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Cativo do Destino – Beverly Jenkins

CATIVO DO DESTINO
Beverly Jenkins

(Trilogia Destinos 03)

Alie, Lu, Darlyng, AlêHol, Iete, Val, Graça.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Sinopse

Noah Yates acredita plenamente nas alegrias de uma


família feliz e de uma boa esposa. Mas essa não é a vida para ele.
Não, ele prefere navegar pelos mares selvagens em busca de
aventura, sem amarras.

Mas então o impensável acontece. . . ele se encontra


literalmente amarrado. Em uma cama. Por uma mulher.

E Pilar não é apenas uma mulher comum. Ela é


descendente de piratas. E depois de dar-lhe uma das piores noites
de sua vida, ela rouba seu navio! Agora Noah está à caça e não vai
parar por nada até encontrar essa mulher extraordinária. . . e torná-
la sua.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Prólogo
1874

Oceano Pacífico ao largo da costa de São Francisco

─ Segure-o enquanto eu lhe ensino alguma obediência.

A faca cortou a bochecha de Noah Yates de dezoito anos e a dor


lancinante o fez gritar enquanto lutava contra os três homens que o mantinham
no lugar.

─ Seu rosto é lindo demais mesmo. ─ O capitão Alfred Simmons riu


maliciosamente, segurando a lâmina sangrenta na mão.

─ Minha mãe vai pagar pela minha libertação! ─ Noah implorou mesmo
odiando, mas era tudo o que ele podia fazer.

Os tripulantes que assistiam riram e uma voz soou:

─ Conseguiu-nos um bebê da mamãe, não é?

─ Ela é tão bonita quanto você? ─ berrou outro.

Ferido por todas as vezes que lutara desde que fora 1shangaied na noite
anterior. Noah Yates estava cansado e sim com medo do que poderia acontecer
a seguir. Seus irmãos mais velhos, Logan e Drew, deviam estar, sem dúvida,
virando São Francisco de cabeça para baixo em um esforço para determinar seu
paradeiro, mas nunca o encontrariam - não em um navio em alto mar. Seu
destino e o dos outros, embarcados forçosamente a bordo do navio, descansava
nas mãos do malvado Capitão Simmons.

─ Vou perguntar mais uma vez: você quer se inscrever com minha
equipe?

─ Não!

─ Leve-o para baixo e ponha-o nos ferros! Ele vai mudar de tom. Traga o
próximo aqui.

Então, Noah foi arrastado para baixo e acorrentado ao chão por seus
pulsos e tornozelos. Mais cedo, o capitão expressara aversão ao confisco de
1
É a prática de sequestrar pessoas para servir como marinheiros na tripulação de um navio, por meio de
técnicas coercitivas, como: violência, bebidas e drogas entorpecentes, intimidação ou trapaça.

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itens religiosos, então ele deixou Noah manter a cruz de ouro pendurada em
uma corrente em volta do pescoço, mas suas botas foram levadas junto com
suas outras posses, deixando-o vestido com sua camisa e calças. Dois outros
homens acabaram se juntando a ele no escuro e úmido porão. Um deles que
parecia ter mais ou menos a idade de Noah apresentou-se como Kingston
Howard, um estivador de Los Angeles. O terceiro não ofereceu nem nome nem
conversa. Ele simplesmente sentou e chorou.

O sangue da ferida de faca penetrou o canto da boca de Noah e quando


ele usou o ombro da camisa para estancar o fluxo, a dor queimou vivamente.
Fechando os olhos até que a onda de fogo diminuísse, ele tentou não pensar em
quão frenética sua família deveria estar por não saber seu destino e como ele
estava aterrorizado com o que estava por vir.

E o que havia pela frente eram semanas e mais semanas de escuridão,


ratos correndo sobre seu corpo à noite e eles recebendo apenas comida e água
suficientes para permanecerem vivos. O capitão Simmons nunca se aventurou a
descer. Noah e Kingston tentaram manter sua sanidade contando histórias de
suas vidas. Kingston falou de sua esposa e filho. Noah que foi sequestrado
enquanto comemorava seu décimo oitavo aniversário, falou sobre sua família e
seu amor pela música e livros. O terceiro homem ficou enjoado durante dias a
fio e o porão se encheu do fedor de vômito. . . Ele foi finalmente levado para o
convés, mas nunca retornou.

Com o tempo devido às condições úmidas e falta de nutrição, a infecção


se instalou na bochecha ferida de Noah, trazendo consigo febre e, à medida que
o veneno se espalhava por seu corpo, a ilusão. Kingston disse-lhe mais tarde
que o médico do navio desceu para tratá-lo, mas Noah não tinha lembranças da
visita, apenas os arrepios e sonhos monstruosos preenchidos com o rosto do
capitão Simmons.

Noah não fazia ideia de quantos dias se passaram quando ele e Kingston
foram despertados por membros da tripulação. Suas correntes foram desfeitas e
empurradas para seus pés. As pernas de Noah imediatamente cederam, assim
como as de Kingston. Os tripulantes riram e eles foram obrigados a rastejar até
o convés. Era o primeiro sol que Noah estava vendo no que parecia anos e o
brilho ardeu em seus olhos. O ar, ao contrário da brisa fresca de sua casa no
norte da Califórnia, era espesso e úmido, deixando-o saber que ele estava em
algum lugar longe de casa. Ele viu Kingston claramente pela primeira vez
desde a sua captura, e ficou chocado com suas roupas imundas, o crescimento
total da barba e como emaciado o homem outrora grande pareceu. Noah olhou

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para a imundície em si, e adivinhou a condição de Kingston em relação à sua
própria.

Capitão Simmons desdenhou:

─ Você gostou do porão?

Os olhos de Noah arderam de ódio.

─ Tenho que admitir, você tem mais colhões do que eu acreditava.


Imaginei que você estaria implorando para se livrar das correntes semanas
atrás. Você está pronto para assinar os artigos da tripulação agora?

Noah pensou como seria fácil se render e entregar-se ao homem que


roubou sua vida, mas ele recusou.

─ Não.

Simmons deu de ombros e se virou para Kingston.

─ E você?

─ Vá para o inferno! ─ Veio sua resposta raivosa.

Simmons riu.

─ E é para lá que você está indo. Jogue-os no escaler, rapazes!

Noah fez o melhor que pôde para resistir, mas em seu estado
enfraquecido ele foi facilmente forçado a entrar no escaler, onde um dos
tripulantes apontava uma pistola para ele e para Kingston quando eles foram
baixados para a superfície do mar.

Simmons gritou lá de cima.

─ Volto para pegar vocês algum dia. Enquanto isso, divirtam-se!

A risada irônica da tripulação soou quando eles foram levados para


longe do navio em direção a uma ilha à distância.

Simmons estava certo. Era um inferno. Um campo de prisioneiros na


ilha. Noah não tinha ideia de como o capitão sabia sobre o lugar, mas isso não
importava. Ele e Kingston foram entregues a soldados uniformizados e levados
embora.

Durante o dia, era o trabalho dos cem homens prisioneiros transportar


árvores derrubadas até o pequeno cais, onde navios atracados aguardavam nas
águas infestadas de tubarões. À noite, eles eram conduzidos como gado aos
confins de uma antiga prisão de pedra deixada pelos espanhóis e trancados sem

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comida, água ou proteção uns dos outros. Sem guardas para garantir a paz, era
cada um por si contra os assassinos, os estupradores e os desequilibrados. Na
primeira noite Noah não dormiu por causa dos gritos - alguns dos quais eram
seus. Enquanto a sua estadia se transformava em dias e semanas, os horrores
continuavam e ele rezava para que o pesadelo acabasse, mas estava convencido
de que Deus não estava escutando.

Para alimentar-se depois de horas, os prisioneiros assavam ratos em


fogos improvisados. Outros comiam baratas, lagartos e qualquer outra coisa
que tivesse a infelicidade de cruzar seus caminhos. Noah e Kingston se
juntaram a eles. Era isso ou morrer de fome.

Nos meses que se seguiram, Noah se fortaleceu com o trabalho forçado e


a luta para permanecer vivo. Ele e Kingston foram desafiados por aqueles que
tinham transformado a população da prisão em facções e estavam procurando
por mais súditos para governar, fornecer-lhes comida e ser seus amantes
quando chamados, mas os dois homens provaram sua coragem por serem tão
infames e ferozes quanto seus adversários e acabaram por ser deixados
sozinhos. Os guardas uniformizados, eles próprios desonrados soldados
espanhóis, fechavam os olhos para o caos noturno. Eles passavam os dias
patrulhando os locais de trabalho - fuzis equipados com baioneta prontos - e
suas noites comprando favores das mulheres locais. Sua única preocupação era
que o trabalho fosse feito, e que a cada manhã homens suficientes ainda
estivessem vivos para garantir que isso acontecesse.

Depois de seis meses na ilha, Noah não se identificava mais com o filho
mais novo e mimado de sua ilustre família da Califórnia. Na noite anterior, ele
enfiara o rosto de um homem no fogo por ter emboscado Kingston e quebrado
sua clavícula. Ele se tornara tão feroz quanto os tigres que caçava nas
montanhas, e tão mortal quanto os tubarões circulando nas regiões costeiras.
Sua humanidade tinha sido perdida a fim de permanecer vivo, e ele não tinha
como saber se ele iria recuperar aquele outro eu de novo.

Uma semana depois, ele e Kingston, cujo braço ainda estava pendurado
em uma tipoia improvisada, foram retirados de seus lugares de trabalho sem
explicação e levados de carroça para as docas. Esperando ali estava o
presunçoso Capitão Simmons.

─ Vocês estão prontos para assinar comigo agora, rapazes?

Nenhum deles hesitou. Eles colocaram suas assinaturas nos papéis e o


seguiram de volta ao navio

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CAPITULO 1

Verão de 1887

Havana, Cuba

Pilar Banderas examinou a enorme quantidade de navios ancorados no


porto lotado de Havana. Ela precisava roubar um navio. Disfarçada de velha e
usando um lenço de cabeça gasto, uma blusa disforme e uma saia empoeirada,
ela se inclinou sobre uma bengala e continuou sua caminhada lenta pelas docas.
Dois navios de dois mastros pertencentes à odiada marinha espanhola, foram
rapidamente descartados como candidatos devido ao seu tamanho e à garantia
de punição caso ela fosse pega a bordo. Havia outros navios em volta, ambos
com design e tonelagem menores, mas estes exigiam mais membros da
tripulação do que ela tinha acesso, então ela rapidamente os eliminou também.
O candidato mais provável era uma escuna de dois mastros chamada Alanza.
Tendo navegado em navios semelhantes no passado, ela sabia que seria fácil
fazer a viagem para Santo Domingo para encontrar com o traficante de armas, e
não precisaria de uma grande tripulação. Ela estava de olho nesse desde o início
de sua vigilância no dia anterior, e quanto mais ela observava, mais ela se
convencia. Pela informação reunida de amigos dentro da cidade, ela sabia que o
dono do Alanza era um americano rico chamado Noah Yates, e que ele ancorava
em Havana anualmente para vender sedas orientais, especiarias e outros
produtos exóticos, àqueles que tinham dinheiro para desperdiçar com
extravagâncias. Ontem à noite, ele fora visto escoltando uma das belezas da
cidade para o teatro e depois de levá-la para casa, passara algumas horas em
um salão de apostas popular, onde ganhou uma quantia considerável de ouro.
Se ele perdesse seu navio, ele era, sem dúvida, suficientemente rico para
encomendar outro, então ela não sentiria nenhum remorso.

Pilar era uma araña, uma “aranha”, uma das muitas que reunia
informações em nome dos rebeldes cubanos determinados a livrar sua amada
ilha do domínio espanhol. A última tentativa de independência, conhecida
como a Guerra dos Dez Anos, terminou em 1878 com uma rendição negociada
pelos rebeldes, mas ela e seus compatriotas estavam convencidos de que a
próxima campanha seria um sucesso, principalmente devido à proeza do líder

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rebelde General José Antonio Maceo, carinhosamente chamado de Titã de
Bronze por seus seguidores devido a cor de sua pele e seu destemor no campo
de batalha.

Se decidindo pelo Alanza, ela abriu caminho através da multidão e voltou


para o banquinho de três pernas que marcava seu lugar na doca movimentada,
onde cubanos de todos os matizes, idades e tamanhos vendiam tudo; de comida
e bebida a medalhas religiosas, em um esforço para complementar sua renda
insignificante, tudo sob os olhos atentos do crescente número de soldados
espanhóis em patrulha. Nos últimos meses, centenas de novas tropas foram
trazidas para ajudar a manter a bota da coroa no pescoço do povo. Em um
esforço descarado para reprimir a crescente tensão, milhares de pessoas ligadas
aos rebeldes foram cercadas e forçadas a campos miseráveis, cheios de
desespero, doenças e pouca comida. Mas em vez de quebrar o espírito do
movimento, os apelos à liberdade estavam se intensificando com o amanhecer
de cada novo dia.

Apesar da tensão subjacente da ilha, o ar perto das docas estava vivo


com o cheiro de alimento cozinhando em pequenos braseiros, os sons de
vendedores ambulantes e músicos e o cheiro picante do mar.

─ Onde está seu distintivo, velha?

Pilar lentamente ergueu o olhar para o homem que falara com um tom
zombeteiro, e o olhou por um momento. Ele tinha um rosto fino e claro, estava
vestido com um terno apertado de corte espanhol e seu cabelo estava liso de
pomada.

─ Que distintivo? ─ ela perguntou enquanto arrumava o peixe que estava


vendendo como parte de sua artimanha.

─ O emblema que lhe dá o direito de estar nas docas.

A corrupção em Havana era tão difundida que até os mendigos eram


obrigados a pagar um suborno para mendigar.

─ Eu não preciso de um. ─ Com o canto do olho, ela assistiu seu amigo
Tomas caminhando inocentemente em sua direção. Ele estava se fingindo de
pescador, filho dela, a fim de ser seus olhos e ouvidos. Ele também era bom em
uma luta, se surgisse a necessidade.

─Todo mundo precisa de um distintivo para estar nas docas, ou você terá
que sair.

─ Quem disse?

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─ Eu digo.

─ E quem é seu patrão? ─ ela perguntou com cuidado para manter sua
voz no timbre dos idosos.

Sua carranca anunciou que ele não estava gostando de ser desafiado.

─ Eu não tenho patrão.

─ Eu acho que você tem. Seu nome é Gordonez. Sim? ─ Ela sabia quem
comandava as docas.

Ele endureceu.

─ Meu nome é Banderas. Diga-lhe que estou aqui a negócios e não


preciso de seu povo fuçando em meus assuntos.

Aparentemente enfurecido por sua recusa em ser intimidada, ele recuou


o punho, mas seu olhar de aço o fez hesitar.

─ Você vê aquele homem lá de camisa verde?

Ele deu uma olhada em Tomas, que tinha tomado posição a uma curta
distância enquanto a multidão passava ao redor dele.

─ Ele tem uma faca que pode voar da mão dele para o seu coração, antes
que você possa piscar um olho. Se você preferir morrer hoje vá em frente e me
atinja.

Seus olhos se arregalaram.

Ela usou sua verdadeira voz:

─ Vá levar ao seu patrão a minha mensagem antes que eu mate você


apenas por bloquear minha visão.

Furioso, ele a olhou com ódio antes de se afastar.

Tomas se aproximou e acrescentou mais alguns peixes recém-pescados


ao seu monte. Eles eram amigos desde a infância e compartilhavam a dor
comum de ter tido seus pais enforcados pela Espanha durante a Guerra dos Dez
Anos.

─ Quem era ele?

─ Um dos homens de Gordonez. Mandei-o embora com uma mensagem


que espero que ele leve a sério. Eu não vou ter minha missão arruinada porque
ele quer uma contribuição.

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─ Vamos esperar que ele vá, porque a nossa presa se aproxima.

Dois homens altos e morenos percorriam o caminho lotado, evitando as


oferendas da legião de vendedores ambulantes.

─ Qual deles? ─ ela perguntou.

─ À esquerda. O outro é seu sócio, Kingston Howard.

Pilar guardou a avaliação de Howard para mais tarde, e discretamente


focou sua atenção em Yates. Seu cabelo preto grosso estava puxado para trás
em uma trança. Sua textura e comprimento anunciavam um homem de sangue
misturado. Quando ele se aproximou, ela percebeu que ele era ainda mais alto
do que pareceu inicialmente. Seus ombros no terno cinza bem cortado eram
largos e poderosos. Havia um poder silencioso em seu comportamento, dando a
impressão de que ele não era um homem a ser subestimado. Enquanto ela o
observava daqueles ombros até as botas caras, um frisson incaracterístico de
nervosismo percorreu-a e ela se perguntou se escolher outro alvo não seria mais
prudente. Quando ele virou o rosto para seu companheiro, ela notou a
profundidade fria em seus olhos escuros e a cicatriz cruel que corria ao longo de
sua bochecha.

─ Dios! ─ ela sussurrou bruscamente. A cicatriz era surpreendente, mas


parecia aumentar as linhas de granito de um rosto surpreendentemente bonito.

─ Ele não será facilmente superado, Pilar. Ir em frente pode ser um erro.

Ela concordava, mas os rebeldes precisavam dessas armas. No fim da


Guerra dos Dez Anos a posse pessoal de armas de fogo havia sido banida, então
a população foi forçada a lidar com contrabandistas.

─ Não há tempo para procurar mais ninguém. Se não encontrarmos


Octavio amanhã à noite, ele venderá as armas para outro comprador. ─ O velho
contrabandista era um amigo da família, mas os negócios sempre superavam o
pessoal e ele não esperaria para sempre, não importa quanto ouro tenha sido
prometido a ele.

Nessa altura, Yates e Howard estavam em frente à posição de Pilar, então


ela gritou na sua voz de velha:

─ Por que vocês não experimentam esse excelente peixe, senhores? É


fresco.

Eles balançaram a cabeça e continuaram andando.

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─ Peixe é bom para jogos amorosos ─ acrescentou ela. ─ O faz forte e duro.
Ajuda um homem bonito a durar até o amanhecer.

Isso lhes rendeu um leve sorriso, mas eles balançaram a cabeça


novamente e seguiram em frente.

─ Jogos amorosos? ─ Tomas perguntou com uma risada. ─ O que você


sabe disso?

Em lugar de admitir a verdade, ela disse:

─ Eu sei que temos que ter o navio dele. ─ Ela olhou para as costas de
Noah Yates, esperando que isso não fosse um erro.

Ela estava prestes a dizer mais, mas foi interrompida pelo retorno do
homem de Gordonez.

─ Ele quer ver você.

─ E se eu recusar?

Ele deu-lhe um sorriso frio.

─ Então ele irá alertar as autoridades sobre sua presença na cidade e nós
dois sabemos que você não pode se permitir isso.

Ela olhou para Tomas, que observava o homem com malevolência.

─ Sozinha ─ o homem acrescentou presunçosamente.

─ Não ─ Tomas respondeu friamente.

Pilar pôs a mão no braço dele.

─ Eu vou ficar bem. ─ Ela duvidava que Gordonez quisesse que suas
operações ilegais fossem impactadas pela ira do general Maceo se algo
acontecesse com ela. Ele podia ser uma cobra, mas não era um idiota. ─ Eu vou
encontrá-lo depois que terminarmos.

Tomas assentiu com firmeza, mas prometeu:

─ Se ela for prejudicada de alguma forma, minha faca e eu viremos


caçar... você.

O sorriso confiante diminuiu.

Victorio Gordonez morava em uma bela casa nos arredores da cidade.


Ele cultivava a fachada de um rico empresário, mas o que ficava embaixo fedia
a corrupção, extorsão e assassinato de aluguel. Quando Pilar chegou, seu

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homem a acompanhou a um escritório excessivamente decorado com estátuas
de santos e mulheres nuas.

─ Ele estará com você em breve.

“Breve” se arrastou por mais de uma hora. Ela sabia que o atraso era
uma tentativa de Gordonez de perturbá-la, então, ao invés disso, ela usou o
tempo para planejar seu plano para Yates. Ela decidiu por ser simples e direta,
porque isso sempre funcionava melhor. Tentar algo complicado e enredado
significava que muitas coisas poderiam dar errado.

─ Ah, Pilar. Eu me perguntei qual Banderas enviou a mensagem.

Ela se virou para o homem corpulento que já fora noivo de sua mãe. Ela
não devolveu o sorriso dele.

─ Esse disfarce é tão dramático, mas sua família sempre foi conhecida por
sua...teatralidade.

Ela ignorou a ironia. Ela também guardou para si o quão ridículo ele
parecia usando um pó branco, em uma tentativa fracassada de mascarar a pele
escura herdada por ele de sua avó africana escravizada.

─ Por que você queria me ver?

Ele caminhou até a mesa e sentou-se na poltrona vermelha estofada, que


lembrava um trono.

─ Você não tem tempo para amabilidades? Como está sua linda mãe? E
sua irmã e tias?

Ela cruzou os braços e esperou.

─ Ah, sempre a rebelde. Isso será sua queda um dia, vamos esperar que
não seja em breve.

Ela também ignorou isso.

─ A razão pela qual eu te convidei para a minha humilde casa, foi para
dar-lhe boas-vindas à cidade e perguntar por que você está aqui.

─ E se eu disser que não diz respeito a você?

─ Tenho certeza de que meu homem lhe deu minha mensagem assim
como ele me deu a sua. Por que você está em Havana, Pilar?

─ Em negócios para o general. ─ Ela o viu entender e tentar determinar o


quão longe pressionar.

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─ Ah, o ilustre general. Ele ainda está se escondendo e lambendo suas
feridas, na Bolívia, não é? ─ Ele abriu uma pequena caixa de estanho
requintadamente decorada sobre a mesa, e tirou um chocolate que colocou na
boca. ─ Você gostaria de um?

─ Não, obrigada.

Ele sentou-se e estudou-a momentaneamente.

─ O general Maceo seria mais bem-sucedido se se concentrasse na


agricultura, como ele foi criado para fazer. Ele e suas hordas de 2Mambi não
sabem nada sobre administrar um país tão avançado quanto Cuba. Durante a
Guerra dos Dez Anos, a coroa provou que eles sabiam muito pouco sobre luta
também. ─ E riu.

Mambis eram os membros do exército do general Maceo. Mais de


oitenta por cento eram descendentes de afro-cubanos. Eles tiraram o nome de
Eutimio Mambi, que lutou com sucesso contra os espanhóis em Santo Domingo.

─ Já acabamos?

─ Novamente por que você está aqui?

─ Novamente não te diz respeito, mas para apaziguar seus medos, não
tem nada a ver com você ou suas empresas.

─ Eu quero você fora de Havana.

─ Assim que eu atingir meu objetivo levarei seus desejos em


consideração.

─ Sabe, se a sua mãe tivesse me escolhido em vez do imprestável do seu


pai, você seria minha filha e as duas morariam em Havana desfrutando de uma
vida rica e plena, em vez de passar fome nos labirintos de ratos de Santiago com
o resto dos vermes de lá.

─ Como se sentiu quando ela não apareceu na igreja no dia do seu


casamento?

─ Saia!

─ Com prazer.

Tomas estava do lado de fora esperando no alto de uma carroça assim


como ela sabia que ele estaria.

2
Pessoas que lutaram contra a Espanha nas Guerras de independência de Cuba e Santo Domingo, no
século XIX.

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─ O que ele queria? ─ ele perguntou enquanto ela subia para o assento.

─ Além de tentar determinar o paradeiro do general e insultar meus pais,


nada.

─ Desgraçado.

Gordonez era isso e muito mais. Suas mentiras mandaram seu pai para a
forca. Ela engoliu seu ódio.

─ Esqueça-o. Vamos roubar um navio.

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Capítulo 2

A bordo do Alanza, nos pequenos aposentos abaixo do convés que


serviam como escritório e quarto de Noah, ele e Kingston se preparavam para
se separar. Kingston viajaria de balsa para a Flórida, onde pegaria o trem até a
Costa Leste para se encontrar com sua esposa e filho que agora residiam em
Boston. Noah levantaria âncora de manhã para ir à Califórnia assistir ao
casamento de sua mãe. Uma década se passara desde que Simmons levou os
dois homens para longe da prisão na ilha. Devido a essa experiência
compartilhada, eles eram tão próximos quanto irmãos. Os termos que
assinaram os vincularam ao hediondo capitão por dois longos anos, mas depois
de liberados formaram a Yates e a Howard Imports e acumularam uma
pequena fortuna vendendo mercadorias de todos os cantos do mundo.

─ Quanto tempo você pretende ficar na Califórnia? ─ Kingston


perguntou.

Noah encolheu os ombros.

─ Não tenho certeza. Acho que só posso tolerar estar em terra por pouco
tempo, mas estou ansioso para ver minha família. Eu entro em contato se ficar
impaciente.

O sorriso no rosto de King fez Noah perguntar:

─ O que é tão engraçado?

─ Aquela velha e seu peixe. Apenas pensando sobre ela divulgando suas
qualidades.

Noah revirou os olhos.

─ Na idade dela, duvido que ela possa lembrar como era estar na cama
de um homem.

─ Falando nisso, o que você achou da Senhorita Bernita Mendoza?

─ Ela é linda como um nascer do sol, mas tem o cérebro de um crustáceo.

Kingston riu.

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─ Acho que minha mãe pode ter dado aos pais dela a impressão de que
eu estava procurando uma noiva. ─ A família era parente distante de sua mãe, e
tinha se estabelecido recentemente em Cuba depois de fugir da guerra e
agitação em Santo Domingo.

─ Mas você não está?

─ Claro que não. O mar é minha amante e não me aborrece com


conversas de fofocas e vestidos, que é sobre tudo o que a garota falou ontem à
noite.

─ Você precisa de uma esposa para trazer luz para essa sua alma sombria.

─ Eu gosto da minha alma sombria, mas se você me encontrar uma


mulher disposta a viver no mar, eu posso considerar mudar minha postura.

─ Eu verei o que posso fazer. Quais são seus planos para esta noite?

─ Eu estupidamente aceitei escoltar Bernita a ópera. Depois disso volto


para cá e me preparo para velejar para casa.

─ Bem. Então, vou me despedir agora.

Os dois homens compartilharam um abraço fraterno.

─ Boa viagem, Noah.

─ Para você também. Meus cumprimentos à sua esposa e filho.

Kingston partiu, deixando Noah sozinho.

Noah subiu a escada pequena que levava acima do convés e ficou de pé


olhando para o porto congestionado. Ele não podia esperar para levantar
âncora e sentir o balanço das ondas sob o Alanza e o vento em seu rosto. Ele e
uma equipe reduzida viajariam para o oeste até Brownsville, no Texas, e
atracariam o barco em um estaleiro que ele havia usado no passado. Os homens
iriam para as casas deles e ele tomaria o trem para São Francisco, com a
esperança de chegar a tempo para o casamento de sua mãe, para que pudesse
acompanhá-la pela igreja. Depois da morte de seu pai, Abraham, ela criou Noah
e seus irmãos sozinha. Já estava na hora de encontrar um amor para ela mesma,
e ele considerava Max Rudd, um velho amigo da família, uma combinação
perfeita para a matriarca determinada. Fazia quase um ano desde que ele vira
sua família. Em sua última visita a Destino, o rancho onde todos cresceram, ele
ficou agradavelmente surpreso ao encontrar seu irmão mais velho, Logan,
casado com uma costureira de olhos dourados da Filadélfia, chamada Mariah.
Desde aquela época eles apresentaram à sua mãe a primeira neta, uma menina

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chamada Maria, que por coincidência herdara os olhos dourados da mãe. Ainda
mais surpreendente foi a recente carta de sua mãe informando-o de que seu
segundo irmão, o advogado Andrew, também estava casado. Drew, que todos
acreditavam que passaria o resto de seus anos semeando sua aveia selvagem3
na baía do México, casado? Pensar nisso o fez sorrir. Ele não podia esperar para
conhecer a mulher que finalmente o pegou. Noah ficou feliz por seus irmãos
também terem encontrado o amor e, de certa forma, invejava a felicidade deles,
mas ele não tinha intenção de se casar porque gostava de sua vida de
marinheiro solitário, e duvidava que qualquer mulher abraçasse de bom grado
o que King chamava de alma sombria. O jovem otimista e despreocupado do
passado estava enterrado sob as experiências colocadas em movimento pelo
Capitão Alfred Simmons. Ele usava a escuridão atrás dele como um pesado
casaco de inverno e dificultava sua capacidade de recuperar a alegria que ele
uma vez tivera na vida. Embora ele nunca admitisse isso a ninguém, ele ainda
tinha pesadelos vívidos sobre aqueles meses terríveis na ilha. Eles diminuíram
um pouco nos últimos anos, mas não o suficiente para se declarar livre do terror
noturno que o fazia acordar, tremendo e encharcado de suor frio alimentado
pelo medo. Mais uma razão pela qual ele evitava tomar uma esposa.

─ Estamos indo para terra, capitão. Vejo você ao amanhecer.

Era um dos companheiros, o irlandês de cabelos vermelhos Henry


Dennison. Com ele estavam os outros tripulantes que voltariam para os Estados
Unidos.

─ Aprecie as senhoras ─ Noah disse a eles, sabendo para onde estavam


indo na última noite em Cuba.

Henry respondeu ironicamente:

─ Oh, nós vamos.

Depois da partida deles, Noah desceu para ler e descansar para a sua
noite na ópera com Bernita “Crustáceo” Mendoza.

Bernita se inclinou em seu assento e sussurrou:

─ Pela carranca em seu rosto alguém poderia pensar que você não está se
divertindo.

─ E estaria correto.

Nem mesmo a escuridão do teatro poderia mascarar o choque em seu


rosto adorável.

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Expressão que significa (para um homem) fazer sexo com o maior número possível de mulheres.

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─ Estou apenas sendo sincero ─ informou a ela.

Ela bufou e se abanou com raiva.

Era difícil ser agradável quando a necessidade dela de trocar de roupa -


duas vezes - os fizera chegar ao teatro tão tarde que lhes foi negada a entrada
para a apresentação, até o primeiro intervalo. No palco, a mulher gritando
tentava se fazer passar por Carmen de Bizet, tornando a longa noite em sua
companhia ainda mais exasperante. Atrás dele, a governanta de Bernita estava
roncando alto o suficiente para ser ouvida sobre a orquestra.

─ Então no próximo intervalo eu exijo que você me leve para casa.

─ O prazer é meu.

O leque se moveu mais rápido.

─ Você não é um cavalheiro.

─ Concordo.

Fiel à sua palavra, saíram durante o intervalo e após o coche contratado


chegar, Noah levou as senhoras para casa. Entrou para dar boa noite aos pais de
Bernita que olharam para o americano silencioso e a filha furiosa, confusos.

Noah mentiu:

─ Eu não estava me sentindo bem, e Bernita teve a gentileza de permitir


que eu a trouxesse de volta para casa mais cedo.

Ela riu ironicamente.

Os olhos de seus pais se arregalaram.

Decidindo que dar mais explicações era injustificado, ele se curvou e


saiu. Do lado de fora, ele desceu a escada de pedra e desfez a gravata em sua
garganta. Sentindo-se muito mais relaxado, ele foi até o cocheiro que o
aguardava. Quando a mão dele segurou a alça, de repente algo pontudo e
afiado foi pressionado com força contra sua espinha. Ele congelou.

Uma voz feminina de som agradável instruiu:

─ Por favor, fique parado Sr. Yates. Este florete em suas costas provou o
sangue dos homens durante cinquenta anos. Eu odiaria adicionar seu nome à
lista.

Noah não se mexeu.

─ Se você quer minha carteira, está no meu casaco.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Nós não somos ladrões insignificantes. Suba no coche, por favor.

Havana, com toda a sua alegria e vícios era um lugar perigoso; sob seu
casaco havia uma pistola no coldre, mas as chances de dar um tiro antes que a
mulher corresse o florete pelo seu fígado eram escassas. Dois homens saíram da
escuridão e o flanquearam. Ambos tinham os rostos ocultos por bandanas e
carregavam facões - a arma preferida em Cuba. Ele escolheu seguir as ordens.

A porta foi aberta.

─ Lentamente, agora ─ ela advertiu.

Ele obedeceu. Quando ele se inclinou para entrar, a visão de dois homens
ocupando um dos bancos o fez parar. Agora havia pelo menos cinco deles e
apenas ele. Seis quando ele contou o condutor, que presumiu fazer parte da
gangue. O florete ainda estava pressionado perigosamente contra sua espinha.
O homem à esquerda de Noah enfiou a mão no seu casaco e tirou a pistola do
coldre de couro.

─ Por favor, sente-se ao lado do meu amigo perto da janela ─ ordenou a


mulher.

Mais uma vez, ele fez como lhe foi dito. Depois que ela e seus
companheiros mascarados estavam sentados, o cocheiro se afastou.

Imprensado entre os dois homens em seu banco e encarando os dois


homens e a mulher de capa sentada à sua frente, Noah perguntou:

─ Se você não está atrás do meu ouro, o que você quer? Minha vida?

─ Não.

─ Então o quê?

Sem resposta.

Que ele pudesse ser sequestrado e embarcado à força novamente


começou a mexer com seus nervos, e ele jurou que encontraria uma maneira de
matá-los antes de ser forçado a servir novamente.

─ Quem é você?

Mais uma vez, sem resposta.

Cheio de frustração, ele desejou poder vê-la mais claramente. Ele queria
ser capaz de dar às autoridades uma descrição confiável, caso ele conseguisse
escapar, mas seu capuz e o interior escuro do coche escondiam-lhe o rosto e as
dobras volumosas de sua capa preta impediam sua habilidade de medir seu

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


tamanho ou peso com precisão. Ele não teve nenhum problema em ver o florete,
no entanto. Ela segurava-o em repouso sobre o colo, e a prata brilhava
malevolamente enquanto as janelas abertas captavam a luz das lâmpadas que
passavam, enquanto a carruagem seguia.

Depois de um tempo curto, o cheiro da água do mar chegou ao nariz. Ele


virou a cabeça para tentar avaliar sua localização, mas a visão parcial da janela
oferecia apenas a escuridão da noite. O cocheiro diminuiu a velocidade e depois
parou. Ele ouviu o som das ondas próximas.

─ Todos nós vamos sair agora, Sr. Yates. Nada de movimentos bruscos ou
demonstrações de bravatas pelas quais os americanos são tão famosos. Somos
seis e você apenas um. Nós odiaríamos ter que atirar em você com sua própria
arma.

Noah também não queria ser baleado com sua própria arma, mas cada
fibra de seu ser exigia que ele tomasse alguma providência para mudar as
chances. Ele não tinha ideia se ela mentia sobre tirar a vida dele, mas na
verdade eles já tiveram a oportunidade de fazê-lo, então o que era isso? Sua
curiosidade era grande, mas a fim de obter respostas ele tinha que jogar o jogo,
pelo menos por enquanto.

A porta do cocheiro se abriu. A mulher e os homens sentados com ela


saíram primeiro, seguidos pelo homem à sua direita. O homem à sua esquerda
enfiou o cano da arma ao seu lado e o incitou a segui-lo. Ele se moveu para a
porta e quando se inclinou para sair, dois golpes explodiram na parte de trás de
sua cabeça e ele foi lançado para frente. Foi a última coisa que ele lembrou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 3

─ Da próxima vez podemos escolher um homem menor? Dios, ele é


pesado ─ Tomas reclamou. Ele e Eduardo seguraram o americano inconsciente
entre eles, com os braços sem vida pendurados nos ombros. Os bicos de suas
caras botas arrastaram-se pela superfície da doca desgastada. Não havia muitas
pessoas em volta. Os vendedores com casas verdadeiras tinham ido embora
naquele dia, enquanto aqueles que usavam suas barracas como moradas
estavam amontoados nas sombras. Alguns órfãos brincavam ao luar e na água
escura, algumas luzes podiam ser vistas brilhando dentro de alguns dos navios
que enchiam o porto.

─ Pare!

Três soldados em patrulha. Pilar planejara essa possibilidade, então ela e


os outros pararam e esperaram que se aproximassem.

─ O que está acontecendo aqui? ─ Um dos soldados perguntou.

Pilar afastou o capuz para revelar o rosto envelhecido e respondeu com a


voz de velha, ─ Americano bêbado. Estamos levando-o de volta ao navio dele.

Os soldados o examinaram.

─ Ele tem alguma identificação?

─ Ele tem documentos do navio e um passaporte em seu casaco.

O soldado vasculhou suas roupas e extraiu os itens junto com a carteira.


Era quase impossível ler à luz da lua, mas ele tentou fazê-lo.

─ E você o encontrou onde?

Ainda bem que ela teve a premeditação de remover o coldre de Yates,


Pilar explicou:

─ No meu bordel. Americano estúpido não pôde lidar com as meninas ou


o rum.

O soldado balançou a cabeça como se compartilhasse de seu desdém. As


tentativas americanas de anexar Cuba vinham desde a época do presidente

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Thomas Jefferson. A Espanha odiava os Estados Unidos tanto quanto os
cubanos odiavam a Espanha.

─ Você sabe qual barco é o dele?

Fazendo caretas por baixo do peso do americano, Tomas conseguiu


dizer:

─ Sim. Eu sou filho dela e pescador. Conheci o navio esta tarde. Removi
dele algumas das minhas pescas.

Como se pesasse a história, o soldado encarregado olhou-os por um


longo momento, depois olhou para seus dois companheiros. Eles responderam
com um encolher de ombros. Depois de pegar o dinheiro na carteira de Yates,
ele devolveu o passaporte e os papéis e os dispensou com um aceno.

─ Vai.

Pilar endireitou o capuz e ela e seus companheiros continuaram.

Sob a luz da lua cheia, Pilar e os amigos levantaram âncora e,


lentamente, navegaram para o mar aberto. Yates estava seguro em seu quarto e
provavelmente logo acordaria, mas tinha tempo. Ela se levantou na proa e
momentaneamente deixou de lado suas preocupações imediatas para
aproveitar a jornada. Ela nascera no mar há vinte e cinco anos e adorava estar
no oceano. Suas primeiras viagens foram com seu avô paterno, que traçou sua
linhagem até os piratas da Barbary Coast do Norte da África. Parte pirata, parte
contrabandista, ele adorava zombar das Marinhas europeias quase tanto quanto
a amava e a irmã Doneta. Quando Pilar tinha dez anos de idade, ele perdeu a
vida a bordo de um navio durante um furacão, após o qual seu pai, Javier,
assumiu o negócio da família. Ele também viveu às margens da lei, provendo
satisfatoriamente sua esposa e filhas, contrabandeando de tudo, desde armas e
pinturas falsas, até antiguidades e rum. Quando a Guerra dos Dez Anos
começou, em 1868, ele se recusou a participar porque não importava para ele
quem governava a ilha de Cuba, desde que nada interferisse em seus
empreendimentos clandestinos. Mas quando seus três irmãos se juntaram ao
exército rebelde e foram posteriormente enforcados por sua participação, ele
abraçou fervorosamente a causa a fim de vingá-los, apenas para perder sua
própria vida durante os anos finais da guerra.

Agora ela, sua mãe, irmã, tias e primas eram um grupo de


contrabandistas, falsárias e falsificadoras, unidas por habilidade, sangue e um
profundo ódio à Espanha.

─ Pilar, ele está acordando. ─ Era o Eduardo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Dando um último olhar à água, ela se dirigiu para verificar o hóspede.

Noah voltou a si, grogue e desorientado, em um espaço mal iluminado.


Ele estava vagamente consciente de estar deitado de costas, mas não havia nada
de vago na maneira como sua cabeça doía. Ela latejava como se ele tivesse sido
chutado por um cavalo usando bigornas. Ele tentou se sentar. Percebendo que
estava amarrado, imediatamente mergulhou em pânico e lutou contra as
amarras enquanto o pesadelo de ser acorrentado no navio do Capitão Simmons
cresceu e tomou conta. Um segundo ou dois depois, ele viu que estava em sua
cabine e relaxou um pouco, até que se lembrou do seu rapto e a fúria se seguiu;
fúria dirigida a si mesmo por ainda ser suscetível aos seus medos e fúria dos
seus captores por evocar a reação. Ele estava esparramado sobre a cama de
quatro colunas, amarrado pelos pulsos e tornozelos. Suas tentativas furiosas de
afrouxar os laços foram em vão. Os intrincados nós nas cordas tinham sido bem
moldados com força.

A mulher encapuzada, ladeada por dois homens mascarados entrou na


cabine e Noah ficou imóvel. Dentro do capuz levantado, um véu negro cobria
suas feições.

─ Minhas desculpas por nossos métodos, Sr. Yates ─ ela ofereceu. ─ Mas
foi necessário. Se sua cabeça doer, posso lhe oferecer algo que a alivie.

─ Tudo que eu quero é me libertar dessas cordas ─ ele rosnou.

─ Você conseguirá seu desejo... quando for a hora.

─ O que você quer de mim?

─ Nós já temos isso.

─ E isso é?

─ Seu barco ─ ela respondeu simplesmente.

Ele endureceu.

─ O que você quer com o meu barco?

─ Eu não posso te contar tudo, Sr. Yates. Uma mulher deve ter algum
mistério.

Ele lutou novamente contra as cordas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você pode também ficar parado. Quando meu avô me ensinou a fazer
esses nós, ele disse que seguraria um dragão se fosse necessário e está provado
que é correto.

─ O que ele era, um pirata? ─ ele cuspiu sarcasticamente, na esperança de


ofendê-la com palavras, uma vez que não tinha outras armas.

─ De fato, ele era. Roubar barcos está no meu sangue, imagino.

─ Eu exijo que você me liberte!

Ela sacudiu a cabeça aparentemente com pena.

─ Todos nós temos sonhos, senhor Yates.

Ele atirou de volta.

─ Piratas são pendurados, você sabe.

─ Apenas aqueles capturados e não temos intenção de sê-lo.

─ Por que meu barco?

Ela encolheu os ombros.

─ Servia às nossas necessidades. Está com fome?

─ Não.

─ Você deseja se aliviar? Eu não quero que você esteja mais


desconfortável do que o necessário.

─ Não ─ ele gritou. O que ele queria ela não permitiria─ que era colocar
as mãos sobre ela.

─ Então, deixarei meus companheiros para vigiar você. ─ Oferecendo-lhe


um quase imperceptível aceno de despedida, ela saiu.

E quando ela saiu, Noah gritou com frustração alimentada pela fúria.

No silêncio que seguiu, ele olhou para os dois homens mascarados que
ela deixou para trás.

─ Eu sou um homem muito rico. Eu posso pagar o que vocês quiserem se


me libertarem.

Silêncio.

─ Você valoriza sua vida tão pouco que deixaria uma mulher levá-lo para
a forca, ou faz pelo que ela oferece entre as pernas?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Instantaneamente, a lâmina brilhante de um facão foi pressionada contra
a sua garganta.

─ Diga mais uma palavra ─ o homem falou sinistramente por trás da


bandana ─ e eu vou cortar você de cabo a rabo. Você não sabe nada dela ou de
nós. Ela não é uma prostituta.

Seus olhos lutaram silenciosamente por um momento e Noah zombou: ─


É fácil ameaçar um homem amarrado.

Seu companheiro puxou-o para longe e eles retornaram as suas posições


junto à porta. Noah controlou sua raiva, mas ele odiava estar em uma posição
tão impotente.

Uma hora depois, a mulher não tinha voltado e os ombros de Noah


estavam em chamas por estar em uma posição tão antinatural por tanto tempo.
Ele estava certo de que mesmo que pudesse se libertar, demoraria um pouco até
que seus braços voltassem a funcionar normalmente.

Quando ela finalmente chegou tinha o florete de prata na mão, e ele se


perguntou se isso era outra coisa legada a ela por seu avô pirata.

─ É hora de nos separarmos da sua companhia, Sr. Yates. Você foi um


excelente anfitrião.

Ele acrescentou seu sarcasmo à lista de coisas que ele não apreciara em
sua noite.

Ela caminhou até o pé da cama e tomou uma posição entre suas pernas
abertas. Quando ela lentamente levantou o florete, ele instintivamente recuou e
jurou que ela sorria por trás do véu.

─ Meu amigo vai te libertar. Faça um movimento falso e eu te castrarei.

Sua mandíbula se contraiu.

─ Você entende? ─ ela perguntou em uma voz suave como as sombras na


cabine.

Ele assentiu concisamente.

─ Bom. ─ E ela silenciosamente sinalizou ao homem com o facão para se


aproximar. A lâmina cortou a corda tão facilmente como se fosse uma manga. O
braço direito de Noah caiu livre e ele gemeu de alivio apesar do desconforto. O
homem caminhou até o lado oposto da cama e um segundo depois, o braço
esquerdo foi libertado.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Quando seus tornozelos foram soltos, ela advertiu novamente: ─ Lembre-
se! Não se mexa! ─ E porque ele acreditava em sua ameaça anterior, ele
concordou.

Não mais atado pelas cordas, poderia ter sido o momento perfeito para
ele armar um ataque e mudar as chances, mas seus braços não eram fortes o
suficiente para pegar uma colher, muito menos para enfrentar a pirata com o
florete e os companheiros dela armados de facão. Tudo o que ele podia fazer era
ficar ali deitado e rezar para que o ardor em seus ombros, tornozelos e joelhos,
diminuísse em breve.

─ Vou lhe dar alguns momentos para recuperar um pouco da sua força ─
ela disse a ele ─ e então iremos para o convés.

Noah não tinha ideia do que esperava por ele, mas a cada momento
adiado, pequenas quantidades de vida voltavam para seus membros.

Ela era aparentemente astuta o suficiente para antecipar isso.

─ Vamos lá.

Confrontado com as probabilidades esmagadoras e tendo sua própria


pistola apontada nele por um dos homens, ele se moveu lentamente para a
porta.

Acima do convés, a noite brilhava com a lua e as estrelas. Se ele tivesse


que enfrentar sua morte, ele preferia estar sob as estrelas.

─ No barco a remo, por favor.

Ele parou.

Sob a luz da lanterna erguida por um dos homens, ele a estudou. Só


então ele percebeu o quão pouca estatura ela realmente tinha.

─ No barco a remo?

─ Sim, Sr. Yates. Eu te disse que não estávamos atrás da sua vida. Apenas
do Alanza. Isso é espanhol. É em homenagem à sua esposa?

─ Não. Minha mãe.

─ Ah!

Noah se esforçou para ver seu rosto, mas a escuridão em combinação


com o véu, tornou isso impossível.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Vamos? ─ ela perguntou, gesticulando com o florete. E nessa fração de
segundo de movimento, a luz da lanterna caiu sobre a única coisa que poderia
ajudá-lo a identificá-la no futuro. Uma antiga cicatriz marrom, em forma de um
X, brilhava palidamente nas costas de sua mão. ─ Há água e comida em seus
depósitos. Seu casaco e papéis também estão lá. Eu remaria para o oeste, se
fosse você.

Noah estudou a pequena mulher que tinha sido a raiz desta aventura
enlouquecedora, e jurou em voz alta com uma suave ameaça:

─ Eu vou te encontrar nem que leve o resto da minha vida, então fique
viva até eu vir até você, minha pequena pirata, porque eu estarei chegando.

Ela visivelmente enrijeceu em reação, dando a ele a única medida de


satisfação da noite.

Sem outra palavra, Noah subiu no barco e foi baixado até a superfície
negra do mar. Ele checou as estrelas no alto, em um esforço para consertar sua
posição e forçou seus braços a se dirigirem para o oeste enquanto seu amado
navio navegava para o leste e fora de vista.

Pilar deixou a pilotagem a cargo da tripulação e voltou para seus


aposentos para ver se ele havia deixado algo de valor para trás; afinal, ela era de
uma família de ladinos. Antes de levar Yates a bordo, ela e Tomas fizeram uma
busca apressada por armas e coisas assim, para garantir que, se de alguma
forma se libertasse dos nós de dragão do avô, não seria capaz de montar um
contra-ataque. A inspeção superficial revelou alguns rifles e algumas facas que
ela planejava entregar aos rebeldes e agora enquanto estudava o espaço, parecia
ressoar com a presença dele. Eu vou te encontrar nem que isso leve o resto da minha
vida, então fique viva até que eu vá atrás de você, minha pequena pirata, porque eu
estarei chegando. Os cabelos na parte de trás do pescoço dela se levantaram com
a lembrança de suas palavras de despedida, e embora duvidasse que ele fosse
cumprir a ameaça, a certeza em seu tom fez seu coração bater
desconfortavelmente. Determinada a não pensar nisso, ela foi até a mesa de
cabeceira e pegou uma foto emoldurada que estava lá. Olhando para trás estava
uma mulher incrivelmente bonita com cabelos escuros. Ela estava sentada
usando um vestido ornamentado e ladeada por três meninos. Ela se perguntou
se essa era a mãe dele. Olhando atentamente para os garotos, ela estava quase
certa de que o mais jovem e solene dos três era Noah Yates. Os olhos eram os
mesmos assim como a mandíbula sem cicatrizes. Seus irmãos talvez? Não tendo
resposta ela devolveu a foto ao lugar e cruzou para uma mesa gasta. Ela tinha
duas gavetas. O topo estava cheio de gráficos, mapas e um diário de bordo. A

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


gaveta de baixo revelou um grande número de papéis, que ela retirou. Eles
eram partituras musicais e ela achou isso surpreendente. Não tendo nenhum
treinamento musical, ela não sabia o que as notas representavam, mas escritas
no topo de uma das folhas, estavam as palavras Requiem for the Sea4 e abaixo o
nome dele. Certamente ele não era um compositor musical? Enquanto folheava
lentamente as sete páginas, Tomas entrou.

─ Encontrou algo que possamos vender? ─ perguntou ele.

─ Ainda não, mas eu encontrei isso.

Ela entregou-lhe uma. Ele examinou e perguntou:

─ Música?

─ Sim e o nome dele está em uma das folhas. Acho que ele pode tê-las
composto.

─ Ninguém vai querer comprar isso. O que mais você achou?

Apesar da resposta desdenhosa de Tomas, ela achou a música


impressionante. Isso a fez se perguntar quem era Noah Yates sob seu exterior
rico e sim, colérico. Ela conhecia algumas músicas ensinadas a ela por seus
avós, mas eram religiosas ou vindas do mar e eles certamente não eram os
compositores.

─ Agora, isso nos trará alguns fundos ─ Tomas exclamou sobre a tampa
aberta de um baú. Na palma da mão havia dois pares de abotoaduras de ouro
caras. Elas teriam um bom preço, mas por algum motivo a consciência dela
recuou.

─ Nós não vamos vender suas coisas.

─ O quê? Por que não?

─ Nós já levamos o navio dele. Não parece certo roubar o que está dentro
também.

─ Desde quando você se tornou tão santa?

Ela lhe deu um olhar cortante.

─ Então, nós apenas deixamos o que está aqui para apodrecer ou você
está planejando devolver o navio algum dia?

Ela não tinha resposta pronta.

4
Canto fúnebre para o mar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ele te assustou com essa conversa sobre encontrar você? É disso que se
trata?

Ela balançou a cabeça. Ela não sabia o que ela estava fazendo. Tudo o
que ela sabia era que por algum motivo, ela estava em conflito sobre o que
geralmente era uma decisão bastante simples. No final, ela cedeu ao que era
melhor.

─ Você está certo, elas valerão um bom preço.

Tomas continuou a observá-la de perto.

─ Você está bem?

─ Estou. Não se incomode comigo. Vamos ver o que mais tem aqui.

O baú continha duas mudas de roupa, algumas roupas de cama, um


conjunto de barbear e outra surpresa: tintas e pincel. Uma exploração adicional
encontrou um cavalete atrás da cama. Na parede havia uma paisagem marinha
que ela havia notado antes, mas não prestou muita atenção. Agora ela olhou
com interesse.

─ Você acha que ele pintou? ─ Tomas perguntou.

Ela encolheu os ombros.

─ Primeiro música, agora pintura. Nunca soube que os americanos


fossem tão cultos.

Ela concordou. A pequena pintura era uma cena noturna de uma


tempestade em mar aberto. Nuvens sombrias e inquietantes estavam acima de
um mar revolto e ondulado em tons de preto e índigo. Manchas de cinza
cobriam as ondas agitadas. Sua irmã Doneta era a falsificadora de arte da
família, e Pilar desejou saber o que ela faria do talento dele. Para o olho
destreinado de Pilar, parecia ser bem feito.

─ Vale qualquer coisa, você acha?

─ Vamos deixar Doneta decidir.

Tomas colocou tudo o que planejavam vender dentro de uma fronha


tirada do baú. Ele acrescentou a pintura ao roubo.

Pilar deu ao espaço uma última varredura.

─ Acho que terminamos.

Tomas concordou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Vou colocar isso com as armas que encontramos.

Quando ele partiu a presença fantasmagórica do americano continuou a


preencher o espaço e a mente dela. Sabendo que tinha assuntos mais prementes
para se preocupar, desviou o pensamento e foi para o convés se juntar a seus
companheiros.

Quando o sol nasceu, o exausto Noah foi resgatado por um navio


pertencente à marinha espanhola e levado a bordo.

Depois de ouvir sua história, o capitão, um homem magro em um


uniforme muito grande perguntou:

─ Uma pirata, você diz? ─ Ele não parecia muito impressionado com a
história. ─ É mais provável serem contrabandistas ou no mínimo, rebeldes. Eles
negociaram uma rendição da última vez, mas ultimamente estão causando
problemas novamente.

─ Eu não me importo com quem eles são ou como eles chamam a si


mesmos, eu quero o meu navio de volta ─ disse ele enquanto caminhava com
raiva.

─ Isso é compreensível, mas eles poderiam estar em qualquer lugar


agora, e sem outra descrição, além de que o líder usava uma capa e véu... ─ Suas
palavras se desvaneceram e ele encolheu os ombros. ─ Vou apresentar um
relatório quando chegarmos a Havana. Talvez seu navio apareça em um dos
outros portos.

─ Eu preciso encontrar o meu navio! ─ declarou ele, batendo na mesa


para dar ênfase.

─ Sr. Yates, eu sei que vocês americanos pensam que o sol nasce e se põe
de acordo com seus desejos, mas nós podemos estar à beira da guerra
novamente e não podemos largar tudo para procurar um navio roubado de
você por uma mulher.

O tom zombeteiro do homem doía. Noah já estava envergonhado o


suficiente por ser um peão no jogo da mulher. O lembrete sarcástico só
aumentou sua frustração, mas ele controlou seu temperamento.

─ Minhas desculpas por ser tão rude e arrogante. Se não fosse pela sua
gentileza, eu ainda estaria no caminho de volta a Havana. ─ Ele passou a mão
pelo rosto cansado. Ele devia ao homem seu agradecimento. Outro capitão
poderia simplesmente ter ignorado e seguido. Noah se orgulhava de manter
suas emoções sob controle, mas essa situação o deixara desnorteado.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Faremos tudo o que for possível para saber o destino do seu navio, Sr.
Yates. Eu prometo.

─ Obrigado.

Pouco depois, o navio ancorou no porto de Havana e Noah foi levado


para a terra firme. Depois de agradecer aos marinheiros, sua primeira tarefa foi
encontrar sua tripulação. Ele só podia imaginar o que poderia estar passando
pela cabeça deles ao encontrar o navio desaparecido. Para seu alívio, eles
estavam hibernando em uma das pensões que atendiam aos americanos.

─ O que aconteceu? ─ perguntou Dennison. ─ Nós pensamos que talvez


você tivesse navegado sem nós.

Noah contou a história mais uma vez e os homens olharam atônitos.


Antes que eles pudessem fazer as muitas perguntas que ele sabia que eles
tinham, ele os dispensou.

─ Podemos discutir os detalhes mais tarde. Agora eu preciso ver como


garantir mais fundos - eu mencionei que fui roubado também? ─ Só de pensar
na pirata, correu o risco de perder a paciência novamente. ─ Enquanto eu estiver
fora perguntem sobre outro navio indo para o oeste. Eu pagarei suas passagens.
─ Ele saiu, deixando para trás os tripulantes ainda boquiabertos.

O amanhecer acabava de romper quando Pilar e sua tripulação chegaram


à ponta leste de Cuba para a última etapa de sua viagem de volta para casa. As
armas que eles pegaram de seu contato contrabandista em Santo Domingo
estavam seguramente a bordo, e agora eles estavam navegando lentamente por
um rio interior cercado por rochas e vegetação em uma área perto da costa.

─ Cuidado com essas pedras, Tomas ─ gritou ela enquanto pilotava a


passagem estreita.

─ Estou tendo cuidado, Pilar. Apenas pare de importunar.

Seu tom de voz continha um sorriso e uma resposta curvou seus lábios
em retorno. Ambos conheciam as águas como as costas de suas mãos. Entre o
que ela aprendeu sobre essas águas de seu avô e Tomas de seu pai pescador,
eles poderiam ter navegado no caminho de olhos vendados. Havia lugares tão
superficiais que o leito rochoso praticamente raspava o casco da escuna, e
outros trechos largos e profundos o suficiente para suportar uma embarcação
de dois mastros. O fato de que eles conseguiram realizar sua missão com
sucesso e sem problemas foi fantástico. Ninguém ficou ferido, as armas estavam
seguras embaixo, e além de ter que lidar com o muito bravo Noah Yates, roubar
o navio tinha sido tão fácil quanto a brisa enchendo levemente as velas. Ela se

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


perguntou se ele teve que remar toda a distância de volta a Havana, ou se foi
pego por um barco de pesca. As águas perto da capital estavam bastante
movimentadas com a atividade após o nascer do sol, então era mais do que
provável que alguém viria em seu socorro. Ele ainda estava furioso sem dúvida,
e ela supunha que ele tinha um bom motivo. Afinal de contas, eles o haviam
separado de sua propriedade, e o fato de ter sido feito por uma gangue liderada
por uma mulher, era provavelmente ainda mais irritante - nenhum homem
gostava de ser vencido por um membro do sexo oposto.

Mesmo que ela o tenha superado, suas palavras de despedida


continuaram a ressoar ameaçadoramente. Algo que ela não tinha palavras para
descrever se passara entre eles naquele momento, e ela ainda estava se sentindo
estranhamente inquieta. Ela se esforçou muito para manter seus traços e os dos
homens que estavam com ela ocultos, para que ele não os identificasse mais
tarde, e ela se sentiu confiante em ter conseguido isso também. Era altamente
improvável que eles se encontrassem novamente, mas desde que o deixara à
deriva, ela se viu pensando nele com seu rosto bonito e marcado, embora não
devesse fazê-lo.

Seu devaneio foi quebrado pela visão da cachoeira à frente. Este extremo
da ilha era montanhoso, indomável e repleto de um verde exuberante do
paraíso, onde as plantações de bananas vermelhas, cacau, grãos de café e cocos
ficavam desimpedidos. Por toda a área tinha cachoeiras espalhadas, oferecendo
lugares para nadar, pescar, brincar e, neste caso, um lugar para se esconder. Seu
avô e seus camaradas piratas de maior confiança usaram a caverna por trás
dessa queda particular para abrigar seus navios e espólio dos olhos curiosos das
marinhas britânicas e espanholas. Pilar tinha certeza razoável de que os
europeus não sabiam o que havia por trás das águas em cascata, porque seus
navios eram grandes e volumosos demais para navegar pelo caminho, mas por
trás havia uma caverna grande o bastante para conter um navio do tamanho do
Alanza e não ser visto de fora. Ela e os homens baixaram as velas enquanto se
aproximavam das rochas. Tudo acima do convés ficaria encharcado pelo
dilúvio enquanto eles passavam pelo poderoso fluxo, de modo que todos se
seguravam enquanto Tomas os conduzia lentamente para a escuridão sombria
da caverna.

Uma vez lá dentro, jogaram a âncora e transferiram as armas e a pólvora


embrulhados em oleado para a borda rochosa. Eduardo e seu filho José tinham
parentes que moravam perto, então eles imediatamente partiram para buscar
uma carroça que seria usada para transferir as armas para Santiago.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela e Tomas sentaram-se na beira das rochas para esperar. Ele
perguntou:

─ Você acha que Yates foi encontrado?

Ela encolheu os ombros.

─ Também pensei sobre isso, mas tenho certeza que ele foi.

─ Ainda preocupada com que ele nos encontre?

Ela mentiu:

─ Não, então não vamos falar sobre ele.

Ele assentiu.

Quando os amigos voltaram, ela e Tomas transportaram a carga e, uma


vez carregada no fundo falso da carroça seguiram para o sul, para a viagem de
dois dias para casa. Em dez dias, eles voltariam para o Alanza para reformá-lo,
depois partiriam para Santo Domingo para outro encontro com o
contrabandista de armas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 4

Alanza Yates não achava que houvesse mulher no mundo mais feliz do
que ela. Dois de seus filhos agora estavam casados e a presentearam com noras
e netos que ela absolutamente adorava. Ela gostou muito de ver a costureira da
Filadélfia, Mariah Cooper, domar seu enteado, Logan. O filho do meio,
Andrew, e sua esposa, Billie, tiveram um namoro interessante também. Ambos
os casais viviam na propriedade Rancho do Destino, o rancho que ela herdou
de seus falecidos pais, e tê-los perto também lhe dava alegria. Em poucas
semanas seu terceiro filho Noah, estaria atracando seu navio, o Alanza, em São
Francisco, e o pensamento de ter todos os três garotos com ela novamente
enchia seu coração.

─ Você está muito quieta, Lanz.

Alanza se aconchegou mais perto do homem que segurava as rédeas.

─ Só pensando em como sou feliz e abençoada por ter minha família e você. ─
Os dois se casariam em pouco mais de uma semana e isso a tornaria a mais feliz
de todas.

─ Você não vai ficar com os pés frios e fugir de mim, vai?

─ Não ─ disse ela com uma risada. ─ Mesmo se eu fizesse, você só me caçaria.

─ Isso é verdade.

Ela conheceu Max Rudd a maior parte de sua vida adulta. Ele tinha sido o
melhor amigo de seu falecido marido Abraham, mas as circunstâncias em torno
de seu relacionamento com os dois homens eram tão diferentes quanto a noite e
o dia. Por ela ser uma criança tola e mimada, Abe tinha sido forçado a se casar
com ela. Ele era viúvo naqueles dias e seu filho Logan tinha seis anos de idade.
Nos anos que se seguiram ao casamento, ela e Abe começaram a se respeitar e
ela deu à luz, primeiro Andrew, e depois Noah, mas o casamento não tinha
paixão. Após a morte prematura de Abe, ela assumiu a direção do rancho e Max
sendo fiel à memória de seu amigo, entrou em cena para ajudar. Não tinha se
dado conta do amor por ela até recentemente. Mesmo que também tivesse
sentimentos por ele, ela tinha medo de entrar em outro relacionamento sem
amor, e tinha feito tudo o que podia para desencorajar seus sentimentos. No
entanto, Max era tão teimoso quanto ela e se recusou a deixá-la se afastar da

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


felicidade que ele queria que ambos compartilhassem; então ela, como seus
filhos, se rendeu ao amor. E agora assim que Noah chegasse, eles se tornariam
marido e mulher.

─ Você ainda quer fazer o casamento junto com sua festa de aniversário?

─ É claro. ─ Suas festas de aniversário eram lendárias em tamanho e alcance.


Além de seus muitos parentes espanhóis, a maioria das pessoas no vale ao
redor estaria presente. Não era incomum que sua comemoração anual durasse
três dias ou mais, então adicionar o casamento às festividades parecia ser uma
solução natural. Ela recuou um pouco para avaliar seu belo rosto com o bigode
e as têmporas grisalhas. ─ Você prefere que eu não faça minha festa de
aniversário?

─Você cancelaria se eu dissesse sim?

Ela estudou seu rosto.

─ O casamento será em menos de dez dias e todos os convites foram enviados.


Se você está com medo preciso saber agora, Max.

─ Nenhum medo. Apenas sendo egoísta. Não quero compartilhar você. Nós não
somos jovens Lanz, então eu quero passar cada momento que puder com você.

Ela se aconchegou perto novamente.

─ Isso é tão amável. Depois do casamento ficaremos juntos tanto que você ficará
completamente enjoado de minha companhia.

─ Duvido, mas estou disposto a testar. Ah, e você pode não querer que qualquer
hóspede do casamento fique na sua ala da casa.

Sua casa tinha duas grandes alas: uma para seu uso pessoal e uma que seus
filhos compartilhavam.

─Por que não?

─Não quero ter que atirar em ninguém por arrombar a porta quando você
começar a gritar em nossa noite de núpcias.

Ela revirou os olhos. Nos últimos meses ele estava brincando com ela
impiedosamente sobre os detalhes íntimos da noite de núpcias.

─Por que você continua dizendo isso? ─ ela perguntou com uma risada.

─Porque é a verdade.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─Bem, eu conversei com Billie sobre todo esse absurdo gritante e duvido que
isso seja certo.

Ele começou a rir.

─Se você diz. Eu faria você apostar, mas você vai ser minha esposa. Não é certo
que um homem tire dinheiro de sua esposa.

Sempre pronta para enfrentar um desafio ela respondeu com confiança:

─Eu aceito essa aposta. O que você está apostando, meu belo vaqueiro?

─Se você perder, você usa as roupas que escolhi.

─ Sua escolha de roupas? ─ ela perguntou duvidosa.

Ele assentiu.

─Eu pedi a Mariah para me mostrar algumas coisas.

─ Para mim?

Ele assentiu.

Alanza estava tão confusa que não sabia o que perguntar em seguida.

─ E você não vai reclamar com Mariah por não ter contado a você nem
perguntar sobre o meu pedido. Pense nisso como um presente de casamento
surpresa.

─ Mas...

─ Prometa-me, Lanz. Eu não peço muito de você, mas faça isso por mim e
prometo que a recompensa será a coisa mais doce deste lado das Montanhas
Rochosas.

Ela ficou ainda mais confusa.

Ele parou a carruagem, inclinou-se e beijou-a com tanta facilidade que ela
momentaneamente esqueceu o que eles estavam discutindo. Ele roçou os lábios
contra os dela.

─Prometa-me querida.

Alanza estava tão perdida que prometeria transformar-se em um bote


premiado, desde que os beijos não parassem. E quando eles finalmente pararam
e ele relutantemente se afastou, seus olhos estavam fechados e seus sentidos
estavam em espiral. De alguma forma, ela conseguiu sussurrar:

─ Eu prometo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ainda nos espasmos de seu feitiço, ela perdeu seu sorriso silencioso enquanto
pegava as rédeas de novo e seguia em frente.

Na manhã seguinte, Alanza foi até a pequena casa pertencente a


Logan e sua esposa, Mariah. Ela tinha um encontro com a nora costureira para
fazer os ajustes finais em seu vestido de noiva. Desde que deixou Max na noite
passada, ela estava tentando pensar em uma maneira de contornar a promessa
que tinha feito a ele, a fim de descobrir sobre a misteriosa roupa que ele
encomendara. Bastante confiante de que tinha encontrado uma solução
razoável, andou até a porta que levava à pequena loja de Mariah, construída na
parte de trás da casa. Do lado de fora estavam os netos, os primos de dezesseis
meses de idade, a pequena Maria, filha de Mariah e o filho de Billie, Tonio.
Ambos estavam no cercado de madeira que as mães carinhosamente chamavam
de Cadeia do Bebê. Ao se aproximar, as duas crianças correram para a beira do
cercado, seus rostinhos cheios de alegria e os braços levantados para ela pegá-
los. Em determinado momento de sua vida, Alanza rezara todas as noites por
netos. No momento parecia idiota, mas naquela época ela estava totalmente
convencida de que nenhum de seus filhos jamais se casaria, porque Logan era
casado com seus deveres ligados à administração do rancho, e Drew - bem, ele
tinha um rebanho de mulheres que atravessavam o estado. Agora, o sorriso
dela combinava com o deles.

─ Como estão meus dois anjos esta manhã? ─ Ela pegou cada um deles e colocou
grandes e gordos beijos em suas bochechas rechonchudas. Tonio imediatamente
se contorceu - sua maneira de insinuar seu desejo de ser colocado no chão. ─ Ah,
não! Sua mãe o prendeu por um motivo. Você não vai encrencar a sua avó no
início da manhã. ─ E ela colocou os dois de volta no cercado. Tonio piscou e
choramingou, mas ela estava tão imune quanto os outros adultos em sua vida a
seus pequenos ataques de birra. ─Tonio, um dia você vai desejar ser pequeno o
suficiente para passar o dia inteiro sem fazer nada. ─ Ela soprou os beijos e
entrou.

Ambas as noras estavam tomando uma xícara de café, e como seus filhos
saudaram Alanza com sorrisos prontos. ─ Bom dia senhoras, estou aqui para
meus ajustes.

─ Dê-me apenas mais alguns momentos de fortificação ─ disse Mariah durante


um bocejo. ─ Maria acordou no meio da noite gritando. Eu acho que ela teve um
pesadelo e claro uma vez que ela se acalmou, não queria voltar a dormir. Estava
amanhecendo quando ela finalmente adormeceu.

─ Você parece cansada também, Billie.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu estou tendo dificuldade em dormir uma noite inteira. Acho que pode ser o
bebê. Drew tem se levantado com Tonio para que eu possa dormir um pouco e
isso ajuda bastante.

O bebê de Billie deveria chegar no próximo inverno. Alanza mal podia esperar
para receber seu mais novo neto.

─ Onde estão meus filhos? ─ ela perguntou enquanto se aproximava para olhar
seu lindo vestido dourado no manequim.

─ Logan está trabalhando na cidade.

─ Drew está no banco.

Há algumas semanas, um incêndio letal destruíra a maioria dos


edifícios da cidade. No meio do caos que se seguiu, Billie e Tonio foram
sequestrados por um homem perigoso do passado de Billie. Drew finalmente os
encontrou, mas só depois que Billie se libertou das garras do homem e Tonio foi
dado a um casal em uma adoção falsa. Tudo acabou bem no final, e agora,
todos os homens da área estavam ajudando a reconstruir os prédios que haviam
sucumbido ao incêndio. Max e Logan estavam liderando a equipe de
construção e Drew, cuja licença para exercer a advocacia havia sido caçada pela
intolerância, agora era o banqueiro da cidade, um papel que ele parecia gostar.

Uma vez que Billie e Mariah terminaram seu café, o vestido quase
completo de Alanza foi retirado do manequim e ela o vestiu com cuidado para
evitar todos os alfinetes. O negócio de costura de Mariah estava prosperando.
Ela tinha uma infinidade de pedidos de lojas tão distantes como San Francisco e
Seattle, mas ela deixou tudo de lado para dar vida à criação que ela desenhou
para sua sogra.

─ Este é o vestido mais bonito, Mariah ─ Alanza vibrou enquanto se via no


grande espelho de pé.

─ Fique quieta, Mama, por favor ─ Mariah instruiu amavelmente com os


alfinetes em sua boca. ─ Não queremos que esta bainha pareça que sua neta teve
uma mão nela.

Alanza concordou e acrescentou:

─ Por falar em mãos, Max disse que pediu para você fazer algo para mim.

Mariah fez uma pausa e olhou para cima.

─Ele pediu.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu prometi a ele que não iria reclamar com você por manter isso em segredo,
ou perguntar o que poderia ser, então que tal você simplesmente mostrar para
mim. Dessa forma eu não vou quebrar minha promessa.

Billie riu.

Mariah tirou os alfinetes da boca.

─ Boa tentativa.

─ Por favor?

Mariah respondeu com um sorriso e continuou com a bainha.

Alanza suspirou desanimada e fez beicinho dramaticamente.

Os olhos de Billie brilharam com humor.

─ Agora eu sei onde Tonio aprendeu isso. Sua avó.

Alanza mostrou a língua para Billie, que riu.

Alanza tentou novamente.

─ Se eu quiser usá-lo, acho que eu deveria poder ver o que é antes.

De seu lugar no chão, Mariah respondeu:

─ Entendo, mas você não vai. Você já ouviu falar de Noah?

─ Recebi um recado há alguns dias. Ele estava em Havana e deve estar a


caminho. Por favor, deixe-me ver isso.

Billie exclamou:

─ Ela é persistente se nada mais.

─ Claro que ela é ─ Mariah falou. ─ Então, enquanto eu prendo essa bainha, você
responderia a ela, por favor?

─ Claro ─ respondeu Billie. ─ Não, Mama.

─ Estou começando a odiar vocês duas.

Billie se levantou e deu um beijo na bochecha lisa de Alanza.

─ Nós também te odiamos. Vou libertar os detentos e levá-los para passear.


Divirta-se.

Durante o resto do tempo na loja, Alanza continuou suas tentativas


para extrair respostas de Mariah, que balançou a cabeça com a persistência de
sua sogra, mas manteve o segredo de Max.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Na esperança de ouvir algo sobre seu navio roubado, Noah arrefeceu
seus calcanhares em Havana por mais três dias, mas a cada dia, quando ia ver o
almirante encarregado da Marinha e dos portos, não havia notícias. Percebendo
que a data para o casamento de sua mãe estava se aproximando rapidamente,
ele finalmente desistiu. Ele e seus homens pegaram uma balsa para a Flórida.
Depois de se separar deles, embarcou em um trem para a costa. Devido a
tendência crescente de assentos segregados, esse não era seu modo de viagem
preferido, mas a reserva de passagem em um navio para o oeste que o levaria
aos Estados Unidos em tempo hábil não tinha dado certo, então tinha que ser de
trem. Antes de embarcar mandou um telegrama a Kingston para que ele
soubesse que o Alanza fora roubado, e prometeu telegrafar novamente assim
que chegasse em casa. Ele meditou sobre a perturbadora virada de eventos por
toda a jornada através do país. O que aconteceria com sua empresa agora que
eles não tinham como chegar às pessoas e vendedores que dependiam deles
para transportar seus produtos? Ele e King seriam capazes de encontrar outro
navio, e se sim a que custo? Seus contatos esperariam que Yates e Howard
voltassem a navegar ou eles mudariam seus negócios para outro lugar? No
momento ele não tinha respostas, e isso era frustrante para um homem que não
suportava o tumulto ou o caos. Desde que deixou o Capitão Simmons, ele
planejara cada passo de sua vida para que sempre estivesse no controle. O
Alanza era o seu sustento e sem ele tudo o que ele e King construíram nos
últimos dez anos estava agora em perigo, tudo por causa de uma mulher
pequena e mascarada com um florete.

Ele chegou ao Rancho Destino três dias antes do casamento.

─ Noah! ─ sua mãe exclamou animadamente quando ele entrou na casa e


colocou a valise na porta. Ela correu para ele e ele a pegou e segurou-a com
força.

─ Olá, mamãe ─ ele disse, sorrindo pelo que parecia ser a primeira vez em
semanas.

─ Estou tão feliz por você estar aqui. Como você está?

Não querendo causar preocupação, ele mentiu:

─ Estou bem. E quanto a você? Não mudou de ideia sobre se casar com Max,
não é?

─ Claro que não. ─ Ela deslizou um braço maternal em torno de sua cintura. ─
Venha e sente-se comigo. Suas tias, tios e primos chegarão amanhã, então esta
pode ser minha única chance de desfrutar de você sem ser interrompida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Onde estão meus irmãos?

─ Na cidade, mas eles vão se juntar a nós para o jantar.

Ele ansiava por vê-los.

─ Drew realmente se casou?

─ Sim e ele tem um filho de dezesseis meses.

Aparentemente, a confusão em seu rosto era clara, porque ela riu levemente. ─
Sente-se. Eu explicarei em um minuto. Está com fome?

─ Faminto!

─ Então deixe-me falar com Bonnie e ai me juntarei a você.

Ela desapareceu na cozinha e ele seguiu para o grande pátio de


pedra e sentou-se à mesa. Sentado ali no silêncio, sentiu a tensão da semana
anterior desaparecer. Ele estava em casa. Olhar os pomares familiares e os
funcionários cuidando de seus deveres trouxe lembranças agradáveis: a
equitação, a pesca, as brincadeiras com seus irmãos, as brigas que tiveram sobre
tudo e nada, o amor de sua mãe que trabalhara até que seus dedos sangrassem
para lhes dar um lar. O menino que ele era na época sempre revivia quando ele
voltava para casa, mas como sempre deslizava de volta para baixo da escuridão
que o dominava. Ele olhou para cima e viu a mãe observando-o em silêncio,
havia preocupação nos olhos dela. Ele nunca revelou nenhum dos detalhes feios
sobre suas experiências de Xangai para alguém de sua família, mas todos eles,
especialmente Alanza, sabiam que algo terrível ocorrera, porque ele não era a
mesma pessoa que ele tinha sido antes.

─ Sim, mamãe? ─ ele perguntou baixinho.

Ela veio para a frente carregando uma bandeja com copos de limonada e um
sanduíche.

─Nada. Estou feliz de ter meu filho mais novo por perto.

─ Seu filho mais novo está feliz por estar perto ─ ele repetiu levantando-se para
pegar a bandeja de suas mãos.

Enquanto ele comia, ela se sentou em silêncio e olhou para longe, minando
pensamentos não verbalizados.

─ Então ─ ele perguntou, esperando aliviar o humor dela. ─ Conte-me sobre


Drew. ─ Ele sabia que ela queria discutir as mudanças que ela viu e sentiu nele,

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


mas como sempre ela estava disposta a deixar de lado e ele a amava ainda mais
por isso, porque dizer a ela a mergulharia na escuridão também.

Depois que Noah a deixou para ir ao seu quarto, Alanza permaneceu


sozinha no pátio e ponderou sobre seu filho mais novo. Por que ele mudara
tanto de como ele fora, era uma questão com a qual ela vinha lutando há dez
anos. Ela adivinhou que tinha a ver com o tempo que passou em Xangai,
porque no dia em que ele finalmente voltou para casa havia uma desolação em
seus olhos outrora brilhantes. Embora ele tenha falado sobre o campo de
prisioneiros e algumas das coisas terríveis que ocorreram lá, ela sentiu que ele
tinha retido muitos dos detalhes mais preocupantes; e até onde ela sabia, ele
não tinha compartilhado toda a verdade nem com Drew ou Logan. Noah foi um
menino com o riso pronto e coração aberto, agora ele raramente sorria. De todos
os seus filhos, ele tinha sido o mais sensível e o mais amoroso, mas agora
parecia passar por suas visitas como um fantasma. Mães sabiam quando seus
filhos estavam com dor e ele usava a sua como uma proteção. Ela queria muito
ajudá-lo a lidar com o que quer que estivesse no centro disso, mas ele era um
homem adulto e ela não queria perdê-lo completamente pressionando-o a
revelar o que estava errado. Ela algum dia saberia a verdade? Ela não sabia,
mas continuaria a rezar para que ele encontrasse cura e paz em qualquer forma
que Deus quisesse enviá-la, porque essa nova versão de seu filho estava
partindo seu coração.

Mais tarde, no andar de cima de seu quarto, Noah olhou para o


ambiente familiar e novamente para o jovem despreocupado que fora uma vez
e gostou do que viu: seus amados livros, a escrivaninha onde ele tinha feito
suas lições, seu bem-usado cavalete ainda de pé junto à porta que dava para a
varanda na sala de estar adjacente, o piano de Brahms Streicher que sua mãe
encomendara para ele de Viena. Ele caminhou até lá e se debruçou sobre suas
brilhantes teclas de madeira e marfim. Era um modelo de 1868 e seu suporte
para partitura entalhado semelhante a uma renda e pés artisticamente
modelados, permanecia tão bonito quanto o dia em que chegou. Ele não tocava
desde a sua última visita à casa, porque era impraticável ter um instrumento
desse tipo em um navio. Ele tocou algumas notas aleatórias, observando que
ainda estava afinado e sabia instintivamente que sua mãe havia contratado
alguém para ver a afinação antes de sua chegada. Embora seus dois irmãos
adorassem livros, nenhum deles tinha inclinação musical ou gostava de pintar.
Aquelas paixões foram reservadas para ele, parecia, e ele obteve grande prazer
de ambas. O jovem Noah sonhava em ser um professor de música ou um
pianista de concerto, como seu ídolo musical Beethoven, mas - ele afastou sua
mente daquelas aspirações perdidas há muito tempo. Em vez disso sentou-se

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


no banco, flexionou os dedos e começou a tocar, primeiro Beethoven e depois
Brahms antes de deslizar suavemente para Bach. Logo ele mudou para hinos,
canções sobre o mar, músicas de óperas e casas obscenas. Ele se perdeu tão
completamente nas complexidades das notas e melodias que quando olhou
para o relógio, percebeu que duas horas tinham se passado. Permitindo-se um
pequeno sorriso, ele tocou alguns minutos a mais depois se levantou para se
preparar para o jantar.

Quando seus irmãos chegaram, eles o saudaram calorosamente. Ele


conhecia Mariah, mas não a esposa de Drew, Billie, então as apresentações
foram feitas. Ele também conheceu sua sobrinha e sobrinho e a visão de seus
rostos gordinhos tocou seu coração e novamente uma parte de si invejou a
felicidade dos casais. Depois disso, eles se sentaram à mesa. Como sempre, a
mãe deles reinava na cabeceira enquanto Max se sentava na outra ponta.

Eles estavam comendo quando Logan olhou e perguntou:

─ Então, Noah como estão os negócios marítimos?

Decidindo ir com a verdade, ele encolheu os ombros.

─Tudo bem, mas vai ser melhor quando eu conseguir o meu navio de volta.

Todos na mesa pararam e olharam para ele.

Parecendo intrigada, sua mãe perguntou:

─ Está em uma doca seca?

Ele balançou a cabeça e se preparou para o que se seguiria.

─ Não, uma mulher pirata roubou de mim há duas semanas.

Drew soltou uma risada.

─Você deixou uma garota levar o navio em homenagem à sua mãe?

─ Andrew! ─ sua mãe repreendeu.

─ O nome dela era Califia por acaso? ─ Logan perguntou divertido.

Um sorridente Noah aceitou as brincadeiras. Ele esperava a provocação.

─ Não. Não faço ideia do nome dela, mas voltarei a Cuba assim que o
casamento acabar para caçá-la. Desculpe mamãe por não poder ficar mais
tempo.

Ela ainda estava olhando para ele com confusão no rosto.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Vou trazê-lo de volta ─ ele jurou, e ele faria nem que ele tivesse que rastrear
aquela pequena pirata até o fundo dos sete mares.

Max perguntou.

─ Então, como isso aconteceu?

Noah suspirou em voz alta e contou a história, acrescentando:

─ A marinha espanhola acredita que o bando pode ser rebelde. Aparentemente,


eles podem estar à beira da guerra novamente.

─ Mas por que seu navio? ─ Mariah perguntou.

─ Eu não sei, a mulher não disse, mas aparentemente ele se encaixava no que
eles estavam planejando.

─ É seguro voltar para lá? ─ perguntou Billie.

─Não importa. Eu preciso do meu navio.

Drew balançou a cabeça compreensivamente.

─ Brincadeiras à parte, se eu puder ser de alguma ajuda é só avisar. O fanatismo


pode estar dificultando a prática do direito aqui, mas Cuba não pode se recusar
a me deixar praticar, porque eu estudei na Espanha.

─ Obrigado, Drew.

Depois do jantar, ele e seus irmãos saíram para apreciar os charutos que ele
trouxera e um pouco de tequila para celebrar sua volta ao lar.

Logan pegou seu charuto.

─ Garotas piratas ou não, os cubanos fazem os melhores charutos da terra.

─ Concordo ─ disse Noah exalando uma corrente de fumaça fina. ─ Dois anos
atrás, investi em uma operação de tabaco na Flórida. O dono é um amigo. Um
exilado cubano chamado Miguel Ventura. Os negócios estão crescendo e
estamos procurando expandir. Vocês dois gostariam de entrar?

Drew disse:

─ Para me dar acesso a estes, claro que sim.

─ Assim que eu resolver este negócio do navio e conversar com ele, eu lhe darei
os detalhes.

Logan levantou o copo em um brinde.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Aos irmãos, tequila e charutos finos.

Drew lançou:

─ E podemos fazer uma fortuna.

Eles beberam suas bebidas e baixaram os copos. Logan derramou mais em cada
um deles e eles começaram a falar sobre os velhos tempos: as pegadinhas que
eles faziam, a diversão que eles tiveram, os desafios que eles constantemente
lançavam uns aos outros.

─ Então, você acha que pode me bater na luta de braço agora, maninho? ─ Ele
tinha sido o rei da queda de braço.

Antes que Noah pudesse responder, Drew zombou:

─ Ele deixou uma garota roubar seu maldito navio, lembra?

─ Cale a boca, Drew. Eu posso não ser melhor do que Logan, mas posso limpar
o chão com sua fantasia de advogado.

O risonho Logan cuspiu tequila na mesa.

─ Ah, é mesmo? ─ perguntou Drew.

─ Realmente. ─ Noah rebateu com malícia em seus olhos, e para provar o que
dizia deu um soco no peito de Drew com força suficiente para balançá-lo em
sua cadeira.

Recuperando-se, o sorridente Drew ficou de pé, bebeu de um só gole sua


segunda dose de tequila e bateu o copo.

─ Vamos.

Sorrindo, Noah se levantou para enfrentar o desafio. Imitando seu irmão, ele
jogou a tequila garganta abaixo, bateu o copo na mesa e a luta começou.

Enquanto eles rolavam, derrubando cadeiras e quebrando vasos de flores, Noah


estava de fato limpando o chão com Drew. Quando um irritante Logan apontou
isso, Drew deu um soco no nariz de Logan e a briga se transformou em três
irmãos lutando de graça.

Dentro da casa, Alanza podia ouvir o tumulto do lado de fora, assim como
todos os outros. Segurando Tonio, Billie se apressou até a janela da sala de
jantar, que dava para o pátio e exclamou:

─ Se eles quebrarem as rosas que passei o verão todo cultivando, eu vou matá-
los.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Alanza observou seus filhos rolando e socando e destruindo a ordem de seu
pátio e começou a lançar um fluxo de palavrões em espanhol. Seguindo para o
armário de armas em seu escritório, ela voltou com a espingarda. Quando ela a
preparou e foi para a porta, Max riu.

Observando a destruição, Mariah disse à filha:

─ Papai está prestes a levar uma surra. Os olhos da pequena Maria se voltaram e
ela olhou para a mãe. ─ A Vovó vai bater nele.

Tonio, por outro lado, parecia estar tendo a diversão de sua vida. Vendo a
comoção, ele riu e bateu palmas animadamente. Em resposta à sua alegria
óbvia, Billie olhou para o céu e implorou:

─ Senhor, deixe-me ter uma menina quieta desta vez.

O próximo som ouvido foi a estrondosa repercussão da espingarda.

Fora os três filhos congelaram.

─Levantem-se, seus idiotas! ─ Alanza falou em espanhol.

Tentando esconder seus sorrisos, eles estavam diante dela como haviam feito a
vida toda. Cada um tinha pelo menos um olho roxo e um lábio partido. As
costuras dos casacos tinham estourado, e o resto estava coberto de pó e terra
dos vasos de barro destruídos. O sangue escorria de suas narinas.

─ Vocês estão tentando arruinar meu casamento? ─ ela gritou. ─Vocês irão me
acompanhar pelo corredor da igreja parecendo que lutaram com ursos!

Eles abaixaram a cabeça em outro esforço para esconder seus sorrisos agora
crescentes.

─ Se vocês continuarem a sorrir, juro que o padre também cuidará de três


funerais!

─ Desculpe, mamãe ─ Noah e Drew disseram em uníssono.

Logan acrescentou:

─Desculpe, Lanza.

─Não, não desculpo! Vão se limpar. Que vocês vivam para ter filhos tão loucos
quanto vocês!

Ela se afastou, ainda resmungando em espanhol. Uma vez que ela estava fora
de vista, eles caíram no chão com gargalhadas.

Deitado ali no silêncio depois, Noah disse:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Deus, isso foi bom. Estava querendo dar um soco em alguma coisa toda a
semana. ─ Isso foi a coisa mais divertida em sua memória recente.

─ Fico feliz que pudemos ajudar ─ disse Drew em torno do lenço que ele
segurava contra o nariz.

Noah virou a cabeça para o irmão mais velho.

─ Obrigado, Logan.

─Sempre aqui para ajudar.

Eles ajudaram-se mutuamente e tropeçaram para dentro para se limparem.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 5

Pilar amava a cidade de Santiago. Suas ruas tortas e cheias de gente


eram estreitas e íngremes, e de diferentes pontos podia-se ver as montanhas
cobertas de árvores e as belas águas azuis da baía que desaguava no Caribe. A
maioria dos edifícios era de pedra e construídos pela Espanha. Os lugares mais
grandiosos, com seus amplos pátios fechados e varandas de ferro, abrigavam os
ricos da cidade, mas ela e sua irmã Doneta caminhavam pelas ruas apinhadas e
cheias de gente pobre, repletas de mulheres vendendo frutas e verduras;
homens oferecendo sapatos pretos; velhas mulheres Vodun do Haiti vendendo
porções com a garantia de trazer a morte para seus inimigos, fazer uma pessoa
se apaixonar e tudo mais. Crianças pequenas corriam pelas multidões,
recebendo xingamentos severos dos anciões locais, e as roupas pendiam das
janelas abertas para a brisa. O ar estava denso com o cheiro de dar água na boca
de inhame, que os braseiros cozinhavam, peixe, ovelha e cabra; e as pessoas por
quem passavam falavam francês e espanhol e, porque muitos do Extremo
Oriente tinham sido trazidos para a ilha como escravos, os chineses podiam ser
ouvidos.

Ela e Doneta estavam aparentemente a caminho de vender os ovos


que haviam recolhido de suas galinhas naquela manhã, e embora já passasse da
madrugada, as ruas estavam tão cheias como se fosse meio-dia.

─ Você já quis morar em outro lugar, Pilar?

Em algum lugar ao longe veio o som da bateria e os ritmos sincopados


elevaram seu ânimo e seu passo.

─ Na verdade não. Por quê?

─ Estava pensando nas histórias que Mama costumava contar sobre todos os
lugares lindos que ela visitou enquanto crescia. Seria bom ver pelo menos um
desses lugares antes de morrer.

Nascida em Sevilha, sua mãe Desa era filha de um alto diplomata espanhol. Ela
foi deserdada por se casar com o pai delas.

─ Eu suponho.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu tenho vinte e três anos de idade, Pilar, e o único lugar que eu já vi foi esse
aqui. É errado querer estar em outro lugar com talvez um bom marido e morar
em uma bela casa com coisas boas?

─ Não, Neta. Não há nada de errado com isso.

Pilar não usou os sonhos de sua irmã contra ela, porque quem não gostaria de
fugir da pobreza que era a realidade delas? Mas porque sabia que era apenas
um sonho, ela não ansiava por isso. Em vez disso, ansiava por mudanças em
seu mundo para que seus primos mais novos frequentassem a escola e
aprendessem a se sobressair em algo além do roubo. Sonhar que eles pudessem
obter uma boa educação era uma das muitas razões pelas quais ela apoiava o
general Maceo e os rebeldes em sua busca para obter a independência da
Espanha. No momento, apenas as crianças dos ricos podiam estudar
formalmente. As pessoas como sua família e seus vizinhos, não importa a cor,
não era oferecida a oportunidade por causa de sua posição na vida. E os tempos
estavam mudando. Com a crescente presença dos soldados em cidades como
Havana e Santiago, era mais difícil viver fora da lei. Os ricos haviam começado
a contratar homens armados para manter suas casas a salvo, tornando quase
impossível entrar na escuridão e sair novamente com objetos de valor que
poderiam ajudar a colocar comida na mesa por alguns dias. Doneta era uma
artista excepcional, e em tempos passados suas falsificações dos velhos mestres
eram vendidas a colecionadores de arte ingênuos que traziam ouro suficiente
para manter sua fazenda à tona por meses, mas as pinturas demoravam e não
podiam ser apressadas, então enquanto isso outras possibilidades tinham que
ser exploradas para encher os cofres. Com a queda dos contrabandistas do pai,
essas possibilidades estavam prestes a esgotar. Sem mencionar que o nome
Banderas agora era bem conhecido da polícia. O segredo que encobriu suas
atividades por décadas foi descoberto no mês passado quando seu primo Juan,
o filho adolescente de um de seus falecidos tios, foi preso ao tentar roubar uma
estátua premiada de um dos museus da cidade, entre todos os lugares. Tendo
exibido mais bravata do que cérebro em toda a sua vida, ele não tinha planejado
antecipadamente, até onde Pilar sabia, e como resultado tinha sido condenado a
dez anos em uma prisão fora de Havana, deixando para trás suas três irmãs e
mãe de coração partido. Agora em todos os lugares que eles iam, eles eram
observados. Como agora. Havia um policial a meio quarteirão atrás delas.
Parecia estar apenas andando pelas ruas, mas na última esquina Pilar parou e
olhou para trás. Quando ele encontrou os olhos dela ele apressadamente
desviou o olhar e atravessou a rua. Ele ainda as seguia.

─ Estamos sendo seguidas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu sei ─ respondeu sua irmã. ─ Talvez devêssemos ir até lá e perguntar se ele
quer comprar nossos ovos.

Frustradas, continuaram andando, mas sua presença ameaçadora era um


problema real. Ir para o mercado tinha sido uma cobertura para a verdadeira
razão pela qual elas vieram à cidade. Pilar e Tomas haviam dividido as
abotoaduras de ouro tiradas de Noah Yates, e tinha sido o seu plano entrar na
casa de um velho amigo da família que se especializou em comprar itens
roubados e sair com seu valor em moeda, mas com o policial perseguindo seus
passos isso era impossível agora. Um Banderas não levava a polícia à porta de
um amigo. Sua mãe precisava do dinheiro, contava com isso para pagar os
impostos cada vez maiores que a coroa continuava impondo, mas e agora? Ela
suspirou com raiva.

Elas finalmente chegaram ao pequeno mercado ao ar livre de propriedade de


Carlos Mendez, um viúvo de seus quarenta e tantos anos. O policial seguiu.

─ Isso tudo é culpa de Juan ─ reclamou Pilar e sua irmã concordou. Se seu primo
não estivesse sob custódia, o levaria para a baía e o afogaria em águas
profundas pelos problemas que ele havia trazido à família. O dinheiro que
ganhariam pelos ovos seria uma ninharia em relação ao que poderiam receber
em troca das abotoaduras, mas não havia nada que pudessem fazer agora;
então levaram o homem em seus calcanhares para as galinhas e porcos; as
caixas abertas de mangas, bananas vermelhas e cocos; e os sacos de aniagem de
inhame na parte de trás do mercado, onde Mendez se sentava na mesa frágil
que usava como seu escritório. Seus seis filhos podiam ser vistos empilhando
legumes, abrindo caixas e montando guarda para garantir que as mercadorias
não fossem roubadas pelas gangues de órfãos que vagavam pelas ruas.

─ Bom dia, Pilar e Doneta.

─ Bom dia, Sr. Mendez. Nós temos ovos para você.

O policial se aproximou como se estivesse pensando em comprar alguns doces


à venda, mas estavam certos de que ele estava tentando escutar a conversa. Eles
o ignoraram.

Mendez pegou a cesta de ovos e depois de adicioná-los aos que tinha à venda,
devolveu a cesta vazia e Pilar colocou os poucos pesos que ele lhe entregou no
bolso da saia.

─ Obrigada, Sr. Mendez.

─ De nada. Dê meus cumprimentos à sua adorável mãe.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Daremos.

Enquanto caminhavam de volta para a rua, o policial agora de pé sobre uma


cesta de laranjas fingia desinteresse. Pilar quase parou para perguntar se ele
queria que esperassem até que ele tivesse olhado para a fruta, mas decidiu que
provocá-lo não era uma boa ideia. Em vez disso, ela e a irmã voltaram pelo
caminho que tinham vindo. Ele as seguiu até o estábulo onde elas deixaram a
carroça, depois assistiu e esperou até que elas fossem embora antes de se virar e
voltar para o centro da cidade. Pilar segurou as rédeas e sacudiu a cabeça com
indignação.

Espalhando frangos e alguns porcos, Pilar conduziu a carroça até a propriedade


e parou. Pôs as rédeas ao lado do celeiro de madeira. A fazenda delas ficava
fora da cidade. Originalmente pertencia ao seu avô pirata Benito e sua esposa
Anitra, que começou sua vida como escrava na Jamaica e viveu lá até que foi
roubada por ele durante uma invasão. Seus ancestrais eram originalmente da
tribo Mandingo - altos, fortes e avermelhados em tom de pele, enquanto ela era
do Ganga, baixa e sardenta como a maioria de seu povo. Tanto Pilar quanto
Doneta tinham um leve tom marrom nas bochechas assim como seu pai, Javier.

Sua mãe Desa estava sentada na varanda. Ao se aproximarem ela se levantou e


sorriu.

─ Como está a cidade?

─ Nós não pudemos vender as abotoaduras porque fomos seguidas pela polícia
─ disse Pilar enquanto subia os dois degraus quebrados. Como o celeiro e a
casa, a varanda era de madeira envelhecida. Faltavam várias ripas, mas restava
o suficiente para sustentar o velho sofá e algumas cadeiras para que alguém
pudesse se sentar do lado de fora e aproveitar a brisa da montanha. Ela
entregou à mãe as poucas moedas dos ovos.

─ Me desculpe mãe.

─ Isso é decepcionante. Conte-me sobre esse policial.

Então elas relataram.

Ela suspirou com desgosto.

─ Isso é tudo culpa de Juan. Se tivesse sido tão esperto quanto achava que era,
não teria sido preso. Minha pobre Ria. Ela vai ter que ir a Santiago e procurar
trabalho agora que Juan não pode mais ajudar.

Pilar tinha certeza de que a ideia de ter que se empregar como doméstica ou
lavadeira provavelmente mandaria sua tia orgulhosa para a cama. Ria estava

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


entre os melhores falsificadores de documentos em Cuba. Durante a escravidão,
isso explicava porque Santiago abrigava uma das maiores populações de negros
livres e mulatos livres da ilha, escravos fugidos se aglomeravam nas ruas
estreitas e vielas da cidade em massa. A necessidade deles de documentos
falsificados de liberdade e notas de passagem, geravam um rendimento estável.
Agora com a escravidão em declínio, a demanda por suas habilidades
diminuiu, e com seu filho Juan agora preso, o dinheiro que ele fazia
trabalhando nas docas faria uma grande falta. Como Pilar havia meditado
antes, os tempos estavam mudando. O que não mudou foi o seu compromisso
com os rebeldes, e com isso em mente ela precisava preparar o Alanza para
outra corrida até Santo Domingo por armas.

─ Recebi uma carta do meu irmão na Flórida hoje.

Os rostos de Pilar e Doneta mostraram surpresa. Até onde Pilar sabia, a mãe
dela não recebia correspondência de sua família há décadas. Seus pais
castelhanos a declararam morta depois que ela fugiu no dia de seu casamento
para se tornar a esposa de Javier Banderas, e não se comunicavam com os
mortos.

─ Ele nos convidou para a rumba que vai dar no aniversário dele daqui a
algumas semanas. E ─ ela acrescentou ─ ele diz que está ansioso para renovar
seus laços comigo como sua irmã.

─ Ele está morrendo? ─ perguntou Pilar.

Doneta bufou.

Sua mãe riu:

─ Não que eu saiba. Não.

─Então por que agora, depois de tantos anos?

Desa encolheu os ombros.

─Eu sou sua única irmã. Com nossos pais falecidos, talvez ele esteja sozinho. Eu
não sei.

Doneta perguntou:

─ Você vai?

─ Sim. Todos nós vamos.

Pilar ficou quieta.

Como se antecipando os argumentos de Pilar, ela declarou:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sei que você tem obrigações que considera mais importantes, Pilar, mas se
trata de família.

─Mama ...

─ Pilar, seu pai e seus tios deram suas vidas a Cuba, mas nada era mais
importante para eles do que a família. Duvido que Antonio Maceo vá atacar
Havana em breve.

Pilar estudou-a e sentiu que estava escondendo alguma coisa.

─ Há mais, não há?

─Sim. É minha esperança que vocês duas encontrem maridos enquanto


estivermos lá.

Os olhos de Doneta se arregalaram de prazer.

Pilar estreitou-os com desconfiança.

─Eu não quero um marido.

─ Eu entendo Pilar, mas é hora de você começar a considerar.

─ Mamãe, tenho vinte e cinco anos. Nenhum homem vai me querer como
esposa. Tudo o que desejo é fazer com que Cuba se torne um lugar melhor.

─ Quem pode dizer que um marido não vai querer isso também?

─ Eu duvido que ele queira uma esposa que contrabandeia armas.

Sua mãe sorriu indulgentemente.

─ É verdade, mas você é muito mais. Seu coração, sua inteligência, compaixão e
dedicação são tão você quanto seu fervor por Cuba. Um homem vai valorizar
isso.

─ Não, mamãe.

─ Pilar, eu nunca coloquei um freio em você. Quando você tinha sete anos e
queria montar o seu cavalo nas montanhas sozinha, deixei você ir, embora meu
Javier e eu discutíssemos sobre isso dias depois. Quando ele morreu, meu
coração estava quebrado e a última coisa que eu queria era que você fosse lutar
com os Mambis também, mas novamente eu deixei você ir e orei por seu
retorno seguro todos os dias. Eu quero você contrabandeando armas? Não. Eu
me preocupo a cada momento que você está longe? ─ Ela colocou a mão com
ternura contra a bochecha de Pilar. ─ De novo, sim.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Havia uma seriedade nos olhos de sua mãe que fez Pilar cobrir a mão
suavemente com a sua.

Nós três iremos para a rumba.

Pilar sabia que a mente de sua mãe estava fechada e não discutiu mais, então,
depois de suspirar suavemente na derrota, ela se inclinou e deu um beijo na
bochecha dourada de sua mãe.

─ Sim, mamãe.

─ Bom.

─ Tomas e eu vamos levar o navio hoje à noite. Voltaremos de manhã.

─ Está bem. Quando voltar, vamos fazer os nossos planos para partir em poucos
dias.

Pilar assentiu e foi fazer os preparativos.

Depois de esconder o Alanza por trás da cachoeira, ela e Tomas fizeram a


viagem de volta alguns dias depois para recuperá-lo, e sob um céu sem lua o
levaram para as docas de Santiago e para o pequeno estaleiro de um homem
aliado aos rebeldes. Ele pintou o casco de preto e acrescentou novas velas
tingidas de um índigo profundo. A escuna alterada agora parecia pouco com o
Alanza de Yates, então Pilar rebatizou-a Sirena.

A corrida desta noite seria sua viagem inaugural e Pilar mal podia esperar para
sentir as ondas rolando sob o casco. Doneta levou-a com Tomas às docas.

─Tenha cuidado ─ advertiu Doneta baixinho quando Pilar e Tomas desceram.

─ Teremos ─ assegurou Pilar. ─ Voltaremos antes do amanhecer.

Doneta partiu e Pilar e Tomas se aproximaram rapidamente do dono do


estaleiro. Ele era um grande homem bulboso chamado Gerardo Calvo, que
amava seus charutos e crescera com o general Maceo. Ele iria fornecer alguns de
seus trabalhadores mais confiáveis para completar a tripulação e o ouro para as
armas.

─ Você deveria esperar uma hora ou duas antes de sair. A Marinha mudou sua
programação. Você não quer encontrá-los na primeira noite com ela.

Pilar não gostou de atrasar a partida, mas sabia que ele estava certo, então duas
horas antes da meia-noite eles partiram.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Houve um bom vento e eles se deslocaram rápido. Com o Sirena ancorado a
uma pequena distância da costa, Pilar e dois homens de Calvo remavam sob o
céu noturno sem lua para o ponto de encontro na praia. Eles estavam muito
atrasados para a reunião marcada, mas não tinham o que fazer. Ela esperava
que seu contato não tivesse desistido de esperar, porque os rebeldes precisavam
muito das armas que podiam reunir.

O vento aumentou. Uma tempestade estava a caminho, mas com alguma sorte
ela seria capaz de conduzir seus negócios e voltar para casa antes que o tempo
inclemente se instalasse.

─ Você acha que ele esperou? ─ Um dos homens perguntou.

─ Espero que sim ─ foi tudo o que ela disse. Vozes eram levadas sobre a água,
então quanto menos eles conversassem, melhor.

Uma luz brilhou na escuridão acima da praia. Seu sinal. A visão a encheu de
alívio. Tendo arriscado a vida, ela não queria voltar para casa de mãos vazias.

─ Você está atrasada ─ disse o contrabandista, um velho dominicano chamado


Octavio, bruscamente.

─ Os espanhóis alteraram sua programação de monitoramento. Minhas


desculpas. ─ Mesmo enquanto falavam, ela e sua equipe ficaram de olho na
água. Se a marinha espanhola aparecesse de repente, Tomas e os dois homens a
bordo do Sirena não teriam outra opção a não ser levantar âncora e esperar
fugir do inimigo, deixando para trás Pilar e os outros em terra.

─ Quantas você trouxe? ─ perguntou a Octavio.

─ Dez.

O número era pequeno, mas eram mais dez armas do que os rebeldes tinham
atualmente.

─ Há também pólvora ─ acrescentou Octavio. Ele também mantinha um olho


afiado em seus arredores. ─Vamos terminar o nosso negócio enquanto a lua
ainda está por trás das nuvens, para que possamos voltar para casa em
segurança.

Pilar concordou e contou o precioso ouro dado a ela para pagar Calvo. Quando
ele embolsou e desapareceu na escuridão, ela e os seus homens carregaram o
saco de armas e pó e remaram de volta para o Sirena.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Uma vez que o contrabando foi garantido, ela deu a ordem para partir. A
âncora foi erguida e com as velas índigo do Sirena cheias com um vento
constante, Tomas as direcionou para o oeste, para casa.

Eles estavam quase lá quando um relâmpago quebrou o silêncio. Um estrondo


sinistro de trovão se seguiu. O vento aumentou acentuadamente, fazendo as
velas se esticarem e a escuna começar a navegar em um mar cada vez mais
agitado.

─Tomas! ─ ela gritou urgentemente sobre o vento.

─ Fazendo o meu melhor! ─ O resto da tripulação subiu no convés para ajustar


as velas e manter o Sirena em curso. Ela correu para se juntar a eles, mas parou
congelada quando outro relâmpago revelou algo de um pesadelo. O maior
navio de guerra que ela já vira estava vindo sobre eles.

─ Navio-de-guerra espanhol! Tomas! Por tudo que é sagrado, saia de seu


caminho!

Gotas grossas de chuva começaram a atingi-los e logo caíram em ondas


ofuscantes. Ela acrescentou seus músculos ao dos homens em um esforço para
usar as velas cheias de vento e a velocidade do veleiro para ultrapassar o navio
de guerra bem armado. Relâmpagos constantes e intermitentes mostraram que
a embarcação espanhola ainda estava em curso.

─ Tomas!

Seu grito fundiu-se com uma explosão quando uma bala de canhão encontrou
sua marca e a concussão a lançou no alto, no ar. Ela caiu na água no momento
em que uma segunda explosão sacudiu o Sirena, enviando fragmentos de
madeira queimando e metal girando como se tivesse nascido da tempestade.
Atordoada e desorientada, ela mergulhou instintivamente abaixo da superfície
da água escura. Grata por estar vestindo a calça de algodão simples e blusa
usada pelas pessoas de sua ilha e não uma saia com uma abundância de
enchimentos por baixo, ela nadou por sua vida e esperou que sua equipe
estivesse fazendo o mesmo.

─ Pilar! Pilar!

Pilar podia ouvir sua irmã Doneta chamando com uma voz que parecia
distante. Lutando para sair de um nevoeiro, Pilar lentamente abriu os olhos.

─ Oh, graças aos santos! Você está viva ─ Doneta chorou. ─ Eu pensei que você
estava morta!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar percebeu que estava deitada de costas na praia, mas não se lembrava de
como chegara lá. Sua roupa fina estava encharcada, sua cabeça doía
tremendamente e seus membros pesavam como chumbo. Ela fechou os olhos
novamente, esperando que a dor em sua cabeça cessasse e então a ânsia
começou. Vomitou toda a água do mar que engoliu de novo e de novo, até que
seus lados doíam e sua garganta queimava. Memórias da noite voltaram e ela
ficou mortalmente parada.

─ Onde estão Tomas e os outros? ─ Em pânico, ela examinou a praia e depois a


água. ─ Você os viu?

─ Não. Só você. Eu estive procurando por você desde o amanhecer. O que


aconteceu?

Pilar ficou de pé. Ignorando a pergunta e a dor ela correu para a beira do mar
para examinar a água cinzenta, ainda agitada e irritada com a tempestade da
noite anterior, em busca de sinais de seus companheiros. Ela olhou para cima e
para baixo da praia, mas podia muito bem ter sido a única pessoa no mundo.

Sua irmã veio para o lado dela e disse com urgência:

─Precisamos chegar em casa antes de sermos vistas. Venha. ─ Mas Pilar não
queria ir. Se ela ficasse mais tempo, talvez um ou todos aparecessem. E se eles
viessem para terra feridos e precisassem de ajuda? A preocupação a acertou,
mas ela sabia que Doneta estava certa. Se os espanhóis estivessem patrulhando
por perto, ela precisava sair da praia.

Enquanto Doneta dirigia a carroça puxada por sua velha mula, Salazar, Pilar foi
escondida no fundo falso. Ela estava exausta, mas o cansaço foi superado pela
preocupação com a tripulação. Tomas cuidava de sua mãe idosa e, embora ela
não soubesse nada sobre a vida dos outros, era mais do que provável que eles
também tivessem famílias que dependiam deles. Todos ligados à rebelião
conheciam os perigos inerentes à luta, mas ninguém queria que as
consequências voltassem para casa e prejudicassem os seus. Tendo
pessoalmente lamentado a perda do pai e dos tios, Pilar sabia que essa tristeza
não podia ser medida. Ela rezou para que os homens chegassem em casa em
segurança.

─ Pare!

Quando a carroça parou, Pilar ficou em alerta. Ela colocou a mão no punho do
facão ao seu lado.

Uma voz masculina exigiu:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Seu nome e onde você está indo, senhorita?

─ Eu sou Doneta Banderas e a caminho de casa, capitão.

Dirigir-se a ele por classificação era a maneira sutil de sua irmã de informar
Pilar que ele era um soldado.

─ Banderas. Você é parente de Javier Banderas?

─ Eu sou sua filha.

─ Desça, por favor.

─ O que eu fiz?

─ Apenas desça, senhorita. Precisamos revistar sua carroça.

Pilar não tinha como saber quantos homens havia, mas isso não importava. Ela
e a irmã estavam sozinhas e exceto o facão solitário, desarmadas. Se os soldados
tivessem a intenção de causar dano, seriam facilmente dominadas.

Ela ouviu Doneta explicar:

─ Não há nada lá atrás, apenas sacos de refeição e varas de pescar. Eu fui pescar
esta manhã, mas não peguei nada.

─ Ou desce ou meus homens a tirarão. ─ A ameaça em sua voz era clara.

Alguns segundos depois, Pilar ouviu passos e sons dos itens no banco acima
dela sendo movidos. Ela rezou para que eles não olhassem mais.

A mesma voz masculina gritou:

─ Cortem os sacos abertos!

─ Não! ─ sua irmã gritou com raiva.

Pilar imaginou a comida saindo dos sacos e se esparramando na carroça ou no


chão.

Doneta exigiu.

─ Quem vai compensar minha mãe por essa comida desperdiçada?

─ As famílias dos rebeldes não são compensadas, mas você pode sempre fazer
uma petição ao governador ─ o espanhol riu sarcasticamente.

A mandíbula de Pilar se apertou de raiva.

─ Posso continuar meu caminho? ─ Doneta retrucou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sim, senhorita, mas agradeça por não termos encontrado nada. A marinha
afundou um barco rebelde na costa na noite passada. Eles têm certeza que a
tripulação morreu, mas vamos ficar de olho nesta área por um tempo. Seria
uma pena enforcar alguém tão bonita quanto você.

Doneta não respondeu.

Pilar sentiu a carroça mudar quando a irmã subiu de volta ao assento. Alguns
segundos depois, elas estavam se movendo de novo. Pilar ficou satisfeita
porque os soldados mencionaram não ter encontrado nenhum de seus
tripulantes. Ela esperava que isso significasse que os homens estavam seguros,
mas isso não diminuía suas preocupações.

Quando chegaram à fazenda, Doneta ajudou a trêmula e pálida Pilar a descer e


sua mãe veio correndo.

─ Oh graças a Deus, você está viva. Venha, vamos entrar em casa.

Depois de tirar as roupas encharcadas, secar-se e vestir uma camisola velha,


subiu na cama e contou à mãe a história, para a qual Desa respondeu:

─ Não há garantia de que eles não descobrirão quem estava envolvido.


Precisamos sair da ilha o mais rápido possível. Pilar, você dorme. Doneta e eu
vamos nos preparar.

Na noite seguinte, com a ajuda dos rebeldes locais, as mulheres Banderas


embarcaram num barco e partiram em busca de refúgio com o irmão de Desa
na Flórida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 6

Com a festa de aniversário de sua mãe em andamento e a casa e os


terrenos cheios de parentes e vizinhos, Noah achou toda a comemoração uma
distração bem-vinda para sua preocupação sobre seu navio roubado. Dezenas
de diferentes cenários passavam por sua mente sobre o que a mulher e sua
gangue poderiam estar fazendo. Tendo servido com Simmons, ele sabia que
todos os tipos de ilegalidades poderiam entrar em jogo: ópio, escravos, crianças.
Ele rezou para que eles não se engajassem em nada disso, mas ele não tinha
como saber. Noah nunca havia se aproximado de uma mulher violentamente,
mas a mulher pirata ele queria machucar. Na verdade, no momento em que ele
a encontrasse, ele planejava entregá-la às autoridades, mas isso não impediu
sua mente de fantasiar sobre joga-la de cabeça para um tubarão.

─ Se olhares pudessem matar.

Ele se virou para encontrar Drew ao seu lado. Estavam ao ar livre no pátio
lotado, esperando que o bolo de aniversário de sua mãe fosse trazido para fora
enquanto o riso de seus amigos e parentes que bebiam vinho fluía ao redor
deles.

─Pensando no meu navio ─ disse ele em explicação.

─ E a mulher?

─ E a mulher.

─ Você não pode matá-la, você sabe.

─ Eu sei, mas isso não significa que eu não posso pensar nisso.

Drew ergueu o copo de vinho em saudação.

─ O que você vai fazer quando encontrá-la?

─ Recuperar o Alanza e entregá-la às autoridades. Espero que eu tenha alguma


satisfação por qualquer punição que os tribunais decretarem.

─ E se você não encontrá-la?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Oh, eu vou! Disso tenho certeza. ─ Não havia dúvidas no pensamento de
Noah de que ele a encontraria. Alguém sabia quem ela era e ele encontraria essa
pessoa também.

─ Você ainda planeja sair logo após o casamento?

─ Sim.

─ Então, tente se divertir enquanto estiver aqui. Você precisa ter alguma
diversão em sua vida.

─ É tão óbvio?

─ Extremamente.

Seus irmãos o conheciam bem.

O tom de Drew se suavizou.

─ Falar sobre o que aconteceu com você naquela época pode ajudar, Noah.

Noah observou uma das velhas tias tentando ensinar Tonio a dançar.

─ Estou bem, Drew.

─ A vida toda você sempre foi um péssimo mentiroso.

Um sorriso triste curvou seus lábios e ele encontrou os olhos sérios de seu
irmão.

─ Se eu falar sobre isso, seu coração vai quebrar também e o meu está quebrado
o suficiente por nós dois. ─ Dito isso ele ficou em silêncio enquanto o bolo foi
trazido e todos aplaudiram.

O dia do casamento de Alanza amanheceu brilhante com o céu azul.


Tentar segurar sua excitação era difícil. Irei me casar! Veio sua voz interna
extasiada. E com um homem que conquistou seu coração como nenhum outro
antes.

─ Você está linda, mamãe ─ Mariah exclamou quando Alanza fez uma volta
lenta para mostrar seu novo vestido dourado. Suas noras seriam suas
madrinhas e também se vestiam elegantemente.

─ Linda e feliz ─ acrescentou Billie.

─ Eu estou as duas coisas. Eu quero me beliscar só para ter certeza de que não
estou sonhando.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Nenhum sonho ─ disse Billie. ─ Em pouco tempo, você vai ser a Sra. Maxwell
Rudd.

─Sim eu serei. Eu tenho borboletas no estômago. Não me lembro de estar tão


nervosa.

─ Você vai ficar bem quando tudo estiver em andamento.

─ O padre está aqui?

─ Sim─ disse Mariah com segurança. ─ Seus primos estão com ele lá embaixo.
Você está pronta para ir?

Alanza respirou profundamente.

─ Sim.

Billie disse:

─ Vou alertar a todos que você está vindo e espantá-los para fora. Eu vou
acompanhar você e Noah quando você descer.

─ Obrigada, Billie.

Depois de sua partida, Alanza olhou o rosto feliz da primeira nora.

─ Obrigada por este belo vestido.

─ Foi um prazer, e obrigada por ser a melhor sogra que uma garota poderia
desejar.

Elas compartilharam um forte abraço tão cheio de significado, que Mariah teve
que usar as pontas dos dedos para estancar as lágrimas que ameaçaram
derramar de seus olhos dourados.

─ Tudo bem ─ declarou Alanza com confiança. ─ Vamos. Eu tenho um homem


para deslumbrar.

Mariah levantou a cauda flutuante do vestido de Alanza e as conduziu fora da


sala.

O casamento foi lindo. Enquanto Max ficava sob o caramanchão


coberto de flores com seus dois padrinhos, o padre, Billie e Mariah, Alanza era
escoltada por seus filhos impecavelmente vestidos: Logan na frente, Drew à sua
direita e Noah à sua esquerda. Os olhos negros e os lábios rachados ainda eram
aparentes e causavam mais do que alguns comentários, mas a maioria dos

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


convidados estava focada na adorável Alanza e seu deslumbrante vestido
dourado.

Depois que os filhos a entregaram ao lado do noivo, eles se


afastaram.

Alanza olhou os olhos sérios de Max e sabia que ela estava tomando
a decisão certa. Quando adolescente, ela se acreditava apaixonada por Abraão,
mas não tinha sido amor. O aperto no coração causado pelo homem incrível ao
lado dela era a coisa real; assim quando o padre começou a cerimônia e pediu
que ela repetisse os votos, ela o fez com uma voz firme e forte. E quando ele os
pronunciou marido e mulher e eles selaram a cerimônia com um beijo, ela não
ouviu o aplauso estrondoso ou os gritos estridentes de seus filhos; tudo o que
importava era Max, ela e Max sozinhos até que a morte os separasse.

Os recém-casados passaram o resto da tarde reinando sobre o


banquete de casamento (que abrangia três mesas de cavalete) e recebendo os
votos de sucesso da família e amigos. Quando o sol atravessou o céu e começou
a afundar em direção à noite, Max puxou-a para o lado.

─ Você está pronta para ir?

─ Ir aonde.

─ Comigo?

A travessura em seus olhos a fez segurar uma risada:

─ O que você está fazendo agora, Maxwell Rudd?

─ Venha comigo e veja.

─ Isso é uma aventura?

─ A primeira de muitas, espero.

Ela olhou ao redor para os convidados.

─ Não se preocupe com eles, ainda há muito para comerem e beberem, eles vão
ficar bem. E eu já falei para os meninos que estamos indo embora.

A Alanza do passado teria se arrepiado imediatamente com a ideia


de embarcar em algo tão desconhecido e espontâneo, e ela certamente não teria
ficado feliz em deixar para trás uma série de convidados desatendidos, mas
com Max ela tinha a oportunidade de ser alguém novo, então ela segurou a
aliança e disse:

─ Estou pronta.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


O prazer encheu seu rosto. Ele agarrou a mão dela e ela usou a outra
para segurar o seu vestido e eles correram.

Estava quase escuro quando chegaram à cabana de caça. Ele parou a


carroça, engatou o freio e desceu. Sob a brisa da montanha ele se aproximou e
ergueu os braços para ela e com um só golpe lentamente a trouxe ao chão
diante dele. Por um momento ficaram em silêncio banqueteando-se com a visão
um do outro. Havia uma fome silenciosa em seus olhos que a tocou em todos os
lugares que ele esteve gentilmente cortejando durante todo o verão.

─ Nervosa? ─ ele perguntou.

─ Um pouco.

─ Então estamos quites.

Quando ele a pegou em seus braços, ela soltou uma risada que foi
interrompida pelo beijo longo e intenso que ele deu em seus lábios antes de
continuar o caminho para a cabana. Ele chutou a porta e uma vez que estavam
dentro, levou-a através do escuro para um quarto na parte de trás e a colocou
de pé.

─ Deixe-me acender uma lâmpada.

A centelha de uma faísca foi imediatamente seguida por um pequeno brilho


que logo cresceu e encheu a sala. Alanza olhou ao redor surpresa.

─ Quando você construiu um quarto?

─ Comecei a trabalhar no ano passado. Imaginei que minha nova esposa não iria
querer dormir em um saco de dormir no chão.

─ Ano passado? Muito confiante, não é?

─ Sim.

Ela balançou a cabeça para o orgulho que ele mostrava e o sorriso


que o acompanhava. Eles usaram a cabana como base de caça por anos e ela
realmente dormira no chão em um saco de dormir. A nova sala mostrava por
que suas habilidades em carpintaria eram tão procuradas. Paredes de madeira
polida e um telhado inclinado sustentavam a enorme cama nova que ele havia
falado em fazer.

─ Esta é a cama que você fez para nós?

─ Sim, como eu disse, não iríamos ter a nossa noite de núpcias na cama que você
herdou da sua mãe.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Quando ela se casou com Abe, não houve noite de núpcias. Ele dormiu no chão
da sala da frente. Ela encontrou-se calmamente ansiosa por esta.

─ O que há de errado? ─ ele perguntou suavemente.

Ela balançou a cabeça.

─ Nada. ─ Ela não queria estragar a noite falando sobre o passado.

A nova cama estava coberta com lençóis e travesseiros que ele não poderia ter
escolhido sozinho.

─ As minhas garotas estiveram aqui em cima? ─ Havia cortinas e duas cadeiras


estofadas e uma grande lareira construída com pedregulhos e pedras.

─ Sim ─ ele confessou sem vergonha. ─ Billie escolheu os lençóis, colchas e


aquele grande tapete abaixo da cama. Mariah fez as cortinas.

─ Tudo sem eu saber de nada.

─ Viu como uma surpresa pode ser maravilhosa?

Ela se aproximou e colocou os braços em volta da cintura dele.

─ Eu te amo, Max Rudd.

─ Eu também te amo, Lanz Rudd.

Ela encontrou os olhos dele.

─ Nós vamos ser felizes.

─ Como lontras brincando na água.

Isso a fez rir de novo e ela se encaixou contra ele e descansou sua
bochecha contra seu peito forte. Seus braços se apertaram ao redor dela e ela
saboreou a paz que encontrou em seu abraço.

─ Vamos fazer uma fogueira e sair dessas roupas de casamento ─ disse ele acima
dela. ─ Esta gravata está me estrangulando.

Ela recuou para que ele pudesse se livrar da gravata formal, mas ela não tinha
certeza do que deveria fazer em seguida.

─ Eu preciso trazer algumas coisas da carroça. Sente-se e relaxe. Foi um longo


dia.

Enquanto ele estava fora, ela se maravilhou de novo com o quarto


principalmente para afastar a mente de quão nervosa ela se tornara de repente.
A conversa que teve com Billie algumas semanas atrás sobre os meandros do

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


desempenho na cama foi chocante para dizer o mínimo. A última coisa que
queria era decepcionar Max com sua falta de conhecimento. Abe tinha sido
gentil com ela na cama, mas ela não tinha participado ativamente porque ele
não a encorajou e ela não sabia que deveria. Max deu a ela a sensação de que as
intimidades entre os dois seriam diferentes, e como resultado ela estava tão
nervosa quanto um gato de cauda longa em uma sala de brinquedos.

Ele voltou carregando um pequeno baú e uma cesta coberta. Ele os colocou no
chão perto da lareira e silenciosamente acendeu as toras empilhadas no interior.
Ele olhou para ela.

─ Você está bem?

─ Não tenho certeza.

Deu-lhe um sorriso gentil antes de pegar o atiçador para equilibrar os troncos.


Quando ele ficou satisfeito com o fogo se levantou e encontrou os olhos dela. ─
Suas garotas mandaram um vinho, os meninos acharam que você preferiria
tequila, então eu trouxe os dois. Qual você prefere?

─Tequila.

─ Está na cesta. Pegue e eu trago uma cadeira aqui perto do fogo.

Ela encontrou uma garrafa de sua tequila favorita junto com dois copos e
agradeceu por ter criado filhos tão maravilhosos. Quando ela se virou para se
juntar a Max perto do fogo, ele já estava sentado.

─ Onde está minha cadeira?

Ele deu um tapinha no colo.

Ela baixou a cabeça e depois levantou-a para mostrar seu sorriso. Tequila e
copos na mão ela se aproximou e se acomodou no colo dele, servindo uma
pequena porção para ambos. Ele pegou a garrafa dela e colocou no chão. De
copo na mão ele levantou e disse:

─Às lontras.

Rindo de como ele era bobo ela também levantou o dela.

─Às lontras.

Os dois tomaram goles e ele a aproximou e beijou o topo de sua cabeça.

─ Sem garotos lutando, sem convidados, sem bebês saindo do cercado. Eu posso
nunca levar você de volta.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela concordou:

─ Eu sei. Isso é legal. Obrigada pelo resgate.

─ A qualquer momento.

Eles terminaram suas bebidas e ele colocou os copos no chão ao lado da garrafa.
No silêncio, apenas o fogo crepitante podia ser ouvido. Ele gentilmente
levantou o queixo e a presenteou com uma série lenta de beijos que levaram seu
coração a bater mais forte.

─ Eu esperei por isso por tanto tempo, Lanz.

Ele aumentou a intensidade e logo ela o estava beijando de volta com


o mesmo fervor, aprendendo, saboreando, degustando. Ele brincou com os
cantos dos lábios dela com a ponta da língua e eles se separaram gentilmente,
de bom grado. Eles compartilharam beijos antes, mas estes eram diferentes;
estes eram convincentes e possessivos - juntar-se, acasalar-se e quando ele se
retirou lentamente, ela ficou deslumbrada, ofegante e querendo mais.

Beijos foram distribuídos sobre sua pele nua acima do decote de seu
vestido e em resposta sua cabeça caiu para trás, oferecendo sua garganta aos
lábios enquanto sua mão lentamente começou a explorar. Durante o namoro
deles, ele nunca fez mais do que beijá-la e ela se contentou com isso, mas as
sensações de sua mão se movendo sobre ela garantiram que ela nunca se
contentaria com isso novamente. Ela agora entendia a paixão que Billie tentara
explicar. Era de fato arrebatadora e maravilhosa e quando ele deslizou seu
vestido para o lado, expôs seu seio e levou-o à boca, ela entendeu por que as
garotas se recusaram a deixá-la usar um corpete sob seu vestido. Ela sussurrou
em resposta à escandalosa sucção e todo o pensamento fugiu quando um calor
profundo floresceu por toda parte - especialmente entre suas coxas. E enquanto
sua boca em seu peito continuava a enlouquecê-la lentamente, seu toque se
moveu para lá, primeiro fora de seu vestido e logo abaixo. Seu vestido foi
erguido até os joelhos e sua palma possessiva subiu o comprimento de sua meia
de seda, passando por sua liga de renda com babados e ela instintivamente se
abriu para deixá-lo tocá-la ali também. A recompensa era tão impressionante, a
sensação dele provocando seu núcleo tão esmagadoramente poderosa, que
quando ele deslizou um dedo para dentro, suas pernas se separaram e ela
gritou quando seu primeiro orgasmo explodiu com a força de uma banana de
dinamite.

Levou um momento para se encontrar de novo e quando abriu os olhos, ele a


beijou e sussurrou de brincadeira:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─Você estava gritando, Sra. Rudd?

Ela conseguiu reunir corpo e mente o suficiente para dar um soco no braço dele,
mas a glória do orgasmo continuou a ecoar.

Sorrindo ele a levou para a cama.

Durante o resto da noite, Alanza teve mais amor do que ela poderia
imaginar. Ela achou que conhecia as partes do acasalamento, mas descobriu que
não sabia que, com o homem certo, seu corpo teria fome pela união que levaria
a um ritmo ascendente e orgasmos viriam de novo e de novo.

Finalmente, quando eles tiveram o suficiente um do outro, ele a deixou deitada


no meio da cama e voltou carregando um pacote embrulhado em papel pardo e
amarrado com uma fita dourada, e um laço dourado correspondente. Ela se
sentou.

─ O que é isso?

─ Você perdeu a aposta.

Ela prontamente revirou os olhos em resposta.

─ Então eu tenho que usar o que tem ai dentro?

Ele assentiu.

Abriu-o para encontrar três camisolas muito finas, todas de modelo variado. Ela
sorriu.

─ Elas não vão me manter muito quente.

─ Você não vai usá-las por tanto tempo.

Explodindo de tanto rir ela caiu de costas na cama e olhou nos olhos do homem
que amava, mal podia esperar para ver o que o resto da vida deles traria.

─ Eu te amo, Max.

Ele se inclinou e beijou sua testa.

─ Eu também te amo, Lanz.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 7

Ao retornar a Havana, Noah foi direto ao escritório do almirante


Rojas, esperando ouvir boas notícias.

─ Infelizmente, Sr. Yates, não tenho nada de novo para transmitir. Não houve
avistamentos ou relatos de seu navio atracando em qualquer um dos nossos
portos. Uma de nossas embarcações afundou um navio de tamanho similar
enquanto você estava fora - um navio rebelde, acreditamos, mas não havia
muito para identificar.

─ A tripulação foi presa?

─ Apenas um homem foi encontrado. A polícia está interrogando-o, mas até


agora ele está mantendo sua história sobre ser apenas um simples pescador.

─ Posso falar com ele?

O almirante balançou a cabeça.

─ Não, Sr. Yates. Se ele oferecer alguma coisa relacionada ao seu navio, nós o
informaremos.

Frustrado, mas grato pelo tempo do almirante, ele tinha mais uma pergunta.

─ Quem eu poderia interrogar para talvez obter informações sobre essa mulher?

─ Eu não tenho certeza do que você quer dizer.

─ Quem administra a parte baixa em Havana?

O almirante ficou imóvel.

─ Estou disposto a pagar qualquer que seja o preço.

O almirante examinou-o por um momento antes de oferecer um nome.

─ Victorio Gordonez. ─ Ele escreveu algo em um pequeno pedaço de papel de


sua mesa. ─ Ele mora aqui. Mas não diga a ele que te enviei.

Noah colocou o papel em seu casaco.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Entendido. Você tem meus agradecimentos.

─ Feliz caça, Sr. Yates.

Inclinando a cabeça, Noah partiu.

Noah preferiria ter acesso ao homem que a polícia detinha, mas com
essa opção indisponível, esperava que o nome dado pelo almirante fosse útil.
Primeiro, ele precisava falar com alguém que possivelmente conhecia Gordonez
para determinar a melhor maneira de se aproximar dele. Ele duvidava que
pudesse simplesmente aparecer na porta do homem e pedir uma reunião, então
pediu a seu cocheiro que o levasse até a casa de Bernita Mendoza. Seu pai Paulo
era um diplomata de baixo escalão. Não havia garantia de que Mendoza o
conhecesse, mas Noah tinha que perseguir todas as possibilidades para que sua
busca pela mulher pirata fosse um sucesso.

O criado na porta conduziu-o ao escritório de Mendoza. Com a entrada de


Noah, o homem baixo ficou com um olhar perplexo no rosto de bigode.

─ Noah? Eu pensei que você tivesse voltado para a Califórnia.

─ Eu fui, mas voltei e estou precisando de alguns conselhos.

─ É claro. ─ Ele dispensou o empregado com um aceno de cabeça e fez um gesto


para Noah apontando uma das cadeiras.

─ Sente-se. Como posso ser útil?

Noah contou a ele a história e no final os olhos de Mendoza se arregalaram.

─ Essa gangue sequestrou você fora da minha casa? Meu Deus, para onde este
mundo está indo? Foi onde você conseguiu esse olho?

Por um momento Noah ficou confuso, depois sacudiu a cabeça.

─ Não, isso foi de uma briga com meus irmãos.

─ Oh, tudo bem. Eu fiquei preocupado achando que os rufiões machucaram


você.

─ Apenas meu ego. Estou tentando encontrar a mulher que liderou a turma e
pegar meu barco de volta.

─ Você já foi à polícia?

─ Sim, e o Almirante Rojas nos escritórios da marinha tem sido muito atencioso,
mas não houve nenhum movimento no caso.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sinto muito por ouvir isso. Como eu posso ajudar?

─ Você conhece um homem chamado Victorio Gordonez?

Mendoza ficou imóvel, e como o almirante estudou Noah por um longo


momento antes de responder:

─ Sim. Por que você pergunta?

─ Disseram-me que ele conhece o lado ilícito de Havana. Eu espero que ele
possa ser útil para identificar esta mulher, mas eu preciso de alguém para
agendar uma reunião entre nós.

─ Eu o conheci em ocasiões sociais, mas ele é um homem muito perigoso.

─ É muito perigoso para você me apresentar a ele?

─ Não. Ele tem uma imagem a ser mantida, por isso suas relações com nós da
sociedade de Havana são mantidas tão imaculadas quanto possível. Ele finge
ser um cordeiro e nós fingimos que concordamos.

─ Entendo.

─ Deixe-me enviar uma nota para sua casa para ver se e quando ele pode estar
disponível.

Então o bilhete foi enviado e enquanto esperavam, eles conversaram sobre o


recente casamento de sua mãe e, em um esforço para ser educado, Noah
perguntou pela filha de Mendoza, Bernita.

─ Ela está bem. Eu tinha grandes esperanças de que vocês dois se divertissem.

─ Ela é uma garota legal, mas eu não seria um bom marido para ela ou para
qualquer outra pessoa. Sou casado com o mar.

Mendoza pareceu resignado e assentiu com compreensão.

O criado voltou um pouco depois. Gordonez estava em casa e veria Noah o


mais cedo possível.

─Finalmente, alguma boa notícia ─ Noah disse. ─ Eu gostaria de vê-lo


imediatamente, então peço desculpas por sair tão apressadamente.

─ Nem precisa. Espero que ele possa te dar a informação que você procura.

─ Eu também. Obrigado, Sr. Mendoza.

─ Boa sorte.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Quando Noah chegou, um empregado da casa levou-o para o pátio
fechado, onde um homem corpulento de camisa branca estava sentado a uma
mesa coberta com pratos de comida.

─ Senhor Gordonez?

─ Você deve ser Yates?

─ Sim.

─ Você é americano.

─ Sim.

─ Sente-se. Você gostaria de algo para comer?

─ Não, obrigado. Minhas desculpas por perturbar sua refeição.

─ Você não gosta da comida cubana?

Noah o observou, especialmente notando o pó branco em seu rosto.

─ Aprecie sua alimentação. Sou espanhol do lado da minha mãe. Eu fui criado
bem o suficiente para não interromper a refeição de uma pessoa. Eu posso
voltar em outro momento, se você preferir.

Ele acenou com a mão gorda com desdém.

─ Apenas testando você para ver se tem preconceito contra a comida daqui,
porque muitos de vocês americanos tem. Por favor, sente-se.

Noah obedeceu.

Gordonez olhou para o criado de pé como uma sentinela perto da mesa.

─ Pegue para o Sr. Yates um pouco de vinho. Certamente você não vai recusar.

─ Eu aceitarei uma pequena porção. Obrigado. ─ Uma taça parcialmente cheia


foi colocada ao lado dele e Noah inclinou a cabeça em agradecimento.

─ Então, como você está familiarizado com Paulo Mendoza?

─ Nossas famílias são parentes distantes.

─ Ah. Ele esfregou aquela linda filha debaixo do seu nariz como um fragrante
pedaço de carne?

Noah não respondeu.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Deixa pra lá. Se ele fez, você sabe que ela é tão vazia quanto uma casca de ovo
sem seu ovo. ─ Ele então atravessou Noah com seus pequenos olhos de porco. ─
Por que você está aqui?

─ Estou precisando de informações. Foi-me dito que você poderia ser de ajuda.
Estou procurando por uma mulher.

─ Eu não sou um cafetão, Sr. Yates.

Noah percebeu que sem dúvida ele era, mas manteve a especulação não dita. ─
Esta é uma mulher que usa uma capa preta e comanda uma gangue que foi
responsável pelo roubo do meu navio.

Gordonez não olhou para o frango e o arroz que estava consumindo.

─ Por que vir até mim? ─ ele perguntou, levando a comida à boca.

─ Eu ouvi que você pode ter acesso ao conhecimento que a polícia não tem.

─ Por quem?

─ Um indivíduo sem nome.

─ Respeitoso e discreto. Você foi bem criado. Por que você acha que eu ajudaria
você a encontrar essa mulher misteriosa?

─ Porque eu estou disposto a pagar qualquer preço que você cite para ter o
nome dela.

Gordonez parou de comer, sentou-se e pegou seu vinho. Quando ele tomou
alguns goles, avaliou Noah silenciosamente acima do copo antes de abaixá-lo
novamente.

─ Você despertou meu interesse, Sr. Yates, então me fale sobre essa mulher e sua
gangue.

Quando Noah terminou, Gordonez mais uma vez encarou-o firmemente. Noah
sentiu que estava tentando determinar quanto pedir.

─ Eu acredito que sei quem ela é. Na verdade eu estou bem certo.

─ E o seu preço?

─ Mil. Americano.

Íngreme, mas atingível.

─ Você não piscou, Sr. Yates. Talvez eu devesse ter pedido mais.

─ Você definiu seu preço. Como você gostaria de proceder?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Depois que eu confirmar que os fundos estão no meu banco, enviarei o nome
dela.

─ Você tem certeza sobre sua identidade?

─ Eu tenho. Eu conheço a família dela há muitos anos. Quais são seus planos
para ela?

─ Eu vou guardar isso para mim mesmo, se você não se importa.

─ Se eu fosse você, eu a entregaria às autoridades primeiro. E como a família


dela me deve, vou lhe dizer onde ela mora sem custo adicional.

Noah assentiu em gratidão, mas se perguntou qual seria a história do


homem com a família. Eles eram rivais criminosos? Ele parecia ansioso para
oferecer a cabeça da mulher e isso fez Noah hesitar, mas no esquema das coisas
o que quer que estivesse entre eles não importava, porque agora a mulher
pirata lhe devia também. ─ Você foi de imensa ajuda, Senhor Gordonez. Vou
deixar você voltar para a sua refeição.

Gordonez deu-lhe um aceno de cabeça e o criado escoltou Noah de volta à


carruagem.

Dois dias depois, Noah atendeu uma batida na porta do seu quarto de hotel.
Quando ele abriu, um homem entregou-lhe um pedaço de papel dobrado.

─ Do Senor Gordonez.

Noah deu uma gorjeta ao mensageiro e fechou a porta. Quando ele desdobrou a
nota ele leu: Pilar Banderas. Santiago.

Satisfeito, Noah se apressou em fazer as malas.

Um barco contratado levou-o para as docas de Santiago naquela tarde.

Assim que deixou o barco, ele começou a perguntar por ela, mas não conseguiu
encontrar ninguém que admitisse conhecer a família. Um homem em um dos
pequenos estaleiros que deu seu nome como Calvo, olhou Noah de cima abaixo
em resposta ao seu pedido de informação.

─ Por que você deseja encontrar esta mulher Banderas?

─Eu dei a ela algumas propriedades que eu gostaria de recuperar.

─ Eu não conheço o nome. ─ E ele foi embora.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Noah sabia que ele estava mentindo, mas sem meios de forçá-lo ou aos outros
que ele abordou para fornecer as respostas que precisava, ele caminhou até um
homem sentado em um coche de aluguel.

─ Leve-me para a cidade.

Naquela noite, enquanto estava na varanda olhando para o sol que descia como
uma bola de fogo na baía, ele se perguntou onde e quando essa busca
terminaria. Santiago era a segunda maior cidade da ilha e ela poderia estar em
qualquer lugar - na cidade - nas montanhas. Não tinha como saber se Gordonez
lhe dera o nome verdadeiro ou se simplesmente fora roubado. Uma batida na
porta interrompeu seu devaneio. Ele abriu para encontrar um homem que ele
havia questionado mais cedo no cais.

─ Você ainda está procurando a família Banderas? ─ O homem perguntou


nervosamente, olhando para frente e para trás.

─ Sim.

─ Você está disposto a pagar?

Noah fez uma pausa.

─ Estou.

─ Posso entrar? Eu não quero que ninguém nos veja.

Noah recuou e o homem entrou.

─ Você conhece Pilar Banderas?

Ele assentiu.

─ Ela mora em uma fazenda fora da cidade. Ninguém disse nada nas docas
porque ela está ligada aos rebeldes, assim como todo mundo aqui.

Noah entendeu agora.

─ Quanto você quer por sua ajuda?

A quantia que ele citou era uma ninharia no esquema das coisas, mas para um
homem tão pobre quanto ele sem dúvida era grande.

─ Eu vou pagar quando chegarmos à fazenda.

─ Certo. Nós deveremos ir ao amanhecer. Antes que todos se levantem. Eu não


quero que nosso negócio seja conhecido.

Noah concordou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele veio até Noah ao amanhecer. Eles viajaram em sua carroça puxada por um
velho cavalo para fora da cidade e para a região montanhosa que o rodeava.

─ Cimarrons viveu aqui nos velhos tempos ─ o homem informou por meio de
conversa. Noah sabia que a palavra se referia aos escravos fugitivos. ─ Eles e
seus descendentes estão nestas montanhas há centenas de anos. Esta é a área
onde o general Maceo recrutou muitos dos mambis.

Eles andaram por mais algum tempo e o homem, que nunca falou
seu nome, conduziu o velho cavalo para uma propriedade afastada da estrada.
A casa envelhecida estava seriamente arruinada, assim como o celeiro que a
acompanhava. Estava assustadoramente silenciosa.

─ Parece que ninguém está aqui ─ comentou o guia.

Noah concordou, mas desceu e subiu na varanda. Atento às muitas


ripas que faltavam, ele caminhou até a porta e bateu. Ninguém respondeu. Ele
repetiu a ação mais algumas vezes com os mesmos resultados. Ele saiu da
varanda e deu a volta para os fundos. Havia alguns currais quebrados, mas eles
não tinham ocupantes. Ele avistou um jardim bem cuidado a poucos metros de
distância, mas não havia sinais de vida na propriedade em nenhum lugar.
Suspirando com frustração, ele voltou para a carroça.

─ Ela tem parentes?

─ Sim, mas eu não sei onde eles moram.

─ Como você conhece ela?

─ Eu cresci aqui.

Noah passou a ele o dinheiro que ele devia.

─ Leve-me de volta para a cidade.

De volta ao seu quarto de hotel, Noah queria dar um soco em


alguma coisa. Em vez disso ele fez as malas. Ele partiria para a Flórida de
manhã. Ele queria se encontrar com seu velho amigo Miguel Ventura sobre o
interesse de seus irmãos em investir na empresa de tabaco e uma vez que isso
fosse feito, ele descobriria o que fazer em seguida sobre a desaparecida Pilar
Banderas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 8

Pilar olhou ao redor do quarto que ela e sua irmã estavam


compartilhando. Era no fim das contas um belo cômodo. A roupa de cama e as
cortinas eram feitas de tecidos finos e havia um tapete macio no chão. A casa
elegantemente mobiliada e de propriedade de seu tio Miguel Ventura e sua
família, era um castelo comparado com a humilde casa Banderas de Cuba. Elas
tinham chegado há quase duas semanas agora e Pilar estava pronta para voltar
para casa. Sua irmã adorava o novo ambiente e se encantava com tudo, desde a
banheira luxuosa equipada com a água interna aos pratos finos nas mesas na
hora das refeições, até os jardins elegantes cheios de flores cheirosas, muito do
seu agrado. Quando sua mãe as levou para comprar roupas novas, as primeiras
coisas novas que elas possuíam desde a morte de seu pai, Doneta chorou. Pilar,
mais confortável com as calças finas de algodão e a blusa simples de sua pátria,
tentou convencer a mãe de que não era necessário um vestido de baile para a
rumba de aniversário, mas isso não foi ouvido e ela foi forçada a experimentar o
que parecia um fluxo interminável de vestidos até que uma escolha fosse feita -
um comprido com uma saia de cor verde menta. As tiras finas eram presas no
corpete com uma delicada roseta.

─ O que você está fazendo aqui, Pilar? Você deveria estar lá embaixo com o
mestre de dança.

─ Eu já sei dançar, Tia Simona.

─Não, você não sabe. Quando a dança começar na festa, não serão aquelas
danças country indecentes que você está acostumada a dançar em casa. Isso vai
ser diferente e você precisa aprender.

Simona era a esposa de Tio Miguel - uma mulher de rosto franzido.


Desde o momento em que as Bandeiras entraram em sua casa, ela deixou claro
que não gostava. A mãe de Pilar disse que parte do motivo tinha a ver com elas
serem pobres - aparentemente Simona veio de uma família extremamente rica
que não tolerava aqueles que não eram, e a outra parte tinha a ver com as duas
filhas de Simona, Mari e Anya. Ela e Tio Miguel estavam tendo dificuldade em
encontrar maridos para suas filhas, que pareciam muito com a mãe, e Simona

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


estava preocupada, pensando que ter Pilar e a arrebatadora Doneta sob seu teto
só tornaria a missão mais difícil.

─ Você viu minha mãe?

─ Ela está com meu marido. Eles estão olhando a propriedade. Ela está
pensando em se estabelecer aqui permanentemente.

Pilar congelou.

─ Agora, desça.

Chocada, Pilar fez o que lhe ordenou.

Depois do jantar, quando Pilar, Doneta e a mãe sentaram-se na varanda, Pilar


perguntou sobre a propriedade.

─ Você está realmente pensando em ficar na América?

─ Sim, Pilar, eu estou. Eu quero um novo começo na vida e este parece o


momento perfeito.

─ Mas, e a nossa casa?

─ Faremos uma nova casa, Pilar. Nós lutamos e terminamos sem nada por tanto
tempo. Meu irmão me avisou que meus pais me deixaram uma quantia
considerável de dinheiro - por culpa ou amor não estamos certos, mas é mais
do que suficiente para vivermos confortavelmente enquanto permanecermos
dentro dos nossos meios.

─ Então, por que não podemos levar esse dinheiro de volta a Cuba?

─ Porque Miguel tem os fundos em um banco americano. Eu não quero voltar


atrás e ter a Espanha descontando seus impostos e avaliações até não sobrar
nada.

Pilar refletiu sobre isso enquanto observava a beleza dos jardins.

─ E se eu escolher voltar?

─ Você tem idade suficiente para fazer o seu próprio caminho, Pilar. Eu não vou
ficar no seu caminho.

Pilar tentou imaginar a vida sem a mãe e a irmã porque sabia, sem perguntar,
que Doneta se contentaria em ficar. Ela olhou entre as duas mulheres que
seguravam seu coração.

─ Eu vou avisar você depois da festa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Tudo bem ─ sua mãe respondeu suavemente.

Deitada na cama no escuro, Pilar sabia que sua irmã estava acordada.

─ Você realmente preferiria viver aqui, Neta?

─ Eu sim. Estou cansada de ter que trabalhar tanto por tão pouca recompensa.
Talvez quando o país mudar, as coisas para pessoas como nós serão melhores,
mas agora. . . Eu sei que você provavelmente acha que eu sou volúvel por ficar
impressionada com a maneira como nosso tio mora, para ter a barriga cheia a
cada noite antes de dormir, para não ter que levantar todas as manhãs e usar as
mesmas roupas. Você percebe que nunca tivemos nada novo desde que papai
morreu? Mamãe tem feito o melhor que pode para nos ajudar e nós duas
trabalhamos duro para ajudá-la, mas pela primeira vez, eu gostaria de pintar
algo que eu possa manter ou passar uma parte do dia lendo em vez de inventar
outra maneira de enganar alguém só para podermos comer.

Pilar deixou essas palavras entrarem.

─ E como eu disse no outro dia, talvez eu possa encontrar alguém que me ame.
Eu sei que você não se importa com essas coisas Pilar, mas eu me importo.

Ela estava certa, Pilar não se importava com o amor, mas não invejava a irmã
por isso.

Doneta disse:

─ Eu gostaria que você considerasse ficar também. O que eu faria sem você? Em
quem eu confiaria ou rolaria meus olhos?

Pilar sorriu.

─ Esse novo marido que você está procurando.

─ Maridos não reviram os olhos - ou pelo menos eu não penso assim. O ponto é:
Nós estamos respirando uma pela outra desde o dia em que nasci. Eu não quero
uma vida que não inclua você.

─ Você está tentando me fazer sentir culpada por não ficar, Doneta?

─ Não Pilar, mas estou falando do meu coração.

Pilar levantou-se da cama, foi até a cama de Doneta e sentou-se na beira.

─ Qualquer decisão que eu tome, eu vou te avisar primeiro.

Elas se abraçaram.

─ Você promete? ─ Doneta sussurrou segurando firme.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Seu amor por sua irmã e a ideia de perdê-la colocaram lágrimas em seus olhos.
─ Sim eu prometo.

Pilar e Doneta desfrutavam da companhia de suas primas, apesar de


sua mãe azeda. Elas ajudavam Pilar e Doneta a aprender o funcionamento da
casa, conversavam com elas sobre as alegrias de morar na Flórida e faziam o
melhor que podiam para aliviar as pontadas de algumas farpas de sua mãe.
Elas não eram tão bonitas quanto suas primas Bandera, mas ambas eram
inteligentes, gentis, e tinham um grande senso de humor. Na noite do baile, as
quatro jovens se vestiram juntas no quarto de Mari que era do tamanho de sua
casa em Cuba. Ela era três anos mais velha que sua irmã e um ano a mais do
que Doneta.

─ Vocês duas parecem tão lindas ─ disse ela a Pilar e Doneta.

Anya disse:

─ Mamãe vai ter um ataque.

Mari rachou:

─ Então ela vai nos desfilar como novilhas de prêmio esperando que alguém
faça uma oferta.

Todas riram, mas engoliram o riso rapidamente quando Simona entrou no


quarto.

─ Você está pronta?

Desa entrou atrás dela e Pilar quase não a reconheceu, ela era tão
bonita. Pilar considerou que Doneta era a mais bonita das irmãs Bandera, mas
até ela empalidecia em comparação com a mãe em seu impressionante vestido
esmeralda. Seu cabelo estava levantado e seu rosto exibia apenas a mais leve
aplicação de tinta. Simona, com um vestido excessivamente apertado, com
muitas camadas para sua figura ampla, não conseguia fazer frente à sua
cunhada.

Simona olhou para as filhas.

─ Vocês duas estão lindas.

E Pilar concordou.

─ Mas vocês duas ─ declarou ela a Pilar e Doneta ─ puxem os decotes para que
vocês não sejam confundidas com as prostitutas.

─ Por favor! ─ Desa estalou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Os lábios de Simona se apertaram.

─ Apenas lembrem-se: Mari e Anya são as que buscam maridos, não vocês duas.

E ela saiu do quarto.

Anya se virou para Pilar e Doneta.

─ Eu sinto muito.

Pilar deu um tapinha no braço dela.

─ Está tudo bem.

Desa adicionou.

─ Nenhuma desculpa é necessária. Todos nós parecemos absolutamente lindas,


então vamos descer e ver quantos homens podemos colocar de joelhos.

Rindo, elas saíram da sala e Desa disse baixinho para Pilar e Doneta:

─ Lembrem-se, viemos de Santo Domingo. Não temos ideia de quem pode estar
presente.

Elas assentiram.

Pilar estava muito desconfortável em seu belo vestido novo porque


nunca usara nada com um decote que lhe mostrasse a garganta e os ombros e
roçasse o topo de seus seios antes. Mesmo que fosse de bom gosto, ela
continuava querendo puxar o corpete até o queixo. Os saltos altos de seus
sapatos faziam o caminho que ela estava acostumada muito mais difícil do que
quando usava suas botas militares ou sandálias de corda, mas ela continuava
sorrindo enquanto se preparava para a festa. Doneta estava do outro lado da
sala cercada por um bando de homens zumbindo ao redor dela como abelhas
em uma flor. Ela parecia estar gostando da atenção e Pilar estava feliz por ela.
Nenhum dos rapazes parecia estar mostrando qualquer interesse em suas
primas Mari e Anya e Tia Simona estava, sem dúvida, furiosa, mas Doneta não
podia mudar suas feições mais do que as meninas Ventura poderiam. Era um
grande acontecimento, com comida e sobremesas e um pequeno grupo de
músicos. Sempre que seu tio ou mãe trazia alguém para ela conhecer, ela se
forçava a sorrir e a ser agradável, mas queria muito estar em outro lugar, de
preferência em casa. Sua mãe parecia feliz e Pilar supôs que seu desconforto
pessoal não significava nada em comparação. Ela não vira sua mãe brilhar tanto
desde antes da morte do pai.

Todas as portas e janelas da grande casa estavam abertas para deixar


entrar a brisa da noite, mas com a pressão dos corpos a sala ainda estava muito

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


quente, então ela caminhou até a mesa de refrescos para pegar um gelo com a
esperança de que pudesse refrescá-la. Quando olhou para o arco onde os
convidados recém-chegados estavam entrando, ela congelou e arregalou os
olhos ao ver Noah Yates! Seu coração bateu forte e custou tudo o que tinha para
não sucumbir à debilidade de seus joelhos. Ela rapidamente virou as costas e
enfiou-se no meio da multidão à mesa. Quando ela pegou o copo de ponche do
criado, sua mão tremia tanto que foi necessário respirar fundo para evitar que o
líquido espirrasse sobre a borda e o vestido. O que ele estava fazendo na festa
de aniversário de seu tio! Lançando um rápido olhar para trás, ela o viu sendo
abordado por seu tio sorridente. Em suas roupas de noite escuras, Yates parecia
ainda mais impressionante do que ela se lembrava, e mais do que algumas
senhoras o encaravam abertamente com interesse revelado. Ela olhou para a
irmã. O olhar no rosto dela deve ter mostrado sua aflição porque Doneta sorriu
educadamente para seu círculo de admiradores e se dirigiu para junto de Pilar.

─ O que está errado?

─ Saia para a varanda comigo por um momento.

Lá fora, havia algumas pessoas conversando longe do barulho e calor então ela
levou sua irmã para um lugar que estava desocupado.

Preocupada com seu rosto e voz Doneta disse:

─ Parece que você viu um fantasma.

─ Vi. Noah Yates acabou de chegar.

O queixo de Doneta caiu.

─ O homem que possuía o barco que você roubou?

Pilar assentiu.

Doneta voltou os olhos para a reunião como se precisasse vê-lo antes de fixar
sua atenção em Pilar mais uma vez.

─ O que no mundo ele está fazendo aqui?

─ Eu não sei, mas eu quase desmaiei quando ele entrou na sala.

Doneta estudou a preocupação no rosto de Pilar e sorriu.

─ Está tudo bem. Você não estava disfarçada?

─ Eu estava.

─ Então ele não pode colocar dois e dois juntos e chegar até você. Pode?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar refletiu por um momento e soltou um suspiro de alívio.

─ Você está certa. Ele não pode. Obrigada por me ajudar a pensar sobre isso.

─ Se ele se aproximar tudo que você precisa fazer é agir como se nunca tivessem
se encontrado antes. Simples.

Para Pilar parecia muito simples, mas havia algo incômodo dentro dela que a
deixava ainda cautelosa. Ela estava bem disfarçada naquela noite, ela lembrou a
si mesma.

Doneta perguntou:

─ Melhor?

─ Muito.

─ Posso voltar aos meus homens agora?

Pilar riu:

─ Sim, você pode.

─ Bom, porque estou tendo um momento maravilhoso e alguns deles são muito
bonitos.

─ Certifique-se de que aquele com que você se estabelecer seja rico.

─ Claro ─ disse ela por cima de uma risada.

─ Você fica vigilante. Yates não pode reconhecê-la, mas venha e aponte-o para
que possamos ficar de olho nele.

Elas voltaram para dentro e lá estava ele ainda envolvido com seu tio.

─ É aquele.

Doneta disse:

─ Oh, meu Deus. Ele é muito bonito. A cicatriz faz com que ele pareça
deliciosamente perverso e perigoso.

Confusa, Pilar se virou.

─ O quê?

─ Parece com alguns dos homens dos romances românticos que mamãe e eu
lemos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar não tinha ideia do que ela estava falando e decidiu que era melhor não
saber.

─ Você volta para suas abelhas, e eu vou tentar ficar fora de sua vista.

─ Você vai ficar bem.

Pilar observou-o se curvar sobre a mão de sua quase desmaiada


prima Mari, e rezou para que Doneta estivesse certa.

Noah se perguntava por que concordara em participar dessa loucura.


Devido ao amontoamento de pessoas, ele mal conseguia erguer um braço para
aproveitar o vinho oferecido pelos criados com bandeja. Parecia que todas as
pessoas de ascendência espanhola na Flórida estavam presentes. Ele aceitou o
convite por causa de sua amizade com Miguel. Eles se conheceram nas ruas de
Key West, onde Miguel estava vendendo seus charutos de uma barraca nas
ruas. Noah e King acharam os charutos muito a seu gosto e perguntaram se
poderiam vendê-los a alguns lojistas com quem faziam negócios no Texas, em
Nova Orleans e no exterior, em lugares como Londres e Espanha. Miguel
concordou e o resto como dizem foi história. Os charutos foram tão bem aceitos,
que Miguel foi forçado a aumentar a produção e com a ajuda financeira de
Noah e King, um armazém foi comprado e trabalhadores adicionais
contratados. Ventura era um excelente homem de negócios e um dos homens
mais simpáticos que Noah conhecia. Na verdade, Noah teve a honra de ser
convidado. Não encontrar a mulher Banderas em Santiago ainda deixava um
gosto amargo em sua boca, mas ele se lembrava do conselho de Drew para se
divertir, então isso serviria como uma distração. Amanhã ele se encontraria com
Miguel para falar sobre o negócio e planejaria seu próximo passo contra a
pirata. No momento, porém, ele não tinha nenhum. Para onde ela fora?
Gordonez de alguma forma tinha dito que ele estava se aproximando? Noah
não tinha como saber.

─ Noah Yates. Quero que você conheça minha irmã, Desa Banderas.

Ao ouvir seu sobrenome, Noah congelou.

Miguel acrescentou:

─ Desa está vindo de Santo Domingo.

Ele se curvou sobre a mão dela.

─ Muito prazer, senhora. Você é parente dos Banderas de Santiago, Cuba?

─ Não.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele notou o leve tremor em sua mão e a insinuação de desconforto em seu olhar.
Sentindo a presa, o tigre dentro de Noah sorriu.

Miguel disse a ela:

─ Noah é um dos meus parceiros de negócios. Nós somos amigos há anos.

─ Já nos conhecemos antes? ─ ele perguntou inocentemente.

─ Não ─ ela respondeu de novo, acrescentando uma rápida mudança de


negação. Ele não viu nenhuma evidência da cicatriz reveladora nas costas da
mão dela, mas achou a reação dela interessante. Ela era mesmo de Santo
Domingo?

─ Você veio para a Flórida sozinha, senhora? ─ ele perguntou.

Miguel respondeu:

─ Não, ela está aqui com suas filhas adoráveis, Doneta e Pilar.

Noah manteve suas feições neutras. É claro que havia sem dúvida mais de uma
Pilar Banderas no mundo, e quais eram as chances de que a filha fosse a que ele
estava procurando, mas algo dentro dizia que ela era. Finalmente! A mãe o
observou de perto. Ele voltou-se suavemente para Ventura.

─ Se elas forem tão adoráveis quanto sua mãe, eu ficaria honrado em conhecê-
las assim que possível.

Seus olhos se estreitaram ligeiramente. Ele sentiu que ela estava incerta sobre se
ele era uma ameaça ou não e ele planejava manter essa incerteza intacta no
momento. Ele se curvou para ela com toda a graça que aprendeu de sua própria
mãe.

─ Espero que você e suas filhas aproveitem sua visita.

─ Obrigada.

Com sua euforia mascarada, ele os deixou e se misturou na multidão para


conseguir algo para comer. Drew estava correto. Divertir-se era muito bom.

Noah ocupou-se de seu pequeno prato e tentou adivinhar qual das


mulheres presentes seria a que ele estava caçando. Havia muito poucas para
escolher. Ele eliminou as altas, como a adorável de vestido branco que estava
por perto, cujo sorriso demonstrou que ela estava interessada. Ele a achava
interessante também, mas não o suficiente para fazê-lo se desviar do caminho
que havia definido. Movendo-se pela multidão, ele mudou de posição e ocupou
um lugar perto das portas que davam para a varanda. Outra beleza, esta em um

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


vestido rosa e cercada por um bando de jovens de olhos de vaca tinha a baixa
estatura que ele estava procurando. Quando seu olhar roçou o dela, a resposta
furtiva em seus olhos lhe deu uma pausa. Ela assentiu com a cabeça antes de
voltar sua atenção para os homens, mas havia uma distinta tensão em seu
pescoço e ombros que o fez esperar e observar. Ele também mantinha os olhos,
discretamente em Desa Banderas e até agora ela não tinha abordado nenhuma
de suas filhotas. Ele se perguntou se a sua hesitação se devia ao número
extraordinário de pessoas que lotavam o salão de baile, ou à forma de jogá-lo
fora do rasto para mantê-las a salvo. O tempo diria.

Pilar observou Yates olhando Doneta e lançou um rápido olhar ao


redor da multidão para encontrar sua mãe olhando-o também. Pilar queria
ouvir a versão de sua mãe sobre como foi apresentada a ele, mas se segurou
esperando que ele partisse em breve. Ela ficava lembrando a si mesma que ele
não tinha ideia de como ela era, mas acreditando que era difícil.

Para complicar ainda mais, seu tio se aproximou.

─ Ah, Pilar. Aí está você. ─ Ele pegou a mão dela. ─ Há um cavalheiro que eu
quero que você conheça.

Instintivamente, ela sabia quem ele queria dizer.

─ Eu estava indo pegar um pouco de bolo.

─ Isso levará apenas um momento.

Então ela se deixou levar pela sala até Noah Yates.

─ Noah. Alguém aqui que eu quero que você conheça. Esta é minha sobrinha
Pilar, a filha mais velha de Desa.

Seus olhos escuros encontraram os dela e ela jurou que ia se afastar.


Yates pegou sua pequena mão na sua grande e curvou-se sobre ela. Ele pareceu
hesitar por um segundo antes de levá-la lentamente aos lábios. O toque
queimou e enviou uma rajada de calor pelo braço dela tão forte que ela quase
arrancou sua mão da dele. Em vez disso, ela se forçou a dizer:

─ O prazer é meu. Está se divertindo?

─ Eu estou. Espero que você também esteja. ─ Ela notou que ele ainda segurava
a mão dela e que parecia haver um humor abafado em seu olhar forte.

─ Oh, sim ─ ele respondeu. ─ Como não conheço mais ninguém além de seu tio,
posso implorar a você para ficar e falar um pouco. Eu ouvi que você é de Santo

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Domingo. Eu tenho família lá e fiquei me perguntando se o país é tão instável
quanto os jornais estão relatando.

Seu tio olhou para o outro lado da sala.

─ Ah, minha esposa está me acenando. Vocês dois conversem enquanto eu vou
ver o que ela quer.

Pilar queria implorar que ele ficasse, mas lembrou-se das palavras de Doneta.
Yates não sabia como ela era, então ela relaxou.

─ Onde é a sua casa, Sr. Yates?

─ Califórnia.

─ Como é lá?

─ Quente, mas às vezes frio no inverno.

─ Ah!

─ Já nos encontramos antes?

Ela ficou tensa.

─ Eu acredito que não.

─ Você tem certeza?

─ Claro. Dizem que todo mundo tem um gêmeo em algum lugar. Talvez você
tenha conhecido uma mulher que lembre a mim.

─ Isso é realmente possível.

Os músicos tocaram a primeira música da noite, uma valsa.

─ Você se importaria de dançar?

Pilar queria gritar: ─ Não! Mas sempre fora conhecida por sua bravura, lembrou-
se disso e encarou seus olhos destemidos.

─ Obrigada. Sim eu gostaria.

E assim, ela se viu entre os dançarinos com uma mão presa na dele, enquanto a
outra mão queimava sua cintura através do tecido de seu novo vestido verde
menta. Enquanto eles se moviam no ritmo da música, o calor de seu corpo
flutuava sobre ela de um jeito que era vertiginoso. Ele era gracioso e bem
treinado. Ela por outro lado tinha que se concentrar em seus passos porque
apesar de sua fachada corajosa ela estava tremendo por dentro.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você dança bem ─ ele disse.

─Obrigada.

Olhar para ele era como olhar para o rosto de um tigre e diverti-lo. Era quase
como se ele soubesse. . . Sobressaltada seus olhos dispararam para ele.

Como se tivesse lido seus pensamentos, ele a virou com a música e disse:

─ Sim, minha pequena pirata. Nos encontramos de novo.

E Pilar fez a única coisa que pôde pensar em fazer. Ela correu!

Forçando seu caminho através da multidão em um esforço para


fugir, Pilar deve ter dito: ─ Desculpem-me ─ cem vezes. Os dançarinos foram
empurrados para o lado, as bebidas das pessoas derrubadas, os pratos foram
empurrados, os convidados gritaram com indignação. Ela chamou a atenção
chocada de todos na sala, mas ela não se importou. Tinha que fugir. Um rápido
olhar por cima do ombro mostrou-lhe Noah caminhando decididamente em seu
rasto enquanto sorria de todas as coisas. Ela não tinha ideia de quais eram as
intenções dele, mas não queria descobrir. Quando ela chegou ao foyer aberto,
havia apenas um punhado de pessoas então ela subiu seu vestido e correu o
mais rápido que seus saltos permitiram. Ela debateu se devia ir para fora, mas
não queria se perder nas ruas desconhecidas, então ela voou até a escadaria
larga que levava aos aposentos com a esperança de talvez se trancar em um
quarto até que ela pudesse pensar em uma saída. Catástrofe. Ele estava logo
atrás dela seguindo-a com um passo fácil, quase vagaroso, que ela achava
absolutamente irritante. Que ele brincasse com ela na pista de dança aumentou
seu temperamento crescente. Correndo pelo corredor, ela passou pela sala de
estar de seu tio. Ao ver as espadas cruzadas penduradas acima da lareira, ela
entrou correndo. Ela pegou uma delas virou-se e encontrou Yates parado na
porta. Ele cruzou os braços e encostou-se no batente.

─ Espadas, é? ─ ele perguntou.

Lembrando-se das sessões de treinamento de seu avô, Pilar manteve as costas


retas, seus olhos nele e o florete estendido, levantado e pronto.

─ Então eu acho que a resposta é sim. ─ Ele se aproximou e ela cautelosamente


deu alguns passos para trás.

Para sua surpresa ele pegou o outro florete. Enquanto testava seu peso e forma,
ele falou:

─ Uma das coisas em que minha mãe espanhola insistiu foi para que meus
irmãos e eu aprendêssemos a arte da esgrima. Não porque ela esperasse que

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


nos defendêssemos, mas porque é o que todos os filhos espanhóis bem
educados deveriam dominar.

Nessa altura seu tio, mãe, irmã, e um grande grupo de convidados estavam
alinhados atrás dele.

─ Noah, o que é isso? ─ perguntou Ventura.

Yates levou um momento para tirar o paletó.

─ Um assunto particular e eu insisto que você fique fora do caminho.

─ Pilar! ─ Seu tio estalou. ─ Largue essa espada!

─ Eu não posso.

Os dois combatentes estavam lentamente circulando um ao outro.

─ Então, você conhece Destreza? ─ Yates perguntou, parecendo impressionado.


Em espanhol, a palavra significava ─habilidade─ e era aplicada à versão de
espada do país.

─ La Verdadera Destreza ─ ela respondeu. A verdadeira arte. Ao contrário das


lutas de espada lineares ensinadas em lugares como a Itália, Destreza era
conduzida em um círculo imaginário.

─ Noah! Eu exijo uma explicação.

─ Miguel, a menos que você queira que sua sobrinha seja entregue às
autoridades, sugiro que você nos deixe lidar com isso. A pirataria é contra a lei,
não é, Pilar?

Miguel resmungou:

─ Pirataria?

Sua esposa Simona gritou e desmaiou aos seus pés.

Com o canto do olho, Pilar viu a irmã e a mãe. Ambas pareciam horrorizadas.
Sua mãe gritou:

─ Sr. Yates!

Ele se virou, e Pilar atacou com tanta rapidez que sua lâmina cortou o queixo e
teria causado mais danos se ele não trouxesse instantaneamente sua própria
lâmina para bloquear sua próxima tentativa.

Ele tocou os dedos no ferimento e a visão do sangue manchando seus dedos fez
com que ele olhasse para ela com uma mistura de admiração e surpresa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Bem, bem. Você sabe como usar isso, não sabe? Eu pensei que era apenas um
adereço quando nos conhecemos, mas você tem a minha atenção agora. É muito
injusto da parte da sua mãe tentar me distrair, no entanto.

─Você é maior e mais forte. Eu preciso de todas as vantagens que puder obter.

Eles retomaram a dança circular: aparadas, fintas, lâminas cruzadas, retiraram-


se, atacaram e repetiram a dança de novo e de novo até que o som agudo de
metal contra metal criou sua própria música.

Enquanto cruzavam as espadas novamente, em vez de Pilar recuar, ela girou


como um dervixe, abaixou-se e quase o pegou de surpresa novamente, mas ele
foi mais rápido.

─ Você é muito, muito boa, chiquita, mas outro movimento injusto.

Ela circulou e jogou para trás.

─ Você pode ter sido treinado por professores espanhóis, mas eu fui treinada
por um pirata. ─ E ela atacou novamente, colocando todo o seu peso em suas
defesas, mas como ela havia notado, ele era maior e mais forte e não teve
problemas para segurá-la.

─ Você quer jogo sujo?

Seu florete relâmpago cortou a faixa de tecido em seu ombro esquerdo e a


borda de seu vestido caiu para frente para revelar o espartilho branco sem alças
por baixo. Pega de surpresa, a boca dela caiu aberta. Ela pegou o vestido para se
manter coberta. Seus olhos dispararam fúria.

─ Sendo o cavalheiro que eu sou, eu não cortei o seu lado da lâmina. Você cede?

─ Não. ─ E para levar a questão ao fim ela cortou a outra alça não se importando
com sua aparência escandalosa. ─Eu vou te poupar o problema. ─ Ela continuou
a circular.

Ele riu como se estivesse tendo o melhor momento de sua vida.

─ Ah, minha pequena pirata. Você é uma mulher segurando meu coração.

─ Vou levá-lo na ponta da minha espada.

─ Eu acho que não. Você e eu temos coisas para discutir, então vamos acabar
com isso.

Ele atacou. Pilar fez o melhor que pôde para se manter firme, mas sua
habilidade e poder superaram os dela. Ela o segurou pelo tempo que pôde, mas
finalmente seu braço doeu com seus esforços para impedir seus implacáveis

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


ataques. O som da batalha encheu a sala. Ela foi forçada a recuar mais e mais
até que a parede estivesse às suas costas e ela não tivesse mais para onde ir.
Derramando lágrimas de fúria e frustração, ela jogou o florete de lado e se virou
para não ver o triunfo que ela supunha que ele mostraria.

Em vez disso, ele sussurrou:

─ Rainhas guerreiras não deveriam chorar ─ e gentilmente limpou uma lágrima


de sua bochecha.

Assustada, ouvindo-se chamar rainha guerreira, virou-se para ele e a


profundidade em seus olhos capturou-a como um poderoso mar tempestuoso.

─ Você lutou bem ─ disse ele. ─ Mantenha sua cabeça erguida. Você não tem
nada de que se envergonhar.

Ele a deixou por um momento para pegar sua jaqueta e colocar sobre os ombros
dela. Segurando o olhar, ele disse:

─ Miguel, mande seus convidados para casa. Eu preciso falar com você e sua
irmã.

Seu tio finalmente encontrou sua voz.

─ Sim. Podemos usar meu escritório.

E para surpresa de Pilar, Yates pegou-a e levou-a pelos espectadores de olhos


arregalados e saiu da sala.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 9

Noah seria o primeiro a admitir que não tinha ideia do que estava
fazendo. O que ele sabia era que a luta dela o deixara mais vivo do que em
anos. Seu espírito e absoluto destemor abriram uma janela nos recessos negros
de sua alma para deixar entrar uma luz tão intoxicante e libertadora, que ele
ansiava mais, e por causa disso ela se tornaria a mulher que ele queria em sua
vida.

─ Você pode me pôr no chão agora, ─ ela disse friamente quando chegaram ao
escritório silencioso. Em vez disso, ele levou um momento para se deliciar com
as feições dela, os olhos ainda úmidos, a mandíbula tensa e marrom, o queixo
orgulhosamente erguido. Na noite em que eles se conheceram, ele não tinha
ideia de que o manto encapuzado escondia um rosto tão bonito. Seu cabelo
escuro e encaracolado, sua textura parecida com o dele, era curto como o de um
jovem, o que a diferenciava da maioria das mulheres da moda da época, mas o
estilo parecia se adequar perfeitamente à sua natureza não convencional. Ela o
encarou como um prêmio raivoso de guerra, uma verdadeira rainha guerreira –
vencida, mas não conquistada.

─ Como você deseja. ─ Ele colocou-a em pé e observou-a puxar sua jaqueta


fechada sobre o espartilho exposto. Ela enfiou a mão no bolso e retirou um
lenço. Entregando para ele, ela disse:

─ Seu queixo está sangrando.

Ele pegou, com a sombra de um sorriso, e pressionou contra o queixo.

─ Eu não vou me desculpar por isso.

─ Eu não espero que você faça isso.

Sua mãe entrou com a jovem de vestido rosa que ele havia notado antes. Com
base na forte semelhança com Desa e Pilar, ela tinha que ser a outra filha.
Ambas as mulheres lhe lançaram olhares impacientes e foram para o lado dela.

─ Estou bem ─ ela assegurou-lhes e enviou-lhe um olhar cheio de chamas que o


deixou silenciosamente alegre.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Miguel Ventura entrou em seguida com sua esposa. Preocupação enchendo seu
rosto, ele olhou primeiro para sua sobrinha e ao encontrá-la viva e bem,
perguntou a Noah:

─Agora, o que é isso sobre pirataria?

O olhar de Noah voltou para a mulher em seu casaco.

─ Pilar, você quer contar a história?

─ Eu tenho certeza que você pode fazer melhor do que eu.

Ele inclinou a cabeça e deu ao tio uma versão verdadeira, mas abreviada, do
rapto e do roubo do Alanza. Quando ele concluiu, Miguel parecia estar sem
palavras. Sua esposa não estava.

─ Eu sabia que não devíamos tê-las recebido! Soldados poderiam bater à nossa
porta a qualquer momento. Não vou perder tudo o que temos por causa da sua
irmã e do lixo dela!

Miguel exclamou:

─ Fique quieta ou nos deixe! Minhas desculpas, Desa.

O brilho nos olhos de Desa Banderas imitou o de sua filha.

─ Aceito. ─ Ela então avisou Simona ─ Não faça minhas garotas sentirem-se mal
novamente.

─ Ou o quê? ─ ela zombou.

O poderoso tapa de Desa fez sua cunhada cambalear.

─ Isso é o quê! Agora cale sua boca suja!

Simona ficou tão atordoada que aparentemente demorou um momento para


registrar o que acabara de acontecer. Mão no rosto, lágrimas inundaram seus
olhos.

─ Miguel!

Ele gritou:

─ Vá colocar um pouco de água fria em seu rosto, Simona.

─ Isso é tudo que você tem a dizer?

─ Sim. Deixe-nos!

Com um gemido, ela saiu do quarto apressadamente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


A ainda furiosa Desa se voltou para Noah.

─ Então, o que você quer em compensação?

─ Permissão para casar com sua filha.

A sala ficou imóvel como um túmulo.

Ventura ofereceu uma risada desconfortável.

─ Certamente, você está brincando.

─ Não. Você prefere que ela seja entregue às autoridades? ─ perguntou ele
vendo o rosto chocado de Pilar.

─ Claro que não ─ gaguejou ele. ─ Mas, Noah, você nem a conhece.

─ É verdade, mas eu gostaria, e acho que nos serviríamos. Se você preferir um


período de namoro, eu concordaria em dizer, um mês, no máximo dois. ─ Ele
sabia que não poderia simplesmente carregá-la como desejava e sendo bem
educado estaria em conformidade com os protocolos necessários, mas dentro de
seus parâmetros.

─ Eu gostaria de voltar para a Califórnia o mais rápido possível para ressuscitar


meu negócio, com minha esposa.

Sua mãe finalmente encontrou fala.

─ E se você não se adequar?

─ Como eu disse, acredito que sim. ─ Ele olhou para Pilar. Ela estava olhando
para ele como se de repente ele tivesse duas cabeças. ─Não é o que você estava
esperando? ─ ele perguntou a ela.

─ Não. ─ Saiu um sussurro.

─ Nem eu ─ Seus olhos se demoraram nela por um longo momento antes de


voltar sua atenção para Miguel e sua mãe. ─ Discutam minha proposta e deixe-
me saber o que vocês decidiram. Eu estarei no pátio.

E ele saiu.

No silêncio que se seguiu à sua partida, Pilar ainda estava tão aturdida que a
fala se recusou a vir. Ela olhou para a mãe que parecia igualmente superada.

Doneta perguntou ao tio:

─Tio, você acha que ele realmente a entregaria às autoridades?

Ele encolheu os ombros.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu nunca soube que ele fosse nada além de honrado e um homem de palavra.
Se o que ele nos disse é verdade, ele tem mais do que amplos motivos para
fazer acusações.

─ Mas eu não quero ser cortejada ou casar, mamãe! ─ Pilar declarou


descontroladamente.

─ Eu entendo isso, Pilar, mas você quer ser presa? ─ela perguntou.

─ Claro que não.

─ E nós também não queremos que você seja.

Seu tio refletiu em voz alta: ─ Talvez se oferecermos o barco de volta para ele...

Sua mãe confessou:

─ Foi afundado pela marinha espanhola. E Miguel, por mais que eu odeie
concordar com Simona, há uma chance de que o governo possa procurá-la. ─
Ela contou a ele sobre o confronto de Pilar com a marinha.

Ele ergueu as mãos.

─ Dios! Isso fica melhor e melhor. Desa, que tipo de criança você criou?

─ Uma apaixonante, mas irresponsável às vezes. ─ Havia tristeza no sorriso que


ela enviou em direção a Pilar.

Pilar não se importava com a descrição da mãe, mas não tinha intenção de
passar os anos restantes como esposa de Noah Yates. Ela nunca fora cortejada
por um homem em sua vida.

A mãe perguntou ao tio:

─ O que você sabe dele?

─ Que ele é muito rico e de uma antiga e venerável família espanhola na


Califórnia. Poderia ser pior.

─ Eu acho que um homem desse nível teria à sua escolha qualquer mulher que
ele quisesse.

Ele deu de ombros novamente.

─ Aparentemente ele criou uma fantasia com sua filha.

Doneta disse:

─ Tio, talvez se você falar com ele, ele verá a razão.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar sacudiu a cabeça. Ela chegou a uma decisão.

─ Não. Se alguém falar com ele, deveria ser eu.

─ Tem certeza? ─ perguntou o tio.

─ Sim. ─ Mas era mentira. Ela não tinha certeza de nada. De fato, ter que abordar
essa loucura com Yates a enchia de pavor.

Seu tio disse:

─ Você cometeu um grande erro, Pilar. Esse navio era o seu sustento e o meu
sustento está ligado ao dele também. Ele poderia facilmente ter ido direto para
as autoridades americanas; em vez disso, ele ofereceu algo que você poderia
querer considerar.

Corretamente castigada, Pilar sabia que ele estava dizendo a verdade, mas não
era o que ela queria ouvir. ─ Sim, Tio. ─ Ela sentiu como se o mundo tivesse
subitamente girado em seu eixo e agora mais do que nunca desejava ter ouvido
Tomas e escolhido outro alvo. Casamento? Com ele? Ela tinha que encontrar
uma maneira de convencê-lo a sair sem ser presa.

─ Vamos consertar seu vestido primeiro ─ sua mãe sugeriu.

Agulha e linha foram encontrados, e depois de alguns pontos bem colocados,


Pilar partiu.

Enquanto ela andava pela casa, uma parte dela esperava que ele
tivesse mudado de ideia e ido embora, mas ela sabia que era apenas um
pensamento positivo. Caminhando para fora na escuridão iluminada pelas
tochas, ela ouviu ao longe o leve zumbido dos convidados partindo. As
fofoqueiras teriam um dia cheio. Ela realmente sentia muito por transformar o
aniversário de seu tio em um desastre, mas não havia remédio para isso agora.
A luta ia ser assunto para as pessoas sussurrarem entre si durante meses, senão
anos.

Escândalo à parte, era uma noite idílica. A lua estava alta, lançando
luz ao longo do caminho de pedra que ela seguia e o ar estava adocicado com o
aroma de flores desabrochando. Pena que seus nervos não fossem tão pacíficos
ou serenos.

Ele estava sentado em uma cadeira no pátio quando ela se


aproximou. Uma vela acesa e solitária, dentro de um globo de vidro, estava no
meio da mesa e emitia lampejos de luz sobre ele. Ele ficou galantemente em pé
com a aproximação dela.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu estava esperando você. Junte-se a mim, por favor.

Ela entregou-lhe o casaco e enquanto ele a ajudava com a cadeira ela engoliu
seu nervosismo. Por alguns instantes, ela o estudou em silêncio e tentou decidir
o rumo certo a seguir.

─ Pelo que meu tio me disse, você é rico o suficiente para ter qualquer mulher
no mundo, então por que eu?

─ Porque você é a única que pode empunhar um florete.

Ela não acreditava nisso.

─ É o que uma mulher com seu espírito e fogo merece.

Isso fez seu coração bater forte. Nenhum homem dissera algo tão forte para ela
antes.

─ Você nem me conhece.

─ Não, mas espero conhecê-la com o tempo e que você venha a me conhecer
também.

Sua resposta em um de tom suave fez ela se derreter internamente, mesmo se


perguntando se ele tinha algum tipo de doença mental.

─ Eu não entendo.

─ Nem eu, mas gostaria de tentar. Você prefere ser minha amante?

─ Claro que não.

─ Eu não penso assim.

Ela pensou ter visto um leve sorriso quando a luz tocou seu rosto cheio de
cicatrizes e desejou que fosse dia para poder vê-lo melhor.

─ Por uma questão de argumento, suponha que nos casemos. Como meu
marido você pode fazer o que quiser comigo. Você está fazendo isso para se
vingar de mim por roubar seu navio?

─ Não, Pilar. Posso parecer um bárbaro por fora, mas sou um cavalheiro por
dentro. Como minha esposa, você terá todas as vantagens que uma mulher do
meu status tem: uma bela casa, criados, se você preferir, dinheiro próprio. Seja o
que for que seu coração desejar, dentro da razão, moverei o céu e a terra para
pôr aos seus pés.

Seu coração parou e ela olhou mais uma vez sem fala. Finalmente conseguiu
dizer:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Isso não faz sentido.

─ Estamos de acordo. Você já foi cortejada?

Ela queria mentir e dizer dezenas de vezes, mas. . .

─ Não.

Sua voz era suave.

─ Você amou alguém?

Esta foi a situação mais enervante que ela já enfrentou. Apesar de seu tom e
modos calmos, ela o achava tão avassalador que queria agarrar as saias e fugir
de novo.

─ Não.

─ Então deixe-me cortejar você, chiquita. Deixe-me mostrar-lhe o que significa


estar com um homem que lhe acha intrigante e que sim deseja você. Eu
prometo, vamos devagar.

O coração de Pilar estava acelerado; sua respiração acelerou, seus sentidos


girando.

─ Diga sim, minha pequena pirata. . .

Pilar não poderia ter dito o nome dela.

─ Se você está preocupada em ficar tão longe da sua família, minha mãe será tão
ferozmente protetora quanto a sua. Você terá duas cunhadas que a ajudarão e
se algo desagradável acontecer comigo, meus irmãos cuidarão de você como se
fosse o próprio sangue deles.

─ Mas eu não quero casar com você.

─ Entendido, mas muitos casais em casamentos arranjados conseguiram


encontrar o caminho.

─ Nem sempre. Minha mãe deixou seu noivo no altar para fugir com meu pai.

─ É dela que você herdou sua determinação?

Ela esperava desanimá-lo com esse exemplo; em vez disso, ele respondeu com
um elogio de voz baixa que mais uma vez fez seus sentidos girarem.

─ Suponha que eu me ofereça para pagar pelo seu navio?

Ele a avaliou em silêncio por um momento.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você se ofereceu para pagar, mas não para devolvê-lo. Por quê?

Ela hesitou por tanto tempo que ele persuadiu:

─ Pilar?

Ela finalmente confessou:

─ Foi afundado. Pela artilharia da marinha espanhola.

─ Você estava a bordo?

─ Sim.

─ Você ficou ferida?

─ Hematomas e contusões. Engoli uma grande quantidade de água do mar. . .


─Sua voz sumiu.

─ E meu Alanza estava sendo usado para. . ?

─ Tráfico.

Ele riu suavemente, sentou-se e cruzou os braços.

─ Para os rebeldes?

Ela assentiu e esperou que sua resposta o assustasse. Como ela dissera à mãe,
nenhum homem queria uma esposa que contrabandeasse armas.

─ O governo está procurando por você?

─ Possivelmente.

─ Como esposa de um cidadão americano, você pode receber uma certa


proteção caso venha a ser capturada. Mais uma vantagem para dizer sim.

Mas quem iria protegê-la dele? veio o pensamento.

Sua próxima pergunta a trouxe de volta.

─ Há quanto tempo você está com os rebeldes?

─ Desde a morte do meu pai em 'setenta e sete.’

─ E você tinha quantos anos?

─ Quinze. ─ Ela implorara à sua mãe para deixá-la se juntar ao Exército


Revolucionário, mas porque ela era considerada pequena demais para lutar ela
tinha sido delegada às mulheres Mambi que dirigiam as colunas de apoio.

─ Como ele morreu?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ A Espanha o enforcou por traição.

Ele foi sensível.

─ Minhas condolências.

─ Obrigada.

A morte de seu pai partira seu coração. Ela o amava tanto. Ele assumiu a causa
de seus irmãos necessitados e ela fez o mesmo por ele. Agora ela estava sendo
forçada a decidir por si mesma e não sabia o que fazer.

─ Eu posso navegar num navio e disparar uma arma. Posso andar cem milhas
silenciosamente através de uma selva com pouca comida e sem dormir. Posso
começar uma fogueira sem fumaça, alimentar-me do que posso recolher, tratar
feridas e afiar um facão até que ele brilhe, mas não sei nada sobre ser uma
esposa

─ E eu não sei nada sobre ser um marido. Isso nos torna ainda mais parecidos.
Depois que você e eu nos conhecermos melhor, convidarei sua mãe e sua irmã
com a esperança de que elas concordem em visitá-la.

─ Eu duvido que isso vá tão ser tão fácil quanto você imagina.

─ Estou imaginando uma batalha muito disputada, Pilar. Nada que valha a
pena é fácil, especialmente uma mulher tão bonita e destemida.

Mais uma vez ela foi sacudida, mas conseguiu dizer.

─ Contanto que você entenda.

─ Eu entendo.

E com isso ela se levantou e ela estava realmente tremendo por dentro, não por
medo dele ou por sua segurança, mas por algo sem nome: algo que chamava
uma parte dela que estava tão intrigada por ele quanto ele dizia estar por ela,
mesmo que sua parte racional não desejasse estar.

─ Você ainda não me deu uma resposta ─ ele lembrou suavemente. ─ Você
deseja ser cortejada?

─ Você não deixa muita escolha, não é? Sim, você pode me cortejar. Eu vou te
ver de manhã.

Ela distintamente o viu sorrir naquele momento.

─ Isso não é engraçado.

─ Não, mas lutar com você será divertido. Há uma diferença.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Exasperada, Pilar sacudiu a cabeça e o deixou.

Quando ela desapareceu na escuridão, Noah ficou com seus próprios


pensamentos. Ele agora estava certo de que ele tinha perdido a cabeça, mas as
partes dele que foram atraídas por ela não se importavam. Como ele havia
notado, ela era tão adorável quanto feroz; embora fosse evidente que ela nunca
havia cruzado espadas no campo do namoro. Ele não podia esperar para
começar sua cruzada para conquistá-la. A lembrança da luta com espadas
ressurgiu, trazendo consigo a gloriosa onda de alegria que ele sentiu durante o
encontro. Experimentar isso de novo mesmo ocasionalmente valia mais que
ouro. Ele estivera vestindo o horror sombrio da ilha como um manto de
chumbo por mais de uma década. Nenhuma vez levantou completamente - até
hoje a noite. E mesmo agora, enquanto descia lentamente, o conhecimento de
que poderia ser banido mesmo que temporariamente lhe dava a esperança de
que com o tempo ele pudesse desaparecer permanentemente. Ela segurava a
chave, a primeira que ele encontrou e só de pensar nela parecia aliviar a dor.
Por causa dela ele sabia que escondido sob a escuridão interior jazia algo ainda
vivo e queria alimentá-lo para que pudesse crescer e crescer. E como ele a
encontrou, ele e sua recalcitrante rainha guerreira decidiriam procurar um
entendimento mútuo, talvez algum dia ele pudesse experimentar a alegria que
seus irmãos pareciam ter encontrado com suas esposas e isso lhe deu esperança
como nunca. Ele estava tão entusiasmado com a virada dos eventos da noite
que queria falar com Drew e contar a ele que estava finalmente se divertindo.

A mãe e a irmã de Pilar esperavam no quarto que as irmãs compartilhavam


quando ela voltou.

─ Como você se saiu? ─ perguntou a mãe.

Pilar afundou em uma cadeira.

─ Ele se recusa a mudar de ideia. ─ Ela pensou sobre o encontro avassalador e


lutou para ignorar os efeitos remanescentes em seus sentidos. ─ Eu perguntei se
esta era a maneira dele de conseguir sua vingança.

─ E o que ele disse?

─ Não.

─ Então por que isso? ─ Doneta quis saber.

Em vez de revelar que ele falou do desejo, ela foi cautelosa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ele disse que é porque eu sou a única mulher que ele conhece que pode
empunhar um florete. ─ Ela revirou os olhos e acrescentou: ─ Ele também disse
que eu teria uma boa casa, dinheiro meu, criados. O que quer que eu desejasse,
ele moveria o céu e a terra para colocar aos meus pés.

Sua mãe se acalmou com surpresa.

Doneta disse com uma risada.

─ Minha nossa. Se você não o quiser Pilar eu fico com ele.

Todos riram e Pilar se perguntou como sobreviveria na Califórnia sem o


maravilhoso senso de humor de Doneta. Ela procurou os olhares das duas
pessoas que ela mais amava no mundo.

─ Ele quer que vocês duas venham para a Califórnia para visitar uma vez que
ele e eu estejamos instalados. Eu disse a ele que não seria assim tão fácil. Ele não
pode acreditar que vai me conquistar em dois meses.

─ Ele assusta você? ─ sua mãe perguntou baixinho.

Ela balançou a cabeça.

─ Ele me garantiu que não vai me fazer mal algum e sinceramente, eu acredito
nele. Eu simplesmente não entendo porque ele está determinado a fazer isso.

─ Talvez ele esteja apaixonado por você ─ disse Doneta e encolheu os ombros. ─
O Tio disse que ele é honrado. Poderia ter sido pior.

─ Mas eu não quero fazer nada. ─ Ela pensou na noite em que ela ordenou que
ele fosse para o barco a remo. ─ Ele disse que me encontraria e ele encontrou. ─
A confusão no rosto de sua mãe fez com que ela explicasse a que estava se
referindo.

─ Ele é muito persistente, então ─ concluiu a mãe.

─ Aparentemente. ─ Ela se acalmou e pensou em seu poderoso encontro mais


uma vez. ─ Eu não sei nada sobre ser cortejada, mamãe.

─ Eu sei ─ disse Doneta sonhadoramente. ─ Nos livros, o homem leva sua noiva
para passear, traz flores e chocolates e às vezes quando a governanta não está
olhando ele rouba um beijo.

O pensamento de Noah Yates lhe beijando fez Pilar ficar fraca.

─ Eu não vou beijá-lo, Doneta. ─ Ele realmente iria tentar beijá-la? Ela achou que
ele faria. Que os santos a ajudassem!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Sua mãe estava olhando-a atentamente.

─ Sim, mamãe?

─ Nada. Estou apenas ouvindo sua irmã boba. Ele disse alguma coisa sobre
quando voltaria?

─ Não, mas eu disse a ele que o veria amanhã.

─ Você concordou em ser cortejada?

─ Eu não tenho muita escolha.

─Talvez isso funcione melhor do que você pensa.

─ Eu duvido disso.

─ Apenas mantenha a mente aberta.

Pilar não queria fazer nem pensar em nada que pudesse aproximá-la do homem
que ela deixara sentado no pátio.

─ Estou pronta para dormir.

─ Eu acredito que todos nós estamos. Já passa da meia noite. ─ Sua mãe lhe deu
um beijo na bochecha. ─ Descanse bem.

─ Você também, mamãe. ─ Mas Pilar duvidava que ela fosse capaz, sabendo que
estaria enfrentando Noah Yates pela manhã.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 10

Pilar supôs que Yates aparecesse logo, mas quando a manhã virou
tarde e ele não apareceu na hora do almoço ela relaxou. Ela esperava que ele
tivesse decidido que uma mulher que contrabandeava armas era de fato
indigna de perseguir e nunca mais lhe atormentaria, mas ela sabia que era um
pensamento muito otimista. É mais do que provável que ele tivesse sido
atrasado por algum assunto de negócios e viesse visitá-la amanhã. Em uma
tentativa de tirá-lo da cabeça ela passou a tarde sentada no jardim pousando
para seu retrato. Doneta pensou que uma pintura dela seria uma excelente
lembrança quando se mudasse para a Califórnia.

─ Pilar, pare de se mexer ─ implorou Doneta. ─ Cada vez que você faz isso
atrapalha as coisas.

─ Desculpe. ─ Essa era a primeira vez que Pilar servia de modelo e ter que ficar
parada como uma pedra era difícil para uma mulher desacostumada a fazê-lo. ─
Quanto tempo mais?

─ Se você continuar se mexendo ficaremos aqui até o Natal.

Pilar suspirou.

Sua mãe apareceu.

─ Pilar.

Feliz pelo alívio ela quebrou a pose, e ouviu o gemido frustrado de sua irmã
que ela ignorou sorrindo.

─ Sim, mamãe?

─ Você lembra-se de ter conhecido um homem ontem à noite chamado Luís


Garcia?

Não. Pilar não se lembrava de nada da noite que não envolvesse Noah Yates.

─ Aparentemente, o Senhor Garcia se lembra de você. Ele está aqui e me


perguntou se poderia conversar com você na sala de estar por alguns
momentos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar estava confusa.

─ Por quê?

─ Eu acho que ele está interessado em cortejar você.

Ela suspirou. Ela vivera toda a sua vida sem que qualquer exemplar masculino
demonstrasse interesse e agora eles estavam se alinhando na porta. Admito,
havia apenas dois, mas isso era mais pretendentes do que ela já tivera antes.

─ Então o que você disse a ele?

─ Eu disse a ele que sim. Se você é tão contrária ao Sr. Yates, talvez se você
mostrar interesse por outro ele desista.

Pilar duvidou seriamente disso, mas antes que ela pudesse expressá-lo, Doneta
perguntou:

─ Como é o senhor Garcia?

─ Aparência nem sempre é uma medida real de um homem, Doneta.

─ Isso significa que ele está acima do peso e tem um olho de vidro, Pilar.

Sua mãe lhe lançou um olhar de reprovação. Doneta fingiu mexer nas tintas e a
mãe se voltou para Pilar.

─ Suba e vista o vestido de dia azul que compramos para você.

Pilar abriu a boca.

─ Faça o que eu pedi, por favor, a menos que você prefira ir para a Califórnia?

Pilar saiu sem outra palavra.

Quando ela entrou na sala, o homem que ela assumiu ser o senhor
Garcia ficou de pé. Ele não era mais alto do que ela e parecia ser alguns anos
mais velho. Havia um início de calvície no topo de sua cabeça e ele ostentava
um enorme bigode parecido com uma vassoura, que a fez se perguntar se ele o
cultivara para compensar a calvície e sua baixa estatura. Ele pegou a mão dela e
se curvou respeitosamente.

─ Estou honrado em vê-la novamente, senhorita Banderas.

Mesmo que ela ainda não se lembrasse de ter sido apresentada a ele, ela
respondeu:

─ Eu também estou honrada. ─ A mão dele estava suada, tanto que ela teve que
se forçar a não secar a palma da mão na saia do vestido para se livrar da

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


umidade pegajosa. Em vez disso, quando se sentou usou discretamente o braço
do sofá. Na idade dela, ela não precisava de uma acompanhante, mas sua mãe
desempenhava o papel de qualquer maneira porque Garcia era um estranho e o
sorriso forçado dela correspondia ao de Pilar.

Seu sorriso mostrou alguns dentes podres.

─ E quantos anos você tem?

Pensando que era uma maneira estranha de começar a conversa, ela o olhou por
um momento.

─ Vinte e cinco.

Ele pareceu surpreso.

─ Você parece muito mais jovem.

─ Obrigada. ─ Ela supôs que era a resposta correta. Na verdade, ela queria ficar
de pé e deixar o Senhor Mãos Suadas onde ele estava sentado. Ela deu um olhar
para sua mãe e viu decisão em seu rosto, então respirou fundo e redefiniu seu
falso sorriso.

─ E com que frequência você frequenta a missa?

Pilar acreditava no Salvador, mas sua família nunca havia frequentado a igreja
regularmente.

─ Na Páscoa e no Natal.

Suas sobrancelhas se levantaram.

─ Isso é tudo?

─ Sim.

─ Entendo.

Pilar imaginou quanto tempo levara para cultivar aquele bigode elaborado.
Parecia se originar em algum lugar dentro de suas narinas e parecia pesar quase
tanto quanto ele.

─ Senhorita Banderas, eu perguntei se você já foi batizada?

Ela estava tão concentrada no cabelo que não ouvira a pergunta dele.

─ Me desculpe. Sim, eu fui batizada.

─ Ao nascer ─ acrescentou sua mãe, parecendo orgulhosa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ A mulher com quem me casar deverá comparecer à missa todos os domingos.

─ Tenho certeza que ela acharia isso agradável.

Ele a examinou com uma leve desaprovação.

Ela esperou.

─ Eu sou um homem rico.

─ Isso é muito bom. ─ Mais uma vez ela não tinha ideia de como responder
adequadamente.

─ E as suas expectativas de um marido?

─ A senhorita espera que o marido tenha um barco.

Pilar congelou em resposta à familiar voz masculina, virou-se e viu Noah Yates
parado na porta. Seus braços estavam cheios de flores. Quanto tempo ele estava
lá ninguém sabia.

─ Um barco? ─ Garcia ecoou, parecendo confuso.

─ Sim. Você conhece aquelas embarcações que se movem na água. A senhorita


gosta de navegar.

Yates curvou-se diante da mãe e apresentou-lhe um grande buquê de rosas


vermelhas.

─ Senhora, eu tentei encontrar flores tão bonitas quanto você, mas a florista
disse que era impossível.

Sua mãe rindo balançou a cabeça em sua empolgação.

─ Obrigada, Sr. Yates.

Ele então cruzou para Pilar e entregou a ela um buquê ainda maior de rosas
amarelas.

─ Pilar.

─ Obrigada ─ ela respondeu friamente. As palavras de Doneta na noite passada


se levantaram provocativamente. Ele traz para sua noiva. . . flores. . .

─ Quem é você? ─ Garcia exigiu.

─ Noah Yates. O parceiro de negócios de Miguel Ventura. ─ Ele então


perguntou à mãe dela em um tom inocente: ─ Posso me juntar à família para
jantar, senhora?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Sentada ali com uma enorme pilha de lindas rosas nos braços, ela deu a única
resposta óbvia.

─ Claro.

─ Obrigado. ─ Ele voltou sua atenção para Pilar. Ele curvou-se, endireitou-se,
lhe lançou um sorriso e saiu.

Ela suspirou. Ele a pegou tão desprevenida que se ela estivesse em um


verdadeiro campo de batalha, ela teria sido gravemente ferida ou morta.
Primeiro round: Noah Yates.

O Senhor Garcia olhou para o corredor onde Yates desapareceu e depois de


volta para ela.

─ Você gosta de navegar? ─ Ele a olhou como se ela fosse algo que ele nunca
tinha visto antes.

─ Sim.

─ E seu tio navega com você?

─ Não.

─ Então com quem você vai?

─ Amigos. Às vezes sozinha. Meu avô me ensinou.

─ Você a deixou navegar sozinha, senhora?

─ Sim. Ela sabe muito sobre o mar e os barcos.

Pilar perguntou-lhe:

─ Você navega, Senhor Garcia?

─ Eu sou um alfaiate. Que motivo eu teria para estar em um barco? Minha


esposa também não tem motivos para estar em um. Especialmente
desacompanhada.

Pilar manteve o sorriso no lugar quando se virou para a mãe.

─ Eu gostaria de colocar isso na água, mamãe. Com licença?

Sua mãe se levantou.

─ Eu acho que seria sensato. Obrigada pela sua visita, Senhor Garcia.

Ele pareceu surpreso com a repentina rejeição.

Ele curvou-se rigidamente para Pilar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Adeus, senhorita.

─Adeus, Senhor Garcia.

Pegando o chapéu ao lado dele ele seguiu o exemplo de sua mãe e uma vez que
eles estavam fora de vista, Pilar exalou um suspiro audível de alívio.

─ Parecia um bom sujeito ─ disse Yates, magicamente aparecendo novamente. ─


Nós dois provavelmente pegamos peixes maiores do que ele. O bigode era
muito formidável, no entanto.

Ela jurou que engoliria um anzol, se ela risse.

─ Vá embora.

─ Você acha que as pessoas erroneamente pisam nele no escuro? Ele estaria em
perigo real no rancho da minha família. Meus irmãos e eu somos bastante altos.

Pilar queria executá-lo com sua espada, embora estivesse grata por sua entrada
ter ajudado a pôr em marcha a partida do Senhor Garcia.

A intensidade nos olhos de Yates enquanto ele olhava para as rosas em seu
colo, suspendeu o tempo. Sua voz suavizou.

─ Você gosta das rosas?

Ela olhou para a beleza delas em seus braços e não conseguiu mentir.

─ Sim.

─ Doneta disse que ninguém nunca lhe deu rosas antes - ou flores de qualquer
tipo. Eu estou gostando de ser o seu primeiro.

Seus sentidos levantaram voo novamente porque ela sabia que ele estava
falando mais do que de flores.

─ Eu... eu preciso encontrar um vaso. ─ Por que ele tinha a habilidade de fazê-la
gaguejar quando ela nunca gaguejou antes - nunca - estava além de seu
conhecimento. Ela se perguntou se sua mãe se importaria se ela matasse sua
irmã.

─ Você encontra seu vaso. Vejo você no jantar. ─ E ele se despediu.

Um dos criados encontrou um vaso e se ofereceu para arrumar as rosas para


ela, mas Pilar recusou. Mesmo que ela não soubesse nada sobre fazer a tarefa
adequadamente, por algum motivo ela queria tentar. Levando as flores e o vaso
para o quarto ela sentou-se no chão com elas ao seu lado.

Doneta entrou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Veja, eu estava certa. O noivo traz flores.

Pilar revirou os olhos.

─ Por que você está ajudando ele?

─ Porque eu leio romances de amor irmã, esse é o meu papel.

Pilar ficou olhando.

─ A irmã mais nova está sempre do lado do herói.

Pilar sacudiu a cabeça.

─ Além disso, espero que ele tenha irmãos.

─ Ele tem. Dois. Ambos casados.

─ Oh! ─ ela respondeu desanimada.

Doneta observou Pilar tentando colocar as rosas no vaso em uma ordem


elegante.

─ Primeiro você precisa cortar algumas das hastes para ter algumas mais curtas.
Em seguida, coloque-as na frente das mais altas.

─ Como você sabe disso?

─ Eu sou uma pintora e é assim que você faz em uma pintura. Flores longas
atrás. Curtas na frente. ─ Doneta encontrou uma tesoura. ─ Aqui.

Seguindo as instruções da irmã, Pilar terminou com um vaso de rosas


lindamente arranjado.

Doneta disse:

─Você tem que admitir: elas são lindas.

─ É verdade, mas você não deve contar a Yates mais nada sobre mim. Nada.

─ Pilar. Eu estou ajudando você.

─ Não, você não está.

─ Sim, eu estou, porque você precisa. Se isso fosse deixado para você, aquele
homem lindo iria embora daqui e acabaria sendo o cunhado de alguma outra
garota, e eu não vou permitir que isso aconteça. Além disso, ele ama você.

─ Não, ele não ama.

Doneta suspirou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Bem. Seja obtusa. Quando você o amar tanto que você vai querer comer os
sapatos dele não diga que eu não te avisei.

─ O quê!

─ Eu não tenho mais nada a dizer.

─ Comer seus sapatos? As mulheres comem sapatos masculinos naqueles livros


bobos que você lê?

─ É apenas uma expressão, Pilar.

─ Dita por quem?

─ Deixa pra lá.

─ Você está me deixando preocupada com você, Neta.

─Você apenas se preocupe com a sua vara, em não deixar esse peixe grande
escapar.

Pilar suspirou e sacudiu a cabeça. Primeiro comer sapatos e agora, alusões a


varas de pescar. Noah Yates levara sua irmã à loucura.

Noah estava jantando com Miguel Ventura e as mulheres Banderas,


apenas pela oportunidade de ver Pilar em seu ambiente. Ela estava usando o
mesmo vestido de dia azul que ela usara antes. Era liso, alto no pescoço e tinha
mangas compridas. A linha de botões na frente, em conjunto com o corte
confortável do corpete, acentuava suas curvas. Brincos de argolas simples em
suas orelhas. Ela possuía uma beleza natural que não exigia muito adorno,
então a sedução deles era o toque certo.

Miguel era o único membro de sua família direta, presente. Ele


explicou que sua esposa e filhas tinham saído cedo naquela manhã para visitar
uma irmã na cidade de Yorba. Embora Noah achasse as filhas agradáveis o
suficiente, ele não sentia falta de Simona ou de suas atitudes de julgamento, no
mínimo.

Ele estava sentado diretamente em frente de Pilar, que estava


fazendo o possível para ignorá-lo, mas ele não se importava. Cada vez que ela
lhe enviava um olhar furtivo seus olhos estavam esperando e os dela iam
embora. Mais uma vez, ele queria agarrá-la e acabar com esse absurdo ritual de
namoro. Ele já podia imaginar seus lábios macios se abrindo sob os seus e o que
sua proximidade faria com ele quando finalmente tivesse a oportunidade de
deslizar as mãos lentamente sobre a curva de seus quadris, e sentir seus

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


mamilos contra sua palma. Se ela conseguisse ler seus pensamentos, ela
seguramente pegaria sua espada e o decapitaria imediatamente.

A Senora Banderas perguntou a seu irmão:

─ Quanto tempo Simona ficará fora?

Ele tomou um gole de vinho.

─ Ela disse que não retornará até que você e suas filhas se mudem para um
lugar só seu.

─ Então, vamos tentar concluir os arranjos o mais rápido possível.

─ Não tenha pressa.

Todos tentaram permanecer sérios.

─ Onde fica a propriedade que você está pensando em comprar, senhora? ─


Noah perguntou.

─ Aqui nas Keys. A maioria dos meus compatriotas está aqui.

─ Muitos cubanos também se instalaram na cidade de Yorba ─ acrescentou


Miguel. ─ Mas eu preferiria ter minha irmã e suas filhas perto de mim, com
Simona concordando com esse arranjo ou não.

Como Noah já havia feito seu pedido, Miguel não teria a companhia de Pilar.

─ Senhora, posso ter sua permissão para visitar os jardins com Pilar depois que
terminarmos aqui?

Pilar olhou para cima. Ela não pareceu satisfeita com a solicitação, mas ele
esperava isso e estava ansioso para a disputa deles.

─ Estou certa que não há problema, Sr. Yates. Você concorda, Pilar?

Ela encolheu os ombros.

─ Por que não.

─ Você vai se comportar como um cavalheiro? ─ perguntou-lhe sua mãe


incisivamente.

─ Sempre.

O minúsculo revirar de olhos de Pilar o fez sorrir interiormente.

Então depois do jantar eles foram passear. No início ela se recusou a pegar o
braço dele.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sou uma mulher de vinte e cinco anos que esteve na guerra, não uma menina
que precisa de um braço de homem para não cair.

─ Entendo ─ ele respondeu com leve diversão.

─ Existe alguma coisa para a qual você pode precisar de um homem na sua
idade avançada?

Isso lhe rendeu um olhar de desaprovação.

─ Não até onde eu sei.

─ Tão inocente.

─ Quer dizer?

─ Quando nos casarmos, vou explicar.

─ Ah, o beijo e o leito conjugal, correto? Eu duvido que qualquer um me deixe


fraca.

Eles se depararam com um banco perto de um jasmim perfumado tão bonito


quanto ele pensava que ela fosse.

─ Vamos nos sentar?

─ Se você insiste ─ ela disse desinteressadamente.

Ele não podia esperar para dar a aquela boca atrevida o que fazer, mas isso
também viria com o tempo.

─ Então, você gostou da visita do Senhor baixinho?

─ O nome dele é Luís Garcia.

─ Minhas desculpas, mas eu prefiro meu nome. Mais a propósito, eu acho. Você
não poderia estar interessada em ser sua esposa?

─ Eu também não estou interessada em ser sua esposa, mas estou aqui.

─ Touché, mi pequeña pirata ─ ele respondeu, misturando o francês com o


espanhol.

─ E eu gostaria que você não me chamasse desse jeito.

Ele estava se divertindo tanto com ela.

─ Porque . . ?

─ Porque do jeito que você diz, parece. . . ─ Suas palavras sumiram e ela
desviou o olhar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele gentilmente virou o rosto para ele e olhou em seus olhos castanhos
reluzentes.

─ Como um carinho?

Ela assentiu.

─ Suponha que eu lhe dissesse que é. ─ Ele encontrou a curva de seus lábios
hipnotizantes. ─ Você realmente acha que está imune aos beijos de um homem?

Ela se desviou de seu aperto no queixo.

─ Se você sugeriu este passeio para que você pudesse me beijar, por favor, faça
isso para que eu possa voltar para a casa.

Ele juntou os dedos e a estudou em silêncio. Que pequena vespa ela era. Sua
resposta provou que ela não tinha ideia de que ele poderia remover seu ferrão
de maneiras que não só a deixariam fraca, mas também desejando mais.

─ Bem?

─ Bem o quê?

─ Por que a hesitação? Você vai me beijar ou não?

─ Eu acho que não.

Ela piscou com surpresa.

─ Posso perguntar por quê?

A linha que ele traçou pela bochecha dela fez seus olhos se fecharem
lentamente. O tenro tremor de sua pele em resposta ao seu toque era altamente
excitante.

─ Você não está pronta, mas novamente eu posso estar errado.

─ Ser beijada não vai me fazer. . .

Seus lábios encontraram suavemente os dela, e o contato a fez suavizar


imediatamente.

─Oh, céus ─ ele a ouviu suspirar.

Sob seu convite persuasivo, sua boca se abriu e ele brincou com maturidade
com pequenos movimentos de sua língua. Ela ronronou e ele disse:

─É para isso que um homem serve. ─ Ele queria arrastá-la para o colo e saborear
a pressão quente do peso dela contra ele, mas isso também viria a tempo. Em
vez disso ele se contentou com beijos: ensinando-a, saboreando-a e

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


silenciosamente deixando-a saber que ele não estava imune a ela também.
Deixando os lábios entreabertos por um momento, ele viajou para provar
rapidamente a faixa fina de pele nua acima de sua gola, e quando ele sacudiu a
língua contra ela, ela choramingou de prazer. Movendo os lábios para o ouvido
dela, ele respirou: ─Você estava dizendo, chiquita?

Ela respondeu levantando a mão e puxando-o para mais perto. Ele se


emocionou com isso e sua masculinidade despertou. Ela era a coisa mais
adorável e doce que ele tinha em seus braços na memória recente, e tudo o que
ele queria fazer era mostrar a ela a medida completa do que o desejo
significava. E então como se de repente tivesse percebido o quão responsiva ela
se tornara, ela endureceu. Seus olhos se abriram e ela pareceu chocada. Ele
assistiu com diversão silenciosa.

Ela ficou de pé.

─ Eu tenho que ir.

Ele assentiu, mas manteve a risada para si mesmo.

Ela gaguejou:

─ Bem...adeus.

─ Adeus, Pilar.

Ela quase correu de volta na direção em que eles vieram.

Agitada e chocada, Pilar ficou encostada à porta fechada do seu


quarto, e tentou desacelerar seu coração acelerado. Como no mundo ela viveu
vinte e cinco anos e não conhecia o poder que os beijos de um homem poderiam
exercer? No instante em que seus lábios encontraram os dela, ela se derreteu no
banco de pedra como se tivesse sido desossada. É para isso que um homem
serve. . . Ouvindo isso, ela queria jogar de volta uma réplica azeda e inteligente,
mas o que ele estava fazendo com a boca dele na dela, e com os cantos de seus
lábios com a ponta ardente de sua língua, deixou-a com o cérebro de um
crustáceo. . Não havia armas em seu arsenal para isso. Ele a colocou à deriva,
sem leme, sem velas. Quando seus lábios quentes se moveram para a pele
trêmula sob sua mandíbula, sua mão subitamente cresceu em sua mente e o
atraiu para mais perto. Uma parte dela encontrou o calor dele contra o seu,
glorioso; sua língua provocante divina, até que uma voz em sua mente acordou
e gritou: O que você está fazendo? Foi quando ela soube que tinha que fugir. Ela
esfregou uma mão trêmula no rosto. O que ela ia fazer?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Só então ela viu a irmã do outro lado do quarto, sentada em frente ao cavalete
com um pincel na mão.

Doneta examinou-a por um momento silencioso antes de perguntar:

─ Ele beijou você não foi?

─ Não.

─ Você está mentindo. Pela sua aparência você foi beijada ou atingida por um
raio.

─ Silêncio!

Doneta sorriu conscientemente e retomou a pintura.

─ Você quer falar sobre isso?

─ Eu não estou falando com você.

─ Como queira, mas você está condenada agora.

─ O que você quer dizer?

─ Uma vez que a jovem é beijada, tudo o que ela quer é mais do mesmo.

Pilar afastou-se da porta, caminhou até a cama e sentou-se.

─ Isso é ridículo.

─ Sério?

─ Sim.

─ Se eu fosse você, eu terminaria o namoro e iria direto para o casamento.

─ Mas você não é.

─ Não, eu não sou. Mas se eu fosse, eu saberia que esperar por um milagre para
fazer com que tudo isso desapareça não resolve. Você está sendo perseguida
por um homem tão delicioso que faz com que os dentes das mulheres mais
saudáveis doam no momento em que ele entra em um quarto. Apenas se renda
e encontre alguma felicidade.

Pilar caiu de costas na cama e gritou de frustração:

─ Mas eu não quero casar com ele.

─ Essa é a contrabandista rebelde falando. O que a mulher em você está


dizendo?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar se recusou a explorar a opinião da parte recém-desperta de si mesma,
porque queria que ela fosse embora e nunca mais fosse ouvida. Ela também se
recusou a admitir que sua irmã sabia muito mais sobre essa loucura do que ela
jamais imaginou.

─ Sua resposta?

─ Eu não estou falando com você, lembre-se.

Doneta colocou o pincel na tela.

─ Está certo. Eu esqueci, mas quando você estiver pronta para falar sobre o
grande beijo que ele deu me avise. ─ Ela suavemente abaixou o sapato que Pilar
apontava para a sua cabeça.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 11

Na manhã seguinte, Noah tomou um gole de café enquanto se


sentava na varanda de seu quarto alugado e observava o nascer do sol. Tudo o
que ele conseguia pensar era Pilar. Ele riu com a lembrança de seu rosto pouco
antes de sair correndo e balançou a cabeça em seus esforços para negar o que
ele já sabia. Ela era uma mulher apaixonada - não apenas pela vida, mas
também nos braços dele e ele não podia esperar para mostrar-lhe o quanto.
Curiosamente ele dormira a noite inteira. Normalmente algumas horas eram
tudo que seu corpo parecia querer, o que ele tomava como forma de evitar os
pesadelos. Eles não o atormentaram recentemente, mas ele sabia que eles
estavam lá, se aproximando, esperando para atacar e se alimentar da dor e do
horror que continuavam a espreitar por dentro. No entanto, como ele havia
notado antes, estar perto de sua pequena pirata parecia ser um antídoto para o
veneno persistente da ilha. Ele não tinha idéia de quanto tempo poderia
aguentar, mas ele iria desfrutar dela e de sua vida pelo tempo que durasse.

Ainda pensando nela ele se perguntou se ela havia acordado ou


ainda estava dormindo. A ideia de acordar ao lado dela em algum momento no
futuro próximo era agradável de contemplar. Ela roncava? Ela iria para o seu
lado da cama enquanto dormiam? Será que ela adoraria fazer amor nas
primeiras horas da manhã, quando a primeira luz do amanhecer passava pelas
janelas do quarto deles? Todas as perguntas para as quais ele não tinha
respostas, mas estava ansioso para tê-las.

Enquanto isso, ele passaria o dia visitando o armazém de Miguel e


estudando como a operação poderia ser expandida para que eles pudessem
aumentar seus lucros. Ele passou o dia visitando os estaleiros navais com a
esperança de encontrar um navio para substituir o Alanza, mas os que ele viu
eram ou muito velhos, muito pequenos ou muito grandes. O navio que uma vez
recebeu o nome de sua mãe era perfeito em todos os sentidos e encontrar um
com atributos semelhantes demoraria muito mais do que imaginava
inicialmente. Ele tentou ser paciente embora não fosse uma de suas virtudes.

E porque ele lutou com paciência ele estava irritado com a ideia de
prolongar esse namoro. Os beijos de ontem entre os jasmins fizeram com que

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


ele desejasse mais; muito mais. Ele se perguntou como Miguel e Desa Banderas
reagiriam se ele propusesse terminá-lo e seguir para o casamento. Ele já podia
imaginar a reação de Pilar. Ela teria que ser arrastada chutando e gritando para
ficar diante de um padre e fazê-la repetir os votos. Seria tão fácil quanto ensinar
um golfinho a construir uma cerca. Idealmente sua família estaria presente. Vê-
lo casar, independentemente das circunstâncias, aliviaria toda a preocupação
que tinham tido com ele nestes últimos dez anos - especialmente sua mãe - mas
isso provavelmente era impossível, então ele tirou isso da cabeça. Mas Pilar não
saiu. Ele planejava vê-la mais tarde, e assim precipitadamente ele terminou seu
café e voltou para dentro para terminar de se vestir e poder encontrar Miguel
no armazém.

O passeio pelos armazéns com Miguel levou a maior parte da


manhã. Eles visitaram os cômodos onde as folhas de tabaco eram armazenadas
para a cura e ele observou com espanto quando os trabalhadores habilmente
rolaram as folhas para dentro dos charutos que ele desfrutava. Depois que ele e
Miguel conversaram sobre logística, fizeram uma pausa para tomar um café e
sentaram-se do lado de fora para aproveitar o dia bom.

─ Quero agradecer-lhe por ter pedido a mão da minha sobrinha.

─ Não tem porquê. Estou gostando do desafio.

─ Eu me preocupo, pois se não fosse por você, ela seria um fardo para sua mãe
pelo resto de sua vida.

─ Como assim?

─ Eu duvido que qualquer outro homem aqui ofereceria matrimônio a ela. Luís
Garcia não conta. Ele é viúvo procurando alguém para criar seus cinco filhos e
qualquer mulher servirá.

─ Eu duvido que Pilar tenha um problema em encontrar pretendentes.

─ Você é muito gentil Noah, mas nenhum homem sensato iria querer uma
mulher que luta com uma espada e pode ser procurada pela coroa por
contrabandear armas como sua esposa. Não que você seja louco, claro.

Noah sorriu para ele por cima do copo erguido.

─ Eu acho-a fascinante.

─ Eu acho selvagem e indomável.

Noah fez uma pausa e o estudou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não me entenda mal. Ela é minha sobrinha e eu a defenderia com minha vida,
mas eu não aprovo a forma como ela foi criada - ou mal criada, dependendo de
como você a vê. Obviamente, ela estava autorizada a ter mais liberdade do que
era bom para ela e eu não acuso minha irmã, mas seu falecido marido Javier.
Ele não era o homem que meus pais planejavam para ela se casar, mas Desa
sempre foi teimosa e rebelde e fez sua própria escolha, dando as costas para seu
noivo no dia do casamento.

─ Pilar e eu discutimos um pouco da história.

─ Então eu não vou repetir, apenas dizer que eu não quero que minhas filhas
pensem que elas também podem ser selvagens e indomáveis.

Noah tentou não julgar.

─ Então você se sentiria melhor se Pilar não estivesse por perto.

─ Eu não quero parecer pouco caridoso, mas sim. Chame-me de antiquado, mas
uma filha como Pilar teria me mandado para o túmulo há muito tempo. Meu
coração parou quando a vi com o florete na mão e depois descobri que ela
realmente sabia como usá-lo. ─ Ele balançou a cabeça. ─ Eu não podia acreditar.

─ Você deseja alterar os termos do cortejo?

─ Francamente, sim. Claro, Desa não pode, mas eu sim. E se as autoridades


estiverem realmente na trilha da minha sobrinha, seria melhor para todos os
envolvidos se ela estivesse na Califórnia e não em minha casa, ou na casa de sua
mãe.

Noah queria argumentar contra as opiniões do homem, mas não o


fez. Como Miguel afirmou, ele era antiquado e tinha sido criado para acreditar
que o lugar de uma mulher não envolvia contrabando de armas ou espadas,
mas tendo sido criado por Alanza, a Brava, Noah sabia que nem todas as
mulheres eram mansas e satisfeitas em passar a vida ouvindo como deviam
conduzi-las. Ele também não apontou que ao longo da história, as mulheres
participaram da luta pela liberdade em países de todo o mundo.

─ Você pretende falar com a Senhora Banderas sobre isso?

─ Sim. Quanto mais cedo você e Pilar se casarem melhor seria. É claro que não
tenho ideia se você concorda ou não, mas acredito que sim.

Na verdade, a angústia de Miguel caiu como uma luva nas mãos de Noah, mas
em vez de admitir que ele se casaria com Pilar em uma hora se os preparativos
pudessem ser feitos, ele respondeu:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Fale com sua irmã e se ela concordar, discutiremos como seguir em frente.

─ Obrigado, Noah.

Ele inclinou a cabeça e sua conversa voltou ao negócio dos charutos.

Pilar estava novamente no jardim, sentada para o retrato quando sua


mãe as interrompeu.

─ Pilar, Gerardo Calvo está aqui.

Pilar ficou quieta. ─ Aqui?

─ Sim. Ele precisa falar com você imediatamente.

Por que o dono do estaleiro cubano a procuraria desta maneira? Ela se


perguntou. Tinha que ser algo importante. Seria notícias sobre Tomas e os
outros homens perdidos naquela noite? O general Maceo havia marchado sobre
Havana? Dezenas de perguntas esperavam resposta e todas foram
acompanhadas de um pavor crescente.

Quando ela entrou na sala, sua mãe os deixou sozinhos.

─ É bom ver você, novamente Senhor Calvo ─ disse Pilar.

─ Eu sinto o mesmo. Eu trago-lhe uma triste notícia, no entanto. Seu amigo


Tomas está morto. Ele foi capturado na noite em que o barco foi afundado,
juntamente com dois dos meus homens e torturado. Eu não tenho ideia do que
aconteceu com o terceiro homem que navegou com você.

Seu coração parou.

─ Nossos aliados nos dizem que a coroa está agora procurando por você
também. Ninguém sabe que informação os homens podem ter revelado antes
de suas mortes, mas seria prudente não retornar a Cuba.

Os rebeldes sabiam dos perigos inerentes à sua luta, mas ela se sentia a única
responsável pelas mortes. Saber que ela nunca mais veria Tomas lhe deixou
uma dor terrível demais para suportar.

─ Foram feitos arranjos para o seu enterro?

Calvo sacudiu a cabeça.

─ Disseram-me que o corpo dele junto com os outros foi jogado no mar, e sua
mãe foi levada para um dos campos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não! ─ ela gritou. Sua mãe idosa nunca sobreviveria às terríveis condições lá.
Os campos estavam cheios de doenças, sujeira, vermes e fome. Pilar achou
difícil respirar.

─ Você pode querer desaparecer por um tempo. A Espanha pode ou não ser
capaz de te buscar legalmente aqui, mas eles têm olhos e ouvidos nas Keys e na
cidade de Yorba. Eu pretendo desaparecer por um tempo também. Como você,
eu sei muito sobre as outras aranhas em nossa teia para arriscar ser pego e
torturado.

Foi um conselho sábio.

─ Há mais alguma coisa que eu precise saber?

─ Só que o nosso lado divulgou o boato de que você se afogou naquela noite,
mas se vão acreditar. . .? ─ Ele encolheu os ombros.

Ela entendeu.

─ Obrigada por ter vindo, senhor.

─ Você foi um trunfo por muitos anos, Pilar Banderas. Era o mínimo que eu
podia fazer.

─ Eu sinto muito pela morte de seus homens.

─ Eu também ─ ele sussurrou antes de se curvar e sair, deixando-a sozinha.

Pilar se sentou em uma cadeira e chorou em silêncio por Tomas e sua


mãe. Ela e seu amigo de toda a vida nunca mais velejariam juntos ou
cavalgariam para as montanhas ou compartilhariam sorrisos, nunca mais. O
conhecimento que ele sofrera assim e que lhe foi negado o enterro decente
devido a cada ser humano, piorava seu desespero. Ela sabia que ele não queria
que ela se culpasse, mas ela se culpava e sem a menor ideia de quando seria
capaz de perdoar a si mesma. A Espanha havia tirado mais uma pessoa de sua
vida e jurou fazer tudo ao seu alcance para impedir que isso acontecesse
novamente. Ela não tinha certeza antes, mas a visita de Calvo lhe deu a certeza
de que ela e, mais importante, sua mãe e irmã estavam em perigo.
Momentaneamente deixando de lado sua dor ela pensou sobre suas opções e
depois de chegar a uma decisão, levantou-se. Ela sabia o que tinha que ser feito.

─ Tem certeza de que é isso que você quer? ─ perguntou o tio ao chegar em casa.

─ Sim. ─ Ela já havia discutido sua decisão com a mãe e a irmã e, embora
concordassem, estavam tristes.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ok ─ ele respondeu sombriamente. ─ Noah deve chegar a qualquer momento.
Quando ele vier, eu o enviarei para falar com você.

─ Obrigada, Tio.

Sozinha no escritório de seu tio, Pilar olhou pela janela enquanto


esperava. O crepúsculo logo desceria em um dia que começara com sol e céu
azul e agora estava cheio de tristeza. Não havia como saber como sua vida
poderia estar quando a noite caísse, mas ela estava decidida a encará-la com
determinação. Uma batida suave na porta interrompeu suas reflexões.

─ Entre.

E lá estava ele. Ele observou em silêncio e a preocupação encheu seu rosto. Ela
sabia que seus olhos ainda estavam vermelhos de suas lágrimas, mas isso não
poderia ser disfarçado.

─ Feche a porta, por favor.

Ele obedeceu.

─ O que aconteceu?

Então ela contou a ele sobre a visita de Calvo, o terrível falecimento de Tomas e
o conselho de despedida de Calvo. Quando ela terminou, ela jurou:

─ Eu não vou deixar a Espanha tirar outra pessoa amada da minha vida, então
eu pretendo seguir o conselho e desaparecer. ─ Mesmo que suas próximas
palavras fossem necessárias, as partes de si mesma que tinham sido
autossuficiente e destemida por tantos anos se rebelaram por dentro com o que
ela estava prestes a fazer. ─ Se você ainda me quiser, eu gostaria de me casar o
mais rápido possível.

Para seu crédito, ele não zombou dela ou fez qualquer outra coisa para
aumentar sua dor.

─ Sua decisão é sábia. E sim, eu ainda te quero como minha esposa - assegurou
ele em voz baixa. ─ Duvido que possamos comprar bilhetes de trem no final do
dia, mas podemos ver isso logo de manhã. Seu tio conhece um padre que
conduziria a cerimônia sem os documentos necessários?

Seu alívio acalmava apenas uma parte de seu conflito interno.

─ Falei com ele mais cedo e ele disse que sim.

─ Então, faça-o entrar em contato com o padre para que possamos seguir em
frente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Obrigada. Se você esperar aqui, eu vou avisá-lo.

Ela caminhou até a porta e quando passou por ele, ele gentilmente pegou sua
mão.

─ Isso vai dar certo, Pilar.

─ Não deu para Tomas ─ ela respondeu e saiu.

Eles se casaram uma hora depois. Por insistência de sua mãe, ela
usava o vestido verde-menta que usava na festa de seu tio, enquanto Noah
permanecia no mesmo terno preto que ele usara na chegada. Foi necessário a
doação de uma grande quantia de dinheiro para os cofres da igreja do padre,
em troca da cerimonia apressada e da falta de documentos necessários. Não
haveria nenhuma festa, é claro, mas nenhum deles se importava, desde que o
certificado comprovando que eram marido e mulher fosse assinado e selado.
Feito isso, o padre partiu.

Sentindo-se como se estivesse envolta em pedra, Pilar disse:

─ Obrigada de novo. Eu farei o meu melhor para ser uma boa esposa.

Noah disse na mesma moeda:

─ E farei o meu melhor para ser um bom marido.

Já havia sido decidido que eles iriam sair logo após a cerimônia, então ela pediu
licença para fazer as malas.

Em seu quarto, ela colocou sua pequena quantidade de roupas e pertences


pessoais em uma sacola emprestada por seu tio. Sua mãe e irmã olharam
tristemente.

Quando ela terminou, a mãe perguntou a Doneta:

─ Você pode nos deixar um momento, por favor?

Doneta saiu e fechou a porta atrás de si.

─ Você tem alguma dúvida sobre a sua noite de núpcias, Pilar?

O constrangimento a aqueceu das raízes do cabelo até as solas dos pés, mas ela
assentiu.

Quando sua mãe concluiu, ela acrescentou:

─ Algumas mulheres acham o leito conjugal agradável; outras não.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar queria perguntar se ela tinha gostado, mas novamente o constrangimento
foi muito grande.

Como se tivesse lido os pensamentos de Pilar, ela confessou com um sorriso


afetuoso:

─ Seu pai e eu gostamos muito dessa parte do nosso casamento.

Houve uma batida na porta. Era o tio de Pilar.

─ A carruagem está aqui, Desa. Noah gostaria que Pilar se juntasse a ele.

─ Obrigada. Nós vamos descer em um momento.

Ele se retirou e sua mãe a puxou para um abraço apertado e deu um beijo em
sua bochecha.

─ Você e seu marido vão se sair bem. Você verá.

Pilar esperava que ela estivesse certa.

Ele estava esperando por ela na sala de estar.

─ Tire alguns momentos para dizer adeus. Eu estarei na carruagem.

Ela estava agradecida por aquela pequena gentileza.

─ Obrigada.

Ele se curvou para a mãe dela.

─Vou avisar você e Doneta assim que chegarmos na minha casa.

Depois de sua despedida, Doneta abraçou-a primeiro e o coração de Pilar doeu.


─ Por favor, não chore ─ disse ela enquanto as lágrimas escorriam por suas
próprias bochechas.

─ Mas eu vou sentir sua falta ─ sua irmã sussurrou.

─ Eu vou sentir muito a sua falta também. ─ Ela se inclinou para trás e deu uma
última olhada. ─ Você vai cuidar da mamãe.

─ Sempre. Seja feliz.

Pilar não falou sobre isso, mas abraçou a irmã com força de novo e deu um beijo
de despedida na bochecha molhada.

Em seguida veio sua mãe, cujo sorriso se fundiu com suas lágrimas. Segurando
Pilar de perto ela disse com confiança:

─ Eu vou te ver em breve. Deus te mantenha segura.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você também, mamãe. Eu sinto muito.

─ Não precisa se desculpar. As coisas acontecem como elas devem ser. Eu vou
manter você e Noah em minhas orações.

O amor que ela sentia por sua mãe era inigualável e Pilar não tinha
ideia de como ela passaria pela vida até que ela a visse novamente. Tudo o que
ela era e acreditava tinha sido concedido a ela por seus pais, e todos os dias
desde que sua vida tinha começado um dos dois estava lá. Agora seu pai
estava entre os santos e sua mãe estaria a milhares de quilômetros de distância.
Seu mundo estava quebrado. Ela entrou nos braços abertos do tio.

─ Sinto muito pela vergonha que eu trouxe para sua casa, Tio ─ ela sussurrou.

─ Não é vergonha. Você me fez muito famoso. Todo mundo vai querer vir e
comprar charutos do homem que teve uma luta de espadas em sua festa de
aniversário.

Ela riu e enxugou os olhos.

─ Vou cuidar de sua mãe e irmã. Não se preocupe com isso.

─ Obrigada. Obrigada por tudo. Transmita às minhas primas meu amor.

─ Eu vou. Vá com Deus, minha sobrinha rebelde. Que você encontre


benevolência.

Pegando sua sacola emprestada, ela deu uma última olhada nas pessoas
que amava, se recompôs e saiu para a escuridão.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 12

Ele estava esperando na carruagem. Ela estava feliz que a escuridão


escondesse a evidência de suas lágrimas. Ela odiava mostrar qualquer forma de
fraqueza, então rapidamente eliminou a umidade restante e esperou que não
houvesse vestígios quando chegassem ao seu destino.

─ Deixe-me pegar sua sacola.

─ Eu posso carregá-la.

─ É chamado cavalheirismo, Pilar. Ajudo-te com as tuas sacolas e a entrar na


carruagem. Será um prazer, se você quiser.

Ela empurrou a sacola praticamente em seu peito. Ela pensou que ele
tinha sorrido um pouco, mas estava escuro demais para ver claramente.

─ Agora sua mão, por favor, para que eu possa ajudá-la.

─ Eu tenho entrado e saído de carruagens toda a minha vida.

─ Não com um marido.

Ele estava certo claro, e porque ela não tinha resposta pronta ela
impacientemente estendeu a mão. Ele a tomou na sua e o calor que irradiava
ondulou acima dela como pedras através de uma lagoa. Assim que seu pé
alcançou a lateral da carruagem, ela interrompeu o contato a fim de restaurar
sua respiração para algo semelhante ao normal.

O interior tinha apenas um banco, então ela preferiu se sentar no outro


lado da janela. Ele a seguiu para dentro.

O cocheiro os colocou em marcha e ela tentou não pensar em deixar a


mãe e a irmã para trás. Era difícil.

─ Onde estamos indo?

─ Para a pensão em que estou hospedado. Como eu disse, vamos pegar o trem
de manhã.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Outra coisa que ela tentou não pensar era na noite de núpcias. Ela estava
grata pela informação dada por sua mãe sobre o que ela poderia esperar. Pilar
não revelou que durante seu tempo no Exército Revolucionário, ela
inadvertidamente encontrou alguns homens e mulheres se acasalando sob o
manto da escuridão, mas rapidamente se afastou para não ser vista. Tampouco
revelou que uma das mulheres Mambi lhe dissera que com o homem certo, o
leito conjugal poderia ser o paraíso, mas com o errado o inferno. Ela se
perguntou o que ele poderia ser e se ela seria capaz de saber a diferença. Ela
arriscou um olhar para ele e encontrou-o olhando para ela.

─ Quanto tempo para chegar a sua casa na Califórnia? ─ ela perguntou para
cobrir seu nervosismo.

─ Cinco dias, talvez sete, dependendo das estradas e do clima – existe um


grande número de variáveis.

─ Sua mãe e seus irmãos moram perto?

─ Nós todos vivemos no rancho.

─ Na mesma casa?

─ Não. Meus irmãos têm suas próprias casas. Você e eu ficaremos com minha
mãe na casa onde cresci até decidirmos onde queremos morar.

─ Oh! ─ Ela se perguntou como sua mãe iria encará-la e como ele era quando
criança. Como ele tinha conseguido a cicatriz? Muitas perguntas sem respostas,
então ela sentou-se na escuridão e tentou não lamentar em voz alta essa virada
indesejada da direção de sua vida.

Noah não podia acreditar que ela queria discutir com ele sobre entrar na
carruagem e ria internamente. Tê-la em sua vida seria um desafio contínuo. Ele
teria que ficar lembrando a si mesmo que ela tinha vinte e cinco anos e estava
fazendo o seu próprio caminho no mundo há algum tempo. Enquanto outras
moças de quinze anos tinham as cabeças cheias de festas, novos vestidos e
sonhos de noivos ela partira para a guerra. Atender a assuntos de etiqueta era
sem dúvida algo que ela nunca teve que levar em consideração antes. Ele
recuou para a lembrança dela parada tão estoicamente no escritório do tio.
Provavelmente tinha a matado por dentro pedir que ele se casasse com ela. Em
circunstâncias normais suas palavras teriam sido música para seus ouvidos.
Embora não houvesse nada normal sobre as ameaças que ela e sua família
estavam enfrentando, ele ainda a queria como sua esposa e desafiava os
espanhóis ou qualquer outra pessoa a tentar tirá-la dele.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Naquele momento a janela aberta da carruagem captou a luz que
passava de um poste de iluminação revelando a tristeza em seu rosto. Seu
coração se abriu de uma maneira que era tão nova para ele quanto seus
sentimentos crescentes por ela. Tinha que ser insuportável para ela deixar sua
família para trás, especialmente junto com a dor que sentia pela morte de seu
amigo. Ele queria muito oferecer-lhe consolo, mas ela provavelmente puxaria
um facão de sua bolsa e o cortaria em pedaços pequenos se ele se aproximasse
dessa maneira, então ele se acomodou e compartilhou o silêncio.

Já passavam das dez da noite quando saíram da carruagem e foram até a


porta da pensão. O lugar estava escuro devido ao adiantado da hora. A
proprietária, uma irlandesa de seios grandes chamada Ira Fitzhugh, não
fornecia chaves para a porta da frente depois das oito horas, então ele teve que
bater e esperar que ela não xingasse por tê-la tirado da cama. Vestida com um
manto jogado sobre suas roupas de dormir, ela finalmente respondeu ao
chamado, deu uma olhada para ele e Pilar e disse em um tom gelado:

─ Eu não permito que homens tenham mulheres em seus quartos Sr. Yates.

─ Esta é minha esposa Pilar, Sra. Fitzhugh.

Sua atitude imediatamente se suavizou.

─Oh, então entre. Você casou hoje?

─ Sim.

─ E ela é uma coisinha linda. Boa sorte eh, Pilar. Muitas mulheres não são
abençoadas com um homem tão bonito. Eu me lembro da minha noite de
núpcias. Eu estava com tanto medo, mas quando meu Jamie começou ...

Ao ver o rosto chocado de Pilar, Noah a interrompeu.

─ Nós vamos subir, Sra. Fitzhugh. Minhas desculpas por fazer você sair de sua
cama para nos deixar entrar.

Ela acenou para ele.

─ Nenhuma desculpa necessária. Divirta-se. ─ Depois de lhes dar uma piscadela


encorajadora, ela voltou pelo corredor até seu quarto.

Enquanto subiam a escadaria escura até o segundo andar, Pilar sentia


como se estivesse caminhando para sua execução. Ela ficou em silêncio
enquanto ele encaixava a chave na fechadura de uma das portas.

─Fique aqui por um momento e deixe-me acender a lâmpada.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Uma vez que foi acesa, ela entrou. A luz fraca piscou ao redor do
pequeno quarto revelando uma grande cama da qual ela rapidamente desviou
os olhos, uma escrivaninha, algumas cadeiras e uma tela que ela supôs escondia
a janela. Ela estava mais nervosa do que jamais esteve em sua vida. Ela viu
quando ele tirou o casaco e a gravata.

─ Você deve ir para a cama e dormir um pouco ─ ele disse a ela. ─ Temos um
longo dia pela frente.

Ela ficou imóvel. Não haveria noite de núpcias?

Como se tivesse lido a mente dela ele disse baixinho.

─ Nós vamos deixar a noite de núpcias para o futuro. Eu quero que você esteja
tão preparada para mim como eu estou para você. Esta noite você não está.

Apesar de que estar com ele na cama não era algo que ela estivesse
ansiando, ela estava agora tentando determinar se deveria ficar ofendida. ─
Você não quer uma noite de núpcias?

─ Eu quero, mas como eu disse você não está pronta.

─ E como você sabe disso?

Ele caminhou até onde ela estava e colocou um dedo sob o queixo para
gentilmente levantar os olhos para ele. ─ Porque você não está. Devo te mostrar?

Pilar tremeu sob seu olhar intenso, mas não querendo admitir a derrota
ela assentiu.

─ Você tem certeza?

─ Sim ─ ela quase gritou.

Ele a aproximou e quando sua boca reivindicou a dela, ela se perdeu


instantaneamente. Foi uma repetição de seu interlúdio no jardim. Seus beijos
acenderam um calor lento em seu sangue como uma sangria muito potente,
deixando-a suspirando sem fôlego e sem cérebro.

─ Abra sua boca, mi pequeña pirata. . . deixe-me provar você. . .

Seus lábios se separaram por conta própria. Ele enfiou a língua para
dentro e ela gemeu da sensação doce.

─ Quando você estiver pronta você vai querer que eu faça isso. ─ Lábios tão
quentes como o tom dele abriram uma trilha preguiçosa até a borda de seu
pescoço, e depois viajaram de volta para recuperar sua boca enquanto a mão
dele segurava seu seio e dedos corajosos brincavam com o mamilo através das

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


camadas de seu vestido fino e da camisa. Ela lutou para respirar enquanto
beijos chamuscavam a carne na base de sua garganta. Quando ele puxou para
baixo o corpete de seu vestido levando a borda da camisa com ele e sugou o
duro mamilo que se soltou, a intensidade estalou sobre ela como um raio
atingindo o mar. Ela gritou, empurrou-o para longe e se cobriu. O ar estava
pesado com os sons da respiração acelerada e o sangue de Pilar bateu em seus
ouvidos.

─ Agora você entende? ─ ele perguntou baixinho.

Cada centímetro de seu ser estava em chamas e pulsante. Uma parte dela
queria erguer suas saias e fugir daquele homem avassalador que lhe dera seu
nome, enquanto outra queria abrir o vestido e deixá-lo festejar. Que os santos a
ajudassem.

─ Vá para a cama, Pilar. Quando você estiver pronta vamos brincar novamente.

Dito isso, ele saiu pelas portas francesas que levavam para a varanda e a
deixou sozinha. Pilar caiu de costas no colchão e afundou na cama. Olhando
para o teto sombrio ela ficou lá latejando. Seu vestido ainda estava torto, o
mamilo úmido e duro e a sensação da boca dele reverberava em sua memória
de novo e de novo. Ela se sentou e colocou a cabeça entre as mãos. Nada em sua
vida a preparara para essa agitação sensual. Do outro lado da sala sombria
estavam as portas que ele usara para sair. O breve encontro o afetou também ou
ele era muito experiente para ser afetado por sua esposa virgem? Outra
pergunta sem resposta, então ela se levantou e vestiu suas roupas de dormir.
Debaixo dos lençóis limpos ela se perguntou se ele planejava ficar do lado de
fora pelo resto da noite e como seria dormir ao lado dele. Decidindo que ela
tinha perguntas irrespondíveis mais do que suficiente, ela caiu no sono.

Do lado de fora Noah se perguntou se ela estava dormindo ou acordada


pensando nele como ele estava pensando nela. Deus ele estava duro - mais duro
do que ele conseguia se lembrar de estar alguma vez. Ele queria levá-la para a
cama, tirar-lhe o vestido e amá-la com uma doce ferocidade que era quase
poderosa demais para controlar. Mas controlou-se para a decepção de sua
masculinidade ainda latejante. Ele se mexeu na cadeira. Estava querendo prová-
la e tocá-la sem restrição desde o momento em que ela fugiu dele na festa de
aniversário de Miguel. Por duas vezes ele a beijara, e a cada vez saboreara a
relutância de uma virgem e em seguida uma paixão que ele sabia que poderia
ser alimentada ao máximo quando chegasse a hora, mas não agora, então ele
desejou que seu corpo se acalmasse. E se sentou e esperou o sol nascer.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Como sempre Pilar acordou com o céu rosa e cinza do amanhecer. Ela
olhou ao redor da sala e se encontrando sozinha imaginou onde Yates poderia
estar. Deixando a cama, ela cuidou de suas necessidades matinais e puxou uma
saia e blusa de sua sacola de pano. Depois de vestida, calçou as meias e as ligas,
enfiou os pés em um par de chinelos de couro gastos e atravessou a sala
silenciosa até as portas que davam para a varanda. E foi aí que ela o encontrou
completamente deitado no chão dormindo com a cabeça em cima do casaco
dobrado. Ele estava roncando baixinho. Por que ele escolheu dormir fora do
quarto só ele sabia. O lado cicatrizado de seu rosto estava escondido contra o
casaco e ela ficou um tempo avaliando seu perfil imaculado. Não havia como
negar que ele era um homem bonito. Perdido no sono ele parecia em paz - como
se o mundo não tivesse preocupações ou desafios. Ele certamente não tinha
nenhuma semelhança com o homem que a dominou com paixão ou a fez
derreter chamando-a de pirata. Este Noah Yates parecia mais jovem quase
inocente, mas ela sabia que não era assim, então ela o deixou e voltou para
dentro para aguardar seu despertar.

Ela não precisou esperar muito. Quando ele entrou, ela estava sentada
em uma das cadeiras.

─ Bom dia ─ disse ele. Mesmo amarrotado pelo sono sua poderosa presença
encheu o pequeno quarto.

─ Bom dia.

─ Eu não queria deixar você esperando.

─ Você parecia estar dormindo tão pacificamente. Eu não quis acordar você.

O encontro da noite anterior ressurgiu e a lembrança de seus ardentes


beijos e sua boca quente em seus mamilos fez com que endurecessem sob o
corpete e a blusa de algodão.

─ Eu vou esperar na varanda para que você possa cuidar de suas necessidades.
─ Sem esperar por uma resposta ela passou por ele e saiu pelas portas abertas.

Noah pensou nela enquanto se vestia. Que tipo de desafios ela traria
hoje? Ela não parecia constrangida pela paixão da noite anterior e ele endureceu
pensando em sua pele macia e acetinada e suspiros suaves de paixão. Puxando
sua mente de volta para o presente ele procurou por uma camisa e um terno
limpos. Uma vez vestido ele saiu para se juntar a ela.

─ Está com fome?

─ Um pouco, sim.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ A Sra. Fitzhugh oferece um bom café da manhã. Vamos descer?

Ela assentiu e se juntou a ele lá dentro.

─ Deixe-me abrir a porta.

─ Outra regra de cavalheirismo?

─ Sim.

Ela revirou os olhos.

Ele sorriu e abriu a porta.

─ Depois de você.

Sentados à mesa deles na pequena sala de jantar, ele a observou olhar os


ovos, o cereal, o bacon e a torrada no prato.

─ Algo errado?

─ Não é o que estou acostumada. O que é isso? ─ ela perguntou.

─ Cereal.

Ele não viu reconhecimento nos olhos dela.

─ É aveia. Um grão.

Ela usou o garfo para provar um pouco e fez uma careta.

─ A maioria das pessoas usa manteiga, sal e pimenta para dar sabor. Aqui nesta
parte do país às vezes também é servido com camarão.

Ela olhou em volta rapidamente.

─ Tem camarão aqui?

Ele achou isso muito cativante.

─ Não, Pilar. Eu sinto muito.

─ Oh! ─ ela disse claramente desapontada. ─ E essas tiras são o quê?

─ Carne de porco. É chamado bacon.

─ Por que é tão plana assim? Comemos carne de porco em casa, mas não se
parece com couro de cinto. Como você come isso?

─ Apenas pegue-o com os dedos e morda. ─ Ele observou-a prová-lo.

─ Muito seco e salgado ─ observou ela.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Os americanos comem no café da manhã. O que você costuma comer?

─ Mangú. Que é purê de banana, ovos, salame, pimentão, cebola. . . ─ Suas


palavras sumiram.

─ Quando chegarmos em casa você pode achar a comida mais familiar, mas até
então será principalmente comida americana.

Mais uma vez decepção, mas ela começou a comer seus ovos.

─ Ah, Sr. Yates. Eu vejo que você ainda está conosco.

Ergueu os olhos para encontrar o Senhor e a Senhora DeValle e sua filha


de dezesseis anos Coralina de pé ao lado da mesa. Ele os encontrara no local há
alguns dias. Foi a esposa que o cumprimentou.

─ Bom dia ─ ele ofereceu em uma resposta educada. ─Como você está?

─ Estamos bem, não estamos Coralina?

─ Sim, nós estamos. ─ A filha o olhava como se ele fosse uma sobremesa que ela
queria provar. Era mais um caso de uma mamãe querendo arranjar um
companheiro para sua filha solteira.

Pilar as olhou friamente. Ele estava prestes a apresentá-la quando a


Senhora DeValle perguntou:

─ E quais são seus planos para hoje, Sr. Yates? Coralina está muito ansiosa para
visitar os jardins daqui. Talvez vocês dois ...

─ Querido? ─ perguntou Pilar baixinho: ─ Quer mais café?

Noah que acabara de tomar um gole de sua xícara engasgou ao ouvir a si


mesmo sendo chamado de querido. Havia um diabinho tempestuoso em seus
olhos escuros e ele não conseguiu reprimir seu sorriso.

─ Não, querida, estou bem por agora. ─ Ele se virou para os DeValles. ─ Eu
gostaria que vocês conhecessem minha esposa Pilar.

Os olhos da mamãe chocada se arregalaram. A filha lançou um olhar de


espanto a Pilar que levantou a taça zombeteiramente em resposta. O pai
abaixou a cabeça com uma decepção abjeta.

─ Quando se casou? ─ perguntou a Senhora DeValle olhando de um para outro.

─ Ontem ─ respondeu Pilar. ─ Foi um prazer conhecer você.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Isso lhe rendeu um olhar enviesado, mas tendo sido efetivamente
dispensada não havia nada para a família fazer além de seguir em frente. Eles
fizeram isso e sentaram-se em uma mesa do outro lado da sala.

Noah a estudou.

─ Eu sou sua esposa. Podemos não ter um casamento amoroso, mas eu não vou
tolerar garotas de olhos sonhadores ou suas mães babando por você pelo menos
não na minha presença.

Ele ergueu a taça.

─ Anotado

─ Bom.

Um divertido Noah voltou para a comida em seu prato.

─ Você tem uma amante?

Ele fez uma pausa e olhou para cima. Seu rosto estava ilegível.

─ Não oficialmente, não.

─ Então isso significa que há uma mulher ou mulheres em sua vida?

Em vez de dançar em torno do que parecia uma armadilha, ele ofereceu a


verdade.

─ Há uma mulher que às vezes eu busco companhia quando estou em São


Francisco. O nome dela é Lavínia Douglas. Seu pai Walter possui um pequeno
estaleiro.

─ E agora que você é casado?

─ Os homens da minha família honram suas esposas Pilar. Não há outras


mulheres.

─ Obrigada. Eu só queria saber.

─ E para o registro, eu também não vou querer homens com olhos de boi
babando por você na minha presença.

Isso lhe rendeu um queixo levantado.

─ Anotado ─ ela respondeu.

Ele viu a Senhora DeValle observando-os. Ela não pareceu satisfeita, mas
Noah ficou muito satisfeito com essa primeira refeição compartilhada com sua
nova esposa. No entanto havia algo que ele queria perguntar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Isso pode estragar a manhã, mas o que aconteceu com meus pertences no
Alanza?

Ela lentamente abaixou a xícara de café.

─ Eu os vendi.

Ele inclinou a cabeça.

─ Você esperava que eu os encaixotasse e guardasse?

Ele não sabia o que esperar mais:

─ Eles alcançaram um bom preço?

─ Sim, mas eu podia ter conseguido mais se eu não tivesse tido que vendê-los
tão rapidamente.

Ele estava quase com medo de perguntar.

─ O que isso significa?

─ Nós precisávamos pagar o barqueiro que nos levou para a Flórida e eu não
tinha o luxo de pechinchar, então eu vendi a ele sua arma e coldre. A pintura foi
para alguém nas docas. Ele queria dar para a mãe no aniversário dela.

Ele engasgou com outro gole de café. Pegando o guardanapo limpou a


boca e uma vez recuperado, perguntou em voz baixa:

─ Aquela que estava pendurada nos meus aposentos?

─Sim. Você pintou?

─ Sim ─ disse ele, abatido pelas informações.

─ Eu pensei que poderia ser você. Doneta disse que você tem talento.

─ Eu vi a pintura dela. Ela também pinta bem.

─ Sim, ela pinta. Ela é a falsificadora de arte da família.

Seus olhos se arregalaram e ele olhou em volta para se certificar de que


ninguém estava escutando.

─ Falsifica arte?

Ela assentiu.

─ Alguns de seus trabalhos estão pendurados em museus. É claro que eles não
sabem que são falsificações. Nós trocamos as dela pelas versões verdadeiras.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Noah estava tão atordoado e confuso que ele não sabia o que perguntar
em seguida.

─ Você já terminou de comer, porque precisamos continuar esta conversa em


particular.

─ Sim, eu terminei.

Ainda olhando para ela como se tivesse se transformado em uma sereia,


ele deixou o dinheiro para a refeição na mesa e eles voltaram para o quarto.

─ Agora comece de novo ─ ele disse uma vez que estavam acomodados nas
cadeiras.

─ Eu sou de uma família de falsários, falsificadores e ladrões, por falta de uma


descrição mais refinada.

─ E sua especialidade, além de roubar barcos?

Ela lhe deu um olhar que ele ignorou.

─ Eu roubo.

─ Tal como?

─ Quando eu era muito jovem fui treinada para roubar pequenos itens das
casas.

─ Por quem?

─ Meu pai e tios.

─ Então onde algumas famílias negociam digamos carpintaria ou fabricação de


velas, a sua vive de roubo.

─ O sarcasmo não é apreciado, mas sim.

Ele achou isso totalmente assustador, mas fascinante.

─ Como você fazia isso?

─ Eles me passavam através de uma janela depois de escurecer e eu pegava


tudo o que eu pudesse encontrar. Pratas, pequenas estátuas, joias, se fossem
deixadas em uma mesinha de cabeceira ou cômoda.

─ Você entrava nos quartos?

─ Sim. Eu era muito silenciosa e rápida.

─ Você já foi pega?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Uma vez. Eu tinha cerca de sete anos e um homem veio até mim quando eu
estava saindo. Quando ele me perguntou o que eu estava fazendo em sua casa,
eu comecei a chorar e disse a ele que estava procurando por minha mãe e que
ela era uma empregada e não tinha voltado para casa, mas não consegui
encontrar a casa certa.

─ E ele caiu nessa?

─ Sim. Na verdade, eu era tão convincente e ele estava tão preocupado que
queria me acompanhar até as outras casas próximas para ajudar na minha
busca.

Noah riu com descrença.

─ E as pinturas falsas?

─ Às vezes, trocávamos as falsificações de Doneta pelas que encontrávamos nas


casas, mas algumas vezes pegávamos pinturas penduradas em museus. Meu
pai tinha contatos em Havana que vendiam os originais para americanos ou
europeus. Muitas pessoas ricas não sabem se suas pinturas são reais ou não. Eu
me empregava como doméstica e trazia a falsificação à noite, dava a verdadeira
para meu pai que ficava esperando do lado de fora e os donos não sabiam. Eu
deixava a casa uma semana depois e mudava para o próximo emprego.

─ Estou impressionado.

─ Eu tenho uma pergunta para você. Como você sabia que eu estava na casa do
meu tio?

─ Eu não sabia. Eu estava lá por causa da nossa parceria e eu apareci naquela


noite na festa só porque eu fui convidado. Quando não encontrei você em sua
casa em Santiago, não sabia onde pesquisar em seguida.

Ela ficou imóvel.

─ Você foi em nossa casa?

─ Sim.

─ Como você descobriu onde eu morava?

─ Eu paguei um homem chamado Gordonez pela informação.

─ Aquele bastardo.

Ele estudou a raiva em seu rosto.

─ O quão bem você o conhece?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ele era o noivo que minha mãe deixou no altar. Ele odiava meu pai por isso.

─ Ele parecia sentir rancor contra sua família, mas eu não queria perguntar
sobre isso.

─ Ele mentiu para as autoridades espanholas dizendo que meu pai era um líder
rebelde de alto nível. Foi o que o levou à morte. Nenhum de nós jamais vai
perdoá-lo.

Agora ele entendia a acrimônia que ele sentia no homem naquele dia. Ele
se perguntou quanta alegria Gordonez sentiu sabendo que Noah estava
caçando a filha de Desa.

─ E o resto dos meus pertences como a minha roupa, você vendeu também?

Ela se acalmou por um momento, como se estivesse pensando.

─ Tomas pegou sua roupa. Não tenho certeza do que ele fez com isso. ─ Seu
rosto entristeceu.

─ Eu sinto muito. Eu não quis reavivar sua dor.

─ Vou sentir falta dele terrivelmente.

O tom dela fez com que ele se perguntasse se o homem havia


conquistado seu coração, mas ele não perguntou porque não queria que a
resposta fosse sim.

─ Quanto ao resto de suas coisas dei suas pinturas e cavalete a Doneta. Também
encontramos partituras. Você as escreveu?

Ele assentiu.

─ Sim. Você também vendeu?

─ Não, eu os coloquei de volta em sua mesa.

─ Que está agora no fundo do mar?

Sua resposta foi uma fungada.

─ Sim.

Essa foi a maior perda no que lhe dizia respeito. Sua arma, a roupa, até a
pintura poderiam ser substituídas, mas ele estava compondo aquele réquiem
por vários anos. Agora ele teria que tentar recriá-lo a partir do zero.

─ Como sua esposa agora suponho que devo me desculpar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Só se for genuinamente oferecido.

─ Meu pedido de desculpas, genuinamente dado.

─ Obrigado ─ ele disse esperando que não saísse tão bruscamente quanto ele se
sentia.

Pela maneira como seus olhos brilharam ele sabia que tinha sido.

─ Que instrumento você toca?

─ Piano.

─ Se tivesse a oportunidade de fazer tudo de novo escolheria outro alvo.

─Tenho certeza que você faria, mas não há como alterar o resultado agora.
Vamos ver os bilhetes de trem?

Ela assentiu.

Quando chegaram à porta, ele perguntou:

─ Minha mãe terá que esconder a prata quando chegarmos em casa? ─ ele
perguntou.

─ Você está me insultando deliberadamente?

─ Apenas uma pergunta honesta em busca de uma resposta honesta.

─ Eu não roubo da família.

─ Bom saber.

─ Você foi quem inicialmente queria esse casamento, lembra?

─ Ontem à noite, você também queria.

Ela desviou o olhar.

─ Isso não é fácil para mim.

─ Compreendo. Saber que você tem roubado desde pequena também não é uma
coisa fácil para mim.

Ele abriu a porta e ela saiu silenciosamente.

Enquanto seguiam para ver os bilhetes de trem, Noah ainda estava


impressionado com suas revelações. Uma família de ladrões? Ele sabia que Pilar
não era a mulher comum, mas descobrir a verdade. . . E a doce Doneta que lhe
deu informações sobre sua irmã - uma falsificadora de arte? Ele se perguntou
qual o papel da mãe delas Desa, e decidiu que ele não queria saber. Certamente

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Miguel não fazia parte de sua quadrilha? Ele olhou para ela andando tão
silenciosamente ao seu lado. Eles passaram de ter um café da manhã
descansado para insultar um ao outro, mas ele se sentiu justificado em fazer a
pergunta sobre a prata.

Se ele levasse uma ladra para a casa de sua mãe e algo sumisse, ela
apontaria uma espingarda para os dois. Mais cedo ele se perguntou quais
desafios sua nova esposa traria para seus dias. Ele teve sua resposta.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 13

─ A balsa para o continente sai amanhã de manhã as quatro em ponto. O trem


as cinco - disse o agente do depósito quando ele entregou as passagens. ─ Você
vai para Birmingham, no Alabama, e depois para o norte no trem para St. Louis.
Sendo que no Sul, você terá que andar separadamente.

Pilar não tinha ideia do que isso significava, mas o gelo que entrou nos
olhos de Noah a deixou preocupada.

─ Desculpe senhor ─ o homem ofereceu. ─ Eu não acredito na prática da


segregação, mas eu não sou o presidente da ferrovia.

─ Entendo ─ Noah respondeu sucintamente ─ vagão fumante ou vagão de


carga?

─ Fumante, senhor, mas com alguma sorte o gerente em St. Louis será um bom
homem e você e a pequena senhora não terão nenhum problema em chegar a
Denver.

Ela olhou Noah colocar os bilhetes dentro de seu casaco.

─ Obrigado por sua ajuda e honestidade ─ ele ofereceu.

─ De nada. Próxima pessoa.

Quando ela e Noah deixaram o depósito, ela notou que seus modos frios
permaneciam.

─ Nós temos que andar de trem separadamente? Homens não podem andar
com mulheres? ─ ela perguntou.

─ Não. Aqui as raças são separadas por lei. Em alguns trens, pessoas como nós
são relegadas ao carro dos fumantes, e em outras é o vagão de carga que
transporta os animais.

─ Podemos ter que atravessar o país com porcos ou cabras?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ou cavalos ou gado ─ ele disse amargamente. ─ O que você gostaria de fazer
pelo resto do dia? ─ Ele parecia tão incrivelmente irritado que sua cicatriz
parecia latejar.

─ Se você preferir voltar para a pensão, tudo bem.

─ Não. Eu preciso fazer algo para me livrar desse humor. Quando peguei o trem
para casa para o casamento da minha mãe, passei pelo Texas e não houve
discriminação, mas estar aqui me lembra por que geralmente evito viajar de
trem sempre que possível. Eu detesto o quão humilhante é.

Havia discriminação em Cuba, e foi uma das coisas contra as quais


homens como o general Maceo se opuseram. Se e quando as ferrovias
chegassem a seu país, ela esperava que tais ideias não fossem instituídas.

─ Pilar, há algo que você gostaria de fazer? ─ ele perguntou novamente cortando
suas reflexões.

─ Me desculpe. Eu estava pensando em casa. Sim, há algo. Eu gostaria de andar


na praia e dizer adeus.

─ A quem?

─ Minha Cuba, o céu, o oceano.

─ Há mar na Califórnia.

─ Mas estas são as águas do meu oceano. Eu nasci nelas. ─Ela olhou para cima
para ver como ele poderia estar aceitando o pedido dela. ─Você acha que eu sou
apenas uma mulher boba do campo, não é?

─ Não ─ e acrescentou: ─ Nunca.

Ela desviou o olhar. Ela já estava com saudades de casa.

─ Só um pouquinho, é tudo o que peço.

─ Podemos ficar pelo resto do dia, se você quiser.

Suas palavras para ela na noite da luta de espadas retornaram. O que


você quiser. . . Eu vou colocar aos seus pés. Ela o comparou com o homem que
tinha sido tão brusco com ela de volta ao quarto e se perguntou se ela conhecia
o verdadeiro Noah Yates.

─ Gostaria disso.

─ Então vamos? Duvido que os espanhóis subam e tentem tirar você de mim em
solo americano em plena luz do dia.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Eles encontraram um trecho de praia a uma curta distância. O vento
estava forte e havia algumas pessoas observando as ondas, mas ela e Noah
continuaram até encontrar um local deserto. Por alguns momentos, eles ficaram
parados e apenas olharam para a água azul. Havia um pequeno barco perto do
horizonte. Pilar encheu os pulmões com o ar penetrante e deixou o vento trazer
consolo à tristeza de sua alma.

─ Vou sentir falta disso ─ ela disse baixinho e olhou para cima para encontrar
seus olhos. Ela não tinha ideia do que ele poderia estar pensando, mas a
intensidade era familiar. Memórias de estar em seus braços ressurgiram e ela
apressadamente voltou sua mente para outra coisa, algo que ela sentiu que
precisava ser esclarecida. ─ Eu sou muito grata pelo que você fez por mim.
Pagar de volta roubando da sua família não é algo que eu faria.

─ Eu vou aceitar sua palavra, então não vamos falar disso novamente.

Ela assentiu e se concentrou novamente nas ondas.

─ Você vai comprar outro barco?

─Sim. A menos que você queira me roubar outro.

Ela estava prestes a se ofender até ver o sussurro do sorriso dele.

─ Quando você foi ao mar pela primeira vez?

Quando ele não respondeu viu que o sorriso havia sido substituído por
uma máscara sem emoção, como se a pergunta tivesse provocado algo
desagradável.

─ Me desculpe. Eu não queria me intrometer. Vou para a água.

Noah a observou indo embora. Ele supunha que ela merecia uma
resposta, mas ele tinha segurado esse evento tão apertado que ele não sabia por
onde começar, quanto revelar ou se deveria revelar algo disso. Se ele não fora
capaz de compartilhar a experiência com seu irmão Drew, alguém que ele
conheceu e amou a vida inteira, como era esperado que ele fizesse com uma
esposa de um dia? No entanto sua escolha de ir à praia foi boa. Ele sentia falta
de estar na água. Era seu bálsamo, sua companheira, sua vida e ele também
precisava dizer adeus.

Ele desceu para se juntar a ela na beira da água e por um momento ficou
em silêncio ao seu lado.

─ Eu fui raptado com a idade de dezoito anos.

Ela não escondeu sua surpresa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Isso é parecido com a escravidão, não é?

─ Sim, e na época perfeitamente legal na América.

─ Como pode ser legal roubar alguém? Soa como escravidão. Este é um país
muito estranho.

─ Eu concordo, mas quando os apoiadores da prática estão no governo, eles


escrevem as leis a seu favor.

Ela se virou e olhou.

Então ele contou a ela um pouco sobre os sequestradores, conhecidos


como crimpos e os mestres de embarque que empregavam os crimpos.

─ Os crimpos são pagos por cada homem raptado entregue aos capitães de
navio. Quanto mais homens são fornecidos, mais dinheiro de sangue eles
ganham como é chamado. Uma vez que você é sequestrado eles fazem você
assinar um contrato chamado os artigos, e por lei você tem que cumprir um ano
a bordo, às vezes dois ou arriscar a prisão.

─ E alguns desses crimpos estavam no governo?

─ Sim. No passado dois homens, Joseph Franklin e George Lewis, foram eleitos
para a legislatura do nosso estado. Ambos eram crimpos bem conhecidos.

─ Onde você foi sequestrado?

─ Em uma taverna de São Francisco onde eu estava comemorando meu


aniversário com alguns amigos.

─ Seus amigos também foram levados?

─ Não, eles conseguiram escapar durante a confusão.

─ Sua mãe e seus irmãos sabiam disso?

Ele balançou sua cabeça.

─ Não.

─ Quanto tempo você ficou longe da sua família?

─ Quase dois anos.

Ela voltou os olhos para a água.

─ Essa é uma história muito triste.

─ Sim ─ ele concordou. ─ O único bem que restou foi aprender a amar o mar.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela ficou quieta por alguns momentos antes de perguntar:

─ Você não fala sobre isso com frequência, não é?

─ Não. Como você sabe?

Ela encolheu os ombros.

─ Apenas um palpite.

─ É um bom palpite.

Havia um grande tronco na água atrás deles e ela foi até lá e sentou-se.
Quando ela dobrou a saia e expôs as pernas os olhos dele se arregalaram,
depois se arregalaram ainda mais ao vê-la tirando as meias escuras.

─ O que você está fazendo?

─ Tirando essas coisas, para que eu possa colocar meus pés.

Ela examinou os arredores.

─ Ninguém está por perto. Eu odeio meias quase tanto quanto saias e vestidos.
Elas são quentes e úmidas e inúteis na verdade.

Ela arrancou as meias ofensivas, enrolou-as e colocou-as ao lado dela. Ela


endireitou a saia, mas a visão de suas pernas nuas afastou todos os
pensamentos de ser sequestrado e sua masculinidade aumentou em apreciação.

─ Você vai se juntar a mim?

Ele balançou a cabeça.

─ Não.

─ Oh, vamos lá. Ninguém vai te ver. Vamos estar no trem com porcos, pelo
amor de Deus, pelo menos você deveria se divertir um pouco primeiro.

Ela era tão sedutora quanto uma fada do mar, mas a diversão que Noah
queria ter com ela não tinha nada a ver com porcos ou molhar os pés.

─ Vá em frente.

─ Eu acho que você precisa de mais diversão em sua vida, Sr. Yates.

─ Eu já ouvi isso.

─ Você deveria levar isso a sério.

Ele não respondeu. Ele estava ocupado demais se aquecendo em seu


sorriso e na alegria que ela parecia encontrar na vida. Sua alegria foi roubada e

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


o pensamento fez as memórias sombrias retornarem. Ele se amaldiçoou por
permitir que elas ressurgissem e desejou poder voltar no tempo alguns dias
atrás, quando ela tinha sido tudo o que ele podia pensar.

─ Você está bem?

Sua preocupação o trouxe de volta.

─ Sim. Estou bem.

Ela não pareceu convencida, então para evitar que ela tentasse se
aprofundar em seus sentimentos ele se sentou e tirou suas botas.

─ Você vai se juntar a mim?

─ Vou. ─ Com a esperança de que sua mente estaria livre novamente. Suas meias
vieram em seguida e ele levou um momento para enrolar as pernas da calça.
Terminado ele se levantou. ─Agora, mostre como me divertir.

Ela deu um soco no braço dele. Forte. E correu pela praia.

De boca aberta com sua audácia ele soltou uma risada e correu atrás dela.
Ela era rápida. Com a saia erguida e a risada aumentando, ela o levou a uma
alegre perseguição. Quando ele diminuiu a distância entre eles, ela olhou para
trás, gritou simulando medo e correu ainda mais rápido. Ela foi para o mar e ele
a seguiu. Dois passos depois, ele a agarrou e a levantou em seus braços e
começou a girar ameaçando jogá-la nas ondas.

─ Não se atreva! ─ ela riu, jogando os braços ao redor de seu pescoço.

─ Então eu exijo uma recompensa. ─ Um momento atrás ele tinha estado sob as
nuvens negras de seu passado e agora ele sentia como se estivesse sendo
banhado pela luz do sol.

─ Americano louco! Coloque-me no chão!

Em vez disso, ele a girou mais algumas vezes e a cada vez fingiu jogá-la.
Suas risadas se fundiram e subiram. Então emocionado com o momento ele
diminuiu a velocidade e parou. Ele queria viver isso com ela pelo resto de sua
vida.

Ela perguntou baixinho:

─ O que você quer dizer com recompensa?

─ Duas coisas.

─ Duas!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele a jogou para o alto no ar e ela ainda estava gritando e rindo quando
ele a pegou novamente.

─ Ok, duas! O que você quer?

─ Um, que você me chame pelo meu nome.

Ela se acalmou.

─ Você tem me chamado de Sr. Yates, embora eu tenha gostado de ser seu
querido esta manhã.

─ E a segunda, Ganancioso Noah da Califórnia?

─ Um beijo.

─ Agora?

─ Sim. ─ Ele a observou revirar os olhos. ─ Pense nisso como prática ─ ele riu
baixinho.

─ Eu acho que você está se aproveitando de mim.

─ E eu acho que você está tentando se livrar da sua dívida.

Ela se inclinou e deu um beijo rápido em sua bochecha.

─ Aí. Dívida paga.

─ Você chama isso de beijo?

─ Sim.

─ Não. ─ Ainda segurando-a ele saiu da água e voltou para a praia.

─ Onde estamos indo?

─ Sentar, podemos discutir isso. E estou me divertindo, a propósito.

Ela deu a ele outro revirar de olhos.

Ele sentou no tronco. Ela fez movimento para deixar seu colo.

─ Você está bem onde você está.

Mas na mente de Pilar, ela não estava bem. Seu posicionamento íntimo a
deixava muito consciente dele, e a proximidade de seus corpos exalava um
calor que começava a atrapalhar sua respiração e sua capacidade de manter a
indiferença que julgava necessária.

─ Então, sobre essa pobre demonstração de beijo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não foi pobre.

Ele assentiu.

─ Tão mal feito que acho que você deveria tentar de novo.

─ Você está realmente extrapolando seus limites.

Ele roçou os lábios fugazmente sobre sua bochecha e seus olhos se


fecharam.

─ Você acha? ─ ele murmurou.

─ Eu sei que sim ─ ela de alguma forma conseguiu responder. Beijos suaves e
fortes queimavam sua mandíbula e a concha de sua orelha.

─ Você não está jogando limpo, americano.

─ É assim que o jogo é jogado, querida. . .

Sua boca se moveu para a dela, convidando, seduzindo, inflamando e


logo mesmo não tendo vontade ela começou a responder. Ela o ouviu suspirar
de prazer e sentiu sua palma quente vagando preguiçosamente pela espinha.
Ele seduziu sua boca para se abrir e sua língua brincou e bajulou. Ela foi
puxada mais perto até que seu peito duro estava nivelado contra seus seios, e a
intensidade do abraço enviou seus sentidos para o alto como uma pipa solta no
vento. Na noite anterior ela fora pega de surpresa pelo poder esmagador da
paixão, e na verdade ela ainda era uma novata, mas ela se deleitava com a
forma como ele a fazia se sentir.

Ele finalmente se afastou e um momento depois ela abriu os olhos. Ele


passou um dedo suavemente sobre o lábio inferior e depois levou a boca sobre
o outro. Quando ele relutantemente se afastou novamente, seu olhar ardente a
segurou presa.

─ Está a minha dívida paga? ─ ela perguntou, esperando que ser impertinente a
ajudasse a se encontrar novamente.

─ Por enquanto. ─ Ele beijou as sardas marrons pálidas de suas bochechas. ─ Eu


gosto de suas sardas.

─ Odiava elas quando crescia.

─ Por quê?

─ Porque ninguém fora da nossa família as tinha. As crianças da escola


apelidaram Doneta e eu de as Gêmeas Leprosas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Elas não são tão proeminentes. Parecem pequenas lascas de casca de canela.

─ Em minha opinião elas eram grandes como cocos.

Ele passou os lábios novamente sobre elas.

─ Eu acho que elas são doces.

Pilar não sabia se deveria agradecê-lo, mas seu coração batia tão rápido
que duvidava que tivesse conseguido formar as palavras de qualquer maneira.

─ Obrigado pela diversão hoje.

─ De nada. ─ Seus olhos se desviaram para sua boca. ─ É isso que acontece entre
todos os maridos e esposas?

─ Nem sempre, mas com o marido certo e a esposa certa pode ser.

─ Seus irmãos têm as esposas certas?

Ele assentiu.

─ Eles estão loucamente apaixonados.

Pilar duvidou que os dois se encaixassem nessa descrição, mas se


perguntou como seria estar loucamente apaixonada. Ela supôs que talvez
devesse ler alguns dos livros que sua irmã gostava tanto em vez de tentar
ajudar a vencer uma guerra.

─ Por que você realmente quis se casar comigo? E nada dessa história sobre eu
saber manejar uma espada.

─ Não gostou dessa explicação?

─ Nem eu acredito nisso.

─ Você deveria porque era parcialmente verdade. Cruzar espadas com você me
fez sentir mais vivo do que qualquer coisa em muito tempo, anos de fato.

Embora seu tom tenha soado sincero, ela não tinha certeza se era a
verdade.

─ Dúvidas? ─ ele perguntou como se tivesse lido a mente dela.

─ Sim, mas apenas porque não te conheço bem o suficiente para saber o que é
verdade e o que não é.

─ Eu fui sincero. Nenhuma mulher jamais me desafiou com uma espada antes e
eu achei. . . revigorante.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você é muito estranho.

Ele riu baixinho.

─ E você diz isso, por quê?

─ Esporte sangrento não é para revigorar.

─ Mas revigorou. Na verdade, eu não posso esperar que você fique com raiva o
suficiente para voltar a querer meu coração na ponta da sua espada.

Ela balançou a cabeça, incapaz de entender o americano muito estranho


com que ela casara.

─ Você está seguro então. Minha mãe me obrigou a deixar a espada do meu avô
para trás quando deixamos Cuba, e não havia espaço na minha bolsa para a do
Tio Miguel.

─ Quando chegarmos em casa, vamos encontrar outra.

Isso a surpreendeu.

─ E eu posso te dar lições.

─ Eu não preciso de aulas. Meu avô me ensinou o suficiente.

─ Não. Sua postura era muito aberta e você deixa suas emoções controlarem
seus ataques.

─ Então você pode me ensinar o suficiente para ganhar de você?

─ Não na sua vida, mas posso te ensinar a ser melhor do que você já é.

─ Então suponho que terei que ficar satisfeita com isso. ─ Pilar não queria gostar
dele, mas ele tinha um jeito que tornava difícil manter a distância, e ela nem
sequer queria pensar sobre o que seus beijos estavam fazendo com as barreiras
que ela estava tentando manter intactas.

─ Então o que você gostaria de fazer agora?

─ Eu não tenho ideia, mas depois eu gostaria de encontrar alguém que possa
cozinhar uma boa refeição cubana para mim antes que eu seja relegada a comer
couro de cinta de porco pelo resto da minha existência.

─ Comida americana não é tão ruim assim.

─ Isso é só porque você não conhece nada melhor. Você já comeu feijões pretos?

─ Claro. Todo mundo que viaja para o seu país come sopa de feijão preto e eu
gosto disso.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ E quanto a feijão preto com arroz e maduros?

─ Não.

─ Ropa vieja?─1

─ Não. O que é?

─ Carne desfiada com arroz.

─Ah!

─ Que tal sancocho? Um tipo de guizado?

Ele balançou sua cabeça.

─ Seu estômago foi tão privado. Espero que um dia você possa comer como um
cubano e nunca mais se contentará com couro de cinta de porco.

Ele beijou sua testa.

─ Como eu disse, revigorante. Agora se mecha. Vamos andar. Minhas pernas


estão dormentes.

─ Eu não pedi para sentar aqui ─ ela lembrou a ele.

─ Eu sei, mas os maridos gostam de ter suas esposas no colo. Os beijos também
são divertidos.

Ela não olhou para os olhos dele. Eles tinham se divertido, mas ele não
precisava saber como ela se sentia.

Ele gentilmente virou o queixo dela para ele.

─ Você não gostou dos beijos?

Ela não respondeu.

─ Recusar-se a responder significa que sim, você sabe.

─ Isso não.

Ele passou o dedo lentamente sobre a linha dos lábios dela deixando
para trás um rastro de calor.

─ Claro que sim. ─ Ele repetiu o traço preguiçoso. Seus olhos se fecharam e ela
se perguntou se era isso o que Doneta queria dizer sobre ele ser deliciosamente
perverso - ou se fora maldosamente delicioso? Pilar não se lembrava. Na
verdade, ela estava tendo dificuldade em recordar qualquer coisa no momento.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele colocou os lábios levemente contra os dela, então sensualmente
aumentou a pressão até que suas defesas lentamente desmoronaram e ela
começou a responder a ele pouco a pouco.

Movendo-se para a concha de sua orelha, ele disse:

─ Você gostou dos meus beijos, querida?

Ouvi-lo sussurrar a palavra tão sedutoramente transformou seu interior


em mel quente e ela estava pronta para dizer-lhe o que ele quisesse ouvir.

─ Você sabe que mentir é pecado.

Pilar não conseguia respirar, não podia ver, não podia fazer nada que
lembrasse a mulher forte e destemida que ela costumava ser. Sentada em seu
colo e sendo atacada com o feitiço de seus deliciosamente perversos beijos a
fazia se sentir tão desossada quanto uma água-viva levada pela praia. E na
realidade ela não se importava.

Ele circulou um dedo ao redor do mamilo e ela deu um suspiro suave e


trêmulo. Durante sua vida adulta ela nunca tinha pensado muito em seus seios
- eles simplesmente tinham sido outra parte de sua anatomia, mas os toques
dele os fizeram florescer e de uma maneira que ela nunca pensou ser possível,
ela se viu querendo tirar a blusa para que suas mãos pudessem acariciar sua
carne.

─ Se eu te levar de volta à boca, você dirá sim. . .

Pilar choramingou.

─ Posso, Pilar?

Mãos corajosas estavam desfazendo os botões da blusa, beijos mais


ousados estavam se movendo sobre a pele nua acima da camisa exposta. Ele
puxou-a para baixo e levou o seio liberto em sua boca para deleitar-se, para
tentá-la e fazê-la gemer em voz alta pela sensação extraordinária.

─ Noah.

─ Diga sim, reina guerrera.

Ele tratou o outro seio com a mesma deslumbrante conquista, depois


trabalhou de um lado para o outro até que ela achou que ia enlouquecer.

─ Sim ─ ela disse. ─ Dios, sim!

Em seus sonhos mais loucos, Noah nunca imaginou querer tanto uma
mulher. Seu desejo por ela o encheu como as notas de abertura de uma bela

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


sonata. Ele queria beijá-la, tocá-la, saboreá-la, sugar sua doçura até que ele
estivesse velho e grisalho.

─ Deus, você é doce ─ ele sussurrou e deixou seus seios para tomar seus lábios
novamente, enquanto suas mãos mantinham seu ardente jogo.

Ele olhou para cima e encontrou um menininho observando-os com os


olhos arregalados. Ao lado do garoto havia um cachorro manchado de marrom
e branco. Noah fez uma pausa. Pilar notou a criança também e rapidamente se
voltou contra o peito dele para se cobrir.

─ Vá embora! ─ Noah rosnou e o menino saiu correndo com o cachorro correndo


em seus calcanhares.

Ele olhou para ela.

─ Minhas desculpas por não prestar atenção.

─ Você estava um pouco ocupado.

Ele riu e pressionou os lábios na testa dela.

─ Eu estava de fato.

Ela usou o momento para arrumar suas roupas.

─ Vou prestar atenção da próxima vez.

─ Não haverá próxima vez.

Ele suspirou.

─ Você sabe que estou destinado a provar que está errada.

─ Eu não sei nada disso.

Ele deslizou um dedo sobre o mamilo agora coberto e ela deu um tapa na
mão dele.

─ Pare com isso!

─ Você é a única que insiste que eu preciso de mais diversão na minha vida e
assim que eu encontro uma você já muda o seu tom.

─ Você é incorrigível.

─ Você não sabe da missa a metade ─ declarou ele significativamente apreciando


o diálogo. ─ Levante-se. Vamos pegar nossas meias e sapatos e voltar para o
quarto. Mais tarde veremos se podemos encontrar comida cubana para sua

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


última refeição. E quem sabe, talvez daremos um último passeio aqui depois
que terminarmos.

─ Só se você prometer não me despir.

─ Minha mãe me ensinou a nunca fazer promessas que não posso cumprir.

─ Louco Americano.

No caminho de volta, eles pararam no escritório do telégrafo para


mandar uma mensagem para sua mãe, para que ela soubesse que ele estava
voltando para a Califórnia com uma noiva.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 14

Depois que voltaram para o quarto, uma timidez incaracterística


acometeu Pilar de novo. Estar no pequeno espaço a fez ainda mais consciente
dele, deixando-a insegura sobre onde focar seus olhos, embora ele fosse tudo o
que ela pudesse ver.

─ Eu provavelmente deveria lavar o sal e a areia antes de sairmos novamente ─


ela disse a ele.

─ Quer que traga água?

─ Se não for muito problema.

Ele saiu e ela soltou um suspiro inconsciente. Assim como na noite


passada, suas carícias hoje na praia deixaram seu corpo brilhando. Seus lábios
estavam inchados pelos beijos, seus mamilos ansiavam por mais e não
importava o quanto ela tentasse ignorar sua resposta, o poder sensual que ele
tinha não deixava. Ele despertou algo dentro dela que agora ansiava por ser
alimentado e ela ficou imaginando como fazer parar. Com certeza as mulheres
bem educadas não deixam seus maridos desnudá-las em público sem se
importar em ser vistas. No entanto ela fez as duas coisas, e aquela parte
reservada e desperta de si mesma antecipou ansiosamente outros encontros.
Chocada com os pensamentos, deixou os anseios de lado e rezou para que a
velha e disciplinada Pilar Banderas retornasse e se reafirmasse. Esta nova Pilar
Yates era uma mulher que ela não conhecia, reconhecia ou aparentemente
controlava.

Ele voltou com uma criada carregando água. Uma vez que os baldes
foram colocados dentro do quarto, a menina partiu.

─ Vou esperar na varanda para lhe dar um pouco de privacidade.

─ Obrigada.

Depois que ela terminou e vestiu roupas limpas, ela se juntou a ele na
varanda.

─ Melhor? ─ ele perguntou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sim.

─ Bom. Dê-me um momento para me limpar que eu tenho uma surpresa para
você.

─ O que é?

─ Se eu disser o que é não será uma grande surpresa, não é?

─ Não, eu suponho que não ─ disse ela olhando para ele com um pouco de
ceticismo.

─ Vai ser algo que você vai gostar, eu prometo.

Enquanto esperava ela se perguntou sobre a surpresa, mas decidiu que


saberia em breve, então reviu o dia. Ela achava que ele tinha assimilado as
informações que ela deu sobre o passado de sua família melhor do que o
esperado. Afinal de contas, não era todo dia que uma pessoa de uma família tão
importante como a dele se encontrava casada com alguém como ela. Mas como
ela dissera, nunca roubaria uma ervilha de sua família e esperava que ele
acreditasse nela. Ela ainda estava deslumbrada com seus beijos, mas não
importava a atração, teria que haver mais para o casamento deles. O que seria
dela quando chegassem à Califórnia? Não haveria necessidade de rebeldes e
certamente nenhum motivo para contrabandear armas. Que papel ela esperava
desempenhar em sua vida e, mais importante, em si mesma? Ela duvidava que
se contentasse em passar seus dias comprando coisas e comandando os criados
como sua tia Simona. Então o que ela faria? Era um assunto que ela precisava
discutir com ele e tinha esperança que ele tivesse uma resposta que ela pudesse
aceitar.

Ela ouviu o movimento dentro do quarto e foi investigar. A visão de um


homem e uma mulher estranhos arrumando uma mesa com pratos de um
carrinho cheio a deteve. Quando ela olhou para Noah, ele sorriu.

─ Sua surpresa.

Depois que a mulher saiu ele fez um gesto.

─ Vamos jantar?

Após ajudá-la com a cadeira ele sentou-se à sua frente.

Quando ele começou a destampar a comida ela ficou realmente surpresa.


Comida cubana!

─ De onde isso vem? ─ ela perguntou ansiosamente, olhando para as visões


familiares e saboreando os aromas inebriantes.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Quando desci para buscar a água, perguntei à sra. Fitzhugh se ela conhecia
alguém que fizesse boa comida cubana e ela respondeu que sim. Ela tem um
bom amigo que é dono de uma pensão próxima e a cozinheira de lá é do seu
país.

─ Eu a amo!

O aperitivo ainda estava quente, e ela mastigou as bananas verdes fritas


com alegria. O prato principal, pollo asado, uma versão cubana de frango assado,
destacado por um molho de tomate doce conhecido como salsa crillo, era tão
bom e saboroso como o da sua avó; que trouxe lágrimas aos seus olhos. Junto
com o frango havia Moros y Cristianos, um prato de feijão preto e arroz.

── Mouros e cristãos? ─ perguntou ele, fazendo a tradução.

Ela assentiu.

─ Os feijões pretos são os mouros, o arroz branco são os cristãos. Em Cuba,


porém, são os africanos e os espanhóis.

A sobremesa foi flan Cubano, um rico creme de caramelo feito com leite
e ovos. Assim que terminou de se servir, Pilar estava tão cheia que não
conseguiu comer mais nada.

─ Obrigada, Noah. Estava excelente.

─ Foi um prazer.

─ Eu gostaria que pudéssemos levar o cozinheiro conosco em nossa viagem


para sua casa ─ disse ela. ─Embora possa ser um desafio preparar flan cubano
enquanto se viaja com cabras e porcos.

─ Verdade. Fico feliz que tenha gostado da sua surpresa.

─ Eu gostei. Você tem minha permissão para me surpreender a qualquer


momento.

─ Vou manter isso em mente para o futuro.

Algo passou entre eles e ela se perguntou por que esse homem a afetava
tanto.

─ Sua mãe é uma boa cozinheira? ─ ele perguntou.

─ Não realmente, ela cresceu com criados quando era jovem, então quando se
casou com meu pai ela nem sabia como ferver o feijão. Mas minha avó poderia
cozinhar uma caixa de madeira e nós todos comeríamos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ E você?

─ Eu fazia a maior parte da comida em casa quando estava lá. Sua mãe é
espanhola, você não cresceu com comida assim?

─ Não. Há flans para ocasiões especiais, mas comemos principalmente comida


americana - bifes, batatas, um pouco de arroz.

─ Cinto de couro de porco?

Ele riu.

─ Sim, muito, e muito bacon.

Ela fez uma careta.

─ Você acha que sua mãe se importaria se eu cozinhasse de vez em quando?

─ Ela tem uma cozinheira. Uma irlandesa chamada Bonnie, mas duvido que ela
se importe, especialmente se é isto que você vai pôr na mesa. Assim que
tivermos nosso próprio lugar, você pode cozinhar quantas vezes quiser.

─ Bom. Como é sua mãe?

─ Destemida, teimosa, e quando saí de casa da última vez, muito apaixonada. ─


Ele passou a explicar sobre o status de recém-casada de sua mãe e a história que
o acompanhava.

─ Você já esteve apaixonado? ─ ela perguntou.

─Não.

─ Nem eu, mas minha mãe realmente amava meu pai. Doneta também quer esse
tipo de amor.

─ E você?

Ela encolheu os ombros.

─Eu não sei. Estar com alguém que não se importa com o fato de eu ter
contrabandeado armas e começado a roubar quase tão cedo quanto pude andar,
é o suficiente para mim. Não precisa ter amor.

Ele encontrou seus olhos.

─ Eu não espero que você me ame, Noah.

─ Suponha que acabemos amando um ao outro?

Ela zombou:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não seja bobo.

─ Por que isso é bobo?

─ Porque sim. Posso te perguntar algo sério? ─ Ela queria mudar de assunto.

Ele deixou passar. Ele tomou um gole de vinho e disse:

─ Claro.

─ O que farei como sua esposa? As esposas dos seus irmãos trabalham em
alguma coisa?

─ A esposa de Logan, Mariah, é uma costureira, não tenho certeza do que a


esposa de Drew, Billie, faz. O que você gostaria de fazer?

Ela encolheu os ombros.

─ Eu não sei, mas gostaria de fazer alguma coisa. Você tem pessoas que cuidam
de seus animais?

No seu lado da mesa Noah quase riu, mas percebeu que ela estava
falando sério.

─ Sim, o rancho emprega homens para fazer isso. ─ Ele não podia acreditar que
ela estava pedindo para ser um peão do rancho. ─ Minha mãe faz algum
trabalho de caridade através de sua igreja. Talvez você queira ajudar com isso.

─ Talvez. Eu sou boa com um facão. Você tem árvores para podar?

─ Pilar, você não vai ser um peão do campo.

─ Por que não?

─ Porque você é minha esposa.

─ Então, supostamente eu deveria ganhar meu lugar.

─ Não.

─ Por que não?

─ Não é necessário.

─ O dinheiro cresce em árvores na Califórnia?

─ Claro que não.

─ Então eu preciso contribuir.

Ele sentiu que não ia ganhar, então disse:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Que tal discutirmos isso novamente quando chegarmos em casa?

─ Tudo bem, mas eu não vou me sentar como uma flor de estufa, enquanto
outros trabalham por mim.

─ Entendido.

─ Bom.

Ela era a mulher mais motivada e inacreditável que ele já conhecera.

─ Você gostaria de mais vinho?

─ Sim, por favor.

Ele colocou mais em seu copo. Ela também podia aguentar as bebidas
alcoolicas, ele notou. Eles consumiram a maior parte da garrafa que ele trouxera
com a refeição, mas suas raízes também eram espanholas e ela provavelmente
bebeu vinho como se fosse água sua vida toda, assim como ele. Ele ergueu o
copo para ela.

─ Ao futuro.

Ela ergueu o dela em resposta.

─ Ao futuro.

O crepúsculo caía e o vento podia ser ouvido nas árvores.

─ Você gostaria de levar seu vinho para fora? Nós poderíamos sentar um pouco
na varanda antes de dormir.

─ Eu adoraria.

Eles se levantaram, mas em vez de se moverem para a porta ele ficou


diante dela e ela se viu capturada mais uma vez por sua presença dominante.
Toda a noite ela conseguira deixar de lado a atração que sentia por ele, mas
agora que eles estavam saindo da sala, seu olhar de desejo contribuiu para
ressuscitar rapidamente a mulher que ela não podia controlar.

─ O que está errado?

Ela pensou se devia dizer a ele a verdade. Ela não queria ser
ridicularizada ou considerada fraca ou evocar qualquer outra reação dele que
pudesse fazê-la sentir-se tola ou ingênua, revelando seus sentimentos internos,
mas ela queria desesperadamente voltar a ser quem ela tinha sido antes dele
entrar na vida dela.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Desde que eu era uma garotinha, meu pai e meu avô incutiram em mim a
importância da disciplina, e essas lições me serviram bem ao longo da minha
vida. Isso me ajudou a ser uma ladra eficiente e me deu a força que eu precisava
para estar com o Exército Mambi. E agora?

Ele deu a ela uma sombra de um sorriso.

─ Isso não é engraçado.

─ Eu não estou rindo de você, querida, apenas vendo você lutar contra algo que
não há antídoto conhecido.

Certo de que ele não tinha ideia do que ela estava referenciando, ela
desafiou: ─ E o que é isso?

─ Desejo. Paixão. Necessidade. Querer. O que você quiser chamar.

─ Como você pode saber o que estou sentindo?

─ Você não era a mulher no meu colo na praia?

Não querendo responder, ela disse:

─ Eu não deveria estar querendo que você. . . ─ Suas palavras se desvaneceram.

─ Querendo que eu o quê? ─ ele persuadiu gentilmente.

Ela hesitou por um momento e depois criou coragem.

─ Beije-me ou toque-me.

─ Por que não?

Sua mente lutou por uma resposta.

─ Porque pode não ser adequado.

─ Ninguém pode julgar o que é adequado entre uma esposa e seu marido,
exceto o homem e a mulher envolvidos.

─ Então como alguém faz cessar ou ir embora, por todos os santos?

─ Você não pode. Quero dizer, existem maneiras de obter alívio temporário,
mas uma vez que se estabeleça não há como fazê-lo cessar permanentemente.

Ele usou a ponta do dedo para desenhar uma linha suave em sua
bochecha.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Como seu marido, acho seu desejo muito emocionante, Pilar, não há nada de
errado com isso. Nenhum homem quer uma esposa que responda como uma
rocha.

─ Eu não gosto de me sentir sem rumo.

─ Se é algum consolo você me deixa sem rumo também.

Mais uma vez ela não tinha como medir a veracidade de suas palavras.

─ Você quer que eu lhe ofereça uma medida de alívio?

Pilar percebeu que concordar mudaria a vida dela, mas a alternativa era
andar por aí com esse calor absoluto dentro de si e ser governado por ele.

─ Sim ─ ela respondeu com firmeza.

─ Minha destemida rainha guerreira. ─ Ele colocou os lábios contra a testa dela.
─ Tudo bem, vou te aliviar, mas pode piorar as coisas, é bom você saber.

Seus olhos se estreitaram.

Seu sorriso era indulgente quando ele colocou seus braços ao redor de
sua cintura.

─ Você está me provocando ─ afirmou ela.

─ Não, Pilar. Não estou. ─ Ele a beijou gentilmente, deixando que ela se
acostumasse a ele mais uma vez, depois a aproximou quando a intensidade
aumentou para enlaçá-los.

─ Eu quero ter a nossa noite de núpcias ─ afirmou ela, sussurrando enquanto


lutava para se segurar.

─ Você quer? ─ ele beijou sua orelha e arrastou seus beijos até a borda de sua
garganta.

─ Sim. ─ Ela queria saber.

─ Você tem certeza? ─ Ele mordiscou o lábio inferior, em seguida brincou com a
ponta da sua língua.

Ela tremeu em resposta.

─ Sim.

E logo porque ele era tão hábil e magistral, Pilar estava sem leme ou
qualquer outra coisa para guiar seu curso. Seus beijos se tornaram suas estrelas,
suas mãos quentes explorando suas velas. Seus suspiros eram suaves como o

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


luar e seus sentidos aumentados se agitaram como mares na tempestade.
Enquanto a corrente de desejo ameaçava varrê-la, ele a ancorou, guiou-a e
esplendidamente mostrou a ela o quão poderoso um filho da deusa haitiana
Yemaya - a mãe de todas as águas - poderia ser.

Seu vestido estava desabotoado até a cintura, seu espartilho desabotoado


também, e seus lábios em seus seios queimavam sua carne como relâmpagos
sensuais. Quando ele a mordeu gentilmente ela respirou fundo. Um anseio
surgiu entre suas coxas, e seus quadris moveram-se inconscientemente numa
antiga batida rítmica.

─ Vamos tirar você desse vestido.

Através da neblina que nublava seu cérebro, ela descuidou e ficou


pulsando na luz fraca só com as roupas de baixo, enquanto ele a colocava sobre
uma cadeira. Seu retorno trouxe mais beijos e viagens lentas de suas mãos até
que ela pensou que poderia derreter de calor. Seu toque dentro de suas calças a
fez sobressaltar-se e depois cantarolar, enquanto seus dedos peritos tocavam na
escuridão úmida ali escondida. As sensações a enviaram em espiral tão alto que
a mão dela foi para a boca para manter o grito de prazer contido. Ela estava
certa de que iria ao inferno por se entregar a um prazer tão decadente, mas
queria descaradamente mais.

Observar o corpo dela responder ao seu jogo enquanto ela fluía sob seus
dedos, quase fez Noah chegar ao orgasmo. Porra, ele estava duro e ele desejou
que ela não fosse virgem, então ele poderia amá-la tão ferozmente quanto ele
ansiava. A tensão o tinha esticado como um arco, mas ele se segurou. Ele
poderia dizer pela cadência aumentada de sua respiração e os movimentos
sensuais de seus quadris que ela estava quase pronta para o ápice, e o macho
nele queria vê-la explodir de prazer. Segundos depois, o orgasmo a
despedaçou, fazendo-a estremecer e gritar rouca enquanto ele festejava com
olhos brilhantes e continuava a brincar. Ela estava escorregadia e molhada; seu
corpo se dobrou e ele se inclinou e lambeu um mamilo duro como seixo antes
de fechar a boca em torno dele e puxá-lo entre os dentes, com luxúria
gentilmente.

─ Oh, pare! ─ ela implorou e rapidamente recuou.

O macho gostava da bela aflição de sua companheira, mas ele estava tão
inchado que achava difícil respirar. Se ela não aguentasse mais ele concordaria
com sua decisão, mas ele rezou para que ela concordasse com o ato porque ele
não tinha conseguido o suficiente de sua exuberância, e realmente precisava do
doce alívio que só ela poderia fornecer.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você queria a noite de núpcias, querida. Devemos continuar?

Ele sentiu que ela estava tendo segundos pensamentos, mas sabia que o
desejo ardente dentro dele estava dificultando sua mente normalmente afiada a
se concentrar. Para seu deleite ela finalmente sussurrou:

─ Sim. ─ Ele estendeu a mão e levou-a para a cama.

Uma vez lá, ele preparou com todo o cuidado necessário para um momento tão
precioso, tomando tempo para trazê-la para as alturas novamente, saboreando
seus suspiros de paixão e os gemidos de prazer que escapavam de seus lábios
entreabertos. Ela estava se torcendo, molhada e aberta quando chegou a hora de
juntar os seus corpos, então ele empurrou gentilmente.

─ A primeira vez pode ser dolorosa querida, me perdoe.

Ela estava tão apertada e quente, ele queria invadir seu corpo.

─ Oh, espere, por favor, Noah.

Ele se forçou a obedecer. Segurando-se acima dela, fechou os olhos e


respirou fundo enquanto pulsava dentro de sua vagina.

Ele podia sentir o quão tensa ela se tornara. O desejo foi substituído pela
apreensão e sem dúvida uma pontada de medo. Ele a beijou
tranquilizadoramente. A última coisa que ele queria era que ela se arrependesse
desta noite e detestasse fazer amor pelo resto da vida de casados.

─ Eu vou devagar. Eu prometo. ─ Ele sentiu seu aceno de cabeça, e então ajustou
as ações às palavras avançando tão gentilmente quanto pôde, então retirou e
lentamente repetiu o movimento de novo e de novo até que ela começou a
devolver o ritmo. Alguns momentos depois, eles estavam se movendo como um
só. Seu domínio firme em sua disciplina quebrou e ele aumentou o ritmo,
esperando que ele não estivesse sendo muito áspero, mas incapaz de parar se
uma arma fosse colocada em sua cabeça. Ela gritou quando o orgasmo a
agarrou, e ele rugiu quando seu próprio rasgou-o e atirou-o para as estrelas.

Mais tarde ele voltou à vida segurando-a em seus braços. Ele quase
podia ver o rosto dela na escuridão.

─ Eu machuquei você?

─ No começo, mas depois eu gostei.

Ele riu baixinho.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ É bom saber. Eu gostei tanto, tanto, que se você fosse mais experiente eu
começaria de novo.

─ Novamente?

─ Até o nascer do sol.

Ele sentiu o choque dela e traçou um dedo sobre os lábios entreabertos.

─ Você é uma mulher muito apaixonada, querida. Estou ansioso por muitas
outras noites como esta, mas de manhã você provavelmente ficará dolorida
então vamos dormir um pouco. Nós temos uma balsa para o continente para
pegar de madrugada.

─ Suponho que não conseguiremos fazer isso entre os porcos e galinhas.

─ Não, nós não faremos.

─ Uma pena.

Ele riu e a aproximou mais.

Mais tarde enquanto dormiam seu pesadelo retornou. No sonho, era


mais uma vez sua primeira noite na ilha e o inglês Barton Felix e seus capangas
vieram atrás dele. Ao perceber o que Felix estava procurando, Noah e Kingston
lutaram como demônios, mas foram superados em número e facilmente
dominados. Uma multidão se reuniu e aplaudiu quando os dois homens foram
forçados a se deitarem, esticados e as calças arrancadas. Como sempre, seus
próprios gritos o arrancaram do sonho e ele foi empurrado de volta ao presente,
coberto de suor e tremores alimentados pelo medo. Só que desta vez Pilar
estava ao lado dele.

─ Noah, você está tremendo. Você estava tendo um mal ...

Ele empurrou a mão dela e saiu da cama.

─ Volte a dormir.

Seu silêncio atordoado era como um corte em seu coração, mas ele saiu
para a varanda e sorveu o ar da noite até recuperar um pouco de calma. Deus
ele odiava as memórias. Desde aquela noite horrível, elas haviam atormentado
cada passo de sua vida e pareciam decididas a acompanhá-lo até o túmulo.
Quão ingênuo ele foi ao pensar que um mero deslize de mulher poderia livrá-lo
da degradação e sim, da vergonha. Enquanto estava com ela, ele poderia de
algum modo manter seus demônios afastados apenas para tê-los retornando

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


como sempre faziam quando ele estava mais vulnerável. Ao não oferecer uma
explicação a Pilar por seu comportamento rude, ele só podia imaginar o que
poderia estar passando por sua mente. Passaram um tempo perfeito juntos,
fizeram amor, e agora? Como alguém explicava uma experiência tão vil,
especialmente para a esposa inocente? Ele fechou os olhos para se livrar das
visões persistentes em sua cabeça.

─ Noah?

Ele não se mexeu.

─ Minhas desculpas por ser tão insensível, mas, por favor, volte para a cama. Eu
te vejo de manhã.

Por um momento houve silêncio antes que ela respondesse calmamente:

─ Como quiser.

Ele ouviu os sons de sua retirada sussurrada e bateu com o punho na


grade de ferro. Ele uivaria como uma besta se achasse que ajudaria. Em vez
disso, ele olhou para a noite e esperou o nascer do sol.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 15

Na manhã seguinte Pilar acordou com o trovão, a chuva e o vento


gritando como algo vivo. No final de agosto muitas vezes ocorriam furacões,
então ela esperava que não houvesse um deles caindo sobre eles. Sentando-se,
ela olhou ao redor da sala e se encontrou sozinha. Ela se perguntou onde Noah
poderia estar. Seu comportamento ontem à noite ainda doía. Eles tinham feito
amor, e ele de repente chutou-a para longe como se ela fosse uma vira-lata da
rua. Isso machucou. O que doeu mais foi a falta de explicação. Uma parte dela
esperava que ele tivesse ido para a Califórnia sozinho, assim lhe
proporcionando a oportunidade de retomar sua própria vida, mas naquele
momento ele entrou no quarto carregando uma bandeja com pratos cobertos.
Ele hesitou por um momento ao vê-la. Ela o ignorou. Deixando a cama viu o
pequeno espetáculo de sangue nos lençóis desalinhados. Ignorando isso
também, ela foi para trás do biombo para lidar com suas necessidades matinais.

Quando ela saiu vasculhou sua bolsa procurando uma saia e uma blusa e
não se importando se ele olhava, se vestiu.

─ Eu trouxe seu café da manhã.

─ Obrigada. ─ E empurrou os pés em seus chinelos gastos. Ela estava grata pela
refeição, mas não tinha mais nada a dizer.

Eles comeram em silêncio. Uma máscara sobre suas feições escondia o


homem cuja companhia ela começara a gostar. Foi-se a provocação, a diversão e
a paixão. Isso doeu também. Decidindo que ela não iria chafurdar ou especular
mais sobre as razões de sua mudança abrupta, ela terminou sua refeição e
esperou que ele dissesse o que eles fariam em seguida.

─ Vou levar a bandeja de volta para a Sra. Fitzhugh e podemos partir quando eu
voltar.

Ela assentiu.

Noah sabia que ele a machucara, mas nenhuma quantidade de desculpas


iria suavizar a frieza de seus olhos, pelo menos não uma que não estivesse
ligada a uma explicação. Como não tinha nada a oferecer, pegou a bandeja e
saiu.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Estava chovendo lá fora. No momento em que eles correram da porta
para a carruagem, ambos estavam encharcados. Ele pelo menos tinha um
casaco; ela tinha um xale fino. Ele tirou o casaco e entregou a ela.

─ Aqui, coloque isso ao seu redor antes de pegar um resfriado.

─ Estou bem. Eu já estive molhada antes.

─ Pilar ...

De lábios apertados, ela pegou o casaco da mão dele e o colocou sobre os


ombros. Se ela tivesse seu florete, eles provavelmente estariam circulando um
ao outro na dança de Destreza. Ele quase desejou que tivessem; ela teria pelo
menos que olhar para ele. Seus olhos se demoraram em seu perfil desviado.
Que beleza ela era. De seu cabelo não convencional cortado curto até seu queixo
orgulhoso, qualquer homem teria a honra de tê-la em sua vida, mas ele estava
com medo de como ela iria encará-lo se ele lhe dissesse a verdade e por isso
hesitava. Era um dilema que ele não tinha ideia de como abordar, e embora
fosse potencialmente condená-los a passar suas vidas tendo momentos como
estranhos olhando um para o outro em lados opostos, ela estava em seu sangue
e ele se recusava a desistir dela.

Depois da travessia na balsa, o trem estava lá esperando quando


chegaram à estação. Noah pagou a passagem e ele e Pilar correram para a
plataforma coberta para escapar do dilúvio. Havia uma pequena multidão de
pessoas de diferentes raças na fila. O agente com quem falaram no dia anterior
levantou a voz.

─ Todos os de cor para o carro de fumantes.

Noah viu sua própria frustração espelhada nos rostos daqueles aos quais
o anúncio se aplicava. Ele disse a si mesmo que pelo menos eles não estavam
sendo rebaixados para o vagão de gado, mas era um pequeno consolo
considerando que todos estavam pagando a mesma tarifa.

Dentro do carro de fumantes, os homens pegavam as cadeiras para


sentar e dar início a vários jogos de cartas, enquanto outros se aproximavam do
bar para comprar bebidas alcoólicas. Um homem ao piano começou uma
melodia animada e dois violinistas entraram fazendo um som desafinado. Do
lado de fora, a chuva batia nas janelas como lençóis e o vento uivava estridente.
Ele esperava que eles não fossem atrasados pelo tempo. Trilhos de trem eram
notórios por serem lavados por aguaceiros como o que eles estavam tendo.
Tudo o que ele queria era chegar em casa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar também queria ir para casa, mas não para a Califórnia. As dores em
seu coração pela saudade de Cuba, sua mãe e sua irmã, aumentavam a cada
momento que passava. Ela nunca implorou por nada em sua vida, apenas
queria muito estar em outro lugar, mas sabia que o desejo não seria concedido.

Muito dos viajantes segregados eram famílias com crianças pequenas, e


sentavam-se no chão contra a parede oposta.

─ Você gostaria de um assento em uma das mesas? ─ ele perguntou.

Não querendo estar perto dos jogadores que fumavam charutos ou das
senhoras da noite que ofereciam sorrisos falsos, ela disse:

─ Não. Eu vou sentar com as famílias. ─ E ela saiu e encontrou um espaço no


chão um pouco longe da comoção. Para sua surpresa, ele arrastou algumas
cadeiras até onde ela estava sentada. ─Você pode preferir isso ao chão.

Ela viu algumas das mulheres de olho em seu diálogo, então em vez de
chamar mais atenção sentou-se em uma e ele pegou a outra.

─ Você pode ir se juntar às mesas se quiser, eu vou ficar bem ─ ela disse.

─ Obrigado, mas não quero que nenhum dos homens tenha a impressão
equivocada de que você está viajando sozinha.

Não havia ocorrido a ela que poderia estar em perigo, mas na realidade
sabia que ele estava certo. Ela acreditava que não seria abordada pelos homens
sentados com suas famílias, mas os tipos extravagantes com seus ternos
chamativos e cabelo com pomadas eram outra história.

─ Então eu agradeço pela companhia.

─ É um prazer.

O silêncio aumentou entre eles, apesar da música e do barulho que


enchia o ar.

─ Pilar?

Com um olhar frio, ela o encarou.

─ Sobre a noite passada. Eu fui rude e grosseiro. Eu sinto muito.

Para disfarçar, ela manteve suas feições ilegíveis.

─ Eu tenho pesadelos às vezes e. . . ─ Sua voz sumiu. Ele começou de novo. ─


Eles não vêm frequentemente, mas este me pegou de surpresa. Eu te tratei mal.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela procurou seu rosto cheio de cicatrizes e queria perguntar sobre a
natureza dos sonhos, mas resistiu. Seu desconforto com a explicação era claro.
Talvez com o tempo, ele oferecesse mais.

─ Se ocorrer novamente farei o meu melhor para reagir de forma diferente.

─ Obrigada. Se eu puder ajudar ...

Ele balançou sua cabeça.

─ Eu vou ficar bem. Eu só queria te assegurar que não foi nada que você fez ou
disse.

Estava claro que ele também estava sofrendo. De dentro dela surgiu uma
necessidade de consolá-lo tão grande que ela foi pega de surpresa pela
intensidade. Ela estava desejando cuidar dele muito mais do que queria e se
perguntou se isso era sensato.

─ Eu gostei de ontem ─ disse ele interrompendo suas reflexões.

Ela pensou em seu tempo juntos no mar e de quando fizeram amor e


admitiu com sinceridade:

─ Eu também.

─ Vamos começar de novo? Que eu preciso de mais diversão na minha vida é


certamente aparente.

Ela hesitou. Gato escaldado tem medo de água fria. Ela poderia confiar
nele? Ela não sabia, mas uma parte dela queria então ela concordou.

─ Gostaria disso.

Ele pegou as mãos dela gentilmente e deu um beijo leve nas pontas dos
dedos.

─ Obrigado pela sua gentileza.

─ Obrigada pelo pedido de desculpas. ─ Ele parecia tão sincero e arrependido,


seria incrivelmente mesquinho da parte dela negar o seu pedido de uma trégua,
mas ela planejava ser menos aberta no futuro e manter-se em guarda.

─ Você gostaria de uma xícara de chá ou algo para aquecer para que você não
pegue um resfriado da chuva?

─ Isso seria bom.

─ Eu volto já.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ainda lutando com sua incerteza, Pilar o observou partir.

Noah atravessou a sala lotada e saboreou sua sorte. Sua relutância tinha
sido clara e francamente, esperada. Ele a emboscou, usou a boa vontade que ela
tentou trazer para o casamento não convencional e a apunhalou com sua
tentativa de explicar. Não, ele não tinha dito a ela toda a extensão dos demônios
que o perseguiam, principalmente porque ele não tinha vontade de mergulhá-la
no inferno com ele, mas na verdade ela já estava lá. Na verdade ele não tinha
ideia do que fazer em seguida, a não ser aproveitar cada dia e momento e
esperar que o futuro oferecesse uma solução que libertasse os dois.

À medida que a noite caía, as mães reuniam seus filhos e as famílias


desenrolavam colchonetes finos de suas mochilas e deitavam-se. Lâmpadas
foram acesas para aqueles que ainda estavam nas mesas de jogos e as bebidas e
a música continuavam a fluir.

Pilar e Noah deixaram as cadeiras e sentaram-se lado a lado no chão. Ele


passou um braço pela cintura dela e a abraçou. Uma vez que nenhum deles
desfrutou de uma noite inteira de sono na noite passada, ambos estavam com
sono. Ela colocou a cabeça no peito dele. Ele beijou sua testa.

─ Tente dormir um pouco.

Assentindo, ela fechou os olhos.

Noah ainda estava acordado ao nascer do sol.

Devido ao mau tempo, a viagem para Birmingham, Alabama, demorou


mais do que o esperado. Em determinado momento o condutor entrou no
vagão para informar a todos que de fato, eles estavam sentindo os efeitos de um
furacão chegando ao Golfo e se desculparam pela lentidão. Pilar rezou para que
as pessoas que conhecia em casa estivessem seguras e mais uma vez, sua mente
voltou-se para seu amigo Tomas e sua morte prematura.

Em Cuba, Pilar tinha viajado em carroças levando gado para o mercado,


mas nunca em sua vida teve que dormir com eles ou passar cada momento
acordada, engasgando com o fedor de seus corpos e esterco. Assim foi a viagem
de Birmingham para St. Louis, onde cada pessoa de cor foi forçada a suportar as
condições horríveis do vagão de carga. Se ela estivesse sendo mesquinha, ela
teria colocado o terrível conjunto de circunstâncias aos pés do marido, mas não
foi culpa dele. Ele estava igualmente furioso e eles passaram a jornada de dois
dias em raiva sociável.

Quando eles saíram do trem, a primeira coisa que ela queria era um
banho. ─ Existe algum lugar que eu possa me lavar?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sim. Há casas de banho não muito longe.

─ Elas são segregadas também? ─ ela perguntou quando eles saíram da estação.

─ Sim, mas há bastante para escolher. Depois novos sapatos e uma mudança de
roupa estão em ordem. Nós dois estamos fedendo.

Ela concordou tristemente. Seus chinelos estavam incrustados e


manchados com os excrementos dos animais e sua saia estava fedorenta e suja.
Ela queria tirar tudo e jogar os dois sapatos e roupas na lata de lixo mais
próxima, mas andar nua pelas ruas provavelmente chocaria os cidadãos.

─ Com sorte, seremos tratados igualmente na viagem para Denver.

Ela também esperava.

Depois da casa de banhos e da troca de roupas de suas valises, eles foram


até as lojas recomendadas pelo dono da casa de banhos.

Enquanto caminhavam, Pilar perguntou:

─ A que distancia estamos da Flórida?

─ Mais de mil milhas, eu suponho.

─ Eu não tinha ideia de que a América era tão grande.

─Temos muitas milhas antes de chegarmos a São Francisco.

Para uma mulher criada no campo, a ideia de que ela estaria a milhares
de quilômetros de casa era muito assustadora. As ruas estavam congestionadas
com carruagens e carroças. Havia multidões de pessoas nas calçadas e ela
achava difícil não ficar olhando maravilhada para os jovens garotos que
vendiam jornais, os homens de chapéu e trajes elegantes acompanhados por
mulheres em trajes caros e carregando pequenas sombrinhas.

─ Não é como o que você está acostumada? ─ ele perguntou.

─ Não. Eu nunca vi tantos edifícios. ─ Eles eram feitos de tijolos e madeira.


Muitos pareciam ter sido jogados no local, ao contrário da antiga arquitetura
espanhola de Cuba. Sentindo a saudades de casa começando a chegar, ela
afastou sua mente para longe e manteve o ritmo ao seu lado.

Quando entraram na confecção, um homem baixo de pele escura os


cumprimentou e se apresentou como proprietário, Claude Dell.

─ Bem-vindos. Nunca vi vocês por aqui antes.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Estamos a caminho de Denver. Foi-me dito que você oferece uma variedade
de roupas prontas.

─ Sim. Dê uma olhada e quando você tiver escolhido basta avisar.

O lugar não era muito grande ou ocupado, mas estava limpo e os itens à
venda estavam empilhados em mesas e exibidos em armários de vestido.
Enquanto Pilar ia até a área das mulheres, Noah escolheu um terno, algumas
camisas, meias e alguns outros itens. Satisfeito com suas seleções, ele foi até o
balcão. Alguns instantes depois, Pilar se juntou a ele com suas escolhas: um
vestido marrom feio e disforme decorado com laços e babados, uma camisa,
duas saias e um par de botas masculinas. Em resposta à confusão que deve ter
aparecido em seu rosto, ela explicou:

─ Essas botas vão me deixar bem e manter meus pés secos.

─ Mas você não quer algo um pouco mais. . . refinado?

─ Eu não vou sujeitar mais sapatos refinados ao esterco animal.

Ele supunha que fazia sentido, mas. . . ele decidiu não discutir, mas o
vestido justificou a discussão.

─ Você tem certeza sobre este vestido?

O Sr. Dell interrompeu-se em desculpas.

─ Desculpe, não temos nada mais elegante para a pequena dama.

─ Está tudo bem ─ ela disse. ─Estar na moda não é uma preocupação.

Olhando para o vestido horrível, Noah prontamente concordou, mas


manteve isso para si mesmo. Ele tinha duas cunhadas muito entendidas de
moda. Era sua esperança que uma vez que chegassem ao rancho, Mariah e Billie
tomassem Pilar embaixo de suas asas. Ela era linda demais para andar por aí
em algo tão medonho.

Noah pagou pelas compras e eles saíram para procurar a pensão que o
dono da casa de banhos sugeriu. Demorou um tempo para encontrar um coche
que transportasse pessoas de cor, mas uma vez que o fizeram, eles se instalaram
para o passeio. O trem para Denver só sairia de manhã então eles precisariam
de um lugar para dormir à noite. Eles não tinham dormido em uma cama desde
que saíram da Sra. Fitzhugh. Embora Pilar não choramingasse ou se queixasse
das acomodações pobres no trem, ele sabia que ela adoraria colocar a cabeça em
algum lugar além de um chão sujo. O pensamento de compartilhar uma cama
com ela mandou sua mente de volta para o ato sexual e as consequências

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


desastrosas. Embora seu desejo por ela ainda fosse intenso, a última coisa que
ele queria era submetê-la a outra rodada de seus pesadelos, então ele a deixaria
ter a cama e se contentaria com uma cadeira ou qualquer outra coisa que o
quarto tivesse a oferecer, onde ela poderia descansar em paz. Não era sua
primeira escolha, mas sem dúvida, a mais sábia.

Era tão maravilhoso estar limpa de novo, que Pilar queria cantar. O fedor
do vagão de carga em sua pele tinha sido substituído pela sutil fragrância doce
do sabão que ela usava e ela se sentiu humana novamente. Enquanto o
condutor, um cavalheiro um pouco mais velho e gentil que se apresentou como
Oscar, levou-os ao seu destino, ela olhou para Noah e encontrou-o olhando
para ela. Ele se inclinou, roçou os lábios contra a testa dela e disse suavemente:

─ Você cheira bem, querida.

Este foi o primeiro contato íntimo deles em dias. Tendo estado em


desacordo quando saíram da Flórida, e depois sendo sujeitados ao vagão de
gado, não houve oportunidade de proximidade, mas a sensação de seus lábios a
deixou saber que, apesar de se comprometer a guardar seus sentimentos, sentia
falta do toque dele. Consciente do condutor na frente deles, ela se aproximou e
sussurrou.

─Eu senti falta dos seus beijos.

Ele parou e sorriu.

─ Mesmo?

Ela assentiu.

Ele manteve a voz baixa.

─ Então vou me certificar de remediar isso o mais rápido possível.

Ela se aconchegou nele e ele colocou um braço sobre o ombro dela.

─ Bom.

Quando chegaram à pensão, Oscar prometeu voltar no dia seguinte para


levá-los de volta à estação de trem. Depois de receber seu pagamento e uma
gorjeta generosa, ele foi embora e Pilar e Noah entraram na grande casa de cor
gengibre verde.

A dona, uma mulata chamada Andora Pennington, cumprimentou-os


quando Noah fechou a porta.

─ Bem vindos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Obrigado. Eu sou Noah Yates e essa é minha esposa Pilar. Nos disseram que
aluga quartos?

─Sim. Há apenas duas outras pensionistas aqui agora, então você pode escolher
entre os três quartos normais ou a grande suíte no último andar. Eu cobro mais
por esse, no entanto.

─ Podemos vê-los primeiro? ─ Noah perguntou.

─ Claro, mas a taxa está definida. Não haverá barganha.

─ Entendido.

─ Vocês dois realmente se casaram?

─ Sim, senhora.

─Bom. Eu não permito nenhum pecador aqui.

Noah e Pilar trocaram um olhar conspirador e esconderam os sorrisos


enquanto seguiam a Sra. Pennington até a escada.

Ela os conduziu para o que era um quarto bem equipado e espaçoso.

─ Há uma sala de banho anexa com uma banheira. Se você quiser pagar extra,
pode comer aqui em vez de ir para baixo na sala comum. Há também uma
varanda saindo por aquela porta.

─ Quanto?

O preço que ela citou fez Pilar olhar em choque.

─ Nós vamos ficar com ele ─ disse ele.

Pilar olhou para ele e isso lhe rendeu uma piscada divertida.

─ Vamos ficar apenas uma noite e preferimos comer em particular.

─ Bem. Pague antecipadamente. ─ Ela estendeu a mão.

Ele colocou as notas na palma da mão dela.

─ Obrigado, senhora Pennington.

─ Por nada. ─ E ela partiu.

Pilar disse:

─ Ela é uma boa comerciante.

─ Sim ela é. O quarto conta com a sua aprovação?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela observou as poltronas estofadas e o sofá, a lareira, o grande guarda-
roupa e as paredes de cor creme.

─ É um bom quarto. No entanto, eu engasguei quando ela falou o preço. Tem


certeza de que não é muito caro?

Ele se aproximou e passou os braços pela cintura dela.

─ Por você eu pagaria de bom grado por um quarto no Taj Mahal.

─ O que é o Taj Mahal?

─ É considerado uma das maravilhas do mundo. Um rei indiano construiu


como uma homenagem à sua falecida esposa e é feito em mármore branco.
Talvez um dia possamos viajar para a Índia para vê-lo.

─ Gostaria disso.

─ Agora sobre os beijos que você está sentindo falta.

Ela baixou os olhos divertidos em seguida levantou-os novamente. Ele


tinha uma intensidade que ela veio a conhecer bem no curto espaço de tempo
que eles estavam juntos, e apesar de tudo, seus sentidos despertaram e
explodiram. Quando sua boca encontrou a dela ela imediatamente se derreteu
em uma resposta doce. O beijo foi um convite, um aceno, um reconhecimento
de uma paixão que ambos compartilhavam e ela ofereceu um convite próprio,
abrindo os lábios e deixando-o procurar os cantos delicados com a ponta
ardente de sua língua. Seu corpo agora familiarizado com a dança do desejo
ganhou vida e floresceu. Ele moveu a boca pela borda de sua garganta, em
seguida serpenteou até a concha de sua orelha, deixando para trás um rastro de
calor.

Dedos peritos conquistaram a linha de botões em sua blusa e logo seus


lábios estavam queimando a pele nua acima de seu espartilho e chemise. Ele
sacudiu a língua preguiçosamente contra sua garganta trêmula, fazendo-a
arquear e ronronar.

Noah também sentira falta de seus beijos. Ele tinha perdido a suavidade
de sua pele, seus gemidos suaves de prazer e a sensação de seus mamilos
roçando suas palmas. Quando as roupas caíram, ele deslizou a mão para dentro
e encheu-a de carne quente e aveludada. Ele levou o mamilo duro em sua boca.
Enquanto ele ardentemente apreciava primeiro um e depois seu gêmeo, sua
masculinidade se estendia luxuriosamente. Querendo mais ele desabotoou o
botão no cós da saia e puxou-o para baixo até que a roupa se acumulou a seus

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


pés. Enchendo as mãos com as curvas ricas de seus quadris, ele a aproximou e
recapturou seus lábios enquanto suas mãos circulavam e exploravam.

Dentro da névoa que cercava Pilar, ela estava ciente de sua respiração
irregular e coração acelerado. Seus mamilos estavam maduros e úmidos, suas
pernas separadas e o calor entre suas coxas implorava por seu toque. Quando
seus dedos a encontraram ela respirou fundo e fechou os olhos contra a
felicidade.

─ Eu poderia fazer amor com você por toda a vida, querida, ─ ele sussurrou
densamente ainda se divertindo na umidade úmida de suas coxas. Nunca lhe
ocorreu que o ato de fazer amor pudesse ser realizado durante o dia com a luz
do sol entrando pelas janelas, mas ela achava o ambiente tão agradável quanto
as mãos dele. Suas calças foram puxadas para baixo e tiradas e lá estava ela com
seu espartilho aberto e meias, enquanto latejava em resposta ao seu contato
perito. O calor em seus olhos queimava como chamas. O toque de seus dedos
instilou sua própria versão de chamas, e o orgasmo, como uma tempestade à
distância, começou a subir.

Ela observou com olhos fumegantes quando ele começou a se despir.


Quando ele terminou ela festejou com os olhos. Ele era maravilhosamente feito.
Ela não o tocou na noite em que perdeu a virgindade, mas a paixão a deixou
ousada o suficiente para deslizar a palma da mão sobre o peito dele e sobre o
pelo macio do peito e depois mais abaixo para segurá-lo em sua mão. Seus
olhos se fecharam e sua cabeça se arqueou para trás. Ela sentiu força revestida
de calor. ─ Mostre-me o que fazer. . .

Ele cobriu a mão dela e a guiou em um ritmo lento e sensual.

Depois de alguns momentos descarados, ele recuou. Respirando


pesadamente, seus olhos estavam iluminados por seu sorriso perverso.

─ Você é ousada.

─ Isso não é permitido?

─ Permitido e incentivado. E você ganha um prêmio.

Ele deslizou um polegar sobre o mamilo, inclinou-se para tomar um em


sua boca novamente e ela gemeu. Enquanto sua língua provocava e
atormentava, ela perguntou languidamente:

─ Que tipo de prêmio?

─ Aguente. Volto logo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Noah... ─ Ela choramingou suavemente quando ele a deixou. Ela assistiu o
movimento ousado de suas pernas e quadris quando ele desapareceu no banho
adjacente. Ele voltou a aparecer imediatamente com uma toalha pendurada no
ombro. Quando ele a alcançou, ele colocou a toalha em volta da cintura dela e a
usou para aproximá-la o suficiente para beijá-la, e então a levou pelo quarto. Ele
colocou a toalha sobre o sofá e sentou-se em cima dela.

─ Eu quero que você se ajoelhe sobre mim. Coloque um joelho aqui e outro
aqui, ─ disse ele indicando as almofadas do sofá.

Ela seguiu as instruções dele, mas perguntou:

─ Por quê?

─ Então eu posso fazer isso. . .

Sentindo-o preenchê-la suavemente, mas tão plenamente, a fez


murmurar com prazer sensual. Ele começou a se mover e ela começou a segui-
lo.

─ Você gosta? ─ ele perguntou guiando-a, beijando-a.

─ Muito.

E ela fez. Era chocante, mas muito satisfatório se mover para cima e para
baixo em tal esplendor masculino. A fricção reacendeu seu desejo, como se um
fogo fosse acrescentado ao calor e a tempestade do orgasmo se aproximando.
Os próximos momentos foram um borrão carnal cheio de beijos, calor, toques e
lambidas. Ele a tocou, ela o tocou e a respiração deles encheu o silêncio do
quarto ensolarado.

Noah não poderia ter escolhido uma aluna mais apaixonada e Pilar
ofegou por causa de seu professor escandaloso. Quando ele pôs a mão entre
seus corpos unidos e brincou com o dedo sobre o botão que a definia como
mulher, a tempestade quebrou e seu orgasmo arrancou o nome dele de seus
lábios. Quando ela se retorceu e estremeceu no ritmo de seu orgasmo, a visão
dela combinada com o aperto de sua vagina fez com que ele agarrasse seus
quadris, bombeasse desinibidamente e explodisse com um grito de alegria
erótica.

Quando voltaram a Terra, ela disse:

─ Eu não sabia que era possível fazer isso desta maneira.

Ele deslizou a mão pelas costas úmidas antes de presenteá-la com um


beijo suave.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Há muitas, muitas maneiras, e temos uma vida inteira para explorar todas
elas.

Ela recuou e olhou para ele.

─Todas elas?

─ Até ficarmos velhos demais.

Ela se ajustou a ele novamente e disse:

─ Espero que nunca fiquemos muito velhos.

─ Concordo. Na verdade ─ ele disse sentindo-se voltando à vida dentro dela. ─


Acho que merecemos mais uma rodada.

─ Você acha?

─ Acho.

─ Eu acho que sou casada com um homem muito escandaloso.

─ E eu tenho uma esposa igualmente escandalosa.

E assim começaram novamente, e dessa vez quando a intensidade


atingiu o pico, Pilar sabia o que esperar. Ela o montou com força e ele jogou o
contraponto com o abandono ardente e eles continuaram até que estavam
saciados e muito fracos para se mover. Depois ele a levou para a cama e eles
dormiram.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 16

De pé na varanda vendo a lua nascer, Alanza gostava de ser a Sra.


Maxwell Rudd especialmente à noite. Ela agora estava mais experiente nas artes
sensuais do casamento e só de pensar em alguns dos prazeres que eles tinham
dado um ao outro, era o suficiente para fazê-la corar. Era o fim de outro dia e
tudo estava bem em seu mundo. A fazenda continuava a prosperar, seus filhos
e suas esposas estavam felizes, assim como seus dois netos. A única peça que
faltava no quebra-cabeça era Noah. Ela se preocupava com ele e o fez desde o
dia em que ele voltou depois de ter sido sequestrado anos atrás. Algo
obviamente tinha acontecido durante o tempo que ele estava longe para mudá-
lo do garoto artístico brilhante que ela criou para a sombra silenciosa que ele se
tornou; mas ela não tinha ideia do que poderia ser. No começo ela o pressionou
para falar sobre isso, mas não obtendo resposta, desistiu.

Mais cedo, ela recebera um telegrama dele que dizia:

Encontrei a pirata.

Casado.

Viajando de trem.

Em breve.

A notícia a intrigou profundamente. Com quem ele se casou? Com a


pirata? Ela queria muito que ele tivesse sido mais esclarecedor, mas não havia
nada que ela pudesse fazer a não ser esperar que ele chegasse.

Max veio por trás, colocou os braços em volta da cintura dela e roçou os
lábios suavemente contra o seu pescoço. Ela o amava tanto.

─ Você vem para a cama?

─ Sim, meu querido impaciente.

─ Ainda pensando no telegrama de Noah?

Ela se virou para ele e assentiu.

─ Você vai ter a história completa quando ele chegar.

─ Você acha que ele se casou com a pirata que pegou seu barco?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Quem sabe, mas Logan se casou com uma atiradora de pedras, Drew se casou
com uma dama da noite e agora, seu filho mais novo pode ter se casado com
uma dama pirata. Tenho que admitir, seus meninos têm algumas esposas
realmente interessantes.

Ela concordou.

─ Mas eu tenho a mais interessante, então que tal você vir para a cama e me
deixar te mostrar.

─ Você é tão escandaloso.

─ Você não iria me querer de outra maneira.

Ele estava certo claro, e por isso ela colocou o braço em volta de sua
cintura e eles entraram.

O trem para Denver não separou as raças de modo que Pilar teve a
chance de ver a paisagem do campo por uma janela. Ela ficou novamente
impressionada com o tamanho e o alcance da América. Eles passaram por áreas
abertas - Noah as chamou de pradarias - e não havia nada parecido com elas em
Cuba. Seus pensamentos voltaram para sua família e ela se perguntou como sua
mãe e irmã Doneta estavam se saindo, e se estavam sentindo falta dela tanto
quanto sentia falta delas. Ela esperava que elas pudessem pegar o trem para
visitá-la em sua nova casa no rancho de Noah o mais rápido possível, porque
ela queria vê-las novamente. De sua parte ela estava mais feliz do que jamais
imaginara que seria quando Noah Yates pedira sua mão. Naquela época ela não
tinha ideia de como ele poderia ser encantador. Desde sua trégua na viagem de
trem, ele tinha sido atencioso, preocupado e delicioso de estar - para não
mencionar extraordinário na cama. Talvez, apenas talvez o casamento deles
fosse um sucesso. Seu fluxo mensal chegou no dia em que deixaram St. Louis,
então não havia bebê a caminho e ela tinha sentimentos mistos sobre isso. Por
um lado ela queria um filho, mas por outro não muito cedo. Ela queria conhecer
os meandros de Noah antes de voltar sua atenção para um bebê. Até onde ela
sabia, ele não tinha sido visitado pelos pesadelos que estavam na raiz de sua
desavença inicial, mas ela não podia deixar de se perguntar sobre o que eram os
sonhos. Porém em vez de importuná-lo, ela manteve as perguntas à parte com a
esperança de que o problema se resolvesse de uma maneira que satisfizesse os
dois.

─ Um penny por seus pensamentos ─ ele disse enquanto viajavam para Denver.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Apenas me maravilhando com o tamanho do país. Você provavelmente
poderia colocar cem Cubas apenas na terra que passamos no último dia.

─ É um lugar grande e quando chegarmos a Denver, temos ainda mais dois dias
de viagem antes de chegarmos a São Francisco.

─ Estou gostando da paisagem, mas estou cansada de viajar.

─ Eu também estou. ─ Ele esfregou uma mão gentil sobre as costas dela. ─
Como você está se sentindo?

─ Eu estarei melhor quando minhas regras terminarem, mas não estou muito
desconfortável. ─ Ela não tinha ideia que o assunto não era algo que as
mulheres discutiam com seus maridos, mas desde que se tornou ciente de sua
condição ele não tinha sido nada mais que preocupado e atento indo tão longe a
ponto de perguntar se havia algo que ele pudesse fazer ou fornecer para ajudá-
la. Sua consideração era cativante. ─ Qual é a primeira coisa que você quer fazer
quando chegar em casa?

─ Além de fazer amor com minha esposa?

Ela balançou a cabeça com seus cachinhos irreverentes.

─ Sim, além disso.

─ Dormir tudo o que faltou nessa viagem, depois ir a São Francisco e olhar um
novo barco.

A culpa varreu sobre ela.

─ Sinto muito pelo Alanza.

─ São águas passadas. Além do mais se isso não tivesse acontecido não
seríamos marido e mulher.

Ela estava grata por sua atitude generosa.

─ Que tipo de barco você está querendo?

─ Ainda não sei.

Durante um tempo discutiram as vantagens e desvantagens dos saveiros


sobre os cortadores, e como os navios a vapor estavam fazendo aqueles
movidos a velas alimentadas pelo vento obsoletos.

A conversa deles foi interrompida pelo aparecimento do atendente que


anunciou:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Vamos parar para abastecer a caldeira de água em cerca de trinta minutos.
Vocês podem sair e esticarem suas pernas se quiserem. Milady tem um estande
que também vende sanduíches no depósito.

Ele seguiu para o próximo vagão.

─ Você está com fome? ─ Noah perguntou a ela.

─ Eu estou.

─ Quando pararmos vamos comer alguma coisa.

A parada não durou muito tempo, mas durou o suficiente para que
comprassem dois sanduíches recheados com presunto e copos de limonada
gelada. No momento em que retomaram a seus lugares, estavam descansados e
prontos para a jornada restante até Denver.

A primeira coisa que Pilar notou quando saíram do trem no depósito de


Denver foi o frio no ar.

─ Por que é tão frio?

Ele riu.

─ Não está frio.

─ Sim. Estou tremendo.

─ Você é cubana.

─ Você é meu marido. Faça alguma coisa ─ disse ela, abraçando-se.

─ Vamos ver se há um lugar próximo que venda casacos.

─Obrigada!

Ela teve que se contentar com um manto, mas ajudou. O trem para San
Francisco não partiria até a manhã seguinte, então eles foram para uma pensão
e depois do jantar a exausta Pilar rastejou na cama.

─ Eu sinto muito por não podermos fazer amor.

─ Nada para se desculpar, querida. Você precisa descansar. Eu vou me juntar a


você daqui a pouco.

Ela assentiu, cobriu-se com os cobertores e se afastou.

Enquanto ela dormia, Noah sentou-se na cadeira solitária do pequeno


quarto. Ele estava exausto também. O mês passado o levara do rancho para
Cuba, para a Flórida, e agora de volta à Califórnia, na companhia de uma

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


pequena irascível chamada Pilar. Ele adorava tudo sobre ela, desde seu lírico
inglês tingido de espanhol e sua beleza, até a maneira como ela aceitara seu
pedido de desculpas por machucá-la tanto depois da noite de núpcias. Embora
ela não tenha dito nada sobre isso desde então, ele poderia sentir que o
incidente ainda persistia. Ele olhou para ela algumas vezes durante a viajem
para encontrá-la olhando-o como se estivesse tentando decidir o que pensar. E
até ontem no coche, o clima de brincadeira aberta que ele achava tão cativante
não estava presente. Era como se ela estivesse mantendo partes de si mesma
trancadas e fora do alcance dele e ele não a culpava, mas não podia mais
imaginar sua vida sem a presença dela. Na última década, ele navegara pelo
mundo principalmente na tentativa de escapar disso. Alimentado pelas
lembranças do horror da ilha, ele evitava laços com tudo exceto a música, a
família e a solidão encontradas no convés de um navio. E agora um diferente
Noah Yates estava tomando forma, alguém que podia imaginar criar uma
família e tudo o que ela implicasse, alguém que não precisasse se separar da
felicidade ou da alegria, alguém que pudesse esperar pelo futuro em vez de
ficar atolado no passado, se ele pudesse apenas encontrar uma maneira de se
livrar dele permanentemente. Ele lhe devia isso.

E porque ele devia, também precisava descobrir como ele queria que seu
futuro imediato com ela fosse. Ele duvidava que fosse desistir de seus laços com
o mar, mas ter uma esposa significava que ele não podia mais passar meses e
meses a bordo de um navio a milhares de quilômetros de casa. Embora
encontrar um navio para substituir o Alanza afundado fosse uma prioridade,
navegá-lo como um modo de vida não era, e essa admissão o surpreendeu
porque não era algo que ele tinha pensado antes. Nunca lhe ocorreu que ele
pudesse de bom grado chegar a tal conclusão. Desde que fora sequestrado tudo
que ele sempre quis era estar no mar. Ele olhou para ela dormindo nas sombras
do outro lado da sala. A partir do momento em que cruzaram as espadas ele
sabia que ela poderia mudar sua vida, e ela não o fez de grandes maneiras, mas
de maneiras tão pequenas e tão poderosas quanto ela.

Levantando-se da cadeira ele se esticou em resposta ao cansaço dos


últimos dias. Ele então se despiu e apagou as lâmpadas. Cuidadosamente para
não acordá-la ele deslizou para cima da cama. Ela despertou por um momento
para expressar boa noite sonolenta. Ele a puxou para perto colocou um beijo
terno no topo de seu cabelo e fechou os olhos.

Uma hora após saírem de Denver, o trem serpenteava pelas montanhas


quando Pilar perguntou:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ O que é a cor branca no topo desses picos?

─ Neve.

Sua boca abriu e ela rapidamente se voltou para a janela.

Noah riu suavemente.

─ Você nunca viu neve, eu acredito.

─ Não, não nevava em Cuba. Neva na Califórnia?

─ Para onde estamos indo apenas ocasionalmente, mas lugares ao norte de nós
ficam brancos. ─ Ele achou suas reações cativantes.

─ Então, o que você faz quando isso acontece?

─ Nós jogamos lenha extra no fogo e nos vestimos calorosamente.

─ Deus ─ ela sussurrou.

─ Vou mantê-la aquecida. Eu prometo.

─ Neve, andar com animais, couro de porco. O que estou fazendo aqui? Eu voto
que voltemos para a Flórida.

─ Muito tarde. Os votos já foram contados.

Ela lhe deu uma cotovelada de brincadeira nas costelas e voltou os olhos
para o lado de fora de sua janela, enquanto Noah voltava para o jornal que
pegara no depósito de Denver naquela manhã. Um dos itens mais interessantes
foi um artigo sobre o inventor alemão Karl Benz e seu lançamento de algo
chamado Benz Patent Motorwagon. Ele foi anunciado como o primeiro
automóvel a gás projetado para gerar sua própria energia. O relatório
especulou que nos próximos anos o novo motor poderia ser aplicado a todos os
modos de transporte, tornando os motores movidos a carvão e vapor em trens e
embarcações à vela uma coisa do passado. Noah não tinha certeza se acreditava
nisso, mas planejava ficar de olho em novos artigos no futuro. Outro artigo
tinha a ver com o exército e suas tentativas fúteis de capturar o chefe dos
Apaches, Geronimo, que reinava como o último grande líder índio não oficial
em uma reserva. Noah esperava que o velho chefe astucioso continuasse a
persegui-los.

─ Alguma notícia sobre Cuba? ─ perguntou ela.

Ele olhou através das páginas à frente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não, até aqui. Oh, espere. De fato existe. Parece que estão considerando
proibir a escravidão lá.

─Já estava na hora. Cuba e Brasil são os únicos dois lugares do mundo que
ainda praticam a escravidão, mas eu não acredito neles até que isso aconteça.
Alguma coisa sobre o general Maceo ou os rebeldes?

Ele leu o artigo.

─ Não.

─ OK. Obrigada.

Sua tristeza tocou seu coração, mas como ele não tinha como fazê-la se
sentir melhor a não ser deixá-la voltar para a ilha para poder pegar em armas
contra a Espanha, ele voltou solenemente ao seu jornal.

A sensação de saudade de Pilar aumentou dez vezes. Cuba estava


acontecendo sem ela e ela não tinha certeza de como conciliar esse fato. Desde
os quinze anos de idade, lutar pelo futuro de seu país tinha sido toda a sua vida
e agora ela estava em uma terra a vários milhares de quilômetros de distância,
onde a neve caia, pelo amor dos santos, incapaz de oferecer sua ajuda.
Descobrir que a Espanha poderia estar pensando em abolir a escravidão era
uma boa notícia, e embora não fosse sensato retornar, ela desejava
ardentemente que estivesse lá.

Como se lesse sua mente, ele disse suavemente:

─ Sinto muito, Pilar.

Ela se virou e mentiu:

─ Tudo bem, Noah ─ e acrescentou com sinceridade: ─ Minha vida é com você
agora. Espero que eu aprenda a amar sua pátria tanto quanto amei a minha.

─ Eu farei o meu melhor para ter certeza que você vai.

─ Eu estou te confiando isso.

Quando chegaram a São Francisco, Pilar não queria ver outro trem por
pelo menos cinco anos. Suas costas doíam não só da prolongada viajem, mas
também de ter que dormir no assento. As escolhas alimentares tinham sido
limitadas e os banhos estavam fora de questão. Sua viagem fora feita, no
entanto, e isso a agradou se nada mais.

─ Nós temos mais um trem para pegar querida, então podemos ambos sentir
alívio.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Eles estavam andando pela estação movimentada.

─ É uma longa viagem?

─ Não. Apenas algumas horas.

─ Então, tenho certeza de que posso sobreviver.

─ Noah!

O grito feminino de alegria foi seguido por uma mulher elegantemente


vestida de verde que se lançou em Noah como um cachorro que saudava o tão
esperado retorno de seu amado dono. Pilar olhou friamente enquanto o marido
fazia o melhor para se soltar dos braços em volta do pescoço.

─ Olá, Lavínia. O que você está fazendo aqui?

─ Acabei de chegar de Los Angeles. Onde você esteve, seu homem malvado?

Pilar arqueou uma sobrancelha.

─ Lavínia, quero que você conheça minha esposa, Pilar. Pilar, esta é Lavínia
Douglas.

Os olhos da mulher ficaram tão arregalados que Pilar pensou que


poderiam saltar e rolar no chão da estação.

─ Sua esposa?

─ Prazer em conhecê-la ─ Pilar ofereceu. Ela podia ver a si mesma sendo


avaliada criticamente e aparentemente desaprovada.

─ O mesmo aqui ─ veio sua resposta indiferente antes de imediatamente


retornar a Noah e mostrar um sorriso falso. ─ Casado. Que surpresa. Quanto
tempo?

Ele passou um braço ao redor da cintura de Pilar.

─ Não muito. Nos pegou de de surpresa, devo admitir. ─ Seu sorriso ganhou
um dela em resposta.

─ E você a conheceu onde?

─ Cuba. Eu fui imediatamente capturado.

Pilar se divertiu com seu jogo de palavras.

─ Devo dizer que nunca esperei que você fosse capturado por alguém tão
....estrangeiro, digamos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar imediatamente se ofendeu, mas acalmou-se ao perceber que ela era
a Sra. Noah Yates, e essa vaquilla de chapéu verde não era. Olhando a mandíbula
rígida de Noah, ficou claro que ele também não apreciara o tom verbal e isso
impulsionava ainda mais o ânimo de Pilar.

─ Você está a caminho do rancho? ─ Lavínia perguntou.

─Sim. Esta é a primeira vez de Pilar nos Estados Unidos. Estou ansioso para ela
conhecer a família.

─Entendo. Não deixe de avisar da próxima vez que estiver em São Francisco
para jantarmos. Papai adoraria conhecê-la também. E, por favor, use esse
pequeno vestido pitoresco Pilar.

Os olhos de Pilar brilharam com raiva. Vendo como Lavínia e as outras


mulheres na estação de trem estavam vestidas, seu vestido de algodão e botas
de homem a faziam parecer uma maltrapilha em comparação. Ela talvez
precisasse aprender a se vestir como uma americana, mas Lavínia precisava de
uma lição de boas maneiras de modo que Pilar as considerou equilibradas.

─ É bom ver você, Noah. ─E sem uma palavra para Pilar ela se despediu.

Enquanto se afastava Pilar perguntou:

─ Essa é a vaquilla (novilha) com quem tens estado?

Ele riu alto e longo e apertou o braço em volta da cintura dela.

─ Ah, Pilar. Você é tão maravilhosa. Ela teria um ataque se escutasse ser
chamada de novilha.

─ Não sei bem porquê. Provavelmente não seria a primeira vez.

─ Obrigado por se casar comigo.

─ Eu não tive muita escolha, conforme me lembro.

─ Não, você não teve, mas estou muito feliz.

Ainda rindo, ele a levou através da estação para pegar o trem final para
sua casa. Pilar estava exausta demais para interrogá-lo sobre a grosseira Lavínia
Douglas, mas planejava fazê-lo no futuro próximo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 17

Pilar engoliu o nervosismo quando o coche alugado passou por baixo da


placa de ferro em arco que dizia RANCHO DESTINO. Ela estava a poucos
minutos de conhecer a família de Noah e não tinha certeza de como seria
recebida. Se eles soubessem que ela roubara seu navio, ela não esperava ser
recebida de braços abertos. Ter que passar o resto de sua existência entre as
pessoas que não a suportavam não era sua ideia de uma vida feliz,
especialmente depois de viajar tão longe e ter deixado sua própria família para
trás. No fundo, ela queria que eles gostassem dela, mas se esse não fosse o caso,
ela supostamente conseguiria de alguma forma.

Seu nervosismo logo foi superado pela maravilha. O rancho era vasto.
Ela sabia que ele era rico, mas o grande tamanho rivalizava com algumas das
grandes plantações em Cuba. Havia hectares e hectares de terra até onde ela
podia ver: gado, currais prendendo cavalos, pomares, trabalhadores.

─ Eu não tinha ideia de que seu rancho fosse tão grande.

─ Minha mãe construiu um grande legado aqui.

─ Seu pai morreu?

─ Sim, quando eu era muito jovem. Ela trabalhou até o osso para criar isso.
Meus irmãos e eu somos muito orgulhosos de sermos seus filhos.

Pilar notou o respeito e o amor em seu tom. Era claro que ele se
importava profundamente com ela e ela achou essa informação agradável.

A imensa casa que surgia era linda também. Jardins bem cuidados e
varandas de ferro forjado chamavam sua atenção. Até as janelas eram mais
grandiosas do que a casa dela em Cuba. O que sua mãe acharia de seu filho
mais novo trazendo para casa uma quase mendiga no lugar de noiva? Pilar não
teve resposta, mas respirou fundo para tentar acalmar as borboletas em seu
estômago.

─ Eu estou muito nervosa.

─ Você não deveria estar. Ela vai adorar você tanto quanto minhas cunhadas.

Ela esperava que ele estivesse certo apesar de uma parte dela achar difícil
de acreditar. Afinal ela fora responsável pelo naufrágio do navio que levava seu
nome. Como ela poderia ser feliz sabendo que seu filho se casou com a
culpada? Pilar rezou para que essa reunião inicial desse certo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Quando o coche parou, Noah a ajudou a sair.

─ Noah! Você voltou!

Pilar virou-se na direção da alegre exclamação e viu uma mulher com


uma saia dividida e botas pretas descendo as escadas correndo. Seu rosto se
abriu no sorriso mais largo que Pilar já vira e seus braços se abriram. Seu forte
abraço puxou o coração de Pilar.

─ Estou tão feliz por ter você em casa ─ ela disse.

─ É bom estar em casa. Mãe, permita-me apresentar a minha esposa, Pilar.


Pilar, minha mãe, Alanza Maria Vallejo Yates Rudd.

Sua mãe era incrivelmente bonita, e com suas caracteristicas douradas e


apesar do inglês fluente, obviamente espanhola.

─ Bem-vinda a sua nova casa, Pilar.

─ Obrigada. É uma honra conhecê-la.

─ Noah, ela é adorável.

Ele sorriu.

─ Sim ela é.

Pilar internamente agradeceu por isso.

─ Agora, eu tenho três nueras! ─ Alanza declarou em uma voz tão cheia de
orgulho e entusiasmo que Pilar não pôde deixar de sorrir.

Enquanto Noah se afastava para pagar o condutor e pegar as malas, Pilar


viu a mãe observá-la atentamente fazendo-a pensar se a mulher estava
percebendo o quão mal vestida sua nova nora estava. Não havia nada além de
bondade em seus olhos escuros, entretanto, Pilar tinha certeza de que isso
mudaria quando ela soubesse de seu papel no roubo e afundamento do navio
de seu filho.

Depois que o coche partiu, os três caminharam em direção aos degraus


que levavam à ampla varanda da frente. ─ Noah, recebi o seu telegrama ─ disse
a mãe, ─ mas era confuso. O texto fez parecer que você se casou com a pirata.

Pilar congelou.

─ Casei.

Alanza pegou Pilar com os olhos arregalados.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Pilar é a pirata?

─ Sim.

─ Esta coisinha pequena?

─ Esta coisinha pequena roubou meu navio, afundou ...

─ A marinha espanhola afundou ─ Pilar interrompeu, vindo em sua própria


defesa.

─ Correto, mas acabamos dançando La Verdadera Destreza.

─ Espadas!

─ Ela é muito boa com um florete, mamãe.

Pilar resmungou:

─ Claramente não boa o suficiente, pois fui obrigada a ceder.

Sua mãe olhou entre os dois, parecia prestes a falar, mas aparentemente
mudou de ideia e riu.

─ Vamos entrar antes que eu caia.

─ Fico feliz que você insistiu que tomassemos lições, caso contrário ela poderia
ter me superado. ─ Seus olhos provocaram Pilar.

Alanza exclamou:

─ Primeiro Mariah, depois Billie, e agora uma espadachim chamada Pilar. Dios!

O interior da casa era tão lindamente mobiliado quanto se poderia


esperar. Tapetes finos estavam em cima de brilhantes assoalhos de madeira.
Candeeiros com bases de ferro forjado ancoravam mesas laterais bem polidas
feitas de madeira escura brilhante. Havia suntuosas cortinas douradas e lindas
poltronas e sofás estofados. Os vasos e pequenas estátuas de santos lembraram-
lhe tanto de casa que seu coração doia, e antes que ela percebesse havia
lágrimas em seus olhos.

Alanza perguntou com preocupação:

─ Qué pasa? Qual é o problema?

Que Alanza havia se dirigido a ela em espanhol, uma língua que ela
achava que nunca mais ouviria de novo, somada à sua súbita e embaraçosa
crise de saudade, então ela respondeu em uma corrida de espanhol que ela
estava apenas com saudades de Cuba e de sua família, e de falar sua língua

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


nativa e como ela estava envergonhada de estar em lágrimas. Ela afastou a
umidade reveladora e antes que pudesse olhar para o marido, para avaliar a
reação dele à sua incomum demonstração de fraqueza, Alanza sorriu com
carinho. ─ Nenhuma das minhas nueras fala espanhol, e eu secretamente
ansiava por alguém que falasse. Você será minha alegria especial, Pilar. Noah
não falou espanhol com você?

─ Ele falou, mas apenas ocasionalmente. Eu não tenho certeza de quão fluente
ele é para ser sincera. ─Até agora ela só o ouvira falar em espanhol quando
falava carinhos.

─ Ele fala inglês e espanhol. Sempre fez. Por que sua esposa não sabe que você
fala espanhol?

Sua resposta foi tingida de diversão.

─ Pilar, você está na casa por dois minutos e já me colocou em apuros.

─ Minhas desculpas, mas eu não sabia.

─ Eu vou corrigir isso. Eu prometo.

O calor em seu olhar, potente como uma carícia, fez seus mamilos
apertarem descaradamente e ela rapidamente desviou o olhar.

─ Onde está todo mundo, mamãe?

─ Billie, Mariah e os bebês estão visitando amigos e seus irmãos estão na


cidade.

─ E Max?

─ Na serraria, olhando por cima de alguma madeira. Todo mundo vai estar
aqui para o jantar como sempre. Vocês dois estão com fome? Eu posso pedir
que Bonnie te prepare algo para comer.

Pilar sabia por Noah que Bonnie era a cozinheira da casa. Ela estava
realmente com fome depois do longo dia.

Ele falou pelos dois:

─ Isso seria muito bom.

─ Ok, leve minha nuera ao andar de cima e eu vou mandar Bonnie em breve. O
jantar será em poucas horas. ─ Ela fez uma pausa, gentilmente pegou as mãos
de Pilar e disse com sinceridade: ─ Bem-vinda.

Sua resposta foi igualmente sincera.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Obrigada.

Quando eles partiram Alanza ficou observando-os. Ela ainda estava


surpresa com a notícia de que Pilar era a temida pirata. Os recém-casados não
ofereceram mais informações sobre as circunstâncias que envolviam o
casamento, a não ser as espadas. Que Noah parecesse genuinamente encantado
com a cubana terrivelmente magra e mal vestida também era surpreendente.
Alanza assumiu que a história completa seria revelada a tempo, então por
enquanto ela estava feliz por ter seu filho em casa.

Andando pelos corredores, subindo escadas e olhando quadros


emoldurados da Santíssima Virgem, alguns santos, e homens e mulheres de
rosto severo que ela supunha serem ancestrais, Pilar acompanhou Noah a seus
aposentos, todo o tempo imaginando quanto tempo demoraria para ela
aprender a andar pela casa sem se perder.

─ Minha mãe cresceu nesta casa ─ explicou ao lado dela. ─ Seus pais herdaram
de seus pais e cada geração adicionou ao prédio original. Não é tanto um
labirinto quanto parece.

Pilar tendia a discordar.

Ele abriu uma porta de madeira esculpida com detalhes de couro e


acessórios e para sua surpresa a pegou no colo.

Rindo, ela perguntou:

─ O que você está fazendo?

─ Carregando você através do limiar.

─ Por que diabos?

─ Em alguns lugares é uma tradição para o homem levar sua nova esposa para
a casa deles.

Não sabendo nada sobre tal coisa, ela descansou tranquilamente em seus
braços até que ele a colocou delicadamente de pé. Ela olhou em volta. Como o
resto da casa, o cômodo era grande, tão grande que sua casa inteira em Cuba
poderia se encaixar confortavelmente dentro com muito espaço de sobra. Uma
das paredes continha uma grade e espalhava-se luminárias, cadeiras
confortáveis e um grande sofá. O espaço também continha um magnífico piano.

─ Esta é a sala de estar ─ disse ele. ─ O quarto é aqui.

Ela o seguiu e observou-o, com suas cortinas luxuosas e o enorme dossel.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ A sala de banho com água corrente está depois daquela porta. As portas atrás
de você levam para fora da varanda.

─ Você vive bem, Noah.

Vivemos bem, Pilar ─ retrucou, ele. ─ Esta é a sua casa agora também.

Levaria algum tempo para se acostumar com essa ideia, mas no


momento, ela só queria sentar, relaxar e não pensar em pegar outro trem. Ela
caiu em uma cadeira perto das janelas.

─ É tão bom parar de viajar.

─ Eu concordo. ─ Noah seria o primeiro a admitir que tê-la com ele o fez se
sentir ainda melhor. ─ Eu estava certo sobre a reação da minha mãe com você?

─ Sim, Noah. Você estava correto. Ela é muito gentil. Seus irmãos são casados
com mulheres americanas?

─ Sim. A esposa de Logan, Mariah, é da Filadélfia e Billie, de Drew, é de São


Francisco. Nunca pensei em mamãe querendo uma nora espanhola, mas
suponho que faz sentido.

─ Será bom conversar com alguém que compartilhe minha língua.

Ele se aproximou e sentou no braço da cadeira dela e disse em espanhol:

─ Eu gostaria de compartilhar sua língua. . .

Ela respondeu na mesma língua.

─ Sua mãe sabe o quão incrivelmente sem vergonha você é?

─ Não, então não diga a ela. ─ Ele traçou seus lábios. ─ Estava querendo beijar
você o dia todo. ─ Juntando a ação às palavras, ele se inclinou e roçou os lábios
sobre os dela imaginando se seu desejo por sua esposa diminuiria. ─ Nos
próximos dias, vou fazer amor com você de todas as maneiras possíveis e em
cada centímetro dessa sala. . . ─ Ele persuadiu-a e ela se ajoelhou na almofada
da cadeira para que pudessem se devorar mais confortavelmente. ─ . . . em
nossa cama, nos tapetes diante do fogo, do lado de fora, na varanda sob a lua.

Sua resposta trêmula esticou sua masculinidade vigorosamente.

─ Então, vou tomá-la em cima do meu piano e pintar seus mamilos com mel. . .

Ela respirou estremecendo e seu desejo rugiu. Houve uma batida na


porta.

─ Sr. Noah. Sua comida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele atirou com os olhos irritados para a interrupção.

─Já vou, Bonnie. ─ Ele deixou os lábios relutantemente. ─ Não se mova.

─ Eu não sonharia com isso.

─ Bem vindo a casa, Sr. Noah.

─ Obrigado, Bonnie ─ ele respondeu pegando a bandeja de suas mãos. ─ Minha


esposa Pilar está deitada. Eu vou apresentar vocês duas mais tarde.

─ Isso seria bom. Por favor, diga a ela que seja bem-vinda.

─ Eu digo.

Caminhando de volta para o quarto, ele parou ao ver sua esposa dobrada
na cadeira dormindo profundamente. Balançando a cabeça um pouco
desapontado, porque ele planejou fazer amor com ela, ele colocou a bandeja no
chão. Depois ele a pegou gentilmente, colocou na cama e cobriu-a com uma leve
colcha. Ela nem se mexeu. Ele acariciou um dedo pela bochecha dela. Eles
percorreram um longo caminho desde que deixaram a Flórida e na verdade ela
merecia algum descanso. ─ Bem vinda ao lar, Pilar. Obrigado pela sua luz do
sol.

Deixando-a, ele pegou a bandeja e levou-a para a sala de estar para que
ela pudesse dormir em paz.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 18

No jantar daquela noite, Pilar conheceu o restante dos membros da


família de Noah: seus irmãos, o forte Logan que era o típico fazendeiro
americano como ela imaginava, e Drew cuja devastadora beleza espanhola teria
colocado o coração das damas na corte do Velho Mundo no chão. Depois havia
as esposas, a elegante e bela Mariah com seus olhos dourados e Billie com seu
sorriso caloroso e pele de chocolate impecável. Ela também conheceu seus
filhos, a pequena Maria vestida com calças de todas as cores e o indisciplinado
Antônio, que parecia ter grande prazer em jogar coisas da bandeja de sua
cadeira alta, até que sua mãe lhe deu a advertência que crianças em todo o
mundo sabiam e temiam. Por último, mas não menos importante, o marido de
Alanza, Max Rudd, que era tão bonito quanto seus filhos e ofereceu a Pilar um
gentil aceno de cabeça.

Logan levantou sua taça de vinho.

─ Proponho um brinde a Noah e Pilar e a um casamento longo e feliz.

─ Saúde, saúde! ─ Veio a resposta turbulenta.

Pilar sorriu por cima do copo. Ela ficou satisfeita por todos a terem
recebido tão calorosamente. Ela ainda estava um pouco nervosa, mas todos
pareciam estar saindo de seu caminho para deixá-la à vontade. Ela não pôde
deixar de notar como ela parecia simples em comparação com suas duas
cunhadas arrumadas. Embora elas não estivessem exageradamente bem
vestidas, ela em sua blusa simples e saia barata parecia uma prima pobre. Ela
não queria ser um embaraço se eles tivessem visitas, então ela esperava
convencer Noah a engordar seu guarda-roupa e que Billie e Mariah poderiam
ajudá-la a escolher roupas mais elegantes. Sua irmã Doneta sabia tudo sobre
esses tipos de coisas, mas ela não estava lá. Sentindo a tristeza descer
novamente ela voltou sua atenção para a miríade de conversas que fluíam ao
redor da grande mesa.

Alanza perguntou: ─ Pilar, você se importaria se tivéssemos uma


pequena reunião para apresentá-la aos vizinhos?

Billie disse: ─ Não deixe ela te enganar, Pilar. Quando ela diz pequena
você pode contar com três quartos do estado sendo convidado.

─ Quieta, Billie, ─ disse Alanza em torno de um sorriso.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Mariah ponderou: ─ Billie está certa, irmã. Mamãe não sabe fazer nada
pela metade. Sua festa de aniversário anual dura quase uma semana.

Pilar piscou e olhou para Noah em busca de orientação.

─ Você pode também dizer sim e acabar com isso porque ela vai conseguir o
que quer. Sempre consegue.

─ Crianças mas...! ─ reclamou Alanza zombeteira.

Drew acrescentou: ─ Mas em defesa da mamãe suas festas são


geralmente muito divertidas.

─ A menos que você não se importe com ursos dançarinos, palhaços ou


malabaristas ─ brincou Logan.

Pilar agora estava espantada. Ursos dançando!

Max disse: ─ Sua sogra é extravagante, mas o coração dela está no lugar
certo.

─ Obrigada, Max ─ disse Alanza.

─ É o que acho.

Ele a saudou com seu copo de vinho.

─ Então ─ perguntou Alanza ─ tenho sua aprovação?

─ Eu suponho que sim.

─ Bom.

Mariah disse alegremente: ─ O que nos dá uma desculpa para ir às


compras.

Billie levantou o copo: ─ Um brinde!

Logan olhou para a esposa: ─Só nos deixe dinheiro suficiente para pagar
as contas e os funcionários, ok?

Todo mundo riu incluindo Pilar que decidiu que ela só poderia gostar de
estar nesta família, afinal.

O jantar terminou um pouco mais tarde e Noah e seus irmãos foram para
fora para pegar seus charutos. Logan foi imediatamente chamado por um dos
funcionários, que subiu para dizer a ele que as vacas estavam escapando por
um rombo na cerca.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Drew disse a ele: ─ Nós avisaremos a Mariah. Você pode ir. Vamos
precisar dessas vacas se as mulheres forem fazer compras em breve.

Rindo, Logan correu para pegar seu cavalo, deixando Noah e Drew para
trás no pátio.

─ Então, Noah ─ disse Drew. ─ Você está mais feliz do que quando lhe vi da
última vez, ou é apenas minha imaginação?

Noah acendeu um fósforo, encostou na ponta de seu charuto e passou a


chama para seu irmão que fez o mesmo. Noah exalou devagar.

─ Não é sua imaginação.

─ Me fale primeiro sobre essa pirata. Seu telegrama enigmático nos deixou
confusos. O que aconteceu com ela?

─ Como eu disse a mamãe antes, casei com ela.

Drew começou a engasgar. Estrangulado pela fumaça, ele disse entre


tosses, ─ Pilar é a pirata?

Noah sorriu enquanto seu irmão tentava limpar o pulmão. ─ Sim. ─ Ele
então contou a história, dando-lhe os detalhes sobre o sequestro inicial, sua
busca para encontrá-la, a luta de espadas e o casamento subsequente. ─ No
momento em que cruzei espadas com ela, era como se meu mundo inteiro se
abrisse.

─ Então você pediu a mão dela?

─ Sim, mas no final ela pediu a minha. ─ E ele explicou.

─ Ela é uma contrabandista rebelde, possivelmente procurada pelos espanhóis?


Essa é a história, irmãozinho. Nossa família sempre precisou de uma
revolucionária feminina. Agora estamos completos.

Noah riu. ─ Revolucionária ou não, eu tive que tê-la, Drew.

Drew olhou para ele maravilhado. ─ Tem certeza de que você é Noah
Yates?

─ Eu tive que me fazer a mesma pergunta, mas estou a caminho de uma versão
melhorada de mim.

─ Vocês dois parecem felizes, não?

─ Estamos trabalhando para isso. Eu me senti mal por levá-la para longe de sua
família, mas sua mãe e seu tio concordaram que ela precisava deixar a Flórida o

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


mais rápido possível. Seu tio é o homem do negócio de charutos que eu lhe
contei quando estava aqui para o casamento da mamãe. Estes são os charutos
que estamos fabricando, a propósito.

─ Ela não tem pai?

─ Não. Assassinado pelas autoridades durante a guerra civil de lá. Ela se juntou
aos rebeldes quando tinha quinze anos.

─ Poucos homens podem alegar ter um soldado revolucionário fanfarrão como


esposa.

─ Que é de uma família de ladrões e falsários.

Desta vez Drew não tossiu, mas seus olhos ficaram tão largos quanto os
pratos, então Noah explicou essa parte da história também.

─ Mamãe sabe disso? ─ perguntou Drew quando terminou de contar.

─ Não, e eu prefiro que você mantenha entre nós. ─ E ele sabia que Drew faria.
Estando a apenas alguns anos de distância, Noah sempre esteve mais perto dele
do que de seu meio-irmão nove anos mais velho, Logan.

─ Eu não estou tentando ser ofensivo, mas preciso esconder as joias da minha
Billie?

Noah lhe deu uma olhada. ─ Você acabou de dizer que a mulher é uma
ladra, Noah.

─ Não é necessário esconder joias. Eu garanto.

─Ok. Eu vou aceitar sua palavra.

O silêncio reinou quando ambos minaram seus pensamentos.


Finalmente, Drew perguntou: ─ Você a ama?

Noah pensou nisso por alguns momentos antes de admitir:

─ Eu não tenho certeza, mas é provavelmente o mais próximo que eu vou


chegar. Eu me divirto com ela, Drew.

Drew sorriu: ─ Então eu vou amá-la por você.

Seus olhos se encontraram e Drew disse: ─ Bem-vindo ao lar, Noah.

Noah assentiu e saboreou os restos dos charutos de Miguel Ventura em


um silêncio fraternal compartilhado.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você se divertiu no jantar? ─ perguntou Noah a Pilar. Eles estavam na sala
de estar relaxando juntos no sofá antes de dormir.

─ Sim. Sua família é muito legal. Eu gostei especialmente de Billie e Mariah.

─ Elas são duas senhoras muito especiais, meus irmãos têm sorte de tê-las.

─ Eu deveria estar preocupada com a festa que sua mãe quer fazer para nós?

─ Não. É mais do que provável que seja uma festa enorme, mas como Logan
apontou, será divertido. E, como disse Mariah, você vai comprar roupas e tudo
o mais que precisar ou desejar.

─ Eu preciso de um pouco de tudo. Chemises, roupas de baixo, sapatos


elegantes, como você os chama.

─ Consiga o que você precisa. Pessoalmente, eu prefiro você sem roupas, mas
isso pode ser desaprovado do lado de fora dessas portas.

─ Americano louco. ─ Ela acalmou por um momento e sua voz assumiu um


tom sério. ─ Em quanto tempo minha mãe e minha irmã podem vir para uma
visita?

─ Podemos enviar-lhes um telegrama amanhã, se quiser.

─ Verdade?

─ Se isso te faz feliz. Verdade.

Ela jogou os braços ao redor do pescoço dele. ─ Isso me faz feliz.


Obrigada, Noah.

Ele a colocou no colo. ─ Você não teria uma recompensa para seu marido
muito generoso, teria?

─ Que tal a generosidade ser sua própria recompensa?

─ Que tal eu te amarrar do jeito que você fez comigo e te dar prazer até que me
implore para fazer você gozar?

─ Agora isso parece interessante.

Ele jogou a cabeça para trás e riu. ─ E você me chama de sem vergonha.

Ambos ficaram quietos enquanto se avaliavam. Ela estendeu a mão e


gentilmente tocou sua bochecha marcada.

─ Como você conseguiu isso?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ A noite em que eu fui sequestrado. Era o jeito do capitão de me ensinar
obediência. Ele disse que de qualquer maneira eu era bonito demais.

─ Foi feito com uma faca?

─ Sim.

Ela se inclinou e pressionou os lábios macios contra o seu comprimento.

─ Toda vez que fizermos amor vou beijá-lo para que quando você olhar no
espelho, você vai pensar em sua esposa cubana sem vergonha, e não no
bastardo.

O coração de Noah subiu. Ele a puxou para mais perto e a beijou com
uma intensidade tão profunda que no silêncio, ele se ouviu gemer. Ela era seu
bálsamo, seu anjo, sua razão de existir. E fiel à sua promessa, ela plantou beijo
após beijo fervoroso na manifestação visível de sua escuridão até que a carne
cicatrizada pulsou brilhantemente em conjunto com sua necessidade. Eles se
despiram lentamente, languidamente tomando o tempo para prestar
homenagem carnal a cada extensão desvelada de pele nua. Gloriosamente nus,
eles se beijaram no quarto e na cama. Ele adorou descer pelo seu corpo,
parando para lamber e sugar até que ela estivesse contorcendo e abrindo.
Quando ele finalmente entrou nela, ela arqueou e cantou com prazer
desinibido. A primeira coisa que ele queria fazer quando voltasse para casa era
fazer amor com sua esposa e ele fez, de novo e de novo e novamente até que a
energia para respirar era tudo o que restava. E no rescaldo, ela beijou sua
cicatriz uma última vez, aliviada, e eles deram seus corpos saciados para os
braços de Morpheu.

Na manhã seguinte, o amanhecer estava apenas iluminando o céu


quando Pilar acordou ao lado do marido que seguia dormindo e roncando. Ela
observou-o com carinho. Ela era incapaz de identificar o momento exato em
que ele traçou o caminho para seu coração, mas de alguma forma ele tinha
conseguido e ela gostava de tê-lo lá, mesmo que as consequências do pesadelo
que ele teve na noite em que fizeram amor continuassem a preocupá-la. Ela não
sabia o suficiente para chamar o que sentia por ele de amor, mas se querer estar
com alguém pelo resto de sua vida fosse um componente, então ela estava
apaixonada. Se ele se sentia da mesma maneira não importava. O que eles
tinham juntos era mais do que suficiente para ela se contentar.

Deslizando silenciosamente da cama ela abriu as portas do grande


guarda-roupa e tirou uma de suas vestes. Em silencio, ela saiu do quarto na

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


ponta dos pés. Lá fora na varanda, o ar estava mais frio do que ela esperava,
mas ela puxou o pesado robe preto para mais perto e se enrolou em uma das
cadeiras para observar o nascer do sol. Seus aposentos ficavam nos fundos da
casa e a visão das montanhas contra o céu era reconfortante porque a faziam
lembrar-se de casa. No entanto, esta era sua nova casa. Se ela fosse gananciosa,
o rancho estaria em uma grande extensão de água para que ela pudesse acordar
todas as manhãs com os sons e a visão do mar, mas as bênçãos que recebera
eram muitas e ela também se contentava com isso. Agora ela tinha que criar
uma nova vida. Pilar, a rebelde, soldado e ladra, tinha sido deixada para trás,
substituída por uma mulher que residia em um mundo de riqueza e facilidade.
Ela tinha muito a aprender para assumir o papel, mas ansiava por seu futuro e
por encontrar seu lugar nele. Ela se perguntou se era cedo demais para falar
com sua mãe sobre o trabalho de caridade que Noah falou.

─ Buenos días, querida.

Ela se virou para vê-lo vestido com uma túnica marrom, de pé na porta.
─ Buenos días.

Ele se aproximou e deu-lhe um beijo suave antes de se mover para a


grade e olhar para o amanhecer.

─ Não encontrei você quando acordei.

─ Eu queria ver o sol nascer. Deixarei uma nota para você na próxima vez.
Minha ausência o preocupou?

Ele riu.

─ Você tem planos para o dia? ─ ela perguntou.

─ Eu pensei que talvez pudéssemos ir para a cidade mandar o telegrama para


sua mãe avisando que chegamos em segurança, e convidar ela e sua irmã para
visitá-la. Então se quiser, podemos visitar o rancho.

─ Gostaria disso.

─ Você monta?

─ Claro.

─ Então depois do café da manhã, vamos encontrar uma montaria e seguir para
a cidade.

─ Esta cidade tem um nome?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Stewart. É nome dado após um dos quarenta e nove que estabeleceu o
primeiro posto comercial aqui.

─ Quarenta e nove? Quem ou o que é um quarenta e nove?

Então, enquanto eles observavam o nascer do sol, ele contou tudo sobre o
passado de ouro da Califórnia. Eles então se vestiram e desceram para tomar
café da manhã com sua mãe.

─ Onde está o Max? ─ perguntou Noah quando ele e Pilar se sentaram à mesa.

─ Foi para Stewart para ajudar com a construção.

Em resposta à pergunta no rosto de Pilar, Alanza explicou:

─ Houve um incêndio violento no início deste verão. A maioria dos edifícios foi
queimada ou severamente danificada. Max está supervisionando a nova
construção.

─ Como o fogo começou?

─ Foi um incêndio desencadeado por um esquema para raptar Billie e Tonio.

─ A esposa e o filho de Drew?

─ Sim.

─ Oh, meu Deus.

─ Billie conseguir fugir por conta própria, e Drew encontrou o bebê com
amigos. Acabou bem graças aos céus, mas tudo começou com o fogo.

Bonnie entrou com a comida deles. Pilar fora apresentada a ela na noite
anterior durante o jantar, e a irlandesa deu-lhe um sorriso antes de partir.

─ Pilar não está acostumada a um café da manhã americano mamãe, esse é o


motivo do ceticismo em seu rosto.

Ela atirou-lhe um olhar de reprovação.

─ Não estou acostumada, mas estou melhorando com isso.

Mordendo uma tira de bacon, ele sorriu.

─ Ela chama bacon "de couro de cinto".

─ Pare! ─ ela disse com uma risada. ─ Agora você vai me meter em apuros. Sua
mãe vai pensar que eu sou mal agradecida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Alanza disse: ─ Eu entendo, Pilar. Raramente comemos a comida com a
qual eu cresci e sinto falta disso.

─ Então eu posso cozinhar algumas vezes? Eu gostaria de contribuir para a


casa.

─ Certamente.

─ Seu filho desaprovou minha oferta para trabalhar em seus estábulos ou


ajudar a limpar a casa, mas ele disse que você faz um trabalho de caridade com
sua igreja. Posso me juntar a você às vezes?

Noah sorriu com o olhar surpreso no rosto de sua mãe.

Ela olhava sua esposa com novo interesse. ─ Billie e Mariah nunca
fizeram tal oferta.

─ Eu limpei a casa toda a minha vida.

─ Nós temos empregados para isso, mas certamente podemos discutir sua
ajuda dessa forma.

─ Bom.

Noah viu que Pilar estava satisfeita e porque ela estava, ele também
estava.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 19

No início, Noah estava preocupado com a capacidade de Pilar de lidar


com a grande égua cinza escura que ela escolheu para montar em sua viagem à
cidade, mas uma vez que eles saíram e ele viu seu assento confiante e o jeito que
ela lidou com as rédeas, suas preocupações desapareceram.

─ Você monta bem.

─ Lua é uma boa montaria. Não é menina? ─ Ela deu um tapinha afetuoso na
égua. ─ Ela é mais rápida e mais forte do que os velhos que eu tinha em casa.

Os cavalos foram em passo lento para que ele pudesse desfrutar de sua
companhia, e ela pudesse dar uma boa olhada nos seus arredores ao longo da
estrada arborizada.

─ A paisagem é muito diferente de Cuba, não é?

─ Sim. Nenhuma banana ou mangas ou arbustos de café. Sem flores de cor


selvagem. Nenhuma doçura no ar. Tudo aqui parece ser verde ou marrom.

─ Temos flores aqui.

─ Onde? ─ Ela fez questão de ficar de pé em seus estribos e olhar em volta


enquanto protegia os olhos e espiava à distância.

Ele riu.

─ Ok, elas podem não ser facilmente visíveis, mas nós temos algumas.

─ A Califórnia tem sua própria beleza.

─ Você está me consolando?

─ Sim.

Eles seguiram em frente.

─ Onde você aprendeu a falar inglês?

─ Com meu pai. Meu avô pirata falava inglês também. Minha irmã e eu falamos
principalmente espanhol, assim como minha mãe, mas meus pais nos
incentivaram a aprender os dois.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Qual você prefere?

─ O espanhol porque é mais bonito e descritivo.

Ele concordou, mas o inglês era a língua dos negócios então ele
raramente falava espanhol fora de casa.

─ Se tivermos filhos, gostaria que falassem os dois ─ observou ela.

─ Eu prefiro isso também e minha mãe vai insistir nisso. Ela fala apenas
espanhol com Tonio e a pequena Maria. ─ Noah pensou em sua noite
apaixonada e se perguntou se a intensidade criara uma criança. Se assim fosse
ele ficaria satisfeito.

Quando chegaram à cidade, o ar estava vivo com os sons de marteladas.


Tábuas de madeira e tijolos ficavam empilhadas na rua principal, enquanto um
exército de homens trabalhava nos telhados e construía muros.

─ Esta é a construção que sua mãe mencionou? ─ perguntou ela quando


desmontaram em frente ao escritório do telégrafo.

─ Sim. Parece que eles fizeram um bom progresso.

Eles entraram e um homem com cabelos grisalhos olhou para cima.

─ Bom dia, Noah. Não sabia que você estava em casa. Como você está?

─ Muito bem, Will. Quero que você conheça minha esposa, Pilar. Pilar, esse
velho rabugento é Will Sally um amigo de longa data da família.

─ Bem, se você não é uma coisinha bonita. Bem-vinda a Stewart.

─ Obrigada. Prazer em conhecê-lo.

─ Igualmente.

─ Gostaríamos de enviar uma mensagem telegráfica para sua família na


Flórida.

─ Certo. Apenas escreva o que você quer dizer.

Noah pegou um dos pedaços de papel para esse propósito e escreveu o


que ele queria e mostrou para Pilar. Ela aprovou o texto, então ele entregou a
Will.

─ Também recebi uma carta para você aqui, Noah. Chegou há alguns dias. O
escritório da telegrafia também era o dos correios do vale.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Noah reconheceu a caligrafia no envelope imediatamente. Era de seu
amigo e parceiro de negócios, Kingston Howard. Ele abriu-a e as palavras o
fizeram suspirar.

─ Más notícias? ─ ela perguntou.

─ Mais decepcionante do que qualquer outra coisa. Ele quer dissolver nossa
parceria para poder passar mais tempo com sua esposa e filhos.

─ Eu sinto muito.

─ Ele tem falado em se afastar há mais de um ano. Acho que ele tomou sua
decisão.

─ Onde isso te deixa?

─ No momento sem um parceiro, mas vou me arranjar.

Will perguntou: ─ Noah, você quer esperar pela resposta da Flórida?


Pode demorar um pouco.

─ Não, apenas mande alguém para o rancho se você puder.

─ Ok. Prazer em conhecê-la, Sra. Yates.

─ Igualmente, Sr. Sally.

Noah planejava transferir dinheiro para a família de Pilar também para


os bilhetes de trem, de modo que foram para o banco. Enquanto atravessavam a
rua não pavimentada, ele acenou para os rostos familiares e parou para
apresentar Pilar a algumas das pessoas que conhecia bem. Tendo passado os
últimos dez anos quase todos no mar, ele não estava tão familiarizado com
todos como Drew e Logan. Para muitos dos recém-chegados no vale ele era
conhecido simplesmente como o irmão Yates com o rosto marcado.

Drew, o dono do banco, estava no saguão quando eles entraram.

─ Bom dia. Eu esperava que vocês dois ainda estivessem dormindo depois de
toda aquela viagem. Você está apenas mostrando à minha adorável cunhada os
arredores ou está aqui a negócios?

─ Ambos. ─ Quando Noah explicou o que ele precisava, Drew fez um dos dois
funcionários lidar com o assunto.

─ Estou ansioso para conhecer sua família, Pilar ─ ele disse genuinamente.

─ Eu não posso esperar para vê-las.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Noah agradeceu. Com seus objetivos cumpridos montaram seus cavalos
e voltaram para o rancho.

Ao retornarem ambos notaram o grande número de carruagens e


buggies estacionados perto da casa.

─ O que está acontecendo? ─ perguntou Pilar.

─ Eu não faço ideia.

Quando eles deixaram as montarias com os cavalariços, pararam para


observar um grande grupo de mulheres arrastando cavaletes para o campo
atrás da casa. Billie e Mariah estavam entre elas. Quando Billie viu Noah e Pilar,
ela se aproximou e Noah perguntou:

─ O que é tudo isso, Billie?

─ Meu clube de armas das senhoras. Estamos nos encontrando aqui hoje. Pilar,
você está convidada a se juntar a nós.

─ Eu nunca ouvi falar de uma coisa dessas ─ disse Pilar olhando para as
mulheres enquanto elas continuavam a se instalar.

─ Nós podemos ensinar-lhe como atirar.

─ Eu já estou familiarizada com armas de fogo, mas gostaria de participar.

Noah nunca tinha ouvido falar de tal coisa também. ─ Vocês duas vão
atirar. Eu vou para dentro onde estarei a salvo.

Ambas as mulheres reviraram os olhos.

No interior, Noah encontrou sua mãe em seu escritório e perguntou: ─


Você está aqui para a sua segurança?

Ela riu. ─ A primeira vez que elas se encontraram aqui algumas semanas
atrás, a má pontaria de alguém derrubou uma das vacas. Logan ficou furioso.
Desde então aprendemos a mover o gado para uma distância segura. Os
funcionários também dão à área um amplo espaço. ─ Ela o olhou
silenciosamente. ─Você tem tempo para sentar e conversar um pouco com sua
mãe?

─ Tenho. ─ E ele se sentou em uma das grandes cadeiras de couro e olhou ao


redor. ─ Esta sala me traz lembranças.

─ Boas ou ruins?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Um pouco dos dois. Drew e eu passamos muitos dias em pé aqui nos
contorcendo enquanto você gritava conosco por mais uma cena ultrajante.

─ Como na vez em que você se pintou de branco e entrou no quarto da tia


Rosita no meio da noite e fingiu ser fantasma? Você a assustou até a morte. Ela
nunca mais veio nos visitar.

─ E você teve grande alegria em nos esfregar com terebintina até que
estivéssemos em carne viva. Até hoje o cheiro faz meu estômago revirar. ─ Ele
parou por um momento e pensou de volta. ─ Então houve a vez em que
trouxemos as vacas para a casa para ver se elas poderiam subir as escadas.

Ela riu.

─ Foi uma maravilha eu deixar vocês dois viverem para serem adultos. Eu
estava convencida de que você ia me colocar no meu túmulo.

─ E houve algumas vezes que pensamos que você ia nos colocar em um túmulo.

─ É bom ter você em casa novamente, Noah. Alguma ideia de quanto tempo vai
ficar desta vez?

Ele encolheu os ombros.

─ Não tenho certeza. Eu recebi isso hoje. ─ Ele passou a carta de Kingston e
ficou em silêncio enquanto ela lia.

─ Você vai continuar sozinho? ─ ela perguntou entregando de volta.

─ Novamente não tenho certeza. Eu já estive pensando em fazer algumas


mudanças. Eu também tenho uma esposa agora. Ela e eu amamos o mar, mas
viver a bordo pelo resto de nossas vidas não é muito prático, especialmente
quando há crianças para criar.

─ Eu gosto de Pilar.

Ele ficou quieto lembrando de seu rosto.

─ Ela me devolveu as partes de mim que parecia ter perdido.

─ Então minhas orações foram respondidas. Sinto falta de quem você


costumava ser se posso dizer isso.

Ele inclinou a cabeça.

─ Entendido. Eu duvido que seja ele novamente, mas há pedaços dele por
dentro e tudo de mim ainda te ama. Muito.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu me lembro quando você nasceu e quão minúsculo e perfeito você era.
Chovia havia dias e nos preocupávamos se a parteira conseguiria chegar aqui,
mas ela conseguiu. Eu não tinha nome para você na hora. Seu pai, Abraham,
disse que nós poderíamos nomear você como Noah, já que parecia que
precisávamos de uma arca se a chuva não parasse.

─ Me entristece que eu não me lembro de nada sobre ele.

Ela assentiu.

─ Todos vocês o favorecem do seu jeito.

─ Isso é bom de ouvir. ─ Ele se perguntou se Drew ou Logan compartilhavam


sua falta de memória sobre o homem que ajudou a dar-lhes vida.

Conversaram um pouco mais sobre a mensagem que ele enviara à mãe


de Pilar e sobre como ela montava bem, que é claro, Alanza ficou feliz em ouvir,
e sobre o plano de Alanza de levar as noras em uma viagem de compras em
poucos dias. .

─ Passamos a noite e voltamos no dia seguinte.

─ Eu agradeço que você faça isso por Pilar. Apenas deixe-me saber o quanto ela
vai precisar.

─ Eu vou. Espero que você não se importe de eu gastar parte do meu próprio
dinheiro com ela também.

─ E se eu me importar, fará diferença?

Ela balançou a cabeça.

Por sua vez, ele deixou cair a sua, divertido como sempre por seus
modos mandões. Ele poderia ter mudado, mas sua mãe não.

E nisso, ele se levantou da cadeira.

─ Eu vou deixar você voltar para o que você estava fazendo.

─ Gostei da nossa conversa.

─ Eu também. É bom estar em casa.

─ Seria bom se você lançasse sua âncora por um tempo.

Ele deu a ela uma saudação nítida.

─ Sim, Sim, capitã.

─ Fora! ─ Ela riu, apontando.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele se aproximou, deu um beijo na bochecha dela e saiu.

Em seu quarto ele foi até a varanda para ver como as mulheres armadas
estavam progredindo. O ar se encheu com o estalo de balas disparadas e ele se
perguntou se estava em perigo. Ele viu Pilar entre as dezenas de pessoas
presentes. Ela estava segurando um rifle levantado e parecia estar mirando
duas latas colocadas em cima de um cavalete a poucos metros de distância. Ela
apertou o gatilho. O ombro dela recuou com o coice do rifle, mas a bala não
acertou. Billie disse algo para ela e Pilar mirou novamente. Ela disparou de
novo e de novo, não acertou nada. Rindo ele voltou para dentro.

─ Não seja tão dura consigo mesma, Pilar ─ disse Billie. ─ Você vai ficar bem.
Você está acostumada com pistolas. Rifles são diferentes.

─ Eu não consigo acertar a lata, Billie. ─ Ela não podia acreditar que fosse tão
inepta.

─ Pelo menos você está familiarizada com armas de fogo. Quando começamos
no início deste verão, algumas das mulheres estavam com medo da arma, das
balas e do som da arma.

─ E eu ─ interrompeu Amanda Foster ─ costumava fechar os olhos toda vez


que dava um tiro. No entanto, atirar acidentalmente em uma das vacas de
Logan me curou.

Pilar perguntou com uma risada surpresa:

─ Você atirou em uma vaca?

Ela assentiu.

Billie sorriu.

─ Logan estava tão zangado. Ele fez todas as mulheres irem para casa e não
falou comigo por dias.

Amanda deu um tapinha nas costas de Pilar.

─ Você vai ficar bem, Pilar. E mais uma vez, bem vinda ao vale.

─ Obrigada.

Pilar se apressou a ajudar na limpeza e colocar os cavaletes de volta no


celeiro. Uma vez que isso foi realizado ela agradeceu à sua cunhada por sua
paciência e entrou para encontrar Noah.

Ela se perdeu no caminho para a ala deles e se viu em um conjunto de


salas onde todos os móveis estavam cobertos com lençóis brancos. De pé no

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


silêncio ela se perguntou a quem os quartos pertenciam, mas como não havia
respostas ela fechou a porta quando saiu e começou de novo. Ao ouvir notas
fracas de um piano, ela seguiu o som melódico como se fosse uma trilha de
migalhas de pão e quando ela abriu a porta lá estava ele, a cabeça abaixada, os
dedos se movendo sobre as teclas. O que quer que ele estivesse tocando tinha
uma leveza que a fez pensar em um dia claro e azul. Sua habilidade era clara.
Ela permaneceu de pé ao lado da porta para não interromper, mas ele olhou
para cima e o sorriso que lhe enviou fez com que ela curvasse os lábios.

Ele parou.

─ Como foi o tiroteio?

─ Eu fui horrível. Não tinha ideia de que atirar com um bom rifle seria tão
difícil. Eu costumava caçar com um mosquete velho, mas...

─ Você caça?

─ Todo mundo que mora no campo caça, Noah. Se você não caça, não come.

─ Mais uma coisa que sua sogra vai amar sobre você.

─ Ela caça?

─ Bastante.

Pilar foi até o piano.

─ O que você estava tocando?

─ Uma sonata de Beethoven.

─ Eu peguei o caminho errado e de alguma forma acabei em um conjunto de


salas onde todos os móveis estavam cobertos, então eu ouvi a música e a segui
até aqui.

─ Você provavelmente estava na ala de Drew. Ele, Billie e o bebê moraram lá


até recentemente.

─ Eu não queria bisbilhotar.

─ Não tem importância. Eu estava quase pronto de qualquer maneira. Você


gostaria de um lanche?

─ Claro. ─ Depois da viagem para a cidade e do tempo gasto com o clube de


armas, o café da manhã parecia que fora anos atrás.

─ Então vamos descer e ver o que podemos conseguir de Bonnie.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Bonnie arrumou uma cesta para piquenique e eles dirigiram a carroça até
o rio que ladeava a propriedade. Quando chegaram, ele disse:

─ Não é o oceano, mas é água.

─ E é pacífico, também ─ ela respondeu aproveitando o espaço aberto.

─ Há alguns bancos na margem. Nós podemos comer lá.

─ Vá na frente.

Uma vez acomodados, eles comeram em um silêncio agradável.

─ Esses bancos são muito convenientes.

─ Max os construiu para minha mãe depois que meu pai morreu para que ela
pudesse vir aqui e chorar em paz. Todo mundo os aproveita agora.

─ De quem é aquela casa?

─ Drew e Billie. Ele queria construir naquele ponto desde que éramos jovens.
Max desenhou e os homens do vale ajudaram na construção.

─ Logan e Mariah também moram perto da água?

─ Não, eles estão mais perto da casa principal.

─ Onde você quer viver?

─Não tenho certeza. Não pensei muito nisso até você aparecer ─ ele disse,
sorrindo. ─ Tinha planejado passar o resto da minha vida a bordo de um navio.

─ Não é muito prático se tivermos filhos.

─ Não. ─ Noah se perguntou como seriam seus filhos. Eles teriam o queixo
orgulhoso de sua mãe e expressivos olhos escuros? Eles seriam altos e robustos
como ele e tocariam piano? A única coisa certa era que eles não teriam sua
cicatriz e isso era uma coisa boa. ─ Você se importa de esperar até que eu
decida o que vou fazer, agora que Kingston está se afastando da nossa parceria,
para decidir onde queremos viver?

─ De modo nenhum.

─ Meus irmãos e eu cada um possui uma parcela do rancho. O meu é a oeste


daqui, então se decidirmos que queremos estar aqui com a família, temos um
lugar.

─ Podemos ir ver?

─ Claro.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Eles recolheram as sobras de sua refeição e dirigiram para o oeste, onde o
terreno era mais arborizado e acidentado. O rio era mais largo e a corrente
corria mais forte também. Havia pedras enormes no meio do córrego e as
montanhas na margem oposta pareciam sentinelas contra o céu nublado. Noah
sempre gostou da sensação selvagem e indomável de sua parte do rancho e se
ele decidisse construir uma casa lá, ele estaria satisfeito.

─ Eu gosto disso ─ disse ela enquanto se equilibrava para pular de uma rocha
acima da água em movimento rápido. ─ Me lembra um pouco de casa. Eu não
me importaria de morar aqui.

─ Bom. É perto da casa principal, mas longe o suficiente para nos dar toda a
privacidade que precisamos.

─ E já que eu tenho um marido tão sem vergonha, a privacidade será


necessária.

Ele colocou as mãos na cintura dela e a levou até onde ele estava e olhou
para o rosto que estava alterando sua visão da vida.

─ Eu não sou o único sem vergonha.

─ E você não está feliz?

Rindo, ele a apertou contra ele e saboreou a sensação de seus braços


quando eles se apertaram ao redor dele.

─ Eu beijei você hoje?

Ela recostou-se e declarou:

─ Se você tem que perguntar, é por que você tem que corrigir alguma coisa.

─ Dê-me sua boca atrevida, mulher.

Como sempre, beijá-la encheu sua alma de luz, calor e alegria. Ele recuou
e perguntou:

─ Como foi?

Ela encolheu os ombros.

─ Já tive melhores.

Ele a golpeou para trás e a puxou de novo, desta vez beijando-a tão
profunda e arrebatadamente que ela se encostou contra ele e um ronronar
silencioso de prazer escorregou de seus lábios.

─ Melhor?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Muito ─ ela sussurrou.

De repente, o vento aumentou e com ele vieram gotas de chuva grossas e


frias.

─ De onde vem isso? ─ ela gritou quando começou a chover.

Rindo, eles correram para a carroça. Ele puxou uma lona, jogou-a sobre
as cabeças e dirigiu os cavalos para casa.

Naquela noite depois do jantar estavam jogando xadrez na sala de estar


quando uma batida soou na porta. Pilar levantou-se para atender, mas não
antes de dar uma rápida olhada em suas peças para verificar se estavam em
ordem, porque descobriu recentemente que seu marido gostava de trapacear. ─
Mantenha as mãos longe das minhas peças, Noah Yates.

Ele dramaticamente colocou a mão sobre o coração.

─ Você me feriu, bela donzela.

─ Sim, eu vou se você tocar em alguma coisa.

Quando ela abriu a porta, lá estava Max.

─ Mensagem do telégrafo. Está endereçado a você, Pilar.

─ Obrigada.

─ De nada

Depois de fechar a porta, ela animadamente abriu o envelope e leu:

Feliz.

Partindo o mais cedo possível.

Amor,

Doneta

─ É da minha irmã! Elas estão vindo!

─ Isso é uma boa notícia.

─ Sim. Eu não posso esperar para vê-las. Parece anos desde que as vi pela
última vez.

Ela olhou para o jogo, viu suas alterações e olhou nos olhos dele.

─ Você trapaceou, não é?

─ Eu?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Fico feliz por não ter meu florete.

─ Nós definitivamente temos que conseguir um. Aquele fogo em seus olhos me
faz querer tirar minha própria espada, se é que você me entende.

Calor subiu por suas bochechas.

─ Eu não faço amor com trapaceiros.

─ Realmente? ─ ele perguntou em uma voz sedosa que endureceu seus


mamilos e aumentou seu pulso. ─ Eu aposto que posso fazer você deitar nessa
mesa de bom grado e fazer todo tipo de coisa sem vergonha comigo antes que o
relógio na parede atinja uma hora.

Ela deu uma olhada rápida no relógio. Cinco minutos.

─ E eu digo que você não pode. ─ Ela sabia que estava destinada a perder e na
verdade estava ansiosa por isso, mas aquilo era uma dança, um jogo, sua
própria versão sedutora de uma luta e ela esperava que eles jogassem juntos
pelo resto de suas vidas.

Ele fez um grande show ao remover lentamente o tabuleiro de xadrez da


mesa. Seu olhar estava queimando enquanto ele realizava a tarefa e sua
antecipação dificultou manter sua pose régia.

─ Eu acho que eu quero você parcialmente nua ─ ele expressou e ela balançou
em sua cadeira. ─ Você pode começar removendo sua blusa.

Como um fantoche em uma corda seus dedos lentamente soltaram os


botões. Segundos depois, ela colocou de lado.

─ Agora o espartilho, mas não o remova. Eu amo o jeito que molda seus belos
seios quando está aberto. . .

Pilar concordou certificando-se de que ela fizesse isso devagar para que
pudesse saborear o brilho em seu olhar. Seduzi-lo enquanto ele a seduzia a
encheu de uma sensação decadente de poder. Segurando os olhos dele ela
passou a mão preguiçosamente sobre os seios nus. Ele sorriu.

─ As calcinhas também. Você tem cerca de dois minutos antes do relógio bater.
─ Ela se levantou e mesmo que ele não tivesse perguntado, ela levantou a saia
para que ele pudesse vê-la se desvelar e jogar a peça de lado.

Ele silenciosamente deu um tapinha na mesa. Deixou cair a saia e se


acomodou na beirada da grande mesa de jantar de madeira. Ele a beijou e a
paixão que possuiu ambos explodiu e floresceu. Ele encheu as mãos com os

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


seios, então se inclinou para chupá-los até que ela ronronou e a batida entre
suas coxas acelerou.

─ Deite-se.

Ela obedeceu e ele embarcou em uma jornada sinuosa que pagou um


tributo ardente a tudo o que ela tinha a oferecer. Sua saia estava levantada até a
cintura e seus toques alargaram suas coxas em um convite sedutor. Ele abaixou
a cabeça e a lambida que ele colocou lá fez ela sentar-se em linha reta com o
choque. Um sorriso curvou seus lábios e ele deu-lhe uma piscadela. O relógio
soou. O dedo dele a encontrou, mais uma vez trazendo consigo um prazer
deslumbrante, ela se deitou novamente e se permitiu ser acariciada até que ela
estivesse se arqueando, torcendo e ofegando. Quando o orgasmo a rasgou em
pedaços, ela gritou tão alto que sua mão voou até a boca para não ser ouvida
em Cuba, e subiu na onda de sua conclusão até que finalmente chegou à beira
da praia. E enquanto ela estava lá, estremecendo, aberta e satisfeita ele entrou
nela com ousadia. Gemendo com a glória de sua pulsante e dura conquista ela o
aceitou avidamente e começou a se mover junto com seu ritmo. Era uma noite
memorável e ela tinha certeza de que nunca mais veria a mesa de jantar da
mesma maneira.

Mais tarde naquela noite, enquanto Pilar dormia, um saciado Noah


sentou-se na sala de estar. Ele pegou a mensagem da irmã dela e leu. Seria bom
vê-las. Ele tinha certeza de que a mãe se preocupava em saber como a filha
estava se saindo e ele queria que ela visse com os próprios olhos como ele e
Pilar estavam levando a vida juntos. Ainda havia questões e perguntas sobre
como reestruturar sua vida, agora que King queria sair, onde ele e Pilar
poderiam morar e encontrar algo para manter Pilar ocupada, para que ela
pudesse contribuir sem enfrentar o rancho com um facão. Ele sorriu. Que
mulher.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 20

Na manhã seguinte, Pilar aceitou o convite que Mariah fizera na


noite anterior para visitar sua loja de roupas. O plano de Noah para o dia era ir
até a cidade com Max e Logan e ajudar na construção em andamento.

Enquanto se vestiam, ele percebeu que ela sorria para si mesma.

─ Por que o sorriso?

─ Estou pensando na noite passada. Com todo esse ato de amor há uma boa
chance de termos criado um filho.

Seus olhos brilhavam de prazer.

─ Você prefere uma menina ou um menino?

─ Tendo visto o caos que Antonio causou no curto espaço de tempo que
estamos aqui, definitivamente uma garota.

Ele riu.

─ E você? ─ ela perguntou. ─ Você tem uma preferência?

─ Sim, um menino. É o que a maioria dos homens quer eu acho. De qualquer


forma, você será uma mãe maravilhosa.

─ Estou feliz que você pense assim. Eu não tenho tanta certeza.

─ Você vai se sair bem.

Ela o abraçou com força então se levantou na ponta dos pés e deu um
beijo suave na bochecha marcada.

─ Obrigada por sua confiança. Eu te vejo quando você voltar da cidade.

─ Provavelmente será no final do dia.

─ Contanto que você volte para mim, eu não me importo.

Ele a puxou para seu abraço e a segurou com tanta força quanto ela o
segurou. ─ Obrigado por se casar comigo.

E como sempre, ela brincou:

─ Eu não tive escolha.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele deu-lhe um tapinha nas costas. Rindo, ela saiu do quarto.

Alanza estava sentada no pátio tomando café quando Pilar saiu ao ar


livre.

─ Você vai visitar Mariah? ─ ela perguntou em espanhol.

Pilar sorriu para essa mulher muito especial e respondeu em sua língua
nativa. ─ Sim. Ela disse para seguir em frente na trilha, correto?

─ Sim.

─ Tudo bem se eu for a cavalo? Faz tanto tempo que não monto regularmente,
estou gostando de andar a cavalo.

─ Claro. Sinta-se a vontade para viajar a qualquer hora para qualquer lugar
exceto para a Flórida, é claro.

Pilar inclinou a cabeça.

─ Tenho medo que seja tarde demais para se livrar de mim agora.

─ Então você está gostando de estar aqui?

─ Estou. Mais do que eu acreditei que gostaria. Sua família tem sido muito
gentil.

─ Nós levamos nossos laços familiares muito a sério, e obrigada pelo que fez
por Noah. Ele não tem sido o mesmo desde que foi sequestrado, mas parece
mais relaxado agora, e eu atribuo isso a você.

─ Não tenho certeza se essa é a razão, mas gosto de estar com ele e espero que
ele sinta o mesmo.

─ Ele sente. Eu vi o jeito que ele olha para você. Tê-lo de volta é mais precioso
do que qualquer coisa que eu possa ter. Você vai ficar no meu coração para
sempre.

Pilar achou as palavras muito comoventes.

─ Obrigada.

─ Agora vá antes que eu comece a chorar, mas não se esqueça, nós vamos pegar
o trem amanhã cedo para nossa viagem de compras.

Ela havia anunciado o passeio ontem à noite no jantar e embora Pilar


estivesse um pouco apreensiva sobre ter que escolher roupas e tal, ela estava
ansiosa para conhecer melhor as três mulheres.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu estarei de pé e pronta. Ah, antes de ir: recebi um telegrama ontem à noite
da minha irmã. Ela e minha mãe estarão aqui em breve.

─ Que excitante, então vamos esperar e fazer a festa para você e Noah quando
chegarem. Tudo bem?

─ Isso seria maravilhoso. Obrigada.

─ Será um prazer. Te vejo mais tarde.

Ela inclinou a cabeça e partiu para os estábulos.

Quando chegou na casa de Mariah ficou surpresa com seu tamanho. Ao


contrário da grande e espalhada casa de Alanza, esta era menor e mais
aconchegante, e as flores coloridas ao lado da varanda emolduravam-na
lindamente.

Mariah abriu a porta quando ela bateu.

─ Bom dia. Entre.

O interior era tão lindo quanto o exterior. Era bem mobilada, mas não
extravagante.

─ Minha loja fica nos fundos.

Sua segunda surpresa foi ver Billie lá. Pilar gostara imensamente da
companhia dela na reunião do clube de armas.

─ Bom dia, Billie. Eu não estava esperando ver você aqui também.

─ Eu não queria ouvir todos os seus segredos de segunda mão. Você é nossa
nova irmã e 'Riah e eu queremos saber tudo, especialmente como você e Noah
se conheceram. Ele parece tão misterioso.

Mariah riu.

─ Posso pelo menos tirar suas medidas antes de você submetê-la à 'Inquisição'?

─ Claro. Eu vou sair e me certificar de que os prisioneiros não tenham


escapado.

A confusão de Pilar deve ter sido óbvia porque Billie explicou.

─ Nossos bebês. Eles estão brincando no cercado que chamamos de Baby


Prisão.

Pilar riu.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ E com um terceiro prisioneiro chegando na primavera, talvez tenhamos que
adicionar uma ala.

─ Você está grávida?

─ Sim e rezando todas as noites e dias para que seja uma menina desta vez.

Pilar pensou na conversa que ela e Noah compartilharam antes. Ela seria
a próxima na fila para trazer um novo bebê Yates ao mundo? Deixando isso de
lado ela olhou ao redor da pequena loja de Mariah e ficou impressionada com
todos os tecidos e aviamentos armazenados e expostos de maneira tão perfeita.
Alguns manequins exibiam vestidos em andamento. ─ Devo dizer que admiro
que você seja capaz de fazer tudo isso. Eu posso substituir um botão e fazer
alguns pontos, mas não muito mais.

─ Eu cresci trabalhando na loja de roupas da minha mãe na Filadélfia.

─ Isso deve ter sido divertido.

─ Não. Minha mãe é uma bruxa. Eu não podia esperar para vir para a
Califórnia.

─ Você tem família aqui?

Ela balançou a cabeça.

─ Alanza publicou um anúncio no jornal da Filadélfia solicitando uma


empregada doméstica para Logan, e eu aceitei o emprego e acabei sendo sua
esposa.

─ Quanto tempo faz que vocês casaram?

─ Apenas dois anos.

─ E Billie e Drew?

Billie voltou a tempo de ouvir a pergunta e forneceu a resposta.

─ Drew e eu estamos casados desde maio.

Pilar estava confusa.

─ Eu sei ─ respondeu Billie. ─ Ele e eu nos conhecemos no passado e é por isso


que nosso filho é mais velho que nosso casamento. E antes que você descubra
por alguém de fora da família, eu era a prostituta de Drew naqueles dias.

Pilar começou a tossir o que colocou sorrisos nos rostos de suas cunhadas.

─ Vamos te medir enquanto Billie conta toda a história sórdida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Assim, Pilar ouviu enquanto Billie falava e Mariah fazia o seu trabalho
de um lado para o outro e escrevia números. Pilar não tinha ideia do que estava
sendo medido, mas supôs que lhe contariam o objetivo em algum momento. A
história de Billie sobre o sequestro dela e Tonio era tão dolorosa quanto
assustadora.

─ Mas DuChance caiu na baía e se afogou ─ disse ela, terminando a história. ─


Drew encontrou nosso filho e todos voltamos para o rancho.

Pilar estava contente que o calvário tinha tido um final feliz.

─ Então Pilar agora é a sua vez. Sabemos que você foi a pirata que pegou o
barco dele, mas por quê?

─ Precisava pegar algumas armas.

A duas ficaram de boca aberta.

Pilar deu uma risadinha.

─ Deixe-me começar do início. ─ Então ela contou sobre seus laços com os
rebeldes e sua necessidade de um navio e depois sobre o rapto de Noah.

Mariah disse:

─ Ele estava muito chateado quando veio para o casamento de Alanza, mas ele
não disse nada sobre ser sequestrado.

─ Orgulho masculino, provavelmente ─ Billie disse.

Pilar então contou a elas sobre Noah aparecer na festa de aniversário de


seu tio, a luta de espadas e o pedido de casamento.

─ Você lutou com ele com uma espada? ─ Mariah engasgou.

─ E eu aqui pensando que meu casamento era uma história do século ─ disse
Billie em um tom maravilhado. ─ O meu é uma história de ninar em
comparação.

Ela então contou a eles sobre a visita de Calvo.

─ Então eu não tive escolha a não ser pedir a ele para se casar comigo
imediatamente, e estamos aqui.

─ Mulher inteligente ─ disse Mariah. ─ Ele provavelmente se apaixonou por


você no momento em que ele colocou os olhos em você naquela noite.

Esta era a segunda vez que alguém mencionava naquele dia que Noah
estava apaixonado por ela. ─ Não tenho certeza se ele me ama, mas nós estamos

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


nos dando muito bem. ─ Ela pensou sobre a noite passada na mesa e não
conseguiu esconder o sorriso.

Como se possuísse a habilidade de um leitor de mentes, Billie brincou: ─


Nossos maridos são conhecidos por seus talentos masculinos.

─ Billie! ─ Mariah engasgou com uma risada.

─ O quê? ─ Billie respondeu. ─ Você está dizendo que Logan não faz você
gritar?

A pele clara de Mariah mostrou seu rubor até as raízes de seu cabelo.

Pilar levantou a mão.

─ Sem reclamações de quarto aqui.

O riso acompanhou essa confissão e Billie anunciou:

─ Pilar, você é agora um membro oficial da Sociedade das Cunhadas Yates. Fico
feliz em ter você a bordo.

─ Obrigada.

Na cidade Noah estava trabalhando no novo telhado que cobriria a nova


loja geral quando Will Sally apareceu abaixo e ligou: ─ Uma mensagem acabou
de chegar para você, Noah.

Enquanto o resto do pessoal continuava trabalhando, ele desceu a escada


e pegou a mensagem da mão estendida de Will.

─ Obrigado.

─ De nada.

Era de Lavinia Douglas. Seus lábios se apertaram.

Estaremos em Stewart amanhã.

Pai quer falar com você.

Proposta comercial.

Ele se perguntou sobre o que a proposta de negócios implicava. Walter


Douglas era um dos proprietários de estaleiros mais respeitados de São
Francisco. Sempre que o Alanza precisava de reparos, Noah o levara para Walt.
Sem resposta para as perguntas guardou a mensagem e voltou para o telhado.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Depois de deixar Mariah e Billie, Pilar montou em seu cavalo e decidiu
passear pelo rancho. Ela viu os pomares e as uvas, os campos onde os cereais
eram cultivados e o pequeno exército de trabalhadores que cuidava deles. Ela se
maravilhou novamente com o tamanho do empreendimento de Yates e o
ambiente movimentado do lugar. Era tão diferente de onde ela crescera. Não
faltaria comida aqui ou noites indo dormir com o estômago vazio, e por isso ela
estava determinada a encontrar uma maneira de contribuir. Seria sua maneira
de agradecer.

Voltando para a casa, ela viu alguns cavalos presos. Ela sabia de
conversas com Noah que Logan frequentemente reunia cavalos selvagens e os
trazia ao rancho para vender. Um de seus tios tinha sido um excelente cavaleiro
e passou a vida a domá-los para os ricos cavalgarem. Ela e suas primas muitas
vezes ajudavam e era uma tarefa que Pilar particularmente gostava, mas o
método usado pelo pessoal do rancho a fez parar sua montaria e observar.
Aparentemente preparar o cavalo para a sela envolvia nada mais do que um
cavaleiro montando e sendo jogado até o cavalo se cansar e ceder ou pelo
menos foi assim que pareceu. É verdade que ela não vira o processo anterior,
mas achou a prática bastante estranha. Do lado de fora do curral havia um
grupo de homens incitando o cavaleiro e uivando alegremente a cada vez que o
cavaleiro caía das costas do cavalo. Ela observou por mais um momento e
desmontou.

O animal era um lindo garanhão canela e dourado, e pela maneira como


ele corria e gritava não estava satisfeito. Ela caminhou até a cerca e ficou ao lado
de um homem assistindo ao show.

─ Olá, pequena dama. Você é a esposa de Noah? Meu nome é Eli Braden.

─ Eu sou Pilar. É um prazer conhecê-lo.

O cavaleiro foi jogado de novo, ao som de muitas risadas e ruídos. Ele


espanou a si mesmo e saiu do caminho do garanhão empinando e berrando.

─ O que está acontecendo aqui?

─ Domando um cavalo. Já faz alguns dias. Não aceita um cavaleiro ou a sela.

─Eu não gostaria de ter um estranho nas minhas costas depois de ter vivido
toda a minha vida livre.

Ele fez uma pausa e levantou uma sobrancelha.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não quero me meter no seu negócio, mas um animal tão bonito como esse
merece mais do que ter seu espírito dobrado apenas para que ele possa ser
montado.

─ Você está falando por experiência?

─ Sim.

Mais uma vez o peão tentou subir na sela e o garanhão fez o possível
para esmagar o homem contra as tabuas da cerca, em um esforço para evitar
que isso acontecesse.

─ Fazemos isso há anos, Sra. Yates.

─ Entendo, mas existem outras maneiras. Posso entrar na arena?

─ Não.

Ela observou o cavalo correr pelo recinto a toda velocidade como se


procurasse a saída. Ao não encontrar uma, ele levantou com raiva e o cavaleiro
correu para a cerca para não ser vítima de seus cascos.

─ Por que não? ─ Ela sentiu pena do animal.

─ Porque se você se machucar Logan vai me matar e o que quer que aconteça
seu marido vai me matar.

─ Não seja ridículo. O cavalo tem um nome?

─ Não. Está aqui a menos de uma semana.

Pilar debateu o que fazer. O garanhão continuou a sapatear.

─ Vou assumir total responsabilidade se alguma coisa acontecer.

─ Não importa. Logan ainda vai me rachar em dois.

Ela suspirou.

─ Você já machucou ou bateu em uma mulher, Sr. Braden?

─ Claro que não.

─ Bom. ─ Ela subiu na cerca e caiu para baixo na arena.

─ Ei!

Os homens ficaram em silêncio como os mortos. O cavaleiro olhou para


ela confuso. Pilar perguntou-lhe:

─ Qual é o seu nome, senhor? ─ O cavalo recuou e relinchou novamente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Uh, Danny, senhora ─ ele disse mantendo um olho nela e o outro no cavalo.

─ Danny, eu sou Pilar. Prazer em conhecê-lo.

Ele engoliu em seco.

─ O prazer é meu.

─ Você me faria um favor e tiraria a sela do cavalo, por favor?

Seus olhos dispararam para Eli.

O cavalo respirando pesadamente empinou-se e relinchou sua raiva.

─ Eu não acho que ele vai me deixar fazer isso, senhora.

─ Ok. Deixe-me sozinha com ele então.

Seu alarme espelhava os outros.

─ Eu não acho que isso seja sensato.

─ Está bem. Traga-me um balde de água, por favor, ele provavelmente está com
sede.

Ele olhou para Eli, que se encostou na cerca e exclamou:

─ Sra. Yates, por favor, volte aqui antes de se machucar. Se algo acontecer eu
nunca vou me perdoar.

─ Eu fiz isso muitas vezes e, por favor, me chame de Pilar. ─ Ela fez contato
visual deliberado com o garanhão pela primeira vez. Ele olhou para trás com
raiva.

─ Por favor, Pilar.

─ Um balde, Sr. Braden. Eu prometo a você, não vou me machucar. Eu sei o que
estou fazendo.

Como se sentisse sua determinação, ele suspirou e se rendeu. ─ Ok.


Danny, pegue a água, e Pilar quando seu marido e seus irmãos me matarem
mande os pedaços para a minha dama Naomi na cidade.

A água foi trazida e entregue. Pilar levou o recipiente pesado até o centro
da arena e o colocou no chão. Ela se sentou no chão ao lado dele.

─ Sr. Braden, eu preciso que você e os homens se afastem da cerca e fiquem


quietos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Eles relutantemente se retiraram e quando o fizeram, observaram e
esperaram.

Quando Noah e seus irmãos voltaram da cidade um dos funcionários do


estábulo lhes disse o que estava acontecendo na arena e eles correram. Ele
esperava encontrá-la no chão quebrada como uma boneca de pano, mas em vez
disso a encontrou simplesmente sentada na terra e conversando com o
garanhão em espanhol suave, enquanto ele a observava atentamente do canto
da arena.

Noah perguntou a Eli: ─ Por que ela está sentada? Ela foi jogada?

Logan perguntou a Eli: ─ O que diabos está acontecendo?!

─ Mantenha suas vozes baixas. Ela quer que todos fiquem quietos.

Noah procurou por ferimentos. ─ Ela está ferida? ─ ele perguntou com
urgência.

─ Não. Ela não tentou montá-lo. Ela está sentada falando muito quieta. Já faz
uns trinta minutos agora. Me disse que a maneira como estávamos tentando
domar o garanhão estava errada.

Logan gritou:

─ Noah, vá buscar sua esposa.

Noah o ignorou por um momento para perguntar a Eli:

─ Por que você a deixou entrar?

─ Não tive escolha. Ela subiu na cerca apesar das minhas objeções. O que é isso
com suas esposas? Elas não escutam muito bem.

Drew disse:

─ Você não estará casando com Naomi Pearl em menos de duas semanas?

─Touché ─ respondeu Eli.

Noah ainda estava preocupado com sua segurança. O enorme garanhão


poderia atacar e matá-la se ele decidisse, mas ela parecia estar perfeitamente
calma.

─ Noah ─ advertiu Logan. ─ Se ela se machucar, Lanza lhe dará para os ursos
comerem.

─ Ela parece bem Logan, além disso, ela pode empunhar um facão contra nós se
fizermos ela sair. Que tal nós apenas esperarmos e ver o que acontece.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Logan levantou as mãos.

Drew perguntou:

─ Ela realmente sabe o que está fazendo?

Noah encolheu os ombros.

─ Eu não tenho ideia. ─ Esse era um aspecto de sua esposa que ele não
conhecia... provavelmente um dos muitos.

Eli disse em um sussurro alto:

─ Mantenham suas vozes baixas.

Então eles se aquietaram.

Logan silenciou irritadamente.

No curral, Pilar, falando em espanhol, contava ao cavalo um conto de


fadas sobre uma pobre camponesa que se casara com um príncipe. Ela sabia
que o cavalo não tinha ideia do que ela estava dizendo, mas era o som de sua
voz que ela queria que ele se familiarizasse e pelas suas orelhas levantadas, ele
aparentemente estava. Ela também queria remover a sela. Era muito cedo para
os homens colocarem o peso em suas costas, mas ela duvidava que Titã, como
ela o nomeara, a deixasse chegar perto o suficiente para fazê-lo. Por enquanto,
teria que permanecer.

─ Eu sei que você está com sede ─ ela murmurou baixinho. ─ Americanos
loucos machucaram seu orgulho, capturando você e colocando você nesse
curral. ─ Ela lentamente moveu a mão para trás e para frente através da água,
deixando o cavalo ouvir o som. ─ Eu ficaria com raiva também. Venha e beba.
Eu não vou te machucar ou até mesmo tocar em você neste momento. Eu
prometo.

De vez em quando o cavalo se levantava e corria ao redor do cercado


como se quisesse que ela soubesse quem estava realmente no comando. Pilar
ficou de olho nele, mas ela não se mexeu.

Uma hora depois de tomar seu assento, metade do rancho se aproximou


para assistir aos acontecimentos, incluindo Alanza, Billie, Mariah e as crianças.

Finalmente o cavalo começou uma aproximação lenta e parou a cerca de


um metro de distância. Ele parou e olhou em desafio. Pilar olhou para ele. Ele
olhou para ela. Ela continuou a falar baixinho.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu não vou me mover meu titã de bronze, então venha e beba e podemos nos
conhecer.

E, para espanto de todos do lado de fora do curral, o cavalo lentamente


foi até o balde deixou cair a cabeça grande e bebeu. Alguns aplausos subiram,
mas foram severamente silenciados por aqueles que estavam próximos e Pilar
ficou grata. Ela chegou longe demais para ter o garanhão assustado pelo
barulho alto agora. Ele bebeu quase avidamente.

─ Você teve um dia muito difícil, não é? ─ ela disse simpaticamente.

Assim que o cavalo bebeu ele recuou para o outro lado do curral.

Ela não se importava. Ela realizou seu objetivo do dia. Levantando-se


lentamente caminhou até a cerca, subiu até o degrau superior e sentou-se
simplesmente onde o garanhão silencioso podia vê-la.

No meio da multidão, Noah sorria de orelha a orelha. Ele agora entendia


o pedido dela para trabalhar com os animais, mas ele a dispensara. Ela
certamente mostrara a ele.

Drew perguntou a Logan baixinho:

─ O que ela está fazendo agora?

─ Como diabos eu vou saber? Mas acho que ela acabou de ser contratada,
especialmente se ele a deixar montá-lo.

Sorrindo para o orgulho na voz de Logan, Noah se virou e voltou sua


atenção para assistir sua incrível esposa.

Ela ficou ali por mais trinta minutos, depois desceu.

Quando ela se aproximou, Noah perguntou:

─ Podemos conversar agora?

Diversão brilhou em seus olhos.

─ Sim.

─ Isso foi muito incrível.

─ Guarde o aplauso para quando ele realmente me permitir montar. E Logan,


deixe-o estar. Ninguém deve tentar montá-lo. Eu gostaria de voltar mais tarde e
tirar a sela dele. Provavelmente está machucando.

─ Ok ─ ele disse olhando para ela como se não tivesse certeza de quem ela
poderia ser. ─ Mais alguma coisa, chefe?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não. Eu acho que é tudo por agora. Ah, e eu o chamei de Titã em
homenagem ao ─ Titã de Bronze ─ de Cuba, o General Antonio Maceo. Espero
que esteja bem?

Logan sorriu.

─Está.

─ Eu sei que minha maneira de fazer isso provavelmente levará mais tempo do
que você e seus homens estão acostumados, mas esse é um animal muito
especial. ─ Quem será o dono dele?

─ Você. Ele é o garanhão mais tonto que já tive. Se você puder montá-lo. Ele é
seu.

Seus olhos se arregalaram de surpresa e ela olhou de volta para Titã.

─ Verdade?

─ Meu presente de casamento. Então, faça sua mágica, irmãzinha. Eu só quero


assistir e aprender.

Ela jogou os braços ao redor de sua cintura.

─ Obrigada!

─ De nada.

Mais tarde, depois do jantar, a noite estava caindo quando ela e Noah
voltaram para o curral. Titã ainda usava a sela. De acordo com Logan, a fim de
conseguir isso inicialmente, eles tiveram que amarrar suas pernas e ele precisou
de todos os funcionários que tinha para realizar a tarefa. Pilar não queria que o
garanhão passasse por isso novamente, mas podia ser necessário para removê-
la.

Observando a corrida do cavalo ela ficou maravilhada com a beleza dele.


Ela o chamou. Suas orelhas se levantaram e ele virou na direção dela, mas não
parou e correu direto para ela. Ela riu.

─ Você não vai entrar lá, vai? ─ Noah perguntou em um tom preocupado.

─ Não, mas eu gostaria de não ir a São Francisco pela manhã, para que eu
pudesse quando me levantasse.

─ Você prefere brincar com um cavalo a fazer compras? Nenhuma mulher viva
disse isso.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Silêncio ─ ela respondeu olhando para Titã. ─ Ele está se exibindo. Ele sabe o
quão bonito ele é.

─ Eu acho que estou com ciúmes.

─ E você tem um bom motivo. Não posso acreditar que Logan o tenha dado
para mim.

─ Meu irmão tem uma alma generosa sob toda aquela crosta. Ele simplesmente
não gosta de mostrar isso.

Ela estremeceu quando o ar da noite entrou.

─ Está ficando frio. Hora de ir. Ela deu a seu garanhão um último olhar. ─ Boa
noite, Titã.

Ele relinchou. Ela balançou a cabeça para a cena e ela e Noah voltaram
para a casa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 21

Quando as mulheres Yates deixaram o trem em São Francisco, Pilar


não conseguiu conter sua excitação. Poucos dias atrás quando ela e Noah
tinham passado pela cidade, ela não tinha nenhum desejo de ver a paisagem,
tudo o que ela queria era chegar ao rancho e nunca mais ver outro trem, mas
agora ela estava embarcando em uma grande aventura liderada pela Rainha
Alanz, e a única coisa que tornaria melhor o dia era ter sua irmã Doneta ao seu
lado. Doneta estava a caminho, portanto, Pilar afastou seu desejo e desfrutou de
sua atual companhia. Sua primeira parada foi num lindo hotel. Estava certa de
que, quando entrassem no grande saguão, a segregação se faria presente, mas
ou o lugar não apoiava a prática humilhante ou o recepcionista atrás do balcão
estava com muito medo da imperiosa Alanza para forçá-la. Seja qual for o
motivo, elas foram levados a uma luxuosa suíte de quartos que se abriram um
para o outro permitindo a cada uma delas uma cama própria. A janela dava
para as ruas movimentadas da cidade abaixo.

Como Billie e Alanza conheciam bem São Francisco, Mariah e Pilar


deixaram que elas liderassem. Elas visitaram lojas que vendiam roupas de noite
finas e elegantes, espartilhos sedutores e meias de seda. Pilar não tinha ideia do
que estava fazendo, então Billie e Mariah assumiram e escolheram roupas para
ela que em alguns casos eram escandalosas - como um pequeno corpete preto
com botões de esmeralda - e lindas, como um quimono de seda índigo. Elas
escolheram roupas de dormir que com certeza deixariam os olhos de Noah
saltarem de seu rosto e rolarem pelo chão, e Pilar não podia esperar que ele a
visse vestindo-o e então lentamente tirá-lo. Havia sapatos para experimentar e
comprar, chapéus engraçados e outros itens para adicionar à sua lista. Elas se
certificaram de que Pilar comprasse vestidos de dia e blusas e saias. Porque ela
não tinha casacos, Alanza a presenteou com dois. Quando chegou a hora de
pensar em voltar ao hotel sob o peso de suas compras, Pilar ficou perplexa com
todo o dinheiro que gastaram, mas com a alegria da compra. Quem imaginava
que fazer compras poderia ser tão estimulante. No caminho de volta Alanza
insistiu em parar em seu chocolatier favorito, um estabelecimento conhecido
como Ghirardelli e as senhoras compraram um monte de doces. Ao saírem,
Pilar viu uma loja que mostrava algo na vitrine que imediatamente chamou sua
atenção.

─ Eu tenho que entrar aqui.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


As outras a seguiram. O interior era uma mistura eclética de artigos
que iam de brinquedos a instrumentos de escrita, tintas e pincéis a caixas de
música e ventiladores maravilhosamente ornamentados. Ela selecionou
algumas tintas a óleo para o marido como agradecimento a ele, e enquanto
Mariah e Billie conversavam sobre os brinquedos Pilar perguntou ao cavalheiro
atrás do balcão:

─ Quanto custa aquele florete na janela?

Ele olhou-a de cima a baixo e zombou.

─ Provavelmente mais do que você pode pagar.

Pilar ficou quieta.

─ Desculpe?

─ E mesmo se você pudesse pagar, eu não venderia para uma mulher.

Ela fechou os olhos para manter seu temperamento sob controle.

─ Você é o dono?

─ Eu sou o sobrinho mais velho.

A essa altura, Alanza havia se colocado ao lado dela.

─ Qual é o problema, Pilar?

─ Eu gostaria de comprar o florete exibido na janela, mas ele diz que não posso
pagar e mesmo que pudesse, ele não o venderia para mim porque eu sou uma
mulher.

─ O que uma mulher sabe sobre espadas? ─ ele disse rispidamente.

─ Se eu lhe mostrar um pouquinho de antemão, posso comprá-lo?

Ele riu.

─ Claro, mas como eu sou treinado e você não sabe nada sobre essas coisas por
que você não paga apenas pelo que tem na mão e sai da loja?

Pilar resmungando assassino em espanhol foi até a janela agarrou o florete e


recuou.

Os olhos do balconista deram voltas.

─ Escolha a sua arma! ─ ela retrucou.

Sua risada foi mais fina.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Certamente você não espera que eu...

─ Você acabou de insultar minha habilidade, meu gênero e minha bolsa, e


espera que eu simplesmente dê uma risadinha e vá embora? Pegue uma espada
e se o seu traseiro gordo tiver que ir para casa para pegar uma eu vou esperar.

Os outros clientes da loja começaram a se reunir e sussurrar.

Um cavalheiro mais velho saiu da parte de trás. Vendo o aço no olhar


de Pilar e o florete igualmente de aço na sua mão seu olhar chocado voou para
seu sobrinho com o rosto vermelho, de volta para Pilar, e depois para a
silenciosa, mas friamente furiosa Alanza de pé ao seu lado. Ele limpou a
garganta.

─ O que está acontecendo aqui?

De trás de Pilar, Billie disse:

─ Aldo. Como você está?

Seus olhos se arregalaram.

─ Billie?

─ Sim. Como você está?

Ele tossiu e engasgou:

─ Uhm, tudo bem. Estou bem.

─ Seu sobrinho insultou minha cunhada. Disse a ela que ela não pode arcar com
a espada que ela está segurando, e que mesmo que ela pudesse ele não a
venderia por causa de seu sexo. Ela o desafiou para uma luta de espadas. Você
pode querer que os outros clientes saiam. Ouvi dizer que ela é muito boa com
essa coisa e você não quer que eles vejam todo o sangue que vai fluir quando
ela lhe ensinar algumas maneiras.

Seus olhos saltaram. Ele se virou e olhou para o sobrinho antes de


bater-lhe de forma inteligente em sua testa.

─ Estamos aqui para vender mercadorias! Vá para os fundos!

O sobrinho fugiu. Aldo ajeitou o colete e visivelmente respirou


fundo. Ele sorriu. ─ Minhas desculpas, senhora. Meu sobrinho é um idiota.
Claro que você pode comprar o florete.

─ Obrigada.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Então a compra foi feita. Aldo até mesmo deixou a bainha de couro
incrustada de joias de graça como um sinal de boa vontade. Pilar ficou
satisfeita.

Uma vez fora, Alanza se virou para Billie.

─ Estou quase com medo de perguntar, mas como você o conhece?

─ Quando comecei a trabalhar no Black Pearl, ele era um dos meus melhores
clientes.

Elas riram e caminharam a curta distância até o hotel.

Naquela noite, enquanto Pilar estava deitada na cama ela pensou no


dia maravilhoso. Ela realmente aprendeu a fazer compras sozinha, com ajuda é
claro, mas quando chegasse a hora das compras no futuro, ela não se sentiria
tão à deriva. Ela se perguntou como Noah estava se saindo e se ele sentia falta
dela. O mesmo aconteceu com seu lindo garanhão. Ela não podia esperar para
chegar em casa e ver os dois.

Naquela manhã Noah acordou na cama sozinho. Ele estava tão


acostumado com o calor de Pilar ao lado dele que dormiu mal sem ela e decidiu
que nunca mais poderia passar a noite longe dela. Ele podia imaginar a reação
dela, ele não era louco o suficiente para realmente fazer tal exigência, mas ele
sentia falta dela. Felizmente para ele, ela e as outras senhoras da família
estariam em casa no final do dia. Era sua esperança que ela tivesse tido sucesso
e feito compras agradáveis. Também era sua esperança que o presente que ele
tinha para ela no seu retorno fosse agradá-la também. Enquanto viajava pelo
mundo, ele viu muitas coisas bonitas, mas uma das mais belas foi um colar de
rubi oferecido para ele na Índia. Ele comprou na hora com a intenção de
presenteá-lo à sua mãe, porque ele sabia que nunca teria uma mulher em sua
vida digna disso, mas por algum motivo ele nunca o fez. Era como se uma parte
dele soubesse que aquilo não era para ela, mesmo que as pedras falassem com
sua personalidade impetuosa, então ele o trancou junto com um pequeno
tesouro de outras peças no cofre da família. Ele planejava recuperá-lo e pedir a
sua mãe para dá-lo a Pilar como um presente. Tudo bem ele dá-lo pessoalmente
a Pilar, sem dúvida aumentaria sua estima, mas ele não queria que ela pensasse
que ele estava tentando comprar o seu afeto, nem ele queria que ela recusasse
porque ela consideraria muito caro. Ele se lembrou do choque no rosto dela
quando pagou pelo quarto em St. Louis.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Nesse meio tempo ele aguardava a visita de Walter Douglas e
Lavínia. Ele estava interessado em ouvir o que o homem tinha a dizer
especialmente agora que seu próprio empreendimento estava no momento com
pontas soltas. Com o Alanza no fundo do mar, ele ainda precisava de um navio
para substituí-lo, então ele planejou conversar com Walt sobre construir um
novo ou escolher algum que pudesse estar disponível para venda em seu
estaleiro...

Depois de se vestir ele desceu as escadas para o café da manhã. Ele


entrou na sala de jantar e encontrou Max e seus irmãos já na mesa, e os bebês
próximos em suas cadeiras altas. A pequena Maria estava comendo e tendo
uma conversa com Logan enquanto Tonio estava alegremente esmagando fatias
de laranja em suas mãos pequenas e gordinhas. A polpa lambuzava seu rosto e
havia suco por toda a roupa. Drew soou um pouco frustrado quando disse ao
filho:

─ Antonio, coma as laranjas ou eu vou levá-las embora.

Tonio continuou a esmagar a fruta. Drew confiscou as fatias que


ainda estavam intactas e Tonio chorou em protesto. Drew usou um guardanapo
para livrar o rosto cheio de lágrimas da polpa alaranjada. Retornando a seu
assento, ele reclamou:

─ Mal posso esperar pelo retorno de Billie.

─ Você deveria ter tido uma menininha boa e quieta. ─ Logan ofereceu.

Drew disse ironicamente por cima da xícara de café.

─ Vou lembrá-lo dessas palavras quando ela ficar mais velha e os meninos
começarem a aparecer.

─ É para isso que servem as espingardas ─ apontou Logan e colocou metade de


um biscoito na boca.

Noah se serviu da montanha de ovos mexidos em uma tigela no


centro da mesa, e acrescentou bacon e excelentes biscoitos de Bonnie em seu
prato.

Max disse:

─ Ouvi dizer que a família de Pilar está a caminho.

Ele assentiu e começou a comer.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Ela está sentindo muito a falta delas. Vai ser bom ter a mãe e a irmã aqui por
quanto tempo quiserem ficar. ─ Ele então contou sobre o encontro de negócios
com Walt e Lavínia Douglas.

─ Alguma ideia do que ele quer? ─ Max perguntou.

─ Não.

─ Você não estava passando o tempo com ela uma vez? ─ Drew perguntou.

─ Estava.

─ Ela sabe que você é casado? ─ Logan perguntou.

Ele assentiu.

─ Ela estava na estação de trem quando Pilar e eu chegamos. Quando fiz as


apresentações ela fez alguns comentários maliciosos.

Max afirmou:

─ Espero que ela controle suas maneiras enquanto está aqui. Sua mãe pode
levantar um chicote contra ela de outra forma.

Noah concordou e esperou que Lavínia estivesse em seu melhor


comportamento - para seu próprio bem.

Depois do café da manhã, Logan e Drew levaram seus filhos e o


cercadinho do bebê para Lupe Gutiérrez, uma das empregadas da fazenda para
passar o dia; então acompanhados por Max, eles foram para a cidade.

Enquanto Noah esperava que seus convidados chegassem, ele foi até
seu quarto e sentou-se ao piano. Uma composição musical passara por sua
cabeça nos últimos dias e ele queria começar a trabalhar nela. Ele já sabia como
seria chamada: Sonata de Pilar. Pegando algum papel ele escreveu algumas
notas iniciais e começou a tocar. Ele queria que a peça fosse a personificação
musical de seu relacionamento: o mistério de seu encontro inicial, sua busca
para encontrá-la novamente e o perigo e a excitação da luta de espadas - um
movimento que ele planejava intitular “La Verdadera Destreza”, seria seguido por
outro representando a paixão que encontravam um no outro; mas no momento
ele se concentraria no começo da sonata.

Duas horas depois Bonnie o interrompeu para avisar que seus


convidados estavam esperando na sala de estar. Ele agradeceu, mas ficou
profundamente desapontado por ter sido afastado do piano. As notas fluíram
bem e ele fizera um bom progresso. Em vez de ser rude e fazê-los esperar, ele
guardou os papeis e saiu do quarto.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Quando entrou na sala, Noah se surpreendeu por quão magro e
esquelético Walter que antes era robusto, estava.

─ Muito chocante, não estou? ─ Walt falou com uma voz rascante.

─ Eu tenho que concordar, sim.

Lavínia parecia triste.

─ Os exames dizem que tenho seis meses no máximo, então você e eu


precisamos conversar.

Lavínia o interrompeu.

─ Existe uma pensão onde podemos ficar? Eu não vi nada na cidade quando
descemos do trem. Voltaremos amanhã.

─ Vocês são mais que bem-vindos como nossos convidados. Nós temos muito
espaço.

─ Eu gosto disso ─ disse Walt com um sorriso. ─Não vejo sua linda mãe há
bastante tempo.

─ Ela, minha esposa e cunhadas estão em São Francisco, mas devem voltar hoje.

─ Vini disse que sua esposa é estrangeira?

Noah podia imaginar como Lavinia deveria ter descrito Pilar.

─ Ela é cubana, Walt. Que tal irmos para o pátio sentar e conversar enquanto
peço para Bonnie trazer alguns refrescos?

Eles concordaram e assim que eles se instalaram, Walt disse:

─ Belo lugar que você tem aqui.

─ Obrigado. É tudo resultado do trabalho que minha mãe está fazendo.

─ Eu ainda não conheci sua mãe ─ apontou Lavínia. ─ Você nunca me trouxe
aqui para conhecê-la.

─ Eu vou corrigir isso quando ela voltar.

─ Vini tem cuspido unhas toda a semana sobre sua nova esposa. Disse a ela
anos atrás que você não ia se casar com ela. Um homem não vai comprar a vaca
quando consegue o leite de graça. ─ Ele riu disso, o que provocou uma crise de
tosse. Ele puxou um lenço e o arrastou pelos lábios.

Os olhos de Lavínia queimaram ferozmente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Esperando mudar a trajetória embaraçosa da conversa, Noah
perguntou:

─ Então, Walt. O que você queria discutir?

─ Quero vender-lhe o meu estaleiro, se você quiser.

Isso o surpreendeu.

─ Por que eu?

─ Porque você conhece navios e o mar e você manterá o que eu construí. Ela
quer que eu deixe para ela, mas ela é uma mulher. Nenhum homem vai querer
fazer negócios com ela, o que significa que meu negócio estará quebrado e
fechado dentro de um ano.

─ Eu trabalhei naquele estaleiro desde que eu tinha nove anos de idade ─


protestou Lavínia em sua própria defesa. ─ Eu conheço o negócio como a palma
da minha mão. Eu mantive os livros, aprovei desenhos, aplainei madeira.

─ Não importa, Vini. Você não está entendendo. E nem esse estrangeiro que
você encontrou. O homem não conhece uma vela de uma vigia.

─ Ele vai me deixar dirigir as coisas.

─ Eu não me importo. Não gosto da aparência dele.

Ela sentou-se contra a cadeira e soltou um suspiro de desgosto.

Noah se perguntou quem era o homem. Noah seria o primeiro a


concordar que a inteligência e a confiança de Lavínia a tornavam mais do que
capaz de possuir e administrar o estaleiro, mas infelizmente seu pai estava
certo. Os tempos eram o que eram, homens de mente fechada só veriam seu
gênero. Sua mãe enfrentara barreiras semelhantes enquanto construía a
fazenda, mas à medida que a notícia se espalhava sobre a qualidade e virilidade
dos touros premiados, ela investiu seus últimos dólares em divulgação, os
pecuaristas trouxeram avidamente suas vacas para o Rancho Destino para
serem cobertas e não se importaram que os touros fossem de propriedade de
uma mulher. Estaleiros eram um assunto diferente. Havia muitos
estabelecimentos de qualidade acima e abaixo na costa. Se os compradores ou
capitães optassem por não apadrinhar o negócio de Walt por causa da mão de
Lavínia no leme, eles poderiam levar seus negócios para outro lugar e ter
certeza do mesmo nível de serviço.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Durante a hora seguinte, Noah e Walt falaram sobre os trabalhadores
do estaleiro, as encomendas pendentes e outros aspectos do negócio, mas à
medida que a tarde diminuía ficava claro que Walt estava se cansando.

─ Que tal eu te levar para o seu quarto para que você possa descansar? ─ Noah
perguntou.

Ele suspirou.

─ Odeio esta doença. Faz com que as pessoas me tratem como uma criança, mas
eu aceito a oferta. Nós podemos terminar isso mais tarde. Só precisava saber se
você está interessado ou não.

─ Eu estou. Quero ver seus livros contábeis para tomar uma decisão final, mas
tenho certeza de que podemos fazer um acordo que beneficie a ambos.

─ Bom. ─ Ele lutou para ficar de pé. Lavínia estendeu a mão para ajudar, mas
ele se afastou com raiva e colocou a bengala. ─ Me deixe.

Seus lábios se apertaram.

Noah assistiu em silêncio.

─ Obrigado por me ouvir ─ Walt disse. ─ Se as circunstâncias tivessem sido


diferentes teria orgulho de ter você como genro.

Noah não ofereceu resposta e os acompanhou para dentro.

Bonnie preparou quartos adjacentes para eles na ala de sua mãe.


Uma vez que Lavínia acomodou seu pai, ela voltou ao pátio e sentou-se
pesadamente.

─ Ele é abençoado por ter você ─ disse Noah.

─ Alguém precisa dizer isso a ele.

─ Nenhum de nós sabe como vamos reagir quando tivermos que encarar a
morte. ─ Por um momento, memórias da ilha passaram pela sua mente. Ele as
forçou para longe.

Ela pegou o copo de limonada.

─ É verdade, eu só queria que ele me deixasse o negócio.

─ São os tempos.

─ Para o inferno com os tempos. Eu dei meu sangue a meu estaleiro e isso não é
justo. Nem é justo que você tenha me substituído por uma mal vestida ...

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Não diga isso. Eu nunca abordei casamento com você e nós dois sabemos
disso, então você difamar minha esposa em minha própria casa é de mau gosto
e desnecessário.

Seu queixo se levantou.

─ Desculpe.

E então enquanto lutava para controlar seu temperamento, ele ouviu o som
mais doce do dia:

─ Estamos de volta, Noah!

O sorriso de Pilar enquanto caminhava em sua direção foi tudo que


ele precisou para esquecer Lavínia.

─ Você está deslumbrante ─ disse ele. Ela estava vestida com um elegante terno
feminino bem cortado da cor de safiras escuras, e havia um pequeno chapéu na
cabeça.

Só então ela percebeu que ele tinha companhia, e pela maneira como
seus olhos esfriaram, ela não estava satisfeita. Para acalmá-la, ele disse:

─ Pilar, você se lembra de Lavínia Douglas?

─ Claro. Como eu poderia esquecer? ─ ela respondeu com um sorriso falso.

─ Ela e o pai dela estão aqui para tratarmos de negócios. Ele está lá em cima
descansando. Eles serão nossos convidados até amanhã.

─ Bem-vinda à nossa casa. Espero que você e seu pai aproveitem sua visita.

─ Obrigada ─ respondeu Lavínia secamente.

─ Noah, você não vai acreditar no que eu encontrei. Espere aqui. Eu volto já.

O que quer que Lavínia estivesse pensando, foi sábia o suficiente


para guardar para si.

Pilar voltou carregando algo embrulhado em papel pardo. Devido ao


tamanho ímpar era impossível adivinhar o que poderia ser. Ela colocou na mesa
e seus olhos brilharam animadamente enquanto ela arrancava o papel. Quando
a bainha apareceu, ele riu.

─ Oh, minha nossa!

─ É tão bonito e exatamente com o peso certo. ─ Ela desembainhou o florete,


deu alguns golpes no ar e seu sorriso combinou com o dele.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Lavinia zombou.

─ Por que você gastaria o suado dinheiro de Noah nisso?

A ponta do florete de repente ficou há um cílio de sua garganta e ela


congelou e arregalou os olhos.

─ Apenas no caso de eu ter que defender minha família ─ Pilar respondeu de


maneira significativa. Desviando a lâmina ela se virou para Noah. ─ Eu vou
deixar você terminar o seu negócio.

Ela e o florete saíram. Noah queria gargalhar pelo jeito que ela
colocou Lavínia em seu lugar.

Quando Pilar entrou na casa, Alanza deu uma olhada em seu rosto e
perguntou:

─ Qual é o problema?

─ Nada. Noah tem companhia e ela queria saber por que eu desperdiçaria seu
suado dinheiro nisso? ─ Ela levantou o florete. ─ Então, mostrei a ela.

─ Ela não está sangrando em todo o meu belo pátio, está?

─ Não Senhora.

─ Bom. Bonnie me disse que Walt Douglas e sua filha Lavínia estão aqui. Eu o
conheci anos atrás. Eu não tive o prazer de conhecê-la, embora eu saiba que
Noah se relacionou com ela ao longo dos anos.

Pilar achou essa notícia agradável. Se Noah nunca a trouxera ao


rancho para conhecer sua mãe não poderia ter sido tão sério seu caso com ela.
Pilar contou-lhe sobre o encontro com Lavínia na estação de trem.

─ Ela foi desagradável com você?

─ Sim, e ela fez alguns comentários maliciosos sobre o quão mal vestida eu
estava.

─ Bem, sinceramente você estava, mas foi muito rude da parte dela mencionar
isso em voz alta.

Pilar deu uma risadinha. Se erguendo ela deu um beijo no rosto de


Alanza.

─ Obrigada pela viagem de compras. Me diverti muito.

─ Foi um prazer.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Agora vou trocar essas roupas e dizer olá ao meu cavalo.

─ Divirta-se.

Pilar estava de pé ao lado da cerca assistindo a corrida de Titã e a


visão dele aqueceu seu coração. Ela notou que a sela havia sumido e ficou
satisfeita com isso também. Chamar seu nome fez seus ouvidos se animarem e
ele parou de correr para observá-la enquanto Logan e Eli subiam.

─ Imaginei que você estaria aqui ─ disse Logan. ─ Mariah disse que as senhoras
se divertiram comprando tudo o que viram.

Ela riu.

─ Realmente nós fizemos isso. Eu vejo que a sela se foi.

Eli disse:

─ Tivemos que manear as pernas dele. Arremessar uma boleadeira.

─ Pobre bebê.

─ Tem pouco de bebê ─ ele debochou.

─ O que você fez com a sela?

─ Levei para a sala de apetrechos.

─ Pode ser colocada no canto do curral para ele se acostumar a vê-la?

─ Eu suponho que sim ─ Logan respondeu duvidosamente e compartilhou um


olhar com Eli cuja expressão espelhava a dele. ─ Onde você aprendeu isso?

─ Com meu tio ─ e ela contou sobre seu emprego para cubanos ricos. ─ Às
vezes ele dormia no cercado com os cavalos que treinava. Eu sei que você e
Noah não me permitiriam fazer isso.

─ Você está certa.

Eli disse:

─ Nunca ouvi falar de alguém dormindo com um cavalo para domá-lo.

─ Não está domando, Sr. Braden. Está treinando.

─ Se você diz.

Logan perguntou:

─ O que vem a seguir?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Mais alguns dias sentando com ele e uma vez que ele perceba que eu não sou
uma ameaça ou que não vou machucá-lo, eu pretendo amarrar duas longas
rédeas em seu cabresto para que possamos caminhar juntos e eu possa começar
a treiná-lo com a voz o ato de parar e andar.

Logan a estudou.

─ Isso funciona?

─ Sim.

─ Então o que seu tio fez com cavalos que não queriam ser domados – desculpe
- treinados, não importa quanta paciência ele mostrou a eles?

─ Então ele fazia algo que aprendeu com um escravo que já teve um mestre no
Texas. Ele levava o cavalo para águas profundas na baía, montava-o e fazia-o
nadar e ficar lá até ficar tão cansado que uma vez em solo firme, Tonio seria
capaz de montá-lo.

Logan ficou olhando.

─ Um cavalo não pode chutar se seus pés não tocam o chão. De acordo com o
texano algumas das pessoas que vivem no Golfo treinam cavalos dessa
maneira.

Eli ficou espantado.

─ Nunca ouvi falar de nada parecido.

─ Eu assisti ele fazer isso mais de uma vez.

Logan sacudiu a cabeça.

─ Vou manter isso em mente. Bem, vamos deixar você com seu cavalo. Eli e eu
temos tarefas para terminar antes do jantar, então nos veremos.

Eli acrescentou:

─ Minha Naomi está ansiosa para conhecê-la. Ela, Mariah e Billie são boas
amigas.

─Estou ansiosa para conhecê-la também.

Eles viraram as montarias e com um toque nos chapéus foram embora.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 22

Os Douglas se juntaram à família para o jantar, e como sempre foi


um acontecimento feliz. As mulheres contaram histórias de sua aventura -
especialmente o confronto de Pilar com o funcionário pela compra de seu
florete e os homens falaram sobre Tonio fazendo Drew correr atrás dele. De
onde Pilar estava sentada ao lado do marido, Walter Douglas parecia estar se
divertindo, embora parecesse muito frágil. Ele sorriu gentilmente quando os
dois foram apresentados, mas sua filha Lavínia alternou entre disparar flechas
em Pilar com o olhar e assistir com o que parecia ser inveja enquanto Pilar e
Noah interagiam e compartilhavam sussurros.

Eles estavam terminando a sobremesa quando Alanza anunciou:

─ Antes de todos nos separarmos para a noite, gostaria de agradecer a Walt e


Lavínia por se juntarem a nós. Por favor, sintam-se à vontade para nos visitar
novamente.

Walt assentiu. Lavínia ofereceu um sorriso apertado.

─ E eu tenho um presente para dar à minha mais nova nora.

Pilar lançou a Noah um olhar interrogativo, mas ele encolheu os ombros em


resposta.

Do bolso da saia Alanza retirou uma comprida caixa de veludo preto,


aproximou-se e colocou-a na mesa em frente a Pilar.

─ Abre, por favor.

Enquanto todos olhavam ansiosamente, ela abriu a tampa e ofegou ao ver o


lindo colar de rubi dentro. Sua mão voou para sua boca e lágrimas saltaram
para seus olhos. Ela olhou para Alanza que disse baixinho:

─ Bienvenida a la familia. Bem-vinda à família. ─ Pilar levantou-se e abraçou-a


entre lágrimas.

Noah pareceu comovido também.

─ Obrigado, mãe.

─ Eu dei diamantes para Mariah e esmeraldas para Billie, e agora lhe dou rubis
pelo seu espírito de fogo. ─ Ela deu um beijo na bochecha de Pilar e voltou para

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


o seu lugar na cabeceira da mesa. No outro extremo, Max ergueu o copo para a
esposa e sorriu.

Aplausos e sorrisos encheram a sala de jantar; até mesmo Walt


Douglas aplaudiu com entusiasmo. Sua filha não, mas Pilar não se importava,
ela estava muito ocupada olhando maravilhada para os rubis incrustados como
pequenos pedaços de fogo na corrente de ouro intrincadamente trabalhada.

Quando o jantar terminou, Mariah e Billie deram-lhe abraços felizes e


se maravilharam com seus rubis. Noah se aproximou para dar um abraço e um
beijo na bochecha da mãe. Eles passaram mais alguns minutos rindo e
conversando até que finalmente Billie, Drew, Mariah e Logan saíram para
buscar os filhos para que pudessem ir para casa. A ainda encantada Pilar,
pegou seus rubis e foi até Noah sentado à mesa com Walt.

─ Eu vou subir ─ ela informou.

─ Eu vou acompanhá-la assim que Walt e eu terminarmos o nosso negócio.

─ Que bom. Prazer em conhecê-lo, senhor Douglas.

─ Digo o mesmo.

Deu um beijo rápido no marido e foi até a escada. Olhando para trás viu
Lavínia observando-a. Pilar ignorou-a e subiu as escadas.

No quarto, a primeira coisa que fez foi maravilhar-se com o presente.


Nunca em sua vida alguém lhe dera nada tão caro ou bonito. Removendo-o
cuidadosamente da caixa, ela colocou-o em volta do pescoço e depois de
conseguir levantar o fecho estudou-se no espelho de pé do quarto. Era
primoroso. Ela não tinha ideia de onde usar algo tão elegante, mas apenas
poder olhar para ele era o suficiente. Há pouco tempo ela era uma mulher
pobre do interior, cuja principal objetivo na vida era o futuro de seu país, e
embora suas esperanças continuassem a brilhar em seu coração, ela agora usava
rubis. Era uma grande mudança e ela não tinha certeza de como conciliar as
duas ou mesmo se deveria. Por um lado, ela agradeceu aos santos pela incrível
família em que se casou, mas por outro lado pensou no que o dinheiro gasto
com o colar poderia comprar em seu país: comida, armas, livros para as escolas
improvisadas espalhadas na ilha, remédios. Ela nunca desonraria Alanza
penhorando as gemas, mas tinha que haver um jeito de uma mulher casada
com um homem tão rico quanto Noah de ajudar seu país ou, melhor ainda,
talvez ela pudesse convencer Logan e Eli a contratá-la para ajudar com os
cavalos para que ela pudesse ganhar seu próprio dinheiro, e não ter que
depender apenas dos fundos de Noah. Ela decidiu falar com ele quando tivesse

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


a chance. No momento, ela olhou em volta para as muitas sacolas contendo
todas as roupas novas e coisas que ela comprara em São Francisco e sorriu.

Quando Noah entrou na sala de estar um aroma inebriante flutuava


levemente no ar. Ele inalou profundamente mesmo quando se perguntou o que
era e lentamente fechou a porta atrás de si.

─ Pilar?

─ Aqui ─ ela respondeu.

Ele entrou no quarto e viu uma montanha de roupas espalhadas em


cima da cama. Saias, camisas, espartilhos que o fez sorrir, e quando ele
finalmente virou os olhos para sua esposa seu traje sensual roubou seu fôlego.
A camisola cor índigo era sustentada por dois pequenos broches, um em cada
ombro, depois fluía em panos abertos até as sapatilhas de veludo preto de salto
baixo nos pés. Os rubis de seu colar brilhavam como contas de fogo ao redor de
sua garganta.

─ Você gosta? ─ ela perguntou e girou. O vestido se levantou e se abriu,


mostrando os lados reluzentes de seus quadris, coxas e pernas, e ele ficou
imediatamente tão duro quanto um raio.

Ele limpou a garganta.

─ Muito.

─ Que tal isso? ─ Ela pegou um espartilho francês preto com pequenos botões
cor de esmeralda e segurou contra si mesma. Imaginar-se libertando os botões
endureceu-o ainda mais.

─ Você está planejando passar o resto da sua vida no quarto, é?

Ela riu e colocou o espartilho no chão.

─ Eu comprei algo para você.

─ Melhor que o espartilho?

─Talvez não. Você pode decidir. ─ Ela entregou-lhe uma caixa grande. Ele
reconheceu o nome estampado na frente e o que ele sentia por ela em seu
coração multiplicou-se cem vezes. A abertura mostrava potes de tintas a óleo e
aquarela. Havia lápis e pedaços de giz colorido e carvão e três pincéis com
cabeças de vários tamanhos.

─ Espero que isso compense eu ter vendido sua pintura para o homem no cais.
Pelo menos um pouco.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Como na empolgação de fazer compras com sua mãe ela tivera tempo para
comprar algo tão pessoal. . .

─ Não era necessário, mas obrigada, Pilar.

─ Foi um prazer. Você terminou seu negócio com o Sr. Douglas?

─ No momento. Se tudo correr bem vou comprar o estaleiro dele.

─ Oh!

─ Mamãe provavelmente vai querer usar seu chicote em mim porque isso
significa que nos mudaremos para São Francisco. Você se importaria?

─ Não, claro que não. Uma mulher segue o marido especialmente para perto da
água. Acrescente o fato de que eu realmente gostei da cidade e estarei pronta
para ir quando você quiser.

─ Que tal tentarmos encontrar uma casa na praia ou construir uma?

─ Isso seria maravilhoso.

─ Se você não se importa, eu vou pegar o trem de volta para São Francisco com
eles amanhã e dar uma olhada nos livros. Eu quero fazer isso assim que puder.
Walt não tem certeza se verá o ano novo. . .

─ Compreendo. Acho que posso liberá-lo por alguns dias para que você possa
garantir nosso futuro.

Olhando sua beleza e saboreando seu espírito, Noah não tinha


dúvidas de que ele a amava - totalmente, totalmente e para sempre. Ele não
tinha como saber se seus sentimentos eram recíprocos, mas isso não importava.
Ela estava disposta a estar com ele, apesar de suas imperfeições e do
quebrantamento que ainda persistia por dentro, e ele a amava por isso também.

─ Agora ─ ela disse ─ eu realmente senti falta dos seus beijos enquanto eu
estava fora. Você se importaria de me oferecer alguns para me dar as boas-
vindas? Então você pode decidir se este vestido tem sua aprovação. Afinal seu
dinheiro suado o comprou ─ ela brincou fazendo referência às palavras de
Lavínia de antes.

Seus olhos brilhantes vagavam por ela da maneira que suas mãos ansiavam. ─
Nós provavelmente devemos tirar primeiro as coisas da cama.

─ De acordo.

Então sob a luz suave de uma lâmpada abaixada, Pilar recebeu um


monte de beijos apaixonados e úmidos de boas vindas em casa, e Noah

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


descobriu que aprovava tanto o vestido, que estaria entregando seu dinheiro
suado para que ela pudesse comprar mais - o mais rápido possível.

Na manhã seguinte, Noah e os Douglas partiram. Walt dormiu a


maior parte do caminho para São Francisco e Noah notou que ele parecia ter
murchado ainda mais durante a noite.

─ Obrigado por deixar meu pai e eu ficar com sua família na noite passada.

─ Não foi nada.

─ Eu gostaria que alguém me presenteasse com rubis assim.

─ Minha mãe é muito generosa.

─ Sim, eu vi. Aquele colar teria ficado adorável em mim, você não acha?

Noah não respondeu a isso, mas pediu:

─ Conte-me sobre o outro comprador que seu pai mencionou.

─ Ele é brasileiro, e embora não tenha um estaleiro é incrivelmente rico. Ele está
se mudando para a Califórnia e está procurando empresas para comprar e
investir.

─ Mas Walt recusou.

─ Sim. O que acho muito míope considerando que Martinez está preparado
para pagar uma quantia considerável. Estou disposta a negociar com alguém
que me permita estar no comando.

Noah não podia culpá-la por isso.

─ Você me permitiria isso?

Ele pensou sobre o assunto.

─ Você é mais do que capaz, Lavínia, e eu estaria aberto para discutir se você
tivesse sido mais gentil com minha esposa. Pilar é muito importante para mim.
Eu não a sujeitarei aos seus comentários maliciosos e depreciativos.

Ela não gostou disso.

─ Então pelo velhos tempos, você pelo menos conhecerá o Sr. Martinez?

─ Este é o homem que você está defendendo?

─ Sim.

─ Por quê? Seu pai já me fez a oferta.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Eu disse a ele sobre você, e ele gostaria de conhecê-lo para falar sobre
possivelmente ser um investidor.

Noah não viu nada de errado com isso.

─ Isso seria bom, mas eu estou indo para casa amanhã.

─ Então enviarei uma nota para ver se ele está disponível para o jantar hoje à
noite.

Noah assentiu. Se Martinez quisesse investir, Noah seria um tolo em não ouvir
pelo menos.

Walt despertou quando chegou a hora de sair do trem.

─ Eu vou deixar Vini mostrar os livros a você, Noah. Estou muito cansado para
qualquer outra coisa hoje.

─ Compreendo.

─ Quando você vai voltar para o rancho?

─Eu estava esperando poder ir amanhã.

─ Ok. Olhe os livros hoje à noite e venha me ver de manhã. Vou pedir ao meu
advogado que nos encontre com os documentos que precisamos assinar para
fechar nosso acordo.

─ Concordo e agradeço novamente por sua fé em mim.

Um motorista estava esperando por eles na estação e uma vez que


chegaram à casa de Douglas, Walt foi recebido pela enfermeira contratada para
cuidar dele e foi lentamente conduzido ao seu quarto.

─ Existe alguma coisa que eu possa oferecer antes de sairmos? ─ Lavínia


perguntou. ─ Algo para comer ou beber, talvez?

─ Não, obrigado. Vamos apenas seguir nosso caminho, se você não se importa.

─ Só me dê um momento. Vou enviar um dos servos com uma nota para o Sr.
Martinez.

Uma vez feito isso, eles voltaram para a carruagem.

O passeio pela cidade e até as docas mostrou como São Francisco


estava crescendo. Novos prédios surgiam em toda parte e o tráfego era denso.
Sendo a cidade um dos maiores e mais movimentados portos marítimos do
país, eles passaram por todo tipo de operações à beira-mar no caminho para o
estaleiro: desde galpões em ruínas e tocas de jogos de azar, até grandes e

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


pequenas fábricas que acomodavam desde a produção de óleo de baleia até
assuntos ligados a cavalos e feno. As visões e cheiros fizeram com que ele
desejasse estar na água. Ele pedira a Drew que preparasse os documentos para
dissolver sua empresa e enviar a Kingston sua parte dos lucros, mas ele se
perguntava se seria viável ressuscitar o negócio de importação e exportação
como um desdobramento do estaleiro. Em teoria tal fusão parecia viável, mas
na prática ele não tinha certeza. Ele teria que investigar mais uma vez depois
que ele tivesse comprado o estaleiro.

O estaleiro de Douglas estava aninhado ao longo de um trecho de


estabelecimentos de tamanhos semelhantes, e seu cais e docas estavam
ocupados com a atividade, enquanto cascos de madeira e mastros eram
movimentados em polias e pequenos guindastes, e enviados para as várias
etapas para serem transformados em embarcações marítimas. O ar estava cheio
com sons de martelos, máquinas e as vozes dos homens. Alguns dos
trabalhadores pararam para observar sua aproximação e ele inclinou a cabeça
em saudação. O gesto foi devolvido embora com cautela. Ele se perguntou se
eles sabiam que o negócio estava à venda. Lavínia, no entanto, não ofereceu tal
saudação. Ele se perguntou se a indiferença dela estava enraizada em seu
gênero e ela não queria incentivar a familiaridade, ou se ela olhava para os
homens cujo trabalho fornecia o dinheiro para seus chapéus e vestidos
elegantes como simples trabalhadores e, portanto, não merecedores de
reconhecimento? Conhecendo-a, ele achou que era um pouco dos dois. O
escritório ficava recuado do cais em um grande armazém. Os homens lá dentro
também estavam construindo, mas esses cascos eram maiores e mais finos.

─ Cruzadores? ─ ele perguntou.

─ Sim. É uma comissão da Guarda Costeira, nossa primeira. Se eles aprovarem


o produto final e o fizermos a tempo, espero que nos deixem construir mais,
bem, você, já que você será o novo proprietário.

Ele achou essa notícia encorajadora. Ter um contrato com o governo


seria um bom caminho para adicionar não apenas estabilidade, mas também
lucros.

Durante o resto da tarde ele viu os arquivos que guardavam pedidos


pendentes, encontrou alguns dos funcionários da supervisão e andou para
dentro e para fora vendo o que podia. No momento em que o estaleiro fechava
para o dia, ele estava um pouco cansado e com muita fome, mas estava
satisfeito com a operação.

─ Você está pronto para o jantar? ─ Lavínia perguntou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sim, mas você quer voltar para sua casa e checar seu pai primeiro?

─ Não. A enfermeira está lá. Tenho certeza de que ela tem tudo sob controle.
Você tem um quarto para a noite?

─ Ainda não, mas tenho os nomes de alguns hotéis. Eu vou procurá-los depois
que terminarmos o jantar.

─ Você é bem-vindo para ficar com meu pai e eu. Nós temos um quarto.

─ Não, obrigado.

─ Você tem medo de eu me esgueirar e te violentar no meio da noite? Eu sei que


você diz ser feliz no casamento, mas eu não me importaria em fazer o papel de
amante, Noah.

Ele suspirou impaciente.

─ Eu não preciso de uma amante, Lavínia.

─ Se você mudar de ideia, me avise.

─ Vamos conhecer seu homem. ─ Ela nunca iria parar? Como ela poderia
pensar que ele iria querer ter uma amante depois de conhecer sua linda esposa
estava além dele. Ele esperava de uma vez por todas que este fosse o fim da
questão porque ela constantemente se atirando nele seria cansativo.

O restaurante não era um lugar que ele tenha comido antes, mas era bem
decorado e limpo.

─ Ah, ele já está aqui.

Noah olhou na direção que ela indicou e jurou que seus olhos estavam
enganando-o. Sua surpresa deve ter mostrado.

─ O que está errado?

─ Esse é Martinez?

─ Sim. Você já o conheceu antes?

─ Ah sim, mas não como Martinez. Eu o conheço como Victorio Gordonez.

Quando se aproximaram da mesa, Gordonez sorriu para ele através do pó


branco em seu rosto.

─ Ah, Sr. Yates, nos encontramos novamente.

─ Gordonez. Eu ouvi que você está se chamando Martinez agora.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sou conhecido por muitos nomes. Por favor, sente-se. Eu espero que você
tenha gostado de visitar o estaleiro com a adorável Senhorita Douglas.

─ Eu gostei.

Lavínia parecia surpresa, mas não mais que Noah. Conhecendo Walt Douglas,
ele deu uma olhada no homem e recusou a oferta. Noah não o culpou.

─ E você já encontrou a pequena Banderas? ─ ele perguntou.

─ Encontrei ─ mas não ofereceu mais nada. Tinha quase certeza de que Lavínia
já lhe contara sobre sua esposa cubana inadequada, e a menos que Gordonez
indagasse mais, Noah não tinha intenções de discutir Pilar.

Enquanto estudavam o cardápio, Noah perguntou:

─ Por que você está querendo comprar um estaleiro aqui?

─ Tenho vários interesses em toda a região, então por que não? São Francisco é
uma cidade próspera. Um estaleiro seria um investimento sólido e ter meus
próprios navios facilitaria o movimento de alguns dos bens que eu compro.

─ Entendo.

O garçom apareceu para anotar o pedido e depois partiu.

─ Então ─ perguntou Gordonez ─ quanto ouro custaria para você se afastar da


oferta do pai?

─ Empilhe-o tão alto quanto a Grande Pirâmide de Gizé e isso ainda não seria
suficiente.

─ Suponha que eu balance a localização da sua esposa sob o nariz das


autoridades cubanas? Ouvi dizer que ela é procurada por contrabando.

Noah levantou sua taça de vinho.

─ Então eu vou te matar.

Gordonez ficou rígido. Lavínia ofegou.

Noah acrescentou friamente:

─ Faz mais de dez anos que tirei a vida de um homem, mas ponha em perigo
Pilar e alegremente vou mandá-lo para o inferno. Não duvide de mim.

─ Está apaixonado.

─ É verdade.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Então estamos em um impasse.

─ Sim, nós estamos.

Gordonez levantou o copo.

─ Pela sua saúde, Sr. Yates.

Era mais uma ameaça, mas ele preferiu ignorar. Em vez disso ele se levantou e
jogou algumas notas na mesa.

─ Minha porção da refeição. Se você me der licença eu não estou mais com
fome.

Sem olhar para trás saiu do restaurante.

Em seu quarto em um pequeno hotel mais tarde naquela noite, um


exausto Noah fechou os livros que ele estava avaliando e passou as mãos pelos
olhos cansados. As contas de Douglas foram aprovadas, mas ele ainda estava
pensando no surpreendente confronto com Gordonez. Como Lavínia o
conheceu? Era sua primeira pergunta, e ela estava ciente de sua história
sórdida? Depois de testemunhar o que tinha acontecido no jantar, ela ficaria tão
cega pela sua busca de se apoderar do negócio de seu pai que o ignoraria e
continuaria a defender o cubano? Noah não tinha respostas e sinceramente elas
não importavam.

A única coisa que tinha certeza era da morte de Gordonez se alguma coisa
acontecesse com Pilar.

Na manhã seguinte Lavínia atendeu sua batida na porta da casa de Douglas.

─ Bom dia, Noah. Jantar interessante na noite passada.

─ Você faria bem em se distanciar do seu novo companheiro, Lavínia. Ele é


mais do que parece.

─ Papai está esperando por você em seu escritório.

─ Obrigado. ─ Ele não pretendia discutir com ela sobre o assunto. Se ela queria
dançar com uma víbora que assim seja.

Seu encontro com Walter e seu advogado foi bem. Os documentos


foram assinados e datados e assim que eles fossem arquivados com as
entidades apropriadas, Noah se tornaria o dono. Ao contrário do que Lavínia
acreditava, Noah estaria desembolsando uma soma significativa como parte do
negócio, mas era dinheiro bem gasto. Ele agora poderia fornecer um futuro para
sua esposa e família.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Obrigado novamente, Walt.

─ Obrigado novamente, Noah. Agora posso ir para meu túmulo em paz.

Noah ficou triste com o pensamento de sua passagem iminente. Ele


era um homem durão, mas justo, e o mundo seria um lugar mais pobre sem ele.
Ele apertou a mão do advogado e eles passaram mais alguns momentos
conversando sobre negócios. Noah não viu Lavínia.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 23

No dia em que Noah partiu para São Francisco, Pilar passou a manhã
com Titã. O garanhão ainda permanecia cauteloso com sua presença, mas ele
protestou menos. Ele até se dignou a comer do saco de aveia enquanto ela o
segurava, mas quando ela estendeu a mão para tocá-lo ele correu para longe.
Foi decepcionante em alguns aspectos, mas ela se sentiu encorajada também.
Eles estavam fazendo progresso.

Ela estava sentada no pátio almoçando com Alanza quando Drew apareceu.

─ Boa tarde, senhoras!

─ Pilar. Eu quero que você feche seus olhos.

─ Por quê?

Ele balançou a cabeça.

─ Eu tenho uma surpresa.

─ O que é?

Ele olhou para o céu como se buscasse a força dos céus.

─ Por que as mulheres dos Yates são tão teimosas? Você pode fazer o que eu
peço, por favor?

Alanza interveio.

─ Vá em frente, Pilar. Ele vai reclamar até conseguir o que quer.

Ele deu à mãe um olhar de censura divertida.

─ Tudo bem, Drew ─ disse Pilar, ─ mas se for algo que me assusta vou matá-lo.

─ Estou apavorado, irmãzinha.

Ela fechou os olhos e esperou.

─ Agora, você pode abri-los.

E no pátio estava sua mãe e irmã. Ela deu um pulo e nos minutos seguintes
houve muitos abraços, falas em espanhol e lágrimas de alegria.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Oh, é tão maravilhoso ter você aqui ─ proclamou Pilar apreciando a sensação
de ser abraçada por sua mãe. ─ Eu senti sua falta e de Doneta também.

─ Sentimos sua falta também ─ sua mãe sussurrou de volta. ─ Muito.

Ela e Doneta compartilharam um abraço e lágrimas.

A exultante Pilar finalmente se lembrou de suas maneiras.

─ Mamãe, esta é a mãe de Noah, Alanza Rudd. Alanza, minha mãe Desa
Banderas e minha irmã, Doneta.

─ Bem-vinda ao Rancho Destino. Estamos honrados em ter você aqui. Sua filha
me deu muita alegria.

─ Obrigada. Estamos honradas em estar aqui. Ela tem se comportado?

Drew falou:

─ Claro que não.

─ Posso dar um soco nele, Alanza? ─ perguntou Pilar, rindo.

─ Agora não, vamos acomodar sua família primeiro.

Mas Pilar tinha uma pergunta para ele:

─ Como você as encontrou? Onde você as encontrou? ─ Ela notou a maneira


reservada de sua mãe e irmã ao encontrar Alanza, mas disse a si mesma que era
de se esperar. Eles não tinham como saber como Pilar estava sendo tratada por
Noah e sua família. Mais tarde, uma vez que ficasse sozinha com elas ela
revelaria a verdade, pois queria muito que todos se entendessem.

Em resposta à sua pergunta, Drew explicou:

─ O gerente do entreposto enviou um mensageiro ao banco para avisar a Noah


sobre a chegada delas. Desde que ele não estava fui até lá para buscá-las e...
Voila, estamos aqui.

Pilar deu-lhe um beijo na bochecha.

─ Eu desisto de dar um soco em você. Obrigada!

─ Por nada. Senhora Banderas e Doneta, bem vindas à Califórnia. Foi um prazer
conhecer vocês duas. Eu verei vocês hoje à noite no jantar.

Ele se curvou e partiu.

Alanza disse:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sra. Banderas, nos dê um pouco de tempo para preparar seus quartos.
Enquanto isso Pilar por que você não as leva até sua ala para que elas possam
relaxar e as três possam conversar? Vou mandar Bonnie com refrescos.

Pilar achou isso agradável.

Passando pelos corredores até a suíte dela e de Noah, a mãe disse:

─ Esta casa é muito grande, Pilar.

─ Sim. Sua família vive aqui há muitos anos. Eles são espanhóis antigos, mas
não são arrogantes ou formais.

Ela abriu a porta e gesticulou para dentro e as duas mulheres olharam em volta
admiradas. Doneta perguntou:

─ Estes são os seus aposentos?

Pilar assentiu.

─ Quando sua mãe se tornou rica o suficiente para pagar, ela adicionou esta ala
para que Noah e seus dois irmãos pudessem ter seu próprio espaço longe da
casa principal. Noah disse que eles faziam muito barulho e monopolizavam o
único quarto de banho.

Doneta foi para as portas da varanda enquanto Desa continuava a olhar em


volta. Seu olhar descansou no piano.

─ Quem toca? ─ ela perguntou curiosa ─ ou é simplesmente decorativo?

─ Noah toca e extremamente bem. Ele também pinta e compõe música.

─ Mesmo?

Ela riu em resposta à surpresa escancarada de sua mãe.

─ Venha, sente-se. Ou você quer se sentar na varanda? Pode-se ver as


montanhas de lá.

Doneta tomou a decisão abrindo as portas, então a seguiram.

─ Isso é lindo ─ disse ela de pé no parapeito e olhando para fora. ─ E a família


dele é dona de tudo isso?

Pilar assentiu.

─ Há gado e galinhas e pomares e vinhas. O pai de Noah morreu quando ele


era muito jovem, e Alanza construiu tudo isso praticamente com suas próprias

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


mãos. Ela é uma mulher incrivelmente maravilhosa, mamãe. Lembra-me de
você de várias maneiras. Ela tem sido incrivelmente gentil comigo.

─ E Noah? ─ Sua mãe perguntou incisivamente.

Pilar pensou no homem maravilhoso com quem se casara e seu coração


disparou.

Doneta riu.

─ Olhe para o sorriso dela, mamãe. Pilar, você está apaixonada?

Pilar sorriu.

Doneta gritou:

─ Você está, não está?! Eu estou com tanto ciúme.

Todas elas riram.

─ Nós nos damos muito melhor do que eu sonhei que faríamos. Ele tem sido
incrivelmente gentil.

Doneta estendeu a mão.

─ Pague, mamãe.

Pilar olhou a troca com curiosidade.

Doneta explicou:

─ Eu disse à mamãe na noite em que você nos deixou que ele estava
apaixonado por você e que ela não teria que se preocupar sobre como ele te
trataria.

Desa riu e pegou da bolsa a bolsinha de moedas. Extraindo uma, ela colocou na
palma da mão aberta da filha.

─ Você sabe que extorquir sua mãe é pecado.

Doneta se virou para Pilar.

─ Onde ele está?

─ Em São Francisco a negócios. Estou esperando ele hoje mais tarde, a menos
que algo o detenha.

─ Drew é muito bonito. Eu sei que você disse que ambos os irmãos dele são
casados. Ele tem algum primo solteiro?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar riu. Ela estava tão feliz de estar com elas novamente, especialmente sua
irmã.

─ Eu não estive aqui o tempo suficiente para conhecer os primos ainda, mas
vou ficar de olho para você.

Bonnie chegou pouco depois levando uma bandeja com chá e sanduíches.
Enquanto comiam contaram a Pilar como iam as coisas na Flórida.

─ Nossas primas têm noivos!─ Doneta informou animadamente. ─ Um par de


gêmeos que são apenas alguns anos mais velhos. Tio Miguel e Tia Simona estão
em êxtase.

Pilar ficou contente em ouvir isso. Ela esperava que elas fossem tão felizes
quanto ela e Noah.

A conversa mudou-se para a casa que Desa estava pensando em comprar


quando Pilar deixou a Flórida.

─ Nós nos mudamos na semana passada. Tem três acres de terra e a casa
precisa de alguns reparos, mas Miguel cuidará disso e prometeu que tudo
estará pronto no momento em que retornarmos.

─ Quanto tempo você está planejando ficar?

─ Nossos bilhetes nos dão duas semanas. Isso seria uma imposição?

─ Claro que não. Na verdade, espero que você decida ficar mais tempo. Eu amo
isso aqui e sei que você vai amar também. ─ Pilar não parava de sorrir. Ela não
podia acreditar que elas estavam realmente lá.

Alanza chegou pouco depois para avisá-las que seus quartos


estavam prontos. ─Eu vejo você no jantar ─ disse ela.

Elas ficaram na ala que Billie e Drew tinham ocupado quando


moraram lá, e as visitantes novamente se maravilharam com o tamanho e a
elegância da suíte.

Doneta sentou-se no sofá e declarou:

─ É isso. Eu não vou voltar para a Flórida, mamãe. Vou encontrar um marido e
morar aqui pelo resto dos meus dias. Aqui é lindo ─ acrescentou ela olhando
em volta do espaço bem decorado.

Pilar e Desa riram.

─ Boa tarde, senhoras!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Noah! ─ Pilar gritou. Ela correu para ele e ele a pegou e eles seguraram um ao
outro como se tivessem se separado por toda a vida.

─ Como você está?

─ Maravilhosa agora que você está aqui. Mamãe e Doneta também estão aqui.

─ Estou vendo. Bem vindas à Califórnia. Espero que vocês planejem ficar
conosco por algum tempo. Como foi a viagem?

Quando Pilar se acomodou ao lado do marido, ela duvidou que


houvesse outra mulher no mundo mais feliz do que ela.

Por fim, Pilar e Noah se levantaram para sair para que Desa e Doneta
pudessem descansar para o jantar. Pilar abraçou-se com a mãe e novamente
sussurrou:

─ Estou muito feliz por estar com você novamente.

─ Eu me sinto da mesma forma.

Ela deu um abraço em Doneta também. Enxugando as lágrimas de


felicidade, Pilar e Noah partiram.

Em seu quarto eles compartilharam um beijo de boas-vindas.

─ Eu senti sua falta ─ disse ele segurando-a firmemente contra seu coração.

─ Eu também senti sua falta.

Quando finalmente se separaram, saíram para a varanda e sentaram-se.

─ Como foi a viagem? ─ ela perguntou e então escutou enquanto ele contava a
história. ─ Então você agora possui um estaleiro.

─ Eu possuo, e em breve você e eu precisamos ir a São Francisco começar a


busca por aquela casa de que falamos. Eu vou deixar você dizer à mamãe que
vamos nos mudar.

─ Covarde.

─ Definitivamente.

─ Isso tudo é muito emocionante.

─ Sim. Mas existe um senão, entretanto.

─ O quê?

Ele contou a ela sobre Gordonez.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela olhou fixamente.

─ Ele estava em São Francisco?

─ Sim, e ele quer comprar o estaleiro de Walt. Lavínia queria que ele fosse o
dono.

─ Ela está louca para estar do mesmo lado de uma cobra como ele?

─ Foi exatamente o que pensei. Ele perguntou se eu desistiria do acordo.


Quando lhe disse que não, ele ameaçou revelar sua localização para as
autoridades espanholas.

Seu coração parou.

─ Ele realmente faria isso?

─ Eu prometi matá-lo se ele fizesse.

A fúria fria em seus olhos arrepiou o cabelo da nuca dela. Ela


percebeu que ele não estava brincando. Ela também percebeu que havia um
homem sob a superfície de Noah Yates que ela não conhecia e que a fez hesitar.
Ele era o homem que tinha os pesadelos? Ela sentiu que perguntar sobre isso
abriria uma caixa de Pandora, então ela deixou passar.

─ Espero que não chegue a isso.

Eles conversaram sobre sua viagem por mais algum tempo e então ele
perguntou:

─ Como está seu cavalo?

Suas preocupações com Gordonez atrapalhando sua vida desapareceram


momentaneamente e ela sorriu.

─ Ele está indo muito bem. Quero levá-lo conosco quando nos mudarmos.

─ Isso significa que precisaremos de um lugar com alguma área plantada.

─ Será que podemos encontrar algo que tenha água também?

─ Eu não sei, mas certamente vamos tentar o nosso melhor.

Isso encheu seu coração.

─ Você é tão gentil comigo, Noah Yates.

─ Eu não quero que você lamente ter casado comigo, Pilar. Eu quero que a
gente seja feliz.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Assim como eu.

Seu braço sobre seus ombros a aproximou, e enquanto ela descansava a cabeça
no peito dele, se perguntou se era assim que se sentia quando estava
apaixonada.

Naquela noite no jantar, Pilar apresentou sua família ao sogro e aos bebês e
Alanza declarou:

─ No próximo fim de semana será a festa para celebrar o casamento de Noah e


Pilar, e permitir que nossos vizinhos e amigos encontrem Desa e Doneta. Todos
a favor digam sim!

Os sim de resposta podiam ser ouvidos em Denver.

O Rancho Destino passou a semana seguinte se preparando para a


festa. Um pequeno exército de trabalhadores contratados buscava mesas e
cadeiras dos depósitos, além de lençóis, louças e talheres. As encomendas de
comida foram feitas a fornecedores locais como a Naomi de Eli, agora feliz
trabalhando em seu novo restaurante, enquanto frutas frescas eram colhidas e
armazenadas para os galões de sangria que seriam consumidos. Alanza e Pilar,
acompanhadas por Desa e Doneta, dirigiram por todo o vale para encontrar as
pimentas, os inhames, e outros vegetais necessários para os pratos cubanos que
Pilar planejava preparar como contribuição para as festividades. E Pilar
finalmente soube por que Mariah fizera as medições naquela primeira visita à
sua loja. Foi para um vestido.

Mariah presenteou-a com ele uma noite no jantar e o vestido vermelho escuro
era tão bonito que Pilar quis gritar.

─ Eu queria que combinasse com seus rubis. Você está planejando usá-los,
correto?

─ Agora, eu vou. Obrigada, Mariah.

Mariah beijou sua bochecha.

─ Disponha.

Mais tarde quando ela a mãe e a irmã viram o vestido a mãe perguntou:

─ O que foi aquilo sobre rubis?

Pilar explicou.

Doneta ficou chocada.

─ Você tem rubis?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela assentiu.

─ Você vai vê-los na festa. Eles estão no cofre.

Desa disse:

─ Estou com ciúmes da sua sogra. Não há como competir com isso.

Pilar lhe deu um abraço:

─ Não há como meu amor por ela superar meu amor por você, então, por favor,
não tente. ─ Desa acenou com a cabeça e sorriu.

A festa foi mais um grande acontecimento de Alanza. Não havia


malabaristas ou ursos dançantes, mas as pessoas do vale vieram em massa para
encontrar e cumprimentar a mais nova esposa Yates e sua família. Apenas
alguns dos muitos parentes de Alanza puderam comparecer devido ao tempo
curto, mas aqueles que compareceram ficaram tão satisfeitos em conhecê-la
como ela estava para conhecê-los, e ficaram extasiados por ela ter raízes
espanholas e falar a língua. Vestindo seu belo vestido e os rubis em volta do
pescoço, ela se sentia como uma rainha. E o rei dela vestido como um neto de
espanhóis em seu terno preto bem cortado e camisa branca de babados, era tão
bonito e elegante que parecia bom o suficiente para comer.

Enquanto eles se moviam através da multidão se misturando e


distribuindo abraços e desejos, ele disse a ela: ─ Eu não posso esperar para ficar
sozinho com você esta noite. A única coisa que você vai usar são esses rubis.

Seus sentidos se inflamaram.

─Você está tão bonito que eu estava esperando talvez fugir e induzir você a
fazer todo tipo de coisas escandalosas.

─ Você é a mulher dentro do meu coração, mas minha mãe nos mataria.

─ Como a minha.

─ Então se segure a esse pensamento.

─ Você faça o mesmo.

Ela e Noah receberam abraços e beijos de congratulações de seus irmãos e suas


esposas. Eles estavam todos lindamente vestidos também.

Drew ergueu o copo de vinho.

─ Um brinde a todas as mulheres que choram hoje porque o último irmão Yates
se casou.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Os irmãos levantaram os copos. Suas esposas reviraram os olhos.

Pouco tempo depois os músicos chegaram e a música encheu o ar.


Ela sorriu ao ver sua irmã dançando uma rumba com um dos jovens primos de
Alanza. Ele estava entre o pequeno batalhão de homens solteiros que
competiam por sua atenção. Doneta parecia estar se divertindo e Pilar ficou
satisfeita. Sua mãe parecia feliz também. Ela estava sentada com Alanza, Max e
algumas das tias, bebendo vinho, comendo e tagarelando em espanhol.

Noah a deixou por um momento para falar com o agente postal, Will
Sally, sobre um pacote que havia chegado para ele e ela continuou abrindo
caminho através da reunião.

Naomi a impediu.

─ Pilar, o que é isso? É delicioso. Você tem que me mostrar como fazer.

─ Certamente. Eles são chamados de chatinas. São bananas verdes fritas.

─ Eu poderia comer isso para o resto da minha vida.

Eli havia apresentado as duas mulheres há alguns dias e Pilar genuinamente


gostou dela.

─ Posso fazer um pouco para o seu jantar de casamento?

─ Você faria?

─ Eu ficaria honrada.

Elas passaram um momento discutindo o casamento que ia ser dali a algumas


semanas e Naomi saiu em busca de mais chatinas e de seu noivo Eli.

Noah voltou para o lado dela.

─ O que Will disse sobre o pacote?

─ Chegou ontem. Ele o teria trazido, mas ele estava tão ansioso para chegar
aqui que partiu e esqueceu. Eu vou buscá-lo segunda-feira de manhã. Eu espero
que seja a papelada do advogado de Walt.

─ Você não disse à sua mãe que estamos nos mudando ainda?

─ Não. Senão eu teria morrido e você ia ter que fazer amor com um fantasma
esta noite.

Ela riu.

─ Você se importaria de dançar, mi pequeña pirata?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


O carinho fez seu coração disparar.

─ Eu adoraria.

Mais tarde, quando o crepúsculo caiu, a festa começou a diminuir.


Os músicos embalaram seus instrumentos e o pessoal contratado começou a
limpar as mesas. A sobra de alimentos foi dada a todos os que queriam levar
para casa. Não sobrara muito, e Noah e Pilar se despediram de todos os
convidados e agradeceram por eles participarem. Os parentes de Alanza iriam
passar a noite, mas iriam para casa na primeira hora.

Uma feliz Doneta deu a ela e Noah abraços.

─ Foi uma festa maravilhosa.

Noah disse a ela:

─ Espero que você tenha dito ao seu exército de pretendentes que estamos
dormindo de manhã e que qualquer um que chegar antes do amanhecer será
morto.

Ela bateu nele de brincadeira no braço.

─ Eu duvido que haja qualquer demanda.

Pilar disse:

─ Você pode se surpreender. Eu vi alguns conversando com mamãe.

Seus olhos sonolentos se arregalaram.

─ Mesmo?

─ Sim.

─ Agora eu vou ser incapaz de dormir, imaginando quem poderia ter sido.

Pilar deu uma risadinha.

─ Vá para a cama. Bons sonhos.

─ Noite ─ E ela se dirigiu para dentro.

Noah passou um braço em volta da cintura dela.

─ Você está pronta para entrar?

Estava uma noite linda.

─ Só me deixe ficar aqui por um minuto. ─ Ela olhou em volta para o terreno
iluminado por tochas e pensou no momento maravilhoso e sabia que ela se

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


lembraria deste dia pelo resto de sua vida. ─ Sua mãe realmente sabe dar uma
festa.

─ Eu queria ursos dançarinos ─ ele reclamou.

Ela riu e eles entraram.

Lá em cima no quarto deles, exatamente como prometido, ele


lentamente tirou o vestido e deixou-a vestida apenas com o colar de rubi. O
amor que eles fizeram foi tão quente e escandaloso que a festa não era a única
coisa que Pilar lembraria pelo resto de sua vida.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 24

Pilar e Noah levantaram-se de madrugada, junto com Alanza para se


despedir dos parentes. Após a partida os três voltaram para a cama. Quando
todos se reuniram depois para o café da manhã, souberam que um dos parentes
havia ficado para trás. Seu nome era Cristopher Vallejo, o único filho de um dos
primos de Alanza. Ele queria passar algum tempo com Doneta e aparentemente
recebera a permissão de Desa na festa. Quando se juntou a eles no café da
manhã, ele só tinha olhos para Doneta e Pilar percebeu que Doneta estava
silenciosamente em êxtase com sua presença. Pilar não sabia nada sobre ele,
mas aparentemente Noah e seus irmãos o conheciam muito bem.

Quando começaram a comer, Logan começou:

─ Então, Christopher, você estará conosco por alguns dias.

─ Sim.

Noah perguntou:

─ Quantos anos você tem agora?

─ Vinte e quatro.

Pilar pegou o sorriso de Doneta.

Drew acrescentou:

─ Você percebe que antes de você pedir formalmente Doneta teremos que
aprovar.

Pilar escondeu o sorriso diante da surpresa de Doneta.

Noah disse:

─ Somos seus cunhados e como seu pai está morto ficamos na obrigação com a
mãe dela.

Desa sorriu.

Christopher não e nem Doneta.

Noah perfurou alguns ovos.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Só queria que você fosse claro sobre como isso vai funcionar.

─ Obrigado ─ disse Christopher.

Doneta atirou em Pilar uma expressão de desgosto. Pilar encolheu os ombros


em resposta.

Assim pelo resto do dia onde quer que Doneta e seu potencial
namorado fossem, Noah ou um dos irmãos os seguiam. Quando eles foram
passear, Logan também foi. Quando eles almoçaram no pátio, Drew se juntou a
eles. Quando eles foram caminhar, Noah os acompanhou como uma ama de
mais de um metro e oitenta.

Enquanto as mulheres da família relaxavam juntas na sala, Desa


comentou: ─ Eu não tinha ideia de que eles seriam tão protetores.

Alanza respondeu:

─ Christopher é um ótimo jovem, mas ele tem a reputação de ser um destruidor


de corações. Os garotos estão apenas lembrando-o de tratar Doneta com
respeito.

Mariah exclamou:

─ E Logan está praticando para quando Maria tiver idade.

Billie sacudiu a cabeça.

─ Tudo o que tenho a dizer é que Drew tem muita coragem.

A sala explodiu em gargalhadas.

Naquela noite depois do jantar, Pilar subiu para passar algum tempo
com Doneta e sua mãe em sua suíte.

Doneta reclamou:

─ Você pode, por favor, fazer algo sobre Noah e seus irmãos? Com eles ao redor
eu nunca vou me casar.

Pilar se sentou.

─ Não foi você quem disse que não queria que Noah fosse o cunhado de
qualquer garota, mas o seu?

─ Eu estava obviamente delirando.

Desa disse:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você é um membro da família deles agora, Neta, e eles estão levando o
trabalho a sério. Estou muito satisfeita.

─ Eu não estou.

─ Quanto tempo Christopher vai ficar?

─Do jeito que foi o dia eu ficaria surpresa se ele não fugir assim que escurecer.

─ Se ele for, então ele não é o certo ─ Desa apontou.

Doneta caiu em uma cadeira.

─ Eu suponho.

─ Ele é muito bonito ─ acrescentou Pilar.

Doneta sorriu.

─ De fato, ele é.

Naquela noite, enquanto Pilar estava deitada na cama aconchegada ao lado de


Noah, ele perguntou:

─ Quão brava está Doneta?

─ Muito louca.

─ Nós não vamos deixá-la ser cortejada por qualquer um; somos a família dela
agora.

─ Mamãe explicou isso para ela. Ela acha que Christopher vai desaparecer
durante a noite.

Noah riu.

─ Se ele for, então ele não é tão sério como ele afirma ser.

─ Concordo.

─ Estou falando sério para você.

Pilar se virou para ele.

─ Ações falam mais alto que palavras, Americano.

─ Venha aqui ─ ele rosnou de brincadeira.

Durante a hora seguinte, ele a tratou com mais ação do que palavras
e ela decidiu que ele era realmente muito sério.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


No dia seguinte, a família retomou sua rotina normal. Com a
construção na cidade praticamente concluída, Max foi até a serraria buscar
alguma madeira para uma nova casa que ele iria construir. Logan partiu para
encontrar Eli e consertar cercas. Billie não estava se sentindo bem, então Drew
ficou em casa ajudando com Antônio enquanto ela descansava. Doneta e
Christopher sentaram-se na sala de estar sob os olhos atentos de Alanza e Desa.
Pilar foi passar o dia com Titã e Noah partiu para a cidade sozinho para
resgatar seu pacote de Walt.

Na viagem para a cidade ele pensou em como a vida dele parecia


perfeita. Tinha uma esposa que ele adorava, um novo empreendimento
comercial e uma família cheia de amor e risos. Ele também estava satisfeito por
Christopher não ter escapado, e esperava que seu primo fosse tudo o que
Doneta queria que ele fosse.

De repente ele ouviu o estalo de tiros e a dor explodiu em suas


costas. Uma segunda bala atingiu-o e ele tentou se abaixar, mas perdeu o
controle sobre as rédeas e caiu no chão em agonia. Agarrando a arma em seu
coldre o tempo todo tentando localizar o atirador e ignorar a dor crescente, ele
conseguiu levantar apenas para ter uma outra bala explodindo em seu braço e
enviar a arma longe. Deitado na estrada, aos poucos ficando tonto por causa da
dor e todo o sangue que ele sabia que estava perdendo, ele sugou o ar e lutou
para ficar de pé. Trêmulo, ele se sentiu balançando a beira da inconsciência.
Determinado a não sucumbir desejou que suas pernas se movessem. Não estava
a mais de um quilômetro de casa. Se ele pudesse se concentrar poderia voltar.
Deu um passo, mas o segundo foi sua ruína e ele caiu de cara na estrada.
Quando ele deslizou na escuridão, a última coisa que viu foi um homem
vestindo um capuz preto de pé sobre ele.

Pilar estava com Titã quando Alanza gritou.

─ O cavalo de Noah voltou sem ele. Há sangue em toda a sua sela. Mandei
pessoas atrás do Logan e do Drew, mas vou procurá-lo agora. Já falei com sua
mãe e irmã.

Seu coração parou.

─ Também estou indo.

─ Vamos pegar a carroça, vamos!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Elas correram para o estábulo. Um homem tinha os cavalos
engatados e a carroça pronta para ir, então Alanza pegou as rédeas e elas foram
embora.

A carroça não estava se movendo rápido o suficiente para Pilar, mas


ao invés de ficar chateada com isso, ela orou e manteve os olhos abertos para
que elas não passassem por ele, se ele estivesse deitado na vegetação ao longo
da estrada.

Quando elas o encontraram, ele estava tão imóvel que Pilar achou
que ele estivesse morto. Ela pulou para baixo enquanto uma igualmente
perturbada Alanza fez o mesmo e elas correram para o lado dele.

─ Noah! ─ Pilar chamou. Ele não se mexeu. ─ Noah!

Ela olhou horrorizada para o sangue acumulado nas costas de sua camisa jeans.
─ Meu Deus. Quantas vezes ele foi baleado?

─ Noah! ─ gritou Alanza. A mancha de sangue estava se espalhando. Ele


gemeu fracamente, mas o som colocou lágrimas de alegria em seus olhos.

Drew veio trovejando e desmontou num piscar de olhos.

─ O que aconteceu!

─ Ele foi baleado ─ disse Pilar.

Uma sombria Alanza disse a Drew:

─ Ajude-nos a colocá-lo na carroça e depois busque o Dr. Lloyd. Faça com que
ele nos encontre na casa.

Entre os três eles conseguiram colocá-lo de pé. Sua cabeça pendia


para a frente e ele parecia um peso morto. Pilar disse encorajadoramente:

─ Querido, mexa as pernas. Ajude-nos, por favor. Apenas até a carroça.

Seus olhos se abriram.

─ Pilar? ─ Ele questionou em uma voz irregular. Ela mordeu o lábio,


determinada a não chorar. Seus olhos vidrados encontraram Alanza. ─ Dói
tanto, mamãe ─ ele sussurrou.

─ Eu sei, mas você deve andar filho ─ ela pediu. ─Temos que te levar para casa.

Onde ele encontrou a força Pilar não sabia, mas de alguma forma
conseguiu avançar um pequeno passo de cada vez. Ele estava respirando tão
duramente quando chegaram à carroça, que ela não tinha certeza se ele tinha

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


forças para subir. Mas ele fez, com a ajuda de Drew, mas não sem chorar. Uma
lágrima deslizou por sua bochecha e ela correu para longe.

─ Vamos descobrir quem fez isso acredite ─ prometeu Drew com raiva. Ele
encontrou a arma de Noah e depois de dar para Pilar ele correu para sua
montaria e cavalgou como o inferno pela estrada em direção à cidade.

─ Temos que diminuir esse sangramento ─ disse preocupada Pilar a Alanza.


Não vendo nada que pudesse ser usado, Pilar arrancou a cintura da camisa
rasgou-a ao meio e enfiou as peças nas feridas antes de pressioná-la. ─ Ok,
Alanza, vai!

Com a cabeça do marido inconsciente embalada em seu colo, Pilar


segurou enquanto Alanza de boca fechada girava a carroça e dirigia para casa.

O Dr. Renee Lloyd, que havia se formado no leste da Pensilvânia e se


mudara recentemente para a região, foi franco sobre suas chances de
sobrevivência.

─ Ele perdeu uma quantidade significativa de sangue ─ disse ele à família


reunida. ─ Eu removi três balas e limpei e costurei as feridas. Tudo o que
podemos fazer agora é esperar. Aqueles de vocês que têm o ouvido de Deus
devem começar suas orações.

Alanza ofereceu-lhe um quarto para poder ficar com eles e ele


aceitou.

Logan e Eli que tinham saído para ver se conseguiam rastrear a


pessoa responsável voltaram naquela tarde com um homem na carroça.

─ Não encontramos nada além de um espanhol. Disse que ele foi jogado por
seu cavalo. Eu acho que a perna dele está quebrada.

─ Espanhol? ─ perguntou Pilar.

Dr. Lloyd perguntou a Alanza:

─ Você se importaria se ele fosse trazido para a casa?

─ Não.

Eli e Logan mantiveram o homem manco entre eles enquanto o


ajudavam a entrar. Assim que Pilar viu seu rosto, ela pegou a arma de Noah
que havia colocado sobre uma mesa e antes que alguém percebesse o que ela
estava fazendo, enfiou a arma com força sob o queixo do homem.

─ Então nos encontramos novamente.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Todos pararam e olharam fixamente.

Ela disse ao homem de olhos arregalados com uma voz fria e mortal:

─ Se você piscar vou explodir sua cabeça. Coloque-o em uma cadeira, Logan.

─ Pilar, eu...

─ Faça Logan! Agora! ─ Ela puxou a arma de volta, mas ela observou o homem
com olhos cheios de ódio.

Quando foi colocado em uma cadeira, a sala ficou silenciosa como


um túmulo e ele olhou Pilar com cautela.

─ Eu não sei quem você pensa que eu sou...

─ Oh, eu sei quem você é. ─ E para provar isso, ela disse para ele ao pé do seu
ouvido ─Quem é seu mestre?

Levou um momento para lembrar de encontrá-la no cais naquela


manhã há tantos meses, mas quando o fez começou a tremer.

─ Você se lembra agora. Eu estava disfarçada no dia em que nos conhecemos,


mas você não estava. E agora, eu vou perguntar só uma vez. Gordonez mandou
você matar Noah Yates?

Ela ouviu suspiros atrás dela, mas os ignorou.

─ E não minta para mim. Noah é meu marido e esta é a casa de sua mãe. Os
homens que você vê são seus irmãos.

─ Eu não sei do que você está falando.

Ela atirou em sua perna quebrada. Seu grito encheu a casa.

Ignorando seus soluços de dor e terror, ela prometeu:

─ O próximo será entre suas pernas. Gordonez mandou você matar meu
marido?

Ele olhou em volta e implorou:

─ Alguém me ajude!

Ninguém se mexeu.

Pilar apontou a arma para as coxas e ele congelou, analisou seu


propósito mortal e cuspiu através das lágrimas: ─ Sim, sua puta, ele fez! Ele e a
mulher Douglas! Não atire em mim novamente, por favor!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Eli disse:

─ Eu vou buscar o xerife.

Pilar colocou a arma na mesa e saiu da sala para se sentar com o


marido.

Os próximos dias foram um pesadelo para Pilar e sua família. Por


causa da condição perigosa de Noah, o médico não queria que ele fosse
carregado até o andar de cima, então ele foi colocado em um quarto de
hóspedes no primeiro andar. Pilar pediu que um catre fosse acrescentado para
que ela não tivesse que dormir longe dele. Os membros da família se
revezavam em vigília com ela incluindo sua mãe e Doneta. Ela pediu desculpas
por não ser capaz de fazer o resto de sua visita o prazer que todas imaginavam,
mas elas entenderam e prometeram ficar com ela até a crise passar. Alanza
passava a maior parte do tempo sentada ao lado da cama, também saindo
apenas para ir à capela para acender velas e rezar.

Logan sentou com ela por um tempo durante o terceiro dia. Porque
ela não tinha deixado o lado de Noah ela não tinha ideia do que aconteceu
depois que o homem de Gordonez confessou, então ela pediu a ele.

—O doutor Lloyd tirou a bala e firmou a perna. O xerife chegou um pouco


depois disso e levou-o embora.

─ Eu verifiquei com ele ontem. Lavínia foi presa por tentativa de homicídio e a
polícia agarrou Gordonez quando ele estava embarcando em um navio para
deixar o país. Ele também foi preso.

─ Que todos eles apodreçam.

─ Você se levantou por Noah de uma forma que nos assustou a todos na sala,
Pilar. Obrigado por ser tão destemida. ─ Ele beijou sua bochecha.

Quando três dias se transformaram em quatro, o reverendo Paul


Dennis da igreja local parou para oferecer orações de conforto, assim como Tom
e Amanda Foster e amigos de longa data da família, Lucy Redwood e sua filha
Green Feather, que partiriam em poucos dias para seu segundo ano em
Hampton, na Virgínia. Até mesmo Felicity Deeb e seu marido Jim vieram -
embora a maioria acreditasse que era apenas a tentativa de Felicity de voltar às
boas graças de Alanza depois de não ser convidada para o casamento ou da
festa de Noah e Pilar, devido à sua rudeza com Billie quando ela fora
apresentada no ano passado. Naomi Pearl chegou para se sentar também e
ajudar Bonnie com a comida. Pilar e a família ficaram agradecidos pelas
demonstrações de apoio.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Noah conseguiu passar as primeiras quatro noites, mas Pilar se
preocupava. Quando ele não estava deitado como um cadáver, ele estava
gemendo, chorando e se debatendo. Durante um dos episódios violentos Drew
em um esforço para mantê-lo calmo, levou um soco no queixo.

─ Acho que ele está tendo um de seus pesadelos ─ disse ela enquanto Drew
esfregava o queixo para ter certeza de que não havia sido quebrado.

─ Que pesadelos?

─ Eu não sei sobre o que eles são, mas ele acorda tremendo. ─ E com raiva, ela
lembrou a si mesma.

Drew olhou para seu irmão agora calmo, mas ainda com medo de dormir. ─ Ele
disse a você que ele foi sequestrado?

Ela assentiu.

─ Mas só isso. Ele não ofereceu nenhum detalhe.

─ Eu me pergunto se os pesadelos têm algo a ver com aquilo. Algo terrível deve
ter acontecido porque ele estava diferente quando finalmente voltou para nós.

Pilar não sabia dizer.

─ Deixe-me pegar um pouco de gelo para meu queixo. Vou lhe dar uma por
isso quando ele estiver em pé e por perto novamente.

─ Eu me recuso a acreditar que ele não vai se recuperar.

─ Ele vai. Noah é muito maluco para morrer.

Ela sorriu pelo que pareceu a primeira vez desde que o encontrou de barriga
para baixo na estrada.

─ Você o ama, não é? ─ Drew perguntou em voz baixa.

Ela não hesitou.

─ Com cada fibra do meu ser.

─ Ele também te ama. Vai levar mais do que um par de balas para manter um
homem Yates longe de sua esposa. ─ Drew deu-lhe um beijo no rosto. ─ Espere.
E a propósito se algo assim acontecer comigo quero que você fique ao lado da
minha Billie.

─ Eu prometo.

─ Bom. ─ E ele a deixou sentada ao lado da cama de Noah.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


A previsão de Drew estava certa. Na manhã do quinto dia Noah abriu os olhos.
Pilar queria gritar de alegria, mas segurou-se para não assustá-lo em uma
recaída.

─ Bom dia.

─Onde eu estou? ─ ele perguntou grogue.

─ Em um quarto no andar de baixo. Você foi baleado por um dos homens de


Gordonez. ─ Ela colocou a mão na testa dele. Ainda estava febril, mas não tão
quente quanto antes.

─ Eu lembro de você e mamãe, não muito mais. ─ Então como se sua mente
finalmente lembrasse, ele ficou imóvel. ─ Eu lembro da dor nas minhas costas.
Eu fui baleado não fui? ─ Ele olhou para ela como se procurasse uma
verificação.

─ Sim. Uma no alto outra mais abaixo e uma no seu braço.

─ Onde está o homem agora?

─ Na prisão junto com Gordonez e Miss Lavínia Douglas. Ela também estava na
trama.

─ Bom, então eu não vou ter que caçá-los. O pobre Walt deve estar devastado
por sua cumplicidade.

Pilar tinha certeza de que ele estava, mas ela estava feliz. As orações familiares
foram respondidas. Noah viveria.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 25

A recuperação de Noah foi lenta, tão lenta que ao final da primeira


semana ele estava rosnando como um tigre para alguém próximo o suficiente
para ser um alvo - exceto sua mãe, sua esposa e o Dr. Lloyd, nenhum dos quais
prestou atenção ao fato de ele exigir sair da cama, andar a cavalo, ou pegar o
trem para São Francisco para começar a administrar seus negócios.

Seus irmãos, por outro lado, tentaram raciocinar com ele em um esforço para
fazê-lo entender por que ele estava restrito ao repouso.

─ Olha ─ Drew disse a ele naquela manhã. ─ Seu mau humor não vai
ajudá-lo a sair da cama mais cedo, então você pode também concordar com
Pilar e com o médico. Eu cuidei do pacote que você estava indo buscar no dia
em que foi baleado. Dentro estavam suas cópias da papelada do advogado de
Walt. Ele me mandou um telegrama para dizer que seus capatazes estão
trabalhando no estaleiro na sua ausência e se saindo bem sem você.

Noah olhava para ele com um olhar hostil. Se ele tivesse que ficar na cama mais
um dia, ele iria enlouquecer.

Logan acrescentou:

─ E se você fosse um paciente melhor iria ajudá-lo a negociar uma trégua, mas
você não está pronto. Não há sentido em deixá-lo levantar apenas para que
todos os pontos abram e você fique de cama por mais duas semanas. Assim,
pare de se comportar como um bebê.

─ Dê o fora.

─ Com prazer! ─ Drew e Logan disseram em uníssono.

Sozinho, Noah soltou um suspiro. Não, ele não estava sendo o


melhor paciente, mas se eles estivessem no lugar dele, ou na cama, eles não
seriam melhores. Ele estava sendo forçado a usar uma comadre, pelo amor de
Deus. Onde estava a dignidade nisso? Então porque ele sabia que ele estava
certo e eles estavam errados, ele se sentou. Suas costas protestaram, mas ele não
se importou. Respirando com os dentes cerrados e ignorando o suor que de
repente encharcou-o ele balançou as pernas para a beira da cama e sentou-se
por um momento para tentar recuperar o fôlego. Alimentado pela teimosia e

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


pura vontade, ele hesitantemente ficou em pé sobre as pernas que não haviam
sido consultadas de antemão e prontamente cederam.

Pilar entrou no quarto carregando uma bandeja e encontrou-o deitado no chão.


Em vez de se preocupar ela abaixou a bandeja.

─ Como é o teto daí, querido?

Ele rosnou.

─ Sem rachaduras ou sinais de danos causados pela água?

Ela se aproximou e se abaixou ao lado dele.

─ Você é um idiota, sabia? E se eu não te amasse com todo o meu coração eu


deixaria você ficar ai por... oh, três ou quatro horas só para te ensinar uma lição.

Seus olhos assustados encontraram os dela.

─ Você me ama?

─ Claro, por que mais você acha que eu não voltei para a Flórida? Você foi rude,
mal-humorado e impossível de estar por perto.

Ele sorriu.

─ Eu também te amo.

Ela se inclinou e o beijou.

─ Bom. Agora, eu vou buscar seus irmãos para que eles possam te ajudar a
voltar para a cama. Se expor ao ridículo deve fazer você se convencer a não
fazer isso novamente até que o Dr. Lloyd diga que você está pronto. Estamos de
acordo?

─ De acordo.

E porque ele manteve seu compromisso, uma semana depois ele foi
capaz de sair da cama. Ele não podia fazer muito mais do que caminhar até o
banheiro, o que o agradava imensamente, e sair para a varanda do quarto para
fazer suas refeições e aproveitar o sol e o ar fresco, mas a cada dia ele ficava
mais forte.

Outra semana de descanso permitiu que ele comparecesse ao


casamento de Naomi e Eli. Ele ainda se cansava facilmente então eles deixaram
a recepção cedo. Enquanto se preparavam para dormir ele disse a ela.

─ Estou pronto para fazer amor com minha esposa.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar usando uma das camisolas que ele gostava de tirar, aproximou-se.

─ Tem certeza de que você está pronto para isso? Pense em quão embaraçoso
seria se eu tivesse que ir buscar seus irmãos para colocá-lo de volta na cama
estando nua e tudo.

Isso lhe rendeu um golpe rápido, mas brincalhão.

─ Uma esposa deve reverenciar seu marido, não zombar dele.

─ Então você pode me cutucar como punição ─ ela o pegou pela mão. ─ Vamos.

Ele estava muito à altura disso, e quando eles terminaram, ela adormeceu em
seus braços e com um sorriso no rosto.

Em outubro, chegou a hora da mãe e da irmã de Pilar retornarem à


Flórida. Elas estenderam sua estadia para ajudar Pilar e Noah durante a crise.

─ Sentirei muito a sua falta ─ disse Pilar, chorando enquanto abraçava a mãe na
estação de trem. Ela estava tão acostumada a tê-las em casa quando acordava
todas as manhãs, seria um ajuste difícil saber que elas não estavam mais lá e
sim a milhares de quilômetros de distância novamente.

─ Eu também sentirei sua falta terrivelmente Pilar, mas nós voltaremos e Noah
me prometeu que você virá nos visitar.

Ela se virou para ele com olhos surpresos. Foi a primeira vez que ela ouviu
sobre isso.

Ele explicou:

─ Como seu tio e eu continuamos parceiros de negócios, eu gostaria de descer e


examinar a operação assim que eu me organizar no estaleiro, e como Drew e
Logan também investiram, talvez a família inteira queira ir e podemos alugar
um vagão particular para que não tenhamos que andar com os porcos.

Pilar achou uma grande ideia. Que ele não dissera nada para ela de antemão
não a aborreceu. Ela estava feliz por ele ter feito a promessa.

Seu próximo abraço foi para Doneta. Ela sentiria mais falta dela.
Billie e Mariah eram cunhadas maravilhosas e ela as amava muito, mas seu
amor por Doneta ocupava um lugar especial em seu coração.

─ Vou sentir sua falta também.

─Vou ficar mais tempo na próxima vez e talvez possamos encontrar um marido
como Noah ─ disse Doneta, abraçando-a com força. Christopher não dera certo.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Em algum momento durante o rescaldo do tiroteio ele foi para casa, mas Pilar
não fazia ideia de quando e Doneta não queria falar sobre isso.

Pilar beijou sua bochecha.

─ Combinado então.

O trem apareceu cuspindo fumaça e enxofre de carvão. Pilar ficou feliz em ver
sua mãe abrir os braços para um abraço de Noah e ele avançou sem hesitar.

─ Cuide da minha filha ─ disse ela.

─ Sempre. Boa viagem.

Ele e Doneta também compartilharam um abraço.

O condutor anunciou que era hora de embarcar. Com as lágrimas


escorrendo livremente agora, Pilar as observou desaparecerem para dentro.
Logo ela viu os dois rostos em uma janela. O apito soou estridente e o trem
começou a se mover. Enquanto se afastava, Noah deslizou um braço ao redor
de sua cintura como se soubesse que ela precisava de seu consolo.

─ Vou sentir muito a falta delas.

Ele beijou sua testa.

─ Vamos vê-las em breve. Eu prometo.

Pilar ficou um pouco melancólica pelo resto do dia e naquela noite, enquanto
estava do lado de fora observando a lua surgir, ela se abraçou em resposta ao
frio.

─ Quanto mais frio vai ficar? ─ ela perguntou a Noah quando ele se juntou a ela
encaixando o braço em volta de sua cintura.

─ Só um pouco.

Ela se virou para olhar em seu rosto.

─ Isso é a verdade?

─ Não.

Ela brincou socando-o com um cotovelo.

─ Mas como prometi, vou mantê-la aquecida. Na verdade que tal eu te levar
para dentro e te aquecer agora? Dar-lhe outra coisa para pensar além de sentir
falta de sua mãe e irmã.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Você faria isso por mim? ─ ela perguntou, voltando-se totalmente para
encará-lo.

─ Por você eu estaria disposto a fazer qualquer sacrifício.

─ Eu gostaria de mergulhar em uma boa banheira quente. Você acha que pode
se sacrificar o suficiente para se juntar a mim?

Ele fez questão de pensar sobre isso.

─ Sim, acredito que posso fazer isso.

Ela se aproximou e ronronou:

─ Obrigada. E por ser um marido tão maravilhoso você pode escolher o que
você quer que eu use depois que terminarmos na banheira e removê-lo quando
você estiver pronto.

─ Eu já disse hoje que te amo?

─ Não tenho certeza, mas você pode me dizer enquanto nos aquecemos.

Nas semanas que se seguiram, Noah se entregou a seu emprego


como novo proprietário do Estaleiro Douglas e procurando uma casa. Noah
planejava manter o nome de Walt na placa em homenagem ao falecimento dele,
logo após a tentativa de assassinato de Noah. Ele estava certo de que o
envolvimento de Lavínia no episódio roubou os últimos momentos preciosos
que seu pai havia deixado, mas sua morte o poupou de ter que testemunhar no
julgamento de sua filha. O homem que ela e Gordonez enviaram para matá-lo
recebeu imunidade de acusação em troca de seu depoimento, e foi prontamente
deportado de volta para Cuba. No último dia do julgamento, Pilar e Noah
sentaram-se no tribunal quando Lavínia e Gordonez foram condenados à prisão
perpétua.

─ Eles conseguiram o que mereciam ─ Pilar comentou sentada na charrete que


ele tinha alugado para a sua estadia. Eles planejavam retornar para o rancho no
dia seguinte. ─ E de certa forma meu pai também recebeu justiça hoje. Minha
mãe ficará satisfeita.

─ Eu tenho certeza que ela vai.

─ Todos esperamos muito tempo para ver Gordonez sendo derrubado, pena
que você quase perdeu a vida.

─ Mas eu me recuperei e isso é uma benção. E falando em bênçãos tenho uma


surpresa para você.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ O que é?

Ele riu.

─ Por que você sempre pergunta isso?

─ Porque eu sempre quero saber.

Ele se inclinou e deu um beijo rápido em sua testa antes de voltar sua atenção
para o trânsito intenso da tarde.

─ Acho que encontrei para você e aquele seu cavalo uma casa perfeita.

─ Mesmo?

─ Você quer ver?

─ Agora?

─ Sim, meu amor. Agora.

Era perfeita. Era fora da cidade, mas havia muito espaço para Titã e o limite da
propriedade ficava de frente para as águas da baía.

─ Eu amei, Noah.

─ É uma antiga fazenda de cavalos.

─ Eu já posso ver Titã correndo pelos campos. ─ A propriedade tinha sido


limpa, mas árvores altas atravessavam a área de trás.

Ele os levou através da cerca de madeira e subiu a pista até a casa.

─ É grande ─ disse Pilar, notando as janelas do primeiro e do segundo andar.


Claro, não era tão grande quanto a de Alanza, mas quantas casas eram?

─ É necessário um novo telhado e alguma outra melhoria─ acrescentou ele. ─


Mas é por isso que temos o Max.

Ela sorriu.

─ Podemos entrar?

─ Ainda não. Eu queria que você visse e desse sua aprovação antes de eu fazer
meu lance para o banco.

─ Você tem a minha aprovação e meu amor, o amor de Titã, também. ─ Seu
garanhão estava bem treinado agora para cavalgar e ela mal podia esperar para
montar e explorar seu novo lar quando chegasse a hora.

─ Então você acha que gostaria de criar uma família aqui?

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Claro. Obrigada por encontrar este lugar, Noah.

─ Para você, o mundo. Que tal um jantar antes de voltarmos ao hotel?

─ Essa é uma ótima ideia.

Eles tiveram um jantar maravilhoso para coroar um dia maravilhoso. Quando


saíram do restaurante, Pilar prendeu o braço dela ao dele.

─ Você sabe ─ ela começou a dizer, mas suas palavras desapareceram quando
ele parou olhando para frente. Sua mandíbula cicatrizada latejava e seus olhos
ardiam. Ela viu um homem idoso se aproximando. Por seu traje grosseiro e
bengala, era evidente que ele tinha visto dias melhores. Quando ele chegou
perto, parou e sorriu presunçosamente.

─ Bem, se não é o bonito Sr. Yates. Como você está garoto?

─ Por que você se importa, Simmons?

Sua gargalhada trouxe um acesso de tosse e ele cuspiu o catarro sobre as botas
de Noah.

─ Ainda está com raiva? Não sei por quê. Se não fosse por mim e por aquela
ilha, você ainda seria um babaca mimado chupando o bico da sua mãe. Eu te fiz
um homem!

Pilar sentiu Noah enrijecer e ela pediu suavemente:

─ Vamos, Noah, vamos.

O homem revirou os olhos para ela.

─ Veja se você não é uma coisinha bonita. Ele te incomodou do jeito que os
garotos fizeram com ele?

O punho de Noah explodiu no rosto do velho e isso o derrubou. Agarrando-o


pelas lapelas, Noah o arrastou para cima e choveu golpe após golpe.

─ Noah! ─ Pilar gritou. ─ Pare!─ Ela o puxou. ─ Pare com isso! Noah! Você vai
matá-lo! ─ Ele fez uma pausa e se virou, mas ele não era o homem que ela
amava. Os olhos ardendo fixos nos dela eram selvagens, enlouquecidos,
assustadores. Então eles clarearam e ele deixou o homem cair na calçada. Ele
olhou para baixo sem emoção quando o velho gemeu com o sangue escorrendo
de sua boca e nariz.

─ Ele precisa de um médico ─ disse Pilar com urgência.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Sim, ele precisa ─ Ele arrastou-o para a porta mais próxima e jogou-o para
dentro. ─ Este homem precisa de um médico! ─ Feito isso ele se virou para ela.
─ Que tal isto? ─ E ele começou a subir a rua novamente como se não se
importasse se ela seguia ou não.

Ele não falou com ela pelo resto da noite e ela foi acordada muito
mais tarde por seus choros e gritos enquanto ele lutava no meio de um
pesadelo. Foi a noite mais horrível do casamento de Pilar.

Ou então ela pensou que fosse.

Ele falou muito pouco na viagem de trem de volta ao rancho.


Quando voltaram para casa, Drew era o único na casa e em resposta às suas
perguntas normais sobre a viagem, Noah respondeu indiferente. Então como se
não quisesse mais nada com eles, saiu da sala sem dizer uma palavra. Pilar se
sentou em uma cadeira.

Um Drew visivelmente atordoado perguntou:

─ O que aconteceu?

Ela relatou os detalhes da luta.

─ O que o velho fez para merecer tal surra? Quem era ele?

─ Eu não sei ─ Drew era seu cunhado favorito e ela sabia o quão próximo ele e
Noah eram, então ela contou a ele sobre o catarro nas botas e o que o homem
dissera.

Os olhos de Drew se arregalaram.

─ Dios! ─ ele sussurrou: ─ Não admira que tenha voltado da ilha daquele jeito.
Meu pobre irmão. Eu acho que vou ficar doente. ─ Ele passou as mãos pelos
cabelos. ─Oh, Deus! Oh, Deus! Eu preciso falar com ele.

─ Não! ─ Ela sentiu que Noah não aprovaria que ela partilhasse o que tinha
ouvido, mas Drew já estava correndo para dentro.

Noah estava em seu quarto sentado na varanda quando ouviu a batida na


porta. Ele ignorou. Mais batidas seguiram mais fortes desta vez. Ele ignorou.

Então veio o som abafado de Drew gritando:

─ Noah, abra essa maldita porta ou eu juro que vou derrubá-la.

Ele duvidava que Drew fosse forte o suficiente, mas pensou que Logan poderia
ser capaz de estar lá fora também, então ele se levantou, foi até a porta,
destrancou a fechadura e abriu-a.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ O que foi?

─ Pilar me contou o que aconteceu.

─ E o que você quer?

─ Você não foi injusto com ela?

Noah não queria ter essa conversa. Tudo o que ele queria era ser deixado
sozinho. Ele se afastou da porta e Drew o seguiu para dentro.

Drew perguntou:

─E então?

─ Isso não é da sua conta.

─ Então a resposta é sim. Você planeja tratar a mamãe da mesma maneira?

─ Droga, Drew o que você quer?

─ Ajudar se eu puder.

─ Você não pode. Pilar lhe contou o que Simmons disse?

Drew assentiu.

Noah queria quebrar alguma coisa.

─ Deixe-me tentar. Você é meu irmão. Eu te amo.

─ Você está atrás da história completa? É por isso que você veio até aqui? ─ ele
gritou. ─ Eles me estupraram por três noites consecutivas. Convenci um guarda
a me dar um facão em troca da medalha de ouro de São Cristóvão no meu
pescoço, e quando vieram para mim naquela quarta noite, cortei o líder tão
ferozmente que seus braços estavam pendurados nos ombros por um fio. Ele
sangrou até a morte aos meus pés e eu fiquei feliz. Seus amigos que assistiram e
riram as primeiras três noites se espalharam como ovelhas. ─ Ele encontrou o
olhar horrorizado de seu irmão.

─ Agora você sabe.

─ Noah, eu sinto muito ─ Drew sussurrou.

─ Eu também. ─ E ele se virou e caminhou de volta para a varanda. As partes


dele que amavam seu irmão sabiam que ele tinha sido desagradável e áspero,
mas a parte dele sendo governada pelo horror e dor não importava.

Alanza chegou em casa algumas horas depois. Pilar estava sentada no pátio
com Drew.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela deu uma olhada em seus rostos.

─ O que está errado?

─ Os pesadelos de Noah o deixaram louco ─ disse Pilar.

─ Pesadelos? Que pesadelos?

Pilar não suportava ver mais mágoa então ela se levantou. ─ Drew
dirá a você. Vou montar em Titã e clarear minha mente. ─ Ela sabia que estava
seguindo o caminho covarde, mas naquele momento estava cansada de ser
forte. Cada fibra de seu ser queria ajudar seu marido, mas ela não sabia como.

Quando Pilar voltou ela soube que Drew havia contado à mãe a
história porque os olhos de Alanza estavam vermelhos e inchados. Com sua
bênção, Pilar enfiou-se na suíte que sua irmã e mãe haviam desocupado e
passou o resto do dia lá. Ao anoitecer, com o espírito restaurado, ela foi até seus
aposentos para ver se Noah queria conversar. Ele estava na sala de estar e disse
em tom acusador, com voz fria:

─ Como ousou contar ao meu irmão algo tão particular?

Ela fechou os olhos quando seu coração quebrou novamente, mas ela não se
desculpou.

─ Seu irmão te ama, eu também. ─ Ela se preparou para uma discussão, mas ao
invés disso ele disse, ─ Estou saindo para cavalgar. Não há necessidade de você
esperar.

Horas depois ela foi acordada pelo som do piano. Saindo da cama,
ela abriu a porta para escutar. Soava como uma tempestade no mar, muito
parecida com a pintura em seus aposentos no Alanza, completa com o
equivalente musical de trovões retumbantes e relâmpagos, e uma escuridão que
era ao mesmo tempo raivosa e bonita. Ela não sabia se a composição era dele ou
criada por outra pessoa. Ainda querendo ajudar, mas sem saber como, ela
voltou para a cama e sentou-se e ouviu-o tocar por horas. Quando ela
finalmente adormeceu, ele ainda estava tocando.

Na manhã seguinte, ele entrou no quarto ao amanhecer e anunciou


que voltaria para San Francisco.

Pilar tinha certeza de que ele não dormira.

─ Você estará de volta neste fim de semana? ─ No passado, ele sempre voltava
para casa na sexta-feira à noite.

─ Eu não sei.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ela sentou-se em silêncio enquanto ele fazia as malas. Mais do que
algumas vezes ela o viu olhar em sua direção e havia uma tristeza e uma
angústia em seus olhos que pareciam se elevar de sua alma. Ele estava no
inferno, e porque ele estava, ela também estava.

Ele terminou de fazer a mala, deu-lhe um último olhar e saiu do quarto. Ele não
disse adeus.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 26

Noah alugou um quarto em San Francisco e esperava manter seus


demônios à distância trabalhando, mas não ajudou. Durante as duas semanas
seguintes, os pesadelos o assombraram todas as noites assim como a dor que ele
viu refletida nos olhos de Pilar quando ele a deixou, e ele sabia que algo tinha
que ser feito. Ela merecia muito mais do que se casar com alguém que
enlouquecia por causa de seus sonhos.

Uma noite depois que os homens foram para casa, ele ficou em pé no
cais silencioso e olhou para a baía. Havia uma tempestade chegando. As ondas
estavam subindo com as cristas brancas e o vento soprava forte o suficiente
para levantar o casaco. As condições espelhavam como ele se sentia por dentro -
bravo, bruto, tão bruto que quase espancara um velho até a morte e causara
talvez danos irreversíveis ao relacionamento com a família e mais importante, à
esposa e ao casamento. A dor no olhar de Pilar era culpa dele e unicamente
dele, mas como ele podia consertar isso quando não conseguia se consertar? Por
muito tempo seu amor e a vida que eles estavam construindo tinham sido sua
salvação. Não havia pesadelos, eles eram felizes, alegres - perfeitos. E então
Simmons apareceu e suas palavras zombeteiras trouxeram de volta o terror, o
horror, e sim, a vergonha, e tudo o que ele queria era que parasse, mesmo que
isso significasse tirar a vida do homem. Ele suspirou e passou as mãos pelo
rosto. Dez anos haviam se passado e os acontecimentos naquela ilha ainda o
mantinham como um escravo acorrentado, e não importava o que fizesse ele
não poderia se libertar. Se ele voltasse e confrontasse seus fantasmas isso o
ajudaria a se curar? Ele sabia que nunca seria capaz de banir as lembranças do
que aconteceu lá inteiramente, mas se ele pudesse fazer as pazes o suficiente
com isso e consigo mesmo, ele poderia continuar com sua vida? Ele não tinha
uma resposta, mas era tudo o que ele conseguia pensar em fazer. Não fazer
nada era viver com a realidade de ter quebrado o coração de Pilar e isso era
mais do que ele podia suportar.

Então ele pegou o trem para casa na manhã seguinte. Quando ele
chegou, ela estava sentada com a mãe em seu escritório.

Sua mãe disse:

─ Noah!

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ Mamãe.

Ela não desejou boas vindas ou perguntou quanto tempo ele ficaria,
mas ele supôs que ele tinha parado de merecer uma acolhida tão amorosa. Ele
também era responsável pela mágoa que tinha visto em seus olhos.

Ele voltou sua atenção para Pilar.

─ Posso falar com você?

Alanza se levantou da cadeira.

─ Eu vou deixar vocês conversarem a sós.

Ela saiu e fechou a porta suavemente.

─ Então, o que você gostaria de falar comigo?

Esteve ausente por duas semanas sem lhe dizer uma palavra e a aspereza dela
era esperada.

─Estou voltando para a ilha onde os pesadelos começaram. O velho que eu bati
foi o capitão que me raptou.

─ Aquele que te deu a cicatriz?

─ Sim. Espero que, se voltar, eu possa me livrar de toda esta escuridão e


sofrimento.

─ Quando você vai?

─ Assim que eu puder.

Ela não respondeu logo e ele desejou saber o que ela estava pensando.
Finalmente ela disse:

─ Então vá, com minha bênção para que você possa voltar para mim e para
nosso filho.

Ele congelou.

Ela ofereceu um sorriso agridoce.

─ Sim. O Dr. Lloyd disse que o bebê nascerá no final da primavera.

Seus joelhos ficaram fracos.

─ Há quanto tempo você sabe?

─ Algumas semanas. Eu queria te dizer mas... Ela encolheu os ombros como se


nenhuma outra palavra fosse necessária.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele entendeu completamente e ficou ao mesmo tempo envergonhado e contrito
por tê-la tratado tão mal que ela não achava que ele se importasse o suficiente
para querer saber.

─ Posso pedir um grande favor?

─ O que é?

─ Posso te abraçar? Por favor?

Lágrimas encheram os olhos dela. Ela o estudou por um longo


momento, mas lentamente se levantou. Ele fechou a distância entre eles e
quando ele a colocou contra o coração e apertou os braços, a onda de emoção
foi tão forte que doeu.

─ Eu sinto muito por machucar você, Pilar. Eu amo você. Eu posso não ter
agido como se amasse nessas últimas semanas, mas eu amo. Ferozmente.

─ Eu também te amo ─ ela sussurrou. ─ Mas eu não posso viver assim, Noah.
Eu não vou viver assim.

─ Eu não culpo você por querer me deixar, mas, por favor, não.

Ela se inclinou para trás.

─ Então vá e faça o que você precisa. O bebê e eu estaremos aqui quando você
voltar. Depois de dar um beijo suave na cicatriz, ela se foi.

Sua mãe voltou e ele disse a ela.

─ Mamãe, eu quero me desculpar por toda a dor que causei.

─ Pelo que Drew me disse você ganhou o direito a ambos, mas você tratou Pilar
de maneira abominável.

─ Eu sei. Eu vou fazer as pazes com ela. Eu prometo. ─ Ele então revelou seu
plano.

─Mal não faz. Você tem um barco?

─ Eu aluguei um e tenho uma equipe.

─ Então vá e volte para nós o mais rápido que puder. Faça as pazes com o seu
irmão primeiro.

─ Sim, senhora.

─ E sua mãe precisa te abraçar antes de você ir.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele entrou em seus braços estendidos e agradeceu a Deus por seu amor. ─ Você
vai cuidar de Pilar?

─ Não, Noah, eu vou colocar ela e meu mais novo neto para fora da minha casa
assim que você sair. Que pergunta ridícula, e além disso, Pilar pode cuidar de si
mesma. Pergunte ao homem que atirou em você. Se ela não tivesse intervindo,
Gordonez e Lavínia ainda poderiam estar planejando maneiras de matá-lo.

Ele não tinha ideia do que ela estava dizendo.

─ Do que você está falando?

─ Pilar não te disse?

─ Não.

Então ela contou a história do que aconteceu enquanto ele estava às portas da
morte, e quando ela terminou, ele estava pasmo.

─ Todos nós assumimos que ela tinha contado a você.

─ Meu Deus. Não.

─ Você é casado com uma mulher muito especial, Noah Yates, e o fato de estar
disposto a viajar por todo esse caminho para se reconciliar com seu passado
mostra que você pode ter percebido isso. Agora vá e fale com o Andrew.

─ Eu te amo, mamãe.

─ Eu também te amo, meu filho.

─ Drew está em casa ou na cidade?

─Em casa. Billie e Mariah estão em Seattle para entregar um vestido a um dos
clientes de Mariah. A pequena Maria foi com elas, mas Tonio, o Terror, foi
deixado para trás com o pai.

A caminho da casa de Drew, Noah esperava dar outra olhada em Pilar antes de
partir, mas quando ele olhou para a varanda, ele não a viu.

Drew atendeu a porta. O olhar em seu rosto mostrava seu descontentamento,


então para evitar que lhe batesse a porta na cara, Noah disse:

─ Eu vim me desculpar.

─ Esse é um bom começo. Entre.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


A casa estava um caos. Havia brinquedos, roupas e sapatos sujos de menino
espalhados, copos, pires, guardanapos e tantos outros itens que Noah teve que
parar de olhar para tudo. Então Tonio apareceu - nu. Noah olhou para o irmão.

─ Ele vai ficar sem roupa. Não consigo vesti-lo sem amarrá-lo a uma cadeira...
Senhor, como Billie faz isso? Como mamãe fez isso... havia três de nós!

─ Na verdade havia apenas dois. Logan tinha quarenta anos de idade ao nascer.

Tonio correu para Noah gritando:

─ Tio Wo-wa.

Era o jeito da criança falar.

─ Tio Noah ─ Noah o pegou. ─ Como você está, Tonio?

─ Bem.

─ Você está sendo bom para o seu papai?

Ele balançou sua cabeça.

─ Não.

Segurando-se em sua risada, Noah o colocou de pé e o menino saiu correndo e


desapareceu.

Noah disse:

─ Mamãe também tinha um chicote.

─ Talvez alguém possa me dar um no meu próximo aniversário, melhor ainda,


uma peruca porque até então eu vou estar careca de tanto arrancar meu cabelo.

─ Há quanto tempo Billie viajou?

─ Dois dias. Voltará amanhã e se ela chegar e encontrar a casa assim, eu vou
dormir no celeiro.

Noah esperava que quando Pilar tivesse o bebê ele fosse melhor para lidar com
crianças que Drew, mas ele provavelmente não seria.

─ Então você estava se desculpando. Venha para a cozinha. Ele ainda está para
destruir as cadeiras lá.

Na cozinha, Noah viu grandes círculos vermelhos desenhados em uma das


paredes cor de creme.

Drew apontou para uma cadeira e disse, explicando:

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


─ O batom de Billie. Ele fez isso cerca de dez minutos depois que ela saiu.
Estou escrevendo meu obituário agora porque não tenho ideia de como
removê-lo.

Noah queria muito que ele estivesse melhor.

─ Como eu disse, eu lhe devo desculpas. Você estava apenas tentando ajudar.

─ Sim. Lamento que tenha acontecido com você, Noah. É o suficiente para dar
pesadelos a qualquer um.

Noah então compartilhou seu plano de retornar à ilha.

─ Eu irei com você se você achar que assim será mais fácil ─ respondeu Drew.

Noah balançou a cabeça.

─ Obrigado pela oferta, mas eu preciso fazer isso sozinho.

─ Você falou com Pilar?

─ Falei. Eu me sinto tão mal sobre a maneira como eu a tratei. Ela me disse que
temos um bebê a caminho, mas você provavelmente já sabe disso.

─ Eu sei. Toda a família sabe.

Noah desviou o olhar.

─ Eu a amo com cada batida do meu coração.

─ Eu sei. Então volte e enfrente o que você encontrar.

─ Eu vou. Eu me sinto como uma mosca presa em um pedaço de âmbar.

─ Você vai estar em nossas orações.

Eles compartilharam um forte abraço. Noah disse:

─ Você pode dizer adeus a Logan por mim e dizer a ele o que estou planejando?

─ Eu digo. Ele também quer seu irmão de volta.

─ Ele só me quer por perto para que ele possa me bater na queda de braço.

─ Também por isso.

Seus sorrisos se encontraram.

─ Eu te amo, irmãozinho ─ disse Drew com verdadeiro carinho.

─ Também te amo, Drew. Eu vou procurar uma peruca para você. Eu preciso
que você faça algo por mim.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Ele explicou o que queria e Drew assentiu e sorriu.

─ Eu vou cuidar de tudo.

─ Obrigado ─ Noah disse com gratidão.

Naquele momento a casa foi abalada por um estrondo alto.

Drew gritou:

─ Antonio! Boa viagem, Noah. ─ Drew saiu correndo.

Alguns dias depois da partida de Noah, Pilar sentou-se na varanda e


pensou em seu futuro. Ela não queria viver separada de Noah, mas se ele
voltasse ainda quebrado e irritado, ela teria que fazê-lo. Criar uma criança em
uma casa cheia de tanta tristeza era impensável. Não tê-lo em sua vida era
impensável, também, porque ela amava o marido. Era a esperança dela que ele
voltasse tão curado e tão bem quanto possível, porque a alternativa iria partir-
lhe ainda mais o coração.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Capítulo 27

A tripulação de Noah fixou a âncora e ele remou para a ilha sozinho.


Ele pensou na primeira vez que chegou ao local há muitos anos e como ele
estava com medo do que encontraria lá, especialmente quando ele e Kingston
foram recebidos pelos soldados armados. Agora enquanto se aproximava não
viu nenhuma evidência do local que ele e os outros prisioneiros haviam
trabalhado tão incansavelmente. Na verdade, quando ele chegou e empurrou o
bote para a praia ele não viu nenhuma evidência de vida humana. O silêncio
ecoou misteriosamente. Armado com um facão e uma pistola, ele caminhou
para o interior. Pela sua estimativa levaria cerca de uma hora para chegar à
prisão.

As extensões abertas de árvores derrubadas estavam agora cheias de


arbustos à altura da cintura, e por algumas vezes ele perdeu o rumo. Usando o
facão para abrir caminho através da vegetação espessa, ele finalmente alcançou
seu objetivo. Ele parou e olhou fixamente. Os portões que os guardas uma vez
trancavam os homens à noite ainda estavam lá, mas o resto era entulho. Pilhas
de pedras em ruínas estavam por toda parte. Ele se perguntou se o lugar havia
sido derrubado por um terremoto. Ele caminhou ao redor dos pilares que
seguravam os portões e no que restava do interior. Olhando em volta ele tentou
se orientar para avaliar onde ele e King ficaram alojados, e quando o fez
moveu-se naquela direção, tomando cuidado para não torcer o tornozelo ou
tropeçar nas pilhas de pedras. Ao longo do caminho as memórias voltaram e
pela primeira vez ele não lutou contra elas; deixou-as correr de volta e quando
vieram ouviu as vozes fantasmagóricas, os gritos, viu os ratos e as fogueiras. E
embora ele não quisesse, ele deixou-se reviver aquelas primeiras três noites com
a esperança de que ao enfrentá-la o horror iria de alguma forma perder seu
poder sobre ele. Então ele se sentou, deixou sua mente voltar e quando o fez,
começou a chorar pelo homem-menino que ele fora um dia e sua iniciação
brutal em um mundo terrível que ele nunca soube que existia. Ele ficou sentado
por um longo tempo, lembrando como ele rezou para ser encontrado, apenas
para desistir quando ele decidiu que Deus não estava escutando. Mas alguma
coisa o motivou agora a rezar por todos os homens que perderam suas vidas
pela violência sem sentido do lugar; por Pilar e sua família que continuavam a
amá-lo apesar de seus momentos de loucura. Ele orou por seu pai e Walt
Douglas e todos os outros homens que tocaram sua vida e seguiram em frente.
Por fim, ele orou por si mesmo e recitou uma série de orações que ele aprendeu
na igreja e de sua mãe e que ele não sabia que lembrava. Orações de perdão,

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


contrição e agradecimento. Orações de força, cura e graça. E quando finalmente
chegou ao fim, uma profunda sensação de paz tomou conta dele e ele exalou
um suspiro trêmulo. Ele não tinha ideia se Deus havia respondido, mas sentia
como se sua alma não estivesse mais no inferno.

Ele enxugou os olhos e se levantou. Olhando ao redor ele congelou


ao ver o tigre parado a menos de três metros de distância. Por seu tamanho, ele
sabia que era um macho adulto. Ele se lembrou da pistola em sua mochila e
imaginou se ele poderia chegar rápido o suficiente se o gato decidisse atacar.
Ele não atacou. Em vez disso ficou parado ali olhando Noah por um ou dois
segundos, depois se virou e se afastou lentamente. Quando desapareceu, Noah
deixou as ruínas e fez o mesmo.

Grávida de seis meses, mas ainda se sentindo bem, Pilar estava


dando a Titã sua ração diária. Alguns dias atrás, o Dr. Lloyd proibiu-a de
cavalgar até que o bebê chegasse e a proibição pesava sobre ela. Uma parte dela
queria evitar o conselho e dar um último passeio glorioso, mas se algo
acontecesse com o bebê ela sabia que nunca iria se perdoar. Titã agora dependia
de Alanza para fazer seu exercício já que ela era a única outra pessoa que ele
permitia montar nele. Logan disse que o cavalo estava estragado. Ela e Alanza
explicaram que Titã simplesmente tinha um gosto mais distinto. Logan não
concordou.

Pilar não soubera nada de Noah. Ela tentou não ficar ansiosa porque
não era bom para ela nem para o bebê, mas sentia muita falta dele e rezava
todas as noites para que ele voltasse com segurança e em breve. Ela estava
convencida de que assim que ele voltasse, os problemas que eles tinham
poderiam ser resolvidos, e assim como nos romances de amor que Doneta
mandou para entretê-la enquanto ele estava fora, ela e Noah viveriam felizes
para sempre.

Pilar olhou para cima e viu Alanza caminhando em sua direção. Ela
estava carregando seu neto mais novo, o filho de Billie e Drew, Logan
Abraham. Ele tinha sido apelidado de Abe para diferenciá-lo de seu tio
orgulhoso.

─ Eu tenho uma surpresa para você, Pilar.

Pilar revirou os olhos.

─ O que há com vocês Yates e as surpresas? Eu suponho que deveria fechar


meus olhos?

─ Por favor, vire de costas.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar soltou um suspiro e obedeceu.

Alguns segundos depois, ela ouviu uma voz familiar masculina dizer:

─ Buenos días, mi pequeña pirata.

Lágrimas já estavam em seus olhos quando ela se virou e ele a pegou


em seus braços. Estava tão feliz em vê-lo que chorou copiosamente a ponto de
ficar embaraçada, mas eram lágrimas de alegria. Seus olhos estavam molhados
também.

─ Você está em casa ─ disse ela olhando para o seu belo rosto marcado. Alanza
desapareceu magicamente.

─ Estou e sem planos de te deixar de novo.

─ Bom. Senti terrivelmente sua falta.

─ Também senti sua falta. Como está o nosso bebê?

─ Está indo bem, de acordo com o Dr. Lloyd, e como você pode ver, já não sou
pequeña.

Ele moveu uma mão acariciando seu estômago redondo, em seguida apertou-a
contra ele novamente.

─ Mas você ainda é linda.

Ele se inclinou para trás e perguntou:

─ Então você quer que o bebê nasça aqui no Destino ou em nossa casa na Baía?

Ela olhou com os olhos arregalados.

─ Você comprou a casa?

─ Comprei. Drew cuidou dos detalhes na minha ausência e Max cuidou de


todos os reparos. Está pronta. Podemos ir assim que quisermos.

─ Oh, meu Deus. ─ Pilar rapidamente fez a logística em sua cabeça. ─ Que tal
nos mudarmos, mas voltarmos aqui para ver o Dr. Lloyd e para o nascimento?

─ De acordo.

─ Então sua mãe sabe que estamos nos mudando?

─ Sim. Drew fez Max contar a novidade para ela. Ele imaginou que ela não
mataria o próprio marido.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Pilar sentiu todas as suas preocupações desaparecerem e seu mundo voltar ao
seu devido lugar.

─ Apenas me abrace então eu saberei que você não é uma miragem.

─ Nenhuma miragem, querida.

─ Você está melhor? ─ ela perguntou seriamente.

Ele assentiu.

─ Sim.

─ Você me deve tantos beijos, Americano.

Ela ouviu o barulho de sua risada em seu ouvido contra seu peito.

─ Então que tal entrarmos, subirmos ao nosso quarto e começarmos a minha


penitência? Depois disso podemos conversar sobre minha viagem.

─ De acordo, mas só pode ser beijos.

─ Entendi, mas tenho certeza de que posso encontrar maneiras escandalosas de


ultrapassar essas fronteiras.

─ Eu mal posso esperar.

─ E depois eu tocarei para você o começo do concerto que compus para você.

─ Para mim?

─ Sim. Para você e só para você.

Enquanto se dirigiam para a casa, Titã se levantou e relinchou.

Noah gritou de volta:

─ Desculpe cavalo, eu estou em casa e ela é minha. Você terá que pegar sua
própria mulher.

Pilar soltou uma risada e deu-lhe um soco no braço deleitando-se com o


conhecimento de que ele estava de fato em casa e que ele era seu amor e ela era
dele.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Epílogo

No oitavo mês de gravidez de Pilar, ela e Noah ficaram chocados ao


saber do Dr. Lloyd que ela não estava grávida de um, mas de dois! Os gêmeos
nasceram no início de junho, separados por seis minutos. Primeiro veio Desa
Alanza, seguida por Javier Maxwell. As avós presentes choraram. O menino foi
nomeado para homenagear o pai de Pilar e para honrar Max pelo trabalho que
ele tinha feito em sua casa. Para surpresa de todos Max chorou também.

Mais tarde, após os rigores do parto, Pilar olhou para baixo com
olhos cheios de amor para os bebês gêmeos saudáveis em seus braços, depois
para o orgulhoso pai.

─ Eles fazem floretes para bebês?

Ele jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.

─ Eu espero que não. ─ Uma vez que ele se controlou novamente, ele disse: ─
Obrigado por nossos lindos filhos.

─ Eu é que agradeço.

─ Você quer que eu os pegue e os coloque no berço para que você possa
dormir?

Ela bocejou:

─ Sim, por favor. E depois, diga a Max para começar um novo berço. Acho que
podemos precisar disso.

Ele a beijou gentilmente, pegou cada bebê e uma vez que eles estavam
dormindo tão profundamente quanto a mãe, o muito agradecido Noah
agradeceu a Deus por suas bênçãos e saiu na ponta dos pés.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Nota do autor

Conhecer a família Yates foi um prazer, e espero que tenham gostado


deste último livro da série. A pesquisa ligada a Pilar foi muito reveladora. Eu
não tinha ideia do papel desempenhado pelo general Maceo, pelos mambis ou
pelos afro-cubanos na história do país. A liberdade que Pilar e os rebeldes
trabalharam tão diligentemente para obter finalmente se concretizou em 1898
mas foi uma vitória agridoce. O povo cubano não foi autorizado a participar do
acordo negociado entre os Estados Unidos e a Espanha.

Aqui estão alguns dos recursos que usei para trazer o Destiny's
Captive à vida:

Carr, Chomsky, Smorkaloff eds. O leitor de Cuba. Imprensa da Duke


University. Durham e Londres. 2003.

Staten, Clifford L. A História de Cuba. Palgrave Macmillan. Nova Iorque, NY.


2003.

Gates, Henry Louis Jr. Black na América Latina. Serviços Digitais da Amazon.
2003.

Para encerrar, desejo agradecer a meus leitores por suas contínuas


orações, amor e apoio. Isso significa o mundo para mim.

Até a próxima, B

Cativo do Destino – Beverly Jenkins


Sobre o autor

BEVERLY JENKINS recebeu inúmeros prêmios, incluindo cinco prêmios Best


Sellers do Waldenbooks / Borders Group, dois prêmios Career Achievement
Awards da Romantic Times Magazine e um Golden Pen Award da Black
Writer’s Guild. Jenkins foi nomeada uma das cinquenta escritoras afro-
americanas mais famosas do século XX pela AABLC, o maior clube de livros
afro-americanos on-line do país. Ela foi recentemente nomeada para o NAACP,
Image Award in Literature.

Cativo do Destino – Beverly Jenkins

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