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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

Faculdade de ciências sociais e humanidade

Departamento de letras e ciências sociais

Licenciatura em sociologia

Geodiversidade, Paisagens Arranjos. Espaciais

Ameaça e Valores da biodiversidade

Discente: Docente:

Aziza Manuel Sanduale Prof. Alexandre Baia

BEIRA.2023
AMEAÇA E VALORES DA BIODIVERSIDADE

O termo biodiversidade (etimologicamente, do grego biós, vida, e diversidade, variedade,


multiplicidade) pode dar margem a inúmeras interpretações. A abordagem mais simples
e direta do termo refere-se à riqueza do número de espécies (COLLIN, 1997).

Esta definição talvez seja a mais facilmente propalada em materiais didáticos (AMORIM
& KINOSHITA, 1999) e, conforme atestam Begon e colaboradores (1996), uma das
definições mais bem aplicáveis do ponto de vista biológico. Entretanto, pode-se estender
a interpretação deste conceito a cenários mais amplos e mais complexos.

A Academia de Ciências do Estado de São Paulo (1987, p. 60) registra


que a biodiversidade é a “(...) riqueza em espécies: número absoluto de
espécies em uma coleção, comunidade ou amostra”.

Para os especialistas da Organização das Nações Unidas (1992), a biodiversidade é


entendida como sendo a variedade de seres vivos da Terra, fruto de bilhões de anos de
evolução, moldada pelos processos de seleção natural e, de uma forma cada vez mais
acentuada, pelas atividades humanas. Essa variedade de seres vivos forma uma teia viva
integrada pelos seres humanos e da qual estes dependem.

A biodiversidade pode, ainda, ser interpretada do ponto de vista da variação


intraespecífica – conservação de sub-populações geneticamente distintas, por
exemplo (BATISTA, 2006) e incluir, em maior escala, a variedade de tipos de
comunidades ou ecossistemas de dada região, tais como desertos, estágios
sucessionais em um lago etc. (BEGON et al., 1996).

Valor da biodiversidade

Além do valor intrínseco da biodiversidade (a natureza funcionando como ela é; as


espécies são o produto de longa história evolutiva continuada por meio de processos
ecológicos e, desse modo, têm também direito à vida), a biodiversidade também
desempenha papel fundamental como serviços do ecossistema, na manutenção de
processos ecológicos.

O valor econômico ou utilitário da biodiversidade se apóia na dependência do homem


sobre a biodiversidade, produtos que a natureza supre: madeira, fibras, resinas, produtos
químicos orgânicos, genes, assim como conhecimento para aplicação em biotecnologia,
incluindo medicamentos e subprodutos cosméticos. Compreende também os serviços
ecossistêmicos, tais como a regulação do clima, hábitats alimentares e reprodutivos para
a pesca comercial, alguns organismos que contribuem para a fertilidade do solo por meio
de ciclos interativos complexos, com a participação de organismos do solo (minhocas,
cupins, bactérias, fungos) que atuam na ciclagem de nitrogênio, fósforo e enxofre,
tornando-os disponíveis para serem absorvidos pelas plantas. Esses serviços são os
benefícios que recebemos indiretamente da função dos ecossistemas naturais -
manutenção da qualidade do ar, clima regional, qualidade de água, ciclagem de nutrientes,
hábitats reprodutivos de peixes comerciais, com seus valores econômicos relacionados.

A Biodiversidade é essencial para o bom funcionamento da Terra, mantendo o seu


equilíbrio:

✓ A nível ambiental, é responsável pelo desempenho de funções como a polinização e


a fertilização de culturas, a estabilização do regime hídrico, a filtragem do ar, a
regulação do clima e a conversão dos resíduos em recursos;
✓ A nível económico, fornece alimentos, medicamentos, cosméticos, materiais para
construção e proporciona atividades recreativas e bem-estar.

Ameaças aos ecossistemas em Moçambique

As actividades humanas são apontadas como principais ameaças aos ecossistemas, onde
é possível destacar como principais ameaças:

✓ Perda e degradação de habitats naturais (Descrito na secção a).);


✓ Sobre exploração de determinadas espécies (Descrito na secção b).);
✓ Espécies Invasoras (Descrito na secção c).);
✓ Poluição ou contaminação de habitats naturais ou espécies (Descrito na secção
d).);
✓ Mudanças climáticas (Descrito na secção e).);
✓ Eutrofizacao (Descrito na secção f).);
✓ Caca e pesca ilegal (Descrito na secção g).);
✓ Desastres Naturais (Descrito na secção h).);

a) Perda e degradação de habitats naturais

Para Smith e Smith (2011), a perda e degradação de habitats é apontada como a causa
primária da perda de biodiversidade e dos ecossistemas, maioritariamente é causada
devido as atividades e expansão humana.
Em Moçambique, a perda e degradação de habitats é causada, principalmente, devido as
condições de extrema pobreza em que vive a maior parte da população, junto com a
extrema dependência da biodiversidade para a sua sobrevivência.

Historicamente, a grande causa para a perda e degradação de habitats está ligada a


transformação dos habitats para a prática da agricultura, porém, actualmante podem ser
citados como factores acompanhantes da agricultura, as queimadas, a produção de carvão
e a pesca artesanal.

As práticas agrícolas usadas no país são consideradas rudimentares e, portanto, são


insustentáveis, acarretando elevadas pressões na diversidade biológica e ecossistemática,
outro factor apontado como causador ou factor de risco para a perda e degradação de
habitats é o elevado crescimento da população, causando a super urbanização, onde, em
Moçambique acredita-se que a super urbanização é causadora da elevada taxa de
desmatamento das florestas entre outras.

a.1.) Desmatamento

O desmatamento se representa como um grande problema para os ecossistemas


principalmente terrestre, o desmatamento pode ser feito a procura de espécies de árvores
madeireiras de valor comercial, construção de novas infraestruturas, abertura de espaços
para prática da agropecuária, e, pode ser por necessidade das comunidades próximas aos
ecossistemas em retirar pequenas quantidades de madeira para construção de habitações.

b) Sobre exploração de determinadas espécies

A sobre-exploração das espécies, tanto terrestres quanto aquáticas, é um dos principais


factores que causam a perda da biodiversidade e dos ecossistemas a nível mundial como
é apontado por Sala et al. (2005) citados por Proença et al. (2009).

Na sobre exploração, ou, exploração excessiva dos recursos naturais, é subdividido em


vários factores que afetam negativamente a biodiversidade e os ecossistemas em
Moçambique como por exemplo sobrepesca, caça furtiva e sobrexploracao agricola e
florestal, que colmatam com a quebra de reposição de stocks de biodiversidade em
ecossistemas causado pela necessidade de maior exploração para suprir as necessidades
da sociedade.

A Estratégia e Plano de Acção para a Conservação da Diversidade Biológica em


Moçambique (2015-2035) destaca alguns exemplos da sobrexploração em Moçambique
como é o caso de: ecossistema de mangais estão exploradas indiscriminadamente para
subir necessidades de uso como combustível e uso como material de construção o que
causa maior demanda na sua procura. As espécies de Rinoceronte e de Elefante têm sido
sobrexploradas principalmente por caça furtiva e uso como trófeu internacional, tem
causado redução das populações destas espécies.

c) Espécies Invasoras

Espécies invasoras são quaisquer espécies de plantas e de animais (que incluem tanto as
suas sementes, ovos, esporos ou qualquer outro material capaz de propagar uma
determinada espécie) que não são nativas de um determinado ecossistema ou que a sua
introdução (que pode ser acidental ou intencional) causa danos no ambiente em que se
encontram, na saúde pública e até tem potencial de causar danos económicos.

As espécies invasoras são consideradas pela IUCN como a segunda maior causa de perda
de biodiversidade e de ecossistemas no mundo, essas especeis invasivas impactam os
ecossistemas nativos por modificarem os habitats, importando patógenos, causam
herbívoria em plantas nativas nos ecossistemas nativos em que se encontram, também,
declinam a diversidade genética pela hibridização das espécies nativas, competem por
presas que eram das espécies nativas.

As espécies invasoras são caracterizadas por colonizarem novos ambientes


maioritariamente por encontrarem um ambiente livre de predadores naturais e por
encontrarem todos os recursos que necessitam para o seu desenvolvimento, levando a
multiplicação exagerada e domínio do ecossistema, torando o ecossistema um local de
saúde baixa ou em casos mais extremos causar colapso.

c.1.) Doenças

As doenças num ecossistema diminuem o bem-estar dos mesmos podendo causar colapso
dos mesmos, as doenças são ameaças aos ecossistemas e são causadas maioritariamente
por patógenos ou parasitas provenientes de espécies invasoras ao se estabelecerem num
novo ambiente, geralmente como resultado das actividades humanas.

d) Poluição ou contaminação de habitats naturais ou espécies

Num ecossistema, a poluição e a contaminação dos mesmos, é visto como sendo uma das
grandes ameaças ao bem-estar dos mesmos porque estes têm o poder de causar alterações
no ecossistema que impossibilitam a sobrevivência da biodiversidade naquele meio.
A elevada poluição e contaminação de ecossistemas dá-se maioritariamente devido a
factores como expansão de áreas urbanas, desenvolvimento industrial e a prática
insustentável e incorrecta da agricultura afetando gravemente o bem-estar e a
biodiversidade ecossistemática.

São poucos os dados que frisam o assunto poluição e contaminação dos ecossistemas, isto
é, ainda são poucos conhecidos os efeitos da poluição e contaminação dos ecossistemas,
sendo que para as fontes de poluição os cientistas em Moçambique reconhecem quatro
tipos de poluição: a atmosférica, edáfica, hídrica e marinha. Frisando também que a
poluição ou contaminação de habitats causa baixa qualidade ambiental e em diferentes
graus de impactos sobre os ecossistemas e sobre a biodiversidade que lá se encontra,
dependendo da sua característica como toxicidade, potencial de bioacumulação,
bioamplificação na cadeia trófica e mutagenecidade.

e) Mudanças climáticas

As mudanças climáticas são vistas como factores que afetam negativamente os


ecossistemas por modificarem a dinâmica dos mesmos, pois, as mudanças climáticas
desencadeiam problemas como alterações na incidência das chuvas, no regime do vento,
correntes e no aumento da temperatura.

As mudanças climáticas, nos próximos anos e ao longo do tempo podem levar o


desaparecimento de algumas espécies e ecossistemas mais sensíveis, principalmente, as
espécies e ecossistemas raros e frágeis ou extremas.

Como acima citado as mudanças climáticas tem como um dos efeitos o aumento da
temperatura, que é o resultado da emissão crescente de gases de efeito estufa, sobretudo
o dióxido de carbono, o que acontece, entre várias causas, devido a queimada de
combustíveis fosseis e por meio do desmatamento, para os cientistas teóricos a conjuntura
desses factores terão efeitos negativos aos ecossistemas do planeta.

f) Eutrofização

A eutrofização é o processo que ocorre maioritariamente em ecossistemas aquáticos,


onde, ocorre quando esses ecossistemas recebem uma elevada quantidade de efluentes
resultando numa acumulação crônica de nutrientes, principalmente de fósforo e
nitrogênio, que provoca mudanças nas condições físicas e químicas dos ambientes,
alterações qualitativas e quantitativas em ecossistemas e no incremento do nível de
produção desse mesmo ecossistema pelo elevado crescimento de algas.

Os impactos da eutrofização classificam-se em internos, local ou regional, são


caracterizados por poderem reduzir o oxigénio dissolvido ou a alteração de qualquer outro
parâmetro no ecossistema aquático.

Os impactos em um ecossistema aquático podem estender-se até um quilómetro à jusante


de descarga dos efluentes, assim sendo, os efeitos sobre os ambientes aquáticos com
escala espacial de vários quilómetros são considerados impactos regionais.

Dos impactos da eutrofização sobre os ecossistemas, destacam-se: o aumento das


concentrações de nitrogénio e fósforo na coluna de água e o acúmulo de matéria orgânica
nos sedimentos. Este acúmulo de nutrientes favorece o aumento da comunidade
fitoplanctónica, alterando a dinâmica de oxigénio dissolvido.

g) Caça e Pesca Ilegal

A caça ilegal e a pesca ilegal, são rotas que causam uma larga extinção de número de
espécies e provocando distúrbios nas teias alimentares dos ecossistemas por isso são
vistas como uma das ameaças mais graves nos ecossistemas terrestres e aquáticos,
respectivamente, essas atividades são praticadas especialmente para a subsistência e
caracterizadas por uso de artes pouco seletivas são apontadas como um dos potenciais
ameaças aos ecossistemas no geral.

A caça e a pesca ilegal têm tido consequências devastadoras nos ecossistemas, como é o
exemplo, a pesca ilegal é caracterizada pela retirada de espécies chaves e uso de artes de
pescas ilegais e destrutivas, que causam diminuição na qualidade dos ecossistemas.

h) Desastres naturais

Os desastres naturais são citados como ameaças ao bem-estar dos ecossistemas e dos
desastres é possível citar como aqueles que afectam os ecossistemas de Moçambique, as
catástrofes, ciclones, queimadas descontroladas e epidemias, onde certas espécies não
sobrevivem aos desastres e são perdidas nos ecossistemas, e os ecossistemas por sua vez
são afetadas a sua dinâmica e funcionamento podendo ocasionar a ruptura dos mesmos.
Preservação da biodiversidade

São muitas as medidas e atitudes que devem ser tomadas para proteger a Biodiversidade,
nomeadamente:

✓ Aumentar o número de Áreas Protegidas;


✓ Restaurar zonas significativas de ecossistemas degradados;
✓ Plantar árvores nativas;
✓ Proceder à remediação de solos contaminados;
✓ Restabelecer o curso natural de rios;
✓ Aumentar a agricultura biológica;
✓ Reduzir a utilização de pesticidas
✓ Proteger os polinizadores;
✓ Proteger espécies ameaçadas;
✓ Adotar práticas de pesca sustentáveis;
✓ Proibir ou regulamentar a captura de determinadas espécies;
✓ Criar mais espaços verdes nas cidades.

A Biodiversidade prospera mais em áreas protegidas. Uma Área Protegida é uma zona
delimitada, em que qualquer intervenção humana está condicionada e sujeita a
regulamentos específicos, visando conceder-lhe uma proteção adequada à manutenção da
Biodiversidade, dos serviços dos ecossistemas e do património geológico, bem como à
valorização da paisagem.

A Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP) inclui 32 áreas de âmbito nacional (Parque
Nacional, Parques Naturais, Reservas Naturais, Paisagens Protegidas e Monumentos
Naturais), 15 de âmbito regional ou local (Paisagem Protegida, Parque Natural Regional,
Reserva Natural Local, Paisagem Protegida Regional e Paisagem Protegida local) e uma
de âmbito privado.
BIBLIOGRAFIA

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Smith, T. M. e R. L. Smith (2011). Elements of Ecology. 8 ed. 704pp. Pearson


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