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W. J. Prost
30 de maio de 2018
Título do original em Inglês: “Mental Illness - A Scriptural Perspective of
Mental Illness and Behavioral Disorders”, por W. J. Prost.
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1 Muitas Perguntas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
As Doenças e as Curas na Bíblia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
A Doença Mental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Distúrbios Psicóticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Distúrbios Neuróticos e Comportamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Distúrbios de Personalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Distúrbios de Ansiedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Distúrbios de Humor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
A Doença Mental na Bíblia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
A Natureza do Homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3 Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Princípios Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
O Senhor, o Grande Médico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Nosso Compreensivo Sumo Sacerdote . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Ele Dá Graça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
O Sofrimento como um Resultado do Pecado Voluntário . . . . . . . . 41
Lidando com o Pecado – A Raiz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Responsabilidade Moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
A Graça de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3
Auxílio de Outros Crentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Físico vs. Espiritual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Escrituras, Psicologia e Psiquiatria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
O Dom de Pastor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Confiando nos Outros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Outras Formas de Ser um Auxílio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Levando Cargas e Sendo Sanguessugas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
O Psiquiatra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Reconhecendo Sintomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Drogas Psicotrópicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Administrando Remédios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Remédios e Moralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Considerações sobre o Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Psicólogo ou Pastor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Medicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4 Conclusões Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
A Natureza do Homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
O Corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Alma e Espírito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
O “Eu” e a Personalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
O Coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
A Mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
O Intelecto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
A Carne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
A Vontade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Possessões Demoníacas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Comportamento Criminoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Introdução
Muitas Perguntas
O que é então a doença mental? Creio que há uma base bíblica para o uso do
termo.
Em Mateus 4:23–243 , lemos:
“E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pre-
gando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre
o povo. E a sua fama correu por toda a Síria; e traziam-lhe todos os que pade-
ciam acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os
lunáticos e os paralíticos, e ele os curava.”
Aqui encontramos o Senhor Jesus curando todas as doenças e todas as fra-
quezas do corpo. Quando as Escrituras começam a se referir àqueles que esta-
vam doentes, eles são agrupados em cinco diferentes categorias:
1. Havia aqueles que tinham várias doenças, e certamente estas incluíam coi-
sas como infecções, câncer, inflamações de vários tipos e doenças decor-
rentes da idade.
2. Juntamente com a doença havia os que sofriam com dores que, é claro,
incluíam a dor resultante de doenças tais como artrite, dores de cabeça ou
câncer, mas podiam incluir também dores infligidas de fora do corpo. O
pensamento de tormento ou tortura está incluído na palavra.
2 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2pe/1
3 https://www.bibliaonline.com.br/aa/mt/4/23–24
5
A Doença Mental
Como, então, definimos a doença mental? Não há, de fato, uma definição que
englobe cada aspecto do assunto, pois estamos lidando com um assunto que
não possui um escopo bem demarcado. Até certo ponto, nossa visão sobre do-
enças mentais é afetada pela cultura e pela sociedade em que vivemos. Além
disso, assim como há uma variação no que é geralmente considerada saúde fí-
sica normal, assim há uma variação no que é considerado um padrão normal
de pensamento e comportamento. Todos nós, em algum ponto de nossas vidas,
podemos experimentar alguns dos sintomas de pensamento desordenado, mas
apenas se os sintomas vão além de um certo ponto é que a pessoa será conside-
rada doente mental. Assim, definiremos a doença mental simplesmente como
sendo qualquer padrão anormal de pensamento e sentimento que resulta em
um distúrbio de comportamento e que, assim, afeta a capacidade individual de
funcionar em seus relacionamentos com o próximo e/ou em seu trabalho.
Aqui é importante esclarecer nossa definição em relação ao que as Escrituras
têm a dizer, pois a definição que sugeri é muito ampla. A Palavra de Deus usa
a palavra “lunático” para descrever aqueles com distúrbios de pensamento e
comportamento, e, como já vimos, tais indivíduos também são incluídos entre
6 Muitas Perguntas
aqueles a quem o Senhor Jesus curou. É difícil saber até onde essa palavra se
estende em descrever aqueles cujo comportamento é anormal, e que grau de
distúrbio é abrangido por isso. Cito as Escrituras apenas para mostrar que o
Senhor Jesus reconheceu ao menos alguns comportamentos anormais como do-
enças, e as curou como fazia com outras doenças. Podemos muito bem hesitar
em colocar cada indivíduo com alguma anormalidade de pensamento ou sen-
timento nessa categoria e chamá-lo de lunático. Neste artigo discutiremos uma
ampla variedade de distúrbios que possuem pelo menos algum componente
de distúrbio de pensamento e/ou de comportamento. O leitor pode não ver
todos eles como a manifestação de doença mental, mas simplesmente como a
demonstração do que a Escritura chama de “a carne” – nossa natureza pecami-
nosa. Como veremos, há, muitas vezes, uma mistura de ambos. Seja qual for a
causa, sugiro que uma consideração de todas essas entidades, perante o Senhor,
é apropriada para nosso assunto.
Ao lidarmos com esse assunto, olharemos para o que claramente é doença
mental – os indivíduos com comportamento assim chamado “psicótico”. Esses
que exibem tal comportamento não têm controle de si mesmos, e em grande
medida estão fora de si com relação à realidade. Eles definitivamente se encai-
xariam na categoria de “lunáticos”, como é mencionado nas Escrituras.
Discutiremos, também, o comportamento anormal no qual o indivíduo ainda
tem noção da realidade e não está fora de controle. Esses distúrbios compor-
tamentais são geralmente chamados de “neuroses”, em contraposição à “psi-
cose”. Como veremos, há geralmente uma sobreposição entre ambas. Mais
que isso, em ambos os casos há aspectos de seu comportamento nos quais o
indivíduo não pode fazer nada, mas também há uma parte em que deve ser
responsabilizado.
No início deste artigo mencionei que eu iria abordar o assunto na luz da
Palavra de Deus. Espero que este seja o caso, e que as conclusões alcança-
das, especialmente na esfera moral e espiritual, sejam mantidas com a mente
de Deus como é revelada em Sua Palavra. No entanto, uma vez que o autor
é um médico, e que procurou a assistência de outros médicos cristãos, have-
rão comentários ocasionais baseados nesse treinamento e experiência. Espero
que isso seja útil “completar” a discussão sobre o assunto, mas ao dizer isso,
percebo que o conhecimento médico está em constante mudança. Alguns dos
comentários feitos nessa área podem ser superados por conhecimento melhor
em algum ponto no futuro. Além disso, farei outros comentários, de vez em
7
quando, que são baseados nas minhas próprias observações e experiência como
indivíduo, não tanto como médico, mas como cristão. Tais comentários serão
obviamente identificados pelo leitor, e, é claro, devem ser tomados como opi-
niões [ou juízos] pessoais, e não como tendo a autoridade das Escrituras.
Os distúrbios mentais podem ter múltiplas causas. Algumas podem ser pri-
mariamente orgânicas (causadas por mudanças físicas no cérebro), enquanto
outras podem ter suas origens na alma e no espírito. Frequentemente ambas
estão envolvidas, e, muitas vezes, tais causas estão interconectados de tal modo
que pode ser de difícil separação. Há uma grande variedade de opiniões sobre
o assunto, não apenas entre crentes, mas também no mundo em geral. Uma
vez que o assunto não se presta à pesquisa científica do mesmo modo como as
outras disciplinas médicas, algumas das ideias sobre a natureza e a causa da
doença mental tende a se basear em teorias e conceitos em vez de evidência ci-
entífica sólida. Muito do que é feito quanto ao tratamento tende a ser empírico
(baseado na observação e experiência), e talvez esteja enquadrado e determi-
nado, em alguma medida, pela cultura em que vivemos. Além disso, o campo
da mente é muito inter-relacionado ao espiritual, e aqui estamos, definitiva-
mente, em uma área onde as Escrituras, e não a ciência, deve ser a autoridade
final. Esse princípio deverá ser mantido em mente enquanto lidamos com nosso
assunto, e certamente nos levará de volta à Palavra de Deus, “viva, e que perma-
nece para sempre” (1 Pedro 1:234 ). É muito reconfortante e assegurador saber
que Deus nos deu tudo o que precisamos para viver uma vida piedosa neste
mundo, enquanto reconhecemos que há aspectos da doença mental que estão
além de nosso entendimento.
Não é o propósito deste artigo discutir em detalhes todos os variados tipos
de doenças mentais que têm sido reconhecidas, ou abordar o assunto por meio
da classificação usada pela profissão psiquiátrica. No entanto, uma vez que a
doença mental se expressa em uma grande variedade de formas, será bom ter-
mos alguma ideia do escopo do assunto. Assim, algumas considerações sobre
essas diferentes manifestações são necessárias antes de prosseguirmos. Os ter-
mos que usaremos serão os mesmos usados por aqueles que tratam as doenças
mentais, pois esses termos são comumente reconhecidos e entendidos. Vejamos
alguns exemplos de doenças mentais e distúrbios comportamentais.
4 https://www.bibliaonline.com.br/aa/1pe/1/23
8 Muitas Perguntas
Distúrbios Psicóticos
Distúrbios de Personalidade
traços nos tornam indivíduos distintos e são conhecidos como nossa persona-
lidade. Em alguns indivíduos certos traços tornam-se exagerados em tal ex-
tensão que passam a ter padrões de comportamento seriamente inflexíveis e
limitados. Muitas vezes a inflexibilidade de personalidade e sua vulnerabili-
dade a estresses específicos resultam em verdadeiras dificuldades de adaptação
social, levando a distúrbios significativos na vida individual. Alguns possuem
uma personalidade dependente, na qual o indivíduo tem dificuldade de tomar
decisões, iniciar projetos por conta própria, ou expressar desacordo. Tais pes-
soas fazem de tudo para obter a aprovação dos outros e são urgentes na busca
por relacionamentos. Outros possuem um tipo de personalidade evasiva, não
estando dispostos a se envolverem com coisa alguma a não ser algumas coisas
que gostam. Tais pessoas se preocupam em ser criticadas e são inibidas em situ-
ações novas por se sentirem inadequadas. A personalidade antissocial não tem
capacidade de formar relacionamentos adequados com os outros. Eles parecem
insensíveis e autocentrados, desprovidos de um senso de responsabilidade, e
são dados a prazeres imediatos. Eles muitas vezes não possuem capacidade de
juízo próprio, mas ainda assim são inteligentes o bastante para planejar racio-
nalizações que convençam a si mesmos que suas ações são razoáveis e justifica-
das. A personalidade obsessivo-compulsiva preocupa-se com ordem, perfecci-
onismo e controle interpessoal, ao custo de flexibilidade, abertura e eficiência.
A descrição a seguir nos fornece um exemplo de uma personalidade obsessivo-
compulsiva:
"A Sra. C., uma gerente de loja de 41 anos, foi fazer uma avaliação psico-
lógica graças à insistência do gerente regional da rede de lojas para a qual
trabalha. Ela falhou em entregar os últimos quatro relatórios periódicos em
tempo, e sua loja tem uma das piores taxas de produtividade da rede, ape-
sar de ela usualmente chegar cedo no trabalho e ficar até mais tarde do que
qualquer outro gerente, e parecer estar ocupada em cada minuto do dia. A
Sra. C trava frequentes batalhas com seus funcionários e tem a maior taxa
de rotatividade de funcionários na rede. Quando confrontada com esses
problemas, ela insiste que sua loja está sendo conduzida ’adequadamente’ e
de acordo com as regras – diferente das outras lojas da rede, que estariam
mantendo padrões de ’má qualidade’.
itens, e é essa a razão pela qual ela nunca consegue terminar seus relatórios
periódicos a tempo. Ela microgerencia cada aspecto da operação da loja e,
consequentemente, seus gerentes subordinados estão sempre pedindo trans-
ferência para outras lojas. Em vez de apreciarem a constante supervisão da
Sra. C, seus gerentes acham isso irritante e demorado. Ela está constan-
temente elaborando gráficos, tabelas e diretrizes de funcionários. Ela gasta
boa parte de seu tempo toda manhã construindo e elaborando listas de tare-
fas que nunca encontra tempo para completar.
“A Sra. C é casada há 15 anos e tem dois filhos adolescentes. Seu marido
é carteiro. O Sr. C relatou ao terapeuta que antes da Sra. C começar a
trabalhar na loja há 6 anos atrás eles tinham muitas brigas conjugais por
causa da necessidade da Sra. C de supervisionar e dirigir cada aspecto de
sua vida. Ela insistia em saber onde ele estava em cada momento e tinha
tentado planejar todas as atividades de seu tempo livre. Ele disse que foi um
grande alívio para ele quando ela começou a trabalhar na loja, tornando-se
ocupada demais para prestar tanta atenção na vida dele. O Sr. C diz que é
difícil para ele e os filhos convencerem sua esposa a tirar férias e que geral-
mente acaba não sendo muito divertido quando ela concorda em ir. A Sra.
C planeja o itinerário e as atividades minuciosamente e insiste que todos de-
vem participar do que ela agendou. Nada de espontâneo ou não planejado é
permitido, e ela espera que todos passem o tempo ’produtivamente’, mesmo
quando de férias.”6
Distúrbios de Ansiedade
"Anne-Marie (não é seu verdadeiro nome) era uma filha de 10 anos de idade,
de uma família intacta e apoiadora, que foi descrita como ’ansiosa de nasci-
mento’. Ela tinha sido retraída e tímida na pré-escola, mas se adaptou bem
à 1a série e começou a fazer amigos e a se dar bem na escola. Ela apresentou
várias vezes dores abdominais crônicas e difusas que eram piores de ma-
nhã e nunca ocorriam à noite. Ela tinha perdido cerca de 20 dias de escola
durante o ano anterior por causa da dor. Ela também evitava viagens de
campo da escola, temendo um acidente com o ônibus. Seus pais relataram
que ela tinha dificuldade em pegar no sono e frequentemente pedia que a
tranquilizassem.
"Ela se preocupava que ela e os membros de sua família pudessem morrer.
Ela era incapaz de dormir antes de um teste. Ela não conseguia tolerar que
seus pais estivessem em outro andar da casa em que ela não estivesse, e ela
verificava as portas e janelas à noite, temendo intrusos.
"Seu medo de ficar sozinha, necessidade de tranquilização constante, pro-
blemas com faltas na escola eram tanto frustrantes quanto perturbadores
para seus pais.
"Ela não tinha experimentado quaisquer eventos traumáticos, embora ela
reagisse fortemente às imagens do 11 de setembro de 2001 na televisão.
Um de seus avós tinha morrido no ano interior. Uma tia materna tinha
recentemente sido tratada com fluoxetina [uma droga antidepressiva] para
depressão e era descrita como ’uma pessoa nervosa’.
“Anne-Marie tem sintomas típicos de um distúrbio de ansiedade infantil.”7
Distúrbios de Humor
8 Jamison, Kay Redfield, An Unquiet Mind. (Alfred A. Knopf, New York, 1995), pg. 67–8
14 Muitas Perguntas
A Natureza do Homem
17 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/17/15
18 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/4/24
16 Muitas Perguntas
Capítulo 2
Como então a doença mental se desenvolve? Será algo físico, causado por al-
gum desequilíbrio químico ou outras mudanças no cérebro que não permitem
que a alma e o espírito se expressem adequadamente? Ou trata-se de algo per-
tencente principalmente ao domínio metafísico – a alma e o espírito? Seria al-
gumas vezes a combinação de ambos? Ou será que a origem vai ainda além
disso, e envolve o “eu” consciente que controla o espírito, a alma e o corpo? Se-
ria a origem sempre a mesma, ou diferentes formas de doença mental possuem
diferentes causas? Ao buscarmos responder tais questões a partir de um ponto
de vista bíblico, devemos começar com a raiz do problema – o pecado. Todo
distúrbio e confusão neste mundo decorre dessa terrível coisa que foi introdu-
zida no mundo no Jardim do Éden. Ao considerarmos o efeito do pecado e suas
consequências neste mundo, devemos abordar a questão de pelo menos três for-
mas. Primeiramente, devemos considerar o pecado em cada um de nós como
criaturas adâmicas [provenientes de Adão], e que, portanto, sentimos os efeitos
do pecado em nosso ser porque nascemos de uma raça caída. Em segundo lu-
gar, devemos considerar o pecado que voluntariamente permitimos em nossas
vidas e que também podem causar efeitos em nossas vidas. Finalmente, deve-
mos considerar o pecado como estando no mundo e assim afetando cada um de
nós do lado de fora, como em circunstâncias adversas ou em algo que pode ser
feito contra nós.
18 A Natureza da Doença Mental
Os Efeitos Físicos
Os Efeitos Físicos
Primeiramente, sabemos que nossos corpos são afetados pelo pecado, o pecado
que foi introduzido no mundo no Jardim do Éden. Deus tinha dito a Adão:
“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque
no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gênesis 2:171 ). As pala-
vras “certamente morrerás” no original hebraico podem ser lidas como “mor-
rendo, morrerás”. Ao longo da história da humanidade o homem aprendeu de
forma brutal a verdade dessa afirmação à medida que experimentou os distúr-
bios e deterioração gradual de seu corpo. O cérebro é parte do corpo e assim
foi afetado por tudo isso. Uma vez que a alma e o espírito (e finalmente o “eu”
consciente) devem se expressar por meio do cérebro, eles podem se encontrar
incapazes de fazê-lo adequadamente por causa do funcionamento desordenado
do cérebro. A organização física imperfeita do homem desde a queda tornou a
mente (usada no sentido geral), através de sua conexão com o corpo (neste caso,
o cérebro), sujeita a falsas percepções e expressões anormais.
Tais coisas como o mal de Alzheimer, de Parkinson, tumores cerebrais, lesões
na cabeça e infecções cerebrais podem causar distúrbios comportamentais. A
falta de sono adequado pode também ser incluída aqui. Podemos colocar o
álcool e outros abusos de substâncias nessa categoria, pois afetam o cérebro de
forma física. Aqui já estamos lidando com uma combinação de causas, pois o
álcool e o abuso de substâncias envolve pecado voluntário, enquanto problemas
na cabeça e falta de sono envolvem circunstâncias adversas e o efeito do pecado
vindo de fora.
A maioria de nós já teve contato com alguém que desenvolveu mal de Alzhei-
mer, e como resultado não pensa nem age de modo normal. O indivíduo geral-
mente tem concentração fraca, memória ruim para eventos recentes, dificuldade
de planejamento e organização de sua vida, e habilidades de raciocínio preju-
dicadas. Mais sérios ainda são os problemas emocionais e psicológicos resul-
1 https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/2
19
corpo” (Romanos 8:234 ). Apenas quando o crente tiver seu corpo glorificado ele
funcionará do modo que Deus pretendia. Mas, novamente, o problema da do-
ença mental é mais complicado do que simplesmente um distúrbio do cérebro.
Alma e Espírito
Até agora, consideramos apenas como o pecado afetou o lado físico do homem,
e como um cérebro doente ou danificado pode não responder da maneira cor-
reta. Mas será que percebemos que o pecado atingiu cada parte do nosso ser,
moral e espiritual, assim como o físico? Nós prontamente concordaríamos que
a tendência a mentir, roubar ou matar é evidência definitiva do pecado que está
em nós por causa da queda do homem. Devemos reconhecer, no entanto, que
a alma e o espírito são afetados pela queda do homem, não apenas em nossa
tendência de cometer pecado, mas também ao manifestarmos anormalidades
que o pecado causou. Somos todos nascidos neste mundo como pecadores
perdidos, e enquanto a essência do mal não está nem no próprio corpo nem na
natureza humana e suas faculdades, mesmo assim tudo isso é prejudicado por
ela. Davi podia dizer no Salmo 51:55 : “Eis que em iniquidade fui formado, e
em pecado me concebeu minha mãe”. Paulo diz em Romanos 7:186 : “Porque eu
sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”. O termo “a
carne”, como usado nas Escrituras, às vezes refere-se ao ser natural completo
do homem – corpo, alma e espírito.7 (Isto é desenvolvido mais plenamente na
seção sobre “A Natureza do Homem”.) As Escrituras também nos dizem que
somos naturalmente “filhos da desobediência; entre os quais todos nós tam-
bém antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne
e dos pensamentos” (Efésios 2:2,311 ). Eu sugeriria que tudo do ser humano está
incluído nesses versículos. Deste modo, o corpo (incluindo o cérebro) sente o
efeito do pecado em seu funcionamento desordenado e em sua deterioração, e a
alma e o espírito, com todas as nossas faculdades, foram afetados pelo pecado.
Em seu livreto “Auto-Estima”, o autor afirma:
4 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/8
5 https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/51
6 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/7
7 Do mesmo modo,lemos do Senhor Jesus que Ele “padeceu por nós na carne” (1 Pedro 4:18 ),
que Ele “levou ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1 Pedro 2:249 ), e
que “a sua alma se pôs por expiação do pecado” (Isaías 53:1010 ). Assim como todo o nosso ser
esteve envolvido em pecado, assim o Senhor Jesus sofreu em todo o Seu ser pelo pecado.
11 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/2
21
ser às vezes um problema espiritual, e possa sempre ter uma dimensão espiri-
tual, a própria tendência é o resultado do pecado distorcendo a alma e espírito
assim como o corpo. Muitas vezes, o pecado distorce tanto o físico quanto o
não-físico ao mesmo tempo, resultando em uma origem complexa para uma
doença mental em particular. Isto nos traz a uma consideração de um segundo
aspecto do pecado e suas consequências, a saber, o pecado que permitimos em
nossas vidas.
Pecado Voluntário
Já vimos que todos nascemos membros de uma raça caída, e, como tais, somos
sujeitos aos efeitos do pecado em nosso espírito, alma e corpo. Além disso,
uma vez que o pecado entrou neste mundo temos também uma natureza pe-
caminosa que as Escrituras chamam de “a carne”. As Escrituras usam essa ex-
pressão para descrever o “eu” pecaminoso do homem que não pode agradar a
Deus (Isto também é explicado em mais detalhes na seção sobre “A Natureza
do Homem”12 ). No Novo Testamento, especialmente nas epístolas de Paulo,
essa expressão é usada para se referir à condição moral do homem sem Deus e
aos princípios de vontade própria que governam as ações do homem natural.
Quando permitimos que nossa natureza pecaminosa, “a carne”, aja, ela pode
certamente contribuir, e às vezes ser o fator principal, da doença mental.
Quando permitimos o pecado em nossa vida, é algo imediatamente mais
sério, pois traz em cena nossa responsabilidade perante Deus. Isto é visto clara-
mente no caso de Nabucodonosor em Daniel 4, cujo estado mental foi permitido
por Deus por causa de seu orgulho. Tal pecado é obviamente diferente da ten-
dência à doença mental que é herdada, pois envolve o que as Escrituras chamam
de “o pecado que tão de perto nos rodeia” (Hebreus 12:1). Embora não exista
dúvida de que a tendência a esses pecados que nos rodeiam é muitas vezes
transmitida de família, ainda assim devemos traçar uma distinção entre o que é
o resultado do pecado e o que é o próprio pecado. Pensamentos pecaminosos
e comportamento ruim podem precipitar a doença mental, e aqui temos, defi-
nitivamente, um problema espiritual. Há, no entanto, encorajamento para lidar
com isso, pois como crentes podemos conhecer a libertação do pecado pois o
Senhor Jesus morreu pelos pecados. Falaremos mais sobre esse assunto quando
discutirmos o tratamento.
12 N.do T.: Não traduzida ainda, mas pode ser lida no texto original, das páginas 78 a 98:
https://drive.google.com/file/d/0B-YRE-dLph2XX1IyUlhpYU43V0U/view?usp=sharing13
24 A Natureza da Doença Mental
"Uma jovem, criada em um lar cristão, começou a fazer coisas que sua
consciência condenava. Não querendo admiti-las e confessá-las a Deus, ela
começou a convencer-se a si mesma primeiramente de que Deus não se im-
portava, e depois de que não havia Deus. Por muitos anos ela afirmava ser
ateia. Mas o pecado em sua vida gradualmente se desenvolveu em ansiedade
e medo.
Às vezes tentamos culpar o mau comportamento a alguma causa física tal como
uma anormalidade no cérebro. Um caso assim envolveu um proeminente po-
lítico que estava atendendo a uma conferência de imprensa. Segue o relato do
que aconteceu, escrito por alguém que o ouviu:
"Esse político que possuía uma campanha antidrogas foi um homem evasivo
e que nunca assumiu suas culpas e responsabilidades através de seus dois
25
Sua resposta foi imediatada: ’Eu não fiz isso’, ele respondeu. ’Meu cérebro
estava bagunçado. Foi meu cérebro que fez isso. Minha doença fez isso!’.
Não havia qualquer sinal de remorso – apenas indignação de que alguém
tivesse feito tal pergunta"14
"Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para
quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos
vermelhos?Para os que se demoram perto do vinho. . .
“Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará
perversidades.” (Provérbios 23:29–33)
Outros Vícios
Está além do escopo deste livro tratarmos em detalhes sobre cada tipo de vício,
mas é interessante fazermos alguns comentários antes de prosseguirmos. Pri-
meiramente, devemos nos lembrar que os vícios podem incluir muitas coisas
em nossas vidas. Paulo diz aos coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas
nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me
deixarei dominar por nenhuma” (1 Coríntios 6:12). As Escrituras mencionam
tais coisas como imoralidade sexual, o abuso do álcool, e a glutonaria, mas po-
demos nos deixar dominar por muitas outras coisas – esportes, exercício físico,
jogos de azar, cafeína – e até mesmo coisas como a tomada de riscos. Devemos
reconhecer que os desejos indisciplinados que dirigem os vícios são encontra-
dos em cada coração humano. O Senhor Jesus disse: “Todo aquele que comete
pecado é servo do pecado” (João 8:34).
Sem dúvida, a tendência a um vício em particular é influenciada tanto pela
genética quanto por várias influências em nossa educação, mas então nossa von-
tade entra em cena, pois gostamos de pecar. Então, quando nos entregamos
repetidamente a um comportamento em particular, nos tornamos escravizados
de modo que isso nos controla. Assim temos atos propositais de pecado combi-
nados com a natureza controladora dos vícios. De fato, todo pecado age assim,
30 A Natureza da Doença Mental
mas os vícios tornam isso mais aparente. Se negamos a escravidão dos vícios,
então precisamos assumir que o indivíduo tem poder para mudar a si mesmo.
Isto não é verdade, pois a vontade do homem não tem poder algum contra o
pecado sem o poder da graça de Deus. Por outro lado, se negamos o pecado vo-
luntário envolvido nos vícios, então acabamos nos permitindo a colocar a culpa
fora de nós mesmos, assim como fez o político mencionado anteriormente, que
dava a desculpa de que seu tráfico de drogas era pelo fato de que seu cérebro
estava bagunçado. A realidade é que uma tendência em nossos corações – “o
pecado que tão de perto nos rodeia” (Hebreus 12:1) – encontra sua expressão
nas escolhas pecaminosas e acaba num comportamento controlador que lem-
bra uma doença. “Havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o
pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tiago 1:15).
Consideremos agora o terceiro aspecto do pecado e suas consequências: as
circunstâncias e o pecado agindo em nós do lado de fora.
são efeitos externos – vindos de fora de nós mesmos – do pecado: o pecado que
distorceu todo o padrão de vida neste mundo.
Se alguém sofre de dor física severa e crônica por mais de um mês, ele co-
meçará, humanamente falando, a desenvolver depressão. A perda da fonte de
renda, ou mais sério ainda, a morte de uma pessoa amada, também pode preci-
pitar um surto de depressão. Aqueles com distúrbios mentais mais sérios como
a esquizofrenia podem, às vezes, conseguir seguir vidas relativamente normais
se a maior parte do estresse for removido, mas sua doença é grandemente agra-
vada pelas circunstâncias. Indivíduos sujeitos aos horrores da guerra e/ou à
tortura frequentemente sofrem tais coisas como trauma pós-guerra e até mesmo
mudanças de personalidade no longo prazo. Tudo isso é às vezes chamado de
distúrbio de estresse pós-traumático. Quanto menos resiliente e quanto maior a
fragilidade emocional, mais facilmente as circunstâncias adversas podem levar
a pensamentos e comportamentos anormais óbvios.
Tudo isso aumentou muito em nosso mundo moderno. Na época em que
este livro foi escrito, coisas como a depressão e casos sérios de ansiedade tinham
aumentado dramaticamente no Canadá durante os últimos vinte anos. Distúr-
bios com um componente psicológico, tais como a fibromialgia e síndrome de
fadiga crônica, têm se tornado cada vez mais comuns. Muitas vezes o estresse
na vida de uma pessoa leva ao sono perturbado e finalmente à privação crônica
do sono. Isto resulta em fadiga crônica, ansiedade aumentada, dor física, e, fi-
nalmente, depressão. Toda a síndrome torna-se um círculo vicioso, uma vez que
a depressão e a ansiedade levam a mais estresse. Além disso, devemos perceber
que o estresse pode ser devido à nossa própria vontade, onde nosso orgulho nos
empurra para fazermos as coisas do nosso próprio jeito. A frustração que ocorre
quando nossa vontade é frustrada pode produzir estresse e, finalmente, todos
os problemas que temos mencionado. Alguém sabiamente observou que “as
circunstâncias não nos dariam problemas se elas não encontrassem algo em nós
que é contrário a Deus; elas apenas sussurrariam levemente como a brisa”19 .
Aqui novamente estamos em uma área onde diferentes causas de doença men-
tal se sobrepõem, tornando o assunto bastante complexo.
19 Darby,J. N., God’s Rest, the Saint’s Rest. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 16,
Stow Hill Ed.), pg. 117
32 A Natureza da Doença Mental
É nesta área que devemos tecer alguns comentários sobre o Senhor Jesus Cristo.
Ele como um Homem sem pecado veio a um mundo de pecado, e assim expe-
rimentou todos os terríveis efeitos do pecado vindos de fora de si mesmo. Ele
passou por todo tipo de sofrimento que um homem sem pecado poderia pas-
sar. Lemos em Hebreus 4:1520 : “Porque não temos um sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo
foi tentado, mas sem pecado”. Tudo isso foi elevado a uma altura sem paralelos
quando Ele foi até a cruz, pois ali Ele experimentou não apenas tudo o que o
coração perverso do homem podia inventar, como também a ira de um Deus
Santo contra o pecado. Como um homem sem pecado, Ele sentiu isso tudo, e
sentiu-o perfeitamente. Ao contemplar isso tudo no jardim de Getsêmani, Sua
alma santa ficou oprimida pelo que lhe aguardava. O evangelho de Mateus
relata a cena como segue:
Aqui encontramos a perfeição sem pecado na presença do mal, e mal tão grande
como nenhum outro jamais pôde experimentar, mesmo encontrando-se naquela
perfeição que tudo aceitou do Pai. Como vimos, o mal tende a deprimir a alma,
e nosso Senhor sentiu o mal pessoalmente, mas perfeitamente, por causa de
Sua santidade. Como resultado, uma vez que Satanás não tinha nada com Ele,
a consequência de sua depressão apenas resultou em comunhão com Deus. Al-
guém observou com precisão, no que diz respeito à obra de Cristo na cruz:
“Desprezo, inimizade, perfeita depressão (Ele foi crucificado em fraqueza, veja
versículo 14 do Salmo 2222 ) e a face de Jeová dEle escondida, essas coisas mar-
caram Seu verdadeiro estado lá, mas [Ele foi] fiel, dizendo: ’Tu és santo’.” (grifo
do autor)
Teremos mais a dizer sobre esse assunto quando falarmos sobre o tratamento
da doença mental, mas é humilhante e ao mesmo tempo encorajador ver nosso
20 https://www.bibliaonline.com.br/acf/hb/4/15
21 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/26
22 https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/22
33
Circunstâncias Passadas
Possessão Demoníaca
Ações Criminosas
Vimos como o pecado voluntário pode causar doença mental, e como o pecado
que permitimos em nossa vida pode agravar uma tendência que já está presente
em nosso ser como resultado do pecado. Se isso for levado além de um certo
ponto, o indivíduo pode acabar se envolvendo com atividades criminosas. Este
é um outro caso em que o pecado voluntário combina-se ao pecado como um
resultado da queda do homem. Novamente, por ser um tipo especial de pecado
voluntário, o deixaremos para maiores considerações em um apêndice.
Conclusões
À luz de tudo o que temos considerado, torna-se óbvio que a doença mental,
seja leve ou seriamente incapacitante, é um assunto muito complicado. Há
quase sempre múltiplas causas – físicas, espirituais, circunstanciais, etc. É a pre-
sença dessas múltiplas causas juntamente com nosso entendimento limitado da
doença mental que é, sem dúvida, responsável por muito do mal-entendido e
pensamento desequilibrado sobre o assunto.
Há aqueles que reduziriam qualquer resposta mental ou emocional anor-
mais a um problema espiritual, enquanto outros diriam que é tudo físico, relaci-
onado ao mal funcionamento dos neurotransmissores e de problemas químicos
no cérebro. Vimos que nenhuma dessas respostas está totalmente errada, mas
que nenhuma também está totalmente certa. Alguns tentariam relacionar tudo
a experiências que tivemos em algum momento anterior de nossas vidas, en-
quanto outros diriam que o pecado original é a causa de todos esses problemas.
Novamente, ambos podem ser fatores causadores da doença mental, mas ne-
35
23 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/5/12
24 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13/9
36 A Natureza da Doença Mental
Capítulo 3
Tratamento
Princípios Gerais
Todos sabemos que o tratamento de uma doença pode ser complicado, mesmo
se estivermos considerando principalmente a doença física. Não é suficiente
tratar apenas o corpo, pois sabemos que o espírito, alma e corpo interagem
de maneiras bem reconhecidas, embora mal compreendidas. As Escrituras nos
dizem que “um coração alegre promove a cura, mas um espírito quebrantado
(abatido) seca até os ossos” (Provérbios 17:221 , tradução de J.N.Darby). Do
mesmo modo, lemos: “O espírito de um homem susterá sua enfermidade; mas
um espírito quebrantado, quem pode suportar?” (Provérbios 18:142 , tradução
de J.N.Darby). Assim, a parte não-física e física influenciam uma à outra, seja
para o bem ou mal. Este princípio é bem conhecido nos círculos médicos, e
no mundo em geral. Mesmo em doenças simples e comuns como o resfriado,
estudos apontam que pessoas felizes e bem ajustadas pegam menos resfriados,
e de duração mais curta, do que aqueles que estão infelizes ou sob estresse.
O mesmo ocorre com a doença mental, pois vimos que, na maior parte dos
casos, o espírito, a alma e o corpo estão envolvidos. Todos os variados fatores
responsáveis devem ser considerados e identificados, e o tratamento não será
efetivo sem isso. Muitas doenças mentais possuem algum componente físico, e
assim é um erro enxergar todos os distúrbios mentais como problemas espiri-
tuais. Por outro lado, é um erro ainda maior enxergar todo o problema como
físico, pois enquanto os medicamentos podem tratar o que é físico, eles não tem
1 https://www.bibliaonline.com.br/acf+dby/pv/17/22+
2 https://www.bibliaonline.com.br/acf+dby/pv/18/22+
38 Tratamento
3 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1jo/1/7
4 https://www.bibliaonline.com.br/aa/atos/17/30
39
“Pois não temos um sumo sacerdote que não possa simpatizar com
nossas enfermidades [ou fraquezas], mas tentado em todas as coisas
da mesma forma, mas sem pecado. Aproximemo-nos, portanto, com
ousadia ao trono da graça, para que possamos receber misericórdia,
e encontrar graça para ajuda em tempo oportuno” (Hebreus 4:15–165 ,
tradução livre da versão em inglês de J. N. Darby).
"Seja qual for o estado em que te encontras, venha a Jesus, e descobrirás que
Ele é sempre gracioso, que Ele sempre tem graça. . .
"Ele foi desprezado por isto – fiel no amor, passando por todo a cena do
homem, porque Ele foi a Testemunha fiel, para que a graça possa vir a mim
onde estou, envergonhado à vista dos homens: lá Cristo vem buscar-me,
determinado a ser a fiel Testemunha de Deus, que é rica em misericórdia.
Já nos referimos ao Senhor Jesus como tendo passado por todo tipo de sofri-
mento e circunstâncias difíceis que um homem sem pecado poderia passar, até
mesmo a perfeita depressão que lhe sobreveio ao contemplar e eventualmente
passar pelos Seus sofrimentos na cruz. Vimos como Ele aceitou isso tudo das
mãos de Seu Pai, e assim, em perfeição, continuou em comunhão com Seu Pai
em tudo isso. Como resultado, Ele é agora capaz de ser um “misericordioso e
fiel sumo sacerdote” (Hebreus 2:176 ) para aqueles que também estão passando
pelas dificuldades do caminho cristão.
5 https://www.bibliaonline.com.br/acf+dby/hb/4/15–16+
6 https://www.bibliaonline.com.br/acf/hb/2/17
40 Tratamento
É claro que seria blasfemo sugerir que nosso bendito Senhor Jesus tenha
sofrido alguma doença vinda de dentro de Si, seja física ou mental, mas ao pas-
sar por todas as circunstâncias que podemos ser chamados também a passar,
Ele experimentou, vindo de fora de Si, todo o mal que havia no mundo. Por
causa de Sua natureza santa e por causa de Seu amor, Ele sentiu tudo isso como
nenhum outro poderia. Era comum que os homens perdessem a razão por con-
sequência de uma flagelação romana, mesmo assim o Senhor Jesus suportou
tudo isso, e “deu o testemunho de boa confissão” (1 Timóteo 6:137 ) perante Pi-
latos mais tarde. Já observamos que em Mateus 26:378 (versão de J. N. Darby)
é dito que o Senhor Jesus ficou “triste e profundamente deprimido” no jardim
de Getsêmani, mostrando que Ele sentiu grandemente a perspectiva de ser feito
pecado por nós. Ainda assim Ele podia, ao mesmo tempo, pensar no bem-estar
espiritual dos outros, dizendo aos Seus discípulos que orassem para que não
entrassem em tentação. Assim nosso bendito Senhor está lá por nós, não como
Alguém que não passou por nenhuma de nossas provas, mas que foi provado
em tudo pelo que estamos passando, embora fosse sem pecado. Ele quer que
venhamos a Ele com nossas enfermidades e fraquezas, de modo a obter miseri-
córdia e graça para nos ajudar quando precisamos.
Apesar de não querermos sugerir que a doença mental é permitido por Deus
simplesmente para nos tornar mais dependentes do Senhor, ainda assim é ver-
dade que a natureza única de um distúrbio mental nos impele a buscarmos ao
Senhor de um modo que talvez a mera doença física não faça. Alguém obser-
vou que Ele reserva Suas mais ricas cordialidades (estimulantes) para nossas
mais profundas necessidades. Assim somos levados a sugerir que o Senhor
deseja que nos aproximemos primeiramente dEle em nossas dificuldades, pri-
meiramente em submissão e aceitação do problema permitido por Ele, e então
em um espírito de súplica por Sua ajuda no assunto. Finalmente, apenas Ele
pode curar, e apenas Ele pode direcionar quanto a que formas adicionais de tra-
tamento devemos buscar. Não podemos enfatizar isto com muita força, pois
enquanto o homem muitas vezes fornece alívio dos sintomas, tanto da doença
física quanto mental, no final o único remédio para o pecado é encontrado na
cruz. Todas as outras formas de tratamento devem ser vistas sob esta luz.
7 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1tm/6/12–14
8 http://bibliaportugues.com/dbt/matthew/26.htm
41
Ele Dá Graça
Mesmo que causemos alguns dos problemas pelos nossos próprios pecados que
permitimos, lembremo-nos que se viermos ao Senhor falar sobre isso, Ele sem-
pre nos encontrará em amor. Eu conheci um homem (já com o Senhor) que
tinha perdido sua juventude e que sofreu de dano cerebral permanente como
resultado do constante abuso de álcool. Ele foi obrigado a passar o resto de sua
vida em uma instituição, e sua atitude e comportamento inicialmente dificulta-
ram bastante para os funcionários que estavam ali para cuidar dele. Mas então
ele aceitou o Senhor Jesus como seu Salvador, e embora suas capacidades men-
tais ainda fossem muito limitadas e seu comportamento não totalmente normal,
a mudança nele foi marcante. Ele tornou-se fácil de lidar, sempre levava um
sorriso no rosto, amava falar sobre o Senhor, e tomava parte proeminente no
cântico de hinos que ocasionalmente ocorria no lugar em que vivia. Ele even-
42 Tratamento
tualmente faleceu, com idade relativamente jovem, mas ele foi certamente um
caso onde “ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo,
se renova de dia em dia” (2 Coríntios 4:169 ).
Se há pecado em nossa vida que contribui para com o problema, podemos
trazê-lo diante do Senhor e lidar com isso. Muito do estresse em nossa vida
deriva disso, e talvez nem sequer percebamos. Novamente, e gostaria de en-
fatizar muito bem este ponto. Muitos queridos crentes estão, de fato, tentando
andar como filhos da luz. À medida que falhamos em produzir o fruto dessa
luz, podemos nos tornar desiludidos pois somos dirigidos por algo que vem
do profundo de nosso interior e que ainda não compreendemos. Talvez tenha-
mos entendido corretamente a salvação como um presente gratuito, mas não ter
entendido que devemos operá-la com temor e tremor (Filipenses 2:1210 ). Não
entendemos adequadamente que a santificação (sermos separados para Cristo)
é um processo assim como uma posição. Assim, tendemos a forçar em ter-
mos de controlar o comportamento em vez de o fazermos pela renovação da
mente (Romanos 12:211 ). Em vez de um comportamento realmente mudado,
o resultado é a repressão da carne em vez de morte para ela. Controlamos as
tendências más enquanto permitimos que permaneçam armazenadas no cora-
ção. Então, quando o comportamento entra em erupção, o que não é de acordo
com Cristo, lutamos intensamente para controlar o comportamento ou repreen-
der o diabo (que teve matéria-prima para trabalhar, mesmo que tenha sido ele
quem disparou o comportamento), em vez de lidar com a verdadeira raiz do
problema.
9 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/4/16
10 https://www.bibliaonline.com.br/acf/fp/2/12
11 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/12/2
12 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/6
43
Responsabilidade Moral
escusar nossa falha em não conseguirmos ser como Cristo tomando refúgio em
nossas dores corporais, como se não pudéssemos fazer nada. Como dissemos
anteriormente, certamente as doenças mentais e físicas podem tornar-nos mais
vulneráveis a um ataque de Satanás e assim tornar mais fácil o pecar, mas não
podemos usar isso como uma desculpa pelo comportamento errado.
Nosso comportamento pode ser simplesmente anormal e, assim, de certo
modo censurável por nós mesmos e por outras pessoas, e às vezes pode ser
claramente pecaminoso. Como já observamos, às vezes a linha entre ambos os
casos é fina. No final, apenas o Senhor conhece perfeitamente todos os fatores
que contribuíram para nosso estado mental alterado e talvez para nosso com-
portamento anormal. Na presença do Senhor podemos abrir nossos corações
a Ele, que conhece todas as coisas, e que se importa conosco como um pastor
cuida de Sua ovelha. Lemos em Isaías 53:415 : “Verdadeiramente ele tomou so-
bre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si”, e certamente
isto inclui as dores da doença mental assim como a enfermidade que podemos
experimentar. William Kelly comenta sobre esse versículo de um modo muito
útil:
“Ele estava aqui neste mundo em graça, passando por um mundo arrui-
nado, necessitado e triste, pronto a ajudar a qualquer que viesse a Ele, todos
os que Lhe eram trazidos, endemoniados ou doentes; e uma palavra era sufi-
ciente para o pior. Assim foi cumprido Isaías 53:4 (não ainda a obra vicária
[substitutiva] do versículo 5, em sequência). Certamente aquilo não era
sacrificial. . . era o poder que dissipava a doença de qualquer paciente que
entrava em contato com Ele; e isso tudo não como alguém em distância in-
sensível, mas alguém que (em amor tão profundo como Seu poder) tomou
tudo, levou tudo, sobre Seu espírito com Deus.”16
A Graça de Deus
Nosso bendito Senhor quer que confiemos nEle como aquEle que nos conhece
e nos ama. De acordo com isso, sugerimos que o que é necessário, mais do
que qualquer outra coisa, para o crente que sofre de doença mental, é um
profundo entendimento, na alma, da graça de Deus. Devemos ver que a graça
15 https://www.bibliaonline.com.br/acf/is/53/4
16 Kelly, W., Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 189
45
de Deus é Seu favor imerecido, e que ela foi estendida a nós quando não ha-
via nada em nós para amar. Quando vemos que Ele nos ama apesar do nosso
pecado (pecado que trazemos sobre nós mesmos pela desobediência), e que Ele
enviou Seu Filho para morrer por nós, percebemos quanto amor há em Seu cora-
ção para conosco. Vemos mais e mais da verdade de Romanos 8:3217 : “Aquele
que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós,
como nos não dará também com ele todas as coisas?”. Isto não implica que a
graça de Deus simplesmente removerá toda a dor da doença mental mais do
que Ele remove de nossas doenças físicas. Em vez disso, ele nos mostra que
aquEle que enviou Seu Filho para morrer por nós para que possamos passar a
eternidade com Ele é certamente capaz de nos ajudar a lidar com questões que
têm a ver com nossas vidas aqui neste mundo.
Quando realmente apreciamos a graça de Deus, não iremos chafurdar em
auto-piedade, ou tornarmo-nos raivosos, ou desistir em desespero. Em vez
disso, aceitaremos tudo de Deus, e assim como o Senhor Jesus no jardim de
Getsêmani, usaremos da oportunidade para nos aproximarmos mais do Senhor
em comunhão com Ele. Buscaremos a força dEle em vez de encararmos a difi-
culdade com nossas próprias forças. Outra pessoa expressou isso muito bem:
20 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/12/9
21 Darby, J. N., Parables of Luke 15. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 12, Stow Hill
Ed.), pg. 168
47
faz a pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Romanos 8:3522 ) Ele
então continua nos mostrando que nada pode nos separar do amor de Cristo,
sejam coisas nesta vida, tais como tribulações, perigos, a espada, etc., ou coisas
além do controle humano, tais como os anjos, a morte, as coisas futuras, etc. Eu
sugeriria que a doença mental está incluída nessas categorias.
"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das miseri-
córdias e o Deus de toda a consolação;
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos
consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que
nós mesmos somos consolados por Deus.
(2 Coríntios 1:3–5)
É o feliz privilégio de muitos de nós que somos crente no Senhor Jesus Cristo
sermos um auxílio para outros crentes de vez em quando, e talvez isto seja
muito necessário e apreciado no que diz respeito à doença mental. Isso é ver-
dade, quer o distúbio seja mais suave, quer em tempos de tristeza ou estresse,
ou quer estejamos lidando com um caso de psicose severa, no qual o indivíduo
se encontra fora de si. Os versículos citados acima nos mostram claramente que
Deus, nosso Pai, é a fonte de todas as verdadeiras misericórdias e consolações,
e ainda assim Ele nos dá o privilégio de mostrar o mesmo amor e cuidado pelos
outros assim como Ele mostrou a nós. Assim nos é dito em Gálatas 6:223 : “Levai
as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”.
O Dom de Pastor
Aqui é onde entra o dom de pastor, um dom que é muito necessário, mas talvez
muito raro. É um dom que muitas vezes não é apreciado como se deveria. Por
causa da natureza da obra pastoral, pouca glória humana é associada a ela, pois
ela é exercida, na maior parte, nos bastidores. É dispendiosa e às vezes não
apreciada nem mesmo por aqueles a quem está sendo dirigida. Ainda assim,
tal dom, quando adequadamente usado perante o Senhor, pode ser de valor
inestimável em casos de doença mental entre os crentes. O valor de tal dom é
expresso como segue:
“Eu creio que um pastor é um dom raro. . . Um pastor deve ser como um mé-
dico; ele deve conhecer o verdadeiro alimento, e o verdadeiro medicamento,
e o verdadeito diagnóstico, e toda a ”pharmacopoeia“, e também deve saber
como aplicar isso tudo. Em um sentido é um dom raro, e muito precioso.”
24
130
50 Tratamento
Ao considerarmos o auxílio que podemos dar aos outros, não devemos nos sen-
tir desamparados mesmo se não tivermos o dom de pastor. Há muitas formas
que o auxílio pode tomar, e o grau de ajuda que alguém pode oferecer será de-
terminado não apenas pelo dom individual, mas também por sua maturidade
e sabedoria nas coisas espirituais. Isto, por sua vez, dependerá muito do quão
próximo a pessoa estiver andando com o Senhor. Assim como “a oração [fer-
26 https://www.bibliaonline.com.br/acf/tg/5/16
51
vente] feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5:1627 ), assim um
crente que está vivendo em proximidade com o Senhor terá a mente dEle e será
de muito maior ajuda em tais situações do que um que é meramente inteligente,
em um sentido natural. Além disso, como vimos nas Escrituras que já citamos
de 2 Coríntios 1:3–628 , é muitas vezes aquele que, ele próprio, já passou por
dificuldades, que pode ajudar o próximo que está passando por uma provação
similar. Isto não é o mesmo que dizer que precisamos experimentar a doença
mental de modo a sermos capazes de ajudar outro crente que tem esse pro-
blema, mas faz-nos perceber que aqueles que já passaram por provações com o
Senhor são geralmente mais equipados para auxiliar outros do que aqueles que
podem ter tido um caminho mais fácil.
O auxílio dado pode tomar diferentes formas. Às vezes, a simples preocu-
pação e companheirismo do outro, com o conhecimento de que outros estão
orando por ele, podem ser de imensurável ajuda a alguém que está sofrento de
doença mental. Provavelmente, muito do que se passa por doença mental neste
mundo está relacionado à falta (ou falta aparente) de amor e entendimento por
parte dos outros, e o cuidado e preocupação expressa pelos outros muitas ve-
zes contribuem muito para com o alívio dos sintomas. Devemos estar dispostos
a sermos bons ouvintes, a aceitarmos a pessoa (não seu pecado), e orar tanto
com ela quanto por ela. É claro que sabedoria deve ser usada aqui, e um enten-
dimento do problema particular do indivíduo ditará como o auxílio pode ser
dado. Por exemplo, pessoas que estão deprimidas são geralmente mais ajuda-
das por visitas curtas daqueles que são otimistas e positivos, ao mesmo tempo
em que são sérias e capazes de comiserar com a pessoa sobre seus sentimentos.
Elas não são ajudadas por longas visitas e longas exortações das Escrituras.
Se sentimos que conhecemos e entendemos o indivíduo mais profundamente,
e podemos passar mais tempo com ele, então podemos ser capazes, gentil-
mente, de sondar as dificuldades ou experiências passadas que possam estar
contribuindo para com o problema. Isto requer muita sabedoria e dependência
do Senhor, pois tal tipo de aconselhamento é algo sério de empreender, e não
deveria ser tratado levianamente. Já vimos que a doença mental é complicada,
e o tratamento deve ser aplicado com cautela. Ao tentar ajudar alguém nessa
situação, devemos ser cuidadosos para não fazermos declarações definitivas
sobre eles e sobre sua doença a menos que estejamos muito certos sobre o quê
estamos falando. Muito mal já foi feito por aqueles que, tendo apenas uma vi-
27 https://www.bibliaonline.com.br/acf/tg/5/16
28 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/1/3–6
52 Tratamento
29 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/1/24
2018
Ao lidarmos com esse levar de cargas, devemos distinguir entre levar as cargas
uns dos outros e permitir que as pessoas se tornem “sanguessugas”. A palavra
“carga” em Gálatas 6:230 carrega o pensamento de um estresse ou peso intolerá-
vel e pesado que se requer ajuda para ser levado, enquanto a palavra traduzida
como “carga” no versículo 5 do mesmo capítulo é uma palavra diferente, tendo
o pensamento daquilo que é a responsabilidade normal e própria do indivíduo.
Há coisas na vida que são propriamente nossa própria responsabilidade, e que
não deveriam ser empurradas para os outros. Uma sanguessuga suga continu-
amente a força de outro, e nunca dá nada em troca. Alguns crentes não estão
dispostos a pagar o preço da oração pessoal e da disciplina espiritual de modo
a manter seu bem-estar emocional e espiritual, e assim acabam continuamente
se aproveitando da força dos outros. Tal comportamento representa um tomar
que impede o dar, e finalmente é algo da carne. Ocasionalmente tal comporta-
mento pode ter que ser repreendido. Mas, na maioria das vezes, aqueles com
doença mental serão capazes de exercer normalmente suas funções diárias, em-
bora possam precisar de ajuda de tempos em tempos. É um privilégio ser capaz
de oferecer tal ajuda!
Podemos resumir nossas observações como segue. Da parte daquele que so-
fre da doença mental, ele deve estar disposto a admitir o problema, assim como
no caso de doença física. Aqueles que se negam a admitir sua doença não serão
capazes de ser muito ajudados. Uma vez que o problema é admitido, o indi-
víduo deve estar disposto a aceitar auxílio, percebendo que Deus proveu-lhe
esse auxílio. É gratificante para nosso coração natural dizer: “Eu posso lidar
com isso sozinho; eu não preciso de ajuda”. Mas se Deus proveu auxílio para
30 https://www.bibliaonline.com.br/acf/gl/6
54 Tratamento
O Psiquiatra
Reconhecendo Sintomas
Drogas Psicotrópicas
Além disso, houve grandes passos feitos, durante os últimos cinquenta anos,
na pesquisa e desenvolvimento de drogas psicotrópicas. Começando com a
descoberta do lítio e da clorpromazina na década de 1950, os últimos cinquenta
anos têm testemunhado o desenvolvimento de uma miríade de novas drogas
que revolucionaram o tratamento de distúrbios mentais. Antes da década de
1950, a maioria dos indivíduos seriamente perturbados tinham de ser tratados
em instituições, às vezes com portas trancadas, janelas com barras, e, algumas
vezes, com restrições físicas. (O tratamento do esquizofrênico paranoico na se-
ção “Esquizofrenia e outras Condições Psicóticas31 ” é um exemplo disso). Hoje
em dia a maioria das admissões psiquiátricas são breves, com um rápido re-
torno à vida em comunidade. Muito dessa mudança é o resultado de melhores
drogas para o tratamento de doenças mentais, e aqui o psiquiatra é necessário,
pois apenas ele saberá como prescrever e supervisionar o uso dessas drogas. É
fácil perceber que tais medicamentos devem ser prescritos e administrados por
um médico capaz de apreciar as indicações para eles, assim como a dosagem
adequada, os efeitos colaterais, e a interação com outras drogas. Do mesmo
modo, alguém que é treinado a reconhecer e classificar distúrbios mentais pode
diagnosticar melhor um problema em particular e iniciar o tratamento.
Como um médico, o psiquiatra é treinado para investigar as variadas causas
dos sintomas que ele enxerga, e após juntar as informações, decidir que formas
de tratamento serão úteis no caso particular. Ele é treinado para reconhecer
diferentes forças na vida do indivíduo, e a integrá-las com a hereditariedade,
personalidade, experiências e crenças da pessoa. Então ele tenta mapear um
regime de tratamento que pode incluir terapia de apoio e drogas, assim como
ajudar a dar ao paciente uma melhor visão sobre o que ele pode fazer para
31 https://doencas-mentais-biblia.blogspot.com.br/2017/07/disturbios-psicoticos-
esquizofrenia-e.html
56 Tratamento
Administrando Remédios
Remédios e Moralidade
Talvez alguns perguntarão: “Por que então alguns crentes tem tais sentimentos
negativos sobre os psiquiatras, e são tão fortemente contra seu papel na vida dos
cristãos?” Primeiramente, devemos nos lembrar do que foi dito anteriormente,
a saber, que drogas psicotrópicas não possuem efeito moral. Elas capacitam o
cérebro a funcionar de modo mais normal, mas não podem melhorar nada além
do que é físico (o cérebro). Lidaremos mais a fundo com este assunto em uma
seção subsequente. Em segundo lugar, enquanto o psiquiatra pode certamente
fornecer cuidados de apoio e de psicoterapia, ele não pode lidar com o aspecto
espiritual da doença mental a menos que ele próprio seja um crente no Senhor
Jesus Cristo.
Enquanto a medicação e a psicoterapia humana possa fornecer algum alívio
temporário, elas normalmente não fornecerão uma solução permanente para o
problema, porque há questões espirituais que precisam ser abordadas. O com-
portamento pode ser explicado e talvez justificado como sendo a manifestação
da doença (Enquanto os psiquiatras raramente referem-se a um certo comporta-
57
mento como pecado, eles costumam dizer que “isso é apenas comportamento”,
o que significa que é uma ação voluntária, e não uma manifestação de uma do-
ença mental em particular). Certos comportamentos podem ser reconhecidos
como prejudiciais, mas o ponto de referência tenderá a ser o homem. Assim,
o comportamento pode ser considerado prejudicial para ele próprio ou para os
outros, mas geralmente não é visto como um pecado contra Deus. Finalmente,
deve-se reconhecer que o relacionamento entre o paciente e o psiquiatra é, por
necessidade, muito íntimo. As informações mais privadas e detalhes delica-
dos da vida da pessoa podem ter de ser expostos, e, como tal, o psiquiatra se
encontra em uma posição de ter que direcionar a terapia e talvez moldar o pen-
samento do paciente de um modo que poucos outros teriam a oportunidade
de fazer. A maioria dos psiquiatras, reconhecendo a importância das convic-
ções religiosas de um paciente, normalmente não dariam conselhos contrários a
elas a menos que percebessem que tais crenças estivessem no caminho de uma
resolução do problema. É fácil ver, no entanto, que tal opinião seria baseada
na própria percepção que o psiquiatra tem da situação, e se for baseada na sa-
bedoria do homem e não na de Deus, pode muito bem vir a ser contrária às
Escrituras. Devemos nos lembrar que “o temor do Senhor é o princípio do co-
nhecimento” (Provérbios 1:732 ), e isso em qualquer assunto moral e espiritual:
nosso pensamento é errado a menos que seja firmado na Palavra de Deus. Que
possamos sempre nos lembrar da afirmação em Isaías 8:2033 : “Se eles não fa-
larem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”. Se o homem deve ter
uma verdadeira compreensão de si mesmo, ele deve começar com respeito ao
Senhor, e reconhecendo que o Senhor o fez, e é a quem ele é responsável.
Assim não devemos confiar na sabedoria do homem, seja por meio de dro-
gas ou psicoterapia, para curar problemas espirituais. Em vez disso, eles devem
ser encarados na presença do Senhor. Até mesmo homens incrédulos reconhe-
ceram isso. Considere as seguintes observações do Dr. Carl Jung, um contem-
porâneo de Sigmund Freud:
“O paciente procura por algo que tomará posse dele e dará significado e
forma à confusão de sua mente neurótica. O médico seria páreo para a
tarefa? Para começar, ele provavelmente entregará seu paciente ao clero ou
ao filósofo, ou o abandonará à perplexidade que é o tom especial de nossos
dias. . . O pensamento humano não pode conceber qualquer sistema
ou verdade final que possa dar ao paciente o que ele necessita de
modo a viver: que é fé, esperança, amor e discernimento. . . ”34 (grifos
são do autor deste livro)
Onde tudo isso nos deixa então? Mais uma vez somos lançados de volta para
o Próprio Senhor, que sozinho pode dar sabedoria em qualquer ocasião. Assim
como às vezes precisamos de um médico para doenças físicas, assim podemos
precisar de um psiquiatra para uma doença mental, particularmente se a me-
dicação for necessária. Escolhemos cuidadosamente um médico para nossas
necessidades físicas, e devemos ser ainda mais cuidadosos ao escolhermos um
psiquiatra. De quanta ajuda é quando é possível encontrar alguém que conhece
34 Jung,
Carl G., Modern Man in Search of a Soul. (Harcourt, Brace & Co., New York, 1933),
pg. 260–262
59
o Senhor, e que assim está preparado para tratar o paciente em todos os sen-
tidos. Mas nem mesmo o melhor dos psiquiatras é capaz de tomar o lugar do
pastor de verdadeiro coração.
É impressionante que Carl Jung reconheça que coisas como fé, esperança e
amor sejam necessárias para a cura das pessoas, e que ele ainda reconheça que
nenhum sistema de pensamento humano poderia supri-las. Apenas ao conhe-
cer o Senhor Jesus como Salvador e ao andar com Ele essas coisas podem ser
uma realidade em nossa vida. Devemos também ter em mente que, enquanto
outros podem ser úteis ao indicar alguém na direção correta e talvez dando-lhe
discernimento quando à natureza da dificuldade, no final apenas o próprio in-
divíduo pode realmente lidar com sua necessidade espiritual na presença do
Senhor.
Consideremos agora uma disciplina aliada, mas bem diferente, que é a psi-
cologia.
Psicologia
Mais uma vez, abordamos o assunto com certa hesitação por causa das fortes
opiniões mantidas por muitos crentes sobre o assunto. Livros como A Sedução
do Cristianismo, de Dave Hunt e T. A. McMahon, e Psychoheresy (“Psicoheresia”,
não disponível em língua portuguesa), de Martin e Deidre Bobgan são impla-
cáveis em sua condenação da psicologia como é praticada hoje, e alertam os
crentes contra ela nos termos mais fortes possíveis. Tendo lido ambos os livros
e outros como eles, tenho a dizer que esses alertas são necessários, pois algu-
mas coisas que eles falam são verdadeiras. Sem dúvida muito do criticismo
deles decorre do fato de que a psicologia moderna tende a adotar uma visão
humanística e de “nova era” do homem e de seu comportamento, e deixa de
lado a Palavra de Deus como a única verdadeira autoridade nas questões mo-
rais e espirituais que são abordadas. Tendo dito isto, é também minha opinião
que muito desse criticismo, particularmente do ponto de vista dos Bobgans em
Psychoheresy, é desequilibrado e enganoso. Ao procurar chamar a atenção para
uma séria tendência em direção ao pensamento errôneo entre os crentes, eles
mesmo caíram no erro e no pensamento distorcido. Em seu esforço de expor
o pensamento falho por trás de muitas coisas na psicologia moderna, eles reu-
niram uma série de citações e opiniões negativas que nem sempre podem ser
suportadas pelas Escrituras. Na afirmações deles de que Cristo é a resposta
60 Tratamento
final para os problemas da vida, eles estão corretos. Em sua tentativa de con-
siderar a maioria desses problemas como pecado voluntário, eu creio que eles
foram longe demais. Quando eles negam que existam coisas como pensamentos
e motivos inconscientes, eles estão errados, pois a Palavra de Deus claramente
reconhece que pode haver pensamentos e motivos inconscientes que governam
nosso comportamento. Eliú pôde aconselhar Jó a orar: “O que não vejo, ensina-
me tu” (Jó 34:3235 ). Ao reconhecer a possibilidade do pecado operar inconsci-
entemente em si, Davi pôde dizer ao Senhor: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o
meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos” (Salmos 139:2336 ). Em
outro lugar, ele pôde dizer: “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu
dos que me são ocultos” (Salmos 19:1237 ). Novamente, quando eles sugerem
que o crente é chamado para estar ocupado com Cristo em vez das dores que
ele experimentou no passado, eles estão certos. Quando eles dizem que feridas
emocionais passadas realmente não têm influência em nosso comportamento
no presente, eles estão errados. Ao procurar expor um erro, eles próprios caí-
ram no erro do lado oposto. É triste dizer, mas o homem é propenso a fazer isso
em muitas áreas.
Tudo isso, então, levanta a questão: “A psicologia está sempre totalmente
errada?” Por definição, a psicologia é o estudo do comportamento humano. Isto
inclui coisas como testes de Q.I., avaliação de diversos tipos de personalidades,
reações de indivíduos a diversas forças em seu ambiente, e as diversas maneiras
pelas quais o comportamento pode ser modificado. O crente pode prontamente
ver que a psicologia não pode ser vista como uma ciência do mesmo modo
que, por exemplo, o estudo da química, pois envolve uma dimensão espiritual
assim como uma dimensão natural. Aqui novamente temos uma área em que as
Escrituras devem ser a autoridade final. Nas Escrituras, Deus explica a natureza
do homem e seu comportamento, enquanto na psicologia, o homem observa
padrões, faz suposições, e talvez aprende algo, mas de uma maneira limitada.
No entanto, a psicologia nunca chegará à completa verdade sobre a questão,
pois esta requer a revelação divina. Nas Escrituras, Deus afirma as relações
que Ele estabeleceu e o comportamento moral que é requerido que o homem
possua: na psicologia, o homem tenta explicar o comportamento sem uma base
determinada de moralidade. Nas Escrituras, Deus revela o que fará o homem
feliz, e por quê; na psicologia o homem procura descobrir o que fará o homem
35 https://www.bibliaonline.com.br/acf/j%C3%B3/34/32+
36 https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/139/23
37 https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/19/12
61
feliz, e falha. As Escrituras revelam que a causa raiz da maioria dos problemas
comportamentais do homem é o pecado e suas consequências; a psicologia, em
geral, não usa a palavra “pecado” em seu vocabulário.
Por outro lado, é, às vezes, útil entender por que um indivíduo reage de uma
determinada maneira, mesmo que de um ponto de vista natural. Por exemplo,
suponha que uma adolescente fuja de casa. Muitos fatores podem estar envol-
vidos, e precisamos deixar claro que não estamos de forma alguma justificando
sua fuga. Pode haver mais de uma razão dela ter escolhido sair de casa, mas
sabemos que em muitos casos é por que sua mãe abdicou de seu papel ade-
quado como cuidadora e dona de casa, forçando, assim, a garota a tomar uma
responsabilidade para a qual ela não está pronta, tornando-a ressentida. Chame
isso de psicologia ou do que você quiser chamar, mas um entendimento desse
modo de comportamento é, às vezes, útil ao lidar com a situação, e para au-
xiliar aqueles diretamente envolvidos. Muitos outros exemplos poderiam ser
dados de comportamento que é, afinal, pecaminoso, mas que tem suas raízes
em várias forças que agiram sobre o indivíduo. Isto de modo algum desculpa
o pecado, mas talvez forneça uma base para o auxílio no alívio dos fatores que
possam ter influenciado o mau comportamento.
Sugerimos que não é a psicologia, em si mesma, que é tão errada, mas sim a
base na qual o comportamento é interpretado e tratado. Não é errado reconhe-
cer certos padrões de comportamento que ocorrem como resultado de deter-
minados eventos e relacionamentos que podem ter moldado o indivíduo, mas
sugerir que os pensamentos do homem deveriam tomar o lugar das Escrituras
como o remédio é um erro sério. Quando o humanismo secular e o pensamento
da nova era são a base sobre a qual o comportamento humano é abordado, o
homem torna-se o foco de seu próprio pensamento, e Deus é deixado de lado.
O resultado é, por um lado, uma irresponsabilidade moral e uma desculpa para
a conduta pecaminosa, enquanto por outro lado o tratamento de tal comporta-
mento tende a ser baseado na autoajuda e no conceito de autoestima. Esta as-
sim chamada liberdade de pensamento não está vinculada a qualquer verdade,
nem conhece a verdade, e põe em dúvida toda a verdade. Tal abordagem põe
o homem no centro das coisas, e é finalmente destrutiva, pois a incredulidade
produzida pela confiança no homem o força a voltar-se para a superstição. Infe-
lizmente, a psicologia moderna é tão crivada dessas ideias que é difícil separar
as duas coisas.
62 Tratamento
Psicólogo ou Pastor
Na essência, afinal, se tivermos dificuldades que não são tão férias a ponto de
precisarmos de ajuda médica, então é melhor nos colocarmos de joelhos com a
Palavra de Deus diante de nós, e pedir ao Senhor por Sua ajuda para superar a
dificuldade. Se for necessária mais ajuda, talvez um crente piedoso, disposto a
ouvir e oferecer sugestões, possa ser encontrado. Certamente um psicólogo que
não seja crente teria grande dificuldade em avaliar, por exemplo, uma família
cristã disfuncional, e dar conselhos adequados. Embora ele possa ser capaz
de fazer boas observações, seu tratamento seria sempre baseado em sabedoria
humana, e não na Palavra de Deus. Certamente esta é uma área onde nós, como
crentes, tenhamos talvez falhado muito seriamente, pois, como já discutimos, há
uma grande necessidade de pastores no verdadeiro sentido da palavra. Quão
grande necessidade há daqueles que adentram nos problemas e dificuldades de
outros crentes, demonstrando simpatia e compaixão, e ainda sendo capazes de
oferecer uma “palavra oportuna”!
Em Efésios 4:1138 , pastores e mestres (doutores) são colocados juntos, de-
monstrando que as características de ambos são desejáveis na mesma pessoa.
Alguém não pode ser um mestre eficaz a menos que saiba como dar aconselha-
mento sólido e bíblico. Tais indivíduos são muito raros, mas muito necessários
na igreja hoje. Se mais crentes com corações de pastor estivessem disponíveis
para fazer essa que, muitas vezes, é uma obra pela qual não se recebe a devida
gratidão, talvez não veríamos tantos santos tendendo a procurar psicólogos e
outros profissionais.
Consideremos, agora, um aspecto final da doença mental e maiores detalhes.
Medicação
38 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/4/11
63
41 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2rs/20/
42 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1tm/5/23
Capítulo 4
Conclusões Finais
Em segundo lugar, lembremo-nos que “as coisas que se veem são tempo-
rais” (2 Coríntios 4:182 ), e que “a nossa leve e momentânea tribulação produz
para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Coríntios 4:173 ). As difi-
culdades desta vida podem parecer, às vezes, esmagadoras, mas o crente pode
enxergá-las, todas, na luz da eternidade. Tais coisas não são apenas temporais,
mas, como nosso versículos nos diz, operam por nós um peso eterno de glória
muito mais excelente. Sem dúvida, há tempos em que são grandes as dificulda-
des, mas se elas são aceitas como vindas do Senhor, e que podem ser retiradas
através dEle, elas podem produzir um eterno peso de glória. Apenas nesta vida
podemos aprender que Deus é o Deus de todo a consolação, o Deus de todo en-
corajamento, e o Deus que pode nos dar a graça para passar pelas mais difíceis
circunstâncias. Não podemos aprender tais coisas no céu, pois não haverá nada
lá pelo que precisaremos de consolação ou encorajamento. Podemos ter tais ex-
periências apenas aqui embaixo, e ainda assim o peso de glória aqui operado
por nós é eterno.
Vamos fechar com uma citação de C. H. Mackintosh:
4 Mackintosh,C. H., ”A Vinda do Senhor". Acervo Digital Cristão, pp. 28–29. Disponível em
http://acervodigitalcristao.com.br/livros/a-vinda-do-senhor/5
68 Conclusões Finais
Apêndice
A Natureza do Homem
O Corpo
Esses versículos (na seção anterior8 ) nos dizem claramente que o homem é um
ser tripartido, composto de espírito, alma e corpo. O corpo é a parte física,
ou material, de seu ser, enquanto sua alma e espírito são a parte espiritual, ou
não física, do homem. Esta mesma verdade permeia toda a Palavra de Deus e
é também encontrada no Antigo Testamento. Diferentes palavras são usadas,
tanto no Hebraico quanto no Grego, para distinguir “alma” e “espírito”. Cria-
turas no reino animal possuem corpo, e em um certo sentido também possuem
6 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1ts/5/23
7 https://www.bibliaonline.com.br/acf/hb/4/12
8 https://doencas-mentais-biblia.blogspot.com.br/2018/01/a-natureza-do-homem.html
70 Conclusões Finais
alma, pois uma “alma vivente” (Gênesis 1:22, etc.9 ) é qualquer coisa que vive
pelo sangue e respira. Assim, no dilúvio, na época de Noé, as Escrituras dizem
que “tudo o que, em cujas narinas, havia o fôlego de vida. . . morreu” (Gênesis
7:2210 , versão King James). Mas enquanto os animais são almas viventes, eles
não foram criados pelo sopro de Deus neles, o fôlego da vida, como é dito do ho-
mem (Gênesis 2:711 ). Esta é uma imensa diferença e claramente marca o homem
como um ser distinto da criação animal inferior. Às vezes, a alma é chamada de
“homem interior” (Romanos 7:22, etc.12 ), distinguindo-a do corpo, o “homem
exterior” (2 Coríntios 4:1613 ). A alma do homem é imortal, como é claramente
visto no caso do homem ímpio no hades após a morte, em Lucas 1614 . Assim,
as Escrituras falam de “vossos corpos mortais” (Romanos 8:1115 ), em contraste
com a alma, que é imortal.
As Escrituras nos dizem no Salmo 139:1416 que somos “de um modo assom-
broso, e tão maravilhoso. . . feitos”. As seguintes observações nos mostram algo
sobre a magnitude e maravilha da formação do corpo:
Alma e Espírito
Alma e espírito são frequentemente usadas para se referir à mesma coisa, quando
as Escrituras falam da parte não física do homem, em contraste com seu corpo.
Dependendo da ênfase, às vezes a palavra “alma” pode ser usada, e em outras
vezes a palavra “espírito”. Em 2 Pedro 2:818 , lemos que “[Ló] afligia todos os
dias a sua alma justa”, enquanto em 1 Samuel 30:1219 , no que diz respeito ao
servo de um amalequita, as Escrituras dizem: “E comeu, e voltou-lhe o seu es-
pírito”. Assim, enquanto as Escrituras fazem distinção entre eles, a alma e o
17 Hunt, Dave, The Berean Call, January, 2001. (P.O. Box 7019, Bend, OR), pg. 1
18 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2pe/2/8
19 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1sm/30/12
72 Conclusões Finais
O “Eu” e a Personalidade
20 https://www.bibliaonline.com.br/acf/sl/107/9
21 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/8/16
22 Disponível em Bible Truth Publishers, 59 Industrial Rd., Addison, IL, U.S.A. 6010. E pela
Web: Link 123 , Link 224 .
73
(2 Pedro 2:8). Em Provérbios, Salomão fala de alguém “que domina o seu espí-
rito” (Provérbios 16:32, Almeida Atualizada). Paulo podia dizer aos crentes em
Roma: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal” (Romanos 6:12).
É evidente que há um “eu” consciente, aquela essência do indivíduo que influ-
encia e dirige o espírito, alma e corpo, mas que não faz parte desses três. Todos
os três – espírito, alma e corpo – são unidos sob uma personalidade, ainda que o
“eu” esteja acima deles, e assim é mais do que a soma do espírito, alma e corpo.
A seguinte excelente citação resume o assunto para nós, e delineia a diferença
entre o “eu” consciente, o espírito, a alma e o corpo:
Como o autor da citação acima diz, tudo isso está além da compreensão hu-
mana. Deve ser observado, no entanto, que na citação acima, o autor usa a
palavra “personalidade” para descrever a essência do próprio indivíduo, não
25 Smith,
Hamilton, “O Filho de Deus–Sua Deidade, Encarnação, e Humanidade”. Disponível
em https://pt.scribd.com/document/106757661/O-Filho-de-Deus-Sua-Deidade-Encarnacao-
e-Humanidade
74 Conclusões Finais
O Coração
A Mente
26 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1jo/3/20
27 https://www.bibliaonline.com.br/acf/pv/23/26
28 https://www.bibliaonline.com.br/acf/jr/17/9
29 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/3/15
30 https://www.bibliaonline.com.br/acf+darby/cl/3/2+
31 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/7/25
76 Conclusões Finais
O Intelecto
O intelecto pode também ser visto como parte da mente, como sendo aquilo que
o homem usa para raciocinar, e que o capacita a usar conhecimentos adquiridos
para fazer deduções. Em um outro sentido, é também parte do cérebro, naquilo
que está ligado à capacidade de aprender, e então de usar o que foi aprendido.
Assim, um intelecto pode ter habilidades em diferentes vertentes, pois uma pes-
soa pode ser boa em matemática e outra pode ser excelente em escrita criativa.
É importante reconhecer que o intelecto nunca pode descobrir qualquer coisa
no que diz respeito às coisas divinas: ele pode deduzir conclusões corretas, mas
jamais pode ir além disso. O homem, quanto a sua mente e intelecto, é sempre
um descobridor, nunca um criador. Ele pode usar seu intelecto para raciocinar
com conhecimento e assim chegar a conclusões corretas, mas o próprio conhe-
cimento é sempre o produto do testemunho ou da experiência.
A Carne
espírito está pronto (disposto), mas a carne é fraca” (Mateus 26:4136 ). O “eu”
consciente de Pedro desejava seguir o Senhor, mas ele não percebeu a fraqueza
de sua carne natural. Todo o seu ser natural estava envolvido nessa fraqueza,
e não apenas seu corpo. Mas a palavra é também usada para descrever aquele
ego pecaminoso que o homem adquiriu quando caiu – a natureza pecaminosa
do homem que não pode fazer nada além de pecar. Assim lemos em Roma-
nos 7:1837 : “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
algum”. Paulo pôde dizer aos gálatas: “Porque o que semeia na sua carne, da
carne ceifará a corrupção” (Gálatas 6:838 ). William Kelly faz os seguintes co-
mentários no que concerne ao termo “a carne”:
A Vontade
Já vimos que a vontade está conectada ao “eu” consciente – a parte de nós que
está acima do espírito, alma e corpo, e que definitivamente é capaz de influ-
enciar e controlar todos os três. A vontade foi afetada pelo pecado, tanto que o
homem caído agora tem vontade de fazer o mal. Assim Deus pôde dizer, no que
diz respeito à humanidade nos tempos de Noé: “Toda a imaginação dos pensa-
mentos de seu coração era só má continuamente” (Gênesis 6:544 ). De fato, todo
36 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/26/41
37 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/7/18
38 https://www.bibliaonline.com.br/acf/gl/6/8
39 https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/1/14
40 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1tm/3/16
41 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1pe/3/18
42 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1jo/4/2,3
43 Kelly, William, Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 173–4
44 https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/6/5
78 Conclusões Finais
Possessões Demoníacas
45 https://www.bibliaonline.com.br/acf/1pe/4/2
46 https://www.bibliaonline.com.br/acf/cl/2/18
47 https://www.bibliaonline.com.br/acf/rm/8/7
48 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/2/3
79
"Eu sabia o que a palavra Shona ’ambuya’ significava, e que ’amai’ sig-
nificava ’mãe’ ou ’patroa’, mas eu não tinha entendido todo o significado
cultural da interpretação da Irmã. ’Irmã, me desculpe, mas o que isso tudo
significa?’
"’Significa que Amai acredita estar enfeitiçada por sua bisavó, que pode ter
sido uma profetiza em seu tempo. Um espírito ancestral importante.’
"’Um feitiço?’
49 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/17/14–21
50 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mc/5
51 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mc/5/15
80 Conclusões Finais
“’Poderia ser’, disse ela, pausando. ’A família dela deve ter pensado as-
sim”’52
“Não foi necessário muito discernimento para perceber que eu não estava
mais falando com minha paciente e que uma força maligna e sobrenatural
tinha empurrado ela para o lado para me intimidar diretamente.”53
Como o médico já tinha percebido nesse caso, os remédios usuais para tratar
a depressão não estavam surtindo efeito naquela mulher. Uma força maior do
que ela mesma tinha tomado posse dela, e apenas pelo expulsar do demônio
ela poderia ser curada. Às vezes, aqueles sob poder demoníaco ouvirão vozes
ou verão coisas irreais, e ocasionalmente é difícil saber, ao menos no início, se
o indivíduo está sofrendo de uma doença psicótica ou se está experimentando
um ataque demoníaco. Às vezes, profissionais que não são crentes não reconhe-
cerão o que está acontecendo e colocarão o paciente sob medicação a princípio,
apenas para descobrirem que ela não vai funcionar de forma previsível.
Desde o tempo em que o mundo rejeitou o Senhor Jesus Cristo, as Escrituras
chamam Satanás tanto de deus como de príncipe deste mundo (Veja 2 Coríntios
4:454 e João 14:3055 ). Ele é o deus deste mundo religiosamente e seu príncipe po-
liticamente. Ele sabe que é um adversário derrotado, mas neste tempo da graça
52 Linde, Paul R., Of Spirits and Madness. (New York, McGraw-Hill, 2002), pg. 105
53 Mullen, Grant, M.D., Emotionally Free. (Chosen Books, Grand Rapids, MI, 2003), pg. 103,
109
54 https://www.bibliaonline.com.br/acf/2co/4/4
55 https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/14/30
81
de Deus, ele continua sendo o “príncipe das potestades do ar” (Efésios 2:256 ),
realizando a sua obra maligna. Ele pode habitar em um incrédulo, assumindo
o controle de sua pessoa e o forçando a fazer o que quer que o espírito maligno
comande. Embora ele não possa habitar em verdadeiros crentes (porque são ha-
bitados pelo Espírito de Deus), ele pode e consegue perturbá-los, especialmente
aqueles que podem ter se envolvido com práticas ocultas antes de serem sal-
vos. Ler livros pecaminosos (tais como os pornográficos) ou ocultos, ou assistir
a entretenimentos que contenham temas malignos, pode abrir a porta para es-
ses ataques demoníacos. Além disso, envolver-se deliberadamente em práticas
ocultas (tais como usar tabuleiros Ouija, cantar chamadas ao mundo espiritual,
envolver-se com adivinhos, etc.) pode convidar esses espíritos malignos para
nossas vidas.
O único remédio para a possessão demoníaca é a autoridade do Senhor Jesus
que pode comandar que um demônio saia da pessoa. O Senhor Jesus fez isso vá-
rias vezes durante seu ministério na Terra, e certamente os apóstolos também o
fizeram. O Senhor Jesus tornou esse poder disponível a todos os crentes, através
de Seu nome. Antes de subir de volta para o céu, o Senhor Jesus disse: “E estes
sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios” (Mar-
cos 16:1757 ). Agora é possível que demônios sejam expulsos daqueles afligidos
por eles por causa do poder no nome do Senhor Jesus. A seguinte história real
mostra como isto aconteceu no caso de uma mulher possuída por demônios:
"A senhora K. . . veio me ver para falar de uma depressão de longa data. Ela
estava muito vaga e nervosa durante a primeira parte da entrevista. Após
alguns minutos de conversa fiada e questões preliminares ela me disse: ’Es-
tou com dificuldade em te ouvir pois há três pessoas falando comigo con-
tinuamente em minha mente.’ Bem, essa era uma experiência nova para
mim. Ela claramente não era esquizofrênica, então eu sabia que não se tra-
tava de uma doença psicótica fazendo-a ouvir vozes. Ela estava totalmente
sã, embora deprimida.
"Eu não sabia muito bem o que fazer, mas eu me perguntei se ela estaria
tendo uma daquelas experiências ocultas que eu tinha passado tantas horas
perguntando sobre. Essa interferência tornaria a entrevista muito difícil,
então eu fiz uma pausa e fiz algumas notas simples em sua ficha para com-
prar tempo. Em meu coração eu disse a Deus: ’Eu não sei o que está acon-
56 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/2/2
57 https://www.bibliaonline.com.br/acf/mc/16/17
82 Conclusões Finais
"Quando, então, eu levantei meus olhos das anotações, ela olhava para mim
com uma intensidade que eu não tinha visto nela antes e disse: ’O que você
acabou de fazer?’ Eu expliquei que eu tinha apenas anotado sua última fala
na ficha. Ela não se contentou com essa resposta e persistiu: ’Não, você
fez mais alguma coisa.’ Eu estava confuso naquele momento e novamente
afirmei que eu só estava escrevendo em sua ficha, e perguntei o que a fazia
pensar que eu teria feito qualquer outra coisa. Sua resposta mudou o curso
da minha vida espiritual e profissional quando ela afirmou: ’Você fez algo,
pois as vozes pararam pela primeira vez em vinte anos. Elas estão agora se
escondendo, e estão com medo de você. O que você fez?’. . .
“Minha mente de repente se abriu para o fato de que sim, de fato, ela estava
sã e estava sendo atormentada por vozes de demônios. Eles pararam de falar
com ela porque quando eu orei a autoridade de Cristo encheu a sala e eles
ficaram com medo. . . ”58
Comportamento Criminoso
61 https://www.bibliaonline.com.br/acf/cl/1/12–13
62 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ef/5/8
63 https://www.bibliaonline.com.br/acf/pv/21/4
84 Conclusões Finais
“Da malícia leve à criminalidade cruel, a realização de más ações é algo que
o resto da população evidentemente deseja conhecer. Esta é uma forma de
explicar o porquê do psicopata, a personificação do mal sem remorso, ter tal
lugar estabelecido na consciência pública. Somos todos psicopatas debaixo
da pele.”64
citado acima diz, o segredo de todo o erro em nós, mesmo como crentes, é o fato
de pensarmos e agirmos independentemente de Deus. Que possamos ser man-
tidos perto daquEle que não apenas nos fez, como também enviou Seu Filho, “o
qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século
mau” (Gálatas 1:469 ). Fomos moralmente libertos disso; logo seremos fisica-
mente libertos disso, na vinda do Senhor. “Ora vem, Senhor Jesus” (Apocalipse
22:2070 ).
69 https://www.bibliaonline.com.br/acf/gl/1/4
70 https://www.bibliaonline.com.br/acf/ap/22/20
Autoestima
W. J. Prost
Tradução do Inglês
Santiago Escuain
1
O material básico para este artigo foi originalmente dado na forma de quatro
conferências de jovens em Lassen Pines, Califórnia, em agosto de 1991. Como
o material foi consideravelmente ajustado e revisado, o formato original não foi
mantido, mas foi dividido em várias seções menores.
2
Prefácio
3
são duas dessas verdades. O homem natural tenta reduzir essas verdades a um nível que
possamos compreender, e com isso ele sempre cai no erro de um lado ou de outro. É triste ter
que admitir que até mesmo os verdadeiros crentes caem nela, tentando impor uma estrutura
de fatura humana sobre uma verdade que Deus nos deu em Sua Palavra. A resposta correta
que devemos dar é adorar humildemente Àquele que quis nos revelar tais coisas, percebendo
que nossas mentes finitas não podem abranger o infinito em sua totalidade. Podemos apreciar
essas verdades e equilibrá-las em nossas vidas, mas apenas enquanto caminharmos em
comunhão com Aquele que quis revelá-las a nós.
Para dar uma certa estrutura ao assunto que vamos tratar, gostaria de considerar o homem
em três posições ou estados. Primeiro, o homem na criação antes da queda; segundo, o homem
como criatura caída; e terceiro, o homem em Cristo. À medida que avançamos, outras
considerações se desenvolverão em relação a essas três posições.
O homem na criação
Amor e compreensão
Todos nós somos criados com certas capacidades que recebemos de Deus, e com uma
necessidade básica de amor e compreensão. No entanto, a maioria de nós conhece ou já ouviu
falar de pessoas que foram informadas, talvez desde a mais tenra infância, que eram inúteis,
que nunca poderiam fazer nada certo, que não tinham nada a oferecer. Isso acontece com
frequência no mundo em geral e, infelizmente, também com frequência entre os crentes. Esse
tipo de atitude é claramente contrária à Palavra de Deus, como vimos. Sabemos que a vida
dessas pessoas muitas vezes termina de forma desastrosa, a menos que o mal seja remediado.
Em 1 João lemos: "Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus. Todo
aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus;
porque Deus é amor" (1 João 4:7, 8). A necessidade de ser amado e compreendido faz parte
de cada um de nós. Quando uma pessoa não recebe amor e compreensão, surgem dificuldades
em sua vida. Às vezes, essas dificuldades se tornam avassaladoras, de modo que a necessidade
de amor se torna mais importante do que a própria vida.
No verão de 1980, uma mulher chamada Judith Bucknell foi assassinada em Miami. Seu
assassinato poderia ter se tornado mais uma de uma longa estatística, exceto por seu diário.
Aparentemente, ela era jovem, atraente e cheia de sucesso, mas seu diário permanece como
5
um monumento à terrível solidão que experimentou. "Quem vai amar Judith Bucknell? Ela
escreveu. Eu me sinto tão velho. Não amei. Indesejado. Abandonado. Usado. Quero chorar e
dormir para sempre". Sua aparência exterior era de felicidade; Ela gostava de um bom
trabalho, vestidos elegantes e uma bela casa: todos os acessórios de "uma boa vida". Mas ela
escreveu: "Estou sozinha e quero compartilhar algo com alguém". A dor de seu coração não
podia ser satisfeita com coisas materiais ou relacionamentos superficiais, porque o verdadeiro
amor e a verdadeira compreensão estavam ausentes.
Sem dúvida, este é o pensamento expresso no Salmo 63:3, onde diz: "Porque a tua
misericórdia é melhor do que a vida; meus lábios te louvarão". O salmista aprendera que a
misericórdia, a inclinação favorável para consigo mesmo, era mais importante para ele do que
a vida, e a encontrara no próprio Senhor. Se reduzirmos a maioria dos nossos problemas a um
denominador comum, os ingredientes que faltam provavelmente serão o amor e a
compreensão. Às vezes, a autoestima é identificada com a necessidade de ser amado e
compreendido, mas novamente o termo é deficiente. O termo "autoimagem" é mais preciso,
mas também tende a nos levar a pensar em nós mesmos.
Um jovem, crescendo, deve perceber que Deus lhe deu habilidades que não estavam
relacionadas à queda. Por exemplo, talvez uma criança exiba uma habilidade com as mãos e
possa trabalhar bem com ferramentas. Pais sábios e amorosos observarão isso e incentivarão
essa habilidade. Talvez eles comprem ferramentas e forneçam um meio para que você possa
desenvolver suas habilidades. Eles elogiarão seus esforços, mesmo que inicialmente suas
obras sejam um tanto grosseiras. Outra criança pode mostrar um talento para a música; Bons
pais reconhecerão isso e o incentivarão com os meios apropriados. Tudo isso é bom e legítimo,
e se encontra na Palavra de Deus. Provérbios 22:6 diz: "Treina a criança no seu caminho, e
mesmo quando for velha não se afastará dela." Para isso, devemos reconhecer que cada criança
é diferente e que não podemos tratá-la de forma idêntica. Isso envolve conhecer "a criança" e
reconhecer o teor de "seu caminho". Os pais devem amar todos os seus filhos igualmente, mas
tratá-los como se fossem iguais é errado e contrário à sabedoria da Palavra de Deus.
O elogio é uma parte importante desse incentivo, e muitas vezes esquecemos o quanto ele
é importante para uma criança. Conheci pais que nunca elogiaram seus filhos por medo de que
eles ficassem orgulhosos. Devemos lembrar que criancinhas, como Samuel, podem ainda não
conhecer o Senhor. Eles contemplam o mundo através dos olhos daqueles que mais significam
para eles, geralmente seus pais, e às vezes outros adultos, como parentes próximos ou
professores. A maioria de nós pode se lembrar de quão grande influência essas pessoas tiveram
sobre nós durante nossos anos de formação.
Assim, podemos ver que todos somos criados com uma necessidade básica de amor e
compreensão, e que é justo que se dê provisão para um e outro em qualquer esfera onde haja
influência e autoridade. Onde o amor e a compreensão estão ausentes, há sempre dificuldades
e, muitas vezes, calamidades.
Alguns perguntarão imediatamente: "E aqueles que não recebem esse ingrediente tão
importante em suas vidas? Estão condenados às dificuldades e calamidades a que nos
referimos?" Antes de responder a essa pergunta, devemos considerar o homem como uma
criatura caída.
6
O homem como criatura caída
Vimos que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, sem consciência do mal,
e que Deus foi capaz de declarar o produto de Sua obra como "muito bom". No entanto, esse
belo estado de coisas persistiu apenas por um tempo muito breve, e o homem introduziu o
pecado neste mundo transgredindo a única proibição que Deus havia colocado sobre ele. O
pecado invadiu a criação de Deus e arruinou tudo o que Ele havia feito. Toda a criação sofreu
como resultado da queda do homem, sua cabeça, mas o homem, como o ser mais exaltado,
talvez tenha sentido o efeito dela mais do que o resto da criação.
É importante que cada um de nós perceba que nascemos neste mundo com naturezas
pecaminosas e caídas como resultado da introdução do pecado neste mundo. Davi estava se
referindo a esse fato quando disse: "Minha mãe me concebeu em pecado" (Salmo 51:5).
Também lemos em Romanos 5:12: "Portanto, assim como o pecado entrou no mundo por um
só homem, e a morte pelo pecado, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram".
Como essa verdade solene da queda do homem se relaciona com o nosso assunto? No
século passado, um jovem voltou-se para um cristão mais velho que havia caminhado com o
Senhor por muitos anos. O jovem perguntou-lhe se ele teria conselhos para um jovem que
estava apenas começando na vida cristã. Sua resposta foi breve e direta, pois lhe disse:
"Aprenda bem cinco palavras: 'A carne não lucra nada'." Esta citação, de João 6:63, apresenta
de forma muito sucinta uma verdade de importância capital. O pecado, tendo entrado neste
mundo, afetou todas as partes do nosso ser.
Esse efeito do pecado em todas as facetas de nossas vidas é ilustrado pelo que aconteceu
com um irmão em Cristo que administra um laticínio e tinha um excelente rebanho de vacas.
Ele comprou sua ração de uma grande empresa que também fabricava agrotóxicos. Uma vez
que parte do pesticida era misturado na fábrica com a ração, e essa mistura era vendida em um
saco simplesmente rotulado como ração para gado. Era um veneno potente, e o resultado foi
que todo o seu rebanho de vacas teve que ser abatido e enterrado. O mais perturbador era que
não havia o suficiente para se livrar da ração envenenada. Tinha afetado a prole das vacas que
não tinham morrido e tinha poluído o celeiro e muitas coisas no celeiro. Não havia quase nada
que não tivesse sido afetado por aquele tóxico, e demorou muito tempo para normalizar as
coisas. O pecado neste mundo é algo semelhante. Não é algo que afeta algumas coisas
isoladamente, como gostaríamos de pensar. Não, mas afetou tudo, todas as partes do nosso
ser.
Sabemos que todos pecamos e que temos uma natureza pecaminosa, mas, será que
percebemos que o pecado chegou a todas as partes de nós, como pessoas naturais individuais?
Muitos de vocês estão cientes de que existem diferentes tipos de personalidade, e que, de
uma maneira geral, todos nós podemos nos encaixar em um desses tipos diferentes (ou uma
combinação deles). Por exemplo, há alguns que são trabalhadores, disciplinados e bons
organizadores. Essas são as pessoas que podem administrar qualquer coisa, e que geralmente
fazem muito neste mundo. Não há dúvida de que essas qualidades lhes foram dadas por Deus,
e é correto dizer que eles teriam possuído essas qualidades mesmo se não tivessem caído. Mas
essas pessoas geralmente têm um aspecto negativo, porque muitas vezes são arrogantes e
intolerantes com os outros. Eles podem ser sarcásticos e, muitas vezes, não funcionam bem
com os outros. Eles podem chegar ao topo do mundo dos negócios e alcançar cargos
gerenciais, mas às vezes não são queridos por seus subordinados.
7
Depois, há aquelas pessoas que são muito mais abertas e amigáveis, e que são o que
poderíamos designar como "pessoas orientadas para as pessoas". Eles são intuitivos, podem
sentir os sentimentos dos outros e reagir adequadamente. Geralmente, eles têm muitos amigos
e gostam um do outro. Novamente, temos aqui um traço dado por Deus, e teria sido parte deles
além da queda. O lado negativo é que essas pessoas muitas vezes têm um problema de
autodisciplina e têm dificuldade em disciplinar os outros. Eles têm mais dificuldade em manter
a pontualidade em seus compromissos, em administrar seus assuntos de maneira ordenada e
em levar suas responsabilidades a sério.
O que vemos nas personalidades humanas, incluindo nós mesmos, é em parte o que Deus
criou em Sua sabedoria, e em parte o que o pecado introduziu. Vemos beleza na natureza e
reconhecemos a obra da mão de Deus, mas depois vemos a ruína que o pecado introduziu. O
homem natural, sem a sabedoria da Palavra de Deus, não pode relacionar essas duas coisas.
Ele descobre que o mundo é uma miscelânea inextricável do bem e do mal. Somente a Palavra
de Deus pode nos fazer ver como essas coisas podem coexistir no mundo.
Esses aspectos negativos de nossa personalidade fazem parte do efeito da queda do homem.
Quando se trata de nós mesmos, quantas vezes inventamos desculpas dizendo: "É assim que
eu sou"! A implicação é que eu tenho que ser aceito como eu sou, porque foi assim que o
Senhor me fez. Mas isso não está de acordo com a Palavra de Deus. "Formidável e
prodigiosamente fui feito" (Salmo 139:14, RVR97), e isso inclui nossa constituição mental,
bem como nossa constituição física. No entanto, os efeitos do pecado são muito evidentes em
nós, mental e fisicamente. Devemos reconhecer as capacidades com que Deus nos dotou, mas
nunca atribuir à mão de Deus as coisas que o pecado introduziu neste mundo.
O pecado não arruinou toda a criação por igual. Enquanto toda a criação sentiu os terríveis
efeitos do pecado, Deus preservou este mundo dos efeitos plenos da queda do homem.
Lembremo-nos do jovem rico que veio ao Senhor Jesus, querendo saber o que deve fazer para
herdar a vida eterna. Quando ele disse ao Senhor que tinha guardado todos os mandamentos
desde a sua juventude, está registrado que
"Jesus, olhando para ele, amou-o" (Marcos 10:21). Aqui não temos o mesmo pensamento que
o amor de Deus por este mundo, expresso em João 3:16. É verdade que o amor de Deus é
dirigido a todos neste mundo, mas este versículo em Marcos 10 mostra antes o amor que o
Senhor Jesus sentia por um belo caráter, que tinha um verdadeiro desejo de fazer o que era
certo. Às vezes encontramos aqueles que naturalmente têm uma disposição muito atraente,
bem como aqueles que são exatamente o oposto disso. Aqui o Senhor amou este jovem por
causa de sua natureza natural. Mas a conversa que se seguiu com ele revelou o que realmente
estava em seu coração.
Quando o Senhor lhe disse claramente o que lhe faltava, seu verdadeiro estado diante de
Deus foi revelado. Ele pensou que poderia alcançar a vida eterna guardando a lei, mas as
palavras do Senhor mostraram que ele estava perdendo a própria essência da lei. Quando
perguntaram ao Senhor Jesus qual era o primeiro mandamento da lei, Ele respondeu:
"O primeiro mandamento de todos é: 'Escuta, Israel; o Senhor nosso Deus, o Senhor que é. E
amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
pensamento, e de todas as tuas forças. Este é o principal mandamento. E a segunda é assim:
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há mandamento maior do que estes" (Marcos
12:29-31).
8
Se o jovem rico tivesse amado a Deus de todo o coração, de toda a alma e de toda a mente,
teria seguido de bom grado o Senhor Jesus. Se tivesse amado o próximo como a si mesmo,
teria de bom grado dado seus bens aos pobres.
É humilhante perceber que muitas vezes Deus não escolhe as personalidades mais
agradáveis, mas sim aquelas que parecem mais gravemente afetadas pelo pecado. Paulo nos
diz em 1 Coríntios 1:27, 28: "Mas Deus escolheu os tolos do mundo para envergonhar os
sábios; e os fracos do mundo Deus escolheu, para envergonhar os fortes; e o vil do mundo e
o desprezado Deus escolheram, e o que não é, desfazer o que é." Somos atraídos por aqueles
como o jovem rico que naturalmente apresentam as personalidades mais atraentes, mas muitas
vezes não sentem interesse pelo evangelho. Então, talvez encontremos o Senhor salvando
aqueles que naturalmente desprezaríamos. Tudo isso tem o efeito de cumprir 1 Coríntios 1:29,
que diz: "Para que ninguém se glorie em sua presença". A graça de Deus é ampliada trazendo
o pior deste mundo a Cristo e exibindo-os por toda a eternidade como troféus de Sua graça.
Isso nos leva a outro ponto mais importante. E aqueles aspectos de nossas personalidades
que não são ruins, aquelas habilidades que recebemos de Deus? Não podemos nos vangloriar
um pouco deles e, nesse sentido, nos estimar? Podemos admitir que somos pecadores e, no
entanto, sentir que há coisas boas em nós que podemos desenvolver.
Temos que perceber que mesmo essas capacidades que Deus nos deu são afetadas pelo
pecado, porque nossa natureza pecaminosa, sem dúvida sob o controle de Satanás, emprega
essas capacidades para o mal. Desde que as capacidades em si não sejam ruins, elas podem
ser mal utilizadas.
Suponha que alguém tenha um talento para a matemática. Como vimos, não há nada de
errado com essa capacidade, e ela foi, sem dúvida, dada por Deus. Mas Satanás, usando o
pecado como alavanca, quer tomar essa capacidade e usá-la para um fim maligno. Assim, os
homens usaram suas habilidades de física e matemática para construir bombas que agora têm
a capacidade de destruir o mundo. Outro pode ter uma capacidade para a música, enquanto
alguns que podem não ter uma capacidade para ela, no entanto, têm um ouvido para apreciá-
la. Sem dúvida, isso também faz parte da bondade de Deus para com o homem. Mais uma vez,
o diabo usa a música para ocupar a mente dos homens com prazer e impedi-los de pensar em
assuntos eternos. É um tanto solene que a primeira menção à música na Bíblia se refira à família
de Caim. Caim saiu de diante da presença do Senhor, construiu uma cidade e passou a cercar-
se de tudo o que pensava que o faria feliz, mas deixou Deus de fora. Foi um dos descendentes
de Caim (Jubal) que "foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta" (Gênesis 4:21). Isso não
significa que a música seja algo ruim, mas ressalta o fato de que o pecado usurpa até mesmo
as qualidades que Deus deu, e nos leva a usá-las para fins malignos.
Vamos um passo além. Suponha que as capacidades que Deus nos dotou sejam empregadas
de maneira correta. Estamos, então, fazendo o que agrada a Deus? Podemos, então, receber
algum crédito? Não, porque mesmo fazendo o que é certo, como criaturas caídas sem Cristo,
o motivo será sempre mau. O orgulho vai entrar, mesmo que eu use minha habilidade para um
bom propósito. Isso nos leva à nossa próxima consideração.
9
Autoestima e orgulho
Vimos que, quando o homem foi criado, Deus poderia dizer do produto de sua obra que ele
era "muito bom". Assim, o homem era bom, no sentido de que desconhecia o mal e possuía
uma semelhança moral com Deus. Isso não significa que ele era santo, ou mesmo justo, porque
ambos implicam um conhecimento e ódio do pecado. Havia uma beleza moral no homem em
sua inocência, e até este ponto havia uma semelhança moral com Deus, mas em nenhum
sentido ele era igual a Deus.
Estou ciente de que muitos de vocês recebem cursos de autoestima, tanto na escola quanto
no mundo do trabalho. Em muitos casos, alguma filosofia da Nova Era é misturada com ela.
Para aqueles de vocês que não estão familiarizados com ele, toda a ênfase da chamada filosofia
da Nova Era é a ocupação com nós mesmos, a ponto de declarar que somos todos deuses, e
que a própria essência de Deus está dentro de cada um de nós. Somos induzidos a pensar muito
bem em nós mesmos, dizendo a nós mesmos que somos, de fato, realmente deuses. Esse é o
fim trágico de grande parte do pensamento atual sobre autoestima. Quando é o homem, e não
Deus, que se torna o ponto de referência, o homem acaba se divinizando.
Quando o homem foi criado, tudo era belo porque era obra de Deus. O homem nada fizera
para produzir o bem de que estava cercado, e em seu estado de inocência e bondade moral não
havia orgulho. Não há dúvida de que ele podia reconhecer as qualidades e capacidades com
as quais Deus o havia dotado, mas em sua comunhão indeclinável com Deus o orgulho ainda
não havia surgido em seu ser. Com a introdução do pecado, o orgulho foi introduzido, e a
Palavra de Deus não nos deixa dúvidas de que é um dos piores pecados. "Olhos altivos"
encabeçam a lista de coisas que o Senhor odeia (Provérbios 6:17), e mais tarde o mesmo livro
nos diz que "uma abominação é para o Senhor toda altiva de coração" (Provérbios 16:5).
Então, no Novo Testamento, lemos que "o orgulho da vida não vem do Pai, mas do mundo"
(1 João 2:16). Muitos outros versículos da Palavra de Deus nos mostram que o orgulho é um
pecado de enorme gravidade.
O equívoco básico que colore os conceitos mais atuais de autoestima é que a autoestima
adequada inclui o orgulho, e que o orgulho em si é bom. A nossa citação anterior da revista
Selecciones falava que devíamos ser
"orgulhosos da nossa própria imagem" para que nos sintamos "confiantes e livres para sermos
nós mesmos". O espírito de orgulho permeou tanto nosso mundo hoje que entra em quase
todos os departamentos da vida, talvez sem que nos demos conta demais. Devemos entender
à luz da Palavra de Deus que toda forma de orgulho é má e um pecado contra Deus.
Para entender a questão da autoestima de forma adequada, é preciso perceber que o orgulho
é uma falsa resposta ao sucesso. Tendemos a nos orgulhar de nossas habilidades naturais, mas
devemos estar cientes de que todos nós as recebemos de Deus. Somos suscetíveis ao orgulho
até mesmo de nossos caminhos de pecado, talvez acreditando que há algo de bom neles.
Muitas vezes defendemos nossa natureza pecaminosa e caída e suas ações, em vez de
condenar um e outro! Se alguém me disser que tenho mau humor, provavelmente vou negar,
ou encontrar alguma falha na pessoa que me diz, para me esquivar da tentativa de alcançar
minha consciência. Se alguém me disser que eu exagero em vez de dizer a verdade, eu vou
negar vigorosamente, e talvez dizer aos outros que aquele que me disse tal coisa é um
caluniador e uma maldição. É um truque bem conhecido no mundo que, quando somos
acusados de algo, tentamos desenterrar toda a "sujeira" que pudermos sobre nosso acusador,
para evitar enfrentar algo que possa ser verdade. Raramente estamos dispostos a admitir que
estamos errados, mesmo para nós mesmos. Isso nos fere nas profundezas do nosso orgulho.
10
Acredito que o maior obstáculo para seguir em frente em nossas vidas cristãs é nossa falta de
vontade de admitir o quão ruim o pecado realmente é em nós, enquanto o primeiro passo para
a felicidade é perceber a ruína que o pecado introduziu e, assim, não ter confiança em nós
mesmos.
Indo um passo além, é ainda mais provável que tenhamos orgulho do que a graça operou
em nós. Os corintianos se fizeram culpados, então Paulo lhes diz: "Pois quem vos distingue?
Ou o que você tem que não recebeu? E se você a recebeu, por que se vangloriaria como se não
a tivesse recebido?" (1 Coríntios 4:7).
Falamos daqueles que têm "baixa autoestima" e outros que têm "autoestima elevada".
Muitas vezes são faces opostas da mesma moeda, a moeda do orgulho. Aquele com
"autoestima deficiente" sente-se deprimido e chateado porque sua própria imagem não é o que
ele acha que deveria ser. Na realidade, ele tem uma autoestima muito alta: o que acontece com
ele é que a realidade não se conforma com seus ideais. Ele não aceita o jeito que Deus fez com
ele. (Agora estamos nos referindo às qualificações que ele recebeu de Deus, não sobre o
pecado.) Quantas vezes não nos olhamos no espelho e desejamos de coração ser mais altos,
com uma cor diferente de cabelo, ser mais espertos, ou talvez ter outras qualidades que o
Senhor não nos deu! Quantas vezes não vi outras pessoas participando de atividades
esportivas, e desejei possuir algo de sua capacidade! Com o passar da vida, descobri que
muitos daqueles que eram tão bons em atividades atléticas desejavam um melhor desempenho
nos círculos acadêmicos, onde talvez alguns de nós nos sentíssemos um pouco mais
confortáveis. Parece que sempre desejamos o que não temos. Triste dizer, Satanás opera em
nós através de nossa natureza pecaminosa para nos fazer sentir miseráveis sobre o que Deus
nos deu, e para nos consumir com desejos de talentos que Ele não nos deu.
Aquele que tem uma "autoestima elevada" acredita ter chegado a um certo ponto, quando
não o atingiu de todo. Tem uma imagem irreal própria, enquanto outros a avaliam de uma
forma geralmente muito mais realista! Você já conhece esse tipo de pessoa: é alguém que está
sempre pensando em si mesmo e no que pode fazer. Achamos insuportável e não queremos
tê-lo ao nosso redor.
Mas você pode me dizer: "Eu me sinto satisfeito comigo mesmo. Estou bem no meio, não
tenho autoestima excessiva ou baixa." É isso que o artigo Seleções está tentando nos
comunicar: que devemos ter consciência do que é a nossa própria imagem e nos orgulhar dela.
Isso também é ruim, porque o orgulho, como vimos, é sempre condenado na Palavra de Deus.
Embora devamos reconhecer as capacidades que recebemos de Deus, devemos perceber que
nunca seremos felizes se nos ocuparmos de nós mesmos, porque o orgulho sempre entrará.
Diz-se que existe atualmente uma epidemia de autoestima deficiente em nossa sociedade.
Sejamos honestos e reconheçamos que o que temos é uma epidemia de orgulho. É o resultado
de focar no homem, e não em Deus.
A sabedoria deste mundo diz que temos que construir a autoestima do indivíduo. Dizem-
nos que devemos pegar nas pessoas e mostrar-lhes que têm boas qualidades, que são pessoas
valiosas, que têm capacidades que podem desenvolver e que podem orgulhar-se de si próprias.
Que devemos mostrar-lhes que são membros úteis da sociedade, que têm algo a fazer neste
mundo e um contributo importante a dar. Isso tudo é muito bom até certo ponto, porque muitos
não se tornam conscientes de suas habilidades naturais devido à falta de encorajamento, amor
e compreensão adequados. Mas se essa forma de agir me levar a focar em mim mesma, estarei
sempre ocupada consigo mesma, seja de forma positiva ou negativa. E o orgulho sempre terá
uma tendência a se insinuar, se eu for o objeto do meu próprio coração.
11
Antes de sair da minha prática clínica, eu costumava realizar muitas operações cirúrgicas.
E eu poderia ter deixado minha habilidade como cirurgião se tornar minha fonte de
Autoestima: É isso que o mundo nos diz para fazer. Contanto que qualquer habilidade que ele
tivesse fosse dada por Deus e, portanto, algo para reconhecer e usar, teria sido um erro ser
motivo de orgulho. Um colega meu, que era anestesista e estava muito envolvido nas minhas
operações, descobriu que eu tinha uma motosserra e que a usava com frequência para cortar
madeira para a nossa casa. Ele me disse que eu era tolo, que um único deslize com aquela
motosserra poderia arruinar uma das minhas mãos, ou ambas, e acabar com a minha carreira.
Isso era verdade, e se minha autoestima tivesse residido na minha qualidade de cirurgião,
então a perda de minhas mãos teria significado não apenas o fim da minha carreira como
cirurgião, mas também o fim da minha autoestima.
Tudo o que possuímos neste mundo, seja saúde, habilidade, posses ou qualquer outra coisa,
é muito frágil, e podemos perdê-lo com muita facilidade. Vamos construir sobre coisas que
são temporárias e tão facilmente perdidas? Muitos fazem exatamente isso, e é por isso que
tanta ênfase é colocada na autoestima. Mas o problema não desaparece com ele. Pelo contrário,
parece estar piorando. Isso ocorre simplesmente porque todo o conceito de autoestima tende
a ser baseado no que é o homem pecador e em coisas que não só não podem dar satisfação em
nenhum caso, mas também podem ser facilmente perdidas.
E o perigo de fazer um elogio e deixar a pessoa orgulhosa dele? Alguns pais raramente
elogiam seus filhos, por medo de que eles se orgulhem de si mesmos. Todos nós tivemos
pessoas com autoridade sobre nós que nunca falaram conosco, exceto para nos dizer que
tínhamos feito algo errado. Crianças nesses tipos de casas, ou pessoas que trabalham sob
supervisão assim, não encontram um bom ambiente para crescer ou trabalhar. É errado, então,
um marido dizer à esposa que ela é bonita, ou à filha que seu vestido novo combina muito
bem com ela? É perigoso fazer um comentário sobre as roupas novas de alguém ou dizer que
fez um bom trabalho?
Temos aqui um ponto de enorme importância. Vimos que todos precisamos de amor e
compreensão. Quando dizemos a alguém: "Eu realmente gosto do seu cabelo; você gosta
muito dele", ou "Você fez um ótimo trabalho; Acho que ninguém poderia ter feito melhor", o
que estamos comunicando? Sugiro que a pessoa que foi informada dessas coisas saia satisfeita
porque agradou a alguém que queria agradar. Os filhos buscam amor e aprovação de seus pais,
e quando seus pais os elogiam, eles têm consciência de que eles têm agradado aqueles que
mais significam para eles. Não há nada de errado nisso, e temos exemplos disso nas Escrituras.
Paulo elogia os Coríntios quando diz: "Nada vos falta em nenhum dom" (1 Coríntios 1:7). Na
segunda epístola, onde trata da questão dos dons cristãos, ele diz a eles que havia se gabado
aos macedônios, "que a Acaia foi preparada desde o ano passado" (2 Coríntios 9:2). Não há
dúvida de que isso foi um encorajamento para eles, porque eles tinham agradado seu pai
espiritual. O próprio Senhor nos encoraja de tempos em tempos no caminho cristão, deixando
que os outros nos digam que o que fizemos por eles teve um efeito benéfico.
Talvez o exemplo mais bonito do uso justo dos elogios apareça no Cântico dos Cânticos.
Lá, a esposa não tem pensamentos elevados sobre si mesma, mas depois se alegra com a estima
do marido por ela. Ele a inunda com seu amor e com tudo o que vê nela, enquanto ela, em
resposta, só tem amor por ele, e fala dele. Sua alegria reside nela, e ela a expressa de forma
plena, mas tudo isso só o torna mais encantador para ela, e por isso ela só fala dele. A única
queixa que ela tem é que não tem uma capacidade maior de usufruí-lo. Tudo isso é um
exemplo maravilhoso do uso adequado dos elogios e da reação correta a eles.
12
Satanás queria, usando nossa natureza pecaminosa, corromper tudo isso. Ele pega esse
elogio ou aquela palavra de incentivo, e sugere: "Que pessoa maravilhosa você deve ser, para
ser tão bonita!" ou "Que personagem notável você deve ser, para poder fazer um trabalho
como esse!" Então a chama do orgulho começa a arder, e tudo é estragado, porque orgulho é
pecado. Agradar alguém de uma maneira correta não é ruim, mas ter orgulho disso é nossa
natureza caída tornando isso um pecado.
Às vezes, a linha entre os dois pode ser muito tênue, mas essa linha está sempre lá. Há o
perigo de fazer muitos elogios e também de não fazer nenhum. Conheci aqueles que nunca
fizeram um elogio porque tinham medo de que isso resultasse em orgulho na pessoa a quem
se dirigia. O resultado foi que a pessoa citada começou a pensar: "Eu não posso fazer nada
direito, porque sempre que eu tento algo, tudo o que eu recebo são críticas!" Esta não é a
maneira divina de agir, porque a maneira divina é nos encorajar. Precisamos receber a reação
do outro para saber quando estamos indo bem e quando não estamos. Por outro lado, é
igualmente verdade que Deus quer tirar o eu dos meus holofotes, para que eu cuide de agradá-
Lo. Quando fazemos algo agradável ao Senhor, é apenas porque o que Ele nos deu flui de
nossas vidas. Gostei de um comentário que uma irmã mais velha em Cristo me fez há alguns
anos: "Um pequeno louvor para te levantar, mas não o suficiente para te engrossar". Ele
expressou muito bem o que a Palavra de Deus ensina.
Alguém recentemente me deu um folheto de Linhas de Cuidado para o mês de agosto de
1991, e sua mensagem se encaixa muito bem com o nosso tema. O versículo citado foi:
"Não que sejamos competentes para nós mesmos para pensar algo como de nós mesmos, mas
que nossa competência vem de Deus" (2 Coríntios 3:5). Em seguida, o comentário foi o
seguinte: A autoconfiança de que posso fazer qualquer coisa porque sou bom não é
pensamento bíblico. Confiar em Deus, porque Cristo me dá precisamente o que eu preciso
usar para Ele e para Sua glória, é a forma que nossa confiança deve tomar. Não se baseia em
nós mesmos, mas em Deus. Ele é a fonte que dá o dom e o poder de fazer as coisas
acontecerem. Jesus é Aquele que morreu para nos purificar de nossos pecados; Nós não.
Vamos fazer com que os outros vejam que nossa confiança é realmente confiança em Deus, e
que eu, como pessoa, não tenho confiança em mim mesmo.
O orgulho é sempre mencionado negativamente na Palavra de Deus, e é sempre condenado;
a confiança é quase sempre mencionada como algo positivo, porque o que está à vista é a
confiança em Deus. Mas isso será tratado mais tarde!
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Versos mal utilizados
Muitas vezes é necessário desaprender equívocos antes de aprendermos bem as coisas.
Muitos equívocos sobre autoestima estão sendo ensinados hoje, às vezes até mesmo em um
contexto bíblico. Antes de começarmos a tratar de conceitos mais positivos sobre essa questão,
é necessário mencionar dois versículos que têm sido mal utilizados, até mesmo por crentes,
para dar equívocos sobre a autoestima.
Efésios 5:28 diz: "Assim também os maridos amem as suas mulheres como os seus próprios
corpos. Quem ama a mulher ama a si mesmo". Este versículo foi tomado por alguns para
significar que alguém não pode amar sua esposa (ou qualquer outra pessoa) adequadamente,
exceto se ele ama a si mesmo. Mas este não é o significado do versículo. O que estamos
expostos aqui é simplesmente a preciosa verdade de que, quando um homem e uma mulher se
casam, Deus os contempla como uma só carne. Que um homem ame sua esposa deve ser tão
natural quanto amar a si mesmo.
Deus precisa nos ordenar que nos amemos? Não, fazemos isso sem precisar ser empurrados
para isso. Todos nós naturalmente cuidamos bem de nós mesmos, e Deus está simplesmente
dizendo aqui que se você ama sua esposa, você ama a si mesmo, porque ambos são uma só
carne, e que se você destruir sua esposa por qualquer meio – crítica, infidelidade ou qualquer
outra maneira – você está destruindo a si mesmo. Deve-se dizer enfaticamente: não temos
nenhuma justificativa bíblica para o amor próprio aqui.
Então temos Mateus 22:39: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo", uma passagem que
foi tomada como uma justificativa bíblica para o amor próprio. Novamente, o amor próprio é
dado como certo, e o que a lei ordenou que o homem fizesse era amar o próximo como a si
mesmo. Não há mandamento de amar a si mesmo. Esse pensamento não é encontrado na
Palavra de Deus.
Então Filipenses 2:3 diz: "Nada façais por contenda ou vanglória; antes, com humildade,
cada um estimando os outros como superiores a si mesmo". Já ouvi alguns dizerem que não
há problema em se estimar, desde que você valorize os outros como melhores do que você
mesmo. Se levarmos isso à sua conclusão lógica, essa interpretação resultaria em baixa
autoestima nos piores casos, porque, em última análise, teríamos que considerar todos os
outros melhores em todos os sentidos do que nós mesmos. Novamente, este não me parece ser
o significado do versículo. O pensamento é que todos nós, quaisquer que sejam nossas
habilidades naturais, nossos dons espirituais ou nossa fidelidade ao Senhor, sempre podemos
olhar para outro crente e ver uma qualidade, dom ou traço de caráter desejável que não
possuímos. Também podemos olhar para nós mesmos e contemplar um pecado que nos assola
e que os outros não têm. Se estivermos caminhando com o Senhor, veremos o bem nos outros
e, ao mesmo tempo, reconheceremos nossas próprias falhas. Não teremos problemas em
estimar os outros como melhores do que nós mesmos, porque buscaremos o melhor nos outros.
Se pensarmos em nós mesmos, será mais para julgar nossos fracassos do que para inchar por
quem somos ou o que fizemos. Este versículo, é claro, não é a justificativa bíblica para a
autoestima como este termo está sendo interpretado atualmente. Devemos permanecer
ocupados com Cristo e com os outros, e não com nós mesmos.
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Cristo — Seu Amor e Compreensão
Até este ponto, temos lidado principalmente com o aspecto negativo da autoestima,
apontando como a presença do pecado arruinou tudo na criação de Deus. Vimos que até
mesmo as coisas que Deus deu são usadas para um fim maligno, e que o orgulho entra
facilmente e estraga até mesmo os sentimentos mais justos. Então, qual é a resposta para tudo
isso? Existe uma maneira de colocar todas essas considerações em perspectiva adequada?
Acho que sim. Como em todas as outras questões da vida, precisamos apresentar Cristo. Nele,
através de Sua Palavra, encontramos a resposta para tudo. Como alguém me disse: "A resposta
para tudo para o crente é encontrada na cruz".
Em nossas observações sob o título "Amor e Compreensão", apontamos que ser amado e
compreendido são coisas essenciais para todo ser humano, e que a privação dessas coisas
trouxe sérias dificuldades e, ocasionalmente, calamidades. O que acontece com aqueles que
não receberam esses fatores tão importantes em suas vidas? Sabemos muito bem que o pecado
arruinou até mesmo esse aspecto de nossas vidas em muitas ocasiões. Talvez alguns de nós
venhamos de lares cristãos onde o amor foi amplamente dado, e mesmo em lares onde Cristo
não é conhecido, o amor está frequentemente presente. Mas sabemos que infelizmente está
ausente de muitos lares, tornando as coisas muito difíceis para as crianças que crescem em tal
ambiente. Eles tendem a contemplar tudo através da cor de suas experiências.
Falei com alguns que acharam difícil acreditar que Deus os amava porque tinham conhecido
tão pouco amor em suas vidas. Eles buscaram amor e compreensão em seus pais e, não o
recebendo, acharam difícil acreditar que ninguém mais os amava. Outros tinham sido
informados durante toda a vida que eles eram inúteis e não eram bons, e assim achavam difícil
acreditar que ninguém poderia apreciá-los, ou que eles tinham qualquer capacidade de fazer
qualquer coisa. Outros ainda viveram grande parte de suas vidas sob a sombra de uma
experiência terrível, talvez desde a infância, e não conseguiram se recuperar dela.
Vimos que a sabedoria humana propõe uma resposta para esse problema, e tenta convencer
uma pessoa sobre seu próprio valor, sua capacidade e sua importância neste mundo. Essa
abordagem pode ter algum mérito em tornar uma pessoa consciente de suas habilidades que
recebeu de Deus. No entanto, não vai longe o suficiente, porque o resultado lógico é apenas
orgulho, por um lado, ou frustração, por outro.
No ano passado, quando minha esposa e eu estávamos curtindo um passeio de carro pela
Costa Oeste dos Estados Unidos, virei-me para ela e disse: "Você sabe, uma necessidade
básica de todo ser humano é amor e compreensão". Ela respondeu: "O que acontece se você
não receber? O que acontece se você crescer em um ambiente hostil?" Alguns dos leitores
dessas linhas podem vir de tais casas, e (ouso dizer?) alguns de vocês podem vir de
assembleias onde parece haver pouco amor e compreensão. Você pode tentar fazer algo de
todo o coração, e só recebe críticas por isso, seja em casa ou fora. Você já teve a experiência
de tentar ajudar e ser rejeitado, dizendo que não consegue fazer bem? Você pode começar a
se perguntar qual é o seu papel e o que você deveria estar fazendo.
Já nos referimos ao Salmo 63:3, que diz: "Porque a tua misericórdia é melhor do que a vida;
meus lábios te louvarão". O versículo 1 diz: "Deus, meu Deus és tu; ao amanhecer te procurarei;
Minha alma tem sede de ti, minha carne anseia por ti, em terra seca e estéril, onde não há água."
Deus fornece amor e compreensão àqueles que foram privados de um e de outro, não por causa
de quem somos, mas por causa de quem Ele é! É de Sua misericórdia, Seu caráter favorável,
de que precisamos acima de tudo, e Ele nos dará mesmo que ninguém mais o faça!
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"Seus olhos estavam voltados para Jesus, o autor e consumador da fé, que pela alegria posta
diante dele sofreu a cruz, desprezando a reprovação, e sentou-se à direita do trono de Deus.
Considerai aquele que sofreu tal contradição dos pecadores contra si mesmo, para que o vosso
espírito não se canse até desmaiar" (Hebreus 12:2, 3).
Deus nos deu um exemplo, e este exemplo é o Senhor Jesus. Aqui a ênfase está na
caminhada prática do crente, e o Senhor Jesus nos é apresentado como exemplo. Havia Um,
nosso Senhor Jesus Cristo que (digo isso com reverência) estava satisfeito com a aprovação
de um só Um. O Salmo 88:18 diz: "Tu tiraste de mim o amigo e o companheiro, e puseste os
meus conhecidos nas trevas." O Salmo 69 é um dos Salmos Messiânicos, que faz referência
profética ao Senhor. O versículo 20 afirma: "O escárnio partiu meu coração, e estou de luto.
Esperei que ele tivesse pena de mim, e não houve; e consoladores, e não encontrei nenhum."
Acontece com você, acontece conosco, que às vezes nos encontramos dizendo: "Ninguém
me entende; Parece que ninguém me ama ou cuida de mim"? Creio que às vezes o Senhor
Jesus leva você, eu, ao ponto em nossas vidas em que Ele nos pergunta se estamos dispostos
a seguir se só teremos Sua aprovação e Seu amor. Qual foi a alegria que foi colocada diante
Dele em Hebreus 12:2? Creio que foi a alegria de fazer a vontade do Pai, e Ele é um exemplo
para nós. Deus o privou na cruz de todo consolador possível. Para quê? Em parte, para nos
mostrar que nosso abençoado Salvador poderia passar por tudo isso sem apoio humano.
Estamos preparados para isso? Você está disposto a dizer: "Senhor, seu amor e aprovação são
suficientes"? Não sou responsável pela falta de amor e compreensão que possa ter
experimentado em minha infância, mas Deus me responsabiliza como pessoa madura por
minha reação a tais experiências, porque Ele me deu tudo o que era necessário para que eu
pudesse superá-las.
Percebo que isso é mais difícil para uns do que para outros. Algumas pessoas são
naturalmente mais resilientes e conseguem resistir às críticas com mais facilidade. Outros
parecem ser capazes de sobreviver à falta de amor e compreensão, enquanto outros estão
totalmente devastados. Que cada um de nós aprenda a dizer: "Senhor, ajuda-me a aprender
vivendo à luz do teu amor e compreensão". Nunca seremos plenamente felizes em nossa vida
cristã até que possamos dizer: "Ficarei satisfeito se apenas desfrutar do amor do Senhor em
meu coração e tiver em minha alma a consciência de que estou fazendo Sua vontade".
Quando chegamos ao ponto de precisar apenas de Sua aprovação, Seu amor, Sua
compreensão, então uma coisa maravilhosa acontece. Descobrimos que o Senhor nunca nos
deixa completamente sem companheirismo, amor, cuidado e encorajamento. Não: Ele sabe
que precisamos da ajuda e do encorajamento uns dos outros, e nunca nos deixará totalmente
sozinhos.
Houve momentos em minha vida em que fui levado ao ponto de dizer: "Senhor, seu amor
é suficiente". Não quero dizer que já tenha experimentado rejeição total de todos aqueles de
quem esperava amor e compreensão, mas houve momentos em minha vida em que senti que
o problema que estava enfrentando eu dificilmente poderia compartilhar com mais ninguém.
Você pode ter passado por essa experiência. É maravilhoso, nessas circunstâncias, sentir o
Senhor quase tocando seu ombro com Sua mão e encorajando-o a continuar, dizendo-lhe que
Ele entende, que Ele te ama e que Ele cuida de você. Mas em cada uma dessas situações, Deus
enviou alguém para me dar encorajamento, uma palavra de encorajamento, um empurrão,
como costumamos dizer. Às vezes era apenas uma palavra gentil, mas era exatamente o que
eu precisava. O Senhor sabe o quanto precisamos desse impulso, e Ele o dará a nós, no
momento certo. Então nos envolvemos com Ele, percebendo que o encorajamento, embora
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tenha vindo de nossos irmãos cristãos, em última análise, vem de Si mesmo. Olhamos para
Ele, não para os outros, nem mesmo para nós mesmos. Ao considerá-Lo e a tudo o que Ele
sofreu, estamos preocupados com Sua perfeição e percebemos que Ele nos compensará por
aquilo de que o pecado nos privou.
17
O ato do batismo nos expõe essa nova posição. Ao passar pelo batismo, o crente confessa
sua identificação com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. Ele não está mais
identificado com um mundo pecaminoso que rejeitou o Senhor Jesus, mas agora faz parte da
família de Deus. Ele morreu para pecar. Ele não deve mais andar em seus velhos caminhos de
pecado; Ele agora deve andar "na novidade da vida" (Romanos 6:5). O pecado em mim –
minha velha e pecaminosa natureza – não tem mais direitos sobre mim. "Se alguém está em
Cristo, é uma nova criação; As coisas velhas passaram; eis que todos se fizeram novos" (2
Coríntios 5:17).
Esse conflito entre a velha e a nova natureza é exposto de forma prática em Romanos 7.
Aqui temos o homem verdadeiramente renascido e desfrutando de uma nova vida, mas ele
ainda não experimentou a libertação do pecado. Como muitos de nós, o homem em Romanos
7 descobriu que, enquanto tivesse uma nova vida e quisesse fazer o bem, não tinha poder para
fazê-lo. Quantos de nós quisemos sinceramente viver a vida cristã, mas constantemente
descobrimos que pecamos apesar de nós mesmos? Quantos de nós não encontramos, nas
palavras de Romanos 7:15, que "o que faço, não entendo; porque eu não faço o que eu quero,
mas o que eu odeio, que eu faço"?
Qual é a razão pela qual não conseguimos alcançar a vitória? Encontramos a resposta no
versículo 18. Devemos chegar à conclusão bíblica de que "em mim, isto é, na minha carne, o
bem não habita". Muitas vezes estamos dispostos a admitir que pecamos, mas não estamos
dispostos a admitir que não há nada em nós que tenha qualquer mérito diante de Deus. Não
estamos dispostos a reconhecer que não há absolutamente nada em nós na carne que Deus
possa aceitar – tudo foi arruinado pelo pecado. Além disso, devemos chegar à triste conclusão
a que chegou o Apóstolo no versículo 24, quando diz: "Desgraçado de mim!" Não só a velha
natureza é incorrigivelmente má, mas nossa condição é incrivelmente miserável. É doloroso
reconhecer essa realidade, mas é essencial para nos libertarmos do pecado. É somente quando
isso se torna uma realidade em nossas almas que deixamos de ter qualquer confiança em nossa
antiga natureza pecaminosa e nos voltamos para Cristo.
É por isso que a última parte do versículo 24 e do versículo 25 diz: "Quem me livrará deste
corpo de morte? Agradeço a Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor". A libertação não
vem ocupando-nos de nós mesmos e tentando melhorar a nós mesmos, mas olhando para fora
de nós mesmos, para Cristo. Então encontramos libertação imediata, porque estamos ocupados
com o que Cristo é, e não com o que somos.
Muitas vezes recuamos horrorizados quando percebemos o quão verdadeiramente terrível
é nossa natureza pecaminosa. Não queremos admiti-lo, então defendemos nossa antiga
natureza pecaminosa, ou a desculpamos, em vez de admitir que é tão ruim quanto parece. O
caminho para a libertação é admitir plenamente o que Deus já nos disse em Sua Palavra, que
"O coração é enganoso acima de todas as coisas e perverso" (Jeremias 17:9). Que nossa
natureza seja tão ruim quanto Deus declara ser: Deus a condenou na cruz, e na morte de Cristo
eu morri para pecar. "Deus, enviando Seu Filho à semelhança da carne pecaminosa e por causa
do pecado, condenou o pecado na carne" (Romanos 8:3).
Romanos 8 nos apresenta a posição abençoada do crente que foi libertado do pecado. Não
só meus pecados são lavados, mas eu fui libertado da lei (ou, o princípio) do pecado e da
morte. Não estou mais diante de Deus como um pecador arruinado, mas estou "em Cristo
Jesus" (Romanos 8:1), não andando "segundo a carne, mas segundo o Espírito" (Romanos
8:4). Em vez de tentar melhorar a natureza do pecado, eu simplesmente me afasto dela,
reconhecendo que diante de Deus estou "em Cristo" e que tenho uma nova vida Nele.
Anos atrás, havia mais pessoas queimando lenha e carvão para aquecer suas casas, e as
18
chaminés eram muito numerosas. Como você deve saber, ao queimar madeira e carvão, uma
substância chamada creosoto se acumula nas chaminés e, se não for limpa periodicamente,
finalmente o resultado é que a chaminé se inflama. Essas chaminés passavam pelas casas
regularmente e limpavam as chaminés para viver. Às vezes, as chaminés eram grandes o
suficiente para que crianças e homens entrassem nelas para fazer a limpeza, e podemos
imaginar o quão sujas elas ficavam. Eles estavam cobertos de fuligem da cabeça aos pés. Você
via aqueles homens indo de casa em casa, todos enegrecidos, com suas vassouras e outros
utensílios nos ombros.
Agora, deixe-me fazer uma pergunta: "Como você ficaria mais sujo: abraçando uma
chaminé ou lutando com ela de braços dados?" Se você refletir por um momento, concordará
que não haveria muita diferença: de uma forma ou de outra você ficaria irremediavelmente
sujo.
Se compararmos a varredura da chaminé com nossa velha natureza pecaminosa, a aplicação
se torna aparente. O diabo não se importa se abraçamos o pecado ou se estamos
constantemente lutando com ele, porque de uma forma ou de outra nos contaminamos. O que
temos que fazer é fugir da varredura da chaminé, ficar bem longe dela. Isto é o que a Palavra
de Deus nos diz para fazer quando nossa natureza pecaminosa tenta agir: eu devo
simplesmente me afastar dela, e deixar que o Espírito de Deus coloque Cristo diante de mim.
Todo verdadeiro crente tem o Espírito de Deus habitando nele, e o Espírito de Deus é o poder
da vida nova. Voltaremos a isso mais tarde.
Vimos que a verdadeira posição cristã é estar morto, sepultado e ressuscitado com Cristo.
No que diz respeito ao pecado, Deus o condenou na cruz. Na morte de Cristo, Deus viu a
crucificação do meu velho, e a cruz foi o fim de tudo o que eu era como uma criatura
pecaminosa da raça de Adão. Agora tenho o direito de assumir essa posição na prática e de
me considerar "morto para o pecado, mas vivo para Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor"
(Romanos 6:11). Com essa bendita verdade em mente, podemos passar a ver a verdadeira
resposta, a resposta das escrituras, à autoestima.
O título desta seção vem de um versículo em Gálatas: "Com Cristo sou crucificado juntos,
e não vivo mais, mas Cristo vive em mim; e o que agora vivo na carne, vivo na fé do Filho de
Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gálatas 2:20).
A sabedoria deste mundo, como já vimos, nos diz para desenvolvermos nossas boas
qualidades e tomarmos consciência de nosso potencial. Temos de perceber que somos pessoas
valiosas e que temos um contributo a dar. Dizem-nos para termos fé em nós mesmos. Já
comentamos que há um certo mérito em nos levar a reconhecer essas capacidades que
recebemos de Deus, mas se o fator pecado não for explicitamente exposto e abordado, esse
ensinamento nunca resolverá o problema da autoestima.
A ocupação com o próprio eu sempre terminará em orgulho ou desânimo. Tudo foi
contaminado pelo pecado, e ou incharemos pelo que somos, ou ficaremos deprimidos pelo
que não somos. Não há dúvida de que em alguns casos esse ensino desenvolverá em alguma
pessoa uma qualidade ou habilidade, de modo que as pessoas dirão que funciona. No entanto,
essa abordagem nunca pode nos levar além do reino de nós mesmos. A base para a autoestima
é extremamente frágil e pode ser facilmente perdida. Quem cuida de si nunca é
verdadeiramente feliz.
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O que precisamos é deixar Gálatas 2:20 tomar conta de nossas almas. Precisamos ter
consciência do que significa ser "crucificado com Cristo". O "eu" aqui é o que eu era antes de
ser salvo, o "eu" que eu era como filho de Adão e como membro de uma raça pecaminosa e
caída. Possuindo nova vida em Cristo, tenho o direito de dizer que o velho "eu" não é mais o
que realmente sou. Diante de Deus, eu sou
"em Cristo", e devo deixar que a nova vida que Cristo me deu seja o "eu" a partir de agora.
Porque esta é realmente a vida em Cristo, posso dizer com verdade que "Cristo vive em mim".
Deus testou o homem durante todo o Antigo Testamento, e todo esse teste demonstrou
apenas a ruína total do homem em sua condição decaída. Agora Deus acabou com o "primeiro
homem" e começa de novo com Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. A maravilhosa verdade
é que quando o primeiro homem (Adão e, finalmente, nós) falhou em tudo o que Deus lhe
havia confiado, Deus apresentou Seu Homem, o Senhor Jesus Cristo. Cristo foi fiel em todas
as áreas em que o primeiro homem falhou, e todos os propósitos de Deus serão cumpridos em
um só homem, Seu próprio Filho amado. Este é o significado do Salmo 8:4-5, que diz: "O que
é o homem, que tem uma lembrança dele, e do filho do homem, que você deve visitá-lo? Tu
o fizeste pouco menos que os anjos e o coroaste com glória e honra". Com uma graça
maravilhosa, Deus quis associar você e eu a Ele, e Ele nos deu uma nova vida Nele! Em vez
de esperar algo do homem, Deus está colocando algo nele. A resposta de Deus não é a
autoestima, mas a "estima de Cristo"!
Li uma história há algum tempo, que acho que ilustra muito bem esse ponto. Havia uma
jovem que tinha tido uma infância e juventude muito duras. Alguns de vocês terão uma
experiência disso. Seus pais e outros lhe haviam dito continuamente que ele não poderia fazer
nada à direita; Como resultado, ele teve sérios problemas quando chegou aos estágios iniciais
da vida adulta. Para um observador casual, tudo parecia vir em sua cara. Ela era atraente, tinha
boas habilidades naturais e era uma verdadeira cristã, mas simplesmente não conseguia tirar
da cabeça a ideia de que era inútil. Ia a psiquiatras e a todo tipo de grupo de autoajuda, mas
parecia que nada ajudava. Ela finalmente procurou um cristão que estava disposto a ouvir sua
história e tentar ajudá-la. Ele contou a ela sobre sua situação, como parecia que nunca poderia
fazer nada certo, e acabou dizendo: "Eu só tenho a sensação constante de que sou inútil".
Depois de ouvir atentamente por muito tempo, ele olhou para ela e disse com uma voz
suave e suave: "Talvez não valha a pena". Ele estava se referindo, naturalmente, à sua natureza
pecaminosa, não às capacidades que Deus lhe havia dotado. Você pode imaginar a reação
dele. Ele olhou para ele de marco em marco com olhos flamejantes e disse: "Ninguém nunca
falou comigo dessa maneira antes! Meu psiquiatra sempre me diz que eu sou uma pessoa
valiosa, que eu preciso acreditar em mim mesma, que ele "Então ele a interrompeu com esta
pergunta: "E deu certo?" "Não!", ela respondeu, "mas ainda não estou pronta para desistir de
mim!"
Devemos estar dispostos a desistir de nossa natureza pecaminosa se Cristo quiser viver em
nós. Para sermos salvos, tivemos que desistir de nós mesmos, e temos que nos conscientizar
da ruína total do "velho" se quisermos caminhar como cristãos no caminho reto. Enquanto nos
concentrarmos em nós mesmos, as coisas nunca ficarão bem. Deus quer que nossa nova vida
em Cristo tenha expressão prática em nós.
Podemos dizer: "Ah, eu tentei, mas não funcionou. Simplesmente não me parece possível!"
Assim, somos como o homem em Romanos 7, que estava tentando fazer isso em suas próprias
forças. Sempre haverá uma luta, e sempre perderemos até nos apropriarmos do que Cristo fez
por nós na cruz. Assim como tínhamos fé de que o sangue de Cristo era suficiente para tirar
nossos pecados, também devemos ter fé de que nosso "velho" foi crucificado com Cristo. Em
20
ambos os casos, a fé depende da estimativa de Deus da obra acabada de Cristo. A fé crê naquilo
que, aos olhos de Deus, é um fato consumado: que na morte de Cristo eu morri para pecar.
Então eu tenho poder para agir com base em Romanos 6:9, e me considero morto na prática.
Então eu adoto a perspectiva de Deus de mim mesmo, de que o verdadeiro "eu" é agora o novo
homem, a nova vida que possuo em Cristo.
Se eu tiver uma nova vida em Cristo, é possível que eu possa falhar em algo que Deus dá
ao novo "eu" para realizá-la? Não, porque todos os recursos de Deus estão disponíveis para
aquele que está trilhando o caminho da obediência e deixando o novo, a vida de Cristo se
expressar. Isso parece elementar, e ainda assim é incrível. A vida nova, que age sempre para
agradar a Deus, não pode falhar em nada do que faz.
Mas o desafio de deixar que uma nova vida se expresse em nossas vidas é provavelmente
a maior dificuldade que todo cristão encontra. Como a jovem a quem me referi, não estamos
dispostos a desistir de nós mesmos e reconhecer que nossa natureza pecaminosa não pode
fazer nada para agradar a Deus. Queremos ser mais semelhantes a Cristo. Falamos sobre isso,
talvez cantemos sobre isso, mas a realidade subjacente é que gostamos demais de nós mesmos
do jeito que somos. Não é de amor próprio que precisamos, porque isso só me levará a me
ocupar com o que sou por natureza. O antídoto é estar ocupado com Cristo e desfrutar de Seu
amor em nossos corações. Então minha ocupação será com o que Ele é e não com o que eu
sou.
Na vida de Gideão, vemos um exemplo de aprender a desviar o olhar de si mesmo e fixá-
lo no Senhor. O Senhor havia entregado os filhos de Israel nas mãos dos midianitas por causa
de seus pecados. Quando o anjo do Senhor veio a Gideão e lhe disse que o Senhor iria usá-lo
para libertar Israel, sua resposta foi: "Ah, meu Senhor, com que salvarei Israel? Eis que minha
família é pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai" (Judg. 6:15). Mas ele estava
disposto a ser obediente, e o Senhor o conduziu gentilmente. Quando ele ainda não podia ser
persuadido a seguir em frente, o Senhor respondeu gentilmente quando colocou o velo de
prova em duas ocasiões separadas. Então, para mostrar que a missão deveria ser cumprida em
Seu poder, o Senhor reduziu Seu exército a apenas trezentos homens. Finalmente, ele ordenou
a Gideão que descesse ao acampamento dos midianitas, e lá à espreita ouviu uma conversa
dentro de uma das tendas que o convenceu de que o Senhor lhe daria a vitória. Gideão
conquistou a vitória, mas de uma maneira que o Senhor recebeu toda a glória. Gideão não
tinha nada do que se vangloriar, pois era evidentemente a mão do Senhor. Com isso, ele
ilustrou as Escrituras: "Quando sou fraco, então sou forte" (2 Coríntios 12:10).
Após a vitória, quando os homens de Efraim mostraram sua raiva dele porque pensavam
que ele não lhes havia dado o lugar de honra, a atitude justa de Gideão se manifestou em sua
resposta a eles. Em vez de demonstrar orgulho, a graça deu-lhes crédito pelo que fizeram,
enquanto Gideão adotou a posição inferior. Os sentimentos ruins foram anulados porque
Gideão não queria fama para si mesmo, e estava disposto a dá-la aos outros. Mais tarde,
quando os homens de Israel queriam que Gideão fosse rei sobre eles, ele se recusou, dizendo
que era o Senhor quem deveria reinar sobre eles.
Compare isso com Jefté alguns anos depois, que evidentemente tinha um problema real
com seu orgulho. Ele se recusou a liderar o povo na batalha contra os filhos de Amon, a menos
que eles prometessem torná-lo seu chefe se ele os libertasse. Então, quando os próprios
homens de Efraim ficaram novamente chateados, Jefté respondeu-lhes duramente, e uma
guerra civil se seguiu na qual quarenta e dois mil morreram. O mundo diria que tanto Jefté
quanto os homens de Efraim tinham baixa autoestima, mas a palavra correta a ser usada aqui
é orgulho.
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"Ah", você pode dizer, "mas se eu não tivesse um certo orgulho de mim mesmo, não me
preocuparia com minha aparência, fazendo bem o meu trabalho, cuidando da minha casa, etc."
Meu falecido sogro uma vez me disse que, quando jovem, havia feito essa mesma pergunta
ao pai. A resposta de seu pai foi: "Filho, se toda vez que você sair pela porta e você vai para a
rua, toda vez que você vai trabalhar, toda vez que você se relaciona com os outros de alguma
forma, você se lembra que você é um filho de Deus, e que tudo o que você faz e diz afeta
Aquele a quem você pertence, isso vai cuidar de todas as coisas como sua aparência, trabalho,
etc., mas não deixando espaço para orgulho. Se você se lembrar de que foi enviado ao mundo
para agradar ao Senhor, você fará todas essas coisas bem, mas com um Objeto fora de si
mesmo."
22
As qualidades que nos faltam, e cada vez mais? Satanás gostaria de nos manter ocupados
conosco mesmos dessa maneira, e a sabedoria mundana nos dirá que temos que crer em nós
mesmos, que temos que pensar positivamente e dizer a nós mesmos que podemos fazer isso.
O que precisamos estar cientes é que Satanás quer que lidemos com nosso eu, e ele não se
importa se é positivo ou negativo. Tudo se torna igual e, assim, nos priva de nossa alegria em
Cristo. Somente o Espírito de Deus pode encher nossos corações com as coisas de Cristo e
nos separar de nós mesmos.
Novamente surge a pergunta: "Não deveríamos reconhecer as capacidades que Deus nos
deu e usá-las?" Sim, é claro, e encontramos isso exposto em Romanos 12:3: "Digo, pois, pela
graça que me é dada, a todo aquele que está entre vós, que não tenha opinião mais elevada de
si mesmo do que deveria ter, mas que pense em si mesmo com sanidade, segundo a medida
da fé que Deus distribuiu a cada um". Esse versículo implica que é certo pensar alto em nós
mesmos, mas não muito alto? Não, este não é o sentido da passagem. Em vez disso, o
pensamento é que devo reconhecer as capacidades com as quais Deus me dotou e a obra que
Ele me confiou, e realizá-la. Devemos lembrar que esse versículo aparece em Romanos
capítulo 12, e que temos que passar pelos capítulos 6, 7 e 8 para chegar lá. Quando entendemos
a verdadeira posição cristã como morta, sepultada e ressuscitada com Cristo, então nossos
talentos são introduzidos, para usarmos para a glória de Deus. Devemos reconhecer o que
Deus nos ordenou que façamos, e não pensar mais alto de nós mesmos do que deveríamos:
não querer fazer algo para o qual não somos adequados. Mesmo nos cristãos o orgulho pode
entrar, e podemos querer fazer algo que Deus não nos confiou. Esta exortação afasta-nos disso.
Assim como cada membro do corpo humano tem uma função, assim também cada membro
do corpo de Cristo tem uma função.
Reconheço que algumas dessas considerações são difíceis de explicar de forma totalmente
harmoniosa, e já ficou claro no início deste artigo que algumas dessas coisas devem ser
experimentadas e não explicadas. Embora não haja nada na Bíblia que confronte a razão sã, há
muitas coisas que vão além da razão, porque é um livro de Deus, e trata de questões além da
compreensão humana. Por exemplo, a Bíblia ensina tanto a soberania de Deus quanto a
responsabilidade do homem. A mente do homem não pode conciliar essas coisas de maneira
completa, mas é apenas a loucura da mente humana estreita que negará uma delas para enfatizar
a outra. Da mesma forma, é difícil para o homem natural conciliar o reconhecimento de suas
capacidades naturais com sua depravação total como resultado do pecado.
Para a mente espiritual, essas aparentes contradições não apresentam dificuldade, pois "o
espiritual discerne todas as coisas" (1 Coríntios 2:15, RVR77). Vem a ser apenas mais uma
dimensão maravilhosa da Palavra que Deus nos deu. Nas coisas naturais, devemos aprender
as definições das coisas antes de aprendermos as coisas em si, enquanto nas coisas espirituais
muitas vezes devemos aprender as próprias coisas em comunhão com o Senhor antes de
podermos defini-las.
Nosso tema contém algumas dessas coisas, uma das quais é ilustrada na vida do apóstolo
Paulo. Paulo poderia falar de si mesmo como o primeiro dos pecadores (1 Timóteo 1:15), e
também poderia dizer que ele era "menos do que o menor dos santos" (Efésios 3:8). Essas
palavras não eram mera retórica elevada, pois Paulo claramente reconhecia o quão
pecaminoso era seu "eu" natural. Ele nunca se esqueceu disso. Ele havia perseguido a igreja
de Deus antes de ser salvo. Por outro lado, ele não teve dificuldade em reconhecer que graça
havia operado em sua alma, para que pudesse dizer: "Pela graça de Deus eu sou o que sou" (1
Coríntios 15:10). Como servo de Cristo, ele poderia dizer: "E penso que em nada fui inferior
àqueles grandes apóstolos" (2 Coríntios 11:5), e "trabalhei mais do que todos eles" (1 Coríntios
23
15:10), mas depois acrescentou: "mas não eu, mas a graça de Deus comigo" (1 Coríntios
15:10). Não havia orgulho nisso, embora a tendência estivesse presente, porque Deus lhe
enviou um
"espinho na carne", para que, como ele explica, "a grandeza das revelações não me exaltasse
inesperadamente" (2 Coríntios 12:7). Quando as objeções de alguns em Corinto o obrigaram
a falar sobre o quanto ele havia sofrido por Cristo, ele foi capaz de dizer: "O que eu falo, não
falo segundo o Senhor, mas como na loucura" (2 Coríntios 11:17). Ele não gostava de falar de
si mesmo. Devemos nos contentar em ser qualquer coisa ou nada, desde que Cristo seja
glorificado, e esse era o propósito de Paulo. Que seja também o nosso propósito!
William T. Dorminhoco
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Embora essas coisas não venham facilmente, elas não devem nos induzir a desistir, como
podemos estar inclinados a fazer. Se cremos na Palavra de Deus, que na morte de Cristo
também morremos para o pecado, então há poder agora à nossa disposição, pela fé, para nos
considerarmos mortos para o pecado. Podemos contar com Deus para sermos fiéis à Sua
Palavra. O que precisamos é de corações dispostos, porque a Bíblia foi escrita para corações
dispostos. Se houver um verdadeiro desejo em nossos corações de sermos mais semelhantes a
Cristo, então Deus trabalhará em nós.
A substância deste livreto foi originalmente dada na forma de palestras para jovens em
Lassen Pines, um acampamento de jovens na Califórnia. Em tais situações, às vezes
experimentamos tanta alegria em Cristo e tanta felicidade em nossos corações que pensamos
que nunca mais poderemos nos sentir desanimados. Então descemos dessa experiência "no
topo" apenas para descobrir que este não era o mundo real, e que tanto o mundo ao nosso redor
quanto nossa natureza pecaminosa permanecem inalterados. Às vezes, os problemas parecem
ainda piores, porque Satanás nos torna objeto de um ataque especial porque temos desfrutado
muito do Senhor. Existe uma resposta para esse dilema?
O Espírito de Deus
Lembremo-nos de que Deus nunca nos dá instruções em Sua Palavra que sejam impossíveis
de cumprir. Não, mas Deus colocou o crente na posição mais abençoada de estar "em Cristo",
e agora o chama a viver em conformidade com a posição em que foi colocado. Em Sua Palavra,
Deus nos dá toda a instrução de que precisamos para fazê-lo, e Ele nos dá o poder de fazê-lo.
Esse poder é o Espírito de Deus.
Somente o Espírito de Deus pode ministrar Cristo a nossas almas e desviar nossa atenção
de nós mesmos. Romanos 8 coloca isso diante de nós: "Porque os que estão segundo a carne
fixam suas mentes nas coisas da carne; mas os que estão se conformando ao Espírito, nas
coisas do Espírito. Porque a mentalidade da carne é a morte, mas a mentalidade do Espírito é
vida e paz" (Romanos 8:5, 6, RVR77).
Podemos nos perguntar, com razão, o que significa "a mentalidade do Espírito". Se formos
verdadeiramente salvos, teremos vida em Cristo. É a vida abundante referida pelo Senhor
Jesus em João 10:10, e deve ser vivida no poder do Espírito de Deus. Isso é muito
negligenciado entre os cristãos de hoje, porque em vez de sermos guiados pelo Espírito,
tentamos viver a nova vida em nossas próprias forças.
Recentemente, li um livro escrito por um cristão sobre a questão de conhecer a vontade de
Deus. Toda a sua ênfase era que tínhamos que usar nosso próprio julgamento dentro da
estrutura da Palavra de Deus, e que, desde que o que queríamos fazer não fosse contrário à
Palavra de Deus, poderíamos nossentir livres para usar nosso melhor julgamento ao tomar
uma decisão. Isso é totalmente contrário ao ensino do Novo Testamento, porque devemos
viver não de acordo com a carne, mas de acordo com o Espírito.
Em João 14:16, o Senhor Jesus se refere ao Espírito Santo como o "Consolador" e nos diz
que Ele O enviará para permanecer conosco para sempre. Talvez
"Consolador" é a melhor palavra que temos na língua espanhola, mas não comunica
adequadamente o conceito contido no termo original grego parakletos. Esta palavra também
é traduzida como "advogado" em 1 João 2:1, e significa "Aquele que cuida de todos os seus
assuntos e cuida deles." Será que percebemos que temos uma Pessoa de Divindade que habita
em nós para cuidar de nós de todas as maneiras possíveis? Sim, Ele está aqui para isso, mas
25
deixamos que Ele lidere e guie como devemos deixá-Lo? Ou confiamos em nossos próprios
pensamentos, em nossa própria força e O entristecemos admitindo o pecado em nossas vidas?
Não precisamos pedir ou incitar o Espírito de Deus a nos guiar. Em vez disso, o que
precisamos fazer é remover os obstáculos à Sua obra. Quando estamos em um bom estado de
alma e não há pecado em nossa consciência sem julgamento, então o Espírito de Deus nos
ocupa com Cristo e traz alegria aos nossos corações. Quando pecamos, então o Espírito de
Deus tem que lidar com esse pecado até que o confessemos e experimentemos o perdão de
Deus (1 João 1:9).
Vemos então que o Espírito de Deus é o poder da nova vida que temos em Cristo, mas esse
pecado que admitimos em nossa vida entristece o Espírito (Efésios 4:30) e O impede de fazer
Sua verdadeira obra. Somos responsáveis por lidar com obstáculos à Sua obra, e este é o
assunto de nossa próxima seção.
Autojulgamento
Vimos que devemos nos considerar "mortos para o pecado, mas vivos para Deus em
Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:11). Quando vimos nossa verdadeira posição cristã
como mortos, sepultados e ressuscitados com Cristo, então nunca poderemos nos satisfazer
com nada menos do que isso para nós mesmos. Pela fé, aceitamos o que a morte de Cristo fez
por nós e aceitamos o fato de que morremos e ressuscitamos com Ele. Mas com que facilidade
recorremos ao nossas velhas maneiras de fazer! Devemos recorrer a 2 Coríntios 4 para
descobrir como podemos superar essa tendência.
Em 2 Coríntios 4:10 lemos: "Levando sempre no corpo a morte de Jesus, para que também
a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos". Este é um passo além de nos considerarmos
mortos para o pecado. Podemos tomar essa posição abençoada diante de Deus, e é bom fazê-
lo, mas então descobrimos que nossa velha natureza pecaminosa não aceita prontamente ser
colocada no lugar da morte. Descobrimos que Satanás não nos deixa sozinhos apenas porque
nos consideramos como Deus nos vê, como mortos e ressuscitados com Cristo. Quanto mais
quisermos viver para Cristo, mais a velha natureza levantará a cabeça. Além disso, toda nova
verdade que o Espírito de Deus nos revelar encontrará sua correspondente rejeição em algum
lugar da minha antiga natureza.
Quando eu era mais jovem, costumava olhar para os anciãos que pareciam estar andando
com o Senhor, e parecia que a velha natureza estava "queimada" depois de um tempo. À
medida que fui crescendo, percebi o quanto isso era falso. Era mais que aqueles que pareciam
estar andando com o Senhor tinham aprendido a não ter qualquer confiança naquela natureza
pecaminosa. Eles haviam aprendido a verdade desse versículo, que é um exercício diário,
horário, constante de autojulgamento, manter a natureza pecaminosa no lugar da morte.
Há um significado muito especial na forma como este versículo é redigido. Observe que
ele não diz: "Carregando em meu corpo sempre a realidade de que estou morto para pecar".
Não, mas devemos carregar em nossos corpos "a morte do Senhor Jesus". É a realidade prática
de aplicar a sentença de morte aos desejos de nossos corpos naturais. O Senhor Jesus apela
aos nossos corações, e lembra-nos que isso lhe custou a vida, para que o nosso "velho" pudesse
ser "crucificado juntamente com Ele".
Nunca poderemos andar adequadamente como cristãos a menos que sejamos
continuamente devolvidos à cruz. Não basta sabermos intelectualmente que Deus quer que
estejamos ocupados com Cristo, e não com nós mesmos. E falharemos continuamente, a
26
menos que nosso coração seja tocado pelo fato de que isso custou a vida do Salvador para que
pudéssemos nos considerar como
"morto para o pecado, mas vivo para Deus". Nunca poderemos nos separar deste mundo de
maneira correta, a menos que nos lembremos de que foi este mundo que levou nosso Salvador
à cruz. Deus apela mais ao nosso coração do que ao nosso intelecto, porque só quando o nosso
coração está no lugar é que podemos viver adequadamente a vida cristã.
Não é aquele que mais sabe que acaba sendo o melhor cristão, mas aquele que mais ama.
Gostaria de encorajá-los a ler a Palavra de Deus, e também o excelente ministério escrito
disponível, porque eles colocam Cristo diante de vocês. Mas o conhecimento em si não vos
guardará: a Pessoa de Cristo deve tornar-se preciosa para vós. Às vezes vemos um simples
crente que sabe relativamente pouco sobre as Escrituras, mas que parece estar mais próximo
do Senhor do que nós, e que parece ter mais alegria em sua alma. Talvez tenhamos sido criados
em um lar cristão e tenhamos conhecido essas coisas desde a mais tenra infância. Podemos ter
sido salvos por muitos anos, e podemos saber muito mais. E por que não temos essa alegria?
É porque o simples crente está desfrutando do quem conhece Cristo, enquanto permitimos que
algum obstáculo fosse introduzido.
Você pode perguntar: "Como eu adquiro esse amor em meu coração pelo Senhor?
Quero amá-lo mais!" Um irmão que agora está com o Senhor costumava nos lembrar
repetidamente: "Nunca tente amar o Senhor mais do que você O ama! Pense no quanto Ele te
ama!" Se tivermos sido levados de volta à cruz e estivermos ocupados com o amor do Senhor
por nós, então nosso amor fluirá para Ele, e descobriremos que essas coisas se tornarão cada
vez mais claras para nós.
Posso ouvir alguns de vocês dizerem: "Mas vocês não sabem as dificuldades e problemas
que tenho na minha vida. Você não sabe de que tipo de casa eu venho, a situação de trabalho
que eu tenho que enfrentar todos os dias. Você não sabe a solidão e as tentações que tive que
enfrentar. É fácil falar sobre essas coisas, mas como é difícil colocá-las em prática!"
Para responder a essa objeção, leiamos Jeremias 2:13: "Porque o meu povo fez dois males:
deixou-me, fonte de água viva, e cavou para si cisternas, cisternas quebradas que não contêm
água". Uma fonte é uma fonte contínua de água, enquanto uma cisterna é apenas um lugar
para armazenar água. Uma cisterna é uma coisa boa, mas se houver uma rachadura, toda a
água vai embora, e é inútil. Devemos nos perguntar o que vamos ter:
A fonte ou a cisterna quebrada? Podemos nos encontrar contemplando este mundo e dizendo
que nos faltam amizades. Se não podemos ter amizades cristãs, então talvez busquemos
amizades mundanas. Outros podem contemplar coisas materiais, ou uma profissão,
acreditando que isso os satisfará. Alguns idosos podem se concentrar em suas famílias, ou
viagens, ou um hobby. Embora não haja nada inerentemente errado com essas coisas, temos
que perceber que são todas cisternas quebradas. Minha alma deve estar possuída da verdade
de que somente Cristo pode dar satisfação ao meu coração.
E quanto ao serviço ao Senhor? Posso dizer a mim mesmo que vou sair e pregar o evangelho.
Talvez isso satisfaça meu coração. Você pode decidir ir para algum país estrangeiro e servir ao
Senhor. Ou talvez eu me concentre na assembleia local, e dê todas as minhas energias para
torná-la um lugar feliz, porque quero vê-la crescer, e cuidar para que meus irmãos estejam de
bom humor. Será que alguma dessas coisas vai me fazer feliz? Não, nenhum deles. "Mas",
alguém dirá, "essas coisas boas não são para fazer?
O Senhor não nos ordena que preguemos o evangelho e encorajemos outros crentes?" Sim,
mas todas essas coisas não conseguem atingir o motivo mais elevado que Deus colocou diante
de nós. Em todas essas coisas, nossos olhares são muito baixos. Se eu empreender a pregação
27
do evangelho e talvez não ver muita bênção, estarei propenso ao desânimo. Se eu fizer da
família o centro da minha atenção, posso negligenciar o que devo ao Senhor.
Qual é a resposta para tudo isso? A Palavra de Deus nos ensina que devemos olhar acima
de tudo isso, para o próprio Cristo. Quando O temos diante de nós, não dependemos de nada
aqui embaixo para nossa felicidade. Ele é imutável, e quando nossos corações estão ocupados
com Ele, há uma firmeza, serenidade, paz, que nada pode abalar. Se nossa alegria dependesse
de nada aqui embaixo, mesmo das coisas melhores, então o estado de nossa alma oscilaria
para cima e para baixo dependendo de como as coisas vão para baixo aqui. Deus quer nos
elevar acima de tudo.
Estar ocupado com Cristo nos fará negligenciar nossas responsabilidades nesta cena? Não,
porque o pensamento de que queremos agradá-Lo em tudo nos leva a desejar fazer tudo por
Ele, e isso da melhor maneira possível. Não vamos negligenciar o nosso trabalho, a nossa
família, a assembleia local, ou mesmo a nós próprios. Mas tudo isso não será nosso objeto;
antes, vamos querer fazer tudo por Cristo.
Um dos maiores problemas entre os cristãos de hoje é que usamos as falhas dos outros no
corpo de Cristo como desculpa para nossas próprias falhas. Tornamos nossa alegria
dependente do comportamento dos outros, e tornamos nossa capacidade de viver como
cristãos dependente da maneira como os outros caminham.
Digo, com toda a convicção, que a nossa alegria em Cristo não deve depender de mais
ninguém. Caso contrário, então permitimos que algo viesse entre nós e o Senhor, e Ele nos
ama demais para nos deixar verdadeiramente felizes em tais circunstâncias. Nossa alegria
pode permanecer por um tempo, mas então o Senhor nos testará, talvez removendo Aquele de
quem nossa felicidade depende, ou permitindo que alguma provação venha em nossas vidas.
Então fica claro que nosso verdadeiro objeto são os outros e outras coisas, e não Cristo.
Conheci um irmão que saiu da assembleia onde estava porque havia dificuldades lá. Ele
pensou que, se levasse sua família para outro lugar, as coisas iriam melhorar e sua família
seria mais feliz no Senhor. Não funcionou, porque nem nossos irmãos nem a assembleia
deveriam ser a fonte de nossa alegria. Se não podemos vencer na situação em que nos
encontramos, não podemos superá-la em lugar nenhum. Isto aplica-se a uma situação familiar,
a um problema de trabalho, à assembleia local ou a qualquer outra situação. Cristo pode dar
graça para qualquer circunstância em que Ele nos coloque. Meus irmãos podem tornar-se para
um verdadeiro encorajamento, e uma assembleia feliz é uma grande bênção, mas ambos são
úteis apenas na medida em que colocam Cristo diante de mim.
Naturalmente, o Senhor às vezes pode nos levar a mudar nossas circunstâncias e, assim,
nos remover de alguma situação difícil. Então, podemos sentir gratidão pela remoção da
provação e tirá-la das mãos do Senhor. Mas somente o Senhor pode nos guiar em tais casos,
e devemos estar muito em Sua presença, para que não nos lancemos no caminho por nossas
próprias razões, e não porque seja Seu pensamento.
Gostaria de esclarecer que não me refiro a nenhuma situação em que o Senhor não queira
nos ter. Às vezes, pedimos ajuda ao Senhor em uma situação em que Sua única vontade é que
não estejamos nela. Nesse caso, devemos deixar essa situação a qualquer preço, como, por
exemplo, em uma atividade em que estamos associados em jugo desigual com um incrédulo.
Não podemos vencer quando estamos em clara desobediência à Palavra de Deus. Mas se é
uma situação em que o Senhor nos colocou, devemos nos submeter ao que Ele permitiu e
aprender a lição que Ele quer nos ensinar. Nosso próximo tópico é muito útil a esse respeito.
28
"Entregue à morte"
Já falamos sobre a importância de "levar no corpo em todos os lugares a morte de
Jesus", mas o versículo que imediatamente se segue nos leva um passo adiante. Em 2 Coríntios
4:11 lemos: "Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus,
para que a vida de Jesus também se manifeste em nossa carne mortal". Podemos ter sentido a
necessidade de carregar no corpo a morte do Senhor Jesus, e podemos até tê-la carregado até
certo ponto, realmente querendo enfrentar aquilo que não agrada ao Senhor. Se sempre
fizéssemos isso perfeitamente, o versículo 11 não precisaria estar lá. Mas o Senhor vê coisas
em nossa vida que não vemos — talvez coisas que não achamos muito ruins, talvez uma
atitude a que estamos acostumados há muito tempo, ou algum motivo oculto que achamos que
não está tendo tanto efeito em nossas vidas. Então somos "entregues à morte": uma afirmação
forte. O que isso significa? Significa que o Senhor permite que as circunstâncias em nossas
vidas exponham diante de nós esse motivo oculto, aquele pecado que não vemos, ou pelo
menos que não consideramos muito sério. É a misericórdia de Deus que faz isso, pois então
podemos ver mais claramente o que está impedindo nosso pleno gozo de Cristo, e podemos
nos livrar dele. Mas quantas vezes nos rebelamos contra o trato do Senhor conosco, e não
aprendemos a lição! Consideramos as circunstâncias em si, ou talvez as pessoas envolvidas
nelas, e nos recusamos a deixar que o Senhor nos mostre que Ele permitiu a dificuldade.
Temos que lembrar que nunca há segundas causas para Deus. Quando temos aceitar a
provação como do Senhor, e somente Dele, podemos então nos voltar para Ele no espírito de
Hebreus 12:11, exercitado em disciplina e descobrindo que ela produz "o fruto pacífico da
justiça". Se há outros envolvidos e eles agiram injustamente conosco, podemos deixar isso nas
mãos do Senhor; Ele vai lidar com eles. Que Deus nos dê a graça de aceitar todas as nossas
circunstâncias d'Ele, e então ir até Ele e perguntar a Ele por que Ele as permitiu. Se fizermos
isso, Ele pode nos mostrar coisas em nossos corações que temos que enfrentar. Então a vida
de Jesus será exibida cada vez mais em nós, em vez da velha natureza pecaminosa. Se este é
o propósito de Deus nas provações, não faz tudo valer a pena?
Nunca devemos nos permitir o luxo da autopiedade. Todos nós gostamos de fazer isso às
vezes. Ouvimos falar de pessoas realizando o que é chamado de "reunião de enlutados". Várias
pessoas (às vezes apenas duas!) se reúnem e, por sua vez, contam umas às outras sobre os
males que sofreram dos outros, como abusaram delas, a maneira como os outros se
aproveitaram delas, e assim por diante. Há uma satisfação sutil em relatar todos esses males,
e então alguém lhe diz: "Oh, que terrível; Que pena!" Eu mesmo já fui culpado disso uma vez,
e tive que admitir ao Senhor que não passava de pecado. Ao fazer isso, deixo minha natureza
pecaminosa agir. Deus nos deu o exemplo de Aquele que sempre sentiu compaixão pelos
outros em todas as situações, mesmo quando estava no meio do sofrimento mais atroz. Quando
estamos ocupados com Cristo, Deus nos dará a graça de sentir simpatia mesmo por aqueles
que estão nos fazendo mais mal.
Para ilustrar como o Senhor Jesus quer que vivêssemos, gostaria de me referir a um
incidente em Sua vida.
"Então a mãe dos filhos de Zebedeu veio ter com ele com os filhos, prostrando-se diante
dele e pedindo-lhe alguma coisa. Disse-lhe: Que queres: Ela lhe disse: Manda que no teu reino
se assentem estes meus dois filhos, um à tua direita e outro à tua esquerda. Então Jesus
respondeu, disse: Você não sabe o que está pedindo. Você pode beber o cálice que devo beber
e ser batizado com o batismo com o qual sou batizado? E disseram-lhe: Podemos. Disse-lhes:
Em verdade, do meu vaso bebereis, e com o batismo com que sou batizado, sereis batizados;
mas sentar-se à minha direita e à minha esquerda, não é meu para dar, mas para aqueles para
quem é preparado por meu Pai. Quando os dez ouviram isso, ficaram bravos com os dois
29
irmãos. Então Jesus, chamando-os, disse: Tu sabes que os governantes das nações dominam
sobre eles, e aqueles que são grandes exercem poder sobre eles. Mas não será assim entre vós,
mas quem quiser tornar-se grande entre vós será vosso servo, e quem quiser ser o primeiro
entre vós será vosso servo; como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mateus 20:20-28).
Aqui, o Senhor mostra a Seus discípulos que o cristianismo não se caracteriza pelo que
encontra, mas pelo que introduz. Nosso abençoado Salvador não veio para ser servido, mas
para servir, e Ele deixou um exemplo para nós. Você se encontra em alguma situação difícil
em casa ou no trabalho? Deus lhe dará a graça de lidar com tal situação, primeiro dando-lhe
paz em sua alma sobre esta situação, e depois ajudando-o a mostrar um pouco do amor e da
graça de Cristo aos outros. Há uma situação difícil na sua assembleia local? O Senhor também
pode usá-lo para ser um ajudante. Uma caminhada piedosa consistente nunca deixará de ser
observada.
Quando o Senhor estava no Jardim do Getsêmani (digo isso com reverência), Ele poderia
ter pensado apenas em Si mesmo. Em vez disso, Seus pensamentos se voltaram para Seus
discípulos, e Ele lhes disse: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação" (Mateus 26:41).
Quando os soldados vieram apoderar-se dele, ele disse: "Se me buscares, deixai-os ir" (João
18:8). Quando Pedro o negou, o Senhor voltou-se e olhou para ele, sem dúvida com um olhar
afetuoso e compassivo. Quando Ele foi pregado na cruz, Ele disse: "Pai, perdoa-lhes, porque
eles não sabem o que fazem" (Lucas 23:34). Quando o ladrão ao seu lado, que até há pouco
tempo o injuriava, lhe disse: "Lembra-te de mim quando entrares no teu reino", Ele respondeu:
"Em verdade vos digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23:42, 43). Quando Ele viu
Sua mãe pela cruz, como o filho mais velho da família, Ele assumiu a responsabilidade de
dispor para o bem-estar deles, e Ele a recomendou a João. Em todos os momentos, Seus
pensamentos eram para os outros e não para Si mesmo. Certamente você e eu nos curvamos
em humilde adoração diante de tamanha graça, percebendo que nunca chegaremos a ela
enquanto estivermos aqui embaixo. Como observamos antes, Deus está começando essa obra
em nós aqui embaixo, e se Cristo está enchendo nossos corações, então podemos pedir a graça
de reagir a várias situações como Ele fez. Se eu me concentrar no mal que os outros estão
fazendo, eu mesmo vou agir errado. Se eu focar meu olhar no Senhor, desde que outros possam
ser culpados de malfeitos, serei capaz de responder fazendo o bem.
Se alguém está fazendo algo bom, poderei me sentir com ele e ser para ajuda e encorajamento.
deles. Mas se eles estão fazendo algo errado, eu vou poder sentir por eles. Posso recorrer ao
Senhor em busca de graça para ajudá-los, mesmo que eu esteja sofrendo de qualquer mal que
eles sejam.
Fazendo. Isso é sempre uma coisa difícil, e às vezes há situações em que, humanamente
falando, parece totalmente impossível. Há situações em que o mal feito é tão grande e o dano
emocional tão profundo que parece impossível ter graça de senti-lo por quem fez o mal. Eu
não gostaria de forma alguma minimizar a gravidade de alguns desses males. Mas então somos
devolvidos à cruz, e lá somos lembrados de Hebreus 12:3: "Considerai aquele que sofreu tal
contradição de pecadores contra si mesmo, para que vossos espíritos não se cansem até que
desmaieis". Ninguém jamais passou por dores como aquelas que nosso abençoado Salvador
sofreu, e Ele passou por elas sozinho. O que O manteve (e volto a dizer isso com reverência)
foi a alegria que havia sido colocada diante Dele, e nisso Ele nos deixou um exemplo. Acho
que digo de todo o coração, que enquanto a diferença entre uma situação e outra puder ser de
grau, o princípio se mantém. Uma situação pode exigir mais graça do que outra, mas "Ele dá
mais graça" (Tiago 4:6). Dizer que pode haver uma situação que pode surgir em nossas vidas
30
em que Ele não poderia dar graça para agir de acordo com Sua Palavra é negar Sua total
suficiência.
Lembro-me de uma vez ter conversado com uma menina que vinha de um lar muito difícil,
o pai não a tinha tratado muito bem. Depois de ouvi-la por um tempo, pude me solidarizar
com a dor que ela sentia. Ela tinha todos os motivos para se sentir amargurada e ressentida
com o que havia experimentado. Quando eu a conheci um pouco melhor, e conversamos sobre
o remédio para esses sentimentos, eu disse: "Você pode ir além de sua própria dor e sentir
simpatia por seu pai, que provavelmente se sente magoado também, e precisa de ajuda?" Ela
nunca tinha pensado nisso antes. A sabedoria mundana diria que temos que expressar essa
raiva, que temos que enfrentar aquele que fez o mal, que temos que fazê-los sentir o quanto
fomos prejudicados. Mas a sabedoria de Deus nos mostra que podemos levar nossa dor ao
Senhor e lidar somente com Ele. (E é importante lidar com esse dano: encobri-lo e fingir que
nada nos aconteceu.) não é a resposta.) Às vezes, um amigo e confidente de confiança pode
ser muito útil para nos ajudar a resolver as muitas emoções conflitantes em um momento como
esse. Mas se não temos essa pessoa à mão, lembremo-nos de que o Senhor Jesus passou a
agonia da cruz no Jardim do Getsêmani sozinho com Seu Pai. Foi lá que o suor jorrou em sua
testa e onde ele perguntou ao Pai se podia passar o cálice Dele. Então, diante do mundo, Seus
pensamentos poderiam ser direcionados aos outros.
Não é errado expressar o dano sentido, e talvez dar lugar aos sentimentos que se amontoam
em nossos corações; Não, mas é uma coisa muito necessária quando se lida com algumas
dessas experiências terríveis. Também não é errado confrontar aqueles que fizeram o mal e
fazê-los ver o quanto nos fizeram sofrer. Se feito da maneira certa e nas circunstâncias certas,
pode ser muito útil para resolver o problema. Mas lembremo-nos de que o Senhor a
compreende melhor do que ninguém. Então Ele nos dará graça, primeiro para desfrutar da paz
em nós mesmos e, em seguida, para ter os melhores sentimentos em relação àquele que fez o
mal.
Alegria e Paz
Se estivermos caminhando com o Senhor, descobriremos que podemos demonstrar amor e
solicitude pelos outros, e que podemos esquecer de nós mesmos. Não precisamos nos
preocupar com nós mesmos, e isso nos deixará felizes. Devemos colocar o Senhor Jesus em
primeiro lugar em nossas vidas, e torná-lo nosso objetivo para agradá-Lo. Então devemos
olhar ao nosso redor, para os outros, e perguntar ao Senhor como podemos ajudá-los. Se
fizermos essas coisas nesta ordem, descobriremos que o Senhor cuidará de nossa alegria sem
que pensemos nisso. Mas se seguirmos o Senhor para sermos felizes, provavelmente não
seremos, porque este é outro motivo falso. É mais uma cisterna quebrada. Às vezes,
desfrutamos de ocasiões de alegria especial, como quando passamos tempo na companhia de
outros cristãos longe do mundo. Como mencionei antes, podemos desfrutar tanto do Senhor
nessas circunstâncias que pensamos que nunca mais poderemos nos sentir infelizes. Podemos
dizer: "Quero me apegar a isso! Quero desfrutar dessa alegria em todos os momentos!" O que
deveríamos estar dizendo é: "Quero seguir a Cristo. Quero viver para Ele e ser mais
semelhante a Ele. Quero agradá-Lo mais, por amor a Ele". Então nosso motivo será
verdadeiro, porque estaremos ocupados com Ele, e não com nós mesmos. Agradar ao Senhor
Jesus é o motivo mais elevado que a Palavra de Deus coloca diante de nós.
Ocasiões de alegria especial são como a emoção que sentimos quando pressionamos o
pedal do acelerador com força e diminuímos a velocidade de uma marcha para ultrapassar.
Nós amamos a sensação de poder que sentimos com ele, mas nunca pensaríamos em dirigir
31
cinquenta quilômetros em terceiro. O carro não é feito para operar dessa forma, e teremos que
começar logo após atingirmos uma certa velocidade. Da mesma forma, as corredeiras ou
cachoeiras de um rio podem formar uma bela paisagem e ser uma necessidade para renovar o
oxigênio da água, mas não constituem a parte mais produtiva de um rio. Geralmente, os peixes
não vivem em corredeiras, e rios cheios de corredeiras não são bons para a navegação. É a
parte calma e plácida do rio que é mais útil, e é o funcionamento constante do carro a uma
velocidade normal que é mais útil para nos levar de um lugar para outro.
Embora o Senhor possa dar-nos um tempo de alegria especial, eu daria mais significado à
paz do que à alegria. A paz para o crente tem um duplo significado. Em João 14:27, o Senhor
Jesus disse aos Seus discípulos: "Deixo-vos a paz, deixo-vos a minha paz". Acho que a
primeira menção à paz se refere àquela que temos em Romanos 5:1, que é a paz que vem de
saber que todos os nossos pecados são perdoados, e que não temos nada a temer do julgamento
de Deus. Mas a segunda menção à paz é o que o Senhor chamou de "minha paz", e esta era a
paz que Ele tinha no cumprimento da vontade do Pai e no conhecimento de que Seu Pai estava
ordenando todas as circunstâncias para Ele como o Homem perfeito e dependente. Essa paz
nos foi dada, e podemos desfrutá-la também na medida em que não há nada entre nossas almas
e o Senhor, que Ele é nosso objeto e que estamos tentando agradá-Lo.
Devemos caminhar sempre em paz, embora nem sempre possamos caminhar na alegria. O
Senhor era o Homem das dores, mas andava sempre naquela paz que chamava de "minha paz".
A dor é uma parte necessária da vida cristã, e não devemos esperar o contrário. Estamos
seguindo um Cristo rejeitado em um mundo que ainda está contra Ele. Mas Ele também passou
por Ele e, como legado, deixou-nos Sua paz.
Os cristãos mais felizes são aqueles que nem pensam em si mesmos, aqueles que têm o
coração cheio de Cristo, procurando agradá-Lo, e depois engajados no bem e na bênção dos
outros. Mas, novamente, eles não fazem isso procurando ser felizes,
mas para agradar ao Senhor! Pense na felicidade Dele, não na sua. Você descobrirá que isso
dará um brilho ao seu rosto, um impulso à sua caminhada e aquela confiança com a qual os
cristãos devem caminhar. Moisés não sabia que seu rosto brilhava, mas outros sabiam. Ao
caminharmos com o Senhor, haverá em nós uma dignidade moral que os outros verão, e
saberão disso sobre nós, que estivemos com Jesus.
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Índice
SUICÍDIO.............................................................................................................................................4
PODE UM CRENTE COMETER SUICÍDIO?...................................................................................4
SETE CASOS NA BÍBLIA..................................................................................................................5
O QUE AS ESCRITURAS DIZEM A RESPEITO..............................................................................5
EM TODO CASO, É ERRADO...........................................................................................................6
A VIDA ETERNAL NUNCA É PERDIDA.........................................................................................6
CIRCUNSTÂNCIAS...........................................................................................................................7
SUICÍDIO
O suicídio é reconhecido como um grave problema em quase todo o mundo. Isso tem
acontecido ao longo de toda a história, mas o triste fato é que as taxas de suicídio em
todo o mundo têm aumentado cerca de 60% durante os últimos 40 ou 50 anos. Existem
provavelmente mais suicídios do que as estatísticas revelam, porque é muito difícil
determinar se a morte foi acidental, autoinfligida, ou um assassinato. Além disso, para
cada suicídio real, existem provavelmente pelo menos vinte tentativas que falharam. A
maioria dos suicídios nos países ocidentais (pelo menos 90%) está relacionada à
depressão e/ou ao abuso de substâncias tóxicas, porém, o recente aumento entre os
jovens, muitas vezes parece estar ligado à vergonha pública e à intimidação,
especialmente através das mídias sociais como o Facebook e a Internet. Suicídio é agora
a segunda causa mais comum de morte entre as pessoas mais jovens nos países
ocidentais. Outros fatores, especialmente em homens de meia idade, incluem o
desemprego e problemas financeiros.
Tudo isso somente ressalta um dos efeitos terríveis do pecado neste mundo, onde
homens e mulheres se encontram em um momento de suas vidas tão desesperadores
que consideram pôr um fim a suas vidas. Dentro de uma perspectiva cristã, surgem
algumas perguntas difíceis: Pode um crente cometer suicídio? “O que acontece se um
verdadeiro crente tira sua própria vida?” “Um crente que comete suicídio vai para a
presença de Cristo?” Essas perguntas têm atormentado os cristãos por muitos anos, e,
como seria de se esperar, as respostas que têm sido apontadas variam em alguns
aspectos. Alguns têm usado o versículo, “ora, vós sabeis que todo assassino não tem a
vida eterna permanente em si” (1 Jo 3:15), para argumentar que desde que o suicídio é
um assassinato de si mesmo, a pessoa que comete o ato não poderia ser salvo. Outros
admitiriam que um verdadeiro cristão poderia cometer suicídio, mas creem que tal coisa
seria extremamente rara. Eles iriam trazer uma série de dúvidas sobre a salvação de
alguém que cometeu suicídio. No entanto, alguns vão para o outro extremo, dizendo que
desde que não há nenhuma proibição específica de suicídio na Bíblia, isso é, portanto,
uma decisão pessoal. Não é necessariamente um pecado, já que depende de varias
circunstâncias. Como sempre, é importante que sejamos encontrados “como obreiro que
não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm. 2:15).
Sete suicídios são registrados na Bíblia. Destes, alguns eram claramente homens que
trilhavam um caminho errado e suicidaram-se em más circunstâncias. Incluídos nesse
grupo estão aqueles como Abimeleque (Jz 9:54), o rei Saul (1 Sm. 31:4), Aitofel (2 Sm.
17:23), Zimri, rei de Israel (1 Rs 16:18) e Judas Iscariotes (Mt. 27:5). Não sabemos mais
nada sobre o escudeiro de Saul (1 Sm. 31:5), exceto que quando ele viu que Saul estava
morto, ele também se matou. O último homem, Sansão (Jz. 16:30), é bastante singular,
pois enquanto ele de fato causou sua própria morte, seu verdadeiro objetivo era matar os
filisteus, não a si mesmo. Ele morreu como resultado de sua atitude de quebrar os pilares
do Templo de Dagon, assim causando um colapso na construção, matando milhares de
filisteus, além dele mesmo. Embora ele sem dúvida fosse uma alma verdadeiramente
nascida de novo, a situação em que se encontrava também foi o resultado de ter trilhado
um caminho errado.
Temos que dizer novamente que não importam as circunstâncias, cometer suicídio é
certamente errado. No caso da mulher e suas filhas que se afogaram ao invés de serem
moralmente profanadas, nós hesitamos em condená-las tão duramente, nós que vivemos
em regiões onde há liberdade religiosa e nunca precisamos passar por situações assim.
Da mesma forma é difícil ser muito crítico àqueles que sucumbem à grave depressão,
porque alguns de nós nunca tivemos que suportar tal agonia. O bem conhecido escritor
de hinos W M. Cowper tinha esse problema, e ele fez pelo menos três tentativas de
suicídio durante a sua vida. Mas o Senhor não permitiu que ele tivesse sucesso. Todas as
suas tentativas falharam, e ele morreu de morte natural. No entanto, sabemos que Deus
dá graça para qualquer circunstância que Ele permita que aconteça em nossas vidas, e
nos capacitará para glorificá-Lo nessas circunstâncias. Ele pôde dizer a Paulo: “A minha
graça te basta” (2 Cr. 12:9), e certamente isso é tão verdade para nós hoje quanto era
para Paulo.
O que acontece a um cristão que, de fato, tira sua própria vida? Podemos sugerir que um
ou dois versos resolveriam isso. As Escrituras nos dizem a respeito das ovelhas de Cristo:
“e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas
mãos” (Jo. 10:28). Apesar da seriedade de alguém tirar sua própria vida, não há pecado
algum que possa tirar a vida eterna que Deus dá a um cristão. Ele é também “selado com
o Espírito Santo da promessa” (Ef. 01:13), e nada pode quebrar o selo. Lembro-me bem
de ter ido ao enterro de um crente relativamente jovem, que tinha se suicidado. Ele sofria
de terríveis crises de depressão, e infelizmente tirou a própria vida, sentindo que não
poderia mais viver. Quem falou no funeral dele usou a passagem de Hebreus 11:35, sobre
aqueles que foram “torturados, não aceitando o seu livramento”. Ele ressaltou que o
jovem tinha sido torturado por pensamentos horríveis que o fizeram mergulhar nas
profundezas do desespero. Apesar de o orador não ter compactuado, de forma alguma,
com o que o jovem tinha feito, ele apontou, em Hebreus 11:39, que “todos estes …
obtiveram bom testemunho por sua fé”. Foi uma boa aplicação das Escrituras e trouxe
conforto à família, os quais eram crentes. Em conclusão, então, afirmamos pela Palavra
de Deus que nunca será certo perante Deus o ato do suicídio, especialmente para um
cristão. No entanto, os cristãos estão propensos a cometerem suicídio e às vezes o
fazem, e também é verdade que nenhum verdadeiro crente pode perder a sua salvação.
Aquele que se suicida, na verdade, vai para a presença de Cristo.
CIRCUNSTÂNCIAS
W. J. Prost
Os quatro temperamentos
A resposta a estas perguntas nos leva como que pela mão aos
quatro temperamentos e nos dá ao mesmo tempo a chave do
conhecimento de cada temperamento particular e individual.
C. Hipocrisia e dissimulação.
D. Insensibilidade e dureza.
1. Superficialidade.
2. Inconstância.
A. Propensão à reflexão.
D. Propensão à quietude.
3. Boas qualidades.
4. Más qualidade.
O temperamento colérico-sanguíneo
O temperamento sanguíneo-colérico
O temperamento melancólico-sanguíneo e
sanguíneo-melancólico.
O temperamento melancólico-fleumático.