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OSTENSIVO CIAW-326

Capítulo 3
Sistemas Radar

3.1 – Introdução

Este capítulo aborda os diversos sistemas radar em uso. A apresentação será feita em função
das formas de onda por eles geradas, de acordo com suas arquiteturas, tecnologias e forma de
emprego. Serão tecidos comentários adicionais sempre que necessários.

Primeiramente, vale mencionar que uma distinção entre radares pode ser feita considerando-
se as formas de onda utilizadas pelos sistemas radar, uma vez que para obter-se vários tipos de
informações, deve-se usar diferentes técnicas para otimizar a coleta do tipo de informação
desejada. Desse modo, os sistemas radar podem ser classificados de acordo com a forma de
onda ou modo de operação que é empregado no radar. As categorias básicas de radar em
função da forma de onda são:
 CW (“Continuous Wave”)
 FM-CW (“Frequency Modulated, Continuous Wave”)
 Pulsado
 Doppler Pulsado.

3.2 - Sistema CW

Um radar CW utiliza o efeito doppler para medir velocidade e é basicamente usado quando se
deseja que esta informação não seja ambígua. Radares CW são normalmente dispositivos para
detectar alvos singelos e são usados principalmente para:

 guiagem de míssil (seus transmissores são chamados de iluminadores CW, uma vez que
eles sempre “iluminam” os alvos com seu pulso transmitido);
 medir velocidade, tais como radares de polícia e radares de instrumentação; e
 detectar pessoas.

3.2.1 - Iluminadores CW

Este tipo de transmissor radar é caracterizado por ser de baixo ruído. No modo de operação de
guiagem CW, um míssil é guiado pela informação de freqüência doppler do sinal refletido
pelo alvo, devida à velocidade relativa entre o alvo e o míssil. Como os deslocamentos
doppler são usualmente menores do que 100kHz, é extremamente importante transmitir um
espectro de sinal doppler “limpo”; caso contrário, qualquer instabilidade no sinal transmitido
pode parecer um alvo (falso) o qual pode ser confundido com o verdadeiro sinal doppler do
alvo. Um iluminador geralmente codifica sua modulação, de forma que o míssil possa receber
dados, com segurança, de um controlador localizado numa plataforma qualquer distante do
míssil. Dois diagramas de blocos típicos para iluminadores CW são mostrados na figura 3.1.

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Figura 3.1 – Diagramas de blocos para iluminadores CW

3.2.2 - Radar de Medição de Velocidade

Um diagrama de blocos típico de um radar que mede velocidade é mostrado na figura 3.2. No
caso de radares usados pela polícia, o sinal transmitido é misturado com o sinal do oscilador
local para gerar uma freqüência diferença que é dependente da velocidade do alvo móvel. A
freqüência diferença é simplesmente medida e convertida para um valor de velocidade
relativa.

Figura 3.2 – Diagrama de blocos de um sistema radar que mede velocidade

Os radares CW para detecção de pessoas são muito semelhantes aos radares de polícia, exceto
que fones de ouvido podem ser usados para detectar freqüências doppler ao invés de um
medidor, já que neste caso as freqüências doppler são audíveis.

Radares para medir taxa de inclinação operam de modo similar, exceto que eles detectam a
relação de fase de um alvo que está se aproximando empregando dois canais receptores e
sinais em quadratura do oscilador local.

A potência transmitida é geralmente menor do que um watt, tanto nos radares da polícia,
quanto para radares de detecção de pessoas e radares para medir taxa de inclinação.
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Os radares CW, mesmo usando duas antenas, são menores do que os radares pulsados, e
podem operar contra alvos muito próximos. Os sistemas CW são, de alguma forma, limitados
em potência uma vez que o ruído do transmissor devido ao acoplamento entre as antenas afeta
a sensibilidade do receptor.

3.3 - Sistemas FM-CW

Sistemas FM-CW são aqueles que medem tanto a distância quanto a velocidade de um alvo.
O espectro transmitido é "alargado" devido a modulação em freqüência da portadora. Pode-se
determinar a distância, em termos de freqüência, medindo-se a diferença entre as freqüências
transmitida e recebida conforme mostrado na figura 3.3 (para um alvo mais perto (A) do que
outro (B)). A diferença de freqüência é diretamente proporcional a duas vezes a distância
radar-alvo A modulação pode também ser linear em apenas uma direção, como numa forma
de onda “dente de serra”.

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Figura 3.3 – Diagrama de blocos de um sistema radar FM-CW (A e B ilustram situações


de alvo mais perto e mais distante do radar)

Quando somente a informação de distância é desejada e o alvo é estacionário (como, por


exemplo, quando se utiliza um radar altímetro), a modulação não precisa ser linear (ver figura
3.3) mas sim senoidal, já que apenas a média das freqüências diferença é necessária para
produzir um valor aceitável de distância.

Para alvos em movimento, o eco inclui deslocamento doppler em freqüência. Esta informação
pode ser usada por radares doppler de navegação onde ambas as informações, altitude
(distância) e velocidade (deslocamento doppler), são necessárias. Quando se deseja
informação de deslocamento doppler, é necessário realizar modulação linear para obter uma
medida acurada do deslocamento. A figura 3.4 ilustra as diferenças de freqüência num
exemplo onde a freqüência do eco é afetada por uma freqüência doppler positiva.

Figura 3.4 – Diferenças de freqüência causadas por efeito doppler em radares FM-CW

A freqüência doppler positiva terá um efeito na freqüência diferença recebida, e será


observado um menor deslocamento total em freqüência se a modulação em freqüência estiver
na direção crescente da freqüência. Quando a modulação está na direção decrescente, o efeito
doppler positivo irá aumentar o deslocamento total em freqüência. Caso o radar seja
implementado com circuitos capazes de medir cada freqüência diferença, F 0 + fd e F0 - fd,
então a diferença entre as duas freqüências é o dobro do deslocamento doppler e pode ser
usada para medir velocidade.

A figura 3.5 é um diagrama de blocos simplificado de um radar FM-CW que pode extrair a
freqüência diferença média (distância) bem como o deslocamento doppler em freqüência
(velocidade). Os sistemas radar FM-CW têm sido usados para detecção de alvos singelos,
uma vez que é difícil separar alvos por discriminação de freqüência e apresentá-los
referenciados no tempo.

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Figura 3.5 – Diagrama de blocos de um radar FM-CW que mede distância e velocidade

Atualmente, o desenvolvimento de radares tem se beneficiado dos avanços em processamento


digital de sinal. Um exemplo de tais avanços são os radares de navegação de curto alcance,
com resolução em distância adequada e capazes de operar com níveis de potência muito
baixos (alguns poucos watts), utilizando transmissores relativamente simples. Com baixa
potência de saída, a LPI (baixa probabilidade de interceptação) do radar torna-se um atrativo
para uso militar. Uma desvantagem do radar FM-CW é a necessidade de duas antenas
(transmissão e recepção), o que acarreta aumento de tamanho e de peso no sistema.

Outro método usado para obter-se informação de distância num radar CW é expandir o
espectro transmitido para mais de uma freqüência transmitida. Se dois sinais são transmitidos,
sua relação de fase varia em função da distância, e os radares podem ser projetados para medir
distância por meio de uma medida acurada de fase. Os radares do tipo freqüência dual são
apropriados para levantamento geográfico.

3.4 - Sistemas Pulsados

Os primeiros sistemas radar eram do tipo pulsado, assim como quase todos os radares usados
durante a Segunda Guerra Mundial. A maioria dos radares hoje em operação usa esta mesma
técnica sem nenhuma alteração significativa.

3.4.1 - Elementos de Modulação de Pulso

Um radar pulsado pode ser considerado como uma expansão de um radar CW cuja largura de
banda do espectro transmitido é aumentada devido a modulação de pulso. A modulação de
pulso é geralmente aplicada, conforme ilustrada na figura 3.6, numa taxa periódica conhecida
por Freqüência de Repetição de Pulso (FRP).

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Figura 3.6 – Termos usados na modulação de pulso

A potência de saída de um radar pulsado está relacionada tanto com a largura de pulso quanto
com a FRP. A potência de pico de saída, P o (representada na figura 3.6), relaciona-se com a
potência média de saída pelas seguintes relações:

Largura de pulso x FRP = Fator de trabalho

Potência de pico na saída x Fator de trabalho = Potência média na saída

O espectro transmitido mostra a distribuição de energia nas bandas laterais da FRP e a relação
da largura de pulso () com a largura do espectro transmitido. A figura 3.7 ilustra o espectro
de freqüências de um radar pulsado. Portanto, de posse do espectro em freqüências de um
radar pulsado pode-se extrair a sua freqüência central de operação (freqüência da portadora), a
largura dos pulsos transmitidos e ainda a freqüência de repetição de pulsos (FRP).

Figura 3.7 – Espectro de freqüências de um radar pulsado.

A vantagem básica de um radar pulsado é que ele fornece um intervalo de tempo durante o
qual a medida de distância pode ser realizada medindo-se o tempo que o sinal leva para ir até
o alvo e retornar. Conforme mencionado anteriormente, se for transmitido apenas um pulso,
qualquer distância medida (em termos de tempo) é sem ambigüidade. Entretanto, tão logo um
segundo pulso seja transmitido, a não ambigüidade em distância é limitada ao período de
tempo entre os pulsos.

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Por exemplo, um radar com PRF de 1000Hz e uma largura de pulso de 1 microsegundo tem
um intervalo entre pulsos de 999 microsegundos. Sabendo-se que um sinal radar se propaga
na taxa de 1 milha náutica a cada 12,34 microsegundos, então 81 milhas náuticas (999/12,34)
podem ser medidas antes do próximo pulso ser transmitido. Esta é a máxima distância que
pode ser medida sem ambigüidade pelo radar. A figura 3.8 apresenta um diagrama de blocos
de um sistema radar pulsado típico.

Figura 3.8 – Diagrama de blocos de um radar pulsado não coerente.

Um radar produz um pulso excitando uma válvula de potência em microondas (transmissor)


com um pulso de tensão gerado por um modulador. O modulador de tensão é temporizado por
um oscilador contínuo (temporizador) o qual gera pulsos temporizados para o modulador e
para o display. O transmissor aplica pulsos de RF na antena através do duplexador na taxa da
FRP. O sinal de eco é guiado através do duplexador para o receptor superheteródino onde é
detectado (detector) como um pulso, amplificado (amplificador de vídeo) e aplicado ao
display. O pulso de temporização inicia uma varredura no tubo de raios catódicos do display
e, o eco, ao chegar, modula tal varredura no instante que corresponde à distância radar-alvo.
Este é o princípio do radar pulsado, o qual fornece informação de distância e, uma vez
conhecida a direção da antena, provê também a informação de azimute do alvo. No caso da
figura 3.8, utiliza-se um detector de envoltória, similar aos usados em rádios AM. Portanto, a
informação de fase é perdida ao longo do processo de detecção (radar não coerente).

3.4.2 - Chaveamento entre Transmissão e Recepção

Um sistema radar pulsado pode usar apenas uma antena conectada a um duplexador.
Duplexadores são dispositivos capazes de chavear rapidamente a antena conectando-a ora a
um transmissor, durante a transmissão do pulso, e ora a um receptor, durante o período entre
pulsos. Os duplexadores para radares pulsados são chamados de válvulas TR e ATR e a ação
de chaveamento é realizada pela ionização e deionização dos gases em seu interior. Os tempos
de ionização e recuperação de tais válvulas têm um papel importante na definição da distância
mínima mensurável e na sensibilidade do receptor. Dispositivos a base de ferrite ou de estado
sólido têm sido usados em sistemas radar substituindo as válvulas a gás TR e ATR.

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3.4.3 - Considerações sobre o alcance mínimo

Alguns sistemas radar precisam “enxergar” alvos muito próximos a eles. Existem limitações
para a distância mínima que pode ser medida quando utiliza-se forma de onda pulsada e
mede-se o tempo decorrido entre o pulso transmitido e o sinal recebido. A largura de pulso é
uma das limitações, uma vez que o receptor não pode receber um eco até que o pulso
transmitido seja finalizado (quando então o transmissor estará desligado e o receptor
habilitado). Outra limitação é o tempo requerido para ligar o receptor após o transmissor ter
sido desligado. Este tempo é chamado de tempo de recuperação e depende do desempenho do
chaveamento das válvulas TR e ATR (ou de quaisquer outros dispositivos usados para o
mesmo fim) no duplexador.

A distância mínima pode ser calculada como uma função da largura de pulso, ou seja, c/2
(onde c = velocidade da luz,  = largura do pulso), uma vez que o sinal se propaga a partir do
flanco de subida do pulso transmitido. Por exemplo, um pulso de 1 microsegundo limita a
distância mínima a 16,4m. Em outras palavras, durante um pulso de 1 microsegundo, a
energia do pulso (a partir de seu flanco de subida) percorre 16,4m enquanto o transmissor
ainda está ligado. Se for necessário mais 1 microsegundo para o processo de chaveamento, a
distância mínima aumenta para 32,8m.

Um sistema radar para curto alcance usa largura de pulso estreita e seu receptor tem um
tempo de recuperação muito pequeno. Para obter-se tempo de recuperação ainda menor, deve-
se empregar antena receptora separada e isolada da transmissora, de forma a se poder eliminar
os dispositivos de chaveamento.

3.4.4 – Produto largura de banda x largura de pulso

O produto “largura-de-pulso x largura-de-banda” é a figura de mérito que traduz o


desempenho do radar no que diz respeito a maximização da SNR aliada a uma alta fidelidade
na recepção do pulso transmitido. A seguir, serão tecidas algumas considerações matemáticas
sobre o produto “largura-de-pulso x largura-de-banda” com o objetivo de avaliar o seu efeito
no desempenho de receptores radar.

O estágio de amplificação de FI do receptor radar deve ter uma largura de banda


suficientemente larga para permitir a recepção de pulsos estreitos. Entretanto, se a largura de
banda do estágio de amplificação de FI for muito grande, haverá a passagem de ruído em
excesso.

A figura 3.9 apresenta um trem de pulsos retangulares e seu respectivo espectro de


frequências.

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Figura 3.9 – Trem de pulsos retangulares e seu espectro de frequências

Um pulso radar retangular é matematicamente representado por uma tensão senoidal Ec cos
(2fct) “fatiada” em pulsos de duração o, que se repetem a uma taxa de fr pulsos/segundo. O
espectro de frequências resultante consiste de uma série de componentes espectrais espaçadas
em frequência pela taxa de repetição, e centrada na frequência da portadora fc. As amplitudes
dessas componentes espectrais variam conforme a função (senx)/x. A amplitude da
componente centrada na frequência fc é froEc volts de pico. Cada componente é uma senóide
distinta e não somente uma abstração matemática. Um receptor banda estreita sintonizado em
qualquer uma das componentes encontraria uma onda contínua, não modulada. Por definição,
se todas as componentes espectrais fossem somadas elas produziriam os pulsos originais.

É necessário um número infinito de componentes para representar um pulso retangular


perfeito. Suponha que somente as componentes dentro de uma banda de frequência retangular
com largura f, centrada em fc, sejam selecionadas e as restantes sejam rejeitadas 1. A
amplitude do pulso resultante (no centro do pulso) pode ser obtida pela soma dessas
componentes espectrais, conforme a equação (3.1).

(3.1)

Onde:

1
Idealmente, assume-se um amplificador de FI de banda passante retangular. Ganho constante e deslocamento
de fase linear dentro da banda passante resultam em componentes sem distorção dentro da banda, mas com
retardo. Entretanto, este filtro ideal não pode ser fisicamente realizado (uma vez que pode-se demonstrar que sua
resposta ocorre antes da excitação!). Na prática, os filtros normalmente se aproximam desta resposta retangular,
e portanto, é freqüentemente comum assumir o filtro ideal devido a simplificação dos cálculos.

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Quando o número de componentes a serem somadas é grande, o somatório pode ser


aproximado por uma integral (note que fr é o espaçamento entre as componentes), conforme a
equação (3.2).

(3.2)

Onde:

Por exemplo,
se Correspondente a uma largura de banda
infinitamente larga

se Para uma largura de banda ótima

A figura 3.10 apresenta a integral de (senx)/x (proporcional a variação de amplitude do pulso


recebido) como função de x = .

Figura 3.10 - As integrais de (senx)/x e de (sen2x)/x2 como uma função de x.

Sabe-se que a potência de ruído interceptada pelo amplificador de FI é dada pela equação
(3.3).

(3.3)

Onde:
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k = constante de Boltzmann;
T = temperatura em graus kelvin;
f = largura de banda em ciclos/seg; e
= figura de ruído

A equação (3.3) mostra que a potência do ruído é proporcional a largura de banda f. Uma
vez que a potência é proporcional ao quadrado da tensão, então a tensão do ruído aumenta
com a . Esta proporcionalidade é mostrada como uma linha reta na figura 3.10. Note que
tanto para < 1,2 quanto para > 1,2, a tensão de ruído é maior do que a tensão do
pulso. Desse modo, deverá ser igual a 1,2 para uma máxima relação sinal-ruído na
saída do amplificador de FI. Quando = 0,5 ou 3, a relação sinal-ruído é reduzida de 3
dB a partir do valor ótimo, o que causa o mesmo efeito no alcance radar quando se reduz pela
metade a potência transmitida.

A figura 3.11 mostra as formas de onda na saída do amplificador de FI para vários valores de
. À medida em que a largura de banda diminui, os pulsos tornam-se menores, porém
mais largos. Embora a tensão de pico do pulso diminua proporcionalmente com a largura de
banda para < 0,5, a potência do pulso não diminui proporcionalmente com o quadrado
da largura de banda, mas diretamente com a mesma.

Figura 3.11 – Distorção do pulso para amplificadores com diferentes larguras de banda.

Embora a relação entre o sinal de pico e a média do ruído diminua quando a largura de banda
é reduzida, a relação entre o sinal médio e a média do ruído não diminui. Isto sugere que a
largura de banda de FI pode ser bastante estreita e a relação SNR resultante do amplificador
de FI continuará a ser satisfatória para a detecção de alvos (neste caso a saída, no domínio do
tempo, tenderá a ser um sinal contínuo e não mais pulsado). A potência média contida nas
componentes espectrais dentro da largura de banda pode ser calculada somando-se as
potências de cada linha espectral: 2

(3.4)

(3.5)

2
Assume-se que o sinal incide sobre uma resistência R arbitrária.
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Onde:
se

se

A figura 3.10 apresenta a integral de (sen2x)/x2 proporcional a variação da potência média do


pulso recebido, como função de x = .

3.4.5 - Compressão de Pulso

Pode-se aumentar a potência média transmitida por um radar (para aumentar sua capacidade
de detecção em distância) aumentando-se o comprimento do pulso transmitido. Contudo,
quanto maior a largura de pulso, menor a capacidade de resolução em distância do radar. Para
aumentar a largura de pulso sem comprometer a resolução em distância, emprega-se uma
técnica que comprime um pulso longo, tornando-o um pulso estreito no receptor. Esta técnica
é chamada Compressão de Pulso.

A resolução de um radar não depende necessariamente da duração do pulso transmitido mas


sim da largura de banda do pulso. Para um pulso retangular simples, a largura de banda é 1/T,
onde T é a duração do pulso.

Entretanto, manipulando-se a freqüência e/ou fase dentro do pulso, pode-se alterar sua largura
de banda sem mudar sua duração. Ou seja, a resolução radar pode ser alterada
independentemente da potência média transmitida. Esta manipulação do pulso é conhecida
por codificação de pulso, ou simplesmente por modulação de pulso. A compressão de pulso
refere-se a um conjunto de técnicas usado para aumentar a largura de banda dos pulsos radar
visando aumentar a resolução, bem como aumentar o alcance radar pela transmissão de pulsos
com maior duração (e, obviamente, com valores de potência média maiores). A distância não
ambígua é também, usualmente, aumentada.

Para efeitos didáticos e sem comprometer a realidade, a compressão de pulso pode ser
realizada ou por modulação em frequência ou por codificação de fase do sinal de RF durante
o pulso. A figura 3.12 ilustra a compressão de pulso por codificação em freqüência, onde um
pulso é formado por segmentos de pulso (pulsos elementares) e cada segmento possui uma
frequência de RF distinta.

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Figura 3.12 – Diagrama ilustrativo de compressão de pulso (codificação em freqüência)


(a) composição do pulso (b) codificação em freqüência (c) característica de retardo da
linha de retardo (d) compressão de pulso (e) diagrama de reconstrução de dois ecos
parcialmente superpostos

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Na realidade, a compressão de pulso por modulação em frequência é usualmente linear


(também chamada “chirp”) e é realizada modulando-se linearmente o sinal de RF durante a
geração do pulso. O eco recebido deve ser comprimido, passando-o através de uma linha de
retardo cuja velocidade de propagação seja função da freqüência. Deste modo, os sinais de RF
são “empilhados” no domínio do tempo para formar um pulso mais estreito. A figura 3.13
apresenta um diagrama de blocos típico de um radar de compressão de pulso por modulação
em frequência.

Figura 3.13 – Diagrama de blocos de um radar de compressão de pulso (FM linear).

A técnica de compressão de pulso envolve as formas de onda mostradas na figura 3.14 (estas
mais reais do que as apresentadas anteriormente na figura 3.12). A largura de pulso efetiva é
comprimida para uma largura de pulso de 1/f e a potência de pico instantânea é acrescida por
um fator de .

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Figura 3.14 – Parâmetros do radar de compressão de pulso (FM linear "real").

O hardware necessário para a compressão de pulso acrescenta complexidade e custo ao


sistema radar. Altas taxas de compressão de pulso requerem componentes com bandas mais
largas, tais como válvulas transmissoras, e deve-se tomar cuidado para garantir que a forma
de onda seja acuradamente reproduzida uma vez que ela é amplificada no transmissor. Caso a
característica “freqüência versus tempo” da forma de onda transmitida não seja exatamente a
recíproca da característica “freqüência versus tempo” da linha de retardo, surgirá um aumento
nas bandas laterais temporais do pulso comprimido acarretando o aparecimento de alvos
espúrios.

Atualmente, radares de compressão de pulso FM linear operam com mais de 1000 MHz de
largura de banda; isto equivale a 15cm de resolução em distância. Com este nível de
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resolução, radares podem “olhar” para determinadas seções de um alvo com o intuito também
de estabelecer a assinatura radar do mesmo.

A compressão de pulso pode também ser realizada empregando-se técnicas de modulação de


fase onde um pulso é formado por segmentos de pulso (pulsos elementares) e cada segmento é
codificado em fase. A figura 3.15 ilustra a compressão de pulso por codificação em fase,
também de forma didática.

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Figura 3.15 – Diagrama ilustrativo de compressão de pulso (codificação em fase)


(a) composição do pulso (b) codificação em fase (visão da portadora) (c) circuito de
compressão (ilustrativo) (d) eco na entrada do circuito de compressão (e, f) dinâmica da
compressão
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Um exemplo real de codificação de fase é o emprego do código binário BARKER 13, um dos
códigos mais amplamente utilizado, até recentemente, para melhorar a resolução em distância
de sistemas radar. A dinâmica da composição do sinal em pulsos elementares, sua
decodificação e sua posterior reconstrução é ilustrada na figura 3.16.

Outros códigos mais complexos também podem ser usados, tal como o código Frank, o qual é
quadrafásico e seus pulsos são codificados em variações de 90.

Cumpre salientar que códigos binários apresentam baixo desempenho e lóbulos laterais
temporais quando o sistema radar ilumina alvos com grandes deslocamentos doppler. Isto
ocorre porque o eco doppler de um alvo altera substancialmente a codificação de fase e, em
casos extremos, as fases, no fim do código, são deslocadas de até 180. Estes valores de
doppler são decorrentes das chamadas velocidades críticas, nas quais a amplitude de lóbulo
principal é seriamente reduzida enquanto que os lóbulos laterais temporais aumentam
consideravelmente.

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Figura 3.16 – Compressão digital de pulso – código BARKER 13.

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3.4.6 - Agilidade de freqüência

Um alvo pode ser considerado como um conjunto de refletores pontuais nos quais a amplitude
da onda refletida depende das relações de fase entre as reflexões oriundas de cada um dos
refletores pontuais. Caso seja possível iluminar o alvo com um número suficiente de
irradiações em diferentes freqüências, visando obter diversas combinações de fase, o
somatório dessas irradiações resultará num eco mais nítido do que aquele que seria obtido
caso o mesmo número de irradiações fossem obtidas a partir de uma única freqüência e
somadas da mesma maneira.

Esta é a razão do uso e implementação de agilidade de freqüência, cujo propósito, como dito,
é o aumento da capacidade de detecção de um sistema radar. Um outro motivo para empregar-
se agilidade de freqüência é tornar o sistema radar resistente a contramedidas eletrônicas.

Radares com agilidade de freqüência não necessitam, obrigatoriamente, de uma grande


largura de banda. Isto significa que, para melhorar a capacidade de detecção é necessária
apenas uma pequena alteração na freqüência; alteração esta conhecida como “dithering”.

Existem alguns critérios práticos para se estimar quanto de agilidade se precisa para obter
uma melhora de desempenho.

 Para alvos grandes, se comparados com a resolução de uma célula radar, a alteração de
freqüência requerida para obter-se uma melhora na detecção é aproximadamente igual ao
recíproco da largura de pulso. Deste modo, um sistema com uma largura de pulso de 0,5
microsegundos requer somente 2 MHz de agilidade de freqüência para melhorar seu
desempenho.

 Se o tamanho do alvo for menor do que a célula de resolução do radar, a alteração de


freqüência requerida, em MHz, é um número próximo a 150/D, onde D é a máxima
dimensão do alvo, em metros. Desse modo, um alvo de 5 metros requer 30 MHz de
agilidade de freqüência.

 A alteração da freqüência não precisa ser periódica ou aleatória. A única regra aplicável é
que o período de integração deverá incluir, no mínimo, 20 pulsos com sua freqüência
deslocada pelo valor máximo de agilidade de freqüência aplicável.

Usualmente são atingidas melhoras de 6 a 10 dB na detectabilidade de sistemas radar devido a


agilidade de freqüência. Não é difícil gerar transmissões com agilidade de freqüência usando-
se transmissores do tipo coerente, conforme mostrado na figura 3.17. Entretanto, em
transmissores que empregam magnetron, o oscilador local deve seguir o deslocamento da
freqüência transmitida, problema que requer hardware complexo e osciladores locais de banda
larga.

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Figura 3.17 – Diagrama de blocos de um sistema radar coerente: alterando-se o


oscilador coerente tem-se variação de freqüência (agilidade).

Um outro parâmetro de interesse, no que diz respeito ao aumento do desempenho de detecção


de um sistema, é a agilidade de polarização. Entretanto, a melhoria no desempenho de
detecção de um sistema devido a agilidade de polarização é sempre menor do que 3 dB.

3.4.7 - Coerência de fase

Para detectar um alvo, o radar não depende somente de um único eco, mas sim da integração
(ou somatório) de um número pré-definido de ecos. Num radar pulsado convencional, os
pulsos recebidos são integrados usando-se um tubo de raios catódicos (CRT) com
persistência. Neste caso, o tubo de raios catódicos atua como um dispositivo de
armazenamento de informação do alvo. Em radares mais avançados, a informação nem
sempre é mostrada num CRT e um outro tipo de dispositivo de armazenamento é usado para
integrar a informação. A integração de sinais pode ser realizada ou na freqüência de FI (antes
do segundo detector) ou na freqüência de vídeo (após o segundo detector). Se a integração é
realizada na freqüência de FI, ela é chamada de integração pré-detecção ou integração
coerente. Se a integração é realizada após o segundo detector, ela é chamada de integração
pós-detecção ou integração não-coerente. A figura 3.18 ilustra os 2 tipos de integração de
sinais.

Figura 3.18 – Integração coerente e não-coerente.

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O motivo de se chamar integração não coerente advém do fato que uma vez que a saída do
segundo detector é um envelope retificado do pulso, a informação de fase é perdida e a
integração somente pode ser realizada no pulso de vídeo. Além disto, o segundo detector pode
introduzir ruído devido a não-linearidades inerentes, e com isso reduzir a eficiência da
integração.

O integrador coerente preserva a informação de fase e não sofre alteração na relação S/N
devido ao segundo detector; isto o torna um integrador muito melhor. O integrador coerente
requer a preservação de fase do sinal recebido pulso a pulso, o que por sua vez requer um
sinal de referência coerente para manter a relação de fase entre os sinais transmitidos. No caso
de manter-se todas as outras variáveis da equação radar inalteradas, um sistema de detecção
coerente (figura 3.17) pode obter distâncias de detecção maiores do que um sistema de
detecção não-coerente e, além disso, também fornecer medidas de freqüências doppler.

Alguns sistemas radar podem incorporar sistemas de detecção coerente baseados em um único
pulso para medir informação doppler. Um sistema com transmissor do tipo magnetron (cuja
fase inicial pode ser diferente em cada pulso transmitido) pode ser adaptado para fornecer
informação doppler sincronizando a fase de um sinal de referência coerente com a de cada
pulso transmitido, conforme mostrado na figura 3.19.

Figura 3.19 – Diagrama de blocos de um radar coerente na recepção.

3.4.8 - Cancelador com linha de retardo (MTI e AMTI)

Alguns radares são projetados para processar apenas alvos móveis, como, por exemplo,
radares de controle de tráfego aéreo. Alvos fixos podem ser efetivamente eliminados por uma
técnica conhecida como MTI (Indicação de Alvos Móveis). Esta técnica tira vantagem do
efeito que o movimento relativo de um alvo tem sobre o sinal radar refletido. Os alvos fixos
são refletidos na mesma freqüência dos sinais transmitidos enquanto que as reflexões de alvos
móveis experimentam o efeito do deslocamento doppler.

Os alvos fixos podem ser considerados como as componentes de um sinal DC e os alvos


móveis como as componentes de um sinal AC. Se, após a recepção, cada período entre pulsos
for atrasado no tempo de , tiver sua polaridade invertida, e for somado ao período

OSTENSIVO 3- 22 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

subsequente, então as componentes de alvo fixo são canceladas, deixando que as


componentes de alvo móvel se somem ou se cancelem de acordo com suas respectivas taxas
doppler. A figura 3.20 ilustra o processo de extração de informação de alvos móveis usando a
técnica de cancelamento com linha de retardo.

Sinais Doppler não cancelados


após diferentes varreduras

Figura 3.20 – Linha de retardo para indicação de alvos móveis.

Em radares que empregam detecção MTI, a informação de distância é "não ambígua" no


período entre pulsos. Entretanto, em radares pulsados, informações de velocidade tornam-se
ambíguas quando os alvos assumem as chamadas “velocidades cegas”, ou seja, quando suas
freqüências doppler correspondem a um valor idêntico ao da FRP ou a seus múltiplos (ver
figura 1.6). O número de “velocidades cegas” de um radar MTI pode ser reduzido
empregando-se PRFs diferentes ou “staggered” numa base de tempo compartilhada.

A função MTI em radares de aeronaves (AMTI) é mais complexa do que em radares de


localização fixa, uma vez que para radares de aeronaves todos os alvos têm algum
deslocamento de freqüência doppler. Portanto, deve-se aplicar uma freqüência de “correção”
doppler, variante no tempo, cujo objetivo é cancelar a componente de velocidade da aeronave,
da mesma maneira com que são cancelados os alvos fixos e clutter por radares fixos terrestres.

O problema torna-se mais complexo quando a freqüência de “correção” doppler aplicada


precisa ser alterada caso a antena do radar gire em torno da posição de vante. Isto porque o

OSTENSIVO 3- 23 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

deslocamento de freqüência doppler no sinal de eco varia com a direção de apontamento da


antena.

3.5 - Sistema Radar Doppler Pulsado

Radares doppler pulsados e radares MTI pulsados são sistemas muito similares; isto é, ambos
os sistemas tentam obter informações de distância e de velocidade. A diferença é que o radar
doppler pulsado extrai informações não ambíguas de velocidade dentro de um intervalo finito,
sacrificando seu desempenho no domínio do tempo, ou seja, apresentando informações
ambíguas de distância.

O radar MTI extrai informações não ambíguas de distância dentro de um intervalo finito,
sacrificando seu desempenho no domínio da freqüência, ou seja, apresentando informações
ambíguas de velocidade.

Muitos radares MTI não medem freqüência doppler, já que seu único objetivo é separar alvos
móveis de fixos. O radar doppler pulsado é projetado para extrair informações doppler com o
propósito de detecção e acompanhamento de alvos em ambientes eletromagneticamente
densos e em situações de altas taxas de aproximação.

Uma importante característica do sistema doppler pulsado é sua capacidade de detectar a


presença de freqüências ao invés de detectar ecos acima de um determinado nível de
amplitude. Esta característica torna o radar doppler pulsado capaz de detectar sinais cujas
amplitudes sejam muito próximas aos níveis de ruído. Radares doppler pulsados são
caracterizados por apresentarem:
 altas PRFs, geralmente no intervalo de 10 kHz a 300 kHz; e
 agilidade de PRF, para minimizar ambigüidades em distância.

A figura 3.21 mostra um exemplo típico de chaveamento de PRF para medir sinais ambíguos
no tempo e associá-los com o pulso correto transmitido.

Figura 3.21 – Chaveamento de PRF para medir distância.

As PRFs usadas apresentam relações numéricas entre elas, tais como 5 e 4 ou 18 e 19. Tais
relações são função dos limites de velocidades não ambíguas (para evitar “velocidades
OSTENSIVO 3- 24 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

cegas”) e do intervalo de distância não ambígua desejado. A figura 3.21 apresenta uma
relação entre duas PRFs e o intervalo máximo de distância não-ambígua.

A figura 3.22 apresenta um diagrama de blocos típico de um sistema doppler pulsado.

F0 F0 + FI
F0 + FI

F0 + FI + fd

FI + fd F0
FI F0 + FI + fd

fd

Figura 3.22 – Diagrama de blocos do radar doppler pulsado

3.6 – Radares de acompanhamento

A principal missão de um radar de acompanhamento é fornecer informação acurada de


distância, azimute e elevação do alvo. Esta informação é usada pelo sistema de armas ou pelo
sistema de guiagem de míssil.

O radar de acompanhamento inicia sua operação logo após o radar de busca ter detectado a
presença de um alvo e enviado sua designação inicial 2D (coordenadas aproximadas em
azimute e em distância) para o radar de acompanhamento, o qual é responsável pelo
direcionamento do sistema de armas. Tão logo a designação de um alvo seja recebida, o radar
de acompanhamento aponta seu feixe (muito estreito), usualmente do tipo lápis, na direção
designada e inicia sua própria fase de aquisição e acompanhamento do alvo (ver figura 3.23).

OSTENSIVO 3- 25 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

Figura 3.23 – Dinâmica de um engajamento (detecção pelo radar de busca e


acompanhamento pelo radar de acompanhamento)

Radares de busca sofisticados fazem a designação do alvo em distância, azimute e elevação


(designação 3D), a qual diminui consideravelmente o tempo necessário pelo radar de
acompanhamento para adquirir o alvo.

Uma vez que o alvo tenha sido adquirido, o radar de acompanhamento passa para o modo de
acompanhamento e, após um transiente inicial, ele passa a fornecer para o sistema de armas as
coordenadas precisas do alvo.

Atualmente existem vários tipos de radar de acompanhamento. Eles diferem em precisão,


sofisticação, desempenho e custo. Arrumando esses fatores em ordem crescente, têm-se os
seguintes tipos de radar de acompanhamento:
 Radar de varredura cônica - a direção do feixe da antena não coincide com o "boresight"
(eixo mecânico), porém gira ao seu redor buscando a direção do alvo;
 Radar de chaveamento de lóbulo ("sequential lobing") - o lóbulo da antena pode assumir
quatro diferentes posições circundando o eixo de "boresight";
 Radar de varredura cônica somente na recepção (COSRO) - na transmissão, o feixe da
antena é fixo; na recepção, a antena de recepção gira como na varredura cônica;
 Radar de chaveamento de lóbulo somente na recepção (LORO) - opera como um radar de
chaveamento de lóbulo, mas somente na recepção; e
 Radar monopulso - o radar transmite com quatro antenas (“feeds”), formando um feixe
equivalente à soma dos quatro feixes elementares (chamado de feixe soma - ). Na
recepção, o radar pode gerar dois sinais: um obtido pela diferença entre os feixes esquerdo
e direito (chamado de feixe diferença em azimute - az) e outro, obtido pela diferença
entre os feixes superior e inferior (chamado de feixe diferença em elevação - el). Com
esses dois sinais, o radar monopulso é capaz de gerar erros de apontamento em azimute e
em elevação necessários para o acompanhamento em ângulo.

Por apresentarem praticamente o mesmo mecanismo de fazer o acompanhamento, este


documento descreverá somente o radar de varredura cônica dentre os radares citados e que
empregam “movimento” do feixe (antena).

OSTENSIVO 3- 26 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

3.6.1 - Radar de varredura cônica

O nome “radar de varredura cônica” advém do fato dele gerar seus sinais de acompanhamento
em ângulo girando seu feixe em formato de lápis de modo que a direção de ganho máximo
descreva um cone no espaço (ver figura 3.24).

Figura 3.24 – Princípio da varredura cônica para acompanhamento em ângulo.

Um alvo localizado ao longo do eixo do cone será iluminado com um ganho G não máximo,
porém constante. Alvos localizados em outras posições, por exemplo em A, serão iluminados
alternadamente com maior ou menor G (dependendo da inclinação do feixe da antena) e na
taxa de varredura da antena, a qual é chamada de freqüência de varredura cônica. O eixo do
cone, o "boresight", é a direção dita de apontamento. O ângulo entre a direção de ganho
máximo e o "boresight" é chamado de ângulo de inclinação ("squint angle").

Quando o radar transmite um trem de pulsos, numa determinada FRP, na direção de três
alvos, onde um dos alvos está alinhado com o boresight (T1), um outro está fora do eixo (T2) e
um terceiro está ainda mais distante do eixo (T 3), os ecos recebidos são da forma mostrada na
figura 3.25.

OSTENSIVO 3- 27 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

Figura 3.25 – Sinais recebidos por um radar de varredura cônica (T1, T2 e T3 são
posições de alvo)

A magnitude da modulação irá indicar quão distante do "boresight" se encontra o alvo,


enquanto que a fase da modulação, com relação a algum valor de referência, irá determinar
sua direção.

Normalmente a antena é facilmente orientada por movimentos nos eixos verticais e


horizontais. Desse modo, empregando sistemas de servomecanismo, é possível corrigir a
orientação corrente e acompanhar o alvo automaticamente.

O grau de modulação para um dado erro angular depende da largura de feixe da antena, da
forma do feixe e do ângulo de inclinação da antena quando esta gira ao redor do eixo.

3.6.2 - Radar monopulso

Para acompanhar alvos, os radares devem ser capazes de discernir a posição do eco em
relação a direção de máxima irradiação de suas antenas (“boresight”). Radares conhecidos
como radares de chaveamento de lóbulo varriam mecanicamente a região angular do alvo e tal
varredura causava uma modulação em amplitude nos ecos recebidos de modo a obter a
posição angular do alvo. Um outro radar também comumente utilizado era o chamado radar
de varredura cônica. Ambas arquiteturas adotam um padrão de varredura de antena que

OSTENSIVO 3- 28 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

resulta numa modulação senoidal do eco em amplitude, a qual depende da posição do alvo
dentro da região coberta pela antena.

Tanto para radares de chaveamento de lóbulo quanto para radares de varredura cônica, o
posicionamento da antena na direção do alvo é realizado por meio de servomecanismos que
buscam minimizar as diferenças de amplitude dos ecos recebidos. Tais radares podem ser
facilmente enganados por equipamentos de CME, além de apresentarem sérios desgastes
mecânicos.

Com o propósito de eliminar a varredura mecânica e dificultar a ação das CMEs,


desenvolveu-se a técnica de acompanhamento monopulso. Um sistema radar monopulso é um
radar de acompanhamento que extrai todas as suas informações de erro angular a partir de um
único pulso. Além disso, novas informações de erro angular são geradas a cada novo pulso.

Para se implementar um sistema monopulso necessita-se de pelo menos dois canais de


recepção simultânea. Sinais refletidos do alvo são recebidos por pares de canais
independentes no receptor, sendo um par para cada plano de acompanhamento (por exemplo:
2 canais em azimute e 2 canais em elevação). Como os sistemas monopulso podem obter o
erro angular com apenas um único pulso, as flutuações em amplitude pulso a pulso no eco não
apresentam efeito significativo na acurácia da medida de ângulo, visto que a variação de
amplitude em um único eco é cancelada pelo processamento de um par de sinais derivado de
um mesmo pulso.

Existem três técnicas básicas de monopulso, caracterizadas pela maneira pela qual a medida
de ângulo é extraída dos sinais recebidos:
 monopulso por comparação de amplitude;
 monopulso por comparação de fase; e
 monopulso do tipo soma e diferença;

Sistemas monopulso por comparação de amplitude empregam duas antenas com diagramas de
irradiação idênticos, sobrepostos e deslocados de  0 em relação ao eixo de simetria (ou seja,
eixo ao longo do qual as amplitudes recebidas pelos 2 diagramas são idênticas). Quando o
alvo está deslocado de um ângulo  em relação ao eixo de simetria (ver figura 3.26(a)), o sinal
recebido pela antena posicionada abaixo possui uma amplitude maior do que aquele recebido
pela antena posicionada acima.

A diferença de amplitude entre os dois sinais recebidos determina a magnitude do


deslocamento angular entre o eixo de simetria e o alvo. O sinal (+ ou -) da diferença entre os
sinais indica a direção do alvo no plano sendo considerado (exemplo: no caso da medida de
elevação, acima ou abaixo do plano de referência). Quando o alvo está localizado ao longo do
eixo, as amplitudes dos ecos recebidos por ambas as antenas são iguais, e a diferença será
nula.

OSTENSIVO 3- 29 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

(“Boresight)

POSIÇÃO
DO ALVO
(“Boresight)

antena 2

(“Boresight”)
(“Boresight”)

antena1 antena 2
antena1

Figura 3.26 – Diagramas de antenas de sistemas monopulso:


a) monopulso por comparação de amplitude;
b) monopulso por comparação de fase; e
c) monopulso do tipo soma e diferença;

Em sistemas monopulso por comparação de fase, o ângulo de chegada do sinal refletido pelo
alvo num dado plano é determinado pela comparação das fases dos sinais recebidos por um
par de antenas situados neste mesmo plano (ver figura 3.26(b)). Em campo distante, os dois
diagramas podem ser considerados como totalmente coincidentes e, portanto, as amplitudes
dos ecos recebidos nas duas antenas são idênticas, porém suas fases são diferentes. Esta
situação é ilustrada na figura 3.26(b), com os centros de fase das antenas separados pela
distância l.

A linha de visada até o alvo forma um ângulo  com o eixo que passa pelo ponto médio da
linha que une os centros de fase das antenas. A distância da antena 1 até o alvo é:

(3.6)

A distância da antena 2 até o alvo é:

(3.7)

A diferença entre essas duas distâncias é:

(3.8)

A partir de R pode-se representar a diferença de fase :

OSTENSIVO 3- 30 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

(3.9)

onde  é o comprimento de onda.

A equação (3.9) permite determinar o ângulo de chegada  do alvo a partir da diferença de


fase dos sinais recebidos em duas antenas separadas.

A equação (3.9) mostra que a diferença de fase é nula, não apenas em  = 0, isto é, quando o
alvo se encontra ao longo do eixo, mas também quando o alvo se encontra em determinadas
posições angulares que satisfaçam a condição:

(3.10)

Como resultado, além do eixo principal, passam a existir várias outras direções secundárias de
mesmo sinal (ou seja, o valor do ângulo medido se repete periodicamente com a variação de
), o que causa ambiguidade na medida do ângulo. Esta ambiguidade, entretanto, não causa
maiores problemas desde que as direções espúrias estejam fora do feixe principal, o que
obriga que a distância entre os centros de fase das antenas seja menor que o seu diâmetro.

Em sistemas monopulso do tipo soma e diferença, a medida de ângulo é obtida pela


comparação das amplitudes e fases dos sinais recebidos por um par de antenas (ver figura
3.26(c)).

Em sistemas monopulso a informação de ângulo é extraída a partir das relações de amplitude,


fase ou amplitude/fase dos sinais recebidos em canais independentes. As diferenças nas
formas pelas quais a informação angular é obtida resultam em diferentes estruturas para o
sistema monopulso, daí sistemas baseados em amplitude, ou fase ou, ainda, fase-amplitude.

3.6.2.1 – Estruturas para Sistemas Radar Monopulso

Em sistemas monopulso, a medida do ângulo de chegada do alvo é obtida em um processador


que compara os sinais recebidos em pares. Uma característica desta comparação é que a
tensão na saída do processador não depende diretamente das amplitudes dos ecos, mas é
determinada tão somente pelo ângulo de chegada dos ecos.

A saída do processador monopulso deve indicar o valor e a polaridade do ângulo de chegada


(isto é, acima/abaixo ou esquerda/direita) dos sinais recebidos. Em outras palavras, a resposta
para cada plano medido deve ser uma função ímpar e real da projeção do ângulo de chegada
sobre o respectivo plano. A informação sobre o ângulo de chegada contida nos pares de sinais
é formada no momento em que as antenas recebem os ecos. Este conjunto de antenas forma
um sub-sistema aqui designado de sensor angular. Neste ponto do sistema, ou seja, após as
saídas das antenas, são realizadas as operações necessárias à obtenção da função ímpar cuja
parte real represente o ângulo de chegada.

OSTENSIVO 3- 31 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

A seguir serão examinadas algumas possíveis abordagens do problema. A intensidade de


campo no ponto de recepção pode ser descrita como uma função complexa do tempo:

(3.11)

Onde Em é a amplitude, w é a frequência angular e  0 é a fase no instante inicial.


Os diagramas de irradiação da antena são funções complexas do ângulo de chegada e podem
ser expressos pelas seguintes equações:

(3.12)

Onde F1 e F2 são os diagramas de amplitude e 1 e 2 são os diagramas de fase.

Considerando-se antenas casadas, os diagramas de fase serão simétricos ao longo do eixo de


mesmo sinal, e os diagramas de amplitude serão idênticos com os máximos deslocados de
o do eixo, ou seja,

(3.13)

Onde  () é o diagrama de diferença de fase das antenas.

Os sinais recebidos por antenas espacialmente separadas podem ser escritos como:

(3.14)

Logo, a razão entre os dois sinais recebidos é:

(3.15)

A expressão (3.15), chamada de razão multiplicativa, sob certas condições pode ser usada
como uma primeira aproximação do ângulo de chegada.

Uma outra forma de obter-se o ângulo de chegada é através da relação entre os sinais de
diferença e de soma, a qual é usualmente chamada de razão aditiva dos sinais recebidos:

(3.16)

A relação entre as duas razões pode ser expressa pelas seguintes equações:

(3.17)
OSTENSIVO 3- 32 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

Multiplicando-se ambas as raões pela constante complexa:

(3.18)

obtém-se as seguintes transformações lineares:

(3.19)

Os dispositivos onde são formados os sinais soma e diferença ou onde os sinais recebidos são
multiplicados por um coeficiente a são chamados de comparadores ou conversores, já que, em
geral, tais dispositivos são capazes de transformar relações de amplitude em relações de fase e
vice-versa. Estas transformações são usualmente realizadas em RF utilizando-se elementos
passivos os quais apresentam simplicidade e estabilidade satisfatórias.

Não é possível calcular a relação entre dois sinais, convertidos ou não, sem antes amplificá-
los. Um dispositivo que faça uso de elementos ativos, incluindo amplificadores e circuito de
comparação, e que produza as razões e o ângulo de chegada, é chamado de discriminador
angular.

Em sistema monopulso por comparação de amplitude, a informação de ângulo está contida


nos diagramas de amplitude F1() e F2(). Neste caso, se os diagramas de fase forem
idênticos, as razões são expressas apenas pelos diagramas de amplitude:

(3.20)

Em sistema monopulso por comparação de fase, quando os diagramas de amplitude são


idênticos, a informação de ângulo está contida na diferença de fase:

(3.21)

As razões podem ser expressas somente pelos diagramas de fase:

(3.22)

A relação de amplitudes () e o deslocamento de fase  são chamados de funções angulares


multiplicativas, enquanto que as relações [() – 1]/ [() + 1] e tg(/2) são chamadas de
funções angulares aditivas.

Os discriminadores angulares que usam funções angulares multiplicativas e respondem


somente a relações de amplitude na obtenção do ângulo de chegada são chamados de

OSTENSIVO 3- 33 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

discriminadores angulares de amplitude (são processadores não coerentes uma vez que eles
removem a informação de fase dos sinais de entrada). Os discriminadores angulares que
respondem somente a relações de fase são chamados de discriminadores angulares de fase.
Discriminadores que reagem a ambas as relações de amplitude e de fase e que usam funções
angulares aditivas para obtenção do ângulo de chegada são chamados de discriminadores
angulares soma e diferença.

Portanto, existem apenas três métodos para a medida de ângulo (três tipos de
discriminadores): amplitude, fase, e soma e diferença. Cada um destes métodos pode ser
aplicado em sistemas monopulso por comparação de amplitude, por comparação de fase, ou
do tipo soma e diferença. Esta combinação (3 tipos de comparação e 3 tipos de
discriminadores) resulta em nove classes básicas de sistemas monopulso conforme mostrado
na tabela 3.1. O primeiro termo descreve o método de aquisição da informação angular; o
segundo identifica o tipo de discriminador angular utilizado (isto é, a natureza do
processamento usado para extrair esta informação). Por exemplo, um sistema monopulso por
comparação de amplitude usando um discriminador de amplitude é chamado de um sistema
de amplitude-amplitude (AA), e, com o mesmo discriminador, um sistema monopulso por
comparação de fase seria chamado de um sistema de fase-amplitude (FA).

Tabela 3.1 – Classes básicas de sistemas monopulso

Classes básicas dos sistemas monopulso para 3 tipos


Método de medida de aquisição de informação angular
(tipo do discriminador angular)
Amplitude (A) Fase (F) Soma e Diferença (SD)

Amplitude (A) AA FA SDA


Fase (F) AF FF SDF
Soma e Diferença (SD) ASD FSD SDSD

Na prática, apenas quatro classes dentre as nove são usadas: amplitude-amplitude (AA), fase-
fase (FF), amplitude-soma e diferença (ASD), e fase-soma e diferença (FSD).

A figura 3.27 apresenta os elementos básicos que compõem o diagrama de blocos de um


sistema monopulso.

Figura 3.27 – Diagrama de blocos de um sistema monopulso

O detector angular forma os sinais que contêm a informação angular do alvo. O comparador
(ou conversor) transforma esta informação angular em uma combinação das relações de
amplitude e fase entre os sinais de 2 canais independentes. O discriminador angular fornece
na saída uma função real da razão entre os parâmetros do sinal, função essa que tem uma
relação unívoca com o ângulo de chegada.

OSTENSIVO 3- 34 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

O sub-sistema de antenas é o detector (sensor) angular do sistema monopulso. É o elemento


mais importante do sistema e apresenta várias características. O conversor pode ser um
defasador de 90 que multiplica por  i, ou um comparador soma e diferença que emprega
uma junção híbrida em anel ou um “t-mágico”.

3.6.2.2 – Discriminadores angulares para Sistemas Radar Monopulso

As figuras 3.28 a 3.30 apresentam as estruturas dos discriminadores angulares. Para preservar
a simetria dos sinais e manter a coerência de fase entre eles, é usado um único oscilador local
(OL) cuja função é gerar a frequência intermediária para ambos os canais. A razão rm() ou
ra(), a qual caracteriza o ângulo de chegada, é o resultado da amplificação normalizada
inerente aos circuitos discriminadores.

No discriminador angular de amplitude mostrado na figura 3.28(a), a razão rm() é o resultado


da subtração dos logarítmos das amplitudes de dois sinais, e, portanto, a tensão de saída
independe do nível do sinal de entrada. A expressão log rm() é igual a zero na direção de
"boresight" (as amplitudes são iguais e rm() = 1) e tem uma simetria ímpar relativa a esta
direção. Por esta razão, pode ser usado para obter o ângulo de chegada:

(3.23)

Onde u1(t,) e u2(t,) são as amplitudes, em função do tempo e do erro angular, na saída
dos canais de recepção-amplificação.

A figura 3.28 apresenta dois tipos de discriminadores angulares de amplitude.

Figura 3.28 – Discriminador angular de amplitude: (a) com amplificadores logarítmicos


de FI (b) com normalização pelo sinal soma na frequência de vídeo

A diferença de fase entre os sinais presentes nas entradas dos amplificadores não tem efeito
sobre a razão rm(), já que a fase é perdida no detector de amplitude antes da subtração. As
amplitudes dos sinais na saída dos amplificadores logarítmicos são instáveis e não uniformes,
o que gera distorção na medida do ângulo de chegada do alvo. Esta é a desvantagem dos
discriminadores angulares de amplitude que usam amplificadores logarítmicos.

O discriminador angular de amplitude apresentado na figura 3.28(b) não usa amplificador


logarítmico. O sinal diferença é normalizado pelo sinal soma (em vídeo) no divisor. Na

OSTENSIVO 3- 35 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

prática, sistemas monopulso amplitude-amplitude (AA) com sinal soma variando ao longo de
uma excursão dinâmica da ordem de 80 – 100 dB, podem tornar proibitivo o uso de
amplificadores lineares de FI. Neste caso, deve-se empregar amplificadores logarítmicos e,
para minimizar a instabilidade, deve-se fazer uso de circuitos adicionais de correção.

No discriminador angular de fase, a modulação em amplitude deve ser eliminada antes da


normalização. A solução apresentada na figura 3.29(a) é usar amplificadores limitadores cujas
amplitudes de saída são independentes das amplitudes de entrada. Uma outra possibilidade,
apresentada na figura 3.29(b) , é empregar um circuito AGC independente em cada canal.
Desse modo, é possível usar a função irm() (equação 3.22) para gerar o ângulo de chegada,
usando-se a parte real de irm(), dada por:

(3.24)

e que é independente das relações de amplitude.

A figura 3.29 apresenta dois tipos de discriminadores angulares de fase.

Figura 3.29 – Discriminador angular de fase: (a) normalização com amplificadores


limitadores (b) normalização com AGC

No discriminador angular de soma e diferença, mostrado nas figuras 3.30(a) e 3.30(b), a razão
ra() é formada utilizando-se circuitos de AGC em cada um dos canais, os quais são
controlados pela tensão do sinal soma. Assim, ambos os sinais soma e diferença são
normalizados em relação ao sinal soma.

No caso do monopulso por comparação de amplitude (detecção angular por amplitude), tem-
se que:

(3.25)

No caso do monopulso por comparação de fase (detecção angular por fase), tem-se que:
OSTENSIVO 3- 36 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

(3.26)

A figura 3.30 apresenta três tipos de discriminadores angulares de soma e diferença.

Figura 3.30– Discriminador angular de soma e diferença:


(a) combinado (b) separado (c) formação da magnitude e da polarização do sinal de
erro, normalizado pelo sinal soma na frequência de vídeo

Os discriminadores angulares de soma e diferença mostrados nas figuras 3.30(a) e 3.30(b) são
usados em radares monopulso de acompanhamento automático. Em sistemas monopulso de
vigilância a estrutura usualmente utilizada é conforme a figura 3.30(c). A normalização no
discriminador angular soma e diferença ocorre na FI pela divisão da saída do detector de fase
pelo sinal soma em vídeo, não havendo, pois, circuito de AGC.

3.6.3 – Sistemas de Porta de Acompanhamento em Distância (“Range Gate”)

Radares de acompanhamento usualmente fazem uso de circuitos especiais que propiciam um


acompanhamento em distância mais preciso do que aquele realizado por radares de busca.
Conforme mencionado anteriormente, designação inicial é feita por radares de busca e esta
designação serve de ponto de partida para que o radar de acompanhamento comece o processo de
acompanhamento em distância do alvo e direcione os sistemas de armas associados.

Num processo de acompanhamento, geralmente, tem-se três tipos de circuitos dedicados a


cada uma das fases do processo. Em cada uma dessas fases, tem-se circuitos específicos ara
prover uma forma de porta de acompanhamento que otimize o resultado do acompanhamento
dentro dos objetivos de cada fase. Pode-se dividir o processo de acompanhamento nas
seguintes fases:

 Pré-aquisição, com abertura de uma porta de recepção em distância no radar de


acompanhamento – uma vez recebida a designação inicial, o radar de acompanhamento
“abre” uma porta de acompanhamento na recepção por meio de uma temporização na
qual só ecos dentro desta porta (isto é, ecos que chegam dentro de um determinado
intervalo de tempo) serão observados. Esta porta de recepção é da ordem de 5 km e tem
como finalidade reduzir o espaço de busca pelo alvo de interesse e diminuir o “clutter”
(ou a influência) de ecos oriundos de “alvos” localizados fora da área de interesse;

OSTENSIVO 3- 37 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

 Aquisição, com abertura de uma porta de acompanhamento para processamento em


distância - nessa fase usualmente são empregadas duas portas de acompanhamento em
distância:
 uma porta para caracterizar a detecção de um alvo, geralmente uma porta de
aproximadamente 1 km; e
 uma porta composta de uma semi-porta anterior e uma semi-porta posterior
(respectivamente chamadas de “early gate” e “late gate”), contíguas, que durante a
fase de aquisição são da ordem de 200m cada, com o objetivo de “centralizar” o alvo
dentro da porta de acompanhamento.

 Fase de acompanhamento (“tracking”) - igualmente à fase de aquisição, a fase de


acompanhamento provê abertura de duas portas de acompanhamento em distância, porém,
desta feita, ambas as portas com tamanhos bastante reduzidos:
 uma porta para caracterizar a detecção de um alvo, geralmente uma porta de
aproximadamente 100 m; e
 uma porta também composta de uma semi-porta anterior e uma semi-porta posterior
(respectivamente chamadas de “early gate” e “late gate”), contíguas, que durante esta
fase de acompanhamento são da ordem de 50m cada, com o objetivo de “centralizar” e
precisar a posição do alvo dentro dos limites impostos pelo sistema de armas
associado (usualmente são requeridas precisões da ordem de 1 a 5 m) .

O sistema utilizado para gerar e processar a porta de acompanhamento, responsável pela


caracterização da detecção (ou continuação da presença) de alvo durante as fases de aquisição
e de acompanhamento (“tracking”), é apresentado na figura 3.31.

Figura 3.31 – Sistema de aquisição automática

O circuito é usualmente formado por um detetor de pico em paralelo com um detetor de


média, ambos alimentando um comparador de nível (outros circuitos são auxiliares). Quando
o sinal é recebido pelo radar, o detetor de pico fornece o valor de pico do sinal detectado
(dentro de toda a extensão da porta) e o detetor de média fornece a média do sinal recebido,
média esta também realizada durante toda a extensão da porta. Os dois valores são então
comparados para finalmente fornecer uma indicação da presença (ou ausência) de alvo.
OSTENSIVO 3- 38 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

Para se ilustrar o comportamento do circuito, considere o caso no qual não existe alvo dentro
da porta. O detector de pico fornecerá um valor que aproximadamente corresponde ao pico do
ruído (ou “clutter”) dentro da porta e o detector de média, por sua vez, fornecerá um valor que
aproximadamente corresponde à média do ruído (ou “clutter”) dentro da porta. Na ausência de
eco real, esses valores são muito parecidos e, portanto, resultará em que na saída do
comparador ter-se-á, muito provavelmente, um sinal próximo a zero, ou seja, indicação de
ausência de alvo. Caso existisse um sinal de eco dentro da porta, o valor da saída do detector
de pico seria maior do que a saída do detector de média, o que levaria, após comparação no
circuito comparador, à informação de alvo presente, conforme ilustrado na figura 3.31.

Na figura 3.31, as setas indicando “porta” são sinais de controle responsáveis pela geração da
porta de acompanhamento (início e fim), de tamanho compatível com cada uma das fases,
bem como da região provável de chegada do eco durante a designação inicial (fornecida pelo
radar de busca).

O sistema utilizado para gerar e processar as semi-portas anterior e posterior (chamadas de


“early gate” e “late gate” respectivamente), responsáveis pela centralização do eco do alvo
durante as fases de aquisição e de acompanhamento (“tracking”), é apresentado na figura
3.32.

Figura 3.32 – Diagrama de blocos de um discriminador no tempo (“split gate”).

O circuito é usualmente formado por dois braços idênticos, ambos alimentando um


comparador de nível. Quando o sinal é recebido pelo radar, durante a fase de ativação da
semi-porta anterior, o circuito “carrega” o capacitor com uma corrente que é proporcional à
amplitude da parte do sinal (ruído + eco) presente nesta semi-porta anterior, para
posteriormente ser armazenado no circuito de amostragem e armazenagem. De modo análogo,
durante a fase de ativação da semi-porta posterior, o circuito “carrega” o capacitor com uma
corrente que também é proporcional à amplitude da parte do sinal (ruído + eco) presente nesta
outra semi-porta (posterior), para posteriormente ser armazenado no circuito de amostragem e
armazenagem correspondente. Os dois valores são então comparados para finalmente fornecer
uma tensão de saída que é proporcional (e com o devido sinal) à centralização do eco do alvo
em relação às portas.

Para se ilustrar o comportamento do circuito, considere o caso no qual o eco do alvo está
localizado mais para dentro da semi-porta anterior do que da semi-porta posterior. O valor de
carga do capacitor no braço correspondente à semi-porta anterior será maior do que o valor de
OSTENSIVO 3- 39 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

carga do capacitor no braço correspondente à semi-porta posterior e, consequentemente, o


circuito de comparação fornecerá um sinal de correção da localização da porta cuja
intensidade e sinal será no sentido de “igualar” os sinais (cargas) dentro das “novas posições”
das portas anterior e posterior. Na figura 3.32, as setas indicando “E-porta” e “L-porta” são
sinais de controle responsáveis pela geração (e localização) das referidas portas, bem como
dos tamanhos das portas tendo em vista a fase em que se encontra o processo de
acompanhamento.

A figura 3.33 ilustra a dinâmica do processo de acompanhamento, detalhando as fases de pré-


aquisição, aquisição e acompanhamento (“tracking”). Importante salientar a variação dos
tamanhos das portas para cada uma das fases e os tempos típicos de duração de cada fase.

Figura 3.33 – Dinâmica do processo de acompanhamento (pré-aquisição, aquisição e


“tracking”)

3.7 - Sistemas Radar de Abertura Sintética

Radar de abertura sintética (SAR) é uma classe especial de radar de aeronave. O SAR
comporta uma antena convencional para transmitir sinais e receber ecos, porém explora o

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OSTENSIVO CIAW-326

movimento relativo plataforma-alvo para simular uma antena bem maior com n elementos
radiantes, como se fosse um array linear; isto melhora (diminui) a resolução angular.

Na figura 3.34, considere que um pulso seja transmitido a partir da posição A, e que ecos de
várias distâncias, caracterizados por amplitude e fase, sejam armazenados em memória. Ao se
repetir esta operação para os pontos B, C, ..., N, obtém-se uma correlação entre os ecos e as
posições ocupadas pela aeronave nos vários instantes da transmissão.

Figura 3.34 - Radar de abertura sintética (SAR)

Se todos os sinais armazenados em memória são finalmente recombinados em amplitude e


fase, considerando-se as variações em freqüência doppler que surgem devido à geometria do
cenário, tais sinais se comportam como se todos tivessem chegado simultaneamente numa
antena com iluminação uniforme estendendo-se de A a N.

Ponderando-se os sinais adequadamente antes deles serem recombinados, é possível atender


os requisitos de lóbulos laterais pequenos e largura de feixe estreita.

A largura do feixe da antena sintética é dada, em graus, pela expressão (3.27).

(3.27)

Onde:
d = distância de A à N; e
 = comprimento de onda irradiado.

O fator 2 no denominador, o qual é ausente na expressão para antenas convencionais, aparece


devido ao fato de que sendo os pulsos transmitidos seqüencialmente por elementos do
“array”, então o deslocamento de fase do sinal entre elementos adjacentes é duas vezes o
deslocamento de fase que surgiria em “arrays” reais.

Tendo em vista a resolução que pode ser obtida com o SAR, sua principal aplicação é em
mapeamento de terreno, ou seja, este tipo de radar pode ser usado para “fotografar” locais de
OSTENSIVO 3- 41 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

interesse, tais como portos e campos de pouso, a partir de grandes distâncias, mesmo durante
a noite e na presença de nuvens. Desse modo é possível, por exemplo, averiguar se um
determinado navio está ou não ancorado num determinado porto.

O desempenho SAR pode ser obtido mesmo com radares estacionários. Neste caso,
entretanto, o alvo deve estar em movimento. Esta técnica é conhecida como SAR inverso, ou
ISAR.

3.8 - Estreitamento de Feixe Doppler

A técnica de estreitamento do feixe doppler é utilizada para melhorar a resolução em azimute


de um radar. Em radares onde a resolução em azimute depende da largura de feixe da antena,
a aplicação do estreitamento de feixe doppler dá-se pela divisão da largura de feixe em
segmentos através de vários filtros doppler e do processamento do sinal recebido utilizando
técnicas de Transformada Rápida de Fourier (FFT).

Os ecos capturados pela largura de feixe da antena podem ser classificados utilizando-se
como parâmetros de classificação as diferenças entre as freqüências doppler dentro da largura
de feixe (ver figura 3.35). Isto é, um alvo pode ser identificado dentro da largura de feixe por
sua freqüência doppler particular. Esta técnica requer um transmissor muito estável e
processamento de sinal coerente, já que é necessário introduzir um deslocamento de
freqüência doppler constante de modo que a freqüência doppler associada a variação azimutal
seja transladada para freqüência zero. A correção de fase é obtida a partir da velocidade da
aeronave, do ângulo de elevação e do ângulo de azimute. Os sistemas radar que empregam
técnica de estreitamento do feixe doppler podem ser ou totalmente coerentes ou, no caso de
transmissores tipo magnetron, coerentes apenas na recepção.

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OSTENSIVO CIAW-326

Figura 3.35 - Estreitamento de Feixe Doppler

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OSTENSIVO CIAW-326

3.9 - Radares Bi-estáticos e Multi-estáticos

Radares bi-estáticos são, por definição, radares que empregam antenas de recepção e
transmissão separadas e distanciadas consideravelmente uma da outra, ao contrário dos
radares mono-estáticos que empregam uma única antena transmissora/receptora.

Apesar dos radares mono-estáticos ofuscarem os radares bi-estáticos em termos de


desempenho, os radares bi-estáticos apresentam vantagens especiais que os tornam muito
atrativos em determinadas aplicações.

Os radares mono-estáticos apresentam a desvantagem de serem facilmente detectados,


podendo ser “enganados” ou até mesmo acompanhados por mísseis anti-radiação guiados por
suas emissões. Portanto, a óbvia vantagem do radar bi-estático é ter seu transmissor localizado
bem distante de seu receptor. Isto faz com que o despistador seja forçado a transmitir sobre
um ângulo muito maior para obter o efeito esperado na receptor do sistema radar.

Uma rede de radares bi-estáticos consistindo de M transmissores e N receptores, onde N  M,


é denominada de radar multi-estático. Um dos propósitos dos radares multi-estáticos é
desorientar os receptores dos ARMs (mísseis anti-radiação), através de chaveamento temporal
de seus transmissores.

A separação entre transmissor e receptor é também benéfica na detecção de aeronaves


"stealth". Tais aeronaves são capazes de reduzir suas RCSs principalmente na direção de
chegada da onda eletromagnética. Caso uma aeronave "stealth" seja iluminada numa dada
direção, e a radiação refletida seja observada numa outra direção, a característica de baixa
visibilidade fica substancialmente degradada.

As principais dificuldades encontradas no projeto do radar bi-estático são a complexidade de


sua geometria, localização das plataformas, controle do sistema, implementação da
sincronização e da requerida isolação. Parte das dificuldades que surgem num sistema bi-
estático é devida ao fato de que iluminadores e receptores estão normalmente em movimento,
dificultando sua coordenação, especialmente em ambientes hostis. Além disto, o transmissor,
o receptor e o alvo devem estar todos visíveis uns para os outros, de modo que qualquer
obstáculo no solo ou no horizonte não interfira na visibilidade mútua requerida. É necessário
conhecer a posição do iluminador em relação ao receptor para solucionar o triângulo bi-
estático entre o iluminador, receptor e alvo (ver figura 3.36). Quando o iluminador encontra-
se a bordo de uma aeronave, esta tarefa torna-se difícil já que a posição do iluminador muda
continuamente.

Para que o radar bi-estático opere coerentemente é necessário que o iluminador esteja
sincronizado com o receptor, de modo que a forma de onda irradiada pelo radar iluminante
esteja disponível ou sintetizada no receptor para processar coerentemente os sinais bi-estáticos
refletidos pelo alvo.

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OSTENSIVO CIAW-326

Figura 3.36 – Radar bi-estático

3.10 - Radares Além do Horizonte (“Over the Horizon Radar” – OTH)

Por causa da esfericidade da Terra, as emissões radar não conseguem alcançar pontos sobre a
superfície terrestre os quais estejam muitos distantes da fonte. No espaço livre, os raios radar
(isto é, raios normais à frente de onda), tais como os raios óticos, se propagam em linha reta.
Entretanto, sabe-se que esses mesmos raios curvam-se para baixo ao passarem através da
atmosfera terrestre, cujo índice de refração é variável e que normalmente diminui com a
altura. Isto significa que, para uma dada altura, o horizonte radar está além do horizonte ótico.

No caso da atmosfera padrão, os raios podem ser tratados como linhas retas, considerando-se
a superfície da Terra como sendo esférica e com raio equivalente a quatro terços do raio
verdadeiro da Terra. Consequentemente, tem-se que o raio equivalente da Terra é dado por

(3.28)

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OSTENSIVO CIAW-326

A figura 3.37 apresenta a geometria usada no cálculo da distância RH para o horizonte radar
representada na expressão (3.29).

(3.29)

Figura 3.37 – Horizonte Radar

Os raios radar, assim como os raios óticos, são interceptados por obstáculos não transparentes
ocasionando o que se chama de região de sombra atrás do obstáculo. Entretanto, na região de
sombra do obstáculo, um campo eletromagnético ainda pode ser detectado, devido a difração
das extremidades do obstáculo. Isto se baseia no princípio de Huygens, mostrado na figura
3.38. Tal princípio afirma que cada ponto de uma frente de onda pode ser analisado como
sendo fonte de uma nova frente de onda, a qual passa a se propagar a partir do local onde tal
ponto se localiza. Portanto, uma frente de onda ao atingir um obstáculo num formato de gume
de faca, continua a se propagar mesmo na região não visível pela frente de onda original.

Figura 3.38 – O efeito de obstáculos na propagação

OSTENSIVO 3- 46 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

Ao analisar-se a atenuação causada por um obstáculo do tipo gume de faca, obtém-se o


resultado numérico apresentado na figura 3.39, onde a atenuação é calculada como função do
parâmetro adimensional v composto dos parâmetros mostrados na figura 3.38 de acordo com
a expressão (3.30).

(3.30)

Os valores positivos de v se aplicam quando o obstáculo está abaixo do ponto H, ou seja,


quando o obstáculo não intercepta a linha de visada. Uma teoria similar é aplicável à
curvatura da Terra.

Figura 3.39 – Atenuação por obstáculo

Para se detectar alvos além do horizonte, ou seja, à distâncias significativas, como por
exemplo 1000 milhas náuticas, as ondas de rádio devem se refletir na ionosfera assim como é
feito em comunicações de rádio a longa distância. Os radares projetados para operar desta
forma são chamados de radares além do horizonte ou radares OTH (“Over the Horizon”).

Como somente as freqüências mais baixas de sinais de rádio são refletidas na ionosfera, os
radares OTH fazem uso deste fenômeno de propagação operando nas freqüências de HF (15 a
20 MHz). Os radares OTH empregam antenas muito grandes as quais devem apresentar alto
ganho, banda larga, apontáveis em elevação e azimute e capazes de irradiar sinais de alta
potência tendo em vista as distância consideradas.

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OSTENSIVO CIAW-326

A cobertura radar da superfície da Terra depende da ionosfera, a qual altera sua altura e seus
índices de refração constantemente. Com o intuito de se obter uma cobertura adequada, deve-
se programar diferentes freqüências considerando as condições ionosféricas previstas para o
período durante o qual se deseja irradiar.

A forma de onda radar pode ser pulsada ou FM-CW. Na forma de onda pulsada, um pulso
longo, como por exemplo um milisegundo, é transmitido para que se ilumine o alvo com alta
potência. A freqüência de repetição de pulso (FRP) é baixa, da ordem de 50 Hz, já que o
intervalo de distância não-ambíguo deve acomodar intervalos de milhares de milhas.

Geralmente, controla-se o formato do pulso de RF transmitido para se reduzir a energia


espectral fora da portadora, minimizando assim interferências em outros usuários da banda de
HF. No caso de FM-CW, as antenas de transmissão e de recepção encontram-se separadas por
centenas de milhas. Tais radares bi-estáticos podem usar alta potência de saída sem os
inconvenientes de uso de componentes de alta potência requeridos pelos radares pulsados
mono-estáticos (transmissor e receptor no mesmo local).

Radares OTH lidam com problemas de desvanecimento, multiplicidades de percursos radar-


alvo, mudanças ionosféricas, ionização provocada pela aurora boreal e ampla região onde
ocorre espalhamento, a qual compete com os ecos dos alvos desejados. Considerando que o
ambiente é monitorado em tempo real e que os parâmetros de operação do radar podem ser
ajustados às condições existentes, o radar OTH é bem adequado para a detecção de alvos
distantes.

3.11 - Radares 3D

Radares 3D são radares de busca capazes de medir as três coordenadas do alvo: distância,
azimute e elevação.

Os radares 3D apresentam inúmeras vantagens. Um exemplo é a redução do tempo de reação,


já que ao receber uma designação 3D do alvo, o radar de acompanhamento levará menos
tempo para adquirir o alvo, entrando mais rapidamente no modo de acompanhamento e
passando a fornecer para o sistema de armas ou sistema de guiagem de míssil as coordenadas
precisas do alvo.

Dependendo do método empregado para realizar a varredura do feixe, os radares 3D podem


ser divididos em duas principais categorias:

 Radares que empregam métodos mecânicos para varredura do feixe em azimute e outros
métodos para varredura do feixe em elevação;

 Radares que empregam métodos eletrônicos de variação de fase (“phased-array”) para


varredura do feixe radar, em azimute e em elevação, em todas as direções dentro do
espaço de cobertura.

Os radares que se encontram na primeira categoria, ou seja, radares com varredura mecânica
em azimute, são diferenciados de acordo com a técnica usada para varrer o feixe em elevação.
Entre essas técnicas encontram-se:

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OSTENSIVO CIAW-326

 Feixes fixos e contíguos em elevação (“stacked beams”);


 Varredura em frequência (FRESCAN);
 Varredura eletrônica em elevação pela técnica de “phased array”;
 Feixe tipo V.

A seguir são descritos as tipos de radares mencionados:

 Feixes fixos e contíguos em elevação (“stacked beams”)

Os radares que empregam feixes fixos e contíguos em elevação, ou seja, feixes empilhados,
varrem todo o setor de elevação, por divisão de tempo, durante o tempo de permanência sobre
o alvo (ver figura 2.10). A técnica de feixes empilhados é usada somente na recepção visando
delimitar o(s) setor(es) onde se encontra(m) o(s) alvo(s). Na transmissão é gerado um único
lóbulo para cobrir todo o setor de elevação.

 Varredura em frequência (FRESCAN)

Os radares que empregam varredura em frequência permite que o feixe varra todo o setor de
elevação, em “steps” ou continuamente, através da modulação linear da frequência de
transmissão. Esta modulação pode ser aplicada dentro do pulso (varredura dentro do pulso) ou
por divisão do tempo durante o tempo em que a antena permanece sobre o alvo em azimute.

O princípio da varredura em frequência pode ser ilustrado por uma antena consistindo de um
conjunto de guias de onda fendados, arrumados em linhas a uma distância d umas das outras,
e alimentados a partir da lateral ou do centro por meio de serpentina cujo comprimento do
loop é L (ver figura 3.40). As fendas, adequadamente espaçadas, são os irradiadores
elementares neste caso.

Figura 3.40 – Antena de um radar 3D FRESCAN

OSTENSIVO 3- 49 ORIGINAL
OSTENSIVO CIAW-326

O deslocamento de fase relativo entre as fendas correspondentes em duas linhas adjacentes é


dado pela equação (3.31).

 = 2 f1 t = 2 f1 (L)/c (3.31)

Quando a frequência de transmissão aumenta de f, passando de f1 para f2, o diferencial de


deslocamento de fase entre os guias de onda é dado pela equação (3.32).

 = 2 f (L)/c (3.32)

O “boresight” da antena é deslocado por um valor L tal que:

(2/2) d sen  = 2f (L)/c (3.33)

Ou seja, para pequenos ângulos onde sen  pode ser aproximado para , tem-se que:

 = (f L) / f2 d = k  f (3.34)

Desse modo, se a frequência de transmissão é continuamente aumentada, o feixe da antena irá


varrer na direção dos ângulos crescentes em elevação.

Usualmente a iluminação por divisão de tempo dos vários feixes disponíveis em elevação
permite amoldar o diagrama de cobertura otimizando as distâncias de deteção, como por
exemplo na forma de cossecante quadrada dos radares 2D.

Entretanto, em radares 3D, ao invés de amoldar-se o diagrama de irradiação da antena em


elevação, é geralmente preferível usar uma modulação diferencial do tempo de iluminação do
alvo. Tal abordagem explora a propriedade de que o alcance radar depende da energia
espalhada pelo alvo, a qual, para radares que operam com potência constante, significa que a
distância R é relacionada ao tempo T de iluminação do alvo.

Em primeira aproximação, pode-se demonstrar como se chega 'a forma cossecante também se
utilizando o tempo de iluminação do alvo. Para um alvo localizado a uma distância genérica R
ilumina-se este alvo por um tempo T (1). Então:

R4 (1) = kRT (1) (3.35)

Portanto, para uma elevação genérica  tem-se o tempo ótimo de iluminação também
genérico T () que guarda a devida relação em relação ao tempo ótimo em 1 :

T () / T (1) = R4 () / R4 (1) = sen4 (1) / sen4 () (3.36)

O que fornece a equação geral:

T () = k cosec4 () (3.37)

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A figura 3.41 mostra um diagrama típico de divisão do tempo de iluminação entre as várias
células de elevação, durante o tempo de permanência sobre o alvo em azimute.

Figura 3.41 – Diagrama de cobertura de antena com varredura eletrônica.

 Varredura eletrônica em elevação pela técnica de “phased array”

Neste caso, a antena consiste de linhas de elementos do tipo transmissor/receptor na qual a


fase relativa entre as linhas adjacentes pode ser variada durante o tempo sobre o alvo para
obter-se a varredura requerida no plano vertical.

O deslocamento de fase é arranjado de modo a gerar campos eletromagnéticos cujas frentes


de onda estão em fase somente na direção escolhida (ver figura 3.42). O deslocamento de fase
varia ou entre as linhas de elementos (“phased array” linear), ou de elemento para elemento
(“phased array” planar).

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Figura 3.42 – Antena consistindo de um array de elementos do tipo


transmissor/receptor.

 Feixe tipo V

Em radares com feixe tipo V são instaladas duas antenas; uma de costas para a outra. Neste
caso, uma delas produz um feixe em leque vertical, enquanto que a outra produz um feixe em
leque inclinado de 300. Os ecos do alvo são recebidos pelas duas antenas com um retardo
diferencial proporcional à altitude do alvo. Os ecos oriundos de um alvo em altitude zero são
recebidos pela segunda antena com um retardo correspondente a uma varredura de 180 0. Os
ecos oriundos de um alvo em altitude maior são recebidos com um retardo adicional devido a
inclinação do feixe. A altitude do alvo deve ser deduzida a partir deste retardo. A figura 3.43
ilustra um radar com feixe tipo V.

Figura 3.43 – Radar 3D com feixe tipo V instalado a bordo de um navio soviético.

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A segunda categoria de Radares 3D, ou seja, radares do tipo “phased array” planar, é o
último estágio na evolução dos radares de busca. Neste caso, o radar normalmente usa uma ou
mais antenas fixas, cada uma cobrindo 90o a 120o em azimute, incluindo um conjunto
("array") de elementos transmissores/receptores capaz de produzir os deslocamentos de fase
necessários para gerar e guiar o feixe desejado.

A potência pode ser gerada de forma concentrada no transmissor e então distribuída para os
vários elementos do “array”, ou pode ser gerada de forma localmente distribuída em cada
módulo transmissor/receptor. Neste último caso, os “arrays” são chamados de “phased arrays
planar ativos”, e os módulos podem ser a estado sólido.

O apontamento do feixe é realizado pela correta coordenação dos deslocamentos de fase dos
módulos individuais do “array planar” de modo que os campos eletromagnéticos que eles
produzem estejam em fase somente na direção requisitada, atingindo ganho máximo nesta
direção e ganho desprezível em todas as outras direções.

Com a geometria da figura 3.42, é possível mostrar que o diferencial do deslocamento de fase
entre os elementos adjacentes é da forma da equação (3.38) para módulos horizontais e da
forma da equação (3.39) para módulos verticais.

 truepc = (2/) dx sen cos (3.38)

 y = (2/) dy sen cos (3.39)

Por razões de custo elevado, este tipo de radar ainda não é amplamente usado. Pode-se
encontrar instalações em terra (Cobra Dane, Pave Paws) e a bordo de navios (Aegis Spy-1 em
navios da classe Ticonderoga, e um sistema análogo a bordo do Kirov).

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