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1 INTRODUÇÃO
O estudo da problemática proposta apresenta notória relevância para o meio social, uma
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Mestranda em Jurisdição e Processo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Endereço eletrônico: arnau.eduarda@gmail.com.
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vez que se propõe a analisar, de um lado, o estorvo dos fatos no âmbito tributário e, de outro,
uma solução que garanta aos contribuintes – especialmente enquanto executados no processo
tributário – a adequada defesa perante a autoridade fiscal. Por tal razão que se buscará
demonstrar que inexiste uma separação entre fato e norma e que, por tanto, o direito tributário
não versa apenas sobre questões jurídicas. Ignorar os fatos somente produz um processo injusto
e situações jurídicas precárias, tornado impossível apurar com um grau de probabilidade as
conjunturas que formam a dívida tributária.
E é justamente nesse sentido a relevância da presente pesquisa para o meio jurídico, pois,
embora exista uma grande estabilização na teoria geral da prova, em que pese ainda vivenciar
óbices, na área tributária trata-se com indiferença as problemáticas fáticas e, portanto, se
empobrece o estudo o que, consequentemente, piora as situações jurídicas. Desse modo,
levando em consideração que não há como ainda defender uma absoluta separação entre fato e
direito, as interpretações ao parágrafo único do artigo 204 do Código Tributário Nacional que
prevê uma necessária prova absoluta em desfavor do contribuinte precisa se adequar a um
modelo possível de raciocínio probatório.
Por fim, a relevância da pesquisa para o meio acadêmico refere-se ao fomento da
discussão acerca da análise entre fato e normal, da formação do raciocínio judicial e da ausência
de estudos sobre prova no âmbito tributário. O estudo possui como objetivo central analisar se
é possível aplicar as regras gerais de um raciocínio probatório, em primeiro lugar, à previsão
legislativa de uma presunção de certeza da certidão de dívida formada pela autoridade fiscal e,
em segundo lugar, a obrigatoriedade de uma prova inequívoca para a relativização dessa
presunção.
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ciências sociais aplicadas. Assim que se denominam as ciências jurídicas, isto é, o Direito.
Não somente teoria tampouco somente prática, o Direito visa buscar um equilíbrio entre o ser o
dever ser para uma simbiose entre o que ocorre no mundo fático com o que deveria ocorrer –
hipótese normativa. As normas jurídicas são comandos que pretendem induzir a um
comportamento determinado a partir daquilo que a sociedade requer.
O grande teórico Hans Kelsen aduziu que parte da essência do direito está ligado ao âmbito
da natureza e continua a abordagem demonstrando que é o direito que dá aos fatos o seu sentido
jurídico:
Quando se analisa qualquer conjunto de fatos abordados como direito, por
exemplo uma decisão parlamentar, um ato administrativo, uma sentença judicial,
um negócio jurídico ou um delito, pode-se distinguir dois elementos: o primeiro
é o ato perceptível sensorialmente que ocorre no tempo e no espaço, um evento
exterior, na maioria das vezes um comportamento humano; o outro é um sentido
inerente ou implícito nesse ato ou evento, um sentido específico. Em um salão
se encontram seres humanos que discursam, alguns deles se levantam de seus
lugares, outros permanecem sentados; esse é o evento exterior. Seu sentido é: foi
aprovada uma lei.3
Não há direito sem fatos e não há fato juridicamente relevante sem o direito. E essa
qualificação é a atividade de “(...) subsumir o fato individual a uma categoria prevista em uma
norma jurídica”4 e, portanto, os problemas de hermenêuticos se traduzirão em problemas de
“qualificação fática”5.
2
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 20.
3
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 1 ed. São Paulo: Forense Universitária, 2021, p. 13.
4
LAGIER, Daniel González. Tradução Luis Felipe Kircher. Quaestio Facti: ensaios sobre prova, causalidade e
ação. São Paulo: Juspodivm, 2022, p. 46.
5
Ibidem, p. 46.
6
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2018, p. 53.
3
herança do direito administrativo ao direito tributário principalmente na ideia da presunção de
legitimidade do ato administrativo. Em razão disso, o ônus da prova é, na maioria das vezes, em
desfavor do contribuinte.7
Por isso, há de se repensar o modelo pelo qual – e se existe – as provas no direito tributário
são valoradas. Nesse sentido, há um modelo de raciocínio em que se milita que todos os
argumentos partem de uma pretensão, baseados naquilo que se sustenta ou naquilo que se quer
fundamentar10, denominado como inferência probatória.
A estrutura da inferência probatória passa pelo respaldo, pela garantia, pela razão e, por
fim, ao objetivo da pretensão. A defesa por uma estrutura baseada em um tipo de raciocínio é para
que seja fornecida uma justifica epistemológica e segura para assegurar que a realidade fática
esteja correspondente ao conteúdo probatório, no sentido de grau de probabilidade11 e não certeza.
A veracidade do documento não pode ser baseada no fato de que foi produzido por uma
autoridade que possui poderes conferidos pela lei. Como defende Vitor de Paula Ramos:
7
MEDAUAR, Odete. As prerrogativas do ato administrativo. Revista de Direito da Procuradoria-Geral do Estado
do Rio de Janeiro. Edição Especial Administração Públcia, Risco e Segurança Jurídica, p. 304-310, 2014, p. 306.
8
DE PAULA RAMOS, Vitor. Prova Documental: do documento aos documentos – do suporte à informação. 3 ed.,
rev., e atual. São Paulo: Editora Juspodivm, 2023, p. 30.
9
Ibidem, p. 35.
10
LAGIER, Daniel González. Tradução Luis Felipe Kircher. Quaestio Facti: ensaios sobre prova, causalidade e ação.
São Paulo: Juspodivm, 2022, p. 64.
11
CARPES, Artur Thompsen. Verdade, verossimilhança e probabilidade: a construção do juízo sobre os fatos no
processo civil. Revista de Processo. vol. 290/2019, p. 73-94, Abr/2019, p. 2.
4
contextos etc., qualquer tentativa de valoração do conteúdo será nada mais do
que um exercício de adivinhação.12
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Disso se conclui, em primeiro lugar, que não há uma separação entre questões de fatos e
de direito, e, ainda, que para se alcançar a hermenêutica que melhor corresponda à norma, é
necessário se voltar aos fatos e, em segundo lugar, a deficiência probatória no direito tributário
requer a aplicação de um raciocínio suficiente para a comprovação das premissas que
fundamentam a relação jurídico-tributária, sem permanecer uma desvantagem entre o cidadão
contribuinte e a autoridade fiscal.
6 REFERÊNCIAS
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2018.
12DE PAULA RAMOS, Vitor. Prova Documental: do documento aos documentos – do suporte à informação. 3 ed.,
rev., e atual. São Paulo: Editora Juspodivm, 2023, p. 303.
5
ÁVILA, Humberto. Teoria da Igualdade Tributária. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica. 5 ed. São Paulo: Malheiros, 2019.
CARPES, Artur Thompsen. Verdade, verossimilhança e probabilidade: a construção do
juízo sobre os fatos no processo civil. Revista de Processo. vol. 290/2019, p. 73-94, Abr/2019.
BADARÓ, Gustavo Henrique. Epistemologia Judiciária e prova penal. São Paulo: Thomson
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DIDIER JÚNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito
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Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
FINCATO, Denise Pires; GILLET, Sérgio Augusto da Costa. A pesquisa jurídica sem
mistérios: do projeto de pesquisa à banca. 3. ed. Porto Alegre: Fi, 2018.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 1 ed. São Paulo: Forense Universitária, 2021.
LAGIER, Daniel González. Tradução Luis Felipe Kircher. Quaestio Facti: ensaios sobre
prova, causalidade e ação. São Paulo: Juspodivm, 2022
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