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MÓDULO 2 | Legislação e Negócios
TRILHA 3.
Financiamento:
as diferentes
fontes de
financiamento
e regras
de direitos
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Pastore, Gabriela Pires; Lara, Marcos de Almeida.
3
Currículos (autores e revisão)
Myriam Assis
Vera Zaverucha
Debora Ivanov
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Créditos e agradecimentos
Para a realização desta obra, contamos com o apoio de uma equipe multidisciplinar, que,
com a sua expertise, contribuíram para o sucesso do projeto.
Autoras
Myriam Assis
Vera Zaverucha
Debora Ivanov
Coordenadora Técnica
Debora Ivanov
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Prefácio APRO
Frente às mudanças que a indústria criativa, em especial a indústria audiovisual, vem enfrentando,
seja pelas diversas inovações tecnológicas ou pela forma de se consumir conteúdos, a Associação
Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO) tem aprimorado a sua missão de fomentar
a capacitação do mercado audiovisual, por meio de seu projeto de Capacitação – Objetiva
Empreendedorismo em Foco, em parceria com o SEBRAE Nacional.
Com a pandemia, o Projeto Objetiva aderiu à metodologia de ensino digital, visando suprir uma
das importantes lacunas do mercado audiovisual: a capacitação. O intuito é qualificar e atualizar os
profissionais produtores de conteúdos para as diversas plataformas de distribuição, promovendo
a revisão e o aprimoramento dos processos e dos modelos de negócios para o enfrentamento da
concorrência, em um mercado cada vez mais exigente.
Esta edição do projeto conta com seis módulos estruturantes: Gestão e Empreendedorismo,
Distribuição e Comercialização, Legislação, Inovação e Tendências, Branded e Content e
Internacionalização.
O módulo que você vai estudar agora é o de Legislação e Negócios, que trará todo o arcabouço
legal, tributário, societário, trabalhista, além de 32 modelos referenciais de contratos, bem como as
noções e os embasamentos para fomentos públicos e privados, os novos modelos de captação de
recursos, entre outros importantes aspectos legais e de negócios.
Não temos a pretensão de abarcar todas as nuances de todos os temas, mas sim de consolidar os
princípios básicos e fundamentais para uma atuação ética e assertiva do produtor, pois é notória a
falta de material referencial nessa área. A intenção da APRO com o Projeto Objetiva é proporcionar
um conteúdo consistente, por meio de ferramentas didáticas e de material digital de apoio, para
subsidiar o executivo do mercado audiovisual.
Bons estudos!
Marianna Souza
Presidente Executiva – APRO
Odete Cruz
Gerente Executiva – Projeto Objetiva
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Prefácio SEBRAE
Fomentar a qualificação, o empreendedorismo e a competividade dos pequenos negócios é a
missão e o DNA do SEBRAE.
Por meio da parceria com a Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO),
destacamos, entre várias iniciativas do SEBRAE para o impulsionamento da economia criativa, o
projeto de capacitação para o mercado audiovisual – Objetiva Empreendedorismo em Foco.
Destacamos que uma das vantagens do curso é a acessibilidade via ensino digital, ou seja, o curso
é totalmente on-line e gratuito. O curso é formatado em módulos e modernas ferramentas de ensino
a distância, propiciando ao produtor audiovisual a facilidade de aprender de forma prática e eficaz.
Bruno Quick
Diretor Técnico do Sebrae
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Sumário
1.1 Introdução 12
3.1 Panorama 32
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4 Financiamento e gestão de direitos 48
4.6 Recomendações 57
7 Compliance 85
7.7 Recomendações 93
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Apresentação
Nossas boas-vindas
ao Projeto Objetiva
Empreendedorismo
em Foco.
Abertura do Módulo
Legislação e Negócios.
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CAPÍTULO 1
1.
Principais
marcos legais
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1. Principais marcos legais
Autora: Debora Ivanov
Coordenação Técnica: Gabriela Pastore
Objetivos
Neste capítulo, vamos conhecer os principais marcos legais que impulsionaram a produção
audiovisual nacional de conteúdos para cinema e TV. Cada uma dessas conquistas legislativas
trouxe novas possibilidades de financiamento e de inserção da produção brasileira no mercado
doméstico e internacional.
Conhecer essa trajetória permitirá usufruir melhor as oportunidades que as políticas públicas
trazem para quem deseja ampliar sua inserção na indústria. Vamos lá?
1.1 Introdução
A produção audiovisual nacional sofreu uma grave ruptura na década de 1990. Foram necessários
muitos anos para retomar o fôlego de suas atividades e, quase três décadas depois, pode-se afirmar
que atingiu um patamar de quantidade, qualidade e diversidade, capaz de competir nos mais
importantes festivais e mercados do mundo e consolidar seu público no Brasil.
Essas conquistas foram possíveis a partir de quatro importantes marcos legais, construídos com
grande empenho da sociedade civil, do Congresso Naional e de diferentes governos.
A produção audiovisual nacional recente, dos anos 1990 à atualidade, tem quatro grandes marcos
legais que merecem atenção especial.
Em 2001, um novo marco foi a aprovação da Medida Provisória que criou a Agência
Nacional de Cinema (ANCINE), a MP n. 2.228-1.
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Cinco anos depois, em 2006, a aprovação da Lei n. 11.437 constituiu o Fundo Setorial
do Audiovisual (FSA).
Outros cinco anos mais tarde foi aprovada a Lei n. 12.485 ou Lei do Serviços de Acesso
Condicionado (SeAC), em 2011, que estabeleceu cotas de conteúdo nacional nos
canais de TV por assinatura e aumentou significativamente os recursos do FSA.
Para o futuro, o desafio é o avançar num cenário de grandes transformações tecnológicas, que
trouxeram novas formas de distribuição de conteúdos e mudanças nos hábitos de consumo, e que
exige novos marcos legais para impulsionar o desenvolvimento da indústria nacional.
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1.2 Retomada do cinema nacional com a Lei do
Audiovisual (Lei n. 8.685/1993)
Criada em 1969, durante o Regime Militar, a Embrafilme foi uma empresa estatal vinculada ao
Ministério da Educação e Cultura, responsável pelas políticas de desenvolvimento da nossa produção
cinematográfica., que marcou nos anos seguintes um período de grande sucesso para os filmes
brasileiros e também um expressivo aumento de salas de cinema pelo país. Uma grande referência
histórica desse sucesso foi Dona Flor e seus dois maridos, dirigido por Bruno Barreto – um filme que
alcançou uma das maiores bilheterias do cinema nacional, com 11 milhões de espectadores em 1976.
Art. 1º
O art. 1º permitiu a destinação de parte do Imposto de Renda (IR) de empresas de lucro real ou
de pessoas físicas para a produção de obras audiovisuais independentes, em um modelo em
que o investidor se torna sócio do projeto, adquirindo cotas de ações registradas na Comissão
de Valores Mobiliários (CVM), participando, assim, das receitas da obra
Art. 3º
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Esses dois incentivos fiscais, aliados à editais
de fomento da Secretaria do Audiovisual,
permitiram a retomada do cinema nacional,
que, aos poucos, foi reconquistando seu
espaço no mercado. Um importante marco
desse período foi o filme Carlota Joaquina,
produzido e dirigido por Carla Camurati – filme
que conquistou um milhão de espectadores em
1995; e o filme de Fabio Barreto O Quatrilho,
nominado para o Oscar em 1996.
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A MP atualizou a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional
(CONDECINE-Título), uma contribuição paga por cada obra exibida comercialmente nas salas de
cinemas, nas TVs e em outros mercados, incluindo obras publicitárias, obras de ficção, documentários
e animações entre outros formatos.
A CONDECINE-Título inicialmente era uma das fontes de receitas que compunham o orçamento da
ANCINE. Em 2006, com a criação do FSA, essas receitas passam a compor o fundo e a ser destinadas
diretamente ao fomento da indústria do audiovisual, em ações estratégicas definidas pelo CSC.
Novos incentivos fiscais também foram criados pela MP nº 2.228/2001. Veja a seguir.
Em seu art. 39, inciso X, ela trouxe para aos canais de TV por assinatura que remetem lucros
ao exterior a possibilidade de se beneficiarem de redução tributária ao optarem por investir
na produção de obras nacionais independentes.
Art. 41
16
Fique ligado
Para a gestão do fundo, ficou estabelecido que suas diretrizes de
investimentos são definidas por um Comitê Gestor, formado por
representantes do governo federal e membros da sociedade civil
indicados pelo Conselho Superior de Cinema.
Artigo 1ºA
O art. 1ºA permitiu a destinação de parte do IR de empresas de lucro real ou de pessoas físicas
para a produção de obras nacionais independentes. A diferença dele para o art. 1º da Lei do
Audiovisual é que o investidor não se torna sócio do projeto, e sim um patrocinador, sem
participação nas receitas da obra.
Art. 3ºA
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• garantiu a presença da produção brasileira na programação da TV por assinatura por meio de
cotas em horário nobre;
As cotas foram fixadas em 3,5 horas por semana em horário nobre, equivalente a 2,8% da grade
de programação, sendo metade obrigatoriamente dedicada à produção brasileira independente.
Em pouco tempo, as TVs puderam constatar o potencial do conteúdo nacional junto ao público
consumidor e, atualmente, a exibição de obras nacionais supera em muito a cota, conforme expõe
a tabela a seguir.
3º Trimestre de 2020
Os percentuais representam a participação das obras brasileiras de espaço qualificado nas grades diárias de
programação, nas 24 horas do dia e, mais especificamente, no horário nobre, durante o período em análise.
Canais brasileiros de espaço qualificado infantis não fazem parte da amostra.
O FSA passou a contar com uma nova contribuição, agora por meio das empresas de
telecomunicações – a CONDECINE-Teles. Além disso, a lei fixou que 30% devem ser destinados
para produções do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país e, o Comitê Gestor do Fundo Setorial
do Audiovisual (CGFSA) fixou que outros 10% devem ser destinados para produções do Sul e dos
estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Essa nova contribuição permitiu o financiamento de obras para o cumprimento das cotas na TV
por assinatura, impulsionando a produção nacional independente. Esse incremento do FSA também
ampliou o fomento para a produção de filmes para as salas de cinema, para o apoio à Cinemateca
Brasileira, entre outras atividades essenciais para o setor.
Há novos marcos legais sendo discutidos? Vamos verificar a resposta a essa questão no tópico a
seguir.
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1.6 Novos marcos legais em debate
Já no momento da aprovação da Lei n. 12.485 em 2011, a convergência de mídias já avançava
em todo o mundo e novos meios de distribuição de conteúdos se consolidavam. Plataformas de
streaming começavam a chegar no Brasil e, hoje, o país figura entre os cinco maiores mercados de
consumo do mundo nessa modalidade de Vídeo on Demand (VoD), que permite acessar conteúdos
a qualquer momento por meio de diferentes meios – TV, computadores, tablets ou celulares.
Nesse sentido, o Brasil debate no Congresso Nacional a necessidade de uma legislação que garanta
uma concorrência saudável para empresas nacionais e que garanta a presença de conteúdo brasileiro
nas plataformas, por meio de uma arrecadação para impulsionar o desenvolvimento da indústria local.
Memoryboard
Neste capítulo, vimos o processo de retomada da indústria audiovisual a partir dos anos 1990 e os
principais marcos legais que incentivaram e fomentaram o setor nos últimos 30 anos por meio
de incentivos fiscais variados. Vimos, ainda, como ocorreram a criação de um fundo setorial, o
estabelecimento de cotas de conteúdo nacional nos canais de TV por assinatura e a criação de uma
agência dedicada ao desenvolvimento da indústria audiovisual nacional. No novo horizonte, as
plataformas de streaming são, atualmente, o grande foco de debates de novos marcos legais.
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CAPÍTULO 2
2.
Ocupação
do mercado
e contribuição
para a economia
do país
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2. Ocupação do mercado e contribuição
para a economia do país
Autora: Debora Ivanov
Objetivo
Neste capítulo, vamos conhecer qual é a contribuição da indústria do audiovisual para
a economia brasileira. Além disso, vamos analisar o impacto das políticas públicas no
desenvolvimento da produção nacional para o cinema e para a TV ao longo de quase três
décadas.
Da profunda ruptura promovida pelo governo Collor de Melo em 1990 até o ano de 2019,
percorreu-se um longo caminho até o ápice conquistado pela da produção nacional, numa
trajetória de crescimento continuado e que, agora, abre novas fronteiras de desenvolvimento
com o aumento do mercado streaming no Brasil.
É importante acompanhar essa evolução para todos aqueles que pretendem ampliar seus
negócios nesse setor, que é um dos que mais cresce em todo o mundo. Vamos começar.
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Em 2018, o setor audiovisual foi responsável pela geração de R$ 26,7 bilhões para o Produto
Interno Bruto (PIB) nacional, apresentando um crescimento de 306% no período de 2007 a 2018. O
gráfico a seguir mostra esse crescimento.
Comparado com outros setores da economia, o audiovisual gera mais impacto econômico que a
indústria de produtos farmacêuticos ou da indústria têxtil, conforme comparativo do gráfico a seguir.
22
Saiba mais
Para conhecer mais outros dados interessantes do setor acesse
este estudo publicado pela ANCINE.
Vamos, agora, verificar como o setor audiovisual tem gerado emprego e renda.
23
Além disso, o setor impacta a geração de empregos em outras áreas, os quais, somados aos
empregos diretos, totalizaram 188.045 empregos formais no ano de 2015.
É importante destacar que, para além dos empregos formais, o setor gera outros milhares de
postos de trabalho, especialmente nas produções de filmes, séries e publicidade cujos contratos de
trabalho são temporários. Esse número é ainda maior se incluir as plataformas de streaming, que
não foram contabilizadas nesse estudo.
Vamos, inicialmente, nos focar nos filmes criados para as salas de cinema.
Para iniciar essa análise, vale apresentar o gráfico que mostra o impacto das políticas públicas
no setor a partir do lançamento de filmes de longa-metragem no circuito comercial. Acompanhe a
seguir.
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Impacto das políticas públicas no setor audiovisual – filmes de longa-metragem lançados em salas de cinema
Fonte: Adaptado de ANCINE/OCA (2020) .
A retomada da produção contou com a aprovação da Lei do Audiovisual em 1993 e, aos poucos,
novos marcos legais fortaleceram a atividade. A formação da ANCINE, em 2001, a criação do FSA,
em 2006, e a Lei do SeAC, em 2011, culminaram no lançamento de 167 filmes em circuito comercial
no ano de 2019.
Insights
Alguns desses filmes atingem o grande público e conquistam
grandes bilheterias; outros exploram nichos de mercado; e outros,
ainda, lançam novos talentos. Os demais contribuem para o
amadurecimento da linguagem cinematográfica de cada país.
O Estado brasileiro sempre entendeu a importância da presença dos filmes nacionais nas salas de
cinema. Ainda em 1930, por meio do Decreto n. 21.240, em seu art. 12, instituiu-se a obrigatoriedade
de exibição de filmes educativos, um para cada filme exibido nas salas de cinema. A obrigatoriedade
de filmes brasileiros em salas de exibição foi incorporada pela Medida Provisória 2.228-1, e a cada
ano o Presidente da República estabelece por decreto o número de dias obrigatórios para que cada
sala cumpra com a exibição mínima de filmes brasileiros.
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Apesar desse incentivo, a tabela a seguir traz um comparativo do setor brasileiro com o estrangeiro.
Neste mesmo ano de 2019, os Estados Unidos lançaram mais de 800 filmes; e a Argentina, mais
de 200. Esse comparativo é válido porque contar com um volume de filmes lançados no mercado é
fundamental para garantir a sustentabilidade da atividade.
Além disso, o destaque que a produção cinematográfica nacional vem tendo nos festivais
internacionais é um indicativo da força do setor, ampliando as possibilidades de negócios para o país.
Observado o crescimento de filmes nas salas de cinema, vamos analisar agora o crescimento do
conteúdo nacional na TV por assinatura.
E, a partir de 2012, após a aprovação da Lei 12.485, em 2011, o crescimento da produção nacional
para a TV deu um salto histórico. O gráfico a seguir ilustra esse crescimento expressivo.
Impacto das políticas públicas no setor audiovisual – volume de obras brasileiras registradas
Fonte: Adaptado de ANCINE (2019).
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A lei estabeleceu a obrigatoriedade de 3,5 horas de conteúdo nacional em horário nobre,
o que equivale a 2,8% das grades de programação dos canais por assinatura, sendo a metade,
necessariamente, de conteúdo independente. Em pouco anos, a produção nacional saltou de em
torno de apenas 1% para 17,7% das grades de programação desses canais, muito além das cotas,
demonstrando a qualidade da produção nacional como um bom negócio na disputa pelo público
consumidor.
Impacto das políticas públicas no setor audiovisual – conteúdo exibido na tv por assinatura em 2018
Fonte: Observatório do Cinema e do Audiovisual – OCA / Ancine.
Comparando esse percentual com outros países, a União Europeia estabeleceu cotas de 50% para
conteúdos europeus na programação da TV, sendo que, dentro dessa cota, cada país estabelece o
percentual local. Na França, por exemplo, a cota é de 30% para a produção francesa e outros 20%
para a produção europeia.
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Até 2019, totalizavam-se 9.125 produtoras brasileiras cadastradas, sendo 26% delas dedicadas à
produção de conteúdo para cinema e TV. O gráfico a seguir demonstra esse crescimento.
Impacto das políticas públicas no setor audiovisual produtoras brasileiras – por ano de constituição
Fonte:
Vale destacar que a produção audiovisual nacional sempre foi muito concentrada em São Paulo e
no Rio de Janeiro, porém novas políticas públicas têm estimulado a produção em diversos cantos do
país.
Saiba mais
Para diminuir estas assimetrias, a Lei n. 11.437/2006 estabeleceu
que 30% dos recursos do FSA deveriam ser destinados a
produções do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.
Nesse sentido, o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual (CGFSA) estabeleceu que outros
10% serão destinados aos estados da Região Sul e aos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo.
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Impacto das políticas públicas no setor audiovisual produtoras brasileiras por estado
Fonte:
Os benefícios dessas políticas públicas também podem ser percebidos pela diversidade de
obras produzidas/dirigidas fora do eixo Rio-SP nos últimos anos. Elas têm conquistado o público.
Como exemplo, podemos citar A Vida Invisível e Pacarrete, filmes cearenses, e Bacurau, filme
pernambucano.
Fique ligado
Essa aproximação induziu também um grande volume de investimentos
privados, o que criou uma forte aliança entre os canais e os produtores
de diferentes perfis.
29
2.7 Inserção no mercado de streaming
Toda essa construção legislativa, com incentivos fiscais e fundos de investimentos, aliada a cotas
de conteúdo nos canais de TV por assinatura, fortaleceu a produção nacional independente.
Memoryboard
O setor audiovisual cresce a cada ano no Brasil, somando R$ 26,7 bilhões à economia brasileira
em 2018. Uma série de conquistas legislativas impulsionaram a retomada da produção nacional
para as salas de cinema e para a TV, elevando não só o volume, mas a qualidade e a diversidade
das obras, reconhecidos nos festivais e mercados internacionais. O novo desafio agora são as
plataformas de streaming, que ampliam as oportunidades de produção e circulação de obras
brasileiras.
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CAPÍTULO 3
3.
As diferentes
fontes de
financiamento
para a produção
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3. As diferentes fontes de financiamento
para a produção
Autora: Debora Ivanov
Objetivo
Neste capítulo, vamos conhecer as múltiplas possibilidades de composição do financiamento
de uma obra audiovisual, para identificar os diferentes perfis e as diferentes fontes de
financiamento, o que possibilita a exploração de diferentes modelos de negócios. Vamos lá?
3.1 Panorama
São inúmeras as possibilidades de financiamento de uma obra para as salas de cinema, para a TV
ou para plataformas de streaming que têm sido exploradas por produtores no mercado. Entre essas
possibilidades, mapeamos 24 delas e organizamos em quatro grandes núcleos – fomento público
federal, fomento público regional, recursos privados e recursos do mercado internacional.
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Um projeto pode ser 100% financiado por um único investidor ou contar com um conjunto de
investidores de diferentes perfis. Há projetos, por exemplo, que contam com mais de dez investidores
distintos.
Com base nesses grandes núcleos, podemos visualizar o conjunto de possibilidades – apontado
na figura a seguir.
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3.2 Fomento público federal
As políticas públicas para o desenvolvimento da indústria audiovisual brasileira, nas últimas três
décadas, impulsionaram a produção nacional para o cinema e para a TV. Nesse sentido, é importante
destacar que ainda não há uma política de financiamento de obras para as plataformas de streaming,
por se tratar de um ambiente ainda sem regulação.
O acesso aos recursos das políticas públicas só pode ser realizado por produtoras brasileiras
independentes, isto é, que não tenham vínculo com canais de TV, que detenham o mínimo de 70%
da sociedade em mãos de brasileiros natos ou naturalizados há 10 anos e que detenham a maioria
do poder diretivo e da propriedade patrimonial das obras a serem realizadas.
Fomento direto
Fomento indireto
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3.2.1 Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)
O FSA promove chamadas públicas para investimentos na produção de filmes e séries ou para
linhas de crédito, em condições mais favoráveis que o mercado financeiro privado. Os editais de
investimento são realizados diretamente pela ANCINE e também por meio de arranjos regionais, isto
é, em parceria com estados e municípios. O fundo terá direito a um percentual das receitas futuras
das obras realizadas com seus investimentos.
Vamos, inicialmente, analisar as especificações dos incentivos fiscais para empresas do setor.
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3.3.1 Incentivos fiscais para empresas do setor
Um conjunto de três incentivos fiscais são dedicados a empresas distribuidoras, TVs abertas e
TVs por assinatura. São incentivos fiscais sobre as remessas de lucros ao exterior, que podem ser
investidos em obras para o cinema e a TV.
O art. 3º da Lei n. 8.685/1993 permite que distribuidoras invistam até R$ 3 milhões por projeto,
tornando-se coprodutoras da obra, com direito a participar de suas receitas futuras. Como exemplo
desse tipo de operação, citamos investimentos realizados por Warner, Universal, Fox, Sony, entre
outras, conforme tabela a seguir.
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Já o art. 3º-A da Lei n. 8.685/1993 permite também que as TVs abertas invistam até R$ 3 milhões
por projeto, tornando-se coprodutoras da obra, com direito a participar de suas receitas futuras,
além de contar com exclusividade de exibição da obra por cinco anos. A tabela a seguir traz alguns dados.
Por fim, o art. 39, inciso X da MP n. 2.228-1/2001 permite que as TVs fechadas invistam sem
limite de valores por projeto, tornando-se coprodutoras da obra, com direito a participar de suas
receitas futuras, além de exclusividade de exibição por cinco anos. Veja os recursos captados na tabela
a seguir.
37
Recursos captados por TVs fechadas
FONTE: Observatório do Cinema e do Audiovisual – Ancine
Esses três mecanismos de incentivos fiscais para empresas do setor somaram quase R$ 500
milhões entre 2018 e 2019 – um volume muito expressivo de recursos aportados na produção
nacional. Veja os valores por cada mecanismo na tabela a seguir.
Recursos captados por incentivo fiscal (empresas do setor) entre 2018 e 2019
Fonte: Observatório do Cinema e do Audiovisual – Ancine
38
Compreendidas as particularidades dos incentivos fiscais para empresas do setor, vamos como
isso ocorre em casos de empresas e pessoas físicas.
Fique ligado
Vale destacar que somente empresas de lucro real podem se beneficiar
desse mecanismo.
Permite investir até R$ 4 milhões por meio da aquisição de cotas de participação na obra,
disponibilizadas através da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dando ao investidor o
direito a um percentual nas receitas futuras.
Permite investir até R$ 4 milhões a título de “patrocinador”, sem direito a participar de receitas
futuras. A contrapartida é a exposição de marca da empresa.
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FUNCINES
Recursos captados por incentivo fiscal (empresas e pessoas físicas) entre 2018 e 2019
FONTE: Observatório do Cinema e do Audiovisual – Ancine
Alguns estados contam com incentivos fiscais para o direcionamento de parte do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Esse mecanismo tem sido importante para
complementar inúmeros orçamentos de produção. Os estados que oferecem esses benefícios fiscais são:
40
• Alagoas;
• Amapá;
• Bahia;
• Ceará;
• Distrito Federal;
• Goiás;
• Maranhão;
• Minas Gerais;
• Pará;
• Pernambuco;
• Piauí;
• Rio de Janeiro;
• Rio Grande do Norte
• Paraná;
• Rio Grande do Sul;
• Santa Catarina;
• São Paulo.
Além disso, alguns municípios brasileiros têm incentivos fiscais do Imposto Predial Territorial
Urbano (IPTU) e sobre o Imposto sobre Serviços (ISS), para a realização de obras audiovisuais.
Esses impostos também servem de complemento às produções. Os municípios que oferecem esses
benefícios fiscais são:
o São Paulo/SP;
o Fortaleza/CE;
o Rio de Janeiro/RJ;
o Manaus/AM;
o Belo Horizonte/MG;
o Belém/PA;
o Salvador/BA;
o Curitiba/PR;
41
o Recife/PE;
o Florianópolis/SC.
Film Commission
Diversas cidades oferecem através de suas Film Comissions, além do apoio logístico, um tax
rebate - uma taxa de retorno aos produtores de gastos realizados na região. São valores muito
significativos. Como exemplo, citamos a cidade de Albuquerque, onde a série Breaking Bad foi
filmada e 25% do seu orçamento foi financiado por esse mecanismo.
Por fim, um incremento no financiamento é contar com o apoio logístico de uma Film Commission
para autorizações de filmagens, fechamento de ruas, policiamento, bombeiros, entre outros serviços.
Esse apoio representa um valor significativo a depender da complexidade da produção. São Paulo é
uma das cidades que se destacam com os serviços de sua Film Commission, e o número de cidades
que se organizam para receber as produções tem crescido
Compreendido como funciona o fomento público, vamos analisar agora o fomento privado.
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O número de produções financiadas por TVs ou
plataformas de streaming no país tem crescido,
porque esse mercado está bastante aquecido
e é uma oportunidade ímpar de contar com o
orçamento 100% financiado, além da grande
visibilidade que pode ser alcançada com esse tipo
de financiamento. O modelo é similar à prestação
de serviços, mediante a qual o produtor não
participa do resultado comercial da obra.
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Vendas antecipadas (pré-vendas) para TVs e
plataformas de streaming estão crescendo no
mercado. Um filme pode negociar o licenciamento
para a exibição antes do seu lançamento no circuito
comercial. Essa pré-venda pode colaborar muito
para completar custos de produção.
44
É também comum, no mercado, haver negociação
E como funciona o financiamento no mercado internacional?
os talentos. Autores,Vejamos a seguir.
diretores e atores podem
negociar parte de sua remuneração por meio de
participação em receitas futuras.
Fique ligado
O projeto Paradiso, em parceria com o Cinema do Brasil
e o Brazilian Content, tem mapeado esses fundos, que podem
ser conferidos neste link.
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Vejamos as características de cada um.
Fundos
Diferentes países contam com fundos para apoiar a realização de obras de outras nacionalidades.
Esses fundos, além do aporte financeiro, agregam valor ao projeto selecionado.
Coproduções
O número de coproduções internacionais com o Brasil tem crescido, atraindo novas fontes
de financiamento e garantindo circulação da obra em novos territórios. Acordos entre países
facilitam as negociações para a composição dos orçamentos. Com países em que o Brasil possui
acordo, uma das partes, se entrar com 20% do financiamento, e em ambos os países, terá o
projeto considerado nacional, beneficiando-se de políticas de financiamento locais. Quando
não há esse acordo, são necessários 40% do financiamento para contar com esses benefícios.
Os países com que o Brasil tem acordos bilaterais ou multilaterais assinados são: Alemanha,
Israel, Argentina, Itália, Bolívia, México, Canadá, Nicarágua, Chile, Panamá, Colômbia, Peru,
Cuba, Portugal, Equador, Reino Unido Espanha, República Dominicana, França, Venezuela e Índia.
Pré-vendas
A pré-venda no mercado internacional é muitas vezes negociadas com um sales agent, que
adianta os recursos ao produtor para depois recuperar com as vendas realizadas em diversos
territórios.
Memoryboard
Neste capítulo, vimos que cabe aos produtores explorar as mais diversas possibilidades para
compor o financiamento de uma obra. Mapeamos aqui algumas fontes de financiamento
usuais no mercado, passando por modelos tradicionais e por novos modelos de negócios, que
podem garantir a integralidade ou parte do orçamento.
46
CAPÍTULO 4
4.
Financiamento
e gestão de
direitos
47
4 Financiamento e gestão de direitos
Autora: Vera Zaverucha
Esse conceito é necessário porque precisamos distinguir as obras que pertencem aos grandes e
pequenos grupos de mídia (Tvs abertas e fechadas) daquelas que são produzidas pelas produtoras
independentes e cujos direitos só elas podem negociar.
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Não pode ter associação ou vínculo com empresas de radiodifusão (TV Globo, Record
etc.) ou de telecomunicação (Vivo, Tim etc.) ou de distribuidoras de sinais para a casa
dos assinantes – as chamadas distribuidoras (NET, CLARO etc.).
Não pode ter, entre a empresa e qualquer grupo mencionado, contrato de exclusividade
de fornecimento de seus conteúdos e qualquer interferência de terceiros sobre a
comercialização e a produção dos conteúdos produzidos.
FSA
A cada 1% investido do valor total do projeto, O FSA fica com 0,5% da receita líquida do produtor.
Depois dos percentuais com o FSA serem negociados, eles nunca serão diminuídos, mesmo
que o seu investimento final tenha sido menor e não mais corresponder aos percentuais
estabelecidos em contrato. A exceção ocorre quando a obra for mais barata do que o valor
previsto, quando poderá ser exigida a mudança do percentual.
49
Art. 3º da Lei n. 8.685/1993
Determina que um percentual sobre a RLP seja destinado aos investidores que compram os
certificados de investimentos. São as empresas produtoras que determinam os percentuais das
receitas que serão comprometidas com esses investimentos, assim como os mercados negociados.
Não compromete receitas, já que é um incentivo que se caracteriza como patrocínio. Cabe
lembrar que isso significa negociação nos créditos que podem variar dependendo do número
de cotas de patrocínio comprometidas.
50
FUNCINES
Podem investir por meio de operações sujeitas à recuperação prioritária da receita líquida do
produtor. Os FUNCINES não podem comprometer mais de 50% da receita liquida do produtor,
no entanto, dentro desse limite, ele pode recuperar até uma vez e meia (150%) o valor de seu
investimento.
No caso mostrado nesse quadro, se o FSA só participar dos recursos para a produção, ele não
participará da comissão de distribuição.
51
Fique ligado
No caso de editais de comercialização, a cada 10% que ele aporta
nas despesas de comercialização, ele fica com 1% da comissão do
distribuidor, não ultrapassando 5%, já que o distribuidor deve participar
com o restante destas receitas. Ou seja, o FSA fará jus à participação
sobre a Receita Líquida de Distribuição (RLD) e sobre a Receita Bruta de
Distribuição (RBD), podendo comprometer até 5% dessa receita.
Como mecanismos de financiamento de uma obra, temos também os editais regionais, que
podem ou não ser realizados com coinvestimento do FSA. Caso o edital conte com recursos do
FSA, deverá seguir as regras do fundo e, caso o edital não conte com o FSA, pode ou não haver
comprometimento de receitas.
Já nos incentivos fiscais regionais, por meio do ICMS, ISS ou IPTU, não há comprometimento, pois
se dá a título de patrocínio. O quadro a seguir ilustra essas regras.
Investimentos regionais
Fonte:
▪ Marcas: uma empresa pode financiar uma obra, como alternativa para a divulgação de sua
52
marca fora dos padrões tradicionais da publicidade, realizando filmes e séries. Nesse modelo os
direitos negociados são negociados caso a caso e muito variados.
▪ Investidor Privado: são investidores aportam recursos privados na obra e que, em troca,
negociam direitos sobre Receita Líquida do Produtor (RLP), além da retenção prioritária dos valores
investidos. Algumas negociações envolvem também créditos de “Produtor Associado” na obra.
▪ Apoios e parcerias: o apoio de hotéis, restaurantes ou passagens aéreas em geral conta com a
exposição de marca no filme. Parcerias com empresas do setor, como locadoras de equipamentos,
estúdios ou empresas de pós-produção, é comum a negociação de um pequeno percentual da
Receita Líquida do Produtor (RLP), além de créditos de Produtor Associado.
▪ Talentos: a negociação de direitos com autores, diretores e atores para complementar, muitas
vezes, o valor dos cachês pagos pelas obras pode envolver uma participação da Receita Líquida do
Produtor (RLP).
▪ Crédito: a produtora pode recorrer a créditos bancários, muitas vezes para garantir prazos de
entrega de uma produção. As instistuições financeiras negociam garantias para o retorno dos valores
disponibilizados, incluindo juros e correção monetária.
▪ Pré-venda: a pré-venda, como diz o nome, é uma negociação antecipada do licenciamento para
exibição da obra enquanto ela ainda está em produção, muito comum no mercado internacional
e não prevê participação em receitas futuras e, sim, a retenção prioritária dessa antecipação nas
primeiras receitas. O agente de vendas, ou o distribuidor fará jus a uma Comissão de Distribuição.
53
Fontes privadas de financiamento e direitos comprometido
Fonte: Elaborada pela autora (2021).
Acompanhadas as características dos fomentos, vamos analisar como se dão os contratos e quais
os principais pontos de negociação.
54
4.5 Contratos e principais pontos de negociação
No quadro a seguir, temos uma simulação sobre a participação nas Receita Líquida do Produtor
(RLP) em três cenários diferentes. Podemos verificar que, na simulação A, a produtora manteve
20,8% de participação na RLP; na simulação B, com a entrada de um FUNCINE, sua participação caiu
para 3,30%. Na simulação C, a empresa negociou mais do que poderia.
Ao negociar um contrato de investimento, o produtor deve estar atento às cláusulas que dizem
respeito a cada um dos pontos a seguir:
55
Tempo
Existem algumas regras impostas pela ANCINE e que se aplicam ao FSA, por exemplo, não é
possível ter um contrato de licenciamento para TVs, condição para que o produtor busque
recursos no FSA, com prazo de licença de mais de dois anos. Nos contratos com as distribuidoras
que se utilizam de incentivos, os licenciamentos não podem ser superiores a cinco anos.
Uma série ou um filme podem derivar outras temporadas ou mesmo novas versões. Ainda, um
filme de animação pode gerar licenciamento de produtos infantis, por exemplo.
Direitos de distribuição
Comissões
56
Recuperação prioritária
Cross collateralization
Delivery schedule
São as datas de entrega dos vários produtos que compõem a produção de uma obra (obra,
legendagens e audiodescrição, cópias, trailers, avant trailers, entre outras obrigações
burocráticas, por exemplo, o Certificado de Produto Brasileiro). É importante estar atento
à lista de delivery negociada, para que esteja prevista no orçamento do projeto.
4.6 Recomendações
É importante ficar atento aos limites legais que devem ser respeitados no acesso aos recursos de
políticas públicas, sejam incentivos fiscais ou editais. A atenção deve ser redobrada quando, para
viabilizar a produção de uma obra, são utilizadas diferentes fontes de financiamento, muitas vezes
mesclando recursos públicos e privados.
O produtor deve sempre simular as negociações que envolvem a participação nas receitas antes
de fechar os contratos, para evitar insegurança na gestão futura desses direitos.
57
É recomendável que os contratos sejam sempre analisados por advogados especializados em
direito do entretenimento, dado a complexidade das negociações e regras de direitos de cada fonte
de financiamento.
Memoryboard
Neste capítulo, vimos quais são as fontes de financiamento existentes e quais são os direitos
que cada uma dessas fontes comprometem. Aprendemos também os termos importantes
presentes nos contratos e nas negociações de uma produção.
58
CAPÍTULO 5
5.
Direitos e Gestão
de Receitas
59
5. Direitos e Gestão de Receitas
Autora: Vera Zaverucha
Objetivos
Neste capítulo, vamos explicar os diversos segmentos de mercado para a exibição da obra
audiovisual, para identificar as remunerações de cada agente econômico da cadeia audiovisual.
Veremos, também, como se denominam e se calculam as receitas em cada segmento de
mercado.
Vamos entender melhor isso? Acompanhe inicialmente as características do mercado de salas de exibição.
Esse trabalho é coordenado pelo distribuidor, que é o responsável pela campanha de lançamento
da obra e pela distribuição dos filmes, trailers, cartazes para as salas, entre outros. Normalmente
60
as despesas de comercialização da obra são adiantadas pela distribuidora, que retém a receita da
produtora, até que ela se ressarça integralmente dessas despesas.
A retenção pode chegar a 100% das receitas das produtoras. A remuneração da distribuidora,
no entanto, se dá pelo que chamamos de Comissão de Distribuição, que incide sobre as receitas
da obra, retirada a parte que cabe ao exibidor e os impostos decorrentes da exibição, a chamada
Receita Bruta de Distribuição (RBD), como veremos na figura a seguir.
Insights
A produtora, durante a produção, normalmente negocia os direitos
sobre a obra, sejam os patrimoniais, os de comercialização ou os
de exibição nas TVs, restando a ela parte dos direitos patrimoniais
que incidirão sobre as receitas líquidas da obra nos respectivos
mercados.
A receita líquida é a receita obtida pela venda de ingressos, retirados os impostos, a comissão de
distribuição e o adiantamento sobre as receitas de comercialização da obra.
61
mercado de vídeo doméstico. No início dos anos 2000, eram lançados no mercado de vídeo cerca de
3000 títulos por ano; atualmente, isso não chega a 500.
A remuneração da empresa produtora nesse mercado era de 20% de cada vídeo vendido, mas
todas as despesas de comercialização eram pagas pelo distribuidor, que ficava com os 80% das
receitas restantes.
62
Número de assinantes na TV por assinatura 20002 a 2020
Fonte: ABTA (2021).
As produtoras são aquelas que fornecem o conteúdo para as programadoras. Com esses
conteúdos, as programadoras alimentam seus canais de programação, que são negociados com as
empacotadoras. As empacotadoras são responsáveis pela junção de todos os canais em pacotes
diferenciados por número de canais e preço, e que são ofertados para os assinantes. Já as
distribuidoras são aquelas que emitem os sinais para os assinantes de acordo com os pacotes
contratados.
63
5.1.4 Mercado de TV aberta
O mercado de TV aberta vem absorvendo produções audiovisuais brasileiras independentes,
principalmente filmes de longa-metragem e algumas séries. Normalmente, as produções desses
canais que vivem de anunciantes são produzidas pelas próprias empresas, sendo, dessa forma, um
mercado limitado à produção independente.
As negociações das obras independentes que conseguem chegar a esse mercado são feitas pelo
distribuidor e pela produtora brasileira ainda durante a fase de desenvolvimento e de captação de
recursos do projeto.
• Se for um longa-metragem, pode ser a preço fixo, por meio de uma pré-venda ou de um
licenciamento após a exibição nas salas de cinema.
Fique ligado
É importante destacar que, quando a TV investe na produção, as
negociações podem ou não incluir os direitos de exibição pelo valor
investido na produção. O FSA participa dos valores de licenciamento no
caso de a obra ter investimentos oriundos do fundo.
64
Além disso, o valor mínimo de licenciamento admitido pelo FSA é de 15% do orçamento da obra
para series, 7% documentários e 5% para longas.
o redes dedicadas às operadoras de TV por Assinatura, por exemplo, NET, Now, Vivo Play, entre
outras;
o serviços over-the-top (OTT), em que os conteúdos são transmitidos aos usuários pela internet,
como o Netflix.
Além disso, são vários os modelos de financiamento deste mercado: pelo pagamento de
assinaturas, pela publicidade ou por um modelo híbrido.
o formas híbridas;
O Premium VoD já demonstra que o mercado de consumo está mudando. Uma única exibição de
aluguel PVoD pode atualmente chegar a R$ 50,00. Um exemplo foi o lançamento do filme Mulher
Maravilha no Brasil.
Esse é um dos mercados mais cobiçados pelas empresas produtoras, já que normalmente os
licenciamentos para as empresas são realizados para o mundo todo, o que pode garantir uma receita
significativa.
Assim como nos demais mercados, essas negociações podem ser feitas tanto pela produtora
como pela distribuidora, que receberá um percentual do valor do contrato.
Há uma mudança relevante, acelerada pela pandemia, que está transformando esse mercado em
uma das primeiras janelas de exibição, antes mesmo que as salas de cinema, no caso de filmes de
longa-metragem.
65
Normalmente os licenciamentos para essas empresas são realizados para o mundo
todo, o que pode garantir uma receita significativa, atraindo o interesse das produtoras.
Essas negociações também podem ser feitas tanto pela produtora como pela
distribuidora, que receberá, nesse caso, um percentual do valor do contrato.
Dessa forma, a obra deixa de ser independente, pois foi contratada apenas como
serviço prestado pela empresa produtora.
Além disso, os festivais e as mostras são outras possibilidades de mercado para a obra, que
pode ganhar grande visibilidade. Em muitos desses festivais, é possível encontrar compradores
internacionais que costumam frequentar esses eventos em busca de obras. Alguns festivais e mostras
pagam um valor pela exibição da obra.
66
No entanto, como é a distribuição desses valores no mercado de salas de exibição? Como são
calculados os valores e por que é tão difícil para o filme brasileiro se autossustentar em seu próprio
mercado?
No nosso exemplo, o filme teve um milhão de espectadores. Provavelmente é uma obra cujo
custo de produção foi superior a R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), ou seja, uma obra de
custo médio para alto. Ao se verificar o valor das despesas de comercialização, podemos ver um
grande investimento do distribuidor, o que confirma que é uma obra lançada simultaneamente em
várias salas.
Continuando a análise do exemplo, podemos ver que, se o produtor tivesse custeado todos os
custos de produção, ele não conseguiria se ressarcir dos valores investidos. E é isso que determina
que, no mercado brasileiro, ainda se faz necessário o financiamento público para que o cinema
brasileiro exista.
67
Nessa sequência de mercados, vimos que a receita bruta de uma obra vem acompanhada de um
escalonamento de retenções, gerando receitas secundárias que serão repartidas para cada agente
da cadeia.
5.2.2 Simulação
Nessa simulação, vamos estabelecer os seguintes valores:
68
o Preço Médio de Ingresso: R$ 15,82.
69
Vale ressaltar que, ao repassar os valores correspondentes aos produtores, há uma retenção de
PIS/COFINS no valor de 10% da RLP.
Como podemos observar, esse filme teve, em relação aos demais filmes lançados no mercado
de salas, uma boa performance. Mesmo assim não conseguiu recuperar todos os valores investidos
para que ele chegasse ao seu público.
Portanto, nosso mercado ocupado sem uma regulamentação mais efetiva contribui para que as
produtoras continuem na dependência de recursos públicos para que possamos ter nossas imagens
nas telas dos cinemas e nas TVs brasileiras.
Memoryboard
Neste capítulo, vimos que os mercados de exibição de uma obra se dividem entre salas de
exibição, vídeo doméstico, TV por assinatura, TV aberta e VoD. Vimos também que festivais
são também vitrines para os filmes, com possibilidade de vendas internacionais.
Além disso, compreendemos o que é receita bruta, receita líquida de distribuição, receita
liquida do produtor e como se aplica a comissão de distribuição que cabe aos distribuidores.
Entendemos a dificuldade de uma obra se pagar no seu próprio mercado e, por fim, vimos que
necessitamos de leis que protejam a produção brasileira independente.
70
CAPÍTULO 6
6.
Certificado de
Produto Brasileiro
(CPB)
71
6. Certificado de Produto Brasileiro (CPB)
Autora: Vera Zaverucha
Objetivos
Os principais objetivos deste capítulo são conscientizar as produtoras sobre a importância
do Certificado de Produto Brasileiro (CPB), identificar as informações contidas nele e explicar
sobre os processos necessários para a concessão desse certificado.
Esse era um momento de reconstrução das estruturas institucionais do governo federal, que
haviam sido liquidadas com a chegada do governo Collor de Mello, o qual acabou, por meio de um
único decreto, com a Empresa Distribuidora de Filmes (Embrafilme), o Conselho Nacional do Cinema
(CONCINE) e a Fundação do Cinema Brasileiro (FCB) – órgãos pertencentes ao Ministério da Cultura,
também extinto na época.
Essa legislação tentava recuperar algumas atribuições anteriormente assumidas pelo CONCINE,
por exemplo, a certificação das obras produzidas no Brasil, materializadas sobre a forma de CPB,
que seriam assumidas pela recém-criada Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual (SDAv).
A Lei n. 8.401/1992 versava sobre o controle de autenticidade das cópias de vídeo doméstico
postas em comércio, que era até então atribuição do CONCINE, que passava, com essa lei, para as
mãos da SDAv. A secretaria, ao contrário do CONCINE, não tinha poderes regulatórios.
No texto original da lei, tentava-se resgatar o fomento ao setor audiovisual e, com isso, era
necessário definir quais agentes do mercado poderiam se beneficiar dos incentivos que se pretendia
criar.
Esse é um dos motivos pelo qual a lei define o que é uma obra audiovisual brasileira de produção
independente:
72
Art. 2° Para os efeitos desta lei, entende-se que:
[...]
Ou seja, somente as obras que fossem produzidas e cujos direitos majoritários não pertencessem
às empresas de radiodifusão (tais como Globo, SBT, Record, entre outras) ou às empresas de
telecomunicações (tais como NET, Direct TV, entre outras) poderiam utilizar os incentivos que se
pretendia criar e que foram, na época, vetados pelo então presidente da república.
Outra importância dessa definição era determinar que a cota de tela, que obriga os proprietários
de salas de cinema exibirem obras audiovisuais brasileiras por um determinado período por ano,
deveria ser cumprida por obras que tinham sido certificadas por meio do CPB.
Com a criação da ANCINE pela MP n. 2228-1 de 2001, a Lei 8.401 foi revogada, e uma nova
legislação passou a vigorar.
Essa lei incorporava a definição de obra audiovisual brasileira independente, as cotas nas salas
de exibição e as questões relativas ao registro de empresas e de obras, inclusive para concessão de
CPB, agora atribuições da ANCINE.
Insights
Qual a importância da definição de uma obra audiovisual
independente e da concessão do CPB?
O CPB e a classificação de independência de uma obra asseguram
que a cota de tela seja ocupada por obras brasileiras certificadas e
que a utilização dos mecanismos de fomento ao setor seja única e
exclusivamente acessível às produções independentes.
73
6.2 O que é o CPB?
O CPB é um documento fornecido pela ANCINE às obras audiovisuais brasileiras e brasileiras
independentes. Esse certificado, que antes da criação da ANCINE era utilizado somente para
comprovação no mercado internacional de que uma obra era brasileira, passou a ser utilizado para
definir diversas outras características da obra.
Essas informações foram acrescentadas ao CPB a partir da vigência da Lei n. 12.485, de 2011,
conhecida como Lei da TV Paga ou Lei do SeAC.
Essa lei, além de criar definições e características para uma obra ser classificada na ANCINE,
também cria cotas de conteúdos nos canais de TV por assinatura, bem como nos pacotes ofertados
aos assinantes.
Essas cotas devem ser cumpridas, em sua grande maioria, por produções brasileiras independentes,
realizadas por produtoras independentes, mas também por produções caracterizadas como
produções de espaço qualificado.
Produção de espaço qualificado são as obras do tipo (gênero) ficção, animação, documentais,
reality show (desde que sem premiação a participantes), obras de variedades (desde que não sejam
programa de auditório) e obras videomusicais (desde que não sejam simples gravação dos shows).
74
6.3 Classificação para produção brasileira
Para uma obra ser classificada como uma produção brasileira, a MP n. 2228-01/2001, em seu art.
1º, inciso V, determina que são três as possibilidades. Acompanhe a seguir.
Ou seja, toda obra produzida dentro dessas condições pode ser classificada como brasileira. No
entanto, uma obra pode ser um documentário, uma ficção ou pode ser um programa de televisão
de auditório, ou um programa de entrevistas. Nem todas estas obras são consideradas de espaço
qualificado, ou seja, que podem cumprir as cotas para conteúdos brasileiros de espaço qualificado.
Dessa forma, o CPB passou também a incorporar a informação sobre sua qualificação: obras
brasileiras de espaço qualificado ou obras brasileiras comuns.
E como, por exemplo, uma obra ficcional seriada, produzida por uma empresa de radiodifusão,
seria classificada no CPB?
Insights
Por exemplo, uma série ficcional produzida por uma empresa de
radiodifusão seria uma obra brasileira (produzida por empresa de
radiodifusão brasileira), seriada (por ser produzida em capítulos ou
episódios), de espaço qualificado e do tipo ficção.
75
E uma produtora independente segue o mesmo critério? Acompanhe a seguir.
E para ser considerada uma obra independente, o que deve ser observado? A obra deve ser
produzida por uma produtora brasileira independente. E o que difere uma produtora brasileira
independente de uma produtora brasileira?
Para ser independente, uma produtora tem que cumprir com as seguintes regras, estabelecidas
no art. 1º, inciso XIX, da Lei 12.485/2011. Confira.
Via de regra, todas as obras brasileiras independentes devem ter pelo menos 51% de seus direitos
na mão de produtoras brasileiras independentes; não podem ter os direitos majoritários nas mãos
de empresas de radiodifusão ou de telecomunicações; não podem ter interferência comercial de
programadoras, empacotadoras, distribuidoras (operadoras de TV) ou empresas de radiodifusão; e
as produtoras não podem ter qualquer contrato de exclusividade com estas empresas.
76
Além disso, a produtora deve ser constituída
sob as leis brasileiras; ter sede e administração
no país e 70% (setenta por cento) do capital total
e votante devem ser de titularidade, direta ou
indireta, de brasileiros natos ou naturalizados
há mais de 10 (dez) anos, além da gestão das
atividades da empresa e a responsabilidade
editorial sobre os conteúdos produzidos serem
privativas de brasileiros natos ou naturalizados
há mais de 10 (dez) anos.
No exemplo anterior, como uma obra ficcional seriada, produzida por uma empresa produtora
brasileira independente seria classificada?
Obra brasileira independente (produzida por produtora independente com maior parte dos
direitos patrimoniais e direitos de comercialização da obra na mão de produtoras independentes),
seriada, de espaço qualificado e do tipo ficção.
Como uma obra ficcional seriada, produzida por uma empresa produtora brasileira independente,
seria classificada? A figura a seguir ilustra melhor esse processo.
77
Classificação das obras no CPB
Fonte: Elaborada pela autora (2021).
78
As informações para qualquer tipo de obra são
o duração;
o ano de produção;
o data prevista para primeira comunicação pública (exclusivo para obras realizadas através de
transmissão ao vivo)
o sinopse/descrição;
o criador(es) do(s) desenho, no caso de obra do tipo animação (CPF e nome completo);
Os documentos que devem ser apresentados para qualquer tipo de obra são os elencados a
seguir.
79
Cópia de contratos relativos à divisão ou à transferência de cotas patrimoniais da
obra audiovisual, se houver.
No caso das obras audiovisuais classificadas como obras seriadas, será necessário o
envio apenas do primeiro capítulo/episódio.
No caso das obras audiovisuais realizadas por meio de transmissão ao vivo e das obras
audiovisuais brasileiras produzidas por empresas radiodifusoras ou programadoras
para exibição no seu próprio segmento de mercado, que detenham a integralidade de
seus direitos patrimoniais e atendam as condições estabelecidas no §2º do art. 1º da
Medida Provisória 2228-1/2001, a cópia da obra poderá ser encaminhada em até 30
dias após a data prevista para a primeira comunicação pública da obra.
80
No caso de obras audiovisuais do tipo variedades ou reality show, realizada a partir de
formatos de titularidade de terceiros, quando solicitado classificação da obra como
“brasileira independente constituinte de espaço qualificado”.
No caso do agente econômico, titular original dos direitos do formato, não ser
registrado na ANCINE, cópia dos documentos.
Para as obras produzidas em regime de coprodução com empresas estrangeiras, devem ser
acrescidas as seguintes informações e documentos:
81
No caso de a obra audiovisual ser resultado de projeto de fomento aprovado na ANCINE, o
requerimento deverá ser apresentado pelo proponente do projeto.
A análise pela ANCINE deverá ser realizada em até 30 dias corridos a partir da data do recebimento
da documentação exigida. Caso haja diligências, o requerente terá um prazo máximo de 30 dias para
o cumprimento.
Caso a ANCINE não se pronuncie sobre o requerimento de registro no prazo de 30 (trinta) dias, o
registro será considerado deferido.
No caso de obras produzidas sob abrigo de acordo internacional, o CPB atestará também o
reconhecimento definitivo de conformidade da obra com a legislação, comprovando que é brasileira.
Vale aqui dizer que a pessoa natural brasileira nata ou naturalizada há mais de dez anos será
equiparada à empresa produtora brasileira independente desde que não mantenha vínculo
de exclusividade que a impeça de produzir ou comercializar para terceiros os conteúdos por ela
produzidos.
Após a retirada do CPB, antes da comercialização da obra, a distribuidora contratada pelo produtor
deverá fazer a solicitação para obtenção do Certificado de Registro de Título (CRT).
82
O CRT é um documento obrigatório, que deve ser solicitado pelos detentores dos direitos de
comercialização da obra, para cada segmento de mercado em que a obra será exibida. Nesse
momento, o distribuidor informará o CPB da obra comercializada, o mercado em que será exibida,
bem como o contrato entre a distribuidora e o produtor. De posse dessas informações, o SAD
calculará o valor da CONDECINE, para o mercado requerido. O pagamento da contribuição deve ser
será informado à ANCINE, que emitirá então o CRT.
Para cada segmento de mercado em que a obra será exibida, deverá ser solicitado um CRT; para
cada CRT, há uma CONDECINE a ser paga. As obras estrangeiras também devem pagar o CRT para
cada segmento de mercado.
Saiba mais
Para conhecer mais sobre o CPB, leia a Instrução Normativa n.
104/2012 da ANCINE, disponível neste link.
Memoryboard
Neste capítulo, vimos que o conceito de obra audiovisual brasileira independente se funda na
não associação, controle ou coligação das empresas produtoras independentes com empresas
de telecomunicações e de radiodifusão.
Além disso, esclarecemos os diversos tipos de obras, com suas diversas classificações, bem
como vimos a importância do CPB para o regular cumprimento das cotas de tela e programação.
83
CAPÍTULO 7
7.
Compliance
84
7 Compliance
Autora: Debora Ivanov
Objetivos
Neste capítulo, vamos estudar sobre os compromissos assumidos com investidores públicos e
privados, para entender que as regras de compliance atuais exigem uma maior transparência na
gestão dos projetos, para evitar riscos legais e de relacionamento com parceiros investidores.
85
É preciso estar atento a essa gestão dos relacionamentos, garantindo uma comunicação objetiva
e transparente, informando todos interessados sobre a evolução do projeto e sobre as alterações
do que foi inicialmente acordado, a fim de evitar riscos futuros, como quebra de contratos e multas,
quando se trata de recursos privados; ou reprovações, devolução de recursos e inadimplência
quando se trata de recursos públicos.
Além disso, é importante se organizar para uma boa gestão desses relacionamentos, garantindo
uma comunicação objetiva e transparente.
Fique ligado
A transparência reduz os riscos, aproxima investidores e gera confiança
para a continuidade de relações futuras. A seguir, vamos conhecer os
principais pontos de atenção.
Diante dos grandes desafios que cercam a criação e a produção de uma obra audiovisual, o
projeto inicial passa naturalmente por muitas alterações.
Também pesam as condições financeiras, que nem sempre permitem o conforto esperado,
quando então a produção promove cortes, alterações e adequações para não ultrapassar os
limites do orçamento. Também após as filmagens, durante a montagem, imagens gravadas de uma
determinada cena podem ser dispensadas para garantir uma melhor fluidez na história.
86
São muitas as mudanças que podem ocorrer durante uma produção e, diante desses desafios,
é fundamental estar atento ao tamanho e perfil dessas alterações, fazendo algumas perguntas.
Confira.
Essas são perguntas essenciais para, caso haja alterações significativas, comunicar os parceiros
investidores.
E como se destinam esses recursos? Veja a resposta a essa pergunta no tópico a seguir.
87
7.3 Destinação dos recursos
O orçamento de um filme ou uma série, assim como seu objeto, é peça central na aprovação de
um projeto. Sua gestão cuidadosa e transparente garante a segurança do empreendimento, a saúde
da empresa e a confiança dos seus investidores.
Quem presta o serviço deve ter vínculo com a empresa que emite a nota fiscal.
Se com recursos públicos, seja ele por meio de incentivos fiscais ou de editais, há regras adicionais
publicadas em manuais e/ou Instruções Normativas, por exemplo, teto de gastos para fases do
projeto ou para rubricas, restrição a determinados tipos de pagamentos ou restrições a percentuais
de alteração no orçamento, entre outras.
88
Situação similar pode se dar na relação com
um canal de TV ou plataforma de streaming.
É fundamental checar as regras de cada
parceiro investidor e organizar com clareza
os procedimentos que serão adotados no
momento de contratar equipes e serviços.
Para os recursos de fomento público que passam pelo controle da ANCINE, já está em operação
um sistema em que toda movimentação bancária é registrada; e os documentos fiscais, indexados.
Alguns investidores privados também adotam sistemas customizados para acompanhar a execução
de gastos.
Mesmo para investidores com menor participação no financiamento, esse rigor deve ser mantido
da mesma forma, imprimindo um padrão para a gestão financeira e garantindo controle e segurança
para a produtora.
Fique ligado
Antes de iniciar qualquer gasto, deve-se organizar um manual com
o contador para o cumprimento de regras gerais para a emissão
de documentos fiscais e o pagamento de tributos. Deve-se, ainda,
acrescentar as regras para a execução do orçamento de cada investidor,
as quais constam em manuais e/ou instruções normativas.
89
O tópico a seguir aborda como ocorre a participação nas receitas. Acompanhe.
o FSA;
o TV aberta, por meio de incentivos fiscais do art. 3º-A da Lei n. 8.685 de 1993;
o TV por assinatura, por meio de incentivos fiscais do Artigo 39, X da MP n. 2.228 de 2001;
90
o Empresas ou pessoas físicas, por meio de incentivos fiscais do art. 1º da Lei n. 8.685 de 1993;
o Empresas ou pessoas físicas, por meio de FUNCINES, de acordo com o art. 41 da Lei n. 8.685
de1993;
o investidores privados;
o apoiadores e talentos que negociaram parte do seu pagamento com a participação nas
receitas;
Essa gestão das receitas, mesmo quando os resultados são negativos, precisa ser monitorada e
comunicada para manter o cumprimento das regras pactuadas nos contratos de cada investidor ou
parceiro do projeto.
Para os investimentos pela Lei Rouanet ou por meio do art. 1º-A da Lei n. 8.685 de 1993, não há
participação em receitas futuras.
Alguns podem constar apenas nos agradecimentos finais, outros devem constar nos
créditos principais; e outros, ainda, devem constar suas marcas nos créditos principais
ou finais.
91
Fique ligado
Quando se trata de recursos públicos, essas regras estarão expressas em
manuais e constarão em contrato. A inserção da marca em desacordo
como os manuais pode gerar multas. Nos recursos privados, poderão ou
não constar esses detalhes em contrato e, por conta disso, é importante
aprovar formalmente com cada investidor antes de finalizar a obra, para
evitar refação e insatisfação dos parceiros investidores.
É importante também zelar pela inserção de créditos e marcas nos principais materiais de
divulgação, seguindo o mesmo padrão – previsão em contrato e respeito aos manuais de utilização
de marcas. Na ausência de um manual, deve-se aprovar previamente para garantir o perfeito
cumprimento dessa obrigação.
Seja qual for o compromisso assumido, os compromissos precisam ser cumpridos para finalizar
contratos. Para além do cumprimento dos compromissos assumidos, esse zelo fortalece a relação de
confiança e possibilidades de parcerias futuras.
92
7.7 Recomendações
A cada investimento conquistado para a realização de uma obra, é recomendado fazer um resumo
das obrigações que deverão ser cumpridas como formatos, prazos, monitoramento de orçamentos,
divulgação, créditos, participação nas receitas e contrapartidas adicionais.
Fique ligado
Antes de iniciar qualquer gasto, deve-se organizar um manual com
o contador para o cumprimento de regras gerais para a emissão
de documentos fiscais e o pagamento de tributos. Deve-se, ainda,
acrescentar as regras para a execução do orçamento de cada investidor,
as quais constam em manuais e/ou instruções normativas.
Com esses cuidados, a produção estará mais bem controlada, mais segura e terá menos riscos
futuros.
Memoryboard
Nesse capítulo, vimos a importância da comunicação e da transparência na relação com
investidores e parceiros na realização de obras audiovisuais.
Estudamos os cuidados com mudanças no conteúdo e formato das obras, com a gestão do
orçamento, com a inserção de créditos e marcas, com a participação nas receitas e com as
contrapartidas adicionais negociadas. Esses cuidados dão segurança para quem realiza os
projetos e para os parceiros investidores, sejam eles públicos ou privados.
Vídeo
Assista o vídeo de
encerramento da trilha.
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Referências
ANCINE – Agência Nacional do Cinema. Estudo: valor adicionado pelo setor audiovisual –
Ano-base: 2018a. Brasília, DF: ANCINE, 2018. Disponível em: https://oca.ancine.gov.br/
sites/default/files/repositorio/pdf/valor_adicionado_2018.pdf. Acesso em: 31 ago. 2021.
ANCINE – Agência Nacional do Cinema. Emprego no setor audiovisual: Estudo Anual 2018
(Ano-base 2016). Brasília, DF: ANCINE, 2018b. Disponível em: https://oca.ancine.gov.br/
sites/default/files/repositorio/pdf/emprego_no_setor_audiovisual_0.pdf. Acesso em: 31
ago. 2021.
ANCINE – Agência Nacional do Cinema. Distribuição em Salas – 2019. Brasília, DF: ANCINE,
2019. Disponível em: https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/
informe_distribuicao_2019.pdf. Acesso em: 31 ago. 2021.
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MÓDULO 2 | Legislação e Negócios
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