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Rubens Lacerda de Sá
Pedro Jônatas da Silva Chaves
Conselho Editorial Pontes
Angela B. Kleiman
Unicamp – Campinas
Edleise Mendes
UFBA – Salvador
Suzete Silva
UEL – Londrina
Pontes Editores
Rua Francisco Otaviano, 789, Jd. Chapadão
Campinas, SP
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2022 – Brasil
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Profa. Dra. Raiane Patrícia Severino Assumpção
Diretor da EFLCH-Guarulhos
Prof. Dr. Bruno Konder Comparato
Vice-Diretora da EFLCH-Guarulhos
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Conselho Científico
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-87312-72-9
23-143370 CDD-370.115
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SUMÁRIO
PREFÁCIO
Se Wo Were Fi Na Wosankofa a Yenkyi
Rubens Lacerda de Sá............................................................................11
APRESENTAÇÃO
Decolonizar e Esperançar em Tempos de Perplexidade
Mariana Guedes Seccato........................................................................13
CAPÍTULO 1
Experiencias y Haceres Decolonizantes
Zulma Palermo • Ochy Curiel • Glauco Vaz Feijó.................................22
CAPÍTULO 2
Uma Educação Outra: A Decolonização de Escolas e Universidades
Francisco Uribam Xavier de Holanda....................................................55
CAPÍTULO 3
Por uma Tentativa Corazonante de Decolonizar o Decolonial
Henrique Rodrigues Leroy....................................................................67
CAPÍTULO 4
No Início Era o Verbo? Desafios da Opção Decolonial
Glauco Vaz Feijó • Viviane de Melo Resende.........................................93
CAPÍTULO 5
Un Diálogo Posible Sobre Interrogar laS PandemiaS
Catherine Walsh • Jorgelina Tallei.......................................................115
CAPÍTULO 6
Internacionalização das Universidades e Partilhas Decoloniais
Cloris Porto Torquato • Francisco Fogaça............................................151
CAPÍTULO 7
Década internacional das Línguas Indígenas
Maria Gorete Neto..............................................................................157
CAPÍTULO 8
Caminhos para o Bem Viver: Intelectuais Indígenas em Sala
Rosivânia dos Santos • José André Souza Silva.....................................175
CAPÍTULO 9
Nuestros Muertos Están Cada Día Más Vivos
Carlos David Larraondo Chauca.........................................................192
CAPÍTULO 10
Conferências Dançantes Movidas pela Interculturalidade Crítica
Emyle Daltro • Antonio Layton Souza Maia.......................................219
CAPÍTULO 11
Jekupyty Moheñoiha
Mary Liliana Martinez Caballero ........................................................245
CAPÍTULO 12
Práticas Decoloniais em Formação Continuada de Professores
Andreia Machado Castiglioni de Araújo..............................................261
CAPÍTULO 13
Ética Decolonial e Migração
Rubens Lacerda de Sá..........................................................................277
CAPÍTULO 14
Poéticas Decoloniais no Currículo em Ação
José Alex Soares Santos • Pedro Jônatas da Silva Chaves • David Silva de
Oliveira...............................................................................................309
PREFÁCIO
1 Não é errado voltar atrás pelo que esqueceste, tradução em The Spiritual Project at the University
of Denver
2 Universidade Federal de São Paulo, rubens.sa@unifesp.br
3 Willis, W. B. (1998). The adinkra dictionary: A visual primer on the language of adinkra.
PyramidComplex.
4 Nascimento, E. L., & Gá, L. C. (Orgs.) (2009). Andikra: Sabedoria em símbolos africanos. Editora
Pallas.
Decolonialidade & Educação: esperançar em tempos de perplexidade | 11
Como fruto dessa reunião de pessoas empáticas ao longo de um
quadrimestre, surgiram discussões, debates e reflexões intensas e profundas,
que resultaram em um evento5 abrilhantado por todos os pensadores que
contribuíram para esta obra, além das quase seiscentas pessoas interessadas
na temática, que estiveram presentes na ocasião.
Por conseguinte, espero que as discussões ao longo desta obra nos
ajudem a pensar a opção decolonial através de diferentes lentes ópticas que
se ajustam à necessidade de mitigação das vicissitudes modernas. Esperamos
igualmente não fazer vistas grossas aos muitos pontos cegos da plataforma
decolonial para que possamos, reconhecendo-os, realinha-los. Então,
acompanhemos Abdias Nascimento e sankofa!
Hi’ãite pemoñe’ē vy’apópe! 6
Preliminares
Nos gustaría empezar contando cómo llegamos a la escritura de estas
páginas. El texto es el resultado de la transcripción adaptada de una charla
que sostuvimos en el ámbito del Congreso Decolonialidad y Educación:
esperanzar en tiempos de incertidumbre, que ahora se vuelca en este libro.
Aceptamos con gusto la sugerencia de dar curso a una charla entre nosotres,
del mismo modo que la conversación sostenida entre Catherine Walsh y
Jorgelina Tallei (2022), quienes también alertaron acerca de la necesidad de
cambiar las formas de los debates académicos, pues muchas mantienen formas
coloniales. Poner así en cuestión el formato del experto, de la experta que
nos habla y les demás escuchamos para luego reproducir el saber qué nos es
enseñado. Al cuestionar ese formato, estamos poniendo en acto una práctica
decolonizante, como denominamos a nuestra participación. Por cierto, no
vamos decolonizar el mundo ni con la charla ni con el texto, pero estamos,
8 Zulma Palermo, Ochy Curiel y Glauco Vaz Feijó en el diálogo extendido Experiencias y haceres
decoloniales, propiciado por el Programa de Posgraduación en Educación y Salud de la Universidad
Federal de São Paulo el 4 de febrero de 2022 por medio de la realización del Congreso Decolonialidad
y Educación: Esperanzar en tiempos de perplejidades, coordinado por Rubens Lacerda de Sá, abierto a
todes que, a su vez, plantearon propuestas e inquietudes. Desde el espacio virtual llegan los aportes
de Alai Diniz, Henrique Rodrigues Leroy, Moyses Berndt, Hariagi Borba Nunes, Olga Saavedra,
Joselaine Pereira, Leila María Passos de Souza Becerra, Alessandra Bernardes Faria Campos y Carlo
David Larraondo Chauca.
9 Universidad Nacional de Salta, Argentina, zulmapalermo@gmail.com
10 Universidad Nacional de Colombia, Colombia, ochycuriel@gmail.com
11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, glauco.feijo@ifb.edu.br
13 http://glefas.org
14 https://www.youtube.com/batucadafeminista
15 Olga Saavedra aclara que la Universidad Nacional de Rosario, localizada físicamente en el corazón
de la pampa húmeda, es también fronteriza respecto de las universidades dominantes que construyen
hegemonía. Es por eso que hay grupos que operan desde el lugar.
18 Algunos aportes interesantes en Camblong (2014). También en Torres Roggero (1988), entre otros.
Coda
En estas páginas hemos buscado testimoniar el decurso de nuestro
encuentro, en las que intentamos ser fieles al fluir de las ideas, las dudas y
las expectativas. Seguramente –como sabemos- la distancia insalvable entre
oralidad y escritura hace que los matices, las tonalidades, los gestos propios
del registro oral no puedan ser reproducidos por la letra. Conservamos en
lo posible el tono de la oralidad; en especial quisimos respetar el uso del
portuñol en su espontaneidad, como lengua fronteriza significante de una
las muchas maneras de concretar un funcionamiento intercultural como
propuesta. Seguramente se habrán perdido algunas voces en estas páginas,
voces con las que esperamos reencontrarnos a futuro.
20 Uribam Xavier gosta de café com tapioca e cuscuz, peixe frito ou no pirão, de frutas e verduras,
antes de ser hipertenso era chegado a uma buchada e a uma feijoada. Frequenta o espetinho do
Paraíba, no boêmio e universitário bairro do Benfica em Fortaleza, e no pré-carnaval segue o bloco
Luxo da Aldeia. É professor, ativista político decolonial e anti-imperialista, estuda e escreve para
puxar conversa e fazer arenga política.
21 Universidade Federal do Ceará, uribam@ufc.br
22 Pensamento fronteiriço faz referência aos projetos que têm como ponto em comum uma perspectiva
crítica da modernidade. Materializa-se nas formas de construção de novas narrativas históricas que
fazem emergir os atores e os momentos históricos que têm sido invisibilizados e negados pelas
epistemologias hegemônicas. Pensar a partir das margens ou da fronteira significa pensar a partir da
dor e do lugar dos oprimidos e explorados, ou seja, pensar a partir da ferida colonial dos quem são
classificados e tratados como inferiores por quem se considera superior.
“Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes?”; “Quem mandou matar Bruno Pereira
e Dom Phillips?”. Bruno, presente! Dom, presente! Marielle, presente! Anderson, presente!
26 Esse excerto foi retirado de uma fala intitulada “Índios: cantores de leitura”, realizada remotamente
em 2020, pela professora Maria Inês de Almeida a convite da Academia Mineira de Letras (AML).
Essa instituição mineira acaba de eleger o líder indígena, escritor e intelectual Aílton Krenak para
ocupar a cadeira de número 24, pertencente ao jornalista e escritor Eduardo Almeida Reis. A palestra
da profa. Maria Inês de Almeida pode ser acessada por meio deste link https://www.youtube.com/
cantoresdeleitura
27 Socióloga e ativista de origem aymara, a boliviana Silvia Rivera Cusicanqui tem problematizado as
categorizações terminológicas e, sobretudo, as categorias epistemológicas decoloniais em seus textos
falados e escritos. A partir das cosmovivências aymara e quéchua e da utopia Ch’ ixi, Cusicanqui
reinterpreta o tecido social andino, as realidades e as conjunturas latino-americanas por meio da
decolonização da mestiçagem, isto é, da construção das nossas subjetividades contraditórias na
permanente luta entre indígenas, negros e europeus. Por meio de uma sociologia das imagens,
ela busca a construção contemporânea de temporalidades, ancestralidades e epistemes outras,
desnaturalizando o multiculturalismo despolitizado, essencialista, historicista e fragmentado que
teatraliza as identidades dos povos subalternos. Para ela, as lutas anticoloniais são as verdadeiras
responsáveis pelas desnaturalizações de todas as construções advindas dos movimentos pós-coloniais
e decoloniais. Movimentos que, para ela, ainda garantem a permanência dos privilégios das elites.
28 Para mais informações sobre as problematizações terminológicas elencadas por Cusicanqui, leia
esta entrevista que ela concedeu em 2019 para o blogue “Agência de Notícias Anarquistas” em https://
noticiasanarquistas.noblogs.org
29 Este ensaio é resultado de minha participação na mesa intitulada, “Da Abya Yala ao centro”,
compartilhada com a Profa. Dra. Altaci Kokama, da Universidade de Brasília (UnB) e mediada pela Profa.
Dra. Leila Passos Bezerra, da Universidade Estadual do Ceará (UECE) no encontro “Decolonialidade
e Educação: Esperançar em tempos de perplexidade” (DEED). Ocorrido nos dias 02 e 03 de fevereiro
de 2022, este evento foi realizado e organizado pelo Programa de Pós-graduação em Educação e Saúde
(PPGES) da Escola de Filosofia, Ciências Humanas e Letras (EFLCH) da Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP). O evento contou com professores pesquisadores da Educação, dos Estudos
Decoloniais e Pós-Coloniais. Organizado pelo Prof. Dr. Rubens Lacerda de Sá, do Instituto Federal
de São Paulo (IFSP) e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o evento contou com a
presença de grandes referências dos Estudos Decoloniais e Pós-Coloniais, como as professoras doutoras
Catherine Walsh, da Universidade Andina Simón Bolívar, Jorgelina Tallei, da Universidade Federal
da Integração Latino-Americana (UNILA), Ochy Curiel, da Universidade Nacional da Colômbia,
Zulma Palermo, da Universidade Nacional de Salta, Argentina, e com os professores doutores Glauco
Vaz Feijó, do Instituto Federal da Bahia (IFBA), Paulo Henrique Martins, da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Uribam Xavier, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
30 Giro Decolonial é uma expressão cunhada por Maldonado-Torres no ano de 2005, em um
encontro denominado Mapping Decolonial Turn, na Universidade de Berkeley, Estados Unidos.
O Giro Decolonial é considerado um movimento político, epistemológico, teórico e prático de
resistência à lógica moderna/colonial (Ballestrin, 2013).
31 Abya Yala que significa “terra de sangue vital” ou “terra em plena maturidade” era como os
indígenas Kuna que habitavam o que, hoje, reconhecemos como territórios pertencentes à Colômbia
e ao Panamá, chamavam a América Latina antes da invasão ibérica de 1492 (LEROY, 2021c).
32 Vale ressaltar aqui que o significante “decolonial” é questionado e problematizado por autores
que debruçam sobre o conceito “decolonial”, como Grosfoguel (2016). Esses pensadores alegam
que, muito antes da criação do Grupo Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade (MCD), já
havia pensadores que se debruçavam sobre o decolonial, mesmo que o significante “decolonial” não
estivesse explícito em seus trabalhos. Para eles, já havia atitudes e posturas decoloniais, sobretudo,
por parte das oralidades, memórias, pensamentos e lutas de comunidades indígenas andinas, afro-
colombianas, afro-equatorianas e caribenhas.
46 Duas mulheres negras (Lélia Gonzalez e bell hooks); duas mulheres indígenas (Gloria Anzaldúa e
Julie Dorrico); um homem indígena (Davi Kopenawa Yanomami); um homem negro (Frantz Fanon)
e um homem branco (João Guimarães Rosa).
47 Esta frase de Aílton Krenak “o futuro é ancestral” nos remete à palavra de tradição africana “Sankofa”,
que nos ideogramas adinkra é representada por um pássaro que voa para frente com a cabeça voltada
para trás, simbolizando que para caminharmos rumo ao futuro precisamos valorizar e sempre trazer
conosco nossas ancestralidades. Os autores que pensam as colonialidades das linguagens como,
Veronelli (2016) e Mignolo (2013) também se basearam em alguns autores indígenas e afro-latinos
para a construção de seus pensamentos. Exemplos concretos dessa afirmação são as fundamentações
de Mignolo em Gloria Anzaldúa (1987) para discorrer sobre o “pensamento fronteiriço o liminar”.
48 Para os Yanomami, a escrita é um “desenho de palavras”. Portanto, as páginas de um livro ou os
documentos escritos são, para eles, “peles de imagens” (Kopenawa & Albert, 2015).
51 Segundo Kopenawa (2015), para os Yanomami, “língua de fantasma” é toda língua que não é
yanomami.
52 Trago aqui o foco no corpo por meio do verbo incorporar no sentido de não separarmos corpo
e mente (bell hooks, 1994). Aprender a língua francesa também com o corpo e se gesticular e se
expressar com o corpo.
53 O Pretuguês (Gonzalez, 1981) são os falares cotidianos e africanizados das nossas línguas brasileiras
e que também é influenciado por falares indígenas. Leroy (2021c) aproxima o Pretuguês da variedade
mineira do português, o famigerado “mineirês”, em seu texto “Decolonialidade, pós-memória e Pretuguês
nos ‘300 anos de Minas Gerais’: pela visibilização e pelo respeito às histórias e paradigmas outros”.
Anzaldúa (2009) diz que ela não pode ter vergonha de existir e, por
isso, ela é a sua língua! Para ela, identidades étnica e linguística não se separam
assim como a indissociabilidade entre corpo e mente para bell hooks (1994)
e para o nosso corazonar (Guerrero Arias, 2010; Leroy, 2022) e sentipensar
57 Mais do que a presença de dois ou mais idiomas em uma mesma construção frasal, as práticas
translíngues (Canagarajah, 2013) visibilizam os sujeitos e suas histórias de vida quando falam e deixam
fluir todo o seu repertório linguístico-cultural. Exemplos de manifestações translíngues, resistentes e
de reinvenção das linguagens seriam o movimento literário fronteiriço liderado pelos poetas Douglas
Diegues, Fabián Severo, dentre outros, denominado “Portunhol Selvagem” (Pires-Santos, 2017), que
desafia as colonialidades das linguagens de uma maneira anticolonial. Os diversos textos literários
produzidos nas línguas guarani, yopará (guarani e espanhol), portuguesa, espanhola e inglesa, essa
manifestação artístico-literária presente, sobretudo na Tríplice Fronteira entre Paraguai, Argentina e
Brasil, em Foz do Iguaçu, ou nas fronteiras entre Brasil e Uruguai (na cidade de Artigas) ou Brasil e
Paraguai (cidades de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul e Pedro Juán Caballero, no Paraguai) ajudam
a desnaturalizar os estigmas e os preconceitos linguísticos sofridos por esses resistentes repertórios
linguístico-culturais, ajudam a problematizar a variedade formal da línguas indo-europeias e também
problematiza o ensino-aprendizagem dessas línguas em sala de aula. Outra luta linguístico-cultural e
anticolonial que não podemos deixar de destacar é a visbilização, cada vez mais frequente, da variedade
pajubá ou bajubá, língua criada e falada pelas comunidades LGBTQIA+, uma língua pretuguesa criada
na década de 1970 no Brasil, recebendo contribuições das línguas africanas de raízes iorubá e banto.
58 Digo “monólogo”, entre aspas, porque o personagem Riobaldo é o narrador de toda a história e
somente interage com um interlocutor que não aparece em momento algum. E tudo é contado sob
o seu ponto de vista. Isso faz parecer que ele está falando para si próprio. E também está. Entretanto,
como se estivesse em um consultório psicanalítico, ele é ouvido durante todo o tempo por um
personagem interlocutor da cidade e letrado que não fala no texto, mas ele está presente por meio
de uma escuta muito atenta.
Introdução
A assim batizada opção decolonial (Palermo, 2013) surgiu no cenário
acadêmico há pouco mais de duas décadas e, nas palavras de um de seus
teóricos mais sensíveis62, se espalhou como uma “praga” pelos mais distintos
campos das humanidades. O projeto, liderado por intelectuais latino-
americanos/as, tem se imposto em centros de pesquisa em todo o mundo,
tanto no Sul quanto no Norte global. Também se impôs na agenda de
financiamentos e não há poucos programas e centros de pesquisa do Norte
global com títulos como “Estudos do Sul Global”.
Ainda que capitaneado por intelectuais latino-americanos/as, foram
centros de pesquisa do Norte global, mais precisamente nos EUA, nos quais
atuavam jovens pesquisadores/as decoloniais, que parecem ter ajudado no
impulso inicial do projeto decolonial. De lá, do Norte colonial e imperial,
a potente crítica decolonial, assim denominada, ganhou primeiro as terras
além do Rio Grande, sobretudo as antigas colônias espanholas, para chegar
à ex-colônia portuguesa apenas depois de já ter invadido também o velho
continente. Não é a primeira, nem será, parece, infelizmente, a última vez
que em terras brasileiras uma corrente quente só seja sentida após girar
59 Versão revisada e ampliada de texto publicado anteriormente em inglês (ver Feijó & Resende, 2020).
60 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília, glauco.feijo@ifb.edu.br
61 Universidade de Brasília, resende.v.melo@gmail.com
62 A observação foi feita em uma conversa informal e, por isso, optamos por não nomear o autor.
A Crítica Feminista-Decolonial
Da mesma forma que a expansão dos Estudos Culturais e o aumento
volumoso das fontes de financiamento trouxeram reflexões sobre o
esvaziamento de seu potencial revolucionário, também a disseminação
da opção decolonial trouxe em seu rastro as primeiras críticas, o que está
implícito na caracterização, retomada no início deste ensaio, da expansão
da opção decolonial como uma “praga”, que se espalha pela superfície, não
deixando raízes profundas, correndo o risco, assim, de perder sua radicalidade.
No entanto, também como nos Estudos Culturais, não foram apenas
a disseminação e institucionalização da opção decolonial os objetos das
primeiras críticas, nem essas críticas foram as mais importantes. As reflexões
iniciais sobre as imbricações entre gênero e raça foram foco de crítica de
autoras que viriam a propor um feminismo decolonial. A própria gestação
dos Estudos Decoloniais, dominada por intelectuais homens, foi criticada
por intelectuais militantes, especialmente dos movimentos feministas
caribenhos. Alguns dos intelectuais homens do projeto Modernidade/
A Crítica Contracolonial
Outras críticas mais recentes à opção decolonial são mais céticas
em relação às possibilidades revolucionárias dos Estudos Decoloniais e não
parecem estar dispostas a fazer qualquer concessão a qualquer pensamento
crítico dentro dos marcos da colonialidade. Para essas críticas mais recentes,
os Estudos Decoloniais não podem ser revolucionários, pois partilham
da mesma epistemologia colonial, dividindo com esta seus pressupostos
metodológicos de produção do conhecimento. Apenas uma epistemologia
outra, radicalmente distinta, seria então capaz de produzir a radicalidade
necessária para romper com a colonialidade.
Uma dessas novas correntes tem se apresentado como contracolonial
e não como decolonial, pois, segundo um de seus pensadores, só poderia
descolonizar quem colonizou, e então às pessoas colonizadas resta a opção da
contracolonialidade e não da decolonialidade. Nascimento e Santana Júnior
mencionam essa fala do contracolonialista Nego Bispo, para argumentar que
podemos compreender que ser decolonial é ser colonial, pois
combater o conhecimento que se pretende universal com
a mesma epistemologia é atestar a sua superioridade, sua
hegemonia. É também reverenciar essa forma de conhecimento
certificado, sintético (Nascimento & Santana Junior, 2019,
p. 69).
Referências
Ballestrin, L. (2013). América Latina e giro decolonial. Revista Brasileira de
Ciência Política, 11, 89-117. https://doi.org/33522013000200004
Bernardino-Costa, J., & Grosfoguel, R. (Eds.)(2016). Dossiê
Decolonialidade e perspectiva negra. Sociedade e Estado, 31(1). https://doi.
org/69922016000100002
Bidima, J.G. (2002). Introduction. De la traversée: Raconter des expériences,
partager le sens. Rue Descartes, 36(2), 7-18. https:// doi.org/10.3917/
rdes.036.0007
Chimakonam, J. O. (2019). Ezumezu: A system of logic for African philosophy
and studies. Springer.
Chimakonam, J. O. (2021). Contemporary trajectory of African philosophy:
The importance of decolonizing system-building. Seminário Internacional
Diálogos Brasil-Sudão, Instituto Federal de Brasília & Universidade Federal
de São Paulo.
66 Al respecto, ver mi texto del 2020, “Universidades, seres, saberes y (geo)poder(es) en Ecuador
y América del Sur”, Revista lusófona de educação, 48. https://revistas.ulusofona.pt/rleducacao/758
68 Ver Juan García Salazar y Catherine Walsh, 2017, Pensar sembrando/sembrar pensando con el Abuelo
Zenón, Universidad Andina Simón Bolívar y Ediciones Abya-Yala.
69 Ver https://jineoloji.org/es
73 Na América Latina, ainda no século XVI, foram criadas universidades no Peru, na Bolívia, no
México, na Argentina e na Colômbia. No Brasil, as primeiras instituições de ensino superior são
do século XIX, posteriores à vinda da família real. As universidades brasileiras mais antigas são a
Universidade Federal do Amazonas, de 1909, e a Universidade Federal do Paraná, de 1912. Ver a
Enciclopédia Latinoamericana http://latinoamericana.wiki.br/universidades
74 Embora este seja o projeto enunciado pela CAPES, o que se observa de fato é a produção da
dependência do país à tecnologia desenvolvida internacionalmente. Cada vez mais se observa o
desinvestimento nas universidades públicas e na produção de pesquisa, com cortes drásticos nos
financiamentos de pesquisa (Ver, por exemplo, https://www.band.uol.com.br/noticias/jornal-da-
band/ultimas/corte-no-orcamento-ameca-pesquisas-16453681
Esses autores ainda nos auxiliam a compreender que vários dos processos
de internacionalização das universidades brasileiras estão orientados pela lógica
econômica global neoliberal. Nesse contexto, os conhecimentos produzidos
nas ciências sociais e humanidades, que predominantemente se voltam a
compreender o mundo e as demandas sociais, são muitas vezes marginalizados.
Nos editais de financiamento de pesquisa em colaboração internacional,
os autores dos projetos para a produção desses tipos de conhecimentos
disputam76 com autores de projetos voltados às tecnologias ou às ciências
especialmente) dos Programas de Pós-graduação e dos pesquisadores e nas possibilidades de retorno das
pesquisas em termos quantitativos, de produções acadêmicas e/ou de desenvolvimento tecnológico, com
destaque para produção de patentes de produtos e com especial valorização para aqueles produzidos
em cooperação com universidades estrangeiras.
77 Disponível no site do MEC, em https://www.gov.br/programa-capes-purdue-de-doutorado-em-
agricultura
78 Disponível no site do MEC, em https://www.gov.br/capes/programa-de-assistente-de-ensino-
de-lingua-inglesa
83 Brazil has historically tended to look towards “the North” and its many exports in admiration.
This chapter has encouraged looking again in that direction (though not exclusively), but not in
admiration, nor for answers. EMI in Brazil should not follow any model but the one it (and the
many institutions within it) decides is best for itself. By no means should Brazil look towards Europe
or anywhere else for models of how EMI should grow domestically.
França 42
Alemanha 31
Japão 24
México 18
Espanha 7
Colômbia 6
Coreia 3
EUA 3
Bélgica 2
Chile 2
Argentina 1
Croácia 1
Hungria 1
Suécia 1
Uruguai 1
Total de alunos 143
Fonte: Agência UFPR Internacional (AUI)
Não foi possível obter dados referentes aos alunos de nossa instituição
que vão para universidades em outros países, mas o coordenador de mobilidade
acadêmica de nossa universidade nos relatou que a maioria dos alunos vão
para universidades situadas em países onde o espanhol é a língua dominante.
Considerando a origem dos estudantes internacionais acolhidos em nossa
84 Hamel (2013) afirma: “En el transcurso del siglo XX, la comunidad científica internacional ha
pasado de un modelo plurilingüe restringido pero bastante horizontal y equilibrado entre tres idiomas,
a saber, el alemán, inglés y francés, a un modelo vertical, caracterizado por la posición hegemónica
de inglés. En 2000 nos encontramos con que el 82% de las publicaciones en las ciencias sociales y
las humanidades y el 90-95% de las publicaciones llamadas ciencias naturales aparecieron en inglés,
que es hoy en día la única lengua híper-central1 y globalizada. Para 2012 esta concentración se ha
agudizado aún y, en el caso del alemán, ha desaparecido prácticamente el discurso científico escrito
en revistas en ciencias naturales” (p. 322).
85 Disponível em http://www.prppg.ufpr.br/plano_institucional_de_internacionalizacao_ufpr
86 O site da AUI traz o seguinte texto: “Promovido pelo Ministério da Educação (MEC) através da
Secretaria de Educação Superior (SESu) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), o principal objetivo do Programa Idiomas sem Fronteiras é incentivar o aprendizado
das diversas línguas oferecidas, além de propiciar uma mudança abrangente e estruturante no ensino
de idiomas estrangeiros nas universidades do País. O programa Idiomas sem Fronteiras, tendo seu
início no Inglês sem Fronteiras, foi elaborado com o objetivo de proporcionar oportunidades de
acesso à universidades de outros países. Neste sentido, essas ações também atendem a comunidades
universitárias brasileiras enquanto aumentam o número de professores e alunos estrangeiros em seus
campi”. Disponível em https://internacional.ufpr.br/portal/isf-idiomas-sem-fronteiras/
87 Estas informações foram obtidas por meio de uma entrevista semiestruturada com o coordenador
de mobilidade acadêmica da instituição.
empresas e a entrada de capital privado na gestão e financiamento das instituições do ensino superior.
A pesquisa é relacionada à tecnologia e à criação ou à relação com empresas. A internacionalização
segue essa lógica, enfatizando “pesquisa aplicada”, o que aponta para pesquisa como uma resposta às
demandas tecnológicas e empresariais. Além disto, a internacionalização se volta para inserção, no
contexto acadêmico brasileiro, de profissionais com formação em instituições internacionais “com
alto desempenho”, marcando novamente a perspectiva empresarial e econômica do programa e,
portanto, da internacionalização, no âmbito desse programa. Assim como o Ciência sem Fronteiras,
o Future-se deixa de fora as humanidades e as ciências sócias, o que aponta para a exclusão dos
estudos das linguagens e das literaturas.
89 Autoras como Signorini (1998) e Cavalcanti (1998) vêm apontando para a necessidade de pesquisas
transdisciplinares, e Moita Lopes (2006) tem apontado para a posição indisciplinar. Esses autores
contribuem para produção de estudos de linguagem orientados para a desobediência epistemológica.
A II Jornada Internacional de Linguística Aplicada Crítica, realizada em julho de 2019 em Brasília,
teve como tema “Perspectivas Decoloniais na Linguística Aplicada Crítica”. Entretanto, parece haver
aí uma certa fixidez disciplinar e de áreas, uma vez que propõe a “disseminação de pesquisas recentes
no campo da Linguagem, pelas comunidades acadêmicas de Letras, Linguística e Educação”.
90 Em língua inglesa, a tradução do termo russo usado por Bakhtin tem sido heteroglossia. Em
língua portuguesa, a tradução mais recente é heterodiscurso.
91 Nessa perspectiva, reconhecemos que historicamente, por questões de poder e em diálogo com as
construções dos estados-nacionais, foram construídas fronteiras entre os recursos linguísticos e foram
construídas unidades linguísticas discretas, nomeadas como línguas distintas. As construções das
línguas nacionais envolveram/envolvem processos políticos de delimitação de fronteiras linguísticas e
de higienização das línguas, marcadas por ideologias linguísticas de padronização e de hierarquização
linguística. Sugerimos ver a respeito da noção de “invenção das línguas” Makoni e Meinhof (2006) e
sobre a ideologia da padronização ver Milroy (2011). Sugerimos também a leitura de Bakhtin (2015).
Referências
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y afrocolombianos. Em C. Walsh (Ed.). Pedagogías decoloniales: Prácticas
insurgentes de resistir,(re) existir y (re) vivir, (pp. 443-468), Editora Abya-Yala.
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cero y el diálogo de saberes. Em R. Grosfoguel & S. Castro-Gómez (Eds.).
El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del
capitalismo global, (pp. 79-91). Siglo del Hombre Editores.
Introdução
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, através da
Resolução A/RES/74/135 (UNESCO, 2020), o período de 2022-2032
como a Década Internacional das Línguas Indígenas (doravante IDIL
2022-2032) e solicitou à UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) a coordenação e centralização das
atividades. Essa discussão iniciou-se em 2016, quando a Assembleia Geral
da ONU proclamou o ano de 2019 como o Ano Internacional das Línguas
Indígenas, que culminou com a proposição da Década. A iniciativa tem por
objetivo chamar a atenção para a situação crítica na qual se encontram as
línguas indígenas ao redor do mundo e para a urgência de ações efetivas,
tanto em nível nacional como em nível internacional, para a promoção,
preservação e revitalização destas línguas.
Um plano de ação global vem sendo construído com a participação
de representantes dos povos indígenas, organizações da sociedade civil,
representantes das universidades, pesquisadores, dentre outros. O protagonismo
indígena na construção e implementação deste plano tem sido veementemente
pleiteado pelos povos indígenas.
Neste sentido, os participantes do “Evento de Alto Nível intitulado
Construyendo un Decenio de Acciones para las Lenguas Indígenas”, realizado
na cidade do México, em fevereiro de 2020, elaboraram o documento
‘Declaración de Los Pinos [Chapoltepek] — Construyendo un Decenio de
93 Centralidad de los pueblos indígenas — “Nada para nosotros sin nosotros”, según el principio
de la libre determinación; el derecho a utilizar, desarrollar, revitalizar y transmitir a las generaciones
futuras, de forma oral y escrita, lenguas que reflejen las ideas y los valores de los pueblos indígenas, sus
identidades y sistemas de conocimientos y culturas tradicionales; la igualdad de trato de las lenguas
indígenas con respecto a otras lenguas; y la participación efectiva e inclusiva de los pueblos indígenas
en la consulta, la planificación y la ejecución de procesos basados en su derecho al consentimiento libre,
previo e informado desde el comienzo de toda iniciativa de desarrollo, así como el reconocimiento
de las barreras y los problemas específicos que encuentran las mujeres indígenas, cuya identidad,
tradiciones culturales y formas de organización social mejoran y fortalecen las comunidades en que
viven. (Declaración de Los Pinos, 2020, p. 4)
Para que haja uma educação escolar indígena voltada aos anseios dos
povos indígenas é necessária a formação docente indígena de qualidade.
Em se tratando da atuação indígena para o fortalecimento de suas línguas
e das expectativas levantadas pela IDIL 2022-2032, não se pode partir do
pressuposto que qualquer professor indígena esteja apto a discutir propostas
de políticas linguísticas e políticas de ensino que envolvam as línguas faladas
pelo seu povo. É necessário que este professor esteja preparado, na teoria e
na prática, para essa tarefa.
Em termos de regramento, a Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1988) garante aos povos indígenas o uso de suas línguas originárias e seus
métodos próprios de ensino aprendizagem, além do uso da língua portuguesa:
“Art. 210 § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.”.
O uso das línguas originárias é um dos princípios fundantes da
educação escolar indígena que deve ser diferenciada, específica, bilingue e
intercultural, conforme reconhecido pela LDB - Lei de Diretrizes e Bases
96 Promoción del uso público y de la enseñanza y el aprendizaje de las lenguas indígenas, expresadas
por los pueblos indígenas, a todos los niveles. Debería promoverse el aprendizaje y la enseñanza de las
lenguas indígenas en las escuelas, los entornos de la primera infancia y otros entornos de aprendizaje,
mediante la educación no formal y el aprendizaje informal, y deberían incluirse pedagogías indígenas.
Debería promoverse la educación intercultural bilingüe en todos los niveles educativos, no solo en
las etapas iniciales, sino también en la enseñanza superior y el aprendizaje permanente, incluida la
enseñanza y la formación técnica y profesional. (Declaración de Los Pinos, 2020, p. 11)
Considerações Finais
Neste texto, procurei refletir sobre a instauração da Década Internacional
das Línguas Indígenas (2022-2032) e a formação de professores indígenas para a
reflexão sobre as línguas indígenas, no contexto das licenciaturas interculturais.
Se por um lado a Década configura-se em grande oportunidade de conscientizar
indígenas e não indígenas para a importância das línguas indígenas, por outro
lado, ela acentua os desafios da formação do docente indígena para a reflexão
teórico-prática sobre as línguas faladas pelos povos indígenas.
Dentre os desafios estão a reestruturação das licenciaturas interculturais,
a reorganização e proposição de disciplinas que tratem da questão do uso
das línguas pelos povos indígenas, a contratação de docentes indígenas e não
indígenas que tenham conhecimentos sobre as línguas indígenas, sobre as
teorias linguísticas, sobre os processos de ensino aprendizagem e que estejam
atentos à realidade sociolinguística de cada povo.
Mais ainda desafiante é que a universidade ouça os intelectuais e
sábios indígenas quando questionam conceitos cristalizados com os quais a
academia lida, nomeia e define as realidades indígenas. Estratégias de escuta
precisam ser criadas, junto com os povos indígenas, de maneira horizontal,
e isso causa desconforto e resistência em muitos acadêmicos. Todos esses
desafios serão melhor enfrentados com a presença indígena na universidade,
na graduação, na pós graduação e na docência. Esta presença indígena ativa
precisa ser buscada e garantida.
Referências
Bakhtin, M. (1997). Estética da criação verbal, (2ª ed., M. E. G. G. Pereira,
Trad.). Martins Fontes.
Bakhtin, M. (1979). Marxismo e Filosofia da Linguagem. Hucitec
Brasil (2015) Resolução nº 1, de 7 de janeiro de 2015, Institui Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação de Professores Indígenas em cursos de
Educação Superior e de Ensino Médio e dá outras providências.
Brasil (2012) Resolução nº 5, de 22 de junho de 2012, Define Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica.
Introdução
Este texto pretende discutir sobre a inserção de intelectuais indígenas
nas salas de aula do Ensino Médio, com ênfase na disciplina de Língua
Portuguesa, avaliando de que forma a literatura indígena brasileira
contemporânea101 contribui para a formação dos estudantes. Uma vez
que o currículo escolar se mostra tradicionalmente homogêneo, levar aos
educandos perspectivas indígenas de conhecimentos, sejam elas literárias
ou teóricas, é uma prática pautada na decolonialidade dos saberes. Assim,
objetiva-se trazer novas cosmovisões à escola, oportunizando aos estudantes
conhecer as epistemes dos povos originários, que foram (e são) silenciadas,
negadas e desrespeitadas por tantos anos.
De início, foram traçadas algumas reflexões sobre a presença da temática
indígena na Educação Básica, tomando como mote a afamada Lei nº 11.645,
no que corresponde ao ensino de histórias e culturas indígenas do Brasil. No
cenário educacional, a importância dessa lei é gigante, mas, ainda assim, certos
desafios se impõem para um real alcance dos seus objetivos. Afinal, a sociedade
brasileira não indígena pouco conhece sobre os povos originários deste país,
e a escola, costumeiramente, contribui para a manutenção desse cenário.
Porém se esse novo cenário está sendo delineado, se há uso das diversas
formas de escrituras existentes na sociedade pelos indígenas, onde estão essas
vozes na Educação Básica? Como enfatiza a pesquisadora Maria Inês de
Almeida (2009), em Desocidentada: experiência literária em terra indígena, os
indígenas querem falar por si próprios. Ora, eles já fazem isso. É necessário,
então, que a escola acolha, escute e partilhe essas falas. Contrariamente,
a realidade mantém-se pautada numa perspectiva unilateral, pouco afeita à
diversidade de epistemes.
Ainda refletindo sobre esse quadro multifacetado, vemos que desde
1980, quando veio a público Antes o mundo não existia: Mitologia dos antigos
Desana-Kêhíripõrã, de Umusï Pãrõkumu (Firmiano Arantes Lana) e seu
filho Tõrãmü Këhíri (Luiz Gomes Lana), considerada a primeira obra de
literatura indígena brasileira, o número de publicações de autoria indígena
vem aumentando exponencialmente, bem como recebendo notoriedade. Tal
fato, em parte, deve-se à implementação da referida lei. Mas ainda assim,
também é notável que poucas dessas obras transitam nas salas de aulas
deste país. Muitos professores e alunos, inclusive, podem ficar surpresos
ao ouvirem falar em autoria indígena, talvez até dizendo “E índio escreve?
Pensava que eles mal falavam português!”. Ciente de todas as dificuldades
102 As obras dessa autora, considerada a primeira cordelista indígena, farão parte do acervo da Library
of Congress, maior biblioteca do mundo, localizada nos Estados Unidos.
O ano letivo de 2021 foi permeado por diversos desafios no que se refere
à modalidade de ensino remoto: não há espaço suficiente aqui para listá-los.
Felizmente, isso não foi um empecilho para levar textos de autores indígenas
para as “salas de aula” virtuais. Como há um ativismo muito potente desses
escritores nas redes sociais, isso facilitou a inserção desses escritos, muitas
vezes associados a vídeos de participação deles em programas de tevê ou em
canais do YouTube. Essa estratégia, por exemplo, foi utilizada para estudar
os textos de Ailton Krenak, aproveitando a sua participação no programa
Roda Viva, da TV Cultura, no dia dezenove de abril de 2021.
Aos estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Castro Alves,
Adustina-BA, cidade interiorana, foi indicado que fizessem a leitura do livro
Caminhos para a cultura do Bem Viver (2020a), de Ailton Krenak103. Essa
escolha não foi aleatória: em tempos como estes, pensamos que o contato por
parte dos estudantes com pensamentos como esses pode ser revolucionário,
abrindo suas mentes a novas possibilidades de compreensão da realidade.
Assim, os alunos do 1º e 2º ano, na disciplina de Língua Portuguesa, deveriam
responder algumas questões norteadoras sobre a leitura, já aos estudantes do
104 Por questões éticas, resolvemos não mencionar os nomes dos alunos. Dessa maneira, ao citá-los
neste texto, faremos referência usando uma letra do alfabeto para cada estudante diferente.
Considerações Finais
A escola, dentre tantas funções, possui a tarefa extremamente importante
de ensinar aos educandos que não existe uma história única: há outras histórias
tão importantes quanto as legitimadas, contadas de outras formas, por outros
povos, sem se furtar de explicar os motivos de essas outras histórias serem
silenciadas ou deslegitimadas. Acreditamos, assim, que levar a literatura
indígena para a escola contribui para a formação de sujeitos políticos que
respeitam e toleram as diversidades. Ou seja, pessoas que possam valorizar
o diverso, tendo uma convivência harmoniosa com as diferentes culturas.
Este relato, fruto do trabalho nas salas de aula de uma escola pública
estadual do interior da Bahia, toma a temática indígena como cerne e
pretende ser um exemplo das tantas experiências possíveis nesse campo.
Novamente, reiteramos a complexidade da questão. Mesmo assim, cremos
ser necessário intervir de alguma forma nessa situação, pois já está bastante
comprovado que as histórias e culturas indígenas não estão devidamente
presentes na Educação Básica. Quando estão, elas aparecem costumeiramente
rodeadas de estereótipos. Dessa forma, nos parece essencial, nessa empreitada
105 As aspas foram utilizadas aqui a fim de sinalizar que para as culturas indígenas há o passado,
que são as memórias ancestrais e o presente.
Referências
Almeida, M. I. (2009). Desocidentada: Experiência literária em terra indígena.
Editora UFMG.
Cagneti, S. S., & Pauli, A. (2015). Trilhas literárias indígenas: Para a sala
de aula. Editora Autêntica.
Graúna, G. (2013). Contrapontos da literatura indígena contemporânea
no Brasil. Editora Mazza.
Kambeba, M. W. (2020). Saberes da floresta. Editora Jandaíra.
Krenak, A. (2020a). Caminhos para a cultura do Bem Viver. Cultura do
Bem Viver.
Krenak, A. (2020b). De Ailton Krenak para quem quer cantar e dançar para
o céu. Em Cartas para o Bem Viver, (pp. 20-22). Boto-Cor-Rosa Livros, Arte
e Café, ParaLeLo13S.
108 Sebastien Ledoux (2009) propõe que o “dever da memória” se vincula às políticas da memória
e ao imperativo do não-esquecimento nos contextos da contemporaneidade, dando protagonismo
às vozes das vítimas do discurso atual, como forma de reparação e justiça histórica.
109 O eleito presidente do Brasil em 2019, negou reiteradamente a existência da ditadura e de
práticas de tortura nos governos militares, conforme reportagem Folha de São Paulo, de 27/03/
2019. https://www1.folha.uol.com.br/poder
110 O ex-general e ex-chefe da Dirección Nacional de Inteligência Chilena (DINA), em diversas
entrevistas, chegou a afirmar que jamais houve ditadura no Brasil, no Chile e na Argentina, inclusive,
defendeu que no período do governo militar do Pinochet, não houve desaparecimento de corpos,
nem práticas de torturas, tal como demostra a reportagem da CNN Chile. https://www.cnnchile.
com/pais/manuel-contreras
111 O ex-presidente argentino, gerou polemica ao relativizar os assassinatos cometidos no período
da ditadura argentina, cujos dados são resultado de pesquisas e registros da Conadep (Comisión
Nacional de Desaparición de Personas), tal como informa a reportagem de El País-Argentina. https://
elpais.com/argentina/1470936255_170858
112 Se entende a modernidade/colonialidade como a sistematização da estrutura colonial do poder
nos contextos contemporâneos da globalização (Dussel, 2005).
113 Grupo performático formado por Pedro Lemebel e Francisco Casa, que utilizava o travestismo, a
fotografia, o vídeo e instalações públicas, como suportes combativos contra os discursos institucionais
da ditadura na década de 1980.
115 De acordo com Dussel (2005) são os processos colonizatórios no século XVI que inauguram a
modernidade concomitante à invasão do Abya-Yala (território hoje denominado América). Segundo
o filosofo, a colonização trouxe como consequência para a Europa o desenvolvimento técnico-
116 Uma maneira irônica que Lemebel usa para se referir à democracia pós-ditadura na crônica
“La esquina es mi corazón” (2008). Com o neologismo o escritor trabalha a ideia de que o discurso
neoliberal da transição entrega a democracia como se fosse um cavalo de tróia para a população ao
mesmo tempo que mantem as estruturas políticas militares da ditadura.
117 Em entrevista a Andrés Gómez Lemebel afirma: “[…] tengo un devenir mujer y lo dejo transitar en
mi escritura. Le doy el espacio que le niega la sociedad, sobre todo a los personajes más estigmatizados
de la homosexualidad, como los travestis” (Lemebel, 1997, p. 44).
Referências
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cueca sola. Anais do evento trans-in-corporados: Construindo redes para a
internacionalização da pesquisa em dança. Universidade Federal de Campinas.
Benjamin, W. (1996). Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura
e história da cultura, (7ª ed., S. P. Rouanet, Trad.). Brasiliense.
124 Texto original: “[...] el capitalismo global contemporáneo resignifica, en un formato posmoderno,
lãs exclusiones provocadas por las jerarquías epistémicas, espirituales,raciales/étnicas y de género/
sexualidad desplegadas por la modernidad. De este modo, las estructuras de larga duración formadas
durante los siglos XVI y XVII continúan jugando un rol importante en el presente [...] Como
resultado, el mundo de comienzos del siglo XXI necesita una decolonialidad que complemente
la descolonización llevada a cabo en los siglos XIX y XX. Al contrario de esa descolonialización,
la decolonialidad es un proceso de resignificación a largo plazo, que no se puede reducir a un
acontecimiento jurídico-político.”
As Conferências Dançantes
A primeira conferência foi proposta por Iury Natasha Oliveira –
graduanda do bacharelado em Dança na UFC, assistente social, mestra
em Serviço Social e Direitos Sociais – e apresentou uma análise da vídeo-
performance Aiku’è (R-existo) de Zahy Guajajara125, por meio de texto escrito
125 Mulher indígena, multiartista, nascida na aldeia Colônia, na reserva indígena Cana Brava, no
Maranhão. Filha da pajé Elzira e de Seu Quinca, mestiço. Do povo Tenetehara-Guajajara, tem o
Ze’eng eté, dialeto do tronco tupi-guarani, como sua primeira língua. Em 2010, mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde tornou-se atriz e ativista. Na cidade, ela foi uma das líderes da aldeia Maracanã,
127 Depoimento de Antonio Layton, co-autor deste texto, integrante do Coletivo Areia e participante
no processo de composição das quatro conferências dançantes propostas por integrantes desse grupo
de pesquisa.
128 Depoimento de Emyle Daltro, co-autora deste texto, integrante do Coletivo Areia e participante
no processo de composição das quatro conferências dançantes propostas por integrantes desse grupo
de pesquisa.
131 Idem.
133 Neste sentido, a Pesquisa Artística se singulariza em relação à pesquisa em Artes, uma vez que esta
abrange também investigações que tomam o objeto ou processo artístico a partir de metodologias e
estratégias próprias da Estética, Semiótica, Sociologia, Antropologia etc. Na Pesquisa Artística, a prática
artística, marcada pela processualidade em detrimento de um projeto pré-estabelecido, é compreendida
como procedimento que constitui a investigação realizada pelo/a artista-pesquisador/a que examina sua
própria prática artística.
134 O termo agência, seguindo os passos de Donna Haraway e Bruno Latour, aparece com o sentido
de “associação de humanos e não/humanos agindo, modificando e sendo modificados em relações
mediadoras” (Daltro, 2014, p. 15).
135 Texto original: “[...] la investigación es la propia generadora del producto artístico, sin que haya,
por tanto, separación alguna entre quien genera el producto artístico y quien lo estudia. El aspecto
más importante es que la prátctica se vuelve aquí necesariamente experimental [...], ya que no tendría
sentido que se tratara de una realidad definida de antemano [...]”.
136 Texto original: “La investigación artística es artística en la medida en que conlleva una producción
de conocimiento a través de métodos y procesos propios de la práctica artística [...]” (grifo no original).
137 Texto original: “Si la ciencia obtiene su poder de la escisión y la separación de variables, el arte
contiene la capacidad de articulación y de síntesis, integrando subjetividad, cultura y naturaleza...”.
138 Texto original: “Its impact releases new forms of power: power to re-politicize artists and their
work within cultures of shared knowledge; and power to find within art itself the means of transferring
emphasis from commodity and ownership to process – a transformation that will affect not only the
arts themselves but also society more widely.”
Referências
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corpo efervescente, (M. Gama, Trad.). Rocco.
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Castro-Gómez, S., & Grosfoguel, R. (Orgs.)(2007). El giro decolonial:
Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global.
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Chiantore, L. (2020). Retos y oportunidades en la investigación artística
en música clássica. Quodlibet, 74(2), 55-86. https://doi.org/10.37536/
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Coessens, K., Crispin, D., & Douglas, A. (2009). The Artistic Turn: A manifesto.
Orpheus Research Centre in Music Series. Leuven University Press.
Introducción
La democratización de la tecnología en los contextos actuales se
abre camino como una oportunidad de participación para la socialización
de la ciencia y la tecnología. El Paraguay, busca reconstruir esa política
nacional considerando como principal desafío la mayor inversión en aspectos
relacionados a la innovación y búsqueda del impulso necesario en temas
de producción científica y tecnológica atendidos desde la realidad nacional
como puente de desarrollo que responda a las necesidades propias del país.
Mientras que esa actualización avanza de manera sigilosa, la inclusión en
términos digitales es muy exigua, en especial, en los contextos socioeconómicos
más desfavorecidos, aumenta la brecha digital y la desigualdad que genera
una problemática en términos de acceso al conocimiento.
En consecuencia, es fundamental establecer nuevos espacios de
participación entre los diferentes sectores y desplegar una agenda de
investigación, desarrollo e innovación tecnológica (I+D+i) que responda
a la política y a necesidades sectoriales, socioeconómicas y ambientales del
país (CONACYT, 2017).
El proceso de reflexión de este escrito se presenta a partir de las ideas
propuestas por Enrique Dussel (2014):
Democratización de la Tecnología
La democratización de la tecnología es abordada en este estudio desde
la perspectiva de accesibilidad inclusiva, pues “trata de poner tecnologías al
alcance de todos” (Manterola, 2019). En estos términos, a continuación, se
describen algunas acciones realizadas entre los años 2017-2021 a través de
un recorrido histórico que presenta las principales actividades realizadas de
manera breve pero significativa que permita observar los principales avances
en términos de inclusión.
Los datos mencionados más adelante han sido extraídos de las diversas
documentaciones analizadas (proyectos, informes, documentos digitales
y canales de acceso público a la información) y se presentan desde dos
ámbitos: los proyectos desarrollados y la participación en eventos de carácter
tecnológico.
Con relación a los proyectos desarrollados, se citan a continuación
en sucesión cronológica para una mejor contextualización:
Entre los años 2017 y 2019 se inició la experiencia con el
proyecto denominado “Programación Computacional para el
Desarrollo de Competencias Básicas Enseñanza de lenguaje de
programación” dirigido a niños y niñas de una institución de
la ciudad de Caaguazú (5º departamento), de la República del
Paraguay, la misma tuvo una duración de tres años, el objetivo
Autodeterminación Nacional
“La política científica y tecnológica debe estar determinada por la
autodeterminación nacional, tanto para evaluar los proyectos e incentivarlos
con dicho criterio de autodeterminación nacional y, además, a éstos también
evaluarlos con criterios particulares, concretos y no pretendidamente
universales” (Dussel, 2014, p. 493). Desde esta perspectiva, esta iniciativa
educativa ha sido evaluada de manera constante, tanto desde sus participantes
como de otros sectores de sociales y educativos del contexto nacional.
Resultado de estos procesos, actualmente, esta experiencia educativa
es considerado como uno de los planes con mayores índices de logros
atendiendo la inclusión digital nacional observada desde la capacidad de
producción local, fruto de un esfuerzo continuo sumamente enriquecedor,
que en líneas siguientes describe tres aspectos: Declaraciones, Resoluciones
y dictámenes recibidos; participación en diversos medios de difusión de la
información y la producción científica.
Con relación a las declaraciones, resoluciones y dictamen de interés,
a continuación, se presenta una síntesis de las deferencias recibidas con
El desarrollo de habilidades
La inclusión digital posibilita el desarrollo de múltiples habilidades,
esta experiencia educativa ha asumido el compromiso en el desarrollo de
habilidades cualitativas que se consideran transversales, a través de cada
una de las acciones propuestas, en consonancia a las ideas propuestas por
Dussel (2014) “pensar más seriamente en la responsabilidad de la ciencia
y la tecnología para el desarrollo cualitativo de la vida concreta de nuestra
población” (p. 493).
Consideraciones Finales
En conclusión, se menciona el aporte vital de esta experiencia en el
desarrollo de habilidades de la población de niños, niñas, jóvenes y adultos
de diferentes sectores de la sociedad a partir del desarrollo de la ciencia y la
tecnología, observadas desde la democratización de la tecnología.
Jekupyty Moheñoiha ha desarrollado una diversidad de competencias,
desde las capacidades técnicas la enseñanza de la robótica, el montaje de
laboratorio de informática, la presentación de aplicaciones creadas por los
estudiantes, la capacitación a docentes sobre aspectos relacionados al lenguaje
de programación y su utilización didáctica.
Referencias
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Paraguay 2017-2030. Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología, https://
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CONACYT (2018, 07 de septiembre). Resolución n° 430/2018: Declaración
de Interés Tecnológico. Jekupyty Moheñoiha.
Congreso Nacional Honorable Cámara de Diputados (19 de septiembre de
2018). Declaración n° 30. Asunción, Paraguay.
Dictamen n° 44/2020 (2020, 23 de julio). Declaración de Interés Educativo
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Gill, P. (2020). Cómo construir un mundo mejor con la educación. Revista
Telos, 114.
Introdução
Cada dia mais vemos a necessidade em dialogar sobre currículo escolar,
suas (des)construções e (re)definições, como um assunto que nunca cessa e
sempre está em transformação. Especialmente nos últimos dois anos, diante
de um contexto pandêmico, percebeu-se a relevância de uma concepção bem
fundamentada e que respeitasse tanto a realidade local quanto a pluralidade
do altero.
Ora, quebrar paradigmas e seguir caminhos outros prevaleceu (ou tem
prevalecido) às normas ditadas pelo status quo, como uma roupa que não
cai mais bem já tem tempo e os olhos começaram a reparar intensivamente.
O objetivo desse estudo é apresentar uma discussão teórica relacionada
à perspectiva decolonial na formação de professoras/es de línguas e na
experienciação de comunidades de práticas nos encontros formativos
(presenciais e/ou virtuais) em Feira de Santana.
Durante esses movimentos, evidenciamos particularidades nas práticas
pedagógicas experienciais durante as ACs Formativas e o Laboratório
formativo, entre os anos 2018 e 2021, com o grupo de docentes de Língua
Inglesa da Rede Pública Municipal de Feira de Santana, em atuação nos
Anos Finais do Ensino Fundamental.
Adentraremos nas concepções basilares para esses momentos formativos,
os quais estão apoiados na perspectiva decolonial (Ballestrin, 2013; Pardo,
141 Versão original: “By tracing teacher development as it is in the process of formation in/through
the varied activities of the internship, we are able to see the interdependence between engaging
teachers in different kinds of thinking about teaching and providing multiple opportunities to enact
instruction, as well as the kinds of mediation that can emerge in these varied cultural practices of
teacher education” (Johnson & Golombek, 2016, p. 160).
142 Seguem alguns exemplos dessas produções: worksheets (atividades contextualizadas e multimodais),
softwares de autoria, sequências didáticas, projetos interdisciplinares, trabalho com temáticas
transversalizadas, jogos autorais e/ou gratuitos, músicas com atividades e/ou roteiros orientadores,
cartazes expositivos autorais, textos (livros teóricos/literaturas e diversos gêneros textuais, como
poemas, contos, histórias em quadrinhos, narrativas, contos de fadas, contação de histórias, textos
teatrais, etc.).
143 Nesse momento, o Caderno de Língua Inglesa na Proposta Curricular passou por alinhamento
da concepção basilar através da leitura crítica dos respectivos capítulos pelos docentes, com base nas
escutas formativas e dados relevantes da própria Rede.
Referências
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novos rumos para o ensino-aprendizagem de leitura-escrita na escola pública,
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língua franca como agente de decolonialidade no Ensino de Língua Inglesa.
Revista Digital UEFS, 21 (2), 169-181.
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Fundamental. MEC/Secretaria de Educação Básica.
Brasil (1996). Lei nº 9.394. Diretrizes e bases da Educação Nacional.
Brasil (2014). Planejando a Próxima Década: Conhecendo as 20 Metas do
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Inglesa. Secretaria de Educação de Feira de Santana.
Feira de Santana (2021). Concepção de laboratório formativo como alicerce
nas práticas pedagógicas em ACs Formativas de Língua Inglesa. I Encontro
Docente sobre Currículo Escolar (ENDOCE). Secretaria de Educação de
Feira de Santana.
Abrindo o Bate-Papo
Vencido o desafio proposto para a redação da primeira versão146
deste ensaio, penso que já é possível pensar um pouco sobre o conteúdo
que abordei na ocasião. No título da unidade de estudo que ministrei147
na universidade em 2021 e que resultou no evento que deu origem a este
livro, propus que pensássemos a plataforma decolonial sob uma perspectiva
esperançadora apesar dos tempos de perplexidade em que vivemos. Recupero
essa categoria para nossos tempos a partir das ponderações feitas por René
Armand Dreifuss em meados dos anos 90 (Dreifuss, 1996).
Igualmente acompanho Hannah Arendt quando ela diz que nossos
tempos são, na verdade, sombrios, ou seja, situações-limite nas relações
humanas e que precisam ser denunciadas. Ela pensa nessa categoria a partir
de suas vivências sob o regime nazista e seu entendimento das crises da
modernidade e do fenômeno totalitário que presenciamos se desenrolando no
horizonte de muitos regimes mundiais (Arendt, 2008). Há ainda o cansaço
da sociedade contemporânea que nos adoece (Han, 2015; Sá, 2017a).
Mais recentemente, durante uma estada em Portugal como docente
visitante em uma universidade no norte daquele país, entrei em contato com
o trabalho artístico da pintora portuguesa Graças Morais, que na exposição
149 Difiro do Outro lacaniano (1973), mais abstrato, e que se refere a um lugar, a linguagem, ao
inconsciente, etc.
150 Minha opção pelo vocábulo migrante está em alinhamento com o pensamento de Abdelmalek
Sayad (2000) que ao falar sobre a circularidade nas migrações ressalta que toda i-migração é ao
mesmo tempo e-migração.
151 Recomendo Sá (2016; 2020a) para uma discussão mais ampla e aprofundada da condição dos
migrantes.
152 www.unhcr.org; www.acnur.org; https://www.migrante.org.br; http://obmigra.mte.gov.br/index.
php/relatorio-anual; www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/imigracao
153 Agradeço a Lineth Hiordana Ugarte Bustamante pela cessão do embrião desses dados durante a
palestra Saúde mental, interculturalidade e migração oferecida no Instituto Educação sem Fronteiras
em 01 de maio de 2021.
154 Estatística divulgada em 25/09/2019 e disponível para acesso em https://censo2021.ibge.gov.br
Fonte: Sá (2016)
Fonte: Sá (2016)
Para Carolina sua estada no Brasil a empobrece, pois “salí de casa con
zapato y volvi con chinelo”. Trata-se de um sentimento despertado por causa
155 Ao longo deste ensaio usei os advérbios de lugar “cá” e “lá” nas locuções adverbiais “lado de cá e
lado de lá” muitas vezes porque essa estrutura sintática faz com que eu me remeta ao rap denúncia “Da
ponte pra cá” do grupo Racionais MC’s. Nesta canção, eles usam uma metáfora de elevado sentido
poético da ponte para mostrar que esta serve de inspiração para exaltar os que estão na periferia e
que não lhes deve ser privado o direito de trafegar entre cá e lá. Vale a pena conhecer a letra dessa
canção, além da discografia do grupo em https://www.racionaisoficial.com.br
Freire (2020, p. 80) alerta que “importante ter sempre claro que
faz parte do poder ideológico dominante a inculcação nos dominados da
responsabilidade por sua atuação”. Em outras palavras, os dominantes,
de cá, querem fazer crer os dominados, de lá, que qualquer coisa que saia
errado em seu processo de migração é culpa dos de lá e nunca dos de cá,
i.e., é responsabilidade e culpa dos migrantes e não do país anfitrião que os
acolhe. Em Sá (2016, pp. 221, 222) declarei que Jose ficou profundamente
decepcionado porque “o seu ‘jeito de ser’ boliviano havia sido afetado pelo
jeito do Brasil” e ele não se dava conta disso até viajar de férias à Bolívia e ser
confrontado pelo demais familiares. Sentia-se constrangido porque “apesar de
ter o idioma, não falava e se expressava como seus tios e primos”. Foi acusado
de ser de lá, do Brasil, e seus familiares de cá, da Bolívia. No entanto, quando
estava no Brasil não sentia de cá porque era insistente violentamente lembrado
que era de lá. Por fim, Jose conclui que “sou estrangeiro no país que moro
e no país que nasci”, ou seja, ele se sente duplamente excluído socialmente.
Esse sentimento de exclusão, de culpabilização, de falha é refletido
em sua narrativa visual em que ele tenta unir as bandeiras do Brasil e da
Bolívia em um esforço para criar um país que o acolha, de fato. Freire (2020,
p. 81) diz que essa condição coloca esses migrantes no grupo de “legiões
de ofendidos que não percebem a razão de ser de sua dor na perversidade
do sistema social em que vivem, mas na sua incompetência”. No caso de
Jose é triste ver que ele se sente culpado por esse não pertencimento a lugar
algum. De fato, como assevera Freire (2020, p. 129), a própria condição
Introdução
A escrevivência aqui proposta foi constituída a seis mãos e corresponde
a uma experiência vivida pelos autores com o grupo de leitura intitulado
Poéticas Decoloniais, no período de novembro de 2021 a junho de 2022.
O grupo fruto da iniciativa de técnicos da Secretaria Municipal de Educação,
no município de Itapipoca, Ceará, vislumbrou despertar o interesse e o gosto
pela leitura de obras literárias fora do cânone europeizado, concomitante ao
fomento de uma perspectiva formativa, a partir de um ambiente permanente de
discussão entre docentes e pesquisadores/as. Este ambiente, teleologicamente,
visou incentivar a pesquisa, a reflexão e a escrita sobre as questões que gravitam
na órbita do conceito de decolonialidade, do pensamento afrodiaspórico, das
cosmovisões indígenas e a perspectiva dos oprimidos de uma forma geral.
Tais intenções pretendiam instigar os participantes (professores das redes
municipal e estadual de ensino, pesquisadores/as e demais interessados/as)
a ter contato com uma literatura muitas vezes silenciada, ausente e negada
nos currículos oficiais de qualquer nível de escolarização, nos cursos de
formação docente e outras experiências formativas.
160 Expressão do povo Kuna que significa terra madura/terra viva, utilizada como sinônimo de América.
161 Nascido no Peru, tendo publicado diversos capítulos de livros e artigos em revistas.
162 Nascido nos Estados Unidos, tendo como principal obra destacada aqui “O sistema mundial
moderno”, v. I, II e III.
163 Nascido na Argentina, tendo como principais obras destacadas aqui “1492: o encobrimento do
Outro: a origem do mito da modernidade” de 1992 e “Ética da Libertação” de 1998.
164 Nascido na Argentina, tendo como principal obra destacada aqui “Histórias locais/projetos
globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar” de 2000.
165 Nascida nos Estados Unidos, tendo como principal obra destacada aqui “Pedagogías decoloniales:
prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir” de 2013.
166 Encontro ocorrido em 1955, onde reuniu 29 países da Ásia e África na cidade de Bandung,
localizada na ilha de Java, na Indonésia, para pensar formas de resistência ao imperialismo bipolar
que marcava o período da Guerra Fria.
Considerações Decoloniais
A pretensão deste texto foi refletir sobre uma experiência vivida pelos
autores com o Círculo de Leitura Poéticas Decoloniais, no período de
novembro de 2021 a junho de 2022. O objetivo do Grupo foi provocar
os participantes, composto sobretudo por professores e professoras da rede
municipal de educação de Itapipoca, no Estado do Ceará, por meio de uma
literatura engajada em questões que emergiram da ferida colonial nos países
latino-americanos, fortemente ausente e negada nos cursos de formação
de professores, o que exige respostas teóricas e práticas plurais que sejam
alternativas válidas frente ao projeto eurocêntrico de civilização responsável
por criar e fortalecer as constantes contradições existentes no continente.
Como mencionado, nosso objetivo com a presente análise partiu da
compreensão dos aspectos contributivos para (des)ver e (des)ler o cotidiano
de nossas práticas pedagógicas e o mundo da colonialidade-modernidade,
suscitados pelas leituras propostas e as partilhas destas nos encontros mensais,
sejam os presenciais ou remotos. Para tanto, recorremos à abordagem
metodológica da observação participante articulada com a montagem de
uma escrevivência, que reúne elementos para uma “escrita de nós”.
Assim, vemos como necessário desafiar as formas mais convencionais
de pesquisa, de formação e de ensino, especialmente porque decolonizar
essas três dimensões ainda é uma tarefa por fazer. A vivência no grupo
evidenciou a certeza de que essa literatura decolonial - poética, ética,
estética e política - possui uma potência capaz de influenciar docentes em
seus trabalhos como artesões de conhecimentos e de práticas pedagógicas
outras. Consequentemente, a formação de estudantes copartícipes de outros
modos de ser e estar em sociedade, visto que, além de saber o que é certo
REFERÊNCIAS
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