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O RELATÓRIO "AMERICA BURNING" REVISADO

Em 1973, uma Comissão Nacional de Prevenção e Controle de Incêndios,


nomeada pelo governo norte-americano, publicou um Relatório, denominado
“AmericaBurning”, que foi um marco sobre os problemas relacionados aos incêndios
nos EUA. O relatório apresentou 90 recomendações para a segurança contra incêndios.

Passados 15 anos, esse relatório tem servido como um roteiro, para osbombeiros
e os programas federais com o objetivo de melhorar a segurança contra incêndio nos
Estados Unidos.

De 30 de novembro a 02 dezembro de 1987, a USFA - US FireAdministration,


pertencente ao órgão de esfera federal dos EUA, FEMA - Federal Emergency
Management AgencyAdministration,entendeu ser o momento e realizou um
seminário de três dias para realizar a revisão do Relatório AMERICA BURNING de
1973, em Tyson's Corner, no estado da Virginia.

Participaram do seminário, profissionais de empresas e órgãos governamentais


com interesse na área de proteção contra incêndio. Muitas dessas pessoas haviam
participado do trabalho original da Comissão Nacional de Controle e Proteção contra
Incêndios, em 1973, que culminou na elaboração da primeira versão do famoso relatório
“America Burning”, bem como membros do Congresso Americano, da USFA e da
National Fire Academy (Academia Nacional de Bombeiros).

A necessidade de revisão do relatório para atualizá-lo foi um consenso, conforme


os problemas atuais da natureza dos incêndios nos EUA, à época de 1987, com
análises e estudos da evolução da proteção contra incêndios desde 1973, com o
esforço de se reduzir ainda mais o número de mortes e danos ao patrimônio devido aos
incêndios.

Na sua introdução, está explícito que a USFA planejou utilizar os resultados deste
workshop para rever seus atuais programas e estabelecer prioridades para a futura
orientação das suas atividades. No relatório revisado, embora não tenha surgidos
grandes problemas novos desde 1973, houveporém, mudanças significativas na áreade
incêndios, tais como, alterações nas responsabilidades dos bombeiros, aumento da
preocupação com a saúde e segurança dos bombeirose uma consciência crescente de
que a educação pública contra incêndios deve ser melhorada e ampliada, em especial
para as populações de alto risco, os muito jovens e idosos.

A revisão do “America Burning” teve três objetivos básicos:

1. Fazer com que os participantes chegassem a um consenso sobre a


situação atual (1987) e as tendências do problema dos incêndios nos EUA;
2. Rever o relatório e reavaliar de acordo com o progresso na área de
proteção contra incêndio e em consonância com um relatório que apontava as
recomendações para a década de 90;
3. Por fim, realizar as recomendações para que as esferas local, estadual e
federal envidassem esforços para a redução de perda de vidas e de patrimônio nos
incêndios.

Na conferência, os participantes foram divididos em sete grupos de trabalhos


coincidindo-os com os capítulos do relatório original, estabelecendo os seguintes grupos
de força tarefas de acordo com temas:

• Grupo 1 – O problema nacional dos incêndios:


abordando as causas, mudanças sociais, questões de prevenção, o
papel da esfera federal, a coleta de dados e elaboração de relatórios,
tratamento e desempenho da indústria de seguros.

• Grupo 2 – Os Corpos de Bombeiros – Operações: todos


os problemas no campo operacional, tais como, missões e os
serviços atuais dos bombeiros, mecanismos para a execução de um
serviço alternativo, sistemas de comando, táticas, treinamento,
equipamentos e segurança e saúde dos bombeiros.

• Grupo 3 – Os Corpos de Bombeiros – Gestão e


Administração: responsabilidades dos Comandos, nas áreas de
orçamento, finanças, planejamento estratégico, pessoal e
produtividade

• Grupo 4 – O incêndio e o ambiente construído: os


perigos atuais, códigos e normas na área de transportes (aéreo,
naval e de veículos) setor comercial e industrial na área de proteção
contra incêndios, causas e soluções, como as pessoas morrem em
incêndio, os riscos através da concepção e projeto do produto.
• Grupo 5 – Incêndios rurais e florestais: questões sobre
os voluntários, interface entre o ambiente urbano e rural e proteção
contra incêndios rurais e florestais.

• Grupo 6 – Prevenção de Incêndios: educação preventiva


de proteção contra incêndios, segurança de proteção contra incêndio
no lar e no trabalho, proteções incorporadas nas edificações,
cooperação do setor público e privado e proteção em especial à
população.

• Grupo 7 – Preparando-se para o século 21: pesquisa


das necessidades, envolvimento federal e envolvimento público e
privado.

A Educação Pública na área de proteção contra incêndio foi inserida de forma


muito clara nos estudos do Grupo 6.

No Grupo da força tarefa 7 (preparando-se para o século 21), faz-se uma


abordagem muito interessante descrevendo que uma das preocupações futuras, na
área de proteção contra incêndios é sobre o interesse e o comportamento do público,
em relação aos incêndios, citando na sua página 30 que:
(...)
... a força tarefa considera que a orientação
cultural do público em relação aos incêndios, como o
principal problema crítico do próximo século.
Atitudes, comportamentos e valores contribuem para
essa nação, que é relativamente fraca em dados
sobre segurança contra incêndios em comparação
com outros países industrializados. O incêndio é
muito mais saliente em outras culturas, onde pode
haver recompensas, bem como sanções, associados
ao comportamento da segurança contra incêndios.
(grifo nosso)
A Comissão notou quea prevenção de incêndios foi a chave para o eficaz e
eficientes serviços de proteção contra incêndios. “As atividades de prevenção de
incêndios se tornarão ainda mais importantes no futuro, se os recursos dos Corpos de
Bombeiros continuarem a decrescer, isto por que:é mais barato evitar um incêndio do
que combatê-lo." (grifo nosso)

O relatório apontou que desde 1973, muito tem sido realizado na área de
prevenção contra incêndios. Muitos Corpos de Bombeiros do mundo aumentaram
significativamente as suas atividades na última década. Empresas de prestação de
serviços de proteção contra incêndios, inspeções e participações em programas
educacionais naquela época já eramcomuns

Mesmo considerando os progressos alcançados na última década, o relatório


apontou as duas principais áreas onde os problemasprecisam de serresolvidos.
Primeiro, a sensibilização do público em relação ao problema do incêndio continuava a
ser um grande obstáculo. A prevenção de incêndio ainda não era percebida como uma
alta prioridade. Mesmo os bombeiros porsi só precisavam ter uma maior apreciação da
proteção contra incêndio.

Para superar esse obstáculo, uma Campanha Nacional de Educação deveria ser
implementada. Foi sugerido que os bombeiros se associasem com líderes da indústria
(por exemplo, o Conselho Nacional da Propaganda) para lançar um esforço de relações
públicas a nível nacional. A Prevenção de incêndios tem de ser institucionalizada nos
serviços de incêndio. Prevenção de incêndios e formação deve ser exigida na
experiência ativa de todos os principais oficiais.

A Força Tarefa recomendou que a campanha deve ser desenvolvida baseada em


programas, bem-sucedidos como o projeto da NFPA "Learn Not Burn". Os bombeiros
devem associar-se com líderes da indústria (por exemplo, o Conselho Nacional da
Propaganda) para lançar um esforço de relações públicas a nível nacional. A Prevenção
de incêndios tem de ser institucionalizada nos serviços de bombeiros. Prevenção de
incêndios e formação devem ser exigidasna experiência ativa de todos os Oficiais
Bombeiros.

O relatório, em sua página 41, diz ainda que a prevenção de incêndios será a
principal prioridade, destacando que o esforço educacional para levar uma maior
consciência dos perigos de incêndio ao público em gera é provavelmente o investimento
mais barato que se pode fazer em todos os níveis governamentais e do setor privado.

A comissão reconheceu que mudanças nas realidades e percepções subjetivas da


prevenção de incêndio foi um elemento-chave de qualquer plano para combater o
problema dos incêndiosporque oincêndio é resolvido de forma mais eficaz e,
eficientemente, se prevenido ou controlado cedo. A comissão recomendou uma série de
ações para aumentar o impacto da prevenção de incêndio. A missão da Força Tarefa
6foi de rever estas recomendações, tendo em conta os progressos realizados nos
últimos 15 anos e recomendar novas estratégias para enfrentar os atuais e previsíveis
requisitos de proteção contra incêndios.

Foi dado grande destaque à Prevenção de incêndio no relatório. A comissão


reconheceu que havia limites para a capacidade de resposta para controlar as perdas
de incêndio. De fato, a comissão constatou que as comunidades que dependem muito
fortemente na resposta de suas forças na proteção contra incêndios podem estar
extraordinariamente assumindo riscos mais elevados. Além disso, a comissão refletiu-
se que esta abordagem também foi ineficiente, que era improvável que o aumento dos
recursos de combate a incêndio para os Bombeiros (equipamentos e pessoal)
resultariam em reduções proporcionais em perdas nos incêndios.

A Proteção contra incêndios é constituída em grande parte por dois tipos de


atividades, nomeadamente, combate e prevenção. Combate a incêndio é
essencialmente uma reação aos acontecimentos. Recursos são mobilizados e
implantados na seqüência de um incidente - oinício do incêndio. A Prevenção é mais
ativa. Ela envolve o esforço para diminuir as chances de incêndio e, na falta deste, para
controlar a sua destruição por métodos que são independentes das ações tomadas
após início do incêndio ocorrer (por exemplo, educação e ou execução de um código ou
norma de proteção).

A Força Tarefa 6 levantou algumas questões críticas sobre a Prevenção de


incêndios nos EUA, identificando mais de 20 áreas problemáticas que necessitavam de
atenção especial para aumentar a eficácia dos esforços de prevenção de incêndios do
país, concentrando-se nas duas questões mais importantes. Estes são ordenados pelo
rank de prioridades.

1) Falta de conhecimento e reconhecimento do problema do incêndio e os valores


da prevenção de incêndio. Embora muito ainda precisava ser feito, uma série de
programas foram desenvolvidos dentro dos últimos 15 anos, que trouxeram soluções
eficazes para esta área de preocupação. Alguns desses programas de educação
pública proporcionaram uma excelente base para a continuação do trabalho, incluindo o
programa da NFPA "Learn Not Burn” programa, do National Smoke, Fire and Burn
Institute com o programa de exercícios de saídas seguras de incêndios domésticos e o
programa de prevenção de incêndios do personagem “Urso Smokey”

Uma medida do sucesso é o grau de preocupação com o problema do incêndio


por parte de diversos organismos públicos e privados e o montante do esforço dirigido
aos programas educacionais.

Ironicamente, o número elevado de programas e organizações que trabalham


nesta área é parte do problema. Existe uma necessidade de avaliar a eficácia destes
programas. Eles estão comunicando a mensagem correta? Eles são orientados para o
público certo? Não há realmente respostas sistemáticas para estas perguntas. Além
disso, embora a proliferação de organizações e mídias promovendo a segurança contra
incêndios seja uma benção, eles raramente são coordenadas a nível nacional, regional
ou, mesmo, local. Esta desorganização produz uma mistura demensagens
confusaspara o público e os resíduos de escassos recursos.

Tem havido uma mudança nas indústrias da construção e de mobiliário em


direção a segurança contra incêndios. Pressão por parte dos bombeiros, do governo
federal e do modelo do código de proteção teria produzido ganhos significativos nos
últimos 15 anos. Colchão e mobiliário estofado com resistência ao início da queimapor
cigarros acesostêm melhorado significativamente. Trabalhos estão sendo realizados
sobre segurança contra incêndios causados por cigarros acesos. Os bombeiros têmque
continuar estes esforços. Mais incentivos (e desincentivos) precisam ser desenvolvidas
para reduzir incêndios.

2) A carência de um apoio para a padronização de um sistema de relatórios para


documentar as necessidades / problemas e resultados de programas. A força tarefa
reconheceu que muitos dos problemas basta notar-se em torno de incapacidade para
identificar sistematicamente áreas do problema e avaliar alternativas para enfrentá-los.
O problema resume-se à falta de dados. A força tarefa refletiu que grande parte do seu
trabalho teria sido mais fácil se tivesse mais informações para análise de problemas e
selecionar soluções para resolvê-los.

A força tarefa nacional observou que o sistema de dados de incêndio é


insuficiente. Os dados não são recolhidos de forma uniforme, nem há um ponto focal
nacional para coordenar e orientar a sua coleta. Não há dados procedentes de agências
de queimaduras, hospitais, instalações médicas e Corpos de Bombeiros. Mas como
essa informação pode ser boa? Como é que é válida? Programas de treinamento e de
controle de qualidade foram desenvolvidos originalmente pela USFA, porém não
tiveram suporte. Os membros da Força Tarefa levantaram dúvidas sobre a qualidade
dos dados introduzidos no sistema.

Enquanto um sistema de coleta de dados foi criado e operado pela USFA, as


informações necessárias pelos bombeiros não está disponível. Evidentemente, há muito
mais informações hoje do que havia 15 anos atrás, mas isso só ressalta o problema. O
esforço não tem sido completo. Há informações de modo que se possa classificar as
causas de incêndio, problemas geográficos de incêndio, e as dinâmicas de idade, raça
e etnia em muito mais detalhe do que aquilo que poderia ter sido feito há 15 anos. No
entanto, há um monte de buracos nas informações. Não sabemos quais números de
causas são flutuantes. Sabemos o contexto dos problemas, mas não os problemas em
si. Uma análise mais aprofundada é desesperadamente necessária. A diminuição
acentuada dos dados analisadospela USFA tem impedido este esforço. A informação
atualmente disponível é fraca, e decisões básicas sobre a proteção contra incêndios
não pode ser feita.
A Força Tarefa 6 elencou em ordem de prioridade pelo menos 21 problemas na
área de prevenção, entre eles, os principais:

1. A Falta de verbas e pessoal para estabelecer relações


comunitárias, que permitam os Corpos de Bombeiros conduziriam as
atividades de prevenção.
2. Utilização mais eficiente do tempo disponível dos
bombeiros para prevenção de incêndios.
3. Ausência de educação de segurança contra incêndios em
escolas públicas e privadas, e um padrão mínimo para cada série.
4. Nenhuma compreensão pública sobre os perigos do
incêndio e do seu custo para a sociedade.
5. Ausência de fundos para o estudo do impacto do incêndio
(ou seja, uma análise custo / benefício das atividades de prevenção).
6. Impacto do orçamento desproporcionalpara as atividades
de prevenção.
7. Nenhum reconhecimento por parte de bombeiros e do
público em geral sobre o alcance dos problemas do incêndio ou sobre a
importância da prevenção.
8. Falta de apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias
para os sistemas de sprinkler e que sejam aceitáveis para o uso
doméstico.
9. Dados inadequados, tanto a nível nacional como local,
sobre a extensão e o impacto dos problema dos incêndios; informação é
necessária para definir o problema.
10. Falta de incentivos federais para o desenvolvimento e
implementação de programas de segurança contra incêndio (por
exemplo, campanhas sobre cigarros, acabamentos interiores).
11. Ausência de critério nacional para as atividades de
prevenção, tais como, investigação, educação, inspeção e execução.
12. Relutância por organizações do setor privado e público a
aceitar a proteção contra incêndios, métodos de prevenção (por
exemplo, código (adoção e execução), combustibilidade dos produtos e
toxicidade).
13. Necessidade de regulamentar o comportamento do
incêndio em mobílias em lar de idosos, centros de cuidados com
crianças.
14. Maior partilha de informações sobre programas de
prevenção de incêndios, técnicas e treinamento.
15. Falta de reconhecimento público da importância das
inspeções da manutenção; o público não está disposto a ser mais
responsável pela segurança contra incêndios.
16. Os limites impostos por contratos trabalhistas sobre as
prerrogativas dos Corpos de Bombeiros para designar pessoal para as
atividades de prevenção de incêndios.
17. Falta de aceitação educação pública de segurança contra
incêndios, por bombeiros, educadores e público em geral
18. Ausência de norma para educação de segurança contra
incêndios para qualificação de professores.
19. Pessoal, tanto civis ou profissionais uniformizados,
necessários para os programas de prevenção de incêndios.
20. O governo federal não enxerga o problema dos incêndios
como uma prioridade nacional.
21. Ausência de uma maior compreensão e expansão dos
programas de segurança contra incêndios residenciais.

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