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REDES DE MÉDIA TENSÃO EM

USINAS EÓLICAS E SOLARES:


Projeto e gestão de redes subterrâneas para fontes renováveis

DANIEL BENTO / FÁBIO BRUNHEROTO FORNER / PLÁCIDO ANTÔNIO BRUNHEROTO / RAFAEL MORGADO BATISTA

E-book 2
Projeto de rede coletora subterrânea (parte 1) - Levantamento de dados
e dimensionamento dos circuitos

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REDES DE MÉDIA TENSÃO EM
USINAS EÓLICAS E SOLARES
Projeto e gestão de redes subterrâneas para fontes renováveis

DANIEL BENTO

FÁBIO BRUNHEROTO FORNER

PLÁCIDO ANTÔNIO BRUNHEROTO

RAFAEL MORGADO BATISTA

E-book 2
Projeto de rede coletora subterrânea (parte 1) - Levantamento de dados
e dimensionamento dos circuitos

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INTRODUÇÃO 4

1 - PROJETO DE REDE DE MÉDIA TENSÃO SUBTERRÂNEA 5

1.1 – Levantamento de dados 5


1.1.1 – Unidades geradoras 5
1.1.2 – Regime de operação da usina 5
1.1.3 – Caracterização do ambiente e do solo 6
1.1.4 – Identificação de interferências físicas 7

2 - DIMENSIONAMENTO DOS CIRCUITOS 8

2.1 – Capacidade de condução de corrente dos cabos 8


2.1.1 – Correção da corrente admissível dos cabos 9
2.1.2 – Correção de IAD devido à profundidade de instalação do cabo 9
2.1.3 – Correção de IAD devido ao número de circuitos e espaçamento entre eles 10
2.1.4 – Correção de IAD devido à temperatura do solo 11
2.1.5 – Correção de IAD devido à resistividade térmica do solo 12
2.1.6 – Correção de IAD devido à temperatura do ambiente 14
2.1.7 – Consolidação das capacidades de condução de corrente 15
2.1.8 – Exemplo ilustrativo 16
2.2 – Avaliação da queda de tensão 17
2.3 – Consideração da corrente do curto-circuito 17
2.4 – Consideração de interferências 18

3 - CONCLUSÃO 18

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INTRODUÇÃO

Assim como qualquer rede de instalação elétrica, as redes de média tensão subterrâneas
carecem de um projeto dimensionado conforme as particularidades de cada empreendimento.
Assim, além de garantir o melhor desempenho, confiabilidade e segurança das instalações,
podemos lançar mão de sistemas mais otimizados economicamente.
Na primeira edição desta série de e-books técnicos, que vocês podem acessar clicando aqui,
introduzimos os leitores sobre os conceitos gerais de arranjos e configurações de rede de média
tensão subterrâneas, com foco em projetos de grandes usinas eólicas e solares fotovoltaicas,
além de descrever os principais aspectos destes parques de geração de energia, para uma
melhor compreensão de todo o conteúdo.
Nesta edição, abordaremos em detalhes os aspectos mais relevantes destes tipos de projetos,
com foco no levantamento de dados e no dimensionamento dos circuitos.

Desejamos a todos uma boa leitura!

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1 - PROJETO DE REDE DE MÉDIA TENSÃO SUBTERRÂNEA

Para desenvolver o projeto de uma rede de média tensão subterrânea, deve-se seguir uma
sequência de passos, similar à realização de um projeto de outro tipo de instalação elétrica,
acrescentando as particularidades que se aplicam exclusivamente a esse tipo de rede.
O projeto de uma rede de média tensão subterrânea pode ser resumido em três
principais etapas: levantamento de dados, dimensionamento dos circuitos e otimização do
dimensionamento dos circuitos.

1.1 - LEVANTAMENTO DE DADOS

1.1.1 - UNIDADES GERADORAS


O funcionamento das unidades geradoras é caracterizado por parâmetros como nível de
tensão, potência injetada e fator de potência. Esses parâmetros permitem determinar qual
será a contribuição de cada unidade geradora para a corrente no trecho mais carregado de
um determinado circuito.
Em uma usina eólica típica, um aerogerador de 2 MW conectado a uma rede de média
tensão de 34,5 kV operando com fator de potência 0,92 tem a seguinte contribuição de
corrente:

IUG (corrente de uma UG) = 2000 / ( √3 x 34,5 x 0,92) = 36,4 A

Também é importante ter conhecimento da potência de curto-circuito proporcionada pelas


unidades geradoras. Essa informação deve fazer parte do estudo de proteção e seletividade
não apenas da rede de média tensão, mas de toda a instalação elétrica, desde as unidades
geradoras até o ponto de conexão com as linhas de transmissão.

1.1.2 - REGIME DE OPERAÇÃO DA USINA


Durante as etapas preliminares do projeto de um parque de geração, é feito o levantamento
da incidência da fonte primária de energia no local (sol, vento, dentre outras). Um outro
importante conjunto de dados é a curva de geração, que fornece a potência gerada para uma
determinada incidência de fonte primária. A Figura 1 ilustra o comportamento da potência
produzida de uma família de aerogeradores, mediante a variação da incidência do vento.
Considerando o regime de incidência da fonte primária de energia, é possível gerar a
curva de geração média prevista para um gerador. Essa informação é importante para avaliar
a contribuição de cada gerador para o nível de carregamento dos circuitos da rede de média
tensão.
Também é importante obter nesse momento a programação de manutenção da usina,
incluindo geradores, subestação e todos os seus principais componentes. Esses dados
são importantes para serem considerados na previsão de geração anual e nas avaliações
econômicas de operação do empreendimento.

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2.200
2.000
1.800
1.600
Potência (kW)

1.400
1.200
1.000
800
600
400
200
0
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Velocidade do vento (m/s)
AGW 110/2,.1 AGW 110/2,.2
Figura 1 - Relação entre a potência produzida e a velocidade do vento de uma família de aerogeradores.
Fonte: WEG.

1.1.3 - CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE E DO SOLO


É importante conhecer os aspectos térmicos do ambiente e do solo para garantir que os cabos
operem dentro dos limites aceitáveis de temperatura. Para isso, a etapa de levantamento de dados
deve incluir os seguintes parâmetros:

• Temperatura média do ar nos locais onde a rede de média tensão é aérea, como travessias aéreas
e chegadas à subestação;
• Temperatura média do solo na profundidade de instalação da rede subterrânea;
• Mapa de resistividade térmica do solo medida na área de instalação dos cabos;
• Umidade do solo na área de instalação dos cabos;
• Índice de compactação do solo.

A temperatura do solo deve ser medida em pontos uniformemente espalhados ao longo da


área de instalação dos cabos. Em cada ponto, devem ser feitas três ou mais medições em torno da
profundidade típica de instalação de cabos enterrados (0,8 m), seguindo, por exemplo, a referência
normativa IEEE-442. Os mesmos pontos destacados para medição de temperatura podem ser
considerados para a medição da resistividade térmica do solo na profundidade prevista para
instalação dos cabos. Exemplos de profundidades de medição em um determinado ponto são: 0,5
m, 0,8 m e 1,1 m.
É importante destacar que a referência normativa do IEEE prevê a possibilidade de realizar
medições de resistividade térmica do solo em laboratório, mediante a coleta de amostra do local.
Contudo, a verificação no próprio local representa uma condição que reflete a condição mais
precisa de operação da rede.
Um exemplo claro sobre essa questão refere-se à compactação do solo. Quanto maior a
compactação, menor será o volume de ar presente no solo. O ar é um dissipador de calor muito

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pior do que a terra, conforme ilustra a Tabela 1, por esse motivo, deve ser reduzida a sua presença
no solo, que precisa dissipar o calor dos cabos.

Tabela 1 - Valores típicos de resistividade térmica do solo

Material ρ [K • m/W]
grãos de quartzo 0.11
grãos de granito 0.26
grãos de calcário 0.45
grãos de areia 0.58
grãos de mica 1.70
água 1.65
orgânicos 1.60 Saturated – 7.00+ Dry
ar 40.00
Fonte: Norma IEEE 442/2017

Quando é realizada a medição de resistividade térmica no local, a condição de


compactação é preservada, contudo, ao retirar uma amostra, não é possível assegurar que
no laboratório seja possível refletir fielmente a condição de compactação identificada no
local de instalação da rede, além de outros aspectos como a umidade, por exemplo.

1.1.4 IDENTIFICAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS FÍSICAS


Em parques de geração eólica ou solar, as unidades geradoras são posicionadas ao
longo de uma área muito ampla. Assim, os circuitos subterrâneos devem percorrer longas
distâncias para conectar as UGs à subestação, sendo necessários desvios do percurso
devido à interferências que podem ser dos seguintes tipos:

• Passagem de veículos;
• Rio;
• Lago.

Devido às interferências no percurso dos circuitos, seu modo de instalação deve ser
alterado. Nos trechos de circuitos diretamente enterrados, onde existe passagem de
veículos, os cabos devem ser instalados em bancos de dutos, de modo a preservar a
integridade dos componentes dos cabos. Nos trechos em que o percurso dos circuitos
é interrompido por rio ou lago, os cabos podem ser instalados de forma aérea, por meio
de redes do tipo spacer (também conhecida como rede compacta), ou através de cabos
subaquáticos.
Podem existir condições em que a interferência esteja sob o solo, como é o caso de
regiões rochosas. Neste caso, em geral, é menos custoso desviar dessa região (desde que a
mesma não seja tão extensa) do que realizar a escavação nessas condições.

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2 - DIMENSIONAMENTO DOS CIRCUITOS

2.1 - CAPACIDADE DE CONDUÇÃO DE CORRENTE DOS CABOS


A IEC 60502-2 normatiza a construção e os testes de cabos com isolação de 6 kV a 30 kV.
Essa norma pode ser utilizada como guia para o cálculo das correntes admissíveis de cabos
isolados nos projetos de redes de média tensão subterrâneas. As correntes admissíveis para
cabos isolados (XLPE) de único circuito trifásico com condutores de alumínio, para seções
variando de 95 mm² a 630 mm², são apresentados na Tabela 2, que foi produzida com base
nas Tabelas B.3 e B.7 da norma IEC 60502-2 e considerando informações de um fabricante de
cabos.
Os valores fornecidos pela norma para três fases por duto se referem a cabos tripolares
(três cabos fabricados dentro de uma mesma capa externa), que não são comumente
utilizados em redes de média tensão de parques eólicos, pois requerem maior quantidade
de acessórios. Apesar disso, as correntes apresentadas são muito próximas das correntes
admissíveis de cabos unipolares instalados em trifólio (três cabos unipolares instalados na
vala de forma agrupada).
Para as correntes admissíveis apresentadas, os parâmetros relativos ao solo e ao ambiente
são os seguintes:

• Temperatura máxima do solo na profundidade de instalação do cabo: 20°C;


• Profundidade da instalação: 0,8 m;
• Resistividade térmica do solo: 1,5 K.m/W;
• Resistividade térmica do concreto: 1,2 K.m/W.

Tabela 2 – Correntes admissíveis para cabos isolados (XLPE) de média tensão com condutor de alumínio

Correntes admissíveis (A)


Seção
Dutos envelopados com concreto
(mm²) Diretamente
enterrados 1 fase por duto 3 fases por duto (**)
95 221 210 179
120 252 240 205
150 281 267 231
185 317 303 262
240 367 351 305
300 414 397 346
400 470 451 398
500 541(*) 515(*) -
630 616(*) 584(*) -
(*) Obtido do catálogo de um fabricante (Prysmian);
(**) Valores fornecidos pela norma referentes a cabos tripolares.
Fonte: IEC 60502-2.

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2.1.1 - CORREÇÃO DA CORRENTE ADMISSÍVEL DOS CABOS
Quando as condições de temperatura e do solo são diferentes das estabelecidas no item anterior,
a corrente admissível (IAD) por uma dada seção de cabo deve ser corrigida em função dos seguintes
parâmetros:

• Material do condutor;
• Instalação dos circuitos (profundidade de instalação do cabo, número de circuitos em uma mesma
vala e espaçamento entre os circuitos);
• Parâmetros do solo (temperatura e resistividade térmica do solo);
• Parâmetros do ambiente (temperatura ambiente).

2.1.2 - CORREÇÃO DE IAD DEVIDO À PROFUNDIDADE DE INSTALAÇÃO DO CABO


Caso o cabo seja enterrado a uma profundidade diferente de 0,80 m, sua corrente admissível
deve ser corrigida com base nos fatores da Tabela 3.

Tabela 3 – Correção da corrente admissível para profundidade do cabo diferente de 0,80m

Profundidade do cabo Seção do condutor (mm²)


(m) Até 185 mm² Acima de 185 mm²
0,50 1,04 1,06
0,60 1,02 1,04
1,00 0,98 0,97
1,25 0,96 0,95
1,50 0,95 0,93
1,75 0,94 0,91
2,00 0,93 0,90
2,50 0,91 0,88
3,00 0,90 0,86
Fonte: IEC 60502-2.

Tal correção se aplica partindo da premissa de que, quanto mais próximo da superfície, o calor
do solo pode ser dissipado de forma mais eficiente em função do vento que remove o ar que é
aquecido no contato com o solo. Esse efeito é minimizado em profundidades maiores. Ademais,
redes subterrâneas mais próximas da superfície geralmente implicam menores custos com cabos
e obras civis.
Vale destacar que, por mais vantajoso que seja a instalação de cabos próximos da superfície
sob o ponto de vista térmico, é possível que na superfície haja um risco maior de dano aos cabos
devido às interferências oriundas das atividades ocorridas sobre a superfície do solo.
Além desse aspecto negativo, sob o ponto de vista da rede, deve ser considerado o risco de que
uma escavação, ou outra intervenção oriunda da superfície, possa causar um sério acidente com
as pessoas que estão realizando essa atividade e que, por ventura, não tenham conhecimento da
existência de uma rede elétrica de média tensão no local.

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2.1.3 - CORREÇÃO DE IAD DEVIDO AO NÚMERO DE CIRCUITOS E ESPAÇAMENTO ENTRE ELES
Em uma determinada vala, podem ser instalados cabos de mais de um circuito trifásico. Nesse
caso, a corrente admissível dos cabos deve ser corrigida devido ao aquecimento que eles provocam
mutuamente. Caso sejam utilizados cabos unipolares para os circuitos, a corrente admissível dos
cabos deve ser corrigida pelos fatores da Tabela 4. Caso sejam utilizados cabos tripolares para os
circuitos, a corrente admissível dos cabos deve ser corrigida pelos fatores da Tabela 5.
Caso o efeito do aquecimento dificulte o projeto ou aumente demasiadamente a seção dos
condutores, pode ser avaliada a estratégia de se utilizar mais de uma vala na divisão dos circuitos.
Contudo, nessas condições, deve haver um espaçamento mínimo entre as valas para mitigar o
aquecimento. Esse espaçamento mínimo deve ser obtido por meio de cálculos específicos, que
levam em consideração as condições do solo local.

Tabela 4 - Correção da corrente admissível para cabos unipolares de circuitos trifásicos

Número de Espaçamento entre os centros dos circuitos (cm)


Circuitos 0 20 40 60 80
2 0,73 0,83 0,88 0,90 0,92
3 0,60 0,73 0,79 0,83 0,86
4 0,54 0,68 0,75 0,80 0,84
5 0,49 0,63 0,72 0,78 0,82
6 0,46 0,61 0,70 0,76 0,81
7 0,43 0,58 0,68 0,75 0,80
8 0,41 0,57 0,67 0,74 -
9 0,39 0,55 0,66 0,73 -
10 0,37 0,54 0,65 - -
11 0,36 0,53 0,64 - -
12 0,35 0,52 0,64 - -
Fonte: (IEC, IEC 60502-2 2014).
Tabela 5 - Correção da corrente admissível para cabos tripolares

Número de cabos Espaçamento entre os centros dos circuitos (cm)


tripolares 0 20 40 60 80
2 0,80 0,86 0,90 0,92 0,94
3 0,69 0,77 0,82 0,86 0,89
4 0,62 0,72 0,79 0,83 0,87
5 0,57 0,68 0,76 0,81 0,85
6 0,54 0,65 0,74 0,80 0,84
7 0,51 0,63 0,72 0,78 0,83
8 0,49 0,61 0,71 0,78 -
9 0,47 0,60 0,70 0,77 -
10 0,46 0,59 0,69 - -
11 0,45 0,57 0,69 - -
12 0,43 0,56 0,68 - -
Fonte: (IEC, IEC 60502-2 2014).

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2.1.4 - CORREÇÃO DE IAD DEVIDO À TEMPERATURA DO SOLO
Todos os valores de referência da capacidade de condução de corrente dos cabos foram
desenvolvidos com base na temperatura do solo de 20°C. Caso o solo tenha temperatura diferente,
deve ser aplicada a devida correção.
Como o cabo está instalado no solo, a sua temperatura, mesmo sem carga elétrica, tende a ser
a mesma desse ambiente. Portanto, tal condição faz com que, se o solo tiver uma temperatura
superior a 20°C, o cabo já possua uma temperatura de partida superior a 20°C também.
Ao ser energizado, ele aquecerá naturalmente pelo efeito da passagem da corrente elétrica,
atingindo uma temperatura superior aos valores máximos preconizados pelas tabelas da IEC. Por
esse motivo, nessas condições, deve ser aplicado um fator redutor da capacidade de condução de
corrente. Se a temperatura do solo for inferior a 20°C, o efeito contrário é oposto, ou seja, o cabo
permitirá a condução de um valor de corrente elétrica superior ao estabelecido nas tabelas.
A correção da corrente admissível (IAD) para temperatura do solo diferente de 20°C deve
considerar os fatores da Tabela 6.
Tabela 6 – Correção da corrente admissível para temperatura do solo diferente de 20°C

Temperatura do solo (°C) 10 15 25 30 35 40 45 50


Fator de correção 1,07 1,04 0,96 0,93 0,89 0,85 0,80 0,76

Vale destacar que, medindo a temperatura do solo, nota-se que ela varia de acordo com a
temperatura externa e com a profundidade. Os valores a serem considerados nessa análise
devem ser verificados na profundidade em que os cabos serão instalados e no horário
correspondente à máxima carga do alimentador.
A tendência é que a temperatura apresente maior variação quanto mais próximo da
superfície o cabo estiver, devido ao efeito do sol e da temperatura do ar. Essa situação é
ilustrada pelo exemplo da Figura 2. Nessa figura, nota-se maior variação próximo da superfície
e a redução da amplitude da variação conforme a profundidade aumenta, chegando inclusive
a uma convergência de mínima variação.

5H 9H 13 H 19 H 23 H

Temperatura (ºC)
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
0

10
Profundidade (cm)

20

30

40

50
Figura 2 - Variação da temperatura do solo da cidade de Salinópolis no Pará.
Fonte: WANZELER, Romero; COSTA, José; SANTOS, Cleber – Universidade Federal do Pará.

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2.1.5 - CORREÇÃO DE IAD DEVIDO À RESISTIVIDADE TÉRMICA DO SOLO
A resistividade térmica do material do solo pode se alterar em função da umidade e da
densidade do material, o que depende do grau de compactação. De modo geral, um aumento
da umidade do solo implica redução da resistividade térmica. Similarmente, um aumento da
densidade do material do solo implica redução da resistividade térmica.
Uma vez que a IEC 60502-2 considera resistividade térmica de 1,5 K.m/W ao fornecer
a corrente admissível (IAD), esse valor deve ser corrigido quando a resistividade térmica
do solo for diferente de 1,5 K.m/W. Para os casos de trifólios de cabos monopolares
diretamente enterrados, são utilizados os fatores de correção da Tabela 7. Quando são
utilizados cabos tripolares diretamente enterrados, devem ser considerados os fatores de
correção da Tabela 8.

Tabela 7 – Correção da corrente admissível para resistividade térmica do solo diferente de 1,5 K.m/W para cabos monopolares
diretamente enterrados

Seção do Resistividade térmica do solo (K.m/W)


condutor (mm²) 0,7 0,8 0,9 1 2 2,5 3
16 1,29 1,24 1,19 1,15 0,89 0,82 0,75
25 1,3 1,25 1,2 1,16 0,89 0,81 0,75
35 1,3 1,25 1,21 1,16 0,89 0,81 0,75
50 1,32 1,26 1,21 1,16 0,89 0,81 0,74
70 1,33 1,27 1,22 1,17 0,89 0,81 0,74
95 1,34 1,28 1,22 1,18 0,89 0,8 0,74
120 1,34 1,28 1,22 1,18 0,88 0,8 0,74
150 1,35 1,28 1,23 1,18 0,88 0,8 0,74
185 1,35 1,29 1,23 1,18 0,88 0,8 0,74
240 1,36 1,29 1,23 1,18 0,88 0,8 0,73
300 1,36 1,3 1,24 1,19 0,88 0,8 0,73
400 1,37 1,3 1,24 1,19 0,88 0,79 0,73
500 1,38 1,31 1,24 1,19 0,88 0,79 0,73
630 1,38 1,31 1,25 1,20 0,88 0,79 0,73
800 1,39 1,32 1,25 1,20 0,88 0,79 0,73
Fonte: IEC 60502-2. Para seção acima de 400 mm2, resultados obtidos via extrapolação.

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Tabela 8 – Correção da corrente admissível para resistividade térmica do solo diferente de 1,5 K.m/W para cabos tripolares
diretamente enterrados

Seção do Resistividade térmica do solo (K.m/W)


condutor (mm²) 0,7 0,8 0,9 1 2 2,5 3
16 1,23 1,19 1,16 1,13 0,91 0,84 0,78
25 1,24 1,2 1,16 1,13 0,91 0,84 0,78
35 1,25 1,21 1,17 1,13 0,91 0,83 0,78
50 1,25 1,21 1,17 1,14 0,91 0,83 0,77
70 1,26 1,21 1,18 1,14 0,9 0,83 0,77
95 1,26 1,22 1,18 1,14 0,9 0,83 0,77
120 1,26 1,22 1,18 1,14 0,9 0,83 0,77
150 1,27 1,22 1,18 1,15 0,9 0,83 0,77
185 1,27 1,23 1,18 1,15 0,9 0,83 0,77
240 1,28 1,23 1,19 1,15 0,9 0,83 0,77
300 1,28 1,23 1,19 1,15 0,9 0,82 0,77
400 1,28 1,23 1,19 1,15 0,9 0,82 0,76
500 1,29 1,24 1,19 1,15 0,90 0,82 0,76
630 1,29 1,24 1,20 1,15 0,90 0,82 0,76
800 1,29 1,24 1,20 1,15 0,90 0,82 0,76
Fonte: IEC 60502-2. Para seção acima de 400 mm², resultados obtidos via extrapolação.

Para os casos de cabos monopolares instalados em duto, são utilizados os fatores de correção
da Tabela 9. Quando são utilizados cabos tripolares instalados em duto, são utilizados os fatores de
correção da Tabela 10.
Tabela 9 - Correção da corrente admissível para resistividade térmica do solo diferente de 1,5 K.m/W para cabos monopolares
instalados em duto
Seção do Resistividade térmica do solo (K.m/W)
condutor (mm²) 0,7 0,8 0,9 1 2 2,5 3
16 1,20 1,17 1,14 1,11 0,92 0,85 0,79
25 1,21 1,17 1,14 1,12 0,91 0,85 0,79
35 1,21 1,18 1,15 1,12 0,91 0,84 0,79
50 1,21 1,18 1,15 1,12 0,91 0,84 0,78
70 1,22 1,19 1,15 1,12 0,91 0,84 0,78
95 1,23 1,19 1,16 1,13 0,91 0,84 0,78
120 1,23 1,20 1,16 1,13 0,91 0,84 0,78
150 1,24 1,20 1,16 1,13 0,91 0,83 0,78
185 1,24 1,20 1,17 1,13 0,91 0,83 0,78
240 1,25 1,21 1,17 1,14 0,9 0,83 0,77
300 1,25 1,21 1,17 1,14 0,9 0,83 0,77
400 1,25 1,21 1,17 1,14 0,9 0,83 0,77
500 1,26 1,22 1,18 1,14 0,90 0,83 0,77
630 1,26 1,22 1,18 1,14 0,90 0,83 0,77
800 1,27 1,22 1,18 1,14 0,90 0,83 0,77
Fonte: IEC 60502-2. Para seção acima de 400 mm², resultados obtidos via extrapolação.

13
Tabela 10 - Correção da corrente admissível para resistividade térmica do solo diferente de 1,5 K.m/W para cabos tripolares
instalados em duto

Seção do Resistividade térmica do solo (K.m/W)


condutor (mm²) 0,7 0,8 0,9 1 2 2,5 3
16 1,12 1,11 1,09 1,08 0,94 0,89 0,84
25 1,14 1,12 1,10 1,08 0,94 0,89 0,84
35 1,14 1,12 1,10 1,08 0,94 0,88 0,84
50 1,14 1,12 1,10 1,08 0,94 0,88 0,84
70 1,15 1,13 1,11 1,09 0,94 0,88 0,83
95 1,15 1,13 1,11 1,09 0,94 0,88 0,83
120 1,15 1,13 1,11 1,09 0,93 0,88 0,83
150 1,16 1,13 1,11 1,09 0,93 0,88 0,83
185 1,16 1,14 1,11 1,09 0,93 0,87 0,83
240 1,16 1,14 1,12 1,10 0,93 0,87 0,82
300 1,17 1,14 1,12 1,10 0,93 0,87 0,82
400 1,17 1,14 1,12 1,10 0,92 0,86 0,81
500 1,17 1,15 1,12 1,10 0,92 0,86 0,81
630 1,18 1,15 1,12 1,10 0,92 0,86 0,81
800 1,18 1,15 1,12 1,10 0,92 0,86 0,81
Fonte: IEC 60502-2. Para seção acima de 400 mm², resultados obtidos via extrapolação.

Observando as tabelas, é possível identificar que, quanto maior a resistividade térmica, menor
é a capacidade de condução de corrente, devido à multiplicação do fator atenuador. Tal situação
ocorre porque nessa condição há maior dificuldade na dissipação de calor, fazendo com que o
cabo aqueça mais rapidamente.

2.1.6 - CORREÇÃO DE IAD DEVIDO À TEMPERATURA DO AMBIENTE


No dimensionamento de trechos de cabos dispostos de forma aérea, os ensaios desenvolvidos
para estabelecer a capacidade de condução de corrente consideram a temperatura ambiente de
30ºC. Se a temperatura ambiente em questão for diferente de 30°C, deve ser feita uma correção da
capacidade de condução dos cabos, utilizando os fatores indicados na Tabela 11.

Tabela 11 – Correção da corrente admissível para temperatura ambiente diferente de 30 °C


Temperatura do solo (°C) 20 25 35 40 45 50 55 60
Fator de correção 1,08 1,04 0,96 0,91 0,87 0,82 0,76 0,71
Fonte: IEC 60502-2.

Observando a tabela, é possível identificar que, quanto maior a temperatura ambiente menor
será a capacidade de condução de corrente devido à multiplicação do fator atenuador. Tal situação
ocorre porque, mesmo sem carga elétrica, o cabo já estará com sua temperatura inicial similar à
temperatura ambiente, ou seja, acima do que foi considerado no ensaio da norma. Assim, logo após
o início da passagem de corrente, o cabo aquecerá ainda mais, podendo chegar antecipadamente
ao seu limite de capacidade de condução de corrente.

14
2.1.7 - CONSOLIDAÇÃO DAS CAPACIDADES DE CONDUÇÃO DE CORRENTE
Como exemplo de correção da corrente admissível, são considerados cabos enterrados nas
seguintes condições:

• Condutores de alumínio, isolação XLPE classe 18/30 (36) kV;


• Temperatura do solo: 25°C;
• Temperatura do condutor: 90°C;
• Profundidade de instalação dos cabos: 60 cm;
• Distância entre os circuitos: 40 cm.

As correntes admissíveis para essas condições são listadas na Tabela 12, em que S representa a
seção do condutor, em mm², e NC representa o número de circuitos por vala.

15
Tabela 12 – Correntes admissíveis corrigidas
S NC Resistividade térmica do solo (K.m/W) NC Resistividade térmica do solo (K.m/W)
1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
1 182 162 148 135 124 117 111 106 4 137 122 111 101 93 87 83 79
70 2 160 143 130 119 109 103 98 93 5 131 117 106 97 89 84 80 76
3 144 128 117 106 98 92 88 83 6 127 113 103 94 87 82 78 74
1 216 193 173 160 147 138 132 126 4 162 144 130 120 110 104 99 94
95 2 190 169 152 141 129 122 116 110 5 156 139 125 115 106 100 95 90
3 171 152 137 127 116 109 104 99 6 151 135 121 112 103 97 92 88
1 247 217 197 183 168 158 151 143 4 185 163 148 137 126 118 113 107
120 2 217 191 174 161 148 139 132 126 5 178 156 142 131 121 114 108 103
3 195 172 156 144 133 125 119 113 6 173 152 138 128 117 111 105 100
1 275 242 220 204 187 176 168 160 4 206 182 165 153 140 132 126 120
150 2 242 213 194 179 165 155 148 140 5 198 174 158 147 135 127 121 115
3 217 191 174 161 148 139 133 126 6 193 169 154 143 131 123 117 112
1 310 273 248 230 211 199 189 180 4 233 205 186 172 158 149 142 135
185 2 273 240 219 202 186 175 167 158 5 223 197 179 165 152 143 136 130
3 245 216 196 181 167 157 150 142 6 217 191 174 161 148 139 133 126
1 366 322 293 267 249 235 224 213 4 275 242 220 201 187 176 168 159
240 2 322 284 258 235 219 206 197 187 5 264 232 211 193 179 169 161 153
3 289 255 232 211 197 185 177 168 6 256 226 205 187 174 164 156 149
1 413 364 331 302 281 265 252 240 4 310 273 248 226 211 198 189 180
300 2 364 320 291 266 247 233 222 211 5 298 262 238 217 202 190 182 173
3 327 287 261 238 222 209 199 189 6 289 255 231 211 197 185 176 168
1 469 413 371 343 319 300 286 272 4 352 310 278 257 239 225 215 204
400 2 413 363 326 301 281 264 252 240 5 338 297 267 247 230 216 206 196
3 371 326 293 271 252 237 226 215 6 328 289 259 240 223 210 200 191
1 540 475 427 394 367 346 329 313 4 405 356 320 296 275 259 247 235
500 2 475 418 376 347 323 304 290 276 5 389 342 307 284 264 249 237 226
3 427 376 337 311 290 273 260 247 6 378 333 299 276 257 242 231 219
1 615 541 486 449 418 394 375 357 4 461 406 364 337 314 295 281 268
630 2 541 476 428 395 368 346 330 314 5 443 390 350 323 301 283 270 257
3 486 428 384 355 330 311 296 282 6 431 379 340 314 293 276 263 250
1 674 593 532 492 458 431 411 391 4 505 445 399 369 344 323 308 293
800 2 593 522 468 433 403 379 362 344 5 485 427 383 354 330 310 296 281
3 532 468 420 388 362 341 325 309 6 472 415 373 344 321 302 288 273

2.1.8 - EXEMPLO ILUSTRATIVO


Para efeito ilustrativo, um cabo isolado de alumínio, com 300 mm² de seção transversal
diretamente enterrado, tem corrente admissível de 414 A nas condições da Tabela 2. Supõe-se que
a temperatura do solo seja de 30°C, sua profundidade de instalação seja 1,0 m e que a resistividade

16
térmica do solo seja 2 K.m/W. Nessas condições, a corrente admissível é corrigida considerando os
seguintes fatores:

FCRTS (Fator de correção devido à resistividade térmica do solo) = 0,88


FCTS (Fator de correção devido à temperatura do solo) = 0,93
FCPC (Fator de correção devido à profundidade do cabo) = 0,97
CA (Corrente admissível) = 414 A
CAC (Corrente admissível corrigida) = FCRTS x FCTS x FCPC x CA
CAC = 0,88 x 0,93 x 0,97 x 414 A = 328,6 A

2.2 - AVALIAÇÃO DA QUEDA DE TENSÃO


A queda de tensão calculada ao longo dos circuitos é um segundo critério que deve ser
avaliado no dimensionamento dos circuitos, garantindo o funcionamento adequado dos
aerogeradores.
Essa avaliação é feita para todos os trechos de circuitos da rede de média tensão e consiste
em estimar a queda de tensão ao longo de sua extensão, com base na seção do condutor, no
comprimento do trecho e na corrente de projeto. É necessário que a queda de tensão total,
entre um determinado aerogerador e sua conexão com a subestação, seja inferior à máxima
queda de tensão admissível.
Porém, nos projetos de redes de média tensão subterrâneas, são utilizados cabos com
elevadas seções transversais para garantir adequada dissipação de calor. Consequentemente,
os trechos de circuitos usualmente apresentam valores baixos de queda de tensão.
Apesar de usualmente não ser preponderante no dimensionamento dos circuitos, a
queda de tensão deve ser verificada para garantir que esteja dentro dos limites aceitáveis
estabelecidos pelo projetista.

2.3 - CONSIDERAÇÃO DA CORRENTE DO CURTO-CIRCUITO


Um terceiro critério de dimensionamento de cabos é a corrente de curto-circuito calculada
ao longo dos circuitos. De acordo com esse critério, os cabos devem suportar a elevação de
temperatura decorrente da passagem da corrente de falta durante o intervalo de atuação do
sistema de proteção, tipicamente 0,5 segundo.
As correntes de curto-circuito admissíveis durante 0,5 segundo são descritas na Tabela
13, que considera cabos isolados de alumínio, temperatura inicial de 90°C (antes do curto-
circuito) e temperatura final de 250°C (após 0,5 segundo), de acordo com a norma IEC 60986.

Tabela 13 – Correntes de curto-circuito (durante 0,5 s) admissíveis em cabos de alumínio

Seção (mm²) 95 120 150 185 240 300 400 500 630
ICC (kA) 12,47 16,03 19,69 24,29 32,06 39,38 53,44 65,64 84,18

Fonte: IEC 60986.

17
Também é necessário dimensionar os condutores da blindagem do cabo isolado, pois a blindagem
deve suportar a corrente de curto-circuito fase-terra. Uma formulação complexa e rigorosa para o
cálculo dessa seção mínima pode ser encontrada na norma ABNT NBR 6251. Porém, formulações
simplificadas são disponibilizadas pelos fabricantes de cabos.
Os valores obtidos nessa análise devem ser comparados com os níveis de curto-circuito
dimensionados ao longo de toda a rede de média tensão. Não pode haver nenhum ponto da
instalação apresentando um nível de curto-circuito superior aos valores suportáveis estabelecidos
para os cabos.
A identificação do nível de curto-circuito ao longo de toda a rede é uma tarefa que requer uma
atenção especial, tendo em vista a existência de diversas unidades de geração ao longo de toda
a rede, que contribuem, por sua vez, individualmente para o nível de curto-circuito da instalação
como um todo, além da extremidade da rede que está conectada à subestação.

2.4 CONSIDERAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS


Em pontos de interferências no trajeto dos circuitos, como travessia de vias, é necessário alterar
o modo de instalação dos cabos. Usualmente, os cabos subterrâneos são instalados em bancos
de dutos, permitindo a preservação da integridade dos componentes dos cabos, que podem ser
afetados devido aos maiores esforços mecânicos.
Com a alteração pontual do modo de instalação dos cabos, é necessário verificar se a capacidade
de corrente nas novas condições atende aos requisitos de corrente máxima do circuito. Portanto,
sempre que houver variação das condições de instalação, toda a avaliação citada anteriormente
deve ser refeita para essas novas condições.

3 - CONCLUSÃO

Durante a leitura, pudemos observar que um levantamento adequado de dados é o ponto de


partida para o desenvolvimento do projeto de uma rede de média tensão subterrânea em grandes
parques eólicos e solares, considerando a contribuição das unidades geradoras e o regime de
operação das usinas, a caracterização do ambiente e do solo e a identificação de interferências
físicas no percurso dos circuitos.
Depois, partimos então para o dimensionamento dos circuitos, considerando a capacidade de
condução de corrente dos cabos, a avaliação da queda de tensão, a corrente de curto-circuito e as
interferências no trajeto das redes.
Com estes dados em mãos é que podemos otimizar o dimensionamento dos circuitos, buscando
obter uma boa relação custo-benefício para o projeto. Este será o tema da próxima edição desta
série de e-books. Para não perder o nosso conteúdo e ser avisado sobre o lançamento de cada
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Até a próxima!

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