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Maria Clara Viana Freitas Bispo

Maria Vitória Santos de Queiroz

DOCUMENTO MEMORIAL

Feira de Santana - BA

2023
Maria Clara Viana Freitas Bispo

Maria Vitória Santos de Queiroz

DOCUMENTO MEMORIAL

Documento Memorial solicitado pela


orientadora Jade Isis de Souza Nunes, na
disciplina de Desenvolvimento Humano, do
curso de Graduação em Psicologia, como
terceira atividade parcial da I unidade.

Feira de Santana - BA

2023
Introdução

As informações a seguir foram coletadas em entrevista no dia 06 de setembro de


2023, tendo por objetivo a execução do Trabalho de Desenvolvimento Humano 3, um olhar
sobre a perspectiva pessoal da trajetória acadêmica de quem já está na quarta idade.

A escolha pelo senhor que foi entrevistado, partiu da indicação de alguns dos seus
alunos, e diante da fala desses de como, independente da idade o mesmo se mantinha atento,
perspicaz. Por essa razão, pareceu ser uma opção interessante para o desenvolvimento desse
documento. A entrevista durou 30 minutos, por compor o corpo de docentes da Faculdade
Anísio Teixeira, utilizou o intervalo entre uma aula e outra, para nos ceder as informações
elencadas posteriormente.
Entrevista

O nosso entrevistado foi o Antônio Anilson Rodrigues da Silva, 67 anos e casado, pai
de 4 filhos e 6 netos, nascido em Biritinga. Atualmente tem 47 anos sendo docente em sala de
aula. Sempre gostou de estudar, mas veio de família humilde e foi criticado pela escolha de
estudar. Sua mãe apoiava seus estudos, o trabalho com a caneta. Seu pai torcia para que ele
trabalhasse na zona rural. Mas segundo Anilson, ele nunca passou “nos testes do cabo e da
enxada” que o pai o submetia. Para felicidade da sua mãe e infelicidade do seu pai.

Começou a ensinar com 17 anos, trabalhando com crianças e sempre ouviu sobre ter
“dom para o ensino” - 1973 e 1974. No ano de 1975 foi convidado pela prefeitura para
trabalhar na junta de serviço militar. Entre os anos de 1975 - 1977 se formou no segundo grau
e foi convidado a ensinar desenhos geométricos e história geral em um colégio.

Em 1982 - Fez o vestibular em Feira de Santana, Estudos Sociais. Foi influenciado


pela professora de língua portuguesa, Aldacir Bahia, a cursar Letras. Ela foi quem deu
instruções sobre o curso. “Minha vida acadêmica foi muito difícil, mas eu faria tudo de
novo”-Anilson frisou sobre o decorrer do seu percurso acadêmico.

No semestre de 1982.2 - entrou na UEFS, no curso de Letras, após passar no


vestibular. E só em 1990, formou-se. Oito anos de graduação, dois semestres perdidos por
greves e outras matérias atrasadas por falta de dinheiro para transporte e tempo entre o
trabalho e estudos.

“Eu morava em Biritinga, tinha 40h no Estado, ensinava nos três turnos. O curso de
letras era integral, não conhecia a cidade, não tinha dinheiro para comida, por isto, levava
minhas próprias marmitas”- outro recorte de uma das falas do senhor Anilson Rodrigues,
demonstrando como fatores econômicos dificultaram sua permanência na faculdade.

Quando o indagamos de onde estaria, se não tivesse sido professor, o mesmo


respondeu: “O que seria de mim se eu não tivesse estudado? Me questiono o que seria de
mim sem um curso superior. Talvez, um alcoólatra ou estaria tirando toco na roça de alguém.
Um puxa saco e eu não nasci pra puxar saco de ninguém”.

Colégio Luiz Carlos Santana - Convidado para ensinar no colégio. Era também
vice-diretor. A matrícula de Estado de Anilson foi divulgada no diário oficial como Diretor
do CLCC.

Em 1992, fez o concurso para Professor da UEFS, e começou a atuar como professor
universitário no ano seguinte. Em 2008, foi indicado por um ex-aluno para atuar no CAT
como professor de redação. E, posteriormente, chamado para atuar na FAT.
Na Uninassau, realizou seu Mestrado - Teve trombose, a mãe faleceu e não conseguiu
defender a dissertação. Infelizmente, perdeu todo o dinheiro. Concluiu o mestrado em
ciências da educação (2018) e doutorado em educação (2022)

Quando questionado sobre suas ambições acadêmicas futuras, o professor disse ter
interesse em cursar Psicologia e/ ou Direito (porém, ele revela o medo da matéria Estatística,
indicando que é o que o impede). No ano vigente desta entrevista, permanece sendo professor
na UEFS (Letras e Direito) e FAT (Direito, Jornalismo, Publicidade). Por fim, deixou um
conselho para os jovens e estudantes de todas as idades, ele diz: “Nunca parem de estudar,
mesmo frustrados, mesmo formados, nunca parem.”
Conclusão

Ao longo de toda a entrevista, o Anilson preocupou-se em deixar evidente que


aprender foi um desejo que foi cultivado nele desde cedo, e que o processo de aprender e
ensinar o cativou. Demonstrando ter interesse em permanecer estudando e ensinando, não
demonstrou interesse em se aposentar e parar. Diante do seu entusiasmo pela vida e pela
docência, o mesmo rompe com a concepção de que a idade é desanimadora. Assim, nos
apresentou o vigor de quem tem apreço pela sua profissão e verdadeiro fascínio pela vida.
Elementos como, a fé e o apoio familiar foram muito citados pelo entrevistado como
sendo fundamentais para ele ser a pessoa afetuosa e lúcida que permaneceu sendo, de acordo
com suas respostas. E até o tempo que levou para exercer alguns anseios da sua vida
acadêmica, foram adiados em prol de priorizar sua esposa e filhos, mas o mesmo afirma não
se arrepender dessa escolha.
Nos deparamos com uma quebra do senso comum sobre a ideia da velhice e podemos
constatar que permanecer ativo, perpassa por todos os âmbitos da vida e auxilia na qualidade
de vida do sujeito, e disso o nosso entrevistado foi prova viva.

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