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Josiene Silva Veloso et al.

(200-215)

doi: 10.31976/0104-038321v280009 SEÇÃO 1

ANTRACNOSE DO CAJUEIRO:
ETIOLOGIA, SINTOMATOLOGIA E
ASPECTOS
REVISÃO ANUALEPIDEMIOLÓGICOS
DE PATOLOGIA DE PLANTAS
COPYRIGHT© REVISÃO ANUAL DE PATOLOGIA DE PLANTAS
Josiene Silva Veloso1, 2017
Ingrid Gomes Duarte1, Otília Ricardo de Farias2,
Marcos Paz Saraiva Câmara1*

RESUMO
RAPP
REVISÃOAntracnose
ANUAL éDE a principal
PATOLOGIA e mais
DEdestrutiva
PLANTASdoença fúngica da parte aérea do
cajueiro. Nesta revisão, abordamos a compreensão da taxonomia atual das espécies
de Colletotrichum que infectam cajueiros no Brasil, bem como sua distribuição geo-
Nenhumagráfica
partee os aspectos
desta epidemiológicos
publicação da antracnose.
poderá ser reproduzidaPorsem
muito tempo, a antracnose
prévia
autorização, pordoescrito,
cajueirodofoieditor.
associada única e exclusivamente a C. gloeosporioides, mas estudos
recentes revelaram que pelo menos sete espécies de Colletotrichum são responsáveis
por esta doença em cajueiros no Brasil. Dentre as espécies identificadas, C. siamense
RAPP -foi a mais frequente,
REVISÃO ANUALocorrendo em todasDE
DE PATOLOGIA as PLANTAS
regiões geográficas tanto em cajuei-
ros cultivados como silvestres. As temperaturas ótimas para o crescimento micelial
SGAS 902 Bloco B Salas 102 e 103
e germinação conidial de Colletotrichum spp. variaram entre 25–30 °C e 27–37 °C,
Edifício Athenas Asa. Sul
respectivamente A ampla gama de hospedeiros das espécies de Colletotrichum asso-
ciadas ao cajueiro
Brasília DF Brasil constitui um sério problema para o manejo da antracnose, geral-
mente focado no controle químico. Em maior ou menor grau, as espécies de Colleto-
CEP trichum
70390-020 se mostraram sensíveis a azoxistrobina, difenoconazole e tiofanato-metíllico.
A correta
Site SBF: identificação das espécies de Colletotrichum responsáveis pela antracnose
www.sbfito.com.br
é fundamental para compreender suas interações com os fatores ambientais que in-
Site RAPP: rappsbf.weebly.com
fluenciam na epidemiologia da doença em diversos hospedeiros, bem como para o
aprimoramento das estratégias de controle de doenças e programas de melhoramen-
to de plantas visando a resistência a doença.
PALAVRAS-CHAVE: Anacardium spp., Colletotrichum spp., adaptabilidade compara-
tiva

ABSTRACT
CASHEW
Anthracnose is the most destructive fungal disease on aerial parts of cashew
ANTHRACNOSE:
Publicado no Brasil
trees. In this review, we addressed the current taxonomy of Colletotrichum species
ETIOLOGY,
that infect cashew trees in Brazil, as well as their geographic distribution and epi-
SYMPTOMATOLOGY,
demiological aspects of anthracnose. For a long time, cashew anthracnose was at-
AND
tributed exclusively to C. gloeosporioides, but recent studies revealed at least seven
EPIDEMIOLOGICAL
Colletotrichum species as responsible for this disease in cashew trees in Brazil. Among
ASPECTS
the identified species, C. siamense was the most frequent, occurring in all geographic
regions on both cultivated and wild cashew trees. The optimal temperatures for my-
Diagramação:
celial growth and conidial germination of Colletotrichum spp. ranged between 25–30
°C and 27–37 °C, respectively. The wide host range of Colletotrichum species associ-
Gráfica Diagrama

1
Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Agronomia, Rua
Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, 52.171-900, Recife, Brasil.
2
Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba, Km 12, PB 079, 58.397-000, Areia, Brasil.
*Autor para correspondência: marcos.camara@ufrpe.br

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Volume25,
28,2017
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ated to cashew plants constitutes a serious problem for anthracnose management,


which is usually focused on chemical control. To a lesser or greater extent, Col-
letotrichum species were sensitive to azoxystrobin, difenoconazole and thiophan-
ate-methyl. The correct identification of the Colletotrichum species responsible for
anthracnose is essential to understand their interactions with the environmental
factors that influence the epidemiology of the disease in different hosts, as well
as for the improvement of disease control strategies and plant breeding programs
aimed to find resistant crop varieties.
KEYWORDS: Anacardium spp., Colletotrichum spp., comparative adaptability

INTRODUÇÃO nicas ao cajueiro saltou de uma para sete (VELOSO


Nativo da América do Sul, o cajueiro é cul- et al. 2018), havendo a possibilidade de outras se-
tivado em diversos países (BARROS, 2002), sendo rem identificadas. Tendo em vista que a identifica-
o Brasil um dos maiores produtores (FAO, 2021). A ção precisa dos fitopatógenos é decisiva para o su-
despeito das condições favoráveis ao cultivo no país, cesso no manejo de doenças de plantas, revisamos
em maior ou menor extensão, a produtividade des- no presente trabalho a compreensão da taxonomia
sa cultura é limitada por fatores fitossanitários. A an- atual das espécies de Colletotrichum que infectam
tracnose é a principal doença do cajueiro, ocorrendo cajueiros no Brasil, abordando também sua distri-
tanto na fase vegetativa quanto reprodutiva de buição geográfica, gama de hospedeiros e os aspec-
plantas cultivadas e silvestres (FREIRE et al. 2002; tos epidemiológicos da antracnose.
VELOSO et al. 2018). Esta doença causa prejuízos
tanto em pomares diversificados do ponto de vista IMPORTÂNCIA DAS ESPÉCIES DE CAJUEIRO
genético quanto em campos cultivados sob sistemas O cajueiro é uma planta perene, pertencen-
de manejo mais tecnificados, sendo necessário ape- te à família Anacardiaceae e ao gênero Anacardium
nas que as condições climáticas sejam favoráveis e (MITCHELL & MORI 1987). Este gênero compreende
que o cajueiro se encontre na fase de brotação ou pelo menos 20 espécies de plantas silvestres e culti-
florescimento. A antracnose é causada por várias vadas, cada uma com sua relevância socioeconômica
espécies do gênero Colletotrichum. Este gênero foi e/ou ecológica (TPL 2021). Os principais centros de
relatado pela primeira vez em 1790 como Vermicu- diversidade do gênero Anacardium estão na região
laria, sendo o nome Colletotrichum introduzido em amazônica e nos cerrados brasileiros, onde crescem
1831 (HYDE et al. 2009). O gênero é distribuído em como uma cultura ou em habitats não agrícolas (PAI-
todas as regiões tropicais, subtropicais e tempera- VA et al. 2002; AGOSTINI-COSTA et al. 2006). Entre
das do mundo, podendo infectar uma ampla gama as espécies de cajueiro, apenas Anacardium occi-
de plantas (CANNON et al. 2012). dentale L. é cultivado para fins comerciais em dife-
Colletotrichum spp. têm poucas e heterogê- rentes partes do mundo. Já Anacardium ottonianum
neas características morfológicas, tornando os limi- Rizzini é silvestre, sendo utilizado para subsistência
tes entre as espécies confusos e ambíguos (CAI et de comunidades carentes da região Central do Bra-
al. 2009; WEIR et al. 2012; LIU et al. 2016). Como sil. Outras espécies silvestres, como Anacardium
consequência, a maioria das espécies de Colleto- humile St. Hilaire, Anacardium nanum St. Hilaire e
trichum está classificada em complexos. No intuito Anacardium corymbosum Barb. Rodr. servem como
de resolver tais incongruências, o reconhecimento fonte de alimento para animais silvestres (AGOSTI-
de espécies filogenéticas pela concordância genea- NI-COSTA et al. 2006).
lógica vem sendo empregado para delimitar o real A parte carnosa e suculenta do caju, de co-
limite entre as espécies de Colletotrichum (TAYLOR loração amarelo-clara e/ou avermelhada (5–11 cm
et al. 2000; DOYLE et al. 2003). Desde a introdução de comprimento), corresponde ao pedúnculo floral
das análises filogenéticas multigene, em 2009, o superdesenvolvido (pseudofruto), enquanto o fruto
número de espécies de Colletotrichum aumentou verdadeiro, um aquênio de casca coriácea que abri-
de 66 para mais de 200 (MARIN-FELIX et al. 2017; ga internamente a parte comestível, é representado
DAMM et al. 2019). O número de espécies patogê- pela castanha (MAZZETTO et al. 2009; DENDENA &

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CORSI 2014). O pseudofruto, junto à castanha, cons- clones melhorados (FREIRE & CARDOSO 2003), além
titui o “duplo fruto” característico do gênero Ana- de ser observada também em espécies de cajueiro
cardium (AGOSTINI-COSTA et al. 2006). Esses frutos silvestre (VELOSO et al. 2018).
podem ser consumidos in natura ou destinados Os sintomas da antracnose no cajueiro po-
para agroindústrias, servindo como matéria-prima dem ser observados em toda a parte aérea da planta
na fabricação de sucos, polpas, aguardente, licores e (Figura 1a-l). Nas folhas, as lesões são caracterizadas
doces, ou simplesmente comercializados como cas- inicialmente por manchas irregulares de coloração
tanha torrada (PAIVA et al. 2000; TORREGGIANI & parda que se tornam marrom-avermelhadas com o
BERTOLO 2001; PETINARI & TARSITANO 2002). Des- envelhecimento (Figura 1a-c, i-l) (FEIRRE et al. 2002;
te modo, a cadeia produtiva do caju, seja ele cultiva- FREIRE & CARDOSO 2003; MENEZES 2005). As le-
do ou explorado de forma extrativista, gera milhares sões são de tamanho variável e podem ocorrer em
de empregos diretos e indiretos, representando um qualquer parte do limbo, ápice ou bordas da folha
complemento à renda familiar de pequenos produ- (MENEZES 2005). Em infecções severas, devido ao
tores rurais ou mesmo de trabalhadores autônomos crescimento desigual do tecido sadio em relação ao
circunvizinhos às áreas de produção (SILVA et al. tecido afetado, as folhas apresentam-se retorcidas e
2001; BARROS et al. 2002; AGOSTINI-COSTA et al. deformadas, com aparência de queima (Figura 1 b-c,
2006). i-l) (FREIRE et al. 2002). Os acérvulos podem ser ob-
O Brasil é o maior produtor mundial de pseu- servados como pequenos pontos pretos elevados na
dofruto de caju, com 1,2 milhão de toneladas, se- superfície adaxial e raramente na abaxial da lesão
guido por Mali, Madagascar e Guyana (FAO 2022). (FREIRE & CARDOSO 2003).
A castanha é explorada em 33 países, com uma pro- Os ramos principais e as hastes florais infec-
dução de aproximadamente 4,2 milhões de tonela- tados apresentam lesões necróticas, deprimidas, de
das, destacando-se a Costa do Marfim como o prin- formato elíptico e coloração marrom-escura (Figura
cipal produtor, seguida pela Índia, Vietnã, Burundi, 1 d-e, j), podendo haver exsudação de goma do teci-
e o Brasil ocupando o décimo primeiro lugar (FAO do afetado (Figura 1 d-e) (MENEZES 2005). Nas inflo-
2022). Em 2020, a produção brasileira de castanha rescências, a queima e queda das flores se mostram
de caju foi de 140 mil toneladas (FAO 2022), impul- como os sintomas mais característicos (CARDOSO &
sionada principalmente por pequenos agricultores FREIRE 2002; MENEZES 2005).
localizados na região Nordeste (CONAB 2022), os No pseudofruto, observam-se lesões escu-
quais contribuem com 69,23% do total efetivamen- ras, deprimidas, irregulares ou arredondadas, bem
te exportado (CONAB 2022; IBGE 202). como rachaduras, ao passo que os frutos imaturos,
quando infectados, tornam-se escuros, deformados
ANTRACNOSE E SEU IMPACTO NA CAJUCULTU- e atrofiados, caindo prematuramente (Figura 1 f-h)
RA (CARDOSO & FREIRE 2002; MENEZES 2005; RIBEIRO
A antracnose do cajueiro foi descrita pela et al. 2009). A antracnose é mais severa durante ou
primeira vez em Trinidad e Tobago em 1940 (BAKER logo após o período chuvoso, quando novas brota-
et al. 1940). No Brasil, essa doença foi relatada pela ções e/ou inflorescências são emitidas. Quando o
primeira vez em 1948, sendo chamada de “queima período de elevada umidade se prolonga até o iní-
do cajueiro” (ROSSETTI 1948). Antracnose é a doen- cio da frutificação, as perdas na produção são mais
ça fúngica mais severa da parte aérea do cajueiro acentuadas (FREIRE & CARDOSO 2003), evidencian-
(CAVALCANT et al. 2000; FREIRE et al. 2002; FREI- do que os fatores ambientais têm impacto direto na
RE & CARDOSO 2003; MENEZES 2005; RIBEIRO et incidência e agressividade da doença.
al. 2009), podendo causar perda de produtividade
superior a 40% (FREIRE & CARDOSO 2003). Ela ocor- ESPÉCIES DE Colletotrichum PATOGÊNICAS AO
re em todas as regiões produtoras de caju, tanto na CAJUEIRO
fase vegetativa quanto reprodutiva da cultura (FREI- O gênero Colletotrichum constitui um gran-
RE et al. 2002; FREIRE & CARDOSO 2003; MENEZES de grupo monofilético de ascomicetos com mais
2005). Essa doença incide tanto em pomares gene- de 200 espécies reconhecidas, distribuídas em pelo
ticamente diversificados, quanto em áreas de culti- menos 14 complexos de espécies e singletons (MA-
vo comercial, onde frequentemente são utilizados RIN-FELIX et al. 2017; DAMM et al. 2019). Conside-

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Figura 1- Sintomas característicos de antracnose em diversos órgãos de cajueiros cultivados e silvestres:


folhas (a-c), hastes (d-e), pseudofrutos (f-g) e fruto (h) de Anacardium occidentale; folhas e hastes (i-k) de
Anacardium othonianum; folhas (l) de Anacardium humile. (Fotos b, d, e, f, h: Marlon Vagner Valentim Mar-
tins; Foto c: José Emilson Cardoso).

rado como um dos gêneros fúngicos mais impor- autogerminação e radiação ultravioleta (AGRIOS
tantes economicamente no mundo, Colletotrichum 2005; MENEZES 2005).
spp. são os agentes causais da antracnose em mais Antes da revisão taxonômica e sistemática de
de 3.000 espécies de plantas (CANNON et al. 2012; Colletotrichum spp., Colletotrichum gloeosporioides
DEAN et al. 2012; DA SILVA et al. 2020). era considerado o único agente etiológico da antrac-
As colônias de Colletotrichum apresentam nose do cajueiro (SERRA et al. 2011). Recentemen-
coloração que varia do branco-gelo ao cinza-escu- te, uma abordagem filogenética envolvendo sete
ro, micélio aéreo de densidade variável, conídios loci [espaçador intergênico entre a extremidade 3’
hialinos asseptados, retos, fusiformes ou curvados, da DNA-liase e o mating type MAT1-2 (APN2 / MAT-
apressórios marrons com margens contínuas ou ir- -IGS), DNA-liase (APN2), β- tubulina (TUB2), calmo-
regulares, acérvulo subcuticular, epidermal, subpe- dulina (CAL), gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase
ridermal ou peridermal, além da presença de es- (GAPDH), espaçador intergênico entre GAPDH e
cleródios em algumas espécies (SUTTON 1980). Os uma proteína hipotética (GAP2-IGS), glutamina sin-
acérvulos, formados abaixo da cutícula do tecido tetase (GS)], revelou que a antracnose dos cajueiros
hospedeiro, produzem conídios protegidos por uma cultivados e silvestres no Brasil tem como agentes
matriz mucilaginosa de coloração alaranjada cons- causais sete espécies de Colletotrichum. Tais espé-
tituída de polissacarídeos e proteínas solúveis em cies pertencem a C. gloeosporioides sensu lato (s.l.),
água que protegem os esporos contra a dessecação, a saber: C. chrysophilum, C. fragariae, C. fructicola,

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C. gloeosporioides sensu stricto (s.s.), C. queens- necrotrófica destrutiva. A infecção ocorre através
landicum, C. siamense e C. tropicale (VELOSO et al. da formação de um apressório, que se desenvolve
2018) (Figura 3). Contrariando um levantamento a partir da germinação do esporo na superfície da
de campo realizado em Moçambique, que revelou planta, seguida pela penetração direta e pelo rom-
C. gloeosporioides como único agente etiológico da pimento da cutícula e da parede celular epidérmi-
antracnose do cajueiro (UACIQUETE et al. 2013), ca (Figura 2). A penetração ocorre mecanicamente
Veloso et al. (2018) relataram que esta espécie re- e em associação com enzimas que atacam compo-
presentou apenas 1,4% dos 280 isolados coletados nentes da parede celular, independentemente da
de cajueiros no Brasil. Isso demostra que C. gloeos- presença de lesão na cutícula, abertura estomática
porioides s.s. não é um patógeno comum de frutas ou outras aberturas naturais. Após a penetração, o
tropicais, conforme já relatado por Phoulivong et al. patógeno pode permanecer latente ou quiescente/
2010. Vale ressaltar, no entanto, que a identificação endofiticamente, isto é, os tecidos das plantas po-
das espécies de Colletotrichum em Moçambique foi dem ser infectados sem apresentar nenhum sinto-
realizada com base na caracterização morfológica/ ma; ou desenvolver-se intra e/ou intercelularmente,
cultural e/ou análises filogenéticas usando poucos resultando em lesões oriundas do desenvolvimento
genes com limitado sinal filogenético (UACIQUETE das hifas secundárias e colonização dos tecidos ad-
et al. 2013). jacentes, o que culmina na morte celular e conse-
Os genes usados atualmente na identifica- quente surgimento de sintomas (fase necrotrófica).
ção das espécies de Colletotrichum variam em fun- O colapso da cutícula do hospedeiro eventualmente
ção do complexo de espécies em estudo (HYDE et ocorre após infecção extensa. O patógeno então for-
al. 2009; CANNON et al. 2012). No entanto, não há ma uma massa de micélio que rompe a cutícula do
consenso sobre os melhores marcadores molecula- hospedeiro e forma um acérvulo contendo conídios
res, bem como não existe um conjunto mínimo ou que representam o inóculo secundário da doença.
ótimo de marcadores para discriminar as espécies Estes são disseminados por respingos de água que
em cada complexo (VIEIRA et al. 2020). O GAPDH, dissolvem a mucilagem na qual estão imersos. A se-
histona-3 (HIS3), APN2, APN2 / MAT-IGS e GAP2-IGS nescência do tecido hospedeiro pode induzir o de-
são considerados bons candidatos a barcodes na de- senvolvimento da fase sexual/assexual, que serve
limitação de espécies de Colletotrichum, enquanto a como fonte primária de inóculo para infecção das
actina (ACT), quitina sintase (CHS-1) e o espaçador plantas, a partir da qual o ciclo de vida será reini-
transcrito interno de rDNA nuclear (nrITS) não são ciado. Peritécios também representam estruturas
capazes de distinguir a maioria das espécies perten- de sobrevivência do patógeno, embora essa estru-
centes a esse gênero fúngico (VIEIRA et al. 2020). A tura ainda não tenha sido observada em cajueiros
falta de consenso entre os taxonomistas de Colleto- no Brasil. No entanto, peritécios viáveis foram obti-
trichum em relação aos marcadores, bem como à ca- dos em meio de cultura (BAILEY et al. 1992; AGRIOS
pacidade desse fungo infectar muitos hospedeiros e 2005; DEAN et al. 2012).
se adaptar a novos ambientes (SANDERS & KORSTEN
2003; PHOTITA et al. 2004), dificulta a elucidação da GAMA DE HOSPEDEIROS E DISTRIBUIÇÃO DE
etiologia da antracnose. Colletotrichum SPP. NO BRASIL
Espécies de C. gloeosporioides s.l. são
CICLO DA ANTRACNOSE DO CAJUEIRO consideradas generalistas, com poucas exceções
Colletotrichum abrange espécies patogênicas (por exemplo C. musae e C. nupharicola) (WEIR et
e não-patogênicas a plantas cultivadas e silvestres al. 2012; JAYAWARDENA et al. 2021). Durante mui-
(OSONO et al. 2009; MANAMGADA et al. 2013; TAO to tempo, assumiu-se que as espécies de Colletotri-
et al. 2013). Este patógeno pode penetrar o tecido chum apresentavam especificidade/preferência a
hospedeiro de forma direta ou indireta em qualquer determinadas espécies de plantas, levando à descri-
fase de desenvolvimento da planta. Por ser hemibio- ção de táxons com base na identidade de seu hos-
trófico, a interação de Colletotrichum com a planta pedeiro (CONNON et al. 2012). Atualmente, sabe-se
hospedeira é caracterizada por uma curta fase bio- que uma planta pode muitas vezes hospedar diver-
trófica, quando os dois organismos mantêm conta- sas espécies de Colletotrichum, e uma única espécie
to direto na superfície celular, seguido de uma fase de Colletotrichum pode infectar diferentes hospe-

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Figura 2- Ciclo da antracnose do cajueiro causada por Colletotrichum spp. (Ilustração: Matheus Wesley Elia-
quim da Silva).

deiros (FREEMAN et al. 1998; CANNON et al. 2012; que as secreções dentro das células glandulares e
PHOULIVONG et al. 2012). A maioria das espécies fora dos tricomas é uma mistura contendo mucila-
de Colletotrichum identificadas causando antracno- gem, ácidos graxos e compostos fenólicos que po-
se no cajueiro também foi patogênica a frutos de dem servir para proteção contra dessecação e fito-
abacate, banana, goiaba, manga e mamão quando patógenos (STECHHAHN LACCHIA et al. 2016). Além
inoculadas artificialmente. Esta informação é par- disso, a camada de cera, bem como a competição
ticularmente relevante para pequenos agricultores com outros microrganismos existentes na superfície
brasileiros, que geralmente cultivam várias espécies foliar, influenciam os primeiros eventos nas intera-
de frutas no mesmo pomar, incluindo caju, manga, ções patógeno-hospedeiro (AGOSTEO et al. 2015).
anonáceas e outras que podem favorecer a infecção Essa suposição foi apoiada por um teste de triagem
cruzada de Colletotrichum spp., o que exige ajustes realizado com folhas destacadas e desinfestadas (ou
nas estratégias de manejo (VELOSO et al. 2021). seja, a camada de cera e os microrganismos foram
A maioria das espécies de Colletotrichum reduzidos) do cajueiro, revelando que todas as es-
identificadas no cajueiro parece ter sua ocorrência pécies de Colletotrichum induziram graus variados
em vários biomas brasileiros, além de estar associa- de sintomas de antracnose em folhas de A. occiden-
da à distribuição de seus hospedeiros e às condições tale com e sem ferimentos (VELOSO et al. 2021).
ambientais (VELOSO et al. 2018). Todas as espécies As espécies de Colletotrichum associadas ao
foram encontradas em A. occidentale, um hospedei- cajueiro no Brasil também variaram quanto à sua
ro encontrado em todos os biomas amostrados. Em distribuição geográfica. Colletotrichum siamense foi
contraste, seis espécies de Colletotrichum foram as- a espécie mais frequente em todos os pontos geo-
sociadas a A. humile e A. othonianum (Figura 4), am- gráficos amostrados, exceto em Minas Gerais, onde
bas restritas ao Cerrado. A variação estrutural e bio- C. fructicola foi a espécie mais abundante (VELOSO
química entre Anacardium spp. pode contribuir para et al. 2018) (Figura 5). A distribuição geográfica de
diferenças na diversidade entre as espécies hospe- Colletotrichum spp. permite compreender melhor
deiras (VELOSO et al. 2021). A análise histoquímica como os fatores bióticos e abióticos moldam sua
foliar de plantas da família Anacardiaceae indicou história evolutiva e diversificação (VELOSO et al.
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Figura 3- Árvore de máxima verossimilhança de Colletotrichum gloeosporioides sensu lato (s.l.) inferida de
um alinhamento concatenado dos genes APN2, APN2 / MAT-IGS, CAL, GAPDH, GAP2-IGS, GS e TUB2. Os valo-
res de suporte de bootstrap (ML ≥70) e os valores de probabilidade posterior bayesiana (PP ≥0,95) são mos-
trados nos nós. “-” indica suporte não significativo ou ausência do nó. Os ex-type são enfatizados em negrito.
Os isolados obtidos de cajueiro são destacados em vermelho. Colletotrichum fragariae, C. theobromicola e C.
grevilleae foram usados como grupo externo. A barra de escala indica o número de mudanças esperadas por
site. (Árvore adaptada de Veloso et al. 2018).
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Figura 4 - Rede de haplótipos TCS gerada para sequências de APN2 / MAT-IGS representando as três espécies
de Anacardium usando PopArt. Os tamanhos dos círculos são proporcionais à frequência de cada haplótipo.
Os círculos pretos representam haplótipos hipotéticos. As linhas ao longo dos ramos da rede indicam o nú-
mero de mutações. Cada cor representa uma espécie de cajueiro. (Adaptada de Veloso et al. 2018).

2018). A dispersão do patógeno é um dos fatores- em simpatria, para produzir novas raças (KAWECKI
-chave que afetam a dinâmica coevolutiva das inte- 1998) e formae specalis. Isso é bastante direto em
rações patógeno-hospedeiro (GIRAUD et al. 2008). A espécies assexuadas, onde a pressão seletiva em um
variabilidade genética é crucial para fornecer maior gene tem um efeito sobre todo o genoma na ausên-
capacidade das espécie responderem às adversida- cia de recombinação (GIRAUD et al. 2006). Diferen-
des ambientais e se adaptarem às condições locais ciações genéticas exercidas pelas plantas hospedei-
ao longo do tempo (HARTL & CLARK 1997; BARRETT ras têm sido observadas em C. fructicola coletado
& SCHLUTER 2008). Genes localizados nas ilhas ge- de plantações de Camellia oleifera na China. Além
nômicas de divergência entre duas populações sub- disso, as populações de C. fructicola oriundas de ou-
tropicais de Neurospora crassa confirmaram o papel tras plantas hospedeiras nas proximidades dessas
desses genes na adaptação à temperatura (ELLISON plantações podem ter contribuído para as distinções
et al. 2011). Diferenças de temperatura podem sele- genéticas (LI et al. 2016). Esta informação é parti-
cionar genótipos que são localmente adaptados às cularmente relevante para os pequenos agricultores
suas condições específicas (LI et al. 2016). As espé- brasileiros, que geralmente cultivam várias espécies
cies de Colletotrichum responsáveis pela antracnose de frutas no mesmo pomar. O incremento da bio-
são adaptadas a uma ampla faixa de temperatura. diversidade dentro dos pomares pode favorecer a
Até o momento, não há estudos que elucidem quais ocorrência de infecções cruzadas e, eventualmente,
e como fatores ecológicos específicos podem contri- a recombinação entre Colletotrichum spp. oriundos
buir para a diferenciação genética entre populações de hospedeiros distintos (VELOSO et al. 2021), assim
de Colletotrichum em cajueiros. gerando variabilidade genética.
Populações de fungos parasitas podem ex- Muitas populações de patógenos têm um
plorar uma ampla gama de hospedeiros em ecos- alto potencial evolutivo que permite uma resposta
sistemas naturais e cultivados. Diferentes espécies rápida às defesas naturais das plantas ou à pressão
hospedeiras podem exercer forte seleção disrupti- de seleção pelo uso repetido de determinado fungi-
va, gerando sistemas continuamente envolvidos na cida. Em ambos os casos, é possível que essas popu-
dinâmica coevolutiva. A seleção disruptiva exercida lações evoluam para resistência. Os patógenos su-
pela variação do hospedeiro pode conduzir à dife- plantam as defesas das plantas secretando proteínas
renciação das populações dos patógenos, mesmo efetoras que interferem no metabolismo do hospe-

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deiro, a exemplo dos genes efetores que codificam (GIRAUD et al. 2008). Essas informações podem
proteínas ricas em cisteína (LO PRESTI et al. 2015). ser úteis para otimizar o manejo de genes de resis-
No tocante ao desenvolvimento de resistência a fun- tência a fungicidas na agricultura e, portanto, para
gicidas, isolados de C. fructicola oriundos de poma- controlar doenças de plantas de forma mais eficaz
res de maçã no Japão se mostraram resistentes aos (ZHAN 2009). Apesar da importância da antracnose
fungicidas benomil e QoI (inibidores de quinona) em do cajueiro, há poucos estudos disponíveis sobre
um ritmo mais rápido em comparação com outras esse patossistema e inexistem estudos de genéti-
espécies do complexo C. gloeosporioides, como C. ca populacional. Estudos de genética populacional
siamense (YOKOSAWA et al. 2017). das espécies de Colletotrichum responsáveis pela
O conhecimento da estrutura genética de antracnose do cajueiro poderão contribuir de forma
determinado organismo nos permite investigar as significativa na elaboração de modelos de progres-
forças evolutivas (fluxo gênico, deriva genética, so no tempo, uma vez que a taxa de adaptação às
mutação e seleção natural) que atuam como mo- mudanças depende da variabilidade genética da po-
duladores da diversidade genética nas populações pulação.

Figura 5 - Distribuição das espécies de Colletotrichum por região brasileira. (Adaptada de Veloso et al. 2018).
208 RAPP - Volume 28, 2022
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EPIDEMIOLOGIA DA ANTRACNOSE DO CAJUEI- extremas, raios ultravioleta e de efeitos tóxicos de


RO metabólitos da planta hospedeira. Assim, pode-se
Os eventos que levam à infecção do tecido do afirmar que a essa matriz mucilaginosa representa
hospedeiro por espécies de Colletotrichum incluem uma estratégia de sobrevivência ecologicamente
o reconhecimento da superfície do hospedeiro, importante para Colletotrichum spp. (CARDOSO &
seguido por germinação de conídios, formação de FREIRE 2002). A presença de água livre promove a
apressórios, penetração de hifas, colonização de cé- diluição da matriz mucilaginosa, possibilitando a dis-
lulas hospedeiras e esporulação (KENNY et al. 2012; sociação dos conídios e a neutralização do seu efeito
AGOSTEO et al. 2015). Cada uma dessas etapas é auto-inibidor (CARDOSO & VIANA 2011). A infecção
afetada em maior ou menor grau pela temperatu- ocorre em temperaturas que variam de 22 °C a 28 °C
ra, um fator importante que afeta as etapas de in- com pelo menos 10 horas de saturação de umidade
fecção, colonização e reprodução (FERNANDO et al. (acima de 95%) (FREIRE & CARDOSO 2003).
2000; BARONCELLI et al. 2015). As temperaturas óti- A sobrevivência de Colletotrichum spp. pode
mas para o crescimento micelial e a taxa máxima de ocorrer em vários substratos, desde resíduos da
crescimento micelial das espécies de Colletotrichum colheita infectados no solo e/ou na própria planta
responsáveis pela antracnose do cajueiro variam de (UACIQUETE et al. 2013), até em hospedeiros al-
25,4 a 29,7 °C, enquanto a máxima germinação dos ternativos. Por se tratar de um patossistema ainda
conídios ocorreu em temperaturas variando de 27,5 pouco explorado, não se tem registro de estudos
a 32,6 °C (VELOSO et al. 2021). Essas temperaturas epidemiológicos mais amplos que abordem, por
são típicas de zonas tropicais, o que pode explicar a exemplo, período de latência, progressão da doen-
ocorrência generalizada da antracnose do cajueiro ça no tempo e no espaço e quantificação de perdas
em todo o Brasil (VELOSO et al. 2018). O processo causadas pela antracnose do cajueiro. Como compli-
de germinação tem duração média de 6 a 8 horas cador, as pesquisas existentes geralmente utilizam
(CARDOSO 2002), seguido pelo desenvolvimento marcadores de baixa informatividade e/ou o primer
do apressório, que é formado entre 6 a 12 horas na específico (CgInt) para detectar o complexo de espé-
maioria das espécies hospedeiras (CARDOSO & VIA- cies (C. gloeosporioides ou C. acutatum), mas não a
NA 2011). espécie propriamente dita à qual os isolados perten-
O ciclo de vida dos fungos é altamente de- cem. Nesse sentido, ao compilar as informações até
pendente da água livre e da umidade, uma vez que então disponíveis, esta revisão vem contribuir para
ela interfere diretamente na disseminação dos es- uma melhor compreensão dos fatores que direta e/
poros e no processo infeccioso. Durante o período ou indiretamente influenciam na evolução da an-
chuvoso na região Nordeste do Brasil (comumente tracnose do cajueiro nas áreas de cultivo.
de janeiro a junho) e durante a ‘‘chuva do caju’’ (em
agosto e setembro), a antracnose atinge sua maior SENSIBILIDADE A FUNGICIDAS
severidade, espalhando-se rapidamente dentro Compreender as diferenças de sensibilidade
e entre as plantas (FREIRE et al. 2002). Após esse a fungicidas entre as espécies de Colletotrichum é
período, o micélio dormente (infecção quiescente) fundamental para o desenvolvimento de recomen-
retorna à atividade com a subsequente produção dações de manejo adequadas (DOWLING et al.
de novos esporos que coincidem com o surgimen- 2020). Em cajueiro, Veloso et al. (2021) demostra-
to de novas brotações. A sincronia da ativação do ram que azoxistrobina, no geral, promoveu a maior
patógeno com a abundância de tecidos suscetíveis inibição da germinação de conídios e formação
do hospedeiro pode representar uma adaptação apressorial das sete espécies de Colletotrichum ava-
ecológica do patógeno (CARDOSO & VIANA 2011). liadas. Em contraste, difenoconazol inibiu de forma
A disseminação de espécies de Colletotrichum no significativa a esporulação (ca. 25–96%) e germina-
campo pode ocorrer pela água da chuva (autoin- ção de conídios (ca. 17–74%), ao passo que o cres-
fecção) e/ou pelo vento (aloinfecção). Os conídios cimento micelial foi moderadamente (ca. 5–59%)
são produzidos numa matriz mucilaginosa, rica em reduzido. Por outro lado, o crescimento micelial e a
biotina que, além de inibir a germinação prematura esporulação de Colletotrichum spp. foram altamen-
dos esporos, protege e mantém a viabilidade dos es- te inibidos (>80%) por tiofanato-metílico (VELOSO
poros sob condição de baixa umidade, temperaturas et al. 2021). De forma genérica, azoxistrobina pro-

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tegeria os cajueiros das espécies de Colletotrichum, sua rusticidade, diversos fatores limitam a expan-
evitando novas infecções, mas não seria eficaz em são da cajucultura no Brasil, incluindo o domínio do
curar tecidos/órgãos já infectados. Os pomares de mercado por atravessadores, que geram assimetria
caju seriam protegidos contra novas infecções com na rentabilidade entre o produtor e o comerciante,
o uso de difenoconazol, que também seria eficaz o baixo aproveitamento do pseudofruto, a baixa
no controle da esporulação. Por fim, se os objetivos qualidade do que é produzido (CARMELIO 2010) e
principais fossem inibir o crescimento micelial e a a incidência de doenças. Dentre estas, a antracnose
esporulação, tiofanato-metílico seria a melhor esco- se destaca como a doença mais severa e de ampla
lha contra as espécies de Colletotrichum associadas ocorrência no Brasil. Contrariando estudos prévios
ao cajueiro (VELOSO et al. 2021). Os fungicidas di- que reportavam apenas C. gloeosporioides como
fenoconazol e azoxistrobina têm sido recomenda- agente etiológico da antracnose do cajueiro no Bra-
dos recentemente para o controle da antracnose sil, uma análise multigene revelou que esta doença
do cajueiro, embora considerando C. gloeosporioi- é causada por pelo menos sete espécies de Colleto-
des (AGROFIT 2022) como único agente etiológico trichum (VELOSO et al. 2018). Contudo, existe uma
da doença. As diferenças na sensibilidade aos fun- lacuna no conhecimento sobre a antracnose do ca-
gicidas entre as espécies podem ser inerentes ou jueiro em nível mundial. Conhecer precisamente a
podem ter surgido como resultado da pressão de identidade do patógeno é crucial para o manejo de
seleção do fungicida influenciada pela frequência doenças de plantas por nortear as estratégias cultu-
e densidade do inóculo específico e pelo influxo de rais ou químicas, bem como orientar os programas
genótipos de tipo selvagem de hospedeiros próxi- de melhoramento de plantas visando a resistência
mos (DOWLING et al. 2020). varietal.
O manejo da antracnose do cajueiro é
MANEJO DA ANTRACNOSE DO CAJUEIRO dificultado, em alguns casos, pela ocorrência de
A antracnose do cajueiro pode ser controla- várias espécies de Colletotrichum associadas a um
da por meio de pulverizações com fungicidas, como único hospedeiro, bem como pela ocorrência de
oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre, difenocona- uma única espécie de Colletotrichum infectando
zol, mancozebe e azoxistrobina, aplicados no início múltiplos hospedeiros (LIMA et al. 2013; SCHENA et
da emissão das folhas, bem como entre florescimen- al. 2014; TALHINHAS et al. 2015). Como já aborda-
to e a “chuva do caju” (FREIRE et al. 2002; AGROFIT do, pequenos fruticultores no Brasil comumente es-
2022). A fonte de resistência para essa doença tem tabelecem pomares mistos, o que pode favorecer a
sido encontrada em cajueiro anão-precoce, como infecção cruzada, até porque o inóculo nos pomares
relatam Cavalcanti et al. (2000) para os clones CAP- compreende uma miscelânia de espécies de Colleto-
05, CAP-07, CAP-14 e CAP-17, indicando que esta trichum. Em que pese essa diversidade de espécies,
característica pode, futuramente, ser implementada uma ou outra se sobressai como mais prevalente e,
no manejo da doença. O emprego de tácticas cultu- identificá-las corretamente, é fundamental para tra-
rais como poda de limpeza, remoção e destruição çar estratégias de manejo adequadas. Tais estraté-
de restos culturais antes das brotações, também gias passam pela seleção de plantas que não sirvam
pode reduzir o inóculo presente na área (CARDOSO como hospedeiros alternativos às espécies de Colle-
& FREIRE 2002; FREIRE et al. 2002; MENEZES 2005; totrichum patogênicas ao cajueiro, bem como pela
AGROFIT 2022). aplicação do fungicida mais apropriado, uma deci-
são que depende da espécie fúngica e da severidade
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS da doença na área.
O cajueiro é uma planta importante econô- Seguindo o estudo brasileiro, um estudo filo-
mica e ecologicamente, pois gera emprego e renda, genético abrangente nos demais países produtores
principalmente para pequenos agricultores, e serve de caju, em muito contribuiria para a elucidação da
como alimento para diversas espécies da fauna en- etiologia da antracnose nesta cultura. Investigações
dêmica da Amazônia e do Cerrado brasileiros (AGOS- de genômica comparativa podem ser usadas para
TINI-COSTA et al. 2006). Em ecossistemas naturais, identificar efetores e genes envolvidos na patoge-
seu padrão natural de distribuição agregado facilita nicidade, virulência (ou agressividade), no jump de
o extrativismo pelas populações locais. Apesar da hospedeiros, resistência a fungicidas e na adaptação

210 RAPP - Volume 28, 2022


Josiene Silva Veloso et al. (200-215)

a diferentes ambientes com maior precisão, contri- fit_cons. Acessado em 20 Janeiro, 2022.
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vimento de clones resistentes ao patógeno. Tendo BARONCELLI R, SARROCCO S, ZAPPARATA A, TA-
em vista que ainda não existe nenhum programa de VARINI S, ANGELINI LG, VANNACCI G (2015).
melhoramento voltado para a triagem de resistên- Characterization and epidemiology of Colle-
cia à antracnose do cajueiro, os recursos genômicos totrichum acutatum sensu lato (C. chrysanthemi)
podem apoiar o desenvolvimento de programas fu- causing Carthamus tinctorius anthracnose. Plant
turos. Considerando as espécies de Colletotrichum Pathology 64: 375-384. (https://doi.org/10.1111/
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