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USO DO RADAR DE DUPLA POLARIZAÇÃO DOPPLER BANDA X DO CLA PARA

AVALIAR CARACTERÍSTICAS DE NUVENS CONVECTIVAS

Reinaldo B. da Silveira1,4, Cesar A. A. Beneti1, Leonardo Calvetti1, Marcos D. Oyama2, Luiz


Carlos de Castro2, Rosa de F. C. Marques2, Gilberto F. Fisch2 e Roberto Lage Guedes3
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Instituto Tecnológico SIMEPAR - Curitiba, 2ACA-IAE, 3IAE, 4rsilveira@simepar.br

RESUMO: Os radares de polarização dupla tornaram-se operacionais no Brasil, característica


adicional aos existentes radares Doppler. Enquanto esta tecnologia melhora a caracterização de
hidrometeoros, ressalta-se que ainda é necessário entendimento e interpretação destes
parâmetros. Neste trabalho, discutimos algumas propriedades de um sistema de nuvem
convectiva, observado com o radar meteorológico Banda X e de polarização dupla do CLA,
com dados obtidos da campanha GPM-2010, parte do Projeto CHUVA, que ocorreu em
Alcântara, MA, dentro do CLA. Os resultados mostram que apesar dos padrões de forte
atenuação, devido a propagação do feixe de radar dentro de chuva, existe bom potencial para
análise das características de nuvens convectivas.

ABSTRACT: Dual polarization weather radars became operational in Brazil, in addition to the
existing Doppler radars. Whereas such technology improves the characterization of
hydrometeors, the understanding and interpretation of these radar parameters are needed. In this
work, we discuss some properties of a convective cloud system, as observed from the CLA X
band dual polarization and Doppler weather radar, with data gathered from GPM-2010
campaign, as part of CHUVA Project, happened at Alcântara, Maranhão, in the CLA campus.
The results show that despite problems of strong attenuation due to propagation of radar beam,
when traveling within precipitation field, there is a good potential for analyzing cloud
convective patterns.

1 - INTRODUÇÃO
Radio Detection And Ranging – RADAR – quando aplicado à Meteorologia é um instrumento
importante para detecção de nuvens convectivas, associadas a tempestades, com amplo uso,
desde a primeira aplicação operacional nos Estados Unidos por ATLAS (1963), com um radar
Doppler Banda C (comprimento de onda de 5 cm). No Brasil, diversas aplicações dos sistemas
de radares meteorológicos Doppler demonstraram também o uso para tempestades severas.
Recentemente, os projetos de radares no Brasil incluíram a capacidade de transmitir e receber o
sinal tanto em polarização no sentido horizontal como no sentido vertical (BRING E
CHANDRAESKAR, 2001), característica adicional ao sistema Doppler. Em particular, o

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Comando da Aeronáutica, adquiriu um sistema Banda-X Doppler de Dupla Polarização para
equipar o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), com características para atender os
objetivos operacionais do Centro, tais como detectar todo sistema precipitante e vento nas
imediações da plataforma de lançamento, bem como alertar sobre sistemas precipitantes que
irão atingir a região e que causam transtornos às manobras operacionais.

Este trabalho apresenta uma análise das características de um sistema precipitante, formado no
dia13 de março de 2010, sobre o estado do Maranhão, que provocou muita chuva no CLA,
através da interpretação dos parâmetros de polarização do radar meteorológico do CLA.

2 - MATERIAL E MÉTODOS
Os dados para a análise foram coletados durante a campanha meteorológica do Experimento
GPM-2010, parte do Projeto CHUVA (MACHADO, 2009), realizada em Alcântara e São Luís
no Maranhão, no período de 01 a 25 de março de 2010. Foram coletados dados com o Radar do
CLA, obedecendo tarefas de varredura e características do equipamento determinadas para o
referido experimento.
O radar meteorológico do CLA, da série EEC DWSR-2001X-SDP, foi projetado com
processamento Doppler e dupla polarização, permitindo a transmissão na frequência de Banda
X (9GHz) e comprimento de onda de 3cm, nos sentidos vertical e horizontal simultaneamente.
Consequentemente, os parâmetros de polarização PhiDP (variação de fase diferencial), rhoHV
(correlação linear entre os canais ortogonais de polarização linear), KDP (diferença específica
de fase) e ZDR (fator de refletividade diferencial) são obtidos com o radar do CLA.
Para a avaliação dos dados volumétricos, utilizou-se o aplicativo EDGE de processamento e
controle do radar meteorológico do CLA (EEC, 2008). A estratégia de operação realizada na
campanha consistiu de ciclos de 11 varreduras azimutais (sweeps) com PRF de 800 Hz, cada
uma para uma elevação, respectivamente para 0,5, 1,5, 2,5, 3,5, 4,5, 5,5, 6,5, 8,0, 10,0, 12,0 e
90,0 graus, onde a última de 90 graus foi realizada para efeitos de calibração, não sendo
necessárias numa rotina operacional. Após cada ciclo de 11 varreduras, realizou-se uma
varredura vertical mantendo-se o azimute fixo em 141,2 graus. Esta foi uma configuração de
amostragem realizada especificamente para o experimento GPM-2010, onde outros sensores
para medições diversas foram distribuídos na radial do radar, correspondente ao azimute 141,2
graus.
Os dados volumétricos contêm os momentos espectrais referentes ao fator refletividade de radar
não-corrigido, U e corrigido para vários fatores (atenuação, alvos espúrios e outros), Z; fator de
refletividade diferencial, ZDR; velocidade Doppler radial, V; largura espectral de velocidade, W;
KDP e rhoHV. A partir destes parâmetros foram gerados diversos produtos gráficos, como PPI,
CAPPI, VAD, VVP, UWT, RHI, ETOPS, HMAX, XSEC, VIL, SRI, entre outros.

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O trabalho refere-se à avaliação de propriedades físicas de uma formação com nuvem fria,
observada no dia 13 de março de 2010, como variação em tipo, intensidade, deslocamento,
orientação, atenuação do sinal eletromagnético, conteúdo de água líquida e as características de
polarização, conforme descritos em SILVEIRA ET. AL. (2011).

3 - RESULTADOS
A data escolhida para análise é o dia 13 de março de 2010, às 06:43 UTC, quando nuvens
convectivas com grande extensão vertical (acima de 10km) foram detectadas pelo radar. Tais
formações tiveram origem na tarde do dia anterior na região central do Brasil e propagaram-se
até o Maranhão.
Observa-se na figura 1, através do RHI correspondente ao azimute 141,2, a estrutura vertical do
sistema de nuvem fria. A figura ilustra os tipos de hidrometeoros dentro da nuvem, embora com
possível sinal de atenuação (ausência de dados na região) no interior do sistema, uma vez que
observou-se a variação rápida de intensidade de 40 dBZ a 18 dBZ dentro da mesma área que
contém o complexo de nuvens. Ainda sobre as características dentro desta formação, podemos
observar a camada de degelo e as alterações em ZDR e rhoHV (faixa horizontal azul clara na
altura de 5 km). Por outro lado, o campo de velocidade radial Doppler indica correntes
descendentes (valores positivos) e ascendentes (valores negativos) nas camadas da nuvem,
conforme o modelo apresentado na ilustração da figura 1 (inferior, à direita). Além destas
observações, foram realizados cortes verticais em diferentes azimutes (corte vertical não
mostrado) que resultaram em valores de ZDR de -2 a +2 dB, indicando a presença de gotículas
(valores mais baixos e negativos) a gotas de água com presença de gelo (valores mais altos e
positivos), conforme ilustrado na figura 2. Outras características foram observadas nos campos
da refletividade em conjunto com a velocidade radial Doppler, destacando-se o movimento
vertical das partículas abaixo (corrente descendente) e acima (corrente ascendente) da camada
de degelo, conforme aparece na secção vertical da figura 2, relativa a rhoHV. Nesta camada,
bem como nas camadas superiores da nuvem, mais associadas a cristais de gelo, surge
decorrelação, devido a partículas heterogêneas na região.
A análise dos parâmetros de polarização, ilustrados nos gráficos na parte superior da figura 1,
indicam que chuva observada foi intensa, como observado nos valores de refletividade,
atingindo a 50 dBz em alguns pontos e também pela brusca alteração na variação de fase
diferencial, PhiDP, com valores iniciais de 100 a 150 graus e mudanças bruscas a valores
negativos. Por outro lado, o coeficiente de correlação varia de valores próximos a um para
valores pequenos (0,2 a 0,1), indicando que as gotas no interior da nuvem alteram-se de gotas
aproximadamente esféricas a formas elípticas e achatadas, ou mesmo pedaços de gelo, conforme
indicam os valores de ZDR, o qual varia de 0 (gotas pequenas) a 4 (chuva forte, granizo, neve).
Ressalta-se ainda a forte atenuação do sinal após o alcance de 40 km do radar.

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Figura 1: PPI e parâmetros de polarização (acima). Abaixo tem-se o RHI para o dia 13 de
março de 2010 às 06:43 UTC, para o azimute de 141,2 graus (esquerda) e representação
conceitual do movimento vertical do ar dentro de uma nuvem convectiva (direta).

Figura 2: secção vertical plana dos dados volumétricos do dia 13.03.2010, às 06:43 UTC. À
esquerda, refletividade Z (dB) (acima) e velocidade radial Doppler. À direita, fator de
refletividade diferencial ZDR (acima) e coeficiente de correlação linear, rhoHV (abaixo).

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4 - CONCLUSÕES
A análise dos dados revelaram problemas intrínsecos à detecção na frequência Banda X, quanto
à atenuação por chuva, conforme indicado pelos parâmetros de polarização, podendo atingir
12dB em uma viagem através de uma tempestade com taxa de precipitação de 100 mm/h.
GUNN e EAST (1954) apresentam valores da ordem de 0,05 dB/km/(g/m3) para propagação da
radiação na Banda-X (3,2 cm) dentro de nuvem com água, para uma única viagem da radiação
de microondas na Banda X (3,2 cm). No entanto, apesar deste problema, foi possível extrair
importantes características do sistema convectivo observado, tais como a intensidade do
sistema; a grande extensão vertical (com topos acima de 12km); a circulação de partículas no
interior da nuvem, através da observação das características de polarização; a camada de degelo,
identificada nos perfis verticais ZDR e rhoHV e os estágios de formação da nuvem convectiva.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CLA pela realização da Campanha GPM-2010 e pelos dados do radar
e ao Dr. Luiz Augusto Toledo Machado, do CPTEC-INPE, pela organização do Projeto
CHUVA e por proporcionar a coleta de dados do radar durante o experimento. Os autores
agradecem ainda a Divisão de Ciências Atmosféricas, DCA, do IAE pelo apoio ao estudo,
através do Projeto Identificação de Condições Atmosféricas com o radar do CLA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATLAS, D., 1963: Radar Analysis of Severe Storms. Meteor. Monogr., 5, Amer. Meteor.
Soc., 177-220.
BRING, V.N. and CHANDRAESKAR, V. 2001: Polarimetric Doppler Weather Radar,
Cambridge Uni Press.
EEC, 2008: Enterprise Doppler Graphics Environment Manual, Enterprise Electronics
Corporation.
GUNN, R. and EAST, T.W.R., 1954: The microwave properties of precipitation particles.
Quart. J. Roy. Meteor. Soc., 80, 522-545.
MACHADO, L. A. T, 2009: CHUVA-Cloud Processes of The Main Precipitation System in
Brazil: A contribuition to Cloud Resolving Modeling and to the GPM, Projeto Temático
FAPESP, http://chuvaproject.cptec.inpe.br.
SILVEIRA, R.B, BENETI, C.A.A., CALVETTI, L. e LASS, M.Z, 2011: Treinamento em
interpretação de imagens do Radar Meteorológico do CLA, Convênio IAE-
ACA/SIMEPAR Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico para Identificação de Condições
Atmosféricas, São José dos Campos, SP.

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