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ITA 2023

REDAÇÃO

AULA 02
Introdução

Prof.ª Celina Gil

www.estrategiamilitares.com.br
Prof.ª Celina Gil

Sumário
Apresentação 3

1 - Repertório de redação 4

Sociedade do consumo 4

Conceitos importantes 5

Palavras-chave 7

Casos recentes 12

2 – Estudando a Introdução 19
2.1 – Tipos de contextualização 21
2.2 – Exercícios: Introdução 23

3 - Propostas 34

Considerações Finais 52

Siga minhas redes sociais!

Professora Celina Gil @professoracelinagil @professoracelinagil

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Apresentação
Olá!

Na aula de hoje vamos começar a nos aprofundar na introdução de uma dissertação. Hoje você vai
praticar a escrita de contextualizações nos modos:

• Comparação

• Dados científicos

• Definição.

• Referência histórica

Você vai também praticar a identificação da temática das redações, o desenvolvimento dos
argumentos e o planejamento geral da redação, antes de partir para a escrita em si.

Nossas aulas de redação serão sempre compostas de 3 partes:

1 - Análise social
Apontamentos acerca de assuntos ligados ao contemporâneo.
Esses apontamentos têm o objetivo de fortalecer seu repertório e auxiliar na
elaboração de argumentos.

2 - Estudo de uma parte da dissertação


Estudo aprofundado de uma das partes que compõe o texto dissertativo.
Vamos passar por introdução, desenvolvimento, conclusão e coesão/coerência.

3- Produção textual
Análise de redações/trechos de redações e/ou exemplo de produção textual.
Propostas de redação inéditas para serem executadas pelo aluno.

Vamos lá?

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1 - Repertório de redação

Tópicos da aula

Sociedade Conceitos Palavras- Casos Repertório


do consumo importantes chave recentes cultural

Sociedade do consumo

Na sociedade do consumo, tudo deve poder ser consumido. Assim, bens não compráveis – como
sentimentos ou relacionamentos – são considerados como possíveis de serem atingidos a partir do
consumo.

Cria-se uma ideia de que só é possível sermos felizes se consumirmos. A publicidade e o marketing
vendem estilos de vida que só podem ser atingidos a partir do ato da compra de algum produto.

Aquilo que não pode ser comprado ou gerar lucro, é considerado dispensável. Além disso, a
própria constituição da individualidade está ligada ao consumo: devo comprar este produto, pois ele me
tornará mais “eu mesmo”.

Termos essenciais

• Consumismo

• Mercantilismo

• Sociedade capitalista

• Sustentabilidade

Os números eram impressionantes: a produção industrial cresceu 60%, a renda per capita
aumentou em um terço, o desemprego e a inflação caíram. Avanços tecnológicos nos
processos de produção na indústria automobilística (linha de montagem e mecanização),
de comunicações (rádio e telefone), eletrônicos e plásticos (eletrodomésticos e outros
bens de consumo) criaram produtos inovadores a preços cada vez mais acessíveis.
Circulavam entre as massas produtos antes restritos aos ricos – carros, luz elétrica,
gramofone, rádio, cinema, aspirador de pó, geladeira e telefone –, o “jeito americano de
viver” (american way of life) tornou-se o slogan exaltado do período.
Esta “sociedade de consumo” – na qual a capacidade de consumir era vista como o
principal direito da cidadania – não foi plenamente realizada até depois da Segunda Guerra
Mundial. Não há dúvida, porém, de que a promessa de consumo em massa brotava no

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período. A nova indústria de propaganda e marketing – ajudada pelos jornais, revistas de


grande circulação e rádio, que atraía grande audiência – disseminou a ideia da liberdade
associada ao consumo em oposição à ideia da liberdade associada a mudanças nas relações
de trabalho. A busca por autonomia econômica e soberania política foi substituída, nas
mentes de muitas pessoas, pelas possibilidades de consumo como o elemento essencial de
felicidade e cidadania.
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos : das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007.

Assim, vivemos em uma sociedade que coloca o consumo não só como uma possibilidade, mas
como um direito fundamental: o que nos garantiria a possibilidade de sermos livres, seria sermos capazes
de consumir. O problema é que uma sociedade que se pauta por esse perspectiva cai facilmente no
excesso de consumo, ou simplesmente, consumismo.

Um dos efeitos da produção elevada e do consumo irrestrito é a exploração desmedida de


recursos naturais, causando efeitos ambientais muitas vezes irreversíveis – já que muitos recursos
naturais não são renováveis.

Outro aspecto que é frequentemente criticado é a obsolescência programada, uma prática de


muitas empresas, principalmente ligadas à tecnologia, em que se cria um produto em tese “durável” com
prazo de uso. Após esse prazo, o produto começa a apresentar falhas. Isso obriga as pessoas a consumirem
mais e rapidamente. A geração de lixo nesse contexto é outro tema relevante quando o assunto é
sociedade do consumo.

Conceitos importantes

Alguns termos têm sido comuns para tratar sobre as relações de meio ambiente e mercado:

Economia Crédito de Aquecimento


Greenwashing
verde Carbono global

Economia Verde
Por muito tempo acreditou-se que a deterioração dos recursos naturais era um subproduto
aceitável do crescimento econômico, entretanto, economistas especializados no tema
demonstram em estudos recentes que é possível conciliar ganhos triplos com uma política
econômica bem direcionada; a preservação do meio ambiente, crescimento econômico
sustentado e geração de empregos decentes.
O Brasil obteria ainda um ganho extra: a redução da desigualdade regional, uma vez que
muitas das atividades com impacto ambiental positivo levariam dinamismo econômico a
regiões historicamente periféricas. Como o desenvolvimento de projetos de energia solar na

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Região Nordeste, área com alta incidência de luminosidade, ou o aperfeiçoamento do


ecoturismo na Região Norte.
Organismos como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) realizam estudos na área de Economia Verde,
aquela parte da Ciência Econômica que incorpora a variável ambiental em suas teorias. E
concluem que uma transição para um padrão de produção e consumo da economia mundial
que considere a preocupação com os recursos naturais, além do óbvio benefício ambiental
poderia trazer outro: o econômico. Há muitos nichos de mercado inexplorados nessa área,
os primeiros empresários a empreenderem, gozariam da vantagem do pioneiro obtendo
retorno elevado.
Fonte: <http://observatoriodaimprensa.com.br/pautas-contemporaneas/crescimento-economico-e-preservacao-
ambiental-na-agenda-do-seculo-xxi/> Acesso em set. 2019.

Greenwashing
Você já ouviu falar em greenwashing? Esse termo inglês pode ser traduzido para o
português como lavagem verde ou pintando de verde. A definição de greenwashing é
relativamente simples. Ele pode ser praticado por empresas e indústrias públicas ou
privadas, organizações não governamentais (ONGs), governos ou políticos. Consiste na
estratégia de promover discursos, anúncios, ações, documentos, propagandas e campanhas
publicitárias sobre ser ambientalmente/ecologicamente correto, green, sustentável, verde,
eco-friendly etc.
A intenção primordial do greenwashing é relacionar a imagem de quem divulga essas
informações à defesa do ambiente, mas, na verdade, medidas reais que colaborem com a
minimização ou solução dos problemas ambientais não são realmente adotadas e, muitas
vezes, as ações tomadas geram impactos negativos ao meio ambiente. O greenwashing é
como uma propaganda enganosa - uma imagem é passada, porém, a realidade é outra.
Fonte: <https://www.ecycle.com.br/component/content/article/6-atitude/2094-definicao-o-que-como-traducao-
greenwashing-estrategias-marketing-propaganda-consumo-produtos-servicos-atitude-apelo-ambiental-enganosa-
empresas-consciencia-ambiental-casos-exemplos-cuidados.html> Acesso em set.2019.

Crédito de carbono
O crédito de carbono funciona assim: uma entidade paga a outra pelo direito de emitir gases
que provocam o efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2). O recebedor desse
dinheiro, em tese, o investe em fontes de energia renováveis e deixa de desmatar. Cada
crédito é equivalente ao aquecimento global causado por uma tonelada métrica de CO2.
O Brasil, que concentra um terço da área de floresta tropical do mundo, é um dos maiores
receptores de recursos do crédito de carbono.

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O mercado dos créditos é atraente para indústrias altamente poluentes, como companhias
aéreas, e países industrializados que assinaram o acordo climático de Paris, porque as
compensações podem servir como uma alternativa mais barata do que reduzir de fato o uso
de combustíveis fósseis.
Fonte: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-48369790> Acesso em set. 2019.

Aquecimento global
O aquecimento global é o processo de mudança da temperatura média global da atmosfera
e dos oceanos. O acúmulo de altas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera
bloqueia o calor emitido pelo sol e o prende na superfície terrestre, aumentando a
temperatura média da Terra.
(...)
Assim, o aquecimento global é um processo que decorre da intensificação do efeito estufa -
a radiação que vem da luz do sol atinge a Terra e é absorvida por gases presentes na
atmosfera, os quais passam a emitir de volta para a superfície terrestre radiação
infravermelha (calor), aumentando a temperatura do planeta. Os gases que interagem com
a radiação solar produzindo radiação infravermelha são chamados de Gases de Efeito Estufa
ou GEE.
(...)
Se a ação humana não é a única causa do aquecimento global, seu impacto é considerável.
Apesar de não haver consenso sobre as causas do aquecimento global, a maior parte da
classe científica reconhece a atividade humana como sua principal desencadeadora.
(...)
As mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global aumentam a intensidade, a
frequência e o impacto de eventos climáticos extremos, sejam de frio ou de calor. Esses
eventos, além de impactarem o ambiente, que inclui a fauna, a flora, a atmosfera, o oceano,
o meio geoquímico e geofísico; causam efeitos nocivos à saúde humana, como aumento do
risco de suicídio, problemas respiratórios, problemas cardiovasculares, asma, câncer,
obesidade, insolação, infertilidade, deficiência nutricional, entre outros.
(Fonte: Ecycle. Disponível em: <https://www.ecycle.com.br/1294-aquecimento-global> Acesso em 01/12/2019)

Palavras-chave

Alguns assuntos são bastante clássicos quando o assunto é Meio Ambiente. Ainda que não tenha
nenhum acontecimento de atualidades relevante sobre eles, são assuntos que você deve ser capaz de
escrever uma redação independentemente do que está ocorrendo.

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Poluição Transgênicos Lixo

Água Agrotóxicos Desmatamento

O desmatamento é a questão ambiental que mais importa para 53% dos brasileiros,
segundo a pesquisa Earth Day 2019 da Ipsos, divulgada por ocasião do Dia Mundial do Meio
Ambiente.
O assunto foi o mais citado quando os entrevistados foram questionados sobre os
três assuntos ambientais que mais os preocupavam. Em seguida vieram poluição da água (44%),
lidar com resíduos (36%), aquecimento global (29%) e esgotamento de recursos naturais (23%).
No mundo, o aquecimento global é considerado o tema mais prioritário,
mencionado por 37% dos entrevistados. A poluição do ar, com 35%, e como lidar com o lixo que
produzimos (34%) aparecem em seguida, e depois a poluição da água (25%). O desmatamento só
aparece em 5º lugar no ranking global, com índice de 24%. Depois do Brasil, a Turquia, a Argentina,
o México e a Colômbia são os países que mais se preocupam com desmatamento.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/06/desmatamento-e-a-questao-ambiental-que-mais-
preocupa-brasileiros.shtml

Poluição
Poluição significa a presença concentrada de determinadas substâncias ou agentes físicos no
ambiente que afetam negativamente os ecossistemas. Essas substâncias ou agentes são chamados de
poluentes. A poluição afeta diretamente o equilíbrio ambiental e impacta na saúde humana.

A poluição do ar se dá pela contaminação do ar por partículas de fumaça e gases nocivos. Os


principais poluentes do ar são o monóxido de carbono (CO), dióxido de enxofre (SO2), ozônio (O3), dióxido
de nitrogênio (NO2) e alguns hidrocarbonetos. Esses poluentes são liberados na queima de combustíveis
fósseis, no escape dos veículos, nos resíduos de aterros causados pela poluição do lixo, nos acidentes
nucleares, nos derramamentos de radiação, entre outros.

A poluição da água é a contaminação dos corpos d'água por elementos físicos, químicos e
biológicos que podem ser nocivos ou prejudiciais aos organismos, plantas e à atividade humana. Um fator
preocupante dessa poluição é que os lençóis freáticos, os lagos, os rios, os mares e os oceanos são o
destino final de todo e qualquer poluente solúvel em água que tenha sido lançado no ar ou no solo. Desta
forma, além dos poluentes que são lançados diretamente nos corpos d'água, as redes hídricas ainda
recebem a poluição vinda da atmosfera e da litosfera (o solo), provenientes de atividades agrícolas,
industriais e domésticas.

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Há ainda outros tipos de poluição. Ainda que frequentemente não as associemos ao meio
ambiente, é interessante pensar como elas poderiam impactar de alguma maneira nesse assunto.

Sonora Visual Luminosa

Transgênicos
São alimentos geneticamente modificados, ou seja, nos quais foi introduzido material
genético de outros organismos, que pode ser da mesma espécie ou de uma espécie
diferente, com a finalidade de expressar características desejadas do organismo doador.
O procedimento é feito em laboratório. O material introduzido pode ser um vírus ou uma
bactéria. A grande vantagem é a precisão da técnica, que consegue inserir genes específicos,
só com as características desejadas, o que não aconteceria através de cruzamentos sexuais
ou outras técnicas convencionais.
As sementes transgênicas surgiram prometendo favorecer a agricultura, aumentar a
produtividade e ainda trazer benefícios ao consumidor com a otimização da composição
nutricional. Porém, após pesquisas e experimentos, vem sendo observado que este tipo de
alimento alterado apresenta uma série de riscos para a saúde, ao meio ambiente e suas
desvantagens se converteram também em um problema social.
(Fonte: G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/blog/nutricao-
pratica/post/alimentos-transgenicos.html> Acesso em 01/12/2019)

Lixo
A poluição por lixo iniciou-se a partir da Revolução Industrial, quando houve a concentração da
população nas cidades, e hoje, com um padrão de consumo mais agressivo estabelecido pelo
barateamento dos produtos, o crescimento do lixo ocorre em progressão geométrica. O maior problema
é a sua destinação.

Os aterros sanitários são grandes buracos impermeabilizados onde o lixo inorgânico é depositado,
alternando com camadas de terra, impedindo, assim, a contaminação do solo, do ar e o aparecimento de
animais na região. Esse processo tem um alto custo e exige planejamento, sendo preterido pelo método
mais fácil e barato de depositar todos os detritos produzidos nas cidades em lixões a céu aberto.

Ainda, a putrefação do lixo orgânico depositado a céu aberto produz uma série de gases tóxicos,
incluindo o metano e a amônia, que podem causar lesões no aparelho respiratório humano, além disso,
ela torna o local de depósito ambiente propício para a proliferação de vetores de várias doenças. No Brasil,
em torno de 75% do lixo é descartado em lixões a céu aberto.

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Aquecimento Global
Novo relatório da ONU reforça ameaças do aquecimento global
O novo trabalho do órgão da ONU Painel Intergovernamental para a Mudança Climática
(IPCC, na sigla em inglês) diz que os efeitos do aquecimento estão sendo sentidos em todo
lugar, contribuindo para possíveis crises de escassez alimentar, desastres naturais e guerras.
(...)
Os cientistas projetam que o aquecimento poderá reduzir o PIB global em 0,2 a 2 por cento
ao ano, caso as temperaturas medianas subam até 2 graus Celsius — uma estimativa que
muitos países consideram modesta demais.
“Ao longo da próxima década, a mudança climática terá impactos majoritariamente
negativos”, disse Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial
(OMM), citando cidades, ecossistemas e o abastecimento hídrico como áreas de risco.
“Os pobres e vulneráveis serão mais afetados”, acrescentou. Entre os principais riscos estão
a inundação permanente de pequenas ilhas e áreas costeiras.
(Disponível em https://br.reuters.com/article/worldNews/idBRSPEA2U01420140331, acessado em 18.03.2019)

Esgotamento de recursos naturais


O Planeta Terra atinge nesta segunda-feira (29) o ponto máximo de uso de recursos
naturais que poderiam ser renovados sem ônus ao meio ambiente. Em 2019, a humanidade
atingiu a data limite três dias antes que em 2018 – e mais cedo do que em toda a série
histórica, medida desde 1970.
Isso significa que, a partir de agora, todos os recursos usados para a sobrevivência (água,
mineração, extração de petróleo, consumo de animais, plantio de alimentos com
esgotamento do solo, entre outros pontos) entrarão em uma espécie de “crédito negativo”
para a humanidade.
Para manter o mesmo padrão de consumo atual, seria necessário 1,75 planeta Terra.

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(...)
O planeta entrou em déficit de recursos naturais em 1970. Desde então, a humanidade
tem consumido mais do que o planeta consegue se regenerar. Nos últimos 20 anos, a data-
limite tem chegado mais cedo.
(Fonte: ABIC. Disponível em: <http://abic.com.br/sobrecarga-da-terra-2019-planeta-atinge-esgotamento-de-recursos-
naturais-mais-cedo-em-toda-serie-historica/> Acesso em: 01/12/2019)

Água
No início desta semana, o instituto americano especializado em questões ambientais, o
World Resources Institute (WRI), alertou sobre os riscos de uma crise hídrica em escala
global, que atingirá um quarto da população, distribuída em 17 países.
O número é alarmante devido à grave situação da Índia, habitada por 1,36 bilhão de
habitantes, o equivalente a 16% da população mundial, e possui apenas 4% das reservas de
água do planeta; os indianos são 77% da população que sofre deste mal. Os outros 16 países
também se encontram em áreas críticas que enfrentam graves índices de escassez, por
déficits de distribuição, ou pela questão geográfica de estarem em regiões áridas. São eles:
Qatar, Israel, Líbano, Iran, Jordânia, Líbia, Kuait, Arábia Saudita, Eritreia, Emirados Árabes,
San Marino, Barein, Índia, Paquistão, Turcomenistão, Omã e Botswana.
A dificuldade de acesso a este recurso vital poderá atingir várias outras regiões do planeta:
27 pontos são considerados de riscos potenciais para sofrer com a escassez de água. A OMS
alerta que países da América Latina, como o México e o Chile, e europeus Chipre, Itália,
Espanha, Grécia, Albânia, estão vulneráveis. O Brasil, mesmo possuindo a maior reserva de
água potável do mundo, também tem regiões críticas apontadas pelo estudo, como as
cidades de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitoria, Recife, Fortaleza e Campinas.
Fonte: UOL. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2019/08/09/crise-hidrica-faz-paises-
correrem-por-solucoes-e-ja-gera-conflitos.htm> Acesso em 01/12/2019

Agrotóxicos
O artigo de Tarcisio Miguel Teixeira, recém-publicado na Revista de Direito Sanitário,
analisa a questão da atual da presença de agrotóxicos nos alimentos, a falta de informação
a respeito dos produtos aplicados para sua produção, além de estabelecer a relação
diretamente proporcional entre saúde e alimentação saudável, ressaltando o direito
essencial da informação a respeito da qualidade do que estamos servindo à mesa.
Segundo o autor, o modelo monocultural de agricultura, hoje, é a produção de alimentos
com agrotóxicos “para controlar plantas que competem com micro-organismos e insetos”,
o que acaba estimulando a ação de plantas invasoras, doenças e pragas e aumentando a
necessidade do uso de pesticidas. Mas o que mata o mal das plantações, adoece e também
pode matar o ser humano, provocando alergias perigosas e intoxicações graves. Teixeira

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mostra que se o Ministério Público alerta o consumidor, o governo aprova projetos de lei
que liberam o uso de substâncias tóxicas nas lavouras brasileiras, abafando as ações da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cujo objetivo final é a defesa do
consumidor, no sentido de garantir a qualidade dos produtos que a população consome.
O autor aborda “a baixa preocupação de grupos de consumidores em relação à
contaminação dos alimentos com agrotóxicos”, na referência ao trabalho de pesquisadores
sobre o tema, e comenta os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos
em Alimentos (PARA), de 2012, criado pela Anvisa. De acordo com o estudo, avaliaram-se os
principais alimentos consumidos pelos brasileiros quanto à toxidade, “com resultados do
uso de agrotóxicos não recomendados para a respectiva cultura e uso de produto permitido,
acima do limite máximo: o abacaxi, com 41%, a cenoura (33%), o morango (59%) e o pepino
(42%)”. Observa-se, pelos resultados obtidos nas pesquisas, que há uma contaminação
crônica dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros – o veneno está servido.
(Jornal da USP, Direito à informação sobre agrotóxicos em alimentos é essencial, 22/05/2017. Disponível em:
<https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/direito-a-informacao-sobre-agrotoxicos-em-alimentos-e-essencial/>
Acesso em 20/11/2020)

Casos recentes

Alguns casos recentes podem ser um bom exemplo quando o assunto for discutir impactos
ambientais e as relações com o mercado:

Trafico de
Brumadinho Queimadas na Vazamento de
animais
e Mariana Amazônia óleo
silvestres

Céu laranja Mineração


em Pequim ilegal

Brumadinho
No dia 5 de novembro de 2015 acontecia o maior desastre ambiental do Brasil: o
rompimento da barragem de rejeitos Fundão, localizada na cidade de Mariana, Minas
Gerais. Pouco mais de três anos depois, surge uma nova tragédia tão preocupante quanto:
o rompimento da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, no município de Brumadinho, no
mesmo estado.
(...)

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Uma barragem é uma estrutura, feita em cursos de água, que possui o objetivo de conter ou
acumular grandes quantidades de substâncias líquidas ou misturas de líquidos e sólidos.
Suas principais finalidades são: o abastecimento de água, produção de energia elétrica e
prevenção de enchentes.
(...)
Bem, as barragens de rejeitos são utilizadas na mineração (processo que visa extrair
substâncias minerais a partir de depósitos ou massas). As atividades que transformam rocha
em matéria prima na mineração são chamadas de beneficiamento. Quando o
beneficiamento é feito, sobram alguns resíduos (água + resíduos sólidos), que devem ser
armazenados para evitar danos ambientais à natureza.
Como nesses resíduos existe uma grande quantidade de água, é normal que essas barragens
pareçam estar cheias de lama. Esta, por sua vez, deve descansar até que suas partículas
sólidas decantem (ou seja, se separem do conteúdo líquido) e novos dejetos possam ser
colocados nessa barragem, criando um novo ciclo.

(...)
Por mais que esse rompimento tenha despejado uma quantidade menor de rejeitos em
comparação ao de Mariana, seus impactos sociais e ambientais foram tão grandes quanto.
O volume de dejetos expelido foi de cerca de 12 milhões de m³ (1m³ equivale a 1.000 litros)
e a velocidade da lama atingiu 80 quilômetros por hora.
No momento da tragédia, sirenes de segurança deveriam ter sido tocadas para alertar
trabalhadores da Vale e moradores da região. Isso, porém, não aconteceu.
A lama, que continha ferro, sílica e água, atingiu o rio Paraopeba, o que acabou por afetar,
de maneira negativa, a qualidade da água.
Até o final de agosto de 2019 (cerca de 7 meses depois), foram contabilizadas 241 mortes e
outras 21 pessoas que ainda seguem desaparecidas.

(Fonte: Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/barragem-de-rejeitos/> Acesso em: 01/12/2019)

Mariana
43,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados e um total de 19 mortes.
A lama percorreu um total de 663 quilômetros até chegar no mar, no estado do Espírito
Santo, e atingiu o Rio Doce, que abrange 230 municípios que têm seu leito como ferramenta
de subsistência.
Segundo ambientalistas, os efeitos dos rejeitos no mar serão sentidos por, no mínimo, 100
anos.

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Um mês depois da tragédia, foram retiradas 11 toneladas de peixes mortos tanto em Minas
Gerais quanto no Espírito Santo.
Vidas foram levadas, distritos foram destruídos e milhares de moradores ficaram sem água,
sem casa e sem trabalho.
(Fonte: Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/barragem-de-rejeitos/> Acesso em: 01/12/2019)

Brumadinho Mariana

Fonte: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/iotti/noticia/2019/01/iotti-coincidencia-cjrcnaskd00j201ny61qcb1cf.html>
Acesso em set. 2019.

Amazônia
Em agosto de 2019, um fenômeno combinando uma frente fria vinda do litoral, nuvens carregadas
e uma névoa de partículas de detritos em suspensão, cobriu o céu de São Paulo. Isso fez com que a luz do
Sol ficasse bloqueada. Essa névoa teria sido originada por queimadas intensas na região amazônica.

Apesar de não serem práticas recentes – as queimadas na Amazônia são uma realidade há muitos
anos – nunca antes suas consequências haviam sido sentidas tão de perto pelos grandes centros urbanos.

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O Brasil tem investido em um equilíbrio entre meio ambiente e mercado. Um exemplo disso foi a
extinção das queimadas nas plantações de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, promovendo um
impacto social muito positivo nas regiões vizinhas às plantações.

A repercussão mundial desse dia em que a Amazônia ficou “em chamas”, porém, levantou
questionamentos sobre a postura do Brasil diante do meio ambiente.

De acordo com os dados da Global Forest Watch, o Brasil perdeu 53.8 milhões de hectares de
cobertura arbórea entre 2001 e 2018. Isso significa uma redução de 10% da área florestal
desde 2000.
No período, estima-se que 66% desta perda ocorreu devido a fatores de urbanização e de
agropecuária para fins comerciais.
Mas quais regiões estão sendo consideradas nessa análise? Predominantemente, considera-
se a área da Amazônia Legal – afinal, é a principal área florestal do país! Entretanto, os dados
também consideram a extensão da Mata Atlântica e do Cerrado brasileiro.
Bom, além dos dados apresentados aqui, o governo brasileiro também possui órgãos oficiais
que fazem o trabalho de fiscalizar o desmatamento em território nacional – como o INPE.
Fonte: Politize! Disponível em: <https://www.politize.com.br/desmatamento-no-brasil-qual-a-situacao-2/> Acesso em
01/12/2019

Derramamento de óleo
O derramamento de petróleo é considerado um dos mais graves e problemáticos acidentes
ambientais em águas marinhas, levando dezenas de espécies à morte. Quando ocorre um vazamento, o
petróleo permanece na superfície da água marinha e forma uma densa camada que impossibilita a
penetração dos raios solares, dificultando a fotossíntese de várias espécies de algas. Isso acarreta a morte
de uma variedade enorme de organismos.

Quanto atinge os mangues, o petróleo polui e contamina o ecossistema, provocando a morte de


espécies vegetais e animais. Como os manguezais são áreas de procriação de determinadas espécies
animais, a reprodução delas também é gravemente afetada. Em alguns casos, o petróleo pode atingir as
praias, contaminando extensas faixas de areia, deixando-as impróprias para os banhistas. Nestes casos,
todo o setor turístico de uma região pode ser afetado, trazendo prejuízos econômicos.

Tráfico de animais silvestres


O tráfico de animais silvestres não é apenas uma ameaça destrutiva para as espécies de
animais e para a preservação da biodiversidade brasileira, como é também uma prática
criminosa. De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres
(Renctas), a ação é considerada a terceira maior atividade ilícita do mundo e gera uma

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grande rede de pessoas envolvidas em negociações clandestinas, principalmente pela alta


lucratividade.
Além disso, estima-se que o comércio ilegal movimente entre 10 e 20 bilhões de dólares por
ano no mundo. Desse total, 10% corresponde ao Brasil, o equivalente a 38 milhões de bichos
das nossas florestas e matas. Essas estimativas refletem o crescente risco de extinção de
espécies e o aumento da exploração econômica e ambiental da fauna e flora brasileiras.
Segundo a Renctas, de cada 100 animais capturados ilegalmente no país, 70 são vendidos
em território nacional e 30 são destinados ao exterior. Um dos fatores que explica o Brasil
ser uma das principais rotas do tráfico é a grande biodiversidade, o que o torna um alvo
direto das quadrilhas e organizações criminosas.
(Disponível em <https://www.ufsm.br/midias/arco/trafico-animais-silvestres/> Acesso em 19 mar. 2021)

As principais finalidades do tráfico internacional de animais são:

• Espécies animais para colecionadores particulares, que têm seu valor inflacionado a depender de
quão raros são.

• Animais para pesquisa científica, além de produção de medicamentos, o que esbarra na ideia de
biopirataria.

• Matéria prima para indústria da moda.

• Bichos de estimação.

Em 2020, uma cobra naja apreendida em Brasília se tornou popular na internet. Após ter picado
um estudante de veterinária de Brasília, descobriu-se que ela havia sido colocada cativa em um esquema
de tráfico internacional de animais.

Céu laranja em Pequim


A capital chinesa, Pequim, amanheceu coberta nesta segunda-feira (15/3) por uma espessa
camada de poeira. Algo que o departamento local de meteorologia chamou de "a pior
tempestade de areia em uma década".
A tempestade de areia causou um aumento sem precedentes nas medições de poluição do
ar. Em alguns distritos, foram registrados níveis 160 vezes acima do limite recomendado.
(...)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualmente define níveis seguros de qualidade do
ar com base na concentração de partículas poluentes chamadas de material particulado
(PM, na sigla em inglês) encontradas no ar. (...)
Pequim era historicamente atingida por tempestades de areia com muito mais frequência,
mas os projetos de redução da poluição, incluindo proibições de novas usinas a carvão,
restrições ao número de carros nas estradas e reflorestamento, melhoraram

AULA 02 – REDAÇÃO 16
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significativamente a qualidade do ar. Mas tempestades de areia como a desta semana,


causadas pelo vento, são mais difíceis de controlar.
Pequim e as regiões vizinhas sofreram altos níveis de poluição nas últimas semanas, com um
ativista do Greenpeace dizendo à AFP que isso era resultado de atividades industriais
"intensas".
Isso, segundo ele, exacerbou as condições para ocorrer uma tempestade de areia, que são
"resultado de condições climáticas extremas e da desertificação".
(Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56406896> Acesso em 19 mar. 2021)

Mineração ilegal
Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Mato Grosso: a mineração ilegal
de ouro está presente em praticamente todos os estados da Amazônia Legal, normalmente
camuflada sob o título de “garimpo”. O garimpeiro do século XXI, contudo, não é mais o
profissional com picareta e bateia, que percorre cursos d’água da região atrás de pepitas nos
sedimentos de leitos de rios.
A extração de ouro na Amazônia faz-se, hoje, com maquinário pesado, de alto custo
financeiro e vultoso impacto ambiental e socioambiental. Balsas, dragas, pás-carregadeiras,
escavadeiras hidráulicas e outros equipamentos que custam milhões de reais deixam atrás
de si um rastro de destruição. Os índices de ilegalidade na atividade são alarmantes: o ouro,
ativo financeiro de enorme importância estratégica para as finanças nacionais, esvai-se pelas
fronteiras com pouco ou nenhum controle das agências públicas, ao mesmo tempo que
recursos hídricos são contaminados por mercúrio e parcelas da floresta são postas abaixo
na busca por novos veios, e o tão prometido desenvolvimento econômico não chega.
Esse cenário é agravado pela complexidade da legislação nacional. O tratamento legislativo
dado ao ouro e, em especial, ao garimpo, ainda é refém da imagem idealizada do garimpeiro
– aquela imagem acompanhada da picareta e da bateia –, erigindo-se, assim, proteções que
não fazem sentido diante das efetivas características empresariais dos empreendimentos
auríferos modernos. Além disso, a frouxidão dos controles sobre extração e circulação de
ouro e sobre as pessoas físicas e jurídicas que atuam nesse mercado permite a evasão de
divisas, a lavagem de minério proveniente de atividades criminosas e a circulação, nacional
e internacionalmente, de mercadorias – notadamente joias – vinculadas a ilícitos
financeiros, ambientais e socioambientais
(Disponível em < http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr4/dados-da-atuacao/publicacoes/roteiros-da-4a-
ccr/ManualMineraoIlegaldoOuronaAmazniaVF.pdf> Acesso em 19 mar. 2021)

ZONA DE
SPOILER!!
AULA 02 – REDAÇÃO 17
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Capitão Fantástico (2016) Dir.: Matt Ross


Um homem que vivia isolado na floresta com seus seis filhos é forçado a deixar
sua realidade e voltar a conviver com o mundo, desafiando sua criação rigorosa
e distante das imposições sociais.
Temas:
Consumismo
Fuga da sociedade capitalista
Diferentes possibilidades de viver

Ilha das Flores (1989) Dir.: Jorge Furtado

Curta documentário que expõe questões ligadas a consumo, sustentabilidade


e geração de lixo a partir da saga de um tomate, desde sua plantação até sua
chegada ao lixão, quando se torna comida para pessoas pobres.
Temas:
Excesso de lixo
Desigualdade social
Políticas públicas

Surplus: Terrorized Into Being Consumers (2003) Dir.: Erik Gandini

Documentário que se volta para as vantagens dos sistemas capitalistas e


tecnológicos – como eficiência de produção e menor necessidade de trabalho –
ao mesmo tempo que questiona se isso está sendo atingido.
Temas:
Sociedade Capitalista
Relações de consumo
Postura das empresas em relação ao meio ambiente

Terra (2016) Dir.: Yann Arthus-Bertrand e Michael Pitiot


Documentário que mostra nossa relação com outras criaturas num momento
em que o homem se afasta cada vez mais da natureza.
Temas:
Relação homem-natureza
Crescimento urbano X Preservação da natureza
Preocupação superficial com o planeta

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2 – Estudando a Introdução
A introdução é o cartão de visitas de uma redação. Ela é a primeira impressão que o corretor terá
de sua dissertação e pode ser decisiva para o modo como o restante do seu texto será avaliado. Vamos
ver um exemplo de introdução e analisar pontos importantes a partir dela.

Texto de apoio:

Crise no ensino das artes prejudica a ciência também, alerta estudo; estudantes de cirurgia
“não conseguem costurar”
Cirurgião chefe da Imperial College of London diz que a falta de matérias ligadas à criatividade
nas escolas do Reino Unido resulta em estudantes desprovidos de habilidades manuais
importantes.
Fonte: < https://frieze.com/article/crisis-arts-education-damages-sciences-too-study-warns-surgery-students-cant-sew> (adaptado) Acesso em
18 Mar. 2019.

A partir desse texto de apoio, pode-se depreender que um possível tema, recorte temático e a
tese a ser desenvolvida na redação são, respectivamente:

TEMA: Arte e educação.

RECORTE TEMÁTICO: A importância da arte na formação escolar.

TESE: A educação artística promove o desenvolvimento de uma série de habilidades motoras e,


consequentemente, auxilia na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

INTRODUÇÃO:
Ao longo de sua formação, o estudante toma contato com diversas matérias, cada uma
desenvolvendo competências específicas. Algumas escolas, porém, têm optado por deixar a arte
de lado nas grades curriculares. Isso é uma medida que pode se provar equivocada, pois a
educação artística promove o desenvolvimento de uma série de habilidades motoras e,
consequentemente, auxilia na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

Conforme vimos das aulas anteriores, a introdução é composta por duas partes: contextualização
e tese. Não se esqueça nunca diferença entre elas!

Contextualização: apresentação do tema.


Tese: sua opinião sobre o tema.

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Relembre também nossa fórmula da tese:

FÓRMULA DA TESE
X, pois Y, logo Z
Você substituirá:
- X por sua opinião pessoal, sua ideia sobre o assunto.
- Y por uma informação que estabeleça relação de causa com sua ideia.
- Z por uma informação que estabeleça relação de consequência com sua ideia.

Assim, você garante que sua tese será completa e bem compreensível. Veja um exemplo:
Crianças devem ter contato com a arte desde cedo, pois ela amplia a percepção de mundo, logo,
tornam-se pessoas mais criativas.

Sobre essa introdução, deve-se observar dois pontos:

É simples e objetiva.

• Não é necessário escrever mais do que 2 ou três períodos.


• Uma introdução de 5 a 6 linhas é o ideal.
• Deve focar-se em apresentar a tese, mas não desenvolvê-la profundamente.
• Ex.: "(...) a educação artística promove o desenvolvimento de uma série de
habilidades motoras e, consequentemente, auxilia na realização de diversas
atividades em diferentes áreas." apenas faz uma afirmação, sem desenvolver
argumentos que corroborem a ideia.

Apresenta a tese textualmente.

• A contextualização introduz a tese, mas não precisa antecipar a argumentação.


Dedique-se principalmente a elaborar uma tese que possa ter desdobramentos no
desenvolvimento.

O mais importante em uma introdução é não enrolar, ou seja, ir direto ao ponto. Você deve
apresentar o tema e sua opinião sobre ele. Não antecipe os argumentos! Para construir uma boa redação
no pequeno espaço oferecido pela prova, você deve ser muito organizado!

Na última aula, vimos que uma introdução pode ser construída de diversas maneiras. Vamos nos
aprofundar em cada uma delas.

AULA 02 – REDAÇÃO 20
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2.1 – Tipos de contextualização


Observe novamente o título e subtítulo da matéria sobre arte e educação utilizada acima:

Crise no ensino das artes prejudica a ciência também, alerta estudo; estudantes de cirurgia
“não conseguem costurar”
Cirurgião chefe da Imperial College of London diz que a falta de matérias ligadas à criatividade
nas escolas do Reino Unido resulta em estudantes desprovidos de habilidades manuais
importantes.
Fonte: < https://frieze.com/article/crisis-arts-education-damages-sciences-too-study-warns-surgery-students-cant-sew> (adaptado) Acesso em
18 Mar. 2019.

Vamos agora observar um por um dos tipos possíveis de desenvolvimento de introdução citados
para exemplificar como uma introdução sobre esse assunto poderia ser feita. Em todos os exemplos, será
desenvolvida a mesma tese: “A educação artística promove o desenvolvimento de uma série de
habilidades motoras e, consequentemente, auxilia na realização de diversas atividades em diferentes
áreas”.

Comparação
Realizar uma comparação na introdução pode partir de dados existentes do texto ou em
conhecimentos compartilhados por todos no contemporâneo. Uma boa estratégia para realizar uma
comparação na introdução é utilizar elementos presentes em diferentes textos de apoio, que possam
mostrar informações contrastantes. Neste caso, vamos realizar uma comparação a partir de informações
presumidas, já que o texto de apoio é bastante conciso.

Ex.:
A importância do ensino das artes na formação escolar é por vezes questionada. Na vida
prática, porém, estudantes que tiveram contato com práticas artísticas apresentam maior
facilidade em outros campos – inclusive na ciência – do que outros que não têm a mesma
vivência. A educação artística promove o desenvolvimento de uma série de habilidades motoras
e, consequentemente, auxilia na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

Dados científicos
Apesar do nome, dados científicos não precisam ser apenas informações precisas como
porcentagens e número. Dados com menor grau de precisão, mas com caráter científico, também são
considerados modos de redigir uma introdução.

Ex.:

Estudo recente sobre as escolas do Reino Unido mostrou que o aprendizado das artes é
importante para outras áreas de conhecimento. Os resultados do estudo mostram que
estudantes com pouca experiência nas artes se tornam carentes de habilidades manuais,

AULA 02 – REDAÇÃO 21
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desenvolvidas nas aulas de educação artística durante a formação escolar. A educação artística
promove o desenvolvimento de uma série de habilidades motoras e, consequentemente, auxilia
na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

Definição
Ao optar por uma introdução que trabalhe com a ideia de definição, pode-se trabalhar em dois
campos: definir alguma das palavras ou conceitos presentes no tema da redação, justificando a sua tese;
ou definir alguma palavra ou conceito que resuma seu entendimento do texto.

Esse é um dos melhores modos de começar sua redação caso você não tenha tanto repertório. Os textos
de apoio fornecidos costumam trazer esses conceitos. Se quiser investir em praticar a fundo um tipo de
contextualização, eu aconselharia a se dedicar à definição.

Ex.:
Aulas de arte nas escolas não se resumem apenas em aprender pintura ou desenho. Na
escola também se ensinam competências como música, cinema e outros campos de
desenvolvimento das habilidades manuais e criatividade. Essa vivência também será muito
importante para outras áreas de conhecimento. A educação artística promove o
desenvolvimento de uma série de habilidades motoras e, consequentemente, auxilia na
realização de diversas atividades em diferentes áreas.
OU
A interdisciplinaridade é o processo de ligar disciplinas diferentes, construindo os
conceitos a partir do que cada uma pode contribuir. Essa ideia mostra sua efetividade nos
resultados de pesquisa recente no Reino Unido: alunos com maior experiência em sua formação
escolar com as artes, têm melhores resultados na ciência também. A educação artística
promove o desenvolvimento de uma série de habilidades motoras e, consequentemente, auxilia
na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

Referência histórica
Apesar de nem sempre usada pelos alunos, realizar uma referência histórica pode ser um ótimo
jeito de começar um texto. Uma referência histórica nada mais é que um dado ou acontecimento da
histórica, situado em um espaço e tempo pontuais. Pode também fazer referência a pessoas com algum
papel importante ou a críticas sociais.

AULA 02 – REDAÇÃO 22
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Ex.:

Ao longo do tempo as artes tiveram mais ou menos importância na educação, a depender


do momento histórico. Se na Grécia Antiga o ensino de música, escultura, pintura, dança, teatro,
entre outros, era parte do ensino padrão, atualmente muito se discute a possibilidade de não
promover o ensino das artes nas escolas. Essa medida, porém, pode se provar, a longo prazo,
prejudicial. A educação artística promove o desenvolvimento de uma série de habilidades
motoras e, consequentemente, auxilia na realização de diversas atividades em diferentes áreas.

Lembre-se que a escolha de qual maneira iniciar uma redação é uma questão ao mesmo tempo de estilo
e pertinência:

Estilo: o modo como você se sente confortável escrevendo (estilo pessoal) aliado às diretrizes do
vestibular em questão (uma dissertação deve ser escrita na norma culta, por exemplo).

Pertinência: lendo os textos você perceberá elementos que se sobrepõe e que podem ser mais facilmente
acessados para construir sua introdução. Um gráfico ou tabela, por exemplo, traz dados concretos e, por
isso, pode ser uma boa opção fazer uma introdução baseada em dados científicos. Já textos de pessoas
de grande nome (escritores ou jornalistas famosos, com grande conhecimento no assunto) podem sugerir
uma introdução baseada em uma citação.

2.2 – Exercícios: Introdução


Leia os fragmentos e escreva o tema de cada um deles e a tese que você desenvolverá. Abaixo, há
um espaço para que você pratique diferentes tipos de introdução para uma mesma tese. É importante
que você tente realmente fazer mais de uma introdução para cada item para praticar bastante – ainda
que nem todas as opções sejam possíveis em todos os itens. Inclua sua tese no fim de cada
contextualização para checar se o texto faz sentido como um todo. Os temas de cada uma das redações
se encontra expresso na tabela logo abaixo dos textos.

I.

Texto 1.
Para especialistas em tendências, a grande chave de 2019 está naquilo que muitas
pessoas consideram mais íntimo: a nossa ligação com o místico, com o imaterial, com o que
está além do racional.
Astrologia, cartas de tarot, mapas, pedras e energia. Para Rebeca de Moraes, fundadora
da Soledad, consultoria brasileira de tendências, todas essas ferramentas possibilitam que nós
olhemos para o mundo e encontremos novos jeitos de pensar sobre as mesmas coisas.
“O místico sempre esteve em nossa cultura, mas ocupava um lugar nebuloso na nossa
rotina. Hoje, o assunto está em pauta, desde os memes de astrologia e política, até as

AULA 02 – REDAÇÃO 23
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astrólogas-celebridades. Isso está muito relacionado à nossa necessidade de construir


ferramentas de autoconhecimento e autorreflexão”, explica Moraes. (...)
E os brasileiros, especialmente os jovens millennials, tendem a mergulhar de cabeça
nesse tema.
Fonte: Huffpost Brasil, 29/01/2019. Fragmento. Disponível em:
<https://www.huffpostbrasil.com/entry/misticismo-tendencia_br_5c42381ee4b027c3bbc1ae8a> Acesso em 18
Mar. 2019.

TEMA: A ligação com o misticismo no contemporâneo

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Introduções:

Comparação:

Dados científicos:

Definição:

Referência histórica:

AULA 02 – REDAÇÃO 24
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Tema 1.

Alguns dos recortes temáticos possíveis acerca desse tema são:

• A busca de conforto em momentos de crise no misticismo.

• A mudança de status do misticismo, de futilidade a ciência.

• O esvaziamento de significado do misticismo a partir de sua popularidade.

• Os jovens estão mais interessados no misticismo, pois esse responde melhor aos seus anseios.

Algumas possíveis teses para esses recortes temáticos são:

• Apesar de vivermos numa sociedade ligada à racionalidade, os místico e imaterial têm ganhado
espaço, pois parecem capazes de responder melhor aos anseios de uma constituição de
individualidade.

• As expressões normalmente ligadas ao íntimo já não são mais tratadas como exclusivas do
indivíduo, a ponto e se tornarem uma tendência e, consequentemente, se banalizarem.

• As redes sociais mudam a relação com o místico e a astrologia, tornando-o mais popular, correndo
o risco, porém de esvaziá-lo.

• A popularização do misticismo no contemporâneo faz com que suas expressões se aprofundem,


ultrapassando o horóscopo de jornal e alcançando os estudos.

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II.

Texto 1.
Ghosting: a maneira cruel de acabar com relacionamentos na era digital
A situação pode ser familiar para muitos: você conhece alguém, troca números de telefone, vai
a vários encontros, começa um relacionamento e tudo parece ir muito bem quando, de repente...
silêncio.
A outra pessoa deixa de responder mensagens de texto e chamadas e, sem aviso, desaparece
sem dar explicações.
Em inglês isto é chamado de ghosting, palavra derivada de ghost (fantasma). O termo vem
ganhando popularidade nos últimos anos e foi eleito como uma das palavras de 2015 pelo dicionário
britânico Collins.
Encerrar um relacionamento da noite para o dia, cortando todo tipo de comunicação, não é
novo. Mas alguns especialistas afirmam que as novas tecnologias tornaram esta prática mais comum.
Em uma época em que muitas relações começam por meio de sites ou aplicativos dos celulares,
o ghosting é algo cada vez mais comum.
Trecho retirado de BBC 06/12/2015. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151206_ghosting_relacionamentos_fn> Acesso em 17 abr. 2019.

Texto 2.
“Viver junto separado” pode ser um tipo de relacionamento que aproxima as pessoas
Algumas pessoas estão desafiando o estereótipo e escolhendo ficar numa relação amorosa de longo
prazo sem o atributo de dividir o mesmo teto.
Quer escolham ou não se casar, muitos casais seguem o modelo familiar de relações em que
eles se conhecem, se apaixonam e vão morar juntos. Ultimamente, porém, algumas pessoas estão
desafiando o estereótipo e escolhendo ficar numa relação amorosa de longo prazo sem o atributo de
dividir o mesmo teto. Eles estão fazendo algo chamado “Viver junto separado” (em inglês: Living Apart
Together), ou LAT*. De acordo com dados estatísticos do Canadá de 2011, quase dois milhões de
Canadenses afirmaram estar em relacionamentos LAT. Eu acredito que hoje, haja ainda mais pessoas
fazendo isso.
Para casais mais jovens, a escolha de estar junto, mas viver separado, é frequentemente
causada por circunstâncias financeiras ou por conta de demandas do trabalho e do estudo. Para casais
de 60 anos ou mais, porém, a razão mais comum para escolher esse tipo de arranjo familiar é preservar
sua independência.
* Sigla vinda do inglês.
Trecho retirado de Huffpost, 23/04/2018.
Disponível em: < https://www.huffingtonpost.ca/marcia-sirota/living-apart-together-relationship_a_23414646/>
Acesso em 17 abr.2019.

AULA 02 – REDAÇÃO 26
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TEMA: Relacionamentos amorosos no mundo contemporâneo

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Introduções:

Comparação:

Dados científicos:

Definição:

Referência histórica:

AULA 02 – REDAÇÃO 27
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Tema 2.

A questão dos relacionamentos amorosos preocupa no contemporâneo por diversas aspectos. Há


uma ideia presente no senso comum de que é difícil se relacionar nos dias de hoje. Por outro lado, ideias
como “amor” e “finitude” são temas que perpassam a filosofia e literatura através do tempo. Se colocam
ainda a questões acerca das ideias de “fim” e “amor” num momento mediado por meios digitais. Há ainda
novos arranjos familiares surgindo – tema que abarca ideias como os casamentos LGBTI, as famílias
chefiadas por mulheres, adoção de crianças, entre outros. Qual a influência que o momento histórico
presente tem sobre o modo como nos relacionamos?

Alguns dos recortes temáticos possíveis acerca desse tema são:

• Os novos arranjos familiares e as expressões de afeto no contemporâneo.

• As dificuldades inerentes aos relacionamentos amorosos.

• Como os meios digitais alteraram o modo com que as pessoas estabelecem relações?

• A descrença nos moldes tradicionais de relacionamento.

Algumas possíveis teses para esses recortes temáticos são:

• Ao mesmo tempo que a internet cria uma comunicação em rede, também facilita o afastamento
entre as pessoas, pois a presença física aprofunda os relacionamentos.

• A independência é uma questão importante no contemporâneo e isso pode influenciar no modo


como as pessoas escolhem se relacionar.

• Os relacionamentos amorosos nunca foram fáceis, porém no contemporâneo a dificuldade em se


relacionar se expressa de outras maneiras.

• Nem sempre, as configurações familiares ou os modos de se relacionar que faziam sentido no


passado continuam a fazer sentido no presente, pois as relações interpessoais também
acompanham as mudanças da sociedade.

• Muitas vezes, as pressões sociais podem minar as relações pessoais, pois as pessoas sentem que
não fizeram a escolha de maneira livre.

AULA 02 – REDAÇÃO 28
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III.

Texto 1.
Kintsugi: Por que você deveria aprender a abraçar suas imperfeições
Os reparos realizados pelos artesãos deixam visíveis as cicatrizes enquanto transformam peça em obra
de arte ainda mais preciosa.

A palavra kintsugi é utilizada para explicar o ofício japonês de remendar cerâmicas com resina
de ouro, de modo que as rachaduras e as fissuras sejam transformadas em uma teia de minúsculas veias
douradas e brilhantes. Lindo, lindo.
[...]
Às vezes, me pergunto se uma transformação semelhante seria possível todas as vezes que
vivenciamos rupturas em nossas vidas.
Se, de algum modo, nossas feridas pudessem ser honradas dessa maneira e se as nossas
cicatrizes pudessem ser entendidas como símbolos da força, e não apenas da nossa fragilidade.

Trecho retirado de Huffpost, 03/04/2019. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/entry/kintsugi-


japao_br_5ca3bb9ae4b03174b928fb65?utm_hp_ref=br-comportamento> Acesso em 17 abr.2019

TEMA: O enfrentamento das adversidades

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Introduções:

Comparação:

Dados científicos:

AULA 02 – REDAÇÃO 29
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Definição:

Referência histórica:

Tema 3.

O enfrentamento das adversidades fica claro na associação entre “rachaduras” e “cicatrizes”:


assim como as cerâmicas avariadas possuem rachaduras, as pessoas ficam com cicatrizes das feridas
emocionais passadas. Aqui, é importante que o aluno perceba que o texto não se refere a machucados
físicos, mas sim a questões psicológicas.

A partir desse tema, alguns recortes temáticos possíveis são:

• Qual é a diferença entre uma peça de artesanato e uma peça de arte? Como isso pode ser
compreendido metaforicamente em relação ao ser humano?

• O que é uma ferida emocional? Como momentos da nossa vida geram marcas indeléveis?

• A possibilidade que o sofrimento possa deixar de ser tão penoso se ganhar novo sentido. Há, aqui,
possível conexão com a psicologia.

• Quais ações uma pessoa pode realizar de modo a transformar suas cicatrizes emocionais? Como
processos como o autocuidado e o olhar para a saúde mental

Algumas possibilidades de tese para essa proposta são:

• Não se deve deixar abater pelas adversidades, mas sim tirar algo bom delas, pois toda situação
pode trazer ensinamentos.

• Conhecer e aceitar sua própria história é um modo de encontrar paz, pois o futuro ainda pode ser
construído de outras maneiras.

• É impossível passar pela vida sem sentir dor, portanto, deve-se trabalhar o modo como se
responde a esses momentos para não se deixar abalar pelas dificuldades.

AULA 02 – REDAÇÃO 30
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IV. Tema 4.

Texto 1.

Disponível em: <https://www.wilsonvieira.net.br/2014/05/charges-de-domingo-narciso-ioio.html> Acesso em 25


jul.2019.

Texto 2.
Quando as crianças percebem que sua vida inteira já está online
Jogar seu nome no Google se tornou um rito de passagem.

Por muitos meses, Cara ficou reunindo coragem para abordar sua mãe sobre o que ela tinha
visto no Instagram. Há não muito tempo, a menina de 11 anos – que, como todas as outras crianças da
reportagem, é tratada sob um pseudônimo – descobriu que a mãe tinha postado fotos dela, sem
consulta prévia, ao longo de boa parte da vida. “Eu queria falar sobre isso com ela. É estranho me ver
lá, e às vezes tem fotos em que eu não gosto de mim”, ela disse.
Como muitas outras crianças modernas, Cara cresceu imersas nas redes sociais. Facebook,
Twitter, e YouTube foram todos fundados antes dela nascer; Instagram existe desde que ela era um
bebê. Apesar de muitas crianças ainda não terem suas próprias redes sociais, seus pais, escolas, times
esportivos e clubes foram criando uma presença online para eles desde o nascimento. O choque de
perceber que detalhes sobre sua vida – ou, em alguns casos, uma narrativa inteira dela – foram
compartilhados online sem sua autorização ou consentimento se tornou uma experiência marcante na
vida de muito pré-adolescentes e adolescentes.
Trecho retirado de The Atlantic, 20/02/2019. Disponível em:
https://www.theatlantic.com/technology/archive/2019/02/when-kids-realize-their-whole-life-already-
online/582916/> Acesso em 17 abr. 2019. Tradução nossa

TEMA: Privacidade e individualidade na internet

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

AULA 02 – REDAÇÃO 31
Prof.ª Celina Gil

Introduções:

Comparação:

Dados científicos:

Definição:

Referência histórica:

AULA 02 – REDAÇÃO 32
Prof.ª Celina Gil

Tema 4.

A relação entre pais e filhos é tema de estudo em diversas áreas das ciências humanas. A questão
levantada pelo texto é como essa relação se dá no âmbito da internet. Para crianças e adolescentes
nascidas na primeira década dos anos 2000, nunca houve a opção da não utilização das redes sociais.
Diante de pais que normalizam a exposição da vida online, os filhos podem acompanhar esse sentimento,
e encarar com normalidade, ou se sentir invadidos, e rejeitar a ideia da exposição.

A construção da individualidade também é um assunto que ocupa muitos estudos nas ciências
humanas. A charge parte do mito grego de Narciso a história de um homem muito belo e que, por isso,
tornou-se arrogante. A ninfa Eco apaixonou-se por ele e passou a acompanhá-lo secretamente. Porém,
Eco não era capaz de falar, apenas repetir o que os outros diziam. Narciso, atordoado por ouvir repetir
sempre aquilo que falava, caminha até a beira de um rio. Ele nunca havia visto o próprio reflexo, pois sua
mãe o orientara a não fazê-lo. Ao ver sua própria imagem pela primeira vez, ele se apaixona perdidamente
por si próprio e mergulha na água. Ele acaba morrendo afogado, apaixonado por si mesmo. O mito de
narciso acabou se tornando uma referência comum ao comportamento excessivamente individualista.

DICA
O historiador Chistopher Lasch cunhou o termo “Cultura do Narcismo”. O termo define um
comportamento estrutural do capitalismo no contemporâneo: a preocupação profunda com a realização
individual, principalmente a partir do consumo. Assim, o homem contemporâneo investe muito mais em
si do que no coletivo.
Ambos os textos podem ser lidos a partir dessa ideia: tanto a imagem do homem se apaixona pela
vida que cria online, quanto os pais que projetam nos filhos imagens como modo de realização pessoal.

A partir desse tema, alguns recortes temáticos possíveis são:

• A construção da individualidade a partir da internet.

• A exposição pessoal nos meios digitais.

• A criação de imagens da era dos meios digitais.

Algumas possibilidades de tese para essa proposta são:

• A internet modifica o modo como entendemos a privacidade e isso pode gerar problemas
emocionais, pois nem sempre a realidade condiz com a personagem que expomos na internet.

• Muitas vezes, construímos imagens online que não condizem com a realidade, pois
compartilhamos aquilo que desejamos ser, não o que somos.

• A ideia de registro e arquivo se altera num mundo permeado pela comunicação digital, pois agora
não se guardam mais memórias no âmbito do doméstico, mas sim do público.

AULA 02 – REDAÇÃO 33
Prof.ª Celina Gil

• A exposição desmedida online pode acarretar uma série de problemas, que vão desde crimes até
abalos na saúde mental, pois o olhar do outro se torna mais pesado sobre nós.

FIQUE

ATENTO!

Vários filmes e séries discorrem sobre a questão da internet e das redes sociais. Um dos mais famosos é
a série Black Mirror (2011). Principalmente o episódio “Arkangel” (S.04e.02) pode ser fonte de bons
argumentos aqui!

3 - Propostas
(ITA – 2017)
Texto 1: A mídia realmente tem o poder de manipular as pessoas?

Por Francisco Fernandes Ladeira

À primeira vista, a resposta para a pergunta que intitula este artigo parece simples e óbvia: sim, a
mídia é um poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o frágil cidadão comum é impotente
frenteaos gigantescos e poderosos conglomerados da comunicação é bastante atrativa intelectualmente.
Influentes nomes, como Adorno e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises mais
sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios de comunicação em larga escala moldavam e
direcionavam as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna todos os ouvintes iguais ao
sujeitá-los, autoritariamente, aos idênticos programas das várias estações. No livro Televisão e
Consciência de Classe, Sarah Chucid Da Viá afirma que o vídeo apresenta um conjunto de imagens
trabalhadas, cuja apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e transitoriamente o grande
público. Por sua vez, o psicólogo social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o indivíduo deixava
de ser ele próprio para ser um autômato sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam sempre
impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a concepção de que a mídia seria capaz de manipular
incondicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.

Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de
proposições imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mídia e público são demasiadamente
complexas, vão muito além de uma simples análise behaviorista de estímulo/resposta. As mensagens
transmitidas pelos grandes veículos de comunicação não são recebidas automaticamente e da mesma
maneira por todos os indivíduos. Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original
na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo está envolto em uma “bolha ideológica”,
apanágio de seu próprio processo de individuação, que condiciona sua maneira de interpretar e agir sobre
o mundo. Todos nós, ao entramos em contato com o mundo exterior, construímos representações sobre
a realidade. Cada um de nós forma juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus personagens,

AULA 02 – REDAÇÃO 34
Prof.ª Celina Gil

acontecimentos e fenômenos e, consequentemente, acreditamos que esses juízos correspondem à


“verdade”. [...]

[...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo
recorre como argumento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de
comunicação como quadros ou grupos de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar,
trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social (renda, sexo, idade, grau de instrução,
etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja). “Os vários tipos de
receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática
se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé em seu livro A construção da
política: democracia, cidadania e meios de comunicação de massa. Evidentemente, o peso de cada quadro
de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. Seguindo essa linha de raciocínio, no
original estudo Muito Além do Jardim Botânico, Carlos Eduardo Lins da Silva constatou como
telespectadores do Jornal Nacional acionam seus mecanismos de defesa, individuais ou coletivos, para
filtrar as informações veiculadas, traduzindo-as segundo seus próprios valores. “A síntese e as conclusões
que um telespectador vai realizar depois de assistir a um telejornal não podem ser antecipadas por
ninguém; nem por quem produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao mesmo tempo que aquele
telespectador”, inferiu Carlos Eduardo.
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/a-midia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-as-pessoas/.

(Publicado em 14/04/2015, na edição 846. Acesso em 13/07/2016.)

Texto 2: Vídeos falsos confundem o público e a imprensa

Por Jasper Jackson, tradução de Jo Amado.

Cerca de duas horas depois da divulgação dos atentados de terça-feira (22/03) em Bruxelas,
apareceu um vídeo no YouTube, sob a alegação de que seriam imagens do circuito fechado de televisão
(CCTV), mostrando uma explosão no aeroporto Zaventem, da cidade. As imagens rapidamente se
espalharam pelas redes sociais e foram divulgadas por alguns dos principais sites de notícias. Depois
desse, surgiu outro vídeo, supostamente mostrando uma explosão na estação de metrô Maelbeek,
próxima ao Parlamento Europeu, e ainda um outro, alegando ser do aeroporto.

Entretanto, nenhum dos vídeos era o que alegava ser. Os três vídeos eram gravações de 2011, dois
de um atentado ao aeroporto Domodedovo, de Moscou, e um de uma bomba que explodiu numa estação
de metrô de Minsk, capital da Belarus.

As imagens distorcidas dos clipes do circuito fechado de televisão foram convertidas de cor em
preto e branco, horizontalmente invertidas, novamente etiquetadas e postadas como se tivessem surgido
dos acontecimentos do dia. Embora a conta do YouTube que compartilhou as imagens com falsos
objetivos tenha sido rapidamente tirada do ar, outros veículos as reproduziram dizendo que eram de
Bruxelas.

Os vídeos ilusórios são exemplos de um fenômeno que vem se tornando cada vez mais comum em
quase todas as matérias importantes que tratam de acontecimentos violentos e que ocorrem
rapidamente. Reportagens falsas ou ilusórias espalham-se rapidamente pelas redes sociais e são
acessadas por organizações jornalísticas respeitáveis, confundindo ainda mais um quadro já incrivelmente
confuso.

AULA 02 – REDAÇÃO 35
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A disseminação e divulgação de falsas informações não têm nada de novo, mas a internet tornou
mais fácil plantar matérias e provas falsas e ilusórias, que serão amplamente compartilhadas pelo Twitter
e pelo Facebook.

Alastair Reid, editor administrativo do site First Draft, que é uma coalizão de organizações que se
especializam em checar informações e conta com o apoio do Google, disse que parte do problema é que
qualquer pessoa que publique em plataformas como o Facebook tem a capacidade de atingir uma
audiência tão ampla quanto aquelas que são atingidas por uma organização jornalística. “Pode tratar-se
de alguém tentando desviar propositalmente a pauta jornalística por motivos políticos, ou muitas vezes
são apenas pessoas que querem os números, os cliques e os compartilhamentos porque querem fazer
parte da conversa ou da validade da informação”, disse ele. “Eles não têm quaisquer padrões de ética,
mas têm o mesmo tipo de distribuição.”

Nesse meio tempo, a rápida divulgação das notícias online e a concorrência com as redes sociais
também aumentaram a pressão sobre as organizações jornalísticas para serem as primeiras a divulgar
cada avanço, ao mesmo tempo em que eliminam alguns dos obstáculos que permitem informações
equivocadas.

Uma página na web não só pode ser atualizada de maneira a eliminar qualquer vestígio de uma
mensagem falsa, mas, quando muitas pessoas apenas se limitam a registrar qual o website em que estão
lendo uma reportagem, a ameaça à reputação é significativamente menor que no jornal impresso. Em
muitos casos, um fragmento de informação, uma fotografia ou um vídeo são simplesmente bons demais
para checar.

Alastair Reid disse: “Agora talvez haja mais pressão junto a algumas organizações para agirem
rapidamente, para clicar, para ser a primeira… E há, evidentemente, uma pressão comercial para ter
aquele vídeo fantástico, aquela foto fantástica, para ser de maior interesse jornalístico, mais
compartilhável e tudo isso pode se sobrepor ao desejo de ser certo.”
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/terrorismo/videos-falsos-confundem-o-publico-e-a-imprensa/.

(Publicado originalmente no jornal The Guardian em 23/3/2016. Acesso em 30/03/2016.)

Texto 3

AULA 02 – REDAÇÃO 36
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Texto 4

Os textos e tirinhas lidos na prova tratam de um assunto em comum, focalizando, porém,


diferentes aspectos. Tomando por base esse material, elabore um texto dissertativo em prosa,
sustentando um ponto de vista sobre um desses aspectos.

• Não copie nem parafraseie os textos desta prova.

• Utilize apenas caneta azul ou preta e a folha própria para a redação, respeitando os limites das
linhas.

• Use os espaços em branco destas provas como rascunho.

• A banca examinadora aceitará qualquer posicionamento ideológico do candidato.

Na avaliação de sua redação, serão considerados:

a) clareza e consistência dos argumentos em defesa de um ponto de vista sobre o tema,

b) coesão e coerência do texto e

c) domínio do português padrão.

(IME – 2017)
Texto 1
A CRISE AMBIENTAL
Benedito Braga
Segundo Miller (1985), nosso planeta pode ser comparado a uma astronave que dispõe de
um eficiente sistema de aproveitamento de energia solar e de reciclagem de matéria, deslocando-
se a cem mil quilômetros por hora pelo espaço sideral. Há atualmente na astronave ar, água e
comida suficientes para manter seus passageiros. Tendo em vista o progressivo aumento do
número desses passageiros, em forma exponencial, e a ausência de portos para reabastecimento,

AULA 02 – REDAÇÃO 37
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podem-se vislumbrar, em médio e longo prazos, problemas sérios para a manutenção de sua
população.
Pela segunda lei da termodinâmica, o uso da energia implica degradação de sua qualidade.
Como consequência da lei da conservação da massa, os resíduos energéticos, principalmente na
forma de calor, somados aos resíduos de matéria, alteram a qualidade do meio ambiente no
interior dessa astronave. A tendência natural de qualquer sistema, como um todo, é de aumento
de sua entropia (grau de desordem). Assim, os passageiros, utilizando-se da inesgotável energia
solar, processam, por meio de sua tecnologia e de seu metabolismo, os recursos naturais finitos,
gerando, inexoravelmente, algum tipo de poluição. O nível de qualidade de vida no planeta
dependerá do equilíbrio entre estes três elementos: população, recursos naturais e poluição. Os
aspectos mais relevantes de cada vértice do triângulo formado por esses elementos e suas
interligações são analisados nos itens subsequentes.

1.1 População
A população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6,2 bilhões no ano 2002 (...) e,
atualmente, a taxa de crescimento se aproxima de 1,13% ao ano. De acordo com a analogia da
astronave, isso significa que, nos dias de hoje, ela transporta 6,2 bilhões de passageiros e, a cada
ano, outros 74 milhões de passageiros nela embarcam. Esses passageiros estão divididos em 227
nações nos cinco continentes, poucas das quais pertencem aos chamados países desenvolvidos,
com 19% da população total. As demais são os chamados países em desenvolvimento ou
subdesenvolvidos, com os restantes 81% da população. Novamente, usando a analogia com a
astronave, é como se os habitantes dos países desenvolvidos fossem passageiros de primeira
classe, enquanto os demais viajam no porão. Em decorrência das altas taxas de crescimento
populacional que hoje somente ocorrem nos países menos desenvolvidos, essa situação de
desequilíbrio tende a se agravar ainda mais: em 1950, os países desenvolvidos tinham 31,5% da
população mundial; em 2002, apenas 19,3%; e, em 2050, terão 13,7% (…).
Um casal que tenha cinco filhos, os quais, por sua vez, tenham cinco filhos cada um,
representa, a partir de duas pessoas, uma população familiar de 25 pessoas em duas gerações.
Esse fenômeno vem ocorrendo mundialmente desde meados do século XIX, com a Revolução
Industrial. A partir dessa revolução, a tecnologia proporcionou uma redução da taxa bruta de
mortalidade, responsável pelo aumento da taxa de crescimento populacional anual, apesar de a
taxa de natalidade estar se reduzindo desde aquela época até os dias atuais.
(…)
Dentro dessa perspectiva de crescimento, cabe questionar até quando os recursos naturais
serão suficientes para sustentar os passageiros da astronave Terra. Existem autores, como Lappe
e Collins (1977), que contestam a tese de insuficiência de recursos naturais e responsabilizam a
má distribuição da renda e a má orientação da produção agrícola pela fome do mundo hoje.

1.2 Recursos naturais


Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas
necessitam para sua manutenção, sendo, portanto, algo útil. Há uma estreita relação entre
recursos naturais e tecnologia, toda vez que ocorrerem processos tecnológicos para utilização de

AULA 02 – REDAÇÃO 38
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um recurso. Exemplo típico é o magnésio, até pouco tempo não era considerado um recurso
natural e passou a sê-lo quando se descobriu como utilizá-lo na confecção de ligas metálicas para
aviões. Recursos naturais e economia interagem de modo bastante evidente, pois algo é recurso
na medida em que sua exploração é economicamente viável. Exemplo dessa situação é o álcool,
que, antes da crise do petróleo de 1973, apresentava custos de produção extremamente elevados
em relação aos custos de exploração de petróleo. Hoje, no Brasil, apesar da diminuição do
Proálcool, o álcool ainda pode ser considerado um importante combustível para automóveis e um
recurso natural estratégico de alta significância uma vez que há possibilidade de sua renovação e
consequente disponibilidade. Sua utilização efetiva depende de análises políticas e econômicas
que poderão ser revistas sempre que necessário.
Finalmente, algo se torna recurso natural caso sua exploração, processamento e utilização
não causem danos ao meio ambiente. Assim, na definição de recurso natural, encontramos três
tópicos relacionados: tecnologia, economia e meio ambiente.

1.3 Poluição
Completando o terceiro vértice do triângulo, como resultado da utilização dos recursos
naturais pela população surge a poluição que é uma alteração indesejável nas características
físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera, podendo causar prejuízo à
saúde, à sobrevivência ou às atividades dos seres humanos e outras espécies ou ainda deteriorar
materiais. Para fins práticos, em especial do ponto de vista legal de controle da poluição,
acrescentamos que o conceito de poluição deve ser associado às alterações indesejáveis
provocadas pelas atividades e intervenções humanas no ambiente. Desse modo, uma erupção
vulcânica, apesar de poder ser considerada uma fonte poluidora, é um fenômeno natural não
provocado pelo homem e que foge ao seu controle, assim como outros fenômenos naturais, como
incêndios florestais, grandes secas ou inundações.
Poluentes são resíduos gerados pelas atividades humanas, causando um impacto
ambiental negativo, ou seja, uma alteração indesejável. Dessa maneira, a poluição está ligada à
concentração, ou quantidade de resíduos presentes no ar, na água ou no solo. Para que se possa
exercer o controle da poluição de acordo com a legislação ambiental, definem-se padrões e
indicadores de qualidade do ar (concentrações de CO, NOx, SOx, Pb etc.), da água (concentração
de O2, fenóis e Hg, pH, temperatura etc.) e do solo (taxa de erosão etc.) que se deseja respeitar
em um determinado ambiente.
Os efeitos detectados mais recentemente, como o efeito estufa e a redução da camada de
ozônio, ainda não são bem conhecidos, mas podem trazer consequências que afetarão o clima e
o equilíbrio do planeta como um todo. É importante um esforço conjunto e sem precedentes para
que se possa conhecer esses efeitos e controlá-los de modo eficaz. Os efeitos globais têm
contribuído bastante para a sensibilização recente da sociedade sobre questões ambientais,
merecendo destaque na mídia e na agenda de políticos e grupos ambientalistas em todo o
planeta. Isso talvez possa ser explicado pela incerteza que os humanos passaram a experimentar
em relação à própria sobrevivência da espécie e pela constatação de sua incapacidade de
entender e controlar os processos e as transformações ambientais decorrentes de suas
atividades. Até recentemente, acreditava-se que a inteligência e a tecnologia resolveriam

AULA 02 – REDAÇÃO 39
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qualquer problema e que não havia limites para o desenvolvimento da espécie e para a utilização
de matéria e energia na busca de conforto e qualidade de vida.
BRAGA, Benedito et alli. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2005, 2a Ed, pp. 2-6. (Texto adaptado).

Texto 2
O HOMEM: AS VIAGENS
Carlos Drummond de Andrade
1
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua

2
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.

3
Vamos para Marte – ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

4
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?

5
Claro – diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,

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vê o visto – é isto?
idem
idem
idem.

6
O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

7
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

8
Restam outros sistemas fora
do solar a colonizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
ANDRADE, Carlos Drummond. Nova reunião: 19 livros de poesia – 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, pp. 448-450.

AULA 02 – REDAÇÃO 41
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Texto 3
OS LUSÍADAS
CANTO PRIMEIRO
Luís de Camões
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis, que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles, que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando;
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

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(…)
106
No mar tanta tormenta e tanto dano
Tantas vezes a morte apercebida
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida
Onde pode acolher-se um fraco humano
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
CAMÕES, Luís de (1524-1580). Os Lusíadas. São Paulo: Abril Cultural, [1572] 1979, pp. 29-31 e 61.

Podemos observar, ao longo da história, o caráter inovador das artes e das ciências, em
geral. Artes e ciências, no entanto, não abrem mão daquilo que já foi pensado. É a capacidade de
lançar um olhar crítico e, ao mesmo tempo, inovador que determinará a originalidade dessa
produção. Na arte, assim como na ciência, podemos dizer que há uma constante ressignificação,
sem o que uma e outra (arte e ciência) deixariam de existir: é preciso inovar, sempre.
A busca pela novidade é quase uma imposição na maioria das sociedades, sendo mesmo
uma cobrança do próprio indivíduo a si mesmo. Apesar de estarmos vivenciando constantes
mudanças, é fácil perceber que o homem não está jamais satisfeito. A partir das ideias
desencadeadas nesta prova, produza um texto dissertativo-argumentativo discorrendo sobre a
insatisfação quase perene que conduz a história da humanidade. Em sua escrita, atente para as
seguintes considerações:
1. privilegie a norma culta da língua portuguesa. Eventuais equívocos morfossintáticos, erros de
regência, concordância, coesão e coerência, bem como desvios da grafia vigente e a não
observância das regras de acentuação serão penalizados;
2. seu texto deverá ter entre 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas.

(EPCAR – 2019)
TEXTO I

Rap: uma linguagem dos guetos

Entre as vozes que se cruzam na cacofonia urbana da sociedade globalizada, há uma que se
sobressai pela sua radicalidade marginal: o rap. A moderna tradição negra dos guetos norte-americanos
é, hoje, cantada pelos jovens das periferias de todos os quadrantes do globo. Mas diferentemente das
estereotipias produzidas pela nação hegemônica e difundidas em escala planetária, a cultura hip-hop
costuma ser assimilada como uma fala histórica essencialmente crítica por uma juventude com tão

AULA 02 – REDAÇÃO 43
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escassas vias de fuga ao sempre igual. Quando, por exemplo, jovens de uma favela brasileira incorporam
esta linguagem tornada universal, por mais que a sua realidade seja diferente daquela dos marginalizados
do país de origem, a forma permanece associada a um conteúdo crítico – uma visão de mundo subalterna
e frequentemente subversiva.

O rap é hoje uma forma de expressão comunitária, por meio da qual se comunicam e afirmam
sua identidade habitantes dos morros e comunidades populares. /.../

O surgimento do movimento hip-hop nos remete ao contexto no qual estavam inseridos os


Estados Unidos dos anos 60 e 70, no auge da Guerra Fria. Foram anos de tensão e muita agitação política.
O descontentamento popular com a guerra do Vietnã somava-se à pressão das comunidades negras
segregadas, submetidas a leis similares às do apartheid sul-africano. O clima de revolta e inconformismo
tomava conta dos guetos negros. /.../

Na trilha da agitação política ocorriam inovações culturais. Nos guetos, o que se ouvia era o soul,
que foi importante para a organização e conscientização daquela população. /.../ No mesmo período
surge uma variedade de outros ritmos, como o funk, marcados por pancadas poderosas que causavam
estranhamento aos brancos, letras que invocavam a valorização da cultura negra e denunciavam as
condições às quais eram submetidas as populações dos guetos. O soul e o funk foram as bases musicais
que permitiram o surgimento do rap, que virá a ser um dos elementos do movimento hip-hop.

Por essa época ou um pouco antes, jovens negros já dançavam [o break] nas ruas ao som do soul
e do funk de uma forma inovadora, executando passos que lembravam ao mesmo tempo uma luta e os
movimentos de um robô. /.../

Finalmente, além da música e da dança, propagava-se pelos guetos, ainda, o hábito de desenhar
e escrever em muros e paredes. /.../ Nesse contexto de efervescência político-cultural, grafiteiros,
breakers e rappers começaram a se reunir para realizar eventos juntos, afinal suas artes estavam
relacionadas a uma experiência comum, a cultura de rua. /.../

Por volta de 1982, o rap chegou ao Brasil, fixando-se, sobretudo, em São Paulo. /.../

Nos últimos anos da década de 90, o rap brasileiro ultrapassou os limites da periferia dos grandes
centros e chegou à classe média. /.../ O rap de caráter mais comercial passou então a ser amplamente
difundido pelo país, ao mesmo tempo em que, em sua forma marginal, a linguagem continuava a se
desenvolver nos espaços populares.

Há que se destacar o caráter inovador do rap nacional, que reelabora, de forma criadora, a partir
de tradições populares brasileiras, a linguagem dos guetos norte-americanos, mesclando o ritmo do Bronx
a gêneros como o samba e a embolada. /.../

Não se trata, no entanto, de idealizar o hip-hop como forma de conhecimento. O movimento,


seguramente, não é homogêneo: possui tendências mais ou menos politizadas, mais ou menos engajadas
e críticas. Há, por assim dizer, uma vertente cuja tônica é a denúncia, a agitação e o protesto. Outra,
espontânea, sem uma linha política coerente e definida. E outra ainda, talvez hegemônica, já assimilada
pelo mercado, que reproduz o modelo de comportamento, aspirações e ideais dominantes (consumismo,
individualismo e exaltação da vida privada), como a maioria das canções ditas "de massa".

(COUTINHO, Eduardo Granja, ARAÚJO, Marianna. Rap: uma linguagem dos guetos. In: PAIVA, Raquel, TUZZO,
Simone Antoniaci (Orgs.). Comunidade, mídia e cidade: possibilidades comunitárias na cidade hoje. Goiânia: FIC/UFG, 2014.)

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TEXTO II

A Marselhesa do subúrbio

Sérgio Martins

Tchudum, tchá, tchá, tchá, tchá, tchudum, tchá, tchá, tchá, tchá, tchudum\ São 2 horas da manhã
numa casa noturna de São Paulo e os frequentadores estão dançando uma batida eletrônica repetitiva.
Dali a uma hora e meia, MC Guimê, o principal nome do funk ostentação, fará seu show, acompanhado
de um DJ e de duas dançarinas, e com a participação especial do rapper Emicida. /.../ Encontram-se ali
jovens de bairros suburbanos – os meninos com correntes douradas, as meninas com saia bem curtinha,
e todos com roupas de grife – e também os chamados “playboys”. Quando Guimê finalmente sobe ao
palco, a temperatura da casa parece subir. Por quarenta minutos, ele intercala canções de seu repertório
com sucessos de outros funkeiros, canta o rap do quarteto Racionais MC’s e cita o Salmo 23 (“O senhor é
meu pastor / Nada me faltará”). Nada falta mesmo: suas letras carregam uma tal profusão de marcas –
carros, roupas, perfumes, bebidas – que até se poderia suspeitar de vultosos contratos de merchandising.
Não é o caso. Para Guimê, natural da periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, falar desses objetos
de consumo – e, acima de tudo, adquirilos – é uma aspiração realizada, uma senha para a entrada na
sociedade. O público não só entende como compartilha o sonho de Guimê: muitos fãs, no meio da dança,
erguem garrafas de uísque escocês como se fossem troféus. Festas e shows assim se repetem por outras
cidades e clubes. Como tantos gêneros musicais que vieram das áreas urbanas mais pobres, o funk já
conquistou parte da classe média. Mas é sobretudo entre a garotada da periferia que ele tem a
ressonância de uma Marselhesa: um hino de cidadania e identidade para os jovens das classes C, D e E.
/.../

(Revista Veja, 29 de janeiro de 2014, p. 73 e 74)

TEXTO III

LADO BOM

Ferréz

Periferia tem seu lado bom Sua paz é você que define.
Manos, vielas, e futebol no campão. E nessa pipa no céu eu vi planar
Meninas com bonecas e não com filhos A paz necessária para se avançar
Planejando assim um futuro positivo Ânimo, positivismo em ação.
Sua paz é você que define. Hip-Hop cultura de rua e educação
Longe do álcool, longe do crime. Foi assim que criaram e assim que tem que ser
A escola é o caminho do sucesso O mestre de cerimônia rimando pra você
Pro pobre honrar desde o começo Enquanto o DJ troca as bases
E dizer bem alto que somos a herança O grafiteiro pinta todo contraste
De um país que não promoveu as mudanças Da favela pro mundo
Sem atrasar ninguém rapaz O caminho do rap pelo estudo
Fazendo sua vida se adiantar na paz Por isso eu não me iludo
Jogando bolinha, jogando peão Roupa de marca não é meu escudo
Vi nos olhos da criança a revolução Detentos já te disse no começo
Que solta a pipa pensando em voar E estudar do sucesso é o preço

AULA 02 – REDAÇÃO 45
Prof.ª Celina Gil

Para não ver o barraco que era o seu lar Porque a fama não cabe num coração pequeno
Periferia lado bom o que você me diz Então positivismo pra vencer vai vendo
Alguns motivos pra te deixar feliz (...)
Longe do álcool, longe do crime.
(http:/www.misixmatch.com - acesso em: 11/05/2018)

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte questionamento:

Como a cultura de rua pode ser utilizada para melhorar a vida na sociedade?

Orientações

• Considere os textos da prova de Língua Portuguesa como motivadores e fonte de dados. Não os copie,
sob pena de ter a redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as letras maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

• Dê um título a sua redação.

(AFA – 2018)
Texto I.
MAIS QUE ORWELL, HUXLEY PREVIU NOSSO TEMPO
Hélio Gurovitz
Publicado em 1948, o livro 1984, de George Orwell, saltou para o topo da lista dos mais vendidos
(...) A distopia de Orwel, mesmo situada no futuro, tinha um endereço certo em seu tempo: o stalinismo.
(...) O mundo da “pós-verdade”, dos “fatos alternativos” e da anestesia intelectual nas redes sociais mais
parece outra distopia, publicada em 1932: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
Não se trata de uma tese nova. Ela foi levantada pela primeira vez em 1985, num livreto do teórico
da comunicação americano Neil Postman: Amusing ourselves to death (Nos divertindo até morrer),
relembrado por seu filho Andrew em artigo recente no The Guardian. “Na visão de Huxley, não é
necessário nenhum Grande Irmão para despojar a população de autonomia, maturidade ou história”,
escreveu Postman. “Ela acabaria amando sua opressão, adorando as tecnologias que destroem sua
capacidade de pensar. Orwell temia aqueles que proibiriam os livros. Huxley temia que não haveria motivo
para proibir um livro, pois não haveria ninguém que quisesse lê-los. Orwell temia aqueles que nos
privariam de informação. Huxley, aqueles que nos dariam tanta que seríamos reduzidos à passividade e
ao egoísmo. Orwell temia que a verdade fosse escondida de nós. Huxley, que fosse afogada num mar de
irrelevância.
No futuro pintado por Huxley, (...) não há mães, pais ou casamentos. O sexo é livre. A diversão está
disponível na forma de jogos esportivos, cinema multissensorial e de uma droga que garante o bem-estar

AULA 02 – REDAÇÃO 46
Prof.ª Celina Gil

sem efeito colateral: o soma. Restaram na Terra dez áreas civilizadas e uns poucos territórios selvagens,
onde grupos nativos ainda preservam costumes e tradições primitivos, como família ou religião. “O mundo
agora é estável”, diz um líder civilizado. “As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o
que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não têm medo da morte;
vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm
esposas, nem filhos, nem amantes por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal
modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem. E se, por acaso, alguma coisa andar
mal, há o soma.”
Para chegar à estabilidade absoluta, foi necessário abrir mão da arte e da ciência. “A felicidade
universal mantém as engrenagens em funcionamento regular; a verdade e a beleza são incapazes de fazê-
lo”, diz o líder. “Cada vez que as massas tomavam o poder público, era a felicidade, mais que a verdade e
a beleza, o que importava.” A verdade é considerada uma ameaça; a ciência e a arte, perigos públicos.
Mas não é necessário esforço totalitário para controlá-las. Todos aceitam de bom grado, fazem “qualquer
sacrifício em troca de uma vida sossegada” e de sua dose diária de soma. “Não foi muito bom para a
verdade, sem dúvida. Mas foi excelente para a felicidade.
No universo de Orwell, a população é controlada pela dor. No de Huxley, pelo prazer. “Orwell
temia que nossa ruína seria causada pelo que odiamos. Huxley, pelo que amamos”, escreve Postman. Só
precisa haver censura, diz ele, se os tiranos acreditam que o público sabe a diferença entre discurso sério
e entretenimento. (...) O alvo de Postman, em seu tempo, era a televisão, que ele julgava ter imposto uma
cultura fragmentada e superficial, incapaz de manter com a verdade a relação reflexiva e racional da
palavra impressa. O computador só engatinhava, e Postman mal poderia prever como celulares, tablets e
redes sociais se tornariam bem mais que a TV o soma contemporâneo. Mas suas palavras foram
prescientes: “O que afligia a população em Admirável mundo novo não é que estivessem rindo em vez de
pensar, mas que não sabiam do que estavam rindo, nem tinham parado de pensar”.
(Adaptado, Revista Época nº 973 – 13 de fevereiro de 2017, p.67)
Distopia = Pensamento, filosofia ou processo discursivo caracterizado pelo totalitarismo, autoritarismo e
opressivo controle da sociedade, representando a antítese de utopia. (BECHARA, E. Dicionário da língua
portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2011, p.533)

Texto II
REDES SOCIAIS E COLABORAÇÃO EXTREMA: O FIM DO SENSO CRÍTICO?
Eugênio Mira
Conectados. Essa palavra nunca fez tanto sentido quanto agora. Quando se discutia no passado
sobre como os homens agiriam com o advento da aldeia global (...) não se imaginava o quanto esse
processo seria rápido e devastador.
(...) quando McLuhan apresentou o termo, em 1968, ele sequer imaginaria que não seria a
televisão a grande responsável pela interligação mundial absoluta, e sim a internet, que na época não
passava de um projeto militar do governo dos Estados Unidos.
A internet mudou definitivamente a maneira como nos comunicamos e percebemos o mundo.
Graças a ela temos acesso a toda informação do mundo à distância de apenas um toque de botão. E
quando começaram a se popularizar as redes sociais, um admirável mundo novo abriu-se ante nossos
olhos. Uma ferramenta colaborativa extrema, que possibilitaria o contato imediato com outras pessoas
através de suas afinidades, fossem elas políticas, religiosas ou mesmo geográficas. Projetos colaborativos,
revoluções instantâneas... Tudo seria maior e melhor quando as pessoas se alinhassem na órbita de seus
ideais. O tempo passou, e essa revolução não se instaurou.
Basta observar as figuras que surgem nos sites de humor e outros assemelhados. Conhecidos como
memes (termo cunhado pelo pesquisador Richard Dawkins, que representaria para nossa memória o
mesmo que os genes representam para o corpo, ou seja, uma parcela mínima de informação), essas
figuras surgiram com a intenção de demonstrar, de maneira icônica, algum sentimento ou sensação. Ao

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Prof.ª Celina Gil

fazer isso, a tendência de ter uma reação diversa daquelas expressas pelas tirinhas é cada vez menor.
Tudo fica branco e preto. Ou se aceita a situação, ou revolta-se. Sem chance para o debate ou
questionamento.
(...)
A situação é ainda mais grave quando um dos poucos entes criativos restantes na internet produz
algum comentário curto, espirituoso ou reflexivo, a respeito de alguma situação atual ou recente... Em
minutos pipocam cópias da frase por todo lugar. Copia-se sem o menor bom senso, sem créditos. Pensar
e refletir, e depois falar, são coisas do passado. O importante agora é copiar e colar, e depois partilhar. As
redes sociais desfraldaram um mundo completamente novo, e o uso que o homem fará dessas
ferramentas é o que dirá o nosso futuro cultural. Se enveredarmos pela partilha de ideias, gestando-as
em nossas mentes e depois as passando a outros, será uma estufa mundial a produzir avanços incríveis
em todos os campos de conhecimento. Se, no entanto, as redes sociais se transformarem em uma rede
neural de apoio à preguiça de pensar, a humanidade estará fadada ao processo antinatural de regressão.
O advento das redes sociais trouxe para perto das pessoas comuns os amigos distantes, os ídolos e as
ideias consumistas mais arraigados, mas aparentemente está levando para longe algo muito mais humano
e essencial na vida em sociedade: o senso crítico. Será uma troca justa?
(http://obviousmag.org/archives/2011/09/redes_sociais_e_colaboracao_extrema_O_fim_do_se
nso_critico-.htm. Adaptado. Acesso em: 21 fev. 2017)

Com base nos textos abaixo e nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu
conhecimento de mundo, escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre a seguinte
questão:
Os efeitos negativos do uso indiscriminado da internet

TEXTO I
“A partilha de informações ganhou proporções nunca imaginadas com a popularização das redes
sociais. Ganhamos agilidade na troca de informações e estamos mais próximos. Mas a troca
indiscriminada de informações descontextualizadas e humor portátil deixa uma questão em aberto:
estamos perdendo o senso crítico?”
(http://obviousmag.org/archives/2011/09/redes_sociais_e_colaboracao_extrema_O_fim_do_se
nso_critico-.html.Fragmento.Acesso em: 21 fev. 2017)

TEXTO II

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Prof.ª Celina Gil

(Estratégia Militares - 2020)


Texto 1.:

“Qualquer morador ou visitante de São Paulo que já tenha caminhado pela Avenida Paulista num
domingo, quando ela fica aberta apenas aos pedestres, já viveu essa experiência de caos: a apenas alguns
metros uns dos outros estão caricaturistas, bandas de jazz, DJs tocando houses e technos, guitarristas
covers de Slayer. Ainda se veem feiras de artesanato, rodas de poesia, oficinas de cartazes – uma soma
de experiências produzidas e desfrutadas na liberdade do espaço público, despertando sorrisos,
desgostos, curiosidade, preguiça, iluminações. Sendo livre, como não poderia ser heterogênea nas
reações que ela provoca?” (Paula Carvalho, Bravo, sem data)
Fonte: < http://bravo.vc/seasons/s05e02> Acesso em 14 Mar. 2019.

Texto 2.:

“São Paulo é mundialmente reconhecida pela potência de sua arte urbana. E o que a faz assim são
as suas próprias características de cidade, positivas e negativas. A vastidão de espaços carentes de cor. A
criatividade que emerge do fluxo territorial e do caos urbano. Os artistas imersos na profusão de
influências, misturas e tendências. A força da periferia, e da arte periférica, aquela que se impõe pela
necessidade, que precisa gritar sua voz, onde seja escutada, sem pedir licença. A rebeldia. A iconoclastia.
A desigualdade e a fobia. A tensão cotidiana de uma cidade sem horizonte ou ponto de fuga, que, em vez
de escoar, concentra e aquece em pressão as sensações, sentimentos, pensamentos e opiniões,
convertidos em expressão simbólica nua e crua. Nas ruas. A paisagem urbana, erigida sob o império da
propriedade, e que requer, como imperativo, tudo aquilo que é público. Como respiro e única alternativa:
a arte pública.” (Juca Ferreira e Guilherme Varella, Nexo Jornal, 29/01/2017)
Fonte: <https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2017/Cidade-linda-coisa-feia> Acesso em 14 Mar. 2019

Texto 3.:

“Grafiteiros e pichadores pintam coisas nas paredes da cidade. A diferença é que os primeiros
produzem coisas coloridas, bonitas, criativas, artísticas. Os outros produzem riscos, palavras
incompreensíveis e sujeiras. Conversei com pessoas que dizem que ambas as manifestações são “irmãs”
e que nascem da mesma vontade de expressão pessoal. É possível que a gênese seja parecida, mas o
resultado, sinceramente, é muito diferente.

Basta andar pela cidade e perceber a diferença: um grafite exprime um pensamento, um


planejamento, a escolha das cores, do desenho, um tempo grande de execução e, principalmente, na
maior parte dos casos, a concordância do dono da parede, seja ele público ou privado. E gera prazer para
quem vê.

A pichação é fruto da adrenalina, da coisa proibida, da exibição. No ano passado, entrevistei um


rapaz que picha. Ele disse que a pichação não é para ser bonita, nem para agradar ninguém. A pichação é
feita para agredir. E ela agride mesmo. E por isso, é ilegal.” (Folha de São Paulo, 29/01/2017)
Fonte: < https://sao-paulo.estadao.com.br/blogs/caminhadas-urbanas/pichacao-e-grafite-e-possivel-negar-veementemente-a-depredacao-ilegal-e-
abracar-incondicionalmente-a-arte-urbana/> Acesso em 14 Mar. 2019.

Por muito tempo, acreditou-se que a arte era uma atividade elevada, que pertencia ao interior dos
prédios do museu. A partir principalmente do século XX, artistas passaram a experimentar produzir arte
em outros ambientes. As ruas das cidades se tornaram campo fértil para a criação artística. O teatro de

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Prof.ª Celina Gil

rua e as performances, o grafitti e os cartazes (também chamados de lambe-lambes) são algumas das
expressões mais comuns de arte urbana. Os movimentos, porém, enfrentam também críticas: questões
como os limites do espaço público e do privado, a vontade de delimitar o que é arte ou não e o caráter
efêmero das manifestações artísticas de rua são alguns dos principais pontos discutidos quando o assunto
é a relação entre arte e rua.

A partir da leitura dos trechos a seguir, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da
língua portuguesa a partir do tema:

Arte urbana: como a arte de rua pode mudar nossa relação com os espaços públicos?

• Considere os textos da prova de Língua Portuguesa como motivadores e fonte de dados. Não os copie,
sob pena de ter a redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as letras maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

• Dê um título a sua redação.

(Estratégia Militares - 2020)


Texto I

Relatórios de respeitadas organizações ambientais defendem que nós, seres humanos, já


estamos consumindo mais do que a capacidade do planeta de se regenerar, alterando o
equilíbrio da Terra. Segundo o relatório Planeta Vivo (WWF, 2008), a população mundial já
consome 30% a mais do que o planeta consegue repor. Outro relatório, o Estado do Mundo
2010, do World Watch Institute (WWI) coloca que hoje extraímos anualmente 60 bilhões de
toneladas de recursos naturais. Isto representa 50% a mais do que extraíamos 30 anos atrás.

É verdade que a população mundial cresceu muito desde sua existência. No século XVIII
(durante a revolução industrial) éramos cerca de 750 milhões de habitantes. Hoje, somos 7,6
bilhões de seres humanos na Terra. E segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a
população mundial deve chegar a 8,6 bilhões de habitantes até 2030.
(Disponível em: <http://www.recicloteca.org.br/consumo/consumo-e-meio-ambiente/> Acesso em 22 abr. 2020)

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Texto II

A população mundial consumiu até hoje (1º) o conjunto dos recursos que a natureza pode produzir
em um ano. E, pelo restante do ano, vai consumir além da capacidade de renovação anual. As informações
são da Global Footprint Network, uma organização não governamental de pesquisa de recursos naturais
e mudanças climáticas.

Em cada ano, desde 1970, este marco é conhecido como o Dia de Sobrecarga da Terra, que
representa o momento em que o consumo de recursos naturais supera o volume que o planeta é capaz
de renovar.

“Essa data representa justamente o movimento que existe hoje no sentido de utilizar uma
produção intensiva de recursos naturais sem retornar e sem aproveitar esses mesmos recursos que já
foram extraídos”, avaliou o Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(Abrelpe), Carlos Silva Filho. “Se não mudarmos o processo de produção e consumo, em um dado
momento, o planeta realmente não vai ter a capacidade de regeneração e uma série de matérias primas
vão ficar realmente esgotadas, escassas ao ponto de não poderem mais serem utilizadas”.

Ele acrescentou que o Brasil consome os recursos da natureza em um ritmo mais acelerado que a
média mundial. “Se fôssemos considerar somente os padrões de produção e consumo do Brasil, o Dia de
Sobrecarga da Terra seria em 19 de julho. O Brasil está no sentido de consumir mais recursos e aproveitar
menos os resíduos do que a média mundial. Então esse é um problema que precisa ser encarado de
frente”.

No Brasil, 20 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos poderiam ser recuperados por ano
com reciclagem, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (Abrelpe), o que representa cerca de 25% do total do lixo gerado. O país ocupa o quinto lugar
na geração de lixo no mundo e, diante dos baixos índices de reaproveitamento, contribui para o
esgotamento dos recursos naturais do planeta, segundo avaliação da entidade.
Disponível em <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/consumo-de-recursos-naturais-superou-que-o-planeta-
pode-renovar-no-ano> Acesso em 07 jul. 2020

Texto III

O consumo é um conceito que vai muito além do “consumismo” ou do consumo de produtos


tangíveis, em especial os encontrados no varejo. Consumimos produtos, serviços, informações e símbolos,
diariamente, consciente ou inconscientemente. O próprio conceito de sustentabilidade tem sido
“consumido” exaustivamente nas últimas décadas. Consumir não é necessariamente negativo e seríamos
incapazes de renunciar a essa prática. Porém, o crescimento do número de pessoas e da capacidade de
produção impõe uma responsabilização individual e coletiva sobre o seu impacto.

A sustentabilidade que costumava ser uma bandeira de especialistas e um assunto visto como
importante, mas de certa forma distante das urgências cotidianas, hoje está no centro do debate social e
econômico. E, no World Economic Forum (WEF), que encerrou na semana passada, em Davos, na Suíça,
não foi diferente. O evento é um dos mais importantes encontros do mundo entre líderes de diferentes
setores e países e serve de palco para governos e empresas apresentarem suas propostas no
equacionamento dessa problemática.

Pela primeira vez, seu relatório anual de riscos globais aponta que aqueles relacionados ao meio
ambiente ocupam agora as primeiras posições, tanto em termos de probabilidade como impacto. Deixou

AULA 02 – REDAÇÃO 51
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de ser um problema setorizado ou regionalizado e, desta forma, nenhuma organização, pública ou


privada, pode prescindir desta questão.

Dentre as temáticas debatidas, uma economia livre de lixo (waste-free economy) atinge
diretamente as estratégias das empresas. Em geral, convivemos com um desconforto relacionado à
questão, mas não temos a real dimensão das marcas que causamos ao meio ambiente. Quantos quilos
de lixo um indivíduo produz anualmente? Estudos apontam que um brasileiro está perto de superar a
geração de 300 quilos de lixo ao ano. Considerando o peso médio do brasileiro (aproximadamente 70kg)
podemos dizer que cada um de nós despeja quatro vezes o seu peso em resíduos. Estamos acima da
média mundial, mas abaixo dos países de alta renda, mesmo que estes representem uma fatia pequena
da população planetária.

Disponível em <https://www.istoedinheiro.com.br/existe-consumo-com-sustentabilidade-ambiental/> Acesso em 07


jul. 2020

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte tema:

Consumo consciente de recursos naturais

Considerações Finais
Não deixe de produzir as redações e enviá-las para correção. É muito importante que você não
acumule redações para a última hora, pois não teremos tempo para corrigir.

Na próxima aula, vamos nos aprofundar no estudo do tópico frasal.

Até lá, procure ler textos relacionados a tecnologia. Assim, você já vai chegar na próxima aula com
bagagem para construir argumentos para suas redações. Qualquer dúvida estamos à disposição no fórum
ou nas redes sociais.

Prof.ª Celina Gil

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AULA 02 – REDAÇÃO 52

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