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A OPINIÃO DOS VISITANTES SOBRE O TURISMO NAS

LAGOAS COSTEIRAS DE OSÓRIO- RS: CONTRIBUIÇÕES PARA A GESTÃO

Leonardo Reichert1
Rosane Maria Lanzer2
RESUMO

O turismo em áreas naturais é um dos segmentos que mais cresce em todo o mundo. O
Brasil, um país megadiverso, possui aptidão para o desenvolvimento de modalidades
turísticas com base na natureza. Além disso, o patrimônio natural do país inclui uma das
maiores disponibilidades hídricas do mundo, englobando rios, lagoas e lagunas. Na Planície
Costeira do Rio Grande do Sul, existem cerca de 100 lagoas que, a exemplo de outros
ambientes lacustres no mundo, podem vir a se tornar atrativos turísticos. Osório, município
situado no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, compreende em seu território, um dos
maiores complexos lagunares do Brasil. O presente estudo teve como objetivo verificar a
opinião dos visitantes sobre o desenvolvimento turístico das lagoas costeiras de Osório.
Para tal, foram selecionadas quatro lagoas: Lagoa dos Barros, Lagoa do Marcelino, Lagoa
do Peixoto e Lagoa do Horácio. O levantamento de dados foi feito por meio de entrevistas,
coletando informações sobre o desenvolvimento turístico, com os visitantes destas lagoas.
A identificação da opinião dos usuários das lagoas é de grande relevância ao estudo do
potencial turístico e fornece subsídios para o desenvolvimento do uso sustentável. Os
resultados do estudo apontaram que os usuários percebem a necessidade de melhorias
específicas nas lagoas, que vão desde a implementação de infraestrutura até a recuperação
da qualidade da água.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Lagoas Costeiras, Opinião dos Visitantes, Osório-RS.

1
Mestre em Turismo (UCS). Aluno especial do Mestrado Profissional em Educação e Tecnologia do Instituto
Federal Sul-Rio-Grandense. Currículo: http://lattes.cnpq.br/5422185547490750. E-mail:
turismologoleonardo@gmail.com
2
Doutora. Professora e pesquisadora do Programa e Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade,
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/9755173164706296
E-mail: rlanzer@ucs.br

1
RESUMO EXPANDIDO

O turismo em áreas naturais é uma modalidade que, cada vez mais, ganha destaque em todo
o mundo. Os elevados níveis de poluição, o caos na mobilidade urbana, a desigualdade
social e a violência nas grandes cidades são alguns aspectos que vem motivando a
valorização das paisagens naturais (Souza & Oliveira, 2012). A natureza intocada, ao
mesmo tempo em que é almejada, necessita de adequações para suprir as necessidades de
consumo e segurança dos turistas – estradas, hospedagem, serviços de alimentação e
bebida, lixeiras, sanitários, entre outros (Lobo & Moretti, 2008).

O Brasil, um país megadiverso3, tem uma notável aptidão para o desenvolvimento do


turismo em áreas naturais (Cavalcante & Pires, 2015). A Agência Nacional de Águas (2010)
aponta que o patrimônio natural do Brasil inclui ainda as maiores disponibilidades hídricas
de água doce do mundo. O município de Osório, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul,
conta com um conjunto de 23 lagoas, o qual é considerado um dos maiores complexos
lagunares do Brasil. De acordo com Cooper (2006) e David et al. (2012), em âmbito global,
os lagos atraem um número crescente de visitantes motivados por atividades como
contemplação da paisagem e observação da natureza, prática de esportes, passeios de barco,
pesca e descanso. Desta forma, o desenvolvimento turístico dos lagos e áreas de entorno
podem trazer inúmeros benefícios à comunidade local. Por outro lado, se a atividade
turística não ocorrer de forma planejada, visando o desenvolvimento turístico e a
conservação dos recursos naturais, os impactos socioambientais e econômicos são
eminentes, pois os serviços ambientais prestados pelas lagoas à comunidade são inúmeros.

Maranhão e Azevedo (2014) e Brito e Sá (2014) afirmam que o planejamento turístico deve
ser participativo, ou seja, primar pela participação de todos os envolvidos. Acredita-se que,
além do interesse do poder público, da iniciativa privada e da comunidade local, o

3
Os países megadiversos abrigam a maioria das espécies do Planeta Terra (MMA, 2017).

2
planejamento turístico deve atender as necessidades da demanda turística. Desta forma, o
presente estudo tem por objetivo identificar, por meio da opinião dos visitantes, a situação
do turismo junto às lagoas, fornecendo contribuições à gestão destes recursos hídricos.

Foram selecionadas quatro lagoas que possuem uso turístico em espaços públicos: Lagoa
dos Barros, Lagoa do Marcelino, Lagoa do Peixoto e Lagoa do Horácio, cada uma
apresentando características ecológicas próprias e distintos níveis de desenvolvimento
turístico. O levantamento de dados foi feito por meio de entrevistas com 20 visitantes por
lagoa, totalizando 80 entrevistados, escolhidos ao acaso, entre dezembro de 2014 e janeiro
de 2015. O roteiro da entrevista, além de identificar o perfil do visitante e a sua opinião
acerca do turismo no município, coletou informações sobre fatores determinantes do
desenvolvimento turístico da lagoa: condições de acesso; qualidade da água; serviços
turísticos; infraestrutura; preservação dos recursos naturais; sensibilização ambiental;
presença de visitantes e importância da lagoa.

A identificação do perfil do visitante entrevistado na lagoa mostrou-se importante. A


maioria dos entrevistados foram homens, jovens e adultos, com idade entre 18 e 39 anos,
que tem ensino fundamental ou médio como escolaridade. Entre os principais usuários das
lagoas predominam moradores de Osório, de outros municípios do Litoral Norte do RS e da
região metropolitana de Porto Alegre. Em decorrência do deslocamento relativamente
curto, alguns visitantes, mesmo não residindo em Osório, retornam para as suas casas após
desfrutar o dia nas lagoas. Tais visitantes são caracterizados como excursionistas4. Segundo
os entrevistados, os principais atrativos turísticos de Osório são as lagoas e o Morro da
Borússia. A Lagoa do Marcelino e a Lagoa dos Barros foram as mais lembradas. Entre os
atrativos situados no Morro da Borússia, foram citados o mirante, as cascatas e as rampas
de voo livre. Ainda foi citado o Parque Eólico de Osório e as praias de Atlântida Sul e
Mariápolis.

4
De acordo com a OMT (2016) um visitante se classifica como turista (caso a sua viagem inclua pelo menos
um pernoite no destino) ou como excursionista, não havendo pernoite no destino.

3
As principais rodovias de acesso a Osório – BR 101, BR 290, RS 389,
RS 030 e RST 101 – foram avaliadas pela grande maioria dos entrevistados como boas ou
excelentes. Entre os aspectos negativos do acesso foram citados a insuficiência de
sinalização turística e a inexistência de um pórtico de entrada na cidade. Os
empreendimentos de hospedagem não foram bem avaliados pelos visitantes. Por outro lado,
os serviços de alimentação e bebida foram avaliados positivamente, ainda que, somente
dois empreendimentos gastronômicos destacaram-se como aptos para receber o turista. Por
fim, os entrevistados afirmaram que a comunidade de Osório necessita de cursos e
atividades de sensibilização e educação para o turismo, o que pode melhorar a hospitalidade
e incentivar o empreendedorismo no setor.

A Lagoa dos Barros, uma das maiores lagoas da região, está situada nos municípios de
Osório e Santo Antônio da Patrulha e reúne condições de vento propícias para práticas de
esportes aquáticos como kitesurf e windsurf. Junto a Lagoa dos Barros foi implantado o
Parque Eólico de Osório, o qual fornece um complemento à paisagem. O acesso à lagoa é
um ponto forte na opinião dos visitantes. Por outro lado, a carência de infraestrutura é um
obstáculo a ser enfrentado. Os visitantes citam a insuficiência de sanitários, lixeiras e coleta
de lixo, além da inexistência de salva-vidas como as principais lacunas. A precariedade na
oferta de alimentos e bebidas no local e a inexistência de ações e instrumentos de educação
ambiental também foram citadas. Por outro lado, a qualidade da água recebeu a melhor
avaliação entre as lagoas. Além do uso da água para a irrigação de plantações de arroz,
relatos destacam a Lagoa dos Barros como um local de lazer diferente da praia.

A Lagoa do Marcelino, localizada na zona urbana de Osório, recebe o lançamento do


esgoto da cidade sem tratamento, apresentando níveis elevados de poluição e
inviabilizando, desta forma, a utilização do corpo hídrico para atividades de lazer em
contato com a água. A opinião dos visitantes sobre a qualidade da água da Lagoa do
Marcelino evidenciou o conhecimento destes sobre a poluição da lagoa. Destaca-se que
existem placas proibindo o banho e a pesca no local, no entanto, não é raro ver pessoas em
contato com a água, o que pode representar um risco à saúde. Na margem, onde
antigamente se localizava o Porto Lacustre de Osório, foi construído um espaço de lazer

4
que conta com trapiche, pista de skate, academia ao ar livre, playground e o “Memorial das
Águas” – uma exposição permanente com o tema navegação lacustre. A infraestrutura junto
à lagoa foi muito elogiada, o que evidencia a satisfação dos usuários com a construção do
complexo de lazer junto à margem.

A sensibilização ambiental, desenvolvida na Lagoa do Marcelino, foi considerada positiva


em virtude da presença de placas de conscientização e um grande painel informando sobre
as espécies nativas de fauna e flora que podem ser observadas na lagoa.

O Camping Municipal da Lagoa do Peixoto, aberto o ano todo, é o principal ponto de


acesso público e gratuito a essa lagoa. Situada próximo ao centro urbano de Osório, a
Lagoa do Peixoto foi a melhor avaliada entre as estudadas no que se refere ao acesso,
principalmente, pelo recente asfaltamento da Estrada do Palmital, por meio da qual o
camping pode ser acessado. O camping possui ampla infraestrutura de apoio ao turismo
como quiosques com churrasqueira, área de banho demarcada, rampa de acesso para
veículos aquáticos, campo de futebol, sanitários e banheiros químicos na alta temporada,
lixeiras e coleta de resíduos. No entanto, alguns relatos indicam a necessidade de melhorias,
especialmente nos banheiros e churrasqueiras. A presença de um restaurante aberto todos os
dias no camping corrobora a avaliação positiva dos respondentes quanto à oferta de
serviços turísticos. Utilizada para captação de água para o abastecimento do município, por
mais contraditório que pareça, a Lagoa do Peixoto é um receptor indireto de esgoto por
estar interligada artificialmente à Lagoa do Marcelino. Relatos indicam o conhecimento dos
entrevistados sobre a recepção indireta de esgotos. No entanto, foi verificado in loco que a
ndicação da Fepam5, alertando para as condições impróprias à balneabilidade no local, não
inibe os visitantes de entrar em contato com a água, o que pode representar riscos à saúde.

O camping municipal, localizado junto à Lagoa do Horácio, é outro espaço público no


município de Osório, onde é disponibilizado o acesso gratuito à lagoa. Na opinião dos
entrevistados trata-se do melhor camping do município, embora careça de investimentos

5
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler-RS.

5
por parte do poder público. O acesso ao camping foi avaliado positivamente pela maioria
dos visitantes. A presença de sinalização turística, embora insuficiente, corrobora com a boa
avaliação da acessibilidade à lagoa. O caráter temporário da lancheria do camping, em
funcionamento somente na alta temporada, motivou relatos negativos. Alguns entrevistados
lembram que no passado existia uma infraestrutura permanente de apoio ao turismo. A
presença de churrasqueiras e a restrição de estacionamento dos automóveis na Área de
Preservação Permanente da Lagoa do Horácio são fatores identificados como positivos
pelos visitantes. Por outro lado, a inexistência de sensibilização ambiental, na opinião dos
visitantes, é um dos principais pontos negativos.

Embora Osório possua água em abundância, os ecossistemas lacustres são extremamente


frágeis. Gössling (2001) faz críticas a superexploração das águas pelo turismo na ilha de
Zanzibar (Tanzânia) afirmando que o crescimento do turismo massificado acarreta maior
pressão aos escassos recursos hídricos presentes no local.

As atividades que não emitam poluentes devem ser incentivadas nas lagoas, pois são mais
compatíveis com as suas características ecológicas (RAMOS; LANZER, 2013). Diversas
atividades turísticas brandas foram identificadas nas lagoas do Rio Grande do Sul: banhos,
pesca esportiva, contemplação da paisagem, esportes aquáticos (natação, kitesurf, windsurf,
stand up paddle) e passeios em embarcações de pequeno porte. Atividades ligadas ao
ecoturismo, turismo científico e educação ambiental também podem ser desenvolvidas, a
exemplo de trilhas interpretativas e observação da fauna e flora (Rudzewicz; Teixeira &
Lanzer, 2009; Ramos & Lanzer, 2013). A observação de aves (birdwatching), por exemplo,
é uma atividade que pode ser desenvolvida em Osório. Dias (2011) aponta que o turismo de
observação de aves, além de elevar a consciência ecológica do visitante é um importante
instrumento de sensibilização ambiental e geração de renda para a população residente. De
acordo com Gil (2016), Osório possui um grande potencial para o desenvolvimento do
turismo de aventura, especialmente com atividades ligadas a água e ao vento, características
naturais relevantes no município.

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O planejamento das áreas naturais para o uso público, definindo as atividades permitidas
naquela área e contemplando os princípios de capacidade de carga turística, é essencial
(Limberger & Pires, 2014). Um plano de manejo para o uso das lagoas poderia contribuir
com um zoneamento de uso dos corpos hídricos, elencando áreas de uso intensivo e áreas
destinadas à preservação, onde somente atividades de educação ambiental fossem
desenvolvidas.

Neste estudo foram apontados pelos entrevistados diversos aspectos que demonstram
deficiências no desenvolvimento turístico, quer pela gestão pública, privada e/ou pelos
próprios usuários. Na opinião dos entrevistados, as principais melhorias necessárias para
fomentar o turismo nas lagoas vão desde a implementação de infraestrutura até a
recuperação da qualidade da água.

Acredita-se que a identificação da opinião dos usuários das lagoas é de grande relevância
ao estudo do potencial turístico e pode contribuir com o planejamento do uso destes
recursos naturais. Estando o turismo lacustre aliado ao desenvolvimento turístico de outros
recursos naturais (praias, morros, cascatas), Osório pode vir a se tornar um reconhecido
polo de turismo com base na natureza. Para tanto, é necessário um planejamento contínuo e
participativo do turismo. Este planejamento deve englobar todos os envolvidos no processo
(poder público, trade turístico, comunidade local e visitantes) e aliar a conservação do
recurso natural com atividades de turismo, sensibilização e educação ambiental.

REFERÊNCIAS

ANA – Agência Nacional de Águas. (2010). Atlas Brasil: abastecimento urbano de


água: panorama nacional. Brasília: ANA.

Brito, C.M.O.; & Sá, H.S.F. (2014). Planejamento turístico: estudo de caso da cidade de
Belém (PA). Revista Brasileira de Ecoturismo 7(1), 138-150.

7
Cavalcante, L. S. & Pires, P. S. (2015). O Parque Nacional do Viruá (RR) e a possibilidade
da criação de uma Estrada-Parque no seu entorno. Revista Brasileira de
Ecoturismo, 8(4), 372-389.

Cooper, C. (2006). Lakes as tourism destination resources. In: Hall, C. M. & Härkönen, T
(Eds). Lake tourism: an integrated approach to lacustrine tourism. Channel View
Publications.

David, L. et al. (2012). Lake tourism and global climate change: an integrative approach
based on finnish and Hungarian case-studies. Carpathian Journal of Earth and
Environmental Sciences, 7(1), 121-136.

Dias, R. (2011). A biodiversidade como atrativo turístico: o caso do Turismo de Observação


de Aves no município de Ubatuba (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, 4(1),
111-122.

Gil, L. F. (2016). Turismo de aventura em Osório, Rio Grande do Sul: uma


possibilidade para consolidação de um destino. Dissertação. Mestrado em Turismo e
Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Brasil.

Gössling, S. (2001). The consequences of tourism for sustainable water use on a tropical
island: Zanzibar, Tanzania. Journal of Environmental Management, 61(2), 179-
191.

Limberger, P. F. & Pires, P. S. (2014). A aplicação das metodologias de capacidade de carga


turística e dos modelos de gestão da visitação no Brasil. Revista de Turismo
Contemporâneo, 2(1), 27-48.

Lobo, H. & Moretti, E. (2008). Ecoturismo: as práticas na natureza e a natureza das


práticas em Bonito, MS. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, 2(1), 43-71.

8
Maranhão, C. H. S. & Azevedo, F. F. (2014). Os processos de planejamento e gestão do
turismo em Natal (RN) e o fomento do turismo de base local: uma articulação
necessária. Revista Brasileira de Ecoturismo, 7(1), 103-118.

MMA – Ministério do Meio Ambiente. (2017). Países megadiversos discutem repartição


de benefícios. Disponível em <http://www.mma.gov.br/informma/item/6141-paises-
megadiversos-discutem-reparticao-de-beneficios>. Acesso em 11 mai. 2017.

OMT – Organização Mundial do Turismo. (2016). Entender el turismo: Glosario Básico.


Disponível em <http://media.unwto.org/es/content/entender-el-turismo-glosario-
basico>. Acesso em 04 set. 2016.

Ramos, B. V. C. & Lanzer, R. (2013). Gestão dos recursos hídricos dos municípios de
Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul: recursos turísticos. Caxias do Sul,
RS: Educs.

Rudzewicz, L., Teixeira, P. & Lanzer, R. M. (2009). Recursos hídricos e Turismo no Litoral
Médio e Sul do Rio Grande do Sul. In: Schäfer, A; Marchetto, C. & Bianchi, A.
(Org.). Recursos hídricos dos munícipios de Mostardas, Tavares, São José do
Norte e Santa Vitória do Palmar: manual de gestão sustentada. Caxias do Sul,
RS: Educs.

Souza, L. H. & Oliveira, M. V. N. (2012). Zoneamento turístico em Áreas Naturais


Protegidas: um diálogo entre conservação, oferta de atrativos e perfil da demanda
ecoturística. Revista Brasileira de Ecoturismo, 5(2), 197-222.

9
DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) - ESTRADA
PARQUE PIRAPUTANGA/MS: PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO-RECREATIVO
Eva Teixeira Santos1
Eros Salinas Chavez2
Lidiane Perbelin Rodrigues3
Lucy Ribeiro Ayach4
RESUMO

A Estrada Parque Piraputanga é uma unidade de conservação denominada Área de Proteção


Ambiental, criada em 2000, cujo objetivo é proteger o conjunto paisagístico, ecológico e
histórico cultural, promover a recuperação da bacia hidrográfica do Rio Aquidauana, e
formações da Serra de Maracaju, compatibilizando-as com o uso racional dos recursos
ambientais e ocupação ordenada do solo, garantindo qualidade ambiental e de vida das
comunidades autóctones. A área possui usos distintos, sendo a maior parte ocupada por
pastagens e cultivos de subsistência. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o
potencial turístico-recreativo dos distintos trechos da Estrada, a fim de caracterizar o valor
estético das paisagens observadas pelos visitantes, ao deslocar-se ao longo desta área
protegida. Ao longo da Estrada forma identificados alguns atrativos como as cachoeiras do
Rio Aquidauana e alguns afluentes, balneários, pesqueiros, dentre outros. Observou-se que a
área apresenta potencial turístico-recreativo, mas que necessita de melhorias na
infraestrutura básica para o seu efetivo desenvolvimento.

Palavras-chave: Turismo, Unidade de Conservação, Mato Grosso do Sul, Brasil.

1
Doutora. Professora na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/1665424997463279. E-mail: evasantos.ufms@gmail.com
2
Doutor. Professor na Universidade de La Havana, Cuba. E-mail: salinaschavezeros@gmail.com
3
Mestranda. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/6889041515723962 E-mail: lidiane_perbelin@hotmail.com
4
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil. E-mail: luayach@terra.com.br

1
RESUMO EXPANDIDO

A Área de Proteção Ambiental (APA) Estrada Parque Piraputanga foi criada pelo Decreto
Estadual nº 9.937, de 05 de junho de 2000 e compreende um trecho de 42,5 quilômetros
contínuos de estrada entre Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti, sendo que destes, parte está
pavimentada e outra em fase de pavimentação, totalizando uma área 10.108 hectares. Tal
unidade foi criada com o objetivo de proteger o conjunto paisagístico, ecológico e histórico
cultural, promover a recuperação da bacia hidrográfica do Rio Aquidauana, e formações da
Serra de Maracaju, compatibilizando-as com o uso racional dos recursos ambientais e
ocupação ordenada do solo, garantindo qualidade ambiental e de vida das comunidades
autóctones.

A APA localiza-se entre os paralelos 20º 28' 00" e 20º 31’ 30" S e meridianos 55º 27` 30" e
55º 38` 00" W, abrangendo áreas dos distritos de Camisão e Piraputanga (Aquidauana) e
Palmeiras (Dois Irmãos do Buriti) MS. De acordo com dados do IBGE (2010) o Distrito de
Camisão possui população de 665 habitantes, Piraputanga com 673 habitantes e Palmeiras
com 1235 habitantes. A área possui usos distintos, sendo a maior parte ocupada por
pastagens e cultivos de subsistência. Ao longo da Estrada situam-se alguns atrativos como
as cachoeiras do Rio Aquidauana e alguns afluentes, balneários, pesqueiros, dentre outros
(Figura 1).

Figura 1: Usos do território – APA Estrada Parque Piraputanga


Fonte: Perbelin, 2017

2
A área apresenta beleza cênica singular e atrativos naturais, constitui-se de Cerrado e serras,
sendo hábitat de inúmeras espécies de animais. Os afluentes da bacia do Rio Aquidauana na
margem direita ao longo da Estrada Parque são os córregos: Morcego, Paxixi, das Antas,
Piraputanga, Benfica, Ribeirão Vermelho, Laranja e o Rego, além de outros temporários. De
acordo com Silva (1996); Barros (2000); Fundação Sos (2004); Soriano (2006) existem
diferentes definições institucionais para definir a Estrada Parque. Sendo que todas elas
apresentam os seguintes aspectos em comum: são áreas de conservação lineares,
relacionadas com estradas de alto valor panorâmico, cultural ou recreativo (asfaltadas ou
não asfaltadas); áreas que incluem a proteção do entorno destas vias, com objetivo de evitar
obras que desfigurem o meio ambiente: natural, seminatural ou cultural; áreas de altos
valores patrimoniais, naturais, histórico-culturais e socioeconômicos; áreas de domínio
público e privado.

O termo paisagem tem significados diferentes, o que não é a razão para este artigo discutir
(Nogue, 1992, Mateo, 2008, Salgado, 2016, Salinas; Remond, 2015). Um deles, como
unidade ambiental, relaciona paisagem com campo das ciências naturais com uma profunda
tradição geográfica e ecológica e que, principalmente, se baseia na ideia das inter-relações e
interdependências de todos os fenômenos naturais da superfície terrestre. O outro
significado define a paisagem como: Uma percepção do meio ambiente com certa conotação
estética a respeito, a paisagem é essencialmente um inspirador de sentimentos e afeições.
Desta forma, a paisagem é ao mesmo tempo na natureza que nos rodeia e no interior de
nossas mentes, no mundo do objetivo e do subjetivo (Salinas & Izquierdo, 1988). Estas
características ou elementos comuns presentes em tais definições da Área de Proteção
Ambiental – Estrada Parque conduziu ao objetivo principal deste trabalho: avaliação
turístico-recreativa dos distintos trechos da Estrada e de alguns mirantes potenciais
existentes na mesma, com a aplicação de procedimentos metodológicos não complexos de
investigação que permitam caracterizar o valor estético das paisagens observadas pelos
visitantes, ao deslocar-se ao longo desta área protegida.

O presente estudo é qualitativo, descritivo e tem caráter analítico e projetivo (Rodríguez, Gil
& García, 2006), cujo objetivo é propor, com base nos resultados, recomendações para a

3
conservação e desenvolvimento da APA Estrada Parque Piraputanga, com base no uso
turístico-recreacional do território. Na fase teórica, foram aplicadas técnicas de coleta de
informações primárias e secundárias, tais como: revisão bibliográfica em áreas de
planejamento de áreas turísticas e história socioeconômica dessas populações localizadas na
área de proteção. A análise documental também foi usada para coletar informações
primárias: entrevistas com empresários locais; proprietários de fazendas; consultas com
professores e pesquisadores em turismo e recreação; autoridades públicas, religiosas e
políticas das comunidades e municípios e população residente.

A seleção das principais informações dentro e fora do território, uma tarefa complexa, foi
baseada em: o conhecimento aprofundado das áreas estudadas e sua história
socioeconômica; anos de experiência no assunto pesquisado e/ou residência em território;
seu interesse real nos resultados da pesquisa e "boa vontade" por fornecer informações e
avaliar as características que lhes são expostas. As técnicas utilizadas durante a fase prática
da pesquisa são: observação direta, análise da matriz SWOT e um inventário de recursos
turísticos.

As viagens de campo foram realizadas na área de estudo, entre julho e agosto de 2017, para
realizar um levantamento dos atrativos turísticos e recreativos existentes, os que atualmente
estão sendo explorados, as características próprias uso deles e outros com potencial
existente e valioso que poderiam ser explorados no futuro. Inventário de instalações de
hospedagem e recreação. Com base em um mapa elaborado de zoneamento de uso da terra,
foi proposto um conjunto de ações que são necessárias para implementar para alcançar um
desenvolvimento sustentável do território, que tem entre suas bases o turista- recreação e
melhoria da qualidade de vida da população.

Como novidade, foi realizada uma avaliação in situ, do ponto de vista turístico-
recreacional, da percepção estética das paisagens observadas da estrada e dos pontos de
observação (mirantes). Baseia-se na premissa de que o turista observa, descobre a paisagem
de forma contínua ao circular ao longo de um itinerário (Salinas et al., 1979). Cada seção do
itinerário é constituída por sequências de pontos de vista, de cada uma das quais é possível

4
observar diferentes paisagens. Para isso, foram aplicados dois métodos simples e práticos,
que nos permitem fazer essas avaliações e que fazem parte da pesquisa. (Raveneau, 1977,
Salinas; Serrate, 1993; Salinas et al., 1986; & Salinas, 2013). A análise da estrada
estudada que corresponde a Área de Proteção Ambiental (APA) – Estrada Parque
Piraputanga, foi realizada em diferentes trechos, desde a junção com a estrada que vai até a
UEMS - Camisão- Piraputanga - Palmeiras até seu entroncamento com a rodovia para
Campo Grande (BR 262). Esta avaliação foi feita através da relação de dois parâmetros
fundamentais: amplitude do ângulo visual e posição do observador em relação à paisagem
(Salinas, 2013).

No caso dos pontos de observação (mirantes) para a sua caracterização, utilizaram-se sete
variáveis, algumas dessas variáveis podem ser avaliadas de forma mais objetiva e outras
exigem critérios subjetivos, mas esse fato não prejudica ou diminui os resultados que podem
ser obtidos, sempre que os pesquisadores sabem o que fazem e estão suficientemente
treinados. As variáveis utilizadas foram as seguintes: ângulo de visibilidade; visibilidade;
número de planos observados; total de paisagens observadas; excepcionalidade do
panorama; paisagem colorida e objetos antrópicos que tornam difícil a ver (ver escala de
classificação). Em outras ocasiões, os autores adicionaram a estas características duas outras
variáveis importantes a serem consideradas: acessibilidade à vigia e altura do ponto. As
variáveis não são aplicáveis nestes pontos de vista porque a acessibilidade é boa em todos os
casos e a altura não é considerada, pois não há diferenças notáveis entre os sites avaliados
pelas características topográficas do território.

Cada uma dessas variáveis foi avaliada em uma escala dos pontos 1 a 5 (Mironienko; &
Tverdojlebov, 1981), onde 5 é a avaliação mais alta da característica considerada e 1 a mais
baixa. A avaliação turística-recreacional da paisagem observada tanto nas estradas como nos
pontos de observação (mirantes) foi realizada por cada um dos autores de forma
independente, durante as viagens de campo, os resultados foram calculados para os pontos
de vista e discutidos para obter um resultado final no caso de as diferentes seções da estrada.

5
Durante o levantamento preliminar, foram identificadas duas áreas com potencial para
balneário, sendo que uma delas localiza-se no Córrego das Antas (Piraputanga) e apresenta
sinais de deterioração e abandono, cujas instalações indicam que está há alguns anos sem
exploração comercial. A outra área, apesar de estar fora dos limites da APA, localizada no
alto curso do Córrego Morcego (Camisão), apresenta condições favoráveis para banho, além
de beleza cênica e paisagística ao longo do caminho (Figura 2).

Figura 2: Infraestrutura, uso turístico e percepção da paisagem – APA Estrada Parque Piraputanga
Fonte: Perbelin, 2017

Identificaram-se ainda, algumas áreas ocupadas por pesqueiros e casas de veraneio


(pequenas chácaras com área média meio hectare). Entre os Distritos de Camisão,
Piraputanga e Palmeiras identificaram-se alguns empreendimentos turísticos: Pesqueiro do
Eli, Pesqueiro Bom Jesus, Pesqueiro do Bil, Pesqueiro Rancho da Serra, Pesqueiro do
Dinho, Pesqueiro e Restaurante Serrano, Acampamento Batista e Pousada Paraíso da Serra.

6
A observação de aves é outra atividade recreativa ligada à natureza que pode ser realizada.
É possível realizar a observação das paisagens, no itinerário ao longo da estrada, bem como
em alguns pontos com visão panorâmica. A diversidade da paisagem é atraente,
especialmente as encostas íngremes, contrastantes e íngremes sem vegetação (penhascos)
com drenagem fluvial (córregos permanentes) com uma floresta densa e áreas planas com
gramados, ramos de árvores isoladas e fazendas dispersas, Esses contrastes na paisagem
observada constituem uma atração significativa para os visitantes.

No levantamento preliminar realizado, percebeu-se que a região apresenta potencial


turístico-recreativo, todavia, alguns procedimentos são necessários para a efetivação do
desenvolvimento do turismo nesta área protegida, bem como para a população local e para o
município de Aquidauana:

- término do asfaltamento do trecho da estrada entre Camisão-Piraputanga- Palmeiras,


visando à melhoria do acesso a fim de facilitar o transporte de visitantes, carga e outros
serviços;

- melhoria da qualidade nos serviços turísticos-recreativos atualmente ofertados, com a


realização de treinamentos para os proprietários e funcionários dos atrativos existentes.

Assim, poderão estimular mais investimentos privados em geral, particularmente aqueles


relacionados aos serviços turísticos - recreativos. Além disso, promoverá o desenvolvimento
socioeconômico do território (gado e agricultura), melhorando os serviços médicos e
educacionais para a população residente.

REFERÊNCIAS

Barros, L. A. (2000). Vocabulário enciclopédico das Unidades de Conservação do


Brasil. São Paulo: Unimar; Arte e Ciência.

Fundação S.O.S. (2004). Mata-Atlântica. Estrada - parque: conceito, experiências e


contribuições. São Paulo.

Mateo, J. M. (2008). Geografia de los paisajes. Primera Parte. Paisajes Naturales. La


Habana: Editorial Universitaria.

7
Mironienko N.S.; & Tverdojlebov, L.M. (1981) Geografía recreativa. Moscú: Editorial
Nauka.

Nogué, J. (1992). Turismo, percepción del paisaje y planificación del territorio. Estudios
Turísticos, 115, 45-54.

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cas de Charlevoix. Cahiers de Geographie de Quebec, 21, p.48- 57.

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Geografia, 26(47), 629-639.

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turismo en Cuba. Tesis de Doctorado en Ciencia Geográficas. Universidad Estatal de
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Perspectivas en Turismo, 2(1), 48-52.

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Fundação de Apoio a Tecnologia e Ciência (FATEC),.

Soriano, A. J. S. (2006). Estrada-Parque: proposta para uma definição.. Tese (Doutorado


em Geografia), Universidade Estadual Paulista, Rio Claro/SP.

8
GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EM MEIOS DE HOSPEDAGEM:

UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM TURISMO

Suzana Maria De Conto1


Sara Massotti Bonin2
Maria Pires Prates3
RESUMO

A reflexão sobre a sustentabilidade nos meios de hospedagem é importante para o


desenvolvimento do turismo. O objetivo do estudo é analisar a produção científica sobre
gestão da sustentabilidade em meios de hospedagem nos Programas de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Turismo vigentes no Brasil. A pesquisa é de caráter exploratório e
descritivo e identifica e analisa as produções constantes no Banco de Teses da Capes que
contemplam na investigação a sustentabilidade em meios de hospedagem. Observou-se que
sete programas possuem produções acerca dos meios de hospedagem, totalizando 64
dissertações. No entanto, sob a ótica da gestão da sustentabilidade, tem-se 17 dissertações,
representando 26,5% do total. Verifica-se que há lacunas na produção acadêmica inerente à
temática investigada, tendo em conta as urgências presentes nas esferas ambientais, sociais
e econômicas da atividade turística. Pesquisas dessa natureza permitem evidenciar lacunas
e desafios quanto a gestão da sustentabilidade como objeto de estudos nos Programas de
Pós-Graduação em Turismo no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Meios de Hospedagem, Gestão da Sustentabilidade,
Produção Científica.

1 Doutora. Professora no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade e no Programa de Pós-Graduação em


Engenharia e Ciências Ambientais, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul-RS, Brasil. Bolsista Produtividade em
Pesquisa do CNPq. Currículo: http://lattes.cnpq.br/3201645229745547. E-mail: smcmande@ucs.br
2 Mestra. Professora na Faculdade Senac Porto Alegre e no IFSul – Campus Sapucaia do Sul. Porto Alegre e Sapucaia do
Sul/RS, Brasil. Currículo http://lattes.cnpq.br/3231847790106654. E-mail: saramassotti@hotmail.com:
3Engenheira Ambiental, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul/RS, Brasil. Currículo: CV:
http://lattes.cnpq.br/6169047410790941. E-mail: mpprates@ucs.br

1
RESUMO EXPANDIDO

Considerando a relevância dos meios de hospedagem no desenvolvimento da atividade


turística, torna-se pertinente fazer uma reflexão acerca dos aspectos referentes à
sustentabilidade nessa área. Pode-se entender sustentabilidade como o “uso dos recursos, de
maneira ambientalmente responsável, socialmente justa e economicamente viável, de forma
que o atendimento das necessidades atuais não comprometa a possibilidade de uso pelas
futuras gerações.” (ABNT, 2014, p. 5).

Com relação à perspectiva ambiental, por exemplo, Ferrari (2006) destaca que o
conhecimento a ser construído sobre a sustentabilidade ambiental nos meios de
hospedagem tem relevância científica, em virtude do preenchimento de lacunas existentes
em estudos sobre o tema, nos programas de Pós-Graduação de Turismo e Hotelaria. Em seu
estudo, a autora concluiu que há carência de programas de sensibilização e de práticas
ambientais nos meios de hospedagem, fruto de desconhecimento e acomodação frente aos
benefícios advindos de ordem não somente ambiental, mas também de ordem econômica e
sociocultural (Ferrari, 2006). As considerações de Azorin et al.(2015), referindo-se às
mudanças sociais e econômicas trazidas pelo turismo internacional, sugerem reflexões por
parte de gestores da rede hoteleira, a fim de promoverem respostas aos desafios
competitivos do turismo, através da melhoria contínua, da qualidade e da sustentabilidade.

Os aspectos econômicos são destacados por Souza (2014), em sua pesquisa realizada com
gestores e hóspedes em Hotéis-Fazenda, localizados na Região do Agreste de Pernambuco.
O autor concluiu que 55% dos hóspedes estariam dispostos a pagar mais caro por um
serviço hoteleiro que priorizasse as práticas ambientais (Souza, 2014). Também Freitas e
Almeida (2010) afirmam, em sua pesquisa, que 66% dos hóspedes se dispõem a pagar um
pouco mais por um meio de hospedagem que adote sistemas e práticas ambientais
sustentáveis. Ainda com relação à situação das empresas frente a dimensão ambiental,
Moura (2014) afirma que por exigência do mercado e também graças à evolução dos meios
de comunicação, foi constatado que demonstrar qualidade ambiental é importante e há um

2
crescente interesse em melhorar o desempenho ambiental, visto que a preocupação com o
meio ambiente é vista como um fator estratégico de competitividade.

Sabe-se que uma organização pode ter diferentes sistemas de gestão, como, por exemplo,
um sistema de gestão da qualidade. A determinação de um sistema de gestão tem o intuito
de estabelecer a política e os objetivos da organização. Nesse sentido, um sistema de gestão
da sustentabilidade pode ser considerado uma forma de estabelecer requisitos para gerir e
controlar uma determinada empresa com relação aos aspectos da sustentabilidade (ABNT,
2014). Para Valle (2012), uma organização também deve contribuir para a qualidade de
vida dos colaboradores e da localidade onde atua. Juntamente com a imagem
ambientalmente responsável, essa atuação poderá ser um fator determinante para a
sustentação da empresa. É necessário que todas as pessoas envolvidas em uma determinada
organização, ou seja, dirigentes, administradores, operadores, terceirizados e prestadores de
serviços em geral, devem saber identificar os aspectos e impactos ambientais gerados pelas
atividades produtivas da empresa, conforme destaca Valle (2012).

Diante disso, o objetivo do presente estudo é analisar a produção científica acerca da gestão
da sustentabilidade em meios de hospedagem, por meio das dissertações e teses dos
Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da área de Turismo vigentes no Brasil. A
presente pesquisa caracteriza-se como exploratória e descritiva. De acordo com Schlüter
(2005) a função do projeto exploratório é descobrir novas ideias e novas perspectivas. A
autora afirma ainda que “estudos exploratórios são suficientemente flexíveis para permitir
considerar os mais variados aspectos do problema de pesquisa.” (Schlüter, 2005, p. 72). Foi
realizada busca on-line no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, por meio da Plataforma Sucupira,
utilizando-se a palavra-chave “meios de hospedagem” e filtrando pela instituição de ensino
superior e pelo nome do programa de pós-graduação. Assim, a partir desse critério de
busca, foram analisadas as teses e/ou dissertações que possuem meios de hospedagem
como objeto de estudo.

3
Em consulta à Plataforma Sucupira (2017) foram identificados 12 Programas de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Turismo no país. As instituições, o ano de fundação dos
programas e os níveis constam na Tabela 1.

Ano de
Número IES UF Programa Nível
início

1 IFS SE Turismo Mestrado Profissional 2016


2 UAM SP Gestão de Alimentos e Bebidas Mestrado Profissional 2016
3 UAM SP Hospitalidade Mestrado 2002
3 UAM SP Hospitalidade Doutorado 2015

4 UnB DF Turismo Mestrado Profissional 2007

5 UCS RS Turismo e Hospitalidade Mestrado 2000


5 UCS RS Turismo e Hospitalidade Doutorado 2015
6 USP SP Turismo Mestrado 2014
7 UNIVALI SC Turismo e Hotelaria Mestrado 1997
7 UNIVALI SC Turismo e Hotelaria Doutorado 2013
8 UECE CE Gestão de Negócios Turísticos Mestrado Profissional 2012
9 UFPR PR Turismo Mestrado 2013
10 UFRN RN Turismo Mestrado 2008
10 UFRN RN Turismo Doutorado 2014
11 UFF RJ Turismo Mestrado 2015
12 UFPE PE Hotelaria e Turismo Mestrado 2017

Tabela 1: Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo no Brasil


Fonte: Elaborada pelos autores com base na Plataforma Sucupira (2017)

Foi possível observar que dos doze programas, cinco não possuem teses e/ou dissertações
com os meios de hospedagem como objeto de estudo, ou seja, 41,6% do total. É válido
destacar que alguns desses programas que não apresentaram nenhum trabalho nessa busca,
são programas que foram recentemente implantados. Observou-se, então, que sete
programas possuem teses e/ou dissertações acerca dos meios de hospedagem,
representando 58,3% do total. Os sete programas totalizam 64 teses e/ou dissertações.
Dentre eles, destacam-se o Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade da Universidade
Anhembi-Morumbi (UAM) e o Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da

4
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), com vinte trabalhos cada um, ou seja, juntos
representam 62,5% do total. Entretanto, ao analisar a totalidade de trabalhos sobre meios de
hospedagem sob a ótica da gestão da sustentabilidade, tem-se 17 dissertações inerentes ao
tema, representando 26,5% do total. Evidenciou-se que não há teses publicadas acerca do
tema analisado.

Destaca-se a região sul do país, onde o Programa de Pós-Graduação em Turismo e


Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul (UCS) possui nove dissertações (52,94%)
e o Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI) possui três (17,64%) dissertações relacionadas à temática em questão. Cabe
ressaltar o Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade da Universidade Anhembi-
Morumbi (UAM), com quatro trabalhos (23,52%) inerentes ao assunto pesquisado. O total
dos 17 trabalhos analisados fecha com uma dissertação (5,88%) do Programa de Mestrado
em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Diante desses resultados, já se permite inferir que a Universidade de Caxias do Sul


apresenta o maior número de publicações relacionadas ao tema da pesquisa, no Programa
de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade (PPGTURH). Dos estudos concluídos
recentemente pelo Programa destaca-se a dissertação intitulada “Informações de hóspedes
sobre conservação e gestão do uso da água em meios de hospedagem”. No que tange aos
estudos realizados com hóspedes no Roteiro Turístico da Longevidade sobre práticas
ambientais relacionadas à gestão, conservação e ao uso da água em meios de hospedagem,
os resultados indicam que 38% dos sujeitos da pesquisa realizam o controle do consumo de
água nos meios de hospedagem em que se hospedam; 32% afirmam que a sua maior
preocupação está relacionada ao desperdício e à contaminação da água; 15,1% indicam que
os meios de hospedagem em que se hospedam apresentam medidas de racionalização de
uso de água, porém, de maneira isolada e não integrada a um programa ambiental
(Zocholini, 2016).

5
As principais medidas apontadas pelos hóspedes para a minimização do consumo de água
são as torneiras com fechamento automático ou com restritores de vazão, reuso de toalhas
de banho e troca de roupas de cama em dias alternados. De acordo com as informações dos
hóspedes, os meios de hospedagem em que eles se hospedam, eventualmente
disponibilizam informações sobre a racionalização e a minimização no consumo de água e
outros recursos naturais (Zocholini, 2016). Já na dissertação “Ações de sustentabilidade
ambiental em meios de hospedagem do Roteiro Turístico Vale dos Vinhedos” o
questionário aplicado aos gestores de meios de hospedagem buscou informações sobre:
redução no consumo de energia elétrica; aumento de eficiência energética; redução do
consumo de água; gestão de resíduos sólidos; pesquisa de satisfação de hóspedes sobre os
serviços ofertados; critérios ambientais de seleção de fornecedores; medidas para minimizar
a emissão de ruídos, gases e odores; programas de capacitação para colaboradores e de
sensibilização para hóspedes e tratamento de efluentes e certificação ambiental por
organismo especializado (Foletto, 2016).

Os resultados demonstram como os meios de hospedagem desenvolvem ações, práticas ou


programas de sustentabilidade ambiental, porém de forma isolada. São escassas as ações
referentes à certificação por organismo especializado, restringindo-se apenas ao
licenciamento ambiental de órgãos municipais. Das medidas ambientais, a redução no
consumo de energia elétrica e o aumento da eficiência energética são as mais adotadas
pelos meios de hospedagem (Foletto, 2016). Pesquisas dessa natureza são importantes, pois
possibilitam analisar como a sustentabilidade é internalizada como objeto de estudos nos
Programas de Pós-Graduação em Turismo no Brasil. Pela análise da produção nesses
programas, verifica-se que a sustentabilidade ambiental prevalece nos estudos realizados, o
que permite afirmar a necessidade de desenvolver novas pesquisas que abarquem a
dimensão social e econômica de forma integrada à dimensão ambiental. A reflexão acerca
das relações que se estabelecem entre o Turismo e a sustentabilidade é imprescindível não
somente no meio acadêmico, como também no mercado de trabalho, garantindo a melhoria
contínua na produção do conhecimento e nos serviços dos destinos turísticos.

6
REFERÊNCIAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2014). NBR 15401: meios de


hospedagem – sistema de gestão da sustentabilidade – requisitos. Rio de Janeiro.

Azorin, J. F., Tarí, J. J., Pereira-Moliner, J., Lopez-Gamero, M. D., & Pertusa-Ortega, E.
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Freitas, A. L. P. & Almeida, G. M. M. de. (2010). Avaliação do nível de consciência


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Plataforma Sucupira. (2017). Dados Quantitativos de Programas Recomendados e


Reconhecidos. Recuperado de

7
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/
quantitativoIes.jsf?areaAvaliacao=27&areaConhecimento=61300004

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Zocholini, C. A. (2016). Informações de hóspedes sobre conservação e gestão do uso da


água em meios de hospedagem. Dissertação. Mestrado em Turismo, Universidade
de Caxias do Sul, Caxias do Sul, Brasil). Recuperado de
https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/1400/Dissertacao%20Cleoma
r%20Antonio%20Zocholini.pdf?sequence=1&isAllowed=y

8
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE NO TURISMO - UMA ANÁLISE
ATRAVÉS PENSAMENTO ECONÔMICO AMBIENTAL

Andyara Lima Barbosa Viana 1


Priscilla Teixeira da Silva2
RESUMO

Esta reflexão teórica pretende analisar, resumidamente, os indicadores de sustentabilidade


no turismo de forma a identificar sua natureza e o seu nível de sustentabilidade, bem como
identifica-los com as duas principais correntes do pensamento econômico ambiental: a
convencional ou neoclássica e a ecológica. Assim, através de revisão da literatura,
contatou-se que no turismo, os indicadores são voltados, principalmente, ao meio ambiente
natural; estão elencados dentro da economia convencional, modelo PSR, sendo indicadores
de nível ‘fraco-sensatos’.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Sustentabilidade, Indicadores, Economia.

RESUMO EXPANDIDO

A idéia de desenvolver indicadores de sustentabilidade surgiu na Rio-92, conforme registra


seu documento final, a Agenda 21 Global. A proposta era definir padrões sustentáveis de
desenvolvimento que considerassem aspectos ambientais, econômicos, sociais, éticos e
culturais. Para isso, tornou-se necessário definir indicadores que mensurassem,
monitorassem e avaliassem (MMA, 2004). Para o turismo, a Agenda 21 para as viagens e o
turismo define o papel que as viagens e o turismo devem desenvolver para alcançar os
objetivos da sustentabilidade (Beni, 2004). Analisar, sinteticamente, esses indicadores de
sustentabilidade de forma a identificar a sua natureza e o seu nível de sustentabilidade, bem

1 Doutora. Professora na Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil. Currículo:


http://lattes.cnpq.br/5388185410659175. E-mail: andyaraviana@yahoo.com.br.
2Mestre em Turismo. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1780959516307874. Currículo: priscilla.cet@gmail.com.

1
como identifica-los com as duas principais correntes do pensamento econômico ambiental -
a convencional ou neoclássica e a ecológica, é a proposição deste trabalho e, para tanto,
apresenta uma revisão bibliográfica desenvolvida em dois tópicos que versam sobre
indicadores de sustentabilidade e, atendendo as proposições, em um tópico conclusivo,
realiza-se as identificações que nos dizem que, no turismo, os indicadores são voltados
prioritáriamente as questões ambientais, estão elencados dentro da economia convencional,
apresentando nível ‘fraco-sensatos’, além de inserido no modelo ‘pressão, estado,
resposta’.

A palavra sustentabilidade reflete uma política e estratégia de desenvolvimento econômico


e social contínuo, sem prejuízo do ambiente e dos recursos naturais, de cuja qualidade
depende a continuidade da atividade humana e do desenvolvimento (Beni, 2004).
Rodrigues (2006) salienta que existem três níveis de sustentabilidade, a fraca, a forte e a
sensata. A sustentabilidade fraca é uma concepção neoliberal que privilegia o capital
natural físico, dando ênfase a tornar sustentável o capital e está associada à economia
ambiental neoclássica ou convencional cujo enfoque é o utilitarista.

Na sustentabilidade forte temos uma concepção que acredita que somente a paralisação de
qualquer exploração natural permitirá o desenvolvimento. A sustentabilidade sensata admite
a exploração do capital natural, porém conhecendo os limites de uso recursos. As
concepções forte e sensata estão presentes nas versões mais ecológicas do debate ambiental
– ecologistas profundos e economistas ecológicos. Para esses, o meio ambiente tem valor
em si e esse valor é aquele que permite manter, perpetuar e desenvolver as funções do
ecossistema global.

Quanto aos indicadores, Mitchell (1997) nos diz que eles devem permitir a obtenção de
informações sobre uma dada realidade, podendo sintetizar um conjunto complexo de
informações e servir como um instrumento de previsão. Para Bryn van Druinen (1999 apud
Mathis, 2002) “um indicador de sustentabilidade é a representação quantitativa de certo
parâmetro que fornece informações sobre um fenômeno que é importante para o

2
desenvolvimento sustentável” (p.11). Assim, temos que um indicador é um meio
encontrado para reduzir uma ampla quantidade de dados a uma forma mais simples de
informação, retendo o significado essencial do que está sendo perguntado. Suas funções
básicas são: Simplificação, quantificação e comunicação. Quanto a natureza, os indicadores
economicos, geralmente, quantificam em valores absolutos, percentuais, monetários ou
financeiros. Já os indicadores sociais inclinam-se tanto para a quantificação e,
principalmente, para a qualificação.

Na economia ambiental neoclássica os principais indicadores monetários da


sustentabilidade são: O Produto Interno Bruto Verde (PIBV) que corrige o PIB
convencional, atribuindo valor monetário aos recursos ambientais não renováveis,
subtraindo o montante utilizado do valor total dos bens e serviços produzidos; a
Sustentabilidade Ambiental de David Pearce que supõe a compensação do desgaste
ambiental pelo capital produzido, não diminuindo o estoque total de capital; e a
Sustentabilidade Ambiental de El Serafy que prevê a conversão do desgaste ambiental em
outros ativos e em outros setores de atividades, garantindo novas oportunidades de renda
futura. São indicadores de sustentabilidade de nível fraco, pois propõem a substituição do
bem natural pelo bem construído (May & Motta, 1994).

Na economia ecológica, os critérios básicos dos indicadores de sustentabilidade dizem


respeito: à racionalidade ambiental subordinanda a economia; aos indicadores biofísicos e
não somente os monetários; ao uso de diversos indicadores e não somente o econômico; a
distribuição ecológica em alocação social, espacial e temporal dos recursos ambientais; ao
preço ecologicamente correto e a não troca desigual por valor equivalente; considerando,
ainda, o espaço ambiental como área geográfica em que uma sociedade se abastece de
recursos ambientais e onde evacua suas emissões, incluindo as relações ecológicas externas
(Bellen, 2006).

Neste escopo, temos como principais indicadores de sustentabilidade da economia


ecológica as contas físicas ou contas satélites que incluem na contabilidade os indicadores

3
relativos aos aspectos físicos, químicos, biológicos e sociais. Além destas sistemáticas
temos, entre outros, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de
Desenvolvimento Social (IDS) e o Índice de Desenvolvimento Social e Ambiental (IDSA),
que é um ajuste ecológico do IDS através de indicadores ambientais. (Montibeller, 2001).

Os indicadores podem ser de âmbito global, regional ou específico. No que tange aos
indicadores globais, esses reúnem informações a respeito de parâmetros mais abrangentes
do planeta. De acordo com Boog e Bizzo (2003), os indicadores globais foram classificados
em indicadores de pressão, que são indicadores de atividades, processos e padrões humanos
que impactam o desenvolvimento sustentável; indicadores de estado que indicam a
situação do desenvolvimento sustentável e indicadores de reação ou de resposta que
indicam as atuações e opções humanas que visam alcançar o desenvolvimento sustentável.

Com relação aos indicadores regionais, eles oferecem dados e informações mais focadas a
respeito das condições de uma determinada área geográfica e são encontrados sob
diferentes lócus, ou segmentados por área político-administrativa ou por área de interesse.
Esses indicadores usam o mesmo modelo “PSR – Pressure, State, Response” (pressão,
estado, resposta), da mesma forma que os indicadores globais (Boog & Bizzo, 2003).
Quanto aos indicadores específicos, esses oferecem dados e informações específicas sobre
determinado tema. Entre o rol de possíveis indicadores específicos podemos incluir o
turismo, embora saibamos que este abarca uma significativa quantidade de elementos e
atores sociais, podendo os indicadores ser adotados também em lócus global e regional.

Construir um conjunto de indicadores para que o turismo continue viável no longo prazo,
não é uma tarefa fácil e as principais dificuldades, segundo Brasil Jr. (2002), são: a escala
espacial ante os problemas globais, regionais e locais; a abordagem integrada: econômica,
sociocultural e ambiental; a mensuração da sustentabilidade que, por ser um conceito amplo
e complexo, envolve diferentes escalas de sustentabilidade - de territórios a
empreendimentos; o seu caráter relativo; o conflito de interesses que envolvem a intrincada

4
rede de relacionamentos dos mais de 52 setores que compõem a sua cadeia econômica, com
ampla gama de necessidades e expectativas de diferentes.

Neste escopo, a OMT formulou sete princípios com a finalidade de nortear o


funcionamento dos negócios do turismo sustentável e suas relações como o entorno,
incluindo o turismo de massa. Os princípios devem estabelecer um equilíbrio adequado
entre as dimensões ambiental, econômica e sociocultural, garantindo sua sustentabilidade
no longo prazo. (OMT, 2003).

A partir destes principios a Agenda 21 para as viagens e o turismo diz que as ações e
políticas para o turismo precisam contemplar duas vertentes: minimizar os impactos
negativos gerados pelo turismo na sociedade e no meio ambiente, e maximizar o potencial
turístico, contribuindo para a economia local, para a conservação dos recursos naturais e
socioculturais, promoverndo uma melhor qualidade de vida para as populações locais e os
visitantes. Para balizar as condutas dos diversos atores nesse processo, a OMT publicou em
2001, entre outros documentos, o Código Mundial de Ética do Turismo. E, com a finalidade
de auxiliar na tomada de decisões em todos os níveis de planejamento, lançou, também, o
guia ‘Guidebook on Indicators of Sustainable Development for Tourism Destinations’
contendo mais de 300 indicadores. (Beni, 2004).

Dentre estes indicadores, destacamos para esta análise os indicadores chaves, que são:
proteção do local, pressão sobre o local, intensidade de uso, impacto social, controle do
desenvolvimento, gestão de dejetos, processo de planejamento, ecossistemas críticos,
satisfação do turista, satisfação da população local, contribuição do turismo para a
economia local, além dos indicadores compostos – capacidade de carga, pressão sobre os
atrativos e atração. Além dos indicadores chaves, existem outros, chamados de
suplementares, tais sejam: Indicadores ambientais para zonas costeiras, Indicadores para
zonas de montanha, indicadores para reservas naturais, Indicadores para sítios urbanos,
indicadores para sítios culturais – patrimônio artístico e monumental, indicadores para

5
sítios culturais relacionados a comunidades tradicionais e indicadores para pequenas ilhas e
para sítios ecológicos únicos. (OMT, 2003).

Resta fazer constar, os usuais indicadores quantitativos de sustentabilidade da dimensão


econômica do turismo: Controle do fluxo de turistas, seus gastos e permanência média;
receita, geração de empregos e impostos; e a Conta Satélite de Turismo (CST) que a OMT
lançou para permitir a unificação dos critérios de aferição da economia turística entre
países, possibilitando a identificação do real impacto que o turismo gera nas economias
nacionais e regionais. (Massari, 2005). De natureza quali-qualitativa temos os indicadores
referentes à motivação e os que definem o perfil e as preferências dos turistas.

Constatou-se que os indicadores de turismo podem ser identificados, teoricamente, como


indicadores de sustentabilidade de nível sensato; porém, a partir de nossa vivencia prático
empírica e se entendermos os níveis de sustentabilidade como escalonados em fraco -
sensato – forte, tendemos a supor que os indicadores da atividade turística se apresentem
como fraco-sensatos. São indicadores tanto economicos como sociais e ambientais que
podem ser mostrados de forma quantitativa por números absolutos, percentuais e, quando
em relações com outras variáveis, podem configurar indicadores quali-quantitativos, como
por exemplo, os dados referentes à motivação e as preferências. De forma qualitativa são
mostrados por índices e por categorias como o indicador ‘nível de proteção do destino’, por
exemplo.

Podem apresentar-se sob forma normativa, exemplificado pela existência de planejamento


para o turismo e informado a existência de normas de certificação do destino; e como
indicadores de opinião, mostrando, por exemplo, o grau de satisfação do turista e da
população local. A dimensão econômica relaciona indicadores que são mensurados através
de ferramentas da economia convencional, porém, não temos nenhuma referência aos
indicadores da economia ambiental neoclássica que atribuam valor monetário ou financeiro
aos recursos ambientais ou que suponham a compensação do desgaste ambiental pelo
capital produzido ou a conversão em outros ativos.

6
Quanto aos indicadores da economia ecologica no turismo, esses estão diretamente
relacionados com os indicadores bio-físicos que transparecem a intenção de impor uma
racionalidade ambiental subordinando a racionalidade econômica. Apesar de a OMT ter
adotado o uso da conta satélite, não se evidenciam referências quanto à inclusão de
indicadores físicos, químicos, biológicos e/ou sociais neste instrumento contábil. Da igual
forma, entre os indicadores do turismo sustentável percebe-se uma lacuna no que tange aos
indicadores sociais relacionados à qualidade de vida da população dos centros receptores:
saúde, educação, pobreza etc.

Percebeu também, que os indicadores de sustentabilidade no turismo, além de estarem


relacionados com a economia convencional, são indicadores prioritariamente voltados a
questão ambiental inserido no modelo PSR. Alguns, em menor proporção, estão voltados
aos aspectos de sustentabilidade social dos núcleos receptores identificando aspectos que
podem fragilizar a atividade turística, como por exemplo, a segurança. São, portanto,
indicadores que já existindo a mais de duas décadas, pretendem preservar a sustentabilidade
da atividade turística para que ela não se desgaste por seu próprio uso. Com relação à
atribuição de valor ao meio ambiente natural ou cultural explorado como recurso
econômico, nem a economia ambiental neoclássica e nem a economia ecológica estão
presentes nas preocupações das entidades que condicionam a atividade de turismo no
Planeta.

REFERÊNCIAS

Beni, M. C. (2004). Como certificar o turismo sustentável? Recuperado em 29 maio,


2017, de http://www.espacoacademico.com.br

Bellen, H.M. V. (2006). Indicadores de sustentabilidade. Rio de Janeiro: FGV.

Boog, E. G. & Bizzo, W. A. (2003). Utilização de indicadores ambientais como


instrumento para gestão de desempenho ambiental em empresas certificadas

7
com a ISSO 14001. Recuperado em 5 JUN 2017, de
http://www.simpep.feb.unesp.br/anais10/gestaoambiental/arq02.PDF

Brasil Jr, A. C. P. (2002). Fundamentos para o desenvolvimento sustentável. Recuperado


em 5 JUN 2017, de http://www.transportes.gov.br/CPMA/FundDesenSust090902.pdf.

May, P. H. & MOTTA, R. S. da (1994). Contabilizando o consumo de capital natural. In:


May & Motta. Valorando a natureza: análise economica para o desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Campus.

Massari, C. (2005). Conta Satélite identificará impacto da


atividade turística na economia brasileira. Recuperado em 29 MAI 2017, de
http://globoonline.com.br

Mathis, A. (2002). Introdução à economia ecológica. Blumenau, SC: Edifurb.

MMA – Ministério do Meio Ambinete (2004). Agenda 21 Brasileira: ações prioritárias.


Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional.
Brasília: Ministério do Meio Ambiente.

Mitchell, G. (1997). Problems and fundamentals of sustainable development indicator.


Recuperado em 26 MAI 2017, de http://www..lec.leeds.ac.uk/people/gordon.html

Montibeller Filho, G. (2001). Economia ambiental neoclássica e desenvolvimento


sustentável. In Montibeller Filho, G. O mito do desenvolvimento sustentável - Meio
ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias.
Florianopolis: Ufsc.

OMT – Organização Mundial do Turismo (2003). Guia de desenvolvimento do turismo


sustentável. Porto Alegre: Bookman.

Rodriguez, J. M.M. (1997). Desenvolvimento sustentavel: niveis conceituais e modelos. In:


Cavalcanti, A. P.B. Desenvolvimento sustentável e planejamento: bases teóricas e
conceituais. Fortaleza: UFC, Imprensa Universitária.

8
O GEOTURISMO E SUA RELAÇÃO COM A GEODIVERSIDADE.

UMA ANÁLISE EM PARQUES ESTADUAIS, NACIONAIS E GEOPARQUES.

Natália Augusta Rothmann Eschiletti1


Rosane Maria Lanzer2

RESUMO

Este texto apresenta sinalizadores de referencial teórico e metodológico relativos à


pesquisa em Turismo envolvendo Parques, Geoturismo e Geoconservação. O texto
traz de forma parcial o que vem sendo produzido em nível de mestrado em um
programa de pós-graduação no sul do Brasil. No texto estão presentes os conceitos dos
autores Gray (2004) e Brilha (2005) relativos à Geodiversidade, Geoconservação,
Patrimônio Geológico e Geoturismo. O recorte investigativo quantitativo e qualitativo
foi dado escolhendo 14 parques no Brasil e no mundo objetivando identificar,
caracterizar e analisar a geodiversidade existente nos parques onde se pratica o
Turismo/Geoturismo para ampliar a discussão acerca da necessidade de
geoconservação desses Espaços Turísticos. Com a análise dos dados verificou-se que
os atrativos apreciados em áreas naturais são os que possuem relação com o
Geoturismo.

PALAVRAS-CHAVE: Geoturismo, Geoconservação, Geodiversidade, Parques.

1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul, RS., Brasil. E-mail: nataliaeschiletti@gmail.com.
2
Doutora em Biogeografia pela Universitat Des Saarlandes, Alemanha. Professora e pesquisadora no
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do
Sul, RS., Brasil. E-mail: rlanzer@ucs.br

1
RESUMO EXPANDIDO

O presente trabalho conceitua o que é que Geodiversidade, Geoconservação e


Geoturismo buscando analisar de que forma o patrimônio geológico vem sendo
utilizado pelo Turismo/Geoturismo em parques Estaduais brasileiros, Nacionais e
Geoparques pelo mundo. Assim, busca-se com esse tema a compreensão da forma
com a qual o Geoturismo se relaciona com a Geodiversidade respondendo se os
principais elementos encontrados nos parques possuem relação com a geodiversidade.
O objetivo principal é identificar, caracterizar e analisar a geodiversidade existente
nos parques onde se pratica o Turismo/Geoturismo ampliando a discussão acerca da
necessidade de geoconservação desses Espaços Turísticos.

Considerando as características da paisagem, de montanhas, rios, escarpas, florestas,


cachoeiras, praias, sítios arqueológicos, paleontológicos, cavernas, lagos e os atrativos
culturais locais, foram escolhidos alguns Parques Estaduais, Nacionais e Geoparques
no Brasil e no mundo para avaliar o que esses espaços oferecem de motivação para os
sujeitos saírem dos seus locais de residência para conhecê-los ou vivenciá-los.

O conceito de Geoparque tem origem no continente europeu e a UNESCO definiu uma


rede mundial de Geoparques. A Rede Mundial de Geoparques3 prevê a valorização e
conservação do patrimônio geológico de relevância internacional integrando essas
características ao desenvolvimento sustentável com a inserção da comunidade local.
No mundo existem iniciativas de Geoparques bem sucedidas, como é o exemplo de
Tumbler Ridge e do Naturtejo, investigados nessa pesquisa.

Neste trabalho traremos três classificações de modalidades de parques no Brasil e no


mundo. São os Parques Estaduais e Nacionais e os Geoparques. Sobre a proteção do
Patrimônio Natural, Ribeiro e Zanirato (2008) consideram que proteger uma área
natural é uma relação cultural, pois o patrimônio cultural é criado a partir da identidade
cultural de um povo e essa identidade é criada pelas ações do ser humano no meio em
que o mesmo vive. Nesse contexto, “natureza e cultura passaram a ser vistas em
conjunto e a salvaguarda de ambas tornou-se objeto das políticas patrimoniais”

3
Site da Representação da UNESCO no Brasil. Recuperado em 10 de setembro, 2017 de
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/biodiversity/geoparks/

2
(Ribeiro & Zanirato, 2008, p. 278). Analisam também que proteção ambiental envolve
“riqueza potencial e desenvolvimento econômico” (Ibid., p. 278). Assim, geoconservar
o espaço natural desses parques com tamanho patrimônio, que possuem vocação para o
turismo, se torna uma questão não só ecológica, mas também de desenvolvimento
econômico para a população local.

Ainda de acordo com Ribeiro e Zanirato, uma primeira alusão para a proteção do
patrimônio cultural surgiu em 1945, no Tratado constitutivo da UNESCO; a
organização se tornou responsável pela proteção do patrimônio cultural em âmbito
mundial. Já em 1949, realizou um diagnóstico da situação ambiental mundial, sendo
essa uma das primeiras ações da UNESCO voltada para a proteção do ambiente. Com
o pressuposto de “resguardar o que não se pode reconstituir e manter áreas para
conhecer a dinâmica natural do planeta” (Ribeiro & Zanirato, 2008, p. 279), o Brasil
também institui suas áreas de preservação, sendo citado na Constituição anos antes da
firmação e consolidação do conceito de patrimônio natural que aconteceu no ano de
1972, em Paris. Por meios constitucionais, de decretos e tombamentos, faz-se a
jurisdição sobre as áreas naturais de preservação no Brasil. Em âmbito estadual,
também há a possibilidade de conservação ambiental.

Segundo Gray (2008) compreende-se que a Geodiversidade (referente à natureza não


viva - abiótico) pode ser definida considerando as características geomorfológicas,
geológicas e do solo. O patrimônio geológico, de acordo com Brilha (2005),
considerado pelo viés do patrimônio natural que é potencialmente turístico e
consequentemente econômico, conta a História do Planeta Terra, mas a leitura e
compreensão dessa história só pode ser feita com conhecimento.Uma vez que a
Geoconservação “tem como objetivo a conservação e gestão do Patrimônio Geológico
e processos naturais a ele associados” e “Patrimônio Geológico é definido pelo
conjunto dos geossítios inventariados e caracterizados numa dada área ou região.”
(Brilha, 2005, p.52-53). Assim sendo, os geossítios são definidos, com a ocorrência de
elementos da geodiversidade, resultantes de processos naturais ou antrópicos, e que
apresentam excepcional valor do ponto de vista cultural, pedagógico, científico,
turístico ou outro, em seus ambientes naturais (Brilha, 2005).

Faz-se oportuno, esclarecer mais uma vez o termo Geodiversidade, uma vez que é a

3
base para o Geoturismo utilizada como recurso. A "Geodiversidade é a variedade
natural (diversidade) da geologia (rochas, minerais, fósseis), geomorfológica (formas,
processos) e as características do solo. Inclui suas uniões, relações, propriedades,
interpretações e sistemas5.” (Gray, 2004, p.8) Sendo assim a Geodiversidade é
responsável pela variação de formas na Terra e por consequência na diversidade
paisagística, tão apreciada pelo Turismo. Percebe-se, dessa forma, a necessidade de
considerar a relação que o turismo possui com áreas naturais e aborda-se a tendência a
praticar o Geoturismo visando à Geoconservação desses Patrimônios Geológicos.

Foram escolhidos 14 parques em diferentes continentes conforme tabela 1. Esses foram


escolhidos em função da já existente atividade turística e do reconhecimento da suas
características geológicas, biológicas, histórico e culturais em âmbito nacional ou
mundial. Visamos, dessa forma, analisar a diversidade no mundo.

Tabela 1: Localização dos parques e sua denominação .

Continente Parque País


África Parque Nacional Montanha da Mesa (Table Mountain) África do Sul
América Geoparque Araripe Brasil
Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira Brasil
Parque Estadual de Vila Velha Brasil
Parque Nacional da Chapada Diamantina Brasil
Parque Nacional do Iguaçú Brasil
Geoparque Tumbler Ridge Canadá
Parque Nacional do Vulcão Irazú Costa Rica
Parque Nacional do Vulcão Cotopaxi Equador
Parque Nacional dos Arcos Estados Unidos
Ásia Geoparque Longhushan China
Europa Geoparque Naturtejo Portugal
Oceania Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta Austrália
Parque Nacional de Tasman Austrália/Tasmânia

Fonte: As autoras.

Para a análise do patrimônio existente em cada parque elaborou-se uma tabela com os
elementos turísticos que motivam alguém a sair do seu local de residência para
conhecê-los ou vivenciá-los. Considerou-se esses elementos como atrativos naturais,

4
culturais e atividades econômicas. Conforme abordaremos em seguida, de acordo com
Gray (2008), nos parques analisados esses atrativos do patrimônio geológico são, de
forma geral, os mais explorados e também os que menos recebem atenção para a
conservação frente aos atrativos da biodiversidade (referente à natureza viva - biótico),
mesmo que haja iniciativas em alguns países como a Austrália, a Tasmânia e inclusive
no Brasil, alguns dos patrimônios geológicos podem se perder devido aos impactos
provocados pelo ser humano com o passar o tempo.

A pesquisa tem uma aproximação metodológica de caráter investigativo e exploratório


com característica quantitativa e qualitativa. A tabela 2 indica a forma como esses
atrativos foram compreendidos durante a análise e investigação em cada parque. Os
dados sobre o levantamento dos atrativos foram obtidos a partir dos sites que os
próprios parques disponibilizam na internet, ou dos sites institucionais, ou de livros.
Para análise dos dados foi elaborado um questionário no Google Docs e a partir desse
foi feita a tabulação das informações.

Tabela 2: Caracterização dos principais elementos encontrados nos parques.

Elementos encontrados Descrição de como são compreendidos

Cachoeiras “Queda d’água no curso de um rio.” p. 64 (1)


Rios “Corrente líquida resultante da concentração do lençol freático num vale. Um curso d’água
pode em toda sua extensão, ser dividido em três partes: curso superior, curso
médio e curso inferior”. p. 372. (1)
Lagos/ lagoas/ “Depressões com acúmulos de água [...] possuem rios afluentes.” p. 220. “Lagoas possuem
lagunas pouca profundidade e pequena extensão.” p. 221. “Lagunas são corpos de água separados do
mar por uma barreira [... mantem um canal de conexão com o mar.” p. 190. (2)

Rochas “Conjunto de minerais ou apenas um mineral consolidado” p. 375 consideraremos aqui a


variação e diferenciação do aspecto apresentado no ambiente. (1)
Vulcões Relativo à vulcanologia. “Aparelho por onde ocorre o extravasamento do material
magmático.” p. 113. (2)
Morros e montanhas Formas de relevo pouco ou muito elevadas. Podendo apresentar grande variação de
forma e feições complexas. (2)
Sítio paleontológico Relativo à paleontologia, que é a “ciência que estuda os seres vivos que existiram nos
diferentes períodos da história física da Terra. [...] A determinação da idade dos terrenos só
pode ser feita com segurança a partir da paleontologia. p 312. (1)
Grutas/ Cavernas/ Relativo à espeleologia. “Cavidades de formas variadas que aparecem mais
Furnas frequentemente nas rochas calcárias.” p.224. Furnas “são cavidades que aparecem na encosta
dos barrancos”. p. 196. (1)
Cânions/ falésias Formas geomorfológicas escavadas pelo intemperismo da água dos rios ou do mar.
(2)

5
Trilhas Possibilidade de caminhadas ou trekkins.
Praias “Depósitos de sedimentos acumulados por agentes de transporte marinho ao longo do litoral.”
p. 188. (2)
Vida animal Observação da fauna.

Campos Vegetação formada por gramíneas.


Florestas Vegetação arbórea.
Aldeias Aldeias indígenas ou quilombolas.
Sítio arqueológico Referente à expressão humana no passado. Arqueologia.
Museus Lugar que conta histórias e reúne coisas.
Minas Atividade econômica onde há exploração mineral.

Fonte: elementos baseados em Manosso, F., Moreira, J., & Silva Junior, E. (2014). Descrição dos
elementos: Fonte: (1) Guerra, (1989). (2) Suertegaray, (2008).

Para a caracterização que segue, foram selecionados os parques com características


mais relevantes, embora a coleta dos dados tenha sido feita com todos citados
anteriormente. Os parques Estaduais brasileiros escolhidos foram o Parque Estadual de
Vila Velha, localizado no estado do Paraná e no município de Ponta Grossa; e o Parque
Estadual Turístico do Alto Ribeira localizado ao sul do estado de São Paulo nos
municípios de Iporanga e Apiaí. O primeiro, de acordo com informações do website da
prefeitura6 é reconhecido pelas formas assumidas pelas rochas areníticas em meio aos
Campos Gerais. O segundo possui mais de 300 cavernas catalogadas em meio ao
calcário e a floresta de Mata Atlântica bastante preservada conforme website7.

Considerando os Parques Nacionais, foram escolhidos:

O Parque Nacional do Vulcão Irazú8 está localizado na Costa Rica, a aproximadamente


150 km a leste da capital San José. É o vulcão mais alto da Costa Rica, historicamente,
foi o mais ativo de todos os vulcões da Costa Rica e a cratera principal possui um lago
com águas sulfurosas. A última erupção ocorreu em 1994.

O Parque Nacional da Montanha de Mesa9 é mais conhecido como “Table Mountain” e


está localizado na África do Sul, na cidade de Cape Town. O Parque Nacional também
é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO. Sua beleza está nas grandes
montanhas, muito próximo ao grande centro urbano da Cidade do Cabo e às areias
brancas das praias da Península do Cabo. As rochas predominantes são o granito
caracterizado por grandes cristais e o arenito. No parque ainda existem árvores

6
remanescentes da Floresta Afromontana do Cabo. O Cabo da Boa Esperança faz parte
do complexo.

Para análise, foi escolhido também o Geoparque Tumbler Ridge. Esse é um exemplo
de Geoturismo que tem dado certo. Localiza-se no oeste do Canadá, na província
Colúmbia Britânica, distante aproximadamente 1300 km da Capital da Província
Victória. A área do Geoparque está nas encostas orientais das Montanhas Rochosas do
Norte e possui importante diversidade de sítios geológicos de origem sedimentar e
paleontológicos marcados pela presença de dinossauros que viviam em ambientes
terrestres e marinhos do cretáceo10. Devido a formação geológica no ambiente também
são encontrados recursos minerais fósseis, como carvão mineral e gás natural. A
vegetação encontrada é a de floresta de coníferas.

Os atrativos presentes nos parques, de acordo com as características de cada área, têm
relação com a Geodiversidade? Para responder ao problema de pesquisa foi feito o
levantamento considerando cada elemento. Podemos perceber com isso, que há uma
predominância do conteúdo de Geodiversidade nas três modalidades de parques. Isso
mostra a necessidade da Geoconservação. E se pode partir do pressuposto que, em
todos os parques, os atrativos são principalmente ligados ao Patrimônio Geológico e à
Geodiversidade, assim é possível também inserir o Geoturismo em todas essas áreas.
Percebe-se que os Parques Estaduais brasileiros possuem uma predominância
considerável de atrativos relacionados à Geodiversidade e assim verifica-se que nos
dois Parques Estaduais analisados existem propostas para a criação de Geoparques.
Constatou-se também que, analisando todos os parques, os atrativos que possuem
relação histórica e cultural também estão associados à Geodiversidade. Dessa forma,
para conservar e preservar a cultura, a história e a biodiversidade também é necessário
educar para conservar a Geodiversidade e o Patrimônio Geológico do planeta, e isso
pode ser dar através do Geoturismo.

REFERÊNCIAS

Brilha, J. B. R. (2005) Património Geológico e geoconservação: a conservação da


natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage.

7
Guerra, A.T. (1989). Dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE.

Gray, M. (2004). Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature . New York:

John Wiley and Sons.

Gray, M. (2008). Geodiversity: the origin and evolution of a paradigm. Geological


Society 300(1), 31.

Manosso, F., Moreira, J., & Silva Junior, E. (2014). A Geodiversidade como
atratividade turística nos Parques Nacionais brasileiros e Parques Estaduais dos
Estados do Paraná e Pernambuco Caderno De Geografia, 24(42), 39-55.

Suertegaray, D.M.A. (2008). Terra: feições ilustradas. Porto Alegre: UFRGS.

Teixeira, W. & Linsker, R. (2005). Chapada Diamantina: Águas no Sertão. São Paulo:
Terra Virgem.

8
O SURF COMO ELEMENTO PROPULSOR DO TURISMO NO LITORAL
EXTREMO SUL GAÚCHO E DEPARTAMENTO DE ROCHA/URUGUAI

Nilton Cezar Cunha Varnier1


Raphaella Costa Rodrigues2
RESUMO

O litoral do extremo sul do Rio Grande do Sul e do departamento de Rocha no Uruguai,


podem ser vistos como estratégicos para a captação de surfistas turistas que buscam boas
ondas para essa prática esportiva. Neste sentido será possível considerar o surf como
elemento propulsor do turismo no litoral estudado? O objetivo geral desta pesquisa é
analisar o potencial do surf como propulsor do turismo na região. A metodologia aplicada
nesta pesquisa foi bibliográfica e documental, exploratória e descritiva com visitas in loco.
O litoral do extremo sul gaúcho e do departamento de Rocha no Uruguai apresentam
características biofísicas diferentes e recebem constantemente ondulações, o que caracteriza
potencialidade para a prática do surf na região. Ficou evidente que o surf enquanto
segmento do turismo pode gerar novas oportunidades de negócios no setor, sendo um
elemento propulsor de desenvolvimento regional. Medidas que valorizem o produto
turístico surf na região em questão são necessárias, a fim de, buscar o desenvolvimento do
setor.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Desenvolvimento, Surf.

RESUMO EXPANDIDO

Ao redor das viagens de surf se desenvolvem serviços para satisfazer as necessidades dos
viajantes, configurando o turismo de surf. Desta forma, o surf se transforma em vetor de
desenvolvimento econômico e as praias com ondas em atrativos turísticos (Amoroso,

1 Mestre Turismo e Hotelaria, Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/1299310483621548. E-mail: niltonturismo@hotmail.com.
2 Mestre Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/3975356974332385 .E-mail: raphacosta@msn.com

1
2014). O segmento do Turismo de Surf desperta interesses em turistas com espírito
aventureiro, que buscam no ambiente natural satisfazer expectativas próprias do ser
humano, conquistando milhares de adeptos por todo o mundo, direcionando este esporte
como um grande fomentador do turismo. O litoral do extremo sul do Rio Grande do Sul e
do departamento de Rocha no Uruguai, podem ser vistos como estratégicos para a captação
de surfistas turistas que buscam boas ondas para essa prática esportiva, onde os melhores
meses para a prática do esporte são de março a agosto.

A fim de, diferenciar a notoriedade do foco principal do turismo de surf no litoral norte do
Rio Grande do Sul e combater a sazonalidade imposta nesta porção litorânea, a gestão do
turismo na região em questão necessita de planejamento e estratégias que considerem as
características de cada destino, para o desenvolvimento da atividade de surf como um
produto turístico. Como exemplo bem sucedido do surf enquanto elemento propulsor do
turismo é possível citar casos no exterior como Portugal, Austrália e Havaí. Segmento
pouco explorado do ponto de vista teórico, o turismo de surf possui uma grande dimensão
em relevância aos fatores esportivo e socioeconômico. Alguns destinos que o estudo
abrange, apresentam como atrativo a altura e morfologia das ondas, ocasionando qualidade
para a prática do surf e estimulando a vinda de diversos surfistas, tanto do Brasil como de
outros países, sobretudo no verão, fomentando o comércio, o setor gastronômico e a
hotelaria local e regional. Porém, do ponto de vista de investimento, o turismo de surf é
facilmente observável como uma prática potencial, ou seja, pouco explorada pelo trade
turístico da região.

A região litorânea abordada possui beleza natural abundante beneficiando a pratica do


turismo na natureza. Desta forma, o turismo de surf pode ser uma aposta como alternativa
de turismo, a fim de combater a sazonalidade. A divulgação das ondas deste litoral, aponta
para a sensibilização da necessidade de sua preservação, além de reforçar o
desenvolvimento turístico regional, ser um novo elemento de competitividade e amenizar
os efeitos da sazonalidade. A carência de estudos e da classificação e caracterização de
destinos com potencial para a prática do surf nessa faixa litorânea e no Brasil como um

2
todo, impossibilita o planejamento de políticas publicas que visem à inserção do surf
enquanto produto turístico segmentado, minimizando a oportunidade da diversificação da
oferta turística. Neste sentido, o problema de pesquisa que este estudo visa responder é: é
possível considerar o surf como elemento propulsor do turismo no litoral extremo sul
gaúcho e Rocha/Uruguai?

O objetivo geral desta pesquisa é analisar o potencial do surf como propulsor do turismo no
litoral extremo sul gaúcho e Rocha/Uruguai. Desta forma, foram elencados os seguintes
objetivos específicos: Caracterizar a região estudada; investigar a contribuição do surf para
o desenvolvimento sustentável do turismo na região; reconhecer as condições para a
implementação de uma rota de surf na região. A Austrália é um dois países que mais
incentiva e considera o investimento em turismo de surf, com programas de planejamento e
gestão que fomentam a consolidação do país como destino para o turismo de surf, com
ações de marketing compartilhado entre os mais diversos setores ligados ao turismo,
aliando esse segmento a outros atrativos da costa australiana, de modo coordenado e
direcionado ao desenvolvimento e distribuição de produtos, apoio ao destino, apoio aos
negócios e engajamento nas ações (Short, 2009).

Associando esse investimento estatal ao turismo de surf na Austrália com o potencial do


turismo de surf impresso no litoral abordado neste estudo, podemos sugerir que é preciso
maior visibilidade e fomento a este segmento, expondo isso de maneira mais clara aos
gestores do turismo na região.
Neste sentido, o surf é cada vez mais abordado na perspectiva turística, embora os estudos sobre os
potenciais benefícios para o desenvolvimento local sejam recentes, intensifica-se a necessidade de
implementar orientações estratégicas para o desenvolvimento sustentado dos destinos turísticos de surf
(Cabeleira, 2011, s.p.).
O desenvolvimento que o Turismo de surf proporciona, pode causar impactos negativos e
positivos na região, sendo estes de caráter econômico, como a geração de empregos e
captação de renda além de combater a sazonalidade; ambiental como a erosão de solos e
interferência na fauna; e ainda impactos sociais, onde não havendo um trabalho de inclusão
da comunidade autóctone neste processo de desenvolvimento, podemos ter uma introdução
de hábitos estranhos e mudanças de atitudes na comunidade. Essa condição é destacada por

3
Hugues-Dit-Ciles et al. (2005), em suas pesquisas sobre a natureza do turismo de surf e
seus potenciais impactos no meio ambiente na Austrália, onde os autores puderam observar
que o turismo de surf e sua nascente infraestrutura e gerenciamento sobre a natureza
inerente a vida marinha, ligada as diversas atividades aliadas a mobilidade de turistas sobre
esse espaço, causam impactos sobre a natureza e sobre o espaço de atuação dos surfistas.

Desta forma, fica entendida a necessidade de definição de propostas que valorizem o surf
como um produto turístico na região, contribuindo assim para a diversificação, dinamização
e qualificação da atual oferta turística, além combater a sazonalidade típica regional e de
fomentar o desenvolvimento sustentável do turismo no litoral extremo sul gaúcho e do
departamento de Rocha/Uruguai, agregando qualidade de vida que o turismo de surf pode
proporcionar para a população local e maior competitividade no turismo da região.

A metodologia aplicada nesta pesquisa foi bibliográfica e documental, a fim de buscar


informações para caracterizar a região estudada; exploratória e descritiva com visitas in
loco visando investigar a contribuição do surf para o desenvolvimento do turismo na região
e reconhecer as condições para a implementação de uma rota de surf na região. Para isso,
fomos buscar no estudo da arte a partir da revisão de bibliografias especializadas no tema, para
adequação do surf como produto turístico, bem como, sua contribuição para o desenvolvimento
sustentável do turismo; foi realizado levantamento dos destinos de surf através de visitas in loco
afim de gerar um relatório com as características de cada destino visitado; A partir das
potencialidades elencadas em relatório, apontar estratégias de planejamento para a propulsão do
surf como atrativo turístico da região, visando a inserção deste nos mercados nacional e
internacional.

O estudo abrange o município de Santa Vitória do Palmar e Departamento de Rocha no país


vizinho Uruguai. A região abordada possui inúmeros atrativos turísticos potenciais,
principalmente dentro do turismo de aventura. Santa Vitória do Palmar possui uma costa
com aproximadamente 150 km de extensão, onde o fator vento é muito constante. O
município conta com balneários que apresentam estrutura básica para receber os turistas.
Estes balneários são marcados pela sazonalidade, onde o fluxo pontual do turismo é no
verão. No município banhado pelo Oceano Atlântico, é possível encontrar praias com fundo

4
de areia e ondulações constantes, porém as ondas dependem dos fatores climáticos
momentâneos para ter a formação de boas bancadas para a prática do surf. Os melhores
meses para o surf são de março a agosto, onde entram as maiores ondulações. Nesta época é
indispensável à utilização de roupas apropriadas para a prática do esporte, pois as águas
geralmente são geladas. O município não conta com agentes ou operadores que organizem
o Turismo de surf na região, com isso o turista ou a própria comunidade consumidora,
acaba buscando a atividade por conta própria. Este segmento de turismo carece de normas e
regularizações.

O Departamento de Rocha no Uruguai apresenta um litoral diferenciado, com inúmeros


atrativos de diferentes segmentos. Da fronteira litorânea com o Brasil na Barra del Chuy
até a praia de La Paloma, a formação geomorfológica varia, apresentando praias com fundo
de areia e fundo de pedras, com bahias e penínsulas rochosas. Estes fatores condicionam a
boas formações das ondas para a prática do surf, apresentando potencial destacado
principalmente em Punta del Diablo. Cabo Polônio, La Pedrera e La Paloma.

Os destinos mencionados apresentam ótimas condições para o surf quando as ondulações


atingem o litoral Uruguaio. Picos que suportam ondulações grandes mantendo boa
formação para a pratica do esporte. É possível a escolha de ondas para a direita ou para a
esquerda, dependendo da direção da ondulação e do vento. Na praia de La Pedrera se
encontra El Barco, que apresenta ondas constantes, quando os swells de leste ou sudeste
proporcionam as melhores condições. Já em La Paloma, a praia Solari apresenta ondas
tubulares com esquerdas e direitas para o surfista desfrutar. O local geográfico em que
Santa Vitória do Palmar esta inserido, pode ser visto como estratégico para a captação de
turistas que buscam boas ondas. Em sua maioria, estes turistas estão à procura de “picos”
uruguaios, que oferecem ótimas ondas e uma grande estrutura para recepcionar os turistas.
No entanto, o município capta parte deste turista que após enfrentar uma longa viagem,
encontra em seus balneários tranquilidade para descansar e boas ondas para surfar. Contudo
a grande maioria do turista que procura as ondas da região para a pratica do surf é o
veranista da alta temporada.

5
Assim, o surf enquanto novo segmento do turismo pode gerar novas oportunidades de
negócios no setor, sendo um elemento propulsor de desenvolvimento regional. Medidas que
valorizem o produto turístico surf na região em questão são necessárias, a fim de, buscar o
desenvolvimento do setor a partir de um esporte que prima pela sustentabilidade. O
desenvolvimento que o Turismo de Surf proporciona, pode causar impactos negativos e
positivos na região, sendo estes de caráter econômico, como a geração de empregos e
captação de renda; ambiental como a erosão de solos e interferência na fauna; e ainda
impactos sociais, onde não havendo um trabalho de inclusão da comunidade autóctone
neste processo de desenvolvimento, podemos ter uma introdução de hábitos estranhos e
mudanças de atitudes na comunidade.

Além do surf, A região estudada possui outros atrativos turísticos com potencial a ser
explorado, principalmente dentro das atividades esportivas, recreacionais e de aventura. Na
água temos a canoagem, o windsurf, o kitesurf como algumas atividades possíveis na
região. Por terra temos caminhadas, cicloturismo, cavalgada, trilhas, pesca esportiva e carro
à vela como opções para o turista. Já pelo ar é possível a prática de paraglider, paramotor e
planador para os turistas mais preparados e aventureiros. Ainda o turismo histórico e
cultural apresenta destaque na região.

A criação de uma microrregião turística que agregue Santa Vitória do Palmar ao


Departamento de Rocha visando o desenvolvimento do turismo regional é uma opção de
medida, visando aproximar o município isolado geograficamente do Brasil ao vizinho
Uruguai, este que investe no turismo e atualmente conta com a atividade como primeira
economia do estado, perceptível em ações e na forma como o turismo se desenvolve no
país.

REFERÊNCIAS

Amoroso, M. (2014). Persiguiendo las olas: turismo de surf y significado del viaje para
surfistas. Anales... VI Congreso Latinoamericano de Investigación Turística,
Universidad Nacional del Ceomahue, Neuquén, Argentina.

6
Hugues-Dit-Ciles, E., Findlay, M., Glegg, G., & Richards, J. (2005). An investigation into
the nature of surfing tourism and its potential environmental impacts on
relatively pristine environments: Gnaraloo, Western Australia, a case study. School
of Ocean, Earth and Environmental Science, Plymouth University, Drake Circus,
Plymouth, Devon.

Short, A. (2009). Catching the wave: Tourism NSW’s action plan to consolidate the
state’s position as Australia’s premier surf destination. Sydney: Tourism New
South Wales.

Cabeleira, T. F. R. (2011). Turismo de surf na capital da onda: Ensaio sobre a


sustentabilidade de uma rota de surf em Peniche. Tese. Escola Superior de
Hotelaria e Turismo do Estoril, Portugal.

7
TURISMO DE BASE (COM)UNITÁRIA: REFLEXÕES

SOBRE O CONCEITO E A PRÁTICA NA RDS DO UATUMÃ-AM

Mayra Laborda Santos1


Bruna Ranção Conti2
RESUMO

Este estudo buscou refletir sobre os conceitos de turismo de base comunitária (TBC) e sua
aplicabilidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, localizada
no Estado do Amazonas. Nesse sentido, teve como objetivos específicos: apresentar o
cenário do turismo na RDS; compreender as similitudes entre os conceitos de TBC; e
analisar a aplicabilidade desses conceitos na reserva. O estudo se utilizou de pesquisa
bibliográfica e documental, com destaque para o Plano de Uso Público da RDS do Uatumã
(2009), Plano de Gestão da RDS do Uatumã (2010), Regras de Turismo Comunitário na
RDS do Uatumã (2012) e Regras de Pesca Esportiva da RDS do Uatumã (2015). Os
resultados obtidos indicam que não existe a prática do TBC na RDS, apesar de ser relatada
nos documentos de políticas públicas e nos canais de promoção do turismo no local.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo de Base Comunitária, RDS do Uatumã.,Amazonas.

RESUMO EXPANDIDO

O Estado do Amazonas possui 24% de seu território destinado às Unidades de Conservação


(UC), totalizando 36.520.440 milhões de hectares. Do total de 98 UCs do estado, 73 são de
uso sustentável, contemplando a categoria Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS),
da qual a RDS do Uatumã faz parte; e estas somam 17 UCs em todo o território do
Amazonas (Paula & Deidda, 2014; MMA, 2017).

1 Mestranda em Turismo, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil. Currículo:


http://lattes.cnpq.br/0061829196465186. E-mail: mayra_laborda@id.uff.br.
2 Doutora. Professora do Curso de Turismo da UNIRIO Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/5130616222632742. E-mail: bruna.conti@unirio.br

1
As Unidades de Conservação permitem, em sua maioria, atividades de recreação, lazer,
pesquisa e educação, desde que estejam de acordo com as regras contidas nos planos de
gestão e uso público. Estas atividades, intituladas de uso público, vêm sendo apresentadas,
em parte da literatura e nos documentos que justificam a criação de algumas UCs, como
potenciais para a manutenção das populações situadas no interior e/ou entorno dessas áreas
protegidas, com destaque para o turismo (Paula & Deidda, 2014; Santos & Conti, no prelo).

É nesse contexto que a RDS do Uatumã, criada em 2004, vem desenvolvendo atividades de
turismo de pesca esportiva. Entretanto, por conta do crescimento da demanda e dos
empreendimentos turísticos, constata-se uma tentativa de fomentar a organização do
turismo de base comunitária (TBC), por parte de alguns agentes sociais e institucionais,
visando a sustentabilidade do turismo na localidade. Nesse sentido, o presente estudo
buscou refletir sobre a os conceitos de TBC e sua aplicabilidade na RDS do Uatumã. Para
isso, teve como objetivos específicos: apresentar o cenário do turismo na RDS;
compreender as similitudes entre os conceitos de TBC; e analisar a aplicabilidade desses
conceitos na reserva.

O presente estudo buscou analisar a prática turística na RDS do Uatumã, sob a luz dos
conceitos de turismo de base comunitária. A ideia surgiu a partir da leitura da publicação
“O Turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã” (IDESAM, 2012),
que apontava haver na reserva uma atividade de TBC. A metodologia pautou-se em uma
abordagem qualitativa, se utilizando de pesquisa bibliográfica e documental, com destaque
para os estudos de Irving (2009), Costa Novo (2014), Fabrino, Nascimento e Costa (2016),
Bartholo (2014), Santos e Conti (no prelo). E os documentos do Plano de Uso Público da
RDS do Uatumã (2009), Plano de Gestão da RDS do Uatumã (2010), Regras de Turismo
Comunitário na RDS do Uatumã (2012) e Regras de Pesca Esportiva da RDS do Uatumã
(2015), além dos canais de promoção do turismo na localidade, como os sites das agências
de viagens que comercializam o destino.

2
O Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas (SEUC) compreende a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável como uma área natural que abriga comunidades
tradicionais, que sobrevivem de maneira sustentável e desempenham um papel fundamental
na conservação da natureza (Amazonas, 2007). A RDS do Uatumã, criada por meio do
Decreto 24.295 de 2004, com extensão territorial de 420.430 ha, está localizada nos
municípios de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga, no Estado do Amazonas. De acordo
com Koury, Rizzo e Albuja (2012) a RDS possui 389 famílias distribuídas em suas 20
comunidades. A RDS possui, em suas águas jurisdicionais, um rio principal, com 180 km
de extensão, o rio Uatumã, conhecido pela pesca esportiva do tucunaré. Foi nesse contexto
que a RDS do Uatumã se consagrou como destino de pesca esportiva. A atividade é regida
por uma instrução normativa que institui as taxas de entrada3 para o turismo de pesca
esportiva, prevê a conservação da ictiofauna4, além da elaboração das regras de pesca
esportiva, revisadas e publicadas anualmente, com o título de Regras da Pesca Esportiva da
RDS do Uatumã. (Amazonas, 2009).

Na tentativa de diversificar o uso público na RDS, criando alternativas ao turismo de pesca,


o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM) publicou, em 2013,
um documento intitulado “O Turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Uatumã”. O documento contém seções que tratam do TBC na RDS, apresentando as
intituladas pousadas comunitárias e uma análise financeira do turismo. Assim, a publicação
aponta o TBC como promissor para a RDS. No entanto, ressalta-se que as reflexões
apresentadas por autores que pesquisam o TBC mostram que essa modalidade vai além das
relações territoriais, ou seja, extrapolam a ideia de que o TBC é apenas aquele que acontece
dentro dos cercos territoriais de uma comunidade, como discutido a seguir.

3
As taxas de entrada consistem em um valor pago pelas embarcações que transportam turistas de pesca
esportiva no interior da RDS. Ao entrar na reserva, o piloteiro para em uma das bases de apoio – localizadas
no norte e sul da UC – e paga um valor por turista. Após o pagamento, a embarcação recebe uma bandeira que
funciona como um passe-livre para adentrar nos locais liberados para a pesca. Assim, os comunitários podem,
de certa forma, fiscalizar os barcos autorizados e denunciar aqueles não-autorizados (Amazonas, 2009).
4
Conjunto de peixes pertencentes a uma determinada região/ ambiente.

3
Nesta seção apresenta-se uma breve discussão sobre os conceitos de turismo de base
comunitária. A ideia foi a de encontrar pontos convergentes que pudessem subsidiar a
análise empreendida na RDS do Uatumã, uma vez que o conceito de TBC ainda está em
fase de construção, recebendo diversas interpretações tanto em nível nacional quanto
internacional. Assim, ao comparar alguns desses conceitos, foi possível identificar aspectos
abordados como fundamentais ao TBC, dentre eles o protagonismo das comunidades, a
busca por diálogos autênticos, a promoção do bem estar social e da qualidade de vida, a
capacitação dos comunitários, o fortalecimento das organizações sociais, a conservação
dos recursos naturais, a valorização dos modos de vida locais (Irving, 2009; Bartholo, 2014;
Costa Novo, 2014; Fabrino, Nascimento, & Costa, 2016). Nesse sentido, Fabrino,
Nascimento e Costa (2016) realizaram uma análise da literatura existente acerca do TBC e
identificaram aspectos teóricos, similares entre os estudos, os quais convencionaram
chamar de elementos-chaves, apresentados no quadro 1.

Elemento-chave Objetivo
Dominialidade Identificar o protagonismo das comunidades no desenvolvimento do turismo
Organização Analisar as formas de organização pertencentes à comunidade e, também, as articulações
Comunitária externas que fornecem apoio ao turismo.
Democratização de
Oportunidades e Investigar as formas como os comunitários se organizam para divisão dos benefícios do
Repartição de turismo
Benefícios
Identificar se a população local está na base da cadeia produtiva do turismo, produzindo
Integração Econômica insumos e fornecendo-os para a própria comunidade, que, por sua vez, vai gerar produtos
comercializados aos turistas
Observar se o espaço como um lugar de convivência e trocas culturais entre os visitantes
Interculturalidade
e visitados
Identificar as formas de gerenciamento de resíduos sólidos, efluentes e tratamento de
Saneamento Ambiental
água da comunidade, além da maneira como os recursos naturais são manejados

Quadro 1. Elementos-chaves para o Turismo de Base Comunitária


Fonte: Adaptado de Fabrino, Nascimento e Costa (2016).

4
Considera-se que a reflexão proposta pelos autores aborda aspectos que vão além do
protagonismo das comunidades, preocupando-se com os benefícios socioeconômicos
gerados e o modo como são repartidos, além de questões relacionadas à conservação dos
recursos naturais e à qualidade dos encontros entre visitantes e visitados, corroborando com
estudos anteriores, como o de Irving (2009).

No estudo de Costa Novo (2014), a autora analisou o TBC na Região Metropolitana de


Manaus, identificando, em um primeiro momento, as similitudes entre os conceitos,
conforme apresentado no quadro 2.

Similaridade entre os conceitos Aspectos da similaridade


A comunidade deve estar no controle da atividade, recebendo a
maior parte do benefício. É necessário o apoio de agentes
(i) Protagonismo Comunitário
indutores para a formação, aliando os saberes locais ao
conhecimento técnico
O envolvimento dos diferentes sujeitos deve ser reforçado, pois
(ii) Envolvimento dos sujeitos sociais no
cada um tem uma perspectiva em relação ao turismo, o que
planejamento da atividade
poderá causar conflitos de interesse
(iii) O turista não deve ser tratado como A comunidade não deve realizar suas atividades em prol dos
centro das atenções turistas, mas sim junto com eles

Quadro 2. Similaridades entre os conceitos de Turismo de Base Comunitária


Fonte: Adaptado de Costa Novo (2014).

E é com base nas reflexões de Costa Novo (2014) que as análises do presente estudo serão
realizadas, uma vez que o recorte socioespacial da autora está inserido em comunidades do
contexto amazônico, dentre elas comunidades inseridas em uma Reserva de
Desenvolvimento Sustentável, da mesma forma que o presente estudo. No bojo dessa
discussão, destaca-se que (i) as comunidades da RDS do Uatumã recebem apoio técnico de
algumas instituições que atuam na localidade, ainda que de forma incipiente. Um exemplo
desse apoio vem da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que atua desde 2007 na RDS e
possui um Núcleo de Conservação e Sustentabilidade dentro da Reserva, além de ofertar
cursos de capacitação – artesanato, elaboração de projeto - para os comunitários, e

5
gerenciar o programa Bolsa Floresta5. Em 2014 foi realizado um workshop que tinha como
objetivo estudar as propostas de turismo apontadas no Plano de Uso Público (PUP) da
Reserva e propor novas práticas, como o TBC (IDESAM, 2014). Sobre o envolvimento dos
sujeitos (ii) destaca-se a não divisão dos recursos econômicos para os comunitários. Poucos
participam da atividade de turismo e, consequentemente, conseguem receber algum
benefício desta. Aqueles que não têm participação, consideram-se excluídos e acreditam
que os benefícios do turismo se concentram nas mãos de poucos, evidenciando que não há
acesso democrático à participação no turismo.

No que concerne à modificação das tarefas cotidianas (iii) ressalta-se que este hábito é cada
vez mais frequente, uma vez que o turismo de pesca, atualmente praticado na RDS, exige a
alteração de comportamento dos comunitários que atuam durante a temporada de pesca.
Nesse período, os proprietários de pousadas - juntamente com suas famílias e seus
funcionários – restringem suas atividades a receber turistas e gerenciar suas pousadas,
abandonando, portanto, suas atividades habituais do dia a dia, principalmente a pesca e a
agricultura. Ao refletir sobre o turismo realizado na RDS do Uatumã, evidencia-se que não
se configura como turismo de base comunitária, apesar de as experiências se intitularem
como tais (em alguns documentos da UC e sites de comercialização do destino). As
premissas de TBC não são contempladas nas práticas de turismo e muito precisam
caminhar para promover o protagonismo comunitário, o bem-estar social das comunidades,
a conservação dos recursos naturais e os diálogos entre visitantes e visitados.

Nesse sentido, a forma de gestão dos empreendimentos turísticos da RDS – 14 ao total –


conhecidos pelos comunitários e instituições que atuam na UC como “pousadas
comunitárias”, não contemplam as premissas do turismo comunitário. Essas pousadas
possuem três formas de gestão: pousada de propriedade familiar, pousada de proprietário
externo à RDS e pousada comunitária (Amazonas, 2009; Amazonas, no prelo). As pousadas

5
O Programa Bolsa Floresta (PBF) é um dos maiores programas de Pagamento por Serviços Ambientais do mundo [...]
O objetivo é compensar, por meio de investimentos em geração de renda e desenvolvimento social, as populações
tradicionais pela disposição em conservar as florestas (Viana et al., 2012).

6
de propriedade familiar (11) são gerenciadas por famílias pertencentes à RDS, e
concentram as atividades dentro da própria família. Quando necessário, contratam
comunitários para auxiliar nas atividades, (piloteiros6, cozinheiras e camareiras). Já as
pousadas de proprietários externos à RDS (1) possuem uma dinâmica diferenciada. O
gerenciamento é feito por um homem de confiança – morador da comunidade – que atua
como uma espécie de gerente e representante do proprietário. Este tipo de empreendimento
também contrata pessoas da comunidade.

E as pousadas comunitárias (2) – ainda em fase de construção – são empreendimentos que


foram idealizados por pessoas do local e estão sendo projetados como forma de turismo de
base comunitária, buscando uma possibilidade de complementação de renda, fortalecimento
dos laços sociais, valorização dos modos de vida e protagonismo comunitário. Mas estas
ainda estão em fase de construção (Amazonas, 2010; IDESAM, 2012; Amazonas, no prelo).

Buscou-se neste estudo apresentar o cenário do turismo na RDS do Uatumã e compreender


a aplicabilidade do TBC nesse contexto. Assim, enfatiza-se que o turismo de base
comunitária é ainda incipiente na RDS. O turismo comunitário surge das necessidades
econômicas das comunidades, que veem no turismo uma forma de obtenção de renda. O
discurso das benesses econômicas e da conservação dos recursos naturais é também
comumente utilizado para receber parecer favorável à implantação da atividade turística nas
áreas protegidas (Betti, 2014). Enfatiza-se que foi nesse sentido que as inciativas de turismo
na RDS foram incentivadas pelos atores institucionais e governamentais que lá atuam. A
necessidade econômica e a visão equivocada de que o turismo solucionaria os problemas da
Reserva, foi mola propulsora e fator de incentivo para o desenvolvimento da atividade na
UC, que muito tem que avançar para se tornar uma forma de turismo comunitário.

Destaca-se que o trabalho apresenta as reflexões iniciais de uma pesquisa de mestrado e,


portanto, não se propõe a esgotar a discussão sobre o assunto e/ou apresentar resultados
finais.

6
Piloteiros são guias locais, pilotos das voadeiras que transportam os turistas pelos rios da RDS.

7
REFERÊNCIAS

Bartholo, R. (2014). Sobre o Lugar do Turismo de Base Comunitária. In J.G. da Cruz &
C.B.M Costa Novo (Eds), Turismo comunitário: reflexões no contexto amazônico
(41-44). Manaus: Edua.

Betti, P. (2014). Turismo de Base Comunitária e Desenvolvimento Local em Unidades


de Conservação: Estudo de Caso na Área de Proteção Ambiental de
Guaraqueçaba e no Parque Nacional do Superagüi, Guaraqueçaba – Paraná.
Dissertação. Universidade Federal do Paraná, BR.

Costa Novo, C. B. M. (2014) Turismo de Base Comunitária na Região Metropolitana de


Manaus. In J.G. da Cruz & C.B.M Costa Novo (Eds), Turismo Comunitário:
reflexões no contexto amazônico (45-77). Manaus: Edua.

Decreto 24.295, de 25 de junho de 2004 (2004). Cria a Reserva de Desenvolvimento


Sustentável do Uatumã. Diário Oficial do Município. Manaus, AM.

Fabrino, N. H., Nascimento, E. P., & Costa, H. A. (2016). Turismo de Base comunitária:
uma reflexão sobre seus conceitos e práticas. Caderno Virtual de Turismo, 16(3),
172-190.

Irving M. de A. (2009). Reinventando a reflexão sobre o turismo de base comunitária. In:


Bartholo, R., Sansolo, D. G., & Bursztyn, I (Eds). Turismo de base comunitária:
diversidades de olhares e experiências brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem.

Koury, C. G., Rizzo, E., & Albuja, M. (2012). O turismo na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Uatumã: Conjuntura atual e possibilidades de geração de renda
para as comunidades locais. Manaus: Idesam.

8
Paula, A., & Deidda, N. (2014). Uso público em unidades de conservação estaduais do
Amazonas. In J.G. da Cruz & C.B.M Costa Novo (Eds), Turismo Comunitário:
reflexões no contexto amazônico (179-182). Manaus: Edua.

Plano de Gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. (2010).


Manaus: Idesam.

Plano de Uso Público Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. (2009)


Manaus: Idesam.

Regras de Pesca Esportiva da RDS do Uatumã. (2015). Disponível em:


http://www.idesam.org.br/publicacao/regras-pesca-esportiva-uatuma-2015-2016.pdf .
Acesso em: 10 de set. 2017.

Regras de Turismo Comunitário na RDS do Uatumã. (2012). In: Koury, C. G.; Rizzo, E. &
Albuja, M. O turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã:
Conjuntura atual e possibilidades de geração de renda para as comunidades locais.
Manaus: Idesam.

Revisão do Plano de Uso Público da RDS do Uatumã. (no prelo).

Santos, M. L., & Conti, B. R. (no prelo). Turismo na RDS do Uatumã-AM:


aproximações e distanciamentos com o turismo de base comunitária.

9
UMA ANÁLISE SOBRE O TURISMO RURAL

NO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL

Juliana Rose Jasper1


Rosane Maria Lanzer2
Eurico de Oliveira Santos3
RESUMO

O turismo é realizado nas mais diversas formas no espaço rural, agregando valor aos
produtos agrícolas, aumentando a renda e mantendo o homem no campo, como também
pode contribuir para a valorização do trabalho da vida no campo e como forma de preservar
o meio ambiente deveria aparecer. O presente trabalho tem por objetivo analisar o turismo
no espaço rural no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Para tanto, foi realizado pesquisa
bibliográfica, levantamento de dados sobre a região e entrevista oito proprietários de terra
no espaço rural, levantados através do COREDEs. Com o estudo foi possível observar
que a região trabalha atividades de turismo distintas, nem sempre vinculadas a agropecuária
e tendo em comum o espaço rural.

PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Espaço Rural, Litoral Norte, Rio Grande do Sul, Brasil.

RESUMO EXPANDIDO

Este trabalho é resultado de uma parte da Projeto de Pesquisa do Turismo no Espaço Rural
como atividade complementar de geração de renda, ocupação não-agrícola e no Litoral
Norte do Rio Grande do Sul. O objetivo é analisar o turismo que existe no espaço rural no

1
Doutoranda em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul. Professora na Universidade
Federal do Pampa, Jaguarão, RS, Brasl. E-mail: ju.jasper@terra.com.br.
2
Doutora. Professora no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias
do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. E-mail: rlanzer@ucs.br.
3
Doutor. Professor no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. E-mail: eurico58@terra.com.br.

1
Litoral Norte. No Brasil há diversas possibilidades de analisar o turismo quando se trata do
turismo não urbano, como turismo rural, agroturismo, turismo de natureza, ecoturismo,
turismo no espaço rural (Beni, 2001; Santos, 2004; Santos, 2015). Essa discussão ocorre
também em diferentes países como Itália (Mastronardi, et all, 2016), Rússia (Akimova,
Volkov & Poluyufta, 2016), Tailândia (Choenkwan et all, 2016) e Estados Unidos
(Ciclovska, 2016). A proposta desta pesquisa é analisar o turismo no espaço rural [TER],
que compreende diversos formas de turismo no espaço rural, onde todas as modalidades se
englobam e não se excluem, podendo até ser complementares (Oxinalde,1994).

Assim, o espaço rural tornou-se dinâmico e multifuncional, onde o produtor rural precisa se
adaptar, procurando alternativas para se manter neste espaço. O turismo é uma das
alternativas empregadas por diversos produtores rurais no Brasil e no mundo (Oxinalde,
1994; Cavaco, 2000; Campanhola & Silva, 2000; Dale, 2001; Almeida et all, 2001;
Kageyana, 2008; Jasper, 2012; Souza, 2012; Elesbão, 2014). O turismo no espaço rural é
uma atividade que pode contribuir para aumentar a renda e melhoria da qualidade de vida
do produtor rural e de sua família. E, por conta disso, o turismo no espaço rural, está sendo
propagado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Turismo como responsável
por uma melhor redistribuição de renda, por fixar o homem no campo e desencadeando
vários outros benefícios, conforme declaram Krahl e Santana (2004), Brasil-Mtur (2010) e
autores como Almeida et all. (2001), Tulik (2003), Santos (2008), discorrem sobre a
conveniência da atividade de turismo no espaço rural nas propriedades. Portanto, vamos
analisar o turismo no espaço rural do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.

O local de pesquisa é o Litoral Norte, onde a interação entre os processos naturais e as


diferentes atividades humanas é crescente. Também conhecido como zona costeira, as quais
são consideradas como área de transição entre a terra e o mar. O Litoral Norte pode ser
considerado um dos segmentos da Zona Costeira no Rio Grande do Sul. Esta Zona Costeira,
para Moura et all (2015, p.595) caracteriza-se por “apresentar uma planície sedimentar
recente, do período Cenozóico, com variados ecossistemas de grande suscetibilidade.” A
paisagem, ainda em transformação, apresenta um conjunto de feições geomorfológicas sob

2
condições de clima subtropical úmido costeiro em que se destacam as barreiras de dunas, os
banhados, o cordão de lagoas e a escarpa do planalto, conferindo um cenário diferenciado.
De tal modo que, essa região já é conhecida como um destino turístico de sol e praia para
os gaúchos. Porém, a região do Litoral Norte apresenta uma paisagem diversificada,
distingue-se pela sequência de ambientes longitudinais à costa, chegando até as escarpas do
Planalto Meridional. Após a área de interface com o mar, identifica-se uma planície
sedimentar costeira, composta por dunas, seguidas pelo cordão de lagoas litorâneas até o
contato com a escarpa do Planalto Meridional, entalhada pelos vales dos rios Maquiné e
Três Forquilhas (Moura et all 2015).

Para a realização da presente pesquisa, foi utilizado a técnica de coleta de informações,


análise e interpretação de caráter qualitativo e quantitativo, fundamentadas em fontes de
dados primárias e secundárias. O levantamento de dados secundários contempla pesquisa
bibliográfica. Os dados obtidos por informações de ordem primária foram levantados em
duas visitas a campo, realizadas em setembro e novembro de 2016. Os empreendedores do
turismo em áreas rurais foram listados através do Conselho Regional de Desenvolvimento
[COREDEs], dos quais foram concluídas oito entrevistas até o momento com
empreendedores de turismo nos municípios de Caraá, Maquiné, Osório, Três Cachoeiras e
Terra de Areia.

Além de apresentar no Quadro 1, um panorama geral sobre os tamanho da área,


empreendedores e origem da renda dos empreendedores. As áreas das propriedades também
são muito distintas permeando entre 1 a 100 hectares, onde a maioria dos proprietários são
do gênero masculino (62%), porém quando se trata da atividade de turismo a
responsabilidade é em 50%, das mulheres.

3
Quadro 1 – Panorama das propriedades rurais que trabalham com turismo

Entrevistado 1 2 3 4 5 6 7 8
Município Caraá Maquiné Maquiné Osório Osório Três Cach Três Cach Terra Areia

Hectares de terra 45,0 50,0 10,0 1,0 1,5 49,0 22,6 100
Proprietário (a) F M M M F M M F
Responsável pelo F M M M F F M F
turismo na propriedade
Agropecuária 10 10 - - - 70 60 80
Renda Turismo 90 90 20 100 10 30 40 20
% Outra atividade - - 80 - 90 -

Fonte: Elaborado pelos autores

O turismo é considerado como fonte de renda e uma forma de agregar valor, o que foi
observado nos sete emprenhadores(as) do turismo no espaço rural. Também vale ressaltar
que sete dos empreendedores continuam com as demais atividades entre rurais, teatro e
massoterapia. Apenas um tem como única fonte de rendo o turismo, como pode ser
observado no quadro 1. Nesse sentido, vale lembrar Ruschmann (2001), que apresenta o
turismo rural como uma alternativa e que não como a solução para todos os problemas do
meio rural.

As principais motivações que levaram os empreendedores a trabalhar com turismo foram:


área de terra ociosa, aumentar a renda e agregar valor, mudar de vida, beleza natural da
propriedade, para morar no local e por ter contato com o proposta de turismo rural de Porto
Alegre. Permanecem ainda na atividade de turismo porque gostam de receber e trabalhar
com pessoas, por opções de outro estilo de vida, por gostar de estar junto à natureza, porque
gosta de trocar ideias com os turistas, por gostar de trabalhar com crianças e por ter
contribuído com a autoestima.

Os empreendimentos oferecem diferentes serviços de turismo como: alimentação (três


empreendimentos), hospedagem (cinco empreendimentos) e cada empreendimento realiza
diferentes atividades durante o dia. Nas atividades podemos destacar cursos na área de

4
permacultura, cursos esotéricos, cursos sobre chás, ecoterapia, atividades de recreação e
pedagógicas para crianças, corrida de cavalos, áreas para banho de rio, lagoa ou piscina,
passeios a cavalo, passeios de barco, observação de pássaros e trilhas.

A região já tem atividades de turismo sol e praia e desenvolvendo outras atividades de


turismo, como o turismo no espaço rural. Com a pesquisa realizada até o momento foi
possível observar que a (3) das propriedades possuem produção agropecuária. A outra (5)
apesar de estarem situadas no espaço rural, não desenvolvem atividades agropecuárias. A
pesquisa também mostrou que a região trabalha com diferentes atividades de lazer e
pedagógicas, além de oferecer hospedagem e alimentação.

REFERÊNCIAS

Akimova, O.E.; Volkov, S. K.; & Poluyufta, L.V. (2015). Business activity in tourism in
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