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A PROIBIÇÃO GERAL DO USO DA FORÇA E A LEGÍTIMA DEFESA

NO ÂMBITO DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

CADEIRA – DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO I

ANO LETIVO- 2020/2021

TIAGO XAVIER SILVA FERREIRA


Nº ALUNO - 63047

2ºANO, TURMA A, SUBTURMA 4


ÍNDICE

- Introdução ------------------------------------------------------------------------------ 2

- Os momentos normativo-internacionais decisivos para a efetivação da proibição do


uso da força ------------------------------------------------------------------------------ 3

- O contributo nuclear do Conselho de Segurança ----------------------------------5

- As etapas do processo sancionatório ----------------------------------------------- 6

- A Carta das Nações Unidas e a resolução pacífica de controvérsias -----------7

- Legítima defesa ------------------------------------------------------------------------8

- Pressupostos da legítima defesa -----------------------------------------------------9

-Tipos de legítima defesa ------------------------------------------------------------- 10

- Conclusão ----------------------------------------------------------------------------- 11

- Webgrafia / bibliografia ------------------------------------------------------------- 12

1
INTRODUÇÃO

- Com a elaboração deste trabalho pretendo descobrir de que forma o papel da Carta das
Nações Unidas, bem como a criação da ONU contribuíram para o estancamento
material do uso da força, e respetivamente para diminuição significativa de conflitos e
guerras no mundo.

Irei contextualizar temporalmente alguns dos momentos decisivos para a regulação do


uso da força, atendendo ao facto de que a evolução respeitante a esta matéria tenha
sofrido vários avanços e recuos, não sendo por isso uma evolução estável, uma vez que
verificamos conceções ideológicas que tanto proíbam efetivamente a utilização da força
na resolução de litígios, bem como posições que fundamentam o uso da força.

Deste modo o uso da força assume-se como um elemento nuclear nas relações entre
Estados, visto que o objetivo e competência do Conselho de Segurança incide sobre a
manutenção da paz, paz esta que se alcança pela via pacifica e consequentemente pela
limitação cada vez mais rígida do uso da força.

Consequentemente, caso um Estado corrompa com as disposições da Carta e não


observe as medidas do Conselho, este Estado esta sujeito a um processo sancionatório, e
consoante a gravidade do delito, ou se aplica sanções coativas não militares ou se aplica
sanções coativas militares.

Podemos verificar igualmente os termos e condições estipulados pelo Conselho de


Segurança para proscrição do uso da força, no qual se considera a figura da legitima
defesa que apresenta como uma exceção à proibição geral do usa da força, assumindo-se
o Conselho como o órgão responsável e competente para estabilizar as tensões entre os
Estados, sendo o único órgão a nível internacional, com força e legitimidade para tal,
pelo que todas as decisões relativas ao uso da força e legitima defesa necessitam da
autorização desta entidade.

Procedo numa última instância, ao estudo e analise da figura jurídica da legitima defesa,
bem como aos pressupostos para esta ser desencadeada, ao modo como esta se relaciona
com o uso da força, referindo igualmente os vários tipos de legitima defesa,
comparando e diferenciando as várias modalidades desta figura.
2
OS MOMENTOS NORMATIVO-INTERNACIONAIS DECISIVIVOS PARA A
EFETIVAÇÃO DA PROIBIÇÃO DO USO DA FORÇA

Foi a partir do século XX que se verificou uma posição jurídico-internacional que


estabelecia a proibição geral do uso da força, pautada em 4 momentos fundamentais:

- a proscrição do uso da força estadual na cobrança de dividas- Esta cláusula surgiu em


1907, na 2ªConferencia de Haia, tendo ficado conhecida como a Convenção Drago
Porter, tendo sido o primeiro tratado a estabelecer a contenção do uso da força, pelo que
ficou estipulado que as partes se absteriam do uso da força como forma de recuperar
dividas não pagas no âmbito de uma relação obrigacional entre Estados, subjacentes a
dividas contratuais. Todavia, o Estado credor poderia recorrer à força, caso o Estado
devedor não respondesse ou rejeitasse uma decisão com base na arbitragem.

- O diferimento do uso da força inerente ao Pacto da Sociedade das Nações- este pacto
afirmou-se como uma limitação imperativa do uso da força visto que estabelecia no
caso de uma eventual hostilidade entre Estados, a sua subordinação a um processo
judicial/ de arbitragem ou sujeitos à apreciação do Conselho, decretando que estes
Estados estavam inibidos de recorrer ao conflito armado antes de expirado o prazo de
três meses da respetiva decisão, de acordo com o art.12 do Pacto da Sociedade das
Nações. Este Pacto obrigava os Estados a não recorreram à força até que o Conselho se
pronunciasse em relação ao conflito, de acordo com o art.15/6, caso o Conselho
aprovasse por unanimidade, as partes não poderiam recorrer à força.

Competia igualmente ao Conselho assumir o papel de mediador no conflito entre as


partes, de modo a que estas chegassem a um acordo.

- A Renúncia Geral ao uso da força imposto pelo Pacto Briand-Kellog- este pacto
reprime de forma severa a guerra, estipulando que um Estado só pode recorrer à guerra
em última instância, tendo como fundamento a última ratio.

Este Pacto, numa das suas disposições, afirma que os Estados devem abster-se do
recurso à guerra como forma de resolução de conflitos internacionais, aceitando que o
uso da força deixava de pertencer à capacidade jurídico-internacional (art.1), pelo que o
Estados devem adotar uma via pacífica no cenário internacional. Esta Pacto consagra
igualmente a admissibilidade do recurso à guerra no caso de legitima defesa ou como
uma medida de coerção para neutralizar as principais violações de direito internacional.
3
Este pacto apresenta algumas lacunas, nomeadamente no caso em que estipula a
proibição substantiva do uso da força, contudo não estabelece nenhuma medida
sancionatória no caso de incumprimento deste preceito.

Nenhum destes Pactos referidos teve força para impedir a 2ª Guerra Mundial.

- A proibição geral do uso da força no âmbito da Carta das Nações Unidas- este quarto e
último momento é aquele que corresponde à aprovação da Carta das Nações Unidas.
Apesar da ONU ter várias preocupações que transcendem o objetivo da paz e segurança
internacional, temos de atender que estes dois aspetos se configuram como umas das
principais finalidades da ONU, atendendo igualmente ao facto de que esta organização
foi criada após a 2ªGuerra Mundial. A Carta das Nações Unidas consagra assim a
manutenção da paz internacional como um dos seus principais escopos, atribuindo
simultaneamente à ONU a reserva exclusiva relativa ao uso da força, por intermédio do
Conselho de Segurança.

A Carta das Nações Unidas, refere numa das suas disposições, o seguinte “Os membros
deverão abster-se nas suas relações internacionais de recorrer à ameaça ou ao uso da
força, quer seja contra a integridade territorial ou a independência política de um
Estado, quer seja de qualquer outro modo incompatível com os objetivos das Nações
Unidas” - art.2/4) desta Carta. Esta Carta consagra que os Estados, em virtude do
surgimento de tensões internacionais, deverão resolver os conflitos por via pacifica, de
modo a que a paz, justiça e segurança internacional não sejam afetadas.

A Carta das Nações Unidas aponta como exceções à proscrição geral do uso força:

- a legitima defesa, consagrada no art.51

- as regras adotadas ou autorizadas pelos órgãos da ONU para restabelecer a paz e


segurança internacional, de acordo com o art.42

- as providências adotadas contra anteriores Estado Inimigos de um qualquer Estado-


Membro da ONU, através de uma ação coercitiva levada a cabo pela própria ONU
quando tal se demonstrar necessário, mediante uma autorização do Conselho de
Segurança, de acordo com o art.53 e art.107.

- as medidas adotadas por organizações regionais relativas a assuntos que regulam


matérias inerentes à paz e segurança internacional não são invalidadas pela existência
dos preceitos contidos na Carta, de acordo com o art.52, contudo estas medidas 4
regionais não são dotadas de autonomia, devido à crescente supremacia da Carta das
Nações relativamente a outros tratados e convenções que regulam este tipo de matérias

O CONTRIBUTO NUCLEAR DO CONSELHO DE SEGURANÇA

Podemos afirmar que é o Conselho de Segurança, um dos órgãos competentes da ONU,


detentor do monopólio de controlo e de regulação do uso da força, pelo que esta
incumbência cabe somente a esta entidade.

O Conselho de Segurança assume-se como órgão central da ONU, sendo este o


responsável pela manutenção da paz e segurança nas relações internacionais mediante a
procura de soluções pacificas de controvérsias, de acordo com o art.24/1 e art.33/1 da
Carta das Nações Unidas.

Neste âmbito a ONU desenvolve missões que visam o alcance da paz, nomeadamente a
existência dos chamados coletes azuis, conferindo por isso legitimidade e efetividade a
estas missões, que se enquadram no âmbito das chamadas Operações de Paz, integradas
no sistema de segurança coletiva delineado pela ONU.

É de salientar que o Conselho de Segurança está encarregue de restabelecer a


normalidade, sendo único órgão capaz de proferir recomendações ou tomar decisões que
visam a manutenção da paz, evitando nesta medida a constituição de litígios que possam
levar a ataques armados.

Temos de considerar que o uso da força só é admissível e lícito por parte do Conselho
de Segurança, bem como dos Estados-Membros, se visar exclusivamente o
restabelecimento da paz e segurança no campo internacional. Igualmente o art.51 da
Carta, considera lícito, o uso da força por parte de um Estado, como resposta a um
ataque armado, consolidando-se neste caso, a figura da legitima defesa.

Numa dupla vertente, o Conselho de Segurança assume-se por um lado, como o único
órgão da ONU competente para tomar decisões relativas à paz e guerra internacionais,
pelo que os outros órgãos só podem intervir nesta temática mediante a autorização do
Conselho, além disso, incumbe a este execução das decisões do TIJ, por outro lado, a
ONU é a única entidade, a nível internacional, com legitimidade para decidir no que
respeita a estas matérias, por intermédio da atuação do Conselho de Segurança.

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AS ETAPAS DO PROCESSO SANCIONATÓRIO

- Este processo acarreta vários momentos, nomeadamente:

- a iniciativa: não é apenas o Conselho que tem iniciativa, pelo que este processo pode
ser iniciado pelo próprio Conselho, pelo Secretário-Geral, Assembleia-Geral, qualquer
Estado-Membro e não membro da ONU

- a instrução- esta fase do processo consiste na averiguação da possibilidade de


ocorrência de um conflito armado entre Estados, a fim de verificar se há ameaças à paz
em curso, de acordo com o art.30 da Carta. Procede-se desta forma, a um estudo e
análise do conjunto de fatores considerados relevantes para este caso, de modo a que
possa apurar os factos para que consequentemente se aplique as medidas adequadas.

Deste modo, é relevante ouvir as partes envolvidas, para que estas possam emitir as suas
declarações e motivos subjacentes a este acontecimento. Contudo estas não possuem
direito de voto nem poder de decisão - princípio da primazia da ONU e do Conselho de
Segurança

- a deliberação – este etapa caracteriza-se pela reflexão feita pelo Conselho de


Segurança relativamente a este litigio, tendo deste modo empeçado o processo de
intervenção, pelo que este se desmembra nas seguintes hipóteses:

- a consideração de que não existe qualquer perigo de ameaça para a segurança


internacional, não passando de uma mera tensão inter-estados;

- o facto de este acontecimento não ser suficientemente relevante que justifique uma
tomada de decisão.

- a invocação da Carta das Nações Unidas como forma de observância das suas
disposições, de forma a dirimir o respetivo conflito, mediante as diretrizes emanadas
pelo Conselho.

- a necessidade de intervenção através da aplicação de sanções, devido ao facto de este


conflito se assumir como uma ameaça á paz internacional, prosseguindo desta forma
uma via coativa.

As sanções coativas apresentam duas aceções: a vertente coativa não militar (art.41) e a
vertente coativa militar (art.42)
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Num primeiro momento, é logico a adoção de medidas não militares, pelo que estas não
envolvem o uso da força, mas que constituem igualmente como obrigações do Conselho
a serem cumpridas pelos Estados de acordo com o art.25 e art.48, pelo que estas sanções
consistem na rutura das relações diplomáticas, económicas, bem como a quebra de
qualquer tipo de comunicação seja terrestre seja por via eletrónica entre os Estados.

Para além destas sanções não militares, podem-se aplicar outras sanções que lhes são
análogas de acordo como art.41, que são nomeadamente a retorsão, embargo (proibição
de fazer comércio com o Estado infrator), boicotes ou proibição de participar em
organizações internacionais, e represálias que consistem na emissão de danos ao Estado
infrator, cuja ação, num cenário normal, seria considerado ilícito, mas pelo facto do
Estado infrator ter agido ilicitamente, esta ação (represália) surge como uma resposta a
essa infração, não sendo por isso considerada uma atuação ilícita

As sanções coativas militares: a própria Carta, no seu artigo 42, refere que somente os
Estados podem exercer diretamente o uso da força, mediante a autorização por parte da
ONU, ou de organizações regionais em colaboração com o respetivo organismo
internacional, através do uso dos meios necessários (terrestres, navais, aéreos) de modo
a que se restabeleça a normalidade e segurança internacional.

A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS E A RESOLUÇÃO PACÍFICA DE


CONTROVÉRSIAS

O recurso à guerra e à força sempre se constitui como uma questão problemática nas
relações entre homens e entre estados, pelo que foram surgindo gradualmente várias
teorias doutrinárias relativas aos termos e condições de legitimação da guerra, bem
como e os seus limites. Nos quais podemos destacar a teoria da guerra justa (bellum
justus), a teoria da soberania, no qual os Estados podiam recorrer à guerra, sem
necessidade de terem que apresentar qualquer justificação, visto que atuação do Estado
se legitimava com base na sua soberania, entre outras

Foi neste sentido, que surgiram ao longo do tempo várias teorias que balizavam o
recurso à força, e o propósito da paz. O primeiro acordo internacional que visava a
contenção do recurso à força de modo a que os Estados resolvessem as suas
controvérsias pela via pacifica, foi a Convenção de Haia (1899).

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Contudo, apesar dos sucessivos acordos não terem sido suficientes para restringir o uso
da força e a existência de guerras, foi com a Carta das Nações Unidas que se verificou
efetivamente a cristalização do proibição geral do uso da força nas relações entre
Estados, concretizando-se subsequentemente o principio da solução pacifica de
controvérsias.

A designação de “guerra” foi substituída pela expressão “uso da força”, sendo este
último um conceito mais abrangente, integrando a guerra mas também outro tipo de
conflitos armados, relevantes para o contexto internacional.

A Carta, de acordo com o art.2/3, refere que os Estados devem procurar resolver os seus
litígios pela via pacífica, de modo a que não se constituía uma ameaça para a paz,
justiça e segurança internacionais. Alem disso, a Carta refere nº4 deste artigo, fortifica
desta forma a necessidade de abstenção do uso da força.

O artigo 33 da respetiva Carta, enumera os vários critérios de solução pacifica de


controvérsias, que são designadamente “negociação, inquérito, mediação, conciliação,
arbitragem, via judicial, recurso a organizações ou acordos regionais, ou qualquer outro
meio pacífico à sua escolha.” Estes meios de solução pacifica assumiram-se como uma
alternativa ao uso da força, pelo que este processo de solução pacifica tem vindo a
assumir cada vez mais uma especial relevância decorrente do desenvolvimento de
armamento bélico de vários Estados e a ameaça constante do uso da força, fortalecendo
a necessidade de resolução de conflitos pela via pacifica.

LEGÍTIMA DEFESA

À partida o uso da força é considerado proibido, contudo, existe uma exceção, a


legitima defesa. A legitima defesa é licita se consistir na suscetibilidade de Estado poder
reagir contra um ataque armado, pelo que este ataque tem de ser efetivo. A legitima
defesa tem por sua via, limitações, nomeadamente a sua invocação e comunicação ao
Conselho de Segurança, pelo que podemos afirmação que esta é sempre temporária, na
medida em que a sua execução encerra no momento de tomada de medidas pelo
Conselho com vista ao estabelecimento da paz.
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Esta figura jurídica encontra-se estipulada no art.51 da respetiva Carta, no entanto, a sua
interpretação deve ser feita de forma restritiva, dado que o interprete não pode ir para
além da letra da lei.

A legitima defesa pode ser própria, alheia ou coletiva.

-A legitima defesa própria consiste no facto de esta ser desencadeada pelo Estado-
destinatário do ataque armado

- a legitima defesa alheia é aquela que é executada por Estados terceiros

- a legitima defesa coletiva é aquela que é prosseguida institucionalmente no contexto


de uma organização internacional- exemplo: NATO.

PRESSUPOSTOS DA LEGÍTIMA DEFESA

Para desencadear a legitima defesa, o ataque armado tem que ser:

- ato ou operação intencional e ilícita

- dirigida contra os bens ou elementos fundamentais de um Estado nomeadamente, o


território, bases aéreas, bases militares, bases marítimas, bem como as suas instituições
estaduais e inter-estaduais (embaixadas)

- ser exterior ao Estado lesado e ser diretamente imputável a um Estado, nesta ótica, não
se encontram incluídos ataques terroristas, salvo se este for revindicado por certo Estado

O ataque armado não pode ser um ato isolado, pelo que deve ser atual ou iminente.

A RESOLUÇÃO 3314 – esta Resolução, aprovada pelo ONU, tipifica um conjunto de


exemplos que não podem ser considerados casos de legitima defesa:

- invasão militar de um Estado relativamente a outro, com vista á sua ocupação e


anexação;

- bombardeamento ou emprego de armas por parte de um Estado relativamente a outro,

- ataque armado de um Estado com vista a destruição das bases das forças armadas de
outro Estado;

- Bloqueio de estradas, porto, canais, de um Estado por parte de outro

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A legítima defesa encontra-se limitada pelos princípios da necessidade e da
proporcionalidade. Relativamente ao primeiro princípio, subjaz o facto de não existir
nenhuma outra solução de resposta ao ataque armando, se não a reação armada. De
acordo com o princípio da proporcionalidade, deve haver um equilíbrio entre meios
defensivos armados utilizados e as respetivas necessidades defensivas, a resposta não
deve exceder o ataque armado.

TIPOS DE LEGÍTIMA DEFESA

- defesa preventiva – a resposta ao ataque pode ser executada antecipadamente, se este


ataque se constituir como um perigo iminente efetivo

- defesa preemptiva- legitima a resposta ao ataque antes mesmo de se comprovar a


certeza da existência de um ataque iminente, pelo que esta possibilidade é legitimada
pela imprevisibilidade das ameaças internacionais, cujos Estados referem como
fundamento desta modalidade a existência de armas de destruição maciça,
nomeadamente as nucleares.

Um exemplo nítido do exercício da legitima defesa preemptiva prende-se com o conflito


entre os EUA e o Iraque, onde os EUA apresentara um conjunto de argumentações
jurídicas de forma a adquirir o reconhecimento da comunidade internacional de modo a
que esta legitimasse a utilização da legitima defesa preemptiva por parte dos EUA.

Contudo, nada se encontra regulado, nem no art.51 nem na respetiva Carta, não
legitimando o uso deste “contra-ataque” no caso da incerteza da existência de um ataque
iminente. Esta defesa preemptiva provoca insegurança no toca às relações entre estados,
visto que permite a um Estado avaliar subjetivamente e com incerteza os atos de outro
Estado, podendo neste caso levar a uma má avaliação das circunstâncias do caso
provocando deste modo um desequilíbrio nas relações internacionais ao considerar-se
determinado ato como um perigo iminente, quando de facto, não se apresenta como tal.

Temos de considerar que perante a iminência de ataque armado, a solução deve seguir a
via pacifica estipulada no art.33, quando seja possível resolver o litígio pacificamente.

O art.37 estipula que as partes deverão submeter-se ao veredicto do Conselho,


responsável por manter a paz, pelo que as partes perante a sua situação de antagonismo,
deverão notificar o Conselho de modo a que este impeça a consumação de um ataque
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armado comprometedor da segurança mundial.
CONCLUSÃO

A realização deste trabalho permitiu-me entender que o uso da força se assume como
um tema basilar à segurança internacional, pelo que o princípio da proscrição da sua
utilização incorpora atualmente um dos pilares fundamentais da ordem jurídica pós-
2ªGuerra Mundial.

Contudo, temos de ter a perceção que o uso da força, cada vez mais restringido, não
deixa de se assumir como um fator essencial nas relações entre Estados, no que toca à
legitimidade destes para exercê-la bem como os limites do seu exercício.

Relevo desta forma o contributo essencial do Conselho de Segurança, pelo facto de


desempenhar um papel primordial no que toca á manutenção da paz, visto que este se
assume, tanto no seio da ONU, como no cenário internacional, como o único órgão
capaz de restabelecer a paz e acabar com os conflitos entre Estados, visto que é o
Conselho de Segurança que estipula os ditames relativos ao uso da força, pelo que os
Estados se encontram subordinados ás medidas do Conselho, não podendo executar
ações armadas, sem a autorização prévia deste órgão.

Salienta-se igualmente o o papel da Carta, na medida em que esta se assume como o


texto regulador da paz e da guerra por excelência, institucionalizando o caráter
imperativo do ius cogens relativamente ás entidades estaduais e a sua subordinação ás
diretrizes da ONU, cujo o seu objetivo principal é a manutenção da paz

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WEBGRAFIA / BIBLIOGRAFIA

https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/516/1/NeD120_JorgeSilvaPaulo.pdf

https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/20440/1/tese%20revista%20e
%20finalizada.pdf

http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=a08c938c1e7c76d8

https://opil.ouplaw.com/view/10.1093/law:epil/9780199231690/law-9780199231690-
e427?rskey=GyLutp&result=1&prd=MPIL

- Direito Internacional Público – Eduardo Correia Batista- Volume II – pág. 526 e ss.

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