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ITA 2023

REDAÇÃO

AULA 04
Desenvolvimento II

Prof.ª Celina Gil

www.estrategiamilitares.com.br
Prof.ª Celina Gil

Sumário
Apresentação 3

1 - Repertório de redação 4

Adolescência e juventude 4

Trabalho e suas novas configurações 6

Saúde Mental 7

2 - Desenvolvimento - Tipos de Argumentação 10


2.1 – Tipos de argumentos I. 11
2.2 – Análise de redação 14
2.3 – Tipos de argumentos II. 15
2.4 – Análise de redação 18
2.5 – Exercícios de argumentação 19

3- Prática de redação 31

Considerações Finais 39

Siga minhas redes sociais!

Professora Celina Gil @professoracelinagil @professoracelinagil

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Apresentação
Olá!

Continuaremos aqui nosso estudo sobre o desenvolvimento. Essa é a parte à qual você deve se dedicar
com maior profundidade na sua redação. O importante é investir ema uma argumentação aprofundada!

Na aula de hoje, veremos então:

- Prática e estudo de desenvolvimento dos argumentos a partir de diferentes comprovações;

- Exercícios de identificação de temática; desenvolvimento de argumentos e planejamento de redação; e

- Prática de redação

Nossas aulas de redação serão sempre compostas de 3 partes:

1 - Análise social
Apontamentos acerca de assuntos ligados ao contemporâneo.
Esses apontamentos têm o objetivo de fortalecer seu repertório e auxiliar na
elaboração de argumentos.

2 - Estudo de uma parte da dissertação


Estudo aprofundado de uma das partes que compõe o texto dissertativo.
Vamos passar por introdução, desenvolvimento, conclusão e coesão/coerência.

3- Produção textual
Análise de redações/trechos de redações e/ou exemplo de produção textual.
Propostas de redação inéditas para serem executadas pelo aluno.

Vamos lá?

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1 - Repertório de redação
Nosso repertório de redação de hoje fala sobre questões contemporâneas que frequentemente
podem ser tema de provas.

Tópicos da aula

Adolescência e Trabalho e novas


Saúde Mental
juventude configurações

Adolescência e juventude
Trabalho e estudo
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que 23% dos jovens
brasileiros não trabalham e nem estudam (os chamados jovens nem-nem). A maioria é de
mulheres de baixa renda, um dos maiores porcentuais de jovens nessa situação entre nove
países da América Latina e Caribe. Ainda segundo a pesquisa, 49% se dedicam
exclusivamente ao estudo ou capacitação, 13% só trabalham e 15% trabalham e estudam ao
mesmo tempo. As razões para esse cenário são problemas com habilidades cognitivas e
socioemocionais, falta de políticas públicas, obrigações familiares com parentes e filhos,
entre outros. Embora o termo nem-nem possa induzir à ideia de que os jovens são ociosos
e improdutivos, 31% deles estão procurando trabalho, principalmente os homens, e mais da
metade – cerca de 64% – dedica-se a trabalhos de cuidado doméstico e familiar,
principalmente as mulheres. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar conversou
com o professor Ruy Braga, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da USP, especialista em Sociologia do Trabalho.
Para Braga, essa geração nem-nem é um fenômeno que já ocorre há algum tempo no
mercado de trabalho brasileiro e não apresenta aspectos positivos para o País. O problema
é que esse número vem aumentando exponencialmente nos últimos anos. Tal aumento se
deu, segundo o professor, pela recente crise econômica e política, “que acaba se
transformando em uma espécie de crise social generalizada”, atingindo principalmente a
juventude, camada mais suscetível ao desemprego. Um dos motivos para esse fenômeno é
a baixa qualificação dos jovens, que acabaram de entrar no mercado de trabalho e, portanto,
são menos experientes. Outro motivo seria o colapso do sistema educacional, que não é
capaz de atrair o jovem para os estudos.
(Jornal da USP, Número de jovens que nem estudam nem trabalham cresceu com a crise, 18/12/2018. Disponível em:
<https://jornal.usp.br/atualidades/numero-de-jovens-que-nem-estudam-nem-trabalham-cresceu-com-a-crise/>
Acesso em 13/11/2020)

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Novos modos de vida


"Freegans" vivem de lixo para reverter desperdício
Movimento que prega existência frugal e combate consumo ganha força nos EUA
Sob filosofia da reciclagem e reaproveitamento, adeptos evitam compras e coletam
alimentos jogados fora por mercados e restaurantes
Denyse Godoy, de Nova York

Eles podem representar os primórdios ou o futuro da humanidade. Os freegans -"free"


(livre ou grátis) + "vegan" (vegetariano)- valorizam o senso de comunidade e obtêm os meios
para sua subsistência principalmente da coleta. Em um momento de grande preocupação
com a ameaça aos habitantes do planeta que a mudança climática apresenta, e sendo o
estilo de vida dos homens apontado como o grande responsável, a filosofia freegan, que
nasceu nos EUA em meados da década de 1990, tem ganhado mais força e adeptos.
"Eu estava com mais ou menos 17 anos quando decidi me recusar a participar desse
sistema de grandes corporações que exploram o trabalho alheio, do hábito de consumir por
consumir, da extrema competição entre as pessoas. Resolvi não compactuar com o
capitalismo", explica Adam Weissman, 29, um dos líderes dos freegans em Nova York. Ao
menos uma vez por semana eles se encontram nas ruas da rica Manhattan para conseguir
alimentos. E, já que a palavra comprar não faz parte do seu vocabulário, a tática que lhes
resta é o chamado "dumpster diving" -um mergulho exploratório no lixo.
(Folha de São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007 )

Maioridade penal
A maioridade penal a partir dos 18 anos está estabelecida na Constituição de 1988, no artigo
228, que afirma que os menores de idade são inimputáveis e estão sujeitos a norma especial.
Mas por que 18 anos, e não qualquer outra idade? Isso tem a ver com a chamada doutrina
da proteção integral, uma diretriz internacional criada a partir da Convenção Internacional
dos Direitos da Criança, adotada pela Organização das Nações Unidas em 1989.
Apesar de que a convenção não determina qual idade deve ser escolhida para a maioridade
penal, ela define como criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade. O Brasil e
quase todos os países do mundo são signatários desse tratado e grande parte deles baseia
seu sistema penal para jovens a partir dessa convenção.
A doutrina da proteção integral aparece mais claramente no artigo 227 da Constituição, que
fala sobre a obrigação da família, da sociedade e do Estado de assegurar, com prioridade
absoluta, os direitos fundamentais da criança, do adolescente e do jovem. Por tudo isso,
antes de completar 18 anos de idade, uma pessoa não pode ser responsabilizada como um
adulto no Brasil.
Disponível em <https://www.politize.com.br/maioridade-penal/> Acesso em 26 mar. 2021

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Trabalho e suas novas configurações

O profissional do século XXI


10 de dezembro de 2007
E como dever ser o profissional do século XXI? Bem, ele deve possuir muitas características,
entre elas, empreendedorismo, resiliência, proatividade, liderança energizadora,
percepção, comunicação, persuasão, assertividade, criatividade, cultura, humanismo.
Todas elas têm sido muito requisitadas pelas empresas, mas devemos lembrar que não se
trata de buscar profissionais supra-humanos, visto que isso é impossível e têm levado muitos
a um nível elevado de estresse. Trata-se, apenas, de reconhecer seus potenciais e limitações,
e a partir daí, de forma equilibrada e estruturada, buscar o autodesenvolvimento.
Também não podemos esquecer da relevância da tecnologia na vida de um profissional
globalizado. Independentemente da área do conhecimento, ela fornece a base conceitual
necessária a uma evolução do pensamento e da análise. Ainda, a utilização de ferramentas
tecnológicas é um fator de diferenciação no mercado de trabalho. Compreender claramente
o ambiente altamente tecnológico em que vivemos e suas correlações é fundamental para
qualquer profissional, mas nada exacerbado que nos torne consumidores compulsivos
dessas tecnologias. Por outro lado, os profissionais não podem ficar desatualizados com tal
evolução e devem saber usá-la a seu favor para gerar resultados efetivos.
(Acessado em https://administradores.com.br/noticias/o-profissional-do-seculo-xxi, disponível em 28.05.2019)

Trabalho ininterrupto
Embora exista a ideia corrente de que é extremamente importante estarmos sempre
fazendo alguma coisa, produzindo, inventando, inovando, investindo em nosso tempo e em
nossa imagem, "fazendo a diferença", como dizem alguns especialistas, é importante
perceber que os grandes momentos de criação estão intimamente ligados aos períodos em
que supostamente alguém não estava fazendo nada de especial.
(...)
Segundo alguns relatos, o excepcional Einstein, por exemplo, passava horas olhando trens
se deslocando sobre os trilhos de uma estação ferroviária. A partir dessas suas ociosas
observações nasceram novos e revolucionários conceitos e teorias sobre o tempo, o espaço
e a matéria que mudaram totalmente os rumos da ciência. Mas com certeza não foram
poucos os que o achavam um homem esquisito e sem nada de mais interessante e útil para
fazer.
(disponível em http://www.plurall.com/forum/cultura-trance/textos-poesias/27120-importancia-nao-fazer-nada/, site
consultado em 04.07.2011)

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Saúde Mental

O termo “saúde mental” tem entrado no nosso vocabulário e se tornou popular entre as pessoas
mais jovens devido a uma série de acontecimentos.

Segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-
estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser
produtivo e contribuir com a sua comunidade1.

Para a ONU, a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais, como ansiedade
(também chamado de transtorno de ansiedade generalizado), depressão, transtorno bipolar etc. É o bem-
estar físico, mental e social. Não é apenas uma questão clínica: fatores socioeconômicos podem
influenciar numa perda da saúde mental.

Questões recentes sobre o assunto:

Relação com as drogas:


Tiroteio na escola em
Abuso de medicação a discussão da
Suzano: debate sobre a
como ansiolíticos e internação
saúde mental entre os
antidepressivos compulsória a
jovens.
dependentes químicos

Saúde mental na
Busca pelos padrões pandemia e em O preconceito contra
de beleza e sociais tempos de isolamento pessoas neuroatípicas
social

Sociedade do cansaço
Um termo que tem aparecido frequentemente em discussões acerca do contemporâneo é
Sociedade do cansaço. Vamos investigar um pouco esse termo para que você possa ser capaz de utilizar
essas ideias em sua redação.
Byung-Chul Han (1959 - ), professor e filósofo sul-coreano, abre seu livro homônimo com a frase
“Cada época possuiu suas enfermidades fundamentais”. É a partir dessa ideia de que ele desenvolve o
conceito. Vivemos em uma sociedade que enfrenta um aumento considerável de doenças como
depressão e transtornos de personalidade, além de síndromes como hiperatividade e Burnout – distúrbio
psíquico que advém de um grande esgotamento físico e mental. Para ele, vivemos num momento de
violência neuronal.
Um elemento identificado pelo filósofo como possível causa para isso está em nossa cobrança
constante por sucesso. Nossa sociedade é focada no desempenho: nos cobramos cada vez mais para
apresentar resultados. Isso se torna agravado por uma ideologia da positividade: sentimos que devemos
ser felizes, positivos, animados e bem-sucedidos o tempo todo. Basta ver como o mercado de discursos
motivacionais cresce sem parar desde o início do século XXI. O problema é que esse reforço motivacional
constante já mostra seus efeitos colaterais.

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INDO MAIS

FUNDO!

SOCIEDADE DO DESEMPENHO
Outro termo utilizado pelo filósofo no livro “A sociedade do cansaço” é sociedade do
desempenho. Para ele, a necessidade de obter sempre excelência em tudo o que
fazemos é um modo de manter os sujeitos controlados e disciplinados.
Dito de outra forma, não buscamos mudar as estruturas – mesmo aquelas que são
prejudiciais a nós mesmos – porque sentimos forte necessidade de sempre obtermos
o máximo de desempenho em tudo o que fazemos.
Numa sociedade guiada pelo desempenho, é preciso ter sempre novos projetos, alta
produtividade, iniciativas e metas a serem batidas. Por vezes essas imposições vêm de
figuras hierarquicamente acima de nós – chefes, por exemplo – por outras, são
impostas por nós mesmos.

É possível pensar em diversos temas a partir dessas ideias:


- A saúde mental no contemporâneo.
- O reforço às ideias de empreendedorismo, ou seja, a valorização da iniciativa pessoal
no mercado de trabalho.
- A necessidade de se encaixar nos padrões da sociedade – de comportamento e
pensamento.
- O crescimento da indústria da motivação e dos produtos motivacionais no
contemporâneo.

A sociedade do cansaço é um repertório que pode ser utilizado em diferentes assuntos, por
exemplo:

Necessidade de se
Empreendedorismo e
Saúde mental no encaixar em padrões
iniciativa pessoal no
contemporâneo de comportamento e
mercado de trabalho
pensamento

Indústria da
motivação e produtos
motivacionais

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ZONA DE SPOILER!!
Bicho de sete cabeças (2000) Dir.: Um dia de fúria (1993) Dir.: Joel Foi apenas um sonho (2008) Dir.:
Laís Bodanzky Schumacher Sam Mendes

Neto é um jovem de classe média Bill Foster é um homem ordinário de Em 1955, o casal Frank e April está
que vive uma vida comum. Um dia, vida comum. Um dia, tentando vivendo uma crise no seu casamento.
seu pai descobre drogas em seu chegar em casa para o aniversário Ele trabalha 10 horas por dia e ela
bolso e decide mandá-lo para uma da filha, ele perde a paciência, tem cuida da casa em um convencional
instituição psiquiátrica. Lá, ele um surto de raiva e começa a subúrbio. Eles começam a planejar
descobre uma realidade absurda e resolver seus problemas – mesmo modos de se rebelar contra o tédio
desumana. os insignificantes – com violência. de suas vidas.

Relatos Selvagens (2014) Dir.: As vantagens de ser invisível Cisne Negro (2010) Dir.: Darren
Damián Szifron (2012) Dir.: Stephen Chbosky Aronofsky

O filme se divide em seis episódios. Charlie é um adolescente de 15 anos Nina é uma bailarina cuja vida é
Em cada uma das pequenas lidando com muitas questões: seu completamente consumida pela
histórias, explora-se o modo como melhor amigo se suicidou, seu dança. Haverá uma nova montagem
reagimos a situações extremas e primeiro amor, suas tentativas de se do Lago dos Cisnes na companhia e
como lidamos com stress. Atente- encaixar na sociedade e encontrar Nina é a primeira escolha para o
se principalmente aos episódios pessoas com as quais se identifique papel principal do espetáculo. Ela
Bombita e Hasta que la muerte nos e sua própria saúde mental. Ele está enfrenta, porém, a competição com
separe. buscando seu lugar no mundo. outra bailarina, Lily, para o papel.

FIM DO SPOILER
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2 - Desenvolvimento - Tipos de Argumentação


Há alguns modos de construir sua argumentação que podem deixar seu texto completo. É sempre
importante relembrar, também, que o seu repertório não é o seu argumento. Ainda que possa se
confundir em determinado ponto, o seu argumento é uma coisa e o seu repertório é outra coisa.

Analogia (ou comparação)

•Partindo do princípio que se deve tratar os iguais como iguais, a comprovação por analogia faz uso de
exemplos de casos semelhantes para comprovar uma ideia.

Autoridade (ou por citação)

•A comprovação por autoridade faz uso das falas ou preceitos de um especialista no assunto, reconhecido
publicamente ou presente nos textos de apoio, para corroborar as suas ideias.

Causa e consequência

•Para comprovar a ideia, buscam-se relações de causa e consequência, ou seja, de motivos e efeitos
resultantes.

Dados

•Aqui, a ideia é sustentada a partir dos dados concretos apresentados (como estatísticas e porcentagens).

Exemplificação

•Aqui, o autor baseia a defesa de seu argumento em exemplos representativos.

Literatura e demais produtos culturais

•Aqui utilizamos obras cânone, ou seja, aquelas considradas clássicas.

Vamos passar por alguns dos modos de argumentar para que você possa praticar um pouco a
feitura de cada um deles.

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2.1 – Tipos de argumentos I.


Vamos partir de dois pequenos textos de apoio para compreender que argumentos poderiam ser
desenvolvidos. Já partiremos de um tema, recorte temático e tese desenvolvidos.

Texto 1.

Vivemos a era da informática, das informações livres e da acessibilidade fácil e rápida a elas. As
tecnologias se renovam, incessantemente, favorecendo e permitindo o contato das pessoas a todos os
assuntos, a todos os lugares e a hora que quiserem. Esta é a internet, o mundo de possibilidades que se
veio de fato para ficar e hoje o mundo não existiria sem ela. A internet é o sol no centro deste sistema
globalizado que aquece a tudo e todos. Mas acontece que, como tudo nesta vida, a lei criacionista de
“causa e efeito” sintetiza uma máxima: tudo que é demais enjoa. Enjoa, mas também adoece. Muitos
problemas e dificuldades despontaram por conta do surgimento da internet. Problemas que nem ousarei
enumerar, mas quando refletimos quais seriam eles, rapidamente identificamos. Admito que muitos já
existiam e que a internet só acentuou sua gravidade. Me limitarei a um agravante que recebe pompas de
transtorno, reconhecido pela Associação Americana de Psicólogos como uma dependência tão crônica
quanto à de substâncias como álcool e cocaína, a Internet Addiction Disorder (Transtorno do Vício de
Internet).

Disponível em: <https://canaltech.com.br/comportamento/O-Transtorno-do-Vicio-em-Internet/> Acesso em:


ago.2019.

Texto 2.

Jovens da geração da internet constantemente interagem remotamente com pessoas de todo


lugar, literalmente, de tal modo que, mesmo quando estão interagindo com uma pessoa que conhecem,
essa pessoa está atrás de uma tela. Sob condições ancestrais, nossos antepassados só se comunicavam
cara a cara, em contextos em que não havia desindividualização. Em suma, hoje é muito mais fácil os
jovens serem mesquinhos e cruéis uns com os outros do que foi em qualquer momento passado da
história humana, graças à internet. E resultados sociais que geram sofrimento podem, sem dúvida alguma,
exercer consequências graves sobre a saúde mental.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/08/1907983-com-internet-cada-vez-mais-jovens-


sofrem-de-depressao-e-ansiedade.shtml> Acesso em ago. 2019.

A partir desses textos de apoio, pode-se depreender que um possível tema, recorte temático e a
tese a ser desenvolvida na redação são, respectivamente:

TEMA: Relação do homem com a tecnologia.

RECORTE TEMÁTICO: O vício em internet.

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TESE: A internet deve ser utilizada com responsabilidade, pois o vício nessa tecnologia pode trazer
problemas à saúde mental e, por consequência, prejudicar outras áreas da vida não necessariamente
ligadas ao mundo virtual.

Comprovação por analogia


Um analogia é uma relação de semelhança entre coisas ou fatos distintos. Normalmente ele segue
uma relação lógica entre os termos a partir de suas semelhanças.

Ex.: Esse doente apresenta manchas avermelhadas pelo corpo, febre e mal estar intenso.

Manchas avermelhadas pelo corpo, febre e mal estar intenso são sintomas do sarampo.

Logo, esse doente tem sarampo.

Nas orações, é a recorrência de elementos idênticos que permite a analogia: se o doente possui
características que o sarampo causa, então o doente tem sarampo.

Também pode aparecer como uma associação entre pares não semelhantes. Na matemática essa
estrutura é bastante comum: A está para B, assim como C está para D.

Ex.: Amor está para ódio, assim como alegria está para tristeza.

Nas duas orações temos uma associação entre opostos: amor é oposto a ódio e alegria é oposta a
tristeza. Assim, a relação entre amor e ódio é a mesma que a relação entre alegria e tristeza: de oposição.

Mas como isso pode ser acessado na hora de escrever uma argumentação?

Partindo da estrutura que propusemos e dos textos de apoio apresentados, veja um exemplo de
argumentação por analogia:

Ex.:

O uso excessivo da internet já se configura um vício, podendo ser considerado mesmo uma
doença. Isso se comprova a partir do comportamento que algumas pessoas assumem quando
afastadas, por exemplo, do celular. Assim como dependentes químicos que, quando em
abstinência de álcool ou drogas, chegam a sofrer fisicamente pela falta do vício, também os
viciados em celular podem apresentar sintomas na ausência do aparelho. Também em função
disso, a Associação Americana de Psicólogos já reconhece o Transtorno do Vício de Internet.

Comprovação por autoridade


Na comprovação por autoridade, utiliza-se a opinião de outras pessoas como base para a
argumentação. Claro que numa redação dissertativa o corretor quer ver sua opinião sobre os assuntos e
valoriza sua capacidade argumentativa. Porém, apoiar sua informação em especialistas é um modo de
demonstrar à banca que você possui embasamento, ou seja, que aquilo não é pura e simplesmente sua
opinião pessoal.

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Diversos elementos podem servir como base para um argumento por autoridade:

• Estudiosos e pesquisadores

• Instituições respeitadas, como associações e centros de pesquisa

• Filósofos, sociólogos e demais cientistas, estejam eles citados nos textos de apoio ou não.

ATENÇÃO!
Muitas vezes, os alunos acham que devem decorar citações de filósofos ou pensadores importantes para
a redação. Não se preocupe com isso.
As teorias filosóficas são complexas e dificilmente podem ser resumidas em uma frase.
Se você não conhece o autor e sua teoria, apenas citar uma frase pode produzir o efeito contrário e fazer
com que você perca pontos!
Descontextualizar uma frase pode esvaziar seu significado, ou seja, pode ser que o estudioso quisesse
dizer algo diferente do que você entendeu lendo apenas uma frase.
Se quiser citar algum pensador, tenha certeza que você é capaz de explicar seu pensamento. Não é
preciso citar palavra por palavra o que ele disse. É mais seguro, para não incorrer em erros, falar sobre o
autor e suas teorias, mas sem usar citações.

Partindo da estrutura que propusemos e dos textos de apoio apresentados, veja um exemplo de
construção de desenvolvimento por autoridade:

Ex.:

A internet vem sido utilizada de maneira tão exacerbada que a Associação Americana de
Psicólogos já considera o vício em internet uma dependência crônica. Esse transtorno vem sendo
chamado de Transtorno do Vício de Internet. Essa definição parte principalmente da percepção
de que quando nos encontramos distantes da tecnologia ou do acesso à internet, podemos
reagir do mesmo modo que dependentes químicos. Isso demonstra que o uso da internet se
tornou tão fora de controle que chega a nos afetar fisicamente.

Comprovação por causa e consequência


Na comprovação por causa e consequência, buscam-se relações causa e feito para comprovar a
tese. Assim, a argumentação se baseia em motivos para o problema e seus efeitos resultantes.

Ex.:

O uso desmedido da internet tem causado problemas à saúde mental, principalmente entre os
jovens. Essa camada da população tem um contato muito maior com a internet, principalmente
através do uso das redes sociais. Como as redes sociais promovem interação de maneira remota,
há maior facilidade em agir de maneira agressiva ou cruel. Consequentemente, os usuários
ficam mais expostos a situações de conflito, podendo chegar mesmo a desenvolver uma série
de quadros clínicos por conta desse tipo de interação.

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2.2 – Análise de redação


Veja um exemplo de redação que constrói sua argumentação a partir de vozes autorizadas
(argumento de autoridade). O tema da redação era “O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda
têm lugar no mundo contemporâneo?”, e apareceu na prova da FUVEST (2011).
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão

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2.3 – Tipos de argumentos II.


Texto 1.

De acordo com a Lei 8.213, de 1991, empresas com cem ou mais colaboradores são obrigadas a
preencher de 2% a 5% de seus cargos com pessoas com deficiência (PCDs) ou beneficiários reabilitados.
A Lei, que completou 25 anos em 2016, trouxe grandes conquistas para essa parcela da população: de
acordo com o Ministério do Trabalho, nos últimos cinco anos, houve um aumento de 20% na participação
desses profissionais no mercado. Segundo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
de 2010, há cerca de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência – quase 24% da população.
Entretanto, na última Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), realizada em 2014 pelo Ministério do
Trabalho, apenas 381 mil vínculos empregatícios são declarados como PCDs – o que representa 0,77% do
total de empregos formais no Brasil.

(...)

Diversas organizações já oferecem serviços de adequação do ambiente de trabalho às PCDs. Essa


atitude, inclusive, deve ser tratada como um investimento, uma vez que a produtividade do funcionário
só poderá ser garantida se ele tiver as condições necessárias para desenvolver as suas funções com
autonomia. Alberto Pereira, assessor de inclusão da Laramara, Associação Brasileira de Assistência ao
Deficiente Visual, diz que uma das maiores dificuldades dos empregadores hoje ainda é reconhecer a
capacidade e o potencial das PCDs. “Têm muitas pessoas com ótima formação acadêmica, potencial de
desenvolvimento e lideranças. No entanto, elas ainda são contratadas pelas cotas e em cargos aquém da
sua capacidade”, ressalta.

Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/blogs/ecoando/cotas-ajudam-mas-falta-inclusao-o-que-pessoas-


com-deficiencia-enfrentam-no-mercado-de-trabalho/> Acesso em: set.2019.

Texto 2.

A frase mais repetida por todos os que trabalham com a inclusão de pessoas com deficiência é: a
inclusão é um processo. É o que falamos para nós mesmos e para nossos companheiros de estrada; em
momentos de comemoração e também para nos animar frente a um aparente retrocesso. Essa sentença
tem complementos, dos quais o mais frequente é o que compara nosso árduo trabalho ao das
“formiguinhas”. Nesse caso, lembro sempre de uma observação de Rosangela Berman Bieler, jornalista e
ativista do movimento das pessoas com deficiência no Brasil: “Torço para que, um dia, esse formigueiro
tão grande, que construímos com tanto afinco, mas sem que a sociedade o visse, exploda como um vulcão,
se espalhe por uma área enorme e seja visto por todos!”.

Falar que a inclusão é um processo significa dizer que ela muda à medida que avança, encontra
dificuldades e pode dar passos para trás até descobrir outros caminhos – a partir da interação com as
pessoas, com os fatos e com as circunstâncias de cada tempo e momento. Significa também dizer que ela
nasce dentro de cada um de nós, mesmo naqueles que já se consideram “inclusivos”. Sempre temos algo
a aprender. Há sempre mais uma fronteira para transpor. Se a inclusão da pessoa com deficiência é
dinâmica, como ela está em 2017? Ainda é a mesma de quando surgiu, mais ou menos em meados da
década de 1990?

Disponível em: <https://diversa.org.br/artigos/desafios-na-formacao-docente-para-a-educacao-inclusiva/> Acesso


em set. 2019.

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A partir desses textos de apoio, pode-se depreender que um possível tema, recorte temático e a
tese a ser desenvolvida na redação são, respectivamente:

TEMA: Inclusão social.

RECORTE TEMÁTICO: A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

TESE: Ainda que tenha havido uma maior inclusão das pessoas com deficiência no ambiente escolar,
proporcionando uma formação de qualidade para essas pessoas, ainda há obstáculos no mercado de
trabalho, causadas principalmente pela ideia de que deve-se contratar alguém apenas para cumprir
uma cota, sem atentar-se para a formação acadêmica e profissional desse indivíduo.

Comprovação por dados


Uma comprovação por dados é aquele que utiliza dados concretos, ou seja, busca no texto
elementos quantificáveis, como estatísticas, pesquisas e porcentagens, que possam embasar a
argumentação.

Partindo da estrutura que propusemos e dos textos de apoio apresentados, veja um exemplo de
argumentação por comprovação:

Ex.:

Ainda que tenha havido uma melhora no número de pessoas com deficiência contratadas – um
aumento de 20% de participação nos últimos cinco anos – muito motivada pela Lei 8.213, que
determina cotas para PCDs, ainda há uma resistência das empresas em contratar pessoas com
alguma deficiência. Ao se preocupar apenas em preencher um número exigido por lei, os
empregadores estão correndo o risco de obterem prejuízo financeiro, pois um trabalhador
obrigado a exercer uma função aquém de sua capacidade, fica desestimulado e se torna menos
produtivo.

Comprovação por exemplificação


Na comprovação por exemplificação, utiliza-se a experiência empírica de outras pessoas como
base para a argumentação. Além disso, pode-se utilizar eventos do dia a dia ou notícias como exemplo de
um argumento que se pretenda comprovar. Apoiar sua informação em exemplos a partir do próprio
texto é um modo de demonstrar à banca que você é capaz de compreender as informações
disponibilizadas e conjugá-las de maneira coerente.

Diversos elementos extratextuais podem servir como base para um argumento por
exemplificação:

• Passagens históricas

• Notícias e eventos que ficaram populares e amplamente conhecidos

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• Experiências pessoais ou de pessoas a seu redor, desde que reconhecíveis por todos e citadas de
maneira impessoal.

ATENÇÃO!
Muitas vezes, os alunos acham que o corretor é obrigado a conhecer todas as referências ou
acontecimentos da atualidade. Você NÃO DEVE cair nesse erro!
Ainda que alguns eventos pareçam conhecidos por todos, não presuma que o corretor vai completar
informações.
Mesmo que você utilize exemplos conhecidos, não deixe de explicá-los minimamente para garantir que
você não perca pontos.

Partindo da estrutura que propusemos e dos textos de apoio apresentados, veja um exemplo de
argumentação por exemplificação:

Ex.:

A preocupação em preencher a cota para trabalhadores PCDs nem sempre está alinhada com
uma responsabilidade pelo bem-estar do contratado. Há casos, por exemplo, em que ocorre a
contratação de uma pessoa com deficiência, porém não para uma área em que ela possua
experiência ou habilidade. Isso acaba desmotivando o empregado e, consequentemente,
gerando prejuízos à empresa.

Comprovação por literatura


A comprovação por literatura são baseados em obras literárias do cânone, ou seja, aquelas obras
consideradas clássicas (aquelas que estudamos na escola). Há necessidade de prestarmos muita atenção
com relação àquilo que entendemos da obra, dado que seu corretor tem conhecimento pleno desse
repertório (inclusive, por isso é tão recomendado)..

Ex.:

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2.4 – Análise de redação


Veja um exemplo de redação que constrói sua argumentação a partir de exemplos que não
estejam necessariamente no texto (argumento por exemplificação). O tema da redação era “O altruísmo
e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”, e apareceu na prova da
FUVEST (2011). Aqui, o aluno utiliza, no terceiro parágrafo, o exemplo do paisagista Roberto Burle Marx.
Perceba que ele explica quem é a pessoa citada sem presumir que o corretor sabe quem é – mesmo que
Burle Marx seja uma personalidade bastante conhecida.
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão

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2.5 – Exercícios de argumentação


Vamos fazer alguns exercícios para treinar a argumentação. Em todos eles, há espaço para a
redação de um argumento principal e um secundário. Como escrevê-los (por comprovação,
exemplificação ou princípio) fica a seu critério. Pratique e compreenda qual você tem mais facilidade.

Vamos lá?

I.

Texto 1.

A primeira ideia que a maioria dos brasileiros tem sobre os índios é a de que eles constituem um
bloco único, com a mesma cultura, compartilhando as mesmas crenças, a mesma língua. Ora, essa é
uma ideia equivocada, que reduz culturas tão diferenciadas a uma entidade supra étnica. O Tukano, o
Desana, o Munduruku, o Waimiri-Atroari deixa de ser Tukano, Desana, Munduruku e Waimiri-Atroari
para se transformar no “índio”, isto é, no “índio genérico”. Alguém aí pode objetar: - Ah, mas existe
também “europeu” como uma denominação genérica que engloba vários povos de línguas e culturas
diversas e ninguém questiona isso. É verdade. No entanto, quando um português ou um francês dizem
que são europeus, essa denominação genérica não apaga a particular. Eles continuam sendo, cada um,
português ou francês. No entanto, no caso do “índio”, o equívoco está em que o genérico apaga as
diferenças. O “índio” deixa de ser Tukano, Desana, etc. para se transformar simplesmente no “índio”.

FREIRE, José Ribamar Bessa Freire. Cinco ideias equivocadas sobre os índios. Disponível em:
<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/cinco_ideias_equivocadas_jose_ribamar.pdf> Acesso em set.
2019.

Texto 2.

A terra indígena não é apenas o espaço ocupado pelos índios, mas todo o espaço necessário
para a sobrevivência de sua cultura.

O estudo para sua demarcação, portanto, leva em conta todo o território utilizado pelo índio
para sobreviver e para manter suas crenças, em respeito à Constituição Federal. São 115 terras em
estudo para demarcação no país.

(...)

O procedimento de demarcação de terras é composto pelas seguintes fases: fase de


identificação e delimitação, fase de demarcação física, fase da homologação e fase do registro das terras
indígenas. A terra indígena está livre para utilização a partir do momento em que é homologada. São,
portanto, 440 áreas homologadas e regularizadas no país, do total de 672 contabilizadas pela Funai.
Segundo a Funai, no entanto, essas terras não estão livres de conflitos.

Adaptado de Ministério Público do Paraná. Disponível em:


<http://www.direito.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=255> Acesso em set.2019

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TEMA: A questão indígena no século XXI

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Argumentação:

Argumento 1:

Argumento 2:

Antes de ler o comentário, lembre-se:

Não há uma resposta completamente certa quando o assunto é o texto dissertativo.

Defender um ponto de vista tem mais a ver com a capacidade de conseguir embasar sua opinião
com argumentos consistentes do que com estar “certo”.

Aqui, apontamos caminhos possíveis.

Nos dedicamos sempre a um tema específico nos comentários, o que não significa que seja o único
tema possível.

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Comentário:

Uma opção de tema acerca desses textos de apoio é “a questão indígena no Brasil”. O texto 1 fala
sobre os estereótipos que criamos em torno dos grupos étnicos indígenas. O texto afirma que há um
reforço constante na ideia de que o “índio” é “uma cousa só”, ou seja, que não há particularidades ou
especificidades entre os diversos povos indígenas brasileiros. O texto ainda aponta para uma diferença de
tratamento entre as nacionalidades europeias e as indígenas brasileiras, em que a primeira goza de maior
reconhecimento. Já o texto 2 aponta para o modo como é determinada a demarcação de terras indígenas
no Brasil. O texto relata as determinações que guiam o processo e qual a função e importância de
demarcar esses territórios.

A partir desse tema, a argumentação pode se desenvolver em diversas direções:

• Por que motivo temos uma visão estereotipada ou deturpada dos povos indígenas?

• Como a visão que temos dos indígenas pode influenciar nos processos práticos, com ao
demarcação de terras?

• Qual a importância – ou não – da demarcação das terras indígenas hoje?

Alguns pontos a levar em consideração e que podem ser argumentos a se desenvolver são:

• Apesar de brasileiros, temos pouco conhecimento de passagens da nossa história. Essas escolhas
do que deve ou não ser ensinado nunca são gratuitas. Elas são parte de um projeto de ensino e
construção de pensamento na sociedade, que se beneficia dessas escolhas.

• Por entendermos os grupos étnicos indígenas como parte de um todo sem particularidades não
entendemos que eles podem possuir necessidades específicas. Assim, temos dificuldade em
compreender por que motivo seria necessário preservar essas culturas e identidades.

• Se as terras indígenas demarcadas têm outras funções que não apenas a preservação da cultura
daqueles povos – como preservação ambiental, por exemplo – então a importância em preservar
essas terras é de interesse de todos, não apenas de um grupo.

AULA 04 – REDAÇÃO 21
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II.

Texto 1.

Disponível em: < https://www.marcoeusebio.com.br/coluna/teoria-da-evolucao-na-charge-do-


amarildo/32472?a=coluna&b=teoria-da-evolucao-na-charge-do-amarildo&c=32472> Acesso em set.2019.

Texto 2.

No documentário Zumbi Somos Nós, que estreou ontem à noite na TV Cultura, existe uma crítica
à maneira como a mídia trabalhou, em 2005, no episódio em que o zagueiro argentino Desábato xingou
o atacante brasileiro Grafite e saiu do estádio do Morumbi para uma delegacia policial. Quem explica
essa visão é o DJ Eugênio Lima, um dos integrantes da Frente 3 de Fevereiro, que criou o documentário.

Eugênio Lima:

– Ela avalizava o senso comum. Não tinha nenhuma posição crítica. Na verdade, ela confirmava
algo que depois fomos comprovar a partir de pesquisas. Perguntado para as pessoas se eram racistas,
90% das pessoas disseram que não. Perguntadas sobre se existe racismo no Brasil, 95% dessas mesmas
pessoas disseram que sim. Racista é sempre o outro, mas cada um não é racista. Mas existe o racista.
Aquele caso é exemplar. Porque era um caso de racismo que só nos competia delatar. O outro era
argentino. Nem brasileiro era. A mídia reforçou uma ideia do senso comum que é: o brasileiro é uma
espécie de ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados. Ela, que deveria ter um
papel crítico diante da situação, não tem nenhum papel crítico. Ela só reforça os estereótipos e a ideia
do senso comum.

Por Mauro Malin em 28/05/2007, Observatório da Imprensa. Trecho disponível em:


<http://observatoriodaimprensa.com.br/radio/gtreacao-venezuelanaracistas-sao-os-outros/> Acesso em set.2019.

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TEMA: A persistência do racismo no Brasil

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Argumentação:

Argumento 1:

Argumento 2:

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Comentário:

Uma opção de tema acerca desses textos de apoio é “racismo” e “preconceito contra negros”. O
texto 1 apresenta um chimpanzé mostrando que sente vergonha de ser associado aos seres humanos de
algum modo. O texto joga com a prática racista de ofender pessoas negras com o xingamento de
“macaco”, pois aqui, a verdadeira ofensa para o chimpanzé é ser ligado aos homens. A ideia de que o
homem descenda do macaco, ainda que muito popular no senso comum, não é verdadeira. Tanto o
chimpanzé quando o homem descendem de um ancestral comum, ou seja, cada um descende de uma
linhagem que divergiu de um mesmo ancestral. O texto 2 parte de um documentário sobre racismo para
apresentar uma conta que não fecha: apesar de 90% das pessoas afirmarem que não são racistas, 95%
das pessoas acreditam que o racismo exista. Será possível que os 10% restantes da população poderiam
ser responsáveis por todo o racismo do mundo? O que o texto deixa implícito que é possível que sejamos
racistas mesmo sem perceber.

A partir desse tema, a argumentação pode se desenvolver em diversas direções:

• A persistência do racismo, mesmo diante da ideia de que haveria uma suposta harmonia racial no
Brasil.

• O papel da mídia e das comunicações na perpetuação do racismo.

• A dificuldade em reconhecer-se preconceituoso e as razões para isso.

Alguns pontos a levar em consideração e que podem ser argumentos a se desenvolver são:

• Há uma aparente estabilidade nas relações e nas tensões raciais. Porém, diante de qualquer
instabilidade nessas relações, o racismo emerge. Alguém pode agir de maneira que não
concordamos ou podemos nos incomodar com alguém a todo momento. Como reagimos a essas
situações? Somos capazes de responder de maneira preconceituosa?

• Quais são as imagens da mídia de pessoas negras? Que personagens ou conflitos estamos
habituados a ver pessoas negras nas produções artísticas, principalmente no audiovisual e na
publicidade? De que maneira nos habituamos a pensar pessoas negras sempre do mesmo modo
ou no mesmo lugar?

• A ideia de que se possa ser preconceituoso é difícil para a maioria das pessoas. Costumamos querer
nos enxergar como pessoas que não têm preconceito ou que tratam a todos da mesma maneira.
Não parece possível, porém, que tantos casos de racismo sejam sempre cometidos pelas mesmas
pessoas.

• Criados numa sociedade racista por tanto tempo, somos ensinados ideias e práticas racistas ainda
que não as percebamos como tal.

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III.

Texto 1.

Impera, hoje, o apelo emblemático ao prazer. Um prazer que não se resume apenas à ausência
de sofrimento, mas que há de ser intenso, imediato, não-negociável. O imperativo é: “quero agora,
quero muito, quero tudo, e sempre”. O discurso social idolatra a posição de plenitude alcançada sem
muito esforço. É a tentativa de abolição da falta, do vazio e de qualquer insatisfação. Já não se valoriza
a satisfação “pequena”, “ordinária”, “comum”; o máximo de prazer - e que seja imediato - é o que se
quer.

Estar sempre bem, de bom humor são os “estados de espírito” que o discurso atual valoriza. O
desejo visa, sempre, à imediata satisfação, já que seu adiamento apresenta-se intolerável. Não há
abertura para escolhas, e a negociação entre perdas e ganhos inexiste: “quer-se tudo, e agora!” (...)

Penetra-se, então, no universo das drogas: das drogas ilícitas ou dos medicamentos prescritos
pela Psiquiatria; participantes, tanto uma quanto o outro, do mesmo universo, na medida em que visam
a tornar o Eu apto ao exercício da cidadania do espetáculo. Enquanto as chamadas drogas pesadas têm
por fim a exaltação nirvânica do Eu, inebriando a individualidade para o desempenho na cultura da
imagem, as drogas ditas medicinais pretendem, ao conter angústias e sentimento, capacitar o indivíduo
para as mazelas do narcisismo.
PELEGRINI, Marta Regueira Fonseca Pelegrini. O abuso de medicamentos psicotrópicos na contemporaneidade. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932003000100006> Acesso em 29 ago. 2019.

Texto 2.

A maior parte das pessoas, quando ouvem falar em “Saúde Mental” pensam em “Doença
Mental”. Mas, a saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais.

Pessoas mentalmente saudáveis compreendem que ninguém é perfeito, que todos possuem
limites e que não se pode ser tudo para todos. Elas vivenciam diariamente uma série de emoções como
alegria, amor, satisfação, tristeza, raiva e frustração. São capazes de enfrentar os desafios e as
mudanças da vida cotidiana com equilíbrio e sabem procurar ajuda quando têm dificuldade em lidar
com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida.

A Saúde Mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela reage às exigências da vida e
ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções.

Disponível em: <http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=2862> Acesso em: 29 ago.2019.

TEMA: Saúde mental na atualidade

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

AULA 04 – REDAÇÃO 25
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Argumentação:

Argumento 1:

Argumento 2:

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Comentário:
Tema 3.
O termo “saúde mental” tem entrado no nosso vocabulário e se tornou popular entre as
pessoas mais jovens devido a uma série de acontecimentos. Segundo definição da Organização
Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz
de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir
com a sua comunidade.
Para a ONU, a saúde mental é mais do que a ausência de transtornos mentais, como
ansiedade (também chamado de transtorno de ansiedade generalizado), depressão, transtorno
bipolar etc. É o bem-estar físico, mental e social. Não é apenas uma questão clínica: fatores
socioeconômicos podem influenciar numa perda da saúde mental.
A partir desse tema, a argumentação pode se desenvolver em diversas direções:
Ø O abuso de medicamentos psicotrópicos no contemporâneo.
Ø A saúde mental no contemporâneo: razões para o abalo e possíveis estratégias para
melhorá-la.
Ø A pressões da sociedade e sua responsabilidade nos abalos psíquicos.

Alguns pontos a levar em consideração e que podem ser argumentos a se desenvolver são:
Ø Quais métodos a sociedade vem buscando para coibir o aumento do uso de medicamentos
e o aumento das doenças mentais? Há algo de fato sendo feito ou a sociedade em geral
prefere medicar do que atacar a raiz do problema?
Ø Como está a saúde mental em cada idade? O que influi na vida das crianças, jovens, adultos
e idosos para que haja abalos em sua saúde mental?
Ø Qual a imagem das pessoas que sofrem com algum distúrbio ou fazem uso de algum
medicamento na sociedade? Há uma visão pejorativa dessas pessoas? Há ainda uma
romantização em torno da ideia da loucura?

IV. Tema 4.

AULA 04 – REDAÇÃO 27
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Texto 1.

Preconceito linguístico

O que seria o tal preconceito linguístico? Ele existe? Se sim, qual a sua natureza? Se deve ser
combatido, como todos os preconceitos, quais deveriam ser as armas de combate?

Talvez seja bom começar por uma definição de preconceito. A do Dicionário Houaiss é bastante
esclarecedora. Segundo essa fonte, preconceito é “qualquer opinião ou sentimento, quer favorável
quer desfavorável, concebido sem exame crítico”, o que em seguida é mais bem especificado: “ideia,
opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão”.

Na segunda acepção, o preconceito é definido como “atitude, sentimento ou parecer insensato,


especialmente de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma
experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”. Os preconceitos que se tornaram mais
conhecidos e cujo combate é mais aceito são o racial e o de gênero.

A expressão “preconceito linguístico” é mais ou menos corrente entre leitores de


sociolinguística, disciplina que estuda o fenômeno da variação linguística, os fatores que a condicionam
e as atitudes da sociedade em relação às variedades.

Por Sírio Possenti em 27/12/2011 na edição 674. Trecho disponível em: <
http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/ed674-preconceito-linguistico/> Acesso em set. 2019.

Texto 2.

O que o seu sotaque diz sobre você?

Em 14 de novembro de 1922, a BBC colocou no ar sua primeira reportagem de rádio no Reino


Unido. Não podemos ouvi-la porque não foi gravada, mas sabemos do que se trata: a matéria foi lida
em uma pronúncia impecável chamada de RP, a pronúncia padrão da língua inglesa utilizada no Reino
Unido, conhecida popularmente como "o inglês da rainha". É considerada a linguagem das elites, do
poder e da realeza.

Por muitos anos, a BBC só podia permitir sotaques "RP" em suas estações de rádio. Esse sotaque
virou o sinônimo da voz de uma nação e isso tinha conotações muito claras. O RP era confiável,
autoritário e sincero. Felizmente, a BBC agora permite toda a variedade de sotaques regionais em suas
redes - inclusive encoraja isso com o objetivo de representar a audiência diversa que a BBC tem e
também para atrair mais pessoas.

Por mais que a BBC não use mais apenas o RP, parece que a predisposição que havia em relação
a ele continua predominante na sociedade ainda hoje. Nossos sotaques podem ser uma janela para
nossas origens sociais - e nossos preconceitos. Nossas parcialidades podem ser tão fortes que chegam
a afetar nossa percepção de quem é ou não confiável.

Os humanos podem julgar muito rapidamente alguém com base em sotaques e muitas vezes
nem o percebem.

Melissa Hogenboom, da BBC Future, 16 abril 2018. Trecho disponível em:


<https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-43599351> Acesso em: set.2019.

AULA 04 – REDAÇÃO 28
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TEMA: Como enfrentar o preconceito linguístico?

RECORTE TEMÁTICO:

TESE:

Argumentação:

Argumento 1:

Argumento 2:

AULA 04 – REDAÇÃO 29
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Comentário:

Uma opção de tema que contemplaria uma boa variedade de assuntos é “o preconceito
linguístico”, já presente e definido no texto 1. O caso dos sotaques no jornalismo no texto 2 parece ser,
aqui, um exemplo dentre outros possíveis de estranhamento e preconceito contra as diferentes variantes
linguísticas. Esse texto também indica que não é um problema exclusivo do Brasil, já que a reportagem
apresenta uma situação ocorrida no Reino Unido.

A partir desse tema, a argumentação pode se desenvolver em diversas direções:

• Os efeitos do preconceito linguístico na sociedade

• Preconceitos que não percebemos no dia a dia.

• Modos de combater o preconceito linguístico na sociedade.

Alguns pontos a levar em consideração e que podem ser argumentos a se desenvolver são:

• A ideia de que a norma culta do português deve ser soberana não é nova. Há um hábito frequente
de corrigir pessoas que não falem do modo que acreditamos ser “correto”.

• Há uma noção de que a fala deveria ser próxima da escrita para que fosse “certa”, porém nem
sempre o modo como escrevemos pode ser reproduzido.

• A oralidade conta com diversos elementos, como gírias, sotaques, abreviações etc. que não podem
ser reproduzidas na escrita.

• O que é mais importante na fala? Entende-se que o principal do processo comunicacional é “passar
a mensagem”, ou seja, ser compreendido pelo interlocutor. Assim, será realmente necessário que
se fale da maneira mais alinhada com a norma culta?

• Associamos o falar “errado” às classes mais pobres. O preconceito linguístico pode, portanto,
esconder na verdade um preconceito de classe.

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3- Prática de redação
(ITA – 2016)

Texto 2

a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer


a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer

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não quero morrer pois quero ver


como será que deve ser envelhecer
eu quero é viver pra ver qual é
e dizer venha pra o que vai acontecer
eu quero que o tapete voe / no meio da sala de estar
eu quero que a panela de pressão pressione
e que a pia comece a pingar
eu quero que a sirene soe
e me faça levantar do sofá
eu quero pôr Rita Pavone*
no ringtone do meu celular
eu quero estar no meio do ciclone
pra poder aproveitar
e quando eu esquecer meu próprio nome
que me chamem de velho gagá
pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr.
(ANTUNES, A. Envelhecer. Album Ao vivo lá em casa. 2010.)

*cantora italiana de grande sucesso na década de 1960.

Texto 3

Proibido para menores de 50 anos. Nos últimos meses, em meio ao debate sobre as reformas na
Previdência, um ponto acabou despertando a atenção. Afinal, existem empregos para quem tem mais de
50 anos? Pendurar as chuteiras nem sempre é fácil. Às vezes, pode significar uma quebra tão grande na
rotina que afeta até mesmo o emocional. Foi a partir de uma experiência familiar nesta linha que o
paulistano Mórris Litvak criou a startup MaturiJobs. Trata-se de uma agência virtual de empregos,
especializada em profissionais com mais de 50 anos.
(Revista Isto é Dinheiro. Mercado de Trabalho. Maio/2017. p. 6.)

Texto 4

O Brasil será, em poucas décadas, um dos países com maior número de idosos do mundo, e precisa correr
para poder atendê-los no que eles têm de melhor e mais saudável: o desejo de viver com independência
e autonomia. [ ... ] O mantra da velhice no século XXI é “envelhecer no lugar”, o que os americanos

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chamam de aging in place. O conceito que guia novas políticas e negócios voltados para os longevos tem
como principal objetivo fazer com que as pessoas consigam permanecer em casa o maior tempo possível,
sem que, para isso, precisem de um familiar por perto. Não se trata de apologia da solidão, mas de encarar
um dado da realidade contemporânea: as residências não abrigam mais três gerações sob o mesmo teto
e boa parte dos idosos de hoje prefere, de fato, morar sozinha, mantendo-se dona do próprio nariz.

Disponível em: <http://veja.abril.com.br/brasillenvelhecer-no- seculo-xxi/>, 18 mar. 2016. Adaptado. Acesso em: 10 ago. 17.

Disponível em: <http://www.ufrgs.br/e- psico/subjetivacao/tempo/velhice-graficos.html>. Acesso em: 5 mai. 17.

2. Redija um texto do tipo dissertativo-argumentativo em favor de um ponto de vista. A banca


examinadora aceitará qualquer posicionamento do candidato.

3. Nenhuma parte dos textos apresentados pode ser copiada ou parafraseada. Porém, os dados
apresentados no gráfico a seguir podem auxiliar na construção de sua argumentação.

4. A redação será avaliada com base no emprego da norma culta, clareza e consistência dos argumentos.

Utilize caneta azul ou preta e a folha própria para a redação. Observe o limite de linhas. Use os espaços
em branco destas provas para rascunho.

(IME – 2016)
Podemos observar, ao longo da história, o caráter inovador das artes e das ciências, em geral. Artes
e ciências, no entanto, não abrem mão daquilo que já foi pensado. É a capacidade de lançar um olhar
crítico e, ao mesmo tempo, inovador que determinará a originalidade dessa produção. Na arte, assim
como na ciência, podemos dizer que há uma constante ressignificação, sem o que uma e outra (arte e
ciência) deixariam de existir: é preciso inovar, sempre.

A busca pela novidade é quase uma imposição na maioria das sociedades, sendo mesmo uma
cobrança do próprio indivíduo a si mesmo. Apesar de estarmos vivenciando constantes mudanças, é fácil
perceber que o homem não está jamais satisfeito. A partir das ideias desencadeadas nesta prova, produza

AULA 04 – REDAÇÃO 33
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um texto dissertativo-argumentativo discorrendo sobre a insatisfação quase perene que conduz a história
da humanidade. Em sua escrita, atente para as seguintes considerações:

• privilegie a norma culta da língua portuguesa.

• Eventuais equívocos morfossintáticos, erros de regência, concordância, coesão e coerência, bem


como desvios da grafia vigente e a não observância das regras de acentuação serão penalizados;

• seu texto deverá ter entre 25 (vinte e cinco) a 30 (trinta) linhas.

(Estratégia Militares - 2020)


TEXTO 1

Transumanismo e o uso da tecnologia para aprimorar a condição humana

Por Douglas Ciriaco | 16 de Setembro de 2015

A vida humana é repleta de dúvidas, incertezas e indagações. De frases célebres que se tornaram
clichês, como o clássico “de onde viemos e para onde vamos?”, até a incessante busca pela vida eterna e
pela imunidade aos efeitos do tempo, nós, humanos, lutamos para permanecer enquanto espécie.

Encaixando essa perspectiva dentro do panorama atual da vida na Terra, com avanços tecnológicos
convivendo com crises ambientais, sociais e econômicas, é quase impossível não pensar em um futuro no
qual a tecnologia esteja cada vez mais presente, mais do que apenas em nossas casas: também em nossos
corpos.

Uma corrente filosófica emergente chamada transumanismo, representada pelo símbolo H+,
defende a aplicação da tecnologia avançada na superação dos limites impostos pela condição humana.
Limitações intelectuais, físicas e psicológicas podem e devem, de acordo com os transumanistas, ser
ultrapassadas com o apoio de biotecnologia, nanotecnologia e neurotecnologia.

Já pensou em implantes oculares capazes de incrementar a sua visão? Ou então microchips que,
adicionados ao seu cérebro, permitem ampliar sua capacidade de memória? Ou, indo muito mais além,
um conjunto de hardware mecânico que transforme você em ciborgue imortal? Os transumanistas
respondem afirmativamente para todas estas questões.

O termo transumanismo foi criado pelo biólogo britânico Julian Huxley, irmão do escritor Aldous
Huxley, em 1957. Huxley definia este conceito como “homem continuando homem, mas transcendendo,
ao perceber novas possibilidades de e para sua natureza humana".

Os ideais transumanistas se fundamentam, basicamente, em dois pilares, de acordo com filósofo


brasileiro Gledinélio Silva Santos. O primeiro deles seria o combate ao envelhecimento e, em
consequência disso, a morte; o segundo, é o que trata a simbiose entre orgânico e cibernético como o
próximo passo da evolução humana.

(Disponível em: <https://canaltech.com.br/ciencia/transumanismo-e-o-uso-da-tecnologia-para-aprimorar-a-


condicao-humana-49223/> Acessp em 26 mai. 2020)

AULA 04 – REDAÇÃO 34
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TEXTO 2

O que explica nosso fascínio com Frankenstein, 200 anos após sua criação?

Lucy Todd, BBC / 3 janeiro 2018

Os filmes de terror estabeleceram a ideia de Frankenstein como a história de um monstro


assassino e irracional criado pelo homem. Mas a criação de Shelley era bem diferente.

“Shelley lida com os mesmos temas tratados pelos gregos”, diz Patricia MacCormack, professora
de Filosofia da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, e autora de estudos sobre obras de terror.

“As boas versões cinematográficas trazem a mesma visão crítica sobre a vida, a nossa busca por
propósito e os papéis que desempenhamos. O monstro não escolheu existir e questiona sua própria
existência: ‘Como me torno uma boa pessoa?’”

Na obra original, o cientista Victor Frankenstein dá vida a uma criatura com nuances, sensível e
curiosa. MacCormack diz que o monstro lida com as mais fundamentais questões humanas: “É a ideia de
perguntar ao seu criador qual é seu propósito. Por que estamos aqui? O que podemos fazer?”.

(...)

O romance de Shelley contém elementos fantásticos e de horror, e é a combinação deles que


tornam a história um sucesso.

“Ele nos fascina porque fala da relação entre vida e morte”, diz Sorcha Ni Fhlainn, palestrante de
Estudos de Cinema da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido, e integrante do
Centro de Estudos Góticos de Manchester.

“A morte é absoluta. Então, a ideia de que você pode reanimar a carne é ao mesmo tempo
chocante e arrebatadora.”

(Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-42537245> Acesso em 26 mai. 2020)

TEXTO 3

Haroldo era um robô doméstico


Cozinheiro de forno e fogão
Quebrava o galho na limpeza
Assumindo sua profissão
E de nada reclamava ...
Do trabalho até gostava

De repente ele mudou


Havia alguma coisa errada
Chorava lágrimas de óleo
E já não fazia nada
Sem ter nunca revelado
Ele estava apaixonado

AULA 04 – REDAÇÃO 35
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Então começou a desordem na casa


Haroldo irritado brigou com o patrão
Na briga caiu um abridor de latas
Que fez um estrago no seu coração
Cheio de aditivos e sujo de graxa
Morreu sem dizer sua grande paixão ...
(Haroldo, O robô doméstico – Erasmo Carlos)

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte tema:

Ética e responsabilidade social no conhecimento científico

(Estratégia Militares - 2021)


Texto I

Prestes a voar com humanos, a SpaceX enfrenta o maior desafio de sua história

Ninguém esperava que desse certo. Até mesmo seu fundador apontava para uma probabilidade
na qual poucos apostadores colocariam dinheiro: 1 para 10. Mas, mesmo assim, Elon Musk decidiu
apostar suas fichas e investiu cerca de US$ 100 milhões de seu próprio patrimônio em sua ideia. Ele
contrariou alertas de amigos e familiares e a lógica básica que dizia que não era boa ideia um
empreendedor sem experiência em voos espaciais ter uma empresa de foguetes. Mas o resultado – a
Space Exploration Technologies, ou ainda SpaceX – virou um dos casos mais improváveis da história do
empreendedorismo americano.

Foi uma combinação de disrupção, fracasso e triunfo, que transformou a ousada startup num
gigante industrial com cerca de 7 mil funcionários. Agora, a SpaceX, como é mais conhecida, enfrenta o
teste mais significativo desde que foi fundada, em 2002. Em 27 de maio, a empresa sediada na Califórnia
deve lançar dois astronautas veteranos da NASA, Bob Behnken e Doug Hurley, para a Estação Espacial
Internacional. O voo é simbólico: sairá da mesma plataforma de lançamento do Centro Espacial Kennedy
que içou a tripulação da Apollo 11 à Lua.

Se tudo correr conforme o planejado, a missão anunciará uma era monumental na exploração
espacial: o primeiro lançamento à órbita de uma empresa privada. Os dois astronautas serão levados para
a estação espacial por um propulsor e uma espaçonave que são de propriedade da SpaceX e serão
operados pela empresa, marcando o fim da era em que apenas as espaçonaves governamentais chegavam
a tais alturas.

Será mais um passo rumo à privatização do espaço. A missão também pode significar uma vitória
da SpaceX sobre a rival Boeing, a outra empresa que tenta levar astronautas da NASA para a estação
espacial – e que vem tropeçando bastante ao longo do caminho.Mas, se a missão da SpaceX falhar, será
um revés trágico. Uma falha pode inviabilizar o plano da NASA de retomar o voo espacial humano a partir

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Prof.ª Celina Gil

do solo americano e alimentar as críticas que diziam que a agência espacial jamais deveria ter terceirizado
ao setor privado uma missão tão sagrada.

O voo – o primeiro com astronautas da NASA nos Estados Unidos desde que o ônibus espacial foi
aposentado, há quase uma década – é o ápice de anos de trabalho da SpaceX e da Nasa para acabar com
a dependência americana em relação à Rússia. Sem uma maneira de colocar os astronautas em órbita, a
Nasa teve de depender dos russos para chegar ao espaço nos últimos anos. Essa dependência, que causou
constrangimento à agência, pode se encerrar em breve, caso a SpaceX tenha sucesso.

(Disponível em: <https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,prestes-a-voar-com-humanos-a-spacex-enfrenta-o-maior-


desafio-de-sua-historia,70003313064> Acesso em 27 mar. 2021)

Texto II

Seriam ETs os nossos líderes?

O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvida, o mais surreal dos últimos séculos.

Somos uma geração que definitivamente entrou para a história.

Daqui cem, duzentos anos, este período será conhecido como A Grande Pandemia de 2020 e nós,
que conseguimos sobreviver ao coronavírus, ao desemprego, à ansiedade, ao medo, à insegurança, às
filas do auxílio emergencial, às declarações do Bolsonaro, à ineficiência de sua equipe, às bobagens de
Trump, seremos vistos como os heróis que, apesar de perder muita gente querida, demos continuidade a
humanidade.

Cumprimos o dever que a Natureza nos impôs.

Descobrimos em tempo recorde um punhado de vacinas e vamos começar 2021 com a esperança
renovada.

O ano mais terrível de nossas vidas acabou e sobrevivemos.

Numa escala Universal, somos uma geração de vencedores.

Não permitimos o colapso de nosso Planeta Azul, como aconteceu em Krypton, por exemplo.

Por falar em Planeta, entre todas as surpresas que nos foram impostas, uma delas passou
praticamente despercebida e tem a ver exatamente com o Universo que nos cerca.

No meio de tantas notícias inacreditáveis, talvez a mais importante delas escapou de nossa
atenção: a de que o governo americano admitiu, em setembro, que suas Forças Armadas capturaram, em
vídeo, uma nave alienígena.

Claro que não anunciaram com todas as letras, afinal não queriam criar o caos.

Mas só o fato de revelarem se tratar de um OVNI, já é um fato histórico.

O ano mais terrível de nossas vidas acabou, sobrevivemos e vencemos. Não permitimos o colapso
de nosso Planeta Azul, como aconteceu em Krypton

Está lá no YouTube para quem quiser ver.

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Prof.ª Celina Gil

Um pontinho escuro numa tela de radar, voando sobre o oceano numa velocidade inimaginável.

Ao fundo, os soldados que capturaram a cena, vibram com a conquista, pois sabem se tratar de
um fato inexplicável.

Mas ninguém ligou.

Fosse outro ano e estaríamos assistindo especiais no Fantástico com homenzinhos verdes até hoje.

Mas em 2020 virou notícia velha em poucos dias.

Com a tragédia da Covid-19 ocorrendo em tempo real, a notícia mal chegou às manchetes.

Afinal, quem se importa com extraterrestres quando alguns terrestres são mais esquisitos que
qualquer alienígena?
(Disponível em <https://istoe.com.br/seriam-ets-os-nossos-lideres/> Acesso em 27 mar. 2021)

Texto III

(Disponível em <https://cantinholiterariososriosdobrasil.wordpress.com/2011/09/13/homem-linha-%E2%80%93-lixo-
espacial-%E2%80%93-tirinha-de-fabiano-dos-santos/> Acesso em 27 mar. 2021)

Texto IV

O único mistério do Universo é o mais e não o menos.

Percebemos demais as coisas — eis o erro e a dúvida.

O que existe transcende para baixo o que julgamos que existe.

A Realidade é apenas real e não pensada.

O Universo não é uma ideia minha.

A minha ideia do Universo é que é uma ideia minha.

AULA 04 – REDAÇÃO 38
Prof.ª Celina Gil

A noite não anoitece pelos meus olhos.

A minha ideia da noite é que anoitece por meus olhos.

Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos

A noite anoitece concretamente

E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.


(Trecho de A Verdade, Fernando Pessoa. Disponível em: <http://multipessoa.net/labirinto/alberto-caeiro/29> Acesso em 27 mar. 2021)

Com base nos textos da prova de Língua Portuguesa, bem como no seu conhecimento de mundo,
escreva um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, sobre o seguinte tema:

Quem é o dono do Universo? – Por que ainda somos fascinados pelo Espaço Sideral?

Orientações

• Considere os textos da prova de Língua Portuguesa como motivadores e fonte de dados. Não os copie,
sob pena de ter a redação zerada.

• A redação deverá conter no mínimo 100 (cem) palavras, considerando-se palavras todas aquelas
pertencentes às classes gramaticais da Língua Portuguesa.

• Recomenda-se que a redação seja escrita em letra cursiva legível. Caso seja utilizada letra de forma
(caixa alta), as letras maiúsculas deverão receber o devido realce.

• Utilize caneta de tinta preta ou azul.

• Dê um título a sua redação.

Considerações Finais
Não deixe de produzir as redações e enviá-las para correção. É muito importante que você não
acumule redações para a última hora, pois não teremos tempo para corrigir.

Na próxima aula, vamos nos aprofundar ainda mais no estudo do desenvolvimento, pensando
principalmente nos tipos de repertório possíveis para sua argumentação.
Qualquer dúvida estamos à disposição no fórum ou nas redes sociais.

Prof.ª Celina Gil

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AULA 04 – REDAÇÃO 39

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