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Laudetur Iesus Christus!


Auxilium Christianorum, ora pro nobis.

MEDITAÇÃO

Quem ignora que a honra prestada às mães redunda em glória para os filhos? Os
pais são as glórias dos filhos, lemos nos Provérbios (17, 6) . Quem muito enaltece a
mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do filho. «Pois quanto mais se honra
a Mãe, tanto mais se louva o Filho», diz São Bernardo. E observa Santo Afonso:

«É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha. Ao mesmo
tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus Cristo foi concedida a
Maria a grande autoridade de ser medianeira da nossa salvação, não de justiça, mas de
graça e de intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de
“fidelíssima medianeira de nossa salvação”.»

E São Lourenço Justiniano pergunta:

«Como não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do
céu e a verdadeira medianeira entre Deus e os homens?»

E, de facto, foi ao cimo de uma longa escada conduzindo ao céu (Sancta Maria
Scala Coeli) que São Bernardo, no séc. XII, viu a Nossa Senhora, enquanto esperava
pela alma do defunto por quem o santo oferecia nesse momento o Santo Sacrifício da
missa, numa igreja no lugar do martírio de São Paulo e, no final do séc. III, de São
Zenão e de mais de 10.000 soldados romanos cristãos, às mãos da impiedade da
perseguição de Diocleciano. Demos-lhes graças e peçamos a intercessão destes
mártires que, com a sua fortaleza, derramaram o sangue para não renegarem nem uma
das verdades da Fé Católica, sem a qual não se pode ascender por essa escada até aos
umbrais celestiais do paraíso e da sua glória sem ocaso nem dor, tremendo diante da
ideia apenas de destratarem por um gesto irreverente ao seu Mestre, Nosso Senhor
Jesus Cristo.

Portanto, bem adverte o teólogo tomista Suarez (séc- XVI-XVII): “Quando


suplicamos à Santíssima Virgem nos obtenha as graças, não é que desconfiemos da
misericórdia divina, mas é muito antes porque desconfiamos da nossa própria
indignidade. Recomendamo-nos, por isso, a Maria, para que supra sua dignidade a nossa
miséria”

Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e


santa, só podem duvidar os que são faltos de fé. O que, porém, temos em vista provar é
que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não
absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na
própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças
que nos dispensa. Tal é a doutrina de São Bernardino, doutrina atualmente comum a
todos os teólogos e doutores, conforme assevera o autor do Reino de Maria. (...) Em
seu apoio cita a célebre passagem de São Bernardo: «Esta é a vontade de Deus, que
recebamos tudo por meio de Maria».E São Bernardino de Siena, no século XIV, dizia,
com efeito, que se Cristo é a cabeça, a Virgem Santíssima é o seu pescoço, pelo qual
descem todas as mercês e graças vindas da cabeça para o seu corpo que somos nós.

Da mesma opinião é também Contenson, como se vê do seu comentário às


palavras de Jesus, dirigidas a São João, do alto da cruz.

A necessidade da intercessão de Maria provém da sua cooperação na


Redenção. Uma sentença de São Bernardo diz: “Cooperaram para nossa ruína um
homem e uma mulher. Convinha, pois, que outro homem e outra mulher cooperassem
para nossa reparação. E estes foram Jesus e Maria, sua Mãe.» «Não há dúvida», diz o
Santo, «Jesus Cristo, só, foi suficientíssimo para remir-nos. Mais conveniente era,
entretanto, que para nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como havia
cooperado ambos para nossa ruína». Pelo que Santo Alberto chamou a Maria
cooperadora da redenção. A própria Virgem revelou a Santa Brígida que assim como
Adão e Eva por um pouco venderam o mundo, assim também ela e seu Filho com um
coração o resgataram (desta feita com um altíssimo e dolorosíssimo preço; pudéssemos
nós lembrar-nos amiúde e verdadeiramente quão caro custou ao doce Senhor nosso e à
nossa Mãe das Dores a franquia da entrada no paraíso para esta raça ingrata).

«Do nada pôde Deus criar o mundo», observa Santo Anselmo, «mas não quis
repará-lo sem a cooperação de Maria».

Nessa convicção confirmam-nos muitos teólogos e Santos Padres. Injustiça fora


afirmar que eles, como diz o sobredito autor, exaltando Maria tenham caído em
hipérbole e exagerações desmedidas. Tanto uma como outra saem dos limites do
verdadeiro. Não podemos, pois, atribuí-las aos santos que falaram inspirados por Deus,
que é espírito de verdade. (...)

Quando não houvesse outro a nos livrar do temor de ser excessivo nos louvores
de Maria, bastava Pseudo-Agostinho para fazê-lo. Conforme suas palavras, «tudo
quanto pudermos dizer em louvor de Maria, é pouco em relação ao que merece por sua
dignidade de Mãe de Deus». Confirma isto a Santa Igreja, a qual faz ler na Missa da
Santa Virgem as seguintes palavras: “Bem-aventurada sois Vós, Santa Virgem Maria, e
mui digna de todo louvor”!

(...) Segundo São Bernardo, «Deus encheu Maria com todas as graças para que
por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos». Faz
aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando: «Antes do nascimento da
Santíssima Virgem, não existia para todos essa torrente de graça, porque não havia
ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo — continua ele — a fim de que
por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das
graças divinas.»

Diz Ricardo de São Lourenço, «nas mãos dela está nossa salvação, e, com mais
direito que os egípcios a José, podemos nós, cristãos, dizer à Santíssima Virgem: Nossa
Salvação está em tuas mãos!» O mesmo
escreve o abade de Celes: «Em tuas mãos foi colocada nossa salvação.»

Em termos mais enérgicos acentua-o Pseudo-Cassiano, quando diz sem ambages


que a salvação depende dos favores e da proteção de Maria. Quem é protegido por ela,
se salva; perde-se quem o não é. Isto leva São Bernardino de Sena a exclamar: «Ó
Senhora, porque sois a dispensadora de todas as graças, e só de vossas mãos nos há de
vir a salvação, de vós também depende nossa salvação.»

E por isso, razão tinha Ricardo ao escrever: «Assim como a pedra cai logo que é
tirada a terra que a sustém, assim uma alma, tirado o socorro de Maria, cairá
primeiramente no pecado e depois no inferno.»

«Deus não nos há-de salvar sem a intercessão de Maria», assevera São
Boaventura, «pois, assim como uma criancinha não pode viver sem a ama, da mesma
forma ninguém se pode salvar sem a proteção de Maria». «Tenha por conseguinte a tua
alma», exorta o Santo, «uma verdadeira sede de devoção a Maria; conserva-a sempre,
não a deixes até que vás receber no céu a maternal benção de Maria».

«Ó Virgem Santíssima», exclamava São Germano, «ninguém pode chegar ao


conhecimento de Deus senão por vós, «ó Mãe de Deus, Virgem Mãe, ó cheia de
graça!».

E de novo: «Se não nos abrísseis o caminho, ninguém escaparia às solicita às


solicitações da carne e do pecado

Como só por meio de Jesus Cristo temos acesso junto ao Pai Eterno,
igualmente, observa São Bernardo, só por meio de Maria temos acesso junto a Jesus
Cristo. E a tal resolução de Deus, isto é, que sejamos salvos por intermédio de Maria, dá
o Santo este belo motivo: «Por meio de Maria receba-nos aquele Salvador, que por meio
dela nos foi dado! Dá-lhe, por isso, o nome de Mãe da graça e da nossa salvação».

«Que seria, pois, de nós», indaga São Germano, «que esperança nos restaria de
salvação, se nos abandonásseis, ó Maria, ó vida dos cristãos?»

EXEMPLO

Lê-se nas Revelações de Santa Brígida que havia um senhor tão nobre pelo
nascimento como vil e depravado pelos costumes. Fizera pacto expresso com o
demónio, a quem havia servido como escravo durante sessenta anos seguidos, sem se
aproximar dos Sacramentos, e levando a pior vida que se pode imaginar. Ora, estando
para morrer esse fidalgo, Jesus Cristo, para usar com ele de misericórdia, ordenou a
Santa Brígida que pedisse a seu diretor espiritual que o fosse visitar e exortar a
confessar-se. O padre foi, mas o doente respondeu que já se tinha confessado muitas
vezes, não necessitando mais de confissão. Foi segunda vez, porém o infeliz escravo do
inferno obstinou-se na sua impenitência (um dos pecados gravíssimos contra o Espírito
Santo). Jesus de novo disse à Santa que o padre não devia desanimar. Este voltou
terceira vez e referiu ao doente a revelação feita à Santa, dizendo-lhe que tinha voltado
por ordem do Senhor, o Qual queria usar de misericórdia em seu favor. Isto ouvindo, o
infeliz começou a enternecer-se e a chorar. — Mas como, (exclamou em seguida),
poderei ser perdoado? Durante sessenta anos servi ao demônio, e dele me fiz escravo e
tenho a alma tão carregada de inúmeros pecados!— Filho, respondeu-lhe o padre,
animando-o, não duvides; se te arrependeres, prometo-te o perdão em nome de Deus.
Começando então a ter confiança, disse o infeliz ao confessor: — Meu Pai, eu me
julgava condenado e desesperava da minha salvação (outro dos pecados contra o
Espírito Santo e o socorro da graça); mas agora sinto uma dor de meus pecados, que
me anima a ter confiança.

Com efeito, confessou-se no mesmo dia quatro vezes, com muita contrição. No
dia seguinte comungou, e morreu seis dias depois, muito contrito e resignado. Depois da
sua morte, Jesus Cristo falou de novo a Santa Brígida e disse-lhe que aquele pecador se
tinha salvado, que estava no purgatório, e devia a salvação à intercessão da Virgem, sua
Mãe, pois apesar da vida perversa que levara, tinha conservado a devoção às suas dores,
recordando-as sempre com compaixão.

ORAÇÃO

Ó minha Mãe suavíssima, qual será a morte de um pobre pecador como eu?
Quando penso naquele terrível momento em que devo expirar e comparecer ao tribunal
divino, tremo e fico todo confuso, e muito duvido da minha salvação eterna, lembrando-
me de que eu mesmo escrevi a sentença de minha condenação.

Ó Maria, no sangue de Jesus e na vossa intercessão ponho toda a minha


esperança. Sois a Rainha do céu, a Soberana do universo, numa palavra, sois Mãe de
Deus. É verdade que sois muito elevada em dignidade; mas vossa grandeza não vos
afasta de nós, senão que faz com que tenhais ainda mais compaixão de nossas misérias.
Quantos elevados a alguma dignidade, abandonam os amigos do mundo e desprezam
seus antigos companheiros caídos no infortúnio. Mas vosso coração tão amoroso não
procede assim. Mais se empenha em aliviar, onde maiores misérias descobre. Assim que
vos invocamos, vindes em nosso socorro; prevenis até nossas preces com vossos
favores. Vós nos consolais nas aflições, dissipais as tempestades e venceis os inimigos.
Em suma, nunca perdeis ensejo de trabalhar para nosso bem. Bendita seja para sempre
aquela divina mão que em vós aliou a tanto amor tanta grandeza, tanta majestade e tanta
ternura. Agradeço-o sem cessar ao Senhor e sobre isso me alegro. Pois em vossa
felicidade encontro a minha também, e considero minha a vossa ventura. Ó consoladora
dos aflitos, consolai uma alma aflita que a vós se recomenda. Aflito estou por causa dos
remorsos de uma consciência tão sobrecarregada de pecados.

Não sei se os tenho chorado como devia. Vejo todas as minhas obras cheias de
defeitos e manchas. O inferno só espera por minha morte para acusar-me; a justiça
divina ultrajada quer ser satisfeita. Que será de mim, minha Mãe? Se não me ajudardes,
estou perdido. Que dizeis, quereis ajudar-me? Ó Virgem piedosa, consolai-me; obtende-
me verdadeiro arrependimento de meus pecados, alcançai-me força para emendar-me e
ser fiel.

Regina sine labe originali concepta, ora pro nobis!

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