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Fitoquímica da Ayahuasca produzida com diferentes “etnotaxa” de Banisteriopsis caapi

(Spruce ex Griseb.) C.V.Morton (Malpighiaceae) segundo a literatura

Saavedra-Sáenz, Carolina1; Biazatti, Scheila²; Estrada, Omar³; Silveira, Damaris4 & Oliveira,
Regina C5.

1,2,5
Universidade de Brasília, Instituto de Biologia, Programa de Pós-Graduação em Botânica;
3, 4
Universidade de Brasília, Faculdade de Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas; ycsaavedras@unal.edu.co1

Ayahuasca é uma bebida de conotação espiritual e medicinal, feita mediante o cozimento do


caule de Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V.Morton (Malpighiaceae) e as folhas de
Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae). É consumida historicamente na floresta
amazônica por 72 etnias de troncos linguísticos distintos da Bolívia, Brasil, Colômbia,
Equador, Peru e Venezuela. A Ayahuasca foi difundida no meio urbano por religiões
brasileiras como: Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha e o consumo propagou-se para
quase todos os continentes. A Ayahuasca tem em sua matriz a presença dos alcalóides ß-
carbolínicos harmina, harmalina e tetrahidroharmina provenientes de B. caapi, e indólicos
como a N,N-dimetiltriptamina (DMT) proveniente de P. viridis. A sinergia entre os
alcalóides gera um efeito enteogênico nos usuários, pois os alcalóides ß-carbolínicos inibem a
degradação da monoaminoxidase (MAO), e assim, permitem a ativação do DMT. São
reconhecidos pelo menos 18 tipos de cipó, os quais chamaremos “etnotaxa”. Esses possuem
diferenças, principalmente, na morfologia do caule, efeitos da bebida nos consumidores,
sabor e coloração da bebida. Nossa hipótese é de que a composição química dos cipós dos
distintos “etnotaxa" difere. O objetivo do trabalho foi identificar a relação entre a composição
química dos chás, além das ß-carbolinas, e os dois mais difundidos “etnotaxa” de B. caapi, o
Caupuri e o Tucunacá. Para verificar a hipótese, foi feita uma revisão da literatura. Foram
registrados 15 artigos relacionados à fitoquímica da bebida e um que incluiu caules de B.
caapi. Além das ß-carbolinas acima, por cromatografia há o registro de N-metiltriptamina,
tetrahidronorharmina, harmol, harmalol, bufotenina, frutose, glucose, etanol, acetato e
lactato. Por meio de histoquímica do cipó identificaram-se alcalóides, terpenóides, saponinas
e lipídeos. Sobre a diferença química entre as “etnotaxa” há apenas dois artigos que não tem
a mesma conclusão. O primeiro baseou-se em 35 amostras de chá analisados por HPLC-UV e
o de Caupuri apresentou maior conteúdo de ß-carbolinas, o que explicaria os efeitos
diferentes. O segundo artigo analisou 131 amostras de plantas com LC-MS/MS, e o teor de ß-
carbolinas foi maior no Tucunacá, mas a diferença não foi estatisticamente significativa. Os
resultados sugerem a realização de mais estudos para identificar os compostos químicos que
estão relacionados com as diferenças entre as “etnotaxa”.

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