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2023

FORMAÇÃO

SNC-AP: Elaboração
e preparação das
demonstrações
financeiras

ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS


SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

FICHA TÉCNICA

Título: SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras

Tipo de formação: Plug-in 55423 | DIS 6321

Autores: Susana Margarida Faustino Jorge

Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OCC

© Ordem dos Contabilistas Certificados, 2023

Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

ÍNDICE
Objetivos, competências a adquirir e programa ........................................................................ 4
MÓDULO I................................................................................................................................... 6
1. Introdução ........................................................................................................................... 6
2. A prestação de contas nas entidades sujeitas ao SNC-AP ................................................ 15
2.1 Entidade de reporte................................................................................................... 15
2.2 Contexto da prestação de contas .............................................................................. 16
2.3 O relato financeiro de finalidade geral nas entidades públicas em Portugal ........... 20
2.4 Relato financeiro, transparência e accountability..................................................... 24
2.5 Auditoria do relato financeiro ................................................................................... 28
MÓDULO II................................................................................................................................ 31
3. As Demonstrações Financeiras de acordo com a NCP 1................................................... 31
3.1 Elementos e bases de apresentação das demonstrações financeiras ...................... 31
3.2 Principais componentes do conjunto das demonstrações financeiras ..................... 38
3.3 O Balanço ................................................................................................................... 39
3.3.1 Caracterização geral............................................................................................... 39
3.3.2 Comparação com o normativo anterior ................................................................ 45
3.4 A Demonstração dos Resultados por Naturezas ....................................................... 49
3.4.1 Caracterização geral............................................................................................... 49
3.4.2 Comparação com o normativo anterior ................................................................ 52
3.5 A Demonstração das Alterações no Património Liquido ........................................... 54
3.5.1 Caracterização geral............................................................................................... 54
3.5.2 Comparação com o normativo anterior ................................................................ 56
3.6 A Demonstração de Fluxos de Caixa ......................................................................... 56
3.6.1 Caracterização geral............................................................................................... 56
3.6.2 Comparação com o normativo anterior ................................................................ 61
3.7 O Anexo ..................................................................................................................... 62
3.7.1 Caracterização Geral .............................................................................................. 62
3.7.2 Comparação com o normativo anterior ................................................................ 63
MÓDULO III............................................................................................................................... 69
4. Caso prático ilustrativo ..................................................................................................... 69
Legislação e bibliografia ........................................................................................................... 78

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Objetivos, competências a adquirir e programa


1 – OBJETIVOS:

Consideradas componentes principais da prestação de contas, esta formação à distância tem


como objetivo principal apresentar as principais demonstrações financeiras individuais do
relato anual de uma entidade pública, no âmbito do Sistema de Normalização Contabilística
das Administrações Públicas (SNC-AP).
Tomando como referência a Norma de Contabilidade Pública (NCP) 1, procura-se explicar o
conteúdo e respetiva organização dos principais elementos dentro das demonstrações
financeiras, incluindo o anexo.
Procurar-se-á também apresentar uma análise comparativa com o normativo anterior, ou
seja, com o Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP) e planos setoriais deste derivados,
procurando realçar as principais alterações trazidas pelo SNC-AP.
Deste modo, os formandos serão capazes de avaliar as transformações que irão decorrer ao
elaborar as novas demonstrações financeiras no contexto no novo normativo, aproximado às
normas internacionais do sector público e também às NCRFs do SNC empresarial.

2 – COMPETÊNCIAS:

Esta formação, dividida em três blocos formativos, dotará os CC dos conteúdos teóricos e
práticos suficientes sobre a temática em apreço, em prol duma correta aplicação do disposto
na NCP 1 – Estrutura e Conteúdo das Demonstrações Financeiras, para a preparação das
contas individuais e do relato financeiro das entidades públicas.

3 – PROGRAMA:

• MÓDULO I
1. Introdução
2. A prestação de contas nas entidades sujeitas ao SNC-AP
2.1 Entidade de reporte
2.2 Contexto da prestação de contas
2.3 O relato financeiro de finalidade geral nas entidades públicas em Portugal
2.4 Relato financeiro, transparência e accountability
2.5 Auditoria do relato financeiro

• MÓDULO II
3. As Demonstrações Financeiras de acordo com a NCP 1
3.1 Elementos e bases de apresentação das demonstrações financeiras
3.2 Principais componentes do conjunto das demonstrações financeiras
3.3 O Balanço
3.3.1 Caracterização geral
3.3.2 Comparação com o normativo anterior
3.4 A Demonstração dos Resultados

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3.4.1 Caracterização geral


3.4.2 Comparação com o normativo anterior
3.5 A Demonstração das Alterações no Património Líquido
3.5.1 Caracterização geral
3.5.2 Comparação com o normativo anterior
3.6 A Demonstração de Fluxos de Caixa
3.6.1 Caracterização geral
3.6.2 Comparação com o normativo anterior
3.7 O Anexo
3.7.1 Caracterização geral
3.7.2 Comparação com o normativo anterior

• MÓDULO III
4. Caso prático ilustrativo

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MÓDULO I
1. Introdução
O novo Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC-AP),
aprovado pelo Decreto-lei nº 192/2015, de 11 de setembro, constitui um dos marcos mais
importantes da reforma da contabilidade pública em Portugal nas últimas décadas.
A reforma, que se pode afirmar, começou em 1990 com a Lei de Bases da Contabilidade
Pública (Lei nº8/90, de 20 de fevereiro), tendo culminado com a aprovação do Plano Oficial
de Contabilidade Pública (POCP) em 1997 (Decreto-lei nº 232/97, de 3 de setembro),
constituiu sem dúvida um passo fundamental para a contabilidade pública do nosso país.
Nessa fase, as inovações consistiram fundamentalmente na introdução da contabilidade
patrimonial em regime de acréscimo e digráfica, em complemento à contabilidade orçamental
em regime de caixa unigráfica e numa aproximação ao sistema de contabilidade empresarial
(então assente no Plano Oficial de Contabilidade), contribuindo assim para uma harmonização
dos sistemas contabilísticos público e privado, dentro da corrente da Nova Gestão Financeira
Pública.

Volvidos 20 anos após a entrada em vigor do POCP, e tendo a contabilidade empresarial


conhecido uma reforma considerável com a adoção das normas internacionais, era tempo de
avançar com estas também para o setor público, não só continuando com a aproximação às
práticas de contabilidade e relato financeiro do setor empresarial, como avançando com um
processo de harmonização internacional, que também parece inevitável no contexto do setor
público.
Adicionalmente, no contexto do POCP e dos planos setoriais dele derivados (nomeadamente
para as autarquias locais, ministério da saúde, educação e segurança social), vários problemas
surgiram que impulsionaram a necessidade de avançar com o SNC-AP. A saber:
• Normalização contabilística pública fragmentada e inconsistente
o Sector empresarial – avanço do SNC no sentido da adoção de normas adaptadas das
IAS/IFRS;
o Sector público – manutenção de um sistema contabilístico baseado em normas
nacionais (POCP e diferentes Planos sectoriais do sector público – POC-Educação,
POCMS, POCAL e POCISSSS);
• Perda das bases concetuais do POCP – sendo baseado no POC empresarial ao ser
revogado este, desaparecem as bases conceptuais de referência;
• Coexistência de sistemas contabilísticos baseados em princípios (como são os baseados
nas IAS/IFRS, SNC) com a normalização contabilística do sector público, que é mais
baseada em regras;
• Ausência de uma estrutura concetual;
• Orientações para a Contabilidade de Custos/Gestão só existente no POCAL e no POC-
Educação;

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• Regras para preparação de contas consolidadas só existentes no POC-Educação;


necessidade de orientações gerais pela ex-CNCAP (Orientação nº1/2010, publicada pela
Portaria nº 474/2010, de 1 de julho) e pelo SATAPOCAL para os municípios.

O SNC-AP constitui assim um contributo por demais significativo para a contabilidade e a


gestão das entidades públicas, não só porque promove a harmonização interna da
contabilidade pública, dado ser um sistema integrado único de referência para todas as
entidades das designadas «administrações públicas» (e ainda para as Entidades Públicas
Reclassificadas) e próximo do usado no setor empresarial, como também e sobretudo porque,
sendo baseado nas International Public Sector Accounting Standards (IPSAS), impulsiona o
processo de harmonização internacional.
Continuando a abranger três subsistemas contabilísticos – contabilidade orçamental,
contabilidade financeira e contabilidade de gestão – o SNC-AP traz, face ao sistema baseado
no POCP, inovações consideráveis nomeadamente no que concerne à contabilidade
financeira, que permitem colmatar lacunas consideráveis existentes no sistema anterior e,
bem assim, melhorar o reconhecimento e mensuração das transações, algumas até aqui nem
sequer refletidas nas contas das entidades, por falta de orientações adequadas para o fazer.

De acordo como os nºs 2 a 4 do art.º 14º do Decreto-lei nº 192/2015, de 11 de setembro, há


um conjunto de ajustamentos resultantes da mudança das políticas contabilísticas, que se
devem fazer na transição do atual sistema contabilístico para o SNC-AP, designadamente:
• Reconhecer todos os ativos e passivos cujo reconhecimento é exigido pelas normas de
contabilidade pública;
• Reconhecer itens como ativos apenas se os mesmos forem permitidos pelas normas de
contabilidade pública;
• Reclassificar itens que foram reconhecidos de acordo com o Plano Oficial de Contabilidade
Pública, ou planos setoriais, numa categoria, mas de acordo com as normas de
contabilidade pública pertencem a outra categoria;
• Aplicar as normas de contabilidade pública na mensuração de todos os ativos e passivos
reconhecidos.

Os ajustamentos que se verifiquem devem ser reconhecidos no saldo de resultados


transitados, no período em que os itens são reconhecidos e mensurados.
No que concerne à comparabilidade da informação e numa lógica de custo-benefício na
preparação da informação financeira, nesta fase de transição optou a Comissão de
Normalização Contabilística por não exigir a reexpressão, mas apenas a mera reconciliação
dos saldos para as contas e rubricas das demonstrações financeiras de acordo com o SNC-AP.

Assim sendo, as entidades devem preparar um modelo de balanço de abertura do primeiro


ano em que apliquem o SNC-AP, conforme o apresentado no ponto 1.3.6 do Manual de
Implementação do SNC-AP (Versão 2), sendo este acompanhado de um quadro de transição –

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Quadro 1 – que resume os principais ajustamentos a efetuar ao balanço final do último ano
de aplicação do normativo anterior (designadamente em sede de POCP ou planos setoriais).

Valores
conforme Critério de SNC-AP
Reconhe- Desreco- Imparidades Reclassifi-
RUBRICAS DO BALANÇO normativo mensura- Outros Retificações 01/01/N
cimento nhecimento /reversões cações
(1) anterior ção (7) (8) (10)=
(3) (4) (6) (9)
31/12/N-1 (5) (2)+…+(9)
(2)
ATIVO
ATIVO NÃO CORRENTE
Ativos fixos tangíveis
Propriedades de investimento
Ativos intangíveis
Ativos biológicos
Investimentos financeiros
Devedores por empréstimos bonificados e subsídios
reembolsáveis
Acionistas/sócios/associados
Outros ativos financeiros
Ativos não correntes detidos para venda
Ativos por impostos diferidos
Sub total
ATIVO CORRENTE
Inventários
Ativos biológicos
Devedores por transferências e subsídios não
reembolsáveis
Devedores por empréstimos bonificados e subsídios
reembolsáveis obtidos
Clientes, contribuintes e utentes
Estado e outros entes públicos
Acionistas/sócios/associados
Outras contas a receber
Diferimentos
Ativos financeiros detidos para negociação
Outros ativos financeiros
Caixa e depósitos
Sub total
TOTAL DO ATIVO

Valores
conforme Critério de SNC-AP
Reconhe- Desreco- Imparidades Reclassifi-
RUBRICAS DO BALANÇO normativo mensura- Outros Retificações 01/01/N
cimento nhecimento /reversões cações
(1) anterior ção (7) (8) (10)=
(3) (4) (6) (9)
31/12/N-1 (5) (2)+…+(9)
(2)
PATRIMÓNIO LÍQUIDO
Patrim ónio/Capital
Ações (quotas ) próprias
Outros ins trum entos de capital próprio
Prém ios de em is s ão
Res ervas
Res ultados trans itados
Ajus tam entos em ativos financeiros
Excedentes de revalorização
Outras variações no patrim ónio líquido
Res ultado líquido do período
Dividendos antecipados
Interes s es que não controlam
TOTAL DO PATRIMÓNIO LÍQUIDO
PASSIVO
PASSIVO NÃO CORRENTE
Provis ões
Financiam entos obtidos
Fornecedores de inves tim entos
Res pons abilidades por benefícios pós -em prego
Pas s ivos por im pos tos diferidos
Outras contas a pagar
Sub total
PASSIVO CORRENTE
Credores por trans ferências e s ubs ídios não
reem bols áveis concedidos
Fornecedores
Adiantam entos de clientes , contribuintes e utentes
Es tado e outros entes públicos
Acionis tas /s ócios /as s ociados
Financiam entos obtidos
Fornecedores de inves tim entos
Outras contas a pagar
Diferim entos
Pas s ivos financeiros detidos para negociação
Outros pas s ivos financeiros
Sub total
TOTAL DO PASSIVO
TOTAL DO PAT. LÍQUIDO E DO PASSIVO

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Notas:
(1) Descrição idêntica ao modelo do Balanço do SNC-AP apresentado no apêndice à NCP 1.
(2) Referir em nota o normativo utilizado no ano anterior à primeira aplicação do SNC-AP
(POCP/POCAL/POC-MS/POC-Educação/POCISSSS/SNC ou outro).
(3) a (7) Ajustamentos que consistem em alterações nas rubricas do ativo e do passivo, resultantes de
alterações de políticas contabilísticas, com consequências no valor da rubrica de «Resultados
Transitados» do património líquido (alterações modificativas).
(3) Por exemplo, reconhecimento de ativos não correntes pela aplicação do conceito de ativo previsto na
estrutura conceptual, reconhecimento de certos passivos relativos a provisões, locações financeiras e
acordos de concessão de serviços.
(4) Por exemplo, despesas de investigação e desenvolvimento, bem como despesas relativas a alterações
de regulamentos e estatutos, que deixam de ser consideradas ativos intangíveis, passando a ser
considerados gastos.
(5) Por exemplo, uma propriedade de investimento antes mensurada ao custo e que pode passar para o
modelo do justo valor; ou inventários antes mensurados noutra fórmula de custeio que não o custo
médio ponderado.
(6) Por exemplo, reconhecimento, pela primeira vez, de perdas por imparidade em ativos fixos tangíveis
não geradores de caixa (e.g. bens de domínio público), quando a quantia recuperável do potencial de
serviço a eles associado, é inferior à respetiva quantia escriturada e a diferença é materialmente
relevante.
(7) Rubrica residual.
(8) Consistem em alterações às rubricas do balanço, com consequências no património líquido (alterações
modificativas), devido ao facto de certas transações não terem sido devidamente registadas no sistema
contabilístico anterior. Por exemplo, ativos fixos antes ainda não reconhecidos.
(9) Consistem em alterações de classificação de rubricas, podendo ser permutativas (provocando alteração
de classificação no mesmo agregado) ou modificativas (implicando alteração do valor do património
líquido). Um exemplo das primeiras pode ser uma reclassificação de um investimento num imóvel antes
classificado como investimento financeiro e que, à luz do SNC-AP, passam a propriedade de
investimento. Outro exemplo pode ser a reclassificação dos bens de domínio público, antes numa
rúbrica própria e que, à luz do SNC-AP, integram os ativos fixos tangíveis.
Exemplo das segundas é a reclassificação das transferências e subsídios de capital para investimentos
depreciáveis, registadas nos normativos anteriores como proveitos diferidos no passivo, para outras
variações no património líquido (transferências e subsídios de capital). Esta reclassificação acontece
apenas para as transferências e subsídios que, de acordo com a NCP 14, sejam transferências sem
condições ou já tenham cumprido as condições para poderem ser reconhecidos como rendimento.
(10) Corresponde aos valores a inscrever no balanço de abertura (01/01/N, sendo N o primeiro ano de
aplicação do SNC-AP).

Quadro 1 – Reconciliação para o balanço de abertura de acordo com o SNC-AP

Fonte: Manual de Implementação do SNC-AP (Versão 2), ponto 1.3.4, pp.38-40

Estes ajustamentos resultam fundamentalmente da transição para novas políticas


contabilísticas e princípios contabilísticos em que assenta o SNC-AP, sendo que a sua
divulgação é requerida pela NCP 1 – Estrutura e Conteúdo das Demonstrações Financeiras, na

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parte referente às notas explicativas às demonstrações financeiras, mais conhecidas como


Anexo (ver Adoção pela primeira vez do SNC-AP — Divulgação transitória).

De acordo com o ponto 1.3.5 do Manual de Implementação do SNC-AP (Versão 2), os


ajustamentos decorrentes da transição para o SNC-AP devem ser reconhecidos em conta
especificamente criada para o efeito, designadamente dentro dos Resultados Transitados, a
conta 564 – Ajustamentos de transição para o SNC-AP.

O SNC-AP traz, portanto, novas políticas contabilísticas e princípios contabilísticos


estabelecidos na estrutura concetual e preconizados pelas NCP, que implicarão os referidos
ajustamentos de transição a refletir nas demonstrações financeiras iniciais, com impacto
consequente nas demonstrações financeiras subsequentes.

De entre esses princípios, destacam-se os seguintes, por se entender que terão mais impacto
nos julgamentos requeridos e nas práticas dos profissionais, bem como na informação
relatada:

• PREVALÊNCIA DA SUBSTÂNCIA SOBRE A FORMA – em sede de POCP e planos setoriais,


a prevalência para o reconhecimento era da forma legal, considerando-se a
prevalência da substância da transação apenas em situações particulares, de que são
exemplo a locação financeira e os bens de domínio público, que deveriam ser
reconhecidos no ativo da entidade que administrasse ou controlasse tais bem (vide
e.g. 4.1.7. do POCP).
Em contexto SNC-AP a substância da transação (associada à característica qualitativa
da Fiabilidade) passa a ser o critério prevalecente. Conforme o parágrafo §52 da
Estrutura Concetual, “A informação que representa com fiabilidade os fenómenos
económicos descreve a substância da transação, acontecimento, atividade ou
circunstância subjacente, a qual não coincide necessariamente com a sua forma legal”.
Esta alteração, quase paradigmática, em conjunto com os novos conceitos
subjacentes, designadamente, às novas definições de ativo (requisito de controlo e
capacidade de proporcionar um influxo de serviço ou de benefícios económicos
futuros) e passivo (obrigação presente vinculativa, legal ou não) – vide Estrutura
Concetual, parágrafos §§88-102 – conduzirá certamente a alterações materialmente
significativas no reconhecimento dos ativos e passivos de uma entidade pública,
implicando, do lado do profissional de contabilidade, por vezes, o exercício de juízos
de valor (com base nos acordos e outra documentação existente) para avaliar a
substância da transação e portanto, julgar, por exemplo, em que entidade certos
elementos do ativo devem constar no respetivo balanço. Exemplo interessante a
considerar ainda respeita ao reconhecimento de acordos de concessão de serviços
(vulgo PPP), por exemplo, na Entidade Contabilística Estado, e o impacto que tal tem

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nos ativos e passivo da respetiva entidade (vide NCP 4 – Acordos de Concessão de


Serviços: Concedente).

• PRUDÊNCIA – apesar de este princípio estar explícito em sede de POCP (ponto 3),
poder-se-á afirmar que a sua importância tem sido relativamente mais reduzida do
que a de outros princípios, não obstante a prevalência do custo histórico como critério
de valorimetria e a possibilidade de constituição de provisões para depreciação de
existências, cobranças duvidosas e outros riscos e encargos. Porém, a análise e
reflexão dos riscos e incertezas nas contas e o uso de estimativas fiáveis para a
mensuração de certos fenómenos, pode dizer-se que não tem sido uma prática comum
em muitas entidades públicas. Adicionalmente, a prática de amortizações
extraordinárias nos elementos do ativo imobilizado, embora admitida, não ocorre.
Em contexto de SNC-AP, novamente associado à característica qualitativa da
Fiabilidade, a avaliação dos riscos e incertezas com que a entidades se depara, com o
objetivos de os refletir nas demonstrações financeiras, e o uso de estimativas fiáveis
para a mensuração de certas transações, passam a ser práticas correntes nas entidades
públicas, exigindo, mais uma vez, do profissional que aplica as NCP um alerta constante
para estes casos. Transações que, até ao momento, apenas poderiam ser
excecionalmente consideradas, devem, com o SNC-AP, vir a ser regra; por exemplo, a
avaliação de possíveis perdas de valor em ativos fixos tangíveis (perdas por
imparidades), ou a análise do cumprimento de condições e restrições associadas a um
subsídio obtido.
O parágrafo §56 da Estrutura Concetual refere a propósito que “A informação
apresentada [nas] demonstrações financeiras inclui muitas vezes estimativas que
incorporam julgamentos. Para que tais fenómenos possam ser representados com
fiabilidade, as estimativas devem basear-se em dados apropriados os quais devem
refletir a melhor informação disponível usando a máxima cautela”.

• CRITÉRIOS DE MENSURAÇÃO ASSENTES EM VALORES CORRENTES – não obstante o


custo histórico continuar a ser privilegiado como critério de mensuração no
reconhecimento inicial dos ativos e passivos, são admitidos novos critérios de
mensuração que se entendem mais relevantes para certas transações em
determinados contextos, nomeadamente admitindo-se o uso de valores correntes,
mais ou menos observáveis, para a mensuração em momentos posteriores ao
reconhecimento inicial (vide Estrutura Concetual). Disto são exemplo a possibilidade
de usar valores de mercado (ou justo valor) para ativos e passivos financeiros e para
propriedades de investimentos (vide NCP 18 e NCP 8, respetivamente), bem como o
uso do valor recuperável de potencial de serviço como referência para o
reconhecimento de imparidades de ativos, ainda que não geradores de caixa ou sem
mercado (vide NCP 9).

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• REGIME DO ACRÉSCIMO – ainda que já prevalecente em sede de POCP e planos


setoriais, o SNC-AP trará a generalização da aplicação deste regime a todas as
transações da contabilidade financeira, já que é um pressuposto em que assentam as
IPSAS, das quais derivam as NCP aplicadas à contabilidade financeira (i.e. NCP 1 à NCP
25). Em particular se espera que este pressuposto se estenda ao reconhecimento de
rendimentos de natureza fiscal e a transferências e subsídios, designadamente
obtidos, que até ao momento, e em algumas entidades, ainda tendem a ser
reconhecidos em regime de caixa, ou seja, apenas quando são cobrados ou recebidos.

O SNC-AP, por ser um sistema em que se verifica a “prevalência de princípios sobre regras”,
como se depreende do referido acima, vai exigir dos profissionais juízos de valor (julgamento
profissional) aquando da aplicação das NCP, nomeadamente:
• Na avaliação de riscos e incertezas – responsabilidades contingentes (e.g. provisões,
etc…), incluindo a escolha de métodos para avaliação da quantia recuperável do ativo
ou da quantia recuperável do serviço; e imparidades;
• Avaliação da redução/reversão de riscos e incertezas (reversão de provisões e perdas
por imparidade);
• Análise de acordos de concessão e cedências de ativos – escolha do modelo adequado
ao contrato;
• Escolha de critérios de mensuração mais adequados, dentro do permitido pelas NCP;
• Seleção de opções dentro das NCP, quando tal é requerido;
• …

Para que as demonstrações financeiras sejam úteis a um conjunto de utilizadores, que se


referirão mais adiante neste manual, é, pois, importante que a informação nelas contida reúna
determinados requisitos – designados de «características qualitativas» – e que são, a título
principal: Relevância, Fiabilidade, Compreensibilidade, Oportunidade, Comparabilidade, e
Verificabilidade (vide Estrutura Concetual, parágrafos §§45-78). O cumprimento destes
requisitos, ainda que por vezes sujeitos a certos constrangimentos, requer que as
demonstrações financeiras em geral sejam preparadas atendendo aos preceitos das NCP.
A garantia do cumprimento destes preceitos é assegurada através de procedimentos de
auditoria externa, cujo objetivo, como se verá mais adiante neste manual, é assegurar que a
informação contida nas demonstrações (orçamentais e) financeiras mostra uma imagem
verdadeira apropriada (da execução orçamental,) da posição financeira, do desempenho e das
alterações da posição financeira, de uma entidade pública, nomeadamente ao ser preparada
cumprindo com os preceitos das NCP. De acordo com o art.º 10º do Decreto-lei n.º 192/2015,
de 11 de setembro, que aprovou o SNC-AP, as demonstrações financeiras e orçamentais de
uma entidade sujeita ao SNC-AP são objeto de certificação legal de contas, exceto as das
entidades abrangidas pelo regime simplificado (Portaria n.º 218/2016, de 9 de agosto).

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
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“O Regime Simplificado é aplicável às entidades que, integrando o âmbito do Sistema de


Normalização Contabilística para as Administrações Públicas (SNC -AP), definido no artigo 3.º
do Decreto-lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, cumpram os requisitos para serem
consideradas pequenas entidades ou microentidades, desde que as primeiras não optem pela
aplicação do regime geral do SNC-AP e as segundas pela aplicação desse regime ou do regime
simplificado das pequenas entidades” (n.º 1 do art.º 2º da Portaria n.º 218/2016, de 9 de
agosto). Este regime justifica-se para entidades que se entendam de dimensão mais pequena,
transações mais simples e risco orçamental menor.
A referida portaria apresenta, na realidade, dois regimes de contabilidade e relato
simplificados – um para as microentidades e outro para as pequenas entidades:
• Às microentidades (as que apresentem, nas duas últimas prestações de contas, um
montante global de despesa orçamental paga inferior ou igual a 1.000.000 €) são exigidos
apenas contabilidade e relato orçamental, essencialmente em regime de caixa, aplicando
a NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental e procedendo à divulgação do inventário
do património.
• Às pequenas entidades (as que apresentem, nas duas últimas prestações de contas, um
montante global de despesa orçamental paga superior a 1.000.000 € e inferior ou igual a
5.000.000 €), além da contabilidade e relato orçamental (NCP 26), é exigida a aplicação da
NCP-PE (contabilidade e relato financeiro em regime de acréscimo), da NCP 27 –
Contabilidade de Gestão, seguindo ainda as orientações da Estrutura Concetual e do Plano
de Contas Multidimensional do regime geral do SNC-AP.

A simplificação proposta na NCP-PE prende-se fundamentalmente com o proporcionar uma


síntese das orientações para reconhecimento, mensuração e apresentação das transações
que se entendem mais importantes numa pequena entidade pública, não abordando assuntos
ou transações mais complexas, como por exemplo os acordos de concessão ou as orientações
para as contas consolidadas. Não obstante, a NCP-PE admite supletivamente o recurso às NCP
do regime geral.
Outro aspeto simplificado respeita à redução de tratamentos alternativos admitidos nas
normas do regime geral, NCP 3 a NCP 25, sugerindo-se um só procedimento.
No que concerne ao modelo de relato financeiro, constata-se que as demonstrações
financeiras e respetivos modelos são iguais aos do regime geral, havendo simplificações
apenas no que respeita às exigências de divulgação nas notas do Anexo.

Assim sendo, o enfoque deste manual e desta formação são as demonstrações financeiras do
regime geral do SNC-AP, em particular a NCP 1 – Estrutura e Conteúdo das Demonstrações
Financeiras.

A entrada em vigor do SNC-AP, inicialmente prevista para o dia 1 de janeiro de 2017, foi
alterada para o dia 1 de janeiro de 2018, conforme disposto no art.º 18º do Decreto-Lei n.º
85/2016 de 21 de dezembro, dispondo ainda o mesmo Decreto-Lei, que “durante o ano de

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2017 todas as entidades públicas devem assegurar as condições e tomar as decisões


necessárias para a transição para o SNC-AP. Exclui-se, contudo, desta situação o subsector da
administração local, para o qual a entrada em vigor do SNC-AP foi prorrogada para janeiro de
2020, conforme disposto no artigo 98º da Lei 71/2018 (Orçamento de Estado para 2019),
devendo, contudo, ter iniciado a transmissão automática de informação à DGAL através do
SISAL, em SNC-AP, em 1 de julho de 2019.

Daqui por diante, este manual encontra-se organizado da forma que se passa a descrever.
Na continuação deste Módulo I, o Capítulo 2 aborda a prestação de contas em SNC-AP de uma
forma geral e enquadradora, nomeadamente referindo o que se entende por entidade de
reporte, o contexto do reporte orçamental e financeiro, as componentes do relato, associando
ainda o relato com os aspetos da transparência financeira e accountability das entidades
públicas e com os tipos de auditoria a que o relato financeiro (incluindo demonstrações
orçamentais) está sujeito.
O Módulo II (Capítulo 3) iniciará com uma breve introdução às bases de apresentação das
demonstrações financeiras, com referências aos seus elementos e respetivos critérios de
reconhecimento e mensuração, passando depois à descrição dos seus conteúdos,
particularizando cada demonstração financeira, numa abordagem, sempre que possível,
comparativa com o anterior normativo, designadamente com o POCP.
O Módulo III (Capítulo 4) apresenta, a título complementar e não objeto para avaliação, um
caso ilustrativo, a partir de um balancete de verificação de uma entidade sujeita ao regime
geral do SNC-AP.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2. A prestação de contas nas entidades sujeitas ao SNC-AP

2.1 Entidade de reporte

As demonstrações financeiras, enquanto principais componentes do relato financeiro de


finalidade geral, são preparadas por uma dada entidade contabilística, que é assim designada
de «entidade de relato».
De acordo com a Estrutura Concetual do SNC-AP (parágrafos §§79-85), uma entidade de
relato, no setor público como no setor privado, é uma entidade contabilística, que pode não
ser dotada de personalidade jurídica (Estrutura Concetual, parágrafo §85).
Pode ser efetivamente uma entidade pública juridicamente independente, mas também pode
ser simplesmente uma área de atividade dentro da entidade (e.g., numa universidade, a área
de ensino e a área da investigação), ou o próprio governo e, dentro deste, um programa ou
uma área de atuação/atividade, como sejam a saúde, a defesa, a educação, etc.
A entidade de relato pode também compreender duas ou mais entidades que preparam
demonstrações financeiras individuais, tratando-se neste caso de uma entidade de relato que
é, na verdade, um grupo público (Estrutura Concetual, parágrafo §80).
Assim, um dos requisitos principais para que uma entidade seja considerada entidade de
reporte, é que prepare relatórios financeiros de finalidade geral (Estrutura Concetual,
parágrafo §79). O outro requisito prende-se com a capacidade para obter e gerir ou usar
recursos, para que com eles a entidade preste serviços públicos, e apresente contas deste uso
dos recursos (e de como os obteve) através do relato financeiro de finalidade geral, do qual
as demonstrações financeiras constituem uma parte importante.

Conforme explicado na Estrutura Concetual, uma entidade de relato apresenta as seguintes


características principais:
“a) É uma entidade que recebe recursos dos cidadãos, ou em nome deles, e ou utiliza recursos
para realizar atividades para o seu benefício; e
b) Existem utilizadores do serviço ou fornecedores de recursos que dependem dos relatórios
financeiros da entidade como informação para efeitos de responsabilização pela prestação de
contas ou de tomada de decisões” (Estrutura Concetual, parágrafo §81).
“Os fatores que revelam a existência de utilizadores de informação financeira de uma
entidade pública ou de um grupo público relacionam-se com o facto de uma entidade ter a
responsabilidade ou capacidade de obter ou mobilizar recursos, adquirir ou gerir o património
público, contrair obrigações, ou realizar atividades com objetivos de prestação de serviços”
(Estrutura Concetual, parágrafo §84).

Em muitas jurisdições, entre as quais em Portugal, o Estado, entidade soberana, que vai para
além Governo Central, não tem sido considerado entidade de reporte em termos de
contabilidade financeira. Com efeito, até ao momento, o Orçamento do Estado e a Conta Geral
do Estado são preparados em regime de caixa, pelo que «o Estado» tem reportado apenas em

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

termos de execução orçamental. Não obstante, a aprovação do SNC-AP, enquanto sistema


único harmonizado, a ser aplicado por todas as entidades das Administrações Públicas, cria
condições para a preparação das contas (relato financeiro) consolidadas da entidade de relato
Estado (Whole of Government Accounts).

Neste contexto, foi então legalmente criada a Entidade Contabilística Estado (ECE), através da
nova Lei de Enquadramento Orçamental – LEO (Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro). A ECE
consiste assim numa entidade de relato sem personalidade jurídica própria, prevista no artigo
3.º da LEO. Nesta entidade serão registadas transações e outros eventos que se reportem ao
Estado Português, enquanto ente soberano, em que diversas entidades públicas atuam por
sua conta e nome (como são o caso da Autoridade Tributária e Aduaneira, a Direção-Geral do
Orçamento, a Direção-Geral do Tesouro e Finanças ou a Agência para a Gestão da Tesouraria
e da Dívida Pública). A ECE passará a executar uma contabilidade orçamental (terá um
orçamento que será objeto de execução, conforme artigo 49.º da LEO), e uma contabilidade
financeira, reconhecendo as transações e outros eventos nos termos do SNC-AP, bem como
prestará contas nos termos do artigo 65.º da LEO (comportando demonstrações de relato
orçamental, mas também demonstrações financeiras).

Tendo presente o acima referido, o enfoque deste manual é na entidade que reporta contas
individuais (NCP 1), pelo que não serão abordados procedimentos de preparação de contas
consolidadas (âmbito das NCP 21 à NCP 24), nem de relato por segmentos (âmbito da NCP
25).

2.2 Contexto da prestação de contas


A Estrutura Concetual do SNC-AP, à semelhança da do International Public Sector Accounting
Standards Board (IPSAB) da qual é derivada, realça características distintivas do setor público
(face ao setor empresarial), que determinam interpretação particular de conceitos, uso
adequado de certos critérios de reconhecimento e mensuração, e objetivos, utilizadores,
modelo e conteúdo do relato financeiro de finalidade geral.

Os objetivos do relato financeiro no setor público, que no contexto deste manual, entende-se
como as contas anuais individuais de uma entidade pública de reporte, prendem-se com
proporcionar informação sobre a entidade que seja útil para um conjunto diversificado de
utilizadores das demonstrações financeiras.
Esta informação é tanto mais útil quanto mais satisfizer as necessidades desses utilizadores
que, de um modo geral, se agrupam em necessidades de informação para efeitos de
responsabilização pela prestação de contas (accountability) e necessidades de informação
para tomada de decisões (Estrutura Concetual, parágrafos §§21-22).

Os (potenciais) utilizadores do relato financeiro são fundamentalmente utilizadores externos,


que não possuem qualquer poder ou autoridade para requerer a uma entidade pública que

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

prepare informação para satisfação das suas necessidades específicas. Daqui deriva a
designação de «relato financeiro de finalidade geral» ou «demonstrações financeiras de
finalidade geral».

De acordo com a Estrutura Concetual do SNC-AP, parágrafos §§23-31, os utilizadores podem


resumir-se conforme o que se apresenta no Quadro 2.

Quadro 2 – Utilizadores da informação do relato financeiro das entidades públicas

Como se observa, há alguns utilizadores considerados mais importantes do que outros.


Os utilizadores considerados principais do relato financeiro de uma entidade pública são os
cidadãos, quer enquanto contribuintes, quer enquanto utilizadores dos serviços públicos, bem
como os seus representantes (i.e., representantes dos seus interesses) – os políticos eleitos,
no Parlamento (nacional ou regional) e nos órgãos deliberativos ao nível das autarquias locais.
A estes, as entidades públicas devem prestar informação fundamentalmente para efeitos de
prestação de responsabilidades.

Os fornecedores de recursos são os que emprestam (ou fazem doações) às Administrações


Públicas – o que comummente se designa por “mercados”. Estes são também considerados
utilizadores fundamentais no uso da informação do relato financeiro das entidades públicas,
sobretudo para fins de tomadas de decisão.
Há depois um conjunto adicional de potenciais utilizadores, que vão desde as autoridades
estatísticas, analistas políticos e consultores financeiros, a entidades de supervisão e controlo
(como o Tribunal de Contas, entidades reguladoras, Inspeção Geral de Finanças, entre outros)
e outros (e.g. agências de rating e grupos de interesse público da sociedade civil).
Tal como na do IPSASB1, na Estrutura Concetual do SNC-AP estes são admitidos como
utilizadores, sendo que para os principais se considera que fazem uso contínuo e exaustivo do
relato financeiro das entidades públicas (Estrutura Concetual, parágrafo §24). Todavia, alguns
autores têm apresentado críticas alegando que muitos desses utilizadores são apenas
potenciais, na medida em que não resultam de verificabilidade empírica. Assim, poder-se-á

1 International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), entidade de âmbito internacional, responsável pela

emissão das IPSAS.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

questionar se muitos deles, sobretudo os que usam a informação apenas num contexto de
prestação de responsabilidades (como sejam os cidadãos em geral), em vez de utilizadores,
não serão apenas “destinatários” do relato financeiro das entidades públicas.

No que concerne às suas necessidades informativas, poder-se-ão resumir nas seguintes


(Estrutura Concetual, parágrafos §28-31):
1. Informação sobre a performance da entidade (alcance de objetivos operacionais e
financeiros; gestão de recursos; conformidade com leis e regulamentos).
2. Informação relativa à liquidez e solvabilidade da entidade.
3. Informação sobre a sustentabilidade da entidade no que concerne à continuidade na
prestação de serviços públicos e outras atividades no longo prazo.
4. Informação sobre se os recursos da entidade foram (têm sido) utilizados de modo
económico, eficiente e eficaz, como pretendido.
5. Informação sobre se o volume e custo dos serviços prestados durante o período de
relato foram os esperados e apropriados.
6. Informação sobre se os impostos e outros recursos arrecadados são suficientes para
manter o volume e qualidade dos serviços prestados.
7. Informação sobre como as atividades da entidade estão a ser financiadas (impostos,
endividamento, outros recursos, …).
8. Informação sobre futuras necessidades de fundos e recursos.

Enquanto as necessidades 1 a 3 são comuns aos fornecedores de recursos e recetores de


serviços públicos, as necessidades 4 a 6 estão essencialmente associadas aos recetores de
serviços, e as 7 e 8 são mais específicas dos fornecedores de recursos.

A Figura 1 ilustra o contexto do relato financeiro das entidades públicas, designadamente


apresentando uma diversidade de indivíduos e entidades a quem este se dirige. Como tem
vindo a ser referido, o enfoque deste manual é nas contas anuais, portanto no relato
financeiro, não abordando outros tipos de relato, como seja, por exemplo, o relato da
performance. Porém, os vários destinatários e ou utilizadores do relato financeiro, apontam
para um âmbito do relato financeiro das entidades pública que é certamente mais abrangente
do que os das entidades empresariais. Este âmbito será abordado no ponto seguinte.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Contribuintes e Cidadãos Investidores nos


em geral Mercados

Governo Cental (Ministério


das Finanças) e Parlamento

Outros (e.g. agências de


rating, analistas
financeiros, media, …)
Relato financeiro

Tribunal de Contas e outras


entidades nacionais de
supervisão

Autoridades Estatísticas
Organismos internacionais (de
Nacionais
supervisão, controlo e
estatísticos)
(e.g. UE, Eurostat, FMI,…)

Figura 1 – Contexto do relato financeiro das entidades públicas

Não obstante as necessidades eventualmente diversificadas destes indivíduos e organizações,


assumindo o concento de relato de finalidade geral, estas finalidades resumem se aos já
referidos objetivos de accountability (prestação de responsabilidades) e tomadas de decisão.
A prestação de responsabilidades obriga as entidades públicas a mostrarem como usaram os
recursos que foram colocados à sua disposição, no fornecimento de serviços aos cidadãos,
bem como o seu cumprimento com a legislação, regulação ou outros normativos que regem
os seus serviços e operações. Dado que as entidades públicas são financiadas basicamente por
impostos e outros rendimentos de transações sem contraprestação, e os cidadãos estão
dependentes destas entidades para a prestação dos serviços a longo prazo, as obrigações na
prestação de contas incluem também informação sobre os serviços prestados pelas entidades
públicas no período e a sua capacidade para continuar a prestá-los no longo prazo (Estrutura
Concetual, parágrafo §27).

Quanto ao processo de prestação de contas, i.e., aos procedimentos burocráticos e práticas


específicas, enquanto alguns derivam de requerimentos legais (e.g. orientações para
prestação de contas aos ministérios da tutela, ao Tribunal de Contas, ou ao Eurostat), outros
decorrem de práticas de transparência, por vezes não resultantes de nenhum requisito legal,
mas eventualmente de caráter mais voluntário. Independentemente dos procedimentos de
reporte resultarem de requisitos legais ou de práticas mais voluntariosas, incluindo divulgação
de informação online, o reporte financeiro (mais alargado) de uma entidade pública tem
sempre em vista satisfação de necessidades informativas associadas à accountability e
tomadas de decisão.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2.3 O relato financeiro de finalidade geral nas entidades públicas em Portugal

Conforme já referido e devidamente explicado, nomeadamente no preâmbulo ao Decreto-lei


nº192/2015, de 11 de setembro, o SNC -AP contempla os subsistemas de contabilidade
orçamental, contabilidade financeira e contabilidade de gestão. Considerando o art.º 4º do
referido diploma, bem como as NCP, acrescenta-se ainda que:
• A contabilidade orçamental visa permitir um registo pormenorizado do processo
orçamental (assentando num regime de caixa modificada, com transações mensuradas
pelo valor nominal, registadas na Classe 0 do Plano de Contas Multidimensional, onde são
distinguidas contas para a gestão e contas para execução do orçamento).
• A contabilidade financeira tem por base as IPSAS e permite registar as transações e outros
eventos que afetam a posição financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa de
determinada entidade (assentando num regime de acréscimo, usando critérios de
mensuração baseados no custo histórico, mas admitindo também valores correntes para
registo das transações, que são efetuados nas contas das Classes 1 a 8 do Plano de Contas
Multidimensional).
• A contabilidade de gestão permite avaliar o resultado das atividades e projetos que
contribuem para a realização das políticas públicas e o cumprimento dos objetivos em
termos de serviços a prestar aos cidadãos (assentando num regime de acréscimo, tendo a
NCP 27 recomendado o uso do Custeio Baseado nas Atividades – ABC, e o registo das
transações num conjunto de contas definidas no Manual de Implementação do SNC-AP –
versão 2, na Classe 9).

Subsequentemente, o relato financeiro de uma entidade pública sujeita ao regime geral do


SNC-AP, comporta necessariamente informação destes três subsistemas, podendo, na
verdade, ser eventualmente designado mais corretamente de «relato orçamental e financeiro
de finalidade geral». Não obstante, manteremos a designação de relato financeiro de
finalidade geral, por consistência coma designação no normativo, que segue a designação das
normas internacionais.

O relato individual de uma entidade pública no âmbito do regime geral do SNC-AP (bem como
o de uma pequena entidade)2 comporta assim as seguintes componentes:
ORÇAMENTAL
• Demonstração de execução orçamental da receita
• Demonstração de execução orçamental da despesa
• Demonstração do desempenho orçamental
• Demonstração da execução do Plano Plurianual de Investimentos (PPI)
• Anexo às demonstrações orçamentais
FINANCEIRA

2 A exceção ocorre no âmbito das microentidades que, como referido, apenas comportam a componente orçamental.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Balanço
• Demonstração dos Resultados por Naturezas
• Demonstração das Alterações no Património Líquido
• Demonstração de Fluxos de Caixa
• Anexo às demonstrações financeiras
DA CONTABILIDADE DE GESTÃO (mapas recomendados no Manual de Implementação do SNC-
AP, versão 2)
• Demonstração dos resultados por funções
• Demonstração dos resultados por produtos vendidos ou serviços prestados no período
• Demonstração dos custos por atividades, incluindo informação da subactividade e das
bases de repartição
• Demonstração dos gastos de produção por produtos e serviços finais, incluindo desvios
• Demonstração dos rendimentos e gastos ambientais
• Demonstração dos rendimentos gerais e gastos não incorporados

No que concerne à informação proporcionada pelo relato financeiro, o capítulo 4 da Estrutura


Concetual do SNC-AP aponta claramente para uma maior abrangência nas entidades públicas
do que a do relato financeiro empresarial, não se limitando às demonstrações financeiras e
respetivo anexo, conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2 – Informação do relato financeiro das entidades públicas

Com efeito, no parágrafo §35 da Estrutura Concetual reconhecesse-se que, em adição à


informação contida nas demonstrações financeiras, o relato financeiro inclui outra que realça
e complementa essa informação, designadamente para ajudar os utilizadores a melhor a
entenderem, interpretarem e contextualizarem.
Esta informação complementar pode ser financeira e não financeira, e pode ser apresentada
no anexo às demais demonstrações financeiras, ou em outras demonstrações suplementares.
Exemplo claro disto no relato das entidades públicas portuguesas no âmbito do SNC-AP reside,
como referido, nas componentes das demonstrações orçamentais e da contabilidade de
gestão.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A informação sobre a posição financeira, desempenho financeiro e fluxos de caixa, é


apresentada respetivamente no Balanço (e também na Demonstração das Alterações no
Património Líquido), Demonstração dos Resultados e Demonstração dos Fluxos de Caixa.

Conforme o parágrafo §32 da Estrutura Concetual do SNC-AP, “A informação sobre a posição


financeira das entidades públicas permite aos utilizadores das demonstrações financeiras
identificar os recursos e as utilizações desses recursos na data do relato, para avaliarem, por
exemplo:
a) O grau de cumprimento pela entidade pública das suas responsabilidades pela salvaguarda
e gestão dos recursos;
b) Se existem recursos disponíveis para suportar as atividades futuras da entidade pública,
bem como as alterações das quantias e composição desses recursos ocorridas no período de
relato e sua utilização; e
c) As quantias e as datas dos fluxos de caixa futuros necessários para prestar os serviços e
pagar as responsabilidades existentes em relação aos recursos da entidade”.

Já sobre o desempenho, a informação preparada deve permitir aos utilizadores procederem


a avaliações sobre, por exemplo, se a entidade obteve fundos de forma económica e os usou
com eficiência e eficácia para atingir os objetivos dos serviços prestados. Por exemplo, é
importante que os utilizadores das demonstrações financeiras percebam até que ponto os
custos (operacionais) dos serviços prestados foram recuperados durante o período,
designadamente a partir de impostos, taxas e preços, e transferências, ou, pelo contrário,
foram financiados por aumento de endividamento (Estrutura Concetual, parágrafo §33).

No que concerne aos fluxos de caixa do período, esta informação deverá ajudar os utilizadores
a avaliar também o desempenho financeiro da entidade, bem como a sua liquidez e
solvabilidade, nomeadamente permitindo analisar de onde a entidade obteve o dinheiro e
onde o aplicou, indicando, por exemplo, como a entidade pública usou e reembolsou
financiamentos durante o período e se adquiriu ou alienou ativos fixos tangíveis (Estrutura
Concetual, parágrafo §34). Adicionalmente permite avaliar as necessidades de financiamento
futuras para que a entidade continue a concretizar os seus objetivos de prestação de serviços
públicos (pressuposto da continuidade).

Todavia, e porque, como referido, se reconhece que nem todas as necessidades dos
utilizadores do relato de uma entidade pública, se satisfazem apenas com estes tipos de
informação, é importante incluir informação complementar acerca da entidade,
designadamente sobre (Estrutura Concetual, parágrafo §35):
“a) Cumprimento dos orçamentos aprovados e outras determinações das autoridades
competentes que regulam as suas atividades;
b) As atividades prosseguidas durante o período de relato; e

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

c) As expetativas relativas ao serviço e atividades futuras e as consequências a longo prazo


das decisões tomadas e atividades exercidas durante o período de relato. Esta informação
pode ser prestada em notas explicativas às demonstrações financeiras (Anexo) ou em
relatórios separados dessas demonstrações”.

A informação sobre a prestação do serviço, nomeadamente relacionada com a performance


operacional da entidade, é também um importante complemento à informação financeira,
nomeadamente porque, sendo o objetivo principal das entidades públicas a prestação de
serviços aos cidadãos, importa a estes avaliar a prossecução dos objetivos da entidade em
termos de serviços prestados. Os resultados contabilísticos, em geral, não são indicadores
adequados nem suficientes para demonstrar o desempenho da entidade em relação ao
alcance dos objetivos em termos de serviço (eficiência e eficácia operacionais). Este
desempenho, embora possa ser avaliado por indicadores quantitativos (e.g. volume e
frequência do serviço e a sua correlação com os recursos da entidade pública), em geral,
implica informação que vai para além da financeira, requerendo por vezes explicações
adicionais sobre a qualidade dos serviços ou o alcance dos resultados (outcomes) de um dado
programa ou política pública (Estrutura Concetual, parágrafo §38).
“Relatar tal informação é importante para a responsabilização das entidades públicas e para
justificar o uso de recursos dos contribuintes e doadores” (Estrutura Concetual, parágrafo
§39).

A informação financeira e não financeira prospetiva (Estrutura Concetual, parágrafos §§40-


42) assume também um papel central no relato financeiro de um governo ou de uma entidade
pública, considerando que as consequências de muitas políticas e decisões públicas tomadas
num dado período de relato se refletem para além desse período (caráter de longevidade de
muitos programas do setor público). Assim, a perspetiva histórica e anual das demonstrações
financeiras deve ser enquadrada num horizonte temporal mais alargado, e a posição
financeira no final do período e o desempenho e fluxos de caixa do período de uma dada
entidade, devem ser considerados neste contexto. Com efeito, as decisões, num dado
período, sobre prestar e financiar certos serviços públicos no futuro, têm consequências na
sustentabilidade futura da entidade, pelo que importa aos utilizadores perceberem o impacto
futuro dessas decisões, nomeadamente, se a entidade tem capacidade para assegurar esses
serviços futuros, avaliando as necessidades futuras de recursos e as possíveis fontes de
financiamento.

Finalmente, o relato financeiro público deve ser também complementado com informação
explicativa (ou narrativa), designadamente sobre os “…fatores mais importantes subjacentes
ao desempenho do serviço das entidades públicas no período de relato e os pressupostos que
suportam as expetativas sobre as suas atividades futuras, bem como os fatores que as
influenciam…” (Estrutura Concetual, parágrafo §43).

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Um Governo ou uma entidade pública pode ainda incluir no seu relato financeiro “…relatórios
sobre a necessidade e a sustentabilidade dos serviços existentes que podem influenciar os
orçamentos e os serviços prestados no futuro”, bem como “…relatórios sobre a atual e a
previsível situação económica, previsões orçamentais e informações sobre iniciativas políticas
governamentais, que não são relatadas nas demonstrações financeiras” (Estrutura Concetual,
parágrafo §44).

Toda esta informação é importante para ajudar os utilizadores do relato financeiro de


finalidade geral no que respeita às suas necessidades de informação das entidades públicas,
para prestação de responsabilidades e tomadas de decisão.

2.4 Relato financeiro, transparência e accountability


Transparência e accountability tornaram-se, nas últimas décadas, dois aspetos chave de uma
governação pública saudável. Muitas vezes utilizados correntemente como sinónimos, são
porém conceitos diferentes, apesar de relacionados.
Accountability refere-se à obrigação dos políticos e gestores públicos reportarem sobre o uso
dos recursos públicos sob seu encargo, bem como à responsabilidade dos mesmos para com
os cidadãos em geral, no que concerne a reportarem sobre o alcance dos objetivos de
desempenho dos serviços pré-estabelecidos para um governo ou para uma entidade pública;
transparência é a divulgação de informação e permitindo o acesso sem restrições, por parte
do público, a informação fiável e oportuna acerca das decisões e performance de um governo
ou uma entidade pública (Jorge et al., 2012; Lourenço et al., 2013).
Provavelmente o conceito mais discutido na literatura é o de accountability, que
genericamente significa a obrigação de explicar, perante alguém, uma determinada conduta
ou comportamento (logo implicando responsabilização), para o que é fundamental divulgar
informação e, portanto, ser transparente. Neste contexto, conforme ilustrado na Figura 3, a
transparência é um pré-requisito para a accountability, sendo que a disponibilidade e acesso
à informação constitui um meio fundamental para o alcance dos dois aspetos, num governo
ou numa entidade pública.
Com efeito, a accountability democrática requer que as entidades públicas e os governos em
geral, aumentem a sua transparência, divulgando e publicando mais informação orçamental
e financeira para os cidadãos e outros stakeholders. Deste modo, promove-se o escrutínio das
despesas públicas e previne-se a corrupção e o desperdício de recursos públicos (Jorge et al.,
2012; Lourenço et al., 2013).
A fim de “darem contas” das suas responsabilidades, os políticos e dirigentes públicos devem
ser transparentes, ou seja, divulgar a informação necessária para que os cidadãos avaliem a
sua conduta e, eventualmente, imponham sanções ou deem recompensas.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

▪ Relacionamento
agente-principal
▪ Necessidades de
informação
derivadas da
opacidade das
entidades
públicas

I FI EI
u ga o o eta de toda a nformação orçamental e financeira
relevante, de uma forma sistemática e oportuna (e.g. relato financeiro de
finalidade geral online, nos ebsites oficiais das entidades)

Figura 3 – Transparência, accountability e relato financeiro


Fonte: Adaptado de Jorge et al. (2012) e de Lourenço et al. (2013)

No contexto das entidades públicas, o acesso à informação financeira é, portanto, um


requisito importante para promover a accountability e a divulgação do relato financeiro de
finalidade geral é, por isso, crítico para este objetivo, devendo estar acessível a todos,
nomeadamente cidadãos, media e investidores, entre outros (sob o pressuposto da
compreensibilidade).
Este acesso à informação financeira de um governo e das entidades públicas em geral, por
parte dos cidadãos, deve ser uma preocupação constante, dado que contribui para melhorar
a confiança dos cidadãos nas instituições e nos políticos, bem como o seu envolvimento nos
assuntos do quotidiano das entidades públicas, contribuindo para a qualidade da democracia.

O recurso às tecnologias de informação e comunicação (TICs), designadamente à internet,


constitui uma ferramenta fundamental de divulgação de informação sobre as entidades
públicas, designadamente de informação financeira e orçamental do relato financeiro de
finalidade geral, promovendo primeiramente a transparência e, em última instância, a
accountability e responsabilização. A este respeito veja-se em Portugal o Índice de
Transparência Municipal (ITM)3, em que uma das dimensões avaliadas respeita à
transparência económico-financeira, e a partir do qual são elaborados anualmente rankings
no que concerne ao nível de transparência de cada município, aferido pela informação
divulgada online.

3 Ver em https://transparencia.pt/itm/

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A procura de mais transparência orçamental e financeira tem-se tornado um pilar nas


reformas da gestão financeira pública, particularmente nas reformas dos sistemas
contabilísticos e de reporte financeiro, como no caso do SNC-AP.

De facto, o SNC-AP, com:


• A informação proporcionada pelos três subsistemas contabilísticos;
• A perspetiva plurianual do orçamento e o conceito de desempenho orçamental;
• A prevalência da substância sobre a forma e o conceito de controlo na contabilidade
financeira;
• Novos critérios admitidos para reconhecimento e mensuração das transações (incluindo
para transações até aí sem qualquer orientação contabilística, como sejam as PPPs);
• Demonstrações orçamentais mais sintéticas (por “grandes rúbricas”), mas mais
informativas, ultrapassando uma eventual “information overlaod”;
• Relato financeiro e orçamental mais completo, com informação orçamental e financeira
complementada com muita informação adicional e narrativa nas divulgações, assumindo
claramente que os “números falam por si”;
• Relato de informação da Contabilidade de Gestão;
• Regras de consolidação de contas mais adequadas e harmonizadas com o SNC usado no
setor empresarial, permitindo melhor avaliação do desempenho e posição financeira dos
Grupos Públicos;
traz à luz o que pode estar escondido e dissimulado nas contas das entidades públicas, apesar
de nem sempre mensurável (e.g. responsabilidades contingentes da entidade), mas que deve,
ainda assim, ser divulgado e tornado acessível aos cidadãos e outros destinatários da
informação financeira pública.

Neste sentido, poder-se-á ainda afirmar que os objetivos de transparência e accountability, se


encontram implícitos nas finalidades do SNC-AP, sintetizadas no art.º 6º do Decreto-lei n.º
19/2015, de 11 de setembro:
“Permite o cumprimento de objetivos de gestão, de análise, de controlo, e de informação,
nomeadamente:
a) Evidencia a execução orçamental e o respetivo desempenho face aos objetivos da política
orçamental;
b) Permite uma imagem verdadeira e apropriada da posição financeira e das respetivas
alterações, do desempenho financeiro e dos fluxos de caixa de determinada entidade;
c) Proporciona informação para a determinação dos gastos dos serviços públicos;
d) Proporciona informação para a elaboração de todo o tipo de contas, demonstrações e
documentos que tenham de ser enviados à Assembleia da República, ao Tribunal de Contas e
às demais entidades de controlo e supervisão;
e) Proporciona informação para a preparação das contas de acordo com o Sistema Europeu
de Contas Nacionais e Regionais;

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

f) Permite o controlo financeiro, de legalidade, de economia, de eficiência e de eficácia dos


gastos públicos;
g) Proporciona informação útil para efeitos de tomada de decisões de gestão”.

A Lei de Enquadramento Orçamental (Lei n.º 151/2015, de 11 de setembro) dedica todo o


Capítulo IV (art.ºs 73º a 76º) às questões da transparência e dever de informação. Sobre a
divulgação de informação online, os nºs 1 e 2 do art.º 73º, referem concretamente:
“1 – De acordo com o princípio da transparência orçamental, são disponibilizados ao público,
em formato acessível, a informação sobre os programas dos subsetores da administração
central e da segurança social, os objetivos da política orçamental, os orçamentos e as contas
do setor das administrações públicas, por subsetor e entidade.
2 – O Governo deve criar uma plataforma eletrónica em sítio na Internet, de acesso público
e universal, na qual é publicada, de modo simples e facilmente apreensível, a informação
referida no número anterior”. [sublinhado nosso]

Particularmente para a Administração Local, a Lei nº 73/2013, de 3 de setembro, que


estabelece o Regime Financeiro das Autarquias Locais e das Entidades Intermunicipais, refere-
se também ao princípio da transparência e dever de informação.

O art.º 7º, sobre o princípio da transparência, refere:


“1 – A atividade financeira das autarquias locais está sujeita ao princípio da transparência, que
se traduz num dever de informação mútuo entre estas e o Estado, bem como no dever de
divulgar aos cidadãos, de forma acessível e rigorosa, a informação sobre a sua situação
financeira [sublinhado nosso].
2 — O princípio da transparência aplica-se igualmente à informação financeira respeitante às
entidades participadas por autarquias locais e entidades intermunicipais que não integrem o
setor local, bem como às concessões municipais e parcerias público-privadas”.

Já o art.º 90º refere-se a uma plataforma de transparência, explicando que:


“O Governo deve criar uma plataforma eletrónica em sítio na Internet, de acesso público e
universal, na qual é publicada, de modo simples e facilmente apreensível, informação
relevante relativa a cada município, designadamente:
a) Informação prestada pelos municípios à DGAL ao abrigo dos respetivos deveres de reporte;
b) Dados sobre a respetiva execução orçamental;
c) Decisões no âmbito dos respetivos poderes tributários” [sublinhado nosso].

Em síntese, constata-se que o relato financeiro de finalidade geral do SNC-AP, com diferentes
componentes e de âmbito alargado, constitui um instrumento fundamental de reporte das
entidades públicas, melhorando a sua transparência e contribuindo para a accountability e
responsabilização dos políticos e gestores públicos em geral e, em última instância, para um

27
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

maior envolvimento dos cidadãos na vida política e para a qualidade da democracia em


Portugal.

2.5 Auditoria do relato financeiro

Poder-se-á dizer que os cidadãos, nomeadamente através do Parlamento ou das Assembleias


Municipais, já exercem algum controlo democrático sobre as contas das entidades públicas.
Porém, este não constitui um controlo dito “profissional”. Assim, tornam-se necessárias
auditorias realizadas por profissionais que atuam em nome do interesse público, ou seja, no
interesse dos cidadãos em geral (Budding et al., 2015).

Para além de auditoria interna4, uma entidade pública está sujeita a dois tipos genéricos de
auditorias externas – auditoria financeira e de regularidade, e auditoria de desempenho ou
performance. Embora tendam a ser distintos, baseando-se o primeiro tipo na verificação do
cumprimento de um conjunto de critérios, seguindo procedimentos pré-estabelecidos em
normas próprias de auditoria, estes dois tipos de auditoria externa tendem a estar
relacionados, porquanto o relato do auditor sobre a apresentação apropriada e a regularidade
financeira da informação, requer, cada vez mais, que se avalie a economia, eficiência e eficácia
das transações da entidade (Jones e Pendlebury, 2010). Não obstante, a auditoria externa a
que está sujeito o relato financeiro de finalidade geral de uma entidade pública é um tipo de
auditoria financeira e de regularidade.

A auditoria do relato financeiro de finalidade geral de uma entidade pública, em geral, visa
certificar a fiabilidade da informação relatada, designadamente assegurando que esta (Jones
e Pendlebury, 2010):
• Constitui uma apresentação apropriada da realidade financeira da entidade (e.g.,
contrariando o sobre ou a subestimação de determinadas grandezas nas demonstrações
do relato);
• Cumpre princípios de regularidade financeira e legalidade (e.g., conformidade das
transações com a lei, nomeadamente com o orçamento; combate à fraude e à corrupção).

Enquanto o primeiro objetivo é fundamentalmente assegurado pela auditoria financeira,


exercida por profissionais e empresas de auditores e baseada em normas de auditoria, o
segundo e talvez mais antigo objetivo da auditoria externa às contas públicas, é assegurado
pela auditoria de regularidade e conformidade legal, exercida pelas designadas “entidades
supremas de auditoria” (Supreme Audit Institutions), como é o caso do Tribunal de Contas em
Portugal, seguindo procedimentos particulares que emanam do organismo internacional de
auditoria INTOSAI – International Organization of Supreme Audit Institutions.

4Veja-se a este propósito, as exigências e função do Sistema de Controlo Interno de uma entidade pública, referido no art.º
9º do Decreto-lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, que aprovou o SNC-AP.

28
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A auditoria financeira consiste na auditoria das demonstrações que fazem parte do relato
financeiro, devendo o relatório do auditor (normalmente designado de «opinião do auditor»),
que acompanha as contas, explicar se tal relato, nomeadamente as demonstrações que o
constituem, apresentam apropriadamente o que é suposto que apresentem e se encontram
em conformidade com as normas a que deve obedecer a preparação do relato. Neste tipo de
auditoria, os auditores devem revelar se a informação contida no relato financeiro de
finalidade geral de uma entidade pública é fiável ou não, evidenciando (com reservas ou
ênfases no relatório do auditor) porque é que tal informação não pode ser confiável (Jones e
Pendlebury, 2010; Van Helden e Hodges, 2015).
Este tipo de auditoria às contas de uma entidade pública acontece pelo menos uma vez por
ano, depois de aprovadas pelo órgão executivo e antes de serem submetidas ao órgão
deliberativo – é a chamada «certificação legal de contas”.

Em Portugal, para as entidades sujeitas ao regime geral do SNC-AP (ver art.º 10.º do Decreto-
lei n.º 192/2015, de 11 de setembro), este tipo de auditoria deve certificar a conformidade
das contas da entidade, referentes a um dado período, com as NCPs, designadamente
referindo-se ao registo das transações da entidade nesse período, e se as orientações e
requisitos para o seu reconhecimento, mensuração e divulgação foram apropriadamente
aplicados e seguidos, no contexto específico daquela entidade. Encontra-se regulada no novo
Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas, aprovado pela Lei n.º 140/2015, de 7 de
setembro. Nos termos do art.º 45.º deste diploma legal, entre outros elementos, a certificação
legal de contas deve incluir (n.º 2, alínea c)) “(…) uma opinião de auditoria, que pode ser
emitida com ou sem reservas, ou constituir uma opinião adversa, e apresentar claramente a
opinião do revisor oficial de contas ou da sociedade de revisores oficiais de contas sobre:
i) Se as contas dão uma imagem verdadeira e apropriada, de acordo com a estrutura de
relato financeiro aplicável; e
ii) Se for caso disso, se as contas cumprem os requisitos legais aplicáveis”.

Já a auditoria de regularidade e conformidade legal visa aferir e assegurar o rigor e


integridade das transações e respetivos registos, nomeadamente se são apropriados,
completos e de acordo com a lei. Este tipo de auditoria analisa, por exemplo, o rigor,
completude e exatidão das transações e respetivos registos de: execução de despesas e
cobrança de receitas, gastos incorridos e rendimentos obtidos, e salvaguarda de ativos e
adequação de passivos. Dado que o julgamento sobre se as transações e respetivos registos
são apropriados, é efetuado atendendo à conformidade com a lei, no contexto dos dinheiros
públicos, esta adequação significa que os registos das transações estão livres de erros e não
são fraudulentos, e as transações em si não foram desperdícios ou extravagâncias (Jones e
Pendlebury, 2010).
Portanto, neste tipo de auditoria, o auditor certifica que as contas da entidade estão
conformes com a lei e apresentam, por isso, regularidade financeira. Dado que o orçamento
de um governo ou entidade pública é lei, este tipo de auditorias, como referido, em geral

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

exercido por organismos supremos de auditoria – no caso português, o Tribunal de Contas é


um órgão de soberania – analisa se as transações da entidade estão ou não em conformidade
com o orçamento (Van Helden e Hodges, 2015).

Consequentemente, a confiança dos cidadãos nos números das contas públicas – e portanto
nos políticos e gestores públicos, enquanto decisores de topo acerca dos recursos públicos
que lhe são confiados – é aumentada pela auditoria e pelos auditores (ou diminuída, se
alguma falta de fiabilidade é evidenciada), assumindo aqui a auditoria externa um papel
crucial (Budding et al., 2015; Van Helden e Hodges, 2015). Contudo, os auditores externos
podem basear-se também em algum trabalho desenvolvido pelos auditores internos.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

MÓDULO II
3. As Demonstrações Financeiras de acordo com a NCP 1

3.1 Elementos e bases de apresentação das demonstrações financeiras

Conforme referido na parte introdutória deste manual, nomeadamente no que concerne ao


subsistema de contabilidade financeira do SNC-AP, constituído pela Estrutura Concetual e
pelas NCP 1 à NCP 25, este deriva essencialmente das IPSAS e da Estrutura Concetual do
IPSASB, tendo-se, porém procedido a algumas adaptações tendo em conta a realidade
nacional das entidades públicas.
Particularmente nos modelos sugeridos para as demonstrações financeiras, atendeu-se aos
modelos já existente no SNC empresarial (nomeadamente a fim de facilitar procedimentos em
sede de consolidação de contas dos grupos públicos), procedendo-se às necessárias
adaptações para o contexto das entidades públicas. Especificamente na Demonstração de
Fluxos de Caixa, foram adicionadas linhas após a obtenção do valor de “Caixa e equivalentes
a caixa no fim do período”, a fim de se proceder, para o período em causa, a uma reconciliação
entre o saldo de “Caixa e seus equivalentes” da contabilidade financeira obtido em regime de
acréscimo, e o “Saldo de Gerência” da contabilidade orçamental obtido em regime de caixa
(apresentado na Demonstração do Desempenho Orçamental).

Como também já se explicou, as demonstrações financeiras visam, em geral, proporcionar


informação sobre a posição financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa de uma
entidade, para um dado período. Esta informação deve ser útil a um conjunto diversificado de
utilizadores, designadamente externos à entidade pública, para fins de prestação de
responsabilidades (accountability) e tomadas de decisão (NCP 1, §§7-8).

A posição financeira, mostrada no Balanço, implica que este apresente informação acerca dos
recursos e obrigações (ativos e passivos) da entidade, do relacionamento dos quais resulta o
seu património líquido à data de relato, que considera ainda possíveis contribuições para o
património líquido e distribuições do património líquido. Já o desempenho financeiro,
apresentado na Demonstração dos Resultados, deriva da diferença entre os rendimentos
obtidos e os gastos suportados pela entidade durante o período de relato. Finalmente, os
fluxos de caixa, apresentados na Demonstração dos Fluxos de Caixa, resumem os fluxos de
entrada e saída de dinheiro da entidade entre datas de relato.

Assim, para cumprir os objetivos referidos, as designadas “demonstrações financeiras de


finalidade geral” proporcionam informação relativa a uma dada entidade, num dado período
económico, sobre os seus: ativos, passivos, património líquido, rendimentos, gastos, outras
alterações no património líquido, e fluxos de caixa (NCP 1 §10). Estas demonstrações, que
constituem uma representação estruturada da realidade económico-financeira da entidade,

31
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

retratam os efeitos financeiros das transações e outros acontecimentos que ocorrem na


entidade durante um dado período (geralmente um ano correspondente ao ano civil),
agrupando-os nos grandes agregados referidos, conforme as suas características económicas,
agregados esses que se designam de Elementos das Demonstrações Financeiras.

Para que constituam uma apresentação apropriada da realidade da entidade pública, as


demonstrações financeiras devem ser elaboradas tendo em contas os pressupostos da
continuidade da entidade e do regime do acréscimo, bem como as definições daqueles
agregados e os seus critérios de reconhecimento e mensuração particulares, definidos na
Estrutura Conceptual e outros preceitos estabelecidos nas NCP do SNC-AP. A respeito da
apresentação apropriada e conformidade com as NCP, resume-se o referido nos parágrafos
§§18-27 da NCP 1:
• Presume-se que a aplicação das NCP, com divulgações adicionais quando necessário,
resulta em demonstrações financeiras que permitem uma apresentação apropriada;
• Uma entidade cujas demonstrações financeiras cumpram as NCP, deve fazer uma
declaração explícita e sem reservas de tal cumprimento integral no Anexo;
• Nos casos de não cumprimento de algumas das NCP aplicáveis, a entidade deve justificar
no Anexo as razões de tal incumprimento e eventuais derrogações; nestes casos as
demonstrações financeiras da entidade não devem ser consideradas como estando em
conformidade com as NCP.

Sobre as definições e critérios de reconhecimentos dos diversos elementos das


demonstrações financeiras, tome-se como referência a Estrutura Concetual do SNC-AP.

Elementos do Balanço

ATIVOS (Estrutura Concetual, §§88-95)


Um ativo é um recurso presentemente controlado pela entidade pública como resultado de
um evento passado, com capacidade de proporcionar um influxo de potencial de serviço ou
de benefícios económicos futuros.
O potencial de serviço consiste na capacidade de um ativo ser utilizado na prossecução dos
objetivos da entidade pública, sem que, necessariamente, tenham que ser gerados influxos
de caixa ou equivalentes de caixa para a entidade. Tal acontece, por exemplo, com bens
culturais, históricos, comunitários, entre outros da mesma natureza, que são detidos por uma
entidade pública com a finalidade de fornecer bens ou prestar serviços a terceiros; tais bens
ou serviços podem ser de consumo coletivo ou individual.
Os benefícios económicos futuros assumem a forma de influxos de caixa ou equivalentes de
caixa (ou redução de exfluxos de caixa ou equivalentes de caixa), em resultado
designadamente da:
• Utilização de um ativo para produzir bens destinados à venda, ou prestar serviços
remunerados; ou

32
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Troca direta de um ativo por caixa ou equivalentes de caixa, ou por outros recursos.
O controlo sobre o recurso implica:
• A capacidade da entidade pública para utilizar o potencial de serviço ou os benefícios
económicos provenientes do recurso em causa; ou
• A capacidade da entidade pública em determinar a natureza e forma de utilização que
outras entidades fazem dos benefícios originados pelo recurso.

PASSIVOS (Estrutura Concetual, §§96-102)


Um passivo é uma obrigação presente originada num evento passado que gera uma saída de
recursos da entidade.
Uma obrigação presente é uma obrigação vinculativa, de caráter legal ou não, relativamente
à qual a entidade pública tem pouca ou nenhuma probabilidade de evitar a saída de recursos.
As obrigações vinculativas podem ter origem em transações com ou sem contraprestação.
Uma obrigação legal encontra-se geralmente definida na legislação em vigor,
independentemente da forma que esta assuma, e gera obrigatoriamente um passivo.
Já numa obrigação vinculativa não legal, a parte para com quem existe a obrigação, não pode
socorrer-se da legislação para obrigar à sua liquidação. Todavia, para ser reconhecida a
obrigação, a entidade pública deu sinais claros de aceitar certas responsabilidades; criou
expectativas válidas em terceiros, que cumprirá os compromissos assumidos; e tem reduzida
ou nenhuma alternativa realista de evitar a liquidação da obrigação decorrente dos
compromissos assumidos.
Para reconhecimento de um passivo, a obrigação é sempre para com um terceiro. A
identificação do terceiro para com quem se assumiu a obrigação é um indicador da existência
de uma obrigação que origina o reconhecimento de um passivo.
Relativamente à identificação do acontecimento passado, quando um acordo assume uma
forma legal (e.g., um contrato), a definição do momento em que a obrigação surge é simples;
quando tal não ocorre, a identificação do evento passado implica a determinação do
momento em que a entidade pública tem pouca ou nenhuma probabilidade de evitar a saída
de recursos.
Finalmente, um passivo deve envolver uma saída de recursos da entidade para ser liquidado;
uma obrigação que pode ser satisfeita sem saída de recursos não é um passivo.

CONTRIBUIÇÕES PARA e DISTRIBUIÇÕES DO PATRIMÓNIO LÍQUIDO (PL) (Estrutura Concetual,


§§107-111)
As contribuições para o PL de uma entidade pública são influxos de recursos, efetuados por
entidades externas na sua condição de proprietários, que estabelecem ou reforçam o seu
interesse no património líquido dessa entidade pública.
As distribuições do PL de uma entidade pública são exfluxos de recursos, entregues a
entidades externas na sua condição de proprietários, que extinguem ou reduzem o seu
interesse no património líquido dessa entidade pública.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A figura do proprietário do património líquido pode surgir sempre que uma entidade pública
contribui com recursos para que uma outra entidade inicie a sua atividade (e.g.,
reestruturações orgânicas da Administração Pública).

As distribuições de património líquido podem decorrer de remuneração do investimento,


reembolso (devolução) do investimento ou a devolução total ou parcial do património líquido,
nos casos de dissolução ou reestruturação da entidade pública.

Elementos da Demonstração dos Resultados

RENDIMENTOS, GASTOS E RESULTADOS (Estrutura Concetual, §§103-106)


Rendimentos são aumentos no património líquido, que não sejam os resultantes de
contribuições para o património líquido.
Gastos são diminuições no património líquido, que não sejam as resultantes de distribuições
do património líquido.
Os rendimentos e os gastos podem ter origem em transações com contraprestação, ou sem
contraprestação, ou em outros eventos, como sejam: alterações de preços; oscilações (não
realizadas), positivas ou negativas, nos valores de ativos e ou passivos (e.g., diferenças
cambiais e aumentos ou reduções de justo valor); a realização de ativos através da sua
depreciação ou amortização; e a erosão do potencial de serviço ou dos benefícios económicos
futuros através da ocorrência de situações de imparidade.
Os resultados do período são a diferença entre rendimentos e gastos relatados na
Demonstração dos Resultados.

No que concerne ao RECONHECIMENTO destes elementos das demonstrações financeiras, os


parágrafos §§112-119 da Estrutura Concetual do SNC-AP, podem ser sumariados como se
segue:
• O reconhecimento é o processo de incorporar, numa demonstração financeira adequada,
um determinado item que cumpre a definição prevista de elemento e que pode ser
mensurado com fiabilidade, em conformidade com os critérios previstos na Estrutura
Concetual.
• Os critérios de reconhecimento são:
− O item satisfaz a definição de um elemento, e
− O item pode ser mensurado de uma forma que assegure as características
qualitativas e tome em consideração os constrangimentos à informação financeira,
estando este requisito normalmente assegurado quando a mensuração pode ser
efetuada com fiabilidade.
• O reconhecimento de um item nas demonstrações financeiras implica a atribuição, ao
mesmo, de uma quantia monetária.

34
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Este processo tem implícita a seleção de uma base de mensuração apropriada e a


avaliação sobre se essa mensuração é suficientemente relevante e fiável, para que o item
seja reconhecido como um elemento nas demonstrações financeiras; podem ser usadas
estimativas fiáveis para esta mensuração.

A MENSURAÇÃO dos elementos das demonstrações financeiras é um assunto abordado


extensivamente nos parágrafos §120 a §182 da Estrutura Concetual do SNC-AP.
Uma entidade pública deve selecionar as bases de mensuração que reflitam, de modo mais
apropriado, o custo dos serviços por ela prestados, a sua capacidade operacional e a sua
capacidade financeira, de uma forma que seja útil para efeitos de prestação de
responsabilidades e para o processo de tomada de decisão por parte dos utilizadores da
informação contida nas demonstrações financeiras.
A mensuração é o processo de determinar as quantias monetárias através das quais os
elementos das demonstrações financeiras são reconhecidos e mostrados nas mesmas, o qual
envolve a seleção de bases específicas de mensuração.

A Estrutura Concetual contém diferentes bases de mensuração para ativos e passivos, as quais
se baseiam no custo histórico ou no valor corrente, podendo ser usados valores de entrada ou
valores de saída.
Para os ativos, os valores de entrada refletem essencialmente o custo de aquisição, enquanto
os valores de saída estão associados geralmente ao custo da venda.
Para os passivos, os valores de entrada refletem geralmente o valor da transação pela qual a
obrigação foi contraída, ou a quantia que a entidade pública estaria disposta a aceitar para
assumir um passivo. Os valores de saída referem-se à quantia necessária para o cumprimento
de uma obrigação, ou à quantia necessária para que a entidade pública se liberte da obrigação.

Algumas mensurações podem ser classificadas como observáveis em mercados ativos, abertos
e organizados (e.g., valor de mercado ou justo valor). Estas mensurações são mais facilmente
compreendidas e verificadas do que as mensurações não observáveis (e.g., o valor de uso, que
implica cálculos por parte da entidade); também representam de forma mais fidedigna o
fenómeno que está a ser mensurado.

A Figura 4 sumaria as bases de mensuração possíveis de serem usadas no âmbito da Estrutura


Concetual do SNC-AP, sendo que, em cada NCP são especificadas as bases sugeridas para
serem usadas particularmente para a transação em apreço.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Figura 4 – Resumo das bases de mensuração propostas ela Estrutura Concetual do SNC-AP

Vejam-se alguns conceitos da figura, a título de exemplo. O valor de mercado entende-se


como “(…) a quantia pela qual um ativo pode ser trocado entre duas partes conhecedoras e
dispostas a negociar, numa transação entre partes independentes” (Estrutura Concetual,
§141). O uso deste critério de mensuração, em geral, implica que as transações se realizem
em mercados ativos, abertos e organizados, o que não acontece para muitos ativos
tipicamente públicos, e muito menos para passivos, pelo que, sobretudo para os passivos, é
um critério com muito pouca aplicação na prática.
“O custo de reposição é o custo económico exigido para a entidade substituir o potencial de
serviço de um ativo (incluindo a quantia que receberia pelo respetivo valor residual, no final
da vida útil desse ativo), com referência à data do relato” (Estrutura Concetual, §149). Pode
ser interessante para a mensuração de ativos de infraestrutura.
O valor de uso é mais adequado para mensurar ativos dos quais se espera a geração de cash
flows que podem ser utilizados para o cálculo desse valor, considerando a vida útil esperada
para o ativo e uma dada taxa de juro implícita.

Relativamente os passivos, refira-se por exemplo, o preço de assunção, equiparado ao custo


de reposição nos ativos – é a “(…) quantia que a entidade pública estaria disposta a aceitar em
troca da assunção de um determinado passivo, já existente como obrigação de um terceiro”
(Estrutura Concetual, §182). Já o custo de libertação “(…) refere-se à quantia a despender que
permitiria a extinção imediata da obrigação”, e “(…) consiste no mais baixo de entre a quantia
que o credor aceitaria, para liquidação imediata, e a quantia que um terceiro aceitaria, para
assumir esse passivo” (Estrutura Concetual, §§178-179).

Não obstante, não será exagerado afirmar que, na maioria das NCPs, pelo menos no
reconhecimento inicial, continua a haver uma prevalência do uso de critérios de custo
histórico.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

No que respeita à apresentação da informação nas demonstrações financeiras, a NCP 1


refere diversas bases de apresentação, a saber:
• Informação comparativa (parágrafos §§28-32)
− As demonstrações financeiras devem permitir uma análise comparativa com respeito
ao período anterior para todas as quantias relatadas;
− A informação comparativa deve ser incluída na informação narrativa e descritiva a
constar no Anexo às demonstrações financeiras quando for relevante para a
compreensão das demonstrações financeiras do período corrente;
− Ajuda os utilizadores a tomar e a avaliar decisões, especialmente porque permite a
avaliação de tendências na informação financeira para efeitos preditivos.
• Consistência de apresentação (parágrafos §§33-34)
− A apresentação e classificação de itens nas demonstrações financeiras deve ser
mantida de um período para o período seguinte, a menos que haja outra apresentação
e classificação mais apropriada;
− Só se deve alterar apresentação e classificação, se for para informação mais fiável e
relevante.
• Materialidade e agregação (parágrafo §35)
− As transações ou outros acontecimentos devem ser agregados em classes e contas
principais de acordo com a sua natureza ou função (linhas nas demonstrações
financeiras);
− Se uma linha de item não for material individualmente, é agregada com outros itens,
quer nas demonstrações financeiras quer no Anexo;
− Um item que não seja suficientemente material para ter uma apresentação separada
nas demonstrações financeiras pode, apesar de tudo, ser suficientemente material
para ser apresentado separadamente no Anexo.
• Compensação (parágrafos §§36-40)
− Os ativos e os passivos e os rendimentos e os gastos não devem ser compensados, mas
relatados separadamente, exceto se for exigido ou permitido por uma NCP (e.g.,
diferenças de câmbio, adiantamentos – não aparecem compensados);
− A compensação é permitida quando tal apresentação reflete a substância da transação
ou outro acontecimento (e.g., descontos comerciais, mais ou menos-valias,
pagamentos de um contrato – não constituem compensação).
• Continuidade (parágrafos §§41-43)
− Quem aprova as demonstrações financeiras deve avaliar a capacidade de uma
entidade prosseguir em continuidade;
− As demonstrações financeiras devem ser preparadas numa base de continuidade, a
menos que exista uma intenção de liquidar a entidade ou de cessar as operações, ou
se não existir alternativa realista senão fazê-lo.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Finalmente, os parágrafos §§12-13 da NCP 1 abordam questões associadas à responsabilidade


pelas demonstrações financeiras, distinguindo o seguinte:
• Responsável pela elaboração das demonstrações financeiras
E.g. O diretor dos serviços financeiros, o controller ou o responsável pela contabilidade
• Responsável pela apresentação e divulgação das demonstrações financeiras
E.g. Quem preside à entidade (o Presidente ou o Diretor-geral) ou o órgão executivo
• Responsável pela aprovação das demonstrações financeiras
E.g. Órgãos deliberativos, nomeadamente Assembleia da República, Assembleia Municipal
e Conselho Geral.

3.2 Principais componentes do conjunto das demonstrações financeiras

Do Capítulo 2 deste manual ficou explícito que o relato financeiro de uma entidade sujeita ao
regime geral do SNC-AP é composto por três conjuntos de demonstrações, associados aos três
subsistemas contabilísticos, dos quais a entidade deve reportar informação – demonstrações
orçamentais, demonstrações financeiras e demonstrações da contabilidade de custos.

No que concerne particularmente às demonstrações financeiras, o parágrafo §14 da NCP 1,


refere que as demonstrações financeiras, quer individuais, quer consolidadas, que as
entidades públicas devem preparar são:
• Um Balanço;
• Uma Demonstração dos resultados por naturezas;
• Demonstrações das alterações do património líquido;
• Demonstração dos fluxos de caixa;
• Anexo às demonstrações financeiras (notas compreendendo um resumo das políticas
contabilísticas significativas e outras notas explicativas).

Como referido também nos capítulos anteriores, este parágrafo aplica-se às entidades sujeitas
ao regime geral do SNC-AP e também às pequenas entidades sujeitas à NCP-PE.
De acordo com os parágrafos §§44-45 da NCP 1, estas demonstrações devem ser
apresentadas pelo menos anualmente, sendo que o período de relato coincidente com o ano
civil. Quando a data de relato de uma entidade muda (período mais longo ou mais curto do
que um ano, ou não coincidente com o ano civil), a entidade deve divulgar, além do período
coberto pelas demonstrações financeiros, o porquê e o facto de as quantias não serem
inteiramente comparáveis. Adicionalmente, pode ser exigido a uma entidade pública, ou ela
decidir, alterar a sua data de relato, por exemplo, para alinhar ou aproximar o ciclo do relato
com o ciclo orçamental.

Em conformidade com o §17 da NCP 1, as entidades estão ainda obrigadas a preparar


demonstrações financeiras previsionais, “(…) designadamente balanço, demonstração dos

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

resultados por natureza e demonstração dos fluxos de caixa, com o mesmo formato das
históricas, que devem ser aprovadas pelos órgãos de gestão competentes”.

O Quadro 3 identifica as demonstrações financeiras individuais estabelecidas no SNC-AP, por


contraponto com as previstas no POCP.

POCP SNC-AP
• Balanço • Balanço
• Demonstração dos resultados por • Demonstração dos resultados por naturezas
naturezas • Demonstrações das alterações no património líquido
• Anexo às demonstrações financeiras • Demonstração dos fluxos de caixa
• Anexo às demonstrações financeiras

Quadro 3 – Componentes do relato financeiro das entidades públicas

Como se observa, reiterando o que tem vindo a ser referido neste manual, com o SNC-AP o
relato financeiro de finalidade geral sai reforçado, desde logo na componente respeitante às
demonstrações financeiras, dado que se passam a preparar mais duas do que no POCP – a
Demonstração dos Fluxos de Caixa5 e a Demonstrações das Alterações no Património Líquido,
indicando portanto um alargamento da informação divulgada pelas entidades públicas.
Adicionalmente, o próprio Anexo, como se verá, exige muito mais divulgações do que as
exigidas no Anexo do POCP.

Na secção seguinte apresentam-se os objetivos, estrutura e os modelos de cada uma das


demonstrações financeiras do SNC-AP acima referidas, evidenciando as principais diferenças
relativamente ao normativo anterior (POCP, como referência).

3.3 O Balanço

3.3.1 Caracterização geral

Como já diversas vezes referido neste manual, o Balanço, sendo uma das principais
componentes do relato financeiro de uma entidade pública sujeita ao SNC-AP (regime geral
ou pequena entidade), é a demonstração financeira que tem como objetivo proporcionar
informação sobre a posição financeira da entidade, evidenciada na diferença entre os seus
ativos e passivos numa determinada data de relato. Esta informação deve permitir aos
utilizadores identificar os recursos e as obrigações da entidade nessa data, possibilitando
também, considerando a apresentação de informação comparativa com o período anterior,
avaliar as alterações entretanto ocorridas.

5Note-te que, em sede de POCP, o Mapa de Fluxos de Caixa constituía parte da componente orçamental do relato das
entidades públicas,

39
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Os elementos relacionados com a avaliação da posição financeira no Balanço são: os ativos


(classificados em correntes e não correntes) e os passivos (igualmente classificados em
correntes e não correntes), as contribuições para o património líquido e as distribuições do
património líquido, cujas definições presentes na Estrutura Concetual, já foram devidamente
apresentadas no ponto 3.1 deste manual.

O modelo de Balanço previsto na NCP é o que se apresenta no Quadro 4.

Todavia, o Manual de Implementação do SNC-AP (versão 2), publicado em junho de 2017,


apresenta um modelo mais completo, que também aqui se apresenta no Quadro 5, por se
entender que, de futuro, as entidades deverão usar este último modelo, sendo expectável
que, entretanto, seja publicada uma revisão ao SNC-AP, de forma a incorporar este novo
modelo de Balanço.

As principais diferenças entre estes dois modelos de Balanço – modelo inserido na NCP 1 e
aprovado pelo Decreto-lei n.º 192/2015, de 11 de setembro, e modelo do Manual de
Implementação – encontram-se do lado do Ativo, e sobretudo no Ativo não corrente.
Estas alterações que se antecipam vir a acontecer, prendem-se com alguma proximidade
necessária ao modelo de Balanço do SNC, para facilitar as contas consolidadas, e ainda com o
facto de o SNC-AP ser, ele próprio, possível de ser aplicado a entidades empresariais,
nomeadamente Entidades Públicas Reclassificadas dentro do âmbito das Administrações
Públicas.

40
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Quadro 4 – Modelo de Balanço de acordo com a NCP 1 (SNC-AP)

41
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ent dade: ………………………………….


Balanço (individual ou consolidado) em XX de XXX de N

Datas
Rubricas Notas
31/12/N 31/12/N-1
ATIVO
Ativo não corrente
Ativos fixos tangíveis
Propriedades de Investimento
Ativos Intangíveis
Ativos biológicos
Investimentos financeiros
Devedores por empréstimos bonificados e subsídios reembolsáveis
Acionistas/sócios/associados
Outros Ativos financeiros
Ativos não correntes detidos para venda
Ativos por impostos definidos
Ativo corrente
Inventários
Ativos biológicos
Devedores por transferências e subsídios não reembolsáveis
Devedores por empréstimos bonificados e subsídios reembolsáveis
Clientes, contribuintes e utentes
Estado e outros entes públicos
Acionistas/sócios/associados
Outras contas a receber
Diferimentos
Ativos financeiros detidos para negociação
Outros ativos financeiros
Ativos não correntes detidos para venda
Caixa e depósitos
TOTAL DO ATIVO
PATRIMÓNIO LÍQUIDO
Património/Capital
Ações (quotas) próprias
Outros instrumentos de capital próprio
Prémios de emissão
Reservas
Resultados transitados
Ajustamentos em ativos financeiros
Excedentes de revalorização
Outras variações no património líquido
Resultado líquido do período
Dividendos antecipados
Interesses que não controlam
TOTAL DO PATRIMÓNIO LÍQUIDO
PASSIVO
Passivo não corrente
Provisões
Financiamentos obtidos
Fornecedores de Imobilizado
Responsabilidades por benefícios pós-emprego
Passivos por impostos diferidos
Outras contas a pagar
Passivo corrente
Credores por transferências e subsídios não reembolsáveis concedidos
Fornecedores
Adiantamentos de clientes, contribuintes e utentes
Estado e outros entes públicos
Acionistas/sócios/associados
Financiamentos obtidos
Fornecedores de investimentos
Outras contas a pagar
Diferimentos
Passivos financeiros detidos para negociação
Outros passivos financeiros
TOTAL DO PASSIVO
TOTAL DO PATRIMÓNIO LÍQUIDO E PASSIVO

Quadro 5 – Modelo de Balanço conforme sugerido pelo Manual de Implementação do SNC-AP (versão 2)

42
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Remetendo a análise ao modelo aprovado na NCP 1, face ao modelo de Balanço do POCP (e


restantes planos setoriais), o modelo de Balanço do SNC-AP apresenta diferenças substanciais,
não só pelas designações (e.g. investimentos em vez de imobilizados, inventários em vez de
existências, …) e extensão das rubricas que compõem os respetivos agregados, como pelo
próprio formato, que passa a ser vertical e não horizontal, como anteriormente, com o Ativo
a ser apresentado primeiro, seguido do Património Líquido e do Passivo. Não obstante, os
elementos do Ativo continuam a ser apresentado por ordem crescente de liquidabilidade (dos
menos líquidos, para os mais líquidos), e os do Património Líquido e Passivo por ordem
crescente de exigibilidade (dos menos exigíveis, para os mais exigíveis).

Uma das diferenças essenciais é a classificação dos elementos dos ativos e dos passivos, em
correntes e não correntes – aproximados aos que no anterior normativo eram designado,
respetivamente, de ativos “circulante” e “imobilizado”; e “dívidas a terceiros – curto prazo” e
“dívidas a terceiros – médio/longo prazo”.

As condições para a classificação de um ativo em corrente ou não corrente, são evidenciadas


no Quadro 6, em consonância com o parágrafo §50 da NCP 1.

Ativo corrente Ativo não corrente


Espera-se que seja realizado, ou que esteja detido
para venda ou consumo, no decurso do ciclo
operacional normal da entidade.
Seja detido principalmente com a finalidade de ser
negociado.
Todos os outros ativos que não cumpram qualquer
Espera-se que seja realizado dentro de 12 meses
dos quatro critérios de ativo corrente
após a data de relato.
É caixa ou um equivalente a caixa, a menos que seja
limitada a sua troca ou usado para regularizar um
passivo durante pelo menos 12 meses após a data
de relato.

Quadro 6 – Distinção entre ativos correntes e não ativos não correntes

Por exemplo, relativamente aos equivalentes a caixa (e.g. depósitos), se estiverem a servir de
garantia a passivos que são exigíveis a mais de 12 meses, também serão não correntes.

Relativamente aos passivos, a classificação destes elementos do Balanço entre correntes e


não correntes, decorre do previsto no parágrafo §51 da NCP 1. No quadro 7 são apresentadas
as condições para a classificação de um elemento do passivo como sendo corrente,
remetendo a classificação para passivos não correntes nos restantes casos.

Passivo corrente Passivo não corrente


Espera-se que seja liquidado no decurso do ciclo Todos os outros passivos que não cumpram
operacional normal da entidade. qualquer dos quatro critérios de passivo corrente.

43
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Passivo corrente Passivo não corrente


Seja detido principalmente com a finalidade de ser
negociado.
Tenha um prazo de vencimento dentro de 12 meses
após a data de relato.
A entidade não tenha um direito incondicional de
diferir a sua liquidação durante pelo menos 12
meses após a data de relato.

Quadro 7 – Distinção entre passivos correntes e passivos não correntes

Nesta caracterização geral do Balanço, importa referir que que o modelo sugerido na NCP 1 e
apresentado no Quadro 4 inclui a informação mínima que esta demonstração financeira deve
evidenciar (paragrafo §52). Todavia podem ser incluídos itens adicionais, títulos e subtotais,
desde que essa informação seja relevante para a compreensão da posição financeira da
entidade. A inclusão destes itens ou linhas adicionais deve ter em conta a respetiva
materialidade, natureza ou função, se revista de tal importância, que a sua desagregação se
torne essencial para uma melhor compreensão da posição financeira da entidade. Com o
mesmo propósito, podem também ser usadas descrições mais adequadas dos itens, desde
que evidenciem de forma mais adequada a natureza das transações subjacentes (parágrafo
§53). Por exemplo, se dentro dos ativos fixos tangíveis há elementos mensurados ao custo e
outros para os quais entretanto foi autorizada revalorização, pode justificar-se a apresentar
os ativos reavaliados noutra linha. Outro exemplo decorre da aplicação da NCP 4 – Acordos de
Concessão de Serviços: concedente, para os ativos fixos tangíveis (e.g. infraestruturas) em
concessão.

De acordo com o parágrafo §54, a apresentação de informação adicional, para além do que
se sugere do modelo apresentado na NCP 1, tem subjacente julgamentos profissionais, a fim
de se considerar: (a) a natureza e liquidez do ativo; (b) as funções dos ativos dentro da
entidade; e (c) a quantia, natureza e prazos dos passivos.

Como referido nomeadamente no Módulo I deste manual, as demonstrações financeiras


devem ser complementadas com informação adicional apresentada nas notas explicativas,
designadas de Anexo (ver o parágrafo §56 da NCP 1), que assim constitui, em si, também uma
demonstração financeira componente do relato financeiro de finalidade geral de uma
entidade pública.

Relativamente às notas explicativas associadas ao Balanço, o parágrafo §57 da NCP 1 explica


que deve ser apresentada informação complementar, designadamente quando são
adicionados itens ou alteradas designações, indicando alguns exemplos:
• Os ativos fixos tangíveis devem ser desagregados em contas por tipos de ativos, de acordo
com o estabelecido na NCP 5;

44
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• As contas receber são desagregadas consoante os montantes a receber de contribuintes


e utentes, relativos a impostos e outros rendimentos de transações sem contraprestação
(NCP 14);
• As contas a pagar são desagregadas em reembolsos de impostos a pagar, transferências a
pagar e quantias a pagar a fornecedores e outros credores;
• As provisões devem ser divulgadas separadamente em provisões para processos judiciais
em curso, matérias ambientais e outras;
• As componentes do património líquido são detalhadas em património inicial,
contribuições de capital, resultados acumulados, reservas, transferências e subsídios de
capital e outras.

O património líquido e respetivas alterações entre dois períodos devem são divulgados na
Demonstração das Alterações do Património Líquido, conforme adiante se evidenciará.

3.3.2 Comparação com o normativo anterior

Neste ponto faz-se uma comparação com o normativo anterior, tendo como referência o
POCP, particularizando as rúbricas do conteúdo dos agregados do Balanço.
Com efeito, as diferenças já referidas como significativas, entre os modelos de Balaço SNC-AP
e POCP, são também observadas nas respetivas rúbricas, para cada uma das classes dos ativos
e dos passivos. Estas rúbricas, no POCP tinham correspondência quase direta com contas no
plano, apresentadas na coluna mais à esquerda do mapa; esta correspondência com as contas
do Plano de Contas Multidimensional, não é tão óbvia no Balanço da NCP 1.

Nos quadros que se seguem (Quadros 8 a 12), apresentam-se as principais contas que os
elementos do Balanço da NCP 1 contemplam, comparando com as contas estabelecidas no
normativo anterior (POCP). A comparação efetua-se considerando cada um dos agregados
principais do Balanço: ativo, passivo e património líquido e, dentro destes, para cada uma das
Classes de contas, conforme Plano de Contas Multidimensional (Anexo III ao Decreto-lei
n.º192/2015, de 11 de setembro).

ATIVO

SNC-AP POCP
Classe 1 – Meios Financeiros Líquidos Classe 1 – Disponibilidades
11 Caixa 11 Caixa
12 Depósitos à Ordem 12 Depósitos em Instituições Financeiras
13 Outros depósitos 13 Conta do Tesouro
14 Outros instrumentos financeiros a curto prazo ---
--- 15 Títulos Negociáveis
--- 18 Outras Aplicações de Tesouraria
--- 19 Provisões para Aplicações de Tesouraria

Quadro 8 – Comparação das contas da Classe 1

45
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Relativamente à Classe 1, destacam-se as seguintes diferenças:


• Os depósitos no tesouro encontram-se no SNC-AP divididos por várias contas e subcontas,
consoante sejam à ordem (121) ou outros e, dentro destes, sejam a prazo (1311),
consignados (1321), ou relativos a garantias e cauções (1331).
• Passa a existir uma única conta agregadora dos instrumentos financeiros de curto prazo,
sejam derivados, detidos para negociação ou outros.
• A conta 19 do POCP não tem, até ao momento correspondência do SNC-AP. Porém,
atenda-se a que a não consideração no SNC-AP de uma conta correspondente àquela do
POCP, de perdas por imparidade em instrumentos financeiros detidos para negociação,
deveu-se ao facto de, em princípio, estes deverem ser mensurados ao justo valor com
ajustamentos de variação nos resultados e portanto não serem avaliados para perdas por
imparidade. Ainda assim, dada a possibilidade de haver instrumentos financeiros detidos
para negociação sem cotação (como é o caso dos CEDIC6), espera-se a inclusão dessa conta
numa futura revisão do SNC-AP, designadamente do Plano de Contas Multidimensional e
respetivas notas explicativas.

ATIVO E PASSIVO

SNC-AP POCP
Classe 2 – Contas a receber e a pagar Classe 2 – Terceiros
20 Devedores e credores por transferências, ---
subsídios e empréstimos bonificados
21 Clientes, contribuintes e utentes 21 Clientes, contribuintes e utentes
22 Fornecedores 22 Fornecedores
23 Pessoal 23 Empréstimos obtidos
24 Estado e outros entes públicos 24 Estado e outros entes públicos
25 Financiamentos obtidos 25 Devedores e credores pela execução do
orçamento
26 Acionistas/sócios/associados 26 Outros devedores e credores
27 Outras contas a receber e a pagar 27 Acréscimos e diferimentos
28 Diferimentos 28 Empréstimos concedidos
29 Provisões 29 Provisões

Quadro 9 – Comparação das contas da Classe 2

Salienta-se, relativamente à Classe 2, que a conta «20 – Devedores e credores por


transferências, subsídios e empréstimos bonificados» não estava prevista no normativo
anterior que, ainda assim, poderia incluir este tipo de devedores e credores nas contas «26 -
Outros devedores e credores» ou «28 – Empréstimos concedidos».
Com efeito, o SNC-AP criou esta conta na Classe 2, para contemplar operações específicas das
administrações públicas, designadamente transferências e subsídios não reembolsáveis a

6 CEDIC – Certificados Especiais de Dívida de Curto Prazo – Resolução do Conselho de Ministros n.º 71/99.

46
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

receber (obtidos) e a pagar (concedidos), bem como empréstimos concedidos ou obtidos em


condições especiais. Assim, por exemplo, as transferências que uma entidade pública tem a
receber do OE, sejam correntes ou de capital, no momento do direito ao recebimento, serão
registadas nesta conta e, à data de relato, se ainda não recebidas, constam no Ativo do
Balanço, particularmente na rúbrica “devedores por transferências e subsídios”.

Outra diferença eventualmente de maior importância, relaciona-se com a supressão da conta


«25 – Devedores e credores pela execução do orçamento», que no POCP fazia a ligação via
classificador económico das receitas e despesas orçamentais, entre os subsistemas de
contabilidade orçamental e financeira. No contexto do SNC-AP, dado que, por um lado, os
subsistemas das contas da contabilidade orçamental e financeira estão completamente
separados e, por outro lado, houve necessidade de aproximação ao plano de contas do SNC,
a conta 25 passou a ser destinada ao reconhecimento dos Financiamento Obtidos em
condições normais de mercado, ou seja, sem serem bonificados.

ATIVO

SNC-AP POCP
Classe 3 – Inventários e ativos biológicos Classe3 – Existências
31 Compras 31 Compras
32 Mercadorias 32 Mercadorias
33 Matérias-primas, subsidiárias e de consumo 33 Produtos acabados e intermédios
34 Produtos acabados e intermédios 34 Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos
35 Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos 35 Produtos e trabalhos em curso
36 Produtos e trabalhos em curso 36 Matérias-primas, subsidiárias e de consumo
37 Ativos biológicos 37 Adiantamentos por conta de compras
38 Reclassificação e regularização de inventários e 38 Regularização de Existências
ativos biológicos
39 Adiantamentos por conta de compras 39 Provisões para depreciações de existências

Quadro 10 – Comparação das contas da Classe 3

No que concerne à Classe 3, destaca-se a conta «37 – Ativos biológicos», introduzida no SNC-
AP de forma a incorporar e explicitar os inventários deste tipo de ativos, conforme NCP 11 –
Agricultura, anteriormente não previstos no POCP. A serem reconhecidos em sede de POCP,
os ativos de caráter biológico poderiam estar incluídos nos imobilizados corpóreos ou nos
inventários, consoante fossem de produção ou de consumo, respetivamente.
Relacionado com este tipo de ativos, a conta 38 também viu o seu conteúdo adaptado,
designando-se no SNC-AP «38 – Reclassificações e regularização de inventários e ativos
biológicos»; note-se, porém, que esta conta 38, como é sabido, não aparece diretamente no
Balanço, mas os registos que ela abrange estão refletidos nas respetivas contas de stocks de
inventários e ativos biológicos.

47
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

ATIVO

SNC-AP POCP
Classe 4 – Investimentos Classe 4 – Imobilizado
41 Investimentos financeiros 41 Investimentos financeiros
42 Propriedades de investimento 42 Imobilizações Corpóreas
43 Ativos fixos tangíveis 43 Imobilizações Incorpóreas
44 Ativos intangíveis 44 Imobilizações em curso
45 Investimentos em curso 45 Bens do domínio público
--- 48 Amortizações acumuladas
--- 49 Provisões para investimentos financeiros

Quadro 11 – Comparação das contas da Classe 4

No que se refere à Classe 4, destaca-se no SNC-AP a criação de contas específicas, terminando


com o dígito “0”, para os ativos não correntes típicos das Administrações Públicas,
designadamente associados aos Bens de Domínio Público, que no POCP estavam
concentrados numa única conta 45 (exceto se se encontrassem em curso, caso em que
estariam na conta 445).
De acordo com o SNC-AP, os Bens de Domínio Público devem ser registados em subcontas da
Classe 4, sejam Propriedades de Investimento (420), Ativos Fixos Tangíveis (430), Ativos
Intangíveis (440) ou Investimentos em Curso (450). Não existe, portanto, uma única conta
específica para os mesmos, independentemente da sua classificação, tal como ocorria no
POCP. Pelo contrário, os Bens de Domínio Público no SNC-AP, se cumprirem os critérios para
serem reconhecidos como ativo, serão incluídos na conta apropriada consoante a sua
natureza (tangível ou intangível) e finalidade (uso pela entidade ou obtenção de rendas). Se
ainda não concluídos deverão ser evidenciados como “em curso”, como já estava estabelecido
no POCP, nomeadamente na conta 445. Destacam-se, pela sua materialidade em muitas
entidades, os Bens de Domínio Público incluídos na conta «4303 – AFT – Bens de domínio
público, património histórico, artístico e cultural – Infraestruturas».
No modelo de Balanço da NCP 1, estes valores não estão explícitos, mas incluídos nas rúbricas
respetivas, mas devem aparecer individualizados no Anexo.
Relativamente às contas 48 e 49 do POCP, no SNC-AP, as amortizações (dos ativos intangíveis),
depreciações (dos ativos fixos intangíveis) e perdas por imparidade são incluídas em
subcontas das respetivas contas do ativo – por exemplo, as depreciações acumuladas dos
ativos fixos tangíveis estão registadas na subconta 438.

PATRIMÓNIO LÍQUIDO

SNC-AP POCP
Classe 5 – Património, reservas e resultados Classe 5- Fundo Patrimonial
transitados
51 Património/Capital 51 Património
52 Ações (quotas) próprias ---

48
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

53 Outros instrumentos de capital próprio ---


54 Prémios de emissão ---
55 Reservas 55 Ajustamentos de partes de capital em empresas
56 Resultados transitados 56 Reservas de reavaliação
57 Ajustamentos em ativos financeiros 57 Reservas
58 Excedentes de revalorização de ativos fixos ---
tangíveis e intangíveis
59 Outras variações no património líquido 59 Resultados Transitados

Quadro 12 – Comparação das contas da Classe 5

A Classe 5, agora designada de Património, reservas e resultados transitados, mais uma vez
por aproximação ao plano de contas do SNC empresarial, substitui a o anteriormente
designado Fundo Patrimonial do POCP e planos setoriais. No mesmo sentido, incluem-se
contas próprias de empresas com capital social, dado que, como referido, o SNC-AP pode ser
aplicado a Entidades Públicas Reclassificadas, que podem ser empresas e, portanto, a nova
Classe 5 apresenta assim um desenvolvimento mais adequado às transações que estas
entidades podem efetuar.

Para além de correspondências óbvias, dadas alterações de códigos de algumas contas,


destacam-se dentro da conta «56 – Resultados Transitados», a já referida conta «564 –
Ajustamentos de transição para o SNC-AP» a ser usada no balanço de abertura.

Relativamente à nova conta «59 - Outras variações no património líquido», destaca-se


também o seguinte:
• A subconta «593 – Transferências e subsídios de capital», que, de modo diverso do que
acontecia no POCP, acolhe as transferências e subsídios para investimentos amortizáveis
(no POCP reconhecidos como proveitos diferidos – subconta 2745), não sujeitos a
condições ou com as condições cumpridas (ver NCP 14 – Rendimentos de Transações sem
Contraprestação);
• A subconta «598 – Saldos de gerência», uma inovação do SNC-AP, para registar a débito o
valor dos saldos de gerência que as entidades públicas são obrigadas a devolver à entidade
competente ou outra entidade pública, por contrapartida de uma contada Classe 1 —
Meios Financeiros Líquidos.

3.4 A Demonstração dos Resultados por Naturezas

3.4.1 Caracterização geral

A Demonstração dos Resultados por Naturezas tem como propósito proporcionar informação
sobre o desempenho financeiro de uma entidade, num dado período. Esta informação deve
permitir aos utilizadores avaliar se a entidade usou com eficiência e eficácia os fundos para

49
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

atingir os objetivos que se propôs. Os elementos relacionados com a avaliação do


desempenho na demonstração dos resultados são os rendimentos e os gastos, considerando
as definições respetivas apresentadas na Estrutura Concetual do SNC-AP e descritas no ponto
3.1 deste Manual.

De acordo com o parágrafo §60 do SNC-AP, a NCP 1 requer que todos os itens de rendimentos
e gastos reconhecidos num determinado período, numa entidade pública sujeita ao SNC-AP
(regime geral ou pequenas entidades) sejam evidenciados na Demonstração dos Resultados
(por naturezas) desse período, exceto se outra NCP exigir que alguns itens sejam reconhecidos
diretamente no Património Líquido (Balanço).
Tal é o caso dos aumentos e diminuições de revalorizações de ativos (não correntes
financeiros e não financeiros) e também de algumas diferenças cambiais. A este respeito, este
parágrafo explicita: “Dado que é importante ter em consideração todos os itens de
rendimentos e de gastos ao avaliar as alterações da posição financeira de uma entidade entre
duas datas de relato, esta Norma [NCP 1] exige a apresentação de uma demonstração das
alterações no património líquido que ponha em evidência os rendimentos e os gastos totais
de uma entidade, incluindo os que são reconhecidos diretamente no património líquido”
[nosso realce]. Esta demonstração será abordada mais adiante neste manual.

Voltando à Demonstração dos Resultados por Naturezas, o modelo proposto na NCP 1,


inspirado no modelo utilizado no SNC empresarial, é o que se apresenta no Quadro 13, o qual
contempla a informação mínima que, conforme parágrafo §61 da NCP1, deve ser divulgada
na face da Demonstração dos Resultados, bem como a ordem ou o formato em que os itens
devem ser apresentados.

50
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Quadro 13 – Modelo da Demonstração dos Resultados por Naturezas de acordo com a NCP 1 (SNC-AP)

Salienta-se que, conforme o parágrafo §62 da NCP 1, nas notas explicativas do Anexo,
relativamente à Demonstração dos Resultados, a entidade deve apresentar uma
subclassificação dos rendimentos e dos gastos, desagregada de forma a divulgar
apropriadamente a natureza das operações que dão origem aos rendimentos e a natureza dos
gastos suportados.

Este modelo da Demonstração dos Resultados por Natureza que, como referido segue o
modelo do SNC e, como tal, as normas internacionais, distingue-se consideravelmente do
modelo estabelecido no POCP, não só pelas designações das rúbricas, mas sobretudo pelos
aspetos que se passam a referir:

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Os rendimentos e gastos não são apresentados separadamente mas, sendo apresentada


no formato vertical, na Demonstração dos Resultados por Natureza do SNC-AP os gastos
são deduzidos aos rendimentos para evidenciar o resultado líquido.
• Deixam de existir resultados extraordinários, sendo que apenas existem
gastos/rendimentos operacionais e financeiros. Consequentemente, na Demonstração
dos Resultados por Natureza do SNC-AP, o resultado líquido do período não se divide em
resultados correntes (operacionais e financeiros) e resultados extraordinários, como no
POCP.
• Na Demonstração dos Resultados por Natureza do SNC-AP apura-se o resultado antes de
depreciações e gastos de financiamento (EBITDA) e o resultado operacional (antes de
gastos de financiamento – EBIT).
• Nesta demonstração, de acordo com o SNC-AP, explicitam-se rúbricas de imparidades
(perdas/reversões).

3.4.2 Comparação com o normativo anterior


Tal como foi feito para o Balanço, são apresentadas as principais contas que o SNC-AP
estabelece para os itens dos elementos que compõem a Demonstração do Resultados por
Naturezas, salientado as principais diferenças face às contas do POCP. Para o efeito foram
também elaborados quadros comparativos por classes de contas (Quadros 14 a 16) .

GASTOS

SNC-AP POCP
Classe 6 – Gastos Classe 6 – Custos e Perdas
60 Transferências e subsídios concedidos ---
61 Custo das mercadorias vendidas e das matérias 61 Custo das mercadorias vendidas e das matérias
consumidas consumidas
62 Fornecimentos e serviços externos 62 Fornecimentos e serviços externos
63 Gastos com o pessoal 63 Transferências correntes concedidas e prestações
sociais
64 Gastos de depreciação e de amortização 64 Custos com pessoal
65 Perdas por imparidade 65 Outros custos e perdas operacionais
66 Perdas por reduções de justo valor 66 Amortizações do exercício
67 Provisões do período 67 Provisões do exercício
68 Outros gastos e perdas 68 Custos e perdas financeiras
69 Gastos e perdas de financiamento 69 Custos e perdas extraordinárias

Quadro 14 – Comparação das contas da Classe 6

Como referido, no âmbito do SNC-AP, ao contrário do que acontece no POCP, não existem os
conceitos de gastos extraordinários, pelo que a conta 69 assume no SNC-AP um conteúdo
próximo do da conta 68 em POCP, os seja, gastos de financiamento.

Como tem vindo a ser referido e está explicado no preâmbulo do Plano de Contas
Multidimensional, às contas para operações típicas das administrações públicas atribuiu-se o

52
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

dígito “0”. Assim, no contexto da Classe 6 – Gastos, do SNC-AP, as transferências e subsídios


concedidos passaram a ser reconhecidos na conta 60 (em vez da 63 do POCP).

Adicionalmente, por aproximação também ao SNC empresarial, criaram-se no SNC-AP contas


para perdas por imparidades (conta 65) e para perdas por reduções de justo valor (conta 66).
No caso das imparidades, no normativo anterior estas já se encontravam incluídas (embora
seguindo um conceito errado) nas provisões para cobranças duvidosas, provisões para
depreciação de existências, bem como na possibilidade de reconhecer amortizações
extraordinárias (reversíveis) nos ativos imobilizados. Quanto às perdas de justo valor, não
eram contempladas, pois o justo valor não era um critério de mensuração admitido no POCP.

RENDIMENTOS

SNC-AP POCP
Classe 7 – Rendimentos Classe 7 – Proveitos e Ganhos
70 Impostos, contribuições e taxas ---
71 Vendas 71 Vendas e prestações de serviços
72 Prestações de serviços e concessões 72 Impostos e taxas
73 Variações nos inventários da produção 73 Proveitos suplementares
74 Trabalhos para a própria entidade 74 Transferências e subsídios correntes obtidos
75 Transferências e subsídios correntes obtidos 75 Trabalhos para a própria entidade
76 Reversões 76 Outros proveitos e ganhos operacionais
77 Ganhos por aumentos de justo valor ---
78 Outros rendimentos e ganhos 78 Proveitos e ganhos financeiros
79 Juros, dividendos e outros rendimentos similares 79 Proveitos e ganhos extraordinários

Quadro 15 – Comparação das contas da Classe 7

Na sequência do referido para os gastos, também no SNC-AP deixaram de haver rendimentos


extraordinários, pelo que, em conformidade, a conta 79 do SNC-AP tomou aproximadamente
o conteúdo da conta 78 do POCP, ou seja, os rendimentos de natureza financeira.

Os rendimentos típicos das administrações públicas (nomeadamente impostos e taxas)


passaram para a conta 70 no SNC-AP (em vez da 72 do POCP), pois a conta 72 teve que ser
usada para as prestações de serviços em paralelo com o que sucede no SNC; tal como neste,
no SNC-AP considera vendas e prestações de serviços em contas principais distintas.

Em paralelo ao que acontece nos gastos, também por aproximação ao SNC empresarial,
criaram-se no SNC-AP contas para reversões de perdas por imparidades (conta 76) e para
ganhos por aumentos de justo valor (conta 77). As reversões de imparidades no POCP
poderiam constituir anulações de provisões para cobranças duvidosas, de provisões para
depreciação de existências, bem como reversões de amortizações extraordinárias nos ativos
imobilizados. Quanto aos ganhos de justo valor, não existiam, pois como referido o justo valor
não era um critério de mensuração admitido no POCP.

53
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Nas linhas da Demonstração dos Resultados por Naturezas, como se observa, as imparidades
aparecem apresentadas de forma compensada, tomando valor negativo (perdas líquidas),
quando a perda é maior que a reversão no período, ou valor positivo (ganhos líquidos) quando
a reversão é maior que a perda no período.
A mesma lógica de apresentação compensada aplica-se às provisões do período e aos
ganhos/perdas de justo valor.

RESULTADOS

SNC- AP POCP
Classe 8 – Resultados Classe 8 – Resultados
81 Resultado líquido do período 81 Resultados operacionais
--- 82 Resultados financeiros
--- 83 Resultados correntes
--- 84 Resultados extraordinários
--- ---
--- ---
--- ---
--- 88 Resultado líquido do exercício
89 Dividendos antecipados ---

Quadro 16 – Comparação das contas da Classe 8

Em consequência do referido anteriormente, no SNC-AP, por inspiração das normas


contabilísticas internacionais e empresariais, o resultado evidencia o resultado líquido do
período.
Porque, como referido, há Entidades Públicas Reclassificadas que podem ser empresas
visando lucro e distribuindo resultados, o Plano de Contas Multidimensional do SNC-AP
contempla a conta «89 – Dividendos Antecipados» e a subconta «812 – Imposto sobre o
rendimento do período», para os sujeitos passivos de IRC.

3.5 A Demonstração das Alterações no Património Líquido

3.5.1 Caracterização geral


Os parágrafos §63 a §69 da NC1 estabelecem os principais requisitos que uma entidade no
âmbito do regime geral do SNC-AP, deve seguir para preparação da Demonstração das
Alterações no Património Líquido. O objetivo desta demonstração financeira, como referido,
é proporcionar informação sobre as alterações do património líquido de uma entidade
pública, evidenciando o resultado do período, os rendimentos e gastos do período que sejam
reconhecidos diretamente no património líquido, bem como os efeitos de alterações de
políticas contabilísticas e correções de erros, com impacto em cada uma das componentes do
património líquido.

O Património Líquido de uma entidade é o interesse residual dos seus ativos, depois de
deduzidos os passivos, mostrando, portanto, a sua posição financeira líquida numa dada data
de relato. Assim, importa aos utilizadores da informação financeira de uma entidade pública

54
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

perceber como se alterou esta posição financeira e o que causou tais alterações. As alterações
do património líquido de uma entidade pública, entre duas datas de relato, refletem o
aumento ou a diminuição dos respetivos ativos e passivos (parágrafo §66 da NCP 1); é
particularmente relevante perceber se essas alterações se deveram a políticas e
procedimentos internos à entidade, ou se se deveram a operações com detentores de capital.

O parágrafo §63 da NCP1 especifica que esta demonstração financeira deve evidenciar:
“(a) O resultado do período;
(b) Os rendimentos e os gastos do período que, como exigido por outras Normas, sejam
reconhecidos diretamente no património líquido;
(c) O total de rendimentos e de gastos do período (somatório de (a) e (b)), mostrando
separadamente as quantias totais atribuíveis aos proprietários da entidade que controla
e aos interesses minoritários; e
(d) Para cada componente do património líquido separadamente divulgado, os efeitos de
alterações em políticas contabilísticas e correções de erros reconhecidos de acordo com a NCP
2— Políticas Contabilísticas, Alterações em Estimativas Contabilísticas e Erros”.

O modelo que se apresenta no Quadro 17 compreende a informação mínima que deve ser
apresentada na face da Demonstração das Alterações no património Líquido (para as
entidades do regime geral do SNC-AP, pois para as entidades no âmbito da NCP-PE este
modelo é mais simplificado), bem como a respetiva ordem de apresentação (parágrafo §64
da NCP 1).

Quadro 17 – Modelo da Demonstração das Alterações no Património Líquido de acordo com a NCP 1 (SNC-
AP)

Importa realçar que esta demonstração se divide em duas partes:


• Na parte superior evidencia-se o resultado integral da entidade, conjugando o
resultado líquido do período com outros ganhos e perdas diretamente reconhecidos

55
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

no Património Líquido (variações patrimoniais positivas e negativas, como sejam por


exemplo, as resultantes de ajustamentos no valor dos investimentos financeiros
reconhecidos pelo Método da Equivalência Patrimonial);
• Na parte inferior estão as operações com os detentores de capital, como sejam, por
exemplo, entradas para coberturas de perdas. Neste contexto, como explicado no
parágrafo §68 da NCP 1, “As contribuições dos proprietários, assim como as
distribuições aos mesmos, incluem transferências entre duas entidades dentro de um
grupo público (por exemplo, uma transferência de um município, agindo na sua
qualidade de proprietário, para uma empresa municipal).

Como é sumariado no parágrafo §67 desta Norma, “A alteração global no património líquido
durante um período representa a quantia total do resultado do período, outros rendimentos
e gastos reconhecidos diretamente como alterações no património líquido, e quaisquer
contribuições dos proprietários e distribuições aos mesmos, nessa qualidade” [sublinhado
nosso].

Relativamente a esta demonstração financeira, são ainda requeridas informações adicionais


nas notas explicativas do Anexo, designadamente (parágrafo §65 da NCP 1):
• As quantias transacionadas com proprietários, divulgando separadamente a distribuição
aos mesmos;
• O saldo do resultado acumulado no início do período e à data de relato e as alterações
ocorridas durante o período;
• Para cada uma das componentes do património líquido divulgada separadamente, deve
ser apresentada uma reconciliação entre a quantia registada no início e no final do
período, divulgando de forma individualizada cada uma das alterações.

3.5.2 Comparação com o normativo anterior


Conforme referido em pontos anteriores deste manual, a Demonstração das Alterações no
Património Líquido é uma inovação trazida pelo SNC-AP para as Administrações Públicas,
nomeadamente de inspiração do contexto da contabilidade empresarial.
Dado que no POCP não estava prevista esta demonstração financeira, não é possível efetuar
uma análise comparativa.

3.6 A Demonstração de Fluxos de Caixa


3.6.1 Caracterização geral

A NCP 1, nos parágrafos §70 a §110, define os principais requisitos a serem cumpridos na
elaboração da Demonstração de Fluxos de Caixa que, como tem vindo a ser referido neste
manual, deve ser preparada pelas entidades sujeitas ao regime geral do SNC-AP e também à
NCP-PE.

56
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

O objetivo da Demonstração de Fluxos de Caixa é proporcionar informação sobre a forma


como são geridos e usados na entidade os seus recursos financeiros, durante um dado período
de relato, evidenciando também as suas necessidades de financiamento no período e futuras.
A informação do montante dos fluxos de caixa ao longo do tempo é um indicador do grau de
certeza dos fluxos de caixa futuros esperados para uma entidade; permite igualmente avaliar
o rigor das estimativas efetuadas no passado relativamente a fluxos de caixa futuros.

No modelo para esta demonstração recomendado na NCP 1, apresentado no Quadro 19,


devem ser evidenciados os fluxos de caixa ocorridos em determinado período, i.e., entre dois
momentos de relato, classificados em fluxos de caixa das atividades operacionais, de
investimento e de financiamento. O Quadro 18 apresenta uma definição sintetizada de cada
uma destas categorias de atividades (NCP 1, parágrafo §6).

Atividades Descrição
São atividades que resultam em alterações na dimensão e composição
Financiamento
do património líquido e nos empréstimos obtidos pela entidade.
São atividades relacionadas com a aquisição e a alienação de ativos de
Investimento longo prazo e de outros investimentos não incluídos em equivalentes de
caixa.
São as atividades da entidade que não sejam atividades de investimento
Operacionais
ou de financiamento.
Quadro 18 – Definição das Atividades na Demonstração de Fluxos de Caixa

O parágrafo §84 da NCP 1 estabelece ainda que, na elaboração da Demonstração de Fluxos de


Caixa, deve ser utilizado o método direto para apresentar informação relativa às principais
classes dos recebimentos e dos pagamentos brutos de caixa, que deve ser obtida dos registos
contabilísticos da entidade. Este método distingue-se do método indireto apenas na forma
como são apresentados os fluxos de caixa das atividades operacionais – no método indireto
parte-se o resultado líquido do período e procedem-se a correções a este para chegar aos
fluxos de caixa líquidos.
Não obstante, o parágrafo §85 da NCP 1 admite que, em situações excecionais em que seja
impraticável obter os fluxos dos recebimentos e dos pagamentos brutos de caixa
(operacionais), diretamente dos registos contabilístico, tais possam ser obtidos pelo
ajustamento de rendimentos e de gastos operacionais e de outras rubricas da Demonstração
dos Resultados, designadamente em relação a:
“(a) Alterações ocorridas, durante o período, nos inventários e nas contas a receber e a
pagar de atividades;
(b) Outros itens não monetários;
(c) Outros itens relativamente aos quais os efeitos são considerados fluxos de caixa de
investimento ou de financiamento”.

57
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Quadro 19 – Modelo da Demonstração de Fluxos de Caixa de acordo com a NCP 1 (SNC-AP)

58
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

O parágrafo §86 estabelece que “uma entidade deve relatar separadamente as principais
categorias de recebimentos e pagamentos brutos de caixa provenientes de atividades de
investimento e de financiamento, exceto na medida em que os fluxos de caixa sejam relatados
numa base líquida”. Por sua vez, o parágrafo §87 explica que os fluxos de caixa provenientes
das atividades operacionais, de investimento e de financiamento relativos às seguintes
transações, podem ser divulgados numa base líquida:
“(a) Recebimentos e pagamentos feitos em nome de clientes, contribuintes ou beneficiários,
quando os fluxos de caixa reflitam a atividade da outra parte e não as da entidade; e
(b) Recebimentos e pagamentos relativos a itens em que a rotação é elevada, as quantias são
grandes, e as maturidades são curtas.”

Passa-se agora a explicitar os objetivos dos fluxos de caixa provenientes de cada uma das
categorias de atividades, bem como a exemplificar algumas das transações que fazem parte
de cada uma das classificações previstas na NCP 1 (Quadros 20 a 22).

Atividades
Descrição
Operacionais
Permitem conhecer em que medida as operações da entidade são financiadas
Objetivos gerais através de impostos (direta e indiretamente) ou através de recebimentos
provenientes de bens e serviços fornecidos pela entidade.
Os fluxos de caixa líquidos destas operações evidenciam a aptidão da entidade
manter a sua capacidade operacional, pagar as suas obrigações, pagar
Objetivos específicos
dividendos ou outras distribuições aos proprietários e efetuar novos
investimentos, sem recurso a fontes de financiamento externas à entidade.
▪ Recebimentos de impostos, taxas e multas
▪ Recebimento de vendas e prestação de serviços
▪ Recebimento de subsídios ou transferências e outras dotações ou
autorizações orçamentais atribuídas pelo Governo
▪ Recebimentos de royalties, honorários, comissões e outros rendimentos
▪ Pagamentos a outras entidades do setor público para financiar as suas
atividades operacionais (não inclui empréstimos)
▪ Pagamentos a fornecedores de bens e serviços
Exemplos
▪ Pagamentos a empregados
▪ Recebimentos e pagamentos de uma entidade seguradora, relativos a
prémios e indeminizações
▪ Pagamentos de impostos sobre a propriedade ou sobre o rendimento
▪ Recebimento e pagamentos referentes a contratos celebrados para
negociação ou comercialização
▪ Recebimentos ou pagamentos de operações descontinuadas
▪ Recebimentos ou pagamentos relativos à resolução de litígios

Quadro 20 – Atividades Operacionais: objetivos e exemplos (parágrafos §§77-81)

59
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Atividades de
Descrição
Investimento
Permitem conhecer a extensão das saídas de caixa para obtenção de recursos
Objetivos gerais
que contribuam para a prestação futura de serviços por parte da entidade.
Apenas as saídas de caixa que tenham reflexo num elemento do ativo no
Tipo de fluxos Balanço da entidade, podem ser classificadas como fluxos de caixa das
atividades de investimento.
▪ Pagamentos para a aquisição de ativos fixos tangíveis, intangíveis e outros
ativos de longo prazo (incluindo custos de desenvolvimento, capitalização
e trabalhos para a própria entidade)
▪ Recebimentos provenientes da venda de ativos fixos tangíveis, intangíveis
e outros ativos de longo prazo
▪ Pagamentos para adquirir instrumentos de capital próprio ou de dívida de
outras entidades e interesses em empreendimentos conjuntos
▪ Recebimentos provenientes da venda de instrumentos de capital próprio
ou de dívida de outras entidades e interesses em empreendimentos
Exemplos
conjuntos
▪ Adiantamentos e empréstimos feitos a outras entidades, que não sejam
feitos por uma instituição financeira pública
▪ Recebimentos de reembolsos de adiantamentos e empréstimos feitos a
outras entidades, que não sejam de uma instituição financeira pública
▪ Pagamentos e recebimentos relacionados com contratos de futuros,
contratos forward, contratos de opções e swaps, exceto se os mesmos
forem efeitos com propósitos de negociação (atividades operacionais), ou
os pagamentos forem classificados como atividades de financiamento
Quadro 21 – Atividades de Investimento: objetivos e exemplos (parágrafo §82)

Atividades de
Descrição
Financiamento
Objetivos gerais Permitem avaliar os fluxos de caixa futuros a pagar a financiadores de capital
▪ Pagamento decorrentes da emissão de títulos dívida, empréstimos,
livranças, obrigações, hipotecas e outros empréstimos de curto ou
longo prazo
▪ Reembolsos de empréstimos obtidos
Exemplos
▪ Pagamentos efetuados por um locatário que impliquem uma redução
de um passivo ou de uma locação financeira existente, incluindo os
respetivos juros

Quadro 22 – Atividades de Financiamento: objetivos e exemplos (parágrafo §83)

Em termos de divulgações, a NCP1 estabelece ainda um conjunto de situações específicas


relacionadas com a Demonstração de Fluxos de Caixa, que devem ser objeto de divulgação,
designadamente quanto a:
▪ Fluxos de Caixa em moeda estrangeira, obedecendo aos requisitos da NCP 16 – Efeitos
de Alterações em Taxas de Câmbio (parágrafos §§88-91);
▪ Juros e dividendos, atendendo ao que prescreve a NCP 7 – Custos de Empréstimos
Obtidos (parágrafos §§92-95);
▪ Impostos sobre o resultado líquido (parágrafos §§96-98);

60
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

▪ Investimentos em entidades controladas, associadas e empreendimentos conjuntos


(parágrafos §§99-100);
▪ Aquisição e alienações de entidades controladas e de outras unidades operacionais
(parágrafos §§101-105).

No que respeita a divulgação de políticas contabilísticas os parágrafos §§109-110 estabelecem


que:
▪ Dada a diversidade de práticas de gestão de tesouraria e de acordos bancários, a
entidade deve divulgar a política que adota para determinar a composição da caixa e
equivalentes de caixa;
▪ O efeito de qualquer alteração na política utilizada pela entidade para determinar os
componentes de caixa e equivalentes de caixa, deve ser relatado em conformidade
com a NCP2 - Políticas Contabilísticas, Alterações nas Estimativas e Erros. Uma situação
em que tal pode ocorrer é, por exemplo, uma alteração na classificação de um
instrumento financeiro, anteriormente considerado como fazendo parte da carteira
de investimentos da entidade.

Dado o caráter da demonstração – apresentar os fluxos de pagamentos e recebimentos – as


transações não monetárias, nomeadamente as transações de investimento e de
financiamento que não requerem o uso de caixa ou equivalentes de caixa (e.g. aquisição de
ativos por troca com outros ativos, pagamento de passivos com recurso a ativos não
financeiros, transformação de dívida em património liquido, …), devem ser excluídas da
Demonstração de Fluxos de Caixa (parágrafos §§106-107).

3.6.2 Comparação com o normativo anterior


A Demonstração de Fluxos de Caixa prevista na NCP 1, por ser, como referido, de inspiração
das normas internacionais e próxima do SNC empresarial, não tem qualquer correspondência
com o Mapa dos Fluxos de Caixa estabelecido no POCP.
Enquanto a demonstração do SNC-AP deriva do subsistema de contabilidade financeira
(assente no regime de acréscimo), fazendo parte da componente financeira do relato de
finalidade geral de uma entidade púbica, o Mapa dos Fluxos de Caixa do POCP divulga
informação de recebimentos e pagamento relacionados com a execução das operações
orçamentais da receita e da despesa, reconhecidas em base de caixa. No contexto do SNC-AP,
o Mapa dos Fluxos de Caixa do POCP encontra correspondência com a Demonstração do
Desempenho Orçamental, definida na NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental.

Uma particularidade já referida da Demonstração de Fluxos de Caixa prevista na NCP 1,


designadamente face à do SNC (NCRF 2), é que se procura uma conciliação entre o saldo de
caixa de equivalentes (regime de acréscimo) e o saldo de gerência (orçamental; regime de
caixa), quer no início quer no fim do período.

61
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.7 O Anexo
3.7.1 Caracterização Geral
O que vulgarmente se designa de “Anexo” às demonstrações financeiras é, na realidade, um
conjunto de notas explicativas que complementam a ajudam a entender a informação contida
nas demais demonstrações financeiras.
Com efeito, estas notas explicativas têm como objetivo proporcionar informação adicional
relevante para os utilizadores, para cada uma das restantes demonstrações financeiras, com
o propósito de que aqueles possam melhor compreender a informação nelas contidas e a
possam utilizar (melhor) para efeitos de tomada de decisões e de accountability.

Contrariamente às normas internacionais de contabilidade e relato financeiro do sector


público que lhe serviram de base – as já referidas IPSAS – no SNC-AP optou-se por agrupar na
NCP 1 – Estrutura e Conteúdo das Demonstrações Financeiras, todas as divulgações exigidas
separadamente pelas diferentes NCPs consideradas no subsistema da contabilidade
financeira, designadamente NCP 2 à NCP 25. Assim, o Anexo é devidamente considerado uma
demonstração financeira, sendo incluído na norma que fornece instruções para a elaboração
destas.

A apresentação das notas no Anexo do SNC-AP segue em geral a ordem as normas a que
respeitam as divulgações requeridas à entidade, pelo que cada entidade deverá seguir essa
sequência numérica atendendo às divulgações que lhe são exigidas, consequentes das NCPs
que lhe forem aplicáveis. Em resumo:
• Cada entidade deverá seguir a sequência numérica indicada na NCP 1 para o Anexo às
demais demonstrações financeiras, em conformidade com as divulgações que deva
efetuar;
• As notas relativamente às quais se considere não existir informação que justifique a sua
divulgação não serão utilizadas, devendo manter-se, contudo o número de ordem das que
forem utilizadas;
• Com vista a uma mais fácil divulgação, sempre que possível, a informação pode e deve ser
apresentada e sistematizada em quadros.

Relativamente ao último ponto, ao contrário do que acontecia nas notas às demonstrações


financeiras do POCP, a NCP 1 não apresenta quaisquer modelos para tais quadros. Porém, tal
é feito no Capítulo 5 do Manual de Implementação do SNC-AP (versão 2), que assim se torna
um instrumento fundamental de apoio à aplicação da NCP 1 no que concerne à elaboração do
Anexo.

Finalmente, também de forma diversa (e até mais explícita) do que acontecia no POCP, cada
mapa das demais demonstrações financeiras – Balanço, Demonstração dos Resultados por
Naturezas, Demonstração das Alterações no Património Líquido e Demonstração de Fluxos de

62
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Caixa – contém uma coluna própria, onde a entidade deve indicar, à frente de cada rúbrica
em causa, o número da nota do Anexo onde se encontram as divulgações requeridas.

3.7.2 Comparação com o normativo anterior


Os “Anexos às demonstrações financeiras” (Capítulo 8) do POCP encontravam-se organizados
em três pontos: Caracterização da entidade; Notas ao balanço e à demonstração de
resultados; e Notas sobre o processo orçamental e respetiva execução.

No SNC-AP, dada a separação dos subsistemas contabilísticos, desde logo, as notas às


demonstrações da componente orçamental do relato de finalidade geral de uma entidade
pública encontram-se regulamentadas na NCP 26 – Contabilidade e Relato Orçamental.
No entanto, no âmbito da NCP 1, mantém-se uma Nota 1 sobre a “identificação da entidade,
período de relato e referencial contabilístico”, apesar do conteúdo, como se mostra no
Quadro 23, ser diferente, designadamente realçando no SNC-AP o referencial contabilístico a
que a entidade está sujeita, i.e., principais políticas contabilísticas e, consequentemente, que
regime contabilístico segue, quais as NCPs que lhe são aplicáveis e quais não são.

SNC-AP POCP
1 Identificação da entidade, período de relato 8.1 Caracterização da entidade
e referencial contabilístico
1.1. Identificação da entidade e período de 8.1.1 Identificação da entidade
relato
1.2 Referencial contabilístico e demonstrações 8.1.2 Legislação aplicável
financeiras
8.1.3 Estrutura organizacional efetiva
8.1.4 Descrição sumária das atividades
8.1.5 Recursos Humanos
8.1.6 Organização contabilística
8.1.7 Outra informação considerada relevante

Quadro 23 – Notas sobre a identificação da entidade e referencial contabilístico

Antes desta Nota 1 do Anexo, e apenas no primeiro relato em que aplicarem o SNC-AP,
devem as entidades apresentar divulgações transitórias precisamente sobre a adoção pela
primeira vez deste normativo, já que, ao contrário do que acontece no SNC empresarial, não
foi criada uma NCP que contenha orientações neste sentido.
Tais divulgações são sintetizadas no modelo de Anexo proposto na NCP 1, como as seguintes:
• Forma como a transição dos normativos anteriores para o SNC-AP afetou a posição
financeira, o desempenho financeiro e os fluxos de caixa relatados;
• Reconciliação do património líquido segundo os normativos anteriores com o património
líquido segundo as NCPs;
• Reconciliação do resultado relatado segundo os normativos anteriores, relativo ao último
período, com o resultado conforme as NCPs, para o mesmo período;

63
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

• Reconhecimento ou reversão, pela primeira vez, de perdas por imparidade, na preparação


do Balanço de abertura de acordo com as NCPs;
• Distinção, relativamente às reconciliações referidas nos segundo e terceiro pontos, entre
o que são correções de erros cometidos em períodos anteriores e o que se refere a
alterações de políticas contabilísticas segundo os normativos anteriores;
• Indicação se as primeiras demonstrações financeiras preparadas de acordo com o SNC-AP
são ou não as primeiras demonstrações financeiras alguma vez apresentadas pela
entidade.

Depois da Nota 1, o Anexo continua com as notas relativas a todas as demonstrações


financeiras (não só ao Balanço e Demonstração dos Resultados por Naturezas como no POCP)
que, como já referido, seguem a ordem das NCPs. O Quadro 24 resume essas notas,
procurando-se uma comparação/correspondência, dentro do possível e ainda que, por vez,
de forma “grosseira”, com o conteúdo das do POCP.

SNC-AP POCP
Divulgações requeridas segundo as NCPs 8.2. Notas ao Balanço e à Demonstração dos
Resultados
2 Principais políticas contabilísticas, alterações 8.2.1 Indicação e justificação das disposições do POCP
nas políticas contabilísticas e erros (NCP 2) que tenham sido derrogadas, devidamente justificadas e
respetivas implicações nas demonstrações financeiras
8.2.2 Indicação e comentário das contas do balanço e da
demonstração dos resultados com conteúdos não
comparáveis com os do exercício anterior
8.2.5 Medida em que o resultado do exercício é afetado
por valorimetrias diferentes das previstas no Capítulo 4
“Critérios de Valorimetria”
3 Ativos Intangíveis (NCP 3) 8.2.6 Comentários às contas «431 – Despesas de
instalação» e «4.3.2 – Despesas de investigação e de
desenvolvimento»
8.2.7 Movimentos ocorridos nas rubricas do imobilizado
(incorpóreo) e nas respetivas amortizações e provisões
(são sugeridos quadros específicos para o efeito)
8.2.8 Divulgação por cada uma das rubricas dos quadros
de: descrição do ativo imobilizado (incorpóreo), datas
de aquisição e de reavaliação, valores de aquisição ou
outro valor contabilístico e valores de reavaliação,
alienação, transferências e abates do ativo imobilizado
(incorpóreo), valores líquidos dos elementos ativo
imobilizado (incorpóreo)
8.2.10 Indicação dos diplomas legais nos quais foram
baseadas as reavaliações dos bens do imobilizado
(incorpóreo)
8.2.11 Modelo de quadro discriminativo das
reavaliações
4 Acordos de Concessão de Serviços: concedente ---
(NCP 4)

64
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

SNC-AP POCP
Divulgações requeridas segundo as NCPs 8.2. Notas ao Balanço e à Demonstração dos
Resultados
5 Ativos Fixos Tangíveis (NCP 5) 8.2.7 Movimentos ocorridos nas rubricas do imobilizado
(corpóreo e bens de domínio público) e nas respetivas
amortizações e provisões (são sugeridos quadros
específicos para o efeito)
8.2.8 Divulgação por cada uma das rubricas dos quadros
de: descrição do ativo imobilizado (corpóreo e bens de
domínio público), indicação dos valores dos bens
adquiridos em estado de uso, datas de aquisição e de
reavaliação, valores de aquisição ou outro valor
contabilístico e valores de reavaliação, alienação,
transferências e abates do ativo imobilizado (corpóreo e
bens de domínio público), valores líquidos dos
elementos ativo imobilizado (corpóreo e bens de
domínio público)
8.2.9 Indicação dos custos incorridos respeitantes a
empréstimos obtidos para financiar imobilizações
(corpóreas e bens de domínio público), durante a
construção, e que tenham sido objeto de capitalização
8.2.10 Indicação dos diplomas legais nos quais foram
baseadas as reavaliações dos bens do imobilizado
(corpóreo)
8.2.11 Modelo de quadro discriminativo das
reavaliações
8.2.12 Divulgações diversas relativamente a
imobilizações corpóreas e em curso: valor global para
cada uma das contas em que se subdivide a Classe 4 e
discriminação dos custos financeiros capitalizados em
cada uma das rubricas discriminadas anteriormente
8.2.14 Relação dos bens que não foi possível valorizar,
indicando as respetivas justificações
8.2.15 Indicação dos bens de domínio público que não
foram objeto de amortização e quais as razões
6 Locações (NCP 6) 8.2.13 Indicação dos bens utilizados em regime de
locação financeira, indicando os respetivos valores
contabilísticos
7 Custos de Empréstimos obtidos (NCP 7) 8.2.9 Indicação dos custos incorridos respeitantes a
empréstimos obtidos para financiar imobilizações
(corpóreas e bens de domínio público), durante a
construção, e que tenham sido objeto de capitalização
8.2.25 Quantidade e valor nominal das obrigações e
outros títulos de dívida, indicando os direitos que
conferem
8 Propriedade de investimentos (NCP 8) 8.2.7 Movimentos ocorridos nas rubricas do imobilizado
(investimentos em imóveis) e nas respetivas
amortizações e provisões (são sugeridos quadros
específicos para o efeito)

65
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

SNC-AP POCP
Divulgações requeridas segundo as NCPs 8.2. Notas ao Balanço e à Demonstração dos
Resultados
8.2.8 Divulgação por cada uma das rubricas dos quadros
de: descrição do ativo imobilizado (investimentos em
imóveis), datas de aquisição e de reavaliação, valores de
aquisição ou outro valor contabilístico e valores de
reavaliação, alienação, transferências e abates do ativo
imobilizado (investimentos em imóveis), valores líquidos
dos elementos ativo imobilizado (investimentos em
imóveis)
9 Imparidade de Ativos (NCP 9) ---
10 Inventários (NCP 10) 8.2.22 Valores globais das existências que se encontram
fora da entidade
8.2. 23 Demonstração do custo das mercadorias
vendidas e das matérias consumidas, de acordo com
mapa especifico
8.2.34 Demonstração da variação da produção, de
acordo com mapa sugerido
11 Agricultura (NCP 11) ---
12 Contratos de Construção (NCP 12) 8.2.36 Desdobramento da conta 75 – Trabalhos para a
própria entidade, por rubricas da conta de imobilizado
13 Rendimentos de transações com 8.2.35 Repartição do valor das vendas líquidas e das
contraprestação (NCP 13) prestações de serviços registados na conta 71 – Vendas
e prestações de serviços, por atividades e por mercados
14 Rendimentos de transações sem ---
contraprestação (NCP 14)
15 Provisões, passivos contingentes e ativos 8.2.29 Descrição das responsabilidades da entidade por
contingentes (NCP 15) garantias prestadas, sugerindo um quadro específico
para o efeito
8.2.31 Desdobramento das contas de provisões
acumuladas e respetivos movimentos, de acordo com
quadro específico
16 Efeitos de alterações em taxa de câmbio (NCP 8.2.4 Cotações utilizadas para conversão, em moeda
16) portuguesa, das contas incluídas nas demonstrações
financeiras inicialmente expressas em moeda
estrangeira
17 Acontecimentos após a data de relato (NCP 17) ---
18 Instrumentos financeiros (NCP 18) 8.2.17 e 8.2.18 Relativamente a “Títulos negociáveis” e
“Outras Aplicações de Tesouraria” e “Outras aplicações
financeiras”, indicar a respetiva natureza, entidades,
quantidades, valores nominais e valores de balanço
8.2.18 e 8.2.20 Indicação global das diferenças
materialmente relevantes entre os valores de mercado
e os valores registados, no que respeita aos ativos
circulantes e justificação dessas diferenças
8.2. 21 Indicação e justificação das provisões
extraordinárias respeitantes a elementos do ativo
circulante

66
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

SNC-AP POCP
Divulgações requeridas segundo as NCPs 8.2. Notas ao Balanço e à Demonstração dos
Resultados
8.2.23 Valor global das dívidas de cobrança duvidosa
8.2.24 Valor global das dívidas ativas e passivas
respeitantes ao pessoal da entidade
8.2.27 e 8.2.28 Indicação das dívidas a terceiros a mais
de cinco anos e as que estejam cobertas por garantias
reais prestadas pela entidade
8.2.30 Indicação da diferença, quando registada no
ativo, entre o montante das dívidas a pagar e das
importâncias efetivamente arrecadadas (sugerido mapa
específico)
19 Benefícios dos empregados (NCP 19) 8.2.24 Valor global das dívidas ativas e passivas
respeitantes ao pessoal da entidade
20 Divulgações de partes relacionadas (NCP 20) 8.2.16 Designação e sede das entidades participadas,
indicando a parcela detida, capitais próprios ou
equivalente e o resultado do último exercício de cada
uma das entidades
21 Relato por segmentos (NCP 25) 8.2.35 Repartição do valor das vendas líquidas e das
prestações de serviços registados na conta 71 – Vendas
e prestações de serviços, por atividades e por mercados
22 Interesses em outras entidades (IPSAS 38) 8.2.16 Designação e sede das entidades participadas,
indicando a parcela detida, capitais próprios ou
equivalente e o resultado do último exercício de cada
uma das entidades
--- 8.2.26 Discriminação das dívidas incluídas na conta
“Estado e Outros entes públicos” em situação de mora
Divulgações relativas à Demonstração das 8.2. 32 Explicitação e justificação de cada um dos
Alterações no Património Líquido movimentos registados nas contas da “Classe 5 – Fundo
patrimonial”
Divulgações relativas à Demonstração dos 8.2.37 Demonstração dos resultados financeiros,
Resultados conforme mapa específico
--- 8.2.38 Demonstração dos Resultados Extraordinários:
mapa específico
--- 8.2.39 Outra informação considerada relevante para
melhor compreensão da posição financeira e dos
resultados

Quadro 24 – Divulgações requeridas no Anexo às demonstrações financeiras

A análise do Quadro 24 não é muito fácil, mas alguns comentários podem ser apresentados:
1) Apesar de não estar explícito no quadro (pois tornava-o muito exaustivo), as divulgações
no âmbito do SNC-AP são consideravelmente mais exigentes do que as do POCP, até
porque as demonstrações financeiras, até certo ponto, tornaram-se mais sintéticas – por
exemplo, no Balanço só se apresentam os valores do ativo líquido.

67
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

2) Há matérias que claramente são inovadoras, como a respeitantes à agricultura, acordos


de concessão de serviços, acontecimentos após a data de relato, e rendimentos de
transações sem contraprestação.
3) Relativamente às perdas por imparidade (de ativos não correntes geradores e não
geradores de caixa), de certa forma, o POCP já admitia amortizações extraordinárias, mas
não se refere a estes nas notas do anexo, mas no ponto 4.1.10 relativo aos critérios de
valorimetria.
4) Há informação das notas do POCP que não encontram correspondência no SNC-AP, como
sejam as associadas aos resultados extraordinários, já que, como referido, no novo
normativo não existem gastos nem rendimentos desta natureza.

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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

MÓDULO III
4. Caso prático ilustrativo

O caso que se apresenta ilustra a elaboração das principais demonstrações financeiras do


relato, com exceção do Anexo. Por razões de simplificação, ignorou-se IVA e outras transações
com repercussões na conta «24 – Estado e outros entes públicos».

ENUNCIADO
Uma dada entidade pública, sujeita ao regime geral do SNC-AP, apresentou o seguinte
balancete retificado do mês de dezembro de um dado ano N:

Movimentos Saldos
Débito Crédito Devedor Credor
12 Depósitos à ordem 98 101 200 98 052 530 48 670 0
20 Devedores e credores por transferências,
979 000 0 979 000 0
subsídios e empréstimos bonificados
21 Clientes, contribuintes e utentes 2 132 200 226 510 1 931 388 25 698
22 Fornecedores 2 078 652 33 169 546 0 31 090 894
27 Outras contas a receber e a pagar 12 900 1 587 250 12 900 1 587 250
28 Diferimentos 157 000 47 800 157 000 47 800
29 Provisões 0 450 000 0 450 000
32 Mercadorias 22 872 000 0 22 872 000 0
41 Investimentos financeiros 14 250 000 0 14 250 000 0
42 Propriedades de investimento 3 500 000 0 3 500 000 0
43 Ativos fixos tangíveis 132 079 355 0 132 079 355 0
51 Património/capital 0 119 000 000 0 119 000 000
56 Resultados transitados 256 300 0 256 300 0
57 Ajustamentos em ativos financeiros 0 10 624 100 0 10 624 100
59 Outras variações no património líquido 0 12 623 145 0 12 623 145
60 Transferências e subsídios concedidos 1 986 000 0 1 986 000 0
61 Custo das mercadorias vendidas e das matérias
529 785 0 529 785 0
consumidas
62 Fornecimentos e serviços externos 22 233 810 0 22 233 810 0
63 Gastos com o pessoal 33 098 000 0 33 098 000 0
64 Gastos de depreciação e de amortização 21 768 590 0 21 768 590 0
67 Provisões do período 450 000 0 450 000 0
68 Outros gastos e perdas 750 800 0 750 800 0
69 Gastos e perdas por juros e outros encargos 25 600 0 25 600 0
70 Impostos, contribuições e taxas 0 78 956 214 0 78 956 214
71 Vendas 22 000 1 970 780 0 1 948 780
75 Transferências e subsídios correntes obtidos 0 187 562 0 187 562
77 Ganhos por aumentos de justo valor 0 56 000 0 56 000
78 Outros rendimentos e ganhos 0 6 255 0 6 255
79 Juros, dividendos e outros rendimentos
0 325 500 0 325 500
similares
TOTAL 357 283 192 357 283 192 256 929 198 256 929 198

69
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Informação adicional para a Demonstração de Fluxos de Caixa:


• O saldo de Caixa e Equivalentes de Caixa em 1/1/N era de 32.320€, sendo que 15.000€
correspondiam instrumentos financeiros de elevada liquidez, entretanto vendidos.
• A entidade não realizou quaisquer aquisições de equivalentes a caixa neste período.
• Das vendas ficaram por receber 50.524€.
• Dos impostos e contribuições receberam-se 56.289.235€; das taxas receberam-se
20.710.765€.
• As compras de mercadorias totalizaram 24.999.000€.
• O saldo de dívidas a pagar aos fornecedores reduziu em 1.586.000€ face ao ano anterior.
• Ficaram por pagar 1.587.250€ de Gastos com Pessoal associados a férias, subsídios de
férias e respetivos encargos.
• Foram totalmente recebidas as transferências correntes; das transferências de capital
registadas na conta 59, ficou por receber a quantia registada na conta 20.
• Pagaram-se na totalidade os subsídios concedidos, os outros gastos e os juros.
• Receberam-se na totalidade os outros rendimentos e os juros.
• A entidade adquiriu e pagou neste ano 38.393.302€ de ativos fixos tangíveis diversos.

Informação adicional para a Demonstração das Alterações no Património Líquido:


• Não houve alterações, face ao ano anterior, no Património/Capital
• Os Resultados Transitados no início do ano eram negativos de 541.679€; o Resultado
Liquido do período anterior foi de 285.379€.
• Os investimentos financeiros mensurados pelo Método da Equivalência Patrimonial,
valorizaram 2.000.000€.
• Obtiveram-se 12.623.145€ de transferências e subsídios para investimentos, totalmente
reconhecidos no Património Líquido.

Pedidos:
1. Proceda ao apuramento dos resultados considerando as respetivas contas do Plano de
Contas Multidimensional do SNC-AP.
2. Elabore a Demonstração dos Resultados por Naturezas e o Balanço da entidade em
31/12/N, considerando os modelos do SNC-AP.
3. Considerando a informação adicional, elabore também a Demonstração de Fluxos de
Caixa e a Demonstração das Alterações no Património Líquido da entidade em
31/12/N, considerando os modelos do SNC-AP.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

RESOLUÇÃO

Questão 1

Apurar Resultados Débito Crédito Valor


Transferir gastos para resultados antes de impostos 811 80 842 585
60 1 986 000
61 529 785
62 22 233 810
63 33 098 000
64 21 768 590
67 450 000
68 750 800
69 25 600
Transferir rendºs para resultados antes de impostos 811 81 480 311
70 78 956 214
71 1 948 780
75 187 562
77 56 000
78 6 255
79 325 500
Transferir da RAI para RLP 818 811 80 842 585
811 818 81 480 311
RLP 637 726

71
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Questão 27

Ent dade: ………………………………………..


Demonstração dos Resultados por Naturezas (Individual ou consolidada) em XXX de XXX de 2XXX
Unidade: euros
PERÍODOS
RENDIMENTOS E GASTOS NOTAS N N-1
Impostos e taxas 78 956 214
Vendas 1 948 780
Prestações de serviços 0
Transferências correntes e subsídios à exploração obtidos 187 562
Variações nos inventários da produção 0
Trabalhos para a própria entidade 0
Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas -529 785
Fornecimentos e serviços externos -22 233 810
Gastos com pessoal -33 098 000
Transferências e subsídios concedidos -1 986 000
Prestações sociais 0
Imparidade de inventarios (perdas/reversões) 0
Imparidade de dívidas a receber (perdas/reversões) 0
Provisões (aumentos/reduções) -450 000
Imparidade de investimentos não depreciáveis/amortizáveis (perdas/reversões) 0
Aumentos/reduções de justo valor 56 000
Outros rendimentos e ganhos 6 255
Outros gastos e perdas -750 800
Resultados antes de depreciações e gastos de financiamento 22 106 416
Gastos/reversões de deprecição e amortização -21 768 590
Imparidade de investimentos depreciáveis/amortizáveis (perdas/reversões) 0
Resultado operacional (antes de gastos de financiamento) 337 826
Juros e rendimentos similares obtidos 325 500
Juros e gastos similares suportados -25 600
Resultados antes de impostos 637 726
Imposto sobre o rendimento 0
Resultado líquido do período 637 726
Resultado líquido do período atribuível a:
Detentores do capital da entidade-mãe 637 726
Interesses que não controlam 0
637 726

7O Balanço aqui apresentado obedece à estrutura do que está apresentado na NCP 1 do SNC-AP, aprovado no Decreto-lei
n.º192/2015, embora, como referido, se antecipem alterações em retificação a este diploma, dado o modelo apresentado
no Manual de Implementação do SNC-AP (versão 2).

72
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ent dade: ………………………………………..


Balanço (Individual ou consolidado) em XXX de XXX de 2XXX
Unidade: euros
DATAS
RUBRICAS NOTAS 31/XX/N 31/XX/N-1
ATIVO
Ativo não corrente
Ativos fixos tangíveis 132 079 355
Propriedades de investimento 3 500 000
Ativos intangíveis 0
Participações financeiras 14 250 000
Outros ativos financeiros 0
149 829 355
Ativo corrente
Inventários 22 872 000
Ativos biológicos 0
Devedores por transferencias e subsídios 979 000
Devedores por empréstimos bonificados 0
Clientes, contribuintes e utentes 1 931 388
Estado e outros entes públicos 0
Outras contas a receber 12 900
Diferimentos 157 000
Ativos financeiros detidos para negociação 0
Outros ativos financeiros 0
Caixa e depósitos bancários 48 670
26 000 958
Total do Ativo 175 830 313

PATRIMÓNIO LÍQUIDO
Património/Capital 119 000 000
Outros instrumentos de capital próprio 0
Prémios de emissão 0
Reservas 0
Resultados transitados -256 300
Ajustamentos em ativos financeiros 10 624 100
Excedentes de revalorização 0
Outras variações no Património Líquido 12 623 145
Resultado líquido do período 637 726
Interesses que não controlam 0
Total do Património Líquido 142 628 671

PASSIVO
Passivo não corrente
Provisões 450 000
Financiamentos obtidos 0
Fornecedores de investimentos 0
Responsabilidades por benefícios pós-emprego 0
Outras contas a pagar 0
450 000
Passivo corrente
Credores por transferências e subsídios concedidos 0
Fornecedores 31 090 894
Adiantamentos de clientes contribuintes e utentes 25 698
Estado e outros entes públicos 0
Financiamentos obtidos 0
Fornecedores de investimentos 0
Outras contas a pagar 1 587 250
Diferimentos 47 800
Passivos financeiros detidos para negociação 0
Outros passivos financeiros 0
32 751 642
Total do Passivo 33 201 642
Total do Património Líquido e Passivo 175 830 313

73
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Questão 3

Notas e cálculos para o preenchimento da Demonstração de Fluxos de Caixa

Recebimentos de clientes = Vendas – valor que fica por receber = 1.948.780 – 50.524

Recebimentos de contribuintes e utentes – valores obtidos diretamente dos dados

Pagamentos aos fornecedores = Compras + FSE + Redução do saldo dos fornecedores - Saldo
final de fornecedores = 24.999.000+22.233.810+1.586.000-31.090.894

Pagamentos ao pessoal = Gastos com pessoal – valor que ficou por pagar = 33.098.000 –
1.587.250

Outros recebimentos/pagamentos
Reúne valores recebidos de transferências correntes e de capital, bem como de outros
rendimentos; e ainda pagamentos de outros gastos e subsídios concedidos.

Os valores relativos aos fluxos de caixa das atividades de investimento e de financiamento são
obtidos diretamente dos dados adicionais e do balancete.

Relativamente à parte da conciliação dos saldos, como neste ano já não houve aquisição de
instrumentos financeiros de elevada liquidez ou outros elementos equivalentes a caixa, há
coincidência, no final do ano, entre o saldo de Caixa e Equivalentes a Caixa e o Saldo para a
Gerência Seguinte.

Os valores apresentados para execução orçamental e operações de tesouraria, relativamente


aos Saldos da Gerência Anterior e para a Gerência Seguinte, assume-se que foram obtidos a
partir da Demonstração de Desempenho Orçamental.

74
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ent dade: ………………………………………..


Demonstração (Individual ou consolidada) dos Fluxos de Caixa, em XXX de XXX de 2XXX
Unidade Monetária
Rubricas Notas Períodos
N N-1

Fluxos de caixa das atividades operacionais


Recebimentos de clientes 1 898 256
Recebimentos de contribuintes 56 289 235
Recebimentos de utentes 20 710 765
Pagamentos a fornecedores -17 727 916
Pagamentos ao pessoal -31 510 750
Caixa gerada pelas operações 29 659 590
Outros recebimentos/pagamentos 9 101 162
Fluxos de caixa das atividades operacionais (a) 38 760 752

Fluxos de caixa das atividades de investimento


Pagamentos respeitantes a:
Ativos fixos tangíveis -38 393 302
Ativos intangíveis
Propriedades de Investimento
Investimentos financeiros
Outros ativos
Recebimentos provenientes de:
Ativos fixos tangíveis
Ativos intangíveis
Propriedades de Investimento
Investimentos financeiros
Outros ativos
Subsídios ao investimento
Transferências de capital
Juros e rendimentos similares 325 500
Dividendos
Fluxos de caixa das atividades de investimento (b) -38 718 802

Fluxos de caixa das atividades de financiamento


Recebimentos provenientes de:
Financiamentos obtidos
Realizações de capital e de outros instrumentos de capital
Cobertura de prejuízos
Doações
Outras operações de financiamento
Pagamentos respeitantes a:
Financiamentos obtidos
Juros e gastos similares -25 600
Dividendos
Reduções de capital e de outros instrumentos de capital
Outras operações de financiamento
Fluxos de caixa das atividades de financiamento (c) -25 600

Variação de caixa e seus equivalentes (a+b+c) 16 350


Efeito das diferenças de câmbio 0
Caixa e seus equivalentes no início do período 32 320
Caixa e seus equivalentes no fim do período 48 670

CONCILIAÇÃO ENTRE CAIXA E SEUS EQUIVALENTES E SALDO DE GERÊNCIA


Caixa e seus equivalentes no início do período 32 320
- Equivalentes a caixa no ínício do período -15 000
- Variações cambiais de caixa no início do período 0
= Saldo da Gerência Anterior 17 320
De execução orçamental 13 910
De operações de tesouraria 3 410
Caixa e seus equivalentes no fim do período 48 670
- Equivalentes a caixa no fim do período 0
- Variações cambiais de caixa no fim do período 0
= Saldo para a Gerência Seguinte 48 670
De execução orçamental 35 980
De operações de tesouraria 12 690

75
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Notas e cálculos para o preenchimento da Demonstração das Alterações no Património


Líquido

O Resultado Líquido do período anterior, passa para Resultados Transitados no ano corrente.
Os ajustamentos em ativos financeiros e as transferências e subsídios ao investimento,
constituem variações patrimoniais positivas, i.e., rendimentos diretamente reconhecidos no
Património Líquido e que, por isso, complementam o Resultado Líquido do Período para se
obter um Resultado ntegral de 15.260.871€.

76
Demonstração (Individual ou consolidada) das Alterações nos Fundos Próprios, em XXX de XXX de 2XXX

Unidade Monetária
Património Líquido atribuído aos detentores do Património Líquido da empresa-mãe

Outros Reservas Interesses Total do


Ajustament Excedentes Outras
Descrição Notas Capital/Patri instrument decorrentes Resultado que não Património
Reservas Outras Resultados os em de variações no
mónio os do da Líquido do TOTAL controlam Líquido
Legais Reservas Transitados ativos Revaloriza Património
Realizado Patrimóni transferênc Período
financeiros ção Líquido
o Líquido ia de ativos

POSIÇÃO NO INÍCIO DO PERÍODO (1) 119 000 000 -541 679 8 624 100 285 379 127 367 800 0 127 367 800

ALTERAÇÕES NO PERÍODO
Primeira adopção de novo referencial contabilístico
Alterações de políticas contabilísticas
Diferenças de conversão de demonstrações financeiras
Realização do excedente de revalorização
Excedentes de revalorização e respectivas variações
Outras alterações reconhecidas no Património Líquido 2 000 000 12 623 145 14 623 145
(2) 0 0 0 0 0 0 2 000 000 0 12 623 145 0 14 623 145 0 14 623 145
RESULTADO LÍQUIDO DO PERÍODO (3) 637 726 637 726 0 637 726

RESULTADO INTEGRAL (4)=(2)+(3) 637 726 15 260 871 15 260 871

OPERAÇÕES COM DETENTORES DE CAPITAL NO PERÍODO


Realizações de capital/património
Entradas para cobertura de perdas
Outras operações
(5) 0 0 0 0 0 285 379 0 0 0 -285 379 0 0 0
POSIÇÃO NO FIM DO PERÍODO (6)=(1)+(2)+(3)+(5) 119 000 000 0 0 0 0 -256 300 10 624 100 0 12 623 145 637 726 142 628 671 0 142 628 671
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras

77
SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Legislação e bibliografia

MANUAL E LEGISLAÇÃO
COMISSÃO DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA (2017), Manual de Implementação do SNC-
AP, Versão 2, Junho.
DECRETO-LEI n.º 192/2015, de 11 de setembro, Sistema de Normalização Contabilística para
as Administrações Públicas (SNC-AP).
LEI nº 73/2013, de 3 de setembro, estabelece o Regime Financeiro das Autarquias Locais e das
Entidades Intermunicipais.
LEI nº 151/2015, de 11 de setembro, Lei de Enquadramento Orçamental.
LEI n.º 140/2015, de 7 de setembro, novo Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas.
PORTARIA n.º 189/2016, de 14 de julho, Notas de Enquadramento ao Plano de Contas
Multidimensional — Sistema de Normalização Contabilística para as Administrações Públicas
PORTARIA n.º 218/2016, de 9 de agosto, Regime Simplificado do Sistema de Normalização
Contabilística para as Administrações Públicas.

LIVROS E ARTIGOS
BUDDING, Tjerk; GROSSI, Giuseppe; TAGESSON, Torbjörn (2015), Public Sector Accounting;
Routledge – Taylor & Francis Group.
JONES, Rowan; PENDLEBURY, Maurice (2010), Public Sector Accounting, 6th ed., Pearson
Education Ltd.
JORGE, Susana; PATTARO, Anna Francesca; SÁ, Patrícia Moura e; LOURENÇO, Rui (2012);
«Local Government financial transparency in Portugal and Italy: a comparative exploratory
study on its determinants»; XVI IRSPM Conference “Contradictions in Public Management.
Managing in volatile times”; Rome (Italy), April 11-13.
LOURENÇO, Rui P.; SÁ, Patrícia Moura e; JORGE, Susana; PATTARO, Anna Francesca (2013);
«Online transparency for accountability: one assessing model and two applications»; The
Electronic Journal of e-Government, 11(1), 280-292.
VAN HELDEN, Jan; HODGES, Ron (2015), Public Sector Accounting & Budgeting for non-
specialists; Palgrave-MacMillan.

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SNC-AP: Elaboração e preparação das demonstrações financeiras
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

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