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PROPOSTA DE ADESÃO DA VOLTA DA ILHA GRANDE À REDE NACIONAL DE

TRILHA DE LONGO CURSO E CONECTIVIDADE - REDE TRILHAS

1. Apresentação

A Volta da Ilha Grande é uma Trilha de Longo Curso (TLC) localizada no


Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente no município de Angra dos Reis e
tem mais de 80 % do seu percurso dentro do Parque Estadual da Ilha Grande , a
mesma pode ser realizada tanto pela modalidade terrestre como aquática.
Em referência aos itens indicados para análise preliminar da proposta
segundo determina a Portaria Conjunta MMA/MTur/ICMBio n. 500 de 15 de
setembro de 2020, esse documento está subdivido nos seguintes tópicos: (i)
histórico; (ii) propósito e descrição de importância para conectividade e recreação
com contato com a natureza; (iii) apresentação de mapa com traçado da trilha e
suas áreas de importância; (iv) indicação das instâncias de governança. A seguir,
cada item elencado será apresentado em seu respectivo tópico.

2. Histórico

O turismo em Ilha Grande, localizada no município de Angra dos Reis, foi


implementado a partir da década de 1970, e teve sua afirmação na segunda metade
da década de 1990 (RAMUZ, 1998) Entretanto, a ilha já possuía fluxos de pessoas
anteriormente, mas sem ser para a atividade de turismo. Entre os séculos XVI ao
XIX, época que ocorreu a ocupação portuguesa, com exploração agrícola na área,
com fazendas exportadoras que erodiram o local. Já no início do século XX, a ilha
serviu, principalmente, para atividades carcerárias, a qual se prolongou até a
desativação do presídio Cândido Mendes, em 1994, quando o turismo se afirmou
como a principal atividade econômica (RAMUZ, 1998, p.114).
Além disso, “a construção da Rodovia Rio-Santos dinamizou a realização de
projetos turísticos para toda a região por ela cortada. No caso específico da Ilha
Grande, abriu-se margens a uma nova relação de troca entre a Ilha e o mercado
externo que deve ser entendida pela afirmação do turismo como principal agente
das relações sócio-econômicas locais.” (RAMUZ, 1998, p.115).
Na década de 1980, o marketing em cima da Ilha Grande foi imensa, usando
palavras como intocável, irresistivelmente bela, selvagem, um tesouro e linda, o que
elevou a curiosidade e busca do local como lazer. Com isso, a oferta de serviços
turísticos se dinamizou, e na década de 1990 já havia mais de trinta locais de
hospedagem (entre pousadas e campings), segundo Pedro Ramuz (1998), assim
como “o número de embarcações particulares fazendo o transporte de passageiros
entre a Ilha e o continente, bem como passeios por suas praias, também passou a
ser crescente (RAMUZ, 1998, p.116). Ao mesmo tempo, era reforçado as leis de
preservação ambiental, com criação de Unidades de Conservação, como o Parque
Estadual da Ilha Grande, a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, a Reserva
de Desenvolvimento Sustentável do Aventureiro, a Área de Proteção Ambiental de
Tamoios.
Dessa forma, após a década de 1990 houve um boom turístico na região, que
traz consigo não só uma melhora econômica para a população local, como também
problemas ambientais, como descarte irregular do lixo, com novos valores e modos
de agir. E com isso, popularizar as trilhas ao redor da Ilha Grande como um dos
atrativos turísticos, as quais já eram utilizadas pelos moradores como forma de
interligação das comunidades locais, sendo uma trilha orgânica, usada por aqueles
que não possuíam condições de pegar barco ou não desejavam.
Entretanto, somente em 2015, com a criação da Rede Brasileira de Trilhas,
surgiu a ideia de implementá-la oficialmente, a qual só teve novo andamento em
2022 com movimentos de sinalização da trilha, visto que essa já é um atrativo
turístico consolidado, mas ainda sem a devida sinalização correta. E, então, em
2023 houve a mobilização, em conjunto, de voluntários, dos moradores locais, da
Rede Brasileira de Trilhas, das UCs e do INEA, para manejo e sinalização da Trilha
de Longo Curso Volta da Ilha Grande, além de reuniões com os interessados para a
definição e implementação da TLC.
Por fim, com a chegada do 2° Congresso Brasileiro de Trilhas que ocorrerá
em setembro deste ano em Niterói, e com a TLC Volta da Ilha Grande como uma
das trilhas escolhidas para ser apresentada no pré-congresso, houve uma
mobilização mais assídua quanto a implementação da trilha citada a adesão à rede
nacional de trilha de longo curso e conectividade - rede trilhas.

3. Propósito e descrição de importância para conectividade e recreação com


contato com a natureza

HARVEY (1994:258), interpretou a sociedade atual como uma sociedade do


descarte, "apelidada assim por autores como Alvin Toffier (1970), a partir da década
de 1960 (...) mais do que jogar fora bens produzidos (criando um enorme problema
do que fazer com o lixo), esta sociedade se caracteriza por ser capaz de atirar fora
valores, estilos de vida, relacionamentos estáveis, apego às coisas, edifícios,
lugares, pessoas e modos adquiridos de agir e ser." (RAMUZ, 1998, p. 117). Dessa
forma, torna-se imperativo realizar mobilizações de percepção ambiental para ajudar
na conservação.
Então, com a iniciativa de mostrar as belezas cênicas da região por meio da
TLC, é possível, por meio da percepção ambiental, promover uma consciência e
sentimento de conservação. E através do ecoturismo e da própria atividade de
trilha, há clara promoção de lazer e saúde. Além dos pontos citados, ao ligar o
caminho da trilha aos pontos de comércio e hospedagem local, há uma maior
geração de trabalho e renda local, ajudando, inclusive, as comunidades locais.
A conectividade proposta pela Volta da Ilha Grande envolve 3 áreas
protegidas de diferentes categorias administradas pelo INEA, que estão diretamente
nos traçados da trilha ou ao longo do raio de 5km de seus traçados. São elas:
Por meio da conectividade das áreas protegidas, pode ser possível criar
corredores ecológicos, e através de placas de sinalização e regras locais, indicar
aos turistas que tais áreas são prioritárias para conservação.

4. Mapa com traçado da trilha e suas áreas de importância

A Volta da Ilha Grande contempla toda a ilha, com trechos por terra e outros
marítimos.
Os pontos de destaques são Vila do Abraão, Pico do Papagaio, Praia de
Palmas, Farol de Castelhanos, Praia de Lopes Mendes, Dois Rios, Parnaioca, Praia
do Aventureiro, Gruta do Acaiá, Praia Vermelha, Araçatiba, Sítio Forte, Matariz,
Bananal e Saco do Céu.

Mapa 1 - Mapa com traçado da Volta da Ilha Grande

5. Indicação das instâncias de governança

A trilha de longo curso Volta da Ilha Grande é uma iniciativa da sociedade


civil e de órgãos públicos, que sempre valorizou a construção de uma governança
democrática e participativa. Atualmente, a TLC Volta da Ilha Grande, conta com a
participação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da gestão das Unidades de
Conservação (Parque Estadual da Ilha Grande, Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Aventureiro e Área de Proteção Ambiental de Tamoios), além da
associação de guias e condutores de Ilha Grande, como também dos moradores
locais. A estrutura de governança pode ser melhor visualizada conforme a figura 1,
a seguir:

Figura 1 - Governança TLC Volta da Ilha Grande

A estrutura estabelecida busca criar instâncias de participação e


representatividade dos mais diversos setores e atores envolvidos com a trilha, ao
mesmo tempo que busca criar uma efetividade e legitimidade para as ações de
execuções realizadas. Atualmente, o Conselho Consultivo da Volta da Ilha Grande é
a instância que contempla todas as instituições que apoiam e participam do
conselho, sendo regida por regimento interno e composta pelo INEA, o Parque
Estadual da Ilha Grande, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Aventureiro, a Área de Proteção Ambiental de Tamoios, a associação de guias e
condutores de Ilha Grande, além dos moradores locais.
Atualmente, o INEA utiliza o termo de adoção de trilhas, com base no
Decreto 42.483/2010, o qual os voluntários se comprometem a realizar serviços e
atividades nos parques estaduais administrados pelo INEA, e subsidiado pelo Plano
de Manejo da UC. No mais, o canal de comunicação e organização dessa estrutura
são os grupos de Whatsapp. A partir desses grupos são organizados todos os
eventos, reuniões, saídas de campo, expedições exploratórias e oficinas. Existe um
grupo de Whatsapp com todos os voluntários da Volta da Ilha Grande, onde
possuem ciência das regras de conduta no grupo e do caráter voluntário e sem fins
lucrativos dos trabalhos. Apenas após ser integrado ao grupo geral é que o
voluntário pode passar a integrar também os grupos de trabalho dos trechos ou dos
temas específicos. Os participantes dos grupos também recebem materiais teóricos
importantes para leitura dos participantes, como "Manual de sinalização de trilha" e
o "Manual de construção e manejo de trilhas" do INEA.
Além dos grupos de Whatsapp, são realizadas algumas reuniões,
principalmente da coordenação geral, do conselho e dos grupos de trabalhos, para
discussão e tomada de decisão sobre temas incluídos nas pautas.

Referências bibliográficas

RAMUZ, Pedro Francisco. Os caminhos do turismo na Ilha Grande. Geo UERJ, n. 3, p. 111,
1998.

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