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Casos Práticos:

I. Suponha que
Em 2009 é concluída no quadro da Organização das Nações Unidas uma convenção
que estabelecia o alargamento da zona económica exclusiva para 300 milhas marítimas.
Aquando da negociação, os Estados A e B manifestaram a sua total oposição ao
alargamento, votando contra e recusando posteriormente a sua vinculação.
Em 2014 o Estado X pretendendo evitar envolver-se numa disputa regional relativa aos
direitos de pesca impede o acesso de navios pesqueiros de A e D na faixa entre as 200
e as 300 milhas marítimas, invocando o costume formado nessa matéria a partir da
regra convencional.
Ambos os Estados protestam
a. Por entenderem haver uma confusão entre regras convencionais e consuetudinárias;
b. Por, em qualquer caso, não se considerem vinculados a qualquer regra
consuetudinária eventualmente formada, já que A sempre se opusera à mesma e D
(que acedera à independência apenas em 2012) não havia dado o seu consentimento.
Quid júris?
Levantam-se, na presente hipótese prática, duas questões: 1) saber se a prática do
levantamento dos meios utilizados nas explorações subaquáticas configurava um
costume, e 2) saber se (existindo esse costume) ele é oponível ao Estado em questão.
[1] Quanto à primeira questão, sabemos que para haver um costume tem de conferir-se
a existência dos seus dois elementos: a prática e a convicção da obrigatoriedade (cf.
concl. 2).
Não parece existirem dúvidas quanto à verificação da prática: ela vem expressa nos
parágrafos primeiro e segundo do enunciado.
A oposição soviética não afeta esta consideração, já que o comportamento dos Estados
não tem de ser unânime (cf. concl. 8.1). Essa oposição teria apenas como consequência
que, formando-se o costume, este não seria aplicável ou oponível à União Soviética
enquanto objetor persistente (durante a formação do costume) – cf. concl. 15
Quanto à convicção da obrigatoriedade, esta parece poder retirar-se da decisão da
AGNU (parece evidente que a discussão havida e a deliberação tomada apenas faça
sentido em relação a esta convicção, já que ninguém questionava a existência da
prática levada a cabo por todos menos a União Soviética). [Repare-se, no entanto, que
não se trata de retirar a convicção da obrigatoriedade do ato da AGNU (que, enquanto
tal, não tem carácter vinculativo e só acessoriamente serve para demonstrar a
existência de um costume) mas antes da posição esmagadora dos estados ao
aprovarem a resolução. – cf. segunda alternativa da concl. 6.2] Isto contraria a pretensão
do Estado quando se refere a uma liberalidade meramente vinculativa.
Assim sendo, devemos concluir que existe um costume.
[2] Quanto á segunda questão (saber se o costume se aplica ao Estado em questão)
importa, em primeiro lugar, conferir se o facto de este nunca ter aceitado tal prática o
desobriga do costume. Ora é pacífico o entendimento atual no sentido de que os
Estados novos – como é o caso – estão obrigados aos costumes entretanto formados,
já que o fundamento da obrigatoriedade do costume não radica no consentimento (cf.
ponto C da Lição VIII).
Dever-se-ia ponderar ainda se a o Estado em questão podia beneficiar da objeção
persistente da União Soviética. A resposta tem de ser negativa: a objeção persistente de
um Estado não beneficia novos Estados (ignoramos, no caso, o facto de o Estado em
questão resultar de desagregação da União Soviética, o que nos levaria a matéria ainda
não considerada).
Concluímos, portanto, que [1] existe em costume e [2] esse costume obrigava o Estado
em questão.

II. Suponha que


Em 2014 foi aprovada, por unanimidade e aclamação, na Assembleia do Conselho da
Europa, uma Resolução que solenemente declarava banida a pena de morte no
continente.
Desde essa data nunca mais foi aplicada a dita sanção.
No corrente ano as autoridades da Polónia pretendem a aplicação da pena de morte
(que continua prevista na lei, por não ter ocorrido qualquer alteração formal) num caso
de grande impacto público.
A defesa do cidadão em causa invocou a resolução de 2014 para evitar tal condenação,
mas o governo polaco – cujo partido de apoio prometeu no debate eleitoral de 2018,
voltar a aplicar da pena de morte – impôs ao Ministério Público que, nesse sentido,
solicitasse essa aplicação, naquele caso.
Em duas sentenças anteriores (de 2015 e 2016) os tribunais polacos haviam
considerado que a Resolução de 2015 formara costume, impedindo, por isso, a
aplicação da pena de morte prevista na lei.
Quid júris?
A existência de duas sentenças judiciais húngaras considerando a existência de um
costume era elemento de prova da existência do mesmo (e dos respetivos elementos).
De facto, as decisões judiciais são um dos meios expressamente previstos para a
demonstração da prática (cf. proj.º conclusão 6, nº2 in fine) e da convicção da
obrigatoriedade (cf. proj.º conclusão 10, nº 2). É certo que a prática deve ser geral
(proj.º concl. 8). Sobre isso do enunciado resulta apenas que a pena de morte não mais
foi aplicada – sendo certo que isso poderia ter acontecido (pelo menos na Hungria, em
duas ocasiões) o que parece indicar haver uma prática e não apenas uma omissão.
É tb certo que uma resolução de uma O.I. ou de uma conferência intergovernamental
não é suscetível de criar uma regra consuetudinária de per se, mas pode refletir uma
norma consuetudinária – se estabelece tratar-se de uma prática acompanhada da
convicção da obrigatoriedade – ou constituir um elemento de prova para estabelecer a
sua existência ou para contribuir para o seu desenvolvimento – cf- projº conclusão 12.
Este parece ser o enquadramento da situação descrita.
Pode ainda invocar-se o diminuto período de tempo decorrido (dois anos) mas, sendo
certo que não há período mínimo (ac TIJ de 20.02.1969, Plataforma continental do Mar
do Norte; tb. proj.º concl. 8.º/2), a situação descrita poderia até configurar um caso de
costume selvagem ou instantâneo (com a opinio júris a anteceder a prática) – que o TIJ
se vem mostrando disposto a aceitar.
Subsiste também o problema da incompatibilidade com o direito interno húngaro.
Neste domínio é pacífico que os Estados (independentemente do regime constitucional
relativo à vigência do direito internacional na ordem interna) estão obrigados a
adequar o direito interno ao cumprimento das suas obrigações internacionais, as quais
podem decorrer de quaisquer fontes, incluindo o direito consuetudinário.
Em conclusão, os dados constantes no enunciado indicam a existência de uma regra
consuetudinária (que tanto pode ter sido acolhida pela resolução do Conselho da
Europa como este ato pode ter contribuído decisivamente para a sua formação) a qual
obriga o Estado húngaro enquanto direito internacional geral ou comum, devendo os
tribunais continuar a recusar-se a aplicar a pena de morte (tal como anteriormente
haviam feito).

III. Suponha que


Durante um período longo de tempo os Estados com capacidade de explorarem
recursos mineiros nos leitos marinhos assumiam a obrigação de retirar todos os meios
utilizados nessas explorações quando terminava a atividade de prospeção ou
mineração.
O governo soviético, cuja posição sempre foi a inversa, defendeu a legitimidade da
mesma em diversas ocasiões. A questão gerou um animado debate, a vários níveis,
chegando à Assembleia Geral das Nações Unidas, onde veio a ser aprovada por maioria
esmagadora, uma resolução favorecendo a prática que vinha sido desenvolvida. Os
estados com capacidade de exploração dos fundos marinhos continuaram, por isso,
nos anos subsequentes a obrigar-se ao levantamento dos materiais utilizados na
exploração.
Recentemente um novo Estado, resultante da desagregação da União Soviética iniciou
a exploração de fundos marinhos, não seguindo a prática internacional na matéria.
Apesar de alguns estados insistirem haver um costume, esse Estado manteve a sua
posição, alegando nomeadamente que nunca havia aceitado tal prática como legítima,
que tal prática consistia numa liberalidade não vinculativa (sem que existisse convicção
da sua obrigatoriedade) e recordou a oposição soviética para negar a existência de um
costume.
Quid iuris?
Levantam-se, na presente hipótese prática, duas questões: 1) saber se a prática do
levantamento dos meios utilizados nas explorações subaquáticas configurava um
costume, e 2) saber se (existindo esse costume) ele é oponível ao Estado em questão.
[1] Quanto à primeira questão, sabemos que para haver um costume tem de conferir-se
a existência dos seus dois elementos: a prática e a convicção da obrigatoriedade (cf.
concl. 2).
Não parece existirem dúvidas quanto à verificação da prática: ela vem expressa nos
parágrafos primeiro e segundo do enunciado.
A oposição soviética não afeta esta consideração, já que o comportamento dos Estados
não tem de ser unânime (cf. concl. 8.1). Essa oposição teria apenas como consequência
que, formando-se o costume, este não seria aplicável ou oponível à União Soviética
enquanto objetor persistente (durante a formação do costume) – cf. concl. 15
Quanto à convicção da obrigatoriedade, esta parece poder retirar-se da decisão da
AGNU (parece evidente que a discussão havida e a deliberação tomada apenas faça
sentido em relação a esta convicção, já que ninguém questionava a existência da
prática levada a cabo por todos menos a União Soviética). [Repare-se, no entanto, que
não se trata de retirar a convicção da obrigatoriedade do ato da AGNU (que, enquanto
tal, não tem carácter vinculativo e só acessoriamente serve para demonstrar a
existência de um costume) mas antes da posição esmagadora dos estados ao
aprovarem a resolução. – cf. segunda alternativa da concl. 6.2] Isto contraria a pretensão
do Estado quando se refere a uma liberalidade meramente vinculativa.
Assim sendo, devemos concluir que existe um costume.
[2] Quanto á segunda questão (saber se o costume se aplica ao Estado em questão)
importa, em primeiro lugar, conferir se o facto de este nunca ter aceitado tal prática o
desobriga do costume. Ora é pacífico o entendimento atual no sentido de que os
Estados novos – como é o caso – estão obrigados aos costumes entretanto formados,
já que o fundamento da obrigatoriedade do costume não radica no consentimento (cf.
ponto C da Lição VIII).
Dever-se-ia ponderar ainda se a o Estado em questão podia beneficiar da objeção
persistente da União Soviética. A resposta tem de ser negativa: a objeção persistente de
um Estado não beneficia novos Estados (ignoramos, no caso, o facto de o Estado em
questão resultar de desagregação da União Soviética, o que nos levaria a matéria ainda
não considerada).
Concluímos, portanto, que [1] existe em costume e [2] esse costume obrigava o Estado
em questão.

IV. Suponha que

Chocados com a destruição dos budas de Bamiyan pelos taliban, no Afeganistão, em


2001, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou, sem votação, uma resolução que,
não apenas condenava veementemente a destruição de património artístico, mas
também impunha aos Estados a obrigação de tipificarem esse comportamento como
crime e consequentemente punirem os autores materiais ou morais de tais atos.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
a. Explique se, neste enquadramento de facto, a inação subsequente de um Estado
poderia configurar uma violação do direito internacional. (8 valores)
Para que a inação configure um incumprimento terá de violar alguma regra
internacional. No caso, apenas está em questão a resolução das NU que impunha aos
Estados a obrigação de tipificarem esse comportamento como crime.
Importa, todavia, conferir se dessa resolução resultaram obrigações jurídicas para os
Estados.
As resoluções da AG das NU não têm carácter vinculativo (art. 11.º CNU). Donde, as
eventuais obrigações apenas poderiam existir se a Resolução formasse costume, o que
parece não poder ocorrer (concl. 12/1).
Não obstante, a conduta relativa às resoluções aprovadas por organizações
internacionais constitui um meio de prova da aceitação da convicção da
obrigatoriedade (concl. 10.º/2). No caso, tratando-se de uma resolução na qual não se
sentiu sequer a necessidade de a submeter à votação, poderíamos considerar que
existe um claro indício dessa convicção da obrigatoriedade.
Todavia, a existência de um costume supõe ainda a verificação da existência de uma
prática geral. E sobre essa prática o enunciado nada diz, pelo que se terá de considerar
que não existiu.
Poderemos apenas ponderar a hipótese de se tratar de um costume selvagem – que se
terá formado sem prática (um dos casos em que a obrigatoriedade antecede a prática),
assente apenas na assinalável convergência dos Estados em volta da regra (cr. Lições..,
pp. 126 ss. e nota 206).
Assim, se considerarmos ter-se formado um costume selvagem, a inação de um Estado
poderia configurar uma violação do direito internacional.
b. Admita que o conteúdo da resolução formou um costume que conflituava
pontualmente com a CRP. Explique se esse conflito prejudicava a aplicação da regra
consuetudinária na nossa ordem interna. (4 valores)
Havendo um costume, a sua aplicação na ordem interna portuguesa está prevista no
art. 8.º/1 CRP (integra o conceito de direito geral ou comum).
Verificando-se um conflito entre o direito internacional geral ou comum e o direito
constitucional português, a doutrina vem defendendo a prevalência daquele (Lições…,
pp.96 ss.), pelo que a aplicação da regra consuetudinária não deveria ser prejudicada.
Suponha agora que a AGNU entendia desencadear um processo de codificação do
costume em causa. No articulado da convenção estabelecia-se expressamente que a
vinculação decorria da ratificação. O Estado A assinou e ratificou, mas não se
considerava ainda vinculado já que o seu direito interno impunha como condição da
vinculação a existência de um parecer favorável do tribunal constitucional.
c. Face ao direito internacional aplicável, estará o Estado A vinculado? Justifique (4
valores)
Os Estados são livres para determinarem o procedimento necessário á sua vinculação
internacional (cf. Lições… pp. 165 e 191). Todavia, quando esse procedimento divergir
daquele que esteja previsto no texto convencional, devem informar os demais Estados,
aquando da assinatura, garantindo assim os efeitos pretendidos. No caso, não tendo A
efetuado esse aviso, deve cumprir a convenção em causa.
No caso, tratando-se da codificação de uma regra consuetudinária, A sempre estaria
vinculado a ela, nessa qualidade (exceto se houvesse protestado durante a sua
formação)
d. Suponha ainda que a constituição de um dado Estado reconhece a vigência do
costume, mas sujeita o direito convencional a uma transformação, como requisito para
a sua aplicabilidade. Classifique fundamentadamente este mecanismo. (4 valores)
Os regimes que combinam mecanismos de transformação e de receção – como é o
caso, já que a referida constituição recebe o costume, mas condiciona a vigência do
direito convencional a uma transformação – são normalmente designados por
mecanismos ou cláusulas de receção semiplena (cf. Lições…, p. 76).

V. Suponha que
Numa determinada região montanhosa, existiam 4 Estados (A, B, C e D) sendo que
deles, apenas um (A) tinha acesso ao mar. O abastecimento de mercadorias de todos os
Estados em causa fazia-se, desde há séculos, pelo porto marítimo de A.
Em 2005 A e B assinaram uma convenção bilateral que codificava e desenvolvia o
costume relativo ao abastecimento de B através do porto e território de A (eliminando
definitivamente qualquer discriminação aos cidadãos e empresas de B). Nesse ano,
todavia, mudou o governo de A e o novo executivo preferiu suspender o processo,
impedindo a ratificação da convenção. Não obstante, os termos convencionais foram
sempre cumpridos por A e B.
Em 2010 um outro governo de A introduziu pesadas taxas na utilização do seu porto
marítimo por estrangeiros, o que mereceu protesto da parte de B, C e D, os quais,
invocando o costume, pretendiam continuar a abastecer-se através do dito porto, sem
os encargos impostos.
A respondeu aos protestos explicando que B, C e D deveriam, isso sim, agradecer a sua
generosidade em facilitar durante muitos anos o abastecimento sem exigir
contrapartidas, mas que dessa liberalidade não decorrera qualquer obrigação. E, por
isso, no exercício dos seus poderes soberanos, era livre para impor, a partir dessa altura,
naturais contrapartidas.
Neste enquadramento, responda às seguintes questões:
a. Explique se, neste enquadramento de facto, A estava obrigado a manter o regime ou,
pelo contrário, podia introduzir as limitações anunciadas. Na sua resposta explique se o
regime relativo a B era diferente, face à convenção celebrada em 2005. (10 valores)
b. Classifique a referida convenção de 2005 indicando a relevância prática de cada uma
das classificações atribuídas. (5 valores)
c. Indique os possíveis termos de um artigo constitucional (de um Estado Z) que
estabelecesse uma cláusula de receção plena relativamente ao costume e uma cláusula
de receção automática, relativamente aos princípios gerais de direito. Justifique os
termos propostos. (5 valores)

VI. Suponha que


Em 2015, seis Estados (A a F) concluem uma convenção em matéria militar que prevê a
sua entrada em vigor com o depósito do instrumento de vinculação do quinto Estado.
Ainda em 2015 A, B, C e D efectuam esse depósito. Em Janeiro de 2016 E deposita o
mesmo instrumento formulando uma reserva. A, B e C aceitam-na imediatamente. D
não se pronuncia. Em Setembro de 2016 F vincula-se. Em Fevereiro de 2017 G solicita a
adesão. Todos os Estado a aceitam, com excepção de E, que se opõe.
1. Confira a situação da convenção em Março de 2017, face a todas as ocorrências (7
valores).
A convenção concluída entre os Estados A, B, C, D, E e F entra em vigor com o depósito
do instrumento de vinculação do quinto Estado (E), em Janeiro de 2016 (isso decorre da
interpretação literal do enunciado; se a interpretação fosse no sentido de que a
vigência dependia da vinculação pretendida com esse depósito, a vigência ocorreria
apenas em Setembro de 2016, com a vinculação de F - já que a vinculação de E ocorre
apenas em Janeiro de 2017, conforme se verá de seguida).
A reserva formulada por E condiciona a vinculação deste Estado e carece da aceitação
da todos os Estados (20.º/2 CV69) o que acontece apenas em Janeiro de 2017, ou seja
12 meses após a sua formulação, já que E e F não se pronunciaram).
O pedido de adesão de G carecia também da aceitação de todos os Estados parte, já
que se trata de uma convenção fechada (que não previa a adesão), nos termos do art.
15.º c) CV69. Donde, a oposição de E impedia que a adesão ocorresse.
Em conclusão, em Março de 2017 a convenção estava em vigor entre tos Estados que a
haviam concluído em 2105 (A a F).
2. Explique qual seria a intervenção do PR no processo de vinculação de Portugal a essa
convenção (6 valores).
Tratando-se de matéria militar, integra o elenco da primeira parte da alínea i) do art.
161.º CRP, pelo que seria necessariamente um tratado solene, cabendo a aprovação à
AR. Assim sendo, ao PR caberia a eventual fiscalização preventiva da
constitucionalidade (134.º g), 277.º) e a ratificação (135.º b).
3. Se, em Abril de 2017 se verificasse que o representante de B havia sido subornado
por um funcionário de G, poderia C considerar a convenção inválida e retirar-se dela
imediatamente? (7 valores)
O suborno do representante de B poderia configurar uma corrupção (50.º CV69), mas
apenas se tivesse sido praticado por um Estado que tivesses participado na negociação
(conforme refere expressamente aquela norma). Donde, in casu, não existirá qualquer
vício.
De qualquer forma, mesmo que o vício existisse, tratar-se-ia de uma nulidade relativa
que afectaria apenas o consentimento de B e apenas por este poderia ser invocada
(nos termos referidos no próprio art. 50.º) – e nunca por C.
Finalmente é de referir que mesmo o Estado que legitimamente invoque o vício nunca
deverá abandonar ipso facto a convenção, estando obrigado a iniciar o procedimento
referido no art. 65.º ss.).

VII. Em Janeiro de 2015 os Estados A, B, C e D celebraram entre si uma convenção que


criava um imposto comum cujas receitas seriam orientadas para o financiamento de
projectos ambientais.
No texto da convenção estipulava-se que a mesma entrava em vigor com o depósito
do terceiro documento de ratificação.
C efectuou esse depósito em Março de 2015, A e B um mês depois. Mas este último
juntou uma declaração, nos termos da qual estabelecia um limite máximo às suas
contribuições financeiras. A e D aceitaram imediatamente, mas C não se pronunciou.
Em Abril de 2015 E solicita a adesão que foi mediatamente aceite por A e B.
Face a estas circunstâncias. explique:
1. Quem são as partes na convenção, em Maio de 2016 (assumindo que nada mais se
passou, entretanto)? (10 valores)
Trata-se de uma convenção multilateral restrita que entrava em vigor quando três
Estados se vinculassem. O terceiro Estado a vincular-se foi B (em Abril de 2015) mas
formulou uma reserva, a qual condicionava a vinculação deste. Esta tem de ser aceite
por todos (por se tratar de uma convenção multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69 –,
como se referiu). Nem C nem D se pronunciaram pelo que, nos termos do n.º 5 do
mesmo art. 20.º CV69 considera-se que a aceitação surge decorridos 12 meses. Donde,
a aceitação ocorreu em Abril de 2016.
E solicitou a adesão em Abril de 2016. Não havendo referência a qualquer regime
convencional sobre o assunto (15.º a) ou que o mesmo tenha sido estabelecido pelas
partes noutra altura (15.º b), a adesão apenas pode ocorrer com o assentimento de
todas as partes (15.º c) – o que não ocorreu, uma vez que apenas se pronunciaram A e
B.
No mês seguinte – em Maio de 2016 – as partes serão, portanto, A, B e C ( já que nada
indica ter havido vinculação de D e a adesão de D aguarda o assentimento dos
demais).
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do PR? (10
valores)
Trata-se de uma convenção em matéria fiscal (criava um imposto comum). A matéria
não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i) CRP pelo que não tem de ser um tratado
solene (podendo, por conseguinte, assumir a forma simplificada). A competência de
aprovação seria da AR (segunda parte do 161.º i) e 165.º/1 i), que o deveria fazer
através de uma resolução (166.º/5).
Ao PR caberia, então,
(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da
constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e
(b) assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de
inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura da resolução) haveria referenda
ministerial obrigatória, sob pena de inexistência do acto (140º).

VIII. Por iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada uma
conferência intergovernamental que concluiu em 15 de Janeiro de 2015 uma
convenção em matéria de protecção de espécies florestais ameaçadas. A convenção
ficou aberta para assinatura durante 90 dias. Em 1 de Março do mesmo ano o Estado A
assinou, mas informou, desde logo, que excluía do elenco das espécies protegidas um
tipo arbóreo (X), muito abundante no seu território e cuja madeira era objecto de
exportação em massa, gerando receitas muito significativas.
Dois Estados vizinhos que haviam negociado a convenção declararam imediatamente
que aceitavam essa limitação sendo que alguns outros se opuseram e a maioria não se
pronunciou.
Em 30 de Junho A depositou o instrumento de ratificação da convenção, a qual entrou
em vigor em 15 de Agosto.
Em 1 de Setembro B – parte na convenção – protestou pelo facto de A ignorar a
protecção da espécie X em violação da convenção. A lembrou a B ter formulado uma
reserva que excluía tal obrigação.
Face a estas circunstâncias, explique:
1. Estaria A obrigado, na data em questão, a proteger a espécie X? (8 valores)
A formulou uma reserva com a assinatura (no sentido de excluir do elenco das espécies
protegidas o tipo arbóreo X), a qual deveria ter sido confirmada com a vinculação (cf.
GPR 2.2.1.) - já que esta não decorreu da assinatura (2.2.2.). Nesse sentido, em rigor,
deve assumir-se que a vinculação ocorreu sem qualquer reserva. E, por isso, A estava
vinculado desde 30 de Junho. Estando a convenção em vigor desde 15 de Agosto, A
estaria obrigado a proteger a espécie X em 1 de Setembro, nos termos da própria
convenção.
[Aos alunos a quem escape o pormenor da falta de confirmação da reserva – que,
numa situação prática, poderia/deveria ter sido lembrada pelo depositário aquando da
recepção do instrumento de ratificação – deverão descontar-se 2,5 valores. Nesse caso
a resposta ao caso prático seria outra: sendo um tratado multilateral geral bastava a
aceitação de um Estado para que a vinculação se pudesse produzir – 20.º/4 a) – pelo
que havia igualmente vinculação em 1 de Setembro, mas com a reserva a excluir a
protecção da espécie X, pelo que esta não lhe podia ser exigida].
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção:
a. Como de deveria resolver uma inconstitucionalidade pontual na mesma convenção
detectada pelo Tribunal Constitucional em sede de fiscalização preventiva? (4 valores)
Se o TC detectasse alguma inconstitucionalidade em sede de fiscalização preventiva a
mesma, sendo formal deveria ser objecto de correcção (pode tratar-se de mera
exigência interna susceptível de repetição), sendo de outra natureza
(inconstitucionalidade material) apenas poderia ser evitada através [da confirmação
pela AR – 279.º/2 ou] da formulação de uma reserva (que excluísse ou modificasse o
efeito jurídico da norma julgada inconstitucional – 19.º e 20.º CV 69) ou eventualmente
de uma declaração interpretativa (GPR 1.2, 1.3 ss.) – se a determinação de um
determinado sentido e alcance da norma fosse suficientemente para obviar à
inconstitucionalidade.
b. Qual seria a intervenção do PR? (8 valores)
Trata-se de uma convenção em matéria de protecção de espécies florestais ameaçadas.
A matéria não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i) CRP pelo que não tem de ser um
tratado solene (podendo, por conseguinte, assumir a forma simplificada). Na medida
em que a convenção não conflituasse com a Lei de Bases do equilíbrio ecológico, a
competência de aprovação não seria da AR (161.º i), 165.º/1 g), mas do governo
(197.º/1 c), que o deveria fazer por decreto (197.º/2).
Ao PR caberia, então,
(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da
constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e
(b) assinar o decreto do governo que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de
inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura do decreto) haveria referenda
ministerial obrigatória, sob pena de inexistência do acto (140º).
IX. Os Estados A, B, C e D concluíram uma convenção que regulava o uso, nos
respectivos territórios, de moedas digitais.
Aquando do depósito do instrumento de vinculação, em Janeiro de 2016, o Estado B
juntou uma declaração nos termos da qual considerava que a referida convenção não
de aplicava a eventuais unidades de conta eventualmente usadas pela administração
tributária para efeitos orçamentais (sendo que essa situação ocorria em A e B). B
informava ainda os demais Estados que considerava a questão tão relevante que
condicionava a sua vinculação ao reconhecimento desse âmbito de aplicação.
A e C declararam imediatamente ser esse o seu entendimento dos termos
convencionais, mas D, envolvido em complexos processos eleitorais não se pronunciou.
Face a estas circunstâncias, explique:
1. Estaria B obrigado pela convenção em Março de 2016? (10 valores)
A declaração de B nos termos da qual considerava que a referida convenção não de
aplicava a eventuais unidades de conta eventualmente usadas pela administração
tributária para efeitos orçamentais não deveria ser considerada uma reserva ( já que
não exclui ou modifica o efeito jurídico de uma ou mais disposições da convenção na
aplicação a esse Estado (2.º/1 d) CV69, GPR 1.1), mas, antes uma declaração
interpretativa, já que apenas precisa ou clarifica o sentido e alcance de uma disposição
(GPR 1.2). A declaração não visava um regime especial (para B), mas referia-se antes ao
regime regra (que se aplicaria, portanto, também a A, país no qual existiam também
unidades de conta usadas pela administração tributária para efeitos orçamentais).
Tratando-se de uma declaração interpretativa, esta, em princípio não afectaria a
vinculação de B.
Todavia, quando B condicionou a sua vinculação ao reconhecimento desse âmbito de
aplicação, tornou a declaração interpretativa condicional, à qual se aplica o regime das
reservas (GPR 1.4). Assim sendo, esta (declaração interpretativa) tem de ser aceite por
todos (por se tratar de uma convenção multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69). A e C
já o haviam feito aquando da formulação. D não se pronunciou, impedindo a
vinculação de B (que, a manter-se a situação, apenas ocorreria em Janeiro de 2017, ou
seja, depois de decorrerem 12 meses (20.º/5 CV69).
Concluindo: em Março de 2016 B não era parte (não estando por isso obrigado).
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do Governo no
processo? (10 valores)
Trata-se de uma convenção em matéria monetária, a qual não integra o elenco da 1.ª
parte do 161.º i) CRP, pelo que não tem de ser um tratado solene (podendo, por
conseguinte, assumir a forma simplificada). A competência de aprovação seria da AR
(segunda parte do 165.º/1 i) e 161.º/1 o), e que o deveria fazer através de uma
resolução (166.º/5).
Ao PR caberia, então,
(a) suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da
constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º CRP) e
(b) assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de
inexistência jurídica (137.º). Deste acto (assinatura da resolução) haveria referenda
ministerial obrigatória, sob pena de inexistência do acto (140º).

X. Os Estados A, B, C, D e E assinaram uma convenção em Abril de 2014, tendo em vista


estabelecer diversos mecanismos de cooperação académica. Na convenção
estabelecia-se que a vinculação à mesma decorria da assinatura.
Em Maio de 2014, F solicitou ao depositário que fosse admitida a sua assinatura
diferida.
No mesmo mês, B formulou uma reserva no sentido de fixar limites às suas
contribuições em alguns dos programas criados na convenção.
Neste enquadramento responda às seguintes questões:
1. Como deve reagir o depositário ao pedido de F? (4 valores)
Considerando que a assinatura diferida apenas ocorre estando expressamente prevista
(até porque supõe a determinação clara do prazo, do local ou locais, das entidades
capazes de receber os documentos, etc.) – e assumindo que isso não acontecia – o
depositário devia informar F dessa impossibilidade (e caso este insistisse, informaria os
demais estados do sucedido e do regime aplicável).
2. A reserva de B afectou a sua vinculação? Justifique (8 valores)
A reserva de B surgiu depois da vinculação, consistindo, portanto, numa reserva tardia,
que não é admissível excepto se expressamente admitida pelo tratado (o que
assumimos que não acontecia, já que não é referido) ou se todas as partes o aceitarem
(GPR 2.3).
De qualquer forma, tendo ocorrido após a vinculação, nunca afecta esta - a eventual
aceitação pelos demais Estados, a acontecer, alteraria o efeito jurídico do tratado na
aplicação a B, mas o efeito condicionante da vinculação já não ocorria.
3. Qual seria a intervenção do governo se Portugal se vinculasse a esta convenção? (8
valores
Estamos perante um acordo em forma simplificada – já que a matéria não integra o
elenco da 1.ª parte do 161.º i) – cuja competência de aprovação será do governo – art.s
197.º/1 c), 161.º i) 164.º e 165.º), que o fará através de um decreto (197.º/2) -
considerando que a cooperação académica não é susceptível de conflituar com a lei de
bases do ensino - 164.º i).
Neste enquadramento o PR poderá
(a) suscitar fiscalização da constitucionalidade (art.s 134.º, 278.º e 279.º) e
(b) deverá assinar o decreto de aprovação.
Deste acto há referenda ministerial obrigatória (140.º).
Caso a convenção conflituasse com a Lei de Bases do ensino, então a competência de
aprovação seria da AR - 161.º i), 164.º i) – que o faria através de uma resolução –
166.º/5. A intervenção do PR seria a mesma, mas a assinatura recairia sobre esta
resolução.

XI. Suponha que


Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 31 de Janeiro de 2012 uma convenção que
codificava e completava o regime consuetudinário relativo ao rio X que atravessava o
território de todos eles.
A convenção determinava a sua entrava em vigor com o depósito do instrumento de
ratificação do quarto Estado, mas previa a aplicação imediata das partes III e IV
(relativas ao controlo do cumprimento e à resolução de conflitos).
Em Março de 2012 B deposita o seu instrumento de ratificação e imediatamente solicita
que sejam controladas as descargas de poluentes efectuadas por D.
D recusa que esse controlo seja efectuado alegando que ainda não estava vinculado à
convenção. Acrescenta que, por outro lado, a sua ordem jurídica assumidamente
dualista não reconhecia a vigência do direito internacional.
A protesta contra a posição de D recordando a expressa previsão da aplicação imediata
das regras convencionais relativas ao controlo do cumprimento e chamando ainda à
atenção para o facto de o regime relativo às descargas poluentes ser mera codificação
do costume existente na matéria.
Qvid jvris? [10 valores]
A situação prática exposta levanta três questões jurídicas distintas (1 a aplicação
provisória das regras convencionais – importanto conferir se obrigam D mesmo antes
da sua vinculação à convenção –, 2 o carácter dualista da ordem jurídica de D – que
não reconhecia a vigência do direito internacional tornando necessário conferir se,
obrigavam D – e ainda o facto de 3 as regras relativas às descargas pré-existirem
enquanto regras consuetudinárias – o que obriga a que se pondere as relações entre as
diferentes fontes e a respectiva vigência) que serão analisadas em cada um dos
parágrafos seguintes.
1. Nos termos do art. 24.º CV69 as cláusulas finais [que são a parte do dispositivo em
que se regula entre outros aspectos a entrada em vigor, a aplicação provisória, etc.]
entram em vigor com a assinatura. A aplicação imediata das partes III e IV da
convenção constituiria uma situação de aplicação provisória regulada pelo art, 25.º/1
CV69. Donde, ao contrário do pretendido pelo Estado D, este estava obrigado àquele
regime.[É certo que o carácter provisório e voluntário da aplicação faz com que
qualquer Estado que participe nessa situação lhe possa pôr fim quando o entenda e
que a mesma aplicação cessa se o Estado comunica a intenção de não se vincular, mas
enquanto D pretenda prosseguir o processo da sua vinculação deverá cumprir o
estipulado].
2. D refere ainda que a sua ordem jurídica, assumidamente dualista, não reconhecia a
vigência do direito internacional. A doutrina reconhece desde a primeira metade do sec
XX um regime de convergência que reconhece aos Estados a liberdade de
determinarem por via constitucional (ou outra) o regime relativo à aplicação do direito
internacional, mas isso não afasta a obrigação de conformarem a sua ordem interna ao
cumprimento das suas obrigações internacionais [princípio esse expresso no art. 27.º
CV69]. Donde, ainda que a ordem constitucional de D não reconhecesse a vigência do
direito internacional teria de cumprir as obrigações dele decorrente (por ser fonte de
direito internacional - 38.º ETIJ) podendo, se assim entendesse, transformar as regras
convencionais em actos nacionais.
3. Foi ainda referido por A a questão de o regime relativo às descargas poluentes ser
mera codificação do costume [local] existente. A ser verdade as regras aplicar-se-iam
independentemente da convenção, impondo-se a D.
Em conclusão, embora D ainda não se houvesse vinculado à convenção estava
obrigado a cumprir as regras relativas às descargas (que se impunham enquanto regras
consuetudinárias) e a admitir o controlo do cumprimento que se lhe impunha dado as
regras beneficiarem de aplicação provisória (determinada no texto convencional).

XII. Os Estados F, G e H celebraram uma convenção que criava uma força comum de
patrulhamento das fronteiras terrestres e marítimas.
Já depois da entrada em vigor da convenção, F e G tomam conhecimento de que a
fórmula de cálculo aplicável à repartição das despesas – e que tinha sido apresentada
por H – assentava em pressupostos incorrectos e prejudicava substancialmente ambos
os Estados.
Face a este circunstancialismo, responda directa mas fundamentadamente a cada uma
das seguintes questões:
a) Pronuncie-se quanto à validade da convenção; [3 valores]
O uso de pressupostos incorrectos que prejudicavam F e G na repartição das despesas
da força comum de patrulhamento das fronteiras constitui dolo (art. 49.º CV69), já que,
da parte de H, houve uma conduta fraudulenta que induziu os demais Estados em erro.
O dolo gera uma nulidade relativa, ou seja, os Estados cujo consentimento foi afectado
[F e G] podem invocar o vício (e podem, se assim o entenderem, ponderar da
eventualidade de essa invocação se dirigir apenas a parte do tratado – divisibilidade
(44.º/3 e 4) – e, bem assim, podem preferir considerar o vício sanado (45.º/1).
b) Explique se G ao tomar conhecimento da situação poderia considerar-se
imediatamente desvinculado e exigir a devolução das contribuições por si efectuadas;
[3 valores]
Sendo que o consentimento de G foi afectado pelo dolo de H este tem legitimidade
para invocar o vício (49.ºCV69). Não pode todavia considerar-se imediatamente
desvinculado, devendo seguir o procedimento previsto nos art.s 65.º ss. (comunicar a
sua constatação indicando da sua intenção, concedendo um prazo não inferior a 3
meses para que os demais Estados se pronunciarem; se da parte destes houvesse
oposição deveriam recorrer a um dos mecanismos de resolução pacífica de conflitos e
se, no prazo de um ano não obtivessem solução poderia dar início ao procedimento de
conciliação previsto no anexo da CV69).
Havendo nulidade (que decorreria do vício referido nas respostas anteriores - dolo)
esta tem como efeito a retroactividade, ou seja, qualquer parte poderia solicitar a
reposição da situação que existiria se a convenção não tivesse sido aplicada (69.º/2 a).
Nesse sentido poderia exigir a devolução das contribuições por si efectuadas. No
entanto, os actos praticados de boa-fé, antes da nulidade de um tratado haver sido
invocada, não serão afectados pela nulidade do tratado (69.º/2 b) o que significa que
as despesas entretanto realizadas (de boa-fé) se mantinham.
c) Indique qual seria a intervenção do Presidente da República no processo de
vinculação se o Estado português se vinculasse a esta convenção. [4 valores]
Tratando-se de uma convenção que criava uma força comum de patrulhamento das
fronteiras esta revestiria a forma de um tratado solene (1.ª parte 161.º i) CRP) cuja a
competência de aprovação seria da AR (por se tratar de matéria relativa à defesa, nos
termos da mesma norma), através de uma Resolução (166.º/5), pelo que o PR poderia
eventualmente suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º) e
– não havendo qualquer vício –, se entendesse que a vinculação era politicamente
adequada, deveria ratificá-la (135.º b) – acto do qual deveria haver posterior referenda
ministerial (140.º/1).
Notas decorrentes da correcção (relativas a deficiências ou erros comuns)
[Em geral]
Os alunos não devem presumir que a repetição dos factos que constam do enunciado
tem, enquanto tal, alguma valor. O que importa é identificar (nos factos) as questões
juridicamente relevantes e tratá-las.
[Questão I]
a. A assinatura de uma convenção apenas é expressão da vontade em ficar vinculado [à
convenção] se essa for a intenção dos Estados (constante do próprio tratado ou de
outro acto). Isso mesmo consta do art. 13.º CV69.
No caso, prevendo-se [o depósito do instrumento de] ratificação, deve constatar-se
que a contrario sensu, não era essa a intenção, pelo que a assinatura não vinculava.
b. Quando se referia que a entrada em vigor ocorria com o depósito do instrumento de
ratificação do quarto Estado, isso não significa (nem pode significar) que é o quarto
Estado referido, mas o quarto a efectuar esse depósito. Poderia, no caso ser A, B ou C.
[Questão II]
c. Dizer que determinada matéria – no caso, o patrulhamento das fronteiras – integra o
elenco das matérias constantes da 1.ª parte da alínea i) do art. 161.º CRP não chega. É
necessário explicar qual das matérias ( já que os termos não coincidem);
d. Boa parte dos alunos confunde o regime relativo à forma com o da competência de
aprovação da AR (não devem confundir-se porque não coincidem sequer – a AR aprova
acordos em forma simplificada, em matérias da sua competência própria de
aprovação);
e. Quando se pede para indicar a intervenção do PR no processo não é necessário
referir todo o processo de vinculação do Estado português. Mas principalmente não
deve referir-se este em abstracto. Se – como acontecia no caso cuja análise era pedida
– existem os dados suficientes para determinar o nível formal da convenção para
efeitos nacionais [devia concluir-se que era necessariamente um tratado solene] não
devem os alunos na resposta referir as intervenções alternativas: sendo acordo em
forma simplicada ou sendo tratado solene. Tratando-se de uma questão prática, o que
se pretende é a aplicação do regime e não a sua descrição genérica.

XIII. Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma convenção de


codificação das regras de costume local relativas ao acesso e utilização das águas de
um lago que banhavam o território de todos eles, nela fixando a aplicação imediata.
Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o acesso de embarcações dos
demais Estados às águas contíguas ao seu território, contrariando o disposto na
convenção que garantia o livre acesso. Perante o protesto dos demais Estados, E reagiu
lembrando que (a) quaisquer regras consuetudinárias existentes lhe não seriam
aplicáveis dado que não participara na sua criação (E acedera recentemente à
independência) e a (b) sua constituição não reconhecia o costume. Lembrou ainda que
(c) não estando a convenção em vigor, dela não resultava qualquer obrigação.
1. Aprecie a posição de E. (8 valores)
(a) E acedera recentemente à independência. Não participara, portanto na formação do
costume objecto de codificação. Sobre esta matéria, o entendimento (vigente durante
muito tempo) de que o fundamento da obrigatoriedade do costume seria o facto de se
tratar de um pacto tácito (o que faria com que não se aplicasse a novos Estados) está
hoje ultrapassado, sendo pacífica uma concepção objectiva que retira esse fundamento
do facto de se tratar de regras que constituem respostas (critérios sentidos como
justos) às necessidades da vida internacional, acolhidas por uma maioria representativa
da comunidade internacional. E nesse sentido estas obrigam também os Estados que
não participaram na sua formação.
(b) Relativamente a facto de a ordem de E não reconhecer o costume deve ter-se
presente que os Estados têm liberdade para adoptar o regime de vigência do direito
internacional que entendam [cf. regime de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56
ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na
jurisprudência relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam
deixar de cumprir as obrigações resultantes do direito internacional. Donde, se a ordem
jurídica de E não reconhecesse o costume, para assegurar o cumprimento das
obrigações dessa natureza deveria transformar as regras em causa em actos internos
dos quais resultassem as mesmas obrigações. O que implica que directa ou
indirectamente (no caso, indirectamente) E estava obrigado a cumprir o regime
consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos resultantes
desse incumprimento).
(c) Quanto ao regime convencional propriamente dito, as partes haviam fixado a
aplicação imediata. Estamos, portanto, no âmbito do regime da aplicação provisória
(art. 25.º CV69) o que impõe o seu cumprimento (até que algum Estado – E, neste caso
– comunique a sua intenção de não se tornar parte).
Em conclusão, E estava obrigado a cumprir o regime consuetudinário e o próprio
regime convencional que o codificava, não podendo por isso recusar o acesso de
embarcações dos demais Estados.
Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de vinculação, o Estado D
apresentou uma declaração nos termos da qual se reservava ao direito de impor
quaisquer limitações necessárias à preservação do ambiente. A e B aceitaram, E não se
pronunciou e C opôs-se, por considerar que isso daria origem a uma limitação ao livre
acesso e utilização das águas, garantido consuetudinariamente, pelo que não podia
surgir por via convencional.
2. Aprecie a posição de C e explique que consequências teria a mesma para a
convenção. (4 valores)
O regime consuetudinário podia ser alterado por via convencional já que não há
hierarquia de fontes de direito internacional. Não colhia o argumento de C, portanto.
Caso este insistisse em objectar à reserva de E (e poderia fazê-lo, mesmo sendo
inválido o argumento aduzido já que, no limite, não necessitaria sequer de justificar a
sua objecção) a vinculação deste não se produziria, dado tratar-se de um tratado
restrito e a reserva não seria aceite (20.º/2 CV69) – o que impediria a vinculação já que
esta estaria sempre condicionada pela aceitação daquela.
3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo
de vinculação de Portugal a esta convenção. (4 valores)
O acesso às águas territoriais não integra o elenco da 1.ª parte 161.º i) CRP pelo que a
convenção revestiria a forma de acordo em forma simplificada. Não integrando
também os elencos dos art.s 164.º e 165.º, a competência de aprovação seria do
governo (197.º/1 c). Este aprovaria por decreto simples (197.º/2). Enviados ao PR (a
convenção e o decreto de aprovação) este poderia suscitar a fiscalização preventiva da
constitucionalidade das normas convencionais (278.º ss.) e (não havendo
inconstitucionalidade) deveria assinar o decreto de aprovação (134.º b). Da intervenção
do PR haveria referenda ministerial (140.º/1), devendo o texto da convenção e os avisos
relativos à aprovação e assinatura ser depois publicados no DR (119.º/1 b).
Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que tinha sido
garantido ao representante de E que, caso este assinasse a convenção, as autoridades
de B arquivariam uma investigação criminal contra um filho seu e asseguravam o
acesso de outro filho a uma prestigiada universidade. Considera, por isso, nula a
convenção, e pretende a imediata devolução de todas as contribuições efectuadas por
si.
4. Aprecie a posição de A. (4 valores)
Haverá que conferir se as garantias dadas ao representante de E (de arquivamento do
processo e admissão do filho na universidade) constituem uma forma de corrupção
(art. 50º). Isso não parece acontecer na medida em que o representante de E apenas
assinou, não vinculou este Estado (e na referida norma se refere [s]e a manifestação do
consentimento de um Estado em ficar vinculado). De qualquer forma, mesmo que
houvesse corrupção isso daria origem a uma nulidade relativa que apenas o próprio
Estado poderia invocar (cfr. o mesmo artigo quando refere aquele Estado pode
invocar), e já não A.
Quanto ao pedido de devolução das contribuições deve referir-se que havendo
nulidade esta tem como efeito a retroactividade (ou seja, a reposição da situação que
existiria não tivesse o tratado sido aplicado – cf. 69.º/2 a), mas esta comtempla algumas
excepções, nomeadamente no tocante aos actos praticados de boa-fé (alínea c) do
mesmo artigo). Donde, havendo nulidade invocável por A – o que não acontece, como
vimos – este poderia reaver as contribuições que não houvessem, entretanto, sido
gastas de boa-fé.

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