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RESUMO
As praias, especialmente em países tropicais, são importante espaço para o lazer dos moradores locais e turistas. O lixo marinho é
reconhecido como uma das principais formas de poluição marinha e fator-chave para o monitoramento de áreas costeiras. A degradação
das praias por lixo causa perda do valor estético e problemas relacionados a saúde pública. A perda paisagística pode afetar a economia local
através da diminuição do número de visitantes, principalmente turistas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a percepção dos usuários da
praia em relação à contaminação por lixo marinho em áreas ocupadas por usuários com diferentes interesses ambientais. Questionários
estruturados (n=250) com perguntas relacionadas à família, economia, interesse pela praia, e percepção da contaminação da praia por lixo
foram aplicados. Dois tipos de usuários foram questionados: banhistas e comerciantes de praia. Os resultados das entrevistas indicaram
que os banhistas normalmente não admitem jogar lixo na praia, acreditam que as doenças transmitidas aos seres humanos são o principal
problema causado pelo lixo e sugerem a realização de atividades de educação ambiental para reduzir a contaminação da praia. No entanto,
para o vendedor da praia, a perda do potencial estético e turístico foi o principal problema relacionado ao lixo marinho, seguido pela
atração de vetores que transmitem doenças aos humanos. Os resultados sugerem que existe influência do nível educacional formal e a
percepção dos usuários em relação aos principais danos causados pela presença de lixo marinho e do seu comportamento em relação aos
seus próprios resíduos. A maioria dos banhistas classificou a praia de Boa Viagem como limpa, no entanto os comerciantes acham a praia
suja (62%). Plástico foi o item mais percebido pelos usuários da praia (76,5% banhistas e 44% dos comerciantes). Estas informações
poderão ser utilizadas pelas autoridades públicas como uma ferramenta para aperfeiçoar os serviços de limpeza e no planejamento de
medidas preventivas.
Palavras-chave: percepção ambiental, lixo marinho, usuário da praia, praias tropicais.
ABSTRACT
The beach, especially in tropical countries, is an important space for leisure of local residents and tourists alike. Marine litter is recognized
as a major form of marine pollution and key factor for coastal monitoring. Degradation of beaches by litter affects their aesthetic value and it
is a public health issue. On its turn, the loss of attraction may affect local economy by diminishing the number of visitors, particularly tourists.
The aims of this paper are to investigate the perception of beach users aspects related to marine debris pollution in areas occupied by beach users
with different environmental interests. Structured questionnaires (n= 250) inquired about families, economy, beach interests, and perceptions
* Submissão – 18 Fevereiro 2010; Avaliação – 29 Junho 2010; Recepção da versão revista – 5 Agosto 2010; Disponibilização on-line – 12 Agosto 2010
Dias Filho et al.
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related to marine debris pollution. Two different beach users were inquired (bathers and beach hawkers). Interview results indicated that
bathers normally do not admit littering on the beach; they believe that hazards to humans are the main problem caused by litter and suggest the
conduction of environmental education activities to reduce beach contamination. However, for beach hawkers, the loss of aesthetic and tourism
value of the beach were main problem caused by marine debris, following by attraction of vectors that transmit diseases to humans. The results
suggested that there was influence of beach users’ educational level onto the marine debris damage awareness and onto their behavior in relation
to their own residues. Bathers (50%) classified Boa Viagem beach as clean, however, for beach hawkers, the beach was classified as polluted
(62%). Plastics were the main responsible for beach contamination, according to respondents (76,5% bathers and 44% beach hawkers). This
information can be used by public authorities as a tool to optimize cleaning services and to plan preventive measures.
Keyword: beach user, environmental perception, marine debris, tropical beaches.
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Ambiente praial com aproximadamente 100m de largura na maré baixa, com pós-praia,
praia e ante-praia bem conservadas
Presença de dunas cobertas com grama ou vegetação nativa
Ausência de desnível entre o calçadão e a praia
1 Playgrounds e academia de ginástica
Quadras esportivas sobre as dunas
1 Banheiro público
Baixa concentração de usuários ao longo do trecho.
Baixa atividade comercial
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Tabela 3. Opinião dos usuários em relação ao problema do lixo marinho na praia de Boa
Viagem.
Table 3. Beach users’ opinions about marine debris at Boa Viagem beach.
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A B
Figura 1. Relação entre o grau de escolaridade dos banhistas e seu conhecimento sobre os problemas causados pelo lixo marinho (A) e as
suas atitudes em relação ao lixo gerado na praia (B).
Figure 1. Relationship between bathers’ educational level and their knowledge about marine debris damage (A), and behavior in relation to
their own residues (B).
A maioria das pessoas com Ensino Superior afirma Quanto ao comportamento diante do lixo produzido
que descarta o lixo em lixeiras próximas. Já a maioria com averiguou-se que a maioria dos comerciantes (68%)
Ensino Médio alega colocar em sacos plásticos e entregar ao demonstra a preocupação com o recolhimento do lixo
barraqueiro. Teoricamente, entre esses grupos o descarte do produzido pelos clientes.
lixo diretamente na areia é baixo. Embora uma parte dos que Analisando esses resultados e com base também no que foi
possuem Ensino Fundamental se preocupe aparentemente observado em trabalhos que retratam o nível de contaminação
com o descarte declarado do lixo, uma grande parcela não para a praia (Silva et al., 2008b, Silva-Cavalcanti et al.,
tem consciência ambiental e normalmente descarta o lixo 2009) pode-se afirmar que se não fosse a contribuição dos
na areia. Segundo Santos et. al., (2003 e 2005), em geral as comerciantes recolhendo o lixo produzido por seus clientes,
pessoas atribuem a geração de lixo aos usuários, no entanto a poluição da praia de Boa Viagem seria bem maior.
não assumem o descarte de seu próprio lixo na praia. Contudo, a colocação do lixo na areia em sacos, ficando
Os resultados sugerem que as pessoas com menor poder à espera do recolhimento dos garis, não é um procedimento
aquisitivo e escolaridade são os maiores responsáveis pelo adequado, uma vez que nada impede que as ondas nas marés
descarte de lixo na praia. Esta relação foi demonstrada nos cheias cheguem ao local onde os sacos estão depositados,
trabalhos de Santos et al. (2003 e 2005), onde se verificou podendo arrastar e causar ruptura, espalhando o lixo e
que grandes quantidades de resíduos são descartadas contaminando a área. Além disso, cachorros, ratos e outros
inadequadamente na praia do Cassino (RS) durante os meses animais, podem rasgar o saco em busca de alimentos.
de verão, principalmente na região frequentada por pessoas Para a maioria dos comerciantes a perda do potencial
com menor poder aquisitivo e escolaridade. estético e turístico da praia é o problema mais importante
(Tabela 3); O segundo mais importante foi considerado a
3.2.2 Comerciantes atração de vetores de doenças. Os danos causados aos animais
marinhos; o gasto do dinheiro público com a limpeza da
Verificou-se que 62% acham a praia suja, comparando-a praia e a contaminação da areia da praia foram considerados
com outras praias que já visitaram, 20% consideram-na de menor importância pelos comerciantes. Isso demonstra
limpa, 14% disseram que é muito suja, e apenas 4% relataram que os comerciantes se preocupam em primeiro lugar com a
que é muito limpa. Ao classificar a praia de Boa Viagem questão financeira, pois a perda do potencial turístico da praia
como suja, os comerciantes afirmaram que os principais (causada pelo acúmulo de lixo) pode resultar na diminuição
responsáveis pelo problema do lixo na praia são os banhistas, da sua renda mensal. Mais uma vez percebe-se que uma
que habitualmente se encarregam de deixar todo seu lixo na minoria pensa nos danos causados ao meio ambiente, e em
areia da praia. como a poluição afeta a vida marinha e a sociedade.
Ao perguntar “Qual o tipo de lixo que você observa com Também foi questionado aos comerciantes de quem
mais frequência na área?” constatou-se que 50% consideram seria a responsabilidade pela manutenção da praia sem lixo.
resto de alimento como o lixo mais frequente na areia da Cerca de 50% acham que a responsabilidade é de todos que
praia, e 44% acham que o plástico é o mais frequente, frequentam a área; 40% dos órgãos públicos; e 14%, dos
valores bem próximos do que foi encontrado em trabalhos usuários. Assim como os banhistas, a maioria dos comerciantes
que relatam a contaminação dessa praia (Silva et al, 2008b, acha que a manutenção da praia limpa é obrigação de todos
Silva-Cavalcanti et al. , 2009) que a frequentam, porém, uma parcela significativa deles
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considera que é obrigação dos órgãos públicos. É imperativa of Environmental Quality: An International Journal,
a ação dos órgãos públicos na limpeza da praia, entretanto, 18(1):6-12. ISSN: 1477-7835.
como já foi dito, apenas isso não é suficiente. É necessário Araújo, M.C.B.; Costa, F.M. (2007b) - Visual diagnosis of solid
também que a população contribua, evitando deixar o lixo waste contamination of a tourist beach: Pernambuco, Brazil.
na areia da praia. Waste Management, 27(6):833-839. DOI:10.1016/j.
As três medidas mais sugeridas para a redução do lixo na wasman.2006.04.018
praia foram o aumento do número de garis, o aumento do Awosika, L.; Marone, E. (2000) - Scientific needs to assess the
número de lixeiras fixas no local e a distribuição de sacolas health of the oceans in coastal areas: a perspective of the
plásticas. developing countries. Ocean & Coastal Management, 43(8-
9):781-791. DOI:10.1016/S0964-5691(00)00062-4.
4. CONCLUSÃO MacLeod, M.; Silva, C.P.; Cooper, J.AG. (2002) - A
Os diferentes interesses dos usuários pelo ambiente de praia comparative study of the perception and value of beaches
podem torná-la mais suscetível a contaminação por resíduos in rural Ireland and Portugal: implications for coastal zone
sólidos. Pôde ser constatado que não há muita coerência management. Journal of Coastal Research, 18(1):14-24.
entre o que se fala e como se age, ou seja, normalmente as Pendleton, L.; Martin, N.; Webster, D.G. (2001) - Public
pessoas falam que tratam corretamente seus resíduos e que perceptions of environmental quality: a survey study of
não aprovam o descarte de lixo nos ambientes públicos, mas beach use and perceptions in Los Angeles County. Marine
o que se vê é exatamente o contrário, fato comprovado pelo Pollution Bulletin, 42(11):1155-1160. DOI:10.1016/
enorme volume de lixo coletado diariamente pelos serviços S0025-326X(01)00131-X.
de limpeza, e pelos levantamentos científicos do lixo na Santos, I.R.; Friedrich, A.C.; Fillmann, G.; Wallner, M.; Shiller,
área. R. V. & Costa, R. C. (2003) -Geração de resíduos sólidos
Percebe-se uma semelhança nas opiniões dos banhistas
e dos comerciantes; ambos consideram o aumento do pelos usuários da praia do Cassino, RS, Brasil. Revista de
número de garis no local e a distribuição de sacolas plásticas Gerenciamento Costeiro Integrado, 3(1):12-14..
medidas necessárias. Esses fatores também podem ajudar na Santos, I.R.; Friedrich, A.C.; Wallner, M.; Fillmann, G. (2005)
manutenção da praia limpa, contudo, deve-se considerar que - Influence of socio-economic characteristics of beach users
o número de pessoas que jogam lixo na praia será sempre bem on litter generation. Ocean & Coastal Management, 48(9-
maior do que o número de pessoas que atuam na limpeza do 10):742–752. DOI:10.1016/j.ocecoaman.2005.08.006.
ambiente. Dessa forma é mais importante reduzir o número Silva-Cavalcanti, J. S.; Araujo, M. C. B. & Costa, M. F. (2009)
daquelas que poluem a praia, fazendo com que essas pessoas - Plastic litter on an urban beach - a case study in Brazil.
se conscientizem sobre as consequências que o lixo marinho Waste Management & Research (ISSN: 1096- 3669),
pode gerar, como redução do turismo e perdas econômicas, 27(1):93-97.
além de riscos não só para os frequentadores da praia como Silva, J.S.; Barbosa, S.C.T.; Leal, M.M.V.; Lins, A.R.; Costa,
também para a vida marinha. Essa conscientização pode ser M.F. (2006) - Ocupação da praia de Boa Viagem (Recife,
obtida em longo prazo, através da implementação de um PE) ao longo de dois dias de verão: um estudo preliminar.
programa de educação ambiental. A educação ambiental Pan-American Journal of Aquatic Sciences (ISSN: 1809-
tornou-se uma ferramenta para um mundo limpo e 9009), 1(2):91-98. http://www.panamjas.org/pdf_artigos/
sustentável, orientando o homem a conscientizar-se de PANAMJAS_1(2)_91-98.pdf.
que é preciso educar para preservar e com isso contribuir Silva, J.S.; Barbosa, S.C.T.; Costa, M.F. (2008a) - Flag items
para a mudança de atitudes e para a adoção de práticas as a tool for monitoring solid wastes from users on urban
ambientalmente corretas. beaches. Journal of Coastal Research, 24(4):890-898.
Campanhas de educação ambiental devem ser realizadas DOI:10.2112/06-0695.1.
de maneira diferenciada para cada perfil de usuário, já que
o interesse demonstrado pelo ambiente é que decide como Silva, J.S.; Leal, M.M.V.; Araújo, M.C.B.; Barbosa, S.C.T.;
o usuário vai agir quando estiver interagindo com ele. A Costa, M.F. (2008b) -Spatial and Temporal Patterns of Use
integração dessas informações é essencial na elaboração de of Boa Viagem Beach, Northeast Brazil. Journal of Coastal
planos de intervenção e monitoramento da contaminação da Research, 24(1 - supplement):79-86. DOI:10.2112/05-
praia por lixo marinho já que os próprios atores admitem 0527.1.
quais tipos de medidas são mais eficazes na manutenção da Souza, S.T. (2004) - A saúde das praias da Boa Viagem e do Pina,
qualidade da praia. Recife (PE). Dissertação de Mestrado, 99p., Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil.
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análise sócio-ambiental e propostas de ordenamento.
Tese de Doutorado, 320p., Universidade Federal de management of mangrove forests: A review. Aquatic Botany,
Pernambuco (UFPE), Recife, PE, Brasil. http://xa.yimg. 89(2):220-236. DOI:10.1016/j.aquabot.2008.02.009.
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an isolated beach at the Brazilian Northeast. Management
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