogias nas quais as similaridades existem mas não as do
tipo necessário para provar as conclusões.
Provincianismo é o método empregado que apela uma tendência de
se examinar crenças, raciocínios, cultura, costumes a partir do ponto de
vista de um grupo particular. Grupo A versus Todos os Grupos.
Desconversar é a técnica de falar sobre irrelevâncias ou questões
periféricas para distrair a atenção do leitor ou interlocutor sem que se
vá diretamente ao ponto em questão.
Raciocínio circulatório é tentativa de se provar algo sem usar fatos.
Apela-se quase sempre para achismos, premissas de um sistema,
paradigmas ou opiniões sem comprovação, etc. Ex.: “Minha religião é
a verdadeira porque ela é a única que mostra a verdade.”
Teoria da Purificação (Iluminação Progressiva)
Há sempre a alegativa de que a religião se purifica através dos anos de
sua história e por causa disso, ela mostra que é a única orientada pelo
espírito de Deus ou tem o favor Dele. Afinal de contas, Ele permite
que seus servos cresçam e se adaptem aos “novos tempos”. (Deus
parece, nesse caso, um ser instável e mutável, que altera suas
orientações através dos séculos a fim de se ajustar às novas
necessidades e modas humanas).
Pureza a todo Custo
Muitos são mantidos como reféns de um sistema através de técnicas
intimidatórias usadas para fazer as pessoas sentirem medo das
conseqüências caso aventem a possibilidade de sair do sistema.
Quando tudo se torna bastante polarizado no sistema, acontece então
um mergulho in/voluntário nos ensinamentos e regras dele.
Muitos temem as represálias dos pastores e a vergonha social que
poderão encarar se não forem obedientes. Muitas vezes isso gera um
tipo perigoso de escapismo que pode causar o desenvolvimento de
Atraindo Adeptos 419

dupla personalidade ou “vida dupla”. Neste ponto, o membro perde a


habilidade de enfrentar os problemas da vida.
Conclusão
Achei bastante proveitoso ler os artigos abaixo. O primeiro trata da
permanência (ou não) em uma religião, e o outro considera as
vantagens de se ter uma mente aberta. Apenas com uma mente aberta
podemos evitar receber influências de alguma organização opressora
que pode roubar espaços importantes em nossas vidas. Portanto, para
fins educativos, disponibilizamos esses dois elogiáveis artigos:
420 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“Sua Religião — É um navio que nunca deve ser abandonado?” (A


Sentinela 01/02/95):
Atraindo Adeptos 421

“Mente Aberta ou Fechada — Qual Delas Possui?” (A Sentinela


22/03/85):
Capítulo 10

Mitos e Crendices Entre


as Testemunhas de Jeová
Por mais de um século, luzes multicoloridas têm brilhado
intensamente desde a Torre de Vigia em Brooklyn, Nova York.
Diversas destas luzes vieram e se foram rapidamente, deixando
ofuscada ou embaçada a visão de um vasto número de Testemunhas de
Jeová sinceras que buscavam a verdade.
A organização tem visto milhares destas Testemunhas, expostas à
forte luminosidade dos clarões repentinos de “novas luzes”, sentirem-
se profundamente desapontadas pelas expectativas enganosas criadas
por ela e presencia um êxodo cada vez maior. Quantas Testemunhas
morreram sem imaginar que, aquilo em que criam como “A Verdade”,
era algo a ser mudado nos anos à frente?
Contudo, milhares de Testemunhas, mesmo as que presenciaram
tais mudanças, ainda assim continuam a nutrir o mesmo forte
sentimento de “povo especial” que sobreviverá ao dia da “ira de
Jeová”. Aplicam para si a profecia de Sofonias 2:3. Adotam para si, a
mesma expressão de auto-louvor de seu Corpo Governante que afirma
num artigo de A Sentinela de 15 de novembro de 1997, página 18,
parágrafo 11:
“Os que esperam sobreviver ao Dia de Jeová e viver para sempre na
terra têm de apoiar de todo o coração a adoração verdadeira”.
E por esta auto-glorificação de “adoração verdadeira”, entenda-se “a
organização das Testemunhas de Jeová”.
Não é de estranhar, portanto, que as Testemunhas hodiernas
continuem a considerar-se diferentes do resto do mundo, uma
“propriedade especial de Jeová” e a presumir que são como que

422
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 423

“residentes forasteiros” em um mundo caótico, doentio e moribundo,


prestes a findar e do qual “não podem fazer parte”. (João 17:16)
O Primeiro Mito: “Tudo que Cremos se Baseia na Bíblia”
Mas em que sentido as Testemunhas pretendem ser realmente
“diferentes”? Bem, responder essa pergunta requer também falar sobre
o primeiro mito entre as Testemunhas, o mito de ser a única religião a
ostentar e defender a incontestável verdade da Palavra de Deus e
defendê-la por meio de um “alimento espiritual” apenas provido por
meio de um grupo de homens auto-designados como o “escravo fiel e
discreto” do qual a Bíblia fala em Mateus 24:45.
Surgem, portanto, duas perguntas: defendem as Testemunhas de
Jeová a única verdade de Deus encontrada em sua santa Palavra? Têm
as Testemunhas seguido orientações APENAS da Bíblia ou por outras
fornecidas pela organização Torre de Vigia?
“Tudo em que cremos se baseia na Bíblia”, advogam as
Testemunhas. Essa afirmativa, porém, constitui-se em um dos maiores
mitos das Testemunhas.
Entendendo o Primeiro Mito
Para entendermos essa questão, vale a pena lermos primeiramente as
palavras do livro Raciocínios à Base das Escrituras, página 388,
parágrafo 3:
“Em razão de as Testemunhas de Jeová basearem todas as suas
crenças, normas de conduta e procedimentos organizacionais, sua fé na
própria Bíblia como sendo a Palavra de Deus lhes dá a convicção de
que possuem realmente a verdade.”
Como se prova nestas palavras, a própria organização indica que
todas as crenças das Testemunhas de Jeová se originam da Bíblia.
Na página seguinte do mesmo livro (389), parágrafo 2, a
organização reafirma isso categoricamente:
“Para mostrarem o significado da linguagem simbólica encontrada
na Bíblia, deixam que a própria Bíblia forneça a explicação, ao invés
de apresentarem suas teorias quanto ao seu significado”.
Mas verifique o leitor que, logo depois de afirmar isso, a
organização se mostra contraditória ao usar sua própria teoria sobre o
424 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“escravo fiel e discreto”, apossando-se de um texto bíblico e


aplicando-o exclusivamente a ela. Para a organização da Torre de
Vigia, o “escravo fiel e discreto” citado por Jesus não pode ser cada
cristão individual fiel a Deus que provê a outros, alimento espiritual e
sim uma interpretada “classe escolhida”, os “ungidos” dela. Veja como
ela descreve essa teoria na página 390, par. 1, deste mesmo livro:
“Jesus disse que teria na terra um ‘escravo fiel e discreto’ (seus
seguidores ungidos considerados como um grupo), por meio do qual
proveria alimento espiritual aos que constituem a família da fé.
(Mateus 24:45-47)”
Embora essa teoria seja uma das mais importantes premissas que
norteia todo o conceito de supremacia religiosa das Testemunhas de
Jeová, quando pesquisada à luz da Bíblia, não resiste à análise; vê-se
facilmente que não passa de um mito, criado para fazer as
Testemunhas de Jeová se sentirem, como citado nos parágrafos
iniciais, um “povo especialmente abençoado e diferente”. Faz também
que os membros acreditem que seu líder coletivo, o “escravo fiel e
discreto”, esteja provendo um “alimento espiritual nutritivo”,
inigualável, para seus seguidores.
Mas sempre foi essa a crença das Testemunhas de Jeová? Qual era o
desejo do fundador da Torre de Vigia, o primeiro “escravo fiel e
discreto” da organização em sua fase embrionária?
Intervalo para uma Rápida Reflexão
Antes de respondermos à pergunta acima, caso você ainda seja uma
Testemunha de Jeová, será de proveito perguntar-se: vale a pena uma
Testemunha de Jeová, fiel à sua organização, ler essa matéria, escrita
por alguém que REFUTA algumas de suas crenças? (“refutar”
significa “combater com argumentos e provas contrárias” - Dicionário
Pedro Luft — 4a. Edição - Editora Ática)
A revista Despertai!, 8 de setembro de 1997, página 6, sexto
parágrafo, diz:
“Não é errado a pessoa tentar refutar os ensinos e as práticas de um
grupo religioso que ela julgue ser incorretos.”
Ora, como pode uma pessoa “refutar” alguma coisa sem ter pleno
conhecimento dos “argumentos e provas contrárias”? E por que será
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 425

que muitas Testemunhas têm “refutado” algumas das crenças de sua


organização ao longo dos anos? Será proveitoso uma Testemunha ler
imparcialmente o que estará sendo apresentado a seguir?
Existem realmente “Mitos e Crendices” entre as Testemunhas de
Jeová?
Para responder a tudo isso, voltemos à análise do primeiro mito
citado acima...
Como Surgiu o Segundo Mito –
A Classe do “Escravo Fiel e Discreto”
Vejamos o que Charles Taze Russell havia idealizado em seu
Testamento para a organização que fundou e COMO ele mesmo se
considerava antes de seu sucessor, Rutherford, tomar o controle da
Sociedade (Livro Crise de Consciência, páginas 434 — 441):
O documento abaixo é o testamento redigido por Charles Traze
Russell, fundador da Sociedade Torre de Vigia e de sua revista,
conforme publicado em A Sentinela de 1º de dezembro de 1916.
Segue-se a tradução dos trechos principais desta “Última Vontade e
Testamento”. Foram sublinhadas as partes de maior interesse.
Tendo doado à SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE BÍBLIAS E
TRATADOS, em várias ocasiões durante os anos passados, todos os
meus bens pessoais, com exceção de uma pequena conta bancária de
cerca de duzentos dólares, no Exchange National Bank de Pittsburgh, a
ser paga à minha esposa caso ela sobreviva a mim, deixo apenas meu
amor cristão e meus melhores votos a todos os queridos membros da
família da Casa da Bíblia — e a todos os demais queridos
colaboradores na obra da colheita — sim, a todos os da família da fé e
em todos os lugares onde invocam o Senhor Jesus como seu Redentor.
Contudo, ao fazer doação da revista Torre de Vigia de Sião, do
Trimestral da Velha Teologia e dos direitos autorais dos livros
ESTUDOS DAS ESCRITURAS DA AURORA DO MILÊNIO e de
vários outros folhetos e hinários, etc., à Sociedade Torre de Vigia de
Bíblias e Tratados, eu o fiz com o entendimento de que manteria
completo controle de todos os interesses destas publicações durante a
minha existência, e que depois de minha morte estes seriam
conduzidos de acordo com meus desejos. Passo agora a declarar tais
desejos — minha vontade com relação aos mesmos — Conforme
segue:
426 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

UMA COMISSÃO EDITORA DE CINCO


Determino que a inteira responsabilidade pela TORRE DE VIGIA
DE SIÃO fique nas mãos de uma comissão de cinco irmãos aos quais
exorto a exercer grande cuidado e fidelidade para com a verdade.
Todos os artigos que aparecerem nas colunas da TORRE DE VIGIA
DE SIÃO deverão ter a aprovação absoluta de pelo menos três da
comissão dos cinco, e insto a que, qualquer que seja o assunto
aprovado pelos três, que seja, ou pareça ser, contrário ao ponto de vista
de um ou de ambos os demais membros da comissão, que tais artigos
sejam retidos para maior consideração, oração e discussão por três
meses antes de ser publicado — que até onde for possível seja mantida
a unidade da fé e o vínculo a paz na direção editorial da revista.
————————————————————
A Comissão Editora se auto perpetua, no sentido de que se um de
seus membros renunciar ou morrer, será dever dos restantes, eleger um
sucessor, de modo que a revista jamais tenha um número publicado
sem uma Comissão Editora completa de cinco. Encarrego a Comissão
designada de ter grande cuidado na eleição dos outros que venham a
completar seu número — que a pureza de vida, a clareza da verdade, o
zelo por Deus, o amor pelos irmãos e a fidelidade ao Redentor sejam
características proeminentes dos escolhidos. Em acréscimo aos cinco
designados para a comissão, designei outros cinco, dentre os quais
prefiro que se faça a seleção, caso surjam vagas na Comissão Editora,
antes que se parta para uma seleção geral — a menos que, no ínterim,
entre a data da feitura deste testamento e a data de minha morte, ocorra
algo que indique a estes como menos desejáveis ou a outros como mais
desejáveis para preencher as vagas. Os nomes da Comissão Editora são
como segue:
WILLIAM E. PAGE, WILLIAM E. VAN AMBURGH, HENRY
CLAY ROCKWELL, E. W. BRENNEISON, F.H.ROBISON
Os nomes dos cinco a quem sugiro como possíveis candidatos a
preencher as vagas da Comissão Editora são conforme segue: A.
Burgess, Robert Hirsh, Isaac Hoskins, Geo. H. Fisher (Scranton),
J.F.Rutherford, Dr. John Edgar.
Eu doei à Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados todas as
minhas ações com direito a voto, pondo as mesmas nas mãos de cinco
fideicomissárias, como se segue: Hna. E. Louise Hamilton, Hna.
Almeta M. Nation Robison, Hna. J.G. Herr, Hna. C. Tomlins, Hna.
Alice G. James.
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 427

A posição destas fideicomissárias é vitalícia. Em caso de morte ou


renúncia as substitutas serão designadas pelos diretores e pela
Comissão Editora da Sociedade Torre de Vigia, e pelas
fideicomissárias restantes, depois de feita oração em busca da
orientação divina.
Faço agora provisão para a possível necessidade de destituir ou
demitir qualquer um dos membros da Comissão Editora que tenha sido
considerado indigno do cargo, seja por razão doutrinal ou falta moral.
Pelo menos três devem formar uma junta para apresentar as
acusações, e a Junta Judicativa que cuidará do assunto será composta
dos fideicomissários da SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE
BÍBLIAS E TRATADOS, e das cinco fideicomissárias portadoras de
minhas ações com direito a voto, com exceção do acusado.
Para que se efetue a destituição é preciso que destes dezesseis
membros pelo menos treze estejam de acordo com a ação judicativa.
————————————————————
É meu desejo que esta Última Vontade e Testamento seja publicado
no número de A Sentinela que se seguir à minha morte.
É minha esperança que tanto no meu caso, como no caso do querido
Israel de Deus, logo nos encontraremos para jamais nos separarmos, na
primeira ressurreição, na presença de nosso Amo, com quem está a
plenitude do gozo para sempre. Estaremos satisfeitos quando
despertarmos na semelhança dele.
“Transformado de glória em glória”
(Assinado),
Charles Taze Russell
Entre outras coisas, deve-se notar que Russell declarou que
considerava a revista A Sentinela como sua propriedade, depois doada
à corporação, mas com o entendimento de que tivesse pleno controle
sobre seu conteúdo e publicação. Isto obviamente não se enquadra ao
ensino atual da organização quanto à direção e alimentação espiritual
por meio de uma classe do “escravo fiel e discreto.”
Pode-se observar também que ele deu instruções para formação de
uma comissão para dirigir a publicação da matéria e que Rutherford
não se achava no primeiro grupo de cinco candidatos alistados. Além
disso, nota-se que Russel deixou suas ações da corporação para cinco
428 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

mulheres como fideicomissárias, e que selecionou três mulheres para


servir como testemunhas de seu testamento.
A Sentinela de 15 de março de 1990 contém artigos sobre o Corpo
Governante e suas funções, explicações destinadas a aparentar um
quadro ideal. Estas falam dos “progressivos aprimoramentos” e dos
“refinamentos contínuos” da organização, como se estes fossem um
processo constante e harmoniosamente conduzido em cumprimento de
Isaías 60:17. Elas apresentam a ficção de que um Corpo Governante
estava em funcionamento ao longo da história da Torre de Vigia.
Conforme demonstrado nos capítulos 3 e 4 deste livro, a realidade é
bastante diferente. Durante as primeiras sete décadas da história da
organização, não se falava e nem se pensava em termos de um “corpo
governante”. Russell fez arranjos para que, após sua morte, comissões
cuidassem dos assuntos e compartilhassem a autoridade e a
responsabilidade. Imediata e efetivamente, Rutherford eliminou essas
comissões, esmagou qualquer oposição e durante as duas décadas
seguintes, exerceu de modo autocrático o controle total como
presidente da sociedade civil. Ao mesmo tempo em que tentou
amenizar a atmosfera existente, Knorr reteve em suas mãos esse
controle total até que uma espécie de “revolução palaciana” arrancou
da presidência da sociedade o seu poder. A partir de 1976, a autoridade
foi transferida de um único homem para um grupo de homens, e,
depois de 50 anos, as comissões passaram novamente a funcionar. Este
cenário de vai-e-vem dificilmente se ajusta ao quadro de um processo
harmonioso de “progressivos aprimoramentos” e “refinamentos
contínuos”.
Mais recentemente, a organização produziu um novo livro de sua
história, publicado em 1993, e intitulado Testemunhas de Jeová —
Proclamadores do Reino de Deus, substituindo seu similar anterior As
Testemunhas de Jeová no Propósito Divino (em inglês). Em seu
prefácio, ele comenta que embora outros tenham escrito sobre as
Testemunhas de Jeová, “nem sempre o fizeram de modo imparcial”.
Conseqüentemente, ele declara que:
“Os redatores desta obra empenharam-se em ser objetivos e em
apresentar uma história cândida”
A vasta maioria das Testemunhas de Jeová não tem qualquer acesso
aos arquivos do passado, como também nenhum conhecimento pessoal
dos eventos relacionados com o desenvolvimento da organização. O
funcionamento da estrutura central de autoridade ou dos homens que
formam essa estrutura interna de autoridade são igualmente
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 429

desconhecidos para elas. Ficam elas assim, à mercê dos redatores dessa
“história cândida” e imparcial. Poucas vezes vi uma versão mais
“saneada” e menos “objetiva” dos fatos. Sua descrição da história da
organização e de seus procedimentos pinta um quadro que em boa
medida difere da realidade.
Para citar apenas alguns exemplos dentre muitos:
Com respeito à identificação do “servo fiel e prudente” de Mateus
24:45-47, este livro finalmente admite (nas páginas 142, 143, 626) que,
“por vários anos” a revista A Sentinela expressou o conceito de que
Charles Taze Russell era aquele escolhido “servo fiel e prudente”, e de
que de 1896 em diante, o próprio Russell reconheceu “a aparente
razoabilidade” deste conceito. O livro não reconhece o fato de que
Russell não apenas considerava como “razoável” a aplicação feita a um
indivíduo (ele próprio) como o especialmente escolhido “servo fiel e
prudente”, mas que (nos números de A Sentinela que o livro alista ao
pé da página) ele efetivamente argumentou em favor disso como uma
verdadeira aplicação do texto, ao invés da posição que havia assumido
em 1881. Em vez disso, continua-se a enfatizar a declaração de Russell
em que ele aplicava o termo ao inteiro “Corpo de Cristo”.
O livro não informa seus leitores que na edição de 1 de outubro de
1909 de A Sentinela Russell descreveu como seus “opositores” aqueles
que aplicassem o termo “servo fiel e prudente” a “todos os membros da
igreja de Cristo”, em vez de a um indivíduo. Tampouco conta a seus
leitores que a edição especial de “A Sentinela” de 16 de outubro de
1916 afirmava que, embora não reivindicasse abertamente o título,
Russell “admitia isso em conversa particular”.
E embora finalmente reconhecendo que durante anos após sua
morte, a revista A Sentinela promovia o conceito de que Russell era
aquele “servo”, o livro não dá ao leitor nenhuma idéia da insistência
com que isto era feito, como quando se afirmou que todo aquele que
tivesse conhecimento do plano divino de Deus deveria admitir
verazmente que “derivou esse conhecimento de seu estudo da Bíblia
em conexão com o que o irmão Russell escreveu; que antes desse
tempo, ele nem sequer sabia que Deus tinha um plano de salvação”; ou
quando se descreveram aqueles que questionassem qualquer ensino de
Russell como tendo “rejeitado o Senhor” por terem rejeitado seu servo
especial. (Veja páginas 179 a 183 deste livro; também em sua
seqüência In Search of Christian Freedom (“Em Busca da Liberdade
Cristã”), páginas 78-84).
430 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Da mesma forma não explica o paradoxo criado pelo próprio ensino


da Torre de Vigia: por um lado, o ensino da atualidade de que em 1919
Cristo Jesus definitivamente selecionou, aprovou e identificou uma
“classe do servo fiel e sábio” e, por outro, o fato de que em 1919 os
mesmíssimos que foram escolhidos acreditavam que o “servo fiel e
prudente” eram, não uma classe, mas um só indivíduo, Charles Taze
Russell, selecionado muitas décadas antes de 1914 por um Cristo
reinante que se tornara “presente” desde 1874.
Faz-se um esforço (nas páginas 220 e 221 do novo livro de história)
para negar que o segundo presidente Joseph F. Rutherford, buscou
ganhar pleno e total controle da organização. Apresenta-se uma citação
de Karl Klein para retratá-lo como um homem essencialmente
humilde, que ‘parecia um garotinho em oração a Deus’.
Revela ainda o registro histórico que qualquer um, incluindo os
membros da Diretoria ou da Comissão Editora que expressasse
discordância dele era rapidamente eliminado de qualquer posição
organizacional que porventura ocupasse. Basta apenas conversar com
outros que estavam na sede durante a presidência dele para saber que o
quadro de humildade descrito por Karl Klein não se harmoniza com a
realidade, e que para todos os efeitos e propósitos a palavra do “Juiz”
era lei. Eu estive ativamente associado com a organização durante os
últimos cinco anos de sua presidência, e sei da forte impressão que o
homem me causava e da opinião que os outros expressavam. A maioria
das Testemunhas de hoje não teve tal experiência. Mas o Filho de Deus
disse que ‘da abundância do coração a boca fala’, e que ‘é pelas tuas
palavras que serás declarado justo ou condenado’. (Mat.12:34,37)
Creio que qualquer um que simplesmente leia as matérias encontradas
na revista “A Sentinela” dos anos 20 a 1942 pode facilmente perceber
o espírito não de humildade, mas de dogmatismo e autoritarismo que
emanavam de seus artigos. As invectivas e até a linguagem rude eram
empregadas contra qualquer um que ousasse questionar qualquer
posição, diretriz ou ensinamento que procedesse da organização da
qual ele era o chefe.
Nas mesmas páginas, faz-se um esforço para demonstrar que
Rutherford não era visto pelos membros da organização como “seu
líder”, e cita-se a sua negativa pessoal desta posição, feita em 1941
pouco antes de sua morte, como prova disso. As palavras estão lá mas
os fatos não. Ao passo que reconhecidamente os adeptos da Torre de
Vigia viam a Cristo como seu líder invisível, o fato é que eles
consideravam Rutherford como seu líder terrestre visível, contrariando
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 431

a injunção de Cristo em Mateus 23:10: “tampouco sejais chamados


‘líderes’, pois o vosso Líder é um só, o Cristo.” Rutherford não podia
deixar de ter sabido que os membros da organização o viam sob essa
luz. Considere essa matéria de O Mensageiro, o relatório de um
congresso da Torre de Vigia, de 25 de julho de 1931, descrevendo
grandes assembléias realizadas naquele ano nas principais cidades
européias.
Nas páginas seguintes deste livro, há fartos documentos e fotos
históricas da própria organização com Rutherford sendo chamado nas
legendas, de “LÍDER” e assim reconhecido pelas Testemunhas de
Jeová de sua época.
Eis aí o início do segundo mito. Aqui estão as mudanças
“progressivas” até o quadro de hoje no qual se acham homens auto-
designados como “a classe do escravo” e que se dizem orientados pelo
espírito santo de Deus.
Mais Dois Mitos
Alistaremos a seguir alguns outros mitos e crendices que sustentam as
fantasias teológicas e alegadamente “bíblicas” das Testemunhas de
Jeová.
O terceiro mito tem a ver com o valor nutritivo do alimento
espiritual provido por essa classe de homens especiais, o acima citado
“escravo fiel e discreto”.
É muito difícil para uma Testemunha de Jeová achar que esse
“alimento espiritual” possa causar indigestão aos que dele se
alimentam. E tem isso ocorrido? Para responder a essa pergunta,
teremos de estudar concomitantemente um quarto mito que fez parte
da vida de muitas Testemunhas por várias décadas: a “geração de 1914
que não passaria”. Ou seja, vamos analisar o 2º mito, a classe do
escravo fiel e discreto e o 3º mito, o alimento espiritual ímpar provido
por ele à comunidade mundial de Testemunhas de Jeová. Citaremos
um exemplo de um “nutritivo alimento” que por longos anos foi dado
às Testemunhas, a “geração de 1914 que veria o fim”. Até aqui temos
os seguintes mitos: 1) Que todos os ensinos das Testemunhas têm base
bíblica. 2) Que há uma classe de homens escolhidos como o “escravo
fiel e discreto”. 3) Que o que eles dizem é alimento espiritual infalível.
4) Um dos alimentos, a geração de 1914, que não passaria.
432 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Vejamos o que a organização ensinava sobre a geração de 1914 em


A Sentinela de 1 de janeiro de 1970, página 11 , parágrafos 2 e 3. Com
o tema “Retorne a Jeová enquanto ainda há tempo” e subtópico: “O
tempo para se retornar se está esgotando”, ela fez as seguintes
afirmativas: (Sublinhei algumas partes)
“Se é alguém que antes já estudou a Palavra de Deus com as
Testemunhas de Jeová, conhece bem a abundância de evidência bíblica
que prova que, desde o ano de 1914, todo este sistema de coisas está no
seu “tempo do fim” e encara em breve a destruição completa na guerra
universal do Armagedom. Leu as palavras de Jesus em Mateus 24,
Lucas 21 e Marcos 13, descrevendo as guerras mundiais que tem
observado, acompanhadas por fome, pestilência e grandes terremotos.
Não se lembra de que Jesus, ao profetizar sobre este período dos
últimos dias, que começou em 1914, disse também: Deveras, eu vos
digo: Esta geração de modo algum passará até que todas estas coisas
ocorram? (Luc. 21:32) Os que tinham apenas idade suficiente para
compreender o que estava acontecendo ao mundo em 1914 já estão
chegando agora aos setenta anos de idade. Sim, o número dos daquela
geração esta diminuindo rapidamente, mas antes que todos eles
desapareçam, este sistema terá de ter o seu fim na guerra do
Armagedom. Isto certamente salienta que resta agora apenas um tempo
muito curto para se retornar a Jeová.”
Há alguns anos, o ex-membro do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová, Raymond Franz, discorreu sobre esse alimento
profético, a geração de 1914, servido durante muitos anos pela
organização. Ele disse:
“Toda a referência a 1914 está agora apagada, apresentando a
evidência gráfica desta mudança crucial — bem como, de fato,
indicando que “o Criador” tinha, de algum modo, renegado sua
“promessa” relacionada com a geração de 1914.
Resta saber que efeitos trará esta mudança. Imagino que os que
sentirão estes efeitos de modo mais agudo serão os adeptos mais
idosos, com mais tempo na organização, que haviam se agarrado à
esperança de não morrerem antes do cumprimento de suas expectativas
com respeito à plena realização das promessas de Deus. Provérbios
13:12 diz que ‘a expectativa adiada faz adoecer o coração, mas a coisa
desejada, quando vem, é árvore de vida’. Quaisquer sentimentos
advindos de um coração doente (devido à expectativa adiada) que estes
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 433

venham agora a experimentar, não são de responsabilidade do Criador,


mas dos homens que neles implantaram e alimentaram as expectativas
falsas conectadas a uma data.
Os mais jovens ou mais recentemente filiados à organização
provavelmente não sentirão de modo tão forte o impacto da mudança.
Esta veio, afinal de contas, envolta num linguajar que nenhum
reconhecimento faz dos erros por parte da organização, mas que
recobre a mudança de termos como ‘entendimento progressivo’ e ‘luz
crescente’. Estes mais novos talvez não tenham conhecimento da
intensa insistência com que, durante décadas, o conceito da ‘geração de
1914’ foi propagado, de quão positivamente ele foi apresentado como
indicador seguro da “proximidade do fim”. Eles talvez não imaginem o
modo firme com que o ensino da ‘geração de 1914’ foi apresentado
como sendo, não de origem humana, mas de origem divina, não um
cronograma baseado em promessas humanas, mas baseado na
‘promessa de Deus’. Esta vinculação implícita, de quarenta anos, entre
Deus e sua Palavra e um conceito agora falido, apenas aumenta o peso
da responsabilidade. Alguém poderia recordar-se das palavras de Jeová
em Jeremias 23:21:
‘Eu não enviei os profetas, assim mesmo eles correram; não falei
com eles, assim mesmo, eles profetizaram’.
Esta mudança básica só pode ter ocorrido em resultado de uma
decisão do Corpo Governante. Como se demonstrou, o tema essencial
envolvido veio a discussão ainda nos anos 70. Não se pode senão
imaginar quais serão os pensamentos dos membros do Corpo
Governante hoje, que sensação de responsabilidade eles sentem. Cada
membro daquele Corpo sabia na ocasião, e sabe hoje, qual tem sido o
histórico da organização no campo do estabelecimento de datas e das
predições. Por meio das publicações, isto é explicado à base de “um
desejo fervoroso de ver o cumprimento das promessas de Deus em sua
própria época”, como se não se pudesse ter tal desejo fervoroso sem a
presunção de estabelecer um cronograma para Deus, ou de fazer
predições e atribuí-las a Ele, como se fossem baseadas em sua Palavra.
Eles sabem também que, apesar dos repetidos erros os líderes da
organização, continuaram a alimentar os membros dela com novas
predições. Eles sabem que a liderança tem consistentemente deixado
de assumir a plena responsabilidade pelos seus erros, de admitir que a
liderança estava simples e meridianamente errada. Eles se empenharam
em proteger a sua imagem e suas reivindicações de autoridade por
esforçar-se em fazer parecer que os erros cabiam aos membros da
434 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

religião como um todo. Em um artigo sobre ‘Predições Falsas ou


Profecia Verdadeira’, a Despertai! de 22 de junho de 1995 (página 9)
disse:
Os Estudantes da Bíblia, conhecidos desde 1931 como
Testemunhas de Jeová, esperavam também que o ano de 1925 traria o
cumprimento de maravilhosas profecias bíblicas. Eles presumiram que
naquele tempo começaria a ressurreição terrestre, que traria de volta
homens fiéis do passado, como Abraão, Davi e Daniel. Mais
recentemente, muitas testemunhas achavam que eventos relacionados
com o começo do Reinado Milenar de Cristo poderiam começar a
ocorrer em 1975. Sua expectativa baseava-se no entendimento de que o
sétimo milênio da história humana começaria então. [O sublinhado é
meu].
A revista A Sentinela 1 de novembro de 1995, ao apresentar o novo
ensino com respeito a ‘esta geração’, segue a mesma tática, ao dizer
(página 17):
O povo de Jeová, ansioso de ver o fim deste sistema iníquo, às
vezes tem especulado sobre quando irromperia a “grande tribulação”,
até mesmo relacionando isso com cálculos sobre a duração da vida
duma geração desde 1914. No entanto, ‘introduzimos um coração de
sabedoria’, não por especular sobre quantos anos ou dias constituem
uma geração, mas por refletir em como ‘contamos os nossos dias’ em
dar alegre louvor a Jeová. (Salmo 90:12) [O sublinhado é meu].
Desta forma, a liderança tira dos ombros a responsabilidade que,
com toda justiça, cabe a ela, aconselhando piedosamente a comunidade
de seus membros com respeito às suas condições espirituais, como se
tivesse sido o ponto de vista espiritual deles a causa do problema. Não
querem reconhecer que, os membros NÃO DÃO ORIGEM A NADA,
e que os membros se apegaram a esperanças quanto a várias datas
exclusivamente porque OS LÍDERES da organização os alimentaram
com matéria claramente destinada a estimular tais esperanças, que cada
data mencionada e todas as conjecturas e ‘especulações’ e ‘cálculos’
ligados a essas datas, se originaram, não da comunidade de membros,
mas dos LÍDERES. De certo modo, é como se uma mãe, cujos filhos
adoeceram de indigestão, dissessem de tais filhos, “Eles não tiveram
cuidado com o que comeram”, quando, de fato, as crianças comeram
simplesmente aquilo que a mãe lhes serviu. E não apenas lhes serviu
mas insistiu que o alimento devia ser aceito como saudável, parte de
uma dieta superior impossível de se obter em qualquer outro lugar,
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 435

tanto que qualquer demonstração de insatisfação com tal alimento seria


respondida com ameaça de punição.
Fim da citação do livro Crise de Consciência, de Raymond Franz,
página 491 — 493, em português.
O Fim de uma Esperança Vã
Tal ensinamento, ou “alimento espiritual inigualável”, foi mudado
vergonhosamente por ter se tornado insustentável!
Indubitavelmente, tal ensino tinha “alimentado” a esperança de
muitas Testemunhas de Jeová de verem o Armagedom ou a justiça de
Deus finalmente em ação enquanto ainda estavam vivas, mas, de
repente, deixou de existir.
Com a rapidez que veio, esse mito se foi, aparecendo pela última
vez no rodapé da edição da revista Despertai! de 22 de outubro de
1995. Na Despertai! de 8 de novembro de 1995, ele já tinha sido
completamente alterado. De uma revista para a outra, “a geração que
não passaria”, deixou de existir como a luz de uma lâmpada que se
apaga; não mais era a de 1914, mas qualquer uma que visse o fim.’
A afirmação categórica de rodapé da revista Despertai!, sustentada
de 1982 a 1995, era:
“Esta revista gera a confiança na promessa do criador de
estabelecer um novo mundo pacífico e seguro, antes que passe a
geração que viu os acontecimentos de 1914”. (Sublinhado é meu)
E como ficou essa afirmação surgida pela primeira vez no rodapé de
uma edição de Despertai! 1982? Ela foi alterada em novembro de 1995
para:
“Essa revista gera confiança na promessa do criador de estabelecer
um novo mundo pacífico e seguro, prestes a substituir o atual sistema
de coisa perverso e anárquico.” (Sublinhado é meu)
Como é difícil manter viva uma esperança vã! A verdade e o tempo
são os grandes inimigos dos mitos e das crendices. (Atos 1:7)
Cabe agora a pergunta: quão confiáveis são a fonte (o “escravo fiel
e discreto”) e o próprio alimento que eles servem (ensinos como esse
da “geração de 14”)?
Brilha uma Nova Luz
436 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Mas um quinto mito ainda alimenta as hodiernas Testemunhas de


Jeová. Para entendê-lo, uma pergunta precede: será que “Grande
Multidão” pertence a Cristo?
Segundo o Corpo Governante, a resposta é NÃO! E assim começa
mais um mito, o quinto em questão!
Falando da ressurreição em 1 Cor. 15:23, Paulo disse:
“Mas cada um na sua própria categoria: Cristo, as primícias, depois
os que pertencem a Cristo durante a sua presença.”
Segundo a Sociedade, quem são os que pertencem a Cristo? A
resposta está no livro Poderá Viver..., página 172, par. 20:
“Os que pertencem a Cristo são os 144.000 discípulos fiéis
escolhidos para dominarem com ele no Reino.”
Aumentando o Poder de Dominância Através do 5º Mito
O ensino da Sociedade é bem claro: APENAS OS 144 MIL pertencem
a Cristo!
Em parte alguma da Bíblia, você leitor, encontrará a afirmação de
que os que “pertencem a Cristo são os 144 mil”.
Ao invés, a Bíblia diz em João 1:12:
“No entanto, a tantos quantos o receberam, a estes deu autoridade
para se tornarem FILHOS DE DEUS, porque exerciam fé no seu
nome.”
Se o leitor escrever à Sociedade Torre de Vigia ou perguntar a um
ancião sobre isso, a resposta será que esse texto se aplica apenas aos
ungidos, os 144 mil. Esta, porém, não é uma resposta bíblica. As duas
passagens em que se mencionam os 144 mil (Rev. 7:4 e 14 1,3) não
dizem isso.
O que a Bíblia diz (João 1:12) é que tantos quantos recebem a
Cristo, tornam-se “filhos de Deus”. Como é inconcebível que os que
“pertencem a Cristo” (1 Cor. 15:23) não sejam também filhos de Deus
(João 1:12) como o próprio Jesus é, torna-se bem claro que este ensino
da Sociedade não está em harmonia com a Palavra de Deus.
A quem devemos ser leais? Ao ensino da Palavra de Deus ou à uma
religião?
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 437

Esse tem sido mais um alimento espiritual servido à mesa dos


irmãos que freqüentam os salões do Reino das Testemunhas de Jeová.
Por outro lado, essa abordagem de um grupo governante serve para
aumentar o domínio, o controle e o poder dele sobre milhões de vidas
humanas.
Muitos Outros Mitos
Mas embora haja crenças fabricadas pelo Corpo Governante das
Testemunhas, outras surgem dentre elas mesmas. À guisa de exemplo,
veja algumas delas nessa curta lista de mitos que circulam entre as
Testemunhas de Jeová nos dias atuais:
Contribuições Voluntárias
As Testemunhas pensam que a maior coleta de contribuições vem
através de “contribuições voluntárias”, conforme diz o livro
Raciocínios respondendo a pergunta da página 386:
Como é financiada a obra das Testemunhas de Jeová? Por meio de
contribuições voluntárias, como acontecia no primeiro século. (2 Cor.
8:12; 9:7).
Sim, a maior quantidade de dinheiro obtido pela Sociedade Torre de
Vigia vem através de “contribuições voluntárias”, oriundas de
publicações dela (livros, revistas, etc.). Como assim? A maior parte do
que a Sociedade coleta não vem de “contribuições voluntárias” que os
irmãos fazem sem receber algo em troca; vem da literatura que ela
distribui em troca de “donativos”.
E como funciona atualmente o “arranjo simplificado” de
distribuição de literatura e contribuições (donativos) até a data do
lançamento da matéria em Nosso Ministério do Reino de setembro de
2000, página 1, parágrafo 2? Vamos ler as palavras da própria
organização neste mensário, Nosso Ministério do Reino, com o tema
“Dá Valor às Nossas Publicações?”:
Bom número de irmãos e famílias reservam regularmente um donativo
para levar ao Salão do Reino e colocar numa caixa marcada: “Donativos para
Obra Mundial das Testemunhas de Jeová - Mateus 24:14”. Os irmãos
contribuem adicionalmente para a obra mundial quando apanham
suprimentos de publicações e revistas, e quando depositam os donativos
recebidos no ministério de campo.
438 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Entendeu, leitor? As Testemunhas podem contribuir de três formas


“básicas” (dentre outras como títulos, heranças, etc.). Revisemos as 3
formas incentivadas neste Ministério acima:
Doação um: as Testemunhas trazem “regularmente” um donativo e
o depositam numa caixa marcada para isso. Podem dar o quanto
quiserem e essas contribuições são encorajadas principalmente nas
Reuniões de Serviço.
Doação dois: As Testemunhas contribuem com uma quantia
equivalente ao que retiram em publicações, no “Balcão de Literatura”.
Daí, as Testemunhas levam essas publicações ao “campo” (ficando
com algumas para uso pessoal).
Doação três: Chegando ao campo, as Testemunhas devem solicitar
mais “donativos” aos moradores em troca das publicações. Ao
receberem esses “donativos”, devem levá-los àquela caixa de
contribuições existente no Salão do Reino e depositá-los integralmente.

Desde que começou em janeiro de 2000 aqui no Brasil (e nos EUA


já há muitos anos), este novo “arranjo simplificado de distribuição de
publicações” deve estar dando dor de cabeça aos representantes da
filial da Torre no Brasil. E essa dor de cabeça se assemelha àquela
provocada pelo “arranjo simplificado de alimentação” (algo bem
americano [“lunch”] que foi em poucos anos, boicotado pelos irmãos
de nosso país, acostumados ao almoço à base de, digamos, “feijão com
arroz”). Com o tempo, acabaram com esse arranjo tipicamente
americano.
Mas por que esse arranjo poderá ser mais “um espinho na carne” da
filial brasileira da Torre? Um indício é que, desde seu lançamento em
nosso país em janeiro de 2000, vários mensários (“Ministérios do
Reino”), têm trazido artigos e mais artigos que externam a
preocupação da Sociedade com o dinheiro dos “donativos”, conforme
veremos no próximo parágrafo. Alguns irmãos encarregados dessas
partes já chegaram a sugerir “contribuições” específicas por literaturas
que os publicadores retiram “no balcão” por citarem preços de itens
semelhantes “vendidos no mundo”: CDs, revistas “mundanas”, livros,
etc.
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 439

Evidentemente, os publicadores têm sido constantemente instados a


“fazer uma distribuição sábia das publicações” e mostrar “habilidade
de identificar o interesse genuíno” daqueles com quem eles deixarão a
publicação em troca dos tão incentivados “donativos”. (Veja
adicionalmente as edições de Nosso Ministério do Reino de março de
2000 — página 8, par. 8, de junho de 2000, página 2 — “Perguntas
Respondidas” e a edição de julho de 2000, página 3, pars. 2-6, “Semeie
generosamente mas com discernimento”), dentre muitos outros que
tratam das contribuições.
É por tal meio que se obtém a maior e mais significativa coleta de
dinheiro para a “obra”, principalmente nos países mais ricos, e não por
meio do mito de que a obra é principalmente mantida através das
outras formas de doações/contribuições espontâneas de irmãos mais
abastados.
Com esse dinheiro arrecadado de várias formas e fontes e livre de
impostos, a Sociedade tem comprado e mantido excelentes
propriedades pelo mundo afora, muitas delas em países muito ricos
como os Estados Unidos.
É válido frisar que não se investe em benefícios materiais de
Testemunhas de Jeová pobres, como creches, escolas, hospitais, etc. A
preocupação (e insistência) é apenas com o “alimento espiritual” que
pode, conforme a organização ensina, produzir frutos para um “futuro
eterno”. Sem nenhuma dúvida, pode-se afirmar que até mesmo alguns
professos “ungidos” em idade avançada do Brasil, passavam por
enorme aperto financeiro, conforme foi testemunhado em 2001 quando
vimos pessoalmente dois casos desses. Em contraste com isso, no
entanto, Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante, afirma em
seu livro Crise de Consciência, página 269, parágrafo dois, primeira
edição em português, que “os membros do Corpo Governante podem
regularmente gozar de férias em lugares com os quais a maioria das
pessoas só consegue sonhar”.
Um último detalhe: de acordo com Tom Cabeen, que
supervisionava as operações gerais da gráfica de Brooklyn por vários
anos, cada revista A Sentinela e Despertai! tinham um custo total, final
de cerca de três centavos e meio de dólar até 1980 quando ele deixou
440 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

este departamento. (Livro Em Busca da Liberdade Cristã, página 721,


em inglês)
E continua a fome cada vez maior para levantar mais e mais
“donativos”. Há até mesmo certo, digamos, desespero nos recentes
clamores da organização para que seus membros revertam mais
dinheiro e bens em benefício dela. Veja esse artigo de A Sentinela de 1
de novembro de 2001, páginas 28 e 29:
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 441
442 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A “Grandeza” da Obra e o Espírito Cristão


De acordo com o livro Em Busca da Liberdade Cristã, de Ray Franz,
ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, apenas
na área do Brooklyn Heights, EUA, por exemplo, uma das áreas com o
metro quadrado mais caro do mundo, ela tem vários prédios
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 443

residenciais e adicionalmente comprou enormes hotéis dentre os


principais da área: O Hotel Towers, Hotel Standish Arms, e o hotel
Bossert.
Comprou por seis milhões de dólares um edifício de 26 andares nas
proximidades do Brooklyn há alguns anos.
Possui um complexo gráfico de edifícios que cobrem mais de meia
dúzia de quarteirões.
Em uma área próxima (Vinegar Hill) ao Brooklyn, ela possui agora
mais um complexo residencial de 30 andares.
Apenas no condado de Ulster, New York, a Sociedade possui
propriedades avaliadas em mais de 80 milhões de dólares.
Perto de Patterson, Nova York, na época da escrita do livro citado,
ela havia comprado 684 acres de terra e um complexo multimilionário
que incluiria a Escola Bíblica de Gileade e um hotel de 150
apartamentos que seria chamado de Patterson Inn.
Apenas para não mencionar milhares de outras propriedades
pertencentes à Torre de Vigia por todo o resto do mundo: imensas
áreas de ostentosos “Lares de Betel” com suas vistosas fazendas e
gigantescos complexos gráficos, suntuosos salões de assembléias,
salões do Reino, etc.
Todas essas são obras que impressionam os que as visitam ao passo
que dão uma forte impressão de que, como em outras igrejas ainda
mais ricas e também supostamente “abençoadas por Deus”, o espírito
humilde de Cristo não está presente. (Compare com Mateus 8:20)
A Obra de Pregação e os Novos Membros
As Testemunhas de Jeová fantasiam que a maior parte dos novos
adeptos se chegam aos salões do Reino através da pregação de porta
em porta, mas a grande maioria destes vêm por meio do testemunho
informal e do contato com membros de suas famílias que são
Testemunhas, processo esse igual ao que também ocorre em outras
religiões.
444 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Bênçãos Singulares?
As Testemunhas crêem que seu crescimento é maior do que o de outras
religiões e que as “bênçãos” se abatem sobre “o pequeno que se torna
mil” em cumprimento de Isaías 60:22. Alegam também que “sem a
mão de Jeová, não seria possível tal crescimento e progresso da obra”.
Mas basta o leitor olhar para outras religiões que verá crescimentos
quer maiores em tamanho ou em riqueza. Se estudassem o
impressionante crescimento de igrejas como Assembléia de Deus,
Universal, Mórmons, etc., as Testemunhas sentiriam que várias outras
religiões do mundo também podem alegar exatamente a mesma coisa:
“bênçãos divinas” estão sendo igualmente “derramadas sobre os
umbrais de nossa adoração do verdadeiro Deus”.
Apenas como inferência para o leitor, vejamos o que ocorreu com
os percentuais de “crescimento” da “Obra do Tempo do Fim” depois
das duas grandes mudanças (novas “luzes” ou “entendimentos) em
1995. Mas antes de mostrarmos esses percentuais, recordemos
novamente as duas mudanças feitas naquele ano (1995):
Mudança Um: a geração que presenciou os acontecimentos de 1914
veria o fim deste sistema de coisas e o início de uma nova ordem de
coisas na terra — A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, página 95;
esse ensino foi anulado em A Sentinela 1/11/95, página 19, par. 12;
Mudança Dois: a obra de separação de ovelhas e cabritos estava em
andamento até aquele ano (1995) à medida que as “Boas Novas” da
Sociedade Torre de Vigia eram pregadas - Livro “Poderá Viver...”,
página 183, par. 22,23; esse ensino foi mudado em A Sentinela,
15/10/95, página 23, par. 26.
Observe, então, como oscilam os relatórios, evidenciando uma clara
diminuição dos percentuais de crescimento dos últimos seis anos de
serviço de 1995 a 2001:
1995 = 5%
1996 = 4,4%
1997 = 3,6%
1998 = 3,6%
1999 = 2%
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 445

2000 = 2,3%
2001 = 1,7%
Doutrinas Exclusivas?
São únicas as doutrinas das Testemunhas de Jeová? Esse é outro mito.
Os Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja Mundial de Deus, e outras
também acreditam na proximidade do Armagedom e no reinado
milenar de Cristo e no estabelecimento do paraíso terrestre. Essas
crenças são encontradas em diversos grupos de “Estudantes da Bíblia”
tais como “Associação da Aurora”, “Movimento da Casa Missionária
do Leigo”, etc. A religião dos Cristadelfos não acredita na Trindade,
nem no tormento eterno, nem na destruição da terra; não dão/recolhem
dízimo, não vão à guerra (os Quakers também não); afirmam basear
suas crenças unicamente na Bíblia e a consideram como sendo
inteiramente inspirada por Deus; não votam nem se unem a sindicatos
de espécie alguma; são contra o fumo, o divórcio e não se casam com
pessoas de fora; rejeitam as diversões mundanas e não tem clérigo
assalariado nem distinção entre clero e leigos. (Fonte: A Sentinela de
15 de janeiro de 1963). Semelhantes aos Cristadelfos, há outras
religiões que defendem várias doutrinas e modos de vida semelhantes
às das Testemunhas de Jeová que nutrem a ilusão de ter o único
conjunto da “Verdade de Deus”. Se por um lado a organização talvez
tenha de uma só vez, vários ensinos com os quais alguém concorde, ela
também, de uma só vez, terá vários ensinos dos quais essa mesma
pessoa poderá discordar.
Pureza Cristã Ímpar?
Povo limpo, moralmente santo - uma proteção para as Testemunhas?
Esse mito tem sido enfatizado nos discursos públicos, literaturas e
conversas informais entre as Testemunhas de Jeová. O que ocorre na
verdade é que, por causa da super proteção à imagem da organização,
os membros são incentivados a não comentar para os de fora o que
acontece de errado lá dentro, para que não se dê “mau testemunho da
verdade” e se cause “vitupério” para o “nome de Deus” (da
“organização”, é claro). Assim, quando ocorre algum caso sério, este é
logo abafado e vetado ao consumo externo. Porém, quando alguém que
saiu ou um “clérigo da cristandade” é exposto, o alarido é estrondoso e
rapidamente usado com desdém pelas Testemunhas.
446 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

A regra desse jogo é: o erro lá fora é iniqüidade; aqui dentro é


“imperfeição dos irmãos”.
Mas A Sentinela de 1 de janeiro de 1986, página 13, parágrafo 12,
nos dá um bom exemplo de que não existe essa pretensa “proteção
moral ao povo de Deus”:
“É chocante, mas o fato é que mesmo alguns que eram
proeminentes na organização de Jeová sucumbiram a práticas imorais,
incluindo o homossexualismo, a troca de casais e o abuso de crianças.
É digno de nota, também, que no ano passado 36.638 indivíduos foram
desassociados da congregação cristã, a maior parte por práticas
imorais.”
Isso mostra que, embora haja a tentativa de ser limpa por expulsar
os transgressores, isso não livra a organização das Testemunhas de
Jeová e a nenhuma outra religião dos sempre existentes casos de crassa
imoralidade sexual e outros pecados graves. E, como em várias
religiões, há expulsões, restrições, perdas de privilégios
congregacionais e outras formas de punições do tipo “excomunhão” de
sacerdotes infratores (Ex.: revista “Isto É”, edição de 16/08/00, pág.
60).
Um chavão muito conhecido na década de 70 e 80 que buscava
consolidar esse mito de “povo santo” entre as Testemunhas era: “o pior
irmão ainda é muito melhor do que o melhor mundano.”
Injustificada e perigosa presunção! Muitos que acreditaram nisso
sofreram por pensar assim. E alguns dos que foram lesados por
membros (que muitas vezes aparentavam ser “teocráticos”) terminaram
concluindo que “era melhor trabalhar com mundanos do que com
irmãos”.
Crença que Promove Obediência Prejudicial
E o que dizer da aura de santidade sobre as cabeças dos membros do
Corpo Governante em sessão para decidir novos rumos ou “novas
luzes”? As Testemunhas crêem que tais sessões contemplam as
Escrituras o tempo todo.
Esse é um mito que certamente tem servido para promover um
espírito de obediência, reverência e subserviência das Testemunhas ao
seu Corpo Governante. As Testemunhas de Jeová não têm a mínima
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 447

idéia sobre o que acontece ou como são as reuniões do Corpo


Governante em Brooklyn. Talvez achem que são reuniões nas quais os
membros do Corpo esperam o derramamento do espírito santo de Deus
e que esse os orientará completamente.
Mas como são essas reuniões? Deixemos que um membro que
participou delas por muito tempo, possa nos relatar. O que você lerá
agora se encontra nas primeiras páginas do livro Crise de Consciência.
(Para informações sobre a obtenção do mesmo, basta entrar em contato
com a editora Hagnos na cidade de São Paulo à Rua Belarmino
Cardoso de Andrade, 108, telefone — (011) 5666-1969).
“A maioria das Testemunhas de Jeová visualiza as sessões do
Corpo Governante como reuniões de homens que passam grande
quantidade de seu tempo em estudo profundo da Palavra de Deus.
Fazem uma imagem deles como se reunindo para refletir
humildemente sobre como podem ajudar seus irmãos a entender as
Escrituras, para discutir maneiras construtivas e positivas de edificá-los
na fé e no amor, qualidades que motivam as verdadeiras obras cristãs,
fazendo tudo isto em sessões nas quais se recorre sempre às Escrituras
como a única autoridade válida, final e suprema.
Como já foi observado, os membros do Corpo Governante, melhor
do que ninguém, sabiam que os artigos de “A Sentinela” descrevendo a
relação entre a corporação e o Corpo Governante apresentavam um
quadro que não se harmonizava com a realidade. Do mesmo modo,
também, os membros do Corpo Governante sabem, melhor do que
ninguém, que o quadro descrito no parágrafo precedente difere na
mesma proporção da realidade.
Examinando-se cuidadosamente os registros de uma reunião após
outra, verifica-se que o aspecto mais destacado, mais constante e que
consome mais tempo, é a discussão de questões que, em última análise,
acabavam nesta questão: ‘É caso de desassociação?’
Eu compararia o Corpo Governante (e fiz tal comparação em minha
mente por repetidas vezes) com um grupo de homens apoiados contra a
parede com muitas pessoas arremessando bolas para eles pegarem e
lançarem de volta. As bolas vêm com tamanha freqüência e em tal
quantidade que há pouco tempo para qualquer outra coisa. Na verdade,
parecia que cada regra feita e emitida produzia somente questões
formuladas a partir de novos ângulos, sobrando pouco tempo para
448 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

pensamento, estudo, discussão e ação verdadeiramente positivos e


construtivos.
Durante os anos, acompanhei muitas e muitas sessões em que se
discutiam questões que podiam afetar seriamente a vida das pessoas,
sem que, no entanto, a Bíblia viesse às mãos ou mesmo aos lábios de
praticamente nenhum dos participantes. Existiam motivos para isso;
uma combinação de motivos.
Muitos membros do Corpo Governante admitiam que se
encontravam tão ocupados com vários assuntos que havia pouco tempo
para estudo da Bíblia. Não há nenhum exagero em dizer que o membro
mediano não gastava mais tempo, e às vezes menos, em tal estudo que
muitas Testemunhas dentre os denominados “as fileiras”. Alguns dos
que faziam parte da Comissão Editora (que incluía encarregados e
diretores da corporação de Pensilvânia) eram notáveis com relação a
isto, devido à tremenda quantidade de trabalho de escrita com que se
deparavam e por achar evidentemente que não poderiam ou não
deveriam delegá-lo a qualquer outra pessoa para que tudo fosse
revisado e apresentado incluindo-se aqui as conclusões ou
recomendações.
Nas poucas ocasiões em que se programava alguma discussão
puramente bíblica era geralmente para discutir um artigo ou artigos
para A Sentinela que alguém tinha preparado e sobre o qual havia
alguma objeção. Nestes casos, regularmente acontecia que, apesar de
avisado com uma ou duas semanas de antecedência sobre o assunto,
Milton Henschel, Grant Suiter ou algum outro membro desta comissão
se sentia obrigado a dizer: ‘Tenho estado tão ocupado que só tive
tempo para examiná-lo rapidamente.’ Não havia nenhuma razão para
se duvidar de que estivessem verdadeiramente ocupados. Essa era a
questão que me vinha à mente: Como podiam eles votar então com boa
consciência sobre a aprovação da matéria, quando não tinham
conseguido meditar sobre ela, pesquisar as Escrituras para pô-la
completamente à prova? Uma vez publicada, era vista como ‘a
verdade’ por milhões de pessoas. Que trabalho de escrita poderia
equiparar-se a isto em importância?
Um fator importante nas decisões do Corpo Governante era a regra
da maioria de dois terços. Isto às vezes produzia alguns resultados
curiosos.
Se, dos quatorze membros presentes, nove favorecessem a retirada
do rótulo de “transgressão passível de desassociação” e só cinco
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 449

favorecessem sua manutenção, a maioria não era suficiente para mudar


o rótulo indicativo de desassociação. Apesar da clara maioria, os nove
não formavam uma maioria de DOIS TERÇOS. (Mesmo se houvesse
dez deles a favor desta mudança, ainda não eram suficientes, pois,
apesar de serem dois terços da maioria dos catorze presentes, a regra
era dois terços do TOTAL DOS MEMBROS ATIVOS, que durante a
maior parte do tempo era dezessete ou dezoito.) Se alguém dentre os
nove favoráveis à remoção da categoria passível de desassociação
apresentasse uma moção, iria fracassar, já que eram necessários doze
votos para que ela passasse. Se alguém dentre os cinco favoráveis à
manutenção da categoria de ofensa ‘passível de desassociação’
apresentasse a moção de que a norma fosse mantida, fracassaria
naturalmente também. Mas mesmo o fracasso da moção para se reter a
categoria não resultaria na remoção dessa categoria passível de
desassociação. Por que não? Porque a norma era que alguma moção
tinha de ser aprovada antes de fazer-se qualquer mudança em uma
norma anterior. Em um dos primeiros deste exemplos de tal voto
dividido, Milton Henschel havia expressado o ponto de vista de que,
quando não houvesse nenhuma maioria de dois terços, então o ‘status
quo deveria prevalecer’, nada deveria mudar. Era muito raro, nestes
casos, um membro fazer uma mudança no seu voto, de modo que a
coisa acabava geralmente num impasse.”

Um dos motivos da aura de “santidade e do constante uso da


Palavra de Deus” ser apenas um mito é muito simples: o Corpo
Governante tinha de decidir várias coisas sem o uso da Bíblia porque
há questões sobre as quais as Escrituras nada dizem! Também, como
eles mesmos reconhecem, estão muito atarefados com outras coisas e
não têm tempo para a devida pesquisa nas Escrituras.
Infelizmente, esta situação gerou muita aflição mundo afora. Houve
muitos casos em que a maioria do Corpo Governante era contra a
adoção de uma determinada norma, como são citados diversos casos
no livro Crise de Consciência e ainda assim a norma foi aprovada
porque não houve a maioria de dois terços, ou seja, mesmo quando a
maioria era contra a norma (Ex.: Três tirado de cinco é apenas 60%,
não 66,66% como numa maioria de dois terços), a regra continuava a
existir.
Perigo Real Desse Último Mito
450 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Há um exemplo do perigo real que representa este “arranjo teocrático”


existente no Corpo Governante: O SERVIÇO CIVIL ALTERNATIVO
que conduziu muitos jovens a prisões, torturas e maus-tratos nas
décadas passadas.
Sobre esse caso, há pouco tempo a Sociedade afirmou, falando
pelos jovens que sofreram por se negarem a prestar o serviço civil
alternativo, que eles apenas “agiram de acordo com o que entenderam”
ou “de acordo com os ditames de suas consciências” e “não foi injusto
da parte de Jeová” ter permitido o sofrimento, pois a maioria destes
homens “alegram-se por ter tido a oportunidade de demonstrar em
público e de forma clara que estavam decididos a se manter firmes na
questão da soberania universal”. (A Sentinela 15 de agosto de 1998,
pág. 17, pars. 6 e 7)
Para informação do leitor, o serviço civil alternativo foi proibido
pela primeira vez no livro Seja Deus Verdadeiro, edição de 1949, pág.
228, depois em Seja Deus Verdadeiro, edição de 1955, pág. 231,
Despertai! de 8 de maio de 1975, pág. 22 e A Sentinela de 1 de
setembro de 1986, pág. 20. Foi liberado às Testemunhas como “caso
de consciência” em A Sentinela 1 de maio de 1996, págs. 19 e 20).
Retomando o ponto, reflita se foi Jeová que “permitiu” toda a
aflição a que foram submetidos tantos jovens.
Participe agora de uma curta parte de uma das sessões do CG em
que se trouxe o assunto à baila. Com o leitor, as palavras de Raymond
Franz, ex-membro deste conselho executivo central, O Corpo
Governante:
“Na reunião de 11 de outubro de 1978, dos treze membros
presentes, nove votaram a favor de mudar-se a norma tradicional de
modo que a decisão de aceitar ou rejeitar o serviço civil alternativo
seria deixado a cargo da consciência do indivíduo, mas quatro votaram
contra. Resultado? Visto que havia então dezesseis membros no Corpo
e nove não representavam dois terços de dezesseis, não se fez nenhuma
mudança.
Em 15 de novembro, todos os dezesseis membros estavam
presentes e onze votaram a favor da mudança da norma, de modo que a
Testemunha que se sentisse conscienciosamente em condições de
aceitar tal serviço, não seria automaticamente classificada como infiel
Mitos e Crendices Entre as Testemunhas de Jeová 451

a Deus e dissociada da Congregação. Isto representava uma maioria de


dois terços. Realizou-se a mudança?
Não, pois depois de um breve intervalo, um dos membros do Corpo
Governante anunciou que tinha mudado de idéia. Isso acabou com a
maioria de dois terços. Feita uma votação subseqüente, com quinze
membros presentes, houve nove a favor da mudança, cinco contra e
uma abstenção.
Apesar de em todas estas votações, uma clara maioria do Corpo
Governante favorecer a revogação da norma existente, essa norma
continuou em vigor e, em conseqüência disso, ainda se esperava que
varões Testemunhas corressem o risco de ser presos em vez de aceitar
serviço alternativo apesar de achá-lo conscienciosamente apropriado
aos olhos de Deus. Embora pareça incrível, esta foi a posição adotada,
e a maioria dos membros do Corpo pareceu aceitá-la, tudo como se não
houvesse nada com que se perturbar. Estavam, afinal de contas,
simplesmente seguindo as regras em vigor.
Em todos estes casos controvertidos, a ‘transgressão passível de
desassociação’ não era algo claramente identificado nas Escrituras
como pecaminoso. Era assim puramente em resultado da norma
organizacional. Uma vez publicada, essa norma se transformava numa
carga lançada sobre a associação mundial dos irmãos para que eles a
carregassem, junto com as conseqüências da norma. Em tais
circunstâncias, é errado achar que se aplicam as palavras de Jesus:
‘Atam cargas pesadas e as põem sobre os ombros dos homens, mas
eles mesmos não estão dispostos a levantar um dedo para movê-las?’
Deixo que o leitor tire sua conclusão. Apenas sei o que me ditava
minha consciência e a posição que me sentia forçado a tomar.
Como pode notar o leitor, o perigoso mito de que “os homens do
Corpo Governante estão sob a orientação do espírito de Deus”, fez (e
ainda faz) com que até mesmo vidas humanas e interesses alheios
sejam “sacrificáveis” como em outra questão que na época o Corpo
veio à tona: as frações de sangue, também tratada na primeira parte
desse livro.
Conclusão
Em conclusão, é bom lembrar que muitas outras lendas e crendices
permeiam diversos ambientes religiosos dogmáticos. As religiões por
si só tendem a criar atmosferas vulneráveis e receptivas a mitos.
452 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Portanto, as Testemunhas de Jeová não são as únicas a sentirem essa


compulsão por eles.
Nos anos em que dirigia o “Estudo de Livro de Congregação”, eu
mesmo sentia orgulho em dizer sobre o livro “Clímax de Revelação”:
“nossa organização é a única que compreende as revelações sagradas
de Deus para os nossos dias.” Entendo porque me sentia assim e
porque muitos se sentem do mesmo modo entre as Testemunhas de
Jeová. Só hoje compreendo os motivos de eu próprio ter crido nas
centenas de malabarismos interpretativos e na ginástica mental que a
organização fazia (e faz) com a Bíblia, aplicando a si o conteúdo de
muitas passagens e profecias bíblicas, descrevendo essas “aplicações”
em seus livros como esse, Revelação — Seu Grandioso Clímax Está
Próximo. Alguns anciãos são surpreendidos com a pergunta que não
quer calar em suas mentes: “mas como é que a trombeta “X” ou “Y”
foi tocar justamente num congresso insignificante em Cedar Point,
Ohio, EUA, e não num outro evento mundial realmente
significativo...?!” Muitas Testemunhas fazem perguntas desse tipo ao
se empenharem no estudo de publicações da organização, enquanto
outra pergunta mais inquietante martela: “tem sido todo meu trabalho
em vão?”
Muitas Testemunhas sinceras fazem intimamente tais perguntas
talvez devido ao desânimo do tempo que já investiram na obra da
organização, ou por causa da corrosão nas expectativas geradas por
ela, ou quiçá, devido à presunção de seus líderes e o tratamento de seus
pastores, ao passo que observam mudanças fatais nos ensinamentos de
sua organização.
Por conseguinte, a todas as Testemunhas de Jeová que estão lendo
essas páginas, principalmente os que ocupam cargos na congregação,
deixo uma reflexão nas palavras sugestivas de um amigo:
“... A declaração bíblica sobre um dia que na certa virá, em que
cada ancião cristão ‘prestará contas’ ao Supremo Juiz dos seus
procedimentos e tratamento com o rebanho de Deus, deveria
certamente dar àqueles que exercem grande autoridade entre os
cristãos, um sério motivo para avaliarem cuidadosamente o que fazem
(Hebreus 13:17)”.
Capítulo 11

Há Vida Fora da Organização?


“Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão
sendo maltratados, como se vocês mesmos estivessem sofrendo no corpo”. (Hebreus
13:3, Nova Versão Internacional)

No filme “Um Sonho de Liberdade” (título original em inglês: “The


Shawshank Redemption”), um prisioneiro que recebe livramento após
prolongado período de encarceramento, termina por enforcar-se
quando descobre que não mais consegue se reintegrar à sociedade e
viver normalmente fora do presídio. Antes do suicídio, porém, ele
havia conseguido um emprego e tentara refazer sua vida, mesmo
depois de tê-la gasto quase toda numa prisão e se encontrar em idade
avançada. Contudo, de acordo com a definição de um dos personagens
do próprio filme, “ele havia se institucionalizado” e por causa disso,
não resistira à vida fora das paredes daquele que fôra seu único lar por
tanto tempo. Seus referenciais e sua identidade haviam ficado naquele
lugar. Sair de lá o deixara à deriva e completamente perdido...
Isso aconteceu em um filme, mas a arte imita a vida de muitas
maneiras.

453
454 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Alcatraz, uma prisão de segurança máxima. Fugir daqui significou morte


certa para muitos prisioneiros.

Torre de Vigia em Brooklyn, Nova York. Sair da organização da


Torre de Vigia — o que significa para as Testemunhas de Jeová?
As Testemunhas de Jeová declaram que “sair da organização
significa imediata morte espiritual e futura morte física, pois não há
vida fora da organização”. Ora, se isso fosse verdade, então fazer parte
dessa organização não seria apenas uma opção religiosa, mas uma
prisão perpétua de “segurança máxima” da qual sair também
significaria destruição garantida!
Há Vida Fora da Organização? 455

Porém, quão verdadeiro é crer nisso? Qual a base bíblica para tal
alegação? Existe vida fora da organização das Testemunhas de Jeová?
Podem as Testemunhas de Jeová sair de sua organização e continuar
vivendo bem no presente, mantendo a perspectiva de uma vida futura
melhor?
A leitura a seguir poderá ser de proveito para muitas pessoas
envolvidas com a organização Torre de Vigia das Testemunhas de
Jeová.
Perspectivas
Quando uma pessoa devota muito tempo de sua existência — às vezes
seus mais preciosos anos — e renuncia a todos os outros alvos na vida
e toda a sua perspectiva futura em prol de um único objetivo, pode
estar se expondo ao risco de um colapso fatal caso o objeto de sua luta
e devoção perca repentinamente o valor.
Mundo afora, amontoam-se cenas de infelicidade geradas por
repentinas mudanças de perspectivas ou a perda do objetivo na vida. É
amplamente sabido que coisas assim ocorrem com:
• alguém que sofreu uma grande desilusão amorosa ou rompeu um
relacionamento antigo no qual havia apostado toda a sua felicidade;
• pessoas imersas em dívidas oriundas de um estilo de vida ou, quem
sabe, de um empreendimento no qual investiram demais;
• pessoas mergulhadas em crises existenciais profundas causadas por
orientações espirituais que eram tudo para elas, mas que, com o passar
do tempo, provaram-se vazias ou fúteis;
• pessoas que por longos anos deram dedicação integral a uma empresa,
fizeram disso sua razão de viver e mais tarde perderam seus empregos
de uma hora para outra, ou viram o valor de todo o seu empenho e
trabalho sem nenhuma importância, reconhecimento ou utilidade;
Resumindo, a infelicidade pode bater à porta de qualquer pessoa
que apostou demasiadamente em alguma coisa de natureza efêmera,
transitória e passageira. Pode sobrevir a alguém que sofreu
bruscamente excruciante desengano, insuportável desapontamento ou
humilhante derrota. Obviamente, a lista acima poderia ser infindável se
outras fatalidades terríveis, como por exemplo, a perda de um ente
querido, fossem incluídas nesse tema. Contudo, essas não estarão
456 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

relacionadas com a questão tratada nesse capítulo. Consideraremos


apenas aqueles casos lamentáveis que podem ser produtos de
perspectivas irrealísticas, paradigmas limitadores da vida ou crenças
equivocadas e muito enraizadas que levam a pungentes
desapontamentos. Trataremos aqui dos conflitos que são simples
resultados de esperanças vãs nutridas por anos a fio e que se
consolidaram porque a pessoa envolvida nunca quis fazer mudanças ou
ajustes significativos em sua vida. E talvez muitos não os tenham feito
por temer o confronto com uma realidade mais dura.
Mas NÃO viver de ilusões, encarar a realidade e fazer mudanças
são processos naturais e inerentes à jornada da vida. É normal que nem
sempre estejamos realmente preparados para mudar o destino de
nossas vidas. Por essa razão, às vezes nos tornamos presas fáceis das
armadilhas sutis de esquemas bem elaborados. Esses esquemas surgem
quer do mundo externo que nos cerca, quer do mundo que criamos
para nós mesmos, nossas prisões íntimas de segurança máxima.
Em se tratando das Testemunhas de Jeová, muitas delas acham mais
confortável continuar presas às orientações e ensinos de seu Corpo
Governante em Brooklyn, Nova York, sem nunca questionar o que
aqueles homens lhes determinam como “ensino divino”. Para elas,
nada deve ser alterado em relação ao estilo uniforme de pensar e agir
em suas fileiras. Querem manter uma “marcha alinhada”. Esse é um
comportamento normativo entre as Testemunhas, mas há exceções e
essas exceções crescem vertiginosamente. No entanto, ainda é a
maioria delas que realmente não se importa em analisar mais
profundamente O QUE as leva a se amordaçarem e se conformarem
com o rígido padrão estabelecido por esse “Corpo Governante” que, de
fato, as tem governado. O que comumente contribui para essa postura
passiva é a forte convicção delas de que não há vida fora do “cárcere
mental” em que se auto-confinaram ou foram paulatinamente
confinadas.
Um incontável número de pessoas se apega demasiada e
obstinadamente a um único objetivo na vida. Embora a Bíblia nos
mostre em Mateus 6:33 que nosso alvo principal deve ser servir a
Deus, ela NÃO declara, em parte alguma de seu relato, que isso tenha
qualquer relação com uma prestação de contas a uma organização
humana — quantas horas trabalhamos para ela, quanta literatura dela
Há Vida Fora da Organização? 457

foi ‘colocada’ ou ‘doada’ a moradores, quantos estudos “bíblicos”


(segundo o entendimento da organização) dirigimos, etc. A Bíblia
chega até mesmo a incentivar que estabeleçamos alvos secundários e
façamos “investimentos” variados na vida. (Examine o texto de
Eclesiastes 11:2 em outras versões da Bíblia)
Mas às vezes há o medo de se “mexer no que está quieto”. Isso
talvez se deva à fobia de mudanças. Conheci Testemunhas de Jeová
que quase sempre pintavam um quadro de perspectivas sombrias
quando se viam forçadas a mudar seus planos e isso requeria certa
“diminuição do passo” em seu serviço “teocrático” (à organização). Ao
menor indício de que precisavam fazer certas mudanças no sentido de
buscarem novos alvos ou “investimentos materialistas”, seus medos
ativavam redomas ou escudos psicológicos “protetores”. E por que isso
acontece? Por causa do intenso treinamento e da programação
direcionada a um “serviço cabal” e fiel à organização. Esse processo
empurra algumas Testemunhas num mergulho rumo a crises,
inseguranças e medos. E por que isso ocorre? Porque para muitas
Testemunhas de Jeová, seu “serviço a Deus” só pode ser alterado se
isso estiver vinculado a maiores sacrifícios e maior engajamento às
atividades programadas pela organização Torre de Vigia e seu Corpo
Governante. Quando certas mudanças impõem uma “diminuição do
passo” que a organização exige, ou seja, quando há menor
envolvimento com ela e maior engajamento em atividades seculares
(“mundanas”), tal coisa pesa toneladas na mente de uma Testemunha
de Jeová. Tais mudanças são vistas como prováveis “ardis do diabo”,
“armadilhas do sistema iníquo de coisas” ou fruto das “tendências
pecaminosas herdadas” (ou imperfeição humana). É nesse campo fértil
que são germinadas as sementes de culpas infundadas que fazem o
membro se sentir “fraco na fé”, longe do “alvo teocrático” que ele
deveria ter atingido. A sensação de fracasso é algo poderoso e pode se
provar muito perigoso!
As Testemunhas de Jeová são orientadas e treinadas a considerar as
mudanças que diminuem seu serviço à organização, não como aliadas
para algum progresso e desenvolvimento profissional, pessoal ou
familiar mas sempre como inimigas potenciais da fé e de seu amor a
Deus. Isso as induz a maior confinamento e apego à organização
religiosa soberana de suas vidas. E é bem aqui, nesse território
458 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

delicado, que servir a Deus e a Cristo (algo bíblico - 2 Tim. 4:3,4)


passa a ser sinônimo de serviço à organização (algo puramente
humano - Mateus 15:9).
Outrossim, a idéia de que não há vida fora da organização pode
comprometer a felicidade de alguém quanto a se irá tomar suas
próprias decisões ou seguir os ditames da organização-mãe. A família
e os amigos forçam muitas Testemunhas de Jeová a continuar onde
estão, calados e subservientes à suposta “organização de Jeová”. Nessa
arena pessoal e familiar, as mudanças geralmente são consideradas
como riscos desnecessários ou coisas negativas; alguns vão mais longe
e as acham caminhos lúgubres, arriscados demais. Mesmo diante do
sofrimento e da sujeição obrigatória, a opção é sempre deixar tudo
como está. Chamo isso de “pedagogia do flagelo auto-imposto”, uma
espécie de penitência voluntária.
Muitas dessas pessoas se sentem impotentes por raciocinar que,
caso falhem quando saírem da organização, serão arremessadas num
atemorizante mar de “constatações” pessimistas e não discernirão
possíveis saídas, além de ficarem isoladas do convívio “cristão” a que
estavam acostumadas. Esse sentimento de impotência se agiganta e se
potencializa no caso de pessoas ainda mais gregárias e que se tornaram
total e emocionalmente dependentes (viciadas) em círculos de
“amizades especiais” em associações religiosas fechadas e
aparentemente mais “seguras”. Essa é, provavelmente, uma das armas
mais eficientes e poderosas para intimidar concristãos, e a que mais
freqüentemente utilizam organizações religiosas como a das
Testemunhas de Jeová a fim de manterem as ovelhas no aprisco,
obedientemente, sem questionar.
O sentimento de comprometimento total com a organização e seus
membros, a firme lealdade a ela e a programação mental que assegura
que “não haverá vida fora dela”, podem provocar ainda outros
padecimentos maiores.
Embora seja verdade que até mesmo servos fiéis de Deus no
passado tenham encarado dores emocionais, provações físicas e vários
tipos de sofrimentos (Heb. 11:32-38), também é verdade que eles
mantinham uma ligação direta com o criador e nunca se renderam ao
álibi de alguma organização humana que ostentasse o conceito abstrato
Há Vida Fora da Organização? 459

de ser o único “canal de comunicação de Deus”. Nisso reside toda a


diferença: NUNCA tais servos do passado se viram diante de uma
organização humana que lhes ditasse O QUE fazer ou COMO servir a
Deus! Enfrentaram provas advindas do curso natural de suas vidas
como homens e mulheres que serviam direta e individualmente a Deus,
sem intervenção de nenhuma “organização” humana, como a da Torre
de Vigia.
Alguns como Jó e Jonas sentiram-se desesperados e
desesperançosos quando suas perspectivas foram frustradas ou quando
houve grandes mudanças em suas vidas - Veja Jonas 4:1-3 e Jó 17:11-
16. Muitas religiões se aproveitam de exemplos assim apenas para
chantagear e intimidar as almas daqueles que sofrem debaixo de seus
grilhões. Todas as expectativas de seus membros passam pelo filtro de
suas exigências, pressões, cargas e alvos que elas põem rígida e
inflexivelmente sobre seus ombros. (Mateus 23:3-4)
Não obstante, é apenas natural que uma boa parte das expectativas
construídas ao longo da vida possam sofrer alterações de rota. Não nos
escape o fato de que várias delas podem acontecer tão de repente
quanto um grande terremoto, exigindo enormes ajustes ao passo que
outras nos atingirão apenas como ligeiros abalos ou “acomodações de
solo” que demandarão tão-somente breves adaptações.
A verdade é que, quando o assunto se relaciona a crenças religiosas,
uma experiência amarga do passado pode ensinar uma pessoa a ter
maior equilíbrio, serenidade, prudência e maturidade para fazer as
próximas escolhas e acomodar melhor sua vida. Infelizmente, para
algumas pessoas, suas expectativas e escolhas estão sempre fortemente
vinculadas ao senso de obediência cega e adesão às regras do
“conjunto de verdades divinas” pregadas por sua organização religiosa.
Conseqüentemente, quanto maior for o investimento e mais árduo o
esforço desprendido, tanto maior e mais devastador pode ser o impacto
de um grande desapontamento.
No caso das Testemunhas de Jeová, muitas optam por não fazer
mudanças significativas evitando assim a ruptura total com a
organização. Algumas preferem (ou têm de) ficar “em cima do muro”.
Esse é o caso das Testemunhas que escolheram a dicotomia de não se
dissociar nem ser desassociadas; continuam “legalmente” ou
460 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“burocraticamente” com o nome de “Testemunhas” mas não mais o


são “de coração”. Algumas delas caem na “inatividade”. Desse modo,
criam a classe de “Testemunhas de Jeová não-praticantes”.
Obviamente, várias dessas pessoas até mesmo mudam de endereço e
passam a viver em eterno terror psicológico porque não desejam ser
descobertas pelos dirigentes locais que seriam rápidos em investigar e
vagarosos em ajudar.
L.H., uma assídua leitora da página Testemunha
(http://www.testemunha.com.br), escreveu há algum tempo:
“...Até um ano atrás todos os objetivos de minha vida tinham
apenas um foco: meu serviço de corpo e alma à organização que
achava ser de Deus. Mudar essa conclusão em minha vida era o mesmo
que morrer ‘espiritualmente’. Mas por ‘espiritualmente’ eu queria dizer
algo muito mais que ‘espiritual’; era um sentimento de infinita
dependência a um compromisso mental com o serviço que aprendi a
fazer como sendo somente para Deus. Pensar que O estava servindo - e
somente a Ele — me deixou presa a esse único objetivo por quase toda
a minha vida. Ao menor sinal de mudanças nessa maneira de pensar, ia
logo ao desespero total e chegava a ter pesadelos pois achava que
poderia estar me tornando uma mulher iníqua. Era bem aí nesse
terreno, que jorravam mil sentimentos de culpa por estar ‘diminuindo o
passo’. Para mim, foi um grande alívio saber que posso estar lá na
congregação, ‘meio livre, meio presa’, no meu cantinho lá no salão...
...É tão bom agora sem todos aqueles medos absurdos de reduzir
minhas horas de campo ou recusar um privilégio congregacional sem
achar que estou desagradando a Deus. Continuo ‘refém das escolhas’
daquela jovem (nome) cabeça-dura, imatura, insegura, medrosa,
tímida... feitas ‘na flor da idade’, mas você entende minhas razões, não
é?! Minha família, filhos, marido...! Morro de medo que eles venham a
descobrir o que leio sobre a organização na Internet. Suportaria (sem
problemas) o desprezo da organização mas não saberia o que fazer sem
o amor e amizade dos meus filhos e marido. Certa vez...”
Uma Testemunha de Jeová de iniciais E.S., escreveu recentemente:
“...Sinceramente até agora não sei o que pensar de tantas coisas que
acreditava ou acredito. Para que saiba melhor quem está lhe
escrevendo vou contar um pouco como conheci a religião TJ; Aos 15
anos de idade... aceitei um estudo bíblico, a partir daí foi muito rápido,
comecei a assistir às reuniões até ficar freqüente. Fazia parte da escola
Há Vida Fora da Organização? 461

do ministério teocrático, saí no serviço de campo..., para que pudesse


me batizar. Mas de repente, comecei a sentir outras vontades: sair com
amigos que não eram da religião em lugares proibidos como
danceterias, bares, etc., e isto desde o início não me fez bem, por
parecer que estava servindo a dois amos. Então tive crises de
consciência e decidi que iria me afastar da religião até saber o que
realmente faria da vida. Depois de certo tempo, tentei mais uma vez
freqüentar o salão do reino, mas não consegui me adaptar novamente;
o tempo das reuniões parecia muito longo, a quantidade de reuniões
parecia demais, a obrigação no serviço de campo por pressão de minha
avó; Não suportei! Aos 18 anos me desliguei totalmente da religião,
gerando certa revolta de minha avó que sempre me intimidou com
argumentos do tipo ‘o fim está próximo...’. Porém não voltei atrás,
comecei a viver sempre acreditando em Jeová, orando, conversando,
falando da minha crença a outras pessoas... Em 14 de nisã, quando era
possível, assistia à reunião e assim foi até minha mudança de (lugar)
para (lugar), o que não mudou minha maneira de pensar sobre Deus, e
assim que cheguei procurei um salão do reino para assistir a algumas
reuniões. O fato é que até hoje me sinto atormentado com todas as
coisas que me foram ensinadas com relação ao fim do mundo,
Armagedom, ao ponto de qualquer mudança no céu, raios, nuvens
carregadas, até mesmo um barulho demasiado, me gerarem pesadelos
ou até mesmo não me deixarem dormir. Ao longo do tempo estou
tentando controlar isso dentro de mim, mas às vezes confesso que não
consigo. Há perguntas que estão martelando na minha cabeça e
gostaria de ter uma resposta, de saber o que fazer para agradar a Deus,
que rumo tomar...
Para muitas Testemunhas de Jeová como essa, e crentes de outras
denominações religiosas, abandonar sua religião é o mesmo que perder
definitivamente a “ligação com Deus”. Isso gera conflitos, medos e
ansiedades infundadas e desnecessárias que são produto do conceito de
que alguém precisa servir nessa ou naquela “igreja” para evitar ser
destruído no Armagedom.
Para uma Testemunha de Jeová fiel às orientações de seu Corpo
Governante em Brooklyn, Jeová Deus está completamente associado
“à sua organização visível na terra”. Não existe meio de tirar da mente
da maioria das Testemunhas de Jeová, que abandonar a organização
NÃO significa o mesmo que virar as costas para Deus. A relação
“Deus-organização” é uma das crenças mais bem trabalhadas pela
própria religião para se impor, e é sempre bem internalizada na vida de
462 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

cada Testemunha. Veja como o livro Poderá Viver no Paraíso na


Terra, página 255, par. 14, enfatiza esse aspecto (o sublinhado é meu):
“Não conclua que existem várias estradas, ou caminhos, que poderá
utilizar para ganhar a vida no novo sistema de Deus. Existe apenas
uma. Foi apenas aquela única arca que sobreviveu ao Dilúvio e não um
sem-número de embarcações. E haverá apenas uma organização — a
organização visível de Deus — que sobreviverá à grande tribulação
que rapidamente se aproxima. Simplesmente não é verdade que todas
as religiões conduzem ao mesmo fim. (Mateus 7:21-23; 24:21) Você
precisa pertencer à organização de Jeová e fazer a vontade de Deus, a
fim de receber Sua bênção de vida eterna. — Salmo 133:1-3”
Assim sendo, essa doutrinação determina aos membros que “não
haverá vida fora da organização” caso cogitem sair. Decerto, essa e
outras formas de intimidação cooperam para que essa “bandeira”
permaneça triunfantemente hasteada nos Salões do Reino. Quais são
algumas outras formas de intimidação?
Uma Vida Incerta?
Muitas razões levam uma Testemunha de Jeová a considerar a saída de
sua organização como algo abominável, nem sequer cogitável. Muitos
medos povoam sua mente: uma comissão judicativa, a perda de amigos
e de laços afetivos com parentes Testemunhas, isolamento (ser
“ilhado”), perda da fé em Deus e na Bíblia, dentre outros. As táticas
intimidatórias amplamente promovidas pela organização assumem
proporções gigantescas no emocional de uma Testemunha de Jeová
que, por sua vez, sente-se impotente diante da ciranda de terrorismo
psicológico que serpenteia ameaçadoramente ao seu redor. Desse
modo, qualquer “sonho de liberdade” é descartado e afugentado para
bem longe. Contudo, quando esse “sonho” persiste de forma reprimida
mas ao mesmo tempo intensa, ele se transubstancia em neuroses,
desajustes, inseguranças, rebeldia e frustrações. A vítima Testemunha
pode passar a vida toda desesperadamente confusa sem entender
porque o “povo de Jeová” se diz tão feliz enquanto ela simplesmente
não consegue sê-lo. O recurso que lhe resta é simplesmente assumir
que a culpa é toda dela, que ELA é que tem “problemas”, ELA é que é
uma pessoa “complicada” e ELA é que não se encaixa direito nem é
uma boa serva de Deus.
Há Vida Fora da Organização? 463

Conheci uma pessoa que, de tanto somatizar culpas por “não


satisfazer plenamente os requisitos”, enfrentou gravíssimos problemas
de saúde física e mental. Ora, sair da organização nesse estado
lastimável pode ser perigoso e até fatal. Para que uma Testemunha
ultrapasse incertezas futuras, é preciso que ela, antes de tudo, trabalhe
sua auto-estima e mantenha perspectivas realistas quanto ao seu futuro.
Esse capítulo oferece ao leitor TJ a possibilidade de ver fatos reais
da vida de várias pessoas que saíram (e de algumas que vivem em
conflito dentro da organização). Como meu arquivo desses relatos é
muito extenso, tentei colocar aqui apenas os casos mais pertinentes a
essa matéria. Mas devo dizer que, na maior parte das correspondências
analisadas, encontrei infinitas semelhanças não só em relação aos
traumas mas principalmente quanto ao modo autoritário e ditatorial da
Sociedade para reprimir e punir os membros em processo de saída ou
que se encontram em rota de colisão com ela.
O padrão recorrente nesses relatos é que tudo na organização Torre
de Vigia foi elaborado para dar a impressão enganosa e aparente de
que Deus abandonará a pessoa e que ela levará uma vida incerta depois
da saída. De fato, a Sociedade preparou bem esse ardil e uma cilada
para os que saem. Conforme vimos nos parágrafos anteriores, eles
estarão sujeitos ao isolamento e rejeição social, à ameaça de imaginária
destruição eterna, humilhações de boatos difamantes, etc. De fato, essa
expectativa é uma das armadilhas do persistente método de indução ao
qual a mente de uma Testemunha está refém. Receios provocam a
sensação de que “faltará chão” ou que um infinito e iminente vazio
surpreenderá o membro que abandonar a organização. Isso se dá
porque a Testemunha foi também ensinada que “segurança e proteção”
só são possíveis dentro dos muros de seu cárcere mental, a
organização. Esse conceito abstrato de “organização de Deus” é uma
das estratégias mais eficientes a favor da manutenção de membros.
Esse será nosso próximo subtópico mas antes, para ilustrar essa
situação, as fotos reais que se seguem (a da esquerda é da revista Isto
É, de 27/02/01, página 21, edição 1639) mostrará o que pode ocorrer
com alguém “institucionalizado” dessa forma:
464 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Eduardo Tagua sentou-se diante do presídio Sevilla-2, Espanha. Só


sai de lá preso. Ele passou 18 anos nessa cadeia, ganhou a
liberdade, mas diz que o presídio é o seu verdadeiro lar.

Padrão de Manutenção de Membros


Acabaram-se os “áureos” anos da urgência dos tempos, quando aquela
“geração de 1914 não passaria” e certamente nós veríamos o fim, sem
envelhecer. Esse hipnotizante brilho foi bruscamente cortado por meio
de um artigo de A Sentinela em 1 de novembro de 1995, páginas 17-
20. O “fim deste iníquo sistema de coisas” poderia então acontecer,
quem sabe, daqui a muitos anos. E agora? Qual seria a barganha para
atrair novos membros e MANTER as Testemunhas de Jeová?
Tapinhas nas costas, sorrisos amistosos, elogios constantes,
bajulações, “privilégios” e poder alcançados na organização, sensação
de ser querido, especial, e fazer parte de uma irmandade mundial
juntamente com o enorme aparato de uma gigantesca organização com
seus grandes congressos e assembléias, repetição condicionada e
imposta de crenças em cinco reuniões semanais, sim, tudo isso pode
levar uma pessoa a desenvolver total fidelidade à organização.
Uma Testemunha de Jeová aqui do Brasil com iniciais P.O.,
declarou recentemente como foi alvo dessa emboscada psico-teológica
e como vive hoje em dia ainda dentro da religião:
“...Fico apreensivo e torcendo por todos aqueles que, assim como
eu, estão passando de uma vida regrada para uma liberdade para a qual
admito não ter a madureza e o bom senso suficiente para usufruir. E
isto dá muito medo...; Fico meio parecido com o cachorro que cai de
um caminhão de mudanças; fico como o gato depois de receber a
sapatada, meio sem graça, sem rumo...”
Há Vida Fora da Organização? 465

Embora alguns nutram esse sentimento de insegurança, muitos


outros fiéis se sentem “inabaláveis”, e reagem: “nós SÓ temos a perder
fora da organização pois NADA existe fora dela”.
O “dia seguinte”, porém, poderá provar o contrário dessa afirmação.
O Dia Seguinte - Uma Análise Realista e Um Fato Curioso
Fora da organização, os ex-membros tomam rumos diversos e,
portanto, não existe um padrão de comportamento no pós-organização.
Nenhum estilo específico de vida se encaixa com exatidão num
estereótipo. Apesar disso, a Sociedade Torre de Vigia continua a
classificar tais seres humanos como estando uma classe única de
pessoas que agem “como cães que voltam ao seu próprio vômito e
porcas lavadas que voltam a revolver-se no lamaçal”, fazendo uso
cruel do texto de 1 Pedro 2:22, sem se aperceber que, os que
permanecem lá como servos dela, deveriam levar em conta o alerta
anterior do versículo 19 no qual Pedro adverte que “todo aquele que é
vencido por outro é escravizado por este”.
A verdade é que as atitudes e os resultados obtidos na vida dos que
saíram são os mais diversos e muitos se declaram mais felizes agora,
usufruindo uma vida mais tranqüila, longes de todas as pressões que
sofriam anteriormente na organização.
É também fato que alguns que saem da organização se confrontam
com um processo de construção de novos valores na vida atrelado a
um modo menos preconceituoso de encarar seu próximo que não
passava de “associação mundana”, ou possíveis prosélitos para os
quais uma Testemunha fiel devia apenas oferecer um “estudo bíblico”.
Tanto no Brasil como no exterior, temos mantido contato com
pessoas dentro e fora da organização e um fato muito curioso é que,
quase sempre são os que estão DENTRO da organização que relatam
conflitos e problemas terríveis que estão enfrentando e não os que já
estão FORA. Há pouco tempo, por exemplo, uma Testemunha de
Jeová “ativa” nos falou por telefone que levava uma “vida miserável,
cheia de exigências e tarefas que cumpria apenas para agradar os
outros”, acrescentando que “nunca conseguia ser ela mesma”. Outra
comparou as reuniões em sua congregação a “bailes de máscaras nos
quais todos representavam algum papel”.
466 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Quando questionadas sobre a razão para ficarem na religião, elas


dizem que se apercebem da fragilidade dela como orientadora de vidas
e da natureza mutável de seus ensinos, e sabem que ela é apenas uma
organização humana, mas permanecem lá por razões ligadas à família,
amigos, etc.
Alguns que saíram sabem bem o que significa ficar na organização
desse jeito. R.L.O., uma Testemunha de Jeová que está “afastada”, mas
não é dissociada nem desassociada, conta-nos como funcionou seu
processo de descoberta e o “dia seguinte”:
“Fui doutrinado aos 10 anos de idade, ou seja, em uma faixa etária
em que uma pessoa pode facilmente ser convertida a qualquer credo ou
filosofia — até mesmo ao ateísmo. De modo que me senti
naturalmente compelido a fazer parte daquele grupo, o qual era,
efetivamente, o ÚNICO que eu tinha conhecido. Eu era o que se
esperava de mim — não podia frustrar as expectativas. Além disso,
todos os meus vínculos afetivos estavam entre as Testemunhas.
Somente ao atingir a idade adulta e desenvolver meu próprio senso
crítico, discerni que quase toda minha vida, até então, tinha girado em
torno do provincianismo, ou seja, todos os meus padrões morais e
filosóficos eram contaminados com os valores de um grupo em
particular. Discerni que se tratava essencialmente de uma questão
cultural — o que se sucedia a mim acontecia com aqueles que tinham
sido doutrinados desde a mais tenra idade, de acordo com a religião
prevalente em seus países de origem: islamismo, budismo ou quaisquer
outros sistemas religiosos. Pouco a pouco, abri os olhos e vi que no
“mundo lá fora” existiam as mesmas virtudes que eu julgava serem
exclusivas da religião à qual estava preso. Descobri verdadeiros
amigos e pessoas de fortes princípios éticos. Descobri que poderia ter
tudo o que supunha ser impossível naquele ambiente, porém, com uma
diferença: fora da organização, eu não precisava ser autojusto nem
temer a figura de um Deus à espreita, com o chicote à mão, pronto para
me destruir a qualquer ‘deslize’...
J. F., do Rio de Janeiro, que mora atualmente no estado de Minas
Gerais e que saiu há bastante tempo da organização, conta-nos sobre
alguns de seus atuais valores fora da organização:
“Há vida além da organização e os três elementos principais que
contribuem para minha certeza disso são: o grande amor de minha
vida, um trabalho satisfatório e meus amigos íntimos, e essas coisas me
Há Vida Fora da Organização? 467

bastam! Para mim, religião serve apenas a um propósito mórbido: fazer


as pessoas se sentirem superiores”.
Muitos já me disseram quase a mesma coisa. Outros acrescentaram
à lista, uma perspectiva cristã, falando de sua atual relação pessoal com
Deus e seu filho, Cristo Jesus.
Sob Uma Perspectiva Cristã
“A Escritura diz: ‘ninguém’ que basear NELE a sua fé ficará
desapontado.” (Romanos 10:11)
“Pois isso está contido na Escritura; ‘eis que ponho em Sião uma
pedra, escolhida, uma pedra angular de alicerce, preciosa; e ninguém
que NELA exercer fé, DE MODO ALGUM FICARÁ
DESAPONTADO’”. (2 Pedro 2:6)
Há um crescente número de pessoas que abandonam a Torre de
Vigia e tentam manter “a esperança (que) não conduz a
desapontamento.” (Romanos 5:6)
Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová, escreve bastante sobre as perspectivas cristãs
após a saída da organização. Em seu livro Em Busca da Liberdade
Cristã, seqüência do Crise de Consciência, ele diz no primeiro
capítulo, páginas 8 e 9, parágrafos 1-9 (em inglês):
A LIBERDADE, como a fé, o amor e a verdade, é parte essencial
do verdadeiro cristianismo. Onde a liberdade prevalece, a fé, o amor e
a verdade prosperam. Quando a liberdade é restringida ou tirada, esses
inevitavelmente sofrem. — 2 Coríntios 3:17.
A liberdade que o Filho de Deus nos deu tem como real objetivo
que possamos expressar nossa fé e nosso amor na mais plena medida,
livres das restrições que os homens, e não Deus, queiram nos impor.
Qualquer restrição que se tente contra essa liberdade resulta no
sacrifício da verdade, pois aqueles que buscam nos impor tais
restrições o fazem, não por meio da verdade, mas por meio do erro.
Nas muitas décadas passadas centenas de milhares de pessoas têm
se desligado daquela que foi minha religião de nascimento: as
Testemunhas de Jeová. Durante essas mesmas décadas, centenas de
milhares de outras pessoas têm ingressado nessa mesma religião, e em
número suficiente para que ela continuasse a crescer. Não acho que,
468 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

em si mesmos, o abandono ou o ingresso dessas pessoas provem


alguma coisa.
A verdadeira questão com respeito aos que saem é porque eles
saíram, o que os fez desligar-se. Terá sido o amor à verdade, o desejo
de expressar sua fé e seu apego à liberdade cristã? Não poderiam eles
ter conseguido isto permanecendo onde estavam? Será que a partida
deles foi justificada?
Pelos mesmos aspectos, podem-se suscitar perguntas quanto aos
que entram. Não resta dúvida de que um número considerável era
anteriormente do tipo irreligioso, não-espiritual e essencialmente
materialista. Desde que entraram têm feito mudanças visíveis nessas
áreas. Pelo menos um percentual deles foram ajudados a libertar-se de
sérios problemas de promiscuidade sexual, alcoolismo, vício de
drogas, violência ou desonestidade, e até mesmo conduta criminosa.
Isto certamente significou uma melhora em suas vidas.
Todavia, também é fato que este histórico de ajuda não é único. A
maior parte das igrejas e religiões organizadas podem fornecer
múltiplos casos reais e testemunhos de pessoas cujas vidas foram
definitivamente transformadas em resultado de uma conversão. De
modo similar, os registros e os números dos ajudados pela organização
Torre de Vigia a vencerem maus hábitos ou vícios podem, sem dúvida,
ser igualados até mesmo por algumas organizações sociais, inclusive
os Alcoólicos Anônimos, centros de tratamento do vício das drogas e
entidades do gênero. E certamente que a maioria daqueles que se
tornam Testemunhas não eram pessoas anteriormente atormentadas por
tais problemas.
Permanece então, a questão: Quaisquer que sejam os aparentes
benefícios conseguidos, a que preço foram conseguidos? Terá a
integração deles à organização das Testemunhas eventualmente
resultado numa restrição à liberdade de expressar a verdade, a fé e o
amor de um modo livre de coação e restrições de origem humana? E se
tiver sido assim, então, quão genuína foi a melhora alcançada? Quão
verdadeiramente cristãos são os aparentes benefícios?
Estas perguntas idênticas podem - e devem ser — aplicadas à
qualquer religião que professe ser cristã. Espera-se que a matéria aqui
apresentada venha a ser de proveito para pessoas de muitas
procedências religiosas, pois o nosso tema é muito maior do que as
pessoas individuais envolvidas. Ele atinge o próprio âmago das boas
novas sobre o Filho de Deus, Jesus Cristo.
Há Vida Fora da Organização? 469

E daí por diante, ele passa a considerar questões de extrema


importância no que tange à liberdade cristã.
Para Ray Franz, uma pessoa que resolve sair ou entrar na
organização deve levar em consideração os reais motivos pelos quais
deseja fazer isso. Quais são suas verdadeiras motivações? Tem essa
decisão alguma coisa a ver com seu amor à verdade?
Considerar as razões para entrar ou sair de uma organização
religiosa não só é muito importante como poderá mostrar o que somos
como cristãos e o que realmente queremos fazer de nossas vidas. A
grande decisão sobre ingressar ou abandonar uma organização
religiosa não deve ser tomada levianamente, como apenas uma fuga da
realidade. Deve, antes de tudo, basear-se na verdade e em fatos
comprováveis.
Grande parte das pessoas que ficaram duramente desapontadas por
saírem “chutadas” da organização, conseguiram resolver o problema
que as levou à expulsão ou dissociação. No entanto, a maioria continua
FORA da organização. E por quê? C.G.S., da região Sudeste do Brasil,
fornece uma das razões:
“Penso que consegui restabelecer uma nova relação com Deus, mas
continuo fora da organização por causa dos maus-tratos sofridos em
épocas nas quais tudo de que mais precisava era um pouco de ajuda e
não das sessões de julgamento que se seguiram, principalmente
sabendo que dois dos três anciãos de uma das comissões ‘tinham o
rabo preso’. ...Tentaram destruir minha dignidade humana e por isso
não voltei nem jamais voltarei, e acho que muitos só voltam porque
não conseguem o equilíbrio na vida sem as rédeas de uma organização
religiosa; outros porque pensam que apenas a Torre de Vigia ostenta a
genuína aura de santidade, pureza e verdade. No dia em que se deixa
de crer nessa premissa, acabam-se muitos dos motivos para se
continuar dentro da organização”.
Sair assim, de maneira consciente, é importante, pois os que não
sabem dos erros da organização (e erros que em muitos casos custaram
vidas), sentem-se como estando à deriva e sem rumo, entregando-se
aos excessos de uma vida comandada por desejos insensatos e
anticristãos. Como dito pela pessoa no parágrafo anterior, às vezes
alguns retornam à organização pela necessidade de ser novamente
paternalizados e dirigidos pelos ditames da consciência coletiva,
470 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

acomodando-se novamente na constante e “preventiva” vigilância dos


anciãos congregacionais. É como se fossem crianças dependentes de
uma “mãe” que os corrija com “mãos de ferro em luvas de veludo.”
Para pessoas desse tipo, a vida fora da organização pode se transformar
num “inferno astral” pois já se acostumaram a viver subordinadas às
instruções de outras; esperam que outros lhes digam O QUE fazer na
vida.
É compreensível que alguém atordoado com a mudança, dê seus
primeiros passos “fora de casa” de forma cambaleante e somente
consiga pisar firmemente após meses ou anos. Quase sempre, uma
Testemunha sai da organização inconformada e magoada com o
tratamento recebido. Decerto, o desapontamento religioso pode deixar
seqüelas profundas e fazer com que a pessoa se sinta psicológica e
emocionalmente descompensada por um período de tempo prolongado.
Todavia, o tempo opera como um bálsamo coadjuvante na
regeneração do tecido dilacerado das feridas mais profundas. Ele é um
aliado que alivia, restabelece e cura. Faz a pessoa erguer novamente a
cabeça e vislumbrar novos horizontes.
Nesse sentido, conhecemos ex-membros que acham a consideração
desse tema até mesmo desnecessária visto que superaram tudo de
maneira sóbria e tranqüila. Os outros consideram esse assunto algo
desagradável, parte de um passado distante, um pesadelo que deve ser
apenas enterrado e esquecido. “Afinal”, afirmou certa senhora, “há
coisas muito mais importantes com as quais se preocupar fora da
organização. Temos de juntar os cacos quebrados e sair correndo atrás
do prejuízo”.
Um jovem que deixou a organização há algum tempo, veio a
constatar surpreso:
“Quando estamos lá dentro, a organização parece algo muito, muito
maior do que ela realmente é. A verdade, no entanto, é que ela é
pequena no mundo das religiões — uma religião insignificante quando
comparada a outras. Só me apercebi disso no dia em que tentava
explicar a uns amigos, pela enésima vez, todo o meu drama passado lá
dentro. Ninguém achou aquilo tão ‘espetacular’ assim e foi aí que caí
em mim ao ouvir um de meus novos amigos exclamar: ‘puxa, que
religiãozinha terrível essa, hein, ‘meu’?!”
Há Vida Fora da Organização? 471

Embora essa reação das pessoas chegue a ser um pequeno alívio, os


dias que se seguem à saída definitiva da organização nem sempre são
fáceis.
Há ex-membros que têm de combater intrepidamente o suplício de
boatos difamantes, maldosos e humilhantes sobre as razões de sua
saída ou o que anda fazendo fora da organização. Mas o que realmente
magoa é saber que tais coisas muitas vezes são espalhadas por ex-
companheiros, amigos ou parentes que ficaram na organização. E por
que essas pessoas agem assim? Algumas delas precisam achar motivos
para justificar a saída de alguém da “organização visível de Deus” e
cooperam para que, ao tripudiar sobre o “derrotado”, sua organização
se vindique mais uma vez. Para esse fim, então, a cabeça do “infiel” é
posta numa bandeja de tagarelices recheadas de calúnia para que ela
sirva de exemplo a quem mais seguir seu “proceder iníquo”.
Felizmente, porém, longe dessa conversa prejudicial das
congregações, a pessoa encontra tranqüilidade e paz no pós-
organização. O estresse, a tensão e o desamor de seus companheiros
somem nas brumas do tempo. Acabam-se os conflitos e as
intimidações; desaparecem os sentimentos de culpa infundados e a
sensação de eterna inadequação; vão-se as pressões e a percepção
errada de nunca se estar à altura das normas e exigências — aquela
coisa de nunca se encaixar bem no grupo; pára-se todo o corre-corre a
fim de se cumprir a intensa programação imposta pela Sociedade —
campo, reuniões, estudos “bíblicos”, revisitas, congressos e
assembléias, etc.; cessam todos os fardos não-bíblicos que, quando não
cumpridos a contento, eram logo seguidos de alguma amorosa visita de
pastoreio (melhor traduzida por cobranças ou “aperto de parafusos”).
Surpreendentemente, porém, quando tudo isso é retirado de uma só
vez, algumas pessoas podem se sentir culpadas por não mais estarem
fazendo o que aprenderam a considerar como “obrigações teocráticas”.
Podem até mesmo se sentir “imerecedoras de tanta folga”. Para outros,
a paz de espírito pode ser mal interpretada como “vazio”. Não é de
admirar que tais pessoas se sintam desse modo após a quebra de uma
rotina tão severa e de hábitos que até bem pouco tempo eram
zelosamente cultivados. Nesses casos específicos, pode ser que se
torne necessário que tais pessoas considerem estudar a Bíblia numa
472 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

base mais freqüente e muito mais regular que outros que saem mais
tranqüilamente. Ou até procurem ajuda médica profissional.
Uma Vida sem o Medo de Homens
Por mais surpreendente que isso pareça, a verdade é que muitas
Testemunhas morrem de medo de tomar decisões e se tornarem
responsáveis por seus atos. A Sociedade estimula essa atitude de
dependência ao designar homens para “ajudar os irmãos a tomarem
decisões sábias” (anciãos, superintendentes de circuito, etc.). Ela
mesma responde a milhares de correspondências de irmãos em busca
de “orientação” sobre que decisão tomar em inúmeros aspectos da vida
— inclusive os mais íntimos e pessoais.
Quando se sai, não há mais quem dite as regras do jogo da vida mas
é bastante sábio e prudente estabelecer limites adequados e não perder
o senso de valores morais e éticos. Caso a pessoa queira se apegar ao
que for estritamente bíblico, a Palavra de Deus poderá, POR SI SÓ,
exercer poder sobre as decisões da pessoa quanto ao certo ou errado,
bom ou mau sem se limitar a uma visão totalmente maniqueísta e
inflexível de todos os aspectos da vida.
Um senhor de iniciais M. R., da região sudeste do Brasil certa vez
escreveu algo interessante em relação ao subtópico acima:
“Os primeiros passos fora do berço da organização foram difíceis
pois eu me sentia exatamente como um bebê aprendendo a engatinhar
e logo depois desejoso de andar com meus próprios pés. Ai meu Deus,
como caí e me levantei inumeráveis vezes até ganhar equilíbrio e
maturidade suficiente para andar sem o apoio de muletas...!
Uma coisa de que logo me apercebi foi que não havia motivo para
que eu continuar a desprezar a Deus no meu dia-a-dia depois de sair da
organização visto que eu O havia colocado num mesmo julgamento
negativo daquela organização que se dizia Dele..., mas Ele
simplesmente não era culpado de nada.
Por vários anos, eu nutri muito medo de um imaginário “fundo de
poço” com o qual a organização me ameaçara, mas à medida que o
tempo passava e nada disso acontecia, tornei-me cada vez mais forte e
muito mais feliz.
A cada dia, sentia-me também mais humano e mais igual aos meus
semelhantes. Aprendi a me sensibilizar com a dor alheia sem dar as
Há Vida Fora da Organização? 473

costas por achar que não caberia a mim resolver as mazelas do mundo,
mas só a Jeová. Conseguia sentir mais pena dos desafortunados e dos
pobres da humanidade e essa atitude mental me parecia mais cristã
pois me levou a reconsiderar que, o significado do verdadeiro ‘amor ao
próximo’ não poderia se resumir em ‘colocar’ uma revista para um
pobre ou ‘trocá-la por um item de sua favela — um sabonete, uma
fruta...’, como faziam alguns ‘pioneiros’ e ‘publicadores’.
Com o tempo, descobri que havia sido a própria organização que
me fizera crer que sem ela, eu me tornaria um ser repugnante diante de
Deus. Ao contrário dessa maldição, hoje eu me sinto muito mais capaz
de humilhar-me aos olhos misericordiosos Dele e de me considerar
muito mais responsável pelo uso de minha consciência e atos.
Não mais tenho medo de homens, e essa é uma das preciosas
bênçãos que me faz cultivar cada vez mais respeito e apreço por
Deus.”
O Que Mostram os Fatos
Mudar nem sempre é fácil e pode demandar grandes ajustes, equilíbrio,
uma nova visão e mentalidade como acabamos de ler. Mas mudar
exige também que um conjunto de fatores seja pesado e que todo o
custo-benefício da mudança seja calculado; é importante que se saiba,
por exemplo, como as coisas irão funcionar depois do momento de
decisão. Um bom planejamento deve preceder qualquer investimento
(Mateus 14:28-30) e deve basear-se em realidades que agreguem
valores tanto no campo moral como no espiritual. Mudanças
inconseqüentes e precipitadas podem arruinar o curso de uma vida
inteira.
A vida pós-organização pode ser serena, sem grandes surpresas.
Aquelas “pessoas do mundo”, por exemplo, agirão com um ex-
membro da organização tão naturalmente como antes e quem sabe, até
mais receptivamente agora que sabem que não terão de “suportar”
conviver com alguém que passava a impressão de querer ser superior e
que só se interessava em pregar para os de fora.
A verdade é que o mundo não se acaba, nem precisam se acabar as
esperanças que estiverem claramente expressas na Bíblia. Não
desaparecem da Bíblia, por exemplo, as promessas de Deus quanto a
fazer Sua intervenção nos assuntos da terra. Tudo que estiver escrito na
Palavra de Deus continuará lá depois da saída da organização e Suas
474 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

garantias (João 3:16) e Seus conselhos continuarão disponíveis a todos


que neles desejarem se estribar. (Salmos 1:1-3)
Vamos dar ao leitor uma idéia geral sobre o que acham alguns de
sua vida após a saída da organização usando as próprias palavras deles.
São frases de e-mails e outros tipos de correspondências que temos
recebido desde 1998 quando saímos. Alex T.C. escreve:
“...Durante todo o período que fui Testemunha de Jeová, tive que
aprender a “podar” meus sentimentos. Tive que aprender a não
expressar sentimentos. Como?
Imagine se você fosse uma criança de 13 anos e um servo
ministerial ou um ancião lhe dissesse que você não poderia chorar por
seus pais “mundanos” na hora do Armagedom ou você seria destruído
junto com eles.
Imagine se você fosse um jovem adolescente que precisasse sair, ter
amigos e lhe dissessem que ter por amigos aqueles não são do salão,
mesmo que fossem parentes, isto lhe impediria de ter a salvação.
Imagine-se gostando de uma moça Testemunha de Jeová, como
você, e lhe proibissem de namorar com ela porque você é apenas um
jovem de 15 anos e não tem idade para se casar.
Imagine-se feliz da vida por causa de algo bom que aconteceu e
desejoso de dar um grande abraço naquela sua amiga tão amada, mas
não fazê-lo porque isso é considerado tabu entre as TJ.
Imagine-se pregando de casa em casa e uma pessoa muito bondosa
e educada não aceitar sua religião porque ela já tem uma. E você tem
que aceitar e se contentar com a “DESTRUIÇÃO” daquela pessoa
porque sua religião é a única verdadeira na face da terra.
Imagine-se não participando em festas de aniversário, dia das mães,
dia dos pais, junto de seus familiares e tendo que afogar todo o
sentimento e desejo de estar junto daqueles a quem tanto amamos, pois
de outra forma seremos destruídos por Deus.
Imagine tudo isso e você compreenderá porque estou feliz de ter
chorado pela morte do meu tio.
Foram anos de terapia para me conscientizar de que minha
depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade vinham do
aprisionamento dos meus sentimentos. Aprisionamento incentivado
pela religião a que eu pertencia.
Há Vida Fora da Organização? 475

A religião me fez uma pessoa dura, insensível, autojusta, sem amor


e consideração pelo meu próximo.
Tolhi meus desejos de forma louca e insana, pois tinha medo do
pesado julgamento de Deus. Agora que abandonei a STV posso gritar
de felicidade. Agora sou uma pessoa feliz. Continuo sendo cristão,
creio em Deus e no sacrifício resgatador de Cristo. Espero um mundo
melhor por parte do governo de Deus, embora não saiba exatamente
como isso se dará e qual será a esperança de cada um.
Não sei exatamente para onde vou, mas sei exatamente para onde
não quero voltar. Sei que eu era apenas, como disse Paulo, “um pedaço
de latão que ressoa ou um címbalo que retine”, agora não sou mais.
Tenho vida dentro de mim. Sou alguém que se conhece e reconhece.
Não sou mais um molde programado por uma religião despótica,
opressiva, coercitiva e ditadora. E tudo isso ela faz em nome de Deus,
em nome da teocracia.
Sei que as programações da STV são difíceis de serem desfeitas,
mas não são impossíveis. Eu consegui e muitos conseguirão também,
como outros já conseguiram. Espero que aqueles que passaram pelo
que passei possam chegar até onde cheguei e encontrar a “liberdade
gloriosa dos filhos de Deus”, pois nosso mestre disse: “Conhecereis a
verdade e a verdade vos libertará.”
Paschoal J., da região Nordeste do Brasil, que saiu da organização
há algum tempo, pondera:
Quando assumi definitivamente os dogmas da Sociedade Torre de
Vigia através do meu batismo em 1993, me sentia um iluminado e de
espírito inquebrantável, sabia que estava me dedicando a algo que
tinha a ver com meus princípios de solidariedade e amor ao próximo!
Tinha a sensação que a qualquer momento Deus agiria de forma a
eliminar todos que eram iníquos e que a paz por fim reinaria na Terra!
O tempo foi passando e percebi que os iníquos para os quais eu
tanto desejava o pior, eram todas as pessoas que não eram TJ. Isso me
marcou, pois meus pais iriam fazer parte desse pré-julgamento!
Comecei a observar que muita gente ainda sabia como ser bom,
honesto, alegre, solidário e isso fazia com que eu pensasse: Se eu fosse
um Deus amoroso, será que iria destruir pessoas com índoles boas só
por que não fazem determinados rituais? Como julgar pessoas que
nascem numa miséria intelectual e material como indignas do favor de
Deus, se nem ao menos tiveram oportunidades para uma mudança?
476 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Por fim, veio aquele estalo que eu não era o melhor por ser TJ,
numa aula na faculdade onde foi feita uma dinâmica onde todos
deviam passar uma mensagem para quem mais gostava na sala de aula
e ali eu vi, mães sofrendo por terem seus filhos com algum tipo de
problema, vi moças chorando de alegria por alguém tê-las ouvido num
momento de extrema dificuldade, vi seres humanos, com seus
problemas e fraquezas, com suas alegrias e sinceros sentimentos de ver
o próximo melhor! Perguntei-me: Senhor Jeová, o Senhor, em tão
grande sabedoria, vai virar o rosto para esses seus filhos? O fato de não
serem Testemunhas os faz piores em algo? Se nosso planeta é um
minúsculo grão de areia no universo, essas pessoas vão ser julgadas
por menos que isso?
Com certeza NÃO! E a partir daí, vi que Deus não está preso a uma
ideologia ou religião! Apego-me a uma frase: “prefiro acreditar no
Deus que criou os homens, do que acreditar no Deus que os homens
criaram”!
A senhora Andréa G., da região Nordeste do Brasil, expôs a
seguinte reflexão:
“...Entrei na organização porque sempre amei a Deus e continuo
temente a Ele, mas não consegui ser feliz tentando servi-Lo dentro do
salão do Reino. Eram muitos os meus questionamentos não só em
relação ao sistema opressivo (da organização) mas principalmente com
respeito às crenças que pareciam muito fantasiosas como a volta
invisível de Cristo em 1914 e aquela “geração de 1914” que
presenciaria o fim do sistema de coisas.
Meu marido ‘mundano’ tentava me mostrar as incoerências mas eu
fazia vista grossa em nome do ‘conjunto de verdades mais
fundamentais...’ Hoje em dia sou muito mais feliz por não mais ser
escrava de ensinos e regras humanas (Mateus 15:9). Tento sempre
estar em paz com minha consciência diante de Deus e só sinto tristeza
quando recordo dos meus amigos que ficaram presos lá dentro,
vivendo sob pressão e pensando estar servindo a Deus...; A vida fora
da organização me tem trazido a harmonia e a paz que há muito me
tinham roubado lá dentro; na saída, recuperei o que era meu e sagrado
— a paz mental, algo bom que havia perdido no dia em que entrei.
Todos os conflitos se encerraram no dia em que assinei minha carta de
dissociação...”
Um senhor de iniciais C.F. declarou:
Há Vida Fora da Organização? 477

“Descobri que as tribulações de minha vida como Testemunha de


Jeová não eram geradas por motivos bíblicos ou por tentar ser um
seguidor de Cristo num mundo corrupto (João 16:33); eram causadas
por pressões originadas dos ‘empurrões’ para que eu fizesse mais numa
‘obra’ que parecia cada vez mais ‘empresarial’ e não cristã. Todas
aquelas horas de trabalho árduo, dedicadas a fazer contas e mais
contas. Como ancião-secretário, eu me sentia o responsável direto pelo
desempenho de serviço da congregação nos ‘relatórios de campo’.
Análises de aumentos ou decréscimos nos índices de horas
dedicadas à pregação, colocação de literatura..., eu estava sempre
calculando as ‘atividades dos irmãos’ — quantos livros, quantas
revistas, quantos estudos bíblicos, quantas horas, quantas revisitas,
quanto dinheiro mandar para Sociedade...; quantos livros em estoque e
que campanhas para a ‘desova’ desses estoques...
Empréstimos para reformas (e até construção); Solicitação de
contribuições (mais dinheiro dos irmãos) para isso ou aquilo. Contas,
contas, contas. Isso tudo não parecia muito com o cristianismo
primitivo (Atos 2:42-47); Além da rotina ‘normal’ das Testemunhas,
eu tinha ‘reuniões especiais de anciãos’, ‘cursos de anciãos’, comissões
judicativas para decidir se alguém ia ou não continuar entre nós...; eu
não conseguia mais ver a relação dessas coisas com o que a Bíblia
dizia do cristianismo.
Apenas fora da organização consegui realmente perceber o quanto
eu havia desprezado o tempo com minha família, e só então me dei
conta de que meus filhos haviam crescido quase sem mim! Os
conselhos para gastar tempo com a família não conseguiam mudar a
realidade de um cotidiano repleto de atividades e responsabilidades
‘teocráticas’. Hoje em dia, tento refazer minha relação com meus
filhos, minha esposa e muitos entes queridos que haviam sido postos
de lado em nome de Deus.”
A Opção de Uma Liberdade Cristã
Muitas pessoas que estão fora da organização falam de sua liberdade
como sendo cristã e que isso as faz viver serenamente. Garantem, no
entanto, que a liberdade cristã não é qualquer liberdade, pois ela leva
em conta o código de conduta encontrado na Bíblia. Afirmam também
que o amor e o respeito ao próximo são ingredientes indispensáveis
para o bem-estar humano e que esse amor tem características
maravilhosas — 1 Cor. 13:4-7.
478 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Por outro lado, os que saem irresponsavelmente e não se apegam ao


que é excelente (1 Tes. 5:21), poderão levar uma vida tão
desequilibrada quanto a de muitos dentro da organização que pregam
uma coisa e fazem outra. Assim, nem dentro nem fora estamos livres
de nossas tendências para o erro. Os excessos transformam muitos,
dentro e fora da organização, em verdadeiras bombas-relógios.
Seria tanto inverossímil quanto desonesto mostrar apenas o lado
bom da vida fora da organização, como o faz a organização quando
fala das vantagens do “paraíso espiritual” que seus membros usufruem
e, visto que não estamos tratando os que estão fora da organização
como uma “organização de ex-membros das Testemunhas de Jeová”,
não é justo julgá-los como estando totalmente certos ou errados em
suas novas escolhas. Porém, é natural que expressemos desalento
quando observamos casos de pessoas que saíram e resolveram sabotar
hábitos salutares de conduta que porventura tinham (Gálatas 5:22-25)
mas que por saírem sem entender bem o porquê, ficam à mercê de
perigos desnecessários que antes evitavam.
Adicionalmente, é triste ver pessoas que saem, expressar ódio por
ex-companheiros Testemunhas. Parecem não admitir que essas
Testemunhas agem apenas como vítimas de outras vítimas ou como
“soldadinhos de chumbo” sob o comando da Sociedade, e em
conformidade com o que lhes foi ensinado como “verdades divinas”. 1
Coríntios 13: 4-7 e Romanos 12:17-21 nos lembram o princípio
importante de “não retribuir a ninguém mal por mal”.
Fora da organização, alguns travam uma grande luta para cultivar
uma liberdade cristã responsável ao passo que repensam sua relação
com Deus sem a intervenção de uma organização religiosa inflexível.
Não se sentem livres de algo, mas para algo, isto é, a fé em Cristo e no
que ele deixou. Nesse sentido, William Gadêlha, que foi Testemunha
batizada por 24 anos, e ancião por 14, fez a seguinte observação:
“Continuo crendo EM TUDO que a Bíblia fala CLARAMENTE.
Para mim, cristianismo é principalmente conduta e não apenas um
conjunto de doutrinas que nos faz o ‘único povo de Deus’. Não saí
porque achava incômodo fazer tudo aquilo ou porque não gostava do
serviço que pensava ser para Deus; apenas queria que tudo fosse
realmente verdade. No dia em que encontrei argumentos e provas de
que a organização NÃO era dirigida por Deus, resolvi sair. Estou
Há Vida Fora da Organização? 479

muito feliz de ter saído enquanto ainda me restavam alguns anos de


vida útil.
Entrei na organização no período em que havia perdido uma tia
muito amada e me achava muito deprimido com isso. Pensava ter
encontrado toda a verdade, pois algumas coisas como a Ressurreição
dos Mortos, a Vida em um Novo Mundo, e outras coisas que estão na
Bíblia eram TAMBÉM usadas pelas Testemunhas de Jeová.
Por muito tempo, senti-me endividado com a organização por conta
do que ela me ensinou com base na Bíblia. Mas outras religiões
também tiravam coisas da Bíblia e também acrescentavam seus
conceitos como o faz a organização quando vai além do que está
escrito, e um exemplo disso é a alegação de que Cristo reina de modo
invisível desde 1914.
Penso que essa liberdade que sinto fora da organização precisa ser
muito bem usada e, portanto, sigo na luta para não me deixar governar
apenas pelos desejos de meu ‘coração traiçoeiro’... - Jeremias 17:9,
10.”
Esse é bom proceder a ser adotado no pós-organização, mas não há
fórmulas fantásticas para se manter alguma medida de fé nas coisas
realmente sagradas. Dramas individuais podem determinar a situação
da pessoa no pós-organização. Alguns tentam ver as coisas com toda a
lucidez e naturalidade possíveis.
Fé e Liberdade — Para Quem Vai o Crédito?
Um homem jovem aqui do Brasil, E. S., escrevendo a um colega que
estava quase perdendo sua mãe por causa de um problema de saúde,
tentou dar-lhe algum suporte, e seus comentários em um fórum da
Internet (composto por Testemunhas de Jeová ativas e ex-membros
aqui no Brasil) foram os seguintes:
No mês de abril/01 serão três anos que fui afastado por motivo de
consciência da congregação local, porém, é para mim apenas como
ontem. Nesse período larguei o emprego para trabalhar em casa.
Motivo? Stress, devido a rotina de trabalho e sobretudo o choque que
tomei quando descobri ter-me enganado tanto, apostando que a
organização das Testemunhas “de Jeová” eram de fato o que
pregavam: a verdade, a “organização que é perfeita”. Creio, Alex, que
o problema está não somente na organização, antes está nas nossas
480 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

expectativas exageradas e irreais. Acreditamos em um lindo e


maravilhoso sonho, antecipado por nossos próprios desejos...;
Quando estamos combalidos, o sentimento de abandono nos
sobrevém, e quando nos sentimos abandonados logo pensamos que o
mesmo aconteceu com a nossa fé, o que não é verdade. Não é
necessário ter grande fé, ou fé mediana, ou pequena fé para que Jeová
se lembre de nós ou nos acalente no desespero. Basta termos fé do
tamanho de um grão de mostarda para mover uma montanha.
Então, Alex, aposto que pelo menos uma fé, não do tamanho de um
grão de mostarda, mas de um grão de areia ou um milésimo de
milímetro você tem, não tem? Seu e-mail é prova disso. Então, garoto,
bola para frente. Deixe a Torre colher o que plantou.
Alex, você já reparou de sua janela a vegetação ao redor? De como
o vento vem e vai nas folhas, os pássaros que saltitam de um lado para
o outro, voando de lá para cá; chuva e sol, e lá está a vegetação. Tudo
parece tão harmonioso e fora de nosso controle, e ainda assim,
funciona! A terra corre feito doida pelo espaço e nada podemos fazer
para impedi-la. O sol nasce e se põe, e nem ao menos podemos regular
sua temperatura. Portanto, Alex, não se martirize à toa; basta a cada
dia, sua própria ansiedade!
Nota: tenho 26 anos, e também sou filho único, adotivo e minha
mãe adotiva continua a freqüentar o Salão do Reino. Ela tem
dificuldade para andar e sou eu quem a levo às reuniões, três vezes
por semana.
O que E. S. diz aqui sobre fé faz bastante sentido e é essa fé que
pode realmente ser de real ajuda em tempos críticos, em que
precisamos contar mais ainda com a ajuda do criador. Mas como
vemos, a fé pode ser cultivada dentro ou fora de uma organização
religiosa e a pessoa não precisa estar necessariamente afiliada a uma
ou outra religião para cultivá-la. A Bíblia diz que “a fé não é
propriedade de todos” e Paulo escreveu isso a crentes em Tessalônica.
(2 Tes. 3:2. Veja também Romanos 10:9). No caso de ex-membros da
organização, eles descobrem que podem exercer fé sem a segurança
nebulosa que a organização transmitia.
Fora da organização, a pessoa passa a se dar conta de que estava
atribuindo crédito indevido à organização por algumas “coisas boas”
que ela tomou emprestado da Bíblia, e por uma “fé superior” que
imaginava usufruir como Testemunha. Outras religiões também
Há Vida Fora da Organização? 481

reivindicam os mesmos créditos de seus adeptos. Assim, por causa das


“boas coisas” tomadas da Bíblia, muitos ex-membros chegam a ouvir
coisas do tipo: “quem sai da organização não deveria cuspir no prato
em que comeu”. Mas quem sempre faz isso é a própria organização
que, depois de usar todo o talento e capacidade de seus ex-membros
por anos a fio como “trabalhadores voluntários” em prol de seus
interesses, despreza-os, tachando-os de “apóstatas” e de outros termos
difamantes.
Quando a pessoa se sente muito “desamparada” e pensa ainda estar
em débito com a organização mais do que com Deus, é bem possível
que ela jamais se sinta “livre” e confortável fora da organização. Tal
pessoa mostra que aquela aparente “segurança” é mais importante do
que a genuína fé e liberdade cristãs. Por incrível que isso possa
parecer, ela poderá continuar achando que a organização ainda é
merecedora de louvores e reverência. Esse sentimento é o principal
motivo que induz alguns ex-membros a pensarem ser “incorreto” falar
dos erros e contradições da Sociedade. É como se eles ainda devessem
certa obediência à organização, mesmo estando totalmente fora dela e
sendo alvos de seus ataques contra os desassociados que ela considera
“entregues ao diabo”. Nesses casos, a pessoa saiu da organização, mas
a organização não saiu da pessoa. A organização continua exercendo
autoridade e poder sobre a vida dessa pessoa e o que é pior, sobre sua
fé e liberdade de expressão.
Ora, não é incoerente que a Sociedade se auto-confira o direito de
falar dos erros das religiões em geral e ache errado que alguém fale dos
erros dela que, à propósito, já fizeram muitas vítimas fatais? Por que
calar-se?
O que devemos fazer quando sabemos que algumas informações
que temos poderão ser de ajuda a um grupo de pessoas mesmo que,
dentre elas, algumas achem que tais coisas não lhes servirão?
Há, sim, os que se sentem gratos por disponibilizarmos essas
informações nesse livro. Alguns podem até continuar na organização
mas não mais se ressentem de ler aquilo que a Sociedade tacha de
“apostasia”. Eles agora vêem até que ponto o legalismo pode
prejudicar seus relacionamentos e sua vida.
482 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Um senhor da região sudeste do Brasil, que pediu para não ser


identificado por motivos familiares, desabafa:
“Sou Testemunha de Jeová. Batizei-me aos 25 anos e acredito ter
passado meus melhores anos de vida fazendo todo o possível para
servir a organização lealmente. Não fui apenas perfeccionista nessa
tentativa; fui severo, áspero, intolerante e me considerava um excelente
‘soldado de Cristo’ e uma grande ‘coluna de amparo’ para meus
irmãos e irmãs. Nunca aceitei fazer nada pró-forma ou algo que não
fosse exatamente o melhor de mim para a organização. Ai dos que
porventura viessem a me apoiar em algum arranjo ‘teocrático’!
Fui pioneiro regular por vários anos, ancião e, enfim, tive todos os
‘privilégios’ que um varão deveria querer para si como Testemunha de
Jeová. Um dia, aos meus 52 anos de idade, olhei para trás e me fiz a
pergunta fatal: foi tudo isso para Deus ou para uma organização de
homens? Desse dia em diante, não mais controlei o espírito
questionador que florescera de repente e então passei a pesquisar
incansavelmente. Mas, à medida que acordava para a verdade de tudo
isso, vi pedaços de minha vida espalhados pelo chão. Toquei-os
levemente e passei a juntar cada um deles. Por algum tempo, senti-me
perdido, tonto. Chorei muito às escondidas. Estaria eu ‘perdendo
minha alegria de servir a Deus’? Não, não era isso! Era apenas a dor da
constatação. Era a hora da verdade do que eu havia sido até ali. Era
hora de encarar o que eu havia negado até então.
...Mas o tempo corria rapidamente. Debati-me aflito, com o coração
cheio de angústia porque me sentia sozinho nessa jornada. Minha
esposa nada sabia. Essa era a primeira vez que eu me sentia assim em
toda a minha vida conjugal. Teria eu coragem para contar a ela tudo
que estava descobrindo? Como reagiria? Iria me desprezar? Não, isso
não...
...Certa noitinha, sentei-me ao lado de minha companheira
‘inocente’ e a beijei terna e suavemente. Expliquei-lhe tudo que estava
acontecendo comigo. Ela ouviu a tudo em completo silêncio. Quando
parei, com os olhos ainda cheios de lágrimas, tomei seu rosto em
minhas mãos e olhei diretamente em seus olhos que também
choravam. E, então, para minha alegria, ouvi o que um homem nessa
situação deseja ouvir da pessoa amada: ‘Querido, tenho sido tão feliz
ao seu lado. Você é um homem sincero e correto. O que quer que você
decida, será sua verdade que quero que divida comigo e deverei ser a
primeira a saber das razões de qualquer nova escolha. (Pausou por um
breve instante) ...Mas quero estudar essas coisas com você e tentarei
Há Vida Fora da Organização? 483

ver cada uma delas com muita oração a Jeová. Não vou deixar você
sozinho nessa. Jeová é um Deus bom e amoroso e cuidará de nós dois,
mais uma vez...’
Hoje está fazendo um ano que ela disse essas palavras. Saímos da
organização apenas no espírito pois não nos separamos dela
‘burocraticamente’. Nós nos dissociamos mas somente no íntimo.
Nossos filhos e amigos, você entende, não é mesmo?! De coração,
agradecemos a todos vocês que trabalham na Internet e trazem os
frutos de suas descobertas até nós...
E o que resultou de tudo isso? Acaso nos tornamos menos tementes
a Deus ou menos amorosos com nossos irmãos? Ao contrário. Nosso
amor a Deus aumentou pois hoje sabemos separar muito bem aquilo
que é de Deus daquilo que é apenas para homens. Também mudei
minha atitude com meus irmãos: não sou mais aquele homem áspero,
nem severo, nem intolerante com eles. Deixei o cargo de ancião há
algum tempo e somos apenas rostos amigos no salão — ‘irmãozinhos
que ficaram fracos na fé e que assistem a algumas reuniões’. Não sei
por quanto tempo iremos permanecer assim. Mas, de uma coisa temos
certeza: somos mais felizes desse modo e temos mais paz em nossas
vidas. Conseguimos entender melhor o que Deus realmente requer de
cada um de nós e compreendemos mais o Seu grandioso amor e
misericórdia por todos os seres humanos que estão dentro e fora da
organização.
Obrigado...”
É surpreendente ver como cresce o número de pessoas que preferem
continuar tendo fé em Deus mesmo depois do impacto das dolorosas
constatações, de concluírem que estiveram dando crédito a homens
mais do que a Deus. Talvez isso se deva especialmente ao fato de que
Jeová Deus não é propriedade particular e exclusiva de uma
organização humana mas o ser supremo que se coloca à disposição de
todos que por Ele “buscam seriamente”, “embora, de fato, não esteja
longe de cada um de nós”. (Veja Hebreus 11:6, Atos 17:24-28 e Isaías
55:6-7)
Amigos Leais - A Visão de Dentro da Organização...
“Há companheiros dispostos a se fazerem mutuamente em pedaços,
mas há um amigo que se apega mais do que um irmão.” (Prov. 18:24)
484 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“O verdadeiro companheiro está amando todo o tempo e é um irmão


nascido para quando há aflição.” (Prov. 17:17)
As religiões se apercebem do fato de que seus simpatizantes buscam
esse tipo de amigo dentro de seus pátios e daí se valem desse
“diferencial” atraente prometendo ofertá-lo a qualquer um que se
achegue à sua comunidade. A promessa é logo ampliada quando se
fala lá dentro de uma associação fraterna, unida num só propósito —
uma fraternidade na qual imperarão a lealdade e a verdadeira adoração
a Deus. “O amor”, apela a organização da Torre de Vigia, “é o sinal
identificador dos verdadeiros cristãos.” Isso é uma obviedade mas
quão realista é crer que esse sinal só será encontrado entre as
Testemunhas de Jeová? Basta não ir a guerras ou esse “sinal” requer
muito mais? Como é esse “sinal identificador”, o amor, demonstrado
numa comunidade de Testemunhas de Jeová?
Amigos leais e amorosos sempre foram jóias muito raras no mundo.
Todos desejam descobrir pelo menos um desses amigos em sua
jornada na vida. A maioria absoluta das religiões incentiva o
companheirismo leal e o estreitamento de laços afetivos entre os
membros de suas comunidades. “Pessoas que antes não se conheciam,
agora fazem parte da grande família de Deus”, é uma frase ouvida em
várias religiões do mundo.
No caso das Testemunhas, elas são orientadas a desenvolver
amizades do tipo “aprovado”, mesmo em relação a membros batizados.
Dentro da “família cristã” das Testemunhas de Jeová, um irmão muito
zeloso é orientado a cultivar amizades com irmãos de igual
“espiritualidade”, comumente alguém que faça o mesmo número de
horas na pregação de porta em porta e demonstre o mesmo tipo de
fervor religioso conhecido como “zelo (ou apreço) pelo serviço
sagrado.”
Assim, os “espiritualmente fracos” tenderão a procurar apenas
amigos “espiritualmente fracos”, e os “espiritualmente fortes”, amigos
“teocráticos e zelosos”. Essa política incentivada nas reuniões, por
meio de discursos públicos e em diversas publicações da Sociedade,
baseia-se nos pressupostos “teocráticos” exclusivamente promovidos
pela organização da Torre de Vigia.
Há Vida Fora da Organização? 485

Vários indícios de “zelo e apreço” servirem como “medidores da


fé” de um membro. “Quão ativo é o irmão nas reuniões e na obra de
Deus?” é a pergunta-padrão feita pelos mais “teocráticos”, concernente
à escolha de seus amigos.
Portanto, assim como em outras organizações, uma Testemunha
realmente zelosa considerará quanto zelo o candidato à sua amizade
mostra em prol de sua organização e se esse vive em total
conformidade de grupo — ou “by the book”, como brinca um amigo.
Amigos Leais - A Visão de Fora da Organização...
Fora da organização, tudo é diferente com respeito às amizades. As
amizades são menos condicionadas. Elas nem sempre levam em conta,
por exemplo, o que se faz ou se deixa de fazer em prol dos interesses
de uma organização religiosa. O que quase sempre importa é o que se
está disposto a fazer pelo próprio amigo sem se esperar ou pedir algo
em troca.
Após anos de confinamento mental, é possível que as primeiras
amizades sejam incrivelmente reveladoras. Descobre-se que entre os
“mundanos”, há pessoas realmente interessantes e desejáveis para se
ter como amigos. Pessoas amigas, honestas, leais e de coração bondoso
tornam-se um “refrigério” para quem sai desconfiado, desiludido,
desencantado e, ao mesmo tempo, assustado com a solidão temporária.
Contudo, há amigos do tipo descrito pelos textos desse subtópico,
fora da organização? Sem hesitação, essa pergunta seria respondida
com um sonoro NÃO por uma Testemunha “teocrática” que logo
acrescentaria com ares de grandeza: “passaram eles a adorar o
verdadeiro Deus? Se não...”
Certa vez, conversando com meu irmão carnal, dissociado, Ésio
Miranda, sobre amigos Testemunhas, ele observou que algumas
Testemunhas adoravam investigar a vida umas das outras. Essas
“investigações” quase sempre se transformavam em “visitas amorosas
de pastoreio por parte de anciãos. E por quê? Porque na intimidade que
tais amizades proporcionavam, muita coisa que só se dizia a um bom
amigo TJ, virava tagarelice maldosa. Ele comentou pensativamente
nessa ocasião: “ora, por causa das afirmações categóricas da
organização de que apenas ela possui o ‘sinal identificador do
verdadeiro cristianismo’, isso não deveria ser tão comum nas
486 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

associações entre as Testemunhas”. Depois dessa reflexão, ele


acrescentou convicta e enfaticamente:
“Rapaz, fora da organização eu descobri amigos maravilhosos.
Pessoas cheias de compaixão e amor ao próximo, seja ele qual for.
Muitas dessas pessoas são tementes a Deus e têm um coração imenso!
Fui pego de surpresa pois minha mente teimava em admitir que isso
era possível dado o treinamento que eu havia recebido como TJ. Estou
feliz em saber que meus amigos aqui fora realmente se importam
comigo e me aceitam como sou no íntimo e que me amam, não pelo
que faço ou deixo de fazer por uma organização humana, mas pelo que
mostro ser de coração. E como é bom não me sentir mais ‘superior’ a
elas por causa de um mero conjunto de crenças!”
Outra pessoa nos escreveu recentemente:
“Como foram importantes os vizinhos, os amigos, os ‘samaritanos’
mundanos que nos deram a mão e nos acolheram sem se sentir no
direito de nos reprimir, nos guiar! Boas pessoas, sim, porque não?”
Viver por Viver?
Fora da organização uma pessoa pode se confrontar com questões
existenciais: “E agora, o que faço? O que sou? Para onde vou?”
Perguntas no mínimo naturais, considerando-se o tempo que a pessoa
manteve uma identidade definida. Essas mesmas perguntas atravessam
séculos da história humana e foi tentando respondê-las que nos
batizamos como Testemunhas de Jeová e também outros entraram em
outras organizações religiosas.
Arrisco dizer que para evitar uma crise existencial e não perder a
sua auto-estima, ele não precisa necessariamente desenhar um perfil
todo novo para sua personalidade após sair da organização. Às vezes,
basta simplesmente estabelecer um padrão equilibrado de bom
comportamento para si mesmo da mesma forma que o fez quando se
tornou Testemunha.
Conselhos como Romanos 12:12 não pertencem à organização mas
à Palavra de Deus. Continuar aplicando-os significará continuar a não
transigir valores morais importantes.
Quando mudamos de casa, levamos apenas os itens que
consideramos importantes enquanto outros simplesmente desprezamos.
Alguns objetos se perdem e nem damos por sua falta. No entanto,
Há Vida Fora da Organização? 487

quando fazemos uma grande mudança em nossas vidas, precisamos ser


bem mais seletivos e cautelosos quanto ao que realmente NÃO
deveríamos deixar de levar conosco. É imprescindível que não nos
esqueçamos de “objetos” que podem ser decisivos para uma vida mais
saudável e melhor. Nesse sentido, fazer uma boa “triagem” evita que a
pessoa se sinta tentada à abordagem do “agora vou viver por viver”.
Você saiu da organização, mas e daí? As respostas da Bíblia
continuarão lá à sua disposição. Que sentido elas assumem, tornar-se
uma questão de decisão pessoal. Por exemplo, os que amam a Cristo
continuarão a considerá-lo como seu resgatador, seu amigo e seu único
mediador. (1 Tim. 2:5) E um cristão genuíno certamente não precisará
mudar completamente a sua forma de encarar o mundo ao seu redor.
Talvez queira apenas repensar conceitos e regras sem base bíblica ou
talvez se sinta também inclinado a ajustar sua maneira de encarar o
próximo, conforme vimos acima. Ser ou não um seguidor de Cristo
não depende de se estar fora ou dentro de alguma organização
religiosa! (Leia João 14:18-21 e 23, 24)
A pergunta não é “para onde vou” mas “para quem”. Do ponto de
vista bíblico, isso foi respondido pelo filho de Deus quando ele próprio
disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai
senão por mim”. (João 14:6)
A pergunta “o que faço agora” talvez deva vir depois de outras
como: “o que eu fazia como TJ? Servia a Deus ou a uma organização
humana?” O livro de Hebreus no capítulo 12 fala de uma grande
“nuvem” de testemunhas fiéis a Deus (Abraão, Isaque, Jacó, Moisés,
etc.) e depois disso incentiva a todos a “olhar atentamente para o
Agente Principal e Aperfeiçoador da nossa fé, Jesus”.
No entanto, se você chegou até aqui, vale lembrar que esse capítulo
não se destina a traçar mais um caminho ou apontar mais uma “religião
verdadeira”. Sob uma perspectiva cristã, os leitores são unicamente
lembrados da figura de Jesus e da importância do cristianismo como
forma, opção ou estilo de vida. (1 João 2:1-6; Heb. 7:25) Pensar e agir
nesse sentido, para muitos, evitam que alimentem a sensação de “viver
por viver”.
Feridas que Saram
488 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Uma frase de uma velha canção de Bob Dylan diz: “Se você não
acredita que haja preço por esse doce paraíso, apenas me lembre de
mostrar-lhe as cicatrizes.”
O atual “paraíso espiritual” tão celebrado entre as Testemunhas
cobra um preço alto. Os dispostos a pagá-lo continuam lá dentro pois
se supõem plenamente satisfeitos com isso. Por outro lado, os que
saem da organização podem levar algum tempo para se recompor do
pagamento.
Cuidar bem das cicatrizes pode incluir não ficar abrindo feridas por
se nutrir ódio a ex-companheiros quando eles mostram que nos
desprezam. Tentar entender que muitos desses são obrigados a fazer
isso, embora não o desejem de coração, é bem mais recompensador.
Cabe às vezes lembrar que essa atitude ensinada nada mais é que
uma velha e acintosa “vingança” da organização contra os que se
rebelam contra seu legalismo e autoritarismo. É um legado maldito que
ela passa aos seus filhos e isso tem se constituído no “feitiço contra o
feiticeiro”, pois à medida que avançamos no século 21, tal expediente
se transforma mais e mais num desserviço à ela mesma. E por quê?
Porque essa é sua forma mais retrógrada de reprimir as críticas a seus
ensinos que desonram ao Deus de amor. É uma fórmula cada dia mais
caduca e com efeito contrário.
As cicatrizes talvez jamais desapareçam totalmente mas elas
certamente cumprem seu papel, o de lembretes inapagáveis dos fardos
humanos que nos foram impostos no passado.
Quanto maior a alegria, a paz e a tranqüilidade de uma vida
equilibrada longe dos longos tentáculos da organização, tanto mais
rápida a cicatrização e regeneração do tecido emocional.
Fora da Organização, Dentro do Amor de Deus
“Que diremos, então, quanto a estas coisas? Se Deus é por nós, quem
será contra nós? ...Quem nos separará do amor do Cristo? Acaso
tribulação, ou aflição, ou perseguição, ou nudez, ou perigo, ou
espada? ...pois estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem
anjos, nem governos, nem coisas presentes nem coisas por vir, nem
poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criação
será capaz de nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus,
nosso senhor.” (Romanos 8:31, 35, 38-39)
Há Vida Fora da Organização? 489

Definitivamente, sair da organização não significa perder o amor de


Deus!
Muitos dos que saem NÃO se tornam altivos, orgulhosos e sem
humildade embora esse modelo seja asseguradamente previsto pela
organização. Ao contrário disso, muitos se sentem mais
“humanizados” e mais plenamente cientes de que estarão perante “a
cadeira de juiz de Deus”. Sabem que não devem se julgar superiores
aos seus semelhantes, nem podem tornar-se menos responsáveis por
seus atos. Aprenderam a confiar unicamente no amor e na misericórdia
de Deus para ajudá-los em todas as horas. Não tendo que dar satisfação
de sua conduta perante autoridades eclesiásticas, optam por um código
de conduta que honre e leve em consideração a expressa vontade de
Deus (Tiago 4:13-17), sabendo que são como “uma bruma que aparece
por um pouco de tempo e depois desaparece.”
Quando uma Testemunha de Jeová me perguntou por que eu
escrevia “minhas idéias” sobre a organização dela e porque eu
“perdera meu amor a Deus”, respondi-lhe que eu não fazia isso contra
Jeová Deus nem APENAS para defender “idéias minhas”. Fazia-o por
achar que outros também tinham o direito de ver a organização por
uma ótica menos míope e unilateral. Fazia-o para informar as pessoas
sobre o risco de estarem seguindo regras humanas que poderiam
comprometer até mesmo a vida delas. Assim sendo, eu me sentia
movido pelo amor ao próximo, cumprindo uma obrigação moral.
Indiquei-lhe também um texto:
“Mas, santificai o Cristo como Senhor nos vossos corações, sempre
PRONTOS PARA FAZER UMA DEFESA perante todo aquele que
reclamar de vós uma razão para esperança que há em vós, fazendo-o,
porém, com temperamento brando e profundo respeito.” (1 Pedro
3:15)
Acrescentei ainda que a Sociedade, já por mais de um século,
escrevia incansavelmente contra as crenças e conceitos de várias
organizações religiosas que ela condenava. Daí, pedi gentilmente que
ela abrisse o livro Clímax de Revelação, página 146, e observasse o
clérigo ironicamente flechado no traseiro. Ela disse que não tinha o
livro ali ao alcance, mas lembrava bem dessa gravura engraçada.
Perguntei se ela se sentia feliz ao ver sua religião orgulhosamente
estampar “essa caricatura, típica das publicações dos anos 30 na era
490 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Rutherford.” Para minha surpresa, ela respondeu que não. Por fim,
afirmei que eu mesmo já havia achado tais críticas muito “engraçadas”
e corretas, mas tentava não mais usar essa abordagem desrespeitosa,
pois algo me dizia que eu devia me referir respeitosamente à fé dos
outros e não julgar o cristianismo alheio de forma intolerante e
fanática. Agir com respeito poderia contribuir para que eu me
aproximasse do amor de Deus. Pouco depois ela desligou menos
“confusa”, como se descreveu no final.
Outra TJ (ativa) e que se dizia muito “antiga” na organização,
escreveu-me bastante irritada, e ordenou no final de seu e-mail:
“... E pare de correr atrás dos meus irmãos para lhes tirar da
organização por mostrar os erros passados dela...! O que você tem de
melhor para oferecer para eles? Tem outro caminho? Descobriu outra
verdade?”
Ao quê, respondi-lhe:
“Prezada leitora,
...E jamais corri atrás de seus irmãos para lhes tirar de algum lugar.
Não existe isso na Internet. As pessoas que vêm até nós. Agora, VOCÊ
e outras Testemunhas talvez estejam ‘correndo atrás das pessoas’ no
próximo final de semana, em visitas não solicitadas. Ou não é esse o
objetivo final do serviço de porta em porta - tirar alguém de algum
lugar? Quanto aos erros, quer ‘passados’ quer presentes, você bem
sabe que alguns não se interessam por eles. Uma considerável parte das
Testemunhas nem mesmo se importam se a organização está certa ou
errada — querem simplesmente ficar aí como você está, e pronto. Já
ouvi isso de muitas Testemunhas de uns tempos para cá. Uma delas
chegou a me dizer que, se a Sociedade liberasse o sangue para
transfusões, por exemplo, ela acharia isso ‘apenas mais um avanço da
luz que brilha mais e mais’. ...Muitas delas têm seus motivos pessoais
para ficar onde estão. Talvez não vejam vantagens que compensem
‘mexer no que está quieto’, não é verdade? Você deve conhecer outros
que ficam porque apreciam usufruir o poder dos cargos ou ‘privilégios’
que a organização lhes confere e que, provavelmente fora dela, jamais
teriam. Você deve saber que há também os que apreciam o destaque e
a “segurança” providos pela organização e sua mega-estrutura. Por
fim, deve também deduzir que existam outros que realmente acreditam
em tudo que a organização lhes diz vir da Bíblia. Olha, para ser muito
franco, cara leitora, disponibilizo as informações apenas para pessoas
Há Vida Fora da Organização? 491

que desejarem acessar e se informar, como você o fez, mesmo sabendo


que sua organização proíbe tal liberdade e que, se descoberta, sofrerá
terríveis punições caso não se retrate. Ademais, estou bem ciente de
que nem sempre devamos mexer na área de conforto emocional de
certas pessoas porque há coisas muito sérias a serem levadas em
amorosa consideração em cada caso. Quanto a ‘outro caminho’ e outra
verdade’, eu apenas aponto a resposta da Bíblia em João 14:6. Não é
esse o ÚNICO CAMINHO que as Escrituras endossam? Acho que
‘ele’ deveria ser suficiente para qualquer TJ tanto quanto o é para
mim.”
A colocação sobre nem sempre mexermos na área de conforto
emocional de certo grupo de Testemunhas de Jeová, é uma das
preocupações de muitos que estão fora da organização. R.L.O, um
amigo Testemunha de Jeová afastado (sua Homepage é
http://www.geocities.com/torredevigia), escreveu sobre esse aspecto
que leva em conta a questão do amor ao próximo:
“Há uma parcela das vítimas da Sociedade Torre de Vigia cujo
resgate seria DEMASIADO PERIGOSO por estarem em uma faixa
etária em que sua saúde não permite grandes abalos. O tempo também
corre contra elas e já não têm mais como se refazer das perdas
acumuladas ao longo de anos. São pessoas acima de 60 anos, com uma
história de décadas sob o controle do CG e cuja existência foi
totalmente dedicada a espalhar as idéias de Russell/Rutherford e Cia.
pela sua comunidade, sem medir sacrifícios. Encarar agora TODA
UMA VIDA DESPERDIÇADA é uma carga demasiado pesada para se
atar aos ombros já combalidos de pobres seres humanos
espiritualmente sedentos e ludibriados por conta dessa mesma sede.
Pessoalmente, tenho contato com algumas dessas pessoas — seres
humanos excelentes — aos quais eu JAMAIS OUSARIA FALAR
UMA SÓ PALAVRA DE TUDO O QUE SEI. Ao contrário, trato-os
como dependentes químicos além de qualquer ajuda, para os quais a
retirada súbita da droga causar-lhes-ia a morte quase imediata ou o
definhamento progressivo. Não quero isso para eles. A verdade tem, às
vezes, um preço muito alto. Salomão dizia: “quem incrementa o
conhecimento incrementa a DOR”. Concordo. Pelo menos uma parcela
das pobres vítimas TJ precisa ser poupada dos fatos. O mundo da
fantasia talvez lhes dê uma existência mais benigna nesta fase final de
suas vidas.
Creio que nossa mensagem devem destinar-se àqueles que AINDA
PODEM RESGATAR PARTE DE SUAS VIDAS. Isso é verdadeiro
492 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

no caso de jovens, com todo um futuro pela frente, ameaçado por


Brooklyn, e adultos que ainda podem reverter o mal, pelo menos na
vida de seus filhos menores. Os velhos e doentes precisam ser
poupados. Para citar um exemplo, há algumas semanas visitei um
ancião — figura muito querida e realmente um ser humano sincero e
bom. A “organização” É, DE FATO, A VIDA DELE. Ele teve de
submeter-se recentemente a uma neurocirurgia, o que resultou em uma
perda temporária de suas funções motoras. Encontrei-o muito
deprimido, abatido e chorando por qualquer coisa. Sobre a cama, vi
aquele ser fragilizado e busquei contribuir para sua recuperação,
animando-o com as palavras: “Tenha fé e continue orando. Estou certo
de que brevemente voltará a proferir discursos, ir ao campo e dirigir o
estudo das publicações.” Acho que o efeito de minhas palavras foi
bom. Ele se recupera rapidamente. Por outro lado, estou certo de que,
se ele tomasse conhecimento dos fatos, talvez jamais saísse daquele
leito, ou até saísse — rumo ao cemitério...
Que cada um saiba usar de discernimento, elegendo o público
adequado para tomar conhecimento do que sabemos. Do contrário,
faremos mais mal do que bem.”
Eis aqui uma questão difícil e que exige discernimento e madureza:
falar ou não falar para certos tipos de pessoas (Eclesiastes 3:1,7).
Evidentemente, no conhecimento há sofrimento, pois a Bíblia declara:
“...aquele que incrementa o conhecimento, incrementa a dor”
(Eclesiastes 1:18b). Porém, incontáveis vezes o preço da ilusão pode
ser muito mais alto! Qualquer que seja a alternativa escolhida, quer o
conhecimento ou a ignorância de alguém, dentro ou fora da
organização, o importante é continuar dentro do amor de Deus,
levando em conta o bem-estar de nosso próximo por pensar na relação
custo-benefício de cada opção.
Para ilustrar mais ainda esse ponto, recordo o que ocorreu na noite
em que minha esposa e minhas duas cunhadas Adriane e Andréa
entregaram suas cartas de dissociação ao corpo de anciãos. No final
daquela reunião, uma Testemunha de Jeová muito zelosa, que tinha um
coração muito bondoso, e já estava acima dos 60 anos de idade, por
nós muito amada, aproximou-se chorando copiosamente quando ouviu
sobre a saída delas e perguntou à minha esposa:
Há Vida Fora da Organização? 493

“Mas, irmã Silene, tudo que eu e Manuelzinho fizemos foi em vão?


Nada será de proveito? Tantos sacrifícios por todos esses anos,
servindo de sol a sol...?”
Minha esposa se sentiu profundamente sensibilizada com o abalo
emocional daquela irmãzinha. Comovida e com pena dela, apenas
assegurou àquela senhora que todos nós estávamos saindo da
organização mas jamais iríamos nos afastar de Jeová. E foi tão-
somente nas muitas lágrimas daquela irmã que descobrimos outra
razão pela qual muitos iriam preferir ficar. Entendemos, naquele dia,
quão difícil, para muitas pessoas que haviam dedicado o inteiro curso
de suas vidas ao serviço fiel e integral à organização, seria sair dali.
E essa é uma das razões para não estarmos interessados em “correr
atrás das pessoas para lhes tirar de algum lugar” embora creiamos que
a informação deva ser disponibilizada para quem a desejar pois foi
desse modo que nós mesmos tivemos a chance e o direito de obtê-la
um dia e ao quê somos infinitamente gratos.
Embora muitos de nós, “apóstatas” do ponto de vista da
organização, continuemos a ser sentenciados e condenados à
“destruição” pela Torre de Vigia, sentimo-nos felizes de que APENAS
DEUS possa nos julgar acertadamente no tempo devido (1 Cor. 4:3-5).
Sentimo-nos também em paz com nossas consciências pois sabemos
que dentre os supostos “apóstatas”, existem muitas pessoas que
mostram genuíno amor ao seu próximo, conforme evidenciado na
atitude de R.L.O. citado anteriormente.
É também na visão das cicatrizes quase apagadas de muitos que
saíram, de sua liberdade e felicidade atuais, que encontramos forças
adicionais para continuar o trabalho de esclarecimento. E é por meio
do testemunho vivo de muitas dessas pessoas que hoje em dia estão
vivendo de modo livre e cristão que fortalecemos a compreensão dos
efeitos danosos do jugo humano, ao passo que alertamos outros sobre
os perigos disso. (Revista A Sentinela de 15 de julho de 1974, pág.
419, par. 3)
Ao pensarmos na liberdade cristã, devemos enfatizar as palavras
poderosas do apóstolo Paulo em Gálatas 1:10:
494 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

“É, de fato, a homens que agora estou tentando persuadir, ou


[é] a Deus? Ou busco eu agradar a homens? Se ainda estivesse
agradando a homens, não seria escravo de Cristo.”
Esse forte alerta bíblico deve nos lembrar de que é somente na
pessoa amorosa de Jesus Cristo e em seu jeito maravilhoso de mostrar
compaixão e misericórdia que podemos encontrar genuína paz, e é por
essa razão que muitos optam por continuar fora da organização mas
dentro do amor de Deus, como escravos apenas de Cristo. (Leia
Mateus 11:25-30).
Capítulo 12

Experiências que a
Organização Não Relatou
“Por fim, irmãos, todas as coisas que são verdadeiras, todas as coisas
que são de séria preocupação, todas as que são justas, todas as que são
castas, todas as que são amáveis, todas as coisas de que se fala bem,
toda virtude que há e toda coisa louvável que há, continuai a considerar
tais coisas.” (Filipenses 4:8)

A Pedagogia do “Silêncio Piedoso”

“Se aquilo que você estiver prestes a dizer, irmão, não for edificante,
então NÃO DIGA”. Terminada a frase, o orador convidou a assistência
a acompanhar a leitura do texto de Efésios 4:29a., no qual Paulo
admoesta:

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra pervertida, mas a que


for boa para EDIFICAÇÃO...”

Depois disso, passou a descrever como “certas conversas” entre


irmãos poderiam ser “corrosivas da fé ou perniciosas para a
congregação”. Em seguida, acrescentou:

“Os irmãos devem evitar dizer coisas que possam servir de


‘tropeço’ ou que façam um irmão ficar ‘fraco na fé’. Devem desprezar
qualquer coisa que sirva de ‘mau testemunho’ aos de fora.”

Fez então uma longa pausa e, olhando de modo duro, condenatório


e enigmático, passou a dar exemplos de “comentários perigosos”:
criticar o modo de agir dos anciãos daquela congregação, reclamar do
modo de agir do “escravo fiel e discreto” (comparando tal

495
496 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

comportamento à atitude de Miriã e Arão em Números 12 quando


falaram contra Moisés, servo designado de Deus), etc.
A assistência, espantada e envolvida pela eloqüência daquele
orador, como de costume, submetia-se mais uma vez à metodologia
usada pela organização para mitigar um dos maiores pesadelos dela: o
espírito “rebelde” e o “modo independente de pensar” de alguns
membros.
A intenção desse padrão recorrente é proteger a organização das
críticas contra o modo DELA e de seus representantes locais (anciãos)
arbitrarem sobre os assuntos pessoais das Testemunhas em suas
comunidades. Cada Testemunha é, exaustivamente, instada a sujeitar-
se aos moldes dela.
Como já escrevi, o membro que critica a organização deve sofrer
um “ajuste no seu modo de pensar” a de fim de se “realinhar à
marcha”. Só assim ele poderá ostentar o status de “membro aprovado”,
“irmão forte na fé” ou “boa associação cristã”. Críticas nunca são bem-
vindas. Um tipo de “silêncio piedoso” é incentivado de modo
coercitivo.
Em suma, as Testemunhas de Jeová podem falar da organização,
sim, mas apenas de seus aspectos “edificantes e positivos”, a menos
que queiram ser mal vistas por seus “irmãos”. Esse é, também, um
método de controle da grande perda de membros que ela sofre em
vários países no momento.
Essa lei de “silêncio piedoso” e reverência à organização é também
praxe de sistemas repressivos, um método caduco usado por regimes
totalitários. Na organização, essa repressão à liberdade de expressão
recebe um apelido altissonante e respeitoso: “sujeição à direção
teocrática!”
Visto que os membros só devem falar de coisas que sirvam para
glorificar a organização, exaltando-a como a “única, verdadeira e
pura”, entende-se que é “desaconselhável” (=proibido) criticar os
“arranjos teocráticos” locais, também. Conseqüentemente, fica
adicionado à essa ditadura poderosa, um ingrediente essencial:
problemas sérios são varridos para debaixo do tapete para evitar
“vitupérios para o nome de Deus” (Deus = organização). Para o
consumo externo, apenas o lado bom, positivo e que trouxer louvor
para a organização deverá ser exposto. (Mateus 23:27) Enquanto isso,
ela mesma jamais desperdiça uma oportunidade de condenar outras
Experiências que a Organização Não Relatou 497

religiões e seus clérigos (Mateus 7:1-5). As Testemunhas fazem isso


com orgulho, na convicção de que estão “na verdade”.
No entanto, é sabido que em toda religião há a banda boa e a banda
podre, os enganados e os enganadores, os bons e os maus. Essa idéia é
corroborada pelo testemunho da própria história bíblica. Relatos como
o de Paulo em 1 Cor. 5:1, mostra-nos que mesmo nas primitivas
congregações cristãs havia pessoas iníquas; o joio convivia ao lado do
trigo. Jesus indicou que pelos frutos reconheceríamos os seguidores
dele (João 15:8), mas ele não mencionou que tais pessoas só poderiam
ser identificadas numa única organização ou instituição religiosa, ainda
que alguma no futuro fizesse tais alegações fervorosas de “serviço fiel”
a ele (Mateus 7:21-23). Assim, deduz-se claramente que indivíduos
fiéis poderiam ser achados nas religiões do mundo. (Atos 10:34, 35)
Os cristãos primitivos tentaram não servir de “causa de tropeço”
para outros, mesmo diante de tribulações e dificuldades (2 Cor. 6: 3-
10). Mas uma coisa é não servir de tropeço quando na defesa das
coisas sagradas (1 Cor. 15:58; Mateus 18:6-7) e outra bem diferente é
quando na defesa de interesses de homens que impõem que todos
devem obedecê-los como se estivessem obedecendo ao próprio Deus
Altíssimo. (Gálatas 1:6-12; Salmos 146:3)

É Hora de Falar!

A fim de fornecer mais combustível de zelo/apreço ao “serviço fiel à


organização visível de Deus”, é muito comum, antes de congressos e
assembléias, os oradores prepararem membros com uma folha de
serviço leal à organização para contar alguma “experiência edificante”
pertinente a temas de discursos públicos prontos. A finalidade é que
todos sigam exemplos de fé, garantindo para si mesmos “ricas bênçãos
e a aprovação de Jeová, Deus”. Esses relatos são seguidos de
estrondosos aplausos e lágrimas de emoção.
A maioria dessas experiências trata de “vitórias espirituais” ou de
como alguns superaram empecilhos para aumentar seu desempenho e
dedicação. Nessas experiências, as verdadeiras causas das dificuldades,
que são essencialmente frutos de interpretações particulares da Bíblia
ou meras imposições humanas recebidas como “alimento espiritual”,
passam completamente despercebidas.
498 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Essa é a hora de falar, de chorar de emoção, de aplaudir..., e de


tomar bons sustos! É que, muitas vezes, algumas Testemunhas ficam
atordoadas quando vêem certos “irmãos” subirem à tribuna para relatar
“fantásticas experiências” sobre algum ponto em que eles mesmos
falham insistentemente em suas comunidades. Ora, “Como pode a irmã
X, relapsa como mãe/dona-de-casa, ou o irmão Y que é tão falho como
genitor/cônjuge, filho/filha, estudante ou profissional, etc., estar ali
cheio de moral para falar?” Mas mesmo diante dessa constatação, a
filosofia de que se “coloque tudo na conta da imperfeição”, funciona
eficientemente nessas horas. Afinal de contas, dizem, “só a
organização é perfeita; os irmãos são imperfeitos”. Mas, o que é uma
organização à parte das pessoas que a compõem? Ademais, não
aconselha a Bíblia que se imite exemplos de conduta e fé em Hebreus
13:7?

Objetivos desse Capítulo

O principal objetivo desse capítulo é contar algumas experiências que


a organização não contou. Portanto, cabe bem a pergunta: o que dizer
dos relatos de pessoas que estiveram nesses mesmos congressos e
assembléias, que também prestaram uma extensa folha de serviço ‘fiel’
à organização e mais tarde resolveram sair? O que as levou à decisão
de sair? O que dizer do cristianismo que essas pessoas praticam hoje
em dia? É ele válido para Deus? Têm tais pessoas algo “edificante”
para nos contar? Ou será que os cristãos só podem ser “edificados” por
meio de relatos pré-fabricados de pessoas ativas num movimento
religioso?
Esse capítulo traz relatos de pessoas reais que têm muito a nos dizer
sobre a liberdade cristã sem as “obrigações teocráticas” conforme
prescritas, por exemplo, na cartilha de organizações como a das
Testemunhas de Jeová. Quando saem, muitos vêem que tal liberdade
cristã não pode mais ser entregue a ninguém ou a nenhuma religião e
que, em sentido espiritual, NADA de valor perderam com a saída. Isso
nos faz lembrar as palavras de Karl Marx em um de seus discursos:
“operários, nada tendes a perder a não ser seus grilhões”.
A pedido de muitas Testemunhas de Jeová e ex-membros no Brasil,
iremos relatar experiências verdadeiras que a organização não contou,
de pessoas boas, sinceras, cristãs. E por que as relatar? Para ajudar
Experiências que a Organização Não Relatou 499

pessoas dentro e fora da organização da Torre de Vigia e de outras


religiões, combalidas pelo peso do legalismo religioso e
descompensadas pelos tratamentos injustos de dirigentes locais
comandados como marionetes pelas hábeis mãos de sua poderosa
organização religiosa.
Por muitos anos, quando a Internet ainda não existia, alguns talvez
imaginassem estar sozinhos no calvário de silêncio imposto pela Torre
de Vigia, mas agora podem se expressar e ouvir sobre outros que já
passaram por “experiências” semelhantes. Podem ouvir como muitas
pessoas têm “vencido dificuldades” sem o senso de obrigação a um
conjunto de regras humanas (Mateus 15:9)

O Que mais Esperar desse Capítulo

Agradecemos aos amigos que compartilham conosco seus medos, suas


ansiedades, suas incertezas, suas lutas desiguais contínuas, bem como
suas grandes vitórias, seu sucesso presente e suas perspectivas cristãs.
Sem santimoniosidade, nem sentimentalismos ou pieguices, podemos
dizer que Jeová Deus é testemunha de quão honestas, dolorosas ou
espinhosas foram algumas dessas experiências. Imaginamos que Ele
ouviu algumas delas serem sussurradas de modo humilde, cândido,
sem censura ou “ensaios”, mas de coração aberto, partido ou
dilacerado enquanto eram digitadas sobre um teclado molhado...
Muito mais pode ser dito para se ter um quadro melhor do que
ocorre por detrás dos muros da Torre de Vigia, assim como em outras
religiões que professam ser semeadoras das verdades da Bíblia. No
entanto, o tempo se encarregará de nos demonstrar muito mais.
Esperamos que tais “experiências” induzam muitos leitores
reflexivos a aprender sobre os perigos do autoritarismo religioso, da
manipulação de massas, dos erros e dos acertos de pessoas que um dia
confiaram suas consciências ou suas próprias vidas às mãos de
homens, imaginando que as estivessem entregando às mãos de Deus.
Embora as experiências a seguir não sejam “receitas prontas” do
que outros podem fazer em suas vidas para agradar a Deus, esperamos
sinceramente ajudar o leitor “temente a Deus” a continuar “esforçando-
se vigorosamente para entrar pela porta estreita”, servindo somente ao
soberano Senhor do universo e Criador de todas as coisas. (Lucas
13:24)
500 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Em conclusão, essa página não endossa religiosamente os estilos de


vida escolhidos pelas pessoas que nos contaram suas experiências.
Cada leitor deve “usar suas faculdades perceptivas treinadas para
distinguir tanto o certo como o errado”, discernindo o que é válido ou
não na prática do cristianismo e da adoração legítima a Deus. (Hebreus
5:14; Deuteronômio 11:26-28) Muitas pessoas, dentre elas várias
Testemunhas de Jeová, nos escrevem felizes por saber que ex-
membros da organização escolheram a liberdade cristã. Há leitores que
se sentem contentes de que tantas pessoas estejam a cultivar uma
relação pessoal e reverente com o Criador, preferindo um modo de
vida respaldado na Palavra Dele, a Bíblia sagrada, ao passo que
buscam acatar o convite precioso que Ele nos faz em Isaías 1:18-19.
Nota: Por respeito à privacidade alheia, alguns nomes estão
omitidos enquanto outros foram expostos, conforme a permissão de
cada autor. Alguns têm membros da família ativos, Testemunhas de
Jeová, e não quiseram causar mais divisão.

Experiências Reais

Minha História — 10 Anos nos Pátios


da Torre de Vigia (Por N. R. P.)

Estamos no agitado e truculento ano de 2001, o ano do atentado terrorista ao


World Trade Center. Foi nesse ano que resolvi entregar minha carta de
dissociação ao Corpo de Anciãos da congregação que eu freqüentei por dez
anos com minha família.

O Começo de Tudo

Minha história começou quando ingenuamente aceitamos estudar a Bíblia


com as Testemunhas de Jeová. Na verdade, meu marido e eu não tínhamos
nenhuma religião porque não acreditávamos nelas. Não éramos idólatras,
nem tínhamos vícios — presas perfeitas para essa comunidade.
Enfim, batizamo-nos juntos e iniciamos com toda alegria e fervor nossa
carreira “teocrática”.

Regras e Imposições sem Base Bíblica


Experiências que a Organização Não Relatou 501

Para sermos aceitos no grupo, temos de aceitar a imposição de questões


que biblicamente ficariam a cargo da consciência de cada um: o comprimento
da saia era de 8 dedos abaixo do joelho — questão que as “queridas” irmãs
frisavam com orgulho; esmaltes coloridos, pasmem, eram “hábitos de
Jezabel”; cabelos curtos ou com tonalidades marcantes eram “pedras de
tropeço”, e assim por diante.
Entramos no ritmo. Parecíamos pessoas saídas da mesma forma, como
que produzidas em série.
A pobre da minha filha com apenas 12 anos batizou-se, é claro, com o
apoio fervoroso dos pais e da congregação. Até que comecei a me interessar
por livros de psicologia, e notei que eu mascarava minha real personalidade.
Foi então que aboli aquelas roupas conservadoras e passei a me vestir de
forma mais despojada, sem ser deselegante ou imoral, afinal de contas,
caráter não se aprende com religião. Eu já tinha cabelos razoavelmente curtos
com a nuca batida, mas o escândalo se deu quando decidi simplesmente
cortar um pouco mais, afinal de contas, meu marido e meus filhos aprovaram,
e o principal: eu gosto!
Às escondidas e sem entrar em contato com meu marido que na época já
era Servo Ministerial, retiraram meus privilégios na Escola do Ministério
Teocrático.
Fiquei muitos meses sem fazer o que mais gostava: as partes na Escola do
Ministério Teocrático. Bem, achamos que, pelo fato de haver duas
congregações se reunindo, as partes se tornariam mais esporádicas...; santa
ingenuidade! Fomos realmente notar o real motivo depois que um ancião em
“Necessidades Locais”, frisou uma revista “A Sentinela” de 1963 (ou 66?)
que tanto os homens como as mulheres cristãs deveriam seguir o tamanho
determinado do comprimento dos cabelos. Eu queria morrer de tanta
vergonha! As “queridas” irmãs começaram a passar a mão nas vastas
cabeleiras para ver se o comprimento “batia” com o que fora falado na
tribuna. Ao final da reunião, saí às pressas. Foi uma sensação horrível que eu
nunca havia sentido em outro lugar na minha vida!
Liguei para o ancião e perguntei em que base bíblica ele havia dito tal
coisa. Tudo com educação, é claro! Ele, rispidamente disse que eu não tinha
direito de questioná-lo e que tudo o que fora dito era mesmo para mim.
Reuni um material e com muita calma e educação provei a eles que
agiram indevidamente, afinal de contas eu não estava causando problemas a
ninguém. Na época, eu tinha 5 estudos bíblicos e 3 “estudantes” minhas
freqüentavam as reuniões. Meu marido deixou claro que gostava de mim da
maneira que eu sou, alegre, vaidosa, franca e com os cabelinhos curtos
(risos). Eu queria apenas o respeito que cabe à mulher cristã que tem “valor
aos olhos de Deus!” (1 Pedro 3:3,4)
502 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Retaliações

Depois de várias reuniões, o superintendente veio até minha casa e me


garantiu que meus privilégios me seriam devolvidos, que eu deveria esquecer
tudo isso e passar uma borracha, afinal de contas a tal da IMPERFEIÇÃO
reinava lá dentro.
Feliz da vida, achei que tudo estava resolvido. Mero engano! Depois
disso, eles nos congelaram espiritualmente; partes, apresentações, orações,
etc., foram negados à minha família.
Um dia, convidaram todos os jovens e até crianças para relatarem
experiências da escola e somente minha filha e dois “jovens-problemas”
ficaram de fora. Até hoje, eu escuto a voz dela me perguntando naquela
ocasião: “Mãe, o que foi que nós fizemos? O que foi que EU fiz?” Comecei a
notar que eu era “carta marcada”; falei demais e o preço estava sendo
cobrado.
Aos poucos fomos “morrendo espiritualmente” e nas parcas visitas de
pastoreio eu desabafava e, na semana seguinte, recebia uma “apresentação” e
depois, nada mais. Meu marido era um bom orador, uma pessoa
superamorosa, calmo, sincero mas o seu erro fora apoiar uma suposta
REBELDE, SUA PRÓPRIA ESPOSA.
Nos últimos 3 anos em que estivemos na organização, fomos definhando
“espiritualmente”. Minha filha, hoje com 18 anos de idade, mudou bastante.
Antes ingênua e até bobinha, tornou-se desconfiada e com grande dificuldade
de acreditar nas pessoas. Criamos uma sebe onde só entravam os em quem
podíamos confiar. Tornamo-nos, com o tempo, frias e agressivas quando
provocadas. Ganhei de brinde uma doença chamada FIBROMIALGIA, ou
seja, reumatismo muscular e sofri por 2 anos de dores terríveis nas pernas,
nos braços e ombros. A causa? Segundo o médico, era “algo de fundo
emocional, devido algum trauma psicológico”, e esse em meu caso, era a
REJEIÇÃO sofrida na organização. Acrescentando a tudo isso, nessa época
eu havia descoberto que era filha adotiva. Imagine o leitor como ficou minha
cabeça.
A rejeição da congregação continuou até chegar ao ponto de nos últimos
meses do ano de 2001, minha filha e eu não sermos convidadas para mais
nada, nem mesmo um estudo bíblico, nem revisitas; nenhum telefonema,
nada. Éramos como pessoas estranhas, leprosas espirituais. Pedi ajuda. Disse
que estávamos “morrendo espiritualmente”, que aceitaríamos qualquer coisa
— convites para revisitas, para estudos mas, nada. Começamos a faltar às
reuniões, estudos de livros, porém, em nenhum momento, sim, em nenhuma
situação, essa gente nos viu com olheiras, desarrumadas, cabisbaixas, como
eles gostam de ver quem está “se afastando da organização”. Não. Eu e
Experiências que a Organização Não Relatou 503

minha filha somos muito vaidosas, admiramos o belo, a elegância discreta


que mulheres tais como Jackie K. Onassis souberam demonstrar.
Sempre amamos a Jeová e por isso, apesar de ter visto certas coisas com
as quais não concordávamos, aceitávamos porque achávamos que nós é que
éramos o problema, pois demonstrávamos rebeldia, encarada como “fraqueza
na fé”. Onde já se viu questionar o uso dos “Relatórios” mensais, ou o porquê
dessas malditas “horas” de campo e de estudo, ou o poder da hierarquia
eclesiástica e o “escravo fiel e discreto” que recebe o alimento..., (mas de que
forma?! Por mensagens ou por telepatia?) Aniversários? Etc.

Descobertas e Impasses

Até que um dia, eu me sentei diante de meu computador e decidi ver os


sites dos “demônios”, dos “renegados”, dos “apóstatas” que “falam mal de
Jeová”, etc. Quando comecei a ler o que escreviam...
Depois de tudo que descobri, pedi minha dissociação. Minha filha e meu
filho (11 anos de idade) nunca mais quiseram voltar ali. Meu marido e minha
filha se dissociaram no dia 25 de outubro de 2001. Meu marido ficou muito
dividido no começo e demorou um pouco mais para acordar do “transe” que
para mim durou 10 anos. Ele era muito dedicado à organização e não
conseguiu facilmente separar a adoração a Jeová da adoração à organização e
por vezes se sentiu incomodado com minha alegria e a alegria de meus filhos
longe da organização, antes dele mesmo resolver sair definitivamente. Mas
graças a Deus nossa família está livre. Estamos em paz e felizes!
Aqueles dias que antecederam nossa saída definitiva foram muito difíceis
para nós, como família.
Minha filha não queria entregar a carta de dissociação porque ela dizia
que não importava se algum dia fosse desassociada. Para ela, a organização
não merecia satisfação alguma. Quanto a mim, até hoje não sei se foi dado o
anúncio da minha dissociação, mas isso também não me interessa mais.

Conclusão

É engraçado! Olhando para trás, parece que tudo foi um pesadelo. Sinto
uma sensação de vácuo e a impressão de que não vivi 10 anos ali dentro pois
as pessoas dali me parecem apenas estranhas, e no momento em que relato
minha experiência de envolvimento com a Torre, ainda lamento muito essa
terrível falta de educação, de ética e de amor delas para com todos os que dali
resolvem sair. Como podem pessoas que anteriormente freqüentavam nossa
casa, diziam-se nossos “irmãos na fé”, “companheiros leais, dispostos a dar a
vida por nós...”, virar-nos o rosto agora? Tenho pena deles pois são produtos
da alienação humana; não possuem consciência ou vida própria; são
504 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

teleguiadas por homens miseráveis. O filme “Matrix” mostra esse tipo de


dominação mental e a retrata fielmente. As pessoas dessa ficção são tão
judiadas pelo sistema que NÃO estão preparadas para serem “desligadas”, e
algumas jamais serão! Se você ainda não assistiu a esse filme, então reserve
um tempo e assista. Nossa vida mudou para melhor. Continuamos delineando
nosso caráter e nossa moral nos caminhos de Deus, felizes e sem medo de
desagradar pessoas pelo que somos e pensamos.
Esperamos sinceramente que mais e mais pessoas se libertem dos grilhões
da organização e possam descobrir a liberdade de que Cristo falou em João
8:31,32.
O livro bíblico de Deuteronômio no capítulo 11, versículos 18-21, nos
lembra apropriadamente:
“E estas minhas palavras tendes de fixar no vosso coração e na vossa
alma, e atá-las como sinal sobre vossa mão, e elas têm de servir de frontal
entre os vossos olhos. Também, tendes de ensiná-las aos vossos filhos,
falando delas sentado na tua casa e andando pela estrada, e ao deitar-te e ao
levantar-te. E tens de escrevê-las sobre as ombreiras da tua casa nos teus
portões, para que sejam muitos os vossos dias e os dias de vossos filhos sobre
o solo de que Jeová jurou aos vossos antepassados que lhes havia de dar,
como os dias dos céus sobre a terra”.

“Minha Vida ‘na Verdade’ e depois Dela” (Por Sandra Sílvia)

Quando Tudo Começou

Vou começar minha história pelo começo...


Nasci “na verdade” e assim fui criada até mais ou menos meus 16 anos.
Foi uma infância difícil, pois meu pai não era TJ; era alcoólatra e cresci
no meio de brigas, discussões por causa do modo como ele falava da “maldita
religião”; era assim que ele tratava a religião de minha mãe.
Em casa um sofrimento, na escola outro. Sentia-me um E.T., um ser
diferente das outras crianças.
Já na adolescência, começaram os questionamentos, queria saber o porquê
de não poder certas coisas, como dançar e fazer passeios com os grupos da
escola, etc.
A resposta era sempre a mesma: “Más associações estragam hábitos
úteis”.
Como na minha cidade, na época, só havia uma congregação, e quase não
havia jovens, costumávamos visitar as congregações das cidades vizinhas
para poder nos associar com outros jovens. Costumávamos nos juntar depois
das reuniões para fazer um lanche, conversar, ouvir músicas e às vezes,
Experiências que a Organização Não Relatou 505

“dançar” — tudo entre “irmãos”. Mas até isso depois nos foi proibido, pois
os anciãos achavam que nosso comportamento era “mundano”.

A Revolta

Eu era jovem, queria usufruir minha adolescência, queria ser uma jovem
normal, mas isso não era permitido para uma TJ.
Comecei a namorar um rapaz TJ, mas ele era muito jovem e minha mãe
não permitiu o namoro. Como dentro da organização não se podia quase
NADA, comecei a me afastar, e como dizia minha mãe “a seguir os passos do
mundo”.

A Desassociação

Fui desassociada porque cometi “fornicação”, fiquei grávida e não me


casei.
Quando fui convocada pela Comissão Judicativa, estava sinceramente
arrependida, mas isso não foi levado em conta. Ninguém me perguntou por
que aquilo havia acontecido, ninguém questionou meus sentimentos,
ninguém perguntou como aconteceu, porque aconteceu...; houve só uma
avalanche de acusações.
Fui acusada por coisas que nunca havia feito, por coisas que a gente não
tem culpa (um ancião chegou a dizer que eu havia pecado porque eu estava
sempre bem arrumada e maquiada).
Mas o que mais me magoou, me machucou, foi o fato de eles terem
acusado minha mãe, que estava presente à reunião. Disseram que ela era
culpada pelo “meu erro”. Mesmo assim, passado algum tempo depois que
meu filho nasceu, voltei a freqüentar as reuniões. Mais sofrimentos...! Mas eu
estava arrependida e queria voltar, e queria criar meu filho “na verdade”; não
queria ter “culpa de sangue”.

Minha Crise de Consciência

Quando fui para o hospital para dar à luz, minha mãe estava junto comigo.
Tive problemas no parto e uma hemorragia na qual perdi muito sangue. O
médico pediu autorização a minha mãe para fazer uma transfusão e solicitou
que ela chamasse os familiares para saber se alguém poderia ser doador, visto
que meu tipo sangue era negativo. Mas ela não autorizou a transfusão (e
também não avisou ninguém), mesmo com o médico lhe dizendo que sem
transfusão eu morreria.
506 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Como eu estava inconsciente, o médico fez a transfusão contra a vontade


de minha mãe. Acho que graças a ele, hoje estou viva. Mas carreguei a culpa
por ter recebido sangue durante muitos anos.

Meu Pedido de Readmissão e o Momento da Decisão

Após mais ou menos 1 ano depois que meu filho nasceu e eu ter voltado a
assistir às reuniões regularmente, e também ter uma boa conduta de acordo
com as normas da organização, resolvi pedir minha readmissão. Escrevi uma
carta à comissão e fiquei aguardando uma resposta — resposta esta que
nunca vinha.
Minha vida foi virada de ponta-cabeça e “monitorada”. Certos irmãos me
seguiam na rua para ver aonde eu ia e com quem eu conversava. Sentia-me
como se fosse uma criminosa sendo investigada pela polícia.
Daí então comecei a perceber a diferença no tratamento dado aos que
eram desassociados, pois eu tinha uma amiga que tinha sido desassociada
quase na mesma época e pelo mesmo motivo, com a diferença de que ela
havia se casado e eu não, e ela foi readmitida alguns meses depois que o filho
nasceu.
Ficava muito triste pois tinha perdido todos os meus amigos, pessoas que
me eram muito queridas; queria muito ser readmitida para poder conviver
com aqueles que me eram estimados, que eu julgava meus verdadeiros
amigos e irmãos.
Quanta tristeza, quantas lágrimas! Ver as pessoas que eu amava
sinceramente, virando o rosto, muitas vezes dentro de meu próprio lar!
Quantas vezes eu me recolhia em meu quarto quando chegava algum irmão
para almoçar ou jantar em minha casa...! Esperava até eles irem embora para
depois ir comer, com medo de constrangê-los com minha presença. Quantas
vezes ouvi minha mãe me dizer que muitos dos irmãos não vinham à nossa
casa por minha causa...! Quanta, quanta dor!
Fiquei com uma ferida enorme no coração, que só aumentava com a
demora da resposta ao meu pedido de readmissão. Comecei a perder as
esperanças; começaram a aparecer as dúvidas e comecei a questionar “a
verdade”.
Como poderia um Deus que era chamado de “Pai Amoroso”, infligir tanto
sofrimento? Depois compreendi que não era nosso Pai, mas sim aqueles que
diziam seguir os ensinamentos Dele.
Passei então a desacreditar em tudo, e a me afastar novamente.
Até que um dia, voltando de um congresso, um irmão de uma
congregação vizinha perguntou por que eu ainda não tinha pedido minha
readmissão, visto que eu continuava a freqüentar as reuniões e os congressos.
Expliquei a ele que eu já havia feito isso mas não havia obtido qualquer
Experiências que a Organização Não Relatou 507

resposta. Ele então levou o caso ao Superintendente de Circuito e, após


alguns meses, fui finalmente readmitida. Para minha surpresa, vieram mais
sofrimentos, pois mesmo depois de ser readmitida, muitos irmãos evitavam
conversar comigo. Eu era excluída de programas e passeios feitos pelos
irmãos, e era discriminada por ser mãe-solteira.
Mais uma vez, comecei a me questionar se realmente aquela era a religião
verdadeira, e fui me afastando cada vez mais, mas desta vez também me
afastei de minha família e ficava a maior parte do tempo no trabalho e na
escola, pois tinha voltado a estudar. Como dizia minha mãe, voltei a “fazer
parte do mundo”.
Fui mais uma vez desassociada! Só que desta vez resolvi que iria agir
diferente: não abaixaria mais minha cabeça quando encontrasse um “irmão”
na rua e também não iria mais me esconder quando um deles fosse à minha
casa — se eles não quisessem minha presença, que não viessem!
Desde que fui desassociada pela segunda vez, tive muitas brigas com
minha família por causa da organização, pois morava com minha mãe que é
TJ até hoje. Ela ficou até sem conversar comigo, seguindo o conselho da
organização.
Até que um dia, eu a chamei para uma conversa séria e expliquei que não
pretendia mais voltar para a organização, que Jeová nos tinha dado o livre
arbítrio, e que eu não tinha deixado de ser filha dela e que eu, mesmo que ela
não me aceitasse, continuaria a amá-la. Ela ficou meio chateada por uns dias
e acabou voltando a falar comigo. Com o passar do tempo e lentamente, as
coisas foram se restabelecendo. Hoje nos damos bem e ela me trata com
carinho novamente.
Nunca deixei de acreditar em Deus, mas resolvi que não preciso mais de
uma religião para seguir os ensinamentos Dele. Acredito que Ele é o Criador
do Universo e um Deus que criou tantas coisas maravilhosas e que nos deu a
vida, é um Pai muito Amoroso. (Atos 17:22-31)

O Presente e o Futuro

Sei que existem muitas controvérsias se a Bíblia é realmente toda


inspirada por Deus, mas resolvi que vou guardar e aplicar as coisas boas que
me foram ensinadas. Também resolvi viver em paz com minha consciência,
sem ficar me culpando. Se estou agindo certo ou errado, não é nenhum
homem que vai me julgar.
Decidi viver minha vida nesta terra sem achar que devo julgar como será
o futuro. Seja como Deus decidir. Resolvi fazer aqui o meu paraíso, junto de
minha família e amigos.
508 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Hoje é que estou descobrindo quanta sujeira existe lá dentro, quantas


mentiras e quanta falsidade! Eles, que dizem pregar “a verdade”, quantas
mentiras estão a divulgar!
Tenho pena das pessoas inocentes que estão lá dentro pois não fazem
idéia, assim como eu não fazia quando não tinha acesso às informações que
agora tenho. Mas é muito difícil tentar ajudá-las pois elas estão surdas e
cegas pela organização.
Só me resta hoje lamentar por tanto tempo perdido e viver do melhor
modo os dias pela frente, seguindo a sabedoria não de homens mas do Deus
que nos insta em Sua Palavra, a Bíblia:
“A sabedoria de cima é primeiramente casta, depois pacífica, razoável,
pronta para obedecer, CHEIA DE MISERICÓRDIA E DE BONS FRUTOS,
SEM PARCIALIDADE, SEM HIPOCRISIA. Além disso, o fruto da justiça
tem a sua semente semeada sob condições pacíficas para os que fazem paz.”
(Tiago 3:17,18)

Minha Jornada em Busca de Deus,


do Amor e da Vida” (Por “Débora”)

O Casamento

Ambos éramos “cristãos batizados”, Testemunhas de Jeová, e estávamos


casados fazia bom tempo.
Sabe uma bola de neve, que vai crescendo à medida que rola? Assim eram
meus problemas maritais. Com o passar do tempo, a convivência que nunca
foi boa tornou-se insustentável. Por fim, minha parte emocional estava tão
abalada que, se eu continuasse, iria precisar de sério tratamento médico.
Então resolvi encerrar de vez esta triste história de “casamento cristão feliz”.
Outro motivo para assumir a separação era minha filha que não via
harmonia e paz no lar “cristão”. Tenho certeza que isso afetava muito mais a
ela do que conviver com pais separados que se relacionassem pacificamente.
Hoje, ela não vive num lar de desavenças. Ela e eu nos damos muito bem e
somos felizes juntas.
No entanto, um ancião da congregação havia dito que era melhor que ela
tivesse continuado a ver meu esforço em preservar meu casamento e que teria
sido melhor que os irmãos tivessem continuado achando que nós, digo, meu
marido e eu, nos dávamos bem. Ora, tenha santa paciência! Resolvi dar um
basta no fingimento e na hipocrisia.

A Separação

Fui casada durante 14 anos.


Experiências que a Organização Não Relatou 509

Minhas qualidades espirituais fizeram com que meu ex-marido acreditasse


que eu nunca iria me separar dele. Enganou-se! Um dia eu dei um basta. E
tenho minha consciência tranqüila de que fui uma excelente esposa (ele
afirma isso para todos até hoje), e de que dei todas as chances possíveis a ele.
Mas quando disse “chega”, nada nem ninguém me fez voltar atrás. A
consciência dele não está tranqüila como a minha, e ele ainda é Testemunha
de Jeová. Sei que isso conta muito para as Testemunhas de Jeová. Sei que
meu marido e eu poderíamos ter sido felizes e lutei muito para isso. O
egoísmo dele não permitiu.
Hoje, ele tem consciência disso, mas antes não pensava em como suas
atitudes me afetariam. Ele me perdeu para sempre... Um homem não precisa
perder sua esposa (Provérbios 31:10) e a oportunidade de criarem seus filhos
juntos, e disso estou bem ciente.
Preparei uma carta explicando os motivos da minha separação e aos
anciãos e parti para a parte legal. Meu marido não quis assinar, e por isso, dei
entrada na separação litigiosa nessa ocasião.

Outro Dilema

Mas havia outro problema sério envolvendo “consciência”, conforme


considerada pela organização da Torre de Vigia: a carreira que exerço. Sou
artista, não por vaidade, mas por dom, talento, vocação). Eu nunca tive
dúvidas do que eu seria quando crescesse, já que acho ter nascido artista.
Quando entrei “na verdade”, comecei a me perguntar se isso era certo, se
Jeová se agradava, como os irmãos iriam encarar, etc. Mas, eu me
profissionalizei em 1992 e sempre consegui conciliar a parte “teocrática”
com o trabalho. Achava que era isso que Jeová queria, que eu não o
esquecesse.
Eu fazia de tudo para cumprir bem minhas atividades “teocráticas”. Mas
me enganei — isso não bastava. Eu precisava mostrar que era uma pessoa de
fé abrindo mão do meu trabalho que desde 2.000 me colocou em maior
evidência. Caso contrário, serviria de tropeço e feriria a consciência de
muitos. Não consegui aceitar que minha fé pudesse ser medida através da
renúncia ao meu trabalho. Nunca quis optar entre a organização e meu
trabalho e sempre separei muito bem as coisas. Jeová é meu Deus e minha
realização espiritual, e o meu trabalho é apenas meu ganha-pão. Ainda mais
em processo de separação..., não, eu não poderia ficar sem trabalho. Resolvi
depois de muito pensar e orar que não largaria meu trabalho. Quanto à
separação, meu ex-marido não queria ir embora de jeito nenhum. Não
aceitava isso.
510 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

O Envolvimento

A Carta de Separação já estava entregue, eu já estava completamente


separada de meu marido em minha mente, em meu coração e corpo, mas ele
não queria aceitar. Tudo estava perdido em meu casamento e aí, vivendo num
casamento sem amor por muitos e muitos anos, sentia-me muito fragilizada
como mulher. Nesse estado, não é difícil se envolver emocionalmente com
alguém que está próximo de você — só sabe quem passou por isso! Talvez
você até comece a pensar que pode ser esta pessoa que vai lhe dar a
felicidade e paz que você não tem.
Eu já sabia que não ia mais ficar na congregação, e achava que estava
amando. Daí então, resolvi quebrar meu vínculo marital e estive uma única
vez com essa pessoa próxima. Relatei tudo logo depois para meu ex-marido
que quase morreu de tanto gritar e chorar. Passou a me ofender e a me
humilhar. Contou tudo para a minha filha da maneira mais vulgar que se
possa imaginar. Foi tão terrível!
Depois de alguns dias, ele resolveu me perdoar. Disse que ficaria comigo
assim mesmo se eu o aceitasse. Mas eu decidi não aceitar a proposta. Não
estava brincando; sabia o que queria: a separação!

A Carta, o Motivo e o Perdão de Deus

Entreguei minha carta de dissociação porque não largaria meu trabalho, e


revelei que meu ex-marido estava agora livre, biblicamente falando, pelo meu
ato.
Sei que me dissociei por problemas de consciência porque se eu quisesse
ficar na organização, era só me arrepender do meu ato e continuar casada
pois ele havia me perdoado. Assim, se bastava me arrepender diante de
homens para ser perdoada, entendo que estou perdoada diante de Deus, pois
me dirigi a ele em oração sincera e tenho certeza que Ele me perdoou apesar
de não estar mais naquela organização.
Entendo também que a grande verdade é que “todos pecamos e não
atingimos a glória de Deus”. (Romanos 3:23) É também verdade que
precisamos ter fé no sacrifício de Jesus para o perdão de nossos pecados.
(Mat. 20:28; 1 Tim. 2:5,6; João 17:3) Não fui feliz no meu casamento, mas
ainda espero que Jeová um dia me dê a oportunidade de ter um homem digno,
decente e que possa me amar com a mesma intensidade que eu, ou seja,
bastante!
Experiências que a Organização Não Relatou 511

Depois do Vendaval...

Quero ser feliz como todo ser humano normal. Mas não se precisa de
muito para sermos felizes, só das necessidades básicas, saúde, paz e... muito
amor!
Estou muito bem com a minha filha, sempre nos demos bem e a dolorosa
revelação fora de hora que o pai dela fez, a abalou na ocasião mas não
destruiu o amor que ela tem por mim. Valeu apenas ter dado tanto amor a ela,
desde o ventre. Não foi fácil, mas com muito diálogo, ela superou tudo, e
voltamos a ser o que éramos, grandes amigas.
Ela também vê que não mudei — que continuo a mesma. Levo uma vida
digna, e que não aconteceu o que o pai dela tentou fazer com que ela
acreditasse sobre mim. Apesar de não estar dentro da organização, sim, eu me
considero uma mulher de muita fé.

A Vida Pós-Organização

E o que mais posso dizer de minha “Vida Pós-Organização”? Para mim é:

Poder viver sem extremismos.


Sem fundamentalismo e liberdade tolhida.
É poder encontrar o equilíbrio entre o fanatismo e a falta de fé.
É tirar dos ombros cargas tão pesadas, como as que os Fariseus colocavam
sobre os ombros do povo.
É não estar debaixo de regras e mesmo assim, não deixar de ter princípios
elevados.
É não me sentir superior a ninguém, mas saber que sou importante para o
Criador assim como cada ser humano o é.
É não limitar minhas amizades.
É não limitar meu amor.
É não limitar o fazer o bem.
É poder agir de acordo com a minha consciência, de fato!
É usar o livre-arbítrio que me foi dado, com responsabilidade.
É não me preocupar excessivamente em pregar a palavra e esquecer de
vivê-la.
É permitir que Deus influa na minha vida através do seu filho, da sua
palavra, do seu espírito; sem intermediários terrenos.
É não temer um julgamento que não está a cargo de humanos pecadores e
imperfeitos, como eu.
É não julgar.
É não ter preconceitos.
É não me intrometer onde não fui chamada.
512 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

É não achar que aqueles por quem Cristo morreu, serão destruídos.
É não ser a dona da verdade.
É não impor meus conceitos, mesmo que para mim eles estejam
biblicamente corretos.
É não menosprezar a fé de outros.
É não ridicularizar a sua religião.
É não deixar de amar a quem quer que seja, pois este é o segundo maior
mandamento.
É não ter medo, nem vergonha de ser feliz ou de buscar a felicidade.
É não estar competindo em sofrimento com os demais, como se o
sofrimento provasse que somos mais cristãos do que os outros, ou que,
pelo sofrimento, merecemos mais as recompensas divinas do que os
outros.
É ter certeza que “nada, nem ninguém, pode nos separar do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.
É ter certeza que Deus é maior que os nossos corações, e do que os nossos
pensamentos, e do que o nosso ínfimo conhecimento, e que Ele está acima
de qualquer organização humana, seja ela Comercial, Política ou
Religiosa.

“Liberdade no Amor de Deus” (Por Walter Mendes)

Um Grito por Socorro

O que me levou a pedir dissociação da Torre na realidade não foi, a


princípio, conhecer os fatos chocantes de fraudes e mentiras que ficamos
conhecendo.
Eu passei por um momento muito difícil em minha vida quando comecei a
cansar e ficar “espiritualmente fraco”, como eu dizia.
Pedi ajuda e orientação a outros anciãos e nenhum destes sequer visitou-
me ou me deu orientação! A resposta era sempre a mesma: “É brabo irmão!”
Sendo assim, apesar de ser ancião resolvi simplesmente me afastar por
causa da falta de amor, um suposto “sinal identificador” dali.

Ordálio: A Falta de Amor

Sempre tive meus problemas particulares como nervosismo, síndrome do


pânico, depressão e outros. Entretanto, mesmo assim, a princípio como
ancião sozinho cuidando de todas as tarefas do salão pelo fato de não haver
pessoas qualificadas para certas tarefas, fazia visitas de pastoreio e cuidava
Experiências que a Organização Não Relatou 513

das depressões e problemas dos outros. Tanto que, quando me afastei e disse
que estava “fraco”, ninguém acreditou!
Lembro de uma vez que em um Congresso de Distrito, minutos antes de
subir à tribuna para discursar, eu falei a um ancião que eu estava muito
desanimado. Ele simplesmente deu gargalhadas de minha cara, não
acreditando no que estava escutando.
Voltando então ao ponto em que me afastei, fiquei nove meses sem ter
NINGUÉM que me visitasse ou procurasse saber o que estava acontecendo.
Para minha esposa, alguém chegou a dizer: “Ele deve ter feito alguma coisa
errada e por isso se afastou!” Ouvi isso algum tempo depois da boca de dois
anciãos que apareceram lá em casa. Onde estava o amor e a empatia ensinada
por meio das revistas e discursos da tribuna? Na prática, pude sentir que este
amor simplesmente não existia.

Uma Luta Solitária e Desigual

Assim afastado, passei a freqüentar bares e apesar de não fazer nada de


errado, eu estava sendo vigiado por algumas Testemunhas que relatavam à
minha esposa onde eu estava e o que estava fazendo.
Começaram a correr os boatos, como é de praxe nos Salões do Reino.
Comecei a fazer tratamentos de saúde e me lembro bem que naquela
época eu fiquei num estado lastimável. Minha pressão sangüínea chegou a 17
por 10! Os médicos fizeram exames de todo tipo e diagnosticaram
ANSIEDADE.
Quantas vezes orei, chorando copiosamente a Jeová, pedindo ajuda,
estendendo literalmente minha mão ao ar suplicando-Lhe por socorro!
Chorava e lamentava muito ter abandonado a “Jeová”, segundo o
entendimento que as Testemunhas têm sobre aqueles que saem da
organização.
O tempo foi passando e eu passei a conhecer novas pessoas de diversas
denominações religiosas. Cada uma “puxando a sardinha” para sua religião.
Não sei por que motivo, fui melhorando de meus traumas e medos. Ainda
não tinha computador conectado à internet naquela época. Só sei que comecei
a ver o mundo e as pessoas com outros olhos. Pela primeira vez na minha
vida, eu conseguia me colocar no lugar dos outros. Não me sentia como
fazendo parte de um “povo especial” que ganharia a “vida eterna” enquanto
outros morreriam!

Aprendendo a Sobreviver

Cada vez mais, minha depressão e outros problemas foram passando.


514 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Quando me mudei para Piracicaba-SP, conectei-me à internet e comecei a


pesquisar debatendo com alguns que eu considerava “apóstatas”. No entanto,
ao observar os documentos e os argumentos usados por alguns, foi como se
um clarão invadisse o meu ser. Passei a orar agora não pedindo socorro mas
sim agradecendo a orientação que Deus a cada dia me dava.
Custei a aceitar, mas ao verificar cuidadosamente tudo o que pude, e
confesso que não vi tudo ainda, senti-me realmente liberto! Eu me sinto hoje
como um livre pensador e adorador de Deus e sei que, muitos dos odiosos
“apóstatas”, tão condenados pela organização, não passavam de pessoas que
haviam tido as mesmas experiências que eu. Ademais, descobri que, assim
como eu, eles também praticam a caridade e tentam ter fé genuína no sangue
derramado de Cristo.
Hoje estou livre! Sinto-me grato, satisfeito, sem síndromes de pânico,
cacoetes outras coisas mais que tinha.
Sou tachado por alguns de “apóstata” e na realidade dou boas risadas
desse termo usado pelo Corpo Governante...; uma franca e absoluta
deturpação de textos bíblicos!

Sentimentos

Sinto muitas saudades, é verdade, de meu instrutor que já faleceu e o


superintendente de circuito que continuou o meu estudo (Helbert Fonseca
Ratamero). Fiz muitas “amizades” ali dentro, e sinto falta de alguns. No
entanto, ao mesmo tempo em que sinto falta, percebo que uma verdadeira
amizade não pode e nem deve ser destruída pelas orientações de outros que
não sabem como foram os relacionamentos entre aqueles que se diziam
irmãos.
Muitos agem assim pelo zelo que tem em querer servir a Deus, mas não
percebem que estão exatamente agindo como os judeus da ilustração de Jesus
sobre o bom Samaritano. Existe um ditado importante: “Amigo é quem te
socorre, e não quem tem pena de ti.” (Thomas Fuller)
Se a vida for uma lágrima, chore...; se a vida for um sorriso, sorria...; se
for uma guerra, lute...; se for uma luta, vença. Mas se for uma lembrança,
lembre-se de nossa amizade.
O amigo não é aquele que nos faz algum bem, mas aquele que está sempre
e em toda parte junto conosco.
Amigos são os que nas prosperidades aparecem se receberem convite, e
nas adversidades aparecerem sem serem chamados.
Experiências que a Organização Não Relatou 515

Livre no Amor de Deus

Tenho sentido, e outros também, que minha vida mudou para melhor. A
família de minha esposa que é toda TJ, fica perguntando para ela o que
aconteceu comigo, pois sou animado e alegre em tudo o que faço.
O interessante é que todos conversam comigo e visitam minha casa; só
não tocam em assuntos bíblicos.
Sinto-me alegre e percebo que minha esposa nota isso. A princípio ela
ficou incomodada comigo, mas agora, depois de certo tempo e de algumas
“estocadas” que dei, ela passou a duvidar de certos ensinamentos da Torre.
Tenho todas as informações guardadas em meu computador e não me
surpreenderia se ela os estiver verificando. Há mais de um ano ela não vai ao
Salão do Reino.
Sinto com toda a certeza que Deus está comigo. “De modo algum te
abandonarei!”, diz o Criador!
Também, lembro da promessa de que “Deus não é injusto para se
esquecer de suas boas obras e do amor que demonstraste.”.
Sinto na pele as palavras de nosso salvador Jesus Cristo: “E conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará!”
Esta é a minha vida! Só agora consegui pôr nela um pouco de liberdade
que só o amor de Deus proporciona.

O Conflito entre a Lealdade a Deus e a


Lealdade a uma Organização (Por J & M)

Batizei-me como Testemunha de Jeová no começo da década de 80 e fui


membro ativo da organização Torre de Vigia por quase 2 décadas. Alcancei
“privilégios” em todos os níveis congregacionais. Minha vida era repleta de
obrigações e deveres organizacionais e praticamente nem um dia foi gasto
sem que minha agenda estivesse pontilhada de “atividades teocráticas”.
Devotei todos esses anos, portanto, a serviço de uma organização religiosa
cujos interesses sempre coloquei em primeiro lugar na minha vida. Lutei
incondicionalmente para tornar conhecidas as “boas novas” da Torre de
Vigia, que eu acreditava fazerem parte do conjunto de verdades reveladas de
Deus aos homens do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Apenas
pessoas que passaram por esse tipo de experiência conseguem avaliar o que
quero dizer por “incondicionalmente”.
Mas como, então, pude abandonar tudo isso alguns meses atrás? Por que
saímos, minha família e eu, daquela que tinha sido a “única organização
verdadeira” para mim durante tão prolongado período de tempo? As
respostas podem ser achadas em sites da Internet e em livros como o de
Raymond Franz, Crise de Consciência.
516 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Hoje em dia, sinto-me muito grato por ter aprendido tudo que aprendi em
páginas da Internet e por intermédio do relato de Raymond em seu livro. As
informações me põem em débito com os que ajudei a colocar lá dentro pois o
fato de eu saber o quanto eles trabalham sob pressão e estressantemente, ou o
quanto se (des)gastam todo dia para satisfazer os requisitos da programação
organizacional, pensando estar agindo em prol dos interesses do Reino
tratado em Mateus 6:33, é para mim algo dramático e um dos motivos de eu
escrever sobre minha experiência.
Os longos anos lá dentro se mostraram muito mais preenchidos de
sacrifícios e renúncias do que de alegrias ou genuína felicidade. As
tribulações, na maioria das vezes, provinham de uma única fonte: as
imposições humanas — quantas horas pregar com regularidade semanal,
quantas reuniões assistir por semana, quantas atividades congregacionais
cumprir sem quase deixar espaço para minha família (esposa e filhos), sem
contar com tantas outras atividades extra-congregacionais como discursos
“fora”, congressos e assembléias (com tarefas adicionais para os anciãos),
cursos de anciãos, treinamento de pioneiros, “sair de pioneiro”, comissões de
ligação de hospitais, comissões de construção, etc.
No entanto, não lamento pelos anos passados na organização no que se
refere às energias gastas ou o uso de minhas habilidades e talentos pois eu
lutava pelo que acreditava ser “a verdade” de Deus. O que lamento é ter, por
exemplo, aprendido a ser dependente de diretrizes humanas, dependência
essa à qual minha mente e corpo se condicionaram. O trabalho, os
“privilégios congregacionais” e toda a estrutura da organização quase criaram
um cordão umbilical com a organização em muitos assuntos da vida. Ainda
hoje encontro alguma dificuldade para achar saídas apropriadas para conciliar
conflitos ou tomar certas decisões. O que não percebia é que o enganoso
“suporte” da “mãe-organização” nos fazia proceder como crianças
obedientes, dependentes. De vez em quando ainda me pego com medo da
liberdade que de repente abracei ao sair da organização. Mas sou muito grato
a Deus de que as conquistas e vitórias até agora estejam em número bem
maior do que os eventuais atropelos com os quais todos nós normalmente nos
deparamos na vida.

Porque Tudo isso Aconteceu

Meus questionamentos começaram quando li sobre Raymond Franz na


Internet. Pedi o livro dele e o recebi depois de uma semana. À medida que o
lia, o sentimento era de que todo o peso esmagador de anos de serviço pesado
estivessem sendo retirados de uma só vez de meus ombros cansados.
Experiências que a Organização Não Relatou 517

Resolvi que iria comentar sobre minhas recentes descobertas com um


ancião de minha congregação. Fiz isso duas semanas depois de ler o livro de
Raymond e vários sites da Internet.
Esse ancião era um amigo muito achegado e sincero e achei que poderia
confiar nele. Ele prometeu que iria ler o livro também para fazer seu próprio
julgamento e me ajudar no que pudesse mas adiantou timidamente que eu
poderia estar me deixando levar muito rapidamente pelos ardis de Satanás.
Na reunião, ele perguntou sobre o livro, e eu lhe disse que minha esposa o
estava lendo também. Ele franziu o cenho e me olhou de modo estranho e
desconfiado. Achei esquisito ele sair logo depois sem qualquer comentário,
sem fazer mais perguntas.
Este homem, que eu pensara ser de minha inteira confiança, ao se afastar
de onde estávamos, foi diretamente para a “Sala B” relatar tudo que eu havia
falado para ele naquela manhã e disse aos outros anciãos que eu já estava
influenciando minha esposa também. Deturpou várias colocações que eu
fizera em particular para ele e tentou dar um ar de tragédia ao que aconteceria
com a congregação caso eles não tomassem providências imediatas para
evitar a contaminação.
Os dois homens que o escutaram eram co-anciãos e também velhos
“amigos”. Agiram prontamente diante do perigo que eu passei a representar
para os irmãos. Chamaram-me imediatamente e ali mesmo, surpreenderam-
me com um “convite” para comparecer à uma audiência judicativa, dois dias
depois.

Saída Muito Rápida

Tinha de dar no que deu. Fui desassociado e, dois meses depois, foi a vez
de minha esposa. Meu filho pediu dissociação junto com ela. Meu outro filho
não era batizado e também deixou de freqüentar o salão do Reino.
Embora muito rapidamente, achei melhor assim. Não teria sido bom
aumentar a angústia e sofrimento de minha família. Nessas horas, precisamos
ser fortes e corajosos para tomar decisões desse tipo. Minha esposa e eu não
gostamos de ações covardes e insinceras. Não queríamos ficar fingindo crer
em coisas que não mais faziam sentido em nossas vidas.
Não precisei contender com meus amigos Testemunhas que, estupefatos
me viram sair tão subitamente. Não criei confusões desnecessárias com eles.
Saí “de bem com a vida” e com meus ex-parceiros de fé. Alguns poucos
ainda me ligam e chegam a conversar demoradamente comigo sobre seus
dramas na organização, enquanto outros fogem de mim quando me
encontram por aí. O padrão de sempre...
O fato de eu ter sido um “irmão calmo e bondoso”, como algumas irmãs
idosas me chamavam, atraiu a atenção inicial das pessoas para os motivos de
518 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

minha saída, mas logo se espalharam boatos difamantes para denegrir minha
imagem, a ponto de durante o tempo que se passou entre minha saída e a de
minha esposa, eu a pegar chorando. Isso a deixava muito revoltada e nervosa.

Para Concluir...

Hoje tudo isso é passado. Queremos esquecer o quanto fomos


machucados pelo espírito desamoroso que a organização implantou nos
corações de seus membros em relação ao tratamento dado aos que deixam
suas fileiras.
Queremos apenas lutar para levar uma vida digna e cristã mas bem longe
de atitudes de empáfia religiosa.
Como família, temos nos achegado mais a nosso Pai celestial e a seu
Filho, Jesus. Nossa fé e confiança são dia-a-dia fortalecidas por nossas
orações e por pequenas sessões de leitura da Bíblia, em família.
São particularmente gratificantes os momentos em que compartilhamos as
vitórias e derrotas do cotidiano. Apegamo-nos sempre à abordagem cristã
para cada caso e isso tem sido muito bom.
Queremos ser uma família cristã normal como qualquer outra nesse
mundo dilacerado por conflitos. Depositamos nossas esperanças futuras nas
mãos do Criador e isso tem um efeito aliviador. Por cultivar a fé nas
promessas da Bíblia, elas se fortalecem em nossas mentes e corações.
Cremos que algum dia nosso Deus amoroso irá resolver todos os assuntos
de nosso planetinha da melhor forma, usando Sua justiça, Sua sabedoria, Seu
poder e Sua misericórdia a favor de sua criação. (Revelação 21:1-4)
Quanto à pregação do evangelho, creio que temos coerentemente tentado
dar bom testemunho cristão por meio de nossa conduta diária (Mateus 5:16) e
das conversas informais com vizinhos e colegas de trabalho/escola sobre
temas bíblicos palpitantes como o da ressurreição dos mortos, a volta de
Cristo, o resgate dele por nós, a salvação, etc. A grande diferença agora é que
não mais precisamos dar satisfação (“relatórios”) do tempo gasto em falar às
pessoas sobre nosso Criador...

Que ‘Sociedade’ é Essa? (Por “Veriane”)

Constatação: A História se Repete

A “Santa Inquisição” Católica assassinou cruelmente todos aqueles que


detinham idéias contrárias às suas; torturava aqueles que sequer possuíssem
uma Bíblia e que eram os “apóstatas” ou hereges do catolicismo. Perseguiu a
milhares e considerou outros como “bruxos”, pessoas entregues a Satanás.
Experiências que a Organização Não Relatou 519

O que difere a Inquisição praticada pela igreja Católica da inquisição


praticada pela Sociedade Torre de Vigia das Testemunhas de Jeová? A
fogueira que não pode mais ser usada no mundo de hoje!
Porém, essa Sociedade se manchou de sangue humano ao motivar a morte
de diversos jovens quando proibiu que eles exercessem seus direitos civis,
sem nenhuma base bíblica sólida. (Isso ocorreu em casos como o de Malaui
— México na década de 70) Apelando para seu entendimento particular sobre
“neutralidade cristã”, levou muitos à prisão, torturas, maus-tratos e grandes
dificuldades por causa da simples proibição ao serviço civil alternativo que
mais tarde foi liberado por ela como se nada tivesse acontecido. Os danos
nunca foram reparados nem um pedido de desculpas foi feito pelos que
sofreram em vão. Ao contrário, na revista “A Sentinela” 15 de agosto de
1998, ela afirmou descaradamente que tais homens “estavam felizes porque
agiram de acordo com suas consciências”, quando de fato haviam agido de
acordo com a “consciência” dessa “Sociedade” extremista.
Quantas pessoas sinceras já morreram por causa da proibição do uso de
vacinas nas décadas de 20 e 30, ou da proibição dos transplantes de órgãos de
1968 a 1980, ou por causa da proibição de transfusões de sangue? O que
dizer dos que já morreram por causa da política de liberação e proibição de
frações de sangue vez após vez? Quantas Testemunhas hemofílicas foram
vítimas dessas mudanças em nome de Deus? Tudo isso é contrário à lei de
Deus, pois Jeová Deus é um Deus de VIDA, não de MORTE.
Essa “Sociedade” tortura todo aquele que por vontade própria decide
abandoná-la. Faz isso por meio de Comissões Judicativas nas quais homens
decidem o destino de outros e exercem terrível pressão psicológica, impondo
o afastamento de amigos e familiares. Essas pressões trazem males muitas
vezes irreversíveis: profundas depressões e desordens de personalidade.
Essa “Sociedade” obriga (por conformidade) a todos os membros a
possuir sua tradução da Bíblia (Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas) onde deliberadamente inclui ou exclui textos de acordo com a
necessidade doutrinária, ou em prol de algo que favoreça suas regras.
Usa a força, seu poder e pressão para exigir que pessoas sinceras, que
amam a Deus, cumpram horas e horas de “proselitismo” religioso contínuo,
chamando jocosamente os que não fazem isso, de “inativos” ou “fracos na
fé”. E quantas vezes eu vi crianças em pleno verão de 40º desmaiando ou
passando mal nesse serviço de pedidos de donativos para essa organização
rica e poderosa! Mais uma vez, sem nenhuma base bíblica, pois Jesus disse:
“ide, pois, e fazei discípulos” (Mt. 28:29) mas em nenhum momento exigiu
que se cumprissem horas “semanais” regulares de pregação ou que se
pedissem donativos pelas casas alheias em visitas que não foram solicitadas.
520 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Que Sociedade é essa que diz ser a verdadeira religião e não cumpre o
segundo maior mandamento que nos manda “amarmos o próximo como a nós
mesmos?” (Lucas 10:25-28; João 15:12)

Sentimentos Cristãos

Estou livre como Jesus disse que seus seguidores estariam quando
conhecessem a verdade. (João 8:32)
Sinto compaixão e pena dessas pessoas sinceras que, iguais a mim, um dia
entraram por aquelas portas, receberam fartos sorrisos de boas-vindas,
tapinhas gentis nas costas mas que agora não conseguem sair com medo das
pressões e dos atritos familiares que advirão de tal escolha que deveria ser
confortável e livre mas que se torna um pesadelo pois não há modo honroso
nem digno de se sair da organização Torre de Vigia, a “Watchtower” que de
um tempo para cá deseja parecer mais cristã para o mundo ao mudar seu
nome para “Associação Cristã das Testemunhas de Jeová” (ACTJ).
Mas que o leitor sincero me responda, então: que tipo de cristianismo
praticam as Testemunhas “cristãs” de Jeová ao olharem para sua história, seu
passado manchado de sangue humano inocente por causa de mudanças fatais
em seus ensinos?!
Dou graças a Deus por estar livre de mordaças e poder contar ao mundo
sobre tudo isso e outras coisas pelas quais passam muitos ali dentro. Meus
sentimentos cristãos são de amor a essas pessoas e ao mesmo tempo de
tristeza por vê-las escravas de um movimento religioso punitivo, austero e
preconceituoso.
Dou graças a Deus porque hoje sou feliz e por finalmente descobrir que o
único “caminho, a verdade e a vida” é a pessoa maravilhosa de Cristo (João
14:6); ele é a causa de nossa felicidade e o único canal legítimo através de
quem podemos nos achegar ao Pai dele, o Criador de tudo que existe no
universo. Ele deve ser a única fonte de onde podemos retirar forças para tudo
que quisermos fazer de bom em nossas vidas, conforme nos diz Paulo em
Filipenses 4:13.

Universo Cor de Rosa (Por Rosy)

Submissão à Organização

“E foram felizes para sempre...” Assim terminam as estórias com final


feliz. Elas quase sempre transmitem ao leitor a perspectiva de que seus
protagonistas viverão num universo cor de rosa daquele ponto em diante.
Mas exatamente onde elas terminam iniciam-se as experiências da vida real.
Aos 12 anos de idade, eu acreditava que iria ser “feliz para sempre” também,
Experiências que a Organização Não Relatou 521

pois acabava de me batizar como Testemunha de Jeová e agora pertencia à


“organização de Deus”. Como podia uma menininha dessa idade, morando
no interior do estado do Ceará, discernir que ser “feliz para sempre” teria de
ser algo mais que batizar-se como membro da Torre de Vigia? Como podia
uma criança estar consciente de que o mundo não possuía tons rosa? Para
entender do que estou falando, deixe-me contar-lhe um pouco de minha
história...
Sempre fui uma pessoa temente a Deus, e como tal, desde criança, ficava
procurando o verdadeiro caminho que levava a Deus. Foi quando uma tia
querida encontrou um tal ‘tesouro escondido’, algo que logo ficou conhecido
por nós como “a verdade”. Ansiosa para dividir essa “verdade” conosco, ela a
levou para o seio de minha família. Conclusão: todos nós achamos ter
finalmente descoberto A Verdade que Conduz à Vida Eterna (título do livro
que passamos a estudar). E desse modo começou minha jornada pelas trilhas
espinhosas de uma organização religiosa que se designava a única guardiã da
verdade suprema.
Batizei-me como Testemunha de Jeová aos 12 anos e sempre fui um
exemplo na congregação, embora minha adolescência tenha sido encastelada
na Torre de Vigia e assim sendo, não me lembro de ter sido favorecida com a
mínima liberdade, nem sequer podendo ir a algum lugar sem que me sentisse
completamente vigiada. Isso fez com que “o primor de minha mocidade”
tivesse sido marcado por frustrações e alienação. Para contribuir com esse
quadro, havia uma “pioneira especial” em minha cidadezinha que era um
verdadeiro coronel carrasco. Recordo de muitas vezes ela ter me forçado a
voltar do “serviço de campo” (visitas de porta em porta) por julgar que eu
estava usando uma saia acima do joelho, e isso era “mau testemunho”.
Também, ela literalmente me proibia de voltar da escola conversando com
“amigas do mundo”. Não conto as vezes em que ela correu para contar à
minha mãe que eu estava assistindo às “novelas mundanas” de televisão. E
quando íamos a um açude, eu tinha de vestir uma bermuda até os joelhos para
que, novamente, eu não desse “mau exemplo”. Não me surpreende que eu
tenha presenciado vários primos meus serem desassociados, todos com idade
de 15 a 18 anos, simplesmente porque não suportaram o “coronelismo”
reinante em nossa congregação. Mas não parava por aí...
Para o leitor ter idéia do cúmulo a que se chegou, testemunhei minha
irmã, aos 13 anos de idade, tentar o suicídio, fustigada pela adesão de minha
mãe aos amorosos “conselhos” da organização sobre evitar “associação
mundana” e pelas investidas dessa pioneira que fazia esses conselhos virarem
regras muito rígidas. E aconteceu que, certa noitinha, minha irmã resolveu ir
a um clube para participar de uma festinha promovida pelo colégio dela.
Minha mãe e a pioneira “especial” tão logo souberem, correram
desesperadamente para ir buscá-la. Ao chegarem no local, na frente de todos
522 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

os amiguinhos de minha irmã e de outras pessoas, minha mãe administrou


uma surra vergonhosa em minha irmã, em pleno salão de festas. Após esse
vexame terrível, que para uma adolescente pode ter um impacto
inimaginável, minha pobre irmã tentou acabar com a própria vida.
Quando lembro desse dia, tenho certeza de que minha mãe só fez aquilo
por causa do ensino sobre os perigos do “mundo iníquo de satanás, o diabo”.
Esse tipo de “conhecimento” muitas vezes traz constrangimentos a membros
jovens das famílias Testemunhas de Jeová como, por exemplo, não cantar
“Parabéns a você” quando outros o fazem e a TJ fica parada com cara de
boba na frente dos outros. Os garotos e garotas Testemunhas são, para o
mundo, pessoas “esquisitas” mas a organização diz que elas são apenas
“diferentes”. A organização usa e abusa do texto de João 15:18,19 (“não
fazer parte do mundo”) para desaconselhar e até proibir aniversários
natalícios, festinhas com os “do mundo”, amizades ou “associações
mundanas”, etc.
Ingressei no serviço de “pioneira regular” aos 15 anos de idade seguindo
aquilo que a organização recomendava como “o melhor modo de vida para os
jovens” de minha idade. Aos 16 anos, tendo concluído o ensino médio (2º
grau), cheguei a cogitar uma carreira ou curso universitário, mas como a
organização desincentivava muito a faculdade, continuei o alvo de manter
meu ritmo no “serviço sagrado” como pioneira. Eu era muito zelosa,
chegando a “colocar” (=vender) mais de 400 publicações num único mês e
dirigir 20 estudos “bíblicos” domiciliares.
Mais tarde, aos 23 anos, casei-me com um homem que foi meu primeiro e
único namorado, L. B. Ele era “pioneiro regular” e sendo deficiente auditivo
(embora fale normalmente), estava decidido a ajudar pessoas com essa
limitação a aprender sobre as “verdades de Deus”. Logo depois de nosso
casamento, houve um Congresso de Distrito, e resolvemos participar de uma
reunião especial para pessoas interessadas em ir trabalhar no lar de Betel em
Cesário Lange, SP. O dirigente dessa reunião fez uma declaração que nos
deixou chocados: “não é interessante que alguém que não tenha nível
superior (3o. grau), assista à essa reunião.” Aquilo nos soou tanto como uma
contradição como uma ofensa. No entanto, éramos pessoas treinadas para
respeitar as decisões “teocráticas” e eu, em minha condição de mulher cristã,
teria de mostrar um espírito ainda mais submisso por ficar calada sobre o
assunto.

Insegura mas Acomodada

Essas coisas e tantas outras, muitas vezes me faziam questionar sobre


como seria viver fora da organização, talvez porque alimentasse em meu
íntimo, muitas dúvidas, não aceitando certos ensinamentos como o da classe
Experiências que a Organização Não Relatou 523

dos 144 mil, ou o de um Corpo Governante central, ou a Geração de 1914


(mudado em 1995), etc., ou mesmo contradições como essa do parágrafo
anterior, as quais tínhamos de aceitar de qualquer jeito.
Criada sem “fazer parte do mundo” e com a visão de que apenas as
Testemunhas eram o “povo feliz de Jeová”, a vida foi passando rapidamente
por mim. Sentia-me incomodada com a situação de estar aprisionada num
“aprisco especial”, pois observava as incoerências que não podiam
caracterizar as Testemunhas de Jeová como “povo escolhido”, singular.
Éramos nós assim tão diferentes de outras pessoas de religiões da mesma
“espécie” que a nossa (Adventistas, Mórmons, etc.)?
Meu marido, por outro lado, fazia tudo para “adorar a Deus com espírito e
verdade”, principalmente por mostrar amor aos deficientes auditivos e ajudá-
los a aprender “a verdade”, conforme encarávamos o pacote de ensinos da
Torre de Vigia. Mas havia problemas que vinham como avalanches
destruidoras que levavam tudo à sua frente. Meu marido, por ser uma pessoa
muito sincera, cobrava e falava das coisas erradas que os anciãos (poderosos)
não gostavam de ouvir. Começamos a ver além do que queriam que
víssemos. Porém, mesmo diante desses problemas com homens de destaque
da congregação, meu marido continuava muito empenhado em levar “a
verdade” a muitos surdos que continuavam a tomar posição a favor dos
ensinos da Torre de Vigia.

A Hora do Pesadelo II

Meu marido e eu estabelecemos o “alvo excelente” delineado pela


organização para seus adeptos fiéis: abandonamos os empenhos por coisas
materiais a fim de “servir melhor onde havia mais necessidade.” Numa
conversa familiar, resolvemos que meu marido abandonaria o emprego
secular para investir todo seu tempo, esforço e recursos financeiros na
pregação aos surdos visto que ele era um perito na linguagem de sinais e a
obra com os deficientes auditivos se mostrava momentosa.
Na época, o que eu ganhava em meu trabalho secular dava para sustentar a
mim e a mais 3 pessoas que passaram a morar conosco com o propósito de
ajudar os novos interessados “na verdade” e que pertenciam ao crescente
grupo de deficientes auditivos. A obra para surdos começou a tomar
proporções cada vez maiores a ponto da Sociedade Torre de Vigia enviar um
pioneiro para cuidar especificamente dela numa cidade vizinha à nossa.
Esse senhor não conseguiu, durante 3 meses, abrir “estudos bíblicos”
suficientes para começar uma congregação. Recorrendo a um “amoroso”
superintendente de circuito, ele tentou fazer com que todos os grupos dos
quais meu marido cuidava, fossem transferidos para assistir às reuniões na
cidadezinha dele. Se isso fosse aceito, significaria que teríamos de pegar 4
524 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

ônibus a cada reunião. Meu marido fincou o pé e não aceitou que isso fosse
deliberado assim, pois aquelas pessoas já tinham de lidar com a deficiência
auditiva. Avisou ao pioneiro e ao “super” que eles não iriam aderir ao arranjo
e que isso era uma decisão unânime. Imagine o leitor o que tal atitude
provocou! Suscitou grande ira no pioneiro e no Superintendente responsável,
fazendo com que eles se sentissem justificados a juntar provas falsas de
“rebeldia” e “insurreição” por parte de meu marido aos “arranjos
teocráticos”. Na época em que eles divulgaram isso, meu marido estava
doente e havia viajado para cuidar de um sério problema de pneumonia,
adquirida devido ao intenso frio daquela cidade onde desenvolvíamos o
trabalho com os deficientes auditivos.
Mas o negócio não parou por aí. Mais tarde, seríamos surpreendidos pelas
represálias daqueles homens da organização. Saberíamos então o que
significava desagradar homens poderosos e de destaque dessa organização.
Sentiríamos toda a carga da autoridade que essa organização opressiva lhes
concedia. Acredite se quiser, mas esses homens covardemente desassociaram
meu marido à revelia enquanto ele ainda estava viajando. A ele, nem mesmo
foi dada a chance de comparecer a uma audiência judicativa para se defender.
Tal coisa foi feita tão rapidamente e de modo tão frio e sem amor que, para
nós, na época, tudo parecia um grande pesadelo!

O Dia Seguinte

Como imagina o leitor que estou agora? Como ficou tudo aquilo que
aprendi sobre amor ao próximo, “sinal identificador do verdadeiro
cristianismo”? Ora, não suportei tanta falsidade! Como fui vítima de tudo
isso, resolvi me afastar dessa religião. Retornei para nossa cidade onde meu
marido já estava se tratando. Infelizmente, tive de deixar o emprego secular
que me dava melhores condições. Isso resultou em maiores dificuldades em
sobreviver ao “dia seguinte” do pesadelo. Mas embora a luta hoje seja muito
árdua, estou contente de não estar mais nas garras de uma organização
arrogante que se julga no direito de expulsar seus membros através de
homens pretensiosos que desse modo representam-na tão bem.
Temos um filhinho. Ele estava muito traumatizado pela vida que levava
quando éramos ainda parte da organização. Uma pioneira que ficava com ele
enquanto meu marido e eu trabalhávamos, trancava as portas e batia
severamente nele. Nessa época, ele tinha apenas 6 aninhos de idade e chegou
a precisar de terapia por causa dos maus tratos sofridos. Hoje ele está
melhorzinho e nos preocupamos em lhe dar todo o carinho de que um filho
precisa.
Experiências que a Organização Não Relatou 525

Quanto ao meu serviço secular, tive de descer o padrão de vida pois com a
mudança para essa cidade, ganho apenas um terço do que ganhava na
anterior.
Quanto a mim, às vezes penso que sou uma sobra de vida de um universo
de fantasias, cor de rosa. O que essa organização me fez por meio de seus
representantes foi muito doloroso; abriu uma ferida profunda que não irá
cicatrizar rapidamente. Vivo para cuidar de nosso filho. Meu marido e eu
estamos fazendo faculdade. Começamos em fevereiro de 2002. É uma
tentativa de juntarmos os cacos, começando tudo do zero.
Jamais serei aquela menina crédula que um dia, aos 12 anos de idade
mergulhou no universo róseo idealizado pela organização das Testemunhas
de Jeová.
Às vezes, sinto uma sensação estranha como se eu estivesse estado
sentada numa cadeira de rodas por muito tempo e que meus músculos, agora
atrofiados, não me permitem caminhar normalmente.
Para mim, meu cérebro foi fritado e não consigo mais crer em muita coisa.
Estou na luta para recuperar minha fé nas coisas de Deus sem ter de ir a uma
organização religiosa. Uma das coisas que mais desejo no momento é apenas
sobreviver, já que 21 anos de minha vida foram jogados pela janela daquele
mundo enganoso. Tenho meu marido e filho que precisam muito de mim e eu
deles. Eles são as pessoas que me mantêm viva e com forças para continuar
pela longa jornada da vida.
Estou escrevendo essa experiência no mês de março de 2002 e ainda estou
na organização pois não fui dissociada nem desassociada. Estou afastada.
Não mais freqüento as reuniões porque não mais creio que a organização seja
“o canal de comunicação de Deus”. Em breve terei de tornar conhecida essa
minha posição aos membros de minha família que ainda estão lá e às
Testemunhas de Jeová que me conhecem.
Tenho certeza de que jamais aceitarei o modo em como tudo foi feito
conosco pela organização que se diz de Deus. Não desejo o mal para
ninguém dali (Romanos 12:17-21) e o que mais quero hoje em dia é ter saúde
e vigor para continuar de cabeça erguida, vencendo todas as dificuldades que
ainda poderemos enfrentar em nossas vidas.
Capítulo 13

Proibições, Conselhos
Amorosos e Similares
Vós fostes comprados por um preço; parai de vos tornardes escravos
de homens. (1 Cor. 7:23)
Se ainda estivesse agradando a homens, não seria escravo de Cristo.
(Gal. 1:10)

A organização das Testemunhas de Jeová, denominada no Brasil de


ACTJ (Associação Cristã das Testemunhas de Jeová), alega que seus
membros compõem o “povo feliz de Jeová”, livre, que vive num
“paraíso espiritual”, hóspede da “hodierna arca de salvação de Deus”.
Para que essa imagem seja comprada pelos simpatizantes do
movimento e internalizada pelas Testemunhas, um modo de vida
detalhadamente delineado em suas publicações e reuniões semanais é
persistentemente repetido sob uma luz favorável, positiva e em
linguagem impactante. Tal modo de vida inclui, no entanto, uma lista
de proibições e “conselhos amorosos” que são, de fato, normas
restritivas. (Contraste com Mateus 11:28-30)
Assim, a imagem colorida proposta pela organização é tanto
“vendedora” quanto irreal e se afunila num pacote de ensinamentos
recheados de mitos e ilusões que impressionam mentes crédulas.
O estilo de vida das Testemunhas quase nada tem de livre. É
altamente regimentado e a consciência individual obstruída pelos
comandos de seu Corpo Governante de onde emana a maior parte das
proibições existentes. Elas agem quais grilhões do direito ao exercício
da liberdade que a verdade de Cristo proporciona, e que foi enfatizada
por ele em João 8:32 nas palavras: “E conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”.
Diversas dessas proibições criadas e impostas por aqueles homens
do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová andam de mãos dadas

526
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 527

com dezenas de obrigações “teocráticas”, sustentadas e alavancadas


por um poderoso regime de controle e manipulação. (Contraste com 1
Cor. 7:23)
Por causa do grande número de restrições ilógicas e até
vergonhosas, escritas ou expressas informalmente (um exemplo
escrito: não celebrar aniversários natalícios; não escrito:
“desaconselhar” uma publicadora batizada (mesmo acima de 18 anos)
a ir a uma festa sozinha com um publicador, mesmo um batizado),
muitas Testemunhas por vezes se sentem irritadas, injuriadas,
ressentidas, cansadas, e ainda outras, “desencorajadas
espiritualmente”, achando que “a vida ficou insípida, desinteressante”,
conforme nos escreveu recentemente uma Testemunha de Jeová
veterana. No entanto, mesmo sentindo vergonha de diversas dessas
proibições, algumas Testemunhas às vezes tentam passar uma versão
mais “light” aos de fora, dizendo que “as coisas não são exatamente
assim”. Mas são! Para ilustrar o ponto: quando um grupo de trabalho
ou de escola começa a cantar “Parabéns para Você!”, uma Testemunha
se sente envergonhada por não acompanhar seus colegas. E por que se
envergonha? Porque está consciente de quão patética, anormal e
absurda essa atitude parece aos olhos das pessoas.
A realidade produzida pelas proibições se contrasta em muito com a
utopia dos rostos felizes que as publicações estampam e com o “modo
de vida feliz” que ela reputa apenas a seus membros. Obviamente, não
queremos generalizar que todas as Testemunhas são infelizes,
absolutamente. No entanto, as Testemunhas não são, como grupo, mais
felizes que pessoas de outras igrejas que também se jactam de ser
“parte especial do povo de Deus”. As Testemunhas são pessoas
comuns que enfrentam os mesmos problemas que o resto da
humanidade enfrenta — mas com o agravante de que têm de levar uma
carga muito mais pesada, imposta por uma organização manipuladora
que vê méritos em normas carregadas de minúcias legalísticas.
(Mateus 15:9)
As centenas de gravuras e fotos de crianças brincando alegremente,
por exemplo, escondem a falta de tempo dos pais Testemunhas que
sentem dificuldade em reservar tempo para o entretenimento com seus
filhos por causa das chamadas “responsabilidades e privilégios
(=obrigações) teocráticos”, principalmente no caso dos anciãos. As
faces “felizes” de garotos e garotas pregando as “boas novas”, não
528 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

retratam em absoluto os semblantes de dezenas de milhares de jovens


que se sentem frustrados com essa modalidade compulsória de horas
contadas de “serviço sagrado”. As experiências “emocionantes”
relatadas por um punhado de Testemunhas que alcançam “privilégios
de serviço” na organização (como o de ser ancião ou servo
ministerial), confundem-se com adicionais perseguições internas e
dores de cabeça gratuitas causadas por co-membros batizados (mesmo
alguns co-anciãos que se julgam “donos da verdade”). E a lista é
grande.
O que causa, então, essa situação apenas de vitrine para consumo
externo, cujo slogan de marketing é a de “Povo Feliz” e livre, ao passo
que a verdade tem se provado tão diferente? Na maioria dos casos, a
causa básica da diferença entre o que as publicações das Testemunhas
mostram e o que realmente existe, tem a ver com as normas criadas
pelos homens reverentemente chamados de “Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová”. As proibições, como já ilustramos,
representam fardo adicional na vida de uma Testemunha que já leva
uma carga muito grande com as tais “obrigações e responsabilidades
teocráticas”. (Contraste com Mateus 11:30)
Iremos apresentar ao leitor interessado, um considerável número de
proibições para as quais as Testemunhas dão apelidos carinhosos e
respeitosos como “admoestações espirituais”, “conselhos amorosos”,
“reajustes no modo de pensar”, “conceitos cristãos”, “exortações
cristãs”. A longa lista de assuntos (por ordem alfabética) com base na
informação do Corpo Governante, “válida” até a data da escrita desse
capítulo, não são meras orientações mas limitações absolutamente reais
que produzem grandes transtornos, muitos deles desnecessários, na
vida das Testemunhas.

Proibições Bíblicas, não Bíblicas ou Anti-Bíblicas


entre as Testemunhas de Jeová?

O leitor lerá agora sobre várias regras que julgará (ou não) irem “além
das coisas escritas” na Palavra de Deus (1 Cor. 4:6) e que são convicta
e renitentemente adotadas pelas Testemunhas como parte do “conjunto
da verdade”. Naturalmente, não incluiremos nessa lista, proibições que
normalmente são condenadas por lei na maioria dos países do mundo
como roubo, extorsão, crimes, fraudes, pedofilia, adultério, e por todas
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 529

as religiões do mundo. Porém estarão na lista que segue, questões de


consciência que as cartilhas de muitas religiões deixam a critério ou
julgamento de seus próprios membros mas que podem significar até
mesmo a expulsão (excomunhão) de uma Testemunha.
Observe o leitor que algumas das normas encontram refúgio em
expressões do tipo “não seria aconselhável”, “não é apropriado para
um cristão”, “não seria cristão”, etc., nas publicações apontadas. Tais
frases tanto forçam como reforçam regras religiosamente concebidas
que são adotadas por cada Testemunha que quer manter-se na condição
de “membro aprovado”, “irmão com boa espiritualidade”, “boa
associação cristã”, etc.
O exercício didático aqui proposto ao leitor TJ é que, por si mesmo,
classifique as normas, “conselhos”, conceitos e proibições como
bíblicas, não-bíblicas ou anti-bíblicas, conforme seu
conhecimento/entendimento, discernimento e/ou julgamento bíblico:

A Longa Lista
(Nota: Os grifos são nossos)

Aniversários Natalícios: é proibido celebrar aniversários natalícios.


(Veja A Sentinela de 15/01/81 páginas 30-1)
Armas de Fogo: proibidas. A Sentinela de 15/01/84, página 24, par.
12, diz: “Mas, mesmo que ele ache necessário defender a si mesmo ou
a seus entes queridos com qualquer coisa que tiver à mão, não deve
usar armas de fogo.” Do parágrafo 17 em diante, nessa mesma edição,
há considerações sobre serviços que exigem o porte de armas de fogo.
Veja: 1. “O cristão maduro deve tentar achar emprego sem o uso de
armas...”; 2. “...não podemos mais considerar como exemplar o irmão
que continuar num emprego armado. Podem-se-lhe conceder seis
meses para fazer a mudança. Se não fizer tal mudança não estará em
condições de ter privilégios especiais de serviço e de responsabilidade
na congregação.”
Artes Marciais: proibidas. A Sentinela de 15/01/84, página 24, par.
13, diz: “Os que confiam em Jeová certamente não recorreriam às
artes marciais para se defender!”
Atividades Escolares Relacionadas com “Feriados ou Costumes
Pagãos”: todas nessa categoria são proibidas. Na longa lista dessas
530 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

atividades estão celebrações religiosas como São João, Natal, Páscoa,


Dia de Finados, Dia de Todos os Santos, Halloween, Páscoa, etc. ou
dias como o da Independência do País, Dia dos Namorados (Dia de
São Valentim), Dia das Mães, Dia da Criança, etc. (Veja a brochura
Escola, 1983, pág. 14-16) Veja também A Sentinela de 1961, pág. 255.
A Sentinela 01/12/96, pág. 9, lemos: “A instrução bíblica recebida em
casa e nas reuniões cristãs ensinou-lhes (filhos de Testemunhas) que
esses costumes desagradam a Deus, mesmo quando o objetivo é só
diversão.” Na página 18 da brochura Educação, 1995, lemos: “As
Testemunhas de Jeová adotam a mesma posição (proibição) para com
outros feriados religiosos ou semi-religiosos, que em diversos países
ocorrem durante o ano letivo, tais como as Festas Juninas no Brasil, a
Epifania na França, o Carnaval no Brasil e na Alemanha, o Setsubun
no Japão, e o Halloween (Dia das Bruxas) nos Estados Unidos.” Nota
adicional: com o uso das palavras de Jesus em João 17:16, “não fazem
parte do mundo, assim como eu não faço parte do mundo”, o Corpo
Governante coloca as Testemunhas de Jeová diante de dilemas
intermináveis quando elas são solicitadas para participar em eventos
sociais e esportivos tais como competições de futebol, vôlei, basquete,
etc., com “pessoas do mundo”. Até mesmo torcer por um time é
“desaconselhável”; participar das Olimpíadas ou de campeonatos em
geral, menos ainda.
Bandeira Nacional: pode-se ficar em pé de modo respeitoso
enquanto ela é hasteada mas não se deve saudar a bandeira nem fazer
juramento de lealdade a ela. A TJ não deve cantar o hino nacional que
às vezes é entoado nessas ocasiões: (A Sentinela de 15/07/74, páginas
446-7). Quanto a hastear e arriar a bandeira nacional, a TJ só pode
fazer isso se tal ato não fizer parte de uma cerimônia (isso é diferente
do caso de uma TJ que trabalha num edifício do governo no qual ela
tem de hastear e arriar a bandeira rotineiramente, comparando-se isso
com o abrir e fechar de portas — Veja A Sentinela de 15/07/77, página
447)
Barba: Não há uma proibição escrita, expressa, mas as publicações
sempre põem o uso de barba por varões Testemunhas (a partir de 1916,
após a morte de Russell — que usava barba) sob luz desfavorável. Faz
isso ao relatar experiências de homens que mudaram sua aparência
para “melhor” e recorreram ao padrão de cortar suas barbas ao se
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 531

tornarem Testemunhas. (Veja A Sentinela de 15/02/76, pág. 116, par.


9, A Sentinela de 15/02/75, pág. 125, A Sentinela 15/05/78, pág. 22,
etc.). Por ser vista de modo negativo nas publicações, a barba no
padrão mundial das Testemunhas hodiernas, não é usada pela maioria
esmagadora de seus membros. Eles sabem que poderão não atingir
“privilégios de serviço” por causa do uso de barba, além do quê, sentir-
se-ão como “estranhos no ninho”. Embora da França, Portugal e de
alguns outros países, cheguem relatos de homens no cargo de anciãos
que usam barba, a organização, de modo implícito, conforme visto em
sua literatura, estabelece a estranha posição dela.
Bater Palmas após o Anúncio de Readmissão de um Desassociado:
proibido. Em contraste com essa proibição, veja a atitude descrita por
Cristo em Lucas 15:7: “Eu vos digo que assim haverá mais alegria no
céu por causa de um pecador que se arrepende do que por causa de
noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.”
Batismo de Estrangeiros Ilegais: Não é proibido realizar o batismo
de um estrangeiro ilegal no país mas é proibido que tal homem receba
“privilégios” na congregação como o cargo de ancião ou servo
ministerial, etc. Veja A Sentinela de 01/09/77, páginas 543-4.
Batismo Realizado por Mulheres: É proibido o batismo realizado
por mulheres Testemunhas. A pessoa tem de ser batizada por um varão
Testemunha, embora a “dedicação” (oração feita para expressar a
Jeová o desejo de servi-Lo) não fique invalidada caso a pessoa a tenha
feito antes do batismo realizado por uma mulher Testemunha (como
relata A Sentinela de 15/01/74, páginas 63 e 64 sobre o caso de uma
mulher TJ que realizou um batismo num campo de concentração)
Batismos de Bebês (e “padrinhos”): Terminantemente proibidos.
Em A Sentinela de 15/02/73, pág. 127, lemos: “Atualmente, em muitos
lugares, o costume de se ter padrinhos é apenas uma formalidade. O
padrinho costuma dar à criança um presente, e depois, amiúde, tem
pouco que ver com a criança, quanto a treiná-la na crença.
Entretanto, visto que o princípio baseia-se apenas na tradição católica
e é contrário às Escrituras, os verdadeiros cristãos evitarão qualquer
ligação com tal prática.”
Bilhetes de Loteria: é proibido jogar na loteria e em qualquer “jogo
de azar”, mesmo que a renda seja para obras de caridade. Por quê? De
532 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

acordo com a organização, a loteria “incentiva a preguiça ou a


promove; estimula a cobiça...; desvia-se dinheiro que deveria ser
empregado para comprar as genuínas necessidades da família — mais
alimentos, roupa adequada, melhores cuidados médicos” (e melhores
contribuições à “obra do Reino”, é claro) — Veja A Sentinela de
15/07/89, pág. 30. Quanto a “sorteios”, a Testemunha só os aceita se
forem presentes promocionais de uma loja e isso está em A Sentinela
de 15/08/73, pág. 511-12 que mostra ainda algumas vertentes
proibitivas nessa questão.
Brindar: é proibido fazer brindes levantando-se copos. Veja A
Sentinela de 1968, páginas 447 a 448.
Caçar e Pescar por Esporte: desaconselhável. Em A Sentinela de
15/05/90, pág. 30 e 31, a organização mostra que a caça e pesca devem
ter motivo na busca por alimento e não no mero prazer oriundo desse
esporte. Também A Sentinela de 15/01/84, pág. 25, par. 14, 15.
Casamento de Parentes do Mundo — Pode a TJ Comparecer? A
Sentinela 15/03/75, página 190, desaconselha isso ao dizer: “é uma
questão de decisão pessoal... No entanto, há princípios bíblicos e uma
ampla variedade de circunstâncias que devem ser tomados em
consideração. A cerimônia de casamento talvez seja realizada num
edifício religioso e por um clérigo. Isto a tornaria bastante diferente
duma cerimônia puramente civil. O verdadeiro cristão não pode com
boa consciência juntar-se ou participar em quaisquer orações ou atos
religiosos de que sabe que são contrários ao ensino bíblico. Nem está
interessado em ver quão perto pode chegar aos atos apóstatas sem
ultrapassar a linha de demarcação. Ele tem a obrigação de acatar a
ordem bíblica: ‘Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos.
Pois, que associação tem a justiça com o que é contra a lei? . . . Ou
que quinhão tem o fiel com o incrédulo? . . .’Portanto, saí do meio
deles e separai-vos’, diz Jeová, ‘e cessai de tocar em coisa impura’.”
— 2 Cor. 6:14-17.
Casamento com “Pessoas do Mundo”: é altamente desaconselhável
uma Testemunha casar-se com um “mundano”. Uma TJ não deve
sequer relacionar-se intimamente com “pessoas do mundo” quanto
mais casar-se com uma delas. Mesmo que tais pessoas se digam
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 533

“cristãs”, elas continuam pertencendo a uma denominação religiosa,


parte do “império mundial da religião falsa, Babilônia, a Grande.”
“Casar-se no Senhor” (1 Cor. 7:39) para uma Testemunha significa
“Casar-se na Organização” e não apenas “Na Fé em Cristo” ou “No
Senhor”. Frise-se, no entanto, que esse não é um requisito apenas entre
as Testemunhas. A maioria das religiões ditam a mesma regra —
casar-se com pessoas do mesmo credo. Muitos acham que as
diferenças religiosas podem criar conflitos adicionais desnecessários
para um casal. Veja A Sentinela de 15/09/82, pág. 30-1, último
parágrafo, e observe como a organização se apropria com
exclusividade da Palavra de Deus ao dizer: “Mas, e se uma
Testemunha de Jeová planeja desrespeitar o conselho de Deus e
casar-se com alguém que não é Testemunha batizada? A menos que
haja algum motivo excepcional, os irmãos da congregação não
desejarão celebrar tal união desigual. Tampouco seria o Salão do
Reino colocado à disposição para o casamento. É cedido para
casamentos de dois cristãos batizados que se casam ‘somente no
Senhor’. Ou pode às vezes ser usado por duas pessoas que servem
regularmente a Deus como parte da congregação, e que se batizarão
em breve. Por não permitirem que uma Testemunha de Jeová, que
planeja ‘colocar-se em jugo desigual com um incrédulo’, use o Salão
do Reino, os anciãos congregacionais podem salientar a seriedade do
conselho de Deus de casar-se ‘somente no Senhor’”
Cobrir a Cabeça: as mulheres Testemunhas batizadas, ao dirigirem
estudos “bíblicos” na presença dum varão batizado, fazem-no com a
cabeça coberta. (Veja A Sentinela de 1960, pág. 478) Mas elas não têm
de cobrir cabeça ao interpretar para surdos (Veja A Sentinela de 1977,
pág. 640) nem fazer partes na Escola do Ministério Teocrático. (Veja A
Sentinela de 1961, pág. 671-2) No entanto, as mulheres são proibidas
de orar na presença dum varão batizado. Veja A Sentinela de 1960,
página 478.
Controle da Natalidade: Não é proibido, mas dependendo do
método, há fortes “admoestações” para análise do casal, como a
questão do uso do DIU — Dispositivo Intra-Uterino (Veja A Sentinela
de 15/06/1970, pág. 381-282, onde se lê que o DIU é uma “decisão
conscienciosa”. Mas em A Sentinela de 01/01/80, pág. 31-2,
encontramos: “há evidência crescente de que com o DIU colocado a
534 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

concepção pode ocorrer, ou ocorre, e que o produto da concepção é


impedido de se desenvolver normalmente numa criança. O cristão
sincero, interessado em saber se é adequado o uso do DIU, deve
considerar seriamente esta informação à luz do respeito pela
santidade da vida baseado na Bíblia.”
Como método contraceptivo, não é proibido, um varão TJ jogar seu
sêmen fora numa relação, mesmo em vista do caso de Onã. Sobre isso,
A Sentinela de 15/10/73, pág. 639, diz: “Sendo o caso de Onã um que
envolvia a desconsideração egoísta para com o objetivo do casamento
de cunhado, ele não pode ser usado para condenar o controle da
natalidade. É digno de nota que a Bíblia, em parte alguma, trata do
uso de preventivos ou do controle da natalidade no casamento. Nem
diz ela que os cristãos têm a obrigação de ter filhos. Por conseguinte,
no que se refere ao controle da natalidade, os casais cristãos precisam
deixar-se controlar pela sua consciência treinada pela Bíblia.” Sobre
esterilização (como vasectomia) e pílulas, tais métodos são aceitáveis
(Veja A Sentinela de 1/5/85, pág. 32; A Sentinela de 1975, pág. 350-2,
A Sentinela de 15/6/89, pág. 29 e A Sentinela de 1964, pág. 479)
enquanto o aborto é proibido.
Copa do Mundo: é “desaconselhável” torcer (= “desejar ser o
número um”) ou mesmo concentrar tempo vendo tais jogos, pois a
Testemunha deveria ao invés, gastar tempo com tarefas da organização
(“atividades espirituais”) tais como preparar suas infindáveis e
maçantes reuniões, partes em reuniões, sair pregando as “boas novas”
segundo os achismos da Torre de Vigia, etc., achando que desse modo
está servindo a Deus. Veja Nosso Ministério do Reino de Junho de
1994, pág. 2, e as revistas que ele relaciona quando diz:
“Mantenhamos o conceito equilibrado sobre o futebol. Palestra entre
dois anciãos sobre pontos apropriados na Despertai! de 8 de maio de
1991, páginas 10-12, e de 22 de agosto de 1991, páginas 8-9.
Salientem os princípios bíblicos pertinentes. Em vista da proximidade
duma nova Copa do Mundo, precisamos controlar nosso espírito
quanto a desejar ser o número um ou acompanhar de perto os muitos
jogos e/ou seus escores. Manter o equilíbrio inclui também não
negligenciar as mais importantes atividades espirituais, nessa época
em que muitos concentram a mente no esporte.”
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 535

Distribuição do Ministério do Reino: proibido fazer distribuição


geral desse mensário das Testemunhas. Enquanto em outras religiões,
qualquer pessoa recebe um folheto para o acompanhamento de suas
reuniões, apenas os que fazem a “obra” da Torre podem recebê-lo.
Nosso Ministério do Reino (KM) de fevereiro de 1987, página 8,
proíbe: “O Nosso Ministério do Reino destina-se a prover ajuda e
incentivo para aqueles que participam no ministério de campo.
Portanto, não é para distribuição geral. Todos os publicadores
batizados e os associados aprovados devem receber um exemplar. Os
que assistem regularmente às Reuniões de Serviço e que estão fazendo
progresso rumo à participação no ministério de campo também devem
receber um exemplar. Certifiquem-se de reservar um exemplar para a
biblioteca do Salão do Reino. Pessoas desassociadas não devem
receber um exemplar de Nosso Ministério do Reino.”
Divórcio: proibido, exceto em caso de adultério comprovado, e se o
cônjuge infrator mantiver o ato de modo impenitente, sem
arrependimento. Mesmo que o transgressor se arrependa, a vítima terá
o direito de não o perdoar e apelar para o divórcio que, com base em
Malaquias 2:16, será desincentivado pelo corpo local de anciãos. Em A
Sentinela de 15/02/75, pág. 126, há mais considerações pertinentes.
Notas: 1) Pode haver “separação de corpos” em caso de violência
doméstica. 2) A masturbação não dá base para o divórcio, mas A
Sentinela de 15/02/75, pág. 128, diz: “A masturbação definitivamente
é um hábito impuro. Isto se evidencia em que, segundo a lei mosaica,
até mesmo a ejaculação involuntária de sêmen tornava o homem
cerimonialmente impuro, até à noitinha. (Lev. 15:16; Deu. 23:10, 11)
...o cristão deve esforçar-se arduamente a evitar quaisquer hábitos
imundos, inclusive a masturbação.”
Ecumenismo: proibido. O livro Proclamadores na página 145,
alerta: “Os que praticam a adoração verdadeira não se empenham em
ecumenismo.”
Emprego em Organizações Religiosas: proibido. Veja A Sentinela
de 1965, pág. 287
Falar com Pessoas Desassociadas ou Dissociadas: é
terminantemente proibido, exceto por motivo de transações comerciais
(onde está isso na Bíblia?). Em caso de parentes desassociados, as
536 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Testemunhas devem reduzir o contato, falando o estritamente


necessário. Não podem sequer haver diálogo envolvendo “questões
espirituais”. Veja os números de A Sentinela 01/04/83, pág. 31,
15/04/80, pág. 32, 15/10/86, pág. 31, 01/04/86, pág. 30-31, etc.
Falar nas Reuniões — As Mulheres Podem? A Sentinela 15/10/73,
pág. 638-9, diz: “Em harmonia com a norma apostólica, as mulheres
nas congregações das testemunhas cristãs de Jeová não instruem a
congregação nas reuniões públicas. Não exercem autoridade sobre os
homens. O que falam é feito sob a direção dos homens designados
para supervisionar a reunião.” Mas não é proibido que as mulheres
falem social ou informalmente antes ou após as reuniões, ou até
mesmo “façam partes na tribuna”, debaixo da devida “direção dos
homens designados”. As mulheres são terminantemente proibidas de
usar o púlpito para ensinar diante de varões ou mesmo fazer orações
mesmo quando houver um varão presente. Ao dirigirem estudos
“bíblicos” (estudo de publicações da organização com apelos de textos
bíblicos) com “varões batizados”, elas devem cobrir a cabeça.
Flores nos Funerais e Colocar em Túmulos: é proibido, se for para
“honrar os mortos”. A Sentinela de 15/03/71, pág.191-2, diz: “Se
alguém pensar que está honrando o morto quando envia flores, então
faz o que os pagãos fizeram. Tal motivação é errada, do ponto de vista
cristão. Mas se enviar flores para consolar os sobreviventes, para
tornar uma ocasião triste um pouco mais agradável, então certamente
não há objeção a isso. ...Talvez se considere que os vivos apreciarão
as flores, mas que serão de pouca utilidade na sepultura, visto que o
falecido não as pode apreciar. — Ecl. 9:5. ... Naturalmente, outros
talvez prefiram deitar flores sobre o túmulo só para embelezar o local,
e não para dar honra aos mortos. Isto também é um caso de decisão
pessoal.” Nota: Assistir a serviços fúnebres em igrejas de outras
religiões é altamente desaconselhável. Em A Sentinela 01/10/70, pág.
607-8, lemos: “Mas, antes de fazer isso, cada um deve considerar os
diversos fatores envolvidos e as possíveis alternativas. Embora fazê-lo
não seja proibido pela congregação cristã, tal proceder certamente
está cheio de perigos e problemas. O serviço fúnebre na igreja é
realmente um ofício religioso. Portanto, é provável que envolva um
sermão que advogue idéias antibíblicas, tais como a imortalidade da
alma e que todos os bons vão para o céu. Pode envolver também
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 537

práticas antibíblicas, tais como fazer o sinal da cruz e mui


provavelmente participar numa oração unida com o sacerdote ou
ministro de outra religião. Naturalmente, o cristão não pode
participar nisso, em vista da ordem em Revelação 18:4. ... Sim, sua
consciência estaria envolvida. Por quê? Porque outros poderiam vê-
la, como uma das Testemunhas de Jeová entrando na igreja, e
poderiam tropeçar. ...Não há assim necessidade de o cristão sentir-se
obrigado a ir ao serviço fúnebre numa igreja de outra organização
religiosa, onde talvez haja a tentação de ceder à pressão e
acompanhar a multidão, quando todos fazem algum ato de religião
falsa. Assim se evita também o perigo de se praticar num ato de
apostasia e de se desagradar a Jeová Deus. Mas cada um terá de
decidir isso por si mesmo, à base das circunstâncias e de sua própria
consciência.”
Fumar: terminantemente proibido. Sobre fumo, veja os números de
A Sentinela de 1969, pág. 510-11, A Sentinela de 01/12/84, pág. 30-1,
e A Sentinela de 01/07/72, pág. 413-15 e A Sentinela de 01/01/75, pág.
96, A Sentinela 01/05/86, pág. 31, par. 1, 2: onde lemos: “As
Testemunhas de Jeová adotam uma posição fundamentada na Bíblia
contra o fumo, e aceitam igualmente a condenação bíblica da
glutonaria. Acreditam que o fumo viola princípios bíblicos. O fumo
envolve o vício da nicotina. Ademais, inalar fumo é algo desnatural. O
fumo avilta o corpo, causa problemas de saúde e tem abreviado vidas
que deviam ter sido usadas para o louvor de Deus. Fumar também
polui perigosamente o ar que outros respiram; certamente não
demonstra amor ao próximo. — 2 Coríntios 7:1; Romanos 12:1;
Marcos 12:33.”
Glutonaria: proibida tanto quanto outros vícios como o fumo
(acima). Difícil é determinar em que garfada começa a glutonaria, não
concorda o leitor? Ainda assim, a organização se arrisca e dá vários
alertas no número de A Sentinela de 01/05//86, pág. 31, onde lemos
frases como: “As Testemunhas de Jeová desaprovam a glutonaria por
causa do que a Bíblia diz. Seja qual for o seu peso, esforçam-se a
‘exercer autodomínio em todas as coisas’, inclusive no comer. Isto não
se dá por causa de um critério cultural quanto à moda, mas porque
desejam viver segundo os princípios da Bíblia e ser cristãos ativos que
gozam da aprovação de Deus.”
538 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Guardar Luto pelos Mortos: é desencorajado. A Sentinela 15/07/98,


pág. 20-23, onde lemos: “As Testemunhas de Jeová... não acham
necessário demonstrar seu pesar em público por meio de algum sinal
externo”, dentre outros “conselhos” sobre funerais, etc. Também, A
Sentinela 01/10/62, pág. 607-8.
Jogar Buquê de Flores para Damas de Honra: terminantemente
proibido. A Sentinela de 01/04/65, página 223, diz: “Visto que tal
costume ocorre nos casamentos do mundo e é simplesmente um
costume tradicional do paganismo, não seria considerada conduta
santa, e deve ser assim eliminado dos casamentos cristãos.”
Marcar Encontros para Namorar, Contato Físico, Cortejar, etc.:
desaconselhável para os que não podem fazer isso com intuito de
casar-se. São muitos os artigos que desencorajam tais práticas. A
Sentinela de 01/04/72, pág. 209-11, dá “admoestações” como: “Mesmo
quando tais encontros não resultam diretamente em “calamidade, têm
outras desvantagens. Uma delas é que reduz os seus interesses apenas
a uma pessoa — numa época em que, para desenvolver sua própria
madureza emocional, poderia tirar proveito da associação com uma
grande variedade de pessoas. Se for rapaz, por que não se concentra
primeiro em se tornar homem mesmo por ter suas amizades principais
com outros homens que demonstram amar o que é direito, aprendendo
deles capacidades e modos varonis? Se for moça, por que não se
interessar primeiro em desenvolver-se em verdadeira pessoa adulta,
tirando proveito da associação das que já são mulheres e que a podem
ajudar a desenvolver boas habilidades e modos femininos? Os
encontros com alguém do sexo oposto realmente interrompem e
atrasam tal desenvolvimento. ...Portanto, está-se favorecendo ou
prejudicando quando mantém encontros com alguém do sexo oposto?
A evidência é que se está prejudicando. Expõe-se ao vexame e à
calamidade.” Veja outros temas relacionados que recebem o título de
“condutas desenfreadas”, em A Sentinela 01/05/74, pág. 286, como a
fornicação ou ato sexual entre solteiros, etc.
Masturbação: proibida e pode levar à perda do cargo
congregacional. É também chamada de “vício solitário” e A Sentinela
de 15/02/75, pág. 128, diz: “A masturbação definitivamente é um
hábito impuro. ...O cristão deve esforçar-se arduamente a evitar
quaisquer hábitos imundos, inclusive a masturbação.” Existem alguns
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 539

casos de pessoas casadas que não recebem “privilégios de serviço” ou


cargos congregacionais por se confessarem “viciadas na masturbação”.
(Veja mais considerações em “Divórcio”)
Música “Sexualmente” Estimulante: é proibida. Nosso Ministério
do Reino de agosto de 1990, página 7, por exemplo, ao tratar de que
tipo de música serve para ocasiões como uma recepção de casamento,
generaliza no final: “Que dizer do uso de música na festa de
casamento? Cabe aos noivos decidir se haverá música, que tipo de
música será usada e até que horas será tocada. Caso decidam que
haverá música durante a recepção, certamente serão guiados por
princípios piedosos na sua escolha. Não deixarão a escolha da música a
critério ou ao gosto de qualquer um. Música do tipo ‘lambada’ e outras
músicas sexualmente estimulantes não deveriam ter lugar numa festa
de casamento, nem em qualquer outra recepção oferecida por cristãos.
— Veja w15/10/84, pág. 21, §§ 21-3.”
Obedecer aos Pais Quando eles Proíbem de Estudar a Bíblia?: É
inaceitável para um cristão desobedecer a “Deus como governante
antes que aos homens” (Atos 5:29). Em A Sentinela de 01/06/74, pág.
251-2, a organização termina seu artigo aplicando as palavras de Jesus
“Deixai as criancinhas e parai de impedi-las de vir a mim”, a ela
mesma, dando a entender que ela pode exercer o papel de “substituta”
da figura de Cristo. Tire suas próprias conclusões: Se os pais exigirem
que seus filhos cessem toda a associação com as Testemunhas de
Jeová, os filhos terão de decidir o que irão fazer, à base do que sabem
ser certo.... Por outro lado, embora neguem o pedido do filho de
assistir às reuniões cristãs ou de que venha um ministro e estude a
Bíblia com ele, talvez os pais não exerçam grande vigilância. Qual é a
responsabilidade das Testemunhas cristãs de Jeová para com tal
filho? As Testemunhas de Jeová respeitam corretamente os desejos dos
pais quanto ao que se deve fazer no lar deles. Mas isto não significa
que as Testemunhas de Jeová não possam responder a perguntas
bíblicas suscitadas pelos jovens que as visitam ou que se encontram
com elas na rua ou em outra parte. As Testemunhas de Jeová não tem
nenhuma responsabilidade de mandar os filhos embora de seus Salões
do Reino, só porque os pais talvez não queiram que estes assistam às
reuniões ali. ...Se os jovens estiverem entre os que desejam a água da
vida, quem é que pode mandá-los embora? Jesus Cristo disse aos seus
540 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

discípulos: “Deixai as criancinhas e parai de impedi-las de vir a mim,


pois o reino dos céus pertence a tais.” — Mat. 19:14.
Parteira — É Errado Exercer Profissão sem Licença? Em A
Sentinela de 15/04/84, pág. 32, a organização avisa: “A lei do país
talvez até mesmo prescreva que apenas pessoas que possuem licença
ou certificado podem exercer a prática de assistentes de parto. Quem
desrespeita leis conhecidas nesse sentido poderia correr o perigo de
ser processado como transgressor e poderia incorrer na culpa de
sangue, caso o descuido ou a incompetência resultasse em morte. —
Romanos 13:1-4. No que diz respeito a buscar ou prover cuidados de
saúde, quer seja sobre parto, quer sob outras formas de tratamento, os
cristãos devem ter em mente a declaração de Jesus: ‘Pagai de volta a
César as coisas de César, mas a Deus as coisas de Deus.´ - Mateus
22:21.”
Peixes — Sangrar antes de Comer? O peixe morre sufocado e não é
sangrado. E agora? Cortar e sangrar era um ritual, algo simbólico? A
Sentinela 15/07/73, pág. 448, insiste: “Não havendo estipulação
bíblica de se espremer ou pôr de molho a carne para remover o
sangue ninguém está sob a obrigação de tomar medidas extremas para
extrair o sangue dos peixes. Naturalmente, o sangue de todo tipo de
criatura representa sua vida, e por isso é sagrado. Portanto, ao se
abrir um peixe, quando a pessoa observa um acúmulo de sangue, ela
deverá removê-lo.”
Psiquiatra — é Correto Consultar? A Sentinela 15/10/75, pág. 639-
40, alerta: “Consultar o cristão um psiquiatra ou qualquer outro
médico, ou não, é assunto de decisão pessoal. No entanto, os
verdadeiros cristãos têm profunda fé no poder da Bíblia, de dar
orientação útil. Reconhecem que o Criador sabe mais sobre o homem
— inclusive sobre a mente humana — do que qualquer homem. Assim,
as Testemunhas de Jeová encaram qualquer método de tratamento à
luz da ‘sabedoria de cima’. — Tia. 3:17.”
Publicações — Trocar por outras Publicações Religiosas?
Terminantemente proibido. Em A Sentinela 01/11/84, pág. 32, a
organização proíbe esse expediente no final do artigo. Além disso,
acusa a literatura de outras denominações religiosas de disseminação
do “erro ou conceitos apóstatas”. Lemos: “Portanto, é por usar de
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 541

sabedoria e de respeito para com o conselho de Deus que as


Testemunhas de Jeová não têm por hábito trocar valiosos compêndios
bíblicos, que contêm a verdade da Bíblia, por publicações religiosas
que disseminam o erro ou conceitos apóstatas.”
Serviço Militar: é proibido prestar o serviço militar obrigatório do
país. A organização diz que os cristãos (leia-se “as Testemunhas”)
farão tal “decisão por meio de sua consciência treinada na Bíblia”,
também chamada de “consciência informada” (veja a seguir em A
Sentinela de 01/05/96). Porém, se é uma decisão pessoal de
consciência, por que um membro batizado quando completa 18 anos, é
“orientado” pelo corpo local de anciãos a pedir eximição (diferente de
“isenção”) que significará perder todos os direitos políticos como
cidadão? E, depois, caso ele faça o juramento à bandeira por livre e
espontânea vontade, por que é automaticamente considerado fora da
organização?
A Sentinela de 01/05/96, pág. 20, par. 19, liberou finalmente o
serviço civil alternativo: “O que se dá, porém, quando o Estado exige
que o cristão preste serviço civil durante um período como parte dum
serviço nacional sob uma administração civil? Novamente, os cristãos
têm de fazer a sua própria decisão baseada numa consciência
informada.” Como era isso antes, significando prisões, torturas, etc.,
para muitos jovens?
O livro Unidos (1983), dizia na página 167, par. 14: “Um exame
dos fatos históricos mostra que as Testemunhas de Jeová não somente
recusaram vestir uniformes militares e pegar em armas, durante o
último meio século, ou mais, mas que também recusaram fazer
serviços não-combatentes ou aceitar outro serviço em substituição do
serviço militar. Por quê? Porque estudaram os requisitos de Deus e
depois fizeram uma conscienciosa decisão pessoal. Ninguém lhes diz o
que devem fazer.”
A revista Despertai de 08/05/75, pág. 22, contava: “Outras
perguntas circunscreveram ainda mais a questão. ‘Quando a pessoa
objeta ao serviço militar’, declararam os agentes do governo, ‘passa
da jurisdição militar para a jurisdição civil, e desse momento em
diante não tem mais nada que ver com os militares. Por que, então,
ainda é objetável aceitar tal serviço civil?’ Aceitar voluntariamente tal
542 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

trabalho é objetável ao cristão devido ao que a lei de Deus diz sobre o


assunto: ‘Vós fostes comprados por um preço; parai de vos tornardes
escravos de homens.’ (l Cor. 7:23) A servidão civil como substituto
para o serviço militar seria igualmente objetável para o cristão. Com
efeito, desta forma se tornaria parte do mundo, ao invés de manter-se
separado, como Jesus ordenou. — João 15:19; 17:14-16.”
Nota 1: O Serviço Civil Alternativo, no Brasil, não é permitido, mas
em outros países atualmente é permitido conforme em A Sentinela de
01/05/96.
Nota 2: Como já falado acima, a eximição é obrigatória para um
membro Testemunha de Jeová batizado caso o membro não queira ser
considerado como dissociado. Veja como A Sentinela de 01/05/96,
pág. 19, par. 14, em diante, fala da eximição como sendo algo que uma
TJ poderá escolher ou não, mas que todo ancião (dirigente local) sabe
que, caso o membro batizado jure a bandeira, isso será igual a pedir
para não mais ser considerado uma Testemunha; “...Caso um cristão
dedicado e batizado more num país onde se concede eximição do
serviço militar aos ministros de religião, ele poderá aproveitar-se
desta provisão, porque de fato é ministro. (2 Timóteo 4:5) Diversos
países, inclusive os Estados Unidos e a Austrália, têm concedido tal
eximição mesmo em tempo de guerra. E em tempos de paz, em muitos
países que mantêm o serviço militar obrigatório, concede-se eximição
às Testemunhas de Jeová, por serem ministros de religião. Podem
assim continuar a ajudar pessoas com o seu serviço público. O que se
dá, porém, quando o cristão mora num país que não concede eximição
aos ministros religiosos? Então ele terá de fazer uma decisão pessoal,
seguindo sua consciência treinada pela Bíblia. (Gálatas 6:5) Serviço
civil No entanto, há países em que o Estado, embora não conceda
eximição aos ministros religiosos, reconhece que algumas pessoas
podem ter objeção ao serviço militar. Muitos destes países têm
providências para não obrigar essas pessoas conscienciosas a prestar
serviço militar. Em alguns lugares, o serviço civil compulsório, tal
como um trabalho útil na comunidade, é considerado como serviço
não-militar, nacional. Pode o cristão dedicado prestar tal serviço?
Novamente, o cristão dedicado e batizado terá de fazer a sua própria
decisão à base da sua consciência treinada pela Bíblia.”
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 543

Sexo Oral e Anal: — A organização intrometeu-se muito nesse tipo


de assunto e isso contribuiu até mesmo para ruína de casamentos. Na
década de 70, ela escreveu sobre isso como em A Sentinela de
15/06/70, pág. 380-1, quando tratou pela primeira vez desse tema:
“Alguns sustentaram, porém que entre marido e mulher é permissível
absolutamente tudo. No entanto, tal conceito não é apoiado pela
Bíblia. Em Romanos 1:34, 32, onde se fala tanto de homens como de
mulheres que praticavam atos sexuais imorais, inclusive atos lésbicos
e sodômicos, a Bíblia menciona o uso natural da fêmea. Assim se
mostra que entregar-se a tal uso dos órgãos de procriação para
satisfazer algum desejo cobiçoso de excitação sexual não é aprovado
por Deus.”
Em A Sentinela 01/11/73, pág. 670-1, ela foi mais longe e escreveu:
“O modo natural de um casal ter relações sexuais é bastante evidente
da própria constituição dos seus respectivos órgãos por parte do
Criador, e não deve ser necessário descrever como estes órgãos se
complementam mutuamente nas relações sexuais normais. Cremos
que, fora dos que foram doutrinados pelo conceito de que ‘no
matrimônio tudo vale’, a grande maioria das pessoas rejeita
normalmente como repugnante a prática da copulação oral, bem como
a copulação anal. Se estas formas de relações não são ‘contrárias à
natureza’, então o que é? Que os que praticam tais atos o fazem por
consentimento mútuo como casados não torna tais atos naturais, nem
faz com que não sejam ‘obscenos’. É este nosso modo de pensar
‘tacanho’ ou ‘extremo’? ...se casos de flagrante conduta desnatural,
tais como a prática da copulação oral ou anal, forem trazidos à sua
atenção, os anciãos devem agir para tentar corrigir a situação, antes
de resultar dano adicional, do mesmo modo como fazem com qualquer
outro erro sério. ...Portanto, os casais cristãos podem manter “o leito
conjugal imaculado”, não só por se refrearem da fornicação e do
adultério, mas também por evitarem práticas aviltantes e desnaturais.
— Heb. 13:4.”
A organização continua “alertando”, por dizer que tal ato para um
varão pode fazê-lo perder até mesmo privilégios, dependendo da
situação da prática de tais “relações sexuais pervertidas”. Como assim?
Veja A Sentinela 15/09/83, pág. 31, onde lemos dentre outras coisas:
“...Entretanto, se se tornar conhecido que um membro da congregação
544 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

pratica ou defende abertamente as relações sexuais pervertidas dentro


do vínculo do casamento, este certamente deixaria de ser
irrepreensível, e, portanto, não estaria apto para privilégios especiais,
tais como servir qual ancião, servo ministerial ou pioneiro. Tal prática
e promoção poderiam levar até mesmo à expulsão da congregação.”
Já no KS (livro dos anciãos), pág. 142, lemos no penúltimo parágrafo:
“Ao passo que as práticas pervertidas são erradas, se alguém está
envolvido ou envolveu-se em tais práticas, isso não significa que ele
ou ela deva necessariamente perder os privilégios de serviço.”
Ou seja, hoje em dia, sexo oral ou anal só ficarão realmente
comprometedores do cargo se alguém vier a saber sobre eles.
Sininhos Acionados pelo Vento: proibidos, dependendo do objetivo.
A Sentinela de 01/11/81 explica na página 32: “...Mas, em alguns
países é costume armar tais sininhos com a idéia de espantar maus
espíritos do lar. É evidente que o cristão não faria uso de sininhos
eólios para tal fim. Portanto, se em certo país ou em certa localidade
existir tal crença supersticiosa, então não será sábio ter tais sininhos
no lar. Assim ninguém tropeçaria, nem se daria a impressão de que as
Testemunhas de Jeová recorrem a sininhos eólios para algum fim
antibíblico. — 1 Cor. 10:31-33. Todavia, se o motivo de se armarem
sininhos eólios não tiver nada que ver com a religião falsa, a
superstição ou o demonismo, e se houver pouca possibilidade de
outros obterem uma impressão errada sobre o seu uso no lar, então é
simplesmente uma questão de decisão pessoal.”
Truques de “Mágica”: A Sentinela de 15/06/65, pág. 383, adverte
que, se os truques de mágica forem apenas frutos de uma habilidade
manual e não algo demoníaco, pode haver certa tolerância. Contudo,
mesmo simples “truques de mágica podem atrair demônios” e,
portanto, essa prática é desaconselhada para uma TJ.
Uso de Adornos e Calças Compridas: desaconselham-se adornos
exagerados que atraiam a atenção para a mulher e não para a adoração.
Veja A Sentinela de 1962, pág. 127-8. Calças Compridas — são
desaconselháveis em reuniões e pregação. A Sentinela de 01/03/73,
pág. 159-60, diz: “A mulher cristã... não quer ser causa de tropeço
para outros, nem lançar vitupério sobre a congregação cristã. A roupa
que talvez não seja considerada com desagrado quando usada na
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 545

própria casa ou no trabalho pode ser objetável quando usada nas


reuniões cristãs e quando se proclama publicamente a Palavra de
Deus, ou em outra atividade pública.”

Um Parecer Adicional

Como podemos ver na lista acima, quase todo aspecto da vida de


uma Testemunha é controlado. E para termos uma idéia mais ampla
sobre a que ponto pode chegar o legalismo de uma religião autoritária,
Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das Testemunhas
de Jeová, conta-nos no capítulo 8 (“O Legalismo — Oponente da
Liberdade Cristã”) do livro Em Busca da Liberdade Cristã (em inglês),
seqüência do livro Crise de Consciência:

Em 1976, O Corpo Governante das Testemunhas de Jeová decidiu


fazer uma revisão de seu manual Ajuda Para Responder
Correspondência dos Escritórios de Filial. O manual visa orientar
todas as Comissões de Filial da organização no trato dos problemas. O
objetivo da revisão era que o manual contivesse as decisões mais
recentes do Corpo Governante. Gene Smalley e Robert Wallen,
membros do pessoal, foram designados para redigir um manual
atualizado e entregaram sua proposta de revisão em setembro de 1977,
tendo sido obra principalmente de Smalley. A Comissão de Redação
designou-me para fazer a edição final da matéria. Achei a designação
deprimente. Embora familiarizado com o manual original devido à
experiência passada, senti então plenamente a que ponto chegara a
visão legalista que a organização adotara em relação ao cristianismo.
Dois anos depois, eu ainda não tinha completado a editoração e, tinha,
de fato feito bem pouco progresso. Propus passar a designação a outra
pessoa, mas Lyman Swingle, então coordenador da Comissão de
Redação, disse que não tinha pessoalmente pressa alguma de ver a
matéria concluída, e que, no que lhe dizia respeito, “quanto mais dela
fosse ‘para o incinerador’ melhor.” Analise o índice das 114 páginas da
matéria proposta:

ÍNDICE
Aborto 78
Adoção 14
Adultério, Evidência 27, 28
Afiliação a Várias Organizações 83
546 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Anciãos 33-35
`’ , Anteriormente Desassociados 64
`’ , Transgressão
Aniversário 22, 23
Anulações, 31, 32
Apostasia 4
Arma, Emprego com Arma 47, 48
Assassinato 68
`’ , Culpa de Sangue 12
Auto-defesa 102
Bandeira, Exibição 55
Bandeira, Saudação e Hinos Nacionais ou Escolares 54, 55
Batismo 5-8
`’ , Pessoa Retardada 7
`’ , Serviço Militar 86a
Bebidas Alcoólicas 1
Bônus do Governo 60a
Calças, Mulheres 15
Casamento 75-77, 113, 114
`’ , Anulação 31, 32
`’ , com Descrente 35, 49, 50, 75, 76
`’ , com Pessoa Desassociada 6, 7
`’ , Consuetudinário 16
`’ , de Pessoa Desassociada 21,
`’ , Divórcio, Decreto Interlocutório 30
`’ , Salão do Reino 70
Chá de Baby, Panela 114
Cidadania 89
Cobrir a Cabeça 66
Comemoração 84, 85
Comissão de Apelação 64, 65
Comissão, Necessidade 61
Conduta com Pessoas do Sexo Oposto 17, 18
Conduta Desenfreada 17, 18
Confissão 62
`’ , Adultério 25, 28
`’ , de Ancião 34
Consensual, “Casamento” 29
Consuetudinário, Casamento 16
Controle de Natalidade 52
Cuidar de Casos de Transgressão 61-65
Culpa de Sangue 12, 34
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 547

Declaração de Compromisso de Fidelidade 16, 23, 29, 30, 76


Desassociação 20-23
Desassociado, casar com 6, 7
`’ , Funeral 57
`’ , Mudar-se para casa de 74
`’ , Recusar Encontro com 62, 63
Dissociação 19, 87, 88, 90
Divórcio 24-32
`’ , Porneia 104
`’ , Onde é Difícil 30
Doença Venérea 28
Emprego 36-48
`’ , Armado 47, 48
`’ , Envolvendo Sangue 10
`’ , Estrangeiro 2
`’ , Professores Escolares 99, 100
`’ , Sociedade Comercial 3
`’ , Tabaco 109, 110
Empréstimos 71, 72
Escolas Religiosas 45, 46
`’ , Educação Secular 98-100
Escola Teocrática, Matricular-se 82
Espiritismo 79, 106
Esterilização 80, 81
Estrangeiros 2, 3
Estudo Bíblico, Pessoa Desassociada 22
Estupro 52
Eximição, serviço Militar 87
Família, Assuntos de 49-52
Feriados, Cônjuge Descrente 49, 50
Filhos 14
`’ , Retardados 51
`’ , Transgressões de 50, 64
Funeral 55-58
`’ , Salão do Reino 70,
`’ , Veteranos de Guerra
Governo, Trabalho Exigido 90
Hermafrodita 104
Hinos 54, 55
Hipnotismo 78, 79
Honra a Autoridades Governamentais 67
Hospitais Religiosos 46
548 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

Igreja, Compra ou Venda de Salão do Reino 96


`’ , Filhos 51
`’ , Remoção do Nome 5, 6
Ilegais, Atividades 68
Ilegitimidade 52
Impostos 107
Impotência 31
Insanidade 31
Jogos de Azar 59, 60
Karatê 102
Legais, Assuntos 73
Medicina Ilegal 79
Médico, Sangue 10, 11
Médico, Tratamento 78-81
`’ , Localizar 78
Militar, Serviço 86-88
Morar, Acomodações 74
Multas 53
`’ , Sindicato 112
Música, Hinos 54, 55
Namoro 32
Naturalização 89
Neutra, Comissão 64, 65
Neutralidade 90, 91
Noiva, Preço de 32
Notícias, Serviço 92
Núpcias 113, 114
Órgãos, Transplantar 81
Pais, Cuidar dos 52
Patriotismo, Saudação à Bandeira e Hinos 54, 55
Pioneiro, Qualificações 93
Piquete, Fazer 112
Perdão, por porneia 28
Políticas, Eleições 94
Porneia 17, 18, 25, 103, 104
`’ , Evidência 27, 28
Prêmios 60
Prisão 69
`’ , Ancião 34
`’ , Trabalho 110
Psiquiatria 80
Readmissão 23
Proibições, Conselhos Amorosos e Similares 549

`’ , Privilégios 63, 64
Rebatizar-se 7
`’ , Anciãos 34
Recreação 95
Registrar-se Para Votar 94
Relações Sexuais, Pessoas Divorciadas 30, 31
Religioso, Envolvimento 96, 97
Restituição 23
Retardados Mentais 51
`’ `’ , Batismo 7
`’ `’ , Transgressões 63
Reuniões 82
`’ , Pessoa Desassociada
Salão do Reino, Casamentos 70
`’ , Comprar de Igreja 96
`’ , Desassociados 22
`’ , Filhos Freqüentam 51
`’ , Financiamento 71, 72
`’ , Vender para Igreja 96
Servo Ministerial, Anteriormente Desassociado 64
Sangue 9-11
Segregação 101
Sexo, Mudança de 104, 105
Sexual, Conduta 103-105
Sindicatos, Afiliação e Atividades 111, 112
Sociedades Comerciais 34
Soros 9
Subornos 13
Suicídio 57
Tabaco 108-110
Transexual 104, 105
Travestir-se 105
Transplantes de Órgãos 81
Tribunal 73
Uniforme 69
Vestimenta que é Apropriada 15
Viúva, Pensão 77
Votar 94
`’ , Sindicatos 111

Virtualmente cada setor da vida - assuntos familiares e conjugais,


emprego, relações sociais e comunitárias - é coberto por uma ou outra
550 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

das normas contidas nesta publicação. Mas os 174 tópicos alistados no


índice dão apenas uma visão superficial da realidade que se acha nas
páginas, uma pequena idéia de exatamente quão extensas e complexas
tinham se tornado as normas da organização. E mesmo as páginas do
manual contam apenas uma parte da história, pois elas trazem
referências abundantes a artigos da Sentinela que se prendem ainda
mais a detalhes técnicos das normas elaboradas. A proliferação de
regulamentos e sub-regulamentos que se acham em suas páginas
(algumas “impostas” diretamente e outras de modo apenas sutil) só
pode ser descritas como talmúdicas. E a cada ano, novas regras são
formuladas em resultado das reuniões do Corpo Governante.
Embora o manual revisado devesse chamar-se Orientações Para
Correspondência, todo aquele que ocupa a posição de ancião
congregacional, superintendente viajante ou membro de Comissão de
Filial sabe que o conteúdo do manual não é mera orientação, mas tem
força de lei. Ele sabe que se não se apegar estritamente a estas normas
e decisões ao tratar dos assuntos, ele estará sujeito à disciplina. Estas
normas são, de fato, tratadas com o mesmo respeito que se teria às
declarações diretas das Escrituras, lei divina. As Testemunhas
aprendem a encará-las assim. Já em A Sentinela de 15 de maio de 1944
(em inglês), via-se esta declaração:
“Deve-se ter sempre em mente que a organização de Deus de seu
povo é Teocrática, não democrática. As leis de sua organização vêm
dele próprio, o grande Teocrata, Jeová, o Supremo... De modo único,
uma organização é regida do alto para baixo (o que significa do Deus
Altíssimo para baixo) e não de baixo para o alto (isto é, das pessoas
das congregações para o alto).”
É bem evidente que o chamado “grande conjunto de leis
teocráticas” hoje existente dentro da organização das Testemunhas não
se origina das pessoas das congregações, as da chamada parte “de
baixo.” O “alto” de onde emanava este “conjunto de leis,” porém, na
realidade não ultrapassava a liderança da comunidade das
Testemunhas, sua “autoridade controladora” atual.
Capítulo 14

Unidade ou Conformidade
de Grupo?
“Portanto, eu, o prisioneiro no Senhor, suplico-vos que andeis
dignamente da chamada com que fostes chamados..., diligenciando
observar a UNIDADE do espírito no vínculo unificador da paz...”
(Efésios 4:1, 3 — Tradução do Novo Mundo)

Grande parte do que se professa crer, não só entre as Testemunhas


de Jeová, mas em qualquer outra religião, garante às religiões que elas
mantenham certa medida de aparente “unidade na fé”, seja essa qual
for, dentro de seus pátios.
O que ocorre muitas vezes é que o cristão sincero se vê numa
verdadeira luta para não submeter sua liberdade cristã a moldes
forçados e adesão a crenças que ele reconhece como sendo oriundas
apenas da autoridade religiosa constituída dentro da estrutura da
organização religiosa de sua escolha.
É sempre muito doloroso quando permitimos que nossa consciência
cristã seja violada, por meio e em prol de “artigos de fé” de difícil
digestão. E não é nada fácil dizer “sim” àquilo que se transforma em
mera acomodação ao coletivo, à conformidade de grupo.
É bem verdade que a Bíblia incentiva que tenhamos uma mesma
mentalidade em relação às suas regras e princípios. (Rom. 12:16)
Contudo, isso não significa que tenhamos de aceitar todo um pacote de
doutrinas e ensinamentos que hoje as religiões dizem inferir delas,
alegando que estes emanam de uma fonte divina inspirada ou da
própria Palavra de Deus.
Nessa questão, porém, reside boa parte da diferença entre
“conformidade de grupo” e “unidade Cristã”.
Se alguém, por exemplo, não usa cabelos curtos, passa a usar barba,
deixa de relatar um bom número de horas de pregação colocando o

551
552 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

nome numa folha de relatório, “namora com pessoas do mundo”,


comemora aniversários natalícios, empenha-se arduamente na vida
acadêmica ou comercial, etc., entre as Testemunhas de Jeová, isso
significa que a pessoa não vive inteiramente a “verdadeira fé cristã” e,
portanto, não é merecedora de privilégios de serviço na congregação
dela, e ainda não está, portanto, fazendo o devido progresso. É tido
como um cristão “fraco na fé”, “imaturo” e é necessário até mesmo
que “se tome nota dele”. Pasme o leitor, tal “cristão” poderá ser visto
apenas como uma mera pedra de tropeço para os outros na
congregação, “alguém que não se encaixa”.
Assim, o cristianismo de cada Testemunha de Jeová é julgado pelos
seus concristãos, incluindo-se os homens da dianteira (anciãos), à base
de sua adesão às imposições da autoridade religiosa centralizada do
Corpo Governante que é “a única organização na Terra que entende as
coisas profundas de Deus”. (A Sentinela de 1º de janeiro de 1974,
página 18, parágrafo 4)
Sendo assim, para uma Testemunha fiel, não importa quão real e
verdadeiro seja aquilo que escrevo aqui nesse capítulo. Todas as
evidências e todo o apoio bíblico defendido serão rejeitados antes
mesmo de serem lidos. Por quê? Simplesmente porque a autoridade
central delas decreta que elas devam abominar, expurgar qualquer que
seja a discordância proposta. Tais pessoas ficam, desse modo, privados
da liberdade de escolher e decidir por si mesmos se a informação é
factual ou falaciosa, benéfica ou prejudicial.
Isso é o que pode ser chamado de conformidade de grupo. Nada tem
a ver com unidade cristã genuína, motivada pelo amor a Deus apenas e
apego aos princípios contidos em sua santa Palavra, a Bíblia.
Já perguntamos, anteriormente o que fazem ou como reagem as
Testemunhas de Jeová quando descobrem que têm crido em mitos e
seguido mandados de homens. Infelizmente, quase sempre o método
intimidatório empregado pela Sociedade termina por forçar tal pessoa a
novamente aderir silenciosamente à conformidade de grupo.
A suprema força e as pressões emocionais, espirituais e psicológicas
contidas na ameaça de se ser expulso, de se perder todos os amigos de
longa data e de se ter cortada a relação íntima com familiares
Testemunhas de Jeová, a crendice de se perder a total aprovação de
Jeová e, conseqüentemente, a própria vida no Armagedom, e assim por
diante, são cargas deveras pesadas, quase impossíveis de ser
Unidade ou Conformidade de Grupo? 553

suportadas por qualquer Testemunha, mesmo que ela chegue a


entender esse lado negro da alegação de que há uma “unidade na fé”.
O ensino formal que se propaga entre as Testemunhas é o de que
opor-se à “organização de Deus” é realmente opor-se ao próprio Deus
pois “Ele usa essa organização como seu canal visível”. Esse é o
raciocínio fortemente implantado nas mentes das Testemunhas.
Membros de inúmeras outras religiões do mundo, no entanto, têm esse
mesmo conceito, julgando com isso estar seguindo “a sã doutrina”.
Reaprender a andar com os próprios pés e a pensar por si mesmo
depois de anos é uma árdua tarefa. Conheci alguns que me disseram
que apreciavam ser comandados tendo sempre quem lhes mostrasse
aonde deveriam ir, como deveriam viver, como deveriam prestar
adoração a Deus, etc. Por outro lado, conheço pessoas que saíram e
conseguem hoje viver bem melhor do que quando eram Testemunhas
de Jeová. Esses dizem que podem até não saber bem onde estão indo,
mas têm certeza de para onde não querem mais voltar. Outros dizem
que não sentem necessidade de “ir a algum lugar” em vista de sua boa
relação com o Criador e seu filho, sendo isso mais do que suficiente
para tais.
Há alguns que saem e terminam voltando. A organização coopera
para que eles se sintam impuros, indignos e sujos. Entre estes estão os
que saem por motivos egoístas, por quererem usar sua “liberdade como
disfarce para a maldade” e como “escravidão à corrupção”. (1 Pedro
2:16; 2 Pedro 2:19-22). Sem o conhecimento dos grandes erros da
Organização certamente têm fortes razões para retornar.
O que é curioso é que a organização tem usado textos bíblicos para
manter TODOS os seus adeptos como reféns incondicionais de seu
Corpo Governante. Para exemplificar, ela ameaça os que estão
discordando de seus ensinos, e lhes impõe o mesmo castigo, a mesma
punição que é ministrada aos que estão “entregues aos desejos da
carne.”
A conclusão é que não há forma honrosa para se sair, mesmo que a
pessoa simplesmente não concorde mais, e apenas isso, com os
ensinos e doutrinas, não desejando mais estar subordinado ao corpo
central em Brooklyn.
Há alguns outros que terminam ficando “na moita”. Vão fazendo
suas escolhas de foro íntimo de acordo com o que suas consciências
lhes mandam, e pronto. Mas, viver assim, já significa que a pessoa está
554 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

vivendo contra os ensinos de sua mãe-organização que lhes dita que


“devem concordar com tudo em 100%.” (Despertai! 8 de setembro de
1987, págs 8-11)
Para entendermos melhor a complexidade desse assunto, vamos
antecipar um pequeno trecho do livro Em Busca da Liberdade Cristã,
de Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová. Esse livro está sendo traduzido e será
publicado em português.
Iremos colocar algumas partes de um julgamento realizado na
Escócia em 1954 que ilustram bem viver sobre uma espécie de
“conformidade de tempo”.

O caso, conhecido como caso Walsh, focalizava a alegação da


condição de ministro religioso por parte de uma Testemunha de Jeová,
que era superintendente presidente de uma congregação da Escócia.
Recordo-me de, anos atrás, escutar pessoalmente de meu tio, (Fred
Franz) o relato de seu papel nesse julgamento, mas foi só ao ver o
registro final do tribunal, em data recente, que descobri tudo o que foi
abrangido por esse depoimento.
Com autorização do Guardião de Registros da Escócia, alguns
trechos do registro oficial são aqui reproduzidos. Como se pode
observar, Fred Franz, na época vice-presidente da organização, foi o
primeiro no banco das testemunhas e o registro do tribunal inclui esta
informação, com alguns trechos que sublinhei. (“P” representa a
pergunta feita e “R” a resposta dada):

P: Além dessas publicações regulares vocês preparam e lançam


vários panfletos e livros teológicos de tempos em tempos?
R: Sim.
P: Poderia dizer-me isto; são estas publicações teológicas e os
periódicos quinzenais usados para consideração de afirmações
doutrinárias?
R: Sim.
P: São estas afirmações doutrinárias compulsórias dentro da
Sociedade?
R: Sim.
P: É a aceitação delas uma questão de opção, ou é obrigatória para
todos os que são e desejam continuar a ser membros da Sociedade?
R: É obrigatória.
Segundo esse depoimento, quem quer que deseje continuar a ser
uma Testemunha de Jeová não tem alternativa, nenhuma opção senão
Unidade ou Conformidade de Grupo? 555

aceitar as declarações publicadas pela Sociedade Torre de Vigia, da


qual Fred Franz falava como representante. A aceitação é
“obrigatória”. As conseqüências são indicadas mais adiante no
depoimento dele:
P: Quer dizer então que, efetivamente, existirá na Terra uma nova
sociedade humana em resultado disso?
R: Sim. Haverá uma sociedade do novo mundo numa nova Terra,
sob novos céus, tendo os céus e terras anteriores já passado, após a
batalha do Armagedom.
P: Então a população desta nova Terra, consistirá apenas de
Testemunhas de Jeová?
R: Inicialmente consistirá apenas de Testemunhas de Jeová. Os
membros do restante esperam sobreviver a essa batalha do
Armagedom, bem como uma grande multidão destas outras ovelhas. A
permanência do restante sobre a Terra após a batalha do Armagedom
será temporária, pois eles devem primeiro terminar seu percurso
terreno, fiéis na morte, mas as outras ovelhas por meio da contínua
obediência à vontade de Deus, poderão continuar a viver na Terra para
sempre.
A aceitação, portanto, torna-se um assunto de vida ou morte, pois
os que sobreviverem ao Armagedom consistirão “apenas de
Testemunhas de Jeová”. Que dizer do caso em que, o membro de uma
congregação rejeita certo ensino organizacional, por
conscienciosamente acreditar que lhe falta apoio das Escrituras, e,
como resultado, é subseqüentemente desassociado? Qual é a postura
oficial para com as pessoas desassociadas que não obtêm readmissão?
Esta postura é explicitada conforme segue no depoimento:
P: E são estes poderes disciplinares de fato exercidos quando surge
a ocasião?
R: Sim, são.
P: Bem, não vou mais fazer-lhe perguntas sobre este aspecto da
questão, mas há transgressões tidas como graves o bastante para
merecer a expulsão sem esperança de readmissão?
R: Sim. O fato é que a excomunhão em si mesma pode levar a
aniquilação do excomungado, se esse indivíduo jamais se arrepender e
corrigir o seu proceder, e continuar fora da organização. Não haveria
para ele esperança alguma de vida no novo mundo, mas existe um
proceder que resultaria em excomunhão, da qual se pode ter certeza
que o indivíduo jamais retornaria, e este é chamado de pecado contra o
espírito santo.
O advogado do governo britânico dirigiu depois sua atenção para
certos ensinos que a organização Torre de Vigia tinha, com o tempo,
556 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

rejeitado, inclusive os que envolviam certas datas específicas. O que


dizer de alguém que, na época, em que o ensino foi estabelecido, visse
o erro dele, e em conseqüência, não o aceitasse? Qual seria a atitude da
organização para com tal pessoa?

(Vamos dar um salto e nos dirigir agora para o testemunho de


Hayden C. Covington, conselheiro jurídico da Sociedade na época):

P: Não é vital falar a verdade em assuntos religiosos?


R: Certamente que é.
P: Em sua opinião, há margem em uma religião para mudanças na
interpretação dos Escritos Sagrados de tempos em tempos?
R: Há todas as razões para as mudanças de interpretação da Bíblia,
segundo nossa visão. Nossa visão se torna mais clara à medida que
vemos o tempo cumprir as profecias.
P: Os senhores já anunciaram - perdoem-me a palavra — falsas
profecias?
R: Anunciamos - não acho que anunciamos falsas profecias, houve
declarações que foram errôneas, é assim que coloco, equivocadas.
P: É uma consideração muito vital, na atual situação do mundo,
saber quando esta profecia, a Segunda Vinda de Cristo, ocorreu?
R: Isto é verdade, e sempre nos esforçamos para saber que estamos
com a verdade, antes de anunciá-la. Guiamos-nos pelas melhores
informações que temos, mas não podemos esperar até ficar perfeitos,
porque se esperássemos até ficar perfeitos jamais poderíamos falar.

(QUANTO À FALSA PROFECIA DA “SEGUNDA VINDA DE


CRISTO” EM 1874):

P: Foi anunciada uma falsa profecia?


R: Concordo com isso.
P: Ela tinha de ser aceita pelas Testemunhas de Jeová?
R: Está correto.
P: Se um membro das Testemunhas de Jeová tomasse uma posição
própria de que essa profecia estava errada e o dissesse, seria ele
desassociado?
R: Sim, se ele o dissesse e continuasse a persistir em criar
problemas, por que se a organização inteira acredita em uma coisa,
ainda que errônea, e alguém, por sua própria conta, começa a espalhar
suas idéias, então vai haver desunião e problemas, não pode haver
harmonia, nem marcha alinhada. Quando ocorre uma mudança, ela
Unidade ou Conformidade de Grupo? 557

deve vir da fonte apropriada, da dianteira da organização, o Corpo


Governante, não de “baixo para cima, pois cada um teria idéias
próprias, e a organização se desintegraria em mil direções diferentes.
Nosso objetivo é manter UNIDADE!
P: UNIDADE a qualquer preço?
R: UNIDADE a qualquer preço, por que cremos e temos certeza de
que Jeová Deus está usando nossa organização, o Corpo Governante de
nossa organização para dirigi-la, mesmo que de vez em quando se
cometam erros.
P: UNIDADE baseada na aceitação obrigatória de falsas profecias?
R: Reconhece-se que isso é verdade.
P: E a pessoa que expressar uma opinião como o senhor diz, de que
isso estava errado, e é desassociada, estaria violando o pacto se ela
fosse batizada?
R: Está correto.
P: E como o senhor disse ontem expressamente, ela mereceria a
morte?
R: Acho que...
P: O senhor diz sim ou não?
R: Digo sim, sem hesitar.
P: O senhor chama isso de religião?
R: Certamente que sim.
P: O senhor chama isso de cristianismo?
R: Certamente que sim.

(E assim prossegue o trecho...)

Comentários de Ray Franz:

A unidade, segundo o depoimento deste representante da


Sociedade, pode exigir de um cristão que ele aceite como verdade
aquilo que ele crê que a Palavra de Deus mostra ser falso. Não importa
o que ele leia na Bíblia, ele não pode expressá-lo se isso não coincidir
com os ensinos obrigatórios da organização. Embora isso possa, na
própria Palavra de Deus, estar claro, isto não basta. Ele deve esperar
até que a mudança parta da “fonte apropriada”, da dianteira da
organização, o Corpo Governante, não “de baixo para cima”. Não
importa o que ele leia na Bíblia, ele deve esperar que o Corpo
Governante lhe diga o que é aceitável para se crer e para se conversar.
A justificativa para uma alegação tão incrível? Deve haver
“UNIDADE A QUALQUER PREÇO”, mesmo que baseada na
558 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

aceitação obrigatória de falsas profecias. Falhar nesse aspecto é ser


passível de desassociação e “merecer a morte”. Com efeito, embora
alguém possa ler as PRÓPRIAS PALAVRAS do Amo, por escrito, ele
não pode aceitá-las, ou agir segundo elas SE O PROFESSO
“ESCRAVO” DO AMO LHE DIZ ALGO DIFERENTE. Este é, em
linguagem clara, o conceito promulgado pela organização.

Bem, tendo lido parte dos depoimentos e alguns comentários de


Raymond Victor Franz, ex-membro do Corpo Governante e sobrinho
do falecido presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados, fica claro que UNIDADE tem uma definição peculiar e
distinta para os que compõem o Corpo Governante.
Após a breve leitura de uma porção do processo, que no todo
apresenta muito mais detalhes interessantes, o leitor talvez possa
entender mais claramente o objetivo de se tratar aqui de conformidade
de grupo versus unidade cristã genuína. Conformidade é algo pode ser
encontrado em qualquer organização até mesmo uma do tipo comercial
cujos dirigentes podem impor uma padronização em todos os aspectos,
enquanto a unidade cristã coopera naturalmente para que seus
princípios e fundamentos sejam adotados e, quando não há acréscimos
de ensinos humanos, a adoração não se torne vã. (Mateus 15:9)
Acredito que, todos os que passarem os olhos por esse capítulo e
refletirem mais profundamente no verdadeiro significado do
cristianismo na vida das pessoas, jamais admitirão que a verdadeira
unidade seja algo a ser imposto a “qualquer preço”, mas sim um
sentimento de profundo de amor a Deus e a Cristo. É algo que motiva
uma atitude firme na qual devemos basear o curso de nossas vidas,
usando as Escrituras Sagradas, a Bíblia, como a única e legítima fonte
de autoridade divina.
Capítulo 15

O Que Dizer da
“Religião Verdadeira”?
O que se segue é um ponto de vista oriundo de algumas pesquisas
modestas que obviamente jamais fizeram ou farão parte de algum
“conjunto de verdades divinas” ou da “verdade revelada de Deus”, ou
coisas desse tipo.

Ajuntamento de Ovelhas num Aprisco Especial?

Uma das conclusões sobre o que está acontecendo no cenário religioso


“cristão” desse mundo é que toda religião organizada faz praticamente
a mesma alegação: é o lugar ideal para adorar a Deus, aquela que imita
de perto as pisadas e o exemplo de seu filho. Mas será que o
“ajuntamento” de pessoas do tipo “ovelhas de Cristo”, tem ocorrido do
primeiro século aos nossos dias? Ou começou apenas por meio de
algum movimento hodierno como o das Testemunhas de Jeová? Será
que os cristãos precisam estar necessariamente confinados em um só
rebanho todo especial? Ou se encontram espalhados por todos os
lugares, quer dentro ou fora dos pátios das religiões do mundo? São
simplesmente ovelhas pertencentes a Cristo ou ovelhas de um aprisco
especial, propriedade mantida por uma pretensa e auto-proclamada
“religião verdadeira”?
Jesus avisou: “Estarei convosco até a consumação dos séculos”
(Mateus 28:20) ou como possam verter outras traduções.
Onde estavam esses homens fiéis durante os quase 15 séculos em
que a igreja católica foi a única com o monopólio da alegada religião
“cristã”? Deixou Cristo de ter uma igreja (“Eclésia” — congregação ou
ajuntamento de pessoas) dele? Ou estavam eles espalhados em várias
partes do mundo, falando de Cristo, de seu Resgate, da Ressurreição

559
560 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

dos Mortos e de outras doutrinas básicas que estão claras na Palavra de


Deus?
É bom lembrar que Lutero, por exemplo, só veio a pregar as suas 95
teses na Catedral de Wittenberg, na Alemanha, no dia 31 de outubro de
1517. Ali ele defendeu o “Livre Exame” das Escrituras que era uma
idéia oposta ao “Magistério” (conjunto de ensinos da Igreja Católica na
época). O que ocorreu nos séculos anteriores? Como existiam os
cristãos em cumprimento da profecia de Cristo registrada acima em
Mateus 28:20?
Posteriormente, a questão do “Livre Exame” começou a se espalhar
e pessoas como Calvino (Fundador da Igreja Protestante na Suíça, que
depois se tornou a Igreja Reformada na Holanda, e a Igreja
Presbiteriana na Escócia) passaram a estabelecer seus postulados em
várias partes do mundo. No caso de Calvino, ele instituiu suas idéias
em Genebra. Infelizmente, este tão aclamado “Livre Exame” gerou
toda uma onda de sectarismo e autoritarismo religiosos que se
estendem aos dias de hoje. Será que Cristo queria que isso fosse assim?
O que dizer dos exemplos típicos de exacerbado autoritarismo e de
intolerância religiosa como o trágico fim do famoso médico espanhol,
Miguel Servet que, por ordem do próprio Calvino (que havia sido
beneficiado com o direito de examinar livremente as Escrituras) foi
literalmente assado numa grelha como apóstata (ou herege, por não
aceitar o ensino da Trindade defendido por Calvino e seus seguidores)?
Como podemos deduzir dessa experiência de Calvino, os que
tinham agora o direito de fazer o “Livre Exame” das Escrituras, não
queriam dá-lo aos seus semelhantes contemporâneos. Isso ainda
continua a ocorrer e é a prática comum sempre que uma religião diz
possuir “A Verdade”, como é o caso da Torre de Vigia que assevera ter
o monopólio dessa verdade, punindo e expulsando de seu meio
qualquer um que conteste seu “Livre Exame das Escrituras” que só
deve ser feito por ela. Há muitos registros de tais afirmativas. Veja, por
exemplo, a estridente afirmação na revista A Sentinela, 1º de janeiro de
1974, pág. 18:

“Esta é a única organização na terra que compreende as ‘coisas


profundas de Deus’”.
O Que Dizer da “Religião Verdadeira”? 561

Ou em A Sentinela, 15 de Setembro de 1983, página 14, parágrafo


3:

“O que requer Deus daqueles que residirão para sempre no Seu


Paraíso Terrestre? ...O terceiro requisito é estarmos associados com o
instrumento usado por Deus, a Sua organização. Deus sempre usou
uma organização...; ...Para recebermos a vida eterna no paraíso
terrestre, precisamos identificar essa organização e servir a Deus
COMO PARTE DELA...”

Também no livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra,


página 190, pars. 19 e 20, sob o subtópico “uma só religião
verdadeira”:

“É somente lógico que haja uma só religião verdadeira...; quem,


então, são os que formam o corpo de verdadeiros adoradores hoje? Não
hesitamos em dizer que são as Testemunhas de Jeová.”

Ou o que afirma essa mesma publicação na página 255, parágrafo


14:

“Não conclua que existem várias estradas, ou caminhos, que poderá


utilizar para ganhar a vida no novo sistema de Deus. Existe apenas
uma...; você precisa pertencer à organização de Jeová e fazer a vontade
de Deus a fim de receber sua bênção de vida eterna.”

Quantas Afirmam a Mesma Coisa?

A Torre de Vigia de Bíblias e Tratados é apenas mais uma religião


que se auto-promove como “A Religião Verdadeira” ou “A Verdadeira
Igreja”, a única com poder de fazer com que pessoas (pasme o leitor)
recebam o dom da vida eterna!
Essa tendência tem criado o conceito de “Donos Exclusivos das
Verdades da Bíblia” e isso tem contribuído para gerar conflitos e maior
intolerância religiosa.
Como se pode observar pelo exemplo de Calvino, uma monstruosa
intolerância religiosa desenhou um triste risco no quadro da História,
como nos revelam as aberrações da inquisição. Contudo, mais
deprimente ainda é constatar que em pleno século 21, a tendência da
562 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

autoridade religiosa para dominar ao invés de servir, continua se


instalando ardente e profundamente nas religiões ditas “cristãs”
causando pressões psicológicas, danos emocionais e crises espirituais.
A Sociedade Torre de Vigia não foge à regra!
Mas o que dizer de outras religiões que afirmam direcionar ovelhas
à pessoa do Cristo?
Ao entabular uma conversa com dois adeptos de diferentes igrejas
protestantes e lhes perguntar se alguma Testemunha de Jeová poderia
ser salva, eles responderam de imediato, sem pestanejar: “NÃO! Elas
negam a divindade de Jesus e o tem como ‘deus menor’”.
Considera o leitor essa atitude como intolerância religiosa? Seria
essa a enorme semelhança entre todas as religiões fundamentalistas e
exclusivistas? É realmente assim que Deus estabelece, que não aceitar
um de seus inúmeros artigos de fé, significa condenar-se a si próprio
ou mesmo cometer o “pecado imperdoável” contra o espírito santo
Dele, merecendo assim Seu julgamento adverso?
As Testemunhas de Jeová não são diferentes quando também fazem
tais condenações arbitrárias sobre ex-Testemunhas e a membros de
outras religiões que adoram a um “deus de 3 cabeças” (como se
referem à Trindade).
Uma coisa particularmente intrigante é o fato do Corpo Governante
das Testemunhas de Jeová afirmar que as verdadeiras boas novas só
vieram à existência no século 19, com Russell (A Sentinela de 15 de
maio de 1981, páginas 28, 29). Mas, novamente, onde se encaixa então
a promessa de Cristo em Mateus 28:20 quando ele próprio garante que
estaria com os seus seguidores através dos séculos até a terminação do
sistema de coisas? Sendo assim, se eles então existiram (de acordo
com essa promessa feita por Cristo), O QUE estiveram pregando esses
seus seguidores através dos séculos até agora? Sobre que “conjunto de
verdades” (como a Sociedade se refere aos seus ensinamentos) falavam
essas pessoas? Finalmente, se durante 19 séculos não existiria uma
“verdadeira organização de Deus”, (como se auto-intitula a própria
Sociedade Torre de Vigia) onde e como se aplica a garantia de Jesus de
que estaria com seus seguidores “até a terminação do sistema de
coisas”?
“Igreja verdadeira” ou a “religião ideal”. São terminologias
cuidadosamente elaboradas por muitas religiões do mundo com o
propósito de arrebanhar ovelhas para depois mantê-las cativas,
O Que Dizer da “Religião Verdadeira”? 563

aprisionadas em apriscos “seguros”, fora do mundo apartado de Deus.


Isso aliena as pessoas e as torna escravas de homens.
Grande parte das religiões que afirmam ser “a verdadeira” surgiram
há bem pouco tempo no mundo, muitas nos Estados Unidos. Entre
elas, temos a Igreja Mórmon, o Adventismo, as Testemunhas de Jeová
e dezenas de outras. Todas alegam estar fazendo uma grande obra
cristã e cumprindo profecias bíblicas para os nossos dias.
Algumas outras igrejas vão mais longe e se dizem representantes
terrestres de Deus para falar ao povo Dele. A Bíblia alertou sobre uma
tendência assim em Mateus 7:21-23.
O fato é que há graves problemas a partir do conceito de “Religião
Verdadeira”. Comumente, tal alegação leva à luta por uma hegemonia
religiosa e exclusivismo fanático. Essa luta se consolida facilmente
quando os líderes de movimentos religiosos incorporam papéis
perigosos como “homens escolhidos de Deus” para governar sobre
seus semelhantes.
Mesmo algumas religiões que floresceram por meio do esforço de
pastores humildes, presenciaram os efeitos dessa tendência ao ver seus
líderes afirmarem que eram “especialmente escolhidos”, “detentores de
uma missão divina”, etc. Quase sem exceções, esses homens se
arvoraram de “mensageiros”, “arautos”, “guias”, “escravo fiel e
discreto”, etc., transformando um bom número de seus seguidores em
reféns de um pacote de regras de uma adoração humana, ou de um
novo conjunto de ensinos pretensamente “bíblicos” em forma de
“novas luzes”, “revelações”, etc. Suas ovelhas tiveram de se sujeitar a
doutrinas e ensinamentos falhos, muitas vezes danosos.

A Vontade de Pertencer à “Religião Verdadeira”

Algumas pessoas, no entanto, por causa de necessidades puramente


emocionais, vêem pontos positivos e “vantagens” nas religiões
hodiernas como as amizades que vão se consolidando através dos anos,
o encorajamento de pessoas que lhes são familiares, a aprovação de
parentes da mesma denominação religiosa, etc. Sentem-se bem em
poder ajuntar-se num ambiente “espiritual seguro”, “santo/sagrado” e
“mais próximo de Deus”.
Por incrível que pareça, muitos que buscam tais religiões
organizadas, sentem-se “bem” e até aprovam os “freios” que a religião
564 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

lhes inflige através de pastores que lhes ditam regras de conduta além
das contidas na Bíblia. Para tais “ovelhas”, essa espécie de casulo
religioso exclusivista se justifica no uso de Heb. 10:24, 25, embora
esses versículos não digam em que igreja esse requisito seria cumprido
o próprio Cristo tenha garantido que bastariam “2 ou 3 membros em
nome dele” para que ele estivesse no meio deles.
Enquanto alguns se esforçam em lutar pela liberdade cristã
responsável, muitos fazem questão de buscar “freios” — de que
supõem precisar — numa “religião verdadeira”. Com o tempo,
contudo, tais “freios” tornam-se algemas mentais e espirituais, frutos
da convivência com companheiros “cristãos” que constantemente se
transformam em juízes e “amos da fé”.
O que resta, então? Seguir aquela que parece ser “a melhorzinha”?
Simples e comodamente aderir à tradição religiosa familiar,
recolhendo-se às “herdadas” conchas de complacência religiosa? Ir
levando de qualquer jeito, sem mexer em nada? Manter os corações
imperfeitos e desesperados (Jer. 17:9) na camisa de força de uma
organização religiosa? Uma que seja austera, inflexível, rigorosa e que
“ajude a manter a sobriedade cristã, a guardar os requisitos bíblicos e
cumprir zelosamente as obrigações teocráticas”?
(Esse foi o motivo dado por um amigo Testemunha, 8 meses depois
de minha saída, para continuar como membro da Torre de Vigia).

O Falso Dilema da Falta de Opções

Livre-arbítrio? É óbvio que Deus, em sua sabedoria, deu a cada


pessoa o direito de sentir-se totalmente livre para fazer suas próprias
escolhas (Mateus 7:14,15; Deut. 30:19). Mas a Sociedade Torre de
Vigia insiste em intimidar as pessoas, colocando-as diante do falso
dilema da falta de uma opção melhor, senão a dela. Ela afirma que “lá
fora não há opção alguma para se adorar a Deus verdadeiramente”.
Desse modo, ela consegue que seus membros pensem que ela é o único
lugar para quem quiser servir fielmente à organização de Deus. Veja
isso em A Sentinela, 15 de outubro de 1992, páginas 20 e 21,
parágrafos 12, 14 (final) 15 (início) sob o subtópico “Não Há Outro
Lugar”:
O Que Dizer da “Religião Verdadeira”? 565
12
“Sentir-nos-emos impelidos a servir a Jeová com lealdade junto
com sua organização se lembrarmos de que não há outro lugar onde se
possa obter a vida eterna.
14
“Não há outro lugar onde se possa obter o favor divino e a vida
eterna.”
15
“Nosso coração deve impelir-nos a cooperar com a organização
de Jeová porque sabemos que só ela é dirigida pelo Seu espírito e
divulga Seu nome e Seus propósitos.”

Porém, nosso Criador nos alertou sobre o julgamento individual que


Ele mesmo promete em sua Palavra, a Bíblia, em textos claros que
dizem: “cada um de nós ficará postado diante da cadeira de juiz de
Deus...; cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus.”
(Romanos 14:10-12)
Isso nos mostra que Ele considerará as pessoas individualmente.
Embora a Sociedade diga que Jeová “sempre orientou seus servos de
maneira organizada” (A Sentinela, 15/07/83, página 27, par. 19 20), a
Bíblia narra o registro fiel de servos individuais como Abraão, Isaque,
Jacó, José, Noé, Jonas, dentre outros, que o serviram fielmente sem um
comando central ou “corpo governante”. Isso sem falar dos homens
fiéis como Paulo, Pedro, Tiago e outros que não faziam parte de
alguma organização religiosa com um Corpo Governante. A ocasional
reunião de “anciãos” no livro bíblico de Atos 15 para resolver
problemas locais, nunca deveria ter sido usada para provar a existência
de um “Corpo Governante” tal como o da Torre de Vigia que dita
regras além das puramente bíblicas. Obviamente, homens
legitimamente inspirados por Deus continuaram a escrever as
Escrituras (2 Tim. 3:16) no primeiro século após a morte de Cristo. O
que dizer de hoje? Ora, explicar que “ser orientado” é diferente de “ser
inspirado” mas exigir igual obediência, é algo incompreensível e
contraditório, e invalida o sentido dessa distinção. Ademais, ainda que
tivesse havido esse suposto “Corpo Governante”, certamente não mais
conseguiríamos achá-lo atualmente em alguma religião.
Alguns dos que têm saído da organização religiosa das
Testemunhas de Jeová optam por buscar uma relação íntima, reverente
e pessoal com Deus, não se julgando superiores ao resto da
humanidade nem condenando o cristianismo de ninguém. (Prov. 21:2;
Jer. 17: 9,10) Ao contrário, tais pessoas sentem-se iguais a Paulo ao
descrever seus conflitos pessoais, suas fraquezas e tendências
566 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

imperfeitas, sem usar de humildade fingida ou hipocrisia: “Homem


miserável que eu sou! Quem me resgatará do corpo que é submetido a
esta morte? Graças a Deus, por intermédio de Jesus Cristo, nosso
Senhor!” (Romanos 7:24, 25)

Doutrinas e Conduta

É interessante notar que a única passagem bíblica que fala


claramente sobre “a forma de adoração que é pura e imaculada do
ponto de vista de Deus” é Tiago 1: 27 e ali se faz referência à caridade
aos órfãos e viúvas e a manter-se sem manchas do mundo. Ou seja,
ambas as coisas têm a ver com conduta cristã e não com doutrinas e
ensinamentos do tipo que hoje se discute na maioria das religiões
organizadas e seitas do mundo.
Doutrinas e ensinamentos? Muitos acham proveitoso usar suas
próprias consciências dadas por Deus para crer ou não crer em coisas
ensinadas ou interpretadas a partir da Bíblia. Buscam uma leitura mais
imparcial, não tendenciosa da Palavra de Deus, se a mediação de
homem. Há muitos que não observavam o Natal antes de se batizarem
como Testemunhas de Jeová e continuaram a não fazê-lo depois da
saída; não criam numa Trindade e continuaram sem crer nela; não
acreditavam num inferno de fogo e não mudaram essa posição; não
viam nada especial na data de 1914, exceto o valor histórico dela como
tantas outras (1789 - Revolução Francesa, 1939 e 1945 — início e fim
da 2ª Guerra Mundial, etc.) e continuam a pensar assim depois da
experiência com a Torre de Vigia; nunca conseguiram crer 100% que
existisse um “escravo fiel e discreto” como classe distinta mas sim
como indivíduos fiéis, e agora, mais do que nunca; rejeitavam o
espiritismo em todas as suas formas e continuam temendo essa prática,
etc. Mas essas escolhas pessoais se baseiam em suas próprias
conclusões e leitura pessoal da Bíblia e não mais naquilo que uma
determinada organização religiosa diz que a Bíblia declara.
No entanto, não é nada fácil alguém reaprender a andar com as
próprias pernas. Portanto, chegar alguém a conclusões dessa natureza,
sem o apoio de uma organização religiosa, mostra madureza, talvez o
tipo de madureza de que o apóstolo Paulo tratou em Hebreus 6:1,2. É
essencial, porém, que nesse exercício auto-didático-pedagógico do
cristianismo, reaprendamos também a respeitar os que sinceramente
O Que Dizer da “Religião Verdadeira”? 567

defendem suas crenças a fim de evitarmos os laços de uma possível


intolerância “religiosa”, aquela do tipo que alimentamos quando
rotulávamos a todos os que não eram Testemunhas como “pessoas do
mundo”.

Questões para Reflexão

Há os que não saem a fazer prosélitos de suas crenças pessoais para


confinar pessoas em um rebanho especialmente escolhido, agraciado
com a Salvação Eterna. Talvez porque não acreditam que Deus esteja
“chamando” pessoas desse modo, típico expediente usado pelas
religiões em geral. Simplesmente mostram por suas condutas ou
atitudes, que são tementes a Deus e tentam seguir os passos de Cristo.
Independentemente de onde se reúnam tais pessoas, elas mostram o
verdadeiro significado do sacrifício de Cristo Jesus pela humanidade.
E a resposta para as questões fundamentais, tais como de onde
viemos e para onde vamos? Não deveria a religião, que se diz
verdadeira, respondê-las? Certa vez uma pessoa escreveu para uma
lista de discussão na Internet chamada “Testemunhas” (no dia
25/12/99), sobre em que acreditar ou aonde ir em busca das respostas
fundamentais sobre a vida:

É mister lembrar que estas questões, em última análise, são bem


irrespondíveis - no sentido de que as respostas variarão em função de
uma série de fatores, a saber, a personalidade da pessoa, a evidência
disponível a ela e, principalmente a CULTURA a que ela pertence. Por
exemplo, tivesse você nascido na China (ou Japão), com altíssima
probabilidade você seria budista (Taoísta ou quem sabe adepto das
filosofias de Confúcio) e estaria encontrando “as respostas” no
pensamento de Buda. Fosse você nascido na populosa Índia, teria à sua
disposição o hinduísmo como fonte das “respostas”. Ou, quem sabe,
tendo florescido no solo iraniano, teria encontrado estas mesmas
“respostas” como muçulmano xiita. Por outro lado, sendo iraquiano,
muitíssimo provavelmente você seria um muçulmano sunita e buscaria
as “respostas” no Alcorão. Asseguro-lhe que, em qualquer um destes
países anteriormente mencionados, ser-lhe-ia ALTAMENTE
IMPROVÁVEL a busca de uma religião cristã como forma de
encontrar as “respostas”. Se a igreja católica é minoria nestes países,
imagine o que dizer da Torre de Vigia! Tendo você sido gerado em
568 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

solo ocidental, esteve exposto à formação cristã e recorreu ao


cristianismo em busca de “respostas”.

Eis outra razão pela qual não se prescreve nesse livro uma nova
“verdade revelada por Deus” nem se sugere uma nova opção de
religião organizada. Eis mais um motivo pelo qual não há aqui a
pretensão dos dois escritores desse livro de fundarem qualquer novo
movimento religioso.
Mas, como se resolvem as questões do tipo suscitado na mensagem
acima? Será que não há mesmo como resolvê-las?
Pessoas em geral, mesmo as Testemunhas de Jeová que se dizem
possuidoras da “Verdade” ou como “estando na verdade há X tempo”,
debatem-se nas mesmas questões fundamentais ou se conformam com
respostas simplistas. E mesmo neste último caso, nem sempre aceitam
tudo que se lhes é dito por meio de sua agência “autorizada” de
informações, seu Corpo Governante. Muitos escondem suas dúvidas
com medo de represálias e estigmas habituais do tipo “irmão fraco na
fé”.
Obviamente, algumas respostas básicas são dadas na Bíblia e essas
deveriam bastar. (Romanos 15:4) No entanto, as pessoas preferem
digladiar e afastar-se umas das outras por causa de uma excessiva
importância a doutrinas e crenças com as mesmas perguntas de
sempre: há inferno ou não? A alma é imortal ou não? Vamos para o
paraíso no céu (Heb. 11:13-16) ou para um paraíso terrestre (Salmos
37:11)? Etc. A inquietude da alma humana não lhes deixa outra opção.
Alguns, no entanto, preferem deixar os destinos de suas vidas nas mãos
de Deus a ir em busca de crenças fabricadas por homens com suas
centenas de milhares de interpretações diferentes da Bíblia e de outros
livros considerados “sagrados”. Eis aí o motivo pelo qual a
humanidade tem presenciado a proliferação de movimentos religiosos
sectários, dogmáticos e fundamentalistas.
As religiões hodiernas, que inicialmente parecem dar todas as
respostas, não conseguem resolver todas as questões existenciais de
modo satisfatório e plenamente convincente, embora cada uma se auto-
recomende como “a verdadeira”, como no caso específico da Torre de
Vigia. E quando reflito em quão desapontadora e grandemente
dolorosa tem sido a experiência de muitas Testemunhas de Jeová com
a Torre de Vigia ao descobrirem que as afirmativas dela de ser a
O Que Dizer da “Religião Verdadeira”? 569

“Adoração Verdadeira” (rótulo esse que apenas evoca e perpetua a


presunção de um punhado de mortais), sinto uma profunda empatia e
preocupação por cada TJ que ainda vier a saber da verdade sobre sua
organização. Em muitos casos, teria sido melhor que tal pessoa nunca
tivesse conhecido essa organização nem a tivesse servido. Através de
incontáveis relatos que recebi, pude concluir que essa experiência é
muito penosa e aflitiva, pois essas pessoas sinceras um dia desejaram
ter encontrado as respostas para as questões fundamentais da existência
humana nessa ovacionada “verdade” na versão da Torre. Felizmente,
para consolo e minimização dos anseios e sofrimentos do espírito
destes, a Bíblia, a Palavra de Deus, mostra-se nestes casos, eterna fonte
de encorajamento e esperança segura. (Rom. 15:4)
De qualquer forma, é reconfortante usar as duras lições aprendidas
para ajudar outras pessoas a livrar-se dos grilhões escravizadores das
religiões que lhes sufocam com suas cargas pesadas. Na maioria dos
casos que temos acompanhado através de telefonemas, cartas, páginas
e listas de discussão na Internet, por exemplo, a conclusão parece ser
de que as “religiões verdadeiras” tosquiam as pessoas muito mais do
que as apascentam. (Mateus 23)
Muitas dessas pessoas com as quais trocamos informações pelos
meios citados no parágrafo anterior, não mais querem uma “religião
formal” para si porque realmente não sentem que precisam de uma.
Por quê? Porque elas têm a Cristo e a Javé (Jeová, Iavé) como amigos
pessoais e isso têm sido suficiente e verdadeiramente recompensador.
Entregam a eles todas as suas ansiedades (Mateus 6:25-33) e
compartilham de sua fé com amigos e pessoas em geral (Mateus 28:19,
20; 24:14). Adicionalmente, apreciam e sentem prazer em falar do
grande valor das Escrituras em suas vidas. (2 Tim. 3:16, 17)
É revigorante ler textos bíblicos diariamente e aprender direta e
unicamente da própria Palavra de Deus. Essas são ocasiões simples
(Deuteronômio 11:18-21), felizes, encorajadoras e muitíssimo
edificantes quando não nos sentimos “sob compulsão” como quando
na organização das Testemunhas em que os membros se vêem sob
constante e esmagadora pressão para pregar, por exemplo, com “base
semanal regular”, mesmo em detrimento do que recomenda a Bíblia
(Veja 2 Cor. 9:7 e Mateus 13:8).
A Bíblia nos confere uma forte convicção: Deus fará uma
intervenção nos assuntos da Terra. Todavia, de que tipo e como Ele a
570 A Verdade Sobre as Testemunhas de Jeová

fará, não penso que seja assunto para especulações (Veja Atos 1:7). Ele
cuidará de tudo do melhor modo e nossa obrigação como criação dele
é confiar em seus julgamentos justos. (Eclesiastes 12:13,14)
Muitos que têm saído da organização por motivo de consciência,
descobriram quão bom é poder apontar a amigos e parentes, a pessoa
simples e maravilhosa de Cristo, o Filho de Deus, que não tinha uma
organização religiosa nem dirigia um “corpo governante”. Isso os faz
desenvolver apreço natural em mostrar às pessoas que ele promete que
a “carga dele é leve e seu jugo é benévolo” (Mateus 11:30). Há maior
prazer em compartilhar desse modo, sentimentos cristãos com outros,
no sentido de que TODOS podem se achegar a Deus e ao seu filho sem
precisar seguir normas humanas, prescritas por alguma organização
religiosa que se auto-proclama “defensora e continuadora da
Verdadeira Igreja de Deus”.
Finalmente, no dia-a-dia, pode ser de indizível valor louvar a Deus
por aplicar com humildade o conselho divino registrado no livro
bíblico de Provérbios 3: 1-7:

“Filho meu, não te esqueças da minha lei, e observe teu coração os


meus mandamentos, porque te serão acrescentados longura de dias e
anos de vida e paz. Não te abandonem a própria benevolência e
veracidade. Ata-as à tua garganta. Inscreve-as na tábua do teu coração,
e acha favor e boa perspicácia aos olhos de Deus e do homem terreno.
Confia em Jeová de todo o teu coração e não te estribes na tua própria
compreensão. Nota-o em todos os teus caminhos, e Ele mesmo
endireitará as tuas veredas. Não te tornes sábio aos teus próprios olhos.
Teme a Jeová e desvia-te do mal.”

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