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Aula 10

PROCESSO COLETIVO

PROF. EDILSON VITORELLI

www.edilsonvitorelli.com

@edilsonvitorelli

1. COMO LIDAMOS COM LITÍGIOS COLETIVOS?


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1.1. PROCESSO ESTRUTURAL

O processo estrutural é uma demanda judicial em que se busca reestruturar uma


instituição pública. No exemplo dado na aula anterior, os distritos escolares, os sistemas escolares
americanos, uma instituição pública, cujo comportamento nesse caso, causava e fomentava o
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litígio estrutural.
Essa reestruturação envolve a elaboração de um plano. É preciso definir de que jeito
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esse distrito vai ser reestruturado, pra que mude de comportamento. Esse plano precisa ser
implementado mediante providências sucessivas e incrementais. Não é possível simplesmente
PEDROSA BARBARESCO

dizer que tudo será mudado, que a escola vai parar de funcionar, que os alunos serão mudados.
Caso seja feito desta forma, os resultados não serão duradouros. Os alunos vão
VICTOR PEDROSA

cancelarão suas matrículas, usarão subterfúgios para voltar para as escolas anteriores e assim por
diante. Há diferenças tanto metodológicas, quanto finalísticas, entre o processo coletivo normal e
VICTOR

o processo coletivo estrutural. Em termos metodológicos, o processo estrutural precisa ser


adaptado pra dar conta das necessidades de produção dessa transformação estrutural.
Essa transformação estrutural depende de uma supervisão judicial duradoura,
depende de uma mutabilidade da decisão, depende do fato de que as partes terão que prover o
juiz com muita informação. O juiz deve abrir o contraditório para que outras pessoas, além dos
sujeitos processuais sejam ouvidos, os diferentes subgrupos afetados sejam ouvidos, especialistas
na matéria sejam ouvidos e assim sucessivamente.
Há uma série de diferenças metodológicas que de modo geral, giram em torno da
necessidade de flexibilidade, de adaptabilidade e de expansão do universo de informações
disponíveis no processo estrutural, em relação ao processo coletivo.

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


Em termos finalísticos, enquanto um processo coletivo tradicional quer resolver
apenas as consequências de um litígio, os efeitos de ilegalidade visíveis experimentados, o
processo estrutural quer mais. O processo estrutural é um processo que pergunta o porquê, por
que o conflito existe? por que aquele conflito gerou esses resultados? O poque indica como
solucionar aquele conflito, de modo que vá ser tratado no contexto de um processo, que pense
nessas circunstâncias.
Então, o processo estrutural é um processo coletivo que incide sobre um litígio
estrutural e que pretende diagnosticar e transformar o comportamento institucional que deu
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origem àquele problema, àquele litígio. Esse processo coletivo vai incidir buscando medidas
incrementais de solução, porque precisa dar conta deum problema que exige soluções
incrementais.
Quando se fala que o processo estrutural é um processo coletivo, quer dizer que é uma
ação civil pública ou ação popular? Idealmente, sim, porque são essas ações que permitiriam uma
condução mais apropriada, com instrumentos mais adequados para a solução estrutural do litígio.
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No entanto, o STF tem conduzido ou já conduziu pelo menos uma ADPF como ADPF
estrutural, assim, existe uma certa transformação da ADPF em processo estrutural. Se isso é
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adequado ou não, se é bom ou não, são duas perguntas de difícil solução e de grande controvérsia.
PEDROSA BARBARESCO

Vários autores dizem que o STF não deveria fazer isso, que o STF e a ADPF não são lugares pra
discutir conflitos estruturais, porque esses conflitos exigem uma instrução fática muito significativa.
Nem o procedimento da ADPF e nem a estrutura institucional do STF estão preparados pra fazer.
VICTOR PEDROSA

O que acaba acontecendo é que é sobrecarregado esse procedimento e não consegue


resultados. Como a ADPF, no Brasil, virou um grande coringa, ninguém mais sabe o que pode ou o
VICTOR

que não pode numa ADPF. Então, existem diversas ADPF’s com pedidos estruturais, embora, o STF
não esteja se dispondo a conduzir todas elas de maneira estrutural.
Por exemplo, a ADPF 347 é uma ação com pedido estrutural, que é a famosa ADPF dos
presídios em que o STF, no julgamento da liminar, declarou o estado de coisas inconstitucional nos
presídios brasileiros. Na petição inicial dessa ADPF, é possível ver que ali tinha um pedido de
natureza estrutural, um pedido em que se pretendia que fosse elaborado um plano para resolver a
situação das prisões no Brasil. Na liminar, o STF não analisou isso e, ao longo dos anos dessa
liminar, o STF não conduziu esse processo de maneira estrutural. Então, parece equivocado dizer
que esse seja um exemplo de processo seja estrutural. Esse processo tem um pedido estrutural
que não foi sequer instruído e processado pelo STF. Talvez no julgamento do mérito, o relator é o

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Ministro Marco Aurélio, como ficará essa situação.
Por outro lado, um exemplo de ADPF que tinha pedido estrutura e o STF de fato
conduziu estruturalmente é a ADPF 709 que se refere aos povos indígenas na pandemia de COVID-
19. O STF, atendendo a pedido de partido político, montou um gabinete interinstitucional de
supervisão da atuação das autoridades públicas federais em relação aos povos indígenas, com
abertura para ouvir os povos indígenas. Criou toda uma estrutura para que houvesse uma
supervisão judicial efetiva, progressiva e duradoura sobre a atuação do governo federal em relação
aos índios, na pandemia. Abriu para diálogo, expandiu a atuação etc.
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Resta saber se essa atuação foi eficiente ou não. Existem diversas criticas dizendo que
o Ministro Barroso, que é condutor do caso, apesar de bem intencionado, não conseguiu fazer
com o governo federal resolvesse os problemas dos povos indígenas na pandemia e na prática, os
povos indígenas acabaram sendo muito vitimizados pela pandemia. A etnia Juma desapareceu por
causa disso, extinta de fato pela pandemia.
Esse contexto gerou uma situação bastante delicada por parte do STF, mas pelo menos
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houve um esforço do Ministro Barroso em seguir as características do processo estrutural, nesse


caso. Dessas características derivam a necessidade de fazer uma série de reuniões, série de
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audiências, outiva de diversas autoridades, como AGU e outras autoridades finalísticas, como
PEDROSA BARBARESCO

autoridades de saúde foram ouvidas no STF. Isso não é usual. Usualmente quem tem voz é o
advogado. Houve a flexibilização para a condução de um bom processo estrutural. O STF fez isso
nesse caso, o que não é garantia de resultado.
VICTOR PEDROSA

Toda vez que se fala em intervenção judicial em políticas públicas, não há garantia de
sucesso, pode ser que dê ou não. Mas o STF tentou nesse caso.
VICTOR

Importante observar, que embora o processo estrutural recorrentemente seja usado


no contexto da intervenção judicial em políticas públicas, não existe um vínculo entre processo
estrutural e políticas públicas. O processo estrutural é uma ferramenta, ele pode ser usado para
intervenção em políticas públicas, como também pode ser usado para outras finalidades, inclusive,
para intervenção em empresas privadas.
Por exemplo, nos EUA, foi proposta uma ação contra facebook, google, gigantes da
internet, por domínio indevido de mercado e realizou diversos pedidos de natureza estrutural,
nessa demanda. Uma demanda estritamente contra entidades privadas.
Então, não se pode confundir intervenção judicial em políticas públicas, com processo
estrurural. E se o processo estrutural estiver atuando em intervenção em políticas públicas, deve-

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se lembrar que as eventuais críticas que as pessoas tenham contra a intervenção judicial em
políticas públicas, não são automaticamente transponíveis para o processo estrutural,
transponíveis ao instrumento que está sendo usado pra isso.

4) Processos estruturais são demandas judiciais nas quais se busca reestruturar uma instituição pública ou
privada cujo comportamento causa, fomenta ou viabiliza um litígio estrutural. Essa reestruturação envolve
a elaboração de um plano de longo prazo para alteração do funcionamento da instituição e sua
implementação, mediante providências sucessivas e incrementais, que garantam que os resultados visados
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sejam alcançados, sem provocar efeitos colaterais indesejados ou minimizando-os.


◦ Há, portanto, diferenças metodológicas (necessidade de um processo que dê conta da produção da
transformação estrutural) e finalísticas (propósito de modificar uma estrutura) entre o processo coletivo e
o processo estrutural. Todo processo estrutural incide sobre um litígio estrutural, embora nem todo litígio
estrutural seja, necessariamente, tratado pela via do processo estrutural.

➔ CONCEITO DE MARIELA PUGA


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◦ Elementos reiteradamente associados à litigância estrutural: (a) a intervenção de múltiplos agentes; (b) o
viés coletivo da tutela pretendida; (c) uma condição de origem (normalmente, ação ou omissão estatal ou
BARBARESCO -- CPF:

institucional) que provoque violação de direitos em larga-escala; (d) a responsabilidade ou envolvimento


de uma organização estatal ou burocrática; (e) a vulneração, por intermédio da condição de origem, de
PEDROSA BARBARESCO

direitos constitucionais fundamentais de natureza econômica, social ou cultural; (f) a existência de


pretensão de redistribuição de bens; e (g) a resolução mediante prolação de sentença que compreenda
conjunto de ordens de implementação contínua e prolongada
VICTOR PEDROSA

◦ Elemento essencial: causalidade estrutural = caráter complexo por natureza, não apenas por permitir se
entrelaçarem, na confluência causal multifacetária mediata ou imediata, regras jurídicas, políticas
VICTOR

institucionais, práticas reiteradas e situações sociais consolidadas, como também por admitir que se
identifiquem como sujeitos causadores do contexto de violação inconstitucional de direitos, aqueles que
também porventura integrem o grupo vitimizado. Considera Mariela Puga ser mais adequado falar-se em
um processo causal (ou ciclo causal) do que, propriamente, em um evento causal aos litígios estruturais

A Professora Mariela Puga, argentina, que possui tese de doutorado bastante citada no
Brasil, diz que embora os elementos estejam recorrentemente associados ao processo estrurual, o
elemento essencial de um processo estrutural, que ela nomeou de causalidade estrutural e o
Professor Edilson Vitorelle chamou de complexidade, um litígio complexo.
A professora Mariela Puga diz que às vezes, quem causa o litigio estrutural, também é
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vítima dele. O professor tem dúvidas quanto à veracidade disso, mas enfim, é a teoria da
professora que diz ser mais adequado falar em um processo causal ou ciclo causal, do que em
evento causal para os litígios estruturais, que é o que o Professor Edilson fala também. Os litígios
estruturais decorrem de como uma estrutura burocrática se comporta ao longo do tempo e não
no momento único e específico.

Conceito de Didier Jr., Zaneti Jr. e Oliveira


◦ Pretensão de remediação a um problema estrutural = O problema estrutural que se define pela
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existência de um estado de desconformidade estruturada – uma situação de ilicitude contínua e


permanente ou uma situação de desconformidade, ainda que não propriamente ilícita, no sentido de ser
uma situação que não corresponde ao estado de coisas considerado ideal. Como quer que seja, o
problema estrutural se configura a partir de um estado de coisas que necessita de reorganização (ou de
reestruturação).
◦ O processo estrutural é aquele em que se veicula um litígio estrutural, pautado num problema estrutural,
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e em que se pretende alterar esse estado de desconformidade, substituindo-o por um estado de coisas
ideal.
Processo bifásico:
BARBARESCO -- CPF:

◦ Fase 1: reconhecimento do problema estrutural.


PEDROSA BARBARESCO

◦ Fase 2: implementação da decisão estrutural, que estabeleça, ao menos: (i) o tempo, o modo e o grau de
reestruturação a ser implementada; (ii) o regime de transição, conforme art.23 da LINDB; e (iii) a forma de
avaliação/fiscalização permanente das medidas estruturantes
VICTOR PEDROSA
VICTOR

O processo estrutural pro Didier e pro Hermes Zaneti Junior, é um processo que vai
resolver aquilo que eles chamam de problema estrutural, que é uma situação de ilicitude contínua
e permanente ou, ainda uma situação que embora não seja propriamente ilícita, não corresponda
a um estado de coisas considerado ideal.
O conceito aqui é muito mais genérico do que o conceito trazido pelo professor
Vitorelli, se aplicando a muito mais coisas e por isso o professor não aprecia, pois, por ser genérico
demais, dificulta uma definição precisa do que seria um litígio estrutural e do que seria um
processo estrutural.
Os autores utilizam a expressão problema estrutural. O professor Vitorelli possui duas
objeções, uma acadêmica e outra prática. A prática é essa já citada, quanto ao conceito, por ser

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genérico demais pra dar conta de muitas realidades. O que faz com que muitas coisas sejam
consideradas processos estruturais, como por exemplo, inventário, falência, como processo
estrutural, o que o professor Vitorelli não considera.
A única coisa que o Professor Vitorelli cogita considerar como processo estrutural é o
processo de recuperação judicial que pretende restaurar, reestruturar uma empresa. Mas a
falência não é um processo estrutural, é um processo pra desfazer a empresa, pra destruí-la. O
inventario é um processo pra repartir o patrimônio. Então, não parece que sejam processos
estruturais e nem que estejam incidindo no contexto de litígios estruturais.
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O conceito do Freddie Didier é mais amplo, do que o conceito do Professor Vitorelli.


Para Diddier Jr, Zaneti Jr e Oliveira, o processo estrutural é aquele em que se veicula
um litígio estrutural, pautado num problema estrutural, e em que se pretende alterar esse estado
de desconformidade, substituindo-o por um estado de coisas ideal.
O processo estrutural é o processo que pretende resolver o problema estrutural.
Na visão deles, isso envolveria um processo bifásico, a primeira fase seria o
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reconhecimento do problema estrutural e a segunda fase, a implementação da decisão estrutural,


que deve estabelecer ao menos, o tempo, modo e grau de reestruturação a ser implementada, o
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regime de transição, conforme art. 23, LINDB e a forma de avaliação e fiscalização permanente das
PEDROSA BARBARESCO

medidas.
O professor não gosta dessa definição porque acredita que estabelecer um processo
bifásico é pouco para as necessidades dos litígios estruturais. O que precisa é de um diálogo
VICTOR PEDROSA

permanente entre conhecimento e execução. Quando se pensa num processo num processo
bifásico, imagina-se um processo de conhecimento com uma sentença genérica e depois, um
VICTOR

cumprimento daquela sentença.


Se for feito isso, há uma grande probabilidade de não conseguir um resultado
socialmente adequado, porque essa separação rígida entre conhecimento e execução que existe
no Brasil e que os americanos não têm, é talvez o maior obstáculo e a maior objeção existente no
Brasil para que se conduza um processo de maneira estrutural.
O processo estrutural exige fluidez, flexibilidade. À medida que são implementas as
soluções, essas soluções vão gerando novos problemas, novos desafios. Assim, não é possível
reconhecer simplesmente o estado de desconformidade para depois ir implementando, sob pena
de acabar ficando congelado numa decisão inicial, porque esses estados de desconformidade se
alteram com o tempo.

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Então, o que se deve falar é de uma fluidez entre atividade cognitiva e atividade
executiva, de modo que o juiz vá decidindo frações do conflito e aos moldes de uma decisão
interlocutória de mérito, como no art. 356, CPC e vá implementando essas decisões gradualmente
e com isso, poderá gradualmente rever as decisões já tomadas, sendo responsivo às mudanças
sociais derivadas daquela decisão.
Assim, à medida que a decisão vai interferindo na realidade vai transformando a
realidade, o juiz precisa rever as decisões que já tomou. Assim, não parece que essa ideia de um
processo bifásico seja boa.
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Tem autores que falam em processo trifásico. Mas tudo isso é muito ruim. O que se
deve falar é num processo fluído, que permite a interação entre tomada de decisão e
implementação de decisão.
Não seria melhor fazer um processo estrutural extrajudicialmente? Sim. É muito
melhor que se tratem as questões estruturais extrajudicialmente, porque já existe essa fluidez.
Não se está constrito pelas regras do CPC. Então, é muito mais prático, muito mais fácil que se
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conduza no âmbito do Ministério Público, um inquérito civil para se dar conta de um litígio
estrutural. Procure fazer um TAC de cunho estrutural, uma recomendação de cunho estrutural, do
BARBARESCO -- CPF:

que se conduza um processo judicial estrutural. Sem falar, como já mencionado no bloco anterior,
PEDROSA BARBARESCO

no caso de um processo judicial estrutural, é preciso da figura do juiz. No exemplo da ADPF 347 e
709, a primeira conduzida pelo Ministro Marco Aurélio e a segunda pelo Ministro Barroso. As duas
possuam pedido estrutural. A primeira não tem nada de estrutural, a condução é totalmente não
VICTOR PEDROSA

estrutural. Na ADPF 709, o Ministro Barroso deu uma condução estrutural àquele processo.
Não adianta, se for levado isso à juízo, dependerá da figura do juiz que é
VICTOR

absolutamente fundamental e pode ser que o juiz não esteja disposto à uma condução estrutural.
O juiz pode apenas querer resolver e pronto e dá uma decisão.
Da mesma forma que existem promotores resolutivos e demandistas, existem juízes
que são apenas decisores, querem apenas tomar a decisão. E isso, seria a solução para o problema,
embora, muitas vezes não seja, em algumas situações decidir é o mais fácil e o problema está na
implementação da decisão.
O que é proposto é que o processo judicial estrutural é um processo civil em que as
características do direito material, que é o direito envolvido no litígio estrutural, exigem uma
fluidez de resposta da jurisdição. E se a jurisdição deve dar ao direito material, tutela adequada ao
direito, então, como diz Marinoni, cumprir as promessas do direito material nesse caso, significa

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oferecer um processo que seja fluido o bastante pra que o juiz vá decidindo e vá implementando
aquilo que decidiu e que as decisões tomadas por ele vão sendo revistas, na medida em que
interfiram na realidade.
De fato, isso não tem cara de processos civil que se está acostumado, que é o processo
individual. O processo coletivo tradicional é um processo moldado à luz do processo individual,
como já visto. O que precisa é uma revisão de modelo. Dá pra fazer e é viável.
O processo estrutural é um processo que pretende resolver de uma maneira específica,
peculiar, um litígio estrutural, ou seja, pra entender o que é um processo estrutural, é preciso
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entender o que é um litígio estrutural.


Litígio estrutural é um litígio que decorre do modo como uma determinada estrutura,
pública ou privada, opera. Ao longo da sua operação, essa estrutura vai causando lesões à
sociedade, de modo que chega num ponto em que se tem um conflito entre o grupo, entre a
sociedade circundante daquela estrutura e a estrutura em si.
Estrutura é um termo coringa, podendo substituir por política pública, instituição
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pública, empresa privada, o fato é que é alguma coisa de um impacto social razoavelmente
significativo que afeta um grupo que está em volta daquela estrutura, seja como usuário, seja
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como trabalhador, seja como pessoa que mantém o último relacionamento com aquela estrutura
PEDROSA BARBARESCO

e essa estrutura vai causando impactos sobre aquelas pessoas.


Ao longo do tempo, esses impactos vão se intensificando, de modo que a única
maneira de se resolver aquele conflito de forma duradoura e significativa é mudando o
VICTOR PEDROSA

comportamento estrutural, o comportamento institucional que origina aquele problema.


Isso é necessário? Não, ou seja, só porque existe um litígio estrutural vai existir um
VICTOR

processo estrutural? Não, pode ser que exista um litígio estrutural e que ninguém nunca ajuíze
uma ação estrutural.
O exemplo das creches, já tratado. Ali há um litígio estrutural, mas em muitos
municípios, o problema continua sendo tratado com ações individuais, dando um vaga a essa
única criança e o litígio continua presente.
É bom lembrar, que o fato de um litígio estrutural existir, não impede que as pessoas
ajuízem ação individual. A garantia do acesso á jurisdição deve ser interpretado como uma
garantia individual. Não precisaria sem assim, tem até autores que questionam essa interpretação,
mas é assim que se interpreta hoje, que há uma garantia individual de acesso à jurisdição. Então,
pode ser que pessoas que estão sendo impactadas pela estrutura optem por tentar resolver o seu

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próprio problema, numa espécie de salve-se quem puder.
Outro problema importante é que embora, o processo estrutural muitas vezes se
relacione com políticas públicas, nem sempre o processo estrutural se relaciona com políticas
públicas. Existem processos estruturais que se voltam contra empresas privadas. Muito comum,
inclusive, processos estruturais contra empresas privadas, na área de direito da concorrência.
Em 2020, houve uma ação do Department of Justice, nos EUA, contra google, facebook,
bigtecks, acusando-as de uma dominação indevida no mercado de anúncios e pedindo diversas
medidas de cunho estrutural, pra que essa questão possa ser solucionada. Então, empresas
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estritamente privadas que são as rés.


Hoje, com o crescimento dessas megacorporações privadas transnacionais, é fato que,
as empresas privadas afetam mais que os Estados. Nada impede que existam demandas
estruturais ajuizadas contra empresas privadas.
Portanto, não se pode confundir o conceito de processo estrutural, com o conceito de
intervenção judicial em políticas públicas e também, não pode confundir com um conceito que os
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americanos usam e alguns autores vão usar no Brasil que é o conceito de processo civil de
interesse público.
BARBARESCO -- CPF:

O processo civil de interesse público é o processo civil que se volta a solução de


PEDROSA BARBARESCO

problemas públicos, políticas públicas etc. Esse é um processo que pode ser um processo coletivo,
estrutural ou não estrutural. Ele vai resolver alguma questão, vai buscar atacar ou solucionar ou
tutelar alguma questão relacionada à políticas públicas, não necessariamente de maneira
VICTOR PEDROSA

estrutural.
Pode ser que exista um processo estrutural que também é processo de interesse
VICTOR

público e é até comum que muitos processos estruturais também sejam processos civis de
interesse público.
Agora, não é necessário, é possível um processo estrutural que não seja
necessariamente um processo civil de interesse público.
Outro ponto, se refere ao conselho de processo estratégico.
O processo estratégico é a ideia de se propor uma ação, cujo verdadeiro objetivo não
seja exatamente aquele que consta do pedido. Então, processo estratégicos, muitas vezes são
processo que querem estabelecer um precedente importante para alguma questão.
Em outras situações, o processo estratégico só pretende trazer um determinado
assunto para o debate público. Mas não necessariamente ganhar. Às vezes é uma pretensão que a

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parte sabe que não vai ganhar, mas que acha importante que seja debatido.
Então, é possível existir um processo estrutural que seja estratégico, que seja de
interesse público. Mas esses conceitos não são sinônimos e também, não estão necessariamente
conectados.
Importante pontuar, a relação entre o processo estrutural e a intervenção jurisdicional
em políticas públicas.
Quando se fala de implementação de políticas públicas no Brasil, é preciso ter muito
cuidado pra não se fazer uma apropriação indevida de literatura norte americana.
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Acontece que no Brasil, boa parte das políticas públicas que mais interessam, que mais
tocam ao cidadão, tem previsão constitucional e tem previsão legal e estão devidamente
regulamentadas, em nível infralegal, por exemplo, saúde, educação etc. Tudo isso não falta norma.
Então, o que é mais comum, em termos de políticas públicas é que a gente tenha uma
regulamentação que simplesmente não é aplicada ou implementada. Isso faz com que a política
que exista na vida real, seja diferente daquela que existe no papel.
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Isso é muito diferente dos EUA, em que a Constituição não só não tem direitos
fundamentais, mas mesmo no Bill of rights, que foi aprovado posteriormente, não tem nenhum
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direito de natureza econômica ou de natureza social.


PEDROSA BARBARESCO

Então lá, quando um juiz interfere em políticas públicas, ele estará fazendo uma
intervenção bastante significativa e bastante alheia à normatização constitucional.
O esquema constitucional optou por constitucionalizar direitos fundamentais e optou
VICTOR PEDROSA

por dizer que é o Judiciário que é o guardião da Constituição. Então, há uma margem de atuação
muito significativa para os juízes nesse aspecto.
VICTOR

Logo, quando um juiz diz que o serviço de saúde tem que fornecer a uma pessoa um
determinado medicamento, como regra, essa é aquilo que se chama de intervenção jurisdicional
de mera efetivação. Há um direito que está previsto em ali, que está regulamentado, que está na
lista do SUS, que naquele momento está em falta, seja por qual razão for. E nesse ponto, a pessoa
tem direito subjetivo de receber aquele medicamento. São intervenções jurisdicionais de mera
efetivação.
Por outro lado, há um segundo nível de implementação, que são as intervenções
jurisdicionais de expansão. Essas são intervenções que tem alguma referencia legal, mas que as
mesmo tempo querem expandir um pouco mais, o limite em que se pretende implementar
determinado direito.

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Por exemplo, no caso dos medicamentos excepcionais que são aqueles que não estão
previstos na lista do SUS. Até que ponto o judiciário pode dar esses medicamentos? A questão é
muito mais delicada, porque a situação envolve algo que o legislador não aferiu, não verificou
quanto custaria.
Ao mesmo tempo, há um direito constitucional à saúde estabelecido. O constituinte
pode parecer irresponsável e que talvez não devesse ter previsto tantos direitos fundamentais.
Mas é fato que previu. Então, nesse ponto, o Judiciário tem alguma margem de manobra, mas é
ponderável até que ponto ele pode sair estendendo políticas públicas, com base em conceitos que
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muitas vezes são gerais, são um pouco mais gerais.


Nesse ponto, nessa expansão de políticas públicas é que se está falando em bolas
divididas. Existirão políticas públicas que de alguma maneira, entende-se que são positivas e que
deveriam expandir mesmo e outras situações em que não, em que não deveria ter expandido.
Nesse ponto haverá margem para dúvida.
Existem intervenções judiciais em políticas públicas que são intervenções de criação,
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que são reprováveis. São aquelas intervenções em que se tem o Poder Judiciário expandindo ou
criando algo a partir do nada ou a partir de uma norma extremamente genérica.
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Então, por exemplo, a situação em que se tem o judiciário lá no Amapá, quando houve
PEDROSA BARBARESCO

o apagão, criando um benefício emergencial que não tinha previsão legal nenhuma, como se fosse
o pagamento emergencial da COVID-19.
Nesse caso, é difícil justificar esse tipo de situação, porque expande-se algo que de
VICTOR PEDROSA

fato o legislador não ponderou.


É claro que esse debate não é um debate estritamente de processo civil, é um debate
VICTOR

até mais de constitucional do que de processo civil.


Mas é preciso que se entenda que o processo estrutural pode ser um mecanismo para
intervir em políticas públicas, mas não necessariamente será.
Se for, é bom ou ruim? O professor defende que se for, é muito bom, porque a
alternativa é pior. As alternativas ao processo estrutural são muito ruins, que são a possibilidade
de demandar aquilo que quiser individualmente e os juízes vão acabar decidindo individualmente
e sabe-se que historicamente, essa tomada de decisões individuais costuma ser favorável aos
indivíduos porque é um conta-gotas. O juiz imagina que é apenas uma pessoa e esse copo vai
enchendo à conta-gotas, aos poucos. Não é uma situação que seja positiva para o sistema. E a
outra possibilidade é ter uma ação coletiva de cunho consequencialista, que peça para

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simplesmente fornecer, o que que seja, para todos e pronto. Nenhuma dessas situações é boa.
O processo estrutural permite um avanço muito mais gradual, muito mais eficiente e
ao mesmo tempo menos traumático, do que as alternativas. Esse é o atrativo do processo
estrutural, inclusive para os réus. Até para os réus, o processo estrutural acaba sendo mais
atraente, nesse sentido.
Em muitos casos, o que se faz quando se interfere em políticas públicas, é interferir em
alguma coisa em que o próprio legislador já considerou que merecia intervenção, que merecia ser
implementado e já fez esse juízo e por alguma razão, o Executivo não implementou, seja porque
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não conseguiu, seja porque não priorizou, seja pelo que for. Mas a decisão política foi tomada.
Essa é uma questão importante.
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1.2. PETIÇÃO INICIAL DO PROCESSO ESTRUTURAL


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◦ Descrição do litígio e de suas características


◦ Abertura para o diálogo
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◦ Ponderação quanto ao grau de cooperação do réu para a definição de possíveis técnicas processuais:
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◦ Definição de uma pauta conjunta de atuação


◦ Ordens judiciais sobre questões pontuais (pedidos de tutela provisória para as providências mais
imediatas)
VICTOR PEDROSA

◦ Possível afastamento dos gestores


◦ Pedido de supervisão externa
VICTOR

◦ Intervenção judicial

O membro do Ministério Público que vai propor uma ação de cunho estrutural, o que
se pretende com essa ação? Basicamente, essa petição terá como características, terá como
elementos, a descrição do litígio e das suas características. Os fatos numa petição inicial de um
processo estrutural são a descrição das características do litígio, seus elementos, do que se
demonstra que aquela situação tem um contexto de uma lesão estrutural.
Depois, é usual, porém não obrigatório, que se pretenda uma abertura para o diálogo,
que se pretenda ouvir, convocar, não apenas as pessoas que são usualmente convocadas para um
processo, como réus e advogados, mas sim, um corpo maior de pessoas que transitam naquele

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


universo. É usual que num processo estrutural se queira ouvir os gestores institucionais, os
trabalhadores, os usuários da instituição, as pessoas que com ela se relacionam, para que de fato
se entendam as dinâmicas que estão por ali.
Embora, isso tenha um benefício acidental secundário de prestigiar o debate, o
contraditório, a democratização do processo, esse não é o objetivo precípuo da discussão. O
objetivo precípuo do debate é obter mais informação. Litígios estruturais são litígios irradiados.
Na classificação do professor Vitorelli, de litígios globais, locais e irradiados, os litígios
estruturais são uma subespécie de litígios irradiados. Eles afetam uma sociedade usualmente de
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dimensões consideráveis e afeta subgrupos distintos, de maneiras distintas.


Então, se esses subgrupos não puderem falar, não puderem ser ouvidos, provável que
as partes tenham uma noção equivocada de quais são os verdadeiros problemas que transitam
naquele litígio.
Então, ouvir as pessoas aqui é bom do ponto de vista da democracia, do contraditório,
mas é melhor ainda do ponto de vista da obtenção de informação qualificada. Por isso, que é a
CPF: 407.043.798-30

característica da petição do processo estrutural ter essa abertura ao diálogo.


Outra questão é a definição as técnicas processuais que serão adotadas para fins de
BARBARESCO -- CPF:

intervenção estrutural. Isso depende muito do grau de cooperação que se espera do réu, no caso.
PEDROSA BARBARESCO

Muitos dirão que é característica do processo estrutural, o caráter consensual,


cooperativo. O que se diz é que a consensualidade e o debate são desejáveis, mas não são
essenciais. É possível fazer processo estrutural à força, como tudo na vida é possível. É melhor que
VICTOR PEDROSA

se faça por consenso, porque assim o réu fornecerá mais informações, qualificará as decisões e ao
mesmo tempo, o réu mantém mais controle. Quanto menos consensual for a intervenção, mais o
VICTOR

juiz terá que deslocar o réu para fora do controle institucional.


Então, é possível definir uma pauta conjunta de atuação e nesse primeiro nível, fala-se
numa consensualidade total. Terá uma pauta conjunta de atuação, o juiz e o autor coletivo
funcionarão mais como supervisores e mais como agentes de indução dessa pauta, do que
propriamente pessoas que vão atuar na sua consecução. Por outro lado, se isso não for possível,
será necessário buscar ordens judiciais quanto a questões pontuais. Então, por exemplo, pedidos
de tutelas provisórias para as providências mais imediatas, algum tipo de determinação judicial
quanto a questões mais polemicas, mais significativas, que precisem ser abordadas naquela
situação.
Se isso for pouco é possível pensar num pedido para utilizar como técnica processual,

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


o afastamento dos gestores. Aqui, está-se falando de técnicas, o pedido em si, o pedido material é
sempre a reestruturação. O que está falando aqui, são de técnicas. Então, é possível ter um
afastamento dos gestores como uma técnica processual para facilitar ainda mais a implementação
de medidas relativamente às quais não há consenso.
Outra possibilidade, mais ou menos nesse nível de intervenção é ter em vez de afastar
alguns gestores, determinar uma supervisão externa da instituição. É uma espécie de over side,
nomeia-se alguém, um expert que não vai fazer, mas vai supervisionar o que está sendo feito, para
garantir que o que está sendo feito é a decisão apropriada a se obter o benefício esperado.
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E por fim, o nível de consensualidade zero é a intervenção judicial. Afastam-se todas as


pessoas, nomeiam-se novos gestores e, a partir daí, produz-se uma política totalmente nova a
partir do interventor judicial. Essa intervenção vai se prolongando no tempo, até que se perceba a
possibilidade de retornar os gestores e a instituição não voltar com o problema que vivia antes.
Existem exemplos concretos, no direito brasileiro, de todas essas providências, todas
essas possibilidades, todas essas técnicas com medidas estruturais. Começando pela intervenção
CPF: 407.043.798-30

judicial.
Há um caso interessantíssimo, no Rio Grande do Norte, de intervenção judicial em
BARBARESCO -- CPF:

casas de internação, centros de internação de adolescentes. Num primeiro momento, o juiz vai
PEDROSA BARBARESCO

afastar o diretor, os gestores, e ali, um novo interventor impõe uma nova dinâmica de atuação. Ao
longo do tempo, à medida que a nova dinâmica de atuação vai ganhando vida própria, vão
voltando com os gestores originais e vai se permitindo que a autoridade governamental
VICTOR PEDROSA

competente nomeie novos gestores, se for uma autoridade estadual, por exemplo, o governador,
ao invés desses novos gestores serem nomeados pelo juiz.
VICTOR

Então, essas providências não são estáticas e não são necessariamente estanques. É
possível ter uma pauta conjunta de atuação, com supervisão externa. É possível ter afastamento
dos gestores, mas com pedido de nomeação de outros gestores pelo próprio governador, sem a
necessidade de que seja um interventor judicial. Ao mesmo tempo, é possível o afastamento de
gestores e intervenção judicial total.
A questão é que essas técnicas são exemplificativas de medidas que poderão fazer com
a instituição rume pra essa situação de uma melhoria estrutural. O melhor meio para fazer tudo
isso é por intermédio de tutelas provisórias pontuais, em que o juiz vai fazendo as alterações que
sejam necessárias ou por consenso, se houver consenso suficiente entre as partes.
É cogitável também que se utilizem decisões parciais de mérito, na forma do art.

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


356,CPC. Os professores, Fredie Didier, Zanetti Jr e, Rafael Alexandria, defendem isso, acreditam
que é necessário primeiro uma fase de diagnóstico e definição do que chamaram de problema
estrutural e depois, uma fase de implementação.
O Professor Vitorelli não gosta muito dessa ideia, porque isso gera uma situação muito
estanque. Separa-se o diagnóstico da implementação e o grande problema do processo estrutural,
como já traçado no curso, é exatamente permitir essa fluidez entre diagnostico e implementação.
De modo que não se tenha um diagnóstico fechado pra ser implementado e nem se tenha uma
implementação amarrada por um diagnóstico anterior. Essa conversa é muito importante para
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produzir resultados que sejam de efetivamente transformar aquilo que se espera no contexto do
problema, do litígio, da controvérsia estrutural que está sendo abordada.
Passada a fase postulatória, a petição inicial, com o pedido estrutural, o juiz vai ouvir
um réu, a tendência que se tenha alguma tentativa de conciliação. O professor Vitorelli defende
que essas medidas, seja de conciliação, seja de mediação, no âmbito do processo estrutural
precisam ser conduzidas pelo juiz, para dar mais autoridade à essas audiências, pra que
CPF: 407.043.798-30

compareçam as pessoas que têm a autoridade suficiente para fazer os acordos. Mas supondo que
isso não tenha sido totalmente possível, vai pra fase probatória.
BARBARESCO -- CPF:
PEDROSA BARBARESCO

1.3. FASE PROBATÓRIA

◦ Fase probatória voltada para o passado: a importância da prova estatística na constatação do


VICTOR PEDROSA

litígio
◦ Fase probatória para o futuro: demonstração do potencial das decisões estruturais para a
VICTOR

resolução do litígio.

O que é totalmente característico da fase probatória, do processo estrutural é a ideia


de que se tem duas fases probatórias, uma voltada para o passado e uma voltada para o futuro.
A fase probatória voltada pro passado é a demonstração das características do litígio,
de quanto afeta a sociedade e do porquê ele precisa ser solucionado. Essa fase, como qualquer
outra fase probatória, pode usar qualquer tipo de prova. O professor apenas destaca, uma coisa
que geralmente não é típica, que geralmente não é tratada, mas não quer dizer que é só isso aí
que é admissível.
O professor diz que é apenas possível e é interessante se pensar na utilização de prova
Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza
estatística, prova por estatísticas nessa primeira fase probatória do processo estrutural, porque é
muito difícil demonstrar um litígio estrutural casuisticamente.
Por exemplo, no caso do Walmart, nos EUA, que foi processado numa class action, em
que era acusado de possuir uma estrutura que impedia a promoção de mulheres empregadas em
igualdade de condições com os homens. Como se comprova isso? Não adianta demonstrar o caso
de uma, duas, três mulheres, é preciso demonstrar que estatisticamente, os homens são mais
propensos a serem promovidos na cadeia de comando do Wallmart, do que as mulheres. Assim,
demonstra-se um litígio estrutural e não episódico.
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A grande questão do litígio estrutural é demonstrar o seu caráter estrutural e não seu
caráter episódico. Falta de um medicamento, falta de um leito, pode ser que falte leito no hospital
episodicamente, como no caso da COVID, em que houve algumas explosões episódicas em
determinados municípios faltaram leitos, mas depois voltou a ter. Não é uma questão estrutural, é
uma questão momentânea.
Outras situações se prolongam no tempo e são estruturais, como a falta de vagas em
CPF: 407.043.798-30

creches. Existem municípios que nunca tem número de vagas em creches suficientes para todas as
crianças, o que é uma questão estrutural a ser resolvida.
BARBARESCO -- CPF:

Em algumas situações, não será difícil provar o litígio estrutural, será óbvio, como o
PEDROSA BARBARESCO

caso das creches. Agora, quando houver controvérsia, como o exemplo do Walmart, é muito
importante que seja muito bem caracterizado para não se tornar um evento episódico, como se
fosse resultado do contexto geral daquela situação. Isso é uma hipótese razoável.
VICTOR PEDROSA

A segunda fase é a fase probatória pro futuro, a mais delicada, porque no fundo,
provar que existe um litígio estrutural, por mais que a questão estatística seja importante, pra
VICTOR

provar que o litígio é de fato estrutural e não episódico, não é uma coisa tão difícil, que não
estivesse mais ou menos acostumado a fazer no processo civil, no processo coletivo.
O difícil mesmo é a fase probatória pro futuro que é a situação que está-se tentando
mostrar, em que as providências estruturais que são sugeridas pelo autor na petição inicial, são
capazes de resolver o problema. Isso é difícil.
Há uma fase probatória que é profundamente entremeada com a implementação,
porque aqui se tem uma questão de diagnóstico pro futuro. E diagnósticos tem sempre caráter de
prognose. É difícil até se falar em prova no sentido mais restrito da palavra. O que se tem aqui são
prognoses de providências que poderão resolver o litígio e que deverão ser reavaliadas à medida
que sejam implementadas. É talvez a grande novidade de uma fase probatória estrutural.

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


1.4. DECISÃO ESTRUTURAL

1) a apreensão das características do litígio, em toda a sua complexidade e conflituosidade,


permitindo que os diferentes grupos de interesses sejam ouvidos;
2) a elaboração de um plano de alteração do funcionamento da instituição, cujo objetivo é fazer
com que ela deixe de se comportar da maneira reputada indesejável;
3) a implementação desse plano, de modo compulsório ou negociado;
4) a fiscalização dos resultados da implementação, de forma a garantir o resultado social
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pretendido no início do processo, que é a correção da violação e a obtenção de condições que


impeçam sua reiteração futura;
5) Reapreensão das características do litígio, modificado após a implementação da decisão

O professor defende que a decisão estrutural faz com que o processo seja visto
como um ciclo e não como uma linha reta. É preciso pensar que decidir que algo deve ser alterado
CPF: 407.043.798-30

não quer dizer que será alterado na vida real. A proposta, do professor então, é que não adianta o
juiz dar uma canetada. A decisão não pode se traduzir apenas como uma canetada. Se o juiz não
BARBARESCO -- CPF:

se envolver na fiscalização da implementação e ao mesmo tempo não colher os efeitos dessa


PEDROSA BARBARESCO

implementação pra ir ajustando o conteúdo da própria decisão, não existirão bons resultados.
Por isso, se fala numa decisão como se fosse uma espiral. Primeiro, deve-se ter uma
decisão que primeiro apreende as características do litígio em toda a sua complexidade e
VICTOR PEDROSA

conflituosidade, permitindo a oitiva de diferentes subgrupos de interesses afetados. Uma decisão


em que se elabora um plano de alteração do funcionamento da instituição, cujo objetivo é fazer
VICTOR

com que ela deixe de se comportar da maneira reportada como indesejável. A terceira etapa é a
implementação desse plano, de modo compulsório ou negociado. A quarta etapa, a fiscalização
dos resultados da implementação, de forma a garantir o resultado social pretendido no início do
processo, que é a correção da violação e a obtenção de condições que impeçam sua reiteração
futura. E a última etapa, a reapreensão das características do litígio, modificado após a
implementação da decisão, o que reinicia o ciclo.
Graficamente, o que a decisão faz do processo estrutural, é um ciclo, porque essa
decisão implica o diagnóstico, o planejamento de alteração, o estabelecimento do plano de
alteração, a implementação desse plano, a fiscalização da implementação e por fim, o diagnóstico
do problema, que agora alterado pelas medidas que foram implementadas e fiscalizadas, pode ser
Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza
refeito, pra gerar um novo plano, que será novamente implementado, que será novamente
fiscalizado e que vai gerar um novo diagnóstico que permita novos ajustes. Esse é o tipo ideal de
um processo estrutural, é assim que idealmente seria organizado.
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Isso quer dizer que precisa existir um plano? Não necessariamente. Às vezes existem
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alguns casos de processo estrutural em que não foi elaborado um plano compreensivo de
alteração da estrutura. Foram feitas decisões sucessivas, que foram alterando a estrutura e aí,
essas decisões vão sendo parcialmente revogadas, parcialmente modificadas, à medida que se
BARBARESCO -- CPF:

avança. Ter uma mega decisão é bom porque se tem um planejamento.


PEDROSA BARBARESCO

No livro do professor Vitorelli, é feita uma analogia entre o processo estrutural e aquilo
que os Tribunais de Contas chamam de auditorias operacionais que lembram isso. Elabora-se um
plano pra intervir numa política pública e à medida que esse plano vai sendo implementado, ele
VICTOR PEDROSA

vai sendo fiscalizado.


No processo judicial estrutural, as vezes não existe uma única decisão estabelecendo
VICTOR

essa medida.
O importante é ter esse movimento espiral. O professor Vitorelli acha essa uma figura
de linguagem melhor, do que a utilizada pelo professor Arenhardt que é a figura de cascata de
decisões. Não que esteja errado. O autor fala em cascata de decisões, que são decisões sucessivas,
que vão construindo umas sobre as outras, no rumo da transformação estrutural.
Mais do que uma cascata, uma sucessão, o professor entende que existe uma espiral,
porque está sempre voltando àquilo que já foi decidido antes, pra saber se aquela decisão
continua apropriada. Não é que existe uma progressão necessariamente, em que tópicos
anteriores ficam superados, pelo contrário, a característica mais evidente no processo estrutural, é

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


exatamente a sucessão de decisões que faz com que não apenas se tragam temas novos, mas que
se voltem a temas anteriores, que vão sendo reconstruído a partir da implementação.

1.5. EXEMPLOS PRÁTICOS

O primeiro caso que tem notícia no Brasil de um processo efetivamente estrutural foi
um caso, que já ganhou o prêmio Innovare, que foi conduzido no Ceará, pela juíza Cíntia Brunetta,
num caso em que ela desconhecia a literatura sobre o processo estrutural, mas tinha intenção de
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resolver o problema.
A juíza recebeu um processo em fase de cumprimento de sentença em que se
determinava ao Estado do Ceará, a realização de quatro mil cirurgias ortopédicas que não tinham
sido feitas. Esse caso já havia trânsito em julgado e desejava-se uma espécie de cumpra-se.
Ela teve a perspicácia de perguntar o porquê da falta de 4 mil cirurgias ortopédicas.
Esse é o segredo do processo estrutural, a juíza percebeu que tinha alguma coisa que precisava ser
CPF: 407.043.798-30

repensada. Foi marcada uma audiência e chamou-se além dos advogados públicos, os autores
coletivos, mas os gestores da saúde, os diretores dos hospitais, representante dos médicos
BARBARESCO -- CPF:

ortopedistas, pra entender por que não tinha cirurgia ortopédica no Ceará, porque faltava tanto. E
PEDROSA BARBARESCO

foram descobertas várias questões a partir disso.


A partir das descobertas, já em cumprimento de sentença, em consenso com as partes,
começou a implementar uma transformação estrutural que não fosse realizar simplesmente as 4
VICTOR PEDROSA

mil cirurgias, cumprir a decisão e pronto.


Foi descoberto, por exemplo, que naquele momento, o Estado do Ceará não possuía
VICTOR

uma fila de cirurgias ortopédicas. Os médicos ortopedistas é que tinhas suas próprias filas e as
coisas não avançavam, não tinha uma organização central, isso foi feito no curso do processo.
Existiam várias liminares mandando passar gente na frente, na fila e cirurgia ortopédica é uma
questão muito delicada, porque existe uma determinada capacidade instalada. Não é como um
medicamento em que se tem a ilusão de que se der a liminar pra dar medicamento pra algém, o
gestor público tirará o dinheiro de outro lugar pra dar dinheiro àquela pessoa e
consequentemente, aumentará o investimento em saúde. Cirurgia não é assim. Se a liminar for
concedida pra ser realizada em um, o que vai acontecer é tirar outro da fila e permitir que aquele
um tenha a cirurgia. Isso que se quis evitar.
A juíza tomou a providência em comunicar a existência desse processo pra diversos

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


outros juízes estaduais, pra que se entendessem que fosse o caso, pra que remetessem os casos
individuais para serem apensados nesse cumprimento de sentença estrutural e ali fossem
alocados de acordo com a fila. Evitando-se assim, que o juiz desse a liminar, considerando apenas
a gravidade daquele caso e não a gravidade de todas as outras pessoas que estão aguardando.
Pode ser que aquele caso seja muito grave, mas que também existam muitos outros, ainda mais
graves, que precisem de atendimento, ainda mais imediato que aquele.
O caso ainda não acabou, mas criou a fila geral de cirurgia ortopédica, disponibilizou
essa fila online, deu transparência. Há uma nova estruturação do serviço de cirurgia ortopédica no
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Ceará e que antes não tinha.


Há ainda, como exemplo, a petição do MPF em Minas Gerais, que foi a primeira ACP
com pedido estrutural da história do direito. Essa ação se valeu dos aportes teóricos do processo
estrutural, pra pedir uma reestruturação da Agência Nacional de Mineração, no contexto dos
desastres de Mariana e Brumadinho.
Mariana e Brumadinho não são por si só litígios estruturais, não envolvem o mau
CPF: 407.043.798-30

funcionamento de uma estrutura, envolvem um desastre, que é momentâneo, específico, pontual.


É preciso reparar o desastre, mas por trás desses desastres, existem um litígio
BARBARESCO -- CPF:

estrutural que é a falta de condições de fiscalização por parte da ANM. O que essa ACP pediu foi
PEDROSA BARBARESCO

justamente que a União e a ANM fossem condenadas a fazer uma transformação estrutural das
atividades de fiscalização de barragens, no Brasil.
Como essa ACP é explicitamente estrutural, ela também absorve os aportes do
VICTOR PEDROSA

processo estrutural na redação dos pedidos. O pedido vai dizer que seja determinado a ambos os
réus que apresentem um plano de reestruturação da atividade de fiscalização de barragens, no
VICTOR

Brasil, o qual deverá contemplar medidas estruturais para o planejamento e gestão do setor, no
curto, médio e longo prazo.
Primeiro, há um plano, o estabelecimento de um plano geral de reestruturação.
Segundo, esse plano não é feito pelo Ministério Público, que não dirá como cada situação, se o
sujeito deve ou não fiscalizar a barragem, com qual periodicidade, etc. É a ANM que tem a
expertise e o que se pretende aqui é que a ANM faça o plano e exerça sua competência pra fazer o
plano. E a União deve remunerar essa situação.
Há um diagnóstico com a periodicidade da fiscalização, o diagnóstico com as
necessidades de dinheiro da ANM pra que seja capaz de implementar o plano, o diagnóstico de
pessoal da ANM, levando em conta os quadros próprios e de terceiros, as medidas de prevenção à

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


corrupção, porque é uma atividade de fiscalização muito exposta à corrupção.
Há uma intervenção jurisdicional numa política pública, mas que a intervenção só
serve para dizer ao gestor que há necessidade de mudança e quem dirá o rumo da mudança é o
próprio gestor. Quem implementará as mudanças é o próprio gestor e o judiciário apenas
fiscalizará e supervisionará, entenderá quem são essas pessoas, como operarão e o que precisa ser
feito pra destravar a situação. É muito diferente de uma intervenção jurisdicional tradicional, em
que se pretenda que o juiz tome o lugar do gestor público.
Houve ainda o pedido de cronograma de metas, porque o processo estrutural precisa
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ter uma perspectiva temporal. E, por fim, a dinâmica de avaliação e reavaliação contínua do plano,
com submissão de relatórios ao juiz.
O que se espera da jurisdição é uma supervisão e não uma substituição e a supervisão
vai ser exercida por intermédio de relatórios periódicos. Não é por intermédio de intervenção ou
qualquer coisa assim, porque se supôs no contexto desse caso que isso seria suficiente para
satisfazer o caso. A situação não era uma situação vista como elevada e se teria que pensar em
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medidas estruturais ou estratégias estruturais mais agressivas.


Então, o pedido é sempre a transformação estrutural, ainda que tenha um pedido de
BARBARESCO -- CPF:

intervenção, este é apenas uma técnica, não um fim. Nenhum pedido de intervenção é um fim em
PEDROSA BARBARESCO

si mesmo, é uma regra geral. Sempre se pede a intervenção como meio para outro fim. O meio é
intervir para alguma coisa. Intervir é o meio e o fim é alguma coisa que se chega.
A ideia é ter os mesmos gestores da Agência Nacional de Mineração - ANM, as
VICTOR PEDROSA

mesmas pessoas que estão lá trabalhando e que farão um diagnóstico do problema, produzirão
um plano e esse plano será implementado e revisto ao longo do tempo.
VICTOR

Como qualquer política pública, uma política pública de fiscalização de barragens de


mineração muda com o tempo. Hoje, a fiscalização é feita com a visita de pessoas na barragem,
mas existe muita tecnologia envolvida e pode ser que amanhã seja feito com drone e a pessoa não
precise ir ao local, pode ser que depois isso seja feito por foto de satélite, com telemetria ou outra
ferramenta tecnológica. Por isso, é muito ruim que se mantenha no processo estrutural, a ideia de
diagnóstico e implementação separados. Diagnóstico e implementação são sempre duas coisas
que estão entremeadas. Pode ser que se tenha determinado diagnóstico que diga a quantidade de
pessoal é insuficiente, é insuficiente hoje. Mas as inovações, as mudanças, os novos perfis daquela
política no futuro podem fazer com que a necessidade de pessoa agora, não sejam mais
insuficientes, dado o novo perfil daquela situação.

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Isso é complicado de enquadrar nos conceitos tradicionais de coisa julgada,
cumprimento e conhecimento? Sim. Essa é uma questão a ser pensada com um nível de
delicadeza muito maior no processo estrutural. Agora, o que vai ter aqui, ao se pensar que essa
decisão estará numa sentença, é que a sentença tem exatamente esse conteúdo, que o réu é
obrigado a elaborar um plano e que esse plano estará sujeito a revisões periódicas pelo juízo do
cumprimento. E assim, supera-se de certa maneira esse obstáculo da visão tradicional de processo.
É claro que esse é um jeito de corrigir um problema, porque o problema em si é que o
processo não foi pensado pra dar conta de situações altamente complexas, de situações que não
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se sabe muito bem qual é a solução, qual é o resultado que se pode esperar daquelas técnicas
adotadas para transformação. O que o processo originalmente pensa é tirar o patrimônio de um e
dar para outro.
Agora, é possível fazer isso? Sim. O CPC hoje tem essa plasticidade técnica muito mais
incorporada nas suas disposições, do que teve em outros momentos. Existe o princípio da
cooperação, o art. 139, IV e o art. 536, §1º, art. 497 e diversas aberturas técnicas no código, para
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permitir que a implementação de uma medida estrutural se faça ao mesmo tempo em que
conteúdos cognitivos vão sendo decididos pelo juiz. Isso vai gerar uma supervisão judicial
BARBARESCO -- CPF:

duradoura sobre esse plano. Isso exige que o juiz tenha disposição para atuar, para fazer muitas
PEDROSA BARBARESCO

audiências, para entender o problema, para acompanhar o desenvolvimento daquele problema.


Não se faz um processo judicial estrutural, sem um juiz que esteja disposto. Pensa num
processo estrutural como uma medida que as partes podem fomentar sem o juiz, é difícil. Agora, o
VICTOR PEDROSA

que as partes podem fomentar sem o juiz é uma transformação estrutural extrajudicial.
É muito difícil um processo estrutural sem um juiz disposto a trabalhar com o processo
VICTOR

estrutural. Qual a solução pra isso?


A solução pra isso, em alguma medida, é a tutela extrajudicial estrutural. As técnicas
extrajudiciais de tutela coletiva também podem ser redirecionadas e redimensionadas, para
resolver estruturalmente os conflitos sobre os quais ela incide.
A vantagem disso é não ter o personagem juiz, que é mais uma pessoa para trabalhar
com o conflito que é muito complexo. A desvantagem, é que bem ou mal, o juiz agrega uma dose
de autoridade significativa ao processo estrutural. É muito difícil que esse nível de autoridade seja
contrabalançado apenas com a presença do Ministério Público, menos ainda, com a presença de
outros legitimados coletivos. O Ministério Público ainda tem um certo grau de autoridade, diante
das outras autoridades, que os outros agentes públicos etc. Agora, ainda assim, não é a mesma

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


coisa.
As técnicas extrajudiciais de tutela coletiva aplicadas ao processo estrutural vão exigir
algum grau de consenso, de não belicosidade, que o processo não necessariamente exige. O
processo supondo que o juiz queira, pode-se, como se diz pragmaticamente, “partir pra cima”.
Agora, no processo é preciso lidar com todas as dificuldades de respeito ao processo
civil originalmente desenhado, para conflitos privados e que pode não se dar tão bem assim, a
depender da visão do juiz, num contexto estrutural. As técnicas extrajudiciais são altamente
plásticas, permitem muitas alternativas e possibilidades de trabalho, inclusive de cunho estrutural.
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O primeiro caso a ser analisado é o caso da ação estrutural da ANM, proposta pelo
MPF em Minas Gerais, em que se pedia a reestruturação da fiscalização das barragens, no Brasil.
Esse caso gerou um Acordo judicial estrutural homologado e em fase de implementação ao longo
dos anos. A cláusula sexta diz que a ANM elaborará um plano de reestruturação da atividade de
fiscalização de barragens, no Brasil, respeitada sua autonomia institucional.
O acordo praticamente transcreve o teor da petição inicial, dizendo que o plano
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contemplará medidas de planejamento e gestão do setor em curto, médio e longo prazo, incluindo,
diagnósticos de barragens, expertise necessária para fiscalizar, a periodicidade da fiscalização,
BARBARESCO -- CPF:

técnicas de controle e monitoramento, gestão de risco, medidas propositivas para fortalecimento


PEDROSA BARBARESCO

e otimização da fiscalização, inclusive recursos materiais e necessidade de pessoal, técnicas de


prevenção da corrupção e prazo de 12 meses para implementação do plano, a contar da
finalização dos cronogramas dos grupos de barragens a serem fiscalizadas. A revisão do plano de
VICTOR PEDROSA

reestruturação e fiscalização será feito em 2021, cabendo à agência adotar as medidas necessárias
para garantir os recursos.
VICTOR

Então, a ANM concordou em fazer um acordo estrutural para transformar a sua própria
atividade, com acompanhamento do juízo e com a possibilidade de revisão das metas
estabelecidas, na medida da interpretação. Ou seja, é o protótipo de um TAC estrutural, com
diagnóstico, planejamento, implementação e fiscalização (numa espiral).
Isso é muito semelhante àquilo que os autores que estudam políticas públicas vão
chamar de ciclo de vida, ou ciclo das políticas públicas, que em geral funcionam assim. Se se quer
intervir em políticas públicas é preciso intervir seguindo a mesma lógica que essas políticas
seguem.
Esse acordo (TAC estrutural) foi feito em juízo, mas nada impediria que tivesse sido
feito extrajudicialmente, caso as partes estivessem de acordo.

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


Outro exemplo, é o problema das creches no Estado de São Paulo. Embora se tenham
diversas ações civis públicas, contra diversos municípios do Estado, a ACP 0150735-
64.2008.8.26.0002, contra o município de São Paulo em que foi elaborado um acordo estrutural,
um acordo judicial, em que o município se compromete a criar no mínimo 85.500 novas vagas em
creches, num período de 31 de dezembro de 2016 a 31 de dezembro de 2020.
Ou seja, o município teria quatro anos para implementar o cronograma para as
crianças de zero a três anos. Em vez de se determinar que a matrícula fosse feita imediatamente,
criou-se um limite de prazo e um horizonte de meta, qual seja, 85.500 vagas em quatro anos.
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O que também seria interessante nesse acordo, seriam metas parciais. É ruim quando
se dá um prazo longo, com uma super-meta no final, porque se a meta não se realizar, perdeu-se
muito tempo e ao mesmo tempo não tem base, naquele acordo, para cobrar ao longo daquele
tempo. Se chegasse ao final de 2020 sem a criação de nenhuma vaga, seriam perdidos quatro anos.
Por outro lado, não tem como cobrar, porque a meta, a obrigação só vence ao final dos quatro
anos.
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É a lógica, no direito civil, do inadimplemento antecipado. É preciso criar determinados


indicadores ao logo desse tempo, que mostrem que aquela obrigação caminha para ser
BARBARESCO -- CPF:

descumprida e com isso exigir correção de rumos, do gestor, do réu. Ter base para fazer essas
PEDROSA BARBARESCO

exigências.
Mas esse acordo tem, apesar da pequena crítica, uma questão muito importante que é
a preocupação com os efeitos colaterais. O grande problema de se intervir em políticas públicas e
VICTOR PEDROSA

o grande problema de intervir em qualquer realidade complexa é que nas palavras de Lon Fuller,
uma realidade complexa é como uma teia de aranha, é muito difícil mexer num fio só, se for
VICTOR

alterado um fio, altera-se a configuração da teia inteira.


Isso acontece com as políticas públicas, não é possível mexer na política pública de
educação profundamente e não correr o risco de afetar a saúde, a assistência social, porque os
recursos vêm do mesmo lugar. Se o município for colocado com foco muito grande na saúde, pode
ser que ele perca o foco da assistência social.
Pode ser que se for estabelecido pro gestor uma meta muito ousada, considerando
que ninguém gosta de descumprir metas, de descumprir acordos, muito menos descumprir
acordos que estão submetidos à fiscalização do Ministério Público e do Poder Judiciário etc, é
possível que a pessoa comece, de alguma maneira, a manipular o cumprimento dessa meta.
Esse acordo é muito interessante porque tem algumas preocupações qualitativas,

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


exatamente para evitar que o número 85.500 se torne um número mágico, a ser atingido a
qualquer custo, independentemente da qualidade do que se está criando.
Então, por exemplo, o acordo fala em regionalização. Serão priorizadas as diretorias
regionais que registraram em 31 de dezembro de 2016, os maiores números de demandantes não
atendidos. Então, é bem especificado qual a abrangência territorial, quais as prioridades
territoriais, quem é a população que vai ser beneficiada pelo acordo ou que será computada para
fins de cumprimento do acordo. Essa preocupação é muito importante.
O professor entende que o Ministério Público e a área pública em geral, possui um
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problema para fazer TAC’s, porque acredita-se que por se viver num regime de direito público, a
autoridade é a solução para tudo. E esquece-se que o acordo é um acordo e que vale o que está
escrito. Então, pessoas boas para fazer esse tipo de acordo é a pessoa que faz contrato, que tem
origem no direito civil, porque esse pessoal é pessimista e coloca cláusula pra tudo e é preciso ser
pessimista, é preciso minudenciar o máximo possível, exatamente para evitar que se frustre de
alguma maneira, o cumprimento da cláusula ou da obrigação estabelecida.
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Na cláusula 2, definiu-se a busca progressiva de atendimento nos seguintes


agrupamentos e o número de educadores necessários, por número de crianças, porque senão é
BARBARESCO -- CPF:

muito fácil criar vagas. Por exemplo, no berçário I são 7 crianças por educador. Se for um gestor
PEDROSA BARBARESCO

que quer simplesmente cumprir a meta, ao invés de colocar 7, coloca 10 crianças. Ampliou-se em
50% o número de vagas, sem fazer rigorosamente nada. É preciso ter muito cuidado em relação a
isso.
VICTOR PEDROSA

Um autor norte americano, Peter Margolis, fala disso também, em relação ao


atendimento, quando o problema é qualitativo. Ele está tratando das questões de hospitais
VICTOR

psiquiátricos nos EUA. Os hospitais começaram a ser muito pressionados porque não eram
capazes de prover assistência, numa determinada qualidade e passaram a atender menos gente,
porque assim, sobraria dinheiro para melhorar a qualidade. Mas isso não é bom, porque tem
menos disponibilidade do serviço.
Então, as duas coisas são possíveis. É possível frustrar o atendimento de muita gente,
fornecendo atendimento de luxo para poucas pessoas, o que não é bom, apesar de serem
cumpridas metas qualitativas. Ou, pode-se cumprir metas quantitativas, esculhambando com a
qualidade, como por exemplo, ampliando o número de crianças por educador nas creches.
Preocupações qualitativas são sempre muito relevantes para acordos estruturais.

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


1.6. RECOMENDAÇÕES ESTRUTURAIS
Por fim, é preciso tratar das recomendações estruturais.
O instituto da recomendação também é passível de utilização como um método de
solução de conflitos estruturais.
O instituto da recomendação é regulamentado pela Resolução 64 de 2017, do CNMP,
observa-se que embora a recomendação não seja compulsória, é um ato oficial, formal, por parte
do Ministério Público e eventualmente de outras pessoas, para a implementação ou correção de
rumos de uma política.
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Então, nada impede que se faça uma recomendação estrutural. O gestor, de fato, não é
obrigado a acatar, porém, nem tudo pra dar resultado, tem que ser obrigatório. Muitas vezes, o
que o gestor precisa é de um documento que o faça romper, o que a doutrina chama de caras de
inércia política e cargas de inércia burocrática. É a situação em que um determinado problema não
é resolvido, porque não existe vontade política ou não é resolvido porque há muita burocracia
cercando a situação e que não consegue ser resolvida.
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Se existir uma recomendação, esta pode ter o grande mérito de romper com essas
cargas de inércia política e/ou burocráticas, exatamente trazendo aquele problema pro foco de
BARBARESCO -- CPF:

atenção daquele gestor, de uma maneira que dê a ele uma saída pra um problema, que muitas
PEDROSA BARBARESCO

vezes ele já queria resolver.


Às vezes existe muita desconfiança do gestor público, mas é fato que existem gestores
públicos que querem resolver os problemas e se estes forem resolvidos, ele será bem avaliado,
VICTOR PEDROSA

bem-quisto. E pode eventualmente, permitir que ele continue a realizar as eventuais metas ilícitas
que ele possua.
VICTOR

A recomendação destrava esses cenários. A recomendação de exemplo, foi uma


recomendação de cunho estrutural para trará um problema do excesso de demanda que o INSS
sofreu ao longo dos anos 2019 e 2020, pela falta de servidores e pelo aumento de demanda
previdenciária, decorrente da reforma da previdência. Muitas pessoas impetraram mandados de
segurança e as liminares foram concedidas. Surgiu a fila do mandado de segurança, ao invés de ter
uma fila normal, criou-se a fila do mandado de segurança.
Isso acontece muito quando existe capacidade limitada, na estrutura que está sendo
demandada.
O professor Vitorelli, em pesquisa acadêmica, encontrou mais de uma referência na
imprensa, de pessoas dizendo que em determinados municípios só se matriculava em creche com

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


liminar. A fila não era mais na Secretaria de Educação, mas na Defensoria Pública.
No INSS era a mesma forma, ou se tinha um mandado de segurança com uma liminar
deferida ou não seria atendido.
A recomendação propôs que o INSS tomasse providências para que fosse organizada
uma fila virtual de julgamentos. De modo que houvesse previsibilidade por parte das pessoas, de
quanto tempo o julgamento demoraria. Muitas vezes as pessoas entravam com mandado de
segurança porque não tinha ideia de quando o requerimento seria julgado. Dando-se mais
transparência a quantas pessoas estão na frente daquela pessoa, isso já pode ser suficiente para
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reduzir o estímulo à litigância.


Também foi recomendado que o INSS se abstivesse de priorizar os segurados que
ingressavam em juízo, pois, em verdade, o fato da pessoa ingressar ou não em juízo não era
solução, não podia ser critério. E dessa forma, recomendou-se a confecção de um diagnóstico, de
um planejamento e a implementação de um plano pra resolver o problema, na medida do possível.
A recomendação perdeu o objeto, porque o INSS fez com o MPF um acordo mais
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amplo, no âmbito do STF, num Recurso Extraordinário, com repercussão geral. É esse acordo que
está vigorando e ainda não é possível saber se o problema será resolvido. É um problema
BARBARESCO -- CPF:

altamente complexo, mas foi esse acordo que estabeleceu as perspectivas de solução pra esse
PEDROSA BARBARESCO

conflito, embora, a recomendação tivesse providências também de cunho estrutural.


Um grande problema do processo estrutural é saber até quando vai o processo. As
políticas públicas não acabam, então até quando terá a supervisão judicial de uma política pública?
VICTOR PEDROSA

Se isso não tiver fim, daqui a pouco existirá um processo estrutural pra cada política pública e
passa a ter uma política pública em cogestão, o Executivo, o Judiciário cogerindo uma política, o
VICTOR

que é muito ruim.


É preciso definir um modo de acabar. O Professor Vitorelli propõe dois modos de
acabar, um é o atingimento de certos indicadores e o outro é um prazo pré-determinado. A
atuação jurisdicional precisa ter fim, apesar da possibilidade de não ter resultado, de não ter
qualquer melhoria.
A realidade ao final será tão diferente de quando se começou que talvez vale a pena
começar de novo. Atingido certos indicadores, acaba. Se aqueles indicadores falharam daí pra
frente, mas até aquele momento eles estavam atendidos.
O MPF, no que tange ao INSS, tem vários acordos anteriores para estabelecer
indicadores quanto ao tempo de tramitação etc. Isso é sazonal. Tem épocas que esses acordos são

Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza


cumpridos, tem épocas que não são. Geralmente, os acordos vão prever um prazo de
monitoramento pré-definido, exatamente para evitar que eles se eternizem e fique tendo um
acompanhamento jurisdicional indefinido.
No que tange ao direito do trabalho, o TST chegou a conclusão de que os TAC’s
trabalhistas podem ser alterados, no caso de alteração superveniente da norma.
Por exemplo, uma empresa faz um TAC para garantir determinados padrões de
segurança do trabalho. No futuro a norma muda e esses padrões não as mais exigíveis, o TAC
poderá ser desfeito, segundo o TST.
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Essa conclusão é altamente duvidosa. A primeira pergunta é que é se uma empresa


tiver sido condenada, não teria que continuar cumprindo essas condições? Ou seja, se essa
alteração superveniente da norma incidiria também pra desfazer a coisa julgada, o que parece ser
muito duvidoso. E segundo, porque se coloca o risco, a álea do acordo afastada da empresa. A
empresa pode fazer o acordo que quiser, sabendo que no futuro, se a norma mudar, está tudo
certo, não se preocupa em negociar o prazo. Se entender que um prazo é importante, ela que
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negocia o prazo.
Essa ação da ANM previu um prazo de monitoramento a partir do atendimento de
BARBARESCO -- CPF:

determinados indicadores.
PEDROSA BARBARESCO

1.7. VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM PROCESSO ESTRUTURAL


VICTOR PEDROSA
VICTOR

A grande vantagem é que o processo estrutural é dialogado, então, consegue-se obter


ou espera-se que ele seja, que tenha mais oportunidade de diálogo para obter mais informações,
Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza
sobre a questão.
O processo estrutural tende a ser mais colaborativo, porque não se quer tirar tanta
autonomia do gestor, quanto em outras circunstâncias se tira num processo comum. É mais
isonômico pro usuário, tendo em vista que todos serão atendidos, a partir de um critério único
definido na reestruturação, em vez de cada pessoa ser atendido, quando o juiz do seu próprio
processo resolver dar a liminar ou quando a própria pessoa resolver ingressar em juízo. Então, isso
tudo amplia o espectro de informações disponíveis, permite que se lide com os efeitos colaterais e
com as especificidades de outras políticas públicas, que também estejam a cargo daquele mesmo
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gestor.
Ou seja, o processo estrutural tem um lente mais ampla, em relação aos efeitos da sua
própria incidência, sobre as políticas públicas do que um processo individual, ou mesmo, de um
processo coletivo não estrutural.
Por outro lado, o processo estrutural também tem suas desvantagens.
PEDROSA BARBARESCO
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O processo estrutural dá muito mais trabalho, de modo que é preciso que se escolha
bem, os casos que serão tratados a partir dessa perspectiva e que casos não serão tratados, e isso
impacta sobre a capacidade de trabalho dos envolvidos. Segundo, é preciso criar estímulos
racionais para o consenso. Pelo justiça em números, sabe-se que a taxa de acordos no Brasil é
muito baixa. E é muito baixa, sobretudo porque os réus não tem estímulo para fazer acordo, o
processo é lento, barato e não pune muito quem está errado. Terceiro, se o processo estrutural é
dialogado, é preciso criar uma cultura do diálogo. Infelizmente, sobretudo os advogados, os
operadores do direito em geral, cultivam um acultura de litigância que não permite que as pessoas
conversem e isso é muito ruim e precisa ser superado. E por fim, tal como uma política pública
pode dar errado, o processo pode dar errado também. Então, ter uma intervenção jurisdicional
Material elaborado por Wanessa Ferreira Ribeiro Cavalcante Mazza
sobre uma determinada política pública não é garantia de sucesso. Pode ser que muito se faça,
muito se invista e no final o resultado não seja bom e não se consiga trabalhar com uma solução
para aquele conflito.
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