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CRÔNICAS PARA DISSERTAÇÃO

O Grande Homem (O Óbvio Ululante, posição 299.)


“o grande homem é o menos amado dos seres”. A crônica narra as impressões do
pequeno Nelson com a morte de um tal Lemos, um Zé Ninguém. O seu enterro foi
acompanhado de choro copioso, de gente de todos os cantos para acompanhar. O exato
oposto do enterro de Guimarães Rosa, pouco sentido por seus colegas de ABL. “Conto
o fato para concluir: por que todo esse elenco de uivos? Explico: por que morrera o
antigênio, o antigrande homem. É fácil amar e chorar o pobre-diabo. Ainda por cima,
aos dezessete anos, tivera varíola. Era chamado de ‘Lemos Bexiga’. Ao passo que
somos ressentidos contra o sujeito que funda uma língua, inventa um Brasil e tira um
sertão inédito da própria cabeça como de uma cartola.”

A Grande Dor Não se Assoa (O Óbvio Ululante, posição 343)


Interessante reflexão sobre o humor fundamental nas cenas de grande drama
envolvendo a morte e os enterros. A dor mais aguda tem um lado fundamentalmente
cômico. Depois, voltando à carta de Otto e à morte de Guimarães: “As admirações são
pérfidas e, via de regra, escondem o nosso ressentimento e nossa impotência”.

Negro Burro (O Óbvio Ululante, posição 691)


“A morte daria ao velho negro o seu último momento de grande homem. Foi um
enterro gigantesco, pago pelo Estado. Era a época em que o fato de morrer promovia
qualquer um. A vida eterna ainda não estava liquidada; e um caixão de quinta classe era
cumprimentado com a mesma solenidade. O enterro desfilou lentamente, teve um
itinerário caprichoso, contornando as praças, atravessando as avenidas principais, por
debaixo das sacadas apinhadas.”

Ama-se, trai-se, mata-se ‘pra frente’ (O óbvio ululante, posição 1435). “No
momento, lavram, no Brasil, duas indignações soberbas: - uma é o ordenado do
Chacrinha. Assim somos nós. Nenhum brasileiro, vivo ou morto, está disposto a admitir
que outro brasileiro ganhe, por mês, oitenta milhões.”

A viuvez de Sarong (O óbvio ululante, posição 2198): “Nunca se desejou tão


pouco e repito: - nunca a mulher foi tão secundária para o homem, nunca o homem foi
tão secundário para a mulher.” “Na praia ou, pior, num campo de nudismo, há uma
distância, uma distância que permite um mínimo de idealização da nudez. O olho não
está tão próximo que possa descobrir uma pequena cicatriz. Ao passo que a TV elimina
qualquer distância. Sua lente aproxima e amplia o umbigo e a cicatriz. Em todos os
bailes a função da imagem foi essa berrante ampliação.”

Um coração jamais suspeitado (O óbvio ululante, posição 2290): “Pode


parecer uma verdade exagerada, violentada, mas eu diria o seguinte: - no Brasil, a glória
está mais no insulto do que no elogio. Se não me entendem, paciência. Mas ouçam uma
boa e honrada conversa de brasileiros com brasileiros. Reparem como nós cochichamos
o ditirambo e berramos o ultraje. Por coincidência, só ultrajamos os melhores.
Eu diria ainda que a nossa reputação é a soma dos palavrões que inspiramos nas
esquinas, salas e botecos.”

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