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Depoimento Fazenda Três Meninas

A Fazenda Três Meninas é uma empresa familiar, gerida pelo casal Marcelo e Paula, cujo nome é uma homenagem às mulheres
da família, as filhas Malu e Fernanda, além da Paula. Empreendedores e apaixonados pelo café desde sempre, conseguimos
adquirir nossa fazenda em outubro de 2016.

Nossa cafeicultura traz nossa visão e conhecimento como agrônomo e zootecnista, enxergamos a fazenda como um sistema, não
como uma rua de café. Isso é e foi nosso princípio-guia que nos moveu para pensar e questionar os resultados das técnicas comuns,
avaliamos constantemente nossa realidade e como queremos a fazenda a curto, médio e longo prazo em termos de saúde
ambiental, produtividade e saúde financeira.

Isto posto, ao chegar nos deparamos com o café cultivado de forma praticamente extrativista, sendo mantido num solo
empobrecido e sem vida, castigado por químicos que matam não só a praga, e não deixavam condições do solo se regenerar. E
assim o ciclo se repete às custas de muito dinheiro, sem garantia de bons resultados, a exemplo da situação atual do bicho mineiro
na cafeicultura do cerrado. Embora isso seja algo que não se questiona muito nas práticas convencionais, nos incomodava ficar
escravo de um manejo focado na doença e pragas oportunistas. Assim, com o café na “UTI”, no primeiro momento foi necessário
entrar com uma “quimioterapia” (agricultura convencional) aliada à controles conservacionistas para começar a melhorar a
situação e ir criando um estofo bom para uma transição de qualidade.

O objetivo principal, desde o primeiro dia, sempre foi trabalhar em sociedade com a natureza, ou seja, dar condições para a
natureza fazer seu papel. Na prática começamos a utilizar técnicas para aumentar a vida abaixo e acima do solo, aumentando o
equilíbrio do sistema, a resistência da planta e favorecendo o crescimento das populações de microrganismos benéficos no solo,
assim como a biodiversidade da fazenda.

Construir um ambiente de produção equilibrado, resiliente e justo resulta em menores custos de produção, além de contribuir
com a melhoria do planeta. Em 2019 a Três Meninas sequestrou mais carbono do que se emitiu, balanço positivo de mais de 5
toneladas de carbono por hectare. Isso é um indicador importante, temos um fato, não mais uma hipótese. Hoje sabemos que
esse número cresceu devido a maior intensidade das práticas culturais cotidianas da fazenda.

A totalidade da área da Fazenda Três Meninas foi manejada da mesma forma, ou seja, não foi um projeto piloto, foi 100% para
valer, para se buscar um equilibro da área toda. Afinal praga não vê fronteira, ela não se restringe a um par de talhão.

Conforme o ambiente foi ficando mais equilibrado, os fertilizantes químicos foram substituídos por organo-minerais e por fim por
rochagem, estercos, compostos e plantas de cobertura. Durante um período conviveu-se com aplicações de defensivo químicos e
biológicos simultaneamente, visando uma transição menos abrupta. Os defensivos químicos foram deixando de ser utilizados e
restando a utilização de controle biológicos e plantas de cobertura no controle de pragas e doenças. A utilização da roçadeira,
trincha e trincha lateral foram essenciais para deixar de utilizar herbicidas.

Em termos de custos - Nos três primeiros anos o custo foi mais elevado do que só no sistema convencional, tendo em vista que
era adotado o sistema convencional e biológico ao mesmo tempo. No quarto ano os custos se equilibraram comparando ao cultivo
convencional, pois deixou-se de utilizar muitos insumos da agricultura convencional. E agora no quinto ano, o custo é menor que
o convencional com a mesma produtividade. Outro indicador importante!

Hoje a fazenda já está em processo de conversão para agricultura orgânica, ou seja, sem a necessidade da aplicação de defensivos
e fertilizantes químicos proibidos para esta certificação. Importante ressaltar que a agricultura orgânica nunca foi um objetivo,
mas se tornou uma grata consequência natural desse nosso manejo. Mais um indicador importante!

Ainda há espaço para avanços, e os próximos passos são desafiadores pois pretende-se realizar a arborização estratégica do
cafezal, o que tem impacto significativo no fluxo de caixa da fazenda, reduzindo em pelo menos 10% o faturamento de 7 a 9 anos,
período para as árvores começarem a contribuir significativamente no sistema, aumentando a produção e equilibrando ainda
mais o ambiente.

Em síntese, na nossa realidade o sistema se mostra lucrativo a médio e longo prazo como deve ser qualquer atividade sustentável
e com gestão de qualidade, mas a transição exigiu coragem, convicção e maior investimento. Para buscar patamares mais
avançados, há demanda de mais recursos. O apoio financeiro de parceiros da cadeia é fundamental para avançarmos nessa
agricultura. Da mesma forma, também precisa ser trabalhada a forte presença do consumidor que esteja disposto a valorizar de
maneira expressiva o café proveniente dessa prática que impacta positivamente a todos.
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Fotos das ruas do cafezal com adubação verde diversa, biodiversidade de insetos (polinizadores inclusive), reflorestamento...

Soltura de crisopideos por drone para controle do bicho mineiro e adubação verde

Cerca Viva como barreira do vento e agrotóxicos dos vizinhos

Cobertura vegetal com espécies que atraem abelhas e outros insetos desejáveis

Biodiversidade

Reflorestamento de árvores nativas

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