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III.

Suponha que

Durante um período longo de tempo os Estados com capacidade


de explorarem recursos mineiros nos leitos marinhos assumiam

a obrigação de retirar todos os meios utilizados nessas


explorações quando terminava a actividade de prospecção ou

mineração. 

O governo soviético, cuja posição sempre foi a inversa,


defendeu a legitimidade da mesma em diversas ocasiões. A

questão gerou um animado debate, a vários níveis, chegando à


Assembleia Geral das Nações Unidas, onde veio a ser aprovada

por maioria esmagadora, uma resolução favorecendo a prática


que vinha sido desenvolvida. Os estados com capacidade de

exploração dos fundos marinhos continuaram, por isso, nos


anos subsequentes a obrigar-se ao levantamento dos materiais

utilizados na exploração.

Recentemente um novo Estado, resultante da desagregação da


União Soviética iniciou a exploração de fundos marinhos, não

seguindo a prática internacional na matéria.

Apesar de alguns estados insistirem, haver um costume, esse

Estado manteve a sua posição, alegando nomeadamente que


nunca havia aceitado tal prática como legítima, que tal prática
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consistia numa liberalidade não vinculativa (sem que existisse
convicção da sua obrigatoriedade) e recordou a oposição

soviética para negar a existência de um costume.

Qvid ivris? 

Levantam-se, na presente hipótese prática, duas questões: 1)


saber se a prática do levantamento dos meios utilizados nas

explorações subaquáticas configurava um costume, e 2) saber se


(existindo esse costume) ele é oponível ao Estado em questão.

[1] Quanto à primeira questão, sabemos que para haver um

costume tem de conferir-se a existência dos seus dois


elementos: a prática e a convicção da obrigatoriedade (cf. concl.

2).

Não parece existirem dúvidas quanto à verificação da prática:


ela vem expressa nos parágrafos primeiro e segundo do

enunciado.

A oposição soviética não afecta esta consideração, já que o


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comportamento dos Estados não tem de ser unânime (cf. concl.
8.1). Essa oposição teria apenas como consequência que,

formando-se o costume, este não seria aplicável ou oponível à


União Soviética enquanto objector persistente (durante a

formação do costume) – cf. concl. 15

Quanto à convicção da obrigatoriedade, esta parece poder


retirar-se da decisão da AGNU (parece evidente que a discussão

havida e a deliberação tomada apenas faça sentido em relação a


esta convicção, já que ninguém questionava a existência da

prática levada a cabo por todos menos a União Soviética).


[Repare-se, no entanto, que não se trata de retirar a convicção

da obrigatoriedade do acto da AGNU (que, enquanto tal, não


tem carácter vinculativo e só acessoriamente serve para

demonstrar a existência de um costume) mas antes da posição


esmagadora dos estados ao aprovarem a resolução. – cf.

segunda alternativa da concl. 6.2] Isto contraria a pretensão do


Estado quando se refere a uma liberalidade meramente

vinculativa.

Assim sendo, devemos concluir que existe um costume.

[2] Quanto à segunda questão (saber se o costume se aplica ao


Estado em questão) importa, em primeiro lugar, conferir se o
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facto de este nunca ter aceitado tal prática o desobriga do
costume.

Ora é pacífico o entendimento actual no sentido de que os


Estados novos – como é o caso – estão obrigados aos costumes

entretanto formados, já que o fundamento da obrigatoriedade


do costume não radica no consentimento (cf. ponto C da Lição

VIII).

Dever-se-ia ponderar ainda se a o Estado em questão podia


beneficiar da objeção persistente da União Soviética.

A resposta tem de ser negativa: a objeção persistente de um


Estado não beneficia novos Estados (ignoramos, no caso, o facto

de o Estado em questão resultar de desagregação da União


Soviética, o que nos levaria a matéria ainda não considerada).

Concluímos, portanto, que [1] existe em costume e [2] esse

costume obrigava o Estado em questão.

DIP – HELENA DE ALBUQUERQUE LAEZZA – U. LUSÍADA -PORTO

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