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João Monlevade, MG
2022
Gabriel Lacerda Faria
CDU 681.2
FOLHA DE APROVAÇÃO
Membros da banca
Marcelo Moreira Tiago, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito na Biblioteca Digital
de Trabalhos de Conclusão de Curso da UFOP em 18/10/2022
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.014306/2022-54 SEI nº 0413910
Agradeço primeiramente a mim, por não ter desistido nos momentos difíceis e
por ter encontrado forças para perseverar por todos os obstáculos, agradeço a meus pais,
minha irmã, meu amor e familiares, que me apoiaram e me incentivaram nos momentos
difíceis e compreenderam minha ausência enquanto me dedicava a este projeto, aos meus
amigos que me ajudaram nessa caminhada e compartilharam muitos momentos de alegria
e dificuldades.
Aos professores, pelos ensinamentos e orientações que me trouxeram conhecimento,
ao meu supervisor que me deu a oportunidade de aprender na prática e ainda me ensina
sobre como ser um engenheiro.
A todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste tra-
balho.
"Good, is not a thing you are. It is a thing you do."
– Kamala Khan
Resumo
Neste trabalho, métodos de medição de propriedades de líquidos por ultrassom foram uti-
lizados para analisar amostras de leite UHT com teores de gordura variando entre 0,5% e
3%. Para isso, amostras de leite foram preparadas 24 horas antes de serem medidas e, du-
rante o tempo de repouso, foram mantidas num refrigerador com temperatura controlada.
Após o período de repouso, a temperatura das amostras foi ajustada em 23ºC e a densi-
dade das mesmas foi determinada a partir de um densímetro portátil. Em seguida, uma
célula de medição ultrassônica equipada com transdutores de alta frequência (75 MHz)
e sistema de controle térmico com erro de regime permanente menor do que 0,01ºC foi
usada para se determinar os valores de velocidade de propagação e coeficiente de atenua-
ção em função da frequência, para uma temperatura de 25ºC. Os resultados obtidos para
este conjunto de amostras, e considerando uma frequência de 50 MHz, mostram que a
velocidade de propagação do som diminui a medida que o teor de gordura das amostras de
leite aumenta, numa relação de, aproximadamente, -1,64 ((m/s)/%). Em contrapartida,
os valores obtidos para os coeficientes de atenuação, considerando a mesma frequência,
aumentam em função do aumento do teor de gordura, numa relação de, aproximadamente,
51,3 ((Np/m)/%).
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Revisão bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Estrutura do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2 REVISÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1 Transdutores ultrassônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Sistemas de medição acústicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2.1 Método pulso-eco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.2 Método transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Métodos de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3.1 Método de reflexões relativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3.2 Método de múltiplas reflexões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4 Efeitos causados pela difração, paralelismo e temperatura . . . . . . 18
2.5 Cálculo da velocidade de propagação do som . . . . . . . . . . . . . 19
2.6 Cálculo dos coeficiente de atenuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.7 Considerações parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1 Sistema de medição ultrassônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Calibração do sistema e medição das amostras . . . . . . . . . . . . 24
3.2.1 Calibração do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2.2 Procedimento de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 Preparação das amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.4 Definição do método de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.5 Considerações parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.1 Densidade das amostras de leite analisadas . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2 Velocidade de propagação do som em amostras de leite . . . . . . . 32
4.3 Coeficiente de atenuação acústico em amostras de leite . . . . . . . 35
4.4 Considerações parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.1 Propostas para desenvolvimento de próximos trabalhos . . . . . . . . 40
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
APÊNDICE A – APLICATIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
A.1 Instrumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
A.2 Configuração do sistema de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1 Introdução
mentos específicos que utilizam as amostras de leite e reagentes químicos para identificação
de diferentes características do material.
Para avaliar a qualidade do leite, devem ser analisados parâmetros físico-químicos
distintos, tais como densidade relativa ou índice crioscópico, parâmetros higiênico-sanitários,
como a contagem total bacteriana e a detecção de resíduos de antibióticos, e parâmetros
de composição, como gordura e extrato seco desengordurado.
A Instrução Normativa MAPA Nº55/2020 também classifica o leite em função de
seu teor de gordura. De acordo com esta definição, considera-se leite desnatado aquele que
apresenta um teor de gordura máximo de 0,5%, leite semidesnatado aquele que apresenta
teores de gordura entre 0,6% e 2,9%, e leite integral aquele que apresenta um teor de
gordura de 3%. A Instrução Normativa também prevê que estas e outras informações
relevantes sejam divulgadas nos rótulos das embalagens de leite comercializadas.
Os métodos regulamentados para análise do leite brasileiro dependem de um con-
junto de vários processos físico-químicos utilizados para determinar as diferentes caracte-
rísticas mencionadas anteriormente. Dentre os métodos mais utilizados para se determinar
o teor de gordura, pode-se destacar o método de Gerber e o método Rose-Gotlieb.
O método de Gerber (ou butirométrico) é realizado a partir de um processo quí-
mico utilizando ácido sulfúrico. O ácido ataca a matéria orgânica com exceção da gor-
dura, que é separada posteriormente através de um processo de centrifugação. Trata-se
de um processo que causa severa alteração na amostra para a medição do teor de gordura
(Alves D.; Goldschmidt A., 2014).
O método Rose-Gottlieb é frequentemente utilizado como referência pela indústria
nacional por ser mais simples e barato (Alves D.; Goldschmidt A., 2014). Nesse método,
a gordura do leite é extraída através de um processo químico, que pode ser conduzido
de formas diferentes dependendo dos reagentes e equipamentos utilizados. Em seguida, a
gordura extraída é pesada, e o teor de gordura é calculado relacionando à massa inicial
da amostra de leite com a massa de gordura medida.
Métodos físico-químicos também podem ser usados para determinar a quantidade
de extrato seco total (EST), usado para determinar a concentração total de componen-
tes sólidos presentes no leite. Relacionando-se os valores de extrato seco total e teor de
gordura, pode-se determinar a quantidade de extrato seco desengordurante (ESD), que
representa a parcela de sólidos não gordurosos presentes no líquido.
Vários métodos podem ser empregados para se determinar o EST, mas uma das
opções mais utilizadas devido a sua simplicidade é o método gravimétrico. Nesse método,
a água presente no leite é separada da mistura, e a diferença de massa entre a amostra
resultante e a amostra original indica a quantidade de extrato seco total. Esse é um dos
métodos analíticos mais precisos para medição do EST, mas como desvantagem, requer
um tempo elevado para que o processo de separação seja finalizado devido aos diversos
processos laboratoriais que devem ser realizados (Alves D.; Goldschmidt A., 2014).
Capítulo 1. Introdução 3
1.1 Objetivo
O objetivo principal deste trabalho é determinar o teor de gordura de amostras de
leite pasteurizado através de ensaios não destrutivos por ultrassom, usando transdutores
de alta frequência (75 MHz). Os objetivos específicos são:
• Avaliar os efeitos do teor de gordura das amostras nos valores de velocidade e coe-
ficiente de atenuação acústicos em função da frequência;
Adamowiski et al. (2002) também propôs uma variação da primeira célula de me-
dição apresentada (Figura 2). O novo modelo também faz uso das reflexões das ondas
para obter medições de densidade e viscosidade a partir das informações de velocidade
de propagação e coeficiente de atenuação dos sinais, mas diferentemente do modelo an-
terior, essa célula foi projetada com camadas de materiais com propriedades conhecidas,
que podem ser utilizadas para se estimar os coeficientes de reflexão e transmissão entre
camadas e amostra de interesse. A medida que o sinal se propaga pelos meios, o ângulo
de abertura do feixe acústico aumenta devido aos efeitos da difração acústica. Devido a
essa característica, a célula proposta foi projetada com um receptor de PVDF (do inglês
Polyvinylidene fluoride) de larga abertura, que aumenta a área do elemento receptor,
minimizando os efeitos da difração. Além disso, o sistema permite a realização de um
ajuste angular do transdutor emissor, que pode ser usado para melhorar o alinhamento
do elemento transmissor em relação ao receptor.
A célula de medição proposta por Tiago (2018) (Figura 3) utiliza dois transdutores
para realizar as medições, aplicando conceitos de múltiplas reflexões e medições relativas
à água para obtenção das características dos fluídos. O modelo apresentado pelos autores
possui um sistema de controle de temperatura a seco, composto por células de efeito Pel-
Capítulo 1. Introdução 6
vão ajustável controlado por um motor de passo, foram utilizados. No sistema, um dos
transdutores foi mantido fixo, e o segundo foi ajustado de forma a manter o paralelismo
entre os dois transdutores. Este modelo de célula foi projetado para caracterizar sistemas
homogêneos particulados e emulsões, como leite, por exemplo.
2 Revisão teórica
de um resultado complexo, com sua parte real sendo o que conhecemos como resistência
(ℜ(𝑍)) e sua parte imaginária conhecida como reatância (ℑ(𝑍)). Analogamente, a im-
pedância acústica pode ser definida pelo a relação entre a densidade 𝜌 e a velocidade de
propagação do som no meio 𝑐
𝑍 = 𝜌𝑐, (2.1)
Meio 1
Meio 2
Amplitude Incidente(ξi)
Amplitude Transmitida(ξt)
Amplitude Refletida(ξr)
𝜉𝑟 𝑍 2 − 𝑍 1
𝑅= = , (2.2)
𝜉𝑖 𝑍2 + 𝑍1
Capítulo 2. Revisão teórica 12
𝜉𝑡 2𝑍1
𝑇= = , (2.3)
𝜉𝑖 𝑍 1 + 𝑍 2
sendo 𝜉𝑖 é amplitude do sinal incidente, 𝜉𝑡 a amplitude do sinal transmitido, 𝜉𝑟 a amplitude
do sinal refletido, 𝑍1 e 𝑍2 as impedâncias acústicas dos meios 1 e 2, respectivamente.
Fonte: Do autor.
Capítulo 2. Revisão teórica 13
𝑑
𝑐= , (2.4)
Δ𝑡
sendo c a velocidade de propagação do som no meio (m/s), d a distância de propagação
(m) e Δ𝑡 o tempo de voo (s).
Fonte: Do Autor.
A Figura 9 mostra uma cubeta sendo usada para armazenar a amostra de inte-
resse. A cubeta foi posicionada dentro de uma célula de medição, paralelamente a face do
transdutor emissor/receptor. O acoplamento acústico entre transdutor e cubeta/amostra
pode ser feito usando um líquido com propriedades conhecidas, como água destilada, por
exemplo. Na imagem, A𝑖 representa o sinal correspondente à onda de pressão incidente,
A0 o sinal refletido na parede da cubeta e A1 o sinal refletido após a propagação da onda
pelo meio de interesse.
Capítulo 2. Revisão teórica 14
Como pode ser observado, para casos onde se utiliza somente um transdutor (modo
pulso-eco), o primeiro sinal recebido será aquele que se propaga pelo meio até ser refletido
por um material com impedância acústica diferente. Na prática, esse sinal irá se propagar
no mínimo duas vezes pela amostra de interesse, ou seja,
2𝑑
𝑐= . (2.5)
Δ𝑡
Sempre que um meio com impedância acústica diferente é encontrado, parte da
energia do sinal emitido é transmitida e parte é refletida. Esse método de inspeção possui
a vantagem de utilizar apenas um transdutor, mas como desvantagem, exige que o sinal
se propague por, no mínimo, duas vezes pelo meio analisado (Meio 2). Para casos onde o
líquido de interesse apresenta alta viscosidade, isso representa um aumento do coeficiente
de atenuação, resultando em valor de amplitude menores para os sinais recebidos.
Fonte: Do Autor.
Com este método, assim como no método pulso-eco, pode-se calcular a variação da
velocidade e o coeficiente de atenuação com base nas diferenças entre o sinal enviado e o
sinal recebido. As desvantagens deste método é que para a realização de medições precisas,
é necessário garantir um alinhamento adequado entre os dois transdutores. O custo do
sistema também é um ponto que deve ser considerado, uma vez que dois transdutores são
necessários.
Como vantagem, pode-se citar a redução dos efeitos do coeficiente de atenuação em
líquidos viscosos, uma vez que o primeiro sinal recebido terá se propagado somente uma
vez pelo meio de interesse. Esse fator permite que sejam utilizados métodos de medição
Capítulo 2. Revisão teórica 15
relativos, onde o primeiro sinal recebido após a propagação da onda por um líquido de
referência (água destilada, por exemplo) é comparado ao primeiro sinal recebido após
a onda se propagar pelo líquido de interesse. Nesses casos, é fundamental garantir um
controle preciso de temperatura, uma vez que a velocidade de propagação e o coeficiente
de atenuação no meio variam em função da temperatura.
Fonte: Do autor.
𝑍2 − 𝑍1
𝑅= , (2.6)
𝑍2 + 𝑍1
Capítulo 2. Revisão teórica 16
𝑅 ≃ −1. (2.7)
A opção pela utilização do ar deve-se ao fato de que sua impedância acústica apre-
senta valores muito diferentes dos apresentados por líquidos e, devido a isso, praticamente
toda a energia do sinal emitido será refletida ao encontrar a interface entre líquido e ar.
Considerando o material referente ao meio 2 como ar, pode-se estimar os valores
do coeficiente de reflexão na parede da cubeta a partir da relação
𝐴0ar
𝑅𝑎𝑟 = (2.8)
𝐴𝑖
sendo 𝑅𝑎𝑟 o coeficiente de reflexão entre ar e parede da cubeta, 𝐴𝑖 a amplitude incidente
e 𝐴0 a amplitude do sinal refletido na interface entre os meios 1 e 2. Assumindo que
𝑅𝑎𝑟 ≃ −1, tem-se que 𝐴0ar ≃ −𝐴𝑖 .
Após adquirir o sinal de referência usando ar, deve-se preencher a cubeta com o
líquido de interesse e repetir o processo de medição. Os sinais utilizados nesta análise
estão representados na Figura 12.
Fonte: Do autor.
𝐴0liq 𝐴0liq
𝑅𝑙𝑖𝑞 = ≃− (2.9)
𝐴𝑖 𝐴0ar
onde 𝐴0liq representa a amplitude do sinal refletido na interface entre parede da cubeta e
líquido de interesse.
Capítulo 2. Revisão teórica 17
Fonte: Do Autor.
A análise da Figura mostra que o sinal 𝐴0 pode ser obtido a partir da expressão
Esses efeitos estão relacionados a geometria dos transdutores e dos meios pelos
quais as ondas mecânicas se propagam. Técnicas matemáticas podem ser utilizadas para
Capítulo 2. Revisão teórica 19
compensar esses efeitos, como as descritas por Adamowski et al. (1995), por exemplo.
Como opção, pode-se utilizar um transdutor receptor de grande abertura, que por apre-
sentar seção transversal maior do que a do transdutor emissor não sofrerá com os efeitos
da abertura do feixe acústico.
A ausência de paralelismo entre transdutor e amostra, ou entre transdutores e
amostra para o caso de medições em transmissão, pode causar erros significativos nas me-
dições de velocidade e coeficiente de atenuação acústicos. A falta de alinhamento contribui
para uma variação no caminho de propagação acústico dos sinais e, além disso, modificará
os ângulos de incidência e reflexão das ondas emitidas e recebidas pelos transdutores.
A temperatura é outro parâmetro que afeta diretamente os valores de velocidade
de propagação e coeficiente de atenuação do som. De acordo com a expressão apresen-
tada por (Del Grosso; MADER, 1972), uma variação de temperatura de 24±1ºC resul-
taria numa variação de velocidade de propagação de 3,02 m/s. De forma semelhante,
Holmes, Parker e Povey (2011) apresentam uma expressão que relaciona o coeficiente de
atenuação do som na água com a temperatura. Dessa forma, para que seja possível efe-
tuar medições de velocidade de forma precisa, é essencial utilizar um sistema de controle
térmico de alta precisão.
sendo Δ𝑡 a diferença de tempo entre 𝐴0 (𝑡) e 𝐴1 (𝑡), chamada neste trabalho de tempo de
voo.
Calculando a Transformada de Fourier dos sinais apresentados, obtém-se
𝜙0 ( 𝑓 ) = ∠ 𝐴0 ( 𝑓 ), (2.15)
𝜙1 ( 𝑓 ) = ∠ 𝐴1 ( 𝑓 ), (2.16)
Capítulo 2. Revisão teórica 20
(𝜙0 ( 𝑓 ) − 𝜙1 ( 𝑓 ))
Δ𝑡 ( 𝑓 ) = . (2.17)
2.𝜋. 𝑓
Como observado, o valor de Δ𝑡 encontrado varia em função da frequência. Conhecendo-
se o valor da distância de propagação do som na amostra, pode-se calcular a velocidade
de propagação em função da frequência relacionando os valores de L e Δ𝑡.
Para calcular a velocidade de propagação em um líquido muito atenuante, pode-se
utilizar um material de propriedades conhecidas como referência como, por exemplo, a
água destilada. Dessa forma, os cálculos podem ser feitos considerando apenas o primeiro
sinal recebido em água e na amostra, reduzindo os efeitos do coeficiente de atenuação, das
múltiplas reflexões e do alinhamento dos transdutores.
Pode-se calcular o tempo de voo usando um líquido de referência a partir da
expressão
𝐿
𝑡ref ( 𝑓 ) = (2.18)
𝑐 ref ( 𝑓 )
sendo 𝑐 ref ( 𝑓 ) a velocidade de propagação do som no líquido de referência em função da
frequência (m/s), L o caminho de propagação (m) e 𝑡ref ( 𝑓 ) o tempo de voo de referência
(s).
Substituindo o líquido de referência por um líquido de interesse, e calculando-se
o tempo de voo relativo entre o primeiro sinal recebido para o líquido de referência e o
líquido de interesse, tem-se
𝐿
𝑡voo ( 𝑓 ) = 𝑡ref ( 𝑓 ) + Δ𝑡 ( 𝑓 ) = + Δ𝑡 ( 𝑓 ) (2.19)
𝑐 ref ( 𝑓 )
sendo 𝑡voo ( 𝑓 ) o tempo de propagação do som na amostra de líquido de interesse em função
da frequência (s).
A partir do valor calculado para 𝑡voo ( 𝑓 ) e sabendo que o valor de L é conhecido,
pode-se calcular o valor da velocidade de propagação do som na amostra através da
expressão
𝑐 ref ( 𝑓 )
𝑐( 𝑓 ) = , (2.20)
𝑐 ref ( 𝑓 )
1+ Δ𝑡 ( 𝑓 )
𝐿
onde 𝑐( 𝑓 ) representa a velocidade de propagação do som no líquido de interesse em função
da frequência (m/s).
Este método será utilizado neste trabalho para calcular a velocidade de propagação
do som nas amostras de leite com diferentes teores de gordura.
Capítulo 2. Revisão teórica 21
𝛼 = 𝛼0 . 𝑓 𝑛 , (2.22)
𝐴liq
𝐴
𝛼liq = 𝛼ref − ref . (2.25)
𝐿
Caso a água seja adotada como líquido de referência, pode-se calcular os valores de
𝛼agua em função da temperatura a partir da expressão apresentada por Holmes, Parker e Povey
(2011), simplificando o processo de medição.
3 Metodologia
Fonte: Do Autor.
Numa aba secundária, o aplicativo oferece funções que podem ser utilizadas para
realizar os cálculos de velocidade de propagação e coeficiente de atenuação das amostras
analisadas, usando como referência as expressões matemáticas apresentadas no Capítulo
anterior. Mais detalhes a respeito do software desenvolvido podem ser encontrados no
apêndice.
Fonte: Do Autor.
onde tref representa o tempo de voo entre os sinais At e Aeco (s), e cref a velocidade de
propagação do som na água, T representa a temperatura (ºC) e f a frequência (Hz).
Como já mencionado, a velocidade de propagação do som em líquidos depende
da temperatura e varia em função da frequência. Para a água, os valores de dispersão
(variação da velocidade em função da frequência) apresentados considerando a largura de
banda utilizada neste trabalho (20 MHz a 80 MHz) são desprezíveis.
O alinhamento é um ponto importante que deve ser considerado durante o pro-
cesso de calibração. Caso os transdutores estejam desalinhados, ou se a cubeta não estiver
alinhada de forma paralela a face dos transdutores, os valores de L podem mudar e os
ângulos de incidência do feixe acústicos podem ser diferentes dos previstos inicialmente.
Neste trabalho, foram utilizados calibres de folga, posicionados nas laterais da cubeta,
para alinhá-la em relação aos transdutores, e o mesmo processo foi repetido na etapa de
Capítulo 3. Metodologia 26
medição. Essa metodologia não garante um alinhamento ideal, mas garante um alinha-
mento repetitivo.
Após o término do processo de calibração, são armazenados num arquivo os si-
nais At e Aeco , os valores de L, cref e T, além dos valores do coeficiente de atenuação
da água em função da temperatura calculados a partir da expressão apresentada por
(HOLMES; PARKER; POVEY, 2011).
Magnitude (V/V)
Leite Leite
Amplitude (mV)
0.8
200
0.6
0 0.4
0.2
-200
0
10.2 10.3 10.4 10.5 10.6 10.7 10.8 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (𝜇s) Frequência (MHz)
Leite Leite
Amplitude (mV)
0.8
0.6
0
0.4
0.2
-50 0
23.4 23.6 23.8 24 24.2 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (𝜇s) Frequência (MHz)
(c) Sinais Aeco . (d) Espectros de magnitude dos sinais Aeco (f).
Fonte: Do Autor.
sinal geram grande distorção no espectro de magnitude dos sinais analisados no domínio
da frequência. Mesmo assim, optou-se por repetir a análise, considerando uma amostra
de leite integral, como pode ser observado na Figura 18.
Magnitude (V/V)
Leite Leite
Amplitude (mV)
0.8
200
0.6
0 0.4
0.2
-200
0
10.2 10.3 10.4 10.5 10.6 10.7 10.8 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (𝜇s) Frequência (MHz)
Magnitude (V/V)
Leite Leite
Amplitude (mV)
0.8
0.6
0
0.4
0.2
-50 0
23.4 23.6 23.8 24 24.2 0 20 40 60 80 100 120
Tempo (𝜇s) Frequência (MHz)
(c) Sinais Aeco . (d) Espectros de magnitude dos sinais Aeco (f).
Fonte: Do Autor.
4 Resultados e discussões
Neste Capítulo são apresentados os principais resultados obtidos ao longo deste tra-
balho. Inicialmente, apresentam-se os resultados das medições de densidade das amostras
de leite analisadas, relacionando-se os valores alcançados a valores de referência encontra-
dos na literatura.
Na sequência, são apresentados os resultados dos valores das velocidades de propa-
gação e coeficientes de atenuação em função da frequência encontrados para cada amostra.
Ao final, apresenta-se uma análise relacionando os efeitos do teor de gordura aos valores
de dispersão e coeficiente 𝛼0 encontrados.
Teor de gordura
1032 Desnatado - 0,5%
Semidesnatado - 1,0%
Integral - 3,0%
Densidade (kg/m3 )
1031 1,0%
1,5%
2,0%
2,5%
1030
1029
resultados obtidos são apresentados na Figura 20, que representa a variação de velocidade
em função da frequência, considerando uma largura de banda entre 20 MHz e 80 MHz.
1530
Teor de gordura
Desnatado - 0,5%
1529 Semidesnatado - 1,0%
Integral - 3,0%
Velocidade (m/s)
1528 1,0%
1,5%
1527 2,0%
2,5%
1526
1525
1524
20 30 40 50 60 70 80
Frequência (MHz)
Fonte: Do Autor.
1530
1529
Velocidade (m/s)
1528
1527
1526
Dispersão por amostra
1525 Ajuste linear
Intervalo de confiança de 95%
1524
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
(a) Velocidade de propagação em função do teor de gordura.
0.9
Incertezas (cm/s)
0.8
0.7
0.6
0.5
0.4
0.3
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
(b) Incertezas tipo A.
Fonte: Do Autor.
É importante ressaltar que esse valor de frequência foi escolhido por representar o centro
da banda de frequências em análise, mas a análise poderia ser repetida considerando um
valor de frequência diferente.
Finalmente, realizou-se uma análise da dispersão das curvas de velocidade apre-
sentadas na Figura 22. Essa análise relaciona a variação de velocidade em função da
frequência, considerando a faixa de frequências entre 20 MHz e 80 MHz. Para encon-
trar essa relação, realizou-se um ajuste linear para cada curva, e os coeficientes angulares
de cada reta ajustada foram associados ao teor de gordura da amostra analisada. Nova-
mente, as amostras referentes ao leite semidesnatado foram removidas desta avaliação. Os
resultados obtidos podem ser observado na Figura 22.
Capítulo 4. Resultados e discussões 35
1.4
1.2
0.8
0.6
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
Fonte: Do Autor.
600
Teor de gordura
Desnatado - 0,5%
Coef. de atenuação (Np/m)
200
100
0
20 30 40 50 60 70 80
Frequência (MHz)
Fonte: Do Autor.
𝛼 = 𝛼0 .fn , (4.1)
300
Dispersão por amostra
Ajuste linear
Coef. de atenuação (Np/m)
250
200
150
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
(a) Coeficiente de atenuação em função do teor de gordura.
0.25
0.2
Incertezas (Np/m)
0.15
0.1
0.05
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
(b) Incertezas tipo A.
Fonte: Do Autor.
Figura 25 – Ajuste linear estimado a partir dos coeficientes 𝛼0 obtidos a partir das curvas
de atenuação acústica em função da frequência, considerando uma largura de
banda entre 20 MHz e 80 MHz.
0.06
0.05
0.04
0.5 1 1.5 2 2.5 3
Teor de gordura (%)
Fonte: Do Autor.
5 Considerações finais
Referências
BARBANO, D. M.; CLARK, J. L. Infrared Milk Analysis — Challenges for the Future.
Journal of Dairy Science, v. 72, n. 6, p. 1627–1636, 1989.
Del Grosso, V. A.; MADER, C. W. Speed of Sound in Pure Water. The Journal of the
Acoustical Society of America, v. 52, n. 5B, p. 1442–1446, 1972.
FOSS. MilkoScan FT1 Milk- Milk standardisation with in-built abnormality screening.
Denmark, 2018.
APÊNDICE A – Aplicativo
A.1 Instrumentos
As funções relacionadas ao controle dos instrumentos incluem o gerenciamento
remoto de um gerador de funções, aquisição de dados a partir de um osciloscópio digital,
além do controle e medição de temperatura da amostra. A parte gráfica do software foi
desenvolvida, mas para utilizá-la, é necessário adicionar os algoritmos de controle dos
instrumentos.
Na aba gerador de funções, será possível carregar um sinal de referência para ser
utilizado como sinal de excitação para os transdutores, além de permitir que o instrumento
seja ligado ou desligado remotamente. Esta função requer conexão entre gerador de funções
e computador, que pode ser feita usando uma porta de comunicação USB, por exemplo.
Na aba osciloscópio, o usuário pode controlar o período de amostragem, valor
inicial de tempo, ganho de tensão e níveis de trigger. Para aquisições de sinais no domínio
do tempo, muitas vezes é necessário que se faça o ajuste da janela de tempo do osciloscópio
para cada nova amostra, a fim de detectar os ecos de propagação do sinal. Para eliminar
a ação humana constante no experimento, o ajuste poderá ser feito através do aplicativo
utilizando os botões para que software armazene as posições iniciais de cada sinal, desde
que definidas previamente pelo usuário. A Figura 27 apresenta uma imagem desta aba.
APÊNDICE A. Aplicativo 44
Além disso, uma função adicional permite que dados prevenientes adquiridos após a
análise de amostras possam ser utilizados para os cálculos de velocidade e coeficiente de
atenuação, conforme apresentado na Figura 30.
Para utilizar essas funções, inicialmente deve-se carregar o sinal de referência ad-
quirido usando água deionizada. Em seguida, calcula-se o comprimento do caminho de
propagação L, que será utilizado para os próximos cálculos. Ao clicar no botão velocidade
APÊNDICE A. Aplicativo 45