Você está na página 1de 57

L E

Alberto Giorgio Cassani eon Battista Alberti (Gênova, 1404-Roma, 1472) é um per- Mário H. S. D’Agostino | Francesco Furlan | Andrea Loewen | Ana Paula G. Pedro sta publicação reúne contribuições do III Con-

Ana Paula G. Pedro


Andrea Loewen
Francesco Furlan
Mário H. S. D’Agostino
Accademia di Belle Arti di Venezia, Itália sonagem central da aventura intelectual e artística do Quat- (organizadores) gresso Internazionale Artes Renascentes &
Ana Paula Giardini Pedro trocento e um ator singular da revolução humanista. Os seus V Congresso Transatlântico Na Gênese das
Pontifícia Universidade Católica de Campinas escritos e as suas realizações arquitetônicas e artísticas, ao mesmo Racionalidades Modernas – São Paulo, 1-3 / X / 2018.
tempo que contribuem de maneira determinante para fazer da Re- O evento contou com o apoio da Faculdade de Ar-
Andrea Buchidid Loewen
nascença o que ela foi, abrem campos que esta deixou para trás ou quitetura e Urbanismo da Universidade de São Pau-
Universidade de São Paulo
que só começou a arar tardiamente. Além de diálogos muito ori- lo (fau-usp), Association Internationale «Artes Re-
Francesco Furlan ginais e de ludi céticos ou de uma libertinagem amarga, devemos nascentes», Société Internationale Leon Battista Al-
Société Internationale Leon Battista Alberti

& RACIONALIDADES MODERNAS


LEON BATTISTA ALBERTI, HUMANISMO
a ele obras fundadoras em disciplinas tão diversas como a pintu- berti (s.i.l.b.a.), Fundação de Amparo à Pesquisa do
& Association Internationale Artes Renascentes
ra, a escultura, a gramática, a arquitetura e o urbanismo, a mate- Estado de São Paulo (fapesp) e Conselho Nacional de
Giovanni Zagni mática aplicada, a cartografia, a criptografia... E lhe devemos, por LEON BATTISTA ALBERTI, Desenvolvimento Científico e Tecnológico (cnpq).
Association Internationale Artes Renascentes igual, alguns arquétipos fundamentais no campo arquitetônico.
Gustavo Rocha-Peixoto
HUMANISMO & RACIONALIDADES MODERNAS
Universidade Federal do Rio de Janeiro Comissão Organizadora
Francesco Furlan Andrea Buchidid Loewen
Leandro Manenti Société Internationale Leon Battista Alberti Francesco Furlan
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Mário Henrique Simão D’Agostino
Maria Luiza Zanatta De Souza
Universidade Federal de São Paulo Comissão Executiva
Ana Paula Giardini Pedro
Mário Henrique Simão D’Agostino Andrea Buchidid Loewen
Universidade de São Paulo Carlos Antonio Leite Brandão
Mário Henrique Simão D’Agostino
Nicoletta Lepri
Scuola di Alta Formazione e di Studio dell’Opificio Rafael Urano Frajndlich
delle Pietre Dure di Firenze, Itália Vânia Cerri
Vitor Murtinho
Rafael Moreira
Universidade Nova de Lisboa

Ricardo Marques De Azevedo


Universidade de São Paulo

Rodrigo Almeida Bastos


Universidade Federal de Santa Catarina

Vania Cristina Cerri


Universidade Estadual de São Paulo

Vítor Murtinho
Universidade de Coimbra, Portugal 2017/19889-9 400976/2018-8
L E O N B AT T I S TA A L B E RT I,
O HUMANISMO & AS
R AC I O N A L I D A D E S M O D E R N A S

ORGANIZ ADORES

Mário D’Agostino
Francesco Furlan
Andrea Loewen
Ana Paula G. Pedro

2017/19889-9 400976/2018-8
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

L579 Leon Battista Alberti, Humanismo e Racionalidades Modernas /


Organizadores: Mário Henrique Simão D’Agostino ... [et al.] –
São Paulo: Annablume, 2020.
539 p. : il. ; 16 x 23 cm.

ISBN 978-65-5684-018-5

1. Arquitetura. I. D’Agostino, Mário Henrique Simão. II. Furlan,


Francesco. III. Loewen, Andrea Buchidid. IV. Pedro, Ana Paula Giardini. V. Título.

CDU 72

Bibliotecária responsável: Bruna Heller (CRB-10/2348)

Índice para catálogo sistemático:


1. Arquitetura 72

Textos constantes do III Congresso Internazionale Artes Renascentes & V Congresso transatlântico Na Gênese das Ra-
cionalidades Modernas. – São Paulo (Brasil), 1-3 / X / 2018. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo; Association Internationale «Artes Renascentes»; Société Internationale Leon Battista Alberti (S.I.L.B.A.).
Comissão Organizadora: Andrea Buchidid Loewen; Francesco Furlan; Mário Henrique Simão D’Agostino. Comissão
Executiva: Ana Paula Giardini Pedro; Andrea Buchidid Loewen; Carlos Antonio Leite Brandão; Mário Henrique
Simão D’Agostino; Rafael Urano Frajndlich; Vânia Cerri; Vitor Murtinho.

Apoio: FAPESP (processo nº 2017/19889-9); CNPq (processo nº 400976/2018-8)

Leon Battista Alberti, Humanismo e Racionalidades Modernas


Projeto e Produção
Coletivo Gráfico Annablume & Carolina Boaventura
Capa
Carolina Boaventura
Imagem de Capa
L. B. Alberti, assinatura de posse dos Elementa de Euclides.
Biblioteca Nazionale Marciana, Veneza. Lat. VIII, 39 (3271), c. IIIv (detalhe).
Tradução
Christian Purpura
Revisão
Ana Paula G. Pedro & Mário H.S. D'Agostino

Annablume Clássica
Conselho Editorial
Gabriele Cornelli; Luiz Armando Bagolin;
Mário Henrique D’Agostino; Mônica Lucas
1ª edição: dezembro de 2020
© Mário D’Agostino
Francesco Furlan
Andrea Buchidid Loewen
Ana Paula G. Pedro

ANNABLUME editora
Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 554 . Pinheiros
05415-020 . São Paulo . SP . Brasil
Televendas (11) 3539-0225 – Tel.: (11) 3539-0226
www.annablume.com.br
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

PARTE I
DOCTVS ARTIFEX. O ARQUITETO HUMANISTA
Andrea Buchidid Loewen
ALBERTI EM ROMA, ENTRE OS HUMANISTAS
E A COMPREENSÃO DA CIDADE
21

Alberto Giorgio Cassani


LEON BATTISTA ALBERTI E
IL METODO INDIZIARIO
47
LEON BATTISTA ALBERTI E
O MÉTODO INDICIÁRIO
73

Vítor Murtinho
LEON BATTISTA ALBERTI
UM PIONEIRO NA MANUALÍSTICA DA ARTE MODERNA
97

Leandro Manenti
INTEGRIDADE E HARMONIA
PRINCÍPIOS DE BELEZA EM VITRÚVIO E ALBERTI
141

Giovanni Zagni
A CONVIVIIS NON POTEST ABESSE
APPUNTI SULLE FONTI MEDIEVALI NELL’OPERA DELL’ ALBERTI
171
A CONVIVIIS NON POTEST ABESSE
NOTAS SOBRE AS FONTES MEDIEVAIS NA OBRA DE ALBERTI
189

Nicoletta Lepri
BICROMIA E POLICROMIA NELL’ALBERTI.
IL RINASCIMENTO VERSO L’“OCCHIO DELLA MODERNITÀ”
207
BICROMIA E POLICROMIA EM ALBERTI
O RENASCIMENTO “AOS OLHOS DA MODERNIDADE"
233

PARTE II
O OCCHIO ALATO E OUTRAS VISAGENS
Mário Henrique Simão D’Agostino
QUAL A META?
ALBERTI E OS DESÍGNIOS DO EDIFICAR
263

Francesco Furlan
UMANESIMO E LIBERISMO TRA
L’ALBERTI E IL MACHIAVELLI
OSSIA DELLE RAGIONI DI UN SOGNO, E
DELL’OPPOSTA (E NEFASTA) ILLUSIONE
299
HUMANISMO E LIBERISMO ENTRE ALBERTI E MAQUIAVEL
OU SEJA, DAS RAZÕES DE UM SONHO,
E DA OPOSTA (E NEFASTA) ILUSÃO
317

Ricardo Marques de Azevedo


DIGRESSÕES SOBRE ORDEM, TIPO E
CARÁTER NO DISCURSO DA ARQUITETURA
335
Gustavo Rocha-Peixoto
TRÊS FANTASMAS E TRÊS ARCANJOS
NA ESTRADA RUGOSA DO PARAÍSO
391

Rodrigo Bastos
ARQUITETURA, AMOR E EROTISMO
409

PARTE III
O DE RE ÆDIFICATORIA E SEUS ÊMULOS
Rafael Moreira
O “LIVRO DE ARCHITECTURA” DE ALBERTI
E O ESTILO CHÃO PORTUGUÊS
439

Ana Paula Giardini Pedro


A REGIO ALBERTIANA E OS TRATADOS DE
FILARETE E CESARE CESARIANO
451

Vania Cerri
DE ALBERTI A PALLADIO: ARQUITETURA NA
CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO TEATRAL MODENO
487

Maria Luiza Zanatta de Souza


POR IN DISEGNO ROMA ANTICA
DE LEON BATTISTA ALBERTI A FRANCISCO DE HOLANDA
503

NOTA BIOGRÁFICA DOS AUTORES


535
PA RT E I

DOCTVS ARTIFEX
O ARQUITETO HUMANISTA
LEON BATTISTA ALBERTI E
IL METODO INDIZIARIO

Alberto Giorgio Cassani

«[…] apertissimis coniecturis indiciisque […]


intelleximus»
Leon Battista Alberti, De re ædificatoria, X 7

Q uella che Roberto Cardini ha definito la «teoria degli


indizi e dele tracce»1 trova ampio riscontro nell’opera
teorico-letteraria di Leon Battista Alberti.

Leon Battista Alberti, Autoritratto, 1435 ca., placchetta ovale in bronzo, 20,1 × 13,6
cm, 1.663 g, National Gallery of Art, Samuel H. Kress Collection, Washington, inv. n.
1957.14.125. Iscrizione: • L • BAP • (a destra; i tre segni di separazione sono due occhi
e un’ala); impresa dell’occhio alato (a sinistra).

1. Cfr. [ROBERTO CARDINI], [Commento a] Vaticinium, in Intercenales, Introduzione,


edizione critica e commento a cura di Roberto Cardini; traduzione a cura di M. Letizia Bracciali
E non solo. Il grande umanista, infatti, nelle facciate dei
suoi pochi, ma rivoluzionari, progetti di chiese e palazzi, ha
sparso numerose tesseræ tratte da edifici dell’antichità e del
Medioevo, che ha lasciato alla sapienza dei suoi contempora-
nei e di noi posteri riconoscere, indizi per poter comprendere
la sua idea di composizione architettonica, che poi è racchiu-
dibile nel concetto così denso e complesso di concinnitas: far
stare insieme elementi – per loro natura differenti e in disac-
cordo – secondo un disegno nuovo e coerente.2
Questa teoria ha a che fare con un metodo pre-scientifico e ra-
zional-deduttivo? Il tema degli indizi – indici o inditia – sembra
indicare che Leon Battista creda in un “ordine”, più o meno na-
scosto, della natura, che spetta all’uomo disvelare. Una “macchi-
na” che fa muovere il mondo e le cose e che l’uomo deve saper “in-
vestigare” – il termine ricorre continuamente in tutta l’opera al-
bertiana – per poterne fare un buon uso, che sia anche rispettoso
della natura (come le invettive del Theogenius, seppur in un testo
di genere stoicheggiante, sembrano indicare3).

Magnini, in LEON BATTISTA ALBERTI, Opere latine, A cura di Roberto Cardini, Roma,
Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 2010, pp. 271- 276: 273.
2. Secondo la ben nota e citatissima pagina dei “mosaici” contenuta nei Profugia.
3. «Gli altri animali contenti di quello che li si condice: l'omo solo sempre investigando
cose nuove sé stessi infesta. Non contento di tanto ambito della terra, volle solcare el mare
e tragettarsi, credo, fuori del mondo; volle sotto acqua, sotto terra, entro a’ monti ogni cosa
razzolare, e sforzossi andare di sopra e’ nuvoli. Dicono che in Atene fu chi facea volare per aria
un palombo edificato di legno. Che più essemplo detestabile della superstizione degli uomini,
che fra’ greci scrittori fusse chi di ciascuno membro umano descrivesse qual fusse el suo sapore?
O animale irrequieto e impazientissimo di suo alcuno stato e condizione, tale che io credo
che qualche volta la natura, quando li fastidii tanta nostra arroganza che vogliamo sapere ogni
secreto suo ed emendarla e contrafarla, ella truova nuove calamità per trarsi giuoco di noi e
insieme essercitarci a riconoscerla. Che stoltizia de’ mortali, che vogliamo sapere e quando e
come e per qual consiglio e a che fine sia ogni instituto e opera di Dio, e vogliamo sapere che
materia, che figura, che natura, che forza sia quella del cielo, de’ pianeti, delle intelligenze, e
mille secreti vogliamo essere noti a noi più che alla natura», LEON BATTISTA ALBERTI,
Theogenius, in ID., Opere volgari, a cura di Cecil Grayson, vol. II: Rime e trattati morali,
Bari, Laterza, 1966, pp. 53-104: 92.

48
Sappiamo da tempo della complessità del pensiero alber-
tiano: da un lato l’Alberti ritiene inevitabile l’azione “pertur-
bativa” dell’ordine naturale – ne è un esempio perfetto l’incipit
del De re ædificatoria4 – dall’altro egli rimarca continuamente i
limiti imposti all’azione dell’uomo (e ogni pagina del trattato
sull’architettura rimanda costantemente al motto delfico del
nihil nimis, per ricordare, di continuo, quanto sia folle met-
tersi in contrasto con la natura).
Uno dei passi in cui è più evidente la funzione “scientifi-
co-utilitaristica” di un’attenta analisi degli inditia, è appunto il
libro I, capitoli quinto e sesto del De re ædificatoria. L’Alberti sta
trattando il tema della scelta della regio, dell’ambiente, per edi-
ficarvi un’opera d’architettura. Per far ciò non basta un’analisi
superficiale, ma occorre tener conto di tutti i segni più nascosti:
«Neque item in seligenda regione ea spectasse tantum sat
est, quæ sub aspectu et propalam sunt exposita, verum etiam
obscurioribus inditiis notatis totam causam animo advertisse
opus est».5
È il metodo deduttivo che l’Alberti qui prescrive. Dall’osser-
vazione degli effetti, si può risalire alle cause: «Atqui erunt quidem

4. LEON BATTISTA ALBERTI, L’architettura [De re Ædificatoria], Testo latino e tra-


duzione a cura di Giovanni
Orlandi, Introduzione e note di Paolo Portoghesi, Milano, Il Polifilo, 1966, [Prologo],
pp. 8 e 10: «Quid demum, quod abscissis rupibus, perfossis montibus, completis convallibus,
cœrcitis lacu marique, expurgata palude, coadificandis navibus, directis fluminibus, expeditis
hostiis, constitutis pontibus portuque non solum temporariis hominum commodis providit,
verum et aditus ad omnes orbis provincias patefecit? Ex quo effectum est, ut fruges aromata
gemmas rerumque peritias et cognitiones, et quæcunque ad salutem et vitæ modum conferant,
homines hominibus mutuis officiis communicarint» [pp. 9 e 11, per la trad. it.: «[…] mediante
il taglio delle rupi, il traforo delle montagne, il livellamento delle valli, il contenimento delle
acque marine e lacustri, lo svuotamento delle paludi, la costruzione delle navi, la rettificazione
del corso dei fiumi, lo scavo di sbocchi alle acque, la costruzione di ponti e di porti, egli [l’ar-
chitetto] non solo risolse problemi di opportunità temporanea, bensì aprì la strada verso ogni
regione della terra. In tal modo i diversi popoli poterono scambievolmente rendersi partecipi
di tutto quanto giovasse al miglioramento della salute»].
5. Ibid., I 5, p. 43 [p. 42, per la trad. it.: «Nella scelta di un ambiente, non basta soltanto
tener conto di quelle caratteristiche che saltano subito all’occhio. Bisogna aver presenti tutti
gli aspetti del problema, notando anche i sintomi meno evidenti»].

49
inditia optimi aeris integrarumque aquarum, si ea regio feret bo-
norum fructuum copiam, si senes ætate grandes numero complu-
res nutriat, si valida et formosa iuventute, si integro et frequenti
partu abundabit».6 E spesso gli effetti non sono per nulla positivi,
quando il risultato produce monstra e non uomini:
Nanque ego vidi quidem urbes, quas temporum gratia non nomino, in
quibus parturiat nulla, quæ non se spectet una homis atque præterea
monstri alicuius effectam matrem. Vidi et urbem aliam Italiæ, ubi strumæ
strabi claudi et toruosi tam multi nascantur, ut nulla pene illic creverit fami-
lia, quæ non aliquem habeat mancum et comminutum.7

Segno, questo, «cæli aerisque vi ac vitio aut occultiore aliqua


depravatæ naturæ causa fieri».8 E visto che l’uomo è a tutti gli
effetti un animal, si possono trarre utili congetture sulla salu-
brità dei luoghi anche dall’aspetto fisico degli animali ivi pre-
senti:
Neque non condecet ex aliorum animantium forma atque effigie futuras
hominum habitudines coniectasse. Nam, si iumenta et pecora firmissima
et memborum amplitudine atque protensione multa esse illic viderint, tales
se habituros itidem filios poterunt non iniuria sperasse.9

6. Ibid., p. 43 [p. 42, per la trad. it.: «Sarà indizio di aria buona e di acque pure, se la
zona produce bene e in
abbondanza; se in essa molti giungono felicemente alla tarda vecchiaia; se i giovani sono
sani e forti; se le nascite sono frequenti e sane»].
7. Ibid., p. 43 [p. 42, per la trad. it.: «Ho visto infatti delle città, che in questo momento
non mi sembra opportuno menzionare, dove una donna non può partorire senza trovarsi madre
al tempo stesso di un uomo e di un mostro. Ho pure visto un’altra città, in Italia, dove
nasce un tal numero di scrofolosi, strabici, zoppi, storti, che quasi non vi si formava famiglia
che non contenesse qualche individuo storpio o minorato»].
8. Ibid., p. 43 [p. 42, per la trad. it.: «[ ] che […] si deve all’azione negativa del clima o
ad altra causa meno evidente che risale a un distorcimento della natura»].
9. Ibid., p. 43 [p. 42, per la trad. it.: «È anche lecito, sulla scorta dell’aspetto fisico degli
animali presenti in un luogo, congetturare quello degli uomini che vi abiteranno. Se infatti
si vede un bestiame di complessione robusta e di membratura ampia e ben sviluppata, si può
sperare ragionevolmente di avere un giorno in quel luogo dei figli ugualmente sani e forti»].

50
L’Alberti si spinge anche oltre, dal momento che persino da
corpi inanimati – mura di case, alberi, vecchie pietre – si pos-
sono ricavare valide informazioni sulle condizioni del sito:
Neque ab re erit, si a corporibus reliquis, quibus vitæ vigor extinctus est,
inditia sumpserimus aeris atque ventorum. Nanque ex proximis ædific-
iorum structuris ea didicisse possumus: quæ si erunt facta scabra et cariosa,
inditio erit adventitia inde mala confluere. Arbores etiam in unam aliquam
partem quasi communi consensu proclinatæ aut refractæ infestis ventorum
motibus cessisse ostentant. Ipsaque rediviva saxa locis innata aut posita, si
summotenus plus satis putris facta sunt, variam loci intemperiem nunc
ardescentis nunc torpentis aeris attestantur.10

Vantaggiosi indizi, inoltre, si possono desumere non solo


dall’osservazione diretta, ma anche da quanto viene traman-
dato da chi, in passato, ha osservato, a sua volta, tali segni:
«Convenit etiam, præteritorum temporum vicissitudine ex pru-
dentum observatione repetita, siqua sunt etiam rariora, omni
diligentia præcogitasse».11 E questa pratica rientra nell’ottica,
tutta albertiana, di ottenere da tutti, esperti e non, informazioni
che possono risultare vantaggiose ad bene beatæque vivendum. Si
può così venire a scoprire che «sunt loca quædam, quibus inest
natura occultum quippiam, quod ad felicitat atque infelictem

10. Ibid., p. 45 [p. 44, per la trad. it.: «Né sarà fuori luogo dedurre utili indicazioni circa
il clima e i venti anche
dai corpi inanimati. Si potranno ricavare, ad esempio, dalle murature delle case più vi-
cine: se saranno divenute scabre e consunte, sarà segno che la zona soffre di particolari mali.
Gli alberi piegati o spezzati tutti quanti in una sola direzione mostrano di aver ceduto alla
violenza del vento. Così pure le pietre vecchie, originarie del luogo o quivi trasferite, se sulla
sommità tendono a disfarsi più del normale, indicano che l’atmosfera è sottoposta a forti
sbalzi di temperatura»].
11. Ibid., p. 45 [p. 44, per la trad. it.: «È opportuno altresì tenere conto accuratamente di
caratteristiche del territorio anche più rare, deducibili da ricordi dei tempi trascorsi, tramansati
dalle osservazioni dei sapienti»].

51
faciat».12 E segue un lungo elenco di casi.13 Questa rassegna
d’informazioni deve essere lungamente esaminata e ponderata,
anche confrontandola con notizie tratte da altri luoghi, «quo
tota ratio integrior habeatur».14 E l’Alberti, evidentemente, non
adopera a caso il termine ratio.
Ma “la natura ama nascondersi” e dunque, per Leon Batti-
sta, non ci si deve limitare a investigare gli indizi più evidenti,
ma occorre andare più a fondo per esser certi che non ci sfug-
gano «incommoda occultiora».15 Qui l’Alberti tocca argomenti
che esulano da un piano propriamente razionale per spingersi in
campi dove la ragione non può seguirlo. Ecco perché, per evi-
tare possibili accuse, si fa scudo col principe dei filosofi, Platone:
Putabat Plato esse, ut locis nonnullis divina quædam interdum inspiret
vigeatque vis ac demonum terminatio incolis aut propitia aut contra infe-
sta. Sunt quidem loca, quibus homines facile insaniant, quibus sese facile in
pernitiem dedant, quibus aut suspendio aut præcipitio aut ferro et veneno
facile vitam ponant.16

A fronte di questi mysteria, ogni bene deducta ratio17 non può


che sospendere il giudizio, limitandosi a prendere atto che non
tutto si può spiegare col raziocinio. Più di una volta l’Alberti

12. Ibid., p. 45 [p. 44, per la trad. it.: «Vi sono località cui la natura ha conferito proprietà
nascoste che possono
rendervi felice o infelice il soggiorno»].
13. Cfr. ibid., pp. 45 e 47 [pp. 44 e 46, per la trad. it.].
14. 14 Ibid., I 6, p. 47 [p. 46, per la trad. it.: «allo scopo di pervenire a una conoscenza
dei fenomeni più completa e sicura»].
15. Ibid., p. 47 [p. 46, per la trad. it.: «inconvenienti più occulti»].
16. Ibid., pp. 47 e 49 [pp. 46 e 48, per la trad. it.: «Platone credeva che in certi luoghi si
esercitasse talora l’influsso di potenze soprannaturali, e che la volontà di questi spiriti fosse,
secondo i casi, propizia o sfavorevole agli abitanti. Vi sono luoghi dove gli uomini facilmente
perdono il senno; dove per un nonnulla si risolvono all’estrema rovina; dove impiccandosi o
gettandosi in un burrone o uccidendosi col ferro o col veleno lasciano senza esitazione la vita»].
17. Cfr. ibid., X 1, p. 871 [p. 870, per la trad. it.].

52
dovrà ammettere ciò, parlando della natura – e lo vedremo
più avanti.
Tra questi irrationalia, vi sono anche le pratiche astrologi-
che, in altri passi del De re ædificatoria fortemente stigmatiz-
zate dall’Alberti,18 declinate, nel caso specifico, nelle pratiche
di ornitomanzia, su cui Leon Battista preferisce non esprimersi
esplicitamente, accettandole pur che non entrino in conflitto
con i dogmi cristiani, e giustificandole in un certo senso come
azioni in grado di difenderci da quella divinità potentissima
che è la fortuna, contro la quale occorre adoperare quell’utile
arma che è la virtù della prudentia:
Auspiciis item et servato cælo regionis futuram fortunam indagasse pru-
dentis et bene consulti esse affirmant. Quas ego artes, modo cum religione
conveniant, minime aspernandas duco. Quis id negabit, quicquid id ipsum
sit, quod fortunam nuncupant, in rebus hominum, valere plurimum?19

E, anche in questo caso, l’Alberti fa seguire l’elenco di una serie


d’inspiegabili – dal punto di vista della ragione – eventi, posi-
tivi e negativi, occorsi a città e templi antichi.20
Al termine di questi due capitoli in cui è centrale la teoria
degli indizi, Leon Battista ribadisce come qualunque archi-
tetto, che non sia stultissimus,21 non possa non tener conto di

18. Su questo tema si veda FRANCESCO FURLAN, De l’alchimie ou des sciences inutiles.
Méthode et valeur de la recherche chez Leon Battista Alberti, in «Chrysopœdia», II, 1988, pp.
221-248, in part. pp. 229-230.
19. L.B. Alberti, L’architettura [De re Ædificatoria], cit., I 6, pp. 49 e 51 [pp. 48 e 50,
per la trad. it.: «Si dice altresì che è indizio di prudenza e di saggezza l’indagare sul destino
dell'ambiente mediante l'osservazione del cielo e del volo degli uccelli. Queste arti mi sembrano
tutt'altro che disprezzabili, purché vadano d'accordo con la religione. Nessuno infatti potrà
negare che negli eventi umani abbia una parte importante quell'entità – di qualunque natura
essa sia – che è chiamata 'fortuna'»]. Sul tema l'Alberti tornerà anche in II 13, pp. 167 e 169.
Qui, dopo aver inizialmente approvato tali pratiche, accusa di ridicolo gli antichi per i loro
riti di fondazione. Cfr. II 13, p. 169. Su altre superstizioni si veda anche ibid., III 11, p. 225
[p. 224, per la trad. it.].
20. Cfr. ibid., I 6, p. 51 [p. 50, per la trad. it.].
21. Cfr. ibid

53
ogni dettaglio per far sì che la sua opera risulti constans et salu-
berrima.22
Anche nel libro III la teoria indiziaria fa la sua comparsa.
Nel caso della realizzazione delle fondazioni di un edificio, gli
inditia ci sono utilissimi per scoprire eventuali debolezze del
terreno:
Commodum futurum solum inditio erunt hæc: si nullæ aderunt herbæ, quæ
humectis in locis soleant; si arborem aut nullam ferat aut eam tantum, quæ
<non>nisi in præduro et densissimo oriatur; si circum multo erunt omnia
siccissima et penitus arentia, si lapidosa lapide non minuto non globoso,
sed angulari solido præsertim siliceo; si sub se neque scaturient fontes neque
fluentum pervadet. Fluenti enim natura est, ut aut rapiat sempiterne, quoad
motu valeat, aut importet; ea re fit, ut plana, quæ proter fluvius excurrit,
soli firmitatem præstent non prius, quam ubi sub alveum descenderis.23

Un segnale per dedurre la solidità del terreno è l’emissione o


meno di vibrazioni, quando il suolo viene colpito da un oggetto
pesante:
Dantur tamen argumenta de soli firmitate prætentanda et
cognoscenda. Nam, ubi grave aliquid per solum provolutaris
aut ex alto cadentem dimiseris, et non subcontremuerit locus,
aut aquam ex patina illis statuta crispantem non reddiderit,
nimirum firmitatem istic polliceri interpretabimur.24

22. Cfr. ibid.


23. Ibid., III 1, p. 175 [p. 174, per la trad. it.: «Il terreno promette di essere adatto alle
costruzioni, se non vi si trovano erbe consuete nei luoghi umidi; se non produce alberi, o
solo quei tipi che allignano in terre molto dure e compatte; se nella zona circostante tutto è
asciutto, anzi arido; se i sassi che essa contiene non sono minuti né sferici, bensì poligonali,
massicci e meglio se silicei; se non sgorgano sorgenti di sotto terra e non vi scorrono corsi
d'acqua, giacché la loro natura è tale che essi, finché dura il loro moto, portano sempre via del
materiale o ne aggiungono, per cui le zone pianeggianti situate in vicinanza di un fiume non
danno sicurezza, quanto al terreno, se non a un livello inferiore a quello del letto del fiume»].
24. Ibid., III 2, p. 181 [p. 180, per la trad. it.: «Non mancano inoltre indizi da cui si
può dedurre in anticipo la solidità del suolo. Se infatti si fa rotolare sul terreno un oggetto
pesante, o lo si lascia cadere dall'altro, e sul posto non si registrano vibrazioni, oppure non si
producono increspamenti nella superficie dell’acqua contenuta in una bacinella posata in terra,
ovviamente bisognerà argomentare che il luogo offre garanzie di solidità»]. Anche se le cose

54
Ottime indicazioni per capire le stratificazioni del terreno
si ricaveranno, inoltre, scavando pozzi.25
L’altro libro in cui gli inditia la fanno da protagonisti è il deci-
mo. Nel capitolo quarto s’insegna quali avvisaglie possono mostrar-
ci la presenza di acque nascoste sotto il terreno: «Latentes aquas in-
ditiis invenies».26 Queste spie in parte si possono cogliere dalla con-
formazione stessa del terreno – «forma et facies loci terræque ge-
nus, quo aquam requiras»27–, in parte grazie a sistemi escogitati dal-
la solertia 28 dell’uomo. Segue, come sempre, una lunga serie d’in-
dicazioni, che sembrano mostrare una conoscenza per esperienza
diretta, com’è lo stesso Alberti a dichiarare in uno dei casi elencati:
Adverti etiam fontes non scaturire alibi, quam ubi sub se atque circum habe-
ant solum telluris integrum et solidum, supra vero se aut planicies incumbat
sidens, aut tellure sint operti rarenti et soluta; si rem pensites, quasi fracto
catini latere collectam emanare aquam non inficieris.29

Poche righe più avanti, Leon Battista mostra quale segno


possa svelare la presenza di una vena d’acqua sotterranea:

non sono mai così sicure. Cfr. ibid.: «Tu tamen solidum invenies non sempre omni in loco; sed
dabitur regio, uti est apud Adram apudque Venetias, ubi sub congestitia invenias aliud nihil
ferme præter solutum limum» [p. 180, per la trad. it.: «Tuttavia lo strato solido non si trova
necessariamente dappertutto: vi sono zone, come quella intorno ad Adria, o presso Venezia,
ove sotto gli strati ammassati non si troverà quasi altro che fanghiglia»] e ibid., III 3, pp. 181
e 183 [pp. 180 e 182, per la trad. it.].
25. Cfr. ibid., p. 183 [p. 182, per la trad. it.].
26. Ibid., X 4, p. 893 [p. 892, per la trad. it.: «Le acque nascoste si potrano individuare
mediante indizi»].
27. Ibid., p. 893 [p. 892, per la trad. it.: «[ ] dalla configurazione del luogo e dalla com-
posizione del terreno in cui si ricerca l'acqua [ ]»].»
28. «[ ] et quÆdam, quæ hominum solertia adinvenit», ibid., p. 893 [p. 892, per la trad.
it.: «e da alcuni mezzi escogitati dall'abilità dell'uomo»].
29. Ibid., p. 893 [p. 892, per la trad. it.: «Ho notato altresì che le sorgenti non sgorgano
se non là dove trovano sotto di sé e all'intorno un tipo di terreno massiccio e compatto, e al
di sopra uno spiazzo pianeggiante, ovvero un tratto di terra rada e interrotta che le ricopra;
sicché, considerando attentamente la cosa, si converrà che l’acqua si trova come raccolta in
un bacile da cui sgorga attraverso una rottura sul fianco»].

55
Arte etiam adhibita locum ipsum, ubi vena subest, cognitum esse, com-
pertum dedere. Sic enim admonent. Cælo sereno mane ad diluculum pro-
cumbito mentumque firmato ipso in solo; inde circum proximam regionem
quaque undique lustrato. Quod sicubi surgentes vapores videris crispare aere,
quale gelida hieme hominum anhelitus solent, illic aqua putato non deesse.30

E, di seguito, l’Alberti indica lo stratagemma da utilizzare


per esserne certi al cento per cento (procul dubio):
Sed quo fias certior, fodito locum fovea profunda et lata cubitos quattuor;
in ea circa solis occasum collocato aut testam nuper ex fornace exemptam
aut vellus lanæ sucidæ aut fictile crudum aut nudum æneum vas inversum
et perunctam oleo, et operito asseribus foveam terraque insternito. Postridie
mane, si ponderi multum accesserit testæ, si infusa lana sit, si commaduerit
fictile, si stillæ ad vas herentes pendebunt, item si ardens lucerna illic inter-
clusa minus olei consumpserit, aut si illic facto foco tellus fumarit: procul
dubio aquæ non deerunt.31

Nel capitolo settimo, Leon Battista ritorna sull’importanza degli


indizi per dedurre il funzionamento di oggetti idraulici, a pro-
posito di lacerti di elementi di tubature antiche, da lui inda-
gati autopticamente: «Vidimus marmora pedes longa plus XII
a summo ad imum traiecto foramine pervia lato palmum; quod

30. Ibid., p. 897 [p. 896, per la trad. it.: «È stato altresì rivelato il sistema ingegnoso con
cui è possibile individuare una vena sotterranea. Ecco le istruzioni. Ai primi albori di una
giornata serena sdraiamoci bocconi, appoggiando il mento sul terreno, indi esploriamo con
lo sguardo all'intorno tutta quanta la zona più vicina a noi: dove sono visibili vapori che si
elevano e s’increspano nell’aria – così suole accadere al fiato umano nel gelo invernale –, quivi
dobbiamo pensare che si trovi dell’acqua»].
31. Ibid., pp. 897 e 899 [pp. 896 e 898, per la trad. it.: «Per assicurarcene, scaviamo sul
luogo una fossa della profondità e della larghezza di quattro cubiti; collochiamovi dentro,
verso sera, un’anfora appena tolta dalla fornace, o un vello di lana sporca, o un vaso d’argilla
cruda, o un semplice recipiente di rame rovesciato e unto d’olio; chiudiamo la fossa con assi
e ricopriamola di terra. La mattina seguente se l'anfora si sarà molto accresciuta di peso, se la
lana si troverà madida , se il vaso d'argilla risulterà imbevuto d'umidità, se alla superficie del
recipiente di rame saranno attaccate delle gocce; o ancora, se, rinchiudendovi una lampada
accesa, questa consumerà una quantità minore d'olio, o se, accendendovi del fuoco, la terra si
metterà a fumare: la presenza di acqua sarà sicura»].

56
effecisse ænea fistula tornatili et harena apertissimis coniectu-
ris indiciisque ex ipso lapide intelleximus».32
Il “metodo sperimentale” è continuamente suggerito da Leon
Battista come buona pratica per verificare la bontà dei materiali da
costruzione: le pietre messe alla prova per due anni33 così come la
verifica della bontà dell’acqua. Il tempo, figura centrale nella visio-
ne del mondo albertiano, svelerà, infatti, alla fine, la verità:
Præterea ex usu veniet, si menses aliquot pecudem et potam et lotam ex ea,
quam cæteris præstare diximus, inspexeris, qui membris totoque corporis
habitu valeat, exque iocinerum habitu didiceris, an bene sit. Nam omne
quidem, quod ledat, ledere aiunt tempore.34

32. Ibid., X 7, p. 931 [p. 930, per la trad. it.: «Ho visto dei pezzi di marmo, lunghi più di
dodici piedi, trapassati dalla sommità ai piedi da un foro della larghezza di un palmo; il che si
ottenne facendo uso di un tubo di rame lavorato al tornio e trapanando con la sabbia, come ho
compreso osservando la pietra medesima e congetturando in base a indizi più che manifesti»].
33. Cfr. ibid., II 8, p. 135 e 137: «Cato:"Lapidem – inquit – æstate eximito, sub divo
habeto; ante biennium in opus ne ponito”. […] Non ante biennium, quo imbecilles natura,
et qui vitium in opere facturi erant, non te lateat et a firmioribus separentur» [pp. 134 e
136, per la trad. it.: «Dice Catone: "Estrarrai la pietra d’estate; la terrai sotto l’aperto cielo;
non l’adoprerai prima di due anni”. […] “Non prima di due anni”, in modo da non lasciarsi
sfuggire quelle pietre che, deboli per propria natura, sarebbero di danno al futuro edificio,
e che devono quindi essere separate da quelle più solide»]. Quelle pietre, però, serviranno
come materiale d'impiego nelle fondamenta: «Pedamentis extruendis, hoc est fundamentis ad
aream usque complendis, quidnam moneant, nihil invenio apud veteres præter unum illud,
ut lapidem, qui sub divo, uti supra diximus, biennium habitus vitium fecerit, fundamentis
coniicias. Nam, veluti in militia desides et imbelles, qui perferre solem et pulverem nequeant,
domum ad suos non sine nota remittuntur, sic et istic molles et enervatos lapides reiiciunt, ut
pristino in ocio assuetaque in umbra ignobiles conquiescant», ibid., III 4, p. 187 [p. 188, per
la trad. it.: «Non trovo negli antichi alcuna indicazione circa il modo di costruire i muretti,
cioè il coronamento delle fondamenta al livello del terreno, tranne il consiglio di impiegare
nelle fondamenta quelle pietre che, dopo essere state tenute per due anni esposte all'aperto
(come s'è detto), abbiano rivelato dei difetti. Come infatti i soldati pigri e codardi, incapaci
di sopportare il calore e la polvere, vengono rimandati con ignominia a casa loro, così nel caso
nostro le pietre macilente e prive di nerbo sono rigettare indietro nell'ozio antico e nell'ombra
consueta a riposare in un sonno senza gloria»]. Si veda anche, per le tegole, lo stesso periodo
di prova, ibid., III 15, p. 255 [p. 254, per la trad. it.].
34. Ibid., X 6, p. 917 [p. 916, per la trad. it.: «Inoltre sarà molto utile far la prova dell'ac-
qua che abbiamo detto
migliore di tutte, abbeverando e lavando con essa per alcuni mesi un capo di bestiame e
sorvegliando l'andamento della sua salute sia nelle singole membra che nell'intera corporatura.
La bontà dell'acqua si potrà conoscere dallo stato del fegato. Dicono infatti che ogni sostanza
dannosa manifesta i suoi effetti col passare del tempo»]. L’osservazione del fegato – l’aruspici-

57
L’ultimo grande accenno nel trattato alla teoria indiziaria
riguarda il tema del restauro delle murature. L’Alberti ne parla
nel capitolo diciassettesimo, a proposito delle cause delle fis-
suræ delle pareti. A volte, scrive Leon Battista, una crepa può
essere determinata dal peso delle volte, ma, nella maggioranza
dei casi, la ragione dipende dalle fondamenta. Se i motivi sono
altri, ancora una volta, «inditiis intelligemus».35
Segue, come sempre, una lista delle possibili cause delle
crepe murarie:
Nanque fissura quidem parietis, ut ab ea incipiam, quam in partem surgendo
deflexerat, illic subesse vitii causam indicabit. Sin autem in nullam parte fis-
sura deflexerit, sed sursum recta conscenderit in summoque dilatabitur, con-
siderabimushinc et hinc lapidum ordines. Nam hi quidem, quam in partem
a libella discesserint, illinc subesse fundamentum infirmum demonstrabunt.
Sin autem in summo illesus fuerit paries et ab imo rimæ plures hiabunt
labrisque sese capitibus suis inter surgendum contingant, tunc firmos esse
angulos parietum sed vitium adesse indicant in media longitudinis funda-
menti. Sin autem unica tantum istiusmodi erit rima, quo illa quidem erit
in summo adapertior, tanto in angulis factam commotionem indicabit.36

na – era già stata menzionata dall’Alberti, ibid., I 6, p. 49: «Vetus a Demetrio usque ductum
institutum non modo urbibus et oppidis, verum etiam militaribus in dies castris ponendis,
ut iecora depastarum illic pecudum inspectemus, quo sint habitu et colore: quæ, si forte vitio
infecta apparuerint, vitandam loci insalubritatem præ se ferunt» [p. 48, per la trad. it.: «È antica
consuetudine, risalente a Demetrio, che nel fondare città e piazzeforti, e anche nel piantare
giornalmente un accampamento militare, si esamini quale disposizione e colore abbia il fegato
degli armenti che pascolano sul posto: e il trovarvi qualcosa di guasto indica che la zona è
malsana e pertanto da evitarsi»]. Su questa razionalizzazione del rito da parte dell’Alberti, si
veda la nota di JOSEPH RYKWERT, The Idea of a Town: The Anthropology of Urban Form in
Rome, Italy and the Ancient World, Princeton, Princeton University Press / London, Faber &
Faber, 1976, trad. it. di Giuseppe Scattone, L’idea di città: Antropologia della forma urbana nel
mondo antico, a cura di Giuseppe Scattone, Milano, Adelphi, 2002, p. 265, nota 86.
35. L.B. ALBERTI, L’architettura [De re Ædificatoria], cit., X 17, p. 993 [p. 992, per la
trad. it.: «[ ] si dedurrà da particolari indizi»].
36. Ibid., p. 993 [p. 992, per la trad. it.: «Cominciamo dalla fessura nel muro. La causa del
guasto dev’essere individuata nella zona verso cui la fessura si piega. Se poi questa non s’incurva
da nessuna parte, presentandosi verticalmente in linea retta, e allargandosi verso la sommità,
bisogna osservare i filari di pietre da un lato e dall'altro di essa: da quel lato ove questi ultimi
si inclinano allontanandosi dalla linea orizzontale, significa che quivi le fondamenta sono poco
solide. Se invece il muro si presenta intatto verso la sommità, mentre in basso si aprono varie

58
Questo passo fa il pari con un altro, del libro II, capitolo ottavo,
dove l’Alberti aveva condotto una straordinaria “tassonomia”
delle lapides e delle loro venæ:
Albus quisque lapis facilior fusco est; tralucidus opaco ductibilior; et quo
quisque magis imitabitur salem, eo erit intractabilior. Harena inspersus lapis
collustranti asper est; aureæ si intermicabunt scintillæ, contumax; nigran-
tes si, ut ita loquar, scatent puncti, indomitus. Qui guttis est angularibus
aspersus, is erit lapis tollerantior; et quo cuique color purgatior atque lim-
pidior, eo æternior; et lapidi quo venarum aderit minus, eo integrior; et
qui vena ipsa contiguo lapidi colore congruentior, eo æquabilior; et quo
tenuior, eo morosior; et quo amfractior et volutior, eo austerior; et quo
internodosior, eo acerbior. Venarum ea est apprime fixilis, qu æquabilior
sui medio lineam habuerit ductam rubrica aut ocrea putrenti; proxima ad
has erit, qu æquabilior diluto et albescente herbaceo colore sparsim fuscabi-
tur; omnium difficillima, qu æquabilior glaciem pr æquabiliorsertim ceru-
leam imitetur. Venarum numerus dissidiosum et inconstantem indicat; et
quo directiores , eo infedeliores.
Lapis, quo disfractis glebulis aciem acutiorem et tersiorem dederit, eo erit
concretior; et lapis cum defringitur, cute qui minus extabit aspera, is erit
habilior scabro. Sed scabri ipsi, quo erunt candidiores, eo minus erunt obse-
quentes. Et contra fuscus quisque lapis, ubi erit linea minutiore, illic magis
ferri aciem aspernabitur.
Ignobilis quisque lapis, quo fistulosior, eo durior; et qui aqua aspersus sum-
motenus tardius arescet, is erit crudior. Et gravis quisque lapis solidior et
expolibilior levi; et levis quisque friabilior gravi; et resonans, dum ferias,
lapis densior est surdo; et qui duriter perfricatus olebit sulphur, acrior est,
quam qui nihil referat olidi; et quo deniqe ad scalprum contumacior, eo
contra lacescentes tempestates rigidior et constantior.
Ad fauces fodin æquabilior qui tempestatibus perfractus glebis sese gran-
dioribus asservarit , hunc firmiorem ducunt. Omnis item lapis ferme, cum
defoditur, mollior est, quan cum sub divo est habitus; et humore aspersus

crepe, i cui margini si toccano tra loro con le proprie estremità superiori, ciò indica che gli
angoli dei muri sono saldi e il guasto ha sede nella zona centrale delle fondamenta. Se infine
vi è un'unica crepa del tipo suddetto, quanto più essa è aperta verso l'alto tanto più sensibile
sarà la deformazione negli angoli ch’essa indica»].

59
atque infusus lapis tractabilior ferro est, quam cum exaruerit. Et suo qui-
sque lapis quo humectiore fodin æquabilior loco exemptus sit, eo, cum
aruerit, erit densior. […]
Verum lapides ipsi quales futuri per æquabiliortatem sint, siquid libeat
ocius periculum facere, indicia patebunt hinc. Nam qui aqua commade-
factus perplurimum ponderi adiecerit, erit is quidem humido dissolubi-
lis; qui vero igne et flammis pertactus fracescet, sub sole æquabiliorstuque
non perdurabit].37

37. Ibid., II 8, pp. 137 e 139 [pp. 136 e 138, per la trad. it.: «Una pietra chiara è più
facile a lavorarsi di una scura; una trasparente è più duttile di una opaca; e più una pietra è
simile a sale, meno sarà cedevole. Se una pietra è cosparsa di sabbia luccicante, sarà resistente;
se a tratti vi si vedranno sprizzare come delle scintille d'oro, sarà dura da vincere; se è piena
di punti beri, sarà indomabile. Una pietra che è cosparsa di gocce di forma poligonale è più
solida di una che le ha circolari; e quanto più tali gocce sono piccole, tanto più resistente essa
sarà. Quanto più limpido e puro sarà il colore, tanto più durerà la pietra. Minore sarà il nu-
mero delle venature, più sana sarà la pietra; circa le venature, quanto più similii esse saranno
per il colore a quello della pietra stessa, tanto più questa sarà di struttura uniforme; quanto
più sottili saranno quelle, tanto più capricciosa sarà questa; quanto più snodate e tortuose
quelle, tanto più intrattabile questa; quanto più avranno nodi quelle, tanto più rozza sarà
questa. Le venature più facili a fendersi sono quelle che contengono nel mezzo una riga color
argilla od ocra marcia; in second’ordine quelle che a tratti si colorano di una tinta tendente
all’erba, slavata e alquanto chiara.
Le più difficili invece sono soprattutto quelle che imitano l'azzurro del ghiaccio. Un gran
numero di venature è indice di una pietra poco compatta e poco durevole; e più dritte saranno,
meno bisognerà fidarsene.
Quanto più una pietra, tagliata a pezzetti, si dimostrerà aguzza e liscia, tanto più sarà soda;
e quella che, purê frantumata, risulterà meno scabra in superficie, sarà più agevole a utilizzarsi.
Al contrario, quelle che risultano scabre saranno tanto meno maneggevoli quanto più bianche;
se invece vengono scure, la loro resistenza al ferro sarà maggiore nei punti ove più minuta è la
loro grana. Le pietre di qualità inferiore saranno tanto più dure quanto più sono porose; e quelle
che, bagnate d'acqua nella parte superiore, si asciugano più lentamente, sono più rozze. Una
pietra pesante è più solida e si può meglio lisciare di una leggera; questa è più friabile di quella.
Una che, percuotendola, emette suono, è più compatta di una che non ne dà. Quelle
che, strofinate con violenza, puzzano di zolfo, sono più forti di quelle che non danno odore
alcuno; e quelle infine che più resistono allo scalpello, saranno più resistenti e incrollabili agli
assalti delle tempeste.
Quel tipo di pietra che all’imboccatura della cava battuto dalle intemperie rimane intatto in
blocchi più grossi, è reputato più solido degli altri. Quasi ogni pietra, quando è stata appena
estratta, risulta meno dura di quando è tenuta allo scoperto; e quando è bagnata o inumidita
si può lavorare col ferro meglio di quando è secca. Quanto più umida è la cava donde una
pietra è estratta, tanto più compatta risulterà quest’ultima quando seccherà. […]
Se si vuol sperimentare in breve il futuro comportamento delle pietre col trascorrere del
tempo, si tenga conto di questi elementi. La pietra che, quando è bagnata, acquista molto
peso, sarà attaccabile dall’umido. Quella invece che a contatto con le fiamme si spappola, non
avrà resistenza al calore solare»].

60
Va detto che l’Alberti, se è assai interessato a scoprire i mecca-
nismi secondo i quali opera la natura, è molto meno attratto
dall’indagine sull’origine delle cose: bastino alcuni passi del
trattato a dimostrarlo.
A proposito delle teorie sulla formazione dei corpi nuvo-
losi, Leon Battista scrive:
Neque hic physica illa recensebimus, quo pacto vi solis vapores ex inti-
mis terræ visceribus exhauriantur atque in æthera tollantur; quo maximo
in spatio orbis vastum in cumulum coaggerati aut immani mole sua faces-
sunt aut radio solis excipiendo, qua parte arefacti sunt, eo in latus labuntur
suoque casu aerem impellunt ventosque concitant, indeque sese intra occe-
anum acti siti immergunt, mari demum infusi et humore pregnantes iterato
aere vagando ventis cœrcentur et quasi spongia perstricti

Agostino di Duccio e Bottega, Acquario che


“spreme” le nubi per far piovere, Rimini, Tempio
Malatestiano, Cappella dei Pianeti, 1455 ca.

guttatim expressum humorem stillent atque impluenat, quo et novi terra


vapores concreentur. Sive hæc vera sint, quæ recensuimus, sive est ventus
sicca fumositas terræ aut calida evaporatio mota a frigore impellente, sive

61
aeris flatus, sive purus aer mundi motu aut syderum cursu et radio com-
motus, sive generabilis rerum spiritus suapte natura agitabilis, sive quip-
piam sit, quod non in se ipso sed in aere potius consistat, ductum ex calida
vi summi ætheris atque incensione facta ad aerem liquentem, sive aliorum
alia ulla ratio et opinio in disquisitione habenda firmior et antiquior est,
prætereundum censeo, quod fortassis ab re videri possit».38

Tema, questo, ripreso anche nel libro X, capitolo primo:


Quam ob rem non est ut illa prosequar, solisne vi an concepto visceribus
intimis ardore tellus duo illa spiret, hanelitum scilicet, qui sublatus in aerem
frigore in pluvias nivesque concogatur, et siccum spiritum, quo putant fieri,
ut ventorum impulsus moveantur. Tantum constet apud nos spirare utrun-
que ex tellure. 39

Facciamo qui notare, en passant, un evidente paradosso: l’Al-


berti dichiara di essere disinteressato a questioni di natura teo-
rica, ma in realtà fa sfoggio di una perfetta conoscenza delle
teorie scientifiche sull’argomento; semmai dichiara una sua
indifferenza a prendere posizione a favore dell’una o dell’altra,

38. Ibid., I 3, p. 27 [p. 26, per la trad. it.: «Non prenderemo qui in esame le teorie fisiche
che spiegano come dal calore solare i vapori siano tratti fuori fin dai più profondi strati del
terreno e sollevati in cielo; onde, riuniti in vasti ammassamenti nell'immensità dello spazio
atmosferico, o si allontanano con tutta la loro immensa mole, ovvero, per effetto dei raggi
solari, causando con tale spostamento un moto dell'aria che dà origine ai venti; in seguito,
vagando sopra l' oceano, vi si immetgono assetati, e così impregnatisi d'umidità marina, e
libratisi di nuovo nell'aria, subiscono la pressione dei venti, e spremuti come spugne espellono
da sé l'umidità stessa sotto forma di gocce di pioggia, destinate in terra a originare nuovi vapori.
Siano esatte le teorie suddette, ovvero sia il vento una esalazione secca del terreno, o vapori
caldi scacciati dal sopravvenire del freddo, o il respiro dell’aria, o l’aria pura e semplice che si
sposta per il movimento della terra o per influsso del moto e delle radiazioni degli astri, o il
soffio generatore delle cose che si muove per propria natura; ovvero sia qualcosa che non si
concreta in un'entità a sé stante, ma come qualità dell'aria, e che dal calore degli strati più alti
dell'atmosfera viene incendiata e ridotta ad aria liquida; o siano meglio fondate o di maggiore
autorità altre spiegazioni od ipotesi in questo campo: credo che non abbiano importanza per
il nostro assunto e si possano pertanto trascurare»].
39. Ibid., X 1, p. 877 [p. 876, per la trad. it.: «Non staremo qui a discutere se sia il calore
solare o non piuttosto un ardore originato nelle viscere interne la causa onde la terra emette
due generi di esalazioni: quelle che, levandosi nell’atmosfera, a causa della bassa temperatura
si condensano in piogge e nevi; e quelle asciutte, le quali – si crede – danno la spinta al moto
dei venti. Ci basti sapere che le une e le altre hanno origine dalla terra»].

62
interessato all’aspetto concreto del fenomeno per riuscire ad
affrontarlo dal punto di vista costruttivo. Più volte quest’ap-
parente “sprezzatura” albertiana ritorna nel trattato:
Neque istic insistam, ut physica illa de lapidum primordiis atque origine
disputem: ex aquæne ac terræ commixtionibus viscosa illa prinicpia in
limum prius, subinde in lapidem duruerint; frigorisne an, quod de gemmis
asserunt, caloris vi solisque radio densata concreverint, an potius, ut rerum
aliarum, sic et lapidum itidem sint a rerum natura indita telluri semina;
coloresne lapidibus ex rata terrenorum corpusculorum cum liquenti aqua
confusione insint, an ex innata seminis ipsius vi, an ex concepta radii impres-
sione adsint. Itaque istiusmodi omnia, tametsi fortassis aliquid facerent ad
rem exornandam, ea tamen prætermittam, remque ipsam ædificatoriam
quasi inter fabros usu et arte probatos tractans liberius et solutius prsequar,
quam exactissime philosophantes fortassis postulant postulant.40

In questo brano, oltre al solito “disinteresse” per le teorie scien-


tifiche, emerge un altro paradosso: l’Alberti giustifica la non
trattazione rigorosa del soggetto, col fatto di rivolgersi a fabri,
come se questi potessero leggere il latino! Leon Battista, come
sempre, ci spiazza.
Altre volte l’Alberti stigmatizza la vuota erudizione priva,
per lui, come sembra, di ogni valenza scientifica:
Plura possent de aquis dici, quæ veteres historici adnotarunt, varia et admi-
rabilia et ad hominum genus bene atque male habendum validissima; sed

40. Ibid., II 8, p. 135 [p. 134, per la trad. it.: «Non mi soffermerò a discutere le teorie
naturalistiche sull'origine
delle rocce: se l’originario materiale viscoso, derivante da mistura di acqua e terra, si sia
dapprima condensato in fango, in seguito in blocchi di pietra; o se si siano costituite per
addensamento di materia originato dalla violenza del gelo o del calore solare, come dicono sia
avvenuto per le pietre preziose; o se invece la natura abbia provveduto a immettere nella terra
il seme stesso della pietra, così come di tutte le altre cose. Né ci chiederemo se il colore delle
diverse rocce derivi da determinate combinazioni di minute particelle del terreno con acqua,
o da una proprietà innata del seme suddetto, o da un effetto particolare dovuto ai raggi del
sole. Disquisizioni di questo genere avrebbero forse un effetto gradevole dal punto di vista
esornativo, ma preferisco saltarle tutte, volendo proseguire il mio discorso sull’architettura come
se parlassi tra artefici forniti di abilità e di esperienza e perciò in modo più libero e spedito di
quanto probabilmente richiederebbero dei teorici rigorosi»].

63
rara illa, et fortassis ad peritiam ostendandam quam ad rem edisserendam
facerent.41

Leon Battista, ad esempio, risolve il problema dell’origine delle


abitazioni in poche righe elencando le opinioni, tra loro con-
trastanti, degli antichi:
Sunt qui dicant homines primum speluncis habitasse, ita ut pecus et domini
communi clauderentur umbra. Hinc credunt, quod fertur apud Plinium,
gelium quendam Taxium imitatione naturæ primum omnium luteum sibi
astruxisse ædificium; deam Diodorus Vestam Saturni filiam ait primum habi-
tacula adinvenisse; Eusebius Pamphilus elegans antiquitatum perscrutator
ex veterum testimoniis Prothogenii nepotes excogitasse hominibus domi-
cilia asseverat, quæ ex foliis harundinum et papiro intexerentur.42

Sul tema si era già espresso nel libro primo, liquidando in modo
sbrigativo le fabulæ che raccontano del primo inventore dell’a-
bitazione dell’uomo:
Itaque quicunque ille fuerit, seu Vesta dea Saturni filia, seu Heurialus Hiper-
biusque fratres, seu Gellio aut Traso Cyclopsve Tiphinchius, qui ista [sc.
ædificia] principio instituerit […].43

In una sola circostanza, le notizie sull’origine delle cose vengono


considerate utili e da conoscersi: è il caso delle pietre. Infatti, la

41. Ibid., I 4, p. 39 [p. 38, per la trad. it.: « Si potrebbe parlare a lungo delle acque, e riferire
le copiose notizie, spesso sorprendenti, che ne danno gli storici dell'antichità, a proposito del
molto bene e del molto male che possono fare all'uomo; ma si tratta di casi rari, utili più a fare
sfoggio di competenza che a una conveniente trattazione dell'argomento»].
42. Ibid., II 4, p. 111 [p. 110, per la trad. it.: «Alcuni affermano che da principio l’uomo
abitava nelle caverne, riparandosi insieme, padroni e greggi, sotto la stessa ombra; e danno
credito a quanto narra Plinio, che per primo un certo Gelio Tassio, imitando la natura, si
costruì una casa con il fango. Diodoro scrive invece che inventrice delle abitazioni fu la dea
vesta, figlia di Saturno. Eusebio Panfilo, dotto indagatore di antichità, sostiene, in base ad
antiche testimonianze, che furono i discendenti di Protogono che escogitarono le abitazioni
per gli uomini, intrecciando foglie di canna palustre e papiro»].
43. Ibid., I 2, pp. 21 e 23 [pp. 20 e 22, per la trad. it.: «non importa poi sapere chi sia
stato che per primo lo concepì [sc. l’edificio primitivo], se la dea Vesta figlia di Saturno, o i
fratelli Eurialo e Iperbio, o Gellione, o Trasone, o il ciclope Tifinchio»].

64
loro fragilità dipende da un peccato d’origine: l’essersi formata
mediante strati di materia molle e dunque facile a fendersi.44
Quello che interessa veramente l’Alberti, alla fine, è ciò che
si può discernere con i propri occhi:
Non illa philosophantium hic prosequar, petantne aquæ mare quasi quietis
locum, radione fiat lunæ, ut mare momentis augeatur vicissimque diminua-
tur; nihil enim ad rem nostram conferent. Illud non prætereundum est,-
quod ipsis oculis perspicimus.45

l che dunque conferma, una volta di più, che la teoria indizia-


ria è centrale nel pensiero del grande umanista:
Verum hi, quales pro locorum varietate et natura sint [sc. lapidum], usu er
experientia pulcherrime innotescunt, ut iam ex veterum ædificiis cuiusque
lapidis vim et virtutem didicisse plenius possis quam ex philosophantium
scriptis et monimentis;46

44. Cfr. ibid., III 7, p. 201 [p. 200, per la trad. it.].
45. Ibid., X 3, p. 887 [p. 886 per la trad. it.: «Non ci rifaremo qui alle note questioni
filosofiche: se l’acqua si diriga verso il mare quasi per riposarsi in esso; o se siano i raggi lunari
la causa onde il mare alternativamente cresce e decresce – problemi che non toccano il pre-
sente assunto. Servirà piuttosto rammentare quelle proprietà che si possono constatare con
in propri occhi»]. E qui segue una breve disanima di alcune caratteristiche proprie dell'acqua
che si possono notare con la semplice osservazione: «aquam natura petere ima; nec pati aerem
uspiam esse depressiorem se; odisseque omnium tum leviorum tum graviorum, quem ipsa sit,
corporum mixtionem; et cupere complere omnes, in quascunque influat, concavitatum formas;
et suis quo magi suti prohibeas viribus, eo cuntumatius illuctari adversum atque inniti; neque
interquiescere, quoad pro viribus assequatur, quæ ad quietemaffectat; adeptis, ubi conquiescat,
sedibus sese tantum contentam esse; mixta omnia cætera aspernari; superficiemque summam
sese ad coæquatam altitudinis parilitatem limbo extremisque labris collibrare», ibid., pp. 887
e 889 [pp. 886 e 888, per la trad. it.: «l'acqua per natura tende verso il basso; non consente
mai che vi sia dell'aria sotto di sé; rifiuta di mischiarsi con sostanze più leggere o più pesanti;
inclina a riempire tutte le forme concave ove è immessa; quanto più ci si sforza d’impedirle
di dare sfogo alla sua forza, tanto più tenacemente essa contrasta e fa pressione, né si dà pace
finché non abbia conseguito, nei limiti delle sue forze, la posizione di quiete a cui tendeva;
una volta raggiunta una sede stabile, ama star solo con se stessa, rifiutando di frammischiarsi
a qualsiasi altro elemento; la sua superficie superiore si presenta perfettamente allineata allo
stesso livello dei lembi estremi»].
46. Ibid., II 8, p. 137 [p. 136, per la trad. it.: «Quali siano dunque le loro caratteristiche
[sc. delle pietre], in
dipendenza dalla loro propria natura e dalla loro ubicazione, si potrà conoscere ottimamente
in base alla diretta esperienza. Si potrà cioè apprendere, dall’osservazione degli antichi edifici,

65
a quibus plura me longe quam a scriptoribus profiteor didicisse.47

Ma, come detto all’inizio, sbaglieremmo se vedessimo nell’Al-


berti un precursore di Francis Bacon, che fa dell’investigazione
della natura il necessario strumento per dominarla e trasfor-
marla (si veda la New Atlantis, 1624, 1627). L’Alberti sa quali
sono i limiti cui può spingersi l’inevitabile azione di modifica-
zione della natura e lo rimarca, di continuo, come detto, all’in-
terno del suo trattato.
Basteranno pochi esempi fra i tanti. I limiti della ragione sono
dimostrati dall’esistenza di segreti inconoscibili della natura:
cælum vero nulla ingenii ope nullaque hominum manu satis posse emen-
dari asseverant.48
Cælum pro situ et locorum gacie alium atque alium haberi sentimus;
quarum varietatum rationes partim intelligere videmur, partim naturæ
obscuritate adbitæ atque ostrusæ nos penitus latent.49
sed regioni universæ quid satis conferat, compertum non habemus.50

Ma la parola finale sui limiti della scientia l’Alberti la scrive a


proposito dell’imprevedibilità dei tentativi di scavare pozzi per
estrare l’acqua da sorgenti sotterranee. Dopo un lunghissimo
elenco di casi che si possono presentare, nell’ottica di quella
varietas tanto a lui cara, Leon Battista così conclude: «Quæ si ita

quali siano le caratteristiche e i pregi di questa o di quella pietra molto meglio che dagli scritti
e dalle memorie dei filosofi»].
47. Ibid., III 16, p. 257 [p. 256, per la trad. it.: «e possiamo asserire di aver appreso molto
di più da questi contatti diretti che da quanto dicono gli autori»].
48. Ibid., I 3, p. 25 [p. 24 per la trad. it.: «ma né l'ingegno né la potenza dell'uomo
possono mutare il cielo»].
49. Ibid., pp. 25 e 27 [pp. 24 e 26, per la trad. it.: «Possiamo constatare che la natura
del clima varia a seconda dei luoghi e della loro conformazione. Di tali variazioni talvolta par
possibile comprendere le cause, talvolta sfuggono del tutto, nascoste tra i segreti della natura»].
50. Ibid., X 1, p. 877 [p. 876, per la trad. it.: «ma quanto ai mezzi validi per l'intero
ambiente, non abbiamo cognizioni sufficienti [ ]» per difendersi dal sole e dal vento»].

66
sunt, profecto naturam nosse minime facile et valde obscurum
est».51
Come già dichiarato, la teoria degli indizi non riguarda sol-
tanto il De re ædificatoria. Tutta l’opera letteraria, secondo la tri-
partizione di Francesco Furlan – trattatistica, dialogica e ludica52
– ne è investita. A cominciare da quel vero e proprio mani-
festo programmatico della teoria indiziaria che è il libro I del
De familia, dove tale “elogio” è messo in bocca al litteratus Lio-
nardo Alberti, in dialogo col più maturo Adovardo Alberti sul
tema de officio senum erga iuvenes et minorum erga maiores et de
educandis liberis:
LIONARDO Quanto io, stimo a uno padre diligente e desto non sarà
questo molto difficile, conoscere a che essercizio e a che laude e’ figliuoli
suoi sieno proclivi e disposti. Quale piú sempre fu incerto e dubbioso che
il ritrovare quelle cose, le quali in tutto voleano starsi nascose, le quali la
natura si serbava molto entro coperte sotto la terra? Pur questo si vede,
gl’industriosi artefici l’hanno ritrovate e agiunte. Chi disse all’avaro e cupido
là sotto fussero metalli, argento e auro? Chi gl’insegnò? Chi gli aperse la via
sí difficile e ambigua ad andarvi? Chi lo fé certo fussino minere piú tosto
di preziosi metalli che di piombo? Furono gl’indizii, furono e’ segni per
li quali si mossono ad investigare, e co’ quali investigando conseguirono,
e addussorli in notizia e uso. E tanto potette la industria e diligenza degli
uomini che nulla cosa di quelle occultissime piú a noi sta non conosciuta.
Ecco ancora gli architetti vorranno edificare el pozzo o la fonte. Prima cer-
cano gl’indizii, né però cavano in ogni luogo, perché sarebbe inutile spesa
cavare dove non fusse buona, netta e presta vena. Però pongono mente

51. Ibid., X 3, p. 891 [p. 890, per la trad. it.: «Da tutto ciò s'inferisce che la conoscenza
della natura è cosa davvero difficle ed estremamente incerta». Così afferma Ricciardo Alberti nel
quarto libro del De familia: «Sono in le cose produtte dalla natura maravigliose e occultissime
forze d'inimicizia e di amore, delle quali ancora non seppi comprendere causa o aperta ragione
alcuna», LEON BATTISTA ALBERTI, I Libri della Famiglia, a cura di Ruggiero Romano e
Alberto Tenenti, nuova edizione a cura di Francesco Furlan, Torino, Giulio Einaudi editore,
1994, IV 182-185, p. 328.
52. Cfr. FRANCESCO FURLAN, Studia albertiana: Lectures et lecteurs de L.B. Alberti,
Paris, J. Vrin & Torino, Aragno, 2003, pp. 7-10 e passim; ma si veda anche Id., Per un ritratto
dell’Alberti, in «Albertiana», XIV, 2011, pp. 43-53: 50-52.

67
sopra terra onde possano conoscere quello che sta sotto, entro, dalla terra
nascoso. E dove e’ veggono el terreno tuffoso, arido e arenoso, ivi non per-
dono opera, ma dove surgano virgulti, vinci e mirti, o simile verzure, ivi sti-
mano porre sua opera non indarno. E cosí non, senza indizio, si danno a
seguire quanto allo edificio sarebbe accommodato, ma dispongono lo edi-
ficio a meglio ricevere quel che gl’indizii gli prescrivono.

Simile adunque faccino e’ padri verso de’ figliuoli. Rimirino di dí in dí che


costumi in loro nascono, che volontà vi durino, a che piú spesso ritornino,
in che piú sieno assidui, e a che peggio volentieri s’induchino. Imperoché di
qui aranno copiosi e chiari indizii a trarne e fermarne perfetta cognizione.53

In questo lungo brano, che abbiamo voluto riprodurre per


intero per la sua importanza – in un crescendo retorico che
ha il pari solo nel famoso passo del Libro III dove Giannozzo
tesse l’elogio del tempo – i termini indizio/indizii ritornano
per ben cinque volte a rimarcarne la centralità. E il rapporto
col De re ædificatoria appare più che evidente.54 Il Cardini ha
individuato un altro momento della teoria indiziaria in una
pagina del quarto libro, in cui Adovardo riferisce di una tec-
nica indiziaria di smascheramento messa in atto dall’avo Bene-
detto, mediante un’attenta osservazione dei gesti – «con molta
diligenza molto notando e pesandolo»55 – di un giovane al suo
servizio, in apparenza «assai moderato»,56 fino a scoprire i segni
53. L.B. ALBERTI, I Libri della Famiglia, cit., I 1117-1148, pp. 53-54.
54. Sui rapporti tra i due capolavori albertiani, in latino e in volgare, si veda MASSIMO
DANZI, Fra oikos e polis: il pensiero familiare di Leon Battista Alberti, in La memoria e la
città. Scritture storiche tra Medioevo ed Età Moderna, Atti del convegno (Bologna-San Marino,
24-27 marzo 1993), a cura di Claudia Bastia e Maria Bolognani, responsabile culturale Fulvio
Pezzarossa, [premessa di Ezio Raimondi], Bologna, Il Nove, 1995, pp. 47-62; mi sia permesso
di rimandare anche al saggio dello scrivente dal titolo «La cité est une très grande maison et la
maison une petite cité»: Intersections entre le De familia e le De re Ædificatoria, in Les Livres
de la famille d’Alberti: Sources, sens et influence, Sous la direction de Michel Paoli, avec la
collaboration d’Élise Leclerc et Sophie Dutheillet de Lamothe, Préface de Françoise Choay,
Paris, Classiques Garnier, 2013, pp. 325-352.
55. L.B. ALBERTI, I Libri della Famiglia, cit., IV 1268, p. 369.
56. Ibid., IV 1259-1260, p. 369.

68
di probabili futuri vizi.57 Un perfetto “detective”, come l’astro-
logus albertiano dell’intercenale Vaticinium:
ASTROLOGUS. Est quidem is nimis admodum callidus qui usque alio-
rum mentes teneat, nimium profecto astutus idem qui verbo aut vestigio
unico tam illico voluntates hominum interpretetur!58

Ma la teoria indiziaria ritorna a più riprese nel corso del dialogo


albertiano, con particolare riferimento a svelare il carattere fem-
minile, mascherato quanto altro mai per il “misogino” Alberti.
Il termine, da vedersi spesso in uno con i termini segno/
signum/signa, ricorre, nel genere dei trattati, nel De pictura e
nel De equo animante; in quello dei dialoghi nel Theogenius, nei
Profugiorum ab ærumna libri III e nel De iciarchia; nel genere
del ludus (o lusus), nel Momus, nelle Intercenales e nei libelli
amorosi, sorta di fusione dei tre generi (Sofrona, Ecatonfilea,
Deifira, De amore). In particolare nell’Autobiografia, il metodo
indiziario è esplicitamente presentato come praticato corren-
temente dall’Alberti nel lungo elenco di dicteria:
Ambitiosi domum spectans, «Turgida» inquit «domus hec propediem effla-
bit erum»; ut evenitquidem: nam ob alienum es ipsarum edium fortunatissi-
mus dominus in exilium secessit. Cuidam prodigo et insolenti , qui se dictis
morderet, cum satis obticuisset, «Non tecum,» inquit «o beate, contendam,
quem respublica suo sit hospitio acceptura». Horum verborum mordax ille,
cum carceribus detentus diem obiret, meminit. <ferrariensibus, ante edem-
qua per Nicolai Estensis tyranni tempora maximaiuventutis pars eius urbis
deleta est, «O amici,» inquit «quam lubrica erunt proximam per æstatem
pavimenta hec, quando sub tectis multe impluent gutte!59

57. Cfr. ibid., IV 1268-1270, pp. 369-370.


58. L.B. ALBERTI, Vaticinium, cit., p. 266 [p. 641, per la trad. it.: «ASTROLOGO. È
decisamente troppo furbo; uno che sembra conoscere fino in fondo la mente altrui; e anche
decisamente troppo astuto, uno che sa capire immediatamente, anche solo da una parola o da
un movimento, le intenzioni degli uomini!»].
59. Leonis Baptistæ de Albertis vita (Autobiografia), in LEON BATTISTA ALBERTI,
Autobiografia e altre opere latine, A cura di Loredana Chines e Andrea Severi, Testo latino a

69
Più che segnalare doti da indovino, queste previsioni derivano
dalla capacità di osservazione dell’Alberti e da un metodo indi-
ziario che si avvicina molto alla phronesis aristotelica: la capacità
di prevedere il futuro sulla base dell’esperienza del passato e del
presente, secondo la celebre raffigurazione dell’allegoria della
Prudenza, con le tre teste del lupo, del leone e del cane; leone
e cane, tra l’altro, animali araldici albertiani per eccellenza.
Più prossime a vere e proprie artes divinatoriæ – pur sem-
pre accompagnate da
prudentia e doctrina –
sono invece le successi-
ve profezie sul destino
della patria, di pontefi-
ci, di città e principati:
Et e n i m p r e d i c e n d i s
rebus futuris prudentiam
doctrine et ingenium arti-
bus divinationum coniun-
gebat. Extant eius epistole
ad Paulum phisicum, in
quibus futuros casus patrie
annos integros ante prae-
Tiziano Vecellio, Allegoria della Prudenza, 1565-
1570, olio su tela, 76,2 × 68,6 cm, London, National
Gallery

fronte, Milano, RCS, 2012, pp. 61-103: 92 [p. 93, per la trad. it.: «Osservando la casa di
un uomo ambizioso affermò: "Questa casa turgida d'opulenza presto soffierà via il proprio
signore"; come in effetti accadde: infatti il fortunatissimo padrone fu mandato in esilio per
debiti. A uno scialacquatore e sfrontato che lo tormentava con sue affermazioni, dopo aver
taciuto abbastanza disse: "Non mi metterò a discutere con te, fortunato, che lo stato ben presto
accoglierà nelle sue dimore”.
Quell’insolente si ricordò di queste parole il giorno in cui, detenuto in carcere, morì. Ai
Ferraresi, davanti al palazzo in cui, ai tempi della tirannide di Niccolò d'Este, fu ucciso il fior
fiore dei giovani di quella città, disse: "Amici, come saranno scivolosi questi pavimenti durante
la prossima estate, quando da questi tetti cominceranno a stillare in quantità gocce di sangue"»].

70
scripserat; tum et pontificum fortunas, que ad annum usque duodecimum
essent affuturæ predixerat, multarumque reliquarum urbium et principum
motus ab illo fuisse enunciatos amici et familiares sui memorie prodide-
runt 60.

Ma è nel segno del suo emblema, l’occhio alato,

Matteo de'Pasti, Medaglia di Leon Battista Alber-


ti, 1446-1450 ca., medaglia in bronzo, verso: 9,34
cm, 205,24 g, Washington, National Gallery of Art,
Samuel H. Kress Collection, inv. n. 1957.14.648.a.
Iscrizione: • OPVS • MATTHAEI • PASTII • VE-
RONENSIS (sul bordo); • QVID • TVM • (al centro
in basso).

che forse possiamo terminare questa disamina di una teoria


e pratica degli indizi, capace di prevedere, in qualche modo
scientemente, il destino di uomini e cose, come ci confessa lo
stesso Alberti proprio nella sua Autobiografia:

60. Ibid., pp. 92 e 94 [pp. 93 e 95, per la trad. it.: «Infatti, nel predire il futuro, coniugava
la saggezza con la dottrina e l'ingegno con le arti divinatorie. Restano di lui lettere al medico
Paolo, in cui aveva previsto con anni di anticipo le future sorti della patria; aveva inoltre predetto
le vicende dei pontefici per i futuri dodici anni e amici e parenti hanno lasciato memoria dei
rivolgimenti di molte città e reggenze da lui preannunciati»].

71
Habebat pectore radium, quo benivolentias et odia hominum erga se pre-
sentisceret; ex solo intuitu plurima cuisque presentis vitia ediscebat.61

Strumenti – l’intuitus e il radius –, indispensabili per muoversi


sulla scena del mondo, perché, come ha scritto il Cardini, la
teoria indiziaria «poggia […] su un’idea alquanto pessimistica, e
piuttosto realistica, della natura umana nonché sull’assunto, in
Alberti ubiquitario, che ogni uomo è sempre personatus […]».62
E gli indizi servono a far cadere in modo “scientifico”, appun-
to, tali maschere.

61. Ibid., p. 94 [p. 95, per la trad. it.: «Aveva nel cuore un raggio luminoso grazie al quale
riusciva a presentire la benevolenza e l'odio degli uomini verso di lui; con una sola occhiata era
in grado di cogliere moltissimi difetti di ogni persona fosse al suo cospetto»].
62. [R. Cardini], [Commento a] Vaticinium, cit., p. 273.

72
LEON BATTISTA ALBERTI E
O MÉTODO INDICIÁRIO

Alberto Giorgio Cassani

«[…] apertissimis coniecturis indiciisque […]


intelleximus»
Leon Battista Alberti, DE RE ÆDIFICATORIA, X 7

A
quela que Roberto Cardini definiu a «teoria dos indí-
cios e dos rastros»1 encontra ampla correspondência na
obra teórico-literária de Leon Battista Alberti. E não
só. De fato, o grande humanista, nas fachadas de seus poucos,
mas revolucionários, projetos de igrejas e palácios, espalhou
numerosas tesseræ extraídas de edifícios da antiguidade e da
Idade Média, deixando a averiguação à sabedoria de seus con-
temporâneos e da posterioridade; são elas indícios para poder
compreender a sua ideia de composição arquitetônica, que é
contida no conceito denso e complexo de concinnitas: juntar
elementos – por sua natureza diferentes e em desacordo – nos
termos de um desenho novo e coerente.2
Essa teoria tem a ver com um método pré-científico e racio-
nal-dedutivo? O tema dos indícios – indicia ou inditia – sugere
que Leon Battista Alberti acredita em uma “ordem” da natureza,
mais ou menos escondida, que cabe ao homem desvelar. Uma
“máquina” que faz mover o mundo e as coisas, e que o homem

1. Cf [ROBERTO CARDINI], [Commento a] Vaticinium, in Intercenales, Introduzione,


edizione critica e commento a cura di Roberto Cardini; traduzione a cura di M. Letizia Bracciali
Magnini, in LEON BATTISTA ALBERTI, Opere latine, A cura di Roberto Cardini, Roma,
Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 2010, pp. 271-276: 273
2. Segundo a página, conhecida e muito citada, dos “mosaicos” contida nos Profugia.
deve saber “investigar” – o termo recorre continuamente em
toda a obra albertiana – para fazer bom uso, também em res-
peito à natureza (como as acusações do Theogenius, ainda que
em um texto de gênero estoico, parecem apontar).3
Há tempo, sabemos da complexidade do pensamento alber-
tiano: por um lado, Alberti considera inevitável a ação “pertur-
badora” da ordem natural – um exemplo perfeito é o incipit do
De re ædificatoria4 – por outro, ele ressalta continuamente os
limites impostos à ação do homem (e cada página do tratado
sobre a arquitetura remete constantemente ao lema délfico do
nihil nimis, para lembrar como seja louco contrariar a natureza).

3. «Os outros animais são felizes com o que lhe condiz: só o homem sempre investigando
coisas novas causa dano a si mesmo. Não contente com o ambiente terrestre, ele quis sulcar
o mar, sendo transportado, creio, fora do mundo; ele quis aproveitar qualquer coisa embaixo
da água, da terra, dentro das montanhas, e tentou ir acima das nuvens. Dizem que em Atenas
houve quem fazia voar um pombo de madeira. Qual exemplo mais detestável da superstição
dos homens, que entre os escritores gregos havia quem descrevesse o sabor de cada membro
humano? Oh animal inquieto e impaciente com seu estado e condição, tal que, creio eu, às
vezes, a natureza, importunada com nossa arrogância de querermos saber cada secreto seu e
querermos alterá-la e arremedá-la, ela encontra novas calamidades para se burlar de nós e com
isso adestrarnos a reconhecê-la. Que insensatez de nós mortais que queremos saber quando
e como e por qual razão e com qual fim existe cada obra de Deus, e queremos saber que
matéria, figura, natureza, força, é aquela do céu, dos planetas, das inteligências, e mil secretos
queremos que sejam conhecidos a nós mais do que à natureza», LEON BATTISTA ALBERTI,
Theogenius, in Id., Opere volgari, Cecil Grayson (org.), vol II: Rime e trattati morali, Bari,
Laterza, 1966, pp. 53-104:92.
4. LEON BATTISTA ALBERTI, L’architettura [De re Ædificatoria], Testo latino e tradu-
zione di Giovanni Orlandi, Introduzione e note di Paolo Portoghesi, Milano, Il Polifilo, 1966,
[Prologo], pp. 8 e 10: «Quid demum, quod abscissis rupibus, perfossis montibus, completis
convallibus, cœrcitis lacu marique, expurgata palude, coadificandis navibus, directis fluminibus,
expeditis hostiis, constitutis pontibus portuque non solum temporariis hominum commodis
providit, verum et aditus ad omnes orbis provincias patefecit? Ex quo effectum est, ut fruges
aromata gemmas rerumque peritias et cognitiones, et quæcunque ad salutem et vitæ modum
conferant,vhomines hominibus mutuis officiis communicarint» Edição portuguesa: Da Arte
edificatória, tradução do latim de Arnaldo Monteiro do Espírito Santo, Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 2011, p. 139 «[…] rasgando penedos, perfurando montanhas, entulhando
vales, contendo águas dos lagos e do mar, drenando pauis, armando navios, corrigindo o curso
dos rios, desimpedindo as embocaduras, construindo pontes e portos, o arquitecto não só
providencia às necessidades temporárias da humanidade, mas também abre o acesso a todas
as regiões da terra. Daí resultou que os homens trocassem entre si, em mútuos contactos,
produtos agrícolas, perfumes, pedras preciosas, técnicas e conhecimentos, bem como tudo
aquilo que contribui para a saúde.»

74
Uma das passagens em que mais evidente é a função “cien-
tífico-utilitarista” de uma análise atenta dos inditia é, de fato,
o livro I, capítulos quinto e sexto, do De re ædificatoria. Alberti
está tratando o tema da escolha da regio, do ambiente, para edi-
ficar uma obra de arquitetura. Para fazer isso não é suficiente
uma análise superficial, mas ocorre levar em conta todos os
signos mais recônditos: «Neque item in seligenda regione ea
spectasse tantum sat est, quæ sub aspectu et propalam sunt
exposita, verum etiam obscurioribus inditiis notatis totam
causam animo advertisse opus est».5
O que aqui Alberti prescreve é o método dedutivo. Pela
observação dos efeitos, pode-se remontar às causas: «Atqui
erunt quidem inditia optimi aeris integrarumque aquarum, si
ea regio feret bonorum fructuum copiam, si senes ætate gran-
des numero complures nutriat, si valida et formosa iuventute,
si integro et frequenti partu abundabit».6 E, frequentemente,
os efeitos não são nada positivos, quando o resultado produz
monstra e não homens:
Nanque ego vidi quidem urbes, quas temporum gratia non nomino, in
quibus parturiat nulla, quæ non se spectet una homis atque præterea mons-
tri alicuius effectam matrem. Vidi et urbem aliam Italiæ, ubi strumæ strabi
claudi et toruosi tam multi nascantur, ut nulla pene illic creverit familia,
quæ non aliquem habeat mancum et comminutum.7

5. Ibid., I 5, p. 43 [Edição portuguesa, p. 157. «Na escolha da região não basta conside-
rar apenas aqueles aspectos que saltam à vista, mas é também necessário ter em conta toda a
situação, observando os indícios menos evidentes.»]
6. Ibid., p. 43 [p. 157. «Será indício de óptimo ar e de águas perfeitas se essa região pro-
duzir bons frutos em abundância, se proporcionar sustento a grande número de velhos em
idade avançada, se abundar em jovens vigorosos e belos, e em partos sadios e frequentes.»]
7. Ibid.,p. 43 [p. 157-158. «Eu, na verdade, vi cidades, que me parece oportuno não
nomear, nas quais não há mulher que dê à luz sem acabar por ser mãe de um ser humano e,
além disso, de um monstro. Vi também uma cidade de Itália onde nascem tantos escrofulosos,
estrábicos, coxos e tortos que quase não há família que aí tenha crescido que não tenha alguém
manco ou deficiente.»]

75
Signo este, «cæli aerisque vi ac vitio aut occultiore aliqua
depravatæ naturæ causa fieri».8 E visto que o homem é, de
fato, um animal, é possível tirar conjecturas úteis sobre a salu-
bridade dos lugares, inclusive a partir do aspecto físico dos ani-
mais aí presentes:
Neque non condecet ex aliorum animantium forma atque effigie futuras
hominum habitudines coniectasse. Nam, si iumenta et pecora firmissima et
memborum amplitudine atque protensione multa esse illic viderint,
tales se habituros itidem filios poterunt non iniuria sperasse.9

Alberti vai mais longe, já que é possível obter informações váli-


das sobre as condições do sítio também através dos corpos ina-
nimados – muros de casas, arvores, velhas pedras:
Neque ab re erit, si a corporibus reliquis, quibus vitæ vigor extinctus est,
inditia sumpserimus aeris atque ventorum. Nanque ex proximis ædificio-
rum structuris ea didicisse possumus: quæ si erunt facta scabra et cariosa,
inditio erit adventitia inde mala confluere. Arbores etiam in unam aliquam
partem quasi communi consensu proclinatæ aut refractæ infestis ventorum
motibus cessisse ostentant. Ipsaque rediviva saxa locis innata aut posita, si
summotenus plus satis putris facta sunt, variam loci intemperiem nunc
ardescentis nunc torpentis aeris attestantur.10

8. Ibid., p. 43 [p. 158. «[…] que […] isso acontece por influência nefasta do clima e do
ar, ou por alguma causa mais oculta de uma natureza malsã.»]
9. Ibid., p. 43 [158.: «É também de toda a conveniência conjecturar qual será a compleição
dos seres humanos a partir do aspecto e da aparência dos outros animais. Pois se virem que aí
os animais são robustos, e os seus membros de grande tamanho e bem desenvolvidos, poderão
justamente esperar vir a ter filhos igualmente bem constituídos»].
10. Ibid., p. 45 [p. 158. «Também não será despropositado se, a partir dos corpos ina-
nimados, aqueles em que se extinguiu o vigor da vida, recolheremos indícios sobre o ar e os
ventos. Efectivamente, podemos deduzi-los das estruturas dos edifícios das proximidades: se
essas estruturas se tornaram escalavradas e carcomidas, será indício de que nelas confluem males
originários dessa região. Também as arvores inclinadas ou dobradas para o mesmo lado, como
que de comum acordo, revelam ter cedido às rajadas dos ventos. As próprias pedras velhas,
naturais desses lugares ou para lá deslocadas, se ao de cima se desfazem mais que o normal,
provam que há uma forte variação da temperatura do ar »].

76
Indícios vantajosos, ainda, podem ser inferidos, não só pela
observação direta, mas também pela transmissão de quem, no
passado, por sua vez, observou esses signos: «Convenit etiam,
præteritorum temporum vicissitudine ex prudentum observa-
tione repetita, siqua sunt etiam rariora, omni diligentia præco-
gitasse».11 E esta prática faz parte da ótica, toda albertiana, de
obter de todos, especialistas e não especialistas, informações que
possam resultar vantajosas ad bene beatæque vivendum. Pode-se,
assim, descobrir que «sunt loca quædam, quibus inest natura
occultum quippiam, quod ad felicitatem atque infelicitatem
faciat».12 E segue um longo elenco de casos.13 Esta panorâmica
de informações deve ser examinada e ponderada longamente,
comparando-a, também, com notícias vindas de outros luga-
res, «quo tota ratio integrior habeatur».14 E Alberti, evidente-
mente, não usa o termo ratio por acaso.
Mas, “a natureza ama se esconder” e, então, para Leon Bat-
tista, não nos devemos limitar a investigar os indícios mais
evidentes, mas é necessário ir mais fundo para ter certeza de
que não nos escapem «incommoda occultoria».15 Aqui, Alberti
aborda argumentos que ultrapassam um plano propriamente
racional, para entrar em campos onde a razão não consegue
prosseguir. Eis porque, para evitar possíveis acusações, ele se
protege com o príncipe dos filósofos, Platão:

11. Ibid., p. 45 [p. 159. «Nas vicissitudes dos tempos passados, transmitidas pela obser-
vação dos sábios, convém igualmente considerar com toda a atenção se existem fenômenos
ainda mais raros»].
12. Ibid., p. 45 [p. 159. «Há certos lugares que têm por natureza uma característica des-
conhecida que pode contribuir para a felicidade ou para a infelicidade»].
13. Cf. ibid., p. 45 e 47 [p. 160.]
14. Ibid., p. 47 [p. 160 «com o objetivo de se poder dispor de uma informação completa»].
15. Ibid., p. 47 [p. 160. «inconvenientes mais ocultos».]

77
Putabat Plato esse, ut locis nonnullis divina quædam interdum inspiret vige-
atque vis ac demonum terminatio incolis aut propitia aut contra infesta.
Sunt quidem loca, quibus homines facile insaniant, quibus sese facile in
pernitiem dedant, quibus aut suspendio aut præcipitio aut ferro et veneno
facile vitam ponant.16

Face a esses mysteria, cada bene deducta ratio17 não pode que sus-
pender o juízo, limitando-se a reconhecer que nem tudo pode
ser explicado com o raciocínio. Mais de uma vez, ao falar da
natureza, Alberti terá que admitir isso – como veremos mais
adiante. Entre essas irrationalia, há também as práticas astroló-
gicas, fortemente estigmatizadas por Alberti em outras páginas
do De re ædificatoria;18 por exemplo, as práticas de ornitoman-
cia, sobre as quais Leon Battista prefere não se expressar aber-
tamente, aceitando-as, ainda que não entrem em conflito com
os dogmas cristãos, e justificando-as em um certo sentido como
ações capazes de nos defender daquela divindade poderosís-
sima que é a fortuna, contra a qual é preciso usar uma arma
útil como a virtude da prudentia:
Auspiciis item et servato cælo regionis futuram fortunam indagasse pru-
dentis et bene consulti esse affirmant. Quas ego artes, modo cum religione
conveniant, minime aspernandas duco. Quis id negabit, quicquid id ipsum
sit, quod fortunam nuncupant, in rebus hominum, valere plurimum?19

16. Ibid., pp 47 e 49 [pp. 160-161. «Platão achava que, às vezes, em certos lugares, andava
no ar e era poderosa uma certa força sobrenatural e uma determinação das potências superiores
propícia ou nefasta aos habitantes. Há, de fato, lugares onde as pessoas facilmente perdem o
siso, onde facilmente se entregam à desgraça, e põem fim à vida enforcando-se, matando-se
com uma arma ou envenenando-se».]
17. Cf. ibid., X 1, p. 624.
18. Sobre este tema ver FRANCESCO FURLAN, De l’alchimie ou des sciences inutiles.
Méthode et valeur de la recherche chez Leon Battista Alberti, in «Chrysopœdia», II, 1988,
pp. 221-248, esp. pp. 229-230.
19. L.B. ALBERTI, Da Arte edificatória, op. cit., pp. 49 e 51. [Edição portuguesa p.
161-162 «Do mesmo modo afirmam que é próprio de um homem sábio e inteligente procurar
conhecer, pela observação do céu, a futura sorte da região. Eu penso que de modo nenhum se
devem desprezar estas artes, contanto que não entrem em conflito com a religião. Qualquer

78
E, nesse caso também, Alberti mostra o elenco de uma série
de eventos inexplicáveis – do ponto de vista da razão – positi-
vos e negativos, ocorridos em cidades e templos antigos.20
No final desses dois capítulos em que a teoria dos indícios é
central, Leon Battista reitera como qualquer arquiteto, que não
seja stultissimus,21 não pode deixar de considerar cada detalhe
para garantir que seu trabalho resulte constans e saluberrima.22
No livro III, a teoria indiciária aparece novamente. No caso
da realização das fundações de um edifício, os inditia são muito
úteis para descobrir eventuais fraquezas do terreno:
Commodum futurum solum inditio erunt hæc: si nullæ aderunt herbæ, quæ
humectis in locis soleant; si arborem aut nullam ferat aut eam tantum, quæ
<non>nisi in præduro et densissimo oriatur; si circum multo erunt omnia
siccissima et penitus arentia, si lapidosa lapide non minuto non globoso,
sed angulari solido præsertim siliceo; si sub se neque scaturient fontes neque
fluentum pervadet. Fluenti enim natura est, ut aut rapiat sempiterne, quoad
motu valeat, aut importet; ea re fit, ut plana, quæ proter fluvius excurrit,
soli firmitatem præstent non prius, quam ubi sub alveum descenderis.23

Um sinal para deduzir a solidez do terreno é a emissão eventual


de vibrações, quando o solo é atingido por um objeto pesado:

que seja essa entidade que designamos Fortuna»]. Sobre o tema, Alberti voltará também em
II 13, pp. 167 e 169. Aqui, após ter inicialmente aprovado tais práticas, acusa como ridículo
os antigos por seus ritos de fundação. Cf. II 13, p. 169. Sobre outras superstições veja-se
também ibid., III 11, p. 225.
20. Cf. ibid., I 6, p. 51.
21. Cf. ibid.
22. Cf. ibid.
23. Ibid., III 1, p. 175 [Ed. portuguesa, p. 232.: «Serão estes os indícios de um terreno
adequado para futuras construções: se não existirem nele nenhumas daquelas ervas que costuma
haver em lugares húmidos; se não tiver árvore alguma ou apenas as que nascem em terreno
muito duro e compacto; se em toda a volta for tudo muito seco e absolutamente árido; se o
solo for pedregoso, constituído não por pedras miúdas, nem redondas, mas antes angulosas, e
de preferência pelo duro sílex; se do subsolo não brotarem fontes nem fluir nenhum curso de
água. Porque faz parte da natureza de um curso de água, na medida da força do seu movimento,
levar ou trazer consigo materiais, perpetuamente; com isso, acontece que as zonas planas, junto
das quais desliza um rio, não oferecem firmeza antes de se atingir o nível abaixo do leito»].

79
Dantur tamen argumenta de soli firmitate prætentanda et cognoscenda.
Nam, ubi grave aliquid per solum provolutaris aut ex alto cadentem dimi-
seris, et non subcontremuerit locus, aut aquam ex patina illis statuta cris-
pantem non reddiderit, nimirum firmitatem istic polliceri interpretabimur.24

Ótimas indicações para compreender as estratificações do ter-


reno se obterão, ainda, cavando poços.25
O outro livro em que os inditia são protagonistas é o
decimo. O quarto capítulo ilustra quais sinais podem revelar
a presença de águas escondidas abaixo do terreno: «Latentes
aquas inditiis invenies».26 Essas indicações, em parte, se podem
detectar pela mesma conformação do terreno – «forma et facies
loci terræque genus, quo aquam requiras»27 –, em parte, graças
a sistemas elaborados pela solertia28 do homem. Segue, como
sempre, uma longa série de indicações que parecem mostrar um
conhecimento por experiência própria, como Alberti declara
em um dos casos listados:
Adverti etiam fontes non scaturire alibi, quam ubi sub se atque circum habe-
ant solum telluris integrum et solidum, supra vero se aut planicies incumbat

24. Ibid., III 2, p. 181 [Ed. portuguesa, p. 236: «Há, ainda, meios de sondar e conhecer a
firmeza do solo. Quando fizeres rolar pelo chão um objeto pesado, ou o deixares cair de alto,
e o lugar não estremecer, ou não se encrespar a água de uma bacia aí colocada, sem dúvida
alguma concluiremos que o terreno oferece firmeza.»]. Embora as coisas não são sempre tão
seguras. Cf. ibid.: «Tu tamen solidum invenies non sempre omni in loco; sed dabitur regio,
uti est apud Adram apudque Venetias, ubi sub congestitia invenias aliud nihil ferme præter
solutum limum» [Edição portuguesa, p. 236: «Tu todavia nem sempre encontrarás terreno
firme em todos os lugares; há regiões, como a de Adria e a de Veneza, onde, sob a camada
aluvial, quase nada encontrarás além de lodo inconsistente»] e ibid., III 3, pp. 181 e 183.
25. Cf. ibid., p. 183.
26. Ibid., X 4, p. 893 [p. 635: «Encontrarás águas ocultas mediante certos indícios»].
27. Ibid., p. 893 [p. 635.: «[…] pela forma e aspecto do lugar e pelo tipo de terra onde
procuras a água […]»]
28. «[…] et quÆdam, quæ hominum solertia adinvenit», ibid., p. 893 [p. 635.: «e ainda
por alguns expedientes que a esperteza dos homens descobriu»].

80
sidens, aut tellure sint operti rarenti et soluta; si rem pensites, quasi fracto
catini latere collectam emanare aquam non inficieris.29

Poucas linhas mais adiante, Leon Battista mostra qual é o


signo que pode revelar a presença de um veio d’água subter-
râneo:
Arte etiam adhibita locum ipsum, ubi vena subest, cognitum esse, com-
pertum dedere. Sic enim admonent. Cælo sereno mane ad diluculum pro-
cumbito mentumque firmato ipso in solo; inde circum proximam regionem
quaque undique lustrato. Quod sicubi surgentes vapores videris crispare aere,
quale gelida hieme hominum anhelitus solent, illic aqua putato non deesse.30

E, em seguida, Alberti aponta o estratagema a ser utilizado para


se ter certeza absoluta (procul dubio):
Sed quo fias certior, fodito locum fovea profunda et lata cubitos quattuor;
in ea circa solis occasum collocato aut testam nuper ex fornace exemptam
aut vellus lanæ sucidæ aut fictile crudum aut nudum æneum vas inversum
et perunctam oleo, et operito asseribus foveam terraque insternito. Postridie
mane, si ponderi multum accesserit testæ, si infusa lana sit, si commaduerit
fictile, si stillæ ad vas herentes pendebunt, item si ardens lucerna illic inter-
clusa minus olei consumpserit, aut si illic facto foco tellus fumarit: procul
dubio aquæ non deerunt.31

29. Ibid., p. 893 [p. 636: «Dei-me também conta de que as nascentes não brotam senão
onde, em baixo e em volta, haja um terreno compacto e firme e em cima esteja situada uma
planície, ou sejam cobertos por terra espessa e solta; se reflectires nisso, não negarás que a água
armazenada brota como quando se parte o bojo de um recipiente.»].
30. Ibid., p. 897 [p. 638: «Revelaram também que o próprio lugar, onde está o veio sub-
jacente, foi conhecido usando uma técnica. Com efeito, são estas as suas instruções. Num dia
limpo de manhã ao raiar do dia deita-te ao comprido no chão de barriga para baixo e apoia o
queixo no solo; a seguir observa as proximidades em volta em todas as direções. Se em algum
ponto vires que há uns vapores a elevarem-se e a encresparem-se no ar, como num Inverno
muito frio costuma ondular a respiração das pessoas, considera que aí não falta água.»].
31. Ibid., pp. 897 e 899 [p. 638: «Para teres a certeza, escava nesse lugar uma vala profunda
com a largura de quatro côvados, coloca dentro dela ao pôr-do-sol quer um tijolo há pouco
tirado do forno, quer um velo de lã engordurada, quer um recipiente de barro cru, quer um
vaso de bronze invertido e bem untado de azeite, e cobre a vala com tábuas e por cima tapa-as
com terra. Se no dia seguinte de manhã o tijolo subiu muito de peso, se a lã estiver encharcada,
se o vaso de barro estiver húmido, se houver gotas suspensas agarradas ao vaso de bronze, e

81
No sétimo capítulo, Leon Battista volta a tratar da impor-
tância dos indícios para deduzir o funcionamento de objetos
hidráulicos, apresentando partes de condutas antigas, por ele
investigadas autopticamente: «Vidimus marmora pedes longa
plus XII a summo ad imum traiecto foramine pervia lato
palmum; quod effecisse æna fistula tornatili et harena aper-
tissimis coniecturis indiciisque ex ipso lapide intelleximus».32
Leon Battista sempre recomenda o “método experimental”
como boa prática para verificar a qualidade dos materiais de
construção: as pedras são testadas por dois anos,33 assim como
é verificada a boa qualidade da água. O tempo, figura central
na visão do mundo albertiano, revelará, no final, a verdade:

igualmente se uma candeia lá encerrada tiver consumido menos azeite, ou se, fazendo aí uma
fogueira, a terra fumegar: sem dúvida alguma não faltarão águas.»].
32. Ibid., X 7, p. 931 [p. 656: «Vimos mármores com mais de doze pés de comprimento,
vazados do cimo à base do trajecto por um buraco com a largura de um palmo; por conjectura
e pelos indícios da própria pedra compreendemos que fizeram essa obra com um trado de
cobre e areia»].
33. Cf. ibid., II 8, p. 135 e 137: «Cato: “Lapidem – inquit – æstate eximito, sub divo
habeto; ante biennium in opus ne ponito”. […] Non ante biennium, quo imbecilles natura,
et qui vitium in opere facturi erant, non te lateat et a firmioribus separentur» [p. 210: «Diz
Catão: “Deveis extrair a pedra no verão e deixá-la ao ar livre; não deveis utilizá-la antes de
passarem dois anos”. […] “Não antes de passarem dois anos”, a fim de que as pedras fracas
por natureza, e aquelas que provocariam um defeito na obra, não te passem despercebidas
e sejam separadas das mais sólidas»]. Aquelas pedras, no entanto, servirão como material de
uso nas fundações: «Pedamentis extruendis, hoc est fundamentis ad aream usque complendis,
quidnam moneant, nihil invenio apud veteres præter unum illud, ut lapidem, qui sub divo, uti
supra diximus, biennium habitus vitium fecerit, fundamentis coniicias. Nam, veluti in militia
desides et imbelles, qui perferre solem et pulverem nequeant, domum ad suos non sine nota
remittuntur, sic et istic molles et enervatos lapides reiiciunt, ut pristino in ocio assuetaque in
umbra ignobiles conquiescant», ibid., III 4, p. 187 [p. 240: «Sobre o modo de construir as
paredes de fundação, isto é, sobre o enchimento dos alicerces até ao nível da superfície, não
encontro nos antigos nenhum conselho, senão apenas o seguinte: que se atirem para dentro
das fundações as pedras que, expostas a céu aberto durante dois anos, adquiriram defeitos de
forma. De fato, assim como no exército são mandados embora, para junto dos seus, não sem
ignomínia, os soldados indolentes e cobardes, que não conseguem suportar o sol e a poeira,
assim também aqui se rejeitam as pedras moles e sem resistência, para que repousem sem
glória na sua antiga inércia e na sombra a que se acostumaram.»]. Ver também, para as telhas,
o mesmo período de prova, ibid., III 15, p. 255.

82
Præterea ex usu veniet, si menses aliquot pecudem et potam et lotam ex ea,
quam cæteris præstare diximus,inspexeris, qui membris totoque corporis
habitu valeat, exque iocinerum habitu didiceris, an bene sit. Nam omne
quidem, quod ledat, ledere aiunt tempore.34

O último grande aceno no tratado à teoria indiciária concerne


ao tema do restauro das alvenarias. No capítulo décimo sétimo,
Alberti trata das causas das fissuræ das paredes. Às vezes, escreve
Leon Battista, uma rachadura pode ser determinada pelo peso
da parte superior, mas, na maioria dos casos, sua presença
depende das fundações. Se os motivos são outros, mais uma
vez, «inditiis intelligemus».35 Segue, como sempre, uma lista
das possíveis causas das rachaduras murárias:
Nanque fissura quidem parietis, ut ab ea incipiam, quam in partem surgendo
deflexerat, illic subesse vitii causam indicabit. Sin autem in nullam parte fis-
sura deflexerit, sed sursum recta conscenderit in summoque dilatabitur, con-
siderabimushinc et hinc lapidum ordines. Nam hi quidem, quam in partem
a libella discesserint, illinc subesse fundamentum infirmum demonstrabunt.
Sin autem in summo illesus fuerit paries et ab imo rimæ plures hiabunt
labrisque sese capitibus suis inter surgendum contingant, tunc firmos esse

34. Ibid., X 6, p. 917 [p. 648: «Além disso, se durante alguns meses deres de beber ao gado
e o lavares com a água que dissemos ser melhor que as outras, terás ocasião de averiguar qual
está de boa saúde nos membros e em toda a compleição do corpo, e, pelo estado do figado,
ficarás a saber se está bem. Com efeito, tudo o que lesa, dizem que lesa com o tempo.»]. A
observação do fígado – a aruspicina – já fora mencionada por Alberti, ibid., I 6, p. 49: «Vetus
a Demetrio usque ductum institutum non modo urbibus et oppidis, verum etiam militaribus
in dies castris ponendis, ut iecora depastarum illic pecudum inspectemus, quo sint habitu et
colore: quæ, si forte vitio infecta apparuerint, vitandam loci insalubritatem præ se ferunt» [p.
161: «Um velho costume que remonta a Demétrio, aplicado não apenas à fundação de cidades
e vilas fortificadas, mas também à implantação dos acampamentos militares no dia-a-dia,
impõe que examinemos o fígado dos animais que andam a pastar no local, para verificar qual
é o seu estado e cor: se aparecer infectado de alguma mazela, é sinal de que se deve evitar a
insalubridade daquele lugar.»]. Sobre essa racionalização do rito por parte de Alberti, veja-se
a nota de JOSEPH RYKWERT, The Idea of a Town: The Anthropology of Urban Form in
Rome, Italy and the Ancient World, Princeton, Princeton University Press / London, Faber &
Faber, 1976, trad. it. di Giuseppe Scattone, L’idea di città: Antropologia della forma urbana
nel mondo antico, a cura di Giuseppe Scattone, Milano, Adelphi, 2002, p. 265, nota 86.
35. L.B. ALBERTI, L’architettura [De re Ædificatoria], cit., X 17, p. 993 [Ed. portuguesa,
p. 687: «[…] perceberemos pelos indícios»].

83
angulos parietum sed vitium adesse indicant in media longitudinis funda-
menti. Sin autem unica tantum istiusmodi erit rima, quo illa quidem erit
in summo adapertior, tanto in angulis factam commotionem indicabit.36

Este trecho iguala outro, do livro II, capítulo oitavo, onde


Alberti conduzira uma extraordinária “taxonomia” das lapi-
des e de suas venæ:
Albus quisque lapis facilior fusco est; tralucidus opaco ductibilior; et quo
quisque magis imitabitur salem, eo erit intractabilior. Harena inspersus lapis
collustranti asper est; aureæ si intermicabunt scintillæ, contumax; nigran-
tes si, ut ita loquar, scatent puncti, indomitus. Qui guttis est angularibus
aspersus, is erit lapis tollerantior; et quo cuique color purgatior atque lim-
pidior, eo æternior; et lapidi quo venarum aderit minus, eo integrior; et
qui vena ipsa contiguo lapidi colore congruentior, eo æquabilior; et quo
tenuior, eo morosior; et quo amfractior et volutior, eo austerior; et quo
internodosior, eo acerbior. Venarum ea est apprime fixilis, qu æquabilior sui
medio lineam habuerit ductam rubrica aut ocrea putrenti; proxima ad has
erit, qu æquabilior diluto et albescente herbaceo colore sparsim fuscabitur;
omnium difficillima, qu æquabilior glaciem pr æquabiliorsertim ceruleam
imitetur. Venarum numerus dissidiosum et inconstantem indicat; et quo
directiores , eo infedeliores. Lapis, quo disfractis glebulis aciem acutiorem
et tersiorem dederit, eo erit concretior; et lapis cum defringitur, cute qui
minus extabit aspera, is erit habilior scabro. Sed scabri ipsi, quo erunt can-
didiores, eo minus erunt obsequentes. Et contra fuscus quisque lapis, ubi
erit linea minutiore, illic magis ferri aciem aspernabitur. Ignobilis quisque
lapis, quo fistulosior, eo durior; et qui aqua aspersus summotenus tardius
arescet, is erit crudior. Et gravis quisque lapis solidior et expolibilior levi; et
levis quisque friabilior gravi; et resonans, dum ferias, lapis densior est surdo;

36. Ibid., p. 993 [p. 687: «A fissura do muro, para começar por ela, indicará que a causa
do defeito está sob a zona para onde ela se inclinar de baixo para cima. Se, porém, a fissura
não se inclinar para nenhum lado, mas subir em linha reta e se alargar na parte superior, ob-
servaremos as séries das pedras de ambos os lados. Elas revelarão que não é sólida a fundação
sob a zona em que se afastam da linha horizontal. Mas se, na parte superior, o muro estiver
ileso e a partir de baixo se abrirem várias fendas e, à medida que sobem, se se tocarem pelos
bordos e pelas extremidades, então indicam que os cunhais dos muros são firmes, mas que o
defeito se situa ao meio do comprimento do alicerce. Se, pelo contrário, houver apenas uma
fenda desse tipo, indicará um movimento ocorrido nos cunhais tanto mais quanto ela for mais
aberta na parte superior.»].

84
et qui duriter perfricatus olebit sulphur, acrior est, quam qui nihil referat
olidi; et quo deniqe ad scalprum contumacior, eo contra lacescentes tem-
pestates rigidior et constantior. Ad fauces fodin æquabilior qui tempestati-
bus perfractus glebis sese grandioribus asservarit , hunc firmiorem ducunt.
Omnis item lapis ferme, cum defoditur, mollior est, quan cum sub divo est
habitus; et humore aspersus atque infusus lapis tractabilior ferro est, quam
cum exaruerit. Et suo quisque lapis quo humectiore fodin æquabilior loco
exemptus sit, eo, cum aruerit, erit densior. […] Verum lapides ipsi quales
futuri per æquabiliortatem sint, siquid libeat ocius periculum facere, indi-
cia patebunt hinc. Nam qui aqua commadefactus perplurimum ponderi
adiecerit, erit is quidem humido dissolubilis; qui vero igne et flammis per-
tactus fracescet, sub sole æquabiliorstuque non perdurabit].37

37. Ibid., II 8, pp. 137 e 139 [pp. 210-212: «Toda a pedra branca é mais fácil de trabalhar
do que a colorida; a transparente, mais moldável do que a opaca; e quanto mais cada uma se
assemelhar ao sal, tanto mais difícil será de usar. A pedra salpicada de grãos de areia brilhantes
é dura; se pelo meio reluzem grãos dourados é obstinada; se abunda em pontos negros, é, por
assim dizer, indomável. A pedra salpicada de gotas poligonais será mais resistente do que aquela
que é salpicada de formas arredondadas: e quanto mais pequenas forem essas manchas tanto
mais resistente será a pedra; e quanto mais limpa e pura for a cor de cada uma, tanto mais
duradoura: e quanto menos veios houver numa pedra, tanto mais perfeita. E quanto mais os
veios estiverem em consonância com a pedra na continuidade da cor, tanto mais uniforme
será; e quanto mais ténues forem os veios, tanto mais impertinente será a pedra; e quanto mais
em círculo e às voltas forem os veios, tanto mais austera será a pedra; e quantos mais nodosos
forem aqueles, tanto mais severa será esta. Dos veios, o mais fixo de todos é aquele que tiver
uma linha contínua de vermelhão ou de ocre em decomposição; próximo destes é aquele
que for salpicado de uma cor herbácea, diluída e esbranquiçada; o mais difícil de todos é o
que se assemelha ao gelo, ao azulado principalmente. Muitos veios são indício de uma pedra
inconsistente e pouco firme; e quanto mais direitos forem, tanto menos fiáveis. A pedra será
tanto mais compacta, quanto apresentar uma aresta mais aguçada e mais lisa, ao ser partida em
fragmentos; e a que apresentar uma superfície menos rugosa, quando se parte, será mais fácil
de trabalhar do que a rugosa. Mas as rugosas, quanto mais claras forem, tanto mais moldáveis
serão. E, pelo contrário, a pedra mais escura resistirá melhor ao corte do ferro nos pontos em
que apresentar uma fiada mais miúda. Uma pedra ordinária será tanto mais dura quanto mais
porosa; e a que, aspergida com água na parte superior, demorar mais tempo a secar, será mais
bruta. E uma pedra pesada será mais sólida e mais fácil de polir do que a leve; e a mais leve
é mais friável do que a pesada; e a que ressoa, quando se bate, é mais compacta do que a que
não ressoa; e aquela que, friccionada fortemente, cheira a enxofre, é mais dura do que aquela
que não produz cheiro; e, finalmente, quanto mais resistente for ao cinzel, é tanto mais rija e
firme contra os desafios das tempestades. Considera-se mais sólida a pedra que, despedaçada
pela intempérie à boca da pedreira, se conserva em blocos maiores. De igual modo, quase toda
a pedra, quando se extrai do solo, é menos dura do que quando é obtida ao ar livre; e quando
é aspergida e molhada com água é mais acessível ao cinzel, do que quando está seca. E quanto
mais húmido for o lugar da pedreira, de onde for tirada a pedra, tanto mais compacta ela
será, quando secar. […] Mas querendo-se fazer uma breve experiência de como serão as pedras
com o decorrer do tempo, aqui ficam os seguintes indícios. Aquela que, molhada com água,

85
É preciso dizer que, se Alberti é muito interessado em descobrir
os mecanismos segundo os quais a natureza opera, ele é muito
menos atraído pela investigação sobre a origem das coisas: são
suficientes algumas passagens do tratado como demonstração.
A propósito das teorias sobre a formação dos corpos nebu-
losos, Leon Battista escreve:
Neque hic physica illa recensebimus, quo pacto vi solis vapores ex inti-
mis terræ visceribus exhauriantur atque in æthera tollantur; quo maximo
in spatio orbis vastum in cumulum coaggerati aut immani mole sua faces-
sunt aut radio solis excipiendo, qua parte arefacti sunt, eo in latus labuntur
suoque casu aerem impellunt ventosque concitant, indeque sese intra occe-
anum acti siti immergunt, mari demum infusi et humore pregnantes iterato
aere vagando ventis cœrcentur et quasi spongia perstricti guttatim expres-
sum humorem stillent atque impluenat, quo et novi terra vapores concre-
entur. Sive hæc vera sint, quæ recensuimus, sive est ventus sicca fumositas
terræ aut calida evaporatio mota a frigore impellente, sive aeris flatus, sive
purus aer mundi motu aut syderum cursu et radio commotus, sive gene-
rabilis rerum spiritus suapte natura agitabilis, sive quippiam sit, quod non
in se ipso sed in aere potius consistat, ductum ex calida vi summi æthe-
ris atque incensione facta ad aerem liquentem, sive aliorum alia ulla ratio
et opinio in disquisitione habenda firmior et antiquior est, prætereundum
censeo, quod fortassis ab re videri possit».38

se tornar muito mais pesada, será sem dúvida mais dissolúvel na humidade; pelo contrário,
aquela que, ao contacto do fogo e das chamas, se esboroa, não durará muito ao sol e ao calor»].
38. Ibid., I 3, p. 27 [pp. 149-150: «Não daremos conta aqui de célebres tratados da na-
tureza sobre como os vapores, por acção do sol, são arrancados às mais profundas entranhas
da terra e se elevam para a atmosfera; acumulados neste vasto espaço do céu, formando um
enorme amontoado, afastam-se por causa da sua massa imensa ou porque recebem um raio
do sol. E desse lado perdem a humidade e, por isso, deslizam para esse lado, e com o seu
movimento de queda empurram e provocam os ventos, e em seguida, levados pela falta de
humidade mergulham no oceano; finalmente, enchendo-se da água do mar e impregnados
de humidade, vagueando de novo pela atmosfera, são impelidos pelos ventos e, apertados
como se fossem uma esponja, deixam cair às gotas a humidade espremida e fazem a chuva,
com o que se formam novos vapores a partir da terra. Quer seja verdade isto que referimos,
quer o vento seja uma exalação seca da terra ou uma evaporação quente accionada pelo frio
que a impele, quer a respiração do ar, quer pura e simplesmente ar, movido pelo movimento
do universo ou pelo curso e irradiação dos astros, quer o sopro gerador das coisas, sopro que
se move por sua própria natureza, quer seja qualquer coisa indefinida que não consiste em si
mesma, mas sim no ar, derivada do aquecimento da camada superior da atmosfera e por esse

86
Tema retomado, também, no livro X, no primeiro capítulo:
Quam ob rem non est ut illa prosequar, solisne vi an concepto visceribus
intimis ardore tellus duo illa spiret, hanelitum scilicet, qui sublatus in aerem
frigore in pluvias nivesque concogatur, et siccum spiritum, quo putant fieri,
ut ventorum impulsus moveantur. Tantum constet apud nos spirare utrun-
que ex tellure.39

Mostramos aqui, en passant, um paradoxo evidente: Alberti


declara estar desinteressado em questões de natureza teórica,
mas, na verdade, ostenta um perfeito conhecimento das teorias
científicas sobre o assunto; mais precisamente, ele declara uma
indiferença em tomar posição a favor de uma ou outra, inte-
ressado no aspecto concreto do fenômeno para tentar enfren-
tá-lo do ponto de vista construtivo. Várias vezes esta aparente
“sprezzatura” albertiana volta no tratado:
Neque istic insistam, ut physica illa de lapidum primordiis atque origine dis-
putem: ex aquæne ac terræ commixtionibus viscosa illa prinicpia in limum
prius, subinde in lapidem duruerint; frigorisne an, quod de gemmis asserunt,
caloris vi solisque radio densata concreverint, an potius, ut rerum aliarum,
sic et lapidum itidem sint a rerum natura indita telluri semina; coloresne
lapidibus ex rata terrenorum corpusculorum cum liquenti aqua confusione
insint, an ex innata seminis ipsius vi, an ex concepta radii impressione
adsint. Itaque istiusmodi omnia, tametsi fortassis aliquid facerent ad rem
exornandam, ea tamen prætermittam, remque ipsam ædificatoriam quasi
inter fabros usu et arte probatos tractans liberius et solutius prsequar, quam
exactissime philosophantes fortassis postulant postulant.40

mesmo aquecimento reduzida a ar líquido, quer se deva ter por mais segura e mais fundada
outra explicação e opinião sobre o assunto em análise, penso que devo passar adiante, porque
talvez possa parecer alheio ao nosso propósito. »].
39. Ibid., X 1, p. 877 [p. 627: «Não há motivo para continuar a discorrer sobre se é por
causa da violência do sol ou pelo calor concebido nas suas entranhas que a terra exala dois tipos
de vapores, a saber: um bafo que, elevado no ar, devido ao arrefecimento se condensa em chuvas
e neves; e uma exalação seca que faz com que, segundo se pensa, se ponha em movimento a
impulsão dos ventos. Aqui baste-nos saber que ambos emanam da terra.»].
40. Ibid., II 8, p. 135 [pp. 209-210: «E não me vou deter aqui a discutir o que dizem as
ciências da natureza acerca da origem e gênese das rochas: se foram os primeiros elementos

87
Nesse texto, além do habitual “desinteresse” pelas teorias
científicas, emerge outro paradoxo: Alberti justifica a falta de
tratamento rigoroso do assunto pelo fato de se dirigir a fabri,
como se eles pudessem ler em latim! Leon Battista, como
sempre, nos surpreende.
Outras vezes, Alberti estigmatiza a erudição vazia, para ele
desprovida, assim parece, de todo valor científico:
Plura possent de aquis dici, quæ veteres historici adnotarunt, varia et admi-
rabilia et ad hominum genus bene atque male habendum validissima; sed
rara illa, et fortassis ad peritiam ostendandam quam ad rem edisserendam
facerent.41

Leon Battista, por exemplo, resolve o problema da origem das


habitações em poucas linhas, listando as opiniões contrastan-
tes dos antigos:
Sunt qui dicant homines primum speluncis habitasse, ita ut pecus et domini
communi clauderentur umbra. Hinc credunt, quod fertur apud Plinium,
gelium quendam Taxium imitatione naturæ primum omnium luteum sibi
astruxisse ædificium; deam Diodorus Vestam Saturni filiam ait primum habi-
tacula adinvenisse; Eusebius Pamphilus elegans antiquitatum per crutator

viscosos, formados de uma mistura de água e terra, que solidificaram, passando primeiro a
lodo e depois a rocha; ou se foram formadas, como se afirma acerca das pedras preciosas, por
adensamento sob o impacto do frio e do calor e da radiação solar, ou se foi antes a natureza
que lançou na terra as sementes das pedras, assim como as dos outros seres; ou se as cores das
pedras derivam de uma certa mistura de partículas de terra com água transparente, ou de uma
propriedade inata da própria semente, ou se resultam do efeito exercido de fora pelos raios do
sol. Assim sendo, ainda que todas estas questões pudessem talvez contribuir um pouco para
adornar o assunto, todavia deixá-las-ei de lado e prosseguirei esta Arte Edificatória, ocupando-
-me dela com mais liberdade e desembaraço do que porventura requerem os teorizadores mais
exigentes, como quem está entre profissionais reconhecidos pela sua prática e experiência»].
41. Ibid., I 4, p. 39 [p. 155: «Muitas mais coisas se poderiam dizer acerca das águas, que já
os antigos historiadores referiram, várias, surpreendentes e de grande influência no bem e no
mal-estar dos seres humanos; mas são pouco frequentes e talvez importem mais para ostentar
erudição do que para esclarecer este assunto»].

88
ex veterum testimoniis Prothogenii nepotes excogitasse hominibus domi-
cilia asseverat, quæ ex foliis harundinum et papiro intexerentur.42

Sobre o tema já se expressara no primeiro livro, liquidando de


forma brusca as fabulæ que narram sobre o primeiro inventor
das habitações do homem:
Itaque quicunque ille fuerit, seu Vesta dea Saturni filia, seu Heurialus Hiper-
biusque fratres, seu Gellio aut Traso Cyclopsve Tiphinchius, qui ista [sc.
ædificia] principio instituerit […].43

Apenas em uma circunstância, as notícias sobre a origem das


coisas são consideradas úteis: é o caso das pedras. De fato, sua
fragilidade depende de um pecado de origem: terem sido cria-
das mediante estratos de matéria mole e, portanto, fácil de se
rachar.44
O que realmente interessa a Alberti, no final, é o que se
pode discernir com os próprios olhos:
Non illa philosophantium hic prosequar, petantne aquæ mare quasi quietis
locum, radione fiat lunæ, ut mare momentis augeatur vicissimque diminu-
atur; nihil enim ad rem nostram conferent. Illud non prætereundum est,
quod ipsis oculis perspicimus.45

42. Ibid., II 4, p. 111 [p. 197: «Há os que dizem que primeiramente os homens habitaram
em cavernas, abrigando-se o gado e os seus proprietários sob a mesma protecção. Assim, acre-
ditam, com base numa história narrada em Plínio, que foi um certo Gélio Táxio o primeiro
a construir uma casa de lodo, imitando a natureza; Diodoro diz que foi a deusa Vesta, filha
de Saturno, a primeira a inventar as habitações; Eusébio de Pânfilo, distinto investigador das
coisas antigas, servindo-se dos testemunhos dos antepassados, afirma que foram os descen-
dentes de Protogênio que conceberam para o ser humano habitações, entrelaçando folhas de
cana e papiro.»].
43. Ibid., I 2, pp. 21 e 23 [p. 147: « E assim, quem quer que tenha sido que, no princípio,
inventou estas coisas [os primeiros edifícios], seja a deusa Vesta, filha de Saturno, ou os irmãos
Euríalo e Hipérbio, ou Galião, ou Trasão, ou o Ciclope Trifínquio»].
44. Cfr. ibid., III 7, p. 201.
45. Ibid., X 3, p. 887 [p. 633: «Não seguirei aqui as discussões dos filósofos: se as águas
procuram o mar como lugar de repouso, ou se são os raios da lua que fazem com que alter-
nadamente o mar suba e desça; em nada contribuem para a nossa explicação. Não devemos
passar adiante daquilo que vemos com os nossos olhos»]. Segue uma breve análise de algumas

89
O que, portanto, confirma, mais uma vez, que a teoria indici-
ária é central no pensamento do grande humanista:
Verum hi, quales pro locorum varietate et natura sint [sc. lapidum], usu er
experientia pulcherrime innotescunt,ut iam ex veterum ædificiis cuiusque
lapidis vim et virtutem didicisse plenius possis quam ex philosophantium
scriptis et monimentis;46 a quibus plura me longe quam a scriptoribus pro-
fiteor didicisse.47

Mas, como foi dito no começo, seria um erro ver em Alberti um


precursor de Francis Bacon, que faz da investigação da natureza
o instrumento necessário para dominá-la e transformá-la (ver
a New Atlantis, 1624,1627). Alberti conhece os limites onde a
inevitável ação de modificação da natureza pode chegar, acen-
tuando esse aspecto continuamente dentro de seu tratado.
São suficientes poucos exemplos. Os limites da razão são
demonstrados pela existência de segredos desconhecidos da
natureza:

caracteristicas próprias da água que se podem notar com a simples observação: «aquam natura
petere ima; nec pati aerem uspiam esse depressiorem se; odisseque omnium tum leviorum
tum graviorum, quem ipsa sit, corporum mixtionem; et cupere complere omnes, in quascun-
que influat, concavitatum formas; et suis quo magi suti prohibeas viribus, eo cuntumatius
illuctari adversum atque inniti; neque interquiescere, quoad pro viribus assequatur, quæ ad
quietemaffectat; adeptis, ubi conquiescat, sedibus sese tantum contentam esse; mixta omnia
cætera aspernari; superficiemque summam sese ad coæquatam altitudinis parilitatem limbo
extremisque labris collibrare», ibid., pp. 887 e 889 [Ed. portuguesa, pp. 633-634: «a água
por natureza procura os lugares mais baixos; e não permite que em parte alguma haja ar mais
baixo de si própria; e que lhe repugna misturar-se com corpos mais leves ou mais pesados do
que ela; e que deseja encher todas as formas das concavidades para onde escorre; e quanto
mais a impedires de usar as suas forças, tanto mais pertinazmente se debate em contrário e
resiste; e não descansa pelo meio até conseguir, conforme as suas forças, o lugar almejado; só
fica contente quando alcança as posiçoes onde pode repousar; rejeita misurar-se com todos os
restantes elementos; o cimo da sua superfície, ao nível correspondente à altura, alinha pelo
recipiente e pela extremidade dos seus bordos»].
46. Ibid., II 8, p. 137 [p. 210: «Mas só a prática e a experiência podem dar a conhecer
perfeitamente as características que possuem em função da variedade e da natureza dos lugares,
de tal modo que pela observação dos edifícios antigos se aprende mais sobre a qualidade e o
valor de uma pedra qualquer, do que nos escritos e tratados dos teorizadores»].
47. Ibid., III 16, p. 257 [p. 275: «confesso que aprendi muito mais com os edifícios do
que com os escritores»].

90
cælum vero nulla ingenii ope nullaque hominum manu satis posse emen-
dari asseverant.48
Cælum pro situ et locorum gacie alium atque alium haberi sentimus;
quarum varietatum rationes partim intelligere videmur, partim naturæ obs-
curitate adbitæ atque ostrusæ nos penitus latent.49
sed regioni universæ quid satis conferat, compertum non habemus.50

Mas, Alberti escreve a palavra final sobre os limites da scientia


a propósito da imprevisibilidade das tentativas de cavar poços
para extrair água de nascentes subterrâneas. Após uma longa
lista de casos, na ótica daquela varietas a ele cara, Leon Bat-
tista conclui assim: «Quæ si ita sunt, profecto naturam nosse
minime facile et valde obscurum est».51
Como já foi dito, a teoria dos indícios não concerne apenas
o De re ædificatoria. Toda a obra literária, segundo a divisão tri-
partida de Francesco Furlan – tratadística, dialógica e lúdica52
– é interessada. A começar por aquele verdadeiro manifesto
programático da teoria indiciária que é o livro I do De familia,
onde esse “elogio” é colocado na boca do litteratus Lionardo
Alberti, em um diálogo com o mais maduro Adovardo Alberti

48. Ibid., I 3, p. 25 [p. 148: «o clima, segundo afirmam, não pode emendar-se nem com
o recurso do engenho nem com a força do homem»].
49. Ibid., pp. 25 e 27 [p. 149: «Sentimos que o clima varia conforme o sítio e a disposição
geográfica. Em parte parecem-nos compreensíveis as causas de tais variações em parte escapam-
-se-nos completamente, escondidas por detrás dos segredos da natureza»].
50. Ibid., X 1, p. 877 [p. 627: «julga-se que o clima dificilmente pode ser corrigido pelas
técnicas dos homens […]» contra o sol e os ventos»].
51. Ibid., X 3, p. 891 [p. 635: «Assim sendo, não é fácil nem muito claro o conhecimento
da natureza». Assim afirma Ricciardo Alberti no quarto livro do De familia: « Há nas coisas
produzidas pela natureza forças maravilhosas e ocultas de inimizade e amor, das quais ainda
não soube compreender causa ou razão alguma», LEON BATTISTA ALBERTI, I Libri della
Famiglia, A cura di Ruggiero Romano e Alberto Tenenti, nuova edizione a cura di Francesco
Furlan, Torino, Giulio Einaudi editore, 1994, IV 182-185, p. 328.
52. Cfr. FRANCESCO FURLAN, Studia albertiana: Lectures et lecteurs de L.B. Alberti,
Paris, J. Vrin & Torino, Aragno, 2003, pp. 7-10 e passim; ver também Id., Per un ritratto
dell’Alberti, in «Albertiana», XIV, 2011, pp.
43-53: 50-52.

91
sobre o tema de officio senum erga iuvenes et minorum erga maio-
res et de educandis liberis:
LIONARDO Eu acredito que um pai cuidadoso e sagaz descobrirá sem
grandes dificuldades para que tipo de atividades e habilidades seus filhos
têm inclinação e aptidão. O que poderia ser mais difícil do que encontrar
aquelas coisas que ficam escondidas e que a natureza deixa embaixo da terra?
Ainda assim elas foram descobertas por artífices industriosos. Quem disse ao
avarento que lá embaixo havia metais, ouro e prata? Quem abriu o caminho
difícil e obscuro? Quem garantiu que as minas continham metais preciosos
e não chumbo? Havia indícios, sinais que levaram homens a investigar, e
investigando conseguiram. A indústria e a diligência dos homens foi tão
potente que agora nenhuma dessas coisas escondidas é desconhecida. Os
arquitetos querem edificar poços e fontes. Primeiro procuram os indícios,
mas não cavam em qualquer lugar, porque seria um gasto inútil se o veio
não fosse bom, limpo ou prático. Eles refletem sobre a terra de forma que
possam conhecer o que se encontra escondido embaixo dela. Se eles veem o
terreno tufoso, árido e arenoso não perdem seu trabalho, mas onde surgem
brotos, mirtos ou outras plantas, acreditam que o trabalho não será em vão.
Não sem indícios começam a executar um edifício, e dispõem o edifício de
acordo com o que os indícios prescrevem. Os pais deveriam agir de forma
parecida com os filhos. Deveriam observar os hábitos que eles adotam, que
tipo de vontades persistem, quais recorrem, as que são mais assíduas. Estas
serão indícios claros para ter uma cognição perfeita.53

Nesse longo texto, que quisemos reproduzir na íntegra pela sua


importância – em um crescendo retórico igualado apenas pelo
famoso trecho do livro III, onde Giannozzo elogia o tempo – os
termos indício/indícios se repetem cinco vezes mostrando a cen-
tralidade. E a relação com o De re ædificatoria aparece mais que
evidente.54 Cardini identificou um outro momento da teoria

53. L.B. ALBERTI, I Libri della Famiglia, cit., I 1117-1148, pp. 53-54.
54. Sobre as relações entre as duas obras primas albertianas, em latim e vernáculo, ver
MASSIMO DANZI, Fra oikos e polis: il pensiero familiare di Leon Battista Alberti, in La
memoria e la città. Scritture storiche tra Medioevo ed Età
Moderna, Atti del convegno (Bologna-San Marino, 24-27 marzo 1993), A cura di Claudia
Bastia e Maria Bolognani, responsabile culturale Fulvio Pezzarossa, [premessa di Ezio Raimon-

92
indiciária em uma página do quarto livro, onde Adovardo refere
-se a uma técnica indiciária de desmascaramento implementada
pelo antepassado Benedetto, mediante uma atenta observação
dos gestos – «com muita diligência, anotando muito e medin-
do-o»55 – de um jovem ao seu serviço, aparentemente «bas-
tante moderado»,56 até descobrir os signos de prováveis futuros
vícios.57 Um perfeito “detetive”, como o astrologus albertiano
da intercenale Vaticinium:
ASTROLOGUS. Est quidem is nimis admodum callidus qui usque alio-
rum mentes teneat, nimium profecto astutus idem qui verbo aut vestigio
unico tam illico voluntates hominum interpretetur!58

Mas, a teoria indiciária retorna diversas vezes ao longo do diá-


logo albertiano, particularmente para desvelar o caráter femi-
nino, mascarado pelo “misógino” Alberti. O termo, a ser visto
frequentemente junto com os termos sinal/ signum/ signa,
recorre, no gênero dos tratados, no De pictura e no De equo
animante; naquele dos diálogos, no Theogenius, nos Profugiorum
ab ærumna libri III e no De iciarchia; no gênero dos ludus (ou
lusus), no Momus, nas Intercenales, e nos panfletos amorosos,
espécie de fusão dos três gêneros (Sofrona, Ecatonfilea Deifira,
De amore). Na Autobiografia, o método indiciário é explicita-

di], Bologna, Il Nove, 1995, pp. 47-62; gostaria também de apontar o meu ensaio «La cité est
une très grande maison et la maison une petite cité»: Intersections entre le De familia e le De re
Ædificatoria, in Les Livres de la famille d’Alberti: Sources, sens et influence, Sous la direction
de Michel Paoli, avec la collaboration d’Élise Leclerc et Sophie Dutheillet de Lamothe, Préface
de Françoise Choay, Paris, Classiques Garnier, 2013, pp. 325-352.
55. L.B. ALBERTI, I Libri della Famiglia, cit., IV 1268, p. 369.
56. Ibid., IV 1259-1260, p. 369.
57. Cf. ibid., IV 1268-1270, pp. 369-370.
58. L.B. ALBERTI, Vaticinium, cit., p. 266 «ASTROLOGO. É, sem dúvida, experto
demais; parece conhecer plenamente a mente alheia; e é também demasiado astuto, basta uma
palavra ou um movimento para entender as intenções dos homens!»].

93
mente apresentado como sendo praticado correntemente por
Alberti na longa lista de dicteria:
Ambitiosi domum spectans, «Turgida» inquit «domus hec propediem effla-
bit erum»; ut evenitquidem: nam ob alienum es ipsarum edium fortunatissi-
mus dominus in exilium secessit. Cuidam prodigo et insolenti , qui se dictis
morderet, cum satis obticuisset, «Non tecum,» inquit «o beate, contendam,
quem respublica suo sit hospitio acceptura». Horum verborum mordax ille,
cum carceribus detentus diem obiret, meminit. <ferrariensibus, ante edem-
qua per Nicolai Estensis tyranni tempora maximaiuventutis pars eius urbis
deleta est, «O amici,» inquit «quam lubrica erunt proximam per æstatem
pavimenta hec, quando sub tectis multe impluent gutte!59

Mais do que assinalar dotes de adivinho, essas previsões resul-


tam da capacidade de observação de Alberti, e de um método
indiciário que se aproxima muito à phronesis aristotélica: a capa-
cidade de prever o futuro com base na experiência passada e
presente, segundo a célebre representação da alegoria da Pru-
dência, com as três cabeças de lobo, leão e cão; leão e cão, inclu-
sive, animais heráldicos albertianos por excelência.
Mais próximas de verdadeiras artes divinatoriæ – ainda que
acompanhadas pela prudentia e doctrina – são, ao contrário, as
profecias sucessivas sobre o destino da pátria, pontífices, cida-
des e principados:
Etenim predicendis rebus futuris prudentiam doctrine et ingenium artibus
divinationum coniungebat. Extant eius epistole ad Paulum phisicum, in

59. Leonis Baptistæ de Albertis vita (Autobiografia), in LEON BATTISTA ALBERTI,


Autobiografia e altre opere latine, a cura di Loredana Chines e Andrea Severi, Testo latino a
fronte, Milano, RCS, 2012, pp. 61-103: 92 [p. 93, per la trad. it.: «Observando a casa de um
homem ambicioso afirmou: “Esta casa cheia de pompa logo se livrará de seu senhor”; como
realmente aconteceu: de fato, o felizardo proprietário foi exilado por dívidas. A um homem
dissipador e impudente que o atormentava, depois de ficar calado, disse: “Não vou discutir
contigo, felizardo, que a prisão logo te hospederá”. Aquele atrevido lembrou dessas palavras o
dia em que, detento na prisão, morreu. Aos ferrareses, diante do palácio em que, no tempo da
tirania de Nicolau d’Este, a nata dos jovens daquela cidade foi morta, disse: “Amigos, como
serão escorregadios estes chãos o próximo verão, quando dos telhados o sangue começará a
escorrer”.»

94
quibus futuros casus patrie annos integros ante praescripserat; tum et pon-
tificum fortunas, que ad annum usque duodecimum essent affuturæ predi-
xerat, multarumque reliquarum urbium et principum motus ab illo fuisse
enunciatos amici et familiares sui memorie prodiderunt.60

Mas é no signo de seu emblema, o olho alado, que talvez possa-


mos terminar esta análise de uma teoria e prática dos indícios,
capaz de prever, de certo modo, conscientemente, o destino
de homens e coisas, como confessa o próprio Alberti em sua
Autobiografia:
Habebat pectore radium, quo benivolentias et odia hominum erga se pre-
sentisceret; ex solo intuitu plurima cuisque presentis vitia ediscebat.61

Instrumentos – o intuitus e o radius – indispensáveis para se


mover na cena do mundo, porque, como escreveu Cardini, a
teoria indiciária «se apoia […] em uma ideia bastante pessi-
mista, e bastante realista, da natureza humana, como também
no assunto, em Alberti ubíquo, que cada homem é sempre per-
sonatus […]».62
E os indícios servem, justamente, para tirar em modo “cien-
tífico” essas máscaras.

60. Ibid., pp. 92 e 94 «Ao prever o futuro, ele conjugava sabedoria e doutrina, engenho e
artes divinatórias. Dele permanecem cartas ao médico Paolo, em que tinha previsto o futuro
da pátria; tinha ainda prognosticado as vicissitudes dos pontífices durante doze anos, e amigos
e parentes guardaram a memória das transformações de muitas cidades e dos governos por
ele prenunciados.»
61. Ibid., p. 94 [p. 95, «Tinha no coração um raio luminoso pelo qual conseguia pressentir
a benevolência e o ódio que os homens mostravam; olhando uma vez só, era capaz de descobrir
os defeitos de todas as pessoas»].
62. [R. Cardini], [Commento a] Vaticinium, cit., p. 273.

95
N O TA B I O G R Á F I C A D O S A U TO R E S

Andrea Buchidid Loewen


Arquiteta e Urbanista, e Mestre em Urbanismo pela Pontifí-
cia Universidade Católica de Campinas; Doutora em História e
Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Ar-
quitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP);
Professora na mesma instituição; Membro fundador e integrante
do Comitê de Direção da Association Internationale «Artes Renas-
centes»; Membro do Comitê de Redação e Coordenação Editorial
da revista Albertiana - Socièté Internationale Leon Battista Alberti.

Alberto Giorgio Cassani


Arquiteto pelo Politecnico di Milano; Doutor em Pesquisa de
Conservação de Bens Arquitetônicos na mesma instituição; Pro-
fessor da Accademia di Belle Arti di Venezia e da Accademia di Bel-
le Arti di Ravenna; Editor do «Annuario» dell’Accademia di Belle
Arti di Venezia; Membro do Comitê de Redação da revista Alber-
tiana - Socièté Internationale Leon Battista Alberti; Colaborador da
revista Casabella.

Vítor Murtinho
Arquiteto pela Universidade Técnica de Lisboa e Doutor em
Arquitetura pelo Departamento de Arquitectura da Universida-
de de Coimbra; Professor Associado do Centro de Estudos Sociais
do Departamento de Arquitectura, e Vice-Reitor (2011-2019) da
mesma instituição; Membro do Comitê de Direção e de Leitura
da revista Albertiana - Socièté Internationale Leon Battista Alberti.

Você também pode gostar