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Depois da travessia.

— Autores diversos e Luiza


Xavier. ©
(Texto extraído da 1ª edição desse livro — 2013.)

Índice
(Capítulos)

Dedicatória I.
Prefácio espiritual: No recinto de nossas orações. —
João de Deus Macário.
Padre João de Deus Macário: Vigário Pe. Joaquim
Coelho.
Apresentação: Depois da travessia. — Geraldo
Lemos Neto.

Primeira parte. — Mensagens de autores diversos.


(Fazenda Modelo — Pedro Leopoldo. | MG.)

MENSAGENS DE 1935.

1. A ventura real. — Júlia. [Júlia Amália da Silva


Pêgo.] | 2. Um pedido. — Domingos Nascimento.
| 3. Estamos ao vosso lado. — Sem assinatura.
| 4. Ao Rômulo. — Sem assinatura. | 5. Deus vos
guie. — Sem assinatura.
MENSAGENS DE 1936.

6. Sobre João de Deus Macário. — Emmanuel.


| 7. Lembrai-vos deste mundo em que vivemos. —
João de Deus Macário. | 8. Tesouros de
consolação. — Helena [Maia.]
MENSAGENS DE 1937.
9. Trabalhamos neste outro lado da vida! —
Helena. | 10. Flores de amor e de fé. — Arthur
Joviano. | 11. A certeza consoladora. — Helena.
MENSAGENS DE 1938.

12. Vibrações fraternas. — Mariquinhas, [irmã de


Arthur Joviano.] | 13. Procuramos auxiliá-lo. —
Drs. Manuel Pinto Quintão e Cassiano Nunes
Moreira. | 14. Intuição pura. — Helena.
| 15. Palavra de avó. — Júlia. | 16. Meu algoz é
minha própria consciência. — Dutra. [Gustavo
Dutra.] | 17. Eu poderia ter lutado mais um
pouco. — Pereira. | 18. Verdadeiro
arrependimento. — Marie [Benson]. | 19. Uma
imensa alegria. — Ambrósio de Amorim. | 20. Nas
claridades do mundo espiritual. — Engracinha
[Ferreira.] | 21. Continue orando por mim. —
Marie. | 22. Tempo de reflexão. — Mariquinhas.
| 23. O trabalho representa muito. — Gustavo
Dutra. | 24. Nos problemas da crença. — Júlia.
| 25. No recinto de nossas orações. — João de Deus
Macário. | 26. Serenidade do coração. — Basileu.
| 27. Luzes da paciência e da coragem. —
Mariquinhas. | 28. Trabalhadores para a obra. —
Engracinha. | 29. Lembranças carinhosas. — Júlia.
| 30. Escola de luz. — Anna Benvinda. | 31. Erros
clamorosos. — Marie. | 32. O corpo espiritual. —
Emmanuel.
MENSAGENS DE 1939.
33. Forças para a luta. — Júlia. | 34. Redenção ao
pecador. — Engracinha. | 35. A família terrena é
um instituto de purificação. — Engracinha.
| 36. Sacrossantos deveres. — Antoninho.
| 37. Joias de luz que me enfeitam a alma. —
Engracinha. | 38. Preparação laboriosa. — Júlia.
| 39. Preparo para novas lutas. — Marie.
| 40. Discípulos de um Mestre só. — Lésio Munácio.
| 41. Benefícios divinos. — Marie. | 42. Em paz
espiritual. — Engracinha. | 43. Ora e confia
sempre. — Amélia. | 44. No seio de provas
ásperas. — Amélia Macedo. | 45. Nas lutas
terrestres. — Júlia. | 46. Oportunidades
perdidas. — Abel Macedo. | 47. Elos afetivos. —
Mariquinhas. | 48. A morte é uma viagem. —
Virgílio Machado.
MENSAGENS DE 1940.

49. Bálsamo reconfortador. — Helena.


| 50. Alvorada de luz. — Marta Pernambuco.
MENSAGENS DE 1941.

51. Erros e virtudes. — Amélia [Amorim.]


| 52. Pedido de irmão. — Joaneco. | 53. Marco
inesquecível. — Helena.
MENSAGEM DE 1942.

54. Sublimes conhecimentos. — Gomide.


MENSAGENS DE 1944.
55. Uma reunião evangélica é uma fonte de águas
vivas. — Dutra. | 56. Festa espiritual. —
Engracinha.
MENSAGENS DE 1945.

57. O suor do trabalho. — Helena. | 58. O castelo


santo do lar. — Helena. | 59. Festa de felicidade
espiritual. — Engracinha.
MENSAGEM DE 1946.

60. Saudações de João-de-Barro. — Casimiro


Cunha.
MENSAGENS DE 1947.

61. Lembrança. — Casimiro Cunha. | 62. Na festa


do Professor. — Casimiro Cunha. | 63. Boas
festas. — Casimiro Cunha.
MENSAGENS DE 1948.

64. Jardim doméstico. — Helena. | 65. Bodas de


Prata. — Engracinha.
MENSAGENS DE 1949.

66. Continuamos atendendo ao Roberto. — A.


Joviano. | 67. O Professor partiu ficando…. —
Engracinha. | 68. No santuário doméstico. —
Casimiro Cunha.
MENSAGEM DE 1950.
69. Júbilo doméstico. — Amélia.
MENSAGEM DE 1951.

70. Caminhada espiritual. — João de Deus


Macário.
MENSAGEM DE 1955.

71. Louvemos o patrimônio do tempo. — João de


Deus Macário Galeria de fotos. (Vide fac-símiles
das fotos no livro impresso nas páginas 267 a 274.)

Segunda parte. — Mensagens de Luiza Xavier.


(Grupo Espírita da Prece. — Uberaba, | MG.)

Dedicatória II.
MENSAGENS DE 1985.

72. Mensagem de José Xavier. — O próprio.


| 73. Afastamento do corpo. — Luiza Xavier.
| 74. Me achava numa organização católica. —
Luiza Xavier. | 75. Anjos esquecidos. — Luiza
Xavier. | 76. Escrevo para confirmar o
intercâmbio. — Luiza Xavier.
MENSAGENS DE 1986.

77. Nossas contas são as nossas contas. — Luiza


Xavier. | 78. Deus pode o que não podemos. —
Luiza Xavier. | 79. Um bilhete também vale. —
Luiza Xavier. | 80. Mais vale a paz que todos os
tesouros. — Luiza Xavier. | 81. Ninguém vive sem
precisar de alguém. — Luiza Xavier.
MENSAGEM DE 1987.

82. A alegria do Ano Novo. — Luiza Xavier.


MENSAGENS DE 1988.

83. Lições que nos atingem a todos. — Luiza


Xavier. | 84. Precisamos da comunhão para
acertar os caminhos. — Luiza Xavier. | 85. A
felicidade pelo próprio esforço. — Luiza Xavier.
| 86. Quem ama se renova. — Luiza Xavier.
| 87. Filhos são de Deus. — Luiza Xavier.
| 88. Tesouro oculto. — Luiza Xavier. | 89. Não nos
apaguemos em cansaço inútil. — Luiza
Xavier Galeria de fotos. (Vide fac-símiles das fotos
no livro impresso nas páginas 375 a 396.) Galeria de
reproduções (No livro impresso nas páginas 399 a
412.)

(Obs. Esperamos que a Editora Vinha de Luz possa


disponibilizar em seu site uma Galeria das fotos que
se encontram impressas em seus livros para que
possamos fazer o link das mesmas para os usuários
desse livro eletrônico.)

Referências bibliográficas: Wanda Amorim Joviano.


ANEXO A.
Sobre João de Deus Macário: Francisco Augusto
Anacleto.
ANEXO B.

Sobre o uso da prancheta: Wanda Amorim Joviano.


ANEXO C.

Sobre Júlia Pêgo de Amorim: Wanda Amorim


Joviano.

A ventura real


20|11|1935
1
Minha querida filha e bondosa irmã, n
2
Eu não sei como agradecer a Deus em podendo
dirigir-te a minha palavra, eco suave dos afetos
extremos do meu coração. Que a Mãe de Jesus,
compassiva e misericordiosa, envolva a tua alma nas
dobras luminosas do seu manto constelado de todas
as virtudes, fortificando a tua fé, santelmo sagrado
que conquistaste com a tua boa vontade e
perseverança.
3
Eu quisera dizer-te todas as alegrias que me
desabrocham na alma agradecida ao Céu pela
possibilidade de fazer chegar ao teu coração
inesquecível o reflexo da minha afeição. Mas pobre
mundo de matérias grosseiras! Não encontramos, na
Terra, algo que traduza a intensidade dos nossos
sentimentos purificados nas grandes verdades que a
morte nos oferece dentro das suas sagradas
revelações!
4
Felicito a tua persistência dentro do sacrossanto ideal
que norteia os teus passos. Sabes hoje que no planeta
há sempre uma grande família necessitada de nossa
atenção e dos nossos desvelos — a multidão imensa
dos deserdados cujas almas necessitam de um raio
de luz e de uma côdea de pão. 5 A verdadeira
felicidade não é obtermos aí na Terra todos os
objetos que representavam a visão dos nossos
desejos materiais, não é descansarmos sobre as
alegrias tão efêmeras que esse orbe proporciona. A
ventura real é compreendermos a solução dos
problemas da vida dentro da solidariedade e da
fraternidade salvadora. 6 Do lado de cá avulta ao
nosso espírito a necessidade do cumprimento de
todos os deveres cristãos e nos vem um desalento por
não havermos compreendido bastante essas austeras,
mas doces e sagradas obrigações.
7
Quiséramos, então, volver ao passado com a
compreensão alcançada e dispersarmos todas as
nossas forças, toda a nossa energia vital ao serviço
dos nossos semelhantes, conjugando a nossa
atividade com a ação daqueles que se sacrificam
pelos seus irmãos em humanidade.
8
Deus ampara os impulsos do teu coração generoso e
nobilíssimo, não repousando sobre o bem-estar que
conseguiste obter, fazendo dele mais uma razão para
perseverares no propósito sagrado de te unir aos que
laboram pela felicidade e pela paz alheia. 9 Não
guardes em teu íntimo nenhuma recordação acerba
com respeito a superstições prejudiciais. Considera
que todos os acontecimentos de dor na existência são
regidos por forças divinas que objetivam o
aprimoramento do ser nas provações acerbas, mas
redentoras. 10 Labora em beneficio daqueles que
carecem do teu esforço e do teu devotamento, e que
Jesus ampare sempre o teu lar, prodigalizando-te a
ventura melhor que a Terra te pode dar — a
felicidade de um companheiro nobilíssimo, n que
soube sempre fazer do lar o trono sagrado de dois
corações reunidos santamente, dentro das suas
elevadas concepções sobre os problemas da vida,
dentro do seu caráter resoluto e edificado, servido
pelo raciocínio mais lúcido e pelo pensamento mais
puro. 11 As divergências de ordem religiosa nunca
existirão, desde que se compreendam tão bem, nessa
lei de amor que ambos interpretam com justiça e
clareza, multiplicando os seus progressos
espirituais.
12
Às vezes o vejo na Cruz dos Militares e a ti na tarefa
santa do asilo e, mais que tudo, no templo luminoso
do lar, fortificando os filhos bem-amados com os
seus exemplos edificadores. n
Deus te abençoe e te guie!
Estou sempre ao teu lado e não tergiverses no
desempenho das tuas obrigações.
Deus lance sobre todos a Sua sagrada bênção,
Júlia
Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se a Júlia Pêgo de Amorim, minha avó
materna.

[2] Refere-se ao meu avó materno, General Aurélio de


Amorim.

[3] General Aurélio foi, como se deduz das mensagens


colecionadas no livro Militares no Além (VINHA DE
LUZ, 2008), provedor da Irmandade da Santa Cruz dos
Militares por vários anos. Para maiores dados históricos da
instituição mencionada, sugerimos a leitura da referida
obra e dos livros Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 4
ed., 2012, Deus conosco (VINHA DE LUZ, 3 ed.,
2010, Sementeira de paz (VINHA DE LUZ, 2010)
e Colheita do bem (VINHA DE LUZ, 2010), todos
psicografados por Francisco Cândido Xavier. A
comunicante faz referência ao Asilo Espírita João
Evangelista, localizado na Rua Visconde Silva, 96, em
Botafogo, Rio de Janeiro | RJ. O asilo recebe meninas órfãs
e vovó Júlia, por muitos anos, deu aulas, gratuitamente,
para as meninas. Sobre vovó Júlia, vide maiores
informações no ANEXO C, à página 425. Júlia Amália da
Silva Pêgo, minha bisavó materna.
2

Um pedido
14|12|1935

Doutor Rômulo,
Eu estou sofrendo muito.
Peço ao senhor olhar a Nina n para mim.
Eu estou sofrendo muito.
Domingos Nascimento

[1] Notas da organizadora: Refere-se ao meu pai, Rômulo


Joviano, diretor da Fazenda Modelo e chefe da Inspetoria
Regional de Fomento da Produção Animal do Ministério
da Agricultura, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais,
nomeado e empossado, em comissão, por portaria de 25 de
julho de 1919, quando, portanto, a Fazenda “nasceu”.
Sobre Nina não nos foram dados maiores informes.
Mensagem de Domingos Nascimento, conforme
informação de Emmanuel.

Estamos ao vosso lado


14|12|1935

Sobre a resina de jatobá, é mesmo um elemento sólido,


o qual moído tem uma contextura da farinha comum.
A seiva é ótimo elemento para a saúde, tendo,
porém, aplicação diversa.
Sobre o irmão que mencionastes, auxiliai-o com as
vossas preces; a idade, às vezes, não permite reações
necessárias, todavia, considerai todos os vossos
problemas à luz espiritual.
Não vos esqueçais, contudo, que estamos, se bem que
intangivelmente, ao vosso lado, trabalhando pela
continuidade da vossa paz.
Deus vos guie!
Sem Ass.
Nota da organizadora: Receita sem assinatura.
4

Ao Rômulo
14|12|1935

Rômulo Joviano — 41 anos — Presente.


Receita e diagnóstico, se possível.

Vejo no irmão uma leve depressão orgânica geral,


oriunda de resfriados.
Aconselho usar um benéfico regime alimentar,
evitando abusos, fazendo, durante algum tempo,
exercícios respiratórios, que deverão constar, cada
um, de meia hora, mais ou menos, 3 vezes ao dia,
inalando o ar vagarosamente, conservando-o o
maior número de segundos possível em seus órgãos
respiratórios para a necessária oxidação, expelindo-
o em idênticas condições. Esses exercícios lhe farão
muito bem.
Use também 2 ou 3 vidros de Peitoral de Angico. ( † )
Deus vos guie!
Sem Ass.

5-Deus vos guie


14|12|1935

Uma leve perturbação hepática, aliada a ligeiro


resfriamento e a esgotamento nervoso.
O Aconitum Nap. e a Belladonna
Atropos (homeopáticos), alternados, durante uma
semana, lhe farão muito bem. Um vidro do Sal de
Carlsbad ( † ) lhe será útil.
Continuando a experimentar abatimentos, deverá usar
algumas injeções fortificantes, o que consideramos
desnecessário, desde que procure repousar alguns
dias.
Pela manhã e à noite, será útil usar o mingau de sagu,
devendo evitar as carnes nos seus alimentos durante
alguns dias, inclusive o peixe.
Deus vos guie!

Sem Ass.
6

Sobre João de Deus Macário


15|05|1936

João de Deus é nosso grande amigo. Colabora


conosco e devemos nos pôr felizes. É uma grande
mentalidade. Poderão, de vez em quando, trazer-lhe
alguma pergunta, quando estivermos em nossa
intimidade, como hoje acontece. Perguntas de ordem
elucidativa e não esses inquéritos extravagantes, aos
quais dão tanta preferência os incrédulos e
ignorantes. A hora vai adiantada. Não fiquem tristes
ou desanimados. Estamos sempre ao lado de todos.
Boa noite.
Emmanuel
Nota da editora: Mensagem constante do livro Deus
conosco, edição da Vinha de Luz Editora. (p. 81, da terceira
edição, 2010).

Lembrai-vos deste mundo em que vivemos


15|05|1936
1
Irmãos, já que vos reunis para o estudo, trago-vos a
minha colaboração despretensiosa. Entre os vossos
labores de cada dia, lembrai-vos deste mundo em
que vivemos e que não conheceis. 2 Se muitos
daqueles que buscam a realização do impossível
dentro das futilidades voltassem as suas vistas para
a espiritualidade, grandes feitos haveríeis de
presenciar, mesmo em vossos dias. 3 Infelizmente,
porém, a maioria dos que aportam no Espiritismo
chega com o anseio do maravilhoso e esquece de que
antes de querer é preciso merecer e sem a
perseverança e o raciocínio necessários se
abalançam a experiências cujo resultado é o fracasso
mais fragoroso e cruel. 4 Louvo a vossa tarefa.
Brevemente, pretendo começar a escrever algo com
a prancheta, com respeito ao modus vivendi deste
outro mundo, para o qual tendes a regressar.
Doravante, concorrerei com Emmanuel e
convosco. Fui, também, padre. Desencarnei em 19
de dezembro de 1912, na antiga Vila Nova de Lima.
Adeus. Voltarei.

João de Deus Macário


8

Tesouros de consolação


10|11|1936
1
Minha boa irmã e amiga, n
Era meu desejo comunicar-me contigo hoje, por
intermédio da prancheta, n todavia considerei este
meio melhor para te dirigir algumas
palavras. 2 Atualmente, não imaginas como se sente
reconfortado o meu coração em reconhecendo os
meus entes caros na posse das realidades espirituais
que nos felicitam o espírito. 3 Hoje, não mais a
saudade empolgante e dolorosa martiriza o meu
íntimo, mas sim uma divina esperança jorra em meu
coração uma onda balsâmica de paz, que me faz
reconhecida à misericórdia do Altíssimo. 4 Muito
sofri logo após a minha desencarnação, em virtude
dos atrativos que a vida de moça estava cheia para
mim. As ilusões de menina, os sonhos da juventude
não me abandonaram nos primeiros tempos de
minha existência no além-túmulo.
5
Em todos os meus anteriores comunicados, ainda não
tive ensejo em falar-te com respeito às amarguras
que me pungiam a alma dilacerada pela saudade e
pela distância, todavia, a bondade infinita do Senhor
não se fez tardar para o meu coração e senti logo os
efeitos divinos de sua imensa misericórdia para a
minh’alma. 6 Seres piedosos e compassivos
estenderam-me, no Além, os seus braços
compassivos e amorosos, e, aos poucos, tive a
alegria de me fazer sentida por aqueles que eu havia
deixado no mundo crucificados no pranto mais
pungente dentro da expectativa dolorosa da eterna
separação.
7
Felizmente, venho evoluindo, sempre procurando
constantemente o estudo que venha desenvolver as
minhas possibilidades individuais. Tenho, agora,
atribuições e deveres junto de um estabelecimento
destinado à manutenção das órfazinhas terrenas. E
dentro de uma grande falange de muitos amigos
busco desdobrar as minhas atividades, fortificando
os corações dos pequeninos, encaminhando-os para
Deus.
8
Como os homens que lutam e trabalham, nós,
igualmente, temos aqui os nossos dias determinados
de repouso. Nessas ocasiões, recebemos mensagens
dos nossos maiores da Espiritualidade, exortações e
conselhos amigos, como no mundo acontece com
todos os que procuram o progresso através do
trabalho e do esforço próprios.
9
O intercâmbio de conhecimentos entre nós todos, que
vivemos a existência espiritualizada, é bem maior
que os movimentos daí. E é assim que aprendendo e
laborando temos de sustentar uma continuação das
tarefas terrenas em favor do nosso aperfeiçoamento
geral. 10 Se para o homem encarnado existem seres e
radiações invisíveis e inapreensíveis ainda pelas
suas faculdades de observação, para nós,
igualmente, essas criaturas e coisas intangíveis ainda
existem, porquanto o plano de nossos
conhecimentos é ainda relativo, como relativo é o
plano de nossas possibilidades pessoais.
11
Espíritos conheço eu que apesar de serem
extremosos nos seus sentimentos de bondade ainda
não se elevaram da própria Esfera terrestre, servindo
aí de intérpretes junto ao pensamento dos seres
encarnados, dos pensamentos de grandes mentores
espirituais. E marchamos todos para os
conhecimentos divinos e integrais da vida e dos seus
ignotos mistérios.
12
Sinto-me satisfeita e feliz podendo dirigir-te a
palavra em um ambiente tão simples e tão puro como
é o do teu lar terreno. E é por essa razão que sempre
que me é possível estou ao teu lado, insuflando-te o
desejo de conhecer melhor os problemas
transcendentes da vida.
13
Se todas as outras almas femininas soubessem
dos tesouros de consolação que se encontram no
patrimônio imenso de nossa consoladora Doutrina,
bem aproveitariam o tempo dentro das ideias
verdadeiramente construtoras, sem os delírios das
ideologias ocas que só poderão atrasar-lhes a marcha
ascensional para Deus. 14 A missão da mulher não
pode ser adulterada. Qualquer modificação no seu
papel de orientadora da família, dos homens e dos
povos acarreta a confusão no mecanismo geral da
coletividade. 15 Muitos dos nossos mestres daqui nos
afirmam que o desvio da mulher, no tocante aos
problemas grandiosos dos seus deveres, é uma das
causas principais da luta terrível que se estabeleceu
nos últimos anos sobre a Terra.
16
Que Deus guarde a todas! Que nesta noite, mais do
que nunca, possam cair do Céu sobre o teu coração
e sobre o teu lar as bênçãos dulcificantes do Criador.
Tua de sempre,
Helena n

Trabalhamos neste outro lado da vida!


23|06|1937
1
Meus bons amigos!
Que Deus ilumine o seu lar e ampare os seus
corações nas lutas terrestres!
2
Eis que me acho ao lado de vocês confabulando
dentro da amizade profunda que nos une as almas.
Se pouco tem se manifestado o meu pensamento
diretamente entre vocês, semelhante fato não se
observa quanto à minha presença espiritual, pois
sempre que me é possível visito-os, segundo o tempo
que me é concedido.
3
Vendo, minha boa Maria, as suas boas disposições
maternas para os problemas educativos dos seus
filhinhos, sinto-me satisfeita em verificar essas
coisas. É bastante doloroso observarmos daqui
antigas companheiras nossas que colocaram nos
ombros a missão de ensinar não só pelo livro na
escola mas também pelo coração no lar, perderem-
se em atividades menos dignas, nesse terreno,
incapazes de nortear a criança para o bom
caminho. 4 Ultimamente, como vocês sabem, estou
colaborando na grande falange espiritual que ampara
os trabalhos do Asilo João Evangelista, dirigido pela
nossa abnegada Aura Celeste.
5
Vocês não imaginam como trabalhamos neste
outro lado da vida! Junto de alguns companheiros,
ali procuramos incutir no espírito das criancinhas as
noções do bem, da justiça, da tolerância e da
caridade. Junto dos diretores e dos mestres, é
igualmente sensível a nossa ação, auxiliando-os na
grande tarefa de cooperar para a formação da
mentalidade cristã, que deverá florescer nas épocas
futuras.
6
É verdade que os obreiros ainda não são muitos;
todavia, os que existem são assinalados pela melhor
boa vontade e isso constitui o penhor seguro da
nossa vitória espiritual nos tempos que se
aproximam.
7
Vocês ficariam satisfeitos conhecendo as nossas
organizações de trabalho e o modo singular de nossa
vida. Isso, porém, é bastante difícil pela
inacessibilidade do aparelho de compreensão de que
vocês podem dispor. Basta, contudo, que eu lhes
diga que o nosso meio não difere essencialmente da
Terra, representando mais uma continuação do
planeta que uma região de outro mundo.
8
Imaginem que eu não estou localizada, junto das
almas benditas que me protegem e esclarecem,
muito longe das lutas terrestres. Ainda não disponho
das asas necessárias para voos mais altos no mundo
espiritual, mas confortada com o que já possuo
espero, confiada em Deus, aquele “acréscimo” que
Jesus prometeu a todas as almas que esperassem
n’Ele e na Sua infinita misericórdia.
9
Aqui, minha boa Maria, ainda necessitamos de
alimentos e de muitas outras coisas mais que
caracterizavam aí no mundo a nossa humana
natureza.
10
Tenho também, como vocês, períodos de descanso
entre as atividades que tenho de desenvolver, em
cooperação com os nossos irmãos auxiliares dos que
militam na Terra, na grande tarefa da caridade
cristã. 11 Um dos fatos mais interessantes é que
nunca podemos vir sozinhos ao orbe terrestre,
enquanto não somos senhores de nossas emoções e
para que se verifique a nossa educação nesse
particular temos aqui as escolas de mensageiros.
12
Sem passarmos por esses Institutos, só poderemos
vir à Terra convenientemente acompanhados e
protegidos por companheiros devotados que não nos
faltam no Além. 13 Eu e alguns colegas de trabalho e
de estudo recebemos ordens de nossos chefes
espirituais, os quais, por sua vez, frequentemente,
colocam-se em contato com seus mentores das
Alturas, através de processos espirituais que não lhes
posso descrever literalmente. 14 Posso narrar-lhes,
porém, que num dia em que demonstrei muita
curiosidade de assistir a esses fenômenos, assistida
por um grande amigo, pude notar que os nossos
superiores recebiam alvitres do Alto, que lhes eram
transmitidos em letras e sinais luminosos no éter
atmosférico. 15 Fiquei bastante surpreendida com
esses fatos; todavia, alguns protetores me
elucidaram, salientando aos meus olhos a
mesquinhez das possibilidades da visão e dos
entendimentos humanos, dos quais eu regressei tão
recentemente.
16
Graças a Deus, felizmente, guardo no meu íntimo a
satisfação de auxiliar alguns dos meus entes
queridos nas obras de caridade fraternal, guiando-os
para as coisas que constituem o patrimônio dos
conhecimentos que já possuo, com o auxílio divino
do nosso Pai, que é Deus.
17
Você, Maria, continue como sempre interessada em
conhecer essas verdadeiras maravilhas. Procure
prescindir sempre da luta política e do espírito de
competição em que se encontram desviadas muitas
de nossas amiguinhas da época. 18 A vida verdadeira
é esta para onde todas as criaturas terão de voltar um
dia. 19 Faça do teu coração sempre o hostiário do lar.
A missão materna é sublime demais para que eu
possa tecer considerações em torno desses sagrados
misteres da mulher na Terra.
20
Que Deus conceda a vocês muita saúde e paz de
espírito! Estarei sempre com vocês, em todas as
oportunidades.
A sua irmã e amiga de sempre,
Helena
10

Flores de amor e de fé
14|12|1937

“(…) E enquanto as suaves e caridosas palavras de


Emmanuel me penetram os ouvidos, deixo embalar-
me na humildade do meu coração e na esperança do
Céu para dizer, com toda a energia de minha pobre
alma: Eu te agradeço, Senhor, por tudo o que me tens
dado e que o rocio do seu amor orvalhe o coração
sensível e afetuoso dos filhos que aqui se encontram
no planeta obscuro, sem esquecer o Pai carinhoso e
amigo de todos os momentos. Reflete sobre eles a
tua glória infinita e que as tuas bênçãos, jorrando do
Céu sobre as suas cabeças, possam desabrochar no
âmago dos corações em flores de amor, de fé, de
crença, de caridade, de paz e de esperança.”

Arthur Joviano

Nota da organizadora: Meu avó paterno, desencarnado em


14 de dezembro de 1934. Trecho de mensagem recebida
por Chico Xavier no Grupo Doméstico Arthur Joviano.
11
A certeza consoladora


29|12|1937
1
Minha boa irmã, Deus te conceda, como ao teu
esposo e ao teu lar, as melhores venturas!
2
Minhas palavras traduzem a minha presença à nossa
reunião, Maria, e quero felicitar-te pelo teu esforço
no sentido de adestrares as tuas possibilidades
mediúnicas dentro do grande pensamento de serviço
aos necessitados, aliviando os sofredores do corpo e
do espírito.
Deus há de permitir que te auxiliemos com todos os
nossos recursos e, em breve, poderás ocupar uma
pequena parte do teu tempo diário no receituário em
favor dos que sofrem. 3 Por enquanto é o
Professor n que está te auxiliando mais diretamente,
mas tão logo se familiarizem as tuas possibilidades
nesse mister um dos nossos esclarecidos mentores
espirituais se incumbirá de transmitir-te os
conselhos médicos necessários a quantos deles
venham a precisar no caminho por onde passares.
4
Tuas possibilidades estão ainda indecisas, mas isso é
questão de método, de estudo e de perseverança,
como aconteceu com as experiências da prancheta.
Guarda a certeza consoladora de que tudo vai
muito bem e de que estaremos ao teu lado para
insuflar-te a força precisa ao desenvolvimento dos
teus novos labores, nesse sentido.
5
Deus te conceda muitas felicidades para o Ano Novo.
Para nós, os desencarnados, todo o tempo é um só e
a contagem das horas não se verifica de acordo com
os cronômetros da Terra, mas falando-te para o orbe
onde te encontras devo readaptar-me aos teus
costumes e é assim, minha amiga, que venho pedir a
Deus, muito perto do teu coração, que encha de
alegria o sapato de tuas aspirações materiais,
enchendo-te o coração bondoso e sensível das mais
santas felicidades da Terra e do Céu.
6
Que Jesus te abençoe, abençoando-te as esperanças
sagradas de mãe e o ambiente tranquilo do lar! São
os votos muito sinceros da sempre tua,

Helena

[1] Notas da organizadora: Em referência ao vovô Arthur.


12

Vibrações fraternas
05|01|1938

Meus filhos, boa noite! Aproveitando a companhia do


nosso querido Arthur, n quero manifestar-vos de
viva voz o meu agradecimento pelas vibrações
fraternas com que me tendes ajudado depois do
meu desprendimento da matéria.
Ainda me sinto estranha e não encontro o jeito
necessário de me acostumar com o meio, mas tenho
fé em Maria Santíssima que, em breve, terei
adquirido novos elementos de progresso para ajudar
a todos os nossos aí do mundo. Continuarei a me
fortalecer com as vossas preces, sem vos esquecer.
Da velha tia muito amiga,
Mariquinhas n

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao vovô Arthur Joviano. Cabe acrescentar
que Arthur Joviano nasceu em 1862 em Barra Mansa | RJ.
Espírito sempre fiel ao ideal do ensino e da educação, foi
responsável pela primeira reforma do ensino primário no
Estado de Minas Gerais. Professor de Português do Ginásio
Mineiro e da Escola Normal de Barbacena, lugares obtidos
em brilhantes concursos, exerceu por longos anos, o cargo
de diretor da Escola Normal Modelo e a Cátedra de
Português em Belo Horizonte | MG. Transferindo-se
depois, para a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, trabalhou como Inspetor de Ensino e como
Superintendente da Instrução Pública do Distrito Federal.
Em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, existem escolas
com o seu nome. Desencarnou no dia 14 de dezembro de
1934. Da união com Francisca da Rocha, Arthur Joviano
teve 9 filhos, sendo que uma menina desencarnou
precocemente. Foram eles: Rômulo, Fausto, Albino, Zina,
Martha, Flora, Célia e Lúcia. Mais tarde, o casal adotou
como filho José de Araújo.

[2] Mariquinhas era irmã do vovô Arthur Joviano. Mensagem


recebida por Chico Xavier e Maria Joviano, com a
utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações
13
Procuramos auxiliá-lo
05|01|1938

O nosso irmão Mário n deverá repousar fisicamente


procurando respirar os ares da manhã, podendo fazer
ligeiros passeios a pé.
Após o passeio, e à noite, use os mingaus de sagu,
excelentes para esse caso, pelas suas substâncias
fosfatadas.
Deve usar o Promonta até considerarmos suficiente a
quantidade. Faça uso das injeções trazidas. Poderia
usar as fortificantes, repouso, e quanto ao problema
dos alimentos pode continuar o comum com exceção
de azedos.
Procuramos auxiliá-lo através dos passes.
Deus o guie!
Dr. Manuel Pinto Quintão n
Dr. .Cassiano Nunes Moreira

Notas da organizadora:
[1] Refere-se ao meu tio Mário, irmão de minha mãe.

[2] Sobre os Espíritos comunicantes não nos foram dados


maiores informes. Mensagem recebida por Chico Xavier e
Maria Joviano, com a utilização da prancheta. Rômulo
Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


14

Intuição pura
09|02|1938
1
Meus bons amigos Chico e Rômulo, n Deus vos
conceda muita paz!
2
Conforme a promessa do bondoso orientador dos
trabalhos do nosso grupinho, estou incumbida de
ajudá-los, segundo as minhas escassas
possibilidades, no que se refere ao desenvolvimento
mediúnico dos queridos irmãos. n
3
Ainda ontem, de fato, o nosso irmão Arthur Joviano
muito trabalhou para ver se a prezada Maria lhe
conseguia receber-lhe o pensamento, mas a querida
amiguinha, na sua completa abstração do fenômeno,
não tem desenvolvido no seu mundo interior um
estado de docilidade necessário no campo
da intuição pura, a fim de começar pelo princípio,
mas conto, com certeza, com o breve
desenvolvimento da inesquecível amiga Maria.
4
Os meus familiares têm experimentado grande
desejo de vir até aqui. Quando vocês tiverem
oportunidade de conversar com a mamãe ou com o
papai, digam-lhes que eu os auxilio quanto posso e
que não poderia esquecê-los de modo algum!
5
Bem sei o quanto sofreram os seus corações sensíveis
de pais com a prova rude da inesperada
desencarnação da filha, a quem eles queriam tão
bem…
6
Deus lhes pague pela gentileza fraterna!
Muito boa noite! Espero muito progresso para as
nossas reuniões.
Deus esteja com todos,
Helena

Notas da organizadora:
[1] Em referência a Chico Xavier e a Rômulo Joviano, meu
pai.

[2] O Grupo Doméstico Arthur Joviano se reuniu de 13 de


novembro de 1935 a 1º de abril de 1952, em Pedro
Leopoldo, na Fazenda Modelo, com a presença de Chico
Xavier, e de 9 de abril de 1952 até a desencarnação de
Rômulo, aos 78 anos, em 6 de dezembro de 1970, na capital
do Rio de Janeiro.

Mensagem recebida por Chico Xavier e Mário Pêgo de


Amorim, meu tio, com a utilização da prancheta. Maria
Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


15

Palavra de avó
09|02|1938
1
Meu caro filho, n
Graças a Jesus posso te trazer nesta noite a
minha palavra de avó, que muito te estima.
2
Andas ameaçado de um esgotamento nervoso pela
intensidade de trabalho no ambiente babilônico do
Rio de Janeiro. Mas com a calma do campo vais
melhorar rapidamente. O nosso receitista vai te
receitar agora e além dele, aliás, além desse auxílio,
procuraremos proporcionar-te o máximo de
forças. 3 Agora, nestes dias, procura repousar o mais
possível. Julgamos oportuno e conveniente que te
resolvas a ficar com Maria os dias que puderes em
beneficio de tua saúde. Não te preocupes em
demasia com os muitos tratamentos, tudo será
ajustado de acordo com tuas necessidades.
4
Manda dizer ao Aurélio n que estive com o nosso
General Pêgo Junior, n que o está auxiliando no
grande trabalho da Cruz dos Militares, e dize à
Julinha para ela não ficar nervosa com tantas
atividades na Igreja. Isso é preciso por enquanto.
5
Adeus para vocês! Que a piedosa mãe de Jesus os
abençoe,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] Refere-se ao meu tio Mário, filho de Júlia e Aurélio, neto
de Júlia Amália da Silva Pêgo, a comunicante.

[2] Refere-se ao vovô Aurélio, marido de Júlia, filha da


comunicante, Júlia Amália da Silva Pêgo.

[3] O Marechal Antônio José Maria Pêgo Junior, marido da


comunicante, nasceu em 2 de julho de 1841, em Santos. |
SP. Desencarnou em 7 de julho de 1907, no Rio de Janeiro.
| RJ. O casal teve três filhas: Júlia, minha avó, Esther e
Maria. O Marechal participou da Guerra do Paraguai e do
Cerco da Lapa, no Paraná. Conhecido desde sempre pela
bravura e lealdade incontestáveis nos serviços prestados à
pátria como oficial do Exército, foi acusado injustamente
por crime de deserção, em 1893, durante o histórico Cerco
da Lapa, no Estado do Paraná, à época da transição do
regime monárquico para o republicano. Após passar por
dois processos condenatórios, esteve preso,
incomunicável, por 9 meses, vindo a ser absolvido pelo
Supremo Tribunal Militar, que, revendo os autos e a
insustentabilidade das acusações, reformou a iníqua
sentença, restituindo-lhe a liberdade e livrando-o da pena
de morte. Segundo o Coronel Cordolino de Azevedo em
seu livro O Marechal Pêgo Junior e a invasão do Paraná,
“(…) Pêgo tinha a coragem moral de se dizer monarquista.
Seria ele, portanto, o responsável pelos desastres de todos.
(…)”. A lisura e a honra imaculada do Marechal Pêgo
Junior foram, portanto. restauradas para a história nacional,
tendo sido ele, mais tarde, o 34º provedor da Irmandade da
Santa Cruz dos Militares, instituição benemérita para a
qual dedicou muitos anos de sua vida. Pêgo Júnior era outro
modo como o Marechal Antônio José Maria Pêgo Júnior
assinava seu nome. Algumas mensagens recebidas por
Chico Xavier também são assinadas por ele como
Antoninho ou tão somente Pêgo. Sobre o assunto,
sugerimos a leitura de Militares no Além (VINHA DE
LUZ, 2008), psicografia de Chico Xavier por Espíritos
diversos, de minha organização. Mensagem recebida por
Chico Xavier e Rômulo, com a utilização da prancheta.
Maria Joviano fez as anotações.

.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.
16

Meu algoz é minha própria consciência


24|03|1938
1
Sou eu, meus amigos, quem se valerá nesta minha
amargura sempre!… Ele… a seguir-me com seus
grandes olhos!… Que força é esta que nos
acompanha depois da própria sepultura? 2 Vossos
pensamentos me atraíram e sinto algum alívio
confessando as minhas faltas… Fui eu o verdadeiro
criminoso… salpicando com o lodo da calúnia o
nome de um homem honesto e justo. Pago caro a
ambição da vida terrestre…
3
Meu algoz é minha própria consciência. Debalde,
procuro obscurecê-la. Debalde, tapo os ouvidos para
não lhe ouvir os gritos reiterados: “Caim, Caim, o
que fizeste de teu irmão?” ( † ) Debalde oculto de
mim mesmo a minha grande desventura. Toda a paz
se esvai como num sonho… Minh’alma perambula
nos vales enevoados e frios da fazenda de Ponta
Grossa.
4
Para que o meu erro esteja patente em meu coração,
vós, meus amigos, estendei-me as mãos numa prece!
Se eu ainda fosse o homem da Terra, não vos falaria
com sinceridade, mas agora sou o triste fantasma da
verdade! Já não há remédio senão confessar para
diminuir a dor do meu coração atribulado.
5
Rezai por mim! Não fiz por merecer, mas não se nega
uma esmola implorada, pelo amor de Deus…
Dutra. n

[1] Notas da organizadora: Gustavo Dutra foi um amigo e


colega de trabalho de Rômulo Joviano na Fazenda Modelo
de Ponta Grossa, no Paraná. Foi ele o responsável pela
calúnia que vitimou outro colega, o Pereira, que assina a
mensagem seguinte (p. 81), que se suicidou devido a uma
injusta punição imposta pelo ministro da Agricultura,
baseada na difamação. Dutra compareceu diversas vezes às
reuniões do Grupo Doméstico Arthur Joviano. Mensagem
recebida por Chico Xavier e Maria Joviano, com a
utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livr


17

Eu poderia ter lutado mais um pouco


24|03|1938
1
Eis-me aqui, meus amigos! A noite é de dolorosa
confirmação e também eu tenho sofrido muito!
[v. nota da mensagem anterior.]
2
Não tive forças para chegar ao fim do cálice de
amargura e minha pobre esposa e filhinhas aí
ficaram órfãs de minha presença e de meu carinho…
3
Descendente dos Fortes, eu poderia ter lutado mais
um pouco, porém a energia me faltou. No momento
preciso, também eu perambulei por Ponta Grossa,
cheio de ódio e sedento de vingança. Não podia
concordar com a injustiça da condenação e um tiro
foi o epílogo das decisões do ministro.
4
Inconsciente por muito tempo, ainda fiquei na
Ladeira do Ascurra, sofrendo, mas quando pude
locomover-me, persegui os meus caluniadores
faminto de desforço.
5
Mas, ó grande Deus, a vossa luz tocou-me o
coração!… Perdoai-me para que eu possa perdoar os
meus devedores, seja feita a Vossa vontade, assim
na Terra como no Céu.
Voltarei mais tarde.
Peçam a Deus por minha paz!
Pereira n

[1] Notas da organizadora: Colega de trabalho de Rômulo


Joviano na Fazenda Modelo de Ponta Grossa, no Paraná.
Suicidou-se devido a uma injusta punição imposta pelo
ministro da Agricultura, baseada em infamante calúnia de
outro colega, Gustavo Dutra, que assina a mensagem da p.
79. A Ladeira do Ascurra, referenciada nesta página, trata-
se de uma rua no bairro de Cosme Velho, ( † ) no Rio de
Janeiro, onde, provavelmente, cometeu o ato extremo.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria Joviano,
com a utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


18
Verdadeiro arrependimento
11|05|1938
1
Maria e Rômulo, meus prezados amigos,
Não sei como definir-lhes a minha penosa situação
espiritual! 2 Quero chorar e não posso. Uma
dolorosa angústia me domina a alma toda, não
obstante sentir algum alívio junto da luz suave que
se desprende da reunião dos inesquecíveis
amiguinhos!
3
Sinto verdadeiro arrependimento olhando os dias
últimos de minha existência terrestre! Todo o meu
mal foi haver ficado na piedosa sombra do coração
de Julinha n sem ouvir-lhe os salutares conselhos.
Suas lágrimas, minha boa Maria, caem na minha
alma como um bálsamo.
4
Você é muito feliz, n possui um esposo digno, os
filhinhos e a fé que lhe alimenta o coração de mãe
dedicada e carinhosa. 5 Eu também possuo o melhor
dos companheiros, mas não tive a fé necessária para
venerar-lhe a memória e caí no longo caminho das
tentações. Lavo meu coração de mulher nas lágrimas
do mais sincero remorso e quero dar força nas
minhas palavras para pintar-lhes o meu
arrependimento.
6
Peçam ao Aurélio n que me perdoe, pedido esse que
quero estender à bondosa Dedé, n que eu não pude
compreender com a minha educação defeituosa.
7
Envergonho-me de pedir a proteção do meu
Ambrósio. n Lembro-me de que ele tantas vezes
tentou ajudar-me daqui mesmo, aconselhando-me
com seu carinho e com o seu desvelado amor!
Entretanto, não parei para ouvi-lo, enquanto era
tempo… Peçam a ele, nas suas preces, que me
perdoe!
8
Orem pela minha paz! Agora preciso retirar-me,
voltarei quando Deus quiser. Aparecer aqui me faz
grande bem. Perdoem à amiga e tia na Terra,

Marie

Notas da organizadora:
[1] Em referência à minha avó Júlia.

[2] Em referência a mim e ao meu único irmão, Roberto


Joviano.

[3] Referência ao vovô Aurélio e à sua irmã Dedé.

[4] Ambrósio [Mensagem seguinte] também era irmão do


vovô Aurélio e foi casado com a norte-americana Marie
Benson, que assina a mensagem, que foi recebida por
Chico Xavier e Maria Joviano, com a utilização da
prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


19

Uma imensa alegria


19|05|1938
1
Maria, minha boa filha, Deus te abençoe e te proteja,
junto de Rômulo e das crianças!
2
Minhas palavras desta noite ainda se prendem à
situação da Marie, que, graças à misericórdia de
Deus, se sente mais aliviada e bem disposta.
3
Naquela noite fui eu próprio quem a trouxe até aqui
[mensagem anterior], no sentido de beneficiar-lhe o
coração desesperado e abatido. Graças a Deus, vejo-
a mais forte! Sinto com isso uma imensa alegria!
Peço avisar ao Aurélio e à Anna n do meu
contentamento.
4
Quero que eles se lembrem dela com a melhor
fraternidade; esquecendo o infeliz que lhe não soube
compreender a alma bondosa e sensibilíssima.
5
Que Deus te recompense e ao Rômulo pelo conforto
que me proporcionaram!
Continuem rogando a Deus pela minha querida
companheira.
6
E que Deus, Maria, recompense teu coração cheio de
generosidade e de crença.
Em todos os momentos da vida, deves contar com a
minha alma muito agradecida.

Ambrósio de Amorim n

Notas da organizadora:
[1] Sobre Anna não nos foram dados maiores informes.
[Anna Benvinda, tia de D. Júlia, v. cap. 30.]

[2] O Espírito comunicante é Ambrósio, irmão do vovô


Aurélio. Foi casado com a norte-americana Marie Benson,
já citado em nota anterior.
.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.

20

Nas claridades do Mundo Espiritual



01|06|1938
1
Meus bondosos filhos, Deus vos ampare e proteja ao
longo das estradas da provação terrestre!
2
As vossas recordações tocam a minh’alma e os
pensamentos carinhosos que me enviais são como
rosas frescas do mundo, reacendendo o perfume
suave e imorredouro dos Céus!
3
Sinto-me feliz, reiterando-vos os meus votos de paz
em Jesus, porque depois da jornada penosa da
existência terrestre experimento uma vida nova
mutando-me o coração. 4 Refaço as minhas energias
para cooperar com a nossa Julinha dentro da
continuidade da obra de amparo espiritual para com
aqueles que a luta expiatória privou do celeste dom
da vista. Procuraremos dilatar em nossas mãos, a
visão íntima de sofredores e desalentados,
alargando-lhes as possibilidades dos olhos d’alma,
para a bênção da paz e do conhecimento moral de
nossa consoladora Doutrina.
5
Peço-te, Maria, que envies à sua mãe, carinhosa e
sensível, a minha palavra de velha tia e amiga
inseparável do Espaço, como sempre fazes. Dize à
Julinha, bem como à nossa Mariquinhas, que graças
a Deus estou forte, bem disposta e feliz! 6 Faz mais
de um ano que a morte me arrebatou para as suas
confortadoras verdades e, felizmente, sinto forças
novas banhando-me todo o ser. Graças a
Deus! 7 Dize a elas que as acompanho sempre que
posso, inspirando-lhes coragem, energia para a luta,
bem como a todas as demais sobrinhas, que eu aí
deixei. E que não se preocupem com os pequeninos
nadas da vida passageira do planeta, principalmente
a minha querida Mariquinhas precisa pensar nesta
minha recomendação de mãe. 8 Não deve ela se
entregar a pensamentos tristes e sombrias
apreensões, criando estados nervosos, dentro de sua
natureza pacífica, mas sim confiar na bondade
d’Aquele que é nosso tudo neste mundo e no
outro! 9 Que ela recorde os nossos dias do passado e
espere confiante na Providência Divina. É verdade
que lhe falta a assistência tangível do companheiro
que a aguarda na luz do Infinito, mas o carinho doce
das filhas deve ser o bálsamo suave de suas ardentes
esperanças.
10
O Daniel, n graças à misericórdia do Alto, vem
auxiliando a todos e recordando as minhas palestras
com a Julinha. Sou muito agradecida aos meus
filhinhos aqui presentes, pelo bem que me
proporcionaram.
11
Aí na Terra todos os acontecimentos e todas as
situações são expressões transitórias das atividades
planetárias. O que subsiste é a fé em Deus, o amor
praticado e sentido, o bem que se plantou pelos
caminhos escabrosos, cujas sementeiras, longe da
Terra, medram e se desenvolvem nas claridades do
mundo espiritual. 12 Nada se perde e o que me falta,
meus amigos, para vos fazer compreender a
realidade, é a expressão vocabular necessária para
vos conduzir o pensamento a esse complexo de
emoções sublimadas, que constitui o estado
contínuo das almas de consciência retilínea, fora dos
liames lamacentos da matéria carnal. 13 A palavra
amiga, o sorriso confortador, a gota de remédio, o
pedaço de pão são células da árvore do bem, cuja
sombra bondosa vos guarda no Céu, distante do
calor dissolvente das paixões terrestres.
14
Dizei à Julinha de minha satisfação vendo-a
continuar o esforço pálido de minha boa vontade
apenas. Que ela trabalhe, não excessivamente, mas
com o método preciso, que o resto Jesus nos
concederá de acréscimo, segundo a sua promessa
suave. E que Deus vos abençoe a cada um,
concedendo-vos as alegrias mais santas, é o que
suplica a Deus, neste momento, a velha tia da Terra
e irmã da Eternidade,
Engraciha n

Notas da organizadora:
[1] Sobre Daniel não nos foram dados maiores informes.

[2] Engracinha, Engrácia Ferreira, era tia de vovó Júlia, ou


Julinha. Foi pioneira do alfabeto Braille para cegos.
Desencarnou a 21 de abril de 1937 e menos de um mês
depois, a 6 de maio, comunicou-se por meio de Chico
Xavier, em uma mensagem dirigida à vovó Júlia,
solicitando a continuação de sua obra. “(…) Engrácia
Ferreira, pioneira do alfabeto Braille para cegos,
desencarnou a 27 de abril de 1937. Menos de um mês
depois, a 6 de maio, comunicava-se através de Chico
Xavier dando uma mensagem dirigida a D. Júlia,
solicitando a continuação de sua obra. Onze dias depois,
Chico recebe a segunda mensagem, na própria grafia do
Braille, que foi publicada em “Reformador” de junho de
1938. Diz uma nota de rodapé da revista que o médium,
por não conhecer o alfabeto Braille, levou duas horas para
receber tal comunicação psicográfica, que foi assim
transcrita: “Minha boa Julinha, a paz de Deus, nosso Pai,
seja em teu generoso coração, sempre tão cheio de fé.
Trabalhemos pelos cegos, minha filha, pensando que a
cegueira do espírito é bem mais triste que a dos olhos. Hei
de ajudar-te com o favor de Deus. A tia, Engrácia.” No dia
16 de novembro de 1938, transmite a 3ª mensagem,
sugerindo que ela transpusesse para o Braille determinado
dicionário de Português, obra que havia deixado inacabada.
D. Júlia, atendendo à solicitação da querida amiga
espiritual, aprendeu sozinha o alfabeto Braille, copiando
letra por letra. Para certificar-se, pediu a um cego que lesse
o que havia escrito, cujo resultado encheu-lhe de alegrias.
A partir daí, transformou-se numa verdadeira missionária
do Braille. Reuniu em sua casa várias senhoras interessadas
nessa obra de altruísmo — na prática do ensino do Braille.
Em 1939, iniciou a transcrição do Dicionário da Língua
Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo
Barroso, cujo trabalho durou cerca de quatro anos, dando,
ao todo, 64 volumes. Em 1945, Chico Xavier recebeu a 5ª
mensagem do Espírito Engrácia Ferreira, agradecendo à
sobrinha o atendimento e o valioso trabalho em prol dos
cegos. D. Júlia iniciou um curso gratuito do Braille no
centro da cidade, visando maior número de colaboradores.
Transcreveu para esse alfabeto inúmeras obras espíritas e
não espíritas, entre as quais O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Agenda Cristã, Cartas do Evangelho, Voltei,
Pequenas Mensagens e muitas outras, todas doadas à
Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB). (…).”
Disponível em:
www.espiritismogi.com.br/…/juliapego.htm. Acesso em:
03 jan. 2008. Tia Engracinha, já no Plano espiritual,
reconheceu-se devedora dos cegos, porque, mulher
poderosa em vida anterior, decretara tal pena ao chefe de
insurreição surgida em seus domínios e, em o fazendo, teve
como vítima o próprio filho.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

.21

Continue orando por mim


25|08|1938
1
Maria,
Eu estou bem melhor e mais confortada!
2
Agradeço-lhe a boa lembrança que guardam da tia
tão imprevidente e tão infeliz!… [Cap. 18.]
3
Peçam à Julinha que continue orando por mim e à
boa Adelaide n que me perdoe pelos muitos
desgostos com que lhe machuquei o coração!
4
Deus, ó meu Deus, amparai-me na minha purificação
espiritual depois de tantas faltas! Socorrei-me com a
Vossa misericórdia!
5
Muito boa noite, Maria, e que seu bom coração
continue me perdoando como sempre fez,

Marie

[1] Nota da organizadora: Adelaide era irmã do vovô


Aurélio.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.

22

Tempo de reflexão


31|08|1938
1
Meus filhos, muito boa noite e que Deus os abençoe!
Venho hoje até aqui mais controlada e mais
forte. 2 Eu, Maria, tenho pedido muito a Deus pela
Nhanhá n e pelos filhos. O seu coração de mãe
precisa muito, como você sabe, de minha assistência
constante. 3 Peço a você e ao Rômulo desculpas
pelas muitas incompreensões que ambos têm
recebido. Sobre muitos assuntos não é conveniente
levantarmos o comentário, ainda que afetuoso e
familiar. Falarei tão somente do livro para dizer que
há um tempo de reflexão, que nunca chega tarde.
4
Sei que a Iná n é mais ou menos feliz e que os seus
protetores estão confortando-lhe o coração nas
lembranças de sua vida tão moça e ainda forte.
Vamos nos conformar com a vontade de nosso Pai
de Bondade. 5 Penso no meu pedido importuno, mas
quanto seja possível espero que o Rômulo não se
esqueça do Caio. n Penso muito nesse menino. Dos
filhos da Ignez n é o que mais me preocupa, em vista
das perseguições de que é vítima por parte de
obsessões invisíveis aliadas aos muitos defeitos de
educação longe do trabalho.
6
O Arthur envia lembranças.
Fiquem na paz de Deus!
A velha tia,
Mariquinhas

Notas da organizadora:
[1] Nhanhá era irmã do vovô Arthur, portanto, tia de Rômulo.

[2] Sobre Iná não nos foram dados maiores informes.

[3] Caio Márcio Renault, filho de Abgar Renault, primo de


Rômulo. Reencarnação de Caio Fabricius, personagem do
romance 50 anos depois, de Chico Xavier e Emmanuel
(FEB, 1940). Na sequência das vidas sucessivas,
personificou Henrique VIII, soberano inglês no século
XVI. Caio Márcio passava, quase sempre as férias
escolares na Fazenda Modelo.

[4] Em referência a Ignez Caldeira Brant Renault, esposa de


Abgar de Castro Araújo Renaut, primo de Rômulo. Abgar
Renault (Barbacena, 15 de abril de 1901 — Rio de Janeiro,
31 de dezembro de 1995) foi um professor, educador,
político, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. Ocupou a
cadeira 12 da Academia Brasileira de Letras e a cadeira 3
da Academia Brasileira de Filologia. Informação contida
em https://pt.wikipedia.org/wiki/Abgar_Renault. Acesso
em: 22 out. 2012. O casal teve 3 filhos: Caio Márcio,
Carlos Roberto e Luiz Roberto. Mensagem recebida por
Chico Xavier e Maria Joviano, com a utilização da
prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.23

O trabalho representa muito


31|08|1938
1
Meu bom amigo,
Deus lhe conserve a paz e a saúde! 2 Confirmando as
minhas palavras de outro dia [Cap. 16], sou eu que
lhe agradeço a possibilidade que me foi concedida,
podendo trabalhar na cooperação com o seu trabalho
no serviço da Exposição. 3 O trabalho representa
muito hoje para a minha personalidade sofredora,
desde aquela vez em que estive aqui pela primeira
vez. Parece que Deus se compadeceu de minha
miséria e permitiu que eu pudesse trabalhar
buscando um novo guia de evolução e de
progresso. 4 Aqui tenho procurado encaminhar o
nosso amigo Charles, n que apesar de ser um Espírito
esclarecido ainda sofre muito com as penosas
lembranças da vida familiar. Ele bem que trabalhou
conosco, mas suas alternativas de dor são bastante
dolorosas. Não o esqueça nas preces. 5 As que foram
feitas aqui por mim tiveram a virtude de aliviar-me
as dores mais intensas.
Deus lhes pague a todos,
Gustavo Dutra

Notas da organizadora:
[1] Sobre Charles não nos foram dados maiores informes.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


24

Nos problemas da crença


14|09|1938
1
Meus filhos, que Jesus os ajude e abençoe!
2
Maria, minha querida, sinto um grande bem no
coração vendo-a seguindo os mesmos passos da
Julinha nos problemas da crença. 3 A Igreja
Católica muito me prejudicou com seus falsos
ensinamentos, e é com mágoa que recordo de minha
incompreensão sobre as ideias espíritas de sua
mãe. 4 Lembro-me de que até no tempo de minha
desencarnação procurava apartar a Julinha de seu
caminho certo. Felizmente, ela não se deixou
impressionar com as minhas ideias, consciente da
verdade que lhe iluminava o coração. 5 A verdade é
que sendo ela a espírita, e pouco compreendida de
todas as filhas, é a que me tem trazido o maior
amparo no mundo espiritual pela firmeza de sua
fé. 6 Enquanto as outras exigem o meu auxílio, eu
vou buscar, muitas vezes, o amparo com ela e com
suas preces valorosas.
7
Você, minha filha, deve sentir-se muito feliz
podendo ser para Julinha o que ela é para mim e por
ter um companheiro que ajuda o seu coração e o seu
espírito na obtenção dessa luz!
8
À Julinha e ao Aurélio, a minha bênção. E que Deus
abençoe a vocês é a rogativa sincera e ardente da
velha avó muito amiga,

Júlia

Nota da organizadora: Mensagem recebida por Chico


Xavier e Maria Joviano, com a utilização da prancheta.
Rômulo Joviano fez as anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


5

No recinto de nossas orações


28|09|1938
1
Jesus, bom e divino Mestre,
Derramai sobre nós as vossas bênçãos de
misericórdia e de amor! 2 Permiti que todos os
Espíritos sofredores que nos assistem possam
comungar na doce eucaristia de nossa fé,
recuperando-se no recinto de nossas orações,
edificando-se para o cumprimento de seus sagrados
deveres no Plano espiritual!
3
Senhor, nós confiamos em vossa inesgotável
piedade, em vossa bondade infinita!

João de Deus Macário

[A presente mensagem foi utilizada como Prefácio


espiritual desse livro.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

26

Serenidade do coração
28|08|1938
1
Meu bom amigo,
Mais calmo neste momento agradeço-lhe, do mais
fundo de minha alma, as tuas atenções para com a
minha solicitação daquele dia. 2 O recado ao meu
filho teve o melhor efeito como expressão de muito
conforto para a família. Graças a Deus, tudo agora
vai se normalizando, de modo a trazer-me a
melhor serenidade do coração.
3
Deus lhe recompense a bondade fraterna! Apesar de
minha fé, não esperava desencarnar-me nesta idade,
conforme aconteceu. E assim curvo-me diante dos
sagrados desígnios de Deus, registrando agora a
minha gratidão.
4
Peço ao Pai de Infinita Misericórdia que o proteja e
abençoe,
Basileu n

Notas da organizadora:
[1] Sobre Basileu não nos foram dados maiores informes.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


27

Luzes da paciência e da coragem


25|10|1938
1
Meus filhos, Deus os abençoe!
Sou a velha tia Mariquinhas, que lhes deseja muito
boa noite.
2
Maria, minha filha, não se esqueça de Nhanhá em
suas orações, pedindo a Jesus derrame sobre ela
as luzes da paciência e da coragem para as lutas
em família.
3
Tenho procurado auxiliá-la em tudo o que me é
possível. Mormente na parte referente à filhinha do
Lívio, n — você sabe como são essas coisas, — a
Nhanhá é um coração muito generoso e muito
sensível!
4
Das sementes sagradas que me confiou o Senhor, a
alma de mãe reconhece que é ela a que mais gratas
alegrias me trouxeram ao coração. Fico muito grata
por todas as ações que praticarem pelo bem dela
cooperando comigo, a fim de a fortalecermos nas
suas grandes lutas domésticas.
5
Deus os ampare sempre nas obrigações abençoadas
da vida material!
A velha tia muito amiga,

Mariquinhas

Notas da organizadora:
[1] Refere-se a Lívio Renault, filho de Nhanhá, sobrinho de
Arthur Joviano, portanto, primo de Rômulo, meu pai.
Mensagem recebida por Chico Xavier e Rômulo Joviano,
com a utilização da prancheta. Maria Joviano fez as
anotações.

.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.
8

Trabalhadores para a obra


16|11|1938
1
Julinha, minha querida,
Há muito tempo não me comunico diretamente, pois
queria ter a grata satisfação de te trazer as boas-
vindas às nossas íntimas reuniões aqui.
2
A minha grande alegria, a maior, talvez, que trouxe
das lutas terrenas, é a de encontrar no teu coração
fraterno e carinhoso a sobrinha continuadora de
meus pobres esforços. Fiz tudo para esperar-te, na
tua volta ao Rio, em abril do ano passado, pois, de
viva voz, desejava confiar-te a minha tarefa junto
aos cegos. Muitas vezes perguntei, ansiosamente, à
Mariquinhas sobre o teu regresso, mas Deus,
infinitamente bom e misericordioso, atendeu às
minhas súplicas, permitindo que te falasse daqui, na
linguagem sagrada do coração. 3 Aquele alfabeto em
que te mandei a mensagem é pouco conhecido, mas
não é somente meu, como se poderia pensar. Um
novo amigo mo deu a conhecer há muito tempo em
um velho livro, que, se agora não me engano,
intitula-se “O mundo na mão”. Não te será difícil
verificar isso, de novo, para mim. Se assim procedi
foi para mais reforçar a minha presença,
autenticando o meu pedido. 4 Graças a Deus, o teu
esforço tem sido de uma renúncia edificante! A
máquina, minha filha, tem sido um extraordinário
recurso, pois Jesus me tem concedido a graça de
ajudar-te frequentemente! Agora, estamos formando
um bloco de Espíritos amigos para aproveitar a tua
boa vontade e o teu devotamento. Precisamos iniciar
o nosso esforço na campanha do dicionário para os
cegos. n Faremos um apelo e
aparecerão trabalhadores para a obra.
5
Dentre os colaboradores de teu e nosso esforço,
quero dizer-te que sobressai também a cooperação
de nossa irmã Alina de Britto, n que te pede conduzir
a filhinha para essa abençoada oficina em favor dos
cegos, como vens fazendo. 6 O nosso irmão
Casimiro Cunha n vai, também, auxiliar-nos, e
enquanto vais recrutando os encarnados eu não
descansarei procurando a colaboração de bons
amigos do Plano espiritual. 7 A Maria precisa
também ajudar-te no esforço do dicionário, pois
haveremos de realizar essa tradução de tanta
importância para os nossos amigos que não têm os
favores dos olhos. Vamos com a bênção de Jesus,
pois precisamos vencer.
8
Não guardes pressentimentos de desencarnação em
teu mundo íntimo. Precisamos muito de tua
colaboração aí na Terra. Tenho me avistado com o
Daniel, que vai bem, graças à Misericórdia Divina.
Ele sempre se refere ao santo interesse de teu
coração nas preces que tanto bem lhe fizeram ao
íntimo abatido.
9
Frequentemente, busco avistar-me com tua mãe, que
só agora se lembra daquelas nossas palestras antigas,
cujos bons frutos não permitiu a Igreja que ela
aproveitasse. Como sabes, nunca é tarde para
chegarmos à verdade! 10 Deus te abençoe o coração
nas lutas do mundo! Eu, que vivi aí quase um século,
conheço de sobra as suas angustiosas amarguras.
Nunca percas a oportunidade de confortar
Mariquinhas, edificando as meninas igualmente, nas
ideias consoladoras de nossa Doutrina de tanto
conforto para a alma. 11 Estou com todos sempre que
posso e rendo louvores ao Céu vendo em ti não uma
sobrinha comum, mas uma filha muito querida do
coração.
12
A todos os nossos as lembranças amigas e
carinhosas da velha tia Engracinha. Voltarei sempre
que possível a te animar na tarefa que impusemos a
nós mesmas. E que Deus abençoe todos os teus
devotamentos e sacrifícios, nessa grande ação
edificadora dos nossos irmãos surpreendidos pela
cegueira! É a súplica de hoje que, muito feliz e
confortada, eleva a Deus o coração da tia que nunca
te esquece,

Engracinha

Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se ao Dicionário da Língua Portuguesa, de
autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso,
vide ANEXO C à página 425.

[2] Sobre o trabalho realizado por vovó Júlia, vide o ANEXO


C à página 425. Na atualidade, existe uma escola estadual
nomeada Alina de Britto na cidade do Rio de Janeiro, na
Rua Frei Luiz Alevato, no bairro Taquara.

[3] Natural de Vassouras | RJ. Casimiro Cunha figura entre


os poetas cujos poemas integram o livro Parnaso de além-
túmulo, psicografado por Chico Xavier, desde a primeira
edição, em 1932. Era cego por acidente, ocorrido quando
contava 16 anos. Tinha apenas instrução primária. Era
espírita confesso. Compareceu inúmeras vezes ao culto do
Evangelho do Grupo Doméstico Arthur Joviano, deixando
sua presença registrada em carinhosas poesias, como em
“Boa noite”, em 22 de dezembro de 1938. Eu, então com
12 anos, acabara de arrumar a mesa em que se realizaria a
reunião e enquanto meus pais — Rômulo e Maria —
conversavam com Chico Xavier, em outro local, escrevi
“boa noite” em uma folha de bloco e me retirei. No dia
seguinte, fui presenteada com inesquecíveis versos,
posteriormente publicados no livro Cartas do Evangelho
— poesias mediúnicas de Casimiro Cunha, pela Editora
LAKE | SP.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.29

Lembranças carinhosas


05|12|1938
1
Minha boa Julinha,
Deus te abençoe e te proteja! Sinto-me feliz com a
oportunidade que Jesus me concede, podendo
dirigir-me ao teu coração nesta noite. Não se trata da
nossa Marie, minha filha, mas sim de tua pobre
avozinha, n que somente hoje pode dar às verdades
do Espiritismo o devido apreço, vindo trazer a
expressão afetuosa de seu amor à filha generosa e
sincera, que tantos bens derramou sobre a minha
pobre alma no infinito dos espaços, com
suas lembranças carinhosas, nas suas preces
sinceras e puras!
2
Venho hoje, minhas filhas, com o coração
transbordante de gratidão a Deus, trazer-vos a minha
saudade, mas também a minha alegria, por
reencontrar-vos sob a bênção amorosa de Jesus!
3
Julinha, minha querida filha, o mundo cada vez mais
nos oferece o doloroso espetáculo das mais
angustiosas provações e eu me aflijo, no meu
coração de mãe, vendo as queridas filhas no seio das
lutas numerosas. Tenho procurado consolar a
Esther, n como me tem sido possível. 4 Genuflexa
aos pés dos grandes mensageiros de Jesus, não sei
agradecer a graça de vê-la melhorada, no que se
refere à saúde, mas quanto à saúde moral sinto que a
minha pobre filhinha traz o coração abalado para
sempre. Pedi muito ao papai n que não a
abandonasse, pois ele tem uma experiência mais
vasta que a minha e um progresso espiritual muito
mais avançado do que o meu estado espiritual de boa
vontade e de fé no poder misericordioso de Jesus. 5 E
é assim que tive a felicidade de vê-la mais
confortada nas provas ásperas, com as quais o seu
espírito sensível e confiante não contava. Pobre
Esther! Tão boa, tão caridosa e tão profundamente
sofredora!… Consola-a sempre que possas, minha
boa Julinha, e dize-lhe, de minha parte, que eu a
compreendo e estou com as suas meditações, sempre
que posso. 6 Acompanho, muitas vezes, os seus
exercícios religiosos e tenho que justificar o seu
apego à Igreja, porque ela sente necessidade dos
altares e dos símbolos para concentrar os poderes de
sua fé. Hei de ajudá-la a transpor a barreira dos
sofrimentos morais, com a misericórdia de Jesus!
7
Quanto à nossa Mariquinhas, continua com os teus
esforços em ampará-la contra os vendavais da
existência. Mariquinhas está sempre preocupada
com as filhas, mas não justifica o pessimismo e as
depressões nervosas que, por vezes, tanto a fazem
sofrer. Todos os casos se resolvem e grande é a
misericórdia de nosso Pai, em face do grande
número de nossas faltas e de nossas fraquezas. Aos
poucos, resolveremos todos os assuntos.
8
Em tua casa, tenho seguido todas as tuas atividades e
peço a Deus abençoar-te os bons propósitos. Sei dos
teus pensamentos acerca dos filhinhos e conheço as
tuas aspirações e as tuas esperanças. n Sinto-me
ditosa dizendo algo sobre cada um deles para
encarecer a necessidade de muito agradecermos a
Jesus pela misericórdia de seus altos benefícios. 9 A
Maria, como sabes, já não te dá tantos cuidados, pois
herdou a fé que te alimenta o coração no mesmo
propósito de estudo, de fé e convicção sadia. Era
justo que muito te preocupasses com ela em outros
tempos, quando a crença consoladora ainda não se
havia arraigado em seu coração, mas agora ela é a
tua mais sincera colaboradora na família, abrindo o
caminho para a evolução dos demais.
10
Quanto ao Armando, n é justo que te preocupes, mas
a verdade é que ele tem grande resistência na luta
para resolver os problemas da vida material. Tudo
virá a seu tempo e melhores dias hão de felicitar o
caminho de sua boa vontade e de seu esforço no
sacerdócio da Medicina.
11
Sobre a Iacy, n bem sabes das dificuldades que se
nos antolham, em face das questões espirituais.
Todavia, o seu esposo, por adotar os princípios
católicos, não deixa de ser um coração muito
sincero, realizador e generoso. Na verdade, é a filha
que mais necessita das tuas preces, mas nós
saberemos protegê-la em todas as dificuldades.
12
Sobre a Aurélia, acredito que tudo vai muito bem. O
Clóvis n é um companheiro carinhoso e leal,
trabalhador e generoso. Conforta-a sempre,
fortalecendo-lhe o ânimo para as lutas necessárias
do lar. Foi com ela que o teu Aramis n pôde regressar
às provas purificadoras da Terra e na sua
inexperiência de mãe de família não podes esquecer
que ela não pode prescindir dos teus cuidados.
13
Sobre o Mário, não deves te preocupar com a
questão do casamento. Isso é um problema cuja
solução deve chegar espontaneamente ao coração de
cada homem. Ele é ainda bastante jovem para
semelhantes responsabilidades e deves aguardar
pacientemente a solução do tempo. Noto que ele está
muito melhor, mais bem disposto e muito mais forte.
14
Quanto ao Aurélio, sou eu quem te pede deixá-lo
agora livremente na Cruz dos Militares. Ele sabe nos
compreender e conhece a importância da
confortadora Doutrina dos Espíritos, mas existem
questões de ordem puramente social que exigem a
colaboração dele em beneficio da própria
coletividade. Confia nele e não te deixes levar pelas
contrariedades injustificáveis.
15
Muito falei sobre todos os nossos e como a
Engracinha te deu uma incumbência também te dou
uma tão importante quanto a dela, que é a de velares
por todos os nossos, aconselhando, com o máximo
de sinceridade, às irmãs, no que se refere às lutas de
ordem material. Lembro-me do esforço de todos
quando nas lutas com a escola e abençoo os
trabalhos que as nobilitaram para a vida.
16
Fizeste muito bem reservando as providências sobre
a Wanda, quando de tua vinda para cá, pois fui eu
própria que te inspirei a medida, considerando os
problemas da vida e do futuro. Deus te abençoe e
conceda fortaleza a cada um dos nossos para o
desempenho dos deveres neste mundo!
17
Tenho apreciado muito o serviço de tuas traduções
para os ceguinhos. A Engracinha está entusiasmada
com os teus esforços e eu disse a ela que ambas as
duas, tia e sobrinha, sempre se entenderam melhor,
desde que a Engracinha ainda estava neste mundo!
18
Muito grata, meus filhos, pelo vosso concurso e que
a paz esteja sempre com todos. É o desejo daquela
que sendo mãe e avó sobre a Terra é hoje uma irmã
dedicada, muito sincera e muito amiga,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] A entidade respondeu à neta Maria Joviano, que disse ao
marido pensar ser Marie o Espírito a comunicar. Anotação
feita por vovó Júlia no original da mensagem.

[2] Em referindo-se a uma das filhas.

[3] Referência ao meu bisavô materno, Mal. Antonio José


Maria Pêgo Junior.

[4] Em referindo-se aos netos, filhos de vovó Júlia e vovô


Aurélio: Maria, minha mãe, Aurélia, Armando, Aramis,
Mário e Iacy.

[5] Em referindo-se a Armando Pêgo de Amorim, que se


formou médico.

[6] Iacy era casada com Oswaldo Benjamim de Azevedo.

[7] Clóvis Mendes de Moraes era o esposo de Aurélia.

[8] Sobre Aramis há duas mensagens datadas de 1936 na


obra Deus conosco, VINHA DE LUZ, 3ª ed., (2010), da
psicografia de Chico Xavier, com mensagens de
Emmanuel, nas p. 86-89, das quais depreende-se ter sido o
referido Espírito filho do casal Júlia e Aurélio de Amorim.
Aurélia e Clóvis tiveram três filhos: Clóvis Augusto,
Clóvis Filho e Clóvis Alberto.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


31
Erros clamorosos
12|1938
1
Julinha,
Antes de tudo peço a Deus que te proteja sempre!
Venho hoje aqui, diante do teu bom coração, como
uma penitente, rogando a Jesus abençoe o meu
arrependimento por não ter-te compreendido na
medida do necessário, bem como ao Aurélio, que
tudo fez por me advertir, de maneira que eu pudesse
abandonar, em tempo, o errado caminho. Grandes
foram os meus martírios morais em Niterói e só
Deus sabe o que sofri na minha desencarnação
dolorosa!
2
Inúmeras vezes fui à tua casa com o fim de pedir
perdão a todos, mas na triste condição de alma
sofredora era em vão que eu clamava as minhas
dores, já sem remédio. Procurei Dedé muitas vezes
para fazê-la sentir o meu doloroso estado de alma no
meu tardio arrependimento pelo muito que a fiz
sofrer… Mas era tarde, muito tarde… Em vão,
gritava-me a consciência pelos meus erros
clamorosos! Explorada na minha boa fé, paguei um
preço caro pelas irreflexões do meu pensamento.
3
Confortavam-me, porém, minha boa amiga, as
preces que fizeste pelo meu descanso moral. Tuas
vibrações fraternas me tocaram a alma, porque sei
que me perdoaste e me compreendeste a desventura.
4
Hoje, quando todos os véus da vaidade já se
dissiparam, apresento-te minha alma culpada sim,
mas compungida, em face do passado, para tão
somente esperar aquela misericórdia infinita que não
nos desampara. Meu generoso e santo Ambrósio
tudo tem feito pelo meu coração ainda amargurado.
Deus te abençoe e te proteja!
5
Peço-te, bem como à Maria, para não me esquecer.
Estou mais lúcida, mas ainda me sinto muito infeliz
e muito abatida. Ajudem-me com os pensamentos de
amor e de perdão pelas minhas fraquezas. Estendo o
meu pedido também à Dedé. Bem que eu precisava
ter pensado melhor sobre o meu futuro,
compensando-lhe as dedicações pelos muitos bens
que ela me fez, mas eu estava cega e não podia ver.
Pede a ela, Julinha, que me perdoe, sem me esquecer
nas orações dela.
6
Muito agradecida pelas tuas dedicações espirituais. E
rogo a Deus que derrame as Suas bênçãos sobre
todos. Sou a pobre irmã,

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18 e 21.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro

32

O corpo espiritual n
(Sumário)


Produção mediúnica oferecida pelo médium Francisco C.
Xavier ao Dr. C. Ottoni.

Dr. Christiano, oferecendo-lhe este meu trabalho


mediúnico, desejo explicar-lhe que Emmanuel é uma
entidade que escreve por meu intermédio, cujas
produções têm sido publicadas ultimamente, no Rio,
pela imprensa espiritualista.
Esta é a sua última produção e como trata de uma
questão científica, quis oferecer-lha neste manuscrito
modesto. Se o assunto está aqui exposto com a
preparação necessária é o que eu ignoro, em vista da
minha pobreza intelectual.
O senhor há de avaliar este humilde manuscrito e se
o julgar vazio e inútil, fica a boa intenção de
minh’alma muito agradecida que lhe oferece esta
lembrança.
P. Leopoldo, 28-9-1934.
Francisco Cândido Xavier.

Produção de Emmanuel, recebida em 25 e 26 de setembro


de 1934.

1 Todos os fenômenos da vida, que se


apresentam ao raio visual da ciência
humana, mantenedores do seu
entretenimento, são os da assimilação e
desassimilação, todavia, os que afetam mais
particularmente a percepção do homem não
são os da atividade vital em si mesma,
consubstanciados nas sínteses orgânicas
assimiladoras, mas justamente os fenômenos
da morte. É um axioma fisiológico a
extinção das células que constituem o
suporte de todas as manifestações do
organismo e apenas apreciais geralmente
uma ideia da vida, por intermédio desses
movimentos destruidores.

2 Quando no homem ou nos irracionais uma


ação se opera determina o desaparecimento
de uma certa percentagem de substâncias da
economia vital; quando a sensibilidade se
exterioriza e quando os pensamentos se
manifestam, eis que os nervos se consomem,
gastando-se o cérebro em suas atividades
funcionais.
A vida corporal é bem a verdadeira expressão
da morte, através da qual efetuais as vossas
observações e os vossos estudos.
Não dispondes, dentro da exiguidade dos
vossos sentidos, senão de elementos que
constatam a perda de energia, a luta vital,
os conflitos que se estabelecem para que os
seres se mantenham no seu próprio habitat.
A vida, em suas causalidades profundas,
escapa aos vossos escalpelos e apenas a
embriogenia observa na penumbra e no
silêncio, infinitésima fração do fenômeno
assimilador das criações orgânicas.

3 Segundo os dados da vossa fisiologia, a célula


primitiva é comum em todos os seres
vertebrados e espanta ao embriogenista a lei
organogênica que estabelece a ideia diretora
do desenvolvimento fetal, desde a união do
espermatozoário ao óvulo, especificando os
elementos amorfos do protoplasma; nos
domínios da vida, essa ideia diretriz
conserva-se inacessível até hoje aos vossos
processos de indagação e de análise,
porquanto esse desenho invisível não está
subordinado a nenhuma determinação
físico-química, porém, unicamente ao corpo
espiritual preexistente, em cujo molde se
realizam todas as ações plásticas da
organização e sob cuja influência se efetuam
os fenômenos endosmóticos. Organismo
fluídico caracterizado por seus elementos
imutáveis é ele o assimilador das forças
protoplásmicas, o mantenedor da
aglutinação molecular que organiza as
configurações típicas de cada espécie, ele
incorpora-se átomo por átomo à matéria do
gérmen, dirigindo-a segundo a sua natureza
particular.

4 Algumas objeções científicas têm sido


apresentadas à teoria inconfutável do corpo
espiritual preexistente, destacando-se entre
elas como a mais digna de refutação a
hereditariedade, a qual somente deve ser
ponderada em sua feição fisiológica. Todos os
tipos do reino mineral, vegetal, animal,
incluindo-se o hominal, organizam-se
segundo as disposições dos seus precedentes
ancestrais, dos quais herdam naturalmente
pela lei das afinidades electivas a sua
sanidade ou os seus defeitos de natureza
orgânica unicamente.
De todos os estudos referentes ao assunto, em
vossa época, salienta-se a teoria darwiniana
das gêmulas, corpúsculos infinitesimais que
se transmitem pela via seminal aos
elementos geradores, contendo na matéria
embrionária a disposição de todas as
moléculas do corpo que se reproduzem
dentro de cada espécie.
A maioria das moléstias, inclusive a
dipsomania são transmissíveis, porém, isso
não implica um fatalismo biológico que
engendre o infortúnio dos seres, porque
inúmeros Espíritos, em traçando o mapa do
seu destino, buscam, com o escolher
semelhantes disposições, alargar as suas
possibilidades de triunfo sobre a matéria,
como um fato decorrente das severas leis
morais, as quais, como no ambiente
terrestre, prevalecem no mundo espiritual e
que não nos cabe explanar neste estudo.
Não obstante a preponderância dos fatores
físicos nas funções procriadoras é
totalmente descabido e inaceitável o
atavismo psicológico, hipótese aventada
pelos desconhecedores da independência da
individualidade espiritual e que revestem a
matéria de poderes que jamais possuiu em
sua condição de passividade característica.
Reconhecendo-se, pois, a veracidade da
argumentação de quantos aceitam a
hereditariedade fisiológica nos atos da
procriação, representando cada organismo
aquele de que provém por filiação, afastemos
a hipótese da hereditariedade psicológica,
porquanto, espiritualmente devemos
considerar apenas, ao lado da influência
ambiente, a afinidade sentimental.

5 De todas as funções gerais que caracterizam


os seres viventes, somente os fenômenos da
nutrição podem ser estudados pela
perquirição científica e mesmo assim,
imperfeitamente.
Além das operações comuns que se efetuam
automaticamente, há uma força inerente
aos corpos organizados, que mantém coesas
as personalidades celulares, sustentando-as
dentro das particularidades de cada órgão,
presidindo aos fenômenos partenogenéticos
da sua evolução, substituindo, através da
segmentação, quantas se consomem nas
secreções glandulares, no trabalho do
equilíbrio orgânico. Essa força é o que
denominais princípio vital, essência
fundamental que regula as existências das
células vivas e na qual elas se banham
constantemente, encontrando assim a sua
necessária nutrição, força que se acha
esparsa em todos os escaninhos do universo
orgânico, combinando as substâncias
minerais, azotadas e ternárias, operando os
atos nutritivos de todas as moléculas. O
princípio vital é o agente entre o corpo
espiritual e a matéria passiva, inerente às
faculdades superiores do Espírito, o qual o
adapta, segundo as forças cósmicas que
constituem as leis físicas de cada Plano de
existência, proporcionando essa adaptação
às suas necessidades.
Essa força ativa e regeneradora de cujo
enfraquecimento decorre a ausência de
tônus vital, precursor da destruição
orgânica é a ação criadora e conservadora
do corpo espiritual sobre os elementos físicos.

6 O corpo espiritual não retém somente a


prerrogativa de constituir a fonte da força
plástica e misteriosa da vida, a qual opera a
oxidação orgânica, é também a sede das
faculdades, dos sentimentos e da inteligência
e sobretudo é o santuário da memória, em
que o ser encontra os elementos
comprobatórios de sua identidade, através
de todas as mutações da matéria.

7 As células orgânicas renovam-se


incessantemente e como pode a criatura
conhecer-se entre essas contínuas
transformações? O pensamento, que
desconhece glândulas que o segreguem,
porquanto constitui a vibração consciente
do corpo espiritual, para que se manifeste,
quantas células se consomem e se queimam?
O cérebro assemelha-se a um complicado
laboratório, onde o Espírito, prodigioso
alquimista, efetua maravilhosas associações
atômicas e moleculares, necessárias às
exteriorizações inteligentes.
É ainda, pois, ao corpo espiritual que se deve
o prodígio da memória, misteriosa chapa
fotográfica, onde tudo se grava, sem que os
menores coloridos das imagens se
confundam.

8 A neurologia tem procurado explicar toda a


classe de fenômenos intelectuais através das
ações combinadas do sistema nervoso e, de
fato, atingiu certezas irrefutáveis, como por
exemplo as de que uma lesão orgânica faz
cessar a manifestação que lhe corresponde e
que a destruição de uma rede nervosa faz
desaparecer uma faculdade; semelhante
asserto, porém, não elimina a verdade da
influenciação de ordem espiritual e
invisível, porque faz-se mister compreender
a alma não isolada do corpo, mas ligada a
ele, o qual, representa a sua forma
objetivada, como um aglomerado de
matérias imprescindíveis à sua
tangibilidade, animadas pela sua vontade e
pelos seus atributos imortais.
Algumas escolas filosóficas fizeram da alma
uma abstração, mas a psicologia moderna
restabeleceu a verdade, unindo os elementos
psíquicos aos materiais, reconhecendo no
corpo a representação da alma,
representação material necessária, segundo
as leis físicas imperantes na Terra, as quais
colocaram no sensório o limite das
percepções humanas, as quais são exíguas
em relação ao número ilimitado das
vibrações da vida, que para elas se
conservam inapreensíveis.
É, pois, o corpo espiritual a alma fisiológica
que assimila a matéria ao seu molde, à sua
estrutura, a fim de materializar-se no
mundo palpável; sem ele a fecundação
constaria de uma composição amorfa e
todas as manifestações inteligentes e sábias
da natureza, que para nós deve significar a
expressão da vontade divina, constituiriam
uma série de fatos irregulares e
incompreensíveis, sem objetivo
determinado.
Todas as faculdades organizadoras são
oriundas do Espírito.

9 E como se tem operado a evolução do corpo


espiritual?
Remontai ao caos telúrico do vosso globo nas
épocas primárias. Cessadas as perturbações
geológicas, estabelecido o repouso em
algumas grandes extensões do orbe, eis que
entre as forças cósmicas associadas aparece
o primeiro rudimento da vida organizada —
o protoplasma; eis que os séculos se escoam,
eis os infusórios, as amebas, os zoófitos, os
seres monstruosos das profundidades
submarinas…
Recapitulemos os milênios passados e
acharemos a nossa própria história. A
individualidade, o nosso “ego” constitui o
nosso maior triunfo; e chegados ao
raciocínio, ao sentimento da humanidade,
através de vidas inumeráveis, teremos
atingido o zênite de nossa evolução anímica?
Não. Se vós e nós que ainda conservamos as
características da nossa existência, nos
encontramos acima dos nossos semelhantes
inferiores, os irracionais, acima de nós se
acham os seres superiores da
espiritualidade, que se hierarquizam ao
infinito e cuja perfeição nos compete
alcançar.

Emmanuel

[1] Nota da editora: Mensagem oferecida por Chico Xavier


ao médico Dr. Christiano Ottoni, prefeito de Pedro
Leopoldo, MG. [No livro impresso essa mensagem foi
publicada na forma de fac-símile do original, um opúsculo
manuscrito produzido pelo médium, contendo 16 páginas
enumeradas em algarismo romano.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


33

Forças para a luta


12|01|1939
1
Maria, minha bondosa filha,
Eu estou presente e rogo a Deus que te
abençoe! 2 Volto hoje a falar contigo com respeito à
nossa pobre Esther, tão necessitada de nossas preces
e de nossa assistência espiritual. Não leves em conta,
minha filha, a sua intolerância em matéria religiosa.
Aliás, conhecendo essas circunstâncias, sempre me
abstive de falar nela e em Maria Lydia, em
comunicados anteriores. Não se encontram em
condições de entender a minha pobre alma, que tanto
bem lhes deseja.
3
Parece que esse sofrimento, Maria, é uma das
provações forçadas para os Espíritos desencarnados
que muito se enganaram sobre a Terra. E eu tive
minhas responsabilidades agravadas, porque
conhecia os problemas religiosos na sua intimidade
e podia ajuizar sobre os meus erros em vinculando
excessivamente o meu Espírito nas ilusões da igreja
católica. 4 Vê, pois, minha filha, quanto devo sofrer!
Logo as duas almas que mais necessitam de ouvir
hoje os meus apelos não aceitam as sinceras
confissões da velha mãe, que, aliás, foi culpada em
não lhes abrir convenientemente os olhos, quando
ainda de minha permanência sobre a face da Terra.
5
Deus me conceda forças para a luta e muita paz a
nós todos para o desdobramento de nossos labores.
6
Envia minhas palavras à Julinha, com a minha
bênção. E rogando a todos muita tranquilidade,
rogo-te não esqueceres Esther em tuas preces,

Júlia

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.34

Redenção ao pecador


01|03|1939
1
Minha querida Julinha,
Antes de tudo eu peço a Deus por ti e por todos os
nossos que se acham presentes!
2
Dou-te novamente as boas-vindas ao nosso recanto
de orações, felicitando-te, e ao nosso Aurélio, pela
decisão de buscarem um pouco do repouso da
paisagem, junto da Maria. n Eu, graças a Deus,
continuo trabalhando, dentro dos meus recursos em
favor dos menos favorecidos. 3 Assim mesmo como
tu, que recruta as amigas menos ocupadas no lar para
o grande labor pela paz dos cegos, também eu tenho
movimentado os meus esforços junto de alguns
Espíritos abnegados do Invisível para
intensificarmos os nossos esforços. Tenho aqui
operado agora numa grande e abençoada escola,
onde são recebidos os que se desencarnam na
cegueira da vida terrestre.
4
Conhecendo as minhas intenções e os meus desejos,
os grandes mensageiros de Jesus me concederam a
felicidade de prosseguir com os trabalhos
interrompidos com a minha desencarnação, mas
continuados aí no mundo pela tua boa vontade e
dedicação.
5
É interessante esse novo gênero de serviços pelos
cegos, porque a maioria, em se separando do
organismo carnal, supõe continuar com as mesmas
impressões físicas de sombra, tateando no caminho
de suas atividades mecanizadas. 6 A nossa escola
recebe os cegos pacientes e generosos, os que foram
crentes e cheios de fé, dotando-lhes novamente com
os sagrados dons da vista. Em cada hora observamos
cenas comovedoras de risos e lágrimas misturados
às mais santificadas emoções! Em nosso ambiente,
portanto, verifica-se, para muitos, o término de
longas e amargurosas provas, que por longo espaço
de tempo retiveram essas almas no lodo terrestre.
7
Aqui, pois, minha filha, tenho conhecido muitos
inquisidores, criminosos, nobres antigos que fizeram
jus à expiação amarga da cegueira no Plano material,
sem saber como louvar a este Deus de Bondade
Infinita, que em todas as oportunidades e situações
oferece os recursos de redenção ao pecador da vida
terrestre. 8 Aos nossos amigos de labor espiritual
explico sempre que és a minha dedicada
companheira da Terra, onde localizo a continuação
de nossos esforços no obscuro Plano terrestre.
Muitos desses guias procuram, então, fortalecer-te,
ligando o teu trabalho ao nosso, de modo que deves
contar sempre com a assistência de desvelados
mentores espirituais. 9 Essas obrigações não me
impedem de me interessar pelos nossos familiares,
mesmo porque a situação espiritual e física de
Mariquinhas e das filhas me preocupa sempre e não
perco oportunidade de lhes levar ao íntimo o
conforto moral de que posso dispor com as minhas
ainda fracas possibilidades. Estou, porém, muito
satisfeita com as minhas atividades no Plano
espiritual. 10 Assim como os cegos têm aí
benfeitores na vida material, que provêm do
necessário a todos os que desejam trabalhar nas
bibliotecas circulantes, nós também temos grandes
mestres, que nos visitam e nos ensinam como
reeducar o cego que chega da Terra saturado de
impressões penosas da vida material. 11 Dizem-me
até, os nossos companheiros, que desses grandes
centros espirituais é que partem as ideias nobres em
favor da educação dos nossos ceguinhos da Terra.
Por exemplo, a ideia da criação da máquina n que te
faz escrever em um mês aquilo que eu não poderia
produzir em um ano.
12
Vês, pois, minha querida Julinha, que existem
tarefas definidas dentro desse complexo de nossas
obrigações, porquanto, pelas minhas palavras, podes
reconhecer que os teus serviços estão subordinados,
embora indiretamente, ao nosso mundo de
atividades do Plano invisível.
13
Peço a Deus que te proteja e abençoe junto de todos
os nossos. Daniel me pede transmitir a todos as mais
carinhosas lembranças. E rogando a Jesus muita paz
para o teu coração, deixo-te aqui um ósculo afetuoso
da velha tia e amiga de sempre,

Engracinha

Nota da organizadora:
[1] Vovó Júlia e vovô Aurélio residiam na capital do Rio de
Janeiro e sempre passavam as férias em nossa casa na
Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo. Vovó Júlia, nesses
períodos, e em diferentes anos, copiou à máquina todas as
mensagens psicografadas por Chico Xavier, de 1935 a
1952.

[2] [Máquina de datilografia para o alfabeto Braile.] ( † )

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


35

A família terrena é um instituto de purificação


16|03|1939
1
Minha prezada Julinha,
Deus te ampare e proteja a todos!
2
Além dos nossos labores comuns, não me tenho
descuidado de tuas necessidades espirituais em
família. Temos, eu e alguns amigos, ouvido as tuas
orações pela tranquilidade do teu Mário, e tudo
faremos pelo restabelecimento da saúde dele. Sei
que te impressionas muito com ele, pois dos filhos
reconheces ser o Mário o mais necessitado de
assistência e de carinho pela delicadeza de sua
organização nervosa.
3
As provas, minha querida, são naturais. O Mário,
algumas vezes, tem sido objeto de influências do
Invisível, mas essas influências não chegam ao
terreno de uma obsessão propriamente dita. Graças
a Deus, vamos conseguindo alguma coisa em
beneficio dele. Calma e fé! Não deves incliná-lo
fortemente à solução do problema do matrimônio,
mas sim esperar que todas as providências de sua
vida se processem espontaneamente. 4 Como
sabes a família terrena é um instituto de
purificação e se alguns filhos representam a
realização de todo o desejo dos pais, há outros que
fogem a essa regra, mesmo porque o mundo é de
provações e tudo será solucionado na pauta da
Misericórdia Divina.
5
O Mário deve continuar o tratamento, e também com
a água fluida, que lhe faz grande bem. Guarda o teu
coração materno em paz, iluminado pelo clarão da
fé! Deus, na Sua bondade, permitirá que tudo se
resolva bem para todos nós. Das entidades que por
vezes o acompanham, a Beatriz n é, de fato, uma
delas, mas estamos cuidando desses casos com todo
o nosso carinhoso interesse.
6
Confiada em Deus, despeço-me por hoje, desejando-
te o bem, como a todos os presentes e aos nossos
familiares ausentes muita tranquilidade de coração.
Da velha tia,
Engracinha

Nota da organizadora:
[1] Sobre Beatriz não nos foram dados maiores informes.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


36

Sacrossantos deveres
12|04|1939
1
Meus caros filhos,
Deus vos conceda a fortaleza necessária em face das
lutas da existência terrestre!
2
Nas vésperas de teu regresso, meu prezado Aurélio,
em busca de nossas lutas nas organizações da
Cruz, n quero trazer-te o meu abraço de sempre,
rogando a Deus que te abençoe, bem como à nossa
querida Julinha, no desempenho de
seus sacrossantos deveres. Na Cruz, meu caro, há
sempre o campo de trabalho, onde precisamos
mobilizar todos os nossos esforços. Eu espero que
continues com a mesma dedicação de sempre ao
lado de nossos companheiros e realizações,
disseminando os seus benefícios. 3 Ao nosso lado,
no Plano espiritual, temos um nobre amigo,
desencarnado há quase um século. Trata-se do ex-
Marechal de Campo Joaquim Norberto Xavier de
Brito, n desencarnado no Rio de Janeiro em 17 de
julho de 1843, achando-se ainda os seus despojos no
antigo Convento de Santo Antônio. † Joaquim
Norberto era português de origem e constitui um dos
baluartes de nossos trabalhos em nossa preciosa
organização beneficente. Peço a Deus que nos torne
a todos sempre dignos de suas mercês no caminho
sagrado de nossas atividades individuais.
4
Engracinha está presente, tendo vindo também para
trazer o seu ósculo de amor à Julinha. Deus abençoe
a todos os presentes!
5
Esperando que prossigas no mesmo ideal de sempre,
sou o velho amigo de todos os dias,
Antoninho n

Notas da organizadora:
[1] Em referência à Irmandade da Santa Cruz dos Militares,
da qual vovô Aurélio foi provedor por muitos anos.

[2] Joaquim Norberto Xavier de Brito (Lisboa, c. 1774 — Rio


de Janeiro, 1º de julho de 1843) foi um militar luso-
brasileiro. Iniciou sua carreira na Academia de Marinha,
prosseguindo seus estudos na Real Academia de Artilharia,
Fortificação e Desenho. Em 1796, foi promovido a tenente,
sendo incorporado no ano seguinte ao Real Corpo de
Engenheiros, servindo sob as ordens do Mal. Duque de
Lafões. Foi promovido a capitão em 1805 e passou depois
a servir no Arquivo Militar, onde chegou ao posto de
major. Em 1809, foi encarregado de elaborar a carta militar
de uma parte da província de Estremadura. No ano
seguinte, foi nomeado para fortificar a Vila de Miranda do
Corvo e organizar e dirigir os corpos de milícias e
ordenanças necessários à guarnição da vila. Em 1809, foi
encarregado das fortificações e linhas de defesa de Lisboa.
No final do mesmo ano, foi posto à disposição do Cel.
Fletcher, comandante dos engenheiros do Exército, ficando
empregado na construção das linhas de defesa da capital,
onde ficou até 22 de junho de 1815, quando foi promovido
a tenente-coronel, a fim de seguir para o Brasil, junto da
Divisão de Voluntários Reais. No Rio de Janeiro, foi
encarregado do depósito da Armação. No posto de coronel,
em 1819, foi transferido para o corpo de engenheiros do
Exército brasileiro. Na capitania da Ilha dos Açores, foi
encarregado das obras das fortalezas. Regressou ao Rio no
ano seguinte, seguindo para o Rio Grande do Sul como
inspetor de fronteiras. Em 14 de abril de 1821, foi nomeado
comandante do Corpo de Engenheiros e diretor do Arquivo
Militar. Foi promovido a brigadeiro em 1822 e efetivado
em 1824. Em 31 de março desse ano, jurou à Constituição
do Império do Brasil. Foi promovido a marechal de campo
em 1832 e designado para vogal do Conselho Supremo
Militar. Em 1837, foi promovido à eletividade do posto de
marechal de campo e transferido para a reserva em agosto
de 1842, por questões de saúde. Foi sepultado no cemitério
São Francisco de Paula, no Rio. Informações disponíveis
em: † Acesso em 22 out. 2012.

[3] Alcunha carinhosa pela qual tratavam o Mal. Antonio


José Maria Pêgo, meu bisavô.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.

37

Joias de luz que me enfeitam a alma



12|04|1939
1
Minha querida Julinha,
Estamos também reunidos aqui, junto de todos
vocês, e eu suplico a Jesus que te encha o coração de
esperança e de paz, de luz e de amor, cada vez mais,
sempre mais, para as nossas realizações! 2 Novos
deveres te chamam, minha querida, e terás de
regressar para as sagradas obrigações de nosso
ambiente no Rio. Graças a Deus, sinto em teu íntimo
a mesma nobre disposição que te observei n’alma no
primeiro instante de nossa tarefa. Isso é essencial,
minha querida! A nossa fé deve ser sempre pura e o
meu coração repousa na confiança em tua fibra
espiritual de crente sincera para as nossas
edificações. 3 Deus te pague por todas as alegrias
que me tens dado! Elas são como pérolas do oceano
revolto da Terra. Do mar das inquietações de todos
os nossos, ou quase todos, eu recebo as tuas preces,
as tuas expressões de trabalho e as tuas lembranças
como joias de luz que me enfeitam a alma.
4
Estarei contigo em todas as dificuldades.
Acompanharei os teus passos como uma sombra
amorosa que não te pode esquecer. Aqui no Mundo
Invisível para a Terra, nós compreendemos que os
únicos laços eternos são os do Espírito e do
sentimento, e esses elos divinos vinculam as nossas
almas pela eternidade radiosa. 5 Volta confiante aos
teus deveres sagrados. Jesus abençoará os teus
trabalhos e santificará os teus esforços. Agora podes
levar uma nova claridade ao coração de teu Mário,
que tantas vezes te preocupa o carinho e a ternura
maternal. Deus é misericordioso e de Sua
providência divina chegarão todos os recursos
espirituais para as dificuldades que se apresentam no
caminho.
6
O nosso labor pelos ceguinhos da matéria vai muito
bem. Teu concurso é sagrado e nova cooperação há
de surgir para a realidade de novas conquistas
educativas para os nossos irmãozinhos. Eu te
alvitrarei providências e buscarei orientar as tuas
atividades. Conta comigo sempre. Tua mãe me
pediu para abraçar-te em nome dela e o Antoninho,
aqui presente, como vês, hoje prefere aquele velho
tratamento da nossa intimidade familiar.
7
Deus te abençoe, Julinha! Nem te direi até breve
porque estarei ao teu lado todos os dias. Minhas
carinhosas lembranças à nossa Mariquinhas e
beijando-te com o afeto de sempre pede a Deus por
ti a velha tia,

Engracinha

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

38

Preparação laboriosa


17|05|1939
1
Meus filhos,
Que Jesus conceda a todos vós muita paz ao coração!
2
Se é justo que a nossa Julinha experimente o coração
cheio de júbilo em vos vendo assinalar os passos
terrestres na luz da crença consoladora do
Espiritismo, eu também, embora tardiamente,
participo dessas suaves alegrias do generoso espírito
de minha filha. Sou eu, minha querida Aurélia, que
pedi aos nossos mais elevados guias espirituais a
doce satisfação de vir trazer-te, e ao teu companheiro
de lutas terrenas, as boas-vindas em casa de Maria.
3
Eu, tão pobre de luz, minhas queridas, venho até
ambas suplicando-vos a continuidade da fé, a
continuidade de valor espiritual, em face dos
numerosos preconceitos do mundo. Se muitos —
como o meu pobre e imprevidente Espírito — se
perdem pelo excessivo apego às opiniões alheias, as
almas heroicas na crença conhecem a inutilidade de
certos preceitos sociais absurdos que impedem a
nossa visão espiritual, com respeito à contemplação
de horizontes mais vastos.
4
Aqui, minhas queridas, se muito me desiludi,
também muito expiei pela minha prisão nas
futilidades da época em matéria de religião e de
crença. A verdade é que a Igreja não nos prepara
convenientemente para as realidades do além-
túmulo. Depois do meu passamento, debalde clamei
pela assistência dos chamados últimos sacramentos.
Em vão pedi e supliquei, porque em volta de mim eu
colocara a sombra espessa da incompreensão, sem a
luz necessariamente vigilante para me livrar dos
perigos que me envolviam o coração no domínio das
ideias. 5 Aqui venho colher o fruto amargo de minha
imprevidência espiritual. Nos primeiros meses, foi
em vão que implorava a presença dos nossos bem-
amados que me haviam antecedido na jornada do
sepulcro. Somente depois, muito depois, auxiliada
pelas vibrações fraternas de alguns dos nossos
familiares, consegui compreender a minha penosa
situação. 6 Nas primeiras vezes que enviei à Julinha
as minhas palavras, não cheguei a narrar-lhe a
intensidade dos meus padecimentos morais.
Também não seria agradável que meus primeiros
comunicados traduzissem tão somente queixas
amargas e estéreis lamentações. Contudo, Julinha
percebeu toda a minha posição espiritual nas
entrelinhas. 7 E hoje, mais aliviada das recordações
penosas do mundo, venho até vós trazendo-vos a
minha expressão amorosa e terna de outros tempos
— atualmente, minha grande preocupação, não
preciso esclarecer perante vós, minhas queridas.
Quero referir-me à pobre Esther e à Maria Lydia,
que, embora não fosse filha do meu sangue, foi uma
filha para a minha alma, que sempre a amou,
santamente.
8
Em voltando ao passado, pela imaginação, desejaria
corrigir a minha feição educativa. Se pudesse fazê-
lo, haveria de realizar todos os milagres de afeto, a
fim de que ambas penetrassem por outros caminhos.
Entretanto, eu estou como aquele “rico” da parábola
de Jesus ( † ) e pouco ou nada posso fazer em
beneficio de ambas. 9 Ainda, há tempos, minha
bondosa Aurélia fez indiretamente com que a Maria
enviasse a Esther o meu pensamento maternal. Era
uma das mais corajosas tentativas de minha alma,
abusando da confiança amorosa da neta cheia de fé
e de afeição. No entanto, todos os meus esforços
foram baldados e sou obrigada a esperar para que o
tempo, com sua esponja milagrosa, apague o mal
que pratiquei consolidando as ilusões religiosas em
corações que jamais poderei esquecer.
10
Se vos conto isso, filhas, não é tão-só para fazer uma
confidência penosa de minha alma. Não haveria
nisso um fim útil. Meu objetivo é de despertar no
coração dos filhos presentes esse desejo cada vez
mais intenso de progredir no terreno do
conhecimento espiritual. 11 Quanto a ti, Aurélia,
Deus te abençoe os bons propósitos, fazendo com
que as flores do teu carinho de esposa e de mãe
frutifiquem a cem por uma. A vida terrena, minha
filha, é essa preparação laboriosa para o Infinito.
Prossegue no teu caminho de dedicações
santificadas e puras! Sê a sentinela amorosa e
consoladora do companheiro nobre que Deus te deu
para a travessia do longo oceano das provações!
12
Ainda me lembro, querida, como Espírito, das
preces que fiz por ti, nos dias do teu noivado,
rogando a Jesus que não te faltasse com as realidades
confortadoras do sonho caricioso de teu coração.
Daqui todos nós temos amparado o coração de
Aurélia nas lutas redentoras da existência em
família. Querida, Julinha é bem um guia carinhoso e
devotado para as aquisições espirituais nas estradas
terrenas. 13 Como mães, tendes o coração voltado
para aquela que foi o lírio da piedade e do perdão,
no amor mais puro. Como esposas, devotai-vos aos
corações que estão algemados aos vossos, através de
um laço imperecível.
14
Aurélia, minha querida, antes de me retirar eu quero
te dizer que estamos te auxiliando em todos os teus
esforços para bem realizares os teus planos de
construção moral para o futuro na intimidade
sacrossanta da família. Amigos abnegados do Plano
invisível para os homens buscam amparar o teu
Clóvis na estrada das mais nobres realizações dentro
da vida e eu, como outras amizades tuas, estamos
confiados na Providência Divina em beneficio de teu
ideal quanto ao porvir.
15
À Julinha as minhas carinhosas lembranças,
esperando que, junto da Engracinha, esteja
produzindo o máximo de claridades para os nossos
irmãos menos felizes. Aqui está presente uma amiga
de nome Hermínia, n que te agradece as preces em
favor dela.
16
Meus filhos, Deus vos conceda muita paz de
espírito! Não estranheis o meu tratamento por “vós”
quando o tratamento por “vocês” seria mais suave e
mais íntimo. De qualquer forma, porém, meus
filhos, fiquem com a tranquilidade das bênçãos de
Jesus e com o coração muito afetuoso da vovó, que
muito necessita ainda de vossas preces,
Júlia
Notas da organizadora:
[1] Hermínia, de Ponta Grossa, Paraná, mãe de Borell, amigo
de Ururaí, sobre os quais não nos foram dadas maiores
informações.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


39

Preparo para novas lutas


16|08|1939

Maria,
Estou presente e quero dar-te a boa notícia de que
graças à Misericórdia Divina sinto-me bastante
melhorada e mais tranquila! Agora, pela luz
carinhosa de tantas preces sinceras dos familiares e
pelo amparo constante do Ambrósio, consegui
olvidar quem tanto mal me ocasionou, tendo
entregado todos os meus sofrimentos à Justiça
Divina. Agora, estou em preparo para novas lutas.
Quero aprender e trabalhar! Para esse fim elevado,
não me esqueças ainda e sempre em tuas preces!
Deus te recompensará!

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18, 21 e 31.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


40

Discípulos de um Mestre só


12|09|1939
1
Meus irmãos,
Que Jesus vos esclareça!
2
Com a cooperação humilde do nosso esforço em
vossas reuniões, sou também um estudante humilde.
A nossa diferença é a de cursos, mas na essência
somos discípulos de um Mestre só. Os alunos são a
mesma caravana de todos os tempos. O mestre é
Jesus.
3
Estudamos há muitos séculos. Todavia, em nosso
coração houve sempre volumosa pretensão e pouco
mérito real. Enquanto adquirimos novos valores no
Infinito, alguns companheiros buscam novas
expressões de progresso espiritual que a carne lhes
pode oferecer. 4 Não sou extenso em erudição, mas
me consolo com a boa vontade. Não saberei, pois,
dar-vos muitas palavras. Dar-vos-ei, porém, o
sentimento. E como a essência é a base de toda a
conquista, eu estou confortado.
5
Felicito-vos pelo estudo desta noite. O perdão e a
piedade são duas teses de expressão profunda para o
campo de cogitações dos tempos modernos, em que
o homem se viciou com a palavra. 6 Perdoar
constitui a execução da verdadeira lei de Deus.
Outorgando ao Espírito as novas reencarnações,
vemos nessa dispensa de misericórdia o perdão da
Lei, que é o Pai. 7 A bênção da Lei veio com o
grande esquecimento. Daí se infere que para perdoar
é preciso esquecer completamente o mal, a fim de
que o bem não pereça. 8 Quanto à piedade, a Lei
manifesta as suas luzes concedendo-nos a dor, o
trabalho e a experiência. 9 Ter piedade é saber
levantar o irmão infeliz, sem afastá-lo do dever, por
mais rude que a sua obrigação nos
pareça. 10 Exemplificar o perdão é olvidar o
mal. 11 Exemplificar a piedade é cultivar o esforço
próprio como meio de redenção.
12
Eis nossa pobre contribuição. Desejais que as nossas
considerações sejam mais extensas? Certamente que
não. Com a característica singela de minha palavra,
eu vos trago o coração. E bem sabeis que no coração
está sintetizado o próprio Infinito.

Lésio Munácio n

Nota da organizadora:
[1] Lésio Munácio é um dos personagens do livro 50 anos
depois, ditado por Emmanuel, psicografado por Francisco
Cândido Xavier (FEB. 1940). Envergou a personalidade do
Rei Dom Dinis, esposo da Rainha Santa Isabel de Aragão,
soberano de Portugal e Algarves nos séculos XIII-XIV Foi
também o pioneiro português João Ramalho, fundador de
São Bernardo de Borba do Campo, em São Paulo. João
Ramalho foi contemporâneo do Padre Manoel da Nóbrega,
no século XVI. No século XIX, reencarnou em Portugal,
na personalidade de Antônio Gonçalves da Silva, vindo a
emigrar novamente para o Brasil, convertendo-se no
pioneiro do Espiritismo, em São Paulo. Nessa nova
encarnação, ficou conhecido como o benfeitor
espiritual Batuíra.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

41

Benefícios divinos
13|09|1939
1
Meus bons amigos, Maria e Rômulo,
Graças à bondade de Deus sinto-me bem forte e de
coração aliviado para poder fazer alguma coisa
agora em favor de minha pobre alma. 2 Junto da
inesgotável fonte dos benefícios divinos, sinto a
influência consoladora de Ambrósio mais perto de
meu coração e hoje as minhas lágrimas são de
agradecimento a Deus e de esperança no
futuro. 3 Tenho tido tanto desejo, tenho
experimentado tão grandes aspirações de progresso
espiritual que acredito estar em preparativos para
uma próxima etapa de lutas na Terra! Permita Jesus
possa eu ser feliz, testemunhando, no porvir, o que
não consegui fazer na derradeira romagem. Nada
tenho a recordar agora dos meus dias tristes, porque
a Justiça Divina se cumpre em toda a parte e dentro
de todas as circunstâncias.
4
As relações espirituais com os queridos amigos
foram, para mim, do mais elevado proveito desde a
minha primeira hora nesta nova expressão de vida e
quero exprimir-lhes o meu profundo
reconhecimento. Agora, não me esqueçam ainda nas
orações! Tenho necessidade das fraternas vibrações
dos seus pensamentos, a fim de me sentir em
harmonia com a vontade de Deus. Que o Céu os
abençoe!
5
Para Julinha e Aurélio, o meu agradecimento de
irmã, renovando-lhes o meu pedido de perdão de
todos os dias.
6
Fui notificada por amorosos guias do Alto de que
agora tenho de me submeter a numerosas
experiências antes de regressar à Terra. Auxiliem-
me com as suas preces! Jesus há de abençoá-los,
concedendo-lhes as melhores realizações espirituais
da vida.
7
Que a bondade do Mestre floresça em seus corações
como em seus lares! São os votos muito sinceros da

Marie

[Sobre esse Espírito vide capítulos 18, 21, 31 e 39.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

42

Em paz espiritual
22|09|1939
1
Prezada Julinha,
Que Jesus esteja com vocês todos! Quero apenas
deixar-te duas palavras do meu afeto de todos os
dias, aguardando que te encontres em paz
espiritual dentro das lutas da existência terrena.
2
Sei das dificuldades que vens encontrando, a fim de
que possamos realizar os nossos trabalhos junto aos
cegos do corpo. Mas continuo apreciando, como
sempre, a tua dedicação e o teu amor a esse
apostolado, para o qual rogo as bênçãos luminosas
do Senhor Jesus. Haveremos de levar a efeito as
nossas realizações com a proteção divina! Tenho a
certeza santa de que tudo conseguiremos a seu
tempo e isso me consola. 3 Que Deus te conceda as
energias indispensáveis, convertendo as nossas
preocupações em bênçãos de claridade para a visão
espiritual dos nossos irmãos privados no mundo dos
celestes dons da vista.
4
Junto de mim aqui se encontra, igualmente, a nossa
querida Emilinha, n que te deixa carinhosas
recordações espirituais, bem como a Mariquinhas e
às meninas.
5
Tenho ouvido os teus apelos e procuro, sempre que
posso, consolar a tua afilhada Marta. n Apesar de
bastante conformada ainda está entristecida em vista
dos sentimentos dolorosos daqueles que o seu
coração deixou no lar. Mas podes crer, minha boa
Julinha, que tudo farei por ela, de modo a esclarecê-
la e consolá-la cada vez mais.
6
Que Deus vele sempre por ti, minha filha! Deixo os
meus votos sinceros de paz a todos e para ti um beijo
afetuoso. Sou a velha tia que não te pode esquecer,
Engracinha

Notas da organizadora:
[1] Sobre Emilinha não nos foram dados maiores informes.

[2] Em referindo-se a Marta Pernambuco, afilhada de vovó


Júlia.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


43

Ora e confia sempre


25|09|1939
1
Glória a Deus nas alturas e paz na Terra a todos os
Espíritos de boa vontade! ( † )
2
Filhos meus, que a misericórdia do Senhor se estenda
sobre vossos corações, proporcionando-vos muita
tranquilidade e muita luz!
3
Agradeço a Deus, meu querido Aurélio, a
possibilidade de falar aqui nesta noite, não somente
para reforçar as tuas energias para a luta como
também para levar ao coração carinhoso de Dedé a
minha palavra de consolação. Deus abençoe a
ambos, junto de Alexandre n e de quantos são os
companheiros espirituais de vossas almas!
4
Tenho estado contigo, Aurélio, buscando renovar as
tuas forças orgânicas, de modo a revigorar a tua
saúde para os trabalhos que nos são
necessários. 5 Quanto a ti, minha filha, não entregues
o coração aos pensamentos tristes. Seguindo sempre
as tuas meditações, noto, às vezes, que te encontras
abatida e desalentada. Minha boa Dedé, lembra-te de
que se não me encontro mais na Terra estou sempre
no Plano espiritual para servir ao teu coração de filha
amorosa e sensível. Com respeito a teu estado físico,
haveremos de conseguir as tuas melhoras com o
auxílio da Providência Divina. 6 Tenho procurado
inspirar o Armando nos conselhos que a experiência
médica dele te vem proporcionando. Ora e confia
sempre. Uma intervenção cirúrgica no momento
não te fará bem. Será melhor que prossigas em teu
tratamento costumeiro e de minha parte buscarei
auxiliar com a minha contribuição de muito amor
maternal em teu beneficio.
7
Sobre o Alexandre, meus filhinhos, nada tenho a
acrescentar senão que tenham paciência com ele,
pois ao me recordar dos esforços feitos no passado,
e até com a viagem à Europa para a consulta
necessária, vejo que em tudo prevaleceu a vontade
misericordiosa de Deus, que é soberana e justa. Que
Deus abençoe a todos!
8
Aqui continuo a trabalhar, como me é possível, pelo
bem espiritual de todos, esperando em Jesus que as
mais santas bênçãos se derramem sobre os corações
dos filhos queridos.
9
Quanto a ti, minha boa Julinha, peço a Deus que te
auxilie sempre em tua missão de afeto e de
assistência junto de meu filho. Sabes que Aurélio
precisa sempre se inspirar em ti para a vida e para a
luta da Terra. Compreendo tudo, como
compreendes, minha filha, e, um dia, agradeceremos
a Jesus, reunidos no Plano espiritual, por todos os
esforços ou todas as possibilidades de trabalho que
o Senhor nos oferece na Terra ou nos seus Planos.
10
Continuo com o mesmo devotamento pelos netos e
tenho cooperado também para que a saúde do Mário
seja forte e para que a situação do Armando se
amenize. Para isso rogo, em minhas sinceras preces,
a Jesus. Meus filhos, devo despedir-me por hoje e
faço-o na sacrossanta paz de Deus, esperando que as
Suas bênçãos floresçam em todos os corações dos
entes queridos que ainda me prendem às expressões
da vida material.

Amélia n

Notas da organizadora:
[1] Alexandre e Adelaide (Dedé) eram irmãos do vovô
Aurélio.

[2] Amélia Brandão Amorim, minha bisavó materna, mãe do


avô Aurélio. Era filha de Manauá Camandrin, chefe de
tribo no Amazonas. Casou-se com o português Alexandre
de Brito Amorim, cônsul de Portugal durante 20 anos em
Manaus, responsável pela efetivação da primeira
companhia de navegação entre Liverpool | Inglaterra e
Manaus | Brasil. D. Pedro o agraciou com a comenda de
Cavaleiro da Ordem de Jesus, sendo, em 1871, elevado a
comendador da mesma Ordem.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.

44

No seio de provas ásperas


18|10|1939
1
Venho até aqui para agradecer ao Dr. Rômulo tudo
que fez pela felicidade do meu filho.
2
Ainda na semana passada estive presente junto dele,
observando que o meu desafortunado Abel n saía
mais confortado e mais esclarecido. Muitas vezes
orei com as mais sentidas lágrimas do meu coração
materno e junto de Neca n tudo fiz por atenuar as
angústias do seu estado espiritual. Graças a Deus,
sinto-o mais forte! 3 Agora sou eu, amigos, quem
recorre ao vosso coração generoso! Tenho sofrido
muito, pois não me bastaram as provações dos
derradeiros dias na Terra para o resgate de minha
alma orgulhosa. Em particular, quero me penitenciar
ante o coração do Dr. Rômulo, pedindo-lhe perdão
pelas contrariedades do passado. 4 No seio de
provas ásperas, e de grandes humilhações da
consciência, era compelida a esquecer as minhas
grandes obrigações, razão pela qual até hoje ainda
sofro…
5
Deus recompense a todos!
Retiro-me mais confortada, desejando-vos a paz de
Jesus e suplicando para nós a bênção de Deus.

Amélia Macedo n
Notas da organizadora:
[1] Em referência a Abel Macedo, um dos primeiros
comunicantes dentre os que compareceram ao culto do
Evangelho do Culto Doméstico Arthur Joviano, no lar de
Rômulo e Maria, desde 1934. O culto contava com a
presença de Chico Xavier, que recebia, diretamente, várias
mensagens. Outras foram recebidas com o uso da
prancheta, por Rômulo e Maria.

[2] Sobre Neca não nos foram dadas maiores informações.

[3] Sobre Amélia Macedo não nos foram dados maiores


informes.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


45

Nas lutas terrestres


18|10|1939
1
Meus prezados amigos, Deus vos fortaleça!
A observação de Vera n à Julinha me faz vir entre
vós de modo a explicar que tudo tenho feito pela paz
espiritual de Amália n e dos que lhe acompanham o
bom coração nas lutas terrestres. 2 Uma prece faz
sempre grande bem, motivo pelo qual espero não vos
esqueçais de cooperar conosco nas vibrações
fraternas em benefício da tranquilidade de minha
filha. Deus vos ajudará!
3
Dalila n e Helena vieram comigo e vos saúdam. Que
Deus vos proteja e abençoe!
Vossa velha irmã,
Júlia

Notas da organizadora:
[1] Sobre Vera não nos foram dados maiores informes.

[2] Amália era mãe de Helena Maia, amiga de Maria Joviano,


que sempre comparecia às reuniões do Culto Doméstico
Arthur Joviano.

[3] Sobre Dalila não nos foram dados maiores informes.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.46

Oportunidades perdidas
08|11|1939
1
Meus bons amigos,
Venho registrar aqui o conforto que tenho recebido
desde o instante que tive a ventura de voltar a esta
casa de paz e de concórdia! 2 Sinto grande melhora.
A sede não me devora as energias espirituais como
vinha fazendo. Tenho tido mais serenidade para
examinar e julgar os meus próprios erros do passado
— o que já é conquistar muito na minha situação de
Espírito infeliz. 3 Agora, venho fazendo a penosa
recapitulação de todas as oportunidades
perdidas pela minha própria imprevidência…
Graças a Deus que posso fazer isso, hoje, com mais
calma, a fim de analisar os rigores do meu
futuro. 4 Abençoo o instante em que regressei a estas
portas e espero que não me esqueçam nas orações.
Muito obrigado! Deixa-lhes aqui as suas lágrimas de
gratidão, o amigo sofredor,

Abel Macedo

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


47

Elos afetivos
07|12|1939
1
Meus caros filhos,
Que Jesus conceda a todos muita paz de espírito para
os trabalhos no mundo!
2
Quero agradecer-lhe, Maria, pelo conforto que tem
levado ao coração de Nhanhá, mostrando-lhe as
minhas palavras carinhosas de mãe. Toda vez que
conseguimos deixar uma gota do bálsamo da
consolação no íntimo dos filhos amados que
deixamos no mundo uma indizível alegria palpita
em nossos corações e não sabemos como agradecer
a Jesus o beneficio.
3
Sobre a saúde, Maria, peço-te dizeres à minha boa
filha Nhanhá para não se impressionar com as
opiniões dos outros. Deus é misericórdia e na Sua
bondade permitirá que minha filhinha recobre as
energias orgânicas, perdidas nobremente entre as
abnegações do lar pela paz da família inteira. Do
amor e da providência de Deus chegarão todos os
recursos de que ela vem necessitando para o
restabelecimento da saúde física.
4
Quanto ao Abílio, n já tive a felicidade de acariciá-lo
em meus velhos braços de mãe. Do Plano de
trabalho em que ele se encontra, o seu coração
afetuoso vela por todos os que se prendem ao seu
Espírito na Terra, através dos sacrossantos laços do
amor. 5 E, simultaneamente, vem operando todas as
providências possíveis ao seu alcance para reerguer
o espírito da companheira carinhosa da existência
terrestre, cujo coração, apesar de nobre e generoso,
tem encontrado numerosas dificuldades para se
adaptar à vida espiritual. Absorvida, ela ainda se
encontra nas recordações penosas dos seus últimos
instantes terrenos e pelos elos afetivos que lhe
prendem a alma neste mundo de coisas passageiras.
6
Agradeço-lhes, meus filhos, pelo conforto e pela
alegria que me proporcionaram. Espero em Deus
que prossigam com a mesma boa disposição de
sempre para o trabalho de posse da luz espiritual.
Sou a velha tia da Terra e amiga devotada,
Mariquinhas

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao Dr. Abílio Machado, nascido em
Formiga | MG, em 30 de outubro de 1885. Bacharelou-se
pela Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte. Foi um
dos colaboradores de Arthur Joviano na elaboração da lei
para a primeira reforma do ensino em Minas, diretor da
Imprensa Oficial, fundador da União Espírita Mineira
(UEM) e seu presidente em 1924 | 1925, membro do
Conselho Consultivo do Estado no Governo Olegário
Maciel e deputado federal à época da Primeira Constituinte
Estadual, em 1934. Presidiu a Assembleia Legislativa em
1935. Desencarnou em 3 de janeiro de 1938, aos 52 anos
de idade. O original desta mensagem foi enviado à D.
Nhanhá.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


48

A morte é uma viagem


13|12|1939
1
Prezado amigo Dr. Rômulo,
Não sabia que eu teria de recorrer à sua bondade em
favor de minha situação espiritual depois da morte
do corpo material. Tenho sofrido muito e não podia
pensar que me esperavam tantas surpresas depois da
enfermidade e da velhice. 2 Por muito tempo
permaneci em Nova Granja, supondo que me
encontrava ainda doente e sem esperanças. Muito
grande foi o meu martírio moral! A consideração de
meus amigos parecia me haver abandonado.
Debalde busquei recorrer aos filhos, até que um dia
alguém me fez sentir a nova realidade de minh’alma.
Então sofri o que o bom amigo não pode
imaginar! 3 A morte é uma viagem que nos é
imposta por Deus e para a qual o homem do mundo
nunca está preparado.
4
Pobre de mim! Minha bagagem é muito pobre e
muito pouca, e somente agora vejo que podia ter
edificado mais no terreno das ações definitivas.
Sinto-me muito fraco e muito abatido. Não sei ver
claro em minha situação. 5 Tenho recebido aqui os
primeiros socorros espirituais, às segundas e
quartas-feiras, e posso garantir-lhe que me encontro
melhor, comparando o meu estado de desalento e
desesperação dos primeiros dias que se seguiram ao
meu desprendimento da vida material. 6 Embora
confundido e cansado, ergo os olhos ao Céu e peço
a Deus que tenha pena de mim, esperando a
possibilidade de frequentar a sua casa hospitaleira e
generosa. Deus há de lhe recompensar pelos
benefícios que me tem proporcionado! Jesus deve
saber do meu agradecimento sincero e lhe pagará por
mim.
7
Peço-lhe não me esquecer nas suas preces. Ando
ainda muito preocupado com problemas da vida
material. Auxilie-me com as suas vibrações
fraternas! Eu, que lutei tanto para dar aos filhos uma
posição no mundo, vejo hoje que eles não possuem
a melhor — a que faz do coração um santuário das
luzes de Deus. Ainda sofro muito por tudo, peço-lhe
não me esquecer.
8
Desejando-lhe muita tranquilidade e deixando-lhe o
meu reconhecimento muito sincero, firmo-me ainda
como seu velho e grato amigo,

Virgílio Machado n
Nota da organizadora:
[1] Virgílio Machado, grande amigo da família Joviano.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.49

Bálsamo reconfortador
17|01|1940
1
Meus bons amigos,
Antes de tudo peço a Deus pela paz e saúde de todos.
2
Cá estou eu, prezada Maria, trazendo ao seu coração
a minha visita fraternal de sempre. Prossigo na tarefa
que me foi deferida, porém o característico mais
interessante de nosso esforço é o de buscarmos a
fortaleza de ânimo espiritual junto daqueles que
mais amamos. 3 Numerosas entidades possuem essa
fonte de energia no Além, todavia, comigo acontece
o contrário. Sinto que os laços afetuosos me
prendem muito à Terra, não só aos meus familiares
pelo sangue, mas também pela amizade carinhosa e
santa de vocês. 4 Grande é a luta, contudo, muito
maior é a Misericórdia Divina, razão pela qual o
desânimo ou o abatimento não mais têm razão de
haver em nossas fileiras espirituais. Espero que
vocês não me esqueçam nas preces costumeiras.
5
Senti muita alegria ao ver a mamãe lendo o livro de
Emmanuel. n Para o seu coração, a leitura foi
um bálsamo reconfortador. Quando você estiver
com a Aurélia, através de correspondência, peço-lhe
dizer ao seu bom coração que estou ao lado dela
sempre que isso me é possível.
6
Rogo a Jesus para vocês o máximo de tranquilidade
e de saúde. Que a sua infinita bondade se estenda
sobre o seu lar, santificando-lhe os esforços do
coração!
É o desejo da amiga e irmã de todos os dias,
Helena
50

Alvorada de luz
29|05|1940
1
Minha querida madrinha,
Antes de tudo, rogo a Deus pela sua tranquilidade!
Venho manifestar à senhora o meu reconhecimento
de coração pelas suas orações carinhosas e amigas!
Suas preces foram uma alvorada de luz para o meu
Espírito entristecido. 2 A morte deixou-me surpresa
e num abatimento difícil de descrever. Abandonar o
Pedrinho n e o lar que o meu zelo havia edificado era
um sacrifício supremo! Sua alma bondosa não pode
avaliar o quanto sofri, contudo, sentia sempre ao
meu lado o eco de suas preces generosas e
confortadoras.
3
Logo depois que me reconheci fora do corpo material
— e isso depois de tristes padecimentos — levaram-
me a um grande centro espiritual de socorro, onde
fui acolhida com os nossos doentes no Rio, que se
refugiam na Santa Casa de Misericórdia † ou na
Pro-Matre. 4 Vi quadros com os quais nunca poderia
contar, mas, continuadamente, sentia que o carinho
de sua lembrança me rodeava o coração. Por mais de
uma vez fui procurada por entidades benévolas, que
me confortavam em seu nome e, por muitas vezes,
recebi a visita de Engrácia e de Emmanuel — assim
me davam a conhecer suas personalidades generosas
e benevolentes. 5 Eu, que nada compreendia de
certos problemas da alma, fiquei conhecendo muitas
questões interessantes, porque esses amigos me
instruíam em sua lembrança e aplicavam-me de seus
fluidos para que eu pudesse esquecer os laços mais
fortes que me prendiam à vida material. 6 Ali me
conservei assim que fui conduzida a um
agrupamento de trabalho espiritual, que não lhe
poderei descrever ao certo. Sei apenas que, graças a
Deus, estou mais conformada e laborando pela
minha própria edificação em novos conhecimentos,
e ajudando aos que aí deixei, com os meus recursos
singelos.
7
Agradecendo-lhe, pois, e osculando-lhe as mãos
bondosas, deixo-lhe a alma inteira, cheia de afeição
e saudade…
A afilhada da Terra e amiga reconhecida, n
Marta Pernambuco

Notas da organizadora:
[1] Sobre Pedrinho não nos foram dadas maiores
informações.

[2] Mensagem dirigida à vovó Júlia.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

51

Erros e virtudes
05|03|1941
1
Meus filhos,
Que a glória de Deus, irradiada das alturas, lance
sobre vós as Suas bênçãos, como a todos os homens
de boa vontade! Venho trazer-vos a presença
afetuosa e renovar aos queridos filhos meus votos de
muita tranquilidade!
2
Meu caro Aurélio, vejo-te o pensamento interessado
no conhecimento dos fatos que já se foram e quero
afirmar-te, filho meu, que a bondade infinita do
Criador tem aberto os tesouros da complacência,
muitas vezes, sobre nós. Louvemos esse amor
inesgotável que não cessa nunca!
3
Vimos de longe, de séculos remotíssimos, em quedas
e levantamentos incessantes! Se nada posso
adiantar-te, em particular nesse sentido, meu filho,
cumpre-me dizer-te que toda harmonização é útil,
que todo bem é uma claridade que não morrerá! Um
dia nossos olhos se abrem para o dia da eternidade e,
então, a nossa visão espiritual atinge o mais longo
alcance. Os laços, os elos sacrossantos que nos
unem, ecoam de muito longe e as dores do pretérito
devem estimular nossas esperanças no porvir.
4
Quantas vezes temos experimentado as amarguras da
separação dos mais queridos? Quantas vezes
tivemos que sorver o cálice das lutas rígidas nos
labores expiatórios? Tudo se esvai, no que se refere
às expressões humanas, mas a alma fica imune no
torvelinho das modificações… Nossos erros e
virtudes são nossas bagagens que desonram ou
dignificam. 5 É por isso, meu filho, que em te
observando o interesse sagrado em torno de
revelações mais íntimas devo induzir-te a ser o bom
viajante que conduz consigo as joias do bem, os
adornos do amor, os valores da justiça e, sobretudo,
o ouro da perfeita reconciliação com o programa
divino do amor que Deus traçou para o caminho
infinito. Referindo-me a essa circunstância,
agradeço-te, com toda a alma, todo o cabedal de teus
sacrifícios pelos irmãos.
6
Aqui, filhos, deixo-vos os meus votos de paz em
Jesus! A ti, minha querida Julinha, o meu beijo
afetuoso. E abraçando-te, meu filho, com toda a
ternura do coração, rogo a Deus nos una os espíritos,
cada vez mais, em Seu divino e infinito amor!

Amélia

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


52

Pedido de irmão
05|03|1941
1
Prezados amigos,
Boa noite e que a bondade do Cristo se estenda sobre
todos!
2
Venho manifestar-lhes o meu reconhecimento por
todos os auxílios que me trouxeram com a amizade
desinteressada e sincera. Reafirmando essa gratidão,
quero pedir-lhes desculpas necessárias a todos os
erros de minha vida tão pobre de valores espirituais
e tão sacrificada pela viciação de ambientes junto a
falsos amigos…
3
A companhia indigna constitui o mais alto perigo
para a mocidade. Uma juventude despreocupada de
deveres sérios gera confusão enorme e, quase
sempre, somos levados de maneira sensível ao
esquecimento das coisas pequeninas que fazem parte
das grandes coisas. 4 Conhecendo tudo isso,
permitiu Jesus que eu recebesse a dádiva de lhes
falar, de modo particular, nesta noite, esperando o
perdão de todos. Isso é, para mim, uma oportunidade
santa, que não devo perder! Sentirei grande alegria
se todos, ao pensarem em mim, estenderem à minha
pobre alma as mãos de amigos. Receberei o novo
alento de lágrimas nos olhos…
5
Feito o pedido, rogo ao Deus de Bondade — de quem
nem sempre me lembrei no mundo — que os
abençoe e proteja em todas as circunstâncias. E aí
ficam o agradecimento e o pedido do irmão que os
preza com amizade real,

Joaneco n
Nota da organizadora:
[1] Foi médico e a família brincava chamando-o de “Joaneco,
meu boneco”. Ele era muito brincalhão.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


53

Marco inesquecível
19|03|1941
1
Meus prezados amigos, Maria e Rômulo, Jesus esteja
em nosso caminho, amparando-nos!
2
Desde muito tempo, Maria, eu mantenho o propósito
de visitá-los através das letras, mas a situação de
trabalho não me tem favorecido nesse setor. Sempre
que me é possível trago-lhes o meu abraço espiritual
a registrar a minha presença. Hoje, porém, quero
significar-lhes minha alegria pela justa realização
que o Rômulo pretendia, não pelo simples
movimento de pretender, mas no sentido de
reajustar-se no quadro da liça que lhe rege os
trabalhos funcionais. Acompanhei, minha amiga,
suas aspirações silenciosas e fortes, e aqui estou eu
para o meu grande abraço, formulando votos para as
melhores construções de ambos no porvir.
3
O acontecimento doméstico foi muito expressivo
para nós. Reforçou a sua confiança de esposa e mãe,
e tranquilizou o Rômulo de algum modo no
aparelhamento de suas demonstrações de serviço.
Tive o prazer de ouvi-los na confiança em Deus e na
satisfação de anotar a divina resposta. Para nós,
Maria, a alegria não foi menor e espero que esse
júbilo constitua um marco inesquecível de bem-
estar espiritual. Tudo tem a sua significação na vida
e a promoção do Rômulo não representou mera
ocorrência de ordem material. Representou,
igualmente, uma contenda benéfica do espírito, em
cujo término feliz todos nós nos achamos
empenhados.
4
Seja feliz, minha querida irmã, e que a Providência
os fortaleça e ilumine! Continuo em meus serviços
dentro da vida nova a que fui trazida. Ainda me
encontro na tarefa de preparação de minha volta.
Ajude-me, boa amiga, com os seus pensamentos de
carinho e fortalecimento. É sempre doce receber o
socorro dos amigos fiéis!
5
Meu pai continua em refazimento. Longa lhe foi a
batalha e apesar da assistência de que tem sido
objeto temos de reconhecer que a mudança é
enorme.
6
Adeus para todos. Reafirmando os meus votos de
muita felicidade para o lar dos queridos amigos, sou:
a irmã muito agradecida de sempre,

Helena

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


54

Sublimes conhecimentos
25|03|1942
1
Prezados irmãos Clóvis e Aurélia,
Rogo a Deus lhes proporcione o conforto de Sua
divina luz!
2
Aqui me encontro para lhes manifestar a amizade de
sempre. Graças ao Pai celestial, minhas tempestades
se amainaram. Brando alívio seguiu-se às minhas
sombrias dores de outros tempos e apenas agora vejo
a pequenez de minha alma, outrora cheia de
blasfêmia e revolta ante a grandeza da Providência
Divina. Até que descubramos a estrada justa,
quantas lágrimas vertidas!
3
Não conhecerão vocês, na existência humana, outra
riqueza maior que a de se prepararem para a
Eternidade com a luz de tão sublimes
conhecimentos! Os homens do interesse mundano
costumam ser grandes cegos de espírito, que mais
tarde defrontam, fatalmente, o abismo onde me
despenhei no regresso das lutas materiais.
4
Deste lado da verdadeira vida reconhecemos que
nenhuma verdade existe mais luminosa que esta,
porém, entre as paredes dos fluidos terrestres, nossa
vida é atormentada por singulares desequilíbrios. A
preocupação do bem-estar, do dinheiro, da evidência
social opera em nossa alma profundos desastres
invisíveis no mundo terreno, mas são francamente
observados na vida real, onde os nossos maiores
sofrem com a intensidade de nossas fraquezas. É o
engano trágico da maioria das criaturas! Iludidas
pela fantasia de conforto, descem aos pântanos mais
escabrosos, supondo-se em elevações brilhantes e
definitivas…
5
Tudo não passa, porém, de meros aparatos do
mergulho na indiferença a Deus e no esquecimento
dos deveres mais sagrados que Jesus nos confiou.
Como observam, meus caros, venho estudando
igualmente a ciência da vida espiritual, copiando o
impulso de vocês dois. Tenho me esforçado com
vigor, a fim de buscar algo dessa luz que não se
apaga nos corações. Com essa tarefa, sinto que posso
ser mais útil à Miquita n e às filhinhas.
6
Às vezes, os velhos enganos ameaçam-me a alma
sensível. Os fantasmas do sofrimento erguem-se na
estrada vulgar, mas reconheço agora que Jesus me
ajuda a cerrar a porta do coração à sua passagem, e
dentro de mim somente permanece o bom desejo do
auxílio santo, com o olvido de todas as questões que
vão ficando à distância de nossa atração para os
caminhos iluminados em busca de Deus.
7
Espero, meu caro Clóvis, que você e Aurélia
descansem satisfatoriamente nos próximos dias, até
que se verifique o término do período da licença-
prêmio. Essa licença foi uma compensação que
vocês utilizaram muito mais em serviço de nossos
generosos velhinhos que mesmo no proveito
próprio. Mas podem crer que todos os devotamentos
do lar são sublimes ofertas a Jesus!
8
O nosso venerável e santo amigo bem merece a nossa
dedicação! Suas mãos generosas sempre estiveram
prontas ao abraço de amor consagrado a todos… Se
mais fizéssemos, meus amigos, não chegaria para a
retribuição de um terço da nossa dívida geral de
afeição e devotamento, da qual o generoso Marechal
é um credor dos mais ricos e tolerantes que
conheço. n
9
Amigos espirituais nossos, meus caros irmãos, vêm
auxiliando a vocês na luta pelo restabelecimento
integral do equilíbrio orgânico. Não faltam a Clóvis
os passes reconfortadores e salutares que lhe têm
feito imenso bem. Que Deus o abençoe e proteja em
todos os dias da vida!
10
Ainda preciso muito do auxílio de vocês. Não será
para o momento que passa, entretanto, creio que não
se demorarão muitos anos para a minha volta…
Peço, então, a vibração fraternal de vocês para que
seja auxiliado na escolha de futura tarefa a
cumprir. 11 Muito lhes agradeço por tudo que têm
feito pelos meus, que são os nossos do coração. Jesus
recompensará os queridos irmãos com as suas
bênçãos de vida e de luz, concedendo-lhes vastas
possibilidades de alegria e ventura!…
12
Renovo a vocês os meus votos de muita saúde e paz
no período de descanso em curso, bem como os
melhores e mais sinceros agradecimentos de meu
coração.
O amigo reconhecido e irmão de sempre,
Gomide n

Notas da organizadora:
[1] Miquita era esposa do Espírito comunicante, Gomide,
irmã de Clóvis, casado com minha tia Aurélia Amorim.
[2] Em referência ao Marechal Feliciano Mendes de Moraes.
Era pai de Clóvis e de Miquita, sogro, portanto, do
comunicante. Clóvis, cunhado do comunicante, padeceu,
nesta encarnação, por longo tempo, de distúrbios
neurológicos.

[3] Conforme nota anterior, Gomide era cunhado de Clóvis.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.55

Uma reunião evangélica é uma fonte de águas


vivas
01|03|1944
1
Meu amigo, que a paz divina o felicite.
Aqui estou testemunhando a minha gratidão de
sempre. Desde muito não escrevo, mas quase
sempre venho até aqui. 2 Creia que uma reunião
evangélica é uma fonte de águas vivas para os
Espíritos encarnados e muito especialmente para nós
outros, os desencarnados. 3 Tenho acompanhado
seus testemunhos no ministério: testemunhos de
viajante numa região muito árida, e de lavrador
numa terra ingrata e menos receptiva. Grandes lutas,
meu amigo, grandes lutas! Conheço-as de perto e
experimentei-lhes o calor! Pedimos a Deus para a
paz e pelo seu êxito na tarefa. 4 Muito agradecido
pelos bens que tenho recebido em seu lar.
Cumprimento seus familiares, reconhecidamente,
desejando-lhes a todos a paz de Deus.
Seu amigo reconhecido e servo, ao seu dispor,
Dutra

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


56

Festa espiritual


14|12|1944
1
Meus amigos, que o nosso Jesus conceda a vocês
todos muita paz!
2
Nós viemos trazer ao nosso irmão Arthur as nossas
felicitações e cumprimentamos a vocês todos
pela festa espiritual. O nosso recinto de orações,
Maria, está cheio da luz de todos os corações que
agradecem a cooperação de um amigo
desvelado. 3 Insistimos com o Professor para
escrever. Ele, porém, sente que não pode, que as
lágrimas lhe embargam a voz e que a emoção não
lhe concede elementos expressivos à ideia. Muitos
amigos trouxeram-lhe lembranças, mas ele quis
guardar, em primeiro lugar, as flores que o afeto de
vocês lhe ofereceu.
4
“Oh, amigos, como são belas as rosas sem espinhos
dos corações que se amam!”, diz-nos ele, feliz!
Benditas flores! Elas irão conosco, embora o recinto
material lhes encerre a forma passageira. Irá conosco
o perfume, em suas delicadas corolas de amor e luz!
Que Jesus, meus filhos, conceda a vocês longos dias
de paz, com o santo trabalho espiritual de
aperfeiçoamento divino. 5 Sempre esta sala tem
notas de luz, mas hoje até eu mesma chego a chorar!
Casimiro Cunha trouxe uma bela ave, semelhante ao
passarinho que o Professor tomou para símbolo em
suas relações com as crianças. E ele, humilde, leu os
versos e disse: “Oh, possa eu, como o João-de-Barro,
fazer minha casa espiritual acima do solo da
Terra!” n
6
Mas o que nos impressiona a todos é um coração
iluminado que desceu do Alto e irradia sobre todos
as suas luzes! Grande e sublime estrela do Senhor,
de alma genuflexa, nós te respeitamos! Ensina-nos a
guardar as tuas bênçãos, vigia os nossos passos,
mantém os nossos caminhos abertos para as
montanhas da redenção, ajuda-nos ainda, apesar de
nossas fraquezas, e, embora permaneças tão alto,
recebe as nossas flores! Elas te fazem sentir o aroma
de nossos afetos ainda presos entre as hastes da
Terra! 7 Estrela soberana, agora e sempre, espalha
sobre nós os teus divinos raios! Ensina-nos a ciência
do amor, da luz e do infinito perdão! Auxilia-nos! E,
ainda que estejamos caídos dá-nos tua luz!
8
Aqui, meus filhos, também nós fazemos ponto final.
Nossas lágrimas falam de nosso reconhecimento e
de nossa emoção! Para que as palavras? Entendamo-
nos no grande silêncio do coração! Que Jesus
abençoe a vocês todos.
Lembranças da velha tia,
Engracinha
Nota da organizadora: Mensagem recebida no dia em que
se comemorava 10 anos da partida do vovô Arthur para a
pátria espiritual, ocorrida em 14 de dezembro de 1934.
Constante do livro Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 4ª
ed., 2012, p. 528).
[1] Vide homenagem de Casimiro Cunha ao Prof. A.
Joviano: Oração a João de Barro

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

57

O suor do trabalho
27|03|1945
1
Meus bons amigos, boa noite,
E que a paz de Jesus esteja com todos! 2 Agradeço-
lhes os pensamentos amigos enviados ao papai.
Venho procurando auxiliá-lo, diariamente, com os
meus melhores recursos e espero a continuidade do
auxílio de vocês todos para que ele aproveite, ao
máximo, os socorros que vem recebendo. 3 Bastará
que pensem nele nos momentos de meditação e
prece. Esse amparo, supostamente simples, é muito
expressivo e representa grande concurso fraternal.
4
Estou contente como sempre, observando-lhes a
riqueza de espiritualidade. Cultivem essas flores do
jardim da fé, orvalhem-nas com o suor do
trabalho e com as lágrimas do reconhecimento, e,
mais tarde, vocês reconhecerão a sublimidade do
mistério espiritual e observarão como é enorme a
ventura de quem sabe semear no coração os
princípios do Cristo!
5
Que ele abençoe a vocês todos, acentuando-lhes o
patrimônio de bênçãos!
Boa noite! Lembranças afetuosas da irmã sempre
amiga,

Helena

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


58

O castelo santo do lar


14|12|1945
1
Meus bons irmãos, muita felicidade a vocês! Quem
viu o lançamento da “pedra fundamental” do esforço
que vêm fazendo neste santuário admira-se do
progresso obtido. Progresso filho da boa vontade, da
perseverança, da firme atitude de elevação da alma
para Deus.
2
Tive a felicidade de estar com vocês nos primeiros
dias. Segui-os de perto, quando da separação da
presença paterna na esfera de obrigações materiais,
e abraçando o Professor Joviano, como o faço,
alegro-me, igualmente, em vocês, saudando-os com
os melhores sentimentos de minha alma! n
3
Deus lhes conserve a felicidade na fé viva. Enquanto
as paisagens, lá fora, se modificam, vocês
possuem o castelo santo do lar com a oração. Seja
louvado, Jesus, que tantas graças nos concedeu!
4
Desejo, Maria, que esta noite seja sempre portadora
de novas expressões de estímulos para o seu jardim
afetivo! Que a Divina Providência guarde o seu
espírito, querida irmã, amparando-lhe o coração
sensível e devotado de esposa e mãe, através de
todos os caminhos terrestres!
5
Adeus.
Paz e luz, saúde e bom ânimo a todos,
Helena

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao Grupo Doméstico Arthur Joviano,
instituído em 13 de novembro de 1935. Vovó Arthur
desencarnou em 14 de dezembro de 1934, portanto, 11 anos
antes da data da presente mensagem.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


59

Festa de felicidade espiritual


14|12|1945
1
Meus caros, que a bênção de nosso Senhor Jesus
esteja sempre conosco. Participamos dos júbilos da
noite e rendemos graças ao Todo-Poderoso pelas
dádivas desta hora.
2
O Professor Joviano, cercado de amigos, contém a
emoção de alegria escutando a oração do Rômulo.
Que felicidade, Maria! Você pode imaginar como
nos sentimos! 3 São muitos os irmãos que vieram
trazer-nos o seu voto de paz e, francamente, não sei
como traduzir meu reconhecimento a Deus!
Dessas festas de felicidade espiritual raras se
verificam na Terra. Por isso mesmo imploramos ao
Altíssimo para que o lar de vocês possua sempre este
bendito santuário de oração e de amor, onde
possamos colher o doce alimento da compreensão
legítima no trabalho com o Senhor.
4
Estas pobres palavras destinam-se apenas a registrar
minha visita e meu agradecimento. Que o Mestre
conceda ao nosso iluminado aniversariante de hoje
inesgotáveis recursos no espaço e no tempo, a fim de
que prossiga valoroso em seu apostolado de amor!
Afetuosas lembranças da tia muito amiga,

Engracinha

Nota da organizadora: Mensagem recebida no dia em que


se comemorava 11 anos da partida do vovô Arthur para a
pátria espiritual, ocorrida em 14 de dezembro de 1934.
Constante do livro Sementeira de luz (VINHA DE LUZ, 4ª
ed., 2012, p. 652).

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


60

Saudações de João-de-Barro

14|12|1946 n
1
De minha casa de barro,
Cheia de paz e de amor,
Eu venho saudar convosco,
Nosso antigo benfeitor.
2
Trago os filhotes comigo,
Em trajes de festival,
Compartilhando a alegria
De um natalício imortal.
3
Vimos do abrigo amoroso,
Dos cimos da prateleira,
Entramos pela janela
Num galho de trepadeira.
4
Como esquecer a voz terna
Repassada de carinho,
Que conversava conosco
Na solidão do caminho?
5
Como olvidar a mão clara,
Que tudo fazia certo,
Quando vinha docemente
Encorajar-nos de perto?
6
Grande amigo! Muitas vezes,
Deixava o salão dourado
Para buscar-me o lar rude,
Pobrezinho, desprezado.
7
Por que fôssemos humildes,
Trabalhando em terra escura,
Nunca deixou de tratar-nos
Com carinho, com ternura.
8
Pobre operário que eu sou,
Falava-me ao coração,
Ensinava meus filhinhos
A terem educação.
9
Chamado às honras do mundo
E às ambições da riqueza,
Preferiu viver conosco
Na sombra e na singeleza!…
10
Espalhava em nossa casa
As bênçãos e os dons divinos.
Sabia exaltar no mundo
A glória dos pequeninos!
11
Professor, recebe agora
Nossa eterna gratidão!
Que um passarinho também
Tem alma, tem coração!

Casimiro Cunha

[1] A data no livro impresso é 18|12|1946, mas vide a que


consta nos livros “Sementeira de paz” Saudação de João de
Barro e no “Sementeira de luz” Oração a João de Barro.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


61

Lembrança
27|08|1947

Vinte e sete, n quarta-feira.


Clarão para a vida inteira
Num dia de sonho e flor!
Que Deus vos encha de luz
O lar aberto a Jesus,
Em doce missão de amor!
Casimiro Cunha

Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se ao dia do mês em que se comemorava as
bodas nupciais de Rômulo e Maria Joviano, ocorridas em
27 de dezembro de 1913. Da data da mensagem haviam,
portanto, decorridos 24 anos.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


62

Na festa do Professor


14|12|1947

1
Nesta noite de alegria,
Meu prezado professor,
O seu natal festejamos
Em preces de paz e amor.
2
Comigo bulhentos bandos
De trêfegos pequeninos
Beijam-lhes as mãos dadivosas
E exaltam-lhe os dons divinos.
3
Todos eles trazem flores
De afeto e de gratidão,
Que as flores falam mais alto
Das bênçãos do coração.
4
Receba da menorzinha,
Da pequena Maristela,
Um ramo todo orvalhado
De glicínias da janela.
5
Mais duas chegam contentes.
São elas Cristina e Wanda!
Com joias das trepadeiras
Que florescem na varanda.
6
Agora é aquele peralta,
O traquinas João Cotuba,
Que lhe traz, regenerado,
Uma flor de jurujuba.
7
O João Pica-Pau, aquele
Das pancadas e corridas,
Tem um buquê cor de neve,
Composto de margaridas.
8
Repare quem vai chegando!
É a endiabrada Laurinda,
Que lhe oferta, carinhosa,
Um galho de acácia linda.
9
Olhe agora! Quem diria?
É o teimoso Ezequiel,
Com ramalhetes das flores
De trevos, cheirando a mel.
10
Antonico, o aleijadinho,
Que a própria mãe jamais quis,
Vem trazer-lhe alegremente
Dois formosos bogarís.
11
Guilhermino, o preguiçoso,
Que chorava dia inteiro,
Mostra um ramo grande e belo
De flores do jasmineiro.
12
Lelé, Xandoca e Iracema,
As maiores das meninas,
Colheram grandes braçadas
De esporas e de cravinas.
13
Os demais trazem consigo
Auréolas de terno encanto,
Formadas no roseiral
Que seus filhos amam tanto.
14
Bendito seja o seu nome!
Continue feliz assim!…
Tantos netos Deus lhe deu
Por esse mundo sem fim…
15
Nosso abraço, grande amigo!
Que lhe conceda o Senhor
A luz da vida infinita
E a paz do infinito amor.

Casimiro Cunha

Nota da organizadora: Poema comemorativo ao aniversário


da partida do vovô Arthur para a pátria espiritual, ocorrida
em 14 de dezembro de 1334, portanto, 13 anos da data da
mensagem. Constante da obra Sementeira de paz, à p. 233
(VINHA DE LUZ, 2010).

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.63

Boas festas
31|12|1947

Irmãos, que o Quarenta e Oito n


Nos encontre com Jesus,
Enchendo-nos, cada dia,
De mais trabalho e mais luz!
Casimiro Cunha
[1] [Ano de 1948.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


64

Jardim doméstico
27|12|1948
1
Meus bons amigos,
Muita paz e alegria a todos!
2
Maria, a sua lembrança de um culto à Espiritualidade
nesta noite nos tocou as fibras mais intimas! Trago-
lhes ao noivado redivivo as flores de meu carinho e
admiração!
3
A amizade nunca morre. É planta sublime, com
raízes na Eternidade. Por vezes, a morte apenas
consegue eclipsar-lhe a expressão visível ao olhar
humano, contudo, dentro do Reino espiritual
estamos unidos perenemente uns aos outros.
4
Nosso abraço pela data querida! Desejamos, minha
querida amiga, que as suas Bodas de Prata
atravessem a escala de todas as preciosidades na
Terra. Seja feliz com o seu dedicado esposo e com
os seus amados filhinhos!
5
A paz é a coroa das mães que dignificam a própria
tarefa. E sua fronte, Maria, permanece iluminada de
harmonia, esperança, tranquilidade e fé. Você soube
conservar o seu jardim doméstico em nome de
Jesus, que nos pede amor infinito e vigilância
continuada!
6
Abençoada seja a sua realização, com os títulos de
esposa e mãe! Que a Providência Divina converta
todas as suas aspirações em realidade, são os desejos
de sua amiga reconhecida de sempre,
Helena

Nota da organizadora: Rômulo e Maria completaram, na


data, 25 anos de casados (Bodas de Prata).

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


65

Bodas de Prata
27|12|1948
1
Meus filhos e amigos, Jesus conosco!
2
Não poderia faltar neste concerto de júbilo
festivo: 25 anos correram céleres! Não é só a
felicidade que fala por vocês — é o trabalho que
levaram a efeito em todos os setores. Sejam felizes,
pois, cada vez mais intensamente, trabalhando e
amando, amando e trabalhando!…
3
Não disponho de recursos verbais para exprimir-lhes
o nosso contentamento. A alegria de vocês nos
alcança e, por isso, convertemo-la em luminosa
projeção de ventura a todos aqueles que, em
derredor de nós, esperam por arrimo e luz
espiritual. 4 Em nome de vários amigos, trazemos a
vocês a vibração fervorosa de nosso afeto e ternura,
agradecimento e carinho, sempre renovados. Que
ambos estejam sempre mais vivos na sagrada
comunhão espiritual em que vivem, desde a Esfera
carnal, são os votos da velha servidora muito grata,
Engracinha

Nota da organizadora: Mensagem constante do


livro Sementeira de paz (VINHA DE LUZ, 2010, p. 366)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


66

Continuamos atendendo ao Roberto


07|06|1949
1
Meu filho, Deus abençoe a vocês, concedendo ao seu
coração renovadas forças para as tarefas de sempre.
Vá, realmente satisfeito, em visita aos corações
amados e diga, de nossa parte, ao nosso amigo
General Aurélio que o seu campo orgânico vem
sendo objeto de nossas melhores atenções. 2 A nossa
irmã Amélia, e não somente ela, mas também
diversos companheiros de sua seara, se desvelam de
maneira direta pela manutenção de sua saúde e de
seu equilíbrio psíquico, dentro da mobilidade de
todos os recursos ao nosso alcance. Desejamos
senti-lo cada vez mais fortalecido na fé e robusto na
certeza de que a nossa cooperação espiritual jamais
esmorece.
3
Quanto ao Roberto, n continuamos atentos para com
as suas necessidades físicas do momento, contudo,
em qualquer eventualidade, a colaboração médica,
no círculo familiar, deve ser buscada sem perda de
tempo. Contamos em que as suas melhoras se
acentuem, cada vez mais, todavia, é necessário
movimentar em qualquer imprevisto o concurso da
assistência justa. O sistema nervoso do meu neto,
porém, vai sendo restaurado com muito êxito, com
a eliminação do incidente quase imperceptível dos
dias que passam.
4
A hora não me permite, por mais tempo, usar o lápis
da amizade, do carinho e da gratidão, e assim peço
a você distribua com todos os nossos as minhas
lembranças.
5
Lembrando ao Senhor pela saúde e paz de todos,
deixa-lhes um abraço afetuoso o papai reconhecido
de sempre,

A. Joviano n

Notas da organizadora:
[1] Em referência ao meu irmão, Roberto Joviano. Formou-
se médico-veterinário pela Escola Nacional da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFR-RJ).
Como veterinário, trabalhou no serviço público federal por
alguns anos. Em seguida, trabalhou nas empresas Produtos
Veterinários Manguinhos Ltda. e na Pearson S/A. Fundou,
depois, a Vepec, uma empresa de comercialização de
produtos veterinários. Foi, ainda, diretor do Laboratório
Nacional de Produtos de Origem Animal (Lanaral) do
Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo. Casou-se
com Marília de Gusmão e teve cinco filhos: Maria do
Carmo, Romero, Maria Júlia, Maria Helena e Rômulo.
Faleceu em 27 de fevereiro de 2002, com 78 anos.
[2] Esta era outra forma de vovô Arthur assinar suas
mensagens — A. Joviano.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


67

O Professor partiu ficando…


14|12|1949
1
Meus queridos, que a bênção de Deus nos fortaleça
a todos.
2
Todos estamos em atitude festiva do Espírito eterno,
comemorando a “nova mocidade” do nosso irmão
Arthur na vida imortal. Quinze anos de bênçãos
soube construir o nosso amigo de todos os tempos,
ajudando, ensinando, amando e servindo. 3 Eu que,
nos últimos anos, me consagrei à tarefa de melhorar
a visão dos cegos, jamais conseguiria uma
estatística dos cegos que ele curou, ensinando-lhes
o caminho da cultura e da virtude em todos os
ângulos da tarefa.
4
Vocês têm razão dedicando-lhe o amor com que a
ele se dirigem nestas horas de alegria, paz e triunfo.
Aqueles que nos amparam nas horas tranquilas e
inquietas, felizes e dolorosas, guardando para nosso
Espírito o amoroso aconchego do coração, deve
representar de nossa alma algo de sagrado que nos
merece a atenção e a ternura de cada momento.
5
Nosso amigo assiste, em lágrimas, a reunião em que
nos congregamos. As emoções da Terra falam alto
em seu íntimo, nesta noite, em que tantas
recordações se casam em sua mente de trabalhador.
Sim, os viajantes que seguem amparando e
auxiliando a quantos lhe rodeiam os passos na
marcha, de quando a quando repousam sob as
árvores do amor para chorar, derramando o pranto
da alegria e da saudade, do otimismo e da
expectativa, da compreensão e do
entendimento. 6 Grande é a vida e a vida não cessa.
É preciso seguir sempre, muitas vezes violentando
as fibras da própria alma, seguir sobre os próprios
ídolos quebrados, mas avançar ao encontro do ideal
divino que o nosso Espírito imperecível plasma, em
silêncio, no espaço e no tempo, na “intimidade do
Pai”.
7
O Professor partiu ficando, porque ao invés de
elevar-se no rumo de outros climas, que o esperam
na recompensa do mérito individual, desencarnou-
se do corpo físico e materializou-se nos
pensamentos de nossas necessidades, se podemos
dizer assim. Vive a continuidade da experiência
terrestre para ser-nos mais gloriosamente útil e
planta, sem cessar, a lavoura nova por amor a vocês
e a nós todos que detemos a felicidade de possuir-
lhe a estima. Rendamos graças ao Céu por estes três
lustros de cooperação, de trabalho, de intercâmbio,
de luz! 8 A única saudade verdadeiramente santa é
aquela que se esforça por reviver a felicidade que
ela própria simboliza. Vocês souberam realizar esse
prodígio. Pela ânsia construtiva de reter um coração
iluminado e nobre ofereceram-lhe abrigo no imo do
ser, recebendo-lhe os raios de amor santificante e
oferecendo-lhe um santuário que se fez divino ao
seu autoengrandecimento. 9 Que o Senhor lhes
conceda multiplicadas possibilidades-
oportunidades de ouvi-lo, amá-lo e segui-lo cada
vez mais! Espiritualmente falando, formam com ele
um precioso campo de equilíbrio — ele
arrebatando-os potencialmente para o Alto e vocês
trazendo-o para a Terra — onde esse encontro de
forças oferece recursos valiosos para que a alma
devotada se exteriorize em abençoados serviços que
beneficiam a todos.
10
Nesta noite, portanto, associamo-nos na mesma
expressão de contentamento e de estímulo. Que
vocês estejam com o Professor tanto quanto o
Professor permanece com Jesus e com vocês, são os
votos da tia e velha amiga de sempre,

Engracinha

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


68

No santuário doméstico
Ao Professor Joviano


19|12|1949
1
Professor, eis-nos de novo
Agradecendo o carinho
Da tua missão de pai
Nos óbices do caminho.
2
A palavra não expressa
A força da gratidão,
Porque o júbilo sublime
Não foge do coração.
3
Deixa, porém, bom amigo,
Generoso e tolerante,
Que nesta noite de amor
A nossa voz se levante.
4
Todos estamos contentes
Em tua escola de luz
Consagrada, inteiramente,
À inspiração de Jesus.
5
E agradecemos, felizes,
A tua consagração
À nossa prosperidade
No aprendizado cristão.
6
Vem até nós! Eis-nos todos
Em saudação comovida
À tua bondade excelsa
Que ilumina a nossa vida!
7
Abre-se o templo do lar
Sobre as flores sempre-vivas,
Nascidas do amor celeste
Que recolhes e cultivas!
8
Tudo se ajeita com gosto:
A estante, a lâmpada, a mesa…
Lá fora, há perfume e paz
Nas bênçãos da natureza.
9
Ao redor da prece calma
Chegam amigos, em bando,
Exaltando o benfeitor
Ativo, seguro e brando.
10
Trazem, ainda, à nossa sede
A água viva da lição
Que afaste de nossas almas
A sombra, a chaga, a aflição!
11
Aprendeste no Evangelho
A servir, sem descansar.
Bendito “o semeador
Que saiu a semear”. ( † )
12
Em teu doce aniversário
De luz, de paz e de amor,
Que a glória te guarde a vida
Nos júbilos do Senhor!
Casimiro Cunha

Nota da organizadora: Na data também comemorava-se o


aniversário de Rômulo Joviano, nascido em 1892. Meu pai
estava completando, portanto, 57 anos.
69
Júbilo doméstico
11|01|1950
1
Glória a Deus nas alturas e paz na Terra a todos os
espíritos de boa vontade! ( † )
2
Partilhamos da alegria robusta que impera hoje neste
santuário e sinto-me ditosa observando o nosso
querido Aurélio e a nossa querida Julinha no
banquete do amor que o aniversário de Maria nos
trouxe naturalmente aos corações.
3
O júbilo doméstico é a materialização das bênçãos
do Céu. O lar não é simplesmente um refúgio
compulsório de personalidades, na expressão física
da palavra. É o templo das almas em que os
sentimentos elevados se unem para a celebração da
verdadeira felicidade.
4
A nossa festividade permanece aureolada de dons do
Alto e agradeço a Jesus a ventura de vê-los reunidos
na mesma comunhão de sempre!
5
Interpreto satisfeita, nesta hora, as felicitações de
todos os amigos de nossa Esfera de ação, que se
acham presentes, entrelaçando vibrações de
carinho, preces de agradecimento e solicitando a
Jesus conserve a existência e a saúde, a paz e a
alegria de nossa querida aniversariante, a fim de que
prossiga em sua posição de luminoso centro aos
corações que lhe seguem os passos na ascensão
espiritual.
6
Deus a abençoe, minha querida Maria! E lhe restitua
sempre na percentagem do infinito as flores de
ternura e devotamento que o seu carinho e
entendimento sabem semear cada dia!
7
A luta na Terra vale pela beleza que criamos na
condição de maternidade sublime. Aqui me refiro
tão somente à maternidade, porque a mulher cristã
é sempre mãe, a começar pelo esposo, em cujo
coração encontra um hostiário de luz para a jornada
através do caminho da humanidade.
8
Você é, realmente, uma herdeira feliz do valor do
papai e da abnegação da mamãe. Que o seu espírito,
na romagem terrestre, continue brilhando! E nunca
se esqueça, minha querida neta, de que a estrela
brilha sempre mais mormente quando as sombras se
acentuam no firmamento… Guarde sempre o seu
espírito de bom ânimo, de compreensão e nobreza
perante o mundo. Nossa missão é a de doar a vida,
o equilíbrio e a claridade em nome de Deus! Que
Ele a coroe de felicidade agora e sempre!
9
Depois de haver cumprimentado a nossa Maria, meu
caro Aurélio, quero fazer-lhe sentir que a minha
presença ao seu lado continua incessante. Graças à
Divina Proteção, os horizontes revelam serenidade
e estabilidade! Agradeço a sinceridade de seu
esforço na plantação de paciência dos meses
últimos. Felizmente, você dispõe de um anjo da
guarda em nossa Julinha e não pode, realmente,
errar no roteiro a seguir. A Providência Celeste é
invariável na abundância dos benefícios. Com o
apoio do Alto, meu filho, nada lhe tem faltado!
10
A coragem, ajudada por amigos, embora invisíveis,
mantém-se intacta em sua alma de lidador. A calma,
nutrida por seu abençoado trabalho no
entendimento, garante-nos o êxito de sua paz. E a
saúde orgânica, não obstante não completamente
refeita, com a cooperação dos mensageiros divinos
se reergue gradativamente nos moldes desejáveis,
com o maior lucro para os nossos interesses comuns
quanto à paz e à união.
11
Desse modo, meu filho, somente lhe peço que
continue cuidadoso, atendendo aos conselhos de
nossa Julinha, aos quais quase sempre utilizamo-la
por médium de nossas sugestões. E aguardo a
continuidade de suas meditações, tanto quanto
possível, com a audição de leitura edificante, de vez
que com esse material recebemos precioso concurso
de influenciação em favor de seu integral
restabelecimento.
12
Não se entristeça acalentando pensamentos
sombrios, menos compatíveis com o júbilo que
deve reinar em seu espírito vitorioso. Essa
recomendação é muito importante para a sua
tranquilidade, porque a mente pacificada é como o
lago sem agitações que pode refletir os aspectos do
firmamento.
13
Não se agaste, nem perca tempo desejando superar,
de vez, as inibições do corpo. Às vezes, é necessário
que o operário tenha maiores doses de paciência
com a máquina. O corpo é essa máquina, enquanto
que nós somos os operários do progresso. Não
convém forçar-lhe as peças ou violentar-lhe os
ligamentos para a produção apressada. Em todas as
experiências, temos necessidade do serviço de
refazimento.
14
Com respeito às manifestações febris, não há
motivo para inquietações. O problema será
solucionado e espero que a sua nova temporada em
companhia de Julinha no campo seja portadora de
reais benefícios ao seu estado geral. Meu filho, você
sabe que estou sempre à sua disposição. Pense em
mim e estaremos juntos.
15
Jesus conceda a vocês todos, muita alegria e paz,
fortaleza e bom ânimo! Estou abraçando a você,
meu filho, ao lado de nossa bondosa Julinha, com
os meus rogos ao Alto por seu triunfo completo em
todas as fases do combate silencioso pela
restauração do equilíbrio físico. Sou a mamãe que
lhe guarda os pensamentos no imo do coração,

Amélia

Nota da organizadora: Na data comemorava-se o


aniversário de minha mãe, Maria Joviano, que nascera em
11 de janeiro de 1901, vindo a falecer em 7 de novembro
de 1950.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

70
Caminhada espiritual


05|06|1951

“E o que pedimos é o vosso aperfeiçoamento.” (2


Coríntios, 13.9)
1
Caros amigos, que a luz do Senhor brilhe sobre todas
as sombras que possam envolver a nossa Terra, a
fim de que o sol da verdade faça surgir a pujança do
seu amor por toda parte.
2
A caminhada espiritual na escola da Terra é
semelhante ao trabalho que um escafandrista tem
para se movimentar dentro da espessa textura do
mar, imerso sob o seu grande volume de águas. O
ser que se introduz nesse aparelho assim procede
para um determinado propósito — vai procurar
alguma coisa, vai verificar a situação de algum
navio ou vai estabelecer conhecimentos para que se
processe alguma coisa em beneficio de certa
comunidade. Ninguém se mete em um escafandro
suportando o peso de muitas toneladas d’água
correndo riscos inúmeros, arriscando a delicadeza
dos seus órgãos, que não foram criados para essa
missão debaixo d’água! Ninguém assim procede
por mero divertimento ou para satisfazer
curiosidade individual. 3 Nenhum Espírito volta ao
ambiente da Terra sem determinados propósitos. O
escafandrista não se submerge sem o auxílio de
muitos que velam pela execução da sua missão. O
seu trabalho é acompanhado por muitos e os
resultados de seus esforços são avaliados por muitos
que podem dizer do mérito e resultados de cada
esforço de andar debaixo d’água e executar
determinados programas de trabalho. Também nas
nossas encarnações temos quem avalie as nossas
vidas na Terra, concedendo mérito a cada uma
delas, de acordo com os seus resultados na execução
de trabalhos em beneficio da espiritualidade
representada por cada um de nós.
4
Voltemos ao texto do estudo do Evangelho da noite.
O que nos pede o Senhor da Vida é o nosso
aperfeiçoamento e para essa missão ele concede
inúmeros amparos para que a nossa experiência seja
sempre um marco de evolução. É isso que todos
pedimos aos companheiros de humildade. Que não
desperdicem um só instante do tempo concedido a
cada um de nós para a imersão na carne. O sucesso
de cada um tem reflexo em toda a humanidade,
porque o aperfeiçoamento de um acarreta a
elevação de muitos.
5
Assim, meus amigos, não tenhamos nenhuma
dúvida sobre a existência de grandes correntes de
companheiros em ambos os lados, empenhados no
aperfeiçoamento de cada um e unidos no amparo
que cada um necessita nas lutas de cada dia para
assegurar postos de trabalho em beneficio da
comunidade. Nesse mister, recebemos
constantemente a força do amor do Senhor Jesus, a
luz da sua sabedoria e do seu poder, para que o
homem se aperfeiçoe tanto na matéria quanto no
Espírito. Que Jesus nos ampare sempre nos nossos
bons propósitos.
Boa noite, o vosso amigo e servo humilde,
João de Deus Macário
71

Louvemos o patrimônio do tempo


06|01|1955

“E completados quarenta anos, apareceu-lhe o anjo


do Senhor no deserto do Monte Sinai, numa sarça
de chama ardente.” (Atos, 7.30)
1
Meus amigos, que a paz do Senhor esteja em nossos
corações e que a luz do seu amor nos envolva hoje
e sempre.
2
Louvemos o patrimônio do tempo com que o Pai
nos enriqueceu a experiência da vida na escola
terrena. Um ano que se finda é um tesouro que nos
concedeu de conhecimentos e oportunidades para
utilização das bênçãos da mente iluminada pelo
nosso mestre Jesus. Um ano que se inicia é uma
nova possibilidade que se abre para que busquemos
as riquezas da espiritualidade. 3 É nesse decorrer de
ciclos que temos crescido no desenvolvimento do
nosso Espírito. Muitos de nós temos tido repetidas
vezes essas ocasiões de marcar as atividades da
nossa alma em busca do Mais Alto. Mas, meus
amigos, a luta é árdua e a caminhada é longa.
4
Muitos de nós têm percorrido esta senda da vida na
Terra sem alcançar resultados. Muitas vezes nem
mesmo temos percebido a luz que buscávamos. É,
pois, muito a propósito que o tema do estudo do
Evangelho da noite chama a nossa atenção para o
versículo dos atos dos apóstolos, registrando que
mesmo os mais graduados na experiência das lutas
evolutivas do Espírito têm encontrado obstáculos
para o pleno conhecimento da chama
divina. 5 Moisés levou quarenta anos para perceber
a luz que o anjo do Senhor trouxe para iluminar-lhe
a caminhada na Terra, bem simbolizada na aparição
em sarça ardente, no Monte Sinai. Filhos meus, já
temos percebido os primeiros chamamentos dessa
luz na nossa caminhada. É, pois, com graça e júbilos
que elevamos os nossos pensamentos ao Senhor da
Vida, agradecendo tantas bênçãos! 6 Roguemos,
pois, para que mais este ano que se abre à nossa
caminhada seja cheio de lutas proveitosas e deveres
bem cumpridos, a fim de que possamos transpor os
montes dos desertos da nossa ignorância e
infantilidade espiritual.
Boa noite, o vosso irmão e amigo, bem como servo
humilde,
João de Deus Macário
epois da travessia — Autores diversos
Dedicatória II
Ao meu filho Sergio oferto estas
mensagens de minha querida mãe
Maria Luiza Xavier psicografadas por
meu querido tio Chico que me deram
força e coragem para continuar
vivendo.
Tua mãe
Maria Lúcia F. Gonçalves n

[1] [Vide a seguir a Mensagem de José Xavier e a Nota da


editora sobre Maria Lúcia F. Gonçalves.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


72

Mensagem de José Xavier


06|07|1985
1
Prezada Maria Lúcia, n aqui estamos.
A nossa Luiza prossegue muito bem no refazimento
preciso. n Se fôssemos ouvi-la, já teria deslanchado
do Instituto há muito tempo, a fim de escrever a
você aqui mesmo, conforme o desejo dela e a
promessa que fez a você. 2 No entanto, os nossos
instrutores julgam que ela necessita reconstituir-se
um tanto mais para vir a escrever com segurança,
trazendo-lhe notícias. Ela tem custado a resignar-se
com a separação de sua presença, sentindo
dificuldade para aceitar o problema da distância,
contudo, ela perceberá muito em breve que essa
distância é inexistente, porquanto poderá vir até aos
nossos sempre que desejar e as circunstâncias
permitirem. 3 Você pode imaginar a amargura que
ainda persiste naquele coração de mãe, no entanto,
as suas preces chegam até ela e com isso se
reconforta. Pelo que noto, observo que ela já
recebeu até pedidos seus escritos, rogando-lhe
proteção e companhia, mas espero que a
restauração das energias dela se processe
naturalmente para entrar com ela nesses assuntos.
4
Querida Maria Lúcia, tanto tempo passou e somos
os mesmos… Você, que era a menina de ontem,
hoje já é a mãe de rapagões fortes e homens feitos,
impressionando-nos pela rapidez das horas que se
sucedem umas às outras. 5 Fique certa de que a vida
continua e de que você não perdeu sua mãe, agora
mais viva para compreender-nos e auxiliar-nos a
todos, como sempre aconteceu. Continue com as
suas orações pelo padrão que julgue melhor. 6 Toda
prece que se eleva para o Alto é uma luz entre os
que se ausentam para a residência em outra vida e
os que ficam para lhes continuar o trabalho habitual
com a bênção de Deus. 7 Aqui, pelo chão da Terra,
as ideias costumam surgir separadas. Entretanto, à
medida que conquistam altura são todas elas forças
e inspirações da alma à procura de Deus. Continue
orando! 8 Eu mesmo sou muito grato por todos os
seus ofertórios em meu favor e não dispenso o seu
auxílio. Com Oscar e os filhos, n receba o abraço do
tio amigo,

José Xavier n

[1] Notas da editora: Refere-se a Maria Lúcia Ferreira


Gonçalves, filha de Maria Luiza Xavier Ferreira, esta irmã
mais velha de Chico Xavier do primeiro casamento de
João Cândido Xavier com Maria de São João de Deus,
desencarnada em 7 de maio de 1985, em Pedro Leopoldo,
MG.

[2] D. Luiza, da união com Lindolfo José Ferreira, teve mais


três filhos: Maria Alice (Alicinha), Maria Alice (Pingo) e
Luciano.

[3] Oscar, marido de Maria Lúcia, ou Lúcia, cujos filhos são


Sérgio, José Geraldo, Caio e Luizinha.

[4] José Cândido Xavier irmão de Chico Xavier, do primeiro


casamento de João Cândido Xavier com D. Maria de São
João de Deus. Desencarnou em 19 de fevereiro de 1939,
com 33 anos.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


73

Afastamento do corpo


13|07|1985
1
Querida Lúcia, n Jesus nos abençoe!
2
Dirigindo minhas notícias a você, quero explicar
que deixei três filhos — você, Maria Alice e
Luciano — Sérgio, Zé Geraldo, Caio, Luizinha,
Julinho, Chiquitinho e Conceição por netos muito
queridos, e três bisnetos, que são Sarita, Juliana e
Mateus. 3 Preciso esclarecer que sou mãe e avó, e
por isso amo a todos. Aqui, porém, diante da sua
presença e do nosso Oscar, desejo anotar que a
nossa convivência foi, para nós duas, uma ligação
a vida inteira. Você sempre estava comigo e não
conhecemos separação. E o nosso amor uma pela
outra era e continua a ser tão grande que eu não
queria deixar o corpo doente. 4 Meu apego não foi
assim tão grande à existência terrestre, que me dera
dificuldades suficientes para desejá-la com tanto
ardor, mas sim, eu pedia a Deus mais vida no
mundo para não nos separarmos! A ideia de que
isso viesse a suceder me causava um medo terrível
da morte e uma constante aversão pela ideia de
largar o mundo e afastar-me de você. Compreendo
que você se lembrará de nossos entendimentos.
5
A doença trazida pelo desgaste do corpo me
impunha marcas dolorosas, que os medicamentos,
por fim, não conseguiam anular. Tinha bastante
experiência para ver o que estou dizendo nos olhos
dos médicos, que se incumbiam de meu tratamento.
Travei no íntimo uma longa batalha contra o fim de
meus sofrimentos físicos. 6 A
palavra desencarnação, que ouvia de tantos
amigos, soava sempre mal aos meus ouvidos.
Ansiava ficar ao seu lado, sentia que você falava
dentro de mim e que eu morava em seu coração!
Apartar-me de você seria o pior que me poderia
acontecer. 7 Mas o tempo parece combinar medidas
contra nós quando a moléstia é longa demais.
Experimentava horas de aflição e mal-estar, nas
quais observava o meu próprio corpo a pedir
descanso e socorro. Minha vontade de continuar
vivendo era forte demais para que eu não
controlasse a minha própria situação.
8
Naquilo que dependesse de mim, expulsava a
tendência da morte com a força de quem vigia
constantemente contra poderoso inimigo. Chegava
mesmo a conservar comigo a própria insônia, sem
a menor disposição de aceitar um tranquilizante,
para que o sono não pudesse me amolecer a
resistência, permitindo que a morte me agarrasse
por traição. 9 Filha querida, por que tudo isso? Eu
mesma nunca soube responder… Se você saía para
qualquer pequeno dever, sentia que estava sofrendo
uma lesão inexplicável! Devia ver você, saber você
alegre e tranquila para me acalmar… 10 O nosso
Oscar sabe disso e sempre tolerou o meu apego
excessivo na condição de um filho espiritual que
me conhecia a limpeza de sentimentos. Não era o
instinto da posse que me dominava, era a
sustentação de minha própria vida que eu me
empenhava em manter a todo custo. O combate
interior crescia por dentro de mim quando minhas
energias alcançavam os últimos degraus da
resistência…
11
Na noite inesquecível de nossa separação, procurei
guardar os meus olhos vigilantes, com receio do
sono, que é uma espécie de ladrão de nossa
vontade, mesmo porque começara a perceber que
uma parte do meu coração estava paralisada,
porque não conseguia deitar-me do lado em que
isso me parecia estar acontecendo. Havia pedido
em oração a Jesus para que não me deixasse perder
o corpo, sem a sua presença. E fiz o que pude para
que você não se afastasse de mim.
12
Lembro-me com clareza de tudo. A nossa estimada
Palmira do Jair n estava conosco e eu tomava a sua
mão para beijá-la e falar da saudade que começava
a sentir. Notei que o estômago estava muito vazio e
falei com você que eu aceitaria algum caldo quente
que me retirasse da sensação de fome. Você foi à
cozinha e preparou o alimento leve que eu desejava.
Palmira nos via com a bondade de sempre e
chamava você por aduladeira, brincando com os
nossos cuidados… Tomei o líquido quente que
você me trouxe e ainda ofereci a você o resto para
que nós duas fôssemos as únicas pessoas trocando
os corações naquela hora. Em seguida, falei que
você havia feito uma delícia e novamente tomei sua
mão entre as minhas, exclamando: “Ô saudade!
Que saudade!…”
13
Era a saudade de você que começou a me tomar a
alma toda, quando vi minha mãe n chegar em
companhia de Madalena, irmã de Maria
Anselma, n que trazia nas mãos um retrato de Jesus,
que me pareceu gravado em pontos de luz.
Acompanhando mamãe e Madalena, estava
Cidália n e um grupo de crianças, que me
encantava. Acreditei que o alimento me induzia a
um sono leve e entreguei-me ao respeito e à
admiração pelo quadro que Madalena me mostrava.
Não sabia se estava acordada ou sonhando…
14
Mamãe me recomendou: — “Luiza, levante-se
para receber o retrato de Jesus das mãos de nossa
amiga.” — “Não posso!”, respondi mais com o
pensamento que com as palavras. “Não tenho
forças!…” — “Pode sim”, acrescentou minha mãe:
“Esforce-se e saia da cama!…”
15
Creio que os meus movimentos para atender foram
apenas mentais. Compreendi que devia aceitar o
pedido de mamãe mais por educação que por gosto
próprio e depois de alguns momentos me vi fora do
corpo desgastado e abatido… Expressei o meu
júbilo e o meu agradecimento à nossa Madalena, a
quem sempre venerei por uma serva de Deus,
quando as crianças unidas cantaram um hino do
qual não retirei a minha atenção, a fim de mostrar
reconhecimento. Lembro-me de que havia um
estribilho no cântico, que era repetido e dizia assim:
16
“Dos grandes lares do mundo
O maior é o lar do bem.
Bendito seja o meu lar
Nas luzes do grande Além.”
17
Quando me conscientizei de que as palavras
significavam afastamento do corpo, assumi uma
atitude de recusa e perguntei: “— Mamãe, o que
significa isso? Eu não pedi e nem quero nada com
o Além! E esses meninos…”
18
Não terminei a frase. Uma jovem vestida em azul
se aproximou de nós e com muito cuidado
examinou um fio de substância prateada que saía de
minha cabeça, e sem que eu pudesse me livrar do
espanto que me assaltara cortou o fio depois de
examinar cautelosamente o que estava fazendo, e
eu então me senti num desmaio que não sei
explicar…
19
Chamei por você muitas vezes, pedindo as suas
mãos para segurar as minhas, mas a minha voz era
só pensamento… Pedi à Palmira que me viesse
defender contra aquela diminuição de forças, mas
Palmira também não conseguia me ouvir. Procurei
por você ansiosamente, entretanto, embora
percebesse você quase rente comigo, notei que
você estava controlada pelas mãos de nossa querida
Cidália, sentindo-se incapaz de me atender.
Madalena abeirou-se de mim e pediu: “Luiza, tenha
coragem e aceite a vontade de Deus!”
20
Tudo estava certo, mas eu lutava contra a morte e
procurei acomodar-me no corpo inerte que ainda se
mantinha no calor quase natural. Escutei suas
exclamações e seus gritos, chamando Oscar,
chamando Sérgio e Tucha! n
21
Ah! Eu não sei contar a angústia que me tomou as
energias. Queria falar e a boca não me obedecia,
tentava mover-me, mas tudo era em vão…
22
“Morta? Pois minha avó está morta?…” Ouvia os
netos perguntando, enquanto você chorava nas
mesmas lágrimas. Querida filha, tanto a dizer e não
temos tempo!
23
Apareceu José, meu irmão, com duas moças, que
me pareceram enfermeiras, e organizou num canto
do quarto uma espécie de gruta de algodão, para
cujo interior me transportaram. A revolta estava
comigo e procurei estampá-la em meu rosto,
sabendo que o pensamento é uma força criativa.
Minha mãe me reconfortava e eu respondia: “Para
onde me levam? Quero Lúcia! Chamem Lúcia! Ela
não me deixará sair!…”
24
Ah! Quanta dor para largar uma situação que não
devia se prolongar! O dia estava alto quando ouvi a
sua palavra lacrimosa, pedindo para que Dirce,
Cleusa e Célia n me vestissem para a cena final, que
eu estava detestando. Elas entraram no quarto e
ainda havia uma certa ligação entre o meu corpo
imóvel e eu mesma. Mostrei na face o meu
desagrado e chamava por você, sem que ninguém
me escutasse…
25
A minha promessa de contar a você o que
sucedesse ainda me tomaria tempo, a fim de
terminar e, por isso, não devo prejudicar os nossos
amigos com uma descrição que parece sem fim…
Se eu puder, em outra ocasião contarei a você e ao
nosso Oscar o que se passou depois. Agora, quero
reafirmar a minha dívida de amor para com você,
minha filha querida. 26 Minha filha e minha mãe do
coração, eu não sei como será o meu futuro,
contudo, seja qual for a situação chame por mim,
que sou sua mãe e sua escrava pelo carinho da vida
inteira que você me deu! Chama-me e eu estarei ao
seu lado para conseguirmos juntas, em nossas
orações, aquilo de que você necessitar! Não
importa que alguém diga que o nosso amor de mãe
e filha é simples possessão. Se for isso mesmo,
aposse-se você de mim e me retenha nos seus
passos! Não me esqueça em suas preces, não me
abandone! Sou ainda a sua mãe fraca e doente,
esperando a sua assistência e o seu auxílio!…
27
Agradeça aos seus irmãos por mim. Diga à nossa
Pingo para que não tenha ressentimento contra
mim. Fale o mesmo com o nosso Luciano. Amo a
todos, no entanto, a lei de Deus nos uniu de maneira
que não posso compreender! Ainda não sei se sou
você ou se você será eu mesma! Não tenha medo
da vida. Sei que você, por seus bilhetes, me disse
que mantinha o desejo de mudar-se para uma outra
casa. Não faça isso! Ali tivemos as nossas maiores
alegrias e os nossos maiores sofrimentos! Deus nos
auxiliará a resolver os problemas que forem
aparecendo! Não perca a sua paciência. Cuide com
carinho do nosso Oscar, do nosso Caio e de todos
os nossos.
28
Quando alguém erguer a voz contra você, entregue
tudo a Jesus e não responda. Estou aprendendo
lições que me fixam na paz que nos cabe preservar
sempre. Vence quem parece vencido, melhora
quem parece debaixo de pesadas humilhações. Haja
o que houver, perdoe as ofensas que nos visitarem
a casa e ensine aos nossos mais moços que a paz
vem de Deus e que não devemos desprezá-la.
29
Reze sempre, estaremos juntas em nossas preces e
em nossos votos. Agradeça à nossa Tucha todo o
bem que ela me fez e diga de meu reconhecimento
à Nilza, que sempre abracei por neta de meu
coração. Diga à nossa Palmira de Jair e à Dirce, à
Célia e à Cleusa que nunca me esquecerei do
auxílio constante que me prestaram. Não deixe de
manifestar o nosso reconhecimento ao
Toneco n por haver permitido que Dirce nos
amparasse tanto.
30
Peço a você encorajar o Sérgio. Diga a ele que a
bondade de Deus não nos desampara. Algum
serviço para ele há de aparecer.
31
Ao nosso Zé Geraldo, agradeço todo o carinho que
dispensou à avó doente e fale com a nossa
Tuquinha n que eu irei descansar no quarto sempre
que eu puder para acompanhá-la com os meus
pensamentos de amor. Ela e o nosso
Reizinho n estão em meu pensamento de maneira
incessante. Diga à nossa Pingo que minha bênção
de mãe há de acompanhá-la onde estiver, e a
Luciano que sou muito grata por todo o amor filial
que sempre recebi dele. 32 Querida filha, ore em
casa mesmo. Você não me sentiu no cemitério,
porque não estive lá. Nas horas de tristeza e
saudade, recorde que sua mãe traz consigo a tristeza
e a saudade no coração.
33
Mamãe me afirma que tudo melhorará para nós e
eu creio na palavra dela, que foi sempre certa.
Agradeço os cuidados das nossas amigas Mercedes
e Jacy, n e peço a Jesus recompense a dedicação dos
nossos médicos, especialmente o Dr. José Luciano
e o Dr. Roberto. n Tenho tanto a agradecer e nada
possuo para dar, contudo, Deus derramará sobre
todos os que nos auxiliaram as Suas bênçãos de
amor e luz!
34
Minha gratidão ao nosso prezado amigo Beijo n e a
tantos amigos que nos estenderam as mãos. Não me
esqueço da bondade de nossa Leda n e rogo para ela
o que a vida guarde e tenha de melhor para nos
oferecer.
35
Dos amigos que encontrei aqui e de meu encontro
com a nossa Hermelita, n no dia justo em que ela
foi chamada à vida espiritual, direi depois o que me
for possível. Vim daí na condição de devedora de
muita gente. Aos poucos, me explicarei.
36
Quanta saudade de você, minha filha! Peça a Jesus
para que a falta de seu carinho não me pese tanto.
Ao nosso Oscar, o meu reconhecimento, que será
sempre o mesmo. Lindolfo n me perguntou pelo
Louro n e eu disse que Oscar estava seguindo o
nosso Louro de perto.
37
Não posso continuar, porque a emoção tolda a
visão. Apesar disso estou melhor dos olhos e já
consigo enxergar mais ou menos.
38
Os amigos aqui me perdoarão se escrevi tanto.
Você me disse que ficou satisfeita com a mensagem
do José, mas desejava, sobretudo, que eu dissesse a
você alguma notícia. Aqui você tem o meu coração
em todas as letras. Se você notar diferença em
minha letra, isso é porque minha mão está na mão
do Chico e a gente não pode escrever senão a duas
pessoas. Lembranças a todos.
39
Peça à Tucha para continuar nos auxiliando. Ela é
a filha que nos faltava.
40
Querida Lúcia, Deus abençoe a você por tudo o que
você representa em meu coração! E receba, com o
nosso estimado Oscar, o carinho repleto das muitas
saudades de sua mãe, sempre sua mãe, sempre mais
sua,

Luiza Xavier

Notas da editora:
[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier]

[2] Palmira do Jair era uma amiga da família Xavier.

[3] Em referindo-se a D. Maria de São João de Deus,


desencarnada em 29 de setembro de 1915, aos 34 anos.

[4] Madalena e Maria Anselma eram amigas da família


Xavier.
[5] Em referindo-se a Cidália Batista Xavier casada em
segundas núpcias com João Cândido Xavier, sendo,
portanto, madrasta de Luiza, desencarnada em 19 de abril
de 1931.

[6] Tucha era o apelido de Maria Tereza, esposa de Sérgio


Luiz, mãe de Sarita.

[7] Refere-se a amigas de Pedro Leopoldo, que


acompanharam de perto o transe da família. Cleusa e
Célia eram irmãs, filhas de Cândida e José Martins, este
farmacêutico na cidade de Pedro Leopoldo. D. Cândida, à
época, já estava desencarnada e é mencionada em
mensagem posterior.

[8] Toneco era um amigo da família Xavier. Irmão de


Ibraim, da Rua Esporte, em Pedro Leopoldo.

[9] Tuquinha era o apelido de Luizinha.

[10] Reizinho era o marido de Tuquinha, ou Luizinha.

[11] Mercedes e Jacy eram amigas da família Xavier,


vizinhas de D. Luiza. Mercedes era vizinha de frente,
casada com José Hilário, que tocava na banda. Jacy era
vizinha de lado e era casada com o comerciante José
Pedro Filho.

[12] Dr. José Luciano era filho do comerciante de tecidos


Nagib Issa e o Dr. Roberto era do Hospital São João
Batista.

[13] Beijo era o apelido de Benjamim Henrique de Freitas,


muito amigo de D. Luiza.

[14] Leda era uma amiga da família Xavier.


[15] Em referindo-se a Hermelita Soares Horta,
desencarnada em 4 de julho de 1985. Referência do
Espiritismo e na área do trabalho social, esteve à frente do
Centro Espírita Amor e Luz da cidade de Matozinhos em
Minas Gerais, por muitos anus, e cujo nome foi dado à
instituição por sugestão de Chico Xavier.

[16] Refere-se ao seu marido, Lindolfo José Ferreira já


desencarnado.

[17] Louro: papagaio de estimação de Chico Xavier que era


cuidado por D. Luiza e depois por Lúcia, em Pedro
Leopoldo. Está enterrado na Casa de Chico Xavier de
Pedro Leopoldo.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


74

Me achava numa organização católica


12|10|1985
1
Querida Lúcia, peço a Deus nos abençoe!
2
Sei que você está acompanhada por nosso Sérgio,
por nossa Sarita e por nossa Nilza. n A eles os meus
pensamentos de paz, com as minhas preces ao
Senhor Jesus pela felicidade de todos os nossos.
3
Você não imagina como é grande o nosso anseio de
transmitir notícias capazes de auxiliar na
preservação da tranquilidade da família. Tenho
recebido todas as suas anotações, escritas como que
em segredo, para que eu consiga permanecer
informada das suas lutas de filha e mãe, na
atualidade.
4
Creio que o amor colocado por Deus no coração das
mães não lhes permite o descanso com que tanta
gente sonha inutilmente. De maio até agora, sinto
como se estivéssemos todos sob uma tempestade
que, graças aos Céus, está sendo amainada
gradativamente. 5 Dos seus bilhetes, destaco
aqueles em que você me falou do desejo de morrer
de qualquer modo, o que me assustou bastante,
porque semelhante propósito não pode surgir em
nossa confiança na justiça de Deus, que tudo rege
para nosso bem. Filha querida, suporta as
provações com serenidade e coragem! 6 Sofro
muito, mas sofro com calma, em observando os
obstáculos que se interpuseram entre a paz e a nossa
casa, sempre resguardada pela união de todos.
Sofro porque sou mãe e a certeza dessa condição
não me dá tréguas ao pensamento, de vez que será
impossível para mim ver você em constantes
inquietações, sem mover-me para prestar-lhe
auxílio.
7
Tenho procurado fortalecê-la e escorá-la em todos
os dias de nossa luta. Tudo será resolvido na
proteção da Divina Providência. Seus bilhetes
sobre a nossa Tuquinha n me tomam atenção.
Entendo os seus empecilhos para se dirigir a cada
filho, na dimensão exata do que se faz necessário
dizer a cada um. Peça à nossa Luizinha para
sossegar o pensamento, às vezes cansado, sem
justos motivos. Ela me compreenderá no que lhe
digo nos momentos de solidão em nosso quarto. Se
eu pudesse, retomaria o meu corpo doente para
estar em casa, entretanto, sei igualmente que
preciso exercitar a paciência e a conformação.
8
Você deseja saber como se deu o meu afastamento
de casa, logo depois da separação definitiva de meu
pobre corpo enfermo. A bondade infinita de Deus,
por Seus mensageiros, impediu o mal-estar de que
me veria possuída se fosse obrigada a seguir aquele
cortejo do entardecer. 9 Fiquei em nossa casa
mesmo, no leito que o José, com o apoio de alguns
amigos, me improvisou, em um dos cantos do
aposento amplo. Passei por breve sono, do qual
despertei muito aflita a chamar por você, mas a
presença de minha mãe, Maria de São João de
Deus, ao meu lado, me impunha reserva e
sobriedade. 10 Chorando muito, perguntei a ela por
que não me retiravam dali, daquele retângulo, como
que formado de algodão ou de neblina densa, que
não conseguia compreender…
11
Quero transmitir a nossa conversação a você e a
quem possa aproveitar os ensinamentos que recebi.
— Minha mãe — disse agoniada — por que estou
retida em meu próprio quarto, quando acreditei que
ficaria livre do ambiente de meus sofrimentos na
enfermidade longa?…
12
Ela explicou:
— Luiza, você ainda apresenta muito peso para sair
com facilidade.
— Peso? — Repliquei. Meu corpo fatigado não era
mais que um feixe leve de ossos…
— Não me refiro a isso. — tornou minha mãe. —
Reporto-me ao seu coração, pesado de angústia,
acumulando recordações dolorosas e carregando
pesares que a prendem ao lar…
13
Eu não sabia que as mágoas revelam peso nocivo à
vida íntima e não voltei às indagações. Depois de
seis dias, ouvi minha mãe solicitando ao José que
providenciasse a vinda de um carro para minha
retirada. Estranho, para mim, é que ela esclareceu
ao término das recomendações:
14
— Ela podia perfeitamente usar o pensamento para
dispensar qualquer veículo, entretanto, minha filha,
sempre lutando sob as dificuldades naturais na
criação da família, não teve oportunidade e nem
tempo para exercícios mentais que lhe seriam fáceis
no desdobramento das orações…
15
Sempre chorosa e calada, a breve tempo fui
conduzida por minha mãe a um carro diferente
daqueles que usamos na vida física. Ela e cinco
amigas, ou colegas do serviço de assistência a que
se dedicava, tomaram assento em dois bancos
traseiros, enquanto que a mim foi reservada uma
poltrona de grande tamanho junto ao motorista, a
que se dá por aqui o nome de piloto.
16
Sempre conduzida por minha mãe, a sentir-me
quase à maneira de uma criança, acomodei-me na
poltrona, sem partilhar da conversação que se
mantinha na intimidade do veículo. O carro
deslizou, ao modo habitual do mundo, no entanto,
após uma distância — que calculo de dois ou três
quilômetros — o piloto imprimiu maior velocidade
àquele refúgio rodante e o carro planou no ar,
compreendendo eu que o veículo, para mim
completamente desconhecido, se revestia de função
dupla, porquanto evoluía rapidamente no mundo
aéreo, talvez com mais segurança que na Terra
comum.
17
Tão amargurada me achava que me abandonei à
viagem “para o que desse ou viesse”, de vez que a
minha contrariedade era um pesadelo que me
situava entre o pesar e a cólera, que eu não
conseguia disfarçar. Sentia-me na condição de
inimiga irreconciliável da morte, que me afastara
do convívio de casa.
18
Findos, talvez, uns quarenta minutos de voo,
chegamos a uma praça, onde se levanta grande
Instituto, construído com cinco frentes distintas e
devidamente numeradas. Muita gente aguardava
aquele engenho, que pousara no chão a uns três
quilômetros da praça a que me refiro. E entre os
circunstantes, que se mantinham discretamente
afastados, reconheci muitos parentes e amigos, que
me saudavam, mantendo-se um tanto longe,
decerto pelas disciplinas ali estabelecidas, mas o
meu estado de irritação era tamanho que baixei a
cabeça para não ser obrigada a cumprimentar ou
acenar para alguém.
19
Minha mãe percebeu o meu desagrado e me
recomendou apoiar-me na bengala de que não me
afastava nos tempos últimos. Mesmo mancando,
sem olhar para os que nos observavam, entrei no
Instituto, onde um quarto me fora reservado. Os
detalhes são muitos e não devo alongar-me demais.
Vim a saber, porém, que me achava numa
organização católica para os reajustes de minhas
forças. 20 Indaguei de minha mãe o porquê de
minha localização ali, ao que ela me disse que,
embora muito relacionada com os espíritas-
cristãos, eu não dispunha de meios para me adaptar
a uma Instituição dessa natureza, de vez que me
habituara ao terço para as minhas preces, e que ali
encontraria muitas criaturas amigas que comigo
compartilhariam os assuntos predominantemente
católicos; que isso seria uma posição transitória, até
que eu me dispusesse a estudar e a pensar nos
problemas da vida e dos destinos espirituais, sob
outro prisma.
21
Tudo aceitei, sem qualquer reclamação, mas o meu
Espírito, que voltara à sensibilidade infantil,
derramava lágrimas e aflições incessantemente.
Minha mãe me esclareceu que não me seria
possível receber visitas enquanto não me
modificasse para melhor e não opus qualquer
resistência, porque a ideia da morte não me entrava
com simpatia na cabeça. Depois de alguns dias,
José veio comunicar-me que certa amiga, além de
você mesma, me aguardava a cooperação possível.
22
Dessa vez foi ele quem me conduziu ao veículo que
tentei descrever e deu ao piloto um endereço.
Aquela estranha máquina deslizou em terra e, em
seguida, voou, com grande velocidade. À medida
que descíamos do ar para o chão terrestre, comecei
a sentir a necessidade de apoio. As antigas doenças
como que me retomavam…
23
José, prestimoso, apresentou-me a bengala,
explicando que não se esquecera de trazer a minha
escora. O carro percorreu pequena distância e
reconheci Matozinhos. n Quanto mais perto de
certa casa mais o coração me disparava no peito!
24
Depois da parada, entramos José e eu na residência.
Fui encontrar a nossa Hermelita n nos últimos
instantes do corpo. Ah, Lúcia, n você consegue
imaginar a minha emoção? No aposento em que os
filhos choravam discretamente, a nossa amiga
pensava em mim como se eu valesse alguma coisa
para lhe ser útil! Ela me pareceu em luta para
desagarrar-se do corpo que a libertava e chorei por
ela e por mim mesma!… Pode você calcular o que
seja a dor das mães compelidas a deixar os filhos
num adeus que não se sabe determinar?
25
À pequena distância de nossa amiga estava João, o
esposo que a sustentava, e não longe, num círculo
de orações, via-lhe o pai, que conheci com o nome
de Juca Folheiro, e a querida mãe, Ritinha, com
Ursinha, Maria e outros irmãos que, ao lado de
familiares do João, irmanavam-se endereçando-lhe
forças para se liberar do corpo já imóvel. Que podia
eu fazer senão orar e chorar com aquela que sempre
nos fora irmã pelo coração?
26
Aproveitei o giro em que nos achávamos e pedi
uma rápida vistoria em Pedro Leopoldo… Cheguei,
pela primeira vez depois de minha saída, e pude
abraçar você e Sarita, Luizinha, Caio e Sérgio,
tendo ido ver Pingo e os nossos. Ao aproximar-me
da mesa de refeições, notei que Oscar despertara e
saía do aposento. Embora o meu esforço para não
ser vista, ele me viu ligeiramente, sem conseguir
ocultar a própria surpresa.
27
Minhas lágrimas naquele retorno breve me
ensopavam o rosto e nunca imaginei que se pudesse
chorar tanto num corpo que não era o mesmo que
se usa na experiência física. Pensei, porém, na dor
de Hermelita, num terrível esforço para ficar e, de
certo modo, reconfortei-me, porque eu não era a
única mãe a sofrer com a intromissão da morte.
28
Nos tempos últimos, aprendi a concentrar os meus
próprios pensamentos na ânsia de estar em casa e
recebi o prêmio de ir até lá, nas asas mágicas do
pensamento, por enquanto, todas as vezes que
assim o desejasse. É assim que não estou
dependente de veículo algum e tenho podido
acompanhar o nosso querido Sérgio na prova que
lhe fere o coração. Sérgio, se você estiver me
ouvindo, peça a Deus coragem e compreensão!
29
Querida Lúcia, não posso alongar-me, preciso
terminar, mas preciso que você diga à Célia e à
Cleusa que o passeio em companhia de
Cândida n foi o primeiro que fiz depois de minha
permanência aqui, mas desejo que ambas saibam
que o nosso banho foi uma frustração! 30 As águas
não nos alcançaram o corpo espiritual. Foi inútil o
nosso desejo de sonhar com um banho idêntico aos
nossos. A água no mundo físico é composta de
matéria pesada, que passa por nosso corpo
espiritual, sem atingir-nos. Cândida e eu tivemos de
contentar a nós mesmas com o banho
medicamentoso de vapores controlados de que
ainda necessitamos na Instituição em que nos
achamos.
31
Peço a você, querida Lúcia, dizer à Helena, a nossa
Helena do Luciano, n para que não se magoe por
não lhe haver escrito o nome em minhas notícias.
Acontece que falando em Luciano e Pingo senti que
me reportava ao mesmo tempo a ela e ao
Nery. n Você note como é difícil tocar as teclas da
memória depois da desencarnação… Escrever
lembrando ocorrências e pessoas parece com o ato
de fazer música na pauta. É preciso ter nota por nota
nas recordações imediatas.
32
Envio muitos beijos à nossa Tuquinha e agradeço a
ela continuar em nosso dormitório, como agradeço
por seus cuidados mantendo o nosso refúgio
doméstico nos lugares de sempre. Muito grata por
haver você conservado as minhas rosas artificiais,
que nos guardam tantos pensamentos e orações de
paz e esperança.
33
Lembranças carinhosas ao nosso Caio, à Nilza e ao
Sérgio. Prometo fazer o que eu puder para que ele
encontre o emprego necessário. Estou vendo a
nossa Ana Carmela n e peço a você dizer-lhe que o
nosso Cláudio n receberá o amparo do Alto. Ela e o
nosso amigo Horvânio n não podem desanimar!
34
Meus pensamentos de amor para Pingo e Luciano,
com muito carinho a todos os netos.
35
Lembranças ao nosso Oscar e para você, querida
Lúcia! Entranhado nesta folha de papel fica todo o
coração de sua mãe, sempre a sua,

Luiza Xavier

Notas da editora:
[1] Refere-se ao neto Sérgio Luiz, à bisneta Sarita e à Nilza,
que foi namorada e noiva de José Geraldo, filho de Lúcia.
Nilza era uma pessoa muito querida pela família,
especialmente por D. Luiza.

[2] Localidade mineira limítrofe a Pedro Leopoldo, distando


desta apenas 6,5 quilômetros e, da capital, Belo
Horizonte, 47 km.

[3] Cândida, como já mencionado em mensagem anterior,


era a mãe de Célia e Cleusa. Foi casada com o
farmacêutico José Martins, de Pedro Leopoldo. A família
era muito amiga dos Xavier.

[4] Refere-se a Helena, esposa de seu filho Luciano.


[5] Nery era o marido de Maria Alice, a Pingo.
Relembrando, o casal teve três filhos: Conceição, Julinho
e Chiquitinho, já mencionados em mensagem anterior.

[6] Em referindo-se a Ana Carmela Aluotto Aleixo,


sobrinha de D. Neném Aluotto Berutto, antiga presidente
da União Espírita Mineira e grande amiga de Chico
Xavier e de sua família.

[7] Em referência a Cláudio e Horvânio Aleixo, filho e


marido, respectivamente, de Ana Carmela Aluotto
Aleixo.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


75

Anjos esquecidos


07|12|1985
1
Querida Lúcia n e querida Luizinha, peço a Jesus
nos abençoe e nos proteja!
2
Lúcia, parece que o deslumbramento dos primeiros
dias em que me envolvi está passando, a fim de que
me concentre em minhas reais
necessidades. 3 Estamos sofrendo e não existe
contentamento nenhum em descrever ambientes e
festas. Estamos descobrindo a nós mesmas na
corrida de provações a que temos sido levadas pelos
acontecimentos que nos rodeiam. Não veja
seriedade em minhas palavras. Aqui me faço sentir
a você como penso, sem desejar ir por este ou
aquele ponto de vista.
4
Sei o que você tem sofrido e tem me escrito em
papéis molhados de lágrimas. Querida filha, peço
ainda a sua paciência para que possamos atuar em
auxílio dos nossos em casa. Compreendo tudo o
que você me diz e sei que mentalizando as situações
como se aí ainda estivesse noto que você tem razão
em cada argumento que a sua palavra me apresenta.
5
Entretanto, ao escrever-lhe daqui, de meu novo
ambiente, as minhas opiniões diferem um tanto!
Você sabe, querida Lúcia, que muitos costumes
foram mudados e que se luta na Terra para guardar
fidelidade aos princípios que reverenciamos na
vida do lar. 6 Tem havido progresso facilitando a
vida de todos em toda parte, entretanto, você
concordará que a dor em seu e em meu coração é
igual ao sofrimento de nossas avós e bisavós, que
se calaram e se sacrificaram por amor a nós, quando
éramos as crianças com quem se entretinham para
suportar os obstáculos de uma casa com grande
número de parentes. 7 Recordemos essas mulheres,
que foram anjos esquecidos nos fogões e nos
tanques de lavar, que muitas toleraram com
paciência as observações ingratas de homens aos
quais devotavam serviço e abnegação. Muitos
problemas do lar se transformam em atos de delírio,
e até de delinquência, quando as mães se omitem
no trabalho de agir e auxiliar para o bem. Nada
reclame!
8
Muito grata por suas flores de carinho, que nunca
emurchecem, e Deus recompense a você por sua
calma, refletida na velha mãe que continua ao seu
lado. Olhe também a nossa Tuquinha, entregue a
tantas sugestões difíceis de entender e apresentar.
Luizinha ficou sob tantas incumbências nossas,
conversando conosco, que presentemente não sei
de que modo me comportar no diálogo com ela, já
que é tão difícil conversar com quem desfruta um
corpo jovem e, por isso mesmo, sob a mira de tantas
extravagâncias de nosso tempo… Seja Deus a
nossa bênção de cada dia para tudo falarmos e
ajustarmos com o acerto preciso!
9
Nossa Cândida ainda não conseguiria escrever.
Precisará de treino para desinibir-se. Diga isso à
Célia e à Cleusa para que não se acreditem
esquecidas. Tanto quanto possível, retribua por
mim a generosidade de nossa Dirce, agora doente e
necessitada de apoio. Muitas lembranças a todos os
nossos, começando por Maria Alice e Luciano,
Helena e Conceição, Chiquitinho e Julinho.
Lembranças a gente envia, mas não sabemos como
são recebidas. Entretanto, agradeço o
discernimento que me faz ver que sempre
colocamos amor em tudo quanto dizemos. Abrace
a nossa Palmira e lembre-se com ela de nossas
noites em claro.
10
Os amigos aqui me desculpam a demora no lápis.
Eles, em maioria, não desconhecem que escrevo
sob a inspiração da minha confiança de mãe.
Querida filha, abrace Oscar e Caio, Sérgio e a
todos. Você e Luizinha, comigo, fiquemos com
Deus. Perdoe-me se chorei tanto ao lhe escrever.
11
Querida Lúcia, nós, as mães, choraremos sempre,
nas alegrias e nas provações, nas tristezas que
apareçam ou nos contentamentos pequeninos de
nossa casa. Um beijo da vovozinha em nossa
querida Sarita. E receba, filha querida, nesta carta
de lágrimas, o coração de sua mamãe, sempre a sua,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


76

Escrevo para confirmar o intercâmbio

“(…) de vez que temos as nossas meditações e preces


em conjunto. Escrevo tudo o que estou escrevendo
apenas para confirmar o intercâmbio que temos
cultivado e continuaremos a cultivar com o amparo
de Jesus.
Agradecendo as flores que você me oferece
diariamente e muito gratificada por você e Oscar
me dedicarem tanto carinho, e ao meu antigo quarto
para repousar, resumo todos os nossos em minha
saudade e carinho. Para você e Oscar, todo o amor
e reconhecimento de sua mãe, sempre…

Luiza Xavier

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


77

Nossas contas são as nossas contas


07|03|1986
1
Querida Lúcia, n com você, Sérgio e Luizinha o meu
pedido de bênçãos a Jesus em favor de nós todos!
2
Filha querida, com o amparo da Providência Divina,
você atravessou a cirurgia e estamos, como sempre,
mais juntas, a fim de trabalhar e fazer o melhor.
Graças a Deus, estamos vendo o sol da paz
refulgindo no horizonte, depois de tanto tempo de
luta e inquietação! 3 Jesus nos abençoe, a fim de
que estejamos em nossa velha casa, cultivando as
lembranças de nosso amor de mães, junto aos filhos
e netos. Deus recompense nosso Oscar pela
bondade com que nos abraçou os problemas que
hoje, no presente, estão a terminar… Cultive as
suas flores e ame os seus animais.
4
Peçamos a Deus saúde e busquemos servir. Paz a
todos os nossos, paz de Jesus a todos os que o Céu
nos concedeu para amar e zelar. Nenhuma
recordação amarga nos escape da boca, porque
temos em tudo recebido a proteção de Deus.
5
Estou mais consolada nestes dias em que a vejo
meditando em repouso. As pessoas que se nos
fazem as mais queridas não são o que aparentam e
nem mesmo o que imaginam ser. Por essa
afirmativa, você consegue avaliar facilmente a
quantidade de surpresas que me tomaram o
coração! Compreendo as dimensões de nossa luta,
na qual o nosso Oscar é um herói silencioso,
desenvolvendo esforços de gigante para defender-
nos.
6
Entenderá você por que razão não me expando hoje,
qual o fiz das vezes primeiras em que lhe trouxe as
minhas pobres palavras. Estamos diante de várias
questões pendentes, sobre as quais não me será
lícito opinar. Posso falar o que quero, mas agora
não sei se o que desejo é o mais certo, e como
sucede com você sou compelida a esperar o
desenrolar das ocorrências para examinar os
resultados de cada uma. 7 Você sabe que não sou
indiferente aos tópicos da família e devo me abster
de longos comentários. É o mesmo que
estivéssemos à frente de uma ponte perigosa para
atravessar. Peçamos a Jesus forças para fazer a
travessia com a paz possível. Sabemos que Deus é
misericórdia, mas não devemos esquecer que
as nossas contas são as nossas contas. 8 Rogo a
você não se desligar da prece, na qual teremos
sempre um ponto de apoio para nos entendermos
através da intuição. Hoje, acho graça nos amigos
que se largaram daí, através da morte, supondo que
iriam para o descanso celestial! Diante dos desafios
remanescentes da vida que fomos obrigados a
deixar, a paz continua a ser um símbolo em meio
dos atritos a que nos vemos forçados ao aceite para
solucionar os casos que ficam. Mas os casos que
ficam saem da esfera dos filhos e se prolongam nos
netos…
9
Para o meu raciocínio ainda curto, ignoro onde tudo
isso poderá encontrar o fim desejado. E já que a luta
é inevitável, saibamos admiti-la com fé em Deus,
com o respeito aos outros e comiseração por todos
os que se ligam a nós, porque nós todos somos
devedores perante Deus. 10 E assim a prece é o
nosso arrimo e o nosso consolo, a fim de seguirmos
adiante, desenvolvendo todas as nossas
possibilidades em favor da paz possível com todos
— o que equivale a dizer com todos aqueles que
desejem a paz conosco. Aguardemos.
11
Estamos trabalhando pelas melhoras de saúde do
nosso Oscar e agindo da melhor maneira que se nos
faz possível para dar a cada filho e a cada neto um
pedaço do nosso próprio coração. De minha
situação geral, digo que estou seguindo mais
conformada. 12 Lutar contra a morte seria assestar a
nossa defesa contra o que não existe. Isso é assim
porque a vida prossegue sem muitas diferenças e
nós continuamos sem muitas diferenças dentro
dela. Peço a você manter-se no regime de nossas
orações, o que rogo igualmente à nossa Luizinha,
que tem sido a nossa fiel companheira.
13
Querida filha, saiba quanto a amo e que você
continua sendo a minha menininha do coração!
Reconheço que posso tão pouco, mas mesmo assim
darei tudo de mim para que você e Oscar
permaneçam tranquilos. A nossa Cândida tem
estado comigo, com a diferença de que ela, por
enquanto, se acha numa instituição religiosa de
práticas mais rígidas, às quais ela mesma se afeiçoa
com alegria. Acontece, porém, que fiquei em um
Instituto diferente, no qual as regras não se
mostram tão austeras como sucede no caso de nossa
Cândida.
14
Não cheguei a ser uma companheira militante da
Doutrina Espírita, que atualmente estou
aprendendo a conhecer, mas de tanto ouvir os casos
do Chico e as narrações de nossos amigos e de
nossas irmãs em nossa casa o meu entendimento
não conseguiu aceitar austeridades e rituais de que
não mais precisei. Por isso, estou numa organização
mais liberal, em que se pode crer e comentar o que
se crê com mais liberdade. Os amigos aqui são
muitos, graças a Deus, no entanto, preciso aprender
a contar com Deus e comigo mesma.
15
Para Oscar, Sérgio, para José Geraldo e Caio, e
igualmente para Tucha, as minhas muitas
lembranças. Beijos à querida Tuquinha, cujo amor
ao nosso recanto agradeço, contente!
16
Estou pedindo a você muita calma e confiança em
Jesus, sem esquecer o nosso mundo de orações e
serviços aos necessitados, tanto quanto seja
possível. Fale do meu muito carinho à Dirce,
Palmira, Célia, Cleusa e a todas as nossas amigas.
17
Rogo a você receber o coração agradecido de sua
mãe, a sempre sua mãe do coração, com muitas
saudades de sua presença e de seu convívio, a
sempre sua Luiza…

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


78

Deus pode o que não podemos


19|04|1986
1
Querida Lúcia, n receba, com o nosso estimado
Oscar, as minhas preces de confiança em Deus, nas
quais peço aos mensageiros do bem expressar-lhes
o meu reconhecimento e carinho. Com vocês vejo
os nossos afetos, destacando a nossa querida
Leda n e a nossa estimada Rosina, sem me referir a
tantos corações aqui reunidos e aos quais me sinto
ligada por amizade constante.
2
Querida Lúcia, quando as inquietações são longas,
as palavras são curtas. Estou aprendendo muito em
minha nova situação. Nas primeiras horas, sentia
necessidade de abrir o meu coração para contar-
lhes todas as minhas impressões deste novo
recanto, do qual venho sempre ao encontro de
vocês para os nossos diálogos. Escrevia como
quem tricotava, enfileirando as letras na mesma
atenção com que entrelaçava os meus
pontos. 3 Agora, porém, Lúcia, estamos numa fase
de apreensões, na qual não diminuo a minha fé em
Jesus. Mas também ainda não disponho de
tranquilidade precisa, de modo a escrever-lhes de
cabeça leve ante a pesada carga de problemas que
conduzimos para depositar aos pés simbólicos de
Jesus. Permitirá ele, nosso Senhor, que sejamos
atendidos em nossas solicitações à Justiça, e assim
espero para continuar em minhas notícias
minudenciadas.
4
Não estou triste nem medrosa perante a vida, mas
estou quase que incessantemente na oração,
dirigindo a Deus os meus petitórios para que nos
sintamos libertados de tantas surpresas negativas.
Na condição de mãe, peço a paz em favor de nós
todos, embora lamentando aqueles dos nossos que
não a quiseram, criando para si mesmos tantas
raízes de sofrimento no futuro.
5
Lúcia, abrace nossas Luizinha e Sarita, e a todos por
mim, e continue valorosa em sua fé. Deus pode o
que não podemos fazer e de Deus virá o socorro de
que estamos necessitando!
6
Querida filha, abrace por mim a nossa Leda e a
nossa Rosina também por mim, dizendo à Leda que
ontem tive o prazer de acompanhar D. Emília n aqui
e acrescente que D. Emília tem sido uma fiel e
dedicada amiga para mim, confortando-me na vida
espiritual. Há muita coisa para escrever mas o
espaço em meu coração está muito estreito, já que
me vejo tomada pela expectativa, que é igual à sua.
7
Mantenhamos a nossa fé em Jesus acima de tudo.
Filha querida, estou ao seu lado e Jesus nos
abençoará e protegerá.
Sempre a tua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Leda e Rosina: Em referindo-se a amigas da família.

[3] Pela mensagem depreende-se que D. Emília era a mãe


de Leda.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


79

Um bilhete também vale


03|05|1986
1
Querida Lúcia, n Jesus nos abençoe!
Um bilhete também vale. Apoiada nisso, dirijo a
você estas linhas em que expresso a minha fé em
Deus quanto à cirurgia esperada.
2
Ânimo e coragem!
Espero o momento de vê-la submetendo-se ao
tratamento já delineado para que vejamos você
restaurada. Vocês orem conosco e aguardemos a
bênção de Jesus pelos médicos amigos.
3
Filha, hoje é só. Apenas desejava confirmar a você
que algo lhe falaria para a sustentação de suas
forças. Com Jesus no barco de nossas esperanças
tudo segue bem e com Jesus, na permissão de Deus,
venceremos.
Abraços de sua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


.80

Mais vale a paz que todos os tesouros


07|06|1986
1
Querida Lúcia n e querida Luizinha, Deus nos
abençoe! Aqui estamos de novo no convívio de
nossos amigos. Muito me comove abraçar a nossa
Yolanda, a nossa Zilda, a nossa Leonor e tantas
afeições nossas que o tempo não consome… n
2
Querida Lúcia, você notará certa modificação em
minhas notícias. Achamo-nos com quase um ano
sobre a separação que desabou sobre nós e nestes
dez meses muita água já correu sob as pontes. De
começo, eu era a pessoa contrariada com a morte
que não pedira, mas ao mesmo tempo deslumbrada
com todas as renovações de que me cercava. 3 Uma
ânsia de contar a você quanto me ocorria palpitava
em meus sentimentos. E escrevi as mensagens
longas no intuito de falar a você do que eu
enxergava e ouvia. Entretanto, aos poucos fui
compreendendo que a mudança pela
desencarnação era qual se fosse um esbarro
conosco, uma descoberta de nós próprias, com
tantas obrigações a cumprir que o meu propósito de
narradora esmoreceu.
4
O assunto era mais grave que aquele de enviar
informações do novo Plano que passei a habitar.
Compreendi, afinal, que eu não era repórter para
criar versões novas da existência na vida espiritual.
Concentrei-me em mim mesma, a fim de observar
com mais segurança o que se passava. 5 Você era e
é o centro dos meus interesses do coração. Não que
despreze os outros, e muito menos a nossa
Luizinha, que nos acompanha nesta noite.
Procurando situar-me em você, anotei os nossos
problemas e a extensão deles e seu tratamento.
Deus concederá a você tudo aquilo de bom que
desejo e ainda não tenho.
6
Nosso querido Sérgio me pede umas palavras. Que
dizer a você, meu neto, que se fez meu amigo e meu
pai nos dias tristes da doença que passaram para o
arquivo do tempo? Nada reclame, Sérgio. Abençoe
o seu canto, que será sempre amor para as obras do
bem que você ama tanto! Seja para a nossa Sarita o
pai amigo e bom, e aguardemos no tempo as
decisões do Alto.
7
Aguardemos a passagem das horas, porque as horas
trazem aquilo de que necessitamos, a fim de que
encontremos o agasalho para afastar o frio que
sentimos quando a saudade dói no nosso coração.
Que se cumpra o que Deus quer de nós! Seja ela
cada vez mais amparada, são meus votos. E você,
em seu trabalho, não se sinta sozinho. Você tem
seus pais e seus irmãos, com a Sarita querida, por
luzes de sua própria vida! 8 O nosso lar é muito
maior do que pensamos. Temos irmãos em toda
parte! Nada lhe faltará! Tenha a certeza de que
Deus vela sempre por todos os filhos que criou.
Espere por mais tempo, sem promover qualquer
mudança que lhe prometa paz e felicidade, quando
a paz e a felicidade já moram com você. 9 Estas são
as palavras da avó que você transformou em sua
própria filha, em nossas noites de aflição e vigília,
esperando as melhoras que custavam a vir. Nada se
perde, Sérgio, e a sua presença de bondade e de
amor, ao lado de uma avó pobre e doente, hão de
seguir você onde estiver, com as minhas orações,
rogando a Deus por sua fortaleza e entendimento.
10
Querida Lúcia, receba com a nossa Luizinha e com
o nosso querido Caio minhas grandes saudades!
Estou respondendo aqui as suas cartas de saudade
igual à minha!
11
Filha querida, ore sempre e não se esqueça de
que mais vale a paz que todos os
tesouros disputados na Terra!
12
Para Oscar, Zé Geraldo, Caio e nossos ausentes
outros muitas lembranças, deixando com você o
coração sempre reconhecido de sua mãe, a sempre
sua Luiza…

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Refere-se a amigas da família Xavier quais sejam D.
Zilda Batista, grande amiga de Chico Xavier responsável
por passar as páginas psicografadas pelo médium no
Grupo Espírita da Prece de Uberaba. Era casada com o Sr.
Weaker Batista, dirigente das atividades do Grupo;
Yolanda Cezar, amiga de Chico Xavier de São Paulo, mãe
de Augusto Cezar Neto, Espírito que se comunicou várias
vezes através do médium, escrevendo alguns livros de
mensagens; Leonor Neves Comes, amiga de Chico
Xavier de Franca, interior do Estado de São Paulo.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


81
Ninguém vive sem precisar de alguém


11|10|1986
1
Querido Sérgio,
Deus nos abençoe. Lembrando-me do tempo em
que me afastava do tricô altas horas da noite para
escrever uma carta, venho pedir a você, Zé Geraldo
e Luizinha receberem as minhas preces a Jesus, a
fim de vê-los sempre unidos e felizes. 2 Sei que as
provações têm sido chuva em nossa casa, mas rogo
à Luizinha continuar apoiando a Lúcia, porque
mãe, na vida, é a nossa melhor amiga, pedindo a ela
ainda seguir as intuições de Zé Geraldo para
beneficio dela própria. Ninguém vive sem
precisar de alguém e Zé Geraldo tem pela irmã
muito amor e zelo carinhoso para guiá-la. 3 Quanto
a você, Sérgio, erga a Jesus os seus pensamentos e
continue respeitando a companheira que não pôde
prosseguir ao seu lado. Ela não deixou de ser boa e
compreensiva, mas deseja outros caminhos e outras
experiências. Acalme o seu coração e confie nos
mensageiros do bem. 4 Chamaram você de menos
compreensivo, mas Deus sabe que você é portador
de abençoado entendimento. Disseram que você
era indiferente à família, mas Deus sabe quanto
amor você colocou no lar para conforto da
companheira e de sua filha. Houve quem dissesse
que você era doente, mas Deus sabe que você
possui grande riqueza de saúde e auxiliou você a
utilizá-la. 5 Apareceu quem o acusou de
preguiçoso, mas Deus sabe que você trabalha
exaustivamente na execução de seus ideais e
ninguém melhor do que eu, que fui avó doente por
tantos anos, conheci o seu esforço para velar
comigo nas longas noites da doença e o carinho
com que você sabia exercer a enfermagem,
auxiliando-me a modificar o corpo enfermo, de
posição, noite a noite, por tantos anos, que minha
memória já não cabe contar! 6 Levante a sua fronte
e aceite os problemas da vida como são, sem ferir
a ninguém. Seus passos serão amparados! Guarde
a sua fé e prossiga para diante! Aqui termino,
deixando para você, Zé Geraldo e Luizinha o
reconhecimento da avó amiga e mãe pelo coração,

Luiza Xavier

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


82

A alegria do ano novo


01|01|1987
1
Querida Lúcia, n Deus nos abençoe e nos proteja!
2
Muito grata a você e ao nosso Oscar por me
haverem atendido à solicitação, no sentido de não
apagarmos a chama das nossas reuniões da noite de
31 de dezembro. Estou feliz abraçando e revendo
os nossos amigos cultivando o nosso ideal em
família. A nossa Dra. Isolda n está sendo auxiliada
e esperamos, para breves dias, a possibilidade de
vê-la restaurada na saúde que se nos faz tão
preciosa.
3
Nossa mesa é aquela mesma de Pedro Leopoldo,
congregando os corações queridos. Agradeço a
todos os que vieram partilhar conosco a alegria do
Ano Novo! Louvado seja Deus!
4
Querida Lúcia, continuemos em prece, na certeza
de que Jesus nunca nos abandona! As suas cartas e
bilhetes estão comigo, à maneira de peças que
passassem pela “xerox” para me ser entregues. Não
duvide de minhas respostas através de você
própria. O nosso intercâmbio é constante e seguirá
sempre invariável, até que, um dia, possa Jesus
permitir-nos o reencontro — dia que desejamos
esteja situado no grande futuro, porque muito
esperamos de sua assistência e dedicação aos
nossos entes queridos. Luizinha e Tucha, tanto
quanto José Geraldo, estão recebendo as vibrações
de nosso amor.
5
Peço a você dizer à nossa estimada Tucha que sou
muito grata à colaboração que ela me prestou
espontaneamente para que os meus momentos
difíceis na doença do corpo fossem menos pesados.
Devo a ela muito devotamento e não posso
esquecer isso. Você sabe que eu também admito
que a nossa querida Sarita permaneça em sua
companhia, isto é, constantemente junto a nós, mas
se a nossa Tucha não puder atender aos nossos
apelos, ela não será menos estimada por isso.
6
A própria Sarita procurará por você em qualquer
momento em que você possa auxiliá-la e, de um
modo ou de outro, a nossa pequena será sempre
nossa. Tenho cooperado na obtenção da paz e
refazimento para o nosso Sérgio e confio na
misericórdia de Deus.
7
Nosso Caio vem recebendo o amparo de amigos
diversos da vida nova em que me encontro e estará
melhorando na saúde precisa.
8
São muitas as novidades para conversar, mas não
posso absorver o tempo que pertence a todos. Diga
ao nosso Luciano que lhe tenho anotado os
pensamentos e pedidos dele, e não será ele
incomodado com qualquer manifestação da
Espiritualidade antes que se lhe amadureçam as
forças. Lembranças para ele, Helena e Conceição.
A nossa luta continua, mas a bondade de Deus
também continua, socorrendo-nos em nossas
necessidades e ouvindo-nos em nossas preces.
9
Estou feliz abraçando a nossa Maria Eunice, n a
nossa Elenir n e a nossa Yolanda, que nos
concedem a presença amiga, enlaçando a nossa
Isolda, a nossa Therezinha n e o nosso Lauro, que
vieram prosseguir em nosso culto de
agradecimento a Jesus por haver concedido a nós
todos mais tempo para o trabalho do bem e para a
nossa união. Todos os amigos aqui reunidos estão
em meu reconhecimento.
10
Você olhe por nossa Leda para que ela esteja
tranquila. O pai de nossa Dra. Isolda está presente
e afirma que ela está em tratamento certo. Muitos
amigos estão presentes e a gente lastima haja
cansaço no corpo físico de quase todos os irmãos
que se encontram aqui.
11
Querida Lúcia, vou terminar, não por meu gosto,
mas porque é preciso fazer isso. Agradeçamos a
Deus as dificuldades vencidas no 1986 e
aguardemos o 1987 por mensageiro de paz e
renovação.
12
Abraçando Luizinha, Tucha e José Geraldo, beijo
as suas mãos que tanto me abençoaram.
A sua mãe e sempre a sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Dra. Isolda era uma amiga da família Xavier.

[3] Refere-se a amigos da família Xavier. Maria Eunice


Meirelles era grande amiga e colaboradora de Chico
Xavier, da cidade de São Paulo. Era casada com o
confrade Dr. Celso Meirelles.
[4] Elenir Meirelles era grande amiga de Chico Xavier, da
cidade de Niterói, RJ. Fundadora do Grupo Espírita da Fé
daquela cidade, era casada com o Sr. Lineu Meirelles.

[5] Therezinha e Lauro eram amigos de Chico Xavier desde


Pedro Leopoldo. Residiam em Campinas, SP. Ele era
professor. O casal mantinha um trabalho de formação
profissional para menores crentes nessa cidade. Mais
tarde receberam Luizinha, neta de D. Luiza, como
hóspede em sua casa para complementação dos estudos,
conforme mensagem da p. 341.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


83

Lições que nos atingem a todos


12|03|1988
1
Querida Lúcia, n Jesus nos proteja!
2
Não posso furtar-me à oportunidade de escrever a
você este bilhete, em que possa resumir na
palavra saudade todo o meu amor de mãe que se
jubila à frente dos Céus para agradecer a sua
presença e a sua vida entre os nossos entes
queridos. Leio e releio as suas anotações e tenho
escrito, por você própria, as respostas que se fazem
possíveis para mim.
3
Compreendo que você e o nosso Oscar deixaram a
nossa Luizinha em Campinas com a dor de quem
se separa de uma filha querida e necessitada do lar,
mas os estudos e o futuro lhe exigiam essa
mudança e, assim, minha filha, procuremos
auxiliá-la tanto quanto pudermos para que ela, em
Campinas, encontre a complementação dos
estudos que ela tanto deseja para atingir a
competência que também nós lhe desejamos.
Nossa Luizinha tem paixão pelos livros e isso a
favorecerá no atual empreendimento.
4
Relativamente à nossa Sarita, fale a ela que o amor
da vovozinha continua a segui-la carinhosamente.
Relativamente ao Caio, acompanhamos as suas
apreensões de mãe no tratamento que se lhe fará
indispensável. E peça por mim ao nosso José
Geraldo para encorajá-lo nas atitudes que se façam
precisas. Você e Oscar possuem em nosso caro Zé
um filho amigo e amoroso, que nos valerá em todas
as horas, com a permissão de Jesus!
5
Do Sérgio, tenho as minhas impressões pessoais em
que o vejo tentando harmonizar-se com a situação
nova a que foi conduzido e espero que ele prossiga
sem modificações, procurando a paz e a humildade
para vencer nas dificuldades da existência.
6
Quanto possível, você e Oscar auxiliem a nossa
Tucha no trabalho novo a que foi chamada. A vida,
Lúcia, a vida que conhecemos na Terra, é uma
grande escola com lições que nos atingem a
todos. Imagine que, atualmente, considero os meus
longos dias de doenças do corpo como sendo os
mais felizes que tive na existência, que à
desencarnação me trouxeram, ao final de minhas
lutas. Diga ao Sérgio para continuar sendo o
enfermeiro prestimoso e atento a quem passei a
dever tanto. 7 Cândida e eu temos prestado a
possível assistência à nossa Cleusa no tratamento
difícil que lhe restou da viagem acidentada que a
levou tão longe. Ela e Célia, para mim, continuam
na condição de minhas próprias filhas, a quem
desejo paz e felicidade com todo o meu coração.
8
Agradeço ao Oscar aquilo que um coração de mãe
deve expressar a um filho inolvidável!…
Companheiro e amigo incondicional, é o apoio em
que nos escoramos para ganhar a outra margem do
rio da vida, onde sonhamos nosso reencontro na
paz de Deus.
9
Filha, não se aflija pensando nas despesas de nossa
Luizinha com os estudos. Aquilo que se aprende
para o bem não encontra preço adequado. Não lhe
faltará o apoio necessário.
10
Desejava continuar escrevendo, mas não posso. Os
assuntos nossos são longos e os minutos para
escrever, muito curtos. Minhas lembranças à
Pingo, a Luciano, à Helena e à Conceição. Peço a
Deus para que nossa Conceição seja muito feliz no
casamento próximo.
11
Aqui vou terminar. Em casa, escreverei por suas
próprias mãos o que nos seja necessário. Abrace
por mim o nosso Oscar e o nosso José Geraldo, que
estão perto de nós, e distribua minhas lembranças
e votos de paz a todos os nossos familiares.
12
Para você, as alegrias que procuro dividir com seu
coração, nas muitas saudades de mãe sempre mais
agradecida.
Sempre sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


84

Precisamos de comunhão para acertar os


caminhos


02|04|1988
1
Querido Sérgio, Jesus nos abençoe.
2
Você nos pede uma palavra de reconforto e acredite
que ainda não sei se tenho reconforto para
satisfazer-lhe a solicitação. Estou por aqui à
maneira da pessoa comprometida com o trabalho e
que chega em atraso para cumprir as próprias
obrigações. 3 Às vezes, pergunto a mim mesma por
que não ouvi as suas considerações. Creio que você
se lembrará de certa mensagem que surgiu por seu
intermédio, afirmando que ao pedirmos uma
orientação do mundo espiritual a resposta já está
incluída por nós mesmos na prece ou nas palavras
que formulamos para dar solução aos nossos
problemas. 4 Passamos para Cá, ou para a Vida
Espiritual, como diríamos aí, mas, no íntimo, não
passamos. Penso que a demora é grande para a
renovação que esperamos e só a paciência com os
deveres bem cumpridos é a nossa força para nos
libertarmos de nós mesmos. Olhe que estamos
numa conversação de avó e neto, e nesse diálogo
tão simples nos entenderemos como de outras
vezes. 5 Creia que a vida na Terra pede a você
testemunhos incessantes de calma e entendimento,
e espero que você prossiga sem desânimo no
desempenho dos seus deveres. Você me perdoará
se me refiro ao assunto, no entanto, isso nos
auxiliará atenuando o peso de nossas
preocupações. Você, muitas vezes, indaga no
silêncio o porquê das lutas em que se envolveu,
mas deixe as preocupações de lado e procure fazer
o melhor que puder. A esposa solicitou-lhe o
desquite e você concordou em paz.
6
Você sabe que ela é uma criatura portadora de
muitas qualidades apreciáveis e que todos devemos
a ela muitas promissórias de bondade. Não pense
nela como sendo inimiga de sua paz. Ela fez o que
pôde para auxiliar-nos, mas quem faz o que pode a
mais não se vê obrigado. Pense assim, em termos
de compreensão. Se a nossa querida amiga não
conseguiu ser sua esposa, ela não pode deixar de
ser sua irmã perante Deus. Ela quis a mudança e
isso não é problema de outro mundo por ser
questão que nós mesmos criamos em nossa própria
vida. 7 Um outro problema se levanta dentro desse:
a nossa Sarita, que vocês dois trouxeram à vida
material. Saibamos ter paciência uns com os
outros, em favor de nossa menina, que está
crescendo e observando os pais, que são vocês.
Diante do que está feito por nós próprios não há
lugar para vacilações, no entanto, há sempre
espaço para a nossa serenidade e para o trabalho
dentro da vida. 8 Não deixe as orações sem
atividade regular. Tudo encontra a felicidade das
boas comparações. Você assume um débito
qualquer, mas terá de resgatá-lo — compra um
telefone — mas deverá usá-lo sempre que
preciso. Precisamos da comunhão uns com os
outros para acertar os caminhos. 9 Não se
incomode se a crítica pode atingi-lo. O que os
outros pensam de nós é assunto deles e não nosso.
Por exemplo: você foi indicado na condição de um
homem sem trabalho, mas sabemos que isso não é
verdade. Eu mesma estive praticamente enferma e
abatida durante oito anos e você era o meu
enfermeiro de todas as noites, às vezes até a volta
do dia. Entretanto, eu não podia remunerar o seu
esforço em meu beneficio e nem deixar de pedir a
sua assistência. O trabalho para você, em todos
esses anos, foi total e intenso! O doente é que sabe
onde o sofrimento lhe aperta a vida. Você
trabalhou comigo e para mim, mas ninguém viu
isso, porque o dinheiro do mundo não apareceu.
Por isso peço a Deus o recompense com a paz e
com a boa saúde. Pense e acalme-se. 10 Tudo passa
no mundo das formas, e passa depressa, sem que a
gente perceba. Você tem muito a fazer e precisará
de fazer enfermagem em beneficio de outros.
Espere o amanhã fazendo de hoje uma porta aberta
para servir ao próximo, na certeza de que o
próximo começa de nossa casa. Mas não estamos
aqui como em nossa moradia, conversando para
atravessar a madrugada, com os mesmos
sofrimentos a se alternarem noite e dia. Seja para a
nossa amiga, que lhe deu uma filha amorosa e
inteligente, o mesmo amigo de sempre. E quando
você puder auxilie aos doentes, que são muitos e
estão em toda parte. Não guarde rancores, nem
frustrações. 11 Cada dia que amanhece é tempo
novo que nos vem nas concessões de Deus.
Conserve a sua paz e não se esqueça de que você
terá sempre a paz que der de você mesmo para os
outros. Faça os outros felizes, a fim de que você
também o seja. Não permita que contratempos do
mundo lhe furtem a tranquilidade da
consciência. 12 Mas não podemos tomar mais
tempo de tantos amigos aqui reunidos para o
exercício do bem. Abrace Lúcia, Oscar, Sarita e
todos de casa em meu nome, e fiquemos com Deus.
Para você, os agradecimentos e as lembranças de
sua avó e mãe pelo coração.
Sempre sua,
Luiza Xavier
Nota da editora: Mensagem recebida no dia em que Chico
Xavier completava 78 anos.

.
Texto extraído da 1ª edição desse livro.
85

A felicidade pelo próprio esforço


1 n
Querida Lúcia, Deus nos proteja e nos abençoe!
Desnecessário dizer que estou com você em suas
caminhadas, entre as quatro paredes da nossa casa,
no dever de cada dia.
2
Compreendo quanto lhe pesam as obrigações de
mãe, mas peço a você coragem e paciência. Todos
guardamos as semelhanças físicas com os outros,
em família, mas em se tratando de filhos custou-me
muito compreender que todos são diferentes, tanto
quanto os dedos de nossas mãos. 3 Você está
atravessando as veredas que segui noutro tempo,
lutando para aprender que os filhos são diferentes
uns dos outros. Sei que você está intimamente
pasma com os obstáculos que encontra para ver os
filhos felizes, segundo o seu modo de ver a vida,
entretanto, é preciso deixá-los procurar a
felicidade pelo próprio esforço. Continue a ser
compreensiva e amorosa para com todos eles,
amando e perdoando as faltas naturais de gente
muito moça, encontrando na oração o caminho
mais certo, a fim de auxiliar a cada um como
desejam e não como talvez queiramos.
4
Não ignoro os problemas da fixação de Sarita no
cotidiano, mas seja qual for a decisão da Justiça
para os menores continue sendo para ela a avó e
mãe com a qual ela contará sempre. Entendo que
desvinculações em família doem à maneira de
feridas traçadas no coração pelas lâminas dos
acontecimentos. Ainda assim, estejamos em prece,
auxiliando a todos os que recorram a nós. Sinto não
poder falar claramente sobre as questões
enoveladas que você está encontrando, mas Deus
nos abençoará e saberemos apurar a linha no
momento certo para continuarmos em paz.
5
Estou muito grata a você e ao nosso Oscar pelas
medidas que aceitaram para conservar de pé a
nossa casa repleta de lembranças que nos fazem rir
e chorar ao mesmo tempo! Você nada perderá
amparando os filhos e os familiares nossos que
necessitem de seu coração e de suas mãos.
6
Tanto a dizer, mas o tempo nos obriga a parar o
lápis e a prosseguir em nossas preces. Não se sinta
abatida e nem triste por nada, e sigamos com Jesus
para o desempenho de nossos deveres. Explique à
nossa Luizinha que ela e eu conversamos através
do espelho e convença-a de que ela continua em
meu caminho e em meus pensamentos de todos os
dias. 7 Ao nosso Sérgio ofereço aquele quadro com
a inscrição “Sorria, por favor”, e ao Zé Geraldo e
ao Caio desejo toda a felicidade que eles merecem.
Estaremos pedindo a Jesus empregar o nosso caro
Sérgio, para que ele se fortaleça e se faça otimista,
e na certeza de que Jesus possui os melhores
amigos da Terra creio que ele nos aprovará a
petição.
8
Aqui vou parando… Você compreende. Nesta hora
em que nós duas conversamos na condição de mãe
para outra mãe, colocamos o dedo indicador sobre
os lábios e lemos o cartaz caseiro: “É proibido
conversar”. Este é melhor do que aquele outro que
diz assim: “Não me fales mal de ninguém”, porque
em si a frase já é uma reprovação à pessoa que se
dispõe a dialogar.
9
Com o meu abraço a você e ao Oscar, com meu
carinho de mãe a todos os nossos, sou como sempre
a sua mãe do coração, sempre a sua,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


86

Quem ama se renova


1 n
Querida Lúcia, querida Luizinha e querido José
Geraldo, Deus nos abençoe! O tempo é estreito
para nós, que nos propomos a escrever. 2 Mesmo
assim estou feliz, pois a figura central das nossas
comemorações do Natal, hoje realizadas aqui, é o
filho de nossa Yolanda, moço distinto e coração
generoso, que inspira abençoadas tarefas de amor
ao próximo em muitos lugares. Chorei ao ver tanta
gente amparada e feliz com a supervisão dele, a
quem me senti ligada pelo coração. 3 Lúcia, com o
tempo marcado para escrever, lembro-me de uma
das antigas professoras nossas de Pedro Leopoldo,
de nome D. Serrota, que me passava exercícios
para fazer em minutos determinados. De qualquer
forma, estou feliz!
4
Conheci, pessoalmente, o Augusto, n e agradeço a
ele, na pessoa de nossa Yolanda, a bondade que
estende até às nossas crianças. Dizem que a
caridade tem mil braços e eu creio que Augusto é
dono desse prodígio, tamanha é a simpatia que ele
nos transmite e tão grande é a generosidade com
que se dispõe a servir a todos!
5
Com relação aos nossos problemas, estou
recebendo as suas cartas do correio sem greve, isto
é, aquelas que você me escreve na intimidade do
quarto e que respondo por intermédio de você
mesma.
6
Minha filha, a prece é o nosso clima de intercâmbio
e estamos na confiança em Jesus, que a cada
dificuldade nos concederá a solução precisa.
Graças a Deus, você tem progredido em
desprendimento! Tranquiliza o coração e confia em
Deus! Muitos obstáculos são medidas que a
Providência Divina nos permite receber em
beneficio de nós mesmos, beneficio que não
entendemos no momento, mas sim no futuro,
quando compreenderemos que Deus faz o melhor,
e que se nós não sabemos o que desejamos Ele sabe
aquilo de que necessitamos para conservar a nossa
própria paz. 7 Estou satisfeita com a nossa Luizinha
e cumprimento-a por todas as palavras que ela
deixa para mim em meu pobre retrato. Peço a você
confirmar-lhe que os mensageiros de Jesus nos
auxiliarão. Ela receberá o amparo espiritual de que
me fala sentir-se necessitada.
8
Para o José Geraldo, os meus parabéns de avó.
Posso estar representando a avó “coruja”, mas ouvi
o discurso dele e muito me comovi ao vê-lo
pensando com tanta maturidade na profissão que
ele mesmo escolheu! Deus o abençoe e continue a
sustentá-lo em seus bons propósitos!
9
Peço a você dizer ao nosso Luciano que a visita feita
a ele por nossa amiga Hermelita foi uma visita de
confiança e luz. Ah, como ficou assustado com
aquela emoção toda! Sei que ele julga que um dia
também me enxergará conversando com ele, filho
que sempre me foi e ainda é tão caro, mas se isso
acontecer prometo a ele que só farei a visita a ele
depois de muito tempo necessário à nossa
preparação, porque se ele se emocionará isso
acontecerá igualmente comigo e ainda não estou
habilitada a tomar posição entre vocês, com toda a
minha presença e amor de mãe!
10
Querida Lúcia, abrace por mim a nossa Yolanda e
diga-lhe que ela soube aproveitar aí mesmo, na
Terra, os pedidos de um filho que a ela se dirigiu
de um mundo para outro. Sei que a nossa amiga
encontra dificuldades para cumprir a bela missão
da beneficência entre as criaturas, no entanto, Jesus
lhe multiplicará as forças, porque Yolanda é a
tarefeira e missionária do bem, abençoando e
auxiliando a todos os que trabalham no bem, sem
excluir pessoa alguma. Que ela saiba colher as
rosas do coração dedicado a semear a alegria e o
socorro a todos os que sofrem, esquecendo os
espinhos que habitualmente ferem aqueles que
agem no jardim da vida, trabalhando para ser útil a
quem trabalha e para estender mãos fraternas até
mesmo aos que não trabalham, porque são esses os
mais necessitados por serem surdos às lições que
recebem.
11
Você prossiga em nossa união de sempre, pois
agora é que comecei a ser aprendiz na seara da
beneficência. E nessa escola é de meu desejo que
você, além de filha, possa ser a minha colega, para
cumprirmos juntas os nossos deveres para com os
outros, especialmente com os nossos irmãos mais
necessitados. Não passe recibo em conversas que
pretendam desprezar a nossa fé em Deus e em
nosso serviço, que — embora pequeno — nos serve
à feição de carteira da escola em que somos
lecionadas para viver e compreender melhor a vida.
12
Lembranças a todos os nossos. Os que
perguntarem por lembranças minhas já estarão a
recebê-las, pois não me esqueço de ninguém e
estou aprendendo a não forçar situações. Quem
ama se renova e quem se renova caminha com
mais segurança. Querida filha, com o meu afeto ao
Oscar e à Sarita, sou, como sempre, a mamãe que a
abraça e lhe beija as mãos…
Sempre a sua,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Referência a Augusto Cezar Netto, Espírito, e à
distribuição natalina de Uberaba, na Vila do Pássaro
Preto. realizada anualmente por sua mãe, Yolanda Cezar,
com a colaboração de dezenas de amigos da capital
paulista.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

87

Filhos são de Deus


1
Querida Lúcia, n
Vejo você com a nossa Dália, n assistida por nossa
Luizinha e por nossa Sarita, e em vocês represento
a nossa família inteira. Não podia deixar de
conversar com você pelo veículo do papel, pois
com a permissão daqueles que nos amparam e
guiam quero desejar-lhes um feliz Ano Novo e faço
questão de estender esses votos à nossa querida
Yolanda Cezar, cuja vida é um mundo de bons
exemplos, visitando-nos em companhia do filho
Augusto Cezar, nos caminhos para Jesus.
2
Você não precisa que lhe escreva com pormenores,
pois estamos em contato quase constante e as
minhas ideias você chega a registrá-las em nossos
cadernos. No entanto, sinto necessidade de pedir-
lhe abençoar com todo o seu coração materno o
nosso José Geraldo e a esposa, que poderes
superiores da vida lhe destinaram ao coração.
3
Lúcia, filhos são, primeiramente, de Deus e não
desejo que você conserve no sentimento qualquer
resquício de tristeza, porque, às vezes, em nossa
emotividade, queremos escolher noras e genros
para os nossos filhos, mas todos eles, como
acontece a nós mesmos, trazem no íntimo
tendências e compromissos de vidas recentes na
Terra. Além disso, a jovem com quem ele se ligou
é portadora de muitas qualidades nobres e, de nossa
parte, devemos auxiliá-la a se adaptar conosco.
Faremos muito para ajudá-la, enviando os nossos
bons pensamentos.
4
Você ouça a Dália no caso e ela própria dirá a você
que os filhos chegam na penugem do ninho e
quando nascem são mensageiros de esperança e de
alegria. O ninho com que eles confeccionam as
roupas é um atestado de nossa confiança e de nosso
amor, entretanto, quando a penugem se transforma
em asas seguras, julgam a estreiteza do ninho em
que nasceram de nosso afeto e sabem aportar os
horizontes que aspiram alcançar. Choramos e
rezamos para que não se ausentem de nossa
companhia, mas sem perder o amor por nós, pelos
pais e pelos irmãos voam para longe em busca de
outras terras em que possam ser eles mesmos. Não
é ingratidão. Isso acontece com os passarinhos que
se ausentam do berço em que nasceram em busca
de outros ares e de outras aves da mesma espécie
para se modificarem como desejam.
5
Pensemos agora em dois dos meus netos que estão
recebendo a assistência constante: é Sérgio e Caio,
que necessitam de tratamento especializado. O
Sérgio parece tranquilo, mas tem o sofrimento
íntimo estampado no rosto e espero que você e
nosso Oscar venham a conduzi-lo para o
tratamento preciso.
6
Somos chamados pelos emissários de Deus a
receber os Espíritos antagônicos ao nosso, que
costumamos tratar por inimigos e adversários, e
precisamos trabalhar muito para conquistar-lhes a
simpatia e a dor ultimamente poderia trazer
notícias, mas os destinatários delas ponderariam o
porquê de minha indiscrição. Mas posso asseverar-
lhes que todos estão queixosos, porque desejariam
ter cooperação, mas isso exige tempo e muito amor,
com o esquecimento de quaisquer ofensas de que
nos supomos vítimas. 7 Digo isso porque o inimigo
transformado em amigo será nosso apoio e amparo
no amanhã da vida. Converse com o nosso Oscar e
vejam os dois como devemos fazer para exercitar o
perdão todos os dias. Jesus nos aconselha a perdoar
cada ofensa recebida setenta vezes sete vezes, mas
creio que eles acrescentam que é preciso fazer isso
tantas vezes quanto tenhamos consciência de nossa
própria vida.
8
A oração nos dará conformação e entendimento. E
aos poucos vamos compreendendo que a
misericórdia de Deus na juventude nos toma pelas
mãos e ensina-nos a cultivar as qualidades que nos
farão sempre felizes. Muito moços ainda, à feição
de frutos verdes na árvore da vida, aprendemos o
que seja caridade, perdão, tolerância, trabalho no
bem e fraternidade com todos. 9 A princípio,
praticamos as lições e cremos nossas almas
queridas e amigas… O tempo vai desdobrando os
painéis do passado quando, de improviso, nos
aparecem aqueles companheiros ou irmãos que
ainda não são simpáticos e já começa o nosso novo
aprendizado.
10
Abrace por mim o nosso Oscar, que se fez uma
viga mestra para a nossa segurança, e não se
esqueça de minhas lembranças para Célia, Cleusa,
nossas amigas de sempre. Elas nos encontram nos
chamados sonhos, mas quando voltam ao corpo
não conseguem encadear as palavras para falar
sobre o que para elas ainda é desconhecido.
11
O Chiquinho veio ver Dália e está muito contente
com a fé que ela demonstra na passagem pelas
dificuldades da vida.
12
Muito teria a dizer, mas em casa conversaremos
mais à vontade. Não posso ter a pretensão de ser
dona das horas e chegou o momento de pedir a você
felicitar o José Geraldo e a esposa por mim. Paz
com todos. Cândida está presente e envia abraços
às filhas queridas, de vários de nossos amigos
desencarnados,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Nota da editora:
[2] Em referindo-se a Cidália Xavier de Carvalho, irmã
mais nova de Chico Xavier casada com Chiquinho
Carvalho, já desencarnado.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


88

Tesouro oculto


1 n
Querida Lúcia e querida Luizinha, com o Oscar e
com o nosso José Geraldo, guardem as minhas
preces de gratidão e carinho de mãe!
2
Lúcia, estou muito grata às suas providências em
beneficio de nossa Conceição, que entra, assim, tão
menina, para as tarefas do casamento. Você fez o
que pôde para vê-la feliz e isso basta para que você
esteja tranquila. É isso mesmo! Consciência em paz
é tesouro oculto.
3
Deus abençoe o nosso Luciano e a nossa Helena
pelo bem que fizeram à Ceição, que precisava de
apoio para seguir em nova jornada. Acompanho
todas as ocorrências de nossa família e de nossa
casa, não só porque sou novata na vida espiritual,
mas porque atendendo ao trabalho que me restaure
a paz da mente sinto-me outra. Mais ativa, mais
resistente!
4
Tenho visto situações e pessoas de nosso meio
familiar que me impressionam pela mudança em
que as observo e chegará o momento em que
falaremos disso.
5
Sei que a nossa Luizinha está muito bem, na fase
nova dos estudos, mas peço a ela muito cuidado
consigo mesma. Lauro e Therezinha são excelentes
irmãos, mas o aprendizado de cada dia pertence a
ela e espero que nossa querida Luizinha faça o
coroamento do seu ano em andamento com uma
vitória escolar de quem estuda para compreender e
realizar. Nossa Luizinha conhece todos os nossos
problemas e nos auxiliará a resolvê-los.
6
Lúcia, a sala está repleta e confesso a você que
tenho vontade de esquecer a presença de tanta
gente boa para entrarmos no trato de algumas
fofocas, mas isso seria abusar e não desejo fazê-lo,
mas em nossas íntimas meditações faremos as
nossas conversações silenciosas e anotaremos o
nosso assombro de tantos acontecimentos que os
outros provocam e que nós observamos caladas.
7
Tudo vai bem e desejo ver você melhor de saúde
para trabalharmos, uma junto da outra, para
auxiliar a amigos nossos que estão ilusoriamente
realizados e ainda terão muitas lutas pela frente, de
modo a socorrê-los como se faz preciso.
8
Agradeço ao Oscar e ao José Geraldo os estímulos
com que incentivaram a sua viagem.
Estamos passando o Dia das Mães com uma paz
que há muito tempo perseguíamos, sem alcançar. O
Dia das Mães está nascendo e desejo a você,
querida filha, muita saúde e resistência, felicidade
e alegria! Agradeço as belas palavras que você me
dirigiu pela passagem da data maravilhosa.
9
Ser mãe é ser uma bênção, mas também viver em
desassossego desde que o primeiro filho aparece.
Com isso não estou reprovando ninguém que
atravesse a mocidade e sim exaltando a alegria de
estarmos juntas nestas horas de união e beleza!
10
Tenho pedido muito a Jesus por nossa Tucha e
vamos esperar o que está para acontecer. Graças a
Deus, só desejamos o bem e se alguma tribulação
aparecer isso deverá suceder para nosso beneficio.
11
O Sérgio está melhor e o Caio prossegue contando
com o apoio do nosso José n para o tratamento que
se lhe faz necessário. Luizinha, em Campinas,
junto de nossa Therezinha e de nosso Lauro, vem
fazendo conquistas novas nos estudos, o que nos
proporciona grande prazer. Todos nós sabemos
viver, mas quem estuda sabe viver melhor!
12
Agradeço à Célia, à Cleusa, à Dália o conforto que
nos proporcionam.
Desejo enviar a todos as minhas lembranças e fazer
com que nossa Pingo creia em nossa amizade e
carinho, mas não sei quando isso se verificará.
Vamos trabalhando no bem e o bem será sempre o
nosso advogado de defesa. Muitas bênçãos que
desejamos pedem tempo e não podemos esquecer
isso. Deixe que os dias corram e esperemos.
13
Peço desculpas aos amigos e às irmãs que
compõem a nossa reunião pelo meu otimismo.
Acontece que estamos no Dias das Mães e não
temos lugar para a tristeza e desânimo de qualquer
natureza.
14
Renovo os meus agradecimentos por suas cartas e
seus bilhetes. Você tem me auxiliado a retomar o
meu trabalho de sempre, tecendo e ouvindo com
paciência para fazer o melhor que pudermos.
Quando você estiver com Jacy, diga-lhe que estou
cooperando no tratamento dela e que Jesus nos
ajudará a vê-la fortalecida e bem disposta.
15
Espero que ninguém do nosso pessoal venha julgar
que escrevo para você em demasia. O que há é que
você me procura com amor com os nossos assuntos
e eu tento responder a você com a sinceridade de
mãe para com sua sinceridade de filha. Graças a
Deus, por nós duas, que continuamos ligadas pelo
coração! Agradeço a flor que o seu carinho me
ofertou. Nos primeiros tempos de vida espiritual,
certos perfumes de flores naturais valem por
alimentos preciosos!
16
Querida filha, abrace por mim a todos os meus
netos e aos seus irmãos, começando por Oscar e por
nosso querido Zé. Para você, deixo aqui o coração
de sua Luiza,
Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Refere-se a José Cândido Xavier, na Espiritualidade.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


89

Não nos apaguemos em cansaço inútil


1
Querida Lúcia, n
Deus nos abençoe e nos proteja. Sei que você sente
falta de minhas pobres palavras, entretanto, guarde
a certeza de que estamos juntas. Pensa com meu
cérebro e fala com as suas palavras. Não tema as
dificuldades do caminho que nos foi
confiado. 2 Hoje, entendo que todo Espírito
reencarnado na Terra está no encalço dos encargos
tecido de esperanças e sonhos de
felicidade. 3 Enquanto os nossos garotos se
achavam na fase inicial da vivência, podiam ser
comparados a pequenos filhotinhos, que dependem
de nós e que mais profundamente se nos fazem
queridos, mas que, em geral, tão logo conseguem
desdobrar as próprias asas ausentam-se para os
vários campos da vida, nos quais acreditam
encontrar os ninhos da paz e da alegria. 4 Nesses
momentos de separação transitória, choramos e nos
afligimos no desejo incontido de paralisar-lhes o
voo iniciante, na certeza de que não encontrarão a
felicidade barata com que sonharam e sim a face
austera do trabalho, que os obriga a entrar na vida
da ação incessante. Mas não pode ser de outro
modo. Eles, os nossos jovens, necessitam abrir
novos caminhos e conhecer novos
horizontes. 5 Chorei sempre, pelo menos, até que
amadurecessem para a existência, e você chorará
por eles, os meus netos, até que você lhes veja os
sinais de renovação. E como não temos a vocação
de desobedecer à vontade de Deus, entreguemo-
nos a Deus com os nossos melhores sentimentos,
porque, na essência, eles seguem as leis de viver.
Por isso não chore quando algum deles pretenda
romper a comunhão, de modo a se fazerem
cidadãos e cidadãs do mundo, em que lhes caberá
testemunhos mais importantes de amor. Ontem
você casou Sérgio, agora se prepara a fim de
acompanhar o matrimônio do José Geraldo, do
Caio, da Luizinha… Que fazer de melhor, minha
filha, senão entregá-los a Deus, que os ama e
protege antes de nós?
6
Tenho procurado inspirar o nosso Oscar em nossos
diálogos, libertando-o de pensamentos tristes e,
graças a Deus, vejo-o melhorado e mais forte. Não
espere que a vida lhe faça sentir que os meninos
estão conosco, estão caminhando para o olhar
dentro do qual nos procuram compreender e nada
respondem, porque trazem a vida interior
esfogueada pelo campo de luta. A Sarita é a
companheira de todos os dias, que precisamos
encaminhar. 7 Não nos apaguemos em cansaço
inútil, mas sim comecemos a marchar para a frente.
Recordemos em ter força em nossos atos da
existência — se assim os praticarmos com amor a
maior parte dos nossos deveres já programados
para eles estarão cumpridos e nos trarão ainda a
esperança de vê-los também caminhar para a
frente. Não falte com as suas diretrizes, auxiliando-
os a entender os obstáculos que venham a conhecer
e peçamos a todos eles permanecerem na fé que
lhes garantirá a segurança do caminho. 8 Você não
se agaste comigo por falar-lhe nesses termos, mas
o tempo conversará com todos eles mais
sabiamente, orientando-os para a viagem. As
meninas de Cândida estão em nossas preces.
Dizendo assim, não quero manifestar-me contra os
seus pensamentos. Você não pode modificar-se a
jato. O tempo não respeita as obras das novas
construções que ele vai modificando. Estou me
alongando muito nesse assunto por entender que as
minhas queridas meninas devem estar na estrada
certa e com Jesus. Vencerão as experiências das
horas que hajam de passar. Arranje um copo de chá
calmante e faremos o resto para sua tranquilização.
9
Peço ao Caio muita força de vontade no que busque
realizar e peço à Luizinha muita fé em Deus e
coragem. Não estou faltando com a verdade. Os
assuntos são os mesmos que presenciei aí. Para
nosso querido José Geraldo, recomendo a crença
amparando seus ideais. Desejamos para ele a
felicidade igual a que ele nos tem proporcionado.
Os dias passarão e nos dias realizamos o que temos
de efetuar. Célia e Cleusa são também minhas
filhas pelo coração e continuarão agindo em nosso
auxílio.
10
Para a nossa querida Luizinha, o meu recado é de
esperança, com o cuidado de que necessita para ir
seguindo com paciência o caminho que Jesus nos
deu a trilhar. Ao nosso Oscar, agradeço a dedicação
de filho que recebo dele constantemente. Deus o
abençoe nas ideias de paz e confraternização que
alimenta. Nós duas continuaremos,
independentemente do trabalho de Chico, e você
observará sempre que as nossas observações estão
certas. Onde não possamos efetuar as providências
que julguemos necessárias Deus, por Seus
mensageiros, fará por nós o que se faça preciso.
Estou escutando os pensamentos que você me
dirige nesta hora e, em resposta, peço a Jesus nos
fortifique em amor.
11
Não posso escrever mais. Zina n e Tiquinha n têm
convivido um pouco mais comigo e estamos
felizes, trabalhando com os mesmos pontos de
vista.
12
Querida filha, diga à nossa Luizinha, aliás,
presente aqui, que não se declare esquecida pela fé,
que prossiga amando a vida com o afeto de sempre.
Quanto ao mais, querida Lúcia, esperemos em
Deus. Teremos sempre a vida inteira para trocar as
ideias. De outra vez tomarei mais tempo para falar
de nossos casos e esperarei que a nossa Yolanda a
assista, qual está na agenda de hoje, com as suas
anotações. A vida aqui, igualmente, não é um lago
de água parada e sim um rio, cuja correnteza nos
obriga a pensar e aprender, e trabalhar muito.
13
Esperando que a paz de Deus esteja com todos os
que se fazem ligações de nosso amor, e
cumprimentando a nossa prestimosa Leonor, a
quem agradeço as preces de paz que me envia,
abraça a você e a Oscar, numa só união de amor e
confiança, a velha mãe que deixou de se sentir
realmente velha, porque procura viver hoje na
bênção de Jesus, que abraçamos.
14
Querida Lúcia, que ninguém diga que estou
abusando do tempo e das possibilidades
mediúnicas do Chico, em vista da intimidade de
irmãos que sempre nos uniu, porque ele também foi
para mim um filho do coração, que sempre agiu
com liberdade para fazer o que entendesse, com o
meu apoio de irmã e assim estamos integrados no
mesmo caso em que somos livres para opinar nesse
ou naquele assunto, ressalvando-se a obediência
que todos devemos a Deus.
15
Com Oscar, e todos os nossos entes queridos,
receba, Lúcia, o carinho de sua mãe, sempre sua,
que não a esquece,

Luiza Xavier

[1] [Ver nota nº 1 da mensagem de José Xavier.]

Notas da editora:
[2] Em referência à sua irmã Carmozina Xavier Pena,
conhecida como Zina.

[3] Tiquinha era o apelido de sua irmã Maria da Conceição


Xavier Pena. Carmozina e Tiquinha eram irmãs de D.
Luiza Xavier do primeiro casamento do pai. sendo a
primeira 3 anos mais nova e a segunda 7.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Referências bibliográficas
HARLEY, John. O voo da garça — Chico Xavier em
Pedro Leopoldo | 1910-1959. 2. ed. Belo
Horizonte: Vinha de Luz, 2010.
LEÃO, Geraldo; NETO, Geraldo Lemos
(Orgs.). Pedro Leopoldo vista por Chico
Xavier | 1910-1959 — 49 anos da presença do
maior médium de todos os tempos. Belo Horizonte:
Vinha de Luz, 2011.
NETO, Geraldo Lemos. Acervo fotográfico e
documental da Casa de Chico Xavier. Pedro
Leopoldo: 2012, Rua Pedro José da Silva, 67.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim (Org.). Sementeira de luz. Pelo Espírito
Neio Lúcio. 4. ed. Belo Horizonte: Vinha de Luz
Editora, 2012.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim; NETO, Geraldo Lemos (Orgs.). Deus
conosco. Pelo espírito Emmanuel. 3. ed. Belo
Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.
XAVIER, Francisco Cândido; JOVIANO, Wanda
Amorim (Org.). Sementeira de paz. Pelo Espírito
Neio Lúcio. Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora,
2010.
Idem: Colheita do bem. Pelo Espírito Neio Lúcio.
Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.
Idem: Militares no Além. Por Espíritos diversos.
Belo Horizonte: Vinha de Luz Editora, 2010.

Algumas notas explicativas, fotografias e legendas


que compõem este volume, foram compulsadas das
obras referenciadas.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


ANEXO B

Sobre o uso da prancheta



Conforme o leitor verificará ao longo deste livro,
algumas mensagens foram recebidas com o auxílio
da prancheta, por indicação do próprio Emmanuel,
que, na qualidade de orientador das tarefas
psicográficas que deram origem à extensa
bibliografia do médium Chico Xavier, solicitou a
inclusão da pontuação ao alfabeto existente,
aprimorando sobremaneira a recepção das
mensagens, proporcionando a integralidade de seu
entendimento. Nesse trabalho, revezavam-se com
Chico Rômulo e Maria — na maioria das vezes —
ora impondo as mãos, ora anotando.
A título de informação, e de conformidade com
o Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e
Espiritismo, de João Teixeira de Paula, a prancheta
é conceituada como segue:

“(…) Peça móvel em que há um indicador (ou


ponteiro). Que percorre mediunicamente o alfabeto
(em forma de quadrante), os algarismos de 0 a 9 e
as palavras SIM e NÃO ali colocados e por meio
dos quais se obtém comunicações espiríticas. Um
autor, que naturalmente muito lidou com a
prancheta, assim a descreve: “Por meio da
prancheta obtém-se extensas comunicações, sem
demasiada fadiga para o médium. A prancheta deve
ser, de preferência, de madeira lisa ou polida, com
as dimensões de cerca de dezoito por dezoito
centímetros. Num dos bordos haverá um cartão
resistente para designar as letras e os algarismos
inscritos no quadro. Esse quadro é constituído por
uma folha de papel resistente, com as dimensões de
quarenta e cinco por trinta, no qual se inscrevem,
em duas linhas, as letras do alfabeto
suficientemente distanciadas umas das outras. Uma
terceira linha é reservada para os algarismos de
zero a dez. Por baixo dessa terceira linha são
inscritas as palavras “sim” e “não”, à direita do
quadro. A prancheta só necessita de um médium e
de uma única mão — e é assim que se obtém os
melhores resultados, conquanto certos
experimentadores não consigam utilizá-la senão
com duas pessoas que pousem a mão perto uma da
outra. O quadro é colocado em cima de uma mesa:
o médium pousa a mão estendida na parte inferior
direita do alfabeto. É indiferente pôr uma ou outra
mão. É nessa atitude que se aguarda que a
prancheta se mova. (…) quando a prancheta está
prestes a mover-se, o médium sente, geralmente,
um formigamento no braço, no pulso ou nos dedos.
O aparelho, então, dirige-se para as letras
suscetíveis de formar palavras e, depois, frases. A
prancheta necessita de muito pouco fluido e o
médium não sente a menor fadiga. (…) O uso
assíduo da prancheta é um bom caminho para a
mediunidade de incorporação. (…) Prancheta, no
sentido espirítico, é galicismo, pois provém do
nome de seu inventor, Planchette, espírita francês
que, em 1853, teve a feliz ideia da invenção do
dispositivo mediúnico.”

Wanda Amorim Joviano


Organizadora

Nota da organizadora: PRANCHETA. In: PAULA, João


Teixeira de. Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica
e Espiritismo. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos
Tribunais, 1970. p. 71-73. Texto constante da obra Deus
conosco (VINHA DE LUZ, 3ª ed., 2010), às p. 49-50.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


ANEXO C

Sobre Júlia Pêgo Amorim


Entre as grandes provações que afligem a
humanidade, a prova da cegueira é uma das mais
dolorosas. O cego possui apenas o mundo interior
e um tato altamente desenvolvido, uma das
compensações dadas por Deus que é vedada aos
videntes. Os cegos sentem o aroma das flores e dos
frutos, a brisa do mar e o calor do sol, sentem as
diferentes sensações que a natureza oferece, porém
não podem contemplar a constelação estelar, nem
um raio de luar, o mundo das cores e das formas a
não ser pelo contato e pela sensibilidade
grandemente desenvolvidos.
O cego, porém, no seu mundo, é feliz, um ser humano
como outro qualquer. O que é necessário é que os
videntes transformem a piedade em ajuda prática,
encarando-os como criaturas capacitadas para
viver e ser feliz, tanto quanto o vidente.
No Brasil, quatro extraordinárias mulheres
dedicaram-se ao bem-estar dos cegos, de alma e
coração, realizando trabalho pioneiro pelo alfabeto
Braille, transcrevendo para esse sistema inúmeros
livros, alfabetizando cegos e videntes, qual
verdadeiras sacerdotisas do bem. Foram elas: D.
Engrácia Ferreira, D. Júlia Pêgo de Amorim, D.
Benedita Mello e D. Balbina de Moraes,
pioneiríssimas na transcrição do livro espírita em
Braille. É de D. Júlia Pêgo de Amorim que vamos
falar nesta despretensiosa minibiografia.
D. Júlia Pêgo de Amorim nasceu no Rio de Janeiro,
quando ainda capital do Império, no dia 15 de
setembro de 1879, sendo primogênita do Marechal
Antonio José Maria Pêgo Junior e de D. Júlia
Amália da Silva Pêgo. Em 1894, terminava o curso
primário, sendo matriculada na antiga Escola
Normal do Distrito Federal, onde diplomou-se em
professora primária no ano de 1898, quando foi
designada professora-adjunta para a Escola Basílio
da Gama. Posteriormente, ocupou o cargo de
diretora de Música da Escola Normal. Estagiou na
Escola Benjamin Constant e foi nomeada diretora
da Escola de São Cristóvão, então 6º Distrito
Escolar. Contraiu núpcias com o Dr. Aurélio de
Amorim no dia 28 de outubro de 1899. O seu
esposo era oficial do Exército, gozando grande
prestígio na política do Rio de Janeiro. Concorreu
às eleições e foi eleito deputado federal pelo seu
Estado natal, o Amazonas. Desse matrimônio,
nasceram seis filhos: Maria, Aurélia, Armando,
Aramis, Mário e Iacy. Visando o conforto e o bem-
estar da grande amada, Dr. Aurélio alugou o antigo
solar do Barão do Amparo, no Alto da Boa Vista.
Notando a ausência de escolas naquela localidade, D.
Júlia empenhou-se junto à Prefeitura Municipal
para que ali se fundasse uma. De acordo com o
jovem esposo, cedeu uma das salas do solar para
que funcionasse a primeira escola do Alto da Boa
Vista e da qual foi nomeada diretora.
Diante da afluência de alunos, a Prefeitura do Distrito
Federal fez construir, mais tarde, a Escola Primária
Menezes Vieira, ainda hoje existente no populoso
bairro. Em 1915, é nomeada diretora da Escola José
de Alencar, próxima do Largo do Machado,
dirigindo esse estabelecimento de ensino até 22 de
outubro de 1919, quando foi jubilada no cargo de
catedrática. Sempre pensando em ser útil, tornou-
se, mais tarde, o expoente máximo da dedicação
aos cegos.
No dia 21 de abril de 1937, desencarna, no Rio de
Janeiro, sua tia D. Engrácia Ferreira, veterana
cultora do Braille, que, em vida, manteve
permanente campanha para o bem-estar dos cegos.
D. Engrácia foi abnegada seareira espírita, pioneira
da transcrição do livro espírita para o Braille. Por
várias vezes, animou a sua sobrinha para essa
meritória tarefa. Menos de um mês da sua
desencarnação, no dia 6 de maio de 1937,
comunica-se por intermédio de Chico Xavier,
dando uma mensagem dirigida à D. Júlia Pêgo de
Amorim, na cidade de Pedro Leopoldo (MG). Onze
dias depois, Chico Xavier recebe a segunda
mensagem pelo sistema Braille, cuja mensagem foi
publicada no “Reformador” do mês de junho de
1938, às páginas 172-175. Em 16 de novembro de
1938, transmite a terceira mensagem dirigida à D.
Júlia, sugerindo que transpusesse para o Braille
determinado dicionário de Português e, nesse
mesmo ano, veio a quarta mensagem, dando provas
incontestes de sua identidade. D. Engrácia Ferreira
deixou várias obras transcritas para o Braille e uma
por terminar.
D. Júlia Pêgo de Amorim, pegando certo dia nas
páginas escritas dessa obra inacabada, imaginou
terminá-la e o seu desejo se materializou de tal
forma que aprendeu sozinha o alfabeto Braille,
copiando letra por letra. Certificando-se de que
estava certo, prosseguiu e tirou a prova, solicitando
a um cego que lesse o que estava escrito. Satisfeita
com o resultado, em pouco tempo estava senhora
do assunto, transformando-se numa verdadeira
missionária.
Em 1938, reuniu em sua casa pessoas interessadas
nessa obra de altruísmo e começou a praticar e a
ensinar o Braille. Em fevereiro de 1939, atendendo
ao apelo espiritual de sua tia, resolveu iniciar a
transcrição do Pequeno Dicionário da Língua
Portuguesa, primeira edição (1938), da Civilização
Brasileira S/A Editora, de autoria de Hildebrando
Lima e Gustavo Barroso, cuja transcrição levou
quatro anos de intermitentes trabalhos, dando, ao
todo, 64 volumes. Em setembro de 1943, Chico
Xavier recebe a quinta mensagem do Espírito de
Engrácia Ferreira, agradecendo à sobrinha o
atendimento de seu apelo e o valioso trabalho em
prol dos cegos. D. Júlia Pêgo de Amorim iniciou
um curso gratuito de Braille, no centro da cidade,
visando, com esse curso, maior número de
colaboradores para a grande tarefa. Fez um apelo
através do rádio e foi procurada pelo confrade
Manoel Jorge Gaio, fundador da Instituição
Marieta Gaio, que se ofereceu para auxiliar
financeiramente a obra. Com esse incentivo, pôde
dar início à transcrição do aludido dicionário,
recebendo, algum tempo depois, a colaboração das
senhoras Maria Pêgo Santos, Maria Amorim
Joviano e Zulmira Feital Cavalcante de Freitas.
Graças à inestimável colaboração dessas valorosas
senhoras, concluiu a obra em menor tempo. Em 14
de julho de 1943, ofertou o dicionário, pronto e
encadernado, ao Instituto Benjamin Constant.
Entre a grande bibliografia transcrita estão: O
Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
(3 volumes), doados à Federação Espírita
Brasileira, Pequenas mensagens, de Emmanuel (3
volumes), Voltei, de Irmão Jacob (3
volumes), Catecismo espírita (1 volume), Agenda
cristã, de André Luiz (1 volume), todos doados à
Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (Spleb).
Além de livros importantes como A moreninha, A
vida de Helen Keller, A ilha de John Bull, Música
ao longe, Contos policiais, Jornal e pensamentos
de cada dia (de Elisabeth Leseur), Manual de
análise léxica e sintática, Estatutos da Associação
dos Servidores Públicos e muitos outros, todos
doados às grandes instituições de cegos do Brasil.
Sua obra em Braille sobe a mais de 90 volumes.
D. Júlia Pêgo de Amorim, inteiramente integrada na
campanha do bem-estar dos cegos, tomou parte
ativa na fundação de várias instituições
especializadas nesse sentido, como a Sociedade
dos Amigos Cegos, Instituição das Cegas Helen
Keller e outras, inclusive fazendo parte de várias
diretorias, patrocinando inúmeras campanhas pró-
sedes próprias, promovidas por damas da melhor
sociedade do Rio de Janeiro, que ela
arregimentava. Recebeu inúmeras condecorações
pelos serviços prestados aos cegos.
No dia 11 de novembro de 1952, perdeu o seu
idolatrado esposo, amigo incondicional de todas as
horas, Dr. Aurélio de Amorim, então reformado no
posto de general do Exército. Foi convidada pelo
Marechal Mário Travassos para a Sociedade Pró-
Livro Espírita em Braille, da qual se fez verdadeiro
baluarte, sendo eleita para o seu conselho
deliberativo, exercendo vários cargos. Pronunciou
inúmeras conferências públicas, tanto na parte
espírita quanto na profana, inclusive na Associação
Brasileira do Instituto Benjamin Constant. No dia
18 de fevereiro de 1965, foi agraciada com o
diploma de Honra ao Mérito por proposta do
Conselho Nacional para o Bem-estar dos Cegos.
D. Júlia Pêgo de Amorim, mulher extraordinária,
exemplo de esposa, de mãe de família, de mestre e
de espírita jamais esmoreceu em sua caminhada
luminosa, criando um conceito novo na sociedade
de que o cego não precisa de esmola, necessita de
educação e preparação para que possa viver uma
vida digna e feliz como todos os seus irmãos em
humanidade. A sua desencarnação ocorreu no Rio
de Janeiro, aos 29 de novembro de 1974, aos 95
anos de idade, dos quais 37 anos dedicados à
Doutrina Espírita e ao Braille. Deixou exemplos
dignificantes do quanto vale estender o Evangelho
de Jesus, separando a letra que mata do espírito que
vivifica, ficando a fé raciocinada que só a Doutrina
Espírita nos faz compreender.

Antônio de Souza, Lucena

Nota da editora: Original sem dados tipográficos.

Texto extraído da 1ª edição desse livro.


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