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DPSJ – PROFESSORA MARISA

AULA DE 18/02/2022

Título I

Introdução

Direito Civil como Direito Privado Comum

- O direito civil constitui parte do Direito Privado e abrange as relações

- No Direito Privado vigora o principio da autonomia privada

- No Direito Público vigora o principio de imperatividade

Distinção entre direito Privado e Direito Público:

- Sendo um ou outro a relação jurídica irá aplicar interesses subjetivos de


cada um deles

Nas relações Direito Privado –

Nas relações Públicas –

Ex: Eu sou casada tive um filho, se tiver um filho enquanto casada presume-
se que é meu filho e filho do meu marido
Nem sempre se consegue separar numa relação o interesse público e o
privado

Outros fatores que permitem estabelecer uma relação jurídica como sendo
de interesse publico ou privado;

Nas Públicas: Existe um desequilíbrio entre a entidade pública e o privado

Mas também pode haver uma relação jurídica entre duas entidades públicas
em que as mesmas estão em pé de igualdade.

No âmbito do Direito Privado e do Direito Civil temos o código de 1966

Direito Civil: Trata da Obrigações, das Coisas, da Família e das Sucessões

Privado: comercial, trabalho e internacional privado

- Dentro dos diversos ramos do direito, irá aplicar-se o DIREITO


PRIVADO e se não estiver legislado, subsidiariamente aplicar-se-á o Direito
Civil, na sua parte geral .

- As pessoas:

São o fundamento e o fim do direito, são os sujeitos das relações jurídicas

Os bens:

- São tudo aquilo que não são pessoas e visam a satisfação de interesse e
necessidade.
- As ações são atuações das pessoas

- As pessoas existem e nessa sequência são o fundamento e o fim do direito.


Existe igualmente a sua essência e deve ser respeitada, ou seja, tudo o que
pertence à sua personalização, o direito limita-se a reconhecer essa natureza.

- A existência das coisas independentemente das pessoas

Ao longo de cada dia temos e fazemos ações, nem todas entram na norma
jurídica, pois existem a ordem trato social, religiosa.

A relação jurídica seleciona as que são de trato jurídico, ou seja, a que vão
ser alvo de relações que possam ser levadas a tribunal.

Lei da boa Razão, é o 1º momento que afasta as ordens (afonsinas)

Código de Seabra

CC DE 1966 que usou a sistematização germânica

A reforma do código civil, a maior em 1914: Fixação da maioridade

- Igualdade entre sexos

- Eliminação da diferença entre filhos legítimos e ilegítimos

- Atribuição da qualidade de herdeiro legitimário ao cônjuge sobrevivo

- Regime dos maiores acompanhados – (antigamente “interditos”


inabilitados”)

PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE DEVEM DE ESTAR PRESENTES PARA


FUNDAMENTAR
-1.º PRINCIPIO DO FUNDAMENTALISMO ÉTICO:

Todas as pessoas são livres, autónomas, a sua dignidade permite que atuem
livremente na vida, é essa mesma dignidade que está prevista no 1.º art.º da
CPC

FUNDAMENTAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA

O ser humano é um fim em si mesmo, não pode ser um objeto nem um meio.

Este principio tem origem católica: reconhecimento do ser humano como


uma criação divina

No âmbito do Direito Privado as pessoas atuam livremente e a ordem


jurídica não deve intervir, intervindo apenas quando há conflitos de
interesses. Atuação livre e igual perante todos.

Se esta é uma expressão de liberdade e dignidade do ser humano, às vezes


também se voltam contra o próprio, ex: eu não posso aceder a ser escrava de
ninguém, o meu consentimento não afasta a ilicitude da ação (Ex: pedir a
alguém que me corte a mão)

Qual a expressão do consentimento relativamente àquela pessoa(eutanásia):


2º PRINCIPIO: AUTONOMIA DA VONTADE

As pessoas podem outorgar qualquer relação jurídica, que entendam,


produzir os feitos jurídicos que entendem desde que não ponham em causa
os interesses jurídicos dos outros.

No Direito Privado o Estado cumpre a sua função de tutela das relações


jurídicas ao não fazer nada

Este principio tem como responsabilidade que depende do tipo da RJ ,


PRESSUPOE POR REGRA A VIOLAÇÃO DO DIREITO DE OUTREM

No entanto:

Há condutas que são ilícitas que podem não arrecadar responsabilidades e a


inversa

- Violando-se o Direito de outra pessoa, a função ressarcitária será a


reconstituição natural, se a mesma não for possível haverá lugar a
indemnização.

- Existe a possibilidade de compensar o lesado com uma compensação maior


do que a lesão

- Em PT não temos esta figura da Punição no CC

Outra situação: Avaliar os danos que o lesado teve e as vantagens que o


autor teve, e assim reverter as vantagens para a vitima – SKIMMING OFF
3.º PRINCIPIO DA CONFIANÇA:

Implica há 1 expressão Ética relativamente às relações jurídicas, quando


legislador assume … Venir conta factum próprio …. Faz parte do Direito
Civil

4.º PRINCIPIO DA BOA FÉ:

Boa fé sentido objetivo:

Boa fé em sentido subjetiva, ESTA É DE UM SUJEITO EM CONCRETO

A 1ª é a mais importante é a que se refere a um padrão, que rege todos

Bom pai de família ou o critério do Homem médio (será a substituir por


pessoa para não haver diferenças sexistas)

Ex: A tem divida para com B, atira-lhe o dinheiro para a cara;

Significa que paguei, mas a forma como o fiz, viola o principio da boa fé.
Assim A poderá não se vergar para apanhar o dinheiro e assim sendo B
pode nunca ter pago a divida.
5.º PRINCIPIO DA PARIDADE JURÍDICA:

Pessoas estão na mesma posição jurídica. Nem sempre se cerífica, há pessoas


que não estão em pés de igualdade uma vez que não há assimetria da posição
( ex: entidade patronal e funcionário) Paridade jurídica , o legislador tem
obrigação de encontrar formas de

6 º PRINCIPIO DA EQUIVALÊNCIA:

- Obrigações e Direitos para ambas as partes, elas tem que ser equivalentes
entre si. Não existindo este equilíbrio, há mecanismos para o fazer, negócios
usuários

- A propriedade é uma conquista do ser humano, suscetibilidade de os ditos


reais integrarem a nossa personalidade jurídica.

Pode ser em duas esferas:

7.º INTER VIVOS

8.º MORTIS CAUSA – TESTAMENTO

9.º RESPEITO PELA FAMÍLIA

PRINCIPIOS QUE DEVEM SER ANALISADOS

(Próxima aula teoria da relação jurídica

PEDRO PAIS VASCONCELOS – MANUAL)

AULA DE 25/02/2022
-A relação jurídica é a estrutura base de feitos jurídicos na OJ (Ordem
Jurídica)

- Cada um de nós dia à dia atua em várias Ordens e em cada uma delas
vamos atuando, sendo que na OJ iremos ter efeitos jurídicos.

- Uma das suas características é a COERCIBILIDADE, uma vez que


podemos defender os nossos direitos em tribunal. Ou seja, as partes
entregam a uma terceira pessoa a resolução do conflito, pessoa essa que é o
Tribunal.

- No âmbito do Direito Privado não conseguimos produzir efeitos jurídicos

- No âmbito do Direito Público podemos produzir efeitos jurídicos que se


vão repercutir na esfera jurídica de outro.

ELEMENTOS DAS RELAÇÕES JURIDICAS

1.º SUJEITOS

- Sujeitos: aqueles que dão origem à Relação Jurídica

Podem estar no polo ativo ou negativo:

- Polo ativo é todo aquele que na relação jurídica tem o direito do seu
lado

- Polo passivo aquele em que o sujeito tem o dever ou o ónus naquela


RJ
Direito Subjetivo em sentido estrito:

Se a faculdade do sujeito passivo tem um estado de sujeição temos um


Direito Subjetivo

Direito subjetivo em sentido estrito é quando o sujeito ativo depende do


comportamento do sujeito passivo.

2.º – O OBJETO DA RELAÇÃO JURÍDICA

I - OBJETO MEDIATO DA RJ:

- Aquele que identificamos como sendo o objeto, ou seja, a coisa, o bem que
se vai entregar, é o bem que está a ser transacionado.

- Nas Relações Jurídicas Reais:

Pode ser a coisa (porque se transmite o Direito de Propriedade) – coisa


corpórea

-Nas relações obrigacionais:

A coisa é a prestação, ou seja, é o meu dever associado à minha obrigação de


fazer algo para o qual me obriguei – meras prestações porque não existem
direitos reais

- Sempre que para além da prestação do dever exista uma coisa para ser
entregue, ou seja no caso de contratar um empreiteiro para fazer uma casa,
no inicio existe uma obrigação do empreiteiro fazer a prestação (construir a
casa) mas quando a obra está acabada, vem a entrega da coisa , ou seja
existe um direito real, transmitindo-se o direito de propriedade .
2 - OBJETO IMEDIATO DA RJ

- Temos o binómio de correspondência entre o direito do Sujeito Ativo e o


dever do Sujeito Passivo que vão constituir a RJ - . É O PODER -DEVER

3º - O FACTO

Os sujeitos para conseguirem constituir RJ têm que lançar mão daquilo que
a ordem jurídica considera a produção de efeitos jurídicos.

Factos jurídicos é o que permite aos sujeitos constituírem uma RJ.

Estes factos associam-se à criação de RJ

Mas existem factos jurídicos que modificam e extinguem RJ

Os factos jurídicos que produzem efeitos jurídicos podem ser de diversas


ordens
Ordinário

Facto Jurídico NATURAL

(não depende da vontade do sujeito)

Extraordinário

Facto Jurídico

Acto jurídico sticto sensi

Ato Jurídico

(Não depende da

vontade do sujeito)

Negócio Jurídico
Unilateral

(1 única declaração de
Vontade)

Negócio jurídico

Contrato
Unilateral

Contrato

(Pelo menos 2 declarações

Vontade)

Contrato
bilateral
ou
Unilateral
3 EXEMPLOS DE CONTRATOS UNILATERAIS:

- Promessa Publica

- Concurso Público

- Testamento

NEGÓCIOS JURÍDICOS BILATERAIS OU MULTILATERAIS

São os chamados contratos :

Qualquer um de nós em prol da nossa autonomia desde que, não violemos


normas de Direito Imperativo (questões de interesse publico que estão no
dito privado) , podemos com base na autonomia de vontade, celebrar
qualquer tipo de contrato, qualquer contrato nominado ou contrato
inominado

Contrato Inominado :

- Misto (o tipo de contrato não existe mas resulta da soma de 2 contratos já


existentes)

Exemplo disto é o contrato de arrendamento com opção de compra ( que


não existe) ,é um contrato inominado – misto- que não existe e que resulta
de dois contratos que é o de arrendamento e do contrato de compra e
venda , a OJ distingue entre :

Teoria da combinação
Combinamos os dois regimes dos contratos e verificando-se que um
deles é meramente acessório, predomina o que for contrato principal

Teoria da Absorção

Contrato unilateral – Exemplo todas as doações- Ou seja existem um


poder – dever – Binómio poder – dever

Contrato Bilateral

Temos pelo menos 2 binómios poder- dever , ou seja a Relação


Jurídica cria obrigações para ambas as partes : é uma RJ complexa

Exemplo:

COMPRA E VENDA

- Direito de receber a coisa ( Sujeito Ativo A ) e o outro dever de a


entregar (Sujeito Passivo B)

- Mas depois há uma troca de posição pois um tem obrigação de pagar


e o outro o direito de receber e assim Sujeito Ativo B porque tem
direito de receber o preço e o sujeito passivo passa a ser o A porque
tem o dever de pagar

É UMA RELAÇÃO JURÍDICA COMPLEXA porque existem pelo


menos 2 RJ :
- UMA OBRIGACIONAL (entrega da coisa – obrigação de
pagar)

- UMA REAL (compra da coisa - direito de receber o preço)

4.º GARANTIA

- Diz respeito à tutela geral , ou seja os titulares dos direitos podem


recorrer aos meios coercivos do Estado para verem satisfeitos os seus
direitos ( cuidado, só em caso muito excecionais é que há meios
coercivos privados) . Assim nas relações coativas em que as partes
encontram-se em litigio , entregam aos tribunais a decisão final para a
resolução do caso.

- Nas RJ o SP tem o dever de satisfazer o direito do SA, para evitar


problemas existem uma nova RJ que é a de Garantia – que pode ser
constituída com terceiros, que não são sujeitos da RJ principal, são
apenas garantes que constituem novas RJ para abonarem a favor de
uma RJ principal, ou seja para garantir a satisfação do direito do SA
no caso de incumprimento do SP.

Iremos entrar na matéria relativa às PESSOAS – SUJEITOS DA RJ,


SUJEITOS PERANTE A OJ, RJ ENTRE SJ PRIVADOS, QUE
QUANDO O FAZEM É PELO PRINCIPIO DA PARIDADE
(IGUALDADE ENTRE SI), EM PLENA LIBERADE
Aula de 04/03/2022

Quando estamos a falar de relações jurídicas estamos a tratar de diversos


momentos da tutela do direito, nomeadamente o direito civil.

Para as pessoas serem sujeitos das relações jurídicas, tem que ser pessoas
(singular) porque lhes é reconhecida a PERSONALIDADE JURÍDICA pelo
direito, ou seja, reconheces-lhe aquilo que é um dado adquirido pela sua
humanidade, desde o nascimento.

O que é a personalidade jurídica?

É a suscetibilidade- possibilidade- de se ser titular de direitos e estar adstrito


a obrigações. É a qualidade reconhecida pelo direito às pessoas de
poderem ser sujeitos de relações jurídicas. Ou se tem ou não se tem, e pelo
simples facto de ser-se “pessoa” o direito reconhece essa
PERSONALIDADE JURÍDICA.

A partir do momento desse reconhecimento as pessoas só podem ser


SUJEITOS na relação Jurídica e nunca OBJETOS.

A partir desse momento há um conjunto de direitos que lhe são alienáveis


são os chamados DIREITOS DE PERSONALIDADES, os que são alienáveis
e característicos da personalidade.

O direito atribui-os independentemente da pessoa os querer ou não


Podem ser DIREITOS HUMANOS

DIREITO À VIDA É UM DIREITO DE PERSONALIDADE

- Quando a fonte desses direitos é internacional são chamados de DIREITOS


HUMANOS

- Quando estamos a falar de relações verticais (estado), ou seja, quando a


fonte é a nossa CRP estamos a falar de DIREITOS FUNDAMENTAIS

- Quando estamos a falar de direitos Privados, ou seja, a fonte é o Direito


Privado, estamos a falar de DIREITOS DA PERSONALIDADE cuja tutela
será a PENAL

Mas podemos estar perante uma situação de DIREITOS FUNDAMENTAIS ,


que será punida pela Tutela CIVIL (CC) e ao mesmo tempo perante
DIREITOS DA PERSONALIDADE que será punido pelo Direito Penal

Todos os DIREITOS DE PERSONALIDADE são atribuídos pelo Art.º 13.º


da CRP , são os que decorrem da PERSONALIDADE DA PESSOA
HUMANA

Artigo 13.º
(Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de


qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo,
raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação
sexual.

Contém as alterações dos seguintes Consultar versões anteriores deste artigo:


diplomas: -1ª versão: Decreto de 10/04 de 1976
- Lei n.º 1/2004, de 24/07

Jurisprudência

1. Ac. Tribunal Constitucional nº 437/06 : «O princípio da igualdade,


consagrado no artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, é um
princípio estruturante do Estado de direito democrático e postula, como o
Tribunal Constitucional tem repetidamente afirmado, que se dê
tratamento igual ao que for essencialmente igual e que se trate
diferentemente o que for essencialmente diferente. Na verdade, o princípio
da igualdade, entendido como limite objectivo da discricionariedade
legislativa, não veda á lei a adopção de medidas que estabeleçam
distinções. Todavia, proíbe a criação de medidas que estabeleçam
distinções discriminatórias, isto é, desigualdades de tratamento
materialmente não fundadas ou sem qualquer fundamentação razoável,
objectiva e racional. O princípio da igualdade, enquanto princípio
vinculativo da lei, traduz-se numa ideia geral de proibição do arbítrio (cfr.
por todos acórdão n.º 232/2003, publicado no Diário da República, I Série-
A, de 17 de Junho de 2003 e nos Acórdãos do Tribunal Constitucional, 56.º
Vol., págs. 7 e segs.)»

2. Ac. Tribunal Constitucional nº 546/11 : [É] «ponto assente que o n.º 1


do artigo 13.º da CRP, ao submeter os actos do poder legislativo á
observância do princípio da igualdade, pode implicar a proibição de
sistemas legais internamente incongruentes, porque integrantes de
soluções normativas entre si desarmónicas ou incoerentes. Ponto é, no
entanto - e veja-se, por exemplo, o Acórdão n.º 232/2003, disponível em
www.tribunalconstitucional.pt - que o carácter incongruente das escolhas
do legislador se repercuta na conformação desigual de certas situações
jurídico-subjectivas, sem que para a medida de desigualdade seja achada
uma certa e determinada razão. É que não cabe ao juiz constitucional
garantir que as leis se mostrem, pelo seu conteúdo, «racionais». O que lhe
cabe é apenas impedir que elas estabeleçam regimes desrazoáveis, isto é,
disciplinas jurídicas que diferenciem pessoas e situações que mereçam
tratamento igual ou, inversamente, que igualizem pessoas e situações que
mereçam tratamento diferente. Só quando for negativo o teste do
«merecimento» - isto é, só quando se concluir que a diferença, ou a
igualização, entre pessoas e situações que o regime legal estabeleceu não é
justificada por um qualquer motivo que se afigure compreensível face a
ratio que o referido regime, em conformidade com os valores
constitucionais, pretendeu prosseguir - é que pode o juiz constitucional
censurar, por desrazoabilidade, as escolhas do legislador. Fora destas
circunstâncias, e, nomeadamente, sempre que estiver em causa a simples
verificação de uma menor «racionalidade» ou congruência interna de um
sistema legal, que contudo se não repercuta no trato diverso - e
desrazoavelmente diverso, no sentido acima exposto - de posições jurídico-
subjectivas, não pode o Tribunal Constitucional emitir juízos de
inconstitucionalidade. Nem através do princípio da igualdade (artigo 13.º)
nem através do princípio mais vasto do Estado de direito, do qual em
última análise decorre a ideia de igualdade perante a lei e através da lei
(artigo 2.º), pode a Constituição garantir que sejam sempre «racionais» ou
«congruentes» as escolhas do legislador. No entanto, o que os dois
princípios claramente proíbem é que subsistam na ordem jurídica regimes
legais que impliquem, para as pessoas, diversidades de tratamento não
fundados em motivos razoáveis.»

3. Ac. Tribunal Constitucional nº 266/15 : «Recorre-se aqui á conhecida e


abundante jurisprudência do Tribunal Constitucional relativa ao
princípio da igualdade. Enquanto «vínculo específico do poder legislativo
(pois só essa sua «qualidade» agora nos interessa), o princípio da
igualdade não tem uma dimensão única. Na realidade, ele desdobra-se em
duas «vertentes» ou «dimensões»: uma, a que se refere especificamente o
n.º 1 do artigo 13.º, tem sido identificada pelo Tribunal como proibição do
arbítrio legislativo; outra, a referida especialmente no n.º 2 do mesmo
preceito constitucional, tem sido identificada como proibição da
discriminação. Em ambas as situações está em causa a dimensão negativa
do princípio da igualdade. Do que se trata - tanto na proibição do arbítrio
quanto na proibição de discriminação - é da determinação dos casos em
que merece censura constitucional o estabelecimento, por parte do
legislador, de diferenças de tratamento entre as pessoas. Mas enquanto, na
proibição do arbítrio, tal censura ocorre sempre que (e só quando) se
provar que a diferença de tratamento não tem a justificá-la um qualquer
fundamento racional bastante, na proibição de discriminação a censura
ocorre sempre que as diferenças de tratamento introduzidas pelo
legislador tiverem por fundamento algumas das características pessoais a
que alude - em elenco não fechado - o n.º 2 do artigo 13.º É que a
Constituição entende que tais características, pela sua natureza, não
poderão ser á partida fundamento idóneo das diferenças de tratamento
legislativamente instituídas» (cfr. Acórdão n.º 569/2008, n.º 5.1. Neste
ponto o aresto cita o Acórdão n.º 232/2003, n.º 2 da Fundamentação, onde
se analisa a jurisprudência relativa a este principio. Esta posição foi
reafirmada recentemente através do Acórdão n.º 581/2014, n.º 8).»

4. Ac. Tribunal Constitucional nº 575/14 : «...a alteração legislativa


resultante da mera sucessão das leis no tempo (ainda que relativa a
direitos sociais) não afeta, por si, o princípio da igualdade, o que só
poderia verificar-se se a nova lei vier a estabelecer tratamento desigual
para situações iguais e sincrónicas (veja-se o acórdão n.º 188/2009 e a
jurisprudência nele citada).»
Ver Art.º 70.º CC - proclama o respeito pelos direitos de personalidade em
geral

Art.º 71.º CC: admite a proteção dos direitos de personalidade depois da


morte do respetivo titular

SECÇÃO II

Direitos de personalidade

ARTIGO 70º (Tutela geral da personalidade)

1. A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de


ofensa à sua personalidade física ou moral.

2. Independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa


ameaçada ou ofendida pode requerer as providências adequadas às
circunstâncias do caso, com o fim de evitar a consumação da ameaça ou
atenuar os efeitos da ofensa já cometida.

ARTIGO 71º (Ofensa a pessoas já falecidas)

1. Os direitos de personalidade gozam igualmente de protecção depois da


morte do respectivo titular.

2. Tem legitimidade, neste caso, para requerer as providências previstas no


nº 2 do artigo anterior o cônjuge sobrevivo ou qualquer descendente,
ascendente, irmão, sobrinho ou herdeiro do falecido.

3. Se a ilicitude da ofensa resultar da falta de consentimento, só as pessoas


que o deveriam prestar têm legitimidade, conjunta ou separadamente, para
requerer as providências a que o número anterior se refere.
TUTELA DA PERSONALIDADE:

Dever geral de respeito pela personalidade, tem duas vertentes:

1ª VERTENTE OBJETIVA (HETERONOMIA):

RJ relativa à defesa da personalidade consagrada no direito supranacional,


na lei constitucional, na lei ordinária, cujo ratio se funda em razões de
ordem publica e é alheia à autonomia da vontade. Impostas pela dignidade
humana (dever geral de respeito pela dignidade humana – art.º 70.º CC) que se
impõe ao legislador.

Direitos fora da disponibilidade do legislador, mas também dos seus


titulares que não podem prescindir ou dispor deles.

2.ª VERTENTE SUBJETIVA (AUTONOMIA):

Não se trata de um dever geral de respeito, mas de um direito subjetivo a


defender a dignidade própria, a exigir o respeito e lança mão dos meios
juridicamente lícitos para essa defesa, sendo que o seu titular pode dispor
dele, gratuita ou onerosamente

Art.º 81.º CC apresenta essa DUPLICIDADE quanto à DISPONIBILIDADE

Fontes dos DIREITOS DE PERSONALIDADE: ver ART. º 70.º E 81.º CC

Plano supra positivo: Principio do direito natural:


AO NÍVEL DA TUTELA CIVIL temos a tutela dos direitos da
personalidade de 3 tipos:

1º - ver o art.º 70.º N.º 2 – que nos poderá remeter para o Art.º 483.º CC

2º Preventivo

2º e 3º - Remédios de Direito

3º Atenuantes

Art.º 71.º - TUTELA DA PERSONALIDADE PARA PESSOAS QUE JÁ


MORRERAM

A pessoa morreu, quem exerce os direitos da personalidade por ela? Art.º


71. º n.º 2

Mas afinal a quem pertencem estes direitos?

Há diversas posições mas a posição que defendemos é a de que as pessoas


que faleceram não são suscetíveis de serem sujeitos de direitos da
personalidade, assim o que existe no Art.º 71.º n.º 1 são “OUTROS
DIREITOS DE PERSONALIDADE” e são direitos das pessoas do Art.º
71.nº 2
A partir do momento que a pessoa falece os direitos todos se extinguem, mas
as pessoas que estão no Art.º 71.º n.º 2 vêm nascer um novo direito de
personalidade que nasce nas suas esferas jurídicas- EX-NOVO, que nasceu
com a morte do titular do outro

Quais as consequências que advêm disto? É que estas pessoas têm

Art.º 81.º fazer remissão para o Art.º 280.º CC

Há a possibilidade do titular do direito de personalidade revogar o seu


próprio direito .

Ex: hoje em dia algumas patologias associadas ao sistema reprodutor.


Alguém que quer um filho pode pedir a outra pessoa para o gerar.

Como se ultrapassa o art.º 81.º n.º 2?

Limites ao direito de personalidade.

Como impedir que a mulher que carrega o filho possa até ao registo da
criança dizer que revoga a decisão e que quer a criança (independentemente
da criança ser do material genético dos futuros pais ou até de bancos de
doadores) ?

Apesar do art.º 81 nº 2 falar em indemnização, certo é que o Tribunal


Internacional reconhece que se houvesse uma indemnização ela seria tão
avultada que iria influenciar e limitar o direito da gestante de revogar o
contrato, assim ficou decidido que não haveria nenhuma indemnização.
Art.º 66 .º começa a personalidade jurídica – a posição do pedro pais
Vasconcelos NÃO É A DO CURSO a nossa é a do Prof. Carvalho
Fernandes

VER ACÓRDÃO:

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/
954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/28aff17cdabb90e880257cb00034dcc2?
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RELAÇÕES JURÍDICAS IMPERFEITAS

- NASCITUROS JÁ CONCEBIDOS

Art.º 952.º

Art.º 2033 n.º 1 e 2

Art.º 1847.º, 1854.º e 1855.º

Os concepturos (nascituros ainda não concebidos) só podem ser


considerados só na sucessão testamentária e na doação, desde que a doação
ou o legado que são feitos sejam ao filho de alguém que esteja vivo no
momento da doação.

Os concepturos nunca podem ser considerados na linha sucessória, uma vez


que não sendo ainda concebidos, não têm capacidade sucessória, nos termos
do Art.º 2033.º n.º 1 a contrário

A ordem jurídica permite que os direitos sejam atribuídos e reconhecidos a


estas pessoas, mas chamam-se RELAÇÕES JURÍDICAS IMPERFEITAS
porque ficam suspensas a aguardar que aquelas pessoas adquirem a
personalidade jurídica, que só acontece no momento do nascimento
completo e com vida nos termos do Art.º 66.º CC.

Exemplo: Maria faz uma doação ao seu neto, filho da sua filha que Paula
que está grávida. Ou seja o neto de Maria já foi concebido mas ainda não
nasceu, tratando-se assim de um nasciturno – Nos termos do Art.º 2033.º n.º
2 a) CC pode fazer essa doação pois apesar de ainda não ter nascido, já foi
concebido, e para já ter sido concebido, depreende-se que é filho de Paula
que está viva ao tempo da doação.

Outra situação: Maria faz uma doação a um seu bisneto que ainda não foi
concebido, que será neto da sua filha Paula, mas Paula tem apenas 10 anos e
por esse facto ainda não é mãe. Ou seja, Maria está a fazer uma doação a
um bisneto concepturo, filho de um neto(a) também concepturo , que será
uma dia filho(a) de Paula. NÃO PODE, nos termos do Art.º 2033.º n.º 2 a) a
contrário, uma vez que o pai ou mãe desse bisneto, ainda nem sequer foi
concebido(a), não sendo desta forma o bisneto filho de pessoa determinada,
viva ao tempo da abertura da sucessão, nos termos dessa mesma alínea.

PERSONALIDADE JURÍDICA COMEÇA – EXISTE com o nascimento


completo e com vida – Art.º 66.º n.º 1 CC,- sendo uma qualidade alienável e
inerente ao ser humano, ela cessa apenas quando cessa o ser humano que, se
dá com a morte deste - Art.º 68.º CC – OS DIREITOS DE
PERSONALIDADE EXTINGUEM COM A MORTE mas existem direitos
que não se extinguem, caso dos DIREITOS SUCESSÓRIOS que se
transmitem/ transferem para os herdeiros

QUANDO SE DÁ A MORTE?
N.º 2 DA LEI N.º 141/99 de 28 de agosto “A MORTE CORRESPONDE A
CESSAÇÃO IRREVERSÍVEL DAS FUNÇÕES DO TRONCO CEREBRAL”

DANO MORTE:

É quando alguém morre e a sua morte não é natural, mas foi provocada por
outra pessoa, é possível nos termos do art.º 496 nº 1 e 2 atribuir uma
indemnização sem que haja violação do estipulado no art.º 68 n.º 1

DUVIDAS QUANTO AO MOMENTO EM QUE FALECERAM DUAS


PESSOAS PARA EFEITOS JURÍDICOS- PRESUNÇÃO DE
COMORIÊNCIA

Nos termos do art.º 68. º n.º 2, quando há dúvidas ao momento em que a


pessoa morreu, havendo certo efeito jurídico que dependa dessa resposta,
presume-se que ambas faleceram ao mesmo tempo - PRESUNÇÃO DE
COMORIÊNCIA

DESAPARECIMENTO DA PESSOA

Art.º 68.º n.º 3 - Quando numa determinada circunstância não exista


Cadáver (cuidado: ter em atenção que uma coisa é a ausência e outra o
desaparecimento), mas haja indícios que não permitam duvidar a sua morte,
apesar do cadáver não ter sido encontrado ou reconhecido

Exemplo: a situação dos mortos das Torres Gémeas do 11 de Setembro de


2001, em que muitos corpos não foram encontrados nem reconhecidos, mas
os familiares sabiam que a pessoa quase com toda a certeza estava nas
torres.
É necessário um PROCESSO DE JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL DE ÓBITO
promovido pelo MP (Art.º 207.º E SS do CÓDIGO DO REGISTO CIVIL)

Código do Registo Civil

TÍTULO II - Actos de registo


CAPÍTULO II - Actos de registo em especial
SECÇÃO VI - Óbito
SUBSECÇÃO IV - Óbitos ocorridos em viagem ou por acidente
----------
Artigo 207.º - Justificação judicial

1 - Cabe ao magistrado do Ministério Público da comarca em cuja área


tiver ocorrido o acidente promover, por intermédio de qualquer
conservatória do registo civil, a justificação judicial do óbito nos seguintes
casos:

a) Quando os cadáveres não forem encontrados;


b) Quando os cadáveres tiverem sido destruídos em consequência do
acidente ou só aparecerem despojos insuscetíveis de ser
individualizados; ou

c) Quando seja impossível chegar ao local onde os corpos se


encontrem.

2 - Se o acidente ocorrer no mar e não for caso de naufrágio, cabe ao


magistrado do Ministério Público da comarca da sede da capitania que
deve proceder às averiguações promover, por intermédio de uma
conservatória do registo civil, a justificação judicial do óbito.

3 - Julgada a justificação, o conservador deve lavrar o assento de óbito,


com base nos elementos fornecidos pela sentença e servindo-se de todas as
informações complementares recolhidas.

4 - O assento de óbito referido no número anterior produz os mesmos


efeitos que a morte.

 Redacção dada por Lei nº 90/2015 de 12-08-2015, Artigo


único - Alteração ao Código do Registo Civil
Código do Registo Civil – Alteração

Se mais tarde se verificar que houve engano ter-se-á que pôr em prática o
estipulado no Art.º 233 e ss CRC

Artigo 233.º - Domínio de aplicação


1 - O processo de justificação judicial é aplicável à rectificação de registo
irregular nos termos do artigo 94.º e às situações de óbito ocorrido nos
termos dos n.ºs 2 e 3 do artigo 204.º e dos artigos 207.º e 208.º

2 - O processo referido no número anterior é autuado, instruído e


informado na conservatória requerida e é julgado no tribunal de 1.ª
instância competente na área da circunscrição a que pertence a
conservatória.

3 - O disposto nos números anteriores não obsta a que o pedido de


rectificação ou de cancelamento do registo seja formulado em acção de
processo ordinário, cumulativamente com outro a que corresponda esta
forma de processo, desde que dele seja dependente

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