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QUÃO LONGE NAVEGA UMA LARVA vel a distribuição observada. Se o modelo estiver a
trabalhar bem, então é possível estimar que o raio de
Entre os processos físicos relevantes que afectam a dispersão dispersão das larvas de C. maenas na costa portu-
da larvas nas zonas costeiras contam-se correntes forçadas guesa, em condições climatológicas “normais”, não
pelo vento e por diferenças de densidade, frentes e jactos as-
excederá 200 km.
sociados, marés, camadas limite superficiais e de fundo, ondas,
Quão longe navega uma larva é ainda um dos
e trocas radiativas que controlam o grau de estratificação da
coluna de água. Estes processos são, por sua vez, afectados maiores mistérios da ecologia marinha. Embora os
por vórtices e meandros de larga escala originados em corren- ICPBMs, os marcadores genéticos e as assinaturas
tes mais ao largo. À escala das bacias oceânicas, as correntes geoquímicas já permitam balizar possíveis distâncias
giratórias originam correntes de fronteira este e oeste, as quais de dispersão, ainda não é possível integrar todos os
proporcionam um mecanismo de conexão entre populações processos relevantes, especialmente nas zonas cos-
separadas por centenas ou milhares de quilómetros. Todos teiras. Aqui, o consenso entre os cientistas inclina-se
estes processos são afectados pelas características fisiográficas para o reconhecimento de que a faixa imediatamente
particulares de cada costa – por exemplo ilhas – que podem adjacente à linha de costa, dominada pelas ondas
causar zonas de recirculação e retenção das larvas. e mal resolvida pelos programas oceanográficos de
Uma das ferramentas mais utilizadas para estimar a distância a observação, corresponde a uma zona de muito forte
que se dispersam as larvas dos organismos marinhos são os
retenção das larvas que é necessário compreender
ICPBMs5. A Figura 7 mostra a distribuição observada das larvas
para elucidar a questão da escala espacial de co-
de C. maenas na primavera de 1991, bem como o resultado de
uma simulação da dispersão das larvas emitidas em estuários nectividade. As observações aqui descritas mostram
do Norte de Portugal no mesmo período, utilizando um ICPBM contudo que uma simplificação do problema, focando
forçado por uma climatologia realista. O modelo, embora em processos altamente energéticos e nos ciclos diá-
incorpore apenas a influência do vento, os fluxos radiativos, as rio e das marés, pode produzir modelos conceptuais
descargas dos rios e o comportamento de migração vertical poderosos que guiem os investigadores na compre-
nocturna, parece descrever com uma aproximação muito razoá- ensão estes problemas.
1 Nas espécies marinhas, muitas das quais em movimento. Desta forma, a capacidade vento se dissipa. Em virtude do efeito de
apresentam uma fase larvar planctóni- para os zoés distinguirem variações de sa- Coriolis, o qual é provocado pela rotação
ca no seu ciclo de vida, o recrutamento linidade, temperatura, ou qualquer outra da Terra, esta camada tem, no hemisfério
envolve vários passos: desenvolvimento variável externa associada a uma particu- Norte, um movimento integrado direccio-
das larvas, dispersão na coluna de água lar fase da maré, de modo a controlar as nado 90º para a direita do vento.
durante o desenvolvimento, suprimento suas reacções comportamentais, é limita-
das larvas aos habitats apropriados para o da. 5 Outras são os marcadores genéticos, base-
assentamento, assentamento e desenvol- ados em frequências dos genes caracterís-
vimento juvenil, maturação e reprodução. 3 Condição em que a densidade varia com a ticas de cada população, e as assinaturas
profundidade. geoquímicas características de cada local,
2 Os zoés são formas totalmente planctóni-
cas, sendo essencialmente transportados 4 Camada limite superficial ao longo da as quais ficam gravadas nas conchas ou
dentro de uma parcela de água que está qual a energia cinética transmitida pelo ossículos dos embriões e larvas.