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Leonardo Reichert1
Rosane Maria Lanzer2
RESUMO
O turismo em áreas naturais é um dos segmentos que mais cresce em todo o mundo. O
Brasil, um país megadiverso, possui aptidão para o desenvolvimento de modalidades
turísticas com base na natureza. Além disso, o patrimônio natural do país inclui uma das
maiores disponibilidades hídricas do mundo, englobando rios, lagoas e lagunas. Na Planície
Costeira do Rio Grande do Sul, existem cerca de 100 lagoas que, a exemplo de outros
ambientes lacustres no mundo, podem vir a se tornar atrativos turísticos. Osório, município
situado no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, compreende em seu território, um dos
maiores complexos lagunares do Brasil. O presente estudo teve como objetivo verificar a
opinião dos visitantes sobre o desenvolvimento turístico das lagoas costeiras de Osório.
Para tal, foram selecionadas quatro lagoas: Lagoa dos Barros, Lagoa do Marcelino, Lagoa
do Peixoto e Lagoa do Horácio. O levantamento de dados foi feito por meio de entrevistas,
coletando informações sobre o desenvolvimento turístico, com os visitantes destas lagoas.
A identificação da opinião dos usuários das lagoas é de grande relevância ao estudo do
potencial turístico e fornece subsídios para o desenvolvimento do uso sustentável. Os
resultados do estudo apontaram que os usuários percebem a necessidade de melhorias
específicas nas lagoas, que vão desde a implementação de infraestrutura até a recuperação
da qualidade da água.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Lagoas Costeiras, Opinião dos Visitantes, Osório-RS.
1
Mestre em Turismo (UCS). Aluno especial do Mestrado Profissional em Educação e Tecnologia do Instituto
Federal Sul-Rio-Grandense. Currículo: http://lattes.cnpq.br/5422185547490750. E-mail:
turismologoleonardo@gmail.com
2
Doutora. Professora e pesquisadora do Programa e Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade,
Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. Currículo: http://lattes.cnpq.br/9755173164706296
E-mail: rlanzer@ucs.br
1
RESUMO EXPANDIDO
O turismo em áreas naturais é uma modalidade que, cada vez mais, ganha destaque em todo
o mundo. Os elevados níveis de poluição, o caos na mobilidade urbana, a desigualdade
social e a violência nas grandes cidades são alguns aspectos que vem motivando a
valorização das paisagens naturais (Souza & Oliveira, 2012). A natureza intocada, ao
mesmo tempo em que é almejada, necessita de adequações para suprir as necessidades de
consumo e segurança dos turistas – estradas, hospedagem, serviços de alimentação e
bebida, lixeiras, sanitários, entre outros (Lobo & Moretti, 2008).
Maranhão e Azevedo (2014) e Brito e Sá (2014) afirmam que o planejamento turístico deve
ser participativo, ou seja, primar pela participação de todos os envolvidos. Acredita-se que,
além do interesse do poder público, da iniciativa privada e da comunidade local, o
3
Os países megadiversos abrigam a maioria das espécies do Planeta Terra (MMA, 2017).
2
planejamento turístico deve atender as necessidades da demanda turística. Desta forma, o
presente estudo tem por objetivo identificar, por meio da opinião dos visitantes, a situação
do turismo junto às lagoas, fornecendo contribuições à gestão destes recursos hídricos.
Foram selecionadas quatro lagoas que possuem uso turístico em espaços públicos: Lagoa
dos Barros, Lagoa do Marcelino, Lagoa do Peixoto e Lagoa do Horácio, cada uma
apresentando características ecológicas próprias e distintos níveis de desenvolvimento
turístico. O levantamento de dados foi feito por meio de entrevistas com 20 visitantes por
lagoa, totalizando 80 entrevistados, escolhidos ao acaso, entre dezembro de 2014 e janeiro
de 2015. O roteiro da entrevista, além de identificar o perfil do visitante e a sua opinião
acerca do turismo no município, coletou informações sobre fatores determinantes do
desenvolvimento turístico da lagoa: condições de acesso; qualidade da água; serviços
turísticos; infraestrutura; preservação dos recursos naturais; sensibilização ambiental;
presença de visitantes e importância da lagoa.
4
De acordo com a OMT (2016) um visitante se classifica como turista (caso a sua viagem inclua pelo menos
um pernoite no destino) ou como excursionista, não havendo pernoite no destino.
3
As principais rodovias de acesso a Osório – BR 101, BR 290, RS 389,
RS 030 e RST 101 – foram avaliadas pela grande maioria dos entrevistados como boas ou
excelentes. Entre os aspectos negativos do acesso foram citados a insuficiência de
sinalização turística e a inexistência de um pórtico de entrada na cidade. Os
empreendimentos de hospedagem não foram bem avaliados pelos visitantes. Por outro lado,
os serviços de alimentação e bebida foram avaliados positivamente, ainda que, somente
dois empreendimentos gastronômicos destacaram-se como aptos para receber o turista. Por
fim, os entrevistados afirmaram que a comunidade de Osório necessita de cursos e
atividades de sensibilização e educação para o turismo, o que pode melhorar a hospitalidade
e incentivar o empreendedorismo no setor.
A Lagoa dos Barros, uma das maiores lagoas da região, está situada nos municípios de
Osório e Santo Antônio da Patrulha e reúne condições de vento propícias para práticas de
esportes aquáticos como kitesurf e windsurf. Junto a Lagoa dos Barros foi implantado o
Parque Eólico de Osório, o qual fornece um complemento à paisagem. O acesso à lagoa é
um ponto forte na opinião dos visitantes. Por outro lado, a carência de infraestrutura é um
obstáculo a ser enfrentado. Os visitantes citam a insuficiência de sanitários, lixeiras e coleta
de lixo, além da inexistência de salva-vidas como as principais lacunas. A precariedade na
oferta de alimentos e bebidas no local e a inexistência de ações e instrumentos de educação
ambiental também foram citadas. Por outro lado, a qualidade da água recebeu a melhor
avaliação entre as lagoas. Além do uso da água para a irrigação de plantações de arroz,
relatos destacam a Lagoa dos Barros como um local de lazer diferente da praia.
4
que conta com trapiche, pista de skate, academia ao ar livre, playground e o “Memorial das
Águas” – uma exposição permanente com o tema navegação lacustre. A infraestrutura junto
à lagoa foi muito elogiada, o que evidencia a satisfação dos usuários com a construção do
complexo de lazer junto à margem.
5
Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler-RS.
5
por parte do poder público. O acesso ao camping foi avaliado positivamente pela maioria
dos visitantes. A presença de sinalização turística, embora insuficiente, corrobora com a boa
avaliação da acessibilidade à lagoa. O caráter temporário da lancheria do camping, em
funcionamento somente na alta temporada, motivou relatos negativos. Alguns entrevistados
lembram que no passado existia uma infraestrutura permanente de apoio ao turismo. A
presença de churrasqueiras e a restrição de estacionamento dos automóveis na Área de
Preservação Permanente da Lagoa do Horácio são fatores identificados como positivos
pelos visitantes. Por outro lado, a inexistência de sensibilização ambiental, na opinião dos
visitantes, é um dos principais pontos negativos.
As atividades que não emitam poluentes devem ser incentivadas nas lagoas, pois são mais
compatíveis com as suas características ecológicas (RAMOS; LANZER, 2013). Diversas
atividades turísticas brandas foram identificadas nas lagoas do Rio Grande do Sul: banhos,
pesca esportiva, contemplação da paisagem, esportes aquáticos (natação, kitesurf, windsurf,
stand up paddle) e passeios em embarcações de pequeno porte. Atividades ligadas ao
ecoturismo, turismo científico e educação ambiental também podem ser desenvolvidas, a
exemplo de trilhas interpretativas e observação da fauna e flora (Rudzewicz; Teixeira &
Lanzer, 2009; Ramos & Lanzer, 2013). A observação de aves (birdwatching), por exemplo,
é uma atividade que pode ser desenvolvida em Osório. Dias (2011) aponta que o turismo de
observação de aves, além de elevar a consciência ecológica do visitante é um importante
instrumento de sensibilização ambiental e geração de renda para a população residente. De
acordo com Gil (2016), Osório possui um grande potencial para o desenvolvimento do
turismo de aventura, especialmente com atividades ligadas a água e ao vento, características
naturais relevantes no município.
6
O planejamento das áreas naturais para o uso público, definindo as atividades permitidas
naquela área e contemplando os princípios de capacidade de carga turística, é essencial
(Limberger & Pires, 2014). Um plano de manejo para o uso das lagoas poderia contribuir
com um zoneamento de uso dos corpos hídricos, elencando áreas de uso intensivo e áreas
destinadas à preservação, onde somente atividades de educação ambiental fossem
desenvolvidas.
Neste estudo foram apontados pelos entrevistados diversos aspectos que demonstram
deficiências no desenvolvimento turístico, quer pela gestão pública, privada e/ou pelos
próprios usuários. Na opinião dos entrevistados, as principais melhorias necessárias para
fomentar o turismo nas lagoas vão desde a implementação de infraestrutura até a
recuperação da qualidade da água.
Acredita-se que a identificação da opinião dos usuários das lagoas é de grande relevância
ao estudo do potencial turístico e pode contribuir com o planejamento do uso destes
recursos naturais. Estando o turismo lacustre aliado ao desenvolvimento turístico de outros
recursos naturais (praias, morros, cascatas), Osório pode vir a se tornar um reconhecido
polo de turismo com base na natureza. Para tanto, é necessário um planejamento contínuo e
participativo do turismo. Este planejamento deve englobar todos os envolvidos no processo
(poder público, trade turístico, comunidade local e visitantes) e aliar a conservação do
recurso natural com atividades de turismo, sensibilização e educação ambiental.
REFERÊNCIAS
Brito, C.M.O.; & Sá, H.S.F. (2014). Planejamento turístico: estudo de caso da cidade de
Belém (PA). Revista Brasileira de Ecoturismo 7(1), 138-150.
7
Cavalcante, L. S. & Pires, P. S. (2015). O Parque Nacional do Viruá (RR) e a possibilidade
da criação de uma Estrada-Parque no seu entorno. Revista Brasileira de
Ecoturismo, 8(4), 372-389.
Cooper, C. (2006). Lakes as tourism destination resources. In: Hall, C. M. & Härkönen, T
(Eds). Lake tourism: an integrated approach to lacustrine tourism. Channel View
Publications.
David, L. et al. (2012). Lake tourism and global climate change: an integrative approach
based on finnish and Hungarian case-studies. Carpathian Journal of Earth and
Environmental Sciences, 7(1), 121-136.
Gössling, S. (2001). The consequences of tourism for sustainable water use on a tropical
island: Zanzibar, Tanzania. Journal of Environmental Management, 61(2), 179-
191.
8
Maranhão, C. H. S. & Azevedo, F. F. (2014). Os processos de planejamento e gestão do
turismo em Natal (RN) e o fomento do turismo de base local: uma articulação
necessária. Revista Brasileira de Ecoturismo, 7(1), 103-118.
Ramos, B. V. C. & Lanzer, R. (2013). Gestão dos recursos hídricos dos municípios de
Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul: recursos turísticos. Caxias do Sul,
RS: Educs.
Rudzewicz, L., Teixeira, P. & Lanzer, R. M. (2009). Recursos hídricos e Turismo no Litoral
Médio e Sul do Rio Grande do Sul. In: Schäfer, A; Marchetto, C. & Bianchi, A.
(Org.). Recursos hídricos dos munícipios de Mostardas, Tavares, São José do
Norte e Santa Vitória do Palmar: manual de gestão sustentada. Caxias do Sul,
RS: Educs.
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DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) - ESTRADA
PARQUE PIRAPUTANGA/MS: PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO
TURÍSTICO-RECREATIVO
Eva Teixeira Santos1
Eros Salinas Chavez2
Lidiane Perbelin Rodrigues3
Lucy Ribeiro Ayach4
RESUMO
1
Doutora. Professora na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/1665424997463279. E-mail: evasantos.ufms@gmail.com
2
Doutor. Professor na Universidade de La Havana, Cuba. E-mail: salinaschavezeros@gmail.com
3
Mestranda. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/6889041515723962 E-mail: lidiane_perbelin@hotmail.com
4
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Brasil. E-mail: luayach@terra.com.br
1
RESUMO EXPANDIDO
A Área de Proteção Ambiental (APA) Estrada Parque Piraputanga foi criada pelo Decreto
Estadual nº 9.937, de 05 de junho de 2000 e compreende um trecho de 42,5 quilômetros
contínuos de estrada entre Aquidauana e Dois Irmãos do Buriti, sendo que destes, parte está
pavimentada e outra em fase de pavimentação, totalizando uma área 10.108 hectares. Tal
unidade foi criada com o objetivo de proteger o conjunto paisagístico, ecológico e histórico
cultural, promover a recuperação da bacia hidrográfica do Rio Aquidauana, e formações da
Serra de Maracaju, compatibilizando-as com o uso racional dos recursos ambientais e
ocupação ordenada do solo, garantindo qualidade ambiental e de vida das comunidades
autóctones.
A APA localiza-se entre os paralelos 20º 28' 00" e 20º 31’ 30" S e meridianos 55º 27` 30" e
55º 38` 00" W, abrangendo áreas dos distritos de Camisão e Piraputanga (Aquidauana) e
Palmeiras (Dois Irmãos do Buriti) MS. De acordo com dados do IBGE (2010) o Distrito de
Camisão possui população de 665 habitantes, Piraputanga com 673 habitantes e Palmeiras
com 1235 habitantes. A área possui usos distintos, sendo a maior parte ocupada por
pastagens e cultivos de subsistência. Ao longo da Estrada situam-se alguns atrativos como
as cachoeiras do Rio Aquidauana e alguns afluentes, balneários, pesqueiros, dentre outros
(Figura 1).
2
A área apresenta beleza cênica singular e atrativos naturais, constitui-se de Cerrado e serras,
sendo hábitat de inúmeras espécies de animais. Os afluentes da bacia do Rio Aquidauana na
margem direita ao longo da Estrada Parque são os córregos: Morcego, Paxixi, das Antas,
Piraputanga, Benfica, Ribeirão Vermelho, Laranja e o Rego, além de outros temporários. De
acordo com Silva (1996); Barros (2000); Fundação Sos (2004); Soriano (2006) existem
diferentes definições institucionais para definir a Estrada Parque. Sendo que todas elas
apresentam os seguintes aspectos em comum: são áreas de conservação lineares,
relacionadas com estradas de alto valor panorâmico, cultural ou recreativo (asfaltadas ou
não asfaltadas); áreas que incluem a proteção do entorno destas vias, com objetivo de evitar
obras que desfigurem o meio ambiente: natural, seminatural ou cultural; áreas de altos
valores patrimoniais, naturais, histórico-culturais e socioeconômicos; áreas de domínio
público e privado.
O termo paisagem tem significados diferentes, o que não é a razão para este artigo discutir
(Nogue, 1992, Mateo, 2008, Salgado, 2016, Salinas; Remond, 2015). Um deles, como
unidade ambiental, relaciona paisagem com campo das ciências naturais com uma profunda
tradição geográfica e ecológica e que, principalmente, se baseia na ideia das inter-relações e
interdependências de todos os fenômenos naturais da superfície terrestre. O outro
significado define a paisagem como: Uma percepção do meio ambiente com certa conotação
estética a respeito, a paisagem é essencialmente um inspirador de sentimentos e afeições.
Desta forma, a paisagem é ao mesmo tempo na natureza que nos rodeia e no interior de
nossas mentes, no mundo do objetivo e do subjetivo (Salinas & Izquierdo, 1988). Estas
características ou elementos comuns presentes em tais definições da Área de Proteção
Ambiental – Estrada Parque conduziu ao objetivo principal deste trabalho: avaliação
turístico-recreativa dos distintos trechos da Estrada e de alguns mirantes potenciais
existentes na mesma, com a aplicação de procedimentos metodológicos não complexos de
investigação que permitam caracterizar o valor estético das paisagens observadas pelos
visitantes, ao deslocar-se ao longo desta área protegida.
O presente estudo é qualitativo, descritivo e tem caráter analítico e projetivo (Rodríguez, Gil
& García, 2006), cujo objetivo é propor, com base nos resultados, recomendações para a
3
conservação e desenvolvimento da APA Estrada Parque Piraputanga, com base no uso
turístico-recreacional do território. Na fase teórica, foram aplicadas técnicas de coleta de
informações primárias e secundárias, tais como: revisão bibliográfica em áreas de
planejamento de áreas turísticas e história socioeconômica dessas populações localizadas na
área de proteção. A análise documental também foi usada para coletar informações
primárias: entrevistas com empresários locais; proprietários de fazendas; consultas com
professores e pesquisadores em turismo e recreação; autoridades públicas, religiosas e
políticas das comunidades e municípios e população residente.
A seleção das principais informações dentro e fora do território, uma tarefa complexa, foi
baseada em: o conhecimento aprofundado das áreas estudadas e sua história
socioeconômica; anos de experiência no assunto pesquisado e/ou residência em território;
seu interesse real nos resultados da pesquisa e "boa vontade" por fornecer informações e
avaliar as características que lhes são expostas. As técnicas utilizadas durante a fase prática
da pesquisa são: observação direta, análise da matriz SWOT e um inventário de recursos
turísticos.
As viagens de campo foram realizadas na área de estudo, entre julho e agosto de 2017, para
realizar um levantamento dos atrativos turísticos e recreativos existentes, os que atualmente
estão sendo explorados, as características próprias uso deles e outros com potencial
existente e valioso que poderiam ser explorados no futuro. Inventário de instalações de
hospedagem e recreação. Com base em um mapa elaborado de zoneamento de uso da terra,
foi proposto um conjunto de ações que são necessárias para implementar para alcançar um
desenvolvimento sustentável do território, que tem entre suas bases o turista- recreação e
melhoria da qualidade de vida da população.
Como novidade, foi realizada uma avaliação in situ, do ponto de vista turístico-
recreacional, da percepção estética das paisagens observadas da estrada e dos pontos de
observação (mirantes). Baseia-se na premissa de que o turista observa, descobre a paisagem
de forma contínua ao circular ao longo de um itinerário (Salinas et al., 1979). Cada seção do
itinerário é constituída por sequências de pontos de vista, de cada uma das quais é possível
4
observar diferentes paisagens. Para isso, foram aplicados dois métodos simples e práticos,
que nos permitem fazer essas avaliações e que fazem parte da pesquisa. (Raveneau, 1977,
Salinas; Serrate, 1993; Salinas et al., 1986; & Salinas, 2013). A análise da estrada
estudada que corresponde a Área de Proteção Ambiental (APA) – Estrada Parque
Piraputanga, foi realizada em diferentes trechos, desde a junção com a estrada que vai até a
UEMS - Camisão- Piraputanga - Palmeiras até seu entroncamento com a rodovia para
Campo Grande (BR 262). Esta avaliação foi feita através da relação de dois parâmetros
fundamentais: amplitude do ângulo visual e posição do observador em relação à paisagem
(Salinas, 2013).
No caso dos pontos de observação (mirantes) para a sua caracterização, utilizaram-se sete
variáveis, algumas dessas variáveis podem ser avaliadas de forma mais objetiva e outras
exigem critérios subjetivos, mas esse fato não prejudica ou diminui os resultados que podem
ser obtidos, sempre que os pesquisadores sabem o que fazem e estão suficientemente
treinados. As variáveis utilizadas foram as seguintes: ângulo de visibilidade; visibilidade;
número de planos observados; total de paisagens observadas; excepcionalidade do
panorama; paisagem colorida e objetos antrópicos que tornam difícil a ver (ver escala de
classificação). Em outras ocasiões, os autores adicionaram a estas características duas outras
variáveis importantes a serem consideradas: acessibilidade à vigia e altura do ponto. As
variáveis não são aplicáveis nestes pontos de vista porque a acessibilidade é boa em todos os
casos e a altura não é considerada, pois não há diferenças notáveis entre os sites avaliados
pelas características topográficas do território.
Cada uma dessas variáveis foi avaliada em uma escala dos pontos 1 a 5 (Mironienko; &
Tverdojlebov, 1981), onde 5 é a avaliação mais alta da característica considerada e 1 a mais
baixa. A avaliação turística-recreacional da paisagem observada tanto nas estradas como nos
pontos de observação (mirantes) foi realizada por cada um dos autores de forma
independente, durante as viagens de campo, os resultados foram calculados para os pontos
de vista e discutidos para obter um resultado final no caso de as diferentes seções da estrada.
5
Durante o levantamento preliminar, foram identificadas duas áreas com potencial para
balneário, sendo que uma delas localiza-se no Córrego das Antas (Piraputanga) e apresenta
sinais de deterioração e abandono, cujas instalações indicam que está há alguns anos sem
exploração comercial. A outra área, apesar de estar fora dos limites da APA, localizada no
alto curso do Córrego Morcego (Camisão), apresenta condições favoráveis para banho, além
de beleza cênica e paisagística ao longo do caminho (Figura 2).
Figura 2: Infraestrutura, uso turístico e percepção da paisagem – APA Estrada Parque Piraputanga
Fonte: Perbelin, 2017
6
A observação de aves é outra atividade recreativa ligada à natureza que pode ser realizada.
É possível realizar a observação das paisagens, no itinerário ao longo da estrada, bem como
em alguns pontos com visão panorâmica. A diversidade da paisagem é atraente,
especialmente as encostas íngremes, contrastantes e íngremes sem vegetação (penhascos)
com drenagem fluvial (córregos permanentes) com uma floresta densa e áreas planas com
gramados, ramos de árvores isoladas e fazendas dispersas, Esses contrastes na paisagem
observada constituem uma atração significativa para os visitantes.
REFERÊNCIAS
7
Mironienko N.S.; & Tverdojlebov, L.M. (1981) Geografía recreativa. Moscú: Editorial
Nauka.
Nogué, J. (1992). Turismo, percepción del paisaje y planificación del territorio. Estudios
Turísticos, 115, 45-54.
Salinas, E. D. & Remond, R. (2015). El enfoque integrador del paisaje en los estudios
territoriales: experiencias prácticas. En: Garrocho, C.; & Buzai, G. (ed) Geografía
Aplicada en Iberoamérica: Avances, retos y perspectivas, México, p. 503-543.
Salinas, E.R. (2013). Geografía y Turismo. Aspectos territoriales del manejo y gestión del
turismo. La Habana: Editorial Félix Varela.
Salinas, E.R. et al. (1979). Evaluaciòn estética de los paisajes de Viñales para su
aprovechamiento turístico. La Habana: Instituto Nacional de Turismo.
Salinas, E.R. & Serrate, E. (1993). Caracterización turística de los miradores. Estudios y
Perspectivas en Turismo, 2(1), 48-52.
Salinas, E.R. & Izquierdo, M. (1988). Apreciación estética del paisaje. Revista Temas, 15.
8
GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EM MEIOS DE HOSPEDAGEM:
1
RESUMO EXPANDIDO
Com relação à perspectiva ambiental, por exemplo, Ferrari (2006) destaca que o
conhecimento a ser construído sobre a sustentabilidade ambiental nos meios de
hospedagem tem relevância científica, em virtude do preenchimento de lacunas existentes
em estudos sobre o tema, nos programas de Pós-Graduação de Turismo e Hotelaria. Em seu
estudo, a autora concluiu que há carência de programas de sensibilização e de práticas
ambientais nos meios de hospedagem, fruto de desconhecimento e acomodação frente aos
benefícios advindos de ordem não somente ambiental, mas também de ordem econômica e
sociocultural (Ferrari, 2006). As considerações de Azorin et al.(2015), referindo-se às
mudanças sociais e econômicas trazidas pelo turismo internacional, sugerem reflexões por
parte de gestores da rede hoteleira, a fim de promoverem respostas aos desafios
competitivos do turismo, através da melhoria contínua, da qualidade e da sustentabilidade.
Os aspectos econômicos são destacados por Souza (2014), em sua pesquisa realizada com
gestores e hóspedes em Hotéis-Fazenda, localizados na Região do Agreste de Pernambuco.
O autor concluiu que 55% dos hóspedes estariam dispostos a pagar mais caro por um
serviço hoteleiro que priorizasse as práticas ambientais (Souza, 2014). Também Freitas e
Almeida (2010) afirmam, em sua pesquisa, que 66% dos hóspedes se dispõem a pagar um
pouco mais por um meio de hospedagem que adote sistemas e práticas ambientais
sustentáveis. Ainda com relação à situação das empresas frente a dimensão ambiental,
Moura (2014) afirma que por exigência do mercado e também graças à evolução dos meios
de comunicação, foi constatado que demonstrar qualidade ambiental é importante e há um
2
crescente interesse em melhorar o desempenho ambiental, visto que a preocupação com o
meio ambiente é vista como um fator estratégico de competitividade.
Sabe-se que uma organização pode ter diferentes sistemas de gestão, como, por exemplo,
um sistema de gestão da qualidade. A determinação de um sistema de gestão tem o intuito
de estabelecer a política e os objetivos da organização. Nesse sentido, um sistema de gestão
da sustentabilidade pode ser considerado uma forma de estabelecer requisitos para gerir e
controlar uma determinada empresa com relação aos aspectos da sustentabilidade (ABNT,
2014). Para Valle (2012), uma organização também deve contribuir para a qualidade de
vida dos colaboradores e da localidade onde atua. Juntamente com a imagem
ambientalmente responsável, essa atuação poderá ser um fator determinante para a
sustentação da empresa. É necessário que todas as pessoas envolvidas em uma determinada
organização, ou seja, dirigentes, administradores, operadores, terceirizados e prestadores de
serviços em geral, devem saber identificar os aspectos e impactos ambientais gerados pelas
atividades produtivas da empresa, conforme destaca Valle (2012).
Diante disso, o objetivo do presente estudo é analisar a produção científica acerca da gestão
da sustentabilidade em meios de hospedagem, por meio das dissertações e teses dos
Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da área de Turismo vigentes no Brasil. A
presente pesquisa caracteriza-se como exploratória e descritiva. De acordo com Schlüter
(2005) a função do projeto exploratório é descobrir novas ideias e novas perspectivas. A
autora afirma ainda que “estudos exploratórios são suficientemente flexíveis para permitir
considerar os mais variados aspectos do problema de pesquisa.” (Schlüter, 2005, p. 72). Foi
realizada busca on-line no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, por meio da Plataforma Sucupira,
utilizando-se a palavra-chave “meios de hospedagem” e filtrando pela instituição de ensino
superior e pelo nome do programa de pós-graduação. Assim, a partir desse critério de
busca, foram analisadas as teses e/ou dissertações que possuem meios de hospedagem
como objeto de estudo.
3
Em consulta à Plataforma Sucupira (2017) foram identificados 12 Programas de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Turismo no país. As instituições, o ano de fundação dos
programas e os níveis constam na Tabela 1.
Ano de
Número IES UF Programa Nível
início
Foi possível observar que dos doze programas, cinco não possuem teses e/ou dissertações
com os meios de hospedagem como objeto de estudo, ou seja, 41,6% do total. É válido
destacar que alguns desses programas que não apresentaram nenhum trabalho nessa busca,
são programas que foram recentemente implantados. Observou-se, então, que sete
programas possuem teses e/ou dissertações acerca dos meios de hospedagem,
representando 58,3% do total. Os sete programas totalizam 64 teses e/ou dissertações.
Dentre eles, destacam-se o Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade da Universidade
Anhembi-Morumbi (UAM) e o Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da
4
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), com vinte trabalhos cada um, ou seja, juntos
representam 62,5% do total. Entretanto, ao analisar a totalidade de trabalhos sobre meios de
hospedagem sob a ótica da gestão da sustentabilidade, tem-se 17 dissertações inerentes ao
tema, representando 26,5% do total. Evidenciou-se que não há teses publicadas acerca do
tema analisado.
5
As principais medidas apontadas pelos hóspedes para a minimização do consumo de água
são as torneiras com fechamento automático ou com restritores de vazão, reuso de toalhas
de banho e troca de roupas de cama em dias alternados. De acordo com as informações dos
hóspedes, os meios de hospedagem em que eles se hospedam, eventualmente
disponibilizam informações sobre a racionalização e a minimização no consumo de água e
outros recursos naturais (Zocholini, 2016). Já na dissertação “Ações de sustentabilidade
ambiental em meios de hospedagem do Roteiro Turístico Vale dos Vinhedos” o
questionário aplicado aos gestores de meios de hospedagem buscou informações sobre:
redução no consumo de energia elétrica; aumento de eficiência energética; redução do
consumo de água; gestão de resíduos sólidos; pesquisa de satisfação de hóspedes sobre os
serviços ofertados; critérios ambientais de seleção de fornecedores; medidas para minimizar
a emissão de ruídos, gases e odores; programas de capacitação para colaboradores e de
sensibilização para hóspedes e tratamento de efluentes e certificação ambiental por
organismo especializado (Foletto, 2016).
6
REFERÊNCIAS
Azorin, J. F., Tarí, J. J., Pereira-Moliner, J., Lopez-Gamero, M. D., & Pertusa-Ortega, E.
M. (2015).The effects of quality and environmental management on competitive
advantage: A mixed methods study in the hotel industry. Tourism Management, 50,
41-54.
7
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/
quantitativoIes.jsf?areaAvaliacao=27&areaConhecimento=61300004
Valle, C. E. do. (2012). Qualidade ambiental: ISO 14000. São Paulo: Senac.
8
INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE NO TURISMO - UMA ANÁLISE
ATRAVÉS PENSAMENTO ECONÔMICO AMBIENTAL
RESUMO EXPANDIDO
1
como identifica-los com as duas principais correntes do pensamento econômico ambiental -
a convencional ou neoclássica e a ecológica, é a proposição deste trabalho e, para tanto,
apresenta uma revisão bibliográfica desenvolvida em dois tópicos que versam sobre
indicadores de sustentabilidade e, atendendo as proposições, em um tópico conclusivo,
realiza-se as identificações que nos dizem que, no turismo, os indicadores são voltados
prioritáriamente as questões ambientais, estão elencados dentro da economia convencional,
apresentando nível ‘fraco-sensatos’, além de inserido no modelo ‘pressão, estado,
resposta’.
Na sustentabilidade forte temos uma concepção que acredita que somente a paralisação de
qualquer exploração natural permitirá o desenvolvimento. A sustentabilidade sensata admite
a exploração do capital natural, porém conhecendo os limites de uso recursos. As
concepções forte e sensata estão presentes nas versões mais ecológicas do debate ambiental
– ecologistas profundos e economistas ecológicos. Para esses, o meio ambiente tem valor
em si e esse valor é aquele que permite manter, perpetuar e desenvolver as funções do
ecossistema global.
Quanto aos indicadores, Mitchell (1997) nos diz que eles devem permitir a obtenção de
informações sobre uma dada realidade, podendo sintetizar um conjunto complexo de
informações e servir como um instrumento de previsão. Para Bryn van Druinen (1999 apud
Mathis, 2002) “um indicador de sustentabilidade é a representação quantitativa de certo
parâmetro que fornece informações sobre um fenômeno que é importante para o
2
desenvolvimento sustentável” (p.11). Assim, temos que um indicador é um meio
encontrado para reduzir uma ampla quantidade de dados a uma forma mais simples de
informação, retendo o significado essencial do que está sendo perguntado. Suas funções
básicas são: Simplificação, quantificação e comunicação. Quanto a natureza, os indicadores
economicos, geralmente, quantificam em valores absolutos, percentuais, monetários ou
financeiros. Já os indicadores sociais inclinam-se tanto para a quantificação e,
principalmente, para a qualificação.
3
relativos aos aspectos físicos, químicos, biológicos e sociais. Além destas sistemáticas
temos, entre outros, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de
Desenvolvimento Social (IDS) e o Índice de Desenvolvimento Social e Ambiental (IDSA),
que é um ajuste ecológico do IDS através de indicadores ambientais. (Montibeller, 2001).
Os indicadores podem ser de âmbito global, regional ou específico. No que tange aos
indicadores globais, esses reúnem informações a respeito de parâmetros mais abrangentes
do planeta. De acordo com Boog e Bizzo (2003), os indicadores globais foram classificados
em indicadores de pressão, que são indicadores de atividades, processos e padrões humanos
que impactam o desenvolvimento sustentável; indicadores de estado que indicam a
situação do desenvolvimento sustentável e indicadores de reação ou de resposta que
indicam as atuações e opções humanas que visam alcançar o desenvolvimento sustentável.
Com relação aos indicadores regionais, eles oferecem dados e informações mais focadas a
respeito das condições de uma determinada área geográfica e são encontrados sob
diferentes lócus, ou segmentados por área político-administrativa ou por área de interesse.
Esses indicadores usam o mesmo modelo “PSR – Pressure, State, Response” (pressão,
estado, resposta), da mesma forma que os indicadores globais (Boog & Bizzo, 2003).
Quanto aos indicadores específicos, esses oferecem dados e informações específicas sobre
determinado tema. Entre o rol de possíveis indicadores específicos podemos incluir o
turismo, embora saibamos que este abarca uma significativa quantidade de elementos e
atores sociais, podendo os indicadores ser adotados também em lócus global e regional.
Construir um conjunto de indicadores para que o turismo continue viável no longo prazo,
não é uma tarefa fácil e as principais dificuldades, segundo Brasil Jr. (2002), são: a escala
espacial ante os problemas globais, regionais e locais; a abordagem integrada: econômica,
sociocultural e ambiental; a mensuração da sustentabilidade que, por ser um conceito amplo
e complexo, envolve diferentes escalas de sustentabilidade - de territórios a
empreendimentos; o seu caráter relativo; o conflito de interesses que envolvem a intrincada
4
rede de relacionamentos dos mais de 52 setores que compõem a sua cadeia econômica, com
ampla gama de necessidades e expectativas de diferentes.
A partir destes principios a Agenda 21 para as viagens e o turismo diz que as ações e
políticas para o turismo precisam contemplar duas vertentes: minimizar os impactos
negativos gerados pelo turismo na sociedade e no meio ambiente, e maximizar o potencial
turístico, contribuindo para a economia local, para a conservação dos recursos naturais e
socioculturais, promoverndo uma melhor qualidade de vida para as populações locais e os
visitantes. Para balizar as condutas dos diversos atores nesse processo, a OMT publicou em
2001, entre outros documentos, o Código Mundial de Ética do Turismo. E, com a finalidade
de auxiliar na tomada de decisões em todos os níveis de planejamento, lançou, também, o
guia ‘Guidebook on Indicators of Sustainable Development for Tourism Destinations’
contendo mais de 300 indicadores. (Beni, 2004).
Dentre estes indicadores, destacamos para esta análise os indicadores chaves, que são:
proteção do local, pressão sobre o local, intensidade de uso, impacto social, controle do
desenvolvimento, gestão de dejetos, processo de planejamento, ecossistemas críticos,
satisfação do turista, satisfação da população local, contribuição do turismo para a
economia local, além dos indicadores compostos – capacidade de carga, pressão sobre os
atrativos e atração. Além dos indicadores chaves, existem outros, chamados de
suplementares, tais sejam: Indicadores ambientais para zonas costeiras, Indicadores para
zonas de montanha, indicadores para reservas naturais, Indicadores para sítios urbanos,
indicadores para sítios culturais – patrimônio artístico e monumental, indicadores para
5
sítios culturais relacionados a comunidades tradicionais e indicadores para pequenas ilhas e
para sítios ecológicos únicos. (OMT, 2003).
6
Quanto aos indicadores da economia ecologica no turismo, esses estão diretamente
relacionados com os indicadores bio-físicos que transparecem a intenção de impor uma
racionalidade ambiental subordinando a racionalidade econômica. Apesar de a OMT ter
adotado o uso da conta satélite, não se evidenciam referências quanto à inclusão de
indicadores físicos, químicos, biológicos e/ou sociais neste instrumento contábil. Da igual
forma, entre os indicadores do turismo sustentável percebe-se uma lacuna no que tange aos
indicadores sociais relacionados à qualidade de vida da população dos centros receptores:
saúde, educação, pobreza etc.
REFERÊNCIAS
7
com a ISSO 14001. Recuperado em 5 JUN 2017, de
http://www.simpep.feb.unesp.br/anais10/gestaoambiental/arq02.PDF
8
O GEOTURISMO E SUA RELAÇÃO COM A GEODIVERSIDADE.
RESUMO
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul, RS., Brasil. E-mail: nataliaeschiletti@gmail.com.
2
Doutora em Biogeografia pela Universitat Des Saarlandes, Alemanha. Professora e pesquisadora no
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul, Caxias do
Sul, RS., Brasil. E-mail: rlanzer@ucs.br
1
RESUMO EXPANDIDO
3
Site da Representação da UNESCO no Brasil. Recuperado em 10 de setembro, 2017 de
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/biodiversity/geoparks/
2
(Ribeiro & Zanirato, 2008, p. 278). Analisam também que proteção ambiental envolve
“riqueza potencial e desenvolvimento econômico” (Ibid., p. 278). Assim, geoconservar
o espaço natural desses parques com tamanho patrimônio, que possuem vocação para o
turismo, se torna uma questão não só ecológica, mas também de desenvolvimento
econômico para a população local.
Ainda de acordo com Ribeiro e Zanirato, uma primeira alusão para a proteção do
patrimônio cultural surgiu em 1945, no Tratado constitutivo da UNESCO; a
organização se tornou responsável pela proteção do patrimônio cultural em âmbito
mundial. Já em 1949, realizou um diagnóstico da situação ambiental mundial, sendo
essa uma das primeiras ações da UNESCO voltada para a proteção do ambiente. Com
o pressuposto de “resguardar o que não se pode reconstituir e manter áreas para
conhecer a dinâmica natural do planeta” (Ribeiro & Zanirato, 2008, p. 279), o Brasil
também institui suas áreas de preservação, sendo citado na Constituição anos antes da
firmação e consolidação do conceito de patrimônio natural que aconteceu no ano de
1972, em Paris. Por meios constitucionais, de decretos e tombamentos, faz-se a
jurisdição sobre as áreas naturais de preservação no Brasil. Em âmbito estadual,
também há a possibilidade de conservação ambiental.
Faz-se oportuno, esclarecer mais uma vez o termo Geodiversidade, uma vez que é a
3
base para o Geoturismo utilizada como recurso. A "Geodiversidade é a variedade
natural (diversidade) da geologia (rochas, minerais, fósseis), geomorfológica (formas,
processos) e as características do solo. Inclui suas uniões, relações, propriedades,
interpretações e sistemas5.” (Gray, 2004, p.8) Sendo assim a Geodiversidade é
responsável pela variação de formas na Terra e por consequência na diversidade
paisagística, tão apreciada pelo Turismo. Percebe-se, dessa forma, a necessidade de
considerar a relação que o turismo possui com áreas naturais e aborda-se a tendência a
praticar o Geoturismo visando à Geoconservação desses Patrimônios Geológicos.
Fonte: As autoras.
Para a análise do patrimônio existente em cada parque elaborou-se uma tabela com os
elementos turísticos que motivam alguém a sair do seu local de residência para
conhecê-los ou vivenciá-los. Considerou-se esses elementos como atrativos naturais,
4
culturais e atividades econômicas. Conforme abordaremos em seguida, de acordo com
Gray (2008), nos parques analisados esses atrativos do patrimônio geológico são, de
forma geral, os mais explorados e também os que menos recebem atenção para a
conservação frente aos atrativos da biodiversidade (referente à natureza viva - biótico),
mesmo que haja iniciativas em alguns países como a Austrália, a Tasmânia e inclusive
no Brasil, alguns dos patrimônios geológicos podem se perder devido aos impactos
provocados pelo ser humano com o passar o tempo.
5
Trilhas Possibilidade de caminhadas ou trekkins.
Praias “Depósitos de sedimentos acumulados por agentes de transporte marinho ao longo do litoral.”
p. 188. (2)
Vida animal Observação da fauna.
Fonte: elementos baseados em Manosso, F., Moreira, J., & Silva Junior, E. (2014). Descrição dos
elementos: Fonte: (1) Guerra, (1989). (2) Suertegaray, (2008).
6
remanescentes da Floresta Afromontana do Cabo. O Cabo da Boa Esperança faz parte
do complexo.
Para análise, foi escolhido também o Geoparque Tumbler Ridge. Esse é um exemplo
de Geoturismo que tem dado certo. Localiza-se no oeste do Canadá, na província
Colúmbia Britânica, distante aproximadamente 1300 km da Capital da Província
Victória. A área do Geoparque está nas encostas orientais das Montanhas Rochosas do
Norte e possui importante diversidade de sítios geológicos de origem sedimentar e
paleontológicos marcados pela presença de dinossauros que viviam em ambientes
terrestres e marinhos do cretáceo10. Devido a formação geológica no ambiente também
são encontrados recursos minerais fósseis, como carvão mineral e gás natural. A
vegetação encontrada é a de floresta de coníferas.
Os atrativos presentes nos parques, de acordo com as características de cada área, têm
relação com a Geodiversidade? Para responder ao problema de pesquisa foi feito o
levantamento considerando cada elemento. Podemos perceber com isso, que há uma
predominância do conteúdo de Geodiversidade nas três modalidades de parques. Isso
mostra a necessidade da Geoconservação. E se pode partir do pressuposto que, em
todos os parques, os atrativos são principalmente ligados ao Patrimônio Geológico e à
Geodiversidade, assim é possível também inserir o Geoturismo em todas essas áreas.
Percebe-se que os Parques Estaduais brasileiros possuem uma predominância
considerável de atrativos relacionados à Geodiversidade e assim verifica-se que nos
dois Parques Estaduais analisados existem propostas para a criação de Geoparques.
Constatou-se também que, analisando todos os parques, os atrativos que possuem
relação histórica e cultural também estão associados à Geodiversidade. Dessa forma,
para conservar e preservar a cultura, a história e a biodiversidade também é necessário
educar para conservar a Geodiversidade e o Patrimônio Geológico do planeta, e isso
pode ser dar através do Geoturismo.
REFERÊNCIAS
7
Guerra, A.T. (1989). Dicionário geológico-geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE.
Gray, M. (2004). Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature . New York:
Manosso, F., Moreira, J., & Silva Junior, E. (2014). A Geodiversidade como
atratividade turística nos Parques Nacionais brasileiros e Parques Estaduais dos
Estados do Paraná e Pernambuco Caderno De Geografia, 24(42), 39-55.
Teixeira, W. & Linsker, R. (2005). Chapada Diamantina: Águas no Sertão. São Paulo:
Terra Virgem.
8
O SURF COMO ELEMENTO PROPULSOR DO TURISMO NO LITORAL
EXTREMO SUL GAÚCHO E DEPARTAMENTO DE ROCHA/URUGUAI
RESUMO EXPANDIDO
Ao redor das viagens de surf se desenvolvem serviços para satisfazer as necessidades dos
viajantes, configurando o turismo de surf. Desta forma, o surf se transforma em vetor de
desenvolvimento econômico e as praias com ondas em atrativos turísticos (Amoroso,
1 Mestre Turismo e Hotelaria, Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, Brasil.
Currículo: http://lattes.cnpq.br/1299310483621548. E-mail: niltonturismo@hotmail.com.
2 Mestre Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, SC, Brasil. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/3975356974332385 .E-mail: raphacosta@msn.com
1
2014). O segmento do Turismo de Surf desperta interesses em turistas com espírito
aventureiro, que buscam no ambiente natural satisfazer expectativas próprias do ser
humano, conquistando milhares de adeptos por todo o mundo, direcionando este esporte
como um grande fomentador do turismo. O litoral do extremo sul do Rio Grande do Sul e
do departamento de Rocha no Uruguai, podem ser vistos como estratégicos para a captação
de surfistas turistas que buscam boas ondas para essa prática esportiva, onde os melhores
meses para a prática do esporte são de março a agosto.
A fim de, diferenciar a notoriedade do foco principal do turismo de surf no litoral norte do
Rio Grande do Sul e combater a sazonalidade imposta nesta porção litorânea, a gestão do
turismo na região em questão necessita de planejamento e estratégias que considerem as
características de cada destino, para o desenvolvimento da atividade de surf como um
produto turístico. Como exemplo bem sucedido do surf enquanto elemento propulsor do
turismo é possível citar casos no exterior como Portugal, Austrália e Havaí. Segmento
pouco explorado do ponto de vista teórico, o turismo de surf possui uma grande dimensão
em relevância aos fatores esportivo e socioeconômico. Alguns destinos que o estudo
abrange, apresentam como atrativo a altura e morfologia das ondas, ocasionando qualidade
para a prática do surf e estimulando a vinda de diversos surfistas, tanto do Brasil como de
outros países, sobretudo no verão, fomentando o comércio, o setor gastronômico e a
hotelaria local e regional. Porém, do ponto de vista de investimento, o turismo de surf é
facilmente observável como uma prática potencial, ou seja, pouco explorada pelo trade
turístico da região.
2
todo, impossibilita o planejamento de políticas publicas que visem à inserção do surf
enquanto produto turístico segmentado, minimizando a oportunidade da diversificação da
oferta turística. Neste sentido, o problema de pesquisa que este estudo visa responder é: é
possível considerar o surf como elemento propulsor do turismo no litoral extremo sul
gaúcho e Rocha/Uruguai?
O objetivo geral desta pesquisa é analisar o potencial do surf como propulsor do turismo no
litoral extremo sul gaúcho e Rocha/Uruguai. Desta forma, foram elencados os seguintes
objetivos específicos: Caracterizar a região estudada; investigar a contribuição do surf para
o desenvolvimento sustentável do turismo na região; reconhecer as condições para a
implementação de uma rota de surf na região. A Austrália é um dois países que mais
incentiva e considera o investimento em turismo de surf, com programas de planejamento e
gestão que fomentam a consolidação do país como destino para o turismo de surf, com
ações de marketing compartilhado entre os mais diversos setores ligados ao turismo,
aliando esse segmento a outros atrativos da costa australiana, de modo coordenado e
direcionado ao desenvolvimento e distribuição de produtos, apoio ao destino, apoio aos
negócios e engajamento nas ações (Short, 2009).
3
Hugues-Dit-Ciles et al. (2005), em suas pesquisas sobre a natureza do turismo de surf e
seus potenciais impactos no meio ambiente na Austrália, onde os autores puderam observar
que o turismo de surf e sua nascente infraestrutura e gerenciamento sobre a natureza
inerente a vida marinha, ligada as diversas atividades aliadas a mobilidade de turistas sobre
esse espaço, causam impactos sobre a natureza e sobre o espaço de atuação dos surfistas.
Desta forma, fica entendida a necessidade de definição de propostas que valorizem o surf
como um produto turístico na região, contribuindo assim para a diversificação, dinamização
e qualificação da atual oferta turística, além combater a sazonalidade típica regional e de
fomentar o desenvolvimento sustentável do turismo no litoral extremo sul gaúcho e do
departamento de Rocha/Uruguai, agregando qualidade de vida que o turismo de surf pode
proporcionar para a população local e maior competitividade no turismo da região.
4
de areia e ondulações constantes, porém as ondas dependem dos fatores climáticos
momentâneos para ter a formação de boas bancadas para a prática do surf. Os melhores
meses para o surf são de março a agosto, onde entram as maiores ondulações. Nesta época é
indispensável à utilização de roupas apropriadas para a prática do esporte, pois as águas
geralmente são geladas. O município não conta com agentes ou operadores que organizem
o Turismo de surf na região, com isso o turista ou a própria comunidade consumidora,
acaba buscando a atividade por conta própria. Este segmento de turismo carece de normas e
regularizações.
5
Assim, o surf enquanto novo segmento do turismo pode gerar novas oportunidades de
negócios no setor, sendo um elemento propulsor de desenvolvimento regional. Medidas que
valorizem o produto turístico surf na região em questão são necessárias, a fim de, buscar o
desenvolvimento do setor a partir de um esporte que prima pela sustentabilidade. O
desenvolvimento que o Turismo de Surf proporciona, pode causar impactos negativos e
positivos na região, sendo estes de caráter econômico, como a geração de empregos e
captação de renda; ambiental como a erosão de solos e interferência na fauna; e ainda
impactos sociais, onde não havendo um trabalho de inclusão da comunidade autóctone
neste processo de desenvolvimento, podemos ter uma introdução de hábitos estranhos e
mudanças de atitudes na comunidade.
Além do surf, A região estudada possui outros atrativos turísticos com potencial a ser
explorado, principalmente dentro das atividades esportivas, recreacionais e de aventura. Na
água temos a canoagem, o windsurf, o kitesurf como algumas atividades possíveis na
região. Por terra temos caminhadas, cicloturismo, cavalgada, trilhas, pesca esportiva e carro
à vela como opções para o turista. Já pelo ar é possível a prática de paraglider, paramotor e
planador para os turistas mais preparados e aventureiros. Ainda o turismo histórico e
cultural apresenta destaque na região.
REFERÊNCIAS
Amoroso, M. (2014). Persiguiendo las olas: turismo de surf y significado del viaje para
surfistas. Anales... VI Congreso Latinoamericano de Investigación Turística,
Universidad Nacional del Ceomahue, Neuquén, Argentina.
6
Hugues-Dit-Ciles, E., Findlay, M., Glegg, G., & Richards, J. (2005). An investigation into
the nature of surfing tourism and its potential environmental impacts on
relatively pristine environments: Gnaraloo, Western Australia, a case study. School
of Ocean, Earth and Environmental Science, Plymouth University, Drake Circus,
Plymouth, Devon.
Short, A. (2009). Catching the wave: Tourism NSW’s action plan to consolidate the
state’s position as Australia’s premier surf destination. Sydney: Tourism New
South Wales.
7
TURISMO DE BASE (COM)UNITÁRIA: REFLEXÕES
Este estudo buscou refletir sobre os conceitos de turismo de base comunitária (TBC) e sua
aplicabilidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, localizada
no Estado do Amazonas. Nesse sentido, teve como objetivos específicos: apresentar o
cenário do turismo na RDS; compreender as similitudes entre os conceitos de TBC; e
analisar a aplicabilidade desses conceitos na reserva. O estudo se utilizou de pesquisa
bibliográfica e documental, com destaque para o Plano de Uso Público da RDS do Uatumã
(2009), Plano de Gestão da RDS do Uatumã (2010), Regras de Turismo Comunitário na
RDS do Uatumã (2012) e Regras de Pesca Esportiva da RDS do Uatumã (2015). Os
resultados obtidos indicam que não existe a prática do TBC na RDS, apesar de ser relatada
nos documentos de políticas públicas e nos canais de promoção do turismo no local.
RESUMO EXPANDIDO
1
As Unidades de Conservação permitem, em sua maioria, atividades de recreação, lazer,
pesquisa e educação, desde que estejam de acordo com as regras contidas nos planos de
gestão e uso público. Estas atividades, intituladas de uso público, vêm sendo apresentadas,
em parte da literatura e nos documentos que justificam a criação de algumas UCs, como
potenciais para a manutenção das populações situadas no interior e/ou entorno dessas áreas
protegidas, com destaque para o turismo (Paula & Deidda, 2014; Santos & Conti, no prelo).
É nesse contexto que a RDS do Uatumã, criada em 2004, vem desenvolvendo atividades de
turismo de pesca esportiva. Entretanto, por conta do crescimento da demanda e dos
empreendimentos turísticos, constata-se uma tentativa de fomentar a organização do
turismo de base comunitária (TBC), por parte de alguns agentes sociais e institucionais,
visando a sustentabilidade do turismo na localidade. Nesse sentido, o presente estudo
buscou refletir sobre a os conceitos de TBC e sua aplicabilidade na RDS do Uatumã. Para
isso, teve como objetivos específicos: apresentar o cenário do turismo na RDS;
compreender as similitudes entre os conceitos de TBC; e analisar a aplicabilidade desses
conceitos na reserva.
O presente estudo buscou analisar a prática turística na RDS do Uatumã, sob a luz dos
conceitos de turismo de base comunitária. A ideia surgiu a partir da leitura da publicação
“O Turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã” (IDESAM, 2012),
que apontava haver na reserva uma atividade de TBC. A metodologia pautou-se em uma
abordagem qualitativa, se utilizando de pesquisa bibliográfica e documental, com destaque
para os estudos de Irving (2009), Costa Novo (2014), Fabrino, Nascimento e Costa (2016),
Bartholo (2014), Santos e Conti (no prelo). E os documentos do Plano de Uso Público da
RDS do Uatumã (2009), Plano de Gestão da RDS do Uatumã (2010), Regras de Turismo
Comunitário na RDS do Uatumã (2012) e Regras de Pesca Esportiva da RDS do Uatumã
(2015), além dos canais de promoção do turismo na localidade, como os sites das agências
de viagens que comercializam o destino.
2
O Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas (SEUC) compreende a
Reserva de Desenvolvimento Sustentável como uma área natural que abriga comunidades
tradicionais, que sobrevivem de maneira sustentável e desempenham um papel fundamental
na conservação da natureza (Amazonas, 2007). A RDS do Uatumã, criada por meio do
Decreto 24.295 de 2004, com extensão territorial de 420.430 ha, está localizada nos
municípios de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga, no Estado do Amazonas. De acordo
com Koury, Rizzo e Albuja (2012) a RDS possui 389 famílias distribuídas em suas 20
comunidades. A RDS possui, em suas águas jurisdicionais, um rio principal, com 180 km
de extensão, o rio Uatumã, conhecido pela pesca esportiva do tucunaré. Foi nesse contexto
que a RDS do Uatumã se consagrou como destino de pesca esportiva. A atividade é regida
por uma instrução normativa que institui as taxas de entrada3 para o turismo de pesca
esportiva, prevê a conservação da ictiofauna4, além da elaboração das regras de pesca
esportiva, revisadas e publicadas anualmente, com o título de Regras da Pesca Esportiva da
RDS do Uatumã. (Amazonas, 2009).
3
As taxas de entrada consistem em um valor pago pelas embarcações que transportam turistas de pesca
esportiva no interior da RDS. Ao entrar na reserva, o piloteiro para em uma das bases de apoio – localizadas
no norte e sul da UC – e paga um valor por turista. Após o pagamento, a embarcação recebe uma bandeira que
funciona como um passe-livre para adentrar nos locais liberados para a pesca. Assim, os comunitários podem,
de certa forma, fiscalizar os barcos autorizados e denunciar aqueles não-autorizados (Amazonas, 2009).
4
Conjunto de peixes pertencentes a uma determinada região/ ambiente.
3
Nesta seção apresenta-se uma breve discussão sobre os conceitos de turismo de base
comunitária. A ideia foi a de encontrar pontos convergentes que pudessem subsidiar a
análise empreendida na RDS do Uatumã, uma vez que o conceito de TBC ainda está em
fase de construção, recebendo diversas interpretações tanto em nível nacional quanto
internacional. Assim, ao comparar alguns desses conceitos, foi possível identificar aspectos
abordados como fundamentais ao TBC, dentre eles o protagonismo das comunidades, a
busca por diálogos autênticos, a promoção do bem estar social e da qualidade de vida, a
capacitação dos comunitários, o fortalecimento das organizações sociais, a conservação
dos recursos naturais, a valorização dos modos de vida locais (Irving, 2009; Bartholo, 2014;
Costa Novo, 2014; Fabrino, Nascimento, & Costa, 2016). Nesse sentido, Fabrino,
Nascimento e Costa (2016) realizaram uma análise da literatura existente acerca do TBC e
identificaram aspectos teóricos, similares entre os estudos, os quais convencionaram
chamar de elementos-chaves, apresentados no quadro 1.
Elemento-chave Objetivo
Dominialidade Identificar o protagonismo das comunidades no desenvolvimento do turismo
Organização Analisar as formas de organização pertencentes à comunidade e, também, as articulações
Comunitária externas que fornecem apoio ao turismo.
Democratização de
Oportunidades e Investigar as formas como os comunitários se organizam para divisão dos benefícios do
Repartição de turismo
Benefícios
Identificar se a população local está na base da cadeia produtiva do turismo, produzindo
Integração Econômica insumos e fornecendo-os para a própria comunidade, que, por sua vez, vai gerar produtos
comercializados aos turistas
Observar se o espaço como um lugar de convivência e trocas culturais entre os visitantes
Interculturalidade
e visitados
Identificar as formas de gerenciamento de resíduos sólidos, efluentes e tratamento de
Saneamento Ambiental
água da comunidade, além da maneira como os recursos naturais são manejados
4
Considera-se que a reflexão proposta pelos autores aborda aspectos que vão além do
protagonismo das comunidades, preocupando-se com os benefícios socioeconômicos
gerados e o modo como são repartidos, além de questões relacionadas à conservação dos
recursos naturais e à qualidade dos encontros entre visitantes e visitados, corroborando com
estudos anteriores, como o de Irving (2009).
E é com base nas reflexões de Costa Novo (2014) que as análises do presente estudo serão
realizadas, uma vez que o recorte socioespacial da autora está inserido em comunidades do
contexto amazônico, dentre elas comunidades inseridas em uma Reserva de
Desenvolvimento Sustentável, da mesma forma que o presente estudo. No bojo dessa
discussão, destaca-se que (i) as comunidades da RDS do Uatumã recebem apoio técnico de
algumas instituições que atuam na localidade, ainda que de forma incipiente. Um exemplo
desse apoio vem da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que atua desde 2007 na RDS e
possui um Núcleo de Conservação e Sustentabilidade dentro da Reserva, além de ofertar
cursos de capacitação – artesanato, elaboração de projeto - para os comunitários, e
5
gerenciar o programa Bolsa Floresta5. Em 2014 foi realizado um workshop que tinha como
objetivo estudar as propostas de turismo apontadas no Plano de Uso Público (PUP) da
Reserva e propor novas práticas, como o TBC (IDESAM, 2014). Sobre o envolvimento dos
sujeitos (ii) destaca-se a não divisão dos recursos econômicos para os comunitários. Poucos
participam da atividade de turismo e, consequentemente, conseguem receber algum
benefício desta. Aqueles que não têm participação, consideram-se excluídos e acreditam
que os benefícios do turismo se concentram nas mãos de poucos, evidenciando que não há
acesso democrático à participação no turismo.
No que concerne à modificação das tarefas cotidianas (iii) ressalta-se que este hábito é cada
vez mais frequente, uma vez que o turismo de pesca, atualmente praticado na RDS, exige a
alteração de comportamento dos comunitários que atuam durante a temporada de pesca.
Nesse período, os proprietários de pousadas - juntamente com suas famílias e seus
funcionários – restringem suas atividades a receber turistas e gerenciar suas pousadas,
abandonando, portanto, suas atividades habituais do dia a dia, principalmente a pesca e a
agricultura. Ao refletir sobre o turismo realizado na RDS do Uatumã, evidencia-se que não
se configura como turismo de base comunitária, apesar de as experiências se intitularem
como tais (em alguns documentos da UC e sites de comercialização do destino). As
premissas de TBC não são contempladas nas práticas de turismo e muito precisam
caminhar para promover o protagonismo comunitário, o bem-estar social das comunidades,
a conservação dos recursos naturais e os diálogos entre visitantes e visitados.
5
O Programa Bolsa Floresta (PBF) é um dos maiores programas de Pagamento por Serviços Ambientais do mundo [...]
O objetivo é compensar, por meio de investimentos em geração de renda e desenvolvimento social, as populações
tradicionais pela disposição em conservar as florestas (Viana et al., 2012).
6
de propriedade familiar (11) são gerenciadas por famílias pertencentes à RDS, e
concentram as atividades dentro da própria família. Quando necessário, contratam
comunitários para auxiliar nas atividades, (piloteiros6, cozinheiras e camareiras). Já as
pousadas de proprietários externos à RDS (1) possuem uma dinâmica diferenciada. O
gerenciamento é feito por um homem de confiança – morador da comunidade – que atua
como uma espécie de gerente e representante do proprietário. Este tipo de empreendimento
também contrata pessoas da comunidade.
6
Piloteiros são guias locais, pilotos das voadeiras que transportam os turistas pelos rios da RDS.
7
REFERÊNCIAS
Bartholo, R. (2014). Sobre o Lugar do Turismo de Base Comunitária. In J.G. da Cruz &
C.B.M Costa Novo (Eds), Turismo comunitário: reflexões no contexto amazônico
(41-44). Manaus: Edua.
Fabrino, N. H., Nascimento, E. P., & Costa, H. A. (2016). Turismo de Base comunitária:
uma reflexão sobre seus conceitos e práticas. Caderno Virtual de Turismo, 16(3),
172-190.
Koury, C. G., Rizzo, E., & Albuja, M. (2012). O turismo na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Uatumã: Conjuntura atual e possibilidades de geração de renda
para as comunidades locais. Manaus: Idesam.
8
Paula, A., & Deidda, N. (2014). Uso público em unidades de conservação estaduais do
Amazonas. In J.G. da Cruz & C.B.M Costa Novo (Eds), Turismo Comunitário:
reflexões no contexto amazônico (179-182). Manaus: Edua.
Regras de Turismo Comunitário na RDS do Uatumã. (2012). In: Koury, C. G.; Rizzo, E. &
Albuja, M. O turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã:
Conjuntura atual e possibilidades de geração de renda para as comunidades locais.
Manaus: Idesam.
9
UMA ANÁLISE SOBRE O TURISMO RURAL
O turismo é realizado nas mais diversas formas no espaço rural, agregando valor aos
produtos agrícolas, aumentando a renda e mantendo o homem no campo, como também
pode contribuir para a valorização do trabalho da vida no campo e como forma de preservar
o meio ambiente deveria aparecer. O presente trabalho tem por objetivo analisar o turismo
no espaço rural no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Para tanto, foi realizado pesquisa
bibliográfica, levantamento de dados sobre a região e entrevista oito proprietários de terra
no espaço rural, levantados através do COREDEs. Com o estudo foi possível observar
que a região trabalha atividades de turismo distintas, nem sempre vinculadas a agropecuária
e tendo em comum o espaço rural.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo, Espaço Rural, Litoral Norte, Rio Grande do Sul, Brasil.
RESUMO EXPANDIDO
Este trabalho é resultado de uma parte da Projeto de Pesquisa do Turismo no Espaço Rural
como atividade complementar de geração de renda, ocupação não-agrícola e no Litoral
Norte do Rio Grande do Sul. O objetivo é analisar o turismo que existe no espaço rural no
1
Doutoranda em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do Sul. Professora na Universidade
Federal do Pampa, Jaguarão, RS, Brasl. E-mail: ju.jasper@terra.com.br.
2
Doutora. Professora no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias
do Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. E-mail: rlanzer@ucs.br.
3
Doutor. Professor no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade, Universidade de Caxias do
Sul, Caxias do Sul, RS, Brasil. E-mail: eurico58@terra.com.br.
1
Litoral Norte. No Brasil há diversas possibilidades de analisar o turismo quando se trata do
turismo não urbano, como turismo rural, agroturismo, turismo de natureza, ecoturismo,
turismo no espaço rural (Beni, 2001; Santos, 2004; Santos, 2015). Essa discussão ocorre
também em diferentes países como Itália (Mastronardi, et all, 2016), Rússia (Akimova,
Volkov & Poluyufta, 2016), Tailândia (Choenkwan et all, 2016) e Estados Unidos
(Ciclovska, 2016). A proposta desta pesquisa é analisar o turismo no espaço rural [TER],
que compreende diversos formas de turismo no espaço rural, onde todas as modalidades se
englobam e não se excluem, podendo até ser complementares (Oxinalde,1994).
Assim, o espaço rural tornou-se dinâmico e multifuncional, onde o produtor rural precisa se
adaptar, procurando alternativas para se manter neste espaço. O turismo é uma das
alternativas empregadas por diversos produtores rurais no Brasil e no mundo (Oxinalde,
1994; Cavaco, 2000; Campanhola & Silva, 2000; Dale, 2001; Almeida et all, 2001;
Kageyana, 2008; Jasper, 2012; Souza, 2012; Elesbão, 2014). O turismo no espaço rural é
uma atividade que pode contribuir para aumentar a renda e melhoria da qualidade de vida
do produtor rural e de sua família. E, por conta disso, o turismo no espaço rural, está sendo
propagado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Turismo como responsável
por uma melhor redistribuição de renda, por fixar o homem no campo e desencadeando
vários outros benefícios, conforme declaram Krahl e Santana (2004), Brasil-Mtur (2010) e
autores como Almeida et all. (2001), Tulik (2003), Santos (2008), discorrem sobre a
conveniência da atividade de turismo no espaço rural nas propriedades. Portanto, vamos
analisar o turismo no espaço rural do Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
2
condições de clima subtropical úmido costeiro em que se destacam as barreiras de dunas, os
banhados, o cordão de lagoas e a escarpa do planalto, conferindo um cenário diferenciado.
De tal modo que, essa região já é conhecida como um destino turístico de sol e praia para
os gaúchos. Porém, a região do Litoral Norte apresenta uma paisagem diversificada,
distingue-se pela sequência de ambientes longitudinais à costa, chegando até as escarpas do
Planalto Meridional. Após a área de interface com o mar, identifica-se uma planície
sedimentar costeira, composta por dunas, seguidas pelo cordão de lagoas litorâneas até o
contato com a escarpa do Planalto Meridional, entalhada pelos vales dos rios Maquiné e
Três Forquilhas (Moura et all 2015).
3
Quadro 1 – Panorama das propriedades rurais que trabalham com turismo
Entrevistado 1 2 3 4 5 6 7 8
Município Caraá Maquiné Maquiné Osório Osório Três Cach Três Cach Terra Areia
Hectares de terra 45,0 50,0 10,0 1,0 1,5 49,0 22,6 100
Proprietário (a) F M M M F M M F
Responsável pelo F M M M F F M F
turismo na propriedade
Agropecuária 10 10 - - - 70 60 80
Renda Turismo 90 90 20 100 10 30 40 20
% Outra atividade - - 80 - 90 -
O turismo é considerado como fonte de renda e uma forma de agregar valor, o que foi
observado nos sete emprenhadores(as) do turismo no espaço rural. Também vale ressaltar
que sete dos empreendedores continuam com as demais atividades entre rurais, teatro e
massoterapia. Apenas um tem como única fonte de rendo o turismo, como pode ser
observado no quadro 1. Nesse sentido, vale lembrar Ruschmann (2001), que apresenta o
turismo rural como uma alternativa e que não como a solução para todos os problemas do
meio rural.
4
permacultura, cursos esotéricos, cursos sobre chás, ecoterapia, atividades de recreação e
pedagógicas para crianças, corrida de cavalos, áreas para banho de rio, lagoa ou piscina,
passeios a cavalo, passeios de barco, observação de pássaros e trilhas.
REFERÊNCIAS
Akimova, O.E.; Volkov, S. K.; & Poluyufta, L.V. (2015). Business activity in tourism in
Russian rural areas: problems with motivation. Aktual'ni Problemy Ekonomiky
[Actual Problems in Economics], 166, 229-234.
Campanhola, C.; & Silva, J. G. (2000). O agroturismo como nova fonte de renda para o
pequeno agricultor brasileiro. In Almeida, J. A.; & Riedl, M. (Org). Turismo rural:
ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru-SP: Edusc.
5
Cavaco, C. (2000). Turismo, comércio e desenvolvimento rural. In Almeida, J. A.; & Riedl,
M. (Org). Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. Bauru-SP: Edusc
Ciglovska, B. (2016). Agroecology and agrotourism as a new cash cow for the farmers after
the crisis: the case of Fyrom. Journal of Enviromental Protection and Ecologi
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Elesbão, I. (2014). O turismo no contexto das transformação do espaço rural Brasileiro. In.:
Cristovão, A.; Pereiro, X.; Souza, M.; & Elesbão, I. (orgs). Turismo rural em
tempos de novas ruralidades. Porto Alegre: UFRGS.
Jasper, J.R. (2012). Roteiros Turísticos Rurais: Um estudo de caso do Roteiro Turístico
Delícias da Colônia-Estrela, Colinas e Imigrantes (RS). In: Cereta, C. C.; & Jasper,
J.R. (org.). Turismo no Espaço Rural: Oportunidade e sinergias contemporâneas.
Pelotas: Ufpel.
6
Mastronardi, L.; Giaccio, V.; Gianelli, A.; & Scardera, A. O agroturismo é eco-friendly?
Uma comparação entre fazendas de agritourismo e fazendas sem agroturismo, Itália.
Disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4627998/pdf/40064_2015_Article_1
353.pdf>. Acessado em 24.08. 2016.
Moura, N.S.V.; Moran, E.F.; Strohaecker, T. M.; & Kunst, A.V. (2015). A urbanização na
zona costeira: processos locais e regionais e as transformações ambientais - o caso do
Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência e Natura, 37(42),594-
612 DOI: http://dx.doi.org/105902/2179460X18503.