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Faculdade de Direito

Relações Internacionais
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.25
GRELHA DE CORRECÇÃO

I
Suponha que
O petroleiro X, com bandeira do Estado A efectuou em 2017 uma lavagem dos
tanques no mar alto que veio a causar importantes danos ambientais no Estado B. A
empresa proprietária (Y) abriu falência pouco depois, não havendo por isso, meios
para compensar os prejuízos sofridos em B. Este Estado conseguiu, todavia, que o
tribunal arbitral a quem coube apreciar tais prejuízos (e impor as correspondentes
obrigações de indemnização) condenasse subsidiariamente A relativamente aos danos
não cobertos pelo seguro nem pelo património de Y.
A situação teve algum impacto mediático vindo a ser debatida na ONU. Alguns
Estados – em especial aqueles onde estavam sediadas as grandes empresas
transportadoras – manifestaram alguma resistência inicial, mas, vieram
progressivamente a convergir, o que permitiu que fosse aprovada sem votos contra
uma resolução na AG consagrando a obrigação dos Estados responderem
subsidiariamente pelos danos ambientais causados por petroleiros hasteando a sua
bandeira.
Meses depois um petroleiro com bandeira de Z afundou-se causando graves
danos ambientais em C.
Este Estado pretende chamar Z á responsabilidade (subsidiariamente) invocando
a existência de um costume.
Z insiste que nenhuma responsabilidade lhe pode ser assacada por
manifestamente não existir nem prática geral nem convicção da obrigatoriedade.
Qvid ivris? (14 valores) ↳ resolução pode a ser usada

para provar a existência de um

costume não cria costume


mas .

GRELHA DE CORRECÇÃO O prática


cria costume e a e
convicção a sua da
que
obrigatoriedade pela uma maioria
de Est .

Z afirma não existir prática geral nem convicção da obrigatoriedade. Consequentemente, não haverá
costume – já que [p]ara determinar a existência e o conteúdo de uma norma de direito internacional
consuetudinário é necessário conferir a existência de uma prática geral e a sua aceitação com carácter
jurídico (opinio juris) – Cf. conclusão 2 do Documento A/CN.4/717 relativo à Identificação do direito
internacional consuetudinário.
Conferindo a situação verificamos, todavia que, muito embora o enunciado refira apenas uma ocorrência,
o facto é que a conduta relativa às resoluções adoptadas por organizações internacionais pode configurar
tanto uma prática (concl. 6/2) como a própria convicção da obrigatoriedade (10/2). Ora, no caso, vemos
que a ocorrência mereceu um debate nas NU, no qual, mesmos os Estados que inicialmente resistiram
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito consuetudinário)
que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
permitiriam a aprovação sem votos contra de uma resolução na AG consagrando a obrigação dos Estados
responderem subsidiariamente pelos danos ambientais causados por petroleiros hasteando a sua
bandeira. Ou seja, a conduta dos Estados e a convicção destes – porque é dos Estados que têm de retirar-
se os elementos (4/1; 10/2), tendo a resolução enquanto tal um papel meramente acessório (4/2; 12/2)
– parece evidenciar os dois elementos.
A situação do caso prático configura um costume selvagem na medida em que a convicção antecipa a
própria prática, ou seja, é da conduta face a uma resolução de uma O.I. e da convergência face ao
reconhecimento da existência de uma obrigação jurídica que vai ser retira a própria conduta (sem que a
mesma seja conferida através da repetição de condutas em situações subsumíveis à hipótese da norma –
que determina a obrigação dos Estados responderem subsidiariamente pelos danos ambientais causados
por petroleiros hasteando a sua bandeira).

II
Refira-se sumariamente ao conceito de direito internacional. (6 valores)

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito consuetudinário)
que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
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Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.28

I
Suponha que
O Estado A, aliado do Estado B (que sofreu uma invasão de força do Estado C)
assumiu a liderança e coordenação da ajuda humanitária em parte do território deste
(B) decidindo que, relativamente aos nacionais de B as suas forças apenas garantiriam
a estabilização sanitária e a devolução ao território de C, onde deveriam obter outra
ajuda de que necessitassem. → não formos costume deve pratica de Estados
, ser .

As ONG e algumas agências de OI a operar no terreno opuseram-se


vigorosamente a essa decisão lembrando a prática por si (ONG e agências) seguida em
zonas de conflito latente no sentido de o apoio às populações se fazer
independentemente do seu envolvimento e/ou da nacionalidade dos necessitados.
Consideravam estas que essa prática havia formado costume que obrigava as
autoridades de A.

Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se na sua


opinião existia um costume que obrigava as autoridades de A. (14 valores)

GRELHA DE CORRECÇÃO
Tal como refere o projecto de conclusão 2 do documento da CDI relativo à identificação das normas de
direito internacional consuetudinário, [p]ara determinar a existência e o conteúdo de uma norma de
direito internacional consuetudinário é necessário conferir a existência de uma prática geral e sua
aceitação com carácter jurídico (opinio juris).
Acontece que a prática em questão (o apoio às populações se fazer independentemente do seu
envolvimento e/ou da nacionalidade dos necessitados) foi desenvolvida apenas por ONG e agências de
OI, o que, no primeiro caso, não releva e, no segundo, releva apenas acessoriamente (pc 4/2 e 3).
Não parece haver, portanto, prática relevante para a formação de um costume.
Não existem também quaisquer outros elementos que demonstrem a existência da convicção da
obrigatoriedade. Forçoso será, por isso (porque nem a prática é relevante, nem existe aparentemente
qualquer convicção da obrigatoriedade da mesm), concluir-se pela inexistência de uma norma
consuetudinária que obrigue as autoriedades de A a agir nos termos seguidos pelas ONG e algumas
agências de OI.

II
Refira-se sumariamente à escola espanhola de direito internacional e explique a
sua contribuição histórica na matéria. (6 valores)

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
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Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.25
Turma B

I
Suponha que
Numa dada região encravada o acesso ao mar era feito através de um rio e das
vias que atravessavam o vale onde este corria, em direcção a Sul.
Na zona do vale em questão eclodiu um conflito que se arrastou vários anos. Em
consequência disso, o acesso ao mar passou a fazer-se através de um outro rio e das
vias terrestres adjacentes no sentido Norte, atravessando o território dos Estados A e
B. Esta solução apresentava algumas limitações importantes já que no Inverno as
baixas temperaturas chegavam a gelar parcialmente as águas e os nevões restringiam
significativamente o trânsito pelas outras vias.
criação
Durante o período em que o conflito impediu o uso do acesso ao mar pelo sul o 7 Objetou
a

do costume .

Estado A por diversas vezes informou os Estados encravados de que o atravessamento t


do seu território voltaria a ser sujeito a todas as limitações e exigências assim que não aproveita se

de A
fossem restabelecidas as condições de acesso pelo sul. B nunca se pronunciou. objeção → da
.

Terminado o conflito A e B restabeleceram os controlos fronteiriços e proibiram


o uso comercial das vias nos dois meses de Inverno invocando os riscos na circulação e
os custos acrescidos de patrulhamento e apoio gerados nesse período.
Os Estados encravados protestaram invocando a formação de um costume,
situação que nem A nem B não aceitavam.

Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se na sua


opinião existia um costume que obrigava as autoridades de A e B a autorizar o uso das
vias em questão nos termos ocorridos durante o conflito. (14 valores)
GRELHA DE CORRECÇÃO
Para a formação de um costume têm de verificar-se os dois elementos essenciais: a prática e a
convicção da obrigatoriedade (Identificação do d.i. consuetudinário, pc 2).
Durante o período de conflito formou-se uma prática clara, aceite pelos Estados A e B. Não há, todavia,
indícios de que essa prática fosse acompanhada da convicção da obrigatoriedade já que, tudo indica, ela
apenas surgiu face á impossibilidade de os Estados encravados acederem ao mar alto através das vias a
sul, conforme ocorrera nos tempos anteriores. Faltando esse elemento, estaremos na presença de um
mero uso (que não configura um costume – cf. pc 9/2).
Releva ainda a objecção persistente de A que cautelarmente tornou claro o carácter excepcional da
própria prática. Nestas circunstâncias, mesmo que se pudesse conferir a opinio iuris, e regra
consuetudinária não se aplicaria a este Estado (pc 15).

existe prática não convicção de obrigatoriedade → mero uso

quando
.

a mas a
,
II
Explique sumariamente em que termos o voluntarismo afecta e questiona o
direito internacional. (6 valores)

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem
quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito
consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
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Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.30
Turma C

I
Suponha que
Ao longo dos anos, os Estados nos quais se situavam servidores de espaço digital
(clouds) fizeram convergir as respectivas práticas relativamente à disponibilização de
informação a autoridades de investigação criminal – nomeadamente impondo a
obrigação de reportar sistematicamente os conteúdos armazenados passíveis de
configurarem pornografia infantil. publicações de
é
ONG não
O Estados A e B (sendo que este último acedeu à independência nos últimos relevante
meses) – surgiram recentemente nesse mercado, mas recusaram-se a disponibilizar
essa informação, pretendendo com isso captar a clientela particularmente interessada
v
em garantir a privacidade dos dados. Os restantes Estados e algumas OI protestaram
proj conclusão
12
invocando a existência de um costume na matéria. Lembraram, a propósito, que costume
.

não cria ,

estudos de diversas OI bem como publicações da Cruz Vermelha e da UNICEF se →


fornece prova mas

referiam explicitamente ao carácter vinculativo da prática de disponibilização dos da existência da regra


.

dados em questão. Esse carácter vinculativo havia sido também referido em algumas
das mais recentes decisões judiciais em matéria de pedofilia. jurídico
aceitação
de → meio decaráter do
prova
proj conclusão 10
A e B desconsideraram, todavia, os documentos das OI e das ONG (entendendo é auxiliar
+ um meio
.

serem os mesmos irrelevantes) e afirmaram que não se podia retirar do de


determinação da

regra pooj.com 13
reconhecimento em duas ou três decisões judiciais de tribunais de outro Estados a
.

existência de um costume.

Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se, na


sua opinião, existia um costume que obrigava as autoridades de A e B a
disponibilizarem informação às autoridades de investigação criminal. (14 valores)

GRELHA DE CORRECÇÃO
Sendo a questão essencial saber se existe ou não uma regra consuetudinária (que obrigasse as
autoridades de A e B a disponibilizarem informação às autoridades de investigação criminal) a resposta
passa pela conferência dos dois elementos formadores do costume (prática e convicção da
obrigatoriedade – ou, conforme refere a conclusão 2, uma prática geral e a sua aceitação com carácter
jurídico).
Quanto à prática parece evidente que existe uma prática estadual (cf. §1 quando se afirma
expressamente terem os Estados nos quais se situavam servidores de espaço digital (clouds) [feito]
convergir as respectivas práticas relativamente à disponibilização de informação a autoridades de
investigação criminal.

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Quanto à convicção da obrigatoriedade são referidas publicações de ONG - que efectivamente não são
relevantes (cf. conclusão 9 ss.) – e de OI – das quais apenas relevam as resoluções que, em qualquer
caso, não é susceptível enquanto tal, de criar uma regra de direito internacional consuetudinário (concl.
12/1). Restam apenas, como elementos de prova, as decisões judiciais, as quais são relevantes (cf. 10/2)
mas, não é claro que estas sejam suficientemente generalizadas para se considerar que os Estados que
adoptaram a prática o façam com a referida convicção da obrigatoriedade (9/1).
Refere-se ainda o facto de o Estado B ter acedido recentemente à independência. Tal facto não é
relevante na medida em que existindo regra consuetudinária esta impunha-se a este (e não apenas aos
Estados que participaram na sua formação) – já que, ao contrário da visão tradicional que via no
costume um pacto tácito, entende-se actualmente que a regra espontânea incide sobre o
comportamento entendido como justo e por isso se deve impor ao Estados que não participaram na sua
formação.
Em conclusão não é certo que exista uma regra consuetudinária na medida em que não fica
demonstrado o elemento da existência da convicção da obrigatoriedade, cuja prova está reduzida a
algumas decisões judiciais, cujo alcance não é claro.

II
Explique em que medida um Estado pode invocar o carácter dualista da sua
ordem jurídica para se recusar a cumprir (ou aplicar) uma regra consuetudinária. (6
valores)

[cf. lições pp. 57/58]

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
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Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.11.08
Turma D

I
Suponha que
constitui
Procurando dar os primeiros passos no sentido da integração económica na → não
uma

objeção persistente
África Ocidental, foi aprovada sem votos contra (com as abstenções de dois Estados - A proj conclusão
.

15
e B) em 2016 uma resolução na Assembleia geral da OCEAO (Organização da .

Cooperação Económica da África Ocidental) nos termos da qual todos os Estados dessa
região deviam garantir aos demais o tratamento comercial da nação mais favorecida.
Desde então todos os Estados da África Ocidental – com excepção do Estado Z – vêm
seguindo os termos da referida resolução. ↳ constitui objeção persistente
uma .

Em 2017 alguns Estados tentaram celebrar uma convenção tendo em vista o


aprofundamento da integração económica em termos da criação de uma união
aduaneira. Nas negociações os Estados B e C subscreveram a proposta inicial que
referia a prática decorrente da resolução da OCEAO e lhe reconheciam carácter
obrigatório, considerando tratar-se do primeiro passo no sentido do aprofundamento
pretendido. não pode pois ja confirmou

existência de
a costume um .

O novo governo de B – que tomou posse em 2018 – optou, todavia, por não se
vincular à convenção que criava a união aduaneira. Pretende, aliás, reorientar a
política comercial daquele Estado introduzindo medidas proteccionistas e
estabelecendo acordos incompatíveis com o regime decorrente da resolução da
OCEAO.
Os demais Estados daquela OI protestaram lembrando tratar-se de um costume
(aceite, aliás, por B aquando das negociações da convenção relativa à criação da união
aduaneira) ao que este Estado retorquiu que, não se tendo vinculado à dita
convenção, dela não se podiam retirar quaisquer efeitos jurídicos.

Face a este circunstancialismo, explique directa e fundamentadamente se, na


sua opinião, existia um costume que obrigava as autoridades de B a manterem o
tratamento da nação mais favorecida relativamente aos Estados da África Ocidental.
(14 valores)

GRELHA DE CORRECÇÃO
[Deixando de parte a questão de saber se podem existir regras consuetudinárias em matéria comercial –
o que, de facto é duvidoso] o problema central é o de saber se existe ou não uma regra consuetudinária
(que obrigasse as autoridades de B a manterem o tratamento da nação mais favorecida relativamente
aos Estados da África Ocidental). A resposta passa necessariamente pela conferência dos dois elementos

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
formadores do costume (prática e convicção da obrigatoriedade – ou, conforme refere a conclusão 2,
uma prática geral e a sua aceitação com carácter jurídico).
Quanto à prática parece evidente que esta existe uma vez que, com excepção do Estado Z – todos os
Estados vêm seguindo os termos da referida resolução. De facto, a excepção não impede a formação da
regra apenas torna esta inoponível a Z (cf. concl. 15).
Quanto à convicção da obrigatoriedade parece dever considerar-se também verificada na medida em
que isso era reconhecido expressamente na proposta inicial da convenção relativa à criação da união
aduaneira. Trata-se, portanto, da conduta relativa às resoluções aprovadas [… em] conferências inter-
governamentais (10/2 in fine), que constitui um meio de prova desse elemento.
Parece, por isso, que se deve considerar existir uma regra consuetudinária que se impõe a B, nos termos
pretendidos pêlos demais Estados da OI em causa.

II
Distinga cláusulas de recepção de cláusulas de transformação (6 valores).

Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Direito Internacional Público
Teste de avaliação contínua – 2020.11.18 – 11h00

Suponha que
Durante um período longo de tempo os Estados com capacidade de explorarem recursos
mineiros nos leitos marinhos assumiam a obrigação de retirar todos os meios utilizados nessas
explorações quando terminava a actividade de prospecção ou mineração.
O governo soviético, cuja posição sempre foi a inversa, defendeu a legitimidade da mesma
em diversas ocasiões. A questão gerou um animado debate, a vários níveis, chegando à proj.com 12 .

Assembleia Geral das Nações Unidas, onde veio a ser aprovada por maioria esmagadora, uma elemento →
de

resolução favorecendo a prática que vinha sido desenvolvida. Os estados com capacidade de prova determinação
para
.

exploração dos fundos marinhos continuaram, por isso, nos anos subsequentes a obrigar-se ao
levantamento dos materiais utilizados na exploração. Convicção
→ obrigatoriedade
de .

não relevante
facto
a aplicação de

Recentemente uma novo Estado, resultante da desgregação da União Soviética iniciou a
exploração de fundos marinhos, não seguindo a prática internacional na matéria. Apesar de
consuetudinária
uma regra
. alguns estados insistirem haver um costume, esse Estado manteve a sua posição, alegando
nomeadamente que nunca havia aceitado tal prática como legítima, que tal prática consistia
numa liberalidade não vinculativa (sem que existisse conviccção da sua obrigatoriedade) e
não
recordou a oposição soviética para negar a existência de um costume. objeção persistente outra Est

aproveita a
.

se

Qvid ivris?

GRELHA DE CORRECÇÃO
Levantam-se, na presente hipótese prática, duas questões: 1) saber se a prática do levantamento dos
meios utilizados nas explorações subaquáticas configurava um costume, e 2) saber se (existindo esse
costume) ele é oponível ao Estado em questão.
[1] Quanto à primeira questão, sabemos que para haver um costume tem de conferir-se a existência dos
seus dois elementos: a prática e a convicção da obrigatoriedade (cf. concl. 2).
Não parece existirem dúvidas quanto à verificação da prática: ela vem expressa nos parágrafos primeiro
e segundo do enunciado.
A oposição soviética não afecta esta consideração, já que o comportamento dos Estados não tem de ser
unânime (cf. concl. 8.1). Essa oposição teria apenas como consequência que, formando-se o costume,
este não seria aplicável ou oponível à União Soviética enquanto objector persistente (durante a
formação do costume) – cf. concl. 15
Quanto à convicção da obrigatoriedade, esta parece poder retirar-se da decisão da AGNU (parece
evidente que a discussão havida e a deliberação tomada apenas faça sentido em relação a esta
convicção, já que ninguém questionava a existência da prática levada a cabo por todos menos a União
Soviética). [Repare-se, no entanto, que não se trata de retirar a convicção da obrigatoriedade do acto da
AGNU (que, enquanto tal, não tem carácter vinculativo e só acessoriamente serve para demonstrar a
existência de um costume) mas antes da posição esmagadora dos estados ao aprovarem a resolução. –
cf. segunda alternativa da concl. 6.2] Isto contraria a pretensão do Estado quando se refere a uma
liberalidade meramente vinculativa.
Assim sendo, devemos concluir que existe um costume.
[2] Quanto á segunda questão (saber se o costume se aplica ao Estado em questão) importa, em
primeiro lugar, conferir se o facto de este nunca ter aceitado tal prática o desobriga do costume. Ora é
pacífico o entendimento actual no sentido de que os Estados novos – como é o caso – estão obrigados
aos costumes entretanto formados, já que o fundamento da obrigatoriedade do costume não radica no
consentimento (cf. ponto C da Lição VIII).
Dever-se-ia ponderar ainda se a o Estado em questão podia beneficiar da objecção persistente da União
Soviética. A resposta tem de ser negativa: a objecção persistente de um Estado não beneficia novos
Estados (ignoramos, no caso, o facto de o Estado em questão resultar de desagregação da União
Soviética, o que nos levaria a matéria ainda não considerada).
Concluímos, portanto, que [1] existe em costume e [2] esse costume obrigava o Estado em questão.
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Direito Internacional Público
2.º teste de avaliação - Turma A

2019.12.09
GRELHA DE CORRECÇÃO

Por iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada uma conferência
intergovernamental que concluiu em 15 de Janeiro de 2015 uma convenção em matéria de
protecção de espécies florestais ameaçadas. A convenção ficou aberta para assinatura durante
90 dias. Em 1 de Março do mesmo ano o Estado A assinou, mas informou, desde logo, que Reserva → .

excluía do elenco das espécies protegidas um tipo arbóreo (X), muito abundante no seu
território e cuja madeira era objecto de exportação em massa, gerando receitas muito
significativas.
Dois Estados vizinhos que haviam negociado a convenção declararam imediatamente que
aceitavam essa limitação sendo que alguns outros se opuseram e a maioria não se pronunciou. presumibi/idade →

de aceitação após
Em 30 de Junho A depositou o instrumento de ratificação da convenção, a qual entrou em
1 ano

vigor em 15 de Agosto.
Em 1 de Setembro B – parte na convenção – protestou pelo facto de A ignorar a protecção da
espécie X em violação da convenção. A lembrou a B ter formulado uma reserva que excluía tal
obrigação.
Face a estas circunstâncias, explique:

1. Estaria A obrigado, na data em questão, a proteger a espécie X? (8 valores)

A formulou uma reserva com a assinatura (no sentido de excluir do elenco das espécies protegidas o
tipo arbóreo X), a qual deveria ter sido confirmada com a vinculação (cf. GPR 2.2.1.) - já que esta não
decorreu da assinatura (2.2.2.). Nesse sentido, em rigor, deve assumir-se que a vinculação ocorreu sem
qualquer reserva. E, por isso, A estava vinculado desde 30 de Junho. Estando a convenção em vigor
desde 15 de Agosto, A estaria obrigado a proteger a espécie X em 1 de Setembro, nos termos da própria
convenção.
[Aos alunos a quem escape o pormenor da falta de confirmação da reserva – que, numa situação prática,
poderia/deveria ter sido lembrada pelo depositário aquando da recepção do instrumento de ratificação – deverão
descontar-se 2,5 valores. Nesse caso a resposta ao caso prático seria outra: sendo um tratado multilateral geral
bastava a aceitação de um Estado para que a vinculação se pudesse produzir – 20.º/4 a) – pelo que
havia igualmente vinculação em 1 de Setembro, mas com a reserva a excluir a protecção da espécie X,
pelo que esta não lhe podia ser exigida].

2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção:


a. Como de deveria resolver uma inconstitucionalidade pontual na mesma
convenção detectada pelo Tribunal Constitucional em sede de fiscalização
preventiva? (4 valores)
Se o TC detectasse alguma inconstitucionalidade em sede de fiscalização preventiva a mesma, sendo
formal deveria ser objecto de correcção (pode se tratar de mera exigência interna susceptível de
repetição), sendo de outra natureza (inconstitucionalidade material) apenas poderia ser evitada através

Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
[da confirmação pela AR – 279.º/2 ou] da formulação de uma reserva (que excluísse ou modificasse o
efeito jurídico da norma julgada inconstitucional – 19.º e 20.º CV 69) ou eventualmente de uma
declaração interpretativa (GPR 1.2, 1.3 ss.) – se a determinação de um determinado sentido e alcance da
norma fosse suficientemente para obviar à inconstitucionalidade.

b. Qual seria a intervenção do PR? (8 valores)


Trata-se de uma convenção em matéria de protecção de espécies florestais ameaçadas. A matéria não
integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i) CRP pelo que não tem de ser um tratado solene (podendo, por
conseguinte, assumir a forma simplificada). Na medida em que a convenção não conflituasse com a Lei
de Bases do equilíbrio ecológico, a competência de aprovação não seria da AR (161.º i), 165.º/1 g), mas
do governo (197.º/1 c), que o deveria fazer por decreto (197.º/2).

Ao PR caberia, então,
(a)
suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade
(134.º, 278.º, 279.º CRP) e
(b)
assinar o decreto do governo que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de inexistência
jurídica (137.º). Deste acto (assinatura do decreto) haveria referenda ministerial obrigatória, sob
pena de inexistência do acto (140º).

Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
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2.º teste de avaliação - Turma B

2019.12.09

GRELHA DE CORRECÇÃO

Os Estados A, B, C e D concluíram uma convenção que regulava o uso, nos respectivos


territórios, de moedas digitais.

Aquando do depósito do instrumento de vinculação, em Janeiro de 2016, o Estado B juntou


uma declaração nos termos da qual considerava que a referida convenção não de aplicava a
eventuais unidades de conta eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos
orçamentais (sendo que essa situação ocorria em A e B). B informava ainda os demais Estados
que considerava a questão tão relevante que condicionava a sua vinculação ao
reconhecimento desse âmbito de aplicação.

A e C declararam imediatamente ser esse o seu entendimento dos termos convencionais, mas
D, envolvido em complexos processos eleitorais não se pronunciou. após 1 presume
→ ano
-
se

aceitação
tem aceita por todas
Face a estas circunstâncias, explique: de ser
( art 20012 CV 69 )
partes
.

as .

1. Estaria B obrigado pela convenção em Março de 2016? (10 valores)

A declaração de B nos termos da qual considerava que a referida convenção não de aplicava a eventuais
unidades de conta eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos orçamentais não
deveria ser considerada uma reserva (já que não exclui ou modifica o efeito jurídico de uma ou mais
disposições da convenção na aplicação a esse Estado (2.º/1 d) CV69, GPR 1.1), mas, antes uma
declaração interpretativa, já que apenas precisa ou clarifica o sentido e alcance de uma disposição (GPR
1.2). A declaração não visava um regime especial (para B), mas referia-se antes ao regime regra (que se
aplicaria, portanto, também a A, país no qual existiam também unidades de conta usadas pela
administração tributária para efeitos orçamentais).
Tratando-se de uma declaração interpretativa, esta, em princípio não afectaria a vinculação de B.
Todavia, quando B condicionou a sua vinculação ao reconhecimento desse âmbito de aplicação, tornou
a declaração interpretativa condicional, à qual se aplica o regime das reservas (GPR 1.4). Assim sendo,
esta (declaração interpretativa) tem de ser aceite por todos (por se tratar de uma convenção
multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69). A e C já o haviam feito aquando da formulação. D não se
pronunciou, impedindo a vinculação de B (que, a manter-se a situação, apenas ocorreria em Janeiro de
2017, ou seja, depois de decorrerem 12 meses (20.º/5 CV69).
Concluindo: em Março de 2016 B não era parte (não estando por isso obrigado).

Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do Governo no
processo? (10 valores)

Trata-se de uma convenção em matéria monetária, a qual não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i)
CRP, pelo que não tem de ser um tratado solene (podendo, por conseguinte, assumir a forma
simplificada). A competência de aprovação seria da AR (segunda parte do 165.º i) e 161.º/1 o), e que o
deveria fazer através de uma resolução (166.º/5).
Ao PR caberia, então,
(a)
suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º,
278.º, 279.º CRP) e
(b)
assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de inexistência jurídica
(137.º). Deste acto (assinatura da resolução) haveria referenda ministerial obrigatória, sob pena de
inexistência do acto (140º).

Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
2.º teste de avaliação - Turma C

2019.12.11 – GRELHA DE CORRECÇÃO

Os Estados A, B, C, D e E assinaram uma convenção em Abril de 2014, tendo em vista


estabelecer diversos mecanismos de cooperação académica. Na convenção estabelecia-se que
a vinculação à mesma decorria da assinatura.

Em Maio de 2014, F solicitou ao depositário que fosse admitida a sua assinatura diferida.

No mesmo mês, B formulou uma reserva no sentido de fixar limites às suas contribuições em
alguns dos programas criados na convenção.

Neste enquadramento responda às seguintes questões:

1. Como deve reagir o depositário ao pedido de F? (4 valores)

Considerando que a assinatura diferida apenas ocorre estando expressamente prevista (até porque
supõe a determinação clara do prazo, do local ou locais, das entidades capazes de receber os
documentos, etc.) – e assumindo que isso não acontecia – o depositário devia informar F dessa
impossibilidade (e caso este insistisse, informaria os demais estados do sucedido e do regime aplicável).

2. A reserva de B afectou a sua vinculação? Justifique (8 valores)

A reserva de B surgiu depois da vinculação, consistindo, portanto, numa reserva tardia, que não é
admissível excepto se expressamente admitida pelo tratado (o que assumimos que não acontecia, já
que não é referido) ou se todas as partes o aceitarem (GPR 2.3).
De qualquer forma, tendo ocorrido após a vinculação, nunca afecta esta - a eventual aceitação pelos
demais Estados, a acontecer, alteraria o efeito jurídico do tratado na aplicação a B, mas o efeito
condicionante da vinculação já não ocorria.

3. Qual seria a intervenção do governo se Portugal se vinculasse a esta convenção? (8


valores

Estamos perante um acordo em forma simplificada – já que a matéria não integra o elenco da 1.ª parte
do 161.º i) – cuja competência de aprovação será do governo – art.s 197.º/1 c), 161.º i) 164.º e 165.º),
que o fará através de um decreto (197.º/2) - considerando que a cooperação académica não é
susceptível de conflituar com a lei de bases do ensino - 164.º i).
Neste enquadramento o PR poderá
(a) suscitar fiscalização da constitucionalidade (art.s 134.º, 278.º e 279.º) e
(b) deverá assinar o decreto de aprovação.
Deste acto há referenda ministerial obrigatória (140.º).
Caso a convenção conflituasse com a Lei de Bases do ensino, então a competência de aprovação seria da
AR - 161.º i), 164.º i) – que o faria através de uma resolução – 166.º/5. A intervenção do PR seria a
mesma, mas a assinatura recairia sobre esta resolução.

Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
2.º teste de avaliação – Turmas diurnas
2020.11.27 – 10h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO

Suponha que
A CDI foi encarregada pela AGNU de codificar e desenvolver o regime relativo aos mecanismos
de luta contra a pirataria no mar alto.
A CDI apresentou a sua proposta na sessão de 2015, tendo a AG aprovado a mesma e
recomendado que o texto constituísse a base de uma convenção. Foi imediatamente aberto
um período de 90 dias para que os Estados-membros pudessem efectuar a assinatura diferida,
à qual sucederia a ratificação (que produziria a vinculação primeiro dia do segundo mês
subsequente).
O texto da convenção previa ainda que, findo o prazo estabelecido para a assinatura diferida
(31 de Janeiro de 2016), os Estados poderiam aderir, comunicando essa intenção ao
Secretário-Geral NU que exerceria as funções de depositário, ocorrendo a vinculação
(também) no primeiro dia do segundo mês subsequente. Era também referido no texto que a
convenção entraria em vigor com a vinculação do 15.º Estado.
Em 31 de Janeiro de 2016 haviam assinado a convenção 20 Estados (A a T).
Em 15 de Abril de 2016 os Estados X e Y pediram a adesão.
Em 1 de Junho de 2016, 13 Estados haviam depositado o instrumento de ratificação [assuma,
por facilidade, que o fizeram todos nessa data] mas um deles (M) juntou uma declaração
limitando a sua participação em eventuais operações de patrulhamento. A e B aceitaram em 1
de Julho de 2016 e os restantes Estados não se pronunciaram.
Em 1 de Agosto o Estado N depositou o seu instrumento de ratificação seguido pelo Estado O,
a 15 do mesmo mês.

Neste enquadramento, explique – fundamentando [tendo presente que aqui reside o essencial
da resposta] – em que data entrou em vigor a convenção.

A entrada em vigor da convenção terá ocorrido, nos termos da mesma, com a vinculação do 15.º EM.
Importa, por isso, conferir quando ocorreu esta.
(Curiosamente) os primeiros EM a vincularem-se terão X e Y, o que terá ocorrido em 1 de Junho de
2016, por aplicação da regra fixada no tratado - nos termos do art. 15.º a) da CV69 -, a qual dispensava
qualquer aceitação.
Dos 13 Estados que depositaram o seu instrumento de vinculação em 1.6.2016, 12 vincularam-se em 1
de Agosto do mesmo ano. Nesta data temos, portanto, 14 Estados vinculados.
A vinculação de M ficou dependente da aceitação da sua reserva (cf. art. 2.º/1 d) da CV69 – no caso, a
declaração limitando a sua participação em eventuais operações de patrulhamento da qual decorria a
pretensão de que na aplicação da convenção a este Estado, fosse contemplada essa especialidade).
Tratando-se de uma convenção multilateral geral (já que é celebrada pelas NU, pretendendo-se um
regime geral para a luta contra a pirataria) basta a aceitação por um Estado para que a vinculação se
possa produzir (art. 20.º/4 a) CV69). Isso aconteceu em 1 de Julho de 2016 pelo que a vinculação
ocorreria em 1 de Setembro [pode admitir-se, sem penalização, a não contabilização para efeitos da
vinculação da vacatio legis fixada, o que implicaria considerar a vinculação imediata a 1 de Julho.] Esta
(1 de Setembro) seria a data da vinculação do 15.º Estado e, portanto, da entrada em vigor da
convenção (N e O vincular-se-iam em 1 de Outubro, mais tarde, portanto).
[Aquilo que se pretende é essencialmente que o aluno aplique correctamente os regimes da adesão e
das reservas]

Recomendações importantes
- Organize a sua resposta antes de iniciar a exposição;
- Responda apenas ao que lhe é perguntado, fundamentando devidamente a sua resposta;
- Tenha presente que a mera transcrição de regras não constitui resposta, porquanto aquilo que se pretende é a sua aplicação
(que deve ser demonstrada);
- Escreva com letra legível.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Prova de frequência/Exame
2019.01.22 – 15h00

Suponha que
O território dos Estados A, B, C e D é atravessado por um rio que constitui o acesso
destes ao mar alto.
Face às necessidades de acautelar a segurança da navegação e minimizar os riscos
de poluição este Estados decidem celebrar uma convenção nessas matérias.
A e B vinculam-se em Janeiro de 2010, mas o novo governo de C decide recusar a
ratificação, ao que o governo de D – receando impactos eleitorais negativos – opta por
deixar para o próximo executivo a ponderação de vinculação.
Ocorre, entretanto, um período de seca que aumenta consideravelmente os riscos
de poluição no rio pelo que A e B solicitam a C e D que cumpram o estipulado na
convenção, até porque, no caso, se tratava de mera codificação do regime
consuetudinário existente.
C recusou-se a fazê-lo lembrando que não estava ainda vinculado à convenção, no
que foi secundado por D. Este referiu ainda que também não estaria vinculado ao regime
consuetudinário na medida em que a sua ordem jurídica nem sequer reconhecia a
vigência do costume.
Face a este circunstancialismo responda justificadamente à seguintes questões:

A. Aprecie a posição de C;

Não estando vinculado à convenção C não teria que a cumprir na medida em que esta apenas produz
efeitos para as partes (art. 34.º CV69). Todavia, na medida em que o regime (convencional) se limitasse a
codificar o regime consuetudinário, C estaria ainda obrigado a cumpri-lo (enquanto costume).

B. Aprecie a posição de D.

Os Estados têm liberdade para adoptar o regime de vigência do direito internacional que entendam [cf.
regime de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há
unanimidade na doutrina e na jurisprudência relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que
estes possam deixar de cumprir as obrigações resultantes do direito internacional. Donde, se a ordem
jurídica de D não reconhecesse o costume, para assegurar o cumprimento das obrigações dessa natureza
deveria transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as mesmas obrigações.
O que implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) D estava obrigado a cumprir o
regime consuetudinário.

[continua na pag.ª seguinte]


Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis que, sendo fotocopiados, têm de estar agrupados
num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
II

Suponha agora que


Os Estados E, F e G preocupados com a crescente insegurança cibernética criaram
uma força de defesa conjunta (integrando componentes militares e civis) cujo início de
actividade se previa para 1.6.2016.
Aquando do depósito do instrumento de vinculação, em Janeiro de 2016, G
formulou uma reserva estabelecendo um limite para as suas contribuições financeiras o
que foi imediatamente aceite por E e recusado por F (Estados que se haviam vinculado
em Dezembro de 2015). restrita aceitação por todos
Convenção

1- presumível após 1 ano

Nestas circunstâncias explique:

C. Teria E fundamento para exigir a G que nomeasse os seus representantes na


força conjunta em Junho de 2016? Justifique

Em Junho de 2016 G não é parte. De facto, este formulou uma reserva em Janeiro desse ano a qual não
foi aceite por F, Isso impediu a vinculação de G já que, tratando-se de uma convenção multilateral restrita,
era necessário a assentimento de todos (art. 20.º/2 CV69). Não sendo parte não lhe pode ser exigido [por
E, no caso] o cumprimento da mesma (art. 34.º CV69).

D. Se em Outubro de 2016 o governo de F tomasse conhecimento de que os dados


relativos aos riscos e bem assim as estimativas relativas aos custos de
financiamento tinham sido incorrectos (havendo, portanto, menos riscos e mais
custos do que o previsto), poderia retirar-se da convenção?

O facto de F tomar conhecimento de que os dados relativos aos riscos e bem assim as estimativas relativas
aos custos de financiamento tinham sido incorrectos consubstancia uma situação de erro (art. 48.º CV69).
Tratando-se de uma base essencial do consentimento desse Estado em ficar vinculado (n.º 1) e não tendo
F contribuído para o mesmo erro (n.º 2) ocorreria uma nulidade relativa invocável por F. A nulidade tem
como consequência a cessação da vigência, mas F teria de seguir o procedimento previsto nos art.s 65.º
e ss.

E. Caso o Estado português se pretendesse vincular à convenção qual seria a


intervenção do Presidente da República no processo? Justifique

Tratando-se de uma convenção em matéria militar teria de assumir a forma solene, sendo a competência
de aprovação da AR (161.º i) primeira parte CRP). Neste enquadramento o PR poderia suscitar a
fiscalização preventiva da constitucionalidade da convenção (134.º, 278.º, 279.º CRP) e, estando de
acordo com o conteúdo da mesma, deveria ratificá-la (art. 135.º b) CRP). Do acto de ratificação havia
obrigatoriamente referenda ministerial (art. 140.º/1 CRP).

Duração da prova: 2 horas


Não podem ser utilizadas folhas de rascunho durante a prova.
Podem ser consultados textos normativos, mas está interdita a circulação dos mesmos.
Os textos normativos fotocopiados têm de estar reunidos (agrafados) num só volume.
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis que, sendo fotocopiados, têm de estar agrupados
num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Exame de recurso
2019.07.04 – 15h00
GRELHA DE CORRECÇÃO

Suponha que
Os Estados A, B, C e D criaram uma comissão de codificação do costume relativo à
exploração e utilização das águas de um mar interior que banhava o território destes.
A referida comissão propôs – no seguimento do seu trabalho - a celebração de
uma convenção, indicando expressamente as regras resultantes do processo de
codificação e as que correspondiam a um desenvolvimento do mesmo.
Face a este circunstancialismo, responda às questões seguintes:

A. Estaria B obrigado a cumprir uma regra da dita convenção (justificando o facto


com a sua recusa em vincular-se á mesma e, bem assim, ao facto de a sua
ordem jurídica ser estritamente dualista)?

Não estando vinculado à convenção B não teria que a cumprir na medida em que esta apenas produz
efeitos para as partes (art. 34.º CV69). Todavia, no caso das regras que codificassem costume, este estaria
ainda obrigado a cumpri-las (nesta qualidade).
Relativamente ao carácter dualista da ordem de B (o qual afastaria as regras consuetudinárias - e o direito
internacional enquanto tal) deve ter-se presente que os Estados têm liberdade para adoptar o regime de
vigência do direito internacional que entendam [cf. regime de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56
ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na jurisprudência
relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam deixar de cumprir as obrigações
resultantes do direito internacional. Donde, se a ordem jurídica de B não reconhecesse o direito
internacional enquanto tal, para assegurar o cumprimento das obrigações dessa natureza deveria
transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as mesmas obrigações. O que
implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) B estava obrigado a cumprir o regime
consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos resultantes desse
incumprimento).
[A invocação da regra do art. 27.º CV69 é imprópria neste enquadramento já que não estão em causa obrigações
convencionais]

B. Explique se as regras convencionais de desenvolvimento poderiam dar origem


a novos costumes.

É pacífico que as regras convencionais podem dar origem a regra consuetudinárias, servindo de ponto de
partida de uma prática geral aceite como jurídica (opinio juris), (cf. conclusão 11.ª/1 c) Documento
A/CN.4/L.908 de 17 de Maio de 2018).

Continua na página seguinte


II

Suponha ainda que os Estados E, F e G celebraram em Janeiro de 2015 uma


convenção tendo em vista a colaboração policial na luta contra crimes violentos,
optando por aplicá-la desde logo (ou seja, enquanto decorria o processo de vinculação
em cada um dos Estados).
E e F vincularam-se em Março do mesmo ano e G depositou em no mês seguinte
o documento tendo em vista a vinculação formulando, todavia, uma reserva no sentido
de condicionar a disponibilização de dados sensíveis á prévia autorização do ministro da
tutela. E aceitou imediatamente essa reserva, mas F não se pronunciou.
Face a este circunstancialismo, responda às questões seguintes:

C. Poderia F recusar-se a cumprir uma obrigação convencional em Fevereiro de


2015?

Em Fevereiro de 2015 F ainda não se vinculou. No entanto os Estados haviam acordado na aplicação
provisória (art. 25.º CV69). Donde, por força da aplicação (provisória) estava obrigado, mas, não havendo
vinculação definitiva à convenção, podia recusar esta [a vinculação] desobrigando-se da própria aplicação
provisória.

D. Estará G vinculado à convenção em Junho de 2016?

Sendo uma convenção restrita a reserva tinha de ser aceite por todas as partes - E e F. E aceitou
imediatamente, mas F não se pronunciou. Donde a vinculação de G apenas ocorreria quando F aceitasse
a reserva, ou, mantendo-se o silêncio deste, decorridos doze meses sobre a data da comunicação da
formulação da mesma (art. 20.º/5 CV69) – ou seja, em Abril de 2016. Donde, nestas circunstâncias, não
se alterando a posição de F, em Junho de 2016 G seria parte.

E. Qual seria a intervenção do Presidente da República se o Estado português se


vinculasse a esta convenção?

A cooperação policial não integra o elenco da 1.ª parte 161.º i)* CRP pelo que a convenção revestiria a
forma de acordo em forma simplificada. Não integrando também os elencos dos art.s 164.º e 165.º, a
competência de aprovação seria do governo (197.º/1 c). Este aprovaria por decreto simples (197.º/2).
Enviados ao PR (a convenção e o decreto de aprovação) este poderia suscitar a fiscalização preventiva da
constitucionalidade das normas convencionais (278.º ss.) e (não havendo inconstitucionalidade) deveria
assinar o decreto de aprovação (134.º b). Da intervenção do PR haveria referenda ministerial (140.º/1),
devendo o texto da convenção e os avisos relativos à aprovação e assinatura ser depois publicados no DR
(119.º/1 b).

* Ao contrário do que alguns alunos pretendem, a cooperação policial (que incide, por natureza, na manutenção da
ordem interna) não se confunde com a defesa (do território em relação a ameaças externas). A função das polícias é
distinta da função das forças armadas.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Prova de Frequência/Exame final
28.01.2020 – 15h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO

Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma convenção de codificação das


regras de costume local relativas ao acesso e utilização das águas de um lago que banhavam o
território de todos eles, nela fixando a aplicação imediata.
Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o acesso de embarcações dos demais
Estados às águas contíguas ao seu território, contrariando o disposto na convenção que garantia
o livre acesso. Perante o protesto dos demais Estados, E reagiu lembrando que (a) quaisquer
regras consuetudinárias existentes lhe não seriam aplicáveis dado que não participara na sua
criação (E acedera recentemente à independência) e a (b) sua constituição não reconhecia o
costume. Lembrou ainda que (c) não estando a convenção em vigor, dela não resultava qualquer
obrigação.

1. Aprecie a posição de E. (8 valores)


(a) E acedera recentemente à independência. Não participara, portanto na formação do costume objecto de codificação.

Sobre esta matéria, o entendimento (vigente durante muito tempo) de que o fundamento da obrigatoriedade do
costume seria o facto de se tratar de um pacto tácito (o que faria com que não se aplicasse a novos Estados) está hoje
ultrapassado, sendo pacífica uma concepção objectiva que retira esse fundamento do facto de se tratar de regras que
constituem respostas (critérios sentidos como justos) às necessidades da vida internacional, acolhidas por uma
maioria representativa da comunidade internacional. E nesse sentido estas obrigam também os Estados que não
participaram na sua formação.
(b) Relativamente a facto de a ordem de E não reconhecer o costume deve ter-se presente que os Estados têm liberdade

para adoptar o regime de vigência do direito internacional que entendam [cf. regime de convergência de Hersh
Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na jurisprudência
relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam deixar de cumprir as obrigações resultantes
do direito internacional. Donde, se a ordem jurídica de E não reconhecesse o costume, para assegurar o cumprimento
das obrigações dessa natureza deveria transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as
mesmas obrigações. O que implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) E estava obrigado a
cumprir o regime consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos resultantes desse
incumprimento).
(c) Quanto ao regime convencional propriamente dito, as partes haviam fixado a aplicação imediata. Estamos, portanto,

no âmbito do regime da aplicação provisória (art. 25.º CV69) o que impõe o seu cumprimento (até que algum Estado
– E, neste caso – comunique a sua intenção de não se tornar parte).
Em conclusão, E estava obrigado a cumprir o regime consuetudinário e o próprio regime convencional que o
codificava, não podendo por isso recusar o acesso de embarcações dos demais Estados.

Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de vinculação, o Estado D


apresentou uma declaração nos termos da qual se reservava ao direito de impor quaisquer
limitações necessárias à preservação do ambiente. A e B aceitaram, E não se pronunciou e C
opôs-se, por considerar que isso daria origem a uma limitação ao livre acesso e utilização das
águas, garantido consuetudinariamente, pelo que não podia surgir por via convencional.
2. Aprecie a posição de C e explique que consequências teria a mesma para a convenção.
(4 valores)
O regime consuetudinário podia ser alterado por via convencional já que não há hierarquia de fontes de direito
internacional. Não colhia o argumento de C, portanto. Caso este insistisse em objectar à reserva de E (e poderia fazê-
lo, mesmo sendo inválido o argumento aduzido já que, no limite, não necessitaria sequer de justificar a sua objecção)
a vinculação deste não se produziria, dado tratar-se de um tratado restrito e a reserva não seria aceite (20.º/2 CV69)
– o que impediria a vinculação já que esta estaria sempre condicionada pela aceitação daquela.

3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo de


vinculação de Portugal a esta convenção. (4 valores)
O acesso às águas territoriais não integra o elenco da 1.ª parte 161.º i) CRP pelo que a convenção revestiria a forma
de acordo em forma simplificada. Não integrando também os elencos dos art.s 164.º e 165.º, a competência de
aprovação seria do governo (197.º/1 c). Este aprovaria por decreto simples (197.º/2). Enviados ao PR (a convenção e
o decreto de aprovação) este poderia suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade das normas
convencionais (278.º ss.) e (não havendo inconstitucionalidade) deveria assinar o decreto de aprovação (134.º b). Da
intervenção do PR haveria referenda ministerial (140.º/1), devendo o texto da convenção e os avisos relativos à
aprovação e assinatura ser depois publicados no DR (119.º/1 b).

Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que tinha sido garantido ao
representante de E que, caso este assinasse a convenção, as autoridades de B arquivariam uma
investigação criminal contra um filho seu e asseguravam o acesso de outro filho a uma
prestigiada universidade. Considera, por isso, nula a convenção, e pretende a imediata
devolução de todas as contribuições efectuadas por si.

4. Aprecie a posição de A. (4 valores)


Haverá que conferir se as garantias dadas ao representante de E (de arquivamento do processo e admissão do filho
na universidade) constituem uma forma de corrupção (art. 50º). Isso não parece acontecer na medida em que o
representante de E apenas assinou, não vinculou este Estado (e na referida norma se refere [s]e a manifestação do
consentimento de um Estado em ficar vinculado). De qualquer forma, mesmo que houvesse corrupção isso daria
origem a uma nulidade relativa que apenas o próprio Estado poderia invocar (cfr. o mesmo artigo quando refere
aquele Estado pode invocar), e já não A.
Quanto ao pedido de devolução das contribuições deve referir-se que havendo nulidade esta tem como efeito a
retroactividade (ou seja, a reposição da situação que existiria não tivesse o tratado sido aplicado – cf. 69.º/2 a), mas
esta comtempla algumas excepções, nomeadamente no tocante aos actos praticados de boa-fé (alínea c) do mesmo
artigo). Donde, havendo nulidade invocável por A – o que não acontece, como vimos – este poderia reaver as
contribuições que não houvessem, entretanto, sido gastas de boa-fé.

Duração da prova: 2 horas (sem tolerância)


Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis que, sendo fotocopiados, têm de estar
agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito – Curso de Relações Internacionais
Direito Internacional Público
Prova de Frequência/Exame final
28.01.2020 – 11h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO

Suponha que os Estados A, B, C, D e E celebraram entre si uma convenção que actualizava e


desenvolvia as regras de costume local relativas ao acesso e utilização das águas de um rio que
atravessava o território de todos eles.

Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o direito de peca a embarcações dos
demais Estados nas águas do rio que atravessavam o seu território, contrariando o disposto na
no costume e na convenção. Perante o protesto dos demais Estados, E reagiu lembrando que as
regras consuetudinárias haviam sido substituídas pelas convencionais e que a estas ainda não
estava obrigado. Recordava ainda que a sua constituição assumira uma postura dualista pelo
que apenas se obrigava por actos internos.

1. Aprecie a posição de E. (8 valores)


E não está desobrigado do cumprimento das regras consuetudinárias. É certo que não havendo hierarquia das
fontes de direito internacional as convenções podem alterar os costumes e vice-versa. Todavia não tendo a convenção
entrado em vigor não poderia nunca ter esse efeito (mesmo que pretendido). Por outro lado, se E não se vinculasse
a esta, o eventual efeito derrogatório não ocorreria em relação a si.
O segundo argumento colhe: não estando (ainda) obrigado à convenção, não teria de a cumprir.
Quanto ao terceiro argumento, volta a não colher: é pacífico que os Estados são livres de adoptar no respectivo
ordenamento jurídico a postura que entenderem (relativamente ao direito internacional) mas isso não afasta o facto
de terem de cumprir quaisquer as obrigações de direito internacional (devendo, no caso, operar uma transformação
das regras internacionais). Não o fazendo, E comete um ilícito e responde internacionalmente pêlos danos [cf. regime
de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p. 58]

Suponha também que, aquando do depósito do instrumento de vinculação, o Estado D


apresentou uma declaração nos termos declarava entender que os termos convencionais
apenas alargavam os direitos reconhecidos pelas regras consuetudinárias. E fazia depender a
sua vinculação à aceitação pelos demais Estados desse entendimento. A e B aceitaram, E não se
pronunciou e C opôs-se.

2. Explique que consequências que a oposição de C teria a mesma para a convenção. (4


valores)
A declaração no sentido de que os termos convencionais apenas alargavam os direitos reconhecidos pelas regras
consuetudinárias constituía uma declaração interpretativa (GPR 1.2). De facto, trata-se de esclarecer o sentido e
alcance que D atribui aos termos convencionais, a qual não exclui nem modifica o efeito jurídico de uma ou mais
disposições na aplicação a esse Estado (2.º/1 d) CV69), antes expõe um entendimento que pretende valer para todos.
E é pelo efeito que deve conferir-se a natureza (reserva ou declaração interpretativa) da declaração (GPR 1.3).

Todavia E fazia depender a sua vinculação à aceitação pelos demais Estados desse entendimento, o que torna
condicional a declaração interpretativa (GPR 1.4/1). E estas seguem o regime das reservas (GPR 1.4/2). Assim sendo,
tratando-se de uma convenção multilateral restrita, teria de ser aceite por todos os demais Estados para que D se
vinculasse (20.º/2 CV69). O que não aconteceu, já que C se opôs. Esta posição tem, assim, como efeito imediato o de
impedir a vinculação de D.
3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo de
vinculação de Portugal a esta convenção. (4 valores)
[a] Caso se entendesse que o acesso e utilização das águas de um rio que atravessava o território integra a previsão
do art. 164.º g) CRP (relativamente às águas territoriais) estaríamos face a um acordo em forma simplificada cuja
competência de aprovação seria da AR (161.º i) segunda parte).
Neste caso a intervenção do PR seria a eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º) e
a assinatura da resolução da AR (164.º b), 166.º/5). Deste acto haveria referendo ministerial obrigatória (140.º/1).
[b] Em alternativa poderia considerar-se como não integrando os elencos dos art. 154.º e 165.º pelo que seria também
um acordo em forma simplificada cuja competência de aprovação seria do Governo (197.º/1 c).
Neste caso a intervenção do PR seria a eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º) e
a assinatura do decreto (134.º b), 197.º/2). Deste acto haveria referendo ministerial obrigatória (140.º/1).

Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que o representante de E


havia formada a sua posição enganado por um relatório elaborado pelas autoridades de F.
Considera, por isso, nula a convenção, e pretende a imediata devolução de todas as
contribuições efectuadas por si.

4. Aprecie a posição de A. (4 valores)


O facto de E ter formado a sua posição enganado por um relatório elaborado pelas autoridades de F parece
configurar uma situação de dolo (49.º CV69). Todavia, F não participou na negociação [requisito constante da própria
norma] pelo que não há corrupção relevante (susceptível de viciar o consentimento). Tratar-se-ia, de qualquer forma
(a existir) de uma nulidade relativa, o que significa que apenas poderia ser invocada pelo Estado cujo consentimento
foi afectado (E e não A) – mais uma vez, tal como refere o próprio texto do artigo.
A nulidade [ainda que pudesse ser invocada por A] tem, de facto, como efeito (entre outros) a retroactividade o
que significa que deve ser reposta a situação que existiria se não tivesse sido aplicado o tratado viciado (69.º/ a)
CV69). Isso justifica um eventual pedido de devolução de contribuições. No entanto, importa não esquecer que estão
protegidos os actos praticados de boa fé (69.º/b) CV 69) - nomeadamente quaisquer despesas entretanto efectuadas
sem o conhecimento do vício. Donde na eventual devolução teriam de ser deduzidas essas despesas.
Em conclusão: A não podia invocar o dolo de F sobre E, já que apenas este o poderia fazer (nos termos do próprio
art. 49.º CV69). O que impedia A de obter a devolução das contribuições. De qualquer forma, mesmo que tivesse
justificação para o fazer (se fosse legítima a invocação do dolo) nessa devolução teriam de ser descontadas quaisquer
despesas efectuadas de boa fé (69.º/2).

Duração da prova: 2 horas (sem tolerância)


Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis que, sendo fotocopiados, têm de estar
agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Frequência/Exame – 2018.01.22 – 15h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO

I
Suponha que
Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 31 de Janeiro de 2012 uma convenção que
codificava e completava o regime consuetudinário relativo ao rio X que atravessava o território
de todos eles.
A convenção determinava a sua entrava em vigor com o depósito do instrumento de
ratificação do quarto Estado, mas previa a aplicação imediata das partes III e IV (relativas ao
controlo do cumprimento e à resolução de conflitos).
Em Março de 2012 B deposita o seu instrumento de ratificação e imediatamente solicita
que sejam controladas as descargas de poluentes efectuadas por D.
D recusa que esse controlo seja efectuado alegando que ainda não estava vinculado à
convenção. Acrescenta que, por outro lado, a sua ordem jurídica assumidamente dualista não
reconhecia a vigência do direito internacional.
A protesta contra a posição de D recordando a expressa previsão da aplicação imediata
das regras convencionais relativas ao controlo do cumprimento e chamando ainda à atenção
para o facto de o regime relativo às descargas poluentes ser mera codificação do costume
existente na matéria.
Qvid jvris? [10 valores]

A situação prática exposta levanta três questões jurídicas distintas (1 a aplicação provisória das
regras convencionais – importanto conferir se obrigam D mesmo antes da sua vinculação à convenção –,
2
o carácter dualista da ordem jurídica de D – que não reconhecia a vigência do direito internacional
tornando necessário conferir se, obrigavam D – e ainda o facto de 3 as regras relativas às descargas pré-
existirem enquanto regras consuetudinárias – o que obriga a que se pondere as relações entre as
diferentes fontes e a respectiva vigência) que serão analisadas em cada um dos parágrafos seguintes.
1. Nos termos do art. 24.º CV69 as cláusulas finais [que são a parte do dispositivo em que se regula
entre outros aspectos a entrada em vigor, a aplicação provisória, etc.] entram em vigor com a assinatura.
A aplicação imediata das partes III e IV da convenção constituiria uma situação de aplicação provisória
regulada pelo art, 25.º/1 CV69. Donde, ao contrário do pretendido pelo Estado D, este estava obrigado
àquele regime.[É certo que o carácter provisório e voluntário da aplicação faz com que qualquer Estado
que participe nessa situação lhe possa pôr fim quando o entenda e que a mesma aplicação cessa se o
Estado comunica a intenção de não se vincular, mas enquanto D pretenda prosseguir o processo da sua
vinculação deverá cumprir o estipulado].
2. D refere ainda que a sua ordem jurídica, assumidamente dualista, não reconhecia a vigência do
direito internacional. A doutrina reconhece desde a primeira metade do sec XX um regime de
convergência que reconhece aos Estados a liberdade de determinarem por via constitucional (ou outra)
o regime relativo à aplicação do direito internacional, mas isso não afasta a obrigação de conformarem a
sua ordem interna ao cumprimento das suas obrigações internacionais [princípio esse expresso no art.
27.º CV69]. Donde, ainda que a ordem constitucional de D não reconhecesse a vigência do direito
internacional teria de cumprir as obrigações dele decorrente (por ser fonte de direito internacional - 38.º
ETIJ) podendo, se assim entendesse, transformar as regras convencionais em actos nacionais.
3. Foi ainda referido por A a questão de o regime relativo às descargas poluentes ser mera
codificação do costume [local] existente. A ser verdade as regras aplicar-se-iam independentemente da
convenção, impondo-se a D.
Em conclusão, embora D ainda não se houvesse vinculado à convenção estava obirgado a cumprir
as regras relativas às descargas (que se impunham enquanto regras consuetudinárias) e a admitir o
controlo do cumprimento que se lhe impunha dado as regras beneficiarem de aplicação provisória
(determinada no texto convencional).
II
Os Estados F, G e H celebraram uma convenção que criava uma força comum de
patrulhamento das fronteiras terrestres e marítimas.
Já depois da entrada em vigor da convenção, F e G tomam conhecimento de que a fórmula
de cálculo aplicável à repartição das despesas – e que tinha sido apresentada por H – assentava
em pressupostos incorrectos e prejudicava substancialmente ambos os Estados.
Face a este circunstancialismo, responda directa, mas fundamentadamente a cada uma
das seguintes questões:

a) Pronuncie-se quanto à validade da convenção; [3 valores]

O uso de pressupostos incorrectos que prejudicavam F e G na repartição das despesas da força


comum de patrulhamento das fronteiras constitui dolo (art. 49.º CV69), já que, da parte de H, houve uma
conduta fraudulenta que induziu os demais Estados em erro. O dolo gera uma nulidade relativa, ou seja,
os Estados cujo consentimento foi afectado [F e G] podem invocar o vício (e podem, se assim o
entenderem, ponderar da eventualidade de essa invocação se dirigir apenas a parte do tratado –
divisibilidade (44.º/3 e 4) – e, bem assim, podem preferir considerar o vício sanado (45.º/1).

b) Explique se G ao tomar conhecimento da situação poderia considerar-se


imediatamente desvinculado e exigir a devolução das contribuições por si efectuadas;
[3 valores]

Sendo que o consentimento de G foi afectado pelo dolo de H este tem legitimidade para invocar o
vício (49.ºCV69). Não pode todavia considerar-se imediatamente desvinculado, devendo seguir o
procedimento previsto nos art.s 65.º ss. (comunicar a sua constatação indicando da sua intenção,
concedendo um prazo não inderior a 3 meses para que os demais Estados se pronunciarem; se da parte
destes houvesse oposição deveriam recorrer a um dos mecanismos de resolução pacífica de conflitos e
se, no prazo de um ano não obtivessem solução poderia dar início ao procedimento de conciliação
previsto no anexo da CV69).
Havendo nulidade (que decorreria do vício referido nas respostas anteriores - dolo) esta tem como
efeito a retroactividade, ou seja, qualquer parte poderia solicitar a reposição da situação que existiria se
a convenção não tivesse sido aplicada (69.º/2 a). Nesse sentido poderia exigir a devolução das
contribuições por si efectuadas. No entanto, os atos praticados de boa-fé, antes da nulidade de um
tratado haver sido invocada, não serão afetados pela nulidade do tratado (69.º/2 b) o que significa que
as despesas entretanto realizadas (de boa-fé) se mantinham.

c) Indique qual seria a intervenção do Presidente da República no processo de


vinculação se o Estado português se vinculasse a esta convenção. [4 valores]

Tratando-se de uma convenção que criava uma força comum de patrulhamento das fronteiras esta
revestiria a forma de um tratado solene (1.ª parte 161.º i) CRP) cuja a competência de aprovação seria da
AR (por se tratar de matéria relativa à defesa, nos termos da mesma norma), através de uma Resolução
(166.º/5), pelo que o PR poderia eventualmente suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade
(134.º, 278.º) e – não havendo qualquer vício –, se entendesse que a vinculação era politicamente
adequada, deveria ratificá-la (135.º b) – acto do qual deveria haver posterior referenda ministerial
(140.º/1).
Notas decorrentes da correcção (relativas a deficiências ou erros comuns)

[Em geral]
Os alunos não devem presumir que a repetição dos factos que constam do enunciado
tem enquanto tal alguma valor. O que importa é identificar – nos factos - as questões
juridicamente relevantes e tratá-las.

[Questão I]
a. A assinatura de uma convenção apenas é expressão da vontade em ficar vinculado [à
convenção] se essa for a intençãodos Estados (constante do próprio tratado ou de
outro acto). Isso mesmo consta do art. 13.º CV69.
No caso, prevendo-se [o depósito do instrumento de] ratificação, deve constatar-se
que a contrario sensu, não era essa a intenção, pelo que a assinatura não vinculava.

b. Quando se referia que a entrada em vigor ocorria com o depósito do instrumento de


ratificação do quarto Estado, isso não significa (nem pode significar) que é o quarto
Estado referido mas o quarto a efectuar esse depósito. Poderia, no caso ser A, B ou C.

[Questão II]

c. Dizer que determinada matéria – no caso, o patrulhamento das fronteiras – integra o


elenco das matérias constantes da 1.ª parte da alínea i) do art. 161.º CRP não chega. É
necessário explicar qual das matérias (já que os termos não coincidem);

d. Boa parte dos alunos confunde o regime relativo à forma com o da competência de
aprovação da AR (não devem confundir-se porque não coincidem sequer – a AR
aprova acordos em forma simplificada, em matérias da sua competência própria de
aprovação);

e. Quando se pede para indicar a intervenção do PR no processo não é necessário referir


todo o processo de vinculação do Estado português. Mas principalmente não deve
referir-se este em abstracto. Se – como acontecia no caso cuja análise era pedida –
existem os dados suficientes para determinar o nível formal da convenção para efeitos
nacionais [devia concluir-se que era necessariamente um tratado solene] não devem
os alunos na resposta referir as intervenções alternativas: sendo acordo em forma
simplicada ou sendo tratado solene. Tratando-se de uma questão prática, o que se
pretende é a aplicação do regime e não a sua descrição genérica.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Exame de Recurso – 2018.07.05 – 15h00

Suponha que
Os representantes dos Estados A, B, C e D assinaram em 31 de Janeiro de 2015
uma convenção que codificava o costume regional relativo ao trânsito marítimo nas
águas territoriais. O texto da convenção estipulava que a mesma se aplicaria desde
assinatura e que entraria em vigor com o depósito do instrumento de ratificação do
terceiro Estado.
A, B e D depositaram os respectivos instrumentos de ratificação simultaneamente,
em 12 de Junho de 2015 tendo este último formulado uma reserva que excluía a
aplicação do regime em situações de conflito armado relativamente a quaisquer navios
de Estados beligerantes ou com destino aos portos destes. A e B aceitaram
imediatamente a reserva ao passo que C (que apenas depositou o instrumento de
ratificação em 1 de Agosto de 2015) não se pronunciou. presunção de aceitação após
→ / ano

↳ Vinculação de

Em Julho de 2015 E solicitou a adesão que foi imediatamente aceite por A, B e D. D em 1210612016 .

Face ao circunstancialismo descrito, responda às seguintes questões.

1. Estaria C obrigado a cumprir o regime convencional em Julho de 2015?


Justifique.
C poderia estar obrigado ao cumprimento do regime por duas ordens de razões distintas: em primeiro
lugar porque, tratando-se da codificação do costume, o regime (consuetudinário) manter-se-ia em vigor,
obrigando todos aqueles que não houvessem protestado aquando da sua formação (cf. regime da
objecção persistente, proj. conclusão do 15 adoptado pelo Comité de redacção da CDI, Documento
A/CN.4/L.872 de 30.5.2016). Por outro lado, uma vez que a convenção se aplicava desde a assinatura
(regime de aplicação provisória – art. 25.º CV69), isso obrigava também C enquanto este não comunicasse
a intenção de não completar o processo de vinculação.

2. D e E são partes da convenção? Se sim, desde quando?


Tendo D formulado uma reserva (no quadro de uma convenção multilateral restrita) a viculação a esta
supõe a aceitação de todos (art. 20.º/2 CV69). A não pronúncia de C vale como aceitação decorridos 12
meses após a formulação da reserva (art. 20º/5 CV69), pelo que a vinculação de D ocorreria em 12 de
Junho de 2016).
E solicitou a adesão, Nada dispondo a convenção sobre o assunto, esta apenas ocorre quando todos os
Estados expressamente a aceitarem (art. 15.º c) CV69) o que não parece ter acontecido (da parte de C),
Não havendo presunção de aceitação dos pedidos de adesão a vinculação não terá ocorrido.

3. Qual seria a intervenção do Presidente da República no processo de vinculação


do Estado português a esta convenção?
O regime interno relativo à vinculação do EP às convenções internacionais determina que no presente
caso a convenção não teria de assumir a forma solene (por não integrar o elenco das matérias da primeira
parte da alínea i) do art. 161.º CRP - participação de Portugal em organizações internacionais, os tratados
de amizade, de paz, de defesa, de rectificação de fronteiras e os respeitantes a assuntos militares) mas a
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Podem ser consultados textos normativos, mas está interdita a circulação dos mesmos.
Os textos normativos fotocopiados têm de estar reunidos (agrafados) num só volume.
competência de aprovação seria da AR – segunda parte da mesma norma e 164.º g). O PR poderia suscitar
fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º g) e 278.º/1 CRP) e deveria assinar a Resolução da
AR que aprovasse a convenção (134.º b); 166.º/5). t referenda ministerial .

4. Supondo que a convenção aligeirava a regra do costume local vigente que


impunha a notificação prévia, admitindo que esta fosse efectuada por correio
electrónico com 12 horas de antecedência, analise a admissibilidade dessa
alteração, e explique se em Agosto de 2015 E estava obrigado efectuar essa
comunicação e em que termos.
As fontes de DIP não têm hierarquia entre si, podendo, por isso, alterar-se mutuamente. Donde, a regra
consuetudinária podia ser alterada pela convenção.
Em Agosto de 2015 E ainda não é parte – tal como se viu na resposta à questão 2 – donde não estará
obrigado ao regime convencional. Estaria obrigado ao regime consuetudinário se o mesmo lhe fosse
aplicável (já que sendo um regime particular, aplica-se a um número limitado de Estados – cf. projº
conclusão 16, Documento A/CN.4/L.872 de 30.5.2016), o que, tudo indica, aconteceria uma vez que este
mostrou interesse em aderir ao regime de codificação do mesmo. Donde, deveria comunicar nos termos
consuetudinários em vigor.

5. Poderia vir B, em 2017 invocar a nulidade da convenção em razão de a sua


vinculação ter ocorrido sem o cumprimento de todas as exigências formais
nacionais?
A violação das regras nacionais relativas à vinculação não afecta, em regra essa vinculação, De facto,
uma Parte não pode invocar as disposições do seu direito interno para justificar o incumprimento de um
tratado (art. 27.º CV68), da mesma maneira que a circunstância de o consentimento de um Estado em
ficar vinculado por um tratado ter sido manifestado com violação de uma disposição do seu direito
interno relativa à competência para concluir tratados não pode ser invocada por esse Estado como tendo
viciado o seu consentimento (46.º/1, 1ª parte).
O regime admite apenas excepcionalmente os casos em que essa violação tiver sido manifesta e disser
respeito a uma norma de importância fundamental do seu direito interno (46.º/1, 2ª parte), o que não
parece ser o caso: as exigências formais não são, por princípio, manifestas (não são evidentes para os
demais Estados) e, ainda assim, teria de demonstrar-se a sua importância fundamental.
Donde essa invocação não teria cabimento, e, em qualquer caso apenas afectaria a vinculação de B e
nunca a validade geral da convenção.

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Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Exame de recurso
09.07.2020 – 15h00

Suponha que em Março do corrente ano a AG das Nações Unidas tinha aprovado (com dois
votos contra – da China e dos EUA – e 12 abstenções) uma declaração solene que impunha o
acesso universal a qualquer vacina contra vírus pandémicos (nomeadamente o COVID-19) que
viesse a ser descoberta e comercializada.
Na sequência dessa declaração foi, entretanto, celebrada uma convenção que estabelecia
um regime geral de acesso a vacinas em caso de pandemia.
O texto da convenção – que referia expressamente que esta codificava o costume formado
a partir da Declaração da AGNU – foi assinado por 128 Estados e estabelecia que a vinculação
decorria da ratificação e que a entrada em vigor da mesma ocorreria no primeiro do segundo
mês subsequente ao depósito do 35.º instrumento de vinculação.
Entretanto é descoberta nos EUA uma vacina contra o COVID-19. A China imediatamente
solicita a disponibilização da mesma, invocando o costume ao qual os EUA estariam obrigados
por terem negociado e assinado a convenção. A administração americana informa estar a
ponderar em que termos permitirá o acesso da China à vacina, insistindo, no entanto, não estar
vinculada a qualquer costume (recordando que tinha votado contra a declaração que deu
origem à suposta regra consuetudinária e insistindo que não se havia vinculado à convenção,
pelo que nenhuma obrigação dali decorria).
Neste enquadramento explique:

1. Estarão os EUA obrigados a disponibilizar a vacina à China? (8 valores)


A formação de um costume a partir da declaração solene das NU constituiria um costume selvagem uma
vez que a regra e a convicção da sua obrigatoriedade surgiriam antes da própria prática (é essa inversão
que constitui a característica principal). É certo que os EUA votaram contra o que parece colocá-los numa
posição de objector persistente (conclusão 15.ª/1). Acontece que o texto da convenção afirmava que este
codificava a regra. Mesmo que os EUA não se houvessem vinculado à convenção, ao assinarem-na
reconhecem os factos que nela são afirmados. De facto – tal como vimos em relação aos efeitos da
assinatura –, a assunção ou admissão de factos em convenções assinadas tem carácter probatório (Ac. TIJ
16.03.2001, Delimitação da fronteira marítima entre o Qatar e o Bahrein)]. Donde a assinatura equivale
ao abandono ou levantamento da objecção (cf. conclusão 15.ª/2 in fine). E por isso, havendo costume,
este obriga também os EUA que, pelo que estes devem disponibilizar a vacina à China.
(A questão da objecção chinesa pode ser analisada nos mesmos termos: ao solicitar a disponibilização da
vacina este Estado está implicitamente a levantar a objecção).
Suponha ainda que, em 8 de Julho de 2020, estando 34 Estados vinculados à convenção, o
Estado A deposita junto do secretário geral das NU o instrumento de ratificação o qual inclui
uma declaração no sentido de fazer depender a obrigação de disponibilização de qualquer
vacina de uma justa remuneração dos custos de investigação e produção. B opõe-se, logo em 9
de Julho – por considerar inadmissível fazer depender de remuneração o acesso a cuidados
médicos urgentes – mas C, velho aliado de A, aceita a declaração deste, na mesma data. Em 15
de Julho D deposita o instrumento de vinculação. (Assuma que A, B, C e D assinaram a
convenção).

2. Quando ocorre a entrada em vigor da convenção? (4 valores)


A convenção entrava em vigor no primeiro do segundo mês subsequente ao depósito do 35.º instrumento
de vinculação. Este ocorreu com o depósito do instrumento de ratificação da A em 8 de Julho de 2020.
Todavia A formulou uma reserva (fazendo depender a obrigação de disponibilização de qualquer vacina
de uma justa remuneração dos custos de investigação e produção). A reserva condiciona a vinculação que
fica dependente da aceitação (da reserva). No caso, tratando-se de uma convenção multilateral geral,
basta a aceitação de um Estado (art. 20.º/4 a) CV69) – o que aconteceu no dia seguinte (9 de Julho). Nesse
sentido a convenção entraria em vigor no dia 1 de Setembro de 2020.

3. Qual seria a intervenção do Presidente da República na vinculação do Estado português


a esta convenção? (4 valores)
A convenção seria, para efeitos de vinculação do Estado português um acordo em forma simplificada (já
que a matéria – saúde/disponibilização de vacinas ou medicamentos – não integra o elenco da primeira
parte do 161.º i) cuja competência de aprovação cabia ao Governo (uma vez que - cf. 161.º i) segunda
parte - a matéria não integra o elenco das matérias dos artigos 164.º e 165.º). Donde [a]o PR poderia
suscitar o controlo preventivo da constitucionalidade – 134.º, 278.º, 279.º - e (não se verificando essa
eventualidade) [b] assinar o decreto que aprove a convenção (134.º b), 197.º/2). Da assinatura, haveria
obrigatoriamente referenda ministerial (140.º/1).

4. Se, meses mais tarde, D viesse a declarar que o processo interno relativo à sua vinculação
havia sido conduzido por um governo de gestão que não tinha poderes para vincular o
Estado, poderia considerar-se ipso iure desobrigado da convenção? (4 valores)
Os Estados não podem por regra, invocar irregularidades no seu processo de vinculação como invalidantes
desta (46.º/1 CV69). Essa circunstância (da irregularidade) apenas relevaria conquanto se referisse a uma
regra de importância fundamental (o que até poderia verificar-se, na medida em que houvesse violação
de uma regra constitucional) e essa violação fosse manifesta (o que é sempre mais difícil de ocorrer uma
vez que para o efeito teria de ser evidente para os demais estados).
Mesmo que a irregularidade preenchesse os requisitos excepcionais do 46.º, o Estado D não poderia
considerar-se ipso iure desobrigado da convenção. Deveria nos termos do art. 65.º ss. comunicar às outras
partes a pretensão, conferindo-lhes um prazo não inferior a 3 meses para que estes se pronunciassem e
se estes se opusessem deveriam procurar solucionar o conflito através de um mecanismo de resolução
pacífica. Ou seja, a desvinculação nunca é automática.

Duração da prova: 1h30 (sem tolerância)


Teste de consulta.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado ou outras
folha de que disponham a fim de tomarem quaisquer notas)

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