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Relações Internacionais
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.25
GRELHA DE CORRECÇÃO
I
Suponha que
O petroleiro X, com bandeira do Estado A efectuou em 2017 uma lavagem dos
tanques no mar alto que veio a causar importantes danos ambientais no Estado B. A
empresa proprietária (Y) abriu falência pouco depois, não havendo por isso, meios
para compensar os prejuízos sofridos em B. Este Estado conseguiu, todavia, que o
tribunal arbitral a quem coube apreciar tais prejuízos (e impor as correspondentes
obrigações de indemnização) condenasse subsidiariamente A relativamente aos danos
não cobertos pelo seguro nem pelo património de Y.
A situação teve algum impacto mediático vindo a ser debatida na ONU. Alguns
Estados – em especial aqueles onde estavam sediadas as grandes empresas
transportadoras – manifestaram alguma resistência inicial, mas, vieram
progressivamente a convergir, o que permitiu que fosse aprovada sem votos contra
uma resolução na AG consagrando a obrigação dos Estados responderem
subsidiariamente pelos danos ambientais causados por petroleiros hasteando a sua
bandeira.
Meses depois um petroleiro com bandeira de Z afundou-se causando graves
danos ambientais em C.
Este Estado pretende chamar Z á responsabilidade (subsidiariamente) invocando
a existência de um costume.
Z insiste que nenhuma responsabilidade lhe pode ser assacada por
manifestamente não existir nem prática geral nem convicção da obrigatoriedade.
Qvid ivris? (14 valores) ↳ resolução pode a ser usada
Z afirma não existir prática geral nem convicção da obrigatoriedade. Consequentemente, não haverá
costume – já que [p]ara determinar a existência e o conteúdo de uma norma de direito internacional
consuetudinário é necessário conferir a existência de uma prática geral e a sua aceitação com carácter
jurídico (opinio juris) – Cf. conclusão 2 do Documento A/CN.4/717 relativo à Identificação do direito
internacional consuetudinário.
Conferindo a situação verificamos, todavia que, muito embora o enunciado refira apenas uma ocorrência,
o facto é que a conduta relativa às resoluções adoptadas por organizações internacionais pode configurar
tanto uma prática (concl. 6/2) como a própria convicção da obrigatoriedade (10/2). Ora, no caso, vemos
que a ocorrência mereceu um debate nas NU, no qual, mesmos os Estados que inicialmente resistiram
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito consuetudinário)
que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
permitiriam a aprovação sem votos contra de uma resolução na AG consagrando a obrigação dos Estados
responderem subsidiariamente pelos danos ambientais causados por petroleiros hasteando a sua
bandeira. Ou seja, a conduta dos Estados e a convicção destes – porque é dos Estados que têm de retirar-
se os elementos (4/1; 10/2), tendo a resolução enquanto tal um papel meramente acessório (4/2; 12/2)
– parece evidenciar os dois elementos.
A situação do caso prático configura um costume selvagem na medida em que a convicção antecipa a
própria prática, ou seja, é da conduta face a uma resolução de uma O.I. e da convergência face ao
reconhecimento da existência de uma obrigação jurídica que vai ser retira a própria conduta (sem que a
mesma seja conferida através da repetição de condutas em situações subsumíveis à hipótese da norma –
que determina a obrigação dos Estados responderem subsidiariamente pelos danos ambientais causados
por petroleiros hasteando a sua bandeira).
II
Refira-se sumariamente ao conceito de direito internacional. (6 valores)
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito consuetudinário)
que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.28
I
Suponha que
O Estado A, aliado do Estado B (que sofreu uma invasão de força do Estado C)
assumiu a liderança e coordenação da ajuda humanitária em parte do território deste
(B) decidindo que, relativamente aos nacionais de B as suas forças apenas garantiriam
a estabilização sanitária e a devolução ao território de C, onde deveriam obter outra
ajuda de que necessitassem. → não formos costume deve pratica de Estados
, ser .
GRELHA DE CORRECÇÃO
Tal como refere o projecto de conclusão 2 do documento da CDI relativo à identificação das normas de
direito internacional consuetudinário, [p]ara determinar a existência e o conteúdo de uma norma de
direito internacional consuetudinário é necessário conferir a existência de uma prática geral e sua
aceitação com carácter jurídico (opinio juris).
Acontece que a prática em questão (o apoio às populações se fazer independentemente do seu
envolvimento e/ou da nacionalidade dos necessitados) foi desenvolvida apenas por ONG e agências de
OI, o que, no primeiro caso, não releva e, no segundo, releva apenas acessoriamente (pc 4/2 e 3).
Não parece haver, portanto, prática relevante para a formação de um costume.
Não existem também quaisquer outros elementos que demonstrem a existência da convicção da
obrigatoriedade. Forçoso será, por isso (porque nem a prática é relevante, nem existe aparentemente
qualquer convicção da obrigatoriedade da mesm), concluir-se pela inexistência de uma norma
consuetudinária que obrigue as autoriedades de A a agir nos termos seguidos pelas ONG e algumas
agências de OI.
II
Refira-se sumariamente à escola espanhola de direito internacional e explique a
sua contribuição histórica na matéria. (6 valores)
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.25
Turma B
I
Suponha que
Numa dada região encravada o acesso ao mar era feito através de um rio e das
vias que atravessavam o vale onde este corria, em direcção a Sul.
Na zona do vale em questão eclodiu um conflito que se arrastou vários anos. Em
consequência disso, o acesso ao mar passou a fazer-se através de um outro rio e das
vias terrestres adjacentes no sentido Norte, atravessando o território dos Estados A e
B. Esta solução apresentava algumas limitações importantes já que no Inverno as
baixas temperaturas chegavam a gelar parcialmente as águas e os nevões restringiam
significativamente o trânsito pelas outras vias.
criação
Durante o período em que o conflito impediu o uso do acesso ao mar pelo sul o 7 Objetou
a
do costume .
de A
fossem restabelecidas as condições de acesso pelo sul. B nunca se pronunciou. objeção → da
.
quando
.
a mas a
,
II
Explique sumariamente em que termos o voluntarismo afecta e questiona o
direito internacional. (6 valores)
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de tomarem
quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação do direito
consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.10.30
Turma C
I
Suponha que
Ao longo dos anos, os Estados nos quais se situavam servidores de espaço digital
(clouds) fizeram convergir as respectivas práticas relativamente à disponibilização de
informação a autoridades de investigação criminal – nomeadamente impondo a
obrigação de reportar sistematicamente os conteúdos armazenados passíveis de
configurarem pornografia infantil. publicações de
é
ONG não
O Estados A e B (sendo que este último acedeu à independência nos últimos relevante
meses) – surgiram recentemente nesse mercado, mas recusaram-se a disponibilizar
essa informação, pretendendo com isso captar a clientela particularmente interessada
v
em garantir a privacidade dos dados. Os restantes Estados e algumas OI protestaram
proj conclusão
12
invocando a existência de um costume na matéria. Lembraram, a propósito, que costume
.
não cria ,
dados em questão. Esse carácter vinculativo havia sido também referido em algumas
das mais recentes decisões judiciais em matéria de pedofilia. jurídico
aceitação
de → meio decaráter do
prova
proj conclusão 10
A e B desconsideraram, todavia, os documentos das OI e das ONG (entendendo é auxiliar
+ um meio
.
regra pooj.com 13
reconhecimento em duas ou três decisões judiciais de tribunais de outro Estados a
.
existência de um costume.
GRELHA DE CORRECÇÃO
Sendo a questão essencial saber se existe ou não uma regra consuetudinária (que obrigasse as
autoridades de A e B a disponibilizarem informação às autoridades de investigação criminal) a resposta
passa pela conferência dos dois elementos formadores do costume (prática e convicção da
obrigatoriedade – ou, conforme refere a conclusão 2, uma prática geral e a sua aceitação com carácter
jurídico).
Quanto à prática parece evidente que existe uma prática estadual (cf. §1 quando se afirma
expressamente terem os Estados nos quais se situavam servidores de espaço digital (clouds) [feito]
convergir as respectivas práticas relativamente à disponibilização de informação a autoridades de
investigação criminal.
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Quanto à convicção da obrigatoriedade são referidas publicações de ONG - que efectivamente não são
relevantes (cf. conclusão 9 ss.) – e de OI – das quais apenas relevam as resoluções que, em qualquer
caso, não é susceptível enquanto tal, de criar uma regra de direito internacional consuetudinário (concl.
12/1). Restam apenas, como elementos de prova, as decisões judiciais, as quais são relevantes (cf. 10/2)
mas, não é claro que estas sejam suficientemente generalizadas para se considerar que os Estados que
adoptaram a prática o façam com a referida convicção da obrigatoriedade (9/1).
Refere-se ainda o facto de o Estado B ter acedido recentemente à independência. Tal facto não é
relevante na medida em que existindo regra consuetudinária esta impunha-se a este (e não apenas aos
Estados que participaram na sua formação) – já que, ao contrário da visão tradicional que via no
costume um pacto tácito, entende-se actualmente que a regra espontânea incide sobre o
comportamento entendido como justo e por isso se deve impor ao Estados que não participaram na sua
formação.
Em conclusão não é certo que exista uma regra consuetudinária na medida em que não fica
demonstrado o elemento da existência da convicção da obrigatoriedade, cuja prova está reduzida a
algumas decisões judiciais, cujo alcance não é claro.
II
Explique em que medida um Estado pode invocar o carácter dualista da sua
ordem jurídica para se recusar a cumprir (ou aplicar) uma regra consuetudinária. (6
valores)
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
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Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
1.º teste de avaliação – 2019.11.08
Turma D
I
Suponha que
constitui
Procurando dar os primeiros passos no sentido da integração económica na → não
uma
objeção persistente
África Ocidental, foi aprovada sem votos contra (com as abstenções de dois Estados - A proj conclusão
.
15
e B) em 2016 uma resolução na Assembleia geral da OCEAO (Organização da .
Cooperação Económica da África Ocidental) nos termos da qual todos os Estados dessa
região deviam garantir aos demais o tratamento comercial da nação mais favorecida.
Desde então todos os Estados da África Ocidental – com excepção do Estado Z – vêm
seguindo os termos da referida resolução. ↳ constitui objeção persistente
uma .
O novo governo de B – que tomou posse em 2018 – optou, todavia, por não se
vincular à convenção que criava a união aduaneira. Pretende, aliás, reorientar a
política comercial daquele Estado introduzindo medidas proteccionistas e
estabelecendo acordos incompatíveis com o regime decorrente da resolução da
OCEAO.
Os demais Estados daquela OI protestaram lembrando tratar-se de um costume
(aceite, aliás, por B aquando das negociações da convenção relativa à criação da união
aduaneira) ao que este Estado retorquiu que, não se tendo vinculado à dita
convenção, dela não se podiam retirar quaisquer efeitos jurídicos.
GRELHA DE CORRECÇÃO
[Deixando de parte a questão de saber se podem existir regras consuetudinárias em matéria comercial –
o que, de facto é duvidoso] o problema central é o de saber se existe ou não uma regra consuetudinária
(que obrigasse as autoridades de B a manterem o tratamento da nação mais favorecida relativamente
aos Estados da África Ocidental). A resposta passa necessariamente pela conferência dos dois elementos
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
formadores do costume (prática e convicção da obrigatoriedade – ou, conforme refere a conclusão 2,
uma prática geral e a sua aceitação com carácter jurídico).
Quanto à prática parece evidente que esta existe uma vez que, com excepção do Estado Z – todos os
Estados vêm seguindo os termos da referida resolução. De facto, a excepção não impede a formação da
regra apenas torna esta inoponível a Z (cf. concl. 15).
Quanto à convicção da obrigatoriedade parece dever considerar-se também verificada na medida em
que isso era reconhecido expressamente na proposta inicial da convenção relativa à criação da união
aduaneira. Trata-se, portanto, da conduta relativa às resoluções aprovadas [… em] conferências inter-
governamentais (10/2 in fine), que constitui um meio de prova desse elemento.
Parece, por isso, que se deve considerar existir uma regra consuetudinária que se impõe a B, nos termos
pretendidos pêlos demais Estados da OI em causa.
II
Distinga cláusulas de recepção de cláusulas de transformação (6 valores).
Não podem ser utilizadas folhas de rascunho (os alunos podem, todavia, usar o enunciado a fim de
tomarem quaisquer notas)
Podem ser consultados textos normativos aplicáveis (in casu, as regras da CDI relativas à identificação
do direito consuetudinário) que, sendo fotocopiados têm de estar agrupados num único maço.
Todos os textos – e a folha de teste – têm de estar na frente dos alunos a todo o tempo.
Nenhuma informação pode circular.
Direito Internacional Público
Teste de avaliação contínua – 2020.11.18 – 11h00
Suponha que
Durante um período longo de tempo os Estados com capacidade de explorarem recursos
mineiros nos leitos marinhos assumiam a obrigação de retirar todos os meios utilizados nessas
explorações quando terminava a actividade de prospecção ou mineração.
O governo soviético, cuja posição sempre foi a inversa, defendeu a legitimidade da mesma
em diversas ocasiões. A questão gerou um animado debate, a vários níveis, chegando à proj.com 12 .
Assembleia Geral das Nações Unidas, onde veio a ser aprovada por maioria esmagadora, uma elemento →
de
resolução favorecendo a prática que vinha sido desenvolvida. Os estados com capacidade de prova determinação
para
.
exploração dos fundos marinhos continuaram, por isso, nos anos subsequentes a obrigar-se ao
levantamento dos materiais utilizados na exploração. Convicção
→ obrigatoriedade
de .
não relevante
facto
a aplicação de
←
Recentemente uma novo Estado, resultante da desgregação da União Soviética iniciou a
exploração de fundos marinhos, não seguindo a prática internacional na matéria. Apesar de
consuetudinária
uma regra
. alguns estados insistirem haver um costume, esse Estado manteve a sua posição, alegando
nomeadamente que nunca havia aceitado tal prática como legítima, que tal prática consistia
numa liberalidade não vinculativa (sem que existisse conviccção da sua obrigatoriedade) e
não
recordou a oposição soviética para negar a existência de um costume. objeção persistente outra Est
→
aproveita a
.
se
Qvid ivris?
GRELHA DE CORRECÇÃO
Levantam-se, na presente hipótese prática, duas questões: 1) saber se a prática do levantamento dos
meios utilizados nas explorações subaquáticas configurava um costume, e 2) saber se (existindo esse
costume) ele é oponível ao Estado em questão.
[1] Quanto à primeira questão, sabemos que para haver um costume tem de conferir-se a existência dos
seus dois elementos: a prática e a convicção da obrigatoriedade (cf. concl. 2).
Não parece existirem dúvidas quanto à verificação da prática: ela vem expressa nos parágrafos primeiro
e segundo do enunciado.
A oposição soviética não afecta esta consideração, já que o comportamento dos Estados não tem de ser
unânime (cf. concl. 8.1). Essa oposição teria apenas como consequência que, formando-se o costume,
este não seria aplicável ou oponível à União Soviética enquanto objector persistente (durante a
formação do costume) – cf. concl. 15
Quanto à convicção da obrigatoriedade, esta parece poder retirar-se da decisão da AGNU (parece
evidente que a discussão havida e a deliberação tomada apenas faça sentido em relação a esta
convicção, já que ninguém questionava a existência da prática levada a cabo por todos menos a União
Soviética). [Repare-se, no entanto, que não se trata de retirar a convicção da obrigatoriedade do acto da
AGNU (que, enquanto tal, não tem carácter vinculativo e só acessoriamente serve para demonstrar a
existência de um costume) mas antes da posição esmagadora dos estados ao aprovarem a resolução. –
cf. segunda alternativa da concl. 6.2] Isto contraria a pretensão do Estado quando se refere a uma
liberalidade meramente vinculativa.
Assim sendo, devemos concluir que existe um costume.
[2] Quanto á segunda questão (saber se o costume se aplica ao Estado em questão) importa, em
primeiro lugar, conferir se o facto de este nunca ter aceitado tal prática o desobriga do costume. Ora é
pacífico o entendimento actual no sentido de que os Estados novos – como é o caso – estão obrigados
aos costumes entretanto formados, já que o fundamento da obrigatoriedade do costume não radica no
consentimento (cf. ponto C da Lição VIII).
Dever-se-ia ponderar ainda se a o Estado em questão podia beneficiar da objecção persistente da União
Soviética. A resposta tem de ser negativa: a objecção persistente de um Estado não beneficia novos
Estados (ignoramos, no caso, o facto de o Estado em questão resultar de desagregação da União
Soviética, o que nos levaria a matéria ainda não considerada).
Concluímos, portanto, que [1] existe em costume e [2] esse costume obrigava o Estado em questão.
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Direito Internacional Público
2.º teste de avaliação - Turma A
2019.12.09
GRELHA DE CORRECÇÃO
Por iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas foi convocada uma conferência
intergovernamental que concluiu em 15 de Janeiro de 2015 uma convenção em matéria de
protecção de espécies florestais ameaçadas. A convenção ficou aberta para assinatura durante
90 dias. Em 1 de Março do mesmo ano o Estado A assinou, mas informou, desde logo, que Reserva → .
excluía do elenco das espécies protegidas um tipo arbóreo (X), muito abundante no seu
território e cuja madeira era objecto de exportação em massa, gerando receitas muito
significativas.
Dois Estados vizinhos que haviam negociado a convenção declararam imediatamente que
aceitavam essa limitação sendo que alguns outros se opuseram e a maioria não se pronunciou. presumibi/idade →
de aceitação após
Em 30 de Junho A depositou o instrumento de ratificação da convenção, a qual entrou em
1 ano
vigor em 15 de Agosto.
Em 1 de Setembro B – parte na convenção – protestou pelo facto de A ignorar a protecção da
espécie X em violação da convenção. A lembrou a B ter formulado uma reserva que excluía tal
obrigação.
Face a estas circunstâncias, explique:
A formulou uma reserva com a assinatura (no sentido de excluir do elenco das espécies protegidas o
tipo arbóreo X), a qual deveria ter sido confirmada com a vinculação (cf. GPR 2.2.1.) - já que esta não
decorreu da assinatura (2.2.2.). Nesse sentido, em rigor, deve assumir-se que a vinculação ocorreu sem
qualquer reserva. E, por isso, A estava vinculado desde 30 de Junho. Estando a convenção em vigor
desde 15 de Agosto, A estaria obrigado a proteger a espécie X em 1 de Setembro, nos termos da própria
convenção.
[Aos alunos a quem escape o pormenor da falta de confirmação da reserva – que, numa situação prática,
poderia/deveria ter sido lembrada pelo depositário aquando da recepção do instrumento de ratificação – deverão
descontar-se 2,5 valores. Nesse caso a resposta ao caso prático seria outra: sendo um tratado multilateral geral
bastava a aceitação de um Estado para que a vinculação se pudesse produzir – 20.º/4 a) – pelo que
havia igualmente vinculação em 1 de Setembro, mas com a reserva a excluir a protecção da espécie X,
pelo que esta não lhe podia ser exigida].
Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
[da confirmação pela AR – 279.º/2 ou] da formulação de uma reserva (que excluísse ou modificasse o
efeito jurídico da norma julgada inconstitucional – 19.º e 20.º CV 69) ou eventualmente de uma
declaração interpretativa (GPR 1.2, 1.3 ss.) – se a determinação de um determinado sentido e alcance da
norma fosse suficientemente para obviar à inconstitucionalidade.
Ao PR caberia, então,
(a)
suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade
(134.º, 278.º, 279.º CRP) e
(b)
assinar o decreto do governo que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de inexistência
jurídica (137.º). Deste acto (assinatura do decreto) haveria referenda ministerial obrigatória, sob
pena de inexistência do acto (140º).
Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
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2.º teste de avaliação - Turma B
2019.12.09
GRELHA DE CORRECÇÃO
A e C declararam imediatamente ser esse o seu entendimento dos termos convencionais, mas
D, envolvido em complexos processos eleitorais não se pronunciou. após 1 presume
→ ano
-
se
aceitação
tem aceita por todas
Face a estas circunstâncias, explique: de ser
( art 20012 CV 69 )
partes
.
as .
A declaração de B nos termos da qual considerava que a referida convenção não de aplicava a eventuais
unidades de conta eventualmente usadas pela administração tributária para efeitos orçamentais não
deveria ser considerada uma reserva (já que não exclui ou modifica o efeito jurídico de uma ou mais
disposições da convenção na aplicação a esse Estado (2.º/1 d) CV69, GPR 1.1), mas, antes uma
declaração interpretativa, já que apenas precisa ou clarifica o sentido e alcance de uma disposição (GPR
1.2). A declaração não visava um regime especial (para B), mas referia-se antes ao regime regra (que se
aplicaria, portanto, também a A, país no qual existiam também unidades de conta usadas pela
administração tributária para efeitos orçamentais).
Tratando-se de uma declaração interpretativa, esta, em princípio não afectaria a vinculação de B.
Todavia, quando B condicionou a sua vinculação ao reconhecimento desse âmbito de aplicação, tornou
a declaração interpretativa condicional, à qual se aplica o regime das reservas (GPR 1.4). Assim sendo,
esta (declaração interpretativa) tem de ser aceite por todos (por se tratar de uma convenção
multilateral restrita – cf. art. 20.º/2 CV69). A e C já o haviam feito aquando da formulação. D não se
pronunciou, impedindo a vinculação de B (que, a manter-se a situação, apenas ocorreria em Janeiro de
2017, ou seja, depois de decorrerem 12 meses (20.º/5 CV69).
Concluindo: em Março de 2016 B não era parte (não estando por isso obrigado).
Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
2. Se Portugal se vinculasse a esta convenção, qual seria a intervenção do Governo no
processo? (10 valores)
Trata-se de uma convenção em matéria monetária, a qual não integra o elenco da 1.ª parte do 161.º i)
CRP, pelo que não tem de ser um tratado solene (podendo, por conseguinte, assumir a forma
simplificada). A competência de aprovação seria da AR (segunda parte do 165.º i) e 161.º/1 o), e que o
deveria fazer através de uma resolução (166.º/5).
Ao PR caberia, então,
(a)
suscitar – se assim o entendesse – uma eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º,
278.º, 279.º CRP) e
(b)
assinar a resolução da AR que aprovou a convenção (134º b) – sob pena de inexistência jurídica
(137.º). Deste acto (assinatura da resolução) haveria referenda ministerial obrigatória, sob pena de
inexistência do acto (140º).
Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
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2.º teste de avaliação - Turma C
Em Maio de 2014, F solicitou ao depositário que fosse admitida a sua assinatura diferida.
No mesmo mês, B formulou uma reserva no sentido de fixar limites às suas contribuições em
alguns dos programas criados na convenção.
Considerando que a assinatura diferida apenas ocorre estando expressamente prevista (até porque
supõe a determinação clara do prazo, do local ou locais, das entidades capazes de receber os
documentos, etc.) – e assumindo que isso não acontecia – o depositário devia informar F dessa
impossibilidade (e caso este insistisse, informaria os demais estados do sucedido e do regime aplicável).
A reserva de B surgiu depois da vinculação, consistindo, portanto, numa reserva tardia, que não é
admissível excepto se expressamente admitida pelo tratado (o que assumimos que não acontecia, já
que não é referido) ou se todas as partes o aceitarem (GPR 2.3).
De qualquer forma, tendo ocorrido após a vinculação, nunca afecta esta - a eventual aceitação pelos
demais Estados, a acontecer, alteraria o efeito jurídico do tratado na aplicação a B, mas o efeito
condicionante da vinculação já não ocorria.
Estamos perante um acordo em forma simplificada – já que a matéria não integra o elenco da 1.ª parte
do 161.º i) – cuja competência de aprovação será do governo – art.s 197.º/1 c), 161.º i) 164.º e 165.º),
que o fará através de um decreto (197.º/2) - considerando que a cooperação académica não é
susceptível de conflituar com a lei de bases do ensino - 164.º i).
Neste enquadramento o PR poderá
(a) suscitar fiscalização da constitucionalidade (art.s 134.º, 278.º e 279.º) e
(b) deverá assinar o decreto de aprovação.
Deste acto há referenda ministerial obrigatória (140.º).
Caso a convenção conflituasse com a Lei de Bases do ensino, então a competência de aprovação seria da
AR - 161.º i), 164.º i) – que o faria através de uma resolução – 166.º/5. A intervenção do PR seria a
mesma, mas a assinatura recairia sobre esta resolução.
Os alunos podem usar textos normativos aplicáveis desde que reunidos num único maço.
Os textos normativos não podem circular.
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Direito Internacional Público
2.º teste de avaliação – Turmas diurnas
2020.11.27 – 10h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO
Suponha que
A CDI foi encarregada pela AGNU de codificar e desenvolver o regime relativo aos mecanismos
de luta contra a pirataria no mar alto.
A CDI apresentou a sua proposta na sessão de 2015, tendo a AG aprovado a mesma e
recomendado que o texto constituísse a base de uma convenção. Foi imediatamente aberto
um período de 90 dias para que os Estados-membros pudessem efectuar a assinatura diferida,
à qual sucederia a ratificação (que produziria a vinculação primeiro dia do segundo mês
subsequente).
O texto da convenção previa ainda que, findo o prazo estabelecido para a assinatura diferida
(31 de Janeiro de 2016), os Estados poderiam aderir, comunicando essa intenção ao
Secretário-Geral NU que exerceria as funções de depositário, ocorrendo a vinculação
(também) no primeiro dia do segundo mês subsequente. Era também referido no texto que a
convenção entraria em vigor com a vinculação do 15.º Estado.
Em 31 de Janeiro de 2016 haviam assinado a convenção 20 Estados (A a T).
Em 15 de Abril de 2016 os Estados X e Y pediram a adesão.
Em 1 de Junho de 2016, 13 Estados haviam depositado o instrumento de ratificação [assuma,
por facilidade, que o fizeram todos nessa data] mas um deles (M) juntou uma declaração
limitando a sua participação em eventuais operações de patrulhamento. A e B aceitaram em 1
de Julho de 2016 e os restantes Estados não se pronunciaram.
Em 1 de Agosto o Estado N depositou o seu instrumento de ratificação seguido pelo Estado O,
a 15 do mesmo mês.
Neste enquadramento, explique – fundamentando [tendo presente que aqui reside o essencial
da resposta] – em que data entrou em vigor a convenção.
A entrada em vigor da convenção terá ocorrido, nos termos da mesma, com a vinculação do 15.º EM.
Importa, por isso, conferir quando ocorreu esta.
(Curiosamente) os primeiros EM a vincularem-se terão X e Y, o que terá ocorrido em 1 de Junho de
2016, por aplicação da regra fixada no tratado - nos termos do art. 15.º a) da CV69 -, a qual dispensava
qualquer aceitação.
Dos 13 Estados que depositaram o seu instrumento de vinculação em 1.6.2016, 12 vincularam-se em 1
de Agosto do mesmo ano. Nesta data temos, portanto, 14 Estados vinculados.
A vinculação de M ficou dependente da aceitação da sua reserva (cf. art. 2.º/1 d) da CV69 – no caso, a
declaração limitando a sua participação em eventuais operações de patrulhamento da qual decorria a
pretensão de que na aplicação da convenção a este Estado, fosse contemplada essa especialidade).
Tratando-se de uma convenção multilateral geral (já que é celebrada pelas NU, pretendendo-se um
regime geral para a luta contra a pirataria) basta a aceitação por um Estado para que a vinculação se
possa produzir (art. 20.º/4 a) CV69). Isso aconteceu em 1 de Julho de 2016 pelo que a vinculação
ocorreria em 1 de Setembro [pode admitir-se, sem penalização, a não contabilização para efeitos da
vinculação da vacatio legis fixada, o que implicaria considerar a vinculação imediata a 1 de Julho.] Esta
(1 de Setembro) seria a data da vinculação do 15.º Estado e, portanto, da entrada em vigor da
convenção (N e O vincular-se-iam em 1 de Outubro, mais tarde, portanto).
[Aquilo que se pretende é essencialmente que o aluno aplique correctamente os regimes da adesão e
das reservas]
Recomendações importantes
- Organize a sua resposta antes de iniciar a exposição;
- Responda apenas ao que lhe é perguntado, fundamentando devidamente a sua resposta;
- Tenha presente que a mera transcrição de regras não constitui resposta, porquanto aquilo que se pretende é a sua aplicação
(que deve ser demonstrada);
- Escreva com letra legível.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Prova de frequência/Exame
2019.01.22 – 15h00
Suponha que
O território dos Estados A, B, C e D é atravessado por um rio que constitui o acesso
destes ao mar alto.
Face às necessidades de acautelar a segurança da navegação e minimizar os riscos
de poluição este Estados decidem celebrar uma convenção nessas matérias.
A e B vinculam-se em Janeiro de 2010, mas o novo governo de C decide recusar a
ratificação, ao que o governo de D – receando impactos eleitorais negativos – opta por
deixar para o próximo executivo a ponderação de vinculação.
Ocorre, entretanto, um período de seca que aumenta consideravelmente os riscos
de poluição no rio pelo que A e B solicitam a C e D que cumpram o estipulado na
convenção, até porque, no caso, se tratava de mera codificação do regime
consuetudinário existente.
C recusou-se a fazê-lo lembrando que não estava ainda vinculado à convenção, no
que foi secundado por D. Este referiu ainda que também não estaria vinculado ao regime
consuetudinário na medida em que a sua ordem jurídica nem sequer reconhecia a
vigência do costume.
Face a este circunstancialismo responda justificadamente à seguintes questões:
A. Aprecie a posição de C;
Não estando vinculado à convenção C não teria que a cumprir na medida em que esta apenas produz
efeitos para as partes (art. 34.º CV69). Todavia, na medida em que o regime (convencional) se limitasse a
codificar o regime consuetudinário, C estaria ainda obrigado a cumpri-lo (enquanto costume).
B. Aprecie a posição de D.
Os Estados têm liberdade para adoptar o regime de vigência do direito internacional que entendam [cf.
regime de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há
unanimidade na doutrina e na jurisprudência relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que
estes possam deixar de cumprir as obrigações resultantes do direito internacional. Donde, se a ordem
jurídica de D não reconhecesse o costume, para assegurar o cumprimento das obrigações dessa natureza
deveria transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as mesmas obrigações.
O que implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) D estava obrigado a cumprir o
regime consuetudinário.
Em Junho de 2016 G não é parte. De facto, este formulou uma reserva em Janeiro desse ano a qual não
foi aceite por F, Isso impediu a vinculação de G já que, tratando-se de uma convenção multilateral restrita,
era necessário a assentimento de todos (art. 20.º/2 CV69). Não sendo parte não lhe pode ser exigido [por
E, no caso] o cumprimento da mesma (art. 34.º CV69).
O facto de F tomar conhecimento de que os dados relativos aos riscos e bem assim as estimativas relativas
aos custos de financiamento tinham sido incorrectos consubstancia uma situação de erro (art. 48.º CV69).
Tratando-se de uma base essencial do consentimento desse Estado em ficar vinculado (n.º 1) e não tendo
F contribuído para o mesmo erro (n.º 2) ocorreria uma nulidade relativa invocável por F. A nulidade tem
como consequência a cessação da vigência, mas F teria de seguir o procedimento previsto nos art.s 65.º
e ss.
Tratando-se de uma convenção em matéria militar teria de assumir a forma solene, sendo a competência
de aprovação da AR (161.º i) primeira parte CRP). Neste enquadramento o PR poderia suscitar a
fiscalização preventiva da constitucionalidade da convenção (134.º, 278.º, 279.º CRP) e, estando de
acordo com o conteúdo da mesma, deveria ratificá-la (art. 135.º b) CRP). Do acto de ratificação havia
obrigatoriamente referenda ministerial (art. 140.º/1 CRP).
Suponha que
Os Estados A, B, C e D criaram uma comissão de codificação do costume relativo à
exploração e utilização das águas de um mar interior que banhava o território destes.
A referida comissão propôs – no seguimento do seu trabalho - a celebração de
uma convenção, indicando expressamente as regras resultantes do processo de
codificação e as que correspondiam a um desenvolvimento do mesmo.
Face a este circunstancialismo, responda às questões seguintes:
Não estando vinculado à convenção B não teria que a cumprir na medida em que esta apenas produz
efeitos para as partes (art. 34.º CV69). Todavia, no caso das regras que codificassem costume, este estaria
ainda obrigado a cumpri-las (nesta qualidade).
Relativamente ao carácter dualista da ordem de B (o qual afastaria as regras consuetudinárias - e o direito
internacional enquanto tal) deve ter-se presente que os Estados têm liberdade para adoptar o regime de
vigência do direito internacional que entendam [cf. regime de convergência de Hersh Lauterpascht, pp. 56
ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na jurisprudência
relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam deixar de cumprir as obrigações
resultantes do direito internacional. Donde, se a ordem jurídica de B não reconhecesse o direito
internacional enquanto tal, para assegurar o cumprimento das obrigações dessa natureza deveria
transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as mesmas obrigações. O que
implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) B estava obrigado a cumprir o regime
consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos resultantes desse
incumprimento).
[A invocação da regra do art. 27.º CV69 é imprópria neste enquadramento já que não estão em causa obrigações
convencionais]
É pacífico que as regras convencionais podem dar origem a regra consuetudinárias, servindo de ponto de
partida de uma prática geral aceite como jurídica (opinio juris), (cf. conclusão 11.ª/1 c) Documento
A/CN.4/L.908 de 17 de Maio de 2018).
Em Fevereiro de 2015 F ainda não se vinculou. No entanto os Estados haviam acordado na aplicação
provisória (art. 25.º CV69). Donde, por força da aplicação (provisória) estava obrigado, mas, não havendo
vinculação definitiva à convenção, podia recusar esta [a vinculação] desobrigando-se da própria aplicação
provisória.
Sendo uma convenção restrita a reserva tinha de ser aceite por todas as partes - E e F. E aceitou
imediatamente, mas F não se pronunciou. Donde a vinculação de G apenas ocorreria quando F aceitasse
a reserva, ou, mantendo-se o silêncio deste, decorridos doze meses sobre a data da comunicação da
formulação da mesma (art. 20.º/5 CV69) – ou seja, em Abril de 2016. Donde, nestas circunstâncias, não
se alterando a posição de F, em Junho de 2016 G seria parte.
A cooperação policial não integra o elenco da 1.ª parte 161.º i)* CRP pelo que a convenção revestiria a
forma de acordo em forma simplificada. Não integrando também os elencos dos art.s 164.º e 165.º, a
competência de aprovação seria do governo (197.º/1 c). Este aprovaria por decreto simples (197.º/2).
Enviados ao PR (a convenção e o decreto de aprovação) este poderia suscitar a fiscalização preventiva da
constitucionalidade das normas convencionais (278.º ss.) e (não havendo inconstitucionalidade) deveria
assinar o decreto de aprovação (134.º b). Da intervenção do PR haveria referenda ministerial (140.º/1),
devendo o texto da convenção e os avisos relativos à aprovação e assinatura ser depois publicados no DR
(119.º/1 b).
* Ao contrário do que alguns alunos pretendem, a cooperação policial (que incide, por natureza, na manutenção da
ordem interna) não se confunde com a defesa (do território em relação a ameaças externas). A função das polícias é
distinta da função das forças armadas.
Faculdade de Direito
Direito Internacional Público
Prova de Frequência/Exame final
28.01.2020 – 15h00 – GRELHA DE CORRECÇÃO
Sobre esta matéria, o entendimento (vigente durante muito tempo) de que o fundamento da obrigatoriedade do
costume seria o facto de se tratar de um pacto tácito (o que faria com que não se aplicasse a novos Estados) está hoje
ultrapassado, sendo pacífica uma concepção objectiva que retira esse fundamento do facto de se tratar de regras que
constituem respostas (critérios sentidos como justos) às necessidades da vida internacional, acolhidas por uma
maioria representativa da comunidade internacional. E nesse sentido estas obrigam também os Estados que não
participaram na sua formação.
(b) Relativamente a facto de a ordem de E não reconhecer o costume deve ter-se presente que os Estados têm liberdade
para adoptar o regime de vigência do direito internacional que entendam [cf. regime de convergência de Hersh
Lauterpascht, pp. 56 ss. da Lições, em especial p. 58]. Não obstante, há unanimidade na doutrina e na jurisprudência
relativamente ao facto de essa liberdade não admitir que estes possam deixar de cumprir as obrigações resultantes
do direito internacional. Donde, se a ordem jurídica de E não reconhecesse o costume, para assegurar o cumprimento
das obrigações dessa natureza deveria transformar as regras em causa em actos internos dos quais resultassem as
mesmas obrigações. O que implica que directa ou indirectamente (no caso, indirectamente) E estava obrigado a
cumprir o regime consuetudinário (sob pena de responder internacionalmente pelos danos resultantes desse
incumprimento).
(c) Quanto ao regime convencional propriamente dito, as partes haviam fixado a aplicação imediata. Estamos, portanto,
no âmbito do regime da aplicação provisória (art. 25.º CV69) o que impõe o seu cumprimento (até que algum Estado
– E, neste caso – comunique a sua intenção de não se tornar parte).
Em conclusão, E estava obrigado a cumprir o regime consuetudinário e o próprio regime convencional que o
codificava, não podendo por isso recusar o acesso de embarcações dos demais Estados.
Suponha finalmente que o Governo de A toma conhecimento de que tinha sido garantido ao
representante de E que, caso este assinasse a convenção, as autoridades de B arquivariam uma
investigação criminal contra um filho seu e asseguravam o acesso de outro filho a uma
prestigiada universidade. Considera, por isso, nula a convenção, e pretende a imediata
devolução de todas as contribuições efectuadas por si.
Ainda antes de a convenção entrar em vigor E recusou o direito de peca a embarcações dos
demais Estados nas águas do rio que atravessavam o seu território, contrariando o disposto na
no costume e na convenção. Perante o protesto dos demais Estados, E reagiu lembrando que as
regras consuetudinárias haviam sido substituídas pelas convencionais e que a estas ainda não
estava obrigado. Recordava ainda que a sua constituição assumira uma postura dualista pelo
que apenas se obrigava por actos internos.
Todavia E fazia depender a sua vinculação à aceitação pelos demais Estados desse entendimento, o que torna
condicional a declaração interpretativa (GPR 1.4/1). E estas seguem o regime das reservas (GPR 1.4/2). Assim sendo,
tratando-se de uma convenção multilateral restrita, teria de ser aceite por todos os demais Estados para que D se
vinculasse (20.º/2 CV69). O que não aconteceu, já que C se opôs. Esta posição tem, assim, como efeito imediato o de
impedir a vinculação de D.
3. Explique qual seria a intervenção do Presidente da República num eventual processo de
vinculação de Portugal a esta convenção. (4 valores)
[a] Caso se entendesse que o acesso e utilização das águas de um rio que atravessava o território integra a previsão
do art. 164.º g) CRP (relativamente às águas territoriais) estaríamos face a um acordo em forma simplificada cuja
competência de aprovação seria da AR (161.º i) segunda parte).
Neste caso a intervenção do PR seria a eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º) e
a assinatura da resolução da AR (164.º b), 166.º/5). Deste acto haveria referendo ministerial obrigatória (140.º/1).
[b] Em alternativa poderia considerar-se como não integrando os elencos dos art. 154.º e 165.º pelo que seria também
um acordo em forma simplificada cuja competência de aprovação seria do Governo (197.º/1 c).
Neste caso a intervenção do PR seria a eventual fiscalização preventiva da constitucionalidade (134.º, 278.º, 279.º) e
a assinatura do decreto (134.º b), 197.º/2). Deste acto haveria referendo ministerial obrigatória (140.º/1).
I
Suponha que
Os Estados A, B, C, D e E assinaram em 31 de Janeiro de 2012 uma convenção que
codificava e completava o regime consuetudinário relativo ao rio X que atravessava o território
de todos eles.
A convenção determinava a sua entrava em vigor com o depósito do instrumento de
ratificação do quarto Estado, mas previa a aplicação imediata das partes III e IV (relativas ao
controlo do cumprimento e à resolução de conflitos).
Em Março de 2012 B deposita o seu instrumento de ratificação e imediatamente solicita
que sejam controladas as descargas de poluentes efectuadas por D.
D recusa que esse controlo seja efectuado alegando que ainda não estava vinculado à
convenção. Acrescenta que, por outro lado, a sua ordem jurídica assumidamente dualista não
reconhecia a vigência do direito internacional.
A protesta contra a posição de D recordando a expressa previsão da aplicação imediata
das regras convencionais relativas ao controlo do cumprimento e chamando ainda à atenção
para o facto de o regime relativo às descargas poluentes ser mera codificação do costume
existente na matéria.
Qvid jvris? [10 valores]
A situação prática exposta levanta três questões jurídicas distintas (1 a aplicação provisória das
regras convencionais – importanto conferir se obrigam D mesmo antes da sua vinculação à convenção –,
2
o carácter dualista da ordem jurídica de D – que não reconhecia a vigência do direito internacional
tornando necessário conferir se, obrigavam D – e ainda o facto de 3 as regras relativas às descargas pré-
existirem enquanto regras consuetudinárias – o que obriga a que se pondere as relações entre as
diferentes fontes e a respectiva vigência) que serão analisadas em cada um dos parágrafos seguintes.
1. Nos termos do art. 24.º CV69 as cláusulas finais [que são a parte do dispositivo em que se regula
entre outros aspectos a entrada em vigor, a aplicação provisória, etc.] entram em vigor com a assinatura.
A aplicação imediata das partes III e IV da convenção constituiria uma situação de aplicação provisória
regulada pelo art, 25.º/1 CV69. Donde, ao contrário do pretendido pelo Estado D, este estava obrigado
àquele regime.[É certo que o carácter provisório e voluntário da aplicação faz com que qualquer Estado
que participe nessa situação lhe possa pôr fim quando o entenda e que a mesma aplicação cessa se o
Estado comunica a intenção de não se vincular, mas enquanto D pretenda prosseguir o processo da sua
vinculação deverá cumprir o estipulado].
2. D refere ainda que a sua ordem jurídica, assumidamente dualista, não reconhecia a vigência do
direito internacional. A doutrina reconhece desde a primeira metade do sec XX um regime de
convergência que reconhece aos Estados a liberdade de determinarem por via constitucional (ou outra)
o regime relativo à aplicação do direito internacional, mas isso não afasta a obrigação de conformarem a
sua ordem interna ao cumprimento das suas obrigações internacionais [princípio esse expresso no art.
27.º CV69]. Donde, ainda que a ordem constitucional de D não reconhecesse a vigência do direito
internacional teria de cumprir as obrigações dele decorrente (por ser fonte de direito internacional - 38.º
ETIJ) podendo, se assim entendesse, transformar as regras convencionais em actos nacionais.
3. Foi ainda referido por A a questão de o regime relativo às descargas poluentes ser mera
codificação do costume [local] existente. A ser verdade as regras aplicar-se-iam independentemente da
convenção, impondo-se a D.
Em conclusão, embora D ainda não se houvesse vinculado à convenção estava obirgado a cumprir
as regras relativas às descargas (que se impunham enquanto regras consuetudinárias) e a admitir o
controlo do cumprimento que se lhe impunha dado as regras beneficiarem de aplicação provisória
(determinada no texto convencional).
II
Os Estados F, G e H celebraram uma convenção que criava uma força comum de
patrulhamento das fronteiras terrestres e marítimas.
Já depois da entrada em vigor da convenção, F e G tomam conhecimento de que a fórmula
de cálculo aplicável à repartição das despesas – e que tinha sido apresentada por H – assentava
em pressupostos incorrectos e prejudicava substancialmente ambos os Estados.
Face a este circunstancialismo, responda directa, mas fundamentadamente a cada uma
das seguintes questões:
Sendo que o consentimento de G foi afectado pelo dolo de H este tem legitimidade para invocar o
vício (49.ºCV69). Não pode todavia considerar-se imediatamente desvinculado, devendo seguir o
procedimento previsto nos art.s 65.º ss. (comunicar a sua constatação indicando da sua intenção,
concedendo um prazo não inderior a 3 meses para que os demais Estados se pronunciarem; se da parte
destes houvesse oposição deveriam recorrer a um dos mecanismos de resolução pacífica de conflitos e
se, no prazo de um ano não obtivessem solução poderia dar início ao procedimento de conciliação
previsto no anexo da CV69).
Havendo nulidade (que decorreria do vício referido nas respostas anteriores - dolo) esta tem como
efeito a retroactividade, ou seja, qualquer parte poderia solicitar a reposição da situação que existiria se
a convenção não tivesse sido aplicada (69.º/2 a). Nesse sentido poderia exigir a devolução das
contribuições por si efectuadas. No entanto, os atos praticados de boa-fé, antes da nulidade de um
tratado haver sido invocada, não serão afetados pela nulidade do tratado (69.º/2 b) o que significa que
as despesas entretanto realizadas (de boa-fé) se mantinham.
Tratando-se de uma convenção que criava uma força comum de patrulhamento das fronteiras esta
revestiria a forma de um tratado solene (1.ª parte 161.º i) CRP) cuja a competência de aprovação seria da
AR (por se tratar de matéria relativa à defesa, nos termos da mesma norma), através de uma Resolução
(166.º/5), pelo que o PR poderia eventualmente suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade
(134.º, 278.º) e – não havendo qualquer vício –, se entendesse que a vinculação era politicamente
adequada, deveria ratificá-la (135.º b) – acto do qual deveria haver posterior referenda ministerial
(140.º/1).
Notas decorrentes da correcção (relativas a deficiências ou erros comuns)
[Em geral]
Os alunos não devem presumir que a repetição dos factos que constam do enunciado
tem enquanto tal alguma valor. O que importa é identificar – nos factos - as questões
juridicamente relevantes e tratá-las.
[Questão I]
a. A assinatura de uma convenção apenas é expressão da vontade em ficar vinculado [à
convenção] se essa for a intençãodos Estados (constante do próprio tratado ou de
outro acto). Isso mesmo consta do art. 13.º CV69.
No caso, prevendo-se [o depósito do instrumento de] ratificação, deve constatar-se
que a contrario sensu, não era essa a intenção, pelo que a assinatura não vinculava.
[Questão II]
d. Boa parte dos alunos confunde o regime relativo à forma com o da competência de
aprovação da AR (não devem confundir-se porque não coincidem sequer – a AR
aprova acordos em forma simplificada, em matérias da sua competência própria de
aprovação);
Suponha que
Os representantes dos Estados A, B, C e D assinaram em 31 de Janeiro de 2015
uma convenção que codificava o costume regional relativo ao trânsito marítimo nas
águas territoriais. O texto da convenção estipulava que a mesma se aplicaria desde
assinatura e que entraria em vigor com o depósito do instrumento de ratificação do
terceiro Estado.
A, B e D depositaram os respectivos instrumentos de ratificação simultaneamente,
em 12 de Junho de 2015 tendo este último formulado uma reserva que excluía a
aplicação do regime em situações de conflito armado relativamente a quaisquer navios
de Estados beligerantes ou com destino aos portos destes. A e B aceitaram
imediatamente a reserva ao passo que C (que apenas depositou o instrumento de
ratificação em 1 de Agosto de 2015) não se pronunciou. presunção de aceitação após
→ / ano
↳ Vinculação de
Em Julho de 2015 E solicitou a adesão que foi imediatamente aceite por A, B e D. D em 1210612016 .
Suponha que em Março do corrente ano a AG das Nações Unidas tinha aprovado (com dois
votos contra – da China e dos EUA – e 12 abstenções) uma declaração solene que impunha o
acesso universal a qualquer vacina contra vírus pandémicos (nomeadamente o COVID-19) que
viesse a ser descoberta e comercializada.
Na sequência dessa declaração foi, entretanto, celebrada uma convenção que estabelecia
um regime geral de acesso a vacinas em caso de pandemia.
O texto da convenção – que referia expressamente que esta codificava o costume formado
a partir da Declaração da AGNU – foi assinado por 128 Estados e estabelecia que a vinculação
decorria da ratificação e que a entrada em vigor da mesma ocorreria no primeiro do segundo
mês subsequente ao depósito do 35.º instrumento de vinculação.
Entretanto é descoberta nos EUA uma vacina contra o COVID-19. A China imediatamente
solicita a disponibilização da mesma, invocando o costume ao qual os EUA estariam obrigados
por terem negociado e assinado a convenção. A administração americana informa estar a
ponderar em que termos permitirá o acesso da China à vacina, insistindo, no entanto, não estar
vinculada a qualquer costume (recordando que tinha votado contra a declaração que deu
origem à suposta regra consuetudinária e insistindo que não se havia vinculado à convenção,
pelo que nenhuma obrigação dali decorria).
Neste enquadramento explique:
4. Se, meses mais tarde, D viesse a declarar que o processo interno relativo à sua vinculação
havia sido conduzido por um governo de gestão que não tinha poderes para vincular o
Estado, poderia considerar-se ipso iure desobrigado da convenção? (4 valores)
Os Estados não podem por regra, invocar irregularidades no seu processo de vinculação como invalidantes
desta (46.º/1 CV69). Essa circunstância (da irregularidade) apenas relevaria conquanto se referisse a uma
regra de importância fundamental (o que até poderia verificar-se, na medida em que houvesse violação
de uma regra constitucional) e essa violação fosse manifesta (o que é sempre mais difícil de ocorrer uma
vez que para o efeito teria de ser evidente para os demais estados).
Mesmo que a irregularidade preenchesse os requisitos excepcionais do 46.º, o Estado D não poderia
considerar-se ipso iure desobrigado da convenção. Deveria nos termos do art. 65.º ss. comunicar às outras
partes a pretensão, conferindo-lhes um prazo não inferior a 3 meses para que estes se pronunciassem e
se estes se opusessem deveriam procurar solucionar o conflito através de um mecanismo de resolução
pacífica. Ou seja, a desvinculação nunca é automática.