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DEMO, Pedro. “Os princípios da construção da ciência”. IN.: DEMO, Pedro. Introdução à
Metodologia da Ciência. 2ª Edição, SP, Atlas, 1985.
Demo aponta que essa forma de construção científica pode ser considerada ocidental,
seguindo a tradição grega, que estabeleceu as bases desse tipo de preocupação tanto no
aspecto lógico quanto no social. No entanto, ele ressalta que não sabe dizer se existem outras
formas de construir ciência, além dessa ocidental. Ele sugere que talvez seja possível construir
ciência de outras maneiras, embora não conheçamos esses outros modos.
Pode-se acrescentar ao pensamento de Demo que a tradição grega é derivada de um
compilado de conhecimentos provenientes de diversas origens. Esses conhecimentos foram
bem documentados e sistematizados pelos pensadores da época. Apesar da influência social
da cultura grega, o conhecimento pode ser atribuído a diversas culturas. Por exemplo, os
números indo-arábicos possuem múltiplas origens e já incluíam o zero, permitindo um
desenvolvimento mais avançado da matemática muito antes de serem aceitos pelos europeus.
Penso que a ciência se enriquece com o choque das culturas e que a chamada "ciência
ocidental" é a melhor sistematização dessa diversidade que temos até agora.
Para Demo, a história não ocorre de forma subjetiva, mas sim dentro de regularidades
e padrões. O autor ressalta que nas ciências sociais é difícil sustentar explicações baseadas em
uma única causa. Além disso, ele alega que a crença na regularidade da realidade não implica
necessariamente em determinismo absoluto. Embora possa parecer caótico à primeira vista,
pois sofremos influência de fatores inconscientes que moldam nosso comportamento, quando
ouvimos relatos históricos em qualquer idioma, na realidade, são narrativas produzidas dentro
de uma estrutura gramatical, de forma ordenada e repetitiva.
A ciência ocidental tem como foco aquilo que é regular na realidade. Ela utiliza a
abstração generalizante, que consiste em deixar de lado as particularidades e concentrar-se no
que é comum a todos, a fim de formar conceitos gerais. Demo ressalta que, “Na realidade
concreta, não encontramos o conceito, mas uma versão histórica factual e particular dele.”
(Demo, 1985, p.55) Essa capacidade de generalizar baseia-se na crença de que a realidade
possui uma ordem interna, tornando-a substancialmente um fenômeno repetitivo.
Em geral, na primeira parte do capítulo, Demo discute a aceitação nas ciências sociais
de que a história ocorre dentro de regularidades, que o comportamento humano é tratável
cientificamente e que a ciência ocidental trabalha por abstração generalizante,
concentrando-se no que é comum e regular na realidade. Além disso, enfatiza-se a
importância da relação causa e efeito na explicação dos fenômenos. Acredita-se que um efeito
pode ser explicado ao encontrar sua causa. Esse esquema causa-efeito está especialmente
arraigado na realidade natural, onde a ideia de movimento está associada à ideia de
movimento ordenado.
Na parte 3.3 do texto “Condicionamentos Sociais", Demo começa destacando que o
conceito de lei ou causa/efeito, no sentido estrito, não se encaixa nas ciências sociais. Até
mesmo em ciências naturais, há autores que não aceitam a ideia de determinismo, pois veem a
ciência como uma proposta hipotética, não determinada. No entanto, o autor reconhece que a
ciência ocidental tende a ser determinista ao buscar regularidades da realidade.
Os fenômenos sociais apresentam uma face relativamente uniforme, o que permite seu
estudo científico. A vontade livre do ser humano não é negada, mas, “é possível manipular, de
forma objetivada, o fenômeno da inflação, da relação entre capital e trabalho, da neurose, do
amadurecimento mental, da migração rural-urbana, e assim por diante.” (Demo, 1985, p.58)
No entanto, mesmo com a possibilidade de manipulação, a complexidade específica dos
fenômenos sociais, tornam o seu tratamento mais difícil.
Por fim, Demo alerta que as ciências sociais podem correr o risco de se tornarem
meramente acadêmicas, afastadas da realidade e produzindo pesquisas que não possuem
vínculo com o mundo ao seu redor. É necessário evitar a autodefesa medíocre e promover um
ambiente de discussão crítica e autocrítica, que estimule a criatividade e a produção de
conhecimento relevante.