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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA

Baseada nos PowerPoints das aulas teóricas, apontamentos e livro “Histologia Básica” de Junqueira & Carneiro.

Alexa Cuznetova

2019/2020
Faculdade de Medicina Veterinária Histologia I

Índice
1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS TECIDOS ................................................................................ 1
2. TECIDO EPITELIAL .................................................................................................................. 2
2.1. EPITÉLIOS DE REVESTIMENTO .................................................................................................... 3
2.2. LÂMINA BASAL E DISPOSITIVOS JUNCIONAIS ............................................................................. 8
2.3. DIFERENCIAÇÕES DA SUPERFÍCIE APICAL DAS CÉLULAS SUPERFICIAIS DOS EPITÉLIOS DE
REVESTIMENTO .....................................................................................................................................14
2.4. EPITÉLIOS GLANDULARES ........................................................................................................16
3. TECIDO CONJUNTIVO ........................................................................................................... 24
3.1. MATRIZ EXTRACELULAR ...........................................................................................................25
3.2. CÉLULAS DO TECIDO CONJUNTIVO............................................................................................31
3.3. VARIEDADES DE TECIDO CONJUNTIVO ......................................................................................35
3.4. TECIDO ADIPOSO ......................................................................................................................37
3.5. TECIDO CARTILAGÍNEO .............................................................................................................41
3.6. TECIDO ÓSSEO..........................................................................................................................46
3.7. SANGUE ....................................................................................................................................58
4. TECIDO NERVOSO ................................................................................................................ 75
4.1. NEURÓGLIA ..............................................................................................................................82
4.2. FIBRAS NERVOSAS ...................................................................................................................87
5. TECIDO MUSCULAR .............................................................................................................. 93
5.1. TECIDO MUSCULAR ESQUELÉTICO ............................................................................................94
5.2. TECIDO MUSCULAR CARDÍACO E TECIDO MUSCULAR LISO ...................................................... 104
6. SISTEMA IMUNITÁRIO E ÓRGÃOS LINFÁTICOS .................................................................... 109
6.1. TECIDOS E ÓRGÃOS LINFÓIDES............................................................................................... 115

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1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS TECIDOS


Os tecidos são compostos por:
• Células
• Matriz extracelular (MEC) – é produzida pelas células e são estas que controlam a sua composição, mas
ao mesmo tempo são influenciadas e controladas pelas moléculas da matriz, ou seja, existe uma intensa
interação entre as células e a MEC.

Muitas moléculas da matriz são reconhecidas e ligam-se a recetores encontrados na superfície das células. Os
recetores são moléculas que cruzam a membrana da célula e ligam-se a moléculas encontradas no citoplasma.

Pode-se considerar que as células e a matriz celular são componentes do corpo que têm continuidade física,
funcionam conjuntamente, e respondem de modo coordenado às exigências do organismo.

O organismo é constituído por apenas quatro tipos básicos de tecidos:


• Tecido epitelial
• Tecido conjuntivo
• Tecido muscular
• Tecido nervoso

Esta classificação dos tecidos leva em conta principalmente critérios da estrutura, das funções e da origem
embriológica desses tecidos.

O Tecido epitelial é formado por células que revestem superfícies e que secretam moléculas, tendo pouca matriz
extracelular.

O Tecido conjuntivo é caracterizado por uma grande quantidade de matriz extracelular, que é produzida pelas
suas próprias células.

O Tecido muscular é formado por células alongadas dotadas da capacidade de encurtar o seu comprimento
(contrações).

O Tecido nervoso é composto por células com longos prolongamentos, emitidos pelo corpo celular, que têm as
funções especializadas de receber, gerar e transmitir impulsos nervosos.

Os tecidos não existem no organismo como componentes isolados, mas sim como componentes associados uns
dos outros, formando os diferentes órgãos do corpo. Os órgãos são formados por uma associação muito precisa
de vários tecidos, associação essa que resulta no funcionamento adequado de cada órgão, dos sistemas
formados por vários órgãos e do organismo como um todo.

EXCEÇÃO: O sistema nervoso é constituído quase somente por tecido nervoso.

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Também têm grande importância funcional as células livres nos fluídos do corpo, tais como o sangue e a linfa.

Os órgãos são constituídos por:


• Parênquima – composto pelas células responsáveis pelas funções típicas do órgão;
• Estroma – tecido de sustentação representado quase sempre pelo tecido conjuntivo.

2. TECIDO EPITELIAL
O Tecido epitelial pode ter a sua origem embriológica em qualquer um dos três folhetos germinativos do embrião:
• Ectoderme – origina a epiderme e o epitélio da córnea;
• Mesoderme – origina o endotélio e o mesotélio;
• Endoderme – origina o epitélio gastro-intestinal e o epitélio da traqueia, brônquios e pulmão.

NOTA: os folhetos germinativos evoluem por diferenciação e especialização das suas células.

Os epitélios funcionam como interfaces entre diferentes


compartimentos biológicos e têm como funções:
• Proteção mecânica;
• Absorção;
• Secreção;
• Receção de estímulos sensoriais (neuroepitélios).

Uma vez que todas as superfícies são revestidas por células


epiteliais, tudo o que entra e sai do corpo deve atravessar um
folheto epitelial.

A secreção pode ser feita por células de epitélios de


revestimento ou por células epiteliais que se reúnem para
constituir estruturas especializadas em secreção,
denominadas glândulas.

Os epitélios são constituídos por células poliédricas (células com muitas faces) justapostas e com pouca matriz
extracelular interposta. As células epiteliais geralmente aderem firmemente umas às outras por meio de junções
intercelulares.

As células epiteliais exibem geralmente polaridade morfológica e funcional. A polaridade existe quando a
distribuição de organelos no polo basal é diferente dos organelos encontrados no polo apical, o que significa que
diferentes partes das células podem ter funções diferentes.

Praticamente todos os epitélios estão apoiados sobre tecido conjuntivo. No caso dos epitélios que revestem as
cavidades de órgãos ocos (ex.: sistema digestivo, respiratório), essa camada de tecido conjuntivo chama-se
lâmina própria.

Distinguem-se três domínios de superfície das células:


Þ Domínio apical
• Na porção livre da célula, voltado para uma superfície externa ou interna;
• Pode apresentar especializações da membrana celular (microvilosidades, cílios).

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Þ Domínio basal
• Na porção basal da célula, voltada para a membrana basal.
Þ Domínio lateral
• Onde a célula se comunica com as células adjacentes;
• Possui junções intercelulares.

As superfícies laterais normalmente continuam-se com a superfície que forma a base das células, dando origem
então a domínios basolaterais.

A superfície basal das células epiteliais está ancorada à membrana basal subjacente.

A membrana basal é como um filtro semipermeável e serve de


suporte aos epitélios. É composta por uma rede
macromolecular de finos filamentos e serve de interface entre
o tecido epitelial e o tecido conjuntivo.

NOTA: a membrana basal não faz parte da célula.

Os epitélios são avasculares, mas providos de inervação. Por


serem avasculares obtêm os nutrientes e oxigénio por difusão
a partir do tecido conjuntivo. Também possuem uma grande capacidade regenerativa.

Consideram-se duas grandes espécies de epitélio:


Þ Epitélios de revestimento
• Revestem as superfícies externas do corpo;
• Revestem superfícies internas (cavidades, canais, tubos) que:
§ Comunicam com o exterior (tratos digestivo, respiratório e urinário)
§ Não comunicam com o exterior (ex.: cavidades torácica e abdominal, sistema vascular).

Þ Epitélios glandulares
• Estão primariamente envolvidos na secreção;
• Formam muitas vezes estruturas denominadas glândulas.

2.1. EPITÉLIOS DE REVESTIMENTO

Os epitélios de revestimento são classificados segundo dois critérios fundamentais:


1. Número de camadas celulares
• SIMPLES: uma camada celular;
• ESTRATIFICADOS: duas ou mais camadas celulares.
2. Forma das células da camada superficial
• PAVIMENTOSOS: forma achatada;
• CÚBICOS: formato de cubo;
• COLUNARES, PRISMÁTICOS ou CILÍNDRICOS: células altas, formado de cilindro ou colunas.

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O epitélio pseudo-estratificado e o epitélio de transição são outros dois tipos de epitélio de revestimento.
• Epitélio pseudo-estratificado – epitélio simples com os núcleos das células colocados em várias alturas,
o que dá uma impressão errada de mais de uma camada de células;
• Epitélio de transição – epitélio estratificado no qual a forma das células da camada mais superficial varia
com o estado de distensão ou relaxamento do órgão.

A presença de especializações ao nível da superfície apical é outro critério para a classificação dos epitélios de
revestimento.
• Epitélio ciliado;
• Epitélio estratificado pavimentoso queratinizado.

Exemplos de localização dos vários tipos de epitélios de revestimento:

Quanto à classificação dos epitélios de revestimento:


Þ Epitélio pavimentoso simples
• Protege as vísceras (mesotélio); reveste
as superfícies envolvidas na difusão de
gases (ex.: alvéolos pulmonares) ou
líquidos (ex.: capilares sanguíneos);
secreção de moléculas biologicamente
ativas (endotélio);
• Forma o revestimento das serosas das
cavidades pleural, pericárdica e peritoneal
(mesotélio); revestimento de vasos
(endotélio);
• No sistema cardiovascular é denominado
de endotélio;
• Nas serosas é chamado
de mesotélio.

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Þ Epitélio cúbico simples


• Reveste pequenos ductos e tubos que podem ter funções secretoras, excretoras ou de
absorção;
• Exemplos de localização: tubos renais, revestimento externo do ovário, folículos tireoidianos.

Þ Epitélio colunar simples


• Células altas, relativamente estreitas, com
núcleos ovalares (também alongados);
• Funções de proteção, lubrificação,
secreção e absorção;
• Exemplos de localização: revestimento do
lúmen do intestino e da vesícula biliar. Na
tuba uterina é colunar simples ciliado.

Þ Epitélio pseudo-estratificado
• Todas as células repousam na membrana basal, mas tendo alturas diferentes nem todas chegam à
superfície;
• Núcleos dispostos a diferentes níveis;
• Funções de proteção, secreção, transporte por cílios de partículas aderidas ao muco nas passagens
respiratórias;
• Epitélio pseudo-estratificado colunar ciliado: vias respiratórias desde as cavidades nasais aos
brônquios;
• Epitélio pseudo-estratificado colunar com estereocílios: epidídimo.

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Þ Epitélio pavimentoso estratificado


• As células superficiais são achatadas;
• A camada mais profunda é a responsável pela renovação do
epitélio;
• Presente em cavidades húmidas sujeitas a atrito e forças
mecânicas, como a cavidade oral, a faringe, a vagina e a
cavidade anal;
• Funções de proteção, previne perda pela água (barreira).

Þ Epitélio pavimentoso estratificado queratinizado


• Camadas mais superficiais constituídas
por células mortas preenchidas por
queratina (as células mortas perdem os
seus organelos);
• Funções de proteção e previne perda de
água (barreira);
• Presente em superfícies secas, como por
exemplo a pele (epiderme).

Þ Epitélio cúbico estratificado


• Constituído geralmente por duas ou três camadas de células cúbicas ou cilíndricas baixas;
• Funções de proteção e secreção;
• Exemplos de localização: ductos excretores de glândulas sudoríporas, glândulas salivares
(excretoras), folículos ovarianos em crescimento.

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Þ Epitélio colunar estratificado


• Constituído por duas ou três camadas de células, sendo as mais superficiais colunares;
• Função de proteção;
• Exemplos de localização: ductos excretores das glândulas salivares, membrana conjuntiva do
olho.

Þ Epitélio de transição
• Epitélio estratificado;
• Reveste as vias urinárias (bexiga, ureter, bacinete), ou seja, o urotélio;
• Funções de proteção e distensibiliade;
• Exibe grande plasticidade, variando o número de camadas em função do grau de distensão do
órgão;
• Células superficiais de forma achatada ou globulosa, conforme o órgão está mais ou menos
distendido;
• Constitui uma barreira à penetração de substâncias tóxicas na parede da bexiga.

NOTAS:
• Para classificar o epitélio quanto à forma temos de ter em atenção apenas as células da camada mais
superficial (no caso dos epitélios estratificados);
• Quanto mais estratificado for o epitélio, melhor desempenha a função de proteção;

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• O epitélio é simples em zonas em que é necessária espessura mínima para não dificultar, por exemplo,
as trocas gasosas.

2.2. LÂMINA BASAL E DISPOSITIVOS JUNCIONAIS

A membrana basal é uma camada condensada de matriz extracelular que separa o tecido epitelial do tecido
conjuntivo de sustentação. Esta:
• Fornece suporte estrutural aos epitélios;
• Liga os epitélios aos tecidos de sustentação;
• Constitui uma barreira seletiva ao trânsito de moléculas entre o epitélio e o tecido conjuntivo;
• Influencia a atividade, o crescimento e a diferenciação epitelial;
• É acelular.

Em microscopia eletrónica, a membrana basal apresenta dois componentes:


Þ Lâmina basal
• Mais próxima do polo basal das células epiteliais;
• Produzida pelo epitélio.

Þ Lâmina fibrorreticular
• Subjacente à lâmina basal;
• Produzida pelo tecido conjuntivo.

NOTA: é difícil delimitar a lâmina fibrorreticular do tecido conjuntivo.

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2.2.1. LÂMINA BASAL


A lâmina basal é, por sua vez, constituída por 2 componentes:
Þ Lâmina lúcida (LL)
• Em contacto com a membrana celular basal das células epiteliais;
• É mais clara.

Þ Lâmina densa (LD)


• Em contacto direto com a lâmina fibrorreticular;
• É mais escura.

NOTA: a divisão da lâmina basal é artefactual – existe


apenas a lâmina densa. Este efeito ocorre devido à
retração das células durante a fixação.

A lâmina basal não existe apenas nas células epiteliais, mas também em células musculares, adipócitos e células
de Schwann dos nervos periféricos, onde se forma uma barreira que limita ou controla a troca de macromoléculas
entre essas células e o tecido conjuntivo.

NOTA: nas células não epiteliais a lâmina basal pode ser denominada de lâmina externa.

Os componentes da lâmina basal formam uma espécie de tapete molecular entre a base do epitélio e o tecido
conjuntivo:
• Colagénio tipo IV – forma uma rede semelhante a uma tela de galinheiro. Fornece um suporte estrutural;
• Laminina – liga-se a recetores (integrinas – proteínas transmembranares) da região basal das células
epiteliais. Também se liga ao colagénio tipo IV, tornando a rede mais apertada;
• Nidogénio (entactina) – liga a laminina à rede de colagénio;
• Proteoglicanos (perlecano) – promovem conexões entre os outros componentes da lâmina basal.

Todos estes componentes são secretados pelo


epitélio.

Na ausência de laminina não é possível a


formação da membrana basal.

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As fibrilas de ancoragem (colagénio tipo VII) ancoram a lâmina basal ao tecido conjuntivo. Este tipo de colagénio
é produzido pelo tecido conjuntivo e faz parte da lâmina fibrorreticular.

As superfícies justapostas das células epiteliais são unidas por junções. De acordo com as funções que
desempenham, as Junções Intercelulares são classificadas em:
• Impermeáveis (junções ocludentes / tight junctions);
• Aderentes (junções de adesão; desmossomas; hemidesmossomas);
• Comunicantes (junções de hiato / gap junctions).

2.2.2. JUNÇÕES OCLUDENTES


As junções ocludentes são as junções mais
apicais do complexo juncional. O termo
“zónula” indica que a junção forma uma faixa
ou cinturão que circunda a célula
completamente, e “oclusão” refere-se à
adesão das membranas que ocorre nessas
junções, vedando o espaço intercelular. São
impermeáveis, pelo que formam uma
espécie de barreira de selo, impedindo a
passagem de macromoléculas.

Ao microscópio eletrónico, as junções


ocludentes aparecem como uma região onde
os folhetos externos das membranas de
células adjacentes se tornam extremamente
próximos.

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As junções ocludentes são formadas por “fitas selantes” que unem


fortemente as membranas plasmáticas das células contíguas. Estas fitas
são formadas por proteínas membranares que se destacam de cada
membrana plasmática em oposição e se unem no espaço intercelular.
Entre essas proteínas destacam-se as claudinas e as ocludinas.

Estas junções selam os espaços entre as células do epitélio, tornando-o


uma barreira impermeável ou seletivamente permeável, ou seja:
• Impedem a livre passagem de substâncias entre as células;
• Estabelecem os domínios funcionais na membrana plasmática
(impedem o movimento de proteínas membranas entre os
domínios apical e basolateral).

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2.2.3. JUNÇÕES DE ADESÃO


As zonulae adherens (desmossomas circulares) localizam-se
abaixo das junções ocludentes das células epiteliais e:
• Circundam toda a célula;
• Ligam fortemente as células entre si.

Nas zonulae adherens, as membranas plasmáticas


adjacentes estão separadas por um espaço intercelular.
Feixes de microfilamentos de actina ligam-se à face
citoplasmática deste tipo de junções.

O espaço intercelular entre os folhetos externos das duas


membranas adjacentes é ocupado pelos domínios extracelulares
das proteínas caderinas. As caderinas são proteínas que intervêm
na adesão promovida pelas zonulae adherens; estas perdem a sua
capacidade de adesão na ausência de Ca2+.

O domínio citoplasmático das caderinas associa-se ao


citoesqueleto das células (microfilamentos de actina) por
intermédio de proteínas de ancorgem (ex.: cateninas, vinculinas).

Os desmossomas (macula adherens) são junções aderentes


focais. Estes:
• Ocorrem entre vários pontos das superfícies laterais das
células;
• Propiciam uma ligação particularmente forte entre as células

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Os macula adherens têm forma de disco (portanto, nunca formam zónulas) e são constituídas por duas placas
densas, cada uma situada na porção citoplasmática adjacente às membranas celulares de células vizinhas:
• A placa densa é composta por várias proteínas (desmoplaquinas, placoglobinas);
• O espaço intercelular é composto por proteínas transmembranares da família das caderinas
(desmogleínas e desmocolinas) que ligam as células adjacentes;
• As placas densas associam-se a filamentos citoplasmáticos de queratina. Por estas serem de queratina
a adesão é bastante forte.

O complexo juncional é o conjunto formado pela junção ocludente, zonulae adherens e o desmossoma. Estes
complexos ocorrem nos epitélios de absorção, ricos em microvilosidades.

Os hemidesmossomas ligam a superfície basal das células epiteliais à


lâmina basal subjacente. São morfologicamente semelhantes a metade de
um desmossoma, porém, são as integrinas as placas de ancoragem dos
hemidesmossomas, e não as caderinas. Ocorrem nos epitélios sujeitos a
atritos ou forças mecânicas. Possuem uma placa de fixação intracelular no
lado citoplasmático da membrana plasmática basal.

Os filamentos de queratina inserem-se na placa


citoplasmática do hemidesmossoma.

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2.2.4. JUNÇÕES COMUNICANTES


As junções comunicantes podem existir em praticamente qualquer local das membranas laterais das células
epiteliais. Estas junções são também encontradas em outros tecidos, sendo o músculo esquelético uma exceção.
As junções comunicantes (junções de hiato ou gap junctions) permitem a comunicação entre as células – as
membranas plasmáticas adjacentes deixam uma estreita fenda interposta (gap).

Estas junções são constituídas por um conjunto de canais


proteicos – conexões:
• Cada conexão é constituído por proteínas
transmembranares (conexinas);
• Os conexões de duas células vizinhas formam um
canal contínuo que permite a passagem de pequenas
moléculas e iões de uma célula para outra.

A superfície de algumas células epiteliais possui modificações


que aumentam a superfície celular ou promovem a
deslocação de substâncias sobre a superfície epitelial, que
podem ser:
• Microvilosidades;
• Cílios e flagelos;
• Estereocílios.

2.3. DIFERENCIAÇÕES DA SUPERFÍCIE APICAL DAS CÉLULAS SUPERFICIAIS DOS


EPITÉLIOS DE REVESTIMENTO

Microvilosidades são extensões citoplasmáticas digitiformes (em forma de dedo). São particularmente
abundantes nos epitélios especializados na absorção (ex.: epitélio de revestimento do intestino delgado e dos
túbulos proximais dos rins).
Medem cerca de 1 µm de comprimento e 0,08 µm de diâmetro. Podem aumentar a área de superfície de
absorção da célula em cerca de 20 a 30 vezes.

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As microvilosidades não são observadas


individualmente ao microscópio ótico – nas células onde
existem em grande número podem ser observadas,
coletivamente, ao microscópio ótico, sendo
denominadas de:
• Prato estriado (intestino delgado);
• Bordadura em escova (tubo contornado
proximal do rim).

Nas células de absorção, a superfície externa das


microvilosidades exibe um espesso glicocálice:
• Revestimento que cobre a superfície celular
externa;
• Composto por cadeias de glúcidos que estão
associados a proteínas integrais
transmembranares e/ou a fosfolípidos do
folheto externo da membrana plasmática;
• No intestino inclui enzinas envolvidas na
digestão de certas macromoléculas.

O interior das microvilosidades contém um feixe de


microfilamentos de actina.

Estereocílios são microvilosidades longas e, por vezes, ramificadas. São imóveis e possuem a capacidade de
aumentar a área de superfície da célula, facilitando o movimento das moléculas para dentro e para fora das
células.

O seu citoesqueleto é constituído por um feixe de microfilamentos.

Exemplos de localização: epidídimo, canal deferente (absorção) e ouvido interno (mecanorrecetores).

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Os cílios são projeções móveis da superfície apical das células. Medem 5 a


10 µm de comprimento e 0,2 µm de diâmetro (são maiores que as
microvilosidades). Promovem a deslocação de fluidos ou células sobre a
superfície epitelial. Possuem batimento coordenado semelhante ao de um
chicote.

Os cílios contêm um citoesqueleto de microtúbulos denominado por


axonema – um par central de microtúbulos circundado por 9 pares
periféricos de microtúbulos e suas proteínas associadas. Os 2 microtúbulos
dos pares periféricos são unidos entre si.
Os microtúbulos do axonema inserem-se no corpúsculo basal localizado no
citoplasma apical. A motilidade ciliar depende de umas proteínas motoras
designadas por dineínas.

Os microtúbulos centrais são independentes um do outro. Nos dupletos


periféricos, o microtúbulo mais externo compartilha parte da parede do
microtúbulo mais interno. Os braços da dineína provocam o deslizamento
dos dupletos de microtúbulos.

2.4. EPITÉLIOS GLANDULARES

Os epitélios glandulares estão primariamente envolvidos na secreção. As


células epiteliais glandulares podem ocorrer nos epitélios de revestimento ou
formar estruturas especializadas chamadas glândulas.

As células epiteliais glandulares podem sintetizar, armazenar e eliminar


proteínas (ex.: pâncreas), lípidos (ex.: adrenal e glândulas sebáceas) ou
complexos de carbohidratos e proteínas (ex.: glândulas salivares). As
glândulas mamárias secretam todos os 3 tipos de substâncias.

As glândulas originam-se a partir dos epitélios de revestimento, cujas células


proliferam e invadem o tecido conjuntivo subjacente, após o que sofrem
diferenciação adicional.

Existem dois tipos de glândulas:


Þ Glândulas Exócrinas
• Mantêm a ligação à superfície epitelial que as originou;
• Essa ligação é feita através de ductos tubulares (constituídos por células epiteliais), e é através
destes que as secreções são eliminadas, alcançando a superfície do corpo ou uma cavidade.

Þ Glândulas Endócrinas
• A conexão com o epitélio é obliterada e reabsorvida durante o desenvolvimento;
• Não têm ductos, sendo a sua secreção lançada para o sangue e transportada para o seu local
de ação pela circulação sanguínea;
• São diferenciados 2 tipos de glândulas endócrinas:
§ Cordonais – formam cordões anastomosados, entremeados por capilares sanguíneos
(ex.: suprarrenal, adenohipófise);

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§ Foliculares – células preenchidas de material secretado. São constituídas por vesiculas


fechadas com parede formada por células epiteliais (ex.: tiróide).

O parênquima é a componente epitelial e funcional das


glândulas, enquanto o estroma é o tecido conjuntivo de
suporte.

O Parênquima da maioria das glândulas exócrimas é


constituído por unidades secretoras e ductos.
• Unidades secretoras – constituídas por células
epiteliais, que formam um epitélio simples,
(secretoras) a rodear um lúmen, que é continuo com
sistema ductal;
• Ductos – revestido por células epiteliais que não são
secretoras, mas podem alterar ligeiramente a
secreção.

As glândulas exócrinas podem ser classificadas com base em vários critérios:


1. Quanto ao número de células da porção secretora
• Glândulas UNICELULARES
• Glândulas PLURICELULARES

2. Quanto à forma da porção secretora


• TUBULOSAS
• ACINOSAS (ALVEOLARES)
• TÚBULO-ACINOSAS

3. Quanto ao número de canais excretores


• SIMPLES
• COMPOSTAS

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4. Quanto ao tipo de secreção


• MUCOSAS
• SEROSAS
• MISTAS

5. Quanto ao mecanismo de secreção


• MERÓCRINAS
• APÓCRINAS
• HOLÓCRINAS

NOTA: a maior parte das glândulas são pluricelulares.

Quando a unidade secretora tem forma arredondada chama-se ácino.


• Acinoso – quando o lúmen é redondo, mas estreito;
• Alveolar – quando o lúmen é redondo, mas amplo.

Ser simples ou composto tem a ver apenas com o número de ductos.

As células caliciformes são exemplos de glândulas


unicelulares. Encontra-se no revestimento do intestino
delgado ou do sistema respiratório. É uma célula produtora
de muco. Não formam ácinos: aparecem isoladas,
intercaladas no epitélio de revestimento.

NOTA: o termo “glândula” é normalmente mais usado para


designar agregados multicelulares, maiores e mais
complexos de células epiteliais glandulares.

As glândulas simples têm um único ducto, não ramificado.


• Tubulosa – a porção secretora com forma de tubo;
• Acinosa – a porção secretora com forma arredondada e lúmen estreito;
• Alveolar – a porção secretora com forma arredondada e lúmen amplo;
• Ramificada – a porção secretora ramifica-se

As glândulas compostas têm um


sistema ramificado de ductos.

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Exemplo de localizações:
• Glândula tubulosa simples – glândulas de Lieberkuhn (intestino);
• Glândula tubulosa simples enovelada – glândulas sudoríporas;
• Glândula tubulosa simples ramificada – glândulas gástricas;
• Glândula acinosa simples – glândulas da uretra masculina:
• Glândula acinosa simples ramificada – glândulas sebáceas;
• Glândula acinosa composta – pâncreas;
• Glândula tubulosa composta – glândulas de Brunner (duodeno);
• Glândula tubulo-acinosa composta – glândula salivar submandibular.

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O produto de excreção das células serosas é aquoso e rico em precursores de enzimas (pró-enzimas). Estas
ocorrem nas unidades secretoras do pâncreas exócrino, parótida, glândulas lacrimais e glândulas salivares
mistas.
As células serosas têm forma de pirâmide de vértice truncado, núcleos arredondados e polaridade bem definida.
• A região basal exibe intensa basofilia,
que resulta do grande acumulo neste
local de retículo endoplasmático
rugoso sobre a forma de conjuntos
paralelos de cisternas associadas a
abundantes ribossomas. É o local onde
se encontra o núcleo.
• A região supranuclear possui um
complexo de Golgi bem desenvolvido e
muitas vesículas arredondadas,
envolidas por membranas e com
conteúdo rico em proteínas, chamadas
vesículas ou grânulas de secreção. É
eosinófila.

NOTA: o RER é muito desenvolvido em células que sintetizam proteínas em grande quantidade (ex.: células
serosas). Fica corado de azul pela Hematoxilina pois possui RNA (um ácido), atraindo corantes básicos (a
Hematoxilina).

As vesículas (grânulos) de secreção permitem a exocitose do conteúdo após estimulação.

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As glândulas mucosas segregam uma secreção (muco) de


consistência viscosa, rica em proteínas fortemente glicosiladas. São
intercaladas entre as células superficiais (ex.: células caliciformes) ou
agrupadas em túbulos ou ácinos (ex.: glândulas salivares).

Em geral, as células mucosas têm grande quantidade de muco, pelo


que o núcleo fica achatado, empurrado para a base da célula.

A fraca colorabilidade do muco com a coloração da Hematoxilina &


Eosina dá às células mucosas um tom claro

NOTA: células mucosas VS células serosas – as células produtoras


de muco são palidamente coradas, o que as permite distinguir das
serosas (que têm uma coloração mais intensa), e os seus núcleos
estão achatados e comprimidos contra a base das células, o que não
acontece nas serosas. As células mucosas também têm RER, mas
não tão desenvolvido.

A maior parte do citoplasma das células mucosas está preenchido


por granulações de mucinogénio, o precursor do muco.

Os grânulos de secreção preenchem a região apical das células e o núcleo fica normalmente situado na região
basal, que é rica em RER. O complexo de Golgi, localizado logo acima do núcleo, é muito desenvolvido, indicativo
do seu importante papel nesta célula.

Dados obtidos por autorradiografia indicam que as proteínas são sintetizadas na base da célula, onde está a
maior parte do RER.

A síntese do muco envolve mecanismos similares aos das células serosas:


• Retículo endoplasmático rugoso – síntese do componente proteico do muco;
• Complexo de Golgi – adição de glúcidos e acondicionamento da secreção em vacúolos (granulações de
mucinogénio);
• Libertação da secreção por exocitose.

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As unidades secretoras mistas são constituídas por uma mistura de ambos os tipos de células – serosas e
mucosas.

Predominam as células mucosas, estando as células serosas na periferia. Estas emitem prolongamentos entre
as células mucosas para também terem acesso ao lúmen. As células serosas apresentam uma configuração de
crescentes lunares, os crescentes de Giannuzzi.

Pensa-se que as células serosas estejam, na


verdade, intercaladas com as células mucosas, e que
os crescentes de Giannuzzi sejam apenas artefactos
da fixação convencional.

Quanto à forma de descarga do produto de secreção,


as glândulas exócrinas podem ser classificadas em
três tipos:
• Holócrinas (ex.: glândulas sebáceas);
• Merócrinas (forma mais comum, ex.: pâncreas);
• Apócrinas (ex.: secreção de lípidos pelas glândulas mamárias).

Nas glândulas holócrinas, o produto de excreção é eliminado juntamente com toda a célula, processo que
envolve a destruição das células repletas de secreção. A membrana plasmática da célula desfaz-se e são
libertados os lípidos.

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Nas glândulas merócrinas, a secreção é acumulada em vesículas de secreção, cuja membrana se funde com a
membrana plasmática da célula na porção apical e liberta a secreção. Funciona como o processo de exocitose.
Não há perda de outro material celular.

Nas glândulas apócrinas o produto de secreção é descarregado junto com pequenas porções do citoplasma
apical. A membrana plasmática recupera/regenera.

O epitélio de algumas glândulas exócrinas contém células mioepiteliais com


propriedades contrácteis, fusiformes ou de forma estrelada. Estas células
possuem longos prolongamentos citoplasmáticos a envolver as células
secretoras, de forma semelhante a como um polvo “abraçaria” um pedregulho
arredondado. Ao longo dos ductos organizam-se longitudinalmente.

As células mioepiteliais localizam-se entre a membrana basal e o polo basal


das células secretoras ou das células dos ductos. São pouco evidentes nos
cortes corados com H&E e são conectadas umas às outras e às células
epiteliais por junções comunicantes e desmossomas. Contêm filamentos
contrácteis (actina e miosina), cuja função é contrair-se em volta da porção
secretora ou condutora da glândula e, assim, ajudar a impelir os produtos de
secreção para o exterior.

Certos tipos de células epiteliais são especializadas no transporte de iões e


agua através do epitélio – transporte transcelular (utiliza a bomba de sódio).
Þ Absorção (ex.: intestino)
• Do lúmen do órgão para o sangue;
• O movimento ocorre do domínio apical para o domínio basolateral da membrana plasmática
(ex.: tubos proximais do rim).

Þ Secreção (ex.: glândulas)


• Do sangue para o lúmen do órgão;
• O movimento ocorre em sentido contrário ao da absorção (ex.: plexo corioide).

Ultraestrutura de uma célula epitelial com elevada capacidade de absorção de solutos (ex.: tubo contornado
proximal do rim):
• Numerosas microvilosidades na superfície apical (bordadura em escova) – aumento da superfície de
absorção;

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• Vesículas de endocitose – transporte de proteínas;


• Membrana plasmática basal com invaginações profundas –
sede das enzimas Na+, K+-ATPase;
• Numerosas mitocôndrias – produção de ATP para os processos
de transporte ativo de iões.

Mecanismo:
1. Superficie apical das células dos tubos proximais muito
permeável a Na+, que entra livremente na célula;

2. Para a manutenção do equilíbrio elétrico e osmótico,


quantidades equimolares de cloreto e água acompanham os
iões de Na+ que entram na célula;

3. Entre as invaginações há muitas mitocôndrias que fornecem a


energia (ATP) para a extrusão ativa de Na+ da base da célula
para o meio extracelular; cloreto e água acompanham
passivamente o Na+;

4. Na+ é devolvido à circulação.

NOTA: graças às junções estreitas, devido à sua relativa impermeabilidade a iões, água e moléculas grandes,
é impedido o retorno, pelo espaço entre as paredes laterais das células, de grande parte dos materiais
transportados pelo epitélio.

À semelhança das glândulas exócrinas unicelulares, existem glândulas endócrinas unicelulares – ex.: sistema
endócrino difuso (ex.: células enteroendócrinas).

As glândulas anfícrinas têm simultaneamente secreção exócrina e endócrina.


• Glândula anfícrina homotípica – a mesma célula elabora os dois tipos de excreção; exemplo: fígado –
bílis (exócrina) e proteínas plasmáticas (endócrina).
• Glândula anfícrina heterotípica – as secreções exócrina e endócrina estão a cargo de populações
celulares diferentes; exemplo: pâncreas – ácinos serosos (exócrino) e Ilhéus de Langerhans (endócrino).

3. TECIDO CONJUNTIVO
O tecido conjuntivo tem origem na mesoderme, no mesênquima embrionário. É constituído por células e por
matriz extracelular que, por sua vez, contém fibras e substância fundamental. Assim, pode-se afirmar que o
tecido conjuntivo possui diversos tipos de células e matriz extracelular abundante.

O tecido conjuntivo abrange uma variedade de tecidos com


diferentes propriedades funcionais, como por exemplo:
• Tecido conjuntivo laxo;
• Tecido conjuntivo fibroso;
• Osso (tecido conjuntivo rijo);
• Cartilagem;
• Tecido adiposo;
• Sangue (tecido conjuntivo líquido).

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Este tipo de tecido tem como funções:


• União mecânica, sustentação e preenchimento;
• Defesa e reparação;
• Nutrição;
• Armazenamento.

3.1. MATRIZ EXTRACELULAR

A matriz extracelular é uma rede organizada de materiais


extracelulares, tais como a água, eletrólitos e moléculas. A sua
composição e quantidade variam muito de tecido para tecido e é com
base nisso que é decidida a função do tecido conjuntivo em questão.
Esta apresenta dois territórios:
• Compartimento intersticial – porção da MEC que não contacta
com as células. Particularmente desenvolvido nos tecidos
conjuntivos;
• Compartimento pericelular – porção da MEC que contacta com
as células. Nas células epiteliais pode tomar forma de lâmina
basal.

20% do peso corporal é matriz extracelular.

Todos os tipos celulares têm a capacidade de produzir componentes


da matriz extracelular – os osteócitos, por exemplo, produzem uma
MEC característica dos ossos. Certos tipos de células produzem
variedades específicas de matriz extracelular.

A diferença entre osso, cartilagem e tecido conjuntivo propriamente dito consiste na composição da MEC.

A matriz extracelular apresenta vários tipos de funções:


Þ Funções estruturais (compartimento intersticial)
• Proteção e suporte mecânico para células e tecidos;
• Resistência e elasticidade aos tecidos.

Þ Modulação do comportamento celular (compartimento pericelular)


• Influencia a expressão génica das células que com ele
contactam. Pode influenciar a sua adesão, sobrevivência,
proliferação e migração.

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Fazem parte dos componentes da matriz extracelular os colagénios, o sistema elástico, proteínas multifuncionais
(glicoproteínas multiadesivas), glicosaminoglicanos e proteoglicanos.

3.1.1. COLAGÉNIO
Os colagénios são:
• Proteínas extracelulares fibrosas;
• Muito abundantes – tipo de proteína mais abundante no organismo;
• Produzidos por diversos tipos de células;
• Renovação muito lenta;
• Funções estruturais;
• Mais de 2 dezenas de diferentes tipos.

Distinguem-se pela sua composição química, características morfológicas, distribuição e funções.

BIOSSÍNTESE DE COLÁGENIOS FIBRILARES

(Compartimento Intracelular)
1. Formação do mRNA de cada tipo
de cadeia a
2. Síntese das cadeias a do
procolagénio com os péptidos de
registo; corte do péptido sinal
3. Hidratação e glicosilação de
algunas aminoácidos
4. Formação da molécula de
procolagénio (tripla hélice)
5. Alinhamento dos péptidos (de
registo)
6. Transporte do procolagénio
solúvel para o complexo de Golgi
7. Empacotamento do procolagénio
solúvel em vesículas de secreção
8. Vesículas de secreção contendo o
procolagénio solúvel são
transportadas para a superfície da
célula (dependente de
microtúbulos), desde o Retículo
Endoplasmático

(Compartimento Extracelular)
9. Descarga das moléculas de
procolagénio no espaço
extracelular
10. A enzima procolagénio peptidase
quebra a maioria dos péptidos de
registo (clivagem), dando origem
às moléculas de colagénio ou tropocolagénio
11. Polimerização das moléculas de colagénio (tropocolagénio) sob a forma de fibrilas
12. Estabilização das fibrilas por ligações covalentes intra e intermoleculares promovidas pela enzima lisil-
oxidase.

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NOTA: saem vesículas de transporte do RER contendo moléculas de procolagénio. Estas vesículas, ao
chegarem ao complexo de Golgi sofrem modificação (em vesículas de secreção) e são enviadas para a superfície
da célula. Procolagénio é o precursor do colagénio.
A hidroxilação permite a formação de pontes de hidrogénio, que auxiliam no emparelhamento de cadeias.

As terminações das cadeias a (péptidos de registo) não são helicoidais e vão ser clivadas por procolagénio
peptidase, dando origem as moléculas de colagénio. Estas últimas começam a agregar-se formando fibrilas de
colagénio.

A clivagem só ocorre no espaço extracelular pois a célula não pode conter no seu interior fibrilas, levando estas
à lise celular.

A fibrilogénese ocorre no espaço extracelular – as moléculas de colagénio alinham-se longitudinal e


paralelamente umas às outras para formar fibrilas. As fibrilas de colagénio agrupam-se em fibras. Naqueles
tecidos, várias fibras associam-se lateralmente formando feixes de colagénio.

As fibrilas de colagénio são acidófilas, corando-se de rosa pela eosina.

A estrutura fibrilar é reforçada pela formação de ligações covalentes entre as moléculas de colagénio. Este
processo é catalisado pela ação da enzima lisil-oxidase (enzima que oxida a lisina), que também atua no espaço
extracelular.
A enzima lisil-oxidase é de extrema importância na manutenção da
estabilidade da matriz extracelular, pois se esta não estivesse presente não
haveria formação de ligações covalentes e o colagénio perderia as suas
propriedades. Alguns exemplos de distúrbios clínicos que resultam de
defeitos na síntese de colagénio são:
• Astenia cutânea
• Escorbuto – falta de vitamina C (cofator para a prolina
hidroxilase)

Os colagénios responsáveis pela formação de fibrilas são os colagénios


tipo I (o mais abundante colagénio fibrilar).
• Encontra-se nos tendões, ligamentos, derme, osso, cápsulas de
órgãos, etc.;
• Apresenta cor branca no estado fresco;
• As suas fibras são longas e flexíveis e são extremamente resistentes à tração.
• É facilmente corado por corantes ácidos.

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O colagénio tipo III forma fibrilas de diâmetro reduzido.


• As fibrilas não formam fibras espessas;
• As fibras finas formadas pelo colagénio tipo III denominam-se fibras
reticulares:
§ Contém elevado teor de carbohidratos;
§ Formam entre si redes de sustenção em órgãos com
elevada densidade celular;
§ Requerem métodos especiais de visualização, como por
exemplo impregnação pela prata (fibras argirofilas).

Os Colagénios associados a fibrilas não


constituem fibrilas.
• Colagénios FACIT (Fibril Associated
Collagen with Interrupted Triple helix) – ex.:
colagénio tipo IX;
• Não polimerizam;
• Associam-se à superfície das fibrilas de colgénio fibrillar;
• Medeiam interações entre colagénios fibrilares e entre estes e outras moléculas
da matriz extracelular (papel na reorganização das fibrilas na matriz).

Os colagénios que formam redes são os colagénios tipo IV.


• Da sua polimerização não resultam fibrilas;
• Um dos principais constituintes da lâmina basal.

3.1.2. SISTEMA ELÁSTICO


O sistema elástico é:
• Constituído por fibras finas ou lamelas;
• Entremeadas com as fibras de colagénio;
• Macroscopicamente aparecem levemente amareladas;
• Presentes em tecidos ricos em elastina (artérias de grande calibre,
ligamentos elásticos, pele, pulmão)
• Sintetizados e secretados por fibroblastos, células musculares lisas
(vasos sanguíneos), condrócitos (cartilagem elástica);
• Difícil reparação no adulto.

O sistema elástico é composto por fibras oxitalânicas, eulanínicas e elásticas.

As fibras elásticas são formadas por dois componentes:


• Elastina;
• Microfibrilas.

No microscópio eletrónico a elastina apresenta


uma cor densa e parece não ter estrutura
definida. À volta desta existem umas “pintinhas”,
que são as microfibrilas.

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A estrutura do sistema de fibras elásticas desenvolve-se por meio de 3 estágios sucessivos:


1. As fibras oxitalânicas consistem em feixes de microfibrilas de 10 nm de diâmetro compostas por diversas
glicoproteínas, entre as quais uma molécula muito grande denominada fibrilina. As fibrilinas
(componente microfibrilar das fibras elásticas) formam o arcabouço necessário para a deposição de
elastina. fibrilinas defeituosas resultam na formação de fibras elásticas fragmentas.

2. Ocorre deposição irregular da proteína elastina entre as microfibrilas oxitalânicas, formando as fibras
elaunínicas.

3. A elastina continua a acumular-se gradualmente até ocupar todo o centro do feixe de microfibrilas, as
quais permanecem livres apenas na região periférica. Estas são as fibras elásticas, ricas em proteína
elastina, distendem-se facilmente quando tracionadas.

As fibras oxitalânicas não têm elasticidade, mas são altamente resistentes a


forças de tração, enquanto as fibras elásticas, ricas em proteína elastina,
distendem-se facilmente quando tracionadas.

A síntese de elastina ocorre por um mecanismo semelhante ao da síntese de


Colagénio.

A elastina é responsável pelas propriedades elásticas das fibras elásticas.


• As moléculas de elastina unem-se entre si por ligações covalentes,
formando uma rede extensível;
• As ligações covalentes entre as moléculas de elastina ocorrem ao nível
de 2 aminoácidos especiais: desmosina e isodesmosina;
• A lisil-oxidase é a enzima responsável pelo estabelecimento das ligações
covalentes;

As fibrilinas são o principal elemento estrutural do componente microfibrilar.

As mutações do gene de Fibrilina-1 original a Síndrome de Marfan.

3.1.3. GLICOPROTEÍNAS MULTIADESIVAS


Glicosaminoglicanos, proteoglicanos e glicoproteínas multiadesivas são
constituintes da substância fundamental. A substância fundamental:
• É um gel incolor, muito hidratado (pelas moléculas referidas acima) e transparente;
• Preenche os espaços entre as células e as fibras do conjuntivo;
• Mal preservada pelos fixadores histológicos;
• Composição: glicosaminoglicanos e proteoglicanos, glicoproteínas multiadesivas, eletrólitos e água.

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As glicoproteínas multiadesivas são moléculas multifuncionais da matriz


extracelular.
• População heterogénea de proteínas da MEC;
• Possuem regiões ou domínios de:
§ Ligação a outras moléculas da MEC;
§ Ligação a recetores da superfície celular.

Estas desempenham um importante papel estrutural na matriz extracelular e na


interação desta com as superfícies celulares.
• Papel estrutural – estabilização da matriz extracelular;
• Funções adesivas – ligação às superfícies celulares.

As interações que as glicoproteínas multiadesivas estabelecem com as células são mediadas por recetores da
superfície celular – as integrinas.
A fibronectina desempenha funções fisiológicas
múltiplas e tem participação importante em diversos
processos patológicos. Participa também, de modo
importante, no desenvolvimento dos tecidos
embrionários. Por outro lado, também aumentam a
capacidade de células tumorais cancerígenas
invadirem outros tecidos.
A inativação da fibronectina nos primeiros estágios de
desenvolvimento de embriões de camundongos
provocou a morte desses embriões.

3.1.4. GLICOSAMINOGLICANOS E PROTEOGLICANOS


Os glicosaminoglicanos (GAGs) são polissacarídeos complexos existentes na matriz extracelular:
• Cadeias polissacarídicas não ramificadas, compostas por unidades dissacarídicas repetidas;
• Unidades dissacarídicas formadas por uma N-acetil Hexosamina e um Ácido Urónico;
• Moléculas polianiónicas. Conformação
expandida;
• Comportamento hidrofílico;
• 4 grupos principais – ácido hialurínico,
sulfatos de condroitina e sulfatos de
dermatano, sulfatos de heparano e sulfatos
de queratano.

A maioria dos GAGs estão ligados a um componente proteico, formando macromoléculas denominadas
proteoglicanos.

Os proteoglicanos são formados por um eixo


proteico (ao qual se ligam covalentemente
moléculas de GAGs) e apresentam uma grande
variação estrutural.

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Estão presentes na matriz extracelular e também na superfície celular:


• Podem ligar-se a uma grande diversidade de moléculas da matriz extracelular;
• Podem mediar interações célula-célula ou célula-matriz e influenciar o comportamento celular;

A degradação dos proteoglicanos é feita através de vários tipos de células e depende de várias enzimas
lisossómicas denominadas genericamente por glicosidases.

Aspetos funcionais dos glicosaminoglicanos e proteoglicanos:


• Organizadores da morfologia tecidual por meio de interações com outras moléculas da matriz
extracelular;
• Filtros reguladores do tráfico de moléculas e células, de acordo com a sua dimensão/carga;
• Hidratação da matriz extracelular (resistência a forças de compressão);
• Regulação da atividade de moléculas sinalizadoras (ex.: interação com fatores de crescimento,
influenciando a sua atividade biológica).

3.2. CÉLULAS DO TECIDO CONJUNTIVO


As células do tecido conjuntivo podem ser residentes permanentes ou temporários.

Fazem parte dos residentes permanentes:


• Fibroblastos e miofibroblastos;
• Células adiposas;
• Macrófagos;
• Mastócitos;
• Células mesenquimatosas indiferenciadas;

Fazem parte dos residentes temporários:


• Leucócitos;
• Plasmócitos.

3.2.1. FIBROBLASTOS E MIOFIBROBLASTOS


Os fibroblastos são as células responsáveis pela síntese e manutenção dos componentes da matriz extracelular
(ex.: colagénio e elastina). São as células mais comuns do tecido conjuntivo e são capazes de modular sua
capacidade metabólica, a qual se refletirá na sua morfologia. Fazem parte de um grupo heterogéneo e são
células móveis – quando ocorre uma lesão tecidular, os fibroblastos proliferam, migram e produzem matriz
extracelular. Crescem facilmente em cultura. Em preparações de rotina coradas pela H&E, com frequência,
apenas o núcleo é evidente.

Quanto ativos na síntese de componentes da matriz extracelular chamam-se fibroblastos e quando inativos
chamam-se fibrócitos.
Fibroblastos Fibrócitos
Citoplasma abundante, com muitos prolongamentos Prolongamentos citoplasmáticos pouco visíveis
RER e Complexo de Golgi muito desenvolvido Pouca quantidade de RER e Complexo de Golgi
menos desenvolvido
Núcleo ovoide ou de forma alongada, fracamente Núcleo pequeno (menor que dos fibroblastos), mais
corado, com cromatina fina e nucléolo proeminente escuro e mais alongado
Citoplasma basófilo Menores e mais delgados que os fibroblastos e
tendem a um aspeto fusiforme

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NOTA: o fibroblasto e o fibrócito são dois estados de atividade


funcional da mesma célula. O colagénio e o citoplasma do
fibroblasto ambos coram de rosa pela H&E, sendo quase
impossível distingui-los ao microscópio.

Os miofibroblastos exibem características intermédias entre o


fibroblasto e a célula muscular lisa. É praticamente
indistinguível ao microscópio dos fibroblastos.

Possuem uma função contrátil (derivada do comportamento das


células musculares lisas) que é responsável pelo fecho das
feridas após lesões, processo conhecido como contração da
ferida. Quando a ferida desaparece, os miofibroblastos tendem
a morrer.

No leito das feridas derivam de fibroblastos pré-existentes, por diferenciação (normalmente). São boas na
recuperação de tecidos lesados, mas se estiverem ativas por mais tempo do que o necessário podem causar
lesões fibróticas (excesso de produção de colagénio).

3.2.2. MACRÓFAGOS
Os macrófagos são células especializadas na fagocitose. Têm
características morfológicas muito variáveis, que dependem do
seu estado de atividade funcional e do tecido que habitam.

Existem em todos os compartimentos do organismo, são


células de vida longa e têm grande capacidade mitótica.
Possuem capacidade de voltar a sintetizar membranas e
enzimas intracelulares gastas no decurso da fagocitose e são
dotados de mobilidade.

NOTA: são uma população heterogénica, pois consoante o sítio


onde se encontram adquirem nomes diferentes (ex.: cérebro –
micróglia, fígado – células de Kupffer, etc).

Possui dois estados funcionais: inativo (em repouso) e ativo (em fagocitose).

Quando estimulados (por injeção de substâncias estranhas ou por infeções), os macrófagos passam por
modificações morfológicas e metabólicas, sendo chamados de macrófagos ativos. Essas células adquirem novas
características, ativando o seu metabolismo e aumentado a sua capacidade de matar, fagocitar e digerir
partículas estranhas por meio da ativação das suas enzimas lisossómicas.

O macrófago é rico em enzimas hidrolíticas contidas em lisossomas e a sua identificação morfológica consiste
na presença de pseudópodes e reações citoquímicas para enzimas lisossomais, fagocitose de partículas.

Para além da fagocitose, os macrófagos possuem mais funções:


• Apresentação de antigenes;
• Reorganização de tecidos e saramento de feridas;
• Destruição de células tumorais;
• Secreção de citocinas (difundem-se na matriz celular e influenciam células), enzimas e outros fatores.

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Os macrófagos participam nos processos de defesa imunológica (resistência mediada por células) contra infeção
por bactérias, protozoários, fungos e metazoários (ex.: parasitoses por vermes). Atuam também na defesa
imunológica contra tumores, na produção extra-hepática da bile, no metabolismo de gordura e ferro e na
destruição de hemácias envelhecidas. Atuam como elementos de defesa, fagocitando restos celulares,
fragmentos de fibras da matriz extracelular, células neoplásicas (cancerígenas), bactérias e elementos inertes
que penetram o organismo; são capazes de produzir uma impressionante variedade de substâncias que
participam nas funções de defesa e reparo dos tecidos.

Quando estimulados adequadamente, podem aumentar de tamanho e


organizar-se em grupos, formando células epitelioides (por se
assemelharem levemente a células epiteliais), ou ainda várias células
podem fundir-se para formar células gigantes de corpo estranho (célula com
o asterisco). Esses dois tipos especiais são vistos apenas em algumas
condições patológicas.

Os macrófagos têm papel preponderante na remoção de restos celulares e


componentes extracelulares alterados formados durante os processos de
involução fisiológica de tecidos ou órgãos. Durante a gestação, por
exemplo, o útero aumenta de tamanho e a sua parede torna-se espessa.
Imediatamente após o parto, esse órgão sofre involução, durante a qual o
excesso de tecido é destruído pela ação de macrófagos.

Os macrófagos derivam de monócitos circulantes que têm origem na medula óssea. Da corrente sanguínea os
monócitos passam para os tecidos onde se diferenciam em macrófagos.

Os macrófagos residentes nos diversos tecidos constituem, juntamente com os seus precursores, o sistema
fagocítico mononuclear – macrófagos do organismo + monócitos circulantes + precursores de monócitos.

Reconhecem-se dois subtipos de macrófagos ativados com funções distintas:


Þ Macrófagos M1
• Promovem a inflamação;
• Têm atividade antibacteriana;
• Inibem o crescimento tumoral.

Þ Macrófagos M2
• Promovem a resolução da inflamação e contribuem para a reconstrução da matriz extracelular;
• Promovem o crescimento tumoral.

3.2.3. MASTÓCITOS
Os mastócitos são células do sistema imunitário. Encontram-se em tecidos vascularizados, em particular os que
formam interfaces com o meio externo (ex.: pele, trato gastro-intestinal, respiratório e urinário).

Originam-se de células precursoras hematopoiéticas (produtoras de sangue) situadas na medula óssea.


Mastócitos imaturos circulam no sangue, cruzam a parede das vênulas e capilares e penetram os tecidos, onde
vão proliferar e se diferenciar, adquirindo as funções de mastócito.

Quanto à morfologia apresenta as seguintes características:


• Célula globulosa, grande;
• Citoplasma repleto de grânulos que se coram intensamente;

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• Núcleo pequeno, esférico e central. É de difícil observação por


estar frequentemente encoberto pelos grânulos citoplasmáticos.

Os grânulos dos mastócitos são metacromáticos devido à sua


concentração de radicais ácidos presentes nos glicosaminoglicanos
(heparina ou sulfato de condroitina). Metacromasia é a propriedade que
certas moléculas têm de mudar a cor de alguns corantes básicos (ex.:
azul de toluidina). Nesse caso, a estrutura contendo a molécula
metacromática fica com uma cor diferente (púrpura/vermelho) daquela do
corante utilizado (azul).

Os mastócitos produzem e armazenam potentes mediadores químicos da


inflamação (ex.: histamina). Libertam os mediadores quando ativados e têm um papel fulcral em reações
alérgicas (choque anafilático) e nas respostas imunitárias natural e adquirida.

A superfície dos mastócitos contém recetores específicos para a Imunoglobulina E (IgE), produzida pelos
plasmócitos. A ligação antigénio/alérgeno a moléculas de IgE expostas na superfície dos mastócitos
desencadeia a ativação das células e a sua desgranulação – reação de hipersensibilidade imediata.

3.2.4. PLASMÓCITOS
Os plasmócitos são abundantes em áreas suscetíveis à penetração de antigénios no corpo. São pouco
numerosos no tecido conjuntivo normal, exceto nos locais sujeitos à penetração de bactérias e proteínas
estranhas, como a mucosa intestinal. São abundantes nas
inflamações crónicas, em que predominam plasmócitos,
linfócitos e macrófagos.

Morfologia dos Plasmócitos:


• Célula grande a ovoide, com citoplasma
acentuadamente basófilo (reflete a sua riqueza em
RER);
• O complexo de Golgi e os centríolos localizam-se junto
ao núcleo, zona que aparece pouco corada.
• Núcleo esférico e excêntrico, contém grumos de
cromatina que se alternam regularmente com áreas
claras segundo uma disposição que faz lembrar os raios de uma roda de carroça.

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Os plasmócitos exibem um retículo endoplasmático rugoso muito desenvolvido.


Na sua ultraestrutura apresenta:
• Ausência de grânulos de secreção;
• Cromatina disposta como os raios de uma roda.

NOTA: na imagem presente, a parte negra é cromatina condensada, enquanto a


parte clara é cromatina descondensada.

Os plasmócitos são células produtoras de anticorpos derivadas dos linfócitos B


(por maturação). Os anticorpos que produzem são glicoproteínas da família das
imunoglobulinas.

3.2.5. CÉLULAS ADIPOSAS, CÉLULAS ESTAMINAIS INDIFERENCIADAS E LEUCÓCITOS


As células adiposas são células do tecido conjuntivo
especializadas no armazenamento de triglicerídeos (gorduras
neutras). Surgem isoladas ou formando pequenos grupos no
seio do tecido conjuntivo laxo e quando se acumulam em
grande número constituem o tecido adiposo.

As células estaminais mesenquimatosas têm a capacidade de


se autorrenovar e diferenciar em diferentes tipos de células.
São células indiferenciadas presentes mesmo no adulto.
Quando isoladas em laboratório pode dar origem a qualquer
tecido.

Os leucócitos do tecido conjuntivo vêm do sangue por migração através da parede dos capilares e vénulas, por
um processo chamado diapedese. Este processo aumenta muito durante as invasões locais de microrganismos,
uma vez que os leucócitos são células especializadas na defesa contra microrganismos agressores.

Há vários tipos de Leucócitos:


• Neutrófilos;
Os leucócitos não retornam ao sangue depois de terem
• Eosinófilos; residido no tecido conjuntivo, com exceção dos
• Basófilos; linfócitos, que circulam continuamente em vários
• Linfócitos; compartimentos do corpo.
• Monócitos.

3.3. VARIEDADES DE TECIDO CONJUNTIVO

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Cada tipo de tecido conjuntivo reflete o componente predominante (células, fibras ou substância fundamental)
ou a organização estrutural do tecido.

Þ Tecido conjuntivo laxo


• Substância fundamental abundante, fibras de colagénio
afastadas umas das outras e abundantes elementos celulares;
• Torna possível o deslocamento entre tecidos vizinhos;
• Importante para a nutrição e trocas gasosas;
• Serve de apoio aos epitélios, vasos sanguíneos e nervos, entre
fibras e feixes musculares, sob a pele, etc.

Þ Tecido conjuntivo denso


• Predomínio de fibras de colagénio;
• Adaptado para oferecer resistência e proteção aos tecidos;
• Formado pelos mesmos componentes que o tecido conjuntivo
laxo, no entanto existem menos células e mais fibras de
colagénio;
• Poucas células (fibroblastos);
• Menos flexível que o tecido conjuntivo laxo e mais resistente às
trações.

Þ Tecido conjuntivo denso não modulado


• Feixes de colagénio dispostos sem orientação fixa;
• Resistência às trações exercidas em qualquer direção;
• Localização: derme profunda, periósteo, pericôndrio, cápsulas
dos órgãos.

Þ Tecido conjuntivo denso modulado


• Feixes paralelos de fibras de colagénio e
alinhados com os fibroblastos;
• Fibroblastos dispostos em séries lineares e
paralelas;
• Resistência às trações exercidas num
determinado sentido;
• Localização: tendões, ligamentos.

NOTA: os fibroblastos, em resposta às forças que normalmente


atuam sobre os tecidos, orientam as fibras que produzem de
modo a oferecer o máximo de resistência a tais forças.

Os tendões apresentam o exemplo típico de tecido conjuntivo denso modelado. São formados por feixes densos
e paralelos de colagénio separados por pouca quantidade de substância fundamental. As células do tendão
podem ser morfologicamente classificadas como fibrócitos, uma vez que têm núcleos alongados paralelos às
fibras de colagénio e citoplasma delgado com poucos prolongamentos, os quais frequentemente envolvem feixes
de colagénio.

Þ Tecido Elástico
• Feixes paralelos de fibras elásticas espessas;
• O espaço entre as fibras é ocupado por fibras delgadas de colagénio e fibrócitos;

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• Cor amarela;
• Localização: ligamentos da nuca dos herbívoros.

Þ Tecido Reticular
• Fibras reticulares (colagénio tipo III) em associação com células
reticulares (fibroblastos);
• Próprio (mas não exclusivo!) dos órgãos hematopoiéticos;
• Forma uma rede de sustentação das células libres daqueles
órgãos;
• Difícil de reconhecer nas preparações vulgares.

Þ Tecido Mucoso (mesenquimatoso)


• Predomínio de substância fundamental (GAGs e
proteoglicanos);
• Consistência gelatinosa (devido à substância fundamental);
• Raros feixes conjuntivos;
• Células ramificadas cujos prolongamentos se entrecruzam;
• Localização: mesênquima embrionário, cordão umbilical, polpa
dentária, crista do galo.

3.4. TECIDO ADIPOSO


O tecido adiposo é um tipo especial de tecido conjuntivo no qual predominam células adiposas – adipócitos.
Estas células podem ser encontradas isoladas ou em pequenos grupos no tecido conjuntivo laxo; porém, a
maioria forma grandes agregados, constituindo o tecido adiposo distribuído pelo corpo.

Possui dois componentes:


• Adipócitos
• Fração vascular-estromal, constituída por:
§ Células precursoras (pré-adipócitos, células estaminais
mesenquimatosas);
§ Fibroblastos;
§ Células vasculares;
§ Células do sistema imunitário.

As células adiposas, por serem muito grandes, ocupam grande parte do volume do tecido
adiposo; porém, não são as que existem é maior número.

As funções do tecido adiposo são:


• Reserva de energia (triglicerídeos);
• Isolamento térmico;
• Absorção de choques, proteção mecânica;
• Função endócrina (adipócinas).

Há várias maneiras de estudar o tecido adiposo, sendo as mais importantes:


• Inclusão em Parafina – dissolução dos lípidos pelos solventes orgânicos (álcool e
xilol), parecendo as células adiposas vazias;
• Fixação pelo Tetróxido de Ósmio – lípidos preservados e corados de negro;

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• Fixação pelo frio (ex.: azoto líquido) – cortes de congelação e coloração


(Sudão III, Oil Red 0, Sudão Negro).

Há duas variedades de tecido adiposo, que apresentam distribuição, estrutura,


fisiologia e patologia diferentes:
• Tecido adiposo unilocular (gordura branca ou amarela) – células com uma
grande gota lipídica no citoplasma;
• Tecido adiposo multilocular (gordura castanha) – células com várias gotas
lipídicas no citoplasma.

3.4.1. TECIDO ADIPOSO UNILOCULAR


É a forma mais comum de tecido adiposo. A sua cor é influenciada pela dieta – deve-se principalmente à
acumulação de carotenos dissolvidos nas gotículas de gordura.

A sua distribuição pelo corpo e acúmulo em determinados locais é influenciado


pelo sexo, pela constituição genética e pela idade do indivíduo. Na espécie
humana existem:
• Adiposidade ginóide – deposição em forma de pêra. Característica das
mulheres;
• Adiposidade andróide – deposição em forma de maçã. Característica
dos homens.

Morfologia:
• Células grandes (até 150 µm de diâmetro) e arredondadas;
• Grande gota lipídica no citoplasma;
• Citoplasma reduzido a fina faixa periférica e com o núcleo achatado
deslocado para a periferia;
• Células envolvidas por uma lâmina externa (lâmina basal);
• Vascularização abundante;
• Inervação escassa;

Os adipócitos provêm de células mesenquimatosas


indiferenciadas da fração vascular-estromal
(lipoblastos – pré-adipócitos). Inicialmente, as
gotículas lipídicas são isoladas. Estas acumulam e
acabam por fundir, formando a gotícula única
característica da célula adiposa unilocular.

Quando a gordura é mobilizada para atender às


necessidades metabólicas do organismo, as células
adiposas podem voltar a apresentar apenas
algumas gotículas no seu citoplasma. Nesse caso, elas voltam a um estágio
anterior, pelo qual passaram durante a histogénese (setas nos dois sentidos).

Quando há um desequilíbrio entre o que comemos e o que gastamos pode ocorrer:


• Hipertrofia dos adipócitos maduros;
• Hiperplasia – formação de novos adipócitos a partir das células precursoras (pré-adipócitos), nunca por
mitose dos adipócitos existentes.

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NOTA: durante a puberdade, o crescimento do tecido adiposo ocorre por hiperplasia, o que faz com que os
adipócitos persistam para a vida toda no organismo – nunca desaparecem, no máximo reduzem de tamanho.

HISTOFISIOLOGIA DO TECIDO ADIPOSO UNILOCULAR

A mobilização dos lípidos não é igual em todos os locais.

Þ Lipogénese – formação de triglicerídeos a partir dos ácidos gordos e glicerol (ou seja, formação de nova
gordura)
• Lipoproteína Lipase (LPL) – sem esta proteína os ácidos gordos não entram no adipócito.
§ Sintetizada nos adipócitos e secretada para a superfície das células endoteliais dos
capilares do tecido adiposo;
§ Atua sobre as lipoproteínas plasmáticas hidrolisando os triglicerídeos em glicerol e
ácidos gordos – difusão para o interior dos adipócitos.
• A insulina estimula e lipogénese;

Þ Lipólise – ocorre quando há necessidade de energia adicional


• Formação de ácidos gordos e glicerol a partir dos triglicerídeos em reserva no tecido adiposo;
• Realizada pela lipase sensível a hormonas da célula adiposo. Esta é estimulada por
noradrenalina, por exemplo;
• Devido à ação da LSH, os ácidos gordos e o glicerol difundem-se até aos capilares;
• Não ocorre com igual intensidade em todos os locais;
• Regulada por hormonas.

Em suma:

A leptina é a hormona proteica sintetizada pelos


adipócitos. Atua como um sinalizador da quantidade de
energia acumulada e de massa gorda existente no
organismo – quanto mais adipócitos existirem mais
leptina será produzida. Age no sistema nervoso central
reduzindo o apetite e aumentando o consumo de
energia.

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3.4.2. TECIDO ADIPOSO MULTILOCULAR


O tecido adiposo multilocular não cresce, pelo que a sua quantidade no adulto
é extremamente reduzida; porém, é muito abundante nos recém-nascidos e
nos animais hibernantes. Forma depósitos em regiões anatómicas especificas
– cintura escapular e cintura pélvica. A sua cor resulta do alto conteúdo em
citocromo oxidase nas mitocôndrias e da vascularização abundante.

Quanto à sua morfologia:


• Aspeto lobulado;
• Muito vascularizado;
• Células menores do que as células de gordura branca;
• Gordura repartida por gotículas;
• Núcleo redondo em posição excêntrica.

Já a sua ultraestrutura apresenta:


• Numerosas mitocôndrias com cristas longas;
• Gordura repartida por gotículas;
• Numerosas terminações nervosas sinápticas em torno das suas
células.

O tecido adiposo multilocular, também conhecido por gordura castanha,


queima gordura para produzir calor – possui atividade termogénica. A
noradrenalina estima a hidrólise dos triglicerídeos e a oxidação dos ácidos
gordos. A energia produzida nas mitocôndrias é utilizada essencialmente
para gerar calor.

Graças a esta atividade termogénica a adaptação do organismo ao frio é


possível.

NOTA: nos recém-nascidos tem a função auxiliar na termorregulação.

A proteína UCP-1 (termogenina) permite desacoplar a oxidação dos ácidos


gordos da produção de ATP. Esta proteína transfere protões (H+) do
espaço intermembranar para a matriz mitocondrial sem que eles passem
pelo complexo enzimático da ATP sintetase – a energia gerada pelo fluxo
de H+ é dissipada como calor em vez de ser usada na síntese de ATP.

Gordura castanha vs gordura branca – na gordura castanha ocorre a termogénese (oxidação de ácidos gordos)
e na gordura branca o armazenamento/libertação de energia.

Mesmo nos adultos há gordura castanha, principalmente à volta do pescoço. O principal ativado desta é o frio e
é mais eficiente em pessoas magras do que em pessoas com excesso de peso.

Células “brite” (brown/white) ou beige – células com características


de ambos os tipos de adipócitos:
• Surgem no tecido adiposo unilocular em determinadas
circunstâncias (ex.: frio);
• Origem: transdiferenciação de adipócitos uniloculares ou
proliferação de células precursoras;

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• Exibem características funcionais dos adipócitos multiloculares (termogénese) – são mais competentes
no gasto de energia.

3.5. TECIDO CARTILAGÍNEO

O tecido cartilagíneo é um tipo especializado de tecido conjuntivo, cuja


consistência é rígida. É constituída por:
• Condrócitos (não tem outros tipos celulares!);
• Matriz extracelular abundante e altamente hidratada.

É resistente e maleável, avascular e não possui inervação. Os condrócitos


alojam-se em pequenas cavidades da matriz chamadas lacunas. Uma
lacuna pode conter um ou mais condrócitos.

Tem como função:


• Suporte de tecidos moles;
• Revestimento de superfícies articulares para absorção de choques e facilitação de deslizamento;
• Participa na formação e crescimento de grande parte do esqueleto ósseo.

Nos vertebrados distinguem-se 3 variedades de tecido cartilagíneo:


• Cartilagem hialina;
• Cartilagem elástica; Diferem nas características da matriz extracelular –
propriedades mecânicas distintas.
• Fibrocartilagem;

A cartilagem hialina é o tipo mais comum. Quando vista a fresco apresenta uma coloração branco-azulada e é
translúcida. Na vida pós-natal pode-se encontrar:
• Nas placas epifisárias dos ossos em crescimento;
• Nas cartilagens costais;
• Nas superfícies articulares dos ossos;
• Nas peças esqueléticas do nariz e da laringe;
• Nos anéis da traqueia e dos brônquios.

Constitui o primeiro esqueleto do embrião, que posteriormente é substituído


por um esqueleto ósseo.

Quanto à sua estrutura microscópica:


• Apresenta matriz extracelular basófila com aspeto homogéneo, sem fibras visíveis;
• Condrócitos alojados em pequenos espaços (lacunas ou condroplastos) dispersos na matriz;

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A matriz da cartilagem hialina é produzida pelos condrócitos e contém três


classes principais de moléculas:
1. Colagénios – predomínio de colagénio tipo II
• Malhas de finas fibrilas;
• Não forma feixes.

2. Proteoglicanos e Glicosaminoglicanos

3. Glicoproteínas multiadesivas (proteínas não colagénicas) –


condronectina

O agrecano é o proteoglicano mais importante na cartilagem hialina – tem a capacidade de formar grandes
agregados com moléculas de ácido hialurónico.

Legenda:
• Palhetas vermelhas – glicosaminoglicanos;
• Palhetas verdes – eixo proteico;
• Palheta azul – ácido hialurónico;
• Conjunto de palhetas vermelhas + palheta verde –
agrecano

Um proteoglicano tem sempre um eixo central proteico ao


qual se agarram cadeias sucessivas de açúcares não
ramificados (lineares) – os glicosaminoglicanos (denominados dessa forma porque parte desses açúcares são
aminados). O que se observa na figura ao lado, portanto, são 9 proteoglicanos todos iguais uns aos outros,
denominados por agrecanos. Existem vários proteoglicanos com diferentes nomes, sendo agrecano um deles
(por isso é que se diz que é possível observar 9 agrecanos).

Os agrecanos não se encontram livres na matriz da cartilagem hialina, estão ligados a uma molécula muito
comprida – ácido hialurónico. Este ácido também é um glicosaminoglicano, tal como as palhetas vermelhas da
figura, mas é muito comprido, pode ter milhares de resíduos glucídicos e serve de elo de ligação entre as várias
moléculas de agrecano, formando um grande agregado de moléculas – agregado de agrecanos. Na matriz da
cartilagem hialina temos múltiplos agregados iguais a estes.

NOTA: a união entre um agrecano e a molécula de ácido hialurónico não é covalente – é uma atração
eletrostática. Uma molécula de agrecano tem cerca de 160
glicosaminoglicanos.

O proteoglicano assemelha-se a escovas de limpar tubos de ensaio.

Os agrecanos são moléculas muito hidrofílicas, pois possuem muitas cargas


negativas à superfície que atraem catiões e água.

Os agregados de agrecano/ácido hialurónico ligam-se às fibrilas de


colagénio, formando o arcabouço macromolecular da matriz, e retêm uma
grande quantidade de água. Um ambiente hidratado:
• Confere resistência a forças de compressão (função amortecedora);
• Permite a difusão de nutrientes e catabolitos.

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A matriz da cartilagem hialina está organizada em zonas definidas pela


distância a que se encontram das células:
Þ Matriz territorial – mais próxima dos condrócitos
• Moléculas que interagem com os recetores da superfície
celular;
• Maior concentração de proteoglicanos sulfatados;
• Pobre em colagénio;
• Basofilia acentuada.

Þ Matriz interritorial – mais afastada dos condrócitos


• Menor teor em proteoglicanos sulfatados;
• Menos basofilia.

Os condrócitos produzem e mantêm a matriz extracelular da cartilagem.


• Na periferia da cartilagem hialina apresentam forma alongada, com
o eixo maior paralelo à superfície;
• Mais internamente são arredondadas e frequentemente aparecem
em grupos de 8 células;
• Aparecem isoladas (na periferia) ou formando grupos (centro), os
grupos isogénicos. Possuem este nome pois as células são
pequenos clones originados por divisão de um único condroblasto;
• As células e a matriz cartilagínea sofrem retração durante o
processo histológico, o que explica o seu afastamento da parede
da lacuna em que se situam;
• “In Vivo” ocupam toda a lacuna;
• Citoplasma contento grandes gotículas lipídicas.

A sua superfície parece ser regular ao microscópio ótico; no entanto, o


microscópio eletrónico mostra reentrâncias e saliências maiores e mais frequentes nos condrócitos jovens. Essa
disposição aumenta a sua superfície, facilitando as trocas com o meio extracelular, o que é importante para a
nutrição destas células (que estão afastadas da corrente sanguínea).

Os condrócitos possuem uma ultraestrutura típica de células ativas na síntese proteica:


• Quando ativos na produção de matriz o citoplasma é basófilo com área justanuclear clara (aparelho de
Golgi);
• Retículo endoplasmático rugoso e aparelho de Golgi desenvolvidos.

A nutrição dos condrócitos depende da difusão de nutrientes a partir da rede


vascular de tecidos adjacentes.

As cartilagens hialinas são envolvidas por uma bainha de tecido conjuntivo


denso, o pericôndrio (exceto as cartilagens articulares).
• É responsável pela nutrição e oxigenação da cartilagem pois neste
estão localizados vasos sanguíneos e linfáticos, inexistentes no
interior do tecido cartilagíneo;
• É rico em fibras de colagénio tipo I na porção externa;
• É mais rico em células na zona de contacto com a cartilagem, sendo
uma fonte de novos condrócitos para o crescimento da cartilagem
(função condrogénica).

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Transição entre pericôndrio e a cartilagem hialina:

No embrião a cartilagem forma-se à custa do mesênquima – condrogénese.

A primeira modificação observada durante a


histogénese consiste no arredondamento das
células mesenquimatosas, que retraem os
seus prolongamentos e multiplicam-se
rapidamente, formando aglomerados. As
células assim formadas têm o citoplasma muito basófilo e recebem o
nome de condroblastos. Em seguida inicia-se a síntese de matriz
extracelular, que afasta os condroblastos uns dos outros.
A diferenciação das cartilagens ocorre do centro para a periferia, de modo que as células mais centrais já
apresentam características de condrócitos, enquanto as mais periféricas ainda são condroblastos típicos. O
mesenquima da superfície de cada peça de cartilagem forma o pericôndrio.

A cartilagem cresce por dois processos:


• Crescimento intersticial – multiplicação (por divisão mitótica) dos
condrócitos no interior da matriz cartilagínea;
• Crescimento aposicional – aposição de novos condroblastos por
diferenciação das células da porção interna do pericôndrio.

O crescimento intersticial é menos importante e quase só ocorre nas primeiras


fases de vida da cartilagem. À medida que a matriz se torna cada vez mais rígida,
o crescimento intersticial deixa de ser viável e a cartilagem passa a crescer
somente por aposição.

A cartilagem hialina é suscetível à calcificação (deposição de cristais de fosfato de cálcio na matriz cartilagínea),
ossificação endocondral e envelhecimento. Possui, também, baixa capacidade regenerativa, pois tem:
• Falta de suprimento sanguíneo;
• Ausência de células progenitoras condrogénicas;
• Baixa densidade de células;
• Atividade mitótica reduzida.

A cartilagem elástica é semelhante à cartilagem hialina mas inclui, além das fibrilas de colagénio (principalmente
do tipo II), uma abundante rede de fibras elásticas contínuas com as do pericôndrio. Esta rede de fibras elásticas
confere maior flexibilidade do que a cartilagem hialina.

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Cresce principalmente por aposição e a sua matriz extracelular não possui


aspeto homogéneo (como a cartilagem hialina) devido à presença de fibras
elásticas.

A elastina confere a este tipo de cartilagem uma cor amarelada quando


examinada a fresco. As fibras de elastina podem ser identificadas usando
os seus corantes usuais, como a orceína; porém, são de difícil visualização
em cortes corados com corantes rotineiros, como a hematoxilina-eosina.

A cartilagem elástica é encontrada em:


• Pavilhões auriculares;
• Algumas cartilagens da laringe (epiglote);
• Trompa de Eustáquio;
• Canal auditivo externo.

NOTA: a cartilagem elástica é menos sujeita a processos degenerativos


patológicos que a cartilagem hialina.

A cartilagem fibrosa ou fibrocartilagem é um tecido com


características intermédias entre o tecido conjuntivo denso e o
tecido cartilagíneo.
• Condrócitos dispostos em filas separadas por espessos
feixes de colagénio tipo I (por essa razão a sua MEC é
acidófila);
• Existe matriz amorfa (proteoglicanos) em pequena
quantidade à volta das lacunas;
• Não possui pericôndrio.

NOTA: também tem fibrilas colagénicas tipo II.

Encontra-se em:
• Discos intervertebrais;
• Sínfise púbica;
• Inserções de alguns tendões no osso;
• Meniscos.

Discos intervertebrais estão situados entre as superfícies articulares dos corpos das vértebras e são constituídos
por um anel de fibrocartilagem (anel fibroso) que circunda um gel semifluido central rico em proteoglicanos
(núcleo pulposo).

Os discos intervertebrais funcionam como colchões


viscoelásticos, tendo como funções:
• Manutenção da estabilidade da coluna vertebral;
• Absorção de choques mecânicos.

O núcleo pulposo, rico em ácido hialurónico, é muito hidratado e


absorve as pressões como se fosse uma almofada, protegendo
as vértebras contra impactos.

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3.6. TECIDO ÓSSEO

O tecido ósseo é uma variedade de tecido conjuntivo em que a matriz extracelular se encontra mineralizada. É
o componente estrutural dos ossos e tem como funções:
• Suporte e proteção de tecidos moles e órgãos;
• Local de inserção para os músculos;
• Reserva mobilizável de cálcio e fosfato (papel na regulação dos níveis plasmáticos destes iões);
• Alojam a medula óssea, em alguns casos.

Também são capazes de absorver toxinas e metais pesados, minimizando os seus efeitos adversos noutros
tecidos.

É constituído por:
Þ Matriz extracelular
• Componente orgânico (aproximadamente 30%) – colagénio, mucopolissacarídeos, proteínas
não colagénicas;
• Componente inorgânico (aproximadamente
70%) – cálcio, fósforo.

Þ Células
• Células osteoprogenitoras;
• Osteoblastos;
• Osteócitos;
• Osteoclastos.

O colagénio tipo I é o constituinte mais abundante da matriz orgânica:


• Colagénio – cerca de 90% da porção orgânica, confere uma certa
elasticidade ao tecido ósseo e capacidade de resistência a forças
de tração;
• Proteínas não colagénicas – osteocalcina, osteonectina,
osteopontina;
• Proteoglicanos;
• Citocinas e fatores de crescimento – por exemplo, proteínas
morfogenéticas ósseas (BMPs).

A hidroxiapatite (Ca10(PO4)6(OH)2) é o principal componente estrutural da matriz inorgânica. É formada por


fosfato de cálcio sob a forma de cristais e confere dureza e rigidez ao tecido ósseo. É, assim, resistente à
compressão.

A associação de cristais de hidroxiapatite é responsável pela rigidez e pela resistência mecânica do osso. Após
a remoção do cálcio, os ossos mantêm a sua forma intacta e tornam-se tão flexíveis quanto os tendões. Por
outro lado, a destruição da parte orgânica, que é principalmente colagénio,
pode ser realizada por incineração e também deixa o osso com a sua forma
intacta, porém tão quebradiço que dificilmente pode ser manipulado sem
se partir.

O estudo da estrutura da matriz mineralizada faz-se em preparações de


osso seco:
• São obtidas por desgaste do osso;

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• Não há preservação das células nem da porção orgânica da matriz.

A observação das células e da matriz orgânica é feita em preparações de


osso descalcificado.
• O osso é fixado;
• A inclusão e o corte são efetuados após descalcificação – a
remoção da parte mineral da matriz é realizada em solução ácida
diluída (ex.: acido nítrico a 5%) ou em solução que contenha uma
substância quelante para cálcio, como o EDTA.
• A descalcificação altera a arquitetura observada nas preparações
de osso seco.

A observação macroscópica permite distinguir 2 formas de apresentação do tecido ósseo:


Þ Osso compacto (cortical)
• Aspeto sólido e homogéneo;
• Sem cavidades visíveis a olho nú;
• Constitui a porção mais externa dos ossos.

Þ Osso esponjoso (trabecular)


• Rede de trabéculas irregulares;
• Cavidades intercomunicantes;
• Constitui a porção mais interna dos ossos. Nos ossos
longos, as epífises são formadas por osso esponjoso
(revestidas por uma fina camada de osso compacto).

A diáfise, nos ossos longos, é quase totalmente formada por osso compacto, com pequena quantidade de osso
esponjoso na sua superfície interna, delimitando o canal medular.

Histologicamente distinguem-se dois tipos de tecido ósseo:


• Osso imaturo (primário) – primeiro tecido ósseo a ser
formado;
• Osso maduro (secundário, lamelar).

O osso imaturo não apresenta organização em lamelas. Este


tipo de osso é o predominante no feto, no adulto apenas está
presente no osso em remodelação, nos alvéolos dentários e em inserções de
tendões nos ossos.
• A disposição das fibras colagénicas não está ordenada;
• Células em maior número do que no osso maduro e em arranjo
desordenado;
• Substância fundamental (proteoglicanos, glicoproteínas não
colagénicas) mais abundante do que no osso maduro;
• Matriz mais basófila do que a do osso maduro. É heterogénea, com
manchas mais escuras;
• Matriz menos mineralizada e menos densa aos raios-X.

O osso maduro exibe uma estrutura lamelar: as fibras colagénicas apresentam


uma disposição ordenada.
• Variedade mais encontrada no adulto;

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• As lacunas que contêm osteócitos estão geralmente situadas entre


as lamelas ósseas, mas algumas vezes estão dentro das lamelas.
Devido a esta disposição os osteócitos dispõem-se em fileiras, ao
contrário do que acontece no osso imaturo.

As lamelas ósseas que se reúnem em conjuntos de lamelas podem ter 2


tipos de arranjos espaciais:
• Lamelas planas – dispõem-se paralelamente umas às outras,
formando pilhas de lamelas de tecido ósseo;
• Lamelas curvas – em forma de anéis, dispõe-se em camadas
concêntricas em torno de um canal central.

NOTA: em lamelas adjacentes, as fibras de colagénio orientam-se


paralelamente dentro de cada lamela e obliquamente de lamela para lamela.

Nesta imagem estão representadas lamelas ósseas concêntricas.

Entre lamelas adjacentes há lacunas habitadas por osteócitos.


Numerosos canalículos partem de cada lacuna e estabelecem ligação
com canalículos de outras lacunas.

Ao microscópio de luz polarizada, as lamelas aparecem


alternadamente brilhantes e escuras.

No osso compacto reconhecem-se 4 sistemas de lamelas de matriz calcificada:


• Sistemas de Havers (osteónios) – unidades cilíndricas orientadas paralelamente ao eixo maior do osso;
• Sistemas intermediários – localizados
entre os sistemas de Havers;
• Sistema circunferencial externo –
acompanha a circunferência externa da
diáfise, mais espesso e próximo do
periósteo;
• Sistema circunferencial interno –
acompanha a circunferência interna da
diáfise, em contacto com o endósteo.

Os sistemas de Havers são formados por


lamelas dispostas de forma concêntrica em redor
de um canal central – o canal de Havers –
revestido por endósteo, que contém vasos e
nervos.

No sistema de Havers, os osteócitos, em


lacunas, estão organizados circunferencialmente
ao redor do canal.

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O limite exterior de cada sistema de Havers é marcado pela linha


cimentante, uma matriz mineralizada deficiente em fibras
colagénicas.

Também os canais de Volkmann contêm vasos sanguíneos e


nervos:
• Não se encontram rodeados por lamelas concêntricas;
• Penetram no osso pela sua fase endóstica e perióstica;
• Transportam vasos para os canais de Havers (ligam os
canais de Havers entre si).

Os canais de Havers comunicam-se entre si, com a cavidade


medular e com a superfície externa do osso por meio de túneis
transversais ou oblíquos à diáfise, situados no interior do osso,
chamados de canais de Volkmann.

Cada sistema de Havers é construído a partir da deposição


sucessiva de lamelas ósseas a partir da periferia para o interior do
sistema.

NOTA: os sistemas mais jovens têm canais mais amplos do que os


antigos. As lamelas mais internas são sempre as mais recentemente adicionadas. O diâmetro dos sistemas de
Havers é muito variável pois o tecido ósseo está em remodelação constante.

Os sistemas intermediários (lamelas intersticiais) ocupam os intervalos entre os sistemas de Havers.


Representam restos de antigos sistemas de Havers que foram destruídos durante a remodelação óssea.

Os sistemas circunferênciais são formados por


lamelas ósseas paralelas entre si.
• Sistema circunferencial externo – na parte
mais externa da diáfise do osso, subjacente
ao periósteo;
• Sistema circunferencial interno – rodeia o
canal medular, situado na parte mais interna
da diáfise do osso. Está em contacto com o
endósteo.

O osso esponjoso também exibe estrutura lamelar.


Não contém geralmente sistemas de Havers.

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3.6.1. CÉLULAS ÓSSEAS


Os osteócitos representam a forma madura das células ósseas. Estão
aprisionados no interior das lacunas, cercados por matriz mineralizada, e
cada lacuna alberga um osteócito. Tem um importante papel na
manutenção da matriz óssea. A sua morte é seguida por reabsorção da
matriz ao seu redor.

Uma profusa rede de canalículos interliga as lacunas – o sistema lacuno-


canalicular.

Os canalículos ósseos alojam os prolongamentos dos osteócitos e


permitem a passagem de nutrientes e de muitas outras substâncias.

Não existe difusão de substâncias através da matriz calcificada do osso,


pois esta é impermeável. Por esse motivo, a nutrição dos osteócitos depende dos canalículos que existem na
matriz, em cujo interior circulam substâncias que possibilitam as trocas de moléculas, iões e gases entre os
capilares sanguíneos e os osteócitos.

Os osteócitos formam um sistema de comunicação global no


seio do tecido ósseo. Comunicam entre si, com outras células
ósseas e com vasos sanguíneos e os seus prolongamentos
celulares encontram-se interligados por junções comunicantes.

Os osteócitos respondem a estímulos mecânicos que atuam


sobre o osso. São sensíveis às diferenças de fluxo e pressão
hidrostática no fluido existente no sistema lacuno-canalicular e
tem papel crucial na manutenção e remodelação óssea.

Os osteoblastos representam a forma jovem das células ósseas.


Dispõem-se à periferia do osso em formação, semelhante à
disposição de um epitélio cúbico simples.

Quando em intensa atividade sintética, os osteoblastos são


cuboides, com citoplasma muito basófilo. Em contrapartida, em
estado pouco ativo, tornam-se achatados e a sua basofilia
citoplasmática é pouco intensa.

Os osteoblastos são responsáveis pela síntese e secreção do componente orgânico da matriz extracelular do
tecido ósseo em formação (colagénio tipo I, proteoglicanos e glicoproteínas).

Após a sintetizar matriz extracelular, o osteoblasto é aprisionado pela matriz orgânica recém-sintetizada e passa
a ser chamado de osteócito. A matriz, então, deposita-se ao redor do corpo da célula e dos seus prolongamentos
e passa por deposição de cálcio, formando as lacunas que contêm os osteócitos e os canalículos.

Os osteoblastos em fase de síntese mostram características ultraestruturais das células produtoras de proteínas
(ricas em reticulo endoplasmático rugoso).

A matriz óssea recém formada, adjacente aos osteoblastos ativos e ainda não calcificada, recebe o nome de
osteóide.

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Os osteoblastos são também responsáveis pela mineralização da


matriz óssea. Inicia-se no interior das vesículas libertadas pelos
osteoblastos na matriz orgânica. Os cristais de hidroxiapatite
rompem as vesículas da matriz e depositam-se entre as fibrilas de
colagénio.

Os osteoclastos são células gigantes multinucleadas


especializadas nos processos de reabsorção da matriz óssea. São
células móveis, com citoplasma granuloso (algumas vezes
contendo vacúolos), fracamente basófilo nos osteoclastos jovens e
muito acidófilo nos maduros.
• Podem ser observados nas superfícies ósseas onde esteja
a ocorrer remoção da matriz;
• A região óssea que está a ser reabsorvida apresenta a
forma de uma depressão – lacuna de Howship.

Quando em atividade, a superfície dos osteoclastos em contacto


com a matriz óssea apresenta numerosas microvilosidades – o
bordo enrugado.

A matriz óssea imediatamente subjacente ao bordo enrugado constitui o local onde ocorre a reabsorção óssea.

Bomba de H+ na membrana do bordo


enrugado.

Libertação de iões H+ para o microambiente onde se


processa a reabsorção óssea.

Acidificação leva à desmineralização da


matriz óssea

Libertação de enzimas lisossomais Degredação da matriz orgânica

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NOTA: o pH ácido fornece o ambiente ideal para a ação das enzimas hidrolíticas lisossomais.

Assim a matriz é removida e capturada pelo citoplasma dos osteoclastos onde possivelmente a digestão
continua, sendo os seus produtor transferidos para o exterior do osteoclasto.

O osteoclasto em atividade de reabsorção é uma célula polarizada.


Þ Bordo enrugado
• Porção da célula diretamente envolvida na reabsorção da matriz óssea

Þ Zona clara
• Local de adesão dos osteoclastos à superfície
óssea;
• Veda a câmara de reabsorção;
• Pobre em organelos, mas contém muitos
filamentos de actina.

Þ Região basolateral

Þ Região secretora
• Intervém na exocitose do material digerido.

Os osteoclastos provêm de uma linhagem homotopoiética – provêm de células mãe residentes na medula óssea
(que também dão origem aos monócitos e aos macrófagos) que se fundem ao chegar ao tecido ósseo, dando
origem a osteoclastos multinucleados. São assim membros do sistema fagocítico mononuclear.

A diferenciação dos osteoclastos requer a


intervenção de múltiplos fatores extracelulares:
• M-CSF – fator estimulador de colónias de
macrófagos (macrophage colony stimulating factor).
Responsável pela proliferação e sobrevivência dos
precursores de osteoclastos;
• RANKL – ligando para o recetor de ativação do
fator nuclear kappa B (receptor activator of nuclear
factor-kB ligand). Responsável pela diferenciação de precursores de osteoclastos em
osteoclastos maduros funcionais.

Os osteoblastos estimulam a diferenciação e maturação dos precursores osteoclásticos. A interação do RANKL


(presente na superfície dos osteoblastos) com o RANK (presente na superfície dos pré-osteoclastos) leva à
maturação dos osteoclastos. A osteoprotegerina (OPG) é produzida pelos osteoblastos e regula inversamente a
atividade osteoclástica, bloqueando a sua ligação do RANKL ao seu recetor RANK.

O sistema RANKL/RANK/OPG constitui um eixo fundamental na regulação da massa óssea.


Formação de osteoclastos Promoção da
OPG baixa/ausente RANKL liga-se ao RANK
ativados reabsorção óssea

OPG liga-se ao RANKL, Inibição da formação,


OPG alta impedindo a sua ligação função e sobrevivência dos Inibição da reabsorção óssea
ao RANK osteoclastos

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As células osteoprogenitoras são precursores inativos dos


ostebolastos. Têm origem em células mesenquimatosas estaminais
da medula óssea e localizam-se na camada mais interna do
periósteo, no endósteo e no estroma da medula óssea.

O periósteo reveste a superfície externa dos ossos. É uma membrana


de tecido conjuntivo denso que possui duas camadas (mal
demarcadas) que diferem histologicamente:
• Zona mais superficial – rica em feixes paralelos de fibras de
colagénio;
• Camada mais interna – tecido conjuntivo laxo com células
osteoprogenitoras (morfologicamente semelhantes aos
fibroblastos).
Esta membrana é ricamente suprida por vasos sanguíneos, o que lhe
permite nutrir o tecido ósseo.

O aspeto microscópico do periósteo depende do estado funcional do


tecido ósseo. Durante o desenvolvimento e o crescimento dos ossos
ou após fraturas ósseas, a camada mais interna apresenta
osteoblastos.

Diferentemente da cartilagem, que cresce por aposição ou por processo


intersticial, o tecido ósseo somente cresce pelo mecanismo de aposição,
que também é muito importante na remodelação óssea e na reparação
de fraturas.

As fibras de Sharpey ancoram o periósteo ao tecido ósseo. São feixes


de fibras colagénicas que a partir da camada externa do periósteo
penetram no tecido ósseo subjacente. São proeminentes em locais de
inserção de tendões e ligamentos aos ossos.

O endósteo reveste as superfícies internas do osso. Este é uma


lâmina delicada de tecido conjuntivo que reveste:
• Superfície interna do osso compacto em contacto com o
canal medular;
• Trabéculas do osso esponjoso;
• Canais de Havers e Volkmann.
Contém células osteoprogenitoras, ou seja, tem função osteogénica.

3.6.2. OSTOGÉNESE E OSSIFICAÇÃO


O tecido ósseo origina-se a partir do tecido conjuntivo pré-existente.

Existem 2 processos de osteogénese:


• Ossificação intramembranosa – a formação do osso ocorre diretamente a partir do tecido conjuntivo,
sem molde prévio de cartilagem;
• Ossificação endocondral – a ossificação tem lugar a partir de um molde de tecido cartilagíneo (miniatura
de cartilagem hialina).

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Tanto na ossificação intramembranosa como na ossificação endocondral, o primeiro tecido ósseo formado é do
tipo primário (imaturo), o qual, pouco a pouco, é substituído por tecido secundário ou lamelar (maduro). Portanto,
durante o crescimento dos ossos, podem ser vistas lado a lado áreas de tecido ósseo imaturo, áreas de
reabsorção e áreas de tecido ósseo maduro. Uma combinação de formação e remoção de tecido ósseo persiste
durante o crescimento do osso e também no adulto, embora em ritmo muito mais lento.

Apesar de existirem dois processos de osteogénese, o resultado final é o mesmo.

A ossificação intramembranosa ocorre no interior de membranas de tecido mesenquimatoso durante a vida


intrauterina e de membranas de tecido conjuntivo na vida pós-natal. É o processo formador dos ossos frontal e
parietal e de partes do occipital, do temporal e dos maxilares superior e inferior. Contribui também para o
crescimento dos ossos curtos e para o aumento em espessura dos ossos longos.
Agregação das células mesenquimatosas nas
regiões onde irá surgir o osso – centros de
ossificação (pode haver mais que um)

Diferenciação das células mesenquimatosas em


células osteoprogenitoras

Diferenciação das células osteoprogenitoras


em osteoblastos

Secreção de osteoide pelos osteoblastos

Aprisionamento de osteoblastos em
lacunas à medida que o osteoide se vai
formando - osteócito

NOTA: nem todos os osteoblastos são aprisionados e tornam-se osteócitos. Muitos apoptam.

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A formação progressiva do osso resulta na fusão de centros de ossificação adjacentes.

O tecido recém formado é osso imaturo (não lamelar)


na forma de trabéculas revestidas por osteoblastos

O crescimento e fusão das trabéculas vão


construindo o osso em desenvolvimento

A remodelação resulta na substituição do osso


imaturo não lamelar por osso maduro (ompacto
na periferia da peça óssea e esponjosa no
centro)

A ossificação endocondral tem lugar a partir de um molde cartilagíneo. Tem início sobre uma peça de cartilagem
hialina, cujo formato é semelhante ao do osso que se vai formar, porém de tamanho menor. Esse tipo de
ossificação é o principal responsável pela formação dos ossos curtos e longos.

As células da camada mais interna do pericôndrio


que rodeia a porção média da futura diáfise adquirem
capacidade osteogénica

Forma-se um fino colar ósseo em toda a


circunferência da porção média da diáfise –
ossificação intramembranosa

Os condrócitos e as lacunas na zona central


do modelo cartilagíneo sofrem hipertrofia

A matriz entre os condrócitos fica reduzida


a delgadas trabéculas

Ocorre a calcificação da matriz cartilagínea


no interior da diáfise

Os condrócitos morrem por apoptose

Devido à morte dos condrócitos, responsáveis


pela manutenção da matriz, a matriz cartilagínea
desintegra-se – cavitação
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Entrada de vasos sanguíneos a partir do


periósteo

Entrada de:
• Células estaminais mesenquimatosas –
células osteoprogenitoras
• Células estaminais homotopoiéticas –
células do sangue (medula óssea)

As células osteoprogenitoras diferenciam-


se em osteoblastos

Os osteoblastos depositam osteoide à


volta das espículas (limitam as
cavitações) de matriz cartilagínea
calcificada

A diáfise vai perdendo progressivamente


a sua composição cartilagínea, sendo
substituída por osso esponjoso

Os centros de ossificação secundários


surgem mais tarde no interior do molde
cartilagíneo das epífises

Ao processo de formação de osso vai


sobrepor-se outro de destruição

A atividade osteoclástica faz desaparecer


a maior parte do osso endocondral,
produzindo o canal medular

Existem 2 teorias sobre o que acontece aos condrócitos na ossificação endocondral:


• Os condrócitos morrem e dão lugar a osteoblastos;
• Os condrócitos sofrem transdiferenciação em osteoblastos.

O crescimento em comprimento dos ossos longos deve-se à atividade proliferativa da cartilagem.

A cartilagem de conjugação (disco epifisário) situa-se entre o tecido ósseo das epífises e o da diáfise.

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Na cartilagem de conjugação distinguem-se diferentes zonas:


• Zona de repouso – mais próximas da epífise, na qual existe cartilagem hialina sem qualquer alteração
morfológica;
• Zona de proliferação (cartilagem seriada) – na qual os condrócitos dividem-se rapidamente e formam
colunas paralelas de células achatadas e empilhadas no sentido longitudinal do osso;
• Zona de cartilagem hipertrofiada – apresenta condrócitos muito volumosos, com depósitos
citoplasmáticos de glicogénio e lípidos. A matriz fica reduzida a trabéculas delgadas situadas entre as
células hipertróficas. Os condrócitos entram em apoptose;
• Zona de cartilagem calcificada – zona estreita onde ocorre
a mineralização das delgadas trabéculas de matriz
cartilagínea. É constituída por trabéculas e pelos espaços
entre elas, ocupados por restos de condrócitos;
• Zona de ossificação – zona em que é formado o tecido
ósseo. Capilares sanguíneos e células osteoprogenitoras
originadas do periósteo invadem os espaços deixados
pelos condrócitos mortos. As células osteoprogenitoras
diferenciam-se em osteoblastos, que formam uma camada
contínua sobre os restos da matriz cartilagínea calcificada,
onde os osteoblastos depositam a matriz óssea.

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O crescimento dos ossos consiste na formação de tecido ósseo novo, associada à simultânea reabsorção parcial
de tecido formado anteriormente. Por esse mecanismo, os ossos conseguem manter a sua forma enquanto
crescem.

O crescimento de um osso longo em comprimento é realizado pela ossificação endocondral (proliferação de


condrócitos na cartilagem de conjugação); o crescimento da diáfise em espessura ocorre por crescimento
aposicional a partir do periósteo.

Os ossos são estruturas plásticas, dinâmicas que, durante toda a vida, estão em permanente remodelação. A
remodelação óssea é um processo pelo qual é eliminada uma área de tecido ósseo que será substituída por
outra.

O tecido ósseo funciona como uma reserva de cálcio. A concentração de cálcio no sangue (calcemia) deve ser
mantida constante – para isso, há um intercâmbio constante de cálcio entre o osso e o plasma.
• A paratormona (da paratiroide), PTH, aumenta os níveis sanguíneos de cálcio;
• A calcitonina diminui os níveis sanguíneos de cálcio.

A paratormona estimula a reabsorção óssea. Esta hormona, ao atuar sobre os osteoblastos, faz com que estes
produzam moléculas de sinalização que induzem a osteoclastogénese. Desta forma, os osteoclastos irão
reabsorver a matriz óssea.

O crescimento do osso é sensível a vários fatores nutricionais:


• Deficiência de vitamina D – raquitismo e osteomalacia;
• Deficiência de vitamina A;
• Hipervitaminose A;
• Deficiência de vitamina C.

Mas também é influenciada por diversas hormonas:


• Hormona do crescimento (somatotropina);
• IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo I);
• Hormonas tiroideias;
• Hormonas sexuais.

3.7. SANGUE

O sangue está contido num compartimento fechado, o sistema circulatório, que o mantém em movimento regular
e unidirecional devido essecialmente às contrações rítmicas do coração. É constituído por:
• Plasma sanguíneo (matriz extracelular);
• Células sanguíneas:
§ Eritrócitos (glóbulos vermelhos, hemácias);
§ Leucócitos (glóbulos brancos);
§ Plaquetas sanguíneas.

O sangue coletado por punção venosa, tratado por anticoagulantes (heparina, por exemplo) e em seguida
centrifugado separa-se em várias camadas, que refletem a sua heterogeneidade. O resultado obtido por essa
sedimentação, realizada em tubos de vidro de dimensões padronizadas, chama-se hemaócrito.
• Plasma – porção mais superficial, translúcida e amarelada;
• Células – sedimentam em 2 camadas facilmente distinguíveis:

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§ Camada inferior (35 a 50% do volume total do sangue) – tem uma cor
avermelhada e é formada pelos eritrócitos;
§ Camada (imediatamente) superior (1% do volume do sangue) – tem uma cor
acinzentada e contém os leucócitos, que são menos densos que os eritrócitos.
• Plaquetas – camada que repousa sobre os leucócitos, muito delgada e indistinguíveis
a olho nú.

NOTA: chama-se “Buffy Coat” à porção do sangue anticoagulado que contém a maioria dos
glóbulos brancos e das plaquetas (na figura corresponde à porção identificada por
“leucócitos”).

O hematócrito possibilita estimar o volume de sangue ocupado pelos eritrócitos em relação ao


sangue total.

O sangue tem várias funções:


• Defesa do organismo (leucócitos);
• Transporte de gases como o O2 e o CO2 (eritrócitos);
• Transporte de princípios nutritivos e de produtos de catabolismo;
• Transporte de hormonas (mensagens químicas);
• Regulação da temperatura do corpo;
• Equilíbrio ácido-básico;
• Equilíbrio osmótico dos tecidos – homeostasia.

As células do sangue são geralmente estudadas em esfregaços


preparados pelo espalhamento de uma gota de sangue sobre uma lâmina,
onde as células ficam estiradas e separadas, o que facilita a sua
observação ao microscópio ótico.
Esses esfregaços são corados com misturas especiais, que contêm:
• Corante ácido – eosina;
• Corantes básicos – azul de metileno, azures (A, B (o mais
importante) e C) e violeta de metileno.

Assim, sabemos que:


• As estruturas acidófilas ligam-se ao anião eosinato (cores rosa, laranja ou vermelha);
• As estruturas basófilas ligam-se ao catião azul de metileno e catião azur B (cores azul e violeta);
• As estruturas azurófilas ligam-se a azures (cor púrpura) – o fenómeno é mais complexo;
• As estruturas neutrófilas são definidas tradicionalmente como captando a molécula de corante neutro
(eosinato de azul de metileno e eosinatos de azures) – o fenómeno é mais complicado. Apresentam
granulações neutrófilas de cor salmão (na espécie humana).

Ligações:
• O ião eosinato liga-se ao citoplasma dos eritrócitos e às granulações específicas dos granulócitos
eosinófilos – ficam cor de rosa;
• O azur B (cor azul) liga-se às granulações específicas dos granulócitos basófilos – ficam com cor violeta
muito escura (por metacromasia);
• Azur de metileno liga-se ao citoplasma dos linfócitos – fica azul.

Nos fenómenos de azurofilia e neutrofilia, a molécula biológica a ser corada chama-se macromolécula aniónica.
• ADN;

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• Glicosaminoglicanos sulfatadas (GAGs)


§ Granulações neutrófilas;
§ Granulações azurófilas (granulócitos, monócitos, linfócitos, plaquetas sanguíneas).

1º passo: ligação do ADN (-) ou GAGs (-) ao azur B (+) – ligação eletrovalente;
2º passo: ligação do azur B à eosina – ligação covalente
• ADN (-) (+) azur B – eosina;
• GAGs (-) (+) azur B – eosina.

A composição química do plasma sanguíneo é diferente da composição da matriz extracelular dos outros tecidos
conjuntivos – ausência de proteoglicanos, colagénio, elastina e fibronectina. Possui:
• 90% de água;
• 10% de macromoléculas e micromoléculas em suspensão na água
§ 7% de proteínas plasmáticas;
§ 0,9% de sais inorgânicos;
§ Ácidos aminados, vitaminas, hormonas e glicose.

As proteínas plasmáticas são:


• Albumina;
• a -, b - e g - globulinas;
• Lipoproteínas;
• Protrombina e fibrinogénio.

3.7.1. ERITRÓCITOS
Os eritrócitos ou hemácias de mamíferos são anucleadas, contêm grande
quantidade de hemoglobina e em considerações normais não saem do sistema
circulatório – permanecem sempre no interior dos vasos. A sua forma é
bicôncava, são flexíveis e são acidófilos.

A hemoglobina presente nos eritrócitos é uma proteína transportadora de O2 e


CO2. Os eritrócitos dos mamíferos têm a forma de um disco bicôncavo. Quando
suspensos em soluções isotónicas têm, em média:
• Diâmetro – 7,5 µm;
• Espessura no bordo – 2,6 µm;
• Espessura no centro – 0,8 µm.

A forma bicôncava dos eritrócitos normais proporciona grande superfície em relação


ao volume, o que facilita as trocas de gases. Os eritrócitos são flexíveis, passando
facilmente pelas bifurcações dos capilares mais finos, onde sofrem deformações
temporárias, mas não se rompem.

A concentração destas células no Homem é:


• 3,9 x 106 / µL a 5,5 x 106 / µL nas mulheres;
• 4,1 x 106 / µL a 6,0 x 106 / µL nos homens.

Por serem ricos em hemoglobina, uma proteína básica, os eritrócitos são acidófilos, corando-se pela eosina.

A forma bicôncava é mantida por proteínas estruturais do citoesqueleto e ligadas à membrana da hemácia, como
por exemplo a espectrina. A bomba de sódio também contribui para a manutenção da sua forma bicôncava.

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Os eritrócitos usam energia derivada da glicose. Cerca de 90% da glicose é degradada pela via anaeróbia até
ao estado de lactato e os restantes 10% são utilizadas pela via pentose-fosfato.

Os reticulócitos são eritrócitos imaturos recém saídos da medula óssea,


encontrados em pequenas quantidades no sangue (0,5 a 2,5% do número
de hemácias em adulto). O número elevado de reticulócitos sugere uma
vida curta dos eritrócitos e consequente resposta da medula óssea
produzindo mais células; possíveis causas seriam hemorragia ou hemólise
associada a uma parasitose ou doença autoimune, por exemplo. O número
reduzido de reticulócitos sugere produção diminuída de eritrócitos.
Em condições normais, não se observam no sangue circulante do Cavalo
e Ruminantes.

Ao penetrarem a corrente sanguínea, vindos da medula óssea vermelha


(na qual são formados), os reticulócitos contêm ainda certa quantidade de
ribossomas. Quando corados, apresentam uma cor azulada, devido à
basofilia do RNA. Certos corantes, como o azul brilhante de cresil,
precipitam o RNA, dando origem a uma delicada rede de material basófilo,
que aparece bem corado em azul.

A molécula de hemoglobina (proteína conjugada com ferro) é formada por


quatro subunidades (tetrâmero), cada um (monómero) contendo um grupo
heme (grupo prostético + Fe2+) ligado a um polipéptido.

Quando a molécula de hemoglobina se combina com o


oxigénio forma-se a oxi-hemoglobina. Esta combinação é
reversível e o oxigénio é transferido para os tecidos, onde a
pressão de O2 é baixa. Geralmente acontece nos pulmões.

A combinação da hemoglobina com o CO2 que é normalmente


produzido nos tecidos origina a carbamino-hemoglobina. Esta
combinação também é facilmente reversível quando o sangue
chega aos pulmões.

No entanto, a maior parte do CO2 é transportada (dos tecidos


para os pulmões) dissolvido no plasma.

Devido a variações nas cadeias polipeptídicas, distinguem-se vários tipos de hemoglobina, dos quais 3 são
considerados normais:
• Hb A1 (97%) - a2b2;
• Hb A2 (2%) - a2d2;
• Hb F (1%) - a2g2; característica do feto (hemoglobina fetal); representa 100% da hemoglobina do feto e
cerca de 80% da hemoglobina do recém nascido. A sua taxa diminui progressivamente até o oitavo mês
de idade, quando alcança 1%, percentagem semelhante à encontrada no adulto.

A Hb F é rica em oxigénio, tendo um papel importante na vida fetal pois o feto não tem acesso ao ar e obtém
oxigénio do sangue materno através da placenta.

Durante a maturação na medula óssea, o eritrócito perde o núcleo e os outros organelos, não podendo renovar
as suas moléculas. Ao fim de 120 dias (em média), as enzimas já estão em nível crítico, o rendimento dos ciclos

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metabólicos geradores de energia é insuficiente (senescência) e o corpúsculo é digerido pelos macrófagos,


principalmente do baço (hemocaterese). O Fe2+ é reaproveitado na génese de novos eritrócitos na medula óssea.

As anemias são caracterizadas pela baixa concentração de hemoglobina no sangue ou pela presença de
hemoglobina não funcional, o que resulta em oxigenação reduzida para os tecidos. Muitas vezes, a anemia é
consequência de uma diminuição na quantidade de eritrócitos; no entanto, essa quantidade pode ser normal,
mas cada eritrócito conter pouca hemoglobina. Nesse caso, os eritrócitos são fracamente corados e, por isso,
esse tipo de anemia é denominado por anemia hipocrómica.

Diâmetro dos eritrócitos em mamíferos domésticos:


• Cão – 7,0 µm;
• Porco – 6,0 µm;
• Gato – 5,8 µm;
• Cavalo – 5,7 µm;
• Vaca – 5,5 µm;
• Ovelha – 4,5 µm;
• Cabra – 4,1 µm.

Existem algumas diferenças morfológicas entre os eritrócitos de diferentes espécies:


1. Palidez central bem marcada – homem e cão;
2. Palidez central pouco acentuada – gato, vaca e ovelha;
3. Palidez central mínima – cavalo e cabra;
4. Não apresentam palidez central – camelídeos.

1) 2)

3) 4)

NOTA: os eritrócitos dos camelídeos não têm núcleo, possuem forma oval e são biconvexos.

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Os eritrócitos de aves apresentam as seguintes características:


• Forma oval e biconvexa;
• Nucleado;
• Núcleo oval e basófilo;
• Citoplasma eosinófilo (acidófilo) devido à presença de
hemoglobina.

Os eritrócitos de répteis:
• Semelhantes aos das aves;
• Ovalado;
• Citoplasma acidófilo;
• Núcleo ovalado ou arredondado e basófilo.

3.7.2. LEUCÓCITOS
Os leucócitos são incolores, de forma esférica quando em suspensão no sangue e têm a função de proteger o
organismo contra infeções. São produzidos na medula óssea (tal como os eritrócitos) ou em tecidos linfoides e
permanecem temporariamente no sangue.

Diversos tipos de leucócitos utilizam o sangue como meio de transporte para alcançar o seu destino final – os
tecidos. São classificados em 2 grupos: os granulócitos e os agranulócitos.
• Granulócitos – núcleo de forma irregular e mostram no
citoplasma grânulos específicos. De acordo com a
afinidade tintorial dos grânulos específicos, distinguem-se
3 tipos de granulócitos:
• Neutrófilos;
• Eosinófilos;
• Basófilos.

• Agranulócitos – núcleo com forma mais irregular e o


citoplasma não tem granulações específicas, podendo
apresentar grânulos azurófilos (inespecíficos) presentes
também em outros tipos celulares. Há 2 tipos de
agranulócitos:
• Linfócitos;
• Monócitos.

Os leucócitos deixam os capilares e as vénulas por


diapedese, passando entre as células endoteliais para
penetrar o tecido conjuntivo. A diapedese pode ser:
• Inespecífica – morte nos tecidos conjuntivos
(removidos por macrófagos);
• Específica – invasão de um tecido por bactérias (são
atraídos por quimiotaxia).

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Calcula-se que, no adulto típico, bilhões de granulócitos morrem diariamente no tecido conjuntivo. Os restos
celulares são removidos rapidamente pelos macrófagos sem desencadear resposta inflamatória. Todavia,
quando os tecidos são invadidos por microrganismos, os leucócitos são atraídos por quimiotaxia, isto é, por
sustâncias originadas de tecidos, do plasma sanguíneo, de outros leucócitos e dos microrganismos que
provocam nos leucócitos uma resposta migratória, dirigindo-se estas células para os locais onde existe maior
concentração de agentes quimiotáticos.

Em circulação têm forma esférica; em suporte sólido apresentam emissão de pseudópodes, no esfregaço de
sangue aparecem achatadas. A sua concentração no sangue é de 6 x 103 a 10 x 103 por µL.

Percentagem dos tipos de leucócitos no Homem:


• Neutrófilos – 60 a 70%;
• Linfócitos – 20 a 30%;
• Monócitos – 3 a 8%;
• Eosinófilos – 2 a 4%;
• Basófilos – 0,5%.

Leucócitos mais abundantes:


• Homem, cavalo, cão e gato – neutrófilos (linfócitos 20 a 40%);
• Porco – linfócitos (50 a 60%);
• Ruminantes – linfócitos (60 a 70%).

3.7.2.1. GRANULÓCITOS NEUTRÓFILOS


Os neutrófilos ou leucócitos polimorfonucleares são células arredondandas com diâmetros entre os 10 e os 14
µm. Têm núcleos formados por 2 a 5 lóbulos (o mais frequente é por 3 lóbulos) ligados entre si por finas pontes
de cromatina. A célula muito jovem tem núcleo não segmentado em lóbulos, sendo chamada de neutrófilo com
núcleo em bastonete, ou simplesmente, bastonete.

Nos núcleos dos neutrófilos em mulheres, aparece frequentemente um pequeno


apêndice (“drumstick”), muito menor que um lóbulo nuclear, com a forma de uma
raquete. Contém a cromatina sexual, constituída por um cromossoma X
heterocromático condensado, que não transcreve os seus genes.

O citoplasma do neutrófilo apresenta predominantemente grânulos específicos (secundários) e azurófilos


(primários) – enquanto os grânulos azurófilos (lisossomas) contêm proteínas e péptidos designados à digestão
e morte de microrganismos, os grânulos específicos, além de apresentarem enzimas importantes no combate
aos microrganismos, também têm componentes para a reposição da membrana e auxiliam na proteção da célula
contra agentes oxidantes.
Na figura abaixo conseguimos observar 3 neutrófilos e diversos eritrócitos.

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Sequência da síntese das granulações azurófilas e específicas nos precursores dos granulócitos neutrófilos:

Através de microscópia fotónica conseguimos concluir que no citoplasma as granulações específicas constituem
80 a 90% das granulações citoplasmáticas e as granulações azurófilas constituem apenas 10 a 20%.

Enquanto estão no sangue circulante, os neutrófilos são esféricos e não fagocitam, tornando-se ameboides e
fagocitários quando encontram um substrato sólido sobre o qual possam emitir pseudópodes. O microrganismo
invasor é rodeado por pseudópodes, que se fundem em torno dele. Assim, o microrganismo ocupa finalmente
um vacúolo (fagossoma) delimitado por uma membrana derivada da superfície do neutrófilo. Logo depois disso,
os grânulos específicos situados nas proximidades fundem as suas membranas com as dos fogossomas e
esvaziam o seu conteúdo no interior deles. Em seguida, os grânulos azurofilos descarregam as suas enzimas
no fagossoma, onde ocorre a morte e a digestão dos microrganismos. Bombas de protões localizadas na
membrana do fagossoma acidificam o interior desse vacúolo. O pH acido pode matar bactérias e constitui
ambiente adequado à atividade das hidrólases dos grânulos azurófilos.

• As granulações azurófilas são lisossomas primários (fosfotase ácida, outras hidrólases como a
mieloperoxidase);
• As granulações específicas não são lisossomais (fosfatase alcalina, colagenase, lisozima e lactoferrina).

A fosfatase ácida é o marcador dos lisossomas em microscopia eletrónica de


transmissão (presente em todos os lisossomas).

Em microscopia eletrónica, o citoplasma apresenta:


• Granulações;
• Aparelho de Golgi;
• Reticulo endoplasmático rugoso;
• Mitocôndrias.

Funções do granulócito neutrófilo:


• Fagocitose de bactérias (partículas pequenas – micrófago);
• Primeira linha de defesa contra a invasão bacteriana.

A lisosima e a lactoferrina são componentes dos grânulos específicos dos neutrófilos e são importantes na fusão
dos granulócitos específicos com o fagossoma:
• Lisosima – ataca os peptidoglicanos da parede celular de bactérias gram-positivas;
• Lactoferrina – proteína que capta o ferro. Como esse mineral é importante para a nutrição bacteriana, a
sua remoção prejudica o metabolismo das bactérias.

Quando ocorre a fusão das granulações azurófilas com o fagossoma ocorre a formação de H2O2 e de O2-, que
são os principais responsáveis pela morte das bactérias fagocitadas.

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• NET (neutrophil extracellular traps) – após a ativação do neutrófilo, ativa-se a NADPH oxidase e ocorre
a NETose:
• Desintegração do invólucro nuclear e
das membranas das granulações
azurófilas e específicas;
• Libertação da cromatina
descondensada no citoplasma;
• Associação de proteínas de grânulos
com o ADN;
• Rutura da membrana celular;
• Libertação das redes de ADN
associadas a proteínas
antimicrobianas;
• As redes capturam e destroem
bactérias, protozoários e fungos.

Granulócito neutrófilo VS Granulócito heterófilo


As granulações específicas típicas do neutrófilo coram-se pela
molécula de corante neutro, ficando cor de salmão ou púrpura.
Porém, em alguns animais (coelho, cobaia, galo) as
granulações captam preferencialmente corantes ácidos e
noutros captam preferencialmente corantes básicos
(chimpanzé, alguns artiodáctilos). Neste caso, o tipo celular é
denominado heterófilo (ou – menos usado – pseudo-esoinófilo),
e não neutrófilo.

Nas aves, as granulações específicas são acidófilas e em forma de bastonete (A). O heterófilo dos répteis é
semelhante ao das aves (B).

A) B)

3.7.2.2. GRANULÓCITOS EOSINÓFILOS


Os eosinófilos são muito menos numerosos que os neutrófilos,
constituindo apenas 1 a 3% do total de leucócitos. Têm
aproximadamente o mesmo tamanho dos neutrófilos ou são
ligeiramente maiores. O núcleo é, em geral, bilobulado. O reticulo
endoplasmático, as mitocôndrias e o complexo de Golgi são
pouco desenvolvidos. A principal característica para a
identificação de eosinófilos são as granulações ovoides que se
coram pela eosina (granulações acidófilas), as quais são maiores
do que as dos neutrófilos, com 0,5 a 1,5 µm no seu maior eixo.

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Paralelamente ao eixo maior do grânulo, encontra-se um cristaloide ou internum


alongado, eletro-denso. O seu principal componente é a proteína básica principal, rica
em arginina, que constitui 50% das proteínas do grânulo e é responsável pela sua
acidofilia.

A camada que envolve o internum é menos densa


aos eletrões e denomina-se externum ou matriz. Ela é rica em proteína
catiónica eosinofílica, que é uma ribonuclease com atividade contra parasitas,
bactérias e alguns vírus, que promove o aparecimento de poros nas células-
alvo (ação citotóxica), induz a desgranulação de mastócitos e basófilos e
modula negativamente a atividade linfocitária.

Ao observar um eosinófilo ao microscópio eletrónico (figura ao lado) é


possível identificar os grânulos típicos deste tipo de célula – cada grânulo tem
uma parte central discoide e densa aos eletrões (internum) e à volta desta
uma matriz (externum) envolvida por uma membrana. O grânulo está
identificado por EG.

A. O Homem, a vaca, a ovelha, a cabra e o porco possuem granulações específicas arredondadas e de


tamanho semelhante.
B. O cavalo possui granulações especificas arredondadas de tamanho semelhante e muito grandes,
chamadas de esferas de Semmer.
C. O cão possui granulações específicas de tamanhos diferentes e não preenchendo totalmente o
citoplasma.
D. O gato apresenta granulações específicas alongadas que se coram de laranja-acinzentado.

A) B)

C) D)

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Os eosinófilos fagocitam e digerem complexos de antigénio-anticorpo que aparecem em casos de alergia (como
a asma brônquica, por exemplo). São atraídos para as áreas de inflamação alérgica pela histamina, produzida
principalmente por basófilos e mastócitos. Quando chegam lá, promovem a desgranulação nessas células e
liberam mediadores inflamatórios. Têm um papel modulador na resposta inflamatória. Participam na defesa
contra parasitas, como por exemplo o Schistosoma mansoni e Trypanosoma cruzi.

NOTA: ao contrário dos granulócitos neutrófilos, o granulócito eosinófilo não é especializado na fagocitose de
bactérias.

Nas aves as granulações específicas são redondas e eosinófilas.

3.7.2.3. GRANULÓCITOS BASÓFILOS


A sua função é semelhante à dos mastócitos.

O basófilo tem núcleo volumoso, com forma retorcida e irregular,


geralmente com aspeto da letra S. O citoplasma é carregado de
grânulos maiores do que os dos outros granulócitos, os quais
muitas vezes obscurecem o núcleo.

Os basófilos constituem menos de 2% dos leucócitos do sangue,


sendo difícil encontrá-los nos esfregaços. Sua meia-vida no
sangue é estimada em 1-2 dias.

Os seus grânulos medem 0,15 a 0,5 µm de diâmetro e, como os grânulos dos mastócitos, são metacromáticos.
Contêm:
• Histamina;
• Fatores quimiotáticos para eosinófilos e neutrófilos;
• Heparina, que é responsável pela metacromasia do grânulo.

A membrana plasmática dos basófilos, como a dos mastócitos, também apresenta recetores para a
imunoglobulina E (IgE). Os basófilos libertam os seus grânulos para o meio extracelular sob a ação dos mesmos
estímulos que promovem a expulsão dos grânulos dos mastócitos.

Apesar das semelhanças, os basófilos e os mastócitos não são aspetos diferentes do mesmo tipo celular, pois
originam-se na medula óssea de precursores diferentes.

Embora os basófilos sejam os leucócitos menos abundantes na circulação, o seu número aumenta rapidamente
na medula óssea em resposta a sinais inflamatórios, sendo mobilizados para o sangue, o baço, o pulmão e o
fígado. O aumento persistente do número de basófilos no sangue, no entanto, é raro e denomina-se basofilia,
que pode ocorrer devido a uma doença hematológica, como a leucemia mieloide crónica. Pode tmbém estar
associado a hipotiroidismo ou doença renal.

O granulócito basófilo das aves é semelhante ao dos mamíferos.

3.7.2.4. LINFÓCITOS
Os linfócitos são responsáveis pela defesa imunológica do organismo. Essas células reconhecem moléculas
estranhas existentes em diferentes agentes infeciosos, combatendo-as por meio de resposta humoral (produção
de imunoglobulinas) e resposta citotóxica mediada por células.

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Os linfócitos constituem uma família de células esféricas, com diâmetro variável entre 6 a 8 µm; com essas
dimensões, são conhecidos como linfócitos pequenos. No sangue circulante há ainda uma pequena
percentagem de linfócitos maiores, que podem alcançar 18 µm de diâmetro.

Os linfócitos pequenos têm núcleo esférico, às vezes com uma


chanfradura. A sua cromatina dispõe-se em grumos grosseiros,
de modo que o núcleo aparece escuro nas preparações usuais,
característica que favorece a identificação dos linfócitos.

O citoplasma dos linfócitos pequenos é muito escasso e aparece


nos esfregaços como um anel delgado em volta do núcleo.
Apresenta basofilia discreta, corando-se em azul claro. Pode
conter grânulos azurófilos que não são exclusivos dos linfócitos,
pois aparecem também nos monócitos e granulócitos.

Ao microscópio eletrónico, o citoplasma dos linfócitos mostra-se pobre


em organelos, contendo uma quantidade moderada de ribossomas
livres.

Na imagem ao lado está representado um linfócito visto ao microscópio


eletrónico. Conseguimos observar o nucléolo (Nu), o núcleo (N) e as
mitocôndrias (M).

O tempo de sobrevivência dos linfócitos é muito variável – alguns


vivem apenas alguns dias, enquanto outros vivem durante muitos
anos.

Embora os linfócitos tenham morfologia semelhante, dependendo das moléculas localizadas na sua superfície
podem ser separados em 2 tipos principais:
• Linfócitos T – originados no timo;
• Linfócitos B – originados na bolsa de Fabricius.

Também existem os linfócitos NK (natural killer).

Ao contrário dos outros leucócitos (que não retornam ao sangue depois de migrarem para os tecidos), os
linfócitos migram de volta para o sangue a partir dos tecidos, recirculando continuamente.

O aumento da quantidade de linfócitos no sangue denomina-se linfocitose e frequentemente está associado a


infeções virais; nesses casos, há um aumento de linfócitos com diâmetro maior e cromatina menos condensada.
O número reduzido de linfócitos denomina-se linfopenia ou linfocitopenia e geralmente está associada a terapias
farmacológicas prolongadas ou imunodeficiências.

Os linfócitos das aves são semelhantes aos dos mamíferos.

3.7.2.5. MONÓCITOS
Os monócitos são os maiores leucócitos circulantes, com diâmetro entre 15 a 22 µm. Têm o núcleo ovoide, em
forma de rim ou de ferradura, geralmente excêntrico.

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Devido ao arranjo pouco denso da sua cromatina, o núcleo dos


monócitos é mais claro do que o dos linfócitos. O núcleo do
monócito contém 2 ou 3 nucléolos que, por vezes, podem ser vistos
nos esfregaços comuns. O citoplasma do monócito é basófilo.

O aumento da quantidade de monócitos circulantes denomina-se


monocitose e pode sinalizar doença hematológica (como, por
exemplo, a leucemia mielomonocítica crónica), infeção causada
por alguns tipos de bactérias e parasitas ou doença autoimune. A
diminuição do número de monócitos circulantes, denominada
monocitopenia, é raramente observada, podendo ser ocasionada
pelo tratamento com corticosteroides.

Ao microscópio eletrónico conseguimos observar:


• Aparelho de Golgi – grande, participa na formação de
grânulos azurófilos;
• Reticulo endoplasmático rugoso – pouco desenvolvido;
• Lisossomas – grânulos azurófilos, muito finos.

Na imagem ao lado está representado um monócito visto ao


microscópio eletrónico. Notam-se alguns ribossomas livres (R), o
complexo de Golgi (G), mitocôndrias (M), grânulos azurófilos (A).

Os monócitos do sangue representam uma fase na maturação da


célula mononuclear fagocitária originada na medula óssea. Essa
célula passa para o sangue, onde permanece por alguns dias e,
atravessando por diapedese a parede dos capilares e vénulas,
penetra alguns órgãos, transformando-se em macrófagos, que
constituem uma fase mais avançada na vida da célula
mononuclear fagocitária. Assim, o monócito faz parte do sistema
mononuclear fagocitário.

O monócito das aves é semelhante ao dos mamíferos.

3.7.2.6. PLAQUETAS
As plaquetas são corpúsculos anucleados em forma de disco, medindo cerca de 2 a 4 µm de diâmetro. São
derivadas de células gigantes e poliploides da medula óssea, os megacariócitos.

As plaquetas promovem a coagulação do sangue e auxiliam a reparação da parede dos vasos sanguíneos,
evitando a perda de sangue. A concentração de plaquetas no sangue é cerca de 200 000 a 400 000 por µL de
sangue. Esses corpúsculos tendem a permanecer no sangue por aproximadamente 10 dias.

Nos esfregaços de sangue, as plaquetas tendem a aparecer em grupos (aglutinação).

Ao microscópio fotónico apresentam:


• Cromómero;
• Hialómero.

As plaquetas têm um sistema de canais, o sistema canalicular aberto, que se comunica com invaginações da
membrana plasmática da plaqueta. Assim, o interior da plaqueta comunica livremente com a sua superfície,

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disposição que tem importância funcional por facilitar a libertação de moléculas ativas que são armazenadas nas
plaquetas.

Na periferia das plaquetas, fazendo parte do hialómero, observa-se o feixe marginal de microtúbulos que
contribui para manter a forma ovoide desses corpúsculos. O hialómero contém também microfilamentos de
actina e moléculas de miosina, responsáveis pela contração das plaquetas. Estes corpúsculos contêm uma
camada situada por fora da membrana, medindo 15 a 20 nm, rica
em glicoproteínas e glicosaminoglicanos, responsável pela
adesividade das plaquetas e que pode absorver compostos
diversos.

O cromómero, mais escuro, apresenta uma variedade de


grânulos delimitados por membrana, algumas mitocôndrias e
inclusões de glicogénio. Os grânulos delta ou densos têm 250 a
300 nm de diâmetro e armazenam ADP (indutor da agregação
plaquetária), ATP e seretonina retirada do plasma sanguíneo. Os
grânulos alfa são um pouco maiores (300 a 500 nm de diâmetro)
e contêm fibrinogénio e fator de crescimento plaquetário (PDGF),
que estimulam as mitoses no musculo liso dos vasos sanguíneos
e a cicatrização das feridas. Os grânulos lambda são os menores
(175 a 250 nm) e são os lisossomas carregados com as enzimas
usuais desses organelos.

O equivalente das plaquetas nas aves e nos répteis são os trombócitos.


• Morfologia ao microscópio fotónico (aves):
• Célula de pequenas dimensões, de contorno arredondado,
ovalado ou irregular;
• Núcleo rico em heterocromatina;
• Citoplasma claro e basófilo.

• Morfologia ao microscópio fotónico (répteis):


• Aparelho de Golgi bem desenvolvido;
• Microtúbulos abundantes no citoplasma;
• Reticulo endoplasmático rugoso pouco desenvolvido;
• Mitocôndrias arredondadas.

Quando a parede de um vaso é lesionada, inicia-se um processo denominado homeostasia, que visa impedir a
perda de sangue. A homeostasia é um fenómeno complexo que envolve a musculatura lisa do vaso lesionado,
as plaquetas e diversos fatores do plasma sanguíneo que promovem a coagulação do sangue. A contração do
musculo liso é estimulada pela seretonina libertada pelas plaquetas. A participação das plaquetas na coagulação
do sangue dá origem às seguintes etapas:
• Agregação primária – descontinuidades do endotélio produzidas por lesão vascular são seguidas pela
absorção de proteínas do plasma sobre o colagénio adjacente. As plaquetas também aderem ao
colagénio, formando um tampão plaquetário;
• Agregação secundária – as plaquetas do tampão libertam ADP, que é um potente indutor da agregação
plaquetária, fazendo aumentar o número de plaquetas do tampão;
• Coagulação do sangue – durante a agregação das plaquetas, fatores do plasma sanguíneo, dos vasos
lesionados e das plaquetas promovem a interação sequencial (em cascata) de cerca de 16 proteínas
plasmáticas, dando origem a um polímero, a fibrina, e formando uma rede fibrosa tridimensional, que

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aprisiona eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Forma-se, assim, o coágulo sanguíneo, mais consistente e
firme do que o tampão plaquetário;
• Retração do coágulo – inicialmente o coágulo provoca grande saliência para o interior do vaso, mas logo
se contrai, graças à ação da actina, da miosina e do ATP das plaquetas;
• Remoção do coágulo – protegida pelo coágulo, a parede do vaso restaura-se através da formação de
tecido novo. Então, o coágulo é removido principalmente pela enzima plasmina, formada pela ativação
da proenzima plasmática plasminogénio pelos ativadores do plasminogénio produzidos pelo endotélio.
Enzimas libertadas pelos lisossomas das plaquetas também contribuem para a remoção do coágulo.

NOTA: trombocitose – quantidade elevada de plaquetas no sangue.

3.7.3. HEMATOPOIESE
A hematopoiese é o processo continuo e regulado de produção de células do sangue, que envolve renovação,
proliferação, diferenciação e maturação celular. As células do sangue têm vida curta e são constantemente
renovadas pela proliferação mitótica de células localizadas nos órgãos hematopoiéticos.

Existem 3 fases hematopoiéticas:


• Fase mesoblástica (em torno do 19º dia de gestação) – ocorre no saco vitelino;
• Fase hepática (entre a 4ª e 6ª semana de vida intrauterina) – ocorre na região AGM, fígado e baço;
• Fase medular (a partir do 2º mês de vida intrauterina).

Na vida pós-natal, a hematopoiese é extrauterina, sendo:


• Na medula óssea;
• Nos órgãos linfoides (linfócitos);
• Baço (linfócitos, megacariócitos – carnívoros, rato).

Conforme o tipo de glóbulo formado, o processo hematopoiético recebe os seguintes nomes:


• Eritropoiese – eritrócitos;
• Granulocitopoiese – granulócitos;
• Linfocitopoiese – linfócitos;
• Monocitopoiese – monócitos;
• Megacariocitopoiese – plaquetas sanguíneas.

Os órgãos nos quais o desenvolvimento linfoide ocorre são classificados como primários (medula óssea e timo)
e secundários. Todas as células são derivadas primariamente da medula óssea; os linfócitos B diferenciam-se
na medula, enquanto os linfócitos T provêm de células que migram da medula para o timo e ali se diferenciam.
Em órgãos linfoides secundários, como o baço, linfonodos e agregados linfoides em diferentes órgãos, os
linfócitos T e B proliferam intensamente, em geral estimulados por antigénios.

As células estaminais homotopoiéticas situam-se na medula óssea, são auto-renováveis e dão origem às células
sanguíneas.

O número de células estaminais varia entre espécies:


• Rato – 4 a 8 CEH por 105 CNMO; CEH – células estaminais homotopoiéticas
• Gato – 6 CEH por 107 CNMO; CNMO – células nucleadas da medula óssea
• Homem – 0,7 a 1,5 CEH por 108 CNMO.

A morfologia é semelhante à do linfócito.

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As células estaminais pluripotentes possuem 2 vias de diferenciação: mieloide e linfoide.

Esquema da diferenciação das células homotopoiéticas:

As células precursoras da linhagem mieloide são:


• Proeritroblasto – linham eritroide;
• Mieloblasto – linhagens granulócitas (neutrófila, basófila, eosinófila).
• Monoblasto (promonócito) – linhagem monocitária;
• Megacarioblasto – linhagem trombocitária (plaquetária).

As células precursoras da linhagem linfoide são:


• Linfoblasto T – linfócitos T;
• Linfoblasto B – linfócitos B.

Modificações nas propriedades das células hematopoiéticas durante a diferenciação:

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Diversas fases de maturação das linhagens eritrocítica e granulocítica:

NOTA: as linhagens linfocítica e megacariocítica, também derivadas da célula-tronco pluripotente da medula


óssea vermelha, não estão representadas.

Há várias teorias sobre a hematopoiese:


• Teoria uncista ou monofilética
• Hemohistioblasto – hemocitoblasto – todas as linhagens sanguíneas.

• Teoria dualista
• Hemocitoblasto – linhagem mieloide (granulócitos, monócitos e plaquetas)
• Linfoblasto – linhagem linfoide (linfócitos)
• Célula mesenquimatosa – eritrócitos

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• Teoria trialista
• Série mieloide – granulócitos, eritrócitos e plaquetas sanguíneas
• Série linfoide – linfócitos
• Serie histióide – monócitos

• Teoria polifilética – cada linhagem tem origem independente

A medula óssea pode ser vermelha ou amarela.

A medula óssea vermelha é constituída por:


• Tecido conjuntivo reticular;
• Capilares sinusoides;
• Células precursoras das linhagens mieloide e linfoide;
• Outras células – macrófagos, células adiposas.

Tem como função:


• Produção de células do sangue;
• Fornecer precursores de linfócitos T e B aos órgãos linfoides primários;
• Deposito de Fe2+;
• Destruição de eritrócitos senescentes.

A medula óssea amarela funciona como reserva nutritiva e reserva de tecido hematopoiético.

4. TECIDO NERVOSO
O tecido nervoso apresenta 2 componentes principais:
• Neurónios – células com prolongamentos;
• Células da glia – sustentam os neurónios e participam em funções importantes para a sua atividade.

O tecido nervoso é distribuído pelo organismo, interligando-se e


formando uma rede elaborada de comunicações, que constitui o
sistema nervoso. Anatomicamente, esse sistema é dividido em:
• Sistema nervoso central (SNC) – formado pelo encéfalo
e pela medula espinhal;
• Sistema nervoso periférico (SNP) – formado por nervos e
gânglios nervosos (pequenos agregados de células
nervosas). Os nervos podem ser cranianos ou espinhais;

As funções do sistema nervoso são:


• Regulação somatosensorial e controlo voluntario da musculatura esquelética – desempenhadas pelo
sistema nervoso somático (SNS);
• Regulação de funções viscerais involuntárias – desempenhada pelo sistema nervoso visceral
(autónomo).

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Os neurónios (N) e as células da glia (neuróglicas, nevróglia ou


neuróglia) (G) têm a mesma origem.

Na composição do tecido nervoso também entra o neurópilo


(Np) – trama de processos (ou prolongamentos) neuronais e
neuróglicos que envolve os corpos celulares dos neurónios e
das células da glia. Basciamente, é o fundo no qual assentam
os neurónios e as células da glia.

Para conseguir observar melhor o tecido nervoso ao microscópio usam-se corantes especiais:
• Cloreto de ouro + hematoxilina;
• Bicromato de potássio + nitrato de prata.

A teoria reticular de Golgi diz que o tecido nervoso não é constituído por elementos celulares independentes,
sendo a rede nervosa contínua.

Santiago Ramón Y Cajal (1852-1934) afirmava que a hipótese da rede nervosa contínua era falsa e que esta era
contígua – doutrina do neurónio. A célula nervosa representa uma individualidade embriológica, anatómica e
fisiológica. Assim, os neurónios não são substituíveis quando morrem.

Características do neurónio:
• Distribuição heterogénea;
• Forma e dimensões muito diferentes e variadas;
• Célula permanente;
• Propriedades fisiológicas: excitabilidade e conductibilidade.

Os neurónios são células altamente polarizadas


(com funções diferentes na porção apical e na
porção basolateral). As partes que os
constituem são:
• Corpo celular (pericário ou soma);
• Dendritos (polo recetor);
• Axónio (polo eferente).

NOTA: diz-se os dendritos ou as dendrites.

As dendrites são prolongamentos cujo diâmetro diminui à medida que se afastam do corpo celular. São
ramificadas e numerosas e constituem o principal local para receber os estímulos do meio ambiente, de células
epiteliais sensoriais ou de outros neurónios.

O corpo celular é o centro trófico da célula, onde se encontram organelos, e também é capaz de receber
estímulos.

O axónio é um prolongamento único, de diâmetro constante na sua maior parte de percurso e ramificado na sua
terminação. É especializado na condução de impulsos que transmitem informações do neurónio para outras
células (nervosas, musculares, glandulares).

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De acordo com a sua morfologia, os neurónios podem ser classificados nos seguintes tipos:
• Neurónios multipolares – forma mais comum,
apresentam vários dendritos e um axónio (ex.:
motoneurónios da medula espinhal);
• Neurónios bipolares – tem um dendrito que se
estende em direção oposta ao axónio e um axónio
(ex.: retina, mucosa olfativa);
• Neurónios pseudo-unipolares – apresentam junto
ao corpo celular um prolongamento único que logo
se divide em dois, dirigindo-se um ramo para a
periferia e outro para o sistema nervoso central
(ex.: neurónios sensitivos dos gânglios
raquidianos);

Tipos funcionais de neurónios:


• Sensoriais (aferentes) – recolhem informação do
meio exterior ou interior e conduzem ao SNC;
• Motores (eferentes) – transmitem informação do
SNC para os órgãos efetores (ex.: músculos,
glândulas);
• Interneurónios ou neurónios de associação –
estabelecem conexões entre neurónios no SNC
sendo, portanto, fundamental para a formação de
circuitos neuronais, desde os mais simples até os
mais complexos.

O pericário é a porção do neurónio que contém o núcleo e o citoplasma


perinuclear:
• Forma e dimensões muito diferentes e variadas;
• Núcleo geralmente grande, arredondado, claro com nucléolo
proeminente;
• Centro metabólico. Função recetora e integradora de estímulos.

Quanto à ultraestrutura:
• Rico em reticulo endoplasmático rugoso que
forma agregados de cisternas paralelas, entre
as quais existem numerosos polirribossomas
livres – estes conjuntos de cisternas e
ribossomas são vistos ao microscópio ótico
como manchas basófilas espalhadas pelo
citoplasma, os corpos de Nissl;
• Vários dictiossomas golgianos;
• Abundantes mitocôndrias;
• Lisossomas (lipofuscina) – contém lípidos e
acumula-se ao longo da idade;
• Citoesqueleto:
§ Microtúbulos;
§ Neurofilamentos;
§ Microfilamentos.

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A forma, o tamanho e a distribuição dos corpos de Nissl variam muito


consoante o tipo de neurónio. A sua função é a síntese de proteínas com
diversos destinos.

Os neurónios são dotados de um citoesqueleto robusto e elaborado, que


participa em funções celulares essenciais, tais como:
• Principal determinante da morfologia celular;
• Plasticidade, transporte intracelular, sinalização, crescimento axonal,
...

Quanto aos dendritos:


• Regra geral, são curtos, ramificando-se na vizinhança do pericário;
• O calibre diminui à medida que se afastam do pericário;
• O padrão de ramificação é característico para cada tipo de neurónio;
• A árvore dendrítica aumenta consideravelmente a superfície celular de receção de impulsos.

A elaborada arquitetura de uma árvore dendrítica reflete a complexidade das suas conexões sinápticas com
outros neurónios.

Ultraestrutura dos dendritos:


• Na sua emergência, a estrutura dos dendritos é muito semelhante
à do corpo celular;
• À medida que se afastam do pericário, os microtúbulos
longitudinais tornam-se proeminentes.

As espinhas (espículas) dendríticas são sítios de contacto sináptico. São


muito numerosos. são formados por uma parte alongada presa ao dendrito
e terminam com uma pequena dilatação. Têm elevada plasticidade
morfológica.

O axónio:
• É um prolongamento único;
• Em geral é mais longo e mais fino do que os dendritos da mesma célula, o
comprimento varia de acordo com a localização;
• O seu calibre é constante;
• Emerge de uma dilatação afilada do pericário, o cone de implantação (5);
• Segmento inicial (SI) – entre o ápice do cone de implantação e o início da bainha
de mielina (zona de disparo). É muito importante para a geração do impulso
nervoso;
• Pode emitir colaterais (11), que surgem sempre em ângulo reto e próximo da
terminação do axónio;
• Axolema – membrana plasmática do axónio;
• Axoplasma – citoplasma do axónio;
• Muitos axónios são revestidos por uma bainha de mielina (9) (nem todos são
mielinizados – os mais finos não são; apenas a partir de uma determinada
espessura é que são mielinizados);
• Porção terminal constituída por um penacho de ramificações amielínicas, telodendro (12);
• Botão ou bulbo terminal (13) – dilatação fusiforme na extremidade de cada ramo terminal (contacto
sináptico).

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Quase todas as proteínas axonais são sintetizadas no pericário, pois no


axónio já não existem corpos de Nissl, não havendo síntese proteica.
Porém, em determinados axónios (ex.: retina) e circunstâncias estes são
capazes de produzir certos tipos de proteínas. Em alguns neurónios
existem mRNAs, e quando há estímulos externos estes são traduzidos e
incorporados no axónio – síntese proteica local no axónio.

Na ultraestrutura do axónio observamos:


• Mitocôndrias;
• Perfis de retículo endoplasmático liso (NOTA: o REL não produz
proteínas);
• Microtúbulos e neurofilamentos (os mais abundantes).

O transporte axonal é um transporte direcionado de organelos e macromoléculas ao longo do axónio. Ocorre ao


longo dos microtúbulos e é mediado por proteínas motoras que interagem com os microtúbulos e com a carga
transportadora. Requer energia (ATP) e é independente da atividade elétrica do axónio.

Os sistemas de transporte axonal podem ser distinguidos de acordo com o sentido em que ocorre o transporte:
• Sentido anterógrado
• Do pericário para o terminal axonal;
• Promovido pelas proteínas motoras cinesinas;
• Transporte de vesículas, mitocôndrias, proteínas de citoesqueleto e proteínas citosólicas.

• Sentido retrógrado
• Do terminal axonal para o pericário;
• Mediado pelas dineínas;
• Transporte de materiais (organelos) para degradação ou reciclagem e moléculas do meio
extracelular (fatores neurotróficos, vírus, neurotoxinas).

Ambos os sentidos necessitam de ATP para transportar a carga.

O fluxo retrógrado pode levar moléculas e partículas estranhas e


prejudiciais para o corpo celular situado no SNC. É por essa via,
por exemplo, que o vírus da raiva, depois de penetrar os nervos, é
transportado para o corpo das células nervosas, provocando uma
encefalite muito grave.

A sinapse é o contacto funcional entre um neurónio e uma segunda


célula (ex.: muscular, nervosa, etc.).

As sinapses são classificadas como químicas ou elétricas.

Nas sinapses elétricas, há uma transferência direta de corrente iónica de uma célula para outra.
• Mais comuns nos vertebrados;
• Transmissão ocorre entre junções comunicantes;
• Sem intervenção de mediadores químicos;
• Possibilidade de condução bidirecional;
• Alta velocidade (porém, menos possibilidade de controlo);
• Existem em vários locais do SNC.

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Nas sinapses químicas a transmissão é mediada por mensageiros químicos, os neurotransmissores:


• Predomina sobre a sinapse elétrica;
• Conversão de um sinal elétrico em químico que é, em seguida, convertido novamente em sinal elétrico;
• Condução unidirecional;
• Propagação célula a célula sofre um ligeiro retardamento.

Os neurotransmissores geralmente são sintetizados no corpo celular do neurónio e transportados até os botões
sinápticos, onde são armazenados em pequena vesiculas chamadas de vesículas sinápticas. A maioria dos
neurotransmissores são aminas, aminoácidos ou pequenos péptidos (neuropéptidos).

Qualquer parte do neurónio pode participar na formação


de uma sinapse:
• Sinapse axossomática – axónio + corpo celular
(mais comuns);
• Sinapse axodendrítica – axónio + dendrite;
• Sinapse axoaxónica – axónio + axónio.

Os métodos de impregnação pela prata revelam as


sinapses ao microscópio ótico.

Botões terminais são dilatações ovoides na extremidade de cada


ramo terminal do axónio.

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Os principais componentes de uma sinapse química e sequencia de eventos que conduzem à transmissão de
sinalização para outra célula:

NOTA: só o terminal pré-sináptico contém vesículas sinápticas.

Há diferentes “pools” de vesículas sinápticas (VS). Os “pools” de VS diferem:


• Na sua localização no terminal sináptico;
• No estado de prontidão para a libertação de neurotransmissores.

A exocitose das vesículas sinápticas ocorre na zona ativa.

Após a exocitose do seu conteúdo, as vesículas sinápticas sofrem endocitose e reciclagem. As novas vesículas
são depois recarregadas com neurotransmissores.

Neurotransmissores:
• Moléculas pequenas – sintetizadas no axoplasma do botão terminal e empacotadas em vesículas
sinápticas;
• Neuropéptidos – sintetizados no RER do corpo celular e transportados em vesículas até ao terminal
axonal (fluxo axonal); ex.: encefalinas, endorfinas.

A libertação do neurotransmissor pelo componente


pré-sináptico pode causar excitação ou inibição da
membrana pós-sináptica.
• Sinapses excitatórias
• A libertação do neurotransmissor (ex.:
acetilcolina, glutamato) abre canais
catiónicos (ex.: Na+);
• O fluxo de iões causa despolarização
da célula pós-sináptica

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• Sinapses inibitórias
• A libertação do neurotransmissor (ex.: GABA) abre
canais de Cl-;
• O fluxo de iões causa hiperpolarização da célula pós-
sináptica.

Mecanismos de inativação de neurotransmissores:


1. Recaptação;
2. Degradação enzimática;
3. Difusão.

4.1. NEURÓGLIA

A neuróglia, nevróglia ou glia são as outras células do tecido nervoso. São


consideradas a “cola” dos nervos (pois achava-se que estas preenchiam os
espaços entre os neurónios, prendendo-os às suas posições), possui vários
tipos celulares e desempenham uma série de funções essenciais para a
homeostasia do sistema nervoso. Não geram nem propagam impulsos
nervosos e têm a capacidade de se dividir por divisão mitótica, sendo a sede
mais comum de tumores do sistema nervoso central.

Nas lâminas coradas pela hematoxilina-eosina as células da glia não se


destacam bem, aparecendo apenas os seus núcleos.

Calcula-se que no sistema nervoso central haja 10 células da glia para cada
neurónio; no entanto, devido ao seu menor tamanho, elas ocupam
aproximadamente metade do volume do tecido.

Existem quatro tipos de células da neuróglia no


sistema nervoso central:
• Oligodendrócito;
• Células da micróglia;
• Astrócitos;
• Células ependimárias.

Os astrócitos são providos de numerosos


prolongamentos radiários, sendo pelo seu
aspecto semelhante ao sol que possuem essa
designação.
• São as maiores células da neuróglia e as mais numerosas;
• Morfológica e funcionalmente heterogéneos;
• Contêm feixes de filamentos intermédios constituídos por uma proteína
especifica – proteína acídica fibrilar glial (GFAP) –, que são um
importante elemento de suporte estrutural dos prolongamentos.
• Não existe apenas um único tipo de astrócitos, dependendo o tipo da
localização. Ao microscópio ótico parecem todos iguais e apenas é
possível distingui-los com marcadores especiais.

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A maior parte destes contêm fibras com a GFAP no citoplasma, que forma boa parte do esqueleto dos atrócitos,
sendo considerada um marcador de astrócitos (por apenas nestes existir esta proteína). No entanto, alguns
astrócitos não exibem a GFAP (não existe nenhuma razão aparente para este facto), que é mais expremível
quando há lesões.

Os astrócitos podem ser classificados em dois tipos morfológicos principais:


Þ Astrócitos protoplasmáticos
• Encontrados principalmente na substância cinzenta do SNC;
• Apresentam maior número de prolongamentos citoplasmáticos,
curtos e muito ramificados.

Þ Astrócitos fibrosos
• Localizam-se preferencialmente na substância branca do SNC;
• Têm prolongamentos em menor número, longos e menos
ramificados.

NOTA: esta classificação é baseada exclusivamente na morfologia dos astrócitos, não nos diz nada acerca das
suas funções.

Os prolongamentos astrocíticos contactam com todos os componentes do


sistema nervoso central:
• Outros astrócitos (através de junções comunicantes);
• Parede dos capilares (através de pés vasculares);
• Pericários de neurónios e sinapses;
• Superfície do SNC – Glia limitans;
• Parede dos ventrículos cerebrais.

Os pés vasculares comunicam com a parede dos capilares formando como que uma bainha com uma dilatação.

Os astrócitos desempenham funções cruciais para a homeostasia do sistema nervoso central.


• Distribuição de substratos energéticos (glucose) para os neurónios;
• Reserva de glicogénio – armazenam glucose sob a forma de glicogénio, sendo as únicas células do
SNC que são capazes de o fazer;
• Suporte físico e interação com os neurónios, em especial na sinapse (remoção de neurotransmissores);
• Regulação local do fluxo sanguíneo vascular;
• Regulação do equilíbrio iónico (ex.: K+) no meio extracelular.

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A astrogliose é a resposta astrocitária à lesão do SNC – os astrócitos aumentam de tamanho e ocorre um


aumento de filamentos de GFAP.

Os atrócitos são alvos terapêuticos potenciais em doenças do sistema nervoso: doenças neurodegenerativas
(ex.: alzheimer) e depressão.

Os astrócitos têm um importante papel na indução e manutenção da


barreira hematoencefálica (BHE). Esta barreira separa o sangue do
parênquima do sistema nervoso central e tem a função de
seletivamente deixar entrar no SNC substâncias necessárias ao seu
bom funcionamento (ex.: glucose, oxigénio) e restringir o acesso a
outras.

As zónulas de oclusão entre as células endoteliais dos capilares no


SNC constituem a principal barreira física da BHE, restringindo a
passagem de substâncias entre as células endoteliais.

A BHE exibe uma permeabilidade altamente seletiva – não permite a


entrada de partículas altamente carregadas, grandes e de lípidos não solúveis; no entanto, deixa entrar para o
SNC, através de capilares, lípidos solúveis, oxigénio e glucose.

NOTA: a glucose só passa para o SNC devido à existência de proteínas na parede dos capilares que a captam
e levam para o cérebro.

Os oligodendrócitos possuem corpo pequeno, poucos prolongamentos e


curtos. Existem dois tipos de oligodendrócitos:
• Oligodendrócitos satélite – na substância cinzenta, na proximidade
dos pericários dos neurónios;
• Oligodendrócitos interfasciculares – na substância branca, em
fileiras entre os axónios.

Estas células são consideradas as células mielinizantes do sistema


nervoso central, pois os seus prolongamentos envolvem os axónios em
espiral em voltas sucessivas, originando a bainha de mielina que isola os
axónios emitidos por neurónios do SNC. Cada oligodendrócito pode emitir
inúmeros prolongamentos, e cada um reveste um curto segmento de um
axónio. Desta forma, ao longo do seu trajeto, um axónio é revestido por
uma sequência de prolongamentos de diversos oligodendrócitos.

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As células da micróglia são pequenas e ligeiramente alongadas, com


prolongamentos curtos e irregulares. Estas células podem ser identificadas nas
lâminas histológicas coradas pela H&E, pois os seus núcleos são escuros e
alongados, contrastando com os esféricos das outras células da glia.

Quanto à sua morfologia pode-se dizer, então, que em repouso são muito
ramificadas (aspecto espinhoso) e o seu núcleo é denso e alongado.

Possuem uma filiação extra-neural (saco vitelino), entrando no SNC durante a


embriogénese quando a BHE ainda não esta desenvolvida. Se esta estivesse
desenvolvida não permitiria a passagem destas células.

A células da micróglia são consideradas os macrófagos residentes


no SNC – os seus processos citoplasmáticos são móveis e “tateiam”
os seus domínios territoriais e em resposta a alterações do ambiente
(lesão neuronal, infeção):
• Alteram a sua morfologia;
• Proliferam;
• Tornam-se ativas transformando-se em células fagocitárias
e libertando numerosos produtos de secreção.

A alteração da morfologia destas células quanto ativadas consiste na


retração dos seus prolongamentos, assumindo a forma de
macrófagos, tornam-se fagocitárias e apresentadoras de antigénios.

As células ependimárias forram internamente as cavidades encéfalo-


medulares. Possuem um arranjo epitelial, não repousam sobre uma
lâmina basal e exibem cílios na superfície apical.

Estas células formam também o epitélio dos plexos coróides que


produz o líquido cefalorraquidiano. Os plexos coroides projetam-se
da parede dos ventrículos cerebrais para o seu interior e são
constituídos por uma monocamada de células ependimárias
modificadas rodeando um estroma muito vascularizado.

Neurogénese é nome dado ao processo de formação de novos neurónios a partir de células estaminais neurais.

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A capacidade do sistema nervoso do homem em gerar novos neurónios ao longo da vida foi sempre uma questão
à qual os cientistas procuravam responder. Ao longo dos anos, diferentes conclusões foram tiradas de vários
estudos, sendo a última formulada em 2019, afirmando que a neurogénese no hipocampo em idade adulta é
possível e está relacionada com a memorização e a aprendizagem (por exemplo, o exercício físico estimula a
neurogénese, estimulando a aprendizagem).

O sistema nervoso está contido e protegido na caixa craniana e no canal vertebral, envolvido por membranas de
tecido conjuntivo chamadas de meninges. Estas são formadas por três camadas, que, do exterior para o interior,
são as seguintes:

Þ Dura-máter
• A camada fibrosa externa;
• Constituída por tecido conjuntivo denso aderido ao periósteo dos ossos da caixa craniana;
• A porção que envolve a medula espinal é separada do periósteo das vértebras, formando-se
entre os dois o espaço epidural, que contém veias de parede muito delgada, tecido conjuntivo
laxo e tecido adiposo.
• A superfície interna da dura-máter do cérebro e a superfície externa da dura-máter do canal
vertebral são revestidas pelo epitélio simples pavimentoso de origem mesenquimatosa.

Þ Aracnóide
• Conectada à pia-máter por trabéculas conjuntivas;
• As cavidades entre as trabéculas conjuntivas formam o espaço subaracnoide, que contém o
líquido cefalorraquidiano;
• O espaço subaracnoide, cheio de líquido, constitui um colchão hidráulico que protege o SNC
contra traumatismos;
• Formada por tecido conjuntivo sem vasos sanguíneos;
• Revestida pelo epitélio simples pavimentoso de origem mesenquimatosa, tal como a dura-máter.

Þ Pia-máter
• Muito vascularizada;
• Aderente ao tecido nervoso, mas não está em contacto direto com células ou fibras nervosas.

NOTA: em todo o SNC, a superfície da dura-máter em contacto com a aracnóide constitui um local de fácil
clivagem onde, muitas vezes, em situações patológicas, pode acumular-se sangue externamente à aracnóide,
constituindo o chamado espaço subdural, que não existe em condições normais.

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4.2. FIBRAS NERVOSAS

As fibras nervosas são constituídas por um axónio e as suas bainhas


envolventes. O conjunto de fibras nervosas formam os feixes de fibras
nervosas do sistema nervoso central e os nervos do sistema nervoso
periférico.

Muitos axónios são revestidos por uma bainha de mielina. A mielina tem
origem na membrana plasmática da célula mielinizante e dispõe-se em
camadas concêntricas à volta do axónio.

No sistema nervoso central a bainha de


mielina é formada pelos oligodendrócitos –
um oligodendrócito projeta vários processos
dando origem a vários internódulos.

No sistema nervoso periférico a bainha de


mielina é formada pelas células de Schwann
– uma célula de Schwann produz um único
internódulo.

NOTA: não existem células de Schwann no sistema nervoso central!

FORMAÇÃO DE MIELINA NO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO


1. Começa a haver um afundamento do axónio numa depressão
da membrana plasmática da célula de Schwann.
2. Os prolongamentos em forma de lâmina da célula de
Schwann envolvem gradualmente o axónio em várias voltas.
3. O citoplasma da célula da célula de Schwann é comprimido,
restando as suas membranas, que formam a bainha de
mielina em torno do axónio.

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As porções da membrana da célula mielinizante, que se prendem internamente ao axónio e externamente à


superfície da célula mielinizante, constituem o mesaxónio interno e o mesaxónio externo, observados somente
ao microscópio eletrónico.

A maior parte da mielina é constituída por membranas plasmáticas justapostas, coladas umas às outras; no
entanto, uma pequena quantidade de citoplasma pode ficar aprisionado no meio da mielina, aparecendo corado
de rosa.

No sistema nervoso periférico o axónio é revestido por uma


sequência linear de células de Schwann. Nessa sequencia
há estreitos espaços entre células de Schwann adjacentes
nos quais o revestimento do axónio se interrompe,
formando pequenas descontinuidades chamadas de
nódulos de Ranvier, que são recobertos parcialmente por
expansões laterais das células de Schwann adjacentes. O
intervalo entre dois nódulos, que corresponde a uma célula
de Schwann, é denominado internódulo.

Nos nódulos de Ranvier o axónio fica exposto ao ambiente


extracelular, mas a membrana basal que recobre externamente
a célula de Schwann não sofre interrupção.

No SNP, a espessura da bainha de mielina é determinada por


proteínas presentes à superfície do axónio – existe uma relação
entre o diâmetro do axónio e o número de voltas da bainha de
mielina. O axónio exibe à superfície certas proteínas (NRGI 1)
embebidas na sua membrana plasmática e é justamente da
interação destas proteínas e a membrana plasmática da célula
de Schwann que se vai dar a mielinização. Assim, a espessura
da bainha de mielina é proporcional ao diâmetro do axónio, mas
é constante ao longo de um mesmo axónio – quanto maior for
o calibre do axónio, maior será o número de voltas e, portanto,
mais espesso será a bainha de mielina.

Conduziu-se uma experiência em que a proteína NRG 1 foi suprimida nos axónios dos ratinhos. Nos ratinhos
em que a proteína foi suprimida a bainha de mielina formada era mais fina; nos que houve sobreexpressão da
neurorregulina (NRG 1) a bainha de mielina era bem mais espessa. Com isto está hoje comprovado que o que
determina a espessura da bainha de mielina são estas mesmas proteínas expostas na superfície do axónio e a
quantidade destas.

O revestimento mielínico possibilita um acréscimo considerável da velocidade de condução do impulso nervoso,


comparando com as fibras não mielínicas. É ao nível do nódulo de Ranvier que se dão as trocas iónicas da
condução saltatória.

As interações entre a mielina e o axónio são fundamentais para manter a estabilidade, a função e a viabilidade
de ambos. Muita da morbilidade que resulta das doenças desmielinizantes está relacionada com a perda
secundária de axónios. A mielina tem um efeito protetor e um se um axónio for desmielinizado e não ocorrer
remielinização este tem tendência a morrer.

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A mielinização adaptiva consiste em alterações da mielina em resposta à experiência, o que prova que a mielina
é essencial na aprendizagem de novas tarefas motoras. No caso do homem, a mielinização das fibras nervosas
ocorre durante a infância e progride ao longo dos anos, até ser atingida a idade adulta. O facto de a mielina ser
mais espessa ou não depende também das atividades que realizamos – por exemplo, observou-se que os
pianistas possuem axónios mais mielinizados na região responsável pelo movimento das mãos. Assim, quanto
mais usada for uma via neuronal maior é a estimulação para a produção de mielina nessa região.

NOTA: antes do nascimento as fibras nervosas ainda não são mielinizadas.

Os axónios de pequeno diâmetro são envolvidos por uma única dobra da


célula mielinizante, constituindo as fibras nervosas amielínicas. No SNP, as
fibras amielínicas são também envolvidas por células de Schwann. No
entanto, as células não se enrolam em torno dos axónios, pois eles alojam-se
em reentrâncias ou túneis formados pelo citoplasma das células de Schwann.
Cada célula de Schwann geralmente envolve vários axónios, cada um com o
seu próprio mesaxónio.

NOTA: apesar de os axónios estarem associadas às células de Schwann


estas não vão dar origem a mielina.
Os nervos periféricos (nervos que conectam com a medula espinhal) são
conjuntos de fibras nervosas reforçados por tecido conjuntivo que ligam os
centros nervosos a tecidos e órgãos periféricos. Os nervos espinhais ou
raquidianos estão dispostos aos pares em conexão com os dois lados da
medula espinhal e são denominados de acordo com as suas relações com a
coluna vertebral.

Cada nervo liga-se à medula espinhal por intermédio de duas raízes:


• Raiz dorsal (funções sensitivas);
• Raiz ventral (funções motoras).

Assim, diz-que os nervos espinhais são nervos mistos.

Geralmente, os nervos contêm fibras aferentes e eferentes – as aferentes


levam para os centros superiores as informações obtidas no interior do
corpo e no meio ambiente, enquanto as eferentes levam impulsos dos
centros nervosos para os órgãos efetores (músculos, glândulas) comandados por esses centros. Os nervos que
contêm apenas fibras de sensibilidade (aferentes) são chamados de sensoriais, e os que são formados apenas
por fibras que levam a mensagem dos centros para os efetores são os nervos motores.

NOTA: não é possível distinguir ao microscópio os nervos aferentes dos nervos eferentes.

Resumindo: os nervos eferentes (motores) saem do SNC (mais precisamente da substância cinzenta da medula
espinhal) e juntam-se com um nervo periférico; os nervos aferentes (sensorial) não estão no SNC – estão
imediatamente fora, numa dilatação da raíz chamada gânglio nervoso – e dividem-se em 2 ramos, um que vai
para a periferia e outro que vai para dentro do SNC.

Os nervos cranianos compreendem 12 pares, não possuem raízes dorsais e ventrais aparentes e apresentam
troncos sensitivos, motores e mistos.

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Estrutura de um nervo espinhal e origem das fibras constituintes:

O nervo periférico possui as seguintes bainhas conjuntivas:


Þ Epineuro
• Tecido conjuntivo denso;
• Envolve o nervo e preenche os espaços
entre os feixes

Þ Perineuro
• Envolve os feixes de fibras nervosas.

Þ Endoneuro
• Tecido conjuntivo laxo rico em fibras
reticulares;
• Envolve cada fibra.

O perineuro é constituído por várias camadas (2 ou 3) de células


achatadas justapostas do tipo epitelioide, de aspeto semelhante a
fibroblastos, e unidas por junções oclusivas. Assim, é responsável
pela regulação da homeostasia no interior do feixe e tem uma
função protetora contra agentes tóxicos infeciosos (devido à
“barreira” formada pelas junções oclusivas)

NOTA: o perineuro é considerado um tecido conjuntivo, mas não


possui fibroblastos (característicos deste tipo de tecido).

Os gânglios nervosos são acúmulos de corpos celulares de


neurónios localizados fora do SNC. Existem:
1. Gânglios cérebroespinhais (sensitivos) – ligados às raízes
dorsais dos nervos espinhais e a alguns nervos cranianos;
2. Gânglios do SNA (motores) – ligados aos nervos simpáticos
e parassimpáticos.

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Apesar de não estar representado na figura, os gânglios nos nervos


raquidianos existem dos dois lados.

Os gânglios cérebroespinhais possuem uma cápsula de tecido conjuntivo


denso contínua com o epineuro do nervo periférico associado. Os pericários
predominam na periferia do gânglio e estão envolvidos por uma camada
única de células satélites achatadas. Os neurónios presentes nestes
gânglios são do tipo pseudo-unipolares – transmitem para o SNC as
informações captadas pelos seus prolongamentos periféricos situados em
órgãos sensoriais.

NOTA: o gânglio do nervo acústico é o único gânglio cerebroespinhal cujas


células são bipolares.

O sistema nervoso autónomo é a divisão do sistema nervoso que regula as


funções viscerais (ex.: regula o grau de contração dos vasos sanguíneos,
os batimentos do coração, etc.). A sua função é, assim, ajustar as diversas
atividades do organismo, a fim de manter a constância do meio interno
(homeostasia). O SNA está intimamente ligado estrutural e funcionalmente
ao sistema nervoso somático.

No SNA é quase que somente um sistema motor/efetor, isto é, conduz informação do SNC para os órgãos
efetores (músculos lisos, musculo cardíaco e glândulas).

Enquanto os pericários dos neurónios das fibras efetoras do sistema nervoso somático localizam-se no SNC e
as suas terminações axonais atingem diretamente os efetores, o SNA é formado por cadeias de dois neurónios.
O primeiro, de cadeia autónoma, está localizado no SNC, de onde o seu axónio sai para estabelecer conexão
sináptica com o segundo neurónio da cadeia,
encontrado num gânglio do SNA (externamente ao
SNC). As fibras que emergem deste segundo neurónio
alcançam os órgãos efetores.

O primeiro neurónio da cadeia autónoma é


denominado por neurónio pré-ganglionar e o segundo
por neurónio pós-ganglionar. O mediador químico nas
sinapses formadas pelos neurónios pós-ganglionares
é a acetilcolina. Os neurónios pré-ganglionares são
mielinizados, enquanto os neurónios pós-ganglionares
não são.

NOTA: o termo “autónomo” pode dar a impressão de que esta parte do sistema nervoso funciona de modo
completamente independente, o que não é verdade; afinal, as funções do SNA sofrem constantemente a
influência da atividade consciente do SNC.

O SNA é formado por duas divisões, distintas pela sua anatomia e pelas suas funções: a divisão simpática,
também chamada de sistema simpático, e a divisão parassimpática, também chamada de sistema
parassimpático.

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No sistema simpático, o neurotransmissor libertado pelos neurónios pré-


ganglionares é a acetilcolina, enquanto nos neurónios pós-ganglionares é
a noradrenalina.

No sistema parassimpático, o neurotransmissor libertado pelos neurónios


pré-ganglionares e neurónios pós-ganglionares é a acetilcolina.

NOTA: as células de Schwann rodeiam os axónios, enquanto as células


satélite rodeiam o corpo celular. Estas últimas existem apenas nos nervos
sensitivos. As células de Schwann aparecem depois das células satélite –
têm continuidade.

Como os neurónios dos mamíferos geralmente não se dividem, a destruição de um neurónio pode representar
uma perda permanente. Atualmente, há evidencias da existência de células-tronco de neurónios. Os
prolongamentos das células nervosas podem, dentro de certos limites, regenerar-se devido à atividade sintética
dos respetivos pericários; por isso, os nervos têm capacidade regenerativa.

Quando uma célula nervosa é destruída, as que a ela se ligam nada sofrem, exceto quando um neurónio recebe
impulsos exclusivamente de outro. Nesse caso, o neurónio que fica completamente privado de impulsos
nervosos pela destruição de outro sofre a chamada degeneração transneuronal.

Ao contrário dos elementos nervosos, as células da glia, do SNC, e as células de Schwann e células satélites
dos gânglios, do SNP, são dotadas de grande capacidade de proliferação. Os espaços deixados pelas células e
as fibras nervosas do SNC destruído por acidente ou doença são preenchidos por células da neuróglia.

Num nervo lesionado por axotomia (rompimento do axónio), deve distinguir-se a parte da fibra que, pela lesão,
desligou-se do seu pericário (segmento distal) e a parte que continua unida a ele (segmento proximal). O
segmento proximal, por manter contacto com o seu centro trófico (o pericário), frequentemente é regenerado,
enquanto o segmento distal degenera totalmente e acaba sendo reabsorvido.

Próximo ao ferimento, uma pequena extensão da fibra lesionada, porem ligada ao pericário (segmento proximal),
degenera, mas o seu crescimento se inicia logo que os restos alterados são removidos por macrófagos.

No segmento distal, tanto o axónio, agora separado do seu centro trófico, como a bainha de mielina, degeneram
totalmente, sendo fagocitados por macrófagos. Enquanto se processam estas alterações, as células de Schwann
proliferam, formando colunas celulares compacta, as quais servirão de guia para os axónios que crescerão
durante a fase de regeneração.

O segmento proximal do axónio cresce e se ramifica, formando vários filamentos que progridem em direção às
colunas das células de Schwann. Todavia, somente as fibras que penetram nessas colunas têm possibilidade
de alcançar um órgão efetor. Quanto à parte distal do nervo é perdida, como ocorre na amputação de um
membro, as fibras nervosas crescem a esmo, formando uma dilatação na extremidade do nervo que pode ser
muito dolorosa, chamada de neuroma de amputação.
A eficiência funcional da regeneração depende de as fibras ocuparem as colunas de células de Schwann
destinadas aos locais corretos. Num nervo misto, por exemplo, se as fibras sensoriais regeneradas ocuparem
colunas destinadas às placas motoras de um músculo estriado, a função do músculo não será restabelecida. A
possibilidade de recuperação funcional é aumentada pelo facto de cada fibra em regeneração dar origem a vários
prolongamentos e cada coluna receber prolongamentos de várias fibras.

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Legenda:
A- Fibra nervosa motora normal. Note a
posição do núcleo do neurónio e a
distribuição da substância de Nissl.
B- Quando a fibra sofre lesão, o núcleo do
neurónio desloca-se para a periferia, a
quantidade da substância de Nissl diminui
(cromatólise) e o volume do pericário
aumenta. A parte distal da fibra degenera,
havendo fragmentação da mielina, que é
fagocitada por macrófagos.
C- Devido à falta de uso, a fibra muscular
estriada atrofia. A proliferação de células
de Schwann dá origem a um cilindro, que
pode ser penetrado pelos axónios em
crescimento. Estes crescem a uma
velocidade de 0,5 a 3mm por dia.
D- No caso de um axónio penetrar o cilindro de células de Schwann, a regeneração será bem sucedida e
a fibra muscular voltará ao seu diâmetro normal.
E- Quando o axónio não encontra um cilindro de células de Schwann, o seu crescimento é desorganizado,
formando muitas vezes um aglomerado doloroso, o neuroma de amputação.

NOTA: no SNC não há células de Schwann, pelo que os neurónios morrem permanentemente.

5. TECIDO MUSCULAR
Em termos morfofuncionais, os tecidos musculares
classificam-se como estriados ou lisos. Os músculos estriados
podem ainda ser divididos em duas variedades:
• Músculo estriado esquelético;
• Músculo estriado cardíaco.

Por serem, regra geral, estreitas e longas, as células


musculares tomam o nome de fibras, ou seja, quando se fala
em fibras musculares está a fazer-se referência às células
musculares.

Nos músculos estriados, ao contrário dos músculos lisos, nota-


se, à observação microscópica, uma estriação transversal nas
fibras.

Os três tipos de tecido muscular partilham uma função


dominante – a contração. A atividade contrátil depende sempre
da interação de proteínas fibrilares dispostas no citoplasma das
fibras.

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Principais características morfofuncionais dos três tipos de tecido muscular:

5.1. TECIDO MUSCULAR ESQUELÉTICO

O músculo estriado esquelético é o mais abundante no corpo dos vertebrados. Organiza-se em estruturas que
constituem os músculos e é responsável pelo movimento do esqueleto e órgãos (ex.: língua).

As fibras (células) esqueléticas são longas e


multinucleadas, com núcleos em posição
periférica. Quanto maior for a célula, maior será
o número de núcleos presentes.

A presença de vários núcleos nestas células está


relacionada com a sua formação.

As células musculares esqueléticas resultam da fusão de várias células precursoras mononucleares, os


mioblastos. Os mioblastos fundem-se formando estruturas cilíndricas alongadas e multinucleadas, os miotubos.
Os núcleos dos miotubos, por sua vez, vão se deslocando para uma posição periférica à medida que avança a
síntese das proteínas contrácteis, como por exemplo os miofilamentos da célula muscular esquelética.

As células musculares esqueléticas não se dividem, são consideradas células em estado G0 do seu ciclo celular.
Mesmo assim, o músculo esquelético tem uma pequena capacidade de regeneração a partir das células satélite:

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• Mononucleadas com forma fusiforme;


• Células indiferenciadas que persistem após a maturidade muscular e que têm o potencial de sofrer
diferenciação miogénica;
• Posicionam-se entre a fibra muscular esquelética e a lâmina basal que as envolve conjuntamente, ou
seja, paralelamente às fibras musculares;
• Em caso de lesão, podem adquirir capacidade proliferativa e diferenciarem-se em mioblastos.

Estas células são consideradas mioblastos inativos. Após uma


lesão ou outros estímulos, as células satélite tornam-se ativas,
proliferam por divisão mitótica e fundem-se umas às outras para
formar novas fibras musculares esqueléticas. As células satélite
também entram em mitose quando o músculo é submetido a
exercício intenso, fundindo-se com as fibras musculares
preexistentes e contribuindo para a hipertrofia do músculo.

O músculo esquelético é constituído por fibras musculares


estriadas em íntima associação com o tecido conjuntivo. O tecido
conjuntivo:
• Proporciona coesão entre as células musculares;
• Permite que a força de contração gerada individualmente atue sobre todo o músculo e seja transmitida
a outras estruturas (tendões, ligamentos e ossos).

NOTA: as células musculares não estão ligadas umas às outras – estão separadas por tecido conjuntivo.

O tecido conjuntivo no músculo esquelético apresenta-se organizado em


três bainhas:
Þ Epimísio
• Tecido conjuntivo denso que envolve externamente o
músculo;
• Contém os principais troncos vasculares e nervosos que
suprem o músculo.

Þ Perimísio
• Tecido conjuntivo que envolve cada feixe de células
musculares;
• Contém vasos e nervos.

Þ Endomísio
• Rede delicada de tecido conjuntivo laxo (fibras
reticulares) que envolve cada célula muscular
individualmente;
• Contém capilares sanguíneos e fibras nervosas
de pequeno calibre.

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A unidade estrutural e funcional da fibra muscular é a miofibrila.


As miofibrilas são elementos contráteis alongados que se
dispõem no interior da célula, ao longo do seu eixo maior.

NOTA: sarcolema é a membrana plasmática da célula


muscular; sarcoplasma é o citoplasma da célula muscular.

Nas miofibrilas é notória uma sequência de bandas claras e


escuras. O conjunto de bandas claras e escuras de várias
miofibrilas dispostas paralelamente dá ao músculo uma
aparência estriada.

Quando observadas ao micróscopio ótico, as


fibras musculares mostram estriações
transversais caracterizadas pela alternância
de faixas claras e escuras.

Quando as mesmas fibras são observadas


com o auxílio de um microscópio de
polarização, a faixa escura apresenta-se
anisotrópica (brilhante) e a faixa clara
apresenta-se isotrópica (escura).

Assim, as bandas escuras foram


denominadas por bandas A (anisotrópicas) e
as bandas claras por bandas I (isotrópicas).

As bandas I são divididas transversalmente por uma linha denominada linha Z. Duas linhas Z consecutivas
delimitam o sarcómero.

Cada miofibrila é formada pela sequência repetitiva de sarcómeros.

NOTA: na imagem acima, observamos marcados 3 sarcómeros.

O sarcómero é a unidade contráctil elementar da célula muscular esquelética e cada sarcómero apresenta as
metades de duas bandas I e uma banda A central.

Os sarcómeros de uma miofibrila dispõem-se “em registro”, isto é, as diversas faixas de uma miofibrila estão
alinhadas com as faixas correspondentes das miofibrilas adjacentes. Por esse motivo, quando se observa uma
fibra muscular seccionada em corte longitudinal, as bandas aparentam percorrer a fibra em toda a sua espessura.

Ao microscópio ótico reconhece-se:


• No centro da banda A uma região mais clara – a
banda H;
• No centro da banda H, uma linha perpendicular
mais escura – a linha M.

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Cada sarcómero é constituído maioritariamente por dois tipos de


filamentos proteicos (miofilamentos):
• Filamentos espessos (grossos), constituídos por miosina;
• Filamentos finos que contêm actina.

O arranjo dos filamentos finos e grossos produz as tonalidades


claras e escuras que estão na origem da estriação transversal das
miofibrilas.
A banda I é constituída exclusivamente por filamentos finos,
que têm uma extremidade inserida na linha Z.
Na banda A, a meio de cada sarcómero, coexistem os dois
tipos de filamentos que se sobrepõem (é devido à esta
sobreposição que esta banda é mais escura – há uma maior
densidade de filamentos). Só a zona central da banda A, a
banda H, é que é constituída exclusivamente por filamentos
grossos, o que faz com que esta zona se apresente mais
pálida.

Nos filamentos finos predominam as moléculas de actina, e nos


filamentos grossos predominam as moléculas de miosina II.

A imagem apresentada representa a estrutura molecular dos miofilamentos.

Os filamentos finos (b), a nível molecular, são constituídos por duas cadeias polipeptídicas de uma proteína
chamada actina F. Estas duas cadeias resultam da polimerização das bolinhas vermelhas – cada bolinha
vermelha, na imagem, representa um monómero globoso de actina (moléculas de actina G) – que se juntam
umas às outras e formam esta estrutura filamentosa comprida que é a actina F. É de notar que estas duas
cadeias estão enroladas em forma de hélice.

Porém, os filamentos finos não são constituídos exclusivamente por actina F. Existem mais proteínas,
nomeadamente, as duas principais que ocorrem associadas à actina F:
• Tropomiosina (proteína a verde) – é também formada por duas cadeias polipeptídicas iguais enroladas
em hélice;

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• Troponina (proteína a azul) – constituída por 3 subunidades: TnC, TnI e TnT. A TnT liga-se fortemente
à tropomiosina; a TnC tem grande afinidade para os iões Ca2+, ligando-se a estes quando a
concentração destes iões aumenta dentro do citoplasma da célula; e a TnI cobre o sítio ativo da actina,
no qual ocorre a interação da actina com a miosina. Aparece associada à tropomiosina em intervalos
regulares, pois cada molécula de tropomiosina possui um local específico em que se prende um
complexo (três subunidades) de troponina.

Os filamentos grossos (a) são formados por moléculas de miosina de tipo II. O que se vê na imagem que está
ampliada do filamento grosso é apenas uma molécula de miosina – um filamento grosso pode ter 200 a 300
moléculas destas. Cada molécula de miosina II é constituída por duas cadeias pesadas iguais (e dois pares de
cadeias leves não representadas na imagem!). Cada cadeia pesada (que são cadeias polipeptídicas) possui:
• Uma porção alongada em helice-a (cauda);
• Uma zona globular (cabeça) com atividade ATPase e sítio de ligação à actina.

Nas moléculas de miosina existem 2 cabeças com locais de ligação distintos – uma zona da cabeça permite que
a miosina se ligue à actina, e uma outra zona permite degradar o ATP e obter energia (fundamental para a
contração do músculo).

Entre a cauda e a cabeça existem duas zonas flexíveis (dobradiças).

Na figura (a) está representada uma porção do filamento espesso com as várias moléculas de miosina. É
possível observar que:
• As cabeças projetam-se para fora da estrutura e estão viradas para extremidades opostas (de um lado
estão viradas para a esquerda e de outro para a direita);
• Na parte central do filamento não existem cabeças. Estas só existem nas duas extremidades do
filamento de miosina e estão organizadas em 6 filas uniformemente espaçadas.

Nesta imagem está representado um sarcómero do ponto de vista molecular com dois filamentos espessos.
Estes filamentos estão também ligados à linha Z através de uma proteína muito grande chamada titina, muito
semelhante a uma mola pois tanto pode esticar como encolher à medida que os filamentos vão deslizando uns
sobre os outros. Desta forma, esta proteína permite a ancoragem dos filamentos de miosina à linha Z.

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O que foi estudado pode ser resumido pela figura ao lado, em


que é representado um sarcómero a nível molecular (c) e um
sarcómero visto ao microscópio eletrónico (d).

Numa fibra muscular esquelética não existem apenas miofibrilas.

O reticulo sarcoplasmático corresponde na célula muscular ao


retículo endoplasmático liso observado noutros tipo celulares.
Dispõe-se longitudinalmente em rede à volta de cada miofibrila
e funciona como um reservatório intracelular de Ca2+. Os iões de
cálcio irão ser libertados para o citosol aquando da contração.

Os túbulos transversais ou sistemas T são invaginações


tubulares do sarcolema para o interior da fibra muscular.
• Estendem-se transversalmente na célula muscular;
• Nos mamíferos circundam cada miofibrila na região das
junções das bandas A e I;
• A sua luz é contínua com o espaço extracelular.

O sistema de tubos transversais (sistema T) é a estrutura


especializada em conduzir a despolarização da membrana
rapidamente e de maneira eficiente para o interior da célula.
Através destas estruturas, as miofibrilas da fibra podem ser
estimuladas à contração de maneira sincronizada.

A cada lado do túbulo T, há uma expansão do retículo sarcoplasmático, a cisterna terminal. A cada par de
cisternas terminais e um túbulo T dá-se a designação de tríade.

Nas tríades, a despolarização da


membrana plasmática que chega
pelos túbulos T provoca a saída de
iões de Ca2+ armazenadas nas
cisternas do reticulo sarcoplasmático
para o citosol que envolve as
miofibrilas. Esse transporte ocorre
através de canais de cálcio.

O aumento da concentração desses iões no citosol é o fator


desencadeador da contração muscular. Quando a onda de
despolarização termina, os iões de Ca2+ são transportados de volta
para as cisternas do reticulo sarcoplasmático por transporte ativo,
e a fibra muscular relaxa.

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As mitocôndrias são numerosas e oferecem energia ao processo de contração.

A contração no músculo esquelético deve-se ao deslizar dos filamentos finos em relação aos espessos.
• O comprimento dos filamentos
mantém-se intacto durante a
contração;
• Os filamentos de actina deslizam
para o interior do sarcómero;
• Encurtamento do sarcómero resulta
no encurtamento das fibras
musculares.

Durante a contração, a banda A não altera a


sua extensão, enquanto a banda I e H
diminuem o seu comprimento.

O deslizamento dos filamentos resulta da ação das cabeças globulares da miosina. As cabeças de miosina
constituem pontes transversais que se ligam aos filamentos de actina, tendo cada cabeça um local ativo que
catalisa a hidrólise de ATP e um local de ligação à actina. A energia necessária para o movimento das pontes
transversais advém da hidrólise do ATP.

A regulação da contração do músculo esquelético ocorre por intermédio das proteínas tropomiosina e troponina.

A tropomiosina é uma proteína filamentosa que se estende ao longo do filamento de actina. A troponina é
constituída por três polipeptídeos:
• Troponina C, que se liga ao Ca2+;
• Troponina T, que se liga à tropomiosina;
• Troponina I, que se une à actina e inibe a sua interação com a miosina.

Em repouso o complexo troponina-tropomiosina inibe a interação entre a actina e a miosina.

O ião Ca2+ tem um papel crucial no desencadeador do processo de contração:

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A contração da fibra muscular esquelética é estimulada


por fibras nervosas motoras. O impulso nervoso é
transmitido com a libertação de acetilcolina (Ach) na
fenda sináptica, ligando-se aos recetores no sarcolema
da fibra muscular e dando origem à despolarização do
sarcolema.

A despolarização do sarcolema é transmitida


rapidamente ao interior da fibra através dos sistemas T.

Na tríade, a despolarização dos túbulos T é transmitida


às cisternas terminais do retículo sarcoplasmático,
promovendo a libertação de Ca2+ para o citosol.

NOTA: se não existissem túbulos T a despolarização ocorria apenas à superfície e só as miofibrilas


superficiais é que se contrairiam. Para todas se contraírem de forma síncrona, a despolarização tem de ser
levada para o interior da célula, de forma a despolarizar toda a célula. Assim, conclui-se que os túbulos T têm a
função de transferir a despolarização rapidamente a todas as miofibrilas existentes na célula.

O relaxamento do músculo ocorre quando cessa o impulso


nervoso e diminui a concentração citosólica de Ca2+. A Ca2+-
ATPase do reticulo sarcoplasmático retira o Ca2+ do citosol. Com
os níveis citosólicos de Ca2+ reduzidos, o complexo troponina-
tropomiosina volta a inibir a interação entre a actina e a miosina.

O ATP é necessário tanto à contração como ao relaxamento do


músculo esquelético. Na ausência de ATP, as pontes actina-
miosina não se desligam, permanecendo os filamentos de actina e
miosina firmemente ligados – neste estado, o musculo esquelético
adquire uma grande rigidez (rigor mortis).

Para uma melhor compreensão dos acontecimentos durante a contração muscular devemos aprofundar um
pouco o conhecimento sobre este mecanismo:

Durante a contração, os filamentos interagem e, devido à atividade da miosina, (que se comporta como
proteína motora) as cabeças das moléculas de miosina tracionam os filamentos de actina para o centro do
sarcómero. Estes penetram mais profundamente nos sarcómeros, arrastando consigo os discos Z, nos quais
estão ancorados – é o chamado modelo de filamentos deslizantes. Durante o ciclo de contração, os dois tipos
de filamento conservam os seus comprimentos originais; no entanto, trechos cada vez maiores se sobrepõem,
diminuindo, em consequência, o tamanho dos sarcómeros das miofibrilas de cada célula.

A contração inicia-se na faixa A, na qual


porções de filamentos finos e grossos estão
interpostas. Durante a contração, a actina e
a miosina presentes nas regiões interpostas
interagem da seguinte maneira: durante o
repouso, ATP liga-se à ATPase das
cabeças de miosina. Para agir na molécula
de ATP e libertar energia, a miosina
necessita de actina, que atua como cofator.

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No músculo em repouso, a miosina não se pode associar à actina, devido à repressão do local de ligação pelo
complexo troponina-tropomiosina fixado sobre o filamento de actina. Em contrapartida, quando há aumento da
concentração de iões Ca2+ no citosol, estes combinam-se com a unidade TnC da troponina. Essa combinação
modifica a configuração espacial das três subunidades de troponina e desloca a molécula de tropomiosina em
direção ao sulco da hélice de actina. Em consequência, tornam-se expostos os locais de ligação da actina com
a miosina, ocorrendo interação das cabeças de miosina com a actina. A combinação dos iões Ca2+ com a
subunidade TnC corresponde à fase em que o complexo miosina-ATP é ativado. Como resultado da ponte
entre a cabeça da miosina e a subunidade de actina, o ATP liberta difosfato de adenosina (ADP), fosfato
inorgânico (Pi) e energia. Ocorre uma deformação da cabeça e da parte do bastão das moléculas de miosina,
aumentando a curvatura da cabeça. Como a actina está combinada com a miosina, o movimento das cabeças
de miosina traciona o filamento de actina, promovendo o seu deslizamento sobre o filamento de miosina. A
contração muscular consiste em inúmeros ciclos de deslizamentos da actina sobre a miosina, e cada um
diminui em alguns nanómetros a distância entre os discos Z so sarcómero e, portanto, o seu comprimento.
Embora o filamento grosso tenha um elevado número de cabeças de miosina, em cada momento da contração
apenas determinado número de cabeças está alinhado com os locais de combinação com a actina. À medida
que as cabeças de miosina movimentam a actina, novos locais para formação de pontes actina-miosina
aparecem.

Dá-se o nome de junção neuromuscular (placa motora) à sinapse


entre um neurónio motor e a fibra muscular esquelética.
• A parte terminal de um axónio motor divide-se em vários
ramos;
• No seu contacto com a fibra muscular o axónio dilata-se
(botão terminal);
• Cada ramo termina sobre uma diferente fibra muscular.

O sarcolema, na porção que entra em contacto com o botão terminal, apresenta-se pregueado (pregas
juncionais).

Um único neurónio motor e todas as fibras musculares por ele inervadas


constitui uma unidade motora. Estas unidades variam no que respeita à:
• Quantidade de fibras musculares que as constituem;
• Sensibilidade aos estímulos para contração.

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Os músculos são compostos por múltiplas unidades motoras de


diferentes tipos. Estes contêm estruturas sensoriais especializadas em
detetar o seu estado de contração ou relaxamento.
Þ Fuso neuromuscular
• Inserido no meio das fibras musculares dos músculos;
• Fibras musculares modificadas revestidas por um invólucro conjuntivo,
associadas a fibras nervosas.

Þ Órgão tendinoso de Golgi


• Localiza-se na junção miotendinosa.

O fuso neuromuscular contém fluido e fibras musculares modificadas


chamadas fibras intrafusais, umas longas e espessas e outras menores
e mais delgadas. Diversas fibras nervosas sensoriais (aferentes) inervam
os fusos musculares, onde detetam modificações no comprimento
(distensão) das fibras musculares intrafusais e transmitem essa
informação para o sistema nervoso central (SNC). Neste são ativados
diversos mecanismos reflexos de complexidade variável, que atuam
sobre:
1. Outros grupos musculares associados ao músculo que se contraiu, participando no mecanismo de
controlo da postura e da coordenação de músculos opostos durante as atividades motoras, como
caminhar ou correr;
2. O grau de tensão das fibras intrafusais, por meio de fibras nervosas eferentes do SNC que inervam as
fibras e as mantêm tensas para dotá-las de sensibilidade adequada para transmitir o grau de distenção
das fibras regulares do músculo.

Nas proximidades da inserção muscular, os tendões apresentam feixes de fibras de


colagénio encapsuladas, nas quais penetram fibras nervosas sensoriais,
constituindo o órgão tendinoso de Golgi. Essas estruturas são propriocetivas
(captam estímulos produzidos no próprio organismo) e respondem às diferenças
tensionais exercidas pelos músculos sobre os tendões. Tais informações são
transmitidas ao SNC e participam do controlo das forças necessárias aos diversos
movimentos.

As fibras musculares esqueléticas são classificadas de acordo com a velocidade de


contração e a principal via de obtenção de energia.
• Fibras de tipo I – fibras oxidativas de contração lenta;
• Fibras de tipo IIa – fibras oxidativas-glicolíticas de contração rápida;
• Fibras de tipo IIb – fibras glicolíticas de contração rápida.

Existem fibras brancas e vermelhas:


Þ Fibras brancas (carne do peito de frango)
• Baixa conteúdo em mioglobina;
• Fibras glicolíticas de contração e fadigas rápidas (fibras de tipo IIb).

Þ Fibras vermelhas (carnes das coxas de frango)


• Elevado conteúdo em mioglobina;
• Fibras oxidativas de contração lenta e resistentes à fadiga (fibras de
tipo I).

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5.2. TECIDO MUSCULAR CARDÍACO E TECIDO MUSCULAR LISO

O tecido muscular cardíaco constitui a parede muscular do coração (miocárdio).

As fibras musculares cardíacas (cardiomiócitos) são cilíndricas e ramificadas, com um


ou dois núcleos elípticos em posição central (ao contrário do que acontece nas fibras
dos músculos esqueléticos, nas quais os núcleos se apresentam à periferia).
• Em corte longitudinal exibem a aparência de uma rede contínua;
• Sarcoplasma repleto de miofibrilas que mostram um padrão de estriação
transversal semelhante ao do tecido muscular esquelético;
• Contração rítmica e espontânea;
• Não têm capacidade regenerativa.

As fibras cardíacas são circundadas por uma delicada bainha de


tecido conjuntivo equivalente ao endomísio do músculo esquelético,
que contém abundante rede de capilares sanguíneos.

Elas prendem-se entre si por meio de complexos juncionais


denominados por discos intercalares, que são uma característica
exclusiva das fibras musculares cardíacas.

Os discos intercalares associam as células mecânica e eletricamente, permitindo que atuem de modo
coordenado. Ao microscopio ótico apresentam-se como traços transversais ou com um aspecto em escada
(traços escalariformes de Eberth).

Os discos intercalares consistem em três tipos de contactos entre os cardiomiócitos:


• Fascia adherens (fáscia de adesão)
• Assemelham-se as zonulae adherens dos
tecidos epiteliais (ambas proporcionam
um sítio de inserção aos miofilamentos de
actina, porém a fascia adherens é mais
comprida e irregular);
• Proporcionam um sítio de inserção para
os miofilamentos de actina das
extremidades dos sarcómeros terminais;
• Transmitem forças contrácteis de uma
célula para outra;

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• Ocorrem nas partes transversais dos discos.

• Desmossomas
• Ocorrem nas partes transversais e longitudinais dos discos;
• Reforçam a fáscia de adesão, ligando mecanicamente as células cardíacas;
• Proporcionam fixação para filamentos intermédios do citosqueleto.

• Junções comunicantes (gap junctions)


• Presentes nas porções longitudinais dos discos;
• Permitem a comunicação iónica entre as células possibilitando a rápida passagem do impulso
para a contração de uma célula para a outra.

RESUMINDO: a fáscia de adesão e os desmossomas promovem a coesão mecânica, enquanto as junções


comunicantes promovem a conexão elétrica (formando “túneis” que unem as células).

Diferenças morfológicas entre as fibras musculares cardíacas (cardiomiócitos) e as fibras musculares


esqueléticas:
• Nas fibras musculares esqueléticas a membrana plasmática forma invaginações tubulares para o interior
da célula – túbulos T – que envolvem as miofibrilas e estão em continuidade com o espaço extracelular.
Nas fibras musculares cardíacas também existem túbulos T, especialmente nas fibras ventriculares, mas
aqui são mais largos, com lúmen mais amplo e mais desenvolvidos. (NOTA: os túbulos T permitem levar
para o interior da célula a despolarização que vai levar à contração das miofibrilas, ou seja, propagam
para o interior da célula o estímulo para a contração). Os túbulos T cardíacos localizam-se na altura da
banda Z e não na junção das bandas A e I, como acontece no músculo esquelético.

• Nas fibras musculares cardíacas existe também reticulo endoplasmático liso – reticulo sarcoplasmático
–, mas não tão amplo e tão desenvolvido como no esquelético, sendo a rede mais fina.

• Nas fibras musculares esqueléticas cada túbulo T é ladeado por duas cisternas terminais (dilatações do
reticulo sarcoplasmático), enquanto nas fibras musculares cardíacas cada túbulo T entra em contacto
com apenas uma cisterna terminal, do lado esquerdo ou do lado direito, nunca estando alinhadas. Desta
forma, se o conjunto do túbulo T com as duas cisternas terminais chamava-se tríade, no músculo
cardíaco o conjunto existente do túbulo T com uma cisterna terminal chama-se díade.

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• No músculo cardíaco as mitocôndrias são mais abundantes e apresentam mais cristas que no músculo
esquelético. Ocupam quase 40% dos cardiomiócitos, o que corresponde às grandes necessidades
energéticas deste músculo.

Legenda: D – díades; M – mitocôndrias;


SR – retículo endoplasmático.

As células musculares cardíacas têm também função endócrina – apresentam grânulos secretores recobertos
por membrana, particularmente abundantes nas células musculares do átrio esquerdo, mas também existem no
átrio direito e nos ventrículos.
• Péptido natriurético atrial
• Armazenado em grânulos de secreção
citoplasmáticos (mais numerosos nos
cardiomiócitos do átrio direito);
• Promove a natriurese (excreção de
sódio) e a diurese (excreção de urina)
§ Regulação da pressão
sanguínea;
§ Equilíbrio hidroeletrolítico.

• Péptido natriurético tipo B (BNP)


• Secretado pelo miocárdio ventricular.

NOTA: juntamente com este ião sódio vai sair água, por osmose, pelo rim.

O tecido muscular liso forma o componente muscular de estruturas viscerais


(músculo visceral). Encontra-se no tubo digestivo, na árvore respiratória, nas vias
urogenitais, nas túnicas vasculares, etc. As fibras musculares lisas agrupam-se
em fascículos compactos com disposições diversas.

A contração do tecido muscular liso é mais lenta do que a do músculo esquelético


e pode ser sustentada por longos períodos de tempo. Está sob o controlo
hormonal e do sistema nervoso autónomo, sendo considerado um músculo
involuntário.

A sua capacidade regenerativa é muito eficiente.

O tecido muscular liso é formado pela associação de células longas e fusiformes, mais espessas no centro e
afiladas nas extremidades, com núcleo elíptico e central.

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A posição central dos seus núcleos pode ser melhor observada em


secções transversais das fibras. Vistos em cortes longitudinais, os
núcleos frequentemente exibem um aspeto ondulado quando as células
estão contraídas. Diferentemente das fibras musculares estriadas, as
lisas, também chamadas de leiomiócitos, não têm estriação transversal
e, portanto, não possuem miofibrilas.

No esquema tridimensional ao lado está representado o músculo liso,


com as suas células musculares lisas fusiformes e núcleo central único.
É de reparar que no corte transversal as células apresentam diferentes
diâmetros (conforme a altura em que foram cortadas) e, em muitas, o corte não
passou pelo plano dos núcleos.

Cada fibra muscular lisa é envolvida por uma lâmina externa rodeada por uma
delicada bainha de tecido conjuntivo (fibras de colagénio tipo III ou fibras
reticulares). Estas fibras prendem as células musculares lisas umas às outras, de
tal maneira que a contração simultânea de apenas algumas ou de muitas células
reflete-se na contração do músculo inteiro.

NOTA: as fibras do músculo cardíaco e do músculo esquelético também são


envolvidas por uma lâmina basal – esta característica não é exclusiva do tecido
muscular liso.

A ultrastrutura das fibras musculares lisas é diferente da das fibras esqueléticas e cardíacas.
• Os filamentos finos e espessos não se organizam em miofibrilas (não apresentam, portanto, sarcómeros)
– dispõem-se longitudinalmente e obliquamente;
• O reticulo sarcoplasmático é pouco desenvolvido;
• Ausência de túbulos T.

No sarcoplasma das células musculares lisas ocorrem três conjuntos de


filamentos:
• Finos (acitina sem troponina);
• Espessos (miosina);
• Intermédios (desmina, vimentina).

Os filamentos de actina e os filamentos intermédios inserem-se numas estruturas


designadas por corpos densos.

Na imagem ao lado estão representadas duas células musculares lisas com 3 tipos
de filamentos cada uma.

Os corpos densos são uma característica das fibras


musculares lisas. Estão dispersos pelo sarcoplasma ou
aderidos à superfície interna do sarcolema. Constituem os
pontos de ancoragem para os filamentos finos e intermédios e
são equivalentes das linhas Z das fibras estriadas.

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Os corpos densos submembranares também estão envolvidos na junção mecânica


das células.

Os corpos densos constituem pontos de transmissão das forças contráteis no interior


da célula e entre as células.

A contração do músculo liso é o resultado final do deslizamento de filamentos de actina


em relação a filamentos de miosina.

Numerosas junções comunicantes (gap junctions)


proporcionam o acoplamento elétrico entre as células –
contração síncrona e coordenada.

O sarcolema da célula muscular lisa apresenta invaginações


em forma de frasco denominadas cavéolas. Estas têm
aspeto e dimensões semelhantes às vesículas de pinocitose
e estão possivelmente associadas ao transporte de iões Ca2+
para o citosol, necessários para desencadear o processo de
contração.

As cavéolas têm, portanto, um papel análogo ao do sistema T no


músculo esquelético e cardíaco. No momento do estímulo
permitem a entrada de Ca2+ no interior da célula muscular lisa a
partir do meio extracelular e a libertação destes mesmos iões pelo
retículo sarcoplasmático, dando início à contração.

A contração do músculo liso requer a fosforilação das cadeias leves


de miosina.

Legenda:

1. A concentração de Ca2+ intracelular aumenta quando este ião entra na


célula e é libertado pelo retículo sarcoplasmático.

2. O Ca2+ liga-se à calmodulina (CaM).

3. O complexo Ca2+–calmodulina ativa a enzima cinase das cadeias leves


da miosina (MLCK).

4. MLCK fosforila as cadeias leves de miosina e aumenta a atividade da


ATPase da miosina.

5. As moléculas de miosina, uma vez fosforiladas, combinam-se com a


actina, dando início aos ciclos de deslizamento da actina sobre a miosina
e a contração da célula.

O músculo liso exibe contração lenta e prolongada. Assim, gasta menos energia do que o músculo esquelético
e mantém a contração por longos períodos de tempo. A contração é geralmente regulada pelo sistema nervoso
autónomo e pode ser iniciada por estímulos mecânicos e hormonais.

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NOTA: não existem placas motoras e os


neurotransmissores são libertados a partir de
dilatações do trajeto axonal (varicosidades
axonais).

6. SISTEMA IMUNITÁRIO E ÓRGÃOS LINFÁTICOS


O sistema imunitário é um sistema complexo de proteínas,
células, tecidos e órgãos e tem como objetivo defender o
organismo contra microrganismos e moléculas estranhas
potencialmente perigosas.

A imunidade inata ou inespecífica é uma resposta imediata do


organismo à presença de um antigénio. Os seus componentes
reconhecem estruturas que são comuns a diversas classes de
microrganismos. Contudo, a sua eficácia não aumenta com
contactos subsequentes com o agente patogénico.
Primeira linha de defesa:
• Pele;
• Membranas mucosas;
• Secreções da pele e das membranas mucosas.

Segunda linha de defesa:


• Glóbulos brancos fagocitários;
• Proteínas antimicrobiais;
• Resposta inflamatória.

A imunidade adaptativa ou específica demora mais tempo


para se instalar que a inata (requer um período de latência),
porém, é mais sofisticada, mais complexa e mais eficiente.
Faz parte da terceira linha de defesa, constituída por linfócitos
e anticorpos. As suas características mais importantes são:
• Reconhecimento específico de antigénios por
recetores presentes na superfície de linfócitos B e T;
• Existência de uma enorme variedade de linfócitos,
cada um portador de recetores capazes de
reconhecer um determinante antigénico dentro de um
total de cerca de 1017;
• Participação e interação de várias células: linfócitos de vários tipos, células apresentadoras de
antigénios e células inflamatórias;
• Capacidade de responder rapidamente a exposições repetidas ao mesmo antigénio, fenómeno
denominado memória imunológica.

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Ao contrário da resposta específica, a resposta inata não possui o mecanismo de memória imunológica, de modo
que, a cada contacto com o mesmo antigénio, a reposta processa-se como se fosse o primeiro contacto com
ele.

De modo geral, a entrada de um microrganismo no organismo induz inicialmente uma resposta do tipo inato, que
é rápida e controla parcialmente a proliferação do agente infecioso enquanto se estabelece a resposta específica,
mais eficiente e capaz de eliminar o microrganismo.

NOTA: antigénios são moléculas estranhas ao organismo que provocam uma resposta imunitária e se localizam
na superfície de microrganismos ou de células íntegras ou em fragmentos de quaisquer desses microrganismos
e de células; anticorpos são glicoproteínas que se ligam aos determinantes antigénicos (têm a capacidade de
reconhecimento) e são produzidas por linfócitos B e pelos plasmócitos (resultantes da diferenciação de linfócitos
B), estando presentes na membrana celular de linfócitos B (onde agem como recetores de antigénios).

Demonstração do papel determinante dos linfócitos na imunidade específica:

No controlo temos um ratinho normal, ao qual foram adicionados antigénios e que possui uma resposta imunitária
adaptativa normal, e um ratinho irradiado (de forma anular o efeito do sistema imunitário), ao qual também foram
adicionados antigénios mas, ao contrário do primeiro ratinho, não possui respostas imunitárias adaptativas.
Realizou-se então uma experiência em que se deu a um ratinho irradiado, injetado com antigénios, linfócitos de
um ratinho normal e a outro ratinho (também irradiado e injetado com antigénios) outros tipos de células de um
ratinho normal. Como resultado, o primeiro ratinho apresentou uma resposta imunitária adaptativa (restaurada)
e o segundo ratinho não possuía qualquer resposta imunitária adaptativa.
Destes resultados, concluímos que os linfócitos têm um papel
muito importante na imunidade específica (adaptativa).

Existem duas classes de resposta imunitária específica:


• Imunidade humoral;
• Imunidade celular.

Na resposta imunitária celular, a eliminação de microrganismos,


de células tumorais ou de células de um enxerto ou transplante
é exercida pelos linfócitos T e pela ação indireta de citocinas e
outras moléculas por eles produzidas, sem a participação de
anticorpos. Linfócitos T, chamados de citotóxicos, reconhecem
determinantes antigénicos polipeptídicos provenientes de
microrganismos ou de células estranhas, que são expressos na
superfície de células especializadas chamadas de células
apresentadoras de antigénio (APC – antigen-presenting cell). As
células dendríticas são as principais células que têm essa
função. Os linfócitos T citotóxicos são ativados, proliferam e
adquirem a capacidade de destruir quaisquer células que exibam

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na sua superfície moléculas estranhas – células transplantadas, células malignas (cancerosas) e células
infetadas por vírus ou por outros microrganismos. As células infetadas contêm na membrana os mesmos
determinantes antigénicos e são reconhecidas pelos linfócitos T citotóxicos ativados que, em consequência, as
destroem. A destruição da célula infetada é um meio de eliminar vírus e outros microrganismos antes que eles
estejam prontos para infetar outras células.

Além da população de linfócitos T citotóxicos,


outra população é ativada no contacto com as
APCs + antigénios. São os linfócitos T auxiliares
ativados que produzem e secretam inúmeros
tipos de moléculas, denominadas citocinas ou
interleucinas. Esses linfócitos T auxiliares e as
respetivas citocinas são essenciais para
desenvolver a resposta de linfócitos B e a
produção de anticorpos, ativar a própria
resposta dos linfócitos T citotóxicos e a ativação
de células inflamatórias, como macrófagos e
neutrófilos encarregues da defesa do
organismo.
Na resposta imunitária humoral, ocorre a produção de anticorpos por linfócitos B ou por plasmoblastos ou
plasmócitos. A eliminação de agentes infeciosos depende fundamentalmente da ação de anticorpos presentes
no sangue, em outros líquidos corporais (antigamente designados por humores) e nos espaços extracelulares.
Os anticorpos secretados pelos plasmoblastos ou plasmócitos apresentam vários tipos de ação, como aglutinar
células e precipitar antigénios solúveis.

Na realidade, com poucas exceções, as respostas imunitárias a algum agente infecioso, molécula ou célula
estranha levam à estimulação tanto da resposta celular como da humoral, e esta é essencialmente dependente
da ação de linfócitos T auxiliares.

Legenda:
1. Aglutinação – os anticorpos prendem-se aos antigénios, formando
agregados e assim reduzindo a quantidade de antigénios livres;
2. Opsonização – quando a ligação de anticorpos aos microrganismos
facilita a fagocitose;
3. Neutralização – consiste na ligação de anticorpos aos microrganismos,
bloqueando a sua adesão às células (um evento necessário para a
penetração do microrganismo nas células), e na inativação de toxinas;
4. Citotoxicidade mediada por células – ligação de anticorpos com antigénios da superfície de parasitas
multicelulares e na ativação de células do sistema imunitário (macrófagos e eosinófilos), induzindo estas
células a secretarem moléculas que atacam a superfície do parasita (geralmente um verme);

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5. Ativação do complemento – através ligação de anticorpos à proteína inicial do sistema do complemento,


inicia-se a cascata de ativação desse sistema, o que causa a lise (rutura da membrana) da célula.

Resumindo, as duas principais classes de resposta imunitária específica são mediadas por dois tipos diferentes
de linfócitos:
Þ Imunidade humoral:
• Linfócitos B
§ 10-50% dos linfócitos do sangue;
§ Local de diferenciação:
o Primatas e Roedores: medula óssea;
o Coelho, Ruminantes e Porco: tecido linfoide do intestino;
o Aves: bolsa de Fabricius.

Þ Imunidade celular:
• Linfócitos T
§ 40-80% dos linfócitos do sangue;
§ Desenvolvem-se no timo.

Os linfócitos podem diferenciar-se em:


• Órgãos linfáticos primários (centrais)
• Órgãos linfáticos secundários (periféricos) – uma vez “maduros”, os linfócitos T e B saem dos órgãos
linfoides primários e vão povoar os órgãos linfáticos secundários.

Os órgãos linfáticos secundários contêm ambos os tipos de linfócitos (B e T) e são estruturas onde se inicia
normalmente a resposta imunitária:
• Linfonodos;
• Baço;
• Tecido linfoide associado às mucosas dos tratos digestivo, respiratório e urinário (MALT).

Os dois tipos de linfócitos são, no estado de repouso, morfologicamente semelhantes – é através dos recetores
de superfície que é possível identificar e distinguir os linfócitos T e B.

Os linfócitos que ainda não entraram em contacto com o antigénio para o qual são específicos
são denominados linfócitos naïve.

Ambos os tipos de linfócitos são ativados por sinais adequados (antigénios) a proliferar e a
diferenciar-se. Alguns permanecem como células de memória de vida longa e a memória
imunológica otimiza a habilidade do sistema imunitário para combater infeções persistentes e
recorrentes.

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A ativação dos linfócitos B requer a ligação ao antigénio através de


imunoglobulinas localizadas na superfície celular. A ativação completa requer a
coestimulação por linfócitos T auxiliares.

Os recetores para os antigénios nos linfócitos B naïve são IgM. Quando ativada
por um antigénio, a população de linfócitos B que o reconhece prolifera,
aumentando o número de células que reconhecem especificamente aquele
antigénio.

Ao longo dos ciclos de ativação e proliferação, os linfócitos B passam a ser


capazes de sintetizar e expressar outras classes de anticorpo na superfície e
diferenciam-se em plasmoblastos, que secretam grande quantidade de
anticorpo e têm a vida curta. Algumas dessas células migram para os órgãos
linfoides secundários, onde podem permanecer como plasmócitos de vida
longa. À medida que o estímulo antigénico é eliminado, uma população de linfócitos B diferencia-se em linfócitos
B de memória imunológica, produtores de anticorpos de alta afinidade para o antigénio e que persistem durante
muito tempo no organismo. Os linfócitos B de memória reagem muito rapidamente a uma exposição seguinte ao
mesmo antigénio.

A ativação de linfócitos T é iniciada pelo reconhecimento de fragmentos de


antigénios expostos à superfície de outras células. Os fragmentos de antigénios
estão ligados a moléculas de apresentação especializadas (moléculas MHC) na
superfície de células alvo. Posteriormente, ocorre interação entre o recetor da
célula T (TCR) e complexo antigénio-MHC.

NOTA: a diferenciação entre os linfócitos T e B e também entre os seus subtipos


é possível através da identificação das proteínas presentes nas suas
membranas, que podem ser identificadas por técnicas imunocitoquímicas e
imunoquímicas. Uma das famílias de proteínas mais usadas para a
diferenciação entre linfócitos é a das proteínas CD (ex.: CD4, CD8).

Os linfócitos T citotóxicos (ou células CD8+) destroem células alvo específicas. A sua ativação é iniciada por
antigénios ligados a moléculas MHC classe I na superfície das células alvo (ex.: células infetadas).

Os linfócitos T auxiliares (ou células CD4+) modulam a atividade de outros tipos de células implicados na resposta
imunitária. A sua ativação é iniciada por antigénios ligados a moléculas MHC classe I na superfície de células
especializadas – as células apresentadoras de antigénios.

NOTA: as proteínas MHC I são encontradas na superfície de todas as células nucleadas do corpo, enquanto as
proteínas MHC II são encontradas apenas na superfície das células apresentadoras de antigénios.

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As células apresentadoras de antigénios “profissionais” processam e apresentam antigénios aos linfócitos T.

Ativação de células T naïve: expansão


clonal e diferenciação em células T efetoras

Ativação de células T efetoras: ativação


de macrófagos (resposta imunitária
celular)

Ativação de células T efetoras: ativação de


células B e produção de anticorpos
(resposta imunitária humoral)

As células dendríticas são células apresentadoras de antigénios com um papel crucial na regulação da resposta
imunológica. Têm origem na medula óssea e residem em quase todos os tecidos, especialmente pele e mucosas.
Regulam a diferenciação, maturação e função dos linfócitos T e direcionam a resposta imunológica mediada por
estes mesmos linfócitos. Nos órgãos linfáticos, são numerosas nas áreas ricas em linfócitos T.

Depois de ativadas, as células dendríticas migram para


os linfonodos, onde interatuam com os linfócitos.

As células dendríticas imaturas caracterizam-se pela


sua grande capacidade de capturar e processar
antigénios; porém, têm pouca capacidade para
estimular células T e são encontradas em circulação.
A ativação por citocinas nos órgãos linfoides ou em
regiões de inflamação torna-as eficientes na ativação
de linfócitos T. Estas células também podem captar
antigénios e levá-los até ao baço ou outros órgãos
linfáticos secundários pela circulação sanguínea ou
linfática.

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No sistema imunitário, as células dendríticas podem ser utilizadas para ativar vários tipos de resposta contra
células cancerígenas. Nos dois exemplos seguintes, os antigénios foram introduzidos diretamente nas células
dendríticas ou geradas in situ usando RNA tumoral. Assim, as células produzem antigénios tumorais e estimulam
as células T a procurar e destruir as células cancerígenas. É desta forma que funcionam as vacinas contra o
cancro.

Esquema simplificado da resposta imunitária:

6.1. TECIDOS E ÓRGÃOS LINFÓIDES

O tecido linfoide inclui todos os agregados de linfócitos presentes no organismo


e os órgãos onde os linfócitos são as células predominantes.

Os linfócitos podem aparecer sob diferentes formas no organismo. Muitas destas


formas estão representadas na figura ao lado – formam um tecido linfoide difuso,
nódulos ou folículos linfáticos e órgãos linfoides (ex.: amígdalas e timo).

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Os órgãos linfoides não são formados exclusivamente


por células linfoides. Existe nestes órgãos um estroma
de suporte formado por fibroblastos com numerosos
prolongamentos citoplasmáticos que contactam com
os prolongamentos das células vizinhas, formando
uma rede celular. Devido à sua capacidade de formar
esta rede, dá-se o nome a estes fibroblastos de células
reticulares. Estas células reticulares, por serem na
verdade fibroblastos, têm a capacidade de formar
fibras reticulares (fibras de colagénio tipo III), sendo
assim os órgãos linfoides muito ricos neste tipo de
fibras. Pode-se afirmar então que o estroma de suporte
é formado pelas células reticulares e pelas fibras
reticulares.

EXCEÇÃO: no timo e na bolsa de Fabricius também existem células reticulares, porém de origem epitelial, não
possuindo a capacidade de produzir fibras reticulares.

6.1.1. BOLSA DE FABRICIUS


A bolsa de Fabricius constitui o local de diferenciação dos linfócitos B nas aves, sendo considerado um órgão
linfático primário. Localiza-se no divertículo dorsal da cloaca e não ultrapassa a dimensão máxima de 2cm. É
considerado um órgão linfoepitelial (por possuir células reticulares epiteliais) e involui com o aparecimento da
maturidade sexual.

Quando esta estrutura é destruída no embrião, a ave que se forma não é


capaz de produzir anticorpos; portanto, a imunidade humoral, que
depende da ação de anticorpos é prejudicada. Nessas galinhas, a
quantidade de linfócitos em determinadas regiões dos órgãos linfáticos
encontra-se extremamente reduzida. Os linfócitos afetados pela remoção
da bolsa de Fabricius são os linfócitos B ou células B, como já foi referido
anteriormente.

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6.1.2. TIMO
O timo localiza-se no mediastino, atrás do esterno, e
estende-se desde a emergência dos grandes vasos do
coração até ao pescoço. É formado por dois lobos,
envolvidos por uma delicada cápsula de tecido
conjuntivo denso. A cápsula origina delgados septos,
que dividem o parênquima em inúmeros pequenos
lóbulos, cuja porção central frequentemente se continua
com a região equivalente de lóbulos adjacentes.

NOTA: “lóbulo” é um conceito microscópico, ou seja,


apenas é visto ao microscópio, enquanto “lobo” é um conceito anatómico, ou seja, é identificado à vista
desarmada.

Enquanto que os outros órgãos linfoides são de origem exclusivamente mesodérmica, o timo tem origem
embriológica dupla – mesodérmica e endodérmica. As células reticulares epiteliais no timo têm origem no epitélio
da endoderme que reveste o 3º par de bolsas faríngeas e os seus linfócitos provêm da medula óssea, onde se
formam a partir de células mesenquimatosas. O tecido conjuntivo que forma os septos também tem origem
mesodérmica.

Ao contrário dos outros órgãos linfáticos, o timo não


possui folículos linfoides. Cada lóbulo é formado por uma
parte periférica denominada zona cortical ou córtex, que
se cora mais intensamente pela hematoxilina (por ter
maior concentração de linfócitos). A zona cortical envolve
a parte central de cada lóbulo, mais clara, denominada de
zona medular ou medula. Na zona medular encontram-se
estruturas características do timo, os corpúsculos de
Hassall.

A arquitetura celular do timo consiste em:


• Linfócitos T (timócitos);
• Células reticulares epiteliais (corticais e medulares);
• Macrófagos;
• Células dendríticas.

NOTA: os linfócitos T recebem a designação de timócitos


apenas quando se encontram dentro do timo.

As células reticulares epiteliais formam uma rede no interior da qual se


encontram os linfócitos T. Existem dois tipos principais de células
reticulares – as corticais e as medulares. Os prolongamentos de cada
célula deste tipo contactam com os prolongamentos de outras células
reticulares através de desmossomas. Por serem de natureza epitelial
não produzem fibras reticulares e apresentam filamentos intermédios
constituídos por queratina (característicos de células epiteliais).

NOTA: os desmossomas reforçam a coesão entre as células epiteliais.

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Ao microscópio estas células apresentam-se com núcleos grandes,


cromatina delicada e pouco corada e citoplasma com numerosos
prolongamentos. Os prolongamentos são muito delgados e não podem
ser, por isso, observados por microscopia ótica em preparados
rotineiros.

Os precursores dos linfócitos T migram para o timo, onde proliferam e diferenciam-se em linfócitos T. Os
precursores dos linfócitos T têm uma origem exógena, ou seja, vêm de fora do timo, e chegam a este através da
circulação sanguínea. Entram no timo ao nível da separação entre o córtex e a medula – junção corticomedular
– que possui glândulas que permitem a passagem dos linfócitos do sangue para o timo. Ao entrar no órgão,
estes não se dispõem aleatoriamente – seguem um determinado percurso (esquematizado pelas setas na figura
abaixo):
• Dirigem-se para a superfície do córtex tímico, onde proliferam intensamente e diferenciam-se;
• Descem em direção à medula. Durante este percurso completam a sua diferenciação e adquirem as
características que os identificam como linfócitos T citotóxicos ou linfócitos T auxiliares.
• Quando chegam à medula vão sair do timo pelas vénulas pós-capilares, voltando a entrar na circulação
sanguínea;
• Através do sangue vão colonizar os órgãos linfáticos secundários.

As células reticulares epiteliais não existem apenas para


dar suporte físico aos linfócitos – estas células regulam
também o desenvolvimento dos linfócitos T no timo.

Inicialmente os linfócitos T são duplo positivos, possuindo


ambos os recetores CD4+ e CD8+. Ao sofrerem
diferenciação funcional vão perder um destes recetores,
diferenciando-se em citotóxicos ou auxiliares.

NOTA: geralmente os recetores são proteínas. CD4+ e


CD8+ são glicoproteínas, encaixando-se na definição de
recetores.

Os linfócitos T vão interaturar com a célula reticular


epitelial cortical (cTEC) e com a célula reticular epitelial

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medular (mTEC), e depois de interagir com estes dois tipos de células eventualmente estarão aptos para sair do
timo e entrar na circulação sanguínea.

As células reticulares epiteliais corticais (cTEC) são responsáveis pela seleção positiva – retém os timócitos úteis
(com TCRs funcionais capazes de reconhecer moléculas de MHC).

As células reticulares epiteliais medulares (mTEC) e as células dendríticas são responsáveis pela seleção
negativa – elimina os timócitos perigosos, ou seja, autorreativos (reagem com alta afinidade contra
autoantigénios).

NOTA: os timócitos perigosos são eliminados


por apoptose.

Cerca de 99% dos timócitos que completam a


sua diferenciação são eliminadas pelo timo, pois
ou não possuem recetores funcionais ou têm
recetores autoantigénicos.

Após o processo de diferenciação e seleção, os


linfócitos T deixam o timo através das vénulas
pós-capilares.

Tolerância central é o processo pelo qual os linfócitos imaturos


autorreativos são eliminados dentro do órgão linfático central.

Os linfócitos T que saem do timo são tolerantes aos antigénios próprios,


mas imunocompetentes contra antigénios estranhos.

As doenças autoimunes existem pois ocorrem disfunções destes sistemas


(cTEC e mTEC), o que permite a entrada de células autorreativas para o
sangue.

Como já foi referido a maior parte dos linfócitos é eliminada por apoptose (morte geneticamente terminada) e os
seus fragmentos vão ser digeridos por macrófagos do timo (indistinguíveis ao
microscópio ótico, apenas visível ao microscópio eletrónico).

Os corpúsculos de Hassall são elementos característicos da medula tímica. São


corpúsculos arredondados ou ovoides formados por células reticulares epiteliais
achatadas dispostas em camadas concêntricas unidas por desmossomas. Algumas
dessas células, principalmente as mais centrais, podem degenerar e morrer, deixando
restos celulares que podem calcificar e morrer. A observação
destes elementos em cortes histológicos auxilia o diagnóstico
diferencial entre órgãos linfáticos.

A barreira hematotímica é a barreira entre o sangue e o parênquima do córtex tímico.


Os principais componentes desta barreira são as junções oclusivas entre as células
endoteliais dos capilares do córtex tímico e as células reticulares epiteliais que
recobrem os capilares. A sua função é proteger os linfócitos corticais de antigénios
circulantes.

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O timo involui com a idade. As alterações morfológicas que conseguimos


observar são a depleção linfócitária (L) e a infiltração adiposa (A).

O número e a diversidade de linfócitos T exportados pelo timo diminui com


a idade. Na idade mais adulta, continuamos a ter linfócitos, porém uma
população mais monótona e, portanto, com menor capacidade de lutar
contra antigénios (comparativamente com a idade mais nova).

As áreas timo-dependentes são áreas nos tecidos linfoides periféricos povoadas


preferencialmente por linfócitos T, como por exemplo:
• Zona paracortical dos linfonodos;
• Bainhas periarteriais da polpa branca do baço;
• Tecido linfoide difuso situado entre os folículos linfáticos das placas de
Peyer e das tonsilas.

Se retirarmos o timo a um recém-nascido (uma fase em que há uma grande


exportação de linfócitos T do timo) a região timo-dependente atrofia pois não
chega a ser colonizada por linfócitos T (a fonte destes foi cortada).

Por outro lado, as regiões do tecido linfoide rico em linfócitos B são denominadas
timo-independentes.

As placas de Peyer e a tonsila palatina


fazem parte dos tecidos linfoides
associados às mucosas (MALT). Fazem
parte destes também o tubo digestivo, as
vias respiratórias e o trato genito-urináro.
Nestes tecidos encontramos linfócitos B e
T e células apresentadoras de antigénios.
A resposta imunitária principalmente de
IgA.

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As placas de Peyer encontram-se no íleo e são particularmente


proeminentes em animais jovens. Nos Ruminantes, algumas
funcionam como órgãos linfoides primários na produção de
linfócitos B. O epitélio intestinal ao redor das placas de Peyer é
especializado (células M), de modo a permitir o transporte de
antigénios para o tecido linfoide.

6.1.3. LINFONODOS
Os linfonodos (antigamente chamados de gânglios linfáticos)
são órgãos encapsulados constituídos por tecido linfoide. Estão
situados no trajeto dos vasos linfáticos, tendem a ocorrer em
grupos e variam de aspeto com a idade e com os processos
fisiopatológicos a que estão submetidos.

Tem geralmente forma de rim (reniformes) ou ovoides e


apresentam uma face convexa e uma face côncava. Na face
côncava situa-se o hilo, uma reentrância por onde penetram e
saem vasos sanguíneos. Existem vasos linfáticos aferentes que
entram pelo bordo convexo e vasos linfáticos eferentes que
saem pelo hilo.
Nos vasos linfáticos encontramos válvulas que impedem o fluxo
retrógrado da linfa, que entra no linfonodo em sentido contrário à da gravidade.

A estrutura histológica geral de um linfonodo apresenta:


• Cápsula (C)
• Trabéculas (T)
• Zona cortical (Cx)
§ Folículos linfáticos (F)
§ Zona paracortical (P)
• Zona medular (M)
§ Cordões medulares (MC)
• Seios linfáticos (S)

A circulação da linfa no linfonodo dá-se da seguinte forma:


1. Vasos linfáticos aferentes;
2. Seio subcapsular;
3. Seios corticais (paratrabeculares);
4. Seios medulares;
5. Vasos linfáticos eferentes.

A circulação da linfa está representada pelas setas a verde na figura


apresentada ao lado. Já as setas azuis representam o trajeto dos linfócitos
provenientes do sangue. A maior parte dos linfócitos não chegam ao
linfonodo pela linfa mas sim pelo sangue. Os linfócitos saem do sangue
para o linfonodo atravessando a parede de um tipo especial de vénula
existente na região paracortical – vénulas de epitélio alto (HEV).

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Os linfócitos podem permanecer ou não no linfonodo durante algum tempo, mas acabam sempre por sair deste,
penetrando nos seios medulares e saindo pela linfa.

NOTA: os linfócitos podem entrar pelo sangue, mas saem sempre pela linfa. A circulação da linfa formada no
interstício dos tecidos e órgãos que circula pelos linfonodos é unidirecional.

O lúmen do seio linfático não é um lúmen aberto


e tem grande quantidade de células reticulares
(fibroblastos) e alguns macrófagos. As células
reticulares vão formar fibras reticulares, e entre
estas fibras vai existir uma rede de células que
forma uma turbulência no seio e atrasa o fluxo da
linfa, permitindo que os macrófagos fiquem mais
facilmente em contacto com os antigénios e as
partículas estranhas que entram pela linfa. Se
não existisse esta rede, a linfa fluía mais
rapidamente através dos linfonodos.

Recapitulando, o linfonodo é constituído por:


• Córtex superficial, que contém folículos linfáticos (F) e centros
germinativos;
• Paracortex ou córtex profundo, formado por tecido linfoide difuso;
• Região medular, que contém cordões medulares (MC).

Os linfócitos B e T têm distribuições


diferentes no interior do linfonodo –
os linfócitos B ocorrem
predominantemente nos folículos
linfáticos do córtex superficial,
enquanto os linfócitos T ocupam
sobretudo a região profunda do
córtex ou zona paracortical,
chamando-se a esta zona como
área timo-dependente.

Os linfócitos recirculam continuamente entre o sangue e os tecidos linfoides periféricos. Os linfonodos estão
interpostos nos trajetos dos vasos linfáticos, o que faz com que a linfa, ao percorrer os vasos linfáticos, possa
passar por vários linfonodos. O objetivo desta recirculação continua é a monotorização do ambiente e
patrulhamento contra a invasão de agressores, microrganismos, etc.

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As vénulas de endotélio alto (HEV) permitem a passagem de linfócitos do


sangue para o linfonodo. Dá-se este nome a estas vénulas pois estas são
revestidas por epitélio simples cúbico em vez de pavimentoso (como o
restante do revestimento dos vasos sanguíneos e linfáticos). Estão
localizadas na zona paracortical e são a principal porta de entrada de
linfócitos no linfonodo.

Na figura ao lado (corada com pararrosanilina e azul de toluidina) as pontas


de seta indicam as células endoteliais altas (cúbicas), enquanto as setas
apontam para os diversos linfócitos que atravessam a parede da vénula.

Os linfócitos reconhecem este local específico de saída devido a recetores


que possuem na sua superfície e a recetores que se encontram na superfície
das células endoteliais. Estes recetores são complementares e reconhecem-
se (como a chave e a fechadura), fazendo com que os linfócitos migrem por
diapedese através da parede das HEV para o parênquima dos linfonodos.

NOTA: no timo, após a maturação dos linfócitos, estes saem do


timo para o sangue através de células especiais formadas por
endotélio normal, enquanto que no linfonodo saem do sangue
para o linfonodo através de células com endotélio alto.

A zona medular é constituída por cordões medulares, ricos em


plasmócitos, linfócitos (principalmente linfócitos B) e
macrófagos e por seios medulares (zonas mais pálidas),
constiuidos por macrófagos, linfócitos (células livres) e células
reticulares. Se o linfonodo for estimulado por uma bactéria
vemos muitos plasmócitos nos cordões medulares.

NOTA: não é possível observar bem nas preparações mas os cordões medulares são como caudinhas dos
folículos linfáticos, daí encontrarmos os linfócitos B nos folículos linfáticos da região superficial do córtex e
também nos cordões medulares na zona medular.

Os linfonodos não estão envolvidos apenas na imunidade inata –


também estão envolvidos na resposta imunoadquirda. Assim,
possuem as seguintes funções:
• Filtração inespecífica de partículas e microrganismos da
linfa (atividade fagocitária dos macrófagos);
• Resposta imunitária
§ Proliferação e diferenciação de linfócitos B
o Formação de plasmócitos ® produção de
anticorpos
§ Ativação e proliferação de linfócitos T (zona timo-
dependente)

Nos linfonodos, no baço ou nas tonsilas (órgãos linfoides


secundários) há sempre produção de linfócitos – linfocitopoiese –
mas estes já vêm com “bilhete de identidade”, ou seja, com os
recetores que lhes são característicos, adquiridos ou na medula ou
no timo. Nos órgãos linfáticos secundários, caso encontrem o

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antigénio respetivo, vão proliferar - ocorre produção/multiplicação de linfócitos já diferenciados. No caso dos
linfócitos B, ao encontrarem o antigénio respetivo no linfonodo (por exemplo), para além de proliferarem
diferencia-se uma parte em linfócitos B de memória e outra parte em plasmócitos.

NOTA: é ao nível dos órgãos linfóides secundários que se dá o encontro entre o linfócito e o respetivo antigénio.

Relembramos que a diferença entre os linfócitos B e os plasmócitos é que os linfócitos B produzem um único
tipo de anticorpo que fica à superfície da célula, não são solúveis nem são secretados, enquanto no plasmócito
existe uma maior variedade de anticorpos que não são destinados à membrana
celular mas sim ao líquido extracelular e é secretado (produzem a forma
secretada do anticorpo).

Os gânglios hemáticos (semelhantes a pequenos coágulos de sangue) não


existem no Homem e existem raramente no Cão e no Gato, mas são bastante
numerosos nos Ruminantes. São mais frequentes no tecido adiposo
retroperitoneal, ao longo da coluna vertebral e são associados a vasos
sanguíneos. A sua cor avermelhada deve-se devido ao sangue que circula dentro
destes gânglios em largos seios. Possuem uma organização semelhante à do
linfonodo mas não possuem linfa. Muitas vezes é confundido com linfonodos
hemorrágicos. Pensa-se que tem funções similares às do baço.

6.1.4. BAÇO
O baço é o órgão isolado com maior acúmulo de tecido linfoide do
organismo (é o maior órgão linfoide) e funciona como um filtro para a
circulação sanguínea.

Ao observar uma preparação de baço conseguimos identificar na sua constituição duas polpas – a polpa branca
e a polpa vermelha. A polpa branca é constituída por folículos linfáticos e a polpa vermelha é formada por seios
venosos revestidos por endotélio. Toda a polpa esplénica (polpa vermelha + polpa branca) contém células e
fibras reticulares, linfócitos em grande quantidade acompanhados de macrófagos, células apresentadoras de
antigénios e algumas outras células em menor propagação.

O baço é revestido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, em torno do qual há um folheto da membrana
peritoneal. A cápsula emite trabéculas de tecido conjuntivo que dividem o parênquima ou polpa esplénica em
compartimentos incompletos e intercomunicantes.

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A polpa vermelha é constituída por:


Þ Cordões esplénicos ou cordões de Billroth (P) – ocupam espaços
entre os seios, sendo estes capilares de grande calibre. Nestes
encontram-se:
• Linfócitos;
• Macrófagos;
• Plasmócitos;
• Células sanguíneas extravasadas (eritrócitos, células
sanguíneas fora dos vasos sanguíneos)
• Células reticulares;
• Megacariócitos (em certas espécies).

Þ Seios venosos esplénicos (VS)

NOTA: quando os seios venosos esplénicos estão cheios de sangue os


cordões de Billroth ficam mais estreitos; quando estão com menos sangue os cordões de Billroth ficam mais
dilatados.

Há quem, na prática, compare a polpa vermelha a uma esponja ou a um queijo suíço – os buracos correspondem
aos seios venosos e a parte comestível do queijo corresponde aos cordões de Billroth.

Uma das principais funções da polpa vermelha é a destruição de


eritrócitos e plaquetas envelhecidas bem como a remoção de
células sanguíneas defeituosas. O desempenho desta função é
possível devido ao grande número de macrófagos existentes na
polpa vermelha capazes de detetar quando um eritrócito chega
ao fim do seu tempo de vida útil (aproximadamente 120 dias).
Esta deteção dá-se através das alterações exibidas a nível da
membrana plasmática e da perda de cargas negativas, o que é
suficiente para ser reconhecido pelo macrófago, fagocitado e
destruído). Na figura ao lado conseguem-se identificar os
eritrócitos (bolinhas vermelhas) fagocitados por macrófagos.

Analisando a estrutura dos seios venosos esplénicos,


observamos que a sua parede é formada por células endoteliais
achatadas, fusiformes e dispostas longitudinalmente, que não
estão unidas entre si por zónulas de oclusão – em vez disso,
estão separadas deixando fendas longitudinais entre si. Além
deste facto, também temos a lâmina basal circunferencial que
reveste o endotélio incompleta, recobrindo apenas uma
pequena fração do endotélio. Apesar de não as conseguirmos
encontrar, existem também fibras reticulares que formam aneis
em torno do “vaso”.

A existência de fendas entre as células endoteliais dos seios


venosos esplénicos permite que estes capilares sejam altamente
permeáveis, deixando passar facilmente eritrócitos em ambos os
sentidos – dos seios venosos esplénicos para os cordões de
Billroth e vice versa. No entanto, esta passagem apenas é

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possível se os eritrócitos forem suficientemente elásticos para se deformarem de modo a passar entre estas
fendas.

Em determinadas anemias e doenças (malária, por exemplo) os eritrócitos são parasitados e perdem a sua
capacidade de deformação, ficando mais rígidos, o que impossibilita a sua passagem dos cordões de Billroth
para os seios venosos esplénicos. Assim, um dos sintomas destas doenças é a esplenomegalia (aumento do
volume do baço).

A polpa branca é o local onde se concentram os linfócitos. Nesta polpa


branca existem trabéculas, que provêm da cápsula, que levam no seu interior
ramos resultantes da ramificação da artéria esplénica, dando origem às
artérias trabeculares. Os ramos destas artérias vão, posteriormente, deixar
as trabéculas e penetrar na polpa esplénica, sendo imediatamente
envolvidas por uma bainha de linfócitos chamada de bainha linfática
periarterial (PALS). Estes ramos arteriais são chamados de artérias centrais.
Esta bainha linfática periarterial é uma área timo-dependente.

Em certas zonas da bainha linfática periarterial formam-se dilatações


nodulares. Utilizando a representação gráfica ao lado, vemos que bainha
azul escura (que corresponde à PALS) sofre um espessamento, que
corresponde à porção azul clara (que representa nos nódulos linfáticos).
Verifica-se que os nódulos linfáticos que se formam ao longo do percurso
da bainha linfática periarterial possuem linfócitos B.

Assim, n o baço também temos uma segregação dos linfócitos T e B, sendo


a dos T na bainha linfática periférica e os B nos nódulos linfáticos.

NOTA: quando se faz um corte que incide num nódulo linfático, geralmente
a artéria central aparece numa posição excêntrica; quando o corte incide
apenas na bainha linfática periarterial, a artéria central aparece no centro.

A artéria central vai-se ramificando no interior da polpa


branca e chega a uma altura que deixa de ter uma
bainha linfática e sai da polpa branca para a polpa
vermelha. A artéria central vai ramificar-se em
arteríolas que se vão ramificar em capilares terminais.
Os capilares terminais podem terminar de duas
formas:
• Circulação aberta – os capilares terminam
como vasos abertos nos espaços entre as
células dos cordões esplénicos;
• Circulação fechada – os capilares drenam
diretamente para os seios venosos da polpa
vermelha.

Variações histológicas do baço:


Þ Baço de armazenamento – possui a capacidade de armazenar quantidades significativas de sangue na
polpa vermelha e plaquetas.
• Quando os Cavalos, Ruminantes e Carnívoros são sujeitos a grande esforço físico, a contração
do baço (que possui cápsulas e trabéculas musculares) expulsa uma grande quantidade de

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sangue que estava acumulado para a acumulação sistémica. O sangue armazenado no baço
tem grande quantidade de eritrócitos, proporcionando oxigénio ao tecido muscular.
• O tecido linfoide é reduzido;
• A cápsula e trabéculas numerosas são ricas em fibras musculares lisas;

Þ Baço defensivo
• Existe no Homem e lagomorfos;
• O tecido linfoide é abundante;
• As trabéculas são poucas e os miócitos são lisos;
• Tem baixa capacidade de armazenamento de sangue.

Resumindo as funções do baço:


Þ Polpa branca
• Resposta imune (células B e T) a antigénios presentes no sangue;

Þ Polpa vermelha
• Remoção de partículas e de eritrócitos (hemocaterese) envelhecidos ou defeituosos;
• Armazenamento de sangue (cavalo, carnívoros e ruminantes);
• Reciclagem do ferro da hemoglobina dos eritrócitos
§ Hematopoiese extramedular (durante a vida embrionária é um tecido hematopoiético)

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