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GÊNEROS LITERÁRIOS

Prof. Anderson da Costa


OS GÊNEROS LITERÁRIOS
A tradição fixou uma classificação básica em três gêneros, que
englobam inúmeras categorias menores comumente chamadas de
subgêneros:

Narrativo (ou épico)

Lírico

Dramático
ORIGEM DOS GÊNEROS:
A tríade de Aristóteles
Poética (335 a.c) - Aristóteles

GÊNEROS
Lírico Épico Dramático
subjetivo subjetivo-objetivo objetivo
Releitura romântica
 Séc. XIX - Leitura “moderna” de Aristóteles

 Românticos alemães - (F. Schlegel)

GÊNEROS
Lírico Narrativo Dramático
subjetivo subjetivo-objetivo objetivo

 Séc. XIX – expansão do modelo (Hölderlin, Schelling, Goethe, Hegel);

 Perpassa o séc. XX;


Condição prévia da tríade:

Criação é portadora de mimese:

representa – ações e acontecimentos

Poeta – cabe criar

Criação é uma ficção


Modelo de Käte Hamburger

Dois gêneros:

 Ficcional

 Não-ficcional
Ficcional

 “eu” do autor ou narrador apaga-se

Épico/Dramático
 “eu” fictício (Personagem)
Não-Ficcional

 Recusa a ficção;

 Exprime-se através de um “Eu-Lírico”

cria uma impressão da realidade

 Crítica ao monopólio da Narrativa;


 Propõe um duopólio Narrativa/Poesia
OS GÊNEROS LITERÁRIOS

Narrativo (ou
épico)

Lírico

Dramático
GÊNERO LÍRICO
 Presença do Eu-lírico ou voz
poética, que exprime suas
emoções;

 as obras líricas tendem a ser


breves;

acentuam o ritmo e a
musicalidade da linguagem;

 Aparece preferencialmente
em forma de poema, isto é, em
versos.
Poema da Gare do Astapovo

O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos


oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas
pobres do mundo,
Contra uma parede nua...
Sentou-se... e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e
fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo sozinho àquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali à sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um
pouco!
A Morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora
incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o
grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele
fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos os que realizam os velhos
sonhos da infância!

(Mário Quintana)
O GÊNERO DRAMÁTICO
 Os fatos são apresentados
diretamente ao espectador;

 Presença de atores;

 As obras são escritas em


versos ou em prosa para a
representação teatral;

 Sua realização plena como


obra de arte só pode ocorrer no
palco.
ÉDIPO-REI (fragmento)
ÉDIPO
Ó nuvem sombria, execrável treva que caiu sobre mim, escuridão pavorosa e
sem remédio! Ai de mim! Como me traspassam as dores do meu sofrimento e a
lembrança de meu infortúnio!

CORIFEU
No meio de tanta amargura é natural que te lamentes, infeliz, como vítima de
duas desgraças.

ÉDIPO
Tu és o único amigo que me resta, visto que tens pena deste mísero cego... Eu
sei que estás aí... Na escuridão em que estou, reconheço tua voz!

CORIFEU
Que horrível coisa fizeste, ó Édipo! Como tiveste coragem de ferir assim os
olhos? Que divindade a isso te levou?
ÉDIPO
Que morra aquele que, na deserta montanha, desprendeu meus pés feridos, e
salvou-me da morte, mas salvou-me para minha maior desgraça! Ah! Se eu
tivesse então perecido, não seria hoje uma causa de aflição e horror para mim, e
para todos!

CORIFEU
Também eu assim preferiria!

ÉDIPO
Eu não teria sido o matador de meu pai, nem o esposo daquela que me deu a
vida! Mas... os deuses me abandonaram: fui um filho maldito, e fecundei no seio
que me concebeu! Se há um mal pior que a desgraça, coube esse mal ao infeliz
Édipo!

CORIFEU

Teria sido razoável tua resolução, ó Édipo? Não sei dizer, na verdade, se te seria
preferível a morte, a viver na cegueira.
O GÊNERO NARRATIVO

 Relato de um enredo
imaginário ou não;

 situado num tempo e num


lugar determinados;

 envolvendo uma ou mais


personagens;

Charles Bukowski
SUBGÊNEROS NARRATIVOS

Romances;

Novelas;

Contos;

Crônicas;

Fábulas;

Poemas épicos.
UM HOMEM DE CONSCIÊNCIA
Chamava-se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos
homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o
mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos
importância no mundo era João Teodoro.
Nunca fora nada na vida, nem admitia a hipótese de vir a ser
alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos
queriam: mudar-se para terra melhor.
Mas João Teodoro acompanhava com aperto de coração o
desaparecimento visível de sua Itaoca.
– Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem
bons – agora só um, e bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje
mal dá serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de
cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o
restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando…
João Teodoro entrou a incubar a ideia de também mudar-se, mas
para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de
maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo
possível.
– É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está
perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então eu
arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Um dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João
Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se
fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que não era nada,
nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada…
Ser delegado numa cidadezinha daquelas é coisa seríssima. Não
há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta,
que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma
coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do
de Itaoca!
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em
claro, pensando e arrumando as malas. Pela madrugada, botou-as
num burro, montou no seu cavalinho magro e partiu.
Antes de deixar a cidade, foi visto por um amigo madrugador.
– Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e
bagagens?
– Vou-me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca
chegou mesmo ao fim.
– Mas como? Agora que você está delegado?
– Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a
delegado, eu não moro. Adeus.
E sumiu.
(Monteiro Lobato)

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