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MEIO AMBIENTE

Biodiversidade e oportunidades
para a agricultura

p a d r ã o d a a g r ic u ltu r a a tu a l A biodiversidade é essencial para a pro­


\ í, j
enfatiza a alta produtividade, dei- dução agrícola d a m esm a form a que a agri­
A biodiversidade possibilita o xando de lado m uitos dos proble­ c u l tu r a o é p a r a a c o n s e r v a ç ã o d a
funcionamento equilibrado m as sociais e de m eio am biente que podem biodiversidade.
dos sistemas de produção ser desencadea­ EMBRAPA MEIO AMBIENTE

agrícola, além disso, oferece dos no m édio e


longo prazos.
serviços e insumos para a
agricultura, com E m basad a
oportunidades para o em um número
aumento da produtividade e reduzido de es­
qualidade ambiental. pécies vegetais
cu ltiv a d as em
grandes exten­
sões de terra, e
em poucas varie­
dades dentro des­
sas espécies, a
agricultura m o­
dern a te n d e a
homogeneizar a
paisagem , sim ­
plificando desse
modo os proces­
sos naturais e fa­
vorecendo a di­
minuição da di­
versidade genéti­
ca da vida selva­
gem e doméstica

Por sua vez,


a expansão da
fro n te ira a g rí­
cola tem elim i­
n a d o e c o s s is ­
tem as naturais,
com p e rd a de
b iodiversidade
e alteração do
Clayton Campanhola* funcionam ento
dos ciclos glo­
bais biológicos,
’ Doutor em Entom ologia pela Texas A&M g e o ló g ic o s e
University e chefe geral da Em brapa-M eio Uma grande proporção de cu ltivo s agrícolas depende da polinização para
Ambiente quím icos. produção

32 A LAVOURA JUNHO 98
Meio Ambiente

O program a de contro­ resistên cia a pragas e doenças. Também,


le biológico da lagarta da m uitas espécies pouco estudadas ou desco­
so ja com vírus (B a c u lo - nhecidas podem ter potencial para explo­
vírus anticarsia) tem tra­ ração econôm ica, tanto para a produção de
zid o re d u ç ã o de g a sto s alim entos ou de m atéria-prim a industrial
com inseticidas superiores com o para a recuperação de áreas degra­
a US$ 200 m ilhões por ano dadas e conservação de mananciais.
p a ra p ro d u to re s d e so ja
brasileiros. A conservação O B rasil é um dos 154 signatários da
am biental pelo não uso de C onvenção d a B iodiversidade, tendo as­
in s e tic id a s com c e rte z a su m id o , p o rtan to , co m p ro m isso form al
m u ltip lic a esses b e n e fí­ p a r a i n c o r p o r a r a c o n s e r v a ç ã o da
cios. b io d iv ersid ad e em sua agenda científica,
p ro d u tiv a e política.
U m a grande proporção
de cultivos agrícolas d e­ P ara o nosso país, a agricultura oferece
pende da polinização para um a ex celente oportunidade para se inter­
produção. U m a em cada ligar um a atividade econôm ica com a con­
três c o lh e re s de a li­ servação d a biodiversidade, justificando
m e n to qu e le v a ­ esta últim a não através de apelos dos paí­
m os à boca de­ ses industrializados contra a extinção de
pende da e s p é c ie s d e a n im a is s ilv e stre s, ou de
polinização. desm atam ento de florestas tropicais, mas
N os E U A , através da disponibilidade de serviços que
e s tim a - s e a biodiversidade pode prestar à produção
q u e a e li­ agropecuária, tanto nos próprios sistem as
m inação de de produção agropecuários como através
abelhas do- dos ecossistem as naturais. Desse modo, fica
mésticas m ais fácil enten d er e ju stificar a im portân­
( m e lífe ra s ) cia d a biodiversidade.
) programa de controle bi-
ilógico da lagarta da soja re­ p o r a g r o tó -
luziu gastos de mais de USS 200 x ic o s re s u lta A s n o rm as ISO 14000, que tratam da
illhões com inseticidas. No deta-
ie, a lagarta será masserada para a em p e rd a s d e gestão am biental das atividades econôm i­
rodução do b a cu lo viru s (in se ticid a m ais de USS 200 m i­ cas, dev em in c o rp o rar a conservação da
aturai)
lhões por ano. Isso sem con­ b io d iv e rsid a d e com o m eio para dar su ­
siderar a polinização por abelhas selvagens, p o rte à su ste n ta b ilid a d e dos p ro cesso s
A biodiversidade possibilita o funciona- outros insetos, m orcegos e pássaros. p ro d u tiv o s.
icnto equilibrado dos sistem as de produ-
ão agrícola. Um m eio am biente diversifi- A seleç ão e in o c u laç ão d e b actérias N a agricultura, essas normas ainda não
iido oferece proteção aos agroecossistem as f ix a d o r a s de n itr o g ê n io em p la n ta s estão sendo am plam ente adotadas, exceto
íintra perturbações naturais ou provocadas legum inosas tem reduzido sig n ificativ a­ no setor de papel e celulose, por exigênci­
elo homem (pragas e doenças de plantas e m e n te a a p lic a ç ã o d e f e r tili z a n te s as do m ercado internacional. E na m edida
nimais, clim a desfavorável, etc), possibi- nitrogenados. O destaque é para o caso da em que os m ercados se tornam mais restri­
tando a sua reação no sentido de reto m ar s o ja no B r a s il, o n d e d e v id o a e s s a tivos quanto à conservação am biental as­
situação de equilíbrio. tecnologia não têm sido m ais utilizados fer­ s o c ia d a à a tiv id a d e p r o d u tiv a , a
tilizantes nitrogenas, com econom ia de US$ b iodiversidade, longe de ser apenas uma
Da mesma forma, a b iodiversidade ofe- 1,6 bilhão por ano. preocupação dos am bientalistas, deve la­
;cc serviços e insum os para a agricultura, zer parte da agenda das em presas, inclusi­
>m oportunidades para o aum ento da pro- A s espécies selvagens de plantas e ani­ ve d a agroindústria e daquelas dedicadas à
Jtividade e da qualidade am biental. Por m ais constituem fonte de variabilidade ge­ produção agropecuária, que se preocupam
templo, a b io diversidade é im p o rtan te nética para programas de m elhoram ento das com a m odernização e com a m elhoria de
>nio reservatório de organism os respon­ variedades de exploração agropecuária. Por sua com petitividade de m ercado. E stá aí
seis pelo com bate biológico de pragas e exem plo, nas variedades selvagens podem um a grande oportunidade para quem qui­
>enças agrícolas. estar alojadas características que confiram ser se antecip ar a este cenário. g

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