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AEROCLUBE DO ESPIRITO SANTO

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VILA-VELHA - ES

Navegação Aérea – Noções Básicas


Resumo da Disciplina

Andre Anastas Maraslis

Vitória, Março de 2023


Parte 1 – A Terra e o Sistema de Coordenadas Geográficas

A Terra, para fins de navegação, é considerada uma esfera perfeita. Esta possui
dois movimentos principais: rotação e translação. O movimento de rotação é o
movimento da Terra em torno de seu próprio eixo (a Terra gira), enquanto o de
translação é o movimento da Terra em torno do sol.
Por ser uma esfera, torna-se necessário criar alguma forma de explicitar com
precisão a posição dos pontos em sua superfície. Para isso, criou-se o sistema de
coordenadas geográficas, baseado em dois parâmetros principais – a Latitude e a
Longitude.
Para que possamos entender o sistema de coordenadas geográficas, devemos
compreender algumas definições simples:

Círculo Máximo – É a circunferência formada na superfície da Terra quando esta for


cortada por um plano que passe pelo seu centro. Ou seja, divide a Terra em duas partes
IGUAIS.
Círculo Menor – É a circunferência formada na superfície da Terra quando esta for
cortada por um plano que não passe pelo seu centro. Logo, a Terra não é dividida em
duas partes iguais.

Círculos Máximos (vermelhos) e Menores (azuis).

Uma vez compreendidas estas duas definições, passamos para as definições de


Paralelos de Latitude e Meridianos de Longitude:

Paralelos de Latitude – São círculos imaginários formados na superfície terrestre, os


quais são perpendiculares (90º) ao eixo de rotação da Terra. O principal exemplo é a
Linha do Equador. A Linha do Equador é o único paralelo que é um círculo máximo,
dividindo a Terra em duas partes iguais: o hemisfério norte e o hemisfério sul. Todos os
outros paralelos de latitude são, então, círculos menores.

Paralelos de latitude.

Meridianos de Longitude – São SEMI-CÍRCULOS máximos unindo um pólo a outro.


Estes formam sempre 90º com os paralelos de latitude. Importante salientar que todo
meridiano é um semi-círculo MÁXIMO. O principal exemplo de meridiano é o
Meridiano de Greenwich.
Meridianos de longitude.

Enfim, vamos às definições de Latitude e Longitude:

Latitude – É a distância angular entre a Linha do Equador e o paralelo de latitude que


passa pelo ponto. A latitude é, então, um arco de meridiano entre o Equador e o paralelo
do ponto.

Longitude – É a distância angular entre o Meridiano de Greenwich e o meridiano que


passa pelo ponto considerado. A longitude é, então, um arco de paralelo entre o
meridiano de Greenwich e o meridiano do ponto.

Latitudes (esq.) e Longitudes (dir.).

As latitudes e longitudes são valores angulares. Logo, são medidas em graus,


minutos e segundos, e deve ser explicitado sempre o hemisfério (N ou S, para latitudes,
e E ou W para longitudes). Ex: 20ºS - 155ºW, 67º22’N – 163º32’22’E.

Através dos valores de latitude e longitude, podemos determinar a posição de


somente um ponto na Terra. A este ponto corresponde somente uma única combinação
de latitude e longitude.

Co-latitude – É o COMPLEMENTO de uma latitude


para chegar até o pólo mais próximo. Logo, é o arco de
meridiano que une o paralelo de latitude de um ponto
até o pólo mais próximo. Pode ser calculada da seguinte
forma:

CO-LAT = 90º - LAT


Co-Latitude.
Exemplos:
a) Co-latitude do ponto 32ºN – 002ºW:
Co-lat = 90º - Lat
Co-lat = 90º - 32º = 58ºN (hemisfério N porque o pólo mais próximo é o Norte).

b) Co-latitude do ponto 77ºS – 089ºE:

Co-lat = 90º - Lat


Co-lat = 90º - 77º = 13ºS (hemisfério S porque o polo mais próximo é o Sul).

Anti-meridiano – É o meridiano oposto ao meridiano


considerado (Se os meridianos são semi-círculos, tem que
ter um do outro lado, não é?). Deve ser calculado da
seguinte forma:
ANTIMER = 180º - LONG

Lembrar de inverter o hemisfério da longitude.

Anti-Meridiano.

Exemplos:
a) Anti-meridiano do ponto 32ºN – 002ºW:

Antimer = 180º - Long


Antimer = 180º - 002º = 178ºE (inverter o hemisfério).

b) Anti-meridiano do ponto 77ºS – 089ºE:

Antimer = 180º - Long


Antimer = 180º - 089º = 091ºW (inverter o hemisfério).
Parte 2 – Orientação e Localização na Terra

Quando falamos em direção, as primeiras palavras que lembramos são as


direções Norte, Sul, Leste e Oeste. Abaixo, observamos uma rosa-dos-ventos,
explicitando os pontos cardeais, colaterais e sub-colaterais, a saber:

Pontos Cardeais – N, E, S, W
Pontos Colaterais – NE, SE, SW, NW
Pontos Subcolaterais – NNE, ENE, ESE, SSE, SSW, WSW, WNW, NNW

Rosa-dos-ventos.

Porém, em aviação, estas direções não são suficientes para garantir uma
navegação precisa e segura, pois como estamos lidando com grandes distâncias, um
pequeno desvio pode gerar uma diferença não desejada ao final da rota. Por isso,
convencionou-se que a direção em aviação deve ser explicitada pelo ângulo formado
entre o norte e a direção desejada, contado em sentido horário. Logo, nossa direção
variará de 001º a 360º.

Magnetismo Terrestre

A Terra é um grande imã, que possui um campo magnético a sua volta. Este
campo magnético forma linhas de força que saem de um pólo a outro. O problema é que
estes pólos magnéticos NÃO coincidem com os pólos verdadeiros. Por isso, torna-se
necessário o conhecimento de diversos conceitos envolvendo o magnetismo terrestre.

Declinação Magnética (DMG) – É o ângulo formado pelo Norte Verdadeiro e o Norte


Magnético. Este valor varia de acordo com a posição na Terra, como mostrado na
figura.

Linhas Isogônicas – São linhas que


unem pontos de igual declinação
magnética. Na figura, as linhas
vermelhas e azuis são exemplos de
linhas isogônicas.
Linhas Agônicas – São linhas que
unem pontos de declinação magnética
nula. Na figura, são as linhas verdes.
Mapa-Mundi com as declinações magnéticas.
Inclinação Magnética – É o ângulo de inclinação da força magnética em direção ao
pólo. Quanto mais próximo do pólo, maior a inclinação magnética.

Proa, Rumo e Rota

Um avião quando voa está imerso em um imenso oceano de ar. Este oceano está
em constante movimento – o que deve ser considerado para o vôo. Para isso servem os
conceitos de Proa, Rumo e Rota:

Proa – É a direção, em graus, do eixo longitudinal da aeronave (nariz).


Rumo – É a direção, em graus, para a qual a aeronave está voando EFETIVAMENTE.
Também é definida como a direção da Rota.
Rota – É a trajetória percorrida ou a percorrer traçada numa carta de navegação.

Quando não estamos sob influência do vento, a proa será igual ao rumo. Porém,
quando há vento, na maioria das vezes a aeronave não estará voando exatamente para
onde aponta o nariz, e sim em uma outra direção (o rumo), ou seja, ela “desliza” para
uma outra direção. Abaixo seguem algumas imagens que podem ajudar na compreensão
da diferença entre proa e rumo.

Deriva (DR) – É o ângulo que vai da PROA até o RUMO.


Correção de Deriva (ACD ou CD) – É o ângulo que vai do RUMO até a PROA.

Quando juntamos os conceitos de “Magnetismo Terrestre” e de “Proa, rumo e


rota”, chegamos a várias conclusões:
A proa e o rumo podem ser verdadeiros, quando referenciados ao norte
verdadeiro, ou magnéticos, quando referenciados ao norte magnético. Independente
disso, o ângulo entre eles sempre será a deriva ou a correção de deriva (dependendo do
sentido – um parte da proa pro rumo e o outro, do rumo pra proa). Para o vôo em si,
sempre nos interessam os valores magnéticos, pois nosso instrumento básico de direção
– a bússola – segue princípios magnéticos.
A proa e o rumo podem ser iguais em três casos: Vento nulo, vento de proa ou
vento de cauda (lembrando que o vento sempre é dito de onde vem, e não pra onde vai).
Nestes casos, se a proa é igual ao rumo, a deriva e a correção de deriva serão iguais a
zero.
Parte 3 – Unidades de medida usadas na Navegação Aérea

Em aviação, usamos unidades de medidas diferentes em relação ao nosso dia-a-


dia. A saber:

Distância

Quilômetro (km) – Conhecida do dia-a-dia, equivale a 1000m. Sua unidade de


velocidade é o km/h.
Milha Náutica (nm) – Equivale a 1852m, e sua unidade de velocidade é o nó (kt), que é
igual a uma milha náutica por hora. Unidade mais usada em aviação.
Milha Terrestre (ST) – Equivale a 1609m. Sua unidade de velocidade é a mph (milha
por hora). Não confundir com a milha náutica.

Elevações

Metros (m) – Conhecida por nós dado ao grande uso no dia-a-dia.


Pés (ft) – Equivale a 0,3048m, e é a unidade mais usada para se medir altitude e
elevações em aviação.

Exercícios:
1) Converter 1300m em ft: 7) Converter 13nm em ST:

1ft – 0,3048m 1nm - 1,15ST


X – 1300m 13nm - x

1300/0,3048 = 4265ft 13 · 1,15 = 15ST

2) Converter 30000ft em metros: Para converter velocidades, use o


mesmo método para distâncias, apenas
1ft – 0,3048m
30000ft - x
trocando km por km/h, nm por kt e ST
por mph.
30000 · 0,3048 = 9144m

3) Converter 60nm em km:

1nm - 1,852km
60nm - x

60 · 1,852 = 111km

4) Converter 1300km em nm:

1nm - 1,852km
X - 1300km

1300/1,852 = 702nm

5) Converter 162km em ST:

1ST - 1,609km
X - 162

162/1,609 = 100ST
Parte 4 – Fusos Horários

Para se entender fusos horários, devemos imaginar uma situação onde o Sol gira
em torno da Terra, e não o contrário. O movimento aparente do sol é o que nos dá a
sensação de hora do dia, e obviamente, esta varia de acordo com a posição na Terra
(seria insensato ser meio-dia pra gente aqui no Brasil e meio-dia também no Japão!).
Por isso, criou-se a teoria dos fusos horários.
A idéia de hora do dia nos vem com a posição relativa do sol. E esta posição é
diferente para cada longitude na Terra. Logo, podemos relacionar longitude com o
movimento aparente do sol.
Sabemos que este movimento aparente do sol em torno da Terra dura 24h. Sendo
assim, dividindo a longitude de uma volta completa na Terra (360º de longitude) por
24h, concluímos que o sol demora 1h para percorrer cara 15º de longitude. Indo mais
adiante, concluiu-se, de uma forma geral, que:

Longitude Tempo Gasto pelo sol


para percorrer
15º 1h
1º 4min
15’ 1min
15’’ 1seg

Hora UTC – É a hora do meridiano de Greenwich. UTC significa “Tempo Universal


Coordenado”. A hora UTC é a MESMA para qualquer posição na Terra – a hora de
Greenwich.

Linha Internacional de Mudança de Data – É a linha imaginária no meridiano 180º


que define a mudança de data.

Hora Local (HLO) – É a hora aparente em determinada longitude. É a hora exata em


determinada posição se for considerada a posição do sol em relação à ela.

Hora Legal (HLE) – É a hora de cada uma das 24 faixas de fuso horário da Terra. Cada
uma dessas faixas possui um “meridiano central”, a saber: 0º, 015º, 030º, 045º, 060º,
075º, 090º, 105º, 120º, 135º, 150º, 165º, 180º (MÚLTIPLOS DE 15). Uma vez que um
ponto estiver dentro de uma faixa, seu horário será determinado pelo horário HLO do
meridiano central daquela faixa.

Cálculo de HLO e HLE

Para o cálculo de fusos horários, devemos sempre nos lembrar que, quanto mais
a Leste, mais tarde, e quanto mais a Oeste, mais cedo.

1) Se no meridiano 015ºW são 10h HLO, que horas são no meridiano 090ºW?

O meridiano 090ºW está mais a oeste, logo será mais cedo do que 10h. Como são
hemisférios iguais, subtraímos os valores para descobrir a diferença horária.
090º - 015º = 075º
Se cada 15º valem 1h, 75º valerão 05h. Logo, no meridiano 090ºW serão 5h a
menos do que 10h.
10h – 5h = 05h.

2) Se no meridiano 105ºE são 06h da manhã, que horas são no meridiano


050ºW?

Para hemisférios diferentes, somamos os resultados. Temos o horário no meridiano


mais a leste, logo, a hora no outro será mais cedo do que 06h.
Quanto mais cedo?

105º + 050º = 155º

Sabemos que 10h de diferença equivaleriam a 150º de longitude. Faltam 5º para


completar 155º. Mas sabemos que 1º são 4min; logo, 5º seriam 20min, nos dando
uma diferença horária total de 10h20min. Como já sabemos que são 10h20min mais
cedo do que 06h, concluímos a conta:

06h – 10h20min = 19h40min do dia anterior.

3) Se no meridiano 100ºW são 1500UTC, qual a hora UTC no meridiano


018ºE?

São 15h, pois a hora UTC é a mesma para todos os meridianos.

4) No meridiano 011ºW são 16h HLE. Qual a hora HLE no meridiano 167ºE?

Para calcular HLE, só nos interessa saber em qual faixa de horário eles se
encontram. Para isso, vemos o múltiplo de 15 mais próximo de cada um deles. No
caso do 011ºW, seria o 015ºW. No caso do 167ºE, o mais próximo é o 165ºE. Agora,
basta fazer o cálculo:

015ºW são 16h. 165ºE será mais tarde (está mais a leste). Quanto mais tarde?

Hemisférios diferentes, somamos: 165º + 015º = 180º. Se cada 15º equivalem a 1h,
180º equivalem a 12h. Então, no meridiano 165º serão 16h + 12h = 04h do dia
seguinte.

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