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Revista Nordestina de Zoologia

ISSN 1808-7663
Volume 5 Número 2 Ano 2011

Revista da Sociedade Nordestina de Zoologia

Revista Nordestina de Zoologia Recife V. 5 N. 2 P. 69 - 80 2011

Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 5(2): p.69-80. 2011.


ESTUDOS SOBRE O PLÂNCTON EM AMBIENTES DO SISTEMA DE
CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA RESFRIAMENTO NA USINA
TERMOELÉTRICA DE PERNAMBUCO - TERMOPE, PE, BRASIL.
1 1
Andrea Karla Pereira da Silva , Mucio Luiz Banja Fernandes , Adilson de Cas-
tro Chaves1, Gledson Fabiano de Araújo Ferreira1, Eduarda Oliveira Casano-
2 2 2
va , Alden Bandeira Pacheco , Manuela Camarotti Gomes dos Santos , Raisa
2
Arruda de Oliveira .
1 – Professor Universidade de Pernambuco
2 – Biologo
e-mail: andreakps@uol.com.br

Resumo
O controle da comunidade incrustante que se desenvolve no interior dos siste-
mas de resfriamento de usinas termoelétricas consiste num desafio, pois em
regiões tropicais ocorre o recrutamento ininterrupto do fouling se intensifica o
esforço para manter as tubulações livres de incrustações. O projeto de P&D
que estuda a dinâmica temporal e sazonal do ciclo de vida desses organismos
inclui o levantamento dos componentes do plâncton coletados em arrastos ver-
ticais nos ambientes de entrada de água marinha. A comunidade zooplanctôni-
ca está composta por organismos que mantém e renovam o fouling nas pare-
des do Sistema de resfriamento. Conhecer a bioecologia desses organismos é
essencial para o controle das bioincrustações e constitui o caráter inovador
dessa pesquisa que numa perspectiva de sustentabilidade, associa a viabilida-
de econômica à eficiência ecológica junto aos empreendimentos que atuam no
setor de produção de energia termoelétrica.
Palavras-chave – Bioincrustação; controle do fouling; manutenção de sistema
de resfriamento; Pesquisa e desenvolvimento; sustentabilidade.

Abstract
The control of fouling community that develops inside the sys-cooling of power
plants is a challenge, as occurs in tropical fouling uninterrupted recruitment
intensifies the effort to keep the pipes free of scale. The Research and
Development project that studies the dynamics of seasonal and life cycle of
these organisms include the production of components collected in the plankton
hauls see ticais environments entry of seawater. The zooplankton community is
composed of organizations that maintain and renew the fouling on the walls of
the cooling system. Knowing the bio-ecology of these organisms is essential for
the control of fouling and is the innovative character of this research from the
perspective of sustainability, economic viability associated with the ecological
efficiency with the in-project or venture that operate in the production of thermal
power.
Key-words: Biofouling, control of fouling, research and development,
sustainability, Suape harbor.

Revista Nordestina de Zoologia, Recife v 5(2): p.69-80. 2011.


INTRODUÇÃO tam o substrato disponível cobrindo
total ou parcialmente as paredes in-
O estudo do plâncton em ambientes ternas da tubulação. Nesse contexto,
do Sistema de Resfriamento na usina torna-se imprescindível conhecer a
termoelétrica de Pernambuco constitui comunidade zooplanctônica nas á-
uma das fases de pesquisa do projeto guas do canal de captação e nos am-
P&D TPE 035 desenvolvido no âmbito bientes de entrada de água marinha
dos projetos na temática de meio am- da usina termoelétrica de Pernambu-
biente da Termope, intitulado Estudo co- Termope em Suape.
de dinâmica temporal e sazonal do Foram realizados estudos qualitati-
ciclo de vida de organismos do fouling vos e quantitativos do plâncton captu-
- cirrípedes, com proposta de metodo- rado através de arrastos mensais ver-
logias de controle físico do seu de- ticais com rede, em três pontos de
senvolvimento em sistemas de tubu- monitoramento durante sete meses.
lação. Esse projeto de pesquisa teve Os resultados mostraram que entre
inicio em abril de 2010 e está em fase os crustáceos, copépodos e larvas de
de conclusão do primeiro de seus dois cracas são os organismos mais abun-
anos de duração. dantes, e com maior freqüência de
Na Região de Suape, a Usina ocorrência, seguidos foraminiferos e
Termope enfrenta problemas ocasio- de larvas de moluscos bivalves e gas-
nados pela proliferação do fouling que trópodes. Os meses de maior incre-
reveste a tubulação dos sistemas de mento larval foram agosto, novembro,
captação de águas para resfriamento. dezembro e janeiro. A dominância por
O fouling que representa os orga- copépodos ocorreu em agosto, no-
nismos incrustantes não comensais vembro e dezembro nos pontos 1, 2 e
de águas rasas, se fixam em substra- 3, respectivamente. As larvas de cirrí-
tos duros artificiais e ocorrem com pedes foram abundantes no mesmo
densidade e diversidade elevadas nas período, com pico de dominância no
estruturas feitas pelo homem, tais mês de janeiro no ponto 1. Outros
como cascos de navios, estacas, bói- grupos foram registrados com picos
as e interior de tubulações (SILVA, de abundancia no mesmo período,
2003). Essas comunidades biológicas mas não exerceram dominância. Os
são importantes em estudos de moni- Picos de dominância sucessivos entre
toramento e modelagem ambiental copépodos e cracas sugerem um pro-
porque a maioria é bem conhecida e cesso sucessional típico, que estabe-
facilmente identificável. Um estudo lece relações tróficas bem definidas
adequado de seu ciclo de vida pode na comunidade incrustante.
refletir as condições ambientais e sua Esse resultado permite um planeja-
distribuição generalizada permite mento mais eficiente quando conside-
comparações entre diferentes perío- rarmos essas fases de dominância
dos e ambientes (FARRAPEIRA, dos cirrípedes, pois denunciam o
2010). momento ideal para aplicação de mé-
A maioria dos organismos que cons- todos de controle, na fase de larvas,
tituem o fouling apresenta pelo menos antes que as mesmas se fixem defini-
uma fase de seu desenvolvimento tivamente no substrato, o que causará
como plâncton e utilizam o fluxo de danos e custos maiores para manu-
água marinha como mecanismo de tenção e bom funcionamento do sis-
entrada para povoamento do sistema tema de captação e resfriamento na
de resfriamento na Termope, onde Termope.
continuam seu ciclo de vida e recru-

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DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA al 1996), (CAVALCANTI et al, 2008) e
(NERY et al 2008).
Um aspecto importante atribuído ao Como a grande maioria dos compo-
fouling quando consideramos os da- nentes da comunidade incrustante
nos que seu povoamento pode causar passa pelo menos uma de suas fases
em estruturas artificiais está relacio- no plâncton [8], o conhecimento sobre
nado com o seu potencial invasor, a comunidade planctônica na área de
prevalente entre as espécies exóticas influência do substrato colonizado pe-
e em espécies autóctones com eleva- lo fouling é de fundamental importân-
da resiliência (BERNARDO, 1995). cia, e esses estudos vem ocorrendo
Nesses ambientes modificados em de forma integrada em diversas loca-
características mesológicas funda- lidades. A bibliografia sobre usos e
mentais como temperatura, salinidade aplicações do conhecimento do plânc-
e luminosidade, proliferam aquelas ton para definição de métodos e téc-
espécies com maior capacidade de nicas de controle do fouling porem, é
respostas as adversidades ambientais ainda escassa, o que confere um ca-
e ali se tornam dominantes, deman- ráter de pioneirismo e ineditismo da
dando esforços onerosos ao seu con- presente pesquisa.
trole, tanto no aspecto econômico Na região Nordeste os primeiros es-
como ambiental. tudos sobre o plâncton marinho ocor-
A comunidade de organismos in- reram após 1945, os quais foram ba-
crustantes ou fouling resulta do pro- seados em amostras coletadas ao re-
cesso de colonização de uma superfí- dor da ilha de Fernando de Noronha.
cie sólida, natural ou artificial, onde se No âmbito da pesquisa científica o
estabelecem os organismos incrustan- seu maior desenvolvimento ocorreu a
tes que numa constante transforma- partir das décadas de 50 e 60. A
ção, pela ação dos parâmetros bióti- grande maioria dos estudos existentes
cos e abióticos evoluem num proces- refere-se, sobretudo aos ecossiste-
so de sucessão, que é observada na mas costeiros, mas restritos a pesqui-
composição da comunidade ao longo sa básica (CAVALCANTI &
do tempo. A ocupação de um substra- LARRAZABAL, 2004). Para Silva et al
to por organismos incrustantes é co- (2004) e Eskinazi-Sant'anna
nhecida como recrutamento (1996) as pesquisas que relacionam
(MARGALEFF, 1974). O recrutamen- estudos do plâncton com impactos
to de organismos bentônicos mari- ambientais na Região de Suape foram
nhos é definido como o número de publicados a partir da década de
novos indivíduos que assentam e so- 1980.
brevivem no substrato. Para keough &
Downes (1982), no caso de organis- METODOLOGIA
mos com larva planctônica, e implica
na transformação de seu hábito de A pesquisa apresenta uma aborda-
vida para o bentônico, bem como a gem quantiqualitativa de caráter des-
sobrevivência até o momento do as- critivo, com o levantamento da com-
sentamento. A forma como o substra- posição da comunidade incrustante,
to é colonizado indica os padrões de considerando suas variações tempo-
suprimento de larvas fornecido pelo rais e os parâmetros abióticos de
plâncton, as escolhas das larvas pelo temperatura e de salinidade, aferidos
tipo de substrato e as taxas de morta- com termômetro e salinômetro. A Fre-
lidade pós-assentamento (CALEY et qüência de ocorrência e abundância
relativa foram analisadas durante o

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período de sete meses, de agosto de organismos na amostra, sendo defini-
2010 a fevereiro de 2011. da em termos percentuais em cada
Os pontos de coleta foram escolhi- ponto de coleta ao longo dos sete
dos considerando características do meses de estudo. A abundância foi
ambiente de entrada de água marinha calculada seguindo a equação (1).
no Sistema de Captação, sendo o
ponto-1 caracterizado como ambiente %Spi = n x 100/N(1)
aberto na borda da galeria, e os onde %Spi é a percentagem do grupo
pontos 2 e 3 respectivamente, repre- taxonômico, n é o numero de orga-
sentados por ambientes fechados, nismos do grupo taxonômico “X”, N é
sendo o ponto-2 o poço de bombas e o numero total de organismos na a-
o ponto-3 o poço de telas rotatórias, mostra, sendo adotados os seguintes
critérios: muito abundante (> 50%),
ambos considerados ambientes de
abundante (30-50%), pouco abundan-
entrada.
te (30-10%) e raros (<10%)
Nos três pontos de coleta foram re- Foi calculada a Freqüência de Ocor-
alizados, mensalmente, arrastos ver- rência, levando em consideração o
ticais numa profundidade de 10 m, número de amostras em que cada
utilizando-se rede de náilon tipo grupo taxonômico ocorreu em relação
bongo, com aro de 30 cm de diâmetro ao total de amostras obtidas, seguin-
e 300µm de abertura de malha. O do a equação (2).
material filtrado foi acondicionado em
frascos plásticos e fixados com álcool
F = p x 100/P (2)
a 70%, com volume total de 300ml.
onde p é o número de amostras con-
O material foi conduzido ao Laborató-
tendo o grupo taxonômico “X” e P é o
rio de Estudos Ambientais-LEA da
número total de amostras obtidas. Pa-
UPE, onde foram extraídas três amos-
ra a Frequencia F distinguiram-se as
tras de 10 ml a partir do precipitado de
categorias: muito freqüentes (>70%),
material contido nos recipientes plás-
freqüente (30-70%), pouco freqüente
ticos, sendo vertidas em placas Dolfus
(10-30%) e esporádica (<10%).
em dez sub amostras de 1 ml cada,
sendo analisadas sob microscópio
RESULTADOS E DISCUSSÃO
estereoscópico para contagem e iden-
tificação dos grupos taxonômicos.
O crescimento e reprodução de um
Os organismos identificados nesse
organismo são funções de sua morfo-
material foi categorizado de acordo
logia, comportamento, concentração e
com seu modo de vida, agrupando os
qualidade do alimento e adaptação
organismos Holoplanctônicos (ciclo de
aos fatores ambientais. O desenvol-
vida totalmente planctônico),
vimento e a reprodução organismos
Meroplanctônicos (pelo menos uma
marinhos como um todo são influenci-
fase do ciclo de vida é planctônico) e
ados por fatores intrínsecos, inerentes
planctônicos acidentais (nenhuma fa-
a cada espécie, e por fatores exter-
se do ciclo de vida ocorre no plâncton,
nos, dentre os quais se destacam a
sendo capturado acidentalmente na
temperatura a salinidade. O zooplânc-
coluna liquida). Foram ainda agrupa-
ton forma suas comunidade, princi-
dos segundo critérios taxonômicos
palmente de acordo com suas rela-
amplos e de acordo com sua dimen-
ções tróficas (herbívoros, onívoros ou
são.
carnívoros), estágios de desenvolvi-
A Abundância Relativa foi atribuída
mento (larvas) e seletividade ambien-
por comparação de número de indiví-
tal (eurialinas, euritérmicas etc)
duos em relação a quantidade total de

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(ESKINAZI-SANT'ANNA & TUNDISI, to dos organismos parece ser o pa-
1996). A temperatura é o fator que drão mais comum na natureza.
mais influencia o metabolismo dos se- O gráfico da temperatura mostra a va-
res vivos, pois afeta a velocidade de riação de temperatura monitorada du-
suas reações metabólicas, exercendo rante os sete meses de estudo, onde
um importante papel sobre o tempo se observa uma significativa estabili-
de desenvolvimento, a alimentação, o dade térmica nos três pontos de cole-
movimento, as taxas de reprodução e ta, com gradientes de variações entre
a longevidade dos animais, alterando 260C e 310C, registrados apenas no
suas taxas de crescimento populacio- ponto 1 (canal de captação) Nos pon-
nal (NEUMANN-LEITÃO et al, 2008). tos 2 e 3 (poços de bombas e de telas
Estudos de Neumann-Leitão (2008) rotatórias) a temperatura variou entre
0 0
e Veado (2008) demonstram que o 26 C e 28 C (figura 1). Essa tempera-
aumento da temperatura promove, por tura relativamente elevada e estável
exemplo, no zooplâncton, a diminui- configura um dos principais fatores
ção no tempo de desenvolvimento dos causadores das elevadas taxas de
ovos, aumento na taxa de incremento freqüência e abundancia do plâncton,
populacional e aumento nas taxas de sobretudo entre copépodos e cracas,
alimentação. a influência da tempera- organismos dominantes registrados
tura sobre o tempo de desenvolvimen- nessa pesquisa.

Figura 1: Variação da temperatura da água nos três pontos de monitoramento, durante o pe-
0
ríodo de estudo ( C)

Com relação ao parâmetro de salini- Os valores de salinidade mais baixos


dade, verifica-se uma forte influencia foram registrados nos meses 1, 5 e 7,
desse parâmetro com relação a distri- para os pontos 1 e 3, relacionados
buição dos organismos, que é afetada com o memento de coleta de água,
em função das mudanças que ocor- em regime de baixamar (figura 2).
rem na salinidade, em função da in- Trabalhos de variação diurna em es-
fluencia de marés e de proximidade tuários de Pernambuco, como Neu-
de rios como já havia sido descrito por mannn-Leitão (1998a) e (1998b),
Veado (2008). A salinidade verificada mostraram ocorrer variações quantita-
ao longo do período de estudo mos- tivas muito significativas do zooplânc-
trou-se estável, com variações entre ton, em relação aos diferentes horá-
30%o e 35 %o com picos registrados rios de coleta, em decorrência da di-
nos meses 3 e 6 para os pontos 1 e 3, nâmica das marés que afeta a salini-
relacionados com o momento de cole- dade.
ta de água, em período de preamar.

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Figura 2: Variação da salinidade da água nos três pontos de monitoramento, durante o período
de estudo (%o)

Os organismos da fauna planctônica com ampla variação quantitativa ao


que compôs a comunidade aqui estu- longo dos meses de estudo, que osci-
dada, apresentaram uma configura- lou conforme condições de turbidez
ção típica, composta predominante- da água. Os períodos de maior turbi-
mente por invertebrados, exceto por dez foram caracterizam-se pela
larvas de ascídia e ovos e larvas de maior concentração de material em
peixes encontrados ocasionalmente. suspensão, principalmente sedimen-
Observou-se formas de vida perma- tos, que tem em sua composição
nentemente planctônicas (holoplânc- grande quantidade de foraminíferos
ton) e organismos temporariamente bentônicos. A variação quantitativa
planctônicos (meroplâncton). dos organismos (figuras 3, 4 e 5), o-
Os organismos holoplanctônicos correm em função de fatores intrínse-
encontrados em maior quantidade de cos, como ciclo reprodutivo e também
indivíduos esteve representado por devido a fatores extrínsecos, como as
copépodos; A fauna meroplanctônica condições mesológicas. O dados obti-
foi mais diversificada mas apresentou dos com relação a variação quantitati-
dominância de cirrípedes mas tam- vas dos grupos taxonômicos que
bém foi representada por larvas de compuseram o plâncton e foram regis-
moluscos, sobretudo Bivalvia e Gas- trados no presente estudo aponta pa-
trópoda; larvas de poliquetas e de ou- ra um incremento periódico por larvas
tros invertebrados platônicos temporá- de cirrípedes e por copépodos, que
rios também foram registrados mas compõem um dos importantes recur-
em quantidades, abundancia e fre- sos alimentares da comunidade fou-
qüência pouco significativas ou des- ling. Estudos de Cavalcanti et al
prezíveis. Entre os organismos planc- (2004) e (2008) e Silva et al (2004)
tônicos ocasionais apresenta-se o realizados na Região de Suape con-
grupo dos foraminíferos. Esses proto- firmam esses dados registrados nesta
zoários bentônicos apresentaram sig- pesquisa.
nificativas freqüência e dominância,

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Figura 3: Variação quantitativa de individuos por grupo taxonômicos ao longo do periodo de
estudo, no Ponto de monitoramento 1

Figura 4: Variação quantitativa de individuos por graupo taxonômicos ao longo do periodo de


estudo, no Ponto de monitoramento 2

Figura 5: Variação quantitativa de individuos por graupo taxonômicos ao longo do periodo de


estudo, no Ponto de monitoramento 3

Com relação à Freqüência de Ocor- assinalam-se as larvas de ascídias


rência dos grupos taxonômicos en- (25%), antípodas, apendiculários e
contrados (Figura 6), copépodos e radiolários que ocorreram em 20% do
cracas foram os mais freqüentes, material analisado, assim como Isó-
tendo ocorrido em 100% das amos- podas que ocorreram em 15% das
tras analisadas. Outros grupos tam- amostras enquanto que larvas de de-
bém muitos freqüentes foram bival- capodas, outros moluscos e rotíferos
ves, poliquetas, gastrópodes e fora- tiveram uma frequencia de 10%;.
miníferos, esses últimos considerados Larvas de outros crustáceos incluindo
como plâncton ocasional, que estive- de Pycnoconida e larvas de peixe tive-
ram presentes em 95% das amostras ram frequencia de 5%, sendo conside-
analisadas. Como pouco freqüentes, rados grupos com frequencia esporá-

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dica. Esses resultados coadu- liar a disponibilidade continua de lar-
nam com estudos anteriores relacio- vas de invertebrados bentônicos que
nados com plâncton, que pontuam potencialmente recrutarão o subs-
copépodos, larvas de cirrípedes e de trato disponível no sistema de tubula-
outros invertebrados, como os repre- ção da Termope, o que aponta para
sentantes mais frequentes entre as uma maior atenção e necessidade de
amostras de plâncton coletadas em monitoramento como ferramentas im-
áreas costeiras no período diurno [8]. prescindíveis de controle de de-
Isso se torna relevante na medida em senvolvimento do fouling nessas
que essas informações permitem ava- estruturas
.

Figura 6: Freqüência de Ocorrência dos grupos taxonômicos identificados no plâncton (100%)

A o estudo sobre a abundancia Dessa forma, a comunidade


relativa dos grupos taxonômicos incrustante já estabelecida
identificados no plâncton é muito perecerá diante da escassez de
importante, pois, em regiões tropicais, alimento.
onde ocorre a disponibilidade continua A figura 7 apresenta a variação
de larvas os métodos de controle para temporal de abundância dos grupos
o desenvolvimento do fouling pode taxonômicos mais importantes e
sofrer maior incremento naqueles abundantes, registrados a partir dos
períodos em que as larvas dos estudos aqui desenvolvidos. Grupos
potenciais incrustantes estiverem de organismos muito abundantes
disponíveis em maior quantidade, sugerem dominância sobre grupos
bloqueando assim o processo natural menos abundantes, que quando
da sucessão ecológica dessa relacionados com uma elevada
comunidade, nos substratos artificiais. freqüência de ocorrência, podem
Outra vantagem em se conhecer a conduzir a perda de biodiversidade
variação temporal da abundancia em áreas muito impactadas. Nas regi-
desses organismos é a possibilidade ões de forte pressão antrópica são
de bloquear os mecanismos reconhecidas características de baixa
tróficos, controlando a disponibilida- diversidade especifica (ESKINAZI-
de de alimento, disponível no SANT'ANNA & TUNDISI, 1996). Essa
plâncton, no período de maior variável ecológica não foi considerada
incremento de holoplâncton na no presente estudo, uma vez que fo-
água que é captada e que circula no ram adotadas formações de grupos
sistema de resfriamento. taxonômicos mais amplos, que não

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permitem estudos populacionais. região de Suape, conforme apresen-
Foram confirmadas as afirmativas tados em estudos anteriores naquela
com relação a maior abundancia de área (NEUMANN-LEITÃO et al, 1992
copépodos e de larvas de cracas na e 2008).

Figura 7: Abundância Relativa dos grupos taxonomicos identificados no planctos (100%)

Os copépodos foram predominan- como grupos pouco abundantes


temente mais abundantes que outros (abundancia relativa entre 10% e
grupos de organismos em todo o pe- 30%) nos meses de agosto (1), se-
ríodo de estudo. Notadamente, foram tembro (2), outubro (3) de 2010 e fe-
muito abundantes nos meses de de- vereiro (7) de 2011; esses organismos
zembro/2010 e novembro/2010 (4 e foram considerados raros (abundancia
5); foram abundantes (para valores de < 10%) nos meses de novembro (4),
abundancia entre 30% e 50%)nos dezembro (5) de 2010 e janeiro (6) de
meses de agosto/2010 (1), outu- 2011.
bro/2010 (3), e fevereiro/2011 (7); nos A abundância relativa de
periodos relativos aos meses de se- foraminíferos é um fator importante a
tembro/2010 (2) e janeiro/2011 (6) os ser considerado, pois serve como
copépodos foram pouco abundantes indicativo de quantidade de sedimento
com valores de abundancia relativa em suspensão, o que pode acarretar
em torno de 20%. em acumulo de sedimento nas telas
O segundo grupo que apresentou do sistema de captação, causando
valores de abundancia mais seu entupimento. O fato de
significativo foi o das cracas. Na figura foraminífero estar presente como
7, observa-se que as larvas desses plâncton ocasional em abundancia
organismos foram abundantes maior que 30% relacionam-se com o
(abundancia relativa entre 30 e 50%) período de dragagem do Porto de Su-
somente nos meses de janeiro (6) e ape (FERNANDES, 2000), quando o
fevereiro (7) de 2011, sendo pouco material do fundo e levando em sus-
abundantes (abundancia relativa entre pensão, reduzindo a transparência da
30 e 10%) em agosto (1),setembro água. Os foraminíferos foram abun-
(2), outubro (3), novembro (4) e de- dantes no mês de setembro (2) de
zembro (5) de 2010. 2010 e pouco abundantes nos meses
Larvas de bivalves e de gastrópode de agosto (1), outubro (3), novembro
se comportaram com mesma (4) de 2010, janeiro (6) e fevereiro (7)
abundancia relativa, apresentando-se

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de 2011; em dezembro/2010 (5) os
foraminíferos foram raros.
A baixa abundância prevaleceu
entre os poliquetas e outros grupos CONCLUSÕES
taxonômicos identificados nesse
estudo. As pesquisas realizadas em O Estudo do Plâncton em ambientes
períodos anteriores envolvendo o do Sistema de Captação de água para
plâncton na região de Suape [14], [15] resfriamento na usina termoelétrica de
e em outras regiões de Pernambuco e Pernambuco - Termope, PE, Brasil,
do Nordeste do Brasil (NEUMANN- consiste num importante contribuição
LEITÃO et al, 1994 e 2008), apon- para o monitoramento e controle da
tam para uma sazonalidade na abun- bioincrustação que consiste num dos
dância de copépodos e de cracas, maiores desafios na busca da eco
relacionadas com períodos secos e eficiência nos processos de geração
chuvosos, mas considerando o estu- de energia por usinas termoelétricas
do em pauta, pelo período de sua em áreas costeiras tropicais.
realização ter ocorrido apenas em pe- Conhecendo a dinâmica ecológica
ríodo de estiagem, não subsidia uma local e a bioecologia dos grupos que
analise de relação entre essas compõem a comunidade planctônica,
condições de tempo que caracteriza torna-se possível encontrar soluções
uma sazonalidade. efetivas para o seu controle que
Os resultados tornam-se relevantes estejam respaldadas nas três
porem, quando analisamos aspectos vertentes do desenvolvimento susten-
ecológicos das relações bióticas entre tável: economicamente viável,
os grupos mais abundantes, socialmente justa e ecologicamente
copépodos e cracas, que estão correta.
estreitamente relacionados com Os resultados apresentados nesse
predominância de cobertura do fouling estudo são preliminares, mas já
nas estruturas do sistema de apontam como subsidio para
resfriamento, onde as cracas são elaboração de propostas de
maioria, e se mantém pelo aporte de monitoramento e de controle das
alimento disponibilizado pelo fluxo de incrustações nas tubulações da
água que conduz os copépodos. Termope. Aliados a estudos com o
O conhecimento sobre a frequência bentos, que constitui o fouling
de ocorrência e abundancia relativa propriamente dito e com os testes de
dos grupos taxonômicos do plâncton metodologia não poluentes de
estudados são dessa forma funda- combate à bioincrustação, que são
mentais para atendimento aos etapas concomitante e posterior a
objetivos comprometidos no projeto pesquisa em epígrafe, poderemos
de P&D da Termope, quando permite consolidar uma nova estratégia de
e viabiliza o planejamento para gestão com um enfrentamento
monitoramento e controle dos sistêmico dos problemas decorrentes
organismos que crescem na da instalação e operação de
tubulação, danificando a estrutura e empreendimentos que demandam uso
comprometendo seu funcionamento, direto de recursos naturais com a
acarretando em danos de natureza água marinha, utilizando métodos e
econômica e ambiental. técnicas de controle mais eficientes e
menos poluentes.

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pepoda (Crustacea). Revista Brasi-
leira de Zoologia. 21 (3): 467–475.
2004.
AGRADECIMENTOS ESKINAZI-SANT'ANNA, Eneida Mari-
a; TUNDISI, José Galízia Zooplânc-
Às instituições envolvidas nessa ton do estuário do Pina (Recife-
pesquisa: Pernambuco-Brasil): composição e
Universidade de Pernambuco – distribuição temporal. Rev. bras.
UPE: Faculdade de Ciencias da oceanogr., 44(1):23-33, 1996.
Administração – FCAP/UPE; Facul-
dade de Formação de Professores Farrapeira, C. M. R., Shallow water
de Nazaré da Mata – FFPNM/UPE; Cirripedia of the northeastern coast of
Faculdade Frassinetti do Recife – Brasil: the impact of life history and
FAFIRE; Usina Termoeletrica de invasion on biogeography. J. Exp.
Pernambuco – Termope; Grupo Biol. Ecol. Dói:
Iberdrola. 10.1016/j.jembe.2010.04.021. 2010.
Aos alunos e pesquisadores des-
se projeto e de outros projetos Fernandes, Mucio Luiz Banja.
desenvolvidos pelos Avaliação de Dois Ambientes Recifais
professores/autores desse trabalho, Através de suas Macro e Megafauna
pela disponibilidade e emprenho no
Incrustante e Sedentária. Tese (Dou-
desenvolvimento de suas tarefas
torado em Oceanografia Biologica).
com afinco e responsabilidade.
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