Você está na página 1de 15

Direito Internacional Público

Licenciatura em Direito
2.º Ano – 1.º Semestre
Segundo Teste – Parte Teórica
Universidade do Minho
Bárbara Inês de Matos
2021/2022

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Parte II – Fontes do Direito Internacional
Capítulo III – Costume
Introdução
Apesar do costume poder ser deduzido ou aferido a partir da conduta dos Estados, não existem códigos que o positivem,
mas desenvolve-se no subconsciente dos membros da sociedade através da pressão social. Aquilo que começou por ser
uma consciência coletiva rapidamente passa a ser lei.

→ O costume permanece sempre na sociedade como expressão autêntica dos seus valores e necessidades, sendo uma
fonte dinâmica e construída de modo descentralizado.
→ Outra dificuldade é a articulação do costume com a questão do consentimento dos Estados: O que vai distinguir
costume de mera cortesia será a motivação, se é obrigatório ou não.

Conceito e Elementos
O conceito de costume resulta da interpretação literal do Art. 38º/b) do ETIJ como sendo:

Forma de proceder uniforme e constante adotada pelos membros da Sociedade Internacional nas suas relações
mútuas porque é socialmente necessária e, portanto, considerada obrigatória, correspondendo ao cumprimento de
uma obrigação (opinio juris).

Do costume internacional distingue-se:

→ Elemento Material (usus/corpus) – Prática geral uniforme e reiterada (que apenas ganha relevância se acompanhada
pelo elemento psicológico).
• Pode ser uma prática positiva ou negativa (ação/omissão) que deverá consistir numa série uniforme de
comportamentos imputáveis aos Estados ou outros sujeitos de DI.
• O usus apenas assume parte da sua dimensão de obrigatoriedade quando se vejam preenchidas as
condições de continuidade de aplicação no tempo e generalidade no espaço.
→ Elemento Psicológico (opinio juris/animus) – Convicção do agente da necessidade e obrigatoriedade da prática.
• Para que uma prática seja internacionalmente entendida e válida como costume, não basta a presença do
usus, sendo necessário que os sujeitos de DI a aceitem como uma necessidade juridicamente obrigatória.

Fundamento de Obrigatoriedade do Costume


Para que um costume internacional exista, o uso deverá ser contínuo (= prática constante) e geral (= prática comum,
sem necessidade de unanimidade de todos os sujeitos de DI), sendo o seu elemento psicológico o que o verdadeiramente
distingue de simples práticas da vida internacional (comitas gentium e cortesia internacional).

A doutrina jusnaturalista defende que o costume A doutrina voluntarista e positivista (Grócio) define
internacional se forma independentemente do como costume o acordo ou pacto tácito entre sujeitos
consentimento dos sujeitos de DI. de DI, sendo a vontade estadual a única fonte de
Direito Positivo.

Contra esta orientação aduzem-se dois argumentos:

1. Os Estados estão vinculados pelos costumes existentes anteriormente à sua entrada para a sociedade internacional.
2. O Direito Consuetudinário está sujeito a constantes modificações, resultantes da prática dos Estados e da
jurisprudência dos tribunais internacionais, independentemente da anuência dos Estados.

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Classificação
Um dos critérios que permite aferir se estamos perante uma norma de costume internacional seria a universalidade da
própria norma. Porém, remete-nos para uma lógica de muitos Estados, quando na realidade temos costume a nível
bilateral ou regional.

A jurisdicidade do costume deriva da convicção da sua obrigatoriedade. Em função do âmbito espacial desta, os costumes
podem ser:

→ Gerais/Universais – Vigoram na sociedade internacional universal (ex: princípio da liberdade dos mares);
→ Particulares/Regionais – Vinculam apenas dois membros da sociedade internacional (bilateral) ou um número
limitado deles (ex: direito de asilo diplomático para os arguidos de crimes políticos nas relações entre os Estados
americanos).
• Nem todas as normas de direito consuetudinário exigem a intervenção de todos os Estados, pois a Sociedade
Internacional não teve sempre o mesmo número de Estados. No entanto, mesmo aqueles que em nada
contribuíram para a criação de normas de costume internacional ficam vinculados, sendo incompatível
teoricamente que um novo Estado escolha as normas a que se quer vincular.

Com isto, conclui-se que não se exige a intervenção de todos os Estados na formação do costume, sendo a principal
dificuldade definir o que é prática geral, o grau de consenso necessário.

Processos para determinar a sua existência


A averiguação da existência de costumes internacionais começa pela determinação do uso. Os elementos a analisar para
o efeito são os atos jurídicos dos Estados relativos à vida internacional, atos interestaduais e a doutrina.

Atos Unilaterais dos Estados relativos à vida internacional

a) Atos de governo e atos diplomáticos: Praticados pelo chefe de Estado, pelo chefe de Governo e pelo Ministro de NE,
observando-se, por isso, a conduta internacional desenvolvida.
→ Atos mais importantes: Negociações internacionais (atos diplomáticos materializados na correspondência
diplomática e nas instruções ministeriais aos agentes diplomáticos).

b) Leis Internas: Atende-se aos atos dos órgãos legislativos por indicarem a orientação que o Estado adota em relação
a outros. As normas jurídicas estaduais devem obedecer aos princípios de direito consuetudinário internacional.
→ Se, a respeito de determinado aspeto da vida internacional, as leis internas de vários Estados fixam a mesma
forma de proceder, pode-se retirar a ilação de que existe um costume internacional.
→ É necessário, para isso, demonstrar que aquando da formulação das leis, os Estados o fizeram na convicção de
existir a opinio juris, não se tratando de uma mera cortesia internacional.

c) Decisões Judiciais: A uniformidade da jurisprudência dos tribunais dos Estados pode permitir o apuramento da
existência de costumes internacionais mais concludente do que aquele extraído da legislação.

Atos Internacionais

a) Tratados Internacionais: Por vezes, limitam-se a dar forma escrita às regras de direito consuetudinário. Contribuem
para determinar qual o direito consuetudinário em vigor na sociedade internacional.
b) Decisões dos Tribunais Internacionais: Dada a ausência do legislador internacional, é um dos meios mais eficazes
para a averiguação dos costumes internacionais.
c) Atos de OI’s: Averiguação do costume internacional através da participação dos Estados na votação de determinadas
resoluções em órgãos de OI’s e as suas atitudes face a elas.
→ O TIJ reconheceu que o efeito de consentir em resoluções pode interpretar-se como uma adesão ao valor das
regras declaradas pelas mesmas.

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Doutrina: Através do exame das obras dos jurisconsultos, pode-se verificar a existência de normas consuetudinárias que
regem as relações internacionais.

Esfera de Aplicação e Validade


A determinação da esfera de aplicação e validade do costume dependerá da doutrina adotada. Se o considerarmos como
um acordo tácito de vontades, o costume só é obrigatório para os sujeitos de DI que tenham concorrido para a formação
do uso ou manifestado a sua adesão a este.

Contudo, a obrigatoriedade do costume não está condicionada pela aceitação dos membros da sociedade internacional,
pois vale como regra exterior e superior às vontades dos sujeitos de DI. A extensão da validade depende da extensão da
opinio juris:

→ Se é partilhada pela generalidade dos membros, o costume é obrigatório para todos;


→ Se é limitada a um grupo restrito, o costume é obrigatório para os membros desse grupo.

→ Os costumes gerais vigoram na sociedade internacional universal e impõem-se a todos


Esfera de Aplicação e os membros, sendo superiores aos costumes particulares.
Validade no Espaço → Os costumes particulares vigoram nas sociedades internacionais parciais ou entre
Estados que participam da opinio juris a respeito de certos usos.

Não se admite a coexistência de costumes gerais e particulares contraditórios.


→ O costume internacional começa a vigorar quando se forma a opinio juris e deixa de
vigorar quando esta desaparece.
Esfera de Aplicação e → Não é possível fixar com rigor o período da sua vigência.
Validade no Tempo
Problema: Poderá ser revogado por um tratado?
Não. Segundo a doutrina, costume e tratado têm o mesmo valor, podendo revogar-se
reciprocamente.

Objetor Persistente
Consiste no afastamento por parte de determinado Estado de cair sobre ele a exigibilidade de uma norma jurídica
internacional costumeira se, à época de formação desta, se lhe opôs de forma expressa, coerente e inequívoca.

→ Esta possibilidade é aceite de acordo com critérios exigentes: deve-se definir o nível de clareza e coerência da
oposição, devendo ter lugar no período de formação do costume.
→ Foi também admitida pelo TIJ aquando do caso das pescas anglo-norueguesas, uma vez que a regra das dez milhas
parecia inaplicável à Noruega, que sempre se opôs a qualquer intento de aplicação daquela, alegando e provando
que sempre se tinha recusado a aceitar tal regra de forma consistente e inequívoca.

Objetor Subsequente
Um determinado Estado deixa de reconhecer um costume cuja existência anteriormente admitia, passando a opor-se,
de forma persistente e inequívoca, ao seu conteúdo.

(!) Jurisprudência relevante para o costume:

1. Paquete Habana;
2. Caso Haya de la Torre;
3. Caso das Pescas de 1951;
4. Caso da Legalidade do Uso de Armas Nucleares;
5. Caso Plataforma Continental do Mar do Norte de 1969;
6. Caso Right of Passage;
7. Caso Fisheries Jurisdiction.
Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
Capítulo IV – Equidade
Conceito
A equidade é uma fonte formal de DI, admitida pelo Art. 38º do ETIJ. É definida como:

Processo de criação do Direito que consiste em atribuir aos órgãos jurisdicionais competência para formular, em casos
concretos, uma regra adequada às particularidades do caso e baseada nos princípios gerais de justiça e na consciência
do julgador.

Tanto pode ser um meio de criação de norma jurídica como um processo de aplicação do Direito.

→ De acordo com o Art. 38º/2 do ETIJ, o Tribunal só pode decidir um diferendo ex aequo et bonno se as partes
acordarem em conferir-lhe poderes para tanto.
→ O recurso do TIJ à equidade infra legem (legalmente permitida) é crescente. Falamos de equidade no sentido do
Tribunal optar pela interpretação de uma norma jurídica que seja mais equitativa, que permita uma ponderação dos
interesses mais justa e equilibrada.

Capítulo V – Princípios Gerais de Direito


Conceito
O Art. 38º do ETIJ também menciona como fonte de DI os princípios gerais de direito aceites pelas nações civilizadas
(referência arcaica, marcada pela tendenciosidade colonialista e eurocentrista da época).

→ Quis-se consagrar os princípios comumente aceites pelos povos civilizados, exprimindo-se a aceitação no facto de se
encontrarem consagrados tanto in foro domestico (direito interno) como na prática do Direito Internacional.

Trata-se do conjunto de princípios presentes em todos os grandes sistemas de Direito que são suscetíveis de serem
transportados no espírito da vida internacional.

→ Ex: Boa-fé, proibição do abuso de direito, respeito pelo caso julgado, lex specialis derrogat generalis, pacta sunt
servanda, etc.

Além dos suprarreferidos, considerem-se ainda os princípios inerentes à própria estrutura da sociedade internacional:

→ Ex: Igualdade jurídica entre Estados, princípio da não intervenção, da reciprocidade.

Função
Entendendo os princípios gerais como princípios de Se os considerarmos princípios de Direito Positivo, a
Direito Natural, a sua função consiste em determinar o sua função é dupla: completar os tratados e costumes,
conteúdo das normas internacionais positivas. suprindo lacunas, e orientar a interpretação das
normas convencionais e consuetudinárias.

Capítulo VI – Jurisprudência e Doutrina


A jurisprudência dos tribunais internacionais não é fonte direta de Direito Internacional, uma vez que estes não criam
direito, aplicam-no. A jurisprudência é o conjunto das decisões jurisdicionais ou arbitrais, quer nacionais quer
internacionais, que são importantes auxiliares na averiguação do direito internacional.

O DI foi elaborado quase exclusivamente pela doutrina e esta é, ainda hoje, um meio importantíssimo de apurar quais
as normas de Direito Consuetudinário em vigor. Porém, encontra-se prejudicada pelas divergências doutrinais entre
autores de diferentes nacionalidades, que exprimem opiniões alicerçadas em ideologias diferentes.
Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
Capítulo VII – Atos Unilaterais
Conceito
Embora os principais efeitos de Direito Internacional sejam produzidos por atos jurídicos bilaterais ou plurilaterais, tem
de se ter em conta os atos jurídicos unilaterais, entendido como o ato praticado e imputado a um só sujeito de DI, ou a
vários conjuntamente, desde que neste último caso o conteúdo do ato seja o mesmo.

→ Inicialmente, os atos unilaterais eram uma prerrogativa dos Estados, sendo estes os únicos sujeitos de DI a produzi-
los. Atualmente, as Organizações Internacionais também produzem atos unilaterais.

Classificação
Podem ser:

→ Atos singulares vs plurais – Formulados por um Estado (de origem individual) ou por dois ou mais Estados (de origem
coletiva).
→ Atos estaduais vs atos de OI’s
→ Atos unilaterais expressos vs tácitos – Traduzem-se em declarações de vontade formais ou são deduzidos dos
comportamentos dos sujeitos de DI.

Atos Unilaterais dos Estados

Os atos unilaterais dos Estados são normalmente praticados no uso de competências que lhes são conferidas ou por
normas de DI ou por normas dos respetivos direitos internos.

a) Atos Estaduais Formal e Materialmente Internacionais – Emanados por órgãos estaduais com competência para
agir nas relações internacionais e nestas produzem diretamente os seus efeitos.
1. Notificação – Ato pelo qual um Estado dá conhecimento oficial a outro de um facto, com o fim de ser
reconhecido pelo destinatário.
2. Reconhecimento – Ato pelo qual um Estado, verificando a existência de determinados factos (novo Estado,
um Governo, etc) declara expressamente ou admite implicitamente que os considera como elementos a ter
em conta nas relações jurídicas.
3. Protesto – Ato pelo qual um Governo declara o seu desacordo relativamente a situações criadas por um ou
vários Estados. Os efeitos podem ser o não reconhecimento, reserva de ordem política ou moral, etc.
4. Promessa – Declaração pela qual um ou mais Estados afirmam obrigar-se a certos comportamentos.
5. Renúncia – Expressa ou tácita, prevê a extinção de quaisquer direitos subjetivos dos Estados.
6. Denúncia – Ato pelo qual um Estado vinculado por obrigações assumidas por via convencional se declara
livre de as acatar.

b) Atos Estaduais Formalmente Internos, mas com Relevância Internacional – Praticados pelos órgãos dos Estados,
no âmbito da ordem estadual interna, mas os seus efeitos repercutem-se na ordem jurídica internacional.

c) Atos Institucionais e Atos Comunitários – Praticados por organizações internacionais de tipo clássico (sem caráter
vinculativo) e por organizações supranacionais (força vinculativa).
1. Resoluções – Atos emanados de órgãos coletivos da organização e que visam impor uma obrigação ou
solicitar a adoção de um dado comportamento aos Estados membros;
2. Recomendações – Ato através do qual a organização dirige, de forma solene, um convite para a adoção de
um dado comportamento positivo ou negativo. As recomendações não têm força obrigatória.
3. Decisões – Atos através dos quais a organização impõe um dado comportamento com caráter obrigatório.
É um ato unilateral autoritário.

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Os Atos Jurídicos Unilaterais são verdadeiras fontes de DI?
A tendência dominante é a de não considerar estes atos com a virtualidade de criar diretamente regras ou normas
jurídicas internacionais.

→ Estados são juridicamente iguais, pelo que os atos unilaterais não podem ser fontes autónomas de DI, em pé de
igualdade com o Tratado e o Costume. São antes fontes indiretas e não autónomas.
→ É de concluir que, por atuação unilateral um Estado, não podem nascer autonomamente obrigações para outros
Estados.

No entanto, a própria construção jurisprudencial do TIJ vem chamar a atenção para casos que não se enquadram nestes
parâmetros (reconhece-se efeitos jurídicos às promessas).

→ Se, através de um ato unilateral, o Estado define obrigações para si próprio, o TIJ sustenta que tal como o princípio
pacta sunt servanda, o caráter obrigatório de um compromisso internacional assumido por declaração unilateral
repousa sobre a boa-fé.
→ Os Estados interessados podem ter em consideração as declarações unilaterais e confiar nelas, tendo fundamento
para exigir que a obrigação criada seja respeitada.

Capítulo VIII – Hierarquia das Fontes


Conceito
Segundo a definição exposta na CVDT, uma norma imperativa de Direito Internacional (ius cogens) é uma norma aceite
e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu conjunto, não admitindo acordo em contrário, podendo
apenas ser modificada por norma ulterior de DI geral que tenha a mesma natureza.

Ius Cogens significa direito cogente – obrigatório e coercivo. Mesmo que a norma venha a constranger a vontade de
um sujeito de DIP, essa norma vai impor-se por força da vinculatividade que lhe é inerente.

Fontes das Normas de Ius Cogens


1. Costume Internacional geral – Principal fonte de normas imperativas de direito internacional geral.
2. Tratados multilaterais gerais (CNU, Convenção de Genebra e Tratados sobre os Direitos Humanos).
3. Resoluções da AG da ONU;
4. Jurisprudência dos Tribunais de proteção de direitos humanos e dos tribunais criminais internacionais instituídos.
→ Exemplos: Resolução pacífica de conflitos, responsabilidade por factos ilícitos, respeito pela integridade territorial,
proibição da escravatura, do racismo e do genocídio.

Elementos de Ius Cogens


Imperatividade: Impõe-se aos Estados independentemente da sua vontade e limita a autonomia dos mesmos.

→ Proíbe toda e qualquer derrogação independentemente de haver acordo entre os Estados nesse sentido.

Universalidade: Normas de Ius Cogens devem ser universais e essenciais à comunidade internacional.

→ Um Tratado não pode criar normas de ius cogens, um terceiro nunca pode ficar vinculado a norma de Tratado
do qual não fez parte.
• Exceção: CNU – Tratado de caráter para-universal no qual foram estabelecidas normas de Ius Cogens

Inderrogabilidade: Força vinculativa da norma de ius cogens.

→ Para ser derrogada, tem de ser criada uma nova norma de ius cogens com a mesma natureza.
Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
Problema de Ius Cogens
O problema do ius cogens resulta dos princípios definidos pelos Artigos 53º e 54º da CVDT:

→ Art. 53º: É nulo um tratado que esteja em conflito com uma norma imperativa de DI geral.
→ Art. 54º: Se surge uma nova norma imperativa de DI geral, todo o tratado existente em oposição a essa norma será
nulo e cessará a sua vigência.

Ideias-chave destes preceitos:

→ A CVDT admite a existência de um conjunto de normas internacionais dotadas de um grau de imperatividade superior
à de quaisquer normas internacionais, uma vez que o seu desrespeito determina a nulidade das normas que a
contrariem.
→ As normas de ius cogens são universais e oponíveis de todos face a todos, mas evolutivas ao admitirem a substituição
das normas existentes por normas novas, desde que tenham a mesma natureza.
→ O costume postula sempre a prática e o ius cogens impõe-se independentemente da prática.
• Um Estado ou conjunto de Estados pode ter uma prática diferente da norma de ius cogens, mas isso não
significa que essa conduta possa ser aceite pela norma de ius cogens.

Incertezas…:

→ Qual o alcance da aceitação e reconhecimento das normas de ius cogens? Aceitação unânime ou aceitação por um
grupo de Estados considerados representativos de toda a comunidade internacional?
→ As normas de ius cogens são de natureza convencional ou consuetudinária, de uma e outra, ou de uma ou de outra?
→ (…)

A Hierarquia das Fontes


1. Ius Cogens
2. Princípios gerais de Direito (DI ou princípios comuns internos)
3. Costume e Tratados (norma de costume pode revogar norma de tratado e vice-versa)
4. Atos unilaterais de Estados ou de Organizações Internacionais
5. Jurisprudência e Doutrina (em que medida?)

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Parte III – A Sociedade Internacional
Capítulo I – Sujeitos de DI: Espécies e Classificação
Por sujeito de DI entende-se todo o ente a quem se atribui direitos e obrigações, sendo suscetível de ser titular de relações
jurídico-internacionais. Um sujeito de DI é uma entidade detentora de duas qualidades:

1. Consegue reivindicar jurídico-internacionalmente os seus direitos através de apresentação de pretensões jurídico-


internacionais.
2. Pode ser responsabilizada por violações de direito internacional, é uma entidade que pode ser demandada.

Em função da sua natureza, os sujeitos de DI podem ser:

1. Sujeitos de direitos e sujeitos de deveres;


2. Sujeitos passivos (apenas destinatários das normas, não participando na elaboração destas) e sujeitos ativos (gozam
da faculdade de cooperar diretamente na formação de DI positivo, como os Estados e a IC);
3. Sujeitos permanentes (Estados e IC) e sujeitos transitórios (rebeldes aos quais seja reconhecido o estatuto de
beligerante ou de insurreto, ou de OI’s que existem enquanto se mantiver em vigor o tratado internacional que as
institui);
4. Sujeitos originários (Estados da sociedade europeia ocidental e IC) e sujeitos supervenientes (posteriormente
admitidos nesta sociedade ou que nela se formaram);
5. Sujeitos com autodeterminação (Estados soberanos que não sofrem limitações gerais/permanentes da capacidade
de gozo e exercício de direitos) e sujeitos sem autodeterminação (Estados sob protetorado ou vassalos);
6. Sujeitos de DI comum (aceites como tal pela generalidade dos Estados) e sujeitos de DI particular (apenas
reconhecidos por alguns Estados – ordem de Malta, rebeldes e insurretos);
7. Sujeitos de Direito Público (Estados) e sujeitos de Direito Privado (ONG’s).

Personalidade Jurídica Internacional


Traduz-se na suscetibilidade de ser sujeito de direitos e de obrigações jurídico-internacionais, de ser destinatário das
normas jurídicas internacionais.

→ Note-se que a personalidade jurídica de um Estado é produto da sua soberania, não necessitando de qualquer
reconhecimento.
→ As OI’s, por sua vez, dependem de um reconhecimento constitutivo por parte dos Estados fundadores.
→ A personalidade jurídica internacional dos indivíduos não precisa de ser reconhecida internacionalmente, basta que
o direito interno do país de origem o faça.

Daqui extraem-se dois critérios gerais que permitem saber em que momento nasce um novo sujeito de DI dotado de
personalidade jurídica internacional:

1. Sempre que surge uma comunidade politicamente organizada e com autonomia relativamente às restantes e desde
que a organização e a autonomia não dependam da vontade de outra entidade soberana, esta comunidade assume
a categoria de sujeito e adquire personalidade jurídica logo que termine o processo da sua formação,
independentemente de qualquer reconhecimento – os Estados;
2. As comunidades organizadas e com autonomia, cuja organização e autonomia dependam da vontade de outras
comunidades organizadas, ou comunidades que tenham natureza transitória, bem como aquelas em que falte algum
elemento para completar o seu substrato, só ascendem à categoria de sujeitos e adquirem personalidade jurídica
depois de serem reconhecidas por outras comunidades soberanas já existentes.

A capacidade de agir jurídico-internacionalmente é a idoneidade reconhecida pela ordem internacional aos sujeitos de DI
para exercerem os seus direitos e assumirem as suas obrigações. No que se refere aos Estados, é um atributo da
soberania e quanto às OI’s é um atributo dos fins a prosseguir.
Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
Sujeitos
1. Estados – Igualdade soberana é meramente jurídica porque, na prática, há muitas diferenças;
2. Entidades juridicamente aproximadas dos Estados – Ex: Cidade Livre de Danzigue sob a administração da SDN pelo
regime de proteção após a I GM.
3. Beligerantes – Atores não estaduais com grau de reconhecimento que lhes permite celebrar acordos. O seu estatuto
está associado às lutas de libertação nacional e ocorre na existência de administração de territórios de transição
para os preparar para a independência, por exemplo (UNTAG na Namíbia; UNTAET no Timor-Leste; UNMIK no
Kosovo).
4. OI’s
5. Indivíduo – Surge ainda como sujeito mediatizado de DI uma vez que depende do Estado para aceder ao patamar
jurídico internacional. Ganha relevância nas áreas de DH.

Tipos Especiais de Personalidade


1. Empresas Multinacionais;
2. Povos não autónomos – Poderão constituir-se em Estados;
3. Entidades sui generis:
→ Santa Sé – Criada pelo Tratado de Latrão e Concordara em 1929. Tratou-se do reconhecimento da união das
províncias italianas.
• Sui generis porque tem um território limitado, mas celebra contratos.
• Doutrina afirma que não é um Estado por causa das características sui generis, mas tem prerrogativas que os
Estados têm.
→ Ordem soberana de Malta – Não é um Estado, mas tem embaixadores e estatuto especial dentro do território de
alguns Estados. Goza de poderes de autoridade.
→ Taiwan – Não é reconhecido como um Estado, mas tem identidade internacional para efeitos de pesca e, por
ser um território aduaneiro diferente, é membro da OMC.
→ Governos no Exílio – Podem ter alguma relevância jurídico internacional, mas ligada à situação que representam.
→ ONG internacionais – Estatuto complexo e são associações de direito privado.

1. Os Estados
Há vários requisitos para que uma entidade possa ser um Estado, um sujeito de DI, mas não são suficientes nem
taxativos. Estão presentes no Art. 1º da Convenção de Montevidéu de 1933:

1. População Permanente – Tem de ter expressividade.


2. Território – Moldes de aquisição territorial: Arrendamento, compra e doação. A conquista deixou de ser modo de
aquisição legítimo territorial porque implica a violação da integridade territorial de outro Estado e não é admissível.
3. Governo – É essencial, mas há Estados que se constituíram enquanto tal sem terem Governo estabilizado (ex: Polónia
e Ruanda).
4. Capacidade para estabelecer relações entre Estados

Podemos observar a verificação destes requisitos e ainda, assim, ser insuficiente. Acresce-lhes a necessidade de analisar
a estrutura jurídico-constitucional e administrativa de um Estado:

Governo em funções? Estrutura de AP? Capacidade de produção de bens e serviços?

→ Grau de centralização de poder num determinado Estado;


Independência → Única entidade com autoridade legislativa e executiva dentro do território que assume como
seu;
→ Não está sujeita a ingerência, o que lhe permite ser independente dentro das suas fronteiras.
Permanência → É um requisito de estabilidade espácio-temporal.
→ Pode haver episódios de sucessão de Estados teoricamente.
Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
→ Criticado pela doutrina, tem raízes históricas num período onde a igualdade soberana não
Respeito pelo existia.
DI → Complexo porque só os sujeitos de DI podem respeitar o DI – esta vontade de respeitar
depende da constituição de cada Estado.
→ Teoricamente, é sinónimo de independência.
Soberania → Mas temos de atentar nas situações históricas com soberania condicionada (Estados
soberanos, mas dependentes).
→ Somatório dos critérios anteriores.
Efetividade → Capacidade de agir enquanto Estado leva a doutrina a realidades que descreve como estado
em fase de formação (estados em beligerância, contexto pós-violência, povo a exercer direito
de autodeterminação).

O Reconhecimento: Aquisição da Qualidade de Sujeito de DI


Não existem regras gerais sobre a aquisição e perda de personalidade jurídica internacional. Esta adquire-se no momento
em que se verifica a atribuição de direitos ou a imposição de deveres, e cessa quando se deixa de ser o destinatário de
normas jurídicas internacionais.

→ Contudo, o reconhecimento é um instituto que se relaciona com o início da personalidade jurídica internacional.
→ É um processo formal pelo qual um Estado e um Estado novo se reconhecem mutuamente, admitindo a capacidade
de exercerem todas as competências inerentes à estadualidade.

Reconhecimento de Estado
A formação de um Estado é um fenómeno sociológico, histórico e político. Uma vez constituído com todos os requisitos
essenciais, há um sujeito de Direito Internacional.

Apesar de não haver um dever de reconhecimento, pelo que nenhum Estado pode ser forçado a reconhecer outro, a
prática internacional exige, para que os novos Estados possam participar normalmente na vida internacional, o
reconhecimento pelos outros Estados.

→ Depende de critérios factuais, mas também da capacidade relacional com outros Estados, porque se os demais
Estados se recusarem a reconhecer e estabelecer relações com uma nova entidade, esta estará necessariamente
limitada.

Efeitos Jurídicos Internacionais do Reconhecimento – Teorias

Reconhecimento com efeitos meramente declarativos, apenas formaliza uma circunstância já


existente, sendo irrelevante para a contribuição do surgimento de um Estado.
Teoria Declarativa → Estado enquanto tal surge a partir do momento em que reúna os requisitos.
→ Minimiza o poder dos Estados em controlar o acesso à sociedade internacional.
→ Tem o apoio da jurisprudência.
Reconhecimento contribui para o surgimento do Estado enquanto tal – é condição necessária
para a sua existência.
Teoria Constitutiva → Sociedade Internacional enquanto comunidade política – é necessário que a entrada para
a mesma dependa de um grau de aceitação mínimo por parte dos membros.
→ Ausência do reconhecimento pode ser fatal para qualquer entidade com a pretensão de
se constituir enquanto Estado.

Reconhecimento de Governo
O reconhecimento de um Estado implica o reconhecimento do respetivo governo.

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


→ Deve-se reconhecer qualquer governo que exerça de facto o poder político em certo Estado, ou, pelo contrário, deve-
se atender ao modo como ele ascendeu ao poder, só se reconhecendo os governos que tenham ascendido segundo
os métodos constitucionalmente previstos?
→ Reconhecer um Governo implica aceitar que este Governo tem autoridade para controlar o território e a população.
Além disso, o Estado que reconhece o Governo aceita estabelecer relações formais com esse Governo.

O reconhecimento do Estado pode resultar de um ato expresso ou de factos que o revelem concludentemente (tácito),
podendo ainda ser:

→ definitivo (de jure) – reconhecimento irrevogável que produz todos os efeitos de direito sem quaisquer limitações.
→ provisório (de facto) – reconhecimento provisório, revogável e com efeitos limitados.
• Utilizado quando um Estado prefere: não reconhecer de forma definitiva o Estado ou Governo pela incerteza da
situação, mas considera desejável manter certos contratos oficiais; mostrar o seu desagrado; evitar o
reconhecimento prematuro.

Reconhecimento de Beligerante e Insurreto


Para que rebeldes contra um governo instituído possam beneficiar da qualidade de sujeitos transitórios de DI, é
necessária a aplicação do estatuto de beligerante ou de insurreto – movimentos de libertação nacional.

Numa revolta interna, as forças equilibram-se, a luta prolonga-se e os rebeldes conseguem dominar
parte do território.
Beligerância → Aplicação do DI que rege os conflitos armados;
→ Isenção do Estado de responsabilidade pelos danos causados pelos revoltosos;
→ Neutralidade, perante a luta, dos Estados que reconhecem a beligerância.
Numa revolta interna, embora sem dominar parte do território, os rebeldes conseguem prolongar a luta
Insurreição contra o governo instituído.
→ Evitar a qualificação dos atos dos rebeldes como atos de pilhagem ou pirataria.

Os beligerantes podem ter personalidade jurídica internacional porque pode interessar celebrar, por exemplo, acordos
de paz e para tal é necessário que todas as partes tenham personalidade jurídica internacional.

→ O problema de reconhecer beligerantes é o de o fazer cedo demais e acabar por reconhecer insurretos sem o
pretender.
• Os insurretos precedem os beligerantes, ou seja, todos os beligerantes foram insurretos, mas nem todos os
insurretos se tornam beligerantes – alguns não passam de grupos armados (UNITA, RENAMO).
• Os insurretos querem subverter a ordem nacional. Os beligerantes mantêm esse objetivo, mas podem fazê-lo
devido a ganhos militares.

Reconhecimento de Nação e de Movimento Nacional


Durante a I GM e depois da II GM verificou-se a atribuição de personalidade jurídica a certos grupos e movimentos
nacionais.

Revogabilidade dos Atos de Reconhecimento


A revogação do reconhecimento é a destruição ou a cessação dos efeitos dele através de um outro ato jurídico unilateral
praticado pela mesma entidade.

→ Certos autores entendem que não é possível revogar o ato de reconhecimento a partir do momento em que foi
praticado, enquanto outros admitem tal possibilidade, desde que a revogação não seja arbitrária.
→ Outros ainda, com o fundamento no facto de o reconhecimento ser um ato unilateral, admitem a possibilidade de
revogação desse ato sem quaisquer limitações.

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


As exigências de segurança e estabilidade das relações internacionais impõem que o reconhecimento não deva ser
revogado de uma forma arbitrária e infundada. Assim, o ato revogatório deve ser praticado com respeito pelos princípios
da segurança e estabilidade das relações internacionais e da boa-fé.

2. Coletividades Interestaduais
Uma OI é uma organização criada por Tratado ou outro instrumento cuja governação responde ao DIP e que detém a
sua própria personalidade jurídica internacional, podendo contar com membros para além dos Estados.

→ Prelúdios das primeiras OI’s: Comissão do Danúbio e Comissão do Reno (divisão das águas internacionais).
→ OI’s com assuntos técnicos e específicos: União Internacional para as Telecomunicações e União Postal
Internacional.
→ Em 1899, verifica-se um santo evolutivo com a criação da Corte Permanente de Arbitragem.

Requisitos para definição de uma OI


→ Membros são predominantemente Estados, mas pode ser constituída por entidades não estaduais (dicotomia:
Organizações Intergovernamentais vs ONG transnacionais);
→ As OI’s podem ter o seu conjunto de membros restrito a razões regionais ou com acesso condicionado.

A personalidade jurídica internacional de uma OI assenta na sua constituição por órgãos autónomos de carater
permanente (G20 vs OMC):

→ A OI tem de ter poderes jurídico internacionais para exercer no plano internacional e não no seio dos territórios dos
EM. Assim, tendo órgãos permanentes, objetivos e poderes separados dos membros, terá competência a exercer
jurídico-internacionalmente.

Surgimento das OI’s


Surgem por Tratado ou outros instrumentos, como o consenso dos Estados, e através de atos finais ou resoluções de
conferências interestaduais (ex: OPEP e a OSCE).

→ (!) – o Tribunal Especial Penal para a Jugoslávia e para o Ruanda não foram criados por Tratado, não são OI’s –
foram criados por órgãos subsidiários do CS (exceção à regra) e são ad hoc.
→ O TPI foi criado por Tratado, é permanente e separado do sistema das NU.

Personalidade Jurídica das OI’s


A questão da personalidade internacional da ONU não estava esclarecida no momento da redação da Carta das Nações
Unidas. Foi necessário um parecer do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que veio afirmar que a ONU tinha
personalidade jurídica internacional – Art. 104º e 33º da CNU.
→ A ONU goza de personalidade jurídica internacional plena, porque senão não poderia demandar outros sujeitos de
personalidade internacional.
Como se atribui?
1. Tratado
2. Inferência (Abordagem Funcionalista; Tese da Vontade dos EM; DIP estabelece critérios objetivos, um deles sendo a
personalidade jurídica de uma OI).

Ao gozar de uma personalidade jurídica internacional plena, determinada OI terá legitimidade ativa:

→ para Tribunais Internacionais;


Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos
→ para celebrar tratados em nome próprio, em nome dos EM (Ius Tractum);
→ para beneficiar de um passaporte diplomático, com algum grau de imunidade.

Responsabilidade das OI’s


A responsabilidade das OI está acompanhada de um dilema jurídico visto que há uma certa dificuldade em separar o
que poderá ser responsabilidade das OI e o que é efetivamente responsabilidade dos EM a nível individual.

Associações de Estados
Em alternativa às OI’s, há a possibilidade de união de Estados, criando-se uma confederação de Estados, por tratado ou
por costume.

→ A pertença a esta associação de Estados não afeta a personalidade jurídica nem a capacidade jurídica internacional
do Estado.
→ Estas confederações dissolveram-se ou tornaram-se Estados Federados.

3. O Indivíduo
Personalidade Jurídica Internacional?
Tem-se acentuado a tendência para assegurar ao individuo a tutela dos seus direitos e interesses pelo DI. Porém, o
indivíduo não pode ser considerado sujeito de DI enquanto a proteção for assegurada pelo direito interno, pois não é o
destinatário das normas de DI.

→ Por outro lado, se a sociedade internacional for percecionada como uma sociedade indivíduos, estes são os
destinatários direitos das normas do Ius Gentium e, por isso, verdadeiros sujeitos de DI.
→ No séc. XIX, as normas dirigiam-se aos Estados e não aos indivíduos. Atualmente, algumas normas de DI, como
crimes contra a paz, crimes de guerra e contra a humanidade versam diretamente sobre os indivíduos, havendo uma
subjetividade internacional do mesmo.

Além disso, há normas que atribuem diretamente direitos e obrigações para os indivíduos e os mesmos têm a prerrogativa
de aceder a instâncias internacionais para fazer valer os seus direitos.

A Proteção do Indivíduo no DI
Aprofundou-se depois da II GM, principalmente no quadro da ONU, cuja Carta contém no preambulo a fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana.

1. A proteção universal decorre da DUDH (1948);


2. A proteção regional decorre da CEDH (1953) e da CDFUE (2000);
3. A proteção a nível intra-americano decorre da Convenção Americana de DH e o seu protocolo em matéria de DESC
(1978);
4. A proteção descentralizada dos direitos humanos decorre de casos como Pinhochet e Filartiga v. Peña-Irala.

Outros exemplos:

→ Proteção Internacional dos Direitos da Pessoa Humana – Assegura direitos dos indivíduos perante o Estado/OI.
→ Proteção Humanitária – Convenção de Genebra, situações de extrema necessidade, relacionadas com a
sobrevivência da pessoa.
→ Proteção dos Refugiados – Através do estatuto de refugiado, intimamente ligado com os Estados.
→ Proteção Diplomática – Defesa de pessoas e bens nacionais através dos funcionários e agentes do Estado (Art. 14º
da CRP).

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos


Subjetividade Internacional do Indivíduo
Proteção Internacional sem subjetividade internacional Por força de Tratados que obrigam os Estados a ter
legislação interna que confira essa proteção.
Subjetividade Internacional sem proteção dos DH Funcionários internacionais ou territórios sob tutela.
Proteção Internacional com subjetividade internacional Só aqui existe personalidade jurídica internacional.

Tribunais de Nuremberga e Tóquio


Além de o DI hoje atribuir diretamente direitos aos indivíduos, também lhes impõe deveres – indivíduo como destinatário
de normas internacionais penais. No final da II GM e perante os horrores que nela tiveram lugar, entendeu-se que não
se podia deixar os seus responsáveis sem julgamento.

→ Neste sentido, os aliados assinaram um acordo definindo o estatuto do Tribunal de Nuremberga, em 1945, para o
justo e célere julgamento dos criminosos de guerra (Acordo de Londres).
• Alvo de muita discussão: Viola o princípio da anterioridade de lei criminal (nullum crimen sine lege, nulla poena
sine lege).
→ Paralelamente, foi criado em 1946 o Tribunal de Tóquio para os criminosos do extremo oriente.

Inauguraram a jurisdição penal internacional, embora o caráter ad hoc.

Tribunais Internacionais Ad Hoc para a ex-Jugoslávia e para o Ruanda


O abandono do projeto de criação de um TPI acabou por resultar na criação de dois tribunais penais ad hoc por decisão
do CS das NU, na década de 90 – verdadeiro impulso para o estabelecimento de um tribunal de caráter permanente.

→ O Tribunal Internacional Criminal para a ex-Jugoslávia foi estabelecido pela Resolução 827 (1993), em Haia;
→ O Tribunal Internacional Criminal para o Ruanda foi estabelecido pela Resolução 995 (1994), em Arusha.

Tribunal Penal Internacional – Estatuto de Roma


Entrando em vigor a 1/07/2002, com sede em Haia, o TPI é uma instituição jurídica dotada de personalidade
internacional e da capacidade jurídica necessária à prossecução dos seus fins – Art. 4º do ER

→ É uma instituição judiciária permanente criada por Tratado Multilateral sob a forma de OI, o que lhe garante efetiva
autonomia face aos Estados e à ONU, uma vez que esta última teve uma forte intervenção nos tribunais penais
anteriores.
→ Tem competência (ratione personae, loci et tempore) para julgar crimes internacionais, com jurisdição obrigatória
para todos os Estados partes na Convenção constitutiva deste órgão jurisdicional internacional (Art.12º e 124º do
ER).
• Versa principalmente sobre crimes de guerra, contra a paz e contra a humanidade – Art. 5º do ER.
→ Tem competência complementar relativamente às jurisdições estaduais – Princípio da Complementaridade (Art. 1º):
Só julgará um caso que lhe seja submetido na eventualidade de um tribunal interno competente não poder ou não
querer fazê-lo – Art. 17º do ER.
→ O Procurador tem um elevado grau de autonomia (motu proprio) na investigação e perseguição de criminosos.

Tribunal Especial para a Serra Leoa


Criado por acordo entre o Estado de Serra Leoa e as NU, funcionando no próprio território de Serra Leoa, sem primazia
sobre os tribunais de Estados terceiros e as suas competências não abrangiam julgar crimes de genocídio, já que os
massacres verificados não visavam a destruição de qualquer grupo racial, nacional, étnico ou religioso.

Nota: Resumos baseados nos apontamentos das aulas e nos resumos da Ana Ferreira!

Resumos de D. Internacional Público – Bárbara Inês de Matos

Você também pode gostar