1) O documento discute as eflorescências de algas marinhas nocivas e sua relação com a mitilicultura.
2) Essas algas produzem toxinas que podem contaminar peixes e mariscos e causar doenças em humanos quando consumidos.
3) Fatores humanos como poluição podem contribuir para o aumento dessas eflorescências, representando um problema ambiental, econômico e de saúde pública.
1) O documento discute as eflorescências de algas marinhas nocivas e sua relação com a mitilicultura.
2) Essas algas produzem toxinas que podem contaminar peixes e mariscos e causar doenças em humanos quando consumidos.
3) Fatores humanos como poluição podem contribuir para o aumento dessas eflorescências, representando um problema ambiental, econômico e de saúde pública.
1) O documento discute as eflorescências de algas marinhas nocivas e sua relação com a mitilicultura.
2) Essas algas produzem toxinas que podem contaminar peixes e mariscos e causar doenças em humanos quando consumidos.
3) Fatores humanos como poluição podem contribuir para o aumento dessas eflorescências, representando um problema ambiental, econômico e de saúde pública.
ALGAS A problemática das eflorescências de algas marinhas nocivas
19th Session of the Inter- pesca, é também limitante para a mitili-
governmental Oceanogra- cultura. Esse tipo de atividade comercial phic Commission Assem- requer ambiente que contenha águas bly (IOC/UNESCO) ocor- isentas de organismos patogênicos e de rida na Espanha em 1997, elementos químicos capazes de afetar a estabeleceu que o ano de saúde dos moluscos e de seus consumi- 1998 seria o ano internacional dos ocea- dores. nos. No Brasil, poucos foram os fóruns de Os mexilhões apresentam alta taxa de debate sobre o aproveitamento dos re- conversão do seu alimento, transforman- cursos dos oceanos como alternativa para do fitoplâncton em carne utilizável na o desenvolvimento social, econômico e, alimentação humana. São de fácil diges- principalmente, científico em nosso país. tão e absorção pelo organismo humano e Em vista disso, estamos apresentando de grande valor nutritivo, superior, inclu- nesta edição nossa contribuição científi- sive, ao de outros moluscos, como as ca sobre a problemática das EFLORES- lulas e os polvos e ao de crustáceos, CÊNCIAS DE ALGAS MARINHAS NOCI- como as lagostas. Devido à sua ampla VAS e sua relação com a mitilicultura. distribuição geográfica, facilidade na sua A importância que a aquicultura tem obtenção e coleta, seu elevado índice de para o homem moderno baseia-se no fato retenção de nitrogênio e ao seu alto teor desta servir como promissora alternativa de proteínas, esse molusco é considera- da pesca extrativa, a qual, segundo diver- do uma importante fonte potencial de sas previsões, estará chegando ao seu proteínas e vitaminas para muitas popu- limite máximo sustentável na primeira lações, possibilitando, ainda, o incre- década do século XXI. mento da economia interna e externa, Uma das prováveis causas que contri- por meio da sua exportação por vários buiram para se chegar ao limite máximo países. sustentável sem dúvida apóia-se no Ligado ao desenvolvimento da mitili- mecanismo de desenvolvimento, por- cultura estão as eflorescências de algas que, nas regiões altamente urbanizadas e tóxicas. As eflorescências marinhas (ma- industrializadas, no decorrer dos últimos rine algal blooms) têm sido estudadas anos, ocorreu um aumento significativo nos últimos 200 anos. É um fenômeno de produção, com acumulação e comple- ligado a microalgas produtoras de toxi- xidade de elementos tóxicos (meio aqu- nas e tornou-se um grande problema ático, terrestre e aéreo), que têm gerado ambiental, econômico e de saúde públi- problemas sociais, econômicos e ambi- ca em diversas regiões do globo, por entais de grande escala. O avanço tecno- exemplo, na Europa. Atividades huma- lógico, o crescimento demográfico, a nas induzem stress em sistemas ecoló- industrialização e o uso de novos ele- gicos por meio de importantes poluentes mentos, principalmente na agricultura, que modificam os habitat, introduzindo William Gerson Matias têm contribuído para que entrem no espécies exóticas e removendo as espé- Engenheiro sanitarista e ambientalista, doutor em ambiente, de maneira contínua, quanti- cies nativas. Isso sugere uma forte relação Toxicologia Ambiental (Université de Bordeaux 2 - dades crescentes de grande número de entre as atividades humanas e a crescente França). Professor do Departamento de Engenharia substâncias químicas, sintéticas e natu- freqüência das eflorescências de algas Sanitária e Ambiental UFSC e responsável pelo Laboratório de Toxicologia Ambiental UFSC. rais, cujas interações e efeitos adversos, marinhas em todo o mundo. Foto cedida pelo autor tanto sobre o ambiente como sobre os Esse fenômeno é caracterizado por seres vivos, em geral não são conhecidos uma intensa proliferação ou eflorescên- ou deles se conhece muito pouco. cias periódicas e inexplicáveis de algas A poluição dos recursos hídricos, produtoras de toxinas. De fato, certas além de ser um fator limitante para a microalgas produzem toxinas que provo-
16 Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento
cam lesões cutâneas após o contato com a pele de banhistas e principalmente pertur- bações digestivas ou nervosas mais ou menos graves devido ao consumo de frutos do mar contaminados. Essas proliferações causam contamina- ções de peixes, mexilhões e ostras. Elas constituem um problema de saúde pública, que tem importantes repercussões econô- micas ligadas à interdição da venda de produtos contaminados em alguns países. Em certas condições climáticas e ambi- entais, essas algas podem produzir toxinas que serão concentradas por peixes e maris- cos que se alimentam do fitoplâncton. O consumo desses frutos do mar pode acarre- tar muitos tipos de patologias: a síndrome da paralisia ou PSP (Paralytic Shellfish Poi- soning), a síndrome neurotóxica ou NSP (Neurotoxic Shellfish Poisoning), a síndro- Aspectos de uma eflorescência de algas - Litoral catarinense nov/98 me ciguatérico, a síndrome da amnésia ou ASP (Aminesic Shellfish Poisoning) e a dos vasos do tubo digestivo, provocando é um inibidor da sínteses de proteínas em síndrome da diarréia ou DSP (Diarrheic diarréias, vômitos e dores de cabeça. Uma um sistema acelular (cell-free system) com Shellfish Poisoning). dezena de espécies do tipo DSP, que uma CI50 de 6.3x1012 M-1 (Matias e col., Muitos especialistas pensam que esses pertencem ao gênero Dinophysis, atingem 1996). Essa toxina marinha passa pela bar- blooms ou eflorescências se tornam cada atualmente a França, Espanha, Itália, Portu- reira transplacentária (Matias e Creppy, vez mais graves e freqüentes: o número de gal, Alemanha, Holanda, a Escandinávia, 1996a) e entra no ciclo enterohepático em casos devidos a espécies nocivas, os danos Japão, Nova Zelândia, Estados Unidos, camundongos (Matias e Creppy, 1996b). e os acidentes causados, os tipos de toxinas Canadá, Venezuela, Argentina e Chile. A Matias e Creppy (1998) mostraram que o e de espécies tóxicas e o número de produ- identificação, a quantificação e a detecção AO altera a metilação biológica do DNA, tos contaminados aparentemente aumenta- dessas toxinas no fitoplâncton marinho e induzindo uma hipermetilação da m5dC, ram. nos moluscos bivalves foram estudadas elucidando um dos mecanismos de ação Em um primeiro momento, uma prolife- por vários pesquisadores em diferentes dessa toxina marinha promotora de tumo- ração de algas tóxicas pode causar uma países. res. Também foi mostrado que o AO induz modificação de cor das águas, o que chama- Um exemplo dessas toxinas marinhas é a lipoperoxidação (Matias e Creppy, 1998), mos de águas coloridas ou maré vermelha. o ácido ocadáico (AO), que vem sendo conhecida como uma manifestação de da- O termo águas coloridas aplica-se exclu- estudado de maneira acirrada por diversos nos oxidativos e causadora de efeitos de sivamente a proliferações, em zona costei- pesquisadores, em todo mundo. toxicidade e carcinogênese. ra, de organismos fitoplanctônicos que per- AO foi primeiramente isolado de es- A UFSC, através do seu Laboratório de tencem, em geral, à classe dos dinoflagela- ponjas negras Holichondria okadaii (Ta- Mexilhões, desenvolve desde 1985, pes- dos, mas também a outros grupos de algas chibana e col., 1981) e Prorocentrum lima quisas e formação de recursos humanos unicelulares. Recentemente, na Baia de (Murakami e col.,1982). Posteriormente, com o objetivo de incentivar o cultivo de Sepetiba, litoral sul do Rio de Janeiro (31/ foi mostrado ser um poliéster de ácidos mexilhões. Os resultados dessas pesquisas 01/98), houve uma grande eflorescência de graxos produzido por microalgas que se são aplicados pelos produtores por inter- algas tóxicas, aproximadamente 10 km de acumulam em esponjas negras e em maris- médio do serviço de extensão da EPAGRI. extensão, que causou o aparecimento de cos, Mytilus galloprovincialis (Tubaro e Apesar de louvável a iniciativa do Labo- queimaduras em banhistas e também a col., 1992). AO é a principal toxina produ- ratório de Mexilhões da UFSC, principal- mortalidade de peixes e siris. zida por dinoflagelados, que acumulada mente no aspecto econômico-social, o con- Os moluscos, os mexilhões em particu- nos hepatopâncreas de mariscos e ostras e trole da qualidade ambiental onde estão lar, possuem mecanismos de bombeamen- causa a síndrome da diarréia diarrhetic sendo implantadas as culturas são insufici- to e filtração capazes de concentrar os shellfish poisoning em consumidores. Ele entes para garantir um produto de boa diferentes compostos e também os xenobi- é um potente promotor de tumor (Fujiki e qualidade para ser consumido pela popu- óticos contidos na água. Esses moluscos col., 1987) e um específico inibidor da lação humana. bivalves fixam em seus hepatopâncreas os atividade das proteínas fosfatasse 1 e 2A Nesse contexto, considerando os as- organismos planctônicos e suas toxinas, (Bialojan e Takai, 1988). Até o momento, as pectos negativos que as eflorescências de que o consumidor ingere ao se alimentar. propriedades tóxicas do AO foram atribu- algas tóxicas causam à saúde pública, ao Seis grandes manifestações clínicas fo- ídas à sua capacidade de inibir a atividade meio ambiente, à economia e a grande ram descritas. A síndrome da diarréia pro- dessas enzimas, que causam efeitos em dificuldade de redução da poluição dos vocada por toxinas ditas DSP (Diarrhetic processos intracelulares e em diversos me- ambientes costeiros (inexistência de siste- Shellfish Poisoning) apareceu, pela primei- tabolismos contrácteis, genes de transcri- mas de coleta e tratamento de esgoto na ra vez, na França, na costa da Normandia, ção, estrutura de manutenção do citoes- maioria das cidades brasileiras), entende- em 1983, onde ocorreram 3.300 intoxica- queleto, receptor intermediário de tradu- mos que um Programa Nacional de Con- ções. Em 1985, 400 casos de DSP foram ção do sinal e divisão celular. AO é uma trole da Eflorescências de Algas Tóxicas registrados na costa francesa mediterrânea. substância neurotóxica (Candeo e col., tem de ser estabelecido e implantado o Essas toxinas modificam a permeabilidade 1992), recentemente foi mostrado que ele mais breve possível.