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MURILLO MARX r

SEIS
CONVENTOS,
SEIS
CIDA DES
*
4

DEDALUS - Acervo - FAU


981.61 Seis conventos, seis cidades / i

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20200005639

PROFESSOR ORIENTADOR: DOUTOR BENEDITO LIMA DE TOLEDO


TESE DE DOUTORAMENTO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

OUTUBRO DE 1984
—*” . «II

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1 585 1985: a quatro séculos de


trabalho anonimo e postura urbana

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sumário

introdução 4

I O CHÃO
I

1 cerca 23
2 sítio 40
3 localização 58

II A POSSE

4 benfeitoria 76
5 adro 94
6 polarização 111

III O DESUSO

7 reciclagem 129
8 parcelamento 146
9 absorção 163

conclusão 180
9

4
apêndices 185
fontes citadas 195
figuras 21.4


introdução i
i

Seis conventos franciscanos influenciaram as cidades pau­


listas em que se estabeleceram. Fundados no século XVII,
as características das glebas que receberam em doação cons
tituiram, desde então, condicionantes significativas do de
senvolvimento dos respectivos núcleos urbanos. Florescen­
do ao longo dos seiscentos e dos setecentos, as suas ativi
dades e as melhorias realizadas naqueles terrenos foram
contribuições ponderáveis ã vida e ã paisagem daquelas di­
ferentes localidades. Declinando depois a marcante presen
ça das ordens religiosas e, conseqúentemente, a daqueles
claustros em particular, redefiniu-se a função de suas an­
tigas cercas ou redesenhou-se, através do retalhamento das
mesmas, o panorama da ocupaçao do solo e do sistema viário
vicinal. Esta é a tese que aqui se propõe defender.

Tal proposição, considerando a outorga, o melhoramento e a


partilha de seis terrenos ao longo do tempo, diz respeito
a um aspecto restrito, mas não negligenciãvel, da historia
de nossas cidades. Qual seja, o papel das grandes glebas,
conferidas logo cedo ãs comunidades religiosas, na evolu­
ção urbana de nossas aglomerações mais antigas. Reporta-
-se, assim, à compreensão desses centros tradicionais e ao
seu desenvolvimento ulterior, quando tais congregações as-
sumiram participação mais acanhada no meio social. Este
estudo amplia também o conhecimento dos demais estabeleci­
mentos urbanos por vasculhar procedimentos que correspon-
JUlF
■*! Ui
5

dem à cessão, ao beneficiamento e ã destinação renovada de


importantes parcelas do solo citadino. Acompanhando a
transformação do tecido urbano de seis localidades por um
ângulo bem estreito, eventualmente, pode lançar algumas lu
zes mais fundo nas peculiaridades da cidade no Brasil.

Prisma tão parcial, deixando praticamente de lado a consi-


deração e a analise dos feitos construtivos e plásticos (

das seis casas seráficas, tema já de si tão específico,


guarda um interesse bastante atual. Não se trata apenas
do conhecimento maior de determinados conventos que ou de­

sapareceram ou sobrevivem de maneira quase despercebida.
Pretende-se, antes, a melhor compreensão das mudanças urba
nas à vista das opções iniciais, dos investimentos feitos
e das reciclagens promovidas em parcelas importantes de
chão, por mais de três séculos. Parcelamento da terra que
constitui um dos problemas mais candentes em nossas concen
trações humanas de todo o porte, e que esteve literalmente
A

na base de suas consecutivas fisionomias.

Trata-se nao mais, como em trabalhos basilares que levanta


ram entre nós o problema da evolução urbana, ou como em ou
tra etapa dos trabalhos de quem agora se apresenta, de es-
boçar uma visão panorâmica do seu perfil peculiar. Busca-
-se, pelo contrário e através duma pequena mas penetrante
incisão, surpreender alguns dos mecanismos institucionais
que levaram um agente de peso - como foi outrora uma con-
gregação religiosa - a se impor na silhueta citadina. Im
posição que não se encerrou, ainda que esse agente tenha
perdido muito de sua preeminência anterior ou que tenha si
do mesmo varrido por completo de determinado lugar. De fa
to, a antiga gleba dentro da qual se instalara de alguma
forma persiste. Por inteiro, e abrigando outras estranhas
construções, ou subdividida por entre novos arruamentos
que transformaram o seu entorno, condicionados fortemente
pelo perímetro desaparecido.
6

Elegeu-se como objeto de análise tão somente uma porção da


cidade, o terreno, essa parcela do solo. Eleito entre tan
tos outros aspectos para elucidar um pouco mais a nossa re
alidade urbana. Terreno concedido no segundo século de
nossa história para uma determinada instituição com certos
objetivos e outras tantas cautelas. Ora, as idiossincra­
sias dessa instituição, suas tradições, suas metas , suas
possibilidades materiais podem ser cotejadas com a organi-
zação política e administrativa, a legislação, os anseios
e temores da Coroa, das edilidades e das comunidades lo­
cais . Esse cotejo não se exaure no que tange ã concessão
inicial. Instiga quanto aos efeitos perceptíveis em dife­
rentes momentos sobre a mesma paisagem, tanto para a comu­
nidade religiosa beneficiária como para a urbana conceden
te .

Por que os conventos? Porque entre as poucas instituições


oficiais a Igreja estava ligada ao Estado e varias eram
as funções de cunho publico desempenhadas pelos seus esta­
belecimentos - as fundações das ordetfkS regulares se destaca
vam como das mais significativas. Quando presentes em um
assentamento urbano, pelo número de seus congregados e ser
viçais como pela gama de suas atividades, dificilmente
eram superadas quanto à implantação, ao porte e ao requin-
te de suas instalações. E quanto às proporções de seu lo
te! De outra parte, seu terreno, como o das demais cons-
truções religiosas e dos parcos prédios públicos, ao con-
trário dos imóveis particulares, não mudava de dono atra
vês das gerações. Essas grandes comunidades, a par de
suas regras por vezes milenares ou centenárias e sempre su
pranacionais, atravessavam os tempos com sua casa e com
sua cerca. Aquela reformada ou substituida, talvez; esta
raramente mudada. Na equação de tantas variáveis consti-
tuiam uma constante... ou quase.

Quanto ã casa religiosa em si - sua arquitetura e suas ai-


faias não foi objeto de consideração. Exatamente por
7

muito importar e merecer ainda, com suas guarnições, maio­


res estudos, foi excluida para que a importância eventual
de seu edifício e o interesse freqúente de seus complemen-
tos nao desviassem a atenção do alvo em mira: o seu papel
na configuração do espaço urbano, Sendo assim, a capucha
apenas foi tomada como condicionante do panorama citadino,
como melhoria primordial, enfim, da gleba concedida, A cer
ca, considerada sob nove aspectos, entre os quais o conjun
to conventual, ê que centraliza e norteia a argumentação.
E que procura, de maneira propositadamente restrita, aten-
der ao distante convite formulado em 1950, durante o Coló i

quio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, para que


se estudasse a contribuição das principais "religiões” que
entre nós atuaram.

Por que os conventos franciscanos? Porque entre as demais


ordens religiosas, especialmente entre as quatro regras
que tiveram a mais longa e seguida presença nos tempos co­
loniais do Brasil, juntamente com os jesuitas, a Ordem dos
Frades Menores se destaca pelo número de suas fundações e
pela intensidade de seu apostolado. Diversamente dos ina-
cianos, entretanto, não teve ainda uma avaliação mais deti
da de sua influência entre nós. Certamente, a parcimónia
dos seus registros de todo o tipo justifica em parte esta
lacuna da nossa historiografia, fato jã apontado por al-
guns estudiosos de prestígio fora e dentro da própria or
dem, como se verâ a seguir. No âmbito da cultura mate­
rial, e das artes em especial, resta uma esperança de po
der resgatar aquilo que os parcos papeis pouco dizem. Re­
almente, ê bastante representativo o legado franciscano no
que tange âs artes plásticas e ê notória, conquanto ainda
não mais profundamente interpretada, a sua presença urba-
nística no seio de nossas concentrações tradicionais. Daí
constituir-se tal presença um veio promissor para o maior
conhecimento também da cidade.
8

Surgida no século XIII, juntamente com outras então nasci-


das ou reformadas, a nova regra marcou, desde o início do
seu apostolado, a paisagem urbana europeia. Opostamente
às ordens regulares tradicionais, sobretudo aos diversos
ramos agostinhos e beneditinos, a opção franciscana entre-
gou-se de pronto às missões junto ao povo e, por consegúin
te, às aglomerações então em franca expansão, Ã vida re-
clusa do monge, opôs a atividade externa do frade, Ao mos
teiro opulento e isolado nos campos, contrapôs o convento
modesto e junto às portas dos burgos. A oraçao e ao traba
lho para o sustento da comunidade religiosa em suas pró-
prias terras , ofereceu a missão volante aos fiéis e a pos
tura do esmoler para a sobrevivência do claustro. Tais i-
novações foram motivo de muita contestação externa e inter
na, desde os tempos de Francisco de Assis. Avanços e re-
cuos se sucederam como no que diz respeito à reforma alcan
tarina dos quinhentos que interessa particularmente aos
brasileiros. Manteve-se incólume, contudo, o seu nítido
cunho urbano.

Por outro lado, como ordem mendicante e obrigada ao voto


de pobreza, a dos frades menores não podia acumular bens
de raiz. Usufruia de suas casas e cercas, recebidas em no
me do papa e - o que aqui é capital - geralmente não se be
neficiava do produto ou da renda de outras propriedades ru
rais ou urbanas que não aquela em que estava assente o seu
hospício ou convento. Ora, no caso dos franciscanos, por­
tanto e contrariamente aos demais regulares, esta constan­
ê o terreno por eles ocupado, resume to
te na cidade, que e
das as atenções de seus congregados.
congregados, Torna-se, por isso,
mais fãcil acompanhar e precisar o papel da sua gleba em
cada momento. Papel tanto para a comunidade religiosa em
si, como para a comunidade urbana em geral, Expresso fiel
mente pela presença ou imagem da sua sede.

i Finalmente, quem escolheu este breve, restrito e marginal


estudo sobre a influência dos antoninhos em nossas cidades
*
23*1^
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9

estã interessado na obra realizada pelos mesmos e, especi­


almente, nos seus testemunhos plásticos. Aliar este inte­
resse, declarado em Seis conventos franciscanos, seis cida
des paulistas3 ao revelado hã mais tempo em Cidade brasi­
leira e no seu exercício acadêmico e profissional, ê o
I

objetivo do autor. Ou seja, contribuir para o maior conhe


cimento dos franciscanos no Brasil, através da considera-
ção do seu aporte urbanístico. Deixa, pois, de lado por
ora outros feitos daqueles confrades que, sem dúvida, inte
ressam ao arquiteto. Ou, por outra, propõe-se a pesquisar
um pouco mais sobre a cidade em terras brasileiras pelo
prisma da presença e do impacto daquela ordem religiosa.

Por que os conventos franciscanos paulistas? Porque estão


próximos de nossa moradia e de nossa vivência imediata. Os
vestígios de todo o tipo daqueles conventos estão ã nossa
mão e permitiram assim um aprofundamento maior da pesqui-
sa . Não somente quanto ao material disponível, como quan­
to à observação direta do que resta daquelas casas, a pro
ximidade constituiu um dado importante para uma busca de
aspectos tão específicos. Precedida pela visão panorâmica
e introdutória que tem como tema a Cidade brasileira^ a
propositura que aqui se defende diz respeito ã parte do
território nacional que nos é mais familiar. Não poderia
ignorar, no entanto, as demais e suas experiências correla
tas para ter eventual sucesso, como este não deixará de in
teressá-las, já que se atém a procedimentos que transcende
ram terras paulistas.

Vale lembrar, ainda, que ha certos traços interessante ati


nentes ao tramo sul da então incipiente rede urbana brasi­
leira, ora ocupado por parte doestado de São Paulo. As
seis fundações conventuais estavam três na costa e três no
arquitetura,
planalto. Ora, foi importante para a arquitetura, talvez
para o urbanismo, a dicotomia entre os núcleos de beira-
-mar e os de serra acima na antiga capitania de São Vicen
1
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te. As observações correspondentes ficaram assim muito en
*
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10

riquecidas. As seis casas religiosas participavam de as-


sentamentos humanos os mais variados, sobretudo quanto ao
seu destino, o que prestigia ainda mais as análises compa­
rativas pretendidas. Em torno da capucha paulistana, por
fim, as demais distribuiam-se harmoniosamente e todas, ou
seus vestígios urbanísticos, caminham para integrarem o
mesmo e gigantesco campo urbano em avassaladora formação.

Por que os conventos franciscanos paulistas desde o seu es


tabelecimento atê os nossos dias? Porque ao se tomar como
objeto de consideração as interrelações entre o complexo
conventual e a cidade, primordialmente expressas pelo ter­
reno, optou-se pelo elemento de mais longa duração. Consi
derar uma gleba é acompanhã-la durante um longo período,
mais extenso normalmente do que um edifício ainda que ve-
tusto permitiria. Esse acompanhamento implica em locali­
zar as mudanças no diálogo entre gleba e cidade, por con
segúinte, em apreciar os efeitos na malha urbana da explo­
ração do terreno naquilo para que foi aceito, bem como, pa
ra o que não foi. Atê mesmo, após a eventual extinção da
casa religiosa, observar o novo destino da sua antiga cer-
ca ou a alteração de seus contornos. Ao contrário dum pa
limpsesto, o solo urbano, suporte de dramática e caleidos­
cópica aventura humana, não se apaga totalmente; permanece
como suporte de novas escritas, sim, porém marcado indele­
velmente pelas anteriores.

I
A atualidade maior deste trabalho, propugnou por extendê-
-lo no tempo, possibilitando o mais amplo aproveitamento
dos escassos e incompletos elementos informativos de todo
tipo. Não que as fases primitivas, ou mais distantes, da
trajetória em questão não fossem de interesse para a con-
sideração da cidade hodierna, sua herdeira. Contudo, a su
cessão mais completa de todas as etapas ilustrou melhor o
processo em estudo. A pobreza de vestígios, de documentos
os mais diferentes daqueles seis exemplares bem caracteri-
zados, e das próprias aglomerações que os acolheram, reco

-
11

mendou a consideração dum período maior, para uma visão


mais complementada. Incluiu-se, assim, as fases mais re-
centes em que os dados, direta ou indiretamente úteis, são
mais fartos nessa região brasileira tardiamente enriqueci-
da e sofisticada quanto aos aspectos de sua até então te
nue vida urbana.

Fica, portanto, declarado o âmbito deste trabalho, circuns


cri to o seu campo de pesquisa e caracterizada a pretendida
atualidade da tese levantada. O objeto de estudo são con-
ventos franciscanos e, particularmente, suas antigas cer
cas . O que não invalida, ao contrário, convida ã compara­
çao com as questões análogas atinentes ãs outras casas re­
ligiosas existentes na região e alhures. A região escolhi
da para o estudo é pequena e bem definida: são as terras
paulistas de mais antiga ocupação, onde esses estabeleci-
mentos minoritas superavam em número todos os demais, in
cluindo os colégios e residências jesuíticos. O período
considerado é todo o curso histórico da antiga capitania,
província e estado. Nem os tempos que precederam as funda
ções seráficas ficam excluidos, jã que os poucos dados dis;
poníveis para suas localidades são preciosos. O tema ê
restrito, o espaço claramente delimitado também; o tempo ,
a variável totalmente aberta.

São poucos mas valiosos os trabalhos disponíveis sobre os


franciscanos no Brasil. Especialmente significativos no
quadro da pobreza dos registros minoritas, que apontam e
explicam muito bem. Meritório o cuidado dos frades que,
vindos da Província saxónica de Santa Cruz, para restaurar
as duas Províncias seráficas brasileiras, após a instaura­
ção da república, dedicaram-se também ã recuperação de sua
história. Entre outros, frei Sammuel Tetteroo e frei Da-
goberto Romag abriram a senda para os estudos mais numero-
sos, extensos e aprofundados que se seguiram. A obra co
piosa de frei Basílio Rõwer, sob alguns aspectos exausti-
va r alia ã defesa dos interesses ameaçados de sua congrega
12

ção um esforço incansável de pesquisa nos seus desorganiza


dos arquivos . Representa para o presente trabalho uma con
tribuição basilar, pela publicação e interpretação de tan­
tas das raras fontes escritas existentes. E quanto mais
que sua atenção se concentra na atuação dos frades menores
no sul do Brasil, na sua Província da Imaculada Conceição,
que compreendia - como compreende ainda - a região paulis­
ta aqui considerada.

Mas é frei Venâncio Willeke quem faz a passagem dessa ge


ração de estudiosos franciscanos para outra. Deixa-nos um
sem-número de títulos mais recentes de espartana concisão
e rigoroso espírito de investigação. Menos pelos dados
que revela, já que se ateve sobretudo aos arquivos nordes­
tinos da outra Província seráfica, a de Santo Antonio, do
que pela seriedade de suas assertivas, constitui modelo
sempre lembrado. Pesquisas setoriais aparecem fartamente
documentadas nas últimas décadas. Respalda o interessado
na arte e na arquitetura dos minoritas a de frei Adalberto
Ortmann sobre a antiga capela dos Terceiros em São Paulo.
Frei Gentil Avelino Titton nos resgata principalmente as
transformações profundas da Província sediada no Rio de Ja
neiro durante o século XVIII e a reforma delas resultante.

Porém, há ainda autores leigos conceituados que procuraram


uma visão mais ampla da contribuição franciscana entre nos,
enquanto buscaram bem caracterizar as suas peculiaridades
e as conseqúentes dificuldades em resgatã-la. Para Jaime
Cortesão, "na história da formação espiritual do Brasil, o
que se atribui a Santo Inácio deve-se muito mais a S. Fran
cisco. Fransciscanismo e anti-jesuitismo, este, com f re-
qtiência, confundido com anti-castelhanismo, são o anverso
e o verso da formação social, política e religiosa do Bra-
Destacam-se, também, dois pernambucanos: Gilberto
Freyre, com seu A proposito de frades, e Maria do Carmo Ta
vares de Miranda, em Os franciscanos e a formação do Bra-
sil, O primeiro, reunindo uma série de ensaios e pales-
13

tras , aborda sob diferentes ângulos o perfil do frade me-


nor e de sua ação apostolar nos trópicos. Tavares de Mi
randa avalia a primazia da evangelizaçao serafica, a sua
importância no nordeste dos primeiros tempos, a rápida ex-
pansão pela colonia, o papel na educação e o seu interesse
para a expressão artística.

No plano das artes plásticas, a carência bibliográfica so-


bre os franciscanos se acentua. Os frades alemães iniciam
uma avaliação do admirável tesouro artístico deixado pelos
seus antecessores. Frei Pedro Sinzig, em Maravilhas da
religião e da arte na igreja e convento de Sao Francisco
da Bahia3 de 1932, oferece uma obra de referência obrigató
ria sobre aquele grande conjunto monumental. Dom Clemente
Maria da Silva-Nigra, monge beneditino alemão que tanto
contribuiu para a história de nossa arte colonial e do le­
gado de sua ordem, também atenta para os frades menores em
Sobre as artes plãsticas na capitania de Sao Vicente. E
Pedro Antonio de Oliveira Ribeiro Neto neles se detém com
Santos de barro paulista do século XVII.

Quanto a arquitetura, os estudos existentes não condizem


com o porte, a significação e com o numero dos estabeleci­
mentos minoristas, principalmente no nordeste, Nada como
a- obra de Silva-Nigra sobre os construtores beneditinos;
muito pouco como as monografias sobre feitos específicos
dos carmelitas na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba; muito
menos, algo que se compare ao manancial de textos sobre as
construções dos loiolistas. Os de Paulo F. Santos, Mario
Barata, Robert C. Smith e tantos outros estrangeiros, en-
tre os quais sobressai o clássico apanhado de Lucio Costa,
Manancial que constitui a espinha dorsal de nossa história
da arquitetura colonial, talvez justificável mas não sufi-
ciente. Referência obrigatória à compreensão da arquitetu
ra antiga em nossa terra, a atividade construtiva dos ina
cianos continua a merecer contribuições localizadas como o
recente e cuidado 0 colégio e as residências jesuítas no
Espírito Santo.

--
-
— ...
14

No quadro panorâmico traçado por Germain Bazin desponta


uma atenção mais detida ã contribuição arquitetônica fran-
ciscana nordestina. Atenção que, alçada a um capítulo de
seu trabalho fartamente apoiado na documentação então dis­
ponível, faz juz ao destaque de tantos e tão originais con
juntos conventuais. Desde então, vêm aparecendo títulos
que se detêm no legado construtivo minorita, em um determi
nado local como Quatro séculos de arquitetura de Paulo F.
Santos, ou em todo o país como na contribuição de Benedito
Lima de Toledo em Historia Geral da Arte no Brasil. Con­
tribuição que não ignora, igualmente, a presença dos adros
franciscanos, jã exaltados por Germain Bazin na qualifica­
ção entusiamada do adro de Santo Antonio da Paraíba como
"une des plus belles mises en scène de l'art baroque".

São raros os trabalhos sobre a evolução urbana e a histó-


ria de nossas cidades atentos aos seus aspectos espaciais.
Subsídios importantes ã interpretação destes últimos cons-
tituem estudos de geografia, como os de Caio Prado Junior
sobre os fatores e consequências da situação de São Paulo
e os de Pierre Deffontainnes e Pedro Pinchas Geiger sobre
a rede urbana brasileira. Sobretudo, úteis a uma analise
arquitetônica de cada núcleo citadino em si são ensaios de
geografia urbana como os de Josué de Castro sobre o Recife,
os de Theodoro Sampaio e Milton Santos sobre Salvador, os
de Jtlrgen Langenbuch e Pasquale Petrone sobre a grande São
Paulo, além da notável investigação sobre os núcleos pio-
neiros do oeste paulista por Pierre Monbeig. Por razões
disciplinares mais se aproximam das questões de conforma
ção das cidades do que numerosos e sérios aportes no âmbi­
to da demografia, economia, sociologia e da história.

Os aspectos espaciais da evolução de nossos centros tem um


ponto de referência obrigatório e jã longínquo na obra dum
historiador. Em publicação decisiva para o redescobrinten­
to do país e da sua gente, em 1936, Sérgio Buarque de Hol-
landa dedica todo um capítulo a observações penetrantes

/
r
15

sobre as antigas fundações portuguesas na América, compa-


rando-as àquelas dos espanhóis em seu império. 0 ladrilha_
dor e o semeador abre uma discussão que, passado tanto tem
poz mal começou sobre as peculiaridades de nossos primei­
ros estabelecimentos coloniais. Raízes do Brasil ilumina
a experiência lusa de construção de cidades no continente
que contrapõe à castelhana, coetanea e tão contrastante.
Mai s luz sobre tal experiência, especialmente na Asia e na
América, lançam com autoridade diferentes escritos de Jai-
me Cortesão.

0 arquiteto português Mario Chicó tem pequeno mas substan­


cioso comentário sobre as vilas e cidades coloniais do u_l
tramar lusitano em que detecta distintas opções de desenho
urbano em lugares e tempos variados. Aquilo que percebe
usual no Brasil se distingue bem do que encontra na índia,
em momentos relativamente próximos porém em escalas opos-
tas. Pena que seja tão breve... Ê Robert C. Smith quem
vai liberar paulatinamente uma apreciável soma de observa
ções sobre a cidade colonial brasileira em passagens volta
das ã arquitetura ou em títulos diretamente relacionados
com a configuração urbana. De comunicações em artigos,
estes títulos específicos culminam, em 1955, no seu Colo-
nial towns of Spanish and Portuguese America. Calcado no
conhecimento do autor sobre a arquitetura portuguesa e a
brasileira, e referido igualmente aos feitos urbanísticos
coloniais hispânicos, o perfil da cidade antiga no Brasil
desponta numa curta mas densa síntese.

O empenho dos estudiosos do ramo redundou numa visão ainda


esboçada mas jã mais completa de nossa cidade. Visão va­
riada no que tange ao interesse e, sobretudo, quanto ao fo
co de suas atenções. Assim, Paulo F. Santos em suas comu-
nicações mostra-se mais interessado numa percepçao senso
rial da nossa paisagem urbana tradicional. Sylvio de Vas
concellos inclina-se sobre o traçado de Ouro Preto e Dia­
mantina para interpretar sua provável evolução. Com outro
16

estilo o faz Riopardense de Macedo ao observar aspectos de


Rio Pardo e Porto Alegre. Donato Mello Júnior,a partir da
obra de Landi, nos recupera um pouco de sua Belém setecen-
tista. José Liberal de Castro, analisando a cartografia,
reconstitui em rápidas mas perscrutantes observações Forta
leza e outras fundações cearenses. Benedito Lima de Tole­
do recupera perspectivas e fases paulistanas, assentado em
cuidadosa pesquisa dos elementos iconográficos disponí­
veis. Augusto Carlos da Silva Telles esboça a relação en-
tre a ocupação do território nacional e a trama urbana em
artigo para a revista Barroco. Recente contribuição ê a
da norteamericana Roberta Marx Delson sobre o novo desenho
urbano do lusos nos setecentos, desautorizadas as generali
zaçoes que carrega.

Mas e com Nestor Goulart Reis Filho que os distintos apor­


tes de caráter abrangente e geral de Sérgio Buarque de Hol
landa, Mario Chicõ e Robert C. Smith são discutidos e es-
miuçados. A um catálogo de iconografia de nossas cidades
até o ano de 1720, segue-se Evolução urbana do Brasil, nu-
ma tentativa de, até aquele ano, alcançar uma visão compre
ensiva da rede urbana brasileira e de alguns traço.s ca-
racterísticos de seus polos. Mais tarde, com Quadro da ar
quitetura no Brasil, ao analisar o relacionamento das mora
dias e serviços com o lote urbano tradicional e a sua pro­
funda alteração iniciada no século passado, o autor nos
revela condicionantes básicas conformativas das concentra­
ções humanas brasileiras, como o diálogo entre o lote e a
via pública, a sua ocupação usual, bem como, o seu reconsi
derar-se sobre um pano de fundo social em franca ainda;que
tardia mudança.

Para o escopo do presente trabalho muito importou a tese


de Francisco de Paula Dias de Andrade sobre a influência
da legislação sobre a ordenaçao de nossas cidades, assim
como as sínteses de Ruy- Cirne Lima e Costa Porto sobre a
legislação e a ocupação fundiária no Brasil. Importantes


r <5

17

foram os estudos alentados de François Chevalier e Marlin


D. Clausner sobre a formação das grandes propriedades no
México e na ilha de São Domingos. Constante apoio, os le­
vantamentos documentais, especialmente iconogrãficos, e as
interpretações de Chueca Goitia, Torres Balbas, J. E.
Hardoy, Graziano Gasparini, além de outros colaboradores
do excelente Boletin de Caracas. Exemplo sempre presente
para as deduções relativas ao parcelamento da terra e suas
.1
implicações sobre a evolução urbana constituíram Die Stadt
imd ihr Boden de Hans Bernoulli, os aportes de estudiosos I

italianos e sobremodo a contribuição de alguns franceses,


De Jacques Le Goff, a respeito das ordens mendicantes na
rede de cidades medievais; de Georges Dubv,
Georqes Duby, coordenando
uma série de visões sobre a história da França urbana; de
Françoise Boudon, em exaustivas pesquisas e inovadoras ob­
servações a respeito de setores parisienses e da arquitetu
ra chamada menor.

O conjunto das fontes primarias existentes é bastante hete


rogêneo quanto a sua natureza, apresentando outra vez a es
cassez e a descontinuidade dos elementos disponíveis. Por
isso, a decisão de valorizar os aspectos espaciais da urbe,
ganhou maior utilidade para a consecução desta pesquisa,
Além do constante reportar-se ao ambiente e à implantação
de.outros claustros no estado, no país e no continente, a
referência aos arredores do que resta dos seis conventos
em questão foi fundamental. Aos arredores e não aos con-
?.• ’ • •
ventos propriamente ditos porque são aqui eles o objeto ■ *
>
5
-

deste trabalho, sendo que destes apenas dois se conservam


relativamente íntegros, os de Itanhaém e de Sao Sebastião. ■

~ i Paulo
Do antigo complexo conventual,os de Santos e de São
ostentam hoje apenas os templos dos religiosos e dos ir- : 'Ui
mãos leigos. O de Taubaté foi totalmente reconstruído, man
tendo algo de sua frontaria e sineira em taipa-de-pilão nu
ma volumetria que, desinteressante para questões de
íi
tetura,ainda ê útil
* para as do espaço urbano
■ ... ‘'
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evocado pelo seu adro , transformado em praça ; òTb-l”


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18

mentada pelo seu cruzeiro, O entorno destes vestígios ar-


quitetônicos torna--se, portanto, objeto e fonte primaria
em si, atenta â recomendação de Maria Conceição Martins Ri
beiro em comunicação de 1971.

Os elementos iconogrãficos de todo o tipo são essenciais


ao estudo pretendido e, infelizmente, refletem uma região
em que a ocupação antiga só se fez acompanhar de maiores
registros na última centúria. A cartografia quase ine-
xiste até o fim do período colonial para toda a capitania.
à primeira peça do século XVII, juntam-se um esquema, uma
vista de Santos e uma ”feg? por estimação da de Ytu” se
tecentistas e não mais do que os dois primeiros levantamen
tos de São Paulo e de Taubatê às vésperas da independên­
cia! Multiplicam-se as plantas nos oitocentos, principal^
mente para a capital, para Santos e para Itu. As peças
gráficas mais recentes são mais fartas, porém com lacunas
e falhas sensíveis para uma consideração setorial precisa.
Magro também, e precioso em decorrência, mostra-se o con­
junto de vistas e paisagens provenientes do século passado
e devido às missões que, com a chegada da corte, por tais
rincões também perambularam como Thomas Ender, assim co­
mo, às manifestações de alguns artistas regionais como Mi—
guelzinho Dutra. Depois, o advento da fotografia oferece
pista ainda pobre, embora já mais segura, retratando as
profundas transformações iniciadas na segunda metade daque
le século em alguns dos núcleos mirados. As aerofotos,ape
sar de sua grande altitude usual, excessiva para o caso,
por certo ajudaram.

Ç
Da desimportãncia e do prolongado atraco regional, decor-
re um conjunto truncado de documentos escritos e, para es­
ta pesquisa, muito lacónico. Os fundos relativos às ins
tâncias do governo metropolitano e da colonia, em geral,
se restringem a questões de controle e de disciplina das
ordens religiosas; apesar das grandes perdas e da desorga­
nização de alguns arquivos locais, estes por atribuição

:„;i=
19

contem um pouco mais aquilo que interessa ao ambiente urba


no. Os arquivos religiosos, especialmente o da Cúria Me-
tropolitana de São Paulo, jã têm outra generosidade, contu
do igualmente marginal ao assunto em foco. O arquivo da
Província franciscana, hã anos transferido do Rio de Janei
ro para São Paulo, não classificado e catalogado, pouco po
de ajudar por ora além do que frei Basílio Rôwer e outros
haviam desvendado. A documentação cartorial, e particular
mente o Arquivo Aguirra do Museu Paulista, mais importaria
para um trabalho de reconstituição detalhada e exaustiva
da evolução de cada uma daquelas propriedades, o que nao
se pretendeu.

Destaque-se a documentação impressa que foi decisiva para


este trabalho, mormente no que tange ã legislação eclesiãs^
tica e às normas regulares dos capuchos. Da seqúência de
determinações reformadas da Igreja, decorrentes do Concí­
lio de Trento, entre as quais nos falam alto diferentes Si_
nodaes como as de Evora, Porto e Funchal, até as Pastorais
Coletivas e Concílios Plenários deste século no âmbito do
clero secular. Das Atas Capitulares e outros papéis dos
frades menores publicados, até os Estatutos da Província
de Santo Antonio do Brasil e os Estatutos municipaes da
Província da Immaculada Conceyçao} não somente elucidati­
vos quanto ã presença urbana dos seráficos como quanto às
peculiaridades da época e do sul da colonia portuguesa na
América. Tais fontes, de origens e alvos variados, culmi
nam num arcabouço jurídico esmerado e substancioso para es
clarecer inúmeros aspectos de nossa arte, arquitetura e ur
banismo, que surpreende não tenha ainda sido levado na de­
vida conta: as Constituiçõens primeyras do Arcebispado da
Bahia, de 1719. O direito canónico não apenas complemen­
tou como permitiu compreender muito do direito civil, en-
trelaçados ambos em pontos que aqui importam como revela a
monumental obra de Cândido Mendes de Almeida.

■ 1=

/ *
20

Outros registros lançaram alguma luz sobre o estado do con


vento e seu entorno em determinada época ou, quando menos,
sobre a paisagem de cada localidade. Os relatos de visi­
tantes e autoridades civis, militares e religiosas. A crô
nica dos viajantes, farta e acompanhando a crescente impor
tância de São Paulo nos dois últimos séculos. Foi utilís­
sima, dando o retrato da região por época da independência
e de meados do século passado; fascinante, retratando a
profundeza das mudanças acarretadas pelo café, pela imigra
ção e pela urbanização, com impacto notório sobre as con­
centrações, vizinhanças ou sobre os próprios claustros pau
listas considerados. Imprescindível esta crónica para a
reconstituição tanto do meio social como do quadro físico
decorrente. Buscou-se, ainda, a ficção, as memórias e o
gênero epistolar para tal reambientação e como fontes pri­
márias significativas. Desde Rosaura a enjeitada, a pri
meira criação ambientada numa aglomeração paulista, e atra
vês duma produção literária restrita mas que cresceu no
caso paulistano. Dos memorialistas e da correspondência,
extraiu-se algo atinente aos últimos cem anos.

Este trabalho considerou variáveis que dizem respeito pri


mordialmente à configuração urbana e que, por consegtiinte,
são arquitetônicas. Tais variáveis compreendem as caracte
rísticas de forma, sítio e localização urbana das cercas
das seis capuchas coloniais paulistas, as conseqtiências ur
banísticas das benfeitorias nelas criadas (e não as benfejL
torias em si), do seu adro e da atração exercida pelas
suas atividades, bem como, os reflexos ulteriores das alte
rações sobrevindas no seu uso, na sua conformação e na sua
A

vizinhança. A dedução das características, consequências


e reflexos acima constitui o primeiro método aplicado e de
termina o correr da exposição, estruturando as tres partes
e os nove capítulos do texto. Estrutura que nao ignora,
porém não resulta da cronologia; pelo contrário, apoia-se
no encadeamento daquelas variáveis que têm a ver com o es-
paço arquitetônico na escala da cidade.
21

Segue-se a análise comparativa entre os vários dados obti


dos na tentativa de complementar a interpretação, para ca-
da aspecto, das informações muito truncadas existentes e
de detectar semelhanças e dessemelhanças entre os seis ca-
sos perscrutados. Essa analogia se extende a outras clau
suras e localidades em São Paulo, outros conventos serãfi
cos ou não do mundo português de então, ao diálogo conven-
to/cidade muito mais nitidamente perceptível no império
hispânico, além de outras partes e momentos do mundo. A
comparaçao ê arma constantemente empregada não somente pa-
ra contornar a pobreza de informações sobre os aglomerados
tradicionais paulistas e a parcimónia franciscana no regis
tro de seus feitos, com também, para tirar partido da ori­
entação, das normas e dos costumes comuns a uma ordem regu
lar supranacional em seu relacionamento com diferentes ins
tituições e governos, coloniais e independentes.

Finalmente, a partir das deduções relativas aos diferentes


exemplares e do que ofereceram as analogias feitas, indu-
ziu-se determinadas constantes. Determinadas característi
cas comuns aos seis conventos, a suas cercas no relaciona-
mento com os respectivos assentamentos humanos. E mais,
na sua influência sobre os mesmos. Acompanhando as diver­
sas variáveis arquitetônicas, a indução permitiu apontar
alguns dos mecanismos gerais de que se valeram para esse
impacto urbanístico. Mecanismos que existiram não apenas
para aquelas cercas conventuais ou para outras parcelas
privilegiadas de terra, como também, ao menos em princi­
pio, para todo e qualquer concessionário - e depois pro­
prietário - em seu relacionamento com os vizinhos e morado
res, com as instituições municipais e, afinal, com o Poder
Públi co.

*• /d4
Í.4

O CHAO
*

n Francisco de Assis Zhe bastaria um ermo, mas


a S.
esse era santo e esta morto".

José Saramago
Memorial do convento: romance, século XX

4%
í

.. -
i

F1

cerca

No fim da rua do Comércio em Santos, a igreja de Santo An-


tonio do Valongo. O templo, alguns anexos e, ao lado, a
estação ferroviária bloqueiam a passagem de quem se afasta
do centro e do porto. Naquele evocador e ainda febril se­
tor urbano, o atual convento franciscano e o terminal da
estrada de ferro interrompem uma sucessão de quadras rela­
tivamente regulares e divididas em lotes com edifícios de
todo o tipo, muito menores. Consultando as plantas urba-
nas recentes logo se percebe este obstáculo que arremata,
se não mais a cidade, a densa zona portuária, Trata-se,
com algumas alterações, do que foi a cerca dos frades meno
res , a primeira capucha a ser erguida ao sul do Rio de Ja-
neiro, nos confins da colonia portuguesa de então e no que
hoje é o estado de São Paulo.

Gleba que foi, por muito tempo, de praticamente um alquei


re paulista, em torno de 70 braças ou 154 metros em qua­
dra, conforme carta do Barão de Mauã dã conta em (RO
1860
WER, 1957, 152). Ora é fácil avaliar o significado de tal
terreno quando comparado aos demais lotes particulares, cu
jas testadas variavam de 2 a 4 braças ou 4,40 a 8,80 me­
tros (REIS FILHO, 1968, 149). As plantas antigas existen­
tes de Santos, dizem bem sobre a importância relativa da
quela grande área, hoje parte do grande terminal ferroviá­
rio, no mosaico representativo da ocupação do solo naquele
porto. Ârea como essa nem os poucos próprios públicos de-

*í V
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*_____-,. „,,«■■ .... .
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25

A rápida e pitoresca descrição dos limites da terra conce­


dida sugere imprecisão, tanto quanto ã realidade de ocupa­
ção territorial então existente como em relação a sua niti
dez futura. Como seria esta "rua em meio" determinada?
Qual o seu gabarito e, conseqtlentemente qual a exata testa
da da nova propriedade? E, se ê sabido o comprimento do
seu lado seguinte, qual seria o do outro "para o brejo o
que houver"? Constituem estas algumas de tantas dúvidas,
para nao se considerar a insegurança das referências físi­
cas, ou a sua precariedade, como "a ponta das casas de","o
canto do muro do sítio de", um "ôlho d*água", ou como a di
reção "cortando para a pedreira", O curso da cerca deste
primeiro claustro franciscano francamente interiorano no
Brasil fica vago nesta escritura que, não havendo referên
cia, parece não se fazia acompanhar de nenhuma peça grâf i
ca .

Do polígono declarado que constituirá o primeiro cercamen-


to dos antoninhos no planalto, conhece-se, pois, dois la­
dos ou pelo menos a sua extensão. Não se sabe, contudo, a
direção de sua testada, nem mesmo, a da "rua de cima".
Quanto aos demais lados, qual o seu comprimento, que angu-
lo faziam entre si, representam questões talvez solúveis
após exaustiva reconstituição da evolução fundiária no lo­
cal, pelo menos até o surgimento das primeiras plantas da
capital paulista. Para o objetivo deste trabalho, basta
salientar que a área doada era ponderável e a irregularida
de do seu perímetro certa. Ao documento escrito pode-se
acrescentar o arquitetônico e, num rápido vislumbre das
diferentes construções que hoje ocupam a parte dianteira -
não a testada original - daquele terreno, bem como, dos
seus fundos em declive, confirmar estas duas asserções.
Das grandes proporções relativas da gleba e do seu contor
no irregular, dão conta igualmente as plantas de 1810 e de
1868 (figs. 10 e 12), anteriores ao início das grandes
transformações urbanísticas de Sao Paulo.
*

25

A rápida e pitoresca descrição dos limites da terra conce­


dida sugere imprecisão, tanto quanto ã realidade de ocupa­
ção territorial então existente como em relação a sua niti
dez futura. Como seria esta "rua em meio" determinada?
Qual o seu gabarito e, conseqdentemente qual a exata testa
da da nova propriedade? E, se ê sabido o comprimento do
seu lado seguinte, qual seria o do outro "para o brejo o
"O
que houver"? Constituem estas algumas de tantas dúvidas,
para não se considerar a insegurança das referências físi­
cas, ou a sua precariedade, como "a ponta das casas de","o
canto do muro do sítio de", um II"olho d’ãgua", ou como a di
reçao "cortando para a pedreira". O curso da cerca deste
primeiro claustro franciscano francamente interiorano no
Brasil fica vago nesta escritura que, não havendo referen
cia, parece não se fazia acompanhar de nenhuma peça grãf i
ca .

Do polígono declarado que constituirá o primeiro cercamen-


to dos antoninhos no planalto, conhece-se, pois, dois la—
dos ou pelo menos a sua extensão. Não se sabe, contudo, a
direção de sua testada, nem mesmo, a da "rua de cima”
Quanto aos demais lados, qual o seu comprimento, que angu-
lo faziam entre si, representam questões talvez solúveis
apôs exaustiva reconstituição da evolução fundiária no lo­
cal, pelo menos até o surgimento das primeiras plantas da
capital paulista. Para o objetivo deste trabalho, basta
salientar que a área doada era ponderável e a irregularida
de do seu perímetro certa. Ao documento escrito pode—se
acrescentar o arquitetônico e, num rápido vislumbre das
diferentes construções que hoje ocupam a parte dianteira -
não a testada original - daquele terreno, bem como, dos
seus fundos em declive, confirmar estas duas asserções.
Das grandes proporções relativas da gleba e do seu contor
no irregular, dão conta igualmente as plantas de 1810 e de
1868 (figs. 10 e 12), anteriores ao início das grandes
transformações urbanísticas de Sao Paulo.
26

A "rua em meio" estipulada que direção teria? Por certo a


dos limites laterais do primeiro vizinho confinante meneio
nado. Que direção, entretanto, à vista das outras ruas já
abertas, dos lotes já concedidos ou ocupados nas redonde-
zas? Que relação, afinal, com o traçado viário e com o
parcelamento do solo? E "o brejo que houver", qual a sua
extensão exata atê o seu limite, provavelmente o corrego
do Anhangabaú aos fundos? Importa menos aqui um levanta-
mento mais acurado da nova posse franciscana na vila de P_i
ratininga em meados do seiscentismo do que ressaltar uma
maneira de distribuir a terra entre "vizinhos" (ABREU,
1983, 41) ou entre diferentes instituições que atesta, nes
te caso importante e em passagem escrita tão curta, proce­
dimentos formais de praxe e rotineiros, porém não ampara­
dos ou submetidos a uma divisão territorial clara e obriga
tõria no seu risco.

Para a fundação do convento de Nossa Senhora da Conceição,


uma irmandade de Itanhaêm doou a ermida com essa invoca-
çao, parte das alfaias e as suas terras. A escritura la
vrada em 2 de janeiro de 1654, como o documento de confir
’ ‘
maçao do ano anterior, cita a capela e se extende quanto
ao destino das alfaias; sequer menciona o terreno doado.
Este fato obriga, durante pendência judicial sessenta anos
depois (ROWER, 1957, 285 e segs.), a se recorrer ao testa­
mento do fundador da vila. Atê mesmo um direito então in-
suspeitado vai ser assegurado, porém nada transparece que
permita julgar a área total, sua forma e a sua
i relação com
a divisão fundiária dentro da vila. Não importa muito,
pois trata-se, no caso, da doação de todo um património
conferido muito antes a um orago, em que a opção para os
frades já estava circunscrita. E esta era aceitar ou nao
os chãos consideráveis pertencentes ã irmandade, com seus
limites provavelmente bastante irregulares, por causa do
morro que atravessam, e um relacionamento com uma vila in­
cipiente que hoje, apesar das transformações recentes no
balneário, ainda se pode grosseiramente recompor pelo que

' 2Í*'" £
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— -
27

restou do seu núcleo tradicional.

Também no distante Bairro da vila de São Sebastião, um ca­


sal doa ampla gleba para a construção de novo convento
franciscano, com a ermida de Nossa Senhora dos Desampara-
dos (do Amparo depois), de sua devoção. Em 1658, este ter
reno "começa da parte do sul, partindo com as terras de
Luis Cabral Mesquita, e ira correndo para a costa de mar
para a parte do norte cem braças craveiras, nas quais cem
braças entram sessenta e seis braças craveiras" constituin
tes do património da capela que então passava aos religio
SOS . Não tendo o casal "herdeiro forçado", conserva nesta
gleba de cem braças de testada o usofruto de sua moradia
que passara depois de sua morte aos regulares. A escritu
ra impÕe ainda uma série de outras condições e esclarece
mais que "a qual doação das ditas cem braças de terra come
çando do mar salgado correrão para o certão tudo quanto
nossas escrituras rezam, com aguas vertentes e tudo mais
como possuimos". Fica definida, assim, a partir duma pro­
priedade lindeira, a testada junto à praia e fica subenten
dido que,de fundo, vão as terras até o divisor de aguas (POR
TO, 1965, 111).

As fotos aéreas dessa região semi-rural, principalmente a


foto de 1977 em escala 1:2000 (fig. 17), são reveladoras,
três centúrias depois, do porte da grande gleba original e
dos aspectos de sua conformação e da articulação que mante
ve e vem mantendo, de forma mais intensa nas últimas déca­
das, com o de hã muito chamado bairro de São Francisco.
Um pouco recuada no início deste século, a testada corre
paralela ã praia. De seus extremos arrancam as divisas la
terais para dentro e para cima de maneira bem perceptível;
não fazem porém um ângulo reto com a testada e atingem sa-
be-se lã que profundidade. Apesar das alterações na ocupa
ção do solo, que se processam principalmente nestes dias
com a valorização e especulação das terras convidativas pa
ra o turismo, ainda se reconhecem as vontades expressas no
J

28

documento seiscentista de doação. A grande superfície ori


ginal, hoje cortada por estrada estadual e por outras vias,
desmembrada em diferentes pontos, patenteia a ligeira irre
gularidade do contorno desta cerca que não era "em quadra"
"certão”.
mas dotada de muito fundo ou "certão". Claro, não se tra-
Claro,
tava de um lote propriamente urbano, qualidade que seus
restos vão hoje - e só hoje - adquirindo. Voltará, no en-
tanto, a questão dessa vocação urbana frustrada.

H
...Convento da Senhora Santa Clara, o qual sítio e para­
gem houvera ele dito dado aos Religiosos de São Francisco,
para nele se fazer o dito convento, com cem braças de ter­
ras em quadra como deu, e de novo por esta escritura de
doação lhe confirmaram as ditas cem braças em quadra, come
çando dos ditos Religiosos até correndo pelo sapé do outro
que vai para o Ribeiro, e daí enchendo as ditas cem bra-
ças , correrão as outras cem braças até o caminho novo que
os ditos Religiosos fizeram para os campos, e daí para os
campos desta Vila que a tudo deram sempre as cem braças em
quadra, e assim lhe largaram mais aos ditos Religiosos, to
das as terras que se acharem a vir do dito caminho dos di
tos Religiosos para cima, ate entestar com as terras do
Conselho, de campo a campo, e estas terras lhe largaram
pelo Amor de Deus..." Passagem do documento de 1679 que
confirma a doação de cem braças de terra feita cinco anos
antes para os franciscanos erguerem sua casa em Taubaté
1957 , 336-7) e que acrescenta, por parte do
(ROWER, 1957, mesmo
doador, outras cem braç.as em quadra e contíguas.

Como de costume, o tabelião não faz menção a qualquer dese


nho anexo, porem o seu texto é suficiente para atestar a
considerável extensão das terras doadas, e a possível irre
gularidade de seu perímetro, Provável mesmo, se se consi-
derar os aspectos topográficos locais e o fato de serem
elas relativamente distantes da vila e de seu ordenado ar-
ruamento. A primeira planta conhecida de Taubatê, realiza
da por Armand Julien Pallière em 1821 (fig. 20), não dâ

Ír'-Wl
I

29

conta do porte desta propriedade nem de sua conformação,


mas, quase século e meio depois, comprova ainda estar a
mesma isolada da trama urbana taubateense. O traçado da-
quela vila, ainda nos tempos da emancipação política brasi
leira, nao orienta ou condiciona os contornos prováveis da
****
gleba, a vista da posição do convento e da indicaçao clara
de seu adro. Seus limites parecem seguir mesmo as referên
ci as estipuladas no século XVII do "tanque”, do "sapé”, do
"Ribeiro”, do então "caminho novo”, dos ” campos"

Nao subsistindo a escritura ou qualquer outro documento a


respeito da ãrea doada para o estabelecimento do convento
de São Luis de Tolosa em Itú (ROWER, 1957, 408), torna-se
precioso o sumario esboço do brigadeiro Custódio de Sã e
Faria que foi feito em 1774 (Diãrio, 1876, 3P, 228), em
sua curta parada ituana. Nesta "feg? por estimação" (fig.
23), fica declarada a regularidade dos contornos edifica-
dos do últimos1 convento que interessa aqui, fundado em
1691 segundo a interpretação de frei Basílio Rôwer. De fa
to, o convento estã claramente alinhado com uma das duas
ruas existentes, a da Palma, agora dos Andradas. Infeliz­
mente, de novo, sõ a construção estã assinalada, não a gle
ba, ao contrário da dos carmelitas doada em 1718. Conside
rando esta, no extremo oposto da vila, sua dimensão se re­
vela muito expressiva em relação à insinuada para as pou-
cas quadras, seu contorno retangular se mostra nítido e,
sobretudo, sua correspondência de orientação com a das
ruas e largos anotados. Esta orientação, jã se disse, e a
mesma do edifício franciscano e de pelo menos dois dos la­
dos de sua cerca. A regularidade, portanto, existia em
parte, embora não se conheça os fundos e a orografia ai
mais acidentada não estimule a geometrização. Não estan­
do anotada no desenho a perimetral do terreno dos frades
menores fica a sugestão, pela sua situação, de que ia até
o rio e de que seria maior ou igual ã do Carmo. Mais do
que esta, ou como esta, de qualquer maneira muito maior
que qualquer outra parcela que se possa considerar urba-

- ? - '
30

na. Os documentos referentes à transferência deste chão


para o bispado de São Paulo em 1918 e a sua venda logo de­
pois para a Fabrica de Tecidos São Luis, desprezados os de
créscimos que ocorreram ao longo do tempo, poderão preci-
sar, se nao a dimensão exata da terra originalmente doada,
com certeza a sua ordem de grandeza aproximada.

A superfície dos terrenos obtidos, nos seis casos conside­


rados, variou de cerca de um alqueire paulista a dois ou
mais . As 70 braças em quadra concedidas no antigo bairro
do Valongo para instalar a casa religiosa santista, dadas
as condições locais, são facilmente computáveis. As bra-
ças quadradas ou os metros correspondentes da casa paulis­
tana exigem um cálculo mais cuidadoso. Em ambos os casos,
essa facilidade maior e menor de calculo, atinente ao rele
vo e à evolução urbana, não importa para a avaliação da or
dem de grandeza relativa destas superfícies: elas são gran
des, muito grandes em comparação com as demais concessões
nos respectivos assentamentos. Mais difícil ê o calculo
das terras cometidas originalmente aos seráficos no bairro
de São Francisco no litoral norte e, serra acima, no vale
do Paraíba. Umas, bem conhecida a testada, têm extensos
fundos; outras compreendendo duas porções de 100 braças em
quadra, deixaram dúvida quanto a sua conformação. Não faz
mal, para este estudo basta lembrar que são ãreas pelo me­
nos quatro vezes maiores do que as primeiras. Quanto às
glebas recebidas em Itanhaêm e Itú, algumas evidências de
sua grande proporção relativa foram mostradas; outras de-
correrão de novos fatos que os tempos apresentaram.

A conformação destas cercas era quadrangular, ora tendendo


ao quadrado como em Santos, ora ao retângulo como em São
Sebastião. Na maioria das vezes, contudo, aproximavam-se
mais do trapézio ou do paralelogramo pelas condições topo­
gráficas locais que deformavam as duas tendências aponta
das acima. É o caso de São Paulo, de Itanhaêm, de Itú, de
Taubatê e, a rigor, mesmo de São Sebastião. Ê que, estipu

.A
r

31

lada a testada e referido o mais aos chãos confinantes jã


concedidos ou a referências físicas variadas, os elementos
da paisagem acabavam por prevalecer dentro das normas le-
gais de cessão de terras (PORTO, 1965, 110-3; OCTAVIO,
213) .
1929, 174; CASTRO, 1970, 213). Destas a prática se aproxi
mava quando o solo e o seu eventual parcelamento permitis-
sem, como em Santos numa bacia sedimentar, ou parcialmente
em I tú num extremo da pequena vila. Definida a testada,
aí puderam os lados imediatos, ou um deles, partirem para
os fundos em ângulo reto. Como não poderiam todos fazer z
em Sao Paulo, junto ãs barrancas do Anhangabau, ou em Ita-
nhaêm, onde a própria testada originária seccionava o pe
nhasco. Essas peculiaridades do parcelamento não eram,
por certo, exclusivas das cercas franciscanas, nem mesmo
das pertencentes ãs outras ordens religiosas (LIMA, 1954 ,
40-1). Devido, porem, a seu porte significativo, seriam
aquelas como estas de maior peso na constituição do mosai­
co de ocupação do solo do que os demais lotes comuns, trans
posta a questão para o quadro citadino.

Ora, esses bens de rai z tão extensos e de contornos por


vezes tão pouco regulares - iriam afetar com o correr do
tempo, da expansão e do adensamento dos respectivos assen-
tamentos a traça de novos terrenos lindeiros e arruamen- •
tos. O parcelamento anterior das terras, em qualquer dos
seus estágios, sempre, e o risco urbano, eventualmente,con
dicionaram de saída essas glebas. A trama urbana, em si,
não explica a figura variada e geralmente irregular das
concessões. Particularmente, a malha viãria, o curso das
ruas, sobremodo da rua que dava acesso ao estabelecimento
religioso não preponderam; pelo contrario, a nova cessão
de terras se lhes sobrepunha ao curso e à direção. Assim,
em Santos e em São Paulo, ruas são truncadas, ficando afas
tada a possibilidade de sua extensão futura, para ensejar
a valorização da frontaria dos templos que na sua direção
se ergueriam. Itú, contudo, apresenta solução oposta, com
a testada dos congregados acompanhando o alinhamento de
32

uma de suas vias e a direção de todas, No que tange ãs de


mais fundações minoritas, isoladas do casario, parece ter
sido mais a praia ou o morro que condicionou o curso de
sua testada. Ou a reverência para com a igreja matriz...

Tais características relativas ao tamanho, ã forma e a ar-


ticulação urbana das cercas conventuais franciscanas encon
tram-se por toda a antiga colonia portuguesa. As glebas
das outras ordens regulares as apresentam também amiúde,
com pequenas variações que outros estudos poderiam particu
larizar. Em terras paulistas, além das suas outras propri
edades, rurais ou urbanas, que em geral os frades menores
não acumulavam, as demais ''religiões" tinham suas cercas
entre as maiores de cada lugar. Destas e dos outros bens
de raiz dão conta diferentes levantamentos ou inventários
solicitados na segunda metade do século XVIII pela Coroa
ãs congregações religiosas e guardados em cópia no Arquivo
do Estado ou publicados, dentre os quais, pela riqueza de
informações destaca-se o Mappa Geral dos Conventos existen
tes na Capitania de S. Paulo, de 1798. Esses papéis tão
preciosos para se avaliar os mais diferentes aspectos rela
tivos ãs várias clausuras, entre eles os fundiários, obser
vam no entanto o respeito ao voto de pobreza dos francisca
nos e dispensam a declaração circunstanciada de seus have-
res e a descrição de suas cercas!

Da grande área que ocupavam os conventos franciscanos nos


mais antigos núcleos brasileiros há exemplos flagrantes, O
convento de Nossa Senhora das Neves em Olinda, o primeiro,
o de São Francisco na primeira capital e o de Santo Anto
nio em João Pessoa são casos notórios para quem conhece
aquelas cidades. As consideráveis superfícies de seus res
pectivos terrenos se evidenciam ainda hoje pelo que delas
restou. Theodoro Sampaio (1949, 276) menciona o significa
do das propriedades dos beneditinos e dos carmelitas em
Salvador; Milton Santos (1959, 115) ressalta a proporção
do centro soteropolitano detida pelas ordens religiosas em
33

nossos dias. Como Cristopher Columbus Andrews (1887,


330) e William Hadfield (1869, 68), Oscar Canstatt há mais
de um século, referindo-se ã Bahia comenta que aquelas con
gregaçÕes foram "aquinhoadas com grande doações, de manei­
ra que ainda hoje pertencem ao número dos maiores proprie­
tários de terras do Brasil" (1954, 252). O imenso patrimô
nio dos beneditinos no Rio de Janeiro impressiona muitos
outros visitantes estrangeiros, ao longo do século passado,
como Thomas Ewbank (1976, 102), Daniel P. Kidder (1951,53)
e Robert Walsh (1830, 341 e 362) .

Quanto à forma de alguns lotes urbanos ocupados pelos esta


belecimentos franciscanos, basta consultar as plantas ca­
dastrais do Rio, Angra dos Reis, de Salvador, Marechal Deo
doro, aglomerações humanas de significação e porte atuais
tão distintos, para constatar que a regularidade não se
faz presente. Ao contrário, o perímetro irregular é gri-
tante e se apoia também em aspectos orográficos como se ve
rã adiante. Apoia-se, contudo, em primeiro lugar, em pro­
cedimentos de concessão da terra que toleravam a interveni
ência de outros fatores além de um traçado urbano porventu
ra existente ou desejado. Realmente, desponta agora a pon
derável interveniência das normas eclesiásticas e seráfi­
cas, assim como, das decisões diocesanas e Provinciais. As
Constituições do arcebispado da Bahia, emanadas do sínodo
de 1707, calcadas em outras sinodais portuguesas anterio-
res como as do bispado de Funchal e as primeiras que se co
nhecem feitas no Brasil, não deixam margem a dúvida quanto
%

ãs atribuições da Igreja - então unida ao Estado - e ã com


petência de seus dignatários em diferentes matérias, Al—
gumas interessando à cidade...

As constituições de número 683 a 686 são minuciosas e taxa


tivas quanto a que nenhuma nova "Igreja, Ermida, Capella,
r -
Mosteiro, Convento ou Collegio", ou sua reconstrução, seja . ' <

feita sem autorização do Ordinário. "Para concedermos a


r •••■ x? a
licença, que conforme o Sagrado Concílio Tridentino é :i nerv •
&

"r *•• - «ó»

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Jh;
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■ ■111*

34

cessãria para se fundar, ou instituir de novo algum Mostei


ro de Religiosos, ou Religiosas em nosso Arcebispado, pos­
to que sejam isentes, mandaremos primeiro ver o lugar, e
sítio em que se quer fundar, e tomaremos informação das
rendas e bens que se lhe applicão" reza a de número 690.
E a seguinte, ficando certo "que com as rendas, ou esmolas
(sendo Religião que não possue bens em commum) se poderão
sustentar sem prejuízos dos outros Mosteiros jã fundados,
lhe concederemos licença taxando-lhes o número de Religio-
sos , ou Religiosas" (254). De sua parte, os contemporâ­
neos Estatutos municipaes da Província da Imaculada Concei_
çao do Brasi l são claros no acatamento âs determinações su
pra: "Nunca se fundará Mosteyro algum de novo, com prejui
zo dos antigos, havendo primeyro licença do Ordinário, co­
mo o Concilio Tridentino ordena" (1717, 152). Ora, o tra­
çado urbano, portanto, não se impunha soberano perante uma
gleba concedida sob tais condições, mas a acolhia, como e-
lemento privilegiado e capaz de redefinir-lhe o desenvolvi
mento. Igarassu, São Francisco do Conde e Vitória ilus-
tram exemplarmente ruas truncadas ou desviadas para rece
ber a testada da cerca e prestigiar a frontaria da igreja
conventual.

Na América hispânica, em que a urbanização repetiu cente-


nas de vezes, da Califórnia ã Patagônia, um risco em qua
drícula, o parcelamento da terra citadina ficou condiciona
do de origem e ao longo dos séculos a dimensões modulares,
a limites ortogonais e ao império duma malha viãria unifor
me. Interessa, por isso e a par da experiência correlata
de colonização, observar como se deu lã a distribuição de
lotes às diferentes congregações religiosas e ã francisca-
na em especial. As muitas variações de ordem regional nas
colonias espanholas, implicando em desafios diferençados a
obra de evangelização das ordens regulares, enriquecem a
consideração desse embate entre prestigiosas comunidades e
o poder concedente de terras. Este, como na América portu
guesa, era o monarca (MORSE, 1962, 326 e LIMA, 1954) em úl
35

tima instância, através de determinados agentes como o ca-


biIdo. O que distingue essas duas experiências ibéricas
de cessão das terras no novo continente é menos os procedi.
mentos formais do que o fato de que nos domínios de Espa-
nha a cessão vinha junto e se subordinava a um concerto de
parcelas bem delineado, O que obtiveram os frades menores
em latitudes e longitudes tão afastadas disto constitui
prova cabal.

É o que se vê em aldeias, vilas e cidades, excetuadas as


primeiras fundações missioneiras dos mendicantes no México
com outras peculiaridades (PALM, 1973, 30), desde o século
XVI. A retícula urbana finalmente estipulada em detalhe
nas ordenações de 1573, mais tarde reunidas como Recopila-
ción de Leyes de los Reinos de las índias^ porém praticada
muito antes e amadurecida em diferentes instrumentos le-
gais e administrativos (HARDOY, 1975, 318), dividia a fun
dação urbana em quadras iguais. "manzanas " por sua
Estas "manzanas",
vez, eram divididas inicialmente em quatro lotes, ou "sola
res"
II
. Muito grandes, estes foram sendo subdivididos a pon
to de quase se perder a noção de seus limites primitivos
(GASPARINI, 1968, 36). Ainda assim, as ordens religiosas
para ereção de seus conventos freqúentamente recebiam mais
de um "solar". Tal se devia não só ã importância do seu
apostolado para a ampla tarefa colonizadora, como também
ãs necessidades de abrigo e sustento dos muitos congrega-
dos em suas diversas atividades. Ao se folhear publica-
ções da rica cartografia dos núcleos coloniais espanhõis
como Planos de ciudades
Planos de ciudades Iberoamericanas
iberoamericanas yy Filipinas
pi npmas3 logo
fica patente a consignação de terrenos excepcionalmente
grandes para os dominicanos, agostinhos, mercedârios, De­
suitas, carmelitas e outros. Fica patente e gritante,
pois , os primeiros riscos dos novos estabelecimentos osten
tam nao apenas o rígido desenho comum como a especificação
dos diferentes concessionários. Se não todos, a maioria
dos "solares"II comparece com o nome dos colonos ou institui
ções devidamente anotados.

«■I
36

De tal forma, que nao ê difícil localizar as glebas conce-


didas aos frades menores e avaliar algumas de suas caracte
risticas. A primeira é o porte significativo, que ou igua
la ou supera o das demais clausuras. Tal porte, expresso
de forma tão contundente, sugere, com maior clareza do que
na escassa e heterogénea iconografia dos centros coloniais
brasileiros, alguma razão. Provavelmente, o caráter mendi
Provavelmente,
cante da ordem e o fato de, usualmente (CHEVALIER, 1952,
310) , não acumularem seus estabelecimentos outras posses
além daquela que abrigava sua sede, "Detrãz del Convento
de San Francisco había una considerable huerta de perten-
cia del mismo convento" (MESA e GISBERT, 1975, 41), embora
estivesse o mesmo de banda em La Paz. Os moradores de Ca-
bo Frio, aliãs, também pedem para os franciscanos,em abril
de 1617, "sítio, em que fundem o seu Convento, e muro ne-
cessãrio ao dito Convento, em que possam fazer a sua horta
liça para a sua sustentação" (ROWER, 1957, 373). Não have
ria, deveras, bem de raiz rural de apoio para tal e outros
fins .

Na planta de fundação de Mendoza de 1562 (fig. 27), junto


com os diversos "vecinos" e outras instituições, estão as-
sinalados os terrenos consignados aos minoritas francisca-
nos e aos dominicanos. Ambas as regras recebem quatro "so
lares" ou seja toda uma "manzana" cada uma. A própria e-
xistência desta planta - sendo preservadas inúmeras de ou
tras localidades revela uma rigorosa e previdente forma
de ocupação do solo. Precede à eventual cessão, quando da
fundação do núcleo ou depois, uma ordenação geral de parce
lamento. O que agora importa é que duas ordens missionei-
ras recebem o quadruplo da área de chao cedida aos demais
colonos ou entidades. O próprio governador elabora, e ane
xa a uma relação escrita, o plano de Caracas em 1578, o
qual indica toda uma "manzana" ao convento franciscano
(GASPARINI, 1968, 20) que é o único novo concessionário as
sim aquinhoado (fig. 28)- Existem inúmeros exemplos de
tais concessões originais, entretanto, tal tratamento pri-

- ■. - ■ - -
37

vilegiado não bastava, sendo freqúentes também os casos em


"manzana H eram obtidas pelos frades meno-
que mais de uma "manzana"
res. Algumas vezes por outros regulares igualmente, mas
nunca com a incidência e com a ãrea daqueles (CHUECA GOI-
TIA e TORRES BALBAS). É o que se deu em Buenos Aires, em
Lima, em Panama La Vieja e em San Luis Potosí no México.

De qualquer forma, torna-se muito expressivo o fato de que,


seja quando da fundação urbana, ou depois ao longo de sua
evolução, grandes glebas franciscanas vieram a romper, de
fato, o rígido esquema de ruas em grelha. Corrompendo o
claro tabuleiro de xadrez, como mostra belíssima vista de
Lima em 1758, as dependências conventuais "constituianse
en una animada agrupaciõn de formas arquitectõnicas que
ronpían dramaticamente la riguidez geométrica del plano de
la Ciudad" (CAMILLONI, 1972, 60). "The convent of the
Franciscans, which is calculated covers an eighth part of
the whole city, forms a small town within itself", observa
Caldcleugh sobre a mesma casa religiosa (1825, 57). Para
não dizer dos claustros de Quito e de Cordoba que impressi
onaram a tantos outros viajantes. Se assim foi no império
espanhol, o que não teria sido no ultramar português? Que
influência terão tido essas grandes cercas em tramas urba­
nas que, se não estavam isentas de regulamentação, não a
consubstanciavam geralmente através dum risco claro s ob r e
o papel quanto mais sobre o chão? Aqui, ao contrario de
lã, as laterais dessas parcelas não se constrangiam a mõdu
los determinados, nem ao curso ortogonal imperioso das
vias públicas.

Uma tão nítida distinção relativa ao desenho urbano terã


vários motivos ainda não averiguados à exaustão, Entre
eles, um paralelo de ordem institucional aflora revelador.
No mundo lusitano as sucessivas ordenações, validas no ge­
ral para a metrópole como para as colonias, sancionavam al
gumas determinações canónicas específicas através de deze-
nove concordatas estabelecidas com a Igreja (ALMEIDA, 1866,

•Òf?
< -
38

200) . Os reis castelhanos, na sua legislação elaborada pa


ra os domínios coloniais, que culminou na Recopilación, cu
jo Libro I foi integralmente dedicado às matérias eclesiãs
ticas, "daban sanciõn civil a los cânones” (HOYOS, 1945,
60), ao mesmo tempo que voltavam o Libro IV ãs questões
que aqui interessam de "poblaciõn, obras públicas, etc.”.
Ora, o notável corpo jurídico que detalhava uma configura­
ção urbanística uniforme pretendida incorporava antes prin
cípios do direito canónico. Segundo estes também, por con
seqhinte, submetia os estabelecimentos religiosos a uma or
dem geral de parcelamento. A Coroa lusa, não; concertou a
distribuição da terra urbana contra o pano de fundo de
seus acertos casuísticos entre o direito civil e o eclesi­
ástico .

II
La parcelle est le plus pétit dénominateur commun de 1'im
plantation humaine ou se retrouvent les éléments juridi-
ques , sociaux, économiques qui font 1’histoire de la terre,
ou se succedent les expériences de la culture el de 1’habi.
tat. L'analyse historique de la structure parcellaire du
- __
tissu urbain est bien le moyen de faire apparaitre le lien
entre le lieu et 1'architecture, entre le lieu et la fone-
tion. Elle seule permet d'expliquer les rapports de cha-
que élêment avec son voisin et d’enregistrer la variété de
chronie des différentes'sêquences urbaines” (BOUDON, 1975,
773). A historiadora francesa, tão sensível ao que uma
cuidadosa releitura do espaço citadino possa revelar, cen-
trando suas atenções em determinados setores de Paris far
tamente documentados recomenda "le passage par la rigueur
implacable de la microanalyse". sensibilidade. tão rara
A sensibilidade,
no seu campo de saber, para detectar os dados do meio físi
co permitiu-lhe esta constatação que aqui se chegou por
outros caminhos: "Une parcelle se caractérise en effect
par la forme de son contour, sa surface, ses connexions
avec 1'espace qui 1'environne” (784).

-Ki
39

Observando os vestígios que restam na paisagem urbana das


seis casas seráficas que nos seiscentos se estabeleceram
em terras paulistas, bem como, as escassas peças gráficas
e certos escritos subsistentes, destacam-se três caracte-
rísticas de suas cercas: o grande tamanho, a irregularida-
de ou imprecisão dos perímetros e a sua não correspondên
cia geometrizada com o tecido urbano. Algumas comparações
permitiram constatar as mesmas características em proprie­
dades antigas de outras ordens religiosas no que é hoje
«
o estado de São Paulo, além de percebê-las com muita inci­
dência no Brasil colonial, especialmente quanto aos estabe
lecimentos franciscanos. Permitiram, também, perceber cor
respondências significativas nas fundações congéneres da
América hispânica, onde o plano urbanístico rasgado na ter
ra era bem outro. Estas três características insinuam que
as datas de terra concedidas àquelas casas de regulares fo
ram marcantes nas aglomerações em que se situavam e de mol
de a influenciar seu desenvolvimento ulterior.

Se a cessão de uma ponderável parcela a um importante a-


gente colonizador teve tal reflexo logo de início sobre os
acanhados estabelecimentos de então e propiciou novos ecos
em conseqtiência, é de se supor que outros agentes bem aqui
nhoados pelo incipiente parcelamento urbano os tenham in­
fluenciado também. E tenham tido um relacionamento seme
lhante com as instâncias do poder temporal através dos tem
pos. .

«A

PR
2 sítio

...escolheu o sítio em que hoje estã fundado o convento,


II

por lhe parecer mais acomodado e por ser fãcil o conservar


água dentro" ê o que diz frei Antonio de Santa Maria Jaboa
tão em seu Novo orbe seráfico de 1760. E ainda, nas suas
memórias sobre a fundação do convento de Santo Antonio de
I
Santos: ■"Para a fundação do convento fez a Camara da Vila
hua escritura ao Custódio Fr. Manuel de Santa Maria, pela
qual se obrigava a dar-lhe o sítio que ele escolhesse, e a
donos"..
pagar a terra a seus donos" O local escolhido na verdade
tinha "tres, ou quatro pretendentes", "da parte, que corre
longo ao Ribeiro e... da parte onde vem a agua para o si-
tio do Convento", de acordo com o mesmo cronista da ordem.
A única das escrituras conservadas acusa estar o terreno
limitado da "banda do norte com o mar salgado" ""e da parte
do leste com o ribeiro que desce de Nossa Senhora do Des-
terro para o mar" (ROWER, 1957, 129).

Na planta de 1770 mencionada, a gleba obtida pelos francis


canos se apresenta claramente contida pelo ribeiro de Nos-
sa Senhora do Desterro e pelo canal em que desagua perpen­
dicularmente, junto ao chamado Porto do Bispo, pintado por
Benedito Calixto e por M. Rizzoli (figs. 8 e 7). Estas
telas atestam estar o adro e a frontaria do convento do
Valongo dcminando este que foi um dos mais privilegiados de
sembarcadouros do antigo núcleo santista. De hã muito se
canalizou o córrego, que vem do morro ocupado pelos benedi
41

tinos, e no fim do século passado os trabalhos portuários


afastaram o mar, eliminando o Porto do Bispo, embora frei
Apolinãrio da Conceição, na terceira década do século
XVIII, não deixa de descrever o convento junto ao braço
de mar, II sobre o rio por um lado o acompanha. Por cuja
causa, alguma coisa notado de úmido e melancólico, por es-
tar, como a vila, cercado de serranias e arvoredo" (1972,
139). Implantação siginificativa, também, ao se conside-
rar a que preferiam originalmente seus congéneres na orla
vicentina.

O Senado da Camara paulistana, na véspera do Natal de 1642,


concede aos frades menores um novo terreno porque o anti-
go "sítio ê falto de água, e mui sujeito ã inclemência do
** ■ — ■ ■■■— i — — — —•

tempo, por ser lugar alto, e desabrigado, e mais para bai-


xo do dito sítio para a banda do rio Anhengobã está outro
capaz, e acomodado..." Justifica ceder "aos suplicantes
os chãos, e brejo que pedem, visto ser para o bem comum, e
melhor ornato do culto divino, e ficar esta vila mais eno-
brecida, ficando no sítio confrontado" o convento de São
Francisco e São Domingos, Numa das bordas da colina em
que nasceu a capital paulista, "por sinal que uma das mais
irregulares e estreitas das que constituem o quadro das co
linas tabulares regionais” (AB’ SABER, 1956, 202).O bre-
jo, mais de uma vez mencionado no documento, parece ser a
calha do Anhangabaú para a qual se debruçavam QS__f.und.OLS do
conjunto conventual e até a qual descia sua cerca,
r ■ 1■ i 111 • — _ _ _

Ao tempo da independência, Saint-Hilaire observa que os


três conventos para homens na cidade de São Paulo "foram
edificados nos locais mais favoráveis, bastante afastados
uns dos outros, sobre os limites da plataforma onde termi
na a colina, e de cada um deles se descortina uma vasta ex
tensão da planície” (1945, 175). Talvez este fato tenha
levado à crítica de Pearce Edgcumbe ao fim do império: "San
Paulo is situated on the top of a lofty ridge in the midst
of a wide elevated plateau of undulating hills. From an

* • -x :
42

artistic point of viev; it is finely placed, but from more


mundane aspects might be more consequentely situated"
(1887 , 64) . Realmente, no início deste século e especifi-
camente a respeito dos franciscanos, Paul Adam afirma em
Les visages du Brésil, p. 121: "Leur esprit esthêtique qui
sút, par tout le Brêsil, choisir les sites grandioses pour
1'emplacement de leur cloítres, a laissé dans Saint-Paul,
un plaisant édifice".

A mudança de sítio pedida pelos próprios frades ê importan


te porque revela que o cuidado na escolha correta do lugar
para erguer um novo claustro podia ser motivo para reconsi
derações dentro da própria custódia. No caso, a
questão
da água e as desvantagens climáticas estão declaradas ex-
plicitamente na nova carta de data expedida três anos de
pois da primeira, com o local finalmente acertado. "Ê mui

to alegre e aprazível e participa de bons ares e águas,por
que, atê, de tres fontes diferentes e de diferentes ãguas
que hã na cerca, a da fonte da Conceição é tão singular ,
que dela a bebem os governadores e algumas vezes se vêm
buscar do Colégio, Passa pela mesma cerca um ribeiro, mas
este em ocasiões de chuvas nos dá detrimento por causa de
arruinar os muros, por onde tem sua correnteza" (CONCEI­
ÇÃO, 1972, 145). Pouco tempo depois, em 1744, a gleba não
somente dispõe de ãgua potãvel canalizada como se pensa em
oferecer as sobras para uso da população (FREITAS, 1929,
54). Quanto ãs cheias do Anhangabaú, Ernani Silva Bruno
as refere em seu clássico Historia e tradição da cidade de
Sao Paulo.

Ja se viu que a escritura pública não faz sequer menção ãs


terras que, com a ermida de Nossa Senhora da Conceição de
Itanhaêm, foram doadas aos franciscanos. Sendo o santuã—
rio então muito venerado, não coube aos frades escolher o
sítio, porém^tão somente aprovã-lo, através do seu Custo-
dio em pessoa (WILLEKE, 1970, 99 e JABOATÃO, 1858-62, 583) .
Aceitaram, ê verdade, um sítio tão destacado quanto difí-

_
43

cil, o que talvez fõra o motivo para que tivesse deixado


de ser a sede da freguesia e, muito antes, o próprio assen
to daquela vila, como afirma o Santuario Marrano. A cons­
trução muito posterior do convento patenteia o desafio re
presentado por este local que só se compara ao do convento
capixaba de Nossa Senhora da Penha, a outra das "balizas"
(ROWER, 1957, 407) no extremo norte da Província da Imacu­
lada Conceição. "Dele se descobre o mar sem tropeço, A
vilinha lhe fica por baixo e a terra pelo outro lado", co-
menta o Eprtome (154). Por isso, Martim Francisco faz daí
também suas observações geomorfolõgicas e geológicas (1977,
179) .

Esta acrópole pequena, isolada e marcante estava um tanto


afastada da praia, como notara da vila o próprio Martim
Francisco, porém muito próxima do rio Itanhaém e, por con­
seguinte, do seu modesto ancoradouro: "neste rio podem en
trar pequenas embarcações, as quais podem sair ã meia car-
ga, e acabar de carregar fora, segundo me asseveram". Me
lhores "serião embarcações mais rasas, largas, e de fundo
de prato", para Vellozo de Oliveira (1822, 36) . Segundo o
Diccionario topographrco do império do Brasil, p. 76 , o
"porto he mao, e só da entrada a pequena lanchas..." To-
dos, a par das limitações, confirmam a utilidade deste em
barcadouro, perto do qual estava a mais sulina capucha da
colonia portuguesa, Contudo, o rio Itanhaém sofreu com o
tempo um "forte desvio •i — seu curso (fig. P ) ,
em -- "tornando
a barra de mais difícil acesso e roubando aos frades do
Convento do alto do morro o seu porto" (ARAÚJO FILHO,s.d.,
41). Charles e, mais tarde, Henri Morei apontam a existên
cia de apenas duas fontes, sendo a única dentro da vila de
então a que estã na falda do penhasco que sustêm o cenó-
bio. porto e a nascente, se não motivaram a eleição
0 oorto
O do
sítio, devem ter respaldado a aceitaçao do difícil local
oferecido à ordem.
44

Os doadores de outra ermida, a de Nossa Senhora do Amparo,


no litoral norte paulista, a entregam com suas vastas ter-
ras e ainda
ainaa outras "com
com aguas vertentes e tudo mais". O
vasto termo da vila de São Sebastião "forme deux bons
ports, S. Francisco, au nord du canal et S. Sebastião vers
le sud. Celui-ci, large et profond, est un abri A
sur If

(MARC, 1889, 293).Entre os vários ancoradouros existen­


tes naquele amplo canal e naquela recortada costa, des ta
cam-se aqueles dois portos (ALMEIDA, 1959, 17). As quali-
dades protetoras de todo o canal entre o continente e a
ilha de São Sebastião já no século XVI eram apontadas por
Anthony Knivet, p. 180. Qualidades que, como no remanso
do antigo bairro de pescadores e ceramistas, poderiam ter
aproveitado também aos mercadores clandestinos de escravos
que abundavam na região e a outros... "This is a very se-
cure Harbour for Shipping; a Stranger may go in or out
without any Difficulty" (BULKELEY e CUMMINS, 1743, 192) .

Mas é frei Agostinho de Santa Maria, no décimo volume de


sua obra, p. 108, publicado em 1723, que atesta de forma
irrefutável a excelência do ancoradouro diante do claustro
seráfico e que dá uma explicação decisiva para este estu-
do: "Ve-se este Convento fundado huma legoa antes de se
chegar á Villa de São Sebastião, & derão-lhe este lugar,
tanto por haver naquelle bayrro a mayor parte dos morado­
res, a quem os Religiosos assistem com muyta caridade, & o
fazem como se fossem seus Párocos, como também pelo sitio
da Villa não ter bom porto, & andarem os moradores naquel-
le tempo com a tenção de mudarem a Villa para o mesmo si.
tio, em que estava o Convento, o que nunca se effeytuou”.
Tal passagem do Santuarzo Marzano revela que esta fundação
minorita pretendia também ser francamente urbana. Mais,
ousara antecipar-se a uma cogitada mudança da sede do ter-
mo 1 A vila não mudou, o destino da casa religiosa foi bem
outro e a enseada do Bairro, protegida do vento sul, não
teve de ser preterida com a chegada recente dos navios de
grande calado.
45

A paisagem deslumbrante arrebata os poucos que visitam a-


quelas plagas. Ou mesmo os que forçam um desembarque e
um contacto com os moradores como os tripulantes da expedi
ção holandesa de 1721, que visitam a vila, o Bairro e o
convento e deixam talvez a mais antiga descrição a seu res
1739) .
peito (BEHRENS, 1739). "At this Place I was ashore, and
think it as delightful and pleasant a Place as ever I saw
in América” (BULKELEY e CUMMINS, 1743 , 192). John Mawe,
p. 77, dã conta cabal: "Existe aqui um grande convento,bem
construido e magnificamente situado". O norteamericano
John Codman, profundo conhecedor dos mares e das distantes
costeiras, escreve que "it was our favorite enjoyment
"it eniovment to
pass through the narrow island passage. Excepting the
Bosphorus, there is nothing in my memory that equals the-
se shores in loveliness. In some respects this strait is
even superior to the Bosphorus..." (1870, 46). Talvez tais
aspectos fossem devidos à exuberância da flora, que impres^
siona jâ neste século a Joseph Burnichon â p. 220: "Mais
nulle part ce triomphe de la forêt brésilienne ne m’est
apparu plus complet que dans la grande íle de Saint-Sébas-
tien..."ii Pena que tantos outros viajantes não tenham pas­
sado pelo setor norte do belo canal, como parece ser o ca
so do reverendo Kidder, a quem não teria escapado a presen
ça insólita desta capucha afastada.

A escritura que oficializa a doação, cinco anos depois, i-


nicia a descrição das terras dos menores em Taubatê " come
çando da borda do tanque dos ditos religiosos". Além do
que jã haviam recebido, estes obtiveram outro tanto de
área, como se viu, e ainda solicitaram e conseguiram mais
tarde 250 braças em quadra, compreendendo um capão e uma
lagoa (ROWER, 1957, 341-2). Qual o interesse desses dife­
rentes remansos d*agua para o convento? Seriam úteis ao
seu abastecimento? Rõwer lembra que a clausura deSanta
Clara se valia, como qualquer outra casa religiosa ou par­
ticular, dos escravos para ir buscar agua fora. Ã p. 351
também, aponta que, na segunda metade do século XVIII a ne

. y » -

46

cessidade do líquido leva os frades a solicitar licença pa


ra sua retirada dum córrego, havendo outros interessados
no mesmo. No século passado, petições e pendências novas
vao ocorrer com a Camara como em seus assentamentos detec-
tou Guisard Filho. Não tinham os regulares, portanto, ã
gua suficiente para seu uso já em 1775, quando crescera o
seu número como provavelmente também a população da pró-
pria Taubaté.

A aquarela retocada de Armand Julien Pallière mostra bem a


posição dum reservatório, o convento e a decorrente situa­
ção orográfica de suas terras em 1821: numa suave colina
vis-a-vis à em que está plantada a antiga aglomeração vale
paraibana. Mais tarde, Zaluar vê "situado em uma peque-
na eminência e próximo a um regato, o convento de Santa
Clara” , p. 101.
iui. Fica bem claro o seu destaque na paisagem
circundante, notado por Alcide d’Orbigny, quando se per-
corre o estudo de geografia urbana de Nice Lecocq Mtlller
sobre Taubaté. Se fica notória a proximidade dum córrego
e de reservatórios d'égua, torna-se significativa a não
existência de qualquer fonte interna a sua cerca, o que
redunda nas solicitações para a captação de ãgua, renova-
das pelos frades ã Camara nos* oitocentos (GUISARD FILHO,
19 4 3 e 19 44) .

H
Elegante o aspecto da cidade de Ytú, erguendo-se airosa-
mente, sobre o dorso inclinado de uma suave ondulação do
terreno, descahindo para os lados ã procura de dous córre­
gos que lhe servem de limites..." Pois, no declive mais
acentuado é que se implantou o convento de São Luiz de To-
losa, igualmente descrito nesta reambientação de Austo Ra
sec para seu romance histórico. "Itú é uma cidade espraia
da em vasto terreno", para Hercules Florence na terceira
década oitocentista, que apenas menciona a existência de
"um convento de franciscanos". Na pequena vertente com
agua boa se fez a horta e a bica privativa dos minoritas
(NARDY FILHO, 1930, 209-10). Esta situação da casa reli-
47

giosa desaparecida se pode constatar facilmente pela obser


vação da ala da Fábrica São Luis que ocupa seu antigo ter­
reno (fig. 24). Embora nas cotas mais baixas do suave es
pigão em que se encontra o tradicional centro ituano, a po
sição daquela cerca conventual garantia ao antigo claustro
perfil relevante na paisagem, infelizmente não abarcado na
vista geral de Miguelzinho Dutra, proximidade única entre
as principais construções da vila com relação ao rio e uma
generosa nascente em seu próprio âmbito.

Considerando as seis casas seráficas paulistas dos tempos


coloniais, pode-se apontar algumas características comuns
relativas ao sítio natural escolhido em cada localidade.
Eram lugares muito distintos e destacados: elevação pronun
ciada em Itanhaêm; barrancas acentuadas em Sao Paulo e
I tu ; baixadas diferentes na extensão, sabiamente ocupadas
em Santos e São Sebastião; nítida posição dominante em on-
dulação diante de Taubatê. Quanto ã orientaçãocardial,
aliãs, o que se pode dizer ê que as seis capuchas não se-
guem a tradição litúrgica, voltando a frontaria, e não o
altar de seu templo para o nascente. As orientações NE e
SE predominam, à
ã exceção da casa taubateense. De outra
parte, a ãgua de diversas maneiras esta presente e de for­
ma não aleatória: se junto ã praia, um bom porto; se no in
terior, como na costa, um curso d'ãgua próximo, de prefe-
rência passando pelos fundos do estabelecimento, com a
exceção relativa de Taubatê e de Santos. Se não dentro
dos limites da gleba, como em São Paulo, bairro de São
Francisco e Itu, nascentes muito perto da cerca, como em
Itanhaêm. A distancia maior de tal recurso de abastecimen
to implicou num aqueduto que buscava o Valongo (fig. 6) e
em gestões fartamente documentadas junto aos edis taubatea
nos para resolução do problema.

Uma vista d'olhos sobre os sítios escolhidos pelos outros


regulares na capitania de São Vicente para erigir suas ins
talações continua a denunciar a opção por pontos destaca
48

dos no relevo conquanto variados. Os colégios de São Pau­


lo, Santos e Paranaguá mostram que os jesuitas escolheram
aí situações diferentes mas privilegiadas. Uma, espetacu
lar pelo seu domínio visual sobre os campos de Piratinin-
ga; outra, no lugar anteriormente ocupado pela casa do Con
selho, junto ao canal, utilizada por Cavendish em sua in­
cursão e que "tinha nos fundos muitas saídas para a praia"
(KNIVET, 1947, 23-4). A terceira, novamente de costas e a
cavaleiro do mar. Na encosta do morro em Santos, no extre
mo do plateau em São Paulo, nas cotas maiores de Sorocaba
e Jundiaí estavam os beneditinos. Os carmelitas, finalmen
te, defrontavam o canal em Santos, dominavam a grande vár-
zea paulistana a que deram o nome e os altos de Itu; em Mo
gi / Zaluar os percebe numa " suave eminência".

Dificil com essas observações caracterizar as peculiarida­


des de implantação das casas franciscanas entre as demais.
Por isso, percorramos algumas das mais representativas em
outros pontos do Brasil. Em Salvador, São Cristovão e
João Pessoa, o sítio eleito para a capucha lembra o de São
Paulo e Itu. O de Cairú, Paraguassu e Recife se asseme-
lha ao de Santos e, considerada a orientação, reporta-se
diretamente ao de São Sebastião, No extremo oposto da Pro
víncia seráfica sulista, alcantilada como a de Itanhaêm,
está a "baliza" da Penha capixaba, São Francisco do Conde
bania, a implantação existente em Taubaté.
sugere, na Bahia, Pu-
blicações como o IPAC-BA e Arte no Brasil permitem, atra­
vés de suas ilustrações acompanhar essas e outras ligeiras
comparações. E verificar serem também muito variados os
sítios naturais que suportam a trintena brasileira de fun­
dações franciscanas coloniais.

Ressaltam, porém, aqueles mesmos aspectos que pareceram


mais constantes, observadas as seis fundações vicentinas.
O destaque no relevo, a proximidade de bons embarcadouros,
quando junto a cursos d'água ou do mar, e de nascentes pa-
ra o seu suprimento. Frei Manuel da Ilha em sua Narrativa

vi.

I

49

da custódia de Santo Antonio do Brasil: 1584-1621 destaca


a importância deste último aspecto para a Ordem dos Frades
Menores ao informar que, vindo a Vitória, o Custódio ”exa-
minou o local escolhido pelos Religiosos, o qual lhe pare
(53) . "... exigia braço mais for
ceu dificil e pedregoso" (53).
te somente para nivelar o terreno que, não obstante, ê o
mais salubre da vila e possuidor de um riacho que desce do
alto de um rochedo, o que pouco ocorre em outras partes".
O mesmo cronista seiscentista levanta ainda um outro moti­
vo eventualmente importante para a escolha do sítio e ao
qual ainda não se referiu por falta de maiores elementos:
o que o subsolo poderia oferecer como material de constru-
çao.

Frei Manuel da Ilha conta que, no sítio definitivo e atual


■1
do convento de São Francisco em Salvador, ao cavar os fun
damentos os trabalhadores inesperadamente encontraram uma
grande pedreira da qual ninguém tinha conhecimento, pois,
não teriam os moradores trabalhado em vão,
se assim fora, nao
trazendo de longe, com grandes despesas, as pedras para as
construções. Todos consideraram a tal fato como um mila­
gre (1975, 32). A petição dos primeiros habitantes de Ca
bo Frio, jã citada, ao capitão-mor assegura que do morro
posterior ao sítio sugerido os frades "poderão tirar tôda
a pedra, que lhe fôr necessária para o dito Convento e mu­
ro, e assim todas as aguas que dentro do sítio, e muro se
acharem por lhes serem necessárias" (ROWER, 1957, 373-4).
Sabe-se que no Rio, o mosteiro de São Bento contava com
uma pedreira no morro da Viúva (OCTAVIO, 1929, 177) e que
os carmelitas tinham concessão para tirar pedras numa das
ilhas da baia de Guanabara (DOCUMENTOS HISTÓRICOS, 1939,
57, 361) .

Não se pondera aqui, para as casas paulistas em estudo, es


ta potencialidade importante do subsolo, ou as suas carac-
terísticas geológicas, por ter a mesma em Sao Paulo uma
significação muito particular, complexa embora fascinan-

___
50

te . De fato, se no litoral as três capuchas - como no res


to do Brasil - são de pedra e cal, o mesmo não se deu no
planalto. Acompanhando a técnica construtiva típica do in
terior paulista, os conventos de São Francisco, de Santa
Clara e de São Luis de Tolosa foram erguidos em taipa-de-
-pilão. O fascínio por uma análise comparativa entre uns
e outros, entre o sistema construtivo de todos e a escolha
de seus respectivos sítios foi frustrado pelo silêncio das
manifestações escritas. O que em si ê um dado, contudo,
que junto ã constatação de que as três cercas minoritas da
costa estão em diferente distância de possíveis pedreiras,
leva a crer que tal consideração não foi decisiva na elei­
ção do sítio para uma nova fundação conventual.

Não foi decisiva, mas era importante, Tanto que, bem mais
tarde, uma pequeníssima discrepância entre os Esta tu tos
das Províncias seráficas de Santo Antonio e da Imaculada
Conceição torna-se preciosa para os futuros estudiosos de
seus edifícios, bem como da arquitetura paulista, Visando
obter de pronto casas novas definitivas e aproveitar todo
o entusiasmo inicial das localidades, com as mesmas pala­
vras, os dois Estatutos rezam no Capítulo LXXIX, § 2: "Tam
bem queremos que de nenhum modo se possa fundar Casa de no
vo, sem haver pessoa, ou pessoas que se offereçam a fazel-
la logo de pedra, & cal, se puder ser, ou dar notável es
molla para ella, com que logo tenha principio, sem se f a-
zer primeyro outra de barro..." A unica diferença, ou
única diterença, a-
crêscimo, nos Estatutos municipaes da Província do sul,que
só podia dizer respeito aos três conventos definitivos em
taipa-de-pilão existentes serra acima em São Paulo, é a
expressão "se puder ser", não constante da p. 132 das nor­
mas nordestinas!

No mesmo capítulo, § 3, dos Estatutos mencionados, consta


que o Provincial, decidido que "se edifique algum Conven­
to, escolhera o sitio acommodado com pessoas, que o enten­
da, & fará traçar a Casa a nosso modo Capucho". A jâ ci

rE

*
*

51

tada constituição 690 do arcebispado da Bahia, de sua par­


te, reza que para se conceder licença para uma nova clausu
ra masculina ou feminina "mandaremos primeiro ver o lugar,
e sitio em que se quer fundar..." Conquanto atinente a
igrejas matrizes e não conventuais, vale lembrar a consti­
tuição 687: "Conforme o direito Canonico, as igrejas se
devem fundar, e edificar em lugares decentes, e acommoda-
dos, pelo que mandamos, que havendo-se de edificar de novo
alguma Igreja parochial em nosso Arcebispado, se edifique
em sitio alto, e lugar decente, livre da humidade, e des­
viado, quanto for possivel, de lugares immundos, e sordi-
dos..."H No apêndice da quarta edição destas Constitui-
ÇOQS r de 1853, se mostra como as leis do império as afeta­
ram e limitaram. Quanto ã fundação de novos mosteiros, de
terminadas autorizações civis devem agora ocorrer, "não
restando ao Prelado senão cumprir essas licenças, e conce­
der aquellas, que diz respeito a edificação do Templo, que
ainda pertence a sua autoridade" (160). Ainda o § 9 do ar
tigo 30 da Pastoral collectiva de 1910 prescreve: "O terre
no a edificar deve ser em logar alto, livre de humida­
II
des . .

Entre tantos depoimentos de viajantes, que passaram sobre­


tudo por nossas cidades costeiras, acompanhemos três que
estiveram no Rio de Janeiro em diferentes momentos do sécu
lo passado. Eram anglo-saxoes
anglo-saxões e vindos de sociedades pre­
ponderantemente protestantes, talvez por isso mais atentos
à presença marcante das grandes clausuras em nosso meio ur
bano e ao privilegiado sítio natural que ocupavam. O "es-
quire" Alexander Caldcleugh, percorrendo a América do Sul
na época do Reino Unido, descreve a Corte "on the west
side of the bay... between two eminences, one covered
with the convent of the Benedictins on the North and the
other with the remains of the Jesuits College on the South u
(1825, 9). "The convent of the Portuguese saint, San
Antonio... is built.on an eminence, and from its terrace a
very excellent idea may be formed of the extent and direc-

■-

•■ 7-

- - •• vX*
52

tion of the capital, The convent of the nuns of Santa Te-


resa stands on an eminence behind the town, and forms a
(10) .
pretty object from the bay" (10). "Marcante peculiaridade
do aspecto carioca é o fato de todas as eminências a cava-
leiro da cidade e dos arrabaldes estarem ocupadas por igre
jas e conventos. Entre estes mencionaremos o Convento de
Santo Antonio it registra o pastor Daniel P. Kidder (1951,
53) em meados do século. Como farã também para Olinda
(97) e para Angra dos Reis (164) , notando o "mesmo proces­
so que assegurou à Igreja de Roma as melhores situações e
as mais custosas construções de quantas vemos nas grandes
cidades brasileiras". Para o cônsul norteamericano que,
em fins do império, compara a implantação da capucha cario
ca com a do Campidoglio romano: "Two or three other hills
are noticeable as the sites of old and rather dingy-
-looking convents" (ANDREWS, 1887 , 23) .

"This city contains a cathedral and a monastery, both of


which are placed in fine situations,
situations, that command the most
delightful prospects". É o que diz de Ribeira Grande, nas
ilhas de Cabo Verde, o "commodore" Byron em seu relato. E
a respeito de Funchal: "Their convents... are seated on
the side of the hill" (1767 , 11 e 8) . Outro inglês sobre
a capital da ilha da Madeira observa: "L’object les plus
élevé, parmi ceux qui frappent les yeux, est le couvent de
Nossa Senhora do Monte (BARROW, 1807, 1, 9). Este traço
característico nas ilhas atlânticas e demais colonias lusi
tanas se revela mais dificil de detectar na metrópole,
Dois cronistas de diferentes Províncias seráficas portugue
sas, um do século XVII e o outro do XVIII, certamente sem
disso terem consciência, mostram uma conjuntura bem distin
ta. A ocupação da terra muito mais intensa e antiga em
Portugal condicionou o processo de obtenção de glebas pe-
los minoritas e, por via de conseqtlência, a eleição do si
tio para a implantação dos seus conventos. Quase sempre
ligada â doação de um poderoso padroeiro fidalgo, a possi-
bilidade de escolha do local era muito limitada, ao contra

/w
53

rio do que se dava na colonia americana. Era aceitar ou


decorrentemente, o lugar que
nao a oferta e, decorrentemente, implicava,
Junto a tradicionais aglomerados, era cristalizado o parce
lamento e acirrada a subdivisão fundiária. O leque de op-
çoes era menor, em terras com tantos e tão assegurados do-
próprio doador e pa
nos, em que o amparo financeiro que o proprio
droeiro podia oferecer era para a nova instalação dos fra­
des menores tão ou mais decisiva que o terreno. A estas e
a outras questões, que se verá adiante, existem incontã-
veis referências nas crónicas de frei Manuel da Esperança
e frei Antonio da Piedade.

Na América hispânica, como na lusitana, a disponibilidade


de terras era já bem outra, embora constrangimentos de ou-
tro tipo comparecessem. A variedade de sítios também se
faz presente para os conventos minoritas ao lado do gosto
pelo lugar destacado e pelo proveito da hidrografia local.
Tais características não se apresentam de maneira tão ime-
diata como no Brasil, embora se tornem ainda mais signifi-
cativas e expressivas quando observadas mais detidamente.
De fato, em meio a uma trama viãria que se estabelecia em
sítios naturais mais amenos, determinados por lei (SMITH,
318),, e que subordinava toda
1955, 5 e HARDOY, 1975, 318) e
qualquer parcela de terreno, as opções ficavam bastante re
duzidas. Também para as poderosas ordens religiosas! No
xadrez de ruas rasgado no solo, deviam eles pleitear um ou
manzanas
mais dos inúmeros "solares" e "manzanas" iguais e disponí-
veis no suave relevo eleito para a vila ou cidade nova, con
forme recomendava a legislação castelhana. O pleito esta
va circunscrito de saída portanto e, por isso mesmo, tor-
nou-se revelador de como os frades menores buscaram ainda
assim obter as elevações, ribeiras e nascentes, porventura
existentes.

Na mais antiga cidade europeia em todo o continente ameri-


cano. Santo Domingo, o convento franciscano em ruínas
"still remains visible from a great distance, and its pro-
54

minent location high upon a hill makes the complex an im-


portant land-mark" (PRUDON, 1975, 142). Sempre mais raro
um tal destaque, na América espanhola, ã medida que foi
se impondo e cristalizando o traçado em grelha, deitado em
chãos planos, ou quase, de acordo com a sua lei colonial.

Em fundações urbanas excepcionais orograficamente, os con­


juntos monásticos puderam sobressair na paisagem aproprian
do-se de eminências ou encostas. É o que se deu com a mo­
numental casa seráfica em Quito, cidade mantida na mesma
situação de um assentamento anterior, pré-colombiano. En-
tretanto, o exemplo mais gritante nos oferece um estabele-
cimento urbano desaparecido, Santa Fe La Vieja na Argenti-
na: soterrada pela lama do rio, por tradição oral seu pro
vável sítio mereceu um marco alegórico no século passado,
implantado naturalmente sobre o cômoro mais pronunciado.
Aquele que escondia, como se soube muito depois, os res-
tos do seu claustro minorita!

Porém, em relação à hidrografia, aparecem igualmente cuida


dos já analisados para as capuchas paulistas e se repetem
de maneira impressionante. Santa Fe, muito sujeita a inun
dações, foi transferida em meados do século XVII para ou­
tro lugar. E com ela colonos, instituições... e a clausu­
ra franciscana. "La ubicaciõn y orientación de los dos
conjuntos es exactamente la misma. En ambos casos, la
iglesia se ubicó próxima al rio, orientada de Norte a Sur",
observa Humberto Rodriguez Camilloni (1979, 71). Próxi-
mos da maior massa líquida local, seja o mar ou um curso
d'água, e dela mais próximos que o de outras corporações
religiosas, estão os claustros seráficos de Pisco, Guaya-
quil e Panama La Vieja, de La Paz, Lima e Caracas, e de
tantas mais, em tão distantes e distintas fundações colo-
niais castelhanas.

O grande complexo conventual e sua basílica estão espetacu


larmente alcantilados na borda e junto aos muros da peque-

-
55

na cidade cor-de-rosa de Francisco. Não no topo da acrópo


le, dominada pelo castelo de Assis, mas humildemente na en
costa. Jã em Florença, o convento de Santa Croce estã ãs
margens do Arno, o que lhe valeu pelo menos a catastrófica
inundação de 1966 e o sacrifício de seu Cristo de Cimabue.
Na capital toscana, valeria a pena lembrar, todos os ou-
tros claustros estão mais distantes do rio, incluindo o
Carmine que tem ainda um correr de casas interposto ã ou-
tra margem. Entre inúmeros exemplos flagrantes - não bus
cando tantos outros menos evidentes - tome-se nas ilustra-
çoes do Civitates orbis terrarum, de Braun e Hogenberg, os
de Bamberg, Bourges e Cordoba, próximos ao maior curso d’ã
gua . E os de Ancona, Bilbao e Poitiers, valorizados pelo
cume ou pela falda das colinas.

"Bernardus valles montes Benedzctus amabat}


Oppzda Franczs cus 3 celebres Domznzcus urbes".

Este mote medieval, oportunamente citado por Jacques Le


Goff em L 'apogée de ta France urbazne mêdzévale, dã conta
das peculiaridade do sítio natural preferido pelas ordens
tradicionais, cujas fundações se encontram isoladas nos
campos e com toda a liberdade para neles se implantarem,
Dã conta mais da opção urbana das novas ordens surgidas no
século XIII e de que esta precede as suas preferências re-
lativas ao quadro natural, Wolfgang Braunfels, em seu no
tãvel Arquitectura monacal en occidente, interpreta com
acuidade a situação geográfica característica preferida pe
los cistercienses. Mais adiante, quanto ãs ordens mendi-
cantes observa: "A menudo integraron sus poderosas infra-
estruturas a las obras defensivas de la ciudad. Buenos e-
jemplos de ello son San Francesco y San Domenico de Siena,
así como el monasterio fundacional de los franciscanos en
Asís. El citado fenômeno puede apreciarse ante todo en la
fundaciõn de nuevas ciudades, donde a los monasterios de
las ordenes de predicadores y de los minoritas le eram
asignados enclave de valor estratégico junto a las mural-
56

las de la urbe. Tenemos hermosos ejemplos de ello en Wie­


ner Neustadt y Hagenau!" (200) .
Por isso, ao considerar a
opção seráfica por determinados sítios naturais, há que
se ponderar vir a mesma depois, ou conjuntamente, de avali
ações outras de ordem urbana, como se verá.

Concluindo este passeio por alguns claustros franciscanos


no Velho Mundo e por outros nos impérios espanhol e portu-
gues , nota-se a freqúência, se não a constância, da prefe-
rência por certos sítios. E, sobremaneira,. a correspondeu,
cia de suas características com aquelas percebidas nas mo-
destas casas minoritas coloniais em São Paulo. Nestas, t'am
bem dentro de grande variedade de implantações, observou-
-se que os frades menores sempre escolheram um ponto priv_i
legiado no relevo, Não ficaram, igualmente, alheios à re-
de hidrográfica, a um possível ancoradouro, a um córrego
que facilitasse o seu abastecimento, a um olho d'água. Co
mo as fundações de outras "religiões", ou mais do que elas,
demonstraram a sensibilidade exaltada por Paul Adam ao se
referir ã capucha de Piratininga. O que pode ajudar a de
finir a sua implantação peculiar em relação ãs outras re-
sera a consideração dos seus característicos de loca-
gras será
lizacão urbana.

Depois de se atentar para o tamanho, para a forma e para a


correlação das glebas dos franciscanos em seis núcleos pau
listas, buscou-se alguns traços próprios do sítio natural
escolhido para tais parcelas de terra. Apesar de serem
poucos os casos estudados, por analogia com inúmeros ou­
tros, ficou patente a variedade de locais quanto aos aspec
tos do relevo, da rede de aguas e do próprio sub-solo. Nes
ta variedade, entretanto, patenteou-se também que, haven­
do possibilidade, um ponto destacado próximo dum curso
d'agua ou junto a generosas nascentes não era ignorado, Em
poucas palavras, um sítio natural escolhido seria, dentro
do possível, o mais privilegiado. Portanto, assim como a
parcela de terra obtida tinha condições para pesar na es-
57

truturação do aglomerado urbano, também o sítio apropriado


pelos seráficos era destacado e, conseqdentemente, fadado
a marcar a sua paisagem.

Entre nos, estas comunidades regulares ocuparam pontos ci­


tadinos marcantes pelas características orográficas da cos
ta, ou das suas proximidades, escolhida para as fundações
coloniais mais antigas. Se assim o fizeram, tornaram ain-
da maior a repercursão de sua presença física e muito com
preensível o usual destaque de outros estabelecimentos pri.
vilegiados, a cavaleiro das dobras de tantos assentamentos
humanos espargidos pelo extensíssimo planalto brasileiro.
localizaçao

A "planta" e o "prospectto da Villa de Santos pela parte


do rio" mostram bem o convento do Valongo em 1770, arrema-
tando o extremo oeste da aglomeração. Enquanto o mosteiro
beneditino está afastado, a meia altura do morro, o claus­
tro carmelita, bem central, está mais próximo da matriz e
do colégio inaciano que, com o morro de Santa Catarina,
constituem o extremo oriental. A vista em vol-d’oiseau de
Benedito Calixto (fig. 9) confirma em linhas gerais e pa­
ra os fins do século passado essa configuração do núcleo
portuário e a localização terminal da casa minorita. Ape-
sar do avanço do tecido urbano pela ilha de São Vicente,
as plantas e fotos panorâmicas mais recentes denunciam
prontamente aquela disposição geral da área nuclear santis
ta e a posição periférica, em relação ã mesma, do que res­
ta do conjunto conventual do Valongo. E, apesar das pro-
fundas transformações urbanísticas ocorridas, revelam a
persistência do caráter de acesso daquele antigo setor ao
porto, ao centro tradicional e aos bairros da orla.

Frei Basilio Rõwer (1957, 131) atribui a escolha do ma is


rico bairro de então, o Valongo, ã necessária coleta de es
molas para o sustento da nova fundação mendicante, Tem to
da razão como se verá, mas o caráter periférico da gleba
obtida estará assim totalmente explicado? E o fato de es­
tar junto a dois acessos importantes há séculos será alea­
tório? A condição topográfica no local em que se assenta
59

e em que se esparramava outrora sua cerca comprime entre


si e o morro as possíveis passagens para o interior do la-
gamar e para a raiz ca
da serra, para o sertão,
sertão. Próximo, co
mo aos monges beneditinos, saia o caminho que levava por
dentro a São Vicente. E, ainda, em frente ao terreno se o
ferecia o Porto do Bispo, aesemnarcaaouro
desembarcadouro natural para
quem descesse a serra e ganhasse a vila santista, vindo do
1922 , 144).
Cubatão (SOUSA, 1922, O próprio Rôwer aponta a pro­
vável importância da instalação seráfica santista como pon
to de hospedagem e de espera para quem proviesse do planal_
to ou do mar, buscando outras capitanias e a metrópole, ou
o sertão (1957, 144).

Logo, também em Piratininga, escolhem os frades um local


afastado, como entre polos iguais imantados, dos outros
claustros jã estabelecidos, o beneditino, o carmelitano, a
lém do colégio. Junto ao barranco para o qual se abre,- a
atual praça do Patriarca e junto ã saida para o oeste .e pa
ra o sul, representada pela ladeira Dr. Falcão. Pouco de-
pois , contudo, estão eles se mudando para mais longe ainda,
como se viu. A nova carta de data, que obtiveram em 1642,
reza - vale repetir - "que damos aos suplicantes os chãos,
e brejo que pedem, visto ser para bem comum, e melhor orna
to do culto divino, e ficar esta vila mais enobrecida, fi —
cando no sítio confrontado" (ROWER, 1957, 83). As razoes
alegadas pelos oficiais da Câmara serão mera figura de re­
tórica ou refletirão acertos com a comunidade dos religio-
SOS? Ressalte-se "os chãos, e brejo" que frisam neste úl
timo um certo tipo de sítio importante para determinadas
necessidades pecuárias dos peticionários, A asserçao "vis
to ser para bem comum" torna-se curiosa se não se conside­
ra a presença e o interesse também das outras clausuras;
nao interessaria ao povo a distância maior da nova funda-
ção em relação ao centro de então, O "melhor ornato do
culto divino" seria a possibilidade de, através da rua de
São Bento alinhar dois templos, dois altares, dois oragos
da vila? Com uma área maior, definida por balizas mais
60

distanciadas, as suas casas religiosas, podia "ficar esta


vila mais enobrecida”

...antiga Vila de Piratininga, agora moderna cidade", qua


■I

se uma centúria depois, para frei Apolinârio da Concei­


ção. "Na entrada da cidade estâ o nosso convento, o qual
(é) acompanhado de casas por uma e outra ala, de que se
forma uma bem direita e comprida rua, que finaliza com o
convento do glorioso Patriarca São Bento, estando a dita
rua tão bem plantada e os conventos em tal forma, que se
vê as luzes das lâmpadas de um ou outro nos altares maio-
res” (1972, 144) . Esta posição frente a frente dos patri­
arcas dos monges e dos frades ocidentais não escapou a ou
tros cronistas e ressalta a exclusiva direitura da rua de
São Bento no velho centro paulistano. E o seu truncamento
diante das portadas das igrejas dos santos da antiguidade
e da idade média, o que, aliás, ainda se observa, apesar
do deslocamento do eixo do novo prédio da abadia para o de
safogo da rua Florencio de Abreu, no início dos novecen­
tos. Do afastamento das clausuras masculinas neste núcleo
II
colonial, em cujos vértices figuram as igrejas de São
Francisco, São Bento e Carmo”, também dâ conta Alcântara
Machado, p. 27. E da sua proximidade dos acessos, ao se
referir "ao Piques, então importante porta de saida do a-
glomerado paulistano”, Nice Lecocq Mtlller (1956, 147).

Nem na saída para outras concentrações humanas ou para o


campo, nem afastado doutros claustros, inexistentes, está
o alcantilado convento de^Nossa Senhora da Conceição, na
periferia de Itanhaêm. Em acrópole, isolado, a dominar
a
agora ou o grande e disforme largo com a matriz de Santana,
a Casa de Câmara e Cadeia, o pelourinho e mais casario. A
evocação da experiência dos antigos gregos se dâ aqui, i-

gualmente, pelo processo de descida do morro que atingiu


não só a matriz como toda a povoação (SANTA MARIA, 1723,
10, 129). De fato, a própria ermida, que deu origem ao ce
nóbio e à imagem de sua invocação, tão cara aos franscisca

MM
61

nos, foi sede da freguesia até que esta se deslocou para


lugar mais comodo. "Francisco Nunes, homem velho, a trou-
xe âs costas para esta vila, pondo-a em este monte alto
que está no confim desta vila chamada Conceição", relata
Jaboatão. E diz do convento que "he dos mais retirados da
Província, e fora da comunicação dos seculares, e mais aco
If
J modado ã oração". Tais sítio natural e localização urbana
1 levariam, sem dúvida, a contribuir para a transformação
deste claustro, o mais meridional da Província seráfica e
da colonia portuguesa, em casa de recoleção em 1758 (ROWER,
1957, 293). Entretanto, estava a seus pês o porto e seu
caminho "até o prezente embaraçado este beneficio publico,
em que interessa, não só o bem particular daquelles mo
radores, mas a utilidade Geral do Commercio", segundo ates
ta representação ao Visitador minorita em 20 de dezembro
de 1798 (DOCUMENTOS AVULSOS, 1955, 6, 28).

Apertado entre a praia e o morro, Nossa Senhora do Amparo,


no bairro de São Francisco em São Sebastião, esta forçosa-
mente no rumo dos que pela orla se dirigem para o norte ou
para o sul. Conseqtientemente, domina uma das saídas do
tradicional povoado, tendo permanecido até recentemente
num de seus extremos (fig. 18). A prolongada permanência
desta casa em posição periférica, que decorre de condições
topográficas e fundiárias muito particulares, configura um
exemplo significativo do papel da sua cerca na evolução do
ralo tecido urbano, como se verá adiante. Trata-se, cla­
ro, dum caso ímpar entre os demais, este do bairro de São
Francisco. Bairro de pescadores e de ceramistas, isolado
da sede do município por uma légua e ao longo de mais de
três centúrias. Bairro que não dispunha, como ainda não
dispõe, de outras construções de porte, públicas ou reli­
giosas, dormitando à esquerda do conventinho, como bem re
velam as fotos da Comissão Geográfica e Geológica (fig.
17) do começo deste século. A par do porto, em frente ao
adro, a recente abertura de estrada estadual nos fundos
comprova a importância daquela passagem obrigatória para

j
V:
62

quem viajasse ou viaje por terra.

Intrigante mesmo entre as demais fundações seráficas vicen


tinas, esta do Amparo não se revestiu, como ainda não se
reveste, dum nítido cunho urbano. A existência duma povoa
ção, de certa expressão económica pela indústria da cerâm_i
ca, a proximidade das gentes dispersas pelo continente e
pela ilha fronteira, garantida pelas águas plácidas do ca­
nal de São Sebastião, as qualidades portuárias que teriam
também servido ao contrabando de mercadorias e de escravos
(ALMEIDA, 1959) constituem possíveis motivos para que os
frades menores se instalassem junto a toda essa gente e em
ponto tão estratégico. Porém, ao lado destas, havia outra
motivação maior que levou os superiores franciscanos de
acordo com a sua vocação urbana - a apostar num destino go
II
rado. ... & derão-lhe este lugar, tanto por haver naquel
le bayrro a mayor parte dos moradores ... & andaram os mo
radores naquelle tempo com a tenção de mudarem a Villa pa-
ra o mesmo sitio, em que estava o Convento, o que nunca se
effeytuou". Vale a pena repetir esta informação de frei
Agostinho de Santa Maria e compará-la com o comentário do
navegante holandês, seu contemporâneo, a respeito da vila
de São Sebastião: "Son êtendue est mêdiocre” (BEHRENS,
1739, 47). Pois fica mais clara a razão para esta funda­
ção isolada e aparentemente excepcional.

•I
. o sítio escolhido, bom, e de paz pacífica para o dito
Convento" registra a escritura de obrigação dos taubateen-
ses para com o estabelecimento de Santa Clara (ROWER, 1957,
329) . A planta levantada por Pallière em 1821 mostra, qua
se duas centúrias e meia depois, o convento ainda apartado
de Taubatê (fig. 20)• As poucas fotos tiradas cinquenta
anos depois ou mais, depois do advento da riqueza do café
no vale do Paraíba, revelam a permanência de um vasto in-
terstício entre o casario e os muros de Santa Clara. Ape-
nas o largo das Palmeiras insinua na direção do convento
um certo ar citadino. Os depoimentos escritos corroboram

c
63

este afastamento e acusam outras características de locali


zaçao urbana. O Epitome, muito cedo, refere "uma boa igre
ja Matriz e ã sua vista, com pouca distancia, o nosso con-
vento ” (1972, 152) . O convento franciscano, ã esquerda
do caminho" (SPIX e MARTIUS, 1981, 126) para quem vem do
Rio. "Destaca-se, ã direita da estrada, o convento dos
franciscanos" (D'ORBIGNY, 1976, 173), vindo pouco depois
em sentido contrário. E Saint-Hilaire... "No arrabalde
de Taubatê, que fica para o lado de Pindamonhangaba, nor-
deste da cidade" para Zaluar, p. 101, em 1860. Não estan-
do em meio à vila e não havendo outra casa religiosa, nao
se pode dizer mais de que Santa Clara estava distanciada
mesmo, do Pilar...
da matriz, do Rosário e, mesmo,

Jã em Itu, o claustro franciscano se instala próximo ã an-


tiga matriz e do embrião urbano, embora numa extremidade
em que fica até 1837, quando sabe-se que ainda estava lã
por pendência com a Câmara, O guardião em representação
ao governador pondera a impropriedade do lugar por ficar
na extremidade da vila (ROWER, 1957, 429). Antes, Saint-
-Hilaire (1945, 234) observara: "Numa das extremidades da
cidade está o convento dos Carmelitas Calçados, e em outra
o dos Franciscanos". A persistência dessa posição perifê-
rica fica patente em trabalho sobre a evolução ituana (TOS
CANO, 1981, 56). Por isso, esta casa religiosa não compa-
rece na aquarela de Miguelzinho Dutra, de 1845, mais inte­
ressada na parte mais central e próspera de Itu. Não de
graça, aliás, adiante dela se instalará a estação ferrovia
ria em um ponto de cota mais baixa, na mesma direção que
partindo da casa ganhava“o ponto de travessia do córrego do
Brochado (fig. 24) . A matriz se deslocara para sua atual
implantação, outras capelas e colégios religiosos serão
fundados mais ã distância, mas é sobretudo a instalação do
hospício carmelitano em Itu que torna cristalina a tendên­
cia para o afastamento entre clausuras num mesmo centro ur
bano. Tendência e... contingência lógica e legal. como se
vera.
64

Em Santos, o convento do Valongo foi fundado num dos extre


mos da vila de então, junto ao seu principal acesso terres
tre e a um dos seus melhores ancoradouros, bem como, bas­
tante distanciado dos outros estabelecimentos religiosos e
xistentes. Em São Paulo, a mudança de sítio ocorrida logo
apôs a fundação da casa franciscana reforçou as mesmas
três características de localização urbana: a posição rela
tiva ao centro existente tornou-se mais marginal, a proxi­
midade de acessos acentuou-se no que diz repeito aos que a
tendiam ao oeste e ao sul e o afastamento das demais clau
suras aumentou consideravelmente. A opção mais restrita
que representou a doação recebida em Itanhaém se não tinha
outras instituições regulares presentes com que se preocu
par, nem topograficamente a possibilidade de dominar qual­
quer rota terrestre além do pequeno e limitado embarcadou­
ro, implicou num isolamento peculiar morro acima, Também
a peculiaridade do pequeno bairro distante de São Sebas-
tião plantou o novo claustro num dos seus extremos e for-
çosamente junto às trilhas de viandantes e diante dum exce
lente porto para a época. Em Taubaté, a distância do novo
convento de Santa Clara o distinguiu do casario da vila e
de seus templos e o identificou ã principal rota de via-
jantes. Em Itu, um dos limites do tecido viário foi defi-
nido pela cerca minorita, que acolhia uma das suas entra
das e que repeliu mais tarde para o extremo oposto a fun-
dação carmelitana.

Atê mesmo um convento que não chegou a existir constitui


ótima ilustração dos cuidados para bem localizar, segundo
as normas da Igreja e os costumes da Ordem dos Frades Meno
res, uma fundação em vila recêm-ergida. Realmente, em
1648, Paranaguá atende ao frade autorizado solicitante con
cedendo "todos os chãos, que lhe forem necessários para o
dito Convento, e sua cerca; começando da quebrada desta vi
la, onde chamam os barreiros", "ficando sempre reservada a
rua do porto, ou praia para o serviço deste povo", "que- a
dita rua, nomeada atrãz, servirá de demarcação entre os di

______ ________ z- _______ -


65

tos Padres, e os moradores, para que a todo o tempo não ha


ja dúvidas algumas " (ROWER, 1954, 12). Na "quebrada desta
vila”, ” reservada a rua do porto, ou praia para o serviço
deste povo” especificam claramente a periferia, os acessos
terrestre e marítimo, além de outras passagens que previ
nem futuras contendas relativas aos limites ou ãs servi-
dões de uso da nova data de terra, Este convento não che
gou a se constituir, mas um hospício foi erguido e amplia
do; restaria acompanhar sua relação com o colégio dos je­
suítas em Paranaguá...

Esta mesma condição de periféricas, próximas aos acessos


principais e apartadas de outras clausuras, por ventura e-
xistentes, vai ser encontrada nas capuchas por todo o
país. Basta mencionar, de norte para o sul, alguns exem-
pios mais expressivos e conhecidos: convento de Santo Anto
nio da Paraiba, de Santo Antonio da pernambucana Igarassu,
de São Francisco em São Cristovão, Sergipe, todos na anti­
ga primeira Custodia e depois Província de Santo Antonio
do Brasil. Na Província desmembrada da Imaculada Concei-
ção do Brasil: convento de São Francisco de Vitoria, de
Nossa Senhora dos Anjos de Cabo Frio, de São Bernardino de
Sena em Angra dos Reis, além daqueles aos quais jã se refe
riu em detalhe. Note-se que hã excessões. Alguns como os
de Cairú e Paraguassú na Bahia ou os de Macacu e Bom Jesus
da Ilha no Rio de Janeiro, que se encontram na zona rural
ou afastados das povoações. Outros, conquanto em centros
de significado maior, como os de Olinda e Salvador, fogem
ã regra e merecem consideração. Um, o primeiro de todos e
beneficiado por doação de terras particulares. Outro, na
capital da colonia e objeto dum processo de escolha do lo­
cal revelador.

Frei Manuel da Ilha novamente oferece informações precio-


sas e muito esclarecedoras, "Ofereceram sua cidade, um lu
gar e o que fosse necessário para a construção, O Custo-
dio recebeu a doação” (1975, 31) dos habitantes da Ba-

I
66

hia. Os "pobrezinhos de Cristo inspecionaram perto da ci­


dade o lugar e as condições para a construção. Julgaram a
propriado um certo local fora dos muros da cidade, de nome
Calvário, onde, em tempos idos, os moradores haviam cons-
truido uma capela em honra de nosso pai S. Francisco, como
pressagio do futuro. O desejo do título bem como a ameni­
dade do clima levaram-nos a escolher tal lugar" (32). "Mas
verificaram não ser viável a construção por muitas razões
de todos conhecidas, dentre as quais se destacava o fato
de o lugar estar sujeito a incursões e destruições de ini-
migos, por se achar fora da cidade, que, com grande libera
lidade, ofereceu todo o necessário para a compra de casas
bem como para a construção do convento, a critério dos Re-
ligiosos". Como se vê, a notãvel posição central, vis-a-
-vis ao colégio inaciano em plena capital, não foi a pri-
meira opção dos capuchos, constitui uma imposição de segu-
rança e implicou na aquisição e demolição de casas.

Constituiu-se , assim, como nos observou Nestor Goulart


Reis Filho, uma constelação de casas religiosas em Salva-
dor que seria em breve repetida bem ao sul, na ..vila-der Fi
ratininga, onde o percurso para a implantação definitiva
da casa foi exatamente o contrario. Embora interiorana,
São Paulo apresentava.na fachada voltada para o vale do
Tamanduateí a mesma disposição da fachada marítima sotero-
politana: ã esquerda o Carmo, ao centro o colégio da Com
~ — —... .. ..

panhia, ã direita São Bento e aos fundos São Francisco.


• - -s - — ■ <.** —

Enquanto na Bahia a igreja dos minoritas defronta a dos


loiolistas, o mesmo orago paulistano confrontava, numa
nha reta, o beneditino, como reparou frei Apolinário da
Conceição. E na movimentada topografia carioca, também mu
daram de lugar os antoninhos, deixando o sopé do morro do
Castelo, em que estavam os jesuitas, para se plantarem no
morro que se contrapunha em diagonal ao de Sao Bento. Opor
1
tuno lembrar que amesma elevação fora oferecida aos ca-rme
litas que preferiram a vãrzea, no ponto central e privile-
giado representado pela praça XV de Novembro. O quarto

‘.-r ‘

— ... , .
morro que balizava o antigo Rio foi mais tarde ocupado pe-
los capuchinhos,outra ordem franciscana. Nos últimos seis
Froger, descrevendo o Rio de Janeiro, des»
centos, o "sieur" Froger,
‘l~~ maisons
taca "les --------- z cz-------- des Jesuites
magnifiques -r-- ---- & des Benedic-
tins , qui la terminent desdeux côtez, chacune sur une peti.
te hauteur, en rendent la veuê fort agreable ” (1699 , 71) .

Há que ponderar algumas razões de ordem prática para estas


peculiaridades de localização. No perímetro dos acanhados
núcleos urbanos de então não seriam maiores as disponibili
dades de terras a serem concedidas? Os menores, apoiados
na esmola, precisavam e, como se viu, cultivavam a sua
horta. E mais, necessitavam de pasto para animais, consti
tuindo a esmola usual em viveres e gado. Além da facilida
de para conduzir este gado, nao seria mais fácil o acesso
aos campos circundantes, ao rocio das vilas, com a clausu-
ra nas portas da povoação? Realmente, foi importante o
trabalho das missões voltantes, dos missionários ambulan-
tes pelas vastas extensões da colonia. Missionãrios simbo
lizados pela figura de frei Antonio do Extremo, OFM, que\'
nos setecentos, percorreu imensidões no centro-sul. Finalr
mente, a questão da esmola implicava na definição de dis-
tritos para o peditório, tanto na área urbana como na ru
ral e não raro era motivo de disputa ou atrito entre as
"religiões" diferentes ou entre as próprias capuchas.

A constituição- 690 do arcebispado da Bahia determina ex


pressamente que, ademais de outros cuidados"para a conces-
são da licença, que conforme o Sagrado Concilio Tridentino
é necessária para se fundar, ou instituir de novo algum
Mosteiro de Religiosos, ou Religiosas... ouviremos os supe
riores dos outros Mosteiros, se os ouver no mesmo lugar,so
bre o prejuizo, que da nova fundação pôde resultar, e bem
assim quaesquer outras pessoas, que nisso forem interessa­
II
das". O.capítulo LXXIX dos Estatutos municipaes da Provin
cia da Irnmaculada Conceyção, elaborado na mesma época e
também calcado em larga experiência e determinações anteri

I
68

ores , tem três parágrafos aqui decisivos: "O Provincial


tem faculdade com a Mesa juntamente para poder aceytar
qualquer Convento, que lhe offerecerem, porém será só
(quando, entre outras cautelas) sem defraude dos outros
Cõventos se possao sustentar os Frades conforme o nosso
modo" (§ D . "Nunca se fundará Mosteyro algum de novo,
com prejuizo dos antigos " (§ 2)... "Se acaso se fundar ou
tro Convento de outra Provincia, ou outra Ordem, que damni
fique algum nosso jã fundado, encarregamos ao Irmão Provin
ciai que dé todos os meyos necessários, possiveis, &
con-
venientes para atalhar o tal dano, defendendo esta causa
diante dos Diecesanos, & ainda na Corte do Rey, & Roma, se
necessário for" (§ 6).

As Atas Capitulares da Custodia e depois Provincia de San


to Antonio, recuperadas e divulgadas por frei Venâncio
Willeke (1970, 92-222), revelam a freqúência desta preocu-
paçao nas reuniões trienais dos seus responsáveis. Tanto
no que tangia ao estabelecimento como ã manutenção de inú­
meras comunidades por toda a colonia, antes e depois de a
certados aqueles Estatutos, especialmente com o advento do
século XVIII e dum mundo mais densamente povoado e já mar­
cantemente urbano em certas regiões. Além deste tipo de
cuidado, quando da autorização para se fundar as casas de
Macacu na baixada fluminense e de Paraguassu no recôncavo
baiano, dada em 1649 (98, itens 1 e 2), vale mencionar, en
tre tantos outros, dois exemplos bem posteriores relativos
a Salvador, então sede da Provincia nordestina. Em 1732
(125, item 8), se permite alugar um armazém na cidade para
recolher as esmolas dos conventos e os provimentos da Pro-
víncia, o que dá uma idéia, guardadas as proporções do pro
blema em cada casa em particular. Em 1841 (174), se defi­
ne com um rigor e detalhes impressionantes os limites do
distrito urbano para os esmoleres do hospício da Boa Via-
gem, de tal maneira que, descrito o curso das ruas, ladei­
ras, quebradas, imóveis, não interfirisse seu peditório no
de confrades de outras casas.
1
69

Em 1716, o "ingenieur ordinaire du roy" Frezier publica


descrições e desenhos, de muitas das escalas de sua via-
gem. As três vistas e a excelente planta de Angra nos Aço
res (282) mostram o convento franciscano na borda da aglo­
meração, numa das suas saídas e relativamente afastado dos
demais prédios religiosos. Retornando no tempo e ã metró­
pole, torna-se significativa a localização do convento mi-
norita na Lisboa medieval que nos retrata Fernão Lopes
(PASSOS, 1982). Bem próximo ao Tejo, intramuros, situa-se
o convento de São Francisco nas bordas da cidade, perto de
suas muralhas. Não estã, como os dominicanos, em ponto
tão central como o Rocio; muito menos, esta nos altos, na
antiga alcaçova muçulmana, junto ao castelo de São Jorge,
como os agostinhos. O claustro dos frades menores fica,
por outro lado, perto da porta do Corpo Santo, uma das saí
das principais, além de se situar bem junto ao porto. E,
sobretudo, mantém-se claramente apartado dos carmelitanos
e dos pregadores, dos agostinhos e dos beneditinos. Ilus­
tram bem essa localizaçao algumas peças iconogrãficas de
antes do terremoto de 1755, como a de 1650 (fig. 26). E
posicionamentos semelhantes sem conta, por todo Portugal,
a Historia serafica e o Espelho de penitentes...

Na América hispânica, que começou a ser urbanizada antes


da portuguesa e onde os franciscanos se fizeram presentes
desde o início da evangelização e em determinadas regiões
e momentos tiveram um papel muito maior do que nesta, po-
de-se detectar aquelas três características de localização
urbana dos claustros minoritas. Lã, no entanto, a diferen
te feição do quadro urbano, torna evidentes, se não fla­
grantes, tais características e, mais do que nunca útil a
observação comparada. Trata-se de acompanhar as fundações
dos menores num sistema muito semelhante de distribuição
da terra quanto ao aspecto juridico e administrativo, po-
rêm muito distinto quanto â consecução, num outro desenho
urbano, bem definido e declarado de início. Aí, uma nova
casa religiosa obtinha uma ãrea correspondente a um módulo ■
70

comum ou mais, de forma ortogonal e relação uniforme com


as vias públicas. O seu sítio era o da cidade, em geral
evitando maiores acidentes geográficos.

E o que se vê no que diz respeito ã localização urbana? A


incidência esmagadora da opção franciscana por terrenos
marginais ao tabuleiro inicial de ruas em xadrez, ainda
que a ele integrados. A freqúente proximidade não de qual,
quer acesso urbano, mas de um dos principais. A ^instala­
ção de sua casa bem distante de outras eventuais, ou pre­
tendidas, na mesma concentração humana. Percorrendo as i
lustrações de Planos de ciudades Iberoamerzcanas y Fzlzpz-
nas e as do Boletzn deZ Centro de Investzgaczones hzstórz
cas y Estètzcas da Faculdade de Arquitetura de Caracas,
constata-se o grande valor do manancial representado pela
cartografia custodiada sobretudo pelo Archivo de índias em
Sevilha. Acervo de numerosíssimas plantas urbanas dos
quatro séculos de colonização espanhola; acervo monotona­
mente insistente quanto ã planta baixa de tantas fundações
urbanas. Uniformidade que denuncia pronta e implacavelmen
te certas constantes, como essas percebidas em relação a
localização urbana predileta dos franciscanos.

Na freqúente grelha original com cinco quadras ou "manza-


nas " de lado, repete-se à exaustão a concessãoaos frades
menores de uma gleba em "manzana" de quina, É o que ates-
tam os planos fundacionais de Mendoza, 1562, e de Caracas,
1578 (figs. 27 e 28). Entre tantos exemplos, estes dois,
em partes tão distantes da América do Sul, lembram o que
parece ter escapado a alguns autores e que se deu por toda
a parte, naturalmente: com a expansão urbana tais "manza-
nas" primevas foram sendo envolvidas e deixadas mais para
o centro de cada aglomeração. Assim, Leszek Zawisza decla
ra os conjuntos seráficos "construidos en escala grandiosa,
enclavados en el centro de la ciudad" (1969, 95). Ao con­
siderar o vice-reinado do Peru também o casal. José de Mesa
e Teresa Gisbert em seu excelente artigo sobre a La Paz se
I
...

L
ti

71

tecentista (1975, 35). Ora, na capital boliviana, a casa


minorita está mais periférica ainda, fora do tabuleiro ori
ginal, como mostram estes autores, num importante acesso
entre los distintos puentes el más
da cidade, "entre obligado
era el de San Francisco que unia el centro a los bairros
indígenas" (33) e que constituía a saída para Potosí!

Descrevendo Pisco, no litoral peruano, Le Gentil (1747,


70) menciona "un Monastere de Recolets qui est situe au
bout d’une avenue d’oliviers, dans un lieu très-solitaire".
Ludivina Gutiêrrez ao analisar o convento de San Francisco
de Xalapa, ponto estratégico no caminho da cidade do Mexi-
co , diz: " Estaba situado sobre la vía que desde el camino
de Veracruz entraba al centro del pueblo" (1981, 15) . E
informa que o "edificio servia adernas de la vivienda cita­
da, para bodegas y almacenamientos, asilo a viajeros y en
ocasiones hospital. Estas funciones fueron todas intensi
vas en el caso de nuestro convento, ya que era el primer
punto de importância subiendo de Veracruz al altiplano"
(19). Um caso extremo, como o de Santos, mas não excepcio
nal. Excepcionais foram os grandes aldeamentos de índios
mexicanos, que se desenvolveram em torno dos primeiros con
ventos seráficos e que não se comenta aqui por serem tao
peculiares na sua origem e no seu desenho como o foram
mais tarde as aldeias jesuíticas na bacia do Prata, Resul
tam de algo inédito para a cristandade, neste ou em qual-
quer outro continente, que foi o gigantesco esforço de ca­
tequese dos frades menores no México dos quinhentos (KOBA
YASHI, 1974, 266). Quanto aos estabelecimentos calcados
nas Leyes de índias, a distribuição dos regulares se mos-
tra cristalina: junto ao centro os inacianos, distantes os
mercedários, deles afastados os mendicantes; e apartados en
tre si agostinhos, carmelitas, dominicanos e seus ri-
vais . . .

As gravuras do Civitates orbis terrarum retratando numero­


síssimos assentamentos humanos por volta de 1600 cons-
-

• -- > — •
I
72

tituem um precioso meio para se observar a localização dos


monastérios em relação às cidades dos quatro cantos do mun
do. Além de evidentes distinções entre a posição ocupada
pelos claustros das ordens mais antigas, como as agosti-
nhas e as beneditinas, e as novas ordens mendicantes, reve
lam aqueles gravados diferenças entre estas e, por conse-
gúinte, permitem detectar em muitas outras plagas as mes
mas peculiaridades para os franciscanos. Entre um sem-nú
mero de exemplos, as vistas de Cordoba, Dublin e Amsterdam
denunciam a situação periférica das suas cercas minoritas.
Liubliana, Leipzig e Cordoba têm as mesmas junto a seus
acessos. E em Bamberg, Cordoba e Lancaster, os menores
guardam nítida distância dos outros frades e dos monges.

Antes de mais nada, deve-se recordar que a postura de uns


e outros diante do mundo urbanizado era diferente, "Le mo
nachisme n'est donc pas fuite de la ville; il est ideal de
perfection dans la ville ou ã côté d'elle autant qu'anacho
440 . Para Paul Albert Février, dos monges poder
rèse", p. 440.
-se-ia dizer que buscam desde a antiguidade "vivre la per-
fection dans le monde sans être du monde, dans la ville
sans être de la ville",, p. 443. Para André Chêdeville, em
plena idade média, os mosteiros e abadias cluniacenses e
cistercienses algumas vezes foram suburbanos, na maioria
das vezes estavam isolados (51); e as concentrações que se
desenvolveram ao seu redor e atingiram o nível urbano fo­
ram relativamente poucas (70). Ja os frades, ingressos
nas novas regras "ils plantèrent leurs couvents (qui n * ê-
taient pas des monastères) parmi les hommes, et d1abord
des 'hommes nouveaux'... les gens des villes" (LE GOFF,
1980, 235). "Mais surtout 1'implantation au cours du
e *•
XIII siecle des couvents des nouveaux ordres mendiants...
revela le nouveau visage urbain et le marqua profondê-
ment ” (234).

Essa distinção entre monaquismo e confradismo, entre mos-


teiro e convento, entre o que provém dos primórdios do
I

73

cristianismo e o fruto da idade média, entre a opção pelo


isolamento e a preferência pela vida urbana importa muito
para o colonialismo europeu e para a obra de catequese que
empreendeu. Missionários das ordens mendicantes preponde-
A
ram em suas colonias e, com outros regulares, optaram qua-
se sempre pela cidade. E cunharam-na com a sua presen-
ça. . . O quadro social que encontraram e as perspectivas
territoriais, por certo, eram bem outros (MORSE, 1962,
326), porém parecem ter sido influenciados pelo que, sécu­
los antes, fora a realidade urbana européia. "Le caracte­
re manifestement urbain de 1'implantation des ordres men
diants s'explique dans une large mesure par la volonté de
l’Êglise de s'adapter â des structures sociales dont 11ap-
parition fut liée au développment des villes. La mendici-
tê qu'ils se sont plus ou moins imposée peut être ratta
chêe aux conditions êconomiques nouvelles crées par 1'em-
ploi géneralisé de la monnaie" (GUERREAU, 1970, 956).

Jacques Le Goff, em 1968, levanta uma série de questões re


lativas â localização periférica dos conventos para orien­
tar uma pequisa sobre o apostolado dos mendicantes na Fran
ça medieval. Localização também apontada por Braunfels
(1975, 190). Em 1970, aquele concede: "Horizon encore ã
explorer, celui des rapports entre couvents mendiants et
portes" (929) ... Relação percebida em Florença por outro
autor (SAALMAN, s.d., 40). Le Goff menciona ainda as bu-
las de Clemente IV unificando uma série de medidas em 1265
e 1268. Nesta, a "Quia plerumque", o pontifice estabelece
a distância mínima de 300 "cannes" entre duas casas mendi-
cantes. Calcados, pois, numa tradição, enraizada num mun
do medieval que ajudaram a "modernizar", os frades trans-
portaram para o continente americano certos costumes e pre
ferências de suas corporações. Costumes e preferências
talvez reforçados onde o papel da evangelização era primor
dial. Esta transposição, no que diz respeito à cidade,
se observa com grande incidência de norte a sul, de leste
a oeste, o que inclui & fatia portuguesa do continente. E

MM ■
I

74

a francesa, como na Martinica (FROGER, 1699, 186) 1

Se assim é, ficam claramente corroboradas as característi-


cas apontadas para a localização urbana predileta dos fran
ciscanos percebidas em terras paulistas, Ora, na antiga
capitania de São Vicente, como de resto em toda a América
lusitana, tais peculiaridades não ficam mais clarificadas
diante dum padrão urbanístico como o espanhol, Pelo con-
trãrio, ao longo do tempo, confundir-se-ão elas na estrutu
ra física acanhada de tantas concentrações brasileiras,
refletindo o vigor da presença socio-cultural das casas se
rãficas. Essa presença decorre em grande parte da locali­
zação preferida pelas distintas "religiões" aqui atuantes
e, particularmente pelos homens do burel e cordão, Da sua
escolha de glebas urbanas marginais redundava, de imedia­
to, uma nova conformação para o povoado que os acolhia. Ãs
proporções da data de terra conferida, ao destaque do seu
sítio natural, acrescia o caráter periférico da nova cer-
ca que, com suas futuras construções e atividades, prome­
tia um novo polo urbano. Com as demais casas religiosas,
se existentes, tal efeito se multiplicava.
multiplicava, Os jesuitas no
centro, junto da matriz e do conselho; os franciscanos na
periferia, a exemplo embora longe dos carmelitas ou benedi
tinos. Organizavam, também a seu modo, absolutamente não
aleatório, o estabelecimento colonial.

Se a localização urbana preferida pelas seis capuchas estu


dadas, a exemplo do sítio implicado e da gleba obtida, con
dicionou logo de saída a configuração citadina foi com ba­
se na experiência histórica específica da Igreja e da Or
dem dos Frades Menores. Se tal agente social distinguido
pôde na prática modelar as vilas e cidades mais do que na
América hispânica, outros privilegiados devem igualmente
tê-lo feito. E, portanto, ainda que em diferentes esca-
las, ter ajudado a desenhá-las, como estes conventos fran
ciscanos, não ã revelia da lei porém a despeito da lei se­
gundo outros cânones.

í
r

II A POSSE

". .. porque os brasões , e timbres das cidades sao os


Conventos, e templos..."

Provincial franciscano
carta aos oficiais da Câmara de Paranaguá, 1706

.
benfeitoria

"Também na Capitania de São Vicente, última deste litoral


e conquista, jã há anos, os moradores reservaram um lugar
para tal fim, pois viveu ali certa pessoa que ao morrer
deixou depositada uma grande esmola para ser empregada nas
obras da casa, quando Deus lhes enviasse Religiosos" (ILHA,
1975, 78). Que fundação conventual pretendida seria esta?
Não importa, porque, um século depois, outro cronista da
ordem dá conta de todas as capuchas paulistas fundadas no
intervalo que o separa da Narrativa de frei Manuel da Ilha.
Em seu Epitome da Provinda da Imaculada Conceição do Bra­
sil, frei Apolinãrio escreve: "É a Vila de Santos a melhor
de todas as da jurisdição da Capitania de São Paulo, tan-
to pelo grande trato de seus moradores como pelos edifi-
cios dela; a que acompanham os quatro conventos que nela
há de religiosos da Companhia, Carmo, São Bento e o nos­
P-, 138, este "na antiguidade tem o terceiro lugar
so. . " / ~
entre os mais da nossa santa Provincia e é um dos mais
grandes dela".

A estas informações sobre a importância do convento do Va-


longo, no começo do século XVIII, no âmbito da capitania
e da Província seráfica, o mesmo cronista acrescenta dados
que revelam sua participação no núcleo santista, cujos "vi
zinhos passam de dois mil". "Assistem de conventualidade
vinte religiosos. Mas fora destes moradores continuamente
nele se acham religiosos dos conventos desta Capitania de
77

Sao Paulo, uns para prover-se do necessário para os ditos


conventos, como ê de cera, sal, vinho e outras coisas
mais; outros a curar-se, por haver nesta vila as convenien
cias de medicamentos e quem nos aplique; principalmente os
do Convento de São Sebastião e Conceição" (139) . E diz mais:
"A igreja é competente â forma do convento; ã qual esta
unida a capela dos Irmãos Terceiros, que para a mesma igre
ja tem aberta. E em fronte têm os pretos uma asseada cape
linha onde festejam; e todos a São Benedito veneram das
grades que dividem igreja da capela".

Com a presença do Custódio, a pedra fundamental da nova ca


sa ê lançada em 19 de julho de 1642, tendo-se antes cons-
truido um recolhimento provisório para os religiosos. Em
meados do setecentismo, Jaboatão em seu Novo orbe seráfico,
nos fins do anno
P- 516-7, afirma que um superior "nos de
1642, deixou perfeito, e acabado o tal Recolhimento, aber-
tos os alicerces para o Convento novo, os da Igreja jâ fo
ra, e athe a cornija as paredes da Capella mor com bastan
te material para a continuação da obra", "sendo os seus
Operários, e Mestres da obra os Irmãos Leygos Fr. Thomê da
Madre de Deos, e Fr. Domingos dos Anjos, que nelle traba­
lharão com cuidado, e zelo, e ajuda dos Moradores". Além
disso, queixa-se Jaboatão da falta de "outra mais notícia
delle em os assentos desta Custodia", como o farã duas cen
túrias depois frei Basilio Rôwer, especialmente quanto aos
setecentos (1957, 144).

Num esboço, destes anos talvez, supõe Rôwer estar represen


tado o aqueduto que abastecia a clausura santista a partir
do morro do Desterro (fig. 6). Intervenção da maior im­

portância esta no rol dos empreendimentos civis e que con


ta com expressivos congéneres em outras partes do continen
te. Contudo, a expressão de todas as intervenções feitas
dentro do circuito da grande cerca conventual do Valongo
fica muito bem documentada pelas poucas peças cartogrãfi-
cas de Santos existentes. Tanto o "prospectto" como a

A-. <,
•• •
.
78

"planta” de 1770 (fig. 2) atestam a significação dessas


construções no conjunto urbano. E igualmente o fazem as
"tentativas de reconstituição topographica segundo os do-
cumentos da época” , feitas por Benedito Calixto para 1765
e 1822 (figs. 1 e 3). Os diferentes levantamentos reve­
lam que, ate
até a recente e radical transformação na ocupação
do solo e no perfil do antigo porto, conquanto singelo, o
convento do Valongo não tinha rival entre as demais cons­
truções de porte. "Convenho até que Santos tem edifícios
públicos condignos, igrejas, conventos, etc., que quase
não seriam de esperar em cidade tão pequena." Com 7000 ha
bitantes em 1858, informa Avé-Lallement (1980, 322) .

Sao Paulo tinha "na sua jurisdição vinte e uma vilas, onze
na costa do mar e dez de serra acima" (CONCEIÇÃO, 1972,
143) ... Este frade, que conhecera como noviço o convento
de São Francisco, registra aí então uma casa de estudos de
Filosofia e Teologia. "A sua igreja muito alegre, e nela
cinco altares..."II "A sacristia deste convento é a melhor
da Provincia. No claustro esta o capítulo mui bem obra­
do” . II
O convento com alegres oficinas e mui capazes de ce
las , em que moram trinta religiosos" (145) . E ainda suas
tres fontes... Depois de frei Apolinãrio, JaDoatao
Jaboatão repor
ta também no planalto a conclusão dum recolhimento proviso
rio "com o trabalho, e agencia de Fr. Simão do Salvador,
que o fez, diz o Cartorio, e com a ajuda, que para isso
derão alguns dos Moradores, e Povo da Villa" (1858-62,
520). Este recolhimento, erguido paralelamente ao santis
ta, foi logo em 1643 preterido por um novo sítio e por no-
vos oragos.

Acrescente-se a esses registros algumas outras melhorias


providenciadas na cerca paulistana e decorrentes de outras
necessidades. Nos fundos do convento "estava situada a
chamada portaria dos pobres, que em nenhum Convento falta
va" (ROWER, 1957, 104) para a distribuição de mantimentos
advindos dos peditórios e da carne dos porcos criados pe-
I

79

los seus escravos. Junto ã testada da gleba, em posição


oposta, onde hoje estã o largo de São Francisco, havia
plantio, houve um cafezal, cantava a mencionada fonte da
Conceição, tudo cercado por muros. A par das considerã-
veis proporções do conjunto representado pela igreja e
clausura dos menores em Piratininga, uma série de distin­
tas melhorias o apoiava nas mais variadas funções. Não a
penas o beneficiamento representado pelo plantio, pela po-
cilga, pelas bicas, como sobretudo pelas senzalas.
senzalas, Tendo
sido uma destas motivo de pendência entre os frades e os
camaristas na primeira metade do século XVIII (CAMARGO,
1953, 3, 338 e ATAS, 10, 271).

Acrescente-se ao número desses investimentos a sua qualida


de atestada por frei Apolinãrio que se refere ã sacristia
como "a melhor da Província". Província da Conceição,
bem entendido, o que inclui a própria sacristia do conven-
to carioca de Santo Antonio, sede provincial de então! No
mínimo, estaria ã altura das demais sacristias paulistanas
e constituia um dos melhores ambientes internos da peque­
nina "moderna cidade".

Nos últimos quartéis dos séculos XVII e XVIII, a Ordem Ter


ceira da Penitência construiu e reconstruiu a sua capela
em São Paulo. A primeira, estudada exaustivamente por
frei Adalberto Ortmann, abria-se para a igreja conventual,
ortogonal portanto ao eixo desta. Nos ângulos formados pe
los dois templos se sucederam diferentes acréscimos (28 e
segs.) e inúmeros reparos e melhoramentos (315 e segs.). A
segunda capela, erguida mais de uma centúria depois, mui­
to maior, guarda o interesse de sua originalidade entre
nós. Realmente, não exigiu a demolição total da primeira,
aproveitando parte de sua nave para constituir um raro
transepto. A primitiva capela logo se cercou dum novicia­
do e de outras dependências, constantemente ampliadas, re
formadas ou... tão somente pretendidas, A atual, paralela
ã da Ordem Primeira e, por conseguinte. voltada também pa-
80

ra seu adro, ainda depois da independência e da cessão da


clausura para os Cursos Jurídicos, teve suas dependências
adaptadas e objeto de novas obras, como atesta a ata da
sessão de vereança de 8 de março de 1828 (ACTAS, 54 , 156) .

As plantas urbanas de São Paulo, como a de 1841 (fig. 11)


e a de 1868 (fig. 12), situam o complexo conventual minori
ta entre as maiores edificações de então, Seja as das de-
mais ordens regulares em cada um dos extremos do antigo nu
cleo, seja as das parcas construções devidas ao Poder Pú-
bli co. Por isso, juntamente com os outros grandes claus-
São Francisco e São Domin
tros paulistanos, o convento de Sao
gos, mesmo depois de ter mudado de função e de ter substi-
tuido o silêncio dos frades pelo alarido dos estudantes de
direito, merece sempre a menção ou o comentário dos viajan
tes que conheceram a cidade no século passado. John Mawe,
apenas o arrola entre as demais construções religiosas
(1978, 63); Spix e Martius não o distinguem entre os "edi-
ficios altos" que do outro lado da cidade lhe dão "muito
imponente aspecto" (1981, 134). .Bem mais tarde, von Tschu
di, destacando as clausuras masculina e feminina carmeli­
nota: "Os conventos são grandes edifícios cujo aspec­
tas, nota:
to lembra quartéis, construidos com surpreendente irregula
ridade" (1980, 212) . "A Faculdade de Direito dâ uma boa
impressão e parece-me o mais notável de todos os edifícios
da cidade" (AVÉ-LALLEMENT, 1980, 332). Para Alfonso Lomo-
naco •I fra gli importanti edificii publici delia cittâ", P-
109, a sede da Academia de Direito ao fim do império não
escapa ã observação fantasiosa de Cari von Koseritz, p-
263: "É um grande e majestoso edifício, com grandes por-
tais, claustro etc., um convento que pode ter abrigado mui
tas centenas de monges".

Até muito recentemente, o convento de Nossa Senhora da Con


ceição foi o maior edifício de Itanhaém (fig. 16), superan
do a matriz de Santana e a Casa de Câmara e Cadeia não so-
mente pelo porte como pelo arrojo construtivo. •I
A constru
81

ção deste Convento lembra o da Penha de Vitória. Embora


não tão arrojada, é,
e, contudo, engenhosa...” Assim compara
balizas"” alcantiladas da Província seráfica
Rôwer as duas "balizas
do sul do Brasil, e conclue: "Os nossos antepassados sa-
biam construir, eram mestres na arquitetura" (1957, 284).
Desta não se trata aqui, a não ser de suas implicações so-
bre o conjunto urbano a seus pes. Convém, entretanto, lem
brar que o morrote em que se implantou esta clausura repre
sentou um desafio e forçou a adoção duma solução de compro
misso entre as dependências conventuais dispostas em "qua-
dra" tradicionalmente e as condições orográficas locais.
Por isso, ao contrário das demais capuchas paulistas, a da
Conceição tinha apenas dois lanços e o recurso a um subso­
lo. Talvez, pelo mesmo motivo, tenha demorado quase meio
século para ser erguida definitivamente, sendo a última a
ser levantada, e tenha recebido mais tarde um anexo fron­
teiro , cujo térreo também foi cavado no chão.

"A igreja mui vistosa" (CONCEIÇÃO, 1972, 154) ê menor do


que a matriz lá embaixo, porém, conquanto pequeno, o con-
junto conventual hoje em parte conservado a supera, Além
disso, apesar de não se ter constituído uma Ordem Tercei-
ra, outras melhorias foram agregadas, Ponto de peregrina-
ção muito antigo, recebia o cenóbio " muitos romeiros de to
da a Capitania de São Paulo, assim das povoações da serra
acima como das da costa do mar" (154-5) já no início do sê
culo XVIII. "E assim os prelados, atendendo a muita conti
nuação dos tais romeiros, mandaram fazer algumas casinhas
em que se possam os tais recolher, e principalmente na fes
ta da Senhora, em que da Vila de Santos vem muita gente"
(155). Escrevendo mais tarde, a respeito deste estabeleci
mento que por décadas foi apenas um hospício com presiden­
te in capite, Jaboatão se queixa de que em relação aos
seus primeiros tempos "nos faltarão tão bem as mais noti-
nao só em quanto ao
cias dos progressos desta caza, não mate
rial delia" (1858-62, 584).
584) . Esta falta, reiterada por
frei Basílio, persiste, no entanto, entre os investimentos

-
82

feitos no penhasco, destaca-se a abertura da ladeira de


acesso, em meados do setecentismo, que se considerara adi-
ante pelo seu especial significado.

Igualmente pequenino, o convento de Nossa Senhora do Ampa-


ro no município de São Sebastião torna flagrante, contudo,
o que a presença de suas instalações representou e repre­
senta ainda no quadro físico do antigo bairro de São Fran­
cisco. De fato, seu perfil domina incontrastado a bonita
enseada e a restrita vizinhança. Apesar de sua decadên­
cia, as fotos tomadas pelos integrantes da Comissão Geogrã
fica e Geológica, em 1907, e a aerofoto de 1977, atestam a
ascendência solitária deste claustro sobre tudo o mais a
sua volta (figs. 18 e 17) . Com o claustro em quadra do la
do do Evangelho, com sua capela dos Terceiros do lado da
Epístola se abrindo para a nave da igreja dos frades, teve
sua "sacristia, outrora rica e bem provida", segundo rela-
to dum sacerdote que aí residiu em 1912 (ROWER, 1957,
322-3). O inventario dos bens desta cerca conventual, rea
lizado em 1835, pelo juiz municipal da vila, a par da i-
greja, claustro e capela dos irmãos leigos arrola ainda
"dous grandes ranxos na frente da testada" e "muros de pe­
dra em toda a frente, e pelos lados athe certa distancia
de cem brassas" (ALMEIDA, 1959, apêndice B), sendo de todo
interesse as avaliações dos diferentes bens e destas ben-
feitorias em particular, Excelente documento para uma anã
lise comparativa dos valores da terra, das construções e
dos artefatos nos fins do período colonial. Uma relação
sem data, provavelmente setecentista (52), entre 17 "bens
de raiz que existem para o serviço do Convento", apontava
1 "casa de Romeiros" e 3 "senzalas para os escravos".

Relato de 1721, do inesperado visitante holandês que o per


correu, diz que "il y avoit plusieurs autres antiquitês
tant d'Europe que d,Amérique, dont ce Couvent êtoit en
possession" (BEHRENS, 1739, 49). E, muito posteriores, os
comentários de John Mawe "grande convento, bem construido"

;/=

83

e de Alfred Marc "ce majestueux édifice tombe malheurese-


ment en ruines" devem ser compreendidos não em termos abso
lutos mas relativamente ao Bairro que o acolhia; e dessa
forma se tornam muito expressivos.

"É o nosso convento o maior ornato desta vila, por ser o


maior edificio dela, como também pelo abono que com ele re
cebem as povoações, onde os hã de qualquer Ordem". "...Vi
la de São Francisco das Chagas, bem conhecida pelo apelido
da terra, que é Taubaté. É ela, ainda que pequena, muito
galante pela planície em que estã fundada; onde tem uma
boa igreja Matriz..." Assim, frei Apolinãrio da Concei-
ção, no Epitome à p. 152, dã conta do convento de Santa
Clara e da sua presença na antiga vila valeparaibana, nas
primeiras décadas do século XVIII. E não poderia ter sido
mais explícitol "Nele assistem dezesseis religiosos..."
"O convento é pequeno, a igreja capucha". A vila era en-
tão diminuta, seu convento também; tinha " uma boa igrej a
.
Matriz" mas naquele o seu "maior ornato" ... embora fosse
franciscanamente simples a sua igreja, Uma centúria de-
pois, para Spix e Martius (1981, 126): ”0 convento francis
cano... circundado de algumas filas de majestosas palmei-
ras, produz muito agradavel impressão, e deixa presumir um
lugar importante". Talvez, por isso, tenha merecido o re-
gistro de Thomas Ender (fig. 22), que os acompanhava. Mais
tarde, e "o maior edifício do norte da província" nos apon
tamentos dum morador, transcritos por Zaluar (1975, 100) .

Se neste caso a crónica se mostra cristalina, tambêm a do-


cumentação cartorial se apresenta excepcional. Frei Basí-
lio Rôwer chama a atenção para a escritura de 25 de abril
de 1674 em que os "Oficiais da Camara, Nobreza, e Povo...
se obrigavam a fazer Igreja e Convento â sua custa, confor
me a capacidade da terra, para que os Religiosos de S.
Francisco vivessem nele, a qual obra se faria com toda a
suavidade, e comodidade do povo na paragem e sítio que es-
colhesse o dito" seu representante no ato. Compromisso
84

este inédito e único na formalização da ajuda em toda a


Província seráfica (1957, 330). Mais ainda, o documento
detalha a forma de prestação do auxílio com todo o cuidado
e minúcia: além das quantias e prazos das primeiras esmo
las para a construção, "mais se obriqaram
obrigaram a dar doze peças
de Gentio da terra" (329) ..-Era demais, deu problema! Es
tipulou-se, ainda que cada bairro ofereceria negros para a
obra, num rodízio semanal,■* . ou todos cuidariam de manter
sempre II"trinta negros ao trabalho", de fornecer taboado e
o ferro necessário. É o que se sabe por uma queixa de que
o prometido não estava sendo cumprido dois anos depois
(330-1). Criada logo após a fundação da Primeira, a Ordem
Terceira estava com sua capela ainda descoberta em 1720.
Foi a mesma concluída, outras dependências levantadas e a
confraria muito prosperou.

"A sua fabrica não ê de pedrarias, mas de humilde taipa de


terra, de que também se formam as mais casas desta povoa-
çao. Pelo que, sendo tão moderno este convento, jã no ano
de 1728 estava um de seus dormitórios tão arruinado, que
(CONCEIÇÃO, 1972, 153). Eis a
ameaçava ruína" (CONCEICÃO, técnica
construtiva, a juventude e o estado do convento de São
Luis de Tolosa em Itu. O sistema construtivo e o material
empregado eram os mesmos das outras capuchas de serra aci­
ma, as de São Paulo e Taubaté, ao contrario das três ou-
tras litoreâneas, em alvenaria de pedra. A dicotomia ar
quitetônica entre o litoral e o planalto, presente; um con
vite a seu estudo nos restos de paredes conventuais subsis
tentes em taipa-de-pilão. O cenóbio ituano foi o último a
ser erguido, provavelmente entre 1691 e 1692 (ROWER, 1957,
408). Excepcionalmente rãpida a construção e, em conse­
quência, talvez a sua precariedade ou a precocidade de sua
ruína. "A igreja do convento, inda que pobre, (é) asseada,
com tres altares que nele costumamos ter" (CONCEIÇÃO, 153) .
Entretanto, a sua utilização é grande: "Os moradores deste
convento são vinte" (154).

• ' y. iè'
85

"Tem bastantes moradores, a que acompanham o nosso conven­


to e um hospício de religiosos de N. S. do Carmo e igreja
Matriz" (153). Esta a vila de Itu por volta do fim da ter
ceira década do terceiro século. Fundada havia mais de
meia centúria, prosperara. E assim o seu estabelecimento
minorita. Vingara este o bastante para enfrentar o proble
ma da precariedade de suas instalações de maneira radi­
cal, a reconstrução "a fundamentis": "seja demolido todo,
posto que por partes...";
H .
/ "que faça fabricar de novo o so-
bredito Convento... no mesmo lugar, que ocupa o velho arru
inado, e com o mesmo espaço e largura sem acréscimo, ou di
minuição afim de que se aproveite a mesma igreja, que não
macieiras, que to-
padece danificação notável, e nas mesmas madeiras,
das se mostram sem corrupção"; "...se deve fazer por par
tes para que ao mesmo passo, que da antiga se vai derriban
do por huma, e formando a nova, fiquem as outras em pé por
habitação dos Religiosos; e outrossim hé preciso haver cú-
mulo de pedra conduzida, que bem chegue para um dormitõ-
rio" (R0WER, 1957, 418). Esta a determinação do Definitõ
rio provincial de 18 de dezembro de 1783. Precioso docu-
mento, principalmente no que tange aos sistemas construti-
vos e à importância daquele adendo "se puder ser", tão an
terior, que se ressaltou nos Estatutos munzcípaes da P ro­
víncia sulista. Até mesmo uma tal reconstrução devia se
ater ao costume e ao saber da terra, ainda que respeitando
as demais recomendações para erguimento ou reerguimento
das capuchas, como a deliberação supra comprova e mostrar-
-se-ã adiante. Esta obra progrediu bem, mas não se comple
tou.

Diferentes registros gráficos e depoimentos escritos ali-


cerçam a forte presença destes seis complexos conventuais
paulistas nas suas respectivas aglomerações urbanas, Por
certo, mais do que a sua silhueta, investimento representa
do pelas construções e freqtientes reconstruções e, sobretu
do, as atividades que abrigaram foram significativos para
o quadro social, porem aqui ê a :sua — ----- física que in-
moldura

>x

— ________
1

86

teressa e, por isso, a ela nos atemos. Ao impacto que,


diferentemente em cada localidade considerada, diz respei­
to ã igreja e dependências conventuais, ã capela, consisto
rio, casa de exercícios da Ordem Terceira da Penitência,
aos outros variados melhoramentos realizados dentro da gle
ba. Impacto edilício só comparável ao provocado por ou­
tras corporações de regulares, configurando naqueles peque
nos núcleos um novo e mais rico perfil.

ii
..as ordens religiosas encheram suas senzalas de escra-
vos, de vez que no Brasil abundava o serviço braçal e min
guavam os irmãos leigos nos conventos" (WILLEKE, 1976,
356). "A exemplo dos engenhos de açúcar, os conventos le­
vantavam senzalas para seus escravos". De tais constru-
ções pouco resta, como ruínas em Vila Velha capixaba, a ca
pela na Bahia e a enfermaria no Rio. "Parece que todas as
senzalas dispunham de capela e enfermaria" (359). Também
subsistem poucos documentos sobre os negros nas comunida
des religiosas. Assim como a república destruiu os fundos
a respeito da escravidão, a decadência das ordens regula-
res os condenou igualmente e talvez se explique o fato de
•I
nenhuma comunidade religiosa ter deixado apontamentos sa­
tisfatórios sobre os seus pretos, e isso por motivos õb-
vi os " (371). E, na verdade os Estatutos das duas Provin­
das minoritas brasileiras, de inícios dos setecentos re
zam "que nenhum religioso, de porta afora, faça serviço a_l
gum manual pela indecência que disto resulta ao nosso ha-
bito e pelo escandalo a todos os que o virem trabalhar, sen
do-nos proibido por nossa Regra e forma de vida" (1717,
38, § 3). Como a constituição 478 do arcebispado da Bahia,
I contemporânea, determina aos clérigos que não façam "offi-
1
t
cios, e ministérios baixos, e abatidos... nem exercitem of
I

ficio, ou ministério algum vil, baixo, e indecente a seu


estado, nem cavem, nem rocem, nem cortem canas, nem fação
semelhante trabalho vil, posto que seja em suas próprias
fazendas". *

I ,7
* * • ? • -4^» * ' >1-

■ a
87

Como lembra frei Gentil Avelino Titton, em seu A reforma


da Província da Imaculada Conceição^ 1 7 38-2 740.^ esta forma
de vida quanto mais a regra estão menos para Francisco de
Assis do que para Pedro de Alcântara. Alcantarinos, de fa
to, eram os frades da Província de Santo Antonio dos Cur-
rais de que se originaram as duas Províncias em terras bra
sileiras. A reforma alcantarina, no século XVI e ao con-
trãrio do jesuitismo, voltava-se mais à vida contemplativa
do que ãs missões e se espraiou sobremaneira pela penínsu­
la ibérica e seus domínios. Frei Basilio Rôwer e frei Gen
til Avelino Titton, no entanto, ressaltam que no Brasil
procuraram os frades adaptarem-se âs diferentes condições
e solicitações, dedicando-se também ã vida exterior do a-
postolado. O culto divino era extremamente importante pa-
ra eles e, enquanto seus claustros eram geralmente muito
singelos, â exceção dos pontos importantes para a sua re-
gra de vida, os templos podiam mostrar-se riquíssimos, E
havia condições de os fazer, aproveitando os escravos: "Es
sa mão-de-obra barata seduziu os filhos de São Francisco a
levantarem igrejas suntuosas, porfilando com os templos
mais ricos do País" (WILLEKE, 1976, 371).

"A sua fabrica é demonstrativa de nossa profissão; a igre­


ja, porém ê muito perfeita". Dessa forma, frei Apolinãrio
da Conceição corrobora esta característica dualidade de
tratamento das capuchas por todo o Brasil, ao se referir à
carioca. Alí, a clausura logo depois foi substituida pela
atual, mas o templo é o mesmo a menos dos altares. Mais
tarde, frei Antonio de Santa Maria Jaboatão faz um saboro­
so comentário sobre a mesquinhez do antigo convento da
Bahia, descreve largamente a construção do novo, o atual,
examinando as alternativas e os partidos adotados (1858-62,
259-75). Nesses seus registros, feitos em meados do sêcu-
_lo__XVI_I1' percebe-se as profundas transformações por que
passam os costumes e a ordem franciscana ã vista da acentu
— ■— ----------------------------------- --------------------------- — —— —— ----------------

\ ada urbanização da coloniaJ E se encontra, em decorrência,


—- - L niflll "ãZ iJi..

menção a crescente importância e aos significativos inves-

— -— ___ • • • .. . •
I
I

88

timentos dos irmãos leigos da Ordem Terceira! tão bem estu


dados por Marieta Alves.

Atente-se ao relato de alguns visitantes, desses tempos pa


ra ca, dos dois maiores polos urbanos setecentistas. Fre-
zier (1716, 277), reprovando o livro de seu compatriota
Froger, critica as pinturas no forro da sacristia da igre
3a de Jesus na Bahia "qui ne meritent pas 11attention d'un
Connoisseur: les autres Eglises et Convents n'ont rien de
remarquable". Outro crítico, comentando a estreita liga­
ção da colonia com a metrópole, se mostra categórico sobre
a cidade que deixava de ser sua capital: "Die Kunstwerke,
die sie in den Kirchen haben, kommen von Europa" (KINBERS-
LEN, 1777, 35). No entanto, o fruto da vida urbana mais
intensa será mais tarde reconhecido em Salvador. "Les ê-
glises et les couvens offrent autant de luxe et de magni-
ficence qu'ã Rio" (BARROW, 1807, 1, 202). "...plusieurs
des monastères de Bahia étonnent par leur dimensions et
leur aspects imposant; ils rappellent les grandes abbayes
de la vieille Europe" (BURNICHON, 1910, 3) . "Conformément
ã l’usage assez commun au Brésil, tout ã cótê du monastère
du Grand-Ordre se trouve le couvent (sic) du Venérable
Tiers-Ordre" (14). "Parmi ces grands monastères que for-
ment un des traits saillants de la physionomie de la
vieille capitale brésilienne, il faudrait encore citer ce-
lui de São-Bento, le mieux situe de tous, et dont le grand
dôme revêtu de cêramique apparait de loin comme le point
culminant de tout le panorama" (49).

II
The churches and convents are extremely magnificent, and
calculated to strike the minds of the people who resort to
them", observa o "commodore" Byron da nova sede do vice-
-reino português (1767, 21). "The churches and convents
are numerous, and richly decorated", para o "captain" •
II
Tench (1789, 22). John White (1795, 46) nota "la partie
nord ou se trouve un riche couvent de bénédictins placê
sur une êminence". E John Barrow, "quelques vastes cou-

’:-4

fe-1—
*
89

vens, situes dans des positions superbes, et plusieurs e-


glises surchargées d'or, d'argent et de pierreries" (7 ,
140). "Em muitos casos as capelas dos conventos são maio-
res e mais custosas que as igrejas” (KIDDER, 1951, 52). Pa
ra quem o "mais belo panorama” carioca era o da estrada da
Penha, " quando se torna nítido o contorno das torres das
igrejas e conventos e dos edifícios principais" (210). Pa
ra Byron (8), os monastérios da ilha da Madeira "have a
venerable appearence, from their age and structure". Em
Lisboa, numa reambientação contemporânea, ao entardecer "no
Rossio caem as grandes sombras do convento do Carmo” (SARA
MAGO, 1983 , 54) .

No que diz respeito aos frades menores, os seus Estatutos


munzczpae s são
sao claros e elucidativos quanto a esta preemi­
nência urbana de suas edificações. Recomendam, deveras,
”porq
que sejam feitas logo definitivas: "porq (sic) a experien-
----(sic)
cia té mostrado, q as primeyras fudações, q nos princípios
não foram logo de pedra, & cal, pelos annos adiante res-
friou o zelo dos que pediram o tal Cõvento, com que os Re
ligiosos com seus discursos, & mendigaçoens nem se podem
bem sustentar, nem fazer o Convento (sic) para seu recolhi.
mento ” (153, §2). "... & farã traçar a Casa a nosso modo
Capucho, por quem souber arte de edificar por algum outro
Convento nosso, que melhor parecer conveniente ã terra, &

depois de vista a traça, & approvada, a entregará a quem


ouver de correr com a obra, & não alterara nella cousa al­
guma, para que assim nos naõ seja necessário desmanchar er
ro, ou permittido com escandalo, ou perda dos que deram
suas esmolas" (§ 3). O § 4 do mesmo capítulo determina
que nenhum prelado local alterará sua casa sem autorização
do Provincial e o § 5 que este também não poderá fazê-lo
sem ouvir os superiores "do Convento. Encomendandose
Encomenaandose muy
to que nos edifícios, & obras resplandeça muyto a Santa Po
breza, não fazendo curiosidades supérfluas, & desnecessá­
rias.” Anos antes da publicação dos Estatutos de ambas as
Províncias, em 1692, o Capítulo nordestino delibera sobre

5
90 .
»

a planta para a reconstrução do convento soteropolitano ”e


que se busque o engenheiro, e mais pessoas, que tenhaõ vo­
to na matéria de obras" (WILLEKE, 1970, 110).

Fueron los frailes los arquitectos y constructores de los


II

nuevos conventos al igual que en la Europa romântica, Sin


ser arquitectos profesionales y tal vez gracias a esto,
imprimieron en sus obras rasgos frescos y vigorosos en
opposiciôn al manierismo que abunda en el continente euro-
peo". Esta afirmação de Leszek Zawisza mereceria pondera
ção à vista das normas supra dos minoritas, embora seu au­
tor frise estar se referindo aos primeiros conventos mexi­
canos dos mendicantes "con caracteristicas marcadamente
distintas" dos conventos "construídos en escala grandiosa"
como tantos "especialmente en el Virreinato del Peru", que
repetem II en suelo americano"II a experiência urbana europeia
medieval (1969, 95). Apesar da impropriedade do apelido
(MALDONADO, 1966, 122), torna-se sintomático o conjunto
conventual franciscano de Quito ser considerado II el Esco-
rial de los Andes". Um brasileiro, o Conselheiro Lisboa,
assim descreve em meados do século passado o complexo será
fico de Caracas: "Mas espacioso, elevado y comodo, es el
antiguo convento de San Francisco...; esta adornado por un
magnifico claustro y contiene un templo elegante en su
interior, con sus bõvedas subterrâneas, el cual es induda-
blemente el mejor de Caracas, sin exceptuar la Catedral”
(GASPARINI, 1966, 107).

Graziano Gasparini também afirma serem os melhores templos


coloniais daquela capital os dos franciscanos e dos merce-
dários (98) e dâ bem conta do esforço para o erguimento du
ma casa religiosa ao mostrar que Nueva Cãdiz, frustada em
seu.desenvolvimento, não conclue a dos menores (1968, 13).
"El conjunto monumental de San Francisco de Lima debió ma-
ravillar a los observadores del siglo XVIII” (CAMILLONI,
1972, 60). Duas gravuras de 1674 e de 1748 (fig. 30) com­
provam eloqhentemente essa presença marcante na Ciudad de

At
91

los Reyes. "Le plus beau & le plus grand Monastère est
celui des Peres Cordeliers, que occupe un terrain conside
rabie. II a sept cloitres" (GENTIL, 1747, 99) ...Não mui
to longe, em Pisco (70): "Leur Eglise est très-propre, &

les Cloitres sont charmans malgré leur simplicité.” Camil


loni também afirma ter sido a igreja dos seráficos a pri­
meira e a maior da abandonada Santa Fe La Vieja argentina
(1979, 71). Na pequenina Xalapa mexicana, o convento fran
ciscano era dominante (GUTIERREZ, 1981, 15). "Mâs adorna­
da y rica fué su capilla, llamada de la tercera Orden, con
tigua a la iglesia, pero su fábrica era de un pésimo gus-
to; tuvo siempre un lúcido cuerpo de hermandad que le pro
porcionó mâs riquezas que a ninguna otra .cofradía de las
que existieron en dicha ciudad", segundo um comentário dos
oitocentos (18). Clara correspondência com o destaque dos
templos de irmandades e das Ordens Terceiras, tão freqúen-
te nos centros brasileiros.

Entretanto, além dos investimentos em obras por parte dos


Terceiros houve outros que, conquanto ancilares, muito con
tribuiram para a preeminência dos complexos minoritas na
paisagem citadina. Ê o caso de "Francisco de Tembleque,
que sin saber fundamentos de arquitectura se empleó duran­
te dieciséis anos en una gigantesca obra civil para traer
agua clara a la provincia de Otumba a través de un acueduc
to de mâs de quince léguas" (KOBAYASHI, 1974, 190). Tive-
mos o aqueduto santista que abastecia o convento do Valon
go. . . A crónica da fundação franciscana em La Paz (MESA e
GISBERT, 1975, 35) não deixa margem a dúvida: "a la ribera
del rio. con una hermosa puente de cal y canto que hizo el
convento para el pasaje y comunicación del pueblo, por es
tar retirado de él".

Na América hispânica, portanto, também era contundente a


silhueta dos grandes cenóbios, '• faisant lever sur ces ter-
res du Nouveau Monde une moisson d’art religieux" (BAZIN,
1980, 8), embora estivesse sempre circunscrita pela malha

V.

92

viãria rigidamente estabelecida pela lei e rasgada nas no­


vas terras. Esta disciplina representava uma novidade em
relação aos tradicionais centros urbanos europeus, que não
conheciam tal tipo de constrangimento às moles monacais.
"Todo intento de valorar la importância de los monasterios
para las ciudades medievales quedara corto. Junto con las
murallas, el mercado y el recinto de la catedral, determi
naban la imagen característica de cada ciudad" (BRAUNFELS,
1975, 214). Jacques Le Goff menciona o grande porte dos
conjuntos mendicantes nas povoações francesas da idade me­
dia, destacando os dominicanos de Paris e Limoges (1980,
237-9). Beckinsale (1968, 15) se refere ao aporte das
construções monacais bem antes nas ilhas britânicas em se-
guida à conquista normanda. Cedo, Sao Boaventura apostro­
fara atento ao projeto de vida franciscano: "There occurs
the sumptuous and curious construction of buildings, which
troubles the peace of the Brethren, burdens their friends,
and exposes us in a manifold ways to the perverse judge-
ment of men" (FALBEL, 1967, 468).

Tantas referências ao impacto representado pelos estabele­


cimentos franciscanos no Brasil, na porção castelhana do
continente e no mundo europeu corroboram a constatação fá­
cil, apesar dos poucos documentos existentes, de que em
terras paulistas as seis casas dos frades menores, as ins-
talações dos Terceiros e algumas obras civis de apoio mar
caram profundamente seus respectivos núcleos coloniais.
Até a época da independência, e mesmo muito depois, essas
variadas benfeitorias se incluem entre as maiores, se não
constituem as maiores, de cada um deles. Ainda hoje, os
poucos restos que subsistem permitem sem muito esforço
constatar, apesar de tantas e tão intensas transformações
a seu redor, que influenciaram muito o panorama físico e
social a sua volta. Ou seja, nos terrenos privilegiados
concedidos aos antoninhos em seis vilas da antiga capita­
nia de São Vicente, uma série de obras foi feita durante o
período colonial, conferindo uma nova silhueta àqueles pe-

/•
93

quenos aglomerados. Investimentos que se materializaram


nestes grandes conjuntos edificados pela Ordem Primeira,
pela Ordem Terceira da Penitência e para diferentes neces­
sidades suas sem os constrangimentos presentes em outras
plagas, onde também as realizações dos frades menores fo-
ram significativas para o quadro urbano.

Nem castelos, monastêrios ou ^muralhas como na Europa medie


val. Muito menos, os parâmetros urbanísticos estritos im­
postos pela coroa espanhola, conquanto acoplados e atentos
aos ditames canónicos. Nem mesmo, a competição representa
da por prédios públicos de algum porte e trato ou por gran
diosas matrizes e pela única sé... Assim como esta meia
dúzia de capuchas modestas, qualquer outro detentor de tan
tas benfeitorias em tão privilegiadas parcelas de terra po
deria sobressair e, conseqtlentemente, refundir o molde ci­
tadino .

a*-;
í>>

-______
adro

A "planta” da vila de Santos em 1770 acusa uma pequena


ãrea em frente ao corpo da construção do convento do Valon
go e reentrante em sua cerca. Embora esquemãtiva, esta
planta deixa bem clara a presença deste adro e, apesar de
ainda muito pouco densa aquela aglomeração litorânea, a im
portância da sua presença como espaço aberto dentre os
poucos assinalados: o largo diante da Matriz e do Colégio,
o que ficava diante do convento carmelitano e, junto ao ca
nal, certos vazios diante das Alfândegas Nova e Velha. Con
qúanto imprecisa no achuriado (fig. 1), tudo parece indi­
car que, junto â letra E de remissão, estã apontado o adro
dos franciscanos na reconstituição feita por Benedito Cá­
lix to para 1765. Realmente, sua reconstituição de Santos
para 1822 (fig. 3) , parece não confundir ãreas cobertas e
livres ou a nroiecão
projeção do convento e da Ordem Terceira com
o adro, antecipando, contudo, alterações na forma da cerca
que teriam ocorrido anos depois para a abertura da estrada
para Cubatão e o alto da serra (ROWER, 1957, 149), com o
recuo da lateral interna e da testada do terreno, De qual
quer forma, neste desenho estão nitidamente representados
o quintal dianteiro da casa religiosa e o seu adro, diante
da igreja conventual e do prédio coligado da confraria. Um
ponto, quase no eixo da rua de Santo Antonio, acusa o cru­
zeiro por trãs do fechamento. Enquanto perdura, além do
adro propriamente dito, um amplo vazio entre esta cerca
conventual e o córrego do Desterro, desaparece a ãrea não
construida diante do Carmo.

I
i
95

O levantamento feito por Jules Martin em 1878 revela uma


Santos profundamente transformada e em plena expansao. Mui
sopê do morro as quadras com apreciá­
tiplicaram-se até o sopé
vel regularidade, bem como, os largos e praças, destacando
-se as que ocupam o antigo campo da Misericórdia e a dos
~
Andradas diante da nova Casa de Câmara e Cadeia, Mas ê so
bretudo a estação ferroviária que mal insinua no papel seu
verdadeiro impacto sobre o tecido urbano acanhado de pou-
cos anos atrás. Torna evidente, entretanto, o papel trans
formador do adro dos frades menores, cujo claustro, não a
igreja, substitui.
substitui. O adro agora parece aberto e integra­
do ao largo fronteiro â estação, como confirma Rõwer â p.
151. A Planta Geral do Caes, de 1897, indica um maior
crescimento urbano e confirma este aumento dos logradouros
da ârea central, acusando realinhamentos e tratamentos pai
sagísticos novos que não vêm ao caso. Mostra o afastamen
to do canal, por causa de aterros e a construção de arma­
zéns que separam-no do largo da estação. As plantas poste
riores não indicam maiores transformações quantos aos lo­
gradouros do centro velho. Retenha—se o caráter terminal
persistente do adro da igreja do Valongo através dos tem-
pos. E as suas reais e hipotéticas alterações de forma,
que aconteceram sem dúvida e como reporta frei Basilio Rõ-
wer, atendendo a diferentes e significativas exigências ci
tadinas.

A planta do capitão de engenheiros Rufino Josê Felizardo e


Costa, datada de 1810, é a primeira representação gráfica
disponível da capital paulista. Embora tão tardia, permi­
te avaliar a trama geral urbana ao fim do período colonial
e muito antes das radicais transformações que subverteriam
o panorama da cidade de São Paulo. Poucos largos estão re
gistrados, destacando-se os colados â Sé, ã então Casa de
Câmara e Cadeia, às quatro antigas casas de religiosos, En
tre eles, o largo de São Francisco, que vai se abrindo em
direção ao do Capim e rua de São Bento. A carta da capi­
tal em 1842, atesta a perda por parte do convento - já ocu


96

pado pelos Cursos Jurídicos - de sua cerca dianteira e o


ganho pelo espaço publico de nova metragem quadrada, O
"mappa" da capital de 1877, quando a cidade renasce para
um novo e vertiginoso destino, comprova em detalhe mais
preciso a correlação do largo tradicional e jã modificado
com o largo do Ouvidor e a rua de Sao Bento. O então lar­
go do Capim (fig. 12) claramente prolonga um típico adro
trapezoidal da Ordem dos Frades Menores contendo o cruzei­
ro que, desaparecido, uma foto anterior a 1870 registra.
Quando começou a ser ampliado este adro em detrimento do
quintal do convento? Que alteração sofreu por ocasião da
construção da nova capela setecentista dos penitentes? As
transformações suas devidas ã reciclagem do uso desta clau
sura paulistana e ãs novas exigências da capital serão ana
lisadas ao fim deste trabalho.

De qualquer forma, além de abrir mais uma ãrea descoberta


para a pequena urbe, o convento minorita o fez discretamen
te, pela ãrea reduzida e pelo desenho irregular. De fato,
em seu Diccionario , José Saturnino da Costa Pereira, p.
191, reporta em 1834 o palácio "que foi Collegio dos Jesu_i
tas, em huma Praça quadrada", como a destacar a particula­
ridade formal desta última, de certa maneira acompanhada a
penas por mais duas. O largo de São Francisco não, tinha
outras características. E outra vida, com os estudantes
de direito e com sua função tradicional perdurando. "They
were collected together at the church of San Francisco, a
large and showy building, and at five o*clock the proces-
sion started, amidst discharging of rockets, ringing bells,
and other demonstrations" (HADFIELD, 1869, 70). Tratava-
-se da procissão de Cinzas, tão cara aos Terceiros francis
canos. Contudo, em 1899, o cruzeiro fora jã substituído
pela estátua de José Bonifácio, o Moço (PINTO, 77), provo
cando no ano seguinte a estranheza do mesmo autor: "Nos
paises da Europa as estátuas não ficam na frente das ruas,
mas no meio das praças. No Brasil é o contrario. Ê ape-
nas uma questão de gosto" (106) .

-- - -
97

Como o sítio natural, o acesso ao convento de Nossa Senho


ra da Conceição é peculiar e sugestivo. Construído entre
1701 e 1715 e ampliado entre 1733 e 1734 (ROV7ER, 19 57, 294),
o cenóbio atual dispõe duma área livre de 25 metros de com
primento no topo do morro. A esta chegava uma escadaria
escavada na pedra e substituída por dois lances de rampa
suave.. Com muro de contenção da encosta, pa­
mais larga e suave
rapeitos, arranque por sobre dois arcos em alvenaria de pe
dra e um singelo círculo inicial centrado pelo cruzeiro r
que não está lá em cima, diante da igreja, mas cã embaixo,
junto da vila. Esta obra, de certo interesse construtivo,
foi feita em 1752 e exigiu a obtenção de licença da Câma-
ra, em 26 de julho daquele ano, pois percorreria terras do
rocio de Itanhaêm (290). A figura 16 retrata bem esta
obra, tratada alternadamente nos documentos da Província
seráfica como ladeira ou escada. Alem disso, mostra que
se, neste caso, o adro estava apartado do tenro tecido ur-
bano de Itanhaêm, ficava ao mesmo ligado por este elemento
de acesso para os romeiros e peregrinos que multiplicava
os poucos destaques da povoação, impressionava pelos seu
porte relativo e abrigava periodicamente atividades inten­
sas para os moradores e forasteiros. No grande e disforme
largo da matriz, por outro lado, distinguia-se o arranque
deste elemento de ligação pelo cruzeiro, contraposto a cer
ta distância ao pelourinho.

Também no litoral paulista, "para a parte do norte, onde


chamam o Bairro, no qual temos o convento intitulado N. S.
do Amparo”, um outro adro se insinua, conquanto recente na
sua atual configuração, característica das tradições e pre
ferências seráficas. "O convento é capuchino (sic), ale­
gre; e o faz delicioso a vizinhança do mar, que quase lhe
lava os alicerces. A igreja na mesma porção e alegria, fi
i
cando-lhe a principal porta para o mar" (CONCEIÇÃO, 1972,
i 137) ...Tal situação, como se viu, e tal adro não pode­
i riam passar despercebidos ainda que em tão remoto e diminu
to povoado, como comprovam as fotos da Comissão Geográfica
i

4 ..
98

e Geológica de 1907 e algumas raras dos anos 20 (figs. 18


e 19). "Romantica ê a villa de São Francisco, com seu ve-
lho convento, a praia da Figueira, pontuada de alegres ca
sinhas, o cabo do Arpoador, verdadeiro ninho de delícias •f
(CAPRI, 1922, 15) as fotografias de somen­
... Compare-se as
te meia centúria atrás e o adro como hoje se encontra e
ter-se-á uma visão didática de como terão evoluido estes
típicos componentes espaciais das cidades brasileiras que
acolheram os antoninhos. Entre as areias da praia e a via
pública, que fez recuar o cercamento conventual, permanece
no mesmo lugar o cruzeiro singelo e agora acanhado.

A obtenção de mais uma grande gleba pelos capuchos em Tau-


baté talvez tenha retardado a expansão da vila na sua dire
ção e provavelmente colaborou para a constituição do campo
que se pode observar já em qualquer registro fotográfico
(fig. 22). Várias plantas, igualmente, apontam com clare
í
za (fig. 24) as duas áreas contíguas que se sucedem •I dean-
r
te de um convento, muito grande, pertencente ã ordem do
Franciscanos. Muito contribue para o embelezamento da ci-
dade. Fica em frente desta e dela separado por grande pra
ça quadrada chamada Campo e coberta de hervas e vassouras”
(SAINT-HILAIRE, 1938, 148). Na verdade, um documento de
10 de julho de 1863 atesta a situação jurídica do espaço
maior até então e sua crescente importância: "Os abaixo as
sinados, guardião e síndico do Convento de Santa Clara des
ta cidade, reconhecendo que o Largo da Palmeira deve ser
também, próprio Municipal, atesta â sua petição, e a neces
sidade que o público tem daquela servidão, por este cedem
a bem do município o mesmo Largo” (GUISARD FILHO, 1938,
76-7) ...Ambos "esperam que esta (sic) Camara de hoje em
diante o considerem bem deste Municipio confiado ao zêlo e
cuidado desta (sic) corporação” (1944, 183), certamente
cônscios da decadência do convento e da prosperidade do mu
nicípio. Por causa desta e à vista da cessão referida, o-
fício do coletor da província inquire sobre o perímetro ur
bano designado pelos edis em 11 de abril de 1865: "Outros-
99

sim se o Convento de Santa Clara cita (sic) nesta cidade


está ou nao dentro dos limites fl (228) .

Estes registros do início da segunda metade dos oitocentos


refletem o enriquecimento da região e do município graças
ao cafê e à expansão da antiga vila de Taubaté. Detectam,
por outro lado, o momento tardio em que a cerca do quase
desabitado claustro franciscano passa a se fundir com a ma
lha viãria e o casario que avançam. E ilustram o atraso
com que o seu acesso e o seu adro ganham diretamente a ce­
na citadina, pois até então a haviam observado e enriqueci^
do de longe. Tardiamente mas de forma cristalina, mostram
estes testemunhos como a existência do adro conventual e
do grande largo que lhe prolongava, passara o importar, A
aquarela de Pallière, a vista de Santa Clara por Thomas En
der pouco posterior e os documentos gráficos e escritos c:L
tados não deixam margem a dúvida sobre a ampliação e a per
sonalidade deste grande campo, bem como, da sua paulatina
integração no conjunto urbano. Essa iconografia pequena
mas preciosa e os papéis apontados, finalmente, são contun
dentes quanto ao significado dos usos e.da diversificação
dos usos daquele espaço comum.

Jâ o rápido e aproximado esboço do brigadeiro Custodio de


Sá e Faria, de 1774, acusa a regularidade das ruas, das
travessas e dos largos da bisonha Itu. E indica o conven-
to franciscano, como o hospício carmelita, rigorosamente a
as direções dominantes do circuito viário e do par
linhado às
celamento geral. Como em Taubaté, os frades menores foram
recebidos por uma aglomeração marcada pela regularidade do
traçado, porém ao contrário em Itu se estabeleceram, se
bem que na extremidade, muito próximos da antiga matriz.
Alinhado o seu conjunto conventual com o casario da rua
da Palha, voltava-se o mesmo ã distância para a rua Direi
ta, de permeio o seu generoso adro. As plantas urbanas
(fig. 24) patenteiam a importância da presença deste gran­
de espaço no quadro ituano, sendo que até a república, alem

^3
Li. •
100

do mesmo somente apresentam o largo do Bom Jesus, o da Ma-


triz, o do Carmo, além dos mais recentes do Patrocinio e
do Colégio. Ora, como os demais, o adro da igreja de Sáo
Luis de Tolosa foi abraçado e correspondeu ã ortogonalida-
de das vias, das testadas e dos muros da vila interiorana.
Refugindo pelas dimensões e pela conformação ao mais costu
meiro nos adros minoritas - tão peculiares no seu tratamen
to espacial - talvez por isso tenha provocado a admiração
de Zaluar em meados do século passado, ”0 adro do conven­
to é muito bonito, e avultam no meio dele um magnifico cru
zeiro e duas colunas de pedra colocadas aos lados de uma
escada ou degraus" (1975, 183).

Miguelzinho Dutra nos permite julgar esta descrição atra­


vés da aquarela de 1845 (fig. 25)r que documenta este io
gradouro, e compará-lo aos principais de então, também pin
tados pelo artista. A amplidão excepcional desta ãrea a-
berta, a rusticidade do seu chão, os componentes menciona
dos e, sobretudo, a regularidade são gritantes. Em suas
Notas históricas de Itu, p. 59, Cesar lembra o "distincto
Ten. Luciano Francisco de Lima, ã cuja deligencia também
se deve o quadramento do largo de S. Francisco, e a abertu
ra da rua do mesmo nome". Além de dois altares "no corpo
da Igreja". Dos fins do império outros registros existem
e se apresentam saborosos. "II luogo ove era il cimiterio
corrisponde all'attuale piazza di San Francisco (sic), qua
si all'entrata del paese, dove il visitatore incontra, qua
le prova del fatto, una grande croce di pietra, circondata
180) . Por certo era
da quatro cipressi" (LOMONACO, 1889, 180).
bem outra a função do cruzeiro (fig. 25) ' Mas o cemitério
seria mesmo de antigo assentamento indígena como afirma o
italiano, que parece ter se baseado em Cesar? De qualquer
maneira, informa Alfred Marc (1889, 240): "La cite... est
fière de ses places arborisèes, de la regularité de ses
rues parailèles, de sa superbe canalisation de l’eau".

-
101

II
Está em movimento a villa de Ytú.' Acabou-se a missa na
egreja de S. Luiz, mas o povo, em vez de retirar-se en-
grossa mais, em continuo movimento no extremo do vasto pa
teo, coberto de guanchuma e ortigas" (RASEC, 1895, 24).
Assim, iniciando o quarto capítulo de 0 paulista: romance
histórico, reconstroe o autor o uso do adro ituano duas
centúrias antes. "O estado actual da cidade de Ytú não
admite comparaçao com a villa de Ytú de 1696" (52) . "A ca
pella de S. Luiz, porém, nesse tempo excedia as outras em
proporções e riqueza: era considerada uma igreja de gran-
des dimensões” (54) ... e "ao
II
menos"II era coberta de te
lhas. Eis aí uma das funções deste amplo espaço, a reu-
niao descomprometida dos fiéis. E houve outras mais, alêm
das litúrgicas propriamente ditas. Ê o caso do samba de
terreiro, associado ãs festas de São Benedito que, na últj.
ma virada de século, alí aglutinava a comunidade negra não
mais escravizada, como mostra Otávio lanni. "Este logra­
douro público reunia dois elementos altamente favoráveis ã
realização do samba: possuia uma igreja, onde se encontra
va também a imagem de S. Benedito, o que levava a ‘irmanda
de negra do mesmo nome a ter aí sua sede, e permitia a a-
glomeração de gente, havendo chão batido suficientemente
amplo para a dança e a assistência participante" (NARDY,
1951, 3, 205).

As seis capuchas paulistas criaram um espaço de transição


entre a cidade e a nave de sua igreja, marcante para a es-
truturação de cada um dos respectivos núcleos urbanos, Jun
tamente com os adros de outras casas religiosas, quando
presentes, ou de outros templos principalmente, os adros
franciscanos constituíram para cada localidade um dos pou­
cos logradouros a enriquecer o espaço comum e a oferecer
a oportunidade de reunião que suas funções propiciavam. Se
o simples surgimento destes adros minoritas importou tanto
para o delineamento das seis povoações vicentinas, também
o fizeram as suas peculiaridades arquitetônicas. A sua
ãrea, a sua forma e a maneira de se coligar com as vias
I

102

próximas constituíram aportes originais. No Valongo, em


Piratininga e Taubaté, estes alongados elementos de transi
ção entre espaço aberto citadino e espaço coberto eclesiâs
tico provinham de reentrâncias na cerca conventual, diante
dos arcos da galilê. No Bairro litoreâneo e no sertão
ituano, a área oferecida parece maior ou mais rarefeita a
sua delimitação com os quintais; em Itanhaém, uma longa
rampa de acesso leva do coração da vila ao adro no topo do
morro. Em todos os casos, anunciando o âmbito seráfico, o
cruzeiro, desaparecido em São Paulo, solitário em Itu. Se
assim é quanto à presença e ã configuração desta meia dú­
zia de espaços abertos, também o seu significado na vida
daquelas localidades muito importou através dos tempos.
Basta lembrar a continuidade de suas precípuas funções nos
dois, até hâ bem pouco tempo, pequenos e pacatos pontos do
litoral sul e norte, cujas solicitações sociais não se te­
rão modificado tanto. Ou atentar para a suave e lenta pas
sagem para outro tipo de vida urbana, para uma maior laici
zação, que se pode observar nas adaptações de alinhamento
e de tratamento paisagístico ocorridas nos exemplos tauba
teense e ituano. Ou a reestruturação, funcional e física,
ocorrida nos últimos dois séculos, com o estabelecimento
duma estação ferroviária e duma Faculdade de Direito, e
com a abertura de novos largos correspondentes no bi-polo
porto/capital.

II
La grande place qui est quarrée, est au milieu de la Vil-
le” . Mr. Le Gentil em Nouveau voyage autour du monde, de
1747, v. 1, p. 131, considera as igrejas de Salvador infe-
riores âs do Peru e se impressiona com a Praça Municipal:
•I
Comme chacun fit bâtir sa maison à sa faintaisie, tout
est irrégulier, desorte qu'il paroít que la place principa
le ne se trouve là que par hazard". Como ê atual esta ob­
servação e como se poderia generalizã-la para nossos cen
Fixemos, no entanto, apenas dois aspectos:
tros urbanos.' Fixemos,
o destaque desta praça e a irregularidade que campeia a
sua volta. Um século depois para James Wetherell (HAD-
103 t

FIELD, 1860, 17): "Many churches in Bahia, which are


built in the city, seem to have had their sites very badly
chosen; from no position can you obtain a full view of
the building, as they are often surrounded by narrow
streets... although there are one or two buildings which
have handsome squares before themi;”. Dispensável comentar o
Defore tnem
realce que alguns poucos adros soteropolitanos garantiam a
suas igrejas e o peso da sua presença no sobe-desce da ci­
dade alta.

Germain Bazin, ao analisar a arquitetura franciscana nor­


destina em seu alentado estudo, considera a ligação do cru
zeiro em frente a suas igrejas com o culto da Paixão e o
conjunto que este elemento externo compunha com os muros
se oferecendo a determinadas procissões. Lembra um singe­
lo cruzeiro de madeira registrado por pintor durante a ocu
pação holandesa e a evolução dos seus sucessores que se
tornam esculturais, "le motif devient monumental ã Cairu"
(1956, 126). Em seguida, acompanha a evolução desses a-
dros, até que culminem no notável espaço aberto de João
Pessoa. "A subida, larga e calçada, levou-nos até a Fonte
da Carioca. Aqui e ali um escravo estava deitado, recli­
nando- se de encontro à parede dupla de cada lado, enquanto
que quase por todo lado se viam as nojentas porcarias por
eles deixadas" . Assim, Ewbank registra em 1846 sua aprox.i
mação da sede Provincial sulista que, pela implantação e
pelos terraplenos de seu adro sugerirão, mais tarde, para
Andrews a colina capitolina em Roma! Em 1686, uma alvarã
do rei proibe a construção de casas junto ao Rossio do Car
mo, no Rio de Janeiro, "porq1fazendosse cazas se tira a
vista aos Religiozos e os deuação na sua clauzura" (ANAIS,
1935, 57, 308).

Aqui a questão capital das imunidades da Igreja e da juris


dição dos adros. Questão que explica por que "the Portu-
guese sometimes preferred to place their religious buil­
dings at a short distance from the principal square". Ou

• A'
r
104

por que, a exemplo da grande praça de Ouro Preto, serpen


teiam tanto as ruas de Cachoeira ao longo e em torno duma
sucessão de terreiros, um com a Casa de Câmara e Cadeia,
outros com diferentes instalações religiosas (SMITH, 1955,
10 e 9). Ou ainda por que as matrizes, assim como, as ca­
pelas e igrejas das irmandades se apresentam soltas e reve
lando a sua plástica em Minas Gerais, que não conheceu
claustros ou cercas conventuais. De fato, as prerrogati-
vas especiais dos adros estão expressas numa série de di-
plomas legais e canónicos. O artigo 19 "Sobre os Adros"
da Concordia, estabelecida em 1578 entre D. Sebastião e os
prelados de Portugal, ilustra bem a delicadeza do compro* I
I

misso pela sua confusa redação e a força do mesmo pela sua


persistência. De todos os artigos desta 179 concordata,
entre a Coroa lusitana e o clero, o 19 foi o único não al-
terado nas Ordenações Filipinas publicadas em 1603 (ALMEI
DA, 1866, CCXX e 327). Da delicadeza da questão dã conta
Dias de Andrade (1966, 86) e melhor ainda o próprio tex-
to, por isso juntado ao presente como apêndice 1.

0 alvará de 12 de setembro de 1564 de D. Sebastião recomen


da a observância das decisões do Concílio de Trento. A "ce
dula real" correspondente do monarca espanhol ê do ano se-
guinte. Em 1566, reune-se o Concílio de Lisboa, presidido
pelo arcebispo D. Henrique e tendo entre as dioceses sufra
gâneas a do Brasil, recém-criada. Outra é a do Funchal,cu
jas Constituições synodaes apresentam interesse, como por
exemplo a nona do Titulo 17 que não permite comer, beber,
cantar, dançar, jogar, "nem representações nas igrejas,
nem em seus adros". As Constituições do arcebispado de
Evora também: "Outrossi defendemos geralmente, que nos
ditos adros & cimiterios se não corrão, nem aguarrochem
Touros, por evitar muitos inconvenientes que se dello se-
guem, & podem seguir" (44 verso). As do Porto, mais recen
tes e mais detalhadas, igualmente. Posteriores, os Titu—
los V a VII do Livro IV das Constituições do arcebispado
da Bahia tratam com rigor das imunidades das pessoas e

* •

105

bens eclesiásticos, assim como, dos lugares pios (veja-se


o apêndice 2) . Entre os lugares sagrados está o adro, e
mas entende­
não são muitos segundo a constituição 1279, "mas
mos somente aquelle lugar deputado para os officios, e mi
nisterios Divinos, ou para sepultura dos mortos, como e a
Igreja consagrada, ou benta, com seu Adro, ou Cemiterio,
I

e Capellas bentas".

A constituição seguinte precisa o aspecto da violação do


adro relativamente à igreja,
igreja. A de n9 738 determina ”que
nas Igrejas, e seus adros se nao fação feiras, ponhão ten-
das, nem se compre, e venda, ou apregoe cousa alguma, pos
to que seja para comer,e beber: e que se não fação quaes-
quer outros contratos, escambos, ou escripturas". As que
seguem, que não se promovam audiências, julgamentos, execu
çoes e •i"cousa militares".As 687 e 688 prescrevem os cui­
dados com a criação e a demarcação dos adros quando do er
guimento das igrejas paroquiais. E, finalmente, a consti­
tuição 490 estabelece que "os Regulares.., não podem fazer
Procissões publicas fora do âmbito de suas Igrejas sem li­
cença dos Bispos". Consistira esta uma causa institucio­
nal para a clara definição e a constante presença do adro
I franciscano? Nos Estatutos das duas Províncias brasilei­
ras não encontramos a resposta. Deles, entretanto, alguns
dizem respeito à imunidade, ã violação e ao uso do adro.
I
Como no § 1 do Capítulo LXXXI dos Estatutos municipaes:
"As Sepulturas dos adros poderá conceder o Irmão C
Guardiao
por si sò aos pobres, & necessitados, aos quaes se lhes de
ve dar Sepultura por obra de misericórdia, & caridade". A
proibição de encenações se revela preocupação constante
também. A Ata Capitular nordestina de 1745 determina "que
nem se consintão armar tablados, nem reprezentar qualquer
coisa nos nossos Alpendres, e Adros", e a de 1757: "Que ne
nhum Guardião consinta comedias nas nossas Portarias e al­
pendres dos Conventos" (WILLEKE, 1970, 128 e 130). Frei
i
Gentil Avelino Titton trata do assunto quanto ã Provincia
I da Conceição (1972, 121).
i

■_ . ..,
1

106
I

0 Garatuja, de José de Alencar, é uma reconstituição lite­


rária do Rio de Janeiro no século XVII em que um dos temas
constantes e centrais constitui a questão das imunidades e
clesiásticas, das diferentes esferas de competência e das
superposições de jurisdição entre as autonaaaes
autoridades civis e
as religiosas. Sõ que aí a trama se desenvolve em relação
ã mudança da matriz tendo em vista a expansão da cidade.
Em contrapartida, o monumental levantamento iconográfico
das cidades portuguesas do ultramar, realizado por Luís I
Silveira, torna-se também elucidativo quanto aos adros nas '
suas mais distantes e distintas colonias. Pequenas áreas
abertas diante de templos e de clausuras comparecem em cen
tenas de ilustrações; assim como tais edifícios, estes
adros sugerem uma nítida influência na estruturação dos
interstícios sutís de tantos assentamentos humanos. " . . as
cidades antigas portuguesas... não foram projetadas na me­ I

trópole. Os construtores levariam, de cor, um modelo: o


da cidade metropolitana, e adaptaram-se depois ãs condi-
ções locais, conforme souberam ou puderam". Ou conforme
as normas de convivência entre o poder temporal e o espi-
ritual..

Leonardo Benevolo considera o significado do atrio nas fun


dações urbanas quinhentistas do México, cuja maior parte é
devida às ordens mendicantes e, entre estas, aos frades me
nores principalmente. Este "verdadero core", entretanto,
surgiu em condições muito especiais de apostolado e de co­
lonização. Grandes massas indígenas eram concentradas em
torno dos primeiros conventos do continente e participavam
da catequese e do culto divino nesse grande espaço pecu-
liar diante da casa religiosa que também era responsável
I
pela sua vida temporal, nova e importada (1968, 133). "El
patio, que constituye la novedad más asombrosa en el con-
junto arquitectónico religioso de Nueva Espana sin verdade
ro paralelismo alguno en Espana ni en el resto de Europa"
(KOBAYASHI, 1974, 268) ...Porém, seria outro o curso nos
domínios castelhanos e outra a presença do Estado recêm-u-
-•

--
107

nificado sob a égide de Castela. O poder temporal ao bai­


xar estritas normas para os estabelecimentos coloniais, de
termina que o seu desenho se desenvolva a partir duma- praça
centra1, a "Mayor" ou "de Armas", que reune diferentes
edifícios e funções. Junto aos prédios públicos, de cunho
civil e militar, junto ao comércio, que se plante também
•I
a matriz ou catedral. "Así la futura plaza de las ciuda-
des hispanoamericanas será polifuncional, creando una ca
racterística simbiosis urbanistica de la autoridad laica y
religiosa" (ZAWISZA, 1972, 97). E rompendo, especialmente,
com a típica distribuição de funções entre as praças me-
dievais.

Erwin Walter Palm (1973, 32) aponta a repulsa dos portugue


ses por esta praça programada. Realmente, enquanto na sua
colonia americana preponderam uma rua principal, tantas ve
zes a Direita, e alguns largos diante dos templos, nas co-
lonias espanholas aparece timidamente um ou outro adro na
paisagem rigidamente disciplinada. O plano de 1609 de Pa-
nama La Vieja (HARDOY, 1969, 47) revela uma pequena reen­
trância retangular no conjunto conventual franciscano, na
esquina de uma das "manzanas" que ocupa. Aparece o adro,
I como em terras brasileiras, mas de forma condicionada pelo
l plano urbanístico e com dimensões mínimas para atender a
I suas funções litúrgicas. As gravuras de Pedro Nolasco,
i
1673, e de Juan Benavides, 1674, talvez por isso revelem
um adro murado diante do grande convento seráfico de Lima
(CAMILLONI, 1972) . Uma parte do chão, deixada livre no
cruzamento de duas ruas perpendiculares, está fechada e
distinguida, como os desenhos de Manuel Fuentes revelam,
muito depois, em 1858, no mesmo adro e no do colégio je-
suita. "En 1800 las dos plazas de Altagracia y San Fran-
cisco tenían un aspecto muy desagradable" para Alexander
von Humboldt ao descrever Caracas (GASPARINI, 1966, 92),
I onde referindo-se a San Jacinto, adro dos dominicanos,Fran
cisco Depons em 1806 diz que "parece que no se hubiera te-
nido intenciõn de hacer allí una plaza" (95).
(95) . E não se ti

'.W
_ *• » * -

. ->r.
B
108

vera mesmo, jã que o próprio Gasparini nota que então o


"atrio frontero avanza hasta la calle com muro; recato ri­
tual” (98) .

Outra era sua função, distinta da via pública e, sobretu­


do, da grande praça central estipulada pelas Leyes de In
dias e repetida â exaustão por todo o continente. Tanto
que a polifuncionalidade deste grande espaço coletivo o-
brigatório,se acolhia a sede paroquial, não evitava também
que a sua ■'manzana
"manzana"” ou "solar” fosse isolada por algum ti­
po de fechamento, como se vê ao lado de tantos templos mai
ores, como no atrio lateral da catedral da cidade do Méxi-
i

co com seu Sagrario. Um caso diferente ê o de San Francis


I
co de La Paz, em que a grande extensão do adro lhe confe-
I riu o nome de "esplanada” (MESA e GISBERT, 1975, 73-4) e
que reflete a localização isolada e, conseqúentemente, li-
vre da malha de ruas ortogonais. Na Xalapa mexicana, o
adro minorita não tem grandes dimensões, o que se explica
I
ria pelas funções especiais do seu convento "mãs centro de
distribuición misonal a los pueblos de su jurisdicciõn o
incluso jurisdicciones vecinas, aparte de servicios a espa
noles, que doctrina propriamente dicha” (GUTIERREZ, 1981,
17). Segundo um frade, em 1763, "en el atrio de dicho con
vento hay una cruz muy elevada, que se formõ del mastelero
del navio de Hernãn Cortêz" (14) . Bem se vê que no plano
urbanístico claro e uniforme, infinitamente repetido pelos
castelhanos em seu império, não faltou o enriquecimento re
presentado pelo espoucar de uns tantos adros diante de
suas principais casas religiosas. Não tiveram o mesmo pa­
pel que lhes coube, entretanto, no Brasil por se constran­
gerem ao desenho geral e não o afrontarem, reorientando-o.
Embora suas funções fossem as mesmas, como indica o cons
tante desejo de separa-los do leito das ruas ou das praças
propriamente ditas. Freqtiente também a presença do cruzei
ro franciscano, substituido jã em 1884, como em São Pau­
lo, por uma estátua presidencial em Guayaquil (WIENER,
D

10) .
109
i

Um adro imenso comparece diante da basílica do santo em >

Assis, numa perspectiva que parece ter sido evocada pelos


modestos congéneres brasileiros. Em Florença, o Carmine,
Santa Maria Novella e Santa Croce estão precedidos por am-
pias áreas abertas, que teriam tido uma origem mundana
(SAALMANN, s.d., 40). Carmelitas, pregadores e francisca-
nos estabeleceram-se nas bordas de então da capital tosca-
na, no seio de vizinhanças afastadas umas das outras, com
seus espaços ou referências peculiares. Referências que
se tornariam a expressão não aleatória, palpável e lógica,
como na Espanha (TORRES BALBAS, 1954, 77), do apostolado
pretendido, e inicialmente exercido, pelos mendicantes em
geral e pelos frades menores em particular. Vazios exis­
tentes e estrategicamente situados transfiguraram-se pela
presença e ação dos seguidores das novas regras do século
XIII em adros. Contemporâneo, Giovanni da Viterbo levanta
as questões de jurisdição que envolvem tais logradouros.
Em seu pioneiro Liber de regimine civitatum, no qual faz
referências ao Corpus iuris civilis de Justiniano, mostra-
-se bastante claro e incisivo: "...in such places. Their
then, must be speciallv
rights, then, specially protected, and in these
matters imperial laws shall not scorn the imitation of
sacred canons or sacred and divine laws" (MUNDY & RIESEN-
BERG, 1958, 122, doc. 14). Aliás, aquele monumental cõdjL
go de direito romano, nas suas Novellae Constitutiones,
Col. IX, Tit. XIV, Cap. V, manda suspender para as proprie
I
dades eclesiásticas

neque sórdidas functiones >


I neque extraordinárias descriptiones

Dentro das tradições da Ordem dos Frades Menores, das con­


centrações humanas europeias da baixa idade média, ã seme
lhança das "modernas" fundações coloniais que se fizeram
pela maior parte do Novo Mundo, de acordo com a orientação
do Concílio de Lisboa de 1566, cristalizada mais tarde nas
Constituicoens primeyras do Arcebispado da Bahia e. natu-
. •‘.y • >--4

í' ■

I
J...
110

ralmente, em respeito aos Estatutos municipaes da Provin-


cia da Immaculada Conceyçao do Brasil, os seis conventos
paulistas criaram em frente de seus templos adros que mar-
caram a paisagem e a vida das suas localidades. Em prime_i
ro lugar, pela sua simples existência, alterando a planta
de seu assentamento respectivo através do aumento do núme­
ro de largos disponíveis. Em segundo, pela ãrea, forma e
tratamento que, ao longo do tempo foram conferindo aos mes
mos. Ârea, forma e tratamento que variam e clamam por uma
comparação demorada com outros adros brasileiros para se
precisar sua tipicidade, nítida entre os demais, Em ter-
ceiro lugar, mas não menos, pelo uso pretendido, revelado
por regimentos suficientemente explícitos, bem como, pelo
uso efetivo que se lhes deu, tornando-os novos logradouros
e verdadeiros polos urbanos, como se considerara no prõxi^
mo capítulo.

Se tais adros afetaram tanto a vida, o espaço e a planta


destes seis estabelecimentos coloniais, hã que averiguar
as razões e as conseqtiências. Mormente quando nas colo-
I nias vizinhas espanholas viu-se que também existiram, fo
ram significativos, porém não como no Brasil. Por que um
impacto tão maior neste vasto rincão do ultramar portu­
guês? Parece que face a uma presença distinta do poder
temporal, essa necessidade do culto pôde ser satisfeita de
forma mais livre e expressiva. A ausência dum desenho ur­
bano claramente estabelecido possibilitou ou mesmo acolheu
tal interferência urbanística, como deve ter tolerado ou
mesmo ensejado a de outras poderosas instituições.

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6 polarização

"Esta Villa de Santos he húa das quatro principaes da Ca-


pitania de S. Vicente”, na terceira década do século
XVIII, para o Santuario Marrano em seu décimo volume, P-
112. Na mesma década, e segundo o Epltome da Província
Franczscana (138): ”Ê a Vila de Santos a melhor de todas
as da jurisdição da Capitania de São Paulo, tanto pelo
grande trato de seus moradores como pelos edifícios de-
la..." Dentre estes, o convento de Santo Antonio com "vin
te religiosos. Mas fora destes moradores continuamente ne
le se acham religiosos dos conventos desta Capitania ii
de
passagem, para se abastecer ou tratar, Fácil imaginar o
efeito de tal presença sobre o termo da vila, cujos "vi-
zinhos passam de dois mil", sobre a sua sede e, particular
mente, sobre o bairro do Valongo. Este, "o districto com-
mercial por excellencia", embora de população menor, su
I plantava o dos Quartéis, núcleo original, quanto ao porte
i do casario e o volume da escravaria. O autor de Os Andra-
das, calcado nos papéis custodiados no Arquivo do Estado
paulista, percorre bairro por bairro, rua por rua, acompa­
nhando a evolução do núcleo santista (151 e segs.), desde
1765 até os tempos da independência. Esboça o quadro físi
co e o ímpeto vital do Valongo como pano de fundo das riva
lidades entre "Quarteleiros e Vallongueiros" .(145 e segs.)
que se pode julgar pela vista e planta de 1770 (fig. 2) ,
assim como, pela avaliação da presença beneditina em San-
tos (ANDRADE, 1980) .

I
S <&-.*
I

112

Ora, em setor tão bem postado junto aos acessos da vila e


tao pujante em seus negocios, qual seria o papel da capu­
cha que o arrematava e dominava? Restrito ao apostolado?
E o suporte cotidiano imperioso? E o beneficiamento jã
considerado de sua cerca? Ao contrario do mosteiro de São
Bento "em aleare. & delicioso bosque... por ficar muy-
em hum alegre,
to retirado da Villa" (Santa Maria, 1723, 112), o convento
do Valongo conta então com sua "capela dos Irmãos Tercei-
ros, que para a mesma igreja tem aberta, E em fronte têm
os pretos uma asseada capelinha onde festejam; e todos a
São Benedito veneram" (CONCEIÇÃO, 1972, 139). Além das
praticas rituais dos diferentes irmãos, professos e
gos, brancos e negros, impunham-se as tarefas administrati.
vas de suas respectivas congregações. O sustento dos fra­
des, a deliberação dos mesãrios penitentes, a participação
dos de outra cor... Se não obrigando a tanta gente, estas
atividades de certa forma perfunctõrias se davam tanto ou
mais constantemente. E tornavam o complexo conventual "um
dos mais grandes" da Província da Imaculada Conceição, Sua
força de atração pode ser estimada pela observação do es-
panhol Coreal (1722, 1, 217) que, no último terço do seis-
centismo, teve tempo bastante para certos encontros amoro
sos arriscados com uma santista: "Cette colonie est de
trois ou quatre cens Portugais Mestices, mariez la plúpart
ã des femmes Sauvages converties au Christianisme, & gou-
vernez par des Prêtes & des Moines, qui possèdent ce
qu’il y a de meilleur dans le Pays: car ils ont quantité
d'esclaves, & beaucoup d’Indiens tributaires, qu’ils obli-
gent à leur fournir une certaine quantité d’argent pour
tribut".

Coreal descreve também o sentimento de independência dos


isolados "Citoyens de la République" de serra acima, "La
manière dont San Paulo se gouverne au milieu de la Capita
nie de San Vicente est assez singulière pour en dire ici
quelque chose" (220) . E atribuindo-lhe a mesma ordem de
grandeza santista, comenta: "Depuis 15 ou 20 ans. elle
113
V

s'est accruê dix fois autant pour le moins". "Da gente


desta cidade e das vilas da serra acima, de sua jurisdi­
ção", afirma frei Apolinãrio da Conceição (1972, 144) que
"com suas contínuas esmolas sustentam não só os tres con-
ventos que hã nas terras de sua estância, mas também em
muita parte os dois, o de Santo Antonio e Conceição... If
Na ausência de dados mais objetivos e de elementos gráfi­
cos elucidativos, esta afirmação dã uma ideia do significa
do do convento minorita paulistano em sua aglomeração. Com
trinta religiosos, era casa de estudos de Filosofia e Teo­
logia e servira algumas vezes de noviciado, em que se pre
parara o próprio cronista. Para este, jâ frisamos, a sua
sacristia era a melhor da Provincia seráfica, o que indica
bem a sua importância e movimento. "O convento com ale­
gres oficinas e mui capazes de celas"H (145) ostentava ago
ra a sua capela de penitentes, estudada por frei Adalberto
Ortmann que ressalta a destacada proveniência dos confra­
i
des. E a fonte da Conceição, no Epltome "tão singular,que
dela a bebem os governadores e algumas vezes se vêm buscar
I

i
do Colégio".
i

I Neste trabalho não se consideram as aldeias de indíos, OS


I aldeamentos missioneiros, administrados pelos franciscanos
1X1
1 .IX ou herdados dos jesuitas. Nem as Ordens Terceiras da Peni
tência e os hospícios que, pelo interior, para o sul, ate
a Colonia do Sacramento, exigiam o apoio e acompanhamento
dos frades menores a exemplo das missões volantes. Nem
I ainda os recolhimentos femininos pelos quais, em São Paulo
e Sorocaba, se empenharam. Aquela para todas essas aten­
ções constituiu um centro catalizador não desprezível. Bas
i ta lembrar que frei Apolinãrio menciona hospício "contíguo
ã mesma igreja" da aldeia de São Miguel e "suas confrarias,
que servem com muito zelo" (151). Passagem, alias, precio
sa para o entendimento da sua arquitetura que foi das pri­
I
meiras tombadas e restauradas em todo o território nacio­
nal. Escapa ao âmbito do presente retomar tal análise, po
rém cumpre ressaltar o significado da existência de distin

K—X». -V.
114

tos confrades setecentistas em São Miguel para que sua ca-


pela atingisse a atual configuração. Alêm do edifício pri.
mitivo, erguido pelos inacianos, e da intervenção tardia
de frei Mariano da Conceição Veloso, OFM, detectada por
Luis Saia em certas técnicas construtivas mineiras, deter-
minadas funções peculiares ao apostolado seráfico e vigen
tes em Ururaí prometem esgotar a interpretação daquela ca-
pela. Atente-se ã incursão de frei Venâncio Willeke pela
capela do Bom Jesus da Glória de Jacobina no sertão bahia-
no (lyói,
(1961, 92)... Cabe lembrar, outrossim, a participação
do frei Galvão na fundação dos recolhimentos de concepcio-
nistas na capitania e na construção do especialíssimo con
vento da Luz.

Entre os atrativos do conjunto conventual paulistano, pri.


meiro aqueles propriamente rituais. Em meio aos serviços
religiosos, destacam-se determinadas festas, mormente a
procissão da Quarta-Feira de Cinzas, promovida pelos peni­
tentes durante duzentos anos (ORTMANN, 1951, 126). Como.em
i
todo o Brasil, a Ordem Terceira da Penitência despendia
I seus melhores empenhos e recursos para o sucesso desta que
I era das principais procissões. Em 1868, William Hadfield
I (70) a assiste, enganando-se quanto ao dia da semana, im-
pressionando-se com a' movimentação e o excitamento geral,
I
com a tempestade de verão que a dissolveu e com o júbilo
popular que acolheu em seguida a notícia do êxito militar
obtido em Humaitã. Das providências para o suçesso destas
festividades dão conta alguns documentos relativos a dife­
rentes e significativos fatos. A ereção do património da
capela em 1754, por convocação do comissário da fraternida
i de que até então não tinha renda fixa (ORTMANN, 210) e a
i
I
aplicação de dinheiro a juros por parte da Ordem Primeira,
atestada por correspondência do seu síndico no mesmo ano,
I
leigo encarregado da defesa de tais interesses fora de ca­
da casa franciscana, existente no Arquivo da Cúria Metropo
litana (PAPEIS AVULSOS). Da evolução do património da Or­
dem Terceira, especialmente o imobiliário, e de seu rela-

’ ■í

- ■i f abiili
115

I1
!

i
cionamento com as vizinhanças diz bem frei Adalberto Ort- ■

mann, p.
P- 232 e segs.
I
I

Finalmente, as atividades ligadas à cultura e a fabrica


propriamente dita dos templos das duas ordens e de suas


respectivas dependências ancilares absorveram considerável
atenção e estabeleceram outros liames com os paulistanos.
Além dos estudos de Filosofia e Teologia, do noviciado, ha
via um portão posterior para distribuição de alimentos aos
pobres, havia no quintal da frente a fonte da Conceição, a
água encanada em plenos setecentos, novas senzalas preten-
didas e recusadas pelos oficiais da câmara, etc. Oferecia
-se, ainda, os sermões, o canto e a música litúrgica. Cons
trução, manutenção, reformas e guarnições solicitavam na o
apenas investimentos constantes, ""e
e com a ajuda, que para
isso derão alguns dos Moradores, e Povo da Villa" (JABOA-
TÃO, 4, 520), como também exigiam serviços de todo o tipo
dos oficiais mecânicos da terra. Com os outros templos e
casas religiosas, o convento de São Francisco e São Domin­
gos se constituiu um dos maiores repositórios do produto,
ainda que modesto, do trabalho local; "parece-me o mais
notável de todos os edifícios da cidade" (AVÊ-LALLEMANT,
1980, 332). "Tudo parece indicar que, no decorrer dos sé-
culos XVI, XVII e XVIII, era o Patio do Colégio o verdadei
I
ro 'coração' da modesta vila, depois cidade de São Paulo"
(MULLER, 1956, 128). Acentuada naquele a função adminis­
trativa, no século seguinte o largo do Piques "transforma­
ra-se em ponto de mercadores e tropeiros" (133). Almeida
I Prado, mais tarde, conhece a Academia, como vértice dum
I triângulo secundário (fig. 12), caracterizado por hotéis
baratos e pensões de estudantes (1963, 136).
I

"E ainda que solitário, por isso buscado de alguns religio


sos", tornou-se mais tarde o convento de Nossa Senhora da
Conceição um lugar de retiro para os frades da Província
seráfica em 1758. Frei Apolinário se refere também aos

I "muitos romeiros de toda a capitania de São Paulo, assim

I I

I
I

116
=i

I
i
das povoações da serra acima como das costa do mar... prin
cipalmente na festa da Senhora, em que da Vila de Santos
vem muita gente". "Todos os romeyros, & passageyros, que
I vao aquelle Convento, achao ser aquella obra bem merecida
de tão soberana Senhora; ainda que também a julgão mal
empregada em tal terra; por ser obra toda de cantaria la-
vrada, & de mais curiosidade, que aquella que se costuma
nos Conventos Capuchos". Esta informação do Santuario Ma
riano, p. 131, atesta a importância das peregrinações, o
esforço construtivo dos menores e o que deve ter represen­
tado aos eventuais trabalhadores locais, alem dos "melho­
res officiaes, que havia na Província", levados para Ita
nhaém. "Era aquella terra já naquelle tempo pobrissima, &

o trato, & a lavoura delia não dava esnerancas


esperanças de mais se
avantejar" (1723, 129). Por isso, "das Villas circunvezi-
nhas, havendo nellas outros Conventos da mesma Ordem, lhes
vay com abundancia, o de que necessitão" (135) os seus re-
ligiosos e os operários na obra. Desnecessário frisar o
foco de atenções e de serviços que, na pequena localidade,
terá representado o cenóbio isolado no morrote.

Um documento nos Mappas de População de São Sebastião-1827


(ALMEIDA, 1959, 54-5) ilustra o peso relativo da capucha
no distante Bairro do litoral norte, "Tem huma Ordem 3a.
unida ã Igreja, que subsiste somente nos annuaes que pagao
à mesma Ordem os Irmãos e Irmans, todos os annos, e de al­
gumas esmollas que, por morte, os ditos Irmãos e Irmans
lhes deixão". "Tem huma pobrissima Irmandade de S. Benedi
to, que está estabellecida somente por devoção dos escra-
vos, e de algumas pessoas libertas, debaixo do beneplaci-
to do Prelado. Subsiste só de auxilio das esmollas, e
annuaes, que os Irmãos pagão, com cujo donativo fazem ao
Santo huma pequena Festa". Que empenho em sustentar tais
fraternidades após a independência! Relatando a significa
tiva doação seiscentista, bem como, os "moradores, a quem
os Religiosos assistem com muyta caridade, & o fazem como
se fossem seus Párocos", frei Agostinho de Santa Maria con

&
H

117

firma uma centúria antes (1723, 108) : "Com esta Senhora


tem todos aquelles moradores, não só os que vivem junto ao
vma, muyto grande devoção".
CÕvento, mas os da Villa, Das ima-
gens de São Benedito em Nossa Senhora do Amparo diz o cro
nista coetâneo: "Todas são necessárias para andarem pelo
termo desta vila e na mesma, pois ele é o principal medico
que entra nas casas dos enfermos e o patrocinador de todas
as dificuldades da gente desta terra" (CONCEIÇÃO, 1972,
138). Indiscutível o efeito polarizador da casa religiosa
não só sobre o pequeno arraial da pesca e da cerâmica mas
sobre toda a região do canal de São Sebastião.

Entre os templos de Taubatê, "a vanguarda, - pela soma con


siderável de contribuição meritória e inolvidável, na for­
mação de nossa cidade e de todo o seu povo, - pertence ao
Convento de Santa Clara" (GUISARD FILHO, 1938, 19-20). Ape
sar disso, no geral, os estudiosos da memória e do folklo-
re taubateanos disso parece não se darem conta. De fato,
entre as tradicionais festas religiosas da cidade estão as
de Santa Cruz, da Imaculada Conceição, de São Benedito...
todas da devoção dos antoninhos. E a persistência local
da tradição da montagem, visitação e competição dos presé­
pios durante as festas natalinas? Que influência terão ti
I

do, na roça como na urbe, para a importante cerâmica popu-


lar? Cerâmica popular com seu elenco variado de tipos e
fatos da vida do povo, com os fatos e tipos da Natividade,
com seu Galinho do Céu. A crónica setecentista da Provín-
cia denuncia, aliás, entre os dezesseis religiosos da pe
quena clausura, um mestre que ensina ler, escrever e con-
•i
tar a uns e gramática a outros, assim como, confessores
da lingua da terra".

Provisão regia de 22 de abril de 1723 atenta para a pecu-


liar situação geográfica de Santa Clara e atesta suas ne
I cessidades de abastecimento e de acesso: "distante do mar
pela terra dentro seis dias de viagem e que o seu pasto
mais imediato ê o da vila de Parati donde se costumam for-
I

• S. aZ.
118

necer o dito convento de farinha, vinho, azeite, peixe e o


mais necessário para as refeições deste", consente um sín­
dico em porto então estrategicamente situado em relação âs
minas gerais para tratar daquelas questões "e sobretudo pa
ra agasalhar os religiosos que continuadamente passam pela
dita Vila para o conventos da Ilha Grande, São Sebastião,
Santos, Conceição, São Paulo, Taubatê onde esperam embarca
çoes e embarque com tempo oportuno" (4 0) . E que melhor
prova do impacto representado pelo simples erguimento da
capucha do que a escritura, de 25 de abril de 1674, docu-
mento único já referido, em que foi dito pelos ditos Ofi
ciais da Câmara, Nobreza, e Povo que eles se obrigavam a
fazer Igreja e Convento à sua custa, conforme a capacidade
da terra"? Como reza o inventário de 1701, de um de seus
primeiros protetores (126): "As taipas, corpo da Igreja,
foram sua primeira esmola, que mandou fazer por seus escra
vos" .

A recriação do ambiente duma saída de missa em 1696, feita


pelo romancista Austo Rasec, oferece uma mostra da atração
exercida tradicionalmente sobre os ituanos pelo convento
de São Luis de Tolosa, com seus diferentes anexos e amplo
adro. Muito depois, numa nova realidade social, especial­
mente depois de abolida a escravidão, a presença aí da ir
mandade de São Benedito ensejou a concentração dos negros
no vasto espaço para o samba de terreiro, quando de há mu_i
to estava o edifício vazio de frades ou mesmo dum derradei
ro guardião. Segundo Nardy Filho, teria havido aulas de
primeiras letras e de doutrina, bem como, de latim, matemá
tica e filosofia na casa seráfica de Itu. E houve, já se
viu, muito e seguido empenho em relação a sua sede de tai-
pa-de-pilão: a construção rápida nos últimos seiscentos, a
reconstrução de um lanço do claustro uns quarenta anos
mais tarde, a reconstrução nao concluida, "a fundamentis”,
de todas as dependências conventuais, iniciada em 1785. Da
dificuldade deste empreendimento se percebe pelas recomen­
dações anteriores do Definitório (ROWER, 1957, 418). Por

- -—
119

sua vez e pouco depois, a Ordem Terceira ergue sua nova ca


pela para abrigar novas imagens encomendadas no Rio, que
implicaram em sensíveis despesas analisadas por Nardy Fi-
lho.

Qual o efeito das práticas religiosas, das medidas adminis


trativas de toda a sorte para seu suporte e de outros ser-
viços â população, das constantes obras exigidas pela fá-
brica desta capucha sobre a vila daquele sertão? Pois, po
de-se melhor avaliá-lo do que nas outras localidades, a
exceção talvez de Santos, graças â
ã "feg.a por estimação"
do brigadeiro Custódio de Sá e Faria, feita em 1774. Real
mente, trata-se duma referência â disposição física da vi-
la que permite acompanhar mais de perto a sua evolução nas
décadas e nos séculos que se seguiram (fig. 23). Este a-
companhamento realizado para o serviço estadual de defesa
ao património paulista (TOSCANO, 1978, 5) revela pela sin- I

tese dos dados documentais e gráficos disponíveis que o


crescimento de Itu se deu no sentido oposto ao convento mi^
I
norita, localizado na área nuclear original, O centro, co
mo a matriz, mudou-se mais para cima, constituiu-se um se-
tor mais dinâmico, a "villa nova"II em direção ao hospício
carmelitano na extremidade oposta do tradicional assenta-
mento. Fica clara, sobretudo, a contenção de Itu, por lar
go espaço de tempo, entre seus dois córregos e pelos seus
dois cercamentos de congregados regulares, Como se ambos
a tivessem atraido, retido e, em momentos distintos, sido
envolvidos pela trama urbana. Primeiro, o do Carmo em se-
tor mais rico e próspero, depois o que restava de São Luis
de Tolosa em setor mais humilde e negligenciado.

Na falta de maiores elementos cartográficos que permitis-


sem sobrepor os dados censitários existentes ao ambiente
físico de cada uma das concentrações humanas que acolheram
capuchas paulistas, buscaram-se outras evidências do seu
provável caráter polarizador na vida e no tecido citadino.
Consideraram-se as diferentes formas de atração representa

• >

■MB
120

das pelos rituais litúrgicos propriamente ditos, pelos ser


viços de cunho humanitário, educacional, cultural presta-
dos à população e pelas solicitações financeiras, adminis-
trativas e construtivas impostas pelas constantes exigên
cias de manutenção ou melhoramento das fábricas, Uma tão
absorvente presença social, que transcende tanto ao aposto
lado em si, deve ter tido o seu rebatimento ambiental, ex-
presso ao longo do tempo, É o que minuciosas pesquisas lo
cais e adequadas comparações com outras clausuras poderão
dimensionar. Em compensação, tal magnetismo fica detecta-
do pelos mais antigos e esporádicos visitantes de alguns
outros portos da colonia...

II
... peuple, qui leur porte un respect tout particulier;
1 ’ impureté n'est pas le seul dêfaut de ces Moines impies;
ils vivent dans une ignorance crasse, on en trouve tres-
-peu, qui sachent le Latin... par tout le Bresil des le-
gions de Cordeliers, de Carmes, & de Benedictins: mais
ils se soucient peu de la conversion d’un nombre infini de
pauvres Indiens... " Esta mã impressão do Sieur Froger
(1699, 73) curiosamente se reforça por uma distinta de
i
Coreal (1722 , 154) : ii Je n'ait point vu de lieu ou le Chris
tianisme paru avec plus d'êclat qu'en cette Ville, soit
par la richesse & la multitude des Églises, des Couvens &
des Religieux, ou par 1'équipage devot des Gentil-hommes,
I des Dames & des courtisanes & généralement de tous le Ci­
toiens de la Baye”. Anos depois, Mr. Le Gentil faz um sa
boroso relato de sua surpresa ao aceitar um convite do vi-
ce-rei para assistir a missa do galo numa das igrejas da
Bahia - bem menos elegantes que as do Peru (1747, 3, 131)
- a do convento do Desterro (149-52): "Nous allâmes à dix
heures à l’Eglise de sainte Claire, ou je ne m’attendois
pas à voir une Comédie, ou plutôt une Farce”. Porém, trans
cendeu a excitação das religiosas e a desafinação dos ins­
trumentos e das vozes, cena incontida de ciúme em relação
a um infiel sobrinho do governador, irrompida depois que
outra clarissa "fit un long discours ã l’Assembêe en
V*

- — z_
-M
121

Portugais corrompu, tel que le parlent les Esclaves. Ce


discours êtoit un recit satirique des intrigues galantes
des Officiers de la Cours du Viceroi". "Cette catastrophe
fut le dénouement de la Comêdie. On chanta une Messe ou
toutes les Religieuses communierent". Este episódio hila
riante nos reporta às constantes restrições expressas nas
Constituições do arcebispado da Bahia, nos Estatutos das
Províncias franciscanas e na suas Atas Capitulares, relati
vas às encenações dentro e fora dos conventos. "II y
auroit bien des reflexions à faire là dessus", mas importa
aqui a constatação da ocorrência de tais eventos... cultu­
rais !

Teriam eles seus atrativos, ainda que ã distancia, para o


i capitão VJatkin Tench (1789, 22) e para o cirurgião John
l White (1795, 47), que fizeram escala no Rio de Janeiro em
I viagem para a Oceania: "The churches and convents are
numerous, and richly decorated; hardly a night passes
without some of the latter being illuminated in honour of
i
their patron saints, which has a very brilliant effect
when viewed from the water, and was at first mistaken by
ror public rejoicings".
us for "Les frêres mendians se distin
guent dans ces pieuses cêrêmonies qui, pour 1’ordinaire,
ont lieu durant la nuit". 0 curioso é que a constituição
492 do arcebispado da Bahia proíbe fazer procissão ã noi­ a

te, enquanto a 490, jã se viu, submete também os regulares


à licença dos bispos para tal tipo de manifestação pública
"por fora do âmbito de suas igrejas". "Procissão hehuma
oração publica feyta a Deos por hum commum ajuntamento de
fieis disposto com certa ordem, que vay de hum lugar sagra
do ao outro lugar sagrado", define a constituição 488.
Mais tarde, por entre acerbas críticas de estranjeiros, apa
recem alguns comentários positivos. "As procissões reli­
giosas são suntuosas, grandes e solenes; produzem um efei­
to chocante, devido ã profunda veneração e ao zelo entusi
ãstico do povo". Se John Mawe (1978, 72) as vê assim em
São Paulo, Adolphe d'Assier (1867, 189) generaliza em Per-

■y

I
■■

122

nambuco: "La procession, dans l’Amérique hispano-portugai-


se, est le complément indispensable de toute fête; les
hommes libres y sont seuls admis". E (201) na Bahia: "Le
moine y domine encore plus qu ’ en tout autre endroit du Bre
sil, et avec lui règnent toutes les supersticions d'une
autre époque". Nesse tempo, contudo, Ao correr da pena de
José de Alencar (201-2) , fica registrada uma nova simplici.
dade em festa tradicional no dia de São Francisco na cor-
te.

Não faltam testemunhos do empenho em organizar a procissão


de Cinzas e dos abusos que a mesma tolerou, como detalha
Marieta Alves (193 e segs.) no caso dos penitentes sotero-
politanos. Igualmente no âmbito assistencial (328 e
segs.) e na solicitação de serviços de toda espécie para
atender ãs necessidades e ãs
as ambições da fabrica se notabi
f

lizaram as Penitências, constituindo os mais preciosos re­


positórios de obras de arte, como no caso carioca demons­ I

tra Mario Barata. Entretanto, da riqueza dos templos, da


infraestrutura voltada ã assistência social, dos diferen­
tes cursos oferecidos, das grandes bibliotecas reunidas,
destaquemos a forte impressão causada pelos complexos con­
ventuais franciscanos sobre alguns viajantes no século pas
sado e no atual. Francois Auguste Biard na Paraíba.
François Auauste Paraíba, "le
plus charmant village", visita o convento de Santo Antonio
I
e ê mal informado pelo cicerone de que se tratava de obra
dos jesuitas. "Le temps ne me permit pas de me faire ex-
pliquer tous ces chefs d'oeuvre, dignes de figurer dans
une petite église d’Allemagne que j'ai visite jadis" (1862,
303)... e semelhantes às das igrejas na Espanha. Agora um
brasileiro, ex-presidente da província de Goias, Leite Mo­ ■

raes ve a Paraíba "pobre mas, de aspecto agradável" com -

seu palacio soffrivel". !

Faz o mesmo passeio e confusão. "Visitámos o célebre con­


I vento de S. Francisco, esse monumento glorioso da omnipo ••

I
I tencia colossal e inteligente dos jesuitas; o convento é o

a
123

século passado; tem esplendores que o atual não comprehen-


de e grandezas que a nossa geração julga-se pequena para
bem contemplâl-as" E insiste na injustiça que persiste
na historiografia da arquitetura e que ê uma das motiva-
***

çoes do presente trabalho, "Não somos jesuita; nao somos


seu inimigo; nao queremos os seus principios; applaudimos
e admiramos os seus monumentos; ã sua eschola de pedra, a
industria e a arte nas suas mais arrojadas manifestações •i
(1882, 264). O elogio ê significativo; o elogiado, contu-
do, é bem outro! O cônsul norteamericano comete o mesmo
engano em relação ã sede da Academia de Direito.em São Pau
lo: "It is kept in an old Jesuit church and monastery"
(ANDREWS, 1887, 148)... Impressiona-se e se intriga com
as pinturas do forro da igreja, percebendo finalmente que
retratavam "no unworthy man - it was St. Francis" . Em com
pensação, compara a capucha carioca pela sua implantação
ao Campidoglio romano! "But, like most Brazilian towns,
Rio can boast of but few fine buildings, the cathedral and
several convents being more remarkable for size than
beauty" (BATES, 1885, 431). Este viajante acusa a impres
são forte causada pelas igrejas e conventos também nas ci-
dades da America hispânica, embora outros elementos igual-
mente o impressionem como o xadrez viário em Quito, Lima e
i Cuzco. No Brasil, em outros claustros que não
nao o dos
aos cole
gios inacianos, se desenvolveu o ensino e a pesquisa (AZE-
I
I VEDO, 1958, 2, 23) e nas Minas Gerais, longe das clausu-
I
ras, entre confrarias e freguesias (MACHADO, 1969, 119)
prosperou a diferenciação dos grupos sociais, E a disper-
são que, "ocupando pontos de evidencia, morros e saídas,
I teriam as igrejas dos conventos de quase todas as vilas e
II
I cidades, marcando ainda hoje as posições principais de cen
tros como São Paulo, Olinda, Belém e São Luís"(REIS FILHO,
1968, 117). Estes pontos se dispersavam, balizando com
grandes glebas a ocupação do solo citadino. Ora, se con­
I centravam tantos atrativos para a vida social, constituí­
ram polos de atração poderosos em seu quadro ambiental, A
sua própria dispersão acentuaria este efeito de polariza-
I
i ,■á
l 3-
M
124

çao de todos e de cada um sobre seus respectivos setores


e obedecia a claras determinações eclesiásticas e a nao
tao claras distâncias entre si. De fato, no que tange aos
estabelecimentos mendicantes, Jacques Le Goff lembra que a
bula de Clemente IV fixa a distancia em 300 "cannes" em (

i
1268. Em 1265 , outra bula sua fixara o comprimento de uma
"canne" em oito "paumes"
paumes ou "pans". Dias de Andrade (1966,
101-2) afirma que H"era a verga ou cana ("canna”), medida i

rara que sõ encontramos nesses documentos". Mostra, no en


tanto, que se discutiu o efetivo número de palmos corres-
pondentes e se serviu assim, sobremodo, a pretenções con I
flitantes dos religiosos em meio a distintos •privilégios
concedidos pelo papado. i

I
i
José Saramago (1983, 149-57), ao descrever uma solene pro- !

I
cissao setentista do Corpo de Deus em Lisboa, disseca a su
cessão de santos diferentes levados por leigos e por regu­
lares procedentes dos mais variados cantos (fig. 26) daque l
I

la corte. E no seu Ensaio de iconografia das cidades por­


tuguesas do ultramar r Luís Silveira arrola incontáveis es
tampas que exibem esse afastamento entre templos e casas i

religiosas, constante mas não regular. Entre maiores e me


!
í

nores fundações coloniais, em diferentes continentes e i

ilhas, São Paulo de Luanda merece destaque por sua seme-


lhança de implantação com Salvador na Bahia, e pelo nítido
distanciamento de suas clausuras. Jaime Cortesão, que faz
um novo balanço do franciscanismo em terras brasileiras
(1964 e 1969), que revela o poderio dos regulares nas fei­
torias lusitanas da Oceania (1971), calcado em diversos
cronistas lusos e estrangeiros, evoca "com segurança o as-
pecto exterior e a vida de Goa na sua intimidade”. Goa
seiscentista tem a primazia entre as cidades do ultramar e
"apresenta-se-nos então como a mais típica de todas as nos ■

sas criações urbanas coloniais" (1968, 241). "A proporção


dos frades em meio da população de Goa era enorme" (258) .
Em Claustro franciscano, frei Apolinário da Conceição con­
ta 34 casas franciscanas somente na corte (1740, 2).* Em

• ■ --
125

Primazia serãfica (1733, 61), assevera que o primeiro cla-


ustro americano foi o minorita "na Ilha Hespanhola.. . não
só da nossa, mas o de todas as mais Ordens" e que já em
1506 Fernando de Castela tratava de tolher a sua exagerada
descendência.

Porém as clausuras se disseminaram t r todo o Novo Mundo !

como repara, duas centúrias depois, o "ingenieur ordinaire í


!

du roy", Frezier (1716, 205): "L’Etat Monastique qui a í


innondé toute 1’Europe, s'est encore etendu au-dèla des t

vastes mers dans les Colonies les plus éloignées, ou il


remplit jusqu'aux derniers recoins habitez par des Chrê-
I

tiens: mais c'est particulierement à Lima qu1on voit des


legions de Moines, dont les Maisons ont absorbê la plus l
belle & la plus grande partie de la Ville”. Entre outros I

regulares, a "Ciudad de los Reyes" conta então com quatro I


♦L I

conventos dominicanos, quatro agostinhos, três mercedã-


rios, cinco estabelecimentos jesuitas e um mosteiro benedi
tino, além de doze claustros femininos! "Les Cordeliers !I

en ont quatre: celui de Jesus, ou le grand Couvent, qu'on • <


I I
• 1
appelle aussi Saint François, enferme plus de 700 horrane s,
1
tant Moines que Domestiques, il occupe 1*espace de quatre I
I
quartiers, c'est le plus beau de la Ville” (fig. 30). Jor
í
i
***
I
I ge Enrique Hardoy (1975, 372) nos explica tal profusão de
clausuras, lembrando que "muchos de los servicios que ha-
I
bitualmente se prestan en una ciudade moderna eran adminis
trados en la ciudad colonial hispanoamericana por las Orde
I nes religiosas. No puede sorprendernos entonces el número
de religiosos que vivían en las principales ciudades y que
t
I los conventos fuesen las obras más representativas de la I

arquitectura urbana colonial”. Polos de atração distribui


I
dos por um reticulado que nao ignorava princípios de douto
I res da Igreja (MORSE, 1975, 45), nem preceitos canónicos
(HOYOS, 1945, 15). I
4

I I
I

Nem poderia ignorar tal retícula colonial o legado da evo­


lução urbana da metrópole/ por mais inovadora e peculiar
J 1!
w,
5 •<
h. ______
126

que fosse a sua cristalização. "La legislaciõn respaldo


ese proceso, no se adelantõ a él"U (HARDOY, 1975, 344). Nao
desconheceria a tradição das cidades medievais europeias,
a sua tensão interna, a gravitação de sua vida em torno de
determinados " points chauds". "La ville médiêvale est
polycentrique " (LE GOFF, 1980, 2, 219 e 224). Por um la-
do, segundo uma manifestação minorita do século XIII (1970,
929) , os mendicantes justificavam sua opção urbana por fi-
carem mais próximos dos fiéis, dos recursos de subsistên-
cia e das muralhas protetoras. Por outro, diante desta
opção, permitem agora indagar o que representaram suas fun
dações conventuais como "foyers culturels" (LE GOFF, 1968,
75). Limitando-se a exemplos italianos e ao alvorecer do
mundo moderno, Wolfgang Braunfels detecta nesta preferên­
cia pelas cidades um efeito polarizador (1975, 200): "En
muchos casos, tales monasterios crearon el núcleo de los
nuevos centros periféricos, originando así una relación de
tensiõn orgânica con los centros urbanos tradicionales: ca
tedral, ayuntamiento o plaza mayor". Ao tratar do sofisti
cado jardim setecentista do claustro napolitano de Santa
Chiara (1980, 2, 62-4), Germain Baziri acentua o cunho aris
tocraticamente requintado daquela contribuição das Claris
sas e nos reporta à surpreendente e cómica cena contemporâ
nea, presenciada por Mr. Le Gentil na Bahia.

A meia dúzia de clausuras franciscanas, estabelecidas no


século XVII em diferentes localidades vicentinas, implicou
no aparecimento dum novo e ponderável foco de atenções em
•-
cada uma delas. Atenções que se voltavam para o dia a dia
do ano litúrgico, merecedor de todo o cuidado do culto se­
ráfico; atenções que se despertavam através da música, do
sermão, das alegorias talhadas e pintadas, pelos cursos
oferecidos, pelas bibliotecas; atenções que se desdobravam
f
em variadas obrigações e oportunidades ligadas ao sustento
da comunidade religiosa e à conservação de sua casa porten
tosa. Disso tudo, são testemunhos eloqtientes, a fundaçao
e o florescimento das Ordens Terceiras da Penitência e das

■ /.A
i
127

I
irmandades de Sao Benedito, o casario que paulatinamente
foi se aconchegando às cercas dos frades menores, além das
realizações plásticas conseguidas, relativamente aos peque
nos núcleos, sempre significativas. Em geral tardias e
sempre esporádicas, as poucas plantas e vistas urbanas re­
fletem o efeito desse magnetismo, ao menos no que tange
aos quatro maiores centros considerados.

Tal fenômeno de polarização em torno das seis capuchas pau


listas, tão modestas (GUTIERREZ, 1983, 258), só pode ser
compreendido se contraposto aos embriões de vida e de for­
ma citadina em que se deu. Ambiente e paisagem que, se
conheceram outros polos urbanos, não dispunham de um cen-
tro irradiador de atividades e de direções, nítido e incon ’
trastável.
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III O DESUSO

I
I
I
"Ocupa agora todo o espaço^ logo se dissipa e se desfaz
em nada. Na vaidade e pompa do mundo..."

frei Antonio de Lisboa, OFM


i
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comentando um texto das escrituras, século XIII

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7 reciclagem

Cem anos depois de frei Apolinário da Conceição acusar a


presença de vinte religiosos no convento de Santo Antonio
do Valongo passam os registros a apontar apenas a assistên
cia do guardião. Segundo Rõwerf, a partir de 1831 este re­
ligioso estarã sozinho, contando com um companheiro apenas
em três outras oportunidades (1957,- 152). Com algumas fa­
lhas, os principais cargos da casa seráfica santista esti­
veram regularmente preenchidos até 1808. Desde então come
çaram a ficar vagos como é o caso do de porteiro, que por
sua importância "via de regra era sacerdote”, e o de Comis
<1

sãrio dos Terceiros, de grande significado para as tarefas


religiosas junto ã confraria dos leigos. Estas funções,
por isto, quando faltavam elementos, foram preenchidas ou
acumuladas pelo próprio guardião. O derradeiro guardião,
eleito e licenciado logo em seguida, no ano de 1859, nao
foi mais substituido. 0 recenseamento de 1798 - precioso
conjunto de informações sobre o estado das casas religio­
sas paulistas (DOCUMENTOS AVULSOS, 1953, 2) - declara a
existência, por outro lado, de 12 escravos na do Valongo;
um documento do arquivo da Ordem Terceira acusa, em 1853,
apenas três: um africano, um crioulo, um pardo (151). A de
cadência fica atestada com estes poucos dados; decadência
desta casa santista, como de resto se verá por toda a par­
te. E suas dependências, portanto, em desuso...

4
130

Se tal era a situação do convento, diferente era a de San-


tos. Enquanto um minguava, a outra prosperava com o adven
to de novos tempos. Bem demonstram os mapas de 1770, 1822
e 1878 (figs. 2,3 e 4) : a expansão do tecido urbano
tornou-se fato notório e mesmo impressionante. A popula-
çao da antiga vila atingira 5.863 habitantes em 1836. Po
rem, o movimento portuário se mostra ainda mais eloqúente
e reflexo de profundas alterações na economia da outrora
capitania e agora província de São Paulo. Antes do surto
cafeeiro, dois terços de suas exportações já saem de San-
tos. "Deve notar-se que aproximadamente, tres quartas par
tes é feita para fóra, e uma quarta para dentro do Impé­
rio" (ENSAIO, 1923, 227). Tal expansão dos negócios e dos
i
despachos reflete ainda a posição hegemónica portuária de
Santos que, depois de tantas pendências anteriores (RIHGSP,
1958), agora se afirma incontrastável, com o avanço do ca­
fé para o oeste paulista. Os tempos são outros, as mudan
ças se precipitam e prometem acelerar, Santos cresce e se
transforma, o convento fenece. Extingue-se sua vida, per­
manecem seus bens; entre os de raiz seu terreno, qual uma
gigantesca mortalha.

Em desuso e já relativamente deterioradas, estas dependên­


cias conventuais, juntamente com os templos das Ordem Pri­
meira e Terceira, continuavam a ocupar um terreno cujas ca
racterísticas foram consideradas na primeira parte do tra­
balho. Com poucas alterações, persistiam a grande área do
cercamento, a privilegiada situação geográfica e a parti­
cular localização urbana. Tais características não passa
ram desapercebidas ao Barão de Mauã, que encontra no local
o ponto lógico - pelas condições do relevo quase que fa­
tal - para a instalação do terminal ferroviário da ligação
litoral/planalto, Santos/São Paulo. Propõe ao Provincial
no Rio a compra de uma parte da gleba, segundo Rôwer, P-
152, de nada menos que quase um alqueire paulista, Parte
situada na borda do canal, vale dizer próxima ao porto e,
quem sabe, no futuro junto ao cais, como veio aconte-

••V-

'-w

I 131
I
i

cer. E, finalmente, conquanto dentro da aglomeraçao san-


tista, no fim da sua área ocupada, como tão bem comprova o
I mapa da estrada para São Paulo levantado em 1831 por J, M.
I Vasconcellos no Museu Paulista, copiado por Machado d'Oli-
i veira anos depois.

i
Se tal ocorreu no principal núcleo costeiro, tal aconte-
ceu, num processo peculiar e mais cedo, no primeiro dos
centros do interior e, jã hã muito, sede da capitania, O
convento de São Francisco e São Domingos da "antiga vila
de Piratininga" abrigava uma das três casas de estudo de Fi.
VI

losofia e Teologia da Província da Imaculada Conceição e


era também casa de noviciado. Aí recebe o hãbito o cronis
ta que no Epitome, p. 145, menciona "alegres oficinas e
mui capazes de celas, em que moram trinta religiosos”. Con
tudo, frei Basílio que dã conta também das obras de ampli-
açao do convento nos fins do século XVIII, o que mostra
sua vitalidade, aponta o fim dos estudos na casa em 1818,
e que dez anos depois "a Comunidade se aguentava com seis
Religiosos”. Em 1797, havia ainda, entre sacerdotes, co-
ristas, leigos e donatos, 2 8 moradores, servidos por 12 es>
cravos. Cifras expressivas se comparadas aos 5 monges be­
neditinos que aguardavam outros 3 e mais 2 donatos no seu
mosteiro, cujos bens variados, incluindo os escravos eram
bastante significativos para constarem não por unidade,mas
pelo presumível valor (DOCUMENTOS AVULSOS, 1953, 2, 84-5).

Trinta anos mais tarde a situação ê bem outra. A da capu­


cha e a da cidade. Desta jã conhecemos a configuração a
través de sua primeira planta (fig. 10); conhecemos a popu
lação pelo quadro estatístico de 1836 do marechal Daniel
Pedro Mtlller: 12.356 habitantes, livres e escravos. A vi-
da citadina prossegue modorrenta. O mesmo censo, na tabe­
la referente ãs artes e ofícios, realça a primazia paulis­
tana entre os núcleos paulistas no que tange ao número de
profissionais. Destaque-se, entretanto, o reforço lento
mas firme duma série de novas funções, e de novos servi-

>W-, ,
132

ços, a serem oferecidos e exigidos pelo caráter de sede ad


ministrativa, agora duma das províncias do império que se
instalava. E, além destes, os efeitos duma política nacio
nal que, mais do que tardiamente, se inicia e favorece de­
pois de muito debate Olinda e São Paulo: a educação supe
rior. Nestas duas cidades são criados os primeiros Cursos
Jurídicos do jovem país e faz-se necessário buscar-lhes
instalações rapidamente. Em Pernambuco, o mosteiro benedi
tino; em São Paulo, o convento seráfico. Neste já houve-
ra um curso estabelecido, nele "uma boa livraria, que me
parece jã tem 5.000 volumes. Parte dela foi legada aos
frades, e parte é publica. Está entregue ao cuidado de um
padre bibliotecário, pago pela Fazenda Nacional”. Ade­
mais, os outros claustros masculinos "não tem capacidade
para neles se estabelecer o Curso Jurídico..."

Constam tais ponderações de objetivo e conciso ofício en­


viado ao ministro do Império pelo recêm-nomeado diretor do
novo curso. "Portanto, resta São Francisco", afirma José
Arouche de Toledo Rendon, e mais adiante: ”Creio que Sua
Majestade Imperial mandara depois formar este estabeleci­
mento em lugar proprio, e que tenha não só as comodidades
para um Curso Juridico, como também para outras Faculda­
des, que se julgarem necessárias. Nesta hipótese, fica in
terinamente bem o Curso Juridico em São Francisco” (NOGUEI
RA, 1953, 39-42). A este expediente, que via tão longe,
datado de 20 de novembro de 1827, seguem-se outros, que
vão revelando um conhecimento mais detalhado nao apenas
das necessidades do novo curso, como da disponibilidade de
espaço da comunidade franciscana. Em 2 de dezembro: "pode
I S. M. Imperial resolver definitivamente, na certeza de que
I
o Curso Juridico ali se arranja interinamente melhor do
que em qualquer outro local e sem incomodo dos frades"
(43) .

Toledo Rendon não aponta uma vez sequerr nesta série de


ofícios enviados à Secretaria dos Negócios do Império, al-

-
• : •
133

guma motivação de ordem urbanística para sua escolha. Ou,


dentre aquelas que nos têm interessado, alguma relativa ãs
qualidades ou defeitos para as novas funções do convento
minorita do sítio, da localização em relação a toda a cida
de e a sua vizinhança de então. Mas o faz, ou percebe
mais tarde o porte do terreno e seu potencial para outros
fins. Assim, instaladado jã o curso, em outubro do ano
seguinte pleiteia a sacristia que ainda conservavam os fra
nao só por ser adequada "para uma aula, como
des, não porque
estas janelas deitam para a cerca do edificio, que hoje ê
da nação” (54) . Ao contrario, dos investimentos devidos ã
comunidade religiosa tomara rapidamente consciência, tanto
que vai batalhando para alterar o recente acerto de cessão
parcial das dependências conventuais e conseguir de seus
superiores na Corte a cessão delas todas, Em junho, colo-
cara abertamente a questão, "Eu respondo que os frades
nos devem deixar o campo livre, porque lhes sobejam casas
em outras vilas da Província”. "Eles não tem património
que deixar; em outra qualquer parte acham o mesmo que têm
aqui” (52).

Outra qualquer parte, seguindo a ordem cronológica de er-


guimento das capuchas paulistas, seria primeiro Itanhaém.
0 convento de Nossa Senhora da Conceição atingiu em 1765
22 religiosos, 12 sacerdotes, 6 coristas e 4 irmãos leigos
(RIHGB, 1902, 65, 132), quando culminavam as atividades
não só dos seus congéneres em toda a capitania como as de
toda a sua Província. Rôwer, face à ausência de dados pa­
ra o início do século seguinte, calcula que devia haver
até 1830 uns três ou quatro religiosos (1957, 298). O di-
i retor do Curso Jurídico, no entanto, no último expediente
i
referido, informava haver em 1828 somente um frade neste
cenóbio. Sucedem-se as indicações de apenas um guardião
nos atribulados anos que se seguem. Em 27 de maio de
1833, um incêndio arruina a casa e até 1844, quando se re­
tira o último guardião apenas permaneceu de pê a intenção
I de o reconstruir. A reconstrução dar-se-ã uma vintena de
I
/ /. • r

L ____________________________________ ■
134

anos depois, quando uma Irmandade de Nossa Senhora da Con-


ceição, recém-constituída, pleiteia e obtêm a posse do imó
vel abandonado. Recuperado em 1865, inicia-se longa série
de gestões entre a irmandade e a comunidade local, a dioce
se e o que resta da Província serãfica. Baldadas as ges-
toes para a volta dos frades, o arcebispo de Sao
São Paulo pe
de e obtém a posse do imóvel, que passou ã diocese de San-
tos . Passou por várias mãos religiosas atê a sua presente
ocupação por uma congregação feminina.

i Outro esforço de restauração, em tão longo período de aban


dono ou de ocupações fugazes, foi o de Washington Luis em
1921 e 22, quando presidente do estado, A restauração foi
parcial e dela provieram os vitrais devidos a Benedito Ca-
lixto. O caso do cenóbio de Itanhaém, como se ve, contras
anteriores.
ta bastante com os dois casos anteriores, desuso,
Cai em
fica abandonado, demoram as tentativas de reabilitã-lo ou
fracassam, iniciativas externas ã Ordem e depois ao arce-
i bispado recuperam o que restava de suas instalações num
intervalo maior do que meia centúria, Note-se que nao so-
brevem uma mudança de uso; sua função original - ainda que
para outras regras - prevalece, e até hoje, Fato insólito
se não se considerar que a par do convento, a cidade lito
reânea também dormitava nestes dois últimos séculos, atê
poucas décadas atras, quando o turismo reanimou-lhe e come
çou a transformar-lhe a aparência rapidamente, Dentro da
própria Província franciscana, o carãter retirado havia
feito deste claustro em 1758 uma casa de recoleção ou de
retiro. Dentro dum outro mundo, sobranceiro a um aglomera
do também alheio ãs grandes transformações porque passou a
I
I província e o estado, sobrou.

No bairro de São Francisco em São Sebastiao, o mesmo se dã


com o convento de Nossa Senhora do Amparo. Ã medida que
prospera Santos, cujo porto passa a monopolisar as expor­
tações de café, minguam os do litoral norte, e com eles es
I te antigo e pequeno arraial de pescadores e ceramistas.
Mingua o Bairro, juntamente com seu maior prédio, progres-
135

sivamente desabitado e arruinado. Propostas e disputas pa


ra uma reutilização surgem candentes e acirradas, porém no
âmbito da função religiosa e na escala das necessidades du
ma reduzida comunidade costeira (fig. 18) . Eram 16 os re­
ligiosos no fim do primeira terço dos setecentos, segundo
frei Apolinãrio. Em 1765, são 15 e Toledo Rendon, no doeu
mento citado aponta 3 em 1828. O inventario de 1835 arro-
la, entre velhos e crianças 12 escravos e 14 escravas. Nú
I meros estes que surpreendem, assim como a tabela apresenta
I da por Rôwer com a escravaria atê 1858. É que a grande
gleba, semi-rural, abastecia outras casas da Província com
I
sua produção (WILLEKE, 1976).
I

I
A pequena comunidade local não ignorou a decadência da ca-
sa religiosa, que teve seu guardião atê 1862 e, daí em di-
ante, ficou nas mãos de síndicos e zeladores. Havia a
pretenção dos moradores do Bairro em obterem sua elevaçao
a freguesia, para o que fazem requerimento em 1840, solici
tando à Mesa da Ordem Terceira sua capela. Obtêm a cessão
I
por quatro anos atê que se construísse uma igreja matriz,
porém a paróquia não sai.
sai. Lei a cria somente em 1850; lei
a extingue em 1870. Eram parcos os suportes para sua exis
tência, mas durante todos esses anos, espaços e alfaias,jã
do convento, jã da confraria, foram cogitados e objetos de
muitas querelas. Afora isso, apenas a sugestão do juiz
municipal de São Sebastião, em 1855, para que o convento
se tornasse uma Casa de Caridade, depois de denunciar o
estado de abandono em que se encontrava. ”0 Convento de
1
Nossa Senhora do Amparo ficava fora de mão e por isto o
Governo nunca lançou nele as suas vistas", observa Rôwer
pertinentemente (1957, 318). Assim, atravessou décadas ar
ruinando-se e gerido pelas mãos de síndicos ou de simples
zeladores, atê que nos anos 30 fosse empreendida a sua res
tauração arquitetônica, em que frei Damaso Venker se desta
cou, e fosse possível a sua ressurreição dentro da própria
Ordem dos Frades Menores.

I
• fc «5



136

Bem diversa foi a decadência, ao longo do século passado,


das atividades dos outros dois conventos franciscanos pau-
listas. Caiu também a sua população, mas as cidades eram
outras e tiveram seu desenvolvimento. Santa Clara em Tau-
batê, que o cronista do setecentismo diz ter 16 religiosos
e ser uma das três casas de estudos da Província seráfica,
conta em 1828 apenas um frade segundo o diretor do Curso
Jurídico paulistano, O convento que em 1765 atingira a
cifra de 29 membros, a partir de então só tem registrada a
presença do guardião. O último falece em 1868 no cargo,
Interessante observar, contudo, que não era também despre-
zível a escravaria. De 1835 até a última data oscilou, en
tre ambos os sexos e incluindo as crianças, em torno de
15. De fato, o último guardião em 1866 pede isenção do im
posto de escravos, alegando falta de recursos, no que não
foi atendido. Valeria a pena um estudo dessa escravaria
nas casas religiosas, mormente nesses tempos em que dimi-
nuiam sua gente, sua ação e, supõe-se, os- serviços que de
mandavam. Se assim andava a capucha, diferente ia a vida
taubateana.

I
Se os viajantes do início dos oitocentos, como D’Orbigny,
dão conta da estagnação da tradicional vila vale-paraibana,
I os de meados daquele século, como Zaluar, testemunham, um
novo surto de prosperidade e sofisticação urbana, Ora, o ■

l
café avançara pelo vale acima e produzia grande conquanto
efémera riqueza na região. Mesmo após o rãpido declínio
i da produção cafeeira, o reflexo de seus lucros permaneceu
cristalizado no quadro urbano dos principais núcleos, Tau-
i batê à frente. Em verdade, ao período que se segue ao au
I
I
ge da produção dos cafezais, no meio do século passado, e
que se deve uma série de melhorias urbanas que, se por um £
lado se disseminavam pelos centros maiores de todo o impe
rio, por outro foram muito expressivas alí. Eis alguns
desses avanços e suas respectivas datas de introdução: um
Liceu Público em 1847, do qual voltaremos a tratar, um no-
vo hospital em 1864, relação das profissões existentes em
*■

I
I

I
137

1871, inauguração da estaçao ferroviária em 1876, no mesmo


ano início da construção do Teatro Sao Joao, dois anos de-
pois a navegação a vapor, em 1880 a ligação com a vizinha
Tremembé através dos "bondes a vapor", abastecimento d’á-
gua em 1881, bondes urbanos de tração animal e iluminação
a gás em 1884 , entre outros mais (RESUMO, 1878, 8-13). Co
mo foi visto e como ficou o complexo de Santa Clara, tão
despovoado em tal fase? 4

•I
...em 1842 no tempo da rebelião; esteve feito quartéis de
soldados todo o Convento, primeiro dos soldados dos Lu- -■

zias, ou farrapos, Depois, dos soldados do Governo coman-


dados por o Exmo. General Caxias. Toda esta gente sem edu
cação e destruidora, amigos sõ de pilhagem.” Trecho de t

I
carta do guardião em 1856, divulgada por Rõwer e que ates-
ta um novo uso tão contundente quanto fugaz a que nao fal

tam correspondentes em outras casas religiosas. Mas esta, r

I um ano após aquartelar tais tropas, sofre um incêndio que


lhe destrói a igreja e grande parte da clausura. Recupera f

das lentamente as instalações, indicaçao da Camara solici­ 1


1

ta "os baixos do convento" em 1846 para um Liceu, então


I
criado. Obtida a cessão aí funcionara com cerca de 80
alunos de 47 a 52 (GUISARD FILHO, 1938, 72). O governo da
província por portaria de 18 de julho de 1863 solicita ao
Provincial no "Convento de Santo Antonio da Corte" autori
zar o guardião do convento taubateense a ceder os baixos
do mesmo a fim de ser fundado um hospital II (184) . A esta
gestão sem resultado, seguem-se pendências com o bispado
de São Paulo, quanto â jurisdição eclesiástica, e com o Po
der Público, a respeito de novo cemitério como ver-se-ã a-
diante.

Enquanto a Igreja busca alternativas de utilização para o


grande edifício subaproveitado, atenta à questão dos bens
das ordens religiosas em todo o país e aos rumos que pode
ria tomar o governo imperial, Pedro II visita Taubaté e é
instado a promover um destino educacional hã muito cogita
138

do. E assim abre-se o ano de 1888 com a instalaçao em San


ta Clara do Instituto de Agricultura, Artes e Ofícios. A
manifestação do desembargador que decide a cessão a justi­
fica "para se aproveitar a bem da instrução e educação das
classes populares, o espaçoso prédio cedido pela Ordem
Franciscana Fluminense, que jazia inútil e desaproveitado,
representando,aliãs, a-pesar-de muito deteriorado um capi­
tal de cerca de 60:00$000” (84). Os salesianos, contudo,
indicados para a direção do Instituto, recisam-na entre ou
tros motivos "por acharem o Convento em um estado tão de-
plorãvel, que para consertã-lo e adaptã-lo ao fim, seria
I
necessário tal quantia que dava para fazer um novo, sem
contar que teriam sempre ficado com um casarão velho, care
cendo sempre de contínuos restauros" (85). O desembarga­
dor, então, constituiu uma sociedade para administrar o i
4

Instituto, que perdurou apenas até 1891. Neste ano,a Igre


ja - jã separada do Estado pela república - transferiu a
-

posse do convento de Santa Clara para outra ordem francis


cana, a dos capuchinhos,que aí se encontram até os nossos
dias .

Este ligeiro apanhado das propostas, reações, gestões e di_


ferentes destinações fugazes da capucha taubateana, na se-
gunda metade do século passado, ilustra os reclamos da con
centração humana em expansão. Seu resultado final, talvez
reflita jã o fim do surto cafeeiro no vale e suas conse-
qúências para a sociedade local. Realmente, dos conjuntos
conventuais que mantiveram ou ressuscitaram sua função com
êxito, este pertence ao maior núcleo urbano. Ao contrario
dos cenóbios em pontos apartados do litoral norte e sul e
da grande transformação que sacudiria toda a província, o
de Santa Clara, quase extinto, fez face a uma comunidade
por certo tempo próspera e a um tecido urbano que lhe atin
gia. Por certo tempo, e com incerta pressão, tais foram
as tentativas varias de reciclagem, sem nenhuma eficácia,
e tal foi a solução final, conseguida no âmbito eclesiãsti
co e dentro da mesma função de mais de duas centúrias. .Se
139

nao se pode ignorar novas conquistas que prosseguiram, co-


mo a telefonia em 1893 e a iluminação elétrica em 1913,
convém lembrar dois comentários da época (CAMARGO, 1980,
50 e 57) feitos em jornais locais: ”Bela terra para uma
burguesia que não vive dela, mas que vive nela”. "Ademais
este é o século de S. M. A Prestação, cujo nome declino
com reverencia profunda".

O convento de São Luis de Tolosa abrigava vinte religiosos ■

na terceira década do século XVIII. Em 1765, estão rela-


cionados 2 4 . Bem antes, oferecia a seculares aulas de pri
a

meiras letras. Ja se viu também como se fez uma reconstru


çao "a fundamentis", na primeira metade daquele século,por
causa da deteriorização da taipa-de-pilão. E uma tercei­
ra grande obra se encetou pelos mesmos motivos nos anos i

80, que ficou inacabada e convivendo com o resto da segun­


da. Isto tudo mostra a vitalidade da casa no setecentismo
e ressalta a diferença da situação no início dos oitocen­
tos . Em 1808, contam-se apenas três frades. Em 1828, Ren *
■■

don, às voltas com a melhor comodidade para o Curso Jurídi


co em Sao Paulo, acusa apenas um menor em Itu. Em 1849,
eram quatro os religiosos e dois os seus escravos e, ainda
segundo Rõwer, apenas guardiães ocuparam o edificio de
1855 a 62, quanto o último se retirou. Passou então o con
vento à administração do síndico e prosseguiu uma serie de
solicitações e novos usos efetivos mas temporários em todo
o prédio.

De fato, graças ao surto da cana-de-açúcar, a vila de Itu


prosperara consideravelmente, como revelam tabelas do nume
ro de fogos e de habitantes. Em 1765, há 105 fogos, em
1802, 259 e em 1830, 425. Em 1766, entram 3.988 habitan-
tes, incluidos os escravos;
escravos; em 1803, 10.374 e em 1838,
11.241 (TOSCANO, 1978, 5, 17).
17) . Sobrevém depois o avanço
cafeeiro e existem cerca de 1.000 casas, mais de cem esta-
belecimentos comerciais e industriais em 1889; em 1886 são
15.840 os habitantes e em 1920, 30.392, incluindo-se mais

I ____• - 7
140

de cinco mil imigrantes, O melhoramentos se sucedem: além


do calçamento, arborização, chafarizes, a iluminação públi
ca a querozene em 1864, a primeira fábrica a vapor de toda
a província, tecelagem "São Luis", junto ao adro da casa
religiosa do mesmo nome, que é duplicada em 1896; um ano
antes uma nova fábrica de cerveja, no início deste século
outras fábricas se instalam, em 1907 o Mercado Municipal e
a rede de ãguas e esgotos (5, 30-50). Na verdade, toda
esta expansão, deu-se sobretudo para as partes altas do nu
cleo ituano (fig. 24), para os lados do hospício carmelita
no, no extremo oposto do convento seráfico. No entanto,
*
ainda que sempre mais periférico, não deixou este de atra­
í
ir as atenções e correspondentes pretenções.
■i
•i
Em 1811, criara a Câmara um curso de filosofia que teria
funcionado na capucha (ROWER, 1957, 424); em 1829, plei-
v
teiam seus oficiais outra dependência, o que leva a um a
i
*

trito com o guardião. Este, em ofício lembra que ”o Con- I


.1

vento de S. Paulo e o da vila de Santos têm servido de


aquartelamento de tropas a finde se não incomodarem os ci- 4

dadaos”, a cessão recentissima da casa paulistana e " abem


da Nação” a de outras três fluminenses. E alega ter aumen
tado a população com a chegada de mais frades, vindos de
Sao Paulo, bem como, o precário estado do prédio e os es­
forços para recuperã-lo. Em 1837, pretendeu a Câmara cons
truir nova cadeia na horta do convento e, tendo o guardião
representado ao presidente da província, acabou decidindo-
-se pelo largo dos carmelitas. Em 1848, incendiando-se
‘5
sua sede, a própria Câmara instala-se "por algum tempo em
dependencias do Convento" (429). Ao longo deste período
prosseguem as atividades dos Terceiros, inclusive com
obras em suas dependências (NARDY FILHO, 1928, 90-3) . Za-
I
I
luar diz que o convento, "grande fabrica pertencente aos
franciscanos, ê apenas habitado por um só religioso" (1975, i
d
i 183) . Isto quando o conselheiro Barbosa de Oliveira em
I suas Memórias de um magistrado do Império r se refere a
i uma festança de casamento e, â p. 254, a uma programação
I
i
i
4, .'■a < rVW.
141

noturna sofisticada: "O Primo Antonio tinha camarote efeti


vo e havia companhia em Itu. Quatro noites fomos ao espe­
táculo" .

Depois da retirada do último guardião, os jesuitas aluga-


i
ram o convento para estabelecer seu novo colégio de outro
São Luis provisoriamente. Aí permaneceram de 1865 a 1871,
quando passaram a suas instalações próprias. Outros inte-
ressados aparecem com intuito de aproveitar a edificação
com fitos educacionais, nada se concretiza porém. "Anche
gli antichi conventi di San Francesco e do Carmo (sic) so-

no, al presente, in uno stato d'abbandono completo; dalla


facciata screpolata e cadente in larghi lembi, con profon
de fessure fra le sue mura; abenti 1’aria di edifizii de-
I
I
crepiti che hanno giã fatto il loro tempo" (LOMONACO, 1889, I

I 173). A irmandade de São Benedito, que tinha instalado


seu consistório no convento, restaura a suas custas a i-
I
greja de São Luis em 1898. Contudo, em 1907, o convento
recebera seu golpe de misericórdia: transformado em depósi
to de algodão se incendeia e fica praticamente reduzido a
ruínas. Recordando a sua meninice, Antonio de Almeida Pra
do afirma ã p. 15 de sua Crónica de outrora: "Da histórica
egrejinha de S. Luis, só conheci as ruinas e lembro-me dos
passeios digestivos, pós-prandiais, que se fazia outrora
em visita aos resquícios do Convento". Este foi, finalmen
te, vendido ao vigário local em 1918. E, mais tarde, ã fã
brica São Luis que aí construiu sua nova ala...

O desuso, pelo menos relativo, em que caíram todas as ca-


sas religiosas na antiga província de São Paulo, como de
resto em todo o império, levou a uma reconsideração por
parte de suas localidades. Reconsideração, entretanto, di
versa e dependente do dinamismo de cada uma. O caso da a—
propriação do convento de São Francisco e São Domingos pe
lo Estado revelou-se exemplar. No ambiente provinciano da
velha sede administrativa, o Curso Jurídico constituiu um
marco e a tônica por meio século. O título do segundo vo-

i
142

1
lume de obra clássica de Ernani Silva Bruno, "Burgo de Es- 1

tudantes”, o atesta, E Odilon Nogueira de Matos destaca a


relevância que teve a Academia para os viajantes até que
Charles d’Ursel, em 1874, fosse o primeiro a apontar os ne
gõcios da cidade então em profunda transformação (AZEVEDO,
1956 , 2 , 70) .

Em 1845, para o autor de Rozaura, a enjeitada, Sao Paulo


seria já ''núcleo de um grande movimento intelectual..." É í
ele que nos dá uma ideia palpável da presença, senão da au
sência, dos seus claustros na época, âã p. 129: "Não pense ■
t

i
o leitor que os conventos em São Paulo na época a que nos «
I
reportamos, eráo ainda como outr'ora claustros ou mostei-
ros regulares, com bom numero de frades, com seu competten 4

b
te abbade ou prior, mantendo todo o rigor da disciplina mo
ri
nãstica, psalmeando todos os dias embora próprias matinas,
laudes e vesperas. Não; já nesse tempo os dous conventos, í
que erao então propriedade monacal, e creio que ainda o
sao os do Carmo e de S. Bento, erao apenas habitados por 5
dois ou tres frades, servindo de guardiães a esses imensos J

l
edificios desolados, tristes e mergulhados em silencio tu- I♦
I
I mular".
I
* >

i
Como se vê o reciclamento do complexo minorita paulistano, it
I conferiu-lhe novo rigor, e tal se deu em Santos, pela ini­
I ciativa particular, de maneira mais contundente ainda. r

"Santos is unquestionably a fortunate place; it is the


I port for all the great coffee district of which San Paulo
is the centre. The San Paulo railway, and the large
traffic it brings, has added greatly to the walth of the
people" (EDGCUMBE, 1887, 60). Aliás, para Hadfield (1869,
there is a speciality about the old
241): "there Brazilian
towns that one cannot help being struck with, and they
present striking contrast when the railway station comes
to disturb the cumbrous habits of the people". Nos casos
taubateense e ituano, à lenta agonia das capuchas asso-
I
ciou-se uma certa indecisão quanto a sua reutilização por
!
143

1
i
I
uma sociedade em mudança e um quadro urbanístico em cresci
mento. Nas outras duas povoações litoreâneas, ã margem do
progresso arrebatador da província, depois do abandono prq
longado sobreveio a restauração do uso original, ou seja, *

da vida em clausura.
í

Spix e Martius, conhecendo a capitania de São Paulo com


331 regulares em 15 claustros masculinos e 53 em 2 recolhi I
mentos femininos, afirmam: II Desde aquele tempo, não se al- ■

terou a proporção e o governo parece não querer fomentar a


vida claustral" (1981, 146). "Nessa mesma época nao exis-
tia mais espírito de corporação entre os religiosos brasi—
leiros; cada um, nos conventos, vivia para si, e nenhum
pensava no futuro" (SAINT-HILAIRE, 1945, 234) ... "O Rio é
a cidade da América do Sul que possui o maior número de
conventos; estão agonizando..." A partir desta constata
çao Koseritz comenta a vida das clausuras, a sua inutilida
de e a postura do Estado de forma candente (1943, 113-4).
Candente ê a exortação de Charles Expilly para que o minis­
tro da Guerra requisitasse o convento de Santo Antonio, na
Corte, para os combatentes feridos no Paraguai. Tal situa
ção não podia escapar ao pastor Kidder, que a observa em
todos os lugares em que passa, como na Paraiba. "O Gover­
no demostra critério utilizando esses edifícios para fins
utilitários, sempre que possível" (1943, 120). Num apêndi.
ce mostra as reutilizações promovidas e conclue: "Os fatos
acima dispensam comentários. É de franco declínio a ten-
dência do convento no Brasil, e talvez jamais consiga se
elevar acima da tendência atual, sem falar na hipótese de
reconquistar o fausto e a riqueza dos primeiros tempos".

Sob coerção de diferentes medidas do império, mal se po­


diam cumprir os Estatutos municipaes por falta de capuchos
no sul; tantas as casas com a assistência de apenas um fra
de. A própria Província da Imaculada Conceição sobreviveu
por um triz, pois quando sobreveio a república contava so­
mente um membro, o Provincial 1 O organizador e introdutor

i*U
144

da última edição das Constituições do arcebispado da Bahia


constata: "Serã bem difficil que agora entre nós se fundem
ou instituão Mosteiros de Religiosos..." Em 1853, o pre­
lado regalista esclarece onde as leis do império haviam al^
terado as Constituições setecentistas e afirma estar redu­
zido "o Foro Eclesiástico a casos meramente espirituaes,
não pódem ter mais vigor entre nós as disposições do Dire_i
to Canonico na parte temporal" (2a. parte, 149 e segs.) .

Os viajantes, em geral, se impressionam com o porte dos


prédios monacais por toda a América hispânica também, E
atestam, como Alexander Caldcleugh, Willian Hadfield, Henry
Walter Bates, Frank Vincent, Charles Wiener e Archibald
Forrest, a sua baixa vitalidade, ocupação e utilidade, Tes
temunham, de outra parte, em maiores e menores centros, aj.
gumas reutilizações de seus edifícios pelas diferentes ins
tâncias de governo das repúblicas recém-nascidas. Os la­
ços que uniam desde o início da colonização Igreja e Esta­ »

do, e os privilégios decorrentes para as ordens regulares


- em particular no que tange aos bens de raiz citadinos -
í ■

vao sendo abolidos ou revistos em função das novas insti- I•

tuições civis e das prementes necessidades sociais. O es


t

tudo mencionado sobre o convento franciscano de Xalapa no


I ■

México, ao afirmar que aconteceu "incluso materialmente ••


t»•

un proceso de invasión del edificio conventual y sus ane- | •;

xos por dependencias gubernamentales. Después de la Inde lí


I
I
pendencia", lembra que o processo fora bem anterior: "Por
I otra parte hay que recordar que se este fue un proceso ge­
neral en la Nueva Espana; la secularización de los conven­ «s;

tos y la conversión de muchos dellos en parroquias coinci-


I i
dieron con los últimos anos de la colonia" (GUTIERREZ,
•i
1981, 20). E o nosso Conselheiro Lisboa, em 1852, reporta
uma nobre reciclagem em Caracas: "Mas espacioso, elevado y
comodo, es el antiguo convento de San Francisco, hoy asien
íi
I.’

to de las Câmaras Legislativas y de la Biblioteca " (GASPA-


RINI, 1966, 107). Junto ao mesmo uma vintena de anos de
pois seria erguido o novo Palacio Legislativo venezuelano. t -

í
145

"L'espace se dêfinit, selon les philosophes, comme l'ordre


des simultanéitês. La ville, morceau d'espace aménagê, r

assume et traitê par une sociétê dont c'est lá le moyen


fondamental de se constituer et de s'organiser, porte cet
ordre des simultanéitês â un degré spécifiquement dense et
prêgnant!" Estas palavras introdutórias de André Chastel
(BOUDON, 1977, 9) nos remetem de volta às seis capuchas
paulistas que, pela decadência e pelo desuso em que cairam,
continuaram a influir nas suas respectivas vilas origi­
nais. Pela nova atenção que passaram a merecer e algumas í
f

vezes pelo novo uso que tiveram, constituíram de novo e de


outra forma, seja uma nova serventia para a comunidade lo­
5
cal, seja um novo polo de atração. Requisitadas pelo go
verno, adquiridas por particulares, ou mesmo reavivadas
por outras regras, reassumiram um papel não desprezível na
vida e na paisagem urbana.
V

i
Ora, tal papel seria exercido na velha gleba, ainda que al
terada, com suas características físicas jã discutidas e
com o fruto dos investimentos anteriores jâ analisados, Na
-■

ausência de uma política abrangente e decidida para os


bens eclesiásticos por parte das novas instituições nacio- 1
nais, continuou a pesar no desenvolvimento urbano o que
restava de entidades as mais decadentes.

1
I

MM
1

I<

I
i

8 parcelamento I
*

I
t
í

I
I
t

I
■I
.. faziam seus exercícios no Capitulo do Claustro que ho
je hé sacristia, só o tomar o habito e professar héra na /
l

Capela-mor por serem atos mais solenes. Nesta forma esti­


veram desde o sobredito ano athê o ano de 1689 e como a ve ç.
1

nerãvel Ordem 3a. se fosse aumentando e crescendo o número <

I dos irmãos 39s. pediram estes licença aos Prelados Maiores


I
para fundarem Capela própria, que benignamente lhes conce­
deram toda a terra que eles pudessem ocupar com suas
obras". Assim consta das Memórias sobre a fundação e pri
meiros prelados do convento de Santo Antonio de Santos, de 4

1743 (ROWER, 1957, 136), este início de parcelamento da I

cerca franciscana do Valongo, meio século depois de obti-


da. O surgimento desta parcela, como ocorreu quase por to
da a parte onde existiram capuchas, tem um carãter pecu­
liar e relativo. Tratava-se de conceder chãos ã confraria
coligada, ã Ordem Terceira da Penitência, municiando de
I I ■
prédio este importante instrumento do franciscanismo, en­
I

tão localmente em franca expansão. Tratava-se, juridica .Iji ■;


mente, de autorizar a passagem do domínio deste módico pe­
daço da gleba da Ordem dos Frades Menores, que o detinha íi
em nome da Santa Sé, para os irmãos leigos compromissados. :• 1

Desdobramento lógico da fundação duma nova casa serãfica,


i
esta primeira fragmentação, se bem que circunscrita formal
e objetivamente, interessa aqui. Pois, como jã se viu, im
I
plicou em novas benfeitorias e atividades mais amplas •íl
de
J>1
I ■H
I

i
* .4
1
147
t

polarização. E redundou mesmo, freqiientemente com o cor-


I rer do tempo, numa série de problemas de convivência com
os religiosos, senão atritos mais sérios, como em 1712
(145), com o rompimento entre uns e outros por causa da
construção dum outro pequeno claustro com dependências da
confraria - solução absolutamente original na Província da
t

Imaculada Conceição - que roubou a luz ao coro da igreja f


!

conventual. Os tempos, porém, passaram e as condições mu-


ciaram. Em 1829, uma pequena faixa de terreno foi destaca­
da do próprio minorita, mediante acordo com o governo, co
I 1

mo se vera no próximo capítulo. Em 1835, ”os próprios fra


des, obrigados pela situação material precária, abriram
mao de um pedaço de terreno” (150) no canto da gleba. O
2
pedaço tinha menos de 700m , porém a transação denuncia já
I
a pressão da valorização das terras da vila santista sobre i

o grande património dos capuchos, Logo foram erguidas no- t

vas casas neste terreno, que mais tarde (fig. 5) condicio


'j

nariam a remodelação do largo em fronte ao convento.


í

Mas é em 1860 que se negocia o que restava da grande cer­


ca, o que ainda não fora parcelado ou não fosse a área de
1
domínio dos penitentes. Depois de oferta do Barão de Mauá,
concessionário da estrada de ferro pretendida entre Santos
e o planalto, o Definitório da Província no Rio apresenta
contra-oferta, que leva a processo de desapropriação e que
culmina num certo amigável de venda da grande área de cer­
ca de um alqueire paulista por vinte contos de reis (153) .
Não foi tranquila esta alienação radical, tendo reagido a
Ordem Terceira que conseguiu excluir o templo conventual J
l'
d
do negócio (fig. 4) , pelo Aviso Imperial de 3 de outubro
de 1860. Dá a medida da repulsa dos Terceiros pela transa
ção acertada, "um semi-sacrilegio, approvado pela ingrati­ H
dão dos poucos frades franciscanos", e pela reciclagem pre J -

tendida "do nosso Templo calcado pelo tacão da industria jid


i]
i
apadrinhada sob o nome de civilização e progresso", o fi-
nal do discurso do seu Irmão Ministro Francisco Martins
dos Santos (PROMESSA, 1930, 61):
i

148

"Nos, meus irmãos, fracos f tendo de luctar na arena com po


derosos athletas; em lucta tão desigual, ê certa a nossa
derrota. Embora, demais é bella e preferível! e provara
a hummanidade corrompida e abalada que a virtude quanto
mais rara mais brilho ostenta, e que os filhos de São Fran
cisco em Santos, fieis ao seu preceito de honrar e conser-
var seu templo e não de mercadejar e aviltar, nao pactua-
rão com seus adversários, e nao esquecerão os votos de
adhesão, respeito e culto, que iuraram tributar-lhe e
aue juraram se
I

conservaram firmes no posto de honra que lhes cumprem guar


dar! "

Duzentos anos antes, jã estava constituida a fraternidade


dos penitentes na vila de Piratininga, que começaria a er-
guer sua primeira capela em 1676. Segundo frei Adalberto
Ortmann (1951, 17 e segs.), congregava •i"os homens bons da
república", ou seja, membros de suas mais destacadas famí­
lias. Sua primeira capela, como de costume, era perpen­
dicular à nave do templo dos frades, para o qual se abria. ♦
I

Da sua construção - e da cessão do terreno necessário- nao


existem registros. Serviu por mais de uma centúria ate i
que se fizesse necessária uma capela mais ampla e voltada
para o adro. Com toda uma serie de exigências quanto ao
novo edifício, para que não viesse perturbar a igreja do
convento, e quanto ao procedimento decisório nas Ordens «

Primeira e Terceira, Provincial e Definitório consentem


"que se transfira da Santa Sé para a dita Ordem Terceira o
domínio dos vinte cinco athê vinte oito palmos da terra
terra"
solicitada. Inaugurou-se a nova capela - original por ter
aproveitado a velha como seu transepto - em 1788 e é a que
hoje existe. Também surgiram problemas com as construções
ancilares da confraria a roubar a luz da igreja conven­
tual. Outra faixa de terreno, ainda, foi doada pelos fra
des aos confrades meio século depois.

Talvez um dos casos mais importantes de reciclagem e de


parcelamento, não só de capuchas mas de bens das ordens re

íl
149

ligiosas, seja o da cessão do convento de São Francisco e


Sao Domingos para instalação de uma das duas primeiras es­
colas de nível superior que o novo país independente insti^
r
tuira em Olinda (no mosteiro de São Bento) e em Sao Paulo.
Momentosa questão pelos seus aspectos jurídicos, que dizem
I
respeito ã antiga união entre a Igreja e o Estado entre 1

nós, pela importância nacional dos Cursos Jurídicos que se


instalavam, bem como pelo porte da propriedade em si e re­
lativamente à provinciana capital paulista. Este, o aspec
to que importa observar sem desconhecer os demais, por ter -

implicado em sucessivos parcelamentos no século passado em


um setor central da futura metrópole do café, por ter abri
gado o que por muitas décadas foi o foco mais ativo de sua
1
vida, e por ter permanecido ao longo de radicais transfor­
?
I mações um elemento de emulação ou cobiça para as mais dife
rentes propostas ou ações de renovação urbanística, A ces
I
I sao de forma amigavel, restrita aos baixos do convento e
com caráter interino se iniciou em 19 de janeiro de 1828 e
a Academia se instalou em 19 de março. Abriu-se mais tar­
de contudo um longo processo de marchas e contramarchas
que envolveu Estado e Igreja, a Ordem franciscana, Igreja
e confrarias seráficas, questões judiciais que se encerra­
ram hã bem pouco tempo no Supremo Tribunal Federal. Inte­
ressa-nos algumas facetas que diretamente enfocam as possi
bilidades espaciais daquela parte da antiga vila: a nova
feição de sua ocupação do solo, o novo polo animador, o po
tencial do que restava da antiga cerca dos frades menores.
1
•I
. .. esperando as OrdensImperiais que me foram dirigidas
Exa.", o diretor
por Va. Exa.", do Curso Jurídico, José Arouche
de Toledo Rendon informa ao ministro do Império ter exami­
nado "os comodos dos tres conventos de frades, existentes
1

nesta cidade, que são do Carmo, de Sao Bento e de São Fran . 1


cisco". Relatando a pouca extensão e a grande subdivisão
*
que implicariam em obras, nos dois primeiros, elege a capu i

para "interinamente abrigar nos seus baixos as


cha oara novas
classes" e mostra a forma de como simplesmente "deixar OS

I ■ I IKI il
150

frades separados”. Neste ofício de 20 de setembro de 1827


I (NOGUEIRA, 1952, 39-42), fica patente a intensão de reci-
ciar uma das casas de regulares e para tal se esboça a pos
sibilidade do seu parcelamento: pensa-se em termos provisó
rios e de subtrair aos frades menores apenas uma parte de
suas dependências conventuais. Realmente, ao novo ocupan-
te da pasta do Império reitera Rendon dois meses depois
”que o Curso Juridico ali se arranja interinamente melhor
I do que em qualquer outro local e sem incomodo dos frades,
i
aos quais resultara o proveito de alguns reparos do edifí­
cio, que se devem fazer pela Fazenda Publica”. Contudo, i
I
niciadas as aulas do novo Curso, o seu diretor sente pro­

blemas e necessidades de espaço e propõe em 9 de junho de


I 1828 "que os frades nos devem deixar o campo livre” (52) .
"Eles não têm património que deixar...”
I
Aviso do Império, de 21 de agosto, depois de acertos com o
Provincial na Corte, cede todo o convento ao Curso Jurídi
co e entrega a igreja aos cuidados da Ordem Terceira. Ha-
via património, sim, e o tenente-general Toledo Rendon vai
rapidamente se inteirando disso, ao pedir também a sacris­
tia cujas ”janelas deitam para a cerca do edifício, que ho
je é da nação” (54), em 9 de outubro, ”e que o cercado de­
ve ser retalhado em 2 ruas, que darão muito valor ao terre
no. Ele é tão extenso que o reputo metade da cidade. Eu
mesmo ignorava o que é, porque foi a la. vez que entrei
neste exame”. Pois bem, não só se reconhecia o grande por
te da antiga gleba franciscana, como se iniciava o seu par
celamento, através das formalidades cabíveis a um Estado
unido ã Igreja. E mais! Apontava-se na direção de um. par
celamento ulterior, que só adviria mais tarde, consciente
da valorização da terra por meio da abertura de vias publi
(fig. 11) . É a própria autoridade pública que, buscan
cas (fia.
do uma solução ãs apalpadelas, sugere a medida que depois
vai beneficiar os antigos detentores da terra, o que se
deu e se dã com freqtlência entre nós. Investimento publi-
co e ganho particular.
151

O novo ministro do Império informa ao vice-presidente da


província de São Paulo "que o mencionado terreno não ficou
pertencendo ao Curso Jurídico; e que por isso a Ordem dos
Franciscanos deve gozar dele como lhe convier, visto per-
tencer-lhe" (portaria de 27 de janeiro de 1829) . A câmara
da capital paulista batalhou ainda no sentido de seus di-
reitos, e dos da nação, sobre os terrenos e levantou pro­
postas para sua utilização ã vista das novas funções da ci
dade (ACTAS, 55, 9). Não datado, encontra-se o seguinte
parecer de comissão da edilidade: "Visto ter jã o Procura­
dor d'este Conv.° recomed.
recomed. 0 no Rio de Janeiro, que se in
a
tentasse o Desembargo p. parte do Publico na causa da re-
vindicação com os Religiosos Franciscanos, a Com.ao perm.
é de parecer, que nada mais se pôde providenciar a tal res
peito do que approvar o procedim.0 do Procurador da Cama­
ra, pois que tendo chegado a d.a causa ao ponto em q. se
acha, não deve a Cam.a desistir d'ella cumprindo assim o
que determinão os Art. OS 40, e 41 da Lei" de Pedro I, re-
gistrada em 19 de abril de 1828. Tais artigos serão consi
derados proximamente.
I

Vasta indicação do vereador José Manuel da Luz, em 9 de se


tembro de 1829, ã qual voltar-se-ã, recoloca a questão his
tõrico-jurídica das terras minoritas, a seu ver em Comis-
so, cedidas em parte ã Camara no século anterior, e todas
advindas do rocio paulistano, e propõe uma série de utili-
I
i â capital em expansao.
zações, necessárias a expansão. Entre constru­
ções públicas como "uma Cadea",, novos espaços
"-- - nova Cadea" públi
<
I

I cos como "uma praça de víveres", propõe repartir-se o res­ j


1
to em pequenas porções pelos habitantes d*este Municipio
I para alli edificarem e converterem em habitação em vanta-
I
gem do commodo geral, do augmento das Rendas Publicas, e
principalmente da decima dos Prédios Urbanos" (ACTAS, 55,
9 e ROWER, 1957, 116). Interessante a comparação com a
justificativa da data de terra feita aos religiosos em
17 57 pela câmara e a ata da sua sessão de 7 de janeiro do
ano seguinte (CARTAS, 1937, 12 e ACTAS, 14, 166) . Sao Pau
t
152

lo jã mudara muito e antevia mudança ainda maior; outro o


cuidado de sua edilidade, outra a expressão dum convento;
nova perspectiva para a terra urbana (SILVA, 1980, 189-92) ,
certa a sua valorização! E, de fato, em 1835, obteve o
Provincial franciscano licença do governo imperial para a
lienar o terreno, jã que não atendia mais ã congregação,
casa. O terreno foi vendido em 1848, feito o
perdida sua casa.
novo arruamento (fig. 14).

Pela prisma deste trabalho se revela peculiar o destino do


convento da Conceição em Itanhaêm quanto ã partilha. Como
que o cenóbio feneceu com a cidade... ou sobreviveu. Seja
pela longa decadência desta, seja pelas difíceis condiçoes
do sítio, alcantilados casa religiosa e cerca no morro do
Convento, o fato é que o retalhamento não se deu como nas
outras plagas, quando perderam impulso as ordens regula­
res. Além disso, muito antes, ainda nos tempos coloniais,
I
não aconteceu o início parcelar devido ã criação duma con-
fraria. Não se cedeu parte da gleba dos minoritas para
tal fim porque não se constituiu o ramo leigo de peniten-
tes. Nestes tempos, por outro lado, também excepcional
foi uma série de aquisições, como a doação recebida em
1740 de duzentas braças em quadra, rio acima, a jã vista
utilização de terras do rocio da vila para a construção da
nova ladeira de acesso, em 1763 a compra dum sítio do ou-
tro lado do rio e em 1783 a cessão pela câmara das terras
entre a escadaria velha e a nova rampa. Ampliou-se, por­
i tanto, muito o património, remembrou-se a ãrea original
(necessidade específica igualmente imposta pelo sítio, tan
I
I to para acesso como para pasto) e, com a lenta agonia do
convento, não se esfacelou sua gleba, coexistiu com sua lo
I
I
Somente, a linha férrea
calidade também moribunda. Somente, cor-
I
tou-lhe a base, passando por entre os arcos do primeiro
lanço da ladeira.

0 Compromisso da Ordem Terceira da Penitência, elaborado


em 1861, diz ser a mesma tão antiga quanto o convento de
I
153

Nossa Senhora do Amparo em São Sebastião, Obtiveram licen


ça seus irmãos para construir sua capela, que com altera-
ções se visita ainda hoje, em 1758 (ROWER, 1957, 310). De
pois desta partição, que veio no século passado a causar
problemas entre as duas associações, de religiosos e de
i
leigos, e mesmo abrigar uma fugaz paróquia, outras ocorre-
ram muito depois, muito recentemente. Também o combalido
convento no século passado se cercava dum antigo, tradicio
nal mas estagnado bairro de São Francisco. Surgiu a pen-
dência com seus habitantes, sequiosos da criação duma f re
guesia e que a obtiveram, ainda que por pouco tempo, insta
lada na capela dos Terceiros, filiada à igreja conventual.
Tudo ficou por aí, no entanto, em matéria de pressão sobre
o património imobiliário representado pela extensa gleba,
que da praia acendia as vertentes da serra luxuriante. De !

caíram os portos da região, isolara-se o canal, estagnara


também o tradicional bairro de pescadores e ceramistas.

Abandonado, ou quase, o convento do Amparo, cuidado na ver


dade pelos síndicos que se entendiam diretamente com o Pro
I
I vincial no Rio, recebeu deste uma visita em 1912, a cujas
impressões jã nos referimos (ROWER, 1957, 323-4). Nelas
consta que o material da chaminé da cozinha, que desmorona
ra, fora utilizado para murar um cemitério recém-criado, a
través da ação de um padre secular. A par desta iniciati­
va de dar outra função a parte do terreno e de cercã-la,

existem variadas informações sobre invasões e pequenos ar­
rendamentos na grande gleba. Rõwer menciona também a in
I
I
tensão do Provincial de "explorar o terreno em escala
maior". De qualquer forma, deve-se ao advento do automô-
vel o recente despertar daquela região costeira e as pri
meiras claras medidas expropriatõrias tendo em vista a
i
abertura da via municipal que, beirando o mar, truncou o
adro até então não urbanizado (fig. 19) . E, jã nos 50, a
desapropriação nos fundos para a nova estrada de rodagem
estadual, ligando Caraguatatuba a São Sebastiao. A estas
expropriações voltaremos, bastando lembrar que na década
•2

154

de 20, renascida a Província da Imaculada Conceição pelas


i
mãos dos frades alemães, restabelecem-se os contactos com
estes religiosos, sediados em Santos (325), e na decãda se
guinte se inicia a restauração funcional e física do pró-
prio convento.

Que destino tiveram a partir de então as terras do mesmo?


0 que foi feito de seu vasto fundo ou "certão"? E de suas
amplas laterais? Nos dias que correm, com o entrelaçamen­
to maior através daquela estrada.de rodagem, e de outras
novas, vai se integrando todo o litoral norte paulista tar
diamente mas com ímpeto à rede urbana e, mormente, ãs aspi
rações dos moradores da grande São Paulo e do vale paraiba
no. Aspirações ao gozo dos encantos desta costa e ao jogo
imobiliário intenso em suas terras atraentes. Apesar de
tombado o convento pelo governo estadual e, por conseguin­
te, amparados os seus arredores por legislação específica,
estão sendo eles atingidos pela especulação imobiliária. A
abertura irregular de uma rua servindo a uns quantos lotes
residenciais atrás do edifício seiscentista provoca pendên
cia entre estado e prefeitura desde 1983. Clandestinamen-
te, os contornos do antigo cercado vão se trans figurando
em outros mais modestos e disputados...

A Ordem Terceira constituiu-se tres anos após a fundação


I do convento de Santa Clara em Taubaté e em 1729 já tinha
as paredes de sua capela própria, aberta para a igreja dos
frades, erguidas mas não cobertas (335). Além dessa ces­ J

são implícita de parte da cerca, da qual não constam doeu- !

I
mentos, cabe referir a aquisição dum terreno em 1754 e uma II
demanda dos regulares por causa duma invasão em 1795. "Não
I
I
I
houve nenhum outro dos nossos antigos Conventos, cujos ter I
II
I renos tivessem sido disputados como os de Taubaté", afir-

I
I ma frei Basílio em suas Paginas, 363, e sintetiza o grande i
numero de pendências judiciais e alienações efetivadas. Em
1826, o guardião recêm-empossado pediu providências aos
superiores diante da "desordem e confusão introduzidas nas

.1
vy
155

terras" O Definitõrio autorizou a venda daquelas ocupa-


das por particulares e que com o obtido se cercasse o res
tante. Entretanto, prosseguiram as vendas, valendo-se o
síndico de sua autorização, não se cumprindo nem mesmo as
formalidades da Ordem. Assim, alienaram-se outros terre-
nos e se foi partilhando a grande gleba da capucha decaden í
4
te. Se no começo dos oitocentos era tal a situação, a pon J

to de se pedir a demarcação em 1828 do que restava da cer­


I.
ca (GUISARD FILHO, 1938, 75), imagine-se a pressão que se
fez sentir sobre aquele património com o avanço dos cafe- ■

zais pelo vale do Paraíba e o florescimento de seus princi


pais núcleos urbanos. Valeria um estudo específico. Ou­
tros fatos importantes do esfacelamento desta gleba dizem
respeito ao grande largo dianteiro e a um cemitério preten
dido, considerados no próximo capítulo. De qualquer manei 1
ra, o grande património permitiu ainda aos capuchinhos, su 1
cessores dos minoritas, reconstruirem o convento (fig. 21) -

na década de 30, com o produto da venda de outro terreno.

O convento de São Luis de Tolosa logo propiciou o surgimen


I
to dos Terceiros ituanos, que tinham capela lateral ate
os fins do século XVIII, portanto, sobre uma parcela desta
cada para que a construissem. Parcela que em 1793 não era
suficiente para levantarem uma nova capela, maior e separa
da do templo conventual. Solicitaram e obtiveram nova fai.
xa de terreno; a obra se fez. Obtiveram, ainda, em 1857, *

para um novo cemitério da irmandade, trinta braças em qua­


dra. Cumpre anotar que quando os irmãos leigos consegui­
ram aquela cessão, os frades receberam em doação um peque
no sítio para reunirem suas esmolas - em geral pagas em es,
I 4

pécie - e que detinham algumas casas, junto ã matriz de


I
São Carlos, para hospedagem dos esmoleres. Voltando a sua
I cerca, foram vendidas em 1859, tres parcelas de seus fun-
dos, perfazendo quase dois alqueires (ROWER, 1957, 432) . í
Em 1864, o pasto do convento foi alugado e, no ano seguin
te, iniciaram-se as gestões para a locação do edifício aos
jesuitas que tratavam de estabelecer em Itu seu novo cole-

1
156

gio. Estes aluguéis foram recebidos por alguns anos, en-


'4
quanto o antigo claustro sem frade nem guardião perdia O
último síndico. Arruinado o convento, depois do incêndio
de 1907, seu terreno acabou sendo vendido ao vigário da pa
rõquia e sua igreja sendo incorporada aos bens da Cúria Me
tropolitana de São Paulo em 1918. Hoje, uma outra linha
da fabrica de tecidos São Luis arremata os fundos do anti­
go adro quadrangular (fig. 24), atual praça D. Pedro I. Em
pleno logradouro público perdura solitário o cruzeiro, di­
í ante de recentes alinhamentos, cercaduras e construções
que evocam, de maneira mais sutil mas inquestionável, o es
1
tigma da antiga gleba.

Os diferentes destinos das antigas fundações seráficas em


I terras paulistas levaram ao parcelamento de suas cercas.
Esfacelamento que, maior ou menor, menos ou mais rápido t
redesenhou o mosaico da ocupação do solo existente, Em de 1

corrência, afetou a planta de seis cidades que conheceram


uma evolução urbana bem distinta ao longo dos últimos dois
séculos. Sobre esta planta alterada, surgiram novas cons­
truções e outras atividades, por vezes de impacto conside­
rável na vida e na trama citadina. Uma exceção expressiva
e confirmatória representa o conventinho de Itanhaém que,
por oposição, paira quase que incõlome em seu morrote. Dis
sipadas estão, por fim, todas as tensões provocadas por no
.j
vos anseios coletivos e novos valores da terra quando al­
■*

cançado o retalhamento de tão grandes imóveis. Quando nao,


apresentam-se com todo o ímpeto nos dias que correm, como
I
na margem do canal de São Sebastião.

Durante o primeiro reinado, o reverendo Robert Walsh de—


tecta um sentimento generalizado sobre os bens das ordens
religiosas. "But the wealthy orders are just now in immi-
nent danger; from the very reputation of their wealth, the
present feeling of the country is not in their favor, and
they seem to be held in the same estimation, as they were
in France, at the commencement of the revolution. It is

I a.
157

therefore generally spoken of, as a thing just and ne-


cessary, that their property should be applied to the
necessities of the state" (1830, 361). Quarenta anos de-
pois, Hadfield (1869, 68) afirma: "The wealth of religious
orders in Brazil is by no means insignificant, and it
would be to the advantage of the country and of the people
if this was made available for national purposes". Nos
fins do segundo reinado, o cônsul americano no Rio faz um
balanço: "In its proceedings against the monasteries Bra-
zil has been slower than either Italy, Portugal or Spain"
(ANDREWS, 330). "Buildings are taxed but vacant land is
nowhere taxed in Brazil. One may own acres of land in
the city limits without ever having to pay a tax on it.
What a happy place for red-estate dealers!" (40) Pouco de
pois, Henri Raffard não consegue "obter explicação satisfa
toria da alta extraordinária do valor dos terrenos na Pau-
licêia, a palavra especulação não me pareceu suficiente"
(1977, 33) ... Anteriormente, outro arguto francês compa-
rara o impêrio com os Estados Unidos da América (EXPILLY,
1865, 120): "Lá, en effet, le Domaine public possède, au-
I jourd'hui encore, les deux tiers au moins du sol, tandis
i que le gouvernement brêsilien n'en détient qu’un cinquiême,
en quart, au plus".

"A tumultuada estrutura fundiária nacional não se escapou


à acuidade da geração que construiu a Independência" (1965,
139) para Costa Porto que, no entanto, mostra o seu agrava
mento depois que o príncipe regente suspendeu as datas de
t
sesmaria em 1822. Cirne Lima (1954, 63) afirma que, sob r

determinados aspectos, a Lei de Terras reformuladora da si


tuação fundiária "nada ê mais do que um decalque das leis I
I
i
de terras adotadas nos Estados Unidos..." Mas conclue: "A
!

despeito das críticas que possa merecer no pormenor, a Lei !

I de 1850 ê, no seu conjunto, obra de valor e vulto, sobretu


do, relativamente ao tempo" (66). Como tardou! Dias de
Andrade (1966, 161 e segs.) traça um panorama de suas im-
plicaçoes sobre o instrumental para intervenção no quadro
I

. t.
*

158

urbano, mormente no que tange ã medição de terras e ãs ter


ras públicas, além de outras leis e avisos do império que
foram definindo a esfera de competência municipal, bem co­
mo, aprimorando os respectivos instrumentos de ação. João
Mendes de Almeida Júnior sintetiza estas e outras varias
questões em sua penetrante Monographía do município de S.
Paulo: estudo administrativo de 1882.

"Pode-se dizer que sõ de pois de 1850 ê que a propriedade


i
I
territorial privada no Brasil ficou constituida sob bases :<

legaes". É o parecer do advogado envolvido em causa entre


os beneditinos e a prefeitura do antigo Distrito Federal
(OCTAVIO, 1929, 136). E como ficaram os bens das ordens
religiosas, o Estado ligado â Igreja? De certa forma con­ I

denados, jã que em 1840 o governo imperial proibe a sua ♦


•*
ri 1
transmissão por morte e, em 1855, a admissão de noviços •J

(MALHEIRO, 1971-4, 74). Das imunidades dos bens eclesiás­


ticos acatadas até então dão bem conta as constituições do •-
&

arcebispado da Bahia, arroladas no apêndice 2. Da morosi- à


dade na supressão das mesmas faz-se testemunha o próprio
protesto do bispo paulista contra a desamortização dos
bens dos regulares! Leia-se o apêndice 3. Quanto aos •j

franciscanos, cabe lembrar a importância do síndico, anexa '4.


do aos seus Estatutos o Breve medieval que instituiu essa 1
X
função externa para cuidar de todos os bens materiais e :7

que

I
Frates uti, possunt, jus, proprietas3
I <$ dominium nullo médio spectat.
I
As proporções das glebas cenobitas e, mais ainda, as suas
I
proporções relativas nas cidades hispanoamericanas foram
i
registradas e por vezes exageradas pelos que as visitaram.
I Mas o exagero exprime a forte impressão que causaram. Ale
xander Caldcleugh, p. 57, por época das lutas pela indepen
dência: "The monastic establishments in Lima are very nu-
merous, and of singular extent and splendour. The convent

- -2___ < I ••
II
159

of the Franciscans which is calculated covers an eight


part of the whole city, forms a small town within itself”. a

Para Bates, uns sessenta anos depois, uma quarta parte da


•t
mesma cidade está ocupada por seus conventos e igrejas
(348). "There are very many nonasteries in Quito, and one
of them, that of San Francisco, is perhaps the largest in
1
the world. With its church it occupies an entire square,

and nas, besides, rich farms is the neighboring country r
upon which it depends for its revenue" (VINCENT, 32). Exis
tiriam tais fazendas? São raras entre nós as propriedades t

rurais de apoio aos franciscanos. William Hadfield (1869,


1

202) considera Cordoba argentina um aglomerado de igrejas


t
e conventos, a maioria dos quais inúteis. A sua descri-
J
çao, e a de seus bens, daria um livro grande, mas o irôni- 1

co banqueiro nao
não teria inclinação para um tema tão penoso.
•>

Sobre o mesmo já externara sua... significativa opinião: í


»
••

3
"Any one visiting South America must be struck with the
enormous size of the churches and convents, so utterly out
of proportion to what must have been the wants of the po
pulation at the period of their erection, and even at this f

moment many of these buildings are unoccupied, as stated


in my notice of the Brazilian city of San Paulo. These I ■

churches and convents were endowed with enormous tracts of


land, which in process of time have become very valuable,
ji
and if apropriated to State purposes would go a long way
towards paying of the national debt of Brazil. Some mea- lj
sure of this kind will inevitably be adopted at some futu­
re period, as in most instances the property itself is
unproductive of any national benefit, nor is it utilised
I
for any national object."

Importa lembrar aqui o alentado estudo de Marlin D. Claus


ner, Rural Santo Domingo: settled, unsettled and resettled,
pelas considerações gerais sobre a concessão e o controle
das terras por parte da Coroa espanhola. Embora atinente
à questão fundiária no campo, várias observações podem ser

V
íl

160 i
I
T-
s 51
I
lo

transportadas para o solo urbano. Conquanto, em relação í tI


aos aspectos legais e ao arcabouço jurídico, impressione a
similitude formal das determinações do Estado e a das rea-
ções da Igreja, fica claro que, em outras condições terri­
toriais e económicas, começou bem antes que no Brasil a va li
tíf

lorização da terra e a atenção do governo metropolitano.


"The Spanish Crown never slackned its policy of maintain- J-
I
ing close control over the material wealth of the Chruch
in Espanola" (62). Contudo, retornando à fase revoluciona
ria dos movimentos de independência, vale destacar a postu
ra mais radical dos haitianos. Em 1801, Toussaint encara Í1
radicalmente o problema dos bens religiosos; no ano seguin H
te, Ferrand retrocede com medidas contra-revolucionárias; Á
«Si

sucede um período muito confuso até que, em 1822, comissão i

designada por Jean Pierre Boyer propõe solução: passar ao


Estado (76-84).

De volta ao âmbito específico do parcelamento e do espaço


urbano, Caracas apresenta dados interessantes para uma com
paraçao. Interessantes pelas grandes transformações recen
tes que sofreu e pelo seu risco em grelha pioneiro na Ve-
nezuela continental. ii
Es un claro ejemplo de la importan-
cia que adquiere el trazado originário en cuanto permanece • r.
a pesar de sus transformaciones". Traçado que persiste "y MN
íg 4.
*
adquiere valor de elemento originário por ser el documento > •
t i -Ji

mãs antiguo con que cuenta la ciudad (GASPARINI, 1968,


i

23) . Cumpre recordar que, neste plano nítido e remanescen I


II te, o grupo franciscano foi o único agente social a rece
ber em 1578 toda uma "manzana" (fig. 28). Daí, provavel­ •s 3: í
mente, além da sua localização que foi se tornando privile
I giada no tabuleiro de xadrez muito expandido, a nobre re­
H •} i

1 ' ■: 3
ciclagem de cunho institucional que sofreu nos oitocentos 5# S
i
e a persistência da sua integridade, com a construção do
1

parlamento na quadra fronteira. Em contrapartida, as plan


tas de duas "manzanas" típicas da mesma Caracas (36) dizem I

bem da evolução do parcelamento ainda que sob normas urba­


nísticas tão explicitadas (fig. 29). Imagine-se entre nós! iA


l
í
161 I

F|
fi

J I
i' 2
I-*

Oportunas e pertinentes duas observações de Georges Chabot


l : 4
i
(1958, 114-5) sobre o que considera obstáculos ao desenvol
vimento das cidades. "La ville créé parfoi elle-même des
obstacles ã son propre dévelopment". Entre estes, mais do
que as construções em si não estariam as parcelas de solo, r

principalmente se significativas? "La ville se comporte ã
la façon d'un fluide qui evite et contourne les obstacles > >■

l‘A
de toutes sortes..." Na cidade em expansão no século pas­ - Ji
1r

sado, que maiores obstáculos do que as cercas conventuais?


Pierre Lavedan não atenta para a parcela em que se planta 4

o " monumentoao
” considerar sua influência sobre a confor- ii

maçao urbana (1959, 108). Torna velada e instigante a •I


i’’

questão básica do parcelamento (98): "Qu’il s’agit d*ville ■

i ■
spontanée ou d'une ville crêée, le trace de son plan, le
í
dessin de ses rues notamment, n'est pas dú au hasard. II
• 11
I
y a eu obéissance ã des règles, soit inconsciemment dans ' • I
• » - 1

..
le premier cas, soit consciemment et ouvertement dans le ) . I

second. II existe toujours un élément générateur du plan”.

Associando estas autoridades com estudiosos franceses mais


recentes, pode-se valorizar o que parece importante na
I
questão do parcelamento e não tem comparecido na maioria
das análises de evolução urbana: as condicionantes basila­
res da sua dinâmica, referentes à posse da terra. No sen­
tido inverso, ou seja da reformulação parcelaria para a *

instalação de complexos monásticos, há diferentes contri­


buições em Hisoire de la France urbaine, organizada por
I s..
Georges Duby. No sentido atinente ao presente trabalho,
£
ou seja a alteração parcelar em substituição aos conjuntos- (I >
s
conventuais, veja-se um exemplo parisiense por Hèlene
n 5
* <•
11

Couzy (BOUBON, 1977, 271 e segs.) e as palavras da própria !

I •I I
Françoise Boudon, em artigo de 1975, p. 773: "On est parve i• •« 1
nu a un degré de prêcision nouveau et décisif, au moment
I
ou il a êté reconnu que 1’élément fondamental de la struc- i !
• u *1

ture urbaine est la parcelle et que 1 ’ instrument essentiel


à la analyse urbaine est la carte historique".
i

1
. -ÍV
I
162

! «.

Esta questão do parcelamento, a qual vêm dispensando inte­ !í


resse tais historiadores, aqui é central. Não se tomou a
! parcela-tipor do "vizinho" ou "morador", para residência e
negócio, mas uma parcela privilegiada, institucional e es­
pacialmente. Com sua primazia social e física, contudo, a
cerca conventual não deixou de ser freqUente em nossas vi­ i

I
las coloniais e constituiu uma constante nas seis aglomera I
çoes paulistas em foco. Se o parcelamento permeia a pre­ : i
I
sença das respectivas capuchas, torna-se mais provável nos 9
f 1
oitocentos, quando as casas religiosas minguavam e suas 1 1
glebas se insinuavam para novos aproveitamentos. Antes, a
l
parcela de terra destinada ãs Ordens Terceiras levou a no
vas construções e novas atividades no complexo conventual;
e i
depois, a requisição pelo governo imperial, ou a venda, le i
:

vou a um outro quadro fundiário e ãs mesmas conseqtiências. 5


i .
?
Em cada uma dessas partilhas redesenhava-se o mosaico dos • .
4 1
r
* fl

lotes no setor, abria-se a perspectiva para outros edifí­ ■

cios e serviços que modificaram a planta, o perfil e o pul


so citadino.

A política, a legislação e a administração perante tais a-


I

lienaçoes ou foram tímidas ou coniventes. As autoridades


municipais, as da província e as da Corte não se mostraram i
i
previdentes em relação a patrimónios vultosos que meavam
entre a Igreja e o Estado. Não atestaram descortínio pela
IJ
reformulação tardia do arcabouço jurídico relativo ã terra 1.
3 ;
J; ’
e pela intervenção sempre casuística em propriedades de (

grande conteúdo social e notório potencial de renovação ur


bana. H
<

?. sí

sf • <*5
I

9 absorçao U5

i
i1

» •• 1
• r1

I

i
1ir
I

"Santos est une ville essentiellement commerciale, mais on


ne peut dire que c’est une belle ville, malgrê ses rues •I
droites et bien alignêes, â 1’exception de quelques vieil—
les rues restêes étroites et tortueuses" (WALLE, 1912,
I 42). "Sans avoir vu ses vieux quartiers tomber sous la iO
I pioche des démolisseurs, Santos a subi d'importants tra-
I
vaux de transformation et d’assainissement; la ville ne ■

s'est pas embellie, mais elle est devenue plus saine”


(45) . Os comentários relativos aos primeiros novecentos,
como tantos outros, dão conta das grandes mudanças por que / ■»

passou o porto paulista, transformado no grande escoadouro


do café. E se referem ã permanência da malha viãria do nu >1
r w'

cleo tradicional santista "pour lui garder un cachet pro- I


pre" (MARC, 1889, 153)
153).. Entretanto, de longa data peque­
nas alterações se faziam notar no arruamento daquele setor
da cidade agora muito expandida em direção ã orla, princi­
palmente no que tange ao bairro do Valongo e ã vista do
seu caráter terminal. Quando da construção da estrada pa­
ra Cubatão, o ministro do Império, José Clemente Pereira, »
>•

solicitou uma faixa lateral da cerca franciscana para pas­


sagem da mesma sob o aqueduto que vinha do morro. Em con 1

trapartida o governo oferecia ao convento a reparação do


mesmo (ROWER, 1957, 149). Embora esquemática, a planta da I
nova estrada, copiada por Machado d1Oliveira e em custô-
dia no Museu Paulista, permite julgar a necessidade desta
cessão pelo vulto dos trabalhos realizados, mormente o lon
go aterro.
>‘z-s::

MMl
I
I
i 164
I

i
Tal acerto, feito em 1829, foi seguido logo em 1834 pela
I
venda dum pequeno terreno, na esquina da rua de São Bento
com a nova estrada, uma dos cantos da gleba. Este terreno
I de 129 por 128 palmos se mostrou suficiente para a constru
çao de algumas casas e sua venda atendeu a necessidade dos
frades, "obrigados pela situação material precária" (150) .
Cedo, portanto, antes mesmo de muito maiores impactos so-
bre o ainda modesto tecido urbano de Santos, a ação do Po-
der Público ensejou, direta e indiretamente, o início do
esfacelamento da grande área minorita. E mais, principiou Il

o redesenhar dos seus velhos contornos, através de sucessi


4
vas remodelações. Realinhamentos que agora passam a inte­
ressar por trazerem até nossos dias os ecos da data de ter
ra seiscentista. De fato, por causa de inconvenientes ao
adro, causados pela construção daquelas casas no terreno
I
vendido, e em função da necessidade de alargamento da rua <

que levava ao novo largo da estação, um acerto entre a co­


munidade religiosa e a edilidade levou ao recuo de poucos I
metros do muro dianteiro do que restava da cerca conven-
tual. Com isto se constituiu o largo Marquês de Monte Ale
gre (151) , separado do adro por uma grade alta (fig. 5) .
Foi neste largo que Pearce Edgcumbe tomou o seu pândego ca
1
fé da manhã, com leite tirado na hora de uma vaca estacio­
nada em frente ao botequim (1887, 62). Entre o pacato por
to que Hercules Florence conheceu, com sua única rua e
travessas, e o centro febril que, oitenta anos depois, Ma-
rie Robinson Wright descreve, muita novidade. Como este
largo diante da estação...

A primeira planta da cidade de Sao Paulo, levantada em


1810, esclarece muito a respeito do adro dos capuchos, quan
do comparada a sua cópia com "todas as alterações" feita
em 1841: o adro, que avançava através do largo do Capim em
direção â rua de São Bento, abria-se lateralmente para a-

2 lêm da portada do templo dos penitentes, no primeiro dese­


nho (fig. 10) ; no segundo (fig. 11) / o mesmo espaço se ex
pandiu também de fronte ã antiga clausura, agora ocupada

O■ r
-.1 I

•,r
-

165

pelos estudantes de direito. Ou seja, os muros do quintal


I dianteiro dos frades jã não existiam nem ajudavam a confor
I
mar o adro que se transformara em mais um largo generoso I
i da pequenina capital. Largo de Sao Francisco, sim; mas
não mais espaço franciscano, voltado ao cultivo de verdu-
ras e frutas ou ao acolhimento de fiéis e confrades. Esta
mutação funcional e espacial paulistana foi mais nítida,
mais radical e mais controvertida do que a santista. Quan ■VI1
do a mencionada portaria do governo central chegou ao co­
nhecimento do vice-presidente da província, que era tam
bém o bispo, jã se deitara abaixo o muro do quintal fron-
teiro que integrava o terreno que continuaria a pertencer I
«

aos frades.
1

O caso particular da cessão de parte edificada do complexo


conventual seráfico para a instalação do Curso Jurídico e •

Ij
o desmantelamento deste seu quintal se inserem em questões
de ordem geral, que atingiam igualmente as outras proprie
i;
>■ íI

dades de congregados regulares e diziam respeito ã união


II
í‘

da Igreja com o Estado, renovada agora com a superviniên- * ■

cia dum novo padroeiro, o imperador do Brasil. Estruturan


do o novo Estado, Pedro I cuida também da esfera municipal
I'
g!

L<
iv
. ■


em lei registrada no dia 19 de abril de 1828 no livro com.
petente da câmara da capital paulista, Vale
dois de seus artigos:
transcrever I
"ArtT40. Os Vereadores tractarão nas Vereações dos bens,
Ah
e obras do Conselho, do Governo economico, e policial da
. terra, e do que neste ramo for a prol dos seus habitantes^
\ i." Art. 41. Cuidarão sobre o estado em que se achao os bens
A dos Conselhos para revindicarem os que se acharem alheados
V- contra a determinação das Leys, e farão repor no antigo es
Az tado, as servidões e Caminhos públicos nao consentindo de
A maneira alguma, que os proprietários (sic) dos mesmos fe­
chem, estreitem, ou mudem a seu arbitrio as estradas".
0 citado parecer de comissão da câmara, sem data e relati­
vo â questão com os franciscanos, é posterior porque se
apoia nestes dois artigos, demonstrando o empenho dos edis

àá

b
Zfí.
I 166 I

em prosseguir na defesa dos bens do termo da antiga vila. ■

I Entre estes ressaltava o seu rocio.


II i•
1I

Entrementes, o governo imperial vacila e sobrevém a porta­ •I„ I


I. I

f
ria que libera da cessão ao Curso Jurídico o terreno dos
antoninhos. Terreno que o seu diretor jã considerara da
I
naçao! A câmara paulistana representou ao vice-presidente
l
da província, encaminhando-lhe cópia de proposta do verea­ Uíli
I dor José Manuel da Luz, aprovada na sessão de vereança de I

I 17 de junho de 1829 (ACTAS, 55, 9). "Sendo hoje progres-


I sivo o augmento d'esta Cidade, e cumprindo a esta Camera
dar todas as providencias a prol do Bem Publico", enumera
aquele vereador uma série de necessidades da sede do muni­
I
cípio e exorta "que se aproveite todo o terreno contíguo
I 1
ao Centro da Cidade, abrindo-se ruas e praças, formando-se
«■

edifícios e cazas de morada para habitação dos Povoadores,


dos Acadêmicos, e mais pessoas que diariamente fora convi
vem ..."«I Tratava-se de encarar a questão do rocio da vila
e depois cidade, cedido e aforado por toda a parte e a to­
da gente. E tratava-se, especificamente, de reagir quando
"Sua Magestade o Imperador resolveo declarar que aceitava íi
unicamente o Edifício para o Curso Juridico, e que ficas ?
>l
se a cerca pertencendo aos Religiosos; os quaes té agora
nao tem tomado conta, porque aqui jã não existem em Commu- 11
* ■

nidade".
li
< •

Ji
A proposta do edil nega "haver Propriedade consolidada" e
considera "ter cahido em commisso" o terreno que muito
crescera desde a data de terra original. A câmara se mos­
tra firme na reavaliação da situação jurídica e do destino
social de suas terras. E atenta ãs determinações anterio­
res das outras instâncias de poder. Pois, no ano ante- !

rior, recebera do mesmo vice-presidente paulista ofício I


que, diante da falta d'agua e das poucas praças na capi- ■

I
tal, prevenia: "com preferencia a outras quaesquer obras,
devem mandar preparar a do Largo de S. Francisco, deitando
abaixo para este fim os muros do Quintal, que existe em
167

frente do mes mo o qual hoje pertence à Fazenda Publica,co


mo parte do referido Convento, e para ella fazerem enca-
I
nar a agoa, de que se serviam os Religiosos, de sorte que I

da mesma se utilize o Publico da melhor forma possível...” > 5


4 I
»

(REGISTRO GERAL, 154, 228 verso). Este ofício da autorida


de provincial, por sua vez, fora precedido por uma ordem
do ministro do Império, de 2 de julho de 1828 (PAPEIS AVUL
SOS, 7, 165): "as mesmas Camaras que no exacto cumprimento l

da Lei se haverão com tanto acerto, justiça, e imparciali­


dade que as servidoens, caminhos, e logradouros dos Conse
lhos serão immediatamente restituídos ao uso e commodida-
des publicas, sem que ao mesmo passo o direito de proprie­
dade particular dos cidadãos seja por fôrma alguma viola-
do; o que pôde muito bem conciliar-se e conseguir-se sem
pre que a dita Ley for entendida e guardada no sentido let :I
f I

teral, como cumpre que o sejão todas as Leis”.

Apesar da ambiguidade da ordem em tão delicada matéria,


Clemente Pereira em poucos meses de gestão foi forçado no
nosso caso específico a recuar. E, progressivamente, fica
tf 1
ram desamparados o vice-presidente, com sua dignidade episs 4!

copal, e os vereadores paulistanos, A questão jurídica se


apresenta complexa e transcende ao nosso âmbito, O aspec­
j___ ____ _ i -r
to político do problema fica cristalino e aqui muito per 1.

tinente. O resultado é que o antigo e restrito adro dos


frades menores se torna um novo e amplo logradouro da cida •H
de de São Paulo. Capital, que logo depois da independên ,ií
l9

cia permanece pobre quanto aos espaços de uso comum do po­ li


vo, como atestam estes documentos, e que, aos trancos e
barrancos, vai procurando obtê-los aonde e como pode, Jun
to ã antiga cerca minorita consegue por um triz o largo. I

Conseguira nova rua e realinhamentos em outra, Redesenhar


-se-ã naquele setor calcada no antigo cercamento. Ã ação ir

do Poder Público, corresponde uma nova atenção do particu


lar. Assim, em 4 de fevereiro de 1834, como de praxe e
atendendo a solicitação do interessado, o secretário, o
fiscal e o arruador da câmara vão alinhar o quintal do Ser í-
168
I

i tôrio, junto ã •i"ladeira de S, Antonio", "ladeira que vem


do Largo do Curso Jurídico". Em 5 de abril do mesmo ano,
fazem o alinhamento do terreno de Antonio e Antonia Coiti-
nho de "seis braças e quatro palmos defrente para o dicto
Largo em Sam Francisco, e que confinava de um lado com os
muros do Ex.mo Conde de Valença, e do outro lado com ter-
ras de Dona Margarida da Graça residente em Santos..." (A—
LINEAMENTO, 2 21, 43 e 45).

Em 1864, requerida pelo prior do convento do Carmo, faz-se


a demarcação de seus terrenos (208, 38), ficando "a exten
sao de cento e cincoenta e oito palmos da linha do muro do
Convento ao paredão do Carmo, destinada ao uzo publico".
Quatro anos depois, alinha-se o terreno do Senador Antonio
de Sousa Queiroz que confina com casa que dã para o largo
de São Francisco (115 v.). Em 1873, a baronesa de Limeira
e prontamente atendida quanto ao terreno que pretende fe-
char, jã na rua do Riachuelo (199). Meses depois, "alinha
rao 28 palmos de frente ao dito Largo emcontinuação a Caza
do Supplicante que fica no canto da rua do Senador Feijô",
um Rego Freitas "que pretende edificar como allega em sua
petição" (204). Em 27 de fevereiro do ano seguinte, o pri^
meiro termo lavrado com medidas em metro; o anterior, ain­
da em palmos, ê da véspera! Os "empregados da Camara" são
os mesmos, a letra do termo estã tremida, nenhuma menção
ao novo padrão adotado (2 05 v.) . Em março, com a presença
da comissão especialmente nomeada, "alinharão a dita Tra­
vessa para o lado d'oitão da Academia dando em linha recta
para a largura da rua desde o canto do Largo ao canto da
*

rua do Riachuelo um metro e setenta e seis centimetros


(1 7 76) para dentro daguia interior do esgoto de pedra
ali existente, ficando todo o terreno para olado do estabe
lecimento da Academia pertencendo ao mesmo para ser fecha
do com gradil de ferro" (208 v.).

Bem antes, na sessão da vereança de 17 de janeiro de 1857,


uma indicação merece aprovação no sentido de "que se torne
i •

I I I
i

«I
169
» t

mais largo o beco unido ao edifício de São Francisco, e I

que dã communicação entre o largo do mesmo nome a rua da


Casa Santa, por onde se dã constantemente grande passagem
de tropas; e constando a esta Camara que o proprietário do
terreno preciso para este fim cede gratuitamente o direito t

(ACTAS, 66, 6) . Quan


gue tem sobre elle, para o mesmo fim” (ACTAS,
to ao tratamento do novo logradouro, duas menções a seu ve
lho e novo referencial. Um orçamento de Obras Públicas,de
I!
3 de novembro de 1837, para o desvio das aguas do Patio de
São Francisco " atravessando dita calçada a rua do Ouvidor * !

em siguim. to ao Cruzeiro”. Desaparecido este, proclamada


,si
a república, em 6 de agosto de 1890 (PAPEIS AVULSOS, 75, i
17): " Indicamos que seja concedida ã Commissao executiva
2 • *
|l
da Estatua José Bonifácio, 12 metros em quadra, ou 144 m . ; I
no largo S. Francisco em frente ã rua de S. Bento, para • 11 )!

ali ser erigida a dita Estatua, deixando-se espaço suffioi 1II


i I
ente para passagem de carros entre a Igreja e o gradil que *: * II
cerca o Monumento”. Porém, a maior alteração devida ao
avanço do chão público, acordado com a fragmentaçao da
grande gleba franciscana foi a abertura da rua Riachuelo, iM
‘ ú!
nos fundos do convento. Obtida licença imperial em 18 ,
terras foram cedidas ã municipalidade para o arruament e
!

as lindeiras afinal vendidas em 1848 (fig- 14). I &


1

i‘ Is
"La ville ancienne a conserve le cachet colonial ou portu— !|i
guais, qu'on me permettra de trouver franchement abomina-
ble" . Ao fim do império, Alfred Maro^l889,
889, 152) assim vê
ii
o velho centro da cidade de^Sã õ em profunda transfor
mação. Na mesma época, Charles Morei registra suas linhas *>

de bonde e a iluminação a gãs (1888, 71) . E informa (93)


de Itanhaêm: ”11 n'y a qu'un édifice: la chambre municipa
le” . No fim da Praia Grande, não muito longe duma Santos
que prospera, o convento de Nossa Senhora da Conceição do­
mina ainda uma aglomeração adormecida, que não ajusta como
alhures sua cerca, ao menos seus contornos, a novas reali-
dades e anseios. O tímido arruamento não avança; apenas,
no sopé do penhasco, a estrada de ferro corta as bordas da

‘U.-.


t

170

í

■ J
4
1I
gleba cenobita, Por isso, Benedito Calixto (1926, 25) po- tl
11
I
I

de fazer sua interpretação dos dados dum passado muito dis i1


II I <
!■

tante: ”A rua de S. Francisco e a velha cadeia, que, edifi^ Ifl


cadas nessa epoca, estão hoje em delalinho com a nova la­
! .•

deira, mostram ainda a direção da antiga subida e orientam


a posição da primitiva egreja" (fig. 15)- Muito mais tar­
de, para o estudioso da geografia regional (ARAÚJO FILHO, bí
s.d., 51) : "O núcleo primitivo como que se isola no meio”
das construções dos veranistas.

«!|j
No bairro de Sao Francisco, e com ele, dormitava também o
✓ 7( r. 1
ít |
convento de Nossa Senhora do Amparo. Desligados, pela au- !

sência de ferrovia, do progresso da província e do estado '•ll


de São Paulo, bem como, por causa da ferrovia, decadentes
como o vale do Paraíba, povoado e conjunto conventual só
1 í.13
vieram a se confrontar, tardiamente, com o advento de ou-
tro tipo de cordão umbilical. Com a chegada pioneira do
t*1
automóvel, um novo ânimo se fez sentir vagarosamente
outras solicitações comunais despontaram: a rua, a que pra
ticamente se resumia o Bairro, avança paralelamente
e

â
J
•J •f
WH

praia por sobre o amplo adro do convento; suas travessas,


lindeiras ã grande gleba se alargam e retificam; uma estra
da estadual corta o comprido património aos fundos do anti L.ái
go claustro; uma nova rua sorrateiramente se rasga e se
pretende oficializar em nossos dias, bem por detrás do edi !1 8 |
ficio tombado. Estas novas e distintas vias públicas aber
tas nas últimas décadas se fizeram acompanhar duma serie
I • ir jl
■<
-

de empreendimentos imobiliários que fragmentaram os si-


tios, que da praia galgavam a montanha, e circunscreveram
o Bairro tradicional. As fotos dos anos 20 (figs. 18 e I
19) permitem acompanhar, num curto espaço de tempo, esta
dramatica evolução do parcelamento do solo capitaneado pe­
la abertura das vias de circulação rodoviária. r

Vale recordar que, em 1828, o sindico do convento de Santa


Clara faz petição ao juiz de fora para "demarcar a testa-
da das ditas terras”. Em 1876, um seu sucessor solicita Ii
‘AlT
I

171

apoio "afim de obrigar os posseiros das terras pertencen­


tes ao mesmo, a apresentarem os seus títulos". A resposta
diz "caber esse trabalho ao respectivo síndico, empregando
os meios estabelecidos na legislação" (GUISARD FILHO, 1938,
76) . A situação de fato e de jure das terras minoritas
mostrava-se confusa; também a das terras do conselho da an
tiga vila de Taubaté. Como de resto por toda a parte...
Disto cuida o governo imperial, através das autoridades
provinciais. Uma circular suspende a distribuição de ter­ I
renos urbanos (1944, 29) em 1854; outra solicita informar
"com urgência quais os termos que formam o património des­
sa Câmara", dois anos depois (33); depois de muitos meses
a informação urgente não fora prestada (37); circulares de
1857 insistem na resposta e indagam sobre "terras devolu-
tas” e "das leis municipais em que fundem o direito dessa
1
Camara aos terrenos de que estão de posse" (49 e 68) ; nova I

circular em 1860 reitera indagação "relativamente aos ter­


renos considerados pelas Camaras Municipais como logradou-
ros públicos" (99).

Neste clima, guardião e síndico "cedem a bem do Município"


o largo da Palmeira, diante da capucha, como se viu (183
e ROWER, 1957, 362). Em 1863, "esperam que esta Câmara de
hoje em diante o considerem bem deste Municipio confiado
ao zêlo e cuidado desta corporação (sic)". Lembre-se que
neste mesmo ano se esta solicitando do "Provincial do Con
vento de Santo Antonio da Corte" que autorize o "Guardião
do S. Francisco nesta cidade (sic) a ceder os baixos do
mesmo a fim de ser fundado um hospital", e que em 1865 o
coletor quer saber os limites da cidade designados pelos
edis: "Outrossim se o Convento de Santa Clara cita (sic)
nesta cidade esta ou não dentro dos limites". Esta cessão
espontânea de parte da grande cerca dos seráficos, obtida
como acréscimo ãs primeiras doações em frente ao convento,
é feita com a clausura quase vazia e diante duma concentra
ção urbana que prospera e se aproxima com o dinheiro do ca
fé. Não se trata propriamente do adro, porém do grande

Sb 3

< •’ -->7 •- - --
172
I

r/

campo notado pelos viajantes e, agora, abraçado pelo casa­ it


rio (fig. 22). Nova circular do governo da província pede
com urgência todos os dados dos terrenos "que cairam em
comisso"II e das necessidades da população quanto aos "terre
nos ocupados por essa Câmara" (GUISARD FILHO, 1944, 284)
em 1868. E surge a questão dum cemitério público, levanta
da pelo vigário e respaldada por um parecer de médicos lo­ $

cais em 1873. Lugar sugerido: junto ao convento (307-9) .


0 cemitério não sai aí, mas o cerco dos interesses públi- a

cos e manifesto. Em 1891, separada a Igreja do Estado pe


lo regime republicano, faz-se um contrato de doação canôni^
co, passando a posse da cerca conventual dos capuchos para •«
*
os capuchinhos (1938, 92): II"não só se trata de salvar o
4
Convento, hoje em completo abandono, como porque corre peri
go de ser entregue mais tarde a uso profano..."

As lages de pedra dos passeios em Itu merecem sempre a a—


tenção, menos ou mais simpática, dos visitantes. De Hercu •
J
les Florence, de Charles D'Ursel, Alfonso Lomonaco. Deste, r
I

1
de Alfred Marc, de Joseph Burnichon, referências âs praças
mais tratadas. D'Ursei prefere o aglomerado ituano visto
i
à distancia (1879, 26); Lomonaco se impressiona com os ren
ques de palmeiras no largo do Carmo. "La cité... est fie-
re de ses places arborisées, de la regularité de ses rues
parallèles" (MARC, 240)... Para Burnichon "la ville pa-
rait entretenue avec goút et même un brin de coquetterie.
Le jardin public que s'étend devant 1’êglise principale,
la matriz, est soignê comme une miniature" (1910, 239) .
Apesar disso: "On ne trouve ã Ytu ni monument, ni curiosi-
té..." Cesar (1871) e Nardy Filho (1928-30), fazendo a
história de sua terra, mostram os avanços destas melhoria
públicas. Para este (238) o calçamento das vias teria co­
meçado em 1790 e o ajardinamento em 1844, pelo largo do
Bom Jesus. O largo de São Francisco, "um tanto distante
do centro da cidade", foi apontado pela camara para esta­
cionamento de tropeiros e carreiros em 1864 (234) e ajardi
nado na virada do século. Em meados ào oiticèhtiáxifc^MS^®


I

I
173

alinhamento deste antigo adro (92-3), registrado também


por Cesar (59): "distincto Ten. Luciano Francisco de Lima,
ã cuja deligencia também se deve o quadramento do largo de
S. Francisco, e a abertura da rua do mesmo nome". A regu­
larização do logradouro, a nova rua e
e,, mais tarde o acesso
para a estação ferroviária, mais uma vez, atestam o avanço
do chão público associado ã partilha da gleba dos frades
menores e por ela fisicamente condicionado. i
A redefinição dos espaços comuns em tornou ou através das
velhas cercas conventuais franciscanas aconteceu por todo
o Brasil. Tão frequente que se torna difícil encontrar i

uma localidade que não tenha assistido tal processo, Uns


quantos casos, flagrantes e elucidativos, servem como exem
pio. E importa considerã-los contra um pano de fundo de
mudanças significativas no que tange ao direito civil ecle
siãstico, ãs novas posturas urbanísticas, ã necessidade de
mais intenso aproveitamento do solo no século passado, Um
novo quadro de vida urbana e um novo elenco de instrumen
tos legais e administrativos devem ser ponderados para com
preender a laicização ou a circunscrição dos antigos adros,
a série de alinhamentos e realinhamentos constantemente so
licitados e efetuados pelas edilidades, bem como, a abertu
ra de novas vias de circulação, para não dizer de acesso
também a novas parcelas, obtidas daquelas grandes glebas I
antigas.

-
"E se le strade delia parte vecchia di Rio sono strette...
la parte nuova invece... offre un soggiorno dei piu aggra-
devoli e dei piu poetici" (MALAN, 1885, 79). Embora se ■

queixando daquelas ruas estreitas, Charles Morei (1888,


31) afirma em seu guia que as ruas cariocas não pavimenta­
das vão se tornando mais raras
raras.. Das transformações que se
impõem ã paisagem urbana brasileira, o cáustico comentário
de Max Leclerc sobre a sua rua mais conhecida diz bem em
suas Lettres du Brésil (56): "Au coeur même du quartier
tronve la fameuse rua do Ouvidor, que les
des affaires se trouve
174

habitants de Rio appellent leur boulevard des Italiens. II


faut dêjà bien de 1’indugence pour lui accorder le titre
de rue; notre Service de la voirie à Paris la classerait
au rang de ruelle". Domville-Fife, anos depois, dá conta
das remodelações que prosseguem em diferentes centros da
nova república, como no Recife (1910, 175): "Here, as in
nearly all South American cities, is a curious conglomera-
i
tion of old houses and tortuous streets, with fine avenues,
and stately mansions, the latter marking the growth of
commerce and of a municipal revenue, through the aid of
I
which the ancient, dilapidated streets and houses of the

I
colonial period are gradually disappearing". Neste ambien
te de renovação e expansão urbana, as terras detidas pelas
1
congregações religiosas foram se tornando mais e mais cen­
trais e valorizadas, conseqtlentemente, objeto de interven-
çoes, ainda que furtivas, por parte das municipalidades.

Algumas intervenções do poder temporal precederam estas a


que assistiram os últimos dois séculos. O alvará de 1686
"ao Rossio a
antes citado, relativo "ao 'serue de Praca
q'serue Praça a d?
d. ci
dade" , atual praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, cons-
titui bom exemplo da tensão entre as prerrogativas de um
-

adro diante duma casa religiosa e as necessidades mundanas


de uma localidade. Realmente, se por um lado o monarca
5
português interferia na questão para ressalvar a vista e a
privacidade dos carmelitas, por outro, também lhes obstava
quaisquer construções junto àquele terreiro e ressaltava a
sua importância utilitária para o núcleo carioca, então
desprovido de outros logradouros (ANAIS, 57, 308) . Algu-
mas dêcadas depois, Aires de Saldanha empreende a constru-
ção dos Arcos da Carioca, fazendo um acordo com os antoni
=i

nhos para a passagem do aqueduto por um bom trecho dos -

seus terrenos (ROWER, 1945, 133) e por baixo dos muros e


da ladeira de acesso à capucha, Mas é desde o século XIX I

que novas exigências e anseios implicam numa outra moldura


de uso comum do povo para as cercas conventuais. Amputa-
ções dos seus adros, realinhamentos de seu circuito, aber-
I
I
175
I

tura de novas vias. O adro de Nossa Senhora das Neves fi-


cou trespassado pelo arruamento diante da clausura, E o
de Santo Antonio do Recife, que perdeu sua visita e seu a-
cesso para o rio. Germain Bazin sutilmente ironiza um
prefeito anticlerical que, em meados deste século, des­
truiu o adro franciscano de Penedo recompondo-o com alego­
rias a seu gosto (1956, 1, 126).
*

A medida que se sucedem os oitocentos, que se afirma a na- f


*1 !
'

i çao emergente, que se institucionalizam as suas esferas de


governo, novos conceitos jurídicos amaduredem e surgem ou­
r
■I
tros instrumentos legais. Vimos, por meio das considera­
ções de Cirne Lima e Costa Porto, a lenta e arriscada rees
truturação do regime fundiário, entre a suspensão do siste
ma sesmarial em 1822 e a aprovação da Lei da Terras em
~
1850. Acompanhamos a difícil e delicada retomada da ques
tao dos bens dos conselhos, do rocio das antigas vilas e
cidades logo apôs a independência, através dos avisos e
recuos de um Clemente Pereira, ministro do Império, ãs au-
toridades provinciais e municipais aturdidas, ainda que ze I
I'
losas. Em 1882, a Monographia de Mendes de Almeida Júnior ■

ainda busca clarificar tal questão para o caso paulistano.


No espaço de tempo decorrido, o governo central, as pro­
.•

víncias e os municípios ampliam e redefinem as posturas mu


nicipais, dotando-as duma nova abrangência concorde com
outra visão urbanística que nos vem da Europa (ANDRADE,
1966). Muda, sobremaneira, o direito civil eclesiástico
ou o relacionamento do poder temporal com o espiritual em
várias matérias, Várias delas interessam aos bens das or-
dens religiosas, como a sua desamortização e o protesto,.
aqui juntado como apêndice 3, atestam. As imunidades de
tais bens nas urbes, como garantidas pelas Constituições
de arcebispado da Bahia e pelos Estatutos seráficos se res
tringem ou se extinguem. Diante de sua supressão, parcial
ou total, faz-se expressiva e curiosa a posição de dois
estudiosos contemporâneos. O cónego prebendado Ildefonso
Xavier Ferreira, regalista, a endossa; o jurista Cândido

w
176

Mendes de Almeida, devoto, a contesta. Mas o mundo é ou-


l
tro e outra a maneira de compreender o solo urbano, como
aceitam as Pastorais coletivas dos primeiros novecentos e
diversos instrumentos canónicos recentes.

Tal revisão conceituai e tal reinstrumentação legal e canô


nica ocorreu paralelamente nos países em que se fragmentou
a América hispânica. Foi outro, contudo, o seu reflexo na
evolução de suas concentrações humanas, marcadas pela retí^
cuia original e estendida. De fato, alteradas as condi- £■
I
çoes sociais e as necessidades urbanas, adaptaram-se tam c

bêm aquelas cidades, ou procuraram se adptar, por meio dos


mesmos procedimentos de alargamento de vias, de mais rigo­
roso alinhamento do casario, de desapropriação de ãreas pa
ra novas praças, de abertura de ruas, etc. Porém, o gaba­
rito maior das velhas ruas centrais, o seu cordeamento
mais preciso e, sobretudo, a sua implacável direitura e or
togonalidade apontaram a forma lógica e a maneira mais fá­
cil de proceder a tais reformas urbanísticas. O próprio
crescimento durante a fase colonial jâ se pautara pelo ta­ *

buleiro de xadrez tão freqúente, como denotam as plantas


de tantos assentamentos nos fins do setecentismo (CHUECA
GOITIA e TORRES BALBAS, 1951) e como percebe J. M. Houston I
£
(1968, 390): " Even the interest of the Church was not alio ÍF?

wed to stand in the way".

As cirurgias sofridas por aqueles planos em grelha foram


balizadas pelos mesmos, embora buscando outros modelos de
-

urbanismo. Assim, os alargamentos de antigas ruas e a a-


bertura de novas avenidas diagonais em Buenos Aires; as-
sim, as mais recentes adaptações impostas pelo automóvel
em Caracas, ”un claro ejemplo de la importância que adquie
re el trazado originário en cuanto permanece a pesar de
sus transformaciones" (GASPARINI, 1968, 23). Ora, os gran
des terrenos das diferentes ordens religiosas estiveram,
com pequenas variações, conformados pelo mesmo traçado
oficial e estarão no mundo contemporâneo, perpetuando-o

hi
I

I
I 177

ainda quando atingido por obras de renovaçao, tanto pelo i


I
tipo de influência que sua forma regular possa ter, como
pela provável orientação regularizante da reforma urbanís
I
I
I tica pretendida. Isto se deu na cidade do México, em Lima
I e em Cuzco com o esfacelamento de seus enormes compl
I
franciscanos, como aconteceu nestes e noutros importantes
I

centros latinoamericanos com outros portentosos conjuntos


conventuais. Nesses casos, em geral, através da abertura
I
I de novas ruas ou de segmentos de ruas, o reticulado tendeu
a se completar onde porventura estava contido ou interrom
pido.

As extensas glebas de congregados religiosos foram muitas


i
vezes partidas, atravessadas ou, literalmente, apropriadas
para funções e construções de outro significado e utilida­
&

de urbana. Seiscentista, a ideia de novo arruamento jun­



i to ao claustro de Saint-Jacques-de-1'Hõpital vai se efeti
var de outra forma e por outros motivos após a revolução, o
império e a restauração e está detalhada por Helène Couzy
em Système de l'architecture urbaine: Ze quartier des Hat —
les à Paris (1977, 1, 271-2). A implantação da estação de 6

trens florentina se dá nos quintais do vasto convento domi.


nicano de Santa Maria Novella, redesenhando todo seu setor ií
urbano sem se libertar totalmente do curso de sua antiga
cerca. "Cette génêratrice du plan est souvent três diffi- i-
cile à reconnaitre. Elle l'est d'autant plus qu’il s'agit
d'une agglomêration plus ancienne et plus importante”. Pi-
erre Lavedan (1959, 91) não se refere a isso, mas poderia
o elemento gerador do plano urbano ser o contorno de parce
V-
las desaparecidas ou profundamente alteradas?

Sem dúvida, como indicam essas grandes glebas monacais re-


ciciadas, parceladas ou arruadas, desde que se considere a
variável tempo e seus efeitos sobre um mesmo espaço, Para
apreender a "réalité globale de la chose bâtie” se deve J I - - - r -L l1 - ■ ••• •• —.

"considêrer la ville comme une continuitê â la fois dans


- III " .» —* ’•>- .. «-.* - w- • i —1 1 >-■ j T-T j - “L — _ *_ il

<■
11 espace et dans le jtemps" (BOUDON, 1975, 773). Entretan-
I
I 178
I
i

to, lembra André Chastel (BOUDON, 1977, 10), ”il reste que
la dimension diachronique, chère aux historiens, demêure -
i considêrablement subordonnêe ã 1’êtalement synchronique,
familier aux usagers, et ne peut être finalement introdui-
te dans la conscience 'urbaine' que par un effort 'cultu
rei', auquel beaucoup se rêvèlent plutôt indifférents”. Ou
I
nas palavras da própria Françoise Boudon (1975,773): "Dans
la ville, la perception 'synchronique1 est naturelle, la
mise en ’diachronie’ demande un effort spécifique". A bus
ca desta percepção fica facilitada pelo acompanhamento da
longa trajetória das propriedades claustrais através de su
I
cessivas fases e feições da paisagem urbana. Para a mesma
I
autora (815), aliás: "L'essentiel est moins de multiplier
I les enquêtes historiques que d'amêliorer 1'appréhension -
ou si l'on veut - les lectures de la ville”.

0 acompanhamento e a comparação de algumas medidas tomadas


i
pelo Poder Público em seis núcleos paulistas relativamente
___
às cercas dos frades menores revelam tres tipos de inter-
venção: reconsideração dos adros/ realinhamento de ’ — --* - — - - -
artê-
■ ■■
lindeiras
rias 7‘ -e abertura de outras.
••
.
_____________________________________
...... • wr fi ■ -*
A nova maneira de
ver os adros conventuais decorreu do desconhecimento das i
munidades estabelecidas pelo direito canónico e até então
reconhecidas pelo direito civil. Os adros passaram a ser
vistos como logradouros públicos, O realinhamento das
vias de circulação implicou no reajustamento das testadas
e na tentativa de regularização maior daquelas cercas, ge-
ralmente com redução de sua área. A abertura de / novas
ruas as atinqiu
atingiu, trespassando-as e estimulando o seu maior
esfacelamento. Em seguida, concomitantemente ou antes da
reciclagem e do parcelamento daquelas grandes glebas, o
avanço do chão de uso comum do povo foi desfigurando-as.
Em contrapartida, este chão, como as novas parcelas lin­
deiras, foi se conformando a partir da sua superfície, do
seu contorno e da sua relação com o tecido urbano pre­exis
tente.

179

— Se tais cercas, desaparecendo ou quase, tiveram esta influ


encia sobre o circuito viário que as substituia ou altera
=
va, hâ que concordar que as tres instâncias do Poder PubljL
co, em tempos tão recentes, as encararam de maneira casuís
MB
tica e conivente, perpetuando seu estigma.

I
I
I

«. ■ ■

A í ‘;!

«w Sn ■ /

. •

-
. -1

ta. ,; r, i
I
I
I
I

I
conclusão
I

I
A grande área concedida aos franciscanos nos seiscentos,
I
de conformação imprecisa e de presença caprichosa, condi­
I
cionou os incipientes tecidos urbanos de Santos, São Pau­
lo, Itanhaém, bairro de São Francisco em São Sebastião, Tau
bate e Itu. Cada um dos sítios eleitos destacou-se na pai
sagem, no que tange ao relevo, ãs massas d* água e ao sub-
-solo. 0 caráter marginal, junto aos acessos e distante
de outros polos citadinos importantes, constituiu regra ge
ral quanto ã localização preferida nos assentamentos huma­
nos existentes. Assim, a escolha do terreno dos frades me
nores foi significativa pelas suas características fundiá­
rias, bem como, pela sua relação com o meio natural e com
as terras já ocupadas. Significação que se fez sentir de
pronto e ao longo da evolução urbana daqueles seis diferen
tes núcleos paulistas.

As melhorias realizadas, com a construção da casa conventu


al e, paulatinamente, com a da sua igreja, demais elemen
tos de apoio, capela da Ordem Terceira da Penitência, com
as reformas e reconstruções eventuais, representaram das
maiores obras que aquelas seis localidades viram surgir pe
los séculos XVII e XVIII. Também o adro, uma pequena par-
te da gleba obtida pelos antoninhos, constituiu-se num dos
poucos logradouros que tais vilas, ou seus termos, podiam
ostentar. As atividades periodicamente promovidas ou coti
dianamente aceitas neste largo como na igreja, no claustro

Iftniiii 1
181

I
1

ou em seu cercamento figuraram entre as principais na corou


I
nidade e ensejaram o aparecimento de outras de cunho so-
I ciai distinto, Aqueles equipamentos variados, e a vida
que abrigavam, tornaram-se dos mais expressivos, local se
i não regionalmente, e atrairam para suas redondezas outros

i
serviços públicos e atividades privadas, redesenhando e re
impulsionando as seis aglomerações.
i

A decadência da vida em clausura e a ruína das edificações


correspondentes ao longo do século passado, e por vezes do
atual, afetaram as vizinhanças e as cidade até que um novo
uso as reanimasse. O, declínio, em alguns casos, levou à
alienação total ou parcial do terreno, o que redundou logo
numa nova configuração vicinal e num novo mosaico de ocupa
çao do solo urbano. Seja pelo reaproveitamento, seja pela
partilha da cerca dos religiosos, perdurou o seu papel
I
transformador das imediações, por meio de novos lotes, no-
i vas ruas e largos, novas funções urbanas estimuladas, Des
tarte, o próprio ocaso das ordens regulares, e de cada uma
daquelas capuchas em particular, teve como conseqtiência e
ainda recentemente considerável impacto sobre a mudança da
vida e do ambiente.

O recebimento da data de terra pelos seráficos, segundo os


preceitos da legislação eclesiástica e da tradição de sua
regra, a utilização do sítio de acordo com seus objetivos
e procedimentos apostolares e o abandono em que caiu mais
tarde pela política restritiva imperial afetaram, a seu
A

tempo, as seis concentrações observadas. Por mais de três


centúrias, condicionaram-nas quando ainda embrionárias,
quando em consolidação enquanto o convento florescia e
quando em nítido crescimento e transformação ao decair o
claustro. Logo, a proposição inicial pode ser afirmada.
Cada um dos seis conventos minoritas coloniais influenciou
o quadro físico da cidade paulista em que se estabeleceu.
De tal conclusão, outras assertivas de caráter mais geral
e abrangente podem ser induzidas. E podem tornar mais ní-

,5
I

I
I 182
I
l

i
tidas as peculiaridades da cidade no Brasil, mormente quan
i
do comparada a outras coetaneas e copartícipes do mesmo
processo de expansão europeia pelo mundo afora, especial-
mente em nosso continente. De fato...

Se as características de conformação, de situação geogrãfi.


I
ca e citadina da cerca franciscana foram de molde a influ­
I
I
enciar os núcleos que a acolheram e a condicionar o seu de
I

senvolvimento ê porque foram toleradas, se não propiciadas


pelas instituições civis vigentes. A legislação metropoli
tana pertinente, o Senado da Camara da vila concedente e a
comunidade local -rao menos a representada pelos 11 homens''^
" ' 11 - — I _ —— ■' ** —— 1 _ . - ”

bons" , pelos II"vizinhos", ou seja pêlos concessionários de


outras grandes parcelas de terra - fizeram sentir sua pre
sença ao tempo da fundação conventual. As normas legais
foram cumpridas, os procedimentos formais igualmente e as
manifestações de acolhimento aos frades foram varias e con
cretas. Faltou algo, então, para que estas concessões con
substanciassem um claro ordenamento espacial para a distri
buição da terra urbana. Faltou uma antevisão dos estabele
cimentos coloniais, apoiada num desenho urbanístico expli­
citado nos procedimentos formais e a submissão ao._mesmo de^
todos os detentores de lotes, "vizinhos" e "moradores".
— - _—,—------------- ---- -- —- — — —

Daí decorre que, com a prosperidade do convento e do seu


respectivo centro urbano, as características iniciais de
sua cerca fizeram se sentir cada dia mais. Através dos in
vestimentos realizados, raramente igualados e nunca supera
dos naquele meio; através do adro peculiar, na função e na
forma, que se moldou e ofereceu ao espaço comum; através
das atividades levadas a efeito dentro da cerca " ou no a-
dro fora dela", com todos os seus reflexos nos arredores.
Novamente, as autoridades temporais, principalmente os ofi
ciais da Camara, permaneceram à margem ou a reboque de
tais impactos transformadores do quadro urbano. Além de
não construirem tão bem para si como esta e as demais con-
gregações religiosas, não constituíram, como fizeram os

——

h
183

i
i
castelhanos, um grande espaço publico contralizador da vi­
I
da e do panorama citadino, sequer estipularam a conforma-
I
çao deste novo adro que, por sua conta e do seu jeito, se
I voltava para a urbe, cujo espaço passava a integrar. Acei
l taram a polarização exercida pelo convento e morosamente
sancionaram os seus efeitos.
I
I
E sobrevindo a decadência da casa seráfica, apesar de algu
mas das localidades envolvidas prosperarem, e âs vezes mu- J

darem radicalmente, o Estado como um todo ainda se mostrou


pusilânime ou tímido, Unido que estava ã Igreja, por cer-
to cobiçou o património deixado ã mingua pela orientação
do governo imperial. Porém, não implementou, em largos
termos, a sua reapropriação e revitalização; muito menos,
o seu recondicionamento urbanístico. As características
físicas da gleba continuaram - séculos depois! - a prevale
cer, embora as benfeitorias já derruissem e tivesse feneci
do suas atividades. Aconteceu, ao sabor das circunstân­
cias, a reciclagem dos referidos bens algumas vezes patro­
cinada por alguma esfera governamental. Deu-se a aliena­
ção de toda a propriedade, valorizada pelo seu porte e si
tuação em aglomerados crescidos e adensados, ou o seu par-
celamento. Sobreveio, enfim, o ajuste de sua faixa lindei
ra em que a municipalidade ia imponro um acerto aqui, um ar
remate ali. Sob o império e a república, as instituições
já reformadas não tiveram força ou visãfiUpara reconsiderar
tão importante e quase abandonada parcela do chão urbaniza
do.

Por mais de três séculos e em fases históricas as mais dis


tintas, as instituições publicas em São Paulo
que a gleba doada aos frades menores afetasse as suas loca
lidades de maneira profunda por meio da concessão, da me-
lhoria e da alienação do solo. Ou seja, um agente social
privilegiado, um concessionário e depois grande proprietá­
rio de terras, marcou de início, ao longo do seu floresci­
mento e esmorecendo depois, o ambiente comum, sem batuta

■ - > •

I 184
■ t

i
t

eficaz do Poder Público. Uma só parcela de terra, pois,


desde os seiscentos ate os anos que correm pôde surgir,
prosperar, decair e, por vezes, trocar de mãos ou se frag-
I mentar, condicionando sensivelmente o parcelamento geral
do solo, o traçado viãrio e a paisagem urbana.
I
I

*•

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I I
I

'II
I

I
apêndices I

I
I
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1}
•■

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- • ■ rí- -

. . -V.-:
I

I
I

DE ELREY D. SEBASTIÃO.

i CONCORDIA.

I
I
Eu ElRey faço saber aos que esta Provizão virem, que os
I Prelados de meos Reynos se me vierão a aggravar de meos De
zembargadores, Corregedores, e mais Justiças, dizendo, que
lhe naõ deixavaõ a elles, nem a seus officiaes conhecer de
muitos cazos, e couzas, de que, conforme a direito, e ao
Sancto Concilio Tridentino, lhe pertencia o conhecimento,
e se offendia nisso a liberdade Ecclesiastica, e a immuni-
dade da Igreja, e impedia o castigo dos delictos. E dese-
jando eu de mostrar, de como nunca foy minha tenção, nem
vontade, que meus Dezembargadores, e Justiças offendessem,
nem aggravassem em couza alguma a Immunidade da Igreja,nem
a liberdade Ecclesiastica, nem impedissem a Jurisdição dos
Prelados, mas antes procurei atè-gora tanto, como he re-
zaõ, ajudalla, e favorecella em tudo, com a mesma vontade,
e zello, com que os Reys destes Reynos meos antecessores
sempre o fizeraõ, e mayor, se mayor pode ser, e conforman-
*— —
do-me com o modo, que elles tiveraõ na determinaçaõ de se
melhantes cazos, e dúvidas de juridiçaõ, quando os Prela­
dos se lhe enviaraõ queixar de suas justiças, mandey ajun­
tar sobre os apontamentos, que os dittos Prelados destes
cazos me fizeraõ, alguns letrados de meu concelho, de cu-
jas letras, e experiencia me pareceo, que com razaõ podia
confiar a determinaçaõ dos cazos, e duvidas, que se conti-
nhaõ nos dittos apontamentos, os quaes, depois de se ajun­
tarem por muitas vezes, e de estudarem, e examinarem com
muita consideração os cazos, pontos, e duvidas, assento, e

i ——-
I
I
I 187
I

l
acharao,, que se de
determinaçoéns, que conforme à direito, acharaõ
i
viaõ de tomar, das quaes me deraõ conta, sendo presentes
i os de meu Concelho do Estado, com que também o cõmuniquey.
E visto tudo por mim, mandey que se cumprissem as dittas
determinações, que são as seguintes.

Artigo I.
I
Sobre os Adros.

De que sahio a Ordenaçaõ lib. 2. tt. 5. §. 11.

No primeiro apontamento dizem, que as justiças seculares


tomaõ conhecimento, se he adro ou naõ, o lugar, a que se
i acolhe os culpados, dizendo que sómête conhecem, se o adro
i chega, ou não ao lugar onde estaõ os culpados a que chamam
i questaõ de facto, sendo a mesma couza, e pertencido este

I
conhecimento sómête às justiças Ecclesiasticas por ser es-
piritual, e desta maneira tiraõ os acolhidos aos Adros das
Igrejas, e ainda que os Prelados digaõ, que os taes luga-
res saÕ, e sempre foraõ havidos por adros.

Neste apontamento se determinou, que quando se testa se he


adro ou naõ, para effeito de valer a immunidade da Igreja,
ou nom valer aos acoutados a ella, o conhecimento pertence
ao Juizo Ecclesiastico juntamente com o secular, assim co­
mo lhes pertencem conhecerem, se vai a immunidade, ou naõ,
como antecedente necessário, sem o qual a duvida da immunjl
dade, senaõ põde determinar, e sendo differentes o Juiz
Ecclesiastico, e o secular guardarse-ha na determinação da
tal duvida o mesmo, que a Ordenaçao destes Reynos lib. 2.
tt. 5. §.7. dispõem, quando ha differença sobre valler a
immunidade, ou naõ: e quando se tratar se he adro ou nao,
para todos os outros effeitos, o conhecimento pertence ao
Juiz Ecclesiastico. 1

.r *

* V

, ,.9 •. ■

1
I
I
188
I

(seguem outros dezessete artigos, com suas respectivas no-


I tas)

... Foy esta Concordia feita a 18. de Março de 1578. e a


tras por inteiro Fr. Antonio de Sousa no fim da Relecçaõ
I de censuri s Bullae Coenae.

I
MONOMACHIA sobre as Concórdias que fizeram os Reys com os
Prelados de Portugal nas duvidas da jurisdiçam ecclesi-
I astica e temporal e Breves de que foraõ tiradas algumas
!
Ordenações com as Confirmações Apostólicas 9 que sobre
I as ditas Concórdias interpuzeraõ os Summos Pontifices^
I composta por Gabriel Pereira de Castro_, Desembargador
da Caza da Suppli caçao3 dedicada a ... Lisboa Occiden­
tal, Joze Francisco Mendes, 1738. 266 p. P- 229-31.

(ver também, com os comentários)


i

ALMEIDA, Cândido Mendes de. Direito civil ecclesiastico


brazileiro antigo e moderno e suas relações com o direi
to canónico. Rio de Janeiro, Garnier, 1866. 4 v. v.
1. P- CCXX e 200-21.

ALMEIDA, Cândido Mendes de. Codigo philippino ou ordena-


çoe s e leis do reino de Portugal, recopiladas por manda
do d’el - rey D. Philippe I. 14a. ed. Rio de Janeiro,
Typographia do Instituto Philomathico, 1870. 1487 P-
P- 426 .

MU
I
I
I
I
I

Livro Quarto das Constituiçoéns do Arcebispado da Bahia.

Titulo V.
QUE NINGUÉM USURPE OS BENS DAS IGREJAS, LUGARES PIOS, OU
PESSOAS ECCLESIASTICAS.

650 . Jã que, por termos tomado sobre Nos o governo do nos


so Arcebispado, estamos obrigados a impidir a escandalosa
cobiça daquelles, que com grande offensa de Deos, & detri-
I mento do Divino culto, & ministério das Igrejas procurao
I usurpar seus bens, naõ perdoando nem ainda ao limite dos
I proprios adros delias, incluindo os nos pastos, & fazen­
I das: conformando-nos com a disposição do Sagrado Concilio
Tridentino, & Bulias Apostólicas, mandamos a todas as pes­
soas de qualquer estado, grão, ou condição que sejão, que
naõ usurpem os bens, censos, dizimos, fructos, offertas, o
blaçoes, ou quaesquer outros direytos, bens de raiz, a-
dros, ou moveis de alguma Igreja secular, ou Regular, ou
de outro algum lugar pio, ou rendas que pertençaõ a algum
Clérigo, ou Communidade Ecclesiastica em razão da Igreja
ou do Beneficio.

651. E que os Ministros seculares não interponhaõ sua au-


thoridade sobre tal usurpação, nem ponhaõ sequestros nos
ditos bens, & rendas, ou por qualquer via os embarguem,
(salvo se por direyto, ou costume legitimo lhes for permi-
tido) sob pena de vinte cruzados para a nossa Sé, & Meyri-
nho, alêm de incorrerem em excommunhaõ mayor, da qual nao
podem ser absolutos, senaõ pelo Pontifice Romano, restitu-
indo primeyro o proprio, perdas, & damnos.

■ ..*-C ‘A


190

, j

Titulo VI.
QUE OS MINISTROS DA JUSTIÇA SECULAR NAÕ PENHOREM OS CLERI
I GOS , NEM LHES ENTREM EM CASA, NEM TOMEM SEUS BENS.
*

652. Como os bens das pessoas Ecclesiasticas sejaõ, con-


forme a direyto, totalmente
“ ’
isentos da jurisdição secular,
I i

dos bagraaos
conformandonos com a disposição aos Sagrados cânones,
Cânones, man r
I damos sob pena de excommunhaõ mayor ipso facto incurrenda} I

I & dez cruzados para a Sé, & Meyrinho, aos Desembargadores, !

I Corregedores, Ouvidores, Juizes, Meyrinhos, & quaesquer ou


tros Ministros da justiça secular, que naõ penhorem, nem
mandem penhorar os Clérigos, excepto nos casos, & termos
da Ordenação; nem lhes entrem em suas casas, tomando-lhes
contra sua vontade fructos, bens moveis, ou semoventes, E
fazendo qualquer dos Ministros, & seus Escrivães o que nes I
ta Constituição lhes ê prohibido, não serã absoluto da di­
ta excommunhaõ, até que, pagando a dita pena primeyro, pe
ça humildemente o beneficio da absolvição, que lhe serã da
I
da com a solemnidade de direyto, & nossas Constituiçoéns.

Titulo VII.
QUE SE NAÕ FAÇAÕ LEYS, ORDENAÇOÊS, ACORDAÕS, OU ESTATUTOS
CONTRA A LIBERDADE ECCLESIASTICA.

653. Conformando-nos com o que estã disposto pelos Sagra­


dos Cânones, Concilios universaes, & ultimamente pelo Sa­
grado Concilio Tridentino, ordenamos & mandamos,que nem-um
Senhor temporal, Desembargador, Juiz, ou qualquer outro
official de justiça, nem outra alguma pessoa de qualquer
estado, ou condição que seja. Conselhos, Camaras, Rela-
çoéns, ou Communidades, façaõ Estatutos, Leys, Acordaòs,
nem posturas, que direyta, ou indireytamente offendao a
liberdade, & immunidade Ecclesiastica: & se forem feytas
algumas antes da publicação desta nossa Constituição, as
havemos, & declaramos por nullas, como por direyto o sao.
E mandamos a quem quer que as houver feyto, que dentro de

-
191

dez dias depois de vir ã sua noticia, que lhe damos por
termo peremptório, as revogue, & anulle com effeyto, & man
de se naõ guardem.
I
CONST I Tb IÇÕENS primeyras do Arcebispado da Bahia feytas &

ordenadas pelo illustrissimo* e reverendíssimo Senhor


D. Sebastião Monteyro Vide*,
Monteuro da Vide 59 Arcebispo do dito Ar- 3
I
cebispado * & do Conselho de Sua Magestade: propostas e
que o dito senhor
aceytas em o Synodo Diocesano* aue ceie
brou em 12 de junho do anno de 1707. Lisboa
Occiden-
tal, Officina de Pascoal da Sylva impressor de Sua Ma-
gestade, 1719. P- 253-5.
618 p. P.

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Senhor
I

O respeito, que todos devemos às sabias disposições de V.


M. Imperial no governo do paiz, não nos pode tolher as re-
clamações que os direitos da Igreja levantam, agora que o
decreto regulamentar n9 9094 de 22 de dezembro último veio 1
í

dar execução ao art. 18 da lei orçamentaria de 28 de junho I

;■

de 1870, desde então esquecido, tanto foram os protestos


que, da tribuna e da imprensa se ergueram, contra a iniqua
ingratidão, com que pretendia o governo de V. M. Imperial
desamortizar os bens das ordens religiosas no Império, já
***

tao cerceadas pelo poder civil. *

E de feito, Senhor.’ a lei de 1870, reaviventada depois de


mais de quatorze annos de silencio, veio, desconhecendo os
direitos que a Igreja confiaria à protecçao da lei civil,
fazer violência à vontade humana em suas manifestações ju­
rídicas mais solemnes e ao mesmo passo difficultar o desem
penho dos fins das corporações religiosas que têm assente
n'este Império. Certamente, Senhor1 os piedosos institui
dores dos bens das ordens religiosas, destinando-os para
determinados fins pios, jamais suspeitaram que um dia a
própria lei que lhes reconheceu o direito de livre disposi
çao, viesse, contrariando-lhes a vontade, dar a taes bens
destino diverso, applicação tão fora e tão longe de seus
sentimentos de piedade.

t*
, K-X

■ - • ~~1
193

Ha direitos adquiridos, ha propriedades consagradas pelo


tempo e pela lei, que é necessário respeitar, A lei garan
te a estabilidade, sem a qual, nao ha direitos, pois desap
parece a segurança, e a anarchia substitue a ordem, a vi o-
lencia supprime o direito. f

Portanto, Senhor.’ a desamortização dos bens religiosos, I


de que trata a lei de 1870, bem como o Decreto de Dezembro
4
findo, attenta contra a vontade dos instituidores tao so- • !

lemne , que a própria lei consagra e reconhece como estável II


I

I
e permanente. Ataca ainda o direito de propriedade das íi
■ «<

ordens religiosas. Estas são pessoas jurídicas, que a le-


4
gislação civil investio com direitos a appropriação das
I cousas, que lhes serião meios para a consecução de seus
fins. Não vale isto desconhecer a intervenção do Estado
na reorganização da propriedade encravada em seu territó-
I rio; mas V. M. I. bem sabe que uma cousa é reorganisar a
propriedade no sentido de protegel-a, garantil-a, arri-
I
mal-a, e outra é o meio extraordinário de uma desapropria-
çao forçada como esta, uma verdadeira substituição de bens
por outros, sem se attender que os bens dados em troca não
preenchem os fins, a que se apropriaram os bens substituí­
dos .

Se tal ainda não basta, peço licença para lembrar a V. M.


>
I., que estes bens não ficaram inertes sob a administração
das ordens religiosas. Seria mister riscar a historia pa­ il
ra desconhecer quanto hão concorrido as ordens religiosas
no Brazil para o engrandecimento intellectual e moral do
Império. Não lucra a riqueza nacional pondo em gyro profa I
no esses bens, cerceando ãs ordens religiosas meios com
que cumpram os fins para que foram instituídas. Neste vas
to paiz, onde talvez dois terços de seu território ainda
estão por occupar em proveito da economia social, não se­
rão poucos prédios de ordens religiosas que ficarão entor
pecendo o desenvolvimento da riqueza do paiz. E ainda
quando tal acontecesse, bem sabe V. M. a economia

1
I
!

I
194

do engrandecimento nacional não se deriva tão somente dos


I
I elementos materiaes da industria, do comercio, da agricul-
tura; e que na parte da preponderância moral são inenarra-
veis os serviços que ao paiz tem prestado as ordens reli­
giosas . 11
*•

Enfim, Senhor.' doe-me n' alma de cidadão e de Bispo da I-


greja de Deus ver posta completamente de lado a indecliná­
I vel authoridade da Santa Sé, tratando-se de um assumpto,no > i

qual nem os proprios possuidores têm competência absoluta


i
por direito sem approvação do Santo Padre.
I

I
Taes são Senhor, os motivos pelos quaes, no cumprimento de
um dever ineluctavel, venho perante V. M. I., apresentar
este protesto, que commigo assignam outros sacerdotes re- 4..

presentantes do Cabido, dos Conventos d'esta Diocese e do


t1

i
Clero d'esta Capital. 11
i ■

' 1
?'

I Rogo ã Deus que a reconsideração de semelhantes leis se


imponha ao esclarecido e religioso espirito de V. M. I. /
que não deve permitir tamanha expoliação.
*

Sou com todo respeito e consideração, Senhor,


De V. M. I. i
reverente e fiel súbdito I
Lino, Bispo de S. Paulo
(seguem-se as assinaturas)

ARQUIVO DA CÚRIA METROPOLITANA DE SÃO PAULO. Protesto do


M Hl I
clero paulista contra a <desamortização dos bens das or-
dens religiosas em 30 de janeiro de 1884. Cópia: estan
te 15, gaveta 80, número 90.

‘ —

■M
l

fontes citadas f
1

I L
I *

I
I

I
I

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PRIMÁRIAS

arquitetônicas: f
9

I £
í-
Arredores do convento de Santo Antonio do Valongo e cidade Z

de Santos. 1
r

t
Arredores do convento de São Francisco e São Domingos e fl
centro da cidade de São Paulo. f
k
Arredores do convento de Nossa Senhora da Conceição e cida
de de Itanhaém.
Arredores do convento de Nossa Senhora do Amparo e bairro
de São Francisco em São Sebastião.
Arredores do convento de Santa Clara e ãrea nuclear da ci­
dade de Taubatê.
Arredores da praça D. Pedro I (antigo adro do convento de -
São Luis de Tolosa) e cidade de Itu. —
1
Outros claustros e suas respectivas localidades no Brasil,
America hispânica e no mundo. -
=

iconogrâficas:

Vista do convento de Santo Antonio do Valongo em Santos, a


quarela sobre papel de M. Rizzoli.
Vista do antigo Porto do Bispo em Santos, óleo sobre tela
de Benedito Calixto. :-Í
Panorâmica em vol-d’oiseau reconstituindo o aspecto da vi­
la de Santos, pertencente ao Museu Paulista, óleo sobre te
la de Benedito Calixto.

í-ftj__

-* t» x-;

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-

rui 1(1 I I
196

Prospecto da Villa pela parte do rio, de Santos em 1770/


custodiado pelo Arquivo Militar.
Vista do convento de Santa Clara em Taubatê, por Thomas
Ender.
Largo de Sao Francisco de Itu em 1845, aquarela sobre pa-
pel de Miguel Benicio Dutra.
Perspectiva do centro de Lima no vice-reino do Peru em
1674, gravura de Juan de Benavides.
*

Foto do antigo largo do Capim em São Paulo, no terceiro


quartel do século XIX, no arquivo de negativos da Divisão
de Iconografia e Museus da prefeitura paulistana.
Foto panorâmica de Itanhaém, no primeiro quartel do século
XX.
Foto panorâmica do bairro de São Francisco em 1907, em São
Sebastião, devida ã Comissão Geográfica e Geológica.
Foto do casario do bairro de São Francisco nos anos 1920/
tirada da torre do convento de Nossa Senhora do Amparo,
pertencente a Francisco de Paula Dias de Andrade.
Foto do adro do convento de Nossa Senhora do Amparo nos
anos 1920, pertencente a Francisco de Paula Dias de Andra­
de .
Foto aérea do bairro de São Francisco (escala 1:2000 . a-
prox.), pelo Instituto Geográfico e Geológico em 1977.

Planta da Villa de Santos em 1770, custodiada pelo Arquivo


Militar.
I

Tentativa de reconstituição topogrãphica segundo os docu-


mentos da época da villa de Santos em 1765, por Benedito
Calixto.
Planta da villa de Santos na época da independência, orga-
nizada de accordo com os documentos por B. Calixto.
Planta de Santos, feita por Jules Martin, em 1878, reprod.
e des. de RIBS.
Planta da Cidade de Santos e seus arrabaldes, levantada pe_
la Comissão de Saneamento , em 1903, escala 1:10000.
Planta antiga de Santos, do século XVIII ou XIX, que suge-
re a ;presença do aqueduto que abastecia o convento do VaS
longo.
Planta da cidade de São Paulo, em 1810.
Planta da imperial cidade de Sao~ Paulo, em 1810. . . copia
da em 1841 com todas as alterações*
Planta da cidade de Sao Paulo, em 1868.
Planta do Largo de S. Francisco, 1851. Arquivo Municipal.
Plantas - Largos - Jardins: VIII. H 7. Mapa 5. Gaveta 5.
I

I 197

i !

Anhangabau — da rua Paula Souza ao Largo do Piques, 1896.


I Arquivo Municipal. Ruas - Abertura: VIII. I. 4 - A.
Ptanta topographica da villa de Itanhaém, organizada por
i
B. Calixto com os documentos da epoca.
Aquarela sobre papel de 1821 com esboço da configuração de
r-r^ > . — - - “ “ ‘ ** **
*• 1• •
Taubatê, por Armand Julien Pallière, em feu diário de via^
gem manuscrito, na biblioteca do Ins 1 u —
sileiros. •*

Planta de Taubatê em 1954, Departamento de Águas e Energia uíi


Elétrica,. escala 1:10000.
Peg.a por estimação da vila de Itu em 1774, pelo brigadei- 4

ro Custódio de Sá e Faria.
Planta de Itu em 1938, Instituto Geográfico e Geológico,
escala 1:20000.
l
Planta fundacional de Mendoza, Argentina, em 1562. f •
1

Planta fundacional de Caracas, Venezuela,


Venezuela, em 1578. t

Planta de Lisboa em 1650, por João Nunes Tinoco.


í
manuscritas:

■ ií
Arquivo Municipal de São Paulo. Actas da Camara: v. 54, ',1
■ i
55 e 66.
1'

Arquivo Municipal de São Paulo. Termo de Alinhamento: v.


208 e 221. 1

Arquivo Municipal de São Paulo. Obras particulares: Pa-


peis Avulsos:• v. 2 e 31.
Arquivo Municipal de São Paulo. Obras Publicas• Papeis A-
vulsos: v. 1 e 18.
Arquivo Municipal de São Paulo. Papéis Avulsos: v. 1. •s
Arquivo Municipal de São Paulo. Registro Geral: v. 154.
Arquivo da Curia Metropolitana de São Paulo. Papéis avul—
sos: correspondência de 1754, com o síndico do convento mi.
norita paulistano, em fase de catalogação.

E5

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I
I
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I !

1 198 <4

I
F I
I 41 li
impressas: iI t I I’
!4
* ;■

ABREU, Manuel Cardoso de; ANDRADA, Martim Francisco Ribei­ i 4


ro de; CLETO, Marcelino Pereira e VILHENA, Luis dos San í
tos. Roteiro e noticias de São Paulo colonial: 1751-
1804. introdução e notas Ernani Silva Bruno. Sao Pau­ !

lo, Governo do Estado, 1977. 192 p. I


p- (Paulística, 1).
ADAM, Paul. Les vísages du Bresil. Paris, Pierre Lafitte,
Paris, t h
1914. 302 p. •r
i:
ALENCAR, José de. Ao correr da pena. São Paulo, Melhora L ar

mentos, 1955, 312 p.


ALENCAR, José de. 0 Garatuja: crónica dos tempos colo-
I?
' -L*
I
niais (alfarrábios). 2a. ed. São Paulo, Melhoramen- I
l fl
k
tos, s.d. 166 p. ti I*
h
ALINCOURT, Luiz D’. Memória sobre a viagem do porto
Santos à cidade de Cuyabã. Anais do Museu Paulista, Sao
Pau lo (14): 253-354, 1950.
de I
h
I*
Ii
ALMEIDA, Francisco José de Lacerda e. Diário da viagem do
Dr. F. J. de L. e Almeida pelas capitanias do Pará, Rio
h
I? *
I
j
Neqro. Mat to-Gros so, Cuyabá, e S. Paulo, nos
1780 a 1790.
annos
São Paulo, Costa Silveira (impresso
de
por
i

E I

ordem da Assembleia Legislativa da Provincia de S. Pau-


10), 1841. 89 p. I I
I
r
ALVES, Joao Tomas de Melo (Hinckmar). Cinco anos n 'una I
Academia: 1878-1882. São Paulo, Seckler, 1882. 151 p. ? I
i

4| i
ANAIS da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, Ministério i:
l
I
I
da Educação. v. 57. »
I
»•
I I
ANDREWS, Cristopher Columbus. Brazil: its conditions and rs •

'« *
4

prospects. New York, Appleton, 1887, 352 p. I


ATAS da Camara. São Paulo, Divisão de Documentação Histó­ I
tl
I6
h
rica e Social, 1939. v. 10. :: a s
ÃVÊ-LALLEMANT, Robert. Viagens pelas provindas de Santa
Catarinaj Paraná e São Paulo. Belo Horizonte, Ita- )

tiaia/EDUSP, 1980. 356 p. (Reconquista do Brasil, 18) . t


BARROW, John. Voyage ã la C ochichine > par les iles de .I í
Madère de Ténériffe et du Cap Verd3 le Bresil et l'Íle f

de Java, contenant des Renseignements nouveaux et au — si

thentiques sur l'Etat naturel et civil de ces


Pays... trad. Malte-Brun.
1807. 2 v.
Paris, François
divers
Buisson, pI ■ J
}
BATES, Henry Walter.
South America.
571 p.
Central America, The West Indies and
3a. ed. London, Edward Stanford, 1885.
'i
:a»
»•
f I
*
BEHRENS, Monsieur de. Histoire de 1'expedition de trois i •.
vais s eauxj envoyes par la Compagnie des Indes Occiden- i k
‘ ! I
tales des Provinces-Unies3 aux terres australes en 1721. i

La Haye, (aux depens de la) Compagnie, 1739, 254 p. »


í I

(tome premier). I
!

*
BURKELEY, John & CUMMINS, John. A voyage to the South-
-Seas3 in the years 1740-1. London, Jacob Robinson,
1743 . 220 p. 1
! «f{
■ t’ 1
I

BURNICHON, Joseph. Le Bresil d faujourd 'hui. Paris, Per-


rin, 1910. 340 p. j

3=
•I J

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burgh, R. Grant and Son, 1870. 218 p.
CONCEIÇÃO, Apollinario da, frei, OFM. Claustro francisca-
no, erecto no dominio da coroa portuguesa e estabeleci­
i
do sobre dezesseis venerabilissimas columnas. Expõem—se
sua origem, e estado presente. A de seus conventos, e
mosteiros, annos de suas fundações, numero de hospi—
cios, prefecturas, recolhimentos, parroquias e missoens,
dos quaes se da individual noticia, e do numero de seus
I religiosos, religiosas, terceiros, e terceiras, que vi­
vem collegiadamente, tanto em Portugal, como em suas
conquistas. Dedicado ã sacra, real, augusta Magestade
delRey D. João V nosso senhor por fr. Apollinario -da
; i
Conceyção, religioso leigo capucho da Provinda da Con­
ceição em o Estado do Brasil. Lisboa Occidental, Offic.
de Antonio Isidoro da Fonseca, 1740. 235 p.
CONCEIÇÃO, Apolinãrio da, frei, OFM. Epítome da Provin-
cia Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Revis_
ta do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio
de Janeiro (296): 68-165, jul./set. 1972.
CONCEIÇÃO, Apollinario da, frei, OFM. Primazia seráfica
na regiam da America, novo descobrimento de santos, e
veneráveis religiosos da Ordem Serafica, que enobrecem
o Novo Mundo com suas virtudes, e acçõens. Of ferecida
ao senhor Domingos Martins Brito... Lisboa Occidental,
Antonio de Sousa da Sylva, 1733. 366 p.
CONSTITUIÇÕES do Arcebispado de Evora originalmente feitas
por mandado do illustrissimo e reverendissimo senhor )

dom João de Mello Arcebispo do dito Arcebispado, anno


MDLXV, e ora impressas outra vez por mandado
manaaao do
ao illus-
tris simo e reverendissimo senhor dom Joseph de Mello Ar t

cebispo de Evora. Madrid,


Madrid, Tomas lunti (Impressor dei
Rey N. Senor, MDCXXII. 90 p. I
i

CONSTITUIÇOENS primeyras do Arcebispado da Bahia feytas <S


ordenadas pelo illustrissimo, e reverendissimo Senhor i
D. Sebatião Monteyro da Vide, 59 Arcebispo do dito Arce il
•1
bispado, <S do Conselho de Sua Magestade: propostas, e
1
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200
II
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I
I

aceytas em o Synodo Diecesano, que o dito senhor ceie i


brou em 12 de junho do anno de 1707. Lisboa Occidental, i
i
Officina de Pascoal da Sylva impressor de Sua Magesta- !

de, 1719. 618 p. I


CONSTITUIÇÕES primeiras do Arcebispado da Bahia feitas, e
ordenadas pelo ilustríssimo, e reverendíssimo senhor D.
Sebastiao Monteiro da Vide, 5? Arcebispo do dito Arce-
bispado, e do Conselho de Sua Magestade: propostas, e
aceitas em o Synodo Diocesano, que o dito senhor ceie
brou em 12 de junho do anno de 11707.
707. introdução e revi
sao conego prebendado Ildefonso Xavier Ferreira. São
~
Paulo, Typ. de Dezembro, 1853. 510 p.
CONSTITUIÇÕES synodaes do bispado do Funchal com as extra-
vagantes novamente impressas por mandado de dom Luis
de Figuiredo de Lemos, Bispo do dito Bispado. Lisboa,
Pedro Crasbeeck, 1601. 189 + 54 p.
CONSTITUIÇÕES synodaes do bispado do Porto novamente fei­
tas, e ordenadas pelo illustrissimo, e reverendíssimo >

senhor Dom Joam de Sousa, bispo do dito bispado e do Con


selho de Sua Magestade, & seu Sumilher de Cortina, pro­
diecesano que o dito Se_
postas, e aceitas em o Synodo diecesano,
nhor celebrou em 18 de Mayo do Anno de 1687. Porto,
Joseph Ferreira (Impressor da Universidade de Coimbra),
1690. 670 p. + apêndices.
CORPUS juris civilis: academicum parisiense; in quo Justi-
niani insttutiones, digesta, sive pandectae , codex,
authenticae, et novellae constitutiones, et edicta com-
prehendentur... (Lutetiae Parisiorum) Paris, C. M. Ga
lisset, 1888.
DIÁRIO da viagem que fez o brigadeiro Custódio de Sã e
Faria da cidade de S. Paulo ã praça de Nossa Senhora
dos Prazeres do Rio Iguatemi. Revista do Instituto His_
torico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro (39):
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ordem dos frades menores de S. Francisco na Provinda
de Portugal... Lisboa, na Officina Craesbeeckiana,
1656-1721. 5 v.
ESTATUTOS municipaes da Provinda da Immaculada Conceyção
do Brasil, tirados de vários estatutos da ordem, aceres
centando nelles o mais util, & necessário ã reforma des_
ordenados , & aceytos
ta nossa Santa Provinda; feytos, ordenados,
I

201

no Capitulo q ' . se celebrou no cãvento de Sãto Antonio


do Rio de Janeyro aos sete dias do mez de Abril de mil
setecentos & dez, em que foy eleyto Ministro Provincial
o Irmão Cofessor, & ex-Diffinidor Fr. Seraphino de S.
Ro sa , filho desta Provinda; outra vez aceytos em o se­
gundo capitulo , que se celebrou no mesmo Convento de i
Santo Antonio do Rio de Janeyro aos vinte e cinco do
mez de Março, dia da Annunciaçao de Maria Santíssima Se_
nhora nossa, era de mil & setecentos & treze, em ~ que
foy eleyto Ministro Provincial segunda vez o Irmão Pre­
gador, 7 ex-Custodio Fr. Miguel de São Francisco, filho
da mesma Provinda: confirmados e aprovados pelo reve­
rendíssimo P. Fr. Alonso de Biezma, Ministro Geral de
toda a Ordem; dados à estampa pelo Irmão Pregador Fr.
Antonio das Chagas, Procurador Geral da dita Provinda ,
<S delia filho. Lisboa Occidental, Joseph Lopes Ferrey-
ra, 1717. 327 p.
ESTATUTOS da Provinda de S. Antonio do Brasil, tirados de
vários estatutos da ordem, accrescentando nelles o mais
util, <S necessário a reforma desta nossa Provinda, f^y_
tos, ordenados, & aceytos no Capitulo, que se celebrou
na caza de /V. P. S. Francisco da Cidade da Bahia aos 14
de Fevereiro de 1703 em q. foy eleyto Ministro Provin­
cial o Irmão Pregador, & Ex-Custodio Frey Cosme do Espi_
rito Santo, filho desta Provinda, e outra vez aceytos
em o seguinte Capitulo, que se celebrou em o Convento
I de Santo Antonio de■Seregipe do Conde aos 3 de Janeyro
de 1708 em que foy eleyto Ministro Provincial o Irmão
Pregador Frey Estevam de Santa Maria, filho da mesma
Provinda... Lisboa, Manoel, & Joseph Lopes Ferreira, i
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du Roy, commandêe par Monsieur de Gennes. Faite par le
Sieur Froger, Ingenieur Volontaire sur le Vaisseau le
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Prelados de Portugal nas duvidas da jurisdiçãm ecclesi_
astica e temporal e ,Breves de que foraõ tiradas algumas
Ordenaçoês com as Confirmações Apostólicas > que sobre
as ditas Concórdias interpuzerão os Summos Pontifices ,
composta por Gabriel' Pereira de Castro, Desembargador
da Caza da Supplicaçaõ3 dedicada a... Lisboa Occiden-

>
.’ 1
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cando ao clero e aos fiéis
fieis o resultado das Conferencias
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e historia das imagens milagrosas de Nossa Senhora, e
ia#
das milagrosamente apparecidas, que se venerao em todo ■3
o Bispado do Rio de J aneyro, & Minas, & em todas as I
Ilhas do Oceano, em graça dos Pregadores, & dos devotos
da Virgem Maria nossa Senhora. Tomo Decimo, e Ultimo. I
Que consagra, dedica e offerece ao exmo. senhor D. Luis <

Joseph Thomas Leonardo de Castro, duodécimo Conde de


Monsanto... Lisboa Occidental, Officina de Antonio Pe- J

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do Arquivo Militar, publicado por Rocha Pombo junto a "Planta * J

da Villa de Santos” , sem referencias.


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fonte: Rocha Pombo. Historia de S.Paulo. Weiszflog, 1919. 1.

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p. 127. %

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Faria, no s eu diário de viagem de 1774.


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Convento de São l.uis de Itu; p. 406. (Desenho de Miguel Arcanjo Benicio de A. Dutra; IK46;
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gentilmente cedido pelo dr. Afonso E. Taunay, Diretor do Museu Paulista).
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Notar J5 inut.ilh.u Jc 1375. <> dédalo de ruas que dominam Gistclo, bcrç
dutninajn tanto a colina do Gisldo, berço da
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ci Jade, como a Baixa; e os vazios do Rossio c Cimpo de São Francisco, dentro das muralhas,
c o Campo de Santa Clara, cxtr.umiros ■
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